Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 1
“À BOA CIÊNCIA”: PERFORMAÇÕES ÉTICAS EM TRANSPLANTES
EXPERIMENTAIS DE CÉLULAS-TRONCO PARA A CURA DO HIV
1
A LA BUENA CIENCIA: ACTUACIONES ÉTICAS EN TRASPLANTES
EXPERIMENTALES DE CÉLULAS MADRE PARA LA CURA DEL VIH
“TO GOOD SCIENCE”: ENACTING ETHICS IN EXPERIMENTAL STEM CELL
TRANSPLANTATION OF AN HIV CURE
Kris Herik de OLIVEIRA2
e-mail: kris.h.oliveira@gmail.com
Como referenciar este artigo:
OLIVEIRA, K. H. de. “À boa ciência”: performações éticas
em transplantes experimentais de células-tronco para a cura
do HIV. Rev. Cadernos de Campo, Araraquara v. 24, n.
esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021
| Submetido em: 09/02/2024
| Revisões requeridas em: 13/06/2024
| Aprovado em: 25/06/2024
| Publicado em: 27/11/2024
Editores:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. Me. Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Paulo Carvalho Moura
Prof. Thiago Pacheco Gebara
1
A versão preliminar deste artigo foi apresentada na XIV Reunião de Antropologia do Mercosul, realizada de 01
a 04 de agosto de 2023, em Niterói (RJ), no GT 10 Antropologia da Saúde: Perspectivas, Debates e Problemas.
2
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas SP Brasil. Doutor em Ciências Sociais pela
UNICAMP.
“À boa ciência”: performações éticas em transplantes experimentais de células-tronco para a cura do HIV
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 2
RESUMO: Neste artigo, busco discutir, de um ponto de vista socioantropológico, os
emaranhados éticos que conformam os primeiros cinco casos de “cura” ou “remissão de longo
prazo” do HIV, alcançados por meio de transplantes experimentais de células-tronco. A partir
da análise do conteúdo de documentos selecionados, situo tais práticas tecnobiocientíficas no
contexto das “ciências que têm ética” e exploro as diferentes dimensões que definem o que é
considerado “boa ciência” e “má ciência”. Observo que a ética da cura do HIV não se trata de
um fenômeno dado, como podem fazer transparecer os códigos de ética e instituições
regulatórias. É, antes disso, um processo em constante construção, que transborda a prática
clínica e se faz permeado por disputas narrativas, políticas, afetivas e práticas. Nesse sentido,
sugiro que pensar criticamente as “performações éticas” nesse e em outros contextos
experimentais pode contribuir para práticas científicas mais democráticas.
PALAVRAS-CHAVE: HIV. Cura. Ética médica. Transplante de células-tronco
hematopoiéticas. Estudos sociais da ciência e da tecnologia.
RESUMEN: En este artículo busco discutir, desde un punto de vista socio-antropológico, los
enredos éticos que componen los primeros cinco casos de "cura" o "remisión a largo plazo"
del VIH, logrados a través de trasplantes experimentales de células madre. A partir del análisis
del contenido de los documentos seleccionados, situo dichas prácticas tecno-biocientíficas en
el contexto de las "ciencias que tienen ética" y exploro las diferentes dimensiones que definen
lo que se considera "buena ciencia" y "mala ciencia". Observo que la ética de la cura del VIH
no es un fenómeno dado, como pueden implicar los códigos de ética y las instituciones
reguladoras. Es, ante eso, un proceso en constante construcción, que desborda la práctica
clínica y está permeado por disputas narrativas, políticas, afectivas y prácticas. En este
sentido, sugiero que pensar críticamente sobre las "performances éticas" en este y otros
contextos experimentales puede contribuir a prácticas científicas más democráticas.
PALABRAS CLAVE: VIH. Curación. Ética médica. Trasplante de células madre
hematopoyéticas. Estudios sociales de la ciencia y la tecnología.
ABSTRACT: This paper aims to discuss, from a socio-anthropological perspective, the ethical
complexities that interweave the first five cases of cure or long-term remission of HIV
achieved through experimental stem cell transplants. Through the analysis of selected
documents, I situate such technobiomedical practices in the context of ethical sciences and
explore the different dimensions that define what is considered good science and bad
science. I observe that the ethics of HIV cure is not a given phenomenon, as may be implied
by ethical codes and regulatory institutions. Rather, it is a constantly evolving process that
transcends clinical practice and is permeated by narrative, political, affective, and practical
disputes. In this sense, I suggest that critically reflecting on "enacting ethics" in this and other
experimental contexts can contribute to more democratic scientific practices.
KEYWORDS: HIV. Cure. Medical ethics. Hematopoietic stem cell transplantation. Social
Studies of Science and Technology.
Kris Herik de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 3
Introdução
Em fevereiro de 2008, durante um importante congresso científico realizado nos Estados
Unidos, o hematologista alemão Dr. Gero Hütter e seus colaboradores do Hospital Universitário
Charité de Berlim relataram o que viria a ser conhecido como o primeiro caso de cura do HIV
(Hütter et al., 2008). Timothy Ray Brown, então identificado como o Paciente de Berlim”,
vivia com HIV mais de uma década e, aos 40 anos, passou por um transplante de células-
tronco hematopoiéticas (TCTH) através da medula óssea. O transplante foi o último recurso
terapêutico para sua leucemia mieloide aguda, um tipo de câncer hematológico grave.
Com o objetivo de alcançar a remissão do câncer e testar uma hipótese que também
poderia levar à remissão do HIV, a equipe médica procurou um doador com uma mutação
genética em sua superfície conhecida como “CCR5Δ32/Δ32”, a qual confere resistência à
infecção pelo HIV. Essa combinação experimental de fatores, juntamente com a suspensão
definitiva da terapia antirretroviral e a realização de exames sensíveis para detectar o vírus no
corpo anos após o procedimento, levaram à conclusão de que a tão esperada primeira cura do
HIV havia sido alcançada (Allers et al., 2011; Hütter et al., 2009; Yukl et al., 2013).
Entre sucessos e falhas, outros transplantes têm sido realizados em pessoas vivendo com
HIV e câncer hematológico em estágio avançado, com o objetivo de reproduzir o caso de
Timothy Brown (Hütter, 2018). Até agora, em mais quatro casos foi possível alcançar a “cura”
ou “remissão de longo prazo” do HIV. Esses novos casos têm confirmado que uma abordagem
curativa para o HIV é possível, embora difícil, segundo os especialistas. Essa possibilidade tem
sido sintetizada na ideia de que os transplantes experimentais com células-tronco para a cura
do HIV sugerem uma terapia potencial, ainda que esta não seja extensiva para as milhões de
pessoas vivendo com HIV.
Em março de 2019, um grupo de cientistas e médicos de Londres realizou um
procedimento terapêutico semelhante ao que Timothy Brown recebeu para o tratamento do
linfoma de Hodgkin estágio 4, um tipo de câncer no sistema linfático, em Adam Castillejo, o
Paciente de Londres”, então com 36 anos. No entanto, algumas modificações foram feitas para
tornar o procedimento menos agressivo (Gupta et al., 2019a, 2019b). Cerca de 16 meses após
o transplante, Adam Castillejo interrompeu a ingestão dos antirretrovirais, tornando-se o
primeiro paciente, desde Timothy Brown, a permanecer livre do vírus por mais de um ano após
a interrupção. Em 2020, após outros testes e exames sensíveis, a equipe médico-científica
responsável pelo caso apresentou as “evidências para a cura do HIV” (Gupta et al., 2020a,
2020b).
“À boa ciência”: performações éticas em transplantes experimentais de células-tronco para a cura do HIV
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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Também em 2019, médicos e cientistas da Alemanha apresentaram outro caso de
remissão de longo prazo do HIV em um homem após um transplante de células-tronco de uma
doadora com a mutação genética CCR5Δ32/Δ32 (Jensen et al., 2019). Os primeiros resultados
desse procedimento foram apresentados durante um congresso no ano de 2016 (Kobbe et al.,
2016). Assim como no caso de Berlim, Marc Franke, o Paciente de Düsseldorf”, foi submetido,
aos 43 anos, a um transplante de medula óssea para tratar sua leucemia mieloide aguda e buscar
a remissão do HIV. Nesse caso, o tratamento antirretroviral para o HIV foi interrompido em
novembro de 2018. Em fevereiro de 2023, o primeiro artigo científico sobre o caso foi
publicado, detalhando as evidências de cura (Jensen et al., 2023).
Em fevereiro de 2022, cientistas e médicos dos Estados Unidos relataram o caso de uma
mulher negra com mais de 60 anos em remissão de longo prazo do HIV (HSU et al., 2022). A
Paciente de Nova York” (ainda não identificada a seu próprio pedido) foi submetida a um
transplante de células-tronco em busca da remissão de sua leucemia mieloide aguda e do HIV
em agosto de 2017. Diferente dos casos anteriores, as células-tronco utilizadas no chamado
“transplante de haplo-cordão” foram provenientes de duas fontes: o sangue periférico de um
parente adulto saudável, com o objetivo de restaurar rapidamente sua população de células
sanguíneas e reduzir complicações infecciosas, e o sangue do cordão umbilical de um recém-
nascido CCR5Δ32/Δ32 não relacionado (não aparentado), para fornecer uma reconstituição de
sangue a longo prazo. Após interromper seu tratamento antirretroviral em 2021 e exames
sensíveis não localizarem vírus com potencial de replicação em seu corpo, a equipe médico-
científica concluiu que se tratava de um caso de “remissão e possível cura do HIV” (HSU et
al., 2023).
Por fim, o quinto e mais recente caso foi anunciado em agosto de 2022 por médicos e
cientistas dos Estados Unidos (Dickter et al., 2022). Paul Edmonds, o Paciente da City of
Hope”, identificado dessa forma em referência ao centro de saúde e pesquisas em câncer
hematológico onde o procedimento foi realizado, é mais velho que todos os demais e vivia com
HIV mais tempo, desde 1988. No início de 2019, aos 63 anos, ele recebeu um transplante de
células-tronco via medula óssea de um doador com a mutação CCR5Δ32/Δ32 para o tratamento
de sua leucemia mieloide aguda. Após mais de três anos desde o transplante e mais de 17 meses
após interromper a terapia antirretroviral, os exames não localizaram evidências de rus com
capacidade de replicação em seu corpo. Além disso, a leucemia também permanece em
remissão.
Kris Herik de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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Os cinco primeiros casos de “cura”, ainda que isolados e de difícil reprodução em escala
mais ampla, desestabilizaram uma realidade até então considerada imutável: a incurabilidade
da infecção por HIV. Como resultado, houve uma renovação das esperanças em relação ao
desenvolvimento de abordagens terapêuticas curativas e surgiram novas linhas de pesquisa. No
horizonte tecnobiocientífico, a ideia de uma cura para o HIV se tornou uma possibilidade real
e alcançável, desafiando os discursos previamente estabelecidos.
Neste sentido, estes casos apontam para uma ampla gama de questões relacionadas ao
desenvolvimento das biotecnologias terapêuticas para o HIV na contemporaneidade. Ou,
conforme sugere a análise crítica da bióloga e filósofa feminista da ciência e da tecnologia
Donna Haraway (1991), chamam a atenção para as múltiplas dimensões que compõem um
“regime de tecnobiopolítica”
3
. Para Haraway, as dimensões conectadas da informática, biologia
e economia, com suas promessas de um mundo melhor através das inovações tecnológicas,
introduzem novas dobras sobre as intervenções tecnológicas na vida cotidiana e em seus
agenciamentos ético-estético-políticos. Dessa forma, por meio de narrativas, imaginários e
práticas emergentes no campo médico-científico, os limites das sociedades e até mesmo do
próprio corpo são redesenhados, desestabilizando as fronteiras entre o “eu” e o “outro”.
Seguindo os argumentos de Charis Thompson (2013) sobre a “coreografia ética” da
ciência das células-tronco, é possível considerar que tais práticas experimentais em busca da
remissão de cânceres hematológicos e do HIV introduzem um conjunto de inflexões éticas
velhas e novas no cenário tecnobiocientífico da “boa ciência”. Este campo sensível de
pesquisa (Ferreira; Maksud, 2023) é atravessado por discussões sobre consentimento,
transparência, privacidade, riscos e benefícios, cuidado, entre outras. Nesse sentido, desperta
alguns questionamentos. Como a ética é trazida à existência a partir de narrativas e práticas?
Em outros termos, como a ética é performada nestes contextos? Quais são as lógicas que
medeiam as relações entre diferentes agentes? Como os riscos e benefícios são experimentados?
Quais alternativas são possíveis para a construção de melhores relações e práticas em pesquisas
experimentais para a cura do HIV?
