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Português, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na China
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
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PORTUGUÊS, LÍNGUA ACÊNTRICA: REFLEXÕES PELA MÃO DO ENSINO DE
PLE NA CHINA
PORTUGUÉS, LENGUA ACÉNTRICA: REFLEXIONES DESDE LA PERSPECTIVA
DE LA ENSEÑANZA DEL PORTUGUÉS COMO LENGUA EXTRANJERA EN CHINA
PORTUGUESE, AN ACENTRIC LANGUAGE: REFLECTIONS FROM A TEACHING
PORTUGUESE AS A FOREIGN LANGUAGE IN CHINA PERSPECTIVE
Manuel João PIRES
1
RESUMO
: Este artigo promove uma reflexão ensaística sobre a língua portuguesa, os seus
espaços, cambiantes e (in)definições com base nas perspetivas decorrentes da experiência de
ensinar Português Língua Estrangeira (PLE) na China ao longo de uma década. Neste âmbito,
criticamos o conceito de língua pluricêntrica no âmbito do ensino de PLE por fazer depender
a diversidade ou descentralização da língua portuguesa dos imperativos das normas
linguísticas, prolongando uma visão normativa, polarizada e, essencialmente, bicêntrica da
língua portuguesa. Neste artigo defendemos o reajustamento do conceito de língua
pluricêntrica para língua plurinormativa (porque o seu escopo não está nos espaços ou na
diversidade, mas na normatização político-linguística da língua portuguesa) e promovemos o
conceito de português enquanto língua acêntrica, feita de múltiplas e interligadas culturas,
identidades e referências.
PALAVRAS-CHAVE
: Português. Língua acêntrica. Plurinormativa. PLE. China.
RESUMEN
: Este artículo promueve una reflexión ensayística sobre la lengua portuguesa,
sus espacios y (in)definiciones a partir de perspectivas surgidas de la experiencia de la
enseñanza del portugués como lengua extranjera (PLE) en China durante la última década.
En este contexto, criticamos el concepto de lengua pluricéntrica en el contexto de la
enseñanza de PLE por hacer depender la diversidad o descentralización de la lengua
portuguesa de los imperativos de las normas lingüísticas, perpetuando una visión normativa,
polarizada y, esencialmente, bicéntrica de la lengua portuguesa. En este artículo defendemos
el reajuste del concepto de lengua pluricéntrica a lengua plurinormativa (porque su alcance
no está en los espacios o la diversidad, sino en la estandarización político-lingüística de la
lengua portuguesa) y promovemos el concepto del portugués como lengua acéntrica, hecha
de culturas, identidades y referencias múltiples e interconectadas.
PALABRAS CLAVE
:
Portugués. Lengua acêntrica. Plurinormativa. Portugués como lengua
extranjera. China.
1
Universidade de Sun Yat-sen (SYSU), Cantão – China. Leitor de Português. Doutorando em português Língua
Estrangeira (ULisboa). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1242-5319. E-mail: duarte@mail.sysu.edu.cn
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Manuel João PIRES
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
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ABSTRACT
: This article promotes an essayistic reflection on the Portuguese language, its
spaces, changes, and (in)definitions based on perspectives arising from the experience of
teaching Portuguese as a Foreign Language (PLE) in China over a decade. In this context,
we criticize the concept of pluricentric language for making the diversity or decentralization
of the Portuguese language depend on the imperatives of linguistic norms, extending a
normative, polarized, and, essentially, a bicentric perspective of the Portuguese language. In
this article, we defend the readjustment of the concept of pluricentric language to
plurinormative language (because its scope is not in spaces or diversity, but the political-
linguistic standardization of the Portuguese language) and we promote the concept of
Portuguese as an acentric language, made of multiple and interconnected cultures, identities,
and references.
KEYWORDS
:
Portuguese. Acentric language. Plurinormative. Portuguese as a foreign
language. China.
Introdução
Neste artigo pretendemos fazer uma análise sobre o conceito de português língua
pluricêntrica, atualmente revisitado e em voga no âmbito da Linguística Aplicada e da
Didática de Línguas. Para este fim, estudamos os significados deste conceito e descortinamos
as limitações ou imprecisões do seu fundamento teórico e da sua abordagem na área do ensino
de línguas. Através da análise da literatura sobre este tema e da experiência de ensino de PLE
na China, um território onde o ensino de português tem vindo a adquirir relevância e
proeminência, elaboramos alternativas a este conceito em termos de nomenclatura, e
discorremos sobre a questão pluricêntrica aplicada à língua portuguesa. Trata-se de uma
língua com mais de uma norma nacional (duas, concretamente) e por isso binormativa (ou
plurinormativa, caso se prefira evitar o prefixo bi- e a conotação excludente e binária que
expressa). Entendemos que todas as línguas requerem um caráter normativo para se
estabelecerem, estudarem e ensinarem. No entanto, o foco na discussão pluricêntrica reduz a
língua à sua dimensão normativa, política e polarizada. A língua portuguesa é feita de
liberdade e pluralidade pelo que reduzi-la ao seu aspeto normativo ou a determinados espaços
geográficos é despersonalizá-la, diminui-la e oprimi-la. A personalidade da língua portuguesa
deve ser pluri-, mas não cêntrica, para o bem do seu ensino, do seu futuro e da(s) sua(s)
identidade(s).
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Definições e interpretações pluricêntricas
O conceito de língua pluricêntrica, embora não sendo recente, tem sido recuperado,
estudado e discutido no âmbito da Linguística e do Ensino de Português Língua Estrangeira.
Segundo Clyne (1992) uma língua pluricêntrica possui várias formas padronizadas ou
codificadas em interação, que geralmente correspondem a diferentes países, ao contrário das
línguas monocêntricas, que possuem apenas uma versão formalmente padronizada. Ou seja,
este conceito implica a existência de vários centros em interação com a sua própria variedade
nacional e a existência de normas linguísticas codificadas. Para além desta rede de variedades
contíguas com diversos centros, todas as línguas são de certa forma pluricêntricas, na medida
em que contêm inevitavelmente variação interna e diferentes normas locais (SILVA, 2013).
