Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16865 1
COMIDAS KANHGÁG EG VJN: A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO ALIMENTAR
DIGITAL
COMIDAS KANHGÁG EG VJN: CONSTRUIR LOS ESPACIOS DIGITALES DE LA
ALIMENTACIÓN
KANHGÁG EG VJN FOOD: BUILDING THE DIGITAL FOOD SPACES
Gabriel Chaves AMORIM1
e-mail: gchavesamorim@gmail.com
Como referenciar este artigo:
AMORIM, G. C. Comidas Kanhgág Eg Vjn: A
construção do espaço alimentar digital. Rev. Cadernos de
Campo, Araraquara v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-
ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16865
| Submetido em: 24/08/2022
| Revisões requeridas em: 25/01/2023
| Aprovado em: 17/02/2023
| Publicado em: 23/08/2023
Editora:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Profa. Me. Aline Cristina Ferreira
Prof. Me. Mateus Tobias Vieira
Prof. Me. Matheus Garcia de Moura
1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNSIINOS), São Leopoldo RS Brasil. Bolsista CAPES (PROSUC)
de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS).
Comidas Kanhgág Eg Vjn: A construção do espaço alimentar digital
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16865 2
RESUMO: O presente artigo elabora uma etnografia junto aos Kanhgág para analisar os
espaços alimentares por eles criados, considerando-os como organizações culturais, grupos de
rede social e os hábitos cotidianos de alimentação. “Ẽg vẽjẽn” significa “nossas comidas” e
representa um espaço alimentar antropológico criado pelos Kanhgág, que às vezes é chamado
de “comida típica”. Para tanto, o estudo utiliza bibliografia antropológica sobre alimentação a
fim de analisar uma série de postagens em um grupo de uma rede social virtual dedicado à
alimentação Kanhgág. Entre o ativismo virtual e a promoção de centros culturais, os Kanhgág
constroem sua alimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Kanhgág (Kaingang). Antropologia. Alimentação. Indígena.
RESUMEN: El presente artículo elabora una (n)etnografía con los Kanhgág para reflexionar
sobre los espacios alimentarios creados por ellos como organizaciones culturales, grupos de
redes sociales y hábitos cotidianos de alimentación. g vjn significa nuestros alimentos, y es
un espacio alimentario antropológico creado por los Kanhgág que a veces se denomina comida
típica. Para ello, el estudio se basó en bibliografía antropológica sobre alimentación para
analizar una serie de posts en un grupo de red social virtual dedicado a la comida Kanhgág.
Entre el activismo virtual y a través de centros culturales, los Kanhgág construyen su comida.
PALABRAS CLAVE: Kanhgág (Kaingang). Antropología. Hábitos alimentarios. Indígena.
ABSTRACT: This article presents an ethnography conducted among the Kanhgág to analyze
the food spaces they created, considering them as cultural organizations, social network
groups, and everyday eating habits. "g vjn" means "our foods" and represents an
anthropological food space created by the Kanhgág, sometimes referred to as "typical food."
The study utilizes anthropological literature on food to analyze a series of posts in a virtual
social media group dedicated to Kanhgág food. Between virtual activism and promoting
cultural centers, the Kanhgág construct their food practices.
KEYWORDS: Kanhgág (Kaingang). Antropology. Food habits. Indigenous.
Gabriel Chaves AMORIM
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Introdução
Ao analisar a alimentação do povo ligado ao tronco linguístico jê meridional, revela-se
uma perspectiva sobre a emergência de identidades. Estima-se que haja cerca de cinquenta mil
Kanhgág convivendo nos territórios de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O último censo realizado em 2010 registrou 35.000 integrantes dessa etnia, sendo que ao longo
do tempo estima-se que esse número tenha aumentado. Optou-se por utilizar a grafia “Kanhgág”
com letra maiúscula para se referir ao coletivo do povo, enquanto “kanhgág” com letra
minúscula é utilizado como um adjetivo. Essa escolha de grafia segue o dicionário de Úrsula
Wiesemann, uma vez que os interlocutores da pesquisa também o fazem. Kanhgág g vjn,
termo presente no título deste artigo, significa “comida de kanhgág”. É um local semântico da
expressão usada pelos interlocutores da pesquisa para se referirem às comidas típicas. O
trabalho de percurso etnográfico teve como objetivo observar um espaço digital de
compartilhamento de conteúdo como forma de existência cultural, conforme destacado por
Leitão e Gomes (2017).
A primeira seção apresenta o contexto etnográfico, analisando a relação com o principal
interlocutor, bem como o ambiente no qual se insere a página virtual e as ações de ativismo.
Assim, em “Vẽjn - Alimentar-se”, foi realizado um estudo etnográfico originado
principalmente das ações de um centro de memória e cultura, além da página em uma rede
social chamada “Comidas típicas kanhgág […]”. Por meio de depoimentos, relatos e
bibliografia, são expostas às preferências alimentares nos tópicos mais discutidos: m; Mn-
hu (pisé) e Gãr, bolo de cinzas, pixé e milho. Esse espaço alimentar abre novas possibilidades,
seja nas redes sociais ou nas comunidades, nos centros de memória e nas páginas virtuais
pesquisadas. Neste segmento, encontra-se uma subseção dedicada aos aspectos etnográficos
desenvolvidos em conjunto com o grupo “Comidas típicas dos kaingangs e fotos indígenas
kaingang”, onde foi possível articular teorização e etnografia, identificando as comidas mais
recorrentes nas postagens e estabelecendo analogias com a bibliografia.
Na segunda seção textual, intitulada “Antropologia da alimentação: fogo, fumaça, cinza,
água são ingredientes indispensáveis”, apresenta-se uma discussão fundamentada em dados
etnográficos, considerando a bibliografia antropológica. Tornou-se necessário um equilíbrio
teórico entre artigos e textos da antropologia da alimentação, a fim de discutir as categorias
teóricas que fundamentaram a primeira etapa, juntamente com as fontes empíricas. A categoria
êmica, que se relaciona com as categorias teóricas, aborda a “comida típica - g vjẽn”, que é a
maneira pela qual os interlocutores se referem a uma alimentação essencialmente kanhgág.
Comidas Kanhgág Eg Vjn: A construção do espaço alimentar digital
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Esses alimentos e pratos possuem um significado único e um lugar semântico específico na
língua e no cotidiano. Essa alimentação típica se apresenta como um espaço alimentar kanhgág
offline, que se aproxima do ativismo digital proporcionado pela página na rede social.
Vjn Alimentar-se
Como será demonstrado neste artigo, alimentar a si e aos outros, dentro da cultura
Kanhgág, é equivalente a prover-se de recursos e auxiliar outros indivíduos. Essa prática
representa uma forma de vida evidenciada em um grupo dedicado à cultura Kanhgág em uma
rede social. Por meio de postagens regulares e interações com outros membros, busca-se nutrir
uma coleção cultural. No idioma Kanhgág, o verbo jn significa comer, enquanto vjn se refere
a comida, refeição ou alimento. Portanto, acredita-se que o verbo jn pode ser utilizado para
expressar tanto o ato de comer quanto a assimilação cultural de conteúdos disponíveis na
plataforma digital.
A seção textual que apresenta a (n)etnografia, ou seja, a etnografia em ambientes digitais
conforme a compreensão de Leitão e Gomes (2017), adota uma abordagem que preza por uma
sensibilidade transitória. Durante o percurso entre mensagens e postagens, o pesquisador acaba
“[...] percorrendo caminhos em meio à multidão de imagens e mensagens, pode ser profícua
quando acionada na observação de plataformas que têm como característica os trânsitos
intensos e a efemeridade” (LEITÃO; GOMES, 2017, p. 46). As autoras estabelecem uma
analogia entre a etnografia em ambientes digitais e a prática em grandes centros urbanos, nos
quais um fluxo intenso de interlocutores e paisagens. De certa forma, o pesquisador vaga
por esses ambientes, encontrando o familiar e o desconhecido. Assim, situa-se a prática do
presente artigo, uma metodologia que articula o contato com o participante mais ativo do grupo
de cultura alimentar indígena para, a partir disso, analisar as postagens e fotos, estabelecendo
conexões com a bibliografia antropológica. Portanto, o trabalho concentrou-se no período de
2018 a 2023 e procurou identificar os temas mais recorrentes nas postagens para, em seguida,
apresentar uma amostra significativa. Diferentemente da etnografia de campo presencial, essa
abordagem utilizou o contato virtual e incursões no ambiente digital do grupo “Comidas típicas
kanhgág [...]”, além de entrevistar o usuário com o maior número de postagens e aproximar o
caderno de campo virtual da escrita.
O contato e a troca de mensagens com o jovem ativista da cultura Kanhgág, Cléber
Kronun, residente na Terra Indígena (TI) Apucaraninha, localizada no Paraná, um estado no sul
Gabriel Chaves AMORIM
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do Brasil, estabeleceu um diálogo (n)etnográfico e interétnico que me direcionou ao espaço
digital do grupo presente em uma rede social. Cléber se apresenta como cineasta, pesquisador
independente e defensor da cultura Kanhgág, e seu nome, Kronun, está associado a um alimento
tradicional. Conheci Cléber quando estava concluindo minha graduação em História e iniciando
meus mestrados em Antropologia, História e Ciências Sociais. Kronun me auxiliou na
compreensão da juventude e de seus projetos, fundamentais para a redação de minhas
monografias. Como (n)etnógrafo, aproximei-me de várias lideranças indígenas, principalmente
Kanhgág, por meio das redes sociais. Outra experiência importante ocorreu durante minha
graduação em História e Gastronomia, quando trabalhei como educador popular em um
preparatório voltado para a juventude kanhgág em São Leopoldo-RS, com a qual venho
colaborando desde 2010. Dessa forma, pude estabelecer contatos no campo e trocar números
de telefone e perfis de redes sociais. Devido a essas razões subjetivas mencionadas
anteriormente, as postagens de Cléber Kronun chamaram minha atenção, uma vez que o jovem
compartilhava muito sobre alimentação com uma perspectiva cultural, o que se mostrou
extremamente relevante para a análise antropológica dos espaços alimentares tanto online
quanto offline.
Com base nisso, solicitei uma entrevista gravada a Cléber Kronun, bem como permissão
para sua divulgação. Após obter a autorização, Cléber informou-me que utilizam as tecnologias
sociais para registrar, arquivar e compartilhar os conhecimentos transmitidos pelos kofá (os
mais velhos). A produção de fotos, filmes e relatos serve como divulgação, preservação da
memória e, além disso, cria novas formas de viver. A entrevista foi realizada de forma
assíncrona, em formato de vídeo, gravado e enviado por meio de um aplicativo de troca de
mensagens. A aproximação do pesquisador com líderes indígenas pôde ser iniciada por meio
das redes sociais, uma vez que muitos indígenas hoje possuem perfis na internet exatamente
para essa troca de experiências e para reafirmar sua identidade territorial.
Meu nome é Cléber Kronun, sou da etnia Kanhgág, moro na Terra Indígena
Apucaraninha. Eu faço parte do Centro de Memória e Cultura Kanhgág dentro
da nossa aldeia, também sou cineasta indígena, fiz um curta metragem. Esse
Centro de Memória e cultura kanhgág funciona assim: A gente filma os mais
velhos dentro da nossa aldeia, por exemplo, a história de onde eles viviam e
onde eles moravam antigamente. A gente filma o dia a dia dentro da nossa
comunidade, mas por causa dessa pandemia a gente parado. A gente vai
lançar um livro, que vai sair em outubro vai ficar pronto. Também faço parte
do grupo de dança e grupo de jovens. A gente sai para vários lugares pra gente
fazer apresentação, mas por causa dessa pandemia a gente não está saindo. As
estradas da nossa aldeia estão fechadas para que nenhum indígena venha pegar
o coronavírus. Esse grupo de dança nn ga foi pensado dentro da escola, os
Comidas Kanhgág Eg Vjn: A construção do espaço alimentar digital
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alunos se reuniram pra fazer esse grupo, pra fazer apresentação (ALMEIDA,
2020a).
