Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16900 1
VEGANISMO NÃO É DIETA: DISPUTAS DISCURSIVAS E PRÁTICAS SOBRE
RELAÇÕES ENTRE DIVERSOS ANIMAIS HUMANOS E NÃO HUMANOS,
MAPEADOS EM DEBATES ONLINE
EL VEGANISMO NO ES UNA DIETA: DISPUTAS DISCURSIVAS Y PRÁCTICAS
SOBRE LAS RELACIONES ENTRE DIVERSOS ANIMALES HUMANOS Y NO
HUMANOS, MAPEADAS EN DEBATES ON LINE
VEGANISM IS NOT A DIET: DISCURSIVE AND PRATICAL DISPUTES ABOUT
RELATIONTSHIPS BETWEEN VARIOS HUMAN AND NON-HUMAN ANIMALS,
MAPPED IN ONLINE DEBATES
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA1
e-mail: rodolfo.csufrrj@gmail.com
Como referenciar este artigo:
CERQUEIRA, R. de M. S. Veganismo não é dieta: Disputas
discursivas e práticas sobre relações entre diversos animais
humanos e o humanos, mapeados em debates online. Rev.
Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023010.
e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16900
| Submetido em: 04/07/2022
| Revisões requeridas em: 06/02/2023
| Aprovado em: 08/03/2023
| Publicado em: 23/08/2023
Editores:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Profa. Me. Aline Cristina Ferreira
Prof. Me. Mateus Tobias Vieira
Prof. Me. Matheus Garcia de Moura
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Rio de Janeiro RJ Brasil. Doutorando no Programa
de Pós-Graduação em Ciências Sociais.
Veganismo não é dieta: Disputas discursivas e práticas sobre relações entre diversos animais humanos e não humanos, mapeados em
debates online
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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RESUMO: No presente artigo, é abordado a temática do veganismo e as disputas em torno do
seu significado e práticas, mobilizadas através de debates em fóruns de grupos da rede social
Facebook. O objetivo consiste em refletir sobre os conflitos que atravessam os debates em torno
da ética animalista vegana, mapeando disputas discursivas acerca de quais práticas de consumo,
relações humano-animais e mesmo pautas políticas que se coadunam com veganismo ou não.
A partir da observação desses conflitos, é identificado uma expressão importante que aparece
nos debates, e que encaminha para a conclusão de que as relações entre humanos e humano-
animais precisam ser interpretadas a partir de recortes que deem conta das diversas
desigualdades em jogo. Além disso, identificamos duas tendências antagônicas que se
desenham no meio vegano brasileiro, tanto no que se refere às estratégias de boicote e promoção
ao consumo, quanto no que se refere à abordagem dos conflitos humano-animais.
PALAVRAS-CHAVE: Veganismo. Relação humano animal. Consumo.
RESUMEN: En este artículo, discuto el tema del veganismo y las disputas en torno a su
significado y prácticas, movilizadas a través de debates en foros de grupos en la red social
Facebook. El objetivo es reflexionar sobre los conflictos que atraviesan los debates en torno a
lo que llamaré ética animalista vegana, mapeando disputas discursivas sobre qué prácticas de
consumo, relaciones humano-animal e incluso lineamientos políticos son o no congruentes con
el veganismo. A partir de la observación de estos conflictos, identifico una expresión
importante que aparece en los debates y que lleva a la conclusión de que las relaciones entre
humanos y humanos-animales necesitan ser interpretadas desde perspectivas que den cuenta
de las diversas desigualdades en juego. Además, identifico dos tendencias antagónicas que
emergen en el ambiente vegano brasileño, tanto en lo que respecta a las estrategias de boicot
y promoción del consumo, como en lo que respecta al abordaje de los conflictos humano-
animal.
PALABRAS CLAVE: Veganismo. Relación humano-animal. Consumo.
ABSTRACT: This article addresses the theme of veganism and the disputes surrounding its
meaning and practices, as mobilized through debates in forums of Facebook social groups. The
objective is to reflect on the conflicts that cut across the discussions concerning vegan animal
ethics, mapping discursive disputes about whether consumption practices, human-animal
relationships, and even political agendas align with veganism. Through the observation of these
conflicts, a vital expression is identified that leads to the conclusion that the relationships
between humans and human-animals need to be interpreted from perspectives that account for
the various inequalities at play. Furthermore, two antagonistic tendencies are identified within
the Brazilian vegan community, both in terms of boycott and consumption promotion strategies
and in relation to the approach to human-animal conflicts.
KEYWORDS: Veganism. Human-animal relations. Consumption.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Introdução
O presente artigo aborda a temática do veganismo e as controvérsias que envolvem o
seu significado e práticas, com o intuito de promover uma reflexão sobre os conflitos que
permeiam as discussões acerca do que é denominado como ética animalista vegana
2
. Nesse
contexto, entende-se por ética animalista o princípio de agir levando em consideração os
interesses dos animais de outras espécies, incluindo os humanos. Essa ética encontra aplicação,
na prática do veganismo, que essencialmente consiste em abolir o consumo de alimentos e
produtos provenientes de animais, bem como em evitar o uso de vestuário, cosméticos e a
mesmo entretenimento associado a eles, como zoológicos, circos e rodeios.
É possível afirmar que a prática do veganismo repousa sobre bases amplamente
reconhecidas por grande parte de seus seguidores e estudiosos da teoria dos direitos dos
animais. Diversos trabalhos no âmbito das Ciências Sociais brasileiras (CERQUEIRA, 2017;
FERRIGNO, 2012; LIRA, 2013; PERROTA, 2015) indicam as seguintes referências
fundamentais que moldam a ética animalista vegana:
I- O reconhecimento da senciência, ou seja, a capacidade que todos os organismos
animais possuem de experimentar dor, sofrimento físico e psicológico, bem como de sentir
prazer e satisfação (SINGER, 2004). Este reconhecimento foi validado mais recentemente em
2012, quando o cientista Phillip Low redigiu a Declaração de Cambridge sobre a Consciência
em Animais Humanos e Não Humanos
3
, um documento que também foi revisado e assinado
por um grupo de neurocientistas colaboradores. Conforme destacado por Perrota (2015),
ativistas do direito dos animais utilizam a mencionada declaração como uma abordagem para
estreitar a proximidade cognitiva entre animais humanos e não humanos, buscando assim
conquistar direitos para estes últimos.
II- A concepção de que os animais são alvo de uma forma de discriminação
arbitrária baseada na espécie, conhecida como especismo, na qual a condição de pertencer a
uma espécie concede aos seres humanos o direito de subjugar, explorar e tratar os animais não
humanos como objetos. O termo especismo foi criado na década de 1970 pelo psicólogo
2
O artigo é resultado de pesquisa realizada para a dissertação “Veganismo não é dieta: Alteridade e conflitos na
ética animalista vegana”, defendida em 2017, no PPGA/UFF.
3
Disponível em: http://www.labea.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2014/05/Declara%C3%A7%C3%A3o-de-
Cambridge-sobre-Consci%C3%AAncia-Animal.pdf, acesso em: 2 nov. 2020. O texto original não foi encontrado
no site da conferência. No entanto, a tradução é facilmente encontrada em diversos sites.
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Rychard D. Ryder (1975), e diz respeito à diferenciação de valores entre indivíduos, baseada
nas diferenciações entre espécies. Peter Singer traz o conceito em seu livro Libertação Animal
(1975), em analogia com racismo e sexismo. Em outras palavras, o especismo justifica práticas
desiguais e violentas com base em uma característica arbitrariamente considerada natural,
frequentemente usando argumentos extraídos tanto das ciências contemporâneas quanto das
tradições religiosas, notadamente das judaico-cristãs.
III- A adoção, ao menos parcial, do conceito de sujeito de uma vida, formulado por
Tom Regan (2006). Nesse conceito, o autor mobiliza a ideia de valor inerente dos seres vivos,
mais especificamente do reino animal, reivindicando direitos à vida de animais não humanos.
Isso o afasta do debate de Singer, mais calcado no utilitarismo da tradição de Jeremy Bentham.
Enquanto para Singer, os animais não humanos deveriam ser incorporados em termos de
igualdade na comunidade moral, essa inclusão é embasada na avaliação das consequências das
ações para essa comunidade, visando maximizar os resultados positivos para o maior número
possível de seus membros, ao mesmo tempo que se minimizam os danos infligidos a eles
4
.
IV- A crítica à condição de propriedade imposta aos animais não humanos, que os
trata como objetos pertencentes aos seres humanos, conferindo-lhes um estatuto de mercadoria
em termos jurídicos, morais, econômicos e políticos. De acordo com Francione (1995), o
aspecto de propriedade dos animais é quase sempre o componente principal na resolução de
conflitos entre humanos e animais. Ainda que o status de propriedade não esteja explicitado,
em quase todos os casos nos quais interesses de humanos e de animais conflitam, é o ser humano
que prevalece pelo direito de exercer domínio sobre sua propriedade. O vencedor da disputa
está predeterminado pela maneira como o conflito é abordado desde o início. A linha de
raciocínio se vale da analogia com a escravidão humana como um ponto de referência. Se
pensarmos na lógica que coloca o escravo como propriedade de outro, este se torna mercadoria,
objeto intercambiável que possui um proprietário. Seguindo essa argumentação, o autor conclui
que o viés adequado a se seguir é o da abolição da exploração animal.
4
Lira (2013) argumenta que identificou, em suas pesquisas com veganos, a adoção da ideia de senciência,
aprofundada por Singer (1975), somada à noção de sujeito de uma vida de Regan (2006), ao menos no que se
refere aos discursos, pautados na ideia de abolicionismo animal.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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V- A distinção entre Abolicionismo animal e bem-estarismo. Nem todas as pessoas
que se empenham na defesa dos animais interpretam esse esforço como uma busca por direitos
ou pela libertação do uso humano. Um exemplo é a Lei n.º 9.605/98, Seção I, art. 32 que diz
“Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos”
5
. Nesse sentido, se atos de crueldade e abuso ocorrem, a
abordagem da defesa dos animais seria regulamentar as práticas de utilização animal com base
em algum critério moral de consenso (de quem?), ou reduzir a dor e o sofrimento dos animais
em cativeiro, preferencialmente com respaldo científico. Essa tendência é conhecida como bem-
estarismo animal (welfarism) e é adotada por certos defensores dos animais, profissionais da
área biomédica e saúde animal, bem como em legislações gerais e regulamentações específicas
relacionadas ao uso de animais em laboratórios e abatedouros, por exemplo. No contexto mais
amplo do veganismo, há uma oposição a essa abordagem das interações interespécies.
Perrota (2021) evidencia que o movimento de “defesa dos animais”, com o qual a prática
do veganismo se coaduna, parte de uma crítica ao pensamento cartesiano que funda
parcialmente a ideia de humanidade do ocidente moderno. Descartes é questionado por sua
visão que considera a pessoa como uma entidade metafísica que estabelece a razão como o
critério definidor do sujeito. Pois tal paradigma, enxerga os animais não humanos como corpos
não possuidores de atributos humanos, sobretudo a razão, e, portanto, os exclui da humanidade
e da comunidade moral, como seres usados como contraponto de afirmação das qualidades
humanas (INGOLD, 1994).