Os indivíduos desenvolvem competências em vários códigos linguísticos, por vontade
ou por necessidade, para responder às necessidades de comunicar com o outro que não
partilha os mesmos códigos. A heterogeneidade da língua faz com que cada norma tenha
necessariamente em si a presença do outro. No caso do português, existem inúmeras variações
que respiram dentro de cada um dos países onde a língua é oficial (BATOREO; SILVA,
2012; SILVA, 2018).
Por estes motivos, as línguas pluricêntricas são “unificadoras e divisoras dos povos”
pois unificam as pessoas através do uso da língua e separam-nas por meio do
desenvolvimento de normas e nacionais e variáveis linguísticas (SILVA, 2018, p. 1).
Neste artigo, destacamos a definição adiantada por Batoreo (2014) quando afirma que
em relação à língua portuguesa, o pluricentrismo se divide entre dois centros nacionais, o
Português e o Brasileiro, assim como os registos locais presentes em países africanos como
Angola ou Moçambique:
O pluricentrismo significa que estamos perante duas variedades nacionais da
Língua Portuguesa, a norma portuguesa e a norma brasileira
(independentemente da variação dialectal existente em cada um destes
países) bem como perante as variedades locais faladas em cada um dos
outros países (BATOREO, 2014, p. 4).
O plurice
ntrismo da língua portuguesa tem um carácter essencialmente bipolar,
assente em Portugal e no Brasil e, por isso, não está isento de disputas pelo espaço geopolítico
da língua. Tal como argumenta Clyne (1992, p. 1), os linguistas baseados nos centros
historicamente mais antigos ou política e economicamente mais poderosos tendem a encarar
outras variedades como desvios da sua norma, ou em pé de igualdade com os dialetos
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regionais. Embora tenham passado três décadas desde que o autor firmou estas palavras,
algumas destas visões solidificadas ao longo do tempo ainda se fazem sentir, de forma mais
ou menos dissimulada, por entre os académicos que se dedicam ao estudo da língua
portuguesa. Seguidamente debruçar-nos-emos sobre a ambiguidade que o conceito de
pluricentrismo aplicado ao contexto da língua portuguesa parece denotar.
Língua Portuguesa: do pluricentrismo ao plurinormativismo
A literatura indica que a discussão pluricêntrica se estabelece em torno das variantes e
normas linguísticas, pelo que o termo mais adequado poderia ser o de língua plurinormativa.
A nosso ver, o adjetivo plurinormativo, relativo ao plurinormativismo, encerra maior acurácia
e permite uma melhor base de diálogo, pois não remete para uma acepção cêntrica ou
exclusiva. Embora na literatura em português sobre o ensino de línguas não tenhamos
encontrado registos do seu uso, verificamos que tem marcado presença entre os estudos
teóricos no campo do ensino de língua francesa (BLANCHET, 1998) ou espanhola
(HERRERO, 2017; 2019; MASUDA, 2020).
Para Blanchet (1998), o conceito de língua plurinormativa tem um caráter
estruturalista muito ligado aos níveis ou registos de língua, ao passo que Herrero (2019)
expressa um contributo mais atual e abrangente de plurinormativismo que se posiciona contra
a crença na superioridade de uma variedade, considerada exemplar, em relação às outras:
El reconocimiento del plurinormativismo se pronuncia en sentido contrario
al lectocentrismo. Se enmarca en el relativismo cultural, que practica el
respeto a otras culturas (lenguas) sin dejar de valorar la propia. Ello conduce
a la aceptación de la pluralidad cultural (HERRERO, 2019, p. 137).
Na perspectiva de Herrero, o plurinormativismo tem uma dimensão mais clara e
inclusiva em relação à aceitação da pluralidade linguística, que não remete para uma visão
cêntrica, ou seja, não enfatiza centrismos ao mesmo tempo que anuncia a pluralidade e a
diversidade.
A análise
da literatura permite verificar que grande parte dos estudos que se dedicam
ao pluricentrismo da língua portuguesa se limitam ao circuito exclusivo e binominal
Portugal/Brasil com algumas esporádicas referências ao português de Angola, e menos ao de
Moçambique ou Cabo-Verde, na maior parte das vezes para destacar as suas semelhanças,
parecenças e proximidades ao português de Portugal, e, dessa forma, ainda mais os
despersonalizando e marginalizando. Esta afirmação pluricêntrica poderá ser, assim, falaciosa,
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ou seja, frondosa ao ouvido pelo seu abrangedor e plural prefixo, mas semanticamente
centrada quase em absoluto numa fossilizada perspectiva normativa, bipolar e essencialmente
bicêntrica da língua portuguesa, da qual necessita de libertar.
A mensagem quase antitética de pluricentrismo, em que o
centro
surge ligado à
delineação ou definição de uma norma estabelecida e politicamente reconhecida, pode ser por
si própria um entrave ao diálogo inclusivo, à diversidade, às multitudes e multiculturas, assim
como à verdadeira dimensão internacional da língua portuguesa por capitalizar as mesmas
referências socioespaciais (centros) e reduzir a língua ao seu caráter político-linguístico,
tornando-a, por isso, conservadora e menos flexível ou plural. O conceito de língua
pluricêntrica anuncia a pluralidade, mas acaba por fomentar feudos ou fronteiras, sendo
maioritariamente balizado, “manipulado” ou “disputado” entre linguistas e teóricos de
Portugal e Brasil, tal como o escritor moçambicano Mia Couto (2008, p. 8) refere:
Acho que é grave haver manipulações… Da parte dos que querem ser mais
que os outros, dos que disputam os outros! Eu acho que a disputa é entre
Portugal e Brasil, que querem usar esta bandeira como instrumento de busca
de privilégio na relação com os outros países de língua portuguesa.”
Estas manipulações e contendas escondem-se sob o conceito de língua pluricêntrica,
cuja abordagem dissimula a mesma amiúde (bi)polarização da língua portuguesa enquanto
apregoa a pluralidade, como se precisasse de se convencer disso mesmo, de acreditar nas suas
próprias redondas palavras à força de tanto as pronunciar, em vez de as sentir ou defender
genuinamente.
