image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 1 A CRIANÇA BI E MULTILÍNGUE – ULTRAPASSANDO MITOS E OBSTÁCULOS: UMA BREVE SÍNTESE SOBRE O BILINGUISMO EL NIÑO BI Y MULTILINGÜE – SUPERANDO MITOS Y OBSTÁCULOS: UNA BREVE SÍNTESIS SOBRE EL BILINGÜISMO THE BI-MULTILINGUAL CHILD – OVERCOMING MITHYS AND BARRIERS: A BRIEF OVERVIEW OF BILINGUALISM Miriam AKIOMA1Ana Margarida Belém NUNES2RESUMO: O presente estudo representa uma revisão de literatura sobre a área do bilinguismo, no qual se pretende evidenciar algumas caraterísticas naturais de falantes bilíngues ou multilíngues. Tem como objetivo também, descrever este importante fenômeno que, muitas vezes, está envolto por mitos, incertezas e equívocos tanto do lado dos pais, como de alguns profissionais da saúde e professores. Seguindo a cronologia da evolução dos estudos sobre o bilinguismo e comportamento, descrevem-se ainda desenvolvimento cognitivo bilíngue, e suas possíveis vantagens e desvantagens. Aborda também as conexões existentes entre o bilinguismo e a emoção tanto no escopo linguístico-social como psicológico. São apresentados resultados iniciais no âmbito do bi-multilinguismo em crianças focando-nos em aspectos como o sentimento de pertença a um grupo social, language-choice, e também receios e incertezas dos pais quanto à educação bilíngue. PALAVRAS-CHAVE: Bilinguismo. Desenvolvimento cognitivo. Comportamento bilíngue. Emoção. Identidade. RESUMEN:El presente estudio representa una revisión de la literatura sobre el ámbito del bilingüismo, en la que se pretende destacar algunas características naturales de los hablantes bilingües o multilingües. Tiene como objetivo también, describir este importante fenómeno que, muchas veces está envuelto por mitos, incertidumbres e malentendidos tanto por parte de los padres, así como de algunos profesionales de la salud y profesores. Siguiendo la cronología evolutiva de los estudios sobre el bilingüismo y comportamiento se discriben etapas del desarrollo cognitivo bilingüe, y sus posibles ventajas y desventajas. También aborda las conexiones existentes entre bilingüismo y la emoción tanto en el ámbito lingüístico-social como psicológico. Los primeros resultados se presentan en el ámbito del bi-multilingüismo en los niños, centrándose en aspectos como el sentimiento de pertenencia a un 1Universidade de Macau (UM), Taipa – Macau. Doutoranda e pesquisadora assistente em Neurociências no Centro de Ciências Cognitivas e Cerebrais da Faculdade de Ciências da Saúde. Mestre em Linguística Aplicada pela Faculdade de Artes e Humanidades. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8653-131X. E-mail: miriam.akioma@gmail.com 2Universidade de Macau (UM), Taipa – Macau. Professora Associada do Departamento de Português da Faculdade de Artes e Humanidades. Doutora em Linguística Clínica pela Universidade de Aveiro, Portugal. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6003-872X. E-mail: ananunes@um.edu.mo
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 2 grupo social, language-choice, los miedos e incertidumbres de los padres con respecto a la educación bilingüe. PALABRAS CLAVE:Bilingüismo. Desarrollo cognitivo. Comportamiento bilingue. Emoción. Identidad. ABSTRACT: The present study represents a literature review on the area of bilingualism, in which it is intended to highlight some natural characteristics of bi- or multilingual speakers. It also aims to describe this important phenomenon, which is often shrouded in myths, uncertainties and misunderstandings on the part of parents, as well as some health professionals and teachers. Following the evolutionary chronology studies on bilingualism and behavior are also described, the bilingual cognitive development, and their possible advantages and disadvantages. It also addresses the existing connections between bilingualism and emotion in both the linguistic-social and psychological scope. Initial results are presented in the scope of bi-multilingualism in children, focusing on aspects such as the feeling of belonging to a social group, language-choice, fears and uncertainties of parents regarding bilingual education. KEYWORDS: Bilingualism. Cognitive development. Bilingual behavior. Emotion. Identity.Introdução Sabemos que a linguagem, em suas diferentes formas, é o principal instrumento de comunicação utilizado pelo homem para interagir com o mundo e, em particular, a língua é vista como um sistema de códigos específicos, reconhecido por uma determinada comunidade da qual ele faz parte. Para Tomasello (2010) [...] linguagem, ou melhor, comunicação linguística, não é um tipo de objeto, formal ou outro, é uma forma de ação social constituída por convenções sociais para alcançar fins sociais, com base em, pelo menos, alguns entendimentos compartilhados e propósitos compartilhados entre os usuários. Hamers e Blanc (2000) afirmam que com a globalização, a migração de pessoas aumenta e o contato com novas e diferentes culturas é inevitável, resultando em um número significativo de sociedades multiculturais. Estas comunidades mistas conduzem a famílias bi-multilingues, cujas crianças crescem e se identificam com mais de uma cultura, sendo que em muitas circunstâncias falam línguas diferentes para se comunicarem com os próprios pais, que falam idiomas distintos. De acordo com Shaffer e Kipp (2010) “a aquisição da língua é claramente um processo holístico entrelaçado com o desenvolvimento cognitivo e social da criança e com a vida social e cultural dela”.
image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 3 O bilinguismo é já um fenômeno comum no mundo atual não sendo exclusivo, nem privilégio, de uma qualquer classe social específica. Ao longo do tempo, tem-se vindo a tentar entender não só o processo em si, mas, também, os efeitos cognitivos que o bilinguismo pode trazer, bem como os seus efeitos positivos ou negativos. No trabalho que aqui propomos, o principal objetivo é o de evidenciar algumas das possíveis influências do bilinguismo, de acordo com uma abordagem interdisciplinar - psicolinguística e sociolinguística – na manifestação e compreensão de emoções, bem como, de alguma forma, «desmistificar» as ocorrências de code-switchinge code-mixingdentro desta perspectiva emocional e afetiva. No que diz respeito aos bilíngues per si, no caso de diferenças individuais ou até mesmo à própria visão geral desse fenômeno que abrange grande parte mundo (como no caso dos imigrantes, refugiados e acolhidos), estudos relacionados ao bilinguismo ainda carecem de uma base e estrutura mais consolidada. Há necessidade, portanto, de trazer mais informações à população, a fim de esclarecer alguns pensamentos e definições, muitas vezes equivocadas. Com o grande número de famílias que deixaram seus países de origem, que hoje criam os filhos em países de língua e culturas diferentes, é comum que esses pais se sintam inseguros e receosos quanto à educação que devem possibilitar aos seus filhos. Aparecem, nestes contextos, as diversas dúvidas e ‘medos’ relacionados com o bilinguismo e identidade cultural; aquisição e aprendizagem de línguas, integração e pertença a um determinado grupo social. A reflexão e algumas pequenas observações aqui apresentadas procuram, de forma sucinta e objetiva, sustentar informações relevantes baseadas em estudos empíricos sobre o processamento da linguagem em bilíngues e monolíngues, a relação dos bilíngues com as emoções em cada língua, e as consequências do bilinguismo ao longo da vida. Estudos e definição de bilinguismo Tradicionalmente, a área do bilinguismo investiga a competência e desempenho dos falantes que se comunicam em duas ou mais línguas, em uma perspectiva do próprio fenômeno do bilinguismo. Recentemente, surgiram preocupações sobre as limitações desses estudos nesta perspectiva, o que fez com que essa visão fosse ampliada e que esses estudos também fossem examinados e analisados como fenômenos de aquisição trilíngue, aquisição de terceira língua, competência e performance dos falantes multilíngues (CENOZ; HUFEISEN; JESSNER, 2001; 2003).
