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O estigma presente nos discursos de professores sobre laudos e a relação com as queixas escolares: Análise a partir de um contexto
neoliberal
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16203 1
O ESTIGMA PRESENTE NOS DISCURSOS DE PROFESSORES SOBRE LAUDOS E
A RELAÇÃO COM AS QUEIXAS ESCOLARES: ANÁLISE A PARTIR DE UM
CONTEXTO NEOLIBERAL
EL ESTIGMA PRESENTE EN LOS DISCURSOS DOCENTES SOBRE INFORMES Y
LA RELACIÓN CON LAS QUEJAS ESCOLARES: ANÁLISIS DESDE UN CONTEXTO
NEOLIBERAL
THE STIGMA IN TEACHERS' SPEECH ABOUT REPORTS AND THE
RELATIONSHIP WITH SCHOOL COMPLAINTS: ANALYSIS FROM A NEOLIBERAL
CONTEXT
Andréia Alves de CASTRO
1
Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
2
RESUMO
: Esse trabalho buscou compreender concepções sobre as crianças com laudos. O
objetivo foi analisar os discursos sobre os laudos como solução para queixas de dificuldades de
aprendizagem. Foram entrevistados professores e profissionais de apoio da rede pública de
ensino em uma cidade no interior de Goiás. As entrevistas foram transcritas e, na sequência, foi
feita uma análise de conteúdo (temática). A partir das temáticas centrais nos discursos dos
entrevistados, foram criadas seis
categorias e aqui será apresentada a categoria “Concepções
sobre laudos e crianças com dificuldades de aprendizagem”.
Observou-se, nos discursos, forte
influência da concepção médica e biológica dos problemas de aprendizagem, além de
estereótipos e preconceitos em relação às crianças com transtornos mentais e/ou dificuldades
de aprendizagem. É necessário um olhar crítico dos profissionais que se inserem na educação
para superar concepções de sujeito descontextualizadas do cenário social, econômico, político
e educacional para, então, alcançar uma educação inclusiva.
PALAVRAS-CHAVE
: Transtornos mentais. Dificuldade de aprendizagem. Educação
inclusiva. Estigma. Neoliberalismo.
RESUMEN:
Este trabajo buscó comprender las concepciones acerca de los niños con informes
y dificultades de aprendizaje. El objetivo fue analizar los discursos sobre los informes como
solución a las quejas de dificultades de aprendizaje. Fueron entrevistados docentes y
profesionales de apoyo del sistema escolar público de un municipio del interior de Goiás. Las
entrevistas fueron transcritas y, posteriormente, se realizó un análisis de contenido (temático).
A partir de los temas centrales en el discurso de los entrevistados, se crearon seis categorías y
aquí se presentará la categoría “Concepciones sobre relatos y niños con dificultades de
aprendizaje”. En los discursos se observó una fuerte influencia de la concepción médica y
biológica de los problemas de aprendizaje, además de estereotipos y prejuicios en relación con
los niños con trastornos mentales y/o dificultades de aprendizaje. Es necesaria una mirada
1
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia
–
GO
–
Brasil. Psicóloga. Mestrado em Educação (UFG-Regional
Jataí). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7924-1354. E-mail: psi.andreiaalves@gmail.com
2
Universidade Federal de Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brasil. Professora. Doutorado em Química (UFG). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-9470-509X. E-mail: eveline_vilela@ufj.edu.br
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Andreia Alves CASTRO e Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
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crítica de los profesionales que están involucrados en la educación, para superar concepciones
descontextualizadas del sujeto desde el escenario social, económico, político y educativo, para
obtener una educación inclusiva.
PALABRAS CLAVE:
Trastornos mentales. Dificultad de aprendizaje. Educación inclusiva.
Estigma. Neoliberalismo.
ABSTRACT:
This work deals with conceptions about children with reports and learning
difficulties. The objective was to analyze the speeches about the reports as a solution to
complaints of learning difficulties. Interviews were carried out with teachers and support
professionals from the public school system in a city in the interior of Goiás. The interviews
were transcribed and, subsequently, a content (thematic) analysis was performed. From the
selection of central themes in the interviewees' discourse, six categories were created and the
category “Conceptions about reports and children with learning difficulties” will be presented
here. In the speeches, a strong influence of the medical and biological conception of learning
problems was observed, in addition to stereotypes and prejudices in relation to children with
mental disorders and/or learning difficulties. A critical look on the part of professionals who
are involved in education are necessary, so that they can overcome decontextualized
conceptions of the subject from the social, economic, political and educational scenario to
achieve inclusive education.
KEYWORDS:
Mental
disorders. Learning difficulty. Inclusive education. Stigma.
Neoliberalism.
Introdução
As políticas de Educação Inclusiva (EI) marcam, a partir da década de 1990, um avanço
na educação de crianças e adolescentes com deficiência. A Declaração de Salamanca (BRASIL,
1994) se constitui como marco para introdução dessas políticas sustentando que todas as
crianças devem ter acesso ao ensino regular, cabendo à escola adotar uma pedagogia que
satisfaça as necessidades de cada criança. Afirma ainda a inclusão como instrumento eficaz no
combate à discriminação e capaz de promover uma Educação Para Todos (BRASIL, 1994). A
Educação Inclusiva não se restringe à inserção de alunos com deficiência, mas pressupõe um
conceito de educação democrática e de qualidade que não se apoie em princípios de
diferenciação e exclusão (MARINHO; OMOTE, 2017).
Apesar do aumento nas matrículas em classes do ensino regular entre os anos de 1998 a
2013, no contexto brasileiro (BRASIL, 2014), verifica-se a continuidade de um processo de
exclusão das crianças que não apresentam as características de aprendizagem esperadas pela
escola. Essas expectativas têm se baseado em critérios de produtividade e desenvolvimento de
competências como prevê a pedagogia das competências.
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O estigma presente nos discursos de professores sobre laudos e a relação com as queixas escolares: Análise a partir de um contexto
neoliberal
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Nota-se que os dispositivos legais garantem a implementação das políticas inclusivas
nas instituições, no entanto não garantem o real funcionamento de uma escola inclusiva.
Oliveira e Araújo (2017), em pesquisa sobre a produção do sujeito com deficiência, perceberam
que, embora tenha sido adotado pelos professores o discurso da inclusão, as práticas, em geral,
se baseiam apenas numa inserção física do aluno em sala de aula que não promove uma inclusão
efetiva nos processos de ensino e aprendizagem. Dessa forma, as autoras questionam as práticas
que estão sob o discurso da educação inclusiva que, no entanto, acabam mascarando processos
de exclusão dos alunos com deficiência (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2017).
Além dos alunos com deficiência, outra classe de crianças tem crescido na educação
inclusiva: os alunos classificados com transtornos mentais e/ou dificuldades de aprendizagem.
Estudos apontam uma frequente produção de laudos psicológicos e/ou psiquiátricos para
crianças que supostamente apresentam dificuldades de aprendizagem, os quais vêm sendo
utilizados no campo da educação como tentativa de resposta aos problemas de comportamento
e aprendizagem sem, no entanto, considerar os aspectos mais amplos como os
socioeconômicos, pedagógicos e processos de escolarização na produção do fracasso escolar
(BAUTHENEY, 2011; BENEDETTI
et al
., 2018; RAMOS, 2014; SILVA; MOLERO;
ROMAN, 2016). Esses estudos têm focado especialmente a relação entre dois campos do saber:
a Educação e os saberes “Psi” (psiquiatria, psicopediatra, psicologia, neuropsicologia,
psicopedagogia). Tais estudos têm demonstrado que os laudos e a aplicação dos tratamentos
psicológicos e/ou psiquiátricos indicados às crianças com dificuldades de aprendizagem, atuam
na modificação e contenção dos comportamentos infantis que incomodam no ambiente escolar.
A resolução número 6 de 2019 do Conselho Federal de Psicologia - CFP define o laudo
psicológico como um documento resultante de um processo de avaliação psicológica e que tem
por finalidade “subsidiar decisões relacionadas ao contexto em que surgiu a demanda” (CFP,
2019, n.p.). Ainda nesse artigo, tem-
se que o laudo psicológico “
apresenta informações técnicas
e científicas dos fenômenos psicológicos, considerando os condicionantes históricos e sociais
da pessoa, grupo ou instituição atendida” (
n.p.).
O efeito é que, por meio dessa classificação psicopatológica empreendida no campo da
saúde, desobriga-se a escola de sua relação de ensino com esse aluno. O discurso sobre o
fracasso escolar acaba recaindo sobre a criança e sendo legitimado pelo saber médico por meio
dos laudos (BAUTHENEY, 2011), o que corrobora com o processo de exclusão dessas crianças.
