image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
1
A
ATUALIDADE
DAS CANÇÕES CRÍTICAS DO CLUBE DA ESQUINA À
DITADURA MILITAR: TEMPO ESPETACULAR, REMEMORAÇÃO E
RESISTÊNCIA
LA ACTUALIDAD DE LAS CANCIONES CRÍTICAS DEL CLUBE DA ESQUINA PARA
LA DICTADURA MILITAR: TIEMPO
ESPECTACULAR, REMEMORACIÓN Y
RESISTENCIA
THE CONTEMPORANEITY OF CLUBE DA ESQUINA’S CRITICAL SONGS OF THE
MILITARY DICTATORSHIP: SPECTACULAR TIME, REMEMBRANCE AND
RESISTANCE
Emerson Ike COAN
1
RESUMO
:
Este artigo pretende situar o Clube da Esquina como produtor cultural de canções
críticas à ditadura militar nos anos 1970 e examinar, em conformidade com o conceito de
rememoração de Walter Benjamin, a validade delas no momento atual como resistência à
pr
odução da amnésia social sobre esse regime, no contexto do tempo espetacular, como
conceituado por Guy Debord. Emprega
-
se o método dialético da teoria crítica da sociedade,
pois se pesquisa o objeto em situações históricas específicas. Nas canções do Clube
da Esquina,
o recurso à memória do sujeito narrativo sobre a repressão e as vítimas da ditadura militar
tornava
-
se uma estratégia de preservar a história do país. Ainda que a crítica ao regime estivesse
sob censura, evitar o esquecimento do que passou era
uma possibilidade de contestar o que
estava sendo feito, de pensar a transformação da sociedade e de se projetar para o futuro como
documento histórico.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Clube da Esquina. Ditadura militar. Sociedade do espetáculo.
Rememoração. Resistência
.
RESUMEN
: Este artículo pretende situar el Clube da Esquina como un productor cultural de
canciones críticas para la dictadura militar en la década de 1970 y examinar, de acuerdo con
el concepto de rememoración de Walter Benjamin, su validez en la
actualidad como resistencia
a la producción de amnesia social acerca de este régimen, en el contexto de un tiempo
espectacular, conceptualizado por Guy Debord.
Se emplea el método dialéctico de la teoría
crítica de la sociedad, porque la investigación del
objeto ocurre en situaciones históricas
específicas. En las canciones del Clube da Esquina, el recurso a la memoria del sujeto
narrativo acerca de la represión y a las víctimas de la dictadura militar se convirtió en una
estrategia para preservar la histor
ia del país. Aunque la crítica al régimen estaba bajo censura,
evitar el olvido de lo que pasó era una posibilidad de cuestionar lo que pasaba, de pensar la
transformación de la sociedad y de protegerse para el futuro como documento histórico.
PALABRAS CL
AVE
: Clube da Esquina. Dictadura militar. Sociedad del Espectáculo.
Rememoración. Resistencia.
1
Faculdade Cásper Líbero (FCL), São Paulo
–
SP
–
Brasil. Programa de Pós
-
Graduação (PPG
COM). Grupo de
Pesquisa (GP
–
CNPq) “Comunicação e Sociedade do Espetáculo”.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
6869
-
2096.
E
-
mail:
emersonike@hotmail.com
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
2
ABSTRACT:
This article intends to situate the group Clube da Esquina as a cultural producer
of songs that were critical of the military dictatorship in the 197
0s and to examine, in
accordance with Walter Benjamin’s concept of remembrance, their validity at the present time
as resistance to the production of social amnesia about this regime, in the context of the
spectacular time, as conceptualized by Guy Debord.
The dialectical method of critical theory
is employed, as the research examines the object in specific historical situations.
In the songs
by
Clube da Esquina
, resorting to the memory of the narrative subject about repression and the
victims of the milita
ry dictatorship became a strategy to preserve the history of the country.
Although the criticism of the regime was under censorship, avoiding the oblivion of what
happened was a possibility to contest what was being done, to think about the transformation
of society, and to project itself into the future as a historical document.
KEYWORDS:
Clube da Esquina. Military dictatorship. Society of the Spectacle.
Remembrance. Resistance.
Introdução
Na sociedade do espetáculo, a consciência histórica é
dispensada e a importância do
memorável é perdida. Nessa sociedade, os donos do poder podem estabelecer sua história
oficial por meio da produção da amnésia social. Esse é o caso da sociedade brasileira atual em
relação à ditadura militar de 1964 a 1985.
E
ste artigo busca refletir sobre a produção da amnésia social na sociedade brasileira
confrontada com a noção de rememoração de Walter Benjamin (2012), reformulada, para tal
fim, a partir das canções críticas ao regime militar apresentadas pelo
Clube da Esq
uina
na
década de 1970, no contexto do tempo espetacular, conceito de Guy Debord (1977) repensado
na contemporaneidade.
Emprega
-
se o método dialético ao examinar a dinâmica histórica da sociedade
capitalista brasileira em suas articulações entre as dimensõ
es econômica, política, cultural e
ideológica, e ao objetivar a transformação da realidade. Ele é o método da teoria crítica da
sociedade, pelo qual se opera a denúncia dos obstáculos à emancipação na realidade presente e
o apontamento das potencialidades
de sua superação.
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
3
O tempo espetacular
Guy Debord (1997, p.
87) afirma que “a história sempre existiu, mas nem sempre sob
forma histórica”,
ou seja
, de modo que o movimento do tempo fosse vivido de forma consciente
pelos indivíduos.
Ele retoma a
interpretação materialista da história realizada por Karl Marx
–
quanto ao
desenvolvimento das forças produtivas e a superação das anteriores relações sociais
–
para uma
apreciação social do tempo e a sua assunção na consciência dos indivíduos, com vistas
à
possibilidade de construção e experiência concreta do vivido. Expõe a relação entre a forma de
produção e a forma de viver o tempo que cada sociedade tem. Isso porque toda transformação
social implica uma mudança fundamental na intuição do tempo.
Debord
(1997) explica que, com a destruição das anteriores bases materiais de produção
pré
-
capitalistas, principalmente agrícolas, ligadas às estações da natureza e organizadas em uma
experiência cíclica do tempo
–
pelas formas da repetição ritual e ancestral: do
eterno retorno
–
, na sociedade moderna foram criadas condições para uma vida “histórica”, situada em um
tempo passageiro, linear e irreversível. “
Tempo histórico significa tempo irreversível, cujos
acontecimentos são únicos e não se repetem. Daí nasce o d
esejo de nos lembrarmos deles e de
os transmitir, isto é, as primeiras formas de consciência histórica” (JAPPE, 2008, p.
46).
O triunfo do tempo irreversível, porém, é também a sua metamorfose em “tempo das
coisas”, porque a vitória da burguesia foi precis
amente a produção em série dos objetos. O
capitalismo funda um tempo histórico como um tempo irreversível da economia mercantil.
Tempo e história reduzem
-
se à forma do tempo da produção.
A economia moderna, embora formalmente cíclica como movimento do capi
tal e, assim,
imediatamente vivida no cotidiano e no inteiro percurso das vidas dos indivíduos, é uma
economia histórica no sentido de que se move sobre uma forma de produção cujo tempo é
irreversível e linear. O tempo é pseudocíclico. Essa experiência pse
udocíclica do capitalismo
constitui o que Debord (1997) chama de “falsa consciência do tempo”, porque gera o tempo
espetacular, no qual tudo é vivido ilusoriamente.
“O espetáculo, como organização social da
paralisia da história e da memória, do abandono d
a história que se erige sobre a base do tempo
histórico, é a ‘falsa consciência do tempo’” (DEBORD, 1997, p.
108).
Ao se submeterem às leis que governam a troca de mercadorias, os homens são, de fato,
governados pelo produto de seus trabalhos. O próprio tr
abalhador acredita que o valor de uma
mercadoria não é uma consequência de seu tempo de trabalho socialmente necessário para a
sua produção. No sistema capitalista, os trabalhos que produzem as mercadorias distintas
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
4
terminam por se equivaler na troca e se
apresentam como trabalho abstrato, generalizado e
impessoalizado por força de sua condição de mercadoria trocada por dinheiro. Logo, não se
leva em consideração a qualidade intrínseca de cada trabalhador, de cada trabalho ou de cada
coisa produzida ou troc
ada. Em vez de valerem por si, valem na troca.
Essa racionalidade da economia mercantil, com seu tempo abstrato e quantitativo,
organiza a vida cotidiana de tal forma que obsta a atividade consciente do indivíduo, ao fazê
-
lo
espectador de sua própria vida,
com impedimento também da possibilidade de que ele se ocupe
com a ameaça do esquecimento ou com a importância do memorável.
É na interdição imposta aos indivíduos da atividade, da linguagem e da comunicação do
realmente vivido, cujo fundamento é a própria
expropriação econômico
-
quantitativa do tempo
e da atividade autônoma no capitalismo, que Debord (1997) compreende uma verdadeira
expropriação da história e da memória. Essa é uma expropriação das possibilidades mesmas da
expressão prática dos indivíduos c
omo realização, como produção de sua própria história.
