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A inscrição pelo discurso de uma criança norueguesa em processo de aquisição de português: Um estudo de caso
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
1
A INSCRIÇÃO PELO DISCURSO DE UMA CRIANÇA NORUEGUESA EM
PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE PORTUGUÊS: UM ESTUDO DE CASO
LA INSCRIPCIÓN POR EL DISCURSO DE UNA NIÑA NORUEGA EM EL
PROCESO DE ADQUISICIÓN DE PORTUGUÉS: UN CASO DE ESTUDIO
THE ENROLLMENT BY THE DISCOURSE OF A NORWEGIAN CHILD IN
THE PROCESS OF ACQUISITION OF PORTUGUESE: A CASE STUDY
Gesilda Marques da Silva RAMOS
1
RESUMO
: O presente trabalho tem como objetivo analisar um estudo de caso referente à
inscrição de uma criança norueguesa pelo discurso no processo de aquisição de português
como segunda língua. Reservamos a essa pesquisa a consideração da posição simultânea de
pessoa subjetiva e pessoa não subjetiva sob a perspectiva de imprimir um olhar enunciativo
do material pertencente ao sujeito enunciador, baseada na perspectiva enunciativa de
Benveniste, já que favorece a interface enunciação e aquisição de linguagem. Essa abordagem
considera o discurso como portador de uma mensagem e instrumento de ação, no qual o
sujeito é capaz de, através do ato individual, conferir ao “tu”, a forma que marca o discurso e
ao mesmo tempo, constituir-se como
eu
-
tu
, por intermédio de um diálogo com a sua própria
voz, pelo fato de enunciar e desenvolver o processo de aquisição de linguagem ao mesmo
tempo. Os resultados apontam, portanto, que o
tu
torna-se o eco do
eu
, favorecido pela
mediação
eu
e
tu
como condição de apropriação da língua.
PALAVRAS-CHAVE
: Discurso. E
nunciação. Aquisição de linguagem.
Eu
-
tu.
RESUMEN
: El presente trabajo tiene como objetivo analizar um caso de estudio referente al
registro de una niña noruega por parte del hablante en el proceso de adquisición del
portugués como segunda lengua. Reservamos para esta investigación la consideración de la
posición simultánea de persona subjetiva y persona no subjetiva desde la perspectiva de
imprimir una mirada enunciativa del material perteneciente al sujeto enunciativo, desde la
perspectiva enunciativa de Benveniste, que favorece la interfaz de enunciación y adquisición
del lenguaje. Este enfoque considera al discurso como portador de un mensaje y como un
instrumento de acción, en el que el sujeto es capaz, a través del acto individual, de darte las
formas que marcan el discurso y, al mismo tiempo, constituirse como me -tu, a través de un
diálogo con la propia voz, por el mismo hecho de enunciar y desarrollar el proceso de
adquisición del lenguaje. Por tanto, los resultados han demostrado que te conviertes en el eco
del yo, favorecido por la mediación entre tú y yo como condición de apropiación del
lenguaje.
PALABRAS CLAVE
: Discurso. Enunciación. Adquisición linguística. Yo tú.
1
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Recife – PE – Brasil. Professora de Língua Inglesa da
Prefeitura Municipal de Recife. Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ciências da Linguagem
(PPGCL). Bolsista da CAPES. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9931-5827. E-ma
il:
gesildamarques@yahoo.com.br
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
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ABSTRACT
: The present work aims to analyze a case study referring to the registration of a
Norwegian child by the speaker in the process of acquiring the Portuguese as a second
language. We reserve for this investigation the consideration of the simultaneous position of
subjective person and non-subjective person from the perspective of printing an enunciative
view of the material belonging to the enunciative subject, from Benveniste's enunciative
perspective, which favors the enunciation and language acquisition interface. This approach
considers the discourse as the bearer of a message and as an instrument of action, in which
the subject is able, through the individual act, to give you the forms that marks the discourse
and, in the meantime, constitute itself as eu-tu, through a dialogue with your voice, due to the
same fact of enunciating and developing the language acquisition process at the same time.
Wherefore, the results have showed, that you become the eco of the self, favored by the
mediation between you and me as a condition of language appropriation.
KEYWORDS
: Discourse. Enunciation. Language Acquisition. Me-You.
I
ntrodução
Para tratar da inscrição de uma criança norueguesa no processo de aquisição de
português, através do discurso, toma-se como norte o que Silva (2007) defende quanto à
possibilidade de circunscrever o campo da enunciação em uma relação com a aquisição de
linguagem, corroborando Benveniste (1958), quando descreve a relação
eu
e
tu
, ao afirmar
que “é um homem falando que encontramos no mundo, um homem falando com outro
homem, e a linguagem ensina a própria definição de homem”.
Isso se deve ao fato de que, Benveniste, ao receber a herança saussuriana, imprimiu ali
uma alternativa de se pensar (e analisar) a língua em seu funcionamento, privilegiando a
própria possibilidade que a instância linguística oferece ao homem de se subjetivar, a partir de
projeções enunciativas em uma posição de locutor que se inscreve, não por acaso, nessa
mesma instância linguística.
Nesse sentido, conforme Agustini e Leite (2012), Benveniste recoloca em questão
aquilo que passa como evidência, exercendo, com primazia, a arte de problematizar fatos
linguísticos sob o impacto da enunciação. Esse estilo de pensar benvenistiano, calcado na
problematização das evidências, contribuiu para que se tornasse uma prática corrente, em
Linguística, referir-se a esse autor quando se define enunciação.
Diante do exposto, esse artigo tem como principal objetivo, considerar a posição
simultânea de pessoa subjetiva e pessoa não subjetiva, proveniente da enunciação infantil, sob
a perspectiva de imprimir um olhar enunciativo no material pertencente à criança locutora, já
que, conforme Silva (2007) em Benveniste,
o locutor se propõe como sujeito.
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Assim, nessa pesquisa, por intermédio de um diálogo com os fatos enunciativos
transcritos, representados e materializados em alguns recortes da transcrição de áudios,
propõe-se a fazer uma análise enunciativa da fala da criança, como locutora dessa pesquisa.
Considerar-se-á, também, o ato individual desta, já que conforme Benveniste (2005), a
enunciação é tomada, no momento em que se coloca a língua em funcionamento em prol de
sua utilização, através do ato individual. E para Flores (2018), é necessário que se faça uma
descrição dos instrumentos que tornam o ato possível.
Considera-se, portanto, a fala da criança, tanto como instrumento, quanto como
consolidação e concretização do funcionamento da língua, bem como um ato individual em si.
Investiga-se também, o posicionamento desta, atravessada pela linguagem, já que, conforme
Benveniste (2005), é na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito.
E acrescenta-se que, a “subjetividade”, trata
da por este, é a capacidade do locutor para se
propor como “sujeito”. Define-se como a unidade psíquica que transcende a totalidade das
experiências vividas que reúne e que assegura a permanência da consciência.
Portanto, dessa possibilidade que o locutor tem de se propor como sujeito, depreende-
se que é possível identificá-lo a partir do modo que este marca o discurso, constituindo-se
como um enunciador, como efeito da própria linguagem. Ao mesmo tempo, conforme
Benveniste (2005), a linguagem
só é possível porque cada locutor se apresenta como sujeito,
remetendo a ele mesmo como um
eu
no seu discurso. [...] S
endo a língua um sistema comum
a todos, o discurso é ao mesmo tempo portador de uma mensagem e instrumento de ação.
Diante disso, voltando ao cerne da proposta desse trabalho, concernente à análise da
inscrição pelo discurso de uma criança norueguesa em processo de aquisição de português,
cabe aqui uma revisão de literatura quanto ao esclarecimento concernente à definição de
língua materna (doravante LM), segunda língua (doravante L2) e língua estrangeira
(doravante LE), para que seja possível adequar as nomenclaturas elencadas ao status do
sujeito nesse estudo de caso.
Portanto, entende-s
e que as definições das modalidades linguísticas supracitadas (LM,
L1 e LE), bem como a situação de comunicação na qual cada uso possibilita a sua
classificação, justifica a escolha da criança desse estudo de caso. E, como sujeito desse
trabalho, por estar no entremeio desse contexto linguístico, esta se encontra na posição de
locutora, já que ao ser capaz de tornar possível a condição de que a língua seja língua, passa a
ser atravessada pela enunciação, vista, portanto, como possibilidade de transformar a língua
em discurso.
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Para tanto, considerar-se-á, aqui, um entrelaçamento mediado pelas marcas da
enunciação como efeito do discurso proporcionado pela interface enunciação e aquisição de
linguagem. Ao mesmo tempo, apresentar-se-á uma discussão sobre a aquisição de linguagem
pelo viés enunciativo, no que se refere à designação do
eu
, favorecido pela mediação
eu
e
tu
como condição de apropriação da língua.
Concepção de língua materna, segunda língua e língua estrangeira: entrelaçamento
mediado pelo efeito do discurso através da interface enunciação e aquisição de
linguagem
Par
a tratar das concepções de LM, L2 e de LE, propõe-se trazer alguns
entrelaçamentos destes três contextos linguísticos, mediados pela enunciação como instância
do discurso, já que se confere que a criança-enunciadora, considerada locutora dessa pesquisa,
nasceu em um contexto linguístico cuja mediação se deu por intermédio de três línguas, tais
quais, o norueguês, o português e o inglês. Dito isto, delegar-se-á aqui, o lugar de cada língua
para esta, quanto ao status que ocupa como LM, L2 e a LE. Ao mesmo tempo, investigar-se-á
os entrelaçamentos possíveis concernentes ao efeito da enunciação como instância do
discurso.
Desta forma, é possível considerar o conceito de língua como ato individual pelo viés
da teoria enunciativa benvenistiana, pois no dizer do autor:
O ato individual, pelo qual se utiliza a língua, introduz em primeiro lugar o
locutor como parâmetro nas condições necessárias da enunciação. Antes da
enunciação, a língua não é senão possibilidade de língua. Depois da
enunciação, a língua é efetuada em uma instância de discurso, que emana de
um locutor, forma sonora que atinge um ouvinte e que suscita uma outra
enunciação de retorno (BENVENISTE, 2006, p. 83).
Assim, a epígrafe acima, aponta a interface entre a língua e o discurso, mediada pela
enunciação, ao mesmo tempo que esse movimento só se torna possível por intermédio de um
locutor. Toma-se, portanto, a concepção de língua no contexto desse trabalho, considerada
como a utilização de um ato individual, já que fornece a possibilidade de introduzir o locutor
como critério para que haja condição necessária de enunciação.