3
O conceito de tecnobiopolítica propõe uma atualização à crítica de Michel Foucault (1999) acerca da gestão
política dos corpos e populações viventes. No primeiro volume de História da sexualidade, Foucault introduziu o
conceito de “biopolítica” para descrever os processos sociopolíticos que envolvem a transformação de
determinados corpos em espécie, bem como as práticas de regulação de populações por intermédio de saberes
(como estatística, economia e medicina) e temáticas específicas (nascimento, morbidade, mortalidade, longevidade
etc.). Ao longo do último século, como argumenta Foucault, essas tecnologias de saber-poder-subjetivação se
infiltraram de forma capilarizada em todas as dimensões da vida e formas de governo.
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Pensar a dimensão ética em diálogo com os casos de “cura” do HIV nos termos de uma
“performação” é resultado de uma experimentação teórico-metodológica que busca
aproximações junto aos estudos sociais da ciência e da tecnologia. Esta abordagem considera o
caráter instável e por fazer contextualmente situado da realidade ao invés de apreendê-la como
uma natureza encerrada em si mesma. Nesse sentido, as práticas tecnobiocientíficas não apenas
descrevem ou representam a realidade, mas também desempenham um papel ativo em sua
apreensão, construção e constituição (Latour; Woolgar, 1997).
De acordo com a filósofa Annemarie Mol (2002), a chave para uma leitura mais precisa
dos “objetos” médicos requer atenção às práticas envolvidas. Em sua leitura, as ontologias não
são inerentes às coisas e preestabelecidas, mas são criadas e moldadas por meio das práticas e
interações cotidianas. A realidade, portanto, está “fazendo-se”, em constante processo de
performação. Uma vez que as realidades e as condições de possibilidade variam de acordo com
as práticas, isso implica dizer que também estão sujeitas a contestações em jogos de “política
ontológica” (Mol, 2002, 2008).
O objetivo central deste artigo, fruto de minha pesquisa de doutorado (Oliveira, 2023),
consiste em discutir, de um ponto de vista socioantropológico, os emaranhados éticos que
conformam os primeiros cinco casos de “cura” ou remissão de longo prazo” do HIV,
alcançados por meio de transplantes experimentais de células-tronco. Em diálogo com a
proposta analítica de Thompson (2013), situo tais práticas tecnobiocientíficas no contexto das
“ciências que têm ética” e exploro as diferentes dimensões que definem o que é considerado
“boa ciência” e “má ciência”.
Metodologicamente, desenvolvo o que caracterizei como uma cartografia das
paisagens biotecnológicas” (Oliveira, 2023). Em outros termos, busco dar conta tanto das
continuidades quanto das mudanças que têm forjado o desenvolvimento das intervenções e
biotecnologias curativas para HIV em diferentes escalas, percorrendo por entre instituições,
experiências, projetos políticos e práticas científicas. Embora essa cartografia atente para as
contingências do presente, o seu objetivo se encontra justamente no reconhecimento das
aberturas e instabilidades dos futuros pensados e praticados, tendo como horizonte a gestão da
vida, dos corpos e das subjetividades.
Os documentos utilizados para análise fazem parte de um arquivo-laboratório
composto por 136 materiais coletados ao longo dos últimos quatro anos para o desenvolvimento
Kris Herik de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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da pesquisa de doutorado (Oliveira, 2023)
4
. Para a confecção deste artigo, selecionei os artigos
publicados em revistas científicas sobre os casos de “cura” do HIV e uma entrevista concedida
por Timothy Brown ao jornal Folha de São Paulo. O caso da City of Hope não foi incluído
nesse processo porque nenhum artigo científico havia sido publicado até o momento em que
esta pesquisa foi concluída. Os artigos científicos podem ser considerados documentos centrais
no processo de divulgação e legitimação das práticas de pesquisa, revelando as muitas camadas
do processo de produção do fato científico (Latour, 2000; Latour; Woolgar, 1997).
No procedimento de análise dos materiais, utilizei a técnica de análise de conteúdo
temática (Bardin, 1977) com o suporte do software ATLAS.ti 9. Operei com um procedimento
de desmontagem dos materiais para realizar novas montagens em categorias temáticas, visando
a análise comparativa dos dados. Contudo, em vez de considerar a análise realizada no software
como encerrada, a utilizei como produtora de pistas a seguir no labirinto do arquivo-laboratório.
As pistas-categorias seguidas foram: menção a princípios e protocolos éticos; participantes dos
estudos; instituições envolvidas; experimentos em animais não humanos; cuidado com os
materiais biológicos. Para a interpretação dos documentos, utilizo a bibliografia resultante de
uma revisão realizada durante o mesmo período e das normas éticas internacionais.
Procedimentos semelhantes foram adotados por Thompson (2013) em suas pesquisas no campo
das tecnologias reprodutivas e células-tronco.
Isto posto, este artigo explora os sentidos da “boa ciência” nas pesquisas experimentais
para a cura do HIV, utilizando o caso de Timothy Brown, o Paciente de Berlim”, e as reflexões
de Thompson (2013) sobre as ciências que têm éticacomo ponto de partida. Em seguida,
discuto os enquadramentos éticos destes casos, a partir das menções ao tema nos artigos
científicos analisados. O artigo atenta ainda para o caráter em desenvolvimento da “agenda
ética” da pesquisa para a cura do HIV e a discussão sobre a ética de falar em cura. Por fim, são
apresentadas algumas considerações finais tendo como fio condutor o argumento de que a ética
na ciência não é um conceito fixo, mas um processo dinâmico em constante transformação, que
exige um equilíbrio cuidadoso entre riscos e benefícios e uma consideração aprofundada das
implicações sociais e morais das pesquisas experimentais.
4
O banco de dados completo está disponível no Repositório de Dados de Pesquisa da Unicamp (REDU).
Disponível em: https://doi.org/10.25824/redu/YAI83E. Acesso em: 25/06/2024.
“À boa ciência”: performações éticas em transplantes experimentais de células-tronco para a cura do HIV
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“À boa ciência”
Durante uma entrevista concedida para a jornalista Cláudia Collucci (2019) do jornal
Folha de São Paulo, um dia antes de palestrar em evento médico sobre o HIV na Universidade
de São Paulo (USP), Timothy Brown o Paciente de Berlim” foi questionado sobre o
resultado de seu caso que levou à primeira cura do HIV. Ele conferiu o fato de estar curado “à
boa ciência” composta por “bons cientistas e médicos interessados”, isto é, aos profissionais da
ciência médica dedicados e com as habilidades necessárias para abrir um caminho disruptivo
em uma paisagem até então considerada imutável.
As palavras de Timothy Brown acerca de sua experiência em um processo experimental
com células-tronco para a cura do HIV são de grande relevância no que diz respeito às questões
éticas envolvidas na pesquisa científica. Ao expor suas impressões, ele aponta para uma
importante questão: do que se trata a “boa ciência” ou, no limite, o que é “bom” no território
das pesquisas experimentais para a cura do HIV?
Charis Thompson (2013) argumenta que os campos biomédicos relacionados à
genômica, bioinformática, medicina personalizada e regenerativa, tecnologias reprodutivas,
aprimoramento humano e longevidade, podem ser definidos como “ciências que têm ética” (p.
43). Segundo a autora, essas ciências são apreendidas dessa forma porque estão profundamente
marcadas por tópicos controversos, tais como: vida e morte, eugenia, privacidade genética,
comercialização de recursos biológicos. Essa característica torna as ciências biomédicas
profundamente impactadas por questões éticas em todas as suas fases, desde a experimentação
até a disponibilidade dos produtos e serviços à sociedade.
Para Thompson (2013), a ética das “ciências que têm ética” pode ser contrastada com
uma visão mais “tradicional” da ética da ciência marcada por um código de conduta profissional
(atenta aos assuntos de plágio, por exemplo) e possíveis implicações de cunho moral, legal e/ou
social (após o término da pesquisa, os resultados são usados para o bem ou para o mal?).
Podemos considerar como fato (e ficção) que as pesquisas e suas tecnologias sempre “tiveram
ética” por completo, pois essa é uma característica subjacente das ciências que estão em contato
com diferentes agentes humanos ou não. Contudo, a maioria das ciências não é tratada como se
já estivesse sempre envolvida em emaranhados éticos e suas controvérsias.
A autora descreve o atual regime de tecnobiopolítica (Haraway, 1991) como uma “era
das ciências com ética”, onde quatro classes de “boa ciência se entrelaçam para impulsionar a
inovação biomédica. A primeira classe se refere à produção de impacto e à abertura de novos
campos de pesquisa, valorizando a qualidade da pesquisa e a contribuição para o conhecimento
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científico. A segunda classe destaca a importância da ética e da conduta científica adequada no
ambiente de pesquisa. A terceira classe envolve um aparato ético-regulatório que lida com
questões sociais historicamente carregadas, indo além da prática científica para abordar
significados relacionados à vida, morte e individualidade. Por fim, a quarta classe busca uma
ciência verdadeiramente boa com ética, promovendo mudanças nas paisagens de pesquisa e
envolvendo o público, respeitando diferentes fóruns de deliberação ética para soluções coletivas
e inclusivas.
A fala de Timothy Brown e as reflexões de Thompson (2013) sobre os sentidos daboa
ciência” permitem situar as pesquisas experimentais com células-tronco para a cura do HIV no
terreno ainda instável das “ciências que têm ética”. Uma boa ciência que leve à cura do HIV,
nesse contexto, passa pela promoção de práticas disruptivas, condutas adequadas,
aprimoramento de práticas regulatórias e a busca por soluções coletivas. Nesse sentido, a ética
nas ciências biomédicas não é algo estabelecido, mas sim um processo em constante
constituição no diálogo com as instituições e os corpos envolvidos.
Enquadramentos éticos
As orientações éticas atuais na prática médica foram moldadas por uma série de eventos
históricos, morais e normativos que definem as condutas a serem extirpadas e encorajadas,
praticadas e fortalecidas (Guilhem; Diniz, 2017; Silva, 2018). Dentre os principais, estão o
Código de Nuremberg (1947), a Declaração de Helsinque (1964) e o Relatório Belmont (1978)
5
.
Esses eventos levaram à formulação dos quatro princípios éticos fundamentais na prática
médica e pesquisa científica: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Como os
médicos e cientistas envolvidos nos primeiros casos de cura do HIV expressam tais princípios
éticos?
No primeiro artigo publicado sobre o caso de Timothy Brown, o “Paciente de Berlim”,
a declaração ética resume-se a uma frase: “O paciente forneceu consentimento informado para
este procedimento e o protocolo foi aprovado pelo conselho de revisão institucional” (Hütter et
al., 2009, p. 693, tradução nossa). Esse tipo de descrição é insuficiente a respeito dos princípios
5
O Código de Nuremberg (1947), desenvolvido após Segunda Guerra Mundial e em resposta aos experimentos
médicos nazistas praticados naquele contexto, estabeleceu os princípios éticos fundamentais para a pesquisa
médica envolvendo seres humanos, enfatizando o consentimento voluntário, ausência de coação e minimização de
riscos. A Declaração de Helsinque (1964), da Associação Médica Mundial, ampliou essas diretrizes, especificando
responsabilidades éticas em pesquisas clínicas. O Relatório Belmont (1978) estabelece princípios éticos
fundamentais para a pesquisa com seres humanos nos Estados Unidos, enfatizando o respeito às pessoas, a
beneficência e a justiça como guias essenciais. Esses documentos constituem as bases da bioética moderna.
“À boa ciência”: performações éticas em transplantes experimentais de células-tronco para a cura do HIV
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éticos. Como as informações relacionadas aos possíveis benefícios e malefícios do
procedimento foram informadas ao paciente? Em quais condições o procedimento clínico foi
consentido? Qual seria o “conselho de revisão institucional” responsável pela aprovação ética?
Como os riscos à saúde e à vida foram minimizados nesse cenário de alta vulnerabilidade?
Como os deveres e responsabilidades dos médicos foram trabalhados? Houve abordagem
experimental em animais não humanos antes da aplicação do procedimento terapêutico em um
humano?
As questões levantadas foram parcialmente respondidas no artigo publicado
posteriormente, que apresenta as evidências para a primeira cura do HIV (Allers et al., 2011).
Nos dois parágrafos que mencionam diretamente os cuidados éticos do estudo, é reiterado que
o paciente consentiu com os procedimentos ordinários e extraordinários do estudo. Também é
informado que o estudo buscou um certo enquadramento ao método de ensaio clínico
randomizado ao incluir “15 pacientes controle saudáveis” que não viviam com HIV para
fins comparativos, e que estes também forneceram consentimento informado. Por fim, é
mencionado o conselho institucional responsável pela aprovação do estudo: a Universidade de
Medicina Charité de Berlim, local onde foi realizado o procedimento.