Assim:
Esquecer e lembrar são, na sociedade espetacular
-
mercantil, funções das
“imagens” produzidas e permitidas “socialmente” pela racionalidade
econômica e estatal e isto ocorre porque, antes, a exp
eriência temporal mesma
se desenvolve apenas como “tempo de consumo de imagens” e “imagem do
consumo do tempo”, mas não como uso do tempo efetivo e qualitativo (isto é,
“histórico”). Aos indivíduos
–
que, assim, se constituem em espectadores
–
não cabe a a
ssunção de sua “época”, porque não lhes cabe a de seu “tempo”;
não lhes cabe, do mesmo modo, a sua memória coletiva ou individual, porque,
antes, não lhes cabem a realização e a comunicação (AQUINO, 2006a, p.
66).
O espetáculo
–
a alienação
–
confisca o e
spaço da experiência e o horizonte de
expectativas, resumindo
-
se a um presente perpétuo. O espetáculo, pelo ritmo em que as imagens
são expostas, não deixa nenhum tempo para a reflexão; faz calar tudo o que não lhe convém.
Tudo o que mostra vem sempre isol
ado do ambiente, do passado, das intenções e das
consequências. Debord (1997, p.
178) afirma que o espetáculo conseguiu fazer “todos
esquecerem o espírito histórico na sociedade”.
E, para lutar contra esse encurtamento da percepção temporal, contra essa e
spécie de
narcisismo do presente, que corre atrás das novidades rapidamente caducas segundo a lei do
consumo de mercadorias novas, “deve
-
se inventar outras formas de memória e de narração,
capazes de sustentar uma relação crítica com a transmissão do passa
do, com o lembrar, e com
a construção do futuro e o esperar” (GAGNEBIN, 2014, p.
221).
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
5
A produção da amnésia social em relação à ditatura militar
Ecléa
Bosi (2003) afirma que, quando um acontecimento político mexe com a cabeça
de um determinado grupo social, a memória de cada um de seus membros é afetada pela
interpretação que a ideologia dominante dá a esse acontecimento; é preciso sempre um exame
que m
atize os laços que unem memória e ideologia.
Na sociedade brasileira atual, em relação à memória da ditadura implantada após o golpe
de Estado civil
-
militar de 1964 (DREIFUSS, 1981; IANNI, 1981), há uma produção ativa da
amnésia social. Esta é uma história
na qual os acontecimentos são recortados e interpretados a
partir da perspectiva dos donos do poder. A história oficial.
Uma história oficial que tenta negar ou minimizar a repressão de uma ditadura
–
e alguns
a chamam de “ditabranda”
–
que impediu aos c
idadãos o direito de expressar livremente suas
ideias e opiniões críticas ao regime, pois, do contrário, seriam perseguidos, ameaçados, presos,
torturados, mortos ou desaparecidos (
ARNS,
1986); que manteve as artes sob controle das
autoridades com imposiçã
o de cortes e vetos em peças teatrais, filmes, livros e canções; que
submeteu a impressa à autocensura ou à censura prévia; proibiu e extinguiu partidos políticos;
manteve os sindicatos sob intervenção; colocou entidades estudantis na ilegalidade; reprimiu
manifestações públicas com violência excessiva etc.
Uma ditadura que editou o Ato Institucional nº
5 (AI/5), em 1968, em vigor por dez
anos, que concedeu ao presidente plenos poderes para fechar por tempo ilimitado todo o Poder
Legislativo,
intervir em estados e municípios, suspender por dez anos os direitos políticos de
qualquer cidadão e cassar mandatos eletivos, demitir ou aposentar sumariamente funcionários
públicos e juízes, suspender a garantia do “
habeas
corpus
”, efetuar prisões sem ma
ndado
judicial e decretar estado de sítio.
Os atos institucionais eram inspirados pela ideologia de segurança nacional, sob o lema:
“A segurança garante o desenvolvimento”. O propagado “milagre econômico” se apoiava em
slogans típicos de regimes ditatoriai
s: “Brasil, ame
-
o ou deixe
-
o”; “Ninguém segura este país!”.
Não havia, entretanto, distribuição de renda para as camadas menos favorecidas, porquanto o
modelo era de arrocho salarial e de exclusão social (OLIVEIRA, 2013, p.
107
-
119), cuja
estratégia era “F
azer o bolo crescer para depois dividir”, em um processo de modernização
excludente.
Mesmo durante o anunciado processo lento, gradual e seguro de distensão rumo à
redemocratização, iniciado 1974, um exemplo de crime explícito foi o praticado contra o
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
6
jor
nalista Vladimir Herzog, “Vlado”, em 1975, vítima de uma ofensiva de setores radicais do
exército sobre militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB) (GASPARI, 2014).
A crítica de Adorno (2006), na elaboração do passado em relação ao nazismo, é a de se
pretender encerrar a questão, se possível, riscando
-
a da memória. “O gesto de tudo esquecer e
perdoar, privativo de quem sofreu a injustiça, acaba advindo dos partidários daqueles que
praticaram a injustiça” (ADORNO, 2006, p.
29).
Essa pretensão de encerr
ar a questão orienta a elaboração do passado em relação à
ditadura militar de 1964 a 1985 no Brasil pelo lado dos donos do poder. É conhecida uma
disposição em negar, tentar riscá
-
la da memória coletiva, ou minimizar sua ocorrência, por mais
difícil que se
ja compreender que existam pessoas que não se envergonham de usar um
argumento como o de que teriam sido torturados, assassinados e desaparecidos
–
e
merecidamente
–
apenas uns “poucos revoltosos mais exaltados”. Às vezes, é dito, embora com
ressalva ao ca
ráter repressivo da ditadura, que “o país cresceu”: sintoma da ideologia do
desenvolvimento com segurança.
É preciso lembrar que, apesar de o Brasil ter assinado tratados internacionais contra a
tortura, a jurisdição internacional é ignorada quando se trat
a de punir os torturadores e os
assassinos da ditadura (PIOVESAN, 2010). Isso sob o pretexto da política de “reconciliação
nacional” promovida pelos militares e orientadora da Lei de Anistia de 1979.
A ideologia fabrica histórias imaginárias legitimadoras
da dominação de classe, sempre
narradas do ponto de vista dos donos do poder, de maneira que não apareçam registros das
ações praticadas pelos e contra os opositores à ditadura militar, e delas não possam restar
vestígios na memória social.
Uma ideologia,
por certo, porque a ação repressiva da ditadura militar produziu efeitos
concretos na sociedade brasileira.
Pois, atrás de cada pessoa perseguida havia uma família, um círculo de
amigos, um grupo de colegas e companheiros, muitas vezes uma categoria ou
um
a comunidade inteira. Todos acabavam atingidos de modo direto ou
indireto pelo impacto das arbitrariedades, truculências e crimes da ditadura.
Experimentavam de alguma forma medo, desalento, impotência, submissão e
terror, bem como indignação, solidariedad
e e revolta (MARTINS, 2015, p.
17).
Na atualidade, opera
-
se “certa forma de esquecimento, um virar a página, uma não
-
permanência no ressentimento e na queixa” (GAGNEBIN, 2009, p.
98), no sentido de uma
comemoração do passado em detrimento do presente.
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
7
Há
manifestações das autoridades na grande mídia no sentido de que, hoje: pretende
-
se
restabelecer da ditadura militar a ideologia do “inimigo interno/comunista” da doutrina da
segurança nacional; o aparato policial
-
repressivo em geral
–
inspirado em imagens
do
governante com as mãos fazendo gesto de armas
–
se prepara para uma situação de guerra civil
permanente contra o migrante, o índio, o negro, a criança de rua, o favelado, o sindicalista, as
organizações de luta por direitos, o desempregado, o sem
-
teto,
o sem
-
terra; instaure
-
se um
nacionalismo do “nós” contra “eles”, sugerindo que os incomodados deixem o país; pretende
-
se restituir no país o que existia há cinquenta anos: o estado de exceção e seu caráter repressivo,
com censura nas produções culturais, p
erseguições aos críticos ao governo, uso de violência
excessiva em manifestações públicas etc. São louvados torturadores pelos seus atos.
Impõe
-
se, todavia, um “dever de memória” ou um “lembrar ativo”, de modo que seja
importante a maneira pela qual o pass
ado é tornado presente, a fim de evitar que “algo
semelhante” possa acontecer de agora em diante.
É necessária uma pedagogia democrática esclarecedora, por meio da qual a lembrança
do passado não seja um lembrar por lembrar: uma espécie de culto ao passado
. Decorre “uma
exigência de análise esclarecedora que deveria produzir
–
e isso é decisivo
–
instrumentos de
análise para melhor esclarecer o presente” (GAGNEBIN, 2009, p.
103).