O Centro de Memória mencionado por Cléber Kronun é um projeto e uma iniciativa de
ativismo que tem como objetivo proporcionar um espaço de cuidado e fortalecimento da cultura
dos kofá (mais velhos), que representa a tradição Gufã, e do uri, representando o tempo
contemporâneo dos Kanhgág atuais. Este projeto atua como um espaço de ativismo, pois
preserva e cria acervos de memória kanhgág e de outras culturas indígenas, promovendo seus
objetivos, referências e angariando recursos para solucionar problemas comuns. Desse modo,
o Centro de Memória e Cultura Kanhgág (CMCK) se estabelece como um espaço de debates,
ações, pesquisas e divulgação de projetos relacionados à memória e cultura kanhgág. O texto
de apresentação do CMCK deixa claro a maneira como esse coletivo se apresenta, buscando
incluir e tornar familiar a proposta para os participantes.
No ano de 2014, nós e os professores não indígenas começamos a trabalhar
juntos. E daí, juntos, filmamos a histórias dos mais velhos da nossa aldeia pra
ficar na memória. Depois nós filmava o que acontecia no dia a dia dentro da
nossa aldeia e também cada um filmava na sua aldeia como na aldeia [...]
juntos fizemos um vídeo um longa-metragem [...] e depois de algum tempo
resolvemos fazer um livro junto com nossa equipe de Centro de Memória e
Cultura Kaingang (CMCK, 2016, online)
O texto inicia com o pronome “nós”, indicando a existência de um grupo comum
composto por educadores kanhgág, fóg/não indígenas e estudantes jovens, que se comunicam
por meio da cultura e da tecnologia. Entre os projetos desenvolvidos por esse grupo, encontram-
se um blog, perfis e páginas em redes sociais. A cidade de Apucaraninha, onde está sediado o
projeto, é composta por várias aldeias diferentes, e a sede recebe o nome da Terra Indígena
(T.I). Segundo o CMCK, debates eram levados para dentro das aldeias, envolvendo as ideias
dos jovens. A participação de Cléber no Centro de Cultura e Memória foi, sem dúvida, um
meio, uma justificativa e uma referência para a elaboração de seus próprios objetivos, como sua
trajetória como pesquisador da alimentação Kanhgág, nas redes sociais.
Conforme Amorim (2022) destaca em sua pesquisa sobre os projetos de vida das
juventudes kanhgág, iniciativas como o CMCK se enquadram em projetos de vida, que são
projeções relacionadas à vida das pessoas:
Articula referências-de-vida da organização social, da língua e da memória
coletiva. Os meios-de-vida socializados, como artesanato, empreitada na roça
e universidade geram laços comuns entre os comunitários. Não se trata de “ter
algo em comum”, mas caracteriza-se pelos laços de reciprocidade na inclusão
de tais meios, no ensinar a fazer artesanato, quando repassa chamados de
Gabriel Chaves AMORIM
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trabalho na roça ou auxiliando o outro (de si mesmo) a angariar postos de
formação e trabalho. Projeto-de-comunidade intervém junto aos problemas-
de-vida e em conjunto assume as demandas uns dos outros, “mete-se” ou cuida
da vida do outro (de si mesmo), da segurança alimentar, do cumprimento das
regras organizacionais comunitárias e o bom andamento dos relacionamentos
entre casais (AMORIM, 2022, p. 132).
Ao considerar os dados etnográficos desta pesquisa e seguindo a perspectiva do estudo
mencionado, as postagens online e os projetos do Centro de Cultura e Memória se constituem
como formas de articular justificativas, objetivos, referências e meios para solucionar
problemas relacionados à cultura. O espaço offline desse Centro de Memória se torna propício
para projetos de vida em comunidade e para o ativismo de afirmação cultural e identitário,
característico da educação indígena, nas múltiplas plataformas digitais. Conforme Leitão e
Gomes (2017, p.46) destacam, os espaços digitais e seu engajamento “[...] não significam um
descolamento dos demais ambientes”.
Cléber Kronun de Almeida, juntamente com outros jovens e educadores da etnia
Kanhgág, coordena o CMCK na Terra Indígena Apucaraninha, onde promovem a disseminação
da cultura através da produção de filmes, postagens informativas e iniciativas de educação sobre
o patrimônio indígena. Isso é importante para que a juventude se identifique e desenvolva um
apreço pela sua identidade Kanhgág, nutrindo assim o desejo de conhecer e preservar os locais
e modos de vida dos kofá. O registro das atividades do centro resultou no livro bilíngue
português/kanhgág intitulado “Os kaingang do Apucaraninha e suas histórias - Karynīnh ki
kanhgág ag jykre kãme” (ZACARIAS, et al., 2021; CMCK, 2021). Conforme uma reportagem
da Agência Estadual de Notícias do Paraná
2
os livros serão distribuídos em 39 escolas
pertencentes aos povos indígenas do estado, além de parceiros. Além disso, o link do livro está
disponível no site educacional
3
do governo paranaense, onde são disponibilizados recursos
pedagógicos para os professores do estado e pessoas interessada. A distribuição física e digital
do trabalho é fundamental para ampliar tanto a visibilidade quanto o conhecimento sobre os
Kanhgág, além de fortalecer a educação intercultural.
O CMCK desempenha o papel de uma ponte entre o espaço alimentar contemporâneo e
o das gerações passadas, dando destaque aos valores éticos e estéticos dos kofá e registrando-
os. O objetivo é a criação de materiais didáticos a partir dos conhecimentos/jykre dos kofá.
Recentemente, o conhecimento kanhgág sobre alimentação foi sistematizado no Centro de
2
Ver Paraná (2022).
3
Ver Paraná (2023).
Comidas Kanhgág Eg Vjn: A construção do espaço alimentar digital
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Memória por Cléber Kronun em um capítulo do livro organizado em 2021. Na perspectiva de
Kronun, a alimentação kanhgág gufã/indígena antiga é apresentada como sendo forte e
saudável, em contraste com a alimentação dos fóg/não indígenas, que é vista como mera
subsistência. Ao observar essa incorporação, percebe-se que nem todos os alimentos e
ingredientes da cultura branca são utilizados na culinária kanhgág, mas quando incorporados,
são modificados em termos de tempero, métodos de cocção e formas de uso. A seguir, é
apresentado um trecho retirado do blog do Centro de Memória, que ilustra a dualidade presente
na fronteira entre as comidas dos fóg e as dos Kanhgág:
(ALIMENTAÇÃO DOS KAINGANG) Antigamente nossos velhos
kaingangs retiravam da mata muitos alimentos, por isso eram fortes. Seus
filhos também cresciam fortes e saudáveis, dificilmente ficavam doentes.
Atualmente esse costume está quase extinto, por isso hoje usamos a
alimentação dos não-indígenas para não passamos fome. Mesmo assim,
quando encontramos alguns desses alimentos tradicionais preparamos para
comer. Aqui estão alguns nomes das nossas comidas tradicionais: mandioca
brava, varana, fuá, peixe, Ortigão, milho verde, piche, bolo azedo, coró de
taquara coró de palmeira, cogumelos, etc. Essas eram e são as nossas comidas
tradicionais kaingang (ALMEIDA, 2021a, p. 70).
Segundo o texto, as comidas são identificadas como “nossas”, “fortes”, “saudáveis” e
“típicas”, entre aqueles que se consideram parte desse grupo, funcionam como uma forma de
comunicação entre iguais. Assim, o espaço digital, seja nas redes sociais, por meio de um site,
ou blog, mostra-se promissor para que os Kanhgág possam se reconhecer em conteúdos
elaborados considerando as referências de vida que esse povo carrega. Isso possibilita um
convívio acompanhado de ativismo, educação e afirmação identitária.
Grupo “Comidas tipicas dos kaingangs e fotos indigenas kaingang”
O grupo “Comidas típicas dos Kaingangs e fotos indígenas Kaingang”, sediado em uma
popular rede social de grande alcance, procura reunir informações sobre a alimentação kanhgág.
Ao dar uma nova vida à cultura por meio das redes sociais, ele se apresenta como uma forma
de ativismo digital. O grupo foi criado em 2016 e conta com pouco mais de 900 membros, mas
ganhou engajamento durante a pandemia em 2020. Embora seja restrito a membros
aprovados, ele possui um caráter público, uma vez que está sediado em uma plataforma de rede
social e pode ser encontrado por internautas. O grupo é alimentado por pessoas pertencentes a
diferentes povos indígenas de todo o Brasil, e possui uma política aberta em relação à admissão
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de novos membros. O conteúdo é compartilhado por aqueles que consomem as postagens,
sendo uma forma de alimentação/jn cultural.
Portanto, trata-se de um movimento de entendimento da cultura e ativismo digital
gastronômico, por meio de formas e interações sociais nas redes sociais e blogs. Esse
movimento de compreensão é evidente nas postagens sobre conhecimentos ingeridos,
incorporados, digeridos e novamente disponibilizados. Essa dinâmica também converge com o
CMCK, um espaço físico e imagético que funciona como outro local de digestão cultural,
abrigando vídeos, fotos, depoimentos e cerâmicas arqueológicas: “O Centro de Memória e
Cultura Kaingang (CMCK), fica localizado na Terra Indígena Apucaraninha, a 30 km do
município de Tamarana-PR e distrito de Lerroville (município de Londrina)” (CMCK, 2016,
online). Dessa forma, o grupo, como uma extensão online das atividades que ocorrem offline,
permite a convergência das identidades físicas com as virtuais: “No Facebook, mais do que em
qualquer outra plataforma digital anterior ou contemporânea, a convergência identitária é uma
característica fundamental, tanto em termos de identificação com nome e dados identitários
offline’ dos indivíduos” (LEITÃO; GOMES, 2017, p. 52). Assim, a equipe funciona como um
espaço digital de afirmação das referências culturais experimentadas, dentro de um Centro
de Memória formalizado na Terra Indígena, sendo ingerido, digerido e disponibilizado para um
novo ciclo de consumo, reações e compartilhamento.
A imagem abaixo retrata um momento de compartilhamento registrado por Kronun e
compartilhado no grupo. Esses momentos exemplificam a relação com o território, os alimentos
plantados, colhidos, fermentados, socados no pilão, expostos na mesa e consumidos por nós
(g), o grupo. Na mesa, podemos observar peixe (pirã), aipim assado e broto de abóbora (peho
fej). A divulgação dessas fotos, acompanhadas por textos em Kanhgág, é uma manifestação das
formas de vida, consolidando e transmitindo identidades por meio de ferramentas educacionais
de longo alcance, como as postagens. Os alimentos e seus métodos de preparo, bem como servir
e compartilhar, desempenham um papel essencial nessa gastronomia. Portanto, as postagens no
grupo visam compartilhar com círculos de trocas internos, mas também com outros de fora,
tornando-se uma forma de ativismo cultural alimentar que ensina, mostra e preserva.
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Figura 1 - Hoje nós da aldeia água branca fizemos comidas de Kanhgág
Fonte: Almeida (2022)
A culinária tradicional não apenas nutre o corpo, mas também está intrinsecamente
ligada à estética, ética, política e cultura: Kanhgág g vjn - a comida do povo Kanhgág. Ao
realizar uma análise abrangente das postagens no grupo no período de 2019 a 2023, identifiquei
os tópicos mais frequentes compartilhados pelos membros da página.
Em primeiro lugar, destaca-se o m, também conhecido como bolo azedo. Trata-se de
uma preparação feita com milho colhido e seco, deixado de molho em água com palha para
fermentação por vários dias, até adquirir um aroma característico. Em seguida, o milho é moído
em um pilão, transformando-se em uma massa que serve de base para pães, bolos e farofas. A
imagem a seguir, retirada do grupo, refere-se a uma postagem de 2019 que anuncia uma festa
temática dedicada ao m. Essa postagem demonstra o compartilhamento de preceitos culturais
entre os moradores das comunidades da Terra Indígena Barão de Antonina, no Paraná. O uso
das plataformas digitais para compartilhar o convite acompanhou uma campanha offline que
mobilizou líderes e moradores para a realização do evento. Fica evidente que a festa em si é
uma forma de ativismo, e a divulgação do convite e das fotos correspondentes representa um
ativismo digital gastronômico, pois estabelece diálogo com outras formas de expressão,
reafirma identidades e espaços, e compartilha projetos comunitários.
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Figura 2 - m, festa do bolo azedo dia 25 de Outubro de 2019
Fonte: Almeida (2019a)
É evidente que o m, ou bolo nas cinzas, ocupa um lugar de destaque na Terra Indígena Barão
de Antonina como uma comida típica que representa a cultura local. Além disso, é uma fonte substancial
de energia, o que o torna presente no dia a dia das pessoas, reunindo kanhkó (aliados) e regré (parentes).
