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Subjetivação moral e poder: Contribuições
Foucaultianas
para a sociologia da moralidade
Estud. sociol., Araraquara,
v.
27
, n.
00
, e022011
, jan./
dez
.
2022
e
-
ISSN: 1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/
10.52780/res.v27i00.13891
1
SUBJETIVAÇÃO MORAL E PODER
:
CONTRIBUIÇÕES FOUCAULTIANAS PARA
A SOCIOLOGIA DA MORALIDADE
SUBJETIVACIÓN MORAL Y PODER: CONTRIBUCIONES FOUCAULTIANAS A LA
SOCIOLOGIA DE LA MORALIDADE
MORAL SUBJECTIVATION AND POWER: FOUCAULTIAN
CONTRIBUTIONS TO
SOCIOLOGY OF MORALITY
Alyson Thiago Fernandes FREIRE
1
RESUMO
:
Este artigo discute a sistematização teórico
-
metodológica proposta por Michel
Foucault para estudar a moral. Com intuito de extrair lições e subsídios para a
pesquisa
sociológica das moralidades, em especial para fundamentar a noção de subjetivação moral,
sustenta
-
se que os estudos tardios foucaultianos aportam uma perspectiva praxiológica capaz
de conectar moralidade, agência e poder.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Michel F
oucault. Moralidade. Subjetivação. Sociologia da moral.
Teoria Social.
RESUMEN
:
Este artículo discute la sistematización teórica y metodológica propuesta por
Michel Foucault para estudiar la moral. Con el fin de extraer lecciones y subsidios para la
inve
stigación sociológica de la moralidad, especialmente para apoyar la noción de
subjetivación moral, se argumenta que los últimos estudios foucaultianos proporcionan una
perspectiva praxiológica capaz de conectar la moralidad, la agencia y el poder.
PALA
B
R
AS
CLAVE
:
Michel Foucault. Moralidad. Subjetivación. Sociología de la
moralidade. Teoría social.
ABSTRACT:
This paper discusses the theoretical and methodological systematization
proposed by Michel Foucault to study morality. In order to extract
lessons and subsidies for
sociological research on moralities, especially to ground the notion of moral subjectivation, it
is argued that late Foucauldian studies provide a praxeological perspective capable of
connecting morality, agency, and power.
KEYWO
RDS:
Michel Foucault. Morality. Subjectivation. Sociology of morality. Social
theory.
1
Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), Mossoró
–
RN
–
Brasil.
Professor de Sociologia
.
Doutorando
no Programa de Pós
-
Graduação em Sociologia
(
UFPB
)
.
Mestre em Ciências Sociais
(UFRN).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
6673
-
6289
.
E
-
mail:
alyson.f
reire@ifrn.edu.br
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Alyson Thiago Fernandes FREIRE
Estud. sociol., Araraquara,
v. 27, n. 00, e022011, jan./
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2
Introdução
Além do recuo temporal para a Antiguidade clássica e para os primeiros séculos do
cristianismo, os trabalhos derradeiros de Michel Foucault na década 1980
realiza
m
um
segundo e relevante movimento. O filósofo francês a
bre
sua
“genealogia do sujeito na
civilização ocidental” em direção a uma nova trilha das práticas socia
is humanas
(FOUCAULT, 2006a, p.
95), qual seja: a moral.
Os volumes subsequentes à
Vonta
de de saber
2
(1988)
destacam
-
se por
essa nova e
inquietante preocupação com o papel da moral na história dos modos de subjetivação e
das
formas de gov
erno criados nas sociedades do O
cidente. Em
seus últimos
estudos, Foucault
está interessado em
entender como a atividade sexual foi constituída enquanto “problema
moral”
–
uma questão, à primeira vista, peculiar
,
mas de amplos desdobramentos histórico
-
políticos. Sobre esses estudos acerca das moralidades dos prazeres, escreve: “Se fosse
pretensioso,
daria o título ao que faço de: genealogia
da moral” (FOUCAULT, 2006b, p.
174).
Portanto, o consagrado giro para o problema da subjetividade, que diversos
especialis
tas na obra de Foucault sublinham
, está estreitamente vinculado a esse
súbito
interesse te
órico e empírico do filósofo com o tema da moralidade. Em Foucault, a moral é
pensada como um campo histórico
-
cultural de problematização
3
da conduta humana. Como
tal, ela pode abranger diferentes dimensões da experiência humana e, dessa maneira,
comporta
r diferentes níveis analíticos para o trabalho de pesquisa. Seu maior interesse, como
se verá neste artigo, recaí
sobre o
que o filósofo nomeia como “ética”
–
que constitui, no
esquema geral do seu pensamento, um terceiro domínio dos modos de objetivação d
o ser
humano em sujeito em nossa cultura
4
.
Neste artigo, apresento a sistematização teórico
-
metodológica proposta por Foucault
para estudar a moral com o intuito de extrair contribuições e subsídios para a pesquisa
sociológica das moralidades. Sustento o
argumento de que a análise foucaultiana da
moralidade fornece uma perspectiva praxiológica que aporta, ao menos, duas contribuições e
avanços pertinentes para o campo da sociologia da moral
: primeiro, um contraponto aos
2
L’usage des plaisirs
traduzido no Brasil como
O uso dos prazeres
(1984
a
)
,
Le souci de soi
, traduzido como
O
cuidado de si
(1985)
e, por último,
Le aveux de la chair,
traduzido como
As confissões da carne
(2020)
, quarto
volume,
publicado postumamente.
3
Esse conceito não se refere às representações sociais sobre um objeto preexistente. Por problematização,
Foucault quer dizer “o conjunto de práticas discursivas e não discursivas que faz alguma coisa entrar no jogo do
verdadeiro e
do falso e o constitui como objeto para o pensamento (seja sob a forma da reflexão moral, do
conhecimento científico, da análise política etc.) (FOUCAULT, 2006c
, p.
242).
4
Os outros dois domínios referem
-
se à constituição
como sujeitos de conhecimento at
ravés de relações com a
verdade e à constituição dos sujeitos, agindo uns sobre os outros, através de relaçõe
s de poder (FOUCAULT,
2014a, p.
223).
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para a sociologia da moralidade
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3
entendimentos mais holistas, cultura
listas e cognitivistas da moral; e, segundo, a conexão
entre moralidade, agência e poder a partir de uma teoria da prática sobre a subjetividade
moral.
Sociologia
da moralidade
O interesse da sociologia pelo fenômeno da moral não é uma novidade. As soci
ologias
de Emile Durkheim, Max Weber e Talcott Parsons atestam cabalmente esse interesse
precípuo, ao ponto da sociologia se confundir com uma ciência da vida moral (ABEND,
2010). Em todos eles,
encontra
-
se o problema dos valores, das normas e da moralidad
e
enquanto uma condição necessária e privilegiada para estudar a vida social humana e a
história de suas transformações. No entanto, apesar do interesse e da marcante presença da
moralidade e dos valores como tópico sociológico nos clássicos, não há propri
amente uma
sociologia da moralidade neles.
Ao contrário do que ocorreu em outras áreas, como a antropologia, a psicologia, a
filosofia social e até mesmo a neurociência e a biologia, o interesse com o tema da moral na
sociologia passou por um hiato tempora
l. Pode
-
se falar, aliás, de perda do status privilegiado
que outrora a moralidade usufruía como problema chave da disciplina. Sua identificação com
o funcionalismo parsoniano, que esteve ao longo da segunda metade do século XX sob
cerrad
a
e intensa crítica
na sociologia, principalmente nos EUA, é um dos fatores explicativos
para o ostracismo do tema na disciplina (HITLIN
;
VAISEY,
2010
,
p.
53).
Enquanto especialidade disciplinar, a sociologia da moralidade só emergiu, de fato,
recentemente,
desenvolvendo
-
se entre o final dos anos 1980 e começo dos anos 2000
(ABEND, 2008)
.
É
, nesse sentido,
um campo “redescoberto”
pela sociologia
(
M
c
CAFFREE
,
2016).
S
ob a influência de alguns
trabalhos de outras
áreas, em particular da filosofia social e
polí
tica, sociólogas e sociólogos voltaram novamente suas atenções para as dimensões morais
dos fenômenos sociais e para o lugar dos valores na experiência cotidiana das pessoas.
Os
enfoques sociológicos
mais recentes acerca da
moralidade tentam definir uma mu
dança de
escala e tratamento em relação
à perspectiva dos clássicos acerca da moralidade
(ABEND,
2010)
. Com o intento de renovar sua abordagem e explicação
(HITLIN, 2015),
o papel dos
valores e das normas morais na internalização, integração e consenso soc
ial perde sua
centralidade, assim como a dependência da moral em relação à lógicas de ação estratégica e
de dominação subjacentes. Em seu lugar,
ganham prioridade analítica
os contextos e os
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processos socioculturais heterogêneos que constituem as pressupos
ições, os significados e os
sistemas morais que moldam e orientam indivíduos, grupos e organizações em suas
percepções, relações, interações e padrões de comportamento em termos de valores,
avaliações, obrigações e compromissos nos mais diversos domínios d
a interação social
(H
ITLIN;
VAISEY, 201
0
).
Nesse sentido, ao contrário de uma perspectiva macrossociológica e estrutural,
privilegia
-
se um tratamento de orientação microssociológica, contextualista e estratificada da
moralidade. Esta é estudada tanto como variável independente quanto como variável
dependente dos fenômenos sociais. Ou seja, busca
-
se elucidar os seus diversos níveis de
relacionamento e de determinação com fatores variados de ordem histórica, econômica,
cultural, política e institucional
(H
ITLIN;
VAISEY
, 2010
).
Entre a variedade de tóp
icos de reflexão e pesquisa no campo das moralidades
5
, a
questão das dimensões morais das relações de poder constitui, conforme o mais importante
manual de divulgação e balanço da área, um dos mais destacados e relevantes temas
(H
ITLIN;
VAYSEY, 201
0
, p.
0
8). Nessa seara, duas perspectivas são bastante influentes e
utilizadas para apreender a dinâmica e os nexos entre moralidade e poder,
são elas
:
a
“
sociologia
pragmática da crítica e
dos regimes de ação”, cujos expoentes são Boltanski e
Thevenot
(1991)
, e
a sociologia
cultura
l
de inspiração bourdieusiana da socióloga canadense
Michèle Lamont
(
2000;
1992)
com suas
pesquisas com respeito ao problema das
fronteiras
morais entre as
classes sociais e outras coletividades
6
.
Na primeira abordagem,
moralidade e poder são entendidos como processos
discursivos interrelacionados às “lutas de justificação”
em que as práticas e relações humanas
ordinárias estão, irremediavelmente, implicadas nas mais diversas situações cotidianas e
públicas de controvérsia e divergência.
Para Boltanski e Thevenot (1991)
, as pessoas comuns,
em diferentes contextos de interação e a partir de uma pluralidade de princípios de valor,
invocam, avaliam e contrapõem razões morais e visões de bem comum divers
as para
justificar, questionar ou confirmar a legitimidade de determinados arranjos coletivos e seus
consensos provisórios
.
5
Para um balanço bibliográfico mais detalhado acerca da sociologia da moralidade
, ver
:
BRITO, Simone
Magalhães; FREIRE, Alyson Thiago Fernandes; FREITAS, Carlos Eduardo. Sociologia da moral: temas e
problemas.
In:
FAZZI, Rita de Cássia; LIMA, Jair Araújo.
Campos das Ciências Sociais
: figuras do mosaico
das pesquisas no Brasil e em Portugal. Petropólis
,
RJ
:
Vozes, 2020, p. 481
-
497.
6
Os estudos de pânico moral, cruzadas morais e escândalos e, por outro, ainda
que mais forte e recorrente na
antropologia, os e
studos das tecnologias de governo são outros exemplos importantes de perspectivas
que se
preocupam em articular moralidade e poder
. Para maiore
s detalhes
consultar
o texto
Sociologia da moral:
temas
e problemas
(
BRITO; FREIRE; FREITAS,
2020)
.
