image/svg+xmlPortuguês, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na ChinaRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 1PORTUGUÊS, LÍNGUA ACÊNTRICA: REFLEXÕES PELA MÃO DO ENSINO DE PLE NA CHINA PORTUGUÉS, LENGUA ACÉNTRICA: REFLEXIONES DESDE LA PERSPECTIVA DE LA ENSEÑANZA DEL PORTUGUÉS COMO LENGUA EXTRANJERA EN CHINA PORTUGUESE, AN ACENTRIC LANGUAGE: REFLECTIONS FROM A TEACHING PORTUGUESE AS A FOREIGN LANGUAGE IN CHINA PERSPECTIVE Manuel João PIRES1RESUMO: Este artigo promove uma reflexão ensaística sobre a língua portuguesa, os seus espaços, cambiantes e (in)definições com base nas perspetivas decorrentes da experiência de ensinar Português Língua Estrangeira (PLE) na China ao longo de uma década. Neste âmbito, criticamos o conceito de língua pluricêntrica no âmbito do ensino de PLE por fazer depender a diversidade ou descentralização da língua portuguesa dos imperativos das normas linguísticas, prolongando uma visão normativa, polarizada e, essencialmente, bicêntrica da língua portuguesa. Neste artigo defendemos o reajustamento do conceito de língua pluricêntrica para língua plurinormativa (porque o seu escopo não está nos espaços ou na diversidade, mas na normatização político-linguística da língua portuguesa) e promovemos o conceito de português enquanto língua acêntrica, feita de múltiplas e interligadas culturas, identidades e referências. PALAVRAS-CHAVE: Português. Língua acêntrica. Plurinormativa. PLE. China. RESUMEN: Este artículo promueve una reflexión ensayística sobre la lengua portuguesa, sus espacios y (in)definiciones a partir de perspectivas surgidas de la experiencia de la enseñanza del portugués como lengua extranjera (PLE) en China durante la última década. En este contexto, criticamos el concepto de lengua pluricéntrica en el contexto de la enseñanza de PLE por hacer depender la diversidad o descentralización de la lengua portuguesa de los imperativos de las normas lingüísticas, perpetuando una visión normativa, polarizada y, esencialmente, bicéntrica de la lengua portuguesa. En este artículo defendemos el reajuste del concepto de lengua pluricéntrica a lengua plurinormativa (porque su alcance no está en los espacios o la diversidad, sino en la estandarización político-lingüística de la lengua portuguesa) y promovemos el concepto del portugués como lengua acéntrica, hecha de culturas, identidades y referencias múltiples e interconectadas. PALABRAS CLAVE:Portugués. Lengua acêntrica. Plurinormativa. Portugués como lengua extranjera. China. 1Universidade de Sun Yat-sen (SYSU), Cantão – China. Leitor de Português. Doutorando em português Língua Estrangeira (ULisboa). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1242-5319. E-mail: duarte@mail.sysu.edu.cn
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 2ABSTRACT: This article promotes an essayistic reflection on the Portuguese language, its spaces, changes, and (in)definitions based on perspectives arising from the experience of teaching Portuguese as a Foreign Language (PLE) in China over a decade. In this context, we criticize the concept of pluricentric language for making the diversity or decentralization of the Portuguese language depend on the imperatives of linguistic norms, extending a normative, polarized, and, essentially, a bicentric perspective of the Portuguese language. In this article, we defend the readjustment of the concept of pluricentric language to plurinormative language (because its scope is not in spaces or diversity, but the political-linguistic standardization of the Portuguese language) and we promote the concept of Portuguese as an acentric language, made of multiple and interconnected cultures, identities, and references. KEYWORDS:Portuguese. Acentric language. Plurinormative. Portuguese as a foreign language. China. IntroduçãoNeste artigo pretendemos fazer uma análise sobre o conceito de português língua pluricêntrica, atualmente revisitado e em voga no âmbito da Linguística Aplicada e da Didática de Línguas. Para este fim, estudamos os significados deste conceito e descortinamos as limitações ou imprecisões do seu fundamento teórico e da sua abordagem na área do ensino de línguas. Através da análise da literatura sobre este tema e da experiência de ensino de PLE na China, um território onde o ensino de português tem vindo a adquirir relevância e proeminência, elaboramos alternativas a este conceito em termos de nomenclatura, e discorremos sobre a questão pluricêntrica aplicada à língua portuguesa. Trata-se de uma língua com mais de uma norma nacional (duas, concretamente) e por isso binormativa (ou plurinormativa, caso se prefira evitar o prefixo bi- e a conotação excludente e binária que expressa). Entendemos que todas as línguas requerem um caráter normativo para se estabelecerem, estudarem e ensinarem. No entanto, o foco na discussão pluricêntrica reduz a língua à sua dimensão normativa, política e polarizada. A língua portuguesa é feita de liberdade e pluralidade pelo que reduzi-la ao seu aspeto normativo ou a determinados espaços geográficos é despersonalizá-la, diminui-la e oprimi-la. A personalidade da língua portuguesa deve ser pluri-, mas não cêntrica, para o bem do seu ensino, do seu futuro e da(s) sua(s) identidade(s).