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 4 Na área da aquisição de segunda língua (SLA), competênciaé designada como o conhecimento inconsciente que o falante tem da linguística, sociolinguística, e princípios comunicativos que lhe permitem a interpretação de uma língua em particular e tipicamente deduzida através de testes metalinguísticos. Seguindo as recentes evoluções na área da antropologia linguística, a performance, refere-se não somente à língua em uso, como também às construções criativas, uma vez que, o indivíduo recorre à criatividade tanto na aprendizagem de uma LE (língua estrangeira) como na aquisição da sua Língua Materna (LM). Finalmente, a proficiência, se refere em geral, ao nível de conquistas, feitos e realizações em uma língua em particular, em relação a habilidades como a escrita e a fala, que são medidos através de testes padrão (PAVLENKO, 2007). No que concerne à história e tradição da área do bilinguismo, neste trabalho o termo bilinguismoé designado como a àrea de pesquisa que examina tanto o bilinguismo, como o multilinguismo (BAKER, 2011; LUNA; RINGBERG; PERACCHIO, 2008; ROMAINE, 2001). Fenômenos estes, que se empenham em estudar e analisar a produção, o processo, desenvolvimento e compreensão de duas ou mais línguas. O bilinguismo é definido de diferentes modos de acordo com o contexto em que é inserido. Bloomfield (1933) e seu pensamento filiado à linguística estrutural, onde conceptualização é homogênea, define uma pessoa bilíngue como aquela que pode falar duas línguas com a mesma fluência de nativos, ou seja, o conhecimento e uso perfeito de uma ou mais línguas. Para Weinreich (1953), o bilinguismo seria o uso alternado de duas línguas. Já de acordo com Haugen (1953), o bilinguismo começaria com a habilidade de produzir sentenças completas e com sentido na segunda língua. E, finalmente, de acordo com Edwards (2004), as primeiras definições de bilinguismo se limitavam apenas a defini-lo como o uso perfeito de duas línguas diferentes. Contudo, as definições mais recentes permitem uma maior variação do que é a definição e do que sejam as competências do indivíduo bilíngue. Para Grosjean (1985) ser bilíngue não se resume a dois monolíngues em uma só pessoa. Na perspectiva da psicolinguística, o bilinguismo pode ser o conhecimento e uso de duas ou mais línguas, e a apresentação de informações em duas línguas ou dialetos diferentes no dia-a-dia (GROSJEAN, 2013). Segundo o autor, essa definição incluiria desde o imigrante que fala com dificuldade a língua do país que o acolheu (razões de sobrevivência e cidadania) até o intérprete profissional que é totalmente fluente nas duas línguas (razões profissionais e económicas). E assim compreende-se que, para além da diversidade entre os falantes, de modo geral, todos compartilham de algo em comum, todos utilizam duas ou mais línguas no cotidiano.
image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 5 Butler (2013) dividem o bilinguismo em três diferentes categorias, seguindo a tipologia inicialmente proposta por Weinreich (1953) em relação à organização de códigos linguísticos e unidades de significado na memória: o bilinguismo composto, coordenadoe subordinado. No bilinguismo composto são processados, simultaneamente, dois códigos linguísticos. Neste tipo de bilinguismo, os vocábulos “livro” e “book” possuem o mesmo conceito. Pode-se tomar por exemplo uma criança que adquire, ao mesmo tempo, duas línguas dada a exposição e input que tem a ambas, vivendo num ambiente bilíngue. No bilinguismo coordenado, os códigos linguísticos estão separados, cada qual com seu conjunto de unidades de significado. Assim, recorrendo ao exemplo anterior, “livro” e “book” têm unidades de significado distintas para uma criança em idade escolar que utiliza uma língua em casa e outra língua diferente em âmbito de aprendizagem formal/escolar, (WEINREICH, 1953). Quanto ao bilinguismo subordinado, os códigos linguísticos da segunda língua (L2) são interpretados pela filtragem através da primeira (L1), ou seja, o lexema “book” passaria por um processo de “tradução”. Seguindo a tipologia clássica do bilinguismo em relação à proficiência em duas línguas, proposta primeiramente por Peal e Lambert (1962), o bilinguismo encontra-se dividido em balanceadoe dominante. No bilinguismo balanceadoo falante apresenta proficiência, domínio e competências iguais tanto na sua L1 como na L2. No bilinguismo dominantea proficiência da L2 pode variar, mas não atinge o mesmo nível de domínio e competência da L1, ou seja, a L1 será a língua dominante. A questão sobre como o bilinguismo pode ser definido recebe atenção universal, é necessário compreender, antes de tudo, sua forma individual, psicológica, cultural e contexto social para que este seja interpretado. Justifica-se assim a existente colaboração de pesquisas em diversas áreas do saber como a antropologia, linguística, psicologia, neurociência, entre outras. O bilinguismo: Cultura e Identidade O biculturalismo ainda é um tópico pouco estudado dentro da vasta área do bilinguismo. Bilíngues biculturais, ou somente, biculturais são aqueles indivíduos que têm internalizadas duas diferentes culturas e são capazes de se comunicarem nas línguas associadas a essas culturas (LUNA; RINGBERG; PERACCHIO, 2008). Frequentemente nos deparamos com biculturais que alegam “sentir-se como uma pessoa diferente” quando falam línguas diferentes (LAFROMBOISE; COLEMAN; GERTON, 1993). Lembramos, portanto,
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 6 que o bilinguismo e o biculturalismo não são necessariamente, coexistentes e que é perfeitamente possível encontrarmos pessoas bilíngues que não são biculturais. Há também casos em que os imigrantes adquiriram uma segunda língua e aprenderam sobre a cultura do país que os acolheu, mantendo também as suas próprias línguas e cultura de origem. De acordo com Grosjean (2008), há um grande impacto sobre os bilíngues biculturais a nível pessoal (psicológico / cultural) e cognitivo, e no conhecimento e processamento da língua. Nguyen e Benet-Martinez (2007) caracterizam deste modo os indivíduos biculturais: 1. Tomam parte em diferentes níveis, de duas ou mais culturas; 2. Adaptam, ao menos em parte, suas atitudes, comportamentos, valores, linguagens, entre outros, para esta cultura; 3. Combinam e mesclam aspectos das culturas envolvidas. Alguns destes aspectos vêm de uma ou de outra cultura, enquanto outros são misturas dessas culturas. É comum dizer que os biculturais gerenciam e adaptam seu comportamento em determinadas situações onde a troca de língua é necessária, contudo, há uma errônea idealização de que a troca de línguas acarreta também a troca de personalidade. Se isso fosse possível, como seria com os monoculturais? Já que eles possuem somente uma cultura para se espelharem. Por outro lado, os biculturais são capazes de modificar seu comportamento e atitude de acordo com a ocasião ou contexto. Em suma, biculturais mudam a sua “base cultural” para melhor se adaptarem ao contexto cultural do ambiente em que estão. Logo, não é a língua que influencia essa mudança, mas sim as circunstâncias e o local. É fundamental ressaltar que a língua e a identidade possuem uma relação intrínseca, isto é, o ato de falar a língua pertencente a uma determinada comunidade, desperta no falante, um senso de pertença a ela. Bialystok (2009) afirma que os bilíngues estão ligados a mais de uma comunidade étinico-cultural pela língua. Em outras palavras, o falante bilíngue não está apenas ligado a duas línguas, ele está também ligado a dois sistemas distintos de sons e léxicos, envoltos por um complexo contexto sócio-político-cultural, e deve saber lidar não somente com questões linguísticas, mas também com a cultura de mais de uma comunidade. Um estudo anterior de Nunes e Akioma (2019), evidencia que mesmo de tenra idade é possível existir já, no indivíduo, uma ideia de pertença a uma nova cultura onde a criança vive e é educada. Na análise de um desenho pintado por Carla (nome fictício), uma criança de 6 anos de idade, caucasiana, é possível aferir, pelas cores escolhidas e explicações da criança que ela tem fortes ligações emocionais com a China, e o fato de usar a língua portuguesa em casa com seus pais, a língua chinesa para brincar com amigos do bairro, e a língua inglesa na escola, em nada interfere no grande carinho e respeito que sente pelo local onde cresceu. Carla é filha de pais brasileiros e foi no país deles que nasceu. Com perto de 1 ano de idade