A festa dedicada ao m é uma oportunidade de compartilhar modos de vida, conhecimentos, técnicas
de caça, limpeza e obtenção de alimentos. Na imagem anteriormente apresentada, o uso do termo
alimento típicorefere-se a esse contexto alimentar em discussão.
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Figura 3 Postagem no grupo comidas típicas do kaingangs
Fonte: Almeida (2019b)
A imagem acima retrata as carnes que acompanham o bolo azedo, o m: tatu e peixe
cascudo, valorizados durante a festa e típicos da região das aldeias. O engajamento tanto virtual
como presencial dos membros da comunidade cria laços de confiança e reciprocidade entre
eles. Além disso, exibir as caças também é um ato de afirmação identitária das habilidades de
cada caçador. As proezas que eram compartilhadas offline agora são divulgadas nas redes
sociais, tornando-se uma forma de ativismo que reafirma os hábitos alimentares. Através de
fotos e descrição com textos, é criado um material culturalmente identificável que compartilha
histórias, técnicas de caça e pesca, modos de preparo e temperos, socializando tudo isso nas
plataformas digitais. Alimentar a página virtualmente representa uma nutrição cultural,
alimentando tanto os outros membros da comunidade como também pessoas não indígenas
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(fóg). Isso cria um segundo momento de engajamento por meio de curtidas, que demonstram
interesse, e comentários, que geram novas interações sobre o mesmo conteúdo. Nutrir a página
com informações sobre comidas picas é uma participação ativa na construção desse espaço,
eventos cotidianos e organizados, como a festa do m, também se tornam oportunidades para
tirar fotos, escrever textos, marcar pessoas nas postagens e divulgar o conteúdo.
Assim como a língua, os métodos de cocção e preparo possuem inovações, sotaques e
variações regionais. Nesse sentido, os ambientes digitais relacionados à alimentação,
construídos por atores sociais indígenas de uma mesma etnia, são propícios para comparar as
variações que caracterizam a cultura em questão. O mn-hu ou pisé (pixé) é feito a partir de
uma farinha obtida por meio do processo de torrar o milho com cinzas em uma panela,
resultando em um ph alcalino que auxilia na separação do amido e da casca, além de contribuir
para a absorção nutricional. As cinzas peneiradas são adicionadas aos grãos então triturados em
um pilão, resultando em um torrado pronto para consumo, com um sabor defumado e
levemente adocicado. As cinzas quentes e as brasas ajudam a distribuir o calor de forma
homogênea na mistura, garantindo uma cocção uniforme em cada grão. Existem variações em
relação à quantidade de cinzas, ao tipo de pilão utilizado e à variedade de milho escolhida.
Figura 4 - Mn hu-pixé um dos alimentos típicos dos Kaingang
Fonte: Almeida (2019c) - Apucaraninha Paraná
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Conforme relatado por Sandra de Paula, educadora indígena do Toldo Imbu no Estado
de Santa Catarina, em sua monografia, o gãr/milho é um elemento essencial nessas
comunidades alimentares kanhgág, sendo encontrado em diferentes Terras Indígenas. Além
disso, ela destaca a importância de entrevistar os kofá, como fontes de conhecimento e sabedoria
sobre os hábitos alimentares tradicionais:
Minha avó fazia muito o kum (mandioca brava) acompanhado de farnh totor
(farinha de milho torrada) ou o mi (bolo na cinza), fuva com régró (feijão),
pyrfé (urtiga), acompanhado do pisé (farinha de milho feita no pilão) e a kirera
(canjiquinha). Meus avós plantavam para o consumo e não para comercializar.
As carnes que eu lembro daquela época eram o ratão do banhado, o tatu, a
pomba etc. (PAULA, 2020, p. 44).
Os agricultores Fermino Bento de Oliveira e Cenilda Ventura, residentes na Terra
Indígena Guarita, no noroeste do Rio Grande do Sul, compartilharam com o pesquisador José
Manuel Palazuelos Ballivián sobre a grande variedade de milho e como eles são utilizados para
diferentes propósitos no espaço alimentar kanhgág. Esses hábitos são compartilhados tanto
online quanto offline: “[...] para fazer o pisé (comida típica kaingang à base de farinha de milho
torrada nas cinzas), a kajyka (canjica), o bolo nas cinzas (pão típico, às vezes com massa
fermentada), gãru (pipoca) e o entô (milho cozido na brasa)” (BALLIVIAN, 2007, p. 8).
A postagem a seguir, apresentada como exemplo, ilustra a frequência do terceiro tópico
mais mencionado na página analisada. Gãr, o milho, é utilizado como matéria-prima para outras
preparações. A foto exibida (fig. 5) retrata a sociabilidade entre diferentes gerações no espaço
alimentar durante o processo de debulha do milho. Como observado por Cléber Kronun
Almeida (2021b): “[...] debuiando o milho, preparando para fazer bolo azedo (ēmī), é muito
importante que as crianças participam, pois é uma aprendizagem. Aprendemos de acordo
com o tempo, a natureza nós ensina, a escola nossa, aprendemos com a liberdade”. Os pais
compartilham essa atividade familiar para incentivar o cultivo, colheita e processamento do
milho, além de reforçar sua adesão aos hábitos alimentares kanhgág.
Gabriel Chaves AMORIM
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Figura 5 - “Debuiando” milho
Fonte: Almeida (2021b) - Apucaraninha Paraná
A reciprocidade entre os diferentes tipos de sementes e os Kanhgág é evidente, uma vez
que a preservação das tecnologias e das espécies de plantas é acompanhada pelo fornecimento
de nutrientes substanciais do milho, permitindo que essa dinâmica se repita. As sementes pretas
são chamadas de gar (milho verdadeiro), assim como kanhgág . O hábito de debulhar o
milho, que antes estava restrito ao ambiente privado, agora é capturado, registrado em fotos e
textos, transformado em uma postagem no grupo e consumido na forma de curtidas,
compartilhamentos e comentários.
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Fogo, fumaça, cinza e água são ingredientes indispensáveis: antropologia da alimentação
O comestível tipicamente se apresenta por meio da adaptação ambiental de ingredientes,
técnicas, modos de alimentação, pratos e preparações, que os Kanhgág reconhecem como suas
eg vjn. Para os Kanhgág do sul do Brasil, os seres da natureza e os modos de preparo se
tornam símbolos para falar das “comidas típicas”, sendo assim classificados. A cozinha
kanhgág representa um espaço que articula o simbólico e o material, em consonância com a
proposta de Poulain e Proença (2003, p. 252): “[...] espaço do comestível é, portanto, a escolha
que é operada pelo grupo humano no interior do conjunto de produtos vegetais e animais
colocados à sua disposição pelo meio natural, ou que poderá ser implantada pela decisão do
grupo”. A categoria alimentar "comidas típicas" é utilizada pelas populações Kanhgág,
englobando as práticas estéticas, éticas e dietéticas relacionadas à sua alimentação, refletindo a
interação entre ambiente e cultura. Assim, o nome e a proposta do grupo na rede social indicam
a afirmação desse marcador, remetendo às "nossas comidas" (eg vjn), e funcionam como uma
tradução para que o não indígena (fóg) possa compreender a peculiaridade da comida kanhgág
(kanhgág jn).
A produção desse espaço digital é o resultado de um processo longo de preservação das
diferenças, que se distingue da cozinha não indígena (fóg), a qual está disponível para plantio,
compra ou coleta, com a intenção de expor e trocar conhecimentos. Além disso, está
relacionado à incorporação de linguagens provenientes dos meios digitais, como interação,
curtidas e compartilhamento de informações. Como lembra a assistente social kanhgág
Angélica Domingos em sua monografia de conclusão: “Nen ã ty eg vejen nim ti, A Mata é que
mostra nossa comida” (DOMINGOS, 2016, p. 59). Esses exemplos regionais de confecção de
pratos e técnicas podem ser comparados, conforme apontado por Domingos (2016), como um
pedaço de mata e roça familiar dentro das monoculturas da internet.
Nas postagens do grupo, observa-se a manifestação de criação e reprodução de pratos
típicos kanhgág, que pertencem à esfera da arte e da técnica. A comida denominada vjn, em
particular, é uma expressão culinária que deve ser devidamente registrada, ao mesmo tempo,
em que desempenha um papel nutricional no cotidiano. As comidas típicas seguem a dimensão
da técnica, uma vez que envolvem o uso de instrumentos, conhecimentos específicos e
habilidades relacionadas às preparações. Por outro lado, a dimensão da arte está presente nos
significados atribuídos às preparações dentro de uma estrutura cultural. Mary Douglas (2009,
p. 121) salienta que “Todos os bens são portadores de significado, mas nenhum o é por si
mesmo”. Um refogado de folhas, por exemplo, difere da queima de um remédio devido ao seu
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significado, embora ambas as preparações utilizem o mesmo método de cocção, precisam
obedecer também às convenções esperadas das comidas típicas, tais como “fogo, fumaça, cinza,
água”, como pontuado pela psicóloga kanhgág Rejane:
depois de passar por um ritual com o kujá devemos seguir uma dieta, essa a
qual descarta totalmente as comidas do fóg, apenas seguindo nossas comidas
típicas, fogo, fumaça, cinza, água são ingredientes indispensáveis. Peixe
assado na taquara (krakufãr kénpu), bolo assado na taquara (êmi kénpu), kumi
(folha da mandioca brava) são alguns alimentos usados após o ritual, uma
pequena parte da culinária kanhgág que faz parte da nossa medicina
tradicional (CARVALHO, 2020, p. 33).
Através das postagens no espaço digital, é possível perceber a presença do consumo
tipicamente kanhgág, que se manifesta por meio do significado ritualístico, sendo uma marca
da identidade, uma referência a ser preservada e uma forma de compartilhar meios de vida com
os outros. As comidas típicas e suas convenções, divulgadas na internet, universalizam a
fronteira que separa a comida e o mundo não-indígena, do contexto kanhgág, representando
modos de fazer, comer e existir. O espaço culinário online busca refletir as técnicas adotadas
pelo povo, como o uso das mãos de pilão e a agricultura de gêneros, tanto na preparação dos
pratos quanto nos rituais envolvidos, são [...] decisões de consumo que se tornam a fonte vital
da cultura [...] As pessoas criadas numa cultura particular a veem mudar durante suas vidas:
novas palavras novas ideias e maneiras” (DOUGLAS, 2009, p. 102). Tudo o que está
relacionado à construção da identidade nutricional, nas escolhas que criam, renovam, desfazem
e mantêm fronteiras, está inserido no espaço alimentar. Esse espaço pode se referir tanto a locais
físicos, como a cozinha, quanto a espaços virtuais de natureza epistemológica (POULAIN;
PROENÇA, 2003, p. 252).
O professor bilingue kanhgág Dorvalino Refej Cardoso (2017) aborda a alimentação a
partir de uma perspectiva estrutural e êmica. Nesse sentido, o espaço alimentar kanhgág é
influenciado pelas metades tribais, indicando a complementaridade dessa alimentação típica,
que é considerada viva, limpa, justa e sagrada. Essa alimentação-de-vida é regida por uma regra
específica: “Como o povo é dividido em duas metades tribais, Kam e Kanhru, o Kam faz
comida para a Kanhru e vice-versa. Existem comidas que são típicas de kam, assim como as
de Kanhru. Kam deve comer comida Kanhru e vice-versa” (REFEJ CARDOSO, 2017, p.
51). Quando um casal se forma, essa regra é aplicada, ou seja, é permitido que as metades
exogâmicas opostas se unam, ou seja, Kam casa com Kanhru e vice-versa, e dessa forma, eles
cozinham alimentos, bebidas e remédios um para o outro. No entanto, essa regra não é tão rígida
como demonstrado nas postagens, pois os alimentos são compartilhados entre diferentes
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famílias e até mesmo com pessoas de outras aldeias. Dessa forma, as marcas clânicas se
apresentam como recursos culturais familiares.