Por exemplo, alguns estudos sobre esta temática, como o de Duarte (2016) sobre a
norma a ensinar no contexto do português como língua pluricêntrica, referem várias vezes que
o Português de Moçambique ou o Português de Angola se aproximam do Português Europeu,
apresentando-se, assim, este último, de forma bastante natural e incontestada como modelo ou
exemplo “cêntrico”, à imagem do que refere Herrero (2019) e, anteriormente, Clyne (1992).
Mas porque será o português angolano ou o moçambicano mais parecido com o
por
tuguês de Portugal? Se consideramos descabido afirmar que angolanos ou moçambicanos
são mais parecidos com os portugueses do que com quaisquer outros povos, porque se insiste
em dizer que o Português de Angola é mais próximo do Português de Portugal se tem a sua
identidade, a suas características, os seus mundos e bundos e se é expressão da sua sociedade
e das suas singulares vivências e realidades?
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Em termos normativos, o Português de Portugal e o Português do Brasil constituem
ainda hoje referências basilares e assumidas das quais temos dificuldade em nos libertar
mesmo que, por vezes, pareçamos defender ou tentar convencer do contrário.
Neste artigo, posicionamo-nos contra o pluricentrismo demagógico feito de centros
principais (e urbanos) e de centros periféricos e dependentes como se fossem, no âmago,
sucursais ou subsidiárias da empresa língua portuguesa. Com base na nossa mundividência
decorrente da experiência de ensino de português na China, que seguidamente elucidaremos,
defendemos uma
linguavidência
renovada, inclusiva e liberta das âncoras que a prendem aos
mesmos espaços e aos mesmos modelos ou concepções.
Uma visão acêntrica da língua portuguesa pela mão do ensino de PLE na China
A China representa atualmente um espaço importante na difusão da língua portuguesa
devido à dimensão económica e aos interesses globais de competitividade e empregabilidade
que lhe estão associados. Se excluirmos os países com vastas comunidades de emigrantes
provenientes de países de língua portuguesa, a China e o Senegal, onde o Português é
ensinado como disciplina opcional no sistema de ensino oficial do país a cerca de 44 mil
alunos (RAMOS, 2020), são os países onde o ensino de português tem vindo a crescer de
forma mais acentuada. Este crescimento do ensino de português na China nos últimos anos
tem-se refletido num aumento do número de instituições, professores e alunos. Os dados
recentes apontam para cerca de 50 instituições de ensino superior com cursos de português na
China que englobam aproximadamente cinco milhares de estudantes (JATOBÁ, 2020; YAN;
ALBUQUERQUE, 2019). Neste âmbito, consideramos pertinente desenvolver investigações
que se debrucem sobre as especificidades que envolvem o ensino e a aprendizagem de
português da China.
A abertura da China ao exterior e o fortalecimento das relações bila
terais com os
países de língua portuguesa conduziu a uma proliferação de instituições superiores com
programas de português. Esta expansão do ensino na China esteve intimamente ligada à
intensificação das relações económicas e comerciais da China com o Brasil e Angola (YE,
2014, p. 53). As razões de natureza económica com vista ao estabelecimento de negócios e
elos comerciais com o Brasil e com os países africanos de língua portuguesa, dos quais se
destaca Angola, levaram a uma elevada procura e empregabilidade de jovens licenciados em
língua portuguesa. A afirmação e internacionalização da língua portuguesa ligada ao seu valor
económico encontrou na China um aliado importante para reforçar a sua importância a nível
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mundial. Anualmente, centenas de estudantes chineses optam por se juntar à esta enorme
família da língua portuguesa.
Consideramos que todos os professores que ensinam português no estrangeiro
r
ecordarão alguns motivos não tão evidentes que fazem com que os alunos abracem esta
língua. Teríamos inúmeros para referir uma vez que na China já introduzimos a língua
portuguesa aos mais diversos públicos, tal como trabalhadores de empresas em vias de ir para
o Brasil, Angola ou Moçambique, crianças para se juntarem a familiares em Portugal e no
Brasil, ávidos colecionadores de línguas e até detentores de vistos dourados em Portugal.
Normalmente, os motivos que levam os jovens chineses a estudar português são as questões
instrumentais ligadas às perspectivas de futuro profissional (YE, 2014) ou razões familiares
para os jovens de menor idade se poderem juntar aos seus familiares no estrangeiro e assim
terem a oportunidade de frequentar sistemas de ensino mais flexíveis e menos sujeitos à
competição e sucessão de exames (PIRES, 2019). Contudo, a motivação para estudar
português também se faz de várias excepções ou fortuitidades, como as que vivenciámos e
passamos a mencionar: uma aluna que se juntou ao português porque tinha como ídolo o
piloto brasileiro Rubens Barrichello (Kaká, Arthur Zanetti, Cristiano Ronaldo ou Michel Teló
são outras personalidades das quais já registámos a contribuição para trazer alunos para a
família do português); três alunas que vieram ao encontro do português para ler Fernando
Pessoa no original (não é das motivações mais incomuns devido à influência da literatura
neste processo – Clarice Lispector, José Saramago e Jorge Amado são outros nomes
registados); um aluno atraído pela figura de Vasco da Gama (faz parte do currículo de
História do ensino secundário chinês); uma aluna com uma grande admiração por voleibol e,
em particular, pelas seleções olímpicas brasileiras deste desporto. Entre muitas outras, tal
como a jovem que depois de acabar a sua graduação em jornalismo numa outra universidade,
decidiu tirar um ano sabático e procurar-nos para aprender português. Após um ano de
enorme perseverança, a jovem realizou o exame de proficiência e conseguiu obter a
certificação que lhe permitiu aceder ao mestrado que agora frequenta em Lisboa. A motivação
da aluna para cumprir este objetivo? Agir. A faúlha que a ligou à língua portuguesa foram as
músicas de Agir. Ficou tão apaixonada ou grudada nas músicas do artista português Agir,
mesmo não entendendo as letras nessa época, que acabaram por lhe dirigir a vida para a
língua portuguesa e depois para Portugal. Ou seja, não é apenas o valor económico e
profissional da língua, inúmeras vezes o interesse ou a motivação nasce de gostos pessoais, de
afinidades e de acasos ou imprevistos que tornam únicos os dias e as vidas de cada pessoa.
