Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.18350 1
ENTREVISTA COM DEBORAH LUPTON
ENTREVISTA CON DEBORAH LUPTON
INTERVIEW WITH DEBORAH LUPTON
Deborah LUPTON1
e-mail: d.lupton@unsw.edu.au
Maycon Noremberg SCHUBERT2
e-mail: maycon.schubert@gmail.com
Marília Luz DAVID3
e-mail: marilia.david@ufrgs.br
Daniel Coelho de OLIVEIRA4
e-mail: daniel.oliveira@unimontes.br
Arthur Saldanha dos SANTOS5
e-mail: arthursaldanha.ufrgs@gmail.com
Como referenciar este artigo:
LUPTON, D.; SCHUBERT, M. N.; DAVID, M. L.;
OLIVEIRA, D. C.; SANTOS, A. S. Entrevista com Deborah
Lupton. Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp.
1, e023011. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.18350
| Submetido em: 04/07/2022
| Revisões requeridas em: 06/02/2023
| Aprovado em: 08/03/2023
| Publicado em: 23/08/2023
Editores:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Profa. Me. Aline Cristina Ferreira
Prof. Me. Mateus Tobias Vieira
Prof. Me. Matheus Garcia de Moura
1
The University of New South Wales (UNSW), Sydney Australia. Professora do Centre for Social Research in Health
and the Social Policy Research Centre.
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brasil. Professor Adjunto no Departamento
de Sociologia.
3
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brasil. Professora Adjunta do Departamento
de Sociologia.
4
Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), Montes Claros MG Brasil. Doutor em Ciências Sociais.
Professor do Departamento de Ciências Sociais da UNIMONTES.
5
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brasil. Doutor pelo Programa de Pós-
Graduação em Sociologia. Atualmente realiza pós-doutorado junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
UFRGS.
Entrevista com Deborah Lupton
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.18350 2
O seu trabalho é muito importante para nossa pesquisa, aqui no Brasil. Então essa é uma
ótima oportunidade para a gente te escutar e saber um pouco mais sobre o seu trabalho.
Talvez a gente possa começar a fazer nossa pergunta introdutória, especialmente para os
leitores que não estão familiarizados com o seu trabalho. Gostaria que você falasse um
pouco sobre a sua carreira e interesses de pesquisa. Como você entrou para ciências
sociais e, particularmente, como você começou sua pesquisa em sociologia digital, cultura
alimentar digital e ativismo alimentar no meio online?
Sim. Essa é uma grande questão. Então, o meu interesse nas ciências sociais começou
no Ensino Médio. Eu sempre tive interesse em matérias como história e literatura inglesa.
Sempre li muita ficção literária, eu estava realmente interessada era nos aspectos da dimensão
cultural da vida das pessoas. Estudar ciências sociais e literatura inglesa no Ensino Médio, eu
acho que, na verdade, tem uma forte relação entre as áreas, pois ambas entendem a vida das
pessoas, experiências e sentimentos. De qualquer modo, quando eu entrei na Universidade, eu
comecei a estudar novamente ciências sociais, literatura inglesa e antropologia. Estudei um
pouco de biologia humana, porque eu sempre fui interessada em biologia. Durante a escola, fui
uma ótima aluna de biologia, assim como das ciências humanas. Além disso, estudei um pouco
da biologia humana no primeiro ano da universidade, nisso, em vez de antropologia cultural,
converti meu estudo em biologia antropológica no meu trabalho final de graduação. Me formei
em bacharel em artes, sociologia e literatura inglesa. Portanto, eu acho que eu sempre tive esse
interesse em estudar sociologia e antropologia relacionado à saúde, doenças e a saúde pública.
Teve um tempo, no meio dos anos 80, quando o HIV foi, você sabe, foi a primeira
década da AIDS. Então, o primeiro caso de HIV identificado foi em 1981. Nessa época, foi
quando começou a se preocupar com isso. Quando o primeiro caso foi apresentado,
infelizmente, como você sabe, teve muita estigmatização, principalmente dos homens
homossexuais, mas também foram estigmatizados grupos marginalizados como usuários de
drogas injetáveis. Pessoas que contraíram HIV e acabavam morrendo, infelizmente, porque não
havia cura para isso nos anos 80. Mas quando, pelo menos na Austrália e, alguns países
similares a Austrália que tinham o inglês como idioma oficial, como o Reino Unido, Estados
Unidos e Canadá, nos anos 80, esses países começaram a se preocupar e incluíram a todos como
grupo de risco para contrair HIV, tanto os homossexuais quanto heterossexuais.
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Muitos cidadãos australianos direcionaram sua atenção para os potenciais riscos
associados à contração do vírus do HIV e da AIDS. Subsequentemente, dediquei-me a uma
pesquisa aprofundada sobre as atitudes manifestadas por indivíduos heterossexuais portadores
do HIV/AIDS. Posteriormente, prossegui com a realização de um mestrado em Saúde Pública.
Ao iniciar esse percurso acadêmico, aprendi sobre epidemiologia, bioestatística, economia da
saúde e promoção da saúde. Mas, como alguém que veio originalmente das ciências sociais,
cheguei com um olhar muito crítico, diferente de outros estudantes que vieram das ciências da
saúde.
Esses colegas buscavam uma reconversão profissional visando ingressar no campo da
saúde pública, notadamente em áreas como medicina, enfermagem ou similares. Eu, como
alguém critica, tendo formação em ciências sociais, não podia acreditar no tipo de suposições
sobre comportamentos humanos que nos foi ensinado sobre promoção da saúde. Diziam que “o
povo é ignorante”, “as pessoas precisam de estímulo”, “necessitam de educação”, “precisam de
persuasão” para se tornarem cidadãos saudáveis. Naquela época, dado o meu envolvimento com
a teoria da codificação, estabeleci conexões entre a obra de Michel Foucault e conceitos ligados
à individualidade, tais como o autogerenciamento e a governabilidade, e explorando a
intersecção desses conceitos com o funcionamento da saúde pública, observei como essa área
operava por meio do estímulo à autorresponsabilização.
Então, finalizei o mestrado em Saúde Pública e continuei na Faculdade de Medicina
para fazer meu doutorado, onde estudei através das ciências sociais e da análise do discurso,
como a imprensa australiana retratava o HIV e a AIDS. Procurei trazer todo meu conhecimento
anterior que eu tinha nesse assunto, mas continuando no contexto da saúde pública. E então,
sim, foi isso que fiz na minha tese de doutorado. Quando terminei, consegui meu primeiro
emprego como professora, lecionando na área da comunicação da saúde, em uma escola de
comunicação e estudo de mídia. Desde então, tenho trabalhado na comunicação da saúde
pública, estudos de mídia, sociologia e estudos culturais. Foram perspectivas diferentes que tive
na minha formação, e isso me moveu para diferentes tipos de disciplinas. Portanto, sempre fui
interdisciplinar. Agora tenho interesse no lado digital das coisas. Enfim, basicamente minha
formação é em sociologia da saúde e medicina.
Tenho idade suficiente para recordar vividamente a aquisição dos computadores
originais da Apple pela biblioteca da Universidade, ocasião em que reservamos uma sala
especial para a sua utilização. Naquela época, esses computadores se assemelhavam a
processadores de texto aprimorados. Anteriormente, a escrita era realizada manualmente ou por
Entrevista com Deborah Lupton
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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meio de máquinas de escrever, correto? De forma abrupta, surgiu este magnífico processador e
nos foi permitido agendar seu uso. Dispúnhamos de uma hora para redigir nossas atribuições e
imprimi-las de modo elegante. À medida que os computadores pessoais passaram a se
popularizar e o e-mail foi introduzido, começamos a utilizá-los, provavelmente nos primórdios
da década de 90. Inicialmente, passamos a empregar computadores pessoais para elaborar
planilhas, redigir textos e acessar o e-mail. Ademais, durante um período em que a internet
ainda não havia sido estabelecida, restringíamos o uso desse sistema tecnológico ao ambiente
do escritório.
Fiquei significativamente intrigada por este tópico, uma vez que meu interesse profundo
pelo corpo humano e suas interações com o ambiente natural ressalta-se de maneira notável.
Consequentemente, comecei a discernir um apreço por vírus, como exemplificado pelo caso do
HIV, um agente viral. Meu interesse específico direcionou-se para a compreensão das
representações metafóricas associadas aos vírus em minha pesquisa concernente ao HIV/AIDS.
Em meados dos anos 90, testemunhou-se uma crescente inquietação no âmbito dos vírus
informáticos, juntamente com a propagação potencial dessas entidades entre os dispositivos.
Naquela época utilizava disquete, pois os computadores não estavam realmente conectados uns
aos outros. Surgiu, assim, o fenômeno de compartilhamento de disquetes infestados por vírus
entre computadores, instigando analogias metafóricas. A pesquisa empreendida concentrou-se
na exploração da dinâmica que molda nossa compreensão sobre a interação dos nossos corpos
com os computadores pessoais, delinear o paralelo entre a concepção dos nossos computadores
afligidos por vírus e a percepção dos nossos corpos acometidos por enfermidades.
