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Ensinar e aprender em contextos de privação de liberdade e isolamento social: Uma experiência com socioeducandos do CASE, Mossoró-
RN
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462 1
ENSINAR E APRENDER EM CONTEXTOS DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE E
ISOLAMENTO SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA COM SOCIOEDUCANDOS DO
CASE, MOSSORÓ
–
RN
ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE EN CONTEXTOS DE PRIVACIÓN DE LIBERTAD Y
AISLAMIENTO SOCIAL: UNA EXPERIENCIA CON SOCIOEDUCANDOS DEL CASE,
MOSSORÓ - RN
TEACHING AND LEARNING IN CONTEXTS OF DEPRIVATION OF LIBERTY AND
SOCIAL ISOLATION: AN EXPERIENCE WITH SOCIOEDUCATORS FROM CASE,
MOSSORÓ - RN
Areillen Ronney Rocha REGES
1
Emerson Augusto de MEDEIROS
2
RESUMO
: Este texto tem como propósito apresentar reflexões acerca das ações educativas
desenvolvidas por docentes do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA), que atuam no
Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE/Mossoró - RN), no período da Pandemia da
COVID-19. Caracteriza-se como um relato de experiência que se apoia, em termos
metodológicos, tanto na abordagem da experiência profissional docente, quanto na reflexão
sobre a prática educativa com socioeducandos que cumprem medida de privação de liberdade
na Unidade, com recorte temporal de março de 2020 a dezembro de 2021. Ressaltamos,
positivamente, as diferentes práticas educativas arroladas, haja vista que, no decorrer das
atividades desenvolvidas na escola, enfrentávamos uma das maiores crises sanitárias de todos
os tempos. Diante disso, evidenciamos a importância do trabalho interdisciplinar no
aprimoramento e na construção de diferentes saberes, práticas de ensino e conhecimentos
acerca da realidade educacional frente ao momento.
PALAVRAS-CHAVE
: Socioeducação. Educação de Jovens e Adultos. Interdisciplinaridade.
RESUMEN
: Este texto tiene como objetivo presentar reflexiones sobre las acciones educativas
desarrolladas por docentes del Centro de Educación de Jóvenes y Adultos (CEJA), que actúan
en el Centro de Servicios Socioeducativos (CASE/Mossoró - RN), en el período de la Pandemia
del COVID-19. Se caracteriza por ser un relato de experiencia que se fundamenta, en términos
metodológicos, tanto en el abordaje de la experiencia profesional docente, como en la reflexión
sobre la práctica educativa con socio-estudiantes que se encuentran cumpliendo una medida
de privación de libertad en la Unidad. con un marco temporal de marzo de 2020 a diciembre
de 2021. Destacamos positivamente las diferentes prácticas educativas enumeradas, dado que,
1
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró
–
RN
–
Brasil. Especialista em Geografia do
Nordeste e Especialista em Direito da Criança e do Adolescente. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em
Ensino (POSENSINO/UFERSA). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6136-3727. E-mail:
areillen_ronney@hotmail.com
2
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Mossoró
–
RN
–
Brasil. Professor Adjunto. Docente
Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO/UFERSA). Doutorado em Educação.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3988-3915. E-mail: emerson.medeiros@ufersa.edu.br
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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durante las actividades realizadas en la escuela, enfrentamos una de las mayores crisis
sanitarias de todos los tiempos. Ante ello, destacamos la importancia del trabajo
interdisciplinario en el perfeccionamiento y construcción de diferentes saberes, prácticas
docentes y saberes sobre la realidad educativa del momento.
PALABRAS CLAVE
: Socioeducación. Educación de Jóvenes y Adultos. Interdisciplinariedad.
ABSTRACT
: This text aims to present reflections on the educational actions developed by
teachers of the Youth and Adult Education Center (CEJA), who work at the Socio-Educational
Service Center (CASE / Mossoró - RN), in the period of the COVID-19 Pandemic. It is
characterized as an experience report that is based, in methodological terms, both on the
approach of the teaching professional experience, and on the reflection on the educational
practice with socio-educated students who are serving a measure of deprivation of liberty in
the Unit, with a time frame of March 2020 to December 2021. We positively emphasize the
different educational practices listed, given that, during the activities carried out at the school,
we faced one of the biggest health crises of all time. In view of this, we highlight the importance
of interdisciplinary work in the improvement and construction of different knowledge, teaching
practices and knowledge about the educational reality at the moment.
KEYWORDS
: Socioeducation. Youth and Adult Education. Interdisciplinarity.
Introdução
Na contemporaneidade, é necessário pensar como o professor que trabalha com ensino
na educação básica alinhada à medida socioeducativa, pois este lida com os desafios em sua
prática docente, tentando considerar as especificidades educacionais, os contextos sócio-
históricos dos alunos e as experiências que eles carregam a partir da sociedade e cultura em que
estão inseridos. Com o surgimento da Pandemia causada pela COVID-19, as problemáticas já
existentes se intensificaram e, além das incertezas quanto ao futuro da educação no país,
ocasionaram diversas reflexões sobre as ações de ensino a serem trabalhadas.
Este período pandêmico, o qual ainda estamos enfrentando, tem potencializado as
desigualdades socioeconômicas e traz grande preocupação para a Educação Básica de todo o
país, sobretudo, quando se trata da rede pública, segundo nota técnica publicada pelo Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (KUBOTA, 2020). O mundo parou e os professores
precisaram se reinventar para manter a educação e não ocasionar mais prejuízos, sobretudo,
para os alunos mais penalizados, como os que cumprem medida socioeducativa de internação.
Mas quais estratégias educativas poderiam ser desenvolvidas para sanar momentaneamente a
falta de ensino que estes jovens enfrentam?
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Ensinar e aprender em contextos de privação de liberdade e isolamento social: Uma experiência com socioeducandos do CASE, Mossoró-
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, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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As aulas remotas e a interdisciplinaridade surgiram como dispositivos de solução
temporária e amenizadora do desafio educacional que se avistava. Com isso, foi necessário
pensar em novas estratégias e ferramentas que pudessem suprir a ausência física do professor
e/ou a diminuição do número de aulas. A tecnologia surge como imediata solução e grande
aliada durante este tempo, ao mesmo tempo em que se tornou um problema de adaptação para
professores que não “dominavam” as ferramentas tecnológicas propostas.
Este texto, assim, configura-se como um relato de experiência, posto que surge para
descrever a prática educativa que os docentes que atuam em um sistema de privação de
liberdade, o Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE/Mossoró
–
Rio Grande do Norte,
Brasil), enfrentaram durante a Pandemia, tendo como recorte temporal o período de março de
2020 a dezembro de 2021. Por conseguinte, é ilusório não trazer também a experiência na
perspectiva dos discentes, tendo em vista a proporcional dimensão de dificuldades enfrentadas
nas diferentes práticas educacionais e de ensino.
Como bem destaca Paulo Freire (1993), não é possível que educadores pensem
exclusivamente nos procedimentos didáticos e nos conteúdos a serem ensinados. Nesse ponto
de vista, o autor apresenta uma reflexão de um olhar amplo e humanizado que os educadores
devem conduzir no processo de ensino-aprendizagem. Além disso, os procedimentos didáticos
e de conteúdos precisaram sofrer constantes mudanças até atingirem um nível razoavelmente
aprendível, tendo em vista o atual momento.
Nessa perspectiva, em virtude das especificidades e fragilidades que se configuram a
Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade de ensino que assiste esses educandos, é
necessário emergir uma reflexão sobre as práticas formativas e como devem conjecturar-se na
promoção de práticas pedagógicas e interdisciplinares eficientes, para que se possa primar pela
qualidade do ensino e acreditar no crescimento profissional e pessoal desses sujeitos, enquanto
mediadores de conhecimento e de experiências de vida.
Ressaltamos que tomamos como recorte para o texto as experiências educacionais
produzidas no CASE/Mossoró - RN, sustentado nas vivências construídas pelos docentes e
discentes no período da Pandemia. Também é importante destacar que a experiência descrita
neste relato foi vivenciada por um dos autores do texto. Com isso, conseguimos, assim, analisar
por meio da observação, problematização e reflexão das práticas desenvolvidas na referida
Unidade Socioeducativa.
Traçada esta breve introdução, neste trabalho iremos, em um primeiro momento,
abordar as características estruturais e educacionais da Fundação de Atendimento
Socioeducativo (RIO GRANDE DO NORTE, 2019), assim como a parceria educativa com o
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
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Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA). Posteriormente, debateremos sobre o impacto
inicial que a Pandemia trouxe para os educandos da Unidade, relatando a dificuldade de
comunicação e acesso existente em unidades de privação de liberdade. Traremos também uma
abordagem do primeiro contato, bem como as primeiras atividades desenvolvidas e quais as
reflexões construídas para se dar sequência nas próximas ações pedagógicas. Por fim,
analisamos e apresentamos reflexões sobre a abordagem interdisciplinar que os professores
trabalharam, relacionando aos aspectos de conteúdos curriculares vivenciados.
Educação com sujeitos privados de liberdade na perspectiva da EJA
–
Algumas notas
O acesso à educação de qualidade é um direito fundamental para o desenvolvimento da
cidadania. A conquista do direito à educação, com a obrigatoriedade do Ensino Fundamental,
expressa na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), no Estatuto da Criança e do
Adolescente (BRASIL, 1990) e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,
1996), trouxe um considerável avanço para a educação brasileira.
Tendo por base esses marcos legais, se instituiu, pela LDB 9.394/1996 (BRASIL, 1996),
a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como a modalidade de ensino que garante os direitos
educativos da população com 15 anos ou mais, que não teve acesso ou interrompeu os estudos
antes de concluir a Educação Básica. Ela surge como um importante meio de inserção social e
de diminuição da taxa de analfabetismo. Além de oferecer flexibilidade, também disponibiliza
um mundo de possibilidades de ensino e aprendizagem para aqueles que outrora abandonaram
seus sonhos e metas educacionais/profissionais.