image/svg+xmlPortuguês, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na ChinaRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 3Definições e interpretações pluricêntricas O conceito de língua pluricêntrica, embora não sendo recente, tem sido recuperado, estudado e discutido no âmbito da Linguística e do Ensino de Português Língua Estrangeira. Segundo Clyne (1992) uma língua pluricêntrica possui várias formas padronizadas ou codificadas em interação, que geralmente correspondem a diferentes países, ao contrário das línguas monocêntricas, que possuem apenas uma versão formalmente padronizada. Ou seja, este conceito implica a existência de vários centros em interação com a sua própria variedade nacional e a existência de normas linguísticas codificadas. Para além desta rede de variedades contíguas com diversos centros, todas as línguas são de certa forma pluricêntricas, na medida em que contêm inevitavelmente variação interna e diferentes normas locais (SILVA, 2013). Os indivíduos desenvolvem competências em vários códigos linguísticos, por vontade ou por necessidade, para responder às necessidades de comunicar com o outro que não partilha os mesmos códigos. A heterogeneidade da língua faz com que cada norma tenha necessariamente em si a presença do outro. No caso do português, existem inúmeras variações que respiram dentro de cada um dos países onde a língua é oficial (BATOREO; SILVA, 2012; SILVA, 2018). Por estes motivos, as línguas pluricêntricas são “unificadoras e divisoras dos povos” pois unificam as pessoas através do uso da língua e separam-nas por meio do desenvolvimento de normas e nacionais e variáveis linguísticas (SILVA, 2018, p. 1). Neste artigo, destacamos a definição adiantada por Batoreo (2014) quando afirma que em relação à língua portuguesa, o pluricentrismo se divide entre dois centros nacionais, o Português e o Brasileiro, assim como os registos locais presentes em países africanos como Angola ou Moçambique: O pluricentrismo significa que estamos perante duas variedades nacionais da Língua Portuguesa, a norma portuguesa e a norma brasileira (independentemente da variação dialectal existente em cada um destes países) bem como perante as variedades locais faladas em cada um dos outros países (BATOREO, 2014, p. 4). O pluricentrismo da língua portuguesa tem um carácter essencialmente bipolar, assente em Portugal e no Brasil e, por isso, não está isento de disputas pelo espaço geopolítico da língua. Tal como argumenta Clyne (1992, p. 1), os linguistas baseados nos centros historicamente mais antigos ou política e economicamente mais poderosos tendem a encarar outras variedades como desvios da sua norma, ou em pé de igualdade com os dialetos
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 4regionais. Embora tenham passado três décadas desde que o autor firmou estas palavras, algumas destas visões solidificadas ao longo do tempo ainda se fazem sentir, de forma mais ou menos dissimulada, por entre os académicos que se dedicam ao estudo da língua portuguesa. Seguidamente debruçar-nos-emos sobre a ambiguidade que o conceito de pluricentrismo aplicado ao contexto da língua portuguesa parece denotar. Língua Portuguesa: do pluricentrismo ao plurinormativismo A literatura indica que a discussão pluricêntrica se estabelece em torno das variantes e normas linguísticas, pelo que o termo mais adequado poderia ser o de língua plurinormativa. A nosso ver, o adjetivo plurinormativo, relativo ao plurinormativismo, encerra maior acurácia e permite uma melhor base de diálogo, pois não remete para uma acepção cêntrica ou exclusiva. Embora na literatura em português sobre o ensino de línguas não tenhamos encontrado registos do seu uso, verificamos que tem marcado presença entre os estudos teóricos no campo do ensino de língua francesa (BLANCHET, 1998) ou espanhola (HERRERO, 2017; 2019; MASUDA, 2020). Para Blanchet (1998), o conceito de língua plurinormativa tem um caráter estruturalista muito ligado aos níveis ou registos de língua, ao passo que Herrero (2019) expressa um contributo mais atual e abrangente de plurinormativismo que se posiciona contra a crença na superioridade de uma variedade, considerada exemplar, em relação às outras: El reconocimiento del plurinormativismo se pronuncia en sentido contrario al lectocentrismo. Se enmarca en el relativismo cultural, que practica el respeto a otras culturas (lenguas) sin dejar de valorar la propia. Ello conduce a la aceptación de la pluralidad cultural (HERRERO, 2019, p. 137). Na perspectiva de Herrero, o plurinormativismo tem uma dimensão mais clara e inclusiva em relação à aceitação da pluralidade linguística, que não remete para uma visão cêntrica, ou seja, não enfatiza centrismos ao mesmo tempo que anuncia a pluralidade e a diversidade. A análiseda literatura permite verificar que grande parte dos estudos que se dedicam ao pluricentrismo da língua portuguesa se limitam ao circuito exclusivo e binominal Portugal/Brasil com algumas esporádicas referências ao português de Angola, e menos ao de Moçambique ou Cabo-Verde, na maior parte das vezes para destacar as suas semelhanças, parecenças e proximidades ao português de Portugal, e, dessa forma, ainda mais os despersonalizando e marginalizando. Esta afirmação pluricêntrica poderá ser, assim, falaciosa,
image/svg+xmlPortuguês, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na ChinaRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 5ou seja, frondosa ao ouvido pelo seu abrangedor e plural prefixo, mas semanticamente centrada quase em absoluto numa fossilizada perspectiva normativa, bipolar e essencialmente bicêntrica da língua portuguesa, da qual necessita de libertar. A mensagem quase antitética de pluricentrismo, em que o centro surge ligado à delineação ou definição de uma norma estabelecida e politicamente reconhecida, pode ser por si própria um entrave ao diálogo inclusivo, à diversidade, às multitudes e multiculturas, assim como à verdadeira dimensão internacional da língua portuguesa por capitalizar as mesmas referências socioespaciais (centros) e reduzir a língua ao seu caráter político-linguístico, tornando-a, por isso, conservadora e menos flexível ou plural. O conceito de língua pluricêntrica anuncia a pluralidade, mas acaba por fomentar feudos ou fronteiras, sendo maioritariamente balizado, “manipulado” ou “disputado” entre linguistas e teóricos de Portugal e Brasil, tal como o escritor moçambicano Mia Couto (2008, p. 8) refere: Acho que é grave haver manipulações… Da parte dos que querem ser mais que os outros, dos que disputam os outros! Eu acho que a disputa é entre Portugal e Brasil, que querem usar esta bandeira como instrumento de busca de privilégio na relação com os outros países de língua portuguesa.” Estas manipulações e contendas escondem-se sob o conceito de língua pluricêntrica, cuja abordagem dissimula a mesma amiúde (bi)polarização da língua portuguesa enquanto apregoa a pluralidade, como se precisasse de se convencer disso mesmo, de acreditar nas suas próprias redondas palavras à força de tanto as pronunciar, em vez de as sentir ou defender genuinamente. Por exemplo, alguns estudos sobre esta temática, como o de Duarte (2016) sobre a norma a ensinar no contexto do português como língua pluricêntrica, referem várias vezes que o Português de Moçambique ou o Português de Angola se aproximam do Português Europeu, apresentando-se, assim, este último, de forma bastante natural e incontestada como modelo ou exemplo “cêntrico”, à imagem do que refere Herrero (2019) e, anteriormente, Clyne (1992). Mas porque será o português angolano ou o moçambicano mais parecido com o português de Portugal? Se consideramos descabido afirmar que angolanos ou moçambicanos são mais parecidos com os portugueses do que com quaisquer outros povos, porque se insiste em dizer que o Português de Angola é mais próximo do Português de Portugal se tem a sua identidade, a suas características, os seus mundos e bundos e se é expressão da sua sociedade e das suas singulares vivências e realidades?