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Com base nestas peculiaridades do Português Língua Estrangeira, questionamos se
representará a vitalidade do português da China, à luz do agitar de pluricêntricas bandeirinhas,
um dos (pluri)centros da língua portuguesa? Será o português do Senegal onde o ensino se
tem difundido no sistema público de ensino outro centro? E o que dizer dos países ou regiões
onde estão presentes as diversas comunidades com gentes da língua portuguesa?
A teoria pluricêntrica aplicada ao ensino da língua sugere ser muito mais cêntrica do
que plural, pois não envolve toda a pluralidade ou diversidade que vive dentro da língua
portuguesa, e que constituem a sua maior riqueza e um dos seus mais belos traços distintivos.
As culturas e as nuances que a edificam e se espalham por todos os recantos do mundo,
mesmo os mais recônditos e não-oficiais. Uma língua que expressa e mistura de tudo um
pouco, revelando desde os seus meandros o clássico e o tropical, o mar e o deserto e gentes de
toda a natureza. Uma língua que germinou outras e deixou prole, desde os crioulos do
ocidente africano aos da Índia e do sudeste asiático, do patuá de Macau ao papiamento das
antilhas caribenhas. Uma língua que tem até o
amazonês
,
uma espécie de sinopse da própria
língua portuguesa. A língua portuguesa tem tanta natureza, tantos mundos, vive em tantos
lugares que desconhecemos todo seu alcance e plenitude.
Mas a língua portuguesa é hoje muito mais que este tricô de nós e novelos históricos,
explorando e vivendo nos mais dispersos espaços e adquirida das mais diversas formas, desde
as salas de aula aos aplicativos digitais. A língua portuguesa tem uma vida que no atual
mundo globalizado vai muito além das suas tradicionais referências espaciais. Deste modo, à
luz do ensino de PLE, a discussão pluricêntrica assume um valor antagónico, adverso, porque
a reduz, particulariza e centraliza quando o objetivo deverá ser o de difundir a língua,
promovê-la e levá-la a mais gentes e lugares, criando novas referências e conexões. Para estes
fins, a divisão ou a fragmentação são enfraquecedoras e contraproducentes, pois o que deve
ser ensinado é tão somente a língua portuguesa.
A temática pluricêntrica poderá ter pertinência a nível das variedades nacionais e
internas da língua, mas a discussão académica que se tem debruçado sobre a norma que deve
ser ensinada em PLE parece-nos acessória para a promoção da sua dimensão internacional e
para a convergência e intercompreensão em prol do ensino da língua portuguesa,
independentemente da norma adotada.
Para um pr
ofessor de PLE deverá ser mais importante tomar em consideração o
contexto em que se insere e as necessidades dos seus aprendentes de modo a poder lecionar a
língua de forma mais profícua, do que tecer inquietações, na maioria das vezes infrutíferas,
acerca da norma utilizada. Reveste-se, sobretudo, de importância que os professores veiculem
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uma perspetiva atual, internacional e inclusiva que desperte os alunos para a pluralidade e
diversidade linguística (incluindo o reconhecimento das línguas locais em alguns países),
social e cultural da língua, independentemente da norma linguística que utilizem. Tal como
Mia Couto (2008) refere, a propósito dos países de língua portuguesa, é mais importante
divulgar o que cada povo está a construir, a sua história comum, bem como os seus
patrimónios de identidade comum, do que focar em acordos ou normas que, na maior parte
das vezes, apenas reforçam divisões.
Inferências: manifesto por uma língua acêntrica
Neste artigo, posicionamo-nos pela afirmação e vigor da língua portuguesa sem
sobreposições de natureza normativa nem os recorrentes centrismos camuflados com
sinonímia bem-parecida.
Defendemos a promoção de uma língua portuguesa acêntrica que considera os seus
espaços, os seus usos e as suas gentes por igual. Por uma língua portuguesa que não é mais de
linguistas do que de iletrados, não é mais de artistas do que de artesãos, de religiosos do que
de agnósticos. A sua força, a sua alma reside precisamente no facto de não ter donos nem
corifeus, por mais normas, amarras ou correntes teóricas que lhe queiram colocar.
Saudamos a voz cada vez mais expressiva que os países africanos estão a trazer para a
discussão científica dos assuntos relacionados com a língua portuguesa, promovendo novas
perspectivas e abordagens que incluem o papel e o espaço das outras línguas nacionais
(MINGAS, 2007; MADEIRA, 2013; NGUNGA, 2012), libertando-se do papel periférico e
secundário a que sempre estiveram votados e
disputados
.
Apelamos ao diálogo e à cooperação entre os países africanos de língua portuguesa
para que não se perpetue esta falsa impressão (e despersonalização) de que as variantes
africanas são “parecidas” ou com o português de Portugal ou com o português do Brasil,
muito por fruto do seu estudo, a sua expressão artística, e a sua voz ser anunciada através
destes dois países.
Tal como afirma Mia Couto (2008, p. 1), os países africanos de língua portuguesa
“estão no grau zero” de conhecimento cultural mútuo, continuando a verificar-se um
“triângulo tipicamente colonial” e a inexistência de trocas no domínio da literatura, arte ou
cultura:
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Para conhecer o que se passa ou o que se faz em Cabo Verde ou em Angola
ou na Guiné-Bissau ou em São Tomé e Príncipe tenho de ir à Europa, passo
por Portugal. Esse triângulo tipicamente colonial continua a existir (MIA
COUTO, 2018, p. 1)
Fomentamos uma língua portuguesa sem centros nem capitais onde todos à sua
singular maneira contribuem para a sua ebulição. Consideramos que a língua portuguesa tem
tantos centros quantos os seus falantes e que todas as diferenças devem ser celebradas, sem,
no entanto, permitir que nos dividam.
Entendemos que uma das características de uma língua internacional deve ser o seu
acentrismo, isto é, a ausência de centros. O contrário de uma língua acêntrica como o
português pode se verificar através da língua chinesa ou mandarim.