As unidades de atendimento socioeducativo do Estado que recebem adolescentes em
conflito com a lei, devem se responsabilizar tanto pelas medidas socioeducativas, quanto pela
garantia da obrigatoriedade de atividades pedagógicas e do acesso à escola, por meio da EJA,
em detrimento da configuração do perfil escolar que os socioeducandos se enquadram, uma vez
que são de anos escolares diversos. Nesse contexto, a escola precisa estar presente de forma
ativa e regular durante todo o tempo de cumprimento de medida de internação do educando,
isso significa, que estes sujeitos precisam estar matriculados/assistidos e cumprir todas as
propostas pedagógicas e de ensino que normatizam a instituição de Ensino do CEJA.
A escola é um instrumento fundamental na construção de um cidadão, em especial dos
adolescentes que cumprem medida de privação de liberdade. Neste processo, a escola tem um
papel importante de que é necessário e principalmente possível mudar a realidade e o destino
destes jovens marginalizados/invisibilizados, com intuito de trazê-los de volta à sociedade.
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Ensinar e aprender em contextos de privação de liberdade e isolamento social: Uma experiência com socioeducandos do CASE, Mossoró-
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Com isso, há um carecimento e, portanto, a necessidade de desmistificar os paradigmas que
perpassam nos sistemas de privação de liberdade, sendo necessário também um olhar mais
humanizado para com estes espaços e os sujeitos que os ocupam. Desse modo, essa
invisibilidade acaba por refletir e afetar não somente estes sujeitos, mas também os profissionais
envolvidos nos espaços e processos, como os próprios docentes.
Nesse sentido, o objetivo deste relato é, sobretudo, mostrar o que foi vivido em termos
de ações educativas, na perspectiva educacional, para sanar a ausência física dos professores
durante o período de Pandemia e, deste modo, também trazer visibilidade e conhecimento para
a comunidade acadêmica e a sociedade em geral, acerca dos docentes que atuam nestes espaços
com educandos privados de liberdade. Nessa perspectiva, podemos dizer que este relato se torna
um instrumento de relevância social e educacional, na medida em que está para além de um
determinado conhecimento sistemático que emerge da experiência.
Sob outra perspectiva, a escolha por este relato pode ser baseada no que destaca Bondía
(2002). Segundo o autor, a experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca.
A cada dia se passam muitas coisas, porém, ao mesmo tempo, quase nada nos acontece ou nos
toca. Nesse sentido, o autor explicita que as experiências e seus relatos devem afetar e atravessar
os sujeitos envolvidos, caso contrário, não é uma experiência. Várias vivências acontecem, mas
nem tudo nos atravessa. O que nos afeta e transforma é a experiência.
Dessa forma, escrever sobre as experiências desse período pandêmico no CASE é
mostrar o que nos afetou/atravessou e, sobretudo, o modo como essas vivências se transvertem
em aprendizado. Mas este processo é singular, depende do olhar individual de cada sujeito.
Exemplificando este fato, podemos dizer que uma mesma experiência envolvendo várias
pessoas pode nos afetar, mas não a outro sujeito, por isso da singularidade que cada momento
de experiência e em cada pessoa se manifesta.
Ressaltamos que buscamos elencar as práticas pedagógicas e de ensino que foram
desenvolvidas neste tempo para minimizar os prejuízos que a paralisação das aulas ocasionou,
não cabendo produzirmos uma análise sobre as medidas socioeducativas do adolescente durante
seu período de medida de internação na Fundase
3
, e sim das ações de ensino.
Nesse sentido, fez-se necessário identificar, em termos metodológicos, os métodos e
técnicas vivenciadas que conectaram os sujeitos da EJA do CASE com a escola e seus
professores, considerando que as aulas presenciais não eram oportunas para o momento e que
3
A fundação é responsável por assistir/acompanhar adolescentes que cometem ato infracional e cumprem medidas
socioeducativas no RN, ao todo são 10 unidades que atendem aos adolescentes em conflito com a lei, sendo desde
unidades de atendimento provisório, de internação até de semiliberdade.
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
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os adolescentes que cumprem medida socioeducativa de internação não podem ter acesso a
aparelhos tecnológicos que ofereçam comunicação.
Este último informe é uma das especificidades, dentre tantas outras, encontradas em
unidades de privação de liberdade para professores. Vale dizer que, para a construção de uma
educação de qualidade, também é necessário o saber-fazer pedagógico, especialmente, diante
das especificidades e problemáticas que possam ser encontradas no cotidiano escolar. Portanto,
elencamos as ações educativas adotadas no período pandêmico pelo CASE/Mossoró
–
RN.
Ensinar e aprender no CASE, Mossoró
–
RN, no contexto pandêmico
–
uma experiência
Este relato tem como
lócus
de vivência a unidade de atendimento socioeducativo de
internação de Mossoró-RN. A referida cidade é a segunda mais importante do Estado e localiza-
se no noroeste potiguar, entre duas regiões metropolitanas, Fortaleza (CE) e Natal (RN)
4
e
distância cerca de 200 km de cada uma delas. A mencionada unidade de atendimento
socioeducativo é o CASE/Mossoró, ela atende os adolescentes em conflito com a lei que
cometeram ato infracional e que cumprem medida socioeducativa de internação. O mapa 1,
destacado na sequência, diz respeito à localização da cidade de Mossoró-RN, do mesmo modo
também evidencia a boa posição geográfica que detém entre as capitais.
Mapa 1
–
Localização da cidade de Mossoró
Fonte: Elias e Pequeno (2010)
4
Essa localização específica é apontada por Elias e Pequeno (2010) como um dos fatores do crescimento e
desenvolvimento da cidade, que vem acompanhado de um aumento significativo da criminalidade nos últimos
anos, refletindo diretamente no crescimento da população privada de liberdade.
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Ensinar e aprender em contextos de privação de liberdade e isolamento social: Uma experiência com socioeducandos do CASE, Mossoró-
RN
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Em Mossoró-RN, dentre as várias instituições que trabalham com a EJA, temos o Centro
de Educação de Jovens e Adultos (CEJA) Professor Alfredo Simonetti, que é uma escola
estadual localizada no bairro Santo Antônio, que foi inaugurada em junho de 1978, mas só foi
instituída oficialmente pelos Dec. 7.707 de 05 de outubro de 1979 (ensino de 1°grau) e Dec.
9.008 de 13 de julho de 1984 (ensino do 2°grau). Com a Missão de “Prestar relevante serviço,
no âmbito educacional, oportunizando um ensino de qualidade aos jovens de Mossoró, zona
rural e cidades vizinhas”, e que atende cerca de 1.100 alunos.
O CEJA tem uma parceria educacional/escolar e é o responsável por assistir os
adolescentes que cumprem medida socioeducativa no Centro de Atendimento Socioeducativo
(CASE). O CEJA é responsável por enviar material didático e disponibilizar professores para a
unidade socioeducativa. O CASE é uma das unidades de atendimento socioeducativo da
FUNDASE no Rio Grande do Norte.
O CASE é a única unidade de internação em Mossoró e é assistida pelo CEJA. A equipe
da unidade é composta por Gestão, Equipe Técnica (pedagogos, psicólogos e assistentes
sociais) e Agentes Socioeducativos. Os adolescentes desta unidade (apenas do sexo masculino)
cumprem, no mínimo, medida de seis meses de internação (privação de liberdade), sendo
reavaliados ao fim deste tempo, podendo ser prorrogada por igual período ou progredida para
uma medida menos gravosa, como semiliberdade e liberdade assistida. Este último é de
responsabilidade do poder Municipal, acompanhar a família e a medida socioeducativa do
adolescente, através dos CRAS
5
e CREAS
6
.
A escola dentro do sistema é obrigatória e deve ser prioridade durante o período de
internação do socioeducando, como mencionado. Apesar de ser considerada um “sub
-
núcleo”
do CEJA, a EJA no CASE possui uma estrutura escolar nas suas dependências, contando com
salas de aula, auditório, secretaria e biblioteca. Embora seja uma estrutura escolar, o espaço traz
também elementos de segurança tanto para os alunos, quanto para os servidores. Ainda que
estes elementos não descaracterizem o ambiente escolar. A escola segue a mesma sistemática
de ensino da CEJA, adequando-se apenas às particularidades de logística e funcionamento da
Unidade.
Devido à faixa etária de idade, o CEJA fornece professores apenas para o Ensino
Fundamental, ofertando as disciplinas de Linguagem (Português e Inglês), Matemática,
5
O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) é a unidade pública responsável por oferecer serviços,
programas e benefícios voltados a prevenir situações de risco e a fortalecer os vínculos familiares e comunitários.
6
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) é uma unidade pública da Assistência
Social que atende pessoas que vivenciam situações de violações de direitos ou de violências.
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Ciências Humanas (Geografia, História e Ensino Religioso) e Ciências (Física, Química e
Biologia), adotando o multisseriado como organização do ensino e buscando reconhecer os
diferentes níveis de conhecimento. Nessa lógica, os professores da instituição lecionam através
do conjunto de disciplinas, ou seja, o professor de Ciências Humanas detém as três disciplinas
da área.
Durante o período de pandemia, a escola do CEJA/CASE teve a suspensão total das
aulas, bem como todas as escolas do Estado. Em meio a tantas incertezas, algo precisava ser
feito para reduzir a ausência de aulas e não penalizar ainda mais jovens já tão penalizados
socialmente. Com isso, houve a necessidade de pensar em novas estratégias e ferramentas que
pudessem suprir esta ausência física do professor e/ou a diminuição do número de aulas.
O CASE contava com quatro professores à época e cerca de 48 adolescentes na Unidade
- capacidade máxima de internos - mas nem todos estavam matriculados no CEJA, devido à
falta de professor. O défice de professores é um problema recorrente nos sistemas prisionais e
socioeducativos. Apesar de não matriculados, os professores, juntamente com os profissionais
da Unidade, resolveram assistir todos os internos naquele momento, tendo em vista o
isolamento que enfrentavam e que o material produzido poderia ser usado com os demais.
