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“E
se?” Implodindo o
s
p
ilares
da m
ode
rnidade
: U
ma resenha
sobre o livro
A Dívida Impagável
Estud. soc
iol.,
Araraquara
,
v.
27
, n.
00
,
e0220
14
,
jan./
dez
. 20
22
.
e
-
ISSN: 1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/
10
.52780/res.v27i00.13726
1
“
E SE?” IMPLODINDO OS PILARES DA MODERNIDADE: UMA RESENHA
SOBRE O LIVRO
A DÍVIDA IMPAGÁVEL
"¿Y SI?" EN BUS
CA DE LOS PILARES DE LA MODERNIDAD: UNA REVISIÓN DEL
LIBRO
A DÍVIDA IMPAGÁVEL
"WHAT IF?" IMPLODING THE PILLARS OF MODERNITY: A REVIEW ON THE
BOOK
A
DÍVIDA IMPAGÁVEL
Guilherme MARCONDES
1
[
...
]
como uma imagem anti
-
dialética,
A Dívida Impagável
não faz mais do
que registrar, ao tentar interromper, o desdobrar da lógica perversa que oclui
a maneira como, desde o fim do século XIX, a racialidade
,
op
era como um
arsenal ético em conjunto
–
por dentro, ao lado, e sempre
-
já
–
a/diante das
arquiteturas jurídico
-
econômicas que constituem o par Estado
-
Capital.
(
FERREIRA DA SILVA, 2019, p. 33
,
grifo do a
utor
).
Figura
1
–
N
otícias sobre o assassina
to de
J
oão
Pedro, jovem negro de 14 anos, em São
Gonçalo
-
RJ
, durante a operação das polícias federal e civil em plena pandemia da Covid
-
19,
em 18 de maio de 2020.
Fonte:
Print de b
usca no Google com o nome João Pedro
1
Universidade Estadual do Ceará
(PPGS/UECE)
,
Fortale
za
–
C
E
–
Brasil. Pós
-
doutorando
(com bolsa
PNPD/CAPES)
no Programa de Pós
-
Graduação em Sociologia
.
Doutor e mestre em Sociologia e Antropologia
pelo
P
rograma de Pós
-
Graduação em Sociologia
e Antr
opologia
PPGSA/UFRJ)
.
ORCID
:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
6114
-
7944
.
E
-
mail:
gui.marcondesss@gmail.com
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Guilherme
MAR
C
ONDES
Estud. soc
iol.,
Araraquara
,
v.
27
, n.
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SN: 1982
-
4718
DOI:
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2
Porque não há uma crise ética global
e não
som
ente local com as mortes de jovens
negros(as/es) pelo Estado? Qual o papel da racialidade no pensamento moderno? E se
abandonarmos os procedimentos críticos que têm por fundamento as bases ontológicas e
epistemológicas da modernidade, o que aconte
ceria
?
Es
tas são as principais perguntas postas
por
Ferreira da Silva
2
em
A Dívida Impagável
(2019).
No livro, a autora toma a racialidade
3
como foco e trata da importância de uma transformação completa de pensamento a partir de
uma perspectiva
poét
ica negra fe
m
ini
sta
que seria capaz de pôr abaixo os pilares da
modernidade
4
, a fim de constituir um mundo distinto em termos éticos, políticos, jurídicos e
estéticos. Ferreira da Silva realiza uma crítica contundente ao pensamento moderno; aquele
localiza
do (históric
a
e
politicamente) onde os tentáculos coloniais, capitalistas e patriarcais
pousaram e instituíram um modo societário.
Denise Ferreira da Silva
(2019)
propõe, de fato, “o fim do mundo como a gente
conhece”
5
. Posto que para a autora, esse mundo tal qu
al o
c
onh
ecemos é sustentado por
pilares que nunca incluíram e nem incluiriam escravizados(as/es) e indígenas, aqueles
indivíduos subjugados/expropriados há séculos. Afinal, a forma como pensamos dentro das
normas desse mundo só nos permitiria falar de exc
lusão
e d
iscriminação, não nos permitindo
articular um discurso capaz de ir ao centro da violência racial, que é, fundamentalmente, uma
violência colonial (que é física, porque inclusive mata e que também expropria não apenas
materialmente). Ferreira da Si
lva r
e
ali
za, então, um mapeamento do pensamento moderno
ocidental, em especial, via filosofia, buscando suas bases ontológicas e epistemológicas.
Em seu mapeamento acerca do pensamento moderno, Denise Ferreira da Silva, além
de dialogar com a física cláss
ica,
a
an
tropologia biológica, bem como com a antropologia e
sociologia feitas até tempos atuais, retoma autores como René Descartes (1596
-
1650),
Kant
(1724
-
1804) e
Hegel
(1770
-
1831).
