Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 1
O PENSAMENTO PÓS-MODERNO, A PERSPECTIVA DECOLONIAL E A
CONSTRUÇÃO ONTOEPISTEMOLÓGICA DA DEMOCRACIA NO SUL GLOBAL
PENSAMIENTO POSMODERNO, LA PERSPECTIVA DECOLONIAL Y LA
CONSTRUCCIÓN ONTOEPISTEMOLÓGICA DE LA DEMOCRACIA EN EL SUR
GLOBAL
POSTMODERN THOUGHT, THE DECOLONIAL PERSPECTIVE, AND THE
ONTOEPISTEMOLOGICAL CONSTRUCTION OF DEMOCRACY IN THE GLOBAL
SOUTH
Eliane Fernandes AZZARI1
e-mail: eliane.azzari@puc-campinas.edu.br
Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS2
e-mail: ana.ppprf@puccampinas.edu.br
Como referenciar este artigo:
AZZARI, E. F.; FREITAS, A. P. P. R. de. O pensamento
pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção
ontoepistemólogica da democracia no Sul Global. Rev.
Cadernos de Campo, Araraquara, v. 00, n. 00, e024022,
2024. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810
| Submetido em: 14/12/2023
| Revisões requeridas em: 29/02/2024
| Aprovado em: 09/05/2024
| Publicado em: 12/12/2024
Editores:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Profa. Me.Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Lucas Flôres Vasques
1
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas SP Brasil. Doutora em
Linguística Aplicada. Pesquisadora e professora permanente do PPG em Educação e da Faculdade de Letras.
2
Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), Campinas SP Brasil. Mestranda no PPG em
Linguagens, Mídia e Arte (PPG-Limiar).
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 2
RESUMO: Tomando o pensamento decolonial como elemento fundador para o surgimento de
epistemologias outras, discutimos a importância da virada pós-moderna para o enfrentamento
dos paradigmas coloniais/modernos e o desenvolvimento de estudos contemporâneos
envolvendo o conceito de democracia, a partir de olhares locais. Para isso, buscamos apoio em
Bezerra (2007) e Portela Júnior (2015), para abordar o conceito de modernidade e pós-
modernidade; em Queiroz (2020) e Mignolo (2020), para tratar do conceito de colonialidade, e
em Nascimento (2021), para interligar nossa discussão à ideia de lócus de enunciação.
Concluímos que adotar o pensamento pós-moderno, fundamentado na perspectiva dos estudos
decoloniais para pesquisas sobre democracia, contribui para a superação de arquétipos
socialmente compartilhados e perpetuados há séculos em países colonizados, como é o caso do
Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-modernidade. Estudos Decoloniais. Sul Global. Epistemologias.
RESUMEN: Tomando el pensamiento decolonial como elemento fundacional para el
surgimiento de otras epistemologías, discutimos la importancia del giro posmoderno para
confrontar los paradigmas coloniales/modernos y el desarrollo de estudios contemporáneos
que involucran el concepto de democracia desde perspectivas locales. Para ello, buscamos
apoyo en Bezerra (2007) y Júnior (2015), para abordar el concepto de modernidad y
posmodernidad; en Queiroz (2020) y Mignolo (2020), para abordar el concepto de
colonialidad, y en Nascimento (2021), para vincular nuestra discusión a la idea de locus de
enunciación. Concluimos que adoptar un pensamiento posmoderno, basado en la perspectiva
de los estudios decoloniales sobre la democracia, contribuye a superar arquetipos que han sido
socialmente compartidos y perpetuados durante siglos en países colonizados, como Brasil.
PALABRAS CLAVE: Posmodernidad. Estudios Decoloniales. Sul Global. Epistemologías.
ABSTRACT: Taking decolonial thought as a foundational element for the emergence of other
epistemologies, we discuss the importance of the postmodern turn in confronting
colonial/modern paradigms and the development of contemporary studies involving the concept
of democracy, from local perspectives. To this end, we draw on Bezerra (2007) and Portela
Júnior (2015) to address the concepts of modernity and postmodernity; Queiroz (2020) and
Mignolo (2020) to discuss the concept of coloniality; and Nascimento (2021) to link our
discussion to the idea of locus of enunciation. We conclude that adopting postmodern thought,
grounded in the perspective of decolonial studies for research on democracy, contributes to
overcoming socially shared archetypes perpetuated for centuries in colonized countries, such
as Brazil.
KEYWORDS: Postmodernity. Decolonial Studies. Global South. Epistemologies.
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 3
Introdução
Este trabalho apresenta nossa reflexão sobre potenciais contribuições de epistemologias
pós-modernas, marcadamente aquelas centradas na virada decolonial, para a realização de
pesquisas na área de ciências sociais e humanas. Acatando o pensamento decolonial como
elemento fundador para o surgimento de epistemologias outras, discutimos a importância da
virada pós-moderna para o enfrentamento dos paradigmas coloniais/modernos e o
desenvolvimento de estudos envolvendo o conceito de democracia, a partir de olhares locais.
Para isso, buscamos apoio em diferentes discussões no campo das ciências sociais e humanas,
incluindo-se entre eles a Sociologia, os Estudos da Linguagem e do campo da Educação.
Em relação à perspectiva metodológica, apresentamos um texto de caráter ensaístico
que, assim como as visões epistemológicas que defendemos, não se propõe a ser completo,
fechado ou prescritivo. De abordagem essencialmente qualitativa e interpretativa (Creswell, J.
W.; Creswell, J. D., 2021), entendemos se tratar de um texto crítico em que temos por objetivo
“[...] tornar claro outras possibilidades, novos caminhos. Para descobrir novas possibilidades
preciso ir além do que se vê. Um salto para o duvidoso, para o desconhecido e para o pouco
usual e aceito pelo sistema” (Boava; Macedo; Sette, 2020, p. 70). Por isso, não prometemos
apresentar respostas fechadas, mas logramos fomentar reflexões e questionamentos. Para tanto,
apoiamo-nos na pesquisa bibliográfica para tecer nossas visões e instigar proposições.
Inicialmente, tomamos por base para nossa discussão o trabalho de Bezerra (2007),
Portela Júnior (2015) e Mignolo (2020), que abordam os conceitos de modernidade e de pós-
modernidade, apontando suas principais características e paradigmas que orientaram (e, em
certa medida, ainda orientam) o fazer científico/a construção do conhecimento. Nesse viés, o
conceito de modernidade está (de modo intercambiável) associado à racionalidade e à
colonialidade que, desde o final do séc. XV até os primeiros momentos da globalização, têm
articulado “[...] um arcabouço e uma concepção do conhecimento baseados na distinção entre
a epistemologia e a hermenêutica e, ao fazê-lo, subalternizaram outros tipos de conhecimento”
(Mignolo, 2020, p. 36).
Adiante, nesta discussão, retomamos as considerações de Mignolo (2020), para articular
a noção de colonialidade e, especialmente, a da “diferença colonial” (i.e., espaço de emergência
da “colonialidade do poder”), para ponderarmos a eminência do enfrentamento consciente aos
paradigmas hegemônicos, com vista à construção de epistemologias destacadas na/pela virada
decolonial e apontamos a importância de pautarmos a decolonialidade e(m) defesa de estudos
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 4
desenvolvidos sob a perspectiva do Sul global e o consequente fortalecimento de
epistemologias que valorizam o ser/saber a partir de olhares outros.
Finalmente, abordamos o embate social contemporâneo em torno do ideário de
democracia, ancoradas nos estudos de Miguel (2022) e Engelke (2022), que operam no campo
das Ciências Sociais, e de Apple (2020) e Saviani (2021), que centram suas discussões no
âmbito da Educação. Por fim, articulamos diálogos com o conceito de “lócus da enunciação”
(Nascimento, 2021) e, à guisa de exemplar para nossa argumentação, trazemos o caso do
recente massacre ocorrido na reserva Yanomami.
Desejamos defender a ideia de que, ao acatarmos o viés do pensamento pós-moderno e
a perspectiva de estudos decoloniais e de abordagem crítica (Hooks, 2020), ampliamos
possibilidades para a construção de ontoepistemologias voltadas à superação de arquétipos
socialmente compartilhados e perpetuados há séculos, em países colonizados como é o caso
do Brasil.
Modernidade, pensamento pós-moderno e o giro decolonial
Problematizar questões caras à sociedade é, por excelência, função seminal do fazer
científico. Entretanto, a questão que aqui apresentamos é a de refletir sobre a qual tipo de ciência
esse fazer se refere, ou seja, sobre que/quais ontologia(s) tem/têm mobilizado a realização de
pesquisas no cenário contemporâneo e, simultaneamente, de que epistemologias têm se
ocupado, recentemente, os cientistas sociais e das humanidades.
De acordo com Portela Júnior (2015, p. 77-78), na década de 1950
3
iniciou-se a
problematização de termos como colonialidade/pós-colonialidade
4
e modernidade/pós-
modernidade. Com o passar do tempo, essa tendência se espalhou por outros continentes e, aos
poucos, vem se fortalecendo como uma alternativa para se compreender questões primordiais
aos povos colonizados, marcados por relações de poder e opressão, estabelecidas pelos
colonizadores.
Por modernidade, compreendemos o movimento filosófico, cultural e ideológico
europeu, marcado pelo pensamento Iluminista do século XVIII, cuja fundamentação apoiou-se
3
Para alguns autores, a exemplo de Bezerra (2007, p. 191), a década de 1960, marcada por movimentos de
contestação política e cultural, a chamada contracultura, em que minorias como mulheres, estudantes, negros,
homossexuais, entre outros, vieram a público clamar pelo direito de defender seus direitos, pode ser considerada
o início do que viria a ser a virada pós-moderna.
4
Tem sido frequente o uso das expressões descolonialidade e decolonialidade, como sendo igualmente sinônimas
à expressão pós-colonialidade. Aqui, adotaremos a expressão decolonialidade, de acordo com Queiroz (2020).
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 5
no uso da razão na busca pelo conhecimento, nas mais variadas áreas, incluindo a de
humanidades. Como consequência, emergiram ontologias que abordam o ser humano a partir
do pensamento racional e estruturalista. Nessa perspectiva, o indivíduo estaria “liberto” das
explicações míticas e religiosas para muitos dos fenômenos de seu tempo. Assim, “[a] razão
passa a ser entendida, pois, como processo de esclarecimento, autoconsciência e
desencantamento da natureza e do mundo, na perspectiva de garantir autonomia e a liberdade
do homem” (Bezerra, 2007, p. 181-182).
Por suposto, em oposição ao pensamento medieval, os postulados modernos
representaram (e ainda representam) um grande avanço em todas as áreas, incluindo,
naturalmente, o fazer científico. Contudo, com o avançar dos tempos, seria natural (e até mesmo
desejável) que surgissem questionamentos à modernidade, sobre aquilo que ela não conseguisse
contemplar a partir de suas premissas, já estruturalmente estabelecidas.