No terceiro artigo publicado sobre o caso de Berlim (YUKL et al., 2013), dedicado a
apresentar novas evidências sobre o efeito curativo do transplante realizado, uma nova
instituição entra em cena: a Universidade da Califórnia, San Francisco. Nessa universidade,
Timothy Brown foi inscrito em um estudo observacional no qual estudos adicionais foram
realizados com os materiais biológicos para buscar a presença de possíveis vestígios do HIV,
os quais ele teria consentido. O artigo também menciona que o paciente consentiu com
atividades realizadas em outra instituição, a Universidade de Minnesota.
No caso de Adam Castillejo, o Paciente de Londres”, a descrição dos cuidados éticos
é realizada de forma detalhada logo em seu primeiro artigo publicado (Gupta et al., 2019b). É
especificado como o paciente foi inserido no processo desde a possibilidade de se encontrar um
doador compatível com a mutação esperada. Neste trabalho, foi seguido o protocolo clínico
desenvolvido pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), o qual detalha a estrutura
padrão de aprovação ética nesse contexto, incluindo: processos adequados para o transplante e
interrupção do tratamento antirretroviral, o monitoramento da carga viral, as amostragens de
tecidos, e a gestão dos riscos envolvidos com o procedimento e pós-transplante. A aprovação
ética ocorreu por parte do Comitê de Ética em Pesquisa da Autoridade de Pesquisa em Saúde
do NHS do Reino Unido. Neste caso, o paciente forneceu consentimento informado por escrito.
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Há ainda nesse documento científico a menção a um novo agente clínico: o consórcio IciStem.
Esse consórcio produziu um estudo observacional mais amplo para a cura do HIV via TCTH,
no qual Adam foi registrado sob o nº 36.
No segundo artigo (Gupta et al., 2020b), que traz as “evidências para a cura” do HIV, é
reforçada a descrição ética do artigo anterior, respaldada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Autoridade de Pesquisa em Saúde do NHS. De forma adicional, é mencionado que o paciente
também revisou a versão final do artigo atualizado e forneceu consentimento por escrito para
sua publicação. No contexto tecnobiocientífico, esse processo contém sua singularidade. Isso
porque não é comum que cientistas médicos submetam seus artigos científicos à revisão dos
participantes da pesquisa. Essa relação talvez seja reflexo das importantes lutas do ativismo em
HIV/aids no campo da ética em pesquisa, como aquelas relatadas por Steven Epstein (1996).
O artigo sobre o caso de Marc Franke, o Paciente de Düsseldorf”, também detalha os
procedimentos realizados pelos médicos e cientistas envolvidos (Jensen et al., 2023). Cabe
lembrar que este paciente também estava inscrito no programa IciStem sob o 19. No artigo
é ressaltado que a interrupção da terapia antirretroviral e os exames dos reservatórios virais
foram respaldados pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Universidade Heinrich
Heine de Düsseldorf. O processo incluiu consentimento informado por escrito, de acordo com
as diretrizes do CAse REport (CARE) e os princípios da Declaração de Helsinque de 2013. O
estudo utilizou como controles os materiais biológicos de outros pacientes HIV positivo e
negativo, homens e mulheres, de outros hospitais e laboratórios todos com respaldo por
comitês de ética locais. No artigo é destacado ainda que os controles foram inscritos
voluntariamente, não foram compensados e forneceram consentimento informado por escrito,
em conformidade com os princípios da Declaração de Helsinque de 2013.
Chama atenção o fato do caso de Düsseldorf ser o único trabalho que menciona questões
éticas relativas ao uso de animais não humanos, os “camundongos humanizados”. Segundo o
artigo, os usos desses animais foram realizados seguindo protocolo institucional específico, que
foi revisado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal do Hospital Universitário
Germans Trias i Pujol e aprovado pelo governo catalão conforme a atual legislação nacional e
da União Europeia sobre a proteção de animais experimentais.
No artigo referente ao caso da “paciente de Nova York”, não há grande discussão sobre
a conformidade dos protocolos de pesquisa segundo os princípios éticos adotados
internacionalmente. O artigo se limita a mencionar apenas em seu documento complementar
(HSU et al., 2023, p. e3, tradução nossa) que o “estudo foi conduzido de acordo com a
“À boa ciência”: performações éticas em transplantes experimentais de células-tronco para a cura do HIV
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Declaração de Helsinque e aprovado pelo Conselho de Revisão Institucional do Weill Cornell
Medical College”. Há, em seguida, a menção de que “sujeitos humanos foram incluídos no
estudo com consentimento informado aprovado pelo Conselho de Revisão Institucional do
Weill Cornell Medical College”. Dentre esses, “dois participantes foram recrutados (1 homem
e 1 mulher, ambos de meia-idade)”. Este se trata do estudo observacional da Rede Internacional
de Ensaios Clínicos de AIDS Maternal Pediátrica e Adolescente (IMPAACT), e foi registrado
no ClinicalTrials.gov dos EUA sob o código NCT02140944. Também é salientado que o fato
de a participante ser uma mulher não branca “tem implicações para a equidade racial na saúde”.
Ao que pude observar, todos os quatro casos apontaram seguir os princípios éticos
convencionados internacionalmente pela comunidade médico-científica, de acordo com a
Declaração de Helsinque da Associação Médica Mundial (WMA, 2022). Entretanto, as
informações apresentadas nos artigos para justificar tal adequação ética não ficaram
completamente claras em todas as situações. Nesse contexto, a Declaração de Helsinque, os
Comitês de Ética e os Termos de Consentimento são acionados como dispositivos de
salvaguarda e cumprimento do aparato regulatório da ética em pesquisa, ou ainda dispositivos
de legitimação das práticas experimentais.
Como destaca a antropóloga Soraya Fleischer (2022b), tais dispositivos acionados na
pesquisa biomédica buscam transparecer a resolução de todas as questões da ética em pesquisa
e da relação constituída entre sujeitos de pesquisa e pesquisadores. O consentimento, contudo,
não se esgota na assinatura de documentos ou menção a instituições reguladoras ou declarações
internacionais. É um processo contínuo que envolve comunicação clara, compreensão mútua e
respeito às vulnerabilidades dos participantes. Além disso, deve considerar os contextos
socioculturais dos participantes envolvidos, garantindo que demandas sejam incluídas e suas
preocupações abordadas. Assim, determinado compromisso ético se reflete na prática diária e
na adaptação sensível às necessidades dos participantes das pesquisas.
A pesquisa experimental para a cura do HIV parece trazer consigo uma forma singular
de trabalho, que demanda a produção de protocolos específicos para tais procedimentos. É
possível observar que as pesquisas experimentais aqui analisadas não incorporaram
necessariamente em suas práticas modelos de testes in vitro (em cultura de células) e/ou in vivo
(modelos animais) antes de realizar os experimentos em humanos, conforme convencionado
pelos códigos de ética internacionais (Guilhem; Diniz, 2017). Ao não realizar a experimentação
em animais não humanos antes da aplicação terapêutica em humanos, teriam os casos aqui
analisados violado os princípios internacionais da ética médico-científica?
Kris Herik de OLIVEIRA
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Como pontuam Patrice Schuch e Ceres Victora (2015), as práticas de regulamentação
ética em pesquisa não devem ser vistas como ferramentas neutras de gerenciamento de dados,
mas sim como elementos políticos que configuram autoridades, objetos e meios de intervenção.
De acordo com as antropólogas, estudos anteriores têm mostrado que as políticas de
regulamentação estão moldando uma noção específica de ética. Isso inclui a valorização da
transparência nos meios e métodos de pesquisa, o que pode limitar as negociações internas do
processo de pesquisa.
Além disso, o conhecimento ético é cada vez mais associado a instrumentos burocráticos
e indicadores de desempenho, tornando-o controlável e quantificável. Essa abordagem técnica
reducionista separa a técnica da política, obscurecendo as decisões técnico-políticas envolvidas
no controle e na quantificação. Nesse sentido, também cabe refletir não apenas sobre o que é
considerado conhecimento ético, mas também sobre o que não está incluído nas atuais políticas
de regulamentação (Schuch; Victora, 2015). Este parece ser um caminho importante a trilhar
no contexto da pesquisa experimental para a cura do HIV.
Uma agenda inacabada
A cientista social Karine Dubé tem se dedicado a investigar a ética em pesquisas
experimentais e ensaios clínicos para a cura do HIV. Em estudos de revisão colaborativos sobre
o tema (Dubé et al., 2015, 2017, 2021), ela defende que mais pesquisas empíricas em ciências
sociais (especialmente, aquelas de cunho qualitativo) são necessárias para informar e pensar
criticamente sobre este contexto experimental, onde as decisões de participar dos estudos são
sempre complexas e multifacetadas. Sendo assim, os trabalhos da autora ajudam a examinar o
tema.
Segundo Dubé et al. (2021), mais de 250 estudos biomédicos em todo o mundo estão
ou estiveram relacionados à busca de uma cura segura, eficaz e escalonável para o HIV, a
maioria dos quais são pesquisas de medicina experimental iniciais
6
. Entre as diferentes
abordagens, tem-se observado um conjunto de dilemas éticos que permeiam as pesquisas
experimentais para a cura do HIV relacionadas à confiança, riscos e benefícios. Na maioria das
6
As informações sobre as pesquisas para a cura do HIV são coletadas e organizadas pelo TAG - Treatment Action
Group (https://www.treatmentactiongroup.org/cure/trials/), a partir do banco de dados de estudos clínicos do National
Institutes of Health dos Estados Unidos (https://clinicaltrials.gov/). O TAG é uma organizão sem fins lucrativos
focada em acelerar a pesquisa de tratamento para HIV, tuberculose e hepatite C. A instituição teve suas origens na
organizão ativista da aids, o ACT UP (AIDS Coalition to Unleash Power), com importante atuação política para o
desenvolvimento e distribuição de novos tratamentos para HIV na década de noventa.
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pesquisas de cura do HIV em fase inicial, a análise ética envolve um cálculo “conhecimento-
risco”, que avalia se o potencial conhecimento científico e dados adicionais justificam os riscos.
Por isso, e considerando o aumento do interesse científico pelo tema, é fundamental identificar
e abordar os desafios éticos colocados por estas práticas levando em consideração as suas
diferenças.
Dubé et al. (2021) argumentam que tais intervenções terapêuticas, embora tidas como
“promissoras”, possuem altos riscos e poucos benefícios clínicos pessoais. A pesquisa de cura
do HIV em estágio inicial, assim como outras formas de pesquisas experimentais envolvendo
seres humanos, tende a ter um perfil assimétrico de benefício/risco. Isso significa que, enquanto
a sociedade e a ciência desfrutam de benefícios quase exclusivos, os participantes individuais
da pesquisa arcam com os riscos clínicos e psicossociais.
Conforme Dubé et al. (2021), esse aspecto é especialmente verdadeiro no caso de
pesquisas que envolvem procedimentos de estudo arriscados, como interrupções do tratamento
analítico (ATIs, sigla em inglês para Analytical Treatment Interruption) um dos tópicos mais
controversos nesse campo , que exigem a interrupção da terapia antirretroviral durante a
pesquisa para determinar se as intervenções experimentais alcançaram os efeitos pretendidos
de supressão virológica duradoura na ausência de terapia antirretroviral. Portanto, essas
pesquisas demandam um equilíbrio delicado entre garantir a segurança e a tolerância dos
tratamentos experimentais ao mesmo tempo que é explorada a possível eficácia dessas
intervenções.
Ao explorar as práticas experimentais de cura, penso também ser essencial não
negligenciar os potenciais riscos de longo prazo. Os casos de cura analisados ilustram
claramente os efeitos colaterais que surgem após os transplantes, destacando particularmente a
preocupante incidência da doença do enxerto contra o hospedeiro (quando as células-tronco do
doador atacam os tecidos do receptor). Esses riscos não podem ser subestimados, exigindo uma
análise cuidadosa e contínua dos benefícios potenciais em relação aos danos para garantir a
segurança e o bem-estar dos indivíduos envolvidos na pesquisa de cura do HIV.
Dubé et al. (2021) colocam que, para alguns cientistas, existe um perfil de paciente
considerado ideal para transplantes de células-tronco e terapia genética no contexto do HIV.
Embora um transplante de células-tronco seja uma intervenção de alto risco para um indivíduo
“saudável”, pode ser justificável como uma tentativa de curar o HIV em alguém que já precisa
de um transplante para tratar o câncer (Dubé et al., 2021). Nesse contexto, o risco adicional do
procedimento pode ser considerado aceitável, dado que o paciente enfrenta riscos
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significativos devido ao câncer e à necessidade de um transplante, tornando a potencial cura do
HIV um benefício adicional significativo.
