REFLEXIONES SOBRE LA CONCORDANCIA DE NÚMEROS EN SINTAGMAS NOMINALES COMPLEJOS (SNs) EN ANGOLA PORTUGUESA (PA)
REFLEXIONS ON NUMBER CONCORDANCE IN COMPLEX NOMINAL SYNTAGMS (SNs) IN ANGOLA PORTUGUESE (PA)
Hermenegildo Kâmbua da Costa PINTO1 Jeremias Dandula PESSELA2
RESUMEN: En este trabajo se pretende describir el fenómeno de la concordancia numérica en frases nominales complejas (SNs) que tienen la función sintáctica de objeto directo de la oración, en estudiantes angoleños, bilingües con L1 portugués y L2 bantú, o viceversa. También pretendemos evaluar el tratamiento dado al fenómeno de la concordancia en el SN, desde el punto de vista de la enseñanza y el aprendizaje. El estudio se basa en las teorías de la variación lingüística y de la enseñanza del aprendizaje de lenguas, ya que ofrecen explicaciones sobre la aparición de desviaciones en la adquisición de lenguas no nativas. El tipo de investigación es mixto. Los datos analizados indican que los alumnos angoleños
1 Escola Superior Pedagógica do Bié (ESP-Bié), Cuíto – Angola. Docente de Língua Portuguesa no Departamento de Ciências da Educação. Doutorado em Linguística (UEVORA) – Portugal. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9936-4482. E-mail: hermenetina@gmail.com
2 Escola Superior Pedagógica do Bié (ESP-Bié), Cuíto – Angola. Docente de Língua Inglesa e Portuguesa no Departamento de Ciências da Educação. Mestrado em Linguística Geral e Portuguesa (UP-PORTUGAL) – Portugal e Doutorando em Ciências da Linguagem (UP-PORTUGAL) – Portugal. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0027-0946. E-mail: jeremiaspessela@yahoo.com.br
utilizan un mecanismo de concordancia mixto en los SN que tienen a su izquierda palabras centrales de categorías funcionales como artículos definidos, numerales y cuantificadores. En estos casos, el plural se marca en estos elementos y no en el sustantivo. Además, el hecho de que los documentos normativos sobre el proceso de enseñanza y aprendizaje del portugués no consideren aspectos del contacto del portugués con las lenguas bantúes habladas en Angola dificulta la correcta apropiación de los mecanismos de acuerdo.
ABSTRACT: This paper aims to describe the phenomenon of number agreement in complex DPs that perform the syntactic function of the direct object of the sentence, in Angolan students, bilingual with Portuguese L1 and Bantu L2, or vice versa. We also intend to evaluate the treatment given to the phenomenon of concordance in the DPs, from the point of view of teaching and learning. The study is based on linguistic variation and language learning teaching theories, as they offer explanations for the occurrence of deviations in the acquisition of non-native languages. The search type is mixed. The published data indicate that Angolan students use a mixed agreement mechanism in DPs that have to their left core words of categories defined as definite articles, numerals and quantifiers. In these cases, the plural is marked as elements and not in the name. Furthermore, the fact that in the normative documents of the process of teaching and learning of Portuguese does not consider aspects of the contact of Portuguese with the Bantu languages spoken in Angola, difficulty in correctly appropriating agreement mechanisms.
KEYWORDS: Grammatical number. Nominal agreement in AP. Teaching Portuguese.
No processo de ensino e aprendizagem do Português em Angola, um dos pontos nefrálgicos é o ensino da concordância de número no Sintagma Nominal (SN). Apesar de o Português ser a língua oficial do país (cf. art. 19 da CR3) estão presentes outras línguas, com destaque para as línguas de origem bantu. As dificuldades em estabelecer a concordância de número no SN exacerbam-se quando este é constituído por elementos que são núcleos de categorias funcionais, tal como determinantes, numerais e quantificadores. Partindo do princípio, segundo o qual as línguas bantu são línguas sem artigos, e muitos falantes são expostos a inputs pouco robustos da norma do Português Europeu (PE) (ZAU, 2011), as dificuldades em manter todos os mecanismos de concordância em SNs constituídos por determinantes, numerais e quantificadores tendem a ser mais difíceis, o que, a partida, levanta um grande desafio, quer para os alunos quer para os professores. No PA, predomina uma estratégia variável na marcação do número gramatical. Vários autores como Inverno (2009),
3 Constituição da república.
Adriano (2014), Marques (1983) consideram que na marcação do plural nos elementos do SN, em falantes do PA, é recorrente a não marcação do plural no nome (N) por influência de línguas de substrato bantu, pelo que, segundo Pessela (2020, p. 39):
A ausência da marcação do plural no N justifica-se pelo contacto do português com as línguas bantu faladas em Angola. Tudo indica que os falantes do PA, ao adquirirem o português, interpretam os nomes como invariáveis, e consideram os determinantes (artigos) como equivalentes dos prefixos nominais das línguas bantu.