A rememoração e a atualidade das
canções críticas do Clube da Esquina
Walte
r Benjamin (2012) e Debord (1997) são influenciados por Lukács tanto em relação
à recusa de uma explicação puramente científica
–
objetiva, determinista
–
da história, quanto
à ampliação do limite do conceito de fetichismo da mercadoria no de reificação, c
omo uma
espécie de condição de alienação que atinge todas as manifestações sociais; uma objetividade
“fantasmática” da mercadoria (LUKÁCS, 2003, p.
222) que se pretende lógica/racional/
“natural”, mas que escamoteia as reais relações humanas e sociais de f
undo que lhe dão base.
A transitoriedade, a incessante novidade, a recepção distraída de acontecimentos envolvem toda
mercadoria, “criando e recriando uma ‘epifania fantasmagórica’ [Benjamin], o que Debord, por
sua vez, designa na expressão ‘sociedade do e
spetáculo’” (MATOS, 2010, p.
74).
Observa
-
se que:
A memória é uma categoria sempre contemporânea... Memória e consciência
histórica não são categorias das sociedades comunitárias tradicionais. Nessas
sociedades da transmissão, da tradição, que não assumem
, para Benjamin e
Debord, formas históricas, mas sim míticas, a memória não precisa ter nenhum
papel “ativo” a cumprir, mas apenas receber e transmitir passivamente
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
8
conteúdos pelos quais o passado organiza o presente. Somente para quem luta
para libertar o
presente do passado e do arcaico, e deste modo, instaurar uma
vida histórica desimpedida da memória das lutas inacabadas
–
por que
derrotadas
–
pode, de fato, ter importância; não, porém, como oficiais e mortos
“lugares de memória”, mas sim como atenção a
o presente, como atualização
das lutas passadas. Em outras palavras, como consciência histórica
(AQUINO, 2006b, p.
11
-
12).
Para o processo de elaboração coletiva do passado, o conceito de Benjamin (2012) de
rememoração
–
recordação
–
é uma forma de
memória e de narração que não encerra a imagem
do passado em uma “única constatação”, mas permite modificá
-
la, como história aberta.
Essa noção de rememoração pode ser reformulada para se refletir sobre a produção da
amnésia social no país, a partir das ca
nções críticas ao regime militar apresentadas pelo
Clube
da Esquina na década de 1970.
O Clube da Esquina é a denominação para a reunião de artistas predominantemente
mineiros e sua produção cultural congregada em torno do cantor e compositor Milton
Nascim
ento. Ao longo de sua trajetória artística, caracterizou
-
se pela produção de obras
coletivas.
Em muitas das produções de Milton Nascimento, críticas foram feitas à ditadura militar,
ao tratar, ainda que metaforicamente, de questões como: exílio
–
Nada será
como antes
(M.
Nascimento/R. Bastos); assassinato
–
Menino
(M. Nascimento/R. Bastos), homenagem ao
estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto; corrupção
–
Saudades dos aviões da Panair
(conversando no bar)” (M. Nascimento/F. Brant); censura
–
o álbum
Milagre dos peixes
;
estudantes
–
Tudo que você podia ser
(L. Borges/M. Borges)
;
índios
–
Promessas do sol
(M.
Nascimento/F. Brant); negros
–
Casamiento de Negros
(adaptada do folclore chileno); mulheres
–
Maria, Maria
(M. Nascimento/F. Brant); América Lat
ina
–
San Vicente
(M. Nascimento/F.
Brant)
etc.
Na Música Popular Brasileira (MPB), há uma forma de composição denominada
“canção crítica”, pela qual o papel do compositor é também o de exprimir sua indignação e sua
denúncia quanto a questões
culturais e político
-
sociais, em uma articulação entre arte e vida.
O compositor popular passou a operar criticamente no processo de
composição, fazendo uso da metalinguagem, da intertextualidade [...]
operando duplamente com o texto e com o contexto, com
os planos interno e
externo. Internamente, [...] o compositor passou a atuar como crítico no
próprio processo de composição; externamente, a crítica se dirigiu às questões
culturais e políticas do país, fazendo com que os compositores articulassem
arte e
vida [...] E ao estender a atitude crítica para além dos aspectos formais
da canção, o compositor popular tornou
-
se um pensador da cultura (NAVES,
2010, p.
20
-
21).
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
9
As composições do Clube da Esquina exprimem essa articulação entre arte e vida, por
meio de
“canções críticas” à ditadura militar.
“Os ritmos variados e letras que celebravam
recantos de Minas evocavam um certo clima contracultural e ao mesmo tempo protestavam
contra o momento político opressor que o país atravessava” (NAVES, 2010, p.
121).
A ca
nção
Nada será como antes
(Milton Nascimento/Ronaldo Bastos), gravada no
álbum
Clube da Esquina
, de 1972, foi considerada “um autêntico libelo de oposição ao regime
vigente”, pois lançada no período mais perverso de todo o governo militar: o dos
“anos de
c
humbo”, entre 1969 e 1974
. Os versos expõem o drama dos que se preocupavam com o destino
imprevisível dos exilados pela ditadura, entre os quais estava o próprio irmão de R. Bastos. O
amanhã de que fala seus versos dependeria de uma ação a ser realizada no
momento presente,
com vistas a transformações da ordem vigente. A ideia da letra surgiu quando R. Bastos leu um
artigo sobre a questão do “amanhã” na (MPB) e transferiu o enfoque da área musical para a
política (SEVERIANO; MELLO, 1998, p.
176).
Eu já est
ou com o pé nessa estrada/Qualquer dia a gente se vê/Sei que nada
será como antes, amanhã/Que notícias me dão dos amigos?/Que notícias me
dão de você?/Alvoroço em meu coração/Amanhã ou depois de amanhã/
Resistindo na boca da noite um gosto de sol/Num domin
go qualquer, qualquer
hora/Ventania em qualquer direção/Sei que nada será como antes amanhã/Que
notícias me dão dos amigos?/Que notícias me dão de você?/Sei que nada será
como está/Amanhã ou depois de amanhã/Resistindo na boca da noite um gosto
de sol. (Le
tra da música
Nada será como antes
.
CLUBE DA ESQUINA,
1972).
Nessa canção, R. Bastos expressa, de forma consciente, sua relação com o movimento
do tempo para uma apreciação social e sua experiência concreta do vivido para a transformação
da realidade. Ele
se exprime para colocar em prática uma ação individual como produção de
sua própria história e para pôr no mundo uma obra de arte a ser inscrita na memória coletiva do
brasileiro. Isso está de acordo com aquilo a que Debord (1997) e Benjamin (2012) chamam
a
atenção quanto à configuração do “tempo histórico” e do memorável.
R. Bastos deseja se movimentar e se expandir. De seu irmão e dos amigos, todos
exilados, não se têm notícias. Ele não pretende ficar parado esperando por estas: vai pôr o “pé
nessa estr
ada”, e “qualquer dia a gente se vê”. E a viagem ocorrerá “num domingo, qualquer
hora”, com “ventania em qualquer direção”, mas é certo que “nada será como antes amanhã”,
após essa experiência. É um caminho sem volta porque “nada será como está”.
A espera
dessa experiência causa um “alvoroço em meu coração”, diz o letrista, e o
evento deve acontecer logo, “amanhã ou depois de amanhã”. O trecho “Resistindo na boca da
noite um gosto de sol” refere
-
se à expectativa de o sujeito da canção agir logo, para que o
novo
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
10
aconteça. Por mais que os dias passem, a cada anoitecer, “na boca da noite”, permanece um
sabor do amanhã, “um gosto de sol”.
As canções de Ronaldo tratam sempre de um porvir. Algo que não sabemos
bem o que é, mas que se anuncia como momento de mutaç
ão na ordem das
coisas, mutação que não se dá naturalmente, mas com a atuação afirmada do
sujeito da canção. O porvir anuncia um “amanhã” como um alvoroço no
coração, um gosto de sol que resiste na boca da noite e que precisa ser. Para
ser, precisa, no ent
anto, do impulso do sujeito que se coloca como o lugar da
afirmação do ser. Afirmação do ser que é também uma afirmação de si
(LACERDA, 2019, p.
24).
Nos anos 1970, a figura típica de linguagem era a metáfora, pela existência da censura.
Era uma maneira d
e poder falar das coisas que eram literalmente proibidas de serem
mencionadas. E a grande metáfora dessa época era a do “dia que virá” ou “o amanhã que será
melhor do que hoje” (BORGES, 2003, p.
168).
O letrista, além de falar de sua necessidade de se mov
imentar
–
afirmar
-
se a si próprio
–
atrás de mudanças, metaforicamente fala também da necessidade de todos se movimentarem
contra o regime vigente a fim de um porvir democrático. Em cada anoitecer permanece essa
esperança,
ou seja
, “resiste na boca da
noite um gosto de sol”. Essa canção é clássica, porque
persiste no tempo; sua mensagem de liberdade pode ser recuperada
–
rememorada
–
em um
momento histórico posterior ao de seu contexto específico.