Nesse contexto, Dubé et al. (2021) destacam a existência de uma série de desafios. Um
desafio enfrentado nos testes iniciais de cura do HIV é a motivação dos participantes pelo
altruísmo. O altruísmo pode levar os participantes a aceitarem maiores riscos, diminuindo as
preocupações com a exploração. Compreender o altruísmo entre os participantes é essencial
para compreender o impacto da participação em suas vidas. Pesquisas têm evidenciado que a
participação nesses estudos tem benefícios psicossociais significativos, como um senso de
propósito, perspectiva positiva, esperança e apoio emocional. Para garantir a ética nessas
pesquisas, é necessário reconhecer e considerar esses benefícios altruístas, alinhando-se ao
princípio da beneficência. Diretrizes mais detalhadas são sugeridas para levar em conta esses
benefícios durante a revisão regulatória, o consentimento informado e a comunicação dos
ensaios clínicos.
Por outro lado, é importante reconhecer que a participação em testes intensivos de cura
do HIV também pode acarretar danos psicológicos, como ansiedade e medo relacionados ao
desenvolvimento de HIV resistente a medicamentos ou à transmissão do vírus a parceiros
sexuais. Além disso, existem danos sociais, como o risco de isolamento social e estigmatização,
que os participantes enfrentam devido à sua participação nos estudos. É fundamental considerar
essas dimensões psicológicas e de saúde mental ao avaliar os riscos e benefícios da participação
nos estudos, especialmente quando protocolos exigem a interrupção prolongada da terapia
antirretroviral. Além disso, a persistente estigmatização social do HIV e as implicações legais
relacionadas devem ser cuidadosamente ponderadas para garantir a proteção e o bem-estar dos
participantes envolvidos na pesquisa de cura do HIV (Dubé et al., 2021).
A incerteza científica é uma preocupação significativa no processo de consentimento
informado para terapias experimentais de interrupção do tratamento antirretroviral. As ATIs
envolvem períodos imprevisíveis e aleatórios de ressurgimento do vírus, que não podem ser
previstos com precisão por meio dos biomarcadores existentes. Além disso, os riscos
desconhecidos das intervenções experimentais e as incertezas na comparação dos resultados
entre modelos animais e ensaios em humanos adicionam complexidade. Diferentes fatores,
como tamanhos de amostra reduzidos, desenhos de estudos e estratégias de monitoramento
variáveis, contribuem para a incerteza científica nesse campo. Portanto, é importante considerar
explicitamente e abordar a incerteza científica durante o processo de consentimento informado,
incluindo seções específicas sobre esse tema nos documentos de consentimento. Somado a isso,
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cabe explorar como a incerteza é comunicada e compreendida pelos participantes e pelo público
em geral (Dubé et al., 2021).
Isto posto, como escreveram Dubé et al. (2017, 2021), a ética da pesquisa de cura do
HIV é “emergente” e tem uma “agenda inacabada”, características que demandam mais
investigações e discussões sobre o tema. Isso significa que ainda estamos no início de
compreender plenamente as implicações morais e sociais das novas tecnologias e tratamentos,
exigindo abordagens mais atentas às múltiplas realidades para responder aos desafios que
surgem. Nesse contexto, considerações éticas devem ser aplicadas, protegendo a autonomia,
equilibrando o benefício e o risco, protegendo contra a vulnerabilidade e envolvendo os
familiares e a comunidade. Por isso, há um trabalho coletivo a ser realizado para assegurar que
tais práticas estejam engajadas em um compromisso ético mais amplo.
A ética de falar em cura
O caso de Timothy Brown instaurou uma longa discussão sobre o conceito de “cura” e
seus usos no campo de pesquisas em HIV. Antes desse episódio, a palavra sequer era acionada
pelos cientistas por dois motivos: a cautela em disseminar falsas esperanças às milhões de
pessoas que convivem com o vírus; a resistência em considerar tal possibilidade em um quadro
clínico baseado no paradigma da incurabilidade. Não à toa, emprestando conceitos da oncologia
e seguindo a cautela da época, desde o primeiro momento o hematologista Gero Hütter e seus
colegas médicos anunciaram o caso como “remissão” ou “controle de longo prazo do HIV”
(Hütter et al., 2009).
Afinal, por que a ética de falar em cura do HIV importa? Conforme pontuam Stuart
Rennie et al. (2015) , a questão ética não se trata de usar ou não o conceito de cura, mas sobre
como, quando e com que finalidade ele é usado. É importante considerar que existe uma
“esperança de cura” relacionada ao HIV para as pessoas que convivem com o vírus. E essas
pessoas têm todas as razões para esperar uma cura. A cura poderia dissociar tanto o corpo
quanto uma identidade social dos desafios impostos pelo vírus com relação ao tratamento e ao
estigma. Portanto, alegações que levem a interpretações infundadas sobre a cura podem ser
violentas, gerar frustração e angústia.
De acordo com os autores, as afirmações feitas sobre a descoberta da cura para o HIV
nas últimas décadas, particularmente no campo do jornalismo, vão contra princípios éticos de
honestidade e não maleficência. Isto porque é dever da divulgação científica a disponibilização
de informações verdadeiras e precisas, rompendo com a disseminação de informações falsas ou
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enganosas de acordo com padrões éticos de veracidade. A não maleficência se refere ao dever
de não causar danos à sociedade, o que o que é comprometido quando informações incorretas
ou distorcidas são propagadas, podendo prejudicar tanto a confiança da sociedade na ciência
quanto a saúde das pessoas afetadas.
Cabe considerar que os usos indevidos para “sensacionalizar” a pesquisa de cura do
HIV, geralmente, passam pelo interesse econômico de um circuito capitalista globalizado
(Rennie et al., 2015). O foco no ganho financeiro pode levar a exageros e distorções da
integridade científica, que atraem investimento e atenção da mídia. O ambiente torna-se instável
e as descobertas científicas são abrandadas, o que prejudica a credibilidade da investigação e
pode desviar recursos de áreas onde poderiam trazer benefícios significativos e comprovados
para a saúde pública.
Rennie et al. (2015, p. 5) argumentam que há uma série de efeitos que as “falsas crenças
por meio da linguagem da cura” podem causar, seja na mídia, na ciência, na medicina clínica
ou tradicional. Tais discursos podem levar pessoas a participar de pesquisas sem compreender
exatamente os riscos do processo na crença de benefícios particulares que podem não
corresponder às expectativas, o que pode dificultar a obtenção de consentimento informado
válido em estudos de cura do HIV.
Segundo os autores, o “equívoco terapêutico” é um fenômeno bem documentado na
literatura. Os usos ilusórios da cura podem ainda promover efeitos negativos sobre a adesão à
terapia antirretroviral e incentivar maiores comportamentos de risco associados à infecção pelo
HIV. Como antídoto” ao “equívoco curativo”, há cientistas que têm solicitado que estudos de
cura do HIV de prova de conceito sejam chamados de “experimentos” para enfatizar os riscos
e minimizar a possibilidade de benefício individual (Rennie et al., 2015).
Problematizar as gramáticas médica e midiática é uma prática necessária no campo de
HIV/aids, apontando seus acertos e as possibilidades de melhoria socialmente engajada no
campo de pesquisas para abordagens curativas. Newton et al. (2019) lembram que as
terminologias sobre e em torno do HIV têm se transformado ao longo das décadas. Por exemplo,
a expressão “pessoas que vivem com HIV” é vista como muito mais respeitosa e solidária do
que “pacientes infectados pelo HIV” ou “vítimas da aids”. No contexto da pesquisa clínica,
tem-se dado preferência à expressão “participantes do estudo” em detrimento de “sujeitos” ou
“cobaias”. Essa mudança narrativa tem sido reivindicada pelas próprias pessoas vivendo com
HIV e pelos ativismos. E é por meio do diálogo que “coreografias éticas” (Thompson, 2013)
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mais acessíveis e objetivas são ensaiadas. Assim, etimologicamente, nos aproximamos do
sentido primeiro da palavra “cura”: cuidar.
Considerações finais
Este artigo experimentou uma aproximação junto às “performações éticas” da cura do
HIV, em diálogo com os primeiros cinco casos de cura ou “remissão de longo prazo”
alcançados por meio de transplantes experimentais com células-tronco CCR5Δ32/Δ32. Com
esse propósito, foi possível observar que as pesquisas experimentais nesse contexto introduzem
um conjunto de inflexões éticas velhas e novas. A ética da cura, portanto, não se trata de um
fenômeno dado, como podem fazer transparecer os códigos de ética e instituições regulatórias.
É, antes disso, um processo em constante construção, que transborda a prática clínica, e se faz
permeado por disputas narrativas, políticas, afetivas, práticas. Esse processo envolve uma
complexa “coreografia ética” (Thompson, 2013).
Os documentos aqui analisados mostram a mobilização de princípios éticos em nome
de uma causa-limite. As terapias experimentais que levaram à cura foram realizadas como
último recurso diante de um quadro de debilidade dado pela conjunção do câncer com a
condição viver com HIV dos pacientes. Esses casos ilustram a complexidade ética envolvida
na busca por soluções terapêuticas em situações extremas, onde medidas delicadas são tomadas
em nome da vida e do bem-estar das pessoas afetadas.
Segundo Adriana Petryna (2011), o estudo de novas tecnologias nos inserem em novos
contextos de decisão quanto aos procedimentos que são considerados justos e aqueles injustos.
Dessa forma, além de definir instâncias de “boas práticas” socialmente aceitas, a ética também
engloba um conjunto de táticas que podem conduzir à geração de novas condições humanas e
eventos. Nesse contexto, conforme a antropóloga, tem sido mais comum que agentes políticos,
interesses econômicos, cientistas e a lei e não os pacientes renegociem a “linha divisória”
entre o que pode ser considerado experimental e o que é não experimental (rotineiro, aceitável),
levando à reformulação dos termos pelos quais os direitos humanos são reconhecidos,
protegidos ou violados.
Como escreve Cláudia Fonseca (2010), ao considerar as implicações éticas da pesquisa,
cabe reconhecer que os “leigos” têm o direito e a competência para participar das decisões
técnicas. Isso não significa que os cientistas devem abandonar seu conhecimento especializado,
mas sim reconhecer que nenhuma opção é puramente técnica e que o público exerce uma
influência (embora muitas vezes implícita) na ciência. A ética científica, concebida como um
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fórum de deliberação democrática, implica criar um ambiente em que diferentes perspectivas
sejam consideradas seriamente, além da mera cortesia.
Aqui nos situamos no quarto sentido da “boa ciência” abordado por Thompson (2013),
que enfatiza a importância de os cientistas incorporarem a visão da comunidade, aprendendo
com os consensos e as controvérsias, a fim de “abrir caminhos” em vez de “encerrar-se em si
mesmos”. Thompson também se dirige aos estudiosos de ética, sugerindo que “fechar”
determinadas ciências é um caminho menos eticamente produtivo do que abrir o debate ético e
científico para promover soluções compartilhadas, levando em consideração contextos e
histórias específicas. Embora seja um esforço trabalhoso, esse exercício de coreografia ética é
essencial para que justiça e verdade sejam devidamente discutidas e aplicadas.
Em suma, isto envolve promover um espaço onde críticas não sejam temidas
antecipadamente, pois não estão ligadas a um exercício arbitrário de poder, e onde as paixões
políticas sejam canalizadas para o diálogo, em vez de buscar um consenso tico (Fonseca,
2010). Essa abordagem implica uma escolha sobre o tipo de sociedade em que queremos viver.
Discutir as “performações éticas” em pesquisas experimentais para a cura do HIV pode ser,
portanto, mais uma forma de co-produção” científica (Fleischer, 2022a), uma coisa boa para a
ciência e uma forma de democracia (Thompson, 2013) atenta às práticas de pesquisa e modos
de acesso às novas tecnologias. A boa ciência não é apenas aquela que garante a segurança e
efetividade das intervenções, mas também aquela que considera a equidade na distribuição dos
benefícios da pesquisa e a dimensão social da ciência.
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Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 24
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não se aplica.
Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo FAPESP
(2019/22295-9) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNPq (140428/2019-4).
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não se aplica.
Disponibilidade de dados e material: Os dados e materiais utilizados no trabalho estão
disponíveis para acesso.
Contribuições dos autores: Autoria única.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 1
A LA BUENA CIENCIA: ACTUACIONES ÉTICAS EN TRASPLANTES
EXPERIMENTALES DE CÉLULAS MADRE PARA LA CURA DEL VIH
“À BOA CIÊNCIA”: PERFORMAÇÕES ÉTICAS EM TRANSPLANTES
EXPERIMENTAIS DE CÉLULAS-TRONCO PARA A CURA DO HIV
1
TO GOOD SCIENCE: ENACTING ETHICS IN EXPERIMENTAL STEM CELL
TRANSPLANTATION OF AN HIV CURE
Kris Herik de OLIVEIRA2
e-mail: kris.h.oliveira@gmail.com
Cómo hacer referencia a este artículo:
OLIVEIRA, K. H. de. A la buena ciencia: actuaciones
éticas en trasplantes experimentales de células madre para
la cura del VIH. Rev. Cadernos de Campo, Araraquara v.
