Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 1
FARMÁCIA VERDE EM MANICORÉ (AM): DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E CONVENCIONAIS
FARMACIA VERDE EN MANICORÉ (AM): DIÁLOGOS POSIBLES ENTRE
PRÁCTICAS INTEGRATIVAS Y CONVENCIONALES
FARMÁCIA VERDE IN MANICORÉ (AM): POSSIBLE DIALOGUES BETWEEN
INTEGRATIVE CONVENTIONAL PRACTICES
Mariana Cardoso OSHIRO1
e-mail: marianac.oshiro@gmail.com
Bianca Barbosa CHIZZOLINI2
e-mail: bianca.chizzolini@usp.br
Monique Batista de OLIVEIRA3
e-mail: monique.oliveira@usp.br
Como referenciar este artigo:
OSHIRO, M. C.; CHIZZOLINI, B. B.; OLIVEIRA, M. B.
de. Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis
entre Práticas Integrativas e Convencionais. Rev. Cadernos
de Campo, Araraquara v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN:
2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891
| Submetido em: 24/08/2022
| Revisões requeridas em: 09/01/2023
| Aprovado em: 30/01/2023
| Publicado em: 18/07/2023
Editora:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
1
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife PE Brasil. Farmacêutica formada pela Faculdade
Oswaldo Cruz, mestra em Ciências Farmacêuticas pela Universidade Federal do Paraná e doutoranda no Programa
de Pós-graduação em Ciências Farmacêuticas na área de Produtos Naturais e Compostos Bioativos na
Universidade Federal de Pernambuco.
2
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Doutoranda e mestra em Antropologia Social pela
Universidade de São Paulo (USP) e bacharela em Ciências Sociais pela mesma instituição. Atualmente é fellow
da Wenner Gren Foundation.
3
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Pós-doutoranda na Faculdade de Saúde Pública da
USP, jornalista pela Cásper Líbero, bacharela em Ciências Sociais pela USP, mestra em Divulgação Científica e
Cultural pela Unicamp e doutora pela USP.
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 2
RESUMO: O debate entre práticas integrativas e a medicina convencional é acirrado por atores
de ambos os lados. Esta análise apresenta elementos concretos para uma maior interlocução
entre os campos, com base nas práticas da Farmácia Verde localizada no município de Manicoré
(AM). Utilizaremos como método o relato de experiência de uma farmacêutica voluntária no
espaço entre julho e novembro de 2021. O relato apresenta tensões entre a formação
farmacêutica e as práticas observadas, o que permitiu os seguintes resultados: 1) as semelhanças
(como a anamnese); 2) as incomensurabilidades (como o uso do pêndulo para posologia, por
exemplo); e 3) as diferenças (como a organização dos serviços). Entendemos que os elementos
1 e 2 são superáveis, enquanto o elemento 3 representa obstáculos para a aproximação com
práticas biomédicas que permitiriam, por exemplo, maiores encaminhamentos da atenção
primária para a farmácia. Torna-se urgente a implementação de pesquisas interepistêmicas
capazes de compreender as contribuições desses espaços para o sistema de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Medicina integrativa. Cuidados de saúde. Antropologia da saúde.
Plantas medicinais. Epistemologia da saúde.
RESUMEN: El debate entre las prácticas integradoras y la medicina convencional es
acalorado por actores de ambos lados. Este análisis presenta elementos concretos para un
mayor diálogo entre los campos, a partir de las prácticas de Farmácia Verde ubicada en el
municipio de Manicoré (AM). Utilizaremos como método el relato de experiencia de una
farmacéutica voluntaria en el período entre julio y noviembre de 2021. El relato presenta
tensiones entre la formación farmacéutica y las prácticas observadas, lo que permitió los
siguientes resultados: 1) las similitudes (como la anamnesis); 2) las inconmensurabilidades (el
uso del péndulo para posología, por ejemplo); y 3) las diferencias (como la organización de
los servicios). Entendemos (1-2) como elementos superables, y (3) como obstáculos para
abordar prácticas biomédicas que permitan, por ejemplo, mayores derivaciones desde atención
primaria a farmacia. Es urgente implementar investigaciones interepistémicas capaces de
comprender las contribuciones de estos espacios al sistema de salud.
PALABRAS CLAVE: Medicina integrativa. Cuidado de la salud. Antropología médica.
Plantas medicinales. Epistemología de la salud.
ABSTRACT: Actors from both sides heat the debate between integrative practices and
conventional medicine. This analysis presents concrete elements for greater dialogue between
the fields based on the methods of the Farmácia Verde located in the municipality of Manicoré
(AM). We will use the experience report of a volunteer pharmacist in the space between July
and November 2021 as our method. The report presents tensions between pharmaceutical
education and the observed practices, which allowed for the following results: 1) similarities
(such as anamnesis); 2) incommensurabilities (such as the use of a pendulum for dosage, for
example); and 3) differences (such as the organization of services). We understand that
elements 1 and 2 can be overcome, while element 3 represents obstacles to integrating
biomedical practices that would enable, for example, more excellent referrals from primary
care to the pharmacy. Implementing inter-epistemic research that can comprehend the
contributions of these spaces to the healthcare system becomes urgent.
KEYWORDS: Integrative medicine. Health care. Medical anthropology. Medicinal plants.
Epistemology of health.
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI; Monique Batista de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 00, n. 23, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 3
Introdução
Com o objetivo de investigar se espaço para uma ampliação da interlocução das
práticas de medicina complementar com a medicina convencional, esta análise apresenta um
relato de experiência de trabalho voluntário realizado na Farmácia Verde, localizada no
município de Manicoré, no estado do Amazonas. A Farmácia Verde é um projeto de produção
de fitoterápicos mantido pela Diocese de Humaitá, e iniciou suas atividades em 1995 na
Paróquia de São José. O município de Manicoré, situado na região sul do Estado do Amazonas,
está localizado entre as capitais Manaus e Porto Velho (RO). O nome da cidade deriva do rio
homônimo e também da palavra Ancoré, que é o nome da comunidade indígena que habitava a
região (FERLA et al., 2022). O rio Manicoré é um afluente do rio Madeira, cuja bacia
hidrográfica sofre alto impacto das atividades de garimpo e da urbanização desordenada
(RIBEIRO et al., 2022). Além disso, a região abriga uma reserva indígena de 19 mil hectares,
reconhecida em 2001, onde viviam 221 descendentes da etnia Mura em 2010 (TERRAS
INDÍGENAS..., 2010). Os Mura se estendem por uma vasta região e têm enfrentado sucessivos
processos históricos de extermínio, tendo sido classificados como inimigos da coroa portuguesa
no século XVIII (ISA, 2009).
A Farmácia Verde é fruto desse processo histórico que, apesar dos desafios, conseguiu
se tornar um espaço de preservação de conhecimentos para os quais existem poucos registros.
Trata-se de um modelo semelhante à Farmácia Viva, projeto idealizado pelo professor
Francisco José de Abreu Matos, da Universidade Federal do Ceará, visando fortalecer o
conhecimento e o uso de fitoterápicos no Brasil, oferecendo serviços à comunidade
(MAGALHÃES; BANDEIRA; MONTEIRO, 2020). A Farmácia Viva é regulamentada pela
Portaria 886/2010 do Ministério da Saúde, e seus produtos e serviços farmacêuticos não podem
ser comercializados (BRASIL, 2010b).
Outra política alinhada com as práticas da Farmácia Verde é a Política Nacional de
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e o Programa Nacional de Plantas Medicinais
e Fitoterápicos (PNPMF) (BRASIL, 2006; BRASIL, 2008). A PNPIC é concebida como uma
abordagem de medicina integrativa, que busca promover a integração entre a medicina
complementar (práticas tradicionais de povos com conhecimentos não amplamente
incorporados ao sistema de saúde) e a medicina convencional (conhecimentos médicos e
científicos ocidentais que sustentam os sistemas de saúde). O objetivo deste estudo é analisar o
diálogo entre diferentes práticas que ocorrem nesse contexto (OPAS/OMS, 2019; OTANI;
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
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BARROS, 2011). O projeto Farmácia Verde exemplifica a possibilidade de interação entre
diferentes abordagens de cuidados e saúde. No entanto, apesar do reconhecimento do Brasil
pela Organização Mundial da Saúde como pioneiro na incorporação de práticas
complementares ao sistema de saúde (OPAS/OMS, 2019), essa integração não está livre de
desafios.
Marco teórico
A análise dos obstáculos para uma maior interlocução da Farmácia Verde com outras
instâncias do Sistema Único de Saúde envolve compreender as diferenças epistemológicas
presentes em cada uma delas. A medicina convencional se baseia em um método científico que
se fundamenta na divisão entre alma e matéria, em que o estudo da alma foi relegado à religião
e à metafísica, enquanto o estudo da matéria foi atribuído às ciências experimentais, cuja missão
se limitou a identificar as engrenagens do corpo (NOUVEL, 2013). O problema das
engrenagens, então, invade a ciência médica, que se torna, em certa medida, experimental: com
base em um método, busca-se no relato do paciente pistas que validem descobertas anteriores
(BERNARD, 1978). Nesse registro, a experiência do indivíduo em sua totalidade não faz parte
da análise. O espírito científico deve se opor ao fato corriqueiro, e a primeira experiência se
torna um obstáculo para essa ciência que está fora do tempo do ser humano e que encontrará
padrões em um tempo inexistente (BACHELARD, 1938).
Com a medicina baseada em evidências, ocorrem inovações e a aplicação calculada de
tratamentos altamente eficazes, mas muitas vezes essas terapias são realizadas em detrimento
de um cuidado integrado que considera as subjetividades do paciente. Na área da saúde coletiva
e na socioantropológica da saúde, há muitos estudos que buscam reintroduzir os contextos e as
subjetividades na prática médica (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2006; BUSS; PELLEGRINI
FILHO, 2007; MERHY, 2002). Na filosofia da ciência e na antropologia, existe uma extensa
bibliografia que se debruça sobre o que pode ter sido perdido nessa divisão entre dualidades
(natureza-cultura, corpo-alma, sujeito-objeto) e defende uma ciência e uma prática médica que,
para serem democráticas, devem abrir-se para outros saberes e para uma participação integrada
com o que antes eram chamados de objetos e pacientes (FEYERABEND, 2011; LATOUR,
1994, 2004; SANTOS, 2019).
A democratização requer uma nova epistemologia, mais contextual e interessada em
processos e resultados mais amplos. A epistemologia é frequentemente compreendida como o
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI; Monique Batista de OLIVEIRA
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campo que investiga as teorias do conhecimento, como ele é alcançado e o que o torna válido
ou não. Epistemólogos clássicos estudam o que sustenta uma afirmação declarativa e o que a
justifica. Por outro lado, epistemólogos com abordagens mais contemporâneas consideram o
processo de produção do conhecimento e o contexto da declaração como parte do que sustenta
uma afirmação (DUTRA, 2010). também outra corrente de epistemologia interessada na
justiça social, conhecida como epistemologias do sul, que parte da validação de conhecimentos
enraizados em experiências de resistência e em grupos sociais marginalizados pelo
colonialismo e pelo patriarcado (SANTOS, 2019).
Os conhecimentos tradicionais, como os saberes indígenas e dos povos tradicionais, são
baseados principalmente em práticas e conhecimentos locais ancestrais transmitidos de geração
em geração em um determinado território, por meio de uma ligação íntima com os modos de
vida, a língua e as visões de mundo de uma determinada população. No entanto, essa estreita
conexão com o passado não torna esses saberes imutáveis; pelo contrário, eles são
conhecimentos plurais e dinâmicos, em constante contato com os processos vitais do presente,
o que os torna abertos a mudanças e experimentações (EMPERAIRE, 2021; LIMA et al., 2021).
No contexto da discussão sobre o uso da medicina fitoterápica na Farmácia Verde, a
biodiversidade é um tema relevante e relacionado às epistemologias tradicionais. Observa-se
que uma série de práticas de manejo adotadas por comunidades tradicionais é orientada pela
criação, manutenção e valorização da diversidade agrobiológica (EMPERAIRE, 2021; NEVES,
2016). Esse manejo, pautado pela variedade de espécies e expresso materialmente na
biodiversidade, é o oposto da padronização dos cultivos desenvolvidos pela monocultura
intensiva e pelos ideais modernos de ciência.
Outra epistemologia vivenciada pelos povos ameríndios, por exemplo, é a ideia do Bem
Viver, que no Brasil está presente na expressão teko porã entre os povos guaranis. Teko se
refere à vida em comunidade e porã possui diversas acepções, como belo e bom. A ideia do
Bem Viver também se manifesta nas expressões sumak kawsay (quíchua) e suma qamaña
(aimará). Seu significado está relacionado a viver em harmonia com a natureza, não para
dominá-la, mas como parte integrante dos demais seres do planeta, buscando a harmonia do
indivíduo consigo mesmo, com a sociedade e com o planeta (ACOSTA, 2016). Trata-se
também de uma articulação política baseada na cooperação, não na divisão, na relacionalidade,
na complementaridade e na solidariedade entre os indivíduos. O conceito de Bem Viver
contrasta com a ideia de um desenvolvimento desenfreado que, ao reificar a natureza, se afasta
dos processos complexos de biodiversidade e de produção de vida (DÁVALOS, 2011).
