Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.19288 1
MATERIALIDADES E ESTÉTICAS RELIGIOSAS: O PAPEL DOS OBJETOS NA
PRODUÇÃO DE ÉTICAS DEVOCIONAIS E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO
MATERIALIDADES RELIGIOSAS Y ESTÉTICA: EL PAPEL DE LOS OBJETOS EN
LA PRODUCCIÓN DE ÉTICA DEVOCIONAL Y PROCESOS DE SUBJETIVACIÓN
RELIGIOUS MATERIALITIES AND AESTHETICS: THE ROLE OF OBJECTS IN THE
PRODUCTION OF DEVOTIONAL ETHICS AND PROCESSES OF SUBJECTIVATION
Bruno Ferraz BARTEL1
e-mail: brunodzk@yahoo.com.br
Maria Gleiciane Fontenele PEREIRA2
e-mail: gleicifontep@gmail.com
Como referenciar este artigo:
BARTEL, B. F.; PEREIRA, M. G. F. Materialidades e
estéticas religiosas: o papel dos objetos na produção de
éticas devocionais e processos de subjetivação. Rev.
Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005,
2024. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.19288
| Submetido em: 15/03/2024
| Revisões requeridas em: 01/04/2024
| Aprovado em: 02/04/2024
| Publicado em: 30/09/2024
Editores:
Profa. Dra. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. Me. Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Paulo Carvalho Moura
Prof. Thiago Pacheco Gebara
1
Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio De Janeiro RJ Brasil. Doutor em Antropologia pela
Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAnt)
da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Integrante do Instituto de Estudos Comparados em Administração
Institucional de Conflitos (INCT-InEAC) e do Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM) da UFF.
2
Universidade Federal do Piauí (UFPI), Teresina PI Brasil. Mestre em Antropologia do Programa de Pós-
Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Materialidades e estéticas religiosas: o papel dos objetos na produção de éticas devocionais e processos de subjetivação
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.19288 2
RESUMO: A organização do dossiê foi inspirada nos estudos sobre religiosidade e espaço
público, tendo como objeto de investigação as diversas formas e expressões dessa questão nos
contextos latino-americanos onde a dimensão religiosa adquire relevância. Esses estudos o
importantes para demonstrar como os “processos de modernização” possibilitam o cultivo
renovado de sensibilidades éticas tradicionais e/ou práticas de autoridade em distintas religiões.
Ambas as perspectivas lidam com uma problemática que vem ganhando espaço nas recentes
discussões antropológicas: o desenvolvimento de uma abordagem material da religião.
PALAVRAS-CHAVE: Materialidade. Estética. Religião. Devoção. Subjetividade.
RESUMEN: La organización del dossier se inspiró en estudios sobre religiosidad y espacio
público, teniendo como objeto de investigación las diversas formas y expresiones de esta
cuestión en los contextos latinoamericanos donde la dimensión religiosa adquiere relevancia.
Estos estudios son importantes para demostrar cómo los procesos de modernización”
permiten el cultivo renovado de sensibilidades éticas tradicionales y/o prácticas de autoridad
en distintas religiones. Ambas perspectivas abordan una problemática que ha ganado espacio
en las recientes discusiones antropológicas: el desarrollo de un enfoque material de la religión.
PALABRAS CLAVE: Materialidad. Estética. Religión. Devoción. Subjetividad.
ABSTRACT: The organization of the dossier was inspired by studies on religiosity and public
space, with the object of investigation being the various forms and expressions of this issue in
Latin American contexts where the religious dimension becomes relevant. These studies are
essential to demonstrate how "processes of modernization" enable the renewed cultivation of
traditional ethical sensibilities and/or practices of authority in different religions. Both
perspectives deal with an issue that has been gaining ground in recent anthropological
discussions: the development of a material approach to religion.
KEYWORDS: Materiality. Aesthetics. Religion. Devotion. Subjectivity.
Bruno Ferraz BARTEL e Maria Gleiciane Fontenele PEREIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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A organização do dossiê foi inspirada nos estudos sobre religiosidade e espaço público,
tendo como objeto de investigação as diversas formas e expressões dessa questão nos contextos
latino-americanos onde a dimensão religiosa adquire relevância. A princípio, queríamos dar
atenção à emergência de materialidades devocionais no espaço público, assim como os usos e
os sentidos atribuídos aos objetos pelos diversos agentes sociais. Pretendíamos reunir
etnografias que procuram dar foco tanto no inculcamento das disposições e dos
comportamentos considerados como “corretos” ou virtuosos quanto na presença de técnicas
disciplinares que realçam os conhecimentos e as capacidades éticas dos sujeitos por meio de
sua submissão às experiências sensoriais.
Esses estudos são importantes para demonstrar como os “processos de modernização
3
possibilitam o cultivo renovado de sensibilidades éticas tradicionais e/ou práticas de autoridade
em distintas religiões. Ambas as perspectivas lidam com uma problemática que vem ganhando
espaço nas recentes discussões antropológicas: o desenvolvimento de uma abordagem material
da religião.
