Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 1
O PAPEL DO PROJETO ARTESANATO SUSTENTÁVEL SOBRE QUESTÕES DE
GÊNERO E DIVERSIDADE QUE ADENTRAM OS PORTÕES DA ESCOLA
EL PAPEL DEL PROYECTO ARTESANAL SUSTENTABLE EN CUESTIONES DE
GÉNERO Y DIVERSIDAD QUE INGRESAN A LAS PUERTAS DE LA ESCUELA
THE ROLE OF THE SUSTAINABLE CRAFT PROJECT ON GENDER AND
DIVERSITY ISSUES THAT ENTER THE SCHOOL GATES
Luciane da Silva VICENTE1
e-mail: lusivisv@hotmail.com
Como referenciar este artigo:
VICENTE, L. da S. O papel do Projeto Artesanato
Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que
adentram os portões da escola. Doxa: Rev. Bras. Psico. e
Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN:
2594-8385. DOI:
https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613
| Submetido em: 08/01/2023
| Revisões requeridas em: 05/05/2023
|Aprovado em: 22/06/2023
|Publicado em: 05/10/2023
Editor:
Prof. Dr. Paulo Rennes Marçal Ribeiro
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Nove de Julho (UNINOVE), São Paulo SP Brasil. Professora de Ensino Fundamental II e
Médio na rede Municipal de São Paulo. Doutora em Educação.
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 2
RESUMO: O presente texto traz um relato de experiência vivenciado no desenvolvimento de
um projeto de educação ambiental realizado numa escola pública municipal de ensino
fundamental da zona leste de São Paulo. Intitulado de Artesanato Sustentável, o referido
projeto teve como premissa desenvolver a consciência ambiental e preconizar práticas de
responsabilidade social que visem o reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos. No
entanto, no decorrer do seu desenvolvimento, o fazer artesanal se configurou como uma
potente estratégia para discussão de questões relativas a gênero, sexualidade e diversidade
sexual. Neste sentido, o objetivo central do presente trabalho é apresentar as contribuições do
Projeto Artesanato Sustentável no combate aos discursos reguladores que produzem
desigualdades no âmbito da diversidade humana. Essa experiência oportunizou conhecer
outras perspectivas para abordagem da temática diversidade sexual na escola e ressignificar
sentido da resistência no que tange o trabalho com a educação sexual.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Artesanato Sustentável. Gênero. Diversidade.
RESUMEN: El presente texto trae un relato de experiencia vivida en el desarrollo de un
proyecto de educación ambiental realizado en una escuela primaria pública municipal en la
zona este de São Paulo. Titulado Artesanía Sustentable, el mencionado proyecto tuvo como
premisa el desarrollo de la conciencia ambiental y la promoción de prácticas de
responsabilidad social orientadas a la reutilización de los residuos sólidos urbanos. Sin
embargo, en el transcurso de su desarrollo, la artesanía se ha convertido en una poderosa
estrategia para discutir temas relacionados con el género, la sexualidad y la diversidad
sexual. En este sentido, el objetivo principal de este trabajo es presentar los aportes del
Proyecto Artesanía Sostenible en la lucha contra los discursos normativos que producen
desigualdades en el ámbito de la diversidad humana. Esta experiencia permitió conocer otras
perspectivas de abordaje del tema de la diversidad sexual en la escuela y redefinir el sentido
de la resistencia en términos del trabajo con la educación sexual.
PALABRAS CLAVE: Educación Ambiental. Artesanía Sostenible. Género. Diversidad.
ABSTRACT: The present text brings an experience report lived in the development of an
environmental education project conducted in a municipal public elementary school in the
east zone of São Paulo. Entitled Sustainable Craftsmanship, the aforementioned project had
as its premise the development of environmental awareness and the promotion of social
responsibility practices aimed at reusing solid urban waste. However, during its development,
craftsmanship has become a powerful strategy for discussing issues related to gender,
sexuality, and sexual diversity. In this sense, the main objective of this work is to present the
contributions of the Sustainable Craft Project in the fight against regulatory discourses that
produce inequalities within the scope of human diversity. This experience made it possible to
learn about other perspectives for approaching the theme of sexual diversity at school and to
redefine the meaning of resistance in terms of work with sex education.
KEYWORDS: Environmental Education. Sustainable Craftsmanship. Gender. Diversity.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 3
Introdução
O artesanato sustentável é uma prática voltada para o campo da educação ambiental
que consiste em transformar materiais comumente descartados no lixo em objetos artesanais.
Alinhado à conduta de contribuir com a sustentabilidade e melhorar a qualidade de vida das
pessoas envolvidas no processo, o artesanato sustentável tem como premissa desenvolver a
consciência ambiental e preconizar práticas de responsabilidade social que visem a
reutilização de resíduos sólidos urbanos.
Nessa perspectiva, uma parte dos resíduos que iriam parar nos lixões, córregos, rios ou
oceanos assume outra forma por meio do reaproveitamento, reduzindo os danos ao meio
ambiente. Para além do fazer artesanal, o Projeto Artesanato Sustentável visa construir um
ambiente de aprendizagem em que os estudantes analisam situações, discutam ações e atuem
para solução de problemas através de processos de cooperação. Nesse sentido, fundamenta-se
a aprendizagem para a mudança social.
No desenvolvimento das atividades do Projeto Artesanato Sustentável foi empregada a
metodologia ativa, baseada em problemas, possibilitando que os estudantes desenvolvessem
seu potencial criativo, partilhassem ideias e apreendessem os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento planeados no Currículo da Cidade de São Paulo.
Berbel (2011, p. 29) define Metodologias Ativas como formas de desenvolver o
processo de aprender, utilizando experiências reais ou simuladas, visando às condições de
solucionar, com sucesso, desafios advindos das atividades essenciais da prática social, em
diferentes contextos.
Dito de outro modo, são situações de aprendizagem que impulsionam o potencial
intelectual dos estudantes quando instigados a elaborá-las e reelaborá-las em função do que
precisam argumentar. No contexto do Projeto Artesanato Sustentável, implica o emprego de
conceitos das ciências naturais, influências mútuas entre ciência e sociedade, linguagem
artística, experiência estética, assim como, saberes e fazeres culturais.
Com início em março de 2022, o Projeto Artesanato Sustentável, contemplou duas
turmas, ambas ministradas no contraturno escolar, totalizando 48 estudantes do ao ano
do Ensino Fundamental. As turmas eram mistas e compunham estudantes dos dez aos quinze
anos de idade.
A realização dos trabalhos artesanais proporcionou momentos de muita interação e,
consequentemente, a abordagem de diversos assuntos, dentre os quais as questões relativas à
sexualidade foram predominantes no contexto de desenvolvimento desse projeto. Política,
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 4
igualdade de gênero, racismo, homofobia e transfobia foram os assuntos mais debatidos entre
os estudantes.
Os debates são uma oportunidade de fala, de escuta, de aprendizagem e,
principalmente, de desnaturalizar a violência e de combater o preconceito vigente nas esferas
da consciência humana. Pelo exposto, emerge a questão que conduzirá este relato de
experiência: Como as abordagens da educação ambiental e das artes visuais podem alimentar
práticas de resistência aos discursos hegemônicos envolvendo gênero e diversidade?
Para contextualizar as representações de gênero que incidem sobre o cotidiano escolar
e as resistências que podem ser fomentadas através do trabalho artesanal, é exposto algumas
situações ocorridas no desenvolvimento do Projeto Artesanato Sustentável, as quais se
apoiam nos pressupostos teóricos fundamentados por Louro (1997; 2003; 2012).