Na China apesar de haver centenas de línguas (que oficialmente são tidas como
dialetos) por entre o vasto território do país mais populoso do mundo, apenas a língua
nacional, ou
língua comum
, é ensinada e reconhecida globalmente (FRANCIS, 2016; HU,
2017, KURPASKA, 2017). Além disso, o chinês tem um centro claramente assumido e
definido tanto pelos agentes de ensino e de política linguística como pela cultura e pela
sociedade chinesa. A estandardização da língua comum foi elaborada em torno do chinês
utilizado na região Norte, concretamente em Pequim (FRANCIS, 2016). Inclusive, os
estudantes que aprendem mandarim para estrangeiros priorizam fazer intercâmbios nas
instituições de ensino superior de Pequim ou Tianjin por se convencionar abertamente que o
mandarim da região Norte é o mais
correto
, mais erudito, com melhor pronúncia e no qual a
norma da língua se fundamenta. Este é um exemplo de uma língua política, social e
culturalmente cêntrica com um polo claramente reconhecido e globalmente aceite.
O português como língua de diversidade, de muitos espaços, pessoas e identidades,
deve preservar e promover a sua natureza inerentemente acêntrica. Aliás, deve ser uma língua
sem a soberba de ter ou de medir centros (o meu centro é melhor que o teu), que mormente
têm como consequência estimular a demarcação ou a segregação.
As fronteiras da língua portuguesa são cada vez mais ténues. As fronteiras já não são
só o mar, que a língua portuguesa avista ou contempla, mas são sobretudo as pessoas que a
usam e recriam por vários e dispersos cantos do mundo. A riqueza e diversidade de uma
língua segura das suas múltiplas identidades, e das suas interligadas culturas e referências não
se faz através da construção de cêntricos ou pluricêntricos muros, mas de abertura,
equidiferença e de ativo diálogo e interação. Por uma língua acêntrica, pela língua portuguesa.
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REFERÊNCIAS
BATOREO, H. J. Que gramática(s) temos para estudar o Português língua pluricêntrica?
Revista Diadorim
, Rio de Janeiro, v. 16, p. 1-15, 2014. Disponível em:
https://revistas.ufrj.br/index.php/diadorim/article/view/4023. Acesso em: 10 abr. 2021.
BATOREO, H. J.; SILVA, A. S. Estudar o português como língua pluricêntrica no
enquadramento da Linguística Cognitiva com foco nas variedades nacionais do PE e PB.
In
:
TEIXEIRA E SILVA
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Português, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na China
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
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Como referenciar este artigo
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Rev. EntreLínguas
, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529.
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
Submetido em
: 20/11/2021
Revisões requeridas em
: 09/01/2022
Aprovado em
: 23/02/2022
Publicado em
:
30/03/2022
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Portuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
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PORTUGUESE, AN ACENTRIC LANGUAGE: REFLECTIONS FROM A
TEACHING PORTUGUESE AS A FOREIGN LANGUAGE IN CHINA
PERSPECTIVE
PORTUGUÊS, LÍNGUA ACÊNTRICA: REFLEXÕES PELA MÃO DO ENSINO DE PLE
NA CHINA
PORTUGUÉS, LENGUA ACÉNTRICA: REFLEXIONES DESDE LA PERSPECTIVA
DE LA ENSEÑANZA DEL PORTUGUÉS COMO LENGUA EXTRANJERA EN CHINA
Manuel João PIRES
1
ABSTRACT
: This article promotes an essayistic reflection on the Portuguese language, its
spaces, changes, and (in)definitions based on perspectives arising from the experience of
teaching Portuguese as a Foreign Language (PLE) in China over a decade. In this context, we
criticize the concept of pluricentric language for making the diversity or decentralization of the
Portuguese language depend on the imperatives of linguistic norms, extending a normative,
polarized, and, essentially, a bicentric perspective of the Portuguese language. In this article,
we defend the readjustment of the concept of pluricentric language to plurinormative language
(because its scope is not in spaces or diversity, but the political-linguistic standardization of the
Portuguese language) and we promote the concept of Portuguese as an acentric language, made
of multiple and interconnected cultures, identities, and references.
KEYWORDS
: Portuguese. Acentric language. Plurinormative. Portuguese as a foreign
language. China.
RESUMO
: Este artigo promove uma reflexão ensaística sobre a língua portuguesa, os seus
espaços, cambiantes e (in)definições com base nas perspectivas decorrentes da experiência de
ensinar Português Língua Estrangeira (PLE) na China ao longo de uma década. Neste âmbito,
criticamos o conceito de língua pluricêntrica no âmbito do ensino de PLE por fazer depender
a diversidade ou descentralização da língua portuguesa dos imperativos das normas
linguísticas, prolongando uma visão normativa, polarizada e, essencialmente, bicêntrica da
língua portuguesa. Neste artigo defendemos o reajustamento do conceito de língua
pluricêntrica para língua plurinormativa (porque o seu escopo não está nos espaços ou na
diversidade, mas na normatização político-linguística da língua portuguesa) e promovemos o
conceito de português enquanto língua acêntrica, feita de múltiplas e interligadas culturas,
identidades e referências.
PALAVRAS-CHAVE
: Português. Língua acêntrica. Plurinormativa. PLE. China.
1
Sun Yat-sen University (SYSU), Canton – China. Portuguese reader. PhD in Portuguese Foreign language
(ULisbon). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1242-5319. E-ma
il: duarte@mail.sysu.edu.cn
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Manuel João PIRES
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
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RESUMEN
: Este artículo promueve una reflexión ensayística sobre la lengua portuguesa, sus
espacios y (in)definiciones a partir de perspectivas surgidas de la experiencia de la enseñanza
del portugués como lengua extranjera (PLE) en China durante la última década. En este
contexto, criticamos el concepto de lengua pluricéntrica en el contexto de la enseñanza de PLE
por hacer depender la diversidad o descentralización de la lengua portuguesa de los
imperativos de las normas lingüísticas, perpetuando una visión normativa, polarizada y,
esencialmente, bicéntrica de la lengua portuguesa. En este artículo defendemos el reajuste del
concepto de lengua pluricéntrica a lengua plurinormativa (porque su alcance no está en los
espacios o la diversidad, sino en la estandarización político-lingüística de la lengua
portuguesa) y promovemos el concepto del portugués como lengua acéntrica, hecha de
culturas, identidades y referencias múltiples e interconectadas.