De acordo com a autora, defensores dos animais não humanos contestam a segregação
extrema entre humano e animal, reconhecendo características sensíveis e conscientes em outras
espécies. O paradigma invocado para contestar a exclusividade humana em relação aos direitos
é o cognitivista, recentemente introduzido pela neurociência, no qual a inteligência é avaliada
pelo estudo do cérebro como órgão, em oposição à metafísica cartesiana. Nesse paradigma, a
distinção cognitiva entre seres humanos e animais de outras espécies seria mais uma questão de
grau do que duas ontologias separadas.
Entretanto, Perrota (2015) afirma que o paradigma cartesiano é rejeitado apenas
parcialmente, no que se refere à exclusão de outras espécies. Defensores e veganos buscarão
um diálogo com o paradigma cognitivista, reafirmando a dicotomia sujeito/objeto cartesiana e
5
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Acesso em: 20 mar. 2023
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a ideia metafísica de uma ontologia animal específica, ampliando para outras espécies o que
Descartes havia atribuído exclusivamente aos humanos.
Alicerçado nessas premissas, especialmente na temática do abolicionismo animal, o
veganismo surge como uma ética aplicada que visa a erradicação da exploração animal nos
hábitos de consumo. No entanto, o debate sobre o veganismo não se encerra nessa conclusão.
Sua implementação suscita conflitos, tensões e negociações, de acordo com as observações de
Vilela (2017). A questão evidenciada é que o veganismo não se restringe apenas à esfera do
consumo e encontra-se em constante disputa, tanto em relação ao seu significado quanto às
práticas que estão ou não alinhadas a ele.
Fazendo aqui uma apropriação dos termos de Malinowski, o que foi dito até agora revela
apenas o que é o “esqueleto” do veganismo, uma definição em linha gerais. A inserção e
observação das pessoas aplicando o veganismo em suas vidas refletindo e discutindo sobre
suas práticas, seja presencialmente ou online , a participação nos diferentes espaços
imponderáveis do cotidiano tais como conflitos, divergências, dificuldades assim como as
possíveis convergências é o que forma a sua “carne” e “sangue”, ou seja, o veganismo sendo
mobilizado e vivido pelas pessoas com suas contradições, negociações, conflitos e
ordenamentos.
Existem questões em disputa no meio vegano: as formas como pessoas e instituições
(ONGs, movimentos sociais e empresas) se apropriam do veganismo e pretendem afirmar e
justificar suas práticas como veganas. Além disso, o que qualifica se um produto, empresa ou
maneira de produzir é coerente com o veganismo ou não?
Perrota (2015; 2021) analisa como o movimento em prol dos direitos dos animais é
influenciado pelo repertório dos direitos humanos, visando expandir esses direitos para incluir
animais não humanos. Isso busca incorporá-los à comunidade moral com base nas abordagens
discutidas neste texto (libertação animal, sujeito de uma vida, abolicionismo animal, o termo
especismo em analogia com sexismo e racismo). Dado que o veganismo, portanto, estabelece
um diálogo com a trajetória histórica dos direitos humanos, surge a indagação: que concepção
ou concepções de humanidade são invocadas quando se trata de direitos dos animais e
veganismo? Como o veganismo se relaciona com perspectivas políticas que enfatizam classe,
raça e gênero?
Os dados evidenciados inicialmente neste artigo foram obtidos de grupos na rede social
Facebook em 2016, como parte da pesquisa para a dissertação do autor. Posteriormente, serão
descritos os desdobramentos dos conflitos abordados que levaram à construção de uma nova
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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organização vegana no Brasil, A União Vegana de Ativismo (UVA). Essas informações foram
obtidas a partir de relatos de dois de seus fundadores, do seu site oficial
6
e das redes sociais da
organização (Youtube, Facebook).
Importa salientar que a escolha de utilizar a rede social como fonte de pesquisa inicial
foi influenciada pela própria dinâmica que o campo apresentava. Apesar existirem espaços
presenciais como feiras veganas e mesmo o extinto Sopão Vegano, na cidade do Rio de Janeiro,
os fóruns no Facebook se sobressaíam como os espaços privilegiados para intercâmbio de
informações, debates e embates, moldando inclusive os temas discutidos nas esferas
presenciais.
Metodologia de pesquisa nos grupos do Facebook
Os grupos presentes no Facebook constituem fóruns nos quais os indivíduos debatem
postagens que incluem links de imagens, vídeos, textos ou questionamentos, bem como outros
conteúdos elaborados pelas próprias pessoas que fazem as postagens. Esses espaços
desempenham o papel de geradores de conflitos e divergências entre os adeptos do veganismo
a respeito do que realmente caracteriza o veganismo e sua amplitude. Além disso, esses fóruns
podem dar origem a debates de natureza qualitativa, os quais oferecem auxílio às pessoas e têm
a capacidade de estabelecer alianças momentâneas ou, em contrapartida, rupturas.
Os dados foram mapeados em tópicos de discussão em vários grupos relacionados ao
veganismo presentes na plataforma de rede social Facebook. Os grupos selecionados para essa
finalidade foram: Veganismo Social Discussões Interseccionais, Trolls Veganos, Troll Ajuda,
Veganismo Libertário, Veganismo Popular. Nos referidos grupos do Facebook foram
realizados contatos com mais de 40 pessoas em debates sobre diversos tópicos tratados ao longo
da dissertação. Omite-se a apresentação de imagens, nomes de pessoas, assim como empresas,
ONGs e marcas, uma vez que não havia a intenção nem a pertinência de divulgar esses nomes.
O foco da pesquisa sempre esteve direcionado ao conteúdo dos diálogos, debates e intercâmbios
ocorridos nos grupos da referida plataforma digital, relacionados com a temática em questão.
Portanto, para retirar a identificação pessoal de interlocutores e buscar extrair o máximo
apenas dos conteúdos dos textos, foi substituido em cada seção os nomes das pessoas por
animais personagens do jogo do bicho. Cientistas sociais costumam, em diversos trabalhos,
6
Disponível em: uniaovegana.org. Acesso em: 10 dez. 2022.
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trocar o nome de seus interlocutores para preservar sua privacidade. Neste caso, utilizou-se os
animais do jogo do bicho como provocação estética que dialoga com a temática do artigo. A
escolha da nomeação foi aleatória. O nome das marcas dos produtos foi também omitido,
apresentando apenas uma breve descrição das mesmas entre parênteses.
É imprescindível contextualizar que os espaços online abordados aqui se enquadram na
definição de "digital" conforme proposta por Padilha e Facioli (2018) no sentido de práticas
sociais que são relevantes tanto para a teoria quanto para a pesquisa sociológica. Tais práticas
compreendem ações que envolvem tanto seres humanos quanto não humanos, com influência
marcante nas interações sociais. Além disso, tais plataformas moldam interações sociais entre
pessoas que podem estar geograficamente distantes. As redes sociais, ao mesmo tempo,
influenciam e são influenciadas pelas relações sociais (SANTOS, 2022).
As opiniões veiculadas em tais fóruns estão acessíveis a todas as pessoas que participam
desses grupos, de tal maneira que não constituem informações de caráter pessoal íntimo, que
possam imediatamente expor os indivíduos à revelia do anonimato e revelar aspectos de suas
vidas particulares.
Ademais, no que se refere à apresentação das transcrições, foi necessário conceber uma
abordagem que de alguma forma reproduzisse a estrutura das sequências de respostas presentes
nas páginas dos grupos do Facebook. Nessa rede social, quando alguém responde um tópico
postado no grupo é possível que uma pessoa responda diretamente a cada resposta dada ao
tópico de referência. Para assegurar que a leitura das transcrições fosse coerente, foi aumentado
o nível de recuo quando se trata de uma resposta que é uma reação a outra resposta. Por
exemplo,
O texto cuja resposta remete ao tópico principal ficou com esse recuo.
O texto que debate com a resposta acima ficou com esse recuo.
Para acompanhar a discussão, os trechos foram retirados diretamente dos grupos da rede
social referida, com a devida edição, as imagens do tópico estarão presentes, seguidas pelos
debates entre interlocutores (as) usando a formatação conforme referida acima.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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O conflito em questão: É vegano ou não?
Uma parcela significativa dos conflitos e debates entre indivíduos adeptos do
veganismo, ou mesmo daqueles que aspiram adotar essa prática, reside na questão do que
genuinamente pode ser considerado vegano ou não, uma controvérsia que por vezes se entrelaça
com a própria delimitação do conceito de veganismo. Aquilo que à primeira vista poderia
parecer evidente, ou seja, se os produtos são desprovidos de ingredientes de origem animal e se
foram submetidos a testes em animais ou não, frequentemente é objeto de discussão. O que de
fato caracteriza a conformidade de uma prática de consumo ou de um produto comercializado
com os princípios do veganismo muitas vezes se encontra em meio a debates, vigilância
constante e contendas.
Figura 1 Polêmica sobre leite vegetal
Fonte: Retirada de grupo da rede social Facebook.
Figuras 2 e 3 Resposta da empresa sobre polêmica
Fonte: Retiradas do mesmo post na referida rede social.
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Na postagem mencionada anteriormente, observa-se mais uma ramificação do conflito
relacionado à definição do que é vegano em comparação com o vegetarianismo estrito. A
discussão surgiu das reclamações na página de uma rede de restaurantes do Rio de Janeiro que
possui opções lacto vegetarianas e veganas, ou vegetarianas estritas. O debate foi desencadeado
pelo anúncio de um milk-shake vegano que utilizava leite de soja como base, suscitando
questionamentos por, pelo menos, dois motivos: a presença de vitamina D de origem animal na
composição desse leite e sua procedência como produto de uma empresa que conduz testes em
animais. Sendo assim, para algumas pessoas veganas, tal leite de soja não poderia ser
considerado vegano, nem vegetariano estrito. Além disso, conforme evidenciado no debate, se
o produto contém qualquer componente de origem animal, não pode ser classificado como
vegano. No caso de a empresa realizar testes em animais, poderia ser classificado como
vegetariano estrito (ou seja, composto exclusivamente por ingredientes de origem vegetal),
porém não estaria em consonância com os princípios do veganismo. A discussão também
abordou a questão da decisão de não consumir produtos de empresas que conduzem testes em
animais.
Interlocutor (a) Cabra - O problema da (marca de leite de arroz) é o preço de
custo que ficará muito alto. Uma alternativa seria o da (marca de laticínios que
tem linha de produtos à base de soja) não é vegano, mas pelo que vi é
vegetariano estrito ou então eles fabricarem o próprio.
Interlocutor (a) Touro - Acho que (marca de laticínios que tem linha de
produtos à base de soja) é liberado, só tem o problema de ser de uma empresa
que explora milhares de animais todos os anos.
Interlocutor (a) Burro - A (marca de laticínios que tem linha de produtos à
base de soja) é da (empresa de laticínios), que é da (grande corporação
internacional), que testa. Logo, não para usar em algo divulgado como
vegano. Acho que eles poderiam tentar uma parceria com a (marca de leite de
arroz) para cair o custo.
