RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.16155 1
O TEXTO QUEER: SOCIOLETO, DIALOGISMO E ÊNFASE
EL TEXTO QUEER: SOCIOLECTO, DIALOGISMO Y ÉNFASIS
QUEER TEXT: SOCIOLECT, DIALOGISM, AND EMPHATICS
Daniel Padilha Pacheco da COSTA1
e-mail: dppcost@ufu.br
Gustavo Matheus PIRES2
e-mail: gustavo.matheus.pires@gmail.com
Rodolfo Gabriel ALVES3
e-mail: rodolfogabrielalves@gmail.com
Como referenciar este artigo:
COSTA, D. P. P.; PIRES, G. M.; ALVES, R. G. O texto
queer: Socioleto, dialogismo e ênfase. Doxa: Rev. Bras.
Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023.
e-ISSN: 2594-8385. DOI:
https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18043
| Submetido em: 10/05/2023
| Revisões requeridas em: 22/06/2023
| Aprovado em: 22/06/2023
| Publicado em: 01/08/2023
Editor:
Prof. Dr. Paulo Rennes Marçal Ribeiro
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia MG Brasil. Professor do Programa de Pós-graduação
em Estudos Literários e do curso de graduação em Tradução. Professor Adjunto, Instituto de Letras e Linguística.
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia MG Brasil. Bacharel em Tradução.
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia MG Brasil. Bacharel em Tradução.
O texto queer: Socioleto, dialogismo e ênfase
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.16155 2
RESUMO: Embora seja um conceito-base no interior do campo transdisciplinar dos estudos
queer, sobretudo em sua intersecção com as áreas dedicadas aos estudos da linguagem, o texto
queer ainda não possui uma definição exaustiva. Inicialmente, discutimos as definições de texto
queer que, oferecidas pela sociolinguística e pela teoria literária, baseiam-se nos conceitos de
socioleto e de literatura queer, respectivamente. Como essas definições são necessárias, mas
não suficientes para compreendê-lo, dialogamos com o conceito de camp verbal, enfatizando a
relação intrínseca entre as suas dimensões linguística e extralinguística. A seguir, propomos
nossa própria definição do texto queer, distinguindo três aspectos indissociáveis entre si:
socioleto queer, dialogismo e ênfase. Finalmente, ilustramos nossa definição por meio da
análise de exemplos retirados de textos literários e jornalísticos, canções e obras audiovisuais.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos queer. Socioleto queer. Dialogismo. Ênfase. Texto queer.
RESUMEN: Aunque el concepto de texto queer tenga una importancia fundamental en el
campo transdisciplinario de los estudios queer, particularmente en la intersección con los
estudios del lenguaje, falta, todavía, una definición exhaustiva de esta noción. Inicialmente,
discutimos las definiciones de texto queer proporcionadas por la sociolingüística y la teoría
literaria, a partir de los conceptos de sociolecto queer y literatura queer, respectivamente.
Como estas definiciones son necesarias, pero no suficientes para comprenderlo, dialogamos
con el concepto de camp verbal, enfatizando la relación intrínseca entre sus dimensiones
lingüística y extralingüística. Enseguida proponemos nuestra propia definición de texto queer,
distinguiendo tres aspectos inseparables entre sí: sociolecto queer, dialogismo y énfasis.
Finalmente, ilustramos nuestra definición a través del análisis de ejemplos tomados de textos
literarios y periodísticos, canciones y obras audiovisuales.
PALABRAS CLAVE: Estudios queer. Sociolecto queer. Dialogismo. Énfasis. Texto queer.
ABSTRACT: Although the concept of queer text holds fundamental importance within the
transdisciplinary field of Queer Studies, particularly at the intersection with Language Studies,
an exhaustive definition for this notion is still lacking. Initially, we discuss the definitions of
queer text provided by sociolinguistics and literary theory, based on the concepts of queer
sociolect and literature, respectively. These definitions are necessary, but insufficient to fully
understand it. Through dialogue with the concept of verbal camp and emphasizing the intrinsic
relationship between its linguistic and extralinguistic dimensions, we propose our own
definition of queer text, delineating three interconnected aspects: queer sociolect, dialogism,
and emphatics. Finally, we illustrate our own definition through the analysis of excerpts from
literary and journalistic texts, songs, and audiovisual works.
KEYWORDS: Queer studies. Sociolect. Dialogism. Emphatics. Queer text.
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES e Rodolfo Gabriel ALVES
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.16155 3
Introdução
No início dos anos de 1990, os estudos queer se desenvolveram no interior do campo
transdisciplinar das ciências de gênero, a partir da aproximação dos estudos gays e lésbicos e
dos feministas. Também chamados de ensaios de diversidade sexual, as pesquisas queer
permitiram uma expansão para além do binarismo sexual (homo/hétero) e de gênero
(homem/mulher) e a inclusão de identidades sexuais e de gênero não-normativas. Ao questionar
a hegemonia heterocisgênero, os estudos queer têm buscado compreender a construção social
de identidades de gênero e de orientações sexuais das identidades queer.
Para a construção dessas identidades, o texto oral e escrito desempenha um papel
central, que, como afirma Butler (2017), a teórica reconhecida como uma das fundadoras
desse campo de estudos, o gênero é um efeito produzido a partir da repetição estilizada de atos
performativos de linguagem. O papel desempenhado por diferentes concepções linguísticas nas
pesquisas queer é particularmente visível em subáreas desse campo transdisciplinar
desenvolvidas em íntima relação com objetos de pesquisa pertencentes aos estudos da
linguagem, como a tradução e a literatura queer.
A tradução queer procura retextualizar em outra língua textos de partida que,
empregando variedades linguísticas ligadas às identidades queer, podem ser classificados como
pertencentes à literatura queer. Essa expressão permite designar textos literários que, ao incluir
personagens gays e lésbicas, rompem com as normas tradicionais de sexualidade, gênero e
família por meio da exploração de artifícios literários que representam, disruptivamente, as
subculturas queer e as suas identidades sexuais e de gênero não-normativas. Situadas no
entrecruzamento entre os ensaios queer e os estudos da linguagem, tanto a tradução quanto a
literatura queer se baseiam no conceito de texto.
Os estudos produziram variadas definições do texto queer através do seu diálogo com
concepções de discurso e de linguagem oriundas de diferentes disciplinas, como a
sociolinguística e a teoria literária. Com base em uma concepção sociolinguística da linguagem,
o texto queer foi definido como aquele que emprega um “socioleto queer” (PIRES, 2022), um
“jargão LGBTQ” (BRAGA JUNIOR, 2020) ou um “dialeto pajubá” (NASCIMENTO;
MARIANO; SANTOS, 2021). Segundo uma noção de estilo própria da teoria literária, o texto
queer foi compreendido como aquele pertencente à “literatura queer (GIRALDO, 2009;
BLACKBURN; CLARK; NEMETH, 2015). Apesar da sua centralidade nesses campos, essa
literatura ainda não possui um significado. Para confrontar entre si essas definições restritas às
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suas áreas específicas de conhecimento, nossa definição desse conceito dialoga com a ideia de
camp verbal (HARVEY, 1998; MAZZEI, 2007; ALVES, 2022).
Neste artigo, discutiremos, inicialmente, as definições de texto queer a partir dos
conceitos de socioleto e literatura queer, segundo as concepções de discurso e de linguagem
oriundas da sociolinguística ou da teoria literária, respectivamente. Em seguida, propomos
nossa própria definição do texto queer que, baseada no diálogo com o conceito de camp verbal
e na exploração da relação intrínseca entre as suas dimensões linguística e extralinguística,
distingue a presença de três aspectos indissociáveis entre si: socioleto queer, dialogismo e
ênfase. Finalmente, ilustramos nossa definição do texto queer por meio da análise de exemplos
retirados de obras literárias e jornalísticas, de canções e de obras audiovisuais.
A literatura queer
Em inglês, a palavra queerera utilizada, a princípio, para denominar algo estranho,
excêntrico ou pessoas que se comportavam de forma não aceita socialmente. A partir do final
do século XIX, o termo ganhou uma conotação pejorativa, passando a ser utilizado como ofensa
contra homens gays ou considerados femininos. Em uma carta lida durante o julgamento que
condenou Oscar Wilde à prisão por ser homossexual, John Douglas (o marquês de Queensbery)
não esconde a sua repulsa pela relação homoafetiva entre o seu filho, Alfred Douglas, e o
célebre escritor irlandês, ao utilizar a expressão “snob queers” (apud HALL, 2016).