Desses questionamentos advm o chamado “pensamento pós-moderno”, a partir da
segunda metade do século XX, em oposição ao viés da modernidade que, até então, sempre
primara pela racionalidade e pela exatidão nas análises de dados científicos. Assim, a pós-
modernidade trouxe consigo a perspectiva da imprecisão, da pluralidade, mas também da
individualidade, do particular, colaborando para o despertar de uma nova ciência, disposta ao
estudo de temas muitas vezes preteridos pela modernidade, por não se encaixarem nos
postulados cartesianos, a exemplo do que se pode observar nas mais diversas pesquisas em
ciências sociais e/ou humanas.
Nesse sentido, Queiroz (2020), afirma que
[d]e fato, após o fim da Segunda Guerra Mundial, os cientistas das ciências
sociais e das humanidades começaram a perceber com mais veemência as
fraquezas do discurso racional moderno, não havendo como negar que o
paradigma revestido pelas máscaras do positivismo e do progresso dos povos
passava por uma espécie de crise ética sem previsão de freios (Queiroz, 2020,
p. 29).
Ora, se hoje a academia tem se dedicado a discussões sobre a validade do pensamento
moderno e estruturalista para muitas pesquisas contemporâneas que se desenham, é porque
muito do que se concebeu como epistemologias aaqui, embora ainda válido em contextos
outros, talvez não esteja sendo suficiente para amparar o desenvolvimento de estudos
contemporâneos, especialmente aqueles realizados no campo das humanidades. Daí a
importância de se promover o diálogo sobre o tema, tão necessário, como uma alternativa às
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 6
limitações da hegemonia positivista e tecnicista da modernidade para determinar pesquisas,
especialmente aquelas que ainda estão por vir.
Nesse novo contexto, que agora valoriza o local, o plural, o ignorado, desponta também
o chamado pensamento decolonial como uma alternativa de se fazer ouvir minorias silenciadas
durante e após o período de colonização europeia e, também, após a Segunda Guerra, com o
surgimento de novas potências econômicas no cenário mundial. Ademais, como pontuam Lírio
e Azzari (2023, p. 243), “[...] a descolonização do conhecimento demanda o respeito e o
comprometimento com cosmologias não ocidentais trazidas por pensadores críticos oriundos
do Sul Global”. Importa registrar que, neste trabalho, empregamos o termo Sul Global tendo
em mente o pensamento decolonial produzido em contrapartida à colonialidade que
derivou/deriva da colonização territorial, socioeconômica e/ou cultural, emergente
especialmente em/de países da América, da África e da Ásia. Para tanto, assim como Menezes
de Souza e Hashiguti (2023), concordamos com Mignolo (2011), que enfatiza que
[...] o pensamento decolonial surge juntamente com a fundação da
modernidade/colonialidade, quando dos processos colonizatórios das
Américas, e como sua contraposição. (...) esse pensamento continuou se
desenvolvendo também nas colonizações ocorridas na Ásia e na África e,
posteriormente, no período de independência das colônias nos diferentes
continentes, tendo ainda se mantido também no contexto da Guerra Fria e da
ascensão estadunidense como potência mundial, momento, então, em que a
genealogia própria do que se constituiria como virada decolonial começa a se
definir (Mignolo, 2011, p. 46 apud Menezes de Souza; Hashiguti, 2023, p.
150).
No que diz respeito a esse assunto, Mignolo (2020, p. 9), numa obra mais recente,
defende que o pensamento decolonial emerge da necessidade de olhar para o mundo “de fora”
do sistema mundial moderno, em que a chamada “diferença colonial” se estabeleceu e que, até
meados do século XX, firmou-se por intermédio da manutenção entre centro e periferias. Mais
adiante, o mesmo autor (Mignolo, 2020, p. 10) aponta que “[...] a diferença colonial  o espaço
onde emerge a colonialidade do poder. A diferença colonial é o espaço onde as histórias locais
que estão inventando e implementando os projetos globais encontram aquelas histórias locais
que os recebem”. Assim, complementando esse pensamento, o estudioso esclarece que a
“diferença colonial” pode ser compreendida como um lugar (“tanto físico quanto imaginário”)
em que há espaço para a colonialidade do poder atuar.
Nesse cenário, acreditamos que tomar parte nos estudos que têm sido desenvolvidos
nesse campo é uma ão importante, que merece ser vista como real interesse das comunidades
acadêmico-científicas latino-americanas, nas quais, enquanto brasileiros, estamos inseridos.
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 7
Colonizados, fomos até aqui regidos pelo fazer científico estruturalista/racional da
colonialidade/modernidade. Portela Júnior (2015, p. 78), ao refletir sobre as contribuições
epistemológicas da ontologia pós-moderna, afirma que
[as] perspectivas denominadas de pós-coloniais possuem em comum uma
referência crítica do discurso da modernidade, o qual foi construído histórica
e socialmente a partir de binarismos e essencialismos conceituais
(Leste/Oeste, Norte/Sul, Centro/Periferia, Desenvolvido/Subdesenvolvido...)
que remetem, em sua conformação, ao processo de colonização pelas
metrópoles europeias (Portela Júnior, 2015, p. 78).
Dessa forma, estabelece-se relação entre a colonização e o fazer científico ainda
predominantemente orientado pelo olhar colonialista eurocêntrico, que foi/é fortemente
amparado por/nos paradigmas da modernidade. Nesse sentido, surge nosso interesse em
(re)visitar essas paisagens social e historicamente situadas, a fim de que possamos vislumbrar
estudos contemporâneos que contemplem, entre outros aspectos, a construção de conceitos de
democracia em nossa localidade, conquanto se orientem a partir do olhar do Sul global.
Assim como Portela Júnior (2015), entendemos que, paralelamente à colonização
territorial das Américas, houve também a colonização dos saberes, que culminou com a
formulação de uma narrativa onde a Europa foi tomada como único centro de referência e, por
conseguinte, como a representante da norma epistemológica vigente. Logo, a epistemologia
dominante tornou-se o único peso e a única medida para qualquer estudo realizado. Essa é uma
característica marcante para a diferença colonial que, como enfatiza Mignolo (2020, p. 11),
“[...] cria condições para situações dialógicas nas quais se encena, do ponto de vista subalterno,
uma enunciação fraturada, como reação ao discurso e à perspectiva hegemônica.”
Portela Júnior (2015, p. 88), recorrendo a Martuccelli (2010, p. 25-36), pondera que as
ciências sociais, orientadas pelo olhar eurocêntrico, têm contribuído muito pouco para o
conhecimento das especificidades históricas e culturais dos países colonizados, que têm
servido mais para identificar o que lhes falta e o que precisa “ser superado”. Ou seja, ao longo
dos últimos séculos, perdemos a referência local do que somos e do que queremos ser, para nos
caracterizarmos com base naquilo de que carecemos, orientando-nos por construções
enviesadas no/pelo olhar do Norte Global.
Corroborando essa discussão, Queiroz (2020, p. 55) ressalta que a chamada
“colonialidade do poder”, fundamentada no pensamento moderno, tem como característica a
flexibilização e a adaptação a realidades, de modo que seu “[...]discurso pareça ser
indispensável e natural”. Ainda, o autor busca apoio em Quijano (1992) para argumentar que a
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 8
tomada de consciência acerca desse projeto modernista e a tomada de um posicionamento de
negação desses paradigmas vigentes, por si só, não são suficientes como ação contra-
hegemônica, nem mesmo no campo da produção do conhecimento. Conforme Quijano (1992),
faz-se necessária a busca pela libertação do conhecimento do cárcere da modernidade e da
racionalidade europeia o que implica investir no pensamento decolonial.
A isso, corresponde dizer que nosso fazer científico estabeleceu-se a partir do modus
operandi do colonizador, acatado como viés exclusivo. Dessa maneira, o a forma, mas
também o conteúdo das pesquisas desenvolvidas, até então, têm sido delimitados pela ótica dos
dominadores, e nunca pela ótica dos dominados, silenciados por séculos de exclusão. Nesse
sentido, Walsh (2013, p. 25, nossa tradução) argumenta que, quando confrontados por/ao
confrontar a colonialidade, não é possível manter-se uma suposta postura de neutralidade, mas
que, ao contrário, preciso assumir “[...] posturas, posicionamentos, horizontes e projetos de
resistir, transgredir, intervir, (in)surgir, acreditar e incidir”.
Desse modo, acreditamos que acatar epistemologias decoloniais para o/no fazer
científico contemporâneo implica assumir projetos e fazeres transgressores que, ao garantirem
o aumento da representatividade científica do Sul global no cenário acadêmico mundial, podem
contribuir para a superação de arquétipos coloniais.
Diante desse cenário, a seguir, passamos a abordar questões relativas ao papel/lugar
ocupado pela linguagem na trama e na articulação de uma ciência que acata formas outras para
o ser/saber/poder.
Ontoepistemologias outras para o fazer científico e o papel da linguagem
Nesta parte de nosso trabalho, partimos da seguinte questão: o que esperar dos
construtos científicos decoloniais, advindos do pensamento pós-moderno?
Bezerra (2007, p. 199-200), em um estudo preliminar sobre a virada epistemológica da
modernidade para a pós-modernidade, e referindo-se ao projeto pós-moderno, destaca a “[...]
ênfase no outro da razão, no que teria sido esquecido, subsumido ou reduzido com a prevalência
da lógica cartesiana na ciência moderna, a saber: a problemática da diferença, da imaginação,
do imponderável, da heterogeneidade, da pluralidade”. Conforme sugere essa autora, é preciso
considerar que a reconhecida ausência de consenso em torno do pensamento pós-moderno não
invalida a sua contribuição no estudo dos fenômenos sociais e no enfrentamento da hegemonia
cartesiana moderna, já que é inegável seu potencial de contribuição às pesquisas em devir.
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 9
De tal forma, compreendemos que estudos decoloniais favorecem a realização de
pesquisas comprometidas com as realidades das quais emergem e, por conseguinte, contribuem
para o estabelecimento de paradigmas outros, centrados em epistemologias alternativas que
vêm ao encontro das necessidades do fazer científico contemporâneo. Esse é um movimento de
grande importância no/para o campo do fazer científico quando o que se busca é o
enfrentamento do “imaginário do sistema mundial colonial/moderno” que, segundo Mignolo
(2020, p. 51), “[...] não  apenas visível sobre o ‘solo’, mas que permanece escondido da vista
no “subsolo” por sucessivas camadas de povos e territórios mapeados”. O autor ressalta que
não se trata de proclamar um “estudo” ou “representação” do subalterno, porque isso
significaria promover “[...] hipóteses denotativas epistêmicas”, o que ele nomeia por
“epistemologia territorial” que , “[...] nos termos de Ortega Y Gasset, o ‘inimigo’”. Por isso,
Mignolo (2020, p. 51-52) aponta que seria mais adequado questionarmos “[...] quais são o solo,
o subsolo e o inimigo dessas e de outras narrativas?”