Na seção subsequente, em uma busca por alternativas ao uso do leite proveniente da
marca mencionada, surgem duas opções. Um desses substitutos é o leite de arroz, o qual, nos
supermercados, é comercializado a um preço relativamente elevado. O segundo substituto é
classificado como vegetariano estrito. Todavia, vale observar que nem todos os indivíduos que
se identificam como veganos estabelecem essa distinção entre produtos vegetarianos estritos
originários de marcas associadas à exploração animal e produtos genuinamente veganos. Essas
perspectivas discrepantes constituem uma fonte proeminente de conflito, que se destaca e
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resulta em implicações adicionais no contexto dos desentendimentos entre indivíduos e
instituições que promovem a adoção do veganismo.
Interlocutor (a) Porco: A (ONG conhecida no meio vegano) que estava
indicando (Leite vegetal de marca que realiza testes em animais) pra galera
né?
Interlocutor (a) Porco: depois que a gente fala que essas ongs são duvidosas,
chamam a gente de chato. Chato é você tentar ser coerente com os Animais e
vem gente com influência e poder e bagunça tudo. é mais chato ainda os
Animais ficarem no meio dessa briga toda.
Interlocutor (a) Burro: A (ONG) está toda errada, indicando biscoitos da
(grande corporação de alimentos industrializados), indicando (outra
corporação citada na discussão anterior do mesmo tópico), falando que
devemos comprar produtos de empresa que testam em animais, mas que não
tem nada de origem animal para estimular as empresas a fazerem mais
produtos assim... Só digo uma coisa: dinheiro há-ha.
Interlocutor (a) Camelo: A (ONG) não é um ONG vegana. No site deles diz
que são contra abate, apenas. O foco deles é quem come carne. Não acho o
melhor posicionamento, mas não vai rolar retratação.
No segmento acima, torna-se evidente que um dos propósitos da postagem consiste em
expor uma ONG que estaria recomendando produtos classificados como vegetarianos estritos,
os quais, por consequência, não seriam considerados veganos. Adicionalmente, é apontado que,
apesar de frequentar espaços relacionados ao veganismo, essa ONG se restringiria apenas a
discussões sobre alimentação, sem adotar posições contrárias a testes em animais ou ao uso de
peles, por exemplo. Voltando ao embate original, sugere-se a indicação de produtos
vegetarianos estritos com a perspectiva de que o aumento da demanda por esses produtos
poderia incitar as empresas a produzirem mais alternativas veganas e, ao longo do tempo,
abandonarem gradualmente a exploração animal. A premissa seria que os produtos de origem
animal se tornariam menos lucrativos.
Por outro lado, há quem argumente que ao adquirir produtos de empresas supostamente
envolvidas na exploração animal, o ato, na realidade, reforçaria a tendência de transformar o
veganismo em apenas mais um nicho de mercado. Afinal, nada impediria que a empresa
desenvolvesse linhas de produtos distintas e lucrasse tanto com o público que consome produtos
de origem animal e seus derivados quanto com o público vegano ou vegetariano estrito.
Vilela (2017) destaca que o veganismo implica em um consumo político não apenas
como uma manifestação individual destinada a comunicar um princípio ético e posicionar-se
no mundo, mas também como um meio de intervir na esfera pública. Estratégias de boicote e
de consumo que sustentam a forma de produção considerada adequada, em teoria, compõem a
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maneira pela qual os adeptos do veganismo exercem sua ética animalista. Contudo, vale
ressaltar que o boicote nem sempre é considerado eficaz. Como mencionado anteriormente, os
critérios que guiam esse consumo político estão sujeitos a disputas no seio do movimento
vegano.
Foi mencionada uma situação, entre várias que ocorrem, nas quais a origem animal de
um ingrediente de um produto ou o fato de uma empresa realizar testes em animais são
questionados. Tais elementos frequentemente dão origem a conflitos nos espaços voltados ao
veganismo, como observado. Contudo, nota-se, a partir de 2015/2016, o surgimento de alguns
temas que continuam a se desdobrar dentro do movimento vegano até os dias atuais. Esses
temas transcendem a mera escolha individual de consumo com base em critérios éticos. O
debate que surge a partir de um simples produto, como um leite vegetal de determinada marca,
acaba por suscitar questionamentos mais amplos que problematizam não apenas as práticas de
consumo adotadas por veganos, mas também as estratégias de promoção do veganismo e as
bases políticas que orientam as ações de coletivos e indivíduos inseridos no movimento.
Veganismo e interseccionalidade
Vilela (2017) também assinala que, para algumas pessoas veganas, as questões
relacionadas ao consumo não se limitam apenas à produção de bens que de alguma forma
envolvam a exploração animal; elas podem se estender às relações de produção desses bens
entre seres humanos, bem como ao tipo de publicidade promovido pelas marcas. Nesse sentido,
ocorre uma interseccionalidade que considera classe e gênero na esfera do consumo político.
No entanto, além do âmbito do consumo, a interseccionalidade começou a ser abordada
no contexto do movimento vegano, focalizando nas condições que tornam possível viver o
veganismo ou até mesmo qual concepção de humano está sendo considerada, questionando,
assim, a noção de um Humano universalizada
7
até então presente no veganismo. Questões
relacionadas a raça, classe, gênero e religião passaram a ser abordadas e discutidas pelas
próprias pessoas veganas.
7
Conforme discute Perrota (2015), a noção de humano erigida pelo humanismo a partir da modernidade,
especialmente do racionalismo cartesiano e do iluminismo, afirmou a ideia de um ser humano universal, indivíduo
racional e autônomo. No entanto, conforme observei em minhas pesquisas, veganos que se alinham ao debate
interseccional, constumam compreender que tal construção não conta nem da diversidade cultural, muito menos
das desigualdades de classe, raça e gênero, consequências da mesma modernidade colonial e capitalista.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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Um dos interlocutores, nomeado de Borboleta, compartilhou sua experiência sobre o
dilema de participar do ritual de “corte”
8
de uma galinha em um terreiro que frequentava,
mesmo sendo vegano. Embora, geralmente na Umbanda não se realize o sacrifício animal, o
terreiro que ele frequentava estava vinculado à tradição religiosa Quimbanda, que faz uso do
“corte”.
Borboleta é um jovem que, embora não tenha experimentado racismo e machismo
devido à sua identidade de gênero e etnia (sendo branco e homem), reside na periferia e pertence
à classe trabalhadora. Durante aquele período, estava desempregado e enfrentava dificuldades
financeiras, enquanto seus pais também passavam por momentos financeiramente desafiadores.
Ele adotara o veganismo há sete meses, após ter sido ovo lacto vegetariano por sete anos. Nessa
fase, as circunstâncias o limitavam a uma dieta restrita, composta principalmente de arroz e
feijão em alguns dias, para não “cair”
9
do veganismo. Ele chegou a trabalhar como panfleteiro
em uma campanha política durante as eleições de 2016. Borboleta frequentava um terreiro
localizado em uma favela na Baixada Fluminense, onde a noção de veganismo era desconhecida
antes de sua introdução e discussão. Ele descreve que, ao se envolver com o templo religioso,
uma entidade o auxiliou em suas próprias palavras. No entanto, para receber essa assistência,
ele precisou ofertar uma galinha branca. Esse cenário gerou um conflito interno em Borboleta,
ainda mais considerando que, ao compartilhar essa situação na internet, ele poderia se deparar
com veganos prontos para acusá-lo de especismo, de ser um vegano falso, entre outras críticas.
A percepção de Borboleta e de outros veganos é que, pelo menos no Brasil, o veganismo
é mais predominante entre pessoas de classes sociais “média” e “alta”, bem como entre pessoas
brancas. Além disso, muitos restaurantes veganos possuem preços que se alinham com o padrão
de consumo da classe média. Produtos com certificação de origem vegana ou que não foram
testados em animais frequentemente possuem preços mais elevados. Borboleta observa que essa
realidade cria, em algumas ocasiões, uma “bolha” que impede muitos veganos de terem
conhecimento das realidades diferentes, como a que ele vivencia, levando-os a fazer
julgamentos sem pleno entendimento.
Para abordar questões como essas, surgiram grupos no Facebook, tais como
“Veganismo Social Discussões Interseccionais” e “Veganismo Libertário”. Além disso, foi
8
Prática de abate ritual de determinados animais em algumas religiões de matriz afro-brasileiras, para fins de
comensalidade e de comunhão com suas divindades.
9
Abandonar, ainda que momentaneamente, a prática do veganismo.
Veganismo não é dieta: Disputas discursivas e práticas sobre relações entre diversos animais humanos e não humanos, mapeados em
debates online
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criado o grupo “Veganismo Popular” para compartilhar receitas que utilizam ingredientes mais
acessíveis e simples de preparar. No primeiro grupo, a definição inclui os seguintes dizeres:
Sabemos o quanto é difícil [sic] a desconstrução da cultura especista, e sim
temos a consciência que certos setores sociais terão mais facilidade de acesso
a essa informação assim como ferramentas que ajudem no processo. Os
animais não humanos não poderão ser livres enquanto os animais humanos
também não o forem, no mais profundo sentido.
Não queremos desvalidar pessoas que atuem exclusivamente na causa animal
não humana, mas para que avancemos na questão de reconhecimento de
direitos, precisamos expandir nossa luta e juntar forças com quem está nas
causas humanas, mesmo que ainda não tenham desconstruído o especismo
dentro de sí [sic].
Para quem ainda não é vegano: vamos desconstruir essa ideia de que veganos
colocam animais acima de humanos embora a causa animal esteja sendo em
alguns momentos abrigo para posturas de ódio ao ser humano, geralmente
pobre, isso é falha desses humanos não casa nem com a lógica pregada pelo
movimento, além de não condizer com os estudos científicos. Para quem está
no veganismo: vamos nos lembrar da força da cultura capitalista,
objetificadora. Vamos nos lembrar da dificuldade de desconstrução
[sic]cultural, principalmente quando somos tão carentes de toda sorte de
recursos. Vamos fazer um movimento social sério, que possa dar e receber
apoio, ajudando a criar um mundo mais amoroso para todos.
O grupo e seus administradores, além de reconhecerem que certos “segmentos sociais”
podem ter maior facilidade para desafiar o especismo devido ao acesso a informações sobre
essa prática, apresentam-se como críticos do capitalismo e do classismo.
Em outra instância, reconhecem a importância de estabelecer alianças com outras causas
sociais a fim de desconstruir a ideia de que os veganos se preocupam apenas com os animais.
Durante o Sopão Vegano
10
observou-se que uma das motivações por trás do projeto,
mencionada em várias ocasiões por indivíduos engajados, era a percepção de que o sopão
serviria como uma resposta concreta às críticas frequentemente direcionadas ao veganismo.
Tais críticas afirmam que os veganos e defensores dos direitos animais, de maneira geral, não
demonstram preocupação com seres humanos. Portanto, além de servir como um local de
interação social, o sopão vegano também representava uma maneira de propagar o veganismo,
incorporando uma forma de ativismo que visava ter um impacto prático na vida das pessoas em
situação de rua, além de transmitir uma mensagem às pessoas não veganas.