O álbum
Milagre dos Peixes
, de 1973, é uma obra de arte sobrevivente aos ataques da
censura nos “anos de chumbo” da ditadura militar. Houve corte praticamente na íntegra das
letras das músicas
Os escravos de Jó
e
Hoje é dia de El
-
Rey
, e na íntegra de
Cadê
. No entanto,
nos encartes
é possível notar o protesto, pois fica claro que as músicas possuíam letras, uma
vez que as fichas técnicas traziam os créditos (“letra de”) aos respectivos letristas: Fernando
Brant, Márcio Borges e Ruy Guerra. Em
Hoje é dia de El
-
Rey
, a manutenção da exp
ressão “meu
filho/filho meu” deixa evidente que houve censura.
A letra de
Os escravos de Jó
(M. Nascimento/F. Brant) submetida ao órgão censor,
inspirada em jogos infantis, foi tida como “Contestação política. Sátira e protesto. Cordão
pornográfico” (DINIZ
, 2017, p.
149).
Dizem que está bom/Dizem que está bom/Difícil ver um troço pior/Mas dizem
nós estar na melhor/Se viver, eu sou réu/Se morrer, é só véu/Melhor é colher
favos de mel/Saio do trabalho ei/Volto para casa ei/Não lembro de canseira
maior/Em tud
o é o mesmo suor/Ó, bela Rapunzel/Seu jovem menestrel/
Precisa de um pouco de amor/Mas que não faça muito calor/A vaca Vitória
lambeu, lambeu/Mexeu, mexeu e remexeu/Quem falar primeiro, quem falar
primeiro/Vai ser aquele que comeu/Gritos de alegria, de his
teria/E luzes e
bombas/Bomba cai do céu/(Que fedor!)/Saio do trabalho ei/Volto para casa
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
11
ei/Não lembro de canseira maior/Em tudo é o mesmo suor (Letra da música
Os escravos de Jó
(
MILAGRE DOS PEIXES, 1973).
A letra é, de fato, satírica, sobretudo pela ana
logia de “Vaca amarela”
(brincadeira
infantil do folclore brasileiro que consiste em um desafio para ver quem fica calado por mais
tempo)
ao regime político
–
“A vaca Vitória lambeu, lambeu/Mexeu, mexeu e remexeu/Quem
falar primeiro, quem falar primeiro/Va
i ser aquele que comeu/Gritos de alegria, de histeria/E
luzes e bombas/Bomba cai do céu/(Que fedor!)”
–
, embora não fosse pertinente o “condão
pornográfico” pela utilização da palavra “vaca”. A contestação surge já no início da letra:
“Dizem que está bom/D
izem que está bom/Difícil ver um troço pior/Mas dizem nós estar na
melhor/Se viver, eu sou réu/Se morrer, é só véu/Melhor é colher favos de mel”.
Seu registro foi instrumental, porque apenas a última estrofe foi permitida pelo Serviço
de Censura de Diversõ
es Públicas da Polícia Federal de ser cantada por Clementina de Jesus
(“Saio do trabalho e/Volto para casa e/Não lembro de canseira maior/Em tudo é o mesmo
suor”). A música ganhou consistência sonora, ruidosa até, e seguiu provocadora ao unir coro,
efeitos
vocais
–
como gritos e falsete
–
e o volume alto da percussão.
Anos depois, a canção foi gravada com outra letra e com novo nome,
Caxangá
, por Elis
Regina, em seu disco
Elis
, de 1977.
Sempre no coração/Haja o que houver/A fome de um dia poder/Morder a
ca
rne dessa mulher/Veja bem, meu patrão/Como pode ser bom/Você
trabalharia no sol e eu/Tomando banho de mar/Saio do trabalho e/Volto para
casa e/Não lembro de canseira maior/Em tudo é o mesmo suor/
/
Luto para
viver/Vivo para morrer/Enquanto minha morte não ve
m/Em tudo é o mesmo
suor/
/
Luto para viver/Vivo para morrer/Enquanto minha morte não vem/Eu
vivo de brigar contra o rei//Em volta do fogo todo/Mundo abrindo o jogo/Com
tudo que tem pra contar//Casos e desejos coisas/Dessa vida e da outra/Mas
nada de assusta
r/Quem não é sincero sai da brincadeira/Correndo, pois pode
se queimar/Queimar//Saio do trabalho e/Volto para casa e/Não lembro de
canseira maior/Em tudo é o mesmo suor (MACIEL, 2012, p.
24
-
25).
O conteúdo permaneceu bem contundente em relação aos padrões
estabelecidos. De
início, a subjetividade/emoção se opõe à objetividade/razão, pois é dito: “Sempre no
coração/Haja o que houver”, com prevalência do instintivo/natural: “A fome de um dia
poder/Morder a carne dessa mulher”. Depois, a mudança radical da re
lação exploratória entre
patrão/empregado: “Veja bem, meu patrão/Como pode ser bom/Você trabalharia no sol e
eu/Tomando banho de mar”. Em seguida, a oposição ao regime vigente: “Luto para viver/Vivo
para morrer/Enquanto minha morte não vem/Eu vivo de briga
r contra o rei”, em que esse “rei”
é o general no poder, e a luta segue em um regime que mata os “subversivos”. No campo de
batalha, “Em volta do fogo todo/Mundo abrindo o jogo/Com tudo que tem pra contar”,
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
12
subsistem “Casos e desejos coisas/Dessa vida e da
outra/Mas nada de assustar”, como expressão
do sincretismo religioso (a música tem ritmo africano). Por fim, a referência ao título da música,
a brincadeira “Escravos de Jó”: “Quem não é sincero sai da brincadeira/Correndo, pois pode se
queimar/Queimar”,
aludindo a que todo jogo possui regras próprias, e a ditadura quebrou as
regras do regime democrático. Sobre isso, tanto o trabalho quanto a resistência ao sistema
impõem uma “canseira maior”, e “Em tudo é o mesmo suor”.
O álbum destoa do padrão mercadológ
ico da indústria fonográfica de então, de modo
que os artistas preservaram a qualidade intrínseca da obra de arte por eles produzida para que o
público
–
presente e futuro
–
tomasse contato com a história do país quanto à censura na ditadura
militar. A can
ção apresentada não se estabelece no “tempo espetacular”, no sentido do confisco
do espaço da experiência e do horizonte de expectativas: pelo contrário, é crítica, porquanto faz
refletir sobre o momento histórico vivido: ao artista coube a assunção de sua
época/tempo. E a
canção, registrada na obra de arte como documento histórico, pode ser rememorada pelas
futuras gerações como paradigma de luta dos opositores ao regime militar para que algo
semelhante não se repita.
Fé cega, faca amolada
(M. Nascimento/R
. Bastos), gravada no álbum
Minas
, de 1975,
é outra canção de oposição ao regime militar, como desdobramento de
Nada será como antes
,
dos mesmos autores. Em escrita bem mais agressiva, tem
-
se: “Agora não pergunto mais pra
onde vai a estrada/agora não esper
o mais aquela madrugada/vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai
ser faca amolada/o brilho cego de paixão e fé, faca amolada”.
O resultado sonoro é também agressivo.
A sequência melódica relativamente simples e repetida de forma insistente em
“Fé cega, faca
amolada” não seria suficiente para alcançar o brilhante resultado
mostrado no disco. Para a obtenção deste resultado devem também ser
creditadas as notas picadas do sax
-
soprano de Nivaldo Ornelas, criando um
clima nervoso em perfeita consonância com o obje
tivo da canção, o interlúdio
musical decididamente pop, a voz convicta de Milton, usando com perfeição o
falsete, e a voz aguda de Beto Guedes, que soa às vezes como um eco ao canto
de Milton (SEVERIANO; MELLO, 1998, p.
210
-
211).
Márcio Borges (
1996, p.
3
17)
explica: “
Bituca realmente queria fazer alguma coisa,
reagir de alguma forma aos arbítrios da censura, no nosso caso particular, e dos Atos
Institucionais, que tanto mal espalhavam pelo Brasil inteiro [...]. Cantava com grande
autenticidade de sentimentos os versos rasgados de Ronaldo.
Os verbos no infinitivo
–
“deixar”, “brilhar”, “ser”, “crescer”, “acontecer” etc.
–
revelam
essa proposta de enfrentamento do aqui e do agora.
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
13
Uma característica notável é o emprego metafórico de
palavras normalmente
pertencentes ao domínio da religião católica.
Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo/Deixar o seu amor crescer e ser
muito tranquilo/Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada/Irmão, irmã,
irmã, irmão de fé: faca
amolada/Plantar o trigo e refazer o pão de cada dia/
Beber o vinho e renascer na luz de todo dia/A fé, a fé, paixão e fé, a fé, faca
amolada/O chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada (Trecho da
música Fé cega, faca amolada. MINAS, 1975).
A pala
vra religiosa é ressignificada. “Paixão” e “fé” se reportam à travessia missionária
de Jesus e à esperança na vida futura, respectivamente. O pão e o vinho exprimem o renascer
no corpo e no sangue de Cristo. “O sal da terra” significa o cumprimento da miss
ão com
determinação e leveza (“ser muito tranquilo”). A “fé cega”, embora pareça se referir a uma
crença irracional, é, na realidade, uma esperança raciocinada. Aquilo em que se crê é entendido.