Lecionando em escolas públicas há pouco mais de vinte anos, foi percebido o quanto a
ausência de práticas educativas no viés da diversidade humana impacta na aprendizagem, no
acolhimento às diferenças e no respeito à diversidade sexual. É com essa perspectiva que
serão problematizadas as abordagens da temática gênero e diversidade no desenvolvimento de
um Projeto de Educação Ambiental e as práticas de resistências que podem surgir daí.
Neste sentido, o objetivo central do presente trabalho é apresentar as contribuições do
Projeto Artesanato Sustentável no combate aos discursos reguladores que produzem
desigualdades no âmbito da diversidade humana.
Mas antes de adentrar à problemática, se faz importante uma breve abordagem sobre
a educação ambiental e sua relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
planeados no currículo da rede municipal de ensino de São Paulo.
A Educação Ambiental e sua relação com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS) planeados no currículo da cidade de São Paulo
Segundo Carvalho (2008), Educação Ambiental (EA) é uma dimensão do movimento
ecológico que busca envolver grupos sociais na construção de novas maneiras de se relacionar
com o meio ambiente, objetivando a ação para a transformação. Nessa direção, a autora
aponta que
A visão socioambiental orienta-se por uma racionalidade complexa e
interdisciplinar e pensa o meio ambiente não como sinônimo de natureza
intocada, mas como um campo de interações entre a cultura, a sociedade e a
base física e biológica dos processos vitais, no qual todos os termos dessa
relação se modificam dinâmica e mutuamente (CARVALHO, 2008, p. 37).
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 5
Em outras palavras, significa dizer que a compreensão da problemática ambiental
requer uma visão mais abrangente de meio ambiente que inclua não apenas o campo das
ciências naturais, mas também das lutas sociais, tendo como horizonte o enfrentamento dos
desafios e das crises da contemporaneidade.
De acordo com Sato e Carvalho (2005), existem diferentes maneiras de se conceber e
praticar a educação ambiental, as quais denominam de correntes de educação ambiental. Tais
correntes constituem-se de proposições pedagógicas que não necessariamente irão solucionar
um problema ambiental, mas sim, oportunizar as pessoas o traçar da sua própria história.
A saber, as correntes de educação ambiental são categorizadas conforme o enfoque
pedagógico que apresentam e nomeadas de: a) naturalista; b) conservacionista/recursista; c)
resolutiva; d) sistêmica; e) científica; f) humanista; g) moral/ética; h) holística; i)
biorregionalista; j) práxica; k) crítica; l) feminista; m) etnográfica; n) co-educação; o) corrente
da sustentabilidade. Cada corrente se diferencia, por algumas particularidades, no entanto,
pode compartilhar algumas proposições.
Dentre as correntes teorizadas pelas autoras supracitadas, a título de contextualização,
será discorrida brevemente sobre corrente da sustentabilidade por possuir estreita relação com
o Projeto Artesanato Sustentável.
A corrente da sustentabilidade, segundo Sato e Carvalho (2005), foi difundida em
meados dos anos de 1980, em virtude de compromissos assumidos na Conferência Eco-92 e,
gradativamente, foi ganhando espaço no meio educacional. Em sua essência, a corrente da
sustentabilidade abarca concepções e práticas que visam instituir a utilização racional dos
recursos naturais, de modo a assegurar sua disponibilidade às futuras gerações.
Considerando que o desenvolvimento econômico é a base de sustentação do
desenvolvimento da sociedade, a função de uma educação que responda às necessidades do
desenvolvimento sustentável deve considerar os processos atuais ligados ao fenômeno da
globalização e das preocupações sociais, em particular, à melhoria da qualidade de vida das
pessoas de maneira igualitária.
No âmbito pedagógico, a corrente da sustentabilidade abarca diversas possibilidades
de intervenções educativas, dentre as quais, insere-se a reutilização/redução da geração de
resíduos. Com essa perspectiva, o Projeto Artesanato Sustentável ampara-se na criação de um
espaço dialógico, criativo e reflexivo capaz de viabilizar práticas pedagógicas fundamentadas
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 6
na coletividade que intentam construir condutas humanas comprometidas com o futuro do
planeta.
De acordo com estudos realizados por Carvalho (2008), o trabalho com a Educação
Ambiental requer um olhar atento para a heterogeneidade histórica, cultural, econômica e
ambiental na qual o público-alvo se insere. Nesse sentido, nos chama à atenção para
necessidade de leitura prévia do ambiente.
ler o ambiente é apreender um conjunto de relações sociais e processos
naturais, captando as dinâmicas de interação entre as dimensões culturais,
sociais e naturais na configuração de dada realidade socioambiental. Para
chegar a isso, não basta observar passivamente o entorno, mas é importante
certa educação do olhar, aprender a “ler” e compreender o que se passa à
nossa volta (CARVALHO, 2008, p. 86, grifos da autora).
Compartilhando dessa intencionalidade educativa, o Currículo da Cidade de São
Paulo engloba temáticas incorporadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
pactuados na Agenda 2030 pelos 193 países-membros das Nações Unidas em todas as etapas
da educação básica.
A incorporação dos ODS ocorre de forma articulada aos objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento das diferentes áreas de conhecimento, por meio da seleção de temas e
metodologias que estejam consoantes com a proposta de Educação para o Desenvolvimento
Sustentável (EDS) da UNESCO. “A EDS traz uma abordagem cognitiva, socioemocional e
comportamental e busca fomentar competências-chave para atuação responsável dos
cidadãos, a fim de lidar com os desafios do século XXI” (SÃO PAULO, 2017, p. 37).
Nessa perspectiva, a educação ambiental “pode ser uma preciosa oportunidade na
construção de novas formas de ser, pensar e conhecer que constituem um novo campo de
possibilidades de saber” (SATO; CARVALHO, 2005, p.12).
O projeto artesanato sustentável e sua relação com as questões de gênero e diversidade
O Projeto Artesanato Sustentável teve início no dia 07 de março de 2022, data esta em
que foram apresentados aos estudantes alguns modelos de objetos artesanais produzidos com
materiais recicláveis e os objetivos dos trabalhos a serem desenvolvidos. A saber, no plano de
desenvolvimento do referido projeto, programava-se trabalhar na construção de girafas
utilizando como base jornal e cola, e, posteriormente, bonecas utilizando vidro, jornal e cola.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 7
Antes de iniciar os trabalhos, os estudantes inscritos no projeto realizaram na escola
uma campanha para arrecadação de resíduos sólidos urbanos a serem utilizados no
desenvolvimento dos objetos artesanais. Os estudantes se organizaram em pequenos grupos e
percorreram as salas de aula, solicitando vidros pequenos (de medicamentos ou de produtos
alimentícios) e jornais para o início das atividades.
No processo inicial de arrecadação, obtiveram um número muito pequeno de vidros e
nenhum jornal. Para solucionar a questão, a campanha foi estendida aos professores e demais
funcionários da escola. Receberam uma boa quantia de vidros, mas novamente nenhum jornal.
Nas conversas que tiveram com as pessoas que fizeram a doação dos vidros, identificaram
que, devido à ampliação das ferramentas de acesso à internet, no contexto da comunidade
escolar na qual o projeto foi desenvolvido, o jornal não é um material consumido pelas
famílias.