Observada as dificuldades de comunicação, sobretudo quando se tratam de sistemas de
privação de liberdade, os professores foram desafiados pela Subcoordenadoria de Educação de
Jovens e Adultos (SUEJA) a tentar se comunicar com os alunos através de cartas, levando em
consideração o período de isolamento ocasionado pela Pandemia, além das particularidades do
acesso à comunicação da própria Unidade.
Esta primeira indicação é uma das mais impactantes neste processo. Como imaginar que
um mundo globalizado, desenvolvido e tecnológico precisaria utilizar de um dos primeiros e
mais antigos meios de comunicação. Contudo, foi através desse primeiro recurso que foi
possível restabelecer contato com a Unidade e consequentemente com os alunos, e só a partir
desta abertura, desenvolver formas e práticas de ensino que pudessem atender à necessidade
educacional perante o momento.
Antes de abordarmos as formas e práticas educacionais desenvolvidas posteriormente,
é relevante enfatizar a importância que este primeiro momento com as cartas ocasionou em todo
o processo. De fato, esse já é um dos possíveis meios de comunicação utilizado nos sistemas
de privação de liberdade do país para contato mútuo entre os socioeducandos e os familiares
7
,
7
O Regimento Interno da Fundase regulamenta o funcionamento das Unidades Socioeducativas do Estado, o
Manual de Segurança destaca no Art. 15º. Todas as cartas ou qualquer outra forma de escrito confeccionados
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mas diante do contexto antes pandêmico pouco se era utilizado, visto que as visitas presenciais
e as ligações telefônicas, feitas semanalmente, eram suficientes para estabelecer o elo de
sociabilidade com os familiares.
No contexto pandêmico, o uso das cartas ocasionou estranhamento, dificuldade e
curiosidade ao primeiro contato com os estudantes. Estas sensações podem ser explicadas pela
falta de familiaridade, bem como pelo desconhecimento de estudos sobre tipos e classificação
de cartas. Em vista disso, despertou-se nos professores uma maneira de trabalhar a referida
temática, de forma interdisciplinar, em sala de aula. Seria essa a primeira aula planejada em
conjunto para dar sequência nas aulas remotas. Vejamos a figura um.
Figura 1
–
Primeira aula remota (cartas)
Fonte: Arquivo pessoal de um dos autores (2020)
O registro fotográfico acima mostra as primeiras aulas, em sala, após o isolamento dos
educandos na própria Unidade
8
. As cartas proporcionaram momentos insólitos e de muita
emoção em um tempo tão delicado, receber e produzi-las despertou sentimentos de elo e
aproximação que, mesmo em aulas presenciais, jamais foram vivenciados.
Diante desses pensamentos, de fato, as aulas iniciaram com a temática de meios de
comunicação e tipos de cartas. Posteriormente, veio a produção de cartas-resposta para os
professores. Tivemos acesso a elas, desenvolvemos uma análise documental e destacamos que,
apesar da pouca habilidade com a escrita, os relatos trazidos são impressionantes e revelam a
pelos/as socioeducandos/as serão entregues à Equipe Técnica para providências cabíveis, efetuando-se registro no
livro de ocorrências.
8
Todas as figuras apresentadas no texto foram borradas. O intuito é preservar e resguardar a imagem e identidade
dos adolescentes privados de liberdade, como prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Direitos estes
personalíssimos, considerados fundamentais e arrolados em forma de cláusula pétrea na Constituição Federal de
1988.
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solidão de sujeitos que se encontravam isolados/incomunicáveis dentro da própria privação de
liberdade.
A partir dessa ocasião surge a possibilidade de uma solução temporária e eficaz para
manter o Ensino: a implementação das Aulas Remotas. É importante relatar que a modalidade
de educação a distância, até então “proibida como ferramenta prioritária na educação básica,
torna-
se a solução pragmática para o momento da crise pandêmica” (SOARES, 2020,
p. 7).
Essa solução imediatista surge diante da pressão de grupos empresariais e governamentais para
o retorno às aulas e o cumprimento do calendário escolar. Seria uma forma de sanar a falta de
aulas presenciais, ainda que seja uma ferramenta nova e diferente, em que os professores
precisaram dominar e se familiarizar de modo urgente.
Além da falta de recursos digitais e eletrônicos que as escolas enfrentam, outra
possibilidade que pode explicar a falta de habilidade dos professores com esses recursos é o
que Gomez (2008) aponta como "perspectiva negativa da escola frente a cultura dos meios de
comunicação”. Nesse sentido, o autor destaca que isso se deve a antigos estereótipos atribuídos
aos conteúdos midiáticos, revelando uma resistência histórica da escola com meios de
comunicação e tecnologia, utilizando-a como mera ferramenta de reprodução.
Contrapondo a isso, Freire (2001, p. 46) chama a atenção para a importância da postura
crítica acerca da tecnologia “como uma forma de intervenção crescentemente s
ofisticada no
mundo, [...] a ser submetida ao crivo ético e político, [...] e à medida que ganha importância] a
necessidade de vigilância ética sobre ela, uma ética a serviço das gentes, de sua vocação
ontológica de ser mais”. Diante das especificidades qu
e uma unidade de privação de liberdade
traz, era necessário alinhar a tecnologia e mecanização à conectividade de um trabalho de
humanização.
Em virtude desse cenário, outro ponto a ser observado é a falta de estrutura e ferramentas
tecnológicas que a Unidade detinha para realização de aulas virtuais, além das exigências e
protocolos sanitários para diminuição de risco de contaminação do vírus da COVID-19. Diante
disso, observamos que, assim como diversas escolas no país, o CASE/Mossoró também
enfrentava dificuldades estruturais/tecnológicas e, diante da situação, era necessário garantir
que as atividades não presenciais fossem desenvolvidas de forma organizada, segura e rigorosa
em termos de circulação de conhecimentos. A viabilidade das aulas remotas só se tornou
exequível diante dos esforços concomitantes de planejamento e execução entre a equipe da
Fundação, CEJA, coordenadores e professores da Unidade.
Com a possibilidade de dar sequência através das aulas virtuais, foram
desenvolvidas novas práticas de ações educativas e é notória a necessidade e importância da
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interdisciplinaridade neste processo. Com isso, a SUEJA propôs três eixos de assuntos
norteadores (O Planeta, Desigualdade social e Solidariedade Social e de Cuidado). De acordo
com Freire (1987), é possível por meio da interdisciplinaridade ir desenvolvendo uma atuação
que engloba de ‘mais gentes’, rompendo com a noção de um trabalho segmentado em
disciplinas, práticas e saberes. Uma das diversas contribuições das teorias e práticas de Paulo
Freire é a noção da interdisciplinaridade.
Nesse sentido, para além destes eixos, surgiram várias outras temáticas, conteúdos e
atividades a serem desenvolvidas, algumas delas no panorama da atualidade e do contexto da
escola, apesar de tantas problemáticas e especificidades enfrentadas na Unidade. Em vista disso,
a formação permanente dos docentes assume um lugar singular na construção do projeto
pedagógico da escola nesse período, um ensejo em fazer um espaço de construção de saberes e
técnicas de ensino, considerando a prática interdisciplinar.
Sabemos que o conceito de Interdisciplinaridade vai além de propostas de ensino
conteudistas e disciplinares desenvolvidas em conjunto. Segundo Medeiros (2018), a
interdisciplinaridade na Educação se concretiza a partir de atitudes e ações frente ao
conhecimento, que necessitam de colaboração, interação, engajamento, contextualização e
reciprocidade entre o conhecimento produzido e a realidade. Nessa perspectiva, é necessário a
troca de conhecimentos entre as disciplinas, contendo em si planejamento, metodologia e
avaliação. Nos termos de Medeiros (2018, p. 171), ressaltamos a interdisciplinaridade na
Educação:
Na interdisciplinaridade educacional as noções, finalidades e procedimentos
técnicos visam acrescentar e favorecer o processo de ensino e de
aprendizagem, respeitando os saberes dos discentes e sua interação com os
saberes disciplinares. Não se pretende romper com as disciplinas ou criar
outras novas, nem se nega a formação disciplinar [...] trata-se de torná-las
comunicativas entre si, concebê-las como processos históricos, sociais e
culturais, tornando-as significantes no centro de problemas e fenômenos de
âmbitos diversos.
Diante do exposto pelo autor, ao apontarmos as ações educativas desenvolvidas no
CASE/Mossoró no contexto pandêmico, consideramos que essa perspectiva de educação se
materializou no momento das atividades nas escolas. Posto isto, daremos sequência na análise,
de modo cronológico, da construção destas atividades. Devido à falta de estrutura e
equipamentos na Unidade (internet, computadores e TVs), as aulas remotas no decurso do ano
de 2020 foram realizadas através de vídeos gravados previamente pelos professores, como
mostra a figura seguinte.
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462 12
Figura 2
–
Aula gravada
Fonte: Arquivo pessoal de um dos autores (2020)
Nesse momento, as aulas já aconteciam em sala e não mais no auditório da escola.
Devido ao novo local, as turmas precisaram ser fracionadas e escolhidas de acordo com a
logística da Unidade, respeitando também o distanciamento social e o limite do espaço. É
relevante sempre associarmos o modo de condução das aulas com o quadro atual da pandemia.
Na época, meados de agosto de 2020, os números da COVID-19 eram alarmantes, ainda que
não tenha atingido o pico de casos de contaminação e mortos
9
, a vacina ainda estava sendo
desenvolvida e testada e um retorno presencial era algo muito distante. Dito isto, os
planejamentos e execuções deram sequência e conduziram-se conforme a situação posta.
A figura dois retrata também um problema ocasionado pelo método de videoaula
gravado. Ainda que planejado didaticamente, o modelo não se apresentou de forma positiva e
retardou a aprendizagem do aluno. Nesse aspecto, podemos destacar como principal fator desta
ineficiência a falta de interação e diálogo simultâneo com os professores. A falta de
interatividade tornou a aula engessada e cansativa, embora o desenvolvimento das atividades
lúdicas ao final de cada aula, com suporte da equipe técnica da Unidade, não fosse suficiente
para prender a atenção e despertar interesse dos alunos.