A reflexão sobre o papel dos artefatos e os significados das coisas marcaram um
percurso de longa data na Antropologia. Até aqui, o foco tem sido direcionado às implicações
advindas da materialidade dos objetos e o dualismo existente entre o que pensamos ser uma
“coisa” em oposição a uma “pessoa” (Appadurai, 1990; Miller, 1994). Atualmente, as
etnografias têm se dedicado à reflexão sobre a categoria “religião” (Asad, 1993) deslocando
foco para o entendimento mais claro do status atribuído às palavras, coisas ou imagens a partir
da escolha de uma tradição religiosa historicamente situada.
Um dos pontos de partida tem sido a noção de “forma sensorial” desenvolvida por Birgit
Meyer (2006). Segundo a autora, as formas sensoriais se referem aos “modos relativamente
fixos para invocar e organizar o acesso ao transcendental, oferecendo estruturas de repetição
que criam e sustentam conexões entre crentes no contexto de regimes religiosos específicos”
(Meyer, 2015, p. 151). Essas formas seriam transmitidas e partilhadas pelos adeptos, uma vez
que elas os envolveriam em práticas específicas de adoração, além de desempenharem um papel
central na modulação deles como sujeitos, sobretudo, a partir de suas comunidades morais
religiosas.
3
Latour (1994) descreveu a história ideológica do desenvolvimento da “razão ocidental” por meio da crítica de
seu efeito ilusório. O autor afirma que esse ideal jamais chegou a penetrar, nem mesmo na totalidade, o que se
convencionou definir como “Ocidente”. Neste sentido, compreendemos operacionalmente a modernidade como
um discurso/projeto que objetiva institucionalizar vários princípios, às vezes, conflitantes e frequentemente em
transformação (Asad, 2003).
Materialidades e estéticas religiosas: o papel dos objetos na produção de éticas devocionais e processos de subjetivação
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Outro exemplo é a noção de “ideologia semiótica”, trabalhada por Webb Keane (2007).
Para ele, a compreensão das diferentes formas pelas quais as pessoas interpretam o poder e o
valor dado aos objetos e às palavras deve englobar os “conjuntos de crenças sobre linguagem
articulados pelos usuários como a racionalização ou justificação do uso e da estrutura da
linguagem percebidos” (Keane, 2007, p. 16). Nessa concepção, as “ideologias semióticas”
identificariam as categorias significantes de signos atuantes e definiriam as suas relações com
a realidade de maneira muito particular a partir da organização do mundo material.
As duas noções dão ênfase à mediação feita pela religião nos processos sociais que
moldam e autorizam a validade das experiências sensoriais. Nesses casos, o contexto torna-se
referenciado pela religião que atua como um meio. Embora permitam avançar na compreensão
das práticas devocionais, elas não dão conta dos processos de subjetivação contidas no valor
estético dos objetos religiosos, que vão além das experiências sensoriais.
Por muito tempo, a categoria “estética” esteve subordinada ao que se convencionou
denominar “modernismo” na Antropologia, associada à noção de arte burguesa (Overing,
1996). A problemática de como os sujeitos se sentem em relação ao mundo, diferentemente do
que pensam ou refletem a respeito dele, continua a evocar uma dicotomia entre emoção e razão,
subjacente e constantemente atualizada pela “constituição moderna” (Latour, 1994, p. 19).
Nesse sentido, a análise das propriedades e eficácias dos elementos das práticas devocionais
ampliaria a compreensão do “poder estético” (Gow, 1996, p. 221) ou da objetificação “um
modo como incrementamos nossa capacidade como seres humanos” (Miller, 2010, p. 91), como
um constructo histórico-cultural importante na invenção de realidades específicas. O conjunto
dessas experiências de religiosidade no espaço público são um dos principais elementos de
formação de subjetivações.
Diante disso, o dossiê se propôs a receber contribuições de natureza etnográfica
interessados nas interconexões, convergências e sobreposições entre as dimensões materiais e
estéticas. Seria salutar contar com estudos que proporcionem um espaço de reflexão sobre os
processos pelos quais crenças ou práticas específicas se tornam questões fundamentais a partir
do reconhecimento destas como fundamentais no reavivamento de por exemplo, subjetividades,
agências e motivações, bem como trabalhos que analisem como grupos religiosos produzem e
mobilizam sujeitos.
O artigo de Sabrina Alves da Silva intitulado “ATOS ILÍCITOS”, “PALAVRAS
DESONESTAS” E “TOCAMENTOS TORPES”: O CONFESSIONÁRIO SOB VIGILÂNCIA
(MINAS GERAIS, SÉCULO XVIII)concentra-se em uma análise qualitativa voltada para a
Bruno Ferraz BARTEL e Maria Gleiciane Fontenele PEREIRA
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abordagem da micro-história das denúncias e processos inquisitoriais ocorridos em Minas
Gerais no século XVIII. A autora investiga a vigilância imposta pelo Tribunal do Santo Ofício
sobre os indivíduos acusados de profanar o Sacramento da Confissão. Este delito ocorria
quando um confessor, no momento do processo de confissão, assediava amorosa ou
sexualmente os penitentes. O texto destaca que a confissão foi um mecanismo crucial utilizado
pela Igreja Tridentina como instrumento de vigilância e disciplinamento.