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 6Em termos normativos, o Português de Portugal e o Português do Brasil constituem ainda hoje referências basilares e assumidas das quais temos dificuldade em nos libertar mesmo que, por vezes, pareçamos defender ou tentar convencer do contrário. Neste artigo, posicionamo-nos contra o pluricentrismo demagógico feito de centros principais (e urbanos) e de centros periféricos e dependentes como se fossem, no âmago, sucursais ou subsidiárias da empresa língua portuguesa. Com base na nossa mundividência decorrente da experiência de ensino de português na China, que seguidamente elucidaremos, defendemos uma linguavidênciarenovada, inclusiva e liberta das âncoras que a prendem aos mesmos espaços e aos mesmos modelos ou concepções. Uma visão acêntrica da língua portuguesa pela mão do ensino de PLE na China A China representa atualmente um espaço importante na difusão da língua portuguesa devido à dimensão económica e aos interesses globais de competitividade e empregabilidade que lhe estão associados. Se excluirmos os países com vastas comunidades de emigrantes provenientes de países de língua portuguesa, a China e o Senegal, onde o Português é ensinado como disciplina opcional no sistema de ensino oficial do país a cerca de 44 mil alunos (RAMOS, 2020), são os países onde o ensino de português tem vindo a crescer de forma mais acentuada. Este crescimento do ensino de português na China nos últimos anos tem-se refletido num aumento do número de instituições, professores e alunos. Os dados recentes apontam para cerca de 50 instituições de ensino superior com cursos de português na China que englobam aproximadamente cinco milhares de estudantes (JATOBÁ, 2020; YAN; ALBUQUERQUE, 2019). Neste âmbito, consideramos pertinente desenvolver investigações que se debrucem sobre as especificidades que envolvem o ensino e a aprendizagem de português da China. A abertura da China ao exterior e o fortalecimento das relações bilaterais com os países de língua portuguesa conduziu a uma proliferação de instituições superiores com programas de português. Esta expansão do ensino na China esteve intimamente ligada à intensificação das relações económicas e comerciais da China com o Brasil e Angola (YE, 2014, p. 53). As razões de natureza económica com vista ao estabelecimento de negócios e elos comerciais com o Brasil e com os países africanos de língua portuguesa, dos quais se destaca Angola, levaram a uma elevada procura e empregabilidade de jovens licenciados em língua portuguesa. A afirmação e internacionalização da língua portuguesa ligada ao seu valor económico encontrou na China um aliado importante para reforçar a sua importância a nível
image/svg+xmlPortuguês, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na ChinaRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 7mundial. Anualmente, centenas de estudantes chineses optam por se juntar à esta enorme família da língua portuguesa. Consideramos que todos os professores que ensinam português no estrangeiro recordarão alguns motivos não tão evidentes que fazem com que os alunos abracem esta língua. Teríamos inúmeros para referir uma vez que na China já introduzimos a língua portuguesa aos mais diversos públicos, tal como trabalhadores de empresas em vias de ir para o Brasil, Angola ou Moçambique, crianças para se juntarem a familiares em Portugal e no Brasil, ávidos colecionadores de línguas e até detentores de vistos dourados em Portugal. Normalmente, os motivos que levam os jovens chineses a estudar português são as questões instrumentais ligadas às perspectivas de futuro profissional (YE, 2014) ou razões familiares para os jovens de menor idade se poderem juntar aos seus familiares no estrangeiro e assim terem a oportunidade de frequentar sistemas de ensino mais flexíveis e menos sujeitos à competição e sucessão de exames (PIRES, 2019). Contudo, a motivação para estudar português também se faz de várias excepções ou fortuitidades, como as que vivenciámos e passamos a mencionar: uma aluna que se juntou ao português porque tinha como ídolo o piloto brasileiro Rubens Barrichello (Kaká, Arthur Zanetti, Cristiano Ronaldo ou Michel Teló são outras personalidades das quais já registámos a contribuição para trazer alunos para a família do português); três alunas que vieram ao encontro do português para ler Fernando Pessoa no original (não é das motivações mais incomuns devido à influência da literatura neste processo – Clarice Lispector, José Saramago e Jorge Amado são outros nomes registados); um aluno atraído pela figura de Vasco da Gama (faz parte do currículo de História do ensino secundário chinês); uma aluna com uma grande admiração por voleibol e, em particular, pelas seleções olímpicas brasileiras deste desporto. Entre muitas outras, tal como a jovem que depois de acabar a sua graduação em jornalismo numa outra universidade, decidiu tirar um ano sabático e procurar-nos para aprender português. Após um ano de enorme perseverança, a jovem realizou o exame de proficiência e conseguiu obter a certificação que lhe permitiu aceder ao mestrado que agora frequenta em Lisboa. A motivação da aluna para cumprir este objetivo? Agir. A faúlha que a ligou à língua portuguesa foram as músicas de Agir. Ficou tão apaixonada ou grudada nas músicas do artista português Agir, mesmo não entendendo as letras nessa época, que acabaram por lhe dirigir a vida para a língua portuguesa e depois para Portugal. Ou seja, não é apenas o valor económico e profissional da língua, inúmeras vezes o interesse ou a motivação nasce de gostos pessoais, de afinidades e de acasos ou imprevistos que tornam únicos os dias e as vidas de cada pessoa.
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 8Com base nestas peculiaridades do Português Língua Estrangeira, questionamos se representará a vitalidade do português da China, à luz do agitar de pluricêntricas bandeirinhas, um dos (pluri)centros da língua portuguesa? Será o português do Senegal onde o ensino se tem difundido no sistema público de ensino outro centro? E o que dizer dos países ou regiões onde estão presentes as diversas comunidades com gentes da língua portuguesa? A teoria pluricêntrica aplicada ao ensino da língua sugere ser muito mais cêntrica do que plural, pois não envolve toda a pluralidade ou diversidade que vive dentro da língua portuguesa, e que constituem a sua maior riqueza e um dos seus mais belos traços distintivos. As culturas e as nuances que a edificam e se espalham por todos os recantos do mundo, mesmo os mais recônditos e não-oficiais. Uma língua que expressa e mistura de tudo um pouco, revelando desde os seus meandros o clássico e o tropical, o mar e o deserto e gentes de toda a natureza. Uma língua que germinou outras e deixou prole, desde os crioulos do ocidente africano aos da Índia e do sudeste asiático, do patuá de Macau ao papiamento das antilhas caribenhas. Uma língua que tem até o amazonês,uma espécie de sinopse da própria língua portuguesa. A língua portuguesa tem tanta natureza, tantos mundos, vive em tantos lugares que desconhecemos todo seu alcance e plenitude. Mas a língua portuguesa é hoje muito mais que este tricô de nós e novelos históricos, explorando e vivendo nos mais dispersos espaços e adquirida das mais diversas formas, desde as salas de aula aos aplicativos digitais. A língua portuguesa tem uma vida que no atual mundo globalizado vai muito além das suas tradicionais referências espaciais. Deste modo, à luz do ensino de PLE, a discussão pluricêntrica assume um valor antagónico, adverso, porque a reduz, particulariza e centraliza quando o objetivo deverá ser o de difundir a língua, promovê-la e levá-la a mais gentes e lugares, criando novas referências e conexões. Para estes fins, a divisão ou a fragmentação são enfraquecedoras e contraproducentes, pois o que deve ser ensinado é tão somente a língua portuguesa. A temática pluricêntrica poderá ter pertinência a nível das variedades nacionais e internas da língua, mas a discussão académica que se tem debruçado sobre a norma que deve ser ensinada em PLE parece-nos acessória para a promoção da sua dimensão internacional e para a convergência e intercompreensão em prol do ensino da língua portuguesa, independentemente da norma adotada. Para um professor de PLE deverá ser mais importante tomar em consideração o contexto em que se insere e as necessidades dos seus aprendentes de modo a poder lecionar a língua de forma mais profícua, do que tecer inquietações, na maioria das vezes infrutíferas, acerca da norma utilizada. Reveste-se, sobretudo, de importância que os professores veiculem