Nessa direção, centrado nas mudanças no imaginário mundial colonial/moderno, esse
estudioso salienta que preciso “[...] fazer um esforço para enxergar além dos mapas as
diferenças coloniais, forjadas no século 16 e depois sempre reformuladas até o atual cenário da
colonialidade global (Mignolo, 2020, p. 61).
Seguindo esse pensamento, acreditamos que adotar essa perspectiva pode viabilizar a
realização de projetos de pesquisa que, rompendo com a lógica modernidade/colonialidade,
contribuam para lançar luz sobre concepções de democracia que circulam em espaços sociais
de países colonizados, refletindo, em grande medida, o “imaginário mundial” constituído a
partir da lógica de opressão e da dominação do presente-passado. Identificar tais visões é crucial
para que possamos problematizá-las em trabalhos científicos que sejam orientados pela
perspectiva do Sul global.
Para abordar esse “imaginário”, preciso entender que “[...] cada ato locutivo ao
mesmo tempo um pronunciamento contra e um “pronunciamento em direção à” (Mignolo,
2020, p. 51). O pesquisador complementa essa ideia afirmando que “[e]sse duplo movimento
vai adquirir uma dimensão complexa quando considerado na interseção das histórias locais e
dos projetos globais e na interseção dos solos e subsolos hegemônicos e subalternos” (Mignolo,
2020, p. 51).
De nosso ponto de vista, para tratarmos desses atos locutivos, é necessário abordar a
linguagem e as práticas linguísticas sob orientação crítica. Hooks (2020, p. 33) defende que
desenvolver o pensamento crítico demanda “[...] primeiro descobrir o “quem”, o “o quê”, o
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 10
“quando”, o “onde” e o “como” das coisas”. Disso implica-se que é preciso também decolonizar
nossas próprias visões de língua/linguagem, acatando “[...] a cumplicidade entre língua,
literatura, cultura e nação” que, no projeto da modernidade/colonialidade “[...] relacionava-se
tambm com a ordem geopolítica e as fronteiras geográficas”, como afirma Mignolo (2020, p.
291). Embarcar num mergulho acerca dessa questão é, portanto, fundamental para que
possamos travar enfrentamentos com a colonialidade do poder e firmar nosso foco na diferença
colonial, elementos que atuam nas narrativas materializadas por/que materializam as
línguas/linguagens e, consequentemente, as culturas.
Aproximando os pensamentos de Mignolo (2020) e de Hooks (2020) supracitados,
entendemos que fazer ciência a partir de ontoepistemologias orientadas nessas vertentes, que
estão abrigadas no guarda-chuva do “pensamento pós-moderno”, implica questionar,
(re)contar, (re)construir e (re)significar narrativas a partir de um posicionamento contra-
hegemônico.
Apenas quando ciente do que deseja, do que lhe falta e de seus direitos, ou seja, quando
se consegue pensar criticamente nos moldes discutidos por Hooks (2020), é que os cidadãos
apresentam condições para buscar a superação das formas representativas da desigualdade, do
abandono e do desrespeito de sua situação como sujeitos em um Estado democrático. Assim,
carência de uma consciência política que seja socialmente compartilhada, nascida das/nas
práticas cotidianas, e que possa funcionar como mola propulsora para o enfrentamento da
colonização do saber/poder.
Enquanto a voz ressoante e replicada nos vários contextos continuar a ser a da
hegemonia dominante, pautada pelo pensamento da modernidade/colonialidade, não haverá
mudanças. Diante disso, registramos a seguir o nosso interesse em articular um resgate do
conceito de democracia.
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 11
As imbricações de diferentes versões de “democracia” e a contribuição do pensamento
decolonial
Neste ponto de nossa discussão, desejamos ponderar inter-relações acerca do potencial
de adotarmos o viés decolonial como paradigma para se pensar e para construir fazeres
científicos pautados em/por estudos que giram em torno do conceito de democracia. Consoante
Queiroz (2020, p. 55), a consciência sobre a colonialidade apresenta possibilidades para a
existência do “[...] contradiscurso e ou alternativas discursivas”. Por isso, se faz necessário
considerar as vozes silenciadas pelo discurso dominante que, ainda que estejam minimizadas,
não deixam de existir. Assim, mais do que a qualquer outro povo, interessa ao colonizado, uma
vez ciente do que representa o peso histórico, político e social da colonização, compreender o
significado da palavra democracia e o quanto os diferentes conceitos em relação ao termo têm
determinado as relações sociais e, inclusive, perpetuado práticas sociais opressoras e
conflitantes.
Refletindo sobre práticas sociais e(m) ambientes escolares, Saviani (2021, p. 15) se
refere à “violência simbólica”, presente nas situações em que o arcabouço cultural dos grupos
hegemônicos imposto pela classe dominante aos dominados, esclarecendo que [...] à
violência material (dominação econômica) exercida pelos grupos ou classes dominantes sobre
os grupos ou classes dominadas corresponde a violência simbólica (dominação cultural)”. Para
o pesquisador, uma relação evidente entre práticas escolares e práticas sociais para o
processo de construção de uma sociedade que se constitua (ou não) democrática. A esse
respeito, lembramos que a dominação cultural a que temos sido submetidos ao longo dos
séculos se manifesta diariamente em nossas escolas. Consoante Saviani (2021, p. 61) “[...]
importa reter que o critério para se aferir o grau em que a prática pedagógica contribui para a
instauração de relações democráticas não é interno, mas tem suas raízes para além da prática
pedagógica propriamente dita”.
Também contextualizando suas discussões no campo educacional, Apple (2020, p. 15)
sinaliza a necessidade de problematizar diferentes versões de democracia que circulam
socialmente e que são, segundo o estudioso, amparadas por visões mundo (ontologias) que
variam entre “densas” que advogam “[...] a plena participação coletiva para alcançar o bem
comum e a formação de cidadãos críticos” –, e “versões magras” – que estão “[...]voltadas para
o mercado e a opção de consumo, de posse individualista (...) enquanto instrumento para a
satisfação de uma srie limitada de necessidades econômicas definidas pelos poderosos”.
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 12
Assim, na visão desse autor, está claro que uma “disputa em andamento” entre versões de
democracia que se colocam como conceitos divergentes.
De nosso ponto de vista, tal disputa é resultante do estabelecimento da preponderância
do viés do pensamento da modernidade/colonialidade e precisa ser confrontado do ponto de
vista da ótica decolonial, de forma que se possa iniciar processos de desconstrução e
enfrentamento de perspectivas epistemologicamente fundamentadas no pensamento
hegemônico eurocêntrico e colonizador do saber/poder. Assim, como argumenta Apple (2020,
p. 15), acreditamos que seja preciso “[...] entender melhor o que efetivamente acontece quando
essas diferentes noções de democracia se confrontam nas escolas e comunidades”, por exemplo.
O pesquisador supracitado esclarece a necessidade de adotarmos uma postura contra-
hegemônica que inclua “[...] muitas formas e orientações institucionais e ideológicas, todas elas
voltadas para uma política de interrupção das práticas dominantes” (Apple, 2020, p. 19). Mas
seria possível pensar que essas diferentes versões que circulam socialmente, descritas por Apple
(2020), são indícios de (uma) crise da democracia?
Para Engelke (2022, p. 59-61), vivenciamos uma “desdemocratização” no Brasil, no
sculo XXI. Segundo o autor, a “[...]erosão democrática que tem caracterizado o Brasil e
diversos outros países na última década é um processo multifacetado, com diferentes origens,
efeitos e perspectivas de análise”. Em sua proposta, Engelke (2022) tece argumentos para
sustentar a tese de que atravessamos um visível processo de retrocesso da democracia brasileira,
um quadro com “efeitos deletrios”, que enfraquecem e fragilizam “[...] o valor da democracia”.
O pesquisador apoia sua argumentação no trabalho de Miguel (2022), que este considera que
há um “colapso da democracia”, não apenas no Brasil, mas no Sul Global.
De acordo com Miguel (2022, p. 16), a desdemocratização é parte de um processo que
visa à “[...] retração do poder da soberania popular para constranger a ação de grupos poderosos,
a começar pelas classes proprietárias”. Um processo permeado por elementos simbólicos, mas
também econômicos e políticos. Nesse contexto, atua-se de forma centrífuga: de dentro do jogo
democrático, por intermédio de suas regras, desgasta-se a própria democracia com pautas que
questionam os próprios princípios democráticos. Dessa forma,
[o] primeiro conjunto de evidências que sustenta a ideia de crise da
democracia se liga, portanto, à capacidade que atores antidemocráticos
demonstram de triunfar por dentro das regras do jogo, para a partir daí
adulterá-las, atualizando e dando dramaticidade a antigas questões de filosofia
política: devemos tolerar os intolerantes? Devemos dar liberdade aos
liberticidas? Como combinar a regra da maioria com o respeito aos direitos
das minorias? (Miguel, 2022, p. 26-27).
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 13
Diante desse contexto social, justifica-se a proposta de abordar os estudos sociais e
humanos pela perspectiva da decolonialidade, entendida como uma ação (in)surgente e uma
resposta às forças centrífugas que, ainda fortemente influenciadas pelo pensamento da
modernidade/colonialidade, buscam desestabilizar as estruturas democráticas. Evidentemente,
analisar essas questões sob a ótica do fazer científico do Norte Global não favorece os contextos
locais, que enfrentam processos de erosão democrática. Portanto,
[é]necessário (...) interpretar os fenômenos da retração democrática na
América Latina não como meros exemplos de um processo global e sim
levando em consideração suas condições peculiares. [...] a importação do
referencial teórico que estuda a desdemocratização nos países do Norte não é
suficiente. Talvez uma construção teórica atenta aos obstáculos à democracia
que sempre operaram em nossos países seja mais capaz de iluminar a
excepcionalidade histórica [...] (Miguel, 2022, p. 96-97).
Como sugere Queiroz (2020, p. 67), acreditamos que, ao soltarmos as amarras da
dominação do pensamento calcado na modernidade/colonialidade, olhares decoloniais são
favorecidos para a investigação dos fenômenos sociais em que estamos imersos e, com isso,
torna-se possível ecoar/reverberar subjetividades silenciadas ao longo dos tempos. Desse modo,
ao investigar, identificar, descrever e problematizar os vários conceitos (correntes) de
democracia por intermédio de trabalhos científicos que se pautem na visada decolonial, poderão
emergir rotas para a compreensão acerca das narrativas e das práticas sociais que os sustentam
(não apenas “no solo”, mas tambm no “subsolo”), e que, concomitantemente, fomentam a/
estabelecem-se a partir de desequilíbrios fundamentados pela colonização do conhecimento.