Estava consolidando toda a minha experiência sociológica, a qual abrangia o âmbito da
sociologia digital, embora naquela época não utilizássemos a nomenclatura “sociologia digital”,
mas sim termos como “ciberespaço”, “cibercorpos” ou “cibermundo”. Você sabe, era tudo
muito cibernético na década de 1990. Então comecei a escrever. O meu interesse pela saúde
efetivamente convergiu para uma atração direcionada à computação digital. Nesse contexto,
empreendi um projeto que investigava a maneira pela qual as pessoas incorporavam seus
computadores pessoais nas esferas profissional e doméstica de suas vidas. Foi dessa maneira
que meu interesse se aprofundou em relação a esses aspectos inerentes à utilização cotidiana de
tecnologias digitais, no tocante à saúde, bem como a outros elementos relacionados à vida
quotidiana.
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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Estamos curiosos para saber quando a comida começou a fazer parte do seu interesse de
pesquisa. Você contou muitas coisas para gente, como o cuidado da saúde, tecnologia,
acredito que é uma ótima introdução para te conhecer um pouco mais. Mas, quando
estudar alimentação começou a ser um assunto interessante para você?
Em virtude do meu interesse na saúde pública e promoção da saúde, pude observar
acentuada ênfase no papel da dieta na manutenção da saúde. As orientações acerca do que se
deve ou não consumir para promover o bem-estar têm sido amplamente destacadas. Este
contexto incitou-me, nos meados da década de 1990, a empreender um projeto de pesquisa.
Meu intento era investigar a percepção do público acerca do risco associado à alimentação e
sua compreensão das diversas mensagens de promoção da saúde, as quais instruem sobre
escolhas alimentares saudáveis. Realizei entrevistas com pessoas na Austrália sobre seus
entendimentos sobre comida e risco. Um episódio que atraiu atenção foi a questão da doença
da vaca louca, a qual, embora o tenha afetado a Austrália, tornou-se um tema amplamente
abordado nos meados da década de 1990, especialmente no Reino Unido. Na Austrália, tivemos
nossos próprios incidentes que suscitaram preocupação pública, tais como casos de intoxicação
alimentar e discussões sobre os riscos associados ao consumo de alimentos contendo pesticidas.
Na verdade, eu escrevi um livro chamado Food, The Body and the Self
6
que foi publicado em
meados dos anos 90, acho que foi em 1998 ou 1997. O livro se fundamentou em uma série de
entrevistas que realizei com cidadãos australianos, abordando a temática do risco alimentar e,
não menos importante, as memórias que se entrelaçam com a alimentação. Empreguei uma
metodologia denominada “trabalho de memória,” na qual solicitei aos participantes que
registrassem suas recordações relacionadas a alimentos. Como pesquisador social, meu escopo
consistiu em discernir os aspectos verdadeiramente relevantes dentro das memórias
alimentares.
No âmbito deste livro, Food, the Body and the Self”, destaquei questões pertinentes à
nostalgia e à infância, além dos valores que as pessoas atribuem à alimentação. O livro também
resultou na publicação de um artigo em periódico, consolidando assim os resultados de minha
pesquisa. No mesmo período, ou seja, nos meados da década de 1990, atuei de forma
abrangente, amalgamando interesses variados. Foi um momento em que me vi enredada em
6
Em português “Comida, o corpo e o eu” (Tradução nossa)
Entrevista com Deborah Lupton
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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reflexões acerca da alimentação, do corpo e da identidade, temas que encontraram expressão
no título do meu livro.
Talvez haja interesse em compreender como eu estabeleci a ligação entre a dia digital
e a temática da alimentação. Nesse contexto, é digno de nota que me afastei da academia por
um longo período a fim de dedicar-me à criação de meus filhos. Entre os anos de 2005 e 2010,
desvinculei-me integralmente da universidade, abrindo espaço para outras atividades. Minha
reintegração à universidade ocorreu em 2011. Ao reassumir minha posição, deparei-me com o
crescente papel desempenhado pela mídia digital no âmbito da promoção da saúde. O cenário
contemplava aplicativos, dispositivos vestíveis, pesquisas on-line por meio do Google e uma
série de tecnologias que emergiram durante minha ausência no meio acadêmico. Fóruns de
discussão digital ganharam relevância, acompanhados do interesse por aplicativos e
dispositivos inteligentes com fins de promoção da saúde. Diante desta panorâmica, decidi
adentrar novamente este âmbito, suscitando meu interesse na interseção entre mídia digital e
saúde. Basicamente, entrei novamente naquele mundo e pensei - Uau, isso é interessante! Então
comecei a fazer muitas pesquisas sobre saúde digital, ocorrendo, ao mesmo tempo, a chamada
epidemia de obesidade.
A epidemia tornou-se um tópico de interesse na saúde pública e nos círculos médicos
desde o final dos anos 1990 até o início dos anos 2000, provavelmente o mesmo aconteceu no
Brasil. Imagino que isso tenha ocorrido no mundo todo. Muitos governos e agências de saúde
pública começaram a alertar sobre essa epidemia. O interesse de longa data que nutro pela
alimentação, pelo corpo, pela saúde, assim como pela estigmatização, marginalização e as
complexas relações com a forma e o peso corporal, direcionou minha atenção para os discursos
e significados associados à “crise da obesidade”.
Então, elaborei meu livro intitulado Fat
7
, no qual explorei todas essas temáticas.
Contudo, é importante ressaltar que essa abordagem está intrinsecamente ligada ao meu
interesse prévio na representação de alimentos como fator de risco. Nesse contexto, comecei a
direcionar minha atenção ao espaço digital, investigando o emprego de aplicativos, dispositivos
móveis, plataformas de redes sociais e websites para retratar corpos de maneira específica.
Essas representações abrangiam desde corpos excessivamente magros, frequentemente
vinculados a práticas de restrição alimentar, até corpos significativamente volumosos, muitas
vezes associados à ganância e à culpabilidade moral devido ao tamanho e forma.
7
Em português “Obesidade(Tradução nossa).
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.18350 7
Subsidiariamente, produzi textos sobre a representação de corpos no ambiente digital,
enfocando a relação entre peso corporal e hábitos alimentares. Esses diversos âmbitos de
interesse foram, mais uma vez, convergindo.
No tocante ao ativismo alimentar, realizei pesquisas concernentes à impressão 3D,
motivada também pelo meu interesse pela inserção das tecnologias digitais. Em um passado
recente, quando o fervor em torno desse campo havia diminuído ligeiramente, observei a
aplicação de tecnologias de impressão 3D na produção de itens alimentares. Isso culminou em
um projeto específico, no qual examinei de que maneira as tecnologias de impressão 3D,
frequentemente adotadas por chefs em estabelecimentos culinários de alta sofisticação, podiam
ser interpretadas como uma inovação no que concerne à apresentação estética de pratos e
refeições. Durante essa análise, percebi que havia um interesse crescente no discurso acerca da
impressão 3D de alimentos, especialmente em relação à redução do desperdício alimentar e à
busca por alternativas alimentares sustentáveis, como o emprego de algas ou insetos, cuja
aceitação culinária era viabilizada pela aplicação da tecnologia de impressão 3D. Deste modo,
produzi escritos que abordavam como o imaginário em torno desses produtos, e a forma como
eram apresentados, os delineava como alternativas aos alimentos que contribuem para a
devastação ambiental e as mudanças climáticas. É incontestável que a degradação das paisagens
naturais e os impactos derivados destas questões exacerbam a devastação que se observa
globalmente, tanto no que diz respeito ao ecossistema natural quanto às mutações climáticas.
Nesse contexto, vislumbro que o cerne do ativismo alimentar reside nessa esfera. Chamo
a atenção, particularmente, para o modo como a emergência da tecnologia digital e sua
subsequente aplicação visam confrontar a degradação ambiental e explorar alternativas que
promovam a segurança alimentar em locais afetados por essa problemática. É preciso
reconhecer que não me debrucei profundamente sobre esse tópico, mas realizei uma análise
preliminar. Minha colaboração na edição do livro junto a Zena Feldman, intitulado “Digital
Food Cultures”
8
, propiciou um espaço para contribuições que exploram diversas iniciativas de
ativismo alimentar.
Lupton, iremos retornar em algumas questões relacionadas ao que você disse, podemos
pedir alguns exemplos também. Mas a primeira coisa que eu gostaria de saber sobre o
estudo da sociologia digital é, na sua opinião, quais são os avanços que esses estudos
8
Em português “Culturas alimentares Digitais” (Tradução nossa)
Entrevista com Deborah Lupton
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trouxeram para a teoria contemporânea e quais são os principais desafios que ela enfrenta
hoje? Como, por exemplo, o que ela enfrenta em relação a questões éticas, o uso de
algoritmos, novas metodologias e relacionamento social. Portanto, na sua opinião, quais
são os principais desafios e contribuições que a sociologia digital trouxe também para a
teoria social?
Mencionei que em meu trabalho prévio empreguei extensivamente a teoria codeine
theory, a qual despertou em mim um interesse significativamente mais acentuado pela
dimensão material da existência. A emblemática metáfora do “panóptico”, tal como utilizada
em suas abordagens teóricas, ressaltou as dimensões materiais intrínsecas ao asilo e ao sistema
prisional. Cumpre salientar que não estou sugerindo que a teoria da codificação já incorporasse
uma discussão imbuída de lugar, espaço e objetos. Entretanto, concentrei-me de maneira mais
intensa nessas dimensões, em um contexto que é denomino de “mais do que humano”. Embora
alguns empreguem o termo “pós-humano”, tenho preferência pela expressão “mais do que
humano”. Consequentemente, em meus escritos recentes, que versam não apenas sobre
alimentação, mas também sobre dispositivos digitais e mídia em sua generalidade, esforço-me
para compreender o que designo como dimensões “mais do que digitais” na vida das pessoas.