Neste trabalho, procuramos descrever o fenômeno da concordância de número em SNs complexos constituídos por: (i)Art. def. [+ pl] + N [- pl]: (Artigo Definido [+ plural] + Nome [- plural]); (ii)Art. def. [- pl] + Poss. [+ pl] + N [- pl]: (Artigo definido [- plural] + Possessivo [+ plural] + Nome [- plural]); (iii) Num. + N [- pl]: Numeral + Nome [- plural]; (iv) Quant.+ N [- pl]: Quantificador + Nome [- pl]. Assim, objetivamos avaliar as tendências mais comuns de marcação da concordância de número nos SNs complexos, que desempenham a função sintática de objeto direto da frase, em estudantes angolanos, bilíngues com L1 português e L2 bantu, ou vice-versa. Pretendemos avaliar também o tratamento dado ao fenômeno da concordância variável no SN no PA do ponto de vista do ensino e aprendizagem. Para o efeito, analisamos os principais documentos orientadores do referido processo, nomeadamente os programas e os manuais de Português da 6ª e 10ª classes, bem como do 1º e 2º ano do ensino superior de formação de professores. O trabalho está constituído por uma introdução, revisão bibliográfica, apresentação dos dados e sua discussão, considerações finais e referências bibliográficas.
A concordância de número no SN é a relação que se estabelece entre o Nome e os seus especificadores e modificadores (determinantes, quantificadores e adjetivos) que constituem o SN, é feita em número (plural ou singular). O número gramatical é considerado um dos universais linguísticos na lista de Greenberg (1963). Todas as línguas do mundo marcam o número. Contudo, as línguas possuem mecanismos diferentes da marcação do número gramatical, podendo ser pelo uso de desinências, prefixos nominais, entre outros, conforme os exemplos seguintes.
(1)
Os gatos brancos são lindos. (PE)
Os aluno são inteligente. (PA)
The books are green. (ING)
Olongato vykusuka vyafina4. (umbundo)
Apresentados os exemplos anteriores notamos que há uma provável relação no mecanismo de concordância de número no SN das frases (b) e (d), pois há autores que defendem que os falantes do PA fazem uma transferência de substrato gramatical das línguas bantu. A concordância nessas línguas é feita através da junção ao Nome de prefixos que são comutados para os outros constituintes do SN. Em alguns casos, há uma forma para substantivos e adjetivos, e uma segunda forma para possessivos e demonstrativos, geralmente marcadores de objetos e outras categorias menores (KATAMBA, 2003, p. 103). No entanto, diferente do PE, que tem um mecanismo de concordância múltiplo (cf. ex. a) o no PA nota-se uma tendência em marcar apenas para o plural o elemento mais à esquerda do SN, normalmente um artigo, um numeral ou outro elemento de uma categoria da classe dos determinantes e quantificadores, sendo defendido por vários autores como sendo produto do contato entre o português e as línguas locais de origem bantu.
Os dados da presente pesquisa foram obtidos através da aplicação de uma entrevista de natureza semiaberta e da análise documental dos programas e manuais de Português da 6ª, 10ª e 11ª classes e do 1º e 2º ano do ensino universitário. A escolha da entrevista foi devido ao que defende Gonçalvez (2013). Segundo a autora:
Os estudos atualmente disponíveis sobre o PA apresentam breves listas de alguns traços mais salientes da sua gramática ou se referem a uma subvariedade particular. Por outro lado, nos casos em que são apresentadas descrições do PA de alcance mais geral, a base empírica é constituída por textos literários, que dificilmente podem ser considerados representativos da gramática da língua oral, tal como foi fixada pela comunidade de falantes desta língua (GONÇALVEZ, 2013, p. 162).
Participaram da entrevista noventa e cinco (95) informantes, sendo quarenta e oito do ensino primário, trinta e dois do ensino secundário, e quinze do ensino superior. Todos os informantes são residentes do município do Cuito, província do Bié. Os informantes têm idade variável entre os dez e doze anos para os do ensino primário, treze a dezesseis anos para os do ensino secundário e dezessete a trinta e seis anos para os do ensino superior. Todos os
4 Os gatos brancos são lindos.
informantes são bilingues, e têm o Português como L1 para uma minoria e L2 para a maioria. Para melhor compreensão, os dados são detalhados na tabela (1) que se segue.
Fonte: Pessela (2020, p. 63)
Para a quantificação e a organização dos dados utilizámos o software SPSSl. O programa possibilitou-nos fazer os cálculos e o cruzamento das variáveis linguísticas (função sintática, estrutura do SN, presenças da marca de plural e ausência da marca do plural) com as variáveis sociais idade, língua materna, nível de escolaridade e zona de residência dos informantes. Com o objetivo de compreender se a função de objeto direto tem alguma influência na falta de marcação da concordância de número nos SNs, recolhemos vários exemplos produzidos nas entrevistas. Encontramos quatro tipos de SNs com problemas de marcação de plural nesta função sintática:
Art. def. [+ pl] + N [- pl]
Art. def. [- pl] + Poss. [+ pl] + N [- pl]
Num. + N [- pl]
Quant.+ N [- pl]
Em (2) ilustramos algumas das ocorrências encontradas.