Nesse contexto, ao resgatarmos a visada decolonial, desejamos suscitar o (re)pensar de práticas
sociais e de políticas por um viés que rompa com os paradigmas estabelecidos a partir de atos
locutivos advindos do pensamento do Norte global, pensamento que nos encaminha para
discussão do lócus de enunciação.
Marcar o não marcado: lócus de enunciação, voz e silenciamento
Referindo-se à importância de resgatarmos vozes silenciadas, Nascimento (2021)
considera que “[...] trazer o corpo de volta fala] tem a ver com recuperar a experiência de
existência que tem sido sequestrada consistentemente pela colonialidade at os dias atuais”
(Nascimento, 2021, p. 66, grifo do autor). Valorizar o lugar de fala, comunidades oriundas de
países colonizados, por exemplo, e seus respectivos e variados lócus de enunciação implica
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 14
fazer-se ouvir àqueles que carregam em si o peso de um passado de opressão, de exclusão, de
autoritarismo e de abusos dos mais variados para, com isso (quem sabe), caminharmos rumo à
superação desses obstáculos seculares.
O conceito de lócus de enunciação está imbricado a noção de que diferentes enunciados
tanto geram quanto carregam múltiplos discursos que têm como marca o lugar de fala do
enunciador. A construção do discurso hegemônico advém da perpetuação de determinada(s)
narrativa(s), sempre orientada(s) a partir de um mesmo lócus de enunciação. Para contrapor-se
a esse movimento de colonização do saber/poder histórico, é preciso retomar o lócus de
enunciação e, também, acatar-se perspectivas outras para as narrativas, e, para isso, é necessário
“trazer o corpo de volta” à fala, como defende Nascimento (2021, p. 66).
A importância de se “trazer o corpo de volta” para o enfrentamento da hegemonia
colonial reside não apenas na perspectiva, mas na ideia de fazer-se justiça epistêmica. Para além
do campo educacional, trazemos à pauta uma questão social brasileira historicamente
construída, mas recentemente visibilizada pela veiculação midiática, e que nos permite
questionar os “atos locutivos” (Mignolo, 2020) que constroem/são construídos por narrativas
contemporâneas orientadas pela perspectiva do saber/poder da colonialidade. Vejamos o caso
dos povos Yanomami como exemplo para melhor compreender a importância de se abordar o
conceito de democracia a partir da visada decolonial.
Habitantes originários das florestas tropicais amazônicas, cerca de mil anos, os
Yanomami
5
ocupam uma área que se localiza nos limites entre Brasil e Venezuela, e estão
divididos em comunidades, sendo liderados pelos xamãs (líderes comunitários e espirituais).
Vivem de acordo com suas tradições (pesca, caça e atividade agrícola). Desde a década de 1970,
com a chegada do garimpo, sofrem com ataques e epidemias trazidos pela exploração ilegal,
que, além de mortalidade, leva à poluição por mercúrio ao meio ambiente, entre outros
problemas.
No ano de 2023, acompanhamos, pelas mídias jornalísticas, notícias
6
que descreviam a
degradante situação de abandono e de ausência de direitos na qual se encontrava uma população
Yanomami (que morria, em sua maioria, de causas evitáveis; a desnutrição, por exemplo), fato
que acabou por dizimar parte da população, representada em grande número por crianças. Não
se trata de um episódio datado dos anos iniciais da colonização das terras brasileiras, mas de
ocorrência atual, noticiada em pleno século XXI, ou seja, mais de quatrocentos anos após o
5
Para saber mais, clique aqui.
6
Para saber mais, clique aqui.
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 15
início da ocupação. Vê-se aqui um evento que denota a perpetuação do descaso colonial com
os povos originários, que ainda está manifesto de forma muito clara e contundente nos dias
correntes: uma comunidade que tem sido desprovida do Estado democrático.
Expressando opinião semelhante às nossas, Queiroz (2020) se refere a comunidades
indígenas do período da colonização, lembrando que elas
[...] foram colocadas à margem da geopolítica das epistemes, foram negadas
em suas histórias, condenadas, rejeitadas e desautorizadas, pelas comunidades
colonizadoras, a produzirem quaisquer tipos de epistemologias com ‘validade’
(Queiroz, 2020, p. 48).
O caso Yanomami serve como exemplo para problematizar as “diferentes versões” de
democracia a que se refere Apple (2020), se lhes têm sido negado o direito à vida, não é difícil
concluir que todos os demais, prometidos pelo Estado democrático de direito a todos os
brasileiros de acordo com o Artigo 5º da Constituição Federal
7
, lhes estejam sendo igualmente
negados. Infelizmente, essa situação representa um entre tantos outros exemplares de violência
e de afronta aos direitos humanos sofridos durante a colonização e que, infelizmente, ainda
hoje, se refletem nas práticas sociais brasileiras, como marcas da naturalização da
colonialidade
8
.
Ao tratar da colonialidade, Queiroz (2020, p. 63), leitor de Mignolo (2010a, p. 14),
destaca que esse conceito tem exercido importante papel ao abrir espaços para a restauração e
a reconstrução de “[...] histórias silenciadas, subjetividades reprimidas, linguagens e
conhecimentos subalternizados pela ideia de Totalidade definida sob o nome de modernidade
e racionalidade”. De nosso ponto de vista, as ideias desse autor ratificam o tratamento imputado
ao povo Yanomami, ainda hoje, em meio a um Estado “democrático”.
A questão Yanomami que aqui retomamos representa, de forma bastante emblemática
e atual, um triste exemplo do quanto precisamos estar atentos para marcar o não marcado, para
que antigos padrões sociais sejam superados. Portanto, se a colonialidade não é posta em
discussão, esta permanece estruturalmente instituída e repetindo, num eterno continuum,
ideologias de dominação, opressão e de desigualdade e, ainda que de modo dissimulado e/ou
inconsciente, passamos a naturalizar o que deveríamos rejeitar. De nosso ponto de vista,
7
O Artigo 5º da Constituição Federal de 1988 prevê a todos brasileiros e aos que vivem no país: direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.
8
Queiroz (2020, p. 52) ressalta que diferença entre os conceitos de colonização período histórico situado
entre os sculos XVI e XX − e colonialidade − discurso de dominação que permanece at os dias atuais.
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 16
naturalizar eventos que reforçam o silenciamento de minorias há muito colonizadas é entrar no
jogo de implosão da democracia a que se referem Miguel (2022) e Engelke (2022).
Desse modo, concluímos que, ainda atualmente, muitas são as formas de controle e de
manutenção das relações coloniais do saber e do poder.
Considerações finais
O presente trabalho teve por intenção apresentar brevemente nossas reflexões acerca da
importância de retomarmos a discussão sobre os conceitos de modernidade/colonialidade e de
pós-modernidade/decolonialidade e inter-relacioná-los em suas interfaces com a possível
identificação (e a consequente problematização) de (diferentes) noções de democracia. Em
nossa proposta, acatamos a construção de tais conceitos e relações como processos
ontoepistemológicos que têm se perpetuado em sociedades do Sul Global, tais como a
brasileira, em que marcas cotidianas da colonialidade do pensar e, também, do atuar pela
linguagem.
Não tratamos aqui de desconsiderar as contribuições trazidas pelas epistemologias
modernas, mas desejamos questionar os direcionamentos ontoepistemológicos que têm
orientado as práticas social e historicamente marcadas pelo projeto da modernidade. Nessa
direção, defendemos nossa visão favorável à adoção de posturas de enfrentamento aos discursos
hegemônicos (que são/estão pautados no pensamento moderno/colonial), e advogamos o fazer
científico voltado à produção de conhecimento orientada pela perspectiva decolonial, a fim de
estimular a (des)construção de modos de ser e de estar no mundo.
Para tanto, entendemos que seja preciso adotar posturas e pensamentos críticos, que
retomem os atos locucionais a partir da noção do lócus da enunciação, de modo que se possa
visibilizar os vieses orientadores que constroem, divulgam, estabelecem e fazem a manutenção
de narrativas coloniais e colonialistas. O enfrentamento deve partir da disputa, do
questionamento acerca de quem fala, para quem fala, como fala, por que fala, quando fala e,
acima de tudo, quem é que, nesta sociedade, detém (ou não) o poder de falar.
Da mesma forma, propusemos uma reflexão sobre a importância e a necessidade de se
retomar a contribuição da visada decolonial no entendimento e na superação de desafios ainda
enfrentados pelos povos colonizados. Ainda muito a se fazer no sentido de que sejam trazidas
à pauta vozes secularmente silenciadas. Brasileiros, somos por excelência cotidianamente
silenciados de diversas maneiras, quer seja pela desigualdade, pela violência, pela corrupção
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 17
instituída ou por quaisquer outras formas de expressão de abuso e de desrespeito aos quais
estamos expostos, ainda que inseridos em um chamado “Estado democrático”.
Ao somar reflexões sobre pós-modernidade e decolonialidade, discutimos
simultaneamente a relevância de revisitar as disputas atuais em torno do conceito de
democracia, orientadas por essas perspectivas. Tal abordagem apresenta-se como uma
alternativa e um enfrentamento possível às ideologias marcadas pela lógica colonial. Essa
proposta não se limita a um posicionamento diante das manifestações cotidianas da
colonialidade, mas também aponta para um caminho alternativo que, ancorado em
ontoepistemologias diversas, busca abrir espaço para a promoção da justiça epistêmica.
Naturalmente, as questões aqui apresentadas são de grande complexidade e, por isso,
requerem ainda maiores análises e reflexões. Deixamos nosso texto como proposta de diálogo
inicial, que visa abrir possibilidades para futuras discussões sobre o fazer científico
contemporâneo em ciências sociais e nas humanidades e sobre as questões prementes em nossa
sociedade, estando, dentre elas, as que apontamos brevemente neste texto, à guisa de ilustração.
Considerando que, entre os países latino-americanos, seis (incluindo o Brasil)
9
estiveram recentemente sob regimes ditatoriais e antidemocráticos, e que essas nações,
historicamente colonizadas, continuam sujeitas às dinâmicas diárias da colonialidade em suas
diferentes nuances, destaca-se a relevância de promover debates, seminários e pesquisas. Tais
iniciativas representam formas de engajamento da sociedade com os estudos aqui destacados,
com especial atenção para os embates que permeiam o conceito de democracia.
9
Os demais são: Bolívia, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai.
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 18
REFERÊNCIAS
APPLE, M. W. A luta pela democracia na Educação. In: APPLE, M. W. et al. A luta pela
democracia na educação: lições de realidades sociais. Tradução: Marcus Penchel. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2020, p. 9-30.