O termo passou por um processo de ressignificação, como demonstra a sua primeira
definição em The Concise New Partridge Dictionary of Slang and Unconventional English
(DALZELL; VICTOR, 2007, p. 524, tradução nossa): Queer adjetivo 1 homossexual.
Depreciativo de fora, não de dentro EUA, 1914”. Segundo a concepção sociológica de
linguagem de Bakhtin (2015), a língua não é apenas um sistema estável de formas normativas
e idênticas de linguagem, como defendia a concepção estruturalista de Saussure, mas é,
sobretudo, socialmente estratificada em variedades linguísticas banhadas em valores
contraditórios. Os conteúdos objetivos da linguagem existem na escrita ou na fala viva em
relação a certa ênfase valorativa, sem a qual nenhuma palavra pode ser escrita ou dita. Como
evidencia o verbete citado anteriormente, o sentido do próprio termo queer varia
diametralmente segundo os valores sociais e a identidade sexual e de gênero de quem o
emprega.
A ressignificação de insultos ou ofensas é uma característica central do socioleto queer.
Em seu sentido ressignificado, o termo passou a ser utilizado para denominar diversos
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elementos e conceitos relacionados ao universo LGBTQIAP+
. Podemos usar o termo
aclimatado “cuir em português, que é reivindicado pela própria comunidade LGBTQIAP+,
conforme evidenciado por Jup do Bairro durante debate com Judith Butler e Linn da Quebrada
(CANAL BRASIL, 2021). No entanto, preferimos a forma estrangeirizada, por ter sido
consagrada pela maior parte dos pesquisadores. Os próprios campos do conhecimento relativos
à construção social de orientações sexuais e de identidades de gênero foram qualificados pelo
termo queer”, como evidenciam as expressões “tradução queer ou “teoria queer”. Além
disso, o estrangeirismo gera um estranhamento que julgamos desejável para a compreensão do
conceito enquanto tal. Nesse sentido, o termo queer deve ser entendido como um guarda-
chuva capaz de englobar o conjunto das identidades não-cisgêneras e não-heterossexuais.
Em seu exame de diversas coletâneas e antologias de textos de autores definidos como
literatura queer, gay e lésbica na América Latina, Giraldo (2009, p. 2, tradução nossa) aponta a
predominância do sentido pejorativo da representação da identidade queer na assim chamada
“literatura gay e lésbica”. Em sua maioria, essas obras seriam melhor descritas como
“antologias de literatura da homofobia”, segundo Giraldo (2009, p. 2, tradução nossa). Na
Antologia de la literatura gay en República Dominicana (2004), editada por Mélida García,
que reúne textos com temática gay escritos por autores emblemáticos da poesia e ficção
dominicana, e em El teatro homossexual en México (2002), que se volta à mesma temática no
teatro mexicano, as personagens homossexuais e transgêneros são representadas como
transviadas e marginais, os seus desejos como aberrantes e os seus excessos (o alcoolismo e o
uso de drogas) como corruptores em potencial.
Em contraste, em outras antologias classificadas como queer”, como Baladas de la
loca alegría: literatura queer en Colombia (2007), de Daniel Balderston, e Lo
transfemenino/masculino/queer (2001), editado por Ileana Rodríguez, Giraldo (2009, p. 4,
tradução nossa) reconhece o esforço para romper com as normas sociais, sexuais e de gênero
do padrão heteronormativo, direcionando a literatura para um “lugar de coexistência de tensões,
de desejos, de prazeres e de personagens não coisificadas ou essencializadas”. Em sua
investigação sobre a literatura queer em língua inglesa, Blackburn, Clark e Nemeth (2015)
confirmam a coexistência das duas tendências apontadas por Giraldo (2009).
Preferimos evitar o uso dessa sigla, que ela está em constante mudança e poderia ser rapidamente superada.
Essa mudança se observa, seja nos acréscimos (começando com GLS, depois LGBT, depois LGBTQ e em diante),
seja na ordem (TLGB, na intenção de aumentar a visibilidade da causa trans).
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Podemos concluir que, para ser definida como queer, uma obra literária deve incluir não
apenas personagens lésbicos, gays ou transsexuais, mas também concepções múltiplas sobre a
sexualidade e o gênero, cuja ruptura com as normas tradicionais de sexualidade, gênero e
família destacam-se por meio de artifícios literários a natureza queer do texto. Da mesma forma
que a palavra queer foi ressignificada em inglês por meio de sua apropriação pela comunidade
LGBTAIAP+, a própria literatura queer encena personagens que, por meio do diálogo com as
representações socialmente desprestigiadas de si mesmas, subvertem as normas sociais, sexuais
e de gênero predominantes em determinado contexto sociocultural.
O socioleto queer
Em “Translating Camp Talk”, Harvey (1998) investiga a presença do queer em textos
literários e distingue as suas categorias integrantes. O camp pode ser entendido como um “modo
de expressão [que] tem sido associado à cultura homossexual desde o fim do século XIX”
(MAZZEI, 2007, p. 41, tradução nossa). Em “Notes on ‘Camp’”, Sontag (1964, p. 193, grifo
da autora, tradução nossa) associa o camp a um gosto típico dos homossexuais: “Embora não
seja verdade que o gosto camp é um gosto homossexual, não dúvida de que são afins e se
justapõem entre si”. Ela assim o define: Camp é uma visão de mundo em termos de estilo
mas um tipo particular de estilo. É o amor pelo exagerado, pelo ‘estranho’, pelas coisas-serem-
o-que-não-são” (SONTAG, 1964, p. 200, tradução nossa). Nesse sentido, o camp é um
fenômeno estético e artístico, um conjunto de qualidades que podem ser encontradas em pessoas
e objetos, manifestando-se de maneira visual, sonora ou verbal. Afinal, como afirma Sontag
(1964, p. 192, tradução nossa): “Existem filmes, roupas, músicas, livros, pessoas e prédios
próprios ao ‘camp’”.
Para definir o texto queer, gostaríamos de retomar não apenas a manifestação do camp
na literatura, mas também o conceito de camp verbal. Segundo Harvey (1998), os principais
aspectos do camp verbal são: a subversão de gênero, o code-switching entre línguas
estrangeiras, o uso de léxico específico à subcultura queer, a ênfase, a intertextualidade e a
descrição explícita de atividade sexual. Esses dois últimos aspectos foram discutidos no item
anterior (“A literatura queer”), a propósito do tratamento dialógico conferido à prática
disruptiva do gênero e da sexualidade por personagens queer, gays e lésbicas na literatura. Os
três primeiros aspectos, por sua vez, podem ser considerados subcategorias fonéticas, lexicais
e morfossintáticas da variedade linguística empregada pela comunidade LGBTAIAP+.
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES e Rodolfo Gabriel ALVES
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No Brasil, o conjunto de palavras, gírias e expressões utilizado pelos membros da
comunidade LGBTQIAP+ foi apelidado de “pajubá”. Essa variedade linguística está,
inclusive, em processo de ser lexicalizada, como demonstra a existência de dicionários
especialmente dedicados a ela, como por exemplo Aurélia: o Dicionário da língua afiada (VIP;
LIBI, 2006). Traço típico do camp verbal designado por Harvey (1998) como code-switching”,
o pajubá se apropria de diversos idiomas, como as línguas europeias (o francês e, sobretudo, o
inglês), as línguas indígenas locais e línguas de matriz africana (o ioru é uma de suas
principais fontes).
Com frequência, o pajubá é classificado como um dialeto, segundo a expressão “dialeto
pajubá” (NASCIMENTO; MARIANO; SANTOS, 2021). Em uma questão do Exame Nacional
do Ensino Médio (ENEM) de 2018, o pajubá é definido como o “dialeto secreto” dos gays e
travestis
. Outros teóricos classificam o pajubá como o “jargão LGBTQ”, vinculando-o a uma
prática profissional (BRAGA JUNIOR, 2020). No entanto, o pajubá não deve ser considerado
nem uma variedade geográfica (dialeto) nem tampouco um tecnoleto profissional (jargão), mas
um “socioleto queer” (PIRES, 2022).
Como uma variedade linguística empregada por um subgrupo social, o pajubá
corresponde à definição sociolinguística de socioleto. Nesse sentido, uma das características
necessárias de todo texto queer é a presença do socioleto queer empregado pela comunidade
LGBTAIAP+, como demonstra, por exemplo, o uso desse conceito na teoria da tradução
(PIRES, 2022): “[...] a tradução queer pode se referir a traduções de textos queer ou a traduções
feitas por tradutores que se identificam como queer” (LEWIS, 2010, p. 5, tradução nossa).