Para solucionar a questão, a professora propôs aos estudantes que arrecadassem
panfletos de oferta de supermercado que apresentassem a mesma textura do jornal. Ou seja,
panfletos com aspecto de página de revista, devido sua baixa aderência à cola disponibilizada
pela escola, não eram apropriados para a utilização das técnicas a serem aplicadas na
confecção dos objetos artesanais. Dadas as orientações, os estudantes se mobilizaram e,
finalmente, obtiveram uma quantia satisfatória de material para iniciar os trabalhos.
Com a arrecadação preliminar de materiais concluída, deram início à primeira etapa do
projeto que consistia na confecção de canudos de jornal para montagem da estrutura do objeto
artesanal. A etapa de montagem das girafas foi realizada com bastante tranquilidade,
respeitando o tempo e as necessidades de interação dos estudantes, perdurando entre os meses
de março e junho.
A realização das atividades artesanais proporcionou momentos de conversação e,
consequentemente, a abordagem de diversos assuntos, dentre os quais o tema sexualidade se
evidenciou no contexto de desenvolvimento desse projeto.
Maia e Ribeiro (2011) definem o termo sexualidade como sendo um vasto conceito
que abrange sentimentos, comportamentos, valores e manifestações relacionadas à vida sexual
e afetiva das pessoas. Trata-se de uma dimensão inerente à existência humana, que se
expressa de modo subjetivo ou coletivo, a depender da cultura e do momento histórico. Tais
aspectos são apreendidos durante a socialização e acompanha o indivíduo por toda sua
trajetória de vida.
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 8
Louro (1997, p. 26), utilizando as palavras de Jeffrey Weeks afirma que "a sexualidade
tem tanto a ver com as palavras, as imagens, o ritual e a fantasia como com o corpo". Para a
autora a sexualidade é regulada através da censura, constituindo-se a partir de discursos
reguladores que instauram saberes e produzem verdades a serem questionadas.
É importante destacar que o desenvolvimento das atividades do Projeto Artesanato
Sustentável ocorreu em um espaço amplo, com agrupamentos de livre escolha. A disposição
das mesas facilitou a circulação, o contato entre os grupos e permitiu que os diálogos sobre de
temáticas diversas fossem construídas e compartilhadas com todos os ali presentes.
Figura 1 Etapa de montagem das girafas de jornal
Fonte: Acervo da autora
Os debates sobre as questões relativas gênero e diversidade também foram motivados
pela presença de uma estudante transsexual, fato este, que despertava a curiosidade dos
demais participantes do projeto sobre os enigmas que circundavam esta identidade de gênero.
Os participantes mais novos, especialmente os estudantes do ano, traziam muitos
questionamentos a respeito do universo LGBTQIAP+
, que eram sempre respondidos com
muita naturalidade por alguns participantes do projeto.
Enquanto produziam os objetos artesanais, questões de gênero e diversidade que
adentram os portões da escola compunham a pauta principal dos estudantes nos encontros
Sigla utilizada para se referir às pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, transgêneros, queers,
intersexuais, assexuais e pansexuais. O símbolo “+” no final da sigla engloba as demais orientações sexuais e de
gênero, representando pluralidade.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 9
semanais. Uma das conversas que chamou atenção foi a explanação feita por uma estudante a
respeito da diferença entre orientação sexual e identidade de gênero:
Estudante A:
- Heterossexual é a pessoa que fica com pessoa do sexo oposto. Homossexual é a pessoa que
fica com pessoa do mesmo sexo. Bissexual é a pessoa que fica com menino e com menina.
Estudante B:
- Ah, homossexual é como a Bruna
?
Estudante A:
- Não, a Bruna é transsexual. Transsexual é a pessoa que não se identifica com o gênero de
nascimento. Tipo... nasceu menino, mas sente que é uma menina e vice-versa, sabe? A Bruna
se identifica como menina e gosta de menino, então ela é heterossexual!
É interessante observar na fala dos estudantes que os dispositivos cerceadores do que
pode e do que não pode ser verbalizado numa instituição escolar possuem estreita relação
com os valores transmitidos a eles no seio familiar. Esse aspecto ficou evidente nas
observações e escuta dos diálogos nos momentos de confecção dos objetos artesanais, pois foi
possível perceber que alguns estudantes ficavam receosos por estarem ouvindo certas
conversas, dando a impressão de que se sentiam fazendo algo errado. Ou seja, as discussões
sobre gênero e diversidade não eram tidas como naturais para alguns estudantes.
A temática sexualidade traz em seu conteúdo cargas emocionais originadas da culpa,
do medo, do preconceito e do pensamento equivocado de que determinados conhecimentos
incentivarão as crianças/adolescentes a terem relação sexual ou práticas homossexuais.
Quando, na verdade, trata-se de uma perspectiva que traz uma visão de corpo revestida de
sentido humano e oferece instrumentos contra a quebra de tabus, preconceitos e padrões de
comportamentos repressivos.
Pensar a escola numa perspectiva da promoção da educação para a diversidade
humana requer posicionar-se contra a lógica tendenciosa de inferiorização de certas
identidades que vêm sendo postas às margens da sociedade por uma identidade que se
como superior às demais.
O homem branco, heterossexual, de classe média, urbana e cristão representa
a identidade padrão, ou seja, configura a referência que não necessita ser
declarada porque foi histórica e socialmente determinada. Com esse
Nome fictício.
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 10
entendimento, os sujeitos que não se enquadram nessas designações, são
tidos como desviantes das expectativas sociais vigentes e, portanto,
submetidos a diversas formas de preconceito e exclusão social, configurando
assim, as relações de poder na sociedade (LOURO, 2003 apud VICENTE,
2021, p. 190).
Para Louro (2003), as identidades sociais somente são representadas se estiverem
atreladas aos pertencimentos sociais, concebidos ao longo das experiências pessoais do
sujeito. Nesse sentido, o trabalho pedagógico acerca da diversidade sexual humana deve
considerar a realidade e o meio sociocultural dos estudantes, bem como seus valores, anseios,
costumes e crenças. Isso posto, é oportuno questionar o que se ensina e a forma como se
ensina.
Os assuntos discutidos nos momentos de interação dos participantes do projeto
abriram possibilidades para que fossem expressos nos trabalhos manuais. Em meio a risos e
relatos de cenas escolares, o artesanato seguiu apontando práticas de resistência contra os
discursos hegemônicos no tocante à diversidade sexual humana. Quando informado ao grupo
de estudantes que as cores e personalização das girafinhas eram de livre escolha, logo veio a
primeira indagação:
Estudante C:
- Posso pintar uma LGBT?
Professora:
- Claro que pode!
Estudante D:
- Eu também vou!
Estudante E:
- Vou fazer uma também!
Resistências brotam entre os portões da escola na contramão dos discursos
conservadores que controlam as dimensões pedagógicas da sexualidade com base na cultura
patriarcal brasileira. Em vista da pouca abertura para a discussão identitária no ambiente
escolar, o contexto desse projeto configurou-se como uma potente estratégia para discutir
questões de gênero e diversidade sexual humana na sala de aula.
Sobre esse aspecto, a UNESCO (2010) aponta que tais abordagens são cerceadas de
diversas formas nas instituições escolares. Não somente através de condutas ou normas
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 11
sociais, mas também em nível de legislação. No Brasil, não há leis ou documentos normativos
que obriguem as escolas a vincular saberes às práticas educativas cotidianas no viés da
diversidade sexual. Até mesmo nos documentos curriculares mais recentes, como a Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) homologada em 2017, a abordagem da educação sexual
tem sido pautada nos aspectos biológicos e preventivos, silenciando questões importantes
relativas à diversidade sexual (VICENTE, 2021).
