Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 1
NA CASA DE NOSSA SENHORA, BEBI O MOCORORÓ QUE A ENCANTADA
PREPAROU
EN CASA DE NUESTRA SEÑORA, BEBÍ EL MOCORORÓ QUE PREPARÓ LA
MUJER ENCANTADA
AT NOSSA SENHORA'S HOUSE, I DRANK "MOCORORÓ" THAT WAS PREPARED
BY THE ENCHANTED
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA1
e-mail: elton.ibrahin@gmail.com
Como referenciar este artigo:
PANTOJA, E. I. de V. Na casa de Nossa Senhora, bebi o
mocororó que a encantada preparou. Rev. Cadernos de
Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-
ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252
| Submetido em: 11/07/2023
| Revisões requeridas em: 12/01/2024
| Aprovado em: 02/04/2024
| Publicado em: 30/09/2024
Editores:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. Me. Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Paulo Carvalho Moura
Prof. Thiago Pacheco Gebara
1
Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus AM Brasil. É Mestre em Letras pelo Programa de
Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Amazonas (PPGL-UFAM); é especialista em Gestão
Escolar pela Uniasselvi e possui Licenciatura em Música pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Atua,
também, como pesquisador nas áreas de análise de discurso, antropologia das religiões de matriz africana, e gênero
e sexualidade.
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 2
RESUMO: No Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, localizado na cidade de Manaus
(AM), a encantada, Cabocla Mariana, preside anualmente o ritual do mocororó em sua
homenagem e em devoção a santa padroeira do terreiro. Usando os princípios de participação,
corte, equivalência e o encruzilhamento nos cultos a santos e encantados, principalmente, o
católico e a encantaria, este trabalho verificou como esses cultos podem se interligar para que
haja equivalência entre eles e o ritual do mocororó aconteça. Também visando registrar as
práticas que envolvem o ritual do mocororó e o resgate da história de ritos praticados na
encantaria da região amazônica é que esse estudo se faz importante. Com a observação
participante, a tradição das lembranças, unidas por uma etnografia religiosa, compreendi que
além de promover a socialização dos seus convivas, o ritual do mocororó tem importância
cultural e religiosa por ser uma herança ancestral nordestina.
PALAVRAS-CHAVE: Católica. Encantaria. Indígena. Mocororó. Religião.
RESUMEN: En el Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, situado en la ciudad de Manaus
- AM, la mujer encantada, Cabocla Mariana, preside anualmente el ritual del mocororó en su
honor y en devoción a la patrona del terreiro. Utilizando los principios de participación, corte,
equivalencia y fertilización cruzada en los cultos de santos y encantados, especialmente el
católico y el encantado, este trabajo estudió cómo estos cultos pueden interconectarse para
que haya equivalencia entre ellos y tenga lugar el ritual del mocororó. Este estudio también es
importante para registrar las prácticas involucradas en el ritual del mocororó y recuperar la
historia de los ritos practicados en el encantamiento de la región amazónica. A través de la
observación participante y de la tradición de los recuerdos, combinada con una etnografía
religiosa, me di cuenta de que, además de promover la socialización de sus participantes, el
ritual del mocororó tiene importancia cultural y religiosa por ser una herencia ancestral del
nordeste.
PALABRAS CLAVE: Católica. Encantaria. Indígena. Mocororó. Religión.
ABSTRACT: In the Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, located in the city of Manaus -
AM, the enchanted woman, Cabocla Mariana, annually presides over the mocororó ritual in
her honor and in devotion to the terreiro's patron saint. Using the principles of participation,
cutting, equivalence, and crossroads in the cults of saints and the enchanted, especially the
Catholic and the enchanted, this work looked at how these cults can be interconnected so that
there is equivalence between them and the mocororó ritual takes place. It is also with the aim
of recording the practices involved in the mocororó ritual and recovering the history of the
rites practiced in the enchantment of the Amazon region that this study is essential. Through
participant observation and the tradition of memories, combined with a religious ethnography,
I understood that as well as promoting the socialization of its participants, the mocororó ritual
has cultural and religious importance because it is an ancestral heritage from the Northeast.
KEYWORDS: Catholic. Enchantment. Indigenous. Mocororó. Religion.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 3
Introdução
Manaus, uma cidade que tem sua construção envolvida por tradições e simbologias de
indígenas da região e do fluxo migratório com pessoas vindas, principalmente do nordeste do
país, guarda muitas histórias a serem contadas. É com humildade e satisfação que me proponho
a contar uma dessas histórias nos moldes etnográficos. Uma parte dessa história advém de
minhas memórias recentes, sobretudo, por ter participado, e ainda participar, ativamente dos
rituais e festas do Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, e considerando minha iniciação
nesse terreiro. Por volta de julho de 2013, eu tive minha primeira experiência no Candomblé,
com um jogo de búzios que indicou a necessidade de iniciação para à orixá Oxum. Em
novembro desse mesmo ano, aconteceu minha iniciação e saída de iaô. No entanto, minha
observação participante se inicia em 2021, quando começo os estudos em antropologia das
religiões, na Universidade do Amazonas (UFAM). A outra parte, advém de relatos do sacerdote
da casa, que também é meu babalorixá sendo que para isso, foi utilizado o “diário de campo
que é um instrumento de anotações, um caderno com espaço suficiente para anotações,
comentários e reflexão, para uso individual do investigador em seu dia a dia” (Falkembach,
1987, n.p.), além de uma breve entrevista semiestruturada.
Seguindo o estilo da etnografia de Pereira (2017), escolhi deixar as palavras de notas,
citações e transcrições como foram escritas ou pronunciadas, nesse caso, para privilegiar as
variantes linguísticas, pois em “toda comunidade linguística do mundo existe um fenômeno
chamado variação, isto é, nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim
como nem todas as pessoas falam a própria língua o tempo todo” (Bagno, 2013, p. 68). Pereira
(2017, p. 25) também fala das narrativas que compõem sua pesquisa e as chama de memórias,
lembranças individuais que ele retomava ao longo de sua pesquisa, e as sistematiza a partir do
conceito de tradição de lembranças, como exponho a seguir. Assim, [...] “iniciei este estudo,
assumindo meu papel nesse enredo como um caboclo que “Certa vez de montaria [...]
remava, e não parava de falar” (Pereira, 2017, p. 119, grifos do autor).
O estudo da tradição das lembranças promove a sistematização das memórias de
vivências do próprio autor. “A atenção volta-se, portanto, para esse desenvolvimento histórico
mais geral, para a própria tradição das lembranças como sistema ou constelação de ações e
eventos” (Mastrogregori, 2006, p. 69). Essas vivências, por conseguinte, podem ser
experienciadas através da “participação real do pesquisador com a comunidade ou grupo. Ele
se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo
que está estudando e participa das atividades normais deste” (Marconi; Lakatos, 2003, p. 202).
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 4
Desse modo, meu posicionamento é o pesquisador-insider, que “utiliza a noção de pesquisa
feita por insider enquanto um conceito não-absoluto intencionado para designar aquelas
situações caracterizadas por um grau significante de proximidade inicial entre as locações
socioculturais do pesquisador e do pesquisado” (Hodkinson, 2005, p. 134).
O sacerdote conhecido como Alaomi de Oxaguiã, é o fundador do terreiro que é o lócus
deste trabalho, sendo que o mesmo tem aproximadamente dezoito anos de feitura
2
no
Candomblé, mas sua vida espiritual começa muito antes, como zelador na Umbanda, que é
outra designação para pai de santo”. Mesmo sendo reconhecido como “pai de santo na
Umbanda e tendo recebido a cuia
3
e se tornado babalorixá no Candomblé, Alaomi prefere se
distanciar desses termos por entender que ele, como homem encarnado, não poderia ter o
privilégio de ser pai de entidades ou orixás. Segundo Kileuy e Oxaguiã (2014, p. 54-55),
babalorixá é o termo masculino que designa “as figuras centrais de uma casa de Candomblé e
seus nomes os identificam como o ‘pai que cuida do orixá’, sendo os chefes do Axé”. Por
isso, Alaomi prefere ser reconhecido e chamado pelos termos zelador, sacerdote ou consultor
espiritual, que é como ele mesmo se apresenta nas várias redes sociais da qual participa, sendo
que, para este trabalho, a preferência será o termo sacerdote.
Outro aspecto apresentado é a Encantaria na figura do encantado e da encantada, cujo
entendimento é primordial para o desdobramento desse trabalho. A Encantaria é a denominação
genérica do culto aos seres encantados ou ainda uma localidade, que também é conhecida como
“encante”. Assim sendo, Ferretti (2008, p. 4) vai definir Encantaria como “lugares de muita
energia, de muito poder, de uma força inexplicável, ou como lugares de muito mistério, de
muita mironga
4
, de muito segredo”. os pesquisadores Rocha e Filho (2020, p. 242) vão
explicar que “a Encantaria é mais uma forma de manifestação espiritual e religiosa afro-
ameríndia, praticada, sobretudo no Piauí, Bahia, Maranhão e Pará. Pode estar associada a
diversas religiões presentes nesses estados, como a Pajelança ou Cura, ou o Terecô”. De modo
que essa grande versatilidade pode ser também explicada pela presença do culto em diversos
estados do país. O excerto de Rocha e Filho demonstra um hiato nos estudos de Encantaria no
estado do Amazonas, especialmente em Manaus e região metropolitana, fazendo com que esta
pesquisa também seja o início do resgate da história desse rito na região.
2
Feitura: termo comumente utilizado em alusão ao ritual de iberê, ou seja, é o rito de iniciação de um noviço em
uma religião de matriz africana, principalmente Candomblé.
3
Cuia é o símbolo primordial na hierarquia do Candomblé, que dá plenos poderes religiosos ao iniciado e que lhe
confere o cargo de sacerdote/sacerdotisa. (Kileuy; Oxaguiã, 2014, p. 52)
4
Na Umbanda é Feitiço, Mistério, Segredo, Briga. (Pinto, s.d. p. 127)
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 5
Os Encantados e o terreiro
Dentro do culto, o encantado é um espírito que pode transitar pelos planos da Terra e
do céu espiritual, mas que habita efetivamente um plano intermediário entre os dois. Os
encantados “apresentam-se à comunidade religiosa como alguém que teve vida terrena
muitos anos e que desapareceu misteriosamente ou tornou-se invisível, encantou-se” (Ferretti,
2000, p. 15), ou seja:
Refere-se a uma categoria de seres espirituais recebidos em transe mediúnico,
que não podem ser observados diretamente ou que se acredita poderem ser
vistos, ouvidos ou sentidos em sonho, ou em vigília por pessoas dotadas de
vidência, mediunidade ou de percepção extrassensorial, como alguns
preferem denominar. São voduns, gentis (nobres) caboclos e índios que
moram em encantarias africanas ou brasileiras e que incorporam em filhos-
de-santo (Ferretti, 2008, p. 2).
Partindo disso, foi delineada uma etnografia do ritual do mocororó no culto dos
encantados, que originalmente estava inserido num contexto de festejo em homenagem a Nossa
Senhora da Conceição e à encantada Cabocla Mariana. Esse estudo foi realizado na
comunidade de prática
5
, Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, também chamada de Ààfin
Ìyá Omi À
un, Templo de Oxum, no município de Manaus, para, desse modo, compreender
as relações manifestadas pelas ações de seus principais agentes, ou seja, a casa, o sacerdote, a
entidade e os filhos de santo nesse contexto ritualístico e festivo. “De modo que, ao propor
descrever os preparativos da festa [...], estou também descrevendo as práticas dos
conhecimentos do sacerdote e [de] seus filhos de santo em relação à Cabocla homenageada”
(Pereira, 2017, p. 21, grifos do autor), bem como da comunidade de prática em si.
A comunidade aqui mencionada possui dois nomes relacionados com seus modos de
cultos e práticas ritualísticas, como se assumisse duas “identidades” religiosas no mesmo
espaço geográfico. Por ordem cronológica, o primeiro nome é Terreiro de Nossa Senhora da
Conceição, em referência à santa católica de mesma denominação, que é considerado um centro
de Umbanda e possui predominância de encantados que têm origens nos estados do Pará e do
Maranhão. Essa proximidade geográfica entre os estados do Amazonas, Pará e Maranhão se
pelo fato deles terem sido uma unidade político-administrativa, ainda nos tempos coloniais,
chamada de Grão-Pará e Maranhão, que abrangia também o Amapá, o Piauí e Roraima.
5
[...] construto social, uma comunidade de prática é diferente da noção tradicional de comunidade, sobretudo
porque é definida simultaneamente pelos seus participantes e pela prática na qual eles se engajam. Na verdade,
são as práticas da comunidade e a participação diferenciada de seus membros nessas práticas que estruturaram
socialmente a comunidade (Eckert; Mcconnell-Gine, 2010, p. 102).
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 6
O outro nome do terreiro, dessa vez fazendo referência à sua pertença ao Candomblé, é
Ààfin Ìyá Omi À
un que é devotado à orixá Oxum, cujos termos estão em iorubá e podem
ser entendidos como: Àáfin: palácio; Ìyá: mãe; Omi: água; Àẹ: força; e
un que é a orixá
Oxum. Assim, Ààfin Ìyá Omi À
un significa, em tradução livre, “Palácio da mãe das águas,
cuja força é Oxum”. Além desses, “Templo de Oxum” é outro nome que aparece na fala do
sacerdote, porém esse funciona como um epíteto para a casa, mas não é menos importante. O
interessante é que essas “identidades” convivem encruzilhadas, assumindo características
variadas no mesmo espaço ritualístico, que são diversas e amplas, ao mesmo tempo, em que
estão concentradas e são singulares.