image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 7 foi viver na China, numa cidade caraterizada por ter uma grande comunidade brasileira, perto de 3.000 pessoas, e de grande vínculo ao país de origem e suas tradições. Esta comunidade vive, inclusive, toda muito próxima. Todos os anos a família passa cerca de 2 meses no Brasil, daí que Carla conheça bem o seu país natal. Dentre várias atividades, num estudo sobre bilinguismo, foi pedido à criança que pintasse um desenho com cores à sua escolha e, no final, foi-lhe pedido que explicasse as cores utilizadas. Foi possível perceber que as cores escolhidas em muito estava relacionadas com os sentimentos da criança, denotando-se uma ligação emocional com a China. Assim, o vestido azul que lembra o mar da China é, provavelmente, a primeira reminiscência que tem do mar. O vermelho, que segundo ela, é muito usado na China, alude não só à bandeira da República Popular da China, mas também a todas as maiores festividades chinesas. Curioso, são as mãos amarelas que, aparentemente, seriam as dela, visto que a cor dos asiáticos, conforme a classificação dos grupos humanos em antropologia, é amarela. Há por parte da criança um profundo enraizamento na cultura e tradições chinesas, de salientar que Carla fala português, inglês e chinês. Figura 1– Pintura e respostas de Carla às perguntas feitas pelas autoras. Fontes: Nunes e Akioma (2019) Assim enfatiza Edwards (2004), quando afirma:“Beyond utilitarian and unemotional instrumentality, the heart of bilingualism is belonging”,isto é, muito mais do que o uso de um ou mais sistemas linguísticos, as questões mais importantes no bilinguismo são os motivos e fatores sociais e psicológicos envolvidos nesse processo. Para Pavlenko (2005),diferentes tipos de bilíngues se comportam de forma distinta, em contextos naturais e experimentais. Simultaneamente, bilíngues biculturais podem desenvolver representações diferentes daqueles que são considerados bilíngues sequenciais ou tardios; e entre os bilíngues tardios, falantes de uma língua estrangeira com uma exposição
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 8 mínima à língua alvo podem diferir dos falantes de L2 que socializam na língua alvo dentro da comunidade. Segundo a autora, os conceitos que influenciam a língua falada seriam: 1. Fatores individuaisque incluem as histórias de aprendizado da língua do falante, a dominância e proficiência da língua, o grau de biculturalismo e aculturação do indivíduo e a habilidade em dominar a questão; 2. Fatores interacionais que incluem o contexto da interação da língua, o estado linguístico do interlocutor (ex. Familiaridade com os falantes); 3. Fatores linguísticos e psicolinguísticos que incluem o grau da relação entre representações na língua em questão (em conceitos de comparação) e o grau no qual o conceito de uma língua pode ser expresso em outra e o valor semântico que veicula. Recentes investigações na área do bilinguísmo em relação ao desempenho de tarefas verbais e não-verbais em contextos naturais mostram que as representações conceituais podem ser transformadas em socialização na língua segunda, na fase adulta. Estes resultados são de extrema importância para estudar as implicações dos estudos do léxico mental bilíngue. Isso sugere que as representações conceituais (testes realizados com tarefas de nomes e reconhecimento) dos indivíduos bilíngues são um complexo e dinâmico fenômeno. Consequências do bilinguismo no desenvolvimento cognitivo Efeitos cognitivos positivos Sustentado por inúmeros estudos, o bilinguismo tem sido ligado ao desenvolvimento cognitivo de crianças e adultos revelando que ele possui vantagens e desvantagens, o que é, muitas vezes, a preocupação principal dos pais e dos educadores. Ellen Bialystok (2005) realizou estudos em crianças bilíngues e o desenvolvimento cognitivo, onde concluiu que o bilinguismo acelera o desenvolvimento das funções cognitivas em geral, relacionadas à atenção e inibição, sendo este um facilitador para o cumprimento e processamento de tarefas onde estas funções são necessárias. Lee e Kim (2011) observaram que os bilíngues possuem certas vantagens, e assim explica que quanto mais alto é o grau de competência linguística do falante bilíngue, mais criativo ele é. Num estudo realizado por Costa, Hernandez, e Sebastián-Gallés (2008), envolvendo jovens adultos (com uma média de 22 anos de idade) perceberam que os bilíngues tinham uma melhor performanceque os monolíngues em attentional network task (FAN et al., 2002). Os autores concluiram que “esses resultados mostram que o bilinguismo exerce influência na obtenção de eficientes mecanismos de atenção por jovens adultos que deveriam estar no auge de suas capacidades de atenção”.
image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 9 Os estudos realizados por Bialystok, Craik e Freedman (2007) sugerem que o bilinguismo pode proteger contra a doença de Alzheimer, uma doença que se agrava ao longo dos anos e consiste na perda das funções cognitivas. Para dar suporte a esta suposição, pesquisadores da área (DRISCOLL; TRONCOSO, 2011) começaram a considerar as noções de reserva cognitiva (RC) e após examinarem 184 estudos de caso e analisarem pacientes bilíngues e monolíngues com Alzheimer, observaram que os sintomas da doença nos bilíngues aparecem quatro anos mais tarde em comparação com os monolíngues. Um estudo mais recente realizado por Calabria et al. (2020) enfatiza que o bilinguismo pode contribuir para as reservas cognitivas contra doenças neurodegenerativas, e que o bilinguismo ativo pode ser o maior aliado para o atraso dos primeiros sintomas do Comprometimento Cognitivo Leve (CCL). Uma meta-análise contendo vinte e um estudos referentes ao bilinguismo e proteção contra o declínio cognitivo concluída por Anderson, Hawrylewicz e Grundy (2020) revelou evidências de um tamanho de efeito moderado em efeitos protetivos relativos à idade do aparecimento dos sintomas preliminares do Alzheimer, no entanto, foi constatada uma fraca evidência de que o bilinguismo de fato previna a ocorrência dessas disfunções neurodegenerativas. De qualquer forma, é importante salientar que, podendo o nosso cérebro ser comparado com um músculo ele, como qualquer outro, precisa ser treinado para se manter saudável. Hoje em dia, é cada vez mais comum encontrar indivíduos com mais de 65 anos a aprender novas línguas, artes e ofícios, havendo a noção de que o nosso cérebro precisa ser constantemente surpreendido e estimulado. Os estudos de Bialystok (2018) indicam que os falantes bilíngues experimentam diferentes “adaptações bilíngues” ao longo de suas vidas, como por exemplo: os bebês que crescem em um ambiente bilíngue desenvolvem diferentes estratégias de atenção; Já na infância, as crianças bilíngues são mais adeptas de tarefas baseadas em conflitos e por conta disso, podem ter um vocabulário reduzido em uma das línguas; nos jovens adultos, há mudanças consistentes nas propriedades estruturais e funcionais do cérebro; nos idosos, entende-se que são mais resilientes ao declínio cognitivo e sintomas de demência. Genesse (2010) recomenda que para alcançar totais benefícios cognitivos na instrução e letramento de um bilinguismo proficiente, todas as crianças deveriam ter acesso a uma educação bilíngue, a fim de prepará-las para a sociedade globalizada dos dias atuais. Os estudos acima mencionados defenderam uma correlação positiva entre o bilinguismo e a cognição, embora ainda encontremos alguma resistência e insegurança referentes à educação bilíngue. Portanto, é fundamental que mais pesquisas nesta área venham
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 10 apresentar evidências empíricas sobre os efeitos benéficos da educação bilíngue, não somente na cognição e tarefas linguísticas, como também os benefícios socioculturais e interacionais. Efeitos cognitivos desfavoráveis Estudos prévios da década de 1920 (eg., BERRY, 1922; GIARDINI; ROOT, 1923; JORDAN, 1921; RIGG, 1928), apontavam uma correlação negativa a respeito da relação entre o bilinguismo e a cognição. Provavelmente, este fato foi influenciado pela falta de rigor experimental e também pela visão sociopolítica anti-imigração que prevalecia nos Estados Unidos nessa época. Estes resultados desfavoráveis à cognição perduraram até aproximadamente a década de 60. Baker (2008) afirma que o resultado dominante da maioria dos estudos desse tempo era de que os bilíngues eram inferiores aos monolíngues, particularmente em termos de competência verbal. Esses estudos tinham em comum graves debilidades metodológicas e também estatísticas. Além do mais, os estudos desse período não levavam em consideração alguns fatores adicionais como indicadores socio-econômicos, situação escolar e aspectos emocionais (HOFFMANN, 1991:121). No que diz respeito aos indivíduos bilíngues, foram constatadas algumas evidências de desvantagens no domínio e produção de palavras em relação aos monolíngues. Por exemplo, os bilíngues são mais lentos ao falar os nomes das gravuras, em ambas as línguas, em comparação com os monolíngues (IVANOVA; COSTA, 2008). Estudos de Gollan, Montoya e Bonanni, 2005 e de Gollan et al., 2008 sugeriram que os bilíngues sofrem de uma grande dificuldade associada ao “rótulo” das palavras devido ao grande número de palavras presentes em ambas as línguas. Sendo assim, este crescente número de palavras leva a uma fraca conexão entre cada palavra e um conceito em particular. Esses efeitos não acontecem somente com bilíngues, mas também com monolíngues, porém a ocorrência nos últimos é menos frequente. Estudos focados em perceber a opinião dos pais sobre a criação de um filho bi/multilíngue, evidenciam a existência de alguma confusão o que deixa os pais apreensivos, temendo a perda de sua "língua materna", podendo assim, enfrentar dificuldades no desenvolvimento do senso de pertencimento a um grupo, e também, consequentes problemas de socialização de seus filhos. A tabela, retirada de Nunes e Akioma (2019), retrata as opiniões resumidas dos pais sobre os prós e contras da educação bilíngue infantil.
