image/svg+xmlA tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva: Possibilidades para a sala de aulaA TOMADA DE CONSCIÊNCIA EM UMA PERSPECTIVA METACOGNITIVA:POSSIBILIDADES PARA A SALA DE AULALA TOMA DE LA CONCIENCIA EN UNA PERSPECTIVA METACOGNITIVA:POSIBILIDADES PARA EL AULATHE TAKE OF CONSCIOUSNESS IN A METACOGNITIVE PERSPECTIVE:POSSIBILITIES FOR THE CLASSROOMMaykon Jhonatan SCHRENK1Rodolfo Eduardo VERTUAN2RESUMO: Este artigo objetiva apresentar entendimentos acerca da tomada de consciênciaem uma perspectiva metacognitiva. Para isso, trata, inicialmente, de aspectos teóricos decognição e de metacognição. Em seguida, discute a tomada de consciência e correlaçõespercebidas entre ela e a metacognição para, a partir disso, apresentar um entendimento detomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva. Neste contexto, a tomada deconsciência passa a ser definida como um processo consciente de percepção e reconhecimentoque se dá enquanto o sujeito desenvolve tarefas e lida com situações que envolveminvestigação, de modo que o diálogo empreendido no âmbito de grupos pode suscitarmediações que provoquem esse processo. A tomada de consciência, nesta perspectiva, temcomo essência a administração, a reflexão e a avaliação das ações dos próprios sujeitos e dosfenômenos estudados por eles, de modo a potencializar suas próprias atividades cognitivas emetacognitivas.PALAVRAS-CHAVE: Cognição. Metacognição. Monitoramento cognitivo. Educação.Aprendizagem.RESUMEN: Este artículo tiene como objetivo presentar entendimientos sobre la toma deconciencia en una perspectiva metacognitiva. Para ello, inicialmente se ocupa de losaspectos teóricos de la cognición y la metacognición. Luego, se discute la toma de concienciay las correlaciones percibidas entre ella y la metacognición para, a partir de ahí, presentaruna comprensión de la toma de conciencia en una perspectiva metacognitiva. En estecontexto, la toma de conciencia se define como un proceso consciente de percepción yreconocimiento que tiene lugar mientras el sujeto desarrolla tareas y afronta situaciones queinvolucran investigación, de manera que el diálogo que se lleva a cabo dentro de los grupospuede generar mediaciones que provoquen este proceso. La toma de conciencia, en estaperspectiva, tiene como esencia la administración, reflexión y evaluación de las acciones delos propios sujetos y de los fenómenos estudiados por ellos, con el fin de potenciar suspropias actividades cognitivas y metacognitivas.1Escola Municipal Pedro Álvares Cabral (EMPÁC), Santa Helena – PR – Brasil. Professor dos Anos Iniciais doEnsino Fundamental. Mestre em Educação em Ciências e Educação Matemática (UNIOESTE). ORCID:https://orcid.org/0000-0002-1448-6596. E-mail: maykon_schrenk@hotmail.com2Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Toledo – PR – Brasil. Professor do MagistérioSuperior. Doutorado em Ensino de Ciências e Educação Matemática (UEL). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0695-3086. E-mail: mailto: rodolfovertuan@utfpr.edu.brDoxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157951
image/svg+xmlMaykon Jhonatan SCHRENK e Rodolfo Eduardo VERTUANPALABRAS CLAVE: Cognición. Metacognición. Monitorización cognitiva. Educación.Aprendizaje.ABSTRACT: This article aims to present understandings about take of consciousness raisingin a metacognitive perspective. To do so, it initially deals with theoretical aspects of cognitionand metacognition. Then, it discusses take of consciousness and perceived correlationsbetween it and metacognition to, from there, present an understanding of take ofconsciousness in a metacognitive perspective. In this context, take of consciousness raising isdefined as a conscious process of perception and recognition that takes place while thesubject develops tasks and deals with situations that involve investigation, so that thedialogue undertaken within groups can raise mediations that provoke this process. The takeof consciousness, in this perspective, has as its essence the administration, reflection andevaluation of the actions of the subjects themselves and of the phenomena studied by them, inorder to enhance their own cognitive and metacognitive activities.KEYWORDS: Cognition. Metacognition. Cognitive monitoring. Education. Learning.IntroduçãoImagine-se, por um momento, chegando a uma cidade em que nunca esteve. Épossível que comece a pensar: que lugar visitar? Onde é mais seguro? Como