Nos dias de novena
No Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, ou Ààfin Ìyá Omi À
un, os trabalhos
para as novenas começam à tardinha. Logo que chegamos, é de bom tom cumprimentar
cordialmente os presentes, mas sem delongas, descansar o corpo e aguardar a vez de tomarmos
os banhos. Assim, antes de cada novena, os filhos da casa e convidados chegam e preparam o
corpo para esse momento de “oração”, coloco esse termo, pois é o utilizado pelos fiéis, com
banhos específicos. Primeiro um banho preparado com “folhas fedorentas”, que segundo uma
das filhas de santo da casa, este “banho fedorento” não pode ser levado à cabeça, mas pode
lavar o rosto. Depois de uns poucos minutos, retira-se esse banho do corpo com água corrente.
Em seguida, toma-se o de “folhas cheirosas”, “banho cheiroso”, esse podendo permanecer no
corpo e secar naturalmente. Esses banhos, feitos de ervas especiais, servem como purificadores,
sendo o primeiro deles para descarrego (banho fedorento), de energias consideradas ruins, e o
segundo para conceder força (banho cheiroso), e reativar as energias consideradas boas, bem
como o fortalecimento do corpo e do espírito do devoto, ou seja, usa-se o “banho de força”
para “recarregar” as energias boas perdidas com o “banho de descarrego”, do qual não faz
distinção entre energias.
Após os banhos, vestimos uma roupa branca que nesse terreiro, por ter um sacerdote
iniciado no Candomblé, é chamada de roupa de ração
6
. Nesse momento, também são colocados
os fios de conta, que são colares feitos de miçangas de vidro ou cristal, de preferência brancos
6
Roupas de ração são vestes simples feitas de tecidos variados, mais comumente de algodão, na cor branca e que
os adeptos usam nos afazeres do dia a dia nas comunidades religiosas de matriz africana, principalmente
Candomblé e Umbanda. Sendo para o gênero masculino calça e camisa e para pessoas do gênero feminino saia e
camisu (espécie de bata).
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 7
em alusão a Oxalá, que no encruzilhamento das religiões, representa a figura de Jesus Cristo.
Seguimos para o barracão
7
: alguns irmãos arrumam o altar, outros conversam assuntos
diversos, enquanto se espera o sacerdote da casa iniciar as orações.
Esse período de novena
8
é quando se iniciam os preceitos dos filhos do terreiro, onde
eles devem se abster de alimentos específicos, bebidas alcoólicas, lugares como bares,
cemitérios e com muita movimentação, se possível e, principalmente, de sexo. O intuito do
preceito é purificar o corpo de energias contrárias ou não desejadas no dia do ritual. Assim,
durante nove dias, essa será a rotina de cuidados necessários para a realização da novena
dedicada à Nossa Senhora da Conceição e do ritual do mocororó. Conta Alaomi (2022), que
esse ritual fora instituído pela encantada Cabocla Mariana, também chamada Bela Turca, em
devoção à santa católica da qual a casa leva um de seus nomes.
É interessante observar que não somente os fiéis têm santos católicos de devoção, mas
também as entidades se mostram fervorosamente devotadas aos vultos cristãos. E a constituição
das pessoas que cultuam nessa casa se mostra tão fluída e diversificada que fica difícil demarcar
fronteiras, pois os conhecimentos se espraiam de forma rizomática (Anjos, 2006, p. 21). Nesse
sentido, o que é participar de uma casa que também é terreiro, onde convivem no mesmo espaço
geográfico e ritualístico orixás de Exu a Oxalá, encantados, caboclos de pena, boiadeiros,
marinheiros, pretos velhos e entidades como ciganos, exu e pomba-gira? É viver nessa
encruzilhada de saberes ancestrais, que se tocam em vários pontos, mas que não se aglutinam
ou se sobrepujam. Como me disse uma entidade, a Cigana Salomé: “embora todos trabalhem
para um bem comum, cada um no seu departamento”. As palavras da cigana corroboram com
a epistemologia das encruzilhadas que fala justamente dessa linha cruzada, ou como Pereira
(2017, p. 26) e eu preferimos falar, encruzilhada, de saberes e fazeres.
A ideologia da democracia racial fecundou toda uma imagem do Brasil como
o país do sincretismo, da miscigenação racial. Para essa ideologia, a imagem
do cruzamento das diferenças esmais próxima de certo modelo biológico,
em que espécies diferentes se mesclam numa resultante que seria a síntese
mulata. A religiosidade afro-brasileira tem um outro modelo para o encontro
das diferenças que é rizomático: a encruzilhada como ponto de encontro de
diferentes caminhos que não se fundem numa unidade, mas seguem como
pluralidades (Anjos, 2006, p. 21).
7
Barracão é um local amplo, um espaço geográfico no terreiro, muitas vezes parecido com uma grande sala ou
telheiro, destinado aos encontros e festejos religiosos.
8
A novena acontece uma vez por ano, sempre no período de 30 de novembro a 08 de dezembro, para que o último
dia coincida com o dia da padroeira do Amazonas, que é Nossa Senhora da Conceição. A celebração acontece
todos os anos e está prevista no calendário de festejos do templo.
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 8
Essa noção de linha cruzada aparece para contrapor a noção de “sincretismo” ou
“mestiçagem”, que são conceitos que falam sobre os projetos políticos da nação. Porém, para
a melhor compreensão da cosmopolítica dessa casa é necessário que se faça uma breve
cronologia da constituição da pessoa que fundou esse terreiro, o sacerdote Alaomi. Desde
criança, Alaomi apresentava suas primeiras manifestações com os encantados como a
Cabocla Marina, o Pai Zé Raimundo, a Cabocla Jandira, uma “índia” e a Cigana Salomé, uma
entidade que vem pela linha
9
dos ciganos, ou ainda com o povo da rua, os exus.
Alaomi seguiu desenvolvendo sua mediunidade, pois andava com sua mãe, que era
umbandista, nas “macumbas” da cidade. Contudo, a primeira manifestação formal, segundo o
sacerdote, foi na casa de um pai de santo chamado Edivaldo, que era paraense, doutrinado no
Tambor de Mina e que trabalhava com as encantadas, Cabocla de Pena e Cabocla Maria
Mineira. Foi através do pai Edivaldo que Alaomi recebeu suas primeiras obrigações nessa
tradição, ainda criança. Como as obrigações foram realizadas na cachoeira do Tarumã e na
parte da madrugada, por estar escuro o sacerdote conta que tinha muito medo, tendo ali uma
manifestação da Cabocla Mariana. Em suas palavras, Alaomi diz que:
[...] na ocasião quem tomou essa obrigação na hora do batismo foi a Caboca
Mariana, que eu era criança ainda e tinha muito medo de entrar no rio. A
obrigação foi feita na parte da madrugada, no Tarumã, no alto da
cachoeira e era muito escuro, eu tinha medo e a caboca me pegou pra poder
entrar no rio que eu tinha medo de cobra (Alaomi, 2022, s.p.).
Tempos depois ele fundou sua banca, como chamavam antigamente um centro ou
terreiro. Ainda nessa época o sacerdote era conhecido como “Ramiro do Raimundo”,
fazendo alusão ao encantado da Família Légua Bugi Buá, uma grande família de encantados
de Codó do Maranhão. Seu Raimundo fazia suas curas e pediu para que se colocasse uma
mesinha para que ele pudesse fazer suas rezas e curandagens
10
para os clientes. “Ele vinha todas
as quintas-feiras para benzer e ensinar remédios às pessoas que compareciam ao centro, tudo
gratuitamente; o trabalho era feito pela caridade” (Alaomi, 2022, s.p.).
A encantada Cabocla Mariana atendia aos clientes e tinha um trabalho significativo
junto ao médium e foi ela quem designou o nome da santa católica para a casa e instituiu o
ritual do mocororó. Anos mais tarde, Alaomi se inicia em Manaus no Candomblé para o orixá
Oxaguiã, um oxalá considerado mais jovem. Dois anos depois ele parte para Salvador e fica
9
As linhas são como organizações energéticas, ou seja, repartições vibracionais de energias que possuem uma
mesma finalidade.
10
Curandagens, neologismo para designar os atos de curar, benzer. O mesmo que curandeirismo.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 9
por lá, entre idas e vindas, durante sete anos, onde é adotado espiritualmente pela mãe Alda de
ya do Ilê Axé Opô Ajimuda. A partir daí, aprofundou seus conhecimentos no Candomblé e
em Candomblé de Caboclo, participando ativamente de festas e obrigações em casas e nações
diferentes na cidade de Salvador. Retornando à Manaus, Alaomi reabre a casa e a rebatiza,
fundando o Ààfin Ìyá Omi À
un.
Ao que parece, a constituição da pessoa enquanto sacerdote se reflete tão
sincronicamente no espaço sagrado que uma pequena banca, que é um centro é também uma
casa, um palácio. Enquanto banca, com a denominação de Terreiro de Nossa Senhora da
Conceição, quem a presidia era Ramiro do Raimundo. Agora como casa de Candomblé,
como palácio quem a preside é Alaomi. Percebo um fluxo crescente entre os cultos, contudo,
isto não se configura uma hierarquização, mas uma combinação de energias que proporciona a
renovação do axé
11
. Esse acontecimento é possível de ser analisado levando-se em
consideração o princípio de corte:
[...] aquilo a que é chamado de "princípio de corte" lhes faculta pessoas,
entidades e coisas sem dúvida viverem em dois mundos diferentes, evitando
tensões e choques: o choque de valores bem como as exigências, no entanto
contraditórias, de duas sociedades (Bastide, 1971, p. 517).
Desse modo, poderemos compreender que as coisas não se fusionam, mas coexistem
por esse fluxo que as mantêm coligadas. O espaço ritualístico era presidido pela pessoa de
Ramiro do Zé Raimundo e a banca tinha o nome de Nossa Senhora da Conceição, que também
é padroeira das gestantes. Nota-se que a palavra “conceição” significa o ato ou efeito de
conceber. Ainda no mesmo espaço geográfico, temos a mesma pessoa, com o orúkọ
12
, que é
Alaomi, por consequência teremos uma casa de Candomblé, ou um palácio chamado de Ààfin
Ìyá Omi À
un, devotado à orixá Oxum, que é a divindade das cachoeiras, rios de águas
doces, protetora do ventre, das gestações e das crianças. Com isso, “as correspondências
nascem e morrem conforme as épocas; mas, a variabilidade é ainda maior quando, em lugar de
estudá-la no tempo, estudamo-la no espaço” (Bastide, 1971, p. 371). Nas palavras de Alaomi,
podemos ver como as correspondências vão materializando os espaços:
Para ver como são as coisas, naquele momento eu ainda não era do
Candomblé, e a encantada tinha determinado que o centro de Umbanda se
11
Segundo Kileuy e Oxagu(2014, pp. 40-41), “o termo axé é, para o povo iorubá, um poder invisível que
transmite uma energia divina e intocável que as pessoas pressentem. Denominado de hamba ou nguzu pela
nação bantu, e exá, pelo povo fon, a apalavra axé se generalizou, se popularizou e passou a ser aceita e utilizada
pelas demais nações-irmãs. O axé é a força que produz crescimento”.
12
Orúkọ é a palavra em iorubá que designa um nome (Kileuy; Oxaguiã, 2014, p. 121).
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 10
chamaria terreiro nossa senhora da Conceição, casa de mamãe Oxum, como é
o sincretismo, e muitos anos depois no Candomblé da Bahia, a mãe de santo
jogando búzios para mim diz: Oxum está lhe dizendo que ela é o grande amor
da sua vida, que ela é seu caminho e dona do seu axé, tudo que você fizer
dentro do axé que seja em nome dela, ou seja mesmo sem saber que Oxum era
dona do meu caminho, do meu odú e meu juntó, a cabocla Mariana tinha
lido esse destino, logicamente que a encantada não tem vínculo nem um com
Candomblé, porém tinha direcionado minha a Oxum (Alaomi, 2022,
s.p.).
É importante observar que a correspondência acontece entre Ramiro do Seu
Raimundo e Alaomi de Oxaguiã, e o Terreiro de Nossa Senhora da Conceição e o Ààfin Ìyá
Omi À
un. No entanto, a relação dos encantados, no caso seu Raimundo e Dona
Mariana, com as respectivas “identidades religiosas” do terreiro, trata-se mais de uma
diplomacia (Latour, 2004, p. 410) entre entidades ou algo similar, pois Mariana não está para
Oxum, como Nossa Senhora da Conceição está, na correspondência da encruza. É interessante
notar que, mesmo sem ter correspondências aparentes no Candomblé, uma entidade preside um
culto em uma casa devotada a um orixá.