Sendo fundamental a reconstrução que
ap
resenta a partir
de Descartes e sua
má
x
ima
“penso, logo existo”, responsável pela separação entre corpo e
mente e, assim, pela construção do sujeito moderno como um sujeito autodeterminado que
pode conhecer o Mundo, mas que a ele não se mistura. Já com K
an
t a autora remonta o sujeito
que ser
ia
um
sujeito científico, em um sistema guiado pelo poder da razão e separado da
2
Professora titular na
University of British Columbia, no Canadá, e diretora do Instituto de Justiça Social
na
mesma instituição.
3
Conforme expr
e
sso na
epígrafe deste texto
,
Ferreira da Silva (2019),
com
preende a racialidade como uma das
ferramentas de dominação produzidas no b
ojo da modernidade.
4
Explicitados a seguir.
5
Fala da pesquisadora em: O Evento Rac
i
al, Uma Proposição de
Denise Fer
reira
da Silv
a
.
(ALI DO ESPIRITO
SANTO, 2017)
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“E
se?” Implodindo o
s
p
ilares
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ode
rnidade
: U
ma resenha
sobre o livro
A Dívida Impagável
Estud. soc
iol.,
Araraquara
,
v.
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, n.
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3
esfera do divino. E, com Hegel
a autora trata de sua crítica ao pensamento kantiano e a
proposição do método dialético.
A partir das no
çõe
s brevemente mencionadas,
Ferreira
da
S
ilv
a,
a fim de responder às
perguntas (éticas, jurídicas e sociológicas) que abrem este texto, remonta aqueles que seriam
os três pilares do pensamento moderno, nomeados como:
separabilidade
,
determinabilida
de
e
sequencialidade
, que sustentariam o pens
ame
n
to
moderno operando “na sintaxe ética em que
a indiferença, como posicionamento moral (comum e pública), faz sentido”
(
FERREIRA DA
SILVA, 2019, p.
127
). Ou seja, uma ética pautada pela lógica da exclusão e da
ob
literação,
internamente articulada pela s
ubj
u
gaç
ão racial. É, neste sentido, que os pilares
ontoespistemológicos identificados pela autora suportam um Mundo em que jovens
negros(as/es) são assassinados(as/es) por forças do Estado e isso não cria uma cri
se
ético
-
jurídica em termos globais.
Ferreir
a d
a
Si
lva
desvela os modos de operação do pensamento moderno relativamente
à racialidade através das mencionadas categorias construídas a partir de seu mapeamento,
colocando em evidência o que está em dis
put
a quando sua proposta é subverter as formas de
p
ens
a
men
to legadas pela modernidade em prol de pensarmos o Mundo
outramente
6
. Destarte,
estes pilares ontoepistemológicos são analisados ao longo dos quatro ensaios reunidos que
compõem o livro, assim divid
ido
:
Introdução: (Di)Ante(s) do Texto
; capítulo I.
A S
e
r
A
nunciado ou Conhecendo (n)os Limites da Justiça
; capítulo II.
Pa
ra uma Poética Negra
Feminista:
A Busca /Questão da Negridade Para o (Fim do) Mundo
; capítulo III.
1 (vida) ÷ 0
(neg
ridade) = ∞
–
∞ ou
∞/
∞:
sobre a matéria além da equação de valor
; e, capítulo
IV.
Dívida Impagável: Lendo Cenas de Valor Contra a Flecha do Tempo
. Além de contar com
um prefácio de autoria de Jota Mombaça e Musa Michelle Mattiuzzi, intitulado
Carta à
leito
ra preta do fim dos tempos
, e ainda, um posfácio de Pedro Daher chamado
O abrir
-
mão
para o futuro
.
Os pilares ontoepistemológicos trazidos por Ferreira da Silva, são alvo de sua análise
na medida em que tais modelos/ferramentas de pensamento estruturam o m
undo tal qual o
conhecemos. Indicam, portanto, mecanismos/princípios éticos que organizam o pensamento
moderno. A
separabilidade
é, deste modo, mapeada desde Descartes, mostra
-
se presente no
programa kantiano e não desaparece com Hegel, bem como se apresen
ta quando, no capítulo
I, a autora propõe uma análise acerca dos limites da justiça a partir de sua pergunta sobre o
6
Resumidamente
, Ferreira da Silva (2019)
fala em
outridade
para se referir às epistemologias
, ontol
ogias e
vivências que não se enquadram no modelo proposto/i
nstituído/imposto
p
ela modernidade, em que vigoram a
sepa
rabilid
ade
, a
determinabili
dade
e a
sequencialidade
.
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Guilherme
MAR
C
ONDES
Estud. soc
iol.,
Araraquara
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4
assassínio de jovens negros(as/es) pelo Estado. Sendo a
separabilidade
um princípio que
comporta a diferença posto que seja com separação e
ntre os itens da equação. Ou seja, seria
um mecanismo/princípio responsável não apenas por uma separação entre corpo e mente, mas
que influi, inclusive, na separação entre categorias raciais distintas de indivíduos.