image/svg+xmlPortuguês, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na ChinaRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 9uma perspetiva atual, internacional e inclusiva que desperte os alunos para a pluralidade e diversidade linguística (incluindo o reconhecimento das línguas locais em alguns países), social e cultural da língua, independentemente da norma linguística que utilizem. Tal como Mia Couto (2008) refere, a propósito dos países de língua portuguesa, é mais importante divulgar o que cada povo está a construir, a sua história comum, bem como os seus patrimónios de identidade comum, do que focar em acordos ou normas que, na maior parte das vezes, apenas reforçam divisões. Inferências: manifesto por uma língua acêntrica Neste artigo, posicionamo-nos pela afirmação e vigor da língua portuguesa sem sobreposições de natureza normativa nem os recorrentes centrismos camuflados com sinonímia bem-parecida. Defendemos a promoção de uma língua portuguesa acêntrica que considera os seus espaços, os seus usos e as suas gentes por igual. Por uma língua portuguesa que não é mais de linguistas do que de iletrados, não é mais de artistas do que de artesãos, de religiosos do que de agnósticos. A sua força, a sua alma reside precisamente no facto de não ter donos nem corifeus, por mais normas, amarras ou correntes teóricas que lhe queiram colocar. Saudamos a voz cada vez mais expressiva que os países africanos estão a trazer para a discussão científica dos assuntos relacionados com a língua portuguesa, promovendo novas perspectivas e abordagens que incluem o papel e o espaço das outras línguas nacionais (MINGAS, 2007; MADEIRA, 2013; NGUNGA, 2012), libertando-se do papel periférico e secundário a que sempre estiveram votados e disputados. Apelamos ao diálogo e à cooperação entre os países africanos de língua portuguesa para que não se perpetue esta falsa impressão (e despersonalização) de que as variantes africanas são “parecidas” ou com o português de Portugal ou com o português do Brasil, muito por fruto do seu estudo, a sua expressão artística, e a sua voz ser anunciada através destes dois países. Tal como afirma Mia Couto (2008, p. 1), os países africanos de língua portuguesa “estão no grau zero” de conhecimento cultural mútuo, continuando a verificar-se um “triângulo tipicamente colonial” e a inexistência de trocas no domínio da literatura, arte ou cultura:
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 10Para conhecer o que se passa ou o que se faz em Cabo Verde ou em Angola ou na Guiné-Bissau ou em São Tomé e Príncipe tenho de ir à Europa, passo por Portugal. Esse triângulo tipicamente colonial continua a existir (MIA COUTO, 2018, p. 1) Fomentamos uma língua portuguesa sem centros nem capitais onde todos à sua singular maneira contribuem para a sua ebulição. Consideramos que a língua portuguesa tem tantos centros quantos os seus falantes e que todas as diferenças devem ser celebradas, sem, no entanto, permitir que nos dividam. Entendemos que uma das características de uma língua internacional deve ser o seu acentrismo, isto é, a ausência de centros. O contrário de uma língua acêntrica como o português pode se verificar através da língua chinesa ou mandarim. Na China apesar de haver centenas de línguas (que oficialmente são tidas como dialetos) por entre o vasto território do país mais populoso do mundo, apenas a língua nacional, ou língua comum, é ensinada e reconhecida globalmente (FRANCIS, 2016; HU, 2017, KURPASKA, 2017). Além disso, o chinês tem um centro claramente assumido e definido tanto pelos agentes de ensino e de política linguística como pela cultura e pela sociedade chinesa. A estandardização da língua comum foi elaborada em torno do chinês utilizado na região Norte, concretamente em Pequim (FRANCIS, 2016). Inclusive, os estudantes que aprendem mandarim para estrangeiros priorizam fazer intercâmbios nas instituições de ensino superior de Pequim ou Tianjin por se convencionar abertamente que o mandarim da região Norte é o mais correto, mais erudito, com melhor pronúncia e no qual a norma da língua se fundamenta. Este é um exemplo de uma língua política, social e culturalmente cêntrica com um polo claramente reconhecido e globalmente aceite. O português como língua de diversidade, de muitos espaços, pessoas e identidades, deve preservar e promover a sua natureza inerentemente acêntrica. Aliás, deve ser uma língua sem a soberba de ter ou de medir centros (o meu centro é melhor que o teu), que mormente têm como consequência estimular a demarcação ou a segregação. As fronteiras da língua portuguesa são cada vez mais ténues. As fronteiras já não são só o mar, que a língua portuguesa avista ou contempla, mas são sobretudo as pessoas que a usam e recriam por vários e dispersos cantos do mundo. A riqueza e diversidade de uma língua segura das suas múltiplas identidades, e das suas interligadas culturas e referências não se faz através da construção de cêntricos ou pluricêntricos muros, mas de abertura, equidiferença e de ativo diálogo e interação. Por uma língua acêntrica, pela língua portuguesa.
image/svg+xmlPortuguês, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na ChinaRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 11REFERÊNCIAS BATOREO, H. J. Que gramática(s) temos para estudar o Português língua pluricêntrica? Revista Diadorim, Rio de Janeiro, v. 16, p. 1-15, 2014. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/diadorim/article/view/4023. Acesso em: 10 abr. 2021. BATOREO, H. J.; SILVA, A. S. Estudar o português como língua pluricêntrica no enquadramento da Linguística Cognitiva com foco nas variedades nacionais do PE e PB. In: TEIXEIRA E SILVAet al. (org.). III SIMELP: A formação de novas gerações de falantes de português no mundo. China, Macau: Universidade de Macau, 2012. BLANCHET, P. Introduction à la complexité de l'enseignement du français langue étrangère. Leuven: Peeters Publishers, 1998. COUTO, M. Países africanos lusófonos relacionam-se num “triângulo tipicamente colonial”. Entrevista cedidada a Lusa. Jornal Público, 10 fev. 2018. Disponível em: https://www.publico.pt/2018/02/10/culturaipsilon/noticia/paises-africanos-lusofonos-relacionamse-num-triangulo-tipicamente-colonial-diz-mia-couto-1802715. Acesso em: 22 abr. 2021. COUTO; M. Entrevista Mia Couto. Entrevista cedida a Gil Felipe. Revista Bula, 08 dez. 2008. Disponível em: https://acervo.revistabula.com/posts/entrevistas/entrevista-mia-couto. Acesso em: 19 abr. 2021. CLYNE, M. (ed.). Pluricentric Languages. Differing norms in different nations. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 1992. DUARTE, I. Português, língua pluricêntrica: Que português ensinar em aulas de língua estrangeira? In: ANDRADE, C.; MICHELETTI, G; SEARA, I. (org.). Memória, Discurso e Tecnologia. São Paulo: Terracota editora, 2016. FRANCIS, N. Language and dialect in China. Chinese Language and Discourse, v. 7, n. 1, p. 136-149, 2016. Disponível em: https://www.jbe-platform.com/content/journals/10.1075/cld.7.1.05fra. Acesso em: 15 mar. 2021. HERRERO, M. A. Etnocentrismo lingüístico vs. Plurinormativismo. Consideraciones sobre la variación y variedad del español LE/L2. In: MAESTU, E.; ANDREVA, F.; LÓPEZ, M. (eds.). Panhispanismo y variedades en la enseñanza del español L2-LE. ASELE: España, 2017, p. 131-140. HERRERO, M. A. Del lectocentrismo al plurinormativismo. Reflexiones sobre la variedad del español como lengua segunda o extranjera. Estudios Filológicos, n. 64, p. 129-148, 2019. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7755412. Acesso em: 10 jan. 2021. HU, K. The Cantonese Linguicide: A Study of Prospective Language Death in Hong Kong. International Journal of Culture and History, v. 3,n. 2, p. 134-141, 2017. Disponível em: http://www.ijch.net/vol3/090-LM0025.pdf. Acesso em: 17 mar. 2021.