Portanto, é o locutor quem fornece a possibilidade de a língua ser língua, pois antes de
oc
orrer a enunciação só existe apenas uma probabilidade de língua. E é através da enunciação
que há possibilidade de a língua atingir uma instância de discurso. Então, pode-se dizer que a
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intersecção língua e discurso é mediada pela enunciação ou que só através da enunciação
haverá possibilidade de o discurso se realizar.
E, para efeito de explicação, no que se refere a um entendimento do significado das
terminologias LM, L2 e LE, bem como a definição de em quais contextos ou status se
adequaria cada uma dessas línguas para o sujeito desse estudo de caso, elencam-se aqui as
respectivas definições, visto que, conforme Spinassé (2006), muitos aspectos linguísticos e
não-linguísticos estão ligados a essas nomenclaturas. Assim, tecnicamente falando, conforme
Damasceno (2017), a LM é o primeiro idioma aprendido por um indivíduo. Esta também é
chamada de idioma materno, língua nativa ou primeira língua (doravante L1). Sendo esta
então, a língua falada no país em que a pessoa nasceu e aprendeu a falar. Por essa razão, a LM
será aquela de maior dominação pelo falante.
A aquisição da
L1, ou da LM, é uma parte integrante da formação do conhecimento de
mundo do indivíduo, e, para Spinassé (2006), isso se deve ao fato de que, junto à competência
linguística se adquirem também os valores pessoais e sociais. A LM caracteriza, geralmente, a
origem e é usada, na maioria das vezes, no dia-a-dia. Por outro lado, as operações relativas à
língua mãe estão profundamente enraizadas pela prática constante, sendo, por isso, muito
difíceis de serem evitadas.
Por esta razão, conforme Schutz (2018), adultos aprendizes de LEs acham muito
difícil não cair nas formas da LM, tanto nas operações motoras de pronúncia quanto nas
operações mentais de estruturação das ideias em frases. Para uma criança, este problema é
muito menor, pois seus hábitos linguísticos não se encontram tão desenvolvidos e enraizados.
Já a L2 é aprendida em um país onde a língua alvo é a utilizada socialmente, como
e
xemplo, conforme Cea (2016), temos um brasileiro morando em Nova York que aprende
inglês como L2. Por outro lado, a LE seria falada por um sujeito que aprende, em um país
onde a língua falada não é a língua alvo, por exemplo, um brasileiro que mora no Brasil
aprendendo inglês numa escola de línguas.
Em contrapartida, há quem considere que a LM ou a L1 não é, necessariamente, a
língua da mãe, nem a primeira língua que se aprende. Tão pouco, trata-se de apenas uma
língua. Para Spinassé (2006), normalmente é a língua que aprendemos primeiro e em casa,
através dos pais, e também é frequentemente a língua da comunidade. (....). A língua dos pais
pode não ser a língua da comunidade, e, ao aprender as duas, o indivíduo passa a ter mais de
uma L1 (caso de bilinguismo). Uma criança pode, portanto, adquirir uma língua que não é
falada em casa, e ambas valem como L1.
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
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De acordo com Damasceno (2017) u
ma pessoa também pode ser falante nativa de
mais de um idioma. Tudo vai depender da língua falada em sua região de origem e da língua
adotada por sua família. Um exemplo curioso é o do esperanto. Muitas famílias escolhem essa
língua para ensinar aos seus filhos, que a aprendem além do idioma falado no local onde
residem. Desse modo, eles acabam se tornando falantes nativos do esperanto.
Assim, considera-
se que há o entrelaçamento de três contextos linguísticos, mediados
pela enunciação como instância do discurso do sujeito desse estudo de caso. E embora o
inglês, o português e o norueguês tenham estado presentes na vida dessa criança-enunciadora,
durante a sua fase de bebê, atualmente, aos 7 anos, o inglês além de ser usado na escola como
LE, é falado pelos seus pais por ser de maior domínio de sua mãe do que o norueguês. Este,
por sua vez, norteia a sua vida cotidiana como língua nativa, junto à língua portuguesa,
idioma materno de sua genitora.
Portanto, o português pode ser visto como L2, pelo fato de ser usado pela sua mãe, por
ser esta a sua LM e por ter mantido o intuito de ensiná-la. Além de ser, também, a língua
usada no Brasil durante as suas viagens, realizadas bimestralmente. Quanto a sua LM,
considerar-se-á a língua do país no qual esta nasceu, ou seja, o norueguês.
Desta forma, é possível teorizar sobre os movimentos subjetivos, no que se refere ao
processo de identificação do sujeito, no entremeio das LM e L2. E conforme Aiub e
Rodrigues (2019), trata-se de tomar o sujeito constituído por um duplo processo simultâneo
de identificação, pelo viés da inscrição deste em uma língua. Para tanto, o encontro do falante
com outros modos de dizer faz com que haja movimentos nas redes de significação.
Tomam-
se esses “movimentos subjetivos” como aqueles que ocorrerão, do ponto de
vista desse sujeito supracitado, ao se encontrar em “duplo processo simultâneo de
identificação”, em posição de entremeio do norueguês (LM) e do Português (L2). Assim,
voltando-se ao cerne da questão, concernente às definições de LM, L2 e LE, considera-se aqui
os entrelaçamentos linguísticos mediados apenas pelo efeito da enunciação das LM e L2, já
que o sujeito se encontra no entremeio das duas línguas quando está no Brasil.
Desta forma, da possibilidade de efetivação do discurso, pelo fato de o locutor ser
usado como critério para que haja condição necessária de enunciação, propõe-se considerar o
ato de transformar a língua portuguesa em instâncias de discurso, como locutor e como
alocutário, simultaneamente, sendo este visto como um entrelaçamento proporcionado pelo
efeito da interface enunciação e aquisição de linguagem.
Assim, esse contexto, no qual se dá esse movimento por intermédio da iniciativa de
um
locutor, traz a possibilidade de a criança locutora/alocutária ser capaz de fazer com que
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essa mobilização simultânea, locutor e alocutário, seja interpretada como a existência de uma
proximidade entre o
eu
e o discurso, na própria condição deste se efetivar, por intermédio da
enunciação. O que exige uma discussão concernente à aquisição de linguagem pelo viés
enunciativo:
eu
e
tu
. E, conforme Lorandi (2008), isso favorece para que seja possível
apropriar-se da língua toda, designando-se como
eu
.
Discussão sobre aquisição de linguagem pelo viés enunciativo: eu e tu
Ao propor trazer uma discussão sobre a aquisição de linguagem pelo viés enunciativo,
tem-se a finalidade de situar o foco desse trabalho nos desdobramentos da correlação
eu
(pessoa subjetiva) e
tu
(pessoa não subjetiva) – único modo de enunciação possível, para que
não se remeta ao
eu
– sendo, portanto, este o motivo pelo qual se justifica o fato de a
correlação subjetiva ser tomada como norte desse estudo de caso.
Para tanto, mostrar-se-á a diferença pessoa/não pessoa, a fim de pontuarmos as
contribuições de Benveniste (CLG I), concernente à formulação dessa distinção clássica na
linguística do século XX referente a tais instâncias do discurso. Assim, considerar-se-á o
quadro abaixo trazido por Flores (2013, p. 92):
Quadro 01 –
Correlação de pessoalidade / correlação de subjetividade.
Correlação de pessoalidade
Pessoa
Eu
Correlação de
subjetividade
Pessoa
subjetiva
E
Eu
Pessoa
Tu
Pessoa não
subjetiva
T
E
u
Não Pessoa
Ele
Fonte
:
Flores, V. N. (2013)
Ao observar o qua
dro acima, é possível depreender as contribuições trazidas por
Flores (2013), concernentes ao texto “A natureza dos Pronomes” de Benveniste (2005), por
ter sido este considerado o primeiro texto a tomar a distinção pessoa/não pessoa, e ressaltar
que, não se trata apenas de trazer o assunto sobre pronomes, mas ultrapassa o seu título ou
nomenclaturas em si. Ressalta-se, portanto, que Benveniste vai mais além, quando opera com
a oposição subjetivo/objetivo.
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Assim, Flores (2007) destaca três pontos importantes relacionados à oposição
subjetivo/objetivo, a saber, o primeiro ponto se refere ao fato de os pronomes serem tratados
como problema de linguagem e não apenas como um problema de língua ou de línguas; o
segundo que, ao associar os pronomes pessoais a classes distintas, Benveniste conclui que:
uns pertencem a sintaxe da língua, outros são características das “instâncias do discurso”. Já
no terceiro e último ponto, o autor mostra que há uma diferença de natureza referencial entre
o pronome
eu
e uma noção Lexical, concluindo que as diferenças estão ligadas à enunciação.
À guisa de mostrar a descrição propriamente linguística, considerando, portanto, o
ponto de partida e o ponto de chegada de Benveniste no texto supracitado, Flores (2013),
chega a uma conclusão de que os pronomes são o ponto de partida, enquanto, o ponto de
chegada é a posição que cada um é obrigado a ocupar na linguagem. Ou seja, a linguagem
impõe às línguas que “reservem” lugares de pessoa e não pessoa, sem o que não seria possível
falar.
Isso se deve ao fato de que, há signos que remetem a uma situação, que Benveniste
chama de objetiva, uma vez que são do âmbito de 3ª pessoa. Assim, a 3ª pessoa (
ele
) é o
membro não marcado de correlação da pessoa, por isso que a não pessoa (
tu
) é o único modo
de enunciação possível, para as instâncias de discurso que não deva remeter a si mesmas.
Aponta-se então o
eu
e
tu
como pronomes subjetivos e o
ele
como pronome objetivo.
Assim, ao trazer um estudo de caso de uma criança norueguesa em processo de
aquisição de uma L2, favorecida pela relação
eu
e
tu
, isso se torna possível, graças à
possibilidade dessa mediação da criança-enunciadora com suas projeções enunciativas em
posição de locutora e simultaneamente como alocutora, já que se inscreve de forma
consciente em seu próprio discurso, pelo viés de uma mesma instância linguística.
Diante do exposto, após situar a análise enunciativa do sujeito dessa pesquisa na
correlação de subjetividade, e mostrar a diferença entre esta e a correlação de pessoalidade;
definindo também a diferença entre pessoa (
eu
– subjetiva e
tu
– não-subjetiva) e não-pessoa
(
ele
), é preciso ressaltar a especificidade de formalização que o termo enunciação assumiu nas
teorizações de Benveniste (1965, 1970). Para tanto, faz-se necessário trazer dois pontos
importantes, considerados por Flores (2008, p. 404),
para entender-se o que Benveniste quis
dizer quando apresentou a enunciação como um processo de apropriação, em relação à língua.