Partindo dessas discussões, o problema de pesquisa foi assim formulado: de que maneira
o discurso sobre laudos e sua relação com as queixas escolares interferem na educação de
crianças dentro do contexto neoliberal? Tendo esse problema em vista, o objetivo desse trabalho
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Andreia Alves CASTRO e Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
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consistiu em analisar os discursos de professores e profissionais de apoio sobre os laudos como
solução para as queixas de dificuldade de aprendizagem dos estudantes na educação infantil,
levando em conta o contexto de uma sociedade neoliberal.
Método
Esta é uma pesquisa cadastrada e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade
Federal de Goiás (UFG), sob o parecer 1.702.878, organizada como um estudo exploratório
amparado na abordagem qualitativa de pesquisa (TRIVIÑOS, 2017), tendo como método de
coleta de dados a entrevista semiestruturada em uma cidade do interior goiano.
Os participantes da entrevista foram selecionados de acordo com os seguintes critérios:
ser professor e lecionar em escola pública ou ser profissional de apoio em escola pública; aceitar
as condições estabelecidas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
Participaram da pesquisa dois pedagogos e dois profissionais de apoio que trabalham em
escolas públicas com crianças que apresentam laudo médico e/ou psicológico com diagnóstico
no campo dos transtornos mentais descritos no capítulo V da Décima Revisão da Classificação
Internacional de Doenças (CID-10) (OMS, 1993) ou no Manual de Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais 5ª edição (DSM-V) (APA, 2014). Os participantes estavam vinculados em
duas escolas diferentes, sendo um professor e um profissional de apoio da escola A e um
professor e um profissional de apoio da escola B. Todos eles atuavam em turmas de 3º e 4º ano
do ensino fundamental I, nas quais há crianças com os seguintes tipos de laudos: autismo leve,
transtorno de conduta não especificado, retardo mental moderado
3
, paralisia cerebral
quadriplégica espástica
4
, autismo infantil e epilepsia
5
. Além dessas, há também aquelas que,
mesmo não apresentando nenhum laudo, são chamadas pelos professores de “aluno com
dificuldades de aprendizagem”
(sic.).
Foi utilizada entrevista semiestruturada de modo que os entrevistados responderam
livremente de acordo com seus conhecimentos e experiências. A entrevista foi aplicada
individualmente com cada um dos participantes em um encontro, obedecendo e respeitando os
preceitos estabelecidos pelo Comitê de Ética. Ela foi gravada em áudio por meio de um
gravador de voz e, posteriormente, transcrita.
3
Atualmente denominado de deficiência intelectual (DI).
4
Conjunto de condições que afetam o movimento e a postura, caracterizada pela rigidez muscular e dificuldades
nos movimentos.
5
Essas classificações foram encontradas nos arquivos da escola, sendo que algumas crianças apresentam mais de
um diagnóstico.
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O estigma presente nos discursos de professores sobre laudos e a relação com as queixas escolares: Análise a partir de um contexto
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A análise dos dados foi feita com base na Análise de Conteúdo (AC) proposta por Bardin
(2016). A partir da leitura exploratória dos dados, palavras chaves que resumiam as percepções
dos entrevistados sobre os assuntos foram marcadas, criando-se categorias a partir da análise
delas. Essa análise temático-categorial levou à criação de seis categorias, que apresentam
aspectos relevantes mostrados nos discursos transcritos dos participantes, totalizando seis
categorias. A categoria “Concepções sobre laudos e crianças com dificuldades de
aprendizagem” será apresentada nesse trabalho. A discussão dos resultados é feita de maneira
qualitativa, dialogando com os referenciais teóricos apresentados.
Resultados e Discussão
Concepção dos professores e profissionais de apoio sobre os laudos e as crianças com
dificuldades de aprendizagem
O quadro 1 traz concepções a respeito das crianças com
“
dificuldades de
aprendizagem
”
, implícitas nos discursos dos professores e profissionais de apoio. A análise
desse tema constitui-se num dos aspectos mais relevantes da pesquisa, uma vez que uma
concepção biologicista a respeito da aprendizagem e uma visão unívoca do sujeito, enraizada
no preconceito contra crianças oriundas das camadas mais baixas da sociedade, foi se
delineando ao longo dos discursos dos participantes. Segue abaixo o quadro com as concepções
dos participantes sobre o tema.
Quadro 1
–
Análise temática das concepções de professores e profissionais de apoio sobre os
laudos e as crianças com dificuldades de aprendizagem
Participantes
Análise temática
P1
As crianças com laudo conseguem aprender, apesar das suas dificuldades. Conseguem
acompanhar o restante da turma.
Embora consigam aprender, o profissional de apoio é necessário para as crianças com déficit
de atenção.
P2
Os principais motivos para a não-aprendizagem de algumas crianças são: falha do professor,
característica própria do aluno e/ou falhas do sistema educacional. As crianças apresentam
dificuldades de aprendizagem mesmo não tendo transtorno e/ou deficiência.
Mesmo as crianças “comuns” (sic) estão vindo mais “fracas” (sic).
Algumas crianças com laudo conseguem fazer suas atividades sozinhas.
A criança com dificu
ldade de aprendizagem tem um “bloqueio” (sic). O cérebro não consegue
guardar as informações aprendidas na aula.
Os professores percebem quando a criança apresenta dificuldades cognitivas.
PA1
Quando o aluno está dando problema na escola, os pais são solicitados e orientados a buscar
auxílio de um profissional para descobrir o que a criança tem. Se o aluno não fizer o tratamento
ele não aprende e pode reprovar.
O laudo fornece o diagnóstico e, assim, o início do tratamento (medicamentoso, psicológico,
dentre outros), o qual favorece o desenvolvimento escolar da criança.
Os pais devem buscar conhecimento a respeito do transtorno e/ou deficiência da criança.
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Andreia Alves CASTRO e Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
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Os alunos com transtorno e/ou deficiência são mais lentos na aprendizagem e não vão adquirir
as mesmas habilidades dos demais. Se eles adquirirem habilidades de responsabilidade,
aprender alguns conteúdos e saber ler e escrever já seria o bastante.
PA2
Percebe seus alunos como espertos e que conseguem fazer coisas sozinhos, mas esperam sua
ajuda para tê-lo por perto.
Considera que o problema dos seus alunos é comportamental e não de aprendizagem.
Adapta as atividades reduzindo a quantidade para que a criança consiga acompanhar os
colegas.
Os alunos com dificuldades de aprendizagem são aqueles que sabem, mas demoram mais para
aprender o conteúdo.
Fonte: Castro (2021)
Para iniciar essa análise, seguem trechos das falas de PA1 e P2 que denotam uma
concepção orgânica da aprendizagem:
PA1:
“
Foram alunos que já vinham do segundo ano na mesma série e tendo as mesmas
dificuldades. E eram maus alunos? Não, eram ótimos alunos, carinhoso, prestava atenção, mas
infelizmente não ajuda, o cérebro não ajuda. Então assim, tem que saber o que é.
”
P2:
“
É como se você não tivesse trabalhado aquilo, parece que ele tem um bloqueio, o
cérebro dele não consegue[...] parece que a memória dele só tem a instantânea, não fica para o
outro dia, então isso eu considero uma dificuldade de aprendizagem.
”
Além de ambas deixarem claro que a aprendizagem depende do cérebro do aluno, em
sua fala, PA1 reforça a necessidade de “saber o que é”
(sic.), ou seja, identificar qual o problema
essa criança tem, o que se faz por meio do encaminhamento para o profissional da saúde,
médico e/ou psicólogo.
Os participantes também expressaram a noção de que os alunos com dificuldade
apresentam um ritmo mais lento de aprendizagem em relação aos demais colegas, como pode
ser observado nos discursos abaixo:
PA1:
“[...]
eu acho que o que destoa muito é porque eles têm um processo lento de
aprendizagem, todos os que tem síndrome, um processo lento.
”
P1:
“
Algumas crianças vão num click, como se diz, outras já demoram mais para
aprender, eu vejo assim.
”
PA2:
“A professora tinha passado 15 linhas para os outros, eu falei ‘a gente vai fazer
cinco’ que dava o tempo
de ele acompanhar os outros colegas.
”
A professora P2 ao comparar seu trabalho em escola privada e escola pública chega à
conclusão de que os alunos do ensino público são mais lentos:
P2:
“
E aqui se você for trabalhar o mesmo conteúdo as crianças têm dificuldade, eu
pego conteúdo que eu trabalhava, se pôr para eles fazerem, eles não fazem. Tenho que seguir
devagarzinho com eles.