BEZERRA, T. C. E. Modernidade e Pós-modernidade: uma abordagem preliminar. Textos e
debates, Roraima, n. 13, p. 176-202, 2007. Disponível em:
https://revista.ufrr.br/textosedebates/article/viewFile/892/737. Acesso em: 6 mar. 2023.
BOAVA, D. L. T.; MACEDO, F. M. F.; SETTE, R. de S. Contribuições do ensaio teórico
para os estudos organizacionais. Revista Administração em Diálogo, [S. l.], v. 22 n. 2, 2020,
p. 69-90.
CRESWELL, J. W.; CRESWELL, J. D. Projeto de pesquisa. Métodos qualitativo,
quantitativo e misto. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2021.
ENGELKE, C. R. Desdemocratização e participação democrática: a percepção dos agentes
dos Orçamentos Participativos de Rio Grande e São Lourenço do Sul (2013-2106). 2022. 208
f. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Programa de Pós-Graduação em Ciência Política,
Instituto de Filosofia, Sociologia e Política, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2022.
HOOKS, B. Ensinando pensamento crítico. Sabedoria prática. Tradução: Bhuvi Libanio.
São Paulo: Editora Elefante, 2020.
LÍRIO, C. J.; AZZARI, E. F. Multiletramentos como formas de (res)significar o corpo e as
diversidades: reflexões sobre educação linguística, decolonialidade e antirracismo. In:
PINHEIRO, P.; AZZARI, E. F. (org.) Multiletramentos em teoria e prática: desafios para a
escola de hoje. Campinas, SP: Pontes, 2023, v. 2, p. 243-260.
MENEZES DE SOUZA, L. M. T.; HASHIGUTI, S. T. Decolonialidade e(m) Linguística
Aplicada: uma entrevista com Lynn Mario Trindade Menezes de Souza. Polifonia, [S. l.], v.
29, n. 53, 2023, p. 149177.
MIGNOLO, W. D. Histórias globais, projetos locais. Colonialidades, saberes subalternos e
pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte, MG: Editora
UFMG, 2020.
MIGUEL, L. F. A democracia na periferia do capitalismo: impasses do Brasil. Belo
Horizonte: Autêntica, 2022.
NASCIMENTO, G. Entre o lócus de enunciação e o lugar de fala: marcar o não marcado e
trazer o corpo de volta na linguagem. Trab. Ling. Aplic., Campinas, n 60.1, p. 58-68,
jan./abr. 2021
PORTELA JÚNIOR, A. Estudos pós-coloniais e ciências sociais: críticas e alternativas
epistemológicas. Temáticas, Campinas, v. 23, n. 45/46, p. 77-100, fev./dez. 2015.
QUEIROZ, L. Decolonialidade e concepções de língua: uma crítica linguística e
educacional. Campinas, SP: Pontes Editores, 2020.
Eliane Fernandes AZZARI e Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 19
QUIJANO, A. Colonialidad y modernidad/racionalidade. Perú Indigena, [S. l.], v. 13, n. 29.
Lima, 1992.
SAVIANI, D. Escola e democracia. 44. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2021.
WALSH, C. Introducción. Lo pedagógico y lo decolonial: entretejiendo caminhos. In:
WALSH, C. (Ed.).Pedagogía decoloniales: práticas insurgents de resistir, (re)sister y
(re)vivir. Quito: Abya-Yal, 2013.
O pensamento pós-moderno, a perspectiva decolonial e a construção ontoepistemológica da democracia no Sul global
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 20
CRediT Author Statement
Financiamento: Este trabalho foi parcialmente financiado por bolsa institucional.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Por se tratar de um ensaio teórico, este trabalho não precisou ser
apresentado ao Comitê de Ética na pesquisa.
Disponibilidade de dados e material: Não dados ou materiais discutidos para serem
acessados.
Contribuições dos autores: Eliane Fernandes Azzari contribuiu com a concepção da ideia-
chave, com a indicação de leituras e a elaboração de resenhas teóricas e metodológicas, com
a escrita de partes específicas do texto e com a revisão do artigo. Ana Paula P. P. R. de
Freitas contribui com leituras e resenhas teóricas, pesquisa e resenha de links com temas
ilustrativos e com a escrita de trechos específicos do artigo. Ambas as autoras trabalharam
colaborativamente na discussão das ideias propostas e na edição do texto final.
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 1
POSTMODERN THOUGHT, THE DECOLONIAL PERSPECTIVE, AND THE
ONTOEPISTEMOLOGICAL CONSTRUCTION OF DEMOCRACY IN THE
GLOBAL SOUTH
O PENSAMENTO PÓS-MODERNO, A PERSPECTIVA DECOLONIAL E A
CONSTRUÇÃO ONTOEPISTEMOLÓGICA DA DEMOCRACIA NO SUL GLOBAL
PENSAMIENTO POSMODERNO, LA PERSPECTIVA DECOLONIAL Y LA
CONSTRUCCIÓN ONTOEPISTEMOLÓGICA DE LA DEMOCRACIA EN EL SUR
GLOBAL
Eliane Fernandes AZZARI1
e-mail: eliane.azzari@puc-campinas.edu.br
Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS2
e-mail: ana.ppprf@puccampinas.edu.br
How to reference this paper:
AZZARI, E. F.; FREITAS, A. P. P. R. de. Postmodern
thought, the decolonial perspective, and the
ontoepistemological construction of democracy in the
Global South. Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v.
00, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810
| Submitted: 14/12/2023
| Revisions required: 29/02/2024
| Approved: 09/05/2024
| Published: 12/12/2024
Editors:
Prof. Dr. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. Ms. Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Lucas Flôres Vasques
1
Pontifical Catholic University of Campinas (PUC-Campinas), Campinas - SP - Brazil. Doctoral degree in Applied
Linguistics. Researcher and permanent professor at the PPG in Education and the Faculty of Letters.
2
Pontifical Catholic University of Campinas (PUC-Campinas), Campinas - SP - Brazil. Master's student at the
PPG in Languages, Media and Art (PPG-Limiar).
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 2
ABSTRACT: Taking decolonial thought as a foundational element for the emergence of other
epistemologies, we discuss the importance of the postmodern turn in confronting
colonial/modern paradigms and the development of contemporary studies involving the concept
of democracy, from local perspectives. To this end, we draw on Bezerra (2007) and Portela
Júnior (2015) to address the concepts of modernity and postmodernity; Queiroz (2020) and
Mignolo (2020) to discuss the concept of coloniality; and Nascimento (2021) to link our
discussion to the idea of locus of enunciation. We conclude that adopting postmodern thought,
grounded in the perspective of decolonial studies for research on democracy, contributes to
overcoming socially shared archetypes perpetuated for centuries in colonized countries, such
as Brazil.
KEYWORDS: Postmodernity. Decolonial Studies. Global South. Epistemologies.
RESUMO: Tomando o pensamento decolonial como elemento fundador para o surgimento de
epistemologias outras, discutimos a importância da virada pós-moderna para o enfrentamento
dos paradigmas coloniais/modernos e o desenvolvimento de estudos contemporâneos
envolvendo o conceito de democracia, a partir de olhares locais. Para isso, buscamos apoio
em Bezerra (2007) e Portela Júnior (2015), para abordar o conceito de modernidade e pós-
modernidade; em Queiroz (2020) e Mignolo (2020), para tratar do conceito de colonialidade,
e em Nascimento (2021), para interligar nossa discussão à ideia de lócus de enunciação.
Concluímos que adotar o pensamento pós-moderno, fundamentado na perspectiva dos estudos
decoloniais para pesquisas sobre democracia, contribui para a superação de arquétipos
socialmente compartilhados e perpetuados séculos em países colonizados, como é o caso
do Brasil.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-modernidade. Estudos Decoloniais. Sul Global. Epistemologias.
RESUMEN: Tomando el pensamiento decolonial como elemento fundacional para el
surgimiento de otras epistemologías, discutimos la importancia del giro posmoderno para
confrontar los paradigmas coloniales/modernos y el desarrollo de estudios contemporáneos
que involucran el concepto de democracia desde perspectivas locales. Para ello, buscamos
apoyo en Bezerra (2007) y Júnior (2015), para abordar el concepto de modernidad y
posmodernidad; en Queiroz (2020) y Mignolo (2020), para abordar el concepto de
colonialidad, y en Nascimento (2021), para vincular nuestra discusión a la idea de locus de
enunciación. Concluimos que adoptar un pensamiento posmoderno, basado en la perspectiva
de los estudios decoloniales sobre la democracia, contribuye a superar arquetipos que han sido
socialmente compartidos y perpetuados durante siglos en países colonizados, como Brasil.
PALABRAS CLAVE: Posmodernidad. Estudios Decoloniales. Sul Global. Epistemologías.
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 3
Introduction
This paper presents our reflection on the potential contributions of postmodern
epistemologies, especially those centered on the decolonial turn, to research in the social
sciences and humanities. Accepting decolonial thinking as a founding element for the
emergence of other epistemologies, we discuss the importance of the postmodern turn in
confronting colonial/modern paradigms and the development of studies involving the concept
of democracy from local perspectives. To do this, we sought support from different discussions
in the fields of social and human sciences, including sociology, language studies, and
Education.
With regard to the methodological perspective, we are presenting an essay that, like the
epistemological visions we defend, is not intended to be complete, closed, or prescriptive. With
an essentially qualitative and interpretative approach (Creswell, J. W.; Creswell, J. D., 2021),
we believe this is a critical text in which we aim to "[...] make clear other possibilities, new
paths. To discover new possibilities, you have to go beyond what you see. A leap into the
doubtful, the unknown and the unusual and accepted by the system" (Boava; Macedo; Sette,
2020, p. 70, our translation). That's why we don't promise to provide closed answers, but rather
to encourage reflection and questioning. To this end, we relied on bibliographical research to
develop our visions and instigate propositions.
Initially, our discussion is based on the work of Bezerra (2007), Portela Júnior (2015),
and Mignolo (2020), which address the concepts of modernity and postmodernity, highlighting
their main characteristics and the paradigms that have guided (and to some extent, continue to
guide) scientific practice and knowledge construction. Within this framework, the concept of
modernity is interchangeably associated with rationality and coloniality, which, from the late
15th century to the early stages of globalization, have articulated "[...] a framework and a
conception of knowledge based on the distinction between epistemology and hermeneutics and,
in doing so, have subalternized other forms of knowledge" (Mignolo, 2020, p. 36, our
translation).
Later in this discussion, we return to the considerations of Mignolo (2020), to articulate
the notion of coloniality and, in particular, that of the "colonial difference" (i.e., space where
the "coloniality of power" emerges), to consider the eminence of consciously confronting
hegemonic paradigms, with a view to building epistemologies highlighted in/by the decolonial
turn and we point out the importance of guiding decoloniality and (in) defense of studies
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 4
developed from the perspective of the global South and the consequent strengthening of
epistemologies that value being/knowing from other perspectives.