PALABRAS CLAVE
:
Portugués. Lengua acêntrica. Plurinormativa. Portugués como lengua
extranjera. China.
Introduction
In this article, we intend to make an analysis of the concept of Portuguese multicentric
language, currently revisited and in vogue in the field of Applied Linguistics and Language
Didactics. To this end, we study the meanings of this concept and uncover the limitations or
inaccuracies of its theoretical foundation and its approach in the area of language teaching.
Through the analysis of the literature on this subject and the experience of teaching PLE in
China, a territory where the teaching of Portuguese has been acquiring relevance and
prominence, we elaborate alternatives to this concept in terms of nomenclature, and we discuss
the pluricentric issue applied to the Portuguese language. It is a language with more than one
national standard (two, concretely) and therefore binormative (or plurinormative, if one prefers
to avoid the prefix bi- and the exclusionary and binary connotation that expresses). We
understand that all languages require a normative character to establish, study, and teach.
However, the focus on pluricentric discussion reduces language to its normative, political and
polarized dimension. The Portuguese language is made of freedom and plurality so reducing it
to its normative aspect or to certain geographical spaces is to depersonalize it, diminish it and
oppress it. The personality of the Portuguese language should be pluri-, but not centric, for the
sake of its teaching, its future and its identity(s).
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Portuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529
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Pluricentric definitions and interpretations
The concept of pluricentric language, although not recent, has been recovered, studied
and discussed in the field of Linguistics and Portuguese Language. According to Clyne (1992)
a pluricentric language has several standardized or interacting forms, which usually correspond
to different countries, unlike monocentric languages, which have only a formally standardized
version. In other words, this concept implies the existence of several centers in interaction with
their own national variety and the existence of codified language standards. In addition to this
network of contiguous varieties with several centers, all languages are somewhat pluricentric,
in that they inevitably contain internal variation and different local norms (SILVA, 2013).
Individuals develop skills in various language codes, by will or by necessity, to respond
to the needs of communicating with others who do not share the same codes. The heterogeneity
of the language makes each norm necessarily have in itself the presence of the other. In the case
Portuguese, there are numerous variations that breathe within each of the countries where the
language is official (BATOREO; SILVA, 2012; SILVA, 2018).
For these reasons, pluricentric languages are "unifying and dividing peoples" because
they unify people through the use of language and divide them through the development of
norms and national and linguistic variables (SILVA, 2018, p. 1).
In this article, we highlight the definition advanced by Batoreo (2014) when he states
that in relation to the Portuguese language, pluricentrism is divided between two national
centers, Portuguese and Brazilian, as well as local registers present in African countries such as
Angola or Mozambique:
Pluricentrism means that we are faced with two national varieties of the
Portuguese language, the Portuguese standard and the Brazilian norm
(regardless of the dialectal variation existing in each of these countries) as well
as the local varieties spoken in each of the other countries (BATOREO, 2014,
p. 4, our translation).
The pluricentrism of the Portuguese language has an essentially bipolar character, based
on P
ortugal and Brazil and, therefore, is not exempt from disputes over the geopolitical space
of the language. As Clyne (1992, p. 1) argues, linguists based in historically older or more
political and economically more powerful centers tend to view other varieties as deviations
from their norm, or on an equal footing with regional dialects. Although it has been three
decades since the author signed these words, some of these visions solidified over time are still
felt, more or less underhanded, among academics who are dedicated to the study of the
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Portuguese language. Next, we will look at the ambiguity that the concept of pluricentrism
applied to the context of the Portuguese language seems to denote.
Portuguese language: from pluricentrism to plurinormativism
The literature indicates that the pluricentric discussion is established around linguistic
variants and norms, so the most appropriate term could be that of plurinormative language. In
our view, the multinormative adjective, concerning plurinormativism, contains greater accuracy
and allows a better basis for dialogue, because it does not refer to a centric or exclusive meaning.
Although in the literature in Portuguese on language teaching we have not found records of its
use, we found that it has been present among theoretical studies in the field of French
(BLANCHET, 1998) or Spanish (HERRERO, 2019; 2019) language studies; (MASUDA,
2020).
For Blanchet (1998), the concept of multinormative language has a structuralist
character very much linked to language levels or registers, while Herrero (2019) expresses a
more current and comprehensive contribution of plurinormativism that stands against the belief
in the superiority of one variety, considered exemplary, in relation to the others:
The recognition of plurinormativism is pronounced in the opposite direction
to lectocentrism. It is part of cultural relativism, which practices respect for
other cultures (languages) while valuing one's own. This leads to the
acceptance of cultural plurality (HERRERO, 2019, p. 137, our translation).
From Herrero's perspective, plurinormativism has a clearer and more inclusive
dimension concerning the acceptance of linguistic plurality, which does not refer to a centric
view, that is, it does not emphasize centrisms while announcing plurality and diversity.
The analysis of the literature allows us to verify that most of the studies dedicated to the
pluricentrism of the Portuguese language are limited to the exclusive and binominal circuit
Portugal/Brazil with some sporadic references to the Portuguese of Angola, and less to that of
Mozambique or Cape Verde, most often to highlight its similarities and proximity to the
Portuguese of Portugal, and thus further depersonalizing and marginalizing them. This
pluricentric statement may thus be fallacious, that is, leafy to the ear by its encompassor and
plural prefix, but semantically centered almost absolutely in a fossilized normative, bipolar and
essentially bicentric perspective of the Portuguese language, from which it needs to release.