O texto queer
O uso do socioleto queer por parte de autores (inclusive tradutores) que se identificam
como membros dessa comunidade, a representação de personagens queer e a exploração de
artifícios disruptivos com as normas sociais, sexuais e de gênero são necessários, mas não
suficientes para definir o texto queer, que essa identidade é, sobretudo, performaticamente
construída. A dimensão performática da construção social da identidade queer reúne uma face
linguística e outra extralinguística. Juntas, as faces do texto queer transmitem “a força
VEJA resolução de questão do Enem que aborda status do pajubá como o dialeto secreto dos gays e travestis.
G1, 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/enem/2018/noticia/2018/11/05/veja-resolucao-de-
questao-do-enem-que-aborda-status-do-pajuba-como-dialeto-secreto-dos-gays-e-travestis.ghtml. Acesso em: 3
maio 2022.
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disruptiva inerente às representações queer (ALVES, 2022, p. 10). Essa dimensão
performática corresponde àquilo que Harvey (1998) designou como a “ênfase” (emphatics) do
camp verbal.
Em inglês, o termo emphatics inclui o sentido pejorativo designado pela palavra
“afetação” em português. Com frequência, a “ênfase” pode ser expressa por meio da simples
entonação dada a uma determinada palavra, como exemplifica Sontag por meio do uso
metafórico das aspas: tudo com aspas. Não é uma lâmpada, mas uma ‘lâmpada’; não é uma
mulher, mas uma ‘mulher’” (SONTAG, 1964, p. 4, tradução nossa). O uso metafórico das aspas
em certas palavras corresponde ao conceito de “entonação”, presente na teoria bakhtiniana da
linguagem.
Como afirma o linguista russo Valentin Volóchinov, que pertenceu ao assim chamado
“Círculo de Bakhtin”, a entonação situa-se no limite entre o enunciado e o contexto verbal e
extraverbal: “A camada mais evidente, mas ao mesmo tempo mais superficial da avaliação
social contida na palavra é transmitida com a ajuda da entonação expressiva(VOLÓCHINOV,
2019, p. 123, grifo do autor). Necessariamente atravessado pelos valores heteronormativos e
pelas representações falocêntricas, o texto queer os desconstrói por dentro em seus níveis
linguístico e extralinguístico, simultaneamente, como evidencia o seu uso metafórico de aspas,
ou entonação expressiva.
Assim, a performatividade do texto queer depende não apenas de elementos linguísticos,
mas também extralinguísticos: à “ressignificação” no nível linguístico, corresponde à uma
dimensão deliberadamente paródica no nível performático. Newton (1972, p. 106, grifo da
autora, tradução nossa) observa três aspectos presentes nas manifestações do camp: “[...] a
incongruência, a teatralidade e o humor”. Da mesma forma, esses são aspectos intrínsecos à
dimensão deliberadamente paródica no nível performático do texto queer. A convergência de
recursos verbais, como o uso de hipérboles e exclamações, e de recursos extraverbais, como a
gestualidade dramática, constitui uma performatividade deliberada que desafia as convenções
de comunicação e confronta as expectativas sociais de gênero. A ressignificação linguística e a
incongruência, teatralidade e humor performáticos são indissociáveis e explicam a dimensão
intrinsecamente parasitária e dialógica do texto queer, a qual é designada, justamente, pela
expressão “subcultura queer”.
A incongruência, a teatralidade e o humor envolvem o distanciamento autoconsciente
da identidade queer e podem se expressar por meio de variados recursos estéticos,
performáticos e políticos, como ocorre claramente na “subcultura” dos Ballrooms. Os
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES e Rodolfo Gabriel ALVES
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Ballrooms constituem um estilo de vida formado por três elementos principais (BAILEY,
2013): o sistema de gênero, a estrutura de parentesco em torno de Houses (Casas) e os eventos
de competição (bailes). Nos Ballrooms, surgiram muitos elementos das subculturas queer,
como o vogue (estilo de dança caracterizado por movimentos provenientes da “pose” de
modelos em fotos de revistas de moda). A série norte-americana Pose (2018-2021), por
exemplo, retrata o surgimento da subcultura dos Ballrooms em uma comunidade de gays e
mulheres trans negras e latinas na cidade de Nova Iorque dos anos de 1980 e 1990 (PIRES,
2022).
Como a sua produção pode envolver distintos atores, como autores, tradutores, editores
e personagens ficcionais (literárias, teatrais ou audiovisuais), o texto queer não se limita à forma
escrita (presente, por exemplo, em artigos jornalísticos ou obras literárias), mas também pode
se manifestar em outros suportes, que incluem música (em particular, em canções), gesto (em
representações teatrais e performances artísticas), imagens (em quadros, esculturas ou
fotografias), ou todos esses suportes ao mesmo tempo (em produções audiovisuais). Por esse
motivo, nossa análise de textos queer procura apresentar exemplos retirados dos mais variados
suportes, como textos literários e jornalísticos, canções e obras audiovisuais.
A escrita queer
Criado na década de 1970 em meio à ditadura militar no Brasil, o jornal Lampião da
Esquina surgiu com o objetivo de representar e dar voz à marginalizada comunidade
homossexual. O jornal reunia reportagens, entrevistas e correspondências que tratavam da
vivência dos homossexuais e travestis, bem como de temas feministas e sociais em geral.
Nos textos jornalísticos assinados por Rafaela Mambaba (pseudônimo criado pelos
editores do jornal), por exemplo, se “exercitava o linguajar ferino e malicioso atribuído às
travestis e às bichas loucas” (SIMÕES; FACCHINI, 2009, p. 88-89). No número 2, de junho
de 1978, rebatendo uma crítica que o jornal Pasquim fizera, chamando o Lampião de “jornal
das tias”, Rafaela Mambaba (1978, p. 4) afirma:
Mauzinho! E continua o mesmo, hein? “Jornal das tias”: hum, hum, que
imaginação fertilíssima! Por que não das bichas, das bonecas, dos viados?
Ricas idéias: luz tosca do LAMPIÃO deve ser a do bisavô de quem escreveu.
A nossa continua acesa, acesíssima. Sinceramente sua, Rafaela Mambaba.
Além do uso repetido de diminutivos e superlativos que caracterizam a sua ênfase
hiperbólica, a interjeição “hum, hum” é um elemento claramente calcado na oralidade.Embora
O texto queer: Socioleto, dialogismo e ênfase
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estejam presentes em um texto escrito, esses elementos caracterizam a “entonação expressiva”
empregada por Rafaela Mambaba. Ela ainda termina a resposta aos seus críticos com uma
fórmula irônica de despedida, como se trocassem cartas íntimas: “Sinceramente sua”
(MAMBABA, 1978, p. 4).
A obra literária do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu é considerada “um marco para
a inclusão das discussões acerca da cultura gay e das representações homoeróticas” (LIMA;
STACUL, 2012, p. 6). No seu conto “Sargento Garcia” (1982), a ênfase do discurso da
personagem Isadora é representada na escansão das sílabas por meio de hifens na palavra
“adorar”, indicando a entonação expressiva utilizada: “Tenho certeza de que o mocinho vai a-
do-rar, ficar freguês de caderno” (ABREU, 2018, p. 373). Além disso, o socioleto queer
empregado por Isadora subverte constantemente as expectativas de gênero gramatical por meio
da ênfase na sua ambivalência genérica. Embora seja apresentada como Isadora, a personagem
não deixa de mencionar o seu nome masculino de batismo: “Isadora Duncan, [...] a minha ídola,
eu adoro tanto que adotei o nome. Já pensou se eu usasse o Valdemir que minha mãezinha me
deu?”
A mesma ambivalência da sua identidade de gênero é produzida na justaposição por
parte do narrador, Hermes, do mesmo adjetivo nos dois gêneros para caracterizar Isadora:
“Piscou íntimo, íntima, para o sargento e para mim” (ABREU, 2018, p. 372). Por vezes, a
ambivalência da sua identidade de gênero assume a característica de uma hesitação por parte
do narrador, como neste trecho: “[...] ela perguntava, e quase imediatamente corrigi, dentro da
minha própria cabeça, olhando melhor e mais atento, ele, dentro de um robe colorido” (ABREU,
2018, p. 372).
A canção queer
Da mesma maneira que a literatura queer, a música queer é composta por músicos
pertencentes a essa subcultura (PAES; SARROUY, 2022) ou por artistas que, de alguma forma,
dialogam com ela, como ocorre com grandes divas da música pop internacional. Na música
brasileira dos últimos cinco anos, a identidade queer foi absorvida por artistas ligados ao gênero
pop, como a cantora drag queen Pabllo Vittar, conferindo-lhe significativa visibilidade.
