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Relato de experiência sobre educação sexual com crianças de 4 a 8 anos na clínica
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL COM CRIANÇAS DE 4
A 8 ANOS NA CLÍNICA
INFORME DE EXPERIENCIA EN EDUCACIÓN SEXUAL CON NIÑOS DE 4 A 8
AÑOS EN LA CLÍNICA
EXPERIENCE REPORT ON SEXUAL EDUCATION WITH CHILDREN FROM 4 TO 8
YEARS IN THE THERAPY
Luana Luiza GALONI
1
Ilanna Pinheiro da Costa MEDEIROS
2
Gabriela de Araújo Braz dos SANTOS
3
Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
4
RESUMO
: Pensar sobre o desenvolvimento de crianças requer ações que possibilitem
também o desenvolvimento saudável da sexualidade na infância. O objetivo deste artigo é
apresentar um relato de experiência sobre uma intervenção de educação sexual orientado pela
terapia cognitivo-comportamental para crianças de 4 a 8 anos. Foi organizado um conjunto de
5 sessões, com duração de 40 minutos, utilizando-se de materiais lúdicos e pedagógicos para
tratar do tema junto com três irmãos que estavam em processo de adoção. Os resultados
mostraram que houve progresso no desenvolvimento cognitivo, motor e emocional das
crianças, na forma da elaboração de brincadeiras, capacidade imagética, conhecimento do
corpo e estabelecimento de limites seguros. Considera-se a educação sexual para crianças
necessária para prevenir possíveis violências sexuais favorecendo o diálogo através de uma
forma lúdica e não invasiva, respeitando os direitos das crianças e auxiliando seu pleno
desenvolvimento.
PALAVRAS-CHAVE
: Educação sexual. Abuso sexual. Terapia cognitivo-comportamental.
RESUMEN
: Pensar en las gestiones para una educación positiva de los niños es pensar
también en el sano desarrollo de la sexualidad en la infancia. El objetivo de este artículo es
presentar un informe de experiencia sobre una intervención de educación sexual guiado por
la terapia cognitivo-conductual para niños de 4 a 8 años. Se organizó un conjunto de 5
sesiones, de 40 minutos de duración, utilizando materiales lúdicos y educativos para abordar
el tema junto a tres hermanos que se encontraban en proceso de adopción. Los resultados
mostraron que hubo avances en el desarrollo cognitivo, motor y emocional de los niños, en
forma de desarrollo de juegos, capacidad imaginativa, conocimiento del cuerpo y
1
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brasil. Doutoranda em Psicologia.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4426-4000. E-mail: luana.luiza.galoni@gmail.com
2
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brasil. Doutoranda em Psicologia.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7430-8708. E-mail: ilanna.psi@gmail.com
3
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brasil. Doutoranda em Psicologia.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1109-1820. E-mail: psicologa.gabrielabraz@gmail.com
4
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brasil. Professora Adjunta do
Departamento de Psicologia. Doutorado em Psicologia (UFRJ). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6324-3187.
E-mail: claudiaapeixoto@gmail.com
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.159851
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ e Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
establecimiento de límites de seguridad. La educación sexual infantil se considera necesaria
para prevenir posibles violencias sexuales, favoreciendo el diálogo de forma lúdica y no
invasiva, respetando los derechos de la niñez y ayudando a su desarrollo.
PALABRAS CLAVE
: Educación sexual. Abuso sexual. Terapia cognitiva conductual.
ABSTRACT
: Thinking about the managements for a positive education of children is also
thinking about the healthy development of sexuality in childhood. The aim of this article is to
present an experience report about a intervention of sexual education guided by cognitive-
behavioral therapy for children aged 4 to 8 years old. A set of 5 sessions, lasting 40 minutes,
was organized using playful and educational materials to deal with the topic together with
three siblings who were in the process of adoption. The results showed that there was
progress in the children's cognitive, motor and emotional development, in the form of the
development of games, imagery ability, knowledge of the body and establishment of safe
limits. Sex education for children is considered necessary to prevent possible sexual violence,
favoring dialogue through a playful and non-invasive way, respecting children's rights and
assisting in their development.
KEYWORDS:
Sex education. Sexual abuse. Cognitive behavioral therapy.
Introdução
O termo Educação Sexual abarca um processo que envolve ferramentas e
conhecimentos relacionados à sexualidade, esta dinâmica vem sendo identificada como forma
preventiva e fator de proteção em qualquer fase do desenvolvimento. No processo
psicoterápico com crianças vítimas de violência sexual, a psicoeducação com foco no
desenvolvimento saudável da sexualidade, compreende parte fundamental do processo da
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para auxiliar o paciente na compreensão sobre seu
funcionamento, evitando consequências disfuncionais nas áreas cognitiva, emocional e
comportamental.