10
Coletivo de ativistas veganos e vegetarianos do qual participei em 2015 e 2016. O sopão vegano consistia numa
reunião mensal para cozinhar e distribuir comida vegana caseira e nutritiva para pessoas em situação de rua no
centro da cidade do Rio de Janeiro. eu atuava preparando, embalando e por vezes entregando as refeições
voluntariamente, durante o período citado.
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No entanto, a preocupação em refutar acusações de que o veganismo é misantropo ou
anti-humano não é a principal motivação desses grupos. Entre as normas estabelecidas no
mencionado grupo, constam as seguintes diretrizes:
-Por ter orientação interseccional, entende-se que o grupo anda junto a outros
movimentos sociais que não apenas os de direitos animais; portanto, debates
sobre feminismo, homofobia, transfobia, xenofobia, capacitismo e outros
assuntos com pautas sociais são totalmente necessários e liberados.
-Não serão tolerados machismo, racismo, lesbofobia, homofobia, transfobia,
xenofobia, capacitismo e gordofobia, sendo o membro primeiramente
advertido e, se persistir, banido.
A abordagem interseccional tem suas raízes na tradição de estudos inaugurada por
intelectuais negras a partir da década de 1980. Marco fundamental nesse contexto foram as
obras de Kymberly Crenshaw, Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and
Violence Against Women of Color (1984); Angela Davis, Mulher, Raça e Classe (1982); Bell
Hooks, Black Women: Shaping Feminist Theory (1984) e outras. No Brasil, Leila Gonzáles é
uma referência em obras como O Papel da Mulher Negra na Sociedade Brasileira: Uma
Abordagem Políticoeconômica (1979).
Essa crítica interseccional, em sua essência, originou-se de intelectuais militantes negras
que questionavam a unilateralidade presente em movimentos sociais da época. Essa crítica
destacava a necessidade de abordar o machismo no movimento negro, combater o racismo
dentro do feminismo e adotar uma perspectiva teórica centrada na mulher trabalhadora negra,
como exemplificado por Davis (1982). Esse contexto levou a criação de abordagens mais
abrangentes e multifacetadas, que não se limitassem a um único marcador de diferença ou
desigualdade social. Assim, essas pensadoras passaram a desenvolver uma linguagem que
explorasse as intersecções entre diferentes formas de exploração e opressão, de modo a discutir
a condição da mulher negra e criar uma estrutura intelectual que pudesse ser aplicada a outras
minorias e lutas.
Se a função da interseccionalidade é “oferecer ferramentas analíticas para apreender a
articulação de múltiplas diferenças e desigualdades” (PISCITELLI, 2008, p. 266), a
contribuição das pensadoras negras possibilita uma reavaliação da alteridade, tanto em relação
ao outro quanto a si mesmo. Para os ativistas veganos que buscam adotar uma abordagem
interseccional, a consideração das múltiplas formas de expressão da individualidade humana e
das diversas relações de poder e desigualdades que moldam essas realidades leva a perceber
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que a noção de um humano universal, tal qual promovida pelo especismo, é insuficiente para
enfrentar os desafios que a realidade impõe à expansão do veganismo.
“Fazer o recorte”
A ferramenta encontrada por pessoas veganas para conseguir persistir e ampliar a
bandeira antiespecista foi apresentar o debate interseccional através de uma ferramenta
metodológica digamos “nativa” algo que não era senso comum nos debates de movimentos
sociais , mobilizada pela expressão “fazer o recorte”. Essa abordagem não era comum em
debates de movimentos sociais, embora sua aplicação não seja exclusiva ao meio vegano, e
tampouco sempre esteja vinculada à questão da interseccionalidade. Entretanto, tornou-se uma
expressão emblemática no contexto desse movimento. Assim como os praticantes do
veganismo são diversificados, todos estão unidos no esforço de superar o especismo, da mesma
forma, os opositores do veganismo também são atravessados por diversas divisões societárias.
A expressão “fazer o recorte” não se limita meramente a questões identitárias, como
origem, etnia, gênero, religião, geração e sexualidade, que se referem às características
relacionais que contextualizam e representam indivíduos e grupos em determinado período
histórico. Essa expressão pode também englobar concepções políticas e a maneira como o
indivíduo percebe sua posição nas relações de poder na conjuntura atual. Segundo Agier (2001,
p. 9),
a concepção relacional da identidade permite nos aproximarmos um pouco
mais da busca de seu “abrigo virtual”. Com efeito, o ponto de partida das
buscas de identidade individuais ou coletivas é o fato de que somos sempre o
outro de alguém, o outro de outro. É necessário, então, pensar-se a si próprio
a partir de um olhar externo, até mesmo de vários olhares cruzados.
Nesse contexto, cada indivíduo pode perceber a si mesmo e ser percebido por meio de
uma variedade de perspectivas, e sua adesão ao veganismo será influenciada por essas diversas
visões e, por sua vez, influenciará essas mesmas perspectivas.
Retomando o relato de Borboleta desde o início desta seção, é possível compreender
que pessoas que o criticaram por sua participação em um ato de sacrifício animal, ao qual ele
próprio não se sentiu à vontade, não consideraram o conceito de “fazer o recorte”. Ou seja, não
consideraram que questões de classe, por exemplo, poderiam tornar suas escolhas mais
desafiadoras do que para um vegan de classe média. Ironicamente, o terreiro religioso no qual
a entidade propôs ajuda, mediada pelo sacrifício, apesar de suas práticas serem alvo de críticas
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por muitos veganos, foi um ambiente mais acolhedor e solidário para Borboleta do que os
espaços veganos presenciais ou online. Nesse local, situado na periferia da Baixada Fluminense,
uma região já periférica do estado do Rio de Janeiro, ele conseguiu informar pessoas que nunca
tinham ouvido falar de veganismo.
Dialogando com Perrota (2015), é possível introduzir a ideia de que existem regimes de
humanização e animalização que perpassam as interações entre diferentes espécies. Assim,
determinados animais podem ser humanizados em certos contextos e, portanto, serem alvo de
consideração moral. Paralelamente, existem grupos sociais historicamente animalizados e,
consequentemente, marginalizados da esfera moral predominante. O desafio reside em
reconhecer e abordar essas complexas interações.
Dessa forma, “fazer o recorte” representa uma tentativa apresentada por parte dos
vegans (embora não exclusivamente no veganismo, é claro) de abranger as assimetrias de poder,
as desigualdades e a diversidade de pessoas que integram ou poderiam integrar os esforços em
prol da libertação animal, tanto humana quanto não humana.
Conflitos produzem novas organizações e coletivos
O surgimento de novos coletivos veganos, tanto nacionais quanto internacionais, que
passaram a atuar no Brasil, pode estar relacionado aos desdobramentos das questões
conflituosas relatadas nos exemplos acima. Pelo menos um desses coletivos teve sua origem
vinculada à discussão inicial sobre o apoio à compra de produtos considerados veganos por
alguns ativistas e organizações não governamentais (ONGs). Esses produtos provêm de
empresas que realizam testes em animais ou que estão ligadas à produção de carne e laticínios
de origem animal.
A história abordade de maneira breve como exemplo está relacionada ao contexto de
fundação da organização chamada União Vegana de Ativismo (UVA). As narrativas relevantes
foram obtidas por meio de entrevistas em áudio no aplicativo WhatsApp com dois dos
fundadores da UVA. Além disso, é acompanhado o site e as redes sociais (YouTube e Facebook)
da organização. No entanto, antes de descrever as circunstâncias que culminaram na criação da
UVA, é necessário apresentar a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), bem como focar em
um de seus projetos e áreas de atuação.
A Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) é uma organização não governamental
fundada no Brasil em 2003. Ela se dedica a promover a alimentação vegetariana como uma
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escolha saudável, ética, sustentável e socialmente justa”, “trabalhar para aumentar o acesso da
população a produtos e serviços vegetarianos”
11
. Uma das missões da ONG é, “difundir
informação de referência para profissionais, instituições, e a sociedade brasileira em geral sobre
fundamentos, viabilidade e benefícios da alimentação vegetariana estrita”
12
.
Um dos projetos da SVB é o Selo Vegano. Segundo a própria organização, esse selo foi
estabelecido para certificar que os produtos das empresas são adequados para veganos,
cumprindo critérios como: a ausência de componentes de origem animal, a não realização de
testes em animais no produto finalizado e a garantia de que os fabricantes fornecedores não
testam os ingredientes em animais (com um período de carência de no mínimo 5 anos).
13
Duas questões merecem destaque. Primeiramente, é notável a ausência do termo
veganismo nas seções visitadas do site da SVB. Em vez disso, ao fazer referência à alimentação,
o termo utilizado é “dieta vegetariana estrita”. Em segundo lugar, é importante observar que o
selo vegano está relacionado a produtos, podendo ser concedido a empresas que possuem outros
produtos de origem animal e até mesmo a empresas que realizam testes em animais. Essa
abordagem pode ser vista como uma estratégia “pragmática” para aumentar a presença de
produtos veganos nas prateleiras dos supermercados, visando popularizar e aproximar o
veganismo das pessoas. No entanto, críticos argumentam que essa abordagem cria o que
chamam de “veganismo de produto”, ou seja, a afirmação de que existem produtos veganos
mesmo em empresas não veganas, o que suscita conflitos.
A SVB não é a única a adotar essa estratégia e a acreditar que esse é um caminho para
promover o vegetarianismo estrito ou, no caso de influenciadores em redes sociais, o
veganismo. Alguns desses influenciadores fazem anúncios de produtos veganos de empresas
que realizam testes em animais não humanos.
Parte dos fundadores da UVA originou-se de um dos núcleos estaduais da SVB. Ao
perceberem a relação da ONG com as marcas e sua abordagem, que consideravam “mais liberal
e voltada para o mercado”, eles inicialmente tentaram disputar a presidência da ONG com a
intenção de promover mudanças internas. Isso provavelmente se deve à influência e reputação
que a SVB construiu desde 2003. No entanto, em paralelo, esses ativistas trabalharam com
outros para conceber um coletivo vegano interseccional e popular, que viria a ser a UVA. Foi
somente após esgotarem as tentativas de influenciar a ONG por dentro, e diante do desgaste do
11
Disponível em: https://www.svb.org.br/svb/quem-somos/sobre. Acesso em: 20 mar. 2023.
12
Cf. nota 10.
13
Disponível em: https://www.selovegano.com.br/sobre/. Acesso em: 20 mar. 2023.
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processo eleitoral, que os fundadores da UVA redigiram uma carta oficializando a retirada do
núcleo da SVB Nacional.
Uma das fundadoras da UVA compartilhou que sempre teve a preocupação de articular
causas como feminismo, ambientalismo e um veganismo mais crítico em relação ao capitalismo
e à indústria de alimentos. Ela mencionou ter percebido uma tendência de não se dar espaço a
esses debates, bem como um maior alinhamento a empresas e à indústria alimentícia,
acompanhado de um silenciamento em relação a acusações de machismo direcionadas a um
influenciador conhecido no meio vegano. A partir de discussões com outros ativistas sobre a
importância de combater opressões sofridas por animais humanos e não humanos, ela se
envolveu na construção da UVA.