Desse modo, sempre que os indivíduos interagem com dispositivos ou softwares digitais, essas
interações ocorrem em um contexto de lugar e espaço, em relação a outras pessoas, seres vivos
e objetos presentes nesse âmbito que não são de natureza digital. Os corpos humanos,
invariavelmente, fazem parte de ambientes que transcendem o digital. Penso que, por vezes, no
campo da sociologia digital, pode-se incorrer na excessiva concentração no aspecto digital,
negligenciando que as tecnologias digitais são sempre utilizadas em um contexto de lugar e
espaço e não se restringem, necessariamente, ao domínio online.
Tomemos como exemplo minha pesquisa envolvendo indivíduos que monitoram suas
atividades de ciclismo através de dispositivos digitais, como “smartwatchesou aplicativos em
seus dispositivos móveis, bem como computadores de bicicleta acoplados às próprias bicicletas.
Nesse cenário, enquanto se deslocam através de diferentes lugares e espaços em suas bicicletas,
a bicicleta enquanto objeto em si não possui uma natureza digital. No entanto, por meio do
emprego de ciclocomputadores ou aplicativos que registram os movimentos da bicicleta no
espaço e lugar, como a quilometragem percorrida, os ciclistas digitalizam suas experiências.
Vale destacar que esses deslocamentos ocorrem no contexto de lugares e espaços que envolvem
a interação com outros ciclistas, pedestres e veículos automotores nas vias. Dessa forma, o
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
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constante movimento pelo espaço e lugar durante o trajeto de bicicleta resulta na geração de
dados digitais. Além disso, essa dinâmica inclui interações com outros seres vivos, como
pássaros e cães, que podem cruzar o caminho dos ciclistas e necessitam ser evitados.
Igualmente, a presença eventual de poluição do ar compõe uma variável adicional. A atividade
de rastreamento das atividades de bicicleta, portanto, é caracterizada por uma dimensão
consideravelmente mais ampla do que o mero aspecto digital. Este exemplo, entretanto, apenas
representa um entre muitos. O conceito pode ser aplicado a qualquer forma de utilização de
dispositivos e mídia digitais.
Faço uso frequente do feminismo materialista, referenciando autoras como Karen
Barad, Rosie Bray e Dotty Donna Haraway, bem como o trabalho de Jane Bennet, sobretudo
em seu livro The Power
9
. Essas quatro teóricas desempenham um papel fundamental em
minha abordagem, e é notável que eu recorra consistentemente às contribuições de seus
trabalhos. No entanto, é imperativo reconhecer que essas teóricas provêm de uma origem racial
branca e desfrutam de privilégios no contexto do Norte Global, assim como eu. Um ponto
crítico levantado em relação a elas é a potencial negligência em relação aos milênios de
sabedoria e conhecimento presentes nas culturas originárias, que os povos indígenas possuem
acerca do mundo. Na Austrália, ostentamos a mais longeva cultura contínua de nossos povos
originários, em específico, o povo aborígine australiano. O reconhecimento e a incorporação do
conhecimento detido por essas comunidades se revelam cruciais em trabalhos recentes.
Portanto, mergulhei profundamente na leitura de obras detentoras do saber indígena,
englobando perspectivas teóricas que se estendem além das fronteiras da Austrália, sempre que
as barreiras linguísticas não me limitavam. Lamentavelmente, meu domínio linguístico abrange
apenas o inglês, limitando minha compreensão das obras redigidas em outros idiomas.
Entretanto, é inegável que o campo da teoria social apresenta uma predominância de origem
colonial, em detrimento da representação de perspectivas teóricas oriundas das culturas
originárias.
Acredito que todos nós devíamos dedicar mais atenção a essa perspectiva, pois muito
a aprender com o conhecimento detido pelas comunidades indígenas. No âmbito do meu próprio
trabalho, empenho-me em incorporar essas abordagens teóricas em conjunto com a pesquisa
empírica. Também manifesto um interesse pelo emprego de métodos inovadores e criativos no
desenvolvimento de estudos. Recentemente, tenho explorado diferentes abordagens, como a
9
Em português “O poder” (Tradução nossa)
Entrevista com Deborah Lupton
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escrita criativa, a expressão artística e a criação de zines. Essas distintas maneiras de análise
permitem examinar como as pessoas interagem com o ambiente digital e, mais
significativamente, com o mundo para além das esferas humanas. Este âmbito de exploração
tem despertado grande entusiasmo em mim, sobretudo no que tange às exposições. No
momento, estou em processo de elaboração de duas exposições que se dirigem ao público em
geral. Minha abordagem compreende a utilização da criação artística como veículo, com foco
em exposições museológicas. Esta estratégia representa um novo paradigma de pesquisa,
tradução e envolvimento com audiências para além do contexto acadêmico. A expectativa em
relação a ambas as exposições é extremamente positiva, sendo que uma delas é intitulada The
More than Human Wellbeing Exhibition
10
. Nesta mostra, apresento resultados de pesquisas
recentes que desembocaram na criação de obras artísticas e, adicionalmente, na produção de
um filme a ser exibido.
Um dos projetos nos quais tenho investido meu esforço é um documentário em vídeo,
cujo processo tem me proporcionado aprendizado substancial. De fato, sinto-me especialmente
entusiasmada com este documentário, uma vez que evito a monotonia das rotinas. Minha
inclinação reside em experimentar novas abordagens, e a segunda exposição na qual estou
envolvida está vinculada a uma orientadora de doutorado, que também é socióloga e artista.
Nossa investigação concentra-se na estranheza dos robôs de atendimento, resultando na
exposição “Living with Animal Robots”
11
. O tema aborda os dispositivos robóticos em forma
de animais, os quais são empregados tanto em contextos de cuidado a exemplo das focas
brancas utilizadas em lares para idosos ou pessoas com demência, uma prática consolidada há
mais de duas décadas quanto em situações de entretenimento e companhia, como os cães
robóticos. No âmbito dessa exposição, está planejada a apresentação de uma variedade de robôs
animais, acompanhada pela contribuição de artistas na criação de obras de arte. Além disso,
conduziremos pesquisas aplicadas que viabilizarão a interação das pessoas com esses robôs
animais, fomentando discussões acerca das sensações e relações que estabelecem com tais
dispositivos. É com projetos dessa natureza que estou profundamente envolvida no presente
momento.
Este conteúdo também está conectado ao meu novo livro intitulado The internet of
Animals
12
, que será lançado no ano de 2023. Portanto, é essa a atividade à qual estou
10
Em português “Exibição Mais do que Bem-Estar Humano” (Tradução nossa)
11
Em português “Vivendo com animais robôs” (Tradução nossa)
12
Em português “A internet dos animais” (Tradução nossa)
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
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atualmente dedicada. Em relação à saúde digital dos seres humanos, é evidente que estes
constituem o epicentro das considerações relativas à saúde digital. Contudo, aprofundando a
análise da saúde digital humana, emerge uma perspectiva que contempla tanto o bem-estar dos
indivíduos quanto do planeta. Estou convicta de que a saúde digital se expandirá para englobar
muito além do cuidado e do bem-estar da espécie humana, abrangendo igualmente o cuidado e
o bem-estar de outras formas de vida, do ecossistema e do meio ambiente como um todo.
No contexto do meu livro, The internet of Animals”, o subtítulo escolhido é Human
Animal Relationships in the Digital Age
13
. Consequentemente, a minha investigação aborda
não apenas robôs animais, mas também se estende ao campo da agricultura inteligente, onde a
monitorização do gado, por exemplo, é realizada mediante a utilização de drones, dispositivos
vestíveis e tecnologias de detecção avançada. Observo minuciosamente como animais de
companhia, como cães e gatos, estão cada vez mais sob vigilância por meio de aplicativos e
dispositivos vestíveis. Dessa forma, emerge uma convergência entre os métodos de
digitalização e monitorização empregados em relação às crianças e aqueles utilizados para os
animais de companhia. O meu enfoque alcança os domínios dos jogos, englobando não somente
animais presentes em aplicativos de entretenimento, mas também os inseridos em jogos de
console. Essa é a perspectiva que delineio no meu livro. A exposição centrada em animais
robôs, portanto, é uma manifestação direta das temáticas tratadas na obra que estou prestes a
lançar.
Sua pesquisa e o seu livro “The internet of Animals”, são incríveis! Eu não sabia que você
estava escrevendo este livro e, não sei se o Maycon estava sabendo, mas é incrível! Eu
tenho um monte de comentários a fazer sobre como a sociologia digital pode trazer novas
formas de fazer sociologia blica de uma maneira mais significativa por meio de
exposições de arte, como você mencionou, e até mesmo a forma como podemos apresentar
online, as pesquisas que temos feito nas redes sociais, etc. Então, de qualquer forma, eu
não quero pegar muito do seu tempo, então vou focar no tema das culturas alimentares
digitais. Portanto, a primeira pergunta que temos é: quais tópicos ou agendas de pesquisa
você acha que, atualmente, são os mais críticos e urgentes nos estudos digitais de
alimentos?