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES e Rodolfo Gabriel ALVES
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O cantor e compositor Gabeu (nome artístico de Gabriel Felizardo) é considerado o
precursor do gênero conhecido como queernejoou “pocnejo”
. Nesse movimento musical,
músicos LGBTQIAP+ procuram conferir representatividade a essa subcultura através da
inserção de temáticas queer no repertório da música sertaneja, que é fortemente marcado por
identidades heteronormativas. Em “Amor Rural”, por exemplo, a primeira canção lançada pelo
cantor Gabeu, é narrado de forma satirizada um romance secreto ocorrido em contexto
campestre (espaço típico do gênero sertanejo) entre dois homens. O refrão dessa canção é:
Vamos assumir o nosso amor rural
Sai dеsse armário e vem pro mеu curral
Como nós, nunca se viu
Duas potranca no cio
Num cruzamento adoidado
Vamos assumir o nosso amor rural
Larga essa enxada e pega no meu...
Quero montar na sua cela, cavalgar até ela
Descobrir que nós é... viado (GABEU, 2019).
Em canções, as características do texto queer podem ser observadas em sua forma oral,
diferentemente da forma escrita adotada nos textos literários e jornalísticos. A entonação
expressiva adquire novos contornos graças ao suporte sonoro. No refrão de “Amor Rural”, são
utilizadas articulações vocais e entonações típicas da música sertaneja. No verso final, há uma
pausa dramática, seguida da palavra “viado”, pronunciada com uma entonação “afetada”.
Segundo o dialogismo do texto queer, o termo “viado” é usado em sentido ressignificado,
sintetizando a auto-descoberta da própria homossexualidade no contexto de opressão
heteronormativa dos espaços rurais. A mesma característica também se observa na descrição
explícita da atividade sexual, como nestes versos: “Duas potrancas no cio / Num cruzamento
adoidado”.
Além de cantora, Linn da Quebrada (nome artístico de Lina Pereira) é atriz e ativista
social brasileira. O seu primeiro álbum, chamado “Pajubá” (2017), funde ritmos do funk carioca
e do hip-hop para falar sobre a experiência da cantora, relatando a sua trajetória desde que
assumiu a homossexualidade até se reconhecer na identidade travesti. O título “Pajubá” designa
o socioleto queer, apresentado como uma linguagem dotada de um caráter artístico e criativo,
como a cantora afirma no anúncio do álbum: “Eu chamo esse álbum de pajubá, porque [...] é
construção de linguagem. É invenção. É ato de nomear” (QUEBRADA, 2017a).
Junção da palavra sertanejo com poc”, a expressão “pocnejo” se baseia na ressignificação do termo bicha
poc-poc, antes usado de forma pejorativa para se referir a uma categoria de homens gays e afeminados com baixo
poder aquisitivo (ALONSO, 2005).
O texto queer: Socioleto, dialogismo e ênfase
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.16155 12
A última canção do disco, “A Lenda” narra parte da história de vida da cantora e, ao
mesmo tempo, reflete sobre o papel de artistas LGBTQIAP+ na arte e no entretenimento. O
refrão da canção é:
Eu tô bonita? (Tá engraçada)
Eu não tô bonita? (Tá engraçada)
Me arrumei tanto pra ser aplaudida
Mas até agora só deram risada
(QUEBRADA, 2017b).
No refrão, é estabelecido um dialogismo entre a sua história e a época do lançamento
do disco, quando se observava, pela primeira vez, o reconhecimento social de músicos
LGBTQIAP+ em espaços de destaque cultural do país.
Na canção “Enviadescer”, cujo título é um neologismo criado a partir da palavra
“viado”, é utilizado o anglicismo boy, como ocorre neste verso que antecede o refrão: “Se tu
quiser ficar comigo, boy (QUEBRADA, 2017b). O uso do code-switching, sobretudo de
palavras e expressões oriundas do inglês, é uma característica do socioleto queer. No entanto,
o termo foi dialogicamente ressignificado, que, neste caso, boynão possui o significado
literal da palavra em inglês (garoto), mas designa uma figura masculina afetiva e sexualmente
desejada ou desejante.
O audiovisual queer
Além do suporte sonoro presente nas canções, as obras audiovisuais acrescentam a
imagem como elemento complementar com o qual o texto queer deve, necessariamente,
dialogar. No Brasil, a disseminação de caricaturas humorísticas em programas de TV ocorre há
décadas (PIRES, 2022). Em um esquete chamado “VIADA” (PORTA DOS FUNDOS, 2019,
s./p.) e lançado no youtube pela produtora de vídeos de comédia Porta dos Fundos, uma mulher
chamada Manuela cumprimenta os seus amigos gays dizendo, com uma entonação exagerada
e teatral (alongando e nasalizadando cada sílaba): “Inhaí, viados? Maravilhosas!”. Segundo
uma tendência apontada no primeiro verbete do dicionário AURÉLIA (VIP; LIBI, 2006), ela
também subverte o gênero gramatical, ao usar o gênero feminino para se dirigir a homens gays.
Nos diálogos seguintes, Manuela é repreendida pelos amigos por usar determinadas expressões
que, na boca de uma mulher heterossexual, podem assumir um sentido até mesmo ofensivo:
Amiga, a gente preparou uma intervenção.
Intervenção é meu edi, bee? O que é que foi, gente? Vão ficar me xoxando
agora?
Você tem que parar de falar assim, Manu.
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES e Rodolfo Gabriel ALVES
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Meu cú. Desaquenda esse ebó e corta meu picumã.
Quê?
Meu cabelo, viado, bora cortar, mona.
Quantas vezes eu vou ter que dizer que eu não sou cabeleireiro?
Manu, o Luís é do mercado financeiro.
Tô bege! Luísa, deixa de ser passivona, sua louca!
Então, isso, por exemplo. Isso é um pouco ofensivo com ele.
A louca sou eu, sua doida.
Não, estou falando do passivona.
Aonde? Não vem fazendo a egípcia pra mim, não, que você fica espalhando
por aí que você é a passivona.
Não, eu posso porque eu sou.
Eu também sou passivona.
Não, amiga, você é mulher. Não tem isso pra mulher.
(PORTA DOS FUNDOS, 2019, transcrição nossa).
Pertencentes ao pajubá, expressões como “edi”, “ebó” e “picumã” são neologismos ou
palavras emprestadas de outros idiomas, principalmente do iorubá. Pronunciada pela
personagem de uma mulher cisgênero e heterossexual, a profusão de palavras do socioleto
queer visa produzir um efeito cômico. Usadas por heterossexuais, expressões como “passivona”
são insultos e, por gays, podem ter um sentido positivo ou negativo, mas jamais agressivo,
que os falantes se enxergam como semelhantes. Ao ser empregado por Manuela para
caracterizar a si mesma, o termo é esvaziado de seu sentido, ridicularizando a sua ignorância
em relação à diversidade sexual dos amigos. O esquete pode ser considerado uma paródia das
caricaturas humorísticas da identidade queer criadas pelos veículos audiovisuais brasileiros.
Considerações finais
Embora seja um conceito-base no interior do campo transdisciplinar dos estudos queer,
sobretudo em sua intersecção com as áreas dedicadas aos estudos da linguagem, o texto queer
ainda não possui uma definição exaustiva. As definições de texto queer oferecidas pela
sociolinguística e pela teoria literária a partir dos conceitos de “socioleto queere de “literatura
queer são necessárias, mas não suficientes para compreendê-lo. Para complementá-la,
procuramos dialogar com a concepção do camp verbal que, sintetizada por Harvey (1998) em
seis elementos, foram reorganizados por nós em torno de três aspectos indissociáveis entre si:
“socioleto”, “dialogismo” e “ênfase”.
Os elementos chamados de “subversão de gênero”, code-switching entre línguas
estrangeiras” e “uso de léxico específico à subcultura queer” foram reunidos sob o conceito de
“socioleto queer”, segundo a concepção sociolinguística de variedade linguística. Os elementos
chamados de “intertextualidade” e de “descrição explícita de atividade sexual” foram
O texto queer: Socioleto, dialogismo e ênfase
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reinterpretados a partir da noção bakhtiniana de dialogismo que, aplicado à literatura queer,
permite descrever os artifícios literários que representam disruptivamente as subculturas queer
e as suas identidades sexuais e de gênero não-normativas. Reinterpretada com base no conceito
de “entonação expressiva” de Volóchinov (2019), o conceito de “ênfase” permitiu, por sua vez,
salientar a relação intrínseca entre as dimensões linguística e extralinguística no texto queer.