Ainda conforme a mesma autora, a ausência da menção explícita na BNCC que esses
temas devem ser contemplados nos currículos escolares, fez com que muitos professores e
demais profissionais da educação entendessem que as diferenças de gênero e/ou orientação
sexual não poderiam ser abordadas em sala de aula, culminando numa atmosfera de censura
e de silenciamento em torno de tais temáticas” (VICENTE, 2021, p. 161).
Com essa perspectiva, boa parte das crianças e adolescentes em idade escolar deixa de
receber orientações claras, cientificamente fundamentadas, baseadas em valores humanos
universais que fundamentam a vida em sociedade (UNESCO, 2010).
Ao término da construção dos primeiros objetos artesanais, obteve-se uma grande
variedade de formas, cores e significados expressos nos trabalhos confeccionados pelos
estudantes (figura 2).
Figura 2 Girafinhas personalizadas com cores representativas da diversidade
Fonte: Acervo da autora
A figura 3 destaca pinturas que reproduzem cores das diferentes bandeiras
representativas do universo LGBTQIAP+. Nessa perspectiva, as práticas de resistência são
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 12
tramadas pela combinação das cores de modo sutil, mediante o uso de um artefato revestido
de uma densa carga de significações.
Figura 3 Girafinhas personalizadas com cores representativas do movimento LGBTQIAP+
Fonte: Acervo da autora
Para Louro (2003), as identidades sociais, sexuais, de gênero, de raça, de
nacionalidade e de classe são definidas no âmbito dos agrupamentos sociais a partir da cultura
e da história. Essas múltiplas identidades sociais podem ser, também, provisoriamente
atraentes e, depois, nos parecerem descartáveis; elas podem ser, então, rejeitadas e
abandonadas” (LOURO, 2003, p. 12).
Sob esta ótica, os sujeitos e as práticas culturais que recebem as marcas da diversidade
são constituídos como antinaturais e alvos de intensa vigilância. Certas identidades e suas
histórias quando presentes no cotidiano das instituições escolares, geralmente, sobrevêm em
datas comemorativas muito pontuais (LOURO, 2012).
Como resultado, escolas infantis e cursos fundamentais reservam alguns
momentos para "contemplar" esses sujeitos e suas culturas, enquanto
professoras e professores bem-intencionados se esforçam para listar as
"contribuições" desses grupos para o país sua parcela na formação da
música ou da dança, sua colaboração nas atividades econômicas ou nas artes
etc. Nas escolas secundárias e superiores, reveste-se o evento com as
roupagens adequadas para a faixa etária correspondente: promove-se um
ciclo de palestras, convida-se um "representante" da minoria em questão ou
se passa um filme seguido de um debate e, com tais providências, -se por
atendida a tal ausência reclamada (LOURO, 2012, p.45, grifos da autora).
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 13
Para a autora, tais abordagens trazem as minorias sociais para o foco de atenção, mas o
caráter de excepcionalidade do momento pedagógico reforça as marcas dessas identidades,
que seguem apontadas como identidades estranhas. Nesse sentido, Louro (2012) tece um
alerta quanto as táticas engendradas para garantir a hegemonia de certas identidades em
detrimento de outras.
Precisamos prestar atenção às estratégias públicas e privadas que são postas
em ação, cotidianamente, para garantir a estabilidade da identidade "normal"
e de todas as formas culturais a ela associadas; prestar atenção às estratégias
que são mobilizadas para marcar as identidades "diferentes" e aquelas que
buscam superar o medo e a atração que nos provocam as identidades
"excêntricas". Precisamos, enfim, nos voltar para práticas que desestabilizem
e desconstruam a naturalidade, a universalidade e a unidade do centro e que
reafirmem o caráter construído, movente e plural de todas as posições. É
possível, então, que a história, o movimento e as mudanças nos pareçam
menos ameaçadores (LOURO, 2012, p. 51, grifos da autora).
Retomando a análise dos trabalhos produzidos, em meados do mês de agosto demos
início à segunda etapa do projeto: A confecção de bonecas utilizando, basicamente, vidro,
jornal e cola. Nessa fase do projeto, haviam arrecadado quantidade suficiente de matéria-
prima para darem continuidade aos trabalhos.
Figura 4 Etapa de montagem das bonecas
Fonte: Acervo da autora
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 14
A fim de fornecer aos participantes do projeto uma referência visual da proposta de
trabalho, a professora solicitou a uma das estudantes, que a critério de livre escolha,
produzisse diferentes figurinos utilizando tintas de cores variadas (figura 5).
Figura 5 Personalização de figurinos produzidos por uma participante do projeto
Fonte: Acervo da autora
A escolha pela construção de personalidades de etnia negra se deu em virtude da
importância que a representatividade desta exerce no âmbito educacional e do reconhecimento
positivo dos povos africanos na formação social brasileira. A personalização das roupas ficou
a critério de cada estudante. Como resultado, obtiveram bonecas com características e
figurinos muito variados (figura 6).
Figura 6 Bonecas representativas da diversidade da etnia negra brasileira
Fonte: Acervo da autora
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 15
Representações permitem assinalar resistências, enfrentamentos e ressignificações.
Precisamente porque essas tramas estão presentes de diversas formas nos saberes escolares e
em todas as etapas de escolarização, revelando-se no espaço-tempo. A infinidade de
diferenças entre os grupos sociais é um dos elementos responsáveis pelo progresso material e
cultural da humanidade. Isso posto, não resta dúvida sobre a importância dessas
representações para a construção da autoimagem e autoestima, assim como para
autoafirmação e constituição das múltiplas identidades.
Muitos professores não se sentem seguros e preparados para abordar temas
sensíveis em sala de aula, pois certos assuntos incutem a ideia de ilegalidade
com relação as concepções de certos grupos. Uma fração desses
profissionais possuem concepções de sexualidade marcadas por dúvidas,
medos e tabus advindos da repressão familiar, religiosa e social. E, em geral,
tende a reagir a partir de seus valores pessoais sobre o modo como foi
construída a sua sexualidade e não de reflexões que lhes permitam dissociar
seus princípios do direito dos estudantes de receber esclarecimentos sobre a
sexualidade (MATTOS et al., 2017 apud VICENTE, 2021, p. 97).
Não discutir esses temas em sala de aula, afirmam Mattos et al. (2017 apud
VICENTE, 2021), é caminhar na contramão do que se entende atualmente por educação. Para
superar os preconceitos gerados no ensino de questões sensíveis, os autores defendem que é
preciso instrumentalizar os estudantes para que alcancem determinado nível de
conscientização e expressem suas opiniões de forma plural e democrática. Mattos et al. (2017,
apud VICENTE, 2021) argumentam ainda que o ideal é trabalhar esses temas no contexto de
uma investigação.
Ademais, é preciso mencionar que é primordial instrumentalizar os professores para
que possam trabalhar essa dimensão da formação humana desde os primeiros anos de
escolarização. Em contrapartida, o corpo docente precisa abrir suas janelas da racionalidade,
ter disposição e envolvimento com a formação para compreender melhor as nuances da
diversidade humana e, dessa forma, estar mais preparado para ajudar os estudantes a se
formarem integralmente, pois o conhecimento é capaz de derrubar muros e de desconstruir
qualquer sentimento de tabu.
À luz dessas considerações, é possível afirmar que o contexto do Projeto Artesanato
Sustentável se configurou como um espaço propício para debater e refletir sobre questões
relacionadas à sexualidade, a partir de um viés didático e da desconstrução de valores
historicamente enraizados na sociedade.
