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Psicanálise e surdez: Subjetivdades da constituição subjetiva
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022018, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16738 1
PSICANÁLISE E SURDEZ: SINGULARIDADES DA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA
PSICOANÁLISIS Y SORDERA: SINGULARIDADES DE LA CONSTITUCIÓN
SUBJETIVA
PSYCHOANALYSIS AND DEAFNESS: SINGULARITIES OF THE SUBJECTIVE
CONSTITUTION
Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
1
RESUMO
: Este artigo tem como objetivo promover uma reflexão sobre as singularidades da
constituição subjetiva da criança surda filha de pais ouvintes. Para essa reflexão, descrevo
uma cena do curta-metragem “Crisálida” e, em seguida, analiso as singularidades da
constituição psíquica da pessoa surda, a partir das seguintes categorias: Sintomas psíquicos;
Interações entre pais ouvintes e filhos surdos e modos de apreensão das línguas, a partir de
pesquisas de psicanalistas ou pesquisadores que se fundamentam na psicanálise. Como
resultado, aponto o fato de que a dificuldade de comunicação entre os membros destas
famílias não impede a construção de laços afetivos, porém pode dificultar a negociação de
regras sociais, gerando conflitos nesta relação. Ademais, a entrada da língua de sinais no
contexto familiar parece funcionar para os pais como um resgate narcísico em relação ao
filho.
PALAVRAS-CHAVE
: Psicanálise. Surdez. Língua de sinais.
RESUMEN
:
Este artículo pretende promover una reflexión sobre las singularidades de la
constitución subjetiva del niño sordo hijo de padres oyentes. Para esta reflexión, describo
una escena del cortometraje "Crisálida" y seguidamente, analizo las singularidades de la
constitución psíquica de la persona sorda, a partir de las siguientes categorías: Síntomas
psíquicos; Interacciones entre padres oyentes e hijos sordos y modos de aprehensión de los
lenguajes, a partir investigaciones de psicoanalistas o investigadores que se basan en el
psicoanálisis. Como resultado, apunto al hecho de que la dificultad de comunicación entre
los miembros de estas familias no impide la construcción de vínculos afectivos, pero puede
dificultar la negociación de las reglas sociales, generando conflictos en este relacionamiento.
Además, la introducción de la lengua de señas en el contexto familiar parece funcionar para
los padres como un recurso narcísico en relación al niño.
PALABRAS CLAVE
: Psicoanálisis. Sordera. Lengua de senãs.
1
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas – SP – Brasil. Docente do Departamento de
Psicologia Educacional. Doutorado em Educação (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7805-1620.
E-mail: lilianrn@unicamp.br
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Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n.00, e022018, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16738 2
ABSTRACT
: The purpose of this paper is to reflect on the singularities of the subjective
constitution of deaf children born to hearing parents. In order to reflect on this subject
matter, I have described a scene from a short film called “Crisálida” and then analyzed the
singularities of the psychological constitution of deaf people, based on the following
categories: psychological symptoms; interactions between hearing parents and deaf children,
and the modes of language acquisition, based on research conducted by psychoanalysts, as
well as researchers who base themselves on psychoanalysis. As a result, I have pointed out
the fact that communication difficulties between family members do not prevent the
establishment of affective bonds, but they might hinder negotiations over social rules, which
creates conflicts in this relationship. Besides, the advent of sign language in the family
context appears to serve as a narcissistic rescue to the parents in relation to the child.
KEYWORDS:
Psychoanalysis. Deafness. Sign language.
Introdução
Este artigo busca refletir sobre as singularidades da constituição psíquica da criança
surda filha de ouvintes. Na relação destas crianças surdas com seus pais, a comunicação pode
estar comprometida, visto que a língua oral não é acessada de modo integral pelos filhos. Falo
das crianças com surdez profunda, congênita ou adquirida antes de um ano de idade. Para a
pessoa surda, a apreensão do mundo se dá de modo muito diferente do que para o ouvinte,
pois se realiza exclusiva ou majoritariamente pela visualidade. “Para os que experimentam a
condição surda, o sentido visual ocupa lugar central no processo relacional de criação,
interação e inserção no mundo” (LUZ, 2013, p. 18). Além disso, a representação do mundo
ocorre também por uma língua viso-gestual, quando o surdo é exposto à língua de sinais, o
que diferencia imensamente do modo de representação das pessoas ouvintes, que o fazem por
uma língua oral. Este artigo trata, portanto, de crianças surdas profundas que são imersas em
famílias ouvintes, que falam uma língua que elas não conseguem apreender de modo pleno. O
que questiono neste artigo é: Como uma criança surda se constitui subjetivamente? Como os
pais interagem com seu bebê que não ouve? Como o diagnóstico da surdez impacta os pais e
que marcas psíquicas esse impacto provoca na constituição da criança? Ao analisar as pessoas
surdas que em algum momento da vida adquirem a língua de sinais e, a assumem como sua
língua matriz, compactuo com Luz, a ideia de que: “Esse tipo de surdez é extremamente
relevante para compreender a base sensorial, linguística e relacional de sua constituição
psíquica e os modos pelos quais os surdos acontecem como alguém no mundo” (LUZ, 2013,
p. 18).
Para fazer a reflexão sobre a constituição subjetiva d
e crianças surdas, analisei
algumas cenas do curta-metragem “Crisálida” (CRISÁLIDA, 2016) e em seguida, tracei
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algumas categorias de análise a partir de publicações de psicanalistas que atendem pessoas
surdas, além de outros pesquisadores que se fundamentam na psicanálise para compreender o
fenômeno da surdez enquanto marca de subjetivação.
A arte imita a vida: Crisálida
O curta-metragem Crisálida, disponível no
YouTube
(CRISÁLIDA, 2016), mostra a
história do personagem adolescente Rubens que é surdo e tem pais ouvintes. Os pais fizeram a
opção pela oralização do filho, que não teve contato com a língua de sinais na infância.
A cena que destaco é de um momento entre pai, Mário, e o filho adolescente, Rubens.
Mário é marceneiro e trabalha construindo barcos. Na cena (CRISÁLIDA, 2016), Mário lixa
um pedaço de madeira e diz para o Rubens: -
Está bonito, né? Olha como está bonito!
O pai
passa a mão na madeira e o menino repete o movimento. E continua:
Por quê? Não pegar
farpa.
Em seguida o pai, mostra a lixa e articula silabicamente:
Li - xa
. Rubens repete com
uma articulação próxima à do pai, porém sem precisão fonética. O pai mostra a chave de
fenda e pronuncia novamente silabicamente:
cha-ve de fen-da
. Novamente Rubens tenta
repetir as palavras com articulação imprecisa.
A cena de cerca de 2 minutos retrata a relação entre o pai ouvinte e o filho surdo.
Embora Rubens não use a língua oral de modo preciso, nem Mário use a língua de sinais com
o filho há uma comunicação visual, na qual se revela uma identificação do filho com o pai. O
menino está atento à atividade do pai, olha com admiração, repete os atos e a fala do pai, o
que demonstra que busca um reconhecimento de seu progenitor. Sobre a necessidade de
reconhecimento, Fink (2018, p. 58, grifo nosso) afirma:
Durante a primeira infância, nossos cuidadores primários são de imensa
importância para nós, pois nossa vida está intimamente ligada à deles. Nós
lhes fazemos pedidos;
eles, por sua vez, pedem que nos comportemos de
certas maneiras, e não de outras, e que aprendamos muitas coisas: a falar
sua língua (usando palavras, expressões e gramática não criadas por nós)
e
a regular nossas necessidades de alimentação, calor, excreção etc. de acordo
com os horários deles. Essas pessoas são nossa fonte primária de atenção e
afeição, e é frequente tentarmos conquistar sua aprovação e seu amor,
conformando-nos a seus desejos.
Como afirma Fink (2018), toda cria
nça busca satisfazer a demanda de seus pais, pois
sabe que, quanto melhor o fizer, maior será a probabilidade de ser aceita, amada e aprovada.