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 12JATOBÁ, J. R. Política e Planejamento Linguístico na China: Promoção e Ensino da Língua Portuguesa. 2020. Tese (Doutorado em Português Língua Estrangeira) – Faculdade de Artes e Humanidades, Universidade de Macau, China, 2020. KURPASKA, M. The effects of language policy in China. AJęzyk. Komunikacja. Informacja. n. 12, p. 14-24, 2017. Disponível em: http://yadda.icm.edu.pl/yadda/element/bwmeta1.element.ojs-doi-10_14746_jki_2017_12_1. Acesso em: 10 jun. 2021. MASUDA, K. Ideología del estándar y realidad plurinormativa de la lengua española: el caso de ELE en Japón. 2020. Tese (Doutorado em Filologia Hispânica) – Facultad de Filología y Comunicación, Universitat de Barcelona, España, 2020. MINGAS, A. Interferência do kimbundu no português falado em Lwanda. Luanda: Chá de Caxinde, 2007. NGUNGA, A. Interferências de línguas moçambicanas em português falado em Moçambique. Revista Científica da Universidade Eduardo Mondlane, v. 1, n. 0, p. 7-20, 2012. Disponível em: http://www.revistacientifica.uem.mz/revista/index.php/lcs/article/view/32. Acesso em: 02 dez. 2020. PIRES, M. J. Gaokao: fare more than an exam. Revista Diadorim, Rio de Janeiro, v. 21, Especial, p. 168-185, 2019. Disponível em: https://revistas.ufrj.br/index.php/diadorim/article/view/27418/17545. Acesso em: 17 out. 2020. SILVA, A. S. Pluricentricity: Language Variation and Sociocognitive Dimensions. New York: De Gruyter, 2013. SILVA, A. S. O português no mundo e a sua estandardização: entre a realidade de uma língua pluricêntrica e o desejo de uma língua internacional. In: BARROSO, H. (coord.). O Português na Casa do Mundo, Hoje. Braga: Centro de Estudos Humanísticos da universidade do Minho. 2018. YAN, Q.; ALBUQUERQUE, F. O Ensino do Português na China – Parâmetros e Perspetivas. Natal: EDUFRN, 2019. YE, Z. Algumas Considerações sobre a Expansão do Ensino da Língua Portuguesa na China. In: GROSSO, M. J.; GODINHO, A. P. (eds.). O Português na China: Ensino e Investigação. Lisboa: Lidel, 2014.
image/svg+xmlPortuguês, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na ChinaRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 13Como referenciar este artigo PIRES, M. J. Português, língua acêntrica: Reflexões pela mão do ensino de PLE na China. Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2447-3529. DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 Submetido em: 20/11/2021 Revisões requeridas em: 09/01/2022 Aprovado em: 23/02/2022 Publicado em:30/03/2022
image/svg+xmlPortuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 1PORTUGUESE, AN ACENTRIC LANGUAGE: REFLECTIONS FROM A TEACHING PORTUGUESE AS A FOREIGN LANGUAGE IN CHINA PERSPECTIVE PORTUGUÊS, LÍNGUA ACÊNTRICA: REFLEXÕES PELA MÃO DO ENSINO DE PLE NA CHINA PORTUGUÉS, LENGUA ACÉNTRICA: REFLEXIONES DESDE LA PERSPECTIVA DE LA ENSEÑANZA DEL PORTUGUÉS COMO LENGUA EXTRANJERA EN CHINA Manuel João PIRES1ABSTRACT: This article promotes an essayistic reflection on the Portuguese language, its spaces, changes, and (in)definitions based on perspectives arising from the experience of teaching Portuguese as a Foreign Language (PLE) in China over a decade. In this context, we criticize the concept of pluricentric language for making the diversity or decentralization of the Portuguese language depend on the imperatives of linguistic norms, extending a normative, polarized, and, essentially, a bicentric perspective of the Portuguese language. In this article, we defend the readjustment of the concept of pluricentric language to plurinormative language (because its scope is not in spaces or diversity, but the political-linguistic standardization of the Portuguese language) and we promote the concept of Portuguese as an acentric language, made of multiple and interconnected cultures, identities, and references. KEYWORDS: Portuguese. Acentric language. Plurinormative. Portuguese as a foreign language. China. RESUMO: Este artigo promove uma reflexão ensaística sobre a língua portuguesa, os seus espaços, cambiantes e (in)definições com base nas perspectivas decorrentes da experiência de ensinar Português Língua Estrangeira (PLE) na China ao longo de uma década. Neste âmbito, criticamos o conceito de língua pluricêntrica no âmbito do ensino de PLE por fazer depender a diversidade ou descentralização da língua portuguesa dos imperativos das normas linguísticas, prolongando uma visão normativa, polarizada e, essencialmente, bicêntrica da língua portuguesa. Neste artigo defendemos o reajustamento do conceito de língua pluricêntrica para língua plurinormativa (porque o seu escopo não está nos espaços ou na diversidade, mas na normatização político-linguística da língua portuguesa) e promovemos o conceito de português enquanto língua acêntrica, feita de múltiplas e interligadas culturas, identidades e referências. PALAVRAS-CHAVE: Português. Língua acêntrica. Plurinormativa. PLE. China. 1Sun Yat-sen University (SYSU), Canton – China. Portuguese reader. PhD in Portuguese Foreign language (ULisbon). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1242-5319. E-mail: duarte@mail.sysu.edu.cn
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 2RESUMEN: Este artículo promueve una reflexión ensayística sobre la lengua portuguesa, sus espacios y (in)definiciones a partir de perspectivas surgidas de la experiencia de la enseñanza del portugués como lengua extranjera (PLE) en China durante la última década. En este contexto, criticamos el concepto de lengua pluricéntrica en el contexto de la enseñanza de PLE por hacer depender la diversidad o descentralización de la lengua portuguesa de los imperativos de las normas lingüísticas, perpetuando una visión normativa, polarizada y, esencialmente, bicéntrica de la lengua portuguesa. En este artículo defendemos el reajuste del concepto de lengua pluricéntrica a lengua plurinormativa (porque su alcance no está en los espacios o la diversidad, sino en la estandarización político-lingüística de la lengua portuguesa) y promovemos el concepto del portugués como lengua acéntrica, hecha de culturas, identidades y referencias múltiples e interconectadas. PALABRAS CLAVE:Portugués. Lengua acêntrica. Plurinormativa. Portugués como lengua extranjera. China. IntroductionIn this article, we intend to make an analysis of the concept of Portuguese multicentric language, currently revisited and in vogue in the field of Applied Linguistics and Language Didactics. To this end, we study the meanings of this concept and uncover the limitations or inaccuracies of its theoretical foundation and its approach in the area of language teaching. Through the analysis of the literature on this subject and the experience of teaching PLE in China, a territory where the teaching of Portuguese has been acquiring relevance and prominence, we elaborate alternatives to this concept in terms of nomenclature, and we discuss the pluricentric issue applied to the Portuguese language. It is a language with more than one national standard (two, concretely) and therefore binormative (or plurinormative, if one prefers to avoid the prefix bi- and the exclusionary and binary connotation that expresses). We understand that all languages require a normative character to establish, study, and teach. However, the focus on pluricentric discussion reduces language to its normative, political and polarized dimension. The Portuguese language is made of freedom and plurality so reducing it to its normative aspect or to certain geographical spaces is to depersonalize it, diminish it and oppress it. The personality of the Portuguese language should be pluri-, but not centric, for the sake of its teaching, its future and its identity(s).