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para a sociologia da moralidade
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5
Em outras palavras,
poder e moralidade
coexistem
de maneira agonística
nos
contingentes
acordos normativos
que sustentam o mundo so
cial,
principalmente
nos
momentos críticos e provas por meio dos quais este último, em seus diferentes domínios,
é
posto
em xeque
quanto aos seus princípios de validade e justificação.
Ambos
, portanto, pode
-
se dizer,
são
parte
s
inerentes
da
s relaç
ões
intersubjetivas e da
capacidade de agir e
intervir das
pessoas na construção e transformação do mundo social (BOLTANSKI
;
THEVENOT, 1991).
Na segunda abordagem, por sua vez,
moralidade e poder se interligam como processos
culturais por meio dos quais grupos
autocompreendem suas identidades e diferenças em
relação à outros grupos, estabelecen
do e justificando
distinções e desigualdades
materiais e
simbólicas entre si.
Para Michèle Lamont
(2000
;
1992)
, as relações sociais são atravessadas
por padrões de avalia
ção com cujos significados e representações, disponíveis na forma de
repertórios culturais compartilhados e estratificados, as pessoas desenham e
instituem
“fronteiras morais” entre elas
. Os valores e as crenças morais
são, com efeito, conteúdos
cruciais p
ara dar sentido às identidades, hierarquias e as fronteiras de classe,
raça, gênero e
nacionalidade. As lógicas morais fundamentam e
legitimam
a produção de diferentes
lógicas
de poder e dominação, tais como as de superioridade e
inferioridade
e de discrim
inação e
estigmatização, assim como também atuam nas maneiras e respostas construídas e
mobilizadas no enfrentamento e contestação dessas últimas
(LAMONT,
2000;
1992).
Consideradas em seu conjunto, esses dois enfoques
apresentam
, em diferentes graus,
alguns
déficits e sobredeterminações, que, a meu ver, a análise foucaultiana da moralidade
pode contribuir para calibrar. Embora competentes pa
ra identificação e descrição das
linguagens
,
regras e regularidades
do discurso moral,
ass
im como sua situacionalidade,
relacionalidade e efeitos,
eles sobredeterminam certas dimensões, como o papel da
reflexividade e do simbólico, sem vinculá
-
las a um outro ponto fundamental da ação moral, a
saber: a produção do sujeito moral.
Como tentarei de
monstrar, Foucault desenvolve uma abordagem praxiológica da
moral. Nela, as práticas constitutivas da subjetiv
idade, em
um dado contexto
sociocultural e
histórico, figuram no centro da análise
da experiência moral
. É por meio delas que o filósofo
busca exa
minar e compreender como os indivíduos produzem a si mesmos como sujeitos
morais e, ao mesmo tempo, sujeitam
-
se a certos tipos de poder e instituições.
Sua genealogia das tecnologias de subjetivação moral ainda não recebeu a devida
atenção quanto ao seu p
otencial teórico para a pesquisa sociológica da moralidade,
especialmente na produção das ciências sociais brasileiras
-
em que predominam as
perspectivas de inspiração interacionista e pragmática, com forte inclinação para a sociologia
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da “economia dos re
gimes de justificação” de Luc Boltanski e
Laurent
Thevenot (FREIRE,
2013; WERNECK, 2016
; WERNECK; OLIVEIRA, 2014
)
7
.
Este artigo procura colaborar,
portanto, para aumentar o interesse de sociólogas e sociólogos nas contribuições da
“genealogia da ética” de
Foucault para a pesquisa sociológica das moralidades
–
algo que a
antropologia já tem assinalado e colocado em prática há algum tempo (
FAUBION, 2011;
LAIDLAW
, 2002).
Foucault redescobre a questão moral
A atenção foucaultiana pela que
stão moral se
deve, sobretudo, à
s implicações e
exigências teórico
-
empíricas que a reavaliação do seu projeto inicial de uma história da
sexualidade
,
colocaram para o filósofo francês. Antes disso, as passagens em que Foucault
dedicou
-
se a tratar diretamente questões re
lacionadas ao tema da moralidade são raras e
bastante
marcadas por sua crítica ao humanismo moderno. Com respeito às modificações do
projeto de uma história da sexualidade, o autor é categórico a propósito do novo patamar que
a dimensão moral adquiriu em s
eu trabalho: “Eu tentei reequilibrar todo o meu projeto em
torno de uma questão simples: por que se faz do comportamento sexual uma questão moral, e
uma questão moral importante?” (FOUCAULT, 2014a, p.
216).
Investigar as transformações na constituição do s
ujeito em relação à sexualidade o
conduziu para um campo de experiência em que a arqueologia do saber e a analítica dos
dispositivos de poder pareciam insuficientes para esclarecer. Até então, a obra de Foucault
tinha como principal preocupação examinar co
mo, no Ocidente moderno, o sujeito foi
formado e disciplinado pela produção de discursos de verdade e por estratégias de saber
-
poder.
A partir do final
da década 1970, o desafio intelectual que para ele com
eça a se impor
passa a ser de outra ordem
: não mai
s o de relacionar
sujeito e
verdade, e a sexualidade em
especial, à
emergência e
funcionamento de dispositivos de poder, senão às maneiras pelas
quais os indivíduos preocupam
-
se e tentam governar e moldar suas existências, desejos e
condutas enquanto uma “
relação do ser consigo mesmo”
–
rapport à soi
(FOUCAULT,
1984
a
, p. 10
).
7
Por outro lado, esforços para construir perspectivas alternativas no est
udo dos valores e moralidades tê
m sido
realizados no país. Cumpre mencionar alguns deles: Edmilson Lopes Junior (2010) a partir dos aportes da
sociologia econômica de Mark Granovetter
; Simone Brito (
2019;
2011), que tem se apoiado em Theodor Adorno
e Zygmunt Bauman, assim como empregado a sociologia
figuracionista de Norbert Elias
; e, por último, Carlos
Eduardo Freitas (2018), que em sua tese de doutoramento construiu seu quadro analít
ico a partir da teoria da
agência e da identidade moral de Charles Taylor e da sociologia da gênese dos valores de Hans Joas.
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7
Pode
-
se constatar esse esforço de reformulação e a preocupação do filósofo com a
questão moral em seus cursos no
Collège de France
dos anos 1980, nas palestras e
entrevistas
8
desse p
eríodo e, por último, no próprio material histórico e documental que
Foucault começou a pesquisar com mais afinco e interesse: “O campo que analisarei é
constituído por textos que pretendem estabelecer regras, dar opiniões, conselhos, para se
comportar com
o convém” (FOUCAULT
, 1984
a
, p.
15). Especialmente na análise de como
cultura greco
-
latina problematiza as condutas sexuais, Foucault exam
ina um tipo de literatura
moral:
textos filosóficos, tratados de existência, manuais de conduta, reflexões sobre a arte
de
viver
, uma
série de escritos elaborados por filósofos, médicos e moralistas das culturas
helênica e romana.
Não é por acaso que, discorrendo acerca do lapso temporal entre os volumes de
história da sexualidade, o filósofo francês responde que se
trata, agora, de estudar o
“nascimento de uma moral, de uma moral uma vez que ela é uma reflexão sobre a
sexualidade, sobre o desejo, o prazer” (FOUCAULT, 2004, p.
241).
Estudar a moral: das regras à constituição do sujeito
Na programática introdução d
o
Uso dos prazeres
, Foucault (1984
a
) afirma que o seu
trabal
ho sobre
as práticas de austeridade sexual do mundo
antigo lhe trouxe uma inesperada e
instigante
surpresa, qual seja: um sentido
peculiar e distinto de moral quando comparado
ao
entendimento mode
rno e sua ênfase na universalidade de um código.
Nas teorias modernas da moralidade, sustenta Foucault, existe uma
importante
questão
negligenciada. Ele está se referindo a um componente crucial da vida moral,
o qual, a seu ver,
é analiticamente distinto d
as regras, valores, princípios e códigos morais. Trata
-
se das práticas
por meio das quais os indivíduos buscam transformar a si mesmos, suas atitudes e hábitos,
em
um modo de ser moral culturalmente valorizado e pessoalmente significativo (FOUCAULT,
1984
a
)
.
Com isso, Foucault quer chamar a atenção para o fato de que na história da moral não
há apenas códigos e discursos de proibições e advertências. Nela, pode
-
se encontrar
também
a
8
Os cursos
Subjectivité et verité
, de 1980
-
81,
L’hermeneutic du sujet,
de 1981
-
82,
Le gouvernement de soi et des
autres
, de 1982
-
83
e
La courage de la verité
, de 1983
-
84
. Entre
as
entrevistas
,
pode
-
se mencionar
:
Sobre a
genealogia da ética: resumo de um trabalho em curso
, realizada e publicada em inglês em 1983
(FOUCAULT,
M.
On the Genealogy of Ethics, An Overview of Work in Progres
s.
In
: DREYFUS, H., RABINOW, P.
Michel
Foucault
. Beyond Structuralisme and Hermeneutics.
2. ed. Chicago, The University
Chicago Press, 1983, p.
229
-
252
)
e a
A ética do cuidado de si como prática da liberdade
, realizada e public
ada em 1984 (FOUCAULT,
M. À propos de la généalogie de l’éthique, un aperçu du travail en cours.
In
: DREYFUS, H.
;
RABINOW,
P.
Michel Foucault
: un parcours philosophique.
Paris, Gallimard, 1984
b
.
p.
322
-
346).
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8
existência de uma variedade de práticas e técnicas históricas norteadas pel
a preocupação em
moldar a existência e as maneiras de ser através de uma relação moral e reflexiva com as
próprias condutas,
pensamentos
, enfim, consigo próprio. Uma relação, frisa Foucault,
dedicada à produção de determinadas disp
osições e formas morais d
e ser, sentir e
viver
enquanto condição indispensável para atingir certos estados ideais e realizar concepções
estimadas de pessoa e de vida plena.
Como se pode notar,
no campo das tradições da filosofia moral,
Foucault
está mais
próximo das
preocupações da ética das virtudes
(M
ACINTYRE, 2001)
do que do utilitarismo
(MILL,
2005)
e da deontologia (KANT,
2013)
. I
s
t
o é,
da questão
do que significa ser virtuoso
e agir segundo uma concepç
ão valorizada de
bem
do que da
questão
abstrata a propósito da
descoberta e fundamentação de critérios para
definir o que é uma
ação correta
.
Desse modo,
ele tenta
incluir no campo da reflexão
e pesquisa
sobre a moral um problema t
eórico e
empírico singular
: “as formas e as modalidades da rela
ção consigo através das quais o
indivíduo se constitui e se reconhece como sujeito” (FOUCAULT, 1984
a
, p.
10)
. P
ropõe
,
assim
,
um deslocamento de ênfase na investigação da vida moral:
em vez de simplesmente os
sistemas e códigos normativos e avaliativos
que
informam ao longo do tempo e do espaço um
dado campo de condut
a, de raciocínio e
de relações, as experiências morais e práticas de
produção das f
ormas de ser moral
em contextos histórico
-
culturais específicos
.
Para
Foucault
(1984
a
, p. 26
-
7
)
, pode
-
se
distin
guir três níveis de fenômenos
característicos da moral enquanto campo de investigação. São eles: “código moral”,
“moralidade dos costumes” e “ética”.
Esses três níveis, embora distintos, definem
-
se em
termos de sua relação com a dimensão das condutas.
O primeiro nível diz respeito às regras, prescrições e
aos
regulamentos aplicad
o
s por
instituições diversas (família, escola, templos religiosos). Trata
-
se do conjunto de valores e
normas propostos aos indivíduos e grupos para a determinação e organiza
ção
do campo de
suas condutas,
assim como as institu
ições e
as relações de poder que
sustentam
seu
funcionamento,
desenvolvimento histórico, su
as mudanças, desaparecimento
(FOU
CAULT,
1984a, p.
25).