O papel do Projeto Artesanato Sustentável sobre questões de gênero e diversidade que adentram os portões da escola
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 16
Considerações finais
Quando iniciada as atividades do Projeto Artesanato Sustentável, a intenção era
semear práticas de Educação Ambiental que se materializassem localmente, frente às
necessidades de preservação do planeta em seu aspecto físico. Não se esperava que as
sementes da Educação Ambiental pudessem seguir outros contornos em outros aspectos da
vida humana.
Essa rica experiência foi uma oportunidade de conhecer outras perspectivas para
trabalhar a temática diversidade sexual na escola e ressignificar o sentido da resistência.
Resistir não é partir para o embate ou gerar conflitos para defender uma causa, mas buscar
outros caminhos para romper com os discursos reguladores que produzem determinadas
verdades, hierarquizam diferenças e geram desigualdades de gênero, de etnia e de classe em
toda sociedade.
Conforme demonstrado ao longo desse relato, as abordagens de Educação Ambiental e
das artes visuais se consolidaram no contexto do Projeto Artesanato Sustentável como uma
potente estratégia para alimentar práticas de resistência frente aos discursos reguladores que
produzem desigualdades no âmbito da sexualidade.
Resistência porque é uma forma de ocupar os espaços da escola e reivindicar o debate
em torno do gênero e da sexualidade na instituição. Resistência porque essas práticas afetam a
ordem natural das coisas. Resistência porque é percebido o quanto as desigualdades de
gênero são latentes no contexto escolar. E, sobretudo, porque nessa dinâmica, tímida ou
explicitamente, outras resistências são engendradas.
REFERÊNCIAS
BERBEL, N. A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes.
Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011.
CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo:
Cortez, 2008.
LOURO, G. L. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estrutralista.
Petrópolis: Vozes, 1997.
LOURO, G. L. et al. O corpo educado: Pedagogias da sexualidade. 2 ed. Belo Horizonte:
Editora Autêntica, 2003.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 17
LOURO, G. L. et al. Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na Educação.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
MAIA, A. C. B.; RIBEIRO, P. R. M. Educação Sexual: Princípios para ação. Doxa: Revista
Paulista de Psicologia e Educação, Araraquara, v. 15, n. 1, p. 75-84, 2011.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA (UNESCO). Orientação Técnica Internacional sobre Educação em
Sexualidade: Uma abordagem baseada em evidências para escolas, professores e educadores
em saúde. Brasília: Divisão de coordenação das prioridades da ONU em educação, 2010.
SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da Cidade. Ensino Fundamental: Ciências Naturais. São Paulo: SME / COPED,
2017.
SATO, M.; CARVALHO, I. C. M. (org.). Educação ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2005.
VICENTE, L. da S. A educação sexual nos documentos curriculares e na perspectiva de
professores do ensino fundamental. 2021. 348 f. Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2021.
CRediTAuthorStatement
Agradecimentos: Aos estudantes participantes do projeto pelos ensinamentos a mim
proporcionados, cada um a seu modo, na sua subjetividade.
Financiamento: Não aplicável.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não aplicável
Disponibilidade de dados e material: Não aplicável
Contribuições dos autores: A obra é de autoria única, baseada na experiência
profissional da pesquisadora.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 1
THE ROLE OF THE SUSTAINABLE CRAFT PROJECT ON GENDER AND
DIVERSITY ISSUES THAT ENTER THE SCHOOL GATES
O PAPEL DO PROJETO ARTESANATO SUSTENTÁVEL SOBRE QUESTÕES DE
GÊNERO E DIVERSIDADE QUE ADENTRAM OS PORTÕES DA ESCOLA
EL PAPEL DEL PROYECTO ARTESANAL SUSTENTABLE EN CUESTIONES DE
GÉNERO Y DIVERSIDAD QUE INGRESAN A LAS PUERTAS DE LA ESCUELA
Luciane da Silva VICENTE1
e-mail: lusivisv@hotmail.com
How to reference this paper:
VICENTE, L. da S. The role of the Sustainable Craft Project
on gender and diversity issues that enter the school gates.
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00,
e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385. DOI:
https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613
| Submitted: 08/01/2023
| Revisions required: 05/05/2023
| Approved: 22/06/2023
| Published: 05/10/2023
Editor:
Prof. PhD. Paulo Rennes Marçal Ribeiro
Deputy Executive Editor:
Prof. PhD. José Anderson Santos Cruz
University Ninth of July (UNINOVE), Sao Paulo SP Brazil. Elementary II and High School Teacher in the
Municipal School System of Sao Paulo. Doctoral degree in Education.
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 2
ABSTRACT: The present text brings an experience report lived in the development of an
environmental education project conducted in a municipal public elementary school in the
east zone of São Paulo. Entitled Sustainable Craftsmanship, the aforementioned project had as
its premise the development of environmental awareness and the promotion of social
responsibility practices aimed at reusing solid urban waste. However, during its development,
craftsmanship has become a powerful strategy for discussing issues related to gender,
sexuality, and sexual diversity. In this sense, the main objective of this work is to present the
contributions of the Sustainable Craft Project in the fight against regulatory discourses that
produce inequalities within the scope of human diversity. This experience made it possible to
learn about other perspectives for approaching the theme of sexual diversity at school and to
redefine the meaning of resistance in terms of work with sex education.
KEYWORDS: Environmental Education. Sustainable Craftsmanship. Gender. Diversity.
RESUMO: O presente texto traz um relato de experiência vivenciado no desenvolvimento de
um projeto de educação ambiental realizado numa escola pública municipal de ensino
fundamental da zona leste de São Paulo. Intitulado de Artesanato Sustentável, o referido
projeto teve como premissa, desenvolver a consciência ambiental e preconizar práticas de
responsabilidade social que visem o reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos. No
entanto, no decorrer do seu desenvolvimento, o fazer artesanal se configurou como uma
potente estratégia para discussão de questões relativas a gênero, sexualidade e diversidade
sexual. Neste sentido, o objetivo central do presente trabalho é apresentar as contribuições
do Projeto Artesanato Sustentável no combate aos discursos reguladores que produzem
desigualdades no âmbito da diversidade humana. Essa experiência oportunizou conhecer
outras perspectivas para abordagem da temática diversidade sexual na escola e ressignificar
sentido da resistência no que tange o trabalho com a educação sexual.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental. Artesanato Sustentável. Gênero. Diversidade.
RESUMEN: El presente texto trae un relato de experiencia vivida en el desarrollo de un
proyecto de educación ambiental realizado en una escuela primaria pública municipal en la
zona este de São Paulo. Titulado Artesanía Sustentable, el mencionado proyecto tuvo como
premisa el desarrollo de la conciencia ambiental y la promoción de prácticas de
responsabilidad social orientadas a la reutilización de los residuos sólidos urbanos. Sin
embargo, en el transcurso de su desarrollo, la artesanía se ha convertido en una poderosa
estrategia para discutir temas relacionados con el género, la sexualidad y la diversidad
sexual. En este sentido, el objetivo principal de este trabajo es presentar los aportes del
Proyecto Artesanía Sostenible en la lucha contra los discursos normativos que producen
desigualdades en el ámbito de la diversidad humana. Esta experiencia permitió conocer otras
perspectivas de abordaje del tema de la diversidad sexual en la escuela y redefinir el sentido
de la resistencia en términos del trabajo con la educación sexual.