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Na área da saúde, houve um processo cognitivo que contribuiu para a exclusão das
mulheres e para a separação entre a consulta médica e o cuidado. Sylvia Federici (2017)
descreve como, em sociedades pré-industriais, muitas mulheres eram especialistas em
“conhecimento médico” devido à sua familiaridade com o uso e o manejo de ervas. No entanto,
esse conhecimento não estava relacionado à ideia de bruxaria. Infelizmente, essas mulheres
foram julgadas e perseguidas por prescreverem remédios à base de ervas, assim como ocorreu
com as mulheres acusadas de bruxaria na Europa. Embora muitas tenham resistido e continuado
a ser procuradas, sua atuação era clandestina e suas práticas não tiveram representação
epistemológica (FEDERICI, 2017).
Nos debates em busca de uma epistemologia justa, a paridade de gênero na construção
coletiva do conhecimento começou a ser discutida a partir dos anos 1980. Essa discussão não
se limitou apenas à participação profissional das mulheres, mas também foi considerada uma
necessidade para que os resultados e objetos da ciência fossem representativos de diferentes
sujeitos na sociedade (SISMONDO, 2010). Se a ciência é considerada como resultado de um
processo histórico de legitimação por diversos atores, todos eles, independentemente de gênero,
classe social ou raça, deveriam fazer parte desse processo. Em outras palavras, a construção
cognitiva do conhecimento deve ser representativa e contar com profissionais diversos. A partir
desses pressupostos, surge a teoria de uma epistemologia feminista, que argumenta que as
mulheres estão em uma posição privilegiada para analisar certos objetos, contribuindo para a
qualidade da evidência científica (HARAWAY, 2009; HARDING, 2008).
No avanço dessa discussão, a ideia de interseccionalidade amplia o debate sobre gênero,
agregando a necessidade da discussão epistemológica dos conhecimentos produzidos por
populações marginalizadas devido a questões de raça, etnia, pobreza, religião e outros grupos
sociais excluídos da construção hegemônica e profissional da ciência (COLLINS, 2017). A
ideia central é que existe conhecimento sendo produzido que poderia contribuir para a solução
de problemas contemporâneos, bem como o engajamento necessário para solucioná-los. No
entanto, esses conhecimentos não estão sendo considerados parte integrante da racionalidade
contemporânea, devido à ausência de representatividade cognitiva de grupos e indivíduos
(DAGNINO, 2014; SANTOS, 2019).
A construção dos conhecimentos tradicionais é fundamentada na observação detalhada
de fenômenos, espécies, paisagens e processos ecológicos, bem como na sistematização das
diferenças (LIMA et al., 2021). Os conhecimentos construídos pelas cosmologias tradicionais
resultam inevitavelmente em outra maneira de interpretar o mundo, e uma dessas maneiras é a
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inseparabilidade entre “Natureza” e “Cultura”. Esse divisor fundamental da ciência moderna
tem pouca importância nas sociedades indígenas do Brasil, uma vez que o ambiente é percebido
e classificado de maneira diferente, e os seres humanos são considerados envolvidos em
complexas redes de relações multiespecíficas (LIMA et al., 2021).
Do encontro entre epistemologias distintas, surgem abordagens interepistêmicas que se
caracterizam por relacionar dois ou mais saberes, com suas diversidades internas, capazes de
gerar conceitos a partir de experiências ou ideias provenientes desses regimes em contraste
(OLIVEIRA; FIGUEROA; ALTIVO, 2021). O diálogo interepistêmico não possui formatos
rígidos nem protocolos estabelecidos a priori, mas requer esforços de aproximação crítica e
atenção aos seus processos, considerando a violência histórica presente no encontro entre
diferentes modos de perceber e explicar o mundo (OLIVEIRA; FIGUEROA; ALTIVO, 2021).
Outra expressão que se refere a essa modalidade de diálogo é o “encontro de saberes”,
que tem sido cada vez mais utilizado para nomear atividades, com formatos variados, realizadas
em diferentes universidades entre membros da academia e mestres de saberes tradicionais.
Essas atividades são fundamentadas na ideia de aprendizado mútuo (BARBOSA NETO;
ROSE; GOLDMAN, 2020) e envolvem transformações institucionais de ordem política,
pedagógica, institucional/administrativa e epistêmica no ensino superior para viabilizar esses
encontros (CARVALHO; VIANNA, 2020), contribuindo para os processos de justiça social
propostos pelas epistemologias do sul mencionadas anteriormente. No entanto, os encontros de
saberes não têm intenções triunfalistas, conciliadoras ou românticas. As práticas heterogêneas
colocadas em relação “não podem usar o encontro para abstrair ou negligenciar essa
heterogeneidade” (BARBOSA NETO; ROSE; GOLDMAN, 2020, p. 14). Em vez disso, busca-
se criar contrastes vivos e ativos entre os conhecimentos encontrados, em vez de superar as
divisões entre eles (BARBOSA NETO; ROSE; GOLDMAN, 2020, p. 14).
O diálogo interepistêmico enfrenta desafios significativos. O conhecimento da ciência
hegemônica é fundamentado na universalidade, desprovido de historicidade e de sujeitos. A
formulação teórica na ciência moderna é determinada por elementos lógicos, resultado de um
processo de reificação que negligência as demandas dos sujeitos e a complexidade das questões
sociais (HORKHEIMER, 1991). Além disso, a teoria científica profissional nem sempre está
comprometida com a transformação do mundo, limitando-se a descrevê-lo. Distante da
complexidade, a produção científica muitas vezes se concentra em questões parciais,
frequentemente ligadas ao poder de alguns (DAGNINO, 2014). Portanto, é necessário
desenvolver estudos que incluam outros sujeitos no campo científico. Essa é a proposta do
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
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presente trabalho, ao destacar a atuação das mulheres no município de Manicoré e dar
visibilidade a suas contribuições.
Metodologia
Como metodologia, utilizaremos o relato de experiência de uma das autoras, que atuou
como voluntária na Farmácia Verde no município de Manicoré, de julho a novembro de 2021,
realizando visitas três vezes por semana. O relato de experiência não se trata de um registro
acadêmico e não segue um protocolo de pesquisa específico, mas oferece vivências que podem
fornecer insights para estudos mais aprofundados (MINAYO, 2008; MINAYO; DESLANDES;
GOMES, 2013).
A voluntária fez anotações detalhadas, conforme o conceito de descrição densa proposto
por Geertz (1973). A descrição densa consiste em fornecer compreensão e representatividade
aos detalhes, sem buscar leis gerais. Neste contexto, o foco da análise não é a própria Farmácia
Verde”, mas sim a posição relacional da farmacêutica em relação a outras abordagens,
compreendendo que tudo o que dizemos sobre os outros é também uma reflexão sobre nós
mesmos. O relato apresentado aqui é um exemplo de como podemos conhecer uma cultura
diferente por meio de nossa própria cultura (WAGNER, 2017), tanto na prática profissional do
farmacêutico quanto no encontro da voluntária com uma abordagem terapêutica não
convencional para suas próprias questões. Nesse contexto, o conceito de cultura se refere não
apenas ao estudo de um conjunto de símbolos, mas sim ao encontro de relações onde o
estranhamento ocorre no meio de semelhanças.
A aproximação com o grupo da Farmácia Verde ocorreu por meio do projeto de
regularização dos rótulos de fitoterápicos, um projeto em andamento apresentado pela
voluntária. A farmacêutica já possuía conhecimentos sobre fitoterapia e já havia participado de
outras atividades integrativas, mas em Manicoré ela encontrou um processo quase
institucionalizado, com a utilização de diversas abordagens e uma equipe formada. Ela
compartilhou sua experiência com as demais autoras, e este artigo é resultado desse debate.
Todas as profissionais e voluntárias da Farmácia Verde são mulheres. Nosso objetivo é
demonstrar, por meio da descrição do tipo de cuidado implementado, como essa epistemologia
e esse encontro desafiaram o que conhecíamos e quais tensões e diferenças essas mulheres
trazem para a prática médica convencional.
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI; Monique Batista de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 00, n. 23, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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O relato a seguir está dividido em duas partes: 1) uma descrição da experiência como
voluntária na Farmácia Verde, incluindo o contato com o espaço e a rotina diária; 2) um relato
pessoal de consulta para tratamento de questões relacionadas à ansiedade, atraso na
menstruação e tensão muscular. Primeiramente, apresentaremos uma narrativa desse
atendimento e, em seguida, faremos uma análise dos possíveis tensionamentos culturais
encontrados. Para guiar essa análise, utilizaremos conceitos e questionamentos propostos por
Santos (2007, 2019) na descrição do que ele chama de “ecologia dos saberes”, que consiste no
reconhecimento da presença de diferentes conhecimentos, a fim de analisar: 1) semelhanças; 2)
diferenças; e 3) incomensurabilidades (propriedades resultantes da comparação de
epistemologias com pouca ou quase nenhuma convergência).
Resultados
A experiência como voluntária
Na Farmácia Verde de Manicoré, ocorre um encontro inesperado e frutífero entre o
cristianismo e as terapias integrativas, conferindo uma abordagem singular à saúde oferecida.
O sincretismo é evidenciado pelos diversos símbolos presentes no espaço. No lado esquerdo do
peito do uniforme das terapeutas da Farmácia Verde, um bordado à máquina que exibe um
ramo de folhagens verdes envolto por um coração vermelho, adornado com uma discreta cruz
branca. Em uma das salas de atendimento, três banners com esquemas anatômicos de
acupuntura para o corpo humano (uma imagem da parte frontal do corpo, uma da parte posterior
e outra da mão) decoram uma parede adjacente a outra na qual estão impressas imagens de
Jesus, acompanhadas da citação “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”, feitas com letras
de EVA
4
vermelho coberto com glitter.
A influência do cristianismo, entretanto, não impede o diálogo com diversas formas de
conhecimento. Entre as participantes, há aquelas que professam a religião católica, assim como
aquelas que seguem a religião evangélica. Além disso, as irmãs franciscanas acolhem homens
e mulheres com diferentes orientações religiosas que necessitam de tratamentos de saúde física
e mental. Ao mobilizar o conhecimento da medicina tradicional chinesa e os conhecimentos
sobre plantas medicinais regionais trazidos pelas populações ribeirinhas e indígenas,
juntamente com as plantas medicinais descritas na Farmacopeia Brasileira e em compêndios
4
EVA é um polímero emborrachado, flexível, com propriedades adesivas e componentes à prova d'água bastante
utilizado para artefatos decorativos (O QUE É EVA, 2023).
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
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oficiais, a Farmácia Verde reúne um grupo de 18 mulheres, entre funcionárias e voluntárias,
que oferece uma abordagem integrativa e complementar à saúde em relação à medicina
alopática.
A Farmácia Verde produz atualmente 65 tipos de medicamentos fitoterápicos e possui
aproximadamente 125 tipos de drogas vegetais, elaboradas a partir de plantas medicinais secas
consumidas na forma de chás e banhos. A utilização de práticas consagradas na área científica
inclui um método padrão para identificação das plantas, procedimentos de secagem, extração,
embalagem e rotulagem. A farmácia está em processo de adequação às práticas recomendadas
pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), conforme descrito na RDC (Resolução
da Diretoria Colegiada) 18/2013, que estabelece as boas práticas de fabricação aplicáveis à
Farmácia Viva (BRASIL, 2013). A equipe é composta por duas terapeutas, uma administradora
e duas assistentes responsáveis pelo agendamento dos pacientes, recebimento das plantas
medicinais, preparo dos fitoterápicos, entre outras atribuições. Durante a semana, um sistema
de rodízio de voluntárias que auxiliam as assistentes e terapeutas nas atividades diárias. Essas
voluntárias desempenham diversas tarefas, como a produção de extratos, embalagem e
rotulagem dos fitoterápicos e das plantas medicinais secas, além da limpeza do local.
As consultas são realizadas ao longo da semana e atendem diariamente entre 10 e 12
pessoas, seguindo a ordem de chegada. Além disso, a farmácia realiza visitas domiciliares com
a participação de pelo menos uma terapeuta e uma voluntária, sendo a organização das visitas
realizada através de um grupo no aplicativo WhatsApp.
As terapeutas da Farmácia Verde, que possuem formação em Serviço Social, também
receberam instrução em cursos certificados de Fitoterapia, Reiki, Biomagnetismo e Florais de
Bach. Elas combinam essas práticas terapêuticas com o conhecimento popular sobre drogas
vegetais para atender a problemas de saúde de baixa complexidade da população mais
vulnerável do município. Dessa forma, os atendimentos resultam da combinação entre o método
científico utilizado na produção de fitoterápicos e a aplicação de terapias integrativas em saúde.