24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021.
| Enviado en: 09/02/2024
| Revisiones requeridas en: 13/06/2024
| Aprobado en: 25/06/2024
| Publicado en: 27/11/2024
Editores:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. Me. Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Paulo Carvalho Moura
Prof. Thiago Pacheco Gebara
1
La versión preliminar de este artículo fue presentada en el XIV Encuentro de Antropología del Mercosur,
realizado del 1 al 4 de agosto de 2023, en Niterói (RJ), en el GT 10 Antropología de la Salud: Perspectivas,
Debates y Problemas.
2
Universidad Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas SP Brasil. Doctora en Ciencias Sociales por la
UNICAMP.
A la buena ciencia: Actuaciones éticas en trasplantes experimentales de células madre para la cura del VIH
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 2
RESUMEN: En este artículo busco discutir, desde un punto de vista socio-antropológico, los
enredos éticos que componen los primeros cinco casos de "cura" o "remisión a largo plazo" del
VIH, logrados a través de trasplantes experimentales de células madre. A partir del análisis del
contenido de los documentos seleccionados, situo dichas prácticas tecno-biocientíficas en el
contexto de las "ciencias que tienen ética" y exploro las diferentes dimensiones que definen lo
que se considera "buena ciencia" y "mala ciencia". Observo que la ética de la cura del VIH no
es un fenómeno dado, como pueden implicar los códigos de ética y las instituciones reguladoras.
Es, ante eso, un proceso en constante construcción, que desborda la práctica clínica y está
permeado por disputas narrativas, políticas, afectivas y prácticas. En este sentido, sugiero que
pensar críticamente sobre las "performances éticas" en este y otros contextos experimentales
puede contribuir a prácticas científicas más democráticas.
PALABRAS CLAVE: VIH. Curación. Ética médica. Trasplante de células madre
hematopoyéticas. Estudios sociales de la ciencia y la tecnología.
RESUMO: Neste artigo, busco discutir, de um ponto de vista socioantropológico, os
emaranhados éticos que conformam os primeiros cinco casos de “cura” ou remissão de longo
prazo” do HIV, alcançados por meio de transplantes experimentais de células-tronco. A partir
da análise do conteúdo de documentos selecionados, situo tais práticas tecnobiocientíficas no
contexto das “ciências que têm ética” e exploro as diferentes dimensões que definem o que é
considerado “boa ciência” e “má ciência”. Observo que a ética da cura do HIV não se trata
de um fenômeno dado, como podem fazer transparecer os códigos de ética e instituições
regulatórias. É, antes disso, um processo em constante construção, que transborda a prática
clínica e se faz permeado por disputas narrativas, políticas, afetivas e práticas. Nesse sentido,
sugiro que pensar criticamente as “performações éticas” nesse e em outros contextos
experimentais pode contribuir para práticas científicas mais democráticas.
PALAVRAS-CHAVE: HIV. Cura. Ética médica. Transplante de células-tronco
hematopoiéticas. Estudos sociais da ciência e da tecnologia.
ABSTRACT: This paper aims to discuss, from a socio-anthropological perspective, the ethical
complexities that interweave the first five cases of cure or long-term remission of HIV
achieved through experimental stem cell transplants. Through the analysis of selected
documents, I situate such technobiomedical practices in the context of ethical sciences and
explore the different dimensions that define what is considered good science and bad
science. I observe that the ethics of HIV cure is not a given phenomenon, as may be implied
by ethical codes and regulatory institutions. Rather, it is a constantly evolving process that
transcends clinical practice and is permeated by narrative, political, affective, and practical
disputes. In this sense, I suggest that critically reflecting on "enacting ethics" in this and other
experimental contexts can contribute to more democratic scientific practices.
KEYWORDS: HIV. Cure. Medical ethics. Hematopoietic stem cell transplantation. Social
Studies of Science and Technology.
Kris Herik de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 3
Introducción
En febrero de 2008, durante un importante congreso científico celebrado en Estados
Unidos, el hematólogo alemán Dr. Gero Hütter y sus colaboradores del Hospital Universitario
Charité de Berlín informaron de lo que se conocería como el primer caso de cura del VIH
(Hütter et al., 2008). Timothy Ray Brown, entonces identificado como el "Paciente de Berlín",
había vivido con el VIH durante más de una década y, a la edad de 40 años, se sometió a un
trasplante de células madre hematopoyéticas (TCTH) a través de la médula ósea. El trasplante
fue el último recurso terapéutico para su leucemia mieloide aguda, un tipo de cáncer
hematológico grave.
Con el fin de lograr la remisión del cáncer y probar una hipótesis que también podría
conducir a la remisión del VIH, el equipo médico buscó un donante con una mutación genética
en su superficie conocida como "CCR5Δ32/Δ32", que confiere resistencia a la infección por
VIH. Esta combinación experimental de factores, junto con la suspensión definitiva de la terapia
antirretroviral y la realización de pruebas sensibles para detectar el virus en el organismo años
después del procedimiento, llevaron a la conclusión de que se había logrado la tan esperada
primera cura del VIH (Allers et al., 2011; Hütter et al., 2009; Yukl et al., 2013).
Entre éxitos y fracasos, se han realizado otros trasplantes en personas que viven con
VIH y cáncer hematológico avanzado, con el objetivo de reproducir el caso de Timothy Brown
(Hütter, 2018). Hasta ahora, en cuatro casos más ha sido posible lograr una "cura" o una
"remisión a largo plazo" del VIH. Estos nuevos casos han confirmado que un enfoque curativo
del VIH es posible, aunque difícil, según los expertos. Esta posibilidad se ha sintetizado en la
idea de que los trasplantes experimentales de células madre para la cura del VIH sugieren una
terapia potencial, aunque no se extienda a los millones de personas que viven con el VIH.
En marzo de 2019, un grupo de científicos y médicos de Londres realizaron un
procedimiento terapéutico similar al que recibió Timothy Brown para el tratamiento del linfoma
de Hodgkin en etapa 4, un tipo de cáncer del sistema linfático, en Adam Castillejo, el "Paciente
de Londres", entonces de 36 años. Sin embargo, se han realizado algunas modificaciones para
que el procedimiento sea menos agresivo (Gupta et al., 2019a, 2019b). Unos 16 meses después
del trasplante, Adam Castillejo dejó de tomar los antirretrovirales, convirtiéndose en el primer
paciente desde Timothy Brown en permanecer libre del virus durante más de un año después
de la interrupción. En 2020, después de otras pruebas y exámenes sensibles, el equipo médico-
científico responsable del caso presentó las "evidencias para la cura del VIH(Gupta et al.,
2020a, 2020b).
A la buena ciencia: Actuaciones éticas en trasplantes experimentales de células madre para la cura del VIH
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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También en 2019, médicos y científicos de Alemania presentaron otro caso de remisión
a largo plazo del VIH en un hombre tras un trasplante de células madre de un donante con la
mutación del gen CCR5Δ32/Δ32 (Jensen et al., 2019). Los primeros resultados de este
procedimiento se presentaron durante un congreso en 2016 (Kobbe et al., 2016). Al igual que
en el caso de Berlín, Marc Franke, el "Paciente de Düsseldorf", se sometió a un trasplante de
médula ósea a los 43 años para tratar su leucemia mieloide aguda y buscar la remisión del VIH.
En este caso, el tratamiento antirretroviral para el VIH se interrumpió en noviembre de 2018.
En febrero de 2023 se publicó el primer artículo científico sobre el caso, en el que se detallan
las evidencias de una cura (Jensen et al., 2023).
En febrero de 2022, científicos y médicos de Estados Unidos informaron del caso de
una mujer negra mayor de 60 años en remisión prolongada del VIH (HSU et al., 2022). La
"Paciente de Nueva York" (aún no identificada a petición propia) se sometió a un trasplante de
células madre en busca de la remisión de su leucemia mieloide aguda y VIH en agosto de 2017.
A diferencia de los casos anteriores, las células madre utilizadas en el llamado "trasplante de
haplocordón" procedían de dos fuentes: la sangre periférica de un pariente adulto sano, con el
objetivo de restaurar rápidamente su población de células sanguíneas y reducir las
complicaciones infecciosas, y la sangre del cordón umbilical de un recién nacido
CCR5Δ32/Δ32 no emparentado (no emparentado), para proporcionar la reconstitución de la
sangre a largo plazo. Tras interrumpir su tratamiento antirretroviral en 2021 y que las pruebas
sensibles no localizaran virus con potencial de replicarse en su organismo, el equipo médico-
científico concluyó que se trataba de un caso de "remisión y posible curación del VIH(HSU
et al., 2023).
Finalmente, el quinto y más reciente caso fue anunciado en agosto de 2022 por médicos
y científicos de Estados Unidos (Dickter et al., 2022). Paul Edmonds, el "Paciente de City of
Hope", identificado de esta manera en referencia al centro de salud e investigación del cáncer
hematológico donde se realizó el procedimiento, es mayor que todos los demás y ha vivido con
el VIH durante más tiempo, desde 1988. A principios de 2019, a la edad de 63 años, recibió un
trasplante de células madre de médula ósea de un donante con la mutación CCR5Δ32/Δ32 para
el tratamiento de su leucemia mieloide aguda. Después de más de tres años desde el trasplante
y más de 17 meses después de suspender la terapia antirretroviral, las pruebas no encontraron
evidencia de un virus con la capacidad de replicarse en su cuerpo. Además, la leucemia también
permanece en remisión.
Kris Herik de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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Los primeros cinco casos de "cura", aunque aislados y difíciles de reproducir a mayor
escala, desestabilizaron una realidad hasta entonces considerada inmutable: la incurabilidad de
la infección por VIH. Como resultado, se han renovado las esperanzas en el desarrollo de
enfoques terapéuticos curativos y han surgido nuevas líneas de investigación. En el horizonte
tecno-biocientífico, la idea de una cura para el VIH se ha convertido en una posibilidad real y
alcanzable, desafiando los discursos previamente establecidos.
En este sentido, estos casos apuntan a una amplia gama de cuestiones relacionadas con
el desarrollo de biotecnologías terapéuticas para el VIH en la época contemporánea. O, como
sugiere el análisis crítico de la bióloga feminista y filósofa de la ciencia y la tecnología Donna
Haraway (1991), llaman la atención sobre las múltiples dimensiones que componen un
"régimen de tecno-biopolítica".
3
Para Haraway, las dimensiones conectadas de la informática,
la biología y la economía, con sus promesas de un mundo mejor a través de las innovaciones
tecnológicas, introducen nuevos pliegues sobre las intervenciones tecnológicas en la vida
cotidiana y en sus ensamblajes ético-estético-político. De esta manera, a través de narrativas,
imaginarios y prácticas emergentes en el campo médico-científico, se redibujan los límites de
las sociedades e incluso del propio cuerpo, desestabilizando los límites entre el "yo" y el "otro"”.
Siguiendo los argumentos de Charis Thompson (2013) sobre la "coreografía ética" de
la ciencia con células madre, es posible considerar que tales prácticas experimentales en busca
de la remisión de los cánceres hematológicos y del VIH introducen un conjunto de inflexiones
éticas -viejas y nuevas- en el escenario tecno-biocientífico de la "buena ciencia". Este sensible
campo de investigación (Ferreira; Maksud, 2023) está atravesada por discusiones sobre el
consentimiento, la transparencia, la privacidad, los riesgos y beneficios, el cuidado, entre otros.
En este sentido, plantea algunos interrogantes. ¿Cómo se da vida la ética a partir de narrativas
y prácticas? En otras palabras, ¿cómo se lleva a cabo la ética en estos contextos? ¿Cuáles son
las lógicas que median las relaciones entre los diferentes agentes? ¿Cómo se experimentan los
riesgos y beneficios? ¿Qué alternativas son posibles para construir mejores relaciones y
prácticas en la investigación experimental para la cura del VIH?
3
El concepto de tecnobiopolítica propone una actualización de la crítica de Michel Foucault (1999) a la gestión
política de los cuerpos vivos y las poblaciones. En el primer volumen de Historia de la sexualidad, Foucault
introdujo el concepto de "biopolítica" para describir los procesos sociopolíticos que implican la transformación de
ciertos cuerpos en especies, así como las prácticas de regulación de las poblaciones a través del conocimiento
(como la estadística, la economía y la medicina) y temas específicos (nacimiento, morbilidad, mortalidad,
longevidad, etc.). Durante el último siglo, como sostiene Foucault, estas tecnologías de conocimiento-poder-
subjetivación se han infiltrado de manera capilar en todas las dimensiones de la vida y en las formas de gobierno.