A UVA expressa, em sua “Declaração de Recife”, sua carta de princípios, um
compromisso em lutar com base no anti-especismo, justiça social e equidade, autonomia,
suprapartidarismo, soberania alimentar e direito à alimentação adequada, laicismo, saúde e
sustentabilidade. A organização se estrutura através de núcleos municipais e regionais presentes
em alguns estados do Brasil, além de associados, tendo a Assembleia Geral como sua instância
máxima de deliberação.
A UVA já realizou dois congressos nacionais, um em 2019 e outro em 2021. Um deles
foi realizado de forma online devido à pandemia.
Considerações finais
Ao término deste artigo, pôde-se identificar pelo menos duas tendências dentro do meio
vegano, que apresentam tanto convergências como divergências. Uma delas advoga pela
promoção do consumo de produtos veganos industrializados nas prateleiras, visando reformar
o sistema de exploração animal ou sua eventual extinção através de campanhas que estimulem
o consumo desses produtos. A outra tendência procura se distanciar dessas abordagens,
demonstrando uma postura crítica em relação ao capitalismo e às grandes corporações que
passaram a considerar o veganismo como uma oportunidade para um novo nicho de mercado.
Os seguidores dessa última tendência também buscam estabelecer diálogos com pautas
relacionadas à classe, raça, gênero e outras bandeiras da esquerda política e/ou direitos
humanos.
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O veganismo, ao denunciar as práticas de exploração dos animais não humanos, contesta
a lógica de controle fundamentada nos binômios natureza-cultura e animalidade-humanidade,
que também se manifesta historicamente no contexto colonial.
Entretanto, ao apresentar uma dicotomia em que um conceito universal opressor
de humano versus animais não humanos, muitos veganos acabam reafirmando uma perspectiva
de pensamento ocidental e eurocêntrica, que também está impregnada de elementos
colonizadores. Tanto os indivíduos da espécie humana apresentam uma notável diversidade em
termos das relações que vivenciam, quanto os animais não humanos também variam
significativamente devido às mesmas razões.
É válido considerar, inspirados por Perrota (2015), que vivemos em uma estrutura onde
certos animais não humanos estão excluídos da comunidade moral, enquanto outros são
parcialmente considerados nesse contexto. Da mesma forma, existem seres humanos que estão
marginalizados parcial ou completamente da comunidade moral, enquanto outros não estão.
Adotando essa perspectiva, torna-se possível compreender as complexidades dos conflitos que
emergem no âmbito do veganismo entre questões de direitos humanos e direitos dos animais.
Neste contexto, em que a maioria das sociedades enfrenta as implicações éticas,
ambientais e sociais da modernidade ocidental capitalista, o veganismo surge e encontra adesão.
É claro que ele se fundamenta nas bases discutidas neste texto, ainda que carregue suas
próprias contradições. O que se torna evidente, a partir desta análise, é que os conflitos no meio
vegano evoluíram para o surgimento de tendências divergentes, que se manifestam nas
abordagens relacionadas ao mercado, às estratégias de boicote e à promoção, bem como à
aderência a pautas mais amplas que transcendem a dimensão restrita do veganismo enquanto
uma causa relacionada somente ao tratamento de outras espécies animais.
Os dois tipos de conflitos apresentados neste artigo, aqueles que abordam o boicote, a
promoção e a indústria de alimentos, bem como aqueles que exploram as questões humanas e
animais, tiveram consequências na maneira como as divisões internas no movimento vegano
foram moldadas nos últimos anos, pelo menos no contexto brasileiro.
Isso fica evidente através das estratégias adotadas pela ONG SVB, que visa promover
um veganismo centrado na rotulagem de produtos da indústria alimentícia, considerando tal
abordagem como um meio para ampliar o acesso e popularizar o veganismo. Em contrapartida,
surge a UVA como uma entidade que se opõe ao que seria a prática de veganismo defendida
pela SVB. A UVA critica a falta de uma abordagem profundamente crítica em relação à
indústria alimentícia e ao especismo, assim como a ausência de preocupação em conduzir
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debates interseccionais, ou pelo menos em abordar as questões relacionadas a classe, raça e/ou
gênero.
Essas tendências já estavam presentes desde o trabalho de campo realizado em 2017, o
qual serviu como base para grande parte dos dados discutidos neste artigo. Essa pesquisa se
torna fundamental para compreender as questões que estão em movimento no âmbito do debate
sobre o veganismo no Brasil atualmente.
Retomando a metáfora inicial de Malinowski, agora que conseguimos explorar além do
esqueleto”, a “carne” e o “sangue” do veganismo, torna-se compreensível que, à medida que o
movimento se expande e, teoricamente, ganha mais adeptos e popularidade, novos conflitos
relacionados às suas práticas surgem. Esses conflitos podem gerar tendências e até mesmo
correntes de pensamento antagônicas. Portanto, é inviável abordar o veganismo como um
movimento homogêneo e singular, caso se deseje encarar esse debate de maneira séria.
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não se aplica.
Financiamento: Não se aplica.
Conflitos de interesse: Não se aplica.
Aprovação ética: Não se aplica.
Disponibilidade de dados e material: Não se aplica.
Contribuições dos autores: Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA é responsável pela
pesquisa, análise e redação do artigo.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16900 1
VEGANISM IS NOT A DIET: DISCURSIVE AND PRATICAL DISPUTES ABOUT
RELATIONTSHIPS BETWEEN VARIOS HUMAN AND NON-HUMAN ANIMALS,
MAPPED IN ONLINE DEBATES
VEGANISMO NÃO É DIETA: DISPUTAS DISCURSIVAS E PRÁTICAS SOBRE
RELAÇÕES ENTRE DIVERSOS ANIMAIS HUMANOS E NÃO HUMANOS,
MAPEADOS EM DEBATES ONLINE
EL VEGANISMO NO ES UNA DIETA: DISPUTAS DISCURSIVAS Y PRÁCTICAS
SOBRE LAS RELACIONES ENTRE DIVERSOS ANIMALES HUMANOS Y NO
HUMANOS, MAPEADAS EN DEBATES ON LINE
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA1
e-mail: rodolfo.csufrrj@gmail.com
How to reference this paper:
CERQUEIRA, R. de M. S. Veganism is not a diet:
Discursive and pratical disputes about relationtships
between varios human and non-human animals, mapped in
online debates. Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v.
23, n. esp. 1, e023010. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16900
| Submitted: 04/07/2022
| Revisions required: 06/02/2023
| Approved: 08/03/2023
| Published: 23/08/2023
Editors:
Prof. Dr. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. MSc. Aline Cristina Ferreira
Prof. MSc. Mateus Tobias Vieira
Prof. MSc. Matheus Garcia de Moura
1
Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ), Rio de Janeiro RJ Brazil. Doctoral student in the
Graduate Program in Social Sciences.
Veganism is not a diet: Discursive and pratical disputes about relationtships between varios human and non-human animals, mapped in
online debates
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.16900 2
ABSTRACT: This article addresses the theme of veganism and the disputes surrounding its
meaning and practices, as mobilized through debates in forums of Facebook social groups. The
objective is to reflect on the conflicts that cut across the discussions concerning vegan animal
ethics, mapping discursive disputes about whether consumption practices, human-animal
relationships, and even political agendas align with veganism. Through the observation of these
conflicts, a vital expression is identified that leads to the conclusion that the relationships
between humans and human-animals need to be interpreted from perspectives that account for
the various inequalities at play. Furthermore, two antagonistic tendencies are identified within
the Brazilian vegan community, both in terms of boycott and consumption promotion strategies
and in relation to the approach to human-animal conflicts.
KEYWORDS: Veganism. Human-animal relations. Consumption.
RESUMO: No presente artigo, é abordado a temática do veganismo e as disputas em torno do
seu significado e práticas, mobilizadas através de debates em fóruns de grupos da rede social
Facebook. O objetivo consiste em refletir sobre os conflitos que atravessam os debates em torno
da ética animalista vegana, mapeando disputas discursivas acerca de quais práticas de
consumo, relações humano-animais e mesmo pautas políticas que se coadunam com veganismo
ou não. A partir da observação desses conflitos, é identificado uma expressão importante que
aparece nos debates, e que encaminha para a conclusão de que as relações entre humanos e
humano-animais precisam ser interpretadas a partir de recortes que deem conta das diversas
desigualdades em jogo. Além disso, identificamos duas tendências antagônicas que se
desenham no meio vegano brasileiro, tanto no que se refere às estratégias de boicote e
promoção ao consumo, quanto no que se refere à abordagem dos conflitos humano-animais.
PALAVRAS-CHAVE: Veganismo. Relação humano animal. Consumo.
RESUMEN: En este artículo, discuto el tema del veganismo y las disputas en torno a su
significado y prácticas, movilizadas a través de debates en foros de grupos en la red social
Facebook. El objetivo es reflexionar sobre los conflictos que atraviesan los debates en torno a
lo que llamaré ética animalista vegana, mapeando disputas discursivas sobre qué prácticas de
consumo, relaciones humano-animal e incluso lineamientos políticos son o no congruentes con
el veganismo. A partir de la observación de estos conflictos, identifico una expresión
importante que aparece en los debates y que lleva a la conclusión de que las relaciones entre
humanos y humanos-animales necesitan ser interpretadas desde perspectivas que den cuenta
de las diversas desigualdades en juego. Además, identifico dos tendencias antagónicas que
emergen en el ambiente vegano brasileño, tanto en lo que respecta a las estrategias de boicot
y promoción del consumo, como en lo que respecta al abordaje de los conflictos humano-
animal.
PALABRAS CLAVE: Veganismo. Relación humano-animal. Consumo.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023010, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Introduction
This article addresses the theme of veganism and the controversies surrounding its
meaning and practices to promote reflection on the conflicts that pervade discussions about
what is referred to as vegan
2
animalist ethics. In this context, animalist ethics is understood as
the principle of acting while considering the interests of animals of other species, including
humans. This ethic finds application in the practice of veganism, which essentially involves
abstaining from consuming food and products derived from animals and avoiding the use of
clothing, cosmetics, and even entertainment associated with them, such as zoos, circuses, and
rodeos.
It can be affirmed that veganism rests upon widely recognized foundations by a
significant portion of its followers and scholars of animal rights theory. Various works within
the scope of Brazilian Social Sciences (CERQUEIRA, 2017; FERRIGNO, 2012; LIRA, 2013;
PERROTA, 2015) indicate the following fundamental references that shape vegan animalist
ethics:
I- The recognition of sentience, which is the capacity that all animal organisms
possess to experience pain, physical and psychological suffering, pleasure, and satisfaction
(SINGER, 2004). This recognition was more recently validated in 2012 when scientist Phillip
Low drafted the Declaração de Cambridge sobre a Consciência em Animais Humanos e Não
Humanos
3
, a document reviewed and endorsed by a group of collaborating neuroscientists.