O segundo nível é o da “moralidade dos costumes”
. Este
refere
-
se
, por sua vez,
aos
comportamento
s reais dos indivíduos para com
os códigos e prescrições mor
ais que lhes são
imposto
s. Ou seja, como se portam em relação às regras e valores morais: submissão, respeito
e obediência, resistência, negligência, transgressão
, cinismo. O estudo desse aspecto da moral
deve se ater às maneiras como “os indivíduos ou os grupos se conduzem em referência a um
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Foucaultianas
para a sociologia da moralidade
Estud. sociol., Araraquara,
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, e022011
, jan./
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.
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9
sistema prescritivo que é explícita ou implicitamente dado em sua cultura
[
...
]
” (FOUCAULT,
1984
a, p.
25).
Por último, Fouca
ult considera que o estudo da moral comporta, ainda, um terceiro
nível, a “ética”.
Muito embora,
trate
-
se de uma dimensão bastante importante ao longo da
história da moral, ela ainda tem sido pouco estudada. Quando Foucault fala de “ética
”, ele não
quer di
zer por isso
o
comportamento de adesão
à
princípios e normas que proferem como agir
e que conduta adotar, e sim, muito mais, o modo de relacionamento c
ultivado para consigo
mesmo com o propósito de
agir e ser de um
a
determinada maneira. Por ética, entende,
na
verdade, o trabalho reflexivo e moralmente engajado para constituir a si próprio como um
certo tipo de sujeito moral.
A ética é, portanto, uma forma de subjetivação, a qual pode ser melhor qualificada em
sua especificidade como subjetivação moral, ist
o é, as maneiras e práticas pel
as quais
indivíduos e grupos
agem sobre si próprios
,
e
de forma consistente com padrões, aspirações e
concepções morais compartilhadas
e organizadas
, para constituírem a si mesmos como
determinados
sujeitos morais
. A ética, n
esse sentido, versa acerca d
as formas e modalidades
históricas de criação de modos de vida e de elaboração da conduta, pois “uma coisa é uma
regra de conduta; outra, a conduta que se pode medir a essa regra. Mas, outra coisa ainda é a
maneira pela qual é n
ecessário ‘conduzir
-
se” (FOUCAULT, 1984
a
,
p.
26).
Nesse sentido, a pergunta de partida para
estudar a moralidade não se dirige a
os
conteúdos dos códigos e
das
normas que regram e o
rientam
a ação moral. Ela parte da
seguinte indagação
: quais são as práticas morais e
as
técnicas cotidianas que indivíduos e
grupos empregam sobre si mesmos para tornarem
-
se um certo de ti
po de pessoa e sujeito?
Trata
-
se, ent
ão,
de
jogar luz acerca de
como uma determinada produção do sujeito moral é
posta e
m prática
e quais são su
as
qualidades
, sentidos, atividades
:
[
...
]
o indivíduo circunscreve a parte dele mesmo que constitui o objeto dessa
prática moral, define sua posição em relação ao preceito que respeita,
estabelece para si um certo modo de ser que
valerá como realização moral
dele mesmo; e, para tal, age sobre si mesmo, procura conhecer
-
se, controla
-
se, põe
-
se à prova, aperfeiçoa
-
se, transforma
-
se (FOUCAULT, 1984
a
, p.
28).
Portanto, o sujeito moral não existe sem um trabalho de subjetivação moral,
sem
os
indivíduos
colocarem
em ação um conjunto de atividades cotidianas pelas quais, com esforço
e repetição, observam
-
se, interpretam
-
se, avaliam
-
se, corrigem
-
se, controlam
-
se e tentam
moldar a si mesmo. Por isso, estudar a vida moral de grupos e sociedades exige pesquisar as
forma
s de atividades sobre si empregadas para produzir um determinado sujeito moral, as
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quais, escreve Foucault, “não são menos diferentes de uma moral a outra do que os sistemas
de valores, de regras, e de interdições” (FOUCAULT, 1984
a
, p.
29).
Foucault
busca
amplia
r
o escopo do que
se
entende por “moral”, colocando
-
a para
além do problema da obrigação e da regra, isto é, da internalização subjetiva e da
conformidade da ação para com um código de valores e de normas abrangente
exterior
.
Pesquisar o campo das m
oralidades significa tentar apreender os processos de constituição do
sujeito moral, conduzidos por determinadas práticas, tecnologias, aspirações e relações que
tomam a subjetividade como uma matéria viva e plástica sobre a qual é possível e desejável
exe
rcer e cultivar uma ação moral produtora, modeladora e transformadora de certas
disposições, modos de ser e maneiras de viver.
O trabalho moral: tecnologias e práticas
Foucault analisa as éticas antigas a partir de um conjunto de textos e manuais
presc
ritivos de caráter filosófico, médico e religioso. Neles, o filósofo observou a centralidade
de um tipo de trabalho prático que os indivíduos devem se dedicar se quiserem se tornar
sujeitos morais de suas condutas, em especial em sua relação com os prazere
s. Nesses textos,
que formam o material histórico dos seus últimos cursos e livros, uma série variada de
práticas e exercícios
se sobressai
, tais como autoexame da consciência, retiros, exercícios de
resistência diante de prazeres, correspondências para si
e para os outros, meditação, provações
físicas de abstinência, anotações e interpretações dos sonhos, passeios reflexivos, penitências
públicas, confissões de faltas, entre outras
(FOUCAULT, 1984
a
)
.
Essas práticas e exercícios são atividades que são adot
adas pelos indivíduos para que
eles próprios possam agir sobre si mesmos. Elas integram um processo de treinamentos e de
procedimentos refletidos, elaborados e sistematizados cuja razão de ser é construir e modificar
o próprio modo
de ser dos indivíduos e,
desse modo, põem em ação o que Foucault
(
2016,
p.267)
nomeia como “técnicas de si” ou “tecnologias de si”
quer dizer:
“
procedimentos, que
sem dúvida existem em toda civilização, que são propostos ou prescritos aos indivíduos para
estabelecerem sua identid
ade, mantê
-
la ou transformá
-
la em função de certos fins, e isso
graças a relações de domínio de si sobre si ou de conhecimento de si por si
”
.
Pode
-
se afirmar que, para Foucault, os seres humanos não são apenas “animais que
interpretam a si mesmos”, como es
creve o filósofo canadense Taylor (1
985, p.
45). Os seres
humanos são animais que, engajados em interpretar e modificar suas condutas, produzem a si
mesmos. Tornam
-
se sujeitos ao tentarem, por meio de certas atividades e procedimentos,
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alcançar maneiras de
ser e agir moralmente valorizadas. Em suma, são animais capazes de
constituir sua subjetividade
9
.
No que interessa a esse artigo, o argumento é de que o conceito de técnicas de si
(FOUCAULT, 2014b)
é uma das principais ferramentas conceituais para analisar a
moralidade sob ponto de vista da prática e das formas históricas de constituição do sujeito
moral.
Com o conceito de técnicas de si, a constituição do sujeito moral pode ser analisada
enquanto u
m trabalho de autoconstituição de si. Sobre o papel dessas técnicas no campo
moral, Foucault
(2006c, p.
244)
é categórico: “Não acredito que haja moral sem um certo
número de práticas de si”.
O trabalho de subjetivação moral exige intenso engajamento moral
, reflexivo e prático
do indivíduo consigo mesmo.
D
eve
-
se
, observa Foucault, estruturar sua relação consigo como
uma prática. Essa abordagem da moral, mais atenta às práticas e formas particulares de
relação consigo suscita, penso, relevantes ganhos analít
icos.
Em primeiro lugar, ela finca a moral, os sistemas de valores e normas dos
comportamentos, no campo das práticas e da subjetividade, deslocando
-
a de entendimentos
holistas e culturalistas que a reificam enquanto uma esfera simbólica de valores e
repr
esentações
autônoma ou hiperdeterminada
. O esforço foucaultiano, nesse sentido, é
estabelecer o fenômeno da moralidade nos termos da relação do
self
com os valores e as
normas, entendendo
-
a enquanto uma relação, que, ainda que intersubjetivamente orientada
por crenças, princípios e convenções de obrigação, é sobretudo uma relação praxiológica e
corporalmente engajada
–
distante, portant
o, da reflexividade sem corpo de certa
sociologia
pragmática. A moral é um campo histórico
-
sociológico definido e orientado
não somente pela
obediência
a
princípios, valores, regras e normas
,
mas
também pela adesão refletida
a
ideais,
compromissos, virtudes e aspirações éticas compartilhadas na forma de práticas, e práticas
que constroem posturas, comportamentos e autocompreen
sões, formando uma tecnologia ou
forma de subjetivação moral mais ampla.
No mesmo sentido, a experiência moral não é movida apenas por aquilo que Charles
Taylor (1997
, p. 16
-
1
7
) chama de “sentidos de vida plena” e “avaliações fortes”. Novamente,
é preciso
prestar atenção no uso e emprego rotinizado de determinadas técnicas, exercícios e
atividades moralmente constitutivas pelos indivíduos num dado contexto e segundo
determinadas aspirações e concepções de sujeito moral. A ênfase de Foucault na ideia de
9
A noção de “técnicas de si” e sua operacionalização empírica por Foucault antecipa o que, mais tarde, Peter
Sloterdijk (2013) intitulará de “antropotécnicas”, emb
ora sem a explícita motivação de fundamentar
uma
antropologia filosófica ontologicamente orie
ntada. Em um plano mais geral, não é exagero dizer, Foucault
enseja, com base na noção de técnicas de si, uma história das tecnologias de autosubjetivação.
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asc
ese, no papel dos exercícios rotinizados e das técnicas empregadas para a constituição de
tipos de sujeito moral e de relações com a verdade, como grade de leitura histórica não deixa
dúvida quanto ao primado das práticas como categoria e unidade de anális
e da moral. Pode
-
se
dizer, com segurança, que Foucault adota para a estudar a moral um enfoque da teoria da
prática
10
(RECKWITZ, 2002).
Por último, ao alçar as práticas de
autopoesis
do sujeito como uma questão relevante
para compreender a
história e a singularidade da moral, Foucault consegue elaborar uma
solução da dicotomia sujeição/liberdade
11
, muito presente no campo de estudo da moralidade.
Se sua abordagem da moral está interessada, na verdade, nos processos de autoconstituição de
mod
os de ser culturalmente valorizados e pessoalmente significativos para indivíduos e
grupos, é indispensável colocar em primeiro plano a agência moral dos indivíduos sobre si
próprios, sem esquecer, por óbvio, das interdependências com as instituições, grup
os,
dispositivos de poder, saberes, códigos.
Moral
idade
e subjetividade
A subjetivação moral não é possível sem problematizar a experiência que se tem de si
próprio, sem atribuir sentido às próprias condutas, sem mobilizar saberes e lançar mão de
recur
sos e atividades para exercitar e construir autorrelações e autocompreensões. O conceito
de técnicas de si fornece a mediação conceitual para abrir a subjetividade enquanto um
domínio da experiência moral que pode ser estudado pelo conhecimento fundamentad
o. A
autorrelação prática que os seres humanos instauram consigo mesmos, ou seja, a
subjetividade, existem enraizadas num campo positivo de historicidade, uma vez que estão,
irremediavelmente, implicadas em práticas sociais, instituições, saberes, relações
de poder,
valores culturais, códigos prescritivos.
Para detalhar, com maior rigor, e fundamentar uma compreensão teoricamente mais
depurada acerca de como ocorre o processo de constituição de si como sujeito moral em éticas
históricas particulares, Fouca
ult (1984
a
) elenca quatro operações combinadas e constitutivas
10
A teoria da prática se apresenta como uma perspectiva teórica alternativa aos entendimentos textua
listas,
culturalistas e intersubjetivista da ação. Ela enfatiza as práticas sociais como ponto de partida para a
inteligibilidade dos fenômenos sociais.
Para maiores detalhes
,
ver RECKWITZ, A.
Toward a theory of social
practices: a develop
ment in cultural
ist theorizing
.
European Journal of Social Theory
, v.
5
, n.