Uma das demandas dos pais à criança é que aprenda a sua língua. No entanto, a criança surda,
por sua privação sensorial, não consegue espontaneamente se apropriar completamente da
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língua que é falada pelos familiares ouvintes. No curta “Crisálida”, há um conflito premente:
o pai se opõe veemente a que o filho aprenda Libras; já a mãe, vendo o insucesso do filho na
oralização, se dispõe a aprender Libras. A história vivida por muitas famílias compostas por
filhos surdos e pais ouvintes é parecida com a relatada no curta-metragem, o conflito envolve
mais do que uma dificuldade de comunicação, denota uma frustração dos pais por não
conseguirem legar aos seus filhos uma língua que lhes pertence, e por outro lado, um
sentimento de fracasso dos filhos por não conseguirem se adequarem a uma demanda de seus
pais, a de falar a língua deles, o que revela uma ferida narcísica parental.
A constituição subjetiva da criança surda
As pessoas surdas profundas, no contato com seus familiares ouvintes, vivenciam um
contexto social em que circula majoritariamente uma língua oral. Elas apreendem aspectos da
cultura ouvinte através das marcas visuais desta língua (observam os movimentos dos lábios,
as expressões faciais, percebem que há uma comunicação quando as pessoas falam). Dessa
forma, elas simbolizam e significam subjetivamente as marcas da língua oral que emergem
em suas famílias e na sociedade em geral.
No entanto, embora as crianças surdas sejam parte integrante de um grupo social em
que os sujeitos comunicantes (pais ou cuidadores) usam uma língua oral, há uma
particularidade no modo de se inserir na cultura, uma vez que a língua que, em geral, falam
seus pais não é plenamente adquirida pelo convívio social. Embora elas possam ver os
movimentos labiais e expressões faciais daqueles que lhes dirigem a palavra, essas marcas,
muitas vezes, são insuficientes para criar uma comunicação plena. Reitero a ideia de que
estou falando das crianças com surdez profunda, que nasceram surdas ou adquiriram a surdez
antes da aquisição da língua oral e que têm pais ouvintes.
Para descrever e analisar, portanto, as singularidades no modo de constituição
subjetiva das pessoas surdas, elenco três categorias: Sintomas psíquicos; interações entre pais
ouvintes e filhos surdos; modos de apreensão das línguas.
Sobre cada categoria, trago contribuições de pesquisadores e psicanalistas para tecer, a
partir delas, algumas reflexões.
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Sintomas psíquicos
Esta categoria tem como base a caracterização de sintomas apresentados por sujeitos
surdos. Para Freud (1916/1990), os sintomas são formações de compromisso, ou seja,
conciliações entre um desejo recalcado e sua realização. No texto
O sentido dos sintomas
, ele
afirma que a manifestação sintomática é rica em sentido, e que os sentidos, que só podem ser
revelados pelo próprio sujeito, estão relacionados às experiências vividas por ele. Embora o
sujeito não saiba nada sobre o sentido do seu sintoma, uma vez que ele é inconsciente, o
sintoma diz algo sobre a verdade desse sujeito.
Não há nenhuma diferença de tipos de sintomas apresentados por surdos e ouvintes,
nem uma maior prevalência de transtornos psíquicos nos surdos. Os sintomas que, em geral,
as pessoas surdas apresentam são as marcas psíquicas que a surdez promove nos sujeitos.
Essas marcas não são da surdez biológica, ou seja, da privação da audição, mas são
consequências do fato de estar no mundo como um sujeito que se diferencia da maioria dos
outros, desde seu grupo primário, em que se constitui sujeito.
Virole e Ibad-Ramos (2003) descrevem dados do atendimento de uma clínica
psiquiátrica especializada em crianças e jovens surdos na França pelo período de 20 anos. Os
autores afirmam que a surdez na criança, por si só, não é fator de causalidade de transtornos
psiquiátricos, porém é um fator de risco. Os autores afirmam a existência de uma
“pseudopsicose” em muitas crianças e jovens surdos e relatam que dois ou três casos de
crianças apresentadas como psicóticas são atendidos pela clínica todo ano. Os sintomas dessas
crianças são de estranheza de contato e de rejeição ao processo educacional. Os autores,
psiquiatras da clínica, descobriram que elas eram submetidas à reabilitação oral desde bem
pequenas, e seus pais e os profissionais envolvidos em sua educação não usavam a língua de
sinais na interação com elas. Concluíram, portanto, que o método educacional puramente oral
promovia as manifestações psíquicas da criança. Os sintomas eram removidos quando os pais
aceitavam a mudança do método educacional e passavam a usar a língua de sinais com o filho
surdo.
Virole e Ibad-R
amos (2003) relatam também que é muito comum a depressão infantil
nas crianças surdas. São casos em que a criança se apresenta triste e busca se esquivar dos
adultos educadores. Por estar relacionada às situações educacionais, os autores denominam
essa manifestação de “depressão escolar”, que, frequentemente, é consequência de uma não
consonância do método educacional com as necessidades da criança. Para os autores, “A
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dimensão sociocultural inerente à surdez é uma dimensão de principal compreensão da
psicopatologia dos surdos” (VIROLE; IBAD-RAMOS, 2003, p. 9).
Bremm e Bisol (2008) analisaram narrativas de adolescentes surdos, buscando
compreender os significados atribuídos à adolescência e à convivência surda. Psiquicamente,
qualquer pessoa, em sua adolescência, se depara com a necessidade de uma nova construção
identitária. O sujeito deixa de se identificar com os referenciais da família, principalmente
com os pais, com quem teve íntima identificação, para assumir novos valores. Para o jovem
surdo, a comunidade surda ocupa esse lugar de referência, e, com ela, a língua de sinais. Os
autores puderam perceber que, na adolescência, a língua de sinais adquire uma conotação
específica: ela deixa de ser somente uma língua natural de comunicação e passa a ser um
elemento identitário importante, pois “permite que ele se sinta membro de uma cultura
diferente e tenha a comunidade surda como um dos principais referenciais” (BREMM;
BISOL, 2008, p. 274).
Para Silva (2007), o sentimento de solidão e de estrangeiridade é também o traço de
sofrimento mais apontado pelos surdos analisados por ela. Segundo a autora, esse sentimento
tem relação com a impossibilidade de estabelecer identificações com os pais, uma vez que “a
pré-história desejante familiar não dá conta de construir um espaço identificatório consistente,
na medida em que não é decodificada plenamente pelo sujeito” (SILVA, 2007, [n.d.]). Como
a criança surda não tem acesso à língua que circula no ambiente familiar, há uma dificuldade
de compreensão das demandas dos pais, o que gera grande angústia.
A solidão novamente é mencionada como o sentimento vivenciado por surdos que
buscam a análise entre os entrevistados de Neves (2018). A pesquisadora entrevistou seis
psicanalistas que atendem surdos com uma escuta em Libras. A maioria deles mencionou que
esses analisandos se queixavam das dores decorrentes da dificuldade de comunicação, o que
fazia com que se sentissem solitários e estrangeiros. Eles também relatavam, com muita
frequência, sentimento de tristeza, depressão e melancolia (NEVES, 2018).
Os sintomas ou sofrimentos psíquicos que os surdos relatam não são consequência da
privação sensorial da audição, mas da impossibilidade ou dificuldade de se expressar e
entender a demanda do Outro. Como afirmou um entrevistado de Neves (2018, p. 45), “o
sofrimento deles não é por não ouvir. Contudo, algumas dores podem ser decorrentes da
dificuldade de comunicação. Por não encontrar alguém que fale a língua, sentem solidão”.
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Interações entre pais ouvintes e filhos surdos
A constituição subjetiva de qualquer pessoa ocorre por identificação com seus
cuidadores e outras pessoas com quem convive. No início da vida, as crianças estabelecem
identificações, principalmente na interação com seus pais, o que ocorre pelo olhar, pelo toque,
pelos cheiros e, essencialmente, pela linguagem.