Tempos depois, já bem consolidado no Candomblé, o sacerdote fica sabendo através do
jogo de búzios que Oxum, além de “juntó” (o segundo orixá), é também seu caminho. Assim,
apesar do sacerdote entender que a encantada não tem vínculo com o Candomblé, a partir dos
princípios expostos, pude encontrar um caminho para uma certa correspondência. É a partir
dessa situação de (re)cortes e equivalências que se compreende a ligação entre a santa católica,
a divindade iorubana, e todas as engrenagens que compõem esse sistema que sintetizam a
cosmopolítica desse terreiro. Com isso, compreende que:
[...] as participações místicas se operam dentro dos diferentes compartimentos
do real [...] ligando tão somente os objetos ou os sêres que se banham numa
mesma corrente metafísica [...]. Em suma, a participação pressupõe um
enquadramento prévio, uma filosofia do cosmos [...] Para que a participão
se estabeleça entre um homem, um objeto, uma planta, uma divindade, etc., é
preciso que obedeça a certas condições bem determinadas. A corrente das
fôrças unificadoras não pode passar entre, por exemplo, uma pedra de Xangô,
uma planta de Oxossi e um filho de Oxun. A participação não se opera em
qualquer direção, é orientada, segue linhas, e o que chamamos de religião é o
conjunto das representações coletivas ou dos ritos que designam as linhas de
fôrça dentro das quais ela pode se processar (Bastide, 1961, p. 337).
Desse modo, o que liga a corrente unificadora para que a participação aconteça no
sistema estudado é o próprio sacerdote. Ele é quem estabelece a participação entre o homem, o
objeto, a planta, as entidades, as divindades, os filhos, a casa e o terreiro, enfim com todo o
constituinte desse cosmo. Assim, o princípio de participação pode acontecer por causa do
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 11
princípio de corte, que é constitutivo das relações afro-brasileiras. Esses princípios, então,
evidenciam os compartimentos sendo transpassados, não nessas relações, mas também nas
ameríndias, as constituindo em relações afro-indígenas.
É a partir do princípio de corte que ocorrem as classificações. Desse modo, quando um
conjunto de classificações é homólogo a outro conjunto de classificações, o princípio da
equivalência acontece. É exatamente o princípio de corte que vai operar a equivalência e
permitir que a transição (trânsito) entre esses mundos aconteça. Em outro nível, esse espaço
que comporta cultos distintos e interligados constitui um reflexo arquetípico do próprio
sacerdote e vice-versa, onde dependendo do papel desempenhado, no ritmo do toque, o “tambor
de virada”
13
, vai virando e desvirando a gira para que a macumba aconteça.
É nesse contexto de encruzilhada que a promessa feita pela Cabocla Mariana “na
cabeça”
14
de Alaomi, à padroeira do Amazonas é paga. Todo dia 8 de dezembro, junto à
comemoração de Nossa Senhora da Conceição, dia que também é dedicado a orixá Oxum da
casa, também são realizados os festejos da Bela Turca, tendo como um dos pontos principais o
ritual do mocororó. “Não se pode deixar de rezar o mocororó para que ninguém da casa vá a n
lọ” (Alaomi, 2022, s.p.), essa regra inclui o próprio sacerdote. A expressão n lọ” é oriunda do
iorubá falado pelos candomblecistas, que em tradução livre quer dizer “indo”, mas que tem
conotação de desencarnar, fazer a passagem, ou mesmo mandar alguém ou algo para longe.
Não é difícil ouvir da boca de um iniciado no Candomblé a expressão foi a n lọ” quando se
refere a alguém já falecido. O fato é que a observação anual do ritual do mocororó remete-me
ao cuidado como o referido por Flaksman (2018, p. 318), onde “no Candomblé, o termo
“cuidado” tem outro sentido: quando se diz que alguém precisa assentar o santo, por exemplo,
ou mesmo cumprir alguma obrigação menor, o termo usado é sempre “cuidar”’, além de ser
um ẹbọ, ainda como relata a pesquisadora, que serve para prevenção de muitos males, incluindo
o mais indesejado, a morte.
Depois de toda essa preparação, o sacerdote, os filhos de santo e demais convidados
ajoelham-se diante do altar, já preparado, e iniciam com a oração católica do “Sinal da Cruz”,
molha-se o dedo polegar direito em um pouco de água benta, disposta em um pequeno
recipiente, marcando três cruzes: uma na altura da testa, outra na altura da boca, e outra no
13
Tambor de virada, virar o tambor ou cruzar é o ato que acontece quando vão se trocar as linhas de trabalho, isto
é, se em uma função estão trabalhando na linha das matas e deseja trocar para linha do povo de rua, toca-se o
tambor de virada. Definição feita pelo sacerdote Alaomi.
14
Na cabeça é uma expressão utilizada pelos adeptos de religiões de matriz africana para designar uma entidade
manifestada em um médium, incorporada.
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 12
peito, ao mesmo tempo em que se declama:
Primeira cruz: Pelo sinal da Santa Cruz.
Segunda cruz: Livra-nos Deus, nosso Senhor,
Terceira cruz: dos nossos inimigos.
Essa primeira oração é seguida de outra, “Em nome do Pai”, onde também se traça uma
cruz, desta vez ligando, em vertical, a testa ao ventre, e o ombro esquerdo ao direito, finalizando
com um “amém”, que pode ser com as mãos sobre o coração, ou tocando a boca, ou ainda
juntas em posição de oração, falando: “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.”
O primeiro a realizar esse ato é o sacerdote que passa a água benta para um dos filhos, que
repassa a um irmão e assim sucessivamente a todos os presentes na ocasião. Concomitante a
esse primeiro ato, o sacerdote faz breves orações em agradecimento ao dia, ao ano e às graças
alcançadas. Após todos terem marcado suas frontes, inicia-se o terço da novena como a tradição
católica. Os presentes ficam todos de joelhos e voltados para o altar.
O altar é tal qual um altar em devoção aos santos católicos, até porque são os mesmos.
É o local onde as imagens dos santos de devoção da casa são dispostas e organizadas segundo
um princípio simples. A imagem da santa de devoção principal é a de Nossa Senhora da
Conceição, acrescida de terços e fitas de pedidos e promessas e a partir dela são dispostas as
outras. À esquerda da imagem principal, em tamanho menor, encontram-se as imagens de Jesus
Cristo (típica da Umbanda com braços abertos ligeiramente voltados à frente, mostrando as
chagas), Santo Antônio e um castiçal com querubins. À direita estão dispostas: as imagens de
Santa Bárbara, uma pequena imagem de Santa Luzia, e um castiçal idêntico ao citado. Ao
centro uma vela de sete dias e, esporadicamente, uma vela de força, ambas brancas. Também
encontramos no altar uma pequena garrafa de vidro com água benta, uma toalha branca que
cobre a mesa e uma Bíblia, na edição Pastoral, contendo folhas de papel avulso com cânticos e
outras orações que são utilizados na novena. É importante registrar que a santa de devoção,
Nossa Senhora da Conceição, Oxum no encruzilhamento, é de devoção da encantada, a
matriarca espiritual da casa, Cabocla Mariana. Essa vem na cabeça do sacerdote do terreiro
uma vez por ano para presidir o Ritual do Mocororó.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 13
O Mocororó que a encantada preparou
O mocororó tem origem com os povos indígenas, muito antes da ocupação dos europeus
no Brasil e da submissão das culturas aqui existentes. “Esse gosto dos índios por essa bebida
era visto pelos portugueses desde a época da colonização” (Pereira, 2011, s.p.). Atualmente
a palavra mocororó aparece denominando uma série de bebidas produzidas a partir da
fermentação, em maior ou menor grau, de produtos como o caju, a mandioca e o arroz, como
aparece no Boletim da Comissão Maranhense de Folclore (2007, p. 12): “Mocororó bebida
do suco do caju com quatro dias de fermentação ao ar livre, no Ceará. No Maranhão, é bebida
feita com mandioca ou arroz”. Essa bebida está intimamente ligada a festejos religiosos não
cruzados ou originários do encruzilhamento das culturas cristã católica e ameríndias. Outros
nomes para o mocororó são makururu, macururu e tarubá (Boletim da CMF, 2007; Santos,
2010).
No Ceará, o mocororó feito de caju é utilizado para o Torém, dança ritualística dos
povos de etnia Tremembé, durante o qual são servidos vários litros da bebida. “Esse grupo
indígena é conhecido por seus exímios artesãos e pela fabricação do mocororó, bebida feita de
caju e pela sua dança particular, o Torém, que lhes trouxe diferenciação e notoriedade social”
(Pereira, 2011, s.p.). No entanto, “essa bebida não é tomada apenas durante o ritual, é tomada
durante o dia como uma forma de lazer, principalmente na época do caju” (Pereira, 2011, s.p.).
A bebida tem grande importância para os povos indígenas do litoral cearense, pois “entre as
etnias que compõe o Movimento Indígena do Ceará, pelo menos, nove delas produzem e/ou
consomem mocororó, são elas: Anacé, Tapeba, Pitaguary, Jenipapo-kanindé, Potyguara,
Tremembé, Kariri, Gavião e Tubiba Tapuya” (Santos et al., 2020, p. 174).
No Maranhão, essa bebida passa a ser feita de arroz e ao que tudo indica em tempos
passados era muito difundida e apreciada. Como diz um editorial do Boletim da CMF (2007,
p. 2):
Nesse número do Boletim foram fornecidas receitas de cuxá, de arroz de
batipuru e de algumas bebidas tradicionais na culinária maranhense, inclusive
a do mocororó, que foi muito vendida em São Luís e que parece ter
desaparecido. Essa bebida, no entanto, levada no passado para o Amazonas,
por mães-de-santo, é hoje tomada ritualmente em terreiros de mina
amazonenses ligados à tradição do Maranhão.
Nota-se que Alaomi, sacerdote do Templo de Oxum, iniciou efetivamente sua vida
religiosa num terreiro da tradição Tambor de Mina, como exposto anteriormente.
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 14
Em outro momento, o Boletim da CMF (2007, p. 7) resgata o depoimento de um
morador de São Luís, “nascido em 1907, em Memória de velhos, v. II, p.177-178, onde relata
sobre as vendedoras ambulantes na cidade: “Tinha as velhas doceiras, eram umas pretas que
vendiam doces nas esquinas, à noite [...]. Tinha as vendedeiras de mocororó [...] as de peixe
[...]”. O boletim ainda traz uma observação do historiador Câmara Cascudo que diz o seguinte:
“A respeito do Mocororó, Câmara Cascudo, comentando o aluá ou aruá afirma: “Jacques
Raimundo cita o mocororó do Maranhão como equivalente, mas Domingos Vieira Filho diz
ser ‘uma espécie de mingau feito à base de arroz’” (Boletim da CMF, 2007, p. 12 apud Câmara
Cascudo, 2004, p. 832). A revista traz ainda uma receita de mocororó ou macururu:
Semear, com antecedência, 1 ou 2 punhados de arroz em casca e aguardar a
germinação. Quando germinado, preparar, à parte, um mingau bem grosso de
fubá de arroz e deixar esfriar. Tomar então as sementes germinadas, lavar,
cuidadosamente, os brotos, pisá-los em um pilãozinho de madeira, coando o
sumo resultante, que é vertido no boião no qual já se encontra o mingau. Por
ao abrigo da luz e do calor e aguardar a fermentação que, em geral, dura 48
horas. Está pronta a bebida, já adoçada pelo açúcar nascente da fermentação
do amido e ligeiramente alcoólica (Boletim da CMF, 2007, p. 21).
Em nota, o Boletim informa que a receita foi
[...] transcrita do livro Pecados da gula: receita (LIMA, 1998, v.2, p. 100),
como bebida de origem indígena. A receita foi obtida por Zelinda Lima de
Ana Amélia Lima. Augusto Aranha faz referência ao mocororó em Memória
de Velhos, v. II (p. 177), como bebida gelada, adorável, vendida por mulheres
pretas que passavam nas ruas gritando: “mocororó, mocororó!(Boletim da
CMF, 2007, p. 21).
Segundo a pesquisadora Luíndia (2002, s.p.) é possível encontrar a utilização de uma
bebida chamada mukururu no Çayré
15
, “manifestação religiosa e profana realizada em Alter do
Chão, Santarém, microrregião do médio Amazonas paraense”, e que as origens desta festa vêm
da tradição dos indígenas Borari que habitavam a região de Santarém. Ela divide a celebração
do Çairé em momentos chamados de “cunho” e o mukururu é utilizado, justamente, no cunho
religioso que abrange costumes dos indígenas e dos missionários.
Cunho religioso: destaca-se a festa religiosa, onde o Çairé era utilizado nas
festas religiosas de Nossa Senhora da Saúde e São José (06 e 07 de janeiro).
Nesses dias, os índios costumavam fazer saudações religiosas, costumes
15
“O Çayré é semicírculo de madeira com 1m40cm de diâmetro que representa a arca de Noé, contém dentro dois
arcos menores, colocados sobre o diâmetro maior. Esse objeto simbólico é ornado com fitas de diversas cores,
belas plumagens em vermelho e branco, espelhos e outros enfeites e teve o objetivo de perpetuar e firmar mais a
religião [cristã] entre os índios. Perpetuam o dilúvio e as três pessoas da santíssima trindade” (Luíndia, 2002, s.p.).
Outras formas de escrita: sayré, sairé.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 15
introduzidos pelos missionários. A festividade era chamada inicialmente de
Çairé ou Turiúa. Constituía-se de uma procissão de mulheres que carregavam
o Çairé. Na festa de santo levantavam um altar, onde era colocada a imagem
milagrosa, tendo aos seus pés o Çairé. Preparavam junto à casa uma grande
palhoça onde era servido o jantar e realizadas algumas danças. Dias antes da
festa preparavam grande quantidade de "tarubá ou mukururu," (bebida
fermentada de mandioca) que era considerado a alma da festa (Luíndia, 2002,
s.p.).