Essa música não se refere mais ao futuro incerto do “dia que
virá”, como em
Nada será
como antes
, mas à certeza da ação consciente no tempo presente para um porvir melhor. Já não
há mais necessidade de saber aonde vai a estrada em que se estava e nem de esperar pela
madrugada antes do amanhã, mas de seguir em frente
no cumprimento da missão
transformadora com determinação e tranquilidade. A faca amolada está pronta para o corte, a
ruptura; para a decisão lúcida sobre algo importante na vida. É tempo de ir à luta; de não ficar
passivo.
Os compositores:
[...] propõem
a construção imediata do “amanhã” pelo intermédio direto da
ação humana. Para atingir esse objetivo, o sujeito histórico deveria, no
entanto, estar ciente de que é necessário ter, em suas mãos, a “faca amolada”,
fazendo uso de seu “brilho cego” para abrir
o caminho do futuro com golpes
lúcidos e seguros. Esse novo tempo não seria, de modo algum, um devaneio
ou visão desfocada da realidade, mas fruto de um olhar repleto de audácia e
imaginação. Seu fundamento estaria no engajamento do ator político com o
pró
prio presente em que ele realiza suas ações (MARTINS, 2009, p.
73
-
74).
Na realidade, a poesia “não se paralisa olhando o ‘dia
-
que
-
virá’: em vez disso, se põe
inteiramente, e em movimento, no tempo em que está” (WISNIK, 2004, p.
184).
Essa canção é exempla
r para a recordação das lutas do passado no presente e para a
reflexão sobre uma intervenção imediata dos resistentes coevos em uma situação que se
aproxime da vivida na ditadura militar.
Para Benjamin (2012), uma análise histórico
-
materialista
–
dialétic
a
–
exige que, no
presente, se atente àquilo que jaz nos acontecimentos e nas obras do passado como promessa
ou protesto. Nesse aspecto, em vez de opor a cultura
–
ou civilização
–
e a barbárie como dois
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
14
polos que se excluem mutuamente, ou como etapas dife
rentes da evolução histórica, Benjamin
(2012) apresenta
-
os dialeticamente como uma unidade contraditória. Veja
-
se a sua tese VII de
Sobre o conceito de história
:
Nunca há um documento da cultura que não seja, ao mesmo tempo, um
documento da barbárie. E, a
ssim como ele não está livre da barbárie, também
não o está o processo de sua transmissão, transmissão na qual ele passou de
um vencedor a outro. Por isso, o materialista histórico, na medida do possível,
se afasta dessa transmissão. Ele considera como sua
tarefa escovar a história
a contrapelo (BENJAMIN, 2012, p. 245).
A escovação da história “a contrapelo” e a reflexão crítica sobre o presente coincidem.
É necessário revelar a verdadeira regra do progresso histórico: a opressão, a barbárie, a
violência d
os vencedores
–
donos do poder. Benjamin (2012) se refere, sobretudo, à
emancipação das classes oprimidas, mas sua crítica geral à opressão e seu apelo servem para
que “se conceba a história do ponto de vista das vítimas
–
de todas as vítimas
–
[que] dão a
seu
projeto um alcance mais universal” (LÖWY, 2005, p.
153).
Para Löwy (2005), “escovar a história a contrapelo”, tem duplo significado:
Histórico: trata
-
se de ir contra a corrente da versão oficial da história, opondo
-
lhe a tradição dos oprimidos. Desse
ponto de vista, entende
-
se a continuidade
histórica das classes dominantes como um único e enorme cortejo triunfal,
ocasionalmente interrompido por sublevações das classes subalternas.
Político (atual): a redenção/revolução não acontecerá graças ao curso
natural
das coisas, o “sentido da história”, o progresso inevitável. Será necessário lutar
contra a corrente. Deixada à própria sorte, ou acariciada no sentido do pelo, a
história somente produzirá novas guerras, novas catástrofes, novas formas de
barbárie
e de opressão (LÖWY, 2005, p.
74).
Escovar a história em sentido contrário significa considerá
-
la do ponto de vista dos
vencidos, dos excluídos, das vítimas em geral, como uma contrapartida, pois, se há na moeda
um lado chamado história oficial
–
conserv
ador, todavia há outro lado dela chamado história
não oficial
–
transformador.
É preciso lembrar que as manifestações da sociedade civil em oposição ao regime militar
foram intensas de 1974 a 1978. O descontentamento social não se restringia ao expresso,
quando possível, nas urnas. Assistiu
-
se à reorganização do movimento estudantil
–
o episódio
da invasão da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC
-
SP) em 1977 foi impactante
ao país
–
, à atuação de setores progressistas da Igreja Católica, à atu
ação de organizações como
a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e Associação Brasileira de Imprensa (ABI)
–
a favor
dos direitos humanos, da anistia, do fim da tortura e da censura
–
, à pressão de familiares de
presos e desaparecidos políticos, à mobilizaç
ão dos trabalhadores por um novo sindicalismo
–
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
15
a greve dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo no ABC Paulista em 1978 teve grande
repercussão geral.
É sobre isso a primeira canção do disco
Clube da Esquina 2
, de 1978,
Credo
(M.
Nascimento/F. Brant):
(... um sabor de vidro e corte/ coração americano/ um sabor de vida e
morte/ à espera na fila imensa/ e o corpo negro se esqueceu/ estava em
San Vicente/ a cidade e suas luzes...).
Caminhando pela noite de nossa
cidade/Acendendo
a esperança e apagando a escuridão/Vamos,
caminhando pelas ruas de nossa cidade/Viver derramando a juventude
pelos corações/Tenha fé no nosso povo que ele resiste/Tenha fé no
nosso povo que ele insiste/E acordar novo, forte, alegre, cheio de
paixão/Vamos,
caminhando de mãos dadas com a alma nova/Viver
semeando a liberdade em cada coração/Tenha fé no nosso povo que ele
acorda/Tenha fé no nosso povo que ele assusta/Caminhando e vivendo
com a alma aberta/Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal/
Vamos, c
ompanheiros pelas ruas de nossa cidade/Cantar semeando um
sonho que vai ter de ser real/Caminhemos pela noite com a esperança/
Caminhemos pela noite com a juventude
(... estava em San Vicente/a
cidade e suas luzes/estava em San Vicente/as mulheres e os
hom
ens/coração americano...)
(Letra da música Credo.
CLUBE DA
ESQUINA 2, 1978).
A canção expõe o caminhar ainda pela “noite”, a ditadura, mas já “acendendo a
esperança e apagando a escuridão” rumo à democracia, ainda que o governo o faça lenta e
gradualmente
, mantendo sua face repressiva. É preciso ter “fé no povo”, resistente e insistente
por dias melhores/ensolarados para “acordar novo, forte, alegre, cheio de paixão”. E o povo
“assusta” porque está unido
–
“de mãos dadas com alma nova”. Vive “semeando a li
berdade
em cada coração” e os companheiros estão “aquecidos pelo sol que vem depois do temporal”.
Os artistas se unem ao povo quando dizem: “Vamos, companheiros pelas ruas de nossa
cidade/Cantar semeando um sonho que vai ter de ser real”, e mais: “Caminhem
os pela noite
com a esperança/Caminhemos pela noite com a juventude”, ao se reportar ao movimento
estudantil que voltava às ruas. A geração de 1968 apresentou exatamente essa fissura de se
manifestar no espaço público. A rua se tornava local de embate e ba
rricadas.
A canção começa e termina com trechos de
San Vicente
, canção também de M.
Nascimento e F. Brant, do álbum
Clube da Esquina
, de 1972, referente à opressão que ocorria
em outros países da América Latina. Apresenta
San Vicente
cantada por diversas p
essoas como
em uma procissão católica e inicia
Credo
(Creio), com a palavra “caminhando”, mesclando as
duas faixas sonora e poeticamente.
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
16
O posicionamento da censura foi contraditório. Submetida ao Serviço de Censura e
Diversões Públicas da Polícia Federa
l
–
sem que se incorporasse, para isso, a menção a
San
Vicente
–
Credo
despertou opiniões antagônicas entre os censores.
No dia 9 de junho de 1978, a letra foi vetada na íntegra: “Os versos se resumem
em falso alerta ‘ou convite ao povo incitando
-
o contr
a o regime. Assim sendo,
opino pelo veto de acordo com o artigo [...]”. Enviada para revisão de outra
censora no dia 13 de junho, a letra não só foi liberada como recebeu um
parecer elogioso: “A letra em exame é um hino de esperança e fé em um
caminhar par
a o melhor, de maneira forte, alegre e decisiva, semeando sonhos
e esperanças na passagem. Não nos parece, de maneira alguma, configurar
-
se
em incitamento contra o regime vigente ou qualquer tipo de subversão à ordem
estabelecida, pelo que sugerimos sua li
beração” (DINIZ, 2017, p.
203
-
204).
O posicionamento do autor da letra
–
F. Brant
–
é crítico ao regime:
Em 1974, com a eleição de parlamentares da oposição, a gente recuperou um
pouco da esperança. Mas em 1977 veio aquele pacote de abril do Geisel.