Assim, o primeiro ponto, refere-
se à apresentação da expressão formal da língua,
chamando a atenção para o fato de o locutor se apropriar desta, e construir com ela um
aparelho da enunciação. Desta forma, o locutor constrói um aparelho formal de enunciação a
cada vez que enuncia, com base no aparelho formal da língua. O segundo, refere-se à
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existência de índices específicos e procedimentos acessórios que permitem ao locutor
enunciar sua posição de locutor.
Os índices específicos são o que Benveniste chamou de “caracteres necessários e
permanentes” da enunciação: os índices de pessoa (
eu
e
tu
), os índices de ostensão de espaço
(este, aqui) e as formas temporais (do presente da enunciação). Portanto, conforme já foi dito,
tomemos aqui os índices específicos ou caracteres necessários e permanentes da enunciação,
tais quais,
eu
e
tu
, no intuito de analisar a locução da criança-enunciadora, considerando-se
que há uma relação constante e necessária, que envolve o locutor e sua enunciação, sendo esta
estabelecida por um jogo de formas específicas, tais como a emergência dos índices de pessoa
(a relação
eu
e
tu
), que para Lorandi (2008, p. 32) não se produz senão na e pela enunciação,
em que o termo
eu
denota o indivíduo que profere a enunciação, e o termo
tu
, indivíduo
estabelecido como alocutário.
Portanto, no dizer de Benveniste (2005, p. 286): “Por isso,
eu
propõe outra pessoa,
aquela que, sendo embora exterior a “mim”, torna-se o meu eco – ao qual digo
tu
e que me diz
tu
.
E, é desta forma que, considera-se que a criança-locutora, que se apresenta como
sujeito, representada por um
eu
em busca de um alocutário, no que se refere ao seu modo de
proferir a enunciação, já que é capaz de fazer uso da imaginação, no intuito de dialogar com
as cenas do ambiente no qual está e se insere, como falante da língua portuguesa como L2, ao
conferir a sua necessidade de gravar frases que descrevem as situações que está vendo,
simulando conversas em suas gravações do aplicativo da internet.
Dessa descrição, percebe-se uma atitude que alude uma conversa com um alocutário
imaginário, sem que tenha alguém interagindo com a situação. Essa atitude denota que, a
criança em processo de locução, parece considerar a própria língua em processo de aquisição
como o seu
tu
, como se fosse possível construir com a L2 o próprio aparelho da enunciação.
Essa atitude é justificada pelo fato de que, segundo Benveniste (2005), a consciência
de si mesmo só é possível se experimentada por contraste.
Eu
não emprego
eu
a não ser
dirigindo-me a alguém, que será na minha alocução um
tu
. Essa condição de diálogo é que é
constitutiva da pessoa, pois implica em reciprocidade – que eu me torne tu na alocução
daquele que por sua vez se designa por eu.
Conforme S
ilva (2013), a distinção
eu
e
tu
em Benveniste é operada por meio dos
índices de pessoa
eu
(locutor) e
tu
(alocutário), sendo a presença do outro inerente a toda
instância de enunciação e exclusivamente interurbana. Assim, temos duas condições
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fundamentais à enunciação, a saber, que toda locução é explícita e implicitamente uma
alocução, ela postula um enunciatário e que a referência é parte integrante da enunciação.
Já a distinção pessoa/não pessoa é operada pela conjunção entre os índices de pessoa
eu
/tu, em oposição aos índices de não pessoa “ele”, efetuando a operação da referência e
fundamentando a possibilidade do discurso sobre alguma coisa, sobre o mundo, sobre o que
não é alocução. Portanto, é possível dizer que, a linguagem impõe às línguas que “reservem”
lugares de pessoa e não pessoa, sem o que não seria possível falar.
Metodologia
Considerando-se que a metodologia de pesquisa é uma ferramenta que auxilia o
pesquisador na aquisição de sua capacidade de se orientar, envolver-se em um processo de
investigação, tomada de decisões oportunas, seleção de conceitos, hipóteses e dados
adequados (THIOLENT, 2013), entende-se que esta pesquisa, vista como de cunho
qualitativo exploratório, tem como objeto de estudo de caso investigar a inscrição pelo
discurso de uma criança norueguesa em processo de aquisição de português como L2.
Para tanto, propõe-se analisar a gravação de alguns recortes de áudios, provenientes da
ferramenta “WhatsApp” quanto aos monólogos de uma criança, gravados por esta, na
companhia de sua avó materna, durante os 58 dias que passou no Brasil, como registro de sua
forma de agir no processo de aquisição da língua portuguesa, sendo esta a sua L2.
E, conforme já foi dito, a criança-locutora dessa pesquisa, nasceu em um contexto
linguístico cuja mediação se deu por intermédio de três línguas, tais quais, o norueguês, o
português e o inglês. A primeira, pelo fato de ser a LM de seu pai, a segunda de sua mãe, e, a
última por se referir à língua de domínio linguístico em comum de seus pais. Atualmente, aos
7 anos, o inglês é usado também na escola como LE, enquanto o norueguês e o português
norteiam a sua vida cotidiana no contexto familiar.
Desta forma, o sujeito dessa pesquisa tem como genitora, uma brasileira natural de
R
ecife – Pernambuco, falante de português, inglês e aprendiz do norueguês. Já o pai da
criança-enunciadora é norueguês, aprendiz de português e fluente em norueguês e inglês.
Nesse ambiente familiar trilíngue, esta foi inserida no contexto dos três idiomas, no qual a
mãe fez questão de ensinar português, para que o sujeito dessa pesquisa possa se comunicar
com ela. Ao mesmo tempo, a mãe da criança-locutora procurou fazer visitas anuais ao Brasil,
a fim de que a criança pudesse se familiarizar com o contexto linguístico e cultural deste país.
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A inscrição pelo discurso de uma criança norueguesa em processo de aquisição de português: Um estudo de caso
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
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Portanto, o que favorece para que o sujeito supracitado seja tomado como análise
desse estudo de caso é o modo de proferir a enunciação, já que este é capaz de fazer uso da
imaginação, no intuito de dialogar com as cenas do ambiente como falante de português como
L2, conferidas em sua necessidade de gravar frases que descrevem as situações e simulam
diálogos em suas gravações do aplicativo da internet.
Diante do exposto, o objetivo desse trabalho é de analisar a inscrição do sujeito pelo
discurso em processo de aquisição de português, por intermédio de um estudo de caso por se
tratar de uma criança norueguesa que convive com três realidades linguísticas supracitadas. E,
a partir da revisão de literatura, constatou-se a existência de dois tipos de entrelaçamentos: o
primeiro se refere ao entrelaçamento de duas das línguas em sua constituição como sujeito; já
o segundo, refere-se à maneira que ocorre o entrelaçamento entre a forma explícita e implícita
da locução ser ao mesmo tempo alocução, mediados pelas marcas do discurso do sujeito.
Dito isto, considerar-se-á a forma com a qual a criança-locutora se apropria da língua e
analisar-se-á, portanto, os índices específicos, ou seja, os caracteres necessários e
permanentes, tais quais, os índices de pessoa (
eu
-
tu
). Isso se deve ao fato de que os atos
enunciativos individuais são consolidados pelo sujeito como ferramenta de aquisição da L2,
no formato de gravação de monólogos, como registro de cenas enunciativas de
acontecimentos, vividos com sua avó materna. Portanto, levar-se-á também em consideração
o seu posicionamento, referente às duas condições fundamentais à enunciação, conforme
Benveniste (2005), que toda locução é explícita e implicitamente uma alocução.
À guisa de considerar a enunciação como efeito do discurso, proporcionado pela
interface enunciação e aquisição de linguagem, propõe-se aqui, mostrar de que forma ocorre a
inscrição pelo discurso, já que o sujeito desse estudo de caso está em processo de aquisição de
português como L2.
Espera-se constatar, a partir das marcas deixadas na sua fala, o registro de suas
sensações, no intuito de identificar se há ou não conflitos, proporcionado pelo possível
diálogo entre o
eu-tu
. Assim, entende-se que a análise dos fatos enunciativos contribuirão para
resgatar as experiências do sujeito com a língua portuguesa, tendo como princípio básico
identificar o discurso como portador de uma mensagem e instrumento de ação.
Isso se deve ao fato de que o locutor tem de
se constituir como sujeito, conferido em
sua necessidade de escutar suas gravações, no intuito de usar como forma de marcar o seu
discurso, para em seguida retomá-lo como se tivesse necessidade de ouvir a sua voz como
locutor e alocutário de forma simultânea, na posição de locutor que se inscreve, em uma
mesma instância linguística, no intuito de constituir-se como
eu-tu.
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
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Portanto, a fala da criança será analisada e descrita, calcada na problematização de
evidências, como um instrumento que favorece para que esta se inscreva pela linguagem em
um ato individual de enunciação.
Para tanto, segue-se a análise dos fatos enunciativos,
divididos em 05 (cinco) sessões, acerca das reflexões em torno da linguagem, baseando-se na
concepção de LM ou L1 e L2, no que se refere aos entrelaçamentos possíveis mediado pelo
efeito do discurso e ao mesmo tempo baseado na discussão sobre aquisição de linguagem pelo
viés enunciativo
eu
e
tu
.
Considera-se também, as concepções epistemológicas, aqui presentes, na revisão de
literatura, envolvendo a interface enunciação e aquisição de linguagem, proporcionada pela
contribuição dos pressupostos benvenistiano.
Análise: reflexões em torno da linguagem
À guisa de um diálogo com os fatos enunciativos, no intuito de, aqui, circunscrever o
campo da Enunciação em sua relação com a Aquisição de linguagem, conforme sugere Silva
(2007, p. 209), propõe-se fazer uma análise baseada em reflexões em torno da linguagem,
partindo-se do princípio de que uma locução, uma vez materializada, pode ser compreendida
de diferentes formas. Isso se deve ao fato de considerar os pronomes
eu
e
tu
como
pertencentes à enunciação, levando-se em conta, não o sentido comum do mundo físico, mas a
“realidade do discurso” (cf. Flores, 2013).
No contexto desse trabalho, toma-se como teoria fundante a concepção de enunciação
benvenistiana, pelo fato de favorecer para que seja possível trazer a arte de problematizar os
fatos linguísticos da enunciação, por intermédio de seus pressupostos teóricos, e propõe-se
aqui nesse estudo de caso, conforme já foi dito, que a fala da criança-enunciadora seja um
instrumento para conferir a consolidação e a concretização do funcionamento da língua, já
que é possível considerar que há instâncias linguísticas mediadas pela relação
eu
-
tu
, que
oferece ao enunciador a possibilidade de subjetivar, levando em consideração as projeções
enunciativas.