No ano de 2017, o Laboratório de Estudos sobre Violência contra Crianças e
Adolescentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (LEVICA-UFRRJ) realizou
uma pesquisa sobre os atendimentos realizados em parceria com a Associação Vida Plena do
Rio de Janeiro. Os resultados mostram que de 44 crianças e adolescentes atendidos, 43% dos
casos se referem à violência sexual, nos quais se evidencia que em 27% dos mesmos houve
violência conjunta, ocorrendo não só a violência sexual, mas também a presença de violência
psicológica, física e negligência (GALONI, 2018). Nesse sentido, a violência praticada contra
a criança ou adolescente se traduz como um forte estressor em relação ao processo típico de
crescimento e desenvolvimento. As vítimas vivenciam sentimentos como o desamparo, o
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Relato de experiência sobre educação sexual com crianças de 4 a 8 anos na clínica
medo, a culpa e a raiva. Para além dessas consequências, outros estudos identificaram que a
percepção de desamparo e desvalor de crianças vítimas de violência favorecem a formação de
esquemas disfuncionais como abandono, desconfiança/abuso e vulnerabilidade ao
dano/doença, os quais estão vinculados a uma visão negativa e disfuncional sobre elas
mesmas e sobre suas relações, interferindo no desenvolvimento saudável da sua personalidade
(BRAZ, 2018). Por conta desses fatores, esforços vêm sendo direcionados para superar os
efeitos da violência, bem como o avanço quanto à concepção do cuidado e proteção às
crianças e adolescentes. Esses, por sua vez, em sua maioria, estão definidos através da
elaboração de leis que asseguram os direitos carecidos por pessoas nessa fase da vida.
O objetivo deste artigo versa sobre a aplicação de um conjunto de 5 sessões
estruturadas sobre educação sexual para crianças de 4 a 8 anos. A demanda para tal surgiu
inicialmente no acolhimento de um casal homoafetivo feminino em processo de adoção de
três irmãos que se encontravam em atendimento psicoterápico na Associação Vida Plena,
coordenado pelo LEVICA e que haviam sido vítimas de violência sexual, negligência e
violência física. As mães se queixavam da manifestação de comportamentos
hiperssexualizados entre os irmãos no contexto do lar. As sessões referentes à educação
sexual foram parte do processo de intervenção psicoterápica, utilizando a abordagem da TCC.
Consequências do abuso sexual infantil
O Canal de Denúncias Disque 100 registrou, no período de 2003 a 2010, cerca de 2
milhões de atendimentos com denúncias de violação de direitos de crianças e adolescentes.
Deste total, 59,40% se referem a denúncias de abuso sexual e 38,41% a de exploração sexual.
Ainda de acordo com o canal de denúncias, as estatísticas de janeiro a julho de 2010, nas
porcentagens de registros por macrocategorias de violência, a violência sexual se encontrava
em primeiro lugar, empatada com as violências física e psicológica (36%), seguidas de
negligência (28%). No entanto, deve-se levar em conta que muitos casos ainda são
subnotificados.
No que tange o tema da violência infanto-juvenil, Egry, Apostolico e Morais (2016)
destacam que crianças e adolescentes apresentam maior vulnerabilidade à violência e que são
seres que exigem do universo adulto a proteção e segurança necessárias para seu
desenvolvimento pleno e, quando em contato com as ferramentas necessárias, são capazes de
transpor situações estressoras. Em contrapartida, por permanecer determinado tempo de sua
trajetória na dependência de outros ou, até mesmo, não encontrar na família a confiança
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ e Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
necessária para se expor, a criança ou o adolescente, em muitos casos, submete-se a silenciar
suas vivências, o que pode ser um complicador e fator de perpetuação para algum tipo
violência.
As consequências da violência podem ser as mais diversas, podendo resultar em
alterações significativas em seu desenvolvimento. Lisboa e Habigzang (2017), ao descrever as
consequências do abuso sexual, mais especificamente, nos indicam que os efeitos variam
entre as vítimas, assim como seus impactos cognitivos, emocionais e comportamentais. As
autoras destacam a presença de sinais como enurese e encoprese, sentimentos de vergonha,
culpa, raiva, sensação de abandono, dificuldades de concentração ou memória. Ademais,
podem ocorrer transtornos como ansiedade, depressão transtornos de humor, alimentares ou
de personalidade.
Terapia Cognitivo-Comportamental e a Educação Sexual
De acordo com Habigzang
et al.
(2009, p. 71) “uma meta-análise sobre pesquisas
publicadas na língua inglesa que avaliaram formas de tratamento psicológico para vítimas de
abuso sexual no período entre 1975 e 2004 identificou somente 28 estudos na área”. Dentre
essas pesquisas, as que utilizam a Terapia Cognitivo-Comportamental como forma de
tratamento têm apresentado melhores resultados quando comparadas com outras formas de
tratamento para crianças e adolescentes com sintomas decorrentes de violência sexual. Nesse
mesmo período, no Brasil, foram encontrados apenas dois trabalhos que avaliaram processos
terapêuticos para vítimas de abuso sexual (HABIGZANG
et al.
, 2009).
O tratamento terapêutico com crianças vítimas de violência parte de um foco
importante que diz respeito a uma análise ampla do paciente, considerando todos os contextos
de relações dos quais as crianças participam. Para tanto, é necessário identificar aspectos do
seu funcionamento geral, sintomas, detalhes relevantes da sua história de vida e necessidades
emocionais não supridas, o que facilita a construção de estratégias terapêuticas (PAIM;
ROSA, 2016). No presente trabalho, a estratégia para acolher a demanda dos casos aqui
apresentados se baseou em um recurso fundamental na TCC, a psicoeducação, sendo essa
sobre educação sexual, com atenção às necessidades emocionais das crianças e os detalhes do
microssistema familiar para construir novas experiências reparadoras.