No terreiro de Nossa Senhora da Conceição, o mocororó é preparado próximo da
tradição maranhense e seus ingredientes são: arroz branco, leite de coco, açúcar, gengibre,
conhecido no Amazonas como mangarataia, erva-doce e cravo-da-índia. A irmã de mais idade
no santo e que está devidamente de preceito é quem prepara a bebida. No penúltimo dia de
novena ela, vestida de branco e com um pano de cabeça, começa os preparos. Primeiro ela
acende uma vela branca na árvore sagrada do terreiro pedindo licença aos “donos da casa”, os
guias e ancestrais. Em seguida, em uma panela comum, ela coloca o arroz para cozinhar no
fogão a gás, por conta da modernidade, porém “as coisas feitas na fogueira têm sempre mais
força” (Alaomi, 2022, s.p.).
irmãos que somente observam e entre uma conversinha aqui e ali ou uma dúvida
respondida pelo sacerdote, aprendem o processo. Outros irmãos o ajudando no que podem,
sob orientação da irmã mais velha, com um pedaço de pano ou mesmo com um guardanapo
limpo, faz-se uma trouxinha para macerar a erva-doce e o cravo-da-índia. A mangarataia pode
ser ralada, processada ou até mesmo macerada; tudo depende do momento ou do quanto o
preparo está adiantado, ou atrasado. Assim que o arroz fica cozido, ele é processado no
liquidificador e é retornado para a panela para que os outros ingredientes sejam misturados e
cozidos juntos durante um tempo. Se o preparado ficar muito encorpado, acrescenta-se água
aos poucos para que não fique muito aguado.
Depois de tudo pronto, aos pés da árvore e em cima de um tamborete
16
coberto com um
pano branco, o mingau vai descansar por vinte e quatro horas. À frente deste pequeno altar
improvisado, vai um copo de água limpa e uma vela de força branca. A irmã que preparou pede
para que o mocororó o azede, pois “antigamente quando o mocororó azedava quem tinha
preparado deveria tomá-lo todo sem deixar sobras” (Alaomi, 2022, s.p.). A irmã se preocupava
com que tudo desse certo, pois se o mocororó desandasse, além do azedume, depois de tudo
pronto o alimento rende pelo menos alguns litros e, apesar do medo, a irmã conta que o
mocororó nunca azedou. Todo esse processo ocorre após uma novena, mais precisamente, a
16
Tamborete é um banco ou banqueta feita de madeira.
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 16
penúltima.
Deste modo, passadas as vinte e quatro horas da última noite de novena, que ocorre
exatamente no dia 8 de dezembro, data que é comemorado o dia da padroeira da cidade de
Manaus, Nossa Senhora da Conceição, também ocorre o ritual do mocororó. Assim é rezada a
novena como de costume, à moda católica, e costuma-se entoar uma ladainha devotada à santa
do dia. Finalizada essa parte mais cristã, passa-se o defumador para a purificação do local. Em
um incensário improvisado, uma panela velha de pressão sem tampa, coloca-se a brasa, que já
estava sendo preparada antes, e o incenso preparado pelo sacerdote da casa.
Primeiro o sacerdote defuma o altar dos santos e segue a defumação de cada pessoa
presente. Em fila, primeiro de frente e de braços abertos o devoto é incensado pelo lado
esquerdo, depois direito e em seguida gira para o lado esquerdo; de costas repete-se o
processo de defumação. Por fim, leva-se o incensário ao chão e de frente os devotos incensam
as mãos cruzando-as sobre a fumaça e depois os pés, um de cada vez, assim, os fiéis vão
passando um a um pelo sacerdote. Nesse processo também podem ser incensados objetos
ritualísticos como maracas, as espadas
17
dos devotos e os objetos que serão utilizados no ritual,
inclusive o próprio mocororó. Esta parte do processo é embalada por cantigas de incensar, a
mais comum é:
Defuma com as ervas da Jurema.
Defuma com arruda e guiné,
Benjoim, alecrim e alfazema.
Vamos defumar filhos de fé.
Essa cantiga evoca as energias da Jurema, que denomina uma encantada e um encante,
para a “limpeza” do ambiente. A partir desse ponto, começam as cantigas de chamamento,
neste caso, para chamar a Cabocla Mariana, que é quem vai presidir o ritual do mocororó. Após
a chegada da entidade manifestada no sacerdote da casa, Dona Mariana, como a chamamos,
vai pondo sua roupa litúrgica enquanto vai falando, dando recado e puxões de orelha, com
intimidade que parece alguém da família e não deixa de ser. Também pede o que beber e o que
fumar falando em tom jocoso: “Me uma “pumosa”
18
, que estou seca, seca, seca... Porque
faz muito tempo que eu não bebo”. Apesar da espontaneidade na fala da entidade, o clima
ritualístico envolve os presentes. Depois de algumas cantigas e uns “falado” com os filhos,
17
A espada (plural espadas) é um recorte de tecido retangular geralmente acetinado, adornado com franjas de
cetim ou poliéster, instrumento que por sua versatilidade serve como proteção, de demandar, de sacudimento e de
despache.
18
Pumosa” é uma variante linguística utilizada pelas entidades incorporadas. Ela tem origem na palavra espumosa que
faz referência a espuma da cerveja, que é a bebida mais popular nas festas de encantados e entidades.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 17
Dona Mariana pede que se prepare o local para o ritual.
Assim, com um pano branco estendido no chão forma-se o espaço ritualístico principal.
Na extremidade do pano mais próxima do altar é disposta a vela, o copo com água e o mingau
que esteve descansando. A Bela Turca aproxima-se com sua cadeira e com baforadas de fumo,
chacoalhadas de maracas, cantigas e súplicas a Deus e Nossa Senhora da Conceição. Assim,
ela transmuta o mingau em mocororó, o alimento consagrado. Ao lado da entidade se posiciona
uma pessoa assistente, com uma bacia de água limpa até a metade e algumas cuias regionais
para se servir a bebida. A partir daí, os fiéis em fila aproximam-se um de cada vez, abaixam e
deitam o corpo por inteiro no pano branco que está estendido, em forma de reverência.
Dona Mariana sacode seu maracá e abençoa a pessoa, que em seguida toma uma postura
de joelhos, curvando o tronco e apoiando os cotovelos sobre as pernas ou no chão, esperando
ser servida. Usando uma cuia como concha, a entidade serve outra cuia que é entregue à pessoa
para que tome enquanto são proferidas bençãos pela mestra da cerimônia. A cuia é devolvida
à entidade que a repassa para a assistente, que a lava na água limpa para ser reutilizada. Como
eu mesmo participei deste ritual algumas vezes, posso dizer que o mocororó é um mingau
levemente adocicado, com sabor e aroma das especiarias nele contido, especialmente o da erva-
doce e uma com textura granulada, mas macia por conta do arroz processado. Assim, todo esse
processo é repetido até que o último devoto tenha tomado do mocororó. O que sobra do
alimento e a água em que foram lavadas as cuias são reservados embaixo de uma árvore para,
no dia seguinte, serem despachados em local propício ou designado pela encantada.
O momento de partilha do mocororó é embalado por uma cantiga específica, como um
responso
19
, que é puxada pela Cabocla Mariana:
“Mariá, marió
Graças a Deus de mocororó
O’joni baba, o’joni baba”
As grafias aqui apresentadas são aproximações do que é falado na pronúncia da cantiga.
Alaomi (2022, s.p.) pondera que essa cantiga possa ser em reverência aos ancestrais, pois
segundo ele, existe uma saudação a Bàbá Egun, muito ouvida nos festejos de egun na Bahia.
Lá, eles chamam Candomblé de Bàbá:
19
“Responso ou responsorial, proveniente de salmo responsorial do ofício da Santa Missa católica, “o nome
responsorial dado a esse salmo provém da forma como ele é geralmente realizado: o salmista lê ou canta os versos
do salmo, enquanto a assembleia intervém com um responso, ou seja, um refrão ou antífona” (Melo, 2011, p. 41).
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 18
Ibó Leribô
Atelerió
Ê Bàbá Mariô
Rei, rei, rei.
Em todas essas saudações as pessoas gritam quando Bàbá está adentrando o salão, o
barracão. No livro de José Beniste (2020, p. 43) Ò run - Àyé: o encontro de dois mundos” é
relatada uma saudação ao “senhor do dia”: “Ọlọjó Oní, mo júbà o”, que em sua tradução é
“Senhor deste Dia, meus respeitos, eu o saúdo”. Assim, a palavra baba’, pode referir-se a
bàbá’ que é usada no Candomblé para designar pai e senhor. Essa palavra que é oriunda do
iorubá, também designa a divindade do culto à ancestralidade masculina chamada de Bàbá
Egun”, no Candomblé. Alguns traduzem Egun’ como ‘osso’, em iorubá a palavra Ègúnpode
significar maldição ou maldade. No entanto, no contexto do ritual do mocororó, a encantada
Cabocla Mariana pode evocar uma variante dessa saudação iorubana para saudar o senhor, ou
melhor, a senhora do dia, ela mesma, a senhora da festa. Ainda, em algumas nações, os
encantados e entidades podem ser entendidos como “egun”. Talvez os significados implícitos
nessa palavra, enterrados pelo tempo, possam ter gerado todos esses cuidados em resguardos e
preceitos para a execução do ritual do mocororó.
Considerações finais
Quando comecei essa pesquisa, não podia imaginar a extensão da utilização das bebidas
e/ou alimentos que levam o nome de mocororó. A história dessa bebida que começa com os
indígenas do nordeste brasileiro, principalmente no Ceará e no Maranhão, passando pelo Pará
e chegando até o Amazonas, traz consigo uma gama quase inesgotável de saberes culturais e
religiosos ancestrais. O mocororó tem servido aos povos tradicionais, às culturas afroindígenas
e ameríndias como fonte de resistência e de suas memórias, além do uso como bebida
ritualística que dá o tom e faz a ligação com o mundo espiritual.
Outras ligações acontecem, como a equivalência de culto a santos católicos, com culto
a orixás da Umbanda e Candomblé. No entanto, nessa equivalência não acontece o que se
canonizou como sincretismo, pois cada conjunto de classificação opera distintamente um do
outro, ocorrendo à equivalência à medida que o sacerdote promove sua agência. O sentido do
encruzilhamento também opera na ligação dos cultos, no entanto, sem derrubar suas fronteiras
de distinção. Os cultos à santa católica e à orixá africana coexistem no mesmo espaço/tempo,
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 19
porém, um não passa a ser o outro e também não configuram outro culto, somente se equivalem
para que o ritual do mocororó aconteça.
No Terreiro de Nossa Senhora da Conceição o ritual do mocororó, aparentemente
simples, traz consigo a lembrança dos antepassados e a renovação para os dias futuros, além
de promover a socialização, integração e irmandade entre os convivas. O mocororó nessa casa
é, certamente, uma herança cultural e religiosa nordestina que veio atravessando os estados
nortistas do Brasil para se instalar aqui, no humilde, porém cheio de axé, Templo de Oxum, na
cidade de Manaus.
Assim, uma pequena casa pode comportar em seu cosmo uma infinitude de universos,
de pessoas, sacerdote, filhos de santo, ancestrais, entidades, culturas, de tempos, o passado, o
presente e o futuro, além dos ritos. A casa devolve tudo isso, para o cosmo e as pessoas, de
forma processada, a partir de uma cíclica de práticas e de Energia. E foi assim que na casa de
Nossa Senhora bebi o mocororó que a encantada preparou.
REFERÊNCIAS
ALAOMI. Texto sobre a Casa de Nossa Senhora da Conceição no Facebook. Manaus, 07
dez.2020. Facebook: Axé Palácio de Oxum Manaus. Disponível em:
https://www.facebook.com/323745411899253/posts/729433054663818/. Acesso em: 23 dez.
2021.
ALAOMI. Série de entrevistas. [dez. 2021 a jan. 2022]. Entrevistador: Elton Ibrahin de
Vasconcelos Pantoja. Manaus, 2022.
ANJOS, J. C. dos. No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira. Porto
Alegre: Editora da UFRGS/Fundação Cultural Palmares, 2006.
BAGNO, M. Preconceito Linguístico: o que é e como se faz. 55. ed. São Paulo: Edições
Loyola, 2013.
BASTIDE, R. O Candomblé da Bahia (Rito Nagô). São Paulo: Cia das Letras, 1961.
BASTIDE, R. As Religiões Africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1971.
BENISTE, José. Òrun Àyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô
yorubá entre o céu e a Terra. 14. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.
BOLETIM DA CMF. Comissão Maranhense de Folclore, Maranhão, n. 38, 2007.
Disponível em:
https://www.cmfolclore.ufma.br/arquivos/e56879d03c365b0948a2a15e3b1fb3df.pdf. Acesso
em: 24 dez. 2021.
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 20
CÂMARA CASCUDO, L. da. História da alimentação no Brasil. 1. ed. São Paulo: Global,
2004.
ECKERT, P.; McCONNELL-GINET, S. Comunidades de práticas: lugar onde co-habitam
linguagem, gênero e poder. In: OSTERMANN, A. C.; FONTANA, B. Linguem. Gênero.
Sexualidade: clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
FALKEMBACH, E. M. F. Diário de campo: um instrumento de reflexão. Contexto e
Educação, Ijuí, v. 2, n. 7, p. 19-24, jul./set. 1987.
FERRETTI, M. Encantados e encantarias no folclore brasileiro. In: Seminário de Ações
Integradas em Folclore, 6., 2008. Anais [...]. São Paulo, 2008. Disponível em:
https://repositorio.ufma.br/jspui/bitstream/1/198/1/Encantados%20e%20encantarias.pdf.
Acesso em: 06 dez. 2020.