A la buena ciencia: Actuaciones éticas en trasplantes experimentales de células madre para la cura del VIH
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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Pensar la dimensión ética en el diálogo con los casos de "cura" del VIH en términos de
una "performance" es el resultado de una experimentación teórico-metodológica que busca
aproximaciones con los estudios sociales de la ciencia y la tecnología. Este enfoque considera
el carácter inestable y lo sitúa contextualmente de la realidad en lugar de aprehenderlo como
una naturaleza encerrada en sí misma. En este sentido, las prácticas tecno-biocientíficas no sólo
describen o representan la realidad, sino que también juegan un papel activo en su aprehensión,
construcción y constitución (Latour; Woolgar, 1997).
Según la filósofa Annemarie Mol (2002), la clave para una lectura más precisa de los
"objetos" médicos requiere prestar atención a las prácticas involucradas. En su lectura, las
ontologías no son inherentes a las cosas y preestablecidas, sino que se crean y moldean a través
de prácticas e interacciones cotidianas. La realidad, por lo tanto, se está "haciendo a sí misma",
en un proceso constante de actuación. Dado que las realidades y las condiciones de posibilidad
varían según las prácticas, esto implica que también están sujetas a impugnaciones en juegos
de "política ontológica" (Mol, 2002, 2008).
El objetivo central de este artículo, resultado de mi investigación doctoral (Oliveira,
2023), es discutir, desde un punto de vista socioantropológico, los enredos éticos que componen
los primeros cinco casos de "cura" o "remisión a largo plazo" del VIH, logrados a través de
trasplantes experimentales de células madre. En diálogo con la propuesta analítica de
Thompson (2013), sitúo dichas prácticas tecno-biocientíficas en el contexto de las "ciencias que
tienen ética" y exploro las diferentes dimensiones que definen lo que se considera "buena
ciencia" y "mala ciencia".
Metodológicamente, desarrollo lo que he caracterizado como una "cartografía de
paisajes biotecnológicos" (Oliveira, 2023). En otras palabras, busco dar cuenta tanto de las
continuidades como de los cambios que han forjado el desarrollo de intervenciones y
biotecnologías curativas para el VIH a diferentes escalas, pasando por instituciones,
experiencias, proyectos políticos y prácticas científicas. Si bien esta cartografía presta atención
a las contingencias del presente, su objetivo radica precisamente en el reconocimiento de las
aperturas e inestabilidades de los futuros pensados y practicados, teniendo como horizonte la
gestión de la vida, los cuerpos y las subjetividades.
Los documentos utilizados para el análisis forman parte de un "archivo de laboratorio"
compuesto por 136 materiales recopilados durante los últimos cuatro años para el desarrollo de
Kris Herik de OLIVEIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.2.19021 7
la investigación doctoral (Oliveira, 2023).
4
Para la elaboración de este artículo, seleccioné los
artículos publicados en revistas científicas sobre los casos de "cura" del VIH y una entrevista
concedida por Timothy Brown al periódico Folha de São Paulo. El caso de City of Hope no se
incluyó en este proceso porque no se había publicado ningún artículo científico en el momento
en que se completó esta investigación. Los artículos científicos pueden ser considerados
documentos centrales en el proceso de difusión y legitimación de las prácticas de investigación,
revelando las múltiples capas del proceso de producción de hechos científicos (Latour, 2000;
Latour; Woolgar, 1997).
En el procedimiento de análisis de los materiales, utili la técnica de análisis de
contenido temático (Bardin, 1977) con el apoyo del software ATLAS.ti 9. Operé con un
procedimiento de desmontaje de materiales para realizar nuevos montajes en categorías
temáticas, con el objetivo del análisis comparativo de los datos. Sin embargo, en lugar de
considerar el análisis realizado en el software como cerrado, lo utilicé como productor de pistas
a seguir en el laberinto del archivo del laboratorio. Las pistas-categorías seguidas fueron:
mención de principios y protocolos éticos; participantes del estudio; instituciones involucradas;
experimentos con animales no humanos; Tenga cuidado con los materiales biológicos. Para la
interpretación de los documentos utilizo la bibliografía resultante de una revisión realizada
durante el mismo período y las normas éticas internacionales. Procedimientos similares fueron
adoptados por Thompson (2013) en su investigación en el campo de las tecnologías
reproductivas y las células madre.
Dicho esto, este artículo explora los significados de la "buena ciencia" en la
investigación experimental para la cura del VIH, tomando como punto de partida el caso de
Timothy Brown, el "paciente de Berlín", y las reflexiones de Thompson (2013) sobre las
"ciencias que tienen ética". A continuación, discuto los marcos éticos de estos casos, a partir de
las menciones al tema en los artículos científicos analizados. El artículo también presta atención
a la naturaleza en desarrollo de la "agenda ética" de la investigación para la cura del VIH y la
discusión sobre la ética de hablar de la cura. Finalmente, se presentan algunas consideraciones
finales con el argumento de que la ética en la ciencia no es un concepto fijo, sino un proceso
dinámico en constante transformación, que requiere un cuidadoso equilibrio entre riesgos y
beneficios y una consideración profunda de las implicaciones sociales y morales de la
investigación experimental.
4
La base de datos completa está disponible en el Repositorio de Datos de Investigación de la Unicamp (REDU).
Disponible en: https://doi.org/10.25824/redu/YAI83E. Fecha de consulta: 25/06/2024.
A la buena ciencia: Actuaciones éticas en trasplantes experimentales de células madre para la cura del VIH
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 2, e024018, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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"A la buena ciencia"
Durante una entrevista con la periodista Cláudia Collucci (2019) del periódico Folha de
São Paulo, el día antes de intervenir en un evento médico sobre el VIH en la Universidad de
São Paulo (USP), se le preguntó a Timothy Brown el "Paciente de Berlín" sobre el desenlace
de su caso que condujo a la primera cura del VIH. Confirió el hecho de haber sido curado "a la
buena ciencia" compuesta por "buenos científicos y médicos interesados", es decir, a
profesionales de la ciencia médica dedicados y con las habilidades necesarias para abrir un
camino disruptivo en un panorama hasta ahora considerado inmutable.
Las palabras de Timothy Brown sobre su experiencia en un proceso experimental con
células madre para la cura del VIH son de gran relevancia en lo que respecta a las cuestiones
éticas involucradas en la investigación científica. Al exponer sus impresiones, señala una
pregunta importante: ¿qué es la "buena ciencia" o, en el límite, ¿qué es la “buena” en el territorio
de la investigación experimental para la cura del VIH?
Charis Thompson (2013) sostiene que los campos biomédicos relacionados con la
genómica, la bioinformática, la medicina personalizada y regenerativa, las tecnologías
reproductivas, la mejora humana y la longevidad, pueden definirse como "ciencias que tienen
ética" (p. 43). Según el autor, estas ciencias son aprehendidas de esta manera porque están
profundamente marcadas por temas controvertidos, tales como: la vida y la muerte, la
eugenesia, la privacidad genética, la comercialización de los recursos biológicos. Esta
característica hace que las ciencias biomédicas estén profundamente impactadas por cuestiones
éticas en todas sus fases, desde la experimentación hasta la disponibilidad de productos y
servicios a la sociedad.
Para Thompson (2013), la ética de las "ciencias que tienen ética" puede contrastarse con
una visión más "tradicional" de la ética de la ciencia marcada por un código de conducta
profesional (atento a los problemas de plagio, por ejemplo) y posibles implicaciones morales,
legales y/o sociales (después del final de la investigación, ¿los resultados se utilizan para bien
o para mal?). Podemos considerar como un hecho (y una ficción) que la investigación y sus
tecnologías siempre han "tenido ética" completamente, ya que esta es una característica
subyacente de las ciencias que están en contacto con diferentes agentes humanos o no. Sin
embargo, la mayoría de las ciencias no son tratadas como si ya estuvieran siempre involucradas
en enredos éticos y sus controversias.
El autor describe el régimen actual de la tecnobiopolítica (Haraway, 1991) como una
"era de las ciencias con ética", donde cuatro clases de "buena ciencia" se entrelazan para
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impulsar la innovación biomédica. La primera clase se refiere a la producción de impacto y la
apertura de nuevos campos de investigación, valorando la calidad de la investigación y la
contribución al conocimiento científico. La segunda clase destaca la importancia de la ética y
la conducta científica adecuada en el entorno de la investigación. La tercera clase involucra un
aparato ético-regulatorio que se ocupa de cuestiones sociales históricamente cargadas, yendo
más allá de la práctica científica para abordar los significados relacionados con la vida, la
muerte y la individualidad. Por último, la cuarta clase persigue la verdadera buena ciencia con
ética, promoviendo el cambio en el panorama de la investigación e involucrando al público,
respetando los diferentes foros de deliberación ética para soluciones colectivas e inclusivas.
El discurso de Timothy Brown y las reflexiones de Thompson (2013) sobre los
significados de la "buena ciencia" permiten situar la investigación experimental con células
madre para la cura del VIH en el terreno todavía inestable de las "ciencias que tienen ética". La
buena ciencia que conduce a una cura para el VIH, en este contexto, implica la promoción de
prácticas disruptivas, conductas adecuadas, la mejora de las prácticas regulatorias y la búsqueda
de soluciones colectivas. En este sentido, la ética en las ciencias biomédicas no es algo
establecido, sino un proceso en constante constitución en diálogo con las instituciones y
organismos involucrados.
Enquadramentos éticos
Las pautas éticas actuales en la práctica médica han sido moldeadas por una serie de
eventos históricos, morales y normativos que definen los comportamientos que deben ser
extirpados y alentados, practicados y fortalecidos (Guilhem; Diniz, 2017; Silva, 2018). Entre
los principales se encuentran el Código de Núremberg (1947), la Declaración de Helsinki
(1964) y el Informe Belmont (1978).
5
Estos acontecimientos condujeron a la formulación de
los cuatro principios éticos fundamentales en la práctica médica y la investigación científica:
autonomía, beneficencia, no maleficencia y justicia. ¿Cómo expresan estos principios éticos los
médicos y científicos que participaron en los primeros casos de cura del VIH?
5
El Código de Nuremberg (1947), desarrollado después de la Segunda Guerra Mundial y en respuesta a los
experimentos médicos nazis practicados en ese contexto, estableció los principios éticos fundamentales para la
investigación médica con seres humanos, enfatizando el consentimiento voluntario, la ausencia de coerción y la
minimización de riesgos. La Declaración de Helsinki (1964), de la Asociación Médica Mundial, amplió estas
directrices, especificando las responsabilidades éticas en la investigación clínica. El Informe Belmont (1978)
establece principios éticos fundamentales para la investigación con seres humanos en los Estados Unidos,
enfatizando el respeto a las personas, la beneficencia y la justicia como guías esenciales. Estos documentos
constituyen la base de la bioética moderna.
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En el primer artículo publicado sobre el caso de Timothy Brown, el "Paciente de Berlín",
la declaración ética se resume en una frase: "El paciente dio su consentimiento informado para
este procedimiento y el protocolo fue aprobado por la junta de revisión institucional" (Hütter et
al., 2009, p. 693). Este tipo de descripción es insuficiente con respecto a los principios éticos.
¿Cómo se informó al paciente la información relacionada con los posibles beneficios y
perjuicios del procedimiento? ¿En qué condiciones se autorizó el procedimiento clínico? ¿Qué
"junta de revisión institucional" sería responsable de la aprobación ética? ¿Cómo se
minimizaron los riesgos para la salud y la vida en este escenario de alta vulnerabilidad? ¿Cómo
se resolvían los deberes y responsabilidades de los médicos? ¿Existió un enfoque experimental
en animales no humanos antes de la aplicación del procedimiento terapéutico en un ser humano?
Las preguntas planteadas fueron respondidas parcialmente en el artículo publicado
posteriormente, que presenta la evidencia de la primera cura del VIH (Allers et al., 2011). En
los dos párrafos que mencionan directamente el cuidado ético del estudio, se reitera que el
paciente consintió los procedimientos ordinarios y extraordinarios del estudio. También se
informa que el estudio buscó ajustarse al método de ensayo clínico aleatorizado al incluir a "15
pacientes de control sanos" -que no vivían con VIH- con fines comparativos, y que también
dieron su consentimiento informado. Por último, se menciona el consejo institucional
responsable de aprobar el estudio: la Universidad Médica Charité de Berlín, donde se realizó el
procedimiento.