”
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neoliberal
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No início da entrevista, ao falar sobre os motivos pelos quais não se consegue a
aprendizagem de todos os alunos como gostaria, a professora havia apresentado uma visão mais
abrangente, levando em conta outros fatores além dos aspectos individuais do aluno:
P2:
“
São vários fatores, pode ser também falha do professor, as vezes ele não soube,
não descobriu qual é a maneira que aquele aluno tem de aprender e também já vem do aluno de
casa também, tem alunos que tem um bloqueio, já vem com ele mesmo aquilo e também o
próprio sistema, tem hora que a sala é super lotada, tem alunos que tem vários problemas dentro
da sala e não tem o apoio, então são
n
problemas. Então não posso falar que é só falha do
professor, é falha de todo um sistema.
”
Apesar disso, ao longo da entrevista, a professora apresentou uma concepção de
educação a-histórica, desconectada do contexto social mais amplo. Comparar o desempenho de
alunos da rede pública com o de alunos da rede privada como se eles estivessem em igualdade
de condições mostra uma perspectiva descontextualizada da situação. Patto (1997), em sua
crítica às práticas de avaliação das crianças nas escolas, enumera vários aspectos de ordem
social, política e econômica que ficam ocultos, sob pena de que sua revelação desconstrua um
conjunto de ideias que sustentam a prática de uma ciência com um viés ideológico burguês. A
autora aponta que não há conhecimento da realidade que seja descomprometido, portanto, toda
análise, todo modo de pensar (e de ensinar) está ancorado numa concepção acerca dessa
realidade e quando essa concepção desconsidera o processo de constituição histórica de
determinado conhecimento, a que e a quem ele serve, as consequências são desastrosas.
Uma prática educativa alienada, que desconhece os seus fundamentos, mostra-se
incoerente e contraditória. O trabalho se tornou desinvestido de sua característica essencial, o
ensino, sendo que a aprendizagem (ou a dificuldade de aprendizagem) assumiu o protagonismo,
como propõe o modelo escolanovista. Na resposta abaixo, nota-se a dificuldade da professora
em fundamentar o processo de aprendizagem infantil:
P1:
“
Como que se dá o aprendizado? O aprendizado se dá através do que ele vai
aprendendo gradativamente, que a gente passando para eles, eles vão... aqueles que tem mais
facilidade vai aprender mais rápido, aqueles que não tem a gente vai ter que desenvolver aquilo
neles por mais... determinado tempo. Algumas crianças vão num click, como se diz, outras já
demoram mais para aprender, eu vejo assim.
”
Apesar dessa dificuldade, os aspectos referentes à aprendizagem se destacam em seu
discurso. Observa-se a grande ênfase que ela dá nas questões de aprendizagem, como se a
condição de aprender ou não aprender fosse uma característica do aluno, enquanto os processos
de ensino não são mencionados:
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Andreia Alves CASTRO e Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
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P1:
“
Então é algo difícil da gente ensinar porque a gente ensina uma determinada coisa
para ele, amanhã ele já não sabe, então todos os dias a gente tem que estar voltando, dá
impressão que a gente nunca vai seguir, que a gente vai estar sempre voltando com aquele
aluno. Agora já eu tenho outros, porque eu tenho três laudos na sala, já os outros não, os outros
têm as suas limitações, suas dificuldades, mas a gente percebe que eles vão, eles conseguem ter
um pouquinho de aprendizado. E aí tem um que aprende, ele tem certa dificuldade, mas ele
gosta muito de brincar, gosta muito de conversar, mas ele tem condição de aprender, de
acompanhar a turma. Então só um que eu vejo que todos os dias a gente tem que voltar, a gente
nunca consegue caminhar com ele para frente.
”
Outra contradição que aparece nesse trecho da entrevista é o relato de que o aluno
“[...]tem condição de aprender, de acompanhar a turma”. Se ele acompanha, por que o olhar
diferenciado? Ele não deveria estar no “grupo dos que aprendem”? Essa “certa dificuldade”
(sic) que ele apresenta e o gostar muito de brincar e conversar é o que justifica o laudo? É
importante notar que no uso da expressão “eu tenho três laudos na sala” (sic), a professora se
refere às crianças utilizando o próp
rio substantivo “laudos”, o que descaracteriza as crianças
enquanto sujeitos e reforça o estigma das crianças
laudadas.
Freitas e Garcia (2019) ressaltam o uso da palavra laudo no cotidiano escolar, a qual
serve a propósitos variados: não apenas para assegurar direitos (se é que asseguram e a que
preço o fazem!), mas também para justificar a segregação, o tratamento diferencial. Além disso,
ao invés de uma análise pedagógica, se sobrepõe a ideia de superação quando o aluno avança
e, quando há atraso, este se justifica pelo fato de que a criança é laudada (FREITAS; GARCIA,
2019). Esse discurso polarizado entre superação ou atraso também oculta as relações sociais,
econômicas e políticas que constituem o processo de escolarização dos indivíduos e coloca
novamente o foco na aprendizagem em detrimento do ensino.
Na fala de uma participante que, embora tenha respondido à entrevista na condição de
profissional de apoio, também é professora em outro turno, é possível notar essa diferenciação
entre “laudados”
(sic.)
e “normais”
(sic.):
PA1:
O que acontece: as crianças que são laudadas buscam a mesma coisa que as outras
crianças, mas de forma diferente, a gente tem que enxergar nelas essa diferença. Às vezes a
gente consegue e às vezes a gente não consegue, mas o que eu espero deles [...] Quando eu vou
trabalhar com uma criança, primeiro eu testo ela ao máximo, e eu sou assim com os meus alunos
normais também.
Além das crianças “laudadas”, as “normais” também têm apresentado problemas. Em
dois momentos, um com uma professora e outro com uma profissional de apoio, elas revelam
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O estigma presente nos discursos de professores sobre laudos e a relação com as queixas escolares: Análise a partir de um contexto
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uma
concepção sobre as crianças da atualidade: são “fracas” e “aceleradas”. A profissional de
apoio ainda ressalta que essa aceleração vem “de natureza”. Sendo assim, não há saída, pois
todas as crianças apresentam características que dificultam seu processo de aprendizagem. Tal
concepção pode ser notada nos discursos transcritos abaixo:
P2:
“[...]
cada dia que passa as crianças estão vindo para gente mais fracas, eu ando
percebendo isso, ainda mais eu que trabalhei muito tempo na particular e vim para a pública eu
senti o choque, para mim deu um choque.
”
PA1:
“
As crianças de hoje em dia estão muito aceleradas, não só as que tem síndrome,
mas todas as crianças são aceleradas hoje em dia. Antigamente quando eu tive as minhas filhas,
minha filha mais velha nasceu quietinha, minha filha caçula nasceu, para você ter noção,
esticando os braços para tudo quanto é lado, ela até virou na cama com dois dias de nascida.
Então assim, eu sempre falo, são umas crianças que vêm aceleradas de natureza.
”
Dessa maneira, vai se delineando nos discursos dos participantes o foco na condição de
aprendizagem e, assim, os entraves no percurso escolar da criança são interpretados a partir de
seus déficits. A propagação de um discurso cujo foco está no indivíduo escamoteia a variedade
de vicissitudes que concorrem nos processos de escolarização e deixa de lado o aspecto passível
de intervenção: o ensino.
Os discursos também apresentam uma separação entre as categorias normal e anormal.
Nesse sentido, Patto (2017, p. 88) alerta para as concepções enraizadas que constituem a
subjetividade humana e que precisam ser continuamente contestadas:
Atenção não só aos obstáculos externos, impostos pela política educacional,
mas também às contradições inevitáveis de todos nós, enraizadas em nossa
subjetividade como produtos que somos de uma sociedade pautada por uma
visão de mundo minada por estereótipos e preconceitos de vários tipos, entre
os quais uma concepção de anormalidade que tem como referência uma
definição de normalidade que tem sido e precisa continuar sendo contestada.
Outro aspecto levantado na análise temática é a crença do professor/profissional de
apoio de que ele consegue identificar quais são as crianças que têm dificuldade de aprendizagem
ou alguma deficiência/transtorno que justifique tratamentos com profissionais da saúde. Uma
das entrevistadas tenta explicar como ela consegue ter tal percepção:
P2:
“
O professor percebe, a gente não sabe, eu não sei te falar ao certo como que a gente
percebe, mas no dia a dia você consegue perceber uma criança que está com preguiça e uma
criança que realmente não dá conta. Você tem que estar em cima, facinho de conhecer, se ficar
um mês com a criança você já percebe isso nela.
”
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O mesmo ocorre com uma profissional de apoio que relata ter dois alunos disléxicos
que não têm laudo. Ao ser questionada sobre como ela sabe disso, já que eles ainda não foram
avaliados pelo profissional de saúde, ela justifica com base em sua experiência na educação
inclusiva:
PA1:
“
O que acontece, você vai trabalhando com as crianças, um pouco você vai
entendendo porque você lê, você começa a correr atrás, começa a buscar. Por que o aluno
aprende assim e logo esquece? Então eu falo disléxico, apesar de eu não ser médica (risos), não
sei nada, sou só professora, mas, assim, de observar outros que tem laudo que tinham a mesma
dificuldade e você cansar, quase implorar para o pai e a mãe levar, não levou. Não levou no
médico para confirmar, mas, assim, nesse sentido.