A sede da Farmácia Verde está localizada em frente à Igreja da Matriz, também às
margens do rio. Um banner fixado na parte externa do prédio indica a entrada do local. Ao
adentrar o salão principal, à direita, uma passagem que acesso ao jardim onde são
cultivadas diversas plantas medicinais. No jardim, árvores estão plantadas diretamente no solo,
enquanto plantas menores ocupam vasos espalhados pelo espaço. Algumas das plantas
cultivadas incluem alfavaca, amor crescido, amora, babosa, capim-limão, cipó-alho, corama,
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI; Monique Batista de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 00, n. 23, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 11
crajiru, erva-de-jabuti, hortelã, insulina, jambu, japana roxa, mamão, manjericão, mastruz,
mucuracaá, óleo elétrico, pião roxo, salva-do-marajó, unha-de-gato e vassourinha-doce
5
.
A passagem anterior proporciona acesso à sala de secagem de folhas, flores e galhos
coletados pelas voluntárias da farmácia ou recebidos de ribeirinhos da região, bem como a uma
cozinha interna onde são servidos café, chá e quitutes do dia, como macaxeira cozida, mingau
de banana e manga do
6
. É nessa cozinha que as terapeutas fazem pausas para comer,
descansar e conversar.
Retornando ao salão principal, desta vez à esquerda, encontram-se duas salas de
atendimento aos pacientes, a sala da administração e um expositor de vidro que abriga os
fitoterápicos produzidos pela farmácia. Após o expositor, dispostos em estantes de ferro, estão
os potes de vidro ou sacos plásticos que armazenam as plantas medicinais secas, identificados
por seus respectivos nomes populares. Organizadas em ordem alfabética pelas terapeutas,
podem-se encontrar embalagens com folha de canela, funcho, Ginkgo biloba, gervão, guaco,
hortelã, ipê-roxo, jatobá, losna, macela, marapuama, melissa, melão-de-são-caetano, mulungu,
pariparoba, pata-de-vaca, sálvia, sassafrás, salsaparrilha, sete-sangrias, sucupira e tamarindo
7
;
essa listagem é apenas um vislumbre do amplo herbário da farmácia. Na sala seguinte, equipada
com pia, armários, balcão, garraes plásticos e galão de água, encontra-se a sala de preparo de
extratos, com acesso à porta da cozinha externa, um espaço de encontros amigáveis e pausas
descontraídas entre as integrantes da farmácia.
Nesse ambiente, em frente ao jardim, fui integrada ao grupo de mulheres e pude
conversar e ouvir suas histórias. Sendo novata na cidade, aquele ambiente proporcionou-me um
convívio social e ajudou-me a sentir-me ativa socialmente e parte de um grupo. Durante uma
5
A seguir apresentamos os respectivos nomes popular e científico de cada planta: alfavaca (Ocimum basilicum),
amor-crescido (Portulacea papilosa), amora (Morus alba), babosa (Aloe vera), capim-limão (Cymbopogom
citratus), cipó-alho (Mansoa alliacea), corama (Kalanchoe brasiliensis), crajiru (Arrabidaea chica), erva-de-
jabuti (Peperomia pellucida), hortelã (Mentha piperita), insulina (Cissus verticillata), jambu (Acmella oleracea),
japana roxa (Eupatotrium triplinerve), mamão (Carica papaya), manjericão (Ocimum basilicum), mastruz
(Dysphania ambrosioides), mucuracaá (Petiveria alliacea), óleo elétrico (Piper callosum), pião roxo (Jatropha
curcas), salva-do-marajó (Hyptis crenata), unha-de-gato (Uncaria tomentosa) e vassourinha-doce (Scoparia
dulcis).
6
Mangas coletadas das próprias mangueiras das redondezas.
7
A seguir apresentamos os respectivos nomes popular e científico de cada planta: canela (Cinnamomum verum),
funcho (Foeniculum vulgare), Ginkgo biloba, gervão (Stachytarpheta cayennensis), guaco (Mikania glomerata),
hortelã (Mentha sp.), ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus), jatobá (Hymenaea courbaril), losna (Artemisia
absinthium), macela (Achyrocline satureioides), marapuama (Ptychopetalum olacoides), melissa (Melissa
officinalis), melão-de-são-caetano (Momordica charantia), mulungu (Erythrina verna), pariparoba (Piper
umbellatum), pata-de-vaca (Bauhinia forficata), sálvia (Salvia officinalis), sassafrás (Sassafras albidum),
salsaparrilha (Smilax aspera), sete-sangrias (Cuphea carthagenensis), sucupira (Pterodon emarginatus) e
tamarindo (Tamarindus indica);
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
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conversa com uma das voluntárias, ela me disse que o contato com a Farmácia era para o
tratamento da agitação e ansiedade que sentia. O grupo de mulheres, o convívio naquele
ambiente e o tratamento com algumas plantas medicinais e Florais de Bach reduziram seu mal-
estar, melhoraram sua autoaceitação (levando-a a gostar mais de sua aparência física) e
diminuíram a importância de suas preocupações com dieta, emagrecimento e cirurgia plástica,
promovendo uma maior consciência de si mesma.
A Farmácia Verde recebe pacientes de todos os tipos. Seu perfil é amplo e inclui
residentes do município, tanto da área urbana quanto da área rural. Donas de casa, funcionários
públicos, garimpeiros, pescadores, motoristas e pessoas que estão apenas de passagem pelo
município, como uma professora universitária que realiza trabalho de campo na região.
Independentemente da condição social dos pacientes, a farmácia prioriza o cuidado com a
saúde, a espiritualidade e o bem-estar físico e mental. Suas ações não pretendem gerar lucro, e
seu funcionamento é mantido por meio de doações e da venda de alimentos produzidos pelos
voluntários da Farmácia Verde em eventos religiosos.
O atendimento aos pacientes ocorre em um ambiente privativo, em uma sala com
temperatura controlada, organizada e adaptada para a prática de terapias complementares em
saúde. Cada paciente possui um registro de atendimento no qual são anotadas suas informações
pessoais e de saúde. A consulta, com duração entre 1 hora e 1 hora e 30 minutos, começa com
a descrição da queixa, seguida pela avaliação da terapeuta e pela aplicação da prática
integrativa.
Além disso, as integrantes da Farmácia Verde organizam comemorações em datas
sagradas, como o dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores. Realizam ações de
saúde, como visitas domiciliares, e oferecem treinamentos em práticas integrativas em saúde
para o público e profissionais da área da saúde, como cursos de Reiki e auriculoterapia.
As reuniões e treinamentos são conduzidos pelas terapeutas, e no início de cada
atividade, é proposta a leitura de um texto ou cântico religioso. Nem todas as voluntárias
residem no município de Manicoré, e aquelas que vivem na zona rural dependem do transporte
fluvial, como a rabeta
8
ou a lancha, para ir à cidade participar das atividades da Farmácia Verde.
Por meio de um grupo de conversas no WhatsApp, esse grupo de mulheres, incluindo terapeutas
e voluntárias, coordena o calendário de atividades e gerência a participação das mulheres nas
8
Pequeno motor de propulsão que, acoplado na traseira de pequenas embarcações ou barcos, é conduzido
manualmente, com a ajuda de um bastão que determina as direções. [Por extensão] Pequena embarcação com esse
motor; canoa motorizada (RABETA, 2023).
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI; Monique Batista de OLIVEIRA
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visitas domiciliares. É um grupo diversificado de mulheres, com idades entre 20 e 65 anos, e a
relação entre elas é amigável, sempre bem-humorada, sendo possível ouvir suas risadas durante
as conversas.
Durante o meu período como voluntária, não observei uma interlocução com a Unidade
Básica de Saúde do município. Não encaminhamento formal dos casos, e os sistemas
funcionam de forma independente. Embora seja uma dificuldade do sistema de saúde como um
todo (MENDES, 2011), a existência de sistemas de referência e contrarreferência, que garantem
a integralidade do cuidado, é algo que não é evidenciado na Farmácia Verde. O estabelecimento
está bastante isolado e distante de estabelecer as Redes de Atenção à Saúde, que visam integrar
as diferentes instâncias da saúde, conforme preconizado pela Portaria 4.279 (BRASIL,
2010a). Questões relacionadas ao financiamento e à falta de profissionais e caminhos
institucionais que possibilitem a integração são fatores que contribuem para essa situação.
A maioria dos pacientes procura a Farmácia Verde de forma autônoma, apresentando
queixas simples. Um levantamento realizado na farmácia revelou que, na amostra populacional
analisada, o sintoma mais comum é a cefaleia, seguida por azia e queimação e dor de barriga
9
(CERVELATTI et al., 2021). Caso as terapeutas percebam a necessidade de tratamentos da
medicina convencional para alguma queixa, elas orientam o paciente a buscar atendimento em
outras instituições do sistema de saúde. No entanto, foi observado com menos frequência o
encaminhamento de pacientes do sistema de saúde para a Farmácia Verde.
Durante o meu período como voluntária, deparei-me com casos desafiadores, como
transtornos mentais e cânceres em estágios avançados. Em um dos casos, um paciente com
câncer enfrentava dificuldades em continuar o tratamento convencional e recorria regularmente
à Farmácia Verde, pois se sentia acolhido lá, ao contrário do que ocorria com seus familiares e
colegas de escola. O paciente não buscava a farmácia especificamente para o tratamento do
câncer, mas apreciava a atmosfera acolhedora do local. Também encontramos casos de
pacientes com dependência química que procuravam a farmácia com frequência, em busca de
equilíbrio emocional para evitar recaídas e reconstruir seus laços familiares.
9
Respectivamente, 15,95%, 12,76% e 9,57% dos casos.
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O atendimento
Ao presenciar o trabalho realizado na Farmácia Verde, decidi marcar um atendimento
para tratar problemas de ansiedade, tensões musculares e dificuldades na regularização da
menstruação. Optei por procurar a Farmácia Verde devido à alta demanda e à dificuldade de
agendamento de consultas em Manicoré, devido à falta de profissionais de saúde em tempo
integral e à irregularidade nos atendimentos, o que dificulta retornos e continuidade do
tratamento. Além disso, eu buscava evitar tratamentos com hormônios sintéticos, que eram as
únicas opções oferecidas até então para minhas questões de saúde.
Fui atendida por uma terapeuta em uma sala privativa, equipada com ar-condicionado,
maca, mesa de escritório, cadeiras para o paciente e acompanhante, estante com livros para
consulta e material descartável, como papel para forrar a maca, luvas e máscaras, além dos
materiais utilizados para realizar as práticas integrativas, como pares de ímãs, pêndulo, apostilas
e livros. A terapeuta me convidou a sentar em uma das cadeiras para que ela pudesse preencher
um formulário em papel com informações básicas, como nome, endereço, idade e as principais
queixas em saúde, semelhante a uma anamnese. Nesse formulário, que se tornou meu prontuário
médico na farmácia, a terapeuta registrou todos os procedimentos realizados, o tratamento
indicado e o arquivou após a consulta. Após a anamnese, a maca foi higienizada e eu me deitei
nela, utilizando uma toalha limpa. A terapeuta deu início ao biomagnetismo, uma prática que
envolve o rastreamento de doenças físicas e desequilíbrios emocionais por meio da reflexologia,
bioenergética e o uso de pares de ímãs.
A terapeuta posicionou-se em frente aos meus pés, segurando meus calcanhares e
realizando pequenas batidas entre eles, a fim de analisar o encurtamento das pernas. Enquanto
fazia isso, pronunciava uma lista de órgãos humanos em pares, como timo-hipófise, hipófise-
hipófise, útero-ovário, têmpora direita-têmpora esquerda, entre outros. No biomagnetismo,
cada par de órgãos está relacionado a um desequilíbrio específico, explicou a terapeuta. A cada
pronúncia de um par de órgãos, a terapeuta movimentava minhas pernas. Caso fosse
identificado um encurtamento após a pronúncia, era diagnosticado o desequilíbrio a ser tratado.
Nesse momento, ela aplicava imediatamente os ímãs (um positivo e outro negativo) na região
correspondente do meu corpo e fazia uma anotação no formulário de papel. De forma
simplificada, segundo a terapeuta, os ímãs geram um campo magnético que alinha as células,
equilibrando o pH do local.
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI; Monique Batista de OLIVEIRA
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Após o rastreamento dos desequilíbrios utilizando os ímãs, a terapeuta espalhou cerca
de 12 pares de ímãs pelo meu corpo, e eu permaneci em repouso e relaxada sobre a maca por
aproximadamente 30 minutos. Ao final desse período, os ímãs foram retirados e senti uma
sensação de relaxamento em todo o corpo. A terapeuta explicou que as reações podem variar
de pessoa para pessoa, algumas podem se sentir cansadas, sonolentas, relaxadas ou podem não
sentir nada após a sessão de ímãs. Ela mencionou um caso específico em que uma paciente
apresentou uma reação alérgica após a sessão. Durante o período em que estive na maca, a
terapeuta revisou as anotações feitas durante a sessão e prescreveu algumas ervas para serem
consumidas na forma de chá.