image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 11 Tabela 1– Vantagens e desvantagens do ensino bilíngue de acordo com os pais entrevistados no estudo Fontes: Nunes e Akioma (2019) Como se pode verificar pela tabela 1, os pais continuam preocupados com questões relacionados com a expressão de sentimentos, problemas de fluência e compreensão, perda da língua materna, dificuldades de socialização e integração e, ainda, atraso na linguagem. Ainda que possam perceber que uma criança-indivíduo bilíngue tenha maiores e melhores oportunidades de trabalho, que seja mais independente e acolha melhor diferentes culturas e pensamentos os pais não querem de modo algum perceber algum tipo de ‘atraso’ nos filhos. A preservação destas ideias não é ‘culpa’ exclusiva dos pais, uma vez que é ainda bastante comum encontrar professores, médicos, psicólogos e outros profissionais que aconselham os pais a não os criar como bilíngues uma vez que essa opção lhes pode trazer muitos problemas. Essas dificuldades explicadas aos pais como criadoras de grande confusão e cansaço mental, problemas de identidade, atraso na aquisição e desenvolvimento da linguagem da criança e, até causadoras de esquizofrenia (HUANG, 2017. p. 132) fazem com que, evidentemente, os pais queiram ‘proteger’ os filhos. É cada vez mais importante que estes mitos e concomitantes medos sejam desconstruídos, especialmente, tendo em conta o mundo globalizado em que vivemos e a necessidade de cidadãos bi ou multilingues ativos que consigam movimentar-se em qualquer ambiente cultural, social e, claro linguístico. As emoções e o bilinguismo De acordo com Scherer (2005), a emoção é um acontecimento em que existem várias mudanças que se encontram interligadas e que são a resposta do nosso organismo a um estímulo, podendo ser interno ou externo. Damásio (1996) explica a emoção como
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 12 Um processo avaliatório mental, simples ou complexo, com respostas disposicionais e esse processo, na sua maioria dirigidas ao corpo [...] resultando num estado emocional do corpo [...] dirigidas ao próprio cérebro (núcleos neurotransmissores no tronco cerebral), resultando em alterações mentais adicionais. Cada uma das emoções contempla uma família ou estados com ela relacionados. Muito embora o Ser Humano acredite conseguir controlar suas emoções, estas são muito mais “visíveis” do que se possa pensar, daí o desenvolvimento de várias subáreas do saber ligadas a linguística clínica, neurolinguística, psicolinguística e linguística forense. Começa-se a entender o indivíduo, desde tenra idade, pela forma como se expressa, escolhendo uma ou outra língua para expressar diferentes sentimentos ou emoções. Em suma, a emoção é uma mistura entre respostas psicológicas, cognitivas, fenômenos (biológicos, físicos e culturais) e comportamentos complexos, conforme Ortony e Turner (1990). Ainda que estudos relacionados ao papel das emoções no aprendizado de uma nova língua sejam limitados, pesquisadores da área enfatizam as questões entre a língua e as emoções, deixando carecer o caso da língua das emoções. Arsenian (1945) foi o primeiro a oferecer um estudo mais compreensível sobre o bilinguismo, no qual incluía também uma análise de valores afetivos. Weinreich (1953), em seu texto Languages in Contact,comenta que bilíngues podem ter uma diferente ligação emocional com suas línguas e que envolvimentos emocionais como a amizade, o romance, o orgulho de viver em um novo país cria laços afetivos que podem conflitar ou até mesmo substituir a língua mãe. Ele também enfatiza o fenômeno do empréstimo afetivo,isto é, o uso de categorias lexicais e gramaticais de uma língua para realçar a afetividade na outra língua. Para Fussell (2002) As emoções têm um papel crucial na vida tanto dos monolíngues como na dos bi-multilíngues. Compartilhar emoções durante interações pessoais ou através de comunicações escritas, é uma atividade social essencial, e é também uma habilidade que ajuda a nos manter fisicamente e mentalmente saudáveis. Estudos psicolinguísticos relacionados com o bilinguismo mostraram que os bilíngues experimentam uma distância emocional entre a primeira e a segunda língua. Javier e Marcos (1989) sugerem que o indivíduo ao trocar para a segunda língua, poderia representar uma tentativa de evitar condições de ansiedade. Outros estudos apontaram que a ansiedade pode ser provocada por razões emocionais. Entrevistas com bilíngues tardios feitas por Grosjean (1982) e estudos de caso com bilíngues tardios em terapia indicaram, para a grande maioria, que os envolvimentos pessoais são expressados na primeira língua e assuntos indiferentes, na
image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 13 segunda língua (AMATI-MEHLER; ARGENTIERI; CANESTRI, 1990. Destacamos, portanto, que é completamente compreensível que os bilíngues, especialmente aqueles que vivem em função de dois ou mais ambientes linguísticos, estejam conectados emocionalmente a essas comunidades linguísticas em níveis diferenciados. Em oposição aos argumentos anteriores, Aneta Pavlenko (2007), linguista e pesquisadora nascida na Ucrânia e radicada nos Estados Unidos da América, em seu livro Emotions and Multilingualism, declara que pensar na primeira língua (L1) como sendo a língua das emoções e tratar a segunda língua (L2) como uma língua indiferente é tornar simples demais a relação entre as línguas, emoções, e identidades no bi-multilinguismo. E que se assim fosse, a questão da língua do coração dos indivíduos bi-multilíngues seria erroneamente interpretada, porque não há uma referência única para este assunto e diferentes respostas podem surgir dependendo da própria interpretação da língua. Outro estudo de caso sobre o atrito da língua inglesa (L2) realizado por Tomiyama (1999) em uma criança japonesa de oito anos de idade, revelou que a criança perdia a confiança e a competência ao expressar sentimentos na L2, e que somente alternando para a L1 é que conseguia fazer declarações mais emocionais e afetivas. Deste modo, essas descobertas nos guiam para os fatores afetivos que causam impacto na alternância de códigos e a escolha da língua (language-choice). Estudos realizados por Akioma (2018), indicaram que as crianças da educação infantil em uma escola brasileira na China, já possuem suas preferências linguísticas ao se comunicarem em diferentes situações e contextos. Existem mesmo algumas crianças que, sendo falantes de língua materna portuguesa, chegam a confidenciar que não sabem brincar em Português, dado que o contexto mais lúdico com os amigos e colegas – dada a diversidade linguística – acontece em inglês. Educadores da escola brasileira afirmam que essa mistura e alternância de códigos se tornaram algo normal, fazendo parte do cotidiano dessas crianças desde tenra idade. Assim explica a secretária-geral Raquel, quando declara: “Sai todas as línguas (risos) saem as três línguas mais faladas aqui: o português, o inglês e o chinês. Uma hora eles estão falando em português, outra hora ... principalmente aqui na educação infantil, a gente observa muito quando eles estão brincando e eles começam a falar em inglês, assim... naturalmente! Para eles é natural isso [...] eles acabam assim, automaticamente, sem se darem conta […] alunos com mães chinesas brincam muito em chinês também”
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 14 Deste modo podemos observar que, enquanto ainda muito pequenos, é natural para eles a frequente mistura e/ou alternância de línguas, sem que haja qualquer impedimento à comunicação e inteligibilidade. Gradativamente, com o crescimento cognitivo e metalinguístico das crianças, a mistura de línguas vai diminuindo e o indivíduo se adapta à situação, contexto e interlocutor para melhor comunicar e expressar seus sentimentos. Considerações finais e sugestões para futuros estudos Nesta síntese, foram apresentadas definições referentes à vasta área do bilinguismo, abrangendo relevantes tópicos sobre o impacto do bilinguismo no desenvolvimento cognitivo, biculturalismo e identidade, adjuntamente com a concepção das emoções. O bilinguismo é um fenômeno ainda muito complexo que envolve inúmeros fatores internos e externos que ainda não foram discutidos detalhadamente, como no caso das funções executivas (atenção, controle inibitório e memória), a produção e percepção oral numa análise do desenvolvimento fonológico, leitura bilíngue, questão da identidade e senso de pertencimento, entre outras. Assim, salienta-se a importância de mais estudos relacionados ao bilinguismo, enfatizando que o que aqui descrevemos e apresentamos deve ser visto como uma análise generalizada. No entanto, este trabalho está solidamente embasado das mais clássicas às mais recentes bibliografias sobre o bilinguismo, apresentando exemplos e testemunhos que, de certo modo, nos podem permitir questionar ou mesmo derrubar muitas das dúvidas e receios que existem dentro do bi e multilinguismo que são, afinal, comuns nas sociedades contemporâneas. REFERÊNCIAS AKIOMA, M. A influência linguístico-cultural na aquisição de linguagem:Características do bi-multilinguismo em uma comunidade brasileira na China. 2018. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Faculdade de Artes e Humanidades, Universidade de Macau, Macau, 2018. AMATI-MEHLER, J.; ARGENTIERI, S.; CANESTRI, J. The Babel of the unconscious. International journal of Psycho-Analysis, v. 71, n. 4, p. 569-583, 1990. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/2074145/. Acesso em: 17 dez. 2020. ANDERSON, J. A. E.; HAWRYLEWICZ, K.; GRUNDY, J. G. Does bilingualism protect against dementia? A meta-analysis. Psychonomic Bulletin & Review, v. 27, n. 5, p. 952-965, 2020. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32462636/. Acesso em: 17 dez. 2020