”
Ou seja, é como se o professor/profissional de apoio fizesse um diagnóstico prévio, o
que estigmatiza a criança antes mesmo dela ser classificada pelo laudo. Essa fala também
apresenta um estigma em relação à profissão de professor: “eu não sei de nada, sou só
professora”. Além do est
igma que recai sobre o aluno, também há um estigma em relação ao
trabalho de professor, como se fosse um profissional de categoria inferior em relação a outros
profissionais e, ainda, como se o saber pedagógico não fosse capaz de auxiliar o professor ou o
profissional de apoio a lidar com o obstáculo apresentado. Esse ponto lança luz para a
compreensão do porquê os professores buscam nos profissionais de saúde a resposta para os
problemas enfrentados na sala de aula, uma vez que o saber médico possui um
status
em nossa
sociedade.
É interessante apontar também outro estigma que aparece nos relatos, o da criança
preguiçosa. Ou seja, se o aluno não faz o que é esperado é porque não consegue mesmo, tem
dificuldade de aprendizagem, ou porque é preguiçoso. Abaixo, o relato do profissional de apoio
2 sobre uma das crianças que ele acompanha e que possui laudo:
PA2:
“
[...]ele é inteligente, consegue fazer as coisas, mas a preguiça não deixa. Porque
ele chega em casa e quer fazer outras coisas, quer jogar videogame, quer mexer no celular e
acaba esquecendo de fazer as obrigações.
”
Já a professora 2 fala sobre a capacidade de diferenciar a criança preguiçosa daquela
que tem dificuldade de aprender:
P2:
“
Agora, tem aquelas crianças preguiçosas, o professor reconhece, a preguiçosa, eu
vou ser sincera, tem umas crianças, elas são preguiçosas. Tem preguiça, porque hora que você
chama a atenção dele, tem criança que pode deixar até sem recreio, aí no outro dia ele vem e
faz, porque você reconhece e sabe que ele não tem dificuldade, tem preguiça, isso aí o professor
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neoliberal
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reconhece facinho no aluno, o aluno que tem preguiça e aquele que não tem preguiça, que é
porque ele tem dificuldade mesmo.”
A análise desse tema mostrou a presença marcante de estereótipos sobre crianças com
transtorno mental e com “
dificuldade de aprendizagem
”, concepções biologicistas, médicas,
psicológicas, sobre fenômenos sociais e visões preconceituosas em relação a pobreza e a origem
familiar dessas crianças. Além disso, essa análise aponta o desconhecimento dos professores e
profissionais de apoio de um contexto histórico e econômico que cerca o desenvolvimento da
escola brasileira com suas desigualdades.
Em muitos momentos as falas dos participantes remetem ao conceito de educação
“bancária” de Paulo Freire (2019) segundo a qual “[...] a única margem de ação que se oferece
aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-
los.” (p. 80
-81). O processo
de aprendizagem das crianças se resumiria então nessa capacidade de arquivar os conteúdos
que foram passados.
Assim, o discurso sobre a necessidade dos laudos para diagnosticar, “descobrir” o que
o aluno tem, não parece favorecer o percurso escolar das crianças como o discurso atual tenta
justificar. Pelo contrário, o que se apresenta é um processo crescente de culpabilização dos
indivíduos pelo seu fracasso.
A ideologia neoliberal infiltra seu discurso do talento, da aptidão e da busca pelo sucesso
nos mais variados contextos, incluindo na educação. Esse cenário de constituição das
subjetividades tem como foco um mercado de trabalho competitivo no qual os trabalhadores
são valorizados pela produtividade e capacidade de realização de múltiplas tarefas.
Saviani (2005) aponta que essa visão produtivista da educação se desenvolveu em dois
momentos: no primeiro (entre 1950 e 1970) ganha destaque a pedagogia tecnicista, a qual
aprofundou tendências que já vinham sendo desenvolvidas no escolanovismo. Essa pedagogia
tentava transpor para a escola as características de objetivação do trabalho como acontecia nas
fábricas a partir de um modelo taylorista-fordista.
6
Já no segundo período, final dos anos 1980,
com as reformas neoliberais, o modelo de educação deveria atender a um funcionamento
toyotista
7
de mercado: flexibilização e diversificação da organização escolar, visando um
trabalhador adaptável a realização de múltiplas tarefas para uma produção diversificada de
acordo com a demanda.
6
Esse modelo se caracterizava pela produção em massa de bens homogêneos que exigia dos trabalhadores a
realização mecânica de uma única tarefa.
7
O Toyotismo caracteriza-
se por uma produção mais “personalizada” que visa atender demandas individuais de
consumo, portanto espera um trabalhador versátil que possa realizar múltiplas tarefas.
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Andreia Alves CASTRO e Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
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Nos dois momentos, o objetivo é atingir o máximo de resultados com o mínimo de
despesa, aumentando assim os lucros. Nesse Estado Neoliberal, os serviços educacionais
passam a ser financiados e organizados pelas grandes empresas na área de educação, enquanto
o Estado assume um maior controle das avaliações institucionais para garantir uma educação
mínima que forme os trabalhadores necessários a esse cenário. Assim, Saviani ressalta as
transformações no mundo do trabalho e na educação provocadas pelas transformações no
capitalismo (SAVIANI, 2005).
Nesse contexto produtivista, o objetivo é a empregabilidade, assim o indivíduo deve
adquirir os conhecimentos, habilidades e competências que o tornem um bom candidato ao
mercado de trabalho, mas que não garantem de fato o emprego. Com isso, os indivíduos
precisam tornar-se empregáveis e, caso não consigam, eles serão os únicos responsáveis por
sua condição de fracasso, ou seja, o sujeito é responsável por não atingir a inclusão, uma vez
que lhe foram ofertadas inúmeras possibilidades. Esse processo Saviani (2011) chamou de
“pedagogia da exclusão” (p. 431).
Portanto, seguindo essa linha, os discursos sobre os laudos
apontam para uma concepção adaptativa dos sujeitos, uma vez que diagnosticados e em
tratamento podem se tornar o aluno adequado ao projeto neoliberal de educação.
Os estereótipos presentes nos discursos: Algumas considerações
Percebe-se que apareceram nos relatos muitos adjetivos e substantivos usados para se
referir aos alunos, não só àqueles que possuem laudo, mas aos alunos que apresentam
dificuldades em geral. Por meio do Quadro 2 é possível observar de forma mais clara o quanto
e quantos estereótipos têm marcado a vida escolar dessas crianças.
Quadro 2
–
Termos usados na descrição dos alunos
8
Palavras usadas para descrever/qualificar alunos
com ou sem dificuldades de aprendizagem
Número de vezes que aparecem no discurso dos
entrevistados
Agressivo
21
Inclusivo/ de inclusão
12
Síndrome
12
Preguiçoso
11
Retardo
8
(não)Normal
8
Lento
6
Agitado
6
Nervoso
5
8
Foram contabilizadas todas as formas em que uma mesma palavra apareceu: masculino (plural e singular),
feminino (plural e singular), diminutivo, substantivo, adjetivo. A palavra só foi contabilizada quando usada em
contexto que se referia especificamente à criança.
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neoliberal
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Inteligente
4
Laudado / Laudo
4
Custoso
3
Acelerado
3
Esperto
2
Deficiência
1
Desatento
1
Estressado
1
Fraco
1
Fonte: Castro (2021)
Essas palavras demonstram que a visão do professor em relação ao aluno fica fixada
nessas características, dificultando que o aluno possa ser visto para além de seu diagnóstico.
Além disso, demonstram uma série de expectativas que são alimentadas em relação a essas
crianças e seu desempenho e comportamento na escola.
No campo da Psicologia a utilização da classificação psicopatológica por meio de
manuais, como o
DSM-V
, para diagnóstico precoce de crianças, tem sido motivo de críticas
contundentes por parte de alguns autores. As categorias nosográficas passam a ser o meio pelo
qual a criança será classificada, partindo de uma descrição sintomatológica calcada em uma
concepção médica. Soma-se a isso o fato de que o desenvolvimento posterior da criança ficará
marcado por esse diagnóstico que direcionará o olhar dos adultos que cercam esse indivíduo.
Nesse sentido, acredita-se que o papel da psicologia não pode ser o de favorecer
processos de exclusão, nem mesmo de buscar alinhar os indivíduos a padrões de normalidade
estabelecidos socialmente, mas de buscar um olhar sobre o sujeito levando em consideração
sua singularidade. A psicologia escolar/educacional não pode estar comprometida com uma
concepção de homem médica e que atribui as causas dos fenômenos educativos a supostas
deficiências do aluno. Pelo contrário, a psicologia deve pautar-se numa concepção crítica e
historicamente fundamentada da realidade social e, ainda, contribuir com a desconstrução de
ideias fixas e estereótipos que assujeitam os indivíduos.