Desde o século XVI, quando foi desenvolvido, o móvel confessionário foi empregado
para reduzir os danos causados pela intimidade entre confessor e penitente durante o
Sacramento. O confessionário foi monitorado não apenas no que diz respeito ao Sacramento e
seus ministros, mas também em relação à sua construção e à sua localização nas igrejas, visando
evitar situações propícias a pecados.
Patrícia Rodrigues de Souza em O IMAGINÁRIO DAS ENTIDADES DA
UMBANDA: DILEMAS NAS ESTÉTICAS COMPARTILHADAS SOBRE AS IMAGENS
EM GESSO aborda o estudo das imagens em gesso das entidades da Umbanda, que o
comercializadas em lojas de artigos religiosos. As representações das entidades, como Exus e
Pombagiras, são analisadas à luz dos dilemas que envolvem a exposição da sexualidade e um
certo grau de zoomorfização. As divergentes opiniões dos devotos sobre cobrir ou não as partes
do corpo das Pombagiras nas estátuas, assim como a representação dos Exus com partes
corpóreas de animais, desafiam os fabricantes/designers a conciliar essas divergências na
produção das imagens. Isso implica na necessidade de atualizá-las periodicamente, mas sem
perder de vista o que é considerado tradição.
A pesquisa indica que uma combinação de categorias, como revelação espiritual
(relacionada ao mundo dos sonhos dos adeptos) e construção social (relacionada ao mundo
das representações dessas entidades), determina os fluxos dos imaginários sobre a Umbanda.
No desfecho, a noção de agência imposta pelos praticantes da religião evoca um processo
dialético, onde, em alguns momentos, os fiéis são influenciados pelas representações em gesso,
enquanto em outros são os próprios fiéis que as determinam.
Em NA CASA DE NOSSA SENHORA, BEBI O MOCORORÓ QUE A
ENCANTADA PREPAROU, de Elton Ibrahin de Vasconcelos Pantoja, os princípios de
participação, equivalência e o sentido de interseção entre os cultos a santos católicos e
encantados são abordados no Terreiro de Nossa Senhora da Conceição, situado na cidade de
Manaus (AM). Lá, anualmente, a Cabocla Mariana lidera o ritual do mocororó (bebidas
produzidas a partir da fermentação) em sua própria homenagem e em devoção à santa padroeira
Materialidades e estéticas religiosas: o papel dos objetos na produção de éticas devocionais e processos de subjetivação
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que nomeia o terreiro. Segundo o autor, esses cultos podem se entrelaçar, promovendo uma
equivalência entre eles e o ritual do mocororó.
O resgate da história dos ritos praticados pela encantaria da região amazônica justifica
a importância da maioria desses cultos. Para tanto, o autor recorre à utilização de observações
focadas nas práticas do terreiro e nas tradições evocadas por seus praticantes, incluindo as do
próprio pesquisador. Um dos objetivos da pesquisa era compreender os momentos que
promoviam as socializações de cada uma das pessoas envolvidas nas comensalidades e destacar
a importância cultural e religiosa do mocororó, devido aos seus aspectos de herança nordestina.
O texto de Maria Carolina Arruda Branco, intitulado NOTAS SOBRE O RITUAL DA
JUREMA: PESSOAS-RELAÇÃO E ENCANTADOS ENTRE O POVO IBIRAMÃ KIRIRI
DO ACRÉ, busca contextualizar o intricado ritual da Jurema, que é amplamente difundido
entre os povos indígenas do Nordeste brasileiro. Por meio do diálogo com as concepções Kiriri
de ciência e brincadeira, a autora aponta como esses contextos são ativados no
relacionamento com os Encantados, seja ritualmente em seu aspecto público e/ou privado. São
abordadas as categorias de enrramação (relativas às preferências dos Encantados em se
aproximar do corpo das mulheres) e dom (referentes à predisposição e constituição para
estabelecer relacionamentos com os Encantados), assim como as relações entre os Encantados
e as mulheres.
Tudo isso visa compreender como certos entrelaçamentos do toré (conjunto de danças
e cânticos) com o território físico ocupado e com os contextos cosmológicos existentes
proporcionam as trocas no sistema ritual observado.
A contribuição de James Santos e Roberto Calábria Guimarães da Silva, intitulada
MATERIALIDADE E ÉTICA INTERCONTINENTAL DO VALE DO AMANHECER,
explora a formação do grupo religioso conhecido como Vale do Amanhecer (VDA) e os
princípios que guiam seu cotidiano. Utilizando o conceito de hibridismo, os autores reconhecem
que a rotina do VDA é permeada por diversas correntes do campo religioso, tais como formas
derivadas do catolicismo cristão, práticas politeístas da Grécia antiga, kardecismo europeu,
religiões de matriz africana, cultos politeístas do Egito antigo, budismo praticado pelos
mosteiros do Tibete, além de referências aos caboclos indígenas e jaguares na América. Todas
essas crenças estão ritualizadas de alguma forma nos templos e hospitais do VDA.
Os autores fundamentaram sua análise documental por meio do uso de artigos e livros,
confrontando-a com perspectivas teóricas e dados de campo. Isso lhes permitiu sugerir que um
Bruno Ferraz BARTEL e Maria Gleiciane Fontenele PEREIRA
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mosaico multiculturalista e/ou New Age contém elementos configurados pelos símbolos
evocados pelos praticantes do VDA.