Caím
os de novo no buraco. A letra de “Credo” também é de 1977, um ano em
que a sociedade brasileira voltou a se movimentar, especialmente os
estudantes. Aconteceram passeatas e protestos em todo o país. Aqui em Belo
Horizonte teve o 3.º ENE (Encontro Nacional
de Estudantes). Foi a
movimentação política da juventude que me inspirou a escrever a letra de
“Credo” (MATTOS, 2006, p.
73).
A canção
Clube da Esquina n.º 2
, de M. Nascimento e Lô Borges, com letra de Márcio
Borges, menciona as ruas e esquinas das
cidades brasileiras nas quais a juventude entrava em
confronto com os órgãos de repressão policial
-
militar do regime.
Porque se chamava moço/Também se chamava estrada/Viagem de
ventania/Nem lembra se olhou pra trás/Ao primeiro passo, aço, aço,
aço.../Porque se chamavam homens/Também se chamavam sonhos/E sonhos
não envelhecem/Em meio a tantos gases lacrimogêneos/Ficam calmos,
calmos, calmos.../E lá se vai mais um dia/E basta contar compasso/E basta
contar consigo/Que a chama não tem pavio/De tudo
se faz canção/E o coração
na curva/De um rio, rio, rio, rio.../E lá se vai mais um dia.../E o rio de asfalto
e gente/Entorna pelas ladeiras/Entope o meio
-
fio/Esquina mais de um milhão/
Quero ver então a gente, gente, gente.../E lá se vai mais um dia (Letr
a da
música Clube da Esquina nº 2. CLUBE DA ESQUINA 2, 1978).
M. Nascimento e L. Borges compuseram o tema instrumental
Clube da esquina n.º 2
para o disco
Clube da esquina
, em 1972. A letra de M. Borges é de 1979. Foi escrita à revelia
de Milton e Lô, que
só foram descobrir que a música instrumental tinha virado canção depois
de ela ter sido gravada por Nana Caymmi, que pediu a M. Borges para pôr a letra.
Essa é a letra que Márcio Borges mais gosta de ter escrito: “acho que é a mais bem
realizada de todas
as quase duzentas que fiz [...]. Acho que aí fui mesmo meio possuído por
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
17
uma coisa, porque escrevi essa letra assim de uma sentada. Parece que ela estava sempre na
minha cabeça, o tempo inteiro” (MATTOS, 2006, p.
163
-
164).
Ela evoca a participação dos jov
ens nas manifestações de 1968, ao enfatizar que a luta
não tinha sido em vão, tanto que a reporta ao movimento estudantil no Brasil do mesmo período
e ao que vinha se restabelecendo ao tempo em que fez a letra. Márcio Borges tinha ligação com
o movimento e
studantil e era amigo de José Carlos da Mata Machado, ex
-
presidente da União
Nacional dos Estudantes (UNE) e dirigente da Ação Popular Marxista
-
Leninista (APML). Ele
o hospedou em sua casa e lhe deu cobertura para seu trajeto do Rio de Janeiro a São Paulo,
enquanto era perseguido pela repressão. Em outubro de 1973, José Carlos foi declarado morto,
com esclarecimento posterior de que havia sido assassinado sob torturas no Destacamento de
Operação Interna (DOI) e Centro de Operações e Defesa Interna (CODI) de
Recife
-
PE.
(MARTINS, 2015; BORGES, 1996).
Nessas duas canções, percebe
-
se a importância do processo de elaboração coletiva do
passado do país. A rememoração é coletiva e política, mas não é de forma alguma uma
comemoração oficial, obrigatória, organizada
com bandeiras, desfiles ou fanfarras para lembrar
uma vitória. Ela estabelece com o passado uma relação viva; desperta o passado para salvar o
futuro da estagnação do presente; comporta as significações latentes (as aspirações, os sonhos,
o espírito do tem
po) que constituem o passado, de modo que restitui não só o passado tal como
teria se dado, mas as possibilidades de futuro que nele haviam sido inscritas
–
ainda que não
realizadas.
A preocupação de salvar o passado no presente graças à percepção de uma
semelhança que os transforma a ambos: transforma o passado porque este
assume uma forma nova, que poderia ter desaparecido no esquecimento;
transforma o presente porque este se revela como sendo a realização possível
dessa promessa anterior, que poderia te
r
-
se perdido para sempre, que ainda
pode se perder se não descobrirmos, inscrita nas linhas do atual (GAGNEBIN,
2012, p.
16).
A estagnação da sociedade no presente perpétuo do tempo vazio e homogêneo
–
tempo
espetacular
–
faz com que os indivíduos em gera
l aceitem passivamente a comemoração do dia
da “revolução” civil
-
militar de 1964, de modo a preservar na memória coletiva uma “única
constatação” do passado. Isso pode instituir uma concepção de tempo legitimadora de se pensar
o devir histórico independent
emente da ação humana, a qual deve ser a de resgatar do
esquecimento aquilo que poderia ter feito de nossa história outra história, de lutar para tirar do
silêncio um passado que a história oficial não conta. Daí a necessidade de uma escovação da
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
18
história
do Brasil a contrapelo para que se estabeleça uma relação viva com o passado, não
apenas um “lembrar por lembrar”.
Somente uma pedagogia democrática permitirá à sociedade o acesso a instrumentos de
análise do passado para melhor esclarecer o presente. As o
bras de arte dos resistentes à ditadura
militar são instrumentos de esclarecimento racional a respeito do acontecido, a fim de evitar o
esquecimento: os conteúdos das metáforas são explicitados
–
o sofrimento e a miséria num
regime autoritário. Com a possi
bilidade de retorno a uma ditadura, modelo tido como
paradigmático ao atual governo, essa necessidade de esclarecimento é imprescindível, o que
não significa que seja onipresente.
É possível verificar a atualidade (para Benjamin significa “vir a ser ato d
e uma
potência”
)
(
GAGNEBIN, 2008, p.
2) da produção cultural do Clube da Esquina na década de
1970 por meio de suas canções críticas à ditadura militar, como resistência à produção ativa da
amnésia social no Brasil.
As canções do Clube da Esquina apresenta
ram essa marca da subjetividade dos
compositores que, por meio de metáforas, chegaram à recepção do público, em uma partilha de
desejos, expectativas e ações a fim de fazer refletir e buscar meios de transformação da
sociedade autoritária e de consumo em q
ue viveram. Uma postura crítica.
A rememoração das obras de opositores à ditadura militar, como a produção cultural do
Clube da Esquina na década de 1970, pode servir, desde já, de base para a resistência às
manifestações das autoridades quanto ao retorno
de atos praticados naquele regime.
Considerações finais
Vive
-
se sob o império do tempo espetacular, em razão do qual a consciência histórica e
o memorável perdem importância.
Se, na sociedade moderna, de um lado, o tempo passa a ser irreversível, cujos
acontecimentos são únicos, permitem a lembrança deles pela sua transmissão e, assim, ensejam
a consciência da história e o memorável, de outro lado, passa a ser o tempo da produç
ão em
série de mercadorias, tempo das coisas, da alienação, sendo esta a perda de controle sobre a
vida social pelos que as produzem.
Na sociedade do espetáculo contemporânea, o tempo não é só irreversível e da produção
em série de mercadorias, mas também
da produção e do acúmulo de imagens que orientam o
comportamento social ao consumo daquelas. O tempo perde seu caráter qualitativo e torna
-
se
cada vez mais somente quantitativo, o que impossibilita a autoconstrução da vida pelos
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
19
indivíduos. Estes possuem u
ma “falsa consciência do tempo”, por serem expropriados da
produção de sua própria vida, de sua história e de sua memória.
Como meros espectadores de um “presente perpétuo”, com o esvaziamento do
conhecimento histórico e da memória coletiva, os indivíduos
ficam impedidos de uma reflexão
também sobre quem sejam e como agem os donos do poder
–
Estado/empresas. Estes produzem
ideologia acerca do que lhes convém, e instâncias contrárias à manutenção do status quo não
lhes interessam e devem ser eliminadas, que
r sejam do passado, quer sejam do presente.
Quanto à ditadura militar no Brasil de 1964 a 1985, produz
-
se atualmente uma amnésia
social com vistas à construção de uma história oficial. Identificado com a onda conservadora e
reacionária mundial, o governo
tem se manifestado sobre o uso da força policial
-
repressora às
manifestações sociais e da censura e perseguição a seus críticos. A ditadura militar é louvada
até por um de seus feitos mais nefastos: a tortura.
Em face disso, se existe agora uma tentativa d
e produção de uma história oficial,
emanada do aparelho de Estado, sobre o período da ditadura militar para legitimar a construção
de uma nova ditadura, em um contexto de esvaziamento do sentido do passado, é necessária a
sua imediata “escovação a contrape
lo”.