Em outra ponta do triângulo, a
determin
abilidade
, que seria crucial ao pensamento
kantiano por tratar do que Descartes chamava de “nexo” das consequências, seria uma ação da
mente racional para estabelecer algo com certeza. A
determinabilidade
, analisada no capítulo
II, pressupõe um
universal
q
ue funcionaria como determinante formal. É assim que a autora
compreende, por exemplo, como a
determinabilidade
é operada através da noção de
humanidade (fechada nas fronteiras europeias), pois somente ela compartilharia os poderes
determinantes da dita ra
zão universal, por possuir livre
-
arbítrio e autodeterminação.
Por fim, a
sequencialidade
, analisada no capítulo III, seria a linearidade temporal
mediada pela
determinabilidade
. Ou seja, diz respeito à linearidade do pensamento moderno
que ocluiria a colo
nialidade e a escravidão, apesar de sua suposta inclusão. Denise Ferreira da
Silva apresenta, então, os modos como estas categorias, brevemente explicitadas, operam na
constituição das regras que estruturam as relações sociais (entre humanos) e com o própr
io
Mundo (não humano), tal qual proposto pela modernidade.
Por mais abstratos que pareçam os mencionados pilares, o seu dessecamento pela
autora se dá paralelamente a apresentação de outros modos de pensar, com a centralidade
conferida à questão da racial
idade, demonstrando, ainda, como esta é constituída por esse
legado moderno. Assim sendo, a racialidade cria, de acordo com Denise Ferreira da Silva,
uma diferença humana com base na razão kantiana, em que nem todos seguiriam a chamada
trajetória do espíri
to, sendo o pensamento abstrato europeu tomado como expressão mais
elevada do espírito na evolução humana.
Com base na
separabilidade
, na
determinabilidade
e na
sequencialidade
, ocorreria um
processo contínuo de acumulação da expropriação de valor dos ind
ivíduos racializados e
historicamente subjugados. Dirá Ferreira da Silva
(
2019, p.
180
-
181)
:
Ao longo dos últimos cento e cinquenta anos, desde a apresentação da versão
clássica do materialismo histórico, a produção capitalista (como delineada
por Marx e
seus seguidores) n
ã
o interrompeu a expropriação colonial. Na
verdade, o contrário ocorreu. Os últimos duzentos testemunharam episódios
repetidos da expropriação colonial de terras, trabalho e recursos, garantida
por arquiteturas jurídico
-
econômicas que ope
ram dentro e fora
d
o Estado
-
nação, ou seja, da figuração mais recente do corpo político liberal.
Indubitavelmente encontramos, hoje, a forma jurídica colonial possibilitando
o capital global. Considere, por exemplo, os diversos lugares no mundo que
se enco
ntram num estado d
e
violência contínua
–
várias partes no Oriente
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“E
se?” Implodindo o
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ode
rnidade
: U
ma resenha
sobre o livro
A Dívida Impagável
Estud. soc
iol.,
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,
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DOI:
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5
Médio, continente africano, bairros economicamente despossuídos e áreas
rurais na América Latina e no Caribe, ou bairros negros e latinos dos Estados
Unidos. Violência que, além de facilitar
a expropriação de
terras, recursos e
mão
-
de
-
obra, também transforma esses espaços em mercados para a venda
de armas e inúmeros serviços e bens fornecidos pela indústria da segurida
de.
É, deste modo, que a autora analisa a crise global
do mercado finance
iro de 2007 e
2008: como um evento racial fundamental para explicitar o modo como a racialidade opera no
processo de acumulação global do capital. Posto que os empréstimos
subprime
eram
destinados a pessoas com defasagem econômica, que n
ã
o conseguiam obter
empréstimos
normais. Pessoas negras e latinas, das classes trabalhadora e média baixa, compreendidas
pelas instituições financeiras como “instrumentos financeiros e não entidades morais, isto é,
pessoas
” (FERREIRA DA SILVA, 2
019, p.
157)
.
Os empréstimos
s
ubprime
extraiam, por
conseguinte, lucro do déficit financeiro de pessoas tomadas como instrumentos para o
enriquecimento das instituições financeiras. Tais empréstimos operariam como ferramentas de
subjugação colonial e racial, que compõ
e
m o que a autora
chama de
dialética racial
, que se
daria com a transubstanciação da expropriação colonial em um déficit que seria
natural
.