2,
p. 243
-
263,
2002.
11
Os escritos tardios de Foucault parecem se somar, com mais propriedade do que
seus escritos da
genealogia do
poder, ao esforço de diversos outros autores que, a partir do
último quartel do século XX, tentaram ultrapassar
oposições conceituais variadas, como ação/estrutura, micro/macro e objetividade/subjetividade (ALEXANDER,
1987; ORTNER, 2006).
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da relação moral consigo (“ética”). A determinação da 1) “substância ética”, ou, a parte de si
que o indivíduo deve tomar e constituir como matéria principal de sua conduta moral, são
exemplos
a
aphrodisia
grega, a carne no cristianismo, a sexualidade moderna, as emoções e a
identidade contemporâneas; 2) “o modo de sujeição”, as formas de reconhecimento e
justificação das obrigações morais com a regra e sua prática, que podem ser apelos, por
exe
mplo, a “ordem cosmológica”, a “vontade divina”, a “lei natural”, a “razão”; 3) o
“trabalho ético” (asceticismo), isto é, as formas de elaboração e autoformação pelas quais os
indivíduos atuam sobre si no sentido de transformar
-
se em sujeito moral, são exe
mplos o
“cuidado de si” grego e a “hermenêutica de si” cristã; e, por último, a 4) “teleologia do sujeito
moral”, os sentidos e propósitos buscados na constituição de um modo de ser característico do
sujeito moral, exemplos: o sujeito do domínio de si entr
e os gregos, o sujeito purificado entre
os cristãos, o sujeito racional e autônomo entre os modernos, o sujeito autêntico e si
ngular no
mundo contemporâneo.
Esse discernimento conceitual auxilia a organização da análise das diversas operações
e dimensões e
nvolvidas no processo de subjetivação moral. Não se trata de capturar uma
racionalidade geral, pois c
omo e
ssas operações em suas formas concretas são historicamente
variáveis, a subjetivação moral pode ser constituída de diversas maneiras, conforme diferen
tes
lógicas, combinações, técnicas e preceitos. Para produzirem a si mesmos como sujeitos
morais, os indivíduos ordenam e compõem avaliativamente uma multiplicidade de elementos
materiais e simbólicos moralmente significativos em um dado contexto histórico
e
sociocultural. Se, por um lado, há envolvimento e reflexividade na produção moral de si, por
outro, de maneira incorporada e tácita, a subjetivação moral é um processo que depende de
certas fórmulas, princípios e ferramentas culturais compartilhadas, ai
nda que estas sejam
socialmente seletivas e desiguais
,
segundo determinadas relações e marcadores relevantes no
contexto
em questão
.
O desdobramento da moral para incluir, também, a subjetividade, a autorrelação
produtora do sujeito, a um só tempo reflexiv
a e prática e definida numa agonística de práticas
de poder e práticas de liberdade, não significa cair em um subjetivismo ou adotar um enfoque
da fenomenologia do si mesmo. As práticas de si que formam a subjetividade não possuem
como premissa, importante
dizer, uma relação de transparência do agente consigo mesmo.
Assim como a moral possui uma história na forma de diferentes práticas, tecnologias,
sistemas de valores, podendo ser, por isso, estudada e compreendida, a subjetividade, como a
pensa Foucault,
também compreende um campo histórico com objetos, práticas sociais,
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técnicas,
instituições, saberes, relações e normatividades determinadas. Não é um ponto de
partida, mas um ponto de chegada.
A novidade é que Foucault
(2004
;
2014a
)
sublinha que os indivíduos não são meros
produtos da ação dos outros, eles também podem se autoconstituir (agir sobre si) enquanto
sujeitos, ou seja, participar ativamente, e igualmente por meio de práticas e relações históricas
analisáveis, da produção d
o que eles são ou almejam ser (subjetivação).
Em termos teóricos para a análise da moralidade, esse entendimento da subjetividade
desloc
a o foco da ação moral. Graças a uma certa leitura de
Durkheim e Parsons, é muito
comum delimitar a ação moral ao proces
so de conformação entre regra e conduta, isto é, sobre
como os indivíduos se adequam às expectativas e injunções morais segundo uma dada
normatividade coletiva. Ainda que, como Durkheim, Foucault
(1984
a
) concorda
que a
sociedade constitui a origem e o fund
amento da moral, e não uma vontade divina ou razão
universal, tal conclusão não lhe parece suficientemente esclarecedora e pertinente para o
estudo da moralidade, de sorte que não é por essa trilha que ele pretende caminhar. Interessa
-
lhe, com efeito, o ní
vel relacional entre subjetividade e moralidade, é nele que de fato o nosso
autor assenta sua abordagem da moral. Com isso,
o filósofo francês
contorna duas armadilhas
muito comuns no entendimento da questão moral: 1) o sociologismo, a redução da moralidad
e
à ideia de hábitos e costumes socialmente aprovados em uma dada coletividade e 2) o
escolasticismo, a primazia de concepções teórico
-
filosóficas em detrimento dos modelos
morais cotidianos na experiência histórica.
Em sua “virada ética”, Foucault
(1984
a;
2004
)
não apenas reforça sua concepção não
-
substancialista de sujeito e sua recusa ao dualismo filosófico moderno entre um “sujeito
transcendental” e sua vida empírica. Ele, na verdade, continua a demonstrar como, mesmo em
um nível aparentemente mais ínti
mo e ensimesmado, como a relação reflexiva do sujeito
consigo, se trata de uma forma relacional e
aberta,
mediada
e constituída
por práticas
históricas analisáveis, com instituições, normas, esquemas de comportamento, saberes
,
técnicas
.
Moral
idade
e pode
r
Como parte da genealogia do sujeito, a formação do sujeito moral, e
xplica Foucault
(1984
a
)
, mantém
–
em níveis e formas historicamente variáveis, nunca é demais insistir
–
uma
relação com as estruturas de poder e de dominação, quer dizer, com as
formas de governar os
outros. A ética, no sentido definido aqui por Foucault
(1984
a
)
, não está fora ou em oposição à
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política
-
entendida como exercício de tecnologias de poder e de governo capazes de
estruturar campos diversos de condutas.
Ao se prestar
atenção na análise de Foucault sobre a vida ética e a experiência moral
entre os gregos e no cristianismo, resulta bastante claro que
sua
abordagem leva em conta
como as técnicas de poder e de condução dos
outros cruzam e operam imiscuídas
às maneiras
de r
elação consigo e de autoconstituição do sujeito moral. A despeito da autonomia relativa da
experiência moral em relação às técnicas de poder, entre elas existem interdependências e
correlações. Os significados das práticas éticas e da singularidade históri
ca dos modos de
subjetivação moral passam, irremediavelmente, por apreender as relações existentes entre
estas últimas e as lógicas de poder com as quais se entrecruzam.
A moral clássica do uso do
s
prazeres, no mundo greco
-
romano, está enredada em
condiçõ
es políticas e em lógicas de dominação e desigualdade. Como bem se sabe, trata
-
se de
uma moral explicitamente voltada para uma aristocracia de homens livres e bem posicionados
e privilegiados no que tange às preocupações com a reprodução material de suas v
idas.
Portanto, homens que gozam de condições bastante favoráveis para estilizar, com afinco e
entusiasmo, suas condutas e para cultivar uma relação “entre o exercício de sua liberdade, as
formas de seu poder e seu acesso à verdade”
(FOUCAULT, 1984a, p
.
21
9)
. Como ressalta
Foucault
(1984
a
, p.
219)
, é uma moral viril, assegurada “num sistema muito duro d
e
desigualdades e de coerções
–
em particular a respeito das mu
lheres e dos escravos”
.
O autodomínio de si, o
télos
da ética sexual clássica, é uma forma de provar, justificar
e exercer a superioridade social, moral e estética sobre os outros. As éticas da antigui
dade
clássica estão assentadas em
um princípio normativo segundo o qual o poder sobre si
(“domínio de si”)
é uma condição moral e política indispensável para governar os outros. Sem
ser capaz de se autogovernar e de formar um caráter virtuoso e admirável, não se pode aspirar
a governar, com justiça e racionalidade, os outros, seja na
polis
seja nos contextos do
mésticos
(FOUCAULT, 1984
a
; 1985).
É na análise da subjetivação moral do cristianismo, no entanto, que melhor e mais
detalhadamente
pode
-
se
examinar como, em Foucault, moralidade e poder interagem e
funcionam. O cristianismo é uma religião caracterizada po
r uma experiência moral de forte
sujeição e obediência. Seus fiéis devem cumprir certas obrigações de fé, seguir certos
dogmas, reconhecer autoridades eclesiásticas, aceitar determinados livros e discursos como
fontes de verdade e revelação. Ao contrário d
a moral no plural e da busca pessoal por criar
éticas e estilos de vida do mundo greco
-
romano, o cristianismo pretende
-
se como uma moral
única, codificada em
um sistema universal de regras
e de obrigações
que, para garantir tal
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pretensão, criou um poderoso
e amplo aparelho institucional de poder (FOUCAULT, 2004, p.
290).
No entanto, e
m vez da estrutura e dinâmica de poder da igreja, Foucault
(1984
a, p. 31
)
passa em revista as práticas espirituais monásticas dos primeiros séculos da era cristã, como
os ritua
is de confissão, retiros, jejuns, a direção da consciência. N
elas, o filósofo francês
apreende um modo de
subjetivação moral peculiar, qual seja: a produção de um sujeito dotado
de uma espécie de “interioridade” e “verdade profunda” cujos movimentos, conte
údos e
meandros devem ser sondados, conhecidos e confessados
pelo próprio sujeito
.
As relações consigo postas em prática pelo cristianismo, de reconhecer as tentações
que se formam dentro da alma, são obrigações de verdade do sujeito consigo mesmo.
Soment
e assim, por meio de uma relação de decifração e confissão de si, pode
-
se alcançar o
modo de ser moral valorizado nesse contexto, um “estado de santidade, de purificação e de
renúncia de si”. Tais práticas e obrigações constroem, portanto, uma subjetividad
e “alertada
sobre suas próprias fraquezas, suas próprias tentações, sua pró
pria carne” (FOUCAULT,
2006d, p
.
71).
A constituição desse tipo de subjetividade, que se engaja na autodecifração sob a
obediência e a sujeição aos outr
os, assim como
a um sistema
religioso de regras universais, é
a base pela qual o cristianismo conforma, no mesmo gesto, a produção de um certo sujeito
moral e o exercício de uma grande tecnologia de poder, intitulada por Foucault como “poder
pastoral”. Para Foucault
(2014b
, p
. 287)
,
as técnicas e práticas de si cristãs ajudaram a dar
vida a uma tecnologia política, que é, a um só tempo, totalizante (“governar e conduzir o
rebanho”) e individualizante (“a alma de cada fiel, de cada pecador”). O poder pastoral cristão
está baseado numa
espécie de pedagogia segunda a qual os indivíduos precisam ser
conduzidos pelos outros. Trata
-
se de uma tecnologia de direção das consciências e de
condução das condutas, voltada para produzir um saber e extrair uma “verdade” sobre a
“interioridade” dos
in
divíduos por meio
de uma rede de relações de sujeição e obediência e de
técnicas de confissão.
Para Foucault (2011), a contribuição do cristianismo para a história da subjetivação
moral consiste exatamente na invenção e institucionalização de uma subjetiv
idade
confessional; a constituição de um sujeito moral que mantém consigo uma relação de
obrigação de produzir um discurso de verdade sobre si mesmo (seus pensamentos,
sentimentos, intenções, desejos)
-
e a ele se vincular
-
sob a dependência e obediência
de um
outro. Ainda hoje, em larga medida, esse modelo
de subjetividade
está na base da noção de
sujeito dos discursos e práticas médicas, psiquiátricas e judiciais modernas.
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Considerações finais
Nes
t
e trabalho, busquei discutir o enfoque
teórico
-
metodológico do Foucault tardio
sobre moralidade, assim como apresentar o seu vocabulário conceitual. O objetivo não foi
realizar um exercício de exegese. O esforço desse trabalho consistiu em contribuir para a
abertura de novas perspectivas e ferr
amentas analíticas úteis para pesquisa teórica e empírica.