Finally, we address the contemporary social clash over the idea of democracy, anchored
in the studies of Miguel (2022) and Engelke (2022), who operate in the field of Social Sciences,
and Apple (2020) and Saviani (2021), who focus their discussions on Education. Finally, we
articulate dialogues with the concept of "locus of enunciation" (Nascimento, 2021), and, as an
example of our argument, we bring the case of the recent massacre in the Yanomami reserve.
We want to defend the idea that, by embracing the bias of postmodern thought, the
perspective of decolonial studies, and the critical approach (Hooks, 2020), we expand
possibilities for the construction of onto-epistemologies aimed at overcoming socially shared
archetypes that have been perpetuated for centuries in colonized countries - as is the case in
Brazil.
Modernity, postmodern thought, and the decolonial turn
Problematizing issues dear to society is par excellence, a seminal function of scientific
work. However, the question we are posing here is to reflect on what kind of science this refers
to, in other words, what ontology(ies) has/have mobilized research in the contemporary scenario
and, at the same time, what epistemologies social scientists and humanities have been dealing
with recently.
According to Portela Júnior (2015, p. 77-78), in the 1950s
3
the problematization of terms
such as coloniality/postcoloniality
4
and modernity/postmodernity began. Over time, this trend
has spread to other continents and is gradually gaining strength as an alternative way of
understanding issues that are fundamental to colonized peoples, marked by relations of power
and oppression established by the colonizers.
By modernity, we mean the European philosophical, cultural, and ideological
movement, marked by the Enlightenment thinking of the 18th century, whose foundation was
based on the use of reason in the search for knowledge in the most varied areas, including the
humanities. As a consequence, ontologies have emerged that approach the human being from
3
For some authors, such as Bezerra (2007, p. 191), the 1960s, were marked by movements of political and cultural
protest, the so-called counterculture, in which minorities such as women, students, blacks, and homosexuals,
among others, came out to claim the right to defend their rights, can be considered the beginning of what would
become the postmodern turn.
4
The terms decoloniality and decoloniality have often been used interchangeably with the term postcoloniality.
Here, we will use the term decoloniality, according to Queiroz (2020).
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 5
the point of view of rational and structuralist thinking. From this perspective, the individual
would be "freed" from mythical and religious explanations for many of the phenomena of his
time. Thus, "[reason] comes to be understood as a process of enlightenment, self-awareness,
and disenchantment of nature and the world, with a view to guaranteeing man's autonomy and
freedom" (Bezerra, 2007, p. 181-182, our translation).
As opposed to medieval thinking, modern postulates represented (and still represent) a
major advance in all areas, including, of course, scientific endeavors. However, as time
progresses, it would be natural (and even desirable) for modernity to be questioned on the basis
of its structurally established premises.
These questions gave rise to the so-called "postmodern thoughts" from the second half
of the 20th century onwards, in opposition to the bias of modernity, which, until then, had
always prioritized rationality and accuracy in scientific data analysis. Thus, post-modernity has
brought with it the perspective of imprecision, plurality, but also individuality, the particular
contributing to the awakening of new science, willing to study themes that were often
overlooked by modernity because they didn't fit into Cartesian postulates, as can be seen in the
most diverse research in the social and/or human sciences.
In this sense, Queiroz (2020) states that
[In] fact, after the end of the Second World War, scientists in the social
sciences and humanities began to perceive the weaknesses of modern rational
discourse more vehemently, and there was no denying that the paradigm clad
in the masks of positivism and the progress of peoples was going through a
kind of ethical crisis with no foreseeable brakes (Queiroz, 2020, p. 29, our
translation).
Now, suppose academia has dedicated itself to discussions about the validity of modern
and structuralist thinking for many contemporary research projects. In that case, it is because
much of what has been conceived as epistemologies so far, although still valid in other contexts,
may not be enough to support the development of contemporary studies, especially those carried
out in the field of humanities. Hence, it is important to promote much-needed dialog on the
subject as an alternative to the limitations of modernity's positivist and technicist hegemony in
determining research, especially that which is yet to come.
In this new context, which now values the local, the plural, the ignored, so-called
decolonial thinking has also emerged as an alternative to making minorities who were silenced
during and after the period of European colonization, and also after the Second World War,
with the emergence of new economic powers on the world stage. Furthermore, as Lírio and
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 6
Azzari (2023, p. 243, our translation) point out, "[...] the decolonization of knowledge demands
respect for and commitment to non-Western cosmologies brought by critical thinkers from the
Global South". It is important to note that, in this work, we use the term Global South with a
view to decolonial thinking, produced as a counterpoint to the coloniality that derived/derives
from territorial, socio-economic, and/or cultural colonization, which emerged especially
in/from countries in the Americas, Africa, and Asia. To this end, like Menezes de Souza and
Hashiguti (2023), we agree with Mignolo (2011), who emphasizes that
[...] decolonial thinking arose together with the foundation of
modernity/coloniality, during the colonization processes in the Americas, and
as a counterpoint to it. (...). (...) This thought also continued to develop during
the colonization that took place in Asia and Africa and, later, during the period
of independence of the colonies on the different continents. It also continued
in the context of the Cold War and the rise of the United States as a world
power, at which point the genealogy of what would become the decolonial
turn began to be defined (Mignolo, 2011, p. 46 apud Menezes de Souza;
Hashiguti, 2023, p. 150, our translation).
On this subject, Mignolo (2020, p. 9), in a more recent work, argues that decolonial
thinking emerges from the need to look at the world "from outside" the modern world system,
in which the so-called "colonial difference" was established and which, until the mid-twentieth
century, was established through the maintenance between center and peripheries. Later on, the
same author (Mignolo, 2020, p. 10, our translation) points out that "[...] colonial difference is
the space where the coloniality of power emerges. The colonial difference is the space where
the local stories that are inventing and implementing the global projects meet those local stories
that receive them." Thus, complementing this thought, the scholar clarifies that the "colonial
difference" can be understood as a place ("both physical and imaginary") in which there is space
for the coloniality of power to act.
In this scenario, we believe that taking part in the studies developed in this field is a
necessary action, which deserves to be seen as a real interest of the Latin American academic-
scientific communities, in which, as Brazilians, we are inserted. Colonized, we have been
governed by the structuralist/rational scientific practice of coloniality/modernity. Portela Júnior
(2015, p. 78), reflecting on the epistemological contributions of postmodern ontology, states
that
[the] so-called post-colonial perspectives have in common a critical reference
to the discourse of modernity, which was historically and socially constructed
based on conceptual binarisms and essentialisms (East/West, North/South,
Centre/Periphery, Developed/Undeveloped...) that refer, in their
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 7
conformation, to the process of colonization by the European metropolises
(Portela Júnior, 2015, p. 78, our translation).
In this way, a relationship is established between colonization and scientific practice,
which is still predominantly guided by the Eurocentric colonialist gaze, which was/is strongly
supported by the paradigms of modernity. In this sense, we are interested in (re)visiting these
socially and historically situated landscapes, so that we can glimpse contemporary studies that
take into account, among other aspects, the construction of concepts of democracy in our
locality, while being oriented from the perspective of the global South.
Like Portela Júnior (2015), we understand that, in parallel with the territorial
colonization of the Americas, there was also the colonization of knowledge, which culminated
in the formulation of a narrative in which Europe was taken as the only center of reference and,
consequently, as the representative of the epistemological norm in force. As a result, the
dominant epistemology has become the only weight and measure for any study carried out. This
is a striking feature of the colonial difference which, as Mignolo (2020, p. 11, our translation)
emphasizes, "[...] creates conditions for dialogical situations in which a fractured enunciation
is staged from the subaltern point of view, as a reaction to the hegemonic discourse and
perspective".
Portela Júnior (2015, p. 88), using Martuccelli (2010, p. 25-36), ponders that the social
sciences, guided by the Eurocentric gaze, have contributed very little to the knowledge of the
historical and cultural specificities of the colonized countries, since they have served more to
identify what they lack and what needs to be "overcome". In other words, over the last few
centuries, we have lost the local reference of what we are and want to be to characterize
ourselves based on what we lack, orienting ourselves by constructions biased towards/by the
gaze of the Global North.
Corroborating this discussion, Queiroz (2020, p. 55, our translation) points out that the
so-called "coloniality of power", based on modern thinking, is characterized by flexibility and
adaptation to realities, so that its "[...]discourse appears to be indispensable and natural". In
addition, the author seeks support from Quijano (1992) to argue that becoming aware of this
modernist project and taking a position of negation of these prevailing paradigms, on their own,
are not enough as a counter-hegemonic action, not even in the field of knowledge production.
According to Quijano (1992), it is necessary to seek the liberation of knowledge from the prison
of modernity and European rationality - which implies investing in decolonial thinking.
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 8
This means that our scientific work was established on the basis of the modus operandi
of the colonizer, which was accepted as an exclusive bias. In this way, not only the form but
also the content of the research carried out so far has been delimited by the viewpoint of the
dominators, and never by the viewpoint of the dominated, silenced by centuries of exclusion.
In this sense, Walsh (2013, p. 25, our translation) argues that, when confronted by/confronting
coloniality, it is not possible to maintain a supposed position of neutrality, but that, on the
contrary, it is necessary to assume "[...] postures, positions, horizons and projects of resisting,
transgressing, intervening, emerging, believing and influencing".
In this way, we believe that embracing decolonial epistemologies in contemporary
scientific practice implies taking on transgressive projects and practices which, by guaranteeing
an increase in the scientific representation of the global South on the world academic stage, can
contribute to overcoming colonial archetypes.
Against this backdrop, we will now address issues relating to the role/place occupied by
language in the plot and articulation of a science that accepts other forms of
being/knowing/power.
Other ontoepistemologies for doing science and the role of language
In this part of our work, we start with the following question: what can we expect from
the decolonial scientific constructs that come from postmodern thinking?
Bezerra (2007, p. 199-200, our translation), in a preliminary study on the
epistemological turn from modernity to post-modernity, and referring to the postmodern
project, highlights the "[...] emphasis on the other of reason, on what would have been forgotten,
subsumed or reduced with the prevalence of Cartesian logic in modern science, namely: the
problem of difference, imagination, the imponderable, heterogeneity, plurality". As this author
suggests, it is necessary to consider that the recognized lack of consensus around postmodern
thought does not invalidate its contribution to the study of social phenomena and to confronting
modern Cartesian hegemony, since its potential for contributing to research in becoming is
undeniable.