FERRETTI, M. Maranhão encantado: Encantaria maranhense e outras histórias. São Luís:
UEMA Editora, 2000.
FLAKSMAN, C. Culpa e cuidado no Candomblé baiano. Revista do Instituto de Estudos
Brasileiros, [S. l.], n. 69, p. 307-323, abr. 2018.
HODKINSON, P. “Insider research” in the study of youth cultures. Journal of Youth
Studies, [S. l.], 2005, 18:131-149. DOI: 10.1080/13676260500149238. Disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/240533016_%27Insider_Research%27_in_the_Stu
St_of_Youth_Cultures. Acesso em: 06 dez. 2023.
KILEUY, O.; OXAGUIÃ, V. de. O Candomblé bem explicado: nações Banto, Iorubá e
Fon. Organização Marcelo Barros. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
LATOUR, B. Por uma antropologia do centro. [Entrevista concedida a] Renato Sztutman e
Stelio Marras. MANA, [S. l.], v. 10, n. 2, p. 397-414. 2004. Disponível em:
http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/1392. Acesso em: 09 dez. 2023.
LUÍNDIA, L. E. A. Çairé (PA): Espaço e reinterpretação pela mídia. In: Congresso Anual em
Ciência da Comunicação, 25., 2002, Salvador. Anais [...]. Salvador: [s. n.], 2002. Disponível
em:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2002/congresso2002_anais/2002_NP17AZEVE
DO.pdf. Acesso em: 23 dez. 2021.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. A. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2003.
MASTROGREGORI, M. Historiografia e tradição das lembranças. In: MALERBA, J. (org.).
A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006. p. 65-93.
MELO, J. R. de. A missa e suas partes: para celebrar e viver a eucaristia. 1. ed. São Paulo:
Paulinas, 2011. (Coleção Jesus mestre).
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 21
PEREIRA, A. L. da C. A Cabocla Mariana e a sua Corte Ajuremada: modos de pensar e
fazer festa em um Terreiro de Umbanda em Santarém, Pará. Orientador: Marcio Goldman.
2017. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: http://objdig.ufrj.br/72/teses/848861.pdf.
Acesso em: 10 mar. 2021.
PEREIRA, A. S. M. A dança do Torém dos Tremembé de Itarema-CE. Fortaleza: UFC,
2011. Disponível em:
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/20909/3/2011_eve_asmpereira.pdf. Acesso em
23 dez. 2021.
PINTO, A. (org.). Dicionário da Umbanda. 6. ed. [S. l.: s. n.], [21--].
ROCHA, D.; FILHO, V. S. Ritualística umbandista, candomblecista, terecozeira, da
encantaria e pajelança amazônica e as casas/terreiros de palmas. Revista Humanidades e
Inovação, [S. l.], v. 7, n. 15, p. 241-249, 2020. Disponível em:
https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2996. Acesso em: 02
nov. 2020.
SANTOS, C. C. A. do A. Identificação da microbiota e caracterização físico-química da
bebida fermentada caxiri produzida pelo povo Juruna (Yudjá), Mato Grosso, Brasil.
Lavras, MG: UFLA, 2010.
SANTOS, C. M. dos; LIMA, A. E. F.; MORAIS, A. C. da S.; FERREIRA, M. de C. O
mocororó e sua importância para os povos indígenas do litoral cearense - resistência e
espiritualidade nos modos de fazer e consumir. In: PEREIRA, D.; SANTO, J. de P. do E.
(org.). Culturas e história dos povos indígenas. Ponta Grossa, PR: Atena, 2020. Disponível
em: https://sistema.atenaeditora.com.br/index.php/admin/api/artigoPDF/39618. Acesso em:
06 jan. 2022.
Na casa de Nossa Senhora, bebi o mocororó que a encantada preparou
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 22
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não aplicável.
Financiamento: Não aplicável.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não aplicável.
Disponibilidade de dados e material: Podem ser solicitados pelo e-mail do autor.
Contribuições dos autores: Este artigo é de única autoria, tendo o autor participado
ativamente de todos os processos.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 1
AT NOSSA SENHORA'S HOUSE, I DRANK "MOCORORÓ" THAT WAS
PREPARED BY THE ENCHANTED
NA CASA DE NOSSA SENHORA, BEBI O MOCORORÓ QUE A ENCANTADA
PREPAROU
EN CASA DE NUESTRA SEÑORA, BEBÍ EL MOCORORÓ QUE PREPARÓ LA
MUJER ENCANTADA
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA1
e-mail: elton.ibrahin@gmail.com
How to reference this paper:
PANTOJA, E. I. de V. At Nossa Senhora's house, I drank
"mocororó" that was prepared by the enchanted. Rev.
Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008,
2024. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252
| Submitted: 11/07/2023
| Revisions required: 12/01/2024
| Approved: 02/04/2024
| Published: 30/09/2024
Editors:
Prof. Dr. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. Me. Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Paulo Carvalho Moura
Prof. Thiago Pacheco Gebara
1
Federal University of Amazonas (UFAM), Manaus AM Brazil. He holds a Master's degree in Letters from
the Graduate Program in Letters at the Federal University of Amazonas (PPGL-UFAM); a specialization in School
Management from Uniasselvi; and a Bachelor's degree in Music from the State University of Amazonas (UEA).
He is also a researcher in the fields of discourse analysis, anthropology of African matrix religions, and gender
and sexuality.
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 2
ABSTRACT: In the Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, located in the city of Manaus -
AM, the enchanted woman, Cabocla Mariana, annually presides over the mocororó ritual in her
honor and in devotion to the terreiro's patron saint. Using the principles of participation, cutting,
equivalence, and crossroads in the cults of saints and the enchanted, especially the Catholic and
the enchanted, this work looked at how these cults can be interconnected so that there is
equivalence between them and the mocororó ritual takes place. It is also with the aim of
recording the practices involved in the mocororó ritual and recovering the history of the rites
practiced in the enchantment of the Amazon region that this study is essential. Through
participant observation and the tradition of memories, combined with a religious ethnography,
I understood that as well as promoting the socialization of its participants, the mocororó ritual
has cultural and religious importance because it is an ancestral heritage from the Northeast.
KEYWORDS: Catholic. Enchantment. Indigenous. Mocororó. Religion.
RESUMO: No Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, localizado na cidade de Manaus
(AM), a encantada, Cabocla Mariana, preside anualmente o ritual do mocororó em sua
homenagem e em devoção a santa padroeira do terreiro. Usando os princípios de participação,
corte, equivalência e o encruzilhamento nos cultos a santos e encantados, principalmente, o
católico e a encantaria, este trabalho verificou como esses cultos podem se interligar para que
haja equivalência entre eles e o ritual do mocororó aconteça. Também visando registrar as
práticas que envolvem o ritual do mocororó e o resgate da história de ritos praticados na
encantaria da região amazônica é que esse estudo se faz importante. Com a observação
participante, a tradição das lembranças, unidas por uma etnografia religiosa, compreendi que
além de promover a socialização dos seus convivas, o ritual do mocororó tem importância
cultural e religiosa por ser uma herança ancestral nordestina.
PALAVRAS-CHAVE: Católica. Encantaria. Indígena. Mocororó. Religião.
RESUMEN: En el Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, situado en la ciudad de Manaus
- AM, la mujer encantada, Cabocla Mariana, preside anualmente el ritual del mocororó en su
honor y en devoción a la patrona del terreiro. Utilizando los principios de participación, corte,
equivalencia y fertilización cruzada en los cultos de santos y encantados, especialmente el
católico y el encantado, este trabajo estudió cómo estos cultos pueden interconectarse para
que haya equivalencia entre ellos y tenga lugar el ritual del mocororó. Este estudio también es
importante para registrar las prácticas involucradas en el ritual del mocororó y recuperar la
historia de los ritos practicados en el encantamiento de la región amazónica. A través de la
observación participante y de la tradición de los recuerdos, combinada con una etnografía
religiosa, me di cuenta de que, además de promover la socialización de sus participantes, el
ritual del mocororó tiene importancia cultural y religiosa por ser una herencia ancestral del
nordeste.
PALABRAS CLAVE: Católica. Encantaria. Indígena. Mocororó. Religión.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 3
Introduction
Manaus, a city shaped by the traditions and symbols of its indigenous peoples and the
migration flow of people mainly from the northeastern part of Brazil, holds many stories to be
told. It is with humility and satisfaction that I set out to narrate one of these stories in an
ethnographic framework. Part of this story stems from my recent experiences, especially from
my active participation in the rituals and celebrations of the Terreiro de Nossa Senhora da
Conceição, and my initiation at this Terreiro. Around July 2013, I had my first experience with
Candomblé, during a divination session that indicated the need for initiation to the orixá Oxum.
My initiation took place in November of the same year, and I completed my iaô (initiate) phase.
However, my participant observation began in 2021 when I started studying the anthropology
of religions at the Federal University of Amazonas (UFAM). Another part of this story comes
from the accounts of the house’s priest, who is also my babalorixá, using a “field diary, which
is a note-taking tool, a notebook with enough space for notes, comments, and reflections, for
the individual use of the researcher in their daily life” (Falkembach, 1987, n.p., our translation),
as well as a brief semi-structured interview.
Following Pereira’s (2017) ethnographic style, I chose to present the notes, quotes, and
transcriptions as they were written or spoken, in order to preserve linguistic variations, since
“in every linguistic community in the world, there is a phenomenon called variation, meaning
that no language is spoken the same way everywhere, and not everyone speaks their language
all the time” (Bagno, 2013, p. 68, our translation). Pereira (2017, p. 25) also discusses the
narratives that compose his research, referring to them as memories, individual recollections
that he revisited throughout his research, and organizes them according to the concept of
tradition of memories, as I outline below. Thus, [...] “I started this study, assuming my role in
this narrative as a ‘caboclowho ‘Once upon a time was paddling [...] and did not stop talking
(Pereira, 2017, p. 119, author’s emphasis, our translation).
The study of the tradition of memories promotes the systematization of the author’s
lived experiences. “Attention, therefore, turns to this ‘more general historical development’, to
the tradition of memories as a system or constellation of actions and events” (Mastrogregori,
2006, p. 69, our translation). These experiences, consequently, can only be understood through
the “real participation of the researcher with the community or group. The researcher becomes
part of the group, blending with it. They become as close as a member of the group being
studied and participate in its normal activities” (Marconi; Lakatos, 2003, p. 202, our
translation). Thus, my position is that of an insider researcher, who “uses the concept of insider
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 4
research as a non-absolute term intended to designate situations characterized by a significant
degree of initial proximity between the socio-cultural locations of the researcher and the
researched” (Hodkinson, 2005, p. 134, our translation).
The priest known as Alaomi de Oxaguiã is the founder of the Terreiro that is the focus
of this work, having approximately eighteen years of experience in Candomblé. However, his
spiritual life began much earlier as a caretaker in Umbanda, another term for pai de santo
2
”.
Even though he is recognized as a pai de santoin Umbanda and has received the cup
3
and
become a babalorixá in Candomblé, Alaomi prefers to distance himself from these terms,
understanding that, as an embodied man, he cannot claim the privilege of being a father of
entities or orixás. According to Kileuy and Oxaguiã (2014, p. 54-55), babalorixá is the
masculine term designating “the central figures of a Candomblé house, with their names
identifying them as the ‘father who cares for the orixá’, being the heads of the Axé.” Therefore,
Alaomi prefers to be recognized and referred to as a caretaker, priest, or spiritual consultant, as
he presents himself on various social networks, with the term priest being preferred for this
work.
Another aspect presented is Encantaria in the form of the encantado and encantada,
whose understanding is fundamental for the development of this work. Encantaria is the generic
term for the worship of enchanted beings or a locality, also known as encante”. Ferretti (2008,
p. 4, our translation) defines Encantaria as “places of great energy, of great power, of an
inexplicable force, or as places of great mystery, of much mironga
4
, of many secrets.”
Researchers Rocha and Filho (2020, p. 242) explain that “Encantaria is another form of Afro-
American spiritual and religious manifestation, practiced mainly in Piauí, Bahia, Maranhão,
and Pará. It can be associated with various religions present in these states, such as Pajelança
or Cura, or Terecô.” This versatility can also be explained by the presence of the cult in various
states across the country. The excerpt from Rocha and Filho highlights a gap in Encantaria
studies in the state of Amazonas, especially in Manaus and the metropolitan region, making this
research also the beginning of the recovery of the history of this rite in the region.
2
The pai de santo, also known as Babalorixá or Babaloxá, is a priest of Afro-Brazilian religions, responsible for
directing and guiding the cults in the terreiro.
3
The gourd is the primary symbol in the Candomblé hierarchy, which gives full religious powers to the initiate
and confers on him/her the role of priest/priestess (Kileuy; Oxaguiã, 2014, p. 52)
4
In Umbanda, it is a spell, a mystery, a secret, or a fight (Pinto, s.d. p. 127)
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 5
The Enchanted Beings and the Terreiro
In the cult, the enchanted being is a spirit capable of traversing both the earthly and
spiritual realms, but effectively inhabits an intermediate plane between the two. The enchanted
beings “present themselves to the religious community as individuals who lived on Earth many
years ago and who mysteriously disappeared or became invisible, having become enchanted”
(Ferretti, 2000, p. 15). In other words:
This refers to a category of spiritual entities received during mediumistic
trances, which cannot be observed directly or are believed to be seen, heard,
or sensed in dreams or in waking life by individuals endowed with
clairvoyance, mediumship, or extrasensory perception, as some prefer to call
it. These include voduns, gentis (noble) caboclos, and indigenous spirits who
reside in African or Brazilian enchantments and who embody in spiritual
children (Ferretti, 2008, p. 2, our translation).