Percebemos, nesse processo, que o modo gravado também impossibilitava que as
dúvidas e apontamentos fossem sanados de imediato, a equipe presente não detinha do
conhecimento disciplinar para sanar estas dúvidas, desse modo, os questionamentos eram
9
O Brasil teve, em agosto de 2020, 28.947 mortes pela Covid-19. Especialistas alertaram, entretanto, que os
números não significavam o fim do combate à pandemia
.
A situação do país era "preocupante" do ponto de vista
epidemiológico. Além disso, a chegada das estações mais quentes seria outro fator que deveria contribuir para que
a transmissão do vírus voltasse a aumentar (PINHEIRO, 2020).
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Ensinar e aprender em contextos de privação de liberdade e isolamento social: Uma experiência com socioeducandos do CASE, Mossoró-
RN
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, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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anotados, enviados aos professores e apenas respondidos na semana seguinte, tendo em vista
que este era o prazo acordado para planejamento, construção e encaminhamento das aulas.
Nesse contexto de interação, podemos trazer algumas implicações apontadas por Freire
(1970), o autor elucida que quanto mais analisamos as relações educador-educandos, na escola,
em qualquer de seus níveis, parece que mais nos convence de que elas apresentam um caráter
especial e marcante, o de serem relações fundamentais narradoras, dissertadoras. Com isso, o
autor enfatiza a importância de estabelecermos relações, estreitarmos as distâncias e
construirmos pontes entre os saberes e os sujeitos envolvidos. É compreensível a inadaptação
dos alunos com este método, é solução temporária, algo novo, complexo, confuso, inesperado
e difícil. Razões que também refletem e se estendem na compreensão aos docentes.
Mesmo diante destas problemáticas, a escola manteve este modo até o final do ano. Em
vista disso, diversas temáticas foram desenvolvidas com auxílio das pedagogas da Unidade.
Elencamos alguns destes temas, tais como “Eca –
30 anos”, “Direitos e deveres”, “Semana da
família”, “Dia dos pais”, “Semana do estudante”, “Meio ambiente: sustentabilidade”,
“Setembro amarelo: prevenção ao suicídio”, “Folclore brasileiro”, “Dia do professor”,
“Outubro rosa”, “As tecnologias e sua importância e desenvolvimento ao longo dos tempos”,
“Proclamação da República”, “Alfabetização e liberdade”, “Dia da consciência negra”,
“Família e escola”, “Bioma caatinga: projeto de arborização do
CASE
” e “Natal: um aniversário
especial”.
Abordadas de forma multi e interdisciplinar quanto ao conteúdo.
Paralela às aulas, no mesmo ano, outros projetos foram desenvolvidos em conjunto entre
as equipes da Unidade e os professores do CEJA/CASE. Dentre elas, podemos destacar o
“Projeto de arborização do CASE”, que constituía em plantar árvores doadas pela Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), com aulas teóricas abordando as origens e
especificidades das plantas e na prática com a plantação das árvores com intuito também de
tornar a Unidade mais arborizada; “Projeto Aquaponia”, que desenvolvia aulas teóricas sobre a
temática e práticas através do acompanhamento da criação de hortas e peixes, parceria entre a
UFERSA e a Catedral de Santa Luzia; e o “Projeto Mudas: Semeando o amanhã”, com aulas
teóricas e práticas sobre a importância da relação entre homem e meio ambiente no contexto
social. Vejamos na sequência a execução prática de uma das atividades:
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
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, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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Figura 3
–
Projeto Aquaponia
Fonte: Arquivo pessoal de um dos autores (2020)
Dentre os projetos, destaca-
se o ainda não mencionado “Projeto Biblioteca Viva
-
Passaporte da liberdade”. Este, por sua vez, merece ser enaltecido pela forma que se manifestou
e pelo modo como foi conduzido. Diante do isolamento dentro da própria privação de liberdade,
nos primeiros encontros, os socioeducandos revelaram um desejo de leitura nos alojamentos
(dormitórios), local que passavam todo o tempo.
Este interesse de leitura provindo dos adolescentes, despertou nos professores e equipe
da Unidade a reativação da Biblioteca da escola, desativada há anos. Desse modo, o projeto foi
pensado para que os próprios alunos fizessem parte da construção dos processos de
reestruturação da Biblioteca, fazendo com que entendessem a importância da leitura na
formação de um cidadão pensante. A figura quatro retrata um desses momentos.
Figura 4
–
Catalogação e organização dos livros
Fonte: Arquivo pessoal de um dos autores (2020)
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A figura acima mostra como ocorreram algumas destas etapas de reestruturação e
ativação da biblioteca. É relevante enfatizar que o que foi proposto se concretizou, os
socioeducandos participaram de todas as etapas de construção da reativação da Biblioteca.
Elencamos as principais etapas. O projeto iniciou com a limpeza e organização dos livros,
estantes e do local; o segundo passo foi aprender e catalogar os livros; em um terceiro momento,
com os livros já postos, os alunos tiveram aulas teóricas no espaço, com intuito de familiarizar-
lhes com o ambiente; e por fim, produziram artes (artesanatos e maquetes) sobre a temática,
que foi apresentado na etapa final do projeto, a reinauguração da Biblioteca Dalvinha Rosado.
A ativação da biblioteca desencadeou outras atividades para se trabalhar na escola,
projetos que foram desenvolvidos no próp
rio ambiente, como “Projeto Setembro Cidadão: Auto
da Liberdade”, que trouxe um resgate histórico dos quatro atos libertários da cidade de Mossoró,
através da luta e resistência do seu povo, como também a história/legado de vida de Dalvinha
Rosado, homenag
eada pela biblioteca; “Projeto de Alfabetização e Letramento”, com intuito
de acelerar o processo de alfabetização de adolescentes que estavam com níveis escolares
atrasados; e “Passaporte da liberdade”, com objetivo de despertar o hábito da leitura nos
adolescentes, com leituras semanais. Além disso, foram realizadas campanhas de arrecadação
de livros, com o objetivo de melhorar o acervo bibliográfico da escola.
À medida que a Unidade se reorganizou e restabelecia as atividades, outras propostas
foram surgindo e também fizeram parte do cronograma disciplinar neste período. Podemos
destacar as oficinas pedagógicas realizadas mensalmente. Temas como “Oficina: Construção
de origami”, “Confinamento: Anseios e sensações”, “Trabalho e cidadania” e
"Autoconhecimento" fizeram parte do trabalho interdisciplinar executado pelas equipes, como
mostra a figura cinco.
Figura 5
–
Oficina sobre confinamento
Fonte: Arquivo pessoal de um dos autores (2020)
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
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, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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Ao finalizar o ano, as equipes construíram relatórios de sistematização das atividades e
realizaram uma avaliação das ações pedagógicas executadas durante o primeiro ano com
pandemia. Perante o exposto, todas as atividades avaliadas deram sequência no ano seguinte,
com exceção do modo de aulas gravadas, que não respondeu positivamente na aprendizagem
do aluno. Com isso, a Unidade precisou se estruturar, através das ferramentas tecnológicas
necessárias, iniciando o ano letivo de 2021 com um novo método de aula.
Essas adaptações foram indispensáveis para que não houvesse mais prejuízos na
educação dos socioeducandos. É importante ressaltarmos, mais uma vez, que nesse período, o
retorno presencial também não era possível
10
. O planejamento do retorno presencial teve que
ser adiado e o ano letivo necessitou continuar de forma remota.
Outro ponto importante a relatar e um dos motivos pelo qual as aulas continuaram
virtualmente, foi que, nesse mesmo período, início do ano letivo de 2021, houve a perda de uma
das professoras da Unidade, acometida pela COVID-19, que infelizmente não resistiu a doença
e veio a óbito. Este momento se tornou um dos mais difíceis e dolorosos durante a Pandemia
para os sujeitos envolvidos neste processo.
Diante disso, as aulas seguiram remotas, mas, de modo síncrono, pela plataforma digital
Google Meet, para que houvesse uma interação entre professor e aluno de maneira mais
produtiva e satisfatória. Sendo possível o esclarecimento de dúvidas e apontamentos sobre
assuntos e atividades executadas no momento. Com o êxito no ano anterior, as atividades
lúdicas, com o auxílio das pedagogas da unidade, também deram continuidade no referido ano.
Com isso, a ideia central destas atividades era mostrar que as disciplinas poderiam ser
trabalhadas em conjunto, através de temas correlacionados.
A retomada das aulas se deu de forma gradativa. A dificuldade com as aulas remotas,
ainda que síncronas, continuaram. O processo de adaptação também se desenvolveu
gradativamente, mas as aulas nessa nova perspectiva já conseguiam trazer resultados positivos
no ensino. Diante desta nova ferramenta, os professores puderam desenvolver as aulas, durante
todo o ano letivo de 2021, de acordo com o conteúdo de suas respectivas disciplinas, desse
modo, não havia necessidade do trabalho interdisciplinar em sala. Mas a interdisciplinaridade
nas ações pedagógicas deu continuidade com as oficinas, projetos e atividades complementares
executadas concomitantemente às aulas.
10
Em 2021, o Brasil enfrentou o pior momento da pandemia, que passou de 617 mil mortes e mais de 22 milhões
de pessoas infectadas. Conforme a vacinação aumentou - são mais de 66% da população com a imunização
completa - os números diários diminuíram, mas o surgimento da variante Ômicron ligou o alerta das autoridades
de saúde (GARRETT, 2021).
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Ensinar e aprender em contextos de privação de liberdade e isolamento social: Uma experiência com socioeducandos do CASE, Mossoró-
RN
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Perante o exposto, apesar de mais de um ano depois do início da pandemia, além dos
conteúdos programáticos da EJA trabalhados em sala, os projetos que foram desenvolvidos
nesse período, também apresentaram um bom retorno educacional à escola. Retrato disso, é que
o CEJA/CASE de Mossoró foi uma das primeiras unidades de privação de liberdade do Estado
a conseguir desenvolver o ensino remoto e atender a todos os socioeducandos que cumprem
medida socioeducativa de internação na Unidade. Essas e outras práticas continuam sendo
executadas presentemente, agora de forma presencial, segura e educativas.