image/svg+xmlPortuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 3Pluricentric definitions and interpretations The concept of pluricentric language, although not recent, has been recovered, studied and discussed in the field of Linguistics and Portuguese Language. According to Clyne (1992) a pluricentric language has several standardized or interacting forms, which usually correspond to different countries, unlike monocentric languages, which have only a formally standardized version. In other words, this concept implies the existence of several centers in interaction with their own national variety and the existence of codified language standards. In addition to this network of contiguous varieties with several centers, all languages are somewhat pluricentric, in that they inevitably contain internal variation and different local norms (SILVA, 2013). Individuals develop skills in various language codes, by will or by necessity, to respond to the needs of communicating with others who do not share the same codes. The heterogeneity of the language makes each norm necessarily have in itself the presence of the other. In the case Portuguese, there are numerous variations that breathe within each of the countries where the language is official (BATOREO; SILVA, 2012; SILVA, 2018). For these reasons, pluricentric languages are "unifying and dividing peoples" because they unify people through the use of language and divide them through the development of norms and national and linguistic variables (SILVA, 2018, p. 1). In this article, we highlight the definition advanced by Batoreo (2014) when he states that in relation to the Portuguese language, pluricentrism is divided between two national centers, Portuguese and Brazilian, as well as local registers present in African countries such as Angola or Mozambique: Pluricentrism means that we are faced with two national varieties of the Portuguese language, the Portuguese standard and the Brazilian norm (regardless of the dialectal variation existing in each of these countries) as well as the local varieties spoken in each of the other countries (BATOREO, 2014, p. 4, our translation). The pluricentrism of the Portuguese language has an essentially bipolar character, based on Portugal and Brazil and, therefore, is not exempt from disputes over the geopolitical space of the language. As Clyne (1992, p. 1) argues, linguists based in historically older or more political and economically more powerful centers tend to view other varieties as deviations from their norm, or on an equal footing with regional dialects. Although it has been three decades since the author signed these words, some of these visions solidified over time are still felt, more or less underhanded, among academics who are dedicated to the study of the
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 4Portuguese language. Next, we will look at the ambiguity that the concept of pluricentrism applied to the context of the Portuguese language seems to denote. Portuguese language: from pluricentrism to plurinormativism The literature indicates that the pluricentric discussion is established around linguistic variants and norms, so the most appropriate term could be that of plurinormative language. In our view, the multinormative adjective, concerning plurinormativism, contains greater accuracy and allows a better basis for dialogue, because it does not refer to a centric or exclusive meaning. Although in the literature in Portuguese on language teaching we have not found records of its use, we found that it has been present among theoretical studies in the field of French (BLANCHET, 1998) or Spanish (HERRERO, 2019; 2019) language studies; (MASUDA, 2020). For Blanchet (1998), the concept of multinormative language has a structuralist character very much linked to language levels or registers, while Herrero (2019) expresses a more current and comprehensive contribution of plurinormativism that stands against the belief in the superiority of one variety, considered exemplary, in relation to the others: The recognition of plurinormativism is pronounced in the opposite direction to lectocentrism. It is part of cultural relativism, which practices respect for other cultures (languages) while valuing one's own. This leads to the acceptance of cultural plurality (HERRERO, 2019, p. 137, our translation). From Herrero's perspective, plurinormativism has a clearer and more inclusive dimension concerning the acceptance of linguistic plurality, which does not refer to a centric view, that is, it does not emphasize centrisms while announcing plurality and diversity. The analysis of the literature allows us to verify that most of the studies dedicated to the pluricentrism of the Portuguese language are limited to the exclusive and binominal circuit Portugal/Brazil with some sporadic references to the Portuguese of Angola, and less to that of Mozambique or Cape Verde, most often to highlight its similarities and proximity to the Portuguese of Portugal, and thus further depersonalizing and marginalizing them. This pluricentric statement may thus be fallacious, that is, leafy to the ear by its encompassor and plural prefix, but semantically centered almost absolutely in a fossilized normative, bipolar and essentially bicentric perspective of the Portuguese language, from which it needs to release. The almost unethical message of pluricentrism, in which the center appears linked to the delineation or definition of an established and politically recognized norm, can itself be an
image/svg+xmlPortuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 5obstacle to inclusive dialogue, diversity, multitudes and multiculturalism, as well as to the true international dimension of the Portuguese language by capitalizing on the same socio-spatial references (centers) and reducing the language to its political-linguistic character, making it, therefore, conservative and less flexible or plural. The concept of pluricentric language announces plurality, but ends up fomenting fiefdoms or borders, being mostly marked, "manipulated" or "disputed" between linguists and theorists of Portugal and Brazil, as Mozambican writer Mia Couto (2008, p. 8, our translation) refers: I think it's serious to have manipulations... On the part of those who want to be more than others, of those who dispute others! I think the dispute is between Portugal and Brazil, who want to use this flag as an instrument to seek privilege in the relationship with other Portuguese-speaking countries." These manipulations and contentions hide under the concept of pluricentric language, whose approach conceals the same often (bi)polarization of the Portuguese language while proclaiming plurality, as if it needed to convince oneself, to believe in its own round words by force of so much pronouncing them, instead of feeling or genuinely defending them. For example, some studies on this theme, such as Duarte's (2016) on the norm to be taught in the context of Portuguese as a pluricentric language, often mention that the Mozambique Portuguese or the Angola Portuguese approach the European Portuguese, thus presenting the latter, in a very natural and unchallenged way as a model or "centric" example, Herrero (2019) and, previously, Clyne (1992). But why is the Portuguese or Mozambican being more like the Portuguese of Portugal? If we consider it unreasonable to say that Angolans or Mozambicans are more like the Portuguese than with any other peoples, why do we insist on saying that the Portuguese of Angola is closer to the Portuguese of Portugal if it has its identity, its characteristics, its worlds and if it is an expression of its society and its unique experiences and realities? In normative terms, the Portuguese of Portugal and the Portuguese of Brazil are still today basic and assumed references from which we have difficulty in freeing ourselves even if sometimes we seem to defend or try to convince otherwise. In this article, we position ourselves against the demagogic pluricentrism made of main centers (and urban) and peripheral and dependent centers as if they were, at the core, branches or subsidiaries of the Portuguese-speaking company. Based on our world-class knowledge arising from Portuguese's teaching experience in China, which we will then elucidate, we advocate a renewed, inclusive and free language from the anchors that attach it to the same spaces and to the same models or conceptions.