Retiradas da definição de camp (LEWIS, 2010), as noções de incongruência,
teatralidade e humor também podem ser aplicadas ao texto queer, cuja dimensão
intrinsecamente parasitária e dialógica pode se expressar de diferentes maneiras, desde as
exclamações e hipérboles linguísticas até uma gestualidade e paródia dramáticas.
Exemplarmente ilustrado na subcultura do Ballroom, o texto queer não é apenas o produto, mas
também o processo criativo para performar as diferenças e, assim, sobreviver subjetiva e
objetivamente, subvertendo artisticamente os ditames impostos em contextos de opressão das
identidades sexuais e de gênero não-normativas.
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Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES e Rodolfo Gabriel ALVES
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
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CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não aplicável.
Financiamento: Não aplicável.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não aplicável.
Disponibilidade de dados e material: Todos os materiais e dados mencionados no trabalho
estão disponíveis para acesso até o presente momento da submissão.
Contribuições dos autores: Os três autores participaram das fases de realização da
pesquisa e de redação do artigo científico.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação e normalização.
RIAEE Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 18, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v18i00.16155 1
QUEER TEXT: SOCIOLECT, DIALOGISM, AND EMPHATICS
O TEXTO QUEER: SOCIOLETO, DIALOGISMO E ÊNFASE
EL TEXTO QUEER: SOCIOLECTO, DIALOGISMO Y ÉNFASIS
Daniel Padilha Pacheco da COSTA1
e-mail: dppcost@ufu.br
Gustavo Matheus PIRES2
e-mail: gustavo.matheus.pires@gmail.com
Rodolfo Gabriel ALVES3
e-mail: rodolfogabrielalves@gmail.com
How to reference this paper:
COSTA, D. P. P.; PIRES, G. M.; ALVES, R. G. Queer text:
Sociolect, dialogism, and emphatics. Doxa: Rev. Bras.
Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023.
e-ISSN: 2594-8385. DOI:
https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18043
| Submitted: 10/05/2023
| Revisions required: 22/06/2023
| Approved: 22/06/2023
| Published: 01/08/2023
Editor:
Prof. Dr. Paulo Rennes Marçal Ribeiro
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Federal University of Uberlandia (UFU), Uberlandia MG Brazil. Professor of both the Graduate Program in
Literature and the Undergraduate Program in Translation. Assistant Professor, Language and Linguistics Institute.
Federal University of Uberlandia (UFU), Uberlandia MG Brazil. Bachelor in Translation.
Federal University of Uberlandia (UFU), Uberlandia MG Brazil. Bachelor in Translation.
Queer text: Sociolect, dialogism, and emphatics
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18043 2
ABSTRACT: Although the concept of queer text holds fundamental importance within the
transdisciplinary field of Queer Studies, particularly at the intersection with Language Studies,
an exhaustive definition for this notion is still lacking. Initially, we discuss the definitions of
queer text provided by sociolinguistics and literary theory, based on the concepts of queer
sociolect and literature, respectively. These definitions are necessary, but insufficient to fully
understand it. Through dialogue with the concept of verbal camp and emphasizing the intrinsic
relationship between its linguistic and extralinguistic dimensions, we propose our own
definition of queer text, delineating three interconnected aspects: queer sociolect, dialogism,
and emphatics. Finally, we illustrate our own definition through the analysis of excerpts from
literary and journalistic texts, songs, and audiovisual works.
KEYWORDS: Queer Studies. Sociolect. Dialogism. Emphatics. Queer text.
RESUMO: Embora seja um conceito-base no interior do campo transdisciplinar dos estudos
queer, sobretudo em sua intersecção com as áreas dedicadas aos estudos da linguagem, o texto
queer ainda não possui uma definição exaustiva. Inicialmente, discutimos as definições de texto
queer que, oferecidas pela sociolinguística e pela teoria literária, baseiam-se nos conceitos de
socioleto e de literatura queer, respectivamente. Como essas definições são necessárias, mas
não suficientes para compreendê-lo, dialogamos com o conceito de camp verbal, enfatizando
a relação intrínseca entre as suas dimensões linguística e extralinguística. A seguir, propomos
nossa própria definição do texto queer, distinguindo três aspectos indissociáveis entre si:
socioleto queer, dialogismo e ênfase. Finalmente, ilustramos nossa definição por meio da
análise de exemplos retirados de textos literários e jornalísticos, canções e obras audiovisuais.
PALAVRAS-CHAVE: Estudos queer. Socioleto queer. Dialogismo. Ênfase. Texto queer.
RESUMEN: Aunque el concepto de texto queer tenga una importancia fundamental en el
campo transdisciplinario de los estudios queer, particularmente en la intersección con los
estudios del lenguaje, falta, todavía, una definición exhaustiva de esta noción. Inicialmente,
discutimos las definiciones de texto queer proporcionadas por la sociolingüística y la teoría
literaria, a partir de los conceptos de sociolecto queer y literatura queer, respectivamente.
Como estas definiciones son necesarias, pero no suficientes para comprenderlo, dialogamos
con el concepto de camp verbal, enfatizando la relación intrínseca entre sus dimensiones
lingüística y extralingüística. Enseguida proponemos nuestra propia definición de texto queer,
distinguiendo tres aspectos inseparables entre sí: sociolecto queer, dialogismo y énfasis.
Finalmente, ilustramos nuestra definición a través del análisis de ejemplos tomados de textos
literarios y periodísticos, canciones y obras audiovisuales.
PALABRAS CLAVE: Estudios queer. Sociolecto queer. Dialogismo. Énfasis. Texto queer.
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES and Rodolfo Gabriel ALVES
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18043 3
Introduction
Stemming from the convergence of Gay and Lesbian Studies and Feminist Theory,
Queer Theory emerged from within the transdisciplinary field of Gender Studies during the
early 1990s. Queer Studies, also called Sexual Diversity Studies, have facilitated an expansion
beyond sexual (homo/hetero) and gender (male/female) binarism, encompassing all non-
normative sexual and gender identities. By challenging hegemonic cisgender
heteronormativity, Queer studies have sought to comprehend the social construction of gender
identities and sexual orientations, particularly queer identities.
Oral and written texts play a central role in the constitution of such identities since, as
stated by Butler (2017), a renowned theorist considered one of the pioneers in this field of study,
gender is an identity instituted through the stylized repetition of performative acts of language.
The influence of various linguistic perspectives in Queer Studies is particularly evident in
subfields of this transdisciplinary field closely intertwined with research subjects belonging to
Language Studies, such as Queer Translation and Literature.
Queer Translation aims to retextualize in another language source texts that, using
linguistic varieties associated with queer identities, can be classified as belonging to queer
literature. The term queer literature encompasses literary texts that not only include gay and
lesbian characters but also challenge and disrupt traditional norms of sexuality, gender, and
family dynamics through the exploration of literary devices that represent queer subcultures
and their non-normative sexual and gender identities. Located at the crossroads of Queer
Studies and Language Studies, both Queer Translation and Literature draw upon the notion of
the queer text.
Queer Studies have produced diverse definitions of text through its dialogue with
distinct concepts of discourse and language from different disciplines, such as sociolinguistics
and literary theory. Based on a sociolinguistic conception of language, queer text has been
defined as a text that utilizes a queer sociolect” (PIRES, 2022), an “LGBTQ jargon” (BRAGA
JUNIOR, 2020) or a “pajubá dialect” (NASCIMENTO; MARIANO; SANTOS, 2021).
Drawing upon a notion of style from literary theory, queer text has been understood as texts
belonging to queer literature” (GIRALDO, 2009; BLACKBURN; CLARK; NEMETH, 2015).
However, despite its prominence in these fields, a comprehensive definition of queer text
remains elusive. Intending to expand upon these narrow definitions, our conceptualization of
queer text engages in a dialogue with the notion of verbal camp (HARVEY, 1998; MAZZEI,
2007; ALVES, 2022).
Queer text: Sociolect, dialogism, and emphatics
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In this paper, we examine the definitions of queer text stemming from the concepts of
queer sociolect and queer literature, according to the notions of discourse and language from
sociolinguistics and literary theory, respectively. We then present our definition of queer text,
engaging in a dialogue with the concept of verbal camp and delving into the intrinsic
relationship between its linguistic and extralinguistic dimensions. We differentiate three
inextricably intertwined aspects within our definition: queer sociolect, dialogism, and
emphatics. Finally, we substantiate our meaning of queer text by analyzing examples extracted
from literary and journalistic texts, songs, and audiovisual works.
Queer Literature
in English initially referred to something peculiar or eccentric or to individuals whose
behavior was socially disapproved. By the late 19th century, the word took on a pejorative
connotation, being used as an offensive term against gay men or those perceived as feminine.