image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 15 BAKER, C. Becoming bilingual through bilingual education. In:AUER, P.; WEI. L. (eds.). Handbook of multilingualism and multilingual communication. Berlim: De Gruyter, 2008. BAKER, C. Foundations of bilingual education and bilingualism. Reino Unido: Multilingual matters, 2011. BERRY, C. S. The classification by tests of intelligence of ten thousand first-grade pupils. The Journal of Educational Research, v. 6, n. 3, p. 185-203, 1922. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/27524713. Acesso em: 18 jan. 2021. BLOOMFIELD, L. Language. New York: Holt, 1933. BIALYSTOK, E. Consequences of bilingualism for cognitive development. In:KROLL, J. F.; DE GROOT, A. M. B. (eds.). Handbook of bilingualism:Psycholinguistic approaches. USA: Oxford University Press, 2005. BIALYSTOK, E.; CRAIK, F. I. M; FREEDMAN, M. Bilingualism as a protection against the onset of symptoms of dementia. Neuropsychologia, v. 45, n .2, p. 459-464, 2007. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17125807/. Acesso em: 14 out. 2020. BIALYSTOK, E. Bilingualism: The good, the bad, and the indifferent. Bilingualism:Language and cognition, v. 12, n. 1, p. 3-11, 2009. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/bilingualism-language-and-cognition/article/abs/bilingualism-the-good-the-bad-and-the-indifferent/36BAEB01D08C92D992254A6B89C22BB0. Acesso em: 14 mar. 2021. BIALYSTOK, E. Lifelong Bilingualism: Reshaping Mind and Brain. Chicago: AAAL, 2018. BUTLER, Y. G. Bilingualism/multilingualism and second-language acquisition. In: BHATIA, T. K.; RITCHIE, W. C. (eds.).The handbook of bilingualism and multilingualism. Hoboken: Blackwell Publishing, 2013. CALABRIA, M. et al. Active bilingualism delays the onset of mild cognitive impairment. Neuropsychologia, v. 146, 107528, 2020. Disponível em: https://pubmed-ncbi-nlm-nih-gov.translate.goog/32540266/. Acesso em: 14 fev. 2021. CENOZ, J.; HUFEISEN, B.; JESSNER, U. (eds.). Cross-linguistic influence in third language acquisition: Psycholinguistic perspectives. Reino Unido: Multilingual Matters, 2001. CENOZ, J.; HUFEISEN, B.; JESSNER, U. (eds.). The multilingual lexicon. Dordrecht: Kluwer Academic Publishers, 2003. COSTA, A.; HERNÁNDEZ, M.; SEBASTIÁN-GALLÉS, N. Bilingualism aids conflict resolution: Evidence from the ANT task. Cognition, v. 106, n. 1, p. 59-86, 2008. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17275801/. Acesso em: 02 nov. 2020 DAMÁSIO, A. O erro de descartes.São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
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image/svg+xmlA Criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 17 IVANOVA, I.; COSTA, A. Does bilingualism hamper lexical access in speech production? Acta psychologica, v. 127, n. 2, p. 277-288, 2008. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17662226/. Acesso em: 11 jun. 2021. JAVIER, R. A.; MARCOS, L. R. The role of stress on the language-independence and code-switching phenomena. Journal of psycholinguistic research, v. 18, n. 5, p. 449-472, 1989. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/17662226/. Acesso em: 10 fev. 2021. JORDAN, R. H. Nationality and School Progress: A Study in Americanization. Open Library: Public school publishing Company, 1921. Disponível em: https://openlibrary.org/works/OL13176084W/Nationality_and_School_Progress_A_Study_in_Americanization?edition=nationalityands00jordgoog. Acesso em: 17 abr. 2021. LAFROMBOISE, T.; COLEMAN, H. L. K; GERTON, J. Psychological impact of biculturalism: Evidence and theory. Psychological bulletin, v. 114, n. 3, p. 395-412, 1993. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/14925756_Psychological_Impact_of_Biculturalism_Evidence_and_Theory. Acesso em: 29 jan. 2021. LUNA, D.; RINGBERG, T.; PERACCHIO, L. A. One individual, two identities: Frame switching among biculturals. Journal of consumer research, v. 35, n. 2, p. 279-293, 2008. Disponível em: https://academic.oup.com/jcr/article-abstract/35/2/279/1806130?redirectedFrom=fulltext. Acesso em: 15 fev. 2021. NGUYEN, A. M. T. D.; BENET‐MARTÍNEZ, V. Biculturalism unpacked: Components, measurement, individual differences, and outcomes. Social and Personality Psychology Compass, v. 1, n. 1, p. 101-114, 2007. Disponível em: https://psycnet.apa.org/record/2008-07777-007. Acesso em: 04 mar. 2021. NUNES, A. M. B.; AKIOMA, M. Multicultural and linguistic contexts, mixing and switching languages: First approaches on Portuguese, English and Mandarin early speakers. In:INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON MONOLINGUAL AND BILINGUAL SPEECH 2019, Creta, Grécia. Anais […]. Creta, Grécia: International Symposium on Monolingual and Bilingual Speech, 2019. ORTONY, A.; TURNER, T. J. What's basic about basic emotions? Psychological review, v. 97, n. 3, p. 315-331, 1990. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/1669960/. Acesso em: 23 dez. 2020. PAVLENKO, A. Bilingualism and Thought. USA: Oxford University Press, 2005. PAVLENKO, A. Emotions and multilingualism. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. PEAL, E.; LAMBERT, W. E. The relation of bilingualism to intelligence. Psychological Monographs: general and applied, v. 76, n. 27, p. 1-23, 1962. Disponível em: https://psycnet.apa.org/record/2011-17952-001. Acesso em: 14 mar. 2021.
image/svg+xmlMiriam AKIOMA e Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 18 RIGG, M. Some further data on the language handicap. Journal of Educational Psychology, v. 19, n. 4, p. 252-256, 1928. Disponível em: https://psycnet.apa.org/record/1928-02625-001. Acesso em: 12 out. 2020. ROMAINE, S. Bilingualism. Hoboken: Blackwell Publishing, 2001. SHAFFER, D. R.; KIPP, K. Developmental psychology:Childhood and adolescence. Stamford, USA: Cengage Learning, 2010. TOMASELLO, M. Origins of human communication. Cambridge: MIT press, 2010. TOMIYAMA, M. The first stage of second language attrition:A case study of a Japanese returnee. Second language attrition in Japanese contexts, 1999. URIEL, W. Languages in contact.Findings and problems. Publications of the Linguistic Circle of New York, 1953. Como referenciar este artigo AKIOMA, M.; NUNES, A. M. B. A criança bi e multilíngue – Ultrapassando mitos e obstáculos: Uma breve síntese sobre o bilinguismo. Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529. DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250. Submetido em: 29/11/2021 Revisões requeridas em: 10/01/2022 Aprovado em: 20/02/2022 Publicado em:30/03/2022
image/svg+xmlThe bi-multilingual child – Overcoming miths and barriers: A brief overview of bilingualismRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 1 THE BI-MULTILINGUAL CHILD – OVERCOMING MITHS AND BARRIERS: A BRIEF OVERVIEW OF BILINGUALISM A CRIANÇA BI E MULTILÍNGUE – ULTRAPASSANDO MITOS E OBSTÁCULOS: UMA BREVE SÍNTESE SOBRE O BILINGUISMO EL NIÑO BI Y MULTILINGÜE – SUPERANDO MITOS Y OBSTÁCULOS: UNA BREVE SÍNTESIS SOBRE EL BILINGÜISMO Miriam AKIOMA1Ana Margarida Belém NUNES2ABSTRACT: The present study represents a literature review on the area of bilingualism, in which it is intended to highlight some natural characteristics of bi- or multilingual speakers. It also aims to describe this important phenomenon, which is often shrouded in myths, uncertainties and misunderstandings on the part of parents, as well as some health professionals and teachers. Following the evolutionary chronology studies on bilingualism and behavior are also described, the bilingual cognitive development, and their possible advantages and disadvantages. It also addresses the existing connections between bilingualism and emotion in both the linguistic-social and psychological scope. Initial results are presented in the scope of bi-multilingualism in children, focusing on aspects such as the feeling of belonging to a social group, language-choice, fears and uncertainties of parents regarding bilingual education. KEYWORDS: Bilingualism. Cognitive development. Bilingual behavior. Emotion. Identity. RESUMO: O presente estudo representa uma revisão de literatura sobre a área do bilinguismo, no qual se pretende evidenciar algumas caraterísticas naturais de falantes bilíngues ou multilíngues. Tem como objetivo também, descrever este importante fenômeno que, muitas vezes, está envolto por mitos, incertezas e equívocos tanto do lado dos pais, como de alguns profissionais da saúde e professores. Seguindo a cronologia da evolução dos estudos sobre o bilinguismo e comportamento, descrevem-se ainda desenvolvimento cognitivo bilíngue, e suas possíveis vantagens e desvantagens. Aborda também as conexões existentes entre o bilinguismo e a emoção tanto no escopo linguístico-social como psicológico. São apresentados resultados iniciais no âmbito do bi-multilinguismo em crianças focando-nos em aspectos como o sentimento de pertença a um grupo social, language-choice, e também receios e incertezas dos pais quanto à educação bilíngue. 1University of Macau (ONE), Taipa – Macau. PhD student and assistant researcher in Neurosciences at the Center from Sciences Cognitive and Brain scans of the Faculty of Health Sciences. Master's degree in Applied Linguistics from the Faculty of Arts and Humanities. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8653-131X. E-mail: miriam.akioma@gmail.com 2University of Macau (ONE), Taipa – Macau. Associate Professor, Department of Portuguese the Faculty of Arts and Humanities. PhD in Clinical Linguistics by the University of Aveiro, Portugal.ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6003-872X. E-mail: ananunes@um.edu.mo