No campo sociológico, essa tem sido uma tarefa realizada por diversos pesquisadores
examinando e avaliando os contributos teóricos de diferentes autores e linhagens teóricas,
como, por exemplo, Ign
atow (2009)
, nos EUA
com o conceito de habitus de Pierre Bourdieu
(2009) e aqui no Brasil
,
já mencionado
s
Edmilson Lopes Junior (2010),
Carlos Eduardo
Freitas (2018)
e Simone Brito (2011; 2019)
pesquisando no campo das moralidades
.
Identifiquei quatro coo
rdenadas definidoras do quadro analítico foucaultiano e que
podem orientar uma abordagem praxiológica da moral. A primeira consiste em estudar a
moral do ponto de vista da constituição do sujeito. Para isso convém não tomar o sujeito
moral como um dado pré
vio da razão ou assumir uma inerente competência normativa da
agência do ser humano. Antes e sobretudo, abordar o sujeito como resultado de um processo
de subjetivação
moral
,
conforme
práticas
e relações determinadas
cujas
formas
de produção
do ser moral s
ão
variadas
,
comparti
lhadas e historicamente singulares
.
Segundo, introduzir na moralidade o problema da subjetividade e da agência moral
dos indivíduos. Quer dizer, as formas de relacionamento empregadas pelo sujeito para agir e
pensar sobre si com o obj
etivo de tornar
-
se sujeito moral de suas ações. A clássica questão
sociológica da internalização dos valores e normas é deslocada da mera conformação
à regras
exteriores para o terreno das relações entre ação moral e
self
, entendido enquanto a
realização
d
e um trabalho relacional de construção,
rotinização,
criativid
ade e reflexividade do agente
sobre si mesmo
e sua ação
.
Terceiro, e, como consequência lógica dos pontos anteriores, abordar a moral a partir
do primado das práticas, pois são elas as atividade
s formadoras e autoformadoras dos sujeitos
morais. Em vez de apelar para totalidades, como cultura, sociedade, enfatizar modos de atuar
e pensar, e como eles organizam as vidas morais cotidianas de grupos em contextos
determinados e, dessa maneira, engendr
am éticas históricas particulares.
E, por últ
imo, a quarta coordenada
, diz respeito às intersecções entre moral e poder.
Identificar os vínculos e as afinidades entre o exercício do poder, suas estratégias e
tecnologias, com as formas de constituição do s
ujeito moral, suas práticas e modos de ser
particu
lares. Ou seja, expandir
e integra
r n
a análise das lógicas de poder e de dominação as
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práticas de si que funcionam como produtoras e sustentadoras de relações assujeitamento
e de
formas sujeitadas de subjet
ividade moral
.
Em conjunto, essas quatro coordenadas inspiram
, a meu ver,
um novo tratamento da
moralidade. Elas ajudam a demarcá
-
la em um campo analítico e empírico específico e sem
igualá
-
la e reduzi
-
la à cultura e ao social, entendidos de maneira holís
tica e totalizante. Nesse
sentido, estudar a moralidade é investigar os modos de subjetivação moral
e as técnicas de si
postos em prática para constituir de uma certa maneira um determinado campo de experiência
das condutas e relações dos seres humanos con
sigo mesmos
.
As preocupações e diretrizes básicas da abordagem foucaultiana para examinar a
moral como subjetivação moral podem ser elencadas na forma das seguintes perguntas: que
parte de si e das condutas os indivíduos tomam como objeto de reflexão, pre
ocupação e ação
moral? Quais significados e motivações orientam a prática moral que exercem sobre si? Que
tipos de sujeito moral buscam construir e realizar? Que maneiras e meios eles dispõem e
empregam para intervir e atuar sobre si? Quais efeitos são pro
duzidos sobre os corpos? Que
fins aspiram alcançar os indivíduos com sua prática moral? Como e a partir de que pontos as
relações consigo e as relações de poder se cruzam, se reforçam e se integram em estruturas de
dominação e coerção mais amplas?
Ora, as
interrogações acima
são
, com efeito,
questões de profundo interesse
sociológico. Pode
-
se dizer que elas balizam as diretrizes de um programa de sociologia de
moral, o qual eu
gostaria de c
hamar de uma “sociologia das for
mas de subjetivação moral”.
Nesse programa
, a moral é entendida, praxiologicamente, como um feixe de práticas de
formação do sujeito moral, práticas constituintes de formas morais de vida, de formas morais
de ser e estar no mundo.
Uma sociologia das formas de subjetivação moral inves
tigaria
, portanto,
as formas de
constituição do sujeito moral na diversidade das relações, atividades e espaços da vida
cotidiana, isto é, como valores, concepções de pessoa e ideais de conduta são incorporados
por meio de práticas rotinizadas e autosubjet
ivadoras, produzindo determinados modos de ser
moral.
Na tarefa de investigar e compreender o mundo social e as relações humanas, p
arece
-
me ser esse um investime
nto de pesquisa que vale à pena
experimentar.
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Subjetivação moral e poder: Contribuições
Foucaultianas
para a sociologia da moralidade
Estud. sociol., Araraquara,
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Como
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este artigo
FREIRE, A. T. F.
Subjetivação moral e poder: Contribuições foucaultianas para a sociologia
da moralidade
.
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A
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ISSN:
2358
-
4238
.
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.13891
Submetido em
:
02/07/2020
Revisões requeridas em
:
15/03/2021
Aprovado em
:
23/12/2021
Publicado em
:
30/06/2022
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Moral subjectivation and power:
F
oucaultian contributions to sociology of
morality
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1
MORAL SUBJECTIVATION AND POWER: FOUCAULTIAN CONTRIBUTIONS
TO SOCIOLOGY OF MORALITY
SUBJETIVAÇÃO MORAL E PODER
:
CONTRIBUIÇÕES FOUCAULTIANAS PARA A
SOCIOLOGIA DA MORALIDADE
SUBJETIVACIÓN MORAL Y PODER: CONTRIBUCIONES
FOUCAULTIANAS A LA
SOCIOLOGIA DE LA MORALIDADE
Alyson Thiago Fernandes FREIRE
1
ABSTRACT:
This paper discusses the theoretical and methodological systematization
proposed by Michel Foucault to study morality. In order to extract lessons and
subsidies for
sociological research on moralities, especially to ground the notion of moral subjectivation, it
is argued that late Foucauldian studies provide a praxeological perspective capable of
connecting morality, agency, and power.
KEYWORDS:
Michel
Foucault. Morality. Subjectivation. Sociology of morality. Social
theory.
RESUMO
:
Este artigo discute a sistematização teórico
-
metodológica proposta por Michel
Foucault para estudar a moral. Com intuito de extrair lições e subsídios para a pesquisa
socio
lógica das moralidades, em especial para fundamentar a noção de subjetivação moral,
sustenta
-
se que os estudos tardios foucaultianos aportam uma perspectiva praxiológica capaz
de conectar moralidade, agência e poder.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Michel Foucault. Moral
idade. Subjetivação. Sociologia da moral.
Teoria Social.
RESUMEN
:
Este artículo discute la sistematización teórica y metodológica propuesta por
Michel Foucault para estudiar la moral. Con el fin de extraer lecciones y subsidios para la
investigación sociológica de la moralidad, especialmente para apoyar la noción de
subj
etivación moral, se argumenta que los últimos estudios foucaultianos proporcionan una
perspectiva praxiológica capaz de conectar la moralidad, la agencia y el poder.
PALA
B
RAS
CLAVE
:
Michel Foucault. Moralidad. Subjetivación. Sociología de la
moralidade.
Teoría social.
1
Federal Institute of
Rio Grande do Norte (IFRN), Mossoró
–
RN
–
Brazil
.
Professor of Sociology. Doctoral
student at the Postgraduate Program in Sociology (UFPB). Master in Social Sciences
(UFRN).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
6673
-
6289.
E
-
mail:
alyson.freire@ifrn.edu.br
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Alyson Thiago Fernandes FREIRE
Estud. sociol., Araraquara,
v. 27, n. 00, e022011,
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ISSN: 1982
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DOI:
https://doi.org/
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2
Introduction
In addition to the temporal retreat to classical antiquity and the first centuries of
Christianity, Michel Foucault's last works in the 1980s carry out a second and relevant
movement. The French philosopher opens his
“genealogy of the subject in Western civilization”
towards a new path of human social practices (FOUCAULT, 2006a, p. 95), namely: morality.
The volumes following the
Vontade de saber
2
(1988)
stand out for this new and
disturbing concern with the role of morality in the history of the modes of subjectivation and
the forms of government created in Western societies. In his latest studies, Foucault is interested
in understanding how sexual activi
ty was constituted as a “moral problem”
–
a question, at first
sight, peculiar, but with broad historical
-
political developments. About these studies on the
moralities of pleasures, he writes: “If I were pretentious, I would call what I do: genealogy of
mo
rals”
(FOUCAULT, 2006b, p.
174).
Therefore, the consecrated turn to the problem of subjectivity, which several specialists
in Foucault's work underline, is closely linked to this sudden theoretical and empirical interest
of the philosopher with the theme
of morality. In Foucault, morality is thought of as a historical
-
cultural field of problematization
3
of human conduct. As such, it can encompass different
dimensions of human experience and, in this way, support different analytical levels for
research wo
rk. His greatest interest, as will be seen in this article, lies with what the philosopher
calls “ethics”
–
which, in the general scheme of his thought, constitutes a third domain of the
ways of objectifying the human being as a subject in our culture
4
.
I
n this article, I present the theoretical
-
methodological systematization proposed by
Foucault to study morality in order to extract contributions and subsidies for the sociological
research of moralities. I support the argument that the Foucaultian analysi
s of morality provides
a praxeological perspective that provides at least two relevant contributions and advances to the
field of the sociology of morals: first, a counterpoint to the more holistic, culturalist and
cognitivist understandings of morality; a
nd, second, the connection between morality, agency
and power from a theory of practice on moral subjectivity.
2
L’usage des plaisirs
translated in Brazil as
O uso dos prazeres
(1984
a
)
,
Le souci de soi
,
translated as
O cuidado
de si
(1985)
and finally
,
Le aveux de la chair,
translated as
As confissões da carne
(2020)
,
fourth volume, published
posthumously.
3
This concept does not refer to social representations of a preexisting object. By problematization, Foucault means
“the set of discursive and non
-
discursive practices that make something enter the game of true and false and
constitute it as an object for t
hought (whether in the form of moral reflection, scientific knowledge, analysis politics
etc.)
(FOUCAULT, 2006c, p. 242).
4
The other two domains refer to the constitution as subjects of knowledge through relationships with the truth and
to the constitutio
n of subjects, acting on each other, through power relations.
(FOUCAULT, 2014a, p. 223).
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Moral subjectivation and power:
F
oucaultian contributions to sociology of
morality
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3
S
ociology of morality
Sociology's interest in the phenomenon of morality is not new. The sociologies of Emile
Durkheim, Max Weber and Talcott
Parsons fully attest to this primary interest, to the point that
sociology is confused with a science of moral life (ABEND, 2010). In all of them, the problem
of values, norms and morality is found as a necessary and privileged condition for studying
human
social life and the history of its transformations. However, despite the interest and the
marked presence of morality and values as a sociological topic in the classics, there is not
exactly a sociology of morality in them.
Contrary to what has
happened in other areas, such as anthropology, psychology, social
philosophy and even neuroscience and biology, interest in the topic of morals in sociology has
gone through a temporal hiatus. In fact, one can speak of the loss of the privileged status tha
t
morality once enjoyed as a key problem of the discipline. His identification with Parsonian
functionalism, which during the second half of the 20th century was under intense and intense
criticism in sociology, especially in the USA, is one of the explana
tory factors for the ostracism
of the subject in the discipline (HITLIN; VAISEY, 2010, p. 53).