(2) (exemplos extraídos de PESSELA, 2021, p. 54)
a) ... lavar os prato.
b) Depois... terminar os meus estudo.
c) Tenho nove disciplina.
d) Tenho muitos livro.
Os resultados totais estão condensados na tabela seguinte:
Fonte: Pessela (2020, p. 84)
Como a tabela 2 mostra, os SNs com a concordância de número divergente da norma do PE com a função sintática de objeto direto tiveram uma ocorrência total de 170 SNs, em 287, correspondendo a 59,2%. Quanto à sua estrutura destacamos:
Nos SNs constituídos por Artigo definido [+ pl] + Nome [- pl], com a função sintática de objeto direto, conforme o exemplo em (2a), encontramos 18 ocorrências (10,5 %) de um total de 170.
Relacionando a ocorrência com a variável sociolinguística idade, encontramos 50% para os informantes com idade entre dez e doze anos, 44,4% para os informantes com idade entre treze e dezesseis anos e 5,5% para os informantes com idade entre dezessete e trinta e cinco anos.
Quanto à variável língua materna, encontramos 38,8 % para os informantes que têm o umbundu como língua materna e 61,1 % para os informantes que têm o português como língua materna.
Relativamente à variável zona de residência, encontramos 22% para os informantes residentes na zona urbana e 77,7 % para os informantes residentes na zona periurbana.
Relativamente aos SNs constituídos por Artigo definido [+ pl] + Possessivo [+ pl] + Nome [- pl], com a função sintática de objeto direto, conforme o exemplo em (2b), encontramos 2 ocorrências (1,2 %), de um total de 170 (100%).
Relacionando a ocorrência com a variável sociolinguística idade, encontramos 0% para os informantes com idade entre dez e doze anos, 50% para os informantes com idade entre treze e dezesseis anos e 50% para informantes com idade entre dezessete e trinta e cinco anos.
Quanto à variável língua materna, encontramos 50,0 % para os informantes que têm o umbundu como língua materna e 50,0 % para os informantes que têm o português como língua materna.
Relativamente à variável zona de residência, encontramos 50,0 %, para os informantes residentes na zona urbana e 50,0 % para os informantes residentes na zona periurbana.
Nos SNs constituídos por Numeral + Nome [- pl], com a função sintática de objeto direto, conforme o exemplo em (2c), encontramos 145 ocorrências (85%), de um total de 170. Relacionando a ocorrência com a variável sociolinguística idade, temos 75,0% para os informantes com idade entre dez e doze anos, 16% para os informantes com idade entre treze
e dezesseis anos e 8,2% para os informantes com idade entre dezessete e trinta e cinco anos.
Quanto à variável língua materna, encontramos 2,0% para os informantes que têm o tchókwe como língua materna, 36,3 % para os informantes que têm o umbundu como língua materna e 60,6 % para os informantes que têm o português como língua materna.
Relativamente à variável zona de residência, temos 11,7 % para os informantes residentes na zona urbana e 88,2% para os informantes residentes na zona periurbana.
Nos SNs constituídos por Quantificador + Nome [- pl], com a função sintática de objeto direto, conforme o exemplo em (2d), encontramos 5 ocorrências (3,0%) de um total de 165 (100%).
Relacionando a ocorrência com a variável sociolinguística idade, encontramos 0,0 % para os informantes com idade entre dez e doze anos, 60% para os informantes com idade entre treze e dezesseis anos e 40, % para informantes com idade entre dezessete e trinta e cinco anos.
Quanto à variável língua materna, encontramos 20,0 % para os informantes que têm o umbundu como língua materna e 80,0 % para os informantes que têm o português como língua materna.
Quanto à variável zona de residência, encontramos 40 % para os informantes residentes na zona urbana e 60 % para os informantes residentes na zona periurbana.
Percebemos que os falantes mais novos (10-13 anos) e (12-16 anos) que têm o português L1 e que provêm da zona periurbana têm alguma tendência para marcarem o plural só́ no artigo. Se houver um numeral, sendo este elemento muito claro quanto ao significado de pluralidade, então é neste contexto que há um número significativo de “desvios” e maior tendência para não marcar o nome com o plural. Com os possessivos, há tendência para marcar o plural quer no artigo quer no possessivo, não parecendo justificar-se a tendência apresentada por Costa e Figueiredo Silva (2010) para o PB.
De forma geral, da análise feita nos programas constatamos que estes são analíticos, não oferecendo detalhes sobre o tratamento a dar a concordância. O Programa de língua Portuguesa da 6ª Classe, por exemplo, apresenta uma seção dos objetivos gerais do ensino primário, de entre os quais destaca-se: “Utilizar corretamente a Língua Portuguesa para comunicar de forma adequada e estruturar o pensamento lógico, através do cumprimento das regras gramaticais ou funcionamento da língua” (SILVA, 2010, p. 8). No mesmo âmbito da 6ª Classe, especificamente faz-se menção aos seguintes objetivos: “Aplicar corretamente os
conteúdos gramaticais adequados à classe e ao nível, bem como os conhecimentos adquiridos nas classes anteriores” (SILVA, 2010, p. 8).