identificar osmelhores trajetos? Mesmo que alguém já tenha lhe falado sobre a cidade, ou ainda, que vocêse localize com uma ferramenta tecnológica, incertezas aparecem e é preciso construirconhecimento sobre esta nova situação. Assim, começam-se a se estabelecer relações epadrões sobre esta cidade, de modo que em um momento futuro você não fique mais perdidoou preocupado em conseguir se localizar nela.Esse primeiro “conhecer” pode permitir a você antecipar situações que antes nãopodiam ser previstas, ganhando tempo e agilidade. Estas antecipações denotam umentendimento de como funciona e de como é essa cidade. Todavia, é a partir da tomada deconsciência sobre este entendimento que consideramos possível monitorar as ações baseadasnos conhecimentos adquiridos. Neste trabalho, que parte da dissertação de mestrado doprimeiro autor3, interessamo-nos, de modo especial, em aprofundar e apresentarentendimentos acerca da tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva.Reconhecemos a importância de práticas e contextos provocativos da tomada deconsciência no ambiente escolar porque entendemos que o estudante que toma consciência3A dissertação de mestrado do primeiro autor teve como objetivo discutir a tomada de consciência de estudantesde quintos e sextos anos ao desenvolverem atividades de Modelagem Matemática, tomadas na perspectiva daEducação Matemática.Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157952
image/svg+xmlA tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva: Possibilidades para a sala de aulados mecanismos e estratégias que mobiliza para aprender tem condições de recorrer aosmesmos mecanismos e aos conceitos já utilizados em experiências anteriores noenfrentamento de novas situações. Esse comportamento denota e contribui para diferentesaprendizagens. Isso porque concordamos que “[...] o ensino deve estimular a pessoa a parar,refletir sobre sua própria maneira de ser, pensar, agir e interagir, assim como convidá-la,conscientemente, a mudar quando for necessário melhorar sua aprendizagem” (PORTILHO,2011, p. 106).Neste contexto é que se empreende a escrita deste artigo, que entende a tomada deconsciência em uma perspectiva metacognitiva, tomando o contexto da sala de aula comoplano de reflexão. Para isso, apresenta, inicialmente, considerações acerca da cognição e dametacognição para, na sequência, discorrer sobre a tomada de consciência e correlaçõespercebidas entre ela e a metacognição.CogniçãoConsiderando o exemplo de visita à cidade, é possível que, ao andar por ela, umapessoa aprenda rotas, pontos de referência, modos de se locomover, enfim, construaconhecimentos ao precisar lidar com diferentes situações. Este conhecimento sobre a cidade éo que podemos relacionar ao que chamamos de cognição.Para Beber, Silva e Bonfiglio (2014), todo conhecimento que o sujeito constróienquanto desenvolve uma tarefa está relacionado aos seus processos cognitivos. Todavia,assim como no caso da visita à cidade, para além das aprendizagens adquiridas, consideramosigualmente importante que os sujeitos reflitam sobre os mecanismos subjacentes aoconhecimento construído, dito de outro modo, que reflitam sobre as aprendizagensconstruídas e sobre os modos de sua construção, o que implicaria na possibilidade de utilizaressas aprendizagens no enfrentamento de novas situações. No contexto escolar, González(2009) atenta para a importância de empreender um ensino que privilegie o desenvolvimentocognitivo dos estudantes, por meio de abordagens que adotem ações de indagação,investigação e gestão da informação.Mas como é possível ao sujeito tomar consciência sobre suas ações e processoscognitivos e compreender como “produz conhecimento”? Neste sentido, passamos a discutir oque tem sido denominado na literatura de metacognição, um processo também cognitivo, masde segundo nível, como quando o sujeito toma como objeto de reflexão e ação, os seuspróprios conhecimentos e “jeitos” de conhecer.Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157953