As a disciplinary specialty, the sociology of morality only emerged recently, developing
between the late 1980s and early 2000s (ABEND, 2008). It is, in this sen
se, a field
“rediscovered” by sociology (McCAFFREE, 2016).
Under the influence of some works from other areas, in particular social and political
philosophy, sociologists and sociologists have once again turned their attention to the moral
dimensions of so
cial phenomena and to the place of values in people's everyday experience.
The most recent sociological approaches to morality try to define a change of scale and
treatment in relation to the classical perspective on morality (ABEND, 2010). In order to ren
ew
its approach and explanation (HITLIN, 2015), the role of values and moral norms in
internalization, integration and social consensus loses its centrality, as does the dependence of
morality on the underlying logics of strategic action and domination. In
their place, gain priority
the heterogeneous sociocultural contexts and processes that constitute the presuppositions,
meanings and moral systems that shape and guide individuals, groups and organizations in their
perceptions, relationships, interactions
and behavior patterns in terms of values, evaluations,
obligations and commitments in the most diverse domains of social interaction (HITLIN;
VAISEY, 2010).
In this sense, contrary to a macro
-
sociological and structural perspective, a micro
-
sociological, c
ontextualist and stratified treatment of morality is privileged. This is studied both
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Alyson Thiago Fernandes FREIRE
Estud. sociol., Araraquara,
v. 27, n. 00, e022011,
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ISSN: 1982
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DOI:
https://doi.org/
10.52780/res.v27i00.13891
4
as an independent variable and as a dependent variable of social phenomena. In other words, it
seeks to elucidate their various levels of relationship and determination w
ith varied factors of a
historical, economic, cultural, political and institutional nature (HITLIN; VAISEY, 2010).
Among the variety of topics for reflection and research in the field of moralities
5
, the
question of the moral dimensions of power relations
is, according to the most important manual
for dissemination and balance in the area, one of the most outstanding and relevant themes
(HITLIN; VAYSEY, 2010, p. 08). In this area, two perspectives are quite influential and used
to apprehend the dynamics an
d nexus between morality and power, they are: the “pragmatic
sociology of criticism and action regimes”, whose exponents are Boltanski and Thevenot
(1991), and the Bourdieusian
-
inspired cultural sociology by Canadian sociologist Michèle
Lamont (2000; 1992)
with her research on the problem of moral boundaries between social
classes and other collectivities
6
.
In the first approach, morality and power are understood as discursive processes
interrelated to “justification struggles” in which ordinary human
practices and relationships are
irremediably involved in the most diverse daily and public situations of controversy and
divergence. For Boltanski and Thevenot (1991), common people, in different contexts of
interaction and based on a plurality of value pr
inciples, invoke, evaluate and oppose different
moral reasons and visions of the common good to justify, question or confirm the legitimacy of
certain collective arrangements and their provisional consensus.
In other words, power and morality coexist in an
agonistic way in the contingent
normative agreements that sustain the social world, especially in the critical moments and tests
through which the latter, in its different domains, is put in check as to its principles of validity
and justification. Both,
therefore, it can be said, are inherent parts of intersubjective
relationships and of people's ability to act and intervene in the construction and transformation
of the social world (BOLTANSKI; THEVENOT, 1991).
In the second approach, in turn, morality an
d power are intertwined as cultural processes
through which groups self
-
understand their identities and differences in relation to other groups,
establishing and justifying material and symbolic distinctions and inequalities among
5
For a more detailed bibliographic review of the sociology of morality, see
:
BRITO, Simone Magalhães; FREIRE,
Alyson Thiago Fernandes; FREITAS, Carlos Eduardo.
Sociol
ogia da moral: temas e problemas.
In:
FAZZI, Rita
de Cássia; LIMA, Jair Araújo.
Campos das Ciências Sociais
: figuras do mosaico das pesquisas no Brasil e em
Portugal.
Petropólis, RJ: Vozes, 2020, p. 481
-
497.
6
Studies of moral panic, moral crusades and scandals and, on the other hand, although stronger and more recurrent
in anthropology, studies of government technologies are other important examples of perspectives that are
concerned with articulating morality
and power.
For more details see the text
Sociologia da moral: temas e
problemas
(BRITO; FREIRE; FREITAS, 2020)
.
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themselves. For Michèle L
amont (2000; 1992), social relations are traversed by evaluation
patterns whose meanings and representations, available in the form of shared and stratified
cultural repertoires, people draw and establish “moral boundaries” between them. Moral values
and
beliefs are, in fact, crucial contents to make sense of identities, hierarchies and the
boundaries of class, race, gender and nationality. Moral logics underlie and legitimize the
production of different logics of power and domination, such as those of su
periority and
inferiority and discrimination and stigmatization, as well as acting in the ways and responses
constructed and mobilized in the confrontation and contestation of the latter (LAMONT, 2000;
1992).
Taken together, these two approaches present, t
o different degrees, some deficits and
overdeterminations, which, in my view, the Foucauldian analysis of morality can help to
calibrate. Although competent to identify and describe the languages, rules and regularities of
moral discourse, as well as their
situationality, relationality and effects, they overdetermine
certain dimensions, such as the role of reflexivity and the symbolic, without linking them to
another fundamental point of moral action, namely: the production of the moral subject.
As I will t
ry to demonstrate, Foucault develops a praxiological approach to morality. In
it, the constitutive practices of subjectivity, in a given sociocultural and historical context, figure
at the center of the analysis of moral experience. It is through them that
the philosopher seeks
to examine and understand how individuals produce themselves as moral subjects and, at the
same time, subject themselves to certain types of power and institutions.
His genealogy of the technologies of moral
subjectivation has not yet received due
attention in terms of its theoretical potential for sociological research on morality, especially in
the production of Brazilian social sciences
-
in which the perspectives of interactionist and
pragmatic inspiration
predominate, with a strong inclination towards sociology of the
“economics of justification regimes” by Luc Boltanski and Laurent Thevenot (FREIRE, 2013;
WERNECK, 2016; WERNECK; OLIVEIRA, 2014)
7
. This article therefore seeks to collaborate
to increase th
e interest of sociologists and sociologists in the contributions of Foucault's
“genealogy of ethics” to the sociological research of moralities
–
something that anthropology
7
On the other hand, efforts to build alternative perspectives in the study of values and morals have been carried
out in the country. It is wor
th mentioning some of them: Edmilson Lopes Junior (2010) based on the contributions
of Mark Granovetter's economic sociology; Simone Brito (2019; 2011), who has relied on Theodor Adorno and
Zygmunt Bauman, as well as employing the figurative sociology of N
orbert Elias; and, finally, Carlos Eduardo
Freitas (2018), who in his doctoral thesis built his analytical framework from the theory of agency and moral
identity of Charles Taylor and the sociology of the genesis of values by Hans Joas
.
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has already pointed out and put into practice for some time (FAUBION, 2011; LAIDLA
W,
2002).
Foucault rediscovers the moral question
Foucault's attention to the moral question is due, above all, to the implications and
theoretical
-
empirical requirements that the reassessment of his initial project of a history of
sexuality posed for t
he French philosopher. Before that, the passages in which Foucault
dedicated himself to directly dealing with issues related to the theme of morality are rare and
quite marked by his critique of modern humanism. Regarding the modifications of the project
o
f a history of sexuality, the author is categorical about the new level that the moral dimension
has acquired in his work: “I tried to rebalance my entire project around a simple question: why
is the sexual behavior a moral issue, and an important moral is
sue?” (FOUCAULT, 2014a, p.
216
, our translation
).
Investigating the changes in the constitution of the subject in relation to sexuality led
him to a field of experience in which the archeology of knowledge and the analysis of power
devices seemed insuffici
ent to clarify. Until then, the main concern of Foucault's work was to
examine how, in the modern West, the subject was formed and disciplined by the production
of discourses of truth and by strategies of knowledge
-
power. From the end of the 1970s
onwards,
the intellectual challenge that began to impose itself on him became of a different
order: no longer to relate subject and truth, and sexuality in particular, to the emergence and
functioning of power devices, but to the ways in which individuals worry an
d try to govern and
shape their existences, desires and behaviors as a “relationship of the being with itself”
–
rapport à soi
(FOUCAULT, 1984a, p. 10).
This reformulation effort and the philosopher's concern with the moral question can be
seen in his cour
ses at the
Collège de France
in the 1980s, in the lectures and interviews
8
of that
period and, finally, in the historical and documentary material that Foucault began to research
with more determination and interest: “The field that I will analyze is cons
tituted by texts that
intend to establish rules, give opinions, advice, to behave as one should” (FOUCAULT, 1984a,
8
The courses
Subje
ctivité et verité
, de 1980
-
81,
L’hermeneutic du sujet,
de 1981
-
82,
Le gouvernement de soi et
des autres
, de 1982
-
83 and
La courage de la verité
, de 1983
-
84.
Among the interviews, it can be mentioned
:
Sobre
a genealogia da ética: resumo de um trabalho em cu
rso
,
performed and published in English in 1983
(FOUCAULT, M. On the Genealogy of Ethics, An Overview of Work in Progress.
In
: DREYFUS, H., RABINOW,
P.
Michel Foucault
. Beyond Structuralisme and Hermeneutics. 2. ed. Chicago, The University Chicago
Press,
1983, p. 229
-
252)
and the
A ética do cuidado de si como prática da liberdade
,
realized
and published in 1984
(FOUCAULT, M. À propos de la généalogie de l’éthique, un aperçu du travail en cours.
In
: DREYFUS, H.;
RABINOW, P.
Michel Foucault
: un parcou
rs philosophique. Paris, Gallimard, 1984b. p. 322
-
346).
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7
p. 15
, our translation
). Especially in the analysis of how Greco
-
Latin culture problematizes
sexual behavior, Foucault examines a type of mor
al literature: philosophical texts, treatises on
existence, manuals of conduct, reflections on the art of living, a series of writings written by
philosophers, doctors and moralists of Hellenic and Roman cultures.
It is not by chance that, discussing the t
ime lapse between the volumes of the history of
sexuality, the French philosopher responds that it is now a matter of studying the “birth of a
morality, of a morality since it is a reflection on the sexuality, about desire, pleasure”
(FOUCAULT, 2004, p. 24
1
, our translation
).
Studying morality: from rules to the constitution of the subject
In the programmatic introduction to the
Use of Pleasures
, Foucault (1984a) states that
his work on the practices of sexual austerity in the ancient world
brought him an unexpected
and thought
-
provoking surprise, namely: a peculiar and distinct sense of morality when
compared to the modern and its emphasis on the universality of a code.
In modern theories of morality, Foucault maintains, there is an importan
t neglected
issue. He is referring to a crucial component of the moral life, which, in his view, is analytically
distinct from rules, values, principles and moral codes. These are the practices through which
individuals seek to transform themselves, their
attitudes and habits, into a culturally valued and
personally significant way of being morally (FOUCAULT, 1984a).
In modern theories of morality, Foucault maintains, there is an important neglected
issue. He is referring to a crucial component of the moral
life, which, in his view, is analytically
distinct from rules, values, principles and moral codes. These are the practices through which
individuals seek to transform themselves, their attitudes and habits, into a moral way of being
that is culturally val
ued and personally significant (FOUCAULT, 1984a).
As can be seen, in the field of moral philosophy traditions, Foucault is closer to the
concerns of virtue ethics (MACINTYRE, 2001) than to utilitarianism (MILL, 2005) and
deontology (KANT, 2013). That is, t
he question of what it means to be virtuous and act
according to a valued conception of the good rather than the abstract question of discovering
and substantiating criteria to define what is a correct action. In this way, he tries to include in
the field
of reflection and research on morality a unique theoretical and empirical problem: “the
forms and modalities of the relationship with himself through which the individual constitutes
and recognizes himself as a subject” (FOUCAULT, 1984a, p. 10
, our transla
tion
). It thus
proposes a shift in emphasis in the investigation of moral life: instead of simply the normative
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8
and evaluative systems and codes that inform a given field of conduct, reasoning and
relationships over time and space, moral and production pra
ctices of ways of being moral in
specific historical
-
cultural contexts.