13
Em português "Relações humanas e animais durante a era digital” (Tradução nossa)
Entrevista com Deborah Lupton
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.18350 12
Vamos retomar a discussão do livro intitulado The internet of Animals”, uma vez que
o campo da agricultura inteligente guarda uma tida relação com a produção de alimentos a
partir dos animais destinados ao consumo. Como resultado, nos círculos agrícolas, existe uma
crescente ênfase na adoção de tecnologias inteligentes para a monitorização do gado. Nesse
contexto, suscita-se a necessidade não somente de uma sociologia digital, mas também de uma
ética digital. Em outras palavras, o tema central subjacente ao meu livro é a objetificação dos
animais. Através dessa obra, sustentei que quanto mais procedemos à digitalização e à geração
de dados, seja para a produção alimentar ou outros propósitos, mais instrumentalizamos nossa
relação com os animais. É notável que a perspectiva humana ainda privilegia o humano,
relegando a um estigma tudo o que esteja relacionado aos seres animais. A diferenciação e
segregação dos seres humanos dos demais animais, inclusive na nossa linguagem, propicia um
ambiente no qual a digitalização e a despersonalização dos animais, particularmente no âmbito
da produção de alimentos, promove uma distância cada vez mais acentuada entre nós e esses
seres. Consequentemente, interações físicas e contato direto com esses animais são reduzidos.
Um exemplo disso são os sistemas de ordenha digitalizados, nos quais frequentemente
escassa interação humana com as vacas, uma vez que tais animais são inseridos em sistemas
automatizados de ordenha, eliminando o toque humano. Ainda que essas práticas levantem,
sem dúvida, considerações éticas acerca da exploração de vacas para a produção de leite,
percebe-se que a ordenha tradicional mantinha uma relação incorporada e muitas vezes
significativa entre os fazendeiros e seus animais. À medida que a digitalização se intensifica e
robôs passam a realizar essas tarefas, a conexão entre seres humanos e animais tende a
enfraquecer. Muitas vezes, esses métodos de monitorização digitalizada, embora identificados
como focados na produtividade da fazenda, não têm primordialmente em vista o bem-estar do
próprio animal, mas sim a rentabilidade econômica do produtor. Outro aspecto intrigante é a
maneira pela qual os fazendeiros frequentemente utilizam as mídias sociais para retratar
imagens ensolaradas de animais felizes em suas propriedades. Contudo, essas imagens omitem
completamente as questões subjacentes relacionadas ao destino destes, quando direcionados
para o abate. Esses animais aparentemente felizes são, em última instância, abatidos para o
consumo humano ou para fins de lucro econômico.
Apresentei e discuti diversas questões provocadoras neste livro. Assim como muitos
outros, percebi a maneira pela qual os animais são utilizados para propósitos terapêuticos. Nas
redes sociais, é comum ver pessoas recorrendo a imagens adoráveis de animais de estimação
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
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quando se sentem um pouco desanimadas. Por exemplo, existem os chamados “Pet Zoos
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”.
Embora não possua certeza se tal prática ocorre no Brasil, mas na Austrália, em instituições
universitárias ou feiras comunitárias, são disponibilizados animais de estimação e de fazenda
para que crianças e estudantes possam interagir e acariciá-los, com o objetivo de proporcionar
bem-estar. Isso se assemelha a trazer gatinhos para universidades a fim de reduzir o estresse
dos alunos durante os períodos de exames. No entanto, é importante considerar que essa
abordagem também pode ser vista como uma objetificação dos animais, reduzindo-os a meros
instrumentos terapêuticos para os humanos.
Outro aspecto abordado em meu livro é o ativismo animal. Um exemplo notável é o
movimento PETA
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, que luta contra a crueldade animal e frequentemente concentra-se no bem-
estar dos animais. Um tópico em destaque é a criação de galinhas em fazendas, com
considerações sobre a organização da produção de ovos ou de carne. O PETA utiliza estratégias
digitais de mídia de maneira bastante perspicaz, alternando entre a exposição de animais felizes
e adoráveis e a apresentação de animais submetidos a terríveis torturas. A organização tem
obtido sucesso ao explorar o meio digital para fins de ativismo, e assim, sugiro que os
especialistas em mídia digital que trabalham na área de alimentação examinem como essa
abordagem específica tem sido efetiva. Contudo, é vital reconhecer também os dilemas éticos
envolvidos, considerando as divergências que podem surgir em relação aos direitos das
comunidades indígenas de manterem suas atividades tradicionais de caça. Muitas vezes, grupos
de ativistas em defesa dos animais criticam e condenam essa prática. Por outro lado, as
comunidades indígenas podem argumentar de forma convincente em favor de suas tradições de
vida.
Acredito que existam algumas questões éticas que necessitam ser debatidas tanto no
âmbito dos estudos das culturas alimentares digitais quanto nas instituições de pesquisa. Abordo
essa temática no livro intitulado, “The internet of Animals”. É notório que as mídias sociais
ainda concedem significativa ênfase a aspectos como corpos, dimensões e conformações
físicas. Por um lado, observa-se um notável crescimento do ativismo em prol da positividade
corporal, englobando a aceitação de uma variedade de formas corporais, inclusive aquelas
categorizadas como "gordas". No entanto, subsiste o persistente emprego das plataformas de
mídia digital, tais como o Instagram, que continuam a representar determinados arquétipos de
corpos considerados mais atrativos. Verifica-se o contínuo uso das mídias sociais,
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Em português “Zoológico de animais de estimação” (Tradução nossa)
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Pessoas para o Tratamento Ético dos Animais (PETA)
Entrevista com Deborah Lupton
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exemplificado pelo Twitter, para promover práticas extremas relacionadas a transtornos
alimentares, muitas vezes utilizando hashtags específicas que reúnem pessoas engajadas nesse
comportamento. Este aspecto se mostra particularmente intrigante, visto que tais indivíduos
estão envolvidos com culturas digitais devido à sua própria luta contra distúrbios alimentares
que resultam em extrema magreza, ameaçando-lhes a vida. Vale notar que recebem amplo apoio
e engajamento por meio das mídias sociais, especialmente em plataformas como o Twitter, que
não tendem a exercer um controle tão rigoroso sobre tais discursos quando observado em outras
redes sociais, como o Instagram. É relevante ponderar sobre o futuro do Twitter, tendo em vista
sua recente aquisição por parte de Elon Musk.
De toda forma, subjaz uma narrativa complexa. Por um lado, indivíduos que
enfrentam distúrbios alimentares e frequentemente encontram amparo e auxílio dentro dessas
comunidades. Nesse sentido, destaco a presença de uma indagação ética de grande pertinência.
Ademais, acredito que determinados padrões de práticas alimentares são promovidos de
maneira mais acentuada do que outros. um movimento em prol da alimentação limpa, da
paleodieta e de outras abordagens dietéticas e tendências alimentares que têm recebido notável
impulso por intermédio das plataformas de mídias sociais. Além disso, considero o TikTok uma
plataforma de considerável interesse, embora ainda carente de uma investigação aprofundada.
Os indivíduos com interesse nas dinâmicas das culturas alimentares digitais tendem a dedicar
uma parcela substancial de seu tempo ao TikTok, especialmente os mais jovens. Observo que
entre essa demografia, floresce uma discussão culinária, ou melhor denominando, um diálogo
acerca da culinária. O referido espaço apresenta uma ampla variedade de conteúdos sobre
alimentos. No entanto, admito que é plausível a existência de conteúdo prejudicial relacionado
a práticas alimentares. Embora eu pessoalmente não tenha conduzido uma pesquisa específica
sobre o tema, estou ciente da presença tanto de conselhos culinários quanto de vídeos curtos
que instruem na preparação de alimentos saudáveis, conteúdos que têm se mostrado proveitosos
para muitos jovens. Diante disso, enfatizo a necessidade de que aqueles que se interessam pelas
culturas alimentares digitais estejam atentos ao conteúdo veiculado nessas plataformas.
algumas questões pertinentes a serem discutidas sobre o ativismo alimentar no
contexto do ativismo digital. Especificamente, é possível elaborar um conceito que aborde
a caracterização desse tipo de ativismo, o engajamento das pessoas nele, as diferenças
entre o ativismo digital e o ativismo tradicional, como aquele realizado nas ruas e nos
movimentos sociais. Poderia fornecer algumas informações a respeito desses tópicos?
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Novamente, acredito que as plataformas digitais emergentes têm ganhado popularidade,
o que demanda a atenção dos ativistas, que precisam utilizá-las em benefício próprio. É
plausível que o TikTok possa ser uma tendência futura, até que uma outra plataforma surja em
algum momento.
Entretanto, é notório que frequentemente os jovens são os principais condutores do
ativismo, seja ele ambiental, alimentar, ou de qualquer natureza. Observa-se que as mudanças
climáticas, por exemplo, têm sido alvo de inúmeros movimentos conduzidos de forma astuta
por jovens através do uso das mídias sociais. Acredito, portanto, que o TikTok pode ser
efetivamente empregado como um meio de engajamento para aqueles que desejam participar
de tais atividades. Outro aspecto positivo do TikTok reside em sua facilidade de uso para a
produção de conteúdo próprio. A elaboração de um "TikTok" pessoal é consideravelmente mais
simples para os jovens em comparação com a criação de imagens mais elaboradas, como
aquelas presentes no Instagram e no YouTube. O YouTube, de fato, tem se mostrado uma
ferramenta de grande valor, e mesmo tendo mencionado este fato previamente, é importante
destacar que a plataforma tem sido bastante útil para alcançar um público vasto. Jovens também
fazem uso considerável do YouTube para aprender a realizar tarefas diversas, desde consertos
até culinária, tornando-se uma plataforma popular no cenário culinário.