Após a sessão, a profissional prescreveu plantas medicinais como a tuia (Thuja
occidentalis), a erva-baleeira (Cordia verbenacea), a erva-de-são-joão (Ageratum conyzoides),
a unha-de-gato (Uncaria tomentosa), a uxi (Endopleura uchi), a camomila (Matricaria recutita)
e a tansagem (Plantago major). Utilizando o pêndulo, a terapeuta definiu a posologia para o
consumo do chá feito com essas ervas. Ela orientou a ferver 1 litro de água por 5 minutos para
as plantas mais lenhosas ou partes mais duras, como cascas e raízes. A posologia indicada foi
a ingestão de 500 ml do chá ao longo do dia, por cerca de 14 dias. Além disso, a terapeuta
prescreveu um fitoterápico produzido pela Farmácia Verde chamado “Composto 5 ervas”,
indicado para cistos ou miomas no útero e ovário. Novamente, utilizando o pêndulo, definiu a
posologia como três colheres de sopa, três vezes ao dia, durante 14 dias. Por fim, também com
o auxílio do pêndulo, ela indicou o uso de Florais de Bach, selecionando cinco essências que
eu deveria tomar, sete gotas três vezes ao dia, até finalizar o conteúdo do frasco de 30 ml. O
método do pêndulo chamou minha atenção, pois um colega que também tinha problemas de
ansiedade e consultou a Farmácia Verde recebeu uma posologia e substâncias diferentes das
minhas.
A receita com as indicações de uso e posologia foi entregue a mim juntamente com uma
sacola plástica que continha todas as ervas secas, separadas em sacos de papel identificados
com o nome de cada planta. Além disso, recebi um frasco de 180 ml do “Composto de 5 ervas
e um frasco de 30 ml do Floral de Bach, que foram manipulados minutos antes. Não fui cobrado
por nenhum dos tratamentos nem pela consulta. Decidi retornar à Farmácia Verde e realizar
mais duas sessões para dar continuidade ao tratamento. Durante esse processo, pude observar
que os pontos magnéticos haviam diminuído. Além disso, percebi uma melhora emocional e
física, sem a ocorrência de quaisquer efeitos adversos.
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
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A identificação de incomensurabilidades, diferenças e semelhanças
A partir do relato de experiência e do atendimento acima mencionado, categorizamos
as etapas de atendimento na Farmácia Verde em termos de incomensurabilidades, diferenças e
semelhanças. Observa-se que, dado o pressuposto analítico da voluntária como farmacêutica, a
categorização é baseada nesse ponto de vista. No entanto, o lugar da farmacêutica é
problematizado com base em Boaventura de Souza Santos (2007, 2019), um autor que propõe
uma “sociologia das emergências” para mapear a pluralidade de conhecimentos, dando-lhes
visibilidade e contribuindo para evitar medidas de apropriação e violência, ao mesmo tempo,
em que promove maior diversidade epistemológica no mundo. No entanto, para alcançar essa
visibilidade, não basta apenas mencionar, mas também reconhecer "as preocupações comuns e
aproximações complementares, assim como, está claro, contradições intransponíveis"
(SANTOS, 2007, p. 91).
Entendemos a proposta do autor como um caminho para a construção concreta de
diálogos que explorem a caixa-preta da produção de evidências e que também levantem outras
questões científicas. A experiência na Farmácia Verde resulta em duas questões relevantes que
contribuem para tensionar a relação entre o sistema de saúde e as práticas complementares.
Primeiro, observa-se que diferenças epistemológicas consideradas intransponíveis estão
presentes em alguns procedimentos, e não em todos (conforme apresentado no quadro 1).
Segundo a produção de cuidado e acolhimento é central na Farmácia Verde, o que pode deslocar
a função desses espaços no sistema de saúde para essa área. No entanto, é importante ressaltar
que esse acolhimento precisa ser reconhecido como relevante, demandando uma base
epistemológica dentro da ciência que o estabeleça como tal, com estudos e produção de
evidências orientados nessa direção. Nesse contexto, elaboramos um quadro no qual as práticas
foram classificadas para tornar mais visíveis as vias de maior complementaridade (consideradas
polos de interlocução com menos entraves) e as contradições/incomensurabilidades (práticas
que dificultam maiores diálogos).
Na categoria de incomensurabilidade, foram incluídas as experiências que geraram
estranhamento para a farmacêutica, assim como as dificuldades encontradas na possibilidade
de diálogo com seu campo profissional e vivência. Por exemplo, o uso do pêndulo para
identificação bioenergética e definição da posologia é valorizado pela sua abordagem
específica, considerando as características individuais. No entanto, dificuldade em
compreender como essa técnica poderia convergir com a medicina convencional. Em relação
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às diferenças, são observadas diversidades estruturais, como a organização dos serviços, que
não seriam tão desafiadoras de serem implementadas quanto as diferenças epistemológicas. Já
nas semelhanças, foram considerados procedimentos, como os de assepsia, que se alinham
diretamente com práticas encontradas em outras instâncias do sistema de saúde.
Quadro 1 - Classificação do Atendimento Realizado na Farmácia Verde com base no Relato
de Experiência.
Incomensurabilidade
Diferenças
Semelhanças
- Agendamento
realizado na própria
sede da Farmácia;
- Visitas domiciliares
organizadas por
grupo de WhatsApp
com as próprias
terapeutas.
- Atendimento imediato se
houver horário de encaixe.
- O "sincretismo médico" com a
utilização de diversas
abordagens, com influências da
medicina chinesa, da medicina
indiana (ayurveda), da indígena
e de outras terapias integrativas.
- O uso de mão de
obra voluntária de
pessoas da
comunidade;
- Consultas longas,
de mais de 1h30 de
duração;
- O atendimento não
é cobrado. Não
objetivo de geração
de lucro.
- O uso de
formulário/prontuário para
colher dados sobre o paciente
e o posterior arquivamento
que permite o rastreio de
suas informações;
- A higienização da maca e
de outros aparelhos a cada
consulta.
- O rastreio de desequilíbrios no
corpo e enfermidades com o
auxílio de técnicas
bioenergéticas, biomagnéticas e
de reflexologia.
- O diagnóstico não
depende de exame
laboratorial, em
contraste com da
ciência médica
convencional.
- A busca por desequilíbrios
em regiões específicas do
corpo e a ideia de que a
terapeuta examina o
paciente.
- A definição da posologia a
partir de uma análise
bioenergética do paciente com a
utilização do pêndulo;
- A coleta de plantas medicinais
por pessoas da comunidade;
- O cultivo, o beneficiamento e a
fabricação de fitoterápicos no
espaço da Farmácia Verde;
- O tratamento é
gratuito. O paciente
não tem gastos
financeiros com
medicamentos;
- Utilização de
espécies medicinais
que não estão
descritas na Relação
Nacional de
- A fabricação de
fitoterápicos no espaço da
farmácia remete à ideia de
uma farmácia de
manipulação;
- A orientação sobre o
tratamento por meio de uma
receita com as descrições de
posologias;
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- O paciente prepara o próprio
tratamento em casa quando se
utiliza de chás e banhos
seguindo as orientações
fornecidas no atendimento;
- O foco não está somente na
cura do sintoma, pois o
indivíduo é acolhido em toda a
sua subjetividade.
Fitoterápicos
(RENISUS).
- O paciente realiza o
tratamento em casa.
Fonte: Quadro elaborado a partir do cruzamento entre referencial teórico de Santos (2007, 2019) e
relato de experiência.
Discussão
A classificação desse relato de experiência em termos de semelhanças,
incomensurabilidades e diferenças teve como objetivo identificar os pontos de diálogo possíveis
entre a prática da medicina convencional e a medicina complementar. Observa-se que, no que
diz respeito à incomensurabilidade, os diálogos são mais desafiadores, pelo menos em relação
a algumas práticas. Essa categoria remete a teorias do conhecimento distintas que, por sua vez,
geram práticas igualmente diversas (KUHN, 2007). Um pressuposto epistemológico que
dificulta a convergência das práticas é que, a medicina convencional trabalha, em tese, com a
necessidade de evidências para tratamentos, em que estudos clínicos controlados e duplo-cegos
são considerados o padrão ouro. Ou seja, as evidências são produzidas dentro de uma tradição
específica de pensamento. Por exemplo, um editorial do British Medical Journal publicado em
2006 argumenta que a prática do biomagnetismo, utilizada por uma das terapeutas na Farmácia
Verde, tem sua eficácia difícil de ser comprovada devido à dificuldade de realizar estudos cegos
com pacientes (FINEGOLD; FLAMM, 2006). Os especialistas que assinam o texto também
alegam a falta de evidências de que o campo magnético consiga provocar mudanças nos tecidos,
pois, caso contrário, poderia ser postulado que um equipamento de ressonância magnética teria
efeitos terapêuticos.
O objetivo deste trabalho não é discutir a eficácia ou não do biomagnetismo. No entanto,
é importante destacar que uma discussão sobre evidências seria necessária para a integração
dos sistemas. É necessário estabelecer um consenso sobre o que constitui uma evidência válida
nesse contexto. Por exemplo, uma evidência, para ser considerada eficaz, precisa causar uma
alteração visível nos tecidos? O relato do paciente é suficiente como prova de eficácia? Será
necessário considerar as condições em que o relato é produzido? Um levantamento realizado
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na Farmácia Verde, que entrevistou 70 usuários, mostrou que 88,6% deles relataram melhorias
nos sintomas, 82,9% deram nota dez ao serviço e 75,7% dos usuários declararam utilizar o
serviço mais de uma vez (CERVELATTI et al., 2021). Isso ilustra o tamanho do desafio
epistemológico. Se considerarmos que, no nascimento da ciência profissional, há uma divisão
entre matéria e sujeito, sendo este último mais propenso a sugestões, enquanto a matéria é vista
como prova da eficácia, tal dualidade precisa ser considerada (LATOUR, 2012). Haveria de se
questionar se, não sendo encontrada uma evidência no tecido ou sendo impossível um estudo
cego, não haveria outra possibilidade de obtenção da evidência, ou se a pergunta de pesquisa
deveria ser outra.
Com isso, temos que o uso do pêndulo, dos ímãs e da pronúncia de pares de opostos de
órgãos, entre outras práticas, seria dificilmente incorporado no sistema sem que uma discussão
sobre a evidência e o que ela significa seja feita com rigor por todos os envolvidos: cientistas
profissionais e terapeutas do projeto. O desafio dessa discussão estaria em considerar também
que, apesar de todas essas práticas receberem o nome de terapias complementares ou
integrativas, elas diferem entre si. No relato de experiência deste artigo, a fitoterapia foi usada
em conjunto com o biomagnetismo e a bioenergética. A erva-de-são-joão, por exemplo,
indicada para tratamento neste relato, possui evidências preliminares registradas para
depressão, de acordo com estudo de revisão realizado pelo grupo Cochrane (LINDE; BERNER;
KRISTON, 2008). Sendo assim, o uso de plantas medicinais não teria o mesmo estatuto do
biomagnetismo, de acordo com a tradição da ciência hegemônica. O tratamento com drogas
vegetais apresenta mais embasamento em torno da evidência de sua eficácia, devido ao seu
manejo tradicional antigo e à maneira pela qual esses conhecimentos são produzidos: pela
atenção firme às propriedades do real, ou seja, pela observação do detalhe e pela sistematização
das diferenças, tornando equivalentes os conhecimentos científicos em termos de detalhismo e
profundidade (LÉVI-STRAUSS, 1989).
Ainda na categoria de incomensurabilidade, no entanto, a coleta de plantas pelos
ribeirinhos e a produção de fitoterápicos localmente denotam um envolvimento com a
comunidade que poderia ser integrado ao sistema. Existem evidências preliminares de um
círculo de confiança gerado pela Farmácia Verde, que não exclui os sujeitos do processo, mas
os íntegra nas fases de produção do seu próprio bem-estar. Embora seja necessário considerar
boas práticas no manejo de chás e não excluir a possibilidade de efeitos colaterais, a realização
de oficinas e workshops com plantas conhecidas poderia incluir os sujeitos no processo,
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
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considerando-os protagonistas de seu próprio tratamento e construindo um círculo de confiança.
Essa hipótese deve ser testada em estudos futuros mais detalhados.
As semelhanças mostram que espaço para a adaptação de práticas, desde que haja
diálogos nos quais as autonomias e os objetivos de cada espaço sejam respeitados. Em relação
às diferenças, existem questões associadas ao modelo de funcionamento da Farmácia Verde,
por exemplo, que, com uma equipe voluntária e sem a necessidade de assumir toda a demanda
de um sistema e sem fins comerciais, tem condições de realizar consultas mais longas - um
diferencial que permite ao sujeito “relaxar” durante a consulta. Essas tecnologias leves de
funcionamento organizacional da farmácia - e não apenas o biomagnetismo em si ou práticas
isoladas - podem fazer parte de um desenho de estudo que permita analisar a eficácia da
farmácia e o papel dela no sistema de saúde. Defendemos que neste modelo não se limite a
análise das terapias de forma isolada, mas também do funcionamento da farmácia como um
todo.