Todo bebê nasce imerso na linguagem. Ele é simbolizado e idealizado antes de nascer
e, ao entrar no mundo, é cercado por falantes de uma língua que o acolhem e o introduzem
nessa língua e, deste modo, fazem-no também humano. Ao nascimento, é a mãe quem dá ao
bebê as condições necessárias à sobrevida, mas, diferentemente dos animais, a mãe humana
não só cuida da sobrevivência de seu filhote – mais que isso, dá a ele um status simbólico. Ou
seja, cada ser humano que nasce não é um bebê, mas “o bebê”, um sujeito especial para o
casal parental que recebe um nome e tem depositada sobre si uma gama de expectativas,
desejos e sonhos. Há um desejo que precede o bebê.
Há, porém, uma situação diferente: o caso do bebê surdo, que, embora imerso numa
família em que todos falam, não pode apreender os significados da língua que circula no
ambiente. Quando a criança é diagnosticada com surdez, todo um imaginário dos pais se
desfaz, pois o filho real não corresponde ao bebê idealizado durante a gestação. O bebê surdo
não encontra um desejo a ele referido enquanto singular, pois difere do filho esperado. Ocorre
uma reedição da própria infância quando uma mulher traz ao mundo um bebê, o que se dá por
um processo de regressão psíquica da mãe e de sua identificação com o bebê. Essa
identificação materna é essencial para a formação da subjetividade desse novo ser, e se
manifesta através dos cuidados essenciais com ele, na amamentação, na higiene, nos toques,
no pegar no colo, na fala carinhosa com o bebê. A mãe investe o bebê de uma esperança, faz
com ele uma idealização. Ela imagina que esse novo ser que ela gerou pode curar todas as
frustrações por ela vivenciadas. A criança é uma espécie de evocação alucinatória de algo
perdido em sua própria infância (a da mãe). Quando os pais recebem o diagnóstico da surdez
de seu filho, toda a idealização se desmorona, o bebê surdo, em geral, traz uma imensa dor
aos pais ouvintes. O diagnóstico da surdez pode causar um colapso narcísico, prejudicando o
estabelecimento da função materna e interferindo negativamente na relação com o filho
(SOLÉ, 2005).
Solé (2005) traça algumas características das interações dos bebês surdos com suas
m
ães. No caso de bebês ouvintes, a voz materna tem capacidade de restituir alívio ao bebê em
momentos de angústia e de dar sentido à experiência sensorial do bebê, como quando ele
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sente fome ou dor. A mãe fala com ele e o acalma, nomeando suas sensações. E, mesmo
quando está fora de seu campo visual, o bebê ouve a mãe falando com ele ou os barulhos dela
se aproximando, e isso o tranquiliza. Já o bebê surdo, por não ouvir a voz da mãe, é privado
desse estímulo organizador dos sentidos
(SOLÉ, 2005). Portanto, a integração do corpo do
bebê surdo ocorre exclusivamente via olhar, cheiro e expressões faciais, e ele precisa de um
esforço maior para realizá-la, uma vez que é privado da sensação auditiva da voz da mãe. Solé
compara que, nos bebês ouvintes, ouvir a voz da mãe enquanto ela está fora do campo visual
torna a ausência mais suportável, ao passo que, para os bebês surdos, isso não é possível.
Para o bebê surdo, os momentos de ausência materna podem ser excessivos,
considerando que fora de sua visão a mãe desaparece; a falta de audição não
permite ao bebê surdo antecipar a presença materna e diminuir os momentos
de ausência e de abandono. Esse abandono pode ser significado como
desamor e ser uma das causas dos traços depressivos percebidos (SOLÉ,
2005, p. 106).
Os traços depressivos a que se refere Solé (2005) foram observados por ela nos seus
analisandos surdos adultos, cujas causas a autora buscou nas primeiras experiências do bebê
no seu “berço psíquico”. Da mesma forma, Dalcin (2006) também buscou compreender como
os sintomas de solidão, dependência e dificuldades sociais dos jovens surdos a quem
entrevistou em sua pesquisa estavam atrelados à primeira infância. A autora atribui à
precariedade na comunicação muitas dessas características psíquicas.
Silva (2007) é psicanalista e realiza atendimento clínico de surdos profundos nascidos
em famílias ouvintes. Para ela, a principal questão na constituição subjetiva da criança surda é
o fato de a perda auditiva não lhe permitir apreender a língua materna (língua oral), portanto,
essa língua não serve para a sua socialização. A língua que permite a socialização da criança é
a língua de sinais, que aparece em idade tardia e é adquirida na interação com sujeitos adultos
pelo viés profissional, e não familiar. Mesmo que algo materno ultrapasse a criança,
permitindo um nível de subjetivação primário, esse algo está atrelado ao campo perceptual (o
que a criança consegue captar da realidade visível), e não ao campo simbólico (poder
comunicar algo fora do campo perceptual). E a língua de sinais, que permitirá o acesso ao
simbólico, não é adquirida por identificação no meio familiar, mas por intermédio de
terceiros, em geral, na escola.
Para Bisol e Sperb (2010), a questão do impacto do diagnóstico da surdez pode ser
e
xtremamente traumatizante para os pais: “A criança surda não consegue ocupar o lugar que
seus pais (se os pais forem ouvintes) imaginavam que ela ocuparia” (BISOL; SPERB, 2010,
p. 10). Essa impossibilidade de ocupar o lugar imaginado afeta as relações afetivas precoces.
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Por isso, os autores asseveram que a surdez convoca outros meios para que a constituição
psíquica do sujeito se dê. As identificações mais significativas ocorrem fora do ambiente
familiar, como no caso da pesquisa que realizaram com adolescentes surdos, em que puderam
perceber que essas identificações aconteceram no contato com outros surdos, na comunidade
surda.
Também Virole e Ibad-Ramos (2003) afirmam que pode ocorrer uma perda do
sentimento natural de mãe, que, ao saber que o filho é surdo, assume uma postura
reabilitadora (como se fosse responsável por “treinar” a fala do bebê). A mãe pode ainda se
tornar agressiva com o bebê surdo, que representa o seu fracasso em gerar um filho saudável.
É também comum que pais ouvintes tenham dificuldade em estabelecer limites para
seus filhos surdos, devido à pouca comunicação que ocorre entre eles. A criança surda não é
capaz de compreender a língua oral dos pais e, portanto, as suas demandas. Essa dificuldade
comunicativa pode produzir uma fragilidade na função paterna e no estabelecimento da “lei”.
Modos de apreensão da(s) língua(s)
Para a psicanálise, a constituição de um sujeito passa necessariamente pela inserção na
linguagem. Mannoni (1977) assevera que o nascimento de um sujeito está relacionado com a
ausência imaginária de um objeto e com a marca significante que assinala sua ausência. Isso
significa que a instauração de signos (significantes que exprimem objetos ausentes) configura
a entrada de uma criança na linguagem e seu nascimento como sujeito. É “essa entrada na
cadeia significante que converte a criança em sujeito” (MANNONI, 1977, p. 45). Pode-se
dizer que a formação do psiquismo é histórica e linguageira, instituindo-se pelas experiências
vividas e pela linguagem, na qual a criança é imersa. Para que o bebê se constitua como
sujeito, não basta ser alimentado e higienizado. Para constituir um sujeito, a presença do
adulto tem efeito de modelar as características subjetivas da criança.
É por esse motivo que há uma singularidade na constituição psíquica da criança surda,
p
ois o modo como a linguagem se estabelece na relação família ouvinte e criança surda é
bastante peculiar. Nessa relação, uma vez que a criança não ouve a voz da mãe, a linguagem
se dá de outro modo: pelo olhar, pelo toque, pelo cheiro, pelos movimentos da boca. O bebê
surdo constrói uma imagem de si como separado do adulto por essa linguagem visual, pelo
toque, mas, diferentemente das crianças ouvintes, a passagem para o simbólico, a entrada na
língua materna está fragilizada.
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A língua é materna porque nos faz nascer como sujeitos, é materna porque acolhe o
bebê e o insere na cultura. A maioria das mães (e em alguns casos, os pais) das crianças
surdas, sendo ouvintes, estabelecem uma forma de comunicação com seus filhos usando
gestos criados a partir das necessidades concretas vivenciadas dentro do lar. É claro que, se os
gestos criados nessa relação da família ouvinte com a criança surda permitem a comunicação,
podemos dizer que ali há uma língua precária. No entanto, essa comunicação é restrita aos
elementos presentes na situação vivenciada e não serve fora do ambiente familiar.