Portanto, cabe compreender a inclusão como um processo multideterminado, incluindo
os aspectos históricos, sociais e econômicos envolvidos. Porém, o que se observa nas atuais
tendências neoliberais é o foco no indivíduo, a “criança
-
problema” diagnosticada pela
psicologia/psiquiatria e que necessita ser adaptada. Sob o discurso da consideração pelas
diferenças individuais, o que se processa ao fundo é a exclusão velada da criança que,
supostamente, não aprende.
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Andreia Alves CASTRO e Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
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Considerações finais
A partir dos dados analisados nessa pesquisa, observou-se que os laudos não estão a
serviço de uma melhor aprendizagem das crianças, uma vez que os discursos sobre eles
apontam para uma finalidade médica, e não pedagógica. Ao contrário de promover a inclusão
da criança e auxiliar nos avanços da aprendizagem, o que se observou foi o crescimento de um
estereótipo, s
endo que o aluno “laudado” é identificado como menos capaz.
Firmada nas concepções de ciência e indivíduo discutidas anteriormente, a sociedade
neoliberal apresenta uma relação entre os interesses econômicos presentes na sociedade
capitalista com as políticas de educação inclusiva, as quais tem suas bases nas propostas de
organismos internacionais. Dessa forma, caracteriza-se um uso ideológico da educação, como
observado no movimento Escola Nova.
Portanto, o ideário neoliberal reforça por meio da própria educação a ideia de que o
sujeito é responsável por seu sucesso ou fracasso; reforça a concepção de um indivíduo
produtivo, que “corre atrás” e que é finalmente reco
mpensado por seu esforço. Esse é o modelo
de indivíduo que o pensamento neoliberal visa construir. Desse modo, um instrumento como o
laudo que se baseia nas características individuais, pode servir como justificativa para
culpabilizar o sujeito por seu insucesso, mas, também, para aplicar os devidos tratamentos que
possam “corrigir as falhas”
e tornar esse indivíduo útil ao mercado de trabalho como mão de
obra.
Embora a política educacional e a estrutura econômico-social em que se insere a
sociedade atual não tenha interesse em garantir uma educação democrática e que alcance todos
os brasileiros, isso não impede que os profissionais da educação, os psicólogos, os médicos,
dentre outros profissionais, assumam uma postura contrária ao
status quo
e contribuam para
uma educação mais humanizada. É somente com um olhar crítico sobre a realidade e colocando
um ponto de interrogação sobre assuntos que estão naturalizados no cotidiano que se pode
promover alguma mudança, considerando que a mudança se dá dentro de um processo histórico
composto muito mais por perguntas do que por respostas.
Considerando ainda a historicidade dessa pesquisa, ela apresenta algumas limitações
quanto ao universo da pesquisa, uma vez que foi realizada em período pandêmico e o acesso
aos professores e profissionais de apoio estava comprometido. Dessa maneira, as narrativas
apresentadas podem apresentar alguns vieses em relação à população estudada, uma vez que
apenas profissionais de escolas públicas foram consultados.
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neoliberal
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Apesar disso, acreditando na possibilidade de mudanças, esse trabalho aponta para a
importância do desenvolvimento de pesquisas no âmbito da educação inclusiva que
demonstrem as repercussões e o impacto do neoliberalismo na formação de crianças com
supostos transtornos mentais e/ou dificuldades de aprendizagem que sofrem com os
estereótipos impostos socialmente. Assim, essa pesquisa lança um olhar provocador para a
temática visando a continuidade desse estudo e instigando a abertura de questionamentos que
produzam um maior número de pesquisas futuras.
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O estigma presente nos discursos de professores sobre laudos e a relação com as queixas escolares: Análise a partir de um contexto
neoliberal
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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CASTRO, A. A.; VILELA-RIBEIRO, E. B. O estigma presente nos discursos de professores
sobre laudos e a relação com as queixas escolares: Análise a partir de um contexto neoliberal.
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Submetido em
: 22/07/2022
Revisões requeridas em
: 05/09/2022
Aprovado em
: 08/11/2022
Publicado em
: 30/11/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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The stigma in teachers' speech about reports and the relationship with school complaints: Analysis from a neoliberal context
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16203 1
THE STIGMA IN TEACHERS' SPEECH ABOUT REPORTS AND THE
RELATIONSHIP WITH SCHOOL COMPLAINTS: ANALYSIS FROM A
NEOLIBERAL CONTEXT
O ESTIGMA PRESENTE NOS DISCURSOS DE PROFESSORES SOBRE LAUDOS E A
RELAÇÃO COM AS QUEIXAS ESCOLARES: ANÁLISE A PARTIR DE UM
CONTEXTO NEOLIBERAL
EL ESTIGMA PRESENTE EN LOS DISCURSOS DOCENTES SOBRE INFORMES Y
LA RELACIÓN CON LAS QUEJAS ESCOLARES: ANÁLISIS DESDE UN CONTEXTO
NEOLIBERAL
Andréia Alves de CASTRO
1
Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
2
ABSTRACT:
This work deals with conceptions about children with reports and learning
difficulties. The objective was to analyze the speeches about the reports as a solution to
complaints of learning difficulties. Interviews were carried out with teachers and support
professionals from the public school system in a city in the interior of Goiás. The interviews
were transcribed and, subsequently, a content (thematic) analysis was performed. From the
selection of central themes in the interviewees' discourse, six categories were created and the
category “Conceptions about reports and children with learning difficulties” will be presented
here. In the speeches, a strong influence of the medical and biological conception of learning
problems was observed, in addition to stereotypes and prejudices in relation to children with
mental disorders and/or learning difficulties. A critical look on the part of professionals who are
involved in education are necessary, so that they can overcome decontextualized conceptions
of the subject from the social, economic, political and educational scenario to achieve inclusive
education.
KEYWORDS:
Mental
disorders. Learning difficulty. Inclusive education. Stigma.
Neoliberalism.
RESUMO
: Esse trabalho buscou compreender concepções sobre as crianças com laudos. O
objetivo foi analisar os discursos sobre os laudos como solução para queixas de dificuldades
de aprendizagem. Foram entrevistados professores e profissionais de apoio da rede pública de
ensino em uma cidade no interior de Goiás. As entrevistas foram transcritas e, na sequência,
foi feita uma análise de conteúdo (temática). A partir das temáticas centrais nos discursos dos
entrevistados, foram criadas seis
categorias e aqui será apresentada a categoria “Concepções
sobre laudos e crianças com dificuldades de aprendizagem”.
Observou-se, nos discursos, forte
influência da concepção médica e biológica dos problemas de aprendizagem, além de
1
Federal University of Goiás (UFG), Goiânia
–
GO
–
Brazil. Psychologist. Master's degree in Education (UFG-
Regional Jataí). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7924-1354. E-mail: psi.andreiaalves@gmail.com
2
Federal University of Jataí (UFJ), Jataí
–
GO
–
Brazil. Professor. PhD in Chemistry (UFG). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-9470-509X. E-mail: eveline_vilela@ufj.edu.br
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Andreia Alves CASTRO and Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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estereótipos e preconceitos em relação às crianças com transtornos mentais e/ou dificuldades
de aprendizagem. É necessário um olhar crítico dos profissionais que se inserem na educação
para superar concepções de sujeito descontextualizadas do cenário social, econômico, político
e educacional para, então, alcançar uma educação inclusiva.
PALAVRAS-CHAVE
: Transtornos mentais. Dificuldade de aprendizagem. Educação
inclusiva. Estigma. Neoliberalismo.
RESUMEN:
Este trabajo buscó comprender las concepciones acerca de los niños con informes
y dificultades de aprendizaje. El objetivo fue analizar los discursos sobre los informes como
solución a las quejas de dificultades de aprendizaje. Fueron entrevistados docentes y
profesionales de apoyo del sistema escolar público de un municipio del interior de Goiás. Las
entrevistas fueron transcritas y, posteriormente, se realizó un análisis de contenido (temático).
A partir de los temas centrales en el discurso de los entrevistados, se crearon seis categorías y
aquí se presentará la categoría “Concepciones sobre relatos y niños con dificultades de
aprendizaje”. En los discursos se observó una fuerte influencia de la concepción médica y
biológica de los problemas de aprendizaje, además de estereotipos y prejuicios en relación con
los niños con trastornos mentales y/o dificultades de aprendizaje. Es necesaria una mirada
crítica de los profesionales que están involucrados en la educación, para superar concepciones
descontextualizadas del sujeto desde el escenario social, económico, político y educativo, para
obtener una educación inclusiva.