Based on this, an ethnography of the mocororó ritual within the cult of the enchanted
beings was outlined, originally embedded in a celebration in honor of Nossa Senhora da
Conceição and the enchanted Cabocla Mariana. This study was conducted in the practice
Community
5
of Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, also known as Ààfin Ìyá Omi À
un, Temple of Oxum, in the municipality of Manaus, with the aim of understanding the
relationships manifested through the actions of its principal agents, namely the house, the
priest, the entity, and the spiritual children within this ritualistic and festive context. “By
proposing to describe the preparations for the festival [...], I am also describing the practices
and knowledge of the priest and his spiritual children in relation to the honored Cabocla”
(Pereira, 2017, p. 21, author’s emphasis, our translation), as well as the practice community
itself.
The community mentioned here has two names related to its modes of worship and
ritual practices, as if it assumed two “religious identities” within the same geographic space.
Chronologically, the first name is Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, in reference to the
Catholic saint of the same name, which is considered a center of Umbanda and has a
predominance of enchanted beings originating from the states of Pará and Maranhão. This
geographic proximity between the states of Amazonas, Pará, and Maranhão is due to the fact
that they were part of a political-administrative unit during colonial times called Grão-Pará and
5
[...] social construct, a community of practice, is different from the traditional notion of community, mainly
because it is defined simultaneously by its participants and by the practice in which they engage. In fact, it is the
practices of the community and the differentiated participation of its members in these practices that socially
structure the community (Eckert; Mcconnell-Gine, 2010, p. 102).
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 6
Maranhão, which also included Amapá, Piauí, and Roraima.
The other name of the Terreiro, referring to its affiliation with Candomblé, is Ààfin Ìyá
Omi À
un, which is devoted to the orixá Oxum. The terms are in Yoruba and can be
understood as: Ààfin: palace; Ìyá: mother; Omi: water; Àẹ: power; and
un, which is the orixá
Oxum. Thus, Ààfin Ìyá Omi À
un translates loosely to “Palace of the Mother of Waters,
whose power is Oxum.” In addition, “Temple of Oxumis another name used by the priest,
although this functions as an epithet for the house, but is no less important. Interestingly, these
“identities” coexist at crossroads, assuming varied characteristics within the same ritualistic
space, which are diverse and broad, while simultaneously being concentrated and unique.
On Novena Days
At the Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, or Ààfin Ìyá Omi À
un, the
preparations for the novenas begin in the late afternoon. Upon arrival, it is customary to greet
those present cordially, but without delay, rest the body, and wait for one’s turn to take the
baths. Before each novena, the house’s spiritual children and guests arrive and prepare
themselves for this moment of “prayer,” a term used by the faithful, with specific baths. First,
a bath prepared with “stinky leaves,” which, according to one of the house’s spiritual children,
“stinky bath” should not be applied to the head but can be used to wash the face. After a few
minutes, this bath is removed with running water. Following this, a bath of “pleasant leaves,”
or “fragrant bath,” is taken, which can remain on the body and dry naturally. These baths, made
from special herbs, serve as purifiers, with the first being for cleansing (stinky bath) of energies
considered negative, and the second to grant strength (fragrant bath), reactivating positive
energies and fortifying the devotee’s body and spirit. In other words, the “strength bath” is used
to “recharge” the positive energies lost with the “cleansing bath,” with no distinction between
energies.
After the baths, we wear white clothing, which in this Terreiro, due to having a priest
initiated in Candomblé, is called ração clothing
6
. At this time, beaded necklaces made of
glass or crystal beads, preferably white in reference to Oxalá, who, at the crossroads of
religions, represents the figure of Jesus Christ, are also worn. We then proceed to the barracão
7
:
6
Ration clothes are simple garments made of various fabrics, most commonly cotton, in white, which followers
wear in their daily activities in religious communities of African origin, mainly Candomblé and Umbanda. For
men, pants and a shirt are worn, and for women, a skirt and camisu (a type of gown).
7
A barracão is a large place, a geographical space in the yard, often similar to a large room or shed, intended for
religious meetings and celebrations.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 7
some members arrange the altar, while others discuss various topics as they wait for the house’s
priest to begin the prayers.
The novena period
8
is when the Terreiro’s practitioners begin their observances, which
include abstaining from specific foods, alcoholic beverages, places such as bars and cemeteries,
and, if possible, sexual activity. The purpose of these observances is to purify the body of
contrary or undesirable energies on the day of the ritual. Thus, for nine days, this will be the
necessary routine for the performance of the novena dedicated to Nossa Senhora da Conceição
and the mocororó ritual. According to Alaomi (2022), this ritual was established by the
enchanted Cabocla Mariana, also known as Bela Turca, in devotion to the Catholic saint after
whom the house is named.
It is noteworthy that not only the faithful have Catholic saints to whom they are devoted,
but the entities themselves also show fervent devotion to Christian figures. The constitution of
the people who worship in this house is so fluid and diverse that it is challenging to delineate
boundaries, as the knowledge spreads in a rhizomatic manner (Anjos, 2006, p. 21). In this
sense, what does it mean to be part of a house that is also a Terreiro, where orixás from Exu to
Oxalá, enchanted beings, feathered caboclos, cattle herders, sailors, old blacks, and entities like
gypsies, exus, and pomba-giras coexist within the same geographic and ritual space? It is to
live within this crossroads of ancestral knowledge, which intersects at various points but does
not merge or overshadow one another. As an entity, the Gypsy Salomé, told me: “Although
everyone works towards a common good, each in their department.” The gypsy’s words align
with the epistemology of the crossroads, which speaks precisely to this intersecting line, or as
Pereira (2017, p. 26), and I prefer to call it, the crossroads of knowledge and practices.
The ideology of racial democracy has fostered an image of Brazil as a country
of syncretism and racial miscegenation. According to this ideology, the image
of the crossing of differences is closer to a biological model, where different
species merge into a resultant that would be the mulatto synthesis. Afro-
Brazilian religiosity offers a different model for the encounter of differences,
which is rhizomatic: the crossroads as a meeting point of different paths that
do not fuse into a unity but continue as pluralities (Anjos, 2006, p. 21, our
translation).
This notion of the intersecting line appears to counter the concepts of “syncretism” or
“mestizaje,” which relate to the political projects of the nation. However, for a better
8
The novena takes place once a year, always from November 30th to December 8th, so that the last day coincides
with the day of the patron saint of Amazonas, Our Lady of the Conception. The celebration takes place every year
and is included in the temple’s festivities calendar.
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 8
understanding of the cosmopolitics of this house, it is necessary to provide a brief chronology
of the founder of this Terreiro, the priest Alaomi. From a young age, Alaomi exhibited his first
manifestations with the enchanted beings such as Cabocla Marina, Pai Zé Raimundo, Cabocla
Jandira, an “Indian,” and the Gypsy Salomé, an entity associated
9
with the gypsy lineage, or
even with the street people, the exus.
Alaomi continued to develop his mediumship by accompanying his mother, who was
an Umbandist, to the city’s macumbas.” However, according to the priest, the first formal
manifestation occurred at the house of a father of santo named Edivaldo, who was from Pará,
trained in Tambor de Mina, and worked with the enchanted beings Cabocla de Pena and
Cabocla Maria Mineira. It was through Father Edivaldo that Alaomi received his first
obligations in this tradition as a child. As the obligations were carried out at the Tarumã
waterfall and in the early morning, and due to the darkness, the priest recounts that he was very
scared, having had a manifestation of Cabocla Mariana there. In Alaomi’s words:
[...] at that time, the one who took the obligation during the baptism was
Caboca Mariana. I was still a child and was very afraid to enter the river. The
obligation was performed in the early morning, at the Tarumã, up at the top of
the waterfall, and it was very dark. I was scared, and the caboca helped me to
enter the river because I was afraid of snakes (Alaomi, 2022, s.p., our
translation).
Sometime later, he founded his banca, as a center or Terreiro was called in the past. At
that time, the priest was known as “Ramiro do Zé Raimundo,” alluding to the enchanted being
from the Família Légua Bugi Buá, a large family of enchanted beings from Codó, Maranhão.
Mr. Zé Raimundo performed his healings and requested that a small table be placed so that he
could conduct his prayers and curandagens
10
for clients. “He came every Thursday to bless and
teach remedies to the people who came to the center, all free of charge; the work was done out
of charity” (Alaomi, 2022, s.p., our translation).
The enchanted Cabocla Mariana was already serving clients and had a significant role
with the medium; she was the one who named the house after the Catholic saint and established
the mocororó ritual. Years later, Alaomi was initiated into Candomblé in Manaus for the orixá
Oxaguiã, a younger form of Oxalá. Two years later, he went to Salvador, where he stayed
intermittently for seven years, being spiritually adopted by Mãe Alda de ya of the Ilê Axé Opô
Ajimuda. From then on, he deepened his knowledge in Candomblé and Candomblé de Caboclo,
9
The lines are like energetic organizations, that is, vibrational distributions of energies that have the same purpose.
10
Curandagens is a neologism that designates acts of healing and blessing. The same as quackery.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 9
actively participating in festivals and obligations in various houses and nations in Salvador.
Upon returning to Manaus, Alaomi reopened and renamed the house, founding the Ààfin Ìyá
Omi À
un.
It appears that the constitution of the person as a priest is so synchronically reflected in
the sacred space that a small center, which is also a house, becomes a palace. As a center known
as the Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, it was presided over by Ramiro do Zé
Raimundo. Now, as a house of Candomblé, or a palace, it is presided over by Alaomi. There is
a noticeable growing flow between the cults; however, this does not constitute a hierarchical
structure but rather a combination of energies that facilitates the renewal of axé
11
. This
phenomenon can be analyzed considering the principle of cut:
[...] what is referred to as the “principle of cut” enables people, entities, and
things to undoubtedly live in two different worlds, avoiding tensions and
clashes: the clash of values as well as the contradictory demands of two
societies (Bastide, 1971, p. 517, our translation).
Thus, we can understand that things do not merge but coexist through this flow that
keeps them connected. The ritualistic space was presided over by Ramiro do Raimundo,
and the center was named Nossa Senhora da Conceição, who is also the patron saint of pregnant
women. It is noteworthy that the term “conceiçãomeans the act or effect of conceiving. Still
within the same geographical space, the same person, with the orúkọ
12
, named Alaomi, now
presides over a house of Candomblé, or a palace called Ààfin Ìyá Omi À
un, devoted to the
orixá Oxum, who is the deity of waterfalls, sweet water rivers, protector of the womb,
pregnancies, and children. Thus, “correspondences are born and die according to the times; but
variability is even greater when, instead of studying it over time, we study it in space” (Bastide,
1971, p. 371, our translation). In Alaomi’s words, we can see how correspondences materialize
the spaces:
To understand how things are, at that time, I was not yet in Candomblé, and
the spirit had already determined that the Umbanda center would be called the
Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, house of Mama Oxum, as is the
syncretism, and many years later, already in Candomblé in Bahia, the mãe de
Santo casting the divination shells for me says: Oxum is telling you that she
is the great love of your life, that she is your path and owner of your axé,
everything you do within the axé should be in her name. Even though I did
11
According to Kileuy and Oxaguiã (2014, pp. 40-41), “the term axé is, for the Yoruba people, an invisible power
that transmits a divine and untouchable energy that people only sense. Called hamba or nguzu by the Bantu nation,
and exá by the Fon people, the word axé became widespread, popularized and began to be accepted and used by
other sister nations. Axé is the force that produces growth”.
12
Orúkọ is the word in Yoruba that designates a name (Kileuy; Oxaguiã, 2014, p. 121).
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 10
not know that Oxum was the owner of my path, my odú, and my juntó, the
Cabocla Mariana had already read this destiny. Of course, the spirit has no
link with Candomblé, but she had already directed my faith to Oxum (Alaomi,
2022, s.p., our translation).
It is important to note that the correspondence occurs between Ramiro do Raimundo
and Alaomi of Oxaguiã, and between the Terreiro de Nossa Senhora da Conceição and the
Ààfin Ìyá Omi À
un. However, the relationship between the spirits, in this case, Seu Zé
Raimundo and Dona Mariana, with their respective “religious identities” of the center, is more
of a diplomacy (Latour, 2004, p. 410) between entities or something similar, as Mariana does
not correspond to Oxum in the same way that Nossa Senhora da Conceição does in the context
of the crossroads. It is interesting to note that, even without apparent correspondences in
Candomblé, a spirit presides over a cult in a house devoted to an orixá.
Sometime later, well-established in Candomblé, the priest learns through the divination
shells that Oxum, in addition to being his juntó(the second orixá), is also his path. Thus,
despite the priest understanding that the spirit has no link with Candomblé, based on the
principles presented, I could find a path for a certain correspondence. It is from this situation
of (re)cuts and equivalences that the connection between the Catholic saint, the Yoruba deity,
and all the mechanisms that make up this system, which synthesizes the cosmopolitics of this
center, can be understood. Thus, it is understood that:
[...] mystical participations operate within the different compartments of the
real [...] connecting only the objects or beings that bathe in the same
metaphysical current [...]. In summary, participation presupposes a prior
framework, a philosophy of the cosmos [...] For participation to be established
between a person, an object, a plant, a deity, etc., certain well-defined
conditions must be met. The current of unifying forces cannot pass between,
for example, a stone of Xangô, a plant of Oxossi, and a child of Oxun.