Além do uso convencional pelos ativistas alimentares, existem outras possibilidades
para ampliar a popularidade e uso do YouTube. Conduzi uma análise sobre vídeos relacionados
à culinária na plataforma, considerando tanto aqueles que exploram culturas culinárias mais
"exóticas" quanto aqueles voltados para a alimentação saudável e atividade física. Portanto, é
crucial manter o interesse em uma diversidade de conteúdos, dado o caráter multifacetado do
YouTube. Nesse contexto, é válido destacar as organizações já mencionadas, como a PETA e o
movimento anti-crueldade animal, que têm suscitado debates substanciais em diferentes
plataformas de mídia social.
Como seria possível delinear as definições de comida e ativismo digital alimentar?
Gostaríamos de conhecer a sua perspectiva sobre o seu trabalho intitulado "Digital Food
Cultures". É correto afirmar que a maior parte do livro está centrada em exemplos
provenientes da Europa, Estados Unidos, Austrália e Nova Zelândia? Nesse contexto, qual
é a sua opinião acerca das contribuições desse livro para o entendimento das culturas
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alimentares digitais em uma escala global? Além disso, qual é o seu ponto de vista sobre
a ampliação dessas investigações para outras regiões do mundo onde as realidades
culturais e socioeconômicas diferem daquelas apresentadas no livro, como ocorre no
continente africano e na América Latina?
De fato, a sua observação é inteiramente precisa. O enfoque do livro foi estabelecido a
partir da perspectiva dos países de língua inglesa do hemisfério norte. Essa inclinação se deve,
em parte, à origem dos dois simpósios que organizei em colaboração com Zena Feldman. Um
desses simpósios foi realizado na Austrália, sob minha coordenação, enquanto o outro teve
lugar em Londres, sendo organizado por Zena Feldman. A convocação para submissão de
trabalhos foi direcionada, mas é evidente que a acessibilidade geográfica é uma barreira para
muitos indivíduos, sobretudo quando se trata de viagens até a Austrália, considerando sua
localização distante em relação a diversas partes do globo, incluindo o hemisfério sul e sudeste.
Embora o escopo do livro seja global, é incontestável que existem oportunidades significativas
para dar voz a perspectivas do hemisfério sul. A abordagem adotada no livro é de alcance
global, embora se admita a necessidade de uma representação mais robusta, especialmente ao
considerar as vozes provenientes do hemisfério sul. Reconheço que a minha posição está
ancorada no contexto do Norte Global, onde conduzo minhas pesquisas, sobretudo na Austrália.
Portanto, essa dinâmica resulta na participação de indivíduos pertencentes a diversas etnias e
raças. Ao conduzir processos de recrutamento, não se limitam apenas aos grupos de ascendência
anglo-céltica europeia. Essa tendência é observada de maneira consistente na Austrália, o que
se alinha ao meu cenário de pesquisa. Cabe ressaltar que minha atuação não se assemelha à de
uma antropóloga que explora variadas culturas. Na realidade, sou uma socióloga cujo foco
concentra-se na cultura e na sociedade australiana. No entanto, é inegável que tal abordagem
precisa ser implementada. Deve-se intensificar os esforços nesse sentido. Acredito que é
essencial estabelecer redes mais eficazes entre os ativistas da área de alimentação digital e os
pesquisadores. Reconheço que, dada minha ausência de vivência nesse contexto ou idioma
específicos, não estou em posição de oferecer sugestões concretas para tal empreendimento,
mas é indubitável que esse processo necessita ocorrer. (Você poderia me recordar a primeira
parte da pergunta, por gentileza?).
A primeira parte da questão era como você define o que é ativismo alimentar digital!
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
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Digital? Como eu definiria ativismo alimentar digital? Bem, eu afirmaria que o ativismo
alimentar digital engloba iniciativas que encontraram espaço por meio de dispositivos e
plataformas de comunicação digitais. Entretanto, é importante destacar que, ao se examinar essa
esfera, é inevitável observar predominantemente a dimensão digital, dado que tais
manifestações frequentemente ocorrem nesses domínios. Os locais que vão desde aplicativos
até mídias sociais fazem uso primordialmente de interfaces visuais básicas. Gostaria de salientar
que a pesquisa através do Google, pelo menos no hemisfério norte - não posso emitir opinião
acerca do Sul Global -, representa uma ferramenta simples amplamente utilizada por muitas
pessoas para obter informações e serem direcionadas a sites eletrônicos. Isso me remete a um
estilo mais tradicional de ferramentas de pesquisa, que ainda permanece em alta demanda.
Portanto, a dinâmica não se limita apenas a inovadoras tecnologias emergentes, e tampouco se
restringe ao âmbito dos robôs. Meus estudos têm indicado que as pessoas fazem uso de uma
variedade de dispositivos digitais e tecnológicos, tanto modernos quanto mais tradicionais.
Tive o privilégio de integrar a comissão global de saúde, oportunidade que me permitiu
interagir com diversos pesquisadores da África. Uma percepção que adquiri ao participar da
referida comissão é o enfoque na promoção de tecnologias voltadas para a saúde dos jovens,
particularmente no que tange à tecnologia digital. Entretanto, é importante reconhecer que
aproximadamente metade da população mundial ainda carece de acesso à Internet. Nesse
contexto, ao considerarmos exclusivamente as formas pelas quais as pessoas podem engajar-se
com dispositivos digitais por meio da internet, corre-se o risco de negligenciar por completo a
falta de acesso. Estamos, efetivamente, tratando de uma parcela substancial do globo terrestre.
Portanto, isso é algo que sempre precisamos estar atentos.
Revisão: Ester Louback.
Entrevista com Deborah Lupton
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Gostaríamos de agradecer ao Grupo de Pesquisa em Sociologia das
Práticas Alimentares (UFRGS) e ao Grupo de Pesquisa em Cultura Alimentares Digitais.
Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG);
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Conforme a Resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde, a
entrevista não necessita de aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).
Disponibilidade de dados e material: Não aplicável.
Contribuições dos autores: Deborah Lupton (Autora Entrevistada); Maycon Noremberg
Schubert e Marília Luz David (Conduziram a entrevista com a autora Deborah Lupton);
Daniel Coelho de Oliveira e Arthur Saldanha dos Santos (Participaram da entrevista,
acompanharam o processo de tradução e revisão).
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Deborah LUPTON; Maycon N. SCHUBERT; Marília L. DAVID; Daniel Coelho de OLIVEIRA; Arthur Saldanha dos SANTOS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp. 1, e023011, 2023. e-ISSN: 2359-2419
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DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.18350 1
INTERVIEW WITH DEBORAH LUPTON
ENTREVISTA COM DEBORAH LUPTON
ENTREVISTA CON DEBORAH LUPTON
Deborah LUPTON1
e-mail: d.lupton@unsw.edu.au
Maycon Noremberg SCHUBERT2
e-mail: maycon.schubert@gmail.com
Marília Luz DAVID3
e-mail: marilia.david@ufrgs.br
Daniel Coelho de OLIVEIRA4
e-mail: daniel.oliveira@unimontes.br
Arthur Saldanha dos SANTOS5
e-mail: arthursaldanha.ufrgs@gmail.com
How to reference this paper:
LUPTON, D.; SCHUBERT, M. N.; DAVID, M. L.;
OLIVEIRA, D. C.; SANTOS, A. S. Interview with Deborah
Lupton. Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 23, n. esp.
1, e023011. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v23iesp.1.18350
| Submitted: 04/07/2022
| Revisions required: 06/02/2023
| Approved: 08/03/2023
| Published: 23/08/2023
Editors:
Prof. Dr. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. MSc. Aline Cristina Ferreira
Prof. MSc. Mateus Tobias Vieira
Prof. MSc. Matheus Garcia de Moura
1
The University of New South Wales (UNSW), Sydney Australia. Professor at the Centre for Social Research in
Health and the Social Policy Research Centre.
2
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brazil. Adjunct Professor in the Department
of Sociology.
3
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brazil. Adjunct Professor in the Department
of Sociology.
4
State University of Montes Claros (UNIMONTES), Montes Claros MG Brazil. Doctoral degree in Social Sciences.
Professor at the Department of Social Sciences at UNIMONTES.
5
Federal University of Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre RS Brazil. Doctoral degree obtained through the
Postgraduate Program in Sociology. Currently engaged in postdoctoral research within the framework of the
Postgraduate Program in Sociology at UFRGS.
Interview with Deborah Lupton
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Your work holds significant importance for our research here in Brazil. Therefore, this
presents an excellent opportunity for us to listen to you and gain further insights into your
work. We could initiate by posing our introductory question, particularly for readers
unfamiliar with your work. We would appreciate you sharing a bit about your career and
research interests. How did you venture into the field of social sciences, and specifically,
how did you commence your research in digital sociology, digital food culture, and online
food activism?