Não havendo no programa qualquer referência sobre o que é correto gramaticalmente, espera-se que tal vertente seja abordada nos manuais concebidos para o ensino da língua portuguesa. Todavia, neles não há igualmente um grande desenvolvimento deste aspecto. O manual da 10ª classe trata o assunto das classes gramaticais apenas de leve, não fazendo referência à concordância de número, estando este aspecto apenas implícito nos exemplos apresentados, cuja norma utilizada é a do PE, conforme o exemplo em (3):
(3)
Ele comprou estas revistas (p. 216).
O mesmo manual aborda o aspecto da coesão, definindo-a como a ligação dos elementos textuais através de uma série de mecanismos, fundamentalmente linguísticos (MAGALHÃES; COSTA; SILVA, 2005, p. 237).
Recorrendo a Prada (2006 [Web]) o manual de apoio ao ensino da língua portuguesa para a 11ª Classe apresenta a seguinte definição:
Entende-se por coesão um conjunto de processos que, recorrendo a determinados grupos de vocábulos, ou classes de palavras, permite fazer um texto a partir de um “puzzle” de frases soltas (ou mesmo uma frase a partir de palavras soltas).
Segundo o manual, os mecanismos que garantem a coesão frásica são a ordem das palavras e a concordância em gênero e número. Depreende-se, portanto, que a não existência de concordância no Nome, configura inexistência de coesão, portanto um erro. Este tratamento exclui completamente a possibilidade de considerar a variante da língua, produto do contato entre o Português e as línguas bantu.
Ao apontar as características do português falado por estudantes universitários na cidade do Cuito, Pinto (2021) constatou a existência de desvios de concordância em relação ao PE, no qual os valores de gênero e número do nome determinam a concordância com os elementos do mesmo SN. Na mesma senda, Pessela (2020) ao analisar aspetos da concordância de número no SN no português falado por alunos bilingues da 6ª Classe, da 11ª Classe, do 1º e 2º anos da universidade constatou a existência de estratégia de marcação mista da concordância de número em SNs complexos.
Este fenômeno de marcação variável da concordância de número, com a tendência de marcar o plural apenas no elemento mais à esquerda do SN, não é um caso isolado de falantes
desta região de Angola. Há estudos de outras regiões de Angola que aponta para a mesma tendência, tais como os estudos de Inverno (2009) que analisa o português falado na Lunda- Norte, Adriano (2014), que analisa o português falado na Huíla, Hagemeijer (2009), que analisa o português falado no Norte e Sul de Angola, onde o Português convive com o Kimbundu e o Umbundu, respetivamente. Todos estes autores evidenciam a existência não só da variação nos mecanismos de concordância entre os elementos SN, como também a tendência generalizada de marcação do plural nos elementos mais à esquerda do SN. Este fato, ainda na ótica dos autores referenciados deve-se ao fato de a concordância de número nas línguas bantu faladas em Angola, ser marcada por prefixação (cf. ex. 1d). Face a isto, dado ao fato de o Português ser aprendido como L2 para muitos falantes angolanos, decidimos analisar o tratamento dado a esta tendência gramatical nos manuais e programas de ensino do Português.
O manual da 11ª Classe aborda o assunto dos registros de língua, ligado a vários fatores, destacando, todavia, a língua padrão, também conhecida como norma ou registro corrente, preservada pela escola, pelos meios de comunicação social e pela literatura. O manual que estamos a citar defende: “A norma deve, pois, ser adquirida durante a vida escolar, já que o seu domínio é essencial como forma de ascensão social e profissional” (MAGALHÃES; COSTA; SILVA, 2005, p. 157). E mais afirma: “Em relação à norma (ou registro corrente), cada um dos outros registros constitui um desvio, uma variação”.
Os programas do 1º e 2º ano do ensino superior de formação de professores, abordam aspectos sobre as variedades do português, mas quase nada abordam sobre a variação da concordância, além disso coincidem com a concepção de que a variação é um desvio em relação à norma padrão.
Diante realidade assistimos uma disparidade entre as práticas linguísticas cotidianas e as práticas linguísticas em sala de aulas. Apesar de insistir-se num ensino português que privilegia a norma do Português Europeu PE, dever-se-ia adotar um ensino mais próximo das características linguísticas constatadas através dos dados apresentados. Os desvios em relação a norma do PE mostram que são uma realidade visível a todos os níveis, pois constatou-se que estes desvios estão presentes tanto em falantes de baixo nível como nos de alto nível de escolaridade.