Participation does not operate in any direction; it is oriented, follows lines,
and what we call religion is the set of collective representations or rites that
designate the lines of force within which it can occur (Bastide, 1961, p. 337,
our translation).
Thus, what links the unifying current for participation to occur in the studied system is
the priest himself. He establishes participation between the person, the object, the plant, the
entities, the deities, the devotees, the house, and the Terreiro, essentially with all the
constituents of this cosmos. Therefore, the principle of participation can only occur because of
the principle of cut, which is constitutive of Afro-Brazilian relations. These principles,
therefore, highlight the compartments being traversed, not only in these relations but also in
the Amerindian ones, constituting Afro-Indigenous relations.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 11
It is through the principle of cut that classifications occur. Thus, when one set of
classifications is homologous to another set, the principle of equivalence comes into play. It is
precisely the principle of cut that operates equivalence and allows for the transition (movement)
between these worlds to take place. At another level, this space, which accommodates distinct
and interconnected cults, reflects the archetypal nature of the priest and vice versa. Depending
on the role played, and the rhythm of the drumming, the “turning drum”
13
, rotates and shifts
the dance so that the macumba can occur.
In this crossroads context, the promise made by Cabocla Mariana “on the head”
14
of
Alaomi, to the patroness of Amazonas, is fulfilled. Every December 8th, alongside the
celebration of Nossa Senhora da Conceição, which is also dedicated to the orixá Oxum of the
house, the festivities of Bela Turca are held, with one of the main points being the mocororó
ritual. “One cannot neglect to pray the mocororó so that no one in the house goes to n lọ
(Alaomi, 2022, s.p.), and this rule includes the priest himself. The expression “n lọ” originates
from Yoruba spoken by Candomblé practitioners, which loosely translates to “going,” but
connotes dying, making the passage, or even sending someone or something away. It is not
uncommon to hear an initiated Candomblé practitioner say “went to n lọwhen referring to
someone who has passed away. The annual observance of the mocororó ritual recalls the care
described by Flaksman (2018, p. 318, our translation), where “in Candomblé, the term ‘care
has another meaning: when it is said that someone needs to settle the saint, for example, or
even fulfill a minor obligation, the term used is always ‘to care", in addition to being an ẹbọ,
as the researcher reports, which serves to prevent many evils, including the most undesirable,
death.
After all this preparation, the priest, the children of the saint, and other guests kneel
before the already prepared altar and begin with the Catholic prayer of the Sinal da Cruz (Sign
of the Cross).” The right thumb is dipped in a small amount of holy water, placed in a small
container, and three crosses are marked: one on the forehead, another on the mouth, and another
on the chest, while reciting:
First cross: By the sign of the Holy Cross.
Second cross: Free us, God our Lord,
Third cross: From our enemies.
13
Tambor de virada, turning the drum or crossing, is the act that happens when the work lines are to be changed;
that is if in a function, they are working in the forest line and want to change to the street people line, the tambor
de virada is played. Definition made by the priest Alaomi.
14
In cabeça is an expression used by followers of religions of African origin to designate an entity manifested in
a medium, incorporated.
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 12
This initial prayer is followed by another, “In the name of the Father,” where another
cross is traced, this time connecting vertically from the forehead to the abdomen, and from the
left shoulder to the right shoulder, concluding with an “Amen,” which may be said with hands
over the heart, touching the mouth, or joined in a prayer position, saying: “In the name of the
Father, the Son, and the Holy Spirit. Amen.” The first to perform this act is the priest, who
passes the holy water to one of the children, who then passes it to a sibling, and so on to all
those present at the occasion. Concurrently with this first act, the priest makes brief prayers of
gratitude for the day, the year, and the blessings received. After everyone has marked their
foreheads, the rosary of the novena is initiated in accordance with Catholic tradition. The
attendees kneel and face the altar.
The altar is similar to an altar devoted to Catholic saints, as they are the same. It is the
place where the images of the saints honored by the house are arranged and organized according
to a simple principle. The main devotion image is Nossa Senhora da Conceição, adorned with
rosaries and ribbons of requests and promises, from which the others are arranged. To the left
of the main image, in a smaller size, are the images of Jesus Christ (typical of Umbanda with
arms slightly outstretched forward, showing the wounds), Santo Antônio, and a candlestick
with cherubim. To the right are the images of Santa Bárbara, a small image of Santa Luzia, and
an identical candlestick. In the center, there is a seven-day candle and, occasionally, a strength
candle, both white. Also on the altar is a small glass bottle with holy water, a white cloth
covering the table, and a Bible in the Pastoral edition, containing loose sheets of paper with
hymns and other prayers used in the novena. It is important to note that the saint of devotion,
Nossa Senhora da Conceição, Oxum at the crossroads, is the devotion of the spirit, the spiritual
matriarch of the house, Cabocla Mariana. She comes to the head of the priest of the center once
a year to preside over the Ritual of Mocororó.
The Mocororó Prepared by The Enchanted One
Mocororó has its origins with the Indigenous peoples, long before the European
occupation of Brazil and the subjugation of the cultures that existed here. “This preference of
the Indigenous peoples for this drink was already observed by the Portuguese during the time
of colonization” (Pereira, 2011, s.p., our translation). Today, the word "mocororó" refers to a
variety of beverages produced from the fermentation, to varying degrees, of products such as
cashew, cassava, and rice, as described in the Bulletin of the Maranhão Folklore Commission
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 13
(2007, p. 12, our translation): Mocororó a drink made from cashew juice fermented outdoors
for four days in Ceará. In Maranhão, it is a beverage made from cassava or rice.” This drink is
closely linked to religious festivities that are either independent of or rooted in the intersection
of Catholic Christian and Amerindian cultures. Other names for mocororó include makururu,
macururu, and tarubá (Bulletin of the CMF, 2007; Santos, 2010).
In Ceará, mocororó made from cashew is used in the Torém, a ritual dance of the
Tremembé ethnic group, during which several liters of the beverage are served. “This
Indigenous group is known for their exceptional craftsmanship and the production of
mocororó, a drink made from cashew, and for their unique dance, the Torém, which has brought
them social distinction and notoriety” (Pereira, 2011, s.p., our translation). However, “this
beverage is not only consumed during the ritual; it is also enjoyed during the day as a form of
leisure, especially during the cashew season” (Pereira, 2011, s.p, our translation.). The drink
holds significant importance for the Indigenous peoples of the Ceará coast, as “among the
ethnic groups that make up the Indigenous Movement of Ceará, at least nine of them produce
and/or consume mocororó: Anacé, Tapeba, Pitaguary, Jenipapo-Kanindé, Potyguara,
Tremembé, Kariri, Gavião, and Tubiba Tapuya(Santos et al., 2020, p. 174, our translation).
In Maranhão, this drink is made from rice, and it appears that in the past it was widely
popular and appreciated. As stated in an editorial from the Bulletin of the CMF (2007, p. 2, our
translation):
In this issue of the Bulletin, recipes for cuxá, batipuru rice, and some
traditional beverages in Maranhão cuisine, including mocororó, which was
once widely sold in São Luís but seems to have disappeared, are provided.
However, this beverage, once taken to the Amazonas by priestesses, is now
consumed ritually in Mina terreiros in the Amazon that are connected to
Maranhão's tradition.
It is noted that Alaomi, the priest of the Temple of Oxum, began his religious life in a
Terreiro of the Tambor de Mina tradition, as previously mentioned.
Elsewhere, the Bulletin of the CMF (2007, p. 7, our translation) recounts the testimony
of a São Luís resident, “born in 1907, in Memória de velhos, v. II, p.177-178, where he
describes street vendors in the city: ‘There were old sweet sellers, Black women who sold
sweets on the corners at night […]. There were mocororó sellers […] and fish sellers […].’”
The bulletin also includes an observation from historian Câmara Cascudo, who states:
“Regarding Mocororó, Câmara Cascudo, commenting on aluá or aruá, remarks: ‘Jacques
Raimundo cites Maranhão's mocororó as an equivalent, but Domingos Vieira Filho describes
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 14
it as ‘a kind of porridge made from rice’” (Bulletin of the CMF, 2007, p. 12 apud Câmara
Cascudo, 2004, p. 832, our translation). The magazine also provides a recipe for mocororó or
macururu:
Plant 1 or 2 handfuls of rice in the husk in advance and wait for it to sprout.
Once sprouted, prepare a thick porridge of rice flour separately and let it cool.
Then take the sprouted seeds, carefully wash the shoots, pound them in a small
wooden mortar, strain the resulting juice, and pour it into the container with
the porridge. Store it away from light and heat, and wait for fermentation,
which usually takes 48 hours. The drink is ready, already sweetened by the
sugars produced during the starch fermentation and slightly alcoholic
(Boletim da CMF, 2007, p. 21, our translation).
In a note, the Bulletin reports that the recipe was:
[...] transcribed from the book Pecados da Gula: Receita (LIMA, 1998, v.2, p.
100), as a drink of Indigenous origin. The recipe was obtained by Zelinda
Lima from Ana Amélia Lima. Augusto Aranha references mocororó in
Memória de Velhos, v. II (p. 177), as a cold, delightful drink sold by Black
women who walked the streets shouting: 'mocororó, mocororó!(Boletim da
CMF, 2007, p. 21, our translation).
According to researcher Luíndia (2002, s.p.), a drink called mukururu is used in the
Çayré
15
, “a religious and secular celebration held in Alter do Chão, Santarém, a micro-region
of the Middle Amazon in Pará,” and the origins of this festival come from the tradition of the
Borari Indigenous people who inhabited the Santarém region. She divides the Çairé celebration
into moments called cunho,” and mukururu is used specifically in the religious aspect that
encompasses the customs of the Indigenous peoples and missionaries.
Religious aspect: the religious festival is highlighted, where the Çairé was
used in religious celebrations for Our Lady of Health and St. Joseph (January
6 and 7). On these days, the Indigenous people would perform religious
salutations, customs introduced by the missionaries. Initially, the festivity was
called Çairé or Turiúa. It consisted of a procession of women carrying the
Çairé. During the saint’s celebration, they would raise an altar where the
miraculous image was placed, with the Çairé at its feet. Alongside the house,
they would prepare a large hut where dinner was served, and some dances
were performed. Days before the celebration, large quantities of “tarubá or
mukururu” (fermented cassava drink) were prepared, which was considered
the soul of the festival (Luíndia, 2002, s.p., our translation).
15
“The Çayré is a wooden semicircle measuring 1.40m in diameter that represents Noah’s ark. It contains two
smaller arches placed on the larger diameter. This symbolic object is decorated with ribbons of different colors,
beautiful red and white feathers, mirrors, and other ornaments. Its purpose was to perpetuate and further establish
the [Christian] religion among the Indians. It perpetuates the flood and the three persons of the Holy Trinity”
(Luíndia, 2002, n.p.). Other forms of writing: sayré, sairé.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 15
At the Nossa Senhora da Conceição Terreiro, mocororó is prepared in a manner similar
to the Maranhão tradition, with its ingredients being white rice, coconut milk, sugar, ginger
(known in the Amazon as mangarataia), fennel, and cloves. The eldest sister in the religion,
who is properly observing the precepts, is responsible for preparing the drink. On the
penultimate day of the novena, she, dressed in white and with a headscarf, begins the
preparations. First, she lights a white candle at the sacred tree of the Terreiro, asking permission
from the “owners of the house,” the guides, and the ancestors. Then, in a regular pot, she cooks
the rice on a gas stove, owing to modern convenience, though “things made on the fire always
have more strength” (Alaomi, 2022, s.p., our translation).
There are siblings who simply observe, and in between light conversation or a question
answered by the priest, they learn the process. Other siblings help as much as they can, under
the guidance of the elder sister. With a piece of cloth or even a clean napkin, a small pouch is
made to crush the fennel and cloves. The mangarataia can be grated, processed, or even
crushed, depending on the moment or how far along the preparation is. Once the rice is cooked,
it is processed in a blender and returned to the pot so that the other ingredients can be mixed in
and cooked together for a while. If the mixture becomes too thick, water is gradually added so
that it does not become too watery.
After everything is ready, at the base of the tree and on a tamborete
16
covered with a
white cloth, the porridge is left to rest for twenty-four hours. In front of this small, improvised
altar, a glass of clean water and a white strength candle are placed. The sister who prepared it
asks that the mocororó not sour, as “in the past, when the mocororó soured, the person who
prepared it had to drink it all without leaving any” (Alaomi, 2022, n.p., our translation). The
sister was concerned that everything would go well because if the mocororó spoiled, besides
the sourness, after everything is done, the food yields at least a few liters, and despite her fear,
the sister recounts that the mocororó never spoiled. This entire process takes place after a
novena, specifically the penultimate one.
Thus, after the twenty-four hours of the final night of the novena, which falls precisely
on December 8th, the day dedicated to the patron saint of the city of Manaus, Nossa Senhora
da Conceição, the mocororó ritual also takes place. The novena is recited as usual, in the
Catholic style, and a litany devoted to the saint of the day is typically sung. After this more
Christian part, the space is purified with smoke. In an improvised censer, an old, lidless pressure
cooker, hot coals, already prepared beforehand, are placed along with the incense prepared by
16
A Tamborete is a bench or stool made of wood.
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 16
the house’s priest.