Assim, nessa análise, assume-
se que o sujeito, mesmo sem ter consciência linguística
do seu papel de locutora, propõe-se como criança-enunciadora e age como tal, ao tomar a
iniciativa de fazer gravações de sua voz para constatar suas enunciações, na presença de sua
avó materna brasileira, como se quisesse conferir-se como marcadora do seu próprio discurso,
tal qual um enunciador que testa os efeitos da própria linguagem, nesse caso a língua
portuguesa, já que esta tem como LM o norueguês.
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A inscrição pelo discurso de uma criança norueguesa em processo de aquisição de português: Um estudo de caso
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Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2447-3529
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E, de acordo com o que já foi dito, com relação ao status de português, nesse contexto,
está sendo considerada como L2, pelo fato de o sujeito ter nascido na Noruega, porém ser
prole de uma brasileira casada com um norueguês e, no momento das gravações dos áudios,
conforme já foi dito, a criança se encontrar passando alguns dias no Brasil na casa de sua avó
materna.
Diante do exposto, propõe-se fazer a análise de algumas frases do sujeito, já que,
conforme Benveniste (2005) a frase é a criação indefinida, variedade sem limite, é a própria
vida da linguagem em ação. Ao mesmo tempo que, deixa-se com a frase o domínio da língua
como sistema de signos e se entra num outro universo, o da língua como instrumento de
comunicação, cuja expressão é o discurso.
Portanto, levando em consideração a língua como discurso, com base nos modelos de
recortes enunciativos de Silva (2007, p. 210), é possível colocar em prática a análise dos fatos
linguísticos, tendo como referência a concepção de LM e L2, considerando os possíveis
entrelaçamentos das locuções e alocuções do sujeito desse estudo de caso, mediados pelo
efeito da enunciação como instância do discurso, bem como a discussão que foi feita quanto à
aquisição de linguagem sob o viés enunciativo, baseada na supracitada relação
eu
-
tu
.
Assim, apresenta-se aqui, os seguintes recortes enunciativos com suas respectivas
análises quanto à correlação de subjetividade, conferidos nas sessões que se seguem:
Quadro 02 –
A consciência de si que denota uma flexibilidade, relacionada à correlação de
subjetividade depreendida da presença de um
eu
que sinaliza um desejo ao
tu
RECORTE ENUNCIATIVO
SESSÃO 01
Participantes:
Avó e criança-enunciadora
Data da entrevista:
10/12/2019
Idade da Criança
: 07
Data da entrevista:
10/07/2019
Situação:
Após a chegada de um passeio com a família, o sujeito expressa a sua decisão em
ficar definitivamente no Brasil.
Gravação do áudio da Criança-enunciadora:
“
Achu qui vou esquicer a Nuruega e ficar nu
Brasil!”
Fonte: Elaborado pela autora, 2021
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
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Desse primeiro recorte enunciativo, denominado sessão 01, da fala do sujeito “
Achu
qui vou esquicer a Nuruega e ficar nu Brasil!”,
considera-se que há uma correlação de
subjetividade, depreendida da presença de um
eu
que sinaliza ao
tu
o desejo de esquecer o seu
país de origem e ficar no país da LM de sua mãe, já que se sente envolvida em uma
participação ativa com a língua portuguesa, no percurso dos 58 dias vivenciados no Brasil. É
como se houvesse uma grande necessidade de se comprovar ou se autoafirmar como
eu
no
discurso, na sua L2, corroborando Benveniste (1976, p. 286), quando diz que:
A consciência de si mesmo só é possível se experimentada por contraste. Eu
não emprego
eu
a não ser dirigindo-me a alguém, que será na minha
alocução um
tu
. Essa condição de diálogo é que é constitutiva da pessoa,
pois implica em reciprocidade – que
eu
me torne
tu,
na alocução daquele que
por sua vez se designa por
eu
.
Considerando a epígrafe acima, também como possibilidade de interpretar o recorte
enunciativo da sessão 01, o sujeito parece ter consciência de si, despertada pelo contraste no
qual está inserido, o que denota haver uma flexibilidade, quanto aos valores pessoais e sociais
já adquiridos. Portanto, a língua portuguesa traz a possibilidade de a partir da sua locução,
haver um diálogo como o
tu
, ou com o alocutário. Isso se deve ao fato de “essa condição de
diálogo” ser “constitutiva da pessoa” (eu como pessoa), “pois implica em reciprocidade”. Fato
esse que fará com que “
eu
me torne
tu
na alocução daquele que por sua vez se designa por
eu
”.
Portanto, esse deslocamento da correlação de subjetividade, entre pessoa subjetiva e
pessoa não subjetiva se torna possível na L2, mesmo sendo o norueguês a língua que faz parte
integrante da sua formação de mundo, conforme Spinassé (Op. Cit.), e considera-se que, o
conhecimento de mundo e cultura desta, refere-se em sua maioria à Noruega, por estar
relacionada também a sua educação escolar, proveniente do país no qual esta nasceu.
Assim, somando-se à competência linguística, valores pessoais e sociais, considera-se
que as suas relações interpessoais com outras crianças e até as operações referentes à língua
mãe, já estão bastante enraizadas, não se tornando empecilho para que esta avance com os
seus objetivos concernentes à aquisição da L2, norteada pela interface enunciação e aquisição
de linguagem.
Essa magnífica trajetória na qual o sujeito se sente envolvido como locutor e
a
locutário, caracteriza-se como um entrelaçamento, justificado pela presença do
eu
e
tu
, de
forma simultânea. Vale salientar que, não se trata de um entrelaçamento favorecido apenas
pela sua L1 e L2, ou seja, as línguas portuguesa e norueguesa, pois, enquanto está no Brasil, a
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criança-enunciadora só se torna locutora do norueguês para se comunicar com o seu pai, que
normalmente está na Noruega. Se não fosse por este motivo, entende-se que esta se dedicaria
apenas ao português como L2.
Portanto, mesmo que a sua LM caracterize a sua origem e mesmo estando
profundamente enraizada pela prática constante, sendo por isso, conforme Spinassé, muito
difícil de ser evitada, no caso do sujeito desse estudo de caso, o efeito parece ser justamente o
contrário, pelo fato de se mostrar decidido a falar a sua L2, sem nem sequer mencionar as
dificuldades que este encontra durante esse processo. Sendo, portanto, quase que impossível
detectar os entrelaçamentos de sua LM com a L2, a partir dos efeitos que a primeira pode
causar na segunda, já que é na L2 que o sujeito faz questão de enunciar o seu discurso.
A partir do recorte enunciativo da sessão 02, depreende-se a construção de um
aparelho da enunciação junto à apropriação da língua. Assim, tem-se:
Quadro 03 –
O locutor se apropria da língua e constrói com ela um aparelho de enunciação.
RECORTE ENUNCIATIVO
SESSÃO 02
Participantes:
AVÓ e Criança
-
enunciadora.
Data da entrevista:
10/07/2019
Idade da Criança:
07
Situação:
O sujeito está um pouco reflexivo na casa da avó no Brasil e
repentinamente diz a reflexão, incluindo-a em suas gravações.
Gravação do áudio da Criança-enunciadora:
"Eu percebu qui eu ficu tristi
quandu pensu em coisa tristi!” intãu é só pensar em coisa alegre pra ficar feliz!”
Fonte: Elaborado pela autora, 2021.
Do segundo recorte enunciativo ou sessão 02, cabe ressaltar um dos 02 (dois) pontos
importantes concernentes à concepção de enunciação benvenistiana trazida por Flores (Op.
Cit.), trata-se de considerar o momento em que o locutor se apropria da língua e constrói com
ela um aparelho de enunciação. Deste modo, a língua enquanto aparelho formal contribui para
formar a enunciação.
Confere-se
, portanto, na fala do sujeito ao afirmar “eu percebu qui ficu tristi quandu
pensu em coisa tristi”, a língua enquanto aparelho formal, que favorece o enunciador-infantil
a se colocar como sujeito observador do seu próprio
eu
, trazendo um
tu
à espreita dos
sentimentos do
eu
. Assim,
a linguagem atravessa o momento em que o enunciador confere em
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
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Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
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si mesmo o papel de sujeito, pois cada locutor se apresenta como sujeito, remetendo a ele
mesmo como um
eu
no seu discurso.
Já na sessão 03, pode-se observar cenas de constatações, conferindo-se o discurso
como um ato individual, nos seguintes recortes enunciativos:
Quadro 04 –
O duplo processo de identificação: o
eu
da língua norueguesa encontra outros
modos de dizer, do
eu
para o
tu
da língua portuguesa
RECORTE E
N
UNCIA
TIVO
SESSÃO 03
Participantes:
AVÓ e Criança-enunciadora.
Data da entrevista
: 12/07/2019
Idade da Criança:
07
Situação:
O sujeito outra vez, voltando do trabalho da avó, toma a iniciativa de descrever as cenas que
ver da janela do carro e registrar.
Gravação do áudio:
“Minino no braço da mãe”
“Cachorro atravessando rua”
“Homem mulher andando”
“Homem mulher atravessando rua”
Fonte: Elaborado pela autora, 2021
O sujeito registra as cenas de suas constatações, no intuito de usar o discurso como
uma mensagem e instrumento de ação, por intermédio do ato individual, ao elaborar um
paradigma linguístico de 04 frases: “Minino no braço da mãe”; “cachorro atravessando rua”;
homem mulher andando”; e Homem mulher atravessando rua”. Considera-se, portanto, que
nesse instante, o sujeito-enunciador se encontra constituído por um duplo processo de
identificação, no qual o
eu
da língua norueguesa encontra outros modos de dizer, do
eu
para o
tu
da língua portuguesa.
Para Aiub e Rodrigues (2019), essa decisão tomada pelo locutor, faz com que haja
movimentos nas redes de significação. Assim, a criança-enunciadora parece se dar conta de
que o que pode fazer para produzir significados na sua LM, também pode fazê-lo na L2. Para
efeitos de produção de sentidos, o
eu
reproduz o que ver para o
tu
, através do entrelaçamento
locução e alocução, simultâneas, por intermédio das redes de significados da L2.
Na sessão 05 é possível observar o esforço de Sophie em identificar-
se como
envolvida no processo de locução e alocução, através do seguinte recorte enunciativo presente
no quadro abaixo.
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A inscrição pelo discurso de uma criança norueguesa em processo de aquisição de português: Um estudo de caso
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Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2447-3529
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Quadro 5 –
O
eu
e o
tu
como únicos sob um olhar enunciativo.
RECORTE ENUNCIATIVO
SESSÃO 0
4
Participantes:
Avó
e Criança
-
enunciadora.
Data da entrevista:
15/07/2019
Idade da Criança:
07
Situação:
Criança-enunciadora.
Gravação do áudio do sujeito:
“Eu falar tantu purtuguês que vou esquecer norrueguês!”