Denominada de “sinais caseiros” (ADRIANO, 2010), essa forma de comunicação se
revela precária e insuficiente. “[...]são extremamente restritos em seu repertório vocabular e
podem comunicar fatos somente no momento de sua ocorrência, tornando difícil relatar
acontecimentos passados e/ou assuntos que envolvam níveis de abstração” (ADRIANO, 2010,
p. 34).
Com essa comunicação precária, não é possível nomear, mesmo no espaço restrito à
família, os sentimentos (afetos, desafetos, medos, angústias, incertezas), uma vez que esses
gestos não permitem avaliar objetos ou experiências, dizer as qualidades ou defeitos daquilo
que se viu ou experimentou. Talvez possibilitem convencionar apenas sinais de bom e ruim,
com os gestos de polegar para cima ou para baixo, mas outros adjetivos não, como: suave,
delicado, grosseiro, divertido, animado, feliz, difícil, fácil, inteligente, interessante, bonito,
feio e tantos outros. Não permitem, também, falar sobre o tempo (ontem, hoje, amanhã,
passado, presente, futuro, aniversário, semana, mês, ano), nem explicar à criança os graus de
parentesco, muito menos a ausência de pessoas queridas, principalmente a “morte”.
Sobre o uso de sinais caseiros, Dalcin (2006, p. 2012) afirma: “A função de
maternagem e os sinais caseiros garantem uma entrada precária no simbólico, mas não lhes
possibilitam o deslize na cadeia significante e, consequentemente, a interação com seu
entorno linguístico-sócio-cultural”.
Portanto, esses gestos têm apenas valor comunicacional (de forma bastante restrita),
mas não expressivo. Por ser restrita ao meio familiar, na maioria das vezes, só da criança com
a mãe, é uma língua que não se universaliza e não permite ao surdo “dizer-se”.
Bremm e Bisol (2008) afirmam que a falta de uma língua compartilhada marca a
r
elação entre pais ouvintes e filho surdo. A comunicação precária nos primeiros anos de vida
e, às vezes, por toda a vida no seio familiar produz marcas significativas na sua subjetividade.
Os sujeitos entrevistados por esses autores buscaram, na adolescência, outras identificações
com a comunidade surda, que se tornaram mais fortes do que aquelas realizadas com os
membros da família.
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DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16738 11
A entrada da criança em uma escola em que circule a língua de sinais e a convivência
com outros surdos marca, para muitas crianças surdas profundas, o início da aquisição da
língua e da inserção na cultura, muitas vezes, em uma idade bem diferente do que ocorre com
as crianças ouvintes.
Embora ocorra tardiamente, a aquisição da língua de sinais marca positivamente a vida
dos surdos e de seus pais, permitindo a comunicação na escola e na família. A vivência em
uma escola bilíngue contribui para o desenvolvimento do sentimento de autovalorização.
Quando os pais se dispõem a aprender a Língua de Sinais traz um alívio, pois ao poder se
comunicar com o filho, resgatam sua possibilidade de negociar com eles as regras sociais,
passar-lhes informações, conversar sobre os sentimentos, e não somente usar gestos para as
coisas concretas e cotidianas.
Entrelaçando as categorias ao curta-metragem
Retomando o curta-metragem, busquei cenas em que as três categorias - sintomas
psíquicos; interações entre pais ouvintes e filhos surdos; modos de apreensão das línguas - são
explicitadas.
Categoria 1: sintomas psíquicos. Rubem, protagonista surdo do curta metragem, não
apresenta transtorno psíquico, porém é possível observar o sofrimento de Rubem na escola
por receber um tratamento hostil por parte dos colegas. A interação é permeada por chacotas,
desprezo, imitações, leves violências físicas. Os colegas, por não compreenderem a situação
de surdez, consideram Rubem um deficiente. É possível observar essa situação na cena em
que na aula de educação física, para a formação de times para o futebol, dois meninos
escolhem os jogadores. Os meninos deixam Rubem por último, dizendo que ele é “fraco”
(cena inicia em 11min5s). Durante o jogo, percebe-se que Rubem tem bom desempenho no
futebol, porém sua habilidade não é reconhecida pelo grupo.
Em um estudo de caso, a psicanalista Gladis Dalcin (2006) apresenta a narrativa de
t
rês jovens surdos filhos de pais ouvintes, que nasceram com surdez profunda e tiveram
contato com a língua de sinais apenas na adolescência. A autora afirma que as restrições
linguístico-sócio-culturais causaram sérias dificuldades no processo de subjetivação desses
sujeitos: “Essas condições determinam uma estagnação subjetiva e uma exclusão linguística
que os deixam marginalizados, sem condições de inserção e de apropriação da cultura de seu
entorno, a cultura familiar” (DALCIN, 2006, p. 193). Os principais sofrimentos que esses três
surdos mencionam nas entrevistas são o “isolamento” e a “alienação” que vivenciavam no
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Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
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período em que interagiam somente com pessoas ouvintes. Seus familiares usavam apenas a
língua oral, o que fazia com que se sentissem “estrangeiros” dentro da própria casa. A autora
afirma que “esses surdos permanecem numa posição de exclusão da língua (oral e de sinais) e,
consequentemente, da cultura (ouvinte e surda). Desprovidos de recursos, ficam sem
condições para interpretar, sendo interpretados pelo outro” (DALCIN, 2006, p. 212).
O sentimento de solidão vivenciado pelos surdos também é descrito por Solé (2005),
psicanalista que atende jovens e adultos surdos. “É estar no mundo em uma redoma de vidro,
não só pela transparência do vidro, mas pelo uso metafórico dessa expressão: a superproteção
e os cuidados excessivos que levam ao isolamento” (SOLÉ, 2005, p. 17). É o que ocorre com
o personagem Rubem, ele sente-se sozinho na escola, pois não tem laços de amizade com os
colegas.
Categoria 2: interações entre pais ouvintes e filhos surdos: No curta metragem é
possível verificar que a mãe de Rubem apresenta uma atitude de extrema proteção em relação
ao filho. Apesar de ter em torno de 12 ou 13 anos, a mãe o conduz até dentro da escola,
segurando-o pelo braço (a cena começa em 1min24s).
Solé (2005) afirma que esse excesso de cuidados, além de uma impossibilidade de
inserção no simbólico pela língua dos pais (língua oral), promoveu o que a autora chamou de
uma “adolescência prolongada” ou, na pior das hipóteses, uma “infância prolongada”.
Os sintomas psíquicos que Solé (2005) encontrou como demanda desses jovens e
adultos surdos em sua escuta analítica foram: 1. Dificuldade de adentrar a vida adulta, de
romper o vínculo ou de se afastar dos pais; 2. Impossibilidade de lidar com as perdas mais
comuns e com os próprios fracassos; 3. Vergonha de si próprios e da voz quando tentam
oralizar; 4. Inabilidade no convívio social; 5. Dependência de um ouvinte da família
(geralmente a mãe) para realizar atividades corriqueiras fora do contexto da casa.
A terceira e última categoria é modos de apreen
são das línguas. No curta metragem,
observamos que até a idade de 13 anos, os pais optam pela oralização de Rubem, através da
terapia fonoaudiológica. O pai de Rubem, apesar da afirmação da fonoaudióloga de que o
menino não está se desenvolvendo na fala (cena em 6min29s), insiste que ele deva continuar
nesta abordagem de reabilitação. A mãe, por outro lado, ao perceber a admiração de Rubem
pela Libras, ao encontrar um grupo de jovens surdos, percebe que esse pode ser um caminho
para seu desenvolvimento. A mãe aceita a Libras por perceber que Rubem se sente acolhido
pela comunidade surda. Não há um entendimento comum entre os pais sobre a inserção de
Rubem na comunidade surda, o que gera uma briga entre eles (cena inicia em 15 min).