Destarte, Denise Ferreira da Silva trata, em especial no capítulo IV, da falta de
ferramentas do materialismo histó
r
ico capazes de ab
ordar o papel da escravidão na
acumulação do capital, posto que, como argumenta, a escravização é constitutiva das
arquiteturas jurídico
-
econômicas próprias do (e não temporalmente (separadas do) ou
anteriores ao) capital. Sendo ainda vig
e
ntes as regras da
estrutura social legadas pela
modernidade e seus três pilares, que ocluem a violência racial em suas diversas matizes. Deste
modo, o conceito de
dívida impagável
, que dá título ao livro, diz respeito ao continuado
processo de expropriaçã
o
do elemento negr
o na sociedade ocidental, tratando
-
se, portanto, de
“uma obrigação que se carrega
,
mas que não deve ser paga
” (FERREIRA DA SILVA, 2019,
p.
154).
Ou ainda, são dívidas nos termos econômicos, mas não no sentido ético, por isso, não
deveriam
s
er saldadas. Fat
o explicitado pela autora em sua análise de
Kindred
(1979) de
Octávia E. Butler
e dos mencionados empréstimos
subprime
.
O mundo legado pela modernidade com seus pilares ontológicos e epistemológicos é
chamado pela autora de
Mundo Ordenado
,
onde pessoas est
ariam marcadas pela racialidade,
separadas entre si e do restante do que compõe o Mundo. Desta maneira, a virada de
pensamento proposta pela autora tem base na noção de
Plenum
7
, que caracterizaria um
Mundo
Implicado
em oposição
ao
Mundo
Ord
enado
, projetado
e levado a cabo no processo colonial,
7
A noção de Universo como
Plenum
é resgatada por Denise Ferreira da Silva do pe
nsament
o de
Gottfried
Wilhelm
Leibniz
(1646
-
1716)
.
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Guilherme
MAR
C
ONDES
Estud. soc
iol.,
Araraquara
,
v.
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, n.
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-
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DOI:
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6
capitalista e patriarcal. Sendo, então, a
dívida impagável
referente ao processo de contínua
expropriação a que alguns corpos têm sido submetidos ao longo da história, o
Mundo
Implicado
, pautado pel
o m
odelo de
Plenum
,
traria a possibilidade de pensar o mundo
outramente.
O
Plenum
, por conseguinte, seria possibilidade de vida, de outra vida, em outras
perspectivas ontoepistemológicas, que compreenderiam a implicação das pessoas e coisas do
mundo umas n
as
outras. Ou seja,
trata de um universo em que cada um dos corpos que
existem no mundo expressariam o universo de uma forma única, mas, ao mesmo tempo,
expressariam todas as outras coisas que existem no universo. A coletividade ao invés da
individualidade
é
aqui importante,
posto que demarca a diferenciação entre uma perspectiva,
como a apresentada por Ferreira da Silva, e aquela do
Mundo Ordenado
da
modernidade
, que
classifica, hierarquiza e separa. Dessa forma, o
Plenum
é um
Mundo Implicado
, em que
[...]
a so
cia
lidade não
é mais nem causa nem efeito das relações envolvendo
existentes separados, mas a condição incerta sob a qual tudo que existe é
uma expressão singular de cada um e de todos os outros existentes atuais
-
virtuais do universo, ou seja, como
Corpus
Inf
initum
”
(F
ERREIRA DA
SILVA, 2019, p.
46
,
grifo do autor)
.
O projeto proposto por
Denise Ferreira da Silva,
coloca a racialidade no centro do
pensamento moderno, compreendendo como a
negridade
8
seria uma chave para o
desmoronamento deste
Mundo Orde
nad
o
e a ascensão
do
Mundo Implicado
. Se no primeiro
caso, não é possível pensar a diferença sem separação, no segundo, a existência se daria sem o
princípio da
separabilidade
, possibilitando, portanto, o fim do mundo conforme o
conhecemos, para o floresci
men
to de uma persp
ectiva epistemológica e ontológica que traria
uma completa virada de pensamento.
A Dívida Impagável
(2019) pode ser compreendido como um empreendimento de
fôlego, criatividade e rigor em pesquisa. Um livro que certamente não é simples de
se
r lido,
mas sem
dúvida fundamental, em que se apresenta a perspectiva de uma autora multifacetada,
capaz de transitar entre distintas ciências a fim de explicitar as questões e construir as
categorias com que trabalha. Trazendo ao centro da investigação
a
racialidade, nã
o tendo
como alvo uma denúncia, mas um projeto de fim de mundo e nascimento de outro em termos
epistemológicos e ontológicos.
8
De acordo com
a autora, a categ
o
ria de
negridade
possui duas faces: de
um lad
o, vista como índice
de uma
situação social nunca deixa de significar a escravidão, relembrando a expropriação da capacidade p
rodutiv
a
dos(as/xs) escravizados(as/xs). De outro, a
negridade
sin
aliza uma capacida
d
e criativa, quando se contempla o
Mund
o como
Plenum
. Neste segund
o caso, a negridade é compreendida, pela autora, como detentora das
ferramentas necessárias para o desmont
e do
Mu
ndo Ordenado
. (FERREIRA DA SILVA, 2019, p.
95
-
97).