image/svg+xmlMiriam AKIOMA and Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 2 PALAVRAS-CHAVE: Bilinguismo. Desenvolvimento cognitivo. Comportamento bilíngue. Emoção. Identidade. RESUMEN:El presente estudio representa una revisión de la literatura sobre el ámbito del bilingüismo, en la que se pretende destacar algunas características naturales de los hablantes bilingües o multilingües. Tiene como objetivo también, describir este importante fenómeno que, muchas veces está envuelto por mitos, incertidumbres e malentendidos tanto por parte de los padres, así como de algunos profesionales de la salud y profesores. Siguiendo la cronología evolutiva de los estudios sobre el bilingüismo y comportamiento se discriben etapas del desarrollo cognitivo bilingüe, y sus posibles ventajas y desventajas. También aborda las conexiones existentes entre bilingüismo y la emoción tanto en el ámbito lingüístico-social como psicológico. Los primeros resultados se presentan en el ámbito del bi-multilingüismo en los niños, centrándose en aspectos como el sentimiento de pertenencia a un grupo social, language-choice, los miedos e incertidumbres de los padres con respecto a la educación bilingüe. PALABRAS CLAVE:Bilingüismo. Desarrollo cognitivo. Comportamiento bilingue. Emoción. Identidad. Introduction We know that language, in its different forms, is the main instrument of communication used by man to interact with the world and, in particular, language is seen as a system of specific codes, recognized by a particular community of which it is a part. For Tomasello (2010, our translation) [...] Language, or rather linguistic communication, is not a type of object, formal or other, is a form of social action constituted by social conventions to achieve social purposes, based on at least some shared understandings and shared purposes between users. Hamers and Blanc (2000) claim that with globalization, migration of people increases and contact with new and different cultures is inevitable, resulting in a significant number of multicultural societies. These mixed communities lead to bi-multilingual families, whose children grow up and identify with more than one culture, and in many circumstances speak different languages to communicate with their own parents, who speak different languages. According to Shaffer and Kipp (2010) "the acquisition of language is clearly a holistic process intertwined with the cognitive and social development of the child and with the social and cultural life of the child". Bilingualism is already a common phenomenon in today's world and is not exclusive to, nor privilege, of any specific social class. Over time, one has been trying to understand not
image/svg+xmlThe bi-multilingual child – Overcoming miths and barriers: A brief overview of bilingualismRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 3 only the process itself, but also the cognitive effects that bilingualism can bring, as well as its positive or negative effects. In the work we propose here, the main objective is to highlight some of the possible influences of bilingualism, according to an interdisciplinary approach - psycholinguistic and sociolinguistic - in the manifestation and understanding of emotions, as well as, in some way, "demystify" the occurrences of code-switchingand code-mixing within this emotional and affective perspective. With regard to bilingual si, in the case of individual differences or even the very overview of this phenomenon that covers much of the world (as in the case of immigrants, refugees and those welcomed), studies related to bilingualism still lack a more consolidated basis and structure. There is a need, therefore, to bring more information to the population in order to clarify some thoughts and definitions, often mistaken. With the large number of families who have left their countries of origin, who today raise their children in countries of different languages and cultures, it is common for these parents to feel insecure and afraid about the education they should provide for their children. In these contexts, the various doubts and 'fears' related to bilingualism and cultural identity appear; acquisition and learning of languages, integration and membership of a particular social group. The reflection and some small observations presented here seek, in a succinct and objective way, to sustain relevant information based on empirical studies on the processing of language in bilingual and monolingual, the relationship of bilinguals with emotions in each language, and the consequences of bilingualism throughout life. Studies and definition of bilingualism Traditionally, the area of bilingualism investigates the competence and performance of speakers who communicate in two or more languages, from a perspective of the phenomenon of bilingualism itself. Recently, concerns arose about the limitations of these studies in this perspective, which made this view expanded and that these studies were also examined and analyzed as phenomena of trilingual acquisition, acquisition of third language, competence and performance of multilingual speakers (CENOZ; HUFEISEN; JESSNER, 2001; 2003). In the areaof second language acquisition (SLA), competenceis designated as the unconscious knowledge that the speaker has of linguistics, sociolinguistics, and communicative principles that allow him to interpret a particular language and typically deduced through metalinguistic tests. Following recent developments in the area of linguistic
image/svg+xmlMiriam AKIOMA and Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 4 anthropology, performance refersnot only to the language in use, but also to creative constructions, since the individual uses creativity both in learning a LE (foreign language) and in the acquisition of his Mother Tongue (LM). Finally, proficiency generally refers to the level of achievements in a particular language, concerning skills such as writing and speech, which are measured through standard tests (PAVLENKO, 2007). With regard to the history and tradition of bilingualism, in this work the termbilingualismis designated as the research area that examines both bilingualism and multilingualism (BAKER, 2011; LUNA; RINGBERG, 2014. PERACCHIO, 2008; ROMAINE, 2001). These phenomena, which strive to study and analyze the production, process, development and understanding of two or more languages. Bilingualism is defined in different ways according to the context in which it is inserted. Bloomfield (1933) and his thought affiliated with structural linguistics, where conceptualization is homogeneous, defines a bilingual person as one who can speak two languages with the same fluency as native speakers, that is, the knowledge and perfect use of one or more languages. For Weinreich (1953), bilingualism would be the alternating use of two languages. Already according to Haugen (1953), bilingualism would begin with the ability to produce complete sentences and with meaning in the second language. And finally, according to Edwards (2004), the first definitions of bilingualism were limited only to defining it as the perfect use of two different languages. However, the most recent definitions allow a greater variation of what is the definition and what are the skills of the bilingual individual. For Grosjean (1985) to be bilingual is not just two monolinguals in one person. From the perspective of psycholinguistics, bilingualism can be the knowledge and use of two or more languages, and the presentation of information in two different languages or dialects in everyday life (GROSJEAN, 2013). According to the author, this definition would include from the immigrant who speaks with difficulty the language of the country that welcomed him (reasons for survival and citizenship) to the professional interpreter who is fully fluent in both languages (professional and economic reasons). And so, it is understood that, in addition to the diversity among speakers, in general, everyone shares something in common, all use two or more languages in everyday life. Butler (2013) divide bilingualism into three different categories, following the typology initially proposed by Weinreich (1953) concerning the organization of linguistic codes and units of meaning in memory: compound, coordinated and subordinate bilingualism. In compound bilingualism, two language codes are processed simultaneously. In this type of
image/svg+xmlThe bi-multilingual child – Overcoming miths and barriers: A brief overview of bilingualismRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 5 bilingualism, the words "book" and "tome" have the same concept. One can take for example a child who acquires, at the same time, two languages given the exposure and input he has to both, living in a bilingual environment. In coordinated bilingualism, linguistic codes are separated, each with its set of units of meaning. Thus, using the previous example, "book" and " tome" have different units of meaning for a school-age child who uses a language at home and another language different in the context of formal/school learning, (WEINREICH, 1953). As for subordinate bilingualism, the linguistic codes of the second language (L2) are interpreted by filtering through the first (L1), i.e., the lexeme "book" would go through a process of "translation". Following the classical typology of bilingualism concerning proficiency in two languages, proposed first by Peal and Lambert (1962), bilingualism is divided into balanced anddominant. In balanced bilingualism, the speakerpresents proficiency, mastery and equal competencies in both L1 and L2. In the dominant bilingualism, l2 proficiency may vary, but it does not reach the same level of dominance and competence of L1, i.e., L1 will be the dominant language. The question of how bilingualism can be defined receives universal attention, it is necessary to understand, first of all, its individual, psychological, cultural and social context for it to be interpreted. Thus, the existing collaboration of research in various areas of knowledge such as anthropology, linguistics, psychology, neuroscience, among others is justified. Bilingualism: Culture and Identity Biculturalism is still a little studied topic within the vast area of bilingualism. Bilingual bicultural, or only, bicultural are those individuals who have internalized two different cultures and are able to communicate in the languages associated with these cultures (LUNA; RINGBERG, 2014. PERACCHIO, 2008). We often come up with bicultural who claim to "feel like a different person" when speaking different languages (LAFROMBOISE; COLEMAN; GERTON, 1993). We remind, therefore, that bilingualism and biculturalism are not necessarily coexisting and that it is quite possible to find bilingual people who are not bicultural. There are also cases where immigrants have acquired a second language and learned about the culture of the country that welcomed them, while also maintaining their own languages and culture of origin.