PALABRAS CLAVE: Educación Ambiental. Artesanía Sostenible. Género. Diversidad.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 3
Introduction
Sustainable crafts are a practice focused on the field of environmental education that
consists of transforming materials commonly discarded in the trash into handmade objects. In
line with the conduct of contributing to sustainability and improving the quality of life of the
people involved in the process, sustainable crafts are premised on developing environmental
awareness and advocating social responsibility practices that aim to reuse urban solid waste.
From this perspective, part of the waste that would end up in landfills, streams, rivers,
or oceans takes on another form through reuse, reducing environmental damage. In addition to
craftsmanship, the Sustainable Craft Project aims to build a learning environment in which
students analyze situations, discuss actions, and work to solve problems through cooperation
processes. In this sense, learning for social change is based.
In developing the activities of the Sustainable Craft Project, an active, problem-based
methodology was used, enabling students to develop their creative potential, share ideas, and
grasp the learning and development objectives planned in the Currículo da Cidade de São
Paulo (Sao Paulo City Curriculum).
Berbel (2011, p. 29) defines Active Methodologies as ways of developing the learning
process, using real or simulated experiences, aiming at the conditions for successfully solving
challenges arising from the essential activities of social practice, in different contexts”.
In other words, they are learning situations that boost students' intellectual potential
when encouraged to elaborate and re-elaborate based on their need to argue. The context of
the Sustainable Craft Project involves the use of concepts from natural sciences, mutual
influences between science and society, artistic language, aesthetic experience, and cultural
knowledge and practices.
Starting in March 2022, the Sustainable Craft Project included two classes taught after
school, totaling 48 students from the 5th to the 9th year of Elementary School. The classes
were mixed and comprised students from ten to fifteen years old.
Execution craft work provided moments of significant interaction and, consequently,
the approach to various subjects, among which issues relating to sexuality was predominant in
the context of developing this project. Politics, gender equality, racism, homophobia, and
transphobia were the most debated topics among students.
Debates are an opportunity to speak, listen, learn, and denaturalize violence and
combat prejudice in the spheres of human consciousness. From the above, the question that
will guide this experience report emerges: How can environmental education and visual arts
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 4
approaches fuel practices of resistance to hegemonic discourses involving gender and
diversity?
To contextualize the representations of gender that affect everyday school life and the
resistance that can be fostered through craft work, some situations that occurred during the
Sustainable Craft Project are exposed, based on the theoretical assumptions founded by
Louro (1997; 2003; 2012).
Teaching in public schools for over twenty years, I realized how much the lack of
educational practices based on human diversity impacts learning, acceptance of differences,
and respect for sexual diversity. From this perspective, the approaches to the theme of gender
and diversity in the development of an Environmental Education Project and the resistance
practices that may arise from this will be problematized.
In this sense, the central objective of this work is to present the contributions of the
Sustainable Craft Project in combating regulatory discourses that produce inequalities within
the scope of human diversity.
But before delving into the issue, it is important to briefly discuss environmental
education and its relationship with the Sustainable Development Goals (SDGs) planned in the
curriculum of Sao Paulo’s municipal school system.
Environmental Education and its relationship with the Sustainable Development Goals
(SDGs) planned in the curriculum of the city of Sao Paulo
According to Carvalho (2008), Environmental Education (EE) is a dimension of the
ecological movement that seeks to involve social groups in constructing new ways of relating
to the environment, aiming at action for transformation. In this sense, the author points out
that
The socio-environmental vision is guided by complex and interdisciplinary
rationality and thinks of the environment not as a synonym for untouched
nature but as a field of interactions among culture, society, and the physical
and biological basis of vital processes, in which all terms of this relationship
change dynamically and mutually (CARVALHO, 2008, p. 37, our
translation).
In other words, understanding environmental issues requires a more comprehensive
view of the environment, including the field of natural sciences and social struggles, with the
horizon of facing contemporary challenges and crises.
According to Sato and Carvalho (2005), there are different ways of conceiving and
practicing environmental education, which they call environmental education currents. Such
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 5
currents consist of pedagogical propositions that will not necessarily solve an ecological
problem but allow people to trace their history.
Namely, the currents of environmental education are categorized according to the
pedagogical approach they present and named: a) naturalistic; b) conservationist/reservationist
worker; c) resolutive; d) systemic; e) scientific; f) humanist; g) morals/ethics; h) holistic; i)
bioregionalist; j) praxis; k) criticism; l) feminist; m) ethnographic; n) co-education; o)
sustainability chain. Each current differs due to particularities; however, it may share some
propositions.
Among the currents theorized by the authors, as mentioned earlier, the sustainability
current will be briefly discussed by way of contextualization as it is closely related to the
Sustainable Craft Project.
According to Sato and Carvalho (2005), the current sustainability was disseminated
in the mid-1980s due to commitments made at the Eco-92 Conference and gradually gained
space in the educational environment. In essence, sustainability currently encompasses
concepts and practices that aim to establish the rational use of natural resources to ensure their
availability to future generations.
Considering that economic development is the basis for sustaining the development
of society, the function of an education that responds to the needs of sustainable development
must consider current processes linked to the phenomenon of globalization and social
concerns, improving the quality of people's lives equally.
In the pedagogical scope, the current sustainability encompasses several possibilities
for educational interventions, including reuse/reduction of waste generation. With this
perspective, the Sustainable Craft Project is supported by creating a dialogical, creative, and
reflective space capable of enabling pedagogical practices based on the collective that aims to
build human conduct committed to the planet's future.
According to studies executed by Carvalho (2008), working with Environmental
Education requires a careful look at the historical, cultural, economic, and environmental
heterogeneity in which the target audience is inserted. In this sense, it draws our attention to
the need to read the environment in advance.
“reading” the environment is apprehending a set of social relationships and
natural processes, capturing the dynamics of interaction among cultural,
social, and biological dimensions in the configuration of a given socio-
environmental reality. To achieve this, it is not enough to passively observe
the surroundings, it is vital to educate our gaze, to learn to “read and
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 6
understand what is happening around us (CARVALHO, 2008, p. 86, author's
emphasis, our translation).
Sharing this educational intention, the Curriculum of the City of Sao Paulo
encompasses themes incorporated into the Sustainable Development Goals (SDGs), agreed
upon in the 2030 Agenda by the 193 member countries of the United Nations in all stages of
primary education.
The incorporation of the SDGs occurs in conjunction with the learning and
development objectives of the different areas of knowledge through the selection of themes
and methodologies that align with UNESCO's Education for Sustainable Development (ESD)
proposal. “ESD brings a cognitive, socio-emotional and behavioral approach and seeks to
foster key skills for responsible action by citizens to deal with the challenges of the 21st
century” (SÃO PAULO, 2017, p. 37, our translation).
From this perspective, environmental education “can be a precious opportunity in
constructing new ways of being, thinking and knowing that constitute a new field of
possibilities of knowledge” (SATO; CARVALHO, 2005, p. 12, our translation).
The sustainable craft project and its relationship with gender and diversity issues
The Sustainable Craft Project began on March 7, 2022, when students were presented
with some models of handmade objects produced with recyclable materials and the objectives
of the work to be developed. Namely, in the development plan for the aforementioned project,
it was planned to work on building giraffes using newspaper and glue as a base and, later,
dolls using glass, newspaper, and glue.
Before starting work, the students enrolled in the project carried out a campaign at
school to collect urban solid waste to be used to develop handmade objects. The students
organized themselves into small groups and went around the classrooms, requesting small
bottles (of medicine or food products) and newspapers to begin the activities.