As técnicas de psicoeducação relacionam métodos psicológicos e pedagógicos que
facilitam o sucesso terapêutico, conscientizam o paciente sobre seu funcionamento e
desenvolvem um trabalho de prevenção em saúde (LEMES; NETO, 2017). A Educação
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Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Relato de experiência sobre educação sexual com crianças de 4 a 8 anos na clínica
Sexual, neste sentido, surge como um trabalho preventivo, podendo ser realizado através da
psicoeducação. Segundo Meyer, “a educação sexual refere-se ao processo que desenvolve
ferramentas e conhecimentos relacionados à sexualidade, que se inicia desde antes do
nascimento e se prolonga por toda a vida” (2017, p. 44).
Considera-se que não é necessário iniciar a educação sexual apenas na etapa
adolescência ou na vida adulta. Nesse sentido, entende-se que crianças e adolescentes estão
desenvolvendo constantemente sua sexualidade, o que envolve muitos atravessamentos como
religião, cultura, família e escola.
A família tem um papel primordial nesta construção. A ela cabe o dever de transmitir
o entendimento sobre o que é admissível ou não. Quando este diálogo não ocorre, muitas
podem ser as consequências. Quanto maior e mais rico o diálogo e as informações providas,
melhores e mais ricas serão as ferramentas da criança ou do adolescente para identificação de
possíveis situações de risco (MEYER, 2017). Entretanto, poucos são os preparos dos pais ou
cuidadores para abordar o assunto, acreditando inclusive que há uma idade exata para se tratar
desses temas - quando não são esses os próprios abusadores. A escola e os espaços
educativos, dessa forma, desempenham um papel crucial na educação sexual, colocando-se
como um espaço seguro, de informação e prevenção para criança.
Um estudo realizado por Ferreira
et al
. (2017) com 127 pais, constatou que, desse
total, a maioria diz se sentir confortável com o assunto; porém, apenas 33% o abordaram, dos
quais 22% fora por iniciativa das crianças. Nesta amostra, a maioria dos pais acredita que a
idade ideal seria a partir dos 10 anos de idade. Assuntos como toques indevidos, diferentes
tipos de família e comportamentos de exploração do corpo, foram abordados exclusivamente
em casa e por iniciativa dos pais ou cuidadores.
Para Santos e Ippolito (2009) a educação sexual é a chave principal contra os abusos,
onde os profissionais que lidam com o público infantojuvenil devem estar capacitados para
tal. Além disso, destacam que o trabalho deve ser realizado por todas as esferas que envolvem
as crianças e adolescentes. Destaca-se também que o adulto deve buscar pelo diálogo e que “a
boa comunicação pode ajudar crianças e jovens a recusar pressões sexuais não desejadas e
abuso por pessoas em posição de autoridade e outros adultos” (SANTOS; IPPOLITO, 2009,
p. 29).
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Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ e Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
Metodologia
Este relato se refere a um recorte de três casos clínicos, de forma descritiva e
documental, realizado a partir de uma experiência profissional de três psicólogas voluntárias
numa instituição que oferece atendimento psicoterápico às crianças e adolescentes vítimas de
violência na Baixada Fluminense, supervisionado pelo LEVICA – UFRRJ.
A coleta de dados se deu por registros de sessões, consulta a relatórios, fotografias e
materiais confeccionados durante a intervenção psicoterápica. O relato se refere aos pacientes
por meio de nomes fictícios, Eduarda do sexo feminino de 8 anos de idade, Salomão do sexo
masculino de 7 anos de idade e Bianca do sexo feminino de 6 anos de idade.
Antes do processo de adoção iniciado pelo casal, as crianças se encontravam em
medida protetiva de acolhimento institucional por denúncia de negligência e violência física
praticada por seus genitores. Após alguns meses de convívio com a família substituta, as
crianças começaram a relatar também cenas e episódios de abuso sexual que haviam sofrido
quando em sua família de origem. As mães adotivas trouxeram esses relatos para as sessões
juntamente com uma preocupação referente ao comportamento sexual das crianças, relatando
que essas estavam se beijando. Diante disso, objetivou-se elaborar uma intervenção focada na
psicoeducação sobre sexualidade, considerando a etapa do desenvolvimento em que as
crianças se encontravam, atendendo suas necessidades e respeitando suas limitações.
Um conjunto de 5 sessões, com duração de 40 minutos, foram organizadas seguindo
objetivos previamente estabelecidos. Na primeira sessão se buscou apresentar aos cuidadores
os objetivos da intervenção e estabelecer vínculo com a família e com a criança. A segunda
sessão teve como objetivo o conhecimento respeitoso da criança e seu corpo. Seguindo a
mesma temática, a terceira abordou os conceitos do corpo, direcionada ao relacionamento
com o outro. Na quarta sessão se buscou educar sobre o direito de dizer não. Na quinta sessão
foi realizado o momento de fechamento com a criança e com os responsáveis, recapitulando
os conteúdos aprendidos e elaborando um feedback.
Compuseram esses materiais vídeos da série “Que Corpo é esse?”
5
do Canal Futura, e
os recursos lúdicos a respeito de educação sexual e prevenção à violência sexual
disponibilizados pela pedagoga e especialista em educação sexual Caroline Arcari em sua
plataforma virtual
6
, sendo esses o caderno de atividades “Pipo & Fifi” e o jogo de tabuleiro
“Trilha da Proteção”.
5
Série elaborada pelo Canal Futura para prevenção de violência sexual. Disponível em:
https://g.co/kgs/CQqW95.
6
Material pedagógico para educação sexual de crianças elaborado por Caroline Arcari. Disponível para
download em: https://www.pipoefifi.org.br/.