Ao abordar ABEBÉ DE OXUM: EXEMPLIFICAÇÕES SIMBÓLICAS DO
IMAGINÁRIO E SABERES AFRORRELIGIOSOS DO CANDOMBLÉ DESDE A
ESTÉTICA Leandro Tiago Ferreira e Mário de Faria Carvalho destacam as simbologias
expressas esteticamente no abebé, o espelho empunhado por Oxum, através de uma análise
estético-simbólica à luz da teoria do imaginário proposta por Gilbert Durand. Com o objetivo
de considerar as subjetividades que emanam do corpo de culto no candomblé, os autores
buscam explorar questões compreensíveis, utilizando a perspectiva estética como base para
reflexões.
A aproximação construída com base na teoria proposta resulta em uma interpretação
dos semblantes que representam a noção de sagrado, delineando os artefatos que compõem a
religiosidade e delineando um caminho para a materialização da presença do divino. Além
disso, a análise procura transcender os significados subjacentes às características gestuais,
arquetípicas, simbólicas e mitológicas presentes no espelho de Oxum, sintetizando as questões
orientadoras por meio da relevância dos artefatos sacros e suas conotações ocultas.
A entrevista A VIRADA MATERIAL: ENTREVISTA COM RODRIGO TONIOL
tem como objetivo apresentar a trajetória de Rodrigo Ferreira Toniol, professor adjunto do
Departamento de Antropologia Cultural (DAC) da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e professor permanente do Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da
UFRJ. Suas pesquisas concentram-se, principalmente, nos temas de corpo, saúde, ciência e
religião. A ideia da entrevista visou examinar como os artefatos materiais refletem e moldam
os valores, crenças, práticas e identidades de uma cultura específica. Ao contrário das
abordagens tradicionais de pesquisa, que muitas vezes se concentram em análises textuais ou
discursivas, as pesquisas do entrevistado colocam ênfase nos objetos como fontes valiosas de
informação. Essa abordagem reconhece que os artefatos materiais não são simplesmente
acessórios, mas desempenham um papel central na vida cotidiana das pessoas, refletindo sua
história, memória coletiva e relações sociais.
O dossiê inclui uma tradução de texto de Birgit Meyer, professora de antropologia
cultural da Universidade Livre de Amsterdã (Vrije Universiteit Amsterdam) e uma das editoras
do periódico Material Religion: The Journal of Objects, Art and Belief. Esta revista tem como
objetivo explorar como a religião se manifesta na cultura material, abrangendo elementos como
imagens, objetos devocionais e litúrgicos, arquitetura e espaços sagrados, obras de arte e
Materialidades e estéticas religiosas: o papel dos objetos na produção de éticas devocionais e processos de subjetivação
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artefatos produzidos em massa. Ritual, comunicação, cerimônia, instrução, meditação,
propaganda, peregrinação, exposição, magia, liturgia e interpretação constituem muitas das
práticas pelas quais a cultura material religiosa constrói os mundos de crença.
O artigo intitulado MEDIANDO AUSÊNCIA E EFETUANDO
ESPIRITUALIDADE: PRESENÇA, IMAGENS E A IMAGINAÇÃO CRISTÃ, aborda a
complexa natureza das imagens, destacando-as como presenças materiais e produtos da
imaginação simultaneamente. Essa distinção direciona nosso foco para a exploração da relação
circular entre as imagens mentais internas e suas manifestações pictóricas por vezes
avassaladoras, que não apenas impactam o sentido da visão, mas também envolvem os sentidos
de audição, tato, olfato e paladar. Meyer argumenta que a jornada “pictórica” ou “icônica”
surgiu de uma profunda insatisfação com o estado atual da arte, enfatizando a necessidade de
reinventar a história da arte por meio de uma reflexão crítica sobre suas condições de
estabelecimento e a postura conceitual em relação às imagens que a seguiram.
Ao criticar a narrativa teleológica que deu origem à história da arte centrada na presença
impressionante e no apelo das imagens, Meyer destaca a abertura de um espaço intelectual
emocionante. O envolvimento de estudiosos de diversas disciplinas, como história da arte,
literatura, estudos de mídia, estudos de cinema, estudos religiosos e antropologia, resultou na
criação de um fórum para uma ampla conversa que transcende as distinções problemáticas entre
“nós” e “eles”, “aqui” e “lá”, e o estudo da arte/estética e da religião.
A perspectiva denominada "religião material" pode ser vinculada à "virada material",
especialmente no âmbito da antropologia, influenciada por pensadores como Bruno Latour.
Segundo Birgit Meyer, a interpretação de Latour sobre a crença como uma construção está
intrinsicamente ligada à essência da noção de forma sensorial, funcionando como um
mecanismo para instigar a sensação de presença extraordinária. Meyer destaca que considerar
seres humanos e objetos entrelaçados de maneira fluida e relacional elimina a viabilidade de
manter fronteiras rígidas entre categorias separadas de pessoas e coisas. Essa abordagem,
segundo Meyer, ecoa de maneira significativa em uma compreensão material da religião.
