Racismo e formação da subjetividade da pessoa negra: Antecedentes históricos e perspectivas da educação escolar
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 25, n. 00, e024004, 2024. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v25i00.17976 6
Diferente do que a historiografia convencional ensina, vários povos na África possuíam, em
certos aspectos, superioridade cultural e técnica em relação aos europeus (Gennari, 2011).
Para além das violências físicas, houve a violência cultural na qual ocorreu a separação
das famílias, a proibição da religião e a imposição de aprender outra língua. A escravização não
foi somente um sistema econômico, mas sobretudo, uma organização social que estruturou as
classes e marcou diferenças essenciais na sociedade. Assim, a economia, a família, a justiça e
a política foram fundadas a partir de valores escravocratas (Chiavenato, 2012; Schwarcz;
Starling, 2015).
Somente a partir desse entendimento sobre a estruturação social brasileira poderemos
compreender as relações existentes organicamente na sociedade. Dessas relações surgiram
muitas discriminações e a principal delas, o racismo, perpetrou toda a historiografia brasileira
que está inerente a toda herança negra e não somente à cor da pele (Chiavenato, 2012).
Para Souza (2019), os pensadores e intelectuais que relatam sobre a escravização, bem
como os sistemas de ensino responsáveis por educar sobre nossas histórias e memórias, tratam
o assunto de forma displicente, como algo datado e localizado. A abolição veio, e a reflexão
sociológica sobre o abolicionismo deve ser feita a partir do viés econômico e político e não pelo
interesse da nação de libertar e conceder dignidade ao seu povo.
Fernandes (2008) explica que houve uma mudança de sistema econômico que não
alterou a ordem vigente e que nasceu no incipiente capitalismo industrial. Todos os setores,
sendo a favor da abolição ou não, lucraram com o sistema escravista e usufruíram da mão de
obra e dos lucros gerados pela população negra. Além disso, após a abolição, os detentores do
poder e do governo se reorganizarem e permaneceram nos espaços privilegiados.
Inicia-se um processo acelerado para embranquecer o país. Muitos fazendeiros
organizaram medidas que distanciaram as possibilidades de mobilidade social do povo negro e,
em meados de 1880, surge um fator que iria dar um novo ritmo ao trabalho livre no Brasil, a
imigração. Pretendia-se que o país tivesse uma população melhor, ou seja, branca, por isso a
grande abertura para a imigração de pessoas europeias (Chiavenato, 2012).
A miscigenação, tão aclamada no país e que seria umas das marcas primordiais da
população brasileira, é baseada, principalmente, na exploração sexual da mulher negra. Com a
miscigenação, acreditava-se que a raça negra iria desaparecer sob o “progressivo clareamento
da população do país” (Nascimento, 2016, p. 84).
A partir da miscigenação, surgem as ideias da democracia racial, na qual se acredita que
a cor da pele não pesa sobre a igualdade de oportunidades. Fernandes (2008) entende a ideia de