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Psicanálise e surdez: Subjetivdades da constituição subjetiva
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Dalcin (2006) ao narrar sobre jovens surdos atendidos em terapia psicanalítica afirma
que que foi o encontro com a comunidade surda que lhes permitiu ter um nome (sinal pelo
qual foram batizados) e que, ao adquirir a língua de sinais, passaram a compreender muitas
coisas que antes não entendiam. Saíram do isolamento e ganharam uma “nova família”. Esse
renascimento é observado no personagem Rubem, que se sente pertencente à comunidade
surda e declara aos pais que “quer aprender Libras”. Muitas histórias como a de Rubens se
repetem no cotidiano das pessoas surdas. Esse encontro com a comunidade surda, mesmo
quando tardio na vida do surdo dá a ele a “possibilidade de se enganchar na cadeia simbólica
e a sua subjetividade passa a ser marcada pela qualidade de ser surdo” (DALCIN, 2006, p.
206).
Considerações finais
Neste artigo, foram apresentadas reflexões de pesquisadores sobre as singularidades da
constituição subjetiva da criança surda filha de pais ouvintes. Os autores são unânimes em
afirmar que a principal característica dessa constituição subjetiva é o impasse que ocorre na
relação entre os pais ouvintes e seus filhos surdos pela impossibilidade de uma língua
plenamente compartilhável. Por essa razão, a identificação se torna frágil, uma vez que, como
os pais não conseguem se comunicar com seus filhos, não podem transmitir sua língua, o que
gera muitos conflitos. Tentativas de uso de “sinais caseiros” permitem uma comunicação
muito precária e permitem resolver necessidades cotidianas da criança, porém os sinais
caseiros não possibilitam que se estabeleça uma língua na qual a criança possa “dizer-se”.
Alguns autores apontam para a ocorrência de uma terceirização da inserção da criança
na língua, não por desdém dos pais, mas por uma percepção de ser essa a única forma possível
de garantir uma comunicação e o desenvolvimento da criança. É em uma escola em que
circula a língua de sinais que a criança começa a conviver com uma língua com a qual pode se
organizar psiquicamente, compreender o mundo e, enfim, dizer-se. É a escola também que, na
maioria das vezes, possibilita a aprendizagem da língua de sinais pelos pais.
Quando a criança adquire a língua de sinais ela tem acesso a uma língua de
si
gnificação com a qual pode fazer laços e deslizar na cadeia significante. Permite também
aos pais ouvintes se apropriar dessa língua, quando a aceitam como língua de significação dos
filhos, e, através dela, se comunicar com eles, ascender à condição de tutores paternos, que
muitas vezes foi destituída com o impacto narcísico do diagnóstico. A língua de sinais
permite mais do que a comunicação entre a família, permite que os pais vejam seus filhos
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Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
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como crianças, e não como alguém a ser normalizado, reformado, consertado. Ocorre, então,
um resgate narcísico dos pais em relação ao filho surdo.
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Psicanálise e surdez: Subjetivdades da constituição subjetiva
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022018, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16738 15
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Como referenciar este artigo
NASCIMENTO, L. C. R. Psicanálise e surdez: Subjetivdades da constituição subjetiva.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022018 2022. e-ISSN: 2594-
8385. DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16738
Submetido em
: 12/08/2022
Revisões requeridas em
: 19/10/2022
Aprovado em
: 11/11/2022
Publicado em
: 30/12/2022
Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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Psychoanalysis and deafness: Singularities of the subjective constitution
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022018, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.16738 1
PSYCHOANALYSIS AND DEAFNESS: SINGULARITIES OF THE SUBJECTIVE
CONSTITUTION
PSICANÁLISE E SURDEZ: SINGULARIDADES DA CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA
PSICOANÁLISIS Y SORDERA: SINGULARIDADES DE LA CONSTITUCIÓN
SUBJETIVA
Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
1
ABSTRACT
: The purpose of this paper is to reflect on the singularities of the subjective
constitution of deaf children born to hearing parents. In order to reflect on this subject matter,
I have described a scene from a short film called “Crisálida” and then analyzed the
singularities of the psychological constitution of deaf people, based on the following
categories: psychological symptoms; interactions between hearing parents and deaf children,
and the modes of language acquisition, based on research conducted by psychoanalysts, as
well as researchers who base themselves on psychoanalysis. As a result, I have pointed out the
fact that communication difficulties between family members do not prevent the
establishment of affective bonds, but they might hinder negotiations over social rules, which
creates conflicts in this relationship. Besides, the advent of sign language in the family
context appears to serve as a narcissistic rescue to the parents in relation to the child.
KEYWORDS:
Psychoanalysis. Deafness. Sign language.
RESUMO
: Este artigo tem como objetivo promover uma reflexão sobre as singularidades da
constituição subjetiva da criança surda filha de pais ouvintes. Para essa reflexão, descrevo
uma cena do curta-metragem “Crisálida” e, em seguida, analiso as singularidades da
constituição psíquica da pessoa surda, a partir das seguintes categorias: Sintomas psíquicos;
Interações entre pais ouvintes e filhos surdos e modos de apreensão das línguas, a partir de
pesquisas de psicanalistas ou pesquisadores que se fundamentam na psicanálise. Como
resultado, aponto o fato de que a dificuldade de comunicação entre os membros destas
famílias não impede a construção de laços afetivos, porém pode dificultar a negociação de
regras sociais, gerando conflitos nesta relação. Ademais, a entrada da língua de sinais no
contexto familiar parece funcionar para os pais como um resgate narcísico em relação ao
filho.
PALAVRAS-CHAVE
: Psicanálise. Surdez. Língua de sinais.
1
State University Campinas (UNICAMP), Campinas – SP – Brazil. Professor at the Department of Educational
Psychology. Doctorate in Education (UNICAMP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7805-1620. E-mail:
lilianrn@unicamp.br
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Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022018, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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RESUMEN
:
Este artículo pretende promover una reflexión sobre las singularidades de la
constitución subjetiva del niño sordo hijo de padres oyentes. Para esta reflexión, describo
una escena del cortometraje "Crisálida" y seguidamente, analizo las singularidades de la
constitución psíquica de la persona sorda, a partir de las siguientes categorías: Síntomas
psíquicos; Interacciones entre padres oyentes e hijos sordos y modos de aprehensión de los
lenguajes, a partir investigaciones de psicoanalistas o investigadores que se basan en el
psicoanálisis. Como resultado, apunto al hecho de que la dificultad de comunicación entre
los miembros de estas familias no impide la construcción de vínculos afectivos, pero puede
dificultar la negociación de las reglas sociales, generando conflictos en este relacionamiento.
Además, la introducción de la lengua de señas en el contexto familiar parece funcionar para
los padres como un recurso narcísico en relación al niño.
PALABRAS CLAVE
: Psicoanálisis. Sordera. Lengua de senãs.
In
troduction
This article seeks to reflect on the singularities of the psychic constitution of deaf
children born to hearing parents. In the relationship of these deaf children with their parents,
communication may be compromised, since the oral language is not fully accessed by the
children. I speak of children with profound deafness, congenital or acquired before one year
of age. For the deaf person, the apprehension of the world takes place in a very different way
than for the listener, as it is carried out exclusively or mainly through visuality. “For those
who experience the deaf condition, the visual sense occupies a central place in the relational
process of creation, interaction and insertion in the world” (LUZ, 2013, p. 18, our translation).
In addition, the representation of the world also occurs through a visual-gestural language,
when the deaf person is exposed to sign language, which greatly differs from the way of
representation of hearing people, who do it through an oral language. This article, therefore,
deals with profoundly deaf children who are immersed in hearing families, who speak a
language that they cannot fully grasp. What I question in this article is: How is a deaf child
subjectively constituted? How do parents interact with their non-hearing baby? How does the
diagnosis of deafness impact parents and what psychic marks do this impact cause on the
child's constitution? When analyzing deaf people who, at some point in their lives, acquire
sign language and assume it as their mother language, I agree with Luz, the idea that: “This
type of deafness is extremely relevant to understanding the sensorial, linguistic and
relationship of their psychic constitution and the ways in which the deaf happen as someone
in the world” (LUZ, 2013, p. 18, our translation).