A interação entre as dimensões material e estética nas práticas religiosas desempenha
um papel central na configuração e manifestação das devoções, assim como na constituição dos
processos de subjetivação no contexto religioso. Os objetos, rituais e símbolos desempenham
uma função que vai além de sua utilidade prática, transformando-se em mediadores
significativos na vivência e interpretação das crenças. A materialidade religiosa abrange uma
Bruno Ferraz BARTEL e Maria Gleiciane Fontenele PEREIRA
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ampla variedade de elementos tangíveis, que vão desde ícones e vestimentas até espaços
sagrados e utensílios rituais.
Esses elementos adquirem significado por meio da ótica da estética religiosa, que não
apenas molda a percepção visual, mas também evoca respostas sensoriais, emocionais e
intelectuais nos adeptos. Nestes casos, os objetos religiosos não seriam passivos, mas ativos na
formação das éticas devocionais. Através do toque, adoração e interação física, os adeptos
estabelecem uma relação íntima com o sagrado, moldando suas éticas e moralidades. A
materialidade proporciona um meio tangível para expressar as múltiplas formas de
religiosidade, consolidando valores e orientando comportamentos éticos.
REFERÊNCIAS
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Materialidades e estéticas religiosas: o papel dos objetos na produção de éticas devocionais e processos de subjetivação
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005, 2024. e-ISSN: 2359-2419
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OVERING, Joanna. “Against the Motion (1). Aesthetics is a cross-cultural category”. In:
INGOLD, Tim (ed.). Key Debates in Anthropology. London: Routledge, 1996. p. 203-236.
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não aplicável.
Financiamento: Não aplicável.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não aplicável.
Disponibilidade de dados e material: Não aplicável.
Contribuições dos autores: Bruno Ferraz Bartel trabalhou na concepção do artigo, na
revisão de conteúdo e na redação final do manuscrito. Maria Gleiciane Fontenele Pereira
BFB trabalhou na concepção do artigo e na revisão de conteúdo.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.19288 1
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THE PRODUCTION OF DEVOTIONAL ETHICS AND PROCESSES OF
SUBJECTIVATION
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PRODUÇÃO DE ÉTICAS DEVOCIONAIS E PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO
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LA PRODUCCIÓN DE ÉTICA DEVOCIONAL Y PROCESOS DE SUBJETIVACIÓN
Bruno Ferraz BARTEL1
e-mail: brunodzk@yahoo.com.br
Maria Gleiciane Fontenele PEREIRA2
e-mail: gleicifontep@gmail.com
How to reference this paper:
BARTEL, B. F.; PEREIRA, M. G. F. Religious materialities
and aesthetics: the role of objects in the production of
devotional ethics and processes of subjectivation. Rev.
Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005,
2024. e-ISSN: 2359-2419. DOI:
https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.19288
| Submitted: 15/03/2024
| Revisions required: 01/04/2024
| Approved: 02/04/2024
| Published: 30/09/2024
Editors:
Prof. Dr. Maria Teresa Miceli Kerbauy
Prof. Me. Thaís Cristina Caetano de Souza
Prof. Me. Paulo Carvalho Moura
Prof. Thiago Pacheco Gebara
1
Federal Fluminense University (UFF), Rio de Janeiro RJ Brazil. Doctoral degree in Anthropology from
Federal Fluminense University (UFF). Professor in the Graduate Program in Anthropology (PPGAnt) at Federal
University of Piauí (UFPI). Member of the Institute of Comparative Studies in Institutional Conflict Management
(INCT-InEAC) and the Middle East Studies Center (NEOM) at UFF.
2
Federal University of Piauí (UFPI), Teresina PI Brazil. Master's in Anthropology from the Graduate Program
in Anthropology at the Federal University of Piauí (UFPI).
Religious materialities and aesthetics: the role of objects in the production of devotional ethics and processes of subjectivation
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.19288 2
ABSTRACT: The organization of the dossier was inspired by studies on religiosity and public
space, with the object of investigation being the various forms and expressions of this issue in
Latin American contexts where the religious dimension becomes relevant. These studies are
essential to demonstrate how "processes of modernization" enable the renewed cultivation of
traditional ethical sensibilities and/or practices of authority in different religions. Both
perspectives deal with an issue that has been gaining ground in recent anthropological
discussions: the development of a material approach to religion.
KEYWORDS: Materiality. Aesthetics. Religion. Devotion. Subjectivity.
RESUMO: A organização do dossiê foi inspirada nos estudos sobre religiosidade e espaço
público, tendo como objeto de investigação as diversas formas e expressões dessa questão nos
contextos latino-americanos onde a dimensão religiosa adquire relevância. Esses estudos são
importantes para demonstrar como os “processos de modernização” possibilitam o cultivo
renovado de sensibilidades éticas tradicionais e/ou práticas de autoridade em distintas
religiões. Ambas as perspectivas lidam com uma problemática que vem ganhando espaço nas
recentes discussões antropológicas: o desenvolvimento de uma abordagem material da
religião.
PALAVRAS-CHAVE: Materialidade. Estética. Religião. Devoção. Subjetividade.