PALABRAS CLAVE:
Trastornos mentales. Dificultad de aprendizaje. Educación inclusiva.
Estigma. Neoliberalismo.
Introduction
Inclusive Education (IE) policies have marked, since the 1990s, an advance in the
education of children and adolescents with disabilities. The Salamanca Declaration (BRASIL,
1994) is a milestone for the introduction of these policies, arguing that all children should have
access to regular education, and it is up to the school to adopt a pedagogy that meets the needs
of each child. It also affirms inclusion as an effective instrument in the fight against
discrimination and capable of promoting an Education for All (BRASIL, 1994). Inclusive
Education is not restricted to the insertion of students with disabilities, but presupposes a
concept of democratic and quality education that is not based on principles of differentiation
and exclusion (MARINHO; OMOTE, 2017).
Despite the increase in enrollment in regular education classes between 1998 and 2013,
in the Brazilian context (BRASIL, 2014), there is a continuity of a process of exclusion of
children who do not have the learning characteristics expected by the school. These
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The stigma in teachers' speech about reports and the relationship with school complaints: Analysis from a neoliberal context
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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expectations have been based on criteria of productivity and development of competencies as
provided for in the pedagogy of competencies.
It should be noted that legal provisions ensure the implementation of inclusive policies
in institutions, however they do not guarantee the real functioning of an inclusive school.
Oliveira e Araújo (2017), in research on the production of the disabled subject, realized that,
although the discourse of inclusion was adopted by teachers, practices, in general, are based
only on a physical insertion of the student in the classroom that does not promote an effective
inclusion in the teaching and learning processes. Thus, the authors question the practices that
are under the discourse of inclusive education, which, however, end up masking processes of
exclusion of students with disabilities (OLIVEIRA; ARAÚJO, 2017).
In addition to students with disabilities, another class of children has grown in inclusive
education: students classified with mental disorders and/or learning disabilities. Studies indicate
a frequent production of psychological and/or psychiatric reports for children who supposedly
have learning difficulties, which have been used in the field of education as an attempt to
respond to behavior and learning problems without, however, considering broader aspects such
as socioeconomic, pedagogical and schooling processes in the production of school failure
(BAUTHENEY, 2011; BENEDETTI
et al
., 2018; RAMOS, 2014; SILVA; MOLERO;
ROMAN, 2016). These studies have focused especially on the relationship between two fields
of knowledge: Education and knowledge "Psi" (psychiatry, psychopediatrician, psychology,
neuropsychology, psychopedagogy). Such studies have shown that the reports and the
application of psychological and/or psychiatric treatments indicated to children with learning
difficulties act in the modification and containment of child behaviors that bother in the school
environment.
Resolution no. 6 of 2019 of the Federal Council of Psychology - CFP defines the
psychological report as a document resulting from a process of psychological evaluation and
whose purpose is "to support decisions related to the context in which the demand arose" (CFP,
2019, n.p.). Also in this article, it is found that the psychological report "presents technical and
scientific information of psychological phenomena, considering the historical and social
conditions of the person, group or institution attended" (n.p.).
The effect is that, through this psychopathological classification undertaken in the health
field, the school is dismembered from its teaching relationship with this student. The discourse
on school failure ends up falling on the child and being legitimized by medical knowledge
through the reports (BAUTHENEY, 2011), which corroborates the process of exclusion of
these children.
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Andreia Alves CASTRO and Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16203 4
Based on these discussions, the research problem was formulated as follows: how does
the discourse about reports and their relationship with school complaints interfere in the
education of children within the neoliberal context? With this problem in mind, the objective
of this work was to analyze the discourses of teachers and support professionals about the
reports as a solution to the complaints of learning difficulties of students in early childhood
education, taking into account the context of a neoliberal society.
Método
This is a registered and approved research by the Ethics Committee of the Federal
University of Goiás (UFG), under opinion 1,702,878, organized as an exploratory study based
on the qualitative approach of research (TRIVIÑOS, 2017), having as a method of data
collection the semi-structured interview in a city in the interior of Goiás.
The participants of the interview were selected according to the following criteria: being
a teacher and teaching in a public school or being a support professional in a public school;
accept the conditions set out in the Informed Consent Form (TCLE). Two pedagogues and two
support professionals working in public schools with children presenting a medical and/or
psychological report diagnosed in the field of mental disorders described in chapter V of the
Tenth Revision of the International Classification of Diseases (ICD-10) (WHO, 1993) or in the
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders 5th edition (DSM-V) (APA) participated
in the study. 2014). Participants were linked in two different schools, one teacher and a support
professional from school A and one teacher and a support professional from school B. They all
worked in classes of 3rd and 4th grade of elementary school I, in which there are children with
the following types of reports: mild autism, unspecified conduct disorder, moderate mental
retardation
3
, spastic quadriplegic cerebral palsy
4
, infantile autism, and epilepsy
5
. In addition to
these, there are also those who, even if they do not present any report, are called by teachers
"students with learning difficulties" (sic.).
Semi-structured interviews were used so that the interviewees answered freely
according to their knowledge and experiences. The interview was applied individually with
each of the participants in a meeting, obeying and respecting the precepts established by the
Ethics Committee. It was recorded in audio through a voice recorder and later transcribed.
3
Currently called intellectual disability (DI).
4
Set of conditions that affect movement and posture, characterized by muscle stiffness and difficulties in
movement.
5
These classifications were found in the school archives, and some children have more than one diagnosis.
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The stigma in teachers' speech about reports and the relationship with school complaints: Analysis from a neoliberal context
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16203 5
Data analysis was based on content analysis (CA) proposed by Bardin (2016). From the
exploratory reading of the data, key words that summing up the interviewees' perceptions about
the subjects were marked, creating categories from their analysis. This thematic-category
analysis led to the creation of six categories, which present relevant aspects shown in the
transcribed discourses of the participants, totaling six categories. The category "Conceptions
about reports and children with learning difficulties" will be presented in this paper. The
discussion of the results is done qualitatively, dialoguing with the theoretical references
presented.
Results and Discussion
Conception of teachers and support professionals on reports and children with learning
difficulties
Table 1 presents conceptions about children with "learning difficulties", implicit in the
discourses of teachers and support professionals. The analysis of this theme is one of the most
relevant aspects of the research, since a biological conception about learning and a univocal
view of the subject, rooted in prejudice against children from the lower layers of society, was
delineated throughout the participants' discourses. Below is the table with the participants'
conceptions on the subject.
Table 1
–
Thematic analysis of the conceptions of teachers and support professionals about
reports and children with learning difficulties
Participants
Thematic analysis
P1
Children with a report can learn, despite their difficulties. They can keep up with the rest of
the class.
Although they can learn, the support professional is necessary for children with attention
deficit.
P2
The main reasons for the non-learning of some children are: teacher failure, student's own
characteristic and/or educational system failures. Children have learning difficulties even if
they do not have a disorder and/or disability.
Even "ordinary" children (sic) are coming “weaker” (sic).
Some children with a report can do their activities on their own.
The child with learning disabilities has a "blockage" (sic). The brain can't keep the information
learned in class.
Teachers perceive when the child has cognitive difficulties.
PA1
When the student is giving trouble at school, parents are asked and instructed to seek help
from a professional to find out what the child has. If the student does not do the treatment he
does not learn and can fail.
The report provides the diagnosis and, thus, the beginning of treatment (drug, psychological,
among others), which favors the child's school development.
Parents should seek knowledge about the child's disorder and/or disability.
Students with disabilities are slower in learning and will not acquire the same skills as the
children. If they acquire responsibility skills, learning some content and knowing how to read
and write would be enough.
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Andreia Alves CASTRO and Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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PA2
He perceives his students as smart and can make things on their own, but they wait for your
help to have him around.
It considers that the problem of its students is behavioral and not learning.
Adapts activities by reducing the amount so that the child can keep track of colleagues.
Students with learning disabilities are those who know, but take longer to learn the content.
Source: Castro (2021)
To begin this analysis, the following are excerpts from the pa1 and P2 statements that
denote an organic conception of learning:
PA1:
"They were students who were already in the second year in the same grade and
having the same difficulties. And they were bad students? No, they were great students, caring,
paying attention, but unfortunately it doesn't help, the brain doesn't help. So, you have to know
what it is. "
P2:
"It's like you didn't work it out, it looks like he's got a blockage, his brain can't[...]
it seems that his memory only has the instant, does not stay for the other day, so this I consider
a learning difficulty. "
In addition to both of which make it clear that learning depends on the student's brain,
in his speech, PA1 reinforces the need to "know what it is" (sic.), that is, to identify what
problem this child has, what is done by referral to the health professional, doctor and/or
psychologist.