É possível observar, por meio das postagens nas redes sociais, que as crianças aprendem
desde muito jovens a reconhecer os alimentos essenciais para sua sustentação e a nutrir respeito
por eles. Isso é evidenciado, por exemplo, quando uma criança pequena manuseia um tatu
recém-limpo para ser cozido (Fig. 6), ou quando as crianças participam do trabalho na roça ou
do debulhar do milho (Fig. 5). Essas temporalidades estão presentes na alimentação kanhgág,
que possui um esquema temporal múltiplo que depende de diversos fatores, incluindo o ciclo
de vida e marcadores que determinam o que é consumido. Os kofá devem consumir alimentos
específicos para sua idade, assim como as gir/crianças, conforme revelado pelo historiador
kanhgág Bruno Ferreira. A criança aprende os bitos alimentares junto aos mais velhos, em
um processo de transmissão cultural e educação alimentar:
Junto com as outras Gĩr (crianças), o nosso cotidiano era ir para a roça ajudar
a fazer pequenas plantações de Gãr (milho), batata doce, mandioca, feijão, ir
ao mato buscar frutas e pegar lenha para fazer fogo e preparar nossas comidas,
como o fuva, folha de mandioca brava, auxiliar na elaboração do , que é
um bolo assado na cinza, feito de farinha de milho socado no pilão
(FERREIRA, 2020, p. 27).
A cultura estabelece limites, fronteiras e potencialidades para a identidade,
determinando o que pode e o que não pode ser consumido, por meio de permissões e proibições
que variam conforme a idade, gênero, marca clínica ou condição econômica. O espaço
alimentar kanhgág articula diferentes tempos, ciclos, estações de trabalho ou venda de
artesanato, atividades na comunidade e festas coletivas ou familiares, e também se associa à
“[...] alternância de períodos de abundância e de penúria” (POULAIN; PROENÇA, 2003, p.
253). Esse espaço alimentar também é atravessado por intersecções de crenças e gênero, como
exemplificado na dieta da viúva descrita na monografia de Rejane Carvalho Pafej:
Os pêj levam a viúva para mata, se é construída uma cabana com capim,
próximo do goj jânhkri (água corrente e limpa) para que ela fique na mata
densa sozinha, longe dos olhos da comunidade. Ela é banhada quantas vezes
forem necessárias em água corrente para que se purifique, ervas medicinais,
chás, comidas apenas as típicas, sendo que kamê come comidas mais secas,
kairu comidas mais umidificadas (CARVALHO, 2020, p. 35).
A comida típica kanhgág é considerada um ato social, conforme descrito por Maria
Eunice Maciel, a “[...] cultura material que imprime representações e imaginários, envolve
escolhas, classificações, símbolos que organizam as diversas visões de mundo no tempo e no
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espaço” (MACIEL, 2004, p. 25). De acordo com Maciel, que é nutricionista e antropóloga, a
alimentação vai além do aspecto puramente biológico. Uma das dimensões mais importantes
do estudo da Antropologia da Alimentação é a problemática das identidades sociais e culturais.
Através da construção e afirmação das comidas típicas, são articulados significados do grupo,
renovando os símbolos de identidade reivindicados tanto individualmente quanto
coletivamente, como aponta a autora.
A cozinha de um povo é criada em um processo histórico que articula um
conjunto de elementos referenciados na tradição, no sentido de criar algo
único - particular, singular e reconhecível. Entendendo a identidade social
como um processo relacionado a um projeto coletivo que inclui uma constante
reconstrução, e não como algo dado e imutável, essas cozinhas estão sujeitas
a constantes transformações, a uma contínua recriação. Assim, uma cozinha
não pode ser reduzida a um inventário, a um repertório de ingredientes, nem
convertida em fórmulas ou combinações de elementos cristalizados no tempo
e no espaço (MACIEL, 2004, p. 29).
A cozinha kanhgág, presente na bibliografia e nas postagens como material etnográfico,
é marcada pelos conhecimentos/Jykre da cultura, que funcionam como elementos de
reconhecimento mútuo entre os membros do grupo, como sugere Maciel (2004). Essa cozinha
também é influenciada pela história, destacando-se a violência epistemológica do colonialismo,
que trouxe consequências negativas para a vida cotidiana, conforme apontado pela psicóloga
kanhgág Rejane: “À medida que territórios não são demarcados ou que são reduzidos, que os
rios poluídos, as ervas medicinais desaparecem, as comidas típicas ficam raras e a caça então,
nem se fala” (CARVALHO, 2020, p. 17). Essas implicações refletem-se em problemas para a
reprodução da agricultura familiar, restrição de espaços para o cultivo em áreas urbanas,
extinção de diversas espécies de plantas alimentares tradicionais e interesse da juventude na
preservação dos espaços alimentares.
Dessa forma, o espaço alimentar kanhgág articula elementos tradicionais aos mais
novos, na construção de um processo contínuo de alimentação marcado por transformações e
afetações nas identidades individuais. As cozinhas são marcas identitárias dos povos e das
pessoas. Em termos etnográficos, observa-se que os usuários do grupo online, ao se apropriarem
dos novos conhecimentos proporcionados pelas redes sociais e recursos digitais, transformam
suas formas de vida de maneira a construir uma identidade compartilhada ou projetos em
comum. Portanto, a cozinha não se resume apenas a receitas, medidas ou técnicas culinárias,
mas também revela a forma de viver dos diferentes povos, com uma perspectiva de convivência
comum. A preparação de comidas típicas, assim como o ativismo digital dentro do grupo de
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compartilhamento de postagens em redes sociais, enfatiza o pertencimento social,
compartilhando não apenas alimentação, mas também objetivos de vida em comum.
Comer junto e compartilhar conteúdo nas redes sociais tornam-se atos de distinção
social, pois requerem os meios necessários, como acesso à internet, computador ou celular,
conhecimento das linguagens digitais e espaços para interagir, curtir e compartilhar. Como
resultado, acordos são estabelecidos, conquistas são celebradas e a comida em abundância é
exaltada. Essa celebração não se limita apenas à quantidade de comida, mas também à
importância atribuída aos momentos de preparação dos pratos típicos, a forma como se come,
com quem e onde esses momentos são vivenciados. São situações em que ocorrem exibição e
disputa social, expressas por meio de roupas, linguagem, ingredientes selecionados e
comportamento. Esses eventos são divulgados para que os outros saibam sobre o
acontecimento, a comida e os convidados, consolidando assim uma certa imagem e narrativa
no espaço digital, tanto em grupos coletivos quanto em perfis individuais.
Alimentar-se em conjunto cria gestos comunicativos que vão além da simples nutrição
ou do ato de se alimentar, como observado por Montanari (2008, p. 157). As comidas típicas
possuem uma dimensão tanto biológica quanto cultural, pois, como Montanari cita a partir de
Roland Barthes: “[...] a carga simbólica da comida é ainda mais forte quando ela é percebida
como instrumento de sobrevivência diária [...] a mesa como metáfora da vida” (MONTANARI,
2008, p. 158). Para os Kanhgág, as comidas típicas estão intrinsecamente ligadas às atividades
de trabalho, seja na produção de remédios, no cultivo de alimentos nativos, na coleta de plantas,
na caça, na pesca ou na colheita de mel. Comer junto é um ato de cura coletiva, como aponta
Dorvalino Refej Cardoso (2017), onde a comida é vista como remédio: “É recomendado
preparar o alimento com água que tem vida, retirada direto da fonte. É muito importante repartir
o alimento com quem precisa e com quem tem fome, pois o mesmo vem de Deus” (REFEJ
CARDOSO, 2017, p. 51).
A prática de comer junto na cultura kanhgág ocorre em diversas situações, como quando
parentes chegam para compartilhar uma refeição, durante churrascos entre famílias, festas
comunitárias, assados de carne ou durante uma pescaria às margens do rio. Quem paga, quem
compra, quem cozinha, quem é o anfitrião e quem é o visitante, como afirma Massimo: “[...] o
caráter expressivo da refeição nunca é distinto do valor concreto (econômico e nutricional) dos
alimentos consumidos. É, portanto, indispensável identificar uma gramática da comida e
decodificar suas regras” (MONTANARI, 2008, p. 164). Da mesma forma, aqueles que
compartilham fotos e conteúdo no grupo adquirem a capacidade de serem vistos como
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preservadores e referências para a comunidade, como no caso de Cléber Kronum, o membro
mais ativo. A sociabilidade desses espaços alimentares, como o grupo na rede social, vai além
do ato de comer e compartilhar, mas está relacionada à construção de uma vida justa, na qual
cada indivíduo tem um papel funcional e preserva referências: “Outra questão essencial do
comer junto é a partilha da comida. A atribuição de um pedaço em vez de outro nunca é casual
[...], mas reproduz as relações de poder e de prestígio no grupo” (MONTANARI, 2008, p. 163).
Dessa forma, o consumo das postagens no ambiente virtual do grupo ocorre como uma forma
de alimentação, na qual alguns indivíduos produzem conteúdo, enquanto outros consomem,
curtem e compartilham, havendo também aqueles que realizam ambas as atividades. No
entanto, essa alimentação ocorre de maneira desigual entre os participantes do grupo.
No contexto dos espaços alimentares kanhgág, é possível identificar uma ética que
orienta as ações com base em referências-de-vida, como argumentado pela psicóloga kannhgág
Rejane Carvalho Pafej (2020) em sua obra sobre as formas de viver em relação ao capitalismo:
“Comer comidas industrializados, por exemplo, pois nossas comidas típicas estão se acabando
cada vez mais com a entrada dos agrotóxicos em nossas comunidades” (CARVALHO, 2020,
p. 24). Carvalho descreve as comidas típicas como opostas às industrializadas, ligadas à
territorialidade e destaca que os momentos vivenciados e as postagens relacionadas a essas
experiências possuem o poder de educar e despertar o desejo de agir. Atualmente, as comidas
típicas são consideradas aquelas coletadas ou criadas especialmente com o propósito de
preservar, educar e colocar em prática a potência ética e estética. Por outro lado, as comidas
industrializadas são referidas como “comidas de venda”, sendo que venda é um termo sinônimo
de bodega, mercearia ou mercadinho. Frequentemente, as narrativas sobre as comidas do
passado descrevem como tudo era diferente, como Kofá Maria comentou: [...] socado no pilão,
nossas canjicas, hoje em dia as comidas nem tem mais gosto, enche de temperinho pra tirar o
gosto do secante, isso tá matando nóis kanhgág” (CARVALHO, 2020, p. 24).
No que diz respeito aos saberes e sabores, o educador kanhgág Onório Moura relata que
possibilidades na proposta de ensino que prevê o direito a uma pedagogia formulada e
aplicada por intelectuais das próprias comunidades, principalmente no que se refere à
alimentação, e que pode ser adaptada à realidade local. Nesse sentido, as escolas das
comunidades preservam a tradição ao oferecerem merendas escolares [...] por exemplo, pelo
menos uma vez por semana, são servidas comidas picas preparadas pelas próprias merendeiras
que são todas indígenas” (MOURA, 2021, p. 55). Mesmo com a mudança do cardápio, que é
estabelecido pelo Estado com base em critérios nutricionais, ainda existem obstáculos para
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incorporar a dietética kanhgág. O relato é encorajador no que diz respeito à preservação dos
sistemas alimentares e à ecologia dos sabores e saberes. O Centro de Memória (CMCK) e o
grupo de compartilhamento “comidas típicas” são iniciativas propulsoras para a implementação
dessas mudanças nas escolas, incluindo o fornecimento de receitas para a merenda escolar, por
exemplo.
O termo vjn my jykre”, que combina os significados de comer, bom e
conhecimento, pode ser flexionado para se aproximar dos campos da Nutrição, Gastronomia ou
Alimentação. Refere-se a um projeto de vida alimentar que envolve a pessoa em questão, seus
parentes, aliados e grupos específicos. De acordo com Amorim (2020b) o “uso do hífen, em
projeto-de-vida, como recurso linguístico, se refere à junção ou separação dos objetivos, meios
e referências que compõe o projeto e a vida da pessoa. O projeto de vida, separado da vida, é
uma forma de terceirização” (AMORIM, 2020b, p. 238). O compartilhamento de postagens
segue a lógica de dividir momentos do cotidiano, a comensalidade, o partilhar e a abundância.
Estar junto dos kanhkã/parentes pode significar estar próximo do núcleo familiar extenso, bem
como estar com outros indígenas e indigenistas, uma vez que estar no grupo implica ter o
mesmo objetivo de vida.
No livro Vacas, Porcos, Guerras e Bruxas: os enigmas da cultura (1978), Harris
Marvin discute os marcadores de diferenciação humana, sendo eles primitivos,
subdesenvolvidos e pertencentes ao terceiro mundo, que criam um tipo ideal de vida e comida.