The almost unethical m
essage of pluricentrism, in which
the center
appears linked to
the delineation or definition of an established and politically recognized norm, can itself be an
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obstacle to inclusive dialogue, diversity, multitudes and multiculturalism, as well as to the true
international dimension of the Portuguese language by capitalizing on the same socio-spatial
references (centers) and reducing the language to its political-linguistic character, making it,
therefore, conservative and less flexible or plural. The concept of pluricentric language
announces plurality, but ends up fomenting fiefdoms or borders, being mostly marked,
"manipulated" or "disputed" between linguists and theorists of Portugal and Brazil, as
Mozambican writer Mia Couto (2008, p. 8
, our translation
) refers:
I think it's serious to have manipulations... On the part of those who want to
be more than others, of those who dispute others! I think the dispute is between
Portugal and Brazil, who want to use this flag as an instrument to seek
privilege in the relationship with other Portuguese-speaking countries."
These manipulations and contentions hide under the concept of pluricentric language,
whose approach conceals the same often (bi)polarization of the Portuguese language while
proclaiming plurality, as if it needed to convince oneself, to believe in its own round words by
force of so much pronouncing them, instead of feeling or genuinely defending them.
For example, some studies on this theme, such as Duarte's (2016) on the norm to be
taught in the context of Portuguese as a pluricentric language, often mention that the
Mozambique Portuguese or the Angola Portuguese approach the European Portuguese, thus
presenting the latter, in a very natural and unchallenged way as a model or "centric" example,
Herrero (2019) and, previously, Clyne (1992).
But why is the Portuguese or Mozambican being more like the Portuguese of Portugal?
If we consider it unreasonable to say that Angolans or Mozambicans are more like the
Portuguese than with any other peoples, why do we insist on saying that the Portuguese of
Angola is closer to the Portuguese of Portugal if it has its identity, its characteristics, its worlds
and if it is an expression of its society and its unique experiences and realities?
In normative terms, the Portuguese of Portugal and the Portuguese of Brazil are still
today basic and assumed references from which we have difficulty in freeing ourselves even if
sometimes we seem to defend or try to convince otherwise.
In this article, we position ourselves against the demagogic pluricentrism made of main
c
enters (and urban) and peripheral and dependent centers as if they were, at the core, branches
or subsidiaries of the Portuguese-speaking company. Based on our world-class knowledge
arising from Portuguese's teaching experience in China, which we will then elucidate, we
advocate a
renewed
, inclusive and free language from the anchors that attach it to the same
spaces and to the same models or conceptions.
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Manuel João PIRES
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An acentric view of the Portuguese language by the hand of PLE teaching in China
China currently represents an important space in the dissemination of the Portuguese
language due to the economic dimension and the global interests of competitiveness and
employability associated with it. If we exclude countries with vast communities of emigrants
from Portuguese-speaking countries, China and Senegal, where Portuguese is taught as an
optional subject in the country's official education system to about 44,000 students (RAMOS,
2020), are the countries where Portuguese's education has been growing more markedly. This
growth in education Portuguese China in recent years has been reflected in an increase in the
number of institutions, teachers and students. Recent data point to about 50 higher education
institutions with Portuguese courses in China that include approximately five thousand students
(JATOBÁ, 2020; YAN; ALBUQUERQUE, 2019). In this context, we consider it appropriate
to develop research into the specificities surrounding the teaching and learning of Portuguese
China.
China's openness abroad and the strengthening of bilateral relations with Portuguese-
speaking countries has led to a proliferation of higher institutions with Portuguese. This
expansion of education in China was closely linked to the intensification of China's economic
and trade relations with Brazil and Angola (YE, 2014, p. 53). The economic reasons for the
establishment of business and commercial links with Brazil and with the Portuguese-speaking
African countries, of which Angola stands out, have led to a high demand and employability of
young graduates in Portuguese. The affirmation and internationalization of the Portuguese
language linked to its economic value has found in China an important ally to reinforce its
importance worldwide. Every year, hundreds of Chinese students choose to join this huge
Portuguese-speaking family.
We believe that all teachers who teach Portuguese abroad will recall some not so
obvi
ous reasons that cause students to embrace this language. We would have numerous to
mention since in China we have already introduced the Portuguese language to the most diverse
audiences, such as workers from companies in the process of going to Brazil, Angola or
Mozambique, children to join family members in Portugal and Brazil, avid language collectors
and even holders of golden visas in Portugal. Typically, the reasons that lead young Chinese
people to study Portuguese are the instrumental issues related to the prospects for a professional
future (YE, 2014) or family reasons for underage young people to be able to join their families
abroad and thus have the opportunity to attend more flexible education systems and less subject
to competition and succession of exams (PIRES, 2019). However, the motivation to study
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Portuguese also makes several exceptions or fortuitous, such as those we experienced and
started to mention: a student who joined the Portuguese because she had as idol the Brazilian
pilot Rubens Barrichello (Kaká, Arthur Zanetti, Cristiano Ronaldo or Michel Teló are other
personalities of which we have already registered the contribution to bring students to the family
of the Portuguese); three students who came to meet the Portuguese to read Fernando Pessoa in
the original (it is not of the most unusual motivations due to the influence of literature in this
process – Clarice Lispector, José Saramago and Jorge Amado are other registered names); a
student attracted by the figure of Vasco da Gama (it is part of the history curriculum of Chinese
secondary education); a student with a great admiration for volleyball and, in particular, for the
Brazilian Olympic teams of this sport. Among many others, such as the young woman who
after finishing her degree in journalism at another university, decided to take a sabbatical and
look for us to learn Portuguese. After a year of enormous perseverance, the young woman took
the proficiency exam and was able to obtain the certification that allowed her to access the
master's degree she now attends in Lisbon. The student's motivation to accomplish this goal?
Act. The Faúlha that connected her to the Portuguese language were the songs of Agir. She
became so passionate or stuck in the songs of the artist Portuguese Agir, even though she did
not understand the lyrics at that time, which eventually directed her life to the Portuguese
language and then to Portugal. That is, it is not only the economic and professional value of the
language, often the interest or motivation is born of personal tastes, affinities and of events or
unforeseen events that make unique the days and lives of each person.
Based on these peculiarities of the Portuguese Foreign Language, we question whether
it will represent the vitality of the Portuguese of China, in the light of the shake of pluricentric
flag-goers, one of the (pluri)centers of the Portuguese language? Is the Portuguese of Senegal
where education has spread in the public education system another center? And what about the
countries or regions where the various communities with Portuguese-speaking people are
present?