O conceito crítico de rememoração pode ser reformulado e repensado em relação às
novas condições históricas da sociedade brasileira. Há necessidade de que se opere uma
recordação das produções culturais de oposição à ditadura militar, como possibilida
de de
resistência à produção ativa da amnésia social, própria do tempo espetacular, a fim de que seja
afastada a possibilidade de que se repita no presente algo semelhante ao que aconteceu no
passado. A consciência histórica e a memória social ativa é que
devem ser produzidas na
atualidade.
Nas canções críticas do Clube da Esquina produzidas na década de 1970, o recurso à
memória do sujeito narrativo sobre a repressão e as vítimas da ditadura militar tornava
-
se uma
estratégia de preservar a história do país
. Ainda que a crítica ao regime estivesse sob censura,
evitar o esquecimento do que passou era uma possibilidade de contestar o que estava sendo
feito, de pensar a transformação da sociedade e de se projetar para o futuro como documento
histórico.
Os memb
ros do Clube da Esquina, na produção de suas canções, objetivaram despertar
a consciência histórica de seu povo acerca das possibilidades de transformação da sociedade,
em plena ditadura, ao estar em sintonia com seus dissabores e esperanças.
A teoria crít
ica da sociedade, por seu método dialético, busca compreender o tempo
presente com vistas à superação de sua lógica de dominação. A memória das obras dos
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
20
opositores à ditadura militar de 1964 a 1985 no Brasil, assim, pode servir de base aos resistentes
do
presente, ao resgatar o sentido das lutas do passado para a emancipação da forma de
dominação no momento histórico atual.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W.
Educação e emancipação
. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2006.
AQUINO, J. E. F.
Reificação e linguagem em Gu
y Debord
. Fortaleza: EdUECE/Unifor,
2006a.
AQUINO, J. E. F.
Memória e consciência histórica
. Fortaleza: EdUECE, 2006b.
ARNS, P. E. (prefácio).
BRASIL
: Nunca Mais
. Petrópolis
,
RJ: Vozes, 1986.
BENJAMIN, W.
Magia e técnica, arte e política
: ensaios
sobre literatura e história da
cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012.
BORGES, M. O Clube da Esquina.
In
: NAVES, S. C.; DUARTE, P. S. (
o
rg.)
Do samba
-
canção à tropicália
. Rio de Janeiro: Relume
-
Dumará, 2003
.
p.
167
-
176.
BORGES, M.
Os sonhos não envelhecem
:
Histórias do Clube da Esquina
. São Paulo:
Geração Editorial, 1996.
BOSI, E.
O tempo vivo da memória
. Ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2003.
DEBORD, G.
A sociedade do espetáculo
. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997.
DINIZ, S. C.
“...De tudo que a gente sonhou”
: amigos e canções do Clube da Esquina. São
Paulo: Intermeios, Fapesp, 2017.
DREIFUSS, R. A.
1964
: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe.
Petrópolis
,
RJ:
Vozes, 1981.
GAGNEBIN, J. M. Documentos da cultura/documentos da barbárie.
Revista Ide (Psicanálise
e Cultura)
,
Sociedade Brasileira de Psicanálise,
São Paulo,
v. 31, n. 146, jun. 2008.
Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101
-
31062008000100014
. Acesso em: 29 nov. 2018.
GAGNEBIN, J. M.
Lembrar escrever esquecer
.
São Paulo:
Editora 34, 2009.
GAGNEBIN, J. M. Walter Benjamin ou a história aberta.
In
: BENJAMIN, W.
Magia e
técnica, arte e política
: ensaios sobre literatura e história da cultura.
São Paulo: Brasiliense,
2012.
p.
7
-
19
.
image/svg+xml
A atualidade das canções críticas do
C
lube da
E
squina à ditadura militar:
Tempo
espetacular,
rememoração e resistência
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
21
GAGNEBIN, J. M.
Limiar, aura e
rememoração
. Ensaios sobre Walter Benjamin. São
Paulo: Editora 34, 2014.
GASPARI, E.
A ditadura encurralada
. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
IANNI, O.
A ditadura do grande capital
. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1981.
JAPPE, A.
Guy Debord
. Li
sboa: Antígona, 2008.
LACERDA, M.
Hotel Universo
–
a poética de Ronaldo Bastos. Rio de Janeiro: Azougue
Editorial/Oca Editorial, 2019.
LÖWY, M.
Walter Benjamin
: aviso de incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de
história”. São Paulo: Boitempo,
2005.
LUKÁCS, G.
História e consciência de classe
. Estudos sobre a dialética marxista. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
MACIEL, L.
Milagre dos peixes
.
São Paulo: Abril, 2012.
MARTINS, B. V.
Som Imaginário
:
a reinvenção da cidade nas canções do
Clube da Esquina
.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
MARTINS, F.
Quem foi que inventou o Brasil?
A música popular conta a história da
República. V. II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
MATOS, O. C. F.
Benjaminianas
.
Cultura capitalista e fetichismo
contemporâneo. São
Paulo: Editora UNESP, 2010.
MATTOS, P. C. V.
Palavras Musicais:
letras, processo de criação, visão de mundo de 4
compositores brasileiros (F. Brant, M. Borges, M. Antunes e C. Amaral). Entrevistas. Belo
Horizonte
,
2006.
NAVES, S. C.
Canção popular no Brasil
: a canção crítica. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2010.
NASCIMENTO, M.
Clube da Esquina 2
. Gravadora: EMI
-
Odeon. Produção: Milton
Nascimento, Novelli, Ronaldo Bastos. Formatos: LP (1978), CD (1988), CD (2007)
.
Lançamento: 1978.
NASCIMENTO, M.
Minas
. Característica: vocal. Gravadora: EMI
-
Odeon. Produção:
Ronaldo Bastos. Formatos: LP (1975), CD (1995). Lançamento: 1975.
NASCIMENTO, M.
Milagre dos Peixes
. Característica: vocal e instrumental. Gravadora:
EMI
-
Ode
on. Produção: Fernando Brant. Formatos: LP (1973), CD (1995). Lançamento:
1973.
NASCIMENTO, M.; BORGES, L.
Clube da Esquina
. Gravadora: EMI
-
Odeon/Universal
Music. Produção: Milton Miranda e Lindolpho Gaya. Formatos: LP (1972), CD (1989), CD
(2007). Lançam
ento: 1972. Tempo: 64’22”.
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
22
OLIVEIRA, F.
Crítica à razão dualista
: o ornitorrinco
. São Paulo: Boitempo, 2013.
PIOVESAN, F. Direito internacional dos direitos humanos e lei de anistia: o caso brasileiro.
In
: TELES, E.
;
SAFATLE, V. (
org
.).
O que resta da
ditadura
: a exceção brasileira. São
Paulo: Boitempo, 2010
.
p.
91
-
107.
REGINA, E.
Elis
. Característica: vocal. Gravadora: Phonogram/Philips. Produção: Cesar
Camargo Mariano. Formatos: LP (1977), CD (1993), CD (1998). Lançamento: 1977.
SEVERIANO, J.
;
MELLO
, Z. H.
A canção no tempo
: 85 anos de músicas brasileiras.
v
. 2:
1958
-
1985. São Paulo: Editora 34, 1998.
WISNIK, J. M.
Sem receita
. Ensaios e canções. São Paulo: Publifolha, 2004.
Como referenciar este artigo
COAN
,
Emerson Ike
.
A atualidade das canções críticas do Clube da Esquina à ditadura militar:
Tempo
espetacular, rememoração e resistência
.
Estudos de Sociologia
, Araraquara, v. 27, n.
00
,
e0220
30
,
2022. e
-
ISSN:
1982
-
4718
. DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
Submetido em
:
17
/
05
/
2022
Revisões requeridas em
:
15/06/2022
Aprovado em
:
20/07/2022
Publicado em
:
21/12/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
1
THE CONTEMPORANEITY OF CLUBE DA ESQUINA’S CRITICAL SONGS OF
THE MILITARY DICTATORSHIP: SPECTACULAR TIME, REMEMBRANCE AND
RESISTANCE
A
ATUALIDADE
DAS CANÇÕES CRÍTICAS DO CLUBE DA ESQUINA À
DITADURA MILITAR: TEMPO ESPETACULAR, REMEMORAÇÃO E
RESISTÊNCIA
LA ACTUALIDAD DE LAS CANCIONES CRÍTICAS DEL CLUBE DA ESQUINA PARA
LA DICTADURA MILITAR: TIEMPO ESPECTACULAR, REMEMORACIÓN Y
RESISTENCIA
Emerson Ik
e COAN
1
ABSTRACT:
This article intends to situate the group Clube da Esquina
as a cultural producer
of songs that were critical of the military dictatorship in the 1970s and to examine, in accordance
with Walter Benjamin’s concept of remembrance, their validity at the present time as resistance
to the production of social amnesia
about this regime, in the context of the spectacular time, as
conceptualized by Guy Debord.
The dialectical method of critical theory is employed, as the
research examines the object in specific historical situations.
In the songs by Clube da Esquina,
reso
rting to the memory of the narrative subject about repression and the victims of the military
dictatorship became a strategy to preserve the history of the country. Although the criticism of
the regime was under censorship, avoiding the oblivion of what ha
ppened was a possibility to
contest what was being done, to think about the transformation of society, and to project itself
into the future as a historical document.