Fora da monocultura da existência, como argumenta Santos (2002), outras formas são
consideradas ausentes e “[...] apenas uma pequena parcela da gama de alternativas relativa aos
modos de viver [...]. Na vida social comum é invariável que alguns controlem ou explorem
outros” (HARRIS, 1978, p. 15). Portanto, quando mencionamos a organização dos projetos de
alimentação que promovem a justiça cognitiva, estamos nos referindo à economia do sujeito,
conforme apontado por Santos e Meneses (2009). Segundo Amorim
4
(2020a, 2020b, 2022) a
valorização equitativa dos discursos e conhecimentos locais, tradicionais e nativos, juntamente
com os discursos formais, acadêmicos e científicos, é essencial para mitigar as lacunas criadas
pela modernidade e permitir o surgimento de respostas baseadas na subjetividade cultural. Os
4
Conforme o autor a juventude indígena planeja ou Projeta-a-vida “[...] trata-se da fôrma sociológica, apontando
para uma experiência de poder-ser que tenta escapar dos aparatos coloniais, governamentais, estatais da
modernidade. Modo de produção da vida ilesa aos problemas-de-vida, como a colonialidade, a opção única de
vida e trabalho. Uma tradução de mῖn eg my é “Nossa vida boa”, a Vida ecológica, a ecologia dos saberes,
em diálogo com Boaventura de Sousa Santos” (AMORIM, 2022, p. 131).
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critérios e parâmetros do fóg (não-indígena) são utilizados para entender a alimentação
kanhgág.
Figura 6 Hoje tem fãfãn (tatu)
Fonte: Almeida (2020b)
Considerações finais
Em grande número, os Kanhgág possuem uma gastronomia rica, que ainda não emergiu
como um estilo de vida ou projeto no mundo fóg, no caso da comida e da forma de viver. Essa
riqueza está relacionada à longa história de interação com os seres que habitam as regiões do
sul do país. Portanto, para estudar a alimentação Kanhgág, é necessário adotar uma abordagem
abrangente que leve em consideração a vida em suas diversas dimensões: reconhecer a
polissemia, que se refere às várias vozes que compõem e constroem o ambiente alimentar, tanto
online quanto offline.
Dentro da etnia Kanhgág, é evidente a presença linguística de comidas típicas -
Kanhgág g vjn, ou seja, alimentos tradicionais ou, ainda, conforme Poulain e Proença (2003,
p. 252), espaço alimentar, espaço gastronômico ou espaço de alimentação. A criação desse
espaço ocorre em consonância com técnicas de cultivo, relação com a terra e disponibilidade
de recursos. Para que a dimensão artística se manifeste, é necessário o respaldo empírico: os
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ingredientes obtidos por meio do rãnhrãj (trabalho). Esse espaço criado está presente em
contextos como o grupo analisado, Comidas Típicas e Fotos Kanhgág”. A arte se manifesta
na produção de imagens que podem ser capturadas por dispositivos fotográficos ou permanecer
na memória dos convidados.
Dessa forma, a distinção que caracteriza a comida típica está relacionada à fronteira com
o mundo fóg, que inclui alimentos industrializados, açúcares, óleos refinados e hábitos
alimentares “brancos”. Um traço antropológico presente na alimentação Kanhgág, conforme
mencionado no artigo, é a presença de componentes essenciais: fogo, fumaça, cinzas e água,
que diferenciam a comida Kanhgág da alimentação fóg. Por fim, destaca-se, dentro do universo
de Mary Douglas (2009, p. 123), a noção de que “[…] bens e gastos são usados para marcar
sentido”. Eles marcam valores, identidades, intenções e reconhecimento, sendo assim, os
momentos de alimentação e compartilhamento se apresentam como importantes para o povo
Kanhgág. As pessoas se reconhecem nos outros e em seus modos de ser, preparar comida e se
alimentar.
A sociabilidade entre as gerações preserva as referências ao envolver os mais jovens e
deixar que os kofá falem, permitindo assim que a juventude atue na documentação dessas
referências. Observamos que a sociabilidade das gerações jovens torna o espaço alimentar em
uma oportunidade de transcender as categorias alimentares e se ancorar em orientar a
população. As comidas típicas rompem com a monocultura da colonialidade fóg, conforme
descrito por Santos (2002), que propõe a existência de uma única forma de viver. As redes
sociais se tornam um instrumento ideal para a socialização dos projetos de vida, em direção a
uma ecologia do conhecimento e da alimentação.
O espaço digital Comidas Típicas Kanhgág se apresenta neste trabalho como um
projeto comunitário que articula, em primeiro lugar, a necessidade de resolver o problema da
preservação das comidas típicas e a superação do isolamento no compartilhamento de
experiências e vivências da cultura Kanhgág. O projeto também prevê um meio, que consiste
na formação de um grupo específico com o objetivo de realizar postagens dedicadas aos pratos
típicos kanhgág. Essas postagens são feitas utilizando principalmente dispositivos móveis,
como celulares, mas também computadores, para compartilhar memórias que merecem ser
preservadas nesse compêndio que se formou a partir do grupo.
Esse Centro de Memória e Cultura Kanhgág, serviu como base para a elaboração da
proposta do grupo e a capacitação dos jovens que deram início a esse empreendimento. A
justificativa dos organizadores do grupo reside no desejo de promover a disseminação dos
Gabriel Chaves AMORIM
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16865 25
hábitos alimentares por meio desse compartilhamento, que pode ser considerado um ativismo
digital, gastronômico e indígena. Por fim, as postagens representam uma forma de ativismo que
integra referências comunitárias e os conhecimentos das pessoas mais velhas/kofá, suas
técnicas, conhecimentos sobre ingredientes, formas de comer e de viver.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não se aplica.
Financiamento: Não se aplica.
Conflitos de interesse: Não se aplica.
Aprovação ética: Não foi necessária aprovação de comitê de ética.
Disponibilidade de dados e material: Os dados se encontram disponíveis para acesso na
rede social estudada.
Contribuições dos autores: O trabalho foi desenvolvido integralmente pelo único autor.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16865 1
KANHGÁG EG VJN FOOD: BUILDING THE DIGITAL FOOD SPACES
COMIDAS KANHGÁG EG VJN: A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO ALIMENTAR
DIGITAL
COMIDAS KANHGÁG EG VJN: CONSTRUIR LOS ESPACIOS DIGITALES DE LA
ALIMENTACIÓN
Gabriel Chaves AMORIM1
e-mail: gchavesamorim@gmail.com
How to reference this paper:
AMORIM, G. C. Kanhgág Eg Vjn food: Building the
digital food spaces. Rev. Cadernos de Campo, Araraquara
v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16865
| Submitted: 24/08/2022
| Revisions required: 25/01/2023
| Approved: 17/02/2023
| Published: 23/08/2023
Prof. Dr. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. MSc. Aline Cristina Ferreira
Prof. MSc. Mateus Tobias Vieira
Prof. MSc. Matheus Garcia de Moura
1
University of Vale do Rio dos Sinos (UNSIINOS), São Leopoldo Rio Grande do Sul (RS) Brazil. Fellow
CAPES (PROSUC) doctoral scholarship holder in the Social Sciences Graduate Program (PPGCS).
Kanhgág Eg Vjn food: Building the digital food spaces
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16865 2
ABSTRACT: This article presents an ethnography conducted among the Kanhgág to analyze
the food spaces they created, considering them as cultural organizations, social network groups,
and everyday eating habits. "g vjn" means "our foods" and represents an anthropological
food space created by the Kanhgág, sometimes referred to as "typical food." The study utilizes
anthropological literature on food to analyze a series of posts in a virtual social media group
dedicated to Kanhgág food. Between virtual activism and promoting cultural centers, the
Kanhgág construct their food practices.
KEYWORDS: Kanhgág (Kaingang). Antropology. Food habits. Indigenous.
RESUMO: O presente artigo elabora uma etnografia junto aos Kanhgág para analisar os
espaços alimentares por eles criados, considerando-os como organizações culturais, grupos
de rede social e os hábitos cotidianos de alimentação. “Ẽg vjẽn” significa “nossas comidas”
e representa um espaço alimentar antropológico criado pelos Kanhgág, que às vezes é
chamado de “comida típica”. Para tanto, o estudo utiliza bibliografia antropológica sobre
alimentação a fim de analisar uma série de postagens em um grupo de uma rede social virtual
dedicado à alimentação Kanhgág. Entre o ativismo virtual e a promoção de centros culturais,
os Kanhgág constroem sua alimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Kanhgág (Kaingang). Antropologia. Alimentação. Indígena.
RESUMEN: El presente artículo elabora una (n)etnografía con los Kanhgág para reflexionar
sobre los espacios alimentarios creados por ellos como organizaciones culturales, grupos de
redes sociales y hábitos cotidianos de alimentación. g vjn significa nuestros alimentos, y es
un espacio alimentario antropológico creado por los Kanhgág que a veces se denomina comida
típica. Para ello, el estudio se basó en bibliografía antropológica sobre alimentación para
analizar una serie de posts en un grupo de red social virtual dedicado a la comida Kanhgág.
Entre el activismo virtual y a través de centros culturales, los Kanhgág construyen su comida.
PALABRAS CLAVE: Kanhgág (Kaingang). Antropología. Hábitos alimentarios. Indígena
Gabriel Chaves AMORIM
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16865 3
Introduction
When analyzing the food of the people connected to the southern Jê linguistic branch, a
perspective on the emergence of identities is revealed. Around fifty thousand Kanhgág are
estimated to live in the territories of São Paulo, Paraná, Santa Catarina, and Rio Grande do Sul.
The last census conducted in 2010 recorded 35,000 members of this ethnic group, which is
believed to have increased over time. The choice was made to use the spelling "Kanhgág" with
a capital letter to refer to the collective of the people, while "kanhgág" with a lowercase letter
is used as an adjective. This spelling choice follows Úrsula Wiesemann's dictionary, as the
research participants also do. Kanhgág g vjn, a term present in the title of this article, means
"Kanhgág food." It is a semantic location of the expression used by the research participants to
refer to typical foods. The ethnographic journey aimed to observe a digital space for content
sharing as a form of cultural existence, as emphasized by Leitão and Gomes (2017).
The first section presents the ethnographic context, analyzing the relationship with the
main interlocutor, the environment in which the virtual page is inserted, and the activist actions.
Thus, in "Vjn - Alimentar-se" (Feeding), an ethnographic study was carried out mainly based
on the activities of a memory and culture center, as well as the page on a social network called
"Typical Kanhgág Foods [...]." Through testimonials, accounts, and bibliography, the food
preferences are exposed in the most discussed topics: m; Mn-hu (pisé) and Gãr, ashes cake,
pixé, and corn. This food space opens up new possibilities, whether on social networks or in
communities, memory centers and researched virtual pages. In this segment, there is a
subsection dedicated to the ethnographic aspects developed in conjunction with the group
"Typical Kaingang Foods and Indigenous Kaingang Photos," where it was possible to connect
theory and ethnography, identifying the most recurring foods in the posts and establishing
analogies with the bibliography.
In the second textual section, titled "Anthropology of Food: fire, smoke, ash, water are
indispensable ingredients," a discussion is presented based on ethnographic data, considering
anthropological literature. It became necessary to strike a theoretical balance between articles
and texts on the anthropology of food to discuss the academic categories underpinning the first
stage and the empirical sources. The emic category, which relates to the theoretical classes,
addresses "typical food - g vjn," which is how the interlocutors refer to an essentially
Kanhgág diet. These foods and dishes have a unique meaning and a specific semantic place in
Kanhgág Eg Vjn food: Building the digital food spaces
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the language and everyday life. This typical food presents itself as an offline Kanhgág food
space, which converges with the digital activism provided by the social network page.
Vjn Feeding
As demonstrated in this article, nourishing oneself and others within the Kanhgág
culture is equivalent to providing resources for oneself and assisting others. This practice
represents a way of life manifested in a group dedicated to Kanhgág culture on a social network.
Through regular posts and interactions with other members, the aim is to nurture a cultural
collection. In the Kanhgág language, the verb jn means "to eat", while vjn refers to food,
meal, or nourishment. Therefore, it is believed that the verb jn can express both the act of
eating and the cultural assimilation of content available on the digital platform.