In the initial collection process, they obtained a tiny number of glasses and no
newspapers. The campaign was extended to teachers and other school employees to resolve
the issue. They received a good amount of glass but, again, no newspapers. In their
conversations with the people who donated the glass, they identified that due to the expansion
of internet access tools, in the context of the school community where the project was
developed, newspapers are not material consumed by families.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 7
To resolve the issue, the teacher asked the students to collect supermarket offer flyers
with the same texture as the newspaper. In other words, pamphlets that looked like magazine
pages, due to their low adhesion to the glue provided by the school, were inappropriate for
using the techniques to be applied in making handmade objects. Given the guidelines, the
students mobilized and finally obtained satisfactory material to begin their work.
With the preliminary collection of materials completed, they began the project's first
stage, which consisted of making newspaper straws to assemble the structure of the craft
object. The set of creating the giraffes was realized very calmly, respecting the students' time
and interaction needs, lasting between March and June.
Performing craft activities provided moments of conversation and, consequently, the
approach to various subjects, among which the topic of sexuality was highlighted in the
context of developing this project.
Maia and Ribeiro (2011) define the term sexuality as a vast concept that encompasses
feelings, behaviors, values, and manifestations related to people's sexual and emotional lives.
It is an inherent dimension of human existence, expressed subjectively or collectively,
depending on the culture and historical moment. Such aspects are learned during socialization
and accompany the individual throughout their life path.
Louro (1997, p. 26), using the words of Jeffrey Weeks, states that "sexuality has as
much to do with words, images, ritual and fantasy as it does with the body". For the author,
sexuality is regulated through censorship, consisting of regulatory discourses that establish
knowledge and produce truths to be questioned.
It is essential to highlight that the development of the activities of the Sustainable
Craft Project took place in an ample space, with groups of free choice. The arrangement of
the tables facilitated circulation and contact among groups and allowed dialogues on different
topics to be constructed and shared with everyone present.
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 8
Figure 1 Assembling the newspaper giraffes
Source: Author's collection
The debates on gender and diversity issues were also motivated by the presence of a
transsexual student, a fact which aroused the curiosity of the other project participants about
the enigmas surrounding this gender identity. The younger participants, especially the 6th
graders, asked many questions about the LGBTQIAP+
universe, which were always
answered very naturally by some of the project participants.
While they were producing the handicrafts, issues of gender and diversity that entered
the school gates were on the students' main agenda at the weekly meetings. One of the
conversations that caught my attention was a student's explanation of the difference between
sexual orientation and gender identity:
Student A:
- Heterosexual is a person who is with someone of the opposite sex. A homosexual is a person
who stays with someone of the same sex. Bisexual is a person who stays with both a boy and a
girl.
Student B:
- Ah, homosexual is like Bruna
?
Acronym refers to lesbian, gay, bisexual, transsexual, transgender, queer, intersex, asexual, and pansexual
people. The "+" symbol at the end of the acronym encompasses other sexual and gender orientations,
representing plurality.
Fictitious name.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 9
Student A:
- No, Bruna is transsexual. Transsexual is a person who does not identify with their birth
gender. Like... you were born a boy, but you feel like you're a girl and vice versa, you know?
Bruna identifies as a girl and likes boys, so she is heterosexual!
It is interesting to observe in the students' speech that the devices restricting what can
and cannot be verbalized in a school institution are closely related to the values transmitted to
them within the family. This aspect was evident in my observations and listening to the
dialogues when making the handmade objects, as I could see that some students were afraid
because they were listening to specific conversations, giving the impression that they felt they
were doing something wrong. In other words, discussions about gender and diversity were
unnatural for some students.
The theme of sexuality brings in its content emotional loads originating from guilt,
fear, prejudice, and the mistaken thought that specific knowledge would encourage
children/adolescents to have sexual relations or homosexual practices. When, in fact, it is a
perspective that brings a vision of the body coated with human meaning and offers
instruments against breaking taboos, prejudices, and repressive behavior patterns.
Thinking about school from the perspective of promoting education for human
diversity requires positioning itself against the tendentious logic of inferiorizing particular
identities placed on society's margins by an identity that sees itself as superior to others.
The white, heterosexual, middle-class, urban, and Christian man represents
the standard identity, that is, he configures the reference that does not need
to be declared because it was historically and socially determined. With this
understanding, subjects who do not fit into these designations are considered
to deviate from current social expectations and, therefore, are subjected to
various forms of prejudice and social exclusion, thus configuring power
relations in society (LOURO, 2003 apud VICENTE, 2021, p. 190, our
translation).
For Louro (2003), social identities are only represented if linked to social belongings,
conceived throughout the subject's personal experiences. In this sense, pedagogical work on
human sexual diversity must consider students' reality and sociocultural environment, as well
as their values, desires, customs, and beliefs. That said, it is timely to question what is taught
and how it is taught.
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 10
The subjects discussed during the interaction between project participants opened
possibilities for them to be expressed in manual work. Amid laughter and reports of school
scenes, craftsmanship continued to point out practices of resistance against hegemonic
discourses regarding human sexual diversity. When the group of students was informed that
the colors and personalization of the little giraffes were free to choose, the first question
immediately came:
Student C:
- Can I paint an LGBT?
Teacher:
- Of course, you can!
Student D:
- I’ll do it too!
Student E:
- I'm going to make one too!
Resistance emerges between the school gates against the conservative discourses that
control the pedagogical dimensions of sexuality based on Brazilian patriarchal culture.
Because of the lack of openness for identity discussion in the school environment, the context
of this project was configured as a powerful strategy for discussing issues of gender and
human sexual diversity in the classroom.
Regarding this aspect, UNESCO (2010) points out that such approaches are restricted
in various ways in school institutions. Not only through conduct or social norms but also at
the level of legislation. In Brazil, no laws or normative documents oblige schools to link
knowledge to everyday educational practices with a view to sexual diversity. Even in the most
recent curricular documents, such as the National Common Curricular Base (Base Nacional
Comum Curricular - BNCC) approved in 2017, the approach to sexual education has been
based on biological and preventive aspects, silencing essential issues related to sexual
diversity (VICENTE, 2021).
Still, according to the same author, the absence of explicit mention in the BNCC that
these themes must be included in school curricula made many teachers and other education
professionals understand that differences in gender and sexual orientation “could not be
addressed in the classroom culminating in an atmosphere of censorship and silencing around
such topics” (VICENTE, 2021, p. 161, our translation).
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 11
With this perspective, many school-age children and adolescents fail to receive clear,
scientifically based guidance based on universal human values that underpin life in society
(UNESCO, 2010).
At the end of the construction of the first craft objects, various shapes, colors, and
meanings were obtained and expressed in the works made by the students (figure 2).
Figure 2 Personalized little giraffes with colors representing diversity
Source: Author's collection
Figure 3 highlights paintings that reproduce the colors of the different flags
representing the LGBTQIAP+ universe. From this perspective, resistance practices are subtly
woven through the combination of colors, using an artifact coated with a dense load of
meanings.
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 12
Figure 3 Personalized little giraffes with colors representing the LGBTQIAP+ movement
Source: Author's collection
For Louro (2003), social, sexual, gender, race, nationality, and class identities are
defined within social groupings based on culture and history. “These multiple social identities
can also be temporarily attractive and then seem disposable to us; they can then be rejected
and abandoned” (LOURO, 2003, p. 12, our translation).