Na opinião dos autores deste trabalho, a persistência no ensino do Português baseado na norma do PE, sem considerar a realidade linguística de Angola, eterniza os erros de concordância. Para o efeito, no sentido de contrapor esta realidade, dever-se-ia normatizar o Português de Angola (PA) capaz de prever e abarcar todas as características adstritas à essa
variante, entre as quais a concordância de número, já constatada por vários autores (PINTO, 2021; ADRIANO, 2015; NZAU, 2011). Na mesma senda, atendendo ao perfil linguístico dos alunos angolanos, consideramos urgente a inserção nos programas, manuais e demais meios de ensino de aspectos típicos do PA, de modo a diminuir o fosso entre as práticas linguísticas cotidianas e a norma ensina no meio acadêmico.
Depois de apresentarmos alguns fundamentos sobre a variação da concordância de número no SN no Português de Angola, com base nos dados analisados concluímos.
Os falantes do português de Angola apresentam uma marcação mista da concordância de número independentemente do nível de escolaridade.
As divergências no mecanismo de concordância em relação ao PE, derivam principalmente de aspectos que resultantes do contato linguístico entre o Português e as línguas bantu faladas em Angola.
No processo de ensino e aprendizagem do Português não se tem considerado as características típicas do PA, dificultando, assim, a apropriação e a construção de uma gramática que reflita a realidade Angolana.
ADRIANO, P. S. A crise Normativa do Português em Angola: cliticalização e regência verbal: que atitude normativa para o professor e o revisor? Luanda: Mayamba, 2015.
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PESSELA, J. D. Sobre a Concordância de Número no SN no PA-Variante do Português de Cuito-Bié. 2020. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade do Porto, Porto, 2020.
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https://doi.org/10.29051/el.v7iesp.6.15373
REFLEXIONES SOBRE LA CONCORDANCIA DE NÚMEROS EN SINTAGMAS NOMINALES COMPLEJOS (SNs) EN ANGOLA PORTUGUESA (PA)
Hermenegildo Kâmbua da Costa PINTO1 Jeremias Dandula PESSELA2
RESUMO: Neste trabalho, procuramos descrever o fenômeno da concordância de número em sintagmas nominais (SNs) complexos que desempenham a função sintática de objeto direto da frase, em estudantes angolanos, bilíngues com L1 português e L2 bantu, ou vice- versa. Pretendemos avaliar também o tratamento dado ao fenômeno da concordância no SN, do ponto de vista do ensino e aprendizagem. O estudo baseia-se nas teorias de variação linguística e de ensino aprendizagem de línguas, por oferecerem explicações para a ocorrência de desvios na aquisição de línguas não-maternas. O tipo de pesquisa é misto. Os dados analisados indicam que os estudantes angolanos utilizam um mecanismo de concordância misto em SNs que têm a sua esquerda palavras nucleares de categorias funcionais como artigos definido, numerais e quantificadores. Nestes casos, o plural é
1 Higher Pedagogical School of Bié (ESP-Bié), Cuito – Angola. Portuguese Language Teacher at the Department of Education Sciences. PhD in Linguistics (UEVORA) – Portugal. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9936- 4482. E-mail: hermenetina@gmail.com
2 Higher Pedagogical School of Bié (ESP-Bié), Cuito – Angola. Professor of English and Portuguese at the Department of Education Sciences. Master in General and Portuguese Linguistics (UP-PORTUGAL) – Portugal and Doctoral Student in Language Sciences (UP-PORTUGAL) – Portugal. ORCID: https://orcid.org/0000-0002- 0027-0946. E-mail: jeremiaspessela@yahoo.com.br
marcado nesses elementos e não no nome. Ademais, o fato de nos documentos normativos do processo de ensino e aprendizagem do Português não considerarem aspectos do contato do Português com as línguas bantu faladas em Angola dificulta a apropriação correta dos mecanismos de concordância.
PALAVRAS-CHAVE: Número gramatical. Concordância nominal no PA. Ensino do português.
RESUMEN: En este trabajo se pretende describir el fenómeno de la concordancia numérica en frases nominales complejas (SNs) que tienen la función sintáctica de objeto directo de la oración, en estudiantes angoleños, bilingües con L1 portugués y L2 bantú, o viceversa. También pretendemos evaluar el tratamiento dado al fenómeno de la concordancia en el SN, desde el punto de vista de la enseñanza y el aprendizaje. El estudio se basa en las teorías de la variación lingüística y de la enseñanza del aprendizaje de lenguas, ya que ofrecen explicaciones sobre la aparición de desviaciones en la adquisición de lenguas no nativas. El tipo de investigación es mixto. Los datos analizados indican que los alumnos angoleños utilizan un mecanismo de concordancia mixto en los SN que tienen a su izquierda palabras centrales de categorías funcionales como artículos definidos, numerales y cuantificadores. En estos casos, el plural se marca en estos elementos y no en el sustantivo. Además, el hecho de que los documentos normativos sobre el proceso de enseñanza y aprendizaje del portugués no consideren aspectos del contacto del portugués con las lenguas bantúes habladas en Angola dificulta la correcta apropiación de los mecanismos de acuerdo.