KEYWORDS:
Clube da Esquina. Military dictatorship. Society of the Spectacle.
Remembrance
. Resistance.
RESUMO
:
Este artigo pretende situar o Clube da Esquina como produtor cultural de canções
críticas à ditadura militar nos anos 1970 e examinar, em conformidade com o conceito de
rememoração de Walter Benjamin, a validade delas no momento atu
al como resistência à
produção da amnésia social sobre esse regime, no contexto do tempo espetacular, como
conceituado por Guy Debord. Emprega
-
se o método dialético da teoria crítica da sociedade,
pois se pesquisa o objeto em situações históricas específic
as. Nas canções do Clube da Esquina,
o recurso à memória do sujeito narrativo sobre a repressão e as vítimas da ditadura militar
tornava
-
se uma estratégia de preservar a história do país. Ainda que a crítica ao regime
estivesse sob censura, evitar o esquec
imento do que passou era uma possibilidade de contestar
o que estava sendo feito, de pensar a transformação da sociedade e de se projetar para o futuro
como documento histórico.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Clube da Esquina. Ditadura militar. Sociedade do
espetáculo.
Rememoração. Resistência.
1
Cásper Líbero
College
(FCL), São Paulo
–
SP
–
Brazil
.
Postgraduate Program (PPGCOM). Research Group (GP
–
CNPq) “Communication and Society of the Spe
ctacle
”. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
6869
-
2096. E
-
mail:
emersonike@hotmail.com
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
2
RESUMEN
: Este artículo pretende situar el Clube da Esquina como un productor cultural de
canciones críticas para la dictadura militar en la década de 1970 y examinar, de acuerdo con
el concepto de rememoración de Wal
ter Benjamin, su validez en la actualidad como resistencia
a la producción de amnesia social acerca de este régimen, en el contexto de un tiempo
espectacular, conceptualizado por Guy Debord.
Se emplea el método dialéctico de la teoría
crítica de la socieda
d, porque la investigación del objeto ocurre en situaciones históricas
específicas. En las canciones del Clube da Esquina, el recurso a la memoria del sujeto
narrativo acerca de la represión y a las víctimas de la dictadura militar se convirtió en una
estr
ategia para preservar la historia del país. Aunque la crítica al régimen estaba bajo censura,
evitar el olvido de lo que pasó era una posibilidad de cuestionar lo que pasaba, de pensar la
transformación de la sociedad y de protegerse para el futuro como do
cumento histórico.
PALABRAS CLAVE
: Clube da Esquina. Dictadura militar. Sociedad del Espectáculo.
Rememoración. Resistencia.
Intoduction
In the society of the spectacle, historical consciousness is dismissed and the importance
of the
memorable is lost. In this society, those in power can establish their official history
through the production of social amnesia. This is the case of current Brazilian society in relation
to the military dictatorship from 1964 to 1985.
This article seeks t
o reflect on the production of social amnesia in Brazilian society
confronted with the notion of remembrance by Walter Benjamin (2012), reformulated, for this
purpose, from the songs critical of the military regime presented by
Clube da Esquina
in the
1970
s, in the context of spectacular time, a concept by Guy Debord (1977) rethought in
contemporary times.
The dialectical method is used when examining the historical dynamics of Brazilian
capitalist society in its articulations between the economic, politica
l, cultural and ideological
dimensions, and when aiming at the transformation of reality. It is the method of the critical
theory of society, through which the obstacles to emancipation in the present reality are
denounced and the potential for overcoming
them is pointed out.
The spectacular time
Guy Debord
(1997, p. 87, our translation) states that “history has always existed, but
not always in a historical form”, that is, in a way that the movement of time was consciously
experienced by individuals.
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
3
It resumes the materialist interpretation of history carr
ied out by Karl Marx
–
regarding
the development of productive forces and the overcoming of previous social relations
–
for a
social appreciation of time and its assumption in the consciousness of individuals, with a view
to the possibility of construction
and concrete experience of the lived. It exposes the relationship
between the form of production and the way of living the time that each society has. This is
because every social transformation implies a fundamental change in the intuition of time.
Debor
d (1997) explains that, with the destruction of the previous material bases of pre
-
capitalist production, mainly agricultural, linked to the seasons of nature and organized in a
cyclical experience of time
–
through the forms of ritual and ancestral repeti
tion: of the eternal
return
–
, in modern society, conditions were created for a “historical” life, situated in a passing,
linear and irreversible time. “Historical time means irreversible time, whose events are unique
and do not repeat themselves. Hence th
e desire to remember them and transmit them, that is,
the first forms of historical consciousness” (JAPPE, 2008, p. 46, our translation).
The triumph of irreversible time, however, is also its metamorphosis into the “time of
things”, because the victory of
the bourgeoisie was precisely the mass production of objects.
Capitalism founds a historical time as an irreversible time of the mercantile economy. Time and
history are reduced to the form of production time.
The modern economy, although formally cyclica
l as a movement of capital and thus
immediately experienced in everyday life and in the entire course of individuals' lives, is a
historical economy in the sense that it moves on a form of production whose time is irreversible
and linear. Time is pseudocyc
lic. This pseudocyclic experience of capitalism constitutes what
Debord (1997) calls “false consciousness of time”, because it generates spectacular time, in
which everything is lived illusory. “The spectacle, as a social organization of the paralysis of
h
istory and memory, of the abandonment of history that is erected based on historical time, is
the 'false consciousness of time'” (DEBORD, 1997, p. 108, our translation).
By submitting themselves to the laws that govern the exchange of commodities, men
are,
in effect, governed by the product of their labors. The worker himself believes that the
value of a commodity is not a consequence of his socially necessary labor time for its
production. In the capitalist system, the works that produce different goods en
d up being
equivalent in exchange and are presented as abstract, generalized and impersonalized work due
to their condition of merchandise exchanged for money. Therefore, the intrinsic quality of each
worker, each job or each thing produced or exchanged is
not considered. Instead of being worth
in themselves, they are worth in exchange.
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
4
This rationality of the mercantile economy, with its abstract and quantitative time,
organizes everyday life in such a way that it impedes the individual's conscious activit
y, by
making him a spectator of his own life, also impeding the possibility that he may occupy himself
with the threat of oblivion or with the importance of the memorable.
It is in the prohibition imposed on individuals of activity, language and communicat
ion
of what is really lived, whose foundation is the very economic
-
quantitative expropriation of
time and autonomous activity in capitalism, that Debord (1997) understands a true
expropriation of history and memory. This is an expropriation of the very pos
sibilities of the
practical expression of individuals as a realization, as the production of their own history.
Thus
:
Forgetting and remembering are, in the spectacular
-
mercantile society,
functions of the “images” produced and “socially” permitted by eco
nomic and
state rationality and this occurs because, before, the temporal experience itself
develops only as “image consumption time” and “image of time
consumption”, but not as an effective and qualitative use of time (i.e.,
“historical”). Individuals
–
w
ho, thus, become spectators
–
do not assume their
“time”, because their “time” does not belong to them; Likewise, their
collective or individual memory does not belong to them, because, rather, it is
not up to them the realization and communication
(AQUINO
, 2006a, p.
66
,
our translation
).
The spectacle
–
alienation
–
confiscates the space of experience and the horizon of
expectations, summing up to a perpetual present. The spectacle, given the pace at which the
images are displayed, leaves no time for refl
ection; shut up everything that does not suit it.
Everything he shows is always isolated from the environment, the past, intentions and
consequences. Debord (1997, p. 178, our translation) states that the show managed to make
“everyone forget the historica
l spirit in society”.
And, to fight against this shortening of temporal perception, against this kind of
narcissism of the present, which runs after novelties that rapidly expire according to the law of
consumption of new commodities, “one must invent othe
r forms of memory and narration,
capable of sustain a critical relationship with the transmission of the past, with remembering,
and with the construction of the future and waiting”
(GAGNEBIN, 2014, p.
221
, our
translation
).
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
5
A produção da amnésia
social em relação à ditatura militar
Ecléa Bosi (2003) states that, when a political event stirs the mind of a given social
group, the memory of each of its members is affected by the interpretation that the dominant
ideology gives to that event; an exami
nation is always necessary to clarify the ties that unite
memory and ideology.
In current Brazilian society, in relation to the memory of the dictatorship implemented
after the civil
-
military coup d'état of 1964 (DREIFUSS, 1981; IANNI, 1981), there is an a
ctive
production of social amnesia. This is a story in which events are cut and interpreted from the
perspective of those in power. The official story.
An official story that tries to deny or minimize the repression of a dictatorship
–
and
some call it a “
soft dictatorship”
–
that prevented citizens from the right to freely express their
ideas and opinions critical of the regime, otherwise they would be persecuted, threatened,
arrested, tortured, killed or disappeared (ARNS, 1986); who kept the arts under t
he control of
the authorities by imposing cuts and bans on plays, films, books and songs; who subjected the
press to self