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Relato de experiência sobre educação sexual com crianças de 4 a 8 anos na clínica
Quadro 1
– Sessões de educação sexual
Fonte: Elaborado pelos autores
Temas como emoções, consciência corporal, cuidado com as partes íntimas, toques
proibidos e toques permitidos e os canais de denúncia em casos de abuso sexual foram
tratados durante as sessões. A participação das mães durante todo o processo foi de extrema
importância, mostrando-se presentes nos feedbacks da semana, participando de reuniões para
discutir o progresso das crianças e colaborando com a execução das tarefas de casa.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ e Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
Resultados e discussão
Eduarda, o encontro do lugar seguro
Das cinco sessões previstas, todas foram reorganizadas com intervalos entre elas, com
o intuito de acolher demandas específicas de Eduarda que estavam relacionadas à
desregulação emocional. Dessa forma, foram cinco sessões sobre educação sexual
intercaladas com 4 sessões sobre manejo e controle da raiva. Foi possível observar um avanço
da paciente no que diz respeito a sua comunicação e ganhos significativos em relação a sua
consciência corporal.
A história de vida da paciente também foi internalizada, gerando a ressignificação das
memórias relacionadas à violência. Em uma das sessões, Eduarda disse que sua mãe brigava
quando ela beijava o Salomão e que já não fazia mais isso. Em seguida, contou: “o pai
biológico beijava a gente”. A paciente, então, continuou com uma expressão de surpresa,
contando que sua mãe biológica queimou a mão de Salomão. Foi perguntado se essa mãe
também a havia machucado. A paciente contou que essa mãe pegou no pescoço dela (nesse
momento expressou com suas mãos e os olhos lacrimejando), mas ela conseguiu gritar e
depois veio a polícia e ficou escondida com seus irmãos no banheiro.
Em todo processo, a relação terapêutica foi um instrumento importante, assumindo o
papel de peça chave no tratamento. A construção de um vínculo seguro pôde propiciar o
atendimento de necessidades emocionais básicas de Eduarda, que foram negligenciadas,
principalmente pela exposição precoce à violência, como: vínculo, pertencimento, afeto e
aceitação, além de permitir que a paciente relatasse episódios relacionados ao abuso e pudesse
ressignificar essas memórias.
A aplicação neste modelo de intervalo, intercalando as sessões e adaptando-as às
demandas da paciente, contribuiu para o maior envolvimento da paciente com o conteúdo.
Embora a paciente apresentasse dificuldades cognitivas e comportamentais, mostrou uma boa
assimilação nas intervenções, principalmente, no que diz respeito à elaboração de uma figura
de apoio. Em uma das atividades, quando pedido para que contasse sobre um lugar seguro
Eduarda disse: “Na mão da mãe S. e da mãe J.” (sic).
Em suma, a intervenção embasada na educação sexual contribuiu para a qualidade de
vida familiar fortalecendo a elaboração do lugar seguro da paciente, além disso, reforçou
sobre o processo de terapia com fortalecimento da crença de segurança no terapeuta, sendo
um ganho significativo e promissor para a melhora no tratamento.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.159858
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Relato de experiência sobre educação sexual com crianças de 4 a 8 anos na clínica
Salomão, entendendo limites
Durante as sessões, Salomão, demonstrou muito interesse pelos vídeos utilizados,
pedindo em alguns momentos para ver mais de uma vez. Entretanto, não gostava muito de
realizar os exercícios no caderno de atividades, e se demonstrava inquieto, querendo logo
terminar para brincar.
Quando tratado sobre as partes íntimas, Salomão se demonstrou um pouco
envergonhado e começou a falar quais eram, sempre olhando como quem esperasse uma
aprovação da terapeuta para continuar, quem o estimulava: “Isso, pode dizer, pepeca e pipi”
(sic). No vídeo que abordava os toques permitidos e não permitidos, foi mencionado o beijo
na bochecha e ele logo reagiu: “Não pode beijar!” (sic), a terapeuta nesse momento
demonstrou um estranhamento para entender melhor ao que ele se referia, perguntando: “Não
pode beijar nem na bochecha?” (sic), “Não, não pode beijar” (sic), ele respondeu. Nesse
momento, tentando construir com ele algum tipo de reflexão, a terapeuta interviu, reafirmando
as informações trazidas no vídeo, de que há toques que podem e toques que não podem, mas
que podemos beijar na bochecha e abraçar se quisermos e se tivermos vontade e podemos
dizer não até para nossos amigos e familiares se não quisermos, e que apenas adultos
costumavam beijar na boca. Salomão ouvia tudo bem quieto e prestando atenção, A terapeuta
perguntou se então podia abraçá-lo, se ele gostaria, ele disse que sim e retribuiu o abraço.
Nos exercícios realizados sobre com quem contar, Salomão mencionou logo as mães e
a irmã Bianca. Perguntei sobre Eduarda e ele relatou que às vezes ela fazia coisas porque
tinha “algo na cabeça” (sic) e que deixava as mães tristes. Demonstrando um pouco da tensão
existente devido às crises de raiva e choro recorrentes de Eduarda.