Fonte: Elaborado pela autora, 2021
Considerando a sessão acima, de número 04, na qual a partir da fala do sujeito: “Eu
falar tantu purtuguês que vou esquecer norrueguês!”, depreende-se um reconhecimento da
forma como este se sente envolvido em um esforço de aquisição da L2, nesse instante,
percebe-se o
eu
e
tu
como únicos, e sob um olhar enunciativo, parece admitir o seu esforço
por se sentir em processo de alocução.
Para tanto, é como se estivesse na posição de auto-observador, pois para colocar a L2
em funcionamento, foi preciso que desse ênfase a consequências do seu próprio ato
enunciativo, sendo esta uma forma bastante personalizada de marcar o seu discurso e poder
retomá-lo na escuta dos áudios. Corroborando Benveniste (2005, p. 68), ao afirmar que
fazemos da língua que falamos usos infinitamente variados, cuja enumeração deveria ser
coextensiva a uma lista das atividades as quais se pode empenhar o espírito humano.
Portanto, desses “usos” pelos quais o sujeito “empenha o seu espírito humano” com o
objetivo de apreender a sua L2, o seu ato individual favorece para que este aja como
observador da sua própria relação
eu
e
tu
, envolvido no movimento simultâneo de ser, já que
a linguagem impõe às línguas que reservem lugares de pessoa e não pessoa, sem os quais não
seria possível falar.
E, é desta forma, que a criança-
enunciadora não só se constitui como pessoa subjetiva
(eu) e pessoa não subjetiva (tu), como também parece se dar conta que o seu discurso é
portador de uma mensagem e instrumento de ação, como se dialogando com o
tu
,
representado pela sua própria voz, entendesse que, envolvida no processo de enunciar estaria
também desenvolvendo-se na aquisição da L2.
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
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Diante do que foi dito e exposto, quanto à subjetivação de uma criança norueguesa
como locutora e alocutora, considera-se o discurso como um terreno que tem como foco suas
projeções enunciativas, organizadas por intermédio de suas estratégias. Como exemplo,
considerou-se suas iniciativas pessoais de gravar o seu próprio discurso, inscrevendo-se na
língua portuguesa como L2 e apoiando-se nesta para construir com ela um aparelho de
enunciação, por ser este construído pelo locutor cada vez que enuncia.
Considerações finais
Para fins de alcançar algumas considerações finais, nesse estudo de caso, percebe-se
que houve um favorecimento, pela presença dos índices específicos de pessoa o
eu
e o
tu
, já
que estes caracteres são necessários e permanentes para que o enunciador constitua o seu
discurso. Assim, a inscrição na língua pelo discurso se estabeleceu, por intermédio da arte de
problematizar os fatos linguísticos que exercem impactos sob a enunciação, na perspectiva
benvenistiana. E, desta forma, o sujeito mantém uma relação absoluta com o seu
eu
e
tu
, na
tentativa de estabelecer sua conexão com o mundo a partir da sua L2, no intuito de fazer com
que esta lhe sirva para viver.
Portanto, por intermédio da aprec
iação da análise dos fatos linguísticos, vistos como
recortes enunciativos, depreende-se que os deslocamentos favorecidos pelo ato individual de
o
tu
tornar-se o eco do
eu
, trouxe uma condição de o sujeito se apropriar da língua portuguesa
como L2. Entende-se, então, que os resultados favoreceram para que fosse possível alcançar:
as correlações subjetivas
eu
e
tu
; a construção de um aparelho de enunciação pelo aprendiz,
junto à apropriação da língua; as cenas de constatações do discurso como um ato individual;
e, o autorreconhecimento de estar envolvido no processo de locução e alocução. Favorecido
pelos entrelaçamentos da L1 e L2, bem como pelo efeito do discurso na mediação da interface
enunciação e aquisição de linguagem, por intermédio dos movimentos subjetivos nas redes de
significação.
AG
RADECIMENTOS
: Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento para Pessoal de Nível
Superior (CAPES) pela concessão da Bolsa de Estudos para nível de doutorado.
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A inscrição pelo discurso de uma criança norueguesa em processo de aquisição de português: Um estudo de caso
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022 e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
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REFERÊNCIAS
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
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Como referenciar este artigo
RAMOS, G. M. S. A inscrição pelo discurso de uma criança norueguesa em processo de
aquisição de português: Um estudo de caso.
Rev. EntreLínguas
, Araraquara, v. 8, n. 00,
e022036, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529. DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
Submetido em
: 18/04/2021
Revisões requeridas em
: 05/06/2021
Aprovado em
: 13/11/2021
Pu
blicado em
: 30/03/2022
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The enrollment by the discourse of a Norwegian child in the process of acquisition of Portuguese: A case study
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, Jan./Dec. 2022 e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
1
THE ENROLLMENT BY THE DISCOURSE OF A NORWEGIAN CHILD IN
THE PROCESS OF ACQUISITION OF PORTUGUESE: A CASE STUDY
A INSCRIÇÃO PELO DISCURSO DE UMA CRIANÇA NORUEGUESA EM
PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE PORTUGUÊS: UM ESTUDO DE CASO
LA INSCRIPCIÓN POR EL DISCURSO DE UNA NIÑA NORUEGA EM EL
PROCESO DE ADQUISICIÓN DE PORTUGUÉS: UN CASO DE ESTUDIO
Gesilda Marques da Silva RAMOS
1
ABSTRACT
: The present work aims to analyze a case study referring to the registration of a
Norwegian child by the speaker in the process of acquiring the Portuguese as a second language.
We reserve for this investigation the consideration of the simultaneous position of subjective
person and non-subjective person from the perspective of printing an enunciative view of the
material belonging to the enunciative subject, from Benveniste's enunciative perspective, which
favors the enunciation and language acquisition interface. This approach considers the
discourse as the bearer of a message and as an instrument of action, in which the subject is able,
through the individual act, to give you the forms that marks the discourse and, in the meantime,
constitute itself as eu-tu, through a dialogue with your voice, due to the same fact of enunciating
and developing the language acquisition process at the same time. Wherefore, the results have
showed, that you become the eco of the self, favored by the mediation between you and me as
a condition of language appropriation.
KEYWORDS
: Discourse. Enunciation. Language Acquisition. Me-
You.
RESUMO
: O presente trabalho tem como objetivo analisar um estudo de caso referente à
inscrição de uma criança norueguesa pelo discurso no processo de aquisição de português
como segunda língua. Reservamos a essa pesquisa a consideração da posição simultânea de
pessoa subjetiva e pessoa não subjetiva sob a perspectiva de imprimir um olhar enunciativo do
material pertencente ao sujeito enunciador, baseada na perspectiva enunciativa de Benveniste,
já que favorece a interface enunciação e aquisição de linguagem. Essa abordagem considera
o discurso como portador de uma mensagem e instrumento de ação, no qual o sujeito é capaz
de, através do ato individual, conferir ao “tu”, a forma que marca o discurso e ao mesmo
tempo, constituir-se como eu-tu, por intermédio de um diálogo com a sua própria voz, pelo fato
de enunciar e desenvolver o processo de aquisição de linguagem ao mesmo tempo. Os
resultados apontam, portanto, que o tu torna-se o eco do eu, favorecido pela mediação eu e tu
como condição de apropriação da língua.
PALAVRAS-CHAVE
: Discurso. Enunciação. Aquisição de linguagem. Eu-tu.
1
Catholic University of Pernambuco (UNICAP) Recife – PE – Brazil. English Language Teacher of the
Municipality of Recife. PhD student in the Graduate Program in Language Sciences (PPGCL). CAPES Fellow.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9931-5827. E-ma
il: gesildamarques@yahoo.com.br
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
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RESUMEN
: El presente trabajo tiene como objetivo analizar um caso de estudio referente al
registro de una niña noruega por parte del hablante en el proceso de adquisición del portugués
como segunda lengua. Reservamos para esta investigación la consideración de la posición
simultánea de persona subjetiva y persona no subjetiva desde la perspectiva de imprimir una
mirada enunciativa del material perteneciente al sujeto enunciativo, desde la perspectiva
enunciativa de Benveniste, que favorece la interfaz de enunciación y adquisición del lenguaje.
Este enfoque considera al discurso como portador de un mensaje y como un instrumento de
acción, en el que el sujeto es capaz, a través del acto individual, de darte las formas que marcan
el discurso y, al mismo tiempo, constituirse como me -tu, a través de un diálogo con la propia
voz, por el mismo hecho de enunciar y desarrollar el proceso de adquisición del lenguaje. Por
tanto, los resultados han demostrado que te conviertes en el eco del yo, favorecido por la
mediación entre tú y yo como condición de apropiación del lenguaje.
PALABRAS CLAVE
: Discurso. Enunciación. Adquisición linguística. Yo tú.
I
ntroduction
To deal with the inscription of a Norwegian child in the process of Portuguese
acquisition, through discourse, we take as north what Silva (2007) defends regarding the
possibility of circumscribing the field of enunciation in a relationship with language acquisition,
corroborating Benveniste (1958), when he describes the
relationship I and
you
, by stating that
"it is a man speaking that we find in the world, a man speaking to another man, and language
teaches his own definition of man".
This is due to the fact that, Benveniste, upon receiving the Saussurian inheritance,
printed there an alternative of thinking (and analyzing) the language in its functioning,
privileging the very possibility that the linguistic instance offers man to subjectify himself, from
enunciative projections in a locutor position that is inscribed, not by chance, in that same
linguistic instance.
In this sense, according to Agustini and Leite (2012), Benveniste puts into question what
passes as evidence, exercising, with primacy, the art of problematizing linguistic facts under
the impact of enunciation. This Benvenistian style of thinking, based on the problematization
of evidence, contributed to the becoming of a common practice, in Linguistics, to refer to this
author when defining enunciation.
In view of the above, this article has as its main objective, to consider the simultaneous
position of subjective person and non-subjective person, coming from the child enunciation,
from the perspective of printing an enunciative look on the material belonging to the child
announcer, since, according to Silva (2007) in Benveniste, the announcer proposes himself as
a subject.
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The enrollment by the discourse of a Norwegian child in the process of acquisition of Portuguese: A case study
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, Jan./Dec. 2022 e-ISSN: 2447-3529
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Thus, in this research, through a dialogue with the transcribed enunciative facts,
represented and materialized in some clippings of the transcription of audios, it is proposed to
make an enunciative analysis of the child's speech, as an announcer of this research. It will also
be considered the individual act of this, since according to Benveniste (2005), the enunciation
is taken, at the moment when the language is put into operation for its use, through the
individual act. And for Flores (2018), it is necessary to make a description of the instruments
that make the act possible.