Participants also expressed the notion that students with difficulty have a slower pace
of learning compared to other peers, as can be seen in the discourses below:
PA1:
"[...] I think what's really out there is because they have a slow learning process,
everyone who has syndrome, a slow process. "
P1:
"Some children go in a click, as they say, others already take longer to learn, I see
it this way. "
PA2:
"The teacher had passed 15 lines to the others, I said 'we'll do five' that gave him
time to accompany the other colleagues. "
Teacher P2 when comparing her work in private school and public school comes to the
conclusion that public school students are slower:
P2:
“
And here if you go to work the same content the kids have difficulty, I take content
that I worked, if you put for them to do, they do not. I have to go slow with them. "
At the beginning of the interview, when talking about the reasons why all students are
not able to be learning as they would like, the teacher had presented a more comprehensive
view, taking into account other factors besides the individual aspects of the student:
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The stigma in teachers' speech about reports and the relationship with school complaints: Analysis from a neoliberal context
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
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P2:
"There are several factors, it can also be the teacher's fault, sometimes he did not
know, did not find out what is the way that student has to learn and also comes from the student
from home too, has students who have a block, already comes with himself that and also the
system itself, there is time that the room is super crowded, have students who have several
problems inside the room and don't have the support, so are
multiple
problems. So, I can't say
it's just teacher failure, it's a whole system's failure. "
Nevertheless, throughout the interview, the teacher presented an a-historical conception
of education, disconnected from the broader social context. Comparing the performance of
students from the public network with that of private school students as if they were on equal
terms shows a decontextualized perspective of the situation. Patto (1997), in his criticism of the
practices of evaluation of children in schools, lists several aspects of social, political and
economic order that are hidden, under penalty that its revelation deconstructs a set of ideas that
support the practice of a science with a bourgeois ideological bias. The author points out that
there is no knowledge of reality that is uncompromised, therefore, every analysis, every way of
thinking (and teaching) is anchored in a conception about this reality and when this conception
Disregards the process of historical constitution of certain knowledge, to which and to whom it
serves, the consequences are disastrous.
An alienated educational practice, which is unaware of its foundations, is incoherent and
contradictory. The work became disinvested from its essential characteristic, teaching, and
learning (or learning difficulties) assumed the leading role, as proposed by the escolanovista
model. In the answer below, the teacher's difficulty in basing the child learning process is noted:
P1:
"How does learning take place? Learning takes place through what he gradually
learns, that we pass on to them, they will... those who have more facility will learn faster, those
who do not have us will have to develop it in them for more... given time. Some children go in
a click, as they say, others already take longer to learn, I see it this way. "
Despite this difficulty, the aspects related to learning stand out in his discourse. It is
observed the great emphasis it gives on learning questions, as if the condition of learning or not
learning was a characteristic of the student, while the teaching processes are not mentioned:
P1:
"So it's a difficult thing for us to teach because we teach him a certain thing,
tomorrow he doesn't know, so every day we have to be coming back, it gives the impression
that we will never follow, that we will always be coming back with that student. Now I have
others, because I have three reports in the room, while the others do not, the others have their
limitations, their difficulties, but we realize that they go, they manage to have a little learning.
And then there's one who learns, he has a certain difficulty, but he likes to play a lot, he likes
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Andreia Alves CASTRO and Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16203 8
to talk, but he is able to learn, to accompany the class. So just one that I see that every day we
have to go back, we can never walk with it forward. "
Another contradiction that appears in this excerpt of the interview is the report that the
student "[...] is able to learn, to accompany the class." If it accompanies, why the differentiated
look? Shouldn't he be in the "group of those who learn"? This "certain difficulty" (sic) that he
presents and the very like to play and talk is what justifies the report? It is important to note
that in the use of the expression "I have three reports in the room" (sic), the teacher refers to
children using the substantive "reports", which mischaracterizes children as subjects and
reinforces the stigma of
diagnosed children.
Freitas and Garcia (2019) highlight the use of the word report in everyday school life,
which serves a variety of purposes: not only to ensure rights (if they do, and at what price!), but
also to justify segregation, the differential treatment. In addition, instead of a pedagogical
analysis, the idea of overcoming obstacles is superimposed when the student advances and,
when there is delay, this is justified by the fact that the child is praised (FREITAS; GARCIA,
2019). This polarized discourse between overcoming or lagging behind also hides the social,
economic and political relationships that constitute the process of schooling individuals and
places the focus on learning again to the detriment of teaching.
In the speech of a participant who, although she answered the interview as a support
professional, is also a teacher in another shift, it is possible to notice this difference between
“diagnosed” (sic.) and “normal” (sic.):
PA1:
What happens: children who are diagnosed seek the same thing as other children,
but in a different way, we have to see this difference in them. Sometimes we succeed and
sometimes we don't, but what do I expect from them [...] When I go to work with a child, first
I test them as much as possible, and I'm like that with my normal students too.
In addition to the “diagnosed” children, the “normal” ones also have problems. In two
moments, one with a teacher and the other with a support professional, they reveal a conception
about children today: they are “weak” and “accelerated”. The support professional also points
out that this acceleration comes
“by nature”. Therefore, there is no way out, because all children
have characteristics that hinder their learning process. This conception can be noted in the
speeches transcribed below:
P2:
“[...] with each passing day, children are coming to weaker peop
le, I've been
noticing that, even more so since I worked a long time in private and came to public, I felt the
shock, for me it was a shock.”
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The stigma in teachers' speech about reports and the relationship with school complaints: Analysis from a neoliberal context
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PA1:
“The children of today are very accelerated, not only those with syndrome, but all
children are accelerated nowadays. In the old days, when I had my daughters, my eldest
daughter was born quietly, my youngest daughter was born, for you to have an idea, stretching
her arms everywhere, she even turned over in bed two days after she was born. So, I always
say, these are children who are accelerated by nature.”
In this way, the focus on the learning condition is outlined in the participants' speeches
and, thus, the obstacles in the child's school path are interpreted from their deficits. The
propagation of a discourse whose focus is on the individual conceals the variety of vicissitudes
that compete in the schooling processes and leaves aside the aspect subject to intervention:
teaching.
The speeches also show a separation between normal and abnormal categories. In this
sense, Patto (2017, p. 88, our translation) alerts to the rooted conceptions that constitute human
subjectivity and that need to be continually contested:
Attention not only to external obstacles imposed by educational policy, but
also to the inevitable contradictions of all of us, rooted in our subjectivity as
products that we are of a society guided by a worldview undermined by
stereotypes and prejudices of various types, including a conception of
abnormality that has as reference a definition of normality that has been and
needs to continue to be contested.
Another aspect raised in the thematic analysis is the belief of the teacher/support
professional that he can identify which children have learning difficulties or some
disability/disorder that justifies treatment with health professionals. One of the interviewees
tries to explain how she manages to have such a perception:
P2:
“The teacher notices, we don't know, I can't tell you exactly how we notice, but in
everyday life you can see a child who is lazy and a child who really can't handle it. You have
to be on top, easy to get to know, if you stay with the child for a month, you already notice that
in him.”
The same occurs with a support professional who reports having two dyslexic students
who do not have a report. When asked how she knows this, since they have not yet been
evaluated by the health professional, she justifies based on her experience in inclusive
education:
PA1:
“What happens, you work with the children, you understand a little bit because
you read, you start to chase, you start looking. Why does the student learn like this and then
forget? So, I say dyslexic, even though I'm not a doctor (laughs), I don't know anything, I'm
just a teacher, but, like, watching others who have a report that had the same difficulty and you
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Andreia Alves CASTRO and Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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get tired, almost begging your father and mother take, did not take. Didn't take it to the doctor
to confirm, but, well, in that sense.”
That is, it is as if the teacher/support professional made a prior diagnosis, which
stigmatizes the child even before it is classified by the report. This speech also presents a stigma
in relation to the teaching profession: “I don't know anything, I'm just a teacher”. In addition to
the stigma that falls on the student, there is also a stigma in relation to the work of a teacher, as
if he were a professional of a lower category in relation to other professionals and, still, as if
pedagogical knowledge was not capable of helping the teacher or the support professional to
deal with the presented obstacle. This point sheds light on why teachers look to health
professionals for answers to problems faced in the classroom, since medical knowledge has a
status in our society.
It is also interesting to point out another stigma that appears in the reports, that of the
lazy child. That is, if the student does not do what is expected, it is because he cannot do it, he
has learning difficulties, or because he is lazy. Below, the report of the support professional 2
about one of the children that he accompanies and who has a report:
PA2:
“[...] he's smart, he
can do things, but laziness won't let him. Because he comes
home and wants to do other things, he wants to play video games, he wants to use his cell phone
and ends up forgetting to do his homework.”