No discurso de Salomão, frequentemente, estavam narrativas policiais, o que já se
manifestava em sessões anteriores à educação sexual e retornou ao ser conversado sobre
canais de denúncia. A memória de uma viatura policial os levando para a casa de acolhimento
aparecia em diversos momentos, principalmente nas brincadeiras de faz-de-conta. De uma
forma geral, as sessões voltadas à educação sexual possibilitaram a abertura de um caminho
para internalização de conteúdos relacionados à autoproteção, toques permitidos e não
permitidos e figuras de afeto e segurança.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ e Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
Bianca, eu tenho um corpo
Bianca, a mais nova de seus três irmãos, estava com seis anos de idade na época das
sessões. As primeiras foram destinadas ao conhecimento dos personagens do caderno de
atividades, além de ser relembrado sobre como cada emoção estava relacionada a uma
sensação corporal: “Quando eu fico com medo eu sinto no peito...” (sic). Nesta sessão em
específico, havia ocorrido uma briga entre ela e o irmão, a terapeuta tratou junto com Bianca
possíveis soluções para que pudessem “fazer as pazes”, como, por exemplo, o ato de abraçar
para realizar um pedido de desculpas, porém logo a terapeuta foi interrompida pela menina
dizendo: “Não posso abraçar meu irmão, minha mãe não deixa” (sic). O receio das mães de
que os irmãos viessem a ter contatos sexuais estava vetando até mesmo o contato saudável
como o abraço, fato que também apareceu nas sessões com Salomão. Para além do receio,
havia uma moral relacionada à religiosidade, sobrepondo as relações familiares que se
materializavam em várias falas das mães. No vídeo onde demonstrava o pai se despedindo da
mãe com um beijo, a paciente sinalizou que “Não pode beijar, nem criança nem adulto”(sic);
ao indagar o motivo ela afirmou que “beijar é pecado, o diabo vem e pega você de noite”(sic).
Como o medo e o pudor eram presentes, foi necessário demonstrar através das sessões
relações seguras, sobre limites e como beijos e abraços poderiam acontecer se houvesse
respeito e permissão por parte dela. Algumas sessões também precisaram ser feitas com as
mães para que se pudesse ter dimensão de seus receios, acolhê-los e também desmistificar
algumas questões referentes à sexualidade.
O corpo e as partes íntimas foram tratados dentro das sessões com muita naturalidade
e consciência corporal. Foram abordadas as diferenças do corpo feminino para o corpo
masculino e Bianca falava do assunto de forma espontânea: “Eu tenho peitos, mas ainda não
cresceu. O Salomão tem, mas é pequeno e não vai crescer” (sic).
O primeiro assunto abordado, a respeito de beijos e abraços entre irmãos, já parecia
mais esclarecido nas últimas sessões. Ao apresentar um dos vídeos ela relatou: “Não pode
beijar na boca de criança, nem criança com criança... Ninguém pode tocar nas partes íntimas,
só a mamãe” (sic)/“Beijo na bochecha só quando eu quiser né? E se não for muito molhado!”
(sic), ela afirmava. Todo o processo de construção e aplicação das sessões se deu de forma
muito válida, tendo em vista que após o encerramento, a observação clínica permitiu
visualizar uma maior consciência corporal por parte de Bianca, a internalização de conteúdos
sobre o direito de dizer não e a diferença dos corpos de meninos e de meninas.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Relato de experiência sobre educação sexual com crianças de 4 a 8 anos na clínica
Feedback das sessões: Jogo Twister
Durante o processo de aplicação do protocolo, as mães participaram ativamente. Além
das sessões em que puderam participar, também houve reuniões para discussão sobre o
progresso das crianças em casa. Além disso, foi enviado no início das sessões o jogo de
tabuleiro “Trilha da Proteção” para que como família eles pudessem tratar do tema.
Apesar dos desafios apresentados, principalmente pelas histórias de vida das crianças e
pela adoção conjunta dos três, considera-se que uma parte crucial para o êxito das sessões se
deve a participação das mães durante todo o processo, atentas às orientações dadas,
implicadas no tratamento e com práticas parentais positivas, tendo uma comunicação não-
violenta, estabelecendo limites de forma compreensível e sendo figuras de afeto.
Durante o processo,
surgiu ainda a necessidade das psicólogas em observar
clinicamente como estava a relação dos irmãos participantes desse estudo, além de finalizar o
protocolo de educação sexual de forma lúdica e grupal. Para tanto, foi realizada uma
adaptação do jogo conhecido como
Twister
junto com perguntas e respostas acerca dos
conteúdos abordados durante as sessões de educação sexual. O jogo trouxe a relação entre
irmãos para o setting terapêutico, proporcionando visões diferentes das que acompanhamos
em setting terapêutico individual. A disputa de espaço quanto à demonstração de novos
saberes foi algo perceptível: “Eu sei, eu sei essa. Deixa eu falar, você já falou” (sic). Além
disso, podemos ver o apoio de ambos quando uma pergunta era direcionada a um desses: “Vai
Eduarda... O nome é aquele que mamãe já conversou”.
Nesse processo, foi possível perceber que muitos conceitos foram internalizados pelas
crianças. Como ressalva, destacamos que o jogo precisa ser adaptado para crianças menores
que possuem ainda pouca consciência de espaço. Esse foi, em alguns momentos do jogo, um
complicador, porém não impediu a realização do mesmo, visto que o objetivo maior era
analisar a interação e o conhecimento adquirido durante as sessões de educação sexual.