Therefore, the child's speech is considered, both as an instrument, as well as
consolidation and realization of the functioning of the language, as well as an individual act
itself. It is also investigated, the positioning of this, crossed by language, since, according to
Benveniste (2005), it is in language that man constitutes himself as a subject. And it is added
that the "subjectivity", treated by this, is the ability of the announcer to propose himself as
"subject". It is defined as the psychic unity that transcends the totality of the lived experiences
that it gathers and that ensures the permanence of consciousness.
Therefore, from this possibility that the speaker proposes himself as a subject, it is
understood that he is identifiable in a way that constitutes him from the proper way that this
marks the enunciator, discursive himself as an enunciator, as an effect of the language itself. At
the same time, according to Benveniste (2005), language is only possible because each
announcer presents himself as a subject, referring to himself as an
i
in his speech. [...] Since
language is a system common to all, discourse is at the same time the bearer of a message and
instrument of action.
Therefore, returning to the heart of the proposal of this work, concerning the analysis of
the inscription by the discourse of a Norwegian child in the process of Portuguese acquisition,
it is appropriate here a literature review regarding the definition of mother tongue (hereinafter
LM), second language (hereinafter L2) and foreign language (henceforth LE), so that it is
possible to adapt the nomenclatures related to the status of the subject in this case study.
T
herefore, it is understood that the definitions of the above-mentioned linguistic
modalities (LM, L1 and LE), as well as the communication situation in which each use allows
its classification, justifies the choice of the child of this case study. And, as the subject of this
work, being in the middle of this linguistic context, it is in the position of announcer, since
being able to make possible the condition that language is language, it is crossed by enunciation,
seen, therefore, as a possibility of transforming the language into discourse.
To this end, it will be considered, here, an intertwining mediated by the marks of
enunciation as the effect of the discourse provided by the enunciation interface and language
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acquisition. At the same time, there will be a discussion about the acquisition of language by
enunciative bias, with regard to the designation of the
I
, favored by the mediation
I and
you
as
a condition of appropriation of the language.
Conception of mother tongue, second language and foreign language: intertwining
mediated by the effect of discourse through the enunciation interface and language
acquisition
To deal with the conceptions of LM, L2 and LE, it is proposed to bring some
i
ntertwining of these three linguistic contexts, mediated by enunciation as an instance of
discourse, since it is found that the enunciator child, considered the speaker of this research,
was born in a linguistic context whose mediation took place through three languages, such as
Norwegian, Portuguese and English. That said, the place of each language for this will be
delegated here, as to the status it occupies as LM, L2 and LE. At the same time, the possible
intertwining concerning the effect of enunciation as an instance of discourse will be
investigated.
Thus, it is possible to consider the concept of language as an individual act by the bias
of Benvenistian enunciative theory, because in the author's statement:
The individual act, by which the language is used, first introduces the
announcer as a parameter in the necessary conditions of enunciation. Before
enunciation, language is nothing but a possibility of language. After
enunciation, the language is effected in a discourse instance, which emanates
from an announcer, a sound form that reaches a listener and which raises
another return enunciation (BENVENISTE, 2006, p. 83, our translation).
Thus, the above epigraph points out the interface between language and discourse,
mediated by enunciation, while this movement only becomes possible through an announcer.
Therefore, the conception of language is taken in the context of this work, considered as the use
of an individual act, since it provides the possibility of introducing the speaker as a criterion for
the necessary condition of enunciation.
Therefore, it is the announcer who provides the possibility of language being language,
because before enunciation occurs there is only one probability of language. And it is through
enunciation that there is a possibility that language reaches an instance of discourse. Then, it
can be said that the intersection of language and discourse is mediated by enunciation or that
only through enunciation will there be the possibility of the discourse being performed.
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And, for the purpose of explanation, with regard to an understanding of the meaning of
the terminologies LM, L2 and LE, as well as the definition of in which contexts or status would
suit each of these languages for the subject of this case study, the respective definitions are
listed here, since, according to Spinassé (2006), many linguistic and non-linguistic aspects are
linked to these nomenclatures. Thus, technically speaking, according to Damasceno (2017), LM
is the first language learned by an individual. It is also called mother tongue, native language
or first language (hereinafter L1). This is then the language spoken in the country in which the
person was born and learned to speak. For this reason, the LM will be the one of greater
domination by the speaker.
The acquisition of L1, or LM, is an integral part of the formation of the individual's
w
orld knowledge, and for Spinassé (2006), this is due to the fact that, along with linguistic
competence, personal and social values are also acquired. LM generally characterizes origin
and is used, most of the time, on a day-to-day life. On the other hand, operations relating to the
mother tongue are deeply rooted in constant practice and are therefore very difficult to avoid.
For this reason, according to Schutz (2018), adult LEs learners find it very difficult not
to fall into the forms of LM, both in the motor operations of pronunciation and in the mental
operations of structuring ideas into sentences. For a child, this problem is much smaller, because
their language habits are not so developed and rooted.
L
2, on the other hand, is learned in a country where the target language is socially used,
as an example, according to Cea (2016), we have a Brazilian living in New York who learns
English as L2. On the other hand, LE would be spoken by a subject who learns, in a country
where the spoken language is not the target language, for example, a Brazilian who lives in
Brazil learning English in a language school.
On the other hand, some consider that LM or L1 is not necessarily the mother's language,
nor the first language to learn. So little, it's just a language. For Spinassé (2006), it is usually
the language we learn first and at home, through parents, and is also often the language of the
community. (....). The language of the parents may not be the language of the community, and
when learning both, the individual now has more than one L1 (case of bilingualism). A child
can therefore acquire a language that is not spoken at home, and both are worth as L1.
According to Damasceno (2017) a person can also be native speaker of more than one
language. Everything will depend on the language spoken in your region of origin and the
language adopted by your family. A curious example is Esperanto. Many families choose this
language to teach their children, who learn it beyond the language spoken in the place where
they live. In this way, they end up becoming native speakers of Esperanto.
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Thus, it is considered that there is the intertwining of three linguistic contexts, mediated
by enunciation as an instance of the discourse of the subject of this case study. And although
English, Portuguese and Norwegian have been present in the life of this child-enunciator, during
his baby phase, currently at age 7, English is not only used in school as LE, it is spoken by his
parents because he is more of his mother's mastery than Norwegian. This, in turn, guide her
daily life as a native language, next to the Portuguese language, the mother tongue of her
mother.
Therefore, the Portuguese can be seen as L2, because it is used by its mother, because
this is its LM and for having maintained the intention of teaching it. Besides being, also, the
language used in Brazil during their travels, held bimonthly. As for its LM, the language of the
country in which it was born will be considered, i.e., Norwegian.
Thus, it is possible to theorize about subjective movements, with regard to the process
of identification of the subject, in the middle of LM and L2. And according to Aiub and
Rodrigues (2019), it is about taking the subject consisting of a double simultaneous process of
identification, by the bias of the inscription of this in a language. To this end, the speaker's
encounter with other ways of saying causes movements in the networks of meaning.
T
hese "subjective movements" are taken as those that will occur, from the point of view
of this aforementioned subject, when it is in a "double simultaneous process of identification",
in a position of between the Norwegian (LM) and Portuguese (L2). Thus, turning to the heart
of the question, concerning the definitions of LM, L2 and LE, the linguistic intertwining
mediated only by the effect of the enunciation of THE and L2 are considered, since the subject
is in the middle of the two languages when he is in Brazil.
Thus, the possibility of effectuation of the discourse, because the announcer is used as
a criterion for the necessary condition of enunciation, it is proposed to consider the act of
transforming the Portuguese language into instances of discourse, as an announcer and as an
allocutor, simultaneously, being seen as an intertwining provided by the effect of the
enunciation interface and language acquisition.
Thus, this context, in which this movement takes place through the initiative of an
announcer, brings the possibility of the child announcer/allocutor being able to make this
simultaneous mobilization, announcer and allocutor, be interpreted as the existence of a
proximity between
the self
and the discourse, in the condition of this one to take effect, through
enunciation. Which requires a discussion regarding language acquisition by enunciative bias:
you and
I
. And, according to Lorandi (2008), this favors the possible ownership of the whole
language, designating himself as
me
.
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Discussion on language acquisition by enunciative bias: you and I
By proposing to bring a discussion about language acquisition through enunciative bias,
the purpose is to situate the focus of this work on the consequences of the correlation
I
(subjective person) and
you
(non-subjective person) – the only possible way of enunciation, so
that it does not be referred to
the
i – and, therefore, this is why the subjective correlation is
justified as the north of this case study.
Therefore, the person/non-person difference will be shown, in order to punctuate
Benveniste's contributions (CLG I), concerning the formulation of this classical distinction in
twentieth-century linguistics regarding such instances of discourse. Thus, the table below
brought by Flores (2013, p. 92) will be considered:
Table 01
- Correlation of personality / correlation of subjectivity.
Correlation of personality
Person
I
Subjectivity
correlation
Subjective
person
I
Person
You
Non
-
subjective
person
Your
No
Person
He
Source
:
Flores, V. N. (2013)
By observing the table above, it is possible to enclose the contributions brought by
Flores (2013), concerning the text "The nature of pronouns" by Benveniste (2005), because it
was considered the first text to take the person/non-person distinction, and to emphasize that it
is not only a question of bringing the subject about pronouns, but beyond its title or
nomenclatures itself. It is emphasized, therefore, that Benveniste goes further when he operates
with subjective/objective opposition.
Thus, Flores (2007) highlights three important points related to subjective/objective
oppos
ition, namely, the first point refers to the fact that pronouns are treated as a language
problem and not just as a language or language problem; the second that, by associating
personal pronouns with distinct classes, Benveniste concludes that: some belong to the syntax
of the language, others are characteristic of the "instances of discourse". In the third and final
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point, the author shows that there is a difference of referential nature between the
pronoun
I
and a Lexical notion, concluding that the differences are linked to enunciation.
In the process of showing the proper linguistic description, considering, therefore, the
starting point and the point of arrival of Benveniste in the aforementioned text, Flores (2013),
comes to a conclusion that pronouns are the starting point, while the point of arrival is the
position that each is obliged to occupy in language. That is, language requires languages to
"reserve" places of person and not person, without which it would not be possible to speak.
This is due to the fact that there are signs that refer to a situation, which Benveniste calls
objective, since they are of the scope of 3rd person. Thus, the 3rd person (
he
) is the unmarked
member of the person's correlation, which is why the non-person (
you
) is the only possible
mode of enunciation for the discourse instances that should not refer to themselves. Then you
and i
are pointed
as
subjective pronouns and he as
an objective
pronoun.