Indeed. That is a substantial question. My interest in social sciences began during my
high school years. I had always been drawn to subjects such as history and English literature. I
immersed myself in literary fiction, focusing mainly on the cultural dimensions of people's
lives. Studying social sciences and English literature in high school strongly connects the two
areas, as both strive to understand people's lives, experiences, and emotions. Upon entering
university, I continued my social sciences, English literature, and anthropology studies. I also
delved into human biology, as I had a longstanding interest in biology. Throughout school, I
excelled in both biology and humanities. Additionally, during my first year at university, instead
of cultural anthropology, I shifted my focus toward biological anthropology for my final
graduation project. I graduated with a Bachelor of Arts in Sociology and English Literature.
Therefore, my inclination to study sociology and anthropology about health, diseases, and
public health has persisted.
There was a period in the mid-1980s during the emergence of the HIV epidemic the
first decade of AIDS. The first identified case of HIV was in 1981. This was when concerns
about it began to surface. Unfortunately, during that time, as you may know, there was
substantial stigmatization, primarily directed at gay men but also encompassing marginalized
groups such as intravenous drug users. Those who contracted HIV succumbed to the disease
due to the lack of a cure in the 1980s. However, in countries like Australia and similar English-
speaking nations such as the United Kingdom, the United States, and Canada, the 1980s marked
a turning point. These countries started to address the issue, acknowledging that homosexual
and heterosexual individuals were at risk of contracting HIV.
Numerous Australian citizens directed their attention toward the potential risks
associated with HIV and AIDS transmission. Consequently, I undertook in-depth research into
the attitudes exhibited by heterosexual individuals living with HIV/AIDS. Subsequently, I
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pursued a Master's degree in Public Health. In embarking on this academic journey, I acquired
epidemiology, biostatistics, health economics, and health promotion knowledge. However, as
someone with a foundation in the social sciences, my perspective was inherently critical,
distinguishing me from fellow students with backgrounds in health sciences.
These colleagues were seeking professional reorientation to enter the field of public
health, notably in areas such as medicine, nursing, or related disciplines. As a critical thinker
with a background in social sciences, I couldn't accept the kind of assumptions about human
behavior being taught to us in the context of health promotion. Phrases like "the public is
ignorant," "people need motivation," "they require education," and "persuasion is necessary" to
foster healthy citizenship were prevalent. During that time, due to my engagement with coding
theory, I drew connections between the works of Michel Foucault and concepts related to
individuality, such as self-management and governability. Exploring the intersection of these
concepts with the operation of public health, I observed how the field operated by stimulating
self-accountability.
Upon completing my Master's in Public Health, I continued at the Medical School to
pursue my Ph.D., where I studied through the lens of social sciences and discourse analysis
how the Australian press portrayed HIV and AIDS. I aimed to bring my prior knowledge into
this subject while continuing within the context of public health. And yes, that's what I did for
my doctoral thesis. Once I finished, I secured my first position as a lecturer, teaching health
communication at a communication and media studies school. Since then, I've been involved
in public health communication, media studies, sociology, and cultural studies. My educational
journey encompassed various perspectives, propelling me into different disciplinary realms.
Thus, I've always been interdisciplinary. Now, I hold a particular interest in the digital aspects.
In essence, my academic background lies in health sociology and medicine.
I am of an age that allows me to vividly recall the introduction of the original Apple
computers into the university library. At that time, we designated a particular room for their
use. These computers resembled enhanced word processors. Before this, writing was done
manually or through typewriters. Suddenly, this magnificent processor emerged, and we were
granted the privilege of scheduling its use. We had an hour to compose our assignments and
print them out elegantly. As personal computers began to gain popularity and email was
introduced, we started utilizing them, likely in the early '90s. Initially, we employed personal
computers for creating spreadsheets, drafting documents, and accessing email. Furthermore,
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during a time when the internet had not yet become established, we confined the use of this
technological system to the office environment.
I became significantly intrigued by this topic as my profound interest in the human body
and its interactions with the natural environment became remarkably pronounced.
Consequently, I began to develop an appreciation for viruses, as exemplified by the case of
HIV, a viral agent. My specific interest veered towards comprehending the metaphorical
representations associated with viruses in my research concerning HIV/AIDS. In the mid-
1990s, there was a growing concern about computer viruses and the potential spread of these
entities among devices. I used floppy disks during that time since computers weren't extensively
interconnected. The phenomenon of sharing virus-infested floppy disks between computers
emerged, instigating metaphorical analogies. The undertaken research focused on exploring the
dynamics that shape our understanding of the interaction between our bodies and personal
computers, drawing parallels between the conception of our computers afflicted by viruses and
the perception of our bodies afflicted by illnesses.
I was amalgamating all of my sociological experience, which encompassed the realm
of digital sociology, although back then, we didn't employ the term "digital sociology" but
rather concepts like "cyberspace," "cyberbodies," or "cyberworld." You know, everything was
quite cyber-centric in the 1990s. So, I began to write. My interest in health effectively
converged into a directed attraction toward digital computing. Within this context, I embarked
on a project investigating how people incorporated their personal computers into the
professional and domestic spheres of their lives. Through this lens, my interest deepened in
these aspects inherent to the everyday use of digital technologies concerning health and other
elements associated with daily life.
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We are curious to know when food became a part of your research interest. You have
shared many aspects, such as health care and technology. This has provided a great
introduction to getting to know you better. However, when did the study of food become
an intriguing subject for you?
Due to my interest in public health and health promotion, I observed a significant
emphasis on the role of diet in maintaining health. Guidelines regarding what should or should
not be consumed to promote well-being have been widely highlighted. This context prompted
me, in the mid-1990s, to undertake a research project. I intended to investigate the public's
perception of the risks associated with food and their understanding of various health promotion
messages instructing healthy food choices. I interviewed individuals in Australia about their
knowledge of food and danger. One episode that drew attention was the bovine spongiform
encephalopathy, which, although it didn't affect Australia, became a widely discussed topic in
the mid-1990s, especially in the United Kingdom. In Australia, we had incidents that raised
public concern, such as cases of food poisoning and discussions about the risks associated with
consuming pesticide-containing foods. I authored a book titled "Food, The Body and the Self "
published in the mid-1990s, around 1998 or 1997. The book was based on a series of interviews
I conducted with Australian citizens, addressing the theme of food risk and, equally importantly,
the memories intertwined with food. I employed a methodology called "memory work," which
asked participants to document their food-related memories. As a social researcher, my scope
was to discern the genuinely relevant aspects of these food memories.
Within this book, Food, the Body and the Self”, I highlighted issues of nostalgia and
childhood, along with the values people attribute to food. The book also resulted in the
publication of a journal article, thus consolidating the findings of my research. In that same
period, the mid-1990s, I engaged comprehensively, merging diverse interests. It was a time
when I found myself entangled in reflections about food, the body, and identity, themes that
found expression in the title of my book.
Perhaps there is an interest in understanding how I established the connection between
digital media and the subject of food. In this context, I took a significant academic hiatus to
dedicate myself to raising my children. Between 2005 and 2010, I stepped away from the
university entirely, making room for other activities. My reintegration into academia occurred
in 2011. Upon resuming my position, I encountered the growing role digital media played in
health promotion. The landscape encompassed apps, wearable devices, online searches via
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Google, and various technologies that emerged during my absence from the academic sphere.
Digital discussion forums gained significance, accompanied by the interest in health-promoting
apps and bright devices. Given this overview, I decided to re-enter this domain, sparking my
interest in the intersection between digital media and health. So, essentially, I re-entered that
world and thought Wow, this is interesting! And I began researching digital health
extensively, coinciding with the "obesity crisis."
The epidemic became a topic of interest in public health and medical circles from the
late 1990s to the early 2000s, probably the same happened in Brazil. I imagine this occurred
worldwide. Many governments and public health agencies began issuing alerts about this
epidemic. My longstanding interest in food, the body, and health, as well as in stigmatization,
marginalization, and the complex relationships with body shape and weight, directed my
attention toward the discourses and meanings associated with the "obesity crisis."
I crafted my book titled "Fat", in which I delved into all these themes. However, it's
important to emphasize that this approach is intrinsically linked to my prior interest in
representing food as a risk factor. In this context, I began directing my attention to the digital
space, investigating the use of apps, mobile devices, social media platforms, and websites to
depict bodies in specific ways. These representations ranged from overly thin bodies, often tied
to practices of dietary restriction, to significantly voluminous bodies, frequently associated with
moral guilt and greed due to their size and shape. As a subsidiary focus, I generated texts about
the representation of bodies in the digital environment, focusing on the relationship between
body weight and eating habits. These diverse realms of interest were once again converging.
Regarding food activism, I researched 3D printing, driven by my interest in integrating
digital technologies. In the recent past, when the fervor around this field had slightly waned, I
observed the application of 3D printing technologies in food production. This led to a specific
project where I examined how 3D printing technologies, often embraced by chefs in high-end
culinary establishments, could be interpreted as an innovation regarding the aesthetic
presentation of dishes and meals. During this analysis, I realized there was a growing interest
in the discourse surrounding the 3D printing of food, particularly in relation to reducing food
waste and seeking sustainable food alternatives. These alternatives included algae or insects,
whose culinary acceptance was facilitated by applying 3D printing technology. As a result, I
produced writings that addressed how the imagery around these products and the way they were
presented positioned them as alternatives to foods contributing to environmental devastation
and climate change. Undeniably, the degradation of natural landscapes and the resulting impacts
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exacerbate the global devastation observed, both in terms of the natural ecosystem and climate
shifts.