Se considerarmos que o papel da Farmácia Verde é garantir um cuidado mais integral
ao sujeito e proporcionar acolhimento - como no caso do paciente com câncer que busca o
espaço em busca de seu bem-estar -, a análise do papel da farmácia no sistema deve ter essa
pergunta de pesquisa como diretriz. Estudos futuros podem se dedicar à produção de evidências
no âmbito do cuidado e do bem-estar, assim como determinar quais equipamentos de saúde são
mais adequados para esse propósito. Esse debate também abrange a discussão de gênero, uma
vez que o cuidado, historicamente delegado às mulheres e não remunerado (FEDERICI, 2017),
acaba não sendo devidamente estudado pela ciência profissional. Sugerimos, portanto, que o
sistema estabeleça um espaço de diálogo entre os profissionais que nele atuam, a fim de
compreender como melhor realizar essa interlocução. Consideramos que a incomensurabilidade
e a mistura de diferentes práticas representam um desafio, mas é importante entender os
objetivos de cada unidade e, a partir disso, estabelecer um desenho de estudo que esteja em
consonância com tais metas e papéis.
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Contribuições para a Política Nacional de Práticas Integrativa e Complementares no SUS
(PNPIC)
Em relação à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC),
este artigo aponta pontos que podem ser explorados para promover mudanças na política e
fornecer um maior detalhamento. A PNPIC detalha, por exemplo, na Diretriz 2 (“Provimento
do acesso a plantas medicinais e fitoterápicos aos usuários do SUS”), a necessidade de adotar
plantas presentes na Relação Nacional de Fitoterápicos (RENISUS). Essa lista contém 71
espécies de plantas medicinais com potencial para o desenvolvimento de produtos de interesse
para o SUS (BRASIL, 2009). No entanto, é observado na Farmácia Verde a adoção de plantas
que não constam nessa lista. Isso evidencia uma lacuna existente entre o conhecimento
tradicional e o conhecimento científico, onde a compreensão científica se torna pouco
abrangente e limitante, considerando a diversidade da flora brasileira. Esse aspecto leva à
reflexão sobre o modelo atual de fitoterapia adotado no país e a necessidade de valorizar novas
políticas integradas aos territórios e às comunidades (SOUSA et al., 2012). Isso também
representa um afastamento do que é preconizado pela PNPIC nas diretrizes 5, que trata da
participação popular, e 7, que descreve o estímulo à pesquisa na área. Acreditamos que a
pesquisa deve incluir também a participação popular, com desenhos de estudo que incorporem
os conhecimentos e abordagens locais. Isso não é observado na Farmácia Verde. Mais uma vez,
para avançar nessas diretrizes, é necessário reconhecer as incomensurabilidades apresentadas
neste artigo e enfrentar os desafios desses encontros de saberes por meio de diálogos
interepistêmicos e não apenas marginais. O conhecimento local não pode ser utilizado apenas
como um dado a ser estudado por uma perspectiva epistêmica da ciência hegemônica.
Conclusões
Notamos a existência de questões epistemológicas importantes que devem ser
consideradas no contexto da interlocução entre medicinas complementares e integrativas,
incluindo a produção de evidências, o contexto e as questões de pesquisa norteadoras.
Apresentamos um estudo preliminar com o objetivo de identificar elementos concretos que
possam contribuir para melhorar a interação entre iniciativas como a da Farmácia Verde e outras
instâncias do sistema de saúde. Apesar de a PNPIC apontar nessa direção, no relato de
experiência observa-se que a Farmácia Verde está separada do sistema. Não foi constatado
encaminhamento de pacientes para a farmácia, pouca profissionalização dos serviços, com
Farmácia Verde em Manicoré (AM): Diálogos Possíveis entre Práticas Integrativas e Convencionais
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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utilização de mão de obra não remunerada, e é necessário um maior controle das práticas
relacionadas ao manejo de fitoterápicos. Observamos que o principal ponto de conflito para
uma maior integração entre os sistemas reside nas incomensurabilidades encontradas, o que
requer um esforço epistemológico na produção de evidências que considere as particularidades
e as questões científicas emergentes no contexto da Farmácia Verde. Por exemplo, um desenho
de estudo que considerasse a produção do cuidado como uma pergunta científica relevante,
assim como o peso da participação e do protagonismo dos pacientes para o sucesso do
tratamento, do acolhimento e do bem-estar.
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Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 00, n. 23, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 27
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não se aplica.
Financiamento: Não se aplica.
Conflitos de interesse: Não se aplica.
Aprovação ética: Não foi necessária aprovação de comitê de ética.
Disponibilidade de dados e material: Quadro 1 e fotos disponibilizados no sistema.
Contribuições dos autores: A partir da experiência vivida e relato feito pela autora Oshiro,
como farmacêutica voluntária, foi possível realizar de forma interdisciplinar a elaboração
do tema do artigo e discussão com as autoras Chizzolini e Oliveira, a partir da área de
conhecimento de cada uma. Todas as autoras contribuíram igualmente na escrita do artigo,
assim como, na correção do material e respostas aos avaliadores.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 1
FARMÁCIA VERDE IN MANICORÉ (AM): POSSIBLE DIALOGUES BETWEEN
INTEGRATIVE CONVENTIONAL PRACTICES
FARMÁCIA VERDE EM MANICORÉ (AM): DIÁLOGOS POSSÍVEIS ENTRE
PRÁTICAS INTEGRATIVAS E CONVENCIONAIS
FARMACIA VERDE EN MANICORÉ (AM): DIÁLOGOS POSIBLES ENTRE
PRÁCTICAS INTEGRATIVAS Y CONVENCIONALES
Mariana Cardoso OSHIRO1
e-mail: marianac.oshiro@gmail.com
Bianca Barbosa CHIZZOLINI2
e-mail: bianca.chizzolini@usp.br
Monique Batista de OLIVEIRA3
e-mail: monique.oliveira@usp.br
How to reference this paper:
OSHIRO, M. C.; CHIZZOLINI, B. B.; OLIVEIRA, M. B.
de. Farmácia Verde in Manicoré (AM): Possible Dialogues
between Integrative Conventional Practices. Rev.
Cadernos de Campo, Araraquara v. 23, n. 00, e023005. e-
ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891
| Submitted: 24/08/2022
| Revisions required: 09/01/2023
| Approved: 30/01/2023
| Published: 18/07/2023
Editor:
Prof. Dr. Maria Teresa Miceli Kerbauy
1
University Federal de Pernambuco (UFPE), Recife PE Brazil. The pharmacist graduated from Oswaldo Cruz
College, a Master of Pharmaceutical Sciences from the Federal University of Paraná, and is currently a Doctoral
degree candidate in Pharmaceutical Sciences, specializing in Natural Products and Bioactive Compounds at
University Federal de Pernambuco.
2
University of São Paulo (USP), São Paulo SP Brazil. Doctoral degree candidate and Master of Social
Anthropology from the University of São Paulo (USP), with a Bachelor's degree in Social Sciences from the same
institution. Currently a fellow of the Wenner Gren Foundation.
3
University of São Paulo (USP), São Paulo SP Brazil. Postdoctoral researcher at the Faculty of Public Health,
USP. A journalism graduate from Cásper Líbero, Bachelor of Social Sciences from USP, Master of Science
Communication and Cultural Dissemination from Unicamp, and Doctoral degree from USP.
Farmácia Verde in Manicoré (AM): Possible Dialogues between Integrative Conventional Practices
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 2
ABSTRACT: Actors from both sides heat the debate between integrative practices and
conventional medicine. This analysis presents concrete elements for greater dialogue between
the fields based on the methods of the Farmácia Verde located in the municipality of Manicoré
(AM). We will use the experience report of a volunteer pharmacist in the space between July
and November 2021 as our method. The report presents tensions between pharmaceutical
education and the observed practices, which allowed for the following results: 1) similarities
(such as anamnesis); 2) incommensurabilities (such as the use of a pendulum for dosage, for
example); and 3) differences (such as the organization of services). We understand that
elements 1 and 2 can be overcome, while element 3 represents obstacles to integrating
biomedical practices that would enable, for example, more excellent referrals from primary care
to the pharmacy. Implementing inter-epistemic research that can comprehend the contributions
of these spaces to the healthcare system becomes urgent.
KEYWORDS: Integrative medicine. Health care. Medical anthropology. Medicinal plants.
Epistemology of health.
RESUMO: O debate entre práticas integrativas e a medicina convencional é acirrado por
atores de ambos os lados. Esta análise apresenta elementos concretos para uma maior
interlocução entre os campos, com base nas práticas da Farmácia Verde localizada no
município de Manicoré (AM). Utilizaremos como método o relato de experiência de uma
farmacêutica voluntária no espaço entre julho e novembro de 2021. O relato apresenta tensões
entre a formação farmacêutica e as práticas observadas, o que permitiu os seguintes
resultados: 1) as semelhanças (como a anamnese); 2) as incomensurabilidades (como o uso do
pêndulo para posologia, por exemplo); e 3) as diferenças (como a organização dos serviços).
Entendemos que os elementos 1 e 2 são superáveis, enquanto o elemento 3 representa
obstáculos para a aproximação com práticas biomédicas que permitiriam, por exemplo,
maiores encaminhamentos da atenção primária para a farmácia. Torna-se urgente a
implementação de pesquisas interepistêmicas capazes de compreender as contribuições desses
espaços para o sistema de saúde.
PALAVRAS-CHAVE: Medicina integrativa. Cuidados de saúde. Antropologia da saúde.
Plantas medicinais. Epistemologia da saúde.
RESUMEN: El debate entre las prácticas integradoras y la medicina convencional es
acalorado por actores de ambos lados. Este análisis presenta elementos concretos para un
mayor diálogo entre los campos, a partir de las prácticas de Farmácia Verde ubicada en el
municipio de Manicoré (AM). Utilizaremos como método el relato de experiencia de una
farmacéutica voluntaria en el período entre julio y noviembre de 2021. El relato presenta
tensiones entre la formación farmacéutica y las prácticas observadas, lo que permitió los
siguientes resultados: 1) las similitudes (como la anamnesis); 2) las inconmensurabilidades (el
uso del péndulo para posología, por ejemplo); y 3) las diferencias (como la organización de
los servicios). Entendemos (1-2) como elementos superables, y (3) como obstáculos para
abordar prácticas biomédicas que permitan, por ejemplo, mayores derivaciones desde atención
primaria a farmacia. Es urgente implementar investigaciones interepistémicas capaces de
comprender las contribuciones de estos espacios al sistema de salud.
PALABRAS CLAVE: Medicina integrativa. Cuidado de la salud. Antropología médica.
Plantas medicinales. Epistemología de la salud.
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI e Monique Batista de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 3
Introduction
Intending to investigate the potential for expanding the interplay between
complementary medicine practices and conventional medicine, this analysis presents an
experiential account of voluntary work conducted at Farmácia Verde, located in the
municipality of Manicoré, in the state of Amazonas. Farmácia Verde is a project for the
production of herbal medicines maintained by the Diocese of Humaitá and began its activities
in 1995 at the Parish of São José. The municipality of Manicoré, situated in the southern region
of the state of Amazonas, is located between the capitals of Manaus and Porto Velho (RO). The
city's name derives from the homonymous river and the word Ancoré, the indigenous
community that inhabited the region (FERLA et al., 2022 The Manicoré River is a tributary of
the Madeira River, whose hydrographic basin is highly impacted by mining activities and
uncontrolled urbanization (RIBEIRO et al., 2022). Additionally, the region is home to a 19,000-
hectare indigenous reserve, recognized in 2001, where 221 descendants of the Mura ethnic
group were living in 2010 (TERRAS INDÍGENAS..., 2010). The Mura extends over a vast
region and have faced successive historical extermination processes, having been classified as
enemies of the Portuguese crown in the 18th century (ISA, 2009).
Farmácia Verde is the result of this historical process which, despite its challenges,
managed to become a space for preserving knowledge with few existing records. It is a model
similar to Farmácia Viva, a project conceived by Professor Francisco José de Abreu Matos from
the Federal University of Ceará, aiming to strengthen the knowledge and use of herbal
medicines in Brazil by providing services to the community (MAGALHÃES; BANDEIRA;
MONTEIRO, 2020). Farmácia Viva is regulated by Ordinance 886/2010 of the Ministry of
Health, and its pharmaceutical products and services cannot be commercialized (BRASIL,
2010b).