RESUMEN: La organización del dossier se inspiró en estudios sobre religiosidad y espacio
público, teniendo como objeto de investigación las diversas formas y expresiones de esta
cuestión en los contextos latinoamericanos donde la dimensión religiosa adquiere relevancia.
Estos estudios son importantes para demostrar cómo los procesos de modernización”
permiten el cultivo renovado de sensibilidades éticas tradicionales y/o prácticas de autoridad
en distintas religiones. Ambas perspectivas abordan una problemática que ha ganado espacio
en las recientes discusiones antropológicas: el desarrollo de un enfoque material de la religión.
PALABRAS CLAVE: Materialidad. Estética. Religión. Devoción. Subjetividad.
Bruno Ferraz BARTEL and Maria Gleiciane Fontenele PEREIRA
Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e024005, 2024. e-ISSN: 2359-2419
DOI: https://doi.org/10.47284/cdc.v24iesp.1.19288 3
The organization of the dossier was inspired by studies on religiosity and public space,
focusing on the various forms and expressions of this issue in Latin American contexts, where
the religious dimension gains significance. Initially, we aimed to highlight the emergence of
devotional materialities in public spaces, as well as the uses and meanings attributed to objects
by various social agents. We sought to gather ethnographies that focus both on the inculcation
of dispositions and behaviors considered "correct" or virtuous, and on the presence of
disciplinary techniques that enhance the ethical knowledge and capacities of individuals
through their submission to sensory experiences.
These studies are essential for demonstrating how "modernization processes"
3
enable
the renewed cultivation of traditional ethical sensitivities and/or practices of authority in
different religions. Both perspectives address a problem that has been gaining ground in recent
anthropological discussions: the development of a material approach to religion.
Reflection on the role of artifacts and the meanings of things has long been a focus in
Anthropology. To date, the emphasis has been on the implications arising from the materiality
of objects and the dualism between what we consider to be a "thing" versus a "person"
(Appadurai, 1990; Miller, 1994). Currently, ethnographies have been reflecting on the category
of "religion" (Asad, 1993) shifting the focus to a clearer understanding of the status attributed
to words, things, or images within a historically situated religious tradition.
One starting point has been the notion of "sensory form" developed by Birgit Meyer
(2006). According to the author, sensory forms refer to "relatively fixed ways of invoking and
organizing access to the transcendental, offering structures of repetition that create and sustain
connections between believers within the context of specific religious regimes" (Meyer, 2015,
p. 151). These forms are transmitted and shared by adherents, as they engage them in specific
worship practices, and play a central role in shaping them as subjects, particularly within their
religious moral communities.
Another example is the notion of "semiotic ideology," developed by Webb Keane
(2007). For him, the understanding of the different ways in which people interpret the power
and value given to objects and words must encompass "sets of beliefs about language articulated
by users as rationalizations or justifications of the perceived use and structure of language"
3
Latour (1994) described the ideological history of the development of “Western reason” by criticizing its illusory
effect. The author claims that this ideal never managed to penetrate, not even in its entirety, what has been
conventionally defined as “the West”. In this sense, we operationally understand modernity as a discourse/project
that aims to institutionalize several principles, sometimes conflicting and frequently in transformation (Asad,
2003).
Religious materialities and aesthetics: the role of objects in the production of devotional ethics and processes of subjectivation
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(Keane, 2007, p. 16, our translation). In this conception, "semiotic ideologies" identify the
significant categories of active signs and define their relationships with reality in a way that is
very specific to the organization of the material world.
Both notions emphasize the mediation performed by religion in social processes that
shape and authorize the validity of sensory experiences. In these cases, the context becomes
referenced by religion, which acts as a medium. Although these concepts allow for progress in
understanding devotional practices, they do not fully account for the processes of subjectivation
contained in the aesthetic value of religious objects, which go beyond sensory experiences.
For a long time, the category of “aesthetics” was subordinated to what was
conventionally called modernism” in Anthropology, associated with the notion of bourgeois
art (Overing, 1996). The problem of how individuals feel about the world, as opposed to what
they think or reflect about it, continues to evoke a dichotomy between emotion and reason,
which is constantly updated by the “modern constitution” (Latour, 1994, p. 19). In this sense,
the analysis of the properties and efficacies of elements in devotional practices would expand
the understanding of “aesthetic power” (Gow, 1996, p. 221, our translation) or objectification
“a way of enhancing our capacity as human beings” (Miller, 2010, p. 91, our translation), as a
significant historical-cultural construct in the invention of specific realities. The set of these
religious experiences in public spaces is one of the main elements in the formation of
subjectivities.
In light of this, the dossier aimed to receive ethnographic contributions interested in the
interconnections, convergences, and overlaps between material and aesthetic dimensions. It
would be beneficial to include studies that provide a space for reflection on the processes by
which specific beliefs or practices become fundamental issues, especially through the
recognition of their importance in reviving, for example, subjectivities, agencies, and
motivations, as well as works that analyze how religious groups produce and mobilize subjects.