In order to reflect on the subjective constitution of deaf children, I analyzed some
s
cenes from the short film “
Crisálida
” (Chrysalis) (CRISÁLIDA, 2016) and then outlined
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some categories of analysis based on publications by psychoanalysts who work with deaf
people, as well as other researchers based on psychoanalysis to understand the phenomenon
of deafness as a mark of subjectivation.
Art imitates life: Chrysalis
The short film Crisálida, available on YouTube (CRISÁLIDA, 2016), shows the story
of the adolescent character Rubens, who is deaf and has hearing parents. Parents opted for
oralization of their son, who had no contact with sign language in childhood.
The scene I highlight is a moment between father, Mário, and his teenage son, Rubens.
Mário is a carpenter and works building boats. In the scene (CRISÁLIDA, 2016), Mário
sands a piece of wood and says to Rubens: -
It's pretty, isn't it? Look how beautiful it is!
The
father runs his hand over the wood and the boy repeats the movement. And continues:
Why?
Can't get any splinter
. Then the father shows the sandpaper (
lixa
, in Portuguese) and
articulates syllabically:
Li - xa
. Rubens repeats with an articulation close to that of his father,
but without phonetic precision. The father shows the screwdriver (
chave
de
fenda
, in
Portuguese) and pronounces it syllabically again:
cha-ve de fen-da
. Again, Rubens tries to
repeat words with imprecise articulation.
The scene of about 2 minutes portrays the relationship between the hearing father and
the deaf son. Although Rubens does not use oral language precisely, nor Mário uses sign
language with his son, there is a visual communication, which reveals an identification of the
son with the father. The boy is attentive to his father's activity, looks with admiration, repeats
his father's actions and speech, which demonstrates that he seeks recognition from his father.
On the need for recognition, Fink (2018, p. 58, author's emphasis, our translation) states:
During early childhood, our primary caregivers are of immense importance
to us, as our lives are closely intertwined with theirs. We make requests of
them;
they, in turn, ask that we behave in certain ways rather than others,
and that we learn many things: to speak their language (using words,
expressions, and grammar not created by us)
and to regulate our needs for
food, warmth, excretion etc. according to their schedules. These people are
our primary source of attention and affection, and we often try to win their
approval and love by conforming to their wishes.
As Fink (2018) states, every child seeks to satisfy the demand of their parents, as they
know
that the better they do, the greater the probability of being accepted, loved and
approved. One of the demands of parents on children is that they learn their language.
However, the deaf child, due to his sensory deprivation, is not able to spontaneously fully
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appropriate the language spoken by hearing family members. In the short film “Crisálida”,
there is a pressing conflict: the father is vehemently opposed to his son learning Libras
(Brazilian Sign Language); the mother, on the other hand, seeing her son's failure to speak, is
willing to learn Libras. The story lived by many families composed of deaf children and
hearing parents is similar to the one reported in the short film, the conflict involves more than
a communication difficulty, it denotes a frustration of the parents for not being able to
bequeath to their children the language that they belong to, and on the other hand, a feeling of
failure of the children for not being able to adapt to a demand from their parents, that of
speaking their language, which reveals a parental narcissistic wound.
The subjective constitution of the deaf child
Profoundly deaf people, in contact with their hearing family members, experience a
social context in which an oral language mostly circulates. They apprehend aspects of the
listening culture through the visual marks of this language (observe lip movements, facial
expressions, perceive that there is communication when people speak). In this way, they
subjectively symbolize and signify the marks of oral language that emerge in their families
and in society in general.
However, although deaf children are an integral part of a social group in which the
communicating subjects (parents or caregivers) use an oral language, there is a particularity in
the way of inserting themselves in the culture, since the language that, in general, speak their
parents is not fully acquired by social interaction. Although they can see the lip movements
and facial expressions of those who speak to them, these marks are often insufficient to create
full communication. I reiterate the idea that I am talking about children with profound
deafness, who were born deaf or acquired deafness before the acquisition of oral language and
who have hearing parents.
In order to describe and analyze, therefore, the singularities in the subjective
constitution of deaf people, I list three categories: Psychic symptoms; interactions between
hearing parents and deaf children; ways of apprehending languages.
About each category, I bring contributions from researchers and psychoanalysts to
weave, from them, some reflections.
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Psychic symptoms
This category is based on the characterization of symptoms presented by deaf subjects.
For Freud (1916/1990), symptoms are commitment formations, that is, conciliations between
a repressed desire and its fulfillment. In the text
The meaning of symptoms
, he states that the
symptomatic manifestation is rich in meaning, and that the meanings, which can only be
revealed by the subject himself, are related to the experiences he has lived. Although the
subject does not know anything about the meaning of his symptom, since he is unconscious,
the symptom says something about the truth of this subject.
There is no difference in the types of symptoms presented by deaf and hearing people,
nor a higher prevalence of psychic disorders in deaf people. The symptoms that, in general,
deaf people present are the psychic marks that deafness promotes in the subjects. These marks
are not of biological deafness, that is, of hearing deprivation, but are consequences of being in
the world as a subject who differs from most others, from his primary group, in which he is a
subject.
Virole and Ibad-Ramos (2003) describe data from a psychiatric clinic specializing in
deaf children and young people in France over a period of 20 years. The authors state that
deafness in children, by itself, is not a causal factor for psychiatric disorders, but it is a risk
factor. The authors affirm the existence of a “pseudo-psychosis” in many deaf children and
young people and report that two or three cases of children presented as psychotic are
attended by the clinic every year. The symptoms of these children are strange contact and
rejection of the educational process. The authors, psychiatrists at the clinic, found that they
underwent oral rehabilitation from an early age, and their parents and professionals involved
in their education did not use sign language in interacting with them. Therefore, they
concluded that the purely oral educational method promoted the child's psychic
manifestations. Symptoms were removed when parents accepted the change in educational
method and started using sign language with their deaf child.
Virole and Ibad-Ramos (2003) also report that childhood de
pression in deaf children is
very common. These are cases in which the child appears sad and tries to avoid the adult
educators. Because it is related to educational situations, the authors call this manifestation
“school depression”, which is often a consequence of a non-consonance between the
educational method and the needs of the child. For the authors, “The sociocultural dimension
inherent to deafness is a dimension of main understanding of the psychopathology of the
deaf” (VIROLE; IBAD-RAMOS, 2003, p. 9, our translation).
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Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
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Bremm and Bisol (2008) analyzed narratives of deaf adolescents, seeking to
understand the meanings attributed to adolescence and deaf coexistence. Psychically, any
person, in their adolescence, is faced with the need for a new identity construction. The
subject ceases to identify with the family references, especially with the parents, with whom
he had a close identification, to assume new values. For the deaf youth, the deaf community
occupies this place of reference, and with it, sign language. The authors were able to perceive
that, in adolescence, sign language acquires a specific connotation: it ceases to be just a
natural language of communication and becomes an important identity element, as “it allows
him to feel like a member of a different culture and have the deaf community as one of the
main references” (BREMM; BISOL, 2008, p. 274, our translation).
For Silva (2007), the feeling of loneliness and foreignness is also the trait of suffering
most pointed out by the deaf people analyzed by her. According to the author, this feeling is
related to the impossibility of establishing identifications with the parents, since "the family's
desiring pre-history does not manage to build a consistent identification space, insofar as it is
not fully decoded by the subject" (SILVA, 2007, n/p, our translation). As the deaf child does
not have access to the language that circulates in the family environment, there is a difficulty
in understanding the demands of the parents, which generates great anguish.
Loneliness is again mentioned as the feeling experienced by deaf people who seek
analysis among the interviewees of Neves (2018). The researcher interviewed six
psychoanalysts who assist deaf people with a hearing aid in Libras. Most of them mentioned
that these analysands complained of pain resulting from communication difficulties, which
made them feel lonely and foreign. They also very often reported feelings of sadness,
depression and melancholy (NEVES, 2018).