Perrota (2015) highlighted that animal rights activists use the declaration above as an approach
to bridge the cognitive proximity between human and non-human animals, thus seeking to
secure rights for the latter.
II- The conception that animals are subject to arbitrary discrimination based on
species, known as speciesism, in which belonging to a species grants humans the right to
subjugate, exploit, and treat non-human animals as objects. The term speciesism was coined in
the 1970s by psychologist Rychard D. Ryder (1975) and pertains to the differentiation of values
among individuals based on species differences. Peter Singer introduces the concept in his book
2
The article results from research conducted for the dissertation, “Veganismo não é dieta: Alteridade e conflitos
na ética animalista vegana”, defended in 2017 at the PPGA/UFF.
3
Available at: http://www.labea.ufpr.br/portal/wp-content/uploads/2014/05/Declara%C3%A7%C3%A3o-de-
Cambridge-sobre-Consci%C3%AAncia-Animal.pdf, accessed on: 2 Nov. 2020. The original text was not found
on the conference website. However, the translation can be readily found on various websites.
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Animal Liberation: The Definitive Classic of the Animal Movement (1975), drawing an analogy
to racism and sexism. In other words, speciesism justifies unequal and violent practices based
on an arbitrarily considered natural characteristic, often employing arguments drawn from
contemporary sciences and religious traditions, notably Judeo-Christian traditions.
III- The adoption, at least partially, of the concept of the subject of a life, formulated
by Tom Regan (2006). In this concept, the author employs the idea of the inherent value of
living beings, specifically from the animal kingdom, advocating for rights to the lives of non-
human animals. This sets him apart from Singer's debate, which is more grounded in the
utilitarianism of Jeremy Bentham's tradition. While Singer argues that non-human animals
should be incorporated into the moral community in terms of equality, this inclusion is based
on evaluating the consequences of actions for this community, aiming to maximize positive
outcomes for the most significant number of its members while minimizing harm inflicted upon
them
4
.
IV- The critique of the property status imposed upon non-human animals, treating
them as objects owned by humans and conferring upon them a commodity level in legal, moral,
economic, and political terms. According to Francione (2015), the aspect of animals as property
is almost always the primary component in resolving conflicts between humans and animals.
Even if the property status is not explicitly stated, in nearly all cases where human and animal
interests clash, the human prevails due to the right to exercise control over their property. The
dispute's winner is predetermined by how the conflict is approached from the outset. This line
of reasoning parallels human slavery as a reference point. If we consider the logic that positions
an enslaved person as the property of another, they become a commodity, an interchangeable
object with an owner. Following this argumentation, the author concludes that the appropriate
course is to pursue the abolition of animal exploitation.
V- The distinction between animal abolitionism and welfareism. Not all individuals
advocating for animal rights interpret this effort as a quest for rights or liberation from human
use. An example is Law No. 9.605/98, Section I, Article 32, which states, "To practice an act
4
Lira (2013) argues that in her research with vegans, she identified the adoption of the concept of sentience,
elaborated by Singer (1975), combined with the notion of a subject of life by Regan (2006), at least in terms of
discourses, rooted in the idea of animal abolitionism.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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of abuse, mistreat, injure, or mutilate wild, domestic, or tamed animals, native or exotic"
5
. In
this sense, when acts of cruelty and abuse occur, the approach to animal advocacy would be to
regulate animal use based on some moral consensus (by whom?) or to reduce the pain and
suffering of animals in captivity, preferably with scientific support. This tendency is known as
animal welfare (welfarism) and is adopted by certain animal advocates and biomedical and
animal health professionals, as well as in general legislation and specific regulations related to
the use of animals in laboratories and slaughterhouses, for example. In the broader context of
veganism, there is opposition to this approach to interspecies interactions.
Perrota (2021) highlights that the "animal rights" movement, which aligns with the
practice of veganism, stems from a critique of Cartesian thought that partially underpins the
notion of humanity in the modern West. Descartes is questioned for his view that considers the
person as a metaphysical entity that establishes reason as the defining criterion of the subject.
Such a paradigm sees non-human animals as bodies lacking human attributes, especially reason,
and therefore excludes them from humanity and the moral community, using them as a contrast
to affirm human qualities (INGOLD, 1994).
According to the author, advocates for non-human animals challenge the extreme
segregation between humans and animals, recognizing sensitive and conscious characteristics
in other species. The paradigm invoked to contest human exclusivity regarding rights is the
cognitive one, recently introduced by neuroscience, in which intelligence is evaluated by
studying the brain as an organ instead of Cartesian metaphysics. In this paradigm, the cognitive
distinction between humans and animals of other species would be more a matter of degree than
two separate ontologies.
However, Perrota (2015) asserts that the Cartesian paradigm is only partially rejected in
excluding other species. Advocates and vegans will engage in a dialogue with the cognitive
paradigm, reaffirming the Cartesian subject/object dichotomy and the metaphysical idea of a
specific animal ontology, extending to other species that Descartes had exclusively attributed
to humans.
Based on these premises, especially within animal abolitionism, veganism emerges as
an applied ethic that aims to eradicate animal exploitation in consumption habits. However, the
debate about veganism does not conclude at this point. Its implementation gives rise to conflicts,
tensions, and negotiations, as observed by Vilela (2017). The highlighted issue is that veganism
5
Available at: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Accessed in: 20 Mar. 2023
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is not confined solely to the realm of consumption and remains in constant contention regarding
its meaning and the practices that are or aren't aligned with it.
Drawing upon Malinowski's terms, what has been said thus far reveals only the
"skeleton" of veganism, a definition in broad terms. The incorporation and observation of
individuals applying veganism in their lives reflecting upon and discussing their practices,
whether in person or online their participation in the various imponderable spaces of daily
life such as conflicts, divergences, difficulties, as well as possible convergences is what
constitutes its "flesh" and "blood," that is, veganism being mobilized and lived by people with
its contradictions, negotiations, conflicts, and orders.
There are contentious issues within the vegan community: how individuals and
institutions (NGOs, social movements, and businesses) appropriate veganism and aim to assert
and justify their practices as vegan. Moreover, what qualifies whether a product, company, or
mode of production is consistent with veganism?
Perrota (2015; 2021) examines how the animal rights movement is influenced by the
repertoire of human rights, seeking to extend these rights to include non-human animals. This
aims to incorporate them into the moral community based on the approaches discussed earlier
in this text (animal liberation, subject of a life, animal abolitionism, and the term speciesism in
analogy with sexism and racism). Given that veganism thus engages in a dialogue with the
historical trajectory of human rights, the question arises: what conception or conceptions of
humanity are invoked regarding animal rights and veganism? How does veganism relate to
political perspectives emphasizing class, race, and gender?
The data initially evidenced in this article were obtained from groups on the social
network Facebook in 2016 as part of the author's research for the dissertation. Subsequently,
unfolding the addressed conflicts that led to the establishment of a new vegan organization in
Brazil, the Vegan Union of Activism (UVA), will be described. This information was gathered
from accounts provided by two of its founders, their official website
6
, and the organization's
social media platforms (YouTube, Facebook).
It's important to note that the choice to use the social network as an initial research
source was influenced by the dynamics of the field itself. Despite the existence of in-person
spaces like vegan fairs and even the now-defunct "Sopão Vegano" in Rio de Janeiro, forums on
6
Available at: uniaovegana.org. Accessed in: 10 dec. 2022.
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Facebook stood out as privileged spaces for information exchange, debates, and conflicts, even
shaping the topics discussed in the in-person sphere.
Research Methodology in Facebook Groups
The groups within Facebook serve as forums where individuals debate posts that include
links to images, videos, texts, or inquiries, as well as other content created by the individuals
making the posts. These spaces lead to conflicts and divergences among adherents of veganism
regarding what truly characterizes veganism and its scope. Furthermore, these forums can give
rise to qualitative debates that provide assistance to individuals and have the capacity to
establish momentary alliances or, conversely, ruptures.
The data were mapped into discussion topics within various veganism-related groups
on the Facebook social media platform. The groups selected for this purpose were: Veganismo
Social Discussões Interseccionais, Trolls Veganos, Troll Ajuda, Veganismo Libertário,
Veganismo Popular
7
. n the Facebook above groups, contacts were established with over 40
individuals in debates about various topics addressed throughout the dissertation. The
presentation of images, and names of individuals, companies, NGOs, and brands, has been
omitted, as there was neither intention nor relevance to disclose these names. The research focus
was consistently directed toward the content of dialogues, debates, and exchanges that occurred
in the groups of the aforementioned digital platform related to the subject matter.
Therefore, to remove the personal identification of interlocutors and extract the
maximum from the contents of the texts, the names of individuals were replaced with animal
characters from the "jogo do bicho" (a Brazilian gambling game based on animals). Social
scientists often replace the names of their interlocutors in various works to preserve privacy. In
this case, the animals from the "jogo do bicho" were used as an aesthetic provocation that
engages with the article's theme. The naming was chosen randomly. The names of product
brands were also omitted, with only a brief description of them provided within parentheses.
It is crucial to contextualize that the online spaces addressed here fall within the
definition of "digital," as proposed by Padilha and Facioli (2018) regarding social practices
relevant to theory and sociological research. Such methods encompass actions involving both
humans and non-humans, with a significant influence on social interactions. Furthermore, such
7
The name of these groups in English would be, respectively: Social Veganism - Intersectional Discussions,
Vegan Trolls, Troll Help, Libertarian Veganism, and Popular Veganism.
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platforms shape social interactions among people who may be geographically distant. Social
networks simultaneously power and are influenced by social relationships (SANTOS, 2022).
The opinions expressed in such forums are accessible to all individuals participating in
these groups so that they do not constitute information of an intimate personal nature that could
immediately expose individuals without their anonymity and reveal aspects of their private
lives.
Furthermore, concerning the presentation of transcriptions, it was necessary to conceive
an approach that somehow reproduced the structure of response sequences on the pages of
Facebook groups. On this social network, when someone replies to a topic posted in the group,
someone can respond directly to each response given to the reference topic. To ensure that the
reading of transcriptions was coherent, the level of indentation was increased when dealing with
an answer that is a reaction to another response. For example:
The text whose response refers to the main topic was indented like this.
The text debating with the above answer was indented like this.
To follow the discussion, excerpts were taken directly from the groups on the mentioned
social network, with appropriate editing. The images of the topic will be presented, followed
by the debates between interlocutors using the formatting described above.
The Conflict at Hand: Is It Vegan or Not?
A significant portion of conflicts and debates among individuals adhering to veganism,
or even those aspiring to adopt such a practice, revolves around the question of what can
genuinely be considered vegan or nota controversy that sometimes intertwines with the very
delineation of the veganism concept. What might initially appear evidentwhether products
are devoid of animal-derived ingredients and have undergone animal testing or notfrequently
becomes a subject of discussion. The actual characterization of the compliance of a
consumption practice or a commercially marketed product with veganism principles often lies
amidst debates, constant vigilance, and contentions.
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Figure 1 Plant-based milk polemic
Source: Taken from a Facebook group.
Figures 2 and 3 - The company's response to the polemic
Source: It was taken from the same post on the mentioned social network.