In this way, we understand that decolonial studies favor research that is committed to
the realities from which it emerges and, consequently, contributes to the establishment of other
paradigms, centered on alternative epistemologies that meet the needs of contemporary
scientific practice. This is a movement of great importance in/for the field of scientific endeavor
when what is sought is to confront the "imaginary of the colonial/modern world system", which,
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 9
according to Mignolo (2020, p. 51, our translation), "[...] is not only visible on the 'ground', but
remains hidden from view in the 'subsoil' by successive layers of mapped peoples and
territories". The author emphasizes that it is not a question of proclaiming a "study" or
"representation" of the subaltern, because that would mean promoting "[...] epistemic
denotative hypotheses", which he calls "territorial epistemology" which is, "[...] in Ortega Y
Gasset's terms, the 'enemy'". For this reason, Mignolo (2020, p. 51-52) points out that it would
be more appropriate to ask "[...] what are the soil, the subsoil and the enemy of these and other
narratives?"
In this direction, centered on the changes in the colonial/modern world imaginary, this
scholar points out that it is necessary to "[...] make an effort to 'see' beyond the maps the colonial
differences, forged in the 16th century and then always reformulated until the current scenario
of global coloniality" (Mignolo, 2020, p. 61, our translation).
Following this line of thought, we believe that adopting this perspective can make it
possible to carry out research projects that, breaking with the logic of modernity/coloniality,
contribute to shedding light on conceptions of democracy that circulate in the social spaces of
colonized countries, reflecting, to a large extent, the "world imaginary" constituted from the
logic of oppression and domination of the present-past. Identifying these visions is crucial so
we can problematize them in scientific work guided by the Global South's perspective.
In order to approach this "imaginary", it is necessary to understand that "[...] every
locutionary act is at the same time a 'pronouncement against' and a 'pronouncement towards'"
(Mignolo, 2020, p. 51, our translation). The researcher complements this idea by stating that
"[t]his double movement will acquire a complex dimension when considered at the intersection
of local histories and global projects and at the intersection of hegemonic and subaltern soils
and subsoils" (Mignolo, 2020, p. 51, our translation).
From our point of view, in order to deal with these locutionary acts, it is necessary to
approach language and linguistic practices from a critical perspective. Hooks (2020, p. 33, our
translation) argues that developing critical thinking requires "[...] first discovering the 'who', the
'what', the 'when', the 'where' and the 'how' of things". This implies that it is also necessary to
decolonize our visions of language, accepting "[...] the complicity between language, literature,
culture, and nation" which, in the project of modernity/coloniality "[...] was also related to the
geopolitical order and geographical borders", as Mignolo states (2020, p. 291, our translation).
Embarking on a dive into this issue is therefore fundamental if we want to confront the
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 10
coloniality of power and focus on the colonial difference, elements that act in the narratives
materialized by/in languages and, consequently, cultures.
Bringing together the thoughts of Mignolo (2020) and Hooks (2020) mentioned above,
we understand that doing science from onto-epistemologies oriented in these strands, which are
housed under the umbrella of "postmodern thought", implies questioning, (re)telling,
(re)constructing and (re)signifying narratives from a counter-hegemonic position.
Only when citizens are aware of what they want, what they lack, and what their rights
are, in other words, when they are able to think critically along the lines discussed by Hooks
(2020), do they have the conditions to seek to overcome the representative forms of inequality,
abandonment and disrespect for their situation as subjects in a democratic state. Thus, there is
a lack of political awareness that is socially shared, born out of everyday practices, and which
can act as a driving force to confront the colonization of knowledge/power.
As long as the voice resonates and is replicated in various contexts, it continues to be
that of the dominant hegemony, guided by the thinking of modernity/coloniality, and there will
be no change. With this in mind, we would like to highlight our interest in redeeming the
concept of democracy.
The imbrications of different versions of “democracy” and the contribution of decolonial
thinking
At this stage of our discussion, we aim to reflect on the interrelations surrounding the
potential of adopting a decolonial perspective as a paradigm for rethinking and constructing
scientific practices grounded in studies centered on the concept of democracy. According to
Queiroz (2020, p. 55, our translation), awareness of coloniality provides opportunities for the
existence of “[...] counter-discourse and/or alternative discursive practices.” Therefore, it is
essential to consider the voices silenced by the dominant discourse, which, although
marginalized, persist nonetheless. Thus, more than for any other people, it is of particular
interest to the colonizedonce they are aware of the historical, political, and social weight of
colonization—to understand the meaning of the word “democracy” and the extent to which
various interpretations of the term have shaped social relations, often perpetuating oppressive
and conflicting social practices.
Reflecting on social practices and (in) school environments, Saviani (2021, p. 15) refers
to “symbolic violence”, present in situations where the cultural framework of hegemonic groups
is imposed by the dominant class on the dominated, clarifying that “[...] the material violence
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 11
(economic domination) exercised by the dominant groups or classes on the dominated groups
or classes corresponds to symbolic violence (cultural domination)”. For the researcher, there is
a clear relationship between school practices and social practices in the process of building a
society that is (or is not) democratic. In this regard, we should remember that the cultural
domination to which we have been subjected over the centuries manifests itself on a daily basis
in our schools. According to Saviani (2021, p. 61), our translation “[...] it is important to
remember that the criterion for gauging the degree to which pedagogical practice contributes to
the establishment of democratic relations is not internal, but has its roots beyond the
pedagogical practice itself”.
Also situating his discussions in the educational field, Apple (2020, p. 15, our
translation) highlights the need to problematize the various versions of democracy circulating
in society, which, according to the scholar, are supported by worldviews (ontologies) that range
between “thick”—advocating for “[...] full collective participation to achieve the common good
and the formation of critical citizens”—and “thin” versions—focused on “[...] the market and
consumer choice, individualist possession (...) as a tool for satisfying a limited set of economic
needs defined by the powerful.” In the author’s view, it is evident that an “ongoing dispute”
exists between these divergent concepts of democracy.
From our perspective, this dispute stems from the dominance of modernity/coloniality
thinking, which must be confronted through a decolonial lens to initiate processes of
deconstruction and challenge epistemological perspectives rooted in Eurocentric and colonial
hegemonic knowledge/power. As Apple (2020, p. 15, our translation) argues, it is crucial to
“[...] better understand what happens when these different notions of democracy confront one
another in schools and communities,” for example.
The aforementioned researcher emphasizes the necessity of adopting a counter-
hegemonic stance that includes “[...] multiple institutional and ideological forms and
orientations, all directed toward a politics of interrupting dominant practices” (Apple, 2020, p.
19, our translation). However, could these socially circulating versions described by Apple
(2020) be indicative of a democratic crisis?
According to Engelke (2022, pp. 5961, our translation), Brazil has experienced “de-
democratization” in the 21st century. The author contends that “[...] the democratic erosion that
has characterized Brazil and many other countries in the past decade is a multifaceted process
with different origins, effects, and perspectives of analysis.” Engelke (2022) argues that Brazil
is undergoing a clear regression of democracy—a situation with “deleterious effects” that
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 12
weakens and undermines “[...] the value of democracy.” His argument draws on the work of
Miguel (2022), who suggests that there is a “collapse of democracy,” not only in Brazil but
across the Global South.
Miguel (2022, p. 16, our translation) asserts that de-democratization is part of a process
aimed at “[...] retracting the power of popular sovereignty to constrain the actions of powerful
groups, starting with property-owning classes”. This process is shaped by symbolic, economic,
and political elements and operates centrifugally: within the democratic system itself,
leveraging its rules to undermine democracy by promoting agendas that challenge democratic
principles. Consequently,
[The] first set of evidence that supports the idea of a crisis of democracy is
therefore linked to the ability of anti-democratic actors to triumph within the
rules of the game, and from there to adulterate them, updating and giving
drama to old questions of political philosophy: should we tolerate the
intolerant? Should we give freedom to the liberticides? How can majority rule
be combined with respect for minority rights? (Miguel, 2022, p. 26-27, our
translation).
Given this social context, the proposal to approach social and human studies from the
perspective of decoloniality is justified, understood as an (in)emerging action and a response to
the centrifugal forces that, still strongly influenced by the thinking of modernity/coloniality,
seek to destabilize democratic structures. Of course, analyzing these issues from the perspective
of the Global North's scientific approach does not help local contexts, which are facing
processes of democratic erosion. Therefore,
[It] is necessary (...) to interpret the phenomena of democratic retraction in
Latin America not as mere examples of a global process - but taking into
account its peculiar conditions. [...] importing the theoretical framework that
studies de-democratization in Northern countries is not enough. Perhaps a
theoretical construction that is attentive to the obstacles to democracy that
have continuously operated in our countries would be more capable of
illuminating historical exceptionality [...] (Miguel, 2022, p. 96-97, our
translation).
As Queiroz (2020, p. 67) suggests, we believe that by loosening the bonds of the
domination of thought based on modernity/coloniality, decolonial perspectives are favored for
the investigation of the social phenomena in which we are immersed and, with this, it becomes
possible to echo/reverberate subjectivities that have been silenced over time. In this way, by
investigating, identifying, describing, and problematizing the various (current) concepts of
democracy through scientific work based on a decolonial approach, routes can emerge for
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 13
understanding the narratives and social practices that sustain them (not only "on the ground",
but also "underground"), and which, at the same time, foster/are established on the basis of
imbalances based on the colonization of knowledge. In this context, by recovering the
decolonial perspective, we want to encourage the (re)thinking of social and political practices
from a perspective that breaks with the paradigms established from the locutionary acts that
come from the thinking of the global North, thinking that leads us to discuss the locus of
enunciation.
Marking the unmarked: locus of enunciation, voice, and silencing
Referring to the importance of rescuing silenced voices, Nascimento (2021) considers
that "[...] bringing the body back [to speech] has to do with recovering the experience of
existence that has been consistently hijacked by coloniality to this day" (Nascimento, 2021, p.
66, our translation). Valuing the place of speech, communities from colonized countries, for
example, and their respective and varied locus of enunciation implies making ourselves heard
to those who carry within them the weight of a past of oppression, exclusion, authoritarianism
and abuse of the most varied kind, so that (who knows) we can move towards overcoming these
centuries-old obstacles.
The concept of locus of enunciation is imbricated with the notion that different
enunciations generate and carry multiple discourses marked by the enunciator's place of speech.
The construction of hegemonic discourse comes from perpetuating certain narrative(s), always
oriented from the same locus of enunciation. In order to counter this movement of colonization
of historical knowledge/power, it is necessary to return to the locus of enunciation and also to
accept other perspectives for narratives, and to do this; it is necessary to "bring the body back"
to speech, as Nascimento (2021, p. 66) argues.
The importance of "bringing the body back" to confront colonial hegemony lies not only
in the perspective, but in the idea of doing epistemic justice. Beyond the field of education, we
bring to the agenda a historically constructed Brazilian social issue, which has recently been
made visible by the media, and which allows us to question the "locutionary acts" (Mignolo,
2020) that construct/are constructed by contemporary narratives oriented by the perspective of
colonial knowledge/power. Let's take the case of the Yanomami people as an example to better
understand the importance of approaching the concept of democracy from a decolonial
perspective.