En el tercer artículo publicado sobre el caso Berlín (YUKL et al., 2013), dedicado a
presentar nuevas evidencias sobre el efecto curativo del trasplante realizado, entra en escena
una nueva institución: la Universidad de California, San Francisco. En esa universidad,
Timothy Brown se inscribió en un estudio observacional en el que se realizaron estudios
adicionales con los materiales biológicos para buscar la presencia de posibles rastros de VIH, a
lo que habría dado su consentimiento. El artículo también menciona que el paciente consintió
actividades realizadas en otra institución, la Universidad de Minnesota.
En el caso de Adam Castillejo, el "Paciente de Londres", la descripción del cuidado
ético se lleva a cabo en detalle en su primer artículo publicado (Gupta et al., 2019b). Se
especifica cómo se incluyó al paciente en el proceso a partir de la posibilidad de encontrar un
donante compatible con la mutación esperada. En este trabajo se siguió el protocolo clínico
desarrollado por el Servicio Nacional de Salud del Reino Unido (NHS), en el que se detalla el
marco estándar para la aprobación ética en este contexto, incluyendo: procesos adecuados para
el trasplante y la interrupción del tratamiento antirretroviral, monitorización de la carga viral,
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toma de muestras de tejidos y gestión de los riesgos relacionados con el procedimiento y el
post-trasplante. La aprobación ética se llevó a cabo por el Comité de Ética de Investigación de
la Autoridad de Investigación en Salud del NHS del Reino Unido. En este caso, el paciente dio
su consentimiento informado por escrito. También se menciona en este documento científico
un nuevo agente clínico: el consorcio IciStem. Este consorcio produjo un estudio observacional
más amplio para la cura del VIH a través de TCTH, en el que Adam se registró con el número
36.
En el segundo artículo (Gupta et al., 2020b), que aporta la "evidencia para una cura" del
VIH, se refuerza la descripción ética del artículo anterior, respaldada por el Comité de Ética en
Investigación de la Autoridad de Investigación en Salud del NHS. Además, se menciona que el
paciente también revisó la versión final del artículo actualizado y dio su consentimiento por
escrito para su publicación. En el contexto tecno-biocientífico, este proceso contiene su
singularidad. Esto se debe a que no es común que los científicos médicos sometan sus artículos
científicos a la revisión de los participantes en la investigación. Esta relación puede ser un
reflejo de las importantes luchas del activismo contra el VIH/SIDA en el campo de la ética de
la investigación, como las reportadas por Steven Epstein (1996).
El artículo sobre el caso de Marc Franke, el "paciente de Düsseldorf", también detalla
los procedimientos realizados por los médicos y científicos implicados (Jensen et al., 2023).
Vale la pena recordar que este paciente también estaba inscrito en el programa IciStem bajo el
número 19. El artículo enfatiza que la interrupción de la terapia antirretroviral y la prueba de
los reservorios virales fueron apoyadas por el Comité de Ética de la Facultad de Medicina de la
Universidad Heinrich Heine de Düsseldorf. El proceso incluyó el consentimiento informado
por escrito, de acuerdo con las directrices de CAse REport (CARE) y los principios de la
Declaración de Helsinki de 2013. El estudio utilizó materiales biológicos de otros pacientes
VIH positivos y VIH negativos, tanto hombres como mujeres, de otros hospitales y laboratorios
como controles, todos ellos apoyados por comités de ética locales. El artículo destaca además
que los controles fueron reclutados voluntariamente, no fueron compensados y proporcionaron
el consentimiento informado por escrito, de acuerdo con los principios de la Declaración de
Helsinki de 2013.
Cabe destacar que el caso de Düsseldorf es el único trabajo que menciona cuestiones
éticas relacionadas con el uso de animales no humanos, los "ratones humanizados". Según el
artículo, los usos de estos animales se llevaron a cabo siguiendo un protocolo institucional
específico, que fue revisado por el Comité de Ética de Experimentación Animal del Hospital
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Universitario Germans Trias i Pujol y aprobado por la Generalitat de Cataluña de acuerdo con
la legislación nacional y de la Unión Europea vigente en materia de protección de animales de
experimentación.
En el artículo referido al caso del "paciente neoyorquino", no hay una gran discusión
sobre la conformidad de los protocolos de investigación según los principios éticos adoptados
internacionalmente. El artículo se limita a mencionar en su documento complementario (HSU
et al., 2023, p. e3) que el "estudio se llevó a cabo de conformidad con la Declaración de Helsinki
y fue aprobado por la Junta de Revisión Institucional del Weill Cornell Medical College".
Luego se menciona que "se incluyeron sujetos humanos en el estudio con el consentimiento
informado aprobado por la Junta de Revisión Institucional del Weill Cornell Medical College".
Entre ellos, "se reclutaron dos participantes (1 hombre y 1 mujer, ambos de mediana edad)". Se
trata del estudio observacional de la Red Internacional de Ensayos Clínicos de SIDA Materno
Pediátrico y Adolescente (IMPAACT), y fue registrado en los Estados Unidos
ClinicalTrials.gov bajo el código NCT02140944. También se señala que el hecho de que la
participante sea una mujer no blanca "tiene implicaciones para la equidad racial en salud”.
Hasta donde pude observar, los cuatro casos señalaron que seguían los principios éticos
acordados internacionalmente por la comunidad médico-científica, de acuerdo con la
Declaración de Helsinki de la Asociación Médica Mundial (AMM, 2022). Sin embargo, la
información presentada en los artículos para justificar tal adecuación ética no fue
completamente clara en todas las situaciones. En este contexto, la Declaración de Helsinki, los
Comités de Ética y los Formularios de Consentimiento son utilizados como dispositivos para
salvaguardar y cumplir con el aparato regulador de la ética en la investigación, o incluso como
dispositivos para legitimar las prácticas experimentales.
Como señala la antropóloga Soraya Fleischer (2022b), estos dispositivos utilizados en
la investigación biomédica buscan revelar la resolución de todas las cuestiones de la ética de la
investigación y la relación entre los sujetos de investigación y los investigadores. El
consentimiento, sin embargo, no se limita a la firma de documentos o a la mención de
instituciones reguladoras o declaraciones internacionales. Es un proceso continuo que implica
una comunicación clara, comprensión mutua y respeto por las vulnerabilidades de los
participantes. Además, debe tener en cuenta los contextos socioculturales de los participantes
implicados, garantizando que se incluyan las demandas y se aborden sus preocupaciones. Así,
un cierto compromiso ético se refleja en la práctica diaria y en la adaptación sensible a las
necesidades de los participantes en la investigación.
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La investigación experimental para la cura del VIH parece traer consigo una forma única
de trabajar, que exige la producción de protocolos específicos para este tipo de procedimientos.
Es posible observar que las investigaciones experimentales aquí analizadas no necesariamente
incorporaron en sus prácticas modelos de prueba in vitro (en cultivo celular) y/o in vivo
(modelos animales) antes de realizar los experimentos en humanos, tal como lo acuerdan los
códigos internacionales de ética (Guilhem; Diniz, 2017). Al no llevar a cabo la experimentación
en animales no humanos antes de su aplicación terapéutica en humanos, ¿habrían violado los
casos aquí analizados los principios internacionales de la ética médico-científica?
Como señalan Patrice Schuch y Ceres Victora (2015), las prácticas éticas de regulación
en investigación no deben ser vistas como herramientas neutrales de gestión de datos, sino como
elementos políticos que configuran autoridades, objetos y medios de intervención. Según los
antropólogos, estudios previos han demostrado que las políticas regulatorias están dando forma
a una noción específica de ética. Esto incluye valorar la transparencia en los medios y métodos
de investigación, lo que puede limitar las negociaciones internas en el proceso de investigación.
Además, el conocimiento ético se asocia cada vez más con instrumentos burocráticos e
indicadores de desempeño, lo que lo hace controlable y cuantificable. Este enfoque técnico
reduccionista separa la técnica de la política, oscureciendo las decisiones técnico-políticas
involucradas en el control y la cuantificación. En este sentido, también vale la pena reflexionar
no solo sobre lo que se considera conocimiento ético, sino también sobre lo que no se incluye
en las políticas regulatorias actuales (Schuch; Victora, 2015). Este parece ser un camino
importante a seguir en el contexto de la investigación experimental para la cura del VIH.
Una agenda inconclusa
La socióloga Karine Dubé se ha dedicado a investigar la ética de la investigación
experimental y los ensayos clínicos para la cura del VIH. En los estudios de revisión
colaborativa sobre el tema (Dubé et al., 2015, 2017, 2021), argumenta que se necesita más
investigación empírica en ciencias sociales (especialmente las de naturaleza cualitativa) para
informar y pensar críticamente sobre este contexto experimental, donde las decisiones de
participar en estudios son siempre complejas y multifacéticas. Así, las obras del autor ayudan
a examinar el tema.
Según Dubé et al. (2021), más de 250 estudios biomédicos en todo el mundo están o
han estado relacionados con la búsqueda de una cura segura, eficaz y escalable para el VIH, la
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mayoría de los cuales son investigaciones tempranas en medicina experimental
6
. Entre los
diferentes enfoques, se ha observado un conjunto de dilemas éticos que permean la
investigación experimental para la cura del VIH relacionados con la confianza, los riesgos y los
beneficios. En la mayoría de las investigaciones en las primeras etapas de la cura del VIH, el
análisis ético implica un cálculo de "conocimiento-riesgo", que evalúa si el conocimiento
científico potencial y los datos adicionales justifican los riesgos. Por lo tanto, y considerando
el aumento del interés científico en el tema, es fundamental identificar y abordar los desafíos
éticos que plantean estas prácticas, teniendo en cuenta sus diferencias.
Dubé y cols. (2021) argumentan que dichas intervenciones terapéuticas, aunque
consideradas "prometedoras", tienen altos riesgos y pocos beneficios clínicos personales. La
investigación en las primeras etapas de la cura del VIH, así como otras formas de investigación
experimental con seres humanos, tiende a tener un perfil de beneficio/riesgo asimétrico. Esto
significa que, mientras que la sociedad y la ciencia disfrutan de beneficios casi exclusivos, los
participantes individuales en la investigación asumen los riesgos clínicos y psicosociales.
Según Dubé et al. (2021), este aspecto es especialmente cierto en el caso de
investigaciones que involucran procedimientos de estudio riesgosos, como las Interrupciones
Analíticas del Tratamiento (ATIs) -uno de los temas más controvertidos en este campo- que
requieren la interrupción de la terapia antirretroviral durante la investigación para determinar si
las intervenciones experimentales han logrado los efectos previstos de supresión virológica
duradera en el ausencia de terapia antirretroviral. Por lo tanto, esta investigación exige un
delicado equilibrio entre garantizar la seguridad y la tolerancia de los tratamientos
experimentales y explorar la posible eficacia de estas intervenciones.
Al explorar las prácticas experimentales de curación, también creo que es esencial no
descuidar los posibles riesgos a largo plazo. Los casos de curación analizados ilustran
claramente los efectos secundarios que surgen después de los trasplantes, destacando
particularmente la preocupante incidencia de la enfermedad de injerto contra huésped (cuando
las células madre del donante atacan los tejidos del receptor). Estos riesgos no pueden
subestimarse, ya que requieren un análisis cuidadoso y continuo de los beneficios potenciales
6
La información sobre la investigación sobre la cura del VIH es recopilada y organizada por el Grupo de Acción
para el Tratamiento (https://www.treatmentactiongroup.org/cure/trials/) TAG de la base de datos de estudios clínicos
de los Institutos Nacionales de Salud (https://clinicaltrials.gov/). TAG es una organización sin ánimo de lucro
centrada en acelerar la investigación de tratamientos para el VIH, la tuberculosis y la hepatitis C. La institución tuvo
sus orígenes en la organización activista contra el sida, ACT UP (AIDS Coalition to Unleash Power), con una
importante acción política para el desarrollo y distribución de nuevos tratamientos para el VIH en losos noventa.
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en relación con los daños para garantizar la seguridad y el bienestar de las personas que
participan en la investigación sobre la cura del VIH.
Dubé y cols. (2021) afirman que, para algunos científicos, existe un perfil de paciente
considerado ideal para trasplantes de células madre y terapia génica en el contexto del VIH. Si
bien un trasplante de células madre es una intervención de alto riesgo para un individuo "sano",
puede estar justificado como un intento de curar el VIH en alguien que ya necesita un trasplante
para tratar el cáncer (Dubé et al., 2021). En este contexto, el riesgo adicional del procedimiento
puede considerarse aceptable, dado que el paciente ya se enfrenta a riesgos significativos debido
al cáncer y a la necesidad de un trasplante, lo que hace que la posible cura del VIH sea un
beneficio adicional significativo.