In a letter presented during the trial that led to Oscar Wilde’s imprisonment for his
homosexuality, John Douglas (the Marquess of Queensberry) openly expressed his disdain for
the homoaffectionate relationship between his son, Alfred Douglas, and the esteemed Irish
writer when he wrote the phrase “snob queers” (apud HALL, 2016, our translation).
The term underwent a process of resignification, as demonstrated by its first definition
in The Concise New Partridge Dictionary of Slang and Unconventional English (DALZELL;
VICTOR, 2007, p. 524, our translation): “Queer adjective 1 homosexual. Derogatory from the
outside, not from within the US, 1914”. Language is not merely a stable system of normatively
identical forms, as upheld by Saussure’s structuralist view. Instead, it is primarily stratified
socially into linguistic variations steeped in conflicting values, according to the sociological
conception of language as proposed by Bakhtin (2015). The objective content of language only
exists in writing or the spoken word about a particular evaluative accent, without which no
word can be written or spoken. As highlighted by the dictionary above entry, the term “queer
meaning varies diametrically depending on the social values and sexual and gender identity of
the person using it.
The resignification of insults or derogatory terms is a fundamental characteristic of
queer sociolect. In its reclaimed sense, queer denotes various elements and concepts
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES and Rodolfo Gabriel ALVES
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18043 5
associated with the LGBTQIAP+ community
. We can use the acclimated term "cuir" in
Portuguese, which is claimed by the LGBTQIAP+ community itself, as evidenced by Jup do
Bairro during a debate with Judith Butler and Linn da Quebrada (CANAL BRASIL, 2021).
However, we prefer the foreignized form, as it has been established by most researchers. The
fields of study related to the social construction of sexual orientations and gender identities
have been characterized by the term queer,” as indicated by their names, such as Queer
Translation” or “Queer Theory.” Additionally, using a foreign term in Portuguese introduces a
sense of estrangement that converges with understanding the concept. The word queer should
be understood as an “umbrella” that encompasses all non-cisgender and non-heterosexual
identities.
In her review of various Latin American compilations and anthologies composed of
texts marketed as queer literature, and gay and lesbian literature, Giraldo (2009, p. 2, our
translation) points to the predominance of a derogatory representation of queer identities in the
so-called gay and lesbian literature. According to Giraldo (2009, p. 2, our translation), most of
these works could be more aptly described as “anthologies of homophobia literature”. In
Antologia de la literatura gay en República Dominicana (2004), edited by Mélida García, is a
collection of gay-themed texts written by emblematic Dominican poets and fiction authors.
Similarly, El teatro homossexual en México (2002) explores the same themes in Mexican
drama. In both works, homosexual and transgender characters are portrayed as deviant and
degraded, their desires are aberrant, and their excesses (such as alcoholism and drug use) are
depicted as potential seeds of corruption.
In contrast, when it comes to anthologies categorized as queer, like Baladas de la loca
alegría: literatura queer en Colombia (2007), by Daniel Balderston, and Lo
transfemenino/masculino/queer (2001), edited by Ileana Rodríguez, Giraldo (2009, p. 4, our
translation) recognizes an effort to challenge and disrupt heteronormative social, sexual, and
gender norms, thus directing literature towards a “space of coexistence of tensions, desires,
pleasures, and non-objectified or essentialized characters.” In exploring English-language
queer literature, Blackburn, Clark, and Nemeth (2015) corroborate the coexistence of the two
trends Giraldo (2009) identified.
We prefer to avoid using this acronym, as it is constantly changing and could quickly be outdated. This change
is observed in additions (starting with GLS, then LGBT, then LGBTQ, and onwards) or in order (TLGB, to
increase the visibility of the trans cause).
Queer text: Sociolect, dialogism, and emphatics
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
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We can conclude that, to be defined as queer, a literary work must not only include
lesbian, gay, or transgender characters. It must also present varied perspectives on sexuality and
gender through literary devices that break away from traditional norms of sexuality, gender,
and family, thus accentuating the queer nature of the text. Just as the word queer was
resignified in English through its reappropriation by the LGBTAIAP+ community, queer
literature inherently presents characters that subvert the dominant social, sexual, and gender
norms within their sociocultural contexts through a dialogue with socially depreciated
representations of themselves.
Queer sociolect
In “Translating Camp Talk”, Harvey (1998) delves into the queer elements present in
literary texts and differentiates their fundamental categories. Camp can be understood as a
“mode of expression [that] has been affiliated with homosexual culture since the late nineteenth
century” (MAZZEI, 2007, p. 41, our translation). In “Notes on ‘Camp,’” Sontag (1964, p. 193,
emphasis in original, our translation) associates camp with a taste typical of homosexuals:
“While it’s not true that Camp taste is homosexual taste, there is no doubt a peculiar affinity
and overlap.” She defines it as follows: “Camp is a vision of the world in terms of stylebut a
particular kind of style. It is the love of the exaggerated, the ‘off,’ of things-being-what-they-
are-not” (SONTAG, 1964, p. 200, our translation). Therefore, camp is an aesthetic and artistic
phenomenon, a set of qualities discoverable in people and objects, manifesting itself visually,
through sound, or verbally. After all, as stated by Sontag (1964, p. 192, our translation): “There
are ‘camp’ movies, clothes, furniture, popular songs, novels, people, buildings.”
To define queer text, we would like to revisit the manifestation of camp in queer
literature and the concept of verbal camp. According to Harvey (1998), the main aspects of oral
camp are: gender subversion, foreign language code-switching, queer-specific lexicon,
emphatics of camp, intertextual reference, and overt description of sexual activity. The latter
two aspects were discussed in the previous section (“Queer Literature”), concerning the
dialogic exploration of how queer, gay, and lesbian characters in literature engage in subversive
practices of gender and sexuality. On the other hand, the first three aspects can be considered
phonetic, lexical, and morphosyntactic subcategories of the linguistic variety employed by the
LGBTAIAP+ community.
In Brazil, the set of words, slang, and expressions used by members of the LGBTQIAP+
community is colloquially known as pajubá.” This linguistic variety is also undergoing
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES and Rodolfo Gabriel ALVES
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lexicalization, as demonstrated by the emergence of dictionaries dedicated explicitly to it, such
as Aurélia: o Dicionário da língua afiada (VIP; LIBI, 2006). Pajubá draws from various
languages, such as European languages (French and, above all, English), local indigenous
languages, and African-derived languages (Yoruba is one of its primary sources), embodying a
fundamental aspect of verbal camp characterized by Harvey (1998) as “code-switching.”
It is often categorized as a dialect, as in the phrase “pajubá dialect” (NASCIMENTO;
MARIANO; SANTOS, 2021). In the 2018 edition of the ENEM (National High School
Examination), a question stem defined pajubá as the “secret dialect” of gays and travesties
.
Other theorists categorize pajubá as “LGBTQ jargon,” linking it to professional practice
(BRAGA JUNIOR, 2020). However, pajubá should neither be considered a geographical
variety (dialect) nor a professional technolect (jargon), but rather a queer sociolect” (PIRES,
2022).
As a linguistic variety employed by a social subgroup, pajubá corresponds to the
sociolinguistic definition of sociolect. Therefore, an integral characteristic of any queer text is
the presence of the queer sociolect employed by the LGBTAIAP+ community. This is
demonstrated, for example, in the application of the concept of queer text in translation theory
(PIRES, 2022): “[...] queer translation can refer to translations of queer texts or translations
done by translators who identify as queer (LEWIS, 2010, p. 5, our translation).
Queer text
The use of queer sociolect by authors (including translators) who identify as members
of this community, the representation of queer characters, and the employment of disruptive
literary devices that challenge social, sexual, and gender norms are necessary but not sufficient
to define the queer text, as this identity is chiefly constructed performatively. The performative
dimension of the social construction of queer identity encompasses both a linguistic and an
extralinguistic aspect. The facets of the queer text collectively manifest “the disruptive force
inherent in queer representations” (ALVES, 2022, p. 10, our translation). This performative
dimension corresponds to what Harvey (1998) described as the emphatics of verbal camp.
SEE resolution of an Enem question that addresses the status of "pajubá" as the "secret dialect" of gays and
travesties. G1, 2018. Available at: https://g1.globo.com/educacao/enem/2018/noticia/2018/11/05/veja-resolucao-
de-questao-do-enem-que-aborda-status-do-pajuba-como-dialeto-secreto-dos-gays-e-travestis.ghtml. Accessed in:
3 May 2022.
Queer text: Sociolect, dialogism, and emphatics
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In English, the term “emphatics” carries the pejorative sense designated by the
Portuguese word “afetação.” Often, such emphatics can be expressed through simple intonation
applied to a specific term, as exemplified by the metaphorical use of quotation marks shown by
Sontag: “Camp sees everything in quotation marks. It’s not a lamp, but a ‘lamp’; It’s not a
woman, but a ‘woman’” (SONTAG, 1964, p. 4, our translation). The metaphorical use of
quotation marks to emphasize certain words aligns with the concept of “intonation” in
Bakhtinian theory on language.