image/svg+xmlMaykon Jhonatan SCHRENK e Rodolfo Eduardo VERTUANMetacogniçãoNo exemplo de visita à cidade é possível considerar dois cenários: um, em que, ao seandar pela cidade com vistas a chegar a algum destino, não se estabelecem de modoconsciente pontos de referência, ou mesmo busca-se relações entre as ruas; e outro, em que oestabelecimento de relações entre pontos de referência e ruas é feito com vistas a facilitar umapróxima visita, como quem constrói um “um mapa mental” da cidade. Em ambas as situações,temos exemplos de atividades cognitivas relativas à localização na referida cidade, masapenas no segundo cenário é que a atividade cognitiva de “se localizar” é assistida por outraatividade cognitiva, tão importante quanto a primeira, mas considerada de segundo nível, umavez que trata da reflexão sobre a atividade cognitiva anterior. Trata-se, portanto, dametacognição.A metacognição foi considerada, inicialmente, por Flavell (1976, p. 232, traduçãonossa) como “o conhecimento que uma pessoa tem acerca dos próprios processos cognitivosou qualquer coisa relacionada a eles”. Segundo González (1996, p. 109, tradução nossa),metacognição “é um termo usado para designar uma série de operações, atividades e funçõescognitivas empreendidas por uma pessoa mediante um conjunto interiorizado de mecanismosintelectuais”. Portilho (2011, p. 110) afirma que “o termo metacognição se pode aplicar, deforma geral, aos conhecimentos que as pessoas têm sobre a cognição, enquanto estãoresolvendo uma determinada tarefa”. Beber, Silva e Bonfiglio (2014, p. 146), ao encontro deFlavell, apresentam a metacognição como “o conhecimento dos próprios produtos cognitivos,isto é, o conhecimento que o sujeito tem sobre seu conhecimento”. Desse modo, ametacognição pode ser entendida como um pensamento que se dá enquanto desenvolvemosuma tarefa e lidamos com as situações, que coloca as ações empreendidas nessas situaçõescomo foco de análise e reflexão.Ainda que a metacognição nem sempre seja manifestada explicitamente por umsujeito, as reflexões advindas deste tipo de pensamento, de processo mental, influenciam edesencadeiam ações em outras atividades cognitivas. Yanni-Plantevin (1999) atenta que ametacognição do sujeito pode ser a base para que tome decisões relativas à própria atividadecognitiva.Neste sentido, Grangeat (1999) apresenta que duas vias abrem acesso à metacognição,sendo a primeira, o sucesso frente a reais obstáculos cognitivos enfrentados na resolução deproblemas e, o segundo, as relações advindas do trabalho em grupo mediadas por outro.Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157954
image/svg+xmlA tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva: Possibilidades para a sala de aulaSegundo Beber, Silva e Bonfiglio (2014), em contextos escolares, quando o estudante passa aentender como ele pensa para aprender, aumenta as possibilidades de superar suas limitações.Além de aprender sobre os conceitos, ao compreender os processos cognitivos que realizanesse aprender, o estudante pode potencializar o desenvolvimento de competências,fortalecendo áreas já desenvolvidas e estruturadas bem como possibilitando novasaprendizagens e o preparo para o enfrentamento de novos obstáculos.Para González (2009, p. 133), os processos metacognitivos[...] são exercidos nos processos cognitivos; eles implicam o conhecimentode nossos próprios modos de desempenho cognitivo (tanto gerais quantoespecíficos), a capacidade de controlá-los simultaneamente (isto é, durante arealização de alguma tarefa que requer seu uso) e regulá-los, isto é, usá-losou parar de fazê-lo, quando é conveniente alcançar os objetivos que a tarefaprocura.No exemplo da visita à cidade, o conhecimento dos processos cognitivos estárelacionado ao momento em que compreendemos que podemos utilizar os pontos dereferência de forma útil e eficaz. Já a capacidade de regulá-los, se refere ao monitoramentodeste conhecimento a fim de chegar ou retornar a um determinado local e avaliar como foipercorrido o trajeto, ou seja, realizar ações e avaliar como foi esta experiência. Nestecontexto, consideramos interessante aprofundar a ideia de metacognição destacando duasvertentes: o “Conhecimento Sobre a Cognição” e o “Monitoramento Cognitivo”.Metacognição nas vertentes Conhecimento Sobre a Cognição e MonitoramentoCognitivoAo desenvolver uma tarefa, espera-se que o sujeito busque em sua experiênciaconceitos e estratégias que podem facilitar o seu desenvolvimento. Neste momento ametacognição se apresenta na sua vertente “conhecimento sobre a cognição”. Quando osujeito passa a monitorar este processo de revisão de conceitos ou mesmo quando realiza oacompanhamento consciente da execução de um planejamento de resolução, ele estárealizando a metacognição na vertente do “monitoramento cognitivo”.Vertuan e Almeida (2016) apresentam que a metacognição pode ser tomada comoproduto quando se refere ao conhecimento acerca da cognição ou como processo quando serelaciona ao monitoramento que um sujeito exerce sobre sua própria atividade cognitiva.Essas duas vertentes já haviam sido apontadas por González (2009), quando este afirma que aDoxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157955