The pluricentric theory applied to the teaching of language suggests to be much more
c
entric than plural, because it does not involve all plurality or diversity that lives within the
Portuguese language, and that constitute its greatest richness and one of its most beautiful
distinctive features. The cultures and nuances that build it and spread throughout the world,
even the most remote and unofficial. A language that expresses and mixes everything a little,
revealing from its intricacies the classic and tropical, the sea and the desert and people of all
nature. A language that has germinated others and left offspring, from the Creole of West Africa
to those of India and Southeast Asia, from the Patuá of Macau to the Papiamento of the
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Caribbean Antilles. A language that even has the
Amazonian
, a kind of synopsis of the
Portuguese language itself. The Portuguese language has so much nature, so many worlds, lives
in so many places that we do not know all its scope and fullness.
But the Portuguese language is today much more than this knitting of us and historical
skeins, exploring and living in the most dispersed spaces and acquired in various ways, from
the classrooms to digital applications. The Portuguese language has a life that in today's
globalized world goes far beyond its traditional spatial references. Thus, in the light of PLE's
teaching, the pluricentric discussion assumes an antagonistic, adverse value, because it reduces,
individualizes and centralizes it when the goal should be to spread the language, promote it and
take it to more people and places, creating new references and connections. For these purposes,
division or fragmentation are weakening and counterproductive, because what should be taught
is only the Portuguese language.
The pluricentric theme may have relevance at the level of the national and internal
varieties of the language, but the academic discussion that has focused on the norm that should
be taught in PLE seems to us ancillary to the promotion of its international dimension and for
the convergence and intercomprehension for the teaching of the Portuguese language,
regardless of the standard adopted.
For a PLE teacher it should be more important to take into account the context in which
it is included and the needs of its learners in order to be able to teach the language more
fruitfully, than to make concerns, most often fruitless, about the standard used. It is, above all,
important that teachers see a current, international and inclusive perspective that awakens
students to the plurality and linguistic diversity (including the recognition of local languages in
some countries), social and cultural language, regardless of the language standard they use. As
Mia Couto (2008) points out, with regard to Portuguese-speaking countries, it is more important
to disclose what each people is building, their common history, as well as their common identity
assets, than to focus on agreements or norms that, in most cases, only reinforce divisions.
Inferences: manifest by an acentric language
In this article, we position ourselves by the affirmation and vigor of the Portuguese
language without normative overlaps or the recurrent centrisms camouflaged with good-
looking synonymy.
We advocate the promotion of an acentric Portuguese language that considers its spaces,
i
ts uses and its people equally. For a Portuguese language that is no more linguists than literate,
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it is no more artists than artisans, religious than agnostics. Its strength, its soul lies precisely in
the fact that it has no owners or corifeus, however much norms, ties or theoretical chains that
want to put on it.
We welcome the increasingly expressive voice that African countries are bringing to
the scientific discussion of issues related to the Portuguese language, promoting new
perspectives and approaches that include the role and space of other national languages
(MINGAS, 2007; MADEIRA, 2013; NGUNGA, 2012), freeing itself from the peripheral and
secondary role to which they have always been voted and
disputed
.
We call for dialogue and cooperation between Portuguese-speaking African countries
not to perpetuate this false impression (and depersonalization) that African variants are
"similar" either to the Portuguese of Portugal or with the Portuguese of Brazil, much by the
fruit of their study, their artistic expression, and their voice being announced through these two
countries.
As Mia Couto (2008, p. 1) states, Portuguese-speaking African countries "are at zero
degree" of mutual cultural knowledge, and there is still a "typically colonial triangle" and the
absence of exchanges in the field of literature, art or culture:
To know what's going on or what's going on in Cape Verde or Angola or
Guinea-Bissau or in Sao Tome and Principe I have to go to Europe, I pass by
Portugal. This typically colonial triangle continues to exist (MIA COUTO,
2018, p. 1, our translation)
We promote a Portuguese language without centers or capitals where all in their own
way contribute to its boiling. We consider that the Portuguese language has as many centers as
its speakers and that all differences must be celebrated, without, however, allowing them to
divide us.
We believe that one of the characteristics of an international language must be its
acentrism, that is, the absence of centers. The opposite of an acentric language such as
Portuguese can be verified through Chinese or Mandarin.
In China although there are hundreds of languages (which are officially considered
di
alects) through the vast territory of the world's most populous country, only the national
language, or
common language
, is taught and recognized globally (FRANCIS, 2016; HU, 2017,
KURPASKA, 2017). In addition, Chinese have a clearly assumed and defined center by both
teaching and linguistic policy agents and Chinese culture and society. The standardization of
the common language was elaborated around Chinese used in the North region, specifically in
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Manuel João PIRES
Rev. EntreLínguas,
Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529
DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
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Beijing (FRANCIS, 2016). Even students who learn Mandarin to foreigners prioritize
exchanges at higher education institutions in Beijing or Tianjin because they openly agree that
Mandarin in the North region is the most
correct
, most erudite, with the best pronunciation and
on which the language standard is based. This is an example of a political, socially and
culturally centric language with a clearly recognized and globally accepted pole.
The Portuguese as a language of diversity, of many spaces, people and identities, must
preserve and promote its inherently acentric nature. Moreover, it must be a language without
the pride of having or measuring centers (my center is better than yours), which have the
consequence of stimulating demarcation or segregation.
The borders of the Portuguese language are increasingly tenuous. The borders are no
longer only the sea, which the Portuguese language sees or contemplates, but above all the
people who use it and recreate it through several and scattered corners of the world. The richness
and diversity of a safe language of its multiple identities, and its interconnected cultures and
references is not done through the construction of centric or pluricentric walls, but of openness,
equidifference and active dialogue and interaction. By an acentric language, by the Portuguese
language.
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PIRES, M. J. Portuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a
foreign language in China perspective.
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Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529. DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412
Submitted:
20/11/2021
Revisions required:
09/01/2022
Approved:
23/02/2022
Published:
30/
03/2022