Durante o tempo de atendimento, a observação clínica das atividades e tarefas
propostas em terapia nos permitiu perceber alguns saltos de desenvolvimento cognitivo,
motor e emocional das crianças, na forma de elaboração de brincadeiras e capacidade
imagética, a respeito de limites e coordenação motora. Ainda assim, notamos que o tempo e a
forma de internalizar os conteúdos trazidos durante as sessões variaram entre os três, e nos
preocupamos em respeitar a particularidade trazida por cada um. Embora irmãos, adotados
pelo mesmo casal, havia uma história individual e uma forma particular de perceber cada uma
delas.
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Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.1598511
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ e Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
Considerações finais
Apesar dos desafios apresentados, principalmente pelas histórias das crianças, pela
adoção dos irmãos e adaptação da família substituta e, ainda, pelo tempo disponível para
executar a intervenção, visto que à época as psicólogas estavam em processo de desligamento,
foi possível visualizar saltos no desenvolvimento cognitivo, motor e emocional das crianças
através da observação clínica das atividades e tarefas propostas em terapia.
Compreendendo dessa forma que um trabalho de educação sexual possibilita um
melhor desenvolvimento em diferentes aspectos para a vida da criança, considera-se ainda que
uma parte crucial para o êxito das sessões se deve à participação das mães enquanto figuras de
apoio central durante todo o processo. As responsáveis se mantiveram atentas às orientações
dadas, implicadas no tratamento e com práticas parentais positivas, tendo uma comunicação
não-violenta, estabelecendo limites de forma compreensível e sendo figuras de afeto. Bem
como as terapeutas se mostraram acolhedoras para desmistificar conteúdos a respeito da
sexualidade e auxiliá-las nessa abordagem com as três crianças.
Espera-se, por meio deste trabalho, destacar de forma peremptória o trabalho
preventivo, ainda escasso no Brasil, para que profissionais que atuem na área da violência
contra crianças e adolescentes, em equipamentos da rede de proteção e familiares sejam
estimulados no entendimento de que a educação sexual pode atuar como forma preventiva de
abusos, e pode também influenciar positivamente como fator de proteção a futuras violências
e revitimizações, trazendo benefícios para o desenvolvimento integral da criança e apoio pós
adoção às famílias substitutas.
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Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ e Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
Como referenciar este artigo
GALONI, L. L.; MEIDEIROS, I. P. C.; BRAZ, G. A.; PEIXOTO, A. C. A. Relato de
experiência sobre educação sexual com crianças de 4 a 8 anos na clínica.
Doxa: Rev. Bras.
Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 25948385. DOI:
https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.15985
Submetido em
: 21/12/2021
Revisões requeridas em
: 07/02/2022
Aprovado em:
23/03/2022
Publicado em
: 30/06/2022
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, jan./dez. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Experience report on sexual education with children from 4 to 8 years in the therapy
EXPERIENCE REPORT ON SEXUAL EDUCATION WITH CHILDREN FROM 4
TO 8 YEARS IN THE THERAPY
RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL COM CRIANÇAS DE 4 A
8 ANOS NA CLÍNICA
INFORME DE EXPERIENCIA EN EDUCACIÓN SEXUAL CON NIÑOS DE 4 A 8
AÑOS EN LA CLÍNICA
Luana Luiza GALONI
1
Ilanna Pinheiro da Costa MEDEIROS
2
Gabriela de Araújo Braz dos SANTOS
3
Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
4
ABSTRACT
: Thinking about the managements for a positive education of children is also
thinking about the healthy development of sexuality in childhood. The aim of this article is to
present an experience report about a intervention of sexual education guided by cognitive-
behavioral therapy for children aged 4 to 8 years old. A set of 5 sessions, lasting 40 minutes,
was organized using playful and educational materials to deal with the topic together with
three siblings who were in the process of adoption. The results showed that there was progress
in the children's cognitive, motor and emotional development, in the form of the development
of games, imagery ability, knowledge of the body and establishment of safe limits. Sex
education for children is considered necessary to prevent possible sexual violence, favoring
dialogue through a playful and non-invasive way, respecting children's rights and assisting in
their development.
KEYWORDS:
Sex education. Sexual abuse. Cognitive behavioral therapy.
RESUMO
: Pensar sobre o desenvolvimento de crianças requer ações que possibilitem
também o desenvolvimento saudável da sexualidade na infância. O objetivo deste artigo é
apresentar um relato de experiência sobre uma intervenção de educação sexual orientado
pela terapia cognitivo-comportamental para crianças de 4 a 8 anos. Foi organizado um
conjunto de 5 sessões, com duração de 40 minutos, utilizando-se de materiais lúdicos e
pedagógicos para tratar do tema junto com três irmãos que estavam em processo de adoção.
Os resultados mostraram que houve progresso no desenvolvimento cognitivo, motor e
emocional das crianças, na forma da elaboração de brincadeiras, capacidade imagética,
conhecimento do corpo e estabelecimento de limites seguros. Considera-se a educação sexual
1
Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brazil. PhD student in Psychology.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4426-4000. E-mail: luana.luiza.galoni@gmail.com
2
Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brazil. PhD student in Psychology.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7430-8708. E-mail: ilanna.psi@gmail.com
3
Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brazil. PhD student in Psychology.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1109-1820. E-mail: psicologa.gabrielabraz@gmail.com
4
Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica – RJ – Brazil. Adjunct Professor, Department
of Psychology. PhD in Psychology (UFRJ). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6324-3187. E-mail:
claudiaapeixoto@gmail.com
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, Jan./Dec. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ and Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
para crianças necessária para prevenir possíveis violências sexuais favorecendo o diálogo
através de uma forma lúdica e não invasiva, respeitando os direitos das crianças e auxiliando
seu pleno desenvolvimento.