For Foucault (1984a, p. 26
-
7), one can distinguish three levels of phenomena
characteristic of morality as a field of investigation. They are: “moral code”, “morality of
customs” and “
ethics”. These three levels, although distinct, are defined in terms of their
relationship with the dimension of conducts.
The first level concerns the rules, prescriptions and regulations applied by different
institutions (family, school, religious temple
s). It is the set of values and norms proposed to
individuals and groups for the determination and organization of the field of their conduct, as
well as the institutions and power relations that sustain their functioning, historical
development, their cha
nges, disappearance (FOUCAULT, 1984a, p. 25).
The second level is that of “morality of manners”. This refers, in turn, to the actual
behavior of individuals towards the moral codes and prescriptions imposed on them. That is,
how they behave in relation to
rules and moral values: submission, respect and obedience,
resistance, neglect, transgression, cynicism. The study of this aspect of morality must focus on
the ways in which “individuals or groups conduct themselves in reference to a prescriptive
system th
at is explicitly or implicitly given in their culture [...]” (FOUCAULT, 1984a, p. 25
,
our translation
).
Finally, Foucault considers that the study of morals also includes a third level, “ethics”.
Even though it is a very important dimension throughout the
history of morality, it has still been
little studied. When Foucault speaks of “ethics”, he does not mean by this the behavior of
adherence to principles and norms that dictate how to act and what conduct to adopt, but, much
more, the mode of relationship
cultivated with oneself with the purpose of acting and being in
a certain way. By ethics, he means, in fact, the reflective and morally engaged work to constitute
oneself as a certain type of moral subject.
Ethics is, therefore, a form of subjectivation, w
hich can best be qualified in its specificity
as moral subjectivation, that is, the ways and practices in which individuals and groups act upon
themselves, and in a manner consistent with standards, aspirations and shared and organized
moral conceptions, t
o constitute themselves as determined moral subjects. Ethics, in this sense,
deals with the historical forms and modalities of creating ways of life and the elaboration of
conduct, because “one thing is a rule of conduct; another, the conduct that can be m
easured
against this rule. But another thing is still the way in which it is necessary to 'conduct' oneself"
(FOUCAULT, 1984a, p. 26
, our translation
).
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In this sense, the starting question for studying morality does not address the contents
of the codes an
d norms that govern and guide moral action. It starts from the following question:
what are the moral practices and everyday techniques that individuals and groups employ on
themselves to become a certain type of person and subject? It is, therefore, a mat
ter of shedding
light on how a particular production of the moral subject is put into practice and what are its
qualities,
senses
, activities:
[...] the individual circumscribes the part of himself that constitutes the object
of this moral
practice, defines his position in relation to the precept he
respects, establishes for himself a certain way of being that will count as his
moral fulfillment; and, for that, he acts on himself, seeks to know himself,
controls himself, puts himself to the
test, perfects himself, transforms himself
(FOUCAULT, 1984a, p. 28
, our translation
).
Therefore, the moral subject does not exist without a work of moral subjectivation,
without individuals putting into action a set of daily activities through which, with
effort and
repetition, they are observed, interpreted, evaluated, corrected, controlled and try to shape
themselves. For this reason, studying the moral life of groups and societies requires researching
the forms of activities used to produce a particular
moral subject, which, Foucault writes, “are
no less different from one morality to another than the systems of values, of rules and
interdictions” (FOUCAULT, 1984a, p. 29
, our translation
).
Foucault seeks to broaden the scope of what is meant by “morals”,
placing it beyond the
problem of obligation and rule, that is, of subjective internalization and conformity of action to
a comprehensive external code of values and norms. Researching the field of moralities means
trying to understand the processes of con
stitution of the moral subject, driven by certain
practices, technologies, aspirations and relationships that take subjectivity as a living and plastic
matter on which it is possible and desirable to exercise and cultivate a productive moral action,
shapin
g and transforming certain dispositions, ways of being and ways of living.
Moral work: technologies and practices
Foucault analyzes ancient ethics from a set of prescriptive texts and manuals of a
philosophical, medical and religious nature. In them, the philosopher observed the centrality of
a type of practical work that individuals must dedicate themselves if they w
ant to become moral
subjects of their conduct, especially in their relationship with pleasures. In these texts, which
form the historical material of his latest courses and books, a varied series of practices and
exercises stand out, such as self
-
examinati
on of conscience, retreats, resistance exercises in the
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face of pleasures, correspondence for oneself and for others, meditation, physical ordeals of
abstinence, notes and interpretations of dreams, reflective walks, public penances, confessions
of faults,
among others (FOUCAULT, 1984a).
These practices and exercises are activities that are adopted by individuals so that they
can act on themselves. They are part of a process of reflected, elaborate and systematized
training and procedures whose reason for b
eing is to build and modify the very way of being of
individuals and, in this way, put into action what Foucault (2016, p.
267
, our translation
) names
as “techniques of the self” or “technologies of the self” means: “procedures, which undoubtedly
exist in
every civilization, which are proposed or prescribed to individuals to establish their
identity, maintain it or transform it according to certain ends, and this thanks to relations of
mastery over oneself or knowledge of oneself for oneself”.
It can be
said that, for Foucault, human beings are not just “animals that interpret
themselves”, as the Canadian philosopher Taylor (1985, p. 45) writes. Human beings are
animals that, engaged in interpreting and modifying their behavior, produce themselves. They
b
ecome subjects when they try, through certain activities and procedures, to achieve morally
valued ways of being and acting. In short, they are animals capable of constituting their
subjectivity
9
.
As far as this article is concerned, the argument is that
the concept of techniques of the
self (FOUCAULT, 2014b) is one of the main conceptual tools to analyze morality from the
point of view of practice and the historical forms of constitution of the moral subject. With the
concept of techniques of the self, th
e constitution of the moral subject can be analyzed as a
work of self
-
constitution of the self. On the role of these techniques in the moral field, Foucault
(2006c, p. 244
, our translation
) is categorical: “I do not believe that there is morality without a
certain number of practices of the self”.
The work of moral subjectivation requires intense moral, reflective and practical
engagement of the individual with himself. One must, Foucault observes, structure his
relationship with himself as a practice. This
approach to morality, more attentive to practices
and particular forms of relationship with oneself, raises, I think, relevant analytical gains.
First, it places morality, value systems and behavioral norms, in the field of practices
and subjectivity, dis
placing it from holistic and culturalist understandings that reify it as a
9
The notion of “techniques of the self” and their empirical operationalization by Foucault anticipates what Peter
Sloterdijk (2013) will later call “anthropotechnics”, although without the explicit m
otivation of grounding an
ontologically oriented philosophical anthropology. On a more general level, it is no exaggeration to say that
Foucault offers, based on the notion of techniques of the self, a history of the technologies of self
-
subjectification
.
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symbolic sphere of autonomous or hyper
-
determined values and representations. The
Foucaultian effort, in this sense, is to establish the phenomenon of morality in terms of the
relat
ionship between the self and values and norms, understanding it as a relationship that,
although intersubjectively oriented by beliefs, principles and conventions of obligation, is
above all a praxiological and bodily engaged relationship
–
far, therefore,
from the disembodied
reflexivity of a certain pragmatic sociology. Morality is a historical
-
sociological field defined
and guided not only by obedience to principles, values, rules and norms, but also by the reflected
adherence to ideals, commitments, vir
tues and shared ethical aspirations in the form of
practices, and practices that build postures, behaviors and self
-
understandings, forming a
broader technology or form of moral subjectivation.
In the same sense, moral experience is not driven only by what
Charles Taylor (1997,
p. 16
-
17) calls “full life senses” and “strong evaluations”. Again, it is necessary to pay attention
to the routinized use and employment of certain techniques, exercises and morally constitutive
activities by individuals in a given
context and according to certain aspirations and conceptions
of the moral subject. Foucault's emphasis on the idea of asceticism, on the role of routinized
exercises and the techniques used to constitute types of moral subject and relationships with
truth,
as a framework for historical reading leaves no doubt as to the primacy of practices as a
category and an unity of moral analysis. It can be safely said that Foucault adopts a theory
-
of
-
practice
10
approach to the study of morals
(RECKWITZ, 2002).
Finally
, by raising the subject's
autopoesis
practices as a relevant issue to understand
the history and singularity of morality, Foucault manages to elaborate a solution to the
subjection/freedom dichotomy
11
, very present in the field of study of morality. If hi
s approach
to morality is actually interested in the processes of self
-
constitution of culturally valued and
personally significant ways of being for individuals and groups, it is essential to foreground the
moral agency of individuals over themselves, wit
hout forgetting, of course, interdependencies
with institutions, groups, power devices, knowledge, codes.
10
The theory of practice presents itself as an alternative theoretical perspective to the textualist, culturalist and
intersubjectivist understandings of action. It emphasizes social practices as a starting point for the intelligibility of
social phenomena
. For more details, see
RECKWITZ, A.
Toward a theory of social practices: a develop
ment in
culturalist theorizing
.
European Journal of Social Theory
, v. 5, n. 2, p. 243
-
263, 2002.
11
Foucault's later writings seem to add, more properly than his writings on the genealogy of power, to the efforts
of several other authors who, from the last quarter of the 20th century, tried to overcome varied conceptual
oppositions, such as action/struct
ure, micro/macro and objectivity/subjectivity
(ALEXANDER, 1987; ORTNER,
2006).
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12
Morality and subjectivity
Moral subjectivation is not possible without problematizing one's experience of oneself,
without attributing
meaning to one's conduct, without mobilizing knowledge and resorting to
resources and activities to exercise and build self
-
relationships and self
-
understandings. The
concept of techniques of the self provides the conceptual mediation to open up subjectivi
ty as
a domain of moral experience that can be studied by grounded knowledge. The practical self
-
relationship that human beings establish with themselves, that is, subjectivity, exist rooted in a
positive field of historicity, since they are irremediably i
nvolved in social practices, institutions,
knowledge, power relations, cultural values, prescriptive codes.
In order to detail, with greater rigor, and to support a theoretically more refined
understanding of how the process of constitution of the self as
a moral subject occurs in
particular historical ethics, Foucault (1984a) lists four combined operations that constitute the
moral relationship with oneself (“ethics”). The determination of 1) “ethical substance”, or, the
part of himself that the individual
must take and constitute as the main matter of his moral
conduct, examples are the Greek aphrodisia, the flesh in Christianity, modern sexuality, the
emotions and the contemporary identities; 2) “the mode of subjection”, the forms of recognition
and justi
fication of moral obligations with the rule and its practice, which can be appeals, for
example, to the “cosmological order”, the “divine will”, the “natural law” , the "reason"; 3)
“ethical work” (asceticism), that is, the forms of elaboration and self
-
tr
aining by which
individuals act on themselves in order to transform themselves into a moral subject, examples
are the Greek “care of the self” and the Christian “hermeneutics of oneself”; and, finally, 4)
“the teleology of the moral subject”, the meanings
and purposes sought in the constitution of a
way of being characteristic of the moral subject, examples: the subject of self
-
control among
the Greeks, the purified subject among the Christians, the rational and autonomous subject
among the moderns, the aut
hentic and unique subject in the contemporary world.
This conceptual insight helps to organize the analysis of the various operations and
dimensions involved in the process of moral subjectivation. It is not about capturing a general
rationality, because a
s these operations in their concrete forms are historically variable, moral
subjectivation can be constituted in different ways, according to different logics, combinations,
techniques and precepts. To produce themselves as moral subjects, individuals eval
uatively
order and compose a multiplicity of morally significant material and symbolic elements in a
given historical and sociocultural context. If, on the one hand, there is involvement and
reflexivity in the moral production of the self, on the other han
d, in an incorporated and tacit
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way, moral subjectivation is a process that depends on certain shared cultural formulas,
principles and tools, even if these are socially selective and unequal, according to certain
relationships and relevant markers in the
context in question.