The symptoms or psychic suffering that deaf people report are not a consequence of
sensory deprivation of hearing, but of the impossibility or difficulty of expressing themselves
and understanding the demand of the Other. As an interviewee from Neves (2018, p. 45, our
translation) stated, “their suffering is not due to not listening. However, some pain may be due
to communication difficulties. For not finding someone who speaks the language, they feel
lonely”.
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, Araraquara, v. 23, n. 00, e022018, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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Interactions between hearing parents and deaf children
The subjective constitution of any person occurs by identification with their caregivers
and other people with whom they live. At the beginning of life, children establish
identifications, mainly in the interaction with their parents, which occurs through the look, the
touch, the smells and, essentially, the language.
Every baby is born immersed in language. He is symbolized and idealized before he is
born and, upon entering the world, he is surrounded by speakers of a language who welcome
him and introduce him to that language and, in this way, also make him human. At birth, it is
the mother who gives the baby the necessary conditions for survival, but, unlike animals, the
human mother not only takes care of the survival of her offspring – more than that, but she
also gives him a symbolic status. That is, every human being who is born is not a baby, but
“the baby”, a special subject for the parental couple who receives a name and has a range of
expectations, desires and dreams deposited upon them. There is a desire that precedes the
baby.
There is, however, a different situation: the case of the deaf baby, who, although
immersed in a family where everyone speaks, cannot apprehend the meanings of the language
that circulates in the environment. When the child is diagnosed with deafness, the entire
imaginary of the parents dissolves, as the real child does not correspond to the idealized baby
during pregnancy. The deaf baby does not find a desire referred to him as singular, as it
differs from the expected child. A re-edition of childhood itself occurs when a woman brings
a baby into the world, which happens through a process of psychic regression of the mother
and her identification with the baby. This maternal identification is essential for the formation
of the subjectivity of this new being, and is manifested through the essential care for him, in
breastfeeding, in hygiene, in touching, in holding him, in affectionate speech with the baby.
The mother invests the baby with hope, makes him an idealization. She imagines that this new
being she has generated can cure all the frustrations she has experienced. The child is a kind
of hallucinatory evocation of something lost in her own childhood (the mother's). When the
parents receive the diagnosis of their child's deafness, all idealization collapses, the deaf baby,
in general, brings immense pain to hearing parents. The diagnosis of deafness can cause a
narcissistic breakdown, jeopardizing the establishment of the maternal role and negatively
interfering with the relationship with the child (SOLÉ, 2005).
Solé (2005) traces some characteristics of the interactions of deaf babies with their
mo
thers. In the case of hearing babies, the mother's voice has the ability to restore relief to the
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baby in moments of anguish and to give meaning to the baby's sensory experience, such as
when he feels hungry or in pain. The mother talks to him and calms him down, naming his
sensations. And, even when she is out of his visual field, the baby hears his mother talking to
him or her approaching noises, and this reassures him. The deaf baby, on the other hand, for
not hearing the mother's voice, is deprived of this stimulus that organizes the senses (SOLÉ,
2005). Therefore, the integration of the deaf baby's body occurs exclusively via look, smell
and facial expressions, and he needs a greater effort to carry it out, since he is deprived of the
auditory sensation of the mother's voice. Solé compares that, in hearing babies, hearing the
mother's voice while she is out of the visual field makes the absence more bearable, whereas,
for deaf babies, this is not possible.
For the deaf baby, moments of maternal absence can be excessive,
considering that out of sight the mother disappears; the lack of hearing does
not allow the deaf baby to anticipate the mother's presence and reduce the
moments of absence and abandonment. This abandonment can be meant as
lack of love and be one of the causes of perceived depressive traits (SOLÉ,
2005, p. 106, our translation).
The depressive traits referred to by Solé (2005) were observed by her in her adult deaf
analysands, whose causes the author sought in the baby's first experiences in his “psychic
cradle”. Likewise, Dalcin (2006) also sought to understand how the symptoms of loneliness,
dependence and social difficulties of young deaf people whom she interviewed in her research
were linked to early childhood. The author attributes many of these psychic characteristics to
precarious communication.
Silva (2007) is a psychoanalyst and performs clinical care for profoundly deaf people
born in hearing families. For her, the main issue in the subjective constitution of the deaf child
is the fact that the hearing loss does not allow him to learn the mother tongue (oral language),
therefore, this language is not useful for his socialization. The language that allows the child's
socialization is sign language, which appears at a late age and is acquired in interaction with
adult subjects through a professional rather than family bias. Even if something maternal goes
beyond the child, allowing a primary level of subjectivation, this something is linked to the
perceptual field (what the child can capture from the visible reality), and not to the symbolic
field (being able to communicate something outside the perceptual field). And sign language,
which will allow access to the symbolic, is not acquired through identification in the family
environment, but through third parties, in general, at school.
For Bisol and Sperb (2010), the question of the impact of the diagnosis of deafnes
s can
be extremely traumatizing for parents: “The deaf child cannot occupy the place that his
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parents (if the parents are hearing) imagined he would occupy” (BISOL; SPERB, 2010, p.
10). This impossibility of occupying the imagined place affects early affective relationships.
Therefore, the authors assert that deafness calls for other means for the psychic constitution of
the subject to take place. The most significant identifications occur outside the family
environment, as in the case of the research they carried out with deaf adolescents, in which
they could see that these identifications happened in contact with other deaf people, in the
deaf community.
Virole and Ibad-Ramos (2003) also state that there may be a loss of the mother's
natural feeling, who, upon learning that her child is deaf, assumes a rehabilitative posture (as
if she were responsible for “training” the baby's speech). The mother may also become
aggressive towards the deaf baby, which represents her failure to produce a healthy child.
It is also common for hearing parents to have difficulty setting limits for their deaf
children, due to the little communication that occurs between them. The deaf child is not able
to understand the parents' oral language and, therefore, their demands. This communicative
difficulty can produce a fragility in the paternal function and in the establishment of the
“law”.
Modes of apprehending language(s)
For psychoanalysis, the constitution of a subject necessarily involves insertion in
language. Mannoni (1977) asserts that the birth of a subject is related to the imaginary
absence of an object and with the significant mark that marks its absence. This means that the
establishment of signs (signifiers that express absent objects) configures a child's entry into
language and his birth as a subject. It is “this entry in the signifying chain that converts the
child into a subject” (MANNONI, 1977, p. 45, our translation). It can be said that the
formation of the psyche is historical and linguistic, instituted by lived experiences and by
language, in which the child is immersed. For the baby to constitute itself as a subject, it is not
enough to be fed and cleaned. To constitute a subject, the presence of the adult has the effect
of modeling the subjective characteristics of the child.
It is for this reason that there is a singularity in the psychic constitution of the deaf
ch
ild, because the way in which language is established in the relationship between the
hearing family and the deaf child is quite peculiar. In this relationship, since the child does not
hear the mother's voice, language occurs in a different way: by looking, touching, smelling,
mouth movements. The deaf baby builds an image of himself as separated from the adult by
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this visual language, by touch, but, unlike hearing children, the transition to the symbolic, the
entry into the mother tongue is fragile.
The language is maternal because it makes us born as subjects, it is maternal because it
welcomes the baby and inserts him in the culture. Most mothers (and in some cases, fathers)
of deaf children, being hearing, establish a form of communication with their children using
gestures created from the concrete needs experienced within the home. It is clear that, if the
gestures created in this relationship between the hearing family and the deaf child allow
communication, we can say that there is a precarious language there. However, this
communication is restricted to the elements present in the situation experienced and does not
work outside the family environment.
Called “homemade signs” (ADRIANO, 2010), this form of communication proves to
be precarious and insufficient. “[...] they are extremely restricted in their vocabulary
repertoire and can communicate facts only at the moment of their occurrence, making it
difficult to report past events and/or subjects that involve levels of abstraction” (ADRIANO,
2010, p. 34, our translation).