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“E
se?” Implodindo o
s
p
ilares
da m
ode
rnidade
: U
ma resenha
sobre o livro
A Dívida Impagável
Estud. soc
iol.,
Araraquara
,
v.
27
, n.
00
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14
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ISSN: 1982
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.52780/res.v27i00.13726
7
Entrelaçando passado, presente e futuro, o livro traz uma nova mirada acerca da
modernidade e seus processos de
do
minação, bem co
mo da
negridade
como categoria
também capaz de implodir e subverter as lógicas vigentes no
Mundo Ordenado
em busca de
um novo modo societário, que vá na contramão da proposta moderna (assentada em uma
dialética racial
que oclui as violênc
ias
raciais). Busc
ando a decolonização do mundo, com a
implementação de arquiteturas jurídico
-
econômicas distintas daquelas que, investigadas pela
autora, foram constituídas com a modernidade e seguem em vigor. Logo, Denise Ferreira da
Silva propõe uma aná
lis
e que vai ao pa
ssado, ao mesmo tempo em que está centrada no
presente (em que a violência racial é parte da ordenação do mundo), perseguindo/propondo
possibilidades de futuro em que seja possível existir plenamente, ou seja, sem que haja a
atribuição de
ou
tridade
. Perseg
ue, então, a constituição de um mundo em que a implicação (a
capacidade de compreendermos os elementos do mundo como partes singulares, mas não
separadas) seja a norma e a partir dela novos caminhos éticos, morais, jurídicos e estéticos
s
eja
m possíveis.
REFERÊNCIAS
A
LI DO ES
P
I
RITO S
ANTO
.
O Evento Racial
,
Uma Proposição de Denise Ferreira da Silva.
1
vídeo
(107 min
).
Disponível em:
https://www.youtube.c
om/watch?v=T_QBEPK7too
.
Acesso em
:
18 mai
o
20
20
.
FERREIRA
DA SILVA, D
.
A Dívida Impagável
.
São Paulo:
F
orma
Certa,
2019
.
Disponível
em:
https://casadopovo.org.br/w
p
-
content/uploads/2020/01/a
-
divida
-
impagavel.pdf
.
Acesso
em
:
28 mai
.
2021.
Como
referenciar
este artigo
MARCONDES
,
G
.
“E
se?” Implodindo os pilar
es da modernidade: Uma resenha sobre o livro
A Dívida Impa
gável
.
Estudos de Sociologia
,
Araraquara,
v.
27
, n.
00
,
e022014
,
ja
n
.
/
dez
.
20
22
. ISSN:
2358
-
4238
.
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.13726
Submetido em
:
26/05/
2020
Revisões requeridas em
:
03/
11
/
20
2
0
Aprovado em
:
2
0
/0
5
/2021
Publicado em
:
30/06
/202
2/
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"What if?" imploding the pillars of modernity: a review on the book A Dívida Impagável
Estud. sociol.,
Araraquara
,
v.
27
, n.
00
,
e022014
,
Jan
./
Dec
. 20
22
.
e
-
ISSN: 1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.13726
1
"WHAT IF?" IMPLODING THE PILLARS OF MODERNITY: A REVIEW ON THE
BOOK
A DÍVIDA IMPAGÁVEL
“
E SE?” IMPLODINDO OS PILARES DA MODERNIDADE: UMA RESENHA SOBRE
O LIVRO A DÍVIDA IMPAGÁVEL
"¿Y SI?" EN BUSCA DE LOS PILARES DE LA
MODERNIDAD: UNA REVISIÓN DEL
LIBRO A DÍVIDA IMPAGÁVEL
Guilherme MARCONDES
1
[...] as an anti
-
dialectical image,
A Dívida Impagável
does nothing more than
register, in trying to interrupt, the unfolding of the perverse logic that occludes
the way in which, since the end of the 19th century, raciality has operated as
a ethical arsenal together
–
inside, alongside, and always
-
now
–
in f
ront of the
legal
-
economic architectures that constitute the State
-
Capital pair
(FERREIRA DA SILVA, 2019, p. 33, author's emphasis, our translation).
Figur
e
1
–
News about the murder of João Pedro, a 14
-
year
-
old black man, in São Gonçalo
-
RJ, during the op
eration of the federal and civil police in the midst of the Covid
-
19 pandemic,
on 18 May 2020
.
Source
:
Google search print with the name João Pedro
1
Ceará
State University
(PPGS/UECE)
,
Fortaleza
–
C
E
–
Brazil
.
Postdoctoral fellow (with PNPD/CAPES grant)
in the Postgraduate Program in Sociology. Doctor and Master in Sociology and Anthropology from the
Postgraduate Program in Sociology and Anthropology
(
PPGSA/UFRJ)
.
ORCID
:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
6114
-
7944
.
E
-
mail:
gui.marcondesss@gmail.com
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Guilherme
MARCONDES
Estud. sociol.,
Araraquara
,
v.