Another policy aligned with the practices of Farmácia Verde is the National Policy on
Integrative and Complementary Practices (PNPIC) and the National Program on Medicinal
Plants and Herbal Medicines (PNPMF) (BRASIL, 2006; BRASIL, 2008). PNPIC is conceived
as an approach to integrative medicine, seeking to promote the integration between
complementary medicine (traditional practices of people with knowledge not widely
incorporated into the health system) and conventional medicine (Western medical and scientific
expertise that supports healthcare systems). This study aims to analyze the dialogue between
different practices that occurs within this context (OPAS/OMS, 2019; OTANI; BARROS,
Farmácia Verde in Manicoré (AM): Possible Dialogues between Integrative Conventional Practices
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 4
2011). The Farmácia Verde project exemplifies the possibility of interaction between different
approaches to care and health. However, despite Brazil's recognition by the World Health
Organization as a pioneer in incorporating complementary practices into the healthcare system
(OPAS/OMS, 2019), this integration is not without challenges.
Theoretical Framework
The analysis of the obstacles to the further interplay between Farmácia Verde and other
instances of the Unified Health System involves understanding the epistemological differences
present in each of them. Conventional medicine is based on a scientific method that is founded
on the division between soul and matter, where the study of the soul has been relegated to
religion and metaphysics, while the study of matter has been assigned to the experimental
sciences, whose mission has been limited to identifying the workings of the body (NOUVEL,
2013). The problem of the workings invades medical science, which becomes, to some extent,
experimental: based on a method, clues validating previous discoveries are sought in the
patient's account (BERNARD, 1978). In this framework, the individual's experience as a whole
is not part of the analysis. The scientific spirit must oppose the commonplace, and the initial
experience becomes an obstacle for this science that is outside the human being's time and will
find patterns in a non-existent time (BACHELARD, 1938).
With evidence-based medicine, innovations and the calculated application of highly
effective treatments occur, but often these therapies are carried out at the expense of integrated
care that considers the patient's subjectivities. In the field of collective health and
socioanthropology of health, many studies seek to reintroduce contexts and subjectivities into
medical practice (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2006; BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007;
MERHY, 2002). In the philosophy of science and anthropology, there is an extensive body of
literature that delves into what may have been lost in this division between dualities (nature-
culture, body-soul, subject-object) and advocates for a science and medical practice that, to be
democratic, must open up to other forms of knowledge and to integrated participation with what
used to be called objects and patients (FEYERABEND, 2011; LATOUR, 1994, 2004;
SANTOS, 2019).
Democratization requires a new epistemology that is more contextual and interested in
broader processes and outcomes. Epistemology is often understood as the field that investigates
theories of knowledge, how it is attained, and what makes it valid. Classical epistemologists
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI e Monique Batista de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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study what underlies a declarative statement and what justifies it. On the other hand, more
contemporary epistemologists consider the process of knowledge production and the context of
the information as part of what underlies a claim (DUTRA, 2010). There is also another branch
of epistemology interested in social justice, known as epistemologies of the South, which starts
from the validation of knowledge rooted in experiences of resistance and social groups
marginalized by colonialism and patriarchy (SANTOS, 2019).
Traditional knowledge, such as indigenous and traditional peoples' knowledge, is
primarily based on local ancestral practices and knowledge transmitted from generation to
generation in a specific territory through an intimate connection with a particular population's
ways of life, language, and worldviews. However, this close connection to the past does not
make this knowledge immutable; on the contrary, it is plural and dynamic, constantly in contact
with the vital processes of the present, which makes it open to change and experimentation
(EMPERAIRE, 2021; LIMA et al., 2021).
In the context of the discussion about the use of herbal medicine in Farmácia Verde,
biodiversity is a relevant topic related to traditional epistemologies. It is observed that a series
of management practices adopted by conventional communities are guided by the creation,
maintenance, and valorization of agrobiological diversity (EMPERAIRE, 2021; NEVES,
2016). This management, based on species variety and materialized in biodiversity, is the
opposite of the standardization of crops developed by intensive monoculture and modern ideals
of science.
Another epistemology experienced by Amerindian peoples, for example, is the idea of
Bem Viver (Good Living), which in Brazil is present in the expression teko porã among the
Guarani peoples. Teko refers to life in the community, and porã has various meanings, such as
beautiful and good. The idea of Bem Viver is also manifested in the expressions sumak kawsay
(Quechua) and suma qamaña (Aymara). Its meaning is related to living in harmony with nature,
not to dominate it, but as an integral part of other beings on the planet, seeking a balance of the
individual with oneself, society, and the earth (ACOSTA, 2016). It is also a political articulation
based on cooperation, not division, on relationality, complementarity, and solidarity among
individuals. The concept of Bem Viver contrasts with the idea of unbridled development that,
by reifying nature, moves away from the complex processes of biodiversity and life production
(DÁVALOS, 2011).
In the health field, a cognitive process contributed to the exclusion of women and the
separation between medical consultation and care. Sylvia Federici (2017) describes how, in pre-
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industrial societies, many women were experts in "medical knowledge" due to their familiarity
with the use and handling of herbs. However, this knowledge was not related to the idea of
witchcraft. These women were judged and persecuted for prescribing herbal remedies, similar
to what happened to women accused of witchcraft in Europe. Although many resisted and
continued to be sought after, their practice was clandestine, and their methods did not have an
epistemological representation (FEDERICI, 2017).
In the debates seeking a just epistemology, gender parity in the collective construction
of knowledge began to be discussed in the 1980s. This discussion was not limited to women's
professional participation but was also considered a necessity for the results and objects of
science to represent different subjects in society (SISMONDO, 2010). If science is seen as the
result of a historical legitimization process by various actors, all of them, regardless of gender,
social class, or race, should be part of this process. In other words, the cognitive construction
of knowledge must be representative and involve diverse professionals. From these
assumptions, the theory of feminist epistemology emerges, arguing that women are in a
privileged position to analyze particular objects, contributing to the quality of scientific
evidence (HARAWAY, 2009; HARDING, 2008).
In advancing this discussion, the idea of intersectionality expands the gender debate,
adding the need for the epistemological discussion of knowledge produced by marginalized
populations due to issues of race, ethnicity, poverty, religion, and other social groups excluded
from the hegemonic and professional construction of science (COLLINS, 2017). The central
idea is that knowledge is being produced that could contribute to solving contemporary
problems and the necessary engagement to address them. However, this knowledge is not
considered an integral part of modern rationality due to the lack of cognitive representation of
groups and individuals (DAGNINO, 2014; SANTOS, 2019).
The construction of traditional knowledge is based on detailed observation of
phenomena, species, landscapes, and ecological processes and the systematization of
differences (LIMA et al., 2021). The knowledge built by traditional cosmologies inevitably
results in another way of interpreting the world, and one of these ways is the inseparability
between "Nature" and "Culture." This fundamental divide in modern science holds little
importance in indigenous societies in Brazil, as the environment is perceived and classified
differently, and human beings are considered involved in complex networks of multispecies
relationships (LIMA et al., 2021).
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI e Monique Batista de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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From the encounter between distinct epistemologies, inter-epistemic approaches arise,
characterized by relating two or more pieces of knowledge with their internal diversities,
capable of generating concepts from experiences or ideas derived from these contrasting
regimes (OLIVEIRA; FIGUEROA; ALTIVO, 2021). Interepistemic dialogue does not have
rigid formats or pre-established protocols but requires efforts of critical approximation and
attention to its processes, considering the historical violence present in the encounter between
different ways of perceiving and explaining the world (OLIVEIRA; FIGUEROA; ALTIVO,
2021).
Another expression that refers to this type of dialogue is the "encounter of knowledge,"
which has been increasingly used to name activities, with various formats, carried out in
different universities between members of the academy and masters of traditional knowledge.
These activities are based on the idea of mutual learning (BARBOSA NETO; ROSE;
GOLDMAN, 2020) and involve institutional transformations of a political, pedagogical,
institutional/administrative, and epistemic nature in higher education to make these encounters
possible (CARVALHO; VIANNA, 2020), contributing to the processes of social justice
proposed by the previously mentioned epistemologies of the South. However, the encounters
of knowledge do not have triumphalist, conciliatory, or romantic intentions. The heterogeneous
practices brought into relation "cannot use the encounter to abstract or neglect this
heterogeneity" (BARBOSA NETO; ROSE; GOLDMAN, 2020, p. 14, our translation). Instead,
the aim is to create vivid and active contrasts between the knowledge encountered rather than
overcome their divisions (BARBOSA NETO; ROSE; GOLDMAN, 2020, p. 14).
Interepistemic dialogue faces significant challenges. The knowledge of hegemonic
science is based on universality, devoid of historicity and subjects. The theoretical formulation
in modern science is determined by logical elements, resulting from a reification process that
neglects the demands of topics and the complexity of social issues (HORKHEIMER, 1991).
Furthermore, a professional, scientific theory is not always committed to transforming the
world, limiting itself to describing it. Far from complexity, scientific production focuses on
partial issues, often linked to the power of some (DAGNINO, 2014). Therefore, it is necessary
to develop studies that include other subjects in the scientific field. This is the purpose of the
present work, highlighting the role of women in the municipality of Manicoré and giving
visibility to their contributions.
Farmácia Verde in Manicoré (AM): Possible Dialogues between Integrative Conventional Practices
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. 00, e023005, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Methodology
As a methodology, we will use the experiential account of one of the authors, who
volunteered at the Farmácia Verde in Manicoré from July to November 2021, conducting visits
three times a week. The experiential account is not an academic record and does not follow a
specific research protocol but offers experiences that can provide insights for further in-depth
studies (MINAYO, 2008; MINAYO; DESLANDES; GOMES, 2013).
The volunteer made detailed notes, following the thick description proposed by Geertz
(1973). Thick description involves providing understanding and representativeness to details
without seeking general laws. In this context, the analysis focuses not solely on the "Farmácia
Verde" itself but on the pharmacist's relational position about other approaches, understanding
that everything we say about others is also a reflection of ourselves. The account presented here
is an example of how we can come to know a different culture through our own culture
(WAGNER, 2017), both in the pharmacist's professional practice and in the volunteer's
encounter with an unconventional therapeutic approach to her issues. In this context, the
concept of culture refers to studying a set of symbols and meeting relationships where
estrangement occurs amid similarities.
The approach to the Farmácia Verde group occurred through the project for the
regularization of herbal medicine labels, an ongoing project presented by the volunteer. The
pharmacist already had knowledge of herbal medicine and had participated in other integrative
activities, but in Manicoré, she encountered an almost institutionalized process using various
approaches and a formed team. She shared her experience with the other authors, and this article
results from that discussion. All professionals and volunteers at the Green Pharmacy are
women. Through the description of the type of care implemented, our goal is to demonstrate
how this epistemology and encounter challenged what we already knew and what tensions and
differences these women bring to conventional medical practice.
The following account is divided into two parts: 1) a description of the experience as a
volunteer at the Farmácia Verde, including the contact with the space and daily routine; 2) a
personal account of a consultation for the treatment of issues related to anxiety, delayed
menstruation, and muscular tension. First, we will present a narrative of this encounter and then
analyze the possible cultural tensions. To guide this analysis, we will use concepts and questions
proposed by Santos (2007, 2019) in the description of what he calls the "ecology of knowledge,"
which involves recognizing the presence of different knowledge to analyze: 1) similarities, 2)
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI e Monique Batista de OLIVEIRA
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differences; and 3) incommensurability (properties resulting from the comparison of
epistemologies with little or no convergence).
Results
The Volunteer Experience
At the Farmácia Verde in Manicoré, there is an unexpected and fruitful encounter
between Christianity and integrative therapies, giving rise to a unique approach to healthcare.
Syncretism is evidenced by the various symbols present in the space. On the left side of the
uniform worn by the therapists at the Farmácia Verde is a machine-embroidered design
displaying a branch of green foliage wrapped around a red heart adorned with a discreet white
cross. In one of the consultation rooms, three banners featuring anatomical acupuncture
diagrams for the human body (an image of the front of the body, one of the back, and another
of the hand) decorate a wall adjacent to another division where images of Jesus are printed,
accompanied by the quote "The Lord is my shepherd, I shall not want", made with red glitter-
covered EVA
4
made with red glitter-covered EVA foam letters.
However, the influence of Christianity does not prevent dialogue with various forms of
knowledge. Some participants profess the Catholic faith, and others follow the evangelical
religion. Additionally, the Franciscan sister’s welcome men and women with different religious
orientations who require physical and mental health treatments. By mobilizing knowledge from
traditional Chinese medicine and learning about regional medicinal plants brought by the
riparian and indigenous populations, along with the medicinal plants described in the Brazilian
Pharmacopoeia and official compendia, the Farmácia Verde brings together a group of 18
women, including staff and volunteers, who offer an integrative and complementary approach
to health alongside allopathic medicine.
The Farmácia Verde currently produces 65 types of herbal medicines and has
approximately 125 types of plant drugs prepared from dried medicinal plants in teas and baths.