PALAVRAS-CHAVE
: Educação sexual. Abuso sexual. Terapia cognitivo-comportamental.
RESUMEN
: Pensar en las gestiones para una educación positiva de los niños es pensar
también en el sano desarrollo de la sexualidad en la infancia. El objetivo de este artículo es
presentar un informe de experiencia sobre una intervención de educación sexual guiado por
la terapia cognitivo-conductual para niños de 4 a 8 años. Se organizó un conjunto de 5
sesiones, de 40 minutos de duración, utilizando materiales lúdicos y educativos para abordar
el tema junto a tres hermanos que se encontraban en proceso de adopción. Los resultados
mostraron que hubo avances en el desarrollo cognitivo, motor y emocional de los niños, en
forma de desarrollo de juegos, capacidad imaginativa, conocimiento del cuerpo y
establecimiento de límites de seguridad. La educación sexual infantil se considera necesaria
para prevenir posibles violencias sexuales, favoreciendo el diálogo de forma lúdica y no
invasiva, respetando los derechos de la niñez y ayudando a su desarrollo.
PALABRAS CLAVE
: Educación sexual. Abuso sexual. Terapia cognitiva conductual.
Introduction
The term Sexual Education encompasses a process that involves tools and knowledge
related to sexuality, this dynamic has been identified as a preventive form and protection
factor at any stage of development. In the psychotherapeutic process with children’s victims
of sexual violence, psychoeducation focused on the healthy development of sexuality
comprises a fundamental part of the cognitive-behavioral therapy (CBT) process to help the
patient understand about its functioning, avoiding dysfunctional consequences in the
cognitive, emotional and behavioral areas.
In 2017, the Laboratory of Studies on Violence against Children and Adolescents of
the Federal Rural University of Rio de Janeiro (LEVICA-UFRRJ) conducted research on the
care performed in partnership with the Vida Plena Association from Rio de Janeiro. The
results show that of 44 children and adolescents treated, 43% of the cases refer to sexual
violence, in which it is evidenced that in 27% of them there was joint violence, occurring not
only sexual violence, but also the presence of psychological, physical and neglect violence
(GALONI, 2018). In this sense, violence against children or adolescents translates as a strong
stressor in relation to the typical process of growth and development. Victims experience
feelings such as helplessness, fear, guilt and anger. In addition to these consequences, other
studies have identified that the perception of helpless children victims of violence favor the
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Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, Jan./Dec. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Experience report on sexual education with children from 4 to 8 years in the therapy
formation of dysfunctional schemes such as abandonment, distrust/abuse and vulnerability to
damage/disease, which are linked to a negative and dysfunctional view of themselves and
their relationships, interfering in the healthy development of their personality (BRAZ, 2018).
Due to these factors, efforts have been directed to overcome the effects of violence, as well as
the advance in the conception of care and protection for children and adolescents. These, for
the most part, are defined through the drafting of laws that ensure the rights of people at this
stage of life.
The aim of this article is to apply a set of 5 structured sessions on sex education for
children aged 4 to 8 years. The demand for this initially arose in the reception of a female
homosexual couple in the process of adoption of three siblings who were in psychotherapeutic
care at the Vida Plena Association, coordinated by LEVICA and who had been victims of
sexual violence, neglect and physical violence. The mothers complained of the manifestation
of hypersexualized behaviors among siblings in the context of the home. The sessions related
to sexual education were part of the psychotherapeutic intervention process, using the CBT
approach.
Consequences of child sexual abuse
The Call 100 Complaints Channel recorded, in the period from 2003 to 2010, about 2
million calls with complaints of violations of the rights of children and adolescents. Of this
total, 59.40% refer to reports of sexual abuse and 38.41% to sexual exploitation. Also,
according to the complaints channel, statistics from January to July 2010, in the percentages
of records by macro categories of violence, sexual violence was in first place, tied with
physical and psychological violence (36%), followed by negligence (28%). However, it
should be taken into account that many cases are still underreported.
Regarding the theme of child and youth violence, Egry, Apostolico and Morais (2016)
highlight that children and adolescents are more vulnerable to violence and that they are
beings who demand from the adult universe the protection and security necessary for their full
development and, when in contact with the necessary tools, are able to transpose stressful
situations. On the other hand, because the child or adolescent, in many cases, undergoes to
silence their experiences, which can be a complicating factor and perpetuation factor for some
kind of violence, in many cases, submits to silence their experiences, which can be a
complicating factor and perpetuating factor for some type of violence.
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Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, Jan./Dec. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ and Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
The consequences of violence may be the most diverse, and may result in significant
changes in its development. Lisbon and Habigzang (2017), when describing the consequences
of sexual abuse, more specifically, indicate that the effects vary between victims, as well as
their cognitive, emotional and behavioral impacts. The authors highlight the presence of signs
such as enuresis and encopresis, feelings of shame, guilt, anger, feeling of abandonment,
difficulties of concentration or memory. In addition, disorders such as anxiety, depression,
mood disorders, eating disorders or personality disorders may occur.
Cognitive Behavioral Therapy and Sexual Education
According to Habigzang
et al.
(2009, p. 71, our translation) "a meta-analysis on
research published in English that evaluated forms of psychological treatment for victims of
sexual abuse in the period between 1975 and 2004 identified only 28 studies in the area".