Thus, by bringing a case study of a Norwegian child in the process of acquiring an L2,
favored by
the relationship I
and
you
, this becomes possible, thanks to the possibility of this
mediation of the child-enunciator with its enunciative projections in the position of announcer
and simultaneously as announcer, since it is consciously inscribed in its own discourse, bias of
the same linguistic body.
In view of the above, after situating the enunciative analysis of the subject of this
research in the correlation of subjectivity, and showing the difference between this and the
correlation of personality; also defining the difference between person (
I
- subjective and
you
-
non-subjective) and non-person (
he
), it is necessary to emphasize the specificity of
formalization that the term enunciation assumed in Benveniste's theorizations (1965, 1970).
Therefore, it is necessary to bring two important points, considered by Flores (2008, p. 404), to
understand what Benveniste meant when he presented the enunciation as a process of
appropriation, in relation to the language.
Thus, the first point refers to the presentation of the formal expression of the language,
drawing attention to the fact that the announcer appropriates it, and builds with it a device of
enunciation. In this way, the announcer builds a formal enunciation apparatus each time he
enunciates, based on the formal apparatus of the language. The second refers to the existence
of specific indexes and accessory procedures that allow the announcer to enunciate his position
as announcer.
The specific indexes are what Benveniste called the "necessary and permanent
c
haracters" of enunciation: the indexes of
person (
me and
you
), the indexes of space ostension
(this, here) and the time forms (of the present of enunciation). Therefore, as has already been
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said, let us take here the specific indexes or necessary and permanent characters of the
enunciation, such as, me and
you
, in order to analyze the voiceover of the child-enunciator,
considering that there is a constant and necessary relationship, which involves the announcer
and his enunciation, which is established by a set of specific forms, such as the emergence of
the person indexes (the relationship
i
and
you
), which for Lorandi (2008, p. 32) is produced
only in and by enunciation, in which the
term I
denote the individual who utters the enunciation,
and the term you, an individual established as an
allocutor
.
Therefore, in Benveniste's saying (2005, p. 286): "Therefore, I propose another person,
the one who, being outside the "me", becomes my echo – to which I say you and which you tell
me.
And, it is in this way that, it is considered that the child-announcer, who presents himself
as a subject, represented by an I in search of an allocutor, with regard to his way of uttering
the enunciation, since he is able to make use of the imagination, in order to dialogue with the
scenes of the environment in which he is and inserts, as a Speaker of the Portuguese language
as L2, by checking his need to record sentences that describe the situations he is seeing,
simulating conversations in his recordings of the internet application.
From this description, one perceives an attitude that alludes to a conversation with an
imaginary allocutor, without having someone interacting with the situation. This attitude
denotes that, the child in the process of speaking, seems to consider his own language in the
process of acquisition as his self, as if it were possible to build with L2 the apparatus of
enunciation itself.
This attitude is justified by the fact that, according to Benveniste (2005), self-awareness
is only possible if experienced by contrast.
I
don't
work myself unless I'm addressing someone,
who will be in my speech a
you
. This condition of dialogue is the constitutive of the person,
because it implies reciprocity – that I become you in the speech of the one who in turn is called
by me.
According to Silva (2013), the
distinction I
and
you
in Benveniste is operated through
the indexes of person
I
(announcer) and you (allocutor), being the presence of the other inherent
to every instance of enunciation and exclusively long distance. Thus, we have two fundamental
conditions to enunciation, that is, that every locution is explicitly and implicitly an allocution,
it postulates an enunciation and that reference is an integral part of enunciation.
On the other hand, the person/non-pe
rson distinction is operated by the conjunction
between the I/you person indexes, as opposed to the indexes of non-person "he", effecting the
operation of the reference and basing the possibility of the discourse about something, about
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the world, about what is not speech. Therefore, it is possible to say that, language imposes on
languages to "reserve" places of person and not person, without which it would not be possible
to speak.
Methodology
Considering that the research methodology is a tool that helps the researcher in the
acquisition of his/her ability to orient himself, to be involved in an investigation process, timely
decision-making, selection of concepts, hypotheses and appropriate data (THIOLENT, 2013),
it is understood that this research, seen as exploratory qualitative in nature, has as object of case
study to investigate the inscription by the discourse of a Norwegian child in the process of
acquiring Portuguese as L2.
Therefore, it is proposed to analyze the recording of some audio clippings, coming from
the tool "WhatsApp" as to the monologues of a child, recorded by the child, in the company of
his maternal grandmother, during the 58 days he spent in Brazil, as a record of his way of acting
in the process of acquiring the Portuguese language, this being his L2.
And, as has already been said, the child-announcer of this research was born in a
linguistic context whose mediation took place through three languages, such as Norwegian,
Portuguese and English. The first, because it is the LM of his father, the second of his mother,
and the latter for referring to the common linguistic domain language of his parents. Currently,
at the age of 7, English is also used in school as LE, while Norwegian and Portuguese guide
their everyday life in the family context.
Thus, the subject of this research has as mother, a Brazilian born in Recife -
Pernambuco, Portuguese, English and Norwegian apprentice. The father of the child-enunciator
is Norwegian, apprentice Portuguese and fluent in Norwegian and English. In this trilingual
family environment, this was inserted in the context of the three languages, in which the mother
made a point of teaching Portuguese, so that the subject of this research could communicate
with her. At the same time, the mother of the child-announcer sought to make annual visits to
Brazil, so that the child could become familiar with the linguistic and cultural context of this
country.
Therefore, what favors the aforementioned subject to be taken as an analysis of this case
s
tudy is the way of uttering the enunciation, since it is capable of making use of the imagination,
in order to dialogue with the scenes of the environment as a speaker of Portuguese as L2,
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conferred on its need to record sentences that describe the situations and simulate dialogues in
their recordings of the internet application.
In view of the above, the objective of this work is to analyze the subject's inscription by
the discourse in the process of Portuguese acquisition, through a case study because it is a
Norwegian child living with three linguistic realities mentioned above. And, from the literature
review, it was verified the existence of two types of interlacing: the first refers to the
intertwining of two of the languages in their constitution as subjects; the second refers to the
way that the intertwining between the explicit and implicit form of the locution is at the same
time speech, mediated by the marks of the subject's discourse.
That said, the way in which the child-announcer appropriates the language will be
considered and the specific indices will be analyzed, that is, the necessary and permanent
characters, such as the person indexes (i-you). This is due to the fact that individual enunciative
acts are consolidated by the subject as a tool for acquiring L2, in the format of recording
monologues, as a record of enunciative scenes of events lived with his maternal grandmother.
Therefore, it will also take into account its position, referring to the two fundamental conditions
to enunciation, according to Benveniste (2005), that all locution is explicitly and implicitly an
allocution.
In order to consider enunciation as the effect of discourse, provided by the enunciation
interface and language acquisition, it is proposed here to show how the inscription by the
discourse occurs, since the subject of this case study is in the process of acquiring Portuguese
as L2.
It is expected to verify, from the marks left in his speech, the record of his sensations,
in order to identify whether or not there are conflicts, provided by the possible dialogue between
the I-you
. Thus, it is understood that the analysis of enunciative facts will contribute to rescue
the experiences of the subject with the Portuguese language, having as a basic principle to
identify the discourse as a carrier of a message and instrument of action.
This is due to the fact that the announcer has to constitute himself as a subject, conferred
on his need to listen to his recordings, in order to use as a way to mark his speech, and then
resume him as if he needed to hear his voice as an announcer and speaker simultaneously, in
the position of announcer who is inscribed, in the same linguistic instance, in order to constitute
himself as
I-you.
Therefore, the child's speech will be analyzed and described, based on the
pr
oblematization of evidence, as an instrument that favors the child's support for language in
an individual act of enunciation. To this end, the analysis of enunciative facts is followed,
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529
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divided into 05 (five) sessions, about the reflections around language, based on the conception
of LM or L1 and L2, with regard to the possible intertwining mediated by the effect of discourse
and at the same time based on the discussion on language acquisition by the enunciative
bias i
and
you
.
It is also considered the epistemological conceptions, present here, in the literature
review, involving the enunciation interface and language acquisition, provided by the
contribution of Benvenistian assumptions.
Analysis: reflections around language
In the guise of a dialogue with the enunciative facts, in order to circumscribe the field
of Enunciation in its relation to language acquisition, as Silva (2007, p. 209) suggests, it is
proposed to make an analysis based on reflections around language, assuming that a locution,
once materialized, can be understood in different ways. This is due to the fact of considering
the
pronouns
you
and i
as belonging to enunciation, taking into account not the common sense
of the physical world, but the "reality of discourse" (cf. Flowers, 2013).
In the context of this work, the concept of Benvenistian enunciation is taken as a
founding theory, because it favors the fact that it is possible to bring the art of problematizing
the linguistic facts of enunciation, through its theoretical assumptions, and it is proposed here
in this case study, as has already been said, that the speech of the enunciating child is an
instrument to confer the consolidation and concretization of the functioning of the language,
since it is possible to consider that there are linguistic instances mediated by
the
eu-tu
relationship
, which offers the enunciator the possibility of subjective, taking into account the
enunciative projections.
Thus, in this analysis, it is assumed that the subject, even without having linguistic
awareness of his role as announcer, proposes himself as a child-enunciator and acts as such,
taking the initiative to make recordings of his voice to verify his enunciations, in the presence
of his Brazilian maternal grandmother, as if he wanted to confer himself as a marker of his own
discourse, such as an enunciator who tests the effects of his own language, in this case the
Portuguese language, since it has as LM the Norwegian.
And, according to what has already been said, with regard to Portuguese's status, in this
context, it is being considered as L2, due to the fact that the subject was born in Norway, but is
the offspring of a Brazilian married to a Norwegian and, at the time of the audio recordings, as
already said, the child is spending a few days in Brazil at the home of his maternal grandmother.
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The enrollment by the discourse of a Norwegian child in the process of acquisition of Portuguese: A case study
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, Jan./Dec. 2022 e-ISSN: 2447-3529
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In view of the above, it is proposed to analyze some sentences of the subject, since,
according to Benveniste (2005) the phrase is the indefinite creation, variety without limit, is the
very life of the language in action. At the same time, the word of language as a system of signs
is left with the phrase and one enters another universe, that of language as an instrument of
communication, whose expression is discourse.
Therefore, taking into account language as discourse, based on Silva's enunciative
clipping models (2007, p. 210), it is possible to put into practice the analysis of linguistic facts,
based on the conception of LM and L2, considering the possible intertwining of the locutions
and speeches of the subject of this case study, mediated by the effect of enunciation as an
instance of discourse, as well as the discussion that was made about language acquisition under
enunciative bias, based on the aforementioned I-you
relationship
.