The article by Sabrina Alves da Silva, entitled ““UNLAWFUL ACTS”, “DISHONEST
WORDS” AND FOUL TOUCHING”: THE CONFESSIONAL UNDER SURVEILLANCE
(MINAS GERAIS, EIGHTEENTH CENTURY), focuses on a qualitative analysis through the
lens of microhistory, examining the denunciations and inquisitorial processes that occurred in
18th century Minas Gerais. The author investigates the surveillance imposed by the Tribunal of
the Holy Office on individuals accused of desecrating the Sacrament of Confession. This crime
occurred when a confessor, during the act of confession, amorously or sexually harassed the
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penitents. The text highlights that confession was a crucial mechanism used by the Tridentine
Church as an instrument of surveillance and discipline.
Since the 16th century, when it was developed, the confessional booth was employed to
mitigate the risks posed by the intimacy between the confessor and the penitent during the
Sacrament. The confessional was monitored not only regarding the Sacrament and its ministers
but also in terms of its construction and location within churches, with the aim of avoiding
situations conducive to sin.
Patrícia Rodrigues de Souza, in “UMBANDA ENTITIES’ IMAGINARY: DILEMAS
IN SHARED AESTHETICS OVER PLASTER IMAGES, explores the study of plaster
images of Umbanda entities, which are sold in religious goods stores. The representations of
entities such as Exus and Pombagiras are analyzed in light of the dilemmas surrounding the
display of sexuality and a certain degree of zoomorphism. The divergent opinions among
devotees about whether to cover the body parts of Pombagiras on the statues, as well as the
representation of Exus with animal body parts, challenge manufacturers/designers to reconcile
these differences in the production of the images. This requires the periodic updating of the
statues without losing sight of what is considered “tradition.”
The research indicates that a combination of categories, such as “spiritual revelation”
(related to the dream world of practitioners) and “social construction” (related to the
representations of these entities), determines the flows of the imaginaries surrounding
Umbanda. In conclusion, the notion of agency imposed by the religious practitioners evokes a
dialectical process, where, at times, the devotees are influenced by the plaster representations,
while at other times, it is the devotees themselves who determine them.
In AT NOSSA SENHORA'S HOUSE, I DRANK "MOCORORÓ" THAT WAS
PREPARED BY THE ENCHANTED, by Elton Ibrahin de Vasconcelos Pantoja, the principles
of participation, equivalence, and the sense of intersection between the worship of Catholic
saints and enchanted beings are explored at the Terreiro de Nossa Senhora da Conceição,
located in the city of Manaus (AM). There, annually, the Cabocla Mariana leads the ritual of
mocororó (beverages produced from fermentation) in her honor and in devotion to the patron
saint who gives the Terreiro its name. According to the author, these forms of worship may
intertwine, promoting an equivalence between them and the mocororó ritual.
The recovery of the history of rites practiced by the enchantment traditions of the
Amazon region underscores the significance of most of these cults. To that end, the author
utilizes focused observations of the practices in the Terreiro and the traditions evoked by its
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practitioners, including those of the researcher himself. One of the research objectives was to
understand the moments that fostered socialization among the participants in communal meals
and to highlight the cultural and religious importance of mocororó, due to its aspects of
Northeastern heritage.
The text by Maria Carolina Arruda Branco, titled NOTES ON THE JUREMA
RITUAL: PEOPLE-RELATIONS AND THE ENCHANTED AMONG THE IBIRAMÃ
KIRIRI PEOPLE OF AC, aims to contextualize the intricate Jurema ritual, which is widely
practiced among the indigenous peoples of northeastern Brazil. Through dialogue with the
Kiriri conceptions of “science” and “play,” the author points out how these contexts are
activated in the relationship with the Enchanted Beings, whether ritually in their public and/or
private aspects. The categories of enrramação (related to the preferences of the Enchanted
Beings in approaching the bodies of women) and dom (referring to the predisposition and
constitution for establishing relationships with the Enchanted Beings), as well as the
relationships between the Enchanted Beings and women, are discussed.
All of this seeks to understand how specific interconnections of toré (a set of dances and
chants) with the physical territory occupied and the existing cosmological contexts provide the
exchanges observed in the ritual system.
The contribution by James Santos and Roberto Calábria Guimarães da Silva, titled
MATERIALITY AND INTERCONTINENTAL ETHICS OF THE DAWN VALLEY,
explores the formation of the religious group known as the Valley of Dawn (VDA) and the
principles that guide their daily life. Using the concept of hybridity, the authors recognize that
the routine of the VDA is permeated by various currents of the religious field, such as forms
derived from Christian Catholicism, polytheistic practices of ancient Greece, European
Kardecism, African-based religions, polytheistic cults of ancient Egypt, Buddhism practiced in
Tibetan monasteries, as well as references to indigenous caboclos and jaguars in the Americas.
All of these beliefs are ritualized in some form in the temples and hospitals of the VDA.
The authors grounded their documentary analysis through the use of articles and books,
comparing them with theoretical perspectives and field data. This enabled them to suggest that
a multicultural and/or New Age mosaic is composed of elements configured by the symbols
evoked by VDA practitioners.