image/svg+xmlMaykon Jhonatan SCHRENK e Rodolfo Eduardo VERTUANmetacognição está associada ao conhecimento de si próprio, possibilitando a autoconsciência,regulação e controle de sua própria atividade cognitiva.Doly (1999) afirma que os conhecimentos sobre a cognição e os produtos da cogniçãopodem guiar a atividade cognitiva do sujeito, ou seja, podem incidir no “como” o pensamentoe as funções mentais (memória, o raciocínio, a atenção, entre outros) de um sujeito funcionamenquanto desenvolvem uma tarefa ou resolvem um problema.Beber, Silva e Bonfiglio (2014) atentam para a “autorregulação”4. Para os autores, aautorregulação permite ao sujeito desenvolver competências sobre o que é importanteaprender, e não somente aprender, mas sim organizar e executar adequadamente as ideias,para que o desenvolvimento da tarefa apresente um resultado satisfatório.Uma tarefa pode tomar diferentes caminhos e requerer diferentes conceitos para seudesenvolvimento. Estas vertentes da metacognição contribuem para que o sujeito, frente a umrepertório de estratégias e conceitos construídos em sua formação, em suas experiênciasanteriores, possa identificar, analisar e utilizar a estratégia e/ou conceito que considera maisadequado para o contexto. A partir do momento em que o sujeito passa a “refletir sobre” e a“monitorar” seus processos cognitivos enquanto desenvolve uma tarefa, passa a ter algumcontrole sobre ela. Segundo Doly (1999, p. 24), “o controle da tarefa se efetua através dosmecanismos de monitorização e das experiências metacognitivas que podem evocar osmetaconhecimentos úteis à gestão da tarefa”.Vertuan (2013) apresenta um esquema (Figura 1), baseado na perspectiva demetacognição de Flavell, que contribui para a compreensão acerca da metacognição nas suasduas vertentes – conhecimento sobre a cognição e monitoramento cognitivo.4Neste trabalho, as palavras “monitoramento”, “monitoramento cognitivo” e “autorregulação” serão tratadascomo sinônimas.Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157956
image/svg+xmlA tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva: Possibilidades para a sala de aulaFigura 1 – Esquema sobre a metacognição na perspectiva de FlavellFonte: Vertuan (2013, p. 63)No esquema da Figura 1, a vertente conhecimento sobre a cognição envolve doisaspectos: sensibilidadee conhecimento das variáveis pessoa, estratégia e tarefa. SegundoRosa (2011, p. 43),[...] tem-se por “sensibilidade” a capacidade do indivíduo de decidir sobre anecessidade ou não de utilizar estratégias para desenvolver determinadaatividade. [...] É a tomada de decisão do estudante sobre recorrer ou não aopensamento metacognitivo. [...] As variáveis da pessoa, da tarefa e daestratégia, assim como de suas relações, resultam das crenças do indivíduocomo ser cognitivo; é o conhecimento que as pessoas têm sobre elasmesmas, o qual afeta o seu rendimento na realização de suas tarefas(aprendizagem). É estabelecido por meio da tomada de consciência daspróprias variáveis mencionadas, bem como pelo modo como interagem einfluenciam no alcance do objetivo cognitivo.A autora afirma que é por meio da tomada de consciência que se estabelece oconhecimento sobre a cognição (sobre as variáveis pessoa, estratégia e tarefa), de modo apossibilitar o alcance do objetivo cognitivo, como resolver um problema matemático, porexemplo.No caso da visita à cidade, a sensibilidade é que possibilita ao sujeito decidir serecorre ao seu pensamento metacognitivo enquanto anda por ela (cidade). Os conhecimentosdas variáveis pessoa, tarefa e estratégia, denominados conhecimentos metacognitivos, “sãoconstituídos pelos sujeitos, portanto, na reflexão que esses fazem em relação aos própriosprocessos cognitivos postos em ação nas situações cotidianas e na resolução de problemas”Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157957