The use of established practices in the scientific field includes a standard method for plant
identification, drying procedures, extraction, packaging, and labeling. The pharmacy is in the
process of aligning with the practices recommended by ANVISA (National Health Surveillance
Agency), as described in RDC (Collegiate Board Resolution) 18/2013, which establishes good
4
EVA is a flexible, rubber-like polymer with adhesive properties and waterproof components. It is widely used
for decorative artifacts (O QUE É EVA, 2023).
Farmácia Verde in Manicoré (AM): Possible Dialogues between Integrative Conventional Practices
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manufacturing practices applicable to the Farmácia Viva (BRASIL, 2013). The team consists
of two therapists, one administrator, and two assistants responsible for patient scheduling,
receiving medicinal plants, and preparing herbal medicines, among other tasks. During the
week, a rotation system of volunteers assists the therapists in daily activities. These volunteers
perform various tasks such as extracting, packaging, and labeling herbal medicines and dried
medicinal plants and cleaning the premises.
Consultations are conducted throughout the week, attending to approximately 10 to 12
people daily on a first-come, first-served basis. Additionally, the pharmacy carries out home
visits with at least one therapist and one volunteer, and the organization of these visits is
coordinated through a group on the WhatsApp application.
The therapists at the Farmácia Verde, with a background in Social Work, have also
received training in certified courses on Phytotherapy, Reiki, Biomagnetism, and Bach Flower
Remedies. They combine these therapeutic practices with the widespread knowledge of plant-
based drugs to address low-complexity health issues in the most vulnerable population of the
municipality. Therefore, the consultations result from combining the scientific method used in
producing herbal medicines and the application of integrative therapies in healthcare.
The Farmácia Verde headquarters is in front of the Matriz Church, also by the riverside.
A banner fixed on the exterior of the building indicates the entrance to the premises. Upon
entering the main hall, on the right-hand side, a passage leads to the garden where various
medicinal plants are cultivated. In the garden, trees are planted directly in the ground, while
smaller plants occupy pots scattered throughout the space. Some of the cultivated plants include
genovese basil, hairy-pigweed, white mulberry, aloe barbadensis miller, lemongrass, garlic
vine, corama, crajiru, pepper elder, peppermint, princess vine, toothache plant, water hemp,
pawpaw, Basil, wormseed, guinea hen weed, pepper vines, purging nut, bushmints, cat's claw
and licorice weed
5
.
The previous passage provides access to the drying room for leaves, flowers, and
branches collected by the pharmacy volunteers or received from local riverside residents, as
5
Below we present the respective common and scientific names of each plant: Genovese Basil (Ocimum
basilicum), hairy-pigweed (Portulacea papilosa), white mulberry (Morus alba), Aloe barbadensis miller (Aloe
vera), lemongrass (Cymbopogom citratus), garlic vine (Mansoa alliacea), corama (Kalanchoe brasiliensis), crajiru
(Arrabidaea chica), pepper elder (Peperomia pellucida), Peppermint (Mentha piperita), insulina (princess vine),
toothache plant (Acmella oleracea), water hemp (Eupatotrium triplinerve), pawpaw (Carica papaya), basil
(Ocimum basilicum), wormseed (Dysphania ambrosioides), guinea hen weed (Petiveria alliacea), pepper vines
(Piper callosum), purging nut (Jatropha curcas), bushmints (Hyptis crenata), Cat's Claw (Uncaria tomentosa) e
licorice weed (Scoparia dulcis).
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI e Monique Batista de OLIVEIRA
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well as an internal kitchen where coffee, tea, and daily treats are served, such as cooked manioc,
banana porridge and tree mango
6
. The therapists take breaks in this kitchen to eat, rest, and
converse.
Returning to the main hall, this time on the left, there are two patient consultation rooms,
the administration room, and a glass display case that houses the herbal remedies produced by
the pharmacy. After the display case, arranged on iron shelves, are glass jars or plastic bags that
store the dried medicinal plants, identified by their common names. Organized alphabetically
by the therapists, one can find packages containing cinnamon leaf, fennel, Ginkgo biloba, blue
snakeweed, guaco, peppermint, pink trumpet tree, brazilian-cherry, Wormwood, macela,
marapuama, lemon balm, bitter gourd, coral tree, pariparoba, orchid tree, sage, sassafrás,
common smilax, Colombian waxweed, sucupira and tamarind
7
; this list is just a glimpse of the
extensive herbal inventory of the pharmacy. In the next room, equipped with a sink, cabinets, a
counter, plastic jugs, and water containers, is the extract preparation room, with access to the
external kitchen door and space for friendly encounters and relaxed breaks among the pharmacy
members.
In this environment, facing the garden, I was integrated into the group of women and
had the opportunity to talk and listen to their stories. As a newcomer to the city, that
environment provided me with social interaction and helped me feel socially active and part of
a group. During a conversation with one of the volunteers, she told me that her contact with the
pharmacy was for the treatment of restlessness and anxiety she felt. The group of women, the
camaraderie in that environment, and the treatment with some medicinal plants and Bach flower
remedies reduced her discomfort, improved her self-acceptance (leading her to like her physical
appearance more), and diminished the importance of her concerns about diet, weight loss, and
plastic surgery, promoting a greater self-awareness.
The Farmácia Verde welcomes patients of all types. Its profile is broad and includes
residents from the municipality's urban and rural areas. Housewives, public servants, miners,
fishermen, drivers, and people just passing through the municipality, such as a university
6
Mangoes are collected from the nearby mango trees themselves.
7
Below we present the respective common and scientific names of each plant: cinnamon leaf (Cinnamomum
verum), fennel (Foeniculum vulgare), Ginkgo biloba, blue snakeweed (Stachytarpheta cayennensis), guaco
(Mikania glomerata), peppermint (Mentha sp.), pink trumpet tree (Handroanthus impetiginosus), brazilian-cherry
(Hymenaea courbaril), wormwood (Artemisia absinthium), macela (Achyrocline satureioides), marapuama
(Ptychopetalum olacoides), lemon balm (Melissa officinalis), bitter gourd (Momordica charantia), coral tree
(Erythrina verna), pariparoba (Piper umbellatum), orchid tree (Bauhinia forficata), sage (Salvia officinalis),
sassafrás (Sassafras albidum), common smilax (Smilax aspera), Colombian waxweed (Cuphea carthagenensis),
sucupira (Pterodon emarginatus) e tamarindo (Tamarindus indica);
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professor conducting fieldwork in the region. Regardless of the patient's social status, the
pharmacy prioritizes health care, spirituality, and physical and mental well-being. Its actions
are not intended to generate profit, and its operation is sustained through donations and the sale
of food produced by the volunteers of Farmácia Verde at religious events.
Patient care occurs in a private environment, temperature-controlled, organized, and
adapted room for complementary health therapies. Each patient has a visit record where their
personal and health information is noted. The consultation, lasting between 1 hour and 1 hour
and 30 minutes, begins with describing the complaint, followed by the therapist's assessment
and applying the integrative practice.
In addition, the members of Farmácia Verde organize celebrations on sacred dates, such
as the city's patron saint day, Our Lady of Sorrows. They carry out health actions, such as home
visits, and offer training in integrative health practices to the public and healthcare
professionals, such as Reiki and auriculotherapy courses.
The therapists conduct the meetings and training sessions, and at the beginning of each
activity, the reading of a religious text or chant is proposed. Not all volunteers reside in the
municipality of Manicoré, and those who live in rural areas depend on river transportation, such
as rabeta
8
or motorboat, to travel to the city and participate in Farmácia Verde activities.
Through a WhatsApp group chat, this group of women, including therapists and volunteers,
coordinates the activity calendar and manages the women's participation in-home visits. It is a
diverse group of women, ranging in age from 20 to 65 years old, and their relationship is
friendly and always filled with good humor, as their laughter can be heard during conversations.
While volunteering, I did not observe any interaction with the Basic Health Unit of the
municipality. There is no formal referral of cases, and the systems operate independently.
Although this is a difficulty within the healthcare system (MENDES, 2011), the existence of
reference and counter-reference systems that ensure comprehensive care is not evident in
Farmácia Verde. The establishment is relatively isolated and far from establishing Health Care
Networks, which aim to integrate different health instances, as recommended by Ordinance
4.279 (BRASIL, 2010a). Issues related to financing, lack of professionals, and institutional
pathways enabling integration contribute to this situation.
8
When attached to the rear of small boats or vessels, a small propulsion engine is manually operated with the
assistance of a tiller that determines the directions. [By extension] Small boat with such an engine; motorized
canoe (RABETA, 2023).
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The majority of patients seek Farmácia Verde autonomously, presenting with simple
complaints. A survey conducted at the pharmacy revealed that, in the analyzed population
sample, the most common symptom is headache, followed by heartburn and stomachache
9
(CERVELATTI et al., 2021). If the therapists perceive the need for conventional medical
treatments for any complaint, they advise the patient to seek care at other healthcare institutions.
However, referrals from the healthcare system to Farmácia Verde were observed less
frequently.
I encountered challenging cases such as mental disorders and advanced-stage cancers
as a volunteer. A cancer patient faced difficulties continuing conventional treatment and
regularly sought support at Farmácia Verde because they felt welcomed there, unlike their
family and schoolmates. The patient did not specifically seek the pharmacy for cancer treatment
but appreciated the warm atmosphere of the place. We also encountered cases of patients with
substance abuse issues who frequented the pharmacy, seeking emotional balance to avoid
relapses and rebuild their family relationships.
The Consultation
After witnessing the work at Farmácia Verde, I decided to schedule an appointment to
address anxiety issues, muscle tension, and difficulties in regulating my menstrual cycle. I chose
to seek help at Farmácia Verde due to the high demand and difficulty in scheduling
appointments in Manicoré, as there is a lack of full-time healthcare professionals and
irregularities in the services provided, which make it challenging to have follow-ups and
maintain continuous treatment. Additionally, I wanted to avoid treatments with synthetic
hormones, the only options offered until then for my health concerns.
I was attended to by a therapist in a private room equipped with air conditioning, a
treatment bed, a desk, chairs for the patient and accompanying person, a bookshelf with
reference materials, and disposable items such as paper to cover the treatment bed, gloves, and
masks. The therapist invited me to sit in one of the chairs so that she could fill out a paper form
with basic information such as name, address, age, and primary health complaints, similar to a
medical history questionnaire. In this form, which became my medical record at the pharmacy,
the therapist recorded all the procedures performed and the recommended treatment and filed
9
Respectively, 15.95%, 12.76% and 9.57% of the cases.
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it after the consultation. After the anamnese, the treatment bed was sanitized, and I lay down
on it using a clean towel. The therapist began biomagnetism, a practice that involves the
detection of physical illnesses and emotional imbalances through reflexology, bioenergetics,
and using pairs of magnets.
The therapist positioned herself in front of my feet, holding my heels and performing
small taps between them to assess leg length discrepancy. While doing so, she pronounced a
list of human organs in pairs, such as thymus-pituitary, pituitary-pituitary, uterus-ovary, and
right temple-left temple. The therapist explains that each pair of organs is associated with a
specific imbalance in biomagnetism. With each pronunciation of an organ pair, the therapist
moved my legs. If a discrepancy was identified after the accent, the inequality to be treated was
diagnosed. At that moment, she immediately applied magnets (one positive and one negative)
to the corresponding region of my body and made a note on the paper form. In a simplified
manner, according to the therapist, the magnets generate a magnetic field that aligns the cells,
balancing the pH of the area.
After tracking the imbalances using the magnets, the therapist spread approximately 12
pairs of magnets throughout my body, and I remained still and relaxed on the hammock for
about 30 minutes. At the end of this period, the magnets were removed, and I felt a sensation
of relaxation. The therapist explained that reactions can vary from person to person; some may
feel tired, sleepy, relaxed, or may not feel anything after the magnet session. She mentioned a
specific case in which a patient had an allergic reaction after the session. When I was at the
table, the therapist reviewed the notes taken during the session and prescribed some herbs to be
consumed as tea.
After the session, the practitioner prescribed medicinal plants such as northern white-
cedar (Thuja occidentalis), black sage (Cordia verbenacea), billygoat-weed (Ageratum
conyzoides), cat's claw (Uncaria tomentosa), uxi (Endopleura uchi), chamomile (Matricaria
recutita) and the common plantain (Plantago major). Using the pendulum, the therapist
determined the dosage for consuming the tea made with these herbs. She instructed me to boil
1 liter of water for 5 minutes for woody plants or more complex parts, such as barks and roots.
The prescribed dosage was 500 ml of tea throughout the day for about 14 days. In addition, the
therapist prescribed a phytotherapeutic product produced by Farmácia Verde called
"Compound 5 Herbs," indicated for cysts or fibroids in the uterus and ovary. Once again, using
the pendulum, she defined the dosage as three tablespoons, three times a day, for 14 days.