In this context, the heart of food activism resides within this sphere. I draw particular
attention to how the emergence of digital technology and its subsequent application aim to
address environmental degradation and explore alternatives that promote food security in areas
affected by this issue. It must be acknowledged that I have not delved deeply into this topic but
instead conducted a preliminary analysis. My collaboration in editing the book with Zena
Feldman, titled "Digital Food Cultures", provided a space for contributions that explore various
food activism initiatives.
Lupton, we will revisit some questions related to what you've mentioned, and we may also
request some examples. However, the first thing I would like to inquire about regarding
the study of digital sociology is the advancements these studies have brought to
contemporary theory, and what are the primary challenges it faces today? For instance,
how does it grapple with ethical concerns, the utilization of algorithms, new
methodologies, and social relationships? Therefore, in your view, what are the key
challenges and contributions that digital sociology has also brought to social theory?
I mentioned that in my previous work, I extensively employed "codeine theory," which
significantly heightened my interest in the material dimension of existence. As utilized in its
theoretical approaches, the emblematic metaphor of the "panopticon" highlighted the intrinsic
material dimensions of the asylum and the prison system. I am not suggesting that the theory
of coding already encompassed a discussion imbued with place, space, and objects. However,
I focused more intensely on these dimensions in a context I refer to as "more-than-human."
While some employ the term "post-human," I prefer the expression "more-than-human."
Consequently, in my recent writings, which pertain not only to food but also to digital devices
and media, I strive to comprehend what I designate as "more-than-digital" dimensions in
people's lives. In this manner, whenever individuals interact with digital devices or software,
these interactions occur within a context of area and space about other people, living beings,
and objects in this realm that are not of a digital nature. Human bodies invariably are part of
environments that transcend the digital. I believe that, at times, in the field of digital sociology,
one can fall into the trap of excessive concentration on the digital aspect, neglecting that digital
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technologies are always used within a context of place and space and are not necessarily
confined to the online domain.
Let us take as an example, my research involving individuals who monitor their cycling
activities through digital devices, such as smartwatches or apps on their mobile devices, as well
as bicycle computers attached to their bikes. In this scenario, while moving through different
places and spaces on their bicycles, the bicycle, as an object itself, does not possess a digital
nature. However, through the use of cycle computers or apps that record the bike's movements
in space and place, such as the distance covered, cyclists digitize their experiences. It's
important to highlight that these movements occur within the context of places and spaces
involving interaction with other cyclists, pedestrians, and motor vehicles on the roads. Thus,
the constant movement through space and place during the bike ride generates digital data.
Furthermore, this dynamic includes interactions with other living beings, such as birds and
dogs, that may cross the cyclist's path and must be avoided. Likewise, the occasional presence
of air pollution constitutes an additional variable. Therefore, tracking bike activities is
characterized by a considerably broader dimension than the mere digital aspect. However, this
example is just one among many. The concept can be applied to any form of using digital
devices and media.
I frequently employ materialist feminism, referencing authors such as, Karen Barad,
Rosie Bray and Dotty Donna Haraway, and Jane Bennett's work, particularly in her book "The
Power". These four theorists play a fundamental role in my approach, and it is notable that I
consistently draw on the contributions of their works. However, it is imperative to recognize
that these theorists come from a white racial origin and enjoy privileges within the context of
the Global North, much like myself. A critical point raised about them is the potential neglect
of the millennia of wisdom and knowledge present in cultures which indigenous peoples
possess about the world. In Australia, we hold our indigenous peoples' most extended
continuous culture, specifically the Australian Aboriginal people. The recognition and
incorporation of the knowledge held by these communities are crucial in recent works.
Therefore, I have delved deeply into the reading of works that contain indigenous knowledge,
encompassing theoretical perspectives that extend beyond the borders of Australia, whenever
linguistic barriers did not limit me. Regrettably, my language proficiency is only the English,
constraining my understanding of works written in other languages. However, it is undeniable
that the field of social theory presents a predominance of colonial origin to the detriment of
representing theoretical perspectives originating from indigenous cultures.
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All of us should devote more attention to this perspective, as there is much to learn from
the knowledge held by indigenous communities. Within the scope of my work, I am committed
to integrating these theoretical approaches alongside empirical research. I am also interested in
employing innovative and creative methods to develop studies. Recently, I have been exploring
different techniques, such as creative writing, artistic expression, and the creation of zines.
These distinct analytical methods allow for examining how individuals interact with the digital
environment and, more significantly, with the world beyond human spheres. This realm of
exploration has ignited great enthusiasm within me, particularly concerning exhibitions.
Currently, I am in the process of curating two exhibitions aimed at the general public. My
approach involves utilizing artistic creation as a medium, focusing on museum exhibitions. This
strategy represents a new paradigm for research, translation, and audience engagement beyond
the academic context. The expectations for both productions are highly positive, with one of
them titled "The More than Human Wellbeing Exhibition". In this showcase, I present the
outcomes of recent research that have led to the creation of artistic works and the production of
a film to be screened.
One of the projects to which I have dedicated my efforts is a video documentary, the
process of which has provided me with substantial learning. Indeed, I am particularly excited
about this documentary, as it allows me to avoid the monotony of routines. I am inclined to
experiment with new approaches, and the second exhibition in which I am involved is linked
to a doctoral advisor, a sociologist, and an artist. Our investigation is centered around the
peculiarity of service robots, resulting in the exhibition "Living with Animal Robots". The theme
addresses animal-shaped robotic devices employed in care contexts such as the white seals
used in nursing homes for the elderly or people with dementia, a practice established for over
two decades and in situations of entertainment and companionship, like robotic dogs. Within
the framework of this exhibition, a variety of animal robots will be showcased, accompanied
by the contributions of artists in creating artwork. Furthermore, we will conduct applied
research that facilitates people's interaction with these animal robots, fostering discussions
about the sensations and relationships they establish with such devices. With projects of this
nature, I am deeply engaged at the present moment.
This content is also linked to my upcoming book titled "The internet of Animals", which
will be released in 2023. Therefore, this is the activity to which I am currently dedicated.
Regarding the digital health of human beings, it is evident that they constitute the epicenter of
considerations related to digital health. However, delving deeper into the analysis of human
Interview with Deborah Lupton
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digital health, an emerging perspective encompasses the well-being of individuals and the
planet. I am convinced that digital health will contain much more than the care and well-being
of the human species; it also includes the care and well-being of other forms of life, the
ecosystem, and the environment.
In the context of my book, "The internet of Animals", the chosen subtitle is "Human
Animal Relationships in the Digital Age". As a result, my research addresses animal robots and
extends to the field of intelligent agriculture, where livestock monitoring, for example, is carried
out using drones, wearable devices, and advanced detection technologies. I closely observe how
companion animals, such as dogs and cats, are increasingly under surveillance through apps
and wearable devices. In this way, a convergence emerges between the digitization and
monitoring methods employed for children and those used for pet animals. My focus extends
to the realm of gaming, encompassing not only animals present in entertainment apps but also
those integrated into console games. This is the perspective that I outline in my book. Therefore,
the exhibition centered around animal robots is a direct manifestation of the themes addressed
in the work I am about to launch.
Your research and book, “The internet of Animals”, are incredible! I didn't know you
were writing this book, and I'm not sure if Maycon was aware, but it's fantastic! As you
mentioned, I have many comments about how digital sociology can bring new ways of
conducting public sociology more meaningfully through art exhibitions and how we can
present online the research we have been working on social networks, etc. So, I don't want
to take up too much of your time, so I'll focus on the topic of digital food cultures.
Therefore, what issues or research agendas, do you believe are currently the most critical
and urgent in digital food studies?
Let us resume the discussion of the book entitled "The Internet of Animals," as the field
of intelligent agriculture maintains a clear connection with the production of food derived from
animals intended for consumption. Consequently, within agricultural circles, there is a growing
emphasis on the adoption of intelligent technologies for livestock monitoring. In this context,
it gives rise to the need not only for digital sociology but also for digital ethics. In other words,
the central theme underlying my book is the objectification of animals. Through this work, I
argued that the more we proceed with digitization and data generation, whether for food
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production or other purposes, the more we instrumentalize our relationship with animals.
Notably, the human perspective still privileges the "human," relegating everything related to
animal beings to a stigma. The differentiation and segregation of humans from other animals,
including in our language, create an environment in which digitization and depersonalization
of animals, particularly in food production, promote an increasingly pronounced distance
between us and these beings. Consequently, physical interactions and direct contact with these
animals are reduced.
An example of this is the digitized milking systems, in which there is often limited
human interaction with cows, as these animals are integrated into automated milking systems,
eliminating human touch. Although these practices undoubtedly raise ethical considerations
regarding the exploitation of cows for milk production, it is observed that traditional milking
maintains an embodied and often significant relationship between farmers and their animals.
As digitization intensifies and robots take over these tasks, the connection between humans and
animals weakens. Often, these methods of digitized monitoring, although identified as focused
on farm productivity, primarily prioritize the economic profitability of the producer rather than
the well-being of the animal itself. Another intriguing aspect is how farmers frequently use
social media to portray sunny images of happy animals on their properties. However, these
images completely omit the underlying issues related to the fate of these animals when directed
for slaughter. These seemingly content animals are slaughtered for human consumption or
economic profit.