According to the Russian linguist Valentin Volosinov, a member of the so-called
“Bakhtin Circle,” intonation runs along the line of contact between a given utterance and the
extraverbal and verbal milieu: “The most obvious, but, at the same time, the most superficial
aspect of social value judgment incorporated in the word is that which is conveyed with the
help of expressive intonation (VOLOSINOV, 2019, p. 103, emphasis in original, our
translation). Inescapably impacted by heteronormative values and phallocentric
representations, queer text deconstructs these elements from within on both their linguistic and
extralinguistic levels, a process exemplified by the metaphorical use of quotation marksor
the expressive intonation.
Therefore, the performativity of the queer text relies on linguistic and extralinguistic
elements: a linguistic “resignification” is the counterpart to a deliberately parodic dimension at
the performative level. Newton (1972, p. 106, emphasis in original, our translation) identifies
three aspects present in the manifestations of camp: “[...] incongruity, theatricality, and humor.”
Likewise, these aspects are inherent in the deliberately parodic dimension at the performative
level of queer text. The convergence of verbal elements, such as hyperboles and exclamations,
and extraverbal features, such as dramatic gesturing, establishes a deliberate performativity that
challenges conventional communication norms and confronts societal gender expectations.
Linguistic resignification and the performative incongruity, theatricality, and humor are
inherently intertwined and shed light on the parasitic and dialogic nature of the queer text, aptly
characterized as “queer subculture.”
Incongruity, theatricality, and humor are integral to the self-conscious distancing of
queer identity and can be expressed through a range of aesthetic, performative, and political
resources, as is seen in the “subculture” of Ballroom. The Ballroom scene encompasses a
lifestyle formed by three primary elements (BAILEY, 2013): the gender system, the kinship
structure around Houses, and competitive events known as balls. Many aspects of queer
subcultures, such as vogue (a dance style characterized by movements derived from the poses
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES and Rodolfo Gabriel ALVES
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made by models in fashion magazine photos), emerged in Ballroom. The American TV series
Pose (2018-2021) depicts the emergence of the Ballroom subculture in a community of Black
and Latinx gay men and trans women in New York City during the 1980s and 1990s (PIRES,
2022).
Given its potential involvement of various actors, such as authors, translators, editors,
and fictional characters (in literary, theatrical, or audiovisual forms), the queer text extends
beyond the written medium alone (for example, present in journalistic articles or literary
works). It manifests itself across various media, including music (particularly in songs), gesture
(in theatrical representations and artistic performances), visual arts (through paintings,
sculptures, or photographs), or a combination of all these mediums (in audiovisual productions).
Consequently, our analysis of queer texts strives to provide examples from various media,
including literary and journalistic texts, songs, and audiovisual works.
Queer in written text
Established in the 1970s during the military dictatorship in Brazil, the Lampião da
Esquina newspaper was launched to represent and give voice to the marginalized homosexual
community. The paper compiled reports, interviews, and correspondence that explored the
experiences of homosexuals and travesties alongside examinations of feminist and social issues
in general.
In the journalistic texts attributed to Rafaela Mambaba (a pseudonym created by the
newspaper’s editors), there was a “use of shady and mischievous language attributed to
travesties and crazy queers” (SIMÕES; FACCHINI, 2009, p. 88-89, our translation). For
instance, in the second issue from June 1978, in response to a critique by the Pasquim
newspaper referring to Lampião as the “aunts’ newspaper,” Rafaela Mambaba (1978, p. 4, our
translation) counters, saying:
Such a baddie! And you’re still the same, huh? “aunt’s newspaper”: hmm,
hmm, what an awfully imaginative mind! Why not the queens, the dolls, and
the fags’ newspaper? Great idea: the only light dimming is the great-
grandfathers of the one who wrote this critique. Our light is still shining bright,
blindingly bright. Yours sincerely, Rafaela Mambaba
.
Mauzinho! E continua o mesmo, hein? “Jornal das tias”: hum, hum, que imaginação fertilíssima! Por que não
das bichas, das bonecas, dos viados? Ricas idéias: luz tosca do LAMPIÃO deve ser a do bisavô de quem escreveu.
A nossa continua acesa, acesíssima. Sinceramente sua, Rafaela Mambaba (MAMBABA, 1978, p. 4).
Queer text: Sociolect, dialogism, and emphatics
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Beyond the repeated use of diminutives and superlatives that characterize her hyperbolic
emphasis, the interjection “hmm, hmm” is an element grounded in oral expression. Although
present in a written text, these elements represent the “expressive intonation” employed by
Rafaela Mambaba. She concludes her response to her critics with a formulaic farewell imbued
with irony as if they were exchanging intimate letters: “Yours sincerely” (MAMBABA, 1978,
p. 4, our translation).
The literary work of the southern Brazilian writer Caio Fernando Abreu is considered
“a landmark for the inclusion of discussions about gay culture and homoerotic representations”
(LIMA; STACUL, 2012, p. 6, our translation). In his short story “Sargento Garcia” (Sergeant
Garcia
, 1982), the emphatics of Isadora’s speech is graphically represented by the scanning of
syllables through hyphens in the word “adore,” indicating the expressive intonation used: “I’m
sure that the boy will a-dore-it, he’ll become a regular customer” (ABREU, 2018, p. 373, our
translation). Additionally, Isadora’s employment of the queer sociolect constantly subverts
grammatical gender expectations by emphasizing her gender ambivalence. Although presented
as Isadora, the character does not neglect to mention her birth-given male name: “Isadora
Duncan, [...] my idol, I love her so much I took her name. Could you imagine if I used the name
Valdemir that my dear mother gave me?”
The same ambivalence of her gender identity is presented when Hermes, the narrator,
makes use of a juxtaposition of both male and female pronouns to characterize Isadora: “She,
he, winked intimately at the sergeant and me” (ABREU, 2018, p. 372, our translation). At times,
the ambivalence surrounding her gender identity is reflected in the narrator’s hesitancy, as
evident in the following passage: “[...] she asked, and looking more carefully I almost
immediately made a mental correction to “he”, wearing a colorful robe.” (ABREU, 2018, p.
372, our translation).
Queer in music
Similarly, to queer literature, queer music consists of musicians who are part of this
subculture (PAES; SARROUY, 2022), or artists who, in some way, engage with it, as is the
case with many international pop divas. In the Brazilian music scene of the past five years,
queer identity has been embraced by artists associated with the pop genre, such as drag queen
singer Pabllo Vittar, thereby giving it substantial visibility.
For an English translation of this short story, see Leyland (1983).
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES and Rodolfo Gabriel ALVES
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The singer and songwriter Gabeu (stage name Gabriel Felizardo) is regarded as the
pioneer of a genre referred to as queernejo” or “pocnejo”
. Within this musical movement,
LGBTQIAP+ artists aim to bring representation to their subculture by incorporating queer
themes into the repertoire of Brazilian country music, a genre traditionally marked by
heteronormative identities. In “Amor Rural” (Countryside Love), Gabeu’s debut song, a
satirical narrative unfolds depicting a clandestine romance between two men set in a rural
context (a setting typical of the Brazilian country music genre). The chorus of this song is:
Let’s embrace our countryside love
Come out of the closet and come to my corral
A love like this has never been seen
Like two mares in heat
Breeding like crazy
Let’s embrace our countryside love
Forget that hoe and grab my…
I wanna ride your saddle,
Until realizing were both… faggots)
(GABEU, 2019, chorus, our translation)
.
The characteristics of queer text can be observed in their oral form in songs, unlike the
written form adopted in literary and journalistic texts. Expressive intonation takes on new
contours thanks to the sonic medium. In the chorus of “Amor Rural” (Countryside Love), the
singer utilizes vocal articulations and intonations typical of country music. In the final verse,
there’s a dramatic pause, followed by the word “viado” (faggot), pronounced with an “affected”
intonation. According to the dialogism of queer text, the term “viado” is reclaimed,
encapsulating the self-discovery of homosexuality amidst the heteronormative oppression
found in rural spaces. The same characteristic is also observed in the overt description of sexual
activity, such as in the following verses: “Like two mares in heat / Breeding like crazy.”