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 6An acentric view of the Portuguese language by the hand of PLE teaching in China China currently represents an important space in the dissemination of the Portuguese language due to the economic dimension and the global interests of competitiveness and employability associated with it. If we exclude countries with vast communities of emigrants from Portuguese-speaking countries, China and Senegal, where Portuguese is taught as an optional subject in the country's official education system to about 44,000 students (RAMOS, 2020), are the countries where Portuguese's education has been growing more markedly. This growth in education Portuguese China in recent years has been reflected in an increase in the number of institutions, teachers and students. Recent data point to about 50 higher education institutions with Portuguese courses in China that include approximately five thousand students (JATOBÁ, 2020; YAN; ALBUQUERQUE, 2019). In this context, we consider it appropriate to develop research into the specificities surrounding the teaching and learning of Portuguese China. China's openness abroad and the strengthening of bilateral relations with Portuguese-speaking countries has led to a proliferation of higher institutions with Portuguese. This expansion of education in China was closely linked to the intensification of China's economic and trade relations with Brazil and Angola (YE, 2014, p. 53). The economic reasons for the establishment of business and commercial links with Brazil and with the Portuguese-speaking African countries, of which Angola stands out, have led to a high demand and employability of young graduates in Portuguese. The affirmation and internationalization of the Portuguese language linked to its economic value has found in China an important ally to reinforce its importance worldwide. Every year, hundreds of Chinese students choose to join this huge Portuguese-speaking family. We believe that all teachers who teach Portuguese abroad will recall some not so obvious reasons that cause students to embrace this language. We would have numerous to mention since in China we have already introduced the Portuguese language to the most diverse audiences, such as workers from companies in the process of going to Brazil, Angola or Mozambique, children to join family members in Portugal and Brazil, avid language collectors and even holders of golden visas in Portugal. Typically, the reasons that lead young Chinese people to study Portuguese are the instrumental issues related to the prospects for a professional future (YE, 2014) or family reasons for underage young people to be able to join their families abroad and thus have the opportunity to attend more flexible education systems and less subject to competition and succession of exams (PIRES, 2019). However, the motivation to study
image/svg+xmlPortuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 7Portuguese also makes several exceptions or fortuitous, such as those we experienced and started to mention: a student who joined the Portuguese because she had as idol the Brazilian pilot Rubens Barrichello (Kaká, Arthur Zanetti, Cristiano Ronaldo or Michel Teló are other personalities of which we have already registered the contribution to bring students to the family of the Portuguese); three students who came to meet the Portuguese to read Fernando Pessoa in the original (it is not of the most unusual motivations due to the influence of literature in this process – Clarice Lispector, José Saramago and Jorge Amado are other registered names); a student attracted by the figure of Vasco da Gama (it is part of the history curriculum of Chinese secondary education); a student with a great admiration for volleyball and, in particular, for the Brazilian Olympic teams of this sport. Among many others, such as the young woman who after finishing her degree in journalism at another university, decided to take a sabbatical and look for us to learn Portuguese. After a year of enormous perseverance, the young woman took the proficiency exam and was able to obtain the certification that allowed her to access the master's degree she now attends in Lisbon. The student's motivation to accomplish this goal? Act. The Faúlha that connected her to the Portuguese language were the songs of Agir. She became so passionate or stuck in the songs of the artist Portuguese Agir, even though she did not understand the lyrics at that time, which eventually directed her life to the Portuguese language and then to Portugal. That is, it is not only the economic and professional value of the language, often the interest or motivation is born of personal tastes, affinities and of events or unforeseen events that make unique the days and lives of each person. Based on these peculiarities of the Portuguese Foreign Language, we question whether it will represent the vitality of the Portuguese of China, in the light of the shake of pluricentric flag-goers, one of the (pluri)centers of the Portuguese language? Is the Portuguese of Senegal where education has spread in the public education system another center? And what about the countries or regions where the various communities with Portuguese-speaking people are present? The pluricentric theory applied to the teaching of language suggests to be much more centric than plural, because it does not involve all plurality or diversity that lives within the Portuguese language, and that constitute its greatest richness and one of its most beautiful distinctive features. The cultures and nuances that build it and spread throughout the world, even the most remote and unofficial. A language that expresses and mixes everything a little, revealing from its intricacies the classic and tropical, the sea and the desert and people of all nature. A language that has germinated others and left offspring, from the Creole of West Africa to those of India and Southeast Asia, from the Patuá of Macau to the Papiamento of the
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 8Caribbean Antilles. A language that even has the Amazonian, a kind of synopsis of the Portuguese language itself. The Portuguese language has so much nature, so many worlds, lives in so many places that we do not know all its scope and fullness. But the Portuguese language is today much more than this knitting of us and historical skeins, exploring and living in the most dispersed spaces and acquired in various ways, from the classrooms to digital applications. The Portuguese language has a life that in today's globalized world goes far beyond its traditional spatial references. Thus, in the light of PLE's teaching, the pluricentric discussion assumes an antagonistic, adverse value, because it reduces, individualizes and centralizes it when the goal should be to spread the language, promote it and take it to more people and places, creating new references and connections. For these purposes, division or fragmentation are weakening and counterproductive, because what should be taught is only the Portuguese language. The pluricentric theme may have relevance at the level of the national and internal varieties of the language, but the academic discussion that has focused on the norm that should be taught in PLE seems to us ancillary to the promotion of its international dimension and for the convergence and intercomprehension for the teaching of the Portuguese language, regardless of the standard adopted. For a PLE teacher it should be more important to take into account the context in which it is included and the needs of its learners in order to be able to teach the language more fruitfully, than to make concerns, most often fruitless, about the standard used. It is, above all, important that teachers see a current, international and inclusive perspective that awakens students to the plurality and linguistic diversity (including the recognition of local languages in some countries), social and cultural language, regardless of the language standard they use. As Mia Couto (2008) points out, with regard to Portuguese-speaking countries, it is more important to disclose what each people is building, their common history, as well as their common identity assets, than to focus on agreements or norms that, in most cases, only reinforce divisions. Inferences: manifest by an acentric language In this article, we position ourselves by the affirmation and vigor of the Portuguese language without normative overlaps or the recurrent centrisms camouflaged with good-looking synonymy. We advocate the promotion of an acentric Portuguese language that considers its spaces, its uses and its people equally. For a Portuguese language that is no more linguists than literate,