In the previously mentioned post, we observe yet another branch of the conflict related
to the definition of what is vegan compared to strict vegetarianism. The discussion arose from
complaints on the page of a restaurant network in Rio de Janeiro that offers Lacto-vegetarian
and vegan options or strictly vegetarian options. The debate was triggered by the announcement
of a vegan milkshake that used soy milk as a base, raising questions for at least two reasons:
the presence of animal-derived vitamin D in the composition of this milk and its origin as a
product from a company that conducts animal testing. Therefore, soy milk could not be
considered vegan or strictly vegetarian for some vegans. Additionally, as evidenced in the
debate, if the product contains any animal-derived component, it cannot be classified as vegan.
In the case of the company conducting animal testing, it could be classified as strictly vegetarian
(i.e., composed solely of plant-based ingredients) but would not align with the principles of
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veganism. The discussion also addressed the decision not to consume products from animal
testing companies.
Interlocutor Goat - The problem with (the rice milk brand) is the high-cost
price. An alternative could be (a soy-based dairy brand), which isn't vegan,
but from what I've seen, it's strictly vegetarian, or they could manufacture their
own.
Interlocutor Bull - (a soy-based dairy brand) is fine; the only issue is that it's
from a company that exploits thousands of animals annually.
Interlocutor Donkey - (Soy-based dairy brand) belongs to (dairy company),
which belongs to (major international corporation), which conducts testing.
So, it can't be used in something promoted as vegan. They could try a
partnership with (rice milk brand) to reduce costs.
In the subsequent section, two options emerge in search of alternatives to using milk
from the mentioned brand. One of these substitutes is rice milk, which is relatively expensive
in supermarkets. The second substitute is classified as strictly vegetarian. However, it's worth
noting that not all individuals who identify as vegans make this distinction between strictly
vegetarian products from brands associated with animal exploitation and genuinely vegan
products. These differing perspectives constitute a prominent source of conflict, which stands
out and results in additional implications within the context of disagreements among individuals
and institutions advocating veganism.
Interlocutor Pig: (A vegan community-known NGO) was recommending
(Animal-testing brand) to everyone, right?
Interlocutor Pig: After we say these NGOs are dubious, they call us annoying.
The annoying thing is trying to be consistent with Animals, and then people
with influence and power come in and mess everything up. Then it's even more
annoying for the Animals to be caught in all this fight.
Interlocutor Donkey: (NGO) is all wrong, recommending (Processed food
corporation) cookies, advising (another corporation mentioned in the previous
discussion of the same topic), saying we should buy products from companies
that test on animals but have no animal-derived ingredients to encourage
companies to make more products like that... I'll say one thing: money, ha-ha.
Interlocutor Camel: (NGO) isn't a vegan NGO. Their website says they're only
against the slaughter. Their focus is on meat eaters. I don't think it's the best
stance, but there won't be any retraction.
In the segment above, it becomes evident that one of the post's purposes is to expose an
NGO recommending products classified as strictly vegetarian, which consequently wouldn't be
considered vegan. Additionally, it's pointed out that despite engaging in spaces related to
veganism, this NGO would restrict its discussions solely to food, without taking positions
against animal testing or the use of fur, for example. Returning to the original debate, the
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suggestion of recommending strictly vegetarian products is made with the perspective that
increasing demand for these products could encourage companies to produce more vegan
alternatives and gradually phase out animal exploitation over time. The premise is that animal-
derived products would become less profitable.
On the other hand, some argue that purchasing products from companies supposedly
involved in animal exploitation would reinforce the tendency to turn veganism into just another
market niche. After all, nothing would prevent the company from developing distinct product
lines and profiting from the audience that consumes animal-derived products and their
derivatives and the vegan or strictly vegetarian audience.
Vilela (2017) highlights that veganism implies a political consumption not only as an
individual expression aimed at conveying an ethical principle and positioning oneself in the
world but also as a means of intervening in the public sphere. Strategies of boycott and
consumption that sustain the considered appropriate production form constitute how proponents
of veganism exercise their animalistic ethics. However, it's worth noting that a boycott is not
always regarded as adequate. As mentioned earlier, the criteria guiding this political
consumption are subject to disputes within the vegan movement.
A situation was noted, among several that occur, where the animal origin of an
ingredient in a product or the fact that a company conducts animal testing is questioned. Such
elements often give rise to conflicts in spaces focused on veganism, as observed. However, it's
noticed that starting from 2015/2016, the emergence of specific themes continues to unfold
within the vegan movement. These themes transcend the mere individual consumption choice
based on ethical criteria. The debate that arises from a simple product, such as a particular brand
of plant-based milk, ends up raising broader questions that problematize not only the
consumption practices adopted by vegans but also the strategies for promoting veganism and
the political foundations guiding the actions of collectives and individuals within the
movement.
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Veganism and Intersectionality
Vilela (2017) also points out that, for some vegans, issues related to consumption are
not limited solely to the production of goods that in some way involve animal exploitation; they
can also extend to the relationships of production of these goods among human beings, as well
as the type of advertising promoted by brands. In this sense, intersectionality occurs that
considers class and gender in the realm of political consumption.
However, beyond the realm of consumption, intersectionality began to be addressed
within the context of the vegan movement, focusing on the conditions that make veganism
possible or even considering what conception of being human is being taken into account, thus
questioning the notion of a universalized Human
8
that had been present in veganism until then.
Issues related to race, class, gender, and religion started to be addressed and discussed by
vegans.
One of the interlocutors, Butterfly, shared their experience about the dilemma of
participating in the "cutting"
9
ritual of a chicken in a temple they used to frequent, despite being
vegan. Although animal sacrifice is generally not practiced in Umbanda, the temple they
attended was connected to the Quimbanda religious tradition, which does involve animal
"cutting."
Butterfly is a young person who, although not having experienced racism and sexism
due to their gender and ethnicity (white and male), resides in the outskirts and belongs to the
working class. During that period, they were unemployed and facing financial difficulties, while
their parents were also going through financially challenging times. They had adopted veganism
seven months ago, after being an ovo lacto vegetarian for seven years. During this phase,
circumstances limited them to a restricted diet, mainly rice, and beans on some days, to avoid
"falling off"
10
veganism. They even worked as a pamphleteer in a political campaign during the
2016 elections. Butterfly frequented a temple located in a favela in the Baixada Fluminense,
where the notion of veganism was unknown before its introduction and discussion. They
describe that, upon getting involved with the religious temple, an entity assisted them in their
8
Perrota (2015) discussed that the notion of humanity erected by humanism since modernity, primarily rooted in
Cartesian rationalism and Enlightenment ideals, asserted the idea of a universal human being, a rational and
autonomous individual. However, as I observed in my research, vegans who engage in intersectional discourse
tend to understand that such a construct fails to address cultural diversity and the inequalities of class, race, and
gender, which are consequences of the same colonial and capitalist modernity.
9
The practice of ritual slaughter of certain animals in some Afro-Brazilian religions for communal eating and
communion with their deities.
10
Temporarily departing from the practice of veganism.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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own words. However, they needed to offer a white chicken to receive this assistance. This
scenario generated an internal conflict within Butterfly, especially considering that, when
sharing this situation on the internet, they could encounter vegans ready to accuse them of
speciesism and being a fake vegan, among other criticisms.
The perception of Butterfly and other vegans is that, at least in Brazil, veganism is more
predominant among individuals from "middle" and "upper" social classes and white
individuals. Additionally, many vegan restaurants have prices that align with the consumption
patterns of the middle class. Products with vegan certification or not tested on animals often
come with higher price tags. Butterfly observes that this reality sometimes creates a "bubble"
that prevents many vegans from being aware of different facts, such as the one he experiences,
leading them to make judgments without a complete understanding.
To address issues like these, groups emerged on Facebook, such as "Veganismo Social
Discussões Interseccionais" (Social Veganism - Intersectional Discussions) and "Veganismo
Libertário" (Libertarian Veganism). The group "Veganismo Popular" (Popular Veganism) was
also created to share recipes that use more accessible and easy-to-prepare ingredients. In the
first group, the definition includes the following statement:
We know how complex the deconstruction of speciesist culture is, and we are
aware that specific social sectors will have easier access to this information
and tools that aid in the process. Non-human animals cannot be free until
humans are also free, in the most profound sense.
We do not want to invalidate individuals who solely focus on non-human
animal causes, but to advance the recognition of rights, we need to expand our
fight and join forces with those involved in human causes, even if they have
not yet deconstructed speciesism within themselves.
For those who are not yet vegan: let's deconstruct the idea that vegans place
animals above humans although the animal cause is sometimes used as a
platform for hatred towards humans, typically those who are economically
disadvantaged, this is a failing on the part of those humans it neither aligns
with the logic of the movement nor corresponds to scientific studies. For those
already in veganism: let's remember the power of capitalism, objectifying
culture. Let's remember the difficulty of cultural deconstruction, especially
when we lack various resources. Let's engage in a severe social movement that
can give and receive support, helping to create a more compassionate world
for everyone.
While acknowledging that specific "social segments" might have greater ease in
challenging speciesism due to their access to information about this practice, the group and its
administrators present themselves as critics of capitalism and classism.
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online debates
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In another context, they recognize the importance of forming alliances with other social
causes to deconstruct the notion that vegans are solely concerned with animals. During the
"Sopão Vegano"
11
(Vegan Soup) events, it was observed that one of the motivations behind the
project, mentioned on several occasions by engaged individuals, was the perception that the
soup kitchen would serve as a tangible response to criticisms often directed at veganism. These
criticisms claim that vegans and animal rights advocates generally do not show concern for
human beings. Therefore, apart from serving as a venue for social interaction, the vegan soup
kitchen also represented a way to propagate veganism by incorporating a form of activism that
aimed to have a practical impact on the lives of people experiencing homelessness while
conveying a message to non-vegan individuals.
However, the concern to refute accusations that veganism is misanthropic or anti-human
is not the primary motivation of these groups. Among the established norms in the mentioned
group, the following guidelines are included:
- Due to its intersectional orientation, the group collaborates with other social
movements beyond animal rights; therefore, discussions about feminism,
misogyny, homophobia, transphobia, xenophobia, ableism, and other social
topics are essential and allowed.
- Machismo, racism, lesbophobia, homophobia, transphobia, xenophobia,
ableism, and fatphobia will not be tolerated, with members receiving an initial
warning and facing banning if the behavior persists.
The intersectional approach has its roots in the tradition of studies inaugurated by Black
intellectuals from the 1980s onwards. Fundamental landmarks in this context include the works
of Kymberly Crenshaw, Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence
Against Women of Color (1984); Angela Davis, Women, Race & Class (1982); Bell Hooks,
Black Women: Shaping Feminist Theory (1984) and others. In Brazil, Leila Gonzáles is a
reference with works like O Papel da Mulher Negra na Sociedade Brasileira: Uma Abordagem
Políticoeconômica (1979).