The textual section that presents (n)ethnography, in other words, ethnography in digital
environments, according to Leitão and Gomes' understanding (2017), adopts an approach that
values transient sensitivity. While traversing through messages and posts, the researcher ends
up "[...] navigating paths amidst the multitude of images and messages, which can be fruitful
when applied to the observation of platforms characterized by intense transit and ephemerality"
(LEITÃO; GOMES, 2017, p. 46, our translation). The authors establish an analogy between
ethnography in digital environments and the practice in large urban centers, with an intense
flow of interlocutors and landscapes. In a way, the researcher wanders through these
environments, encountering the familiar and the unfamiliar. Thus, the practice of this article
situates itself as a methodology that combines contact with the most active participant in the
indigenous food culture group to analyze the posts and photos, establishing connections with
anthropological literature. Therefore, the study focused on the period from 2018 to 2023 and
aimed to identify the most recurring themes in the posts to present a significant sample. Unlike
in-person field ethnography, this approach used virtual contact and forays into the digital
environment of the "Typical Kanhgág Foods [...]" group, interviewing the user with the highest
number of posts and bringing the virtual field notebook closer to writing.
The contact and exchange of messages with the young Kanhgág cultural activist, Cléber
Kronun, residing in the Apucaraninha Indigenous Land (TI), located in Paraná, a state in
southern Brazil, established a (n)ethnographic and interethnic dialogue that directed me to the
digital space of the group present on a social network. Cléber presents himself as a filmmaker,
independent researcher, and advocate for Kanhgág culture, and his name, Kronun, is associated
Gabriel Chaves AMORIM
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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with traditional food. I met Cléber while completing my undergraduate studies in History and
starting my master's degrees in Anthropology, History, and Social Sciences. Kronun assisted
me in understanding youth and their projects, which were essential for writing my monographs.
As a (n)ethnographer, I approached various indigenous leaders, mainly Kanhgág, through
social networks. Another necessary experience occurred during my undergraduate studies in
History and Gastronomy when I worked as a famous educator in a preparatory course focused
on Kanhgág youth in São Leopoldo-RS, with whom I have collaborated since 2010. In this way,
I could establish contacts in the field and exchange phone numbers and social media profiles.
Due to these subjective reasons mentioned earlier, Cléber Kronun's posts caught my attention,
as the young man shared a lot about food from a cultural perspective, which proved highly
relevant to the anthropological analysis of online and offline food spaces.
Based on this, I requested a recorded interview with Cléber Kronun and permission for
dissemination. After obtaining authorization, Cléber informed me that they use social
technologies to record, archive, and share the knowledge transmitted by the kofá (the elders).
The production of photos, films, and accounts serves as a means of dissemination and memory
preservation and creates new ways of living. The interview was conducted asynchronously, in
video format, recorded, and sent through a messaging app. The researcher's approach to
indigenous leaders could be initiated through social networks, as many indigenous people today
have internet profiles precisely for this exchange of experiences and to reaffirm their territorial
identity.
My name is Cléber Kronun, and I am from the Kanhgág ethnic group. I live
in the Apucaraninha Indigenous Land. I am part of the Kanhgág Center of
Memory and Culture within our village and an indigenous filmmaker. I have
made a short film. The Kanhgág Center of Memory and Culture operates in
the following way: we film the elders within our village, capturing their stories
about where they used to live and reside in the past. We also film the day-to-
day life within our community, but due to this pandemic, our activities are
currently on hold. We plan to release a book, which will be ready in October.
I am also part of the dance group and the youth group. We used to go to
different places to perform, but we could not do so due to the pandemic. The
roads leading to our village are closed to prevent indigenous individuals from
contracting the coronavirus. The dance group, called nn ga, was initiated
within the school. The students gathered to form this group to perform
(ALMEIDA, 2020ª, our translation).
The Memory Center mentioned by Cléber Kronun is a project and activist initiative
aimed at providing a space for caring and strengthening the culture of the kofá (elders),
representing the Gufã tradition, and the uri, representing the contemporary time of the current
Kanhgág Eg Vjn food: Building the digital food spaces
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Kanhgág. This project serves as an activist space by preserving and creating collections of
Kanhgág and other indigenous cultures' memories, promoting their goals and references, and
gathering resources to address common issues. Therefore, the Kanhgág Memory and Culture
Center (CMCK) established itself as a space for discussions, actions, research, and the
dissemination of projects related to Kanhgág memory and culture. The introductory text of
CMCK clearly outlines how this collective presents itself, aiming to include and make the
proposal familiar to participants.
In the year 2014, we and the non-indigenous teachers began working together.
From there, together, we filmed the stories of our village elders to preserve
them in memory. Afterward, we filmed the daily happenings within our
village, and each person was also filmed in their town, just like in our village.
Together, we created a feature-length video. And after some time, we decided
to make a book in collaboration with our team from the Kaingang Center for
Memory and Culture (CMCK, 2016, online, our translation)
The text begins with the pronoun "we," indicating the existence of a collaborative group
composed of kanhgág educators, fóg/non-indigenous individuals, and young students who
communicate through culture and technology. Among the projects developed by this group are
a blog, profiles, and pages on social media. The city of Apucaraninha, where the project is
based, comprises several different villages, and the headquarters is named after the Indigenous
Land (T.I). According to CMCK, debates were brought into the villages involving the ideas of
the youth. Cléber's participation in the Center for Culture and Memory was undoubtedly a
means, a justification, and a reference for developing his objectives, such as his trajectory as a
researcher of Kanhgág food on social media.
As Amorim (2022) highlights in their research on the life projects of kanhgág youth,
initiatives like CMCK fit into life projects, which are projections related to people's lives:
This passage discusses articulating life references within the social
organization, language, and collective memory. Socialized livelihoods, such
as craftsmanship, agricultural work, and education, create common bonds
among community members. It is not simply about "having something in
common" but instead characterized by reciprocal relationships involving these
livelihoods. This includes teaching craftsmanship, sharing agricultural work
opportunities, and assisting others in acquiring academic and employment
positions. The community project intervenes in life problems collectively and
assumes each other's demands, involving itself in the lives of others (and
oneself), ensuring food security, adhering to community organizational rules,
and promoting healthy relationships between couples (AMORIM, 2022, p.
132, our translation).
Gabriel Chaves AMORIM
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16865 7
Considering the ethnographic data of this research and following the perspective of the
mentioned study, online posts and projects of the Center for Culture and Memory constitute
ways of articulating justifications, objectives, references, and means to solve cultural problems.
The offline space of this Memory Center becomes conducive to community life projects and
cultural and identity affirmation activism, characteristic of indigenous education, across
multiple digital platforms. As Leitão and Gomes (2017, p.46, our translation) emphasize, digital
spaces and their engagement "[...] do not mean a detachment from other environments".
Cléber Kronun de Almeida, along with other young people and educators from the
Kanhgág ethnic group, coordinates CMCK in the Apucaraninha Indigenous Land, where they
promote the dissemination of culture through film production, informative posts, and initiatives
for education about indigenous heritage. This is important for the youth to identify themselves
and develop an appreciation for their Kanhgág identity, thus nurturing the desire to know and
preserve the places and ways of life of the kofá. The documentation of the center's activities
resulted in the bilingual Portuguese/Kanhgág book titled "Os kaingang do Apucaraninha e suas
histórias - Karynīnh ki kanhgág ag joke kãme" (ZACARIAS, et al., 2021; CMCK, 2021).
According to a report from the Paraná State News Agency
2
the books will be distributed to 39
schools belonging to indigenous peoples in the state and partners. Additionally, the book link
is available on the educational website
3
of the Paraná government, where pedagogical resources
are provided for teachers in the state and interested individuals. The physical and digital
distribution of the work is essential to increase both the visibility and knowledge about the
Kanhgág and strengthen intercultural education.
CMCK plays the role of bridging the contemporary food space and past generations,
highlighting the ethical and aesthetic values of the kofá and recording them. The objective is to
create educational materials based on the knowledge/jykre of the kofá. Recently, Kanhgág's
knowledge about food was systematized at the Memory Center by Cléber Kronun in a chapter
of the book organized in 2021. From Kronun's perspective, ancient kanhgág gufã/indigenous
food is presented as strong and healthy, in contrast to the food of the fóg/non-indigenous, which
is seen as mere subsistence. By observing this incorporation, it is evident that not all foods and
ingredients from the white culture are used in Kanhgág cuisine, but when incorporated, they
are modified in terms of seasoning, cooking methods, and forms of use. The following is an
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View Paraná (2022).
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View Paraná (2023).
Kanhgág Eg Vjn food: Building the digital food spaces
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16865 8
excerpt from the Center of Memory's blog, illustrating the duality present on the border between
fóg and Kanhgág foods:
(ALIMENTAÇÃO DOS KAINGANG) Previously, our Kaingang elders
gathered many foods from the forest, which is why they were strong. Their
children also grew up strong and healthy, rarely falling ill. This custom is
almost extinct, so we rely on non-indigenous food to avoid hunger.
Nonetheless, when we come across some of these traditional foods, we
prepare and eat them. Here are some names of our traditional foods: mandioca
brava (bitter cassava), varana, fuá, fish, Ortigão, green corn, piche, sour cake,
coró de taquara (bamboo coró), coró de palmeira (palm coró), mushrooms,
etc. These were our traditional Kaingang foods (ALMEIDA, 2021a, p. 70, our
translation).
According to the text, these foods are identified as "ours," "strong," "healthy," and
"typical" among those who consider themselves part of this group, functioning as a form of
communication among peers. Thus, the digital space, whether on social media, through a
website, or a blog, proves promising for the Kanhgág to recognize themselves in content that
considers the life references carried by these people. This enables coexistence accompanied by
activism, education, and identity affirmation.
"Comidas tipicas dos kaingangs e fotos indigenas kaingang" Group
The group “Comidas típicas dos Kaingangs e fotos indígenas Kaingang”, hosted on a
popular and widely-reaching social media platform, aims to gather information about kanhgág
food. By breathing new life into the culture through social media, it presents itself as a form of
digital activism. The group was created in 2016 with just over 900 members, but it only gained
engagement during the pandemic in 2020. Although membership is restricted to approved
individuals, it maintains a public nature as it is hosted on a social media platform and can be
found by Internet users. The group is fueled by individuals from different indigenous peoples
throughout Brazil and has an open policy regarding the admission of new members. The content
is shared by those who consume the posts, serving as cultural nourishment/jn.
Therefore, it represents a movement of cultural understanding and digital gastronomic
activism through social forms and interactions on social media and blogs. This movement of
learning is evident in posts about ingested, incorporated, digested, and once again made
available knowledge. This dynamic also converges with CMCK, a physical and imagistic space
that serves as another site of cultural digestion, housing videos, photos, testimonials, and
archaeological ceramics: "The Kaingang Memory and Culture Center (CMCK) is located in the
Gabriel Chaves AMORIM
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Apucaraninha Indigenous Land, 30 km from the municipality of Tamarana-PR and the district
of Lerroville (municipality of Londrina)" (CMCK, 2016, online). In this way, the group, as an
online extension of offline activities, allows for the convergence of physical and virtual
identities: "On Facebook, more than any other previous or contemporary digital platform,
identity convergence is a fundamental characteristic, both in terms of identification with
individuals' 'offline' names and identity data" (LEITÃO; GOMES, 2017, p. 52, our translation).
Assim, a equipe funciona como um espaço digital de afirmação das referências culturais
experimentadas, dentro de um Centro de Memória formalizado na Terra Indígena, sendo
ingerido, digerido e disponibilizado para um novo ciclo de consumo, reações e
compartilhamento.
The image below portrayed a moment of sharing captured by Kronun and posted within
the group. These moments exemplify the relationship with the territory, the foods planted,
harvested, fermented, pounded in the mortar, displayed on the table, and consumed by us (g),
the group. We can observe fish (pirã), roasted cassava, and pumpkin sprouts (peho fej) on the
table. The dissemination of these photos, accompanied by texts in Kanhgág, manifests ways of
life, consolidating and transmitting identities through far-reaching educational tools, such as
posts. The foods and their preparation methods and serving and sharing play an essential role
in this gastronomy. Therefore, the seats in the group aim to share with internal circles of
exchange and those outside, becoming a form of cultural food activism that teaches, showcases,
and preserves.
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Figure 1 - Today we from Aldeia Água Branca made Kanhgág foods
Source: Almeida (2022)
Traditional cuisine not only nourishes the body but is also intrinsically linked to
aesthetics, ethics, politics, and culture: Kanhgág g vjn - the food of the Kanhgág people.
Through a comprehensive analysis of the posts in the group from 2019 to 2023, I have identified
the most frequent topics shared by the page members.