Among these studies, those who use Cognitive Behavioral Therapy as a form of treatment
have shown better results when compared to other forms of treatment for children and
adolescents with symptoms resulting from sexual violence. In the same period, in Brazil, only
two studies were found that evaluated therapeutic processes for victims of sexual abuse
(HABIGZANG
et al.
, 2009).
Therapeutic treatment with children’s victims of violence is part of an important focus
that concerns a broad analysis of the patient, considering all the contexts of relationships in
which the children participate. Therefore, it is necessary to identify aspects of its general
functioning, symptoms, relevant details of its life history and unmet emotional needs, which
facilitates the construction of therapeutic strategies (PAIM; ROSE, 2016). In the present
work, the strategy to accommodate the demand of the cases presented here was based on a
fundamental resource in CBT, psychoeducation, which is about sex education, with attention
to the emotional needs of children and the details of the family microsystem to build new
restorative experiences.
Psychoeducation techniques relate psychological and pedagogical methods that
facilitate therapeutic success, raise the patient's awareness about its functioning and develop
health prevention work (LEMES; NETO, 2017). Sexual Education, in this sense, emerges as a
preventive work, and can be performed through psychoeducation. According to Meyer, "sex
education refers to the process that develops tools and knowledge related to sexuality, which
begins from before birth and lasts throughout life" (2017, p. 44, our translation).
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, Jan./Dec. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Experience report on sexual education with children from 4 to 8 years in the therapy
It is considered that it is not necessary to start sexual education only in adolescence or
adulthood. In this sense, it is understood that children and adolescents are constantly
developing their sexuality, which involves many crossings such as religion, culture, family
and school.
The family plays a key role in this construction. It is her duty to convey the
understanding of what is permissible or not. When this dialogue does not occur, many can be
the consequences. The greater and richer the dialogue and the information provided, the better
and richer the child's or adolescent's tools will be to identify possible risk situations (MEYER,
2017). However, there are few the preparations of parents or caregivers to address the subject,
even believing that there is an exact age to deal with these issues - when these are not the
abusers themselves. The school and educational spaces thus play a crucial role in sex
education, placing itself as a safe space, information and prevention for children.
A study conducted by Ferreira
et al
. (2017) with 127 parents, found that, of this total,
the majority said they were comfortable with the subject; however, only 33% approached it,
of which 22% were on the children's initiative. In this sample, most parents believe that the
ideal age would be from 10 years of age. Subjects such as inappropriate touches, different
types of family and behaviors of body exploitation were addressed exclusively at home and at
the initiative of parents or caregivers.
For Santos and Ippolito (2009) sex education is the main key against abuse, where
professionals who deal with the children's public must be qualified to do so. In addition, they
highlight that the work must be carried out by all spheres involving children and adolescents.
It is also noteworthy that adults should seek dialogue and that "good communication can help
children and young people to refuse unwanted sexual pressures and abuse by people in
positions of authority and other adults" (SANTOS; IPPOLITO, 2009, p. 29, our translation).
Methodology
This report refers to a cut out of three clinical cases, descriptive and documentary,
based on a professional experience of three volunteer psychologists in an institution that
offers psychotherapeutic care to children and teenagers who are victims of violence in
Baixada Fluminense, supervised by LEVICA - UFRRJ.
Data were collected through session records, consultation of reports, photographs and
materials made during psychotherapeutic intervention. The report refers to patients by
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, Jan./Dec. 2022e-ISSN: 2594-8385
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Luana Luiza GALONI; Ilanna Pinheiro da C. MEDEIROS; Gabriela de Araújo BRAZ and Ana Cláudia de Azevedo PEIXOTO
fictitious names, 8-year-old female Eduarda, 7-year-old male Solomon, and 6-year-old female
Bianca.
Before the adoption process initiated by the couple, the children were in protective
measure of institutional reception by complaint of negligence and physical violence practiced
by their parents. After a few months of living with the surrogate family, the children also
began to report scenes and episodes of sexual abuse they had suffered while in their family of
origin. The surrogate mothers brought these reports to the sessions along with a concern
regarding the sexual behavior of the children, reporting that they were kissing. Therefore, the
objective was to elaborate an intervention focused on psychoeducation on sexuality,
considering the stage of development in which the children were, meeting their needs and
respecting their limitations.
A set of 5 sessions, lasting 40 minutes, were organized following previously
established objectives. In the first session, we sought to present to the caregivers the
objectives of the intervention and to establish a bond with the family and with the child. The
second session aimed at respectful knowledge of the child and his body. Following the same
theme, the third addressed the concepts of the body, directed to the relationship with the other.
In the fourth session we sought to educate about the right to say no. In the fifth session, the
closing time was performed with the child and with the guardians, recapping the contents
learned and preparing feedback.
These materials were composed of videos from the series "Que Corpo é esse?"
5
of
Canal Futura, and the playful resources regarding sexual education and prevention of sexual
violence made available by pedagogue and sex education specialist Caroline Arcari on her
virtual platform
6
, these being the activity book "Pipo & Fifi" and the board game "Trail of
Protection”.
5
Series prepared by Canal Futura for the prevention of sexual violence. Available in: https://g.co/kgs/CQqW95.
6
Pedagogical material for child sex education prepared by Caroline Arcari. Available for download at:
https://www.pipoefifi.org.br/.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022006, Jan./Dec. 2022e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.159856
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Experience report on sexual education with children from 4 to 8 years in the therapy
Table 1
– Sex education sessions