In the process of teaching and learning Portuguese in Angola, one of the crucial points is the teaching of number agreement in the Nominal Syntagms (SN). Although Portuguese is the official language of the country (cf. art. 19 of the CR3) other languages are present, with emphasis on languages of Bantu origin. The difficulties in establishing number agreement in the NS are exacerbated when it is made up of elements that are the nuclei of functional categories, such as determinants, numerals and quantifiers. Assuming that Bantu languages are languages without articles, and many speakers are exposed to less robust inputs from the European Portuguese (EP) norm (ZAU, 2011), the difficulties in maintaining all agreement mechanisms in constituted SNs by determinants, numerals and quantifiers tend to be more difficult, which, from the start, poses a great challenge, both for students and for teachers. In the AP, a variable strategy in the marking of the grammatical number predominates. Several authors such as Inverno (2009), Adriano (2014), Marques (1983) consider that in the plural
3Constitution of the Republic.
forms of SN, for AP speakers, the absence of plural marks for nouns (N) is common, as an influence of Bantu language, by what, according to Pessela (2020, p. 39, our translation):
The absence of the plural marking in N is justified by the contact between Portuguese and the Bantu languages spoken in Angola. Everything indicates that AP speakers when acquiring Portuguese, interpret the nouns as invariable, and consider the determiners (articles) as equivalent to the nominal prefixes of the Bantu languages.
In this work, we seek to describe the phenomenon of number agreement in complex SNs consisting of (i)Art. def. [+ pl] + N [- pl]: (Definite Article [+ plural] + Noun [- plural]);
Art. def. [- pl] + Poss. [+ pl] + N [- pl]: (Definite article [- plural] + Possessive [+ plural] + Noun [- plural]); (iii) Num. + N [- pl]: Numeral + Noun [- plural]; (iv) Quantity+ N [- pl]: Quantifier + Noun [- pl]. Thus, we aimed to evaluate the most common trends in number agreement marking in complex SNs, which perform the syntactic function of the direct object of the sentence, in Angolan bilingual students with L1 Portuguese and L2 Bantu, or vice versa. We also intend to evaluate the treatment given to the phenomenon of variable agreement in the SN in the PA from the point of view of teaching and learning. For that purpose, we analyzed the main guiding documents of this process, namely the programs and manuals of Portuguese for the 6th and 10th grades, as well as for the 1st and 2nd year of higher education for teacher training. The work consists of an introduction, literature review, data presentation and discussion, final considerations, and bibliographic references.
The number agreement in the SN is the relationship established between the Noun and its specifiers and modifiers (determinants, quantifiers, and adjectives) that constitute the SN, it is made in number (plural or singular). The grammatical number is considered one of the linguistic universals in Greenberg's (1963) list. All the languages of the world dial the number. However, languages have different mechanisms of the grammatical number marking, which may be through the use of endings, nominal prefixes, among others, as shown in the following examples.
(1)
Os gatos brancos são lindos. (PE)
Os aluno são inteligente. (PA)
The books are green. (ING)
Olongato vykusuka vyafina4. (umbundo)
Having presented the previous examples, we note that there is a probable relationship in the number agreement mechanism in the SN of sentences (b) and (d), as there are authors who argue that AP speakers make a transfer of grammatical substrate from Bantu languages. Concordance in these languages is done by attaching prefixes to the Noun that are switched to the other constituents of the SN. In some cases, there is a form for nouns and adjectives, and a second form for possessives and demonstratives, usually, object markers and other minor categories (KATAMBA, 2003, p. 103). However, unlike the EP, which has a multiple agreement mechanism (cf. ex. a) in the PA there is a tendency to mark only the leftmost element of the SN, usually, an article, a numeral or any element from a quantifiers and determiners category, in the plural, being defined by many authors as a result of the contact between Portuguese and local Bantu languages.
The data of the present research were obtained through the application of a semi-open interview and the documental analysis of Portuguese programs and manuals for the 6th, 10th and 11th grades and for the 1st and 2nd year of university education. The choice of the interview was due to what Gonçalvez (2013) defended. According to the author:
Currently available studies on the AP present brief lists of some salient features of its grammar or refer to a particular subvariety. On the other hand, in cases where more general descriptions of the AP are presented, the empirical basis is constituted by literary texts, which can hardly be considered representative of the grammar of the oral language, as established by the community of speakers of this language (GONÇALVEZ, 2013, p. 162, our translation).
Ninety-five (95) informants participated in the interview, forty-eight from primary education, thirty-two from secondary education, and fifteen from higher education. All informants are residents of the municipality of Cuito, province of Bié. The informants vary in age between ten and twelve years old for those in primary education, thirteen to sixteen years for those in secondary education, and seventeen to thirty-six years for those in higher
4 White cats are beautiful.
education. All informants are bilingual and have Portuguese as L1 for a minority and L2 for the majority. For better understanding, the data are detailed in the table (1) that follows.