With this precarious communication, it is not possible to name, even in the space
restricted to the family, feelings (affections, disaffections, fears, anguish, uncertainties), since
these gestures do not allow evaluating objects or experiences, saying the qualities or defects
of what was seen or experienced. Maybe they make it possible to agree only on signs of good
and bad, with the thumbs up or down gestures, but not other adjectives, such as: soft, delicate,
rough, fun, excited, happy, difficult, easy, intelligent, interesting, beautiful, ugly and many
others. They also do not allow talking about time (yesterday, today, tomorrow, past, present,
future, birthday, week, month, year), nor explain to the child the degrees of kinship, much less
the absence of loved ones, especially "death".
About the use of homemade signs, Dalcin (2006, p. 2012, our translation) states: “The
mothering function and the homemade signs guarantee a precarious entry into the symbolic,
but do not allow them to slip in the signifying chain and, consequently, the interaction with
their linguistic-socio-cultural environment”.
Therefore, these gestures have only communicational value (in a very restricted way),
but not expressive. Because it is restricted to the family environment, most of the time, just
the child with the mother, it is a language that is not universalized and does not allow the deaf
to “speak themselves”.
Bremm and Bisol (2008) state that the lack of a shared language marks the relationship
be
tween hearing parents and deaf children. Poor communication in the first years of life and,
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sometimes, throughout life within the family produces significant marks on their subjectivity.
The subjects interviewed by these authors sought, in adolescence, other identifications with
the deaf community, which became stronger than those made with family members.
The child's entry into a school where sign language circulates and coexistence with
other deaf people marks, for many profoundly deaf children, the beginning of language
acquisition and insertion into the culture, often at a very different age than when it occurs with
hearing children.
Although it occurs late, the acquisition of sign language positively marks the lives of
deaf people and their parents, allowing communication at school and in the family. Living in a
bilingual school contributes to the development of a feeling of self-worth. When parents are
willing to learn Sign Language, it brings relief, because by being able to communicate with
their child, they rescue their possibility of negotiating social rules with them, passing on
information, talking about feelings, and not just using gestures for concrete, everyday things.
Interweaving the categories to the short film
Returning to the short film, I looked for scenes in which the three categories - psychic
symptoms; interactions between hearing parents and deaf children; ways of apprehending
languages - are made explicit.
Category 1: psychological symptoms. Rubem, the deaf protagonist of the short film,
does not have a mental disorder, but it is possible to observe Rubem's suffering at school due
to receiving hostile treatment from his classmates. The interaction is permeated by teasing,
contempt, imitations, light physical violence. The colleagues, for not understanding the
situation of deafness, consider Rubem to be disabled. It is possible to observe this situation in
the scene where, in the physical education class, for the formation of soccer teams, two boys
choose the players. The boys leave Rubem last, saying he is “weak” (scene starts at 11min5s).
During the game, it is noticed that Rubem performs well in soccer, but his ability is not
recognized by the group.
In a case study, the psychoanalyst Gladis Dalcin (
2006) presents the narrative of three
young deaf children of hearing parents, who were born with profound deafness and had
contact with sign language only in adolescence. The author states that the linguistic-socio-
cultural restrictions caused serious difficulties in the subjectivation process of these subjects:
“These conditions determine a subjective stagnation and a linguistic exclusion that leave them
marginalized, without conditions of insertion and appropriation of the culture of their
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surroundings, the family culture” (DALCIN, 2006, p. 193, our translation). The main
sufferings that these three deaf people mention in the interviews are the “isolation” and
“alienation” they experienced during the period when they interacted only with hearing
people. Their family members used only oral language, which made them feel like
“foreigners” in their own home. The author states that “these deaf people remain in a position
of exclusion from language (oral and sign) and, consequently, from culture (hearing and
deaf). Deprived of resources, they are unable to interpret, being interpreted by the other”
(DALCIN, 2006, p. 212, our translation).
The feeling of loneliness experienced by the deaf is also described by Solé (2005), a
psychoanalyst who works with young people and deaf adults. “It's being in the world in a
glass dome, not only because of the transparency of the glass, but because of the metaphorical
use of this expression: overprotection and excessive care that lead to isolation” (SOLÉ, 2005,
p. 17, our translation). This is what happens with the character Rubem, he feels alone at
school, as he has no friendship ties with his classmates.
Category 2: interactions between hearing parents and deaf children: In the short film, it
is possible to verify that Rubem's mother has an extremely protective attitude towards her son.
Despite being around 12 or 13 years old, his mother takes him into the school, holding him by
the arm (the scene starts at 1min24s).
Solé (2005) states that this excess of care, in addition to an impossibility of insertion in
the symbolic through the parents' language (oral language), promoted what the author called a
“prolonged adolescence” or, at worst, a “prolonged childhood”.
The psychic symptoms that Solé (2005) found as a demand of these young people and
deaf adults in his analytical listening were: 1. Difficulty entering adult life, breaking the bond
or moving away from parents; 2. Impossibility of dealing with the most common losses and
with one's own failures; 3. Ashamed of themselves and their voice when they try to speak; 4.
Inability to socialize; 5. Dependence on a family listener (usually the mother) to carry out
everyday activities outside the context of the house.
The third and final category is language learning modes. In the short film, we observe
t
hat up to the age of 13, parents opt for Rubem's oralization, through speech therapy. Rubem's
father, despite the speech therapist's assertion that the boy is not developing his speech (scene
at 6min29s), insists that he should continue with this rehabilitation approach. The mother, on
the other hand, when realizing Rubem's admiration for Libras, when meeting a group of deaf
young people, realizes that this could be a path for his development. The mother accepts
Libras because she realizes that Rubem feels welcomed by the deaf community. There is no
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common understanding between the parents about Rubem's inclusion in the deaf community,
which generates a fight between them (scene starts in 15 min).
Dalcin (2006) when narrating about young deaf people assisted in psychoanalytic
therapy, states that it was the encounter with the deaf community that allowed them to have a
name (sign by which they were baptized) and that, by acquiring sign language, they began to
understand many things they did not understand before. They left isolation and gained a “new
family”. This rebirth is observed in the character Rubem, who feels he belongs to the deaf
community and declares to his parents that he “wants to learn Libras”. Many stories like
Rubens' are repeated in the daily lives of deaf people. This encounter with the deaf
community, even when late in the life of the deaf person, gives him the “possibility of
hooking up in the symbolic chain and his subjectivity becomes marked by the quality of being
deaf” (DALCIN, 2006, p. 206, our translation).
Final considerations
In this article, researchers' reflections on the singularities of the subjective constitution
of deaf children born to hearing parents were presented. The authors are unanimous in stating
that the main characteristic of this subjective constitution is the impasse that occurs in the
relationship between hearing parents and their deaf children due to the impossibility of a fully
shareable language. For this reason, identification becomes fragile, since, the parents cannot
communicate with their children, they cannot transmit their language, which generates many
conflicts. Attempts to use “home signs” allow for very precarious communication and allow
solving the child's daily needs, but home signs do not make it possible to establish a language
in which the child can “speak himself”.
Some authors point to the occurrence of outsourcing of the child's insertion in the
language, not because of disdain from the parents, but because of a perception that this is the
only possible way to guarantee communication and the child's development. It is in a school
where sign language circulates that the child begins to live with a language with which he can
psychically organize himself, understand the world and, finally, express himself. It is also the
school that, most of the time, enables parents to learn sign language.
When the child acquires sign language, he has access to a language of signification
w
ith which he can make loops and slide in the signifying chain. It also allows hearing parents
to appropriate this language, when they accept it as the language of meaning for their
children, and, through it, communicate with them, ascend to the condition of paternal tutors,
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Lilian Cristine Ribeiro NASCIMENTO
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022018, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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which was often removed with the narcissistic impact of the diagnosis. Sign language allows
for more than family-to-family communication, it allows parents to see their children as
children, not as someone to be normalized, reformed, fixed. Then, there is a narcissistic
recovery of the parents in relation to the deaf child.
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NASCIMENTO, L. C. R. Psychoanalysis and deafness: Singularities of the subjective
constitution.
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: 12/08/2022
Required revisions
: 19/10/2022
Approved
: 11/11/2022
Published
: 30/12/2022
Processing and Editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
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