The unfolding of morality to also include subjectivity, the self
-
relationship producer of
the subject, at the same time reflexive and practical and defined in an agonistic of power
practices and practices of freedom, does not mean fall
ing into subjectivism or adopting a
phenomenological approach of oneself. The practices of the self that form subjectivity do not
have as a premise, important to say, a relationship of transparency between the agent and
himself. Just as morality has a hist
ory in the form of different practices, technologies, value
systems, and can therefore be studied and understood, subjectivity, as Foucault thinks, also
comprises a historical field with objects, social practices, techniques, institutions, knowledge,
relat
ionships and determined norms. It is not a starting point, but an arrival point.
The novelty is that Foucault (2004; 2014a) emphasizes that individuals are not mere
products of the action of others, they can also constitute themselves (act on themselves) a
s
subjects, that is, participate actively, and equally through analyzable historical practices and
relationships, of the production of what they are or aspire to be (subjectivation)
In theoretical terms for the analysis of morality, this understanding of s
ubjectivity shifts
the focus of moral action. Thanks to a certain reading of Durkheim and Parsons, it is very
common to delimit moral action to the process of conformation between rule and conduct, that
is, on how individuals adapt to moral expectations an
d injunctions according to a given
collective normativity. Although, like Durkheim, Foucault (1984a) agrees that society
constitutes the origin and foundation of morality, and not a divine will or universal reason, such
a conclusion does not seem to him su
fficiently enlightening and pertinent for the study of
morality, so that this is not the path he intends to walk. In fact, he is interested in the relational
level between subjectivity and morality, and it is on this that our author actually bases his
appr
oach to morality. With this, the French philosopher circumvents two very common pitfalls
in the understanding of the moral question: 1) sociologism, the reduction of morality to the idea
of habits and customs socially approved in a given collectivity and 2
) scholasticism, the primacy
of theoretical
-
philosophical conceptions to the detriment of everyday moral models in historical
experience.
In his “ethical turn”, Foucault (1984a; 2004) not only reinforces his non
-
substantialist
conception of the subject and
his refusal of the modern philosophical dualism between a
“transcendental subject” and his empirical life. He actually goes on to demonstrate how, even
at an apparently more intimate and self
-
absorbed level, such as the reflexive relationship of the
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subje
ct with himself, it is a relational and open form, mediated and constituted by analyzable
historical practices, with institutions, norms, behavior schemes, knowledge, techniques.
M
orality and power
As part of the genealogy of the subject, the
formation of the moral subject, explains
Foucault (1984a), maintains
–
at historically varying levels and forms, it cannot be stressed
enough
–
a relationship with the structures of power and domination, that is, with the forms to
govern others. Ethics, in
the sense defined here by Foucault (1984a), is not outside or in
opposition to politics
-
understood as the exercise of technologies of power and government
capable of structuring different fields of conduct.
Paying attention to Foucault's analysis of eth
ical life and moral experience among the
Greeks and in Christianity, it is quite clear that his approach takes into account how the
techniques of power and conduct of others intersect and operate intertwined with ways of
relating oneself and the self
-
const
itution of the moral subject. Despite the relative autonomy of
moral experience in relation to the techniques of power, there are interdependencies and
correlations between them. The meanings of ethical practices and the historical singularity of
modes of
moral subjectivation inevitably pass through apprehending the relationships between
the latter and the logics of power with which they intersect.
The classical morality of the use of pleasures, in the Greco
-
Roman world, is entangled
in political conditions
and in logics of domination and inequality. As is well known, this is a
morality explicitly aimed at an aristocracy of free, well
-
positioned and privileged men
regarding concerns with the material reproduction of their lives. Therefore, men who enjoy very
favorable conditions to stylize, with determination and enthusiasm, their behavior and to
cultivate a relationship “between the exercise of their freedom, the forms of their power and
their access to the truth” (FOUCAULT, 1984a, p. 219). As Foucault (1984
a, p. 219
, our
translation
) emphasizes, it is a virile morality, assured “in a very harsh system of inequalities
and coercion
–
in particular regarding women and slaves”.
Self
-
mastery, the telos of classical sexual ethics, is a way of proving, justifying,
and
exercising social, moral, and aesthetic superiority over others. The ethics of classical antiquity
are based on a normative principle according to which power over oneself (“self
-
control”) is an
indispensable moral and political condition for governing
others. Without being able to govern
oneself and form a virtuous and admirable character, one cannot aspire to govern others, with
justice and rationality, either in the polis or in domestic contexts (FOUCAULT, 1984a; 1985).
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It is in the analysis of the m
oral subjectivation of Christianity, however, that one can
best and most thoroughly examine how, in Foucault, morality and power interact and function.
Christianity is a religion characterized by a moral experience of strong subjection and
obedience. Its f
aithful must fulfill certain obligations of faith, follow certain dogmas, recognize
ecclesiastical authorities, accept certain books and discourses as sources of truth and revelation.
Unlike morality in the plural and the personal quest to create ethics an
d lifestyles in the Greco
-
Roman world, Christianity is intended as a single morality, codified in a universal system of
rules and obligations that, in order to guarantee such a claim, it created a powerful and broad
institutional apparatus of power (FOUCAU
LT, 2004, p. 290).
However, instead of the structure and power dynamics of the church, Foucault (1984a,
p. 31) reviews the monastic spiritual practices of the first centuries of the Christian era, such as
the rituals of confession, retreats, fasts, the dir
ection of conscience. In them, the French
philosopher apprehends a peculiar mode of moral subjectivation, namely: the production of a
subject endowed with a kind of “interiority” and “deep truth” whose movements, contents and
meanders must be probed, known
and confessed by the subject himself.
The relations with oneself put into practice by Christianity, of recognizing the
temptations that are formed within the soul, are obligations of truth of the subject with himself.
Only in this way, through a relations
hip of deciphering and self
-
confession, can one achieve
the moral way of being valued in this context, a “state of holiness, purification and self
-
denial”.
Such practices and obligations build, therefore, a subjectivity “alert about
one’s
own
weaknesses, t
emptations,
and
flesh” (FOUCAULT, 2006d, p. 71
, our translation
).
The constitution of this type of subjectivity, which engages in self
-
decipherment under
obedience and subjection to others, as well as to a religious system of universal rules, is the
basis on which Christianity shapes, in the same gesture, the production of a certain moral
subject and the exercise of a great technology of power, called by Foucault as “pastoral power”.
For Foucault (2014b, p. 287), the Christian techniques and practices
helped to give life to a
political technology, which is, at the same time, totalizing (“governing and leading the flock”)
and individualizing (“the soul of every believer, of every sinner”). Christian pastoral power is
based on a kind of pedagogy accordin
g to which individuals need to be led by others. It is a
technology for the direction of consciences and conduction of conduct, aimed at producing
knowledge and extracting a “truth” about the “interiority” of individuals through a network of
subjection and
obedience relationships and confession techniques.
For Foucault (2011), the contribution of Christianity to the history of moral subjectivity
consists precisely in the invention and institutionalization of a confessional subjectivity; the
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constitution of
a moral subject who maintains a relationship of obligation to produce a discourse
of truth about oneself (his thoughts, feelings, intentions, desires)
-
and to be linked to him
-
under the dependence and obedience of another. Even today, to a large extent,
this model of
subjectivity is at the basis of the notion of subject in modern medical, psychiatric and judicial
discourses and practices.
Final considerations
In this work, I sought to discuss the late Foucault's theoretical
-
methodological approach
to
morality, as well as to present his conceptual vocabulary. The aim was not to carry out an
exercise in exegesis. The effort of this work consisted of contributing to the opening of new
perspectives and useful analytical tools for theoretical and empirical
research. In the
sociological field, this has been a task carried out by several researchers examining and
evaluating the theoretical contributions of different authors and theoretical lineages, such as,
for example, Ignatow (2009), in the USA with the con
cept of
habitus
by Pierre Bourdieu (2009)
and here in Brazil, the already mentioned Edmilson Lopes Junior (2010), Carlos Eduardo
Freitas (2018) and Simone Brito (2011; 2019) researching in the field of moralities.
I have identified four defining coordinate
s of the Foucaultian analytical framework that
can guide a praxeological approach to morality. The first consists of studying morality from the
point of view of the constitution of the subject. For this, it is convenient not to take the moral
subject as a
prior datum of reason or to assume an inherent normative competence of human
agency. First and foremost, approach the subject as a result of a process of moral subjectivation,
according to specific practices and relationships whose forms of production of t
he moral being
are varied, shared and historically unique.
Second, to introduce into morality the problem of subjectivity and the moral agency of
individuals. That is, the forms of relationship employed by the subject to act and think about
oneself in orde
r to become the moral subject of one's actions. The classic sociological question
of the internalization of values and norms is shifted from the mere conformation to external
rules to the terrain of the relations between moral action and the self, understo
od as the
realization of a relational work of construction, routinization, creativity and reflexivity of the
agent on oneself and one's own action.
Third, and as a logical consequence of the previous points, approach morality from the
primacy of practices,
as they are the formative and self
-
forming activities of moral subjects.
Rather than appealing to wholes such as culture, society, emphasizing ways of acting and
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thinking, and how they organize the everyday moral lives of groups in given contexts and, in
this way, engender particular historical ethics.
And finally, the fourth coordinate concerns the intersections between morality and
power. Identify the links and affinities between the exercise of power, its strategies and
technologies, with the forms of
constitution of the moral subject, its practices and particular
ways of being. In other words, to expand and integrate in the analysis of the logics of power
and domination the practices of the self that work as producers and sustainers of subjection
relat
ionships and subject forms of moral subjectivity.
Taken together, these four coordinates inspire, in my view, a new treatment of morality.
They help to demarcate it in a specific analytical and empirical field and without equating and
reducing it to cultur
e and the social, understood in a holistic and totalizing way. In this sense,
to study morality is to investigate the modes of moral subjectivation and the techniques of the
self put into practice to constitute, in a certain way, a certain field of experie
nce of the conduct
and relationships of human beings with themselves.
The concerns and basic guidelines of the Foucaultian approach to examine morality as
moral subjectivation can be listed in the form of the following questions: what part of
themselves an
d their behavior do individuals take as an object of reflection, concern and moral
action? What meanings and motivations guide the moral practice they exercise on themselves?
What types of moral subject do they seek to build and realize? What ways and mean
s do they
have and use to intervene and act on themselves? What effects are produced on bodies? What
ends do individuals aspire to achieve with their moral practice? How and from what points do
self
-
relationships and power relations intersect, reinforce an
d integrate themselves into broader
structures of domination and coercion?
Now, the above questions are, in fact, questions of deep sociological interest. It can be
said that they guide the guidelines of a program of sociology of morals, which I would like
to
call a “sociology of forms of moral subjectivation”. In this program, morality is understood,
praxiologically, as a bundle of practices for the formation of the moral subject, practices that
constitute moral forms of life, moral forms of being and bein
g in the world.
A sociology of forms of moral subjectivation would therefore investigate the forms of
constitution of the moral subject in the diversity of relationships, activities and spaces of
everyday life, that is, how values, conceptions of person an
d ideals of conduct are incorporated
through routinized practices and self
-
subjective, producing certain ways of being moral. In the
task of investigating and understanding the social world and human relationships, this seems to
me to be a research investm
ent worth experimenting with.
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Available
:
https://revistaseletronicas.pucr
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Access
: 15
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Moral subjectivation and power:
F
oucaultian contributions to sociology of
morality
Estud. sociol., Araraquara,
v.
27
, n.
00
, e022011
,
Jan
./
Dec
.
2022
.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/
10.52780/res.v27i00.13891
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How to reference this article
FREIRE, A. T.
F.
Moral subjectivation and power: Foucaultian contributions to sociology of
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.
Estudos de Sociologia
, A
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20
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e
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ISSN:
1982
-
4718
.
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.13891
Submitted
:
02/07/2020
Required revisions
:
15/03/2021
Approved
:
23/12/2021
Published
:
30/06/2022