27
, n.
00
,
e022014
,
Jan
./
Dec
. 2022
.
e
-
ISSN: 1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.13726
2
Why is not there a global and not just a local ethical crisis with the deaths of young
black people by the State? What is the role of raciality in modern thought? And if we abandon
the critical procedures that are based on the ontological and epistemologic
al foundations of
modernity, what would happen? These are the main questions posed by Ferreira da Silva
2
in
A
Dívida Impagável
(2019). In the book, the author takes raciality as a focus and deals with the
importance of a complete transformation of thought
from a
black feminist poetic
perspective
that would be able to bring down the pillars of modernity
3
, in order to constitute a distinct world
in ethical terms, political, legal and aesthetic. Ferreira da Silva makes a scathing critique of
modern thought;
the one located (historically and politically) where colonial, capitalist and
patriarchal tentacles landed and instituted a societal mode.
Denise Ferreira da Silva (2019) proposes, in fact, “the end of the world as we know it”
4
.
Since for the author, this
world as we know it is supported by pillars that never included and
would not include enslaved and indigenous people, those subjugated/expropriated individuals
centuries ago. After all, the way we think within the norms of this world would only allow us
t
o talk about exclusion and discrimination, not allowing us to articulate a discourse capable of
going to the center of racial violence, which is, fundamentally, colonial violence (which is
physical, because even kills and also expropriates not only materia
lly). Ferreira da Silva then
carries out a mapping of modern Western thought, especially via philosophy, seeking its
ontological and epistemological bases.
In her mapping of modern thought, Denise Ferreira da Silva, in addition to dialoguing
with classical
physics, biological anthropology, as well as with anthropology and sociology up
to the present time, takes up authors such as René Descartes (1596
-
1650), Kant (1724
-
1804)
and Hegel (1770
-
1831). The reconstruction that he presents from Descartes and his ma
xim “I
think, therefore I am” is fundamental, responsible for the separation between body and mind
and, thus, for the construction of the modern subject as a self
-
determined subject that can know
the World, but that to it do not mix. With Kant, the author
traces back the subject that would be
a scientific subject, in a system guided by the power of reason and separated from the sphere of
the divine. And, with Hegel, the author deals with her critique of Kantian thought and the
proposition of the dialectical
method.
2
Full Professor at the University of British Columbia, Canada, and Director of the Social Justice Institute at the
same institution
.
3
Explained below
.
4
Researcher speech in: O Evento Racial, Uma Proposição de Denise Ferre
ira da Silva.
(ALI DO ESPIRITO
SANTO, 2017)
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"What if?" imploding the pillars of modernity: a review on the book A Dívida Impagável
Estud. sociol.,
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From the notions briefly mentioned, Ferreira da Silva, in order to answer the questions
(ethical, legal and sociological) that open this text, goes back to what would be the three pillars
of modern thought, named as:
separability
,
determinability
and
sequentiality
, which would
support modern thinking operating “in the ethical syntax in which indifference, as a moral
position (common and public), makes sense” (FERREIRA DA SILVA, 2019, p. 127, our
translation). In other words, an ethics guided by the
logic of exclusion and obliteration,
internally articulated by racial subjugation. It is, in this sense, that the onto
-
epistemological
pillars identified by the author support a world in which young black people are murdered by
state forces and this does
not create an ethical
-
legal crisis in global terms.
Ferreira da Silva reveals the modes of operation of modern thinking in relation to
raciality through the aforementioned categories
constructed from its mapping, highlighting
what is in dispute when her proposal is to subvert the forms of thought bequeathed by modernity
in favor of thinking about the world
otherwise
ly
5
. Thus, these ontoepistemological pillars are
analyzed throughout
the four essays that make up the book, thus divided
:
Introduction
:
(Di)Ante(s) do Texto
;
chapter
I.
A Ser Anunciado ou Conhecendo (n)os Limites da Justiça
;
chapter
II.
Pa
ra uma Poética Negra Feminista:
A Busca /Questão da Negridade Para o (Fim
do) Mundo
;
c
hapter
III.
1 (vida) ÷ 0
(negridade) = ∞
–
∞ ou ∞/∞:
sobre a matéria além da
equação de valor
;
and
,
chapter
IV.
Dívida Impagável: Lendo Cenas de Valor Contra a Flecha
do Tempo
.
In addition to having a preface by Jota Mombasa and Musa Michelle Mattiuzzi,
en
titled
Carta à leitora preta do fim dos tempos
,
and yet, an afterword by Pedro Daher called
O abrir
-
mão para o futuro
.