Teacher 2 talks about the ability to differentiate lazy children from those with learning
difficulties:
P2:
“Now, there are those lazy children, the teacher recognizes, the lazy ones, I'll be
honest, there are some children, they are lazy. He is lazy, because when you call his attention,
there are children who can even leave without recess, then the next day he comes and does it,
because you recognize and know that he has no difficulty, he is lazy, that the teacher recognizes
easily in the student, the student who is lazy and the one who is not lazy, which is why he really
has difficulties.”
The analysis of this theme showed the marked presence of stereotypes about children
with mental disorders and with “learning difficulties”, biological, medical, psychological
conceptions, about social phenomena and prejudiced views regarding poverty and the family
background of these children. In addition, this analysis points to the lack of knowledge by
teachers and support professionals of a historical and economic context that surrounds the
development of the Brazilian school with its inequalities.
In many moments, the speeches of the participants refer to the concept of “banking”
education by Paulo Freire (2019) according to which “[...] the only margin of action offered to
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The stigma in teachers' speech about reports and the relationship with school complaints: Analysis from a neoliberal context
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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students is to receive deposits, keep
them and archive them.”
(p. 80-81). The children's learning
process would then be summarized in this ability to archive the contents that were passed on.
Thus, the discourse on the need for reports to diagnose, “discover” what the student has,
does not seem to favor the school path of children as the current discourse tries to justify. On
the contrary, what is presented is a growing process of blaming individuals for their failure.
Neoliberal ideology infiltrates his discourse of talent, aptitude and the pursuit of success
in the most varied contexts, including education. This scenario of constitution of subjectivities
focuses on a competitive labor market in which workers are valued for their productivity and
ability to perform multiple tasks.
Saviani (2005) points out that this productivist vision of education was developed in
two moments: in the first (between 1950 and 1970) technical pedagogy gained prominence,
which deepened trends that were already being developed in the escolanovismo. This pedagogy
tried to transfer to the school the characteristics of objectifying work, as it happened in factories,
based on a Taylorist-Fordist model.
6
In the second period, at the end of the 1980s, with the
neoliberal reforms, the education model should meet a Toyotist functioning
7
of market:
flexibility and diversification of the school organization, aiming at an adaptable worker to carry
out multiple tasks for a diversified production according to demand.
In both moments, the objective is to achieve maximum results with minimum expenses,
thus increasing profits. In this Neoliberal State, educational services are financed and organized
by large companies in the area of education, while the State assumes greater control of
institutional evaluations to guarantee a minimum education that trains the workers needed for
this scenario. Thus, Saviani emphasizes the transformations in the world of work and education
caused by the transformations in capitalism (SAVIANI, 2005).
In this productivist context, the objective is employability, so the individual must
acquire the knowledge, skills and competencies that make him a good candidate for the job
market, but that do not actually guarantee employment. With this, individuals need to become
employable and, if they do not succeed, they will be solely responsible for their condition of
failure, that is, the subject is responsible for not achieving inclusion, since he or she has been
offered numerous possibilities. This process Saviani (2011) called “pedagogy of exclusion” (p.
431). Therefore, following this line, the discourses on the reports point to an adaptive
6
This model was characterized by the mass production of homogeneous goods that required workers to
mechanically perform a single task.
7
Toyotism is characterized by a more “personalized” production that aims to meet individual consumer demands,
therefore it expects a versatile worker who can perform multiple tasks.
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Andreia Alves CASTRO and Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n.00, e022008, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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conception of the subjects, since diagnosed and undergoing treatment they can become the
appropriate student for the neoliberal education project.
The stereotypes present in the speeches: Some considerations
It is noticed that many adjectives and nouns used to refer to students appeared in the
reports, not only those who have a report, but students who have difficulties in general. By
means of Chart 2, it is possible to observe more clearly how much and how many stereotypes
have marked the school life of these children.
Quadro 2
–
Termos usados na descrição dos alunos
8
Words used to describe/qualify students with or
without learning difficulties
Number of times they appear in the interviewees'
discourse
Aggresive
21
Inclusive / Inclusion
12
Syndrome
12
Lazy
11
Delayed
8
(not)Normal
8
Slow
6
Euphoric
6
Nervous
5
Intelligent
4
Diagnosed/ Reported
4
Costly
3
Accelerated
3
Clever
2
Deficiency
1
Inattentive
1
Stressed
1
Weak
1
Source: Castro (2021)
These words demonstrate that the teacher's view of the student is fixed on these
characteristics, making it difficult for the student to be seen beyond his diagnosis. In addition,
they demonstrate a series of expectations that are fed in relation to these children and their
performance and behavior at school.
In the field of Psychology, the use of psychopathological classification through manuals,
such as the DSM-V, for the early diagnosis of children, has been the subject of strong criticism
by some authors. The nosographic categories become the means by which the child will be
8
All forms in which the same word appeared were counted: masculine (plural and singular), feminine (plural and
singular), diminutive, noun, adjective. The word was only counted when used in context that specifically referred
to the child.
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The stigma in teachers' speech about reports and the relationship with school complaints: Analysis from a neoliberal context
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classified, starting from a symptomatological description based on a medical conception. Added
to this is the fact that the child's later development will be marked by this diagnosis, which will
direct the gaze of the adults who surround this individual.
In this sense, it is believed that the role of psychology cannot be to favor exclusion
processes, nor even to seek to align individuals with socially established standards of normality,
but to seek a look at the subject taking into account its uniqueness. School/educational
psychology cannot be committed to a medical conception of man that attributes the causes of
educational phenomena to supposed deficiencies of the student. On the contrary, psychology
must be based on a critical and historically grounded conception of social reality and also
contribute to the deconstruction of fixed ideas and stereotypes that subject individuals.
Therefore, it is important to understand inclusion as a multidetermined process,
including the historical, social and economic aspects involved. However, what is observed in
current neoliberal trends is th
e focus on the individual, the “problem child” diagnosed by
psychology/psychiatry and who needs to be adapted. Under the discourse of consideration for
individual differences, what is processed in the background is the veiled exclusion of the child
who, supposedly, does not learn.
Final considerations
From the data analyzed in this research, it was observed that the reports are not at the
service of a better learning of the children, since the speeches about them point to a medical
purpose, and not a pedagogical one. Contrary to promoting the inclusion of the child and
assisting in learning advances, what was observed was the growth of a stereotype, with the
“diagnosed” student being identified as less capable.
Based on the previously discussed conceptions of science and the individual, neoliberal
society presents a relationship between the economic interests present in capitalist society and
inclusive education policies, which are based on proposals from international organizations.
Thus, an ideological use of education is characterized, as observed in the Escola Nova
Movement.
Therefore, the neoliberal ideology reinforces, through education itself, the idea that the
subject is responsible for his success or failure; reinforces the conception of a productive
individual, who “runs after” and who is finally rewarded for his effort. This is the model of the
individual that neoliberal thought aims to build. In this way, an instrument such as the report,
which is based on individual characteristics, can serve as a justification for blaming the subject
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Andreia Alves CASTRO and Eveline Borges VILELA-RIBEIRO
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for his failure, but also for applying the appropriate treatments that can “correct the flaws” and
make this individual useful to the market. of work as a workforce.
Although the educational policy and the economic-social structure in which today's
society is inserted are not interested in guaranteeing a democratic education that reaches all
Brazilians, this does not prevent education professionals, psychologists, doctors, among other
professionals, assume a position contrary to the status quo and contribute to a more humane
education. It is only with a critical look at reality and placing a question mark on issues that are
naturalized in everyday life that one can promote any change, considering that change takes
place within a historical process composed much more of questions than answers.
Also considering the historicity of this research, it has some limitations regarding the
research universe, since it was carried out in a pandemic period and access to teachers and
support professionals was compromised. Thus, the presented narratives may present some
biases in relation to the studied population, since only professionals from public schools were
consulted.
Despite this, believing in the possibility of changes, this work points to the importance
of developing research in the field of inclusive education that demonstrate the repercussions
and impact of neoliberalism in the education of children with alleged mental disorders and/or
learning difficulties who suffer from socially imposed stereotypes. Thus, this research takes a
provocative look at the theme, aiming at the continuity of this study and instigating the opening
of questions that produce a greater number of future researches.
REFERENCES
AMERICAM PSYCHIATRIC ASSOCIATION.
Manual diagnóstico e estatístico de
transtornos mentais - DSM-V
. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.
BARDIN, L.
Análise de Conteúdo
. São Paulo: Edições 70, 2016.
BAUTHENEY, K. C. S. F.
Transtornos de aprendizagem:
Quando “ir mal na escola” torna
-
se um problema médico e/ou psicológico. 2011. Tese (Doutorado em Educação)
–
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Submitted
: 22/07/2022
Revisions required
: 05/09/2022
Approved
: 08/11/2022
Published
: 30/11/2022
Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação.
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