Source: Pessela (2020, p. 63)
For the quantification and organization of the data, we used the SPSSl software. The program enabled us to calculate and cross-reference the linguistic variables (syntactic function, SN structure, presence of the plural mark, and absence of the plural mark) with the social variables age, mother tongue, education level, and area of residence of informants. To understand whether the direct object function has any influence on the lack of marking of number agreement in the SNs, we collected several examples produced in the interviews. We found four types of SNs with plural marking problems in this syntactic function:
Art. def. [+ pl] + N [- pl]
Art. def. [- pl] + Poss. [+ pl] + N [- pl]
Num. + N [- pl]
Quant.+ N [- pl]
In (2) we illustrate some of the occurrences found.
(2) (examples taken from PESSELA, 2021, p. 54)
a) ... lavar os prato.
b) Depois... terminar os meus estudo.
c) Tenho nove disciplina.
d) Tenho muitos livro.
The total results are summarized in the following table:
Source: Pessela (2020, p. 84)
As Table 2 shows, the SNs with the agreement of a divergent number of the EP norm with the syntactic function of a direct object had a total occurrence of 170 SNs, in 287, corresponding to 59.2%. Regarding its structure, we highlight:
In SNs consisting of the definite article [+ pl] + Noun [- pl], with the syntactic function of the direct object, as in the example in (2a), we found 18 occurrences (10.5%) out of a total of 170.
Relating the occurrence with the sociolinguistic variable age, we found 50% for informants aged between ten and twelve years, 44.4% for informants aged between thirteen and sixteen years, and 5.5% for informants aged between seventeen and thirty-five years old.
As for the mother tongue variable, we found 38.8% for informants who have Umbundu as their mother tongue, and 61.1% for informants who have Portuguese as their mother tongue.
Regarding the variable area of residence, we found 22% for informants residing in the urban area and 77.7% for informants residing in the peri-urban area.
Regarding the SNs consisting of the definite article [+ pl] + Possessive [+ pl] + Noun [- pl], with the syntactic function of the direct object, as in the example in (2b), we found 2 occurrences (1.2 %), out of a total of 170 (100%).
Relating the occurrence with the sociolinguistic variable age, we found 0% for informants aged between ten and twelve years, 50% for informants aged between thirteen and sixteen years and 50% for informants aged between seventeen and thirty-five years.
As for the mother tongue variable, we found 50.0% for informants who have Umbundu as their mother tongue and 50.0% for informants who have Portuguese as their mother tongue.
Regarding the variable area of residence, we found 50.0% for informants residing in the urban area and 50.0% for informants residing in the peri-urban area.
In SNs consisting of Numeral + Noun [- pl], with the syntactic function of direct object, as in the example in (2c), we found 145 occurrences (85%), out of a total of 170.
Relating the occurrence with the sociolinguistic variable age, we have 75.0% for informants aged between ten and twelve years old, 16% for informants aged between thirteen and sixteen years, and 8.2% for informants aged between seventeen and thirty-five years.
As for the mother tongue variable, we found 2.0% for informants who have Tchókwe as their mother tongue, 36.3% for informants who have Umbundu as their mother tongue, and 60.6% for informants who have Portuguese as their mother tongue.
Regarding the variable area of residence, we have 11.7% for informants residing in the urban area and 88.2% for informants residing in the peri-urban area.
In the SNs consisting of Quantifier + Noun [- pl], with the syntactic function of the direct object, as in the example in (2d), we found 5 occurrences (3.0%) out of a total of 165 (100%).
Relating the occurrence with the sociolinguistic variable age, we found 0.0% for informants aged between ten and twelve years old, 60% for informants aged between thirteen and sixteen years, and 40.0% for informants aged between seventeen and thirty-five years.
As for the mother tongue variable, we found 20.0% for informants who have Umbundu as their mother tongue and 80.0% for informants who have Portuguese as their mother tongue.
As for the variable area of residence, we found 40% for informants residing in the urban area and 60% for informants residing in the peri-urban area.
We noticed that younger speakers (10-13 years old) and (12-16 years old) who have L1 Portuguese and who come from the peri-urban area tend to mark the plural only in the article. If there is a numeral, this element being very clear as to the meaning of plurality, then it is in this context that there is a significant number of “deviations” and a greater tendency not to mark the noun with the plural. With possessives, there is a tendency to mark the plural both in the article and in the possessive, and the tendency presented by Costa and Figueiredo Silva (2010) for BP does not seem to be justified.
In general, from the analysis carried out on the programs, we found that they are analytical, not offering details about the treatment to be agreed upon. The 6th Grade Portuguese Language Program, for example, presents a section on the general objectives of primary education, among which the following stand out: “Use the Portuguese language correctly to communicate properly and structure logical thinking, through compliance with grammatical rules or language functioning” (SILVA, 2010, p. 8, our translation). In the same scope of the 6th Class, mention is specifically made of the following objectives: "Correctly apply the grammatical contents appropriate to the class and level, as well as the knowledge acquired in previous classes” (SILVA, 2010, p. 8, our translation).