I have presented and discussed various thought-provoking issues in this book. Like
many others, I have observed how animals are used for therapeutic purposes. On social media,
it is common to witness individuals resorting to endearing images of pets when feeling
somewhat disheartened. For instance, there are the so-called "Pet Zoos." Although I am
uncertain whether such a practice occurs in Brazil, Australia, at university institutions, or at
community fairs, pets and farm animals are made available for children and students to interact
with and fondle, aiming to foster well-being. This parallels the notion of bringing kittens to
universities to alleviate students' stress during examination periods. However, it is imperative
to consider that this approach can also be perceived as objectifying animals, reducing them to
mere therapeutic instruments for humans.
Interview with Deborah Lupton
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Another aspect addressed in my book is animal activism. A notable example is the
PETA
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movement, which combats animal cruelty and frequently centers on animal welfare. A
prominent topic is raising chickens on farms, with considerations regarding the organization of
egg or meat production. PETA adeptly employs digital media strategies, oscillating between
showcasing content of happy and adorable animals and presenting animals subjected to terrible
tortures. The organization has achieved success by leveraging the digital medium for activist
purposes. Thus, digital media experts working in nutrition should examine how this approach
has proven effective. Nevertheless, it is vital to acknowledge the ethical dilemmas involved,
considering the divergences that may arise concerning the rights of indigenous communities to
uphold their traditional hunting activities. Frequently, animal advocacy groups criticize and
condemn this practice. Indigenous communities may persuasively argue in favor of their ways
of life and traditions.
Ethical considerations warrant discussion both within the realm of digital food culture
studies and within research institutions. I address this theme in the book "The Internet of
Animals." It is evident that social media still significantly emphasize aspects such as bodies,
dimensions, and physical conformations. There is a noticeable rise in activism for body
positivity, encompassing the acceptance of various body shapes, including those categorized as
"plus-size." However, the persistent use of digital media platforms, such as Instagram, to
represent certain archetypes of bodies deemed more attractive continues. The ongoing use of
social media, exemplified by Twitter, promotes extreme practices related to eating disorders,
often utilizing specific hashtags that gather individuals engaged in such behavior. This aspect
is particularly intriguing, as these individuals are involved in digital cultures due to their
struggle against life-threateningly thin eating disorders. It's worth noting that they receive
extensive support and engagement through social media, especially on platforms like Twitter,
which do not tend to exercise as stringent control over such discourse as observed on other
social networks, such as Instagram. It's relevant to ponder the future of Twitter, given its recent
acquisition by Elon Musk.
In any case, a complex narrative underlies this situation. On the one hand, individuals
grappling with eating disorders often find support and assistance within these communities. In
this regard, I highlight the presence of an ethically relevant inquiry. Furthermore, specific
patterns of dietary practices are promoted more prominently than others. There is a movement
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Pessoas para o Tratamento Ético dos Animais (PETA)
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towards clean eating, the paleo diet, and other nutritional approaches and food trends that have
gained considerable momentum through social media platforms. Additionally, I consider
TikTok a platform of significant interest, although it still lacks in-depth investigation.
Individuals interested in the dynamics of digital food cultures tend to dedicate a substantial
portion of their time to TikTok, especially the younger demographic. I observe that a culinary
discourse flourishes within this demographica dialogue about cuisine, to put it more
accurately. This space presents a wide array of food-related content. However, I acknowledge
the plausible existence of harmful content related to dietary practices. While I have not
conducted specific research on the subject, I am aware of the presence of culinary advice and
short videos instructing in preparing healthy foodscontent that has proven beneficial to many
young individuals. In light of this, I emphasize the need for those interested in digital food
cultures to remain vigilant regarding the content disseminated on these platforms.
There are several pertinent issues concerning food activism within the context of digital
activism. Specifically, it is feasible to formulate a concept that addresses the
characterization of this type of activism, the engagement of individuals in it, and the
distinctions between digital activism and traditional activism, such as that conducted on
the streets and in social movements. Could you provide some information on these topics?
Once again, emerging digital platforms have been gaining popularity, which warrants
the attention of activists who need to harness them for their benefit. TikTok may be a future
trend until another platform arises.
However, it is noteworthy that young individuals are often the primary drivers of
activism, whether environmental, food-related, or of any nature. It is observed that issues like
climate change, for instance, have been the focus of numerous movements cleverly led by the
youth through social media. Therefore, I believe TikTok can effectively serve as an engagement
medium for those wishing to partake in such activities. Another positive aspect of TikTok is its
user-friendly interface for creating original content. Crafting a personal "TikTok" is
considerably more straightforward for the youth than producing more elaborate visuals, such
as those found on Instagram and YouTube. YouTube has proven to be a valuable tool, and
although I have previously mentioned this fact, it is essential to underscore that the platform
has been highly useful in reaching a broad audience. The youth also extensively employ
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YouTube to learn various tasks, from repairs to cooking, rendering it a popular platform in the
culinary realm.
Beyond the conventional use by food activists, there are additional opportunities to
amplify the popularity and use of YouTube. I analyzed culinary-related videos on the platform,
considering both those exploring more "exotic" culinary cultures and those focused on healthy
eating and physical activity. Thus, maintaining interest in diverse content is crucial, given the
multifaceted nature of YouTube. In this context, it is worth highlighting the organizations
above, such as PETA and the anti-animal cruelty movement, which have sparked substantial
debates across social media platforms.
How would it be possible to outline the definitions of food and digital food activism? We
want to gain insight into your perspective on your work titled "Digital Food Cultures." Is
it accurate to state that most of the book is centered around examples from Europe, the
United States, Australia, and New Zealand? In this context, what is your opinion
regarding the contributions of this book to understanding digital food cultures on a global
scale? Additionally, what is your viewpoint on expanding these investigations to other
regions where cultural and socioeconomic realities differ from those presented in the
book, as is the case in the African continent and Latin America?
Indeed, your observation is entirely accurate. The book's focus was established from the
perspective of English-speaking countries in the northern hemisphere. This inclination is partly
due to the origins of the two symposia I organized in collaboration with Zena Feldman. One of
these symposia took place in Australia under my coordination, while the other was held in
London and organized by Zena Feldman. The call for paper submissions was targeted, but it is
evident that geographical accessibility is a barrier for many individuals, particularly when
traveling to Australia due to its distant location from various parts of the globe, including the
southern and southeastern hemispheres.
Although the scope of the book is global, it is undeniable that there are significant
opportunities to give voice to perspectives from the southern hemisphere. The approach in the
book is globally oriented, yet it acknowledges the need for a more robust representation,
especially when considering voices from the southern hemisphere. My position is rooted in the
context of the Global North, where I conduct my research, primarily in Australia. Therefore,
this dynamic results in the participation of individuals from various ethnic and racial
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backgrounds. In working recruitment processes, they are not limited solely to groups of Anglo-
Celtic European descent. This trend is consistently observed in Australia, aligning with my
research setting. My role does not resemble that of an anthropologist who explores diverse
cultures. In reality, I am a sociologist focusing on Australian culture and society. However, it
is undeniable that such an approach needs to be implemented. Efforts in this direction must be
intensified. Establishing more effective networks between digital food activists and researchers
is essential. I acknowledge that, given my lack of experience in that specific context or
language, I am not in a position to offer concrete suggestions for such an endeavor, but it is
indisputable that this process needs to occur. (Could you remind me of the first part of the
question?).
The initial part of the question was how do you define digital food activism?
Digital? How would I define digital food activism? I would state that digital food
activism encompasses initiatives that have found space through digital communication devices
and platforms. However, it is essential to highlight that, when examining this sphere, it is
inevitable to predominantly observe the digital dimension, given that such expressions often
occur within these domains. Locations ranging from applications to social media primarily
utilize basic visual interfaces. I want to emphasize that research through Google, at least in the
northern hemisphere I cannot provide insight into the Global South represents a widely used
simple tool for many people to gather information and be directed to websites. This brings me
back to a more traditional style of research tools, which remains in high demand. Therefore, the
dynamics are not limited solely to innovative emerging technologies or robots. My studies have
indicated that people employ a variety of digital and technological devices, both modern and
more traditional.
I had the privilege of being part of the global health commission, an opportunity that
allowed me to interact with various researchers from Africa. One insight I gained from
participating in the mentioned commission is the focus on promoting health-related
technologies for youth, particularly in digital technology. However, it is essential to recognize
that approximately half of the world's population still lacks access to the Internet. In this
context, when considering solely how people can engage with digital devices through the
Internet, there is a risk of completely overlooking the lack of access. We are effectively dealing
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with a substantial portion of the Earth's population. Therefore, this is something we always need
to be mindful of.
Review: Ester Louback.
CRediT Author Statement
Acknowledgements: We would like to acknowledge the Sociology of Food Practices
Research Group (UFRGS) and the Digital Food Culture Research Group.
Funding: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG);
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: According to Resolution 510/2016 of the National Health Council, the
interview does not require approval from the Research Ethics Committee (CEP).
Data and material availability: Not applicable.
Authors' contributions: Deborah Lupton (Interviewed Author); Maycon Noremberg
Schubert and Marília Luz David (Conducted the interview with author Deborah Lupton);
Daniel Coelho de Oliveira and Arthur Saldanha dos Santos (Participated in the interview,
accompanied the translation and revision process).
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.