image/svg+xmlMaykon Jhonatan SCHRENK e Rodolfo Eduardo VERTUAN(VERTUAN, 2013, p. 58) e, no nosso exemplo, são postos em ação pelo sujeito para permitirtrafegar pela cidade e alcançar seu objetivo. Analogamente, no contexto da sala de aula,enquanto desenvolvem uma tarefa, a tomada de consciência dos estudantes se relaciona àreflexão de seus próprios processos cognitivos de modo a possibilitar o pensamentometacognitivo.Explorando o esquema (Figura 1), evidenciamos que a vertente conhecimento sobre acognição constitui um dos quatro fenômenos que interagem na vertente monitoramentocognitivo - conhecimento metacognitivo(ou conhecimento acerca da cognição), que jáapresentamos. Vertuan (2013), com base em Flavell (1979), explica sobre os outros três:experiências metacognitivas“são experiências conscientes, afetivas e cognitivas,que acompanham um empreendimento cognitivo” (VERTUAN, 2013, p. 61);objetivos cognitivos“são os responsáveis por impulsionar e mover a realização deações cognitivas” (VERTUAN, 2013, p. 61). Segundo o autor, é a partir de umobjetivo cognitivo que o sujeito busca em seus conhecimentos metacognitivos, jáincluindo as experiências metacognitivas, maneiras de pensar a tarefa e realizá-la; e ações (ou estratégias) cognitivas, que podem assumir um caráter cognitivo(quando visa atingir um objetivo cognitivo) ou metacognitivo (quando intentaavaliar a situação em estudo, monitorar o processo de resolução, verificar se omodo como está conduzindo a resolução tende a atingir o objetivo almejado).De acordo com Vertuan (2013, p. 62), “a ação do tipo metacognitiva produz tambémexperiências metacognitivas que, por sua vez, agem e modificam os conhecimentosmetacognitivos que, novamente, influenciam os objetivos e ações cognitivas”. Portanto, osquatro fenômenos se interagem instantânea, dinâmica e continuamente.Na seção anterior, apresentamos que, no exemplo de visita à cidade, o conhecimentodos processos cognitivos está relacionado ao momento em que compreendemos que podemosutilizar os pontos de referência de forma útil e eficaz. Já a capacidade de regulá-los se refereao monitoramento deste conhecimento a fim de chegar ou retornar a um determinado local eavaliar como foi percorrido o trajeto, ou seja, realizar ações e avaliar como foi estaexperiência.Neste momento podemos ampliar este conceito, pois em relação à experiênciametacognitiva utilizamos o conhecimento que adquirimos sobre a cidade, para atingir umobjetivo cognitivo, um destino, e as ações e estratégias visam avaliar a situação durante e apósDoxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157958
image/svg+xmlA tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva: Possibilidades para a sala de aulaatingir o objetivo. Desse modo, percebemos que a metacognição na vertente domonitoramento se manifesta por meio da reflexão que o sujeito realiza sobre os processoscognitivos utilizados na visita à cidade e na administração e avaliação desta experiência.Vertuan (2013, p. 64), baseado em Tovar-Gálvez (2008), Flavell (1976) e Flavell eWellman (1977, s/p), apresenta que a reflexão, administração e avaliação se manifestam comodimensões do monitoramento cognitivo:a) dimensão da reflexão na qual o sujeito reconhece e avalia suas própriasestruturas cognitivas, possibilidades metodológicas, processos, habilidades edesvantagens; b) dimensão da administração durante a qual o indivíduo, quejá conhece seu estado, passa a combinar os componentes cognitivosdiagnosticados, a fim de formular estratégias para resolver a tarefa; e c)dimensão de avaliação, através da qual o sujeito valida a implementação desuas estratégias e o grau em que se está alcançando o objetivo cognitivo.Para Vertuan (2013), as três dimensões atuam simultaneamente durante odesenvolvimento de uma tarefa e apresentam um caráter dinâmico, possibilitando que osujeito passe, conforme evolui em suas experiências metacognitivas, a usufruir dosconhecimentos que construiu a fim de potencializar suas aprendizagens.De todo modo, para que o sujeito possa identificar quais processos cognitivos utilizarem diferentes momentos de enfrentamento de um problema, precisa ter sensibilidade paradiscernir o que utilizar e estar aberto para diferentes possibilidades. Trata-se de tomarconsciência sobre as ações, os conceitos e as estratégias que são necessárias nodesenvolvimento de uma tarefa.Destarte, se é por meio da tomada de consciência do sujeito que acontece oconhecimento sobre a cognição (ROSA, 2011) e se este é um dos fenômenos que se relacionaao monitoramento cognitivo, torna-se significativo investigar “se” e “como” a tomada deconsciência influencia esta relação. Com efeito, apresentamos na próxima seção do textorelações entre a tomada de consciência e a metacognição, de modo a esclarecermos oentendimento da tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva.Tomada de consciênciaVoltando ao exemplo do início deste artigo, da visita à uma cidade, atentamos para asexperiências que vamos acumulando nas passagens pela cidade e como elas tendem a facilitarcaso vislumbremos realizar nova visita, principalmente se para além de passar pela cidade,buscarmos estabelecer relações e construir lembranças em relação ao vivido. Quais açõesDoxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.157959