At its core, this intersectional critique originated from Black activist intellectuals who
questioned the one-dimensionality present in social movements of the time. This critique
highlighted the need to address sexism within the Black movement, combat racism within
11
A collective of vegan and vegetarian activists in which I participated in 2015 and 2016. The vegan soup kitchen
entailed a monthly gathering to cook and distribute homemade and nutritious vegan food to individuals
experiencing homelessness in downtown Rio de Janeiro. I was involved in preparing, packaging, and occasionally
handing out the meals as a volunteer during the mentioned period.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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feminism, and adopt a theoretical perspective centered on the Black working woman, as Davis
(1982) exemplified. This context led to the creation of more comprehensive and multifaceted
approaches that didn't confine themselves to a single marker of difference or social inequality.
Thus, these thinkers began to develop a language that explored the intersections between
different forms of exploitation and oppression to discuss the condition of Black women and
create an intellectual framework that could be applied to other minorities and their struggles.
If the function of intersectionality is to "offer analytical tools to grasp the articulation of
multiple differences and inequalities" (PISCITELLI, 2008, p. 266, our translation), the
contribution of Black thinkers allows for a reassessment of alterity, both about the other and to
oneself. For vegan activists seeking to adopt an intersectional approach, considering the
multiple forms of human individuality's expression and the diverse power dynamics and
inequalities shaping these realities leads to the realization that the notion of a universal human,
as promoted by speciesism, is insufficient to confront the challenges that fact poses to the
expansion of veganism.
"Cutting"
The tool adopted by vegan individuals to persist and broaden the anti-speciesist stance
was to introduce the intersectional debate through a methodological tool, so to speak, that was
"native" - something not commonly found in the discussions of social movements. This was
mobilized through the term "cutting." While this approach wasn't unique to the vegan sphere
and not always tied to the issue of intersectionality, it became emblematic within this
movement. Just as practitioners of veganism are diverse, all are united in the effort to overcome
speciesism. Similarly, opponents of veganism are also influenced by various societal divisions.
The term "cutting" isn't confined to identity matters, such as origin, ethnicity, gender,
religion, generation, and sexuality, which refer to relational characteristics that contextualize
and represent individuals and groups in a particular historical period. This term can also
encompass political beliefs and how individuals perceive their position within power dynamics
in the current conjuncture. As per Agier (2001, p. 9, our translation),
The relational conception of identity allows us to approach the pursuit of its
"virtual abode." The starting point of individual or collective identity searches
is that we are always someone else's other, the other of another. It is necessary
to think of oneself from an external perspective, even from various
intersecting viewpoints.
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In this context, each individual can perceive themselves and be perceived through
various perspectives, and their adherence to veganism will be influenced by these diverse views,
in turn influencing these same perspectives.
Returning to Butterfly's account from the beginning of this section, it is possible to
understand that individuals who criticized him for participating in an animal sacrifice act, to
which he did not feel comfortable, did not consider the concept of "cutting." In other words,
they did not believe that class issues, for example, could make his choices more challenging
than for a middle-class vegan. Ironically, the religious temple in which the entity proposed
assistance, mediated by the sacrifice, despite its practices being criticized by many vegans, was
a more welcoming and supportive environment for Butterfly than in-person or online vegan
spaces. In this location, situated on the outskirts of Baixada Fluminense, an already peripheral
region of Rio de Janeiro, he managed to educate people who had never heard of veganism.
Engaging with Perrota (2015), it is possible to introduce the idea that there are regimes
of humanization and animalization that permeate interactions between different species. Thus,
certain animals can be humanized in specific contexts and subject to moral consideration. In
parallel, there are historically animalized social groups and consequently marginalized from the
predominant moral sphere. The challenge lies in recognizing and addressing these complex
interactions.
In this way, "cutting" represents an attempt presented by some vegans (although not
exclusively in veganism, of course) to encompass power asymmetries, inequalities, and the
diversity of people who are part of, or could be part of, efforts towards the liberation of both
human and non-human animals.
Conflicts give rise to new organizations and collectives
The emergence of new national and international vegan collectives that started operating
in Brazil may be related to the developments of the conflicting issues described in the above
examples. At least one of these collectives had its origins linked to the initial discussion about
supporting the purchase of products considered vegan by some activists and non-governmental
organizations (NGOs). These products come from companies conducting animal testing or are
connected to producing animal-derived meat and dairy.
Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA
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The story briefly addresses an example that relates to the context of the founding of the
organization Vegan Activism Union (UVA). Relevant narratives were obtained through audio
interviews with two UVA founders on the WhatsApp application. The organization's website
and social media platforms (YouTube and Facebook) are also monitored. However, before
describing the circumstances that led to the creation of UVA, it is necessary to introduce the
Brazilian Vegetarian Society (SVB) and focus on one of its projects and areas of operation.
The Brazilian Vegetarian Society (SVB) is a non-governmental organization founded in
Brazil in 2003. It is dedicated to promoting "vegetarian food as a healthy, ethical, sustainable,
and socially just choice" and "working to increase public access to vegetarian products and
services"
12
. One of the missions of the NGO is to "disseminate reference information for
professionals, institutions, and Brazilian society in general about the foundations, feasibility,
and benefits of strict vegetarian food."
13
One of SVB's projects is the Vegan Seal. According to the organization itself, this seal
was established to certify that companies' products are suitable for vegans, meeting criteria such
as the absence of animal-derived components, no animal testing on the finished product, and
the assurance that supplier manufacturers do not test ingredients on animals (with a minimum
5-year grace period).
14
Two issues deserve highlighting. Firstly, the absence of "veganism" is notable in the
sections visited on the SVB website. Instead, when referring to dietary choices, the term used
is "strict vegetarian diet." Secondly, it's essential to observe that the vegan seal is related to
products and can be granted to companies with other animal-derived products and even to
companies that conduct animal testing. This approach can be seen as a "pragmatic" strategy to
increase the presence of vegan products on supermarket shelves, aiming to popularize and bring
veganism closer to people. However, critics argue that this approach creates what they call
"product veganism," meaning the assertion that there are vegan products even in non-vegan
companies, which raises conflicts.
SVB is not the only one to adopt this strategy and believes it to be a path for promoting
strict vegetarianism or, in the case of social media influencers, veganism. Some of these
influencers advertise vegan products from companies that conduct testing on non-human
animals.
12
Available at: https://www.svb.org.br/svb/quem-somos/sobre. Accessed in: 20 mar. 2023.
13
Cf. note 10.
14
Available at: https://www.selovegano.com.br/sobre/. Accessed in: 20 mar. 2023.
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Part of the founders of UVA originated from one of the state branches of SVB. When
they noticed the organization's relationship with brands and its approach, which they considered
"more liberal and market-oriented," they initially attempted to vie for leadership positions
within the organization with the intention of promoting internal changes. This likely stems from
the influence and reputation that SVB has built since 2003. However, in parallel, these activists
collaborated with others to conceive an intersectional and famous vegan collective, which
would become UVA. It was only after exhausting attempts to influence the organization from
within and face the wear and tear of the electoral process that UVA's founders drafted an official
letter formalizing the withdrawal of the state branch from SVB National.
One of the founders of UVA shared that she has always been concerned with connecting
causes like feminism, environmentalism, and, more critical veganism about capitalism and the
food industry. She mentioned noticing a tendency not to allow space for these discussions and
a greater alignment with companies and the food industry, accompanied by a silencing of
accusations of sexism directed towards a well-known influencer in the vegan community.
Through discussions with other activists about the importance of combating oppressions
suffered by human and non-human animals, she became involved in forming UVA.
UVA expresses, in its “Declaração de Recife”, its statement of principles, a commitment
to fight based on anti-speciesism, social justice and equity, autonomy, non-partisanship, food
sovereignty, and the right to adequate food, secularism, health, and sustainability. The
organization is structured through municipal and regional branches present in some states of
Brazil, along with members, with the General Assembly as its highest decision-making body.
UVA has already held two national congresses, one in 2019 and another in 2021. One
of them was conducted online due to the pandemic.
Final Considerations
After this article, at least two trends within the vegan community can be identified,
exhibiting both convergences and divergences. One advocate for promoting the consumption
of industrialized vegan products on the shelves, aiming to reform the system of animal
exploitation or its eventual extinction through campaigns that encourage the consumption of
these products. The other trend seeks to distance itself from these approaches, demonstrating a
critical stance towards capitalism and large corporations that have come to view veganism as
an opportunity for a new market niche. Followers of this latter trend also seek to engage in
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dialogues with issues related to class, race, gender, and other banners of left-wing politics
and/or human rights.
Veganism, by denouncing the practices of exploiting non-human animals, challenges
the logic of control rooted in the binaries of nature-culture and animality-humanity, which also
historically manifests in the colonial context.
However, by presenting a dichotomy in which there is only a universal oppressive
concept of human versus non-human animals, many vegans end up reaffirming a Western and
Eurocentric perspective of thought infused with colonizing elements. Just as individuals of the
human species exhibit remarkable diversity in terms of the relationships they experience, non-
human animals also vary significantly for the same reasons.
Inspired by Perrota (2015), it is worth considering that we live in a structure where
certain non-human animals are excluded from the moral community, while others are partially
considered within this context. Similarly, some human beings are wholly or partially
marginalized from the moral society, while others are not. Adopting this perspective, it becomes
possible to comprehend the complexities of conflicts that emerge within veganism between
human rights and animal rights.
In this context, where most societies face Western capitalist modernity's ethical,
environmental, and social implications, veganism emerges and finds adherence. It is founded
on the bases discussed in this text, even as it carries its contradictions. What becomes evident
from this analysis is that conflicts within the vegan community have evolved into the emergence
of divergent trends, manifesting in approaches related to the market, boycott strategies,
promotion, as well as adherence to broader agendas that transcend the narrow dimension of
veganism as a cause solely associated with the treatment of other animal species.
The two types of conflicts presented in this article, those addressing boycott, promotion,
and the food industry, as well as those exploring human and animal issues, have had
consequences for the way internal divisions in the vegan movement have been shaped in recent
years, at least in the Brazilian context.
This is evident through the strategies adopted by the NGO SVB, which aims to promote
veganism centered around food industry labeling, considering such an approach as a means to
broaden access to and popularize veganism. In contrast, the UVA emerges as an entity that
opposes what would be the practice of veganism advocated by SVB. The UVA criticizes the
lack of a deeply critical approach towards the food industry and specism and the absence of
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concern to engage in intersectional discussions or at least address issues related to class, race,
and/or gender.
These trends were already present since the fieldwork conducted in 2017, which served
as the foundation for a significant portion of the data discussed in this article. This research
becomes essential to understand the issues in motion within the realm of veganism discourse in
Brazil today.
Returning to Malinowski's initial metaphor, now that we have managed to explore
beyond the "skeleton," the "flesh," and the "blood" of veganism, it becomes understandable that
as the movement expands and theoretically gains more followers and popularity, new conflicts
related to its practices emerge. These conflicts can generate trends and even opposing lines of
thought. Therefore, it is unfeasible to approach veganism as a homogeneous and singular
movement if one wishes to engage in this debate seriously.
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Ethical approval: Not applicable.
Data and material availability: Not applicable.
Authors' contributions: Rodolfo de Moraes Santos CERQUEIRA is responsible for the
research, analysis and writing of the paper.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.