image/svg+xmlPortuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 9it is no more artists than artisans, religious than agnostics. Its strength, its soul lies precisely in the fact that it has no owners or corifeus, however much norms, ties or theoretical chains that want to put on it. We welcome the increasingly expressive voice that African countries are bringing to the scientific discussion of issues related to the Portuguese language, promoting new perspectives and approaches that include the role and space of other national languages (MINGAS, 2007; MADEIRA, 2013; NGUNGA, 2012), freeing itself from the peripheral and secondary role to which they have always been voted anddisputed. We call for dialogue and cooperation between Portuguese-speaking African countries not to perpetuate this false impression (and depersonalization) that African variants are "similar" either to the Portuguese of Portugal or with the Portuguese of Brazil, much by the fruit of their study, their artistic expression, and their voice being announced through these two countries. As Mia Couto (2008, p. 1) states, Portuguese-speaking African countries "are at zero degree" of mutual cultural knowledge, and there is still a "typically colonial triangle" and the absence of exchanges in the field of literature, art or culture: To know what's going on or what's going on in Cape Verde or Angola or Guinea-Bissau or in Sao Tome and Principe I have to go to Europe, I pass by Portugal. This typically colonial triangle continues to exist (MIA COUTO, 2018, p. 1, our translation) We promote a Portuguese language without centers or capitals where all in their own way contribute to its boiling. We consider that the Portuguese language has as many centers as its speakers and that all differences must be celebrated, without, however, allowing them to divide us. We believe that one of the characteristics of an international language must be its acentrism, that is, the absence of centers. The opposite of an acentric language such as Portuguese can be verified through Chinese or Mandarin. In China although there are hundreds of languages (which are officially considered dialects) through the vast territory of the world's most populous country, only the national language, or common language, is taught and recognized globally (FRANCIS, 2016; HU, 2017, KURPASKA, 2017). In addition, Chinese have a clearly assumed and defined center by both teaching and linguistic policy agents and Chinese culture and society. The standardization of the common language was elaborated around Chinese used in the North region, specifically in
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 10Beijing (FRANCIS, 2016). Even students who learn Mandarin to foreigners prioritize exchanges at higher education institutions in Beijing or Tianjin because they openly agree that Mandarin in the North region is the most correct, most erudite, with the best pronunciation and on which the language standard is based. This is an example of a political, socially and culturally centric language with a clearly recognized and globally accepted pole. The Portuguese as a language of diversity, of many spaces, people and identities, must preserve and promote its inherently acentric nature. Moreover, it must be a language without the pride of having or measuring centers (my center is better than yours), which have the consequence of stimulating demarcation or segregation. The borders of the Portuguese language are increasingly tenuous. The borders are no longer only the sea, which the Portuguese language sees or contemplates, but above all the people who use it and recreate it through several and scattered corners of the world. The richness and diversity of a safe language of its multiple identities, and its interconnected cultures and references is not done through the construction of centric or pluricentric walls, but of openness, equidifference and active dialogue and interaction. By an acentric language, by the Portuguese language. REFERENCES BATOREO, H. J. Que gramática(s) temos para estudar o Português língua pluricêntrica? Revista Diadorim, Rio de Janeiro, v. 16, p. 1-15, 2014. Available: https://revistas.ufrj.br/index.php/diadorim/article/view/4023. Access: 10 Apr. 2021. BATOREO, H. J.; SILVA, A. S. Estudar o português como língua pluricêntrica no enquadramento da Linguística Cognitiva com foco nas variedades nacionais do PE e PB. In: TEIXEIRA E SILVAet al. (org.). III SIMELP: A formação de novas gerações de falantes de português no mundo. China, Macau: Universidade de Macau, 2012. BLANCHET, P. Introduction à la complexité de l'enseignement du français langue étrangère. Leuven: Peeters Publishers, 1998. COUTO, M. Países africanos lusófonos relacionam-se num “triângulo tipicamente colonial”. Entrevista cedidada a Lusa. Jornal Público, 10 fev. 2018. Available: https://www.publico.pt/2018/02/10/culturaipsilon/noticia/paises-africanos-lusofonos-relacionamse-num-triangulo-tipicamente-colonial-diz-mia-couto-1802715. Access: 22 Apr. 2021. COUTO; M. Entrevista Mia Couto. Entrevista cedida a Gil Felipe. Revista Bula, 08 dez. 2008. Available: https://acervo.revistabula.com/posts/entrevistas/entrevista-mia-couto. Access: 19 Apr. 2021.
image/svg+xmlPortuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 11CLYNE, M. (ed.). Pluricentric Languages. Differing norms in different nations. Berlin, New York: Mouton de Gruyter, 1992. DUARTE, I. Português, língua pluricêntrica: Que português ensinar em aulas de língua estrangeira? In: ANDRADE, C.; MICHELETTI, G; SEARA, I. (org.). Memória, Discurso e Tecnologia. São Paulo: Terracota editora, 2016. FRANCIS, N. Language and dialect in China. Chinese Language and Discourse, v. 7, n. 1, p. 136-149, 2016. Available: https://www.jbe-platform.com/content/journals/10.1075/cld.7.1.05fra. Access: 15 Mar. 2021. HERRERO, M. A. Etnocentrismo lingüístico vs. Plurinormativismo. Consideraciones sobre la variación y variedad del español LE/L2. In: MAESTU, E.; ANDREVA, F.; LÓPEZ, M. (eds.). Panhispanismo y variedades en la enseñanza del español L2-LE. ASELE: España, 2017, p. 131-140. HERRERO, M. A. Del lectocentrismo al plurinormativismo. Reflexiones sobre la variedad del español como lengua segunda o extranjera. Estudios Filológicos, n. 64, p. 129-148, 2019. Available: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7755412. Access: 10 Jan. 2021. HU, K. The Cantonese Linguicide: A Study of Prospective Language Death in Hong Kong. International Journal of Culture and History, v. 3, n. 2, p. 134-141, 2017. Available: http://www.ijch.net/vol3/090-LM0025.pdf. Access: 17 Mar. 2021. JATOBÁ, J. R. Política e Planejamento Linguístico na China: Promoção e Ensino da Língua Portuguesa. 2020. Tese (Doutorado em Português Língua Estrangeira) – Faculdade de Artes e Humanidades, Universidade de Macau, China, 2020. KURPASKA, M. The effects of language policy in China. AJęzyk. Komunikacja. Informacja. n. 12, p. 14-24, 2017. Available: http://yadda.icm.edu.pl/yadda/element/bwmeta1.element.ojs-doi-10_14746_jki_2017_12_1. Access: 10 June 2021. MASUDA, K. Ideología del estándar y realidad plurinormativa de la lengua española: el caso de ELE en Japón. 2020. Tese (Doutorado em Filologia Hispânica) – Facultad de Filología y Comunicación, Universitat de Barcelona, España, 2020. MINGAS, A. Interferência do kimbundu no português falado em Lwanda. Luanda: Chá de Caxinde, 2007. NGUNGA, A. Interferências de línguas moçambicanas em português falado em Moçambique. Revista Científica da Universidade Eduardo Mondlane, v. 1, n. 0, p. 7-20, 2012. Available: http://www.revistacientifica.uem.mz/revista/index.php/lcs/article/view/32. Access: 02 Dec. 2020. PIRES, M. J. Gaokao: fare more than an exam. Revista Diadorim, Rio de Janeiro, v. 21, Especial, p. 168-185, 2019. Available: https://revistas.ufrj.br/index.php/diadorim/article/view/27418/17545. Access: 17 Oct. 2020.
image/svg+xmlManuel João PIRESRev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529 DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 12SILVA, A. S. Pluricentricity: Language Variation and Sociocognitive Dimensions. New York: De Gruyter, 2013. SILVA, A. S. O português no mundo e a sua estandardização: entre a realidade de uma língua pluricêntrica e o desejo de uma língua internacional. In: BARROSO, H. (coord.). O Português na Casa do Mundo, Hoje. Braga: Centro de Estudos Humanísticos da universidade do Minho. 2018. YAN, Q.; ALBUQUERQUE, F. O Ensino do Português na China – Parâmetros e Perspetivas. Natal: EDUFRN, 2019. YE, Z. Algumas Considerações sobre a Expansão do Ensino da Língua Portuguesa na China. In: GROSSO, M. J.; GODINHO, A. P. (eds.). O Português na China: Ensino e Investigação. Lisboa: Lidel, 2014.How to reference this article PIRES, M. J. Portuguese, an acentric language: Reflections from a teaching Portuguese as a foreign language in China perspective. Rev. EntreLínguas, Araraquara, v. 8, n. 00, e022045, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2447-3529. DOI: https://doi.org/10.29051/el.v8i00.15412 Submitted:20/11/2021 Revisions required:09/01/2022 Approved:23/02/2022 Published:30/03/2022