Firstly, the m stands out, also known as sour cake. It is a preparation made with
harvested and dried corn, soaked in water with husks for fermentation for several days until it
acquires a characteristic aroma. Then, the corn is ground in a mortar, becoming a dough that
serves as a base for bread, cakes, and stuffing. The image from the group refers to a 2019 post
announcing a themed party dedicated to m. This post demonstrates the sharing of cultural
precepts among the residents of the communities in the Barão de Antonina Indigenous Land in
Paraná. The use of digital platforms to share the invitation accompanied an offline campaign
that mobilized leaders and residents to organize the event. It is evident that the party itself is a
form of activism, and the dissemination of the invitation and corresponding photos represents
digital food activism, as it establishes a dialogue with other forms of expression, reaffirms
identities and spaces, and shares community projects.
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Figure 2 - m, Sour Cake Festival on October 25, 2019
Source: Almeida (2019a)
It is evident that m, or "cake in the ashes," holds a prominent place in the Barão de Antonina
Indigenous Land as a typical food representing local culture. Moreover, it is a substantial energy source,
making it a daily presence among the people, bringing together kanhkó (allies) and regré (relatives).
The festival dedicated to m provides an opportunity to share ways of life, knowledge, hunting
techniques, food preparation, and gathering. In the previously presented image, the term "typical food"
refers to this specific food context under discussion.
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Figure 3 - Post in the group "Typical Foods of the Kaingang"
Source: Almeida (2019b)
The above image depicts the meats accompanying the sour cake, m: armadillo and
armored catfish, highly valued during the festival and typical of the village region. Community
members' virtual and in-person engagement creates bonds of trust and reciprocity among them.
Furthermore, showcasing the hunted game asserts one's identity and skill as a hunter. Feats
previously shared offline are now disseminated on social media, becoming a form of activism
that reaffirms dietary habits. Through photos and descriptive texts, culturally identifiable
material is created, sharing stories, hunting and fishing techniques, methods of preparation, and
seasonings, socializing all of this on digital platforms. Feeding the virtual page represents
cultural nourishment, sustaining other community members and non-indigenous individuals
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(fóg). This creates a second moment of engagement through likes, which demonstrate interest,
and comments, which generate new interactions about the same content. Nourishing the page
with information about traditional foods is an active participation in constructing this space.
Every day and organized events, such as the m festival, also become opportunities to take
photos, write texts, tag people in the posts, and share the content.
Similar to language, cooking, and preparation methods have innovations, accents, and
regional variations. In this sense, digital environments related to food, built by indigenous social
actors of the same ethnicity, are conducive to comparing the variations that characterize the
culture in question. Mn-hu or pisé (pixé) is made from flour obtained through toasting corn
with ashes in a pot, resulting in an alkaline pH that aids in separating starch and husk while
contributing to nutritional absorption. The sifted ashes are added to the grains, then crushed in
a mortar, resulting in a toasted powder ready for consumption with a smoky and slightly sweet
flavor. The hot ashes and embers help distribute heat evenly in the mixture, ensuring uniform
cooking in each grain. There are variations in the amount of ashes used, the type of mortar used,
and the chosen corn variety.
Figure 4 - Mn hu-pixé, one of the typical foods of the Kaingang
Source: Almeida (2019c) - Apucaraninha Paraná
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As Sandra de Paula, an indigenous educator from Toldo Imbu in Santa Catarina,
reported in her monograph, gãr/corn is an essential element in these Kanhgág food communities
found in different Indigenous Lands. Furthermore, she highlights the importance of
interviewing the kofá as sources of knowledge and wisdom regarding traditional food habits:
My grandmother often made kum (bitter cassava) accompanied by farnh
totor (toasted corn flour) or mi (ash cake), fuva with régró (beans), pyrfé
(nettle), accompanied by pisé (corn flour made with pilão) and kirera
(hominy). My grandparents cultivated for consumption, not for commercial
purposes. The meats I remember from that time were the swamp rat,
armadillo, dove, etc" (PAULA, 2020, p. 44, our translation).
Farmers Fermino Bento de Oliveira and Cenilda Ventura, residents of the Guarita
Indigenous Land in the northwest of Rio Grande do Sul, shared with researcher José Manuel
Palazuelos Ballivián about the wide variety of corn and how they are used for different purposes
in the Kanhgág food space. These habits are shared both online and offline: "To make pisé (a
typical kanhgág dish made from toasted corn flour in ashes), kajyka (hominy), ash cake (typical
bread, sometimes with fermented dough), gãru (popcorn), and entô (corn cooked in embers)"
(BALLIVIAN, 2007, p. 8, our translation).
The following post, presented as an example, illustrates the frequency of the third most
mentioned topic on the analyzed page. Gãr, corn, is used as a raw material for other
preparations. The photo (fig. 5) depicts the sociability among different generations during the
corn threshing process in the food space. As noted by Cléber Kronun Almeida (2021b, our
translation): “[...] When shelling the corn, preparing it to make ash cake (ēmī), it is crucial for
children to participate because it is already a learning experience. We learn according to time,
nature teaches us, our school, we learn with freedom". Parents share this family activity to
encourage the cultivation, harvesting, and processing of corn and reinforce their adherence to
Kanhgág food habits.
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Figure 5 - Shelling corn
Source: Almeida (2021b) - Apucaraninha Paraná
The reciprocity between different types of seeds and the Kanhgág people is evident, as
the preservation of technologies and plant species is accompanied by the substantial supply of
nutrients from corn, allowing this dynamic to repeat. The black seeds are called "gar " (true
corn), just like "kanhgág ". The practice of shelling corn, which was once restricted to private
settings, is now captured, documented in photos and texts, transformed into a group post, and
consumed in the form of likes, shares, and comments.
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Fire, smoke, ash, and water are indispensable ingredients: anthropology of food
Edibles typically manifest themselves through the environmental adaptation of
ingredients, techniques, ways of eating, dishes, and preparations, which the Kanhgág people
recognize as their own eg vjn. For the Kanhgág people in southern Brazil, the beings of nature
and the methods of preparation become symbols to talk about "typical foods," classifying them
as such. The kanhgág cuisine represents a space that combines the symbolic and the material,
in line with Poulain and Proença's proposal (2003, p. 252, our translation): “[...] the space of
the edible is, therefore, the choice made by the human group within the set of plant and animal
products made available to them by the natural environment, or the group's decision can
implement that." The food category "typical foods" is used by Kanhgág populations,
encompassing aesthetic, ethical, and dietary practices related to their food, reflecting the
interaction between environment and culture. Thus, the name and purpose of the group on social
media indicate the affirmation of this marker, referring to "our foods" (eg vjn), and serve as
a translation for non-indigenous people (fóg) to understand the uniqueness of Kanhgág food
(kanhgág jn).
The production of this digital space results from a long process of preserving
differences, which distinguishes it from non-indigenous (fóg) cuisine that is available for
planting, purchasing, or gathering to showcase and exchange knowledge. Furthermore, it is
related to incorporating languages derived from digital media, such as interaction, likes, and
information sharing. As reminded by Kanhgág social worker Angélica Domingos in her thesis:
“Nen ã ty eg vejen nim ti, A Mata é que mostra nossa comida(DOMINGOS, 2016, p. 59).
These regional examples of dish preparation and techniques can be compared, as pointed out
by Domingos (2016), to a piece of Forest and family farm within the monocultures of the
internet.
In the group's posts, one can observe the creation and reproduction of typical Kanhgág
dishes, which belong to art and technique. The food known as vjn, in particular, is a culinary
expression that must be adequately documented while also playing a nutritional role in daily
life. Typical foods embody the technique dimension, using instruments, specific knowledge,
and preparation skills. On the other hand, the size of art is present in the meanings attributed to
the practices within a cultural framework. Mary Douglas (2009, p. 121, our translation)
emphasizes, "All goods are bearers of meaning, but none is so by itself". For example, a sautéed
dish of leaves differs from burning a medicine due to its meaning, even though both
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preparations use the same cooking method. They also need to adhere to the expected
conventions of typical foods, such as "fire, smoke, ash, and water", as highlighted by Kanhgág
psychologist Rejane:
After undergoing a ritual with the kujá, we must follow a diet that excludes
non-indigenous (fóg) foods, only adhering to our typical foods. Fire, smoke,
ash, and water are indispensable ingredients. Grilled fish in bamboo
(krakufãr kénpu), baked cake in bamboo (êmi kénpu), and kumi (bitter cassava
leaf) are some of the foods used after the ritual, representing a small part of
Kanhgág cuisine that is integral to our traditional medicine (CARVALHO,
2020, p. 33, our translation).
Through the posts in the digital space, we can perceive the presence of typical Kanhgág
consumption, which manifests through its ritualistic significance. It is a mark of identity, a
reference to be preserved, and a way of sharing ways of life with others. Typical foods and their
conventions, disseminated on the internet, universalize the boundary that separates indigenous
cuisine from the non-indigenous world, representing ways of making, eating, and existing. The
online culinary space seeks to reflect the techniques adopted by the people, such as the use of
mortar and pestle and gender-based agriculture, both in preparing dishes and in elaborate rituals.
These are [...] consumption choices that become the vital source of culture [...] People raised
in a particular culture see it changing during their lifetime: new words, new ideas, new ways"
(DOUGLAS, 2009, p. 102, our translation). Everything related to the construction of nutritional
identity, in the choices that create, renew, dismantle, and maintain boundaries, is embedded in
the food space. This space can refer to physical locations, such as the kitchen, and virtual spaces
of epistemological nature (POULAIN; PROENÇA, 2003, p. 252).
Bilingual Kanhgág professor Dorvalino Refej Cardoso (2017) approaches food from a
structural and emic perspective. In this sense, the Kanhgág food space is influenced by tribal
halves, indicating the complementarity of this typical food, which is considered alive, clean,
fair, and sacred. A specific rule governs this life-sustaining food: "As the people are divided
into two tribal halves, Kam and Kanhru, Kam makes food for Kanhru and vice versa. Some
foods are typical of Kam, as well as those of Kanhru. Kam should only eat Kanhru food, and
vice versa" (REFEJ CARDOSO, 2017, p. 51, our translation). When a couple of forms, this
rule is applied, meaning that it is only allowed for the opposite exogamous halves to unite, i.e.,
Kam marries Kanhru and vice versa, and thus they cook food, drinks, and remedies for each
other. However, this rule is not as rigid as depicted in the posts, as the foods are shared among
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families and even with people from different villages. Thus, the clinical marks present
themselves as familiar cultural resources.
Through social media posts, it is possible to observe that children learn from a very
young age to recognize the essential foods for their sustenance and to nurture respect for them.
This is evidenced, for example, when a young child handles a freshly cleaned armadillo to be
cooked (Fig. 6) or when children participate in farm work or corn threshing (Fig. 5). These
temporalities are present in the kanhgág diet, which has multiple temporal frameworks that
depend on various factors, including the life cycle and markers that determine what is
consumed. The kofá must consume specific foods for their age, just like the gir/children, as
revealed by kanhgág historian Bruno Ferreira. The child learns dietary habits from the elders
in the process of cultural transmission and food education:
Along with the other Gĩr (children), our daily life involved going to the fields
to help with small plantings of Gãr (corn), sweet potatoes, cassava, beans,
going into the forest to gather fruits and collecting firewood to cook our food,
such as fuva, brava cassava leaf, assisting in the preparation of , which is
a cake baked in ash, made from pounded corn flour (FERREIRA, 2020, p. 27,
our translation).
Culture establishes limits, boundaries, and potentials for identity, determining what can
and cannot be consumed through permissions and prohibitions that vary according to age,
gender, clinical markings, or economic conditions. The kanhgág food space articulates different
times, cycles, work seasons or craft sales, community activities, and collective or family
celebrations and is also associated with the "[...] alternation between periods of abundance and
scarcity" (POULAIN; PROENÇA, 2003, p. 253, our translation). This food space is also
intersected by beliefs and gender, as exemplified in the widow's diet described in Rejane
Carvalho Pafej's monograph:
The pêj take the widow to the forest, where a hut is built with thatch, near the
goj jânhkri (flowing and clean water) for her to stay alone in the dense forest,
away from the community's eyes. She is bathed as many times as necessary in
running water to purify herself, using medicinal herbs, teas, only typical foods,
with kamê eating drier foods and kairu eating more moist foods
(CARVALHO, 2020, p. 35, our translation).