The ontoepistemological
pillars brought by Ferreira da Silva are the target of his analysis
insofar as such thought models/tools structure the world as we know it. Therefore, they indicate
ethical mechanisms/principles that organize modern thought. In this way,
separability
is
m
apped since Descartes, it is present in the Kantian program and does not disappear with Hegel,
as well as when, in chapter I, the author proposes an analysis of the limits of justice based on
her question about the murder of young black people by the State
. Being
separability
a principle
that includes the difference, even if it is with separation between the items of the equation. In
other words, it would be a mechanism/principle responsible not only for a separation between
body and mind, but which also in
fluences the separation between distinct racial categories of
individuals.
5
Briefly, Ferreira da Silva (2019) speaks of otherness to refer to epistemologies, ontologies and experiences that
do not fit into the model proposed/instituted/imposed by modernity, in which
separability
,
determinability
and
sequentiality
prevail.
.
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At the other end of the triangle,
determinability
, which would be crucial to Kantian
thought for dealing with what Descartes called the “nexus” of consequences, would be an action
o
f the rational mind to establish something with certainty.
Determinability
, analyzed in Chapter
II, presupposes a universal that would function as a formal determinant. This is how the author
understands, for example, how
determinability
is operated throug
h the notion of humanity
(closed within European borders), as only it would share the determining powers of the so
-
called universal reason, for having free will and self
-
determination.
Finally,
sequentiality
, analyzed in Chapter III, would be temporal line
arity mediated by
determinability
. In other words, it concerns the linearity of modern thought that would occlude
coloniality and slavery, despite their supposed inclusion. Denise Ferreira da Silva then presents
the ways in which these categories, briefly
explained, operate in the constitution of the rules
that structure social relations (between humans) and with the (non
-
human) World itself, as
proposed by modernity.
As abstract as the mentioned pillars may seem, their drying by the author takes place in
p
arallel with the presentation of other ways of thinking, with the centrality given to the issue of
raciality, also demonstrating how it is constituted by this modern legacy. Therefore, raciality
creates, according to Denise Ferreira da Silva, a human diffe
rence based on Kantian reason, in
which not everyone would follow the so
-
called trajectory of the spirit, with European abstract
thought taken as the highest expression of the spirit in human evolution.
Based on
separability
,
determinability
and
sequential
ity
, there would be a continuous
process of accumulation of expropriation of value from racialized and historically subjugated
individuals. Ferreira da Silva (2019, p. 180
-
181
, our translation
) will say:
Over the past one hundred and fifty years, since th
e presentation of the classic
version of historical materialism, capitalist production (as outlined by Marx
and his followers) has not stopped colonial expropriation. In fact, the opposite
occurred. The last two hundred have witnessed repeated episodes of
colonial
expropriation of land, labor and resources, guaranteed by juridical
-
economic
architectures that operate inside and outside the nation
-
state, that is, the more
recent figuration of the liberal political body. Undoubtedly, we find today the
colonial
legal form enabling global capital. Consider, for example, the many
places in the world that are in a state of ongoing violence
–
various parts of
the Middle East, the African continent, economically dispossessed
neighborhoods and rural areas in Latin Ame
rica and the Caribbean, or black
and Latino neighborhoods in the United States. Violence that, in addition to
facilitating the expropriation of land, resources and labor, also transforms
these spaces into markets for the sale of weapons and countless servi
ces and
goods provided by the insurance industry.
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It is in this way that the author analyzes the global financial market crisis of 2007 and
2008: as a fundamental racial event to explain how raciality operates in the process of global
capital accumulation
. Since the
subprime
loans were intended for people with economic lag,
who could not obtain normal loans. Black and Latino people, from the working and lower
middle classes, understood by financial institutions as “financial instruments and not moral
entit
ies, that is, people” (FERREIRA DA SILVA, 2019, p. 157
, our translation
).
Subprime
loans
therefore extract profit from the financial deficit of people taken as instruments for the
enrichment of financial institutions. Such loans would operate as tools of c
olonial and racial
subjugation, which compose what the author calls
racial
dialectic
, which would take place with
the transubstantiation of colonial expropriation into a deficit that would be
natural
.
Thus, Denise Ferreira da Silva deals, especially in cha
pter IV, with the lack of tools of
historical materialism capable of approaching the role of slavery in the accumulation of capital,
since, as she argues, enslavement is constitutive of the juridical
-
economic architectures of the
(and not temporally (separ
ate from) or prior to) the capital. The rules of the social structure
bequeathed by modernity and its three pillars are still in force, which occlude racial violence in
its various shades. In this way, the concept of unpayable debt, which gives the book it
s title,
concerns the continued process of expropriation of the black element in Western society, being,
therefore, “an obligation that is carried, but that must not be paid” (FERREIRA DA SILVA,
2019, p. 154
, our translation
). Or yet, they are debts in eco
nomic terms, but not in the ethical
sense, therefore, they should not be settled. A fact made explicit by the author in her analysis
of
Kindred
(1979) by Octavia E. Butler and the aforementioned
subprime
loans.