image/svg+xmlMaykon Jhonatan SCHRENK e Rodolfo Eduardo VERTUANtomar quando do retorno para a cidade? Quais experiências selecionar como “melhores oucertas”? Neste contexto, abordaremos a “tomada de consciência”, apresentando como asreflexões realizadas a partir da consciência que tomamos sobre nossas opções e ações serelacionam com nossas escolhas.Considerando o dicionário5, a palavra “tomada”, entre seus significados, traz a ideia deação ou efeito de tomar; ação ou efeito de invadir”. Já a palavra “consciência”, entre seussignificados considera a “percepção dos fenômenos próprios da existência”, “noção do que sepassa em nós” e “[Medicina] condição do sistema nervoso central que ocasiona acaracterização precisa, o pensamento lógico e o comportamento coerente”. A tomada deconsciência (“tomada” + “consciência”), nesse contexto, pode ser entendida como a ação deinvadir e/ou pegar a consciência, no sentido de tomar para si a percepção, noção oupensamento sobre algo.Consciência para Vygotsky, segundo Guimarães, Stoltz e Bosse (2008, p. 16), é umtermo utilizado[...] para referir-se à percepção da atividade da mente, ou seja, a consciênciade estar consciente. Tal consciência, segundo o autor, é a que a criançapequena ainda não possui, e que sua entrada na escola irá ativar, pois oaprendizado escolar induz a percepções generalizantes. Vygotsky (1987, p. 78) exemplifica:Antes de prosseguir, queremos esclarecer o termo consciência, no sentidoem que o empregamos ao falar das funções não conscientes “que se tornamconscientes” [...]. A atividade da consciência pode seguir rumos diferentes;pode explicar apenas alguns aspectos de um pensamento ou de um ato.Acabei de dar um nó — fiz isso conscientemente, mas não sei explicar comoo fiz, porque minha consciência estava centrada mais no nó do que nos meuspróprios movimentos, o como da minha ação. Quando este último torna-seobjeto de minha consciência, já terei me tornado plenamente consciente.Utilizamos a palavra consciência para indicar a percepção da atividade damente — a consciência de estar consciente. Uma criança em idade pré-escolar que, em resposta à pergunta: “Você sabe o seu nome?”, diz como sechama, não possui essa percepção autorreflexiva; ela sabe o seu nome, masnão está consciente de que sabe.Alinhando nossa compreensão de consciência à definição vygotskyana é queapropriamos a tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva, pois entendemosque leva em consideração uma percepção, noção ou pensamento de segundo nível, consciente,em que está presente a reflexão. Quando um sujeito identifica, entende e reflete sobre oprocesso que realizou para desenvolver determinada tarefa, pode-se dizer que ele está5https://www.dicio.com.br/.Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.1579510
image/svg+xmlA tomada de consciência em uma perspectiva metacognitiva: Possibilidades para a sala de aulaempreendendo uma atividade metacognitiva. De acordo com Beber, Silva e Bonfiglio (2014),este monitoramento lhe será útil no enfrentamento de novas situações, pois ao possuirconhecimento das facilidades e limitações, consegue refletir sobre a estratégia adequada e asações necessárias para este enfrentamento.Segundo Doly (1999, p. 23), as competências metacognitivas “designam os processospelos quais o indivíduo exerce o controle ou autorregulação de sua atividade quando resolveum problema”. A autora afirma, ainda, que a vigilância do controle ou autorregulaçãoacontece por meio das experiências metacognitivas, sendo estas, por sua vez, consideradas“tomadas de consciência” do sujeito sobre o problema enfrentado. Então, apoiando-se emYanni-Plantevin (1999), consideramos que quando o sujeito recorda o processo que realizou ecomo o realizou, consegue tomar consciência de sua ação como uma interação entre ele e oobjeto.Mas seria por meio da tomada de consciência que se dá o desenvolvimento