Kanhgág typical food is considered a social act, as described by Maria Eunice Maciel,
the “[...] material culture that prints representations and imaginaries, involves choices,
classifications, symbols that organize the diverse worldviews in time and space(MACIEL,
2004, p. 25, our translation). According to Maciel, a nutritionist and anthropologist, food goes
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beyond the purely biological. One of the most critical dimensions of the study of the
Anthropology of Food is the problem of social and cultural identities. Through the construction
and affirmation of typical foods, group meanings are articulated, renewing symbols of identity
claimed individually and collectively, as the author points out.
The cuisine of a people is created through a historical process that combines
a set of elements referenced in tradition, aiming to create something unique -
particular, singular, and recognizable. Understanding social identity as a
process related to a collective project that includes constant reconstruction,
rather than something given and immutable, these kitchens are subject to
ongoing transformations to endless recreation. Thus, a cuisine cannot be
reduced to an inventory, a repertoire of ingredients, or converted into formulas
or combinations of elements crystallized in time and space (MACIEL, 2004,
p. 29, our translation).
The kanhgág cuisine, present in the literature and social media posts as ethnographic
material, is marked by the Jyikre/knowledge of the culture, which functions as an element of
mutual recognition among group members, as Maciel (2004) suggested. This cuisine is also
influenced by history, highlighting the epistemological violence of colonialism, which had
negative consequences for daily life, as pointed out by kanhgág psychologist Rejane: "As
territories are not demarcated or are reduced, as rivers become polluted, medicinal herbs
disappear, typical foods become scarce, and hunting, don't even mention it" (CARVALHO,
2020, p. 17, our translation). These implications are reflected in problems for the reproduction
of family farming, restriction of spaces for cultivation in urban areas, extinction of various
traditional food plant species, and the interest of young people in preserving food spaces.
Thus, the kanhgág food space articulates traditional elements with the newer ones in
constructing a continuous feeding process marked by transformations and affectations in
individual identities. Kitchens are markers of peoples' and individuals' identities. In
ethnographic terms, it is observed that online group users, by appropriating new knowledge
provided by social media and digital resources, transform their ways of life to build a shared
identity or common projects. Therefore, the cuisine is not only about recipes, measurements, or
culinary techniques but also reveals the way of life of different peoples, with a perspective of
common coexistence. The preparation of typical foods and digital activism within the group
sharing posts on social media emphasizes social belonging, sharing not only food but also
common life goals.
Eating together and sharing content on social media become social distinctions as they
require the necessary means, such as internet access, a computer or mobile phone, knowledge
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of digital languages, and spaces to interact, like, and share. As a result, agreements are
established, achievements are celebrated, and abundant food is exalted. This celebration is not
limited to the quantity of food but also the importance attributed to the preparations of typical
dishes, how one eats, with whom, and where these moments are experienced. These situations
involve social display and competition, expressed through clothing, language, selected
ingredients, and behavior. These events are shared so that others know about the occurrence,
the food, and the guests, thus consolidating a specific image and narrative in the digital space,
both in collective groups and individual profiles.
Eating together creates communicative gestures beyond mere nutrition or eating, as
observed by Montanari (2008, p. 157). Typical foods have both a biological and cultural
dimension because, as Montanari quotes from Roland Barthes, "[...] the symbolic charge of
food is even stronger when it is perceived as an instrument of daily survival [...] the table as a
metaphor for life" (MONTANARI, 2008, p. 158, our translation). For the Kanhgág, typical
foods are intrinsically linked to work activities, whether in the production of medicines,
cultivation of native foods, collection of plants, hunting, fishing, or honey harvesting. Eating
together is an act of collective healing, as Dorvalino Refej Cardoso (2017) pointed out, where
food is seen as medicine: "It is recommended to prepare the food with water that is alive, taken
directly from the source. It is essential to share the food with those in need and those who are
hungry because it comes from God" (REFEJ CARDOSO, 2017, p. 51, our translation).
This tradicion in kanhgág culture occurs in various situations, such as when relatives
come to share a meal, during family barbecues, community festivals, meat roasts, or during a
fishing trip by the river. Who pays, who buys, who cooks, who is the host, and who is the
visitor, as Massimo states: "[...] the expressive character of the meal is never distinct from the
concrete value (economic and nutritional) of the consumed food. It is therefore essential to
identify a grammar of food and decode its rules" (MONTANARI, 2008, p. 164, our translation).
Similarly, those who share photos and content in the group can be seen as preservers and
references for the community, as is the case with Cléber Kronum, the most active member. The
sociability of these food spaces, like the group on the social network, goes beyond the act of
eating and sharing but is related to the construction of just life, in which each individual has a
functional role and preserves references: "Another essential aspect of eating together is the
sharing of food. The allocation of one piece instead of another is never random [...] but
reproduces power and prestige relations within the group" (MONTANARI, 2008, p. 163, our
translation). The consumption of posts in the virtual environment of the group occurs as a form
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of nourishment, in which some individuals produce content while others consume, like, and
share, and others engage in both activities. However, this nourishment occurs unequally among
group participants.
In the context of kanhgág food spaces, it is possible to identify ethics that guide actions
based on life references, as argued by kanhgág psychologist Rejane Carvalho Pafej (2020) in
her work on ways of living about capitalism: "Eating industrialized foods, for example, because
our typical foods are increasingly disappearing with the introduction of pesticides into our
communities" (CARVALHO, 2020, p. 24, our translation). Carvalho describes typical foods as
opposed to industrialized ones, linked to territoriality, and emphasizes that the experiences
lived, and the posts related to these experiences can educate and awaken the desire to act.
Currently, typical foods are considered those collected or explicitly created to preserve, educate,
and put ethical and aesthetic potency into practice. On the other hand, industrialized foods are
referred to as "foods for sale," with the "sale" term synonymous with a small grocery store or
market. Narratives about nutrition from the past often describe how everything was different,
as Kofá Maria commented: "[...] pounded in the mortar, our porridges, nowadays the foods don't
even have taste anymore, they're filled with seasoning to remove the taste of the drying agent,
that's killing us kanhgág" (CARVALHO, 2020, p. 24, our translation).
Regarding knowledge and flavors, kanhgág educator Onório Moura reports that there
are possibilities in an educational proposal that guarantees the right to a pedagogy formulated
and implemented by intellectuals from the communities themselves, especially regarding food,
that can be adapted to the local reality. In this sense, community schools preserve tradition by
offering school meals "[...] for example, at least once a week, typical foods prepared by
indigenous cooks are served" (MOURA, 2021, p. 55, our translation). Even with the change in
the menu established by the state based on nutritional criteria, there are still obstacles to
incorporating kanhgág dietetics. The account encourages preserving food systems and the
ecology of flavors and knowledge. The Memory Center (CMCK) and the "typical foods"
sharing group are driving initiatives for implementing these changes in schools, including
providing recipes for school meals.
The term "vjn my jykre," which combines the meanings of eating, good, and
knowledge, can be flexed to approach the fields of Nutrition, Gastronomy, or Food. It refers to
a life project that involves the person in question, their relatives, allies, and specific groups.
According to Amorim (2020b) the "use of a hyphen in 'projeto-de-vida' [life project], as a
linguistic resource, refers to the combination or separation of objectives, means, and references
Kanhgág Eg Vjn food: Building the digital food spaces
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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that make up the project and the person's life. The life project, separated from life, is a form of
outsourcing" (AMORIM, 2020b, p. 238, our translation). The sharing of posts follows the logic
of sharing everyday moments, commensality, sharing, and abundance. Being together with
kanhkã/relatives can mean being close to the extended family core and other Indigenous people
and supporters since being in the group implies having the same life objective.
In the book "Vacas, Porcos, Guerras e Bruxas: os enigmas da cultura" (1978), Harris
Marvin discusses markers of human differentiation, namely primitives, underdeveloped, and
belonging to the Third World, which create an ideal type of life and food. Outside the
monoculture of existence, as argued by Santos (2002), other forms are considered absent and
"[...] only a small portion of the range of alternatives relative to ways of living [...]. In common
social life, it is invariably the case that some control or exploit others" (HARRIS, 1978, p. 15,
our translation). Therefore, when we mention the organization of food projects that promote
cognitive justice, we are referring to the subject's economy, as Santos and Meneses (2009)
pointed out. According to Amorim
4
(2020a, 2020b, 2022) equitable valorization of local,
traditional, and native discourses and knowledge, along with formal, academic, and scientific
lessons, is essential to mitigate the gaps created by modernity and allow for the emergence of
culturally subjective-based responses. The criteria and parameters of fóg (non-indigenous) are
used to understand kanhgág food.
4
According to the author, indigenous youth plan or "Projeta-a-vida" [Projecting Life] "[...] refers to the
sociological form, pointing to an experience of being able to be that tries to escape the colonial, governmental,
and state apparatuses of modernity. A mode of producing life unaffected by life problems, such as coloniality,
the single option of life and work. A translation of "mn eg my rá" is "Our good life," the ecological life, the
ecology of knowledge, in dialogue with Boaventura de Sousa Santos" (AMORIM, 2022, p. 131, our translation).
Gabriel Chaves AMORIM
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Figure 6 - Today has fãfãn (armadillo)
Source: Almeida (2020b)
Final Considerations
In large numbers, the Kanhgág people possess a rich gastronomy that has not yet
emerged as a lifestyle or project in the fóg world, particularly in terms of food and way of living.
This richness is related to the long history of interaction with beings inhabiting the country's
southern regions. Therefore, to study Kanhgág food, it is necessary to adopt a comprehensive
approach that considers life in its various dimensions: recognizing the polysemy, which refers
to the multiple voices that compose and construct the food environment, both online and offline.
Within the Kanhgág ethnic group, the linguistic presence of typical foods is evident -
Kanhgág g vjn, which means traditional foods or (POULAIN; PROENÇA, 2003, p. 252),
food space, gastronomic space, or eating area. The creation of this space occurs in accordance
with cultivation techniques, the relationship with the land, and the availability of resources. For
the artistic dimension to manifest, empirical support is necessary: the ingredients obtained
through rãnhrãj (work). This created space is present in contexts such as the analyzed group,
"Typical Foods and Photos of Kanhgág." Art manifests itself in the production of images that
can be captured by photographic devices or remain in the memory of the guests.
Kanhgág Eg Vjn food: Building the digital food spaces
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The distinction that characterizes typical food is related to the boundary with the fóg
world, which includes processed foods, sugars, refined oils, and "white" eating habits. As
mentioned in the article, an anthropological trait in Kanhgág food is the presence of essential
components: fire, smoke, ashes, and water, which differentiate Kanhgág food from fóg food.
Lastly, Mary Douglas (2009, p. 123) the notion that "[...] goods and expenditures are used to
mark meaning" is highlighted. They mark values, identities, intentions, and recognition.
Therefore, moments of food and sharing are significant for the Kanhgág people. Individuals
recognize themselves in others and their ways of being, preparing food, and nourishing
themselves.
The sociability between generations preserves references by involving the younger ones
and allowing the kofá people to speak, thus enabling the youth to participate in documenting
these references. It is observed that the sociability of the younger generations transforms the
culinary space into an opportunity to transcend food categories and establish guidelines for the
population. Traditional foods break away from the monoculture of coloniality fóg, as described
by Santos (2002), who proposes the existence of a single way of living. Social media networks
have become ideal for socializing life projects towards an ecology of knowledge and food.
The digital platform "Comidas Típicas Kanhgág" presents itself in this work as a
community project that first articulates the need to address the preservation of traditional foods
and overcome isolation in sharing experiences and cultural aspects of the Kanhgág people. The
project also includes forming a specific group dedicated to posting about Kanhgág's traditional
dishes. These posts are mainly created using mobile devices, such as cell phones and computers,
to share memories that deserve to be preserved in the group's compendium.
The Kanhgág Memory and Culture Center served as the foundation for developing the
group's proposal and training the young individuals who initiated this undertaking. The
organizers of the group justify their efforts by aiming to promote the dissemination of dietary
habits through this sharing, which can be considered a form of digital, gastronomic, and
indigenous activism. Ultimately, these posts represent a form of activism that integrates
community references and the knowledge of older individuals/kofá, their techniques, learning
about ingredients, ways of eating, and ways of living.
Gabriel Chaves AMORIM
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023009, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Acknowledgements: Not applicable.
Funding: Not applicable.
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Authors' contributions: The work was developed entirely by the sole author.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
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