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 14
Originally inhabitants of the Amazon rainforests around a thousand years ago, the
Yanomami
5
occupy an area on the border between Brazil and Venezuela and are divided into
communities, led by shamans (community and spiritual leaders). They live according to their
traditions (fishing, hunting, and farming). Since the 1970s, with the arrival of mining, they have
suffered from attacks and epidemics brought on by illegal exploitation, which, in addition to
mortality, leads to mercury pollution of the environment, among other problems.
In the year 2023, we followed the news media
6
describing the degrading situation of
abandonment and lack of rights in which the Yanomami population found itself (most of whom
were dying of preventable causes, malnutrition, for example), a fact that ended up decimating
part of the population, represented in large numbers by children. This is not an episode dating
from the early years of the colonization of Brazilian lands, but a current occurrence, reported
in the middle of the 21st century, that is, more than four hundred years after the beginning of
the occupation. We see here an event that denotes the perpetuation of colonial neglect of the
original peoples, which is still very clearly and forcefully manifested today: a community that
has been deprived of the democratic state.
Expressing a similar opinion to ours, Queiroz (2020) refers to Indigenous communities
from the colonization period, recalling that they
[...] they were placed on the margins of the geopolitics of epistemes, they were
denied their histories, condemned, rejected, and disallowed by the colonizing
communities to produce any kind of epistemologies with 'validity' (Queiroz,
2020, p. 48, our translation).
The Yanomami case serves as an example to problematize the "different versions" of
democracy referred to by Apple (2020), if they have been denied the right to life, it is not
difficult to conclude that all the others, promised by the democratic rule of law to all Brazilians
according to Article 5 of the Federal Constitution
7
, are being equally denied to them.
Unfortunately, this situation represents one of many other examples of violence and affronts to
human rights suffered during colonization which, unfortunately, are still reflected in Brazilian
social practices today, as marks of the naturalization of coloniality
8
.
5
To find out more, click here.
6
To find out more, click here.
7
Article 5 of the 1988 Federal Constitution provides all Brazilians and those living in the country with the right to
life, liberty, equality, security and property.
8
Queiroz (2020, p. 52) points out that there is a difference between the concepts of colonization - a historical
period between the 16th and 20th centuries - and coloniality - a discourse of domination that continues to this day.
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 15
When dealing with coloniality, Queiroz (2020, p. 63, our translation), a reader of
Mignolo (2010a, p. 14), points out that this concept has played an important role in opening up
spaces for the restoration and reconstruction of "[...] silenced histories, repressed subjectivities,
languages and knowledge subalternized by the idea of Totality defined under the name of
modernity and rationality". From our point of view, this author's ideas ratify the treatment of
the Yanomami people, even today, in the midst of a "democratic" state.
The Yanomami issue that we are returning to here represents, in a very emblematic and
current way, a sad example of how much we need to be attentive to marking the unmarked, so
that old social patterns can be overcome. Therefore, if coloniality is not discussed, it remains
structurally instituted and repeats, in an eternal continuum, ideologies of domination,
oppression, and inequality, and even if in a disguised and/or unconscious way, we start to
naturalize what we should reject. From our point of view, to naturalize events that reinforce the
silencing of long-colonized minorities is to enter into the game of imploding democracy
referred to by Miguel (2022) and Engelke (2022).
In this way, we conclude that, even today, there are many forms of control and
maintenance of colonial knowledge and power relations.
Final considerations
The purpose of this paper was to briefly present our reflections on the importance of
returning to the discussion on the concepts of modernity/coloniality and post-
modernity/decoloniality and interrelating them in their interfaces with the possible
identification (and consequent problematization) of (different) notions of democracy. In our
proposal, we accept the construction of such concepts and relationships as onto epistemological
processes perpetuated in societies of the Global South, such as Brazil's, where there are daily
marks of the coloniality of thinking and of acting through language.
We are not trying to disregard the contributions made by modern epistemologies, but
we do want to question the ontoepistemological directions that have guided practices that are
socially and historically marked by the project of modernity. In this direction, we defend our
favorable view of adopting postures to confront hegemonic discourses (which are/were based
on modern/colonial thinking), and we advocate scientific work aimed at producing knowledge
from a decolonial perspective, in order to stimulate the (de)construction of ways of being in the
world.
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 16
In order to do this, we believe that it is necessary to adopt critical positions and thoughts
that take locutionary acts back to the notion of the locus of enunciation so that the guiding
biases that construct, disseminate, establish, and maintain colonial and colonialist narratives
can be made visible. The confrontation must start from the dispute, from questioning who
speaks, to whom they speak, how they speak, why they speak, when they speak, and, above all,
who, in this society, has (or doesn't have) the power to speak.
In the same way, we proposed a reflection on the importance of returning to the
contribution of the decolonial perspective in understanding and overcoming the challenges still
faced by colonized peoples. There is still a lot to be done to bring secularly silenced voices to
the agenda. As Brazilians, we are silenced in many ways on a daily basis, whether by inequality,
violence, established corruption or any other form of expression of abuse and disrespect to
which we are exposed, even though we are part of a so-called "democratic state".
By adding reflections on post-modernity and decoloniality, we simultaneously discuss
the relevance of revisiting the current disputes around the concept of democracy, guided by
these perspectives. This approach presents an alternative and a possible confrontation with
ideologies marked by colonial logic. This proposal is not limited to a position on the daily
manifestations of coloniality, but also points to an alternative path that, anchored in diverse
onto-epistemologies, seeks to open up space for the promotion of epistemic justice.
Naturally, the issues presented here are highly complex and require further analysis and
reflection. We leave our text as a proposal for an initial dialog, which aims to open up
possibilities for future discussions on contemporary scientific practice in the social sciences and
humanities and on the pressing issues in our society, including those that we briefly point out
in this text, by way of illustration.
Considering that, among the Latin American countries, six (including Brazil)
9
have
recently been under dictatorial and anti-democratic regimes, and that these nations, historically
colonized, continue to be subject to the daily dynamics of coloniality in its different nuances, it
is important to promote debates, seminars and research. These initiatives represent ways for
society to engage with the studies highlighted here, with special attention to the clashes that
permeate the concept of democracy.
9
The others are: Bolivia, Argentina, Chile, Paraguay and Uruguay.
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 17
REFERENCES
APPLE, M. W. A luta pela democracia na Educação. In: APPLE, M. W. et al. A luta pela
democracia na educação: lições de realidades sociais. Tradução: Marcus Penchel. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2020, p. 9-30.
BEZERRA, T. C. E. Modernidade e Pós-modernidade: uma abordagem preliminar. Textos e
debates, Roraima, n. 13, p. 176-202, 2007. Available at:
https://revista.ufrr.br/textosedebates/article/viewFile/892/737. Accessed in: 6 Mar. 2023.
BOAVA, D. L. T.; MACEDO, F. M. F.; SETTE, R. de S. Contribuições do ensaio teórico
para os estudos organizacionais. Revista Administração em Diálogo, [S. l.], v. 22 n. 2, 2020,
p. 69-90.
CRESWELL, J. W.; CRESWELL, J. D. Projeto de pesquisa. Métodos qualitativo,
quantitativo e misto. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2021.
ENGELKE, C. R. Desdemocratização e participação democrática: a percepção dos agentes
dos Orçamentos Participativos de Rio Grande e São Lourenço do Sul (2013-2106). 2022. 208
f. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Programa de Pós-Graduação em Ciência Política,
Instituto de Filosofia, Sociologia e Política, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2022.
HOOKS, B. Ensinando pensamento crítico. Sabedoria prática. Tradução: Bhuvi Libanio.
São Paulo: Editora Elefante, 2020.
LÍRIO, C. J.; AZZARI, E. F. Multiletramentos como formas de (res)significar o corpo e as
diversidades: reflexões sobre educação linguística, decolonialidade e antirracismo. In:
PINHEIRO, P.; AZZARI, E. F. (org.) Multiletramentos em teoria e prática: desafios para a
escola de hoje. Campinas, SP: Pontes, 2023, v. 2, p. 243-260.
MENEZES DE SOUZA, L. M. T.; HASHIGUTI, S. T. Decolonialidade e(m) Linguística
Aplicada: uma entrevista com Lynn Mario Trindade Menezes de Souza. Polifonia, [S. l.], v.
29, n. 53, 2023, p. 149177.
MIGNOLO, W. D. Histórias globais, projetos locais. Colonialidades, saberes subalternos e
pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte, MG: Editora
UFMG, 2020.
MIGUEL, L. F. A democracia na periferia do capitalismo: impasses do Brasil. Belo
Horizonte: Autêntica, 2022.
NASCIMENTO, G. Entre o lócus de enunciação e o lugar de fala: marcar o não marcado e
trazer o corpo de volta na linguagem. Trab. Ling. Aplic., Campinas, n 60.1, p. 58-68,
jan./abr. 2021
PORTELA JÚNIOR, A. Estudos pós-coloniais e ciências sociais: críticas e alternativas
epistemológicas. Temáticas, Campinas, v. 23, n. 45/46, p. 77-100, fev./dez. 2015.
QUEIROZ, L. Decolonialidade e concepções de língua: uma crítica linguística e
educacional. Campinas, SP: Pontes Editores, 2020.
Postmodern thought, the decolonial perspective, and the ontoepistemological construction of democracy in the Global South
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 18
QUIJANO, A. Colonialidad y modernidad/racionalidade. Perú Indigena, [S. l.], v. 13, n. 29.
Lima, 1992.
SAVIANI, D. Escola e democracia. 44. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2021.
WALSH, C. Introducción. Lo pedagógico y lo decolonial: entretejiendo caminhos. In:
WALSH, C. (Ed.).Pedagogía decoloniales: práticas insurgents de resistir, (re)sister y
(re)vivir. Quito: Abya-Yal, 2013.
Eliane Fernandes AZZARI and Ana Paula Paiva Pedroso Ramos de FREITAS
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. 00, e024022, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24i00.18810 19
CRediT Author Statement
Funding: This work was partially funded by an institutional grant.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: As this is a theoretical essay, it did not need to be submitted to the
Research Ethics Committee.
Availability of data and material: There is no data or material discussed to be accessed.
Author contributions: Eliane Fernandes Azzari contributed to conceiving the key idea,
recommending readings and writing theoretical and methodological reviews, writing
specific parts of the text, and revising the article. Ana Paula P. P. R. de Freitas contributes
with readings and theoretical reviews, research and review of links with illustrative themes,
and writing specific parts of the article. Both authors collaborated to discuss the proposed
ideas and edit the final text.