Finally, with the assistance of the pendulum, she indicated the use of Bach Flower Remedies,
Mariana Cardoso OSHIRO; Bianca Barbosa CHIZZOLINI e Monique Batista de OLIVEIRA
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selecting five essences that I should take, seven drops three times a day, until finishing the
contents of the 30 ml bottle. The pendulum method caught my attention because a colleague
who had anxiety issues and consulted Farmácia Verde received a different dosage and substance
than mine.
The prescription with usage indications and dosage were handed to me along with a
plastic bag containing all the dried herbs, separated into labeled paper bags with the name of
each plant. I also received a 180 ml bottle of the "Compound 5 Herbs" and a 30 ml bottle of the
Bach Flower Remedy, prepared minutes before. I was not charged for any of the treatments or
the consultation. I decided to return to Farmácia Verde and have two more sessions to continue
the treatment. During this process, I noticed that the magnetic points had decreased.
Furthermore, I experienced emotional and physical improvement without any adverse effects.
Identification of Incommensurability, Differences, and Similarities
Based on the previous experience and consultation, we categorize the stages of care at
Farmácia Verde in terms of incommensurability, differences, and similarities. It should be noted
that the categorization is based on the analytical assumption of the volunteer as a pharmacist.
However, the role of the pharmacist is problematized based on Boaventura de Sousa Santos
(2007, 2019), an author who proposes a "sociology of emergences" to map the plurality of
knowledge, giving them visibility and contributing to avoiding measures of appropriation and
violence while promoting greater epistemological diversity in the world. However, to achieve
this visibility, it is not enough to mention it but also to recognize "common concerns and
complementary approximations, as well as, of course, insurmountable contradictions"
(SANTOS, 2007, p. 91, our translation).
We understand the author's proposal as a path for the concrete construction of dialogues
that explore the black box of evidence production and also raise other scientific questions. The
experience at Farmácia Verde results in two relevant questions that contribute to questioning
the relationship between the healthcare system and complementary practices. First, it is
observed that incommensurable epistemological differences are present in some procedures but
not all (as presented in Table 1). Second, the production of care and support is central at
Farmácia Verde, which may shift the function of these spaces in the healthcare system towards
this area. However, it is essential to emphasize that this support needs to be recognized as
relevant, demanding an epistemological foundation within science that establishes it, with
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studies and evidence production oriented in that direction. In this context, we have developed
a table in which the practices have been classified to make the paths of greater complementarity
(considered poles of dialogue with fewer obstacles) and the
contradictions/incommensurabilities (practices that hinder further discussion) more visible.
In the category of incommensurabilities, we included experiences that generated
strangeness for the pharmacist and difficulties encountered in the possibility of dialogue with
her professional field and experience. For example, using the pendulum for bioenergetic
identification and dosage definition is valued for its specific approach, considering individual
characteristics. However, there is difficulty in understanding how this technique could converge
with conventional medicine. In terms of differences, structural diversities are observed, such as
the organization of services, which may not be as challenging to implement as epistemological
differences. As for similarities, procedures such as asepsis were considered, which directly
align with practices found in other instances of the healthcare system.
Quadro 1 - Classification of the Care Provided at Farmácia Verde based on the Experience
Report
Incommensurability
Differences
Similarities
- Scheduling
appointments made
at the Pharmacy's
headquarters.;
- Home visits are
organized through a
WhatsApp group by
the therapists
themselves.
- Immediate assistance is
available if there are
available time slots.
- "Medical syncretism" involves
various approaches influenced
by Chinese medicine, Indian
medicine (Ayurveda),
indigenous medicine, and other
integrative therapies.
- Utilization of
voluntary workforce
from community
members;
- Extended
consultations lasting
over 1 hour and 30
minutes
- Services provided
are not charged.
There is no profit-
generating objective.
- Using a form/medical
record to collect patient data
and subsequent archiving for
tracking their information.;
- Sanitization of the massage
table and other equipment
after each consultation.
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- Screening for imbalances in the
body and diseases with
bioenergetic, biomagnetic, and
reflexology techniques.
- Diagnosis does not
rely on laboratory
tests, unlike
conventional medical
science
- The search for imbalances
in specific body regions and
the notion that the therapist
examines the patient.
- Determining the dosage based
on a bioenergetic analysis of the
patient using a pendulum;
- Collection of medicinal plants
by community members;
- Cultivation, processing, and
manufacturing of herbal
remedies in the Farmácia Verde
space;
- The patient prepares their
treatment at home using teas and
baths, following the instructions
provided during the consultation;
- The focus is not solely on
symptom resolution, as the
individual is embraced entirely,
considering their subjectivity.
- Diagnosis does not
rely on laboratory
tests, unlike
conventional medical
science;
- Use medicinal
species not listed in
the National List of
Phytotherapeutic
Products
(RENISUS).
- The manufacturing of
herbal remedies in the
pharmacy space reflects the
concept of a compounding
pharmacy;
- Guidance on treatment is
provided through a
prescription with dosage
descriptions;
- The patient carries out the
treatment at home.
Source: Table created based on the intersection of a theoretical framework by Santos (2007, 2019) and
an experiential account.
Discussion
The classification of this experiential report in terms of similarities,
incommensurabilities, and differences aimed to identify possible points of dialogue between
conventional medicine and complementary medicine. It is observed that, about
incommensurability, conversations are more challenging, at least in relation to certain practices.
This category refers to distinct theories of knowledge, which in turn generate equally diverse
methods (KUHN, 2007). An epistemological assumption that hinders the convergence of
practices is that conventional medicine, in theory, works with the need for evidence-based
treatments, where controlled and double-masked clinical trials are considered the gold standard.
Evidence is produced within a specific tradition of thought. For example, an editorial published
in the British Medical Journal in 2006 argues that the practice of biomagnetism, used by one
of the therapists at the Farmácia Verde, has its efficacy difficult to prove due to the challenges
of conducting anonymous studies with patients (FINEGOLD; FLAMM, 2006). The experts
who authored the text also claim a lack of evidence that the magnetic field can cause changes
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in tissues since, otherwise, it could be postulated that a magnetic resonance imaging device
would have therapeutic effects.
The objective of this work is not to discuss the effectiveness of biomagnetism. However,
it is essential to highlight that a discussion on evidence would be necessary to integrate systems.
Establishing a consensus on what constitutes valid evidence in this context is required. For
example, does evidence need to cause a visible alteration in tissues to be considered adequate?
Is the patient's account sufficient as proof of efficacy? Should the conditions under which the
history is produced be considered? A survey conducted at the Green Pharmacy, which
interviewed 70 users, showed that 88.6% of them reported improvements in symptoms, 82.9%
rated the service as a ten, and 75.7% of users declared using the service more than once
(CERVELATTI et al., 2021). This illustrates the magnitude of the epistemological challenge.
If we consider that, in the birth of professional science, there is a division between matter and
subject, with the latter being more prone to suggestions while the matter is seen as evidence of
efficacy, such duality needs to be considered (LATOUR, 2012). It would be necessary to
question whether, if the evidence is not found in tissue or if an anonymous study is impossible,
there might be another possibility for obtaining evidence or if the research question should be
rephrased.
Therefore, using pendulums, magnets, and pronouncing pairs of opposing organs,
among other practices, would be challenging to incorporate into the system without a rigorous
discussion of evidence and its meaning by all parties involved: professional scientists and
project therapists. The challenge of this discussion is that despite all these practices being
labeled as complementary or integrative therapies, they differ. In the experiential report of this
article, herbal medicine was used in conjunction with biomagnetism and bioenergetics. For
example, St John's wort, recommended for treatment in this report, has preliminary evidence
registered for depression, according to a review study conducted by the Cochrane group
(LINDE; BERNER; KRISTON, 2008). According to the tradition of mainstream science,
medicinal plants would not have the same status as biomagnetism. Treatment with plant-based
drugs has a more substantial basis in terms of evidence for their effectiveness due to their
ancient traditional handling and how this knowledge is produced: through steadfast attention to
the properties of the real, that is, through detailed observation and systematic differentiation,
making scientific knowledge equivalent in terms of detail and depth (LÉVI-STRAUSS, 1989).
Still within the category of incommensurability, however, the collection of plants by
residents and the production of herbal remedies locally indicate an involvement with the
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community that could be integrated into the system. There is preliminary evidence of a circle
of trust generated by the Farmácia Verde, which does not exclude individuals from the process
but integrates them into the stages of producing their well-being. While it is necessary to
consider good practices in handling teas and not exclude the possibility of side effects,
workshops and training sessions with well-known plants could involve individuals, regarding
them as protagonists of their treatment and building a circle of trust. This hypothesis should be
tested in future, more detailed studies.
The similarities show that there is room for the adaptation of practices as long as there
are dialogues in which the autonomies and objectives of each space are respected. Regarding
the differences, there are issues associated with the functioning model of the Farmácia Verde,
for example, with a voluntary team and without the need to assume the entire demand of a
system and without commercial purposes, it has the capacity to conduct longer consultations -
a distinctive feature that allows the individual to "relax" during the consultation. These
lightweight organizational technologies of the pharmacy's functioning - not just biomagnetism
itself or isolated practices - can be part of a study design that analyzes the pharmacy's
effectiveness and its role in the healthcare system. In this model, the analysis should not be
limited to the therapies in isolation but also consider the functioning of the pharmacy as a whole.
If we consider that the role of the Farmácia Verde is to ensure more comprehensive care
for individuals and provide a supportive environmentsuch as in the case of a cancer patient
seeking space for their well-beinganalyzing the pharmacy's role in the healthcare system
should be guided by this research question. Future studies can focus on producing evidence
within the scope of care and well-being and determining which healthcare approaches are most
suitable for this purpose. This debate also encompasses the discussion of gender, as care,
historically delegated to women and unpaid (FEDERICI, 2017), is not adequately studied by
the professional, scientific community. Therefore, we suggest the system establishes a space
for dialogue among professionals working within it to understand best how to facilitate this
interaction. We believe that incommensurability and the mixing of different practices pose a
challenge, but it is crucial to understand the objectives of each unit and, based on that, establish
a study design that aligns with those goals.
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Contributions to the National Policy on Integrative and Complementary Practices SUS
(PNPIC)
About the National Policy on Integrative and Complementary Practices (PNPIC), this
article highlights points that can be explored to promote changes in the policy and provide
further details. The PNPIC specifies, for example, in Guideline 2 ("Provision of access to
medicinal plants and phytotherapeutic products for SUS users"), the need to adopt plants listed
in the National List of Phytotherapeutic Products (RENISUS). This list contains 71 species of
medicinal plants with the potential for developing products of interest to the Brazilian Unified
Health System (SUS) (BRASIL, 2009). However, it is observed in the Farmácia Verde that
plants not included in this list are also adopted. This highlights an existing gap between
traditional and scientific knowledge, where scientific understanding becomes limited and
restrictive, considering the diversity of Brazilian flora. This aspect leads to reflection on the
current model of phytotherapy adopted in the country and the need to value new policies
integrated with territories and communities (SOUSA et al., 2012). This also represents a
departure from what the PNPIC advocates in Guidelines 5, which addresses popular
participation, and 7, which describes the promotion of research in the field. We believe that
research should include popular participation, with study designs incorporating local
knowledge and approaches. This is not observed in the Farmácia Verde. Once again, to advance
these guidelines, it is necessary to recognize the incommensurabilities presented in this article
and confront the challenges of these encounters of knowledge through inter epistemic dialogues
rather than merely marginalizing them. Local knowledge cannot be used solely as data to be
studied from the epistemic perspective of hegemonic science.
Conclusions
We noted important epistemological issues that must be considered in the dialogue
between complementary and integrative medicines, including evidence production, context,
and guiding research questions. We presented a preliminary study aimed at identifying concrete
elements that could improve the interaction between initiatives such as the Farmácia Verde and
other instances of the healthcare system. Despite the National Policy on Integrative and
Complementary Practices (PNPIC) pointing this direction, the experience report reveals that
Farmácia Verde is separate from the system. We have not observed patient referrals to the
pharmacy, there is a lack of professionalization in the services with the use of unpaid labor, and
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there is a need for greater control over the practices related to the management of
phytotherapeutic products. We have observed that the main point of conflict for greater
integration between the systems lies in the encountered incommensurability, which requires an
epistemological effort in evidence production that takes into account the specificities and
emerging scientific issues in the context of the Farmácia Verde. For instance, a study design
that considers the production of care as a relevant scientific question, as well as the importance
of patient participation and protagonism for the success of treatment, support, and well-being.
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DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23i00.16891 26
CRediT Author Statement
Acknowledgements: Not applicable.
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: Not applicable.
Ethical approval: Ethical committee approval was not required.
Data and material availability: Table 1 and photos are available in the system.
Authors' contributions: Based on the experiences and accounts provided by the author
Oshiro, as a voluntary pharmacist, the article's topic was developed and discussed in an
interdisciplinary manner with the authors Chizzolini and Oliveira, each contributing from
their respective areas of expertise. All authors contributed equally to the writing of the
article, as well as to the review of the material and responses to the reviewers.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.