Considerações finais
Sabemos que os sujeitos do sistema socioeducativo são acometidos pelo preconceito,
pela invisibilidade e pelo estigma construídos socio-historicamente, por serem adolescentes em
conflito com a lei. Nesse sentido, o papel da escola como transformadora e formadora de
opinião, além de alicerçar os pilares fundamentais da educação, pode ser inserida nesse sistema
como uma alternativa, inclusive, no processo de ressocialização. A escola é indispensável neste
processo de cumprimento de medida socioeducativa e de ressocialização desses sujeitos.
A partir desses desafios, a troca entre educador e educando é fundamental no processo
de ensino e aprendizagem. Há muito tempo o professor deixou de ser o protagonista em sala de
aula, e isso precisa ser evidenciando ainda mais quando discutimos o ensino desenvolvido aos
adolescentes/alunos privados de liberdade. Assim sendo, a sensibilidade e o ouvir são fontes
norteadoras deste processo, que exige um olhar mais humanizado sobre essa realidade. A troca
de saberes descaracteriza o perfil de professor exclusivamente transmissor e de aluno apenas
como receptor, estabelecendo uma relação de troca em que o aluno aprenda, mas também seja
um fornecedor de conhecimentos, através de suas vivências e experiências.
Apesar de não existir um currículo voltado para atender especificamente esse perfil de
aluno, o saber-fazer pedagógico pode se reinventar, a partir dos contextos diversos, através das
práticas de ensino da EJA, de soluções alternativas e da interdisciplinaridade. Foi essa
adaptação e esforço que ficaram evidentes nas práticas de ensino de professores nesse período
pandêmico e vai em contraposição ao que foi veiculado nas mídias tendenciosas e reproduzidas
por negacionistas do nosso país.
A vista disso, concluímos que todas essas adaptações se fizeram necessárias diante do
momento que enfrentamos e consequentemente dessa nova forma de lecionar. Fez-se necessário
o trabalho de reflexão, de alinhamento, de sensibilização e de coparticipação entre os
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
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professores que atuam no CASE, as gestões das instituições e a equipe técnica e pedagógica da
Unidade.
Assim, diante do exposto, entendemos que as ações pedagógicas aplicadas no
CEJA/CASE se deram de forma positiva para os adolescentes, e que todas essas práticas
continuarão sendo desenvolvidas mesmo após esse contexto pandêmico. Os registros, relatórios
e a sistematização das atividades que estão sendo executadas tiveram uma análise avaliativa
positiva para a educação desses sujeitos socioeducandos.
Dessa forma, o saber-fazer pedagógico dos docentes tornou-se evidente neste período
de pandemia, ao contrário do que se foi falado e reproduzido por sujeitos que ocupam espaços
de poder, os professores trabalharam muito e precisaram se reinventar para tentar suprir as
demandas necessárias para o momento atual. O CEJA/CASE é um exemplo de escola e sujeitos
que utilizaram dos saberes e ensinamentos para enfrentar um dos piores momentos no mundo
e, consequentemente, na comunidade escolar.
Portanto, como professor do CEJA/CASE, me vi (um dos autores) no dever de não
“soltar a mão” dos meus alunos, sujeitos que já são socialmente marginalizados e
invisibilizados, e em condição de privação de liberdade, potencializando o isolamento e a
solidão que já carregam consigo durante o cumprimento da medida. Meu papel era mostrar que,
apesar de não estarmos fisicamente, estaríamos enfrentando este momento juntos, lado a lado,
de igual para igual. Que o medo e dificuldades que sentiam também eram nossos e que, apesar
das incertezas, a educação estaria lá presente e continuaria sendo o melhor caminho para a
ressocialização e transformação na vida deles. A educação é imprescindível e fundamental
nestes espaços, pois seu papel não é só de transformar, mas de salvar vidas.
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Areillen Ronney Rocha REGES e Emerson Augusto de MEDEIROS
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Como referenciar este artigo
REGES, A. R. R.; MEDEIROS, E. A. de. Ensinar e aprender em contextos de privação de
liberdade e isolamento social: Uma experiência com socioeducandos do CASE, Mossoró - RN.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385.
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462
Submetido em
: 11/05/2022
Revisões requeridas em
: 09/07/2022
Aprovado em
: 26/09/2022
Publicado em
: 30/11/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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Teaching and learning in contexts of deprivation of liberty and social isolation: An experience with socioeducators from CASE, Mossoró -
RN
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462 1
TEACHING AND LEARNING IN CONTEXTS OF DEPRIVATION OF LIBERTY
AND SOCIAL ISOLATION: AN EXPERIENCE WITH SOCIOEDUCATORS FROM
CASE, MOSSORÓ - RN
ENSINAR E APRENDER EM CONTEXTOS DE PRIVAÇÃO DE LIBERDADE E
ISOLAMENTO SOCIAL: UMA EXPERIÊNCIA COM SOCIOEDUCANDOS DO CASE,
MOSSORÓ
–
RN
ENSEÑANZA Y APRENDIZAJE EN CONTEXTOS DE PRIVACIÓN DE LIBERTAD Y
AISLAMIENTO SOCIAL: UNA EXPERIENCIA CON SOCIOEDUCANDOS DEL CASE,
MOSSORÓ - RN
Areillen Ronney Rocha REGES
1
Emerson Augusto de MEDEIROS
2
ABSTRACT
: This text aims to present reflections on the educational actions developed by
teachers of the Youth and Adult Education Center (CEJA), who work at the Socio-Educational
Service Center (CASE / Mossoró - RN), in the period of the COVID-19 Pandemic. It is
characterized as an experience report that is based, in methodological terms, both on the
approach of the teaching professional experience, and on the reflection on the educational
practice with socio-educated students who are serving a measure of deprivation of liberty in the
Unit, with a time frame of March 2020 to December 2021. We positively emphasize the
different educational practices listed, given that, during the activities carried out at the school,
we faced one of the biggest health crises of all time. In view of this, we highlight the importance
of interdisciplinary work in the improvement and construction of different knowledge, teaching
practices and knowledge about the educational reality at the moment.
KEYWORDS
: Socioeducation. Youth and Adult Education. Interdisciplinarity.
RESUMO
: Este texto tem como propósito apresentar reflexões acerca das ações educativas
desenvolvidas por docentes do Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA), que atuam no
Centro de Atendimento Socioeducativo (CASE/Mossoró - RN), no período da Pandemia da
COVID-19. Caracteriza-se como um relato de experiência que se apoia, em termos
metodológicos, tanto na abordagem da experiência profissional docente, quanto na reflexão
sobre a prática educativa com socioeducandos que cumprem medida de privação de liberdade
na Unidade, com recorte temporal de março de 2020 a dezembro de 2021. Ressaltamos,
positivamente, as diferentes práticas educativas arroladas, haja vista que, no decorrer das
1
Federal Rural University of the Semi-Arid (UFERSA), Mossoró
–
RN
–
Brazil. Specialist in Geography of the
Northeast and Specialist in Child and Adolescent Law. Master's Student of the Post-Graduate Program in Teaching
(POSENSINO/UFERSA). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6136-3727. E-mail:
areillen_ronney@hotmail.com
2
Federal Rural University of the Semi-Arid (UFERSA), Mossoró
–
RN
–
Brazil. Associate Professor. Permanent
Professor of the Graduate Program in Teaching (POSENSINO/UFERSA). PhD in Education. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-3988-3915. E-mail: emerson.medeiros@ufersa.edu.br
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Areillen Ronney Rocha REGES and Emerson Augusto de MEDEIROS
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462 2
atividades desenvolvidas na escola, enfrentávamos uma das maiores crises sanitárias de todos
os tempos. Diante disso, evidenciamos a importância do trabalho interdisciplinar no
aprimoramento e na construção de diferentes saberes, práticas de ensino e conhecimentos
acerca da realidade educacional frente ao momento.
PALAVRAS-CHAVE
: Socioeducação. Educação de Jovens e Adultos. Interdisciplinaridade.
RESUMEN
: Este texto tiene como objetivo presentar reflexiones sobre las acciones educativas
desarrolladas por docentes del Centro de Educación de Jóvenes y Adultos (CEJA), que actúan
en el Centro de Servicios Socioeducativos (CASE/Mossoró - RN), en el período de la Pandemia
del COVID-19. Se caracteriza por ser un relato de experiencia que se fundamenta, en términos
metodológicos, tanto en el abordaje de la experiencia profesional docente, como en la reflexión
sobre la práctica educativa con socio-estudiantes que se encuentran cumpliendo una medida
de privación de libertad en la Unidad. con un marco temporal de marzo de 2020 a diciembre
de 2021. Destacamos positivamente las diferentes prácticas educativas enumeradas, dado que,
durante las actividades realizadas en la escuela, enfrentamos una de las mayores crisis
sanitarias de todos los tiempos. Ante ello, destacamos la importancia del trabajo
interdisciplinario en el perfeccionamiento y construcción de diferentes saberes, prácticas
docentes y saberes sobre la realidad educativa del momento.
PALABRAS CLAVE
: Socioeducación. Educación de Jóvenes y Adultos. Interdisciplinariedad.
Introduction
In contemporary times, it is necessary to think as the teacher who works with teaching
in basic education aligned with the socio-educational measure, because it deals with the
challenges in its teaching practice, trying to consider the educational specificities, the socio-
historical contexts of the students and the experiences they carry from the society and culture
in which they are inserted. With the emergence of the Pandemic caused by COVID-19, the
existing problems intensified and, in addition to uncertainties about the future of education in
the country, caused several reflections on the teaching actions to be worked on.
This pandemic period, which we are still facing, has potentiated socioeconomic
inequalities and brings great concern to Basic Education throughout the country, especially
when it comes to the public network, according to a technical note published by the Institute of
Applied Economic Research (KUBOTA, 2020). The world stopped and teachers had to reinvent
themselves to maintain education and not cause more harm, especially for the most penalized
students, such as those who comply with a socio-educational measure of hospitalization. But
what educational strategies could be developed to momentarily rescan the lack of education
these young people face?