First, the priest smudges the altar of the saints and then proceeds to purify each person
present. In line, first facing forward with arms open, the devotee is smudged on the left side,
then the right, and then turns to the left; once facing backward, the smudging process is
repeated. Finally, the censer is brought to the floor, and facing the devotees, they smudge their
hands by crossing them over the smoke, then their feet, one at a time, as they each pass in front
of the priest. During this process, ritualistic objects like maracas, the devotees’ swords
17
, and
items to be used in the ritual, including the mocororó itself, may also be smudged. This part of
the process is accompanied by smudging songs, the most common being:
Smudge with the herbs of Jurema.
Smudge with rue and guinea,
Benzoin, rosemary, and lavender.
Let’s smudge the faithful children.
This song evokes the energies of Jurema, which refers to both an enchanted being and
a state of enchantment, for the “cleansing” of the space. From this point, the calling songs
begin, in this case, to summon Cabocla Mariana, who will preside over the mocororó ritual.
After the entity manifests in the house’s priest, Dona Mariana, as we call her, begins putting
on her liturgical garments while speaking, giving messages, and offering scoldings with the
intimacy of someone who feels like family, and in truth, she is. She also asks for something to
drink and smoke, speaking in a jocular tone: “Give me a pumosa
18
, for I am parched, parched,
parched... Because it’s been so long since I’ve had a drink.Despite the spontaneity of the
entity’s speech, the ritualistic atmosphere envelops the gathering. After a few songs and some
words with the devotees, Dona Mariana asks for the space to be prepared for the ritual.
Thus, with a white cloth spread on the ground, the main ritual space is formed. At the
end of the cloth closest to the altar, the candle, the glass of water, and the porridge that has been
resting are placed. The Bela Turca approaches with her chair, blowing smoke, shaking
maracas, singing songs, and offering prayers to God and Our Lady of Conceição. In this way,
she transforms the porridge into mocororó, the consecrated food. Next to the entity stands an
assistant, holding a basin of clean water halfway filled and several regional gourds to serve the
drink. From this point, the faithful, one by one, approach, bow, and lie fully on the white cloth
17
The sword (plural swords) is a rectangular piece of fabric, usually satin, adorned with satin or polyester fringes,
an instrument that, due to its versatility, serves as protection, a means of demanding, shaking, and dispatching.
18
Pumosais a linguistic variant used by incorporated entities. It comes from the word esfomosa, which refers
to the foam on beer, which is the most popular drink at parties for enchanted beings and entities.
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 17
in an act of reverence.
Dona Mariana shakes her maraca and blesses the person, who then takes a kneeling
posture, bending the torso and resting the elbows on the legs or the ground, waiting to be served.
Using one gourd as a ladle, the entity fills another gourd, which is handed to the person, who
drinks while receiving blessings from the master of the ceremony. The gourd is returned to the
entity, who passes it to the assistant, who washes it in clean water to be reused. Having
participated in this ritual a few times myself, I can say that mocororó is a mildly sweet porridge,
with the flavor and aroma of the spices within it, especially the anise, and a grainy but soft
texture due to the processed rice. This process is repeated until the last devotee has taken the
mocororó. The remaining food and the water used to wash the gourds are reserved under a tree
to be disposed of the next day in a suitable location designated by the enchanted entity.
The moment of sharing the mocororó is accompanied by a specific chant, like a
responso
19
hymn, led by Cabocla Mariana:
Mariá, marió
Graças a Deus de mocororó
O’joni baba, o’joni baba
The transcriptions provided here approximate the pronunciation of the chant. Alaomi
(2022, n.p.) suggests that this chant may be in reverence to the ancestors, as there is a common
greeting to Bàbá Egun, often heard during egun festivities in Bahia. There, they refer to
Candomblé as Bàbá:
Ibó Leribô
Atelerió
Ê Bàbá Mariô
Rei, rei, rei.
In all these greetings, people shout when Bàbá enters the hall or gathering space. In José
Beniste’s book Ò run - Àyé: The Meeting of Two Worlds” (2020, p. 43), there is a greeting to
the “lord of the day”: Ọlọjó Oní, mo júbà o”, which translates as “Lord of this Day, my
respects, I salute you.” Thus, the word ‘baba’ may refer to ‘bàbá,’ which is used in Candomblé
19
Response or responsorial, coming from the responsorial psalm of the office of the Catholic Holy Mass, “the
name responsorial given to this psalm comes from the way in which it is generally performed: the psalmist reads
or sings the verses of the psalm, while the assembly intervenes with a response, that is, a refrain or antiphon
(Melo, 2011, p. 41, our translation).
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 18
to designate father and lord. This word, originating from Yoruba, also designates the deity of
the masculine ancestry worship called Bàbá Egunin Candomblé. Some translate Egun’ as
‘bone,’ while in Yoruba, the word Ègún’ can mean curse or evil. However, in the context of
the mocororó ritual, the enchanted Cabocla Mariana might evoke a variant of this Yoruba
greeting to honor the lord, or rather, the lady of the day, herself, the lady of the festival.
Furthermore, in some nations, enchanted entities may be understood as Egun.” Perhaps the
meanings embedded in this word, buried by time, have generated the care and rituals required
for the execution of the mocororó ceremony.
Final considerations
When I began this research, I could not have imagined the extent to which beverages
and/or foods named mocororó are used. The history of this drink, which starts with the
indigenous peoples of northeastern Brazil, particularly in Ceará and Maranhão, extends through
Pará and reaches as far as the Amazon. It carries with it an almost inexhaustible wealth of
ancestral cultural and religious knowledge. Mocororó has served traditional peoples, Afro-
Indigenous, and Amerindian cultures as a source of resistance and memory, as well as a ritual
drink that sets the tone and establishes a connection with the spiritual world.
Other connections occur, such as the equivalence between the veneration of Catholic
saints and the worship of orixás in Umbanda and Candomblé. However, this equivalence does
not result in what has been canonized as syncretism, since each classification system operates
distinctly from the other, and equivalence occurs as the priest exercises their agency. The
concept of the crossroads also functions in linking these worship practices, yet without
collapsing their boundaries of distinction. The worship of the Catholic saint and the African
orixá coexist in the same space/time, but one does not become the other, nor do they form a
new practice; they simply equate for the ritual of mocororó to take place.
In the Terreiro of Our Lady of Conceição, the mocororó ritual, seemingly simple, brings
with it the remembrance of the ancestors and renewal for the days ahead, while also fostering
socialization, integration, and brotherhood among participants. In this house, mocororó is
undoubtedly a cultural and religious heritage from the northeastern region of Brazil, which has
crossed into the northern states and found its place here in the humble yet powerful Temple of
Oxum, in the city of Manaus.
Thus, a small house can hold within its cosmos an infinity of universes: people, priests,
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 19
initiates, ancestors, entities, cultures, timespast, present, and futurealong with the rites.
The house returns all of this, to the cosmos and to the people, processed through a cycle of
practices and Energy. And so, in the house of Our Lady, I drank the mocororó that the
enchanted one had prepared.
REFERENCES
ALAOMI. Texto sobre a Casa de Nossa Senhora da Conceição no Facebook. Manaus, 07
dez.2020. Facebook: Axé Palácio de Oxum Manaus. Available at:
https://www.facebook.com/323745411899253/posts/729433054663818/. Accessed in:23
Dec. 2021.
ALAOMI. Série de entrevistas. [dez. 2021 a jan. 2022]. Entrevistador: Elton Ibrahin de
Vasconcelos Pantoja. Manaus, 2022.
ANJOS, J. C. dos. No território da linha cruzada: a cosmopolítica afro-brasileira. Porto
Alegre: Editora da UFRGS/Fundação Cultural Palmares, 2006.
BAGNO, M. Preconceito Linguístico: o que é e como se faz. 55. ed. São Paulo: Edições
Loyola, 2013.
BASTIDE, R. O Candomblé da Bahia (Rito Nagô). São Paulo: Cia das Letras, 1961.
BASTIDE, R. As Religiões Africanas no Brasil. São Paulo: Pioneira, 1971.
BENISTE, José. Òrun Àyé: o encontro de dois mundos: o sistema de relacionamento nagô
yorubá entre o céu e a Terra. 14. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2020.
BOLETIM DA CMF. Comissão Maranhense de Folclore, Maranhão, n. 38, 2007. Available
at: https://www.cmfolclore.ufma.br/arquivos/e56879d03c365b0948a2a15e3b1fb3df.pdf.
Accessed in:24 Dec. 2021.
CÂMARA CASCUDO, L. da. História da alimentação no Brasil. 1. ed. São Paulo: Global,
2004.
ECKERT, P.; McCONNELL-GINET, S. Comunidades de práticas: lugar onde co-habitam
linguagem, gênero e poder. In: OSTERMANN, A. C.; FONTANA, B. Linguem. Gênero.
Sexualidade: clássicos traduzidos. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
FALKEMBACH, E. M. F. Diário de campo: um instrumento de reflexão. Contexto e
Educação, Ijuí, v. 2, n. 7, p. 19-24, jul./set. 1987.
FERRETTI, M. Encantados e encantarias no folclore brasileiro. In: Seminário de Ações
Integradas em Folclore, 6., 2008. Anais [...]. São Paulo, 2008. Available at:
https://repositorio.ufma.br/jspui/bitstream/1/198/1/Encantados%20e%20encantarias.pdf.
Accessed in:06 Dec. 2020.
At Nossa Senhora's house, I drank "mocororó" that was prepared by the enchanted
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 20
FERRETTI, M. Maranhão encantado: Encantaria maranhense e outras histórias. São Luís:
UEMA Editora, 2000.
FLAKSMAN, C. Culpa e cuidado no Candomblé baiano. Revista do Instituto de Estudos
Brasileiros, [S. l.], n. 69, p. 307-323, abr. 2018.
HODKINSON, P. “Insider research” in the study of youth cultures. Journal of Youth
Studies, [S. l.], 2005, 18:131-149. DOI: 10.1080/13676260500149238. Available at:
https://www.researchgate.net/publication/240533016_%27Insider_Research%27_in_the_Stu
St_of_Youth_Cultures. Accessed in:06 Dec. 2023.
KILEUY, O.; OXAGUIÃ, V. de. O Candomblé bem explicado: nações Banto, Iorubá e
Fon. Organização Marcelo Barros. Rio de Janeiro: Pallas, 2014.
LATOUR, B. Por uma antropologia do centro. [Entrevista concedida a] Renato Sztutman e
Stelio Marras. MANA, [S. l.], v. 10, n. 2, p. 397-414. 2004. Available at:
http://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/1392. Accessed in:09 Dec. 2023.
LUÍNDIA, L. E. A. Çairé (PA): Espaço e reinterpretação pela mídia. In: Congresso Anual em
Ciência da Comunicação, 25., 2002, Salvador. Anais [...]. Salvador: [s. n.], 2002. Available
at:
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2002/congresso2002_anais/2002_NP17AZEVE
DO.pdf. Accessed in:23 Dec. 2021.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. A. Fundamentos da metodologia científica. 5. ed.
São Paulo: Atlas, 2003.
MASTROGREGORI, M. Historiografia e tradição das lembranças. In: MALERBA, J. (org.).
A história escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo: Contexto, 2006. p. 65-93.
MELO, J. R. de. A missa e suas partes: para celebrar e viver a eucaristia. 1. ed. São Paulo:
Paulinas, 2011. (Coleção Jesus mestre).
PEREIRA, A. L. da C. A Cabocla Mariana e a sua Corte Ajuremada: modos de pensar e
fazer festa em um Terreiro de Umbanda em Santarém, Pará. Orientador: Marcio Goldman.
2017. Dissertação (Mestrado em Antropologia Social) Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2017. Available at: http://objdig.ufrj.br/72/teses/848861.pdf.
Accessed in:10 Mar. 2021.
PEREIRA, A. S. M. A dança do Torém dos Tremembé de Itarema-CE. Fortaleza: UFC,
2011. Available at:
http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/20909/3/2011_eve_asmpereira.pdf. Accessed in:
23 Dec. 2021.
PINTO, A. (org.). Dicionário da Umbanda. 6. ed. [S. l.: s. n.], [21--].
ROCHA, D.; FILHO, V. S. Ritualística umbandista, candomblecista, terecozeira, da
encantaria e pajelança amazônica e as casas/terreiros de palmas. Revista Humanidades e
Elton Ibrahin de Vasconcelos PANTOJA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024008, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.18252 21
Inovação, [S. l.], v. 7, n. 15, p. 241-249, 2020. Available at:
https://revista.unitins.br/index.php/humanidadeseinovacao/article/view/2996. Accessed in:02
Nov. 2020.
SANTOS, C. C. A. do A. Identificação da microbiota e caracterização físico-química da
bebida fermentada caxiri produzida pelo povo Juruna (Yudjá), Mato Grosso, Brasil.
Lavras, MG: UFLA, 2010.
SANTOS, C. M. dos; LIMA, A. E. F.; MORAIS, A. C. da S.; FERREIRA, M. de C. O
mocororó e sua importância para os povos indígenas do litoral cearense - resistência e
espiritualidade nos modos de fazer e consumir. In: PEREIRA, D.; SANTO, J. de P. do E.
(org.). Culturas e história dos povos indígenas. Ponta Grossa, PR: Atena, 2020. Available
at: https://sistema.atenaeditora.com.br/index.php/admin/api/artigoPDF/39618. Accessed in:
06 Jan. 2022.
CRediT Author Statement
Acknowledgements: Not applicable.
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: Not applicable.
Availability of data and material: Available upon request via the author's email.
Author contributions: This article is solely authored, with the author actively participating
in all stages of the process.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.