domonitoramento cognitivo? Ou é o processo metacognitivo que permite a tomada deconsciência?Para Doly (1999, p. 27), “a tomada de consciência é [...] um processo que intervémmais tarde para operar uma reformulação conceitualizada dos procedimentos postos em açãopara atingir um fim”. Com efeito, mesmo que aconteça a posteriori, a tomada de consciênciarefaz todo o processo metacognitivo realizado pelo sujeito, ou seja, “implica toda a atividademetacognitiva que passa desde os diferentes níveis de consciência, de intencionalidade até aintrospecção” (PORTILHO, 2011, p. 111). No exemplo de visita à cidade, a atividademetacognitiva realizada pelo sujeito permite que ele tome consciência dos pontos que sãoreferência para aquela situação. No entanto, é devido à consciência que o sujeito toma sobreeste local ou situação, que se torna possível o monitoramento dos processos, experiências eações cognitivas, potencializando novas situações de enfrentamento naquele local.Nesta linha, Guimarães, Stoltz e Bosse (2008) afirmam que é a partir do acesso aopróprio pensamento que se torna possível o seu controle. Porém, se a tomada de consciênciaimplica a atividade metacognitiva, também ela é condição para que ocorra a própria tomadade consciência. Disso se infere que, de acordo com Marini-Filho e Stoltz (2008), situaçõesque estimulem a tomada de consciência podem resultar no desenvolvimento da metacognição.Guimarães, Stoltz e Bosse (2008, p. 25-26) destacam correlações entre a tomada deconsciência e a metacognição, que organizamos em alguns tópicos:Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.1579511
image/svg+xmlMaykon Jhonatan SCHRENK e Rodolfo Eduardo VERTUAN- A metacognição pode ser classificada como ferramenta necessária aoprocesso de tomada de consciência, visto que não é possível ao sujeitoalcançar níveis mais elevados de consciência de suas condutas sem lançarmão de suas habilidades metacognitivas. Por outro lado, não é possívelexercer metacognição sem que haja um objeto de conhecimento acessível àconsciência do sujeito;- Para que as habilidades metacognitivas possam ser aplicadas sobre umconhecimento, portanto, é necessário que o sujeito possa ter tomadoconsciência desse saber;- O processo de tomada de consciência e a metacognição são duas instânciasinseparáveis e complementares;- Na prática, esses dois processos se intermeiam e se complementam.É a partir destas correlações que passamos a esclarecer nosso entendimento da tomadade consciência em uma perspectiva metacognitiva.Reflexões e considerações sobre Tomada de Consciência em uma perspectivametacognitivaO enfrentamento de uma situação, como no exemplo da visita à cidade, pode tomardiferentes direções/rumos dependendo da necessidade ou interesse do sujeito. Nestemomento, o “tomar consciência” permite ao sujeito decidir sobre a necessidade ou não derecorrer aos processos cognitivos (o que implica no empreendimento da sensibilidade e naaplicação dos conhecimentos construídos) e age como pontapé inicial do monitoramento a fimde refletir, administrar e avaliar a melhor estratégia a ser utilizada.Igualmente, é pela metacognição que se faz possível tomar consciência sobre estesprocessos cognitivos empregados na ação cognitiva de resolução de um problema. Assim,percebemos uma correlação entre a tomada de consciência e a metacognição, de modo queatuam simultaneamente frente à uma situação que exige reflexão.González (2009) afirma que a metacognição está associada ao conhecimento de sipróprio e, por isso, possibilita a autoconsciência, regulação e controle da própria atividadecognitiva. Ante ao exposto, a tomada de consciência, como a entendemos, em umaperspectiva metacognitiva, tem por essência tanto a presença da sensibilidade e doconhecimento dos processos cognitivos, quanto o seu monitoramento, manifestados nas açõesde refletir, administrar e avaliar conhecimentos, experiências, objetivos e ações cognitivas,permitindo conhecer, reconhecer, regular e valorar os componentes cognitivos do sujeito.De modo a sistematizar todo o processo destacado neste trabalho, buscamosrepresentar na Figura 2 nosso entendimento da tomada de consciência em uma perspectivametacognitiva.Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 23, n. 00, e022003, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2594-8385DOI:https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.1579512
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