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Teaching and learning in contexts of deprivation of liberty and social isolation: An experience with socioeducators from CASE, Mossoró -
RN
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462 3
Remote classes and interdisciplinarity emerged as devices of temporary solution and
easing of the educational challenge that was seen. With this, it was necessary to think about
new strategies and tools that could supply the physical absence of the teacher and/or the
decrease in the number of classes. Technology emerges as an immediate solution and great ally
during this time, while becoming a problem of adaptation for teachers who did not "master" the
proposed technological tools.
This text, thus, is configured as an experience report, since it emerges to describe the
educational practice that teachers working in a system of deprivation of liberty, the Center for
Socio-educational Care (CASE/Mossoró - Rio Grande do Norte, Brazil), faced during the
Pandemic, having as a time frame the period from March 2020 to December 2021. Therefore,
it is illusory not to bring experience from the perspective of the students, in view of the
proportional dimension of difficulties faced in the different educational and teaching practices.
As Paulo Freire (1993) points out, it is not possible for educators to think exclusively
about didactic procedures and the contents to be taught. From this point of view, the author
presents a reflection of a broad and humanized view that educators must conduct in the
teaching-learning process. In addition, the didactic and content procedures had to undergo
constant changes until they reached a reasonably achievable level, in view of the current
moment.
In this perspective, due to the specificities and weaknesses that youth and adult
education (EJA) is configured, the teaching modality that assists these students, it is necessary
to emerge a reflection on the formative practices and how they should be conjecture in the
promotion of efficient pedagogical and interdisciplinary practices, so that one can excel in the
quality of teaching and believe in the professional and personal growth of these subjects,
mediators of knowledge and life experiences.
We emphasize that we take as a clipping for the text the educational experiences
produced in CASE/Mossoró - RN, based on the experiences built by teachers and students in
the pandemic period. It is also important to highlight that the experience described in this report
was experienced by one of the authors of the text. Thus, we were able to analyze through
observation, problematization and reflection of the practices developed in the aforementioned
Socio-Educational Unit.
Outlined in this brief introduction, in this work we will, at first, address the structural
and educational characteristics of the Socio-educational Care Foundation (RIO GRANDE DO
NORTE, 2019), as well as the educational partnership with the Youth and Adult Education
Center (CEJA). Later, we will discuss the initial impact that the Pandemic has brought to the
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Areillen Ronney Rocha REGES and Emerson Augusto de MEDEIROS
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unit's students, reporting the difficulty of communication and access in deprivation of liberty
units. We will also bring an approach of the first contact, as well as the first activities developed
and which reflections are constructed to follow up on the next pedagogical actions. Finally, we
analyze and present reflections on the interdisciplinary approach that teachers worked on,
relating to aspects of curricular contents experienced.
Education with subjects deprived of liberty from the perspective of the EJA - Some notes
Access to quality education is a fundamental right for the development of citizenship.
The conquest of the right to education, with the obligation of Elementary School, expressed in
the Federal Constitution of 1988 (BRASIL, 1988), in the Statute of children and adolescents
(BRASIL, 1990) and in the Law of Guidelines and Bases of National Education (BRASIL,
1996), brought a considerable advance for Brazilian education.
Based on these legal frameworks, the Education of Youth and Adults (EJA) was
instituted by LDB 9,394/1996 (BRASIL, 1996) as the modality of education that guarantees the
educational rights of the population aged 15 years or older, who did not have access to or
interrupted their studies before completing Basic Education. It emerges as an important means
of social insertion and reduction of the illiteracy rate. In addition to offering flexibility, it also
provides a world of teaching and learning possibilities for those who once abandoned their
dreams and educational/professional goals.
The socio-educational care units of the State that receive adolescents in conflict with the
law should be responsible both for the socio-educational measures, as well as for ensuring the
mandatory pedagogical activities and access to school, through the EJA, to the detriment of the
configuration of the school profile that the socio-students fit, since they are from different
school years. In this context, the school needs to be present actively and regularly during the
entire time of compliance with the student's hospitalization measure, which means that these
subjects need to be enrolled/assisted and comply with all pedagogical and teaching proposals
that regulate the Teaching Institution of the EJA.
The school is a fundamental instrument in the construction of a citizen, especially
adolescents who comply with a measure of deprivation of liberty. In this process, the school
has an important role that is necessary and especially possible to change the reality and destiny
of these marginalized/invisible youth, in order to bring them back to society. With this, there is
a lack and, therefore, the need to demystify the paradigms that permeate the systems of
deprivation of liberty, and it is also necessary a more humanized look at these spaces and the
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Teaching and learning in contexts of deprivation of liberty and social isolation: An experience with socioeducators from CASE, Mossoró -
RN
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subjects who occupy them. Thus, this invisibility ends up reflecting and affecting not only these
subjects, but also the professionals involved in the spaces and processes, such as the teachers
themselves.
In this sense, the objective of this report is, above all, to show what was experienced in
terms of educational actions, in the educational perspective, to health the physical absence of
teachers during the Pandemic period and, thus, also to bring visibility and knowledge to the
academic community and society in general, about teachers who work in these spaces with
students deprived of liberty. From this perspective, we can say that this report becomes an
instrument of social and educational relevance, to the extent that it is beyond a certain
systematic knowledge that emerges from the experience.
From another perspective, the choice for this report may be based on what is highlighted
by Bondía (2002). According the author, the experience is what passes us, what happens to us,
what touches us. Every day many things happen, but at the same time, almost nothing happens
to us or touches us. In this sense, the author explains that the experiences and their reports
should affect and cross the subjects involved, otherwise it is not an experience. Many
experiences happen, but not everything crosses us. What affects and transforms us is
experience.
Thus, writing about the experiences of this pandemic period in CASE is to show what
affected/crossed us and, above all, how these experiences are transformed in learning. But this
process is unique, depends on the individual look of each subject. Exemplifying this fact, we
can say that the same experience involving several people can affect us, but not to another
subject, so the singularity that each moment of experience and in each person manifests itself.
We emphasize that we seek to list the pedagogical and teaching practices that were
developed in this time to minimize the damage caused by the stoppage of classes, and it is not
appropriate to produce an analysis of the socio-educational measures of the adolescent during
his period of hospitalization in Fundase, but of the teaching actions.
3
In this sense, it was necessary to identify, in methodological terms, the methods and
techniques experienced that connected the subjects of the CASE EJA with the school and their
teachers, considering that the classroom classes were not opportune for the moment and that
adolescents who comply with socio-educational measures of hospitalization cannot have access
to technological devices that offer communication.
3
The foundation is responsible for assisting/accompanying adolescents who commit an infraction and comply
with socio-educational measures in the NB, in all there are 10 units that serve adolescents in conflict with the law,
ranging from temporary care units, hospitalization to semi-freedom.
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This last report is one of the specificities, among many others, found in units of
deprivation of liberty for teachers. It is worth saying that, for the construction of a quality
education, it is also necessary to know pedagogical know-how, especially in view of the
specificities and problems that can be found in the school routine. Therefore, we listed the
educational actions adopted in the pandemic period by CASE/Mossoró - RN.
Teach and learn at CASE, Mossoró - RN, in the pandemic context - an experience
This report has as
locus
of experience the socio-educational care unit of hospitalization
of Mossoró-RN. This city is the second most important city in the state and is located in the
northwest of Potiguar, between two metropolitan regions, Fortaleza (CE) and Natal (RN) and
about 200 km away from each of them. The aforementioned socio-educational care unit is
CASE/Mossoró, it assists adolescents in conflict with the law who have committed an infraction
and who comply with a socio-educational measure of hospitalization. Map 1, highlighted in the
sequence, concerns the location of the city of Mossoró-RN, likewise also shows the good
geographical position it holds between the capitals.
4
Map 1
- Location of the city of Mossoró
Source: Elias and Pequeno (2010)
In Mossoró-RN, among the various institutions working with the EJA, we have the
Center for Youth and Adult Education (CEJA) Professor Alfredo Simonetti, which is a state
school located in the Santo Antônio neighborhood, which was inaugurated in June 1978, but
4
This specific location is pointed out by Elias and Small (2010) as one of the factors of the growth and development
of the city, which has been accompanied by a significant increase in crime in recent years, directly reflecting on
the growth of the population deprived of liberty.
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Teaching and learning in contexts of deprivation of liberty and social isolation: An experience with socioeducators from CASE, Mossoró -
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was only officially established by Dec. 7,707 of October 5, 1979 (1st grade education) and Dec.
9,008 of July 13, 1984 (teaching 2nd grade). With the Mission of "Providing relevant service,
in the educational sphere, providing quality education to young people from Mossoró, rural area
and neighboring cities", and serving about 1,100 students.
The EJA has an educational/school partnership and is responsible for assisting
adolescents who comply with a socio-educational measure at the Socio-educational Care Center
(CASE). The CEJA is responsible for sending teaching materials and making teachers available
to the socio-educational unit. CASE is one of Fundase's socio-educational care units in Rio
Grande do Norte.
CASE is the only inpatient unit in Mossoró and is assisted by the CEJA. The unit's team
is composed of Management, Technical Team (pedagogues, psychologists and social workers)
and Socio-educational Agents. The adolescents of this unit (male only) comply with at least six
months of hospitalization (deprivation of liberty), being reassessed at the end of this time, and
may be extended for the same period or progressed to a less burdensome measure, such as semi-
freedom and assisted freedom. The latter is the responsibility of the Municipal power, to
accompany the family and the socio-educational measure of the adolescent, through CRAS
5
and CREAS.
6
The school within the system is mandatory and should be a priority during the period of
hospitalization of the socio-student, as mentioned. Despite being considered a "sub-nucleus" of
the EJA, the EJA in CASE has a school structure in its premises, with classrooms, auditorium,
secretariat and library. Although it is a school structure, the space also brings security elements
for both students and servers. Although these elements do not mischaracterize the school
environment. The school follows the same teaching system of the CEJA, according only to the
particularities of logistics and operation of the Unit.