Linn da Quebrada (the stage name of Lina Pereira) is a Brazilian singer, actress, and
social activist. Her debut album, entitled “Pajubá” (2017), mixes the rhythms of Brazilian funk
The term “pocnejo” is a combination of the words “sertanejo”, a Brazilian music genre originated in rural areas
associated with conservative heteronormative values, and “poc”, a now resignifed previously derogatory term
aimed at impoverished effeminate gay men (ALONSO, 2005).
Vamos assumir o nosso amor rural
Sai dеsse armário e vem pro mеu curral
Como nós, nunca se viu
Duas potranca no cio
Num cruzamento adoidado
Vamos assumir o nosso amor rural
Larga essa enxada e pega no meu...
Quero montar na sua cela, cavalgar até ela
Descobrir que nós é... viado (GABEU, 2019).
Queer text: Sociolect, dialogism, and emphatics
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and hip-hop to talk about the singer’s life experience, chronicling her journey from coming out
first as homosexual and then recognizing herself as a cross-dresser. The title “Pajubá” refers to
the queer sociolect, presented as a language imbued with an artistic and creative character, as
the singer states in the album’s announcement: “I’m calling this album Pajubá, because [...] it’s
about language construction. It’s invention. It’s a naming act.” (QUEBRADA, 2017a, our
translation).
The last song on the album, “A Lenda” (The Legend), narrates part of the singer’s life
story while simultaneously reflecting on the role of LGBTQIAP+ artists in art and
entertainment. The chorus of this song goes:
Am I looking pretty? [You’re looking funny]
I’m not looking pretty? [You’re looking funny]
I spent so much to get pretty
But so far they’re all just laughing)
(QUEBRADA, 2017b, chorus, our translation)
.
In the chorus, a dialogic relationship unfolds between her personal story and the time of
the album's release, when for the first time in Brazil, LGBTQIAP+ musicians were being
acknowledged in the nation's prominent cultural spaces.
In the song "Enviadescer" (Queening out), whose title is a neologism created from the
word "viado," the English term "boy" is used, as in this verse preceding the chorus: "Se tu quiser
ficar comigo, boy" (If you wanna be with me, boy) (QUEBRADA, 2017b, our translation). The
use of code-switching, especially of words and expressions derived from English, is a
characteristic of queer sociolect. However, the term has been dialogically altered. In this
context, "boy" does not retain the word's literal meaning in English (young male) but rather
designates a male figure who is the subject or object of affectionate and sexual desire.
Queer in audiovisual
In addition to the sonic support in songs, audiovisual works incorporate an image as a
complementary element with which queer text must necessarily engage. The dissemination of
comedic caricatures on TV shows in Brazil has been occurring for decades (PIRES, 2022). In
a sketch titled "VIADA" (PORTA DOS FUNDOS, 2019, 0:5, our translation), and released on
Eu tô bonita? (Tá engraçada)
Eu não tô bonita? (Tá engraçada)
Me arrumei tanto pra ser aplaudida
Mas até agora só deram risada (QUEBRADA, 2017b).
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES and Rodolfo Gabriel ALVES
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YouTube by the comedic video production company Porta dos Fundos, a woman named
Manuela greets her gay friends with an exaggerated, theatrical intonation (elongating and
nasalizing each syllable): "Inhaí, viados? Maravilhosas!" (Hey, queens! Drop-dead gorgeous!).
She also subverts grammatical gender by using the feminine form to address gay men,
corroborating a trend identified in the first entry of the AURÉLIA dictionary (VIP; LIBI, 2006).
In the following dialogues, Manuela is reprimanded by her friends for using specific
expressions that, when spoken by a heterosexual woman, can take on an offensive meaning:
Gurl, we’ve prepared an intervention.
Intervention my ass, queen! What the fuck is happening? Y’all are gonna
drag me now?
You have to stop talking like that, Manu.
Bitch, please. Untuck that ebó and let’s cut my picumã.
What?
My hair, faggy, let’s cut it, doll.
How many times do I have to tell you I’m not a hairstylist?
Manu, Luís works in the financial sector.
I’m gagged! Luísa, you’re such a bottom, you crazy!
So, that, for example, is a little bit offensive.
I’m the crazy one.
No, I’m talking about the bottom comment.
When? Don’t give me that poker face when you’re the one telling everybody
you’re a bottom.
No, I do that because I am.
I’m a bottom too.
No, girl, you’re a woman. There’s no such thing for women
(PORTA DOS FUNDOS, 2019, 0:5, our translation)
.
Originating from Pajubá, expressions such as “edi,” “ebó,” and “picumã” are
neologisms or words borrowed from other languages, primarily Yoruba. The profusion of
words from the Brazilian queer sociolect, spoken by a character who is a cisgender,
Amiga, a gente preparou uma intervenção.
Intervenção é meu edi, né bee? O que é que foi, gente? Vão ficar me xoxando agora?
Você tem que parar de falar assim, Manu.
Meu cú. Desaquenda esse ebó e corta meu picumã.
Quê?
Meu cabelo, viado, bora cortar, mona.
Quantas vezes eu vou ter que dizer que eu não sou cabeleireiro?
Manu, o Luís é do mercado financeiro.
Tô bege! Luísa, deixa de ser passivona, sua louca!
Então, isso, por exemplo. Isso é um pouco ofensivo com ele.
A louca sou eu, sua doida.
Não, estou falando do passivona.
Aonde? Não vem fazendo a egípcia pra mim, não, que você fica espalhando por aí que você é a passivona.
Não, eu posso porque eu sou.
Eu também sou passivona.
Não, amiga, você é mulher. Não tem isso pra mulher (PORTA DOS FUNDOS, 2019).
Queer text: Sociolect, dialogism, and emphatics
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
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heterosexual woman, is intended to produce a comedic effect. When used by heterosexual
people, expressions like “passivona” (bottom) are insults, and when used by gay individuals,
they can carry either a positive or negative connotation but never an aggressive one, as the
speakers perceive themselves as similar. When used by Manuela to describe herself, the term
is stripped of meaning, thereby ridiculing her ignorance of her friends’ sexual diversity. The
sketch can be considered a parody of comedic caricatures of queer identity created by Brazilian
audiovisual media.
Conclusion
Though it serves as a foundational concept within the transdisciplinary field of Queer
Studies, particularly at its intersection with areas dedicated to Language studies, the idea of
queer text is yet to have an exhaustive definition. The definitions of queer text offered by
sociolinguistics and literary theory, based on concepts of queer sociolect” and queer
literature,” are necessary but insufficient for a comprehensive understanding. To expand upon
these definitions, we’ve sought to dialogue with the concept of verbal camp. Harvey (1998)
initially synthesized it into six elements that we have restructured around three inextricably
intertwined aspects: “sociolect,” “dialogism,” and “emphatic.”
The elements referred to as “gender subversion,“foreign language code-switching,”
and “use of queer specific lexicon” were grouped under the concept of queer sociolect”
according to the sociolinguistic understanding of linguistic variety. Regarding “intertextuality”
and “overt description of sexual activity,” we have reinterpreted them according to Bakhtin’s
notion of dialogism, which, when applied to queer literature, allows us to describe the disruptive
literary devices that represent queer subcultures and their non-normative sexual and gender
identities. The concept of “emphatics,” reinterpreted based on Volosinov’s (2019) concept of
“expressive intonation,” in turn, highlights the intrinsic relationship between the linguistic and
extralinguistic dimensions in the queer text.
Drawing from Lewis’ (2010) definition of camp, the principles of incongruity,
theatricality, and humor also apply to queer text. Its intrinsic parasitic and dialogic dimensions
can manifest in various forms, ranging from interjections and hyperboles to dramatic gestures
and parody. Illustrated within the Ballroom subculture, the queer text is not merely the end
product but also the creative process of performing distinctiveness. A process that serves both
a subjective and objective purpose for survival, artistically subverting the norms enforced
within contexts that oppress non-normative sexual and gender identities.
Daniel Padilha Pacheco da COSTA; Gustavo Matheus PIRES and Rodolfo Gabriel ALVES
Doxa: Rev. Bras. Psico. e Educ., Araraquara, v. 24, n. esp. 1, e023008, 2023. e-ISSN: 2594-8385
DOI: https://doi.org/10.30715/doxa.v24iesp.1.18043 15
Translated by Rodolfo Gabriel Alves, Gustavo Matheus Pires
and Daniel Padilha Pacheco da Costa
REFERENCES
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CRediT Author Statement
Acknowledgments: Not applicable.
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: Not applicable.
Data and material availability: All materials and data mentioned in the work are available
for access up to the present moment of submission.
Authors' contributions: All three authors participated in the research and writing phases
of the scientific article.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
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