Thus, the following enunciative clippings with their respective analyses regarding the
correlation of subjectivity are presented here, as seen in the following sessions:
Table 02 –
Self-awareness that denotes flexibility, related to the correlation of subjectivity
inferred from the presence of an
I
that signals a desire to
you
ENUNCIATIVE CLIPPING
SESSION 01
Participants:
Grandmother and child-enunciator
Interview date:
10/12/2019
Child's Age
: 07
Interview date:
10/07/2019
Situation:
After the arrival of a tour with the family, the subject expresses his decision to
stay permanently in Brazil.
Recording of the audio of the Child-enunciator:
"
Achu qui vou esqui a Nuruega e ficar nu
Brasil!"
Source: Prepared by the author, 2021
From this first enunciative clipping, called session 01, of the subject's speech "
Achu qui
vou esqui a Nuruega e ficar nu Brasil!",
it is considered that there is a correlation of subjectivity,
deprecated from the presence of an
I
that signals
to you
the desire to forget his country of origin
and stay in the country of his mother's LM, since she feels involved in an active participation
with the Portuguese language, in the course of the 58 days experienced in Brazil. It is as if there
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is a great need to prove himself or self-affirm as
I
do in his speech, in his L2, corroborating
Benveniste (1976, p. 286,), when he says that:
Self-consciousness is only possible if experienced by contrast. I
don't
work
myself unless I'm addressing someone, who will be in my speech a
you
. This
condition of dialogue is that it is constitutive of the person, because it implies
reciprocity – that I become you
,
in the speech of the one who in turn is called
by
me
.
Considering the above epigraph, also as a possibility to interpret the enunciative clipping
of session 01, the subject seems to be aware of himself, awakened by the contrast in which he
is inserted, which denotes that there is flexibility, as to the personal and social values already
acquired. Therefore, the Portuguese language brings the possibility of from your voiceover,
there will be a dialogue like
you
, or with the allocutor. This is due to the fact that "this condition
of dialogue" is "constitutive of the person" (I as a person), "because it implies reciprocity". This
fact will cause "
I
to become you
in
the speech of the one who in turn is called for
me
".
Therefore, this displacement of the correlation of subjectivity between subjective person
and non-subjective person becomes possible in L2, even though Norwegian is the language that
is an integral part of its world formation, according to Spinassé (Op. Cit.), and it is considered
that the knowledge of the world and culture of this, it is mostly related to Norway, because it is
also related to its school education, from the country in which it was born.
Thus, in addition to linguistic competence, personal and social values, it is considered
that their interpersonal relationships with other children and even operations related to the
mother tongue are already well rooted, not becoming a hindrance to this advancing with its
objectives regarding the acquisition of L2, based on the enunciation interface and language
acquisition.
This magnificent trajectory in which the subject feels involved as an announcer and
allocutor, is characterized as an intertwining, justified
by the presence
of the me
and
you,
simultaneously. It is worth noting that, it is not an intertwining favored only by its L1 and L2,
that is, the Portuguese and Norwegian languages, because, while in Brazil, the enunciator child
only becomes an announcer of Norwegian to communicate with his father, who is usually in
Norway. If it were not for this reason, it is understood that it would be dedicated only to
Portuguese as L2.
Therefore, even if its LM characterizes its origin and is deeply rooted by constant
practice, and therefore, according to Spinassé, it is very difficult to avoid, in the case of the
subject of this case study, the effect seems to be just the opposite, because it is determined to
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The enrollment by the discourse of a Norwegian child in the process of acquisition of Portuguese: A case study
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speak its L2, without even mentioning the difficulties that it encounters during this process.
Therefore, it is almost impossible to detect the intertwining of its LM with L2, from the effects
that the first can cause in the second, since it is in L2 that the subject makes a point of
enunciating his discourse.
From the enunciative section of session 02, the construction of an enunciation apparatus
with the appropriation of the language is instating. Thus, one has:
Table 03 –
The announcer appropriates the language and builds with it a device of
enunciation.
ENUNCIATIVE CLIPPING
SESSION 02
Participants:
GRANDMOTHER and Child
-
enunciator.
Interview date:
10/07/2019
Child's Age:
07
Situation:
The subject is a little reflective in his grandmother's house in Brazil
and suddenly says the reflection, including it in his recordings.
Recording of the audio of the Child-enunciator: "Eu percebu qui eu ficu tristi
quandu pensu em coisa tristi!” intãu é só pensar em coisa alegre pra ficar feliz!”
Source: Prepared by the author, 2021.
From the second enunciative clipping or session 02, it is worth mentioning one of the
02 (two) important points concerning the conception of Benvenistian enunciation brought by
Flores (Op. Cit.), it is a question of considering the moment when the announcer appropriates
the language and builds with it a device of enunciation. In this way, the language as a formal
apparatus contributes to form enunciation.
Therefore, the subject's speech is given to affirm "Eu percebu qui ficu tristi quandu
pensu em coisa tristi", the language as a formal apparatus, which favors the child-enunciator to
place himself as an observer subject of his
own
self, bringing a
you
to the lurking of the feelings
of the
self
. Thus, language crosses the moment when the enunciator confers on himself the role
of subject, because each announcer presents himself as a subject, referring to himself as an
i
in
his discourse.
In session 03, one can observe scenes of findings, conferring the discourse as an
individual act, in the following enunciative clippings:
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Table 04 –
The double identification process: the
Norwegian language
i find other ways of
saying, from the
I
to the
you of
the Portuguese language
ENUNCIATIVE CLIPPING
SESSION 03
Participants:
GRANDMOTHER and Child-enunciator.
Interview date
: 12/07/2019
Child's Age:
07
Situation:
The subject again, returning from the grandmother's work, takes the initiative to describe
the scenes he sees from the car window and register.
Audio recording:
“Minino no braço da mãe”
“Cachorro atravessando rua”
“Homem mulher andando”
“Homem mulher atravessando rua”
Source: Prepared by the author, 2021
The subject records the scenes of his findings, in order to use the discourse as a message
and instrument of action, through the individual act, when elaborating a linguistic paradigm of
04 sentences: "Minino no braço da mãe"; "Cachorro atravessando rua"; “Homem mulher
andando"; and “Homem mulher atravessando rua." It is considered, therefore, that at that
moment, the subject-enunciator is constituted by a double process of identification, in which
the
I
of the Norwegian language finds other ways of saying, from the
I
to the
you
of the
Portuguese language.
For Aiub and Rodrigues (2019), this decision made by the announcer, makes their
movements in the networks of meaning. Thus, the child-enunciator seems to realize that what
he can do to produce meanings in his LM can also do so in L2. For the purpose of producing
meanings,
the i
reproduce what i see
for you
, through the simultaneous intertwining locution
and speech, through the networks of meanings of L2.
In session 05 it is possible to observe Sophie's effort to identify herself as involved in
the process of locution and speech, through the following enunciative clipping present in the
table below.
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The enrollment by the discourse of a Norwegian child in the process of acquisition of Portuguese: A case study
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Table 5 –
The
me
and you as unique under an enunciative gaze.
ENUNCIATIVE CLIPPING
SESSION 04
Participants:
Grandmother and Child
-
enunciator.
Interview date:
15/07/2019
Child's Age:
07
Situation:
Child-enunciator.
Recording of the subject's audio:
“Eu falar tantu purtuguês que vou esquecer norrueguês!”
Source: Prepared by the author, 2021
Considering the above session, number 04, in which from the subject's speech: "I speak
tantu purtuês que vou esquecer norrueguês!", we can see a recognition of how he feels involved
in an effort to acquire L2, at that moment, the me and you are perceived as unique, and under
an enunciative eye, seems to admit its effort to feel in the process of allocution.
Therefore, it is as if it were in the position of self-observer, because to put L2 into
operation, it was necessary to emphasize the consequences of its own enunciative act, this being
a very personalized way to mark your speech and be able to resume it in listening to the audios.
Corroborating Benveniste (2005, p. 68), by stating that we make the language that we speak
infinitely varied uses, whose enumeration should be coextensive to a list of activities to which
the human spirit can be engaged.
Therefore, of these "uses" by which the subject "commits his human spirit" in order to
apprehend his L2, his individual act favors him to act as an observer of his own
relationship me
and
you
, involved in the simultaneous movement of being, since language imposes on
languages that reserve places of person and not person, without which it would not be possible
to speak.
And, it is in this way that the enunciator child not only constitutes itself as a subjective
person (i) and a non-subjective person (you), but also seems to realize that his discourse carries
a message and instrument of action, as if dialoguing with you, represented by his own voice,
understood that, involved in the process of enunciating, he would also be developing in the
acquisition of L2.
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Araraquara, v. 8, n.00, e022036, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529
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In view of what has been said and exposed, regarding the subjectivation of a Norwegian
child as announcer and allocutor, discourse is considered as a ground that focuses on its
enunciative projections, organized through its strategies. As an example, he considered his
personal initiatives to record his own speech, inscribed in Portuguese as L2 and relying on it to
build with it a device of enunciation, because it is constructed by the announcer every time he
enunciates.
Final considerations
In order to achieve some final considerations, in this case study, it is perceived that there
was a favor, due to the presence of the specific indexes of person the
I
and
you
, since these
characters are necessary and permanent for the enunciator to constitute his discourse. Thus, the
inscription in the language by discourse was established, through the art of problematizing
linguistic facts that exert impacts under enunciation, from the Benvenistian perspective. And in
this way, the subject maintains an absolute relationship with his self and you, in an attempt to
establish his connection with the world from his L2, in order to make it serve him to live.
Therefore, through the assessment of the analysis of linguistic facts, seen as enunciative
c
lippings, it can be seen that the displacements favored by the individual act
of the you
becoming the echo of the
i
, brought a condition that the subject appropriate the Portuguese
language as L2. It is understood, then, that the results favored to achieve: the subjective
correlations
me
and
you
; the construction of an enunciation apparatus by the learner, together
with the appropriation of the language; the scenes of observations of speech as an individual
act; and, the self-recognition of being involved in the process of locution and speech. Favored
by the intertwining of L1 and L2, as well as by the effect of discourse on the mediation of the
enunciation interface and language acquisition, through subjective movements in the networks
of meaning.
ACK
NOWLEDGMENT
: I thank the Coordination for Improvement for Higher Education
Personnel (CAPES) for granting the Scholarship to a doctoral level.
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The enrollment by the discourse of a Norwegian child in the process of acquisition of Portuguese: A case study
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n.00, e022036, Jan./Dec. 2022 e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
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Gesilda Marques da Silva RAMOS
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RAMOS, G. M. S. The enrollment by the discourse of a Norwegian child in the process of
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Rev. EntreLínguas
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Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529. DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15037
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: 18/04/2021
Revisions requested
: 05/06/2021
Approved
: 13/11/2021
Published
:
30/03/2022