Due to the age group, the CEJA provides teachers only for elementary school, offering
the disciplines of Language (Portuguese and English), Mathematics, Human sciences
(Geography, History and Religious Education) and Sciences (Physics, Chemistry and Biology),
adopting the multiserial as a teaching organization and seeking to recognize the different levels
of knowledge. In this logic, the teachers of the institution teach through the set of disciplines,
that is, the professor of Humanities holds the three disciplines of the area.
5
The Social Assistance Reference Center (CRAS) is the public unit responsible for providing services, programs
and benefits aimed at preventing risk situations and strengthening family and community ties.
6
The Specialized Reference Center for Social Assistance (CREAS) is a public unit of Social Assistance that assists
people experiencing situations of violations of rights or violence.
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During the pandemic period, the CEJA/CASE school had the total suspension of classes,
as well as all schools in the State. In the midst of so many uncertainties, something needed to
be done to reduce the absence of classes and not penalize even more young people already so
socially penalized. With this, there was a need to think about new strategies and tools that could
supply this physical absence of the teacher and/or the decrease in the number of classes.
The CASE had four teachers at the time and about 48 adolescents in the Unit - maximum
capacity of interns - but not all were enrolled in the CEJA, due to the lack of teacher. Teacher
shortages are a recurring problem in the prison and socio-educational systems. Although not
enrolled, the teachers, together with the professionals of the Unit, decided to assist all the interns
at that time, in view of the isolation they faced and that the material produced could be used
with the other.
When communication difficulties were observed, especially when it comes to systems
of deprivation of liberty, teachers were challenged by the Sub-Coordinator of Youth and Adult
Education (SUEJA) to try to communicate with students through letters, taking into account the
period of isolation caused by the Pandemic, in addition to the particularities of access to
communication of the Unit itself.
This first indication is one of the most impactful in this process. How to imagine that a
globalized, developed and technological world would need to use one of the first and oldest
media. However, it was through this first resource that it was possible to re-establish contact
with the Unit and consequently with the students, and only from this opening, develop teaching
forms and practices that could meet the educational need before the moment.
Before addressing the educational forms and practices developed later, it is important to
emphasize the importance that this first moment with the letters has brought throughout the
process. In fact, this is already one of the possible means of communication used in the country's
deprivation of liberty systems for mutual contact between socio-students and family members,
but in view of the previously pandemic context little was used, since face-to-face visits and
telephone calls, made weekly, were sufficient to establish the link of sociability with family
members.
7
In the pandemic context, the use of the letters caused strangeness, difficulty and
curiosity at first contact with students. And these sensations can be explained by the lack of
familiarity, as well as by the lack of knowledge of studies on types and classification of cards.
7
The Internal Rules of Procedure of the Fundase regulates the functioning of the Socio-Educational Units of the
State, the Safety Manual highlights in Art. 15. All letters or any other form of writing made by the socio-students/as
will be delivered to the Technical Team for appropriate arrangements, making registration in the case book.
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In view of this, teachers were awakened a way of working on this theme, in an interdisciplinary
way, in the classroom. This would be the first class planned together to continue in remote
classes. Let's look at figure one.
Figure 1
- First remote lesson (letters)
Source: Personal archive of one of the authors (2020)
The photographic record above shows the first classes, in the classroom, after the
isolation of the students in the Unit
8
itself. The letters provided unusual moments and great
emotion in such a delicate time, receiving and producing them aroused feelings of link and
approximation that, even in face-to-face classes, were never experienced.
Faced with these thoughts, in fact, the classes began with the theme of media and types
of letters. Subsequently came the production of letters-response to the teachers. We had access
to them, developed a documentary analysis and highlighted that, despite the little skill with
writing, the reports brought are impressive and reveal the loneliness of subjects who were
isolated/incommunicado within the deprivation of liberty itself.
From this occasion arises the possibility of a temporary and effective solution to
maintain teaching: the implementation of Remote Classes. It is important to report that the
modality of distance education, until then "prohibited as a priority tool in basic education,
becomes the pragmatic solution for the moment of the pandemic crisis" (SOARES, 2020, p. 7).
This immediate solution arises in the face of pressure from business and government groups to
return to classes and fulfill the school calendar. It would be a way to solve the lack of face-to-
8
All the figures presented in the text were blurred. The aim is to preserve and safeguard the image and identity of
adolescents deprived of liberty, as provided for in the Child and Adolescent Statute (ECA). These personal rights,
considered fundamental and listed in the form of a standing clause in the Federal Constitution of 1988.
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face classes, even if it is a new and different tool, in which teachers had to master and become
familiar urgently.
In addition to the lack of digital and electronic resources that schools face, another
possibility that may explain the lack of skill of teachers with these resources is what Gomez
(2008) points out as "the school's negative perspective on the culture of the media". In this
sense, the author points out that this is due to old stereotypes attributed to media content,
revealing a historical resistance of the school with means of communication and technology,
using it as a mere reproduction tool.
In contrast to this, Freire (2001, p. 46, our translation) draws attention to the importance
of critical posture about technology "as a form of increasingly sophisticated intervention in the
world, [...] to be subjected to ethical and political sieve, [
…]
and as it gains importance] the
need for ethical vigilance over it, an ethics at the service of the people, of its ontological
vocation to be more". Given the specificities that a unit of deprivation of liberty brings, it was
necessary to align technology and mechanization with the connectivity of a humanization work.
Due to this scenario, another point to be observed is the lack of structure and
technological tools that the Unit had to conduct virtual classes, in addition to the health
requirements and protocols to reduce the risk of contamination of the COVID-19 virus.
Therefore, we observed that, like several schools in the country, CASE/Mossoró also faced
structural/technological difficulties and, given the situation, it was necessary to ensure that non-
face-to-face activities were developed in an organized, safe and rigorous manner in terms of the
circulation of knowledge. The viability of remote classes only became feasible in view of the
concomitant planning and execution efforts among the Foundation team, The EJA, coordinators
and teachers of the Unit.
With the possibility of following through virtual classes, new practices of educational
actions have been developed and the need and importance of interdisciplinarity in this process
is notorious. With this, SUEJA proposed three axes of guide affairs (The Planet, Social
Inequality and Social solidarity and Care). According to Freire (1987), it is possible through
interdisciplinarity to develop an action that encompasses 'more people', breaking with the notion
of a work segmented in disciplines, practices and knowledge. One of the various contributions
of Paulo Freire's theories and practices is the notion of interdisciplinarity.
In this sense, in addition to these axes, several other themes, contents and activities to
be developed emerged, some of them in the current and context panorama of the school, despite
the many problems and specificities faced in the Unit. In view of this, the permanent training
of teachers assumes a unique place in the construction of the pedagogical project of the school
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in this period, an opportunity to make a space for the construction of teaching knowledge and
techniques, considering interdisciplinary practice.
We know that the concept of Interdisciplinarity goes beyond content and disciplinary
teaching proposals developed together. According to Medeiros (2018), interdisciplinarity in
Education is realized from attitudes and actions towards knowledge, which require
collaboration, interaction, engagement, contextualization and reciprocity between the
knowledge produced and reality. From this perspective, it is necessary to exchange knowledge
between disciplines, containing in itself planning, methodology and evaluation. According to
Medeiros (2018, p. 171, our translation), we emphasize interdisciplinarity in Education:
In educational interdisciplinarity, the technical aspects, purposes and
procedures aim to add and favor the teaching and learning process, respecting
the knowledge of the students and their interaction with disciplinary
knowledge. It is not intended to break with disciplines or create new ones, nor
does disciplinary training be denied [...] it is a question of making them
communicative with each other, conceiving them as historical, social and
cultural processes, making them significant at the center of problems and
phenomena of different scopes.
In view of the author's foregoing, when pointing out the educational actions developed
in CASE/Mossoró in the pandemic context, we consider that this perspective of education
materialized at the time of activities in schools. Having said that, we will follow up on the
chronological analysis of the construction of these activities. Due to the lack of structure and
equipment in the Unit (internet, computers and TVs), the remote classes in the course of the
year 2020 were carried out through videos previously recorded by teachers, as shown in the
following figure.
Figure 2
- Recorded class
Source: Personal archive of one of the authors (2020)
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At that time, classes were already taking place in the classroom and no longer in the
school auditorium. Due to the new location, the classes had to be fractionated and chosen
according to the logistics of the Unit, also respecting the social distancing and the limit of space.
It is important to always associate the way classes are conducted with the current picture of the
pandemic. At the time, mid-August 2020, the numbers of COVID-19 were alarming, although
it did not reach the peak of cases of contamination and deaths, the vaccine was still being
developed and tested and a face-to-face return was something very distant. That said, the
planning and executions followed and took place according to the situation put.
9
Figure two also depicts a problem caused by the recorded video lesson method. That
was didactically planned, the model did not present itself positively and delayed the student's
learning. In this aspect, we can highlight as the main factor of this inefficiency the lack of
interaction and simultaneous dialogue with teachers. The lack of interactivity made the class
plastered and tiring, although the development of playful activities at the end of each class,
supported by the unit's technical team, was not enough to hold attention and arouse interest
from students.
We noticed, in this process, that the recorded mode also made it impossible for the
doubts and notes to be immediately addressed, the present team did not have disciplinary
knowledge to address these doubts, so the questions were recorded, sent to teachers and only
answered the following week, considering that this was the agreed time for planning,
construction and forwarding of classes.
In this context of interaction, we can bring some implications pointed out by Freire
(1970), the author elucidates that the more we analyze the educator-educating relationships, at
school, at any of their levels, it seems that more convinces us that they present a special and
striking character, that of being fundamental relationships narrators, dissertations. With this,
the author emphasizes the importance of establishing relationships, narrowing distances and
building bridges between knowledge and the subjects involved. It is understandable the
inadaptation of students with this method, it is temporary solution, something new, complex,
confusing, unexpected and difficult. Reasons that also reflect and extend in understanding to
teachers.