Since there is no reference in the program about what is grammatically correct, it is expected that this aspect will be addressed in the manuals designed for the teaching of the Portuguese language. However, in them, there is also not a great development of this aspect. The 10th-grade manual deals with the subject of grammatical classes only lightly, not referring to number agreement, this aspect being only implicit in the examples presented, whose norm used is that of the EP, as in the example in (3):
(3)
Ele comprou estas revistas (p. 216).
The same manual addresses the aspect of cohesion, defining it as the connection of textual elements through a series of mechanisms, fundamentally linguistic (MAGALHÃES; COSTA; SILVA, 2005, p. 237, our translation).
Using Prada (2006 [Web], our translation) the Portuguese language teaching support manual for Grade 11 has the following definition:
Cohesion is understood to be a set of processes that, using certain groups of words, or classes of words, make it possible to make a text from a “puzzle” of single sentences (or even a sentence from single words).
According to the manual, the mechanisms that guarantee sentence cohesion are word order and agreement in gender and number. It appears, therefore, that the non-existence of agreement in the Noun, configures the non-existence of cohesion, therefore an error. This treatment completely excludes the possibility of considering the language variant, the product of the contact between the Portuguese and the Bantu languages.
By pointing out the characteristics of the Portuguese spoken by university students in the city of Cuito, Pinto (2021) found the existence of agreement deviations concerning the EP, in which the values of gender and number of the noun determine the agreement with the elements of the same SN. In the same vein, Pessela (2020) when analyzing aspects of number agreement in the SN in Portuguese spoken by bilingual students in the 6th Grade, 11th Grade, 1st and 2nd years of the university, found the existence of a mixed number agreement marking strategy in complex SNs.
This phenomenon of variable marking of number agreement, with the tendency to mark the plural only in the leftmost element of the SN, is not an isolated case of speakers from this region of Angola. There are studies from other regions of Angola that point to the same trend, such as the Winter studies (2009) that analyzes the Portuguese spoken in Lunda- Norte, Adriano (2014), who analyzes the Portuguese spoken in Huíla, Hagemeijer (2009),
who analyzes the Portuguese spoken in the North and South of Angola, where Portuguese coexists with Kimbundu and Umbundu, respectively. All these authors evidence the existence not only of the variation in the mechanisms of agreement between the SN elements, but also the generalized tendency of marking the plural in the elements most to the left of the SN. This fact, still from the point of view of the mentioned authors, is because the number agreement in the Bantu languages spoken in Angola is marked by prefixation (cf. ex. 1d). Givent this, given the fact that Portuguese is learned as L2 for many Angolan speakers, we decided to analyze the treatment given to this grammatical tendency in Portuguese teaching manuals and programs.
The 11th-grade manual addresses the issue of language records, linked to several factors, highlighting, however, the standard language, also known as the norm or current record, preserved by the school, the media, and literature. The manual that we are quoting defends: “The norm must, therefore, be acquired during school life, since its mastery is essential as a form of social and professional ascension” (MAGALHÃES; COSTA; SILVA, 2005, p. 157, our translation). He further states: “According to the norm (or current register), each of the other registers constitutes a deviation, a variation”.
The 1st and 2nd year higher education teacher training programs address aspects about the varieties of Portuguese, but almost nothing about the variation of agreement, in addition, they coincide with the conception that the variation is a deviation from the pattern norm.
Faced with reality, we witness a disparity between everyday linguistic practices and linguistic practices in the classroom. Despite insisting on Portuguese teaching that privileges the norm of European Portuguese PE, teaching closer to the linguistic characteristics found through the data presented should be adopted. Deviations from the norm show that they are a visible reality at all levels, as it was found that these deviations are present both in low-level speakers and in high-level speakers.
In the opinion of the authors of this work, the persistence in teaching Portuguese based on the EP norm, without considering the linguistic reality of Angola, perpetuates the errors of agreement. For this purpose, to counteract this reality, Angolan Portuguese (PA) should be standardized, capable of predicting and encompassing all the characteristics attached to this variant, including the number agreement, which has already been verified by several authors (PINTO, 2021; ADRIANO, 2015; NZAU, 2011). In the same way, given the linguistic profile of Angolan students, we consider it urgent to include typical aspects of AP in programs, manuals, and other teaching means, to reduce the gap between everyday linguistic practices and the norm taught in the academic environment.
After presenting some fundamentals about the variation of number agreement in SN in Angolan Portuguese, based on the analyzed data, we conclude.
Speakers of Angolan Portuguese show a mixed marking of number agreement regardless of education level.
The divergences in the agreement mechanism concerning the EP derive mainly from aspects that result from the linguistic contact between Portuguese and the Bantu languages spoken in Angola.
In the process of teaching and learning Portuguese, the typical characteristics of the AP have not been considered, thus hindering the appropriation and construction of a grammar that reflects the Angolan reality.
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