From this perspective, the subjects and cultural practices that bear the marks of
diversity are constituted as unnatural and targets of intense surveillance. Particular identities
and their stories, when present in the daily life of school institutions, in most cases, occur on
precise commemorative dates (LOURO, 2012).
As a result, children's schools and elementary schools take a few moments to
"contemplate" these subjects and their cultures, while well-intentioned
teachers strive to list these groups' "contributions" to the country their
share in the formation of music or music. Dance, their collaboration in
economic activities or the arts, etc. In secondary and higher schools, the
event is dressed in appropriate guises for the corresponding age group: a
series of lectures is promoted, a "representative" of the minority in question
is invited, or a film is shown followed by a debate and, with such measures,
the claimed absence is deemed to be met (LOURO, 2012, p.45, author's
emphasis, our translation).
For the author, such approaches bring social minorities into the focus of attention, but
the exceptional nature of the pedagogical moment reinforces the marks of these identities,
which continue to be identified as strange identities. In this sense, Louro (2012) warns about
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 13
the tactics designed to guarantee the hegemony of particular uniqueness to the detriment of
others.
We need to pay attention to the public and private strategies that are put into
action daily to guarantee the stability of "normal" identity and all the cultural
forms associated with it; pay attention to the techniques that are mobilized to
mark "different" identities and those that seek to overcome the fear and
attraction that "eccentric" identities provoke in us. Finally, we need to turn to
practices that destabilize and deconstruct the naturalness, universality, and
unity of the center and reaffirm the constructed, moving, and plural character
of all positions. Then, history, movement, and changes may seem less
threatening to us (LOURO, 2012, p. 51, author’s emphasis, our translation).
Returning to the analysis of the work produced, in mid-August, we began the
project's second stage: Making dolls using, basically, glass, newspaper, and glue. They had
already collected enough raw materials at this project stage to continue their work.
Figure 4 Doll assembly stage
Source: Author's collection
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 14
In order to provide project participants with a visual reference of the work proposal,
the teacher asked one of the students, by free choice, to produce different costumes using
paints of different colors (figure 5).
Figure 5 Personalization of costumes produced by a project participant
Source: Author's collection
The choice to construct personalities of black ethnicity was due to the importance of
their representation in the educational sphere and the positive recognition of African people in
Brazilian social formation. Personalization of clothes was at the discretion of each student. As
a result, they obtained dolls with very varied characteristics and costumes (figure 6).
Figure 6 Dolls representing the diversity of Brazilian black ethnicity
Source: Author's collection
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 15
Representations make it possible to highlight resistance, confrontations, and
resignations. Precisely because these plots are present in different ways in school knowledge
and at all stages of schooling, revealing themselves in space-time. The infinity of differences
between social groups is one of the elements responsible for humanity's material and cultural
progress. That said, there is no doubt about the importance of these representations for the
construction of self-image and self-esteem, as well as for self-affirmation and the constitution
of multiple identities.
Many teachers do not feel safe and prepared to address sensitive topics in the
classroom, as certain subjects instill the idea of illegality concerning the
conceptions of certain groups. A fraction of these professionals have
concepts of sexuality marked by doubts, fears, and taboos arising from
family, religious, and social repression. In general, they tend to react based
on their values about the way in which their sexuality was constructed and
not from reflections that allow them to dissociate their principles from the
students' right to receive clarification about sexuality (MATTOS et al., 2017
apud VICENTE, 2021, p. 97, our translation).
Not discussing these topics in the classroom, say Mattos et al. (2017 apud VICENTE,
2021), is going against the grain of what is currently understood as education. To overcome
the prejudices generated in teaching sensitive issues, the authors argue that it is necessary to
equip students to reach a certain level of awareness and express their opinions in a plural and
democratic way. Mattos et al. (2017 apud VICENTE, 2021) further argue that the ideal is to
work on these themes in the context of an investigation.
Furthermore, it is essential to equip teachers to work on this dimension of human
formation from the first years of schooling. On the other hand, the teaching staff needs to
open their windows of rationality, be willing and involved in training to understand the
nuances of human diversity better, and, in this way, be more prepared to help students
graduate entirely, as knowledge is capable of to tear down walls and deconstruct any feeling
of taboo.
Considering these considerations, it is possible to affirm that the context of the
Sustainable Craft Project was configured as a suitable space to debate and reflect on issues
related to sexuality from a didactic perspective and the deconstruction of values historically
rooted in society.
The role of the Sustainable Craft Project on gender and diversity issues that enter the school gates
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 16
Final considerations
When the activities of the Sustainable Craft Project began, the intention was to sow
Environmental Education practices that would materialize locally, given the need to preserve
the planet in its physical aspect. It was not expected that the seeds of Environmental
Education could follow different contours in other parts of human life.
This rich experience was an opportunity to learn about other perspectives for working
on sexual diversity at school and giving new meaning to resistance. Resisting is not going into
battle or generating conflicts to defend a cause but seeking other ways to break with the
regulatory discourses that produce certain truths, hierarchize differences, and generate gender,
ethnic, and class inequalities throughout society.
As demonstrated throughout this report, Environmental Education and visual arts
approaches were consolidated in the context of the Sustainable Craft Project as a powerful
strategy to fuel resistance practices in the face of regulatory discourses that produce
inequalities in sexuality.
Resistance is a way of occupying school spaces and demanding the debate around
gender and sexuality in the institution. Resistance because these practices affect the natural
order of things. Resistance because it is clear how latent gender inequalities are in the school
context. And above all because in this dynamic, shyly or explicitly, other resistances are
engendered.
REFERENCES
BERBEL, N. A. N. As metodologias ativas e a promoção da autonomia de estudantes.
Semina: Ciências Sociais e Humanas, Londrina, v. 32, n. 1, p. 25-40, jan./jun. 2011.
CARVALHO, I. C. de M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo:
Cortez, 2008.
LOURO, G. L. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva pós-estrutralista.
Petrópolis: Vozes, 1997.
LOURO, G. L. et al. O corpo educado: Pedagogias da sexualidade. 2 ed. Belo Horizonte:
Editora Autêntica, 2003.
LOURO, G. L. et al. Corpo, gênero e sexualidade: um debate contemporâneo na Educação.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
Luciane da Silva VICENTE
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. 00, e023018, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24i00.17613 17
MAIA, A. C. B.; RIBEIRO, P. R. M. Educação Sexual: Princípios para ação. Doxa: Revista
Paulista de Psicologia e Educação, Araraquara, v. 15, n. 1, p. 75-84, 2011.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A
CULTURA (UNESCO). Orientação Técnica Internacional sobre Educação em
Sexualidade: Uma abordagem baseada em evidências para escolas, professores e educadores
em saúde. Brasília: Divisão de coordenação das prioridades da ONU em educação, 2010.
SÃO PAULO (Município). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica.
Currículo da Cidade. Ensino Fundamental: Ciências Naturais. São Paulo: SME / COPED,
2017.
SATO, M.; CARVALHO, I. C. M. (org.). Educação ambiental. Porto Alegre: Artmed, 2005.
VICENTE, L. da S. A educação sexual nos documentos curriculares e na perspectiva de
professores do ensino fundamental. 2021. 348 f. Tese (Doutorado em Educação)
Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2021.
CRediTAuthorStatement
Acknowledgements: To the students participating in the project for the teachings I
provided to me, each in their subjectivity.
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: Not applicable
Data and material availability: Not applicable.
Authors' contributions: The work is the sole author's work, based on the researcher's
professional experience.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.