9
Brazil had, in August 2020, 28,947 deaths by Covid-19. Experts warned, however, that the figures did not mean
an end to the fight against the pandemic
.
The situation in the country was "worrisome" from an epidemiological
point of view. Furthermore, the arrival of warmer seasons would be another factor that should contribute to the
increase in transmission of the virus (PINHEIRO, 2020).
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Teaching and learning in contexts of deprivation of liberty and social isolation: An experience with socioeducators from CASE, Mossoró -
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Even in the face of these problems, the school maintained this mode until the end of the
year. In view of this, several themes were developed with the help of the pedagogues of the
Unit. We list some of these topics, such as "ECA
–
30 years", "Rights and duties", "Family
Week", "Father's Day", "Student Week", "Environment: Sustainability", "Yellow September:
Suicide Prevention", "Brazilian Folklore", "Teacher's Day", "Pink October", "Technologies and
their importance and development over time", "Proclamation of the Republic", "Literacy and
Freedom", "Black Consciousness Day", "Family and school", "Biome caatinga: case
afforestation project" and "Christmas: a special birthday". Approached in a multi- and
interdisciplinary way regarding content.
Parallel to the classes, in the same year, other projects were developed together between
the unit teams and the teachers of the CEJA /CASE. Among them, we can highlight the "CASE
afforestation project", which consisted of planting trees given by the Federal Rural University
of the Semi-Arid (UFERSA), with theoretical classes addressing the origins and specificities of
plants and in practice with the planting of trees in order also to make the Unit more wooded;
"Aquaponia Project", which developed theoretical classes on the theme and practices through
the monitoring of the creation of vegetable gardens and fish, a partnership between UFERSA
and the Cathedral of Santa Luzia; and the "Mudas Project: Sowing tomorrow", with theoretical
and practical classes on the importance of the relationship between man and the environment
in the social context. Next, let's look at the practical execution of one of the activities:
Figure 3
- Aquaponics Project
Source: Personal archive of one of the authors (2020)
Among the projects, we highlight the not yet mentioned "Living Library Project -
Passport of Freedom". Faced with isolation within their own deprivation of liberty, in the first
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Areillen Ronney Rocha REGES and Emerson Augusto de MEDEIROS
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.,
Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462 14
meetings, the socio-students revealed a desire to read in the lodgings (dormitories), a place that
they spent all their time.
This reading interest from the adolescents awakened in the teachers and staff of the Unit
the reactivation of the school library, disabled for years. Thus, the project was designed so that
the students themselves were part of the construction of the restructuring processes of the
Library, making them understand the importance of reading in the formation of a thinking
citizen. Figure four depicts one of these moments.
Figure 4
- Cataloguing and organization of books
Source: Personal archive of one of the authors (2020)
The figure above shows how some of these libraries restructuring and activation steps
occurred. It is important to emphasize that what was proposed materialized, the socio-students
participated in all stages of construction of the reactivation of the Library. We listed the main
steps. The project began with the cleaning and organization of books, bookshelves and the site;
the second step was to learn and catalog the books; in a third moment, with the books already
put on, the students took theoretical classes in the space, in order to familiarize them with the
environment; and finally, they produced arts (handicrafts) on the theme, which was presented
in the final stage of the project, the reopening of the Dalvinha Rosado Library.
The activation of the library triggered other activities to work in the school, projects that
were developed in the environment itself, such as "Project September Citizen: Self of
Freedom", which brought a historical rescue of the four libertarian acts of the city of Mossoró,
through the struggle and resistance of its people, as well as the history / legacy of life of
Dalvinha Rosado, honored by the library; "Literacy and Literacy Project", in order to accelerate
the literacy process of adolescents who were with late school levels; and "Passport of freedom",
in order to awaken the habit of reading in adolescents, with weekly readings. In addition, book
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RN
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collection campaigns were carried out with the aim of improving the school's bibliographic
collection.
As the Unit reorganized and restored the activities, other proposals emerged and were
also part of the disciplinary schedule in this period. We can highlight the pedagogical
workshops held monthly. Themes such as "Workshop: Origami Construction", "Confinement:
Longings and Sensations", "Work and Citizenship" and "Self-Knowledge" were part of the
interdisciplinary work performed by the teams, as shown in figure five.
Figure 5
- Workshop on confinement
Source: Personal archive of one of the authors (2020)
At the end of the year, the teams built systematization reports of the activities and carried
out an evaluation of the pedagogical actions performed during the first year with a pandemic.
In view of the above, all the activities evaluated followed the following year, except for the
recorded class mode, which did not respond positively to the student's learning. With this, the
Unit had to structure itself, through the necessary technological tools, starting the school year
2021 with a new class method.
These adaptations were indispensable so that there would be no more harm in the
education of socio-students. It is important to emphasize, once again, that in this period, face-
to-face return was also not possible. The planning of the face-to-face return had to be postponed
and the school year needed to continue remotely.
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In 2021, Brazil faced the worst moment of the pandemic, which passed 617,000 deaths and more than 22 million
people infected. As vaccination increased - there are more than 66% of the population with full immunization -
the daily numbers decreased, but the appearance of the variant Omicron called the health authorities alert
(GARRETT, 2021).
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Another important point to report and one of the reasons why classes continued virtually
was that, in the same period, beginning of the school year 2021, there was the loss of one of the
teachers of the Unit, affected by COVID-19, who unfortunately did not resist the disease and
died. This moment became one of the most difficult and painful during the Pandemic for the
subjects involved in this process.
Therefore, the classes were remote, but synchronously, through the Google Meet digital
platform, so that there was an interaction between teacher and student in a more productive and
satisfactory way. It is possible to clarify doubts and notes about subjects and activities currently
performed. With the success of the previous year, the playful activities, with the help of the
pedagogues of the unit, also continued in that year. With this, the central idea of these activities
was to show that the disciplines could be worked together, through correlated themes.
The resumption of classes took place gradually. The difficulty with remote classes,
although synchronous, continued. The adaptation process also developed gradually, but the
classes in this new perspective were already able to bring positive results in teaching. In view
of this new tool, teachers were able to develop classes throughout the 2021 school year,
according to the content of their respective disciplines, so there was no need for
interdisciplinary work in the classroom. But interdisciplinarity in pedagogical actions continued
with the workshops, projects and complementary activities performed concomitantly with the
classes.
In view of the above, despite more than a year after the beginning of the pandemic, in
addition to the programmatic contents of the EJA worked in the classroom, the projects that
were developed during this period also presented a good educational return to the school. A
picture of this, is that the CEJA/CASE of Mossoró was one of the first units of deprivation of
liberty of the State to be able to develop remote education and meet all socio-students who
comply with a socio-educational measure of hospitalization in the Unit. These and other
practices continue to be carried out at present, now in person, safe and educational.
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Final considerations
We know that the subjects of the socio-educational system are affected by prejudice,
invisibility and stigma constructed socio-historically, because they are adolescents in conflict
with the law. In this sense, the role of the school as a transformer and opinion-forming agent,
in addition to the fundamental pillars of education, can be inserted in this system as an
alternative, even in the process of resocialization. The school is indispensable in this process of
compliance with socio-educational measures and resocialization of these subjects.
Based on these challenges, the exchange between educator and student is fundamental
in the teaching and learning process. The teacher has long since ceased to be the protagonist in
the classroom, and this needs to be evidenced even more when we discuss the teaching
developed to adolescents/students deprived of freedom. Therefore, sensitivity and listening are
driving sources of this process, which requires a more humanized look at this reality. The
exchange of knowledge mischaracterizes the profile of a teacher exclusively transmitting and
of the student only as a receiver, establishing an exchange relationship in which the student
learns, but also is a provider of knowledge, through his experiences and experiences.
Although there is no curriculum aimed at specifically meeting this profile of students,
pedagogical know-how can be reinvented, from the diverse contexts, through the teaching
practices of the EJA, alternative solutions and interdisciplinarity. It was this adaptation and
effort that became evident in the teaching practices of teachers in this pandemic period and goes
in opposition to what was conveyed in the biased media and reproduced by denialists of our
country.
In view of this, we conclude that all these adaptations were necessary in view of the
moment we face and consequently this new way of teaching. It was necessary to work on
reflection, alignment, awareness and co-participation among the teachers who work at CASE,
the management of the institutions and the technical and pedagogical team of the Unit.
Thus, in view of the above, we understand that the pedagogical actions applied in the
CEJA/CASE were positive for adolescents, and that all these practices will continue to be
developed even after this pandemic context. The records, reports and systematization of the
activities being performed had a positive evaluative analysis for the education of these socio-
educating subjects.
Thus, the pedagogical know-how of teachers became evident in this period of pandemic,
contrary to what was spoken and reproduced by subjects who occupy spaces of power, teachers
worked hard and had to reinvent themselves to try to meet the demands necessary for the current
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moment. The CEJA/CASE is an example of school and subjects who used the knowledge and
teachings to face one of the worst moments in the world and, consequently, in the school
community.
Therefore, as a teacher of the CEJA /CASE, I saw myself (one of the authors) in the
duty not to "let go" of my students, subjects who are already socially marginalized and invisible,
and in a condition of deprivation of liberty, enhancing the isolation and loneliness they already
carry with them during the fulfillment of the measure. My role was to show that, even though
we are not physically, we would be facing this moment together, side by side, on an equal to
equal. That the fear and difficulties they felt were also ours and that, despite the uncertainties,
education would be there and would continue to be the best way for resocialization and
transformation in their lives. Education is indispensable and fundamental in these spaces,
because its role is not only to transform, but to save lives.
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DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462 20
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REGES, A. R. R.; MEDEIROS, E. A. de. Teaching and learning in contexts of deprivation of
liberty and social isolation: An experience with socioeducators from CASE, Mossoró - RN.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ.
, Araraquara, v. 23, n. 00, e022014, 2022. e-ISSN: 2594-8385.
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v23i00.17462
Submitted
: 11/05/2022
Revisions required
: 09/07/2022
Approved
: 26/09/2022
Published
: 30/11/2022
Processing and publication by the Editora Ibero-Americana de Educação.
Correction, formatting, standardization and translation.