image/svg+xmlMiriam AKIOMA and Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 6 According to Grosjean (2008), there is a great impact on bilingual bicultural at the personal (psychological/cultural) and cognitive level, and on the knowledge and processing of the language. Nguyen and Benet-Martinez (2007) thus characterize bicultural individuals: 1. Take part in different levels of two or more cultures; 2. Adapt, at least in part, their attitudes, behaviors, values, languages, among others, to this culture; 3. Combine and blend aspects of the cultures involved. Some of these aspects come from one or the other culture, while others are mixtures of these cultures. It is common to say that bicultural people manage and adapt their behavior in certain situations where language exchange is necessary, however, there is an erroneous idealization that language exchange also entails the exchange of personality. If that were possible, what would it be like with monocultural son? Since they have only one culture to mirror. On the other hand, bicultural subjects are able to modify their behavior and attitude according to the occasion or context. In slight, bicultural change their "cultural base" to better adapt to the cultural context of the environment in which they are. Therefore, it is not the language that influences this change, but the circumstances and the place. It is essential to emphasize that language and identity have an intrinsic relationship, that is, the act of speaking the language belonging to a given community, awakens in the speaker, a sense of belonging to it. Bialystok (2009) states that bilinguals are linked to more than one ethnic-cultural community by language. In other words, the bilingual speaker is not only connected to two languages, he is also connected to two distinct systems of sounds and lexicons, surrounded by a complex socio-political-cultural context, and must know how to deal not only with linguistic issues, but also with the culture of more than one community. A previous study by Nunes and Akioma (2019) shows that even at a young age it is possible to exist already, in the individual, an idea of belonging to a new culture where the child lives and is educated. In the analysis of a drawing painted by Carla (fictitious name), a 6-year-old Caucasian child can measure, by the chosen colors and explanations of the child that she has strong emotional connections with China, and the fact of using the Portuguese language at home with her parents, the Chinese language to play with friends in the neighborhood, and the English language at school, in no way interferes with the great affection and respect you feel for the place where you grew up. Carla is the daughter of Brazilian parents and it was in their country that she was born. With close to 1 year old he went to live in China, in a city characteristic of having a large Brazilian community, close to 3,000 people, and of great connection to the country of origin and its traditions. This community lives, even, very close. Every year the family spends about 2 months in Brazil, so
image/svg+xmlThe bi-multilingual child – Overcoming miths and barriers: A brief overview of bilingualismRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 7 Carla knows her home country well. Among several activities, in a study on bilingualism, the child was asked to paint a color drawing of his choice and, in the end, he was asked to explain the colors used. It was possible to notice that the colors chosen in much were related to the feelings of the child, denoting an emotional connection with China. Thus, the blue dress reminiscent of the China Sea is probably the first reminiscence it has of the sea. Red, which she says is widely used in China, alludes not only to the flag of the People's Republic of China, but also to all major Chinese festivities. Curious, it is the yellow hands that, apparently, would be hers, since the color of Asians, according to the classification of human groups in anthropology, is yellow. There is a deep rooted in Chinese culture and traditions on the part of the child, to point out that Carla speaks Portuguese, English and Chinese. Figure 1- Carla's painting and answers to the questions asked by the authors. Source: Nunes e Akioma (2019) Edwards (2004) emphasizes, when he states:"Beyond utilitarian and unemotional instrumentality, the heart of bilingualism is belonging", that is, much more than the use of one or more language systems, the most important issues in bilingualism are the reasons and social and psychological factors involved in this process. For Pavlenko (2005), different types of bilinguals behave differently, in natural and experimental contexts. At the same time, bilingual bicultural scans may develop different representations from those that are considered sequential or late bilingual; and among late bilinguals, speakers of a foreign language with minimal exposure to the target language may differ from L2 speakers who socialize in the target language within the community. According to the author, the concepts that influence the spoken language would be: 1. Individual factors that include the learning histories of the speaker's language, the dominance
image/svg+xmlMiriam AKIOMA and Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 8 and proficiency of the language, the degree of biculturalism and acculturation of the individual and the ability to master the issue; 2. Interactional factors that include thecontext of language interaction, the linguistic state of the interlocutor (e.g. Familiarity with speakers); 3. Linguistic and psycholinguistic factors that include the degree of the relationship between representations in the language in question (in concepts of comparison) and the degree to which the concept of one language can be expressed in another and the semantic value it conveys. Recent investigations in the area of bilingualism concerning the performance of verbal and non-verbal tasks in natural contexts show that conceptual representations can be transformed into socialization in the second language, in adulthood. These results are extremely important to study the implications of bilingual mental lexicon studies. This suggests that the conceptual representations (tests performed with name and recognition tasks) of bilingual individuals are a complex and dynamic phenomenon. Consequences of bilingualism on cognitive development Positive cognitive effects Supported by numerous studies, bilingualism has been linked to the cognitive development of children and adults revealing that it has advantages and disadvantages, which is often the main concern of parents and educators. Ellen Bialystok (2005) conducted studies in bilingual children and cognitive development, where she concluded that bilingualism accelerates the development of cognitive functions in general, related to attention and inhibition, which is a facilitator for the fulfillment and processing of tasks where these functions are necessary. Lee and Kim (2011) observed that bilinguals have certain advantages, and thus explains that the higher the degree of linguistic competence of the bilingual speaker, the more creative it is. In a study conducted by Costa, Hernandez, and Sebastián-Gallés (2008), involving young adults (with an average of 22 years of age) they realized that bilinguals performed better thanmonolinguals in attentional network task(ANA et al., 2002). The authors concluded that "these results show that bilingualism influences the achievement of efficient care mechanisms for young adults who should be at the peak of their attention capacities". Studies by Bialystok, Craik and Freedman (2007) suggest that bilingualism can protect against Alzheimer's disease, a disease that worsens over the years and consists of the loss of cognitive functions. To support this assumption, researchers in the field (DRISCOLL;
image/svg+xmlThe bi-multilingual child – Overcoming miths and barriers: A brief overview of bilingualismRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 9 TRONCOSO, 2011) began to consider the cognitive reserve (CR) views andafter examining 184 case studies and analyzing bilingual and monolingual patients with Alzheimer's, observed that the symptoms of the disease in bilinguals appear four years later compared to monolingual patients. A more recent study conducted by Calabria et al. (2020) emphasizes that bilingualism can contribute to cognitive reserves against neurodegenerative diseases, and that active bilingualism may be the greatest ally for the delay of the first symptoms of Mild Cognitive Impairment (CLC). A meta-analysis containing twenty-one studies on bilingualism and protection against cognitive decline completed by Anderson, Hawrylewicz and Grundy (2020) revealed evidence of a moderate effect size in age-related protective effects of the onset of primary Alzheimer's symptoms, however, weak evidence was found that bilingualism actually prevents the occurrence of these neurodegenerative dysfunctions. Anyway, it is important to point out that, and our brain can be compared to a muscle it, like any other, needs to be trained to stay healthy. Nowadays, it is increasingly common to find individuals over 65 to learn new languages, arts and crafts, and there is a notion that our brain needs to be constantly surprised and stimulated. Bialystok studies (2018) indicate that bilingual speakers experience different "bilingual adaptations" throughout their lives, such as: babies who grow up in a bilingual environment develop different care strategies; In childhood, bilingual children are more adept at conflict-based tasks and because of this, they may have a reduced vocabulary in one of the languages; in young adults, there are consistent changes in the structural and functional properties of the brain; in the elderly, they are understood to be more resilient to cognitive decline and symptoms of dementia. Genesse (2010) recommends that in order to achieve full cognitive benefits in the education and literacy of a proficient bilingualism, all children should have access to bilingual education in order to prepare them for today's globalized society. The above-mentioned studies advocated a positive correlation between bilingualism and cognition, although we still encounter some resistance and insecurity regarding bilingual education. Therefore, it is essential that more research in this area presents empirical evidence on the beneficial effects of bilingual education, not only on cognition and linguistic tasks, but also the sociocultural and interactional benefits.