En este contexto, Dubé et al. (2021) ponen de manifiesto la existencia de una serie de
desafíos. Uno de los retos a los que se enfrentan los primeros ensayos de cura del VIH es la
motivación de los participantes para el altruismo. El altruismo puede llevar a los participantes
a aceptar mayores riesgos, disminuyendo las preocupaciones sobre la explotación. Comprender
el altruismo entre los participantes es esencial para comprender el impacto de la participación
en sus vidas. Las investigaciones han demostrado que la participación en estos estudios tiene
beneficios psicosociales significativos, como un sentido de propósito, una perspectiva positiva,
esperanza y apoyo emocional. Para garantizar la ética en estas investigaciones, es necesario
reconocer y considerar estos beneficios altruistas, alineándose con el principio de beneficencia.
Se sugieren directrices más detalladas para tener en cuenta estos beneficios durante la revisión
regulatoria, el consentimiento informado y la presentación de informes sobre los ensayos
clínicos.
Por otro lado, es importante reconocer que la participación en ensayos intensivos de
cura del VIH también puede provocar daños psicológicos, como ansiedad y miedo relacionados
con el desarrollo de un VIH resistente a los medicamentos o la transmisión del virus a las parejas
sexuales. Además, existen daños sociales, como el riesgo de aislamiento social y
estigmatización, a los que se enfrentan los participantes debido a su participación en los
estudios. Es fundamental tener en cuenta estas dimensiones psicológicas y de salud mental al
evaluar los riesgos y beneficios de la participación en el estudio, especialmente cuando los
protocolos requieren la interrupción prolongada de la terapia antirretroviral. Además, la
persistente estigmatización social del VIH y las implicaciones jurídicas conexas deben
sopesarse cuidadosamente para garantizar la protección y el bienestar de los participantes que
participan en la investigación sobre la cura del VIH (Dubé et al., 2021).
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La incertidumbre científica es una preocupación importante en el proceso de
consentimiento informado para las terapias experimentales de interrupción del tratamiento
antirretroviral. Las ATI implican períodos impredecibles y aleatorios de resurgimiento del
virus, que no se pueden predecir con precisión a través de los biomarcadores existentes.
Además, los riesgos desconocidos de las intervenciones experimentales y las incertidumbres en
la comparación de los resultados entre modelos animales y ensayos en humanos añaden
complejidad. Diferentes factores, como el pequeño tamaño de las muestras, los diseños de los
estudios y las estrategias de seguimiento de las variables, contribuyen a la incertidumbre
científica en este campo. Por lo tanto, es importante considerar y abordar explícitamente la
incertidumbre científica durante el proceso de consentimiento informado mediante la inclusión
de secciones específicas sobre este tema en los documentos de consentimiento. Además, vale
la pena explorar cómo los participantes y el público en general comunican y entienden la
incertidumbre (Dubé et al., 2021).
Dicho esto, como Dubé et al. (2017, 2021), la ética de la investigación en la cura del
VIH es "emergente" y tiene una "agenda inconclusa", características que exigen una mayor
investigación y discusión sobre el tema. Esto significa que todavía estamos en el comienzo de
una comprensión completa de las implicaciones morales y sociales de las nuevas tecnologías y
tratamientos, lo que requiere enfoques más atentos a las múltiples realidades para responder a
los desafíos que se presentan. En este contexto, se deben aplicar consideraciones éticas que
protejan la autonomía, equilibren el beneficio y el riesgo, eviten la vulnerabilidad e involucren
a los miembros de la familia y a la comunidad. Por lo tanto, hay un trabajo colectivo por hacer
para garantizar que tales prácticas estén comprometidas con un compromiso ético más amplio.
La ética de hablar de sanación
El caso de Timothy Brown ha desatado una larga discusión sobre el concepto de "cura"
y sus usos en el campo de la investigación del VIH. Antes de este episodio, la palabra ni siquiera
era utilizada por los científicos por dos razones: la cautela en la difusión de falsas esperanzas a
los millones de personas que viven con el virus; la resistencia a considerar tal posibilidad en un
cuadro clínico basado en el paradigma de la incurabilidad. No es de extrañar, tomando prestados
conceptos de la oncología y siguiendo la cautela de la época, que desde el primer momento el
hematólogo Gero Hütter y sus colegas médicos anunciaran el caso como "remisión" o "control
a largo plazo del VIH"(Hütter et al., 2009).
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Después de todo, ¿por qué es importante la ética de hablar sobre la cura del VIH? Como
señalan Stuart Rennie et al. (2015), la cuestión ética no trata sobre si se debe o no utilizar el
concepto de cura, sino sobre cómo, cuándo y con qué fin se utiliza. Es importante tener en
cuenta que existe una "esperanza de cura" relacionada con el VIH para las personas que viven
con el virus. Y estas personas tienen todas las razones para esperar una cura. La cura podría
disociar tanto el cuerpo como la identidad social de los desafíos que plantea el virus con
respecto al tratamiento y el estigma. Por lo tanto, las afirmaciones que conducen a
interpretaciones infundadas de la curación pueden ser violentas, generar frustración y angustia.
Según los autores, las afirmaciones sobre el "descubrimiento" de una cura para el VIH
en las últimas décadas, particularmente en el campo del periodismo, van en contra de los
principios éticos de honestidad y no maleficencia. Esto se debe a que es deber de la divulgación
científica proporcionar información veraz y precisa, rompiendo con la difusión de información
falsa o engañosa de acuerdo con los estándares éticos de veracidad. La no maleficencia se
refiere al deber de no causar daño a la sociedad, que se ve comprometido cuando se propaga
información incorrecta o distorsionada, lo que puede dañar tanto la confianza de la sociedad en
la ciencia como la salud de los afectados.
Hay que tener en cuenta que los malos usos para "sensacionalizar" la investigación sobre
la cura del VIH generalmente involucran el interés económico de un circuito capitalista
globalizado (Rennie et al., 2015). El enfoque en el beneficio financiero puede conducir a
exageraciones y distorsiones de la integridad científica, que atraen la inversión y la atención de
los medios de comunicación. El entorno se vuelve inestable y los descubrimientos científicos
se ralentizan, lo que socava la credibilidad de la investigación y puede desviar recursos de áreas
en las que podrían aportar beneficios significativos y comprobados a la salud pública.
Rennie y cols. (2015, p. 5) argumentan que hay una serie de efectos que pueden causar
"las falsas creencias a través del lenguaje de la curación", ya sea en los medios de comunicación,
la ciencia, la clínica o la medicina tradicional. Tales discursos pueden llevar a las personas a
participar en la investigación sin comprender exactamente los riesgos del proceso, en la creencia
de beneficios particulares que pueden no corresponder a las expectativas, lo que puede dificultar
la obtención de un consentimiento informado válido en los estudios de cura del VIH.
Según los autores, el "error terapéutico" es un fenómeno bien documentado en la
literatura. Los usos ilusorios de la cura también pueden promover efectos negativos en la
adherencia a la terapia antirretroviral y fomentar mayores comportamientos de riesgo asociados
con la infección por el VIH. Como "antídoto" contra el "concepto erróneo curativo", hay
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científicos que han pedido que los estudios de prueba de concepto para curar el VIH se llamen
"experimentos" para enfatizar los riesgos y minimizar la posibilidad de beneficio individual
(Rennie et al., 2015).
Problematizar las gramáticas médicas y mediáticas es una práctica necesaria en el
campo del VIH/SIDA, señalando sus éxitos y las posibilidades de mejora socialmente
comprometida en el campo de la investigación para enfoques curativos. Newton y cols. (2019)
recuerdan que la terminología sobre el VIH y en torno a él se ha transformado a lo largo de las
décadas. Por ejemplo, la expresión "personas que viven con el VIH" se considera mucho más
respetuosa y solidaria que la de "pacientes infectados por el VIH" o "víctimas del SIDA". En el
contexto de la investigación clínica, se ha dado preferencia a la expresión "participantes en el
estudio" en detrimento de "sujetos" o "conejillos de indias". Este cambio de narrativa ha sido
reivindicado por las propias personas que viven con el VIH y por los activistas. Y es a través
del diálogo que se ensayan "coreografías éticas" más accesibles y objetivas (Thompson, 2013
). Así, etimológicamente, nos acercamos a la primera acepción de la palabra "curar": cuidar.
Consideraciones finales
Este artículo experimentó con una aproximación a las "actuaciones éticas" de la cura del
VIH, en diálogo con los primeros cinco casos de "cura" o "remisión a largo plazo" logrados a
través de trasplantes experimentales con células madre CCR5Δ32/Δ32. Para ello, fue posible
observar que la investigación experimental en este contexto introduce un conjunto de
inflexiones éticas, antiguas y nuevas. La ética de la curación, por lo tanto, no es un fenómeno
dado, como los códigos de ética y las instituciones reguladoras pueden hacer parecer. Es, ante
eso, un proceso en constante construcción, que desborda la práctica clínica, y está permeado
por disputas narrativas, políticas, afectivas y prácticas. Este proceso implica una compleja
"coreografía ética" (Thompson, 2013).
Los documentos aquí analizados muestran la movilización de principios éticos en
nombre de una causa límite. Las terapias experimentales que condujeron a la curación se
llevaron a cabo como último recurso ante una situación de debilidad dada por la conjunción del
cáncer con la condición de vivir con VIH de los pacientes. Estos casos ilustran la complejidad
ética que implica la búsqueda de soluciones terapéuticas en situaciones extremas, donde se
toman medidas delicadas en nombre de la vida y el bienestar de los afectados.
De acuerdo con Adriana Petryna (2011), el estudio de las nuevas tecnologías nos inserta
en nuevos contextos de decisión respecto a los procedimientos que se consideran justos y los
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que no lo son. Así, además de definir instancias de "buenas prácticas" socialmente aceptadas,
la ética también abarca un conjunto de tácticas que pueden conducir a la generación de nuevas
condiciones y acontecimientos humanos. En este contexto, según la antropóloga, ha sido más
común que los agentes políticos, los intereses económicos, los científicos y el derecho -y no los
pacientes- renegocien la "línea divisoria" entre lo que se puede considerar experimental y lo
que no lo es (rutinario, aceptable), lo que lleva a la reformulación de los términos por los cuales
se reconocen, protegen o violan los derechos humanos.
Como escribe Cláudia Fonseca (2010), al considerar las implicaciones éticas de la
investigación, es importante reconocer que los "laicos" tienen el derecho y la competencia para
participar en las decisiones técnicas. Esto no significa que los científicos deban abandonar sus
conocimientos especializados, sino más bien reconocer que ninguna opción es puramente
técnica y que el público ya ejerce una influencia (aunque a menudo implícita) sobre la ciencia.
La ética científica, concebida como un foro para la deliberación democrática, implica crear un
ambiente en el que se tomen en serio las diferentes perspectivas, más allá de la mera cortesía.
Aquí nos situamos en el cuarto sentido de la "buena ciencia" abordado por Thompson
(2013), que enfatiza la importancia de que los científicos incorporen la visión de la comunidad,
aprendiendo de los consensos y las controversias, para "abrir caminos" en lugar de "encerrarse
en sí mismos". Thompson también se dirige a los especialistas en ética, sugiriendo que "cerrar"
ciertas ciencias es un camino menos productivo desde el punto de vista ético que abrir el debate
ético y científico para promover soluciones compartidas, teniendo en cuenta contextos e
historias específicas. Aunque se trata de un esfuerzo laborioso, este ejercicio de coreografía
ética es esencial para que la justicia y la verdad se discutan y apliquen adecuadamente.
En definitiva, se trata de promover un espacio donde la crítica no sea temida de
antemano, ya que no esté vinculada a un ejercicio arbitrario del poder, y donde las pasiones
políticas se canalicen en el diálogo, en lugar de buscar un consenso mítico (Fonseca, 2010).
Este enfoque implica una elección sobre el tipo de sociedad en la que queremos vivir. Por lo
tanto, hablar de "actuaciones éticas" en la investigación experimental para la cura del VIH
puede ser otra forma de "coproducción" científica (Fleischer, 2022a), algo bueno para la ciencia
y una forma de democracia (Thompson, 2013) atenta a las prácticas de investigación y a los
modos de acceso a las nuevas tecnologías. La buena ciencia no es sólo la que garantiza la
seguridad y la eficacia de las intervenciones, sino también la que considera la equidad en la
distribución de los beneficios de la investigación y la dimensión social de la ciencia.
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CRediT Author Statement
Reconocimientos: No aplicable.
Financiamiento: Fundación de Apoyo a la Investigación Científica y Tecnológica de São
Paulo (FAPESP (2019/22295-9) y Consejo Nacional de Desarrollo Científico y
Tecnológico (CNPq) (140428/2019-4).
Conflictos de intereses: No hay conflictos de intereses.
Aprobación ética: No aplicable.
Disponibilidad de datos y material: Los datos y materiales utilizados en la obra están
disponibles para su acceso.
Contribuciones de los autores: Autoría única.
Procesamiento y edición: Editora Iberoamericana de Educación - EIAE.
Corrección, formateo, normalización y traducción.