In addressing “OSHUN’S ABEBÉ: SYMBOLIC EXAMPLES OF CANDOMBLÉ'S
AFRO-RELIGIOUS IMAGINARY AND KNOWLEDGE FROM AN AESTHETIC
PERSPECTIVE, Leandro Tiago Ferreira and Mário de Faria Carvalho highlight the
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symbolisms aesthetically expressed in the abebé, the mirror wielded by Oxum, through a
symbolic-aesthetic analysis based on the theory of the imaginary proposed by Gilbert Durand.
Aiming to consider the subjectivities that emanate from the worship body in Candomblé, the
authors seek to explore comprehensible issues, using the aesthetic perspective as a foundation
for reflections.
The approach constructed based on the proposed theory results in an interpretation of
the expressions that represent the notion of the sacred, outlining the artifacts that comprise
religiosity and establishing a path for the materialization of the divine presence. Furthermore,
the analysis seeks to transcend the underlying meanings of the gestural, archetypal, symbolic,
and mythological characteristics present in Oxum’s mirror, synthesizing the guiding questions
through the relevance of sacred artifacts and their hidden connotations.
The interview THE MATERIAL TURN: INTERVIEW WITH RODRIGO TONIOL
aims to present the trajectory of Rodrigo Ferreira Toniol, an adjunct professor in the Department
of Cultural Anthropology (DAC) at the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ) and a
permanent professor in the Graduate Program in Sociology and Anthropology (PPGSA) at
UFRJ. His research primarily focuses on the themes of body, health, science, and religion. The
purpose of the interview was to examine how material artifacts reflect and shape the values,
beliefs, practices, and identities of a specific culture. Unlike traditional research approaches,
which often focus on textual or discursive analyses, the interviewee’s research emphasizes
objects as valuable sources of information. This approach recognizes that material artifacts are
not merely accessories but play a central role in people’s daily lives, reflecting their history,
collective memory, and social relationships.
The dossier includes a translation of a text by Birgit Meyer, professor of cultural
anthropology at the Vrije Universiteit Amsterdam and one of the editors of the journal Material
Religion: The Journal of Objects, Art, and Belief. This journal aims to explore how religion
manifests itself in material culture, encompassing elements such as images, devotional and
liturgical objects, architecture and sacred spaces, works of art, and mass-produced artifacts.
Ritual, communication, ceremony, instruction, meditation, propaganda, pilgrimage, display,
magic, liturgy, and interpretation constitute many of the practices through which religious
material culture constructs worlds of belief.
The article entitled MEDIATING ABSENCE EFFECTING SPIRITUAL
PRESENCE: PICTURES AND THE CHRISTIAN IMAGINATION, addresses the complex
nature of images, highlighting them as both material presences and products of the imagination
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simultaneously. This distinction directs our focus towards exploring the circular relationship
between internal mental images and their sometimes overwhelming pictorial manifestations,
which not only impact the sense of vision but also engage the senses of hearing, touch, smell,
and taste. Meyer argues that the “pictorial” or “iconic” journey arose from a deep dissatisfaction
with the current state of the art, emphasizing the need to reinvent art history through critical
reflection on the conditions of its establishment and the conceptual stance towards images that
followed.
In criticizing the teleological narrative that gave rise to art history centered on the
overwhelming presence and appeal of images, Meyer highlights the opening of an exciting
intellectual space. The involvement of scholars from diverse disciplines, such as art history,
literature, media studies, film studies, religious studies, and anthropology, resulted in the
creation of a forum for a broad conversation that transcends the problematic distinctions
between “us” and “them,” “here” and “there,” and the study of art/aesthetics and religion.
The perspective known as “material religion” can be linked to the “material turn,”
especially within the field of anthropology, influenced by thinkers such as Bruno Latour.
According to Birgit Meyer, Latour’s interpretation of belief as a construction is intrinsically
tied to the essence of the notion of sensory form, functioning as a mechanism to evoke the sense
of extraordinary presence. Meyer emphasizes that considering humans and objects as fluidly
and relationally intertwined eliminates the feasibility of maintaining rigid boundaries between
separate categories of people and things. According to Meyer, this approach resonates
significantly with a material understanding of religion.
The interaction between the material and aesthetic dimensions in religious practices
plays a central role in the configuration and manifestation of devotions, as well as in the
constitution of processes of subjectivation within the religious context. Objects, rituals, and
symbols serve a function that goes beyond their practical utility, transforming into meaningful
mediators in the experience and interpretation of beliefs. Religious materiality encompasses a
wide variety of tangible elements, ranging from icons and vestments to sacred spaces and ritual
utensils.
These elements acquire meaning through the lens of religious aesthetics, which not only
shapes visual perception but also evokes sensory, emotional, and intellectual responses in
adherents. In these cases, religious objects are not passive but active in shaping devotional
ethics. Through touch, worship, and physical interaction, adherents establish an intimate
relationship with the sacred, shaping their ethics and moralities. Materiality provides a tangible
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means to express the multiple forms of religiosity, consolidating values and guiding ethical
behavior.
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CRediT Author Statement
Acknowledgements: Not applicable.
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: No conflicts of interest.
Ethical approval: Not applicable.
Availability of data and material: Not applicable.
Author contributions: Bruno Ferraz Bartel contributed to the conception of the article,
content review, and final manuscript drafting. Maria Gleiciane Fontenele Pereira BFB
contributed to the conception of the article and content review.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.