image/svg+xmlMiriam AKIOMA and Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 10 Unfavorable cognitive effects Previous studies of the 1920s (e.g., BERRY, 1922; GIARDINI; ROOT, 1923; JORDAN, 1921; RIGG, 1928), pointed out a negative correlation regarding the relationship between bilingualism and cognition. Probably, this fact was influenced by the lack of experimental rigor and also by the sociopolitical anti-immigration view that prevailed in the United States at that time. These unfavorable results to cognition lasted until approximately the 1960s. Baker (2008) states that the dominant result of most studies of this time was that bilinguals were inferior to monolingual, particularly in terms of verbal competence. These studies had in common serious methodological weaknesses and also statistics. Moreover, the studies of this period did not take into account some additional factors such as socio-economic indicators, school situation and emotional aspects (HOFFMANN, 1991, p. 121). With regard to bilingual individuals, some evidence of disadvantages in the domain and production of words concerning monolingual individuals was found. For example, bilinguals are slower at speaking the names of the engravings in both languages compared to the monolingual ones (IVANOVA; COAST, 2008). Studies by Gollan, Montoya and Bonanni (2005) and Gollanet al(2008) suggested that bilinguals suffer from a great difficulty associated with the "label" of words due to the large number of words present in both languages. Thus, this growing number of words leads to a weak connection between each word and a particular concept. These effects do not only happen with bilinguals, but also with monolinguals, but the occurrence in the latter is less frequent. Studies focused on perceiving the opinion of parents about the creation of a bi/multilingual child, show the existence of some confusion that makes parents apprehensive, fearing the loss of their "mother tongue", thus facing difficulties in developing the sense of belonging to a group, and also are, consequent problems of socialization of their children. The table, taken by Nunes and Akioma (2019), portrays the summarized opinions of parents on the pros and cons of bilingual early childhood education.
image/svg+xmlThe bi-multilingual child – Overcoming miths and barriers: A brief overview of bilingualismRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 11 Table 1- Advantages and disadvantages of bilingual education according to the parents interviewed in the study Source: Nunes e Akioma (2019) As can be seen from Table 1, parents remain concerned with issues related to feelings expression, fluency and comprehension problems, loss of mother tongue, difficulties in socialization and integration, and also language delay. Although they may realize that a bilingual child-individual has greater and better job opportunities, that it is more independent and better welcome different cultures and thoughts parents do not want in any way to perceive some kind of 'delay' in their children. The preservation of these ideas is not the exclusive 'fault' of parents, since it is still quite common to find teachers, doctors, psychologists and other professionals who advise parents not to raise them as bilingual, since this option can bring them many problems. These difficulties explained to parents as creators of great confusion and mental fatigue, identity problems, delay in the acquisition and development of the child's language and, even causes schizophrenia (HUANG, 2017. p. 132) make parents obviously want to 'protect' their children. It is increasingly important that these myths and concomitant fears be deconstructed, especially in view of the globalized world in which we live and the need for bi or multilingual active citizens who can move in any cultural, social and, of course linguistic environment. Emotions and bilingualism According to Scherer (2005), emotion is an event in which there are several changes that are interconnected and that are our body's response to a stimulus, which can be internal or external. Damásio (1996, our translation) explains emotion as A mental evaluation process, simple or complex, with dispositional responses and this process, mostly directed to the body [...] resulting in an emotional state of the body [...] directed to the brain itself (neurotransmitter nuclei in the brain stem), resulting in additional mental changes.
image/svg+xmlMiriam AKIOMA and Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 12 Each of the emotions contemplates a family or related states. Although the Human Being believes that he can control his emotions, they are much more "visible" than one might think, hence the development of several subareas of knowledge linked to clinical linguistics, neurolinguistics, psycholinguistics and forensic linguistics. One begins to understand the individual, from an early age, by the way he expresses himself, choosing one or another language to express different feelings or emotions. In short, emotion is a mixture between psychological, cognitive, phenomena (biological, physical and cultural) and complex behaviors, according to Ortony and Turner (1990). Although studies related to the role of emotions in learning a new language are limited, researchers in the area emphasize the issues between language and emotions, leaving the case of the language of emotions missing. Arsenian (1945) was the first to offer a more understandable study on bilingualism, which also included an analysis of affective values. Weinreich (1953), in his textLanguages in Contact,comments that bilinguals may have a different emotional connection with their languages and that emotional involvements such as friendship, romance, pride of living in a new country create sittees that can conflict or even replace the mother tongue. It also emphasizes the phenomenon of affective lending,that is, the use of lexical and grammatical categories of one language to enhance affectivity in the other language. For Fussell (2002), emotions play a crucial role in the lives of both monolingual and bi-multilingual. Sharing emotions during personal interactions or through written communications is an essential social activity, and is also a skill that helps keep us physically and mentally healthy. Psycholinguistic studies related to bilingualism showed that bilinguals experience an emotional distance between the first and second languages. Javier and Marcos (1989) suggest that the individual when switching to the second language could represent an attempt to avoid anxiety conditions. Other studies have pointed out that anxiety can be caused by emotional reasons. Interviews with late bilinguals by Grosjean (1982) and case studies with late bilinguals in therapy indicated, for the vast majority, that personal involvements are expressed in the first language and indifferent subjects, in the second language (AMATI-MEHLER; ARGENTIERI; CANESTRI, 1990). We highlight, therefore, that it is completely understandable that bilinguals, especially those who live in function of two or more linguistic environments, are emotionally connected to these linguistic communities at different levels.
image/svg+xmlThe bi-multilingual child – Overcoming miths and barriers: A brief overview of bilingualismRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 13 As opposed to previous arguments, Aneta Pavlenko (2007), a linguist and researcher born in Ukraine and based in the United States of America, in her book Emotions and Multilingualism, declares that thinking of the first language (L1) as the language of emotions and treating the second language (L2) as an indifferent language is to make the relationship between languages too simple, emotions, and identities in bi-multilingualism. And that if so, the question of the language of the heart of bi-multilingual individuals would be misinterpreted, because there is no single reference to this subject and different answers may arise depending on the very interpretation of the language. Another case study on the friction of the English language (L2) conducted by Tomiyama (1999) in an eight-year-old Japanese child revealed that the child lost confidence and competence when expressing feelings in L2, and that only alternating to L1 could he make more emotional and affective statements. Thus, these findings guide us to the affective factors that impact code switching and language-choice. Studies conducted by Akioma (2018) indicated that children of early childhood education in a Brazilian school in China already have their language preferences when communicating in different situations and contexts. There are even some children who, being speakers of Portuguese mother tongue, even confide that they do not know how to play in Portuguese, given that the most playful context with friends and colleagues – given the linguistic diversity – happens in English. Educators of the Brazilian school claim that this mixture and alternation of codes have become something normal, being part of the daily life of these children from an early age. Thus explains the Secretary General Raquel, when she declares: "All languages (laughs) come out the three most spoken languages here: Portuguese, English and Chinese. One hour they're talking Portuguese, another time... especially here in early childhood education, we watch a lot when they are playing and they start speaking in English, so... naturally! For them it is natural that [...] they end up like this, automatically, without even noting [...] students with Chinese mothers play a lot in Chinese too"(Our translation)Thus, we can observe that, while still very small, it is natural for them to frequently mix and/or alternate languages, without any impediment to communication and intelligibility. Gradually, with the cognitive and metalinguistic growth of children, the mixture of languages
image/svg+xmlMiriam AKIOMA and Ana Margarida Belém NUNESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022043, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://www.doi.org/10.29051/el.v8i00.15250 14 decreases and the individual adapts to the situation, context and interlocutor to better communicate and express their feelings. Final considerations and suggestions for future studies In this synthesis, definitions were presented regarding the vast area of bilingualism, covering relevant topics on the impact of bilingualism on cognitive development, biculturalism and identity, along with the conception of emotions. Bilingualism is a still very complex phenomenon that involves numerous internal and external factors that have not yet been discussed in detail, as in the case of executive functions (attention, inhibitory control and memory), the production and oral perception in an analysis of phonological development, bilingual reading, question of identity and sense of belonging, among others. Thus, we emphasize the importance of further studies related to bilingualism, emphasizing that what we describe and present here should be seen as a generalized analysis. However, this work is solidly based on the most classical to the most recent bibliographies on bilingualism, presenting examples and testimonies that, in a way, may allow us to question or even overturn many of the doubts and fears that exist within bi and multilingualism that are, after all, common in contemporary societies. REFERENCES AKIOMA, M. A influência linguístico-cultural na aquisição de linguagem:Características do bi-multilinguismo em uma comunidade brasileira na China. 2018. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Faculdade de Artes e Humanidades, Universidade de Macau, Macau, 2018. AMATI-MEHLER, J.; ARGENTIERI, S.; CANESTRI, J. The Babel of the unconscious. International journal of Psycho-Analysis, v. 71, n. 4, p. 569-583, 1990. Available: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/2074145/. Access: 17 Dec. 2020. ANDERSON, J. A. E.; HAWRYLEWICZ, K.; GRUNDY, J. G. Does bilingualism protect against dementia? A meta-analysis. Psychonomic Bulletin & Review, v. 27, n. 5, p. 952-965, 2020. Available: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32462636/. Access: 17 Dec. 2020 BAKER, C. Becoming bilingual through bilingual education. In:AUER, P.; WEI. L. (eds.). Handbook of multilingualism and multilingual communication. Berlim: De Gruyter, 2008. BAKER, C. Foundations of bilingual education and bilingualism. Reino Unido: Multilingual matters, 2011.
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