The world bequeathed by modernity with its ontological and epistemological pillars is
called by the author of
Ordered
World
, where people would be marked by raciality, separated
from each other and from the rest of what makes up the World. In this way, the
turn of thought
proposed by the author is based on the notion of
Plenum
6
, which would characterize an
Implicated
World
in opposition to the
Ordered
World
, designed and carried out in the colonial,
capitalist and patriarchal process. Being, then, the
unpa
yable
debt
referring to the process of
continuous expropriation to which some bodies have been subjected throughout history, the
Implicated
World
, guided by the
Plenum
model, would bring the possibility of thinking about
the world
otherwisely
. The
Plenum
,
therefore, would be the possibility of life, of another life,
in other ontoepistemological perspectives, which would understand the implication of people
and things in the world in each other. That is, it deals with a universe in which each of the
6
A noç
ão de Universo como
Plenum
é resgatada por Denise Ferreira da Silva do pensamento de Gottfried Wilhelm
Leibniz (1646
-
1716).
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bodies t
hat exist in the world would express the universe in a unique way, but, at the same time,
they would express all the other things that exist in the universe. Collectivity rather than
individuality is important here, since it marks the differentiation betwe
en a perspective, such as
that presented by Ferreira da Silva, and that of the
Ordered
World
of
modernity
, which
classifies, hierarchizes and separates. In this way, the
Plenum
is an
Implicated
World
, in which
sociality is no longer either cause or effect
of relations involving
separate existents, but the uncertain condition under which everything
that exists is a singular expression of each and every other virtual
-
actual
existents of the universe, or that is, as
Corpus
Infinitum
(FERREIRA
DA SILVA, 2019,
p. 46, author's emphasis
, our translation
).
The project proposed by Denise Ferreira da Silva, places raciality at the center of
modern thought, understanding how
blackness
7
would be a key to the collapse of this
Ordered
World
and the rise of the
Implicated
World
. If in the first case, it is not possible to think about
difference without separation, in the second, existence would take place without the principle
of
separability
, thus enabling the end of the world as we know it,
for the flowering of an
epistemological and ontological perspective that would bring a complete turn of thought.
A Dívida Impagável
(2019)
can be understood as an enterprise of breath, creativity and
rigor in research. A book that is certainly not easy to
read, but undoubtedly fundamental, in
which the perspective of a multifaceted author is presented, capable of moving between
different sciences in order to explain the issues and build the categories with which she works.
Bringing raciality to the center
of the investigation, not targeting a denunciation, but an end
-
of
-
the
-
world project and the birth of another in epistemological and ontological terms.
Intertwining past, present and future, the book takes a new look at modernity and its
processes of domin
ation, as well as
blackness
as a category that is also capable of imploding
and subverting the logics prevailing in the
Ordered
World
in search of a new societal mode that
against the modern proposal (based on a
racial
dialectic
that occludes racial violen
ce). Seeking
the decolonization of the world, with the implementation of legal
-
economic architectures
different from those that, investigated by the author, were constituted with modernity and are
still in force. Therefore, Denise Ferreira da Silva propose
s an analysis that goes to the past, at
the same time that it is centered on the present (in which racial violence is part of the ordering
7
According to the author, the category of
blackness
has two faces: on the one hand, seen as an index of a social
situation, it neve
r ceases to signify slavery, recalling the expropriation of the productive capacity of the enslaved.
On the other hand,
blackness
signals a creative capacity, when one contemplates the World as
Plenum
. In this
second case,
blackness
is understood by the au
thor as the holder of the necessary tools for the dismantling of the
Ordered
World
.
(FERREIRA DA SILVA, 2019, p. 95
-
97).
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of the world), pursuing/proposing possibilities for the future in which it is possible to exist fully,
that is, witho
ut the attribution of
otherness
. It then pursues the constitution of a world in which
implication (the ability to understand the elements of the world as singular but not separate
parts) is the norm and from which new ethical, moral, legal and aesthetic pa
ths are possible.
REFERENCES
ALI DO ESPIRITO SANTO
.
O Evento Racial
,
Uma Proposição de Denise Ferreira da Silva.
2017.
1 vídeo (107 min).
Available
: https://www.youtube.com/watch?v=T_QBEPK7too.
Access
:
18
May
2020.
FERREIRA DA SILVA, D.
A Dívida Impagável
. São Paulo:
Forma Certa,
2019.
Available
:
https://casadopovo.org.br/wp
-
content/uploads/2020/01/a
-
divida
-
impagavel.pdf.
Access
:
28
May
2021.
How to reference this article
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,
G
.
"What if?" imploding the pillars of modernity:
A
review on the book
A
Dívida Impagável
.
Estudos de Sociologia
,
Araraquara,
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ISSN: 1982
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4718.
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Submitted
:
26/05/2020
Required revisions
:
03/
11
/2020
Approved
:
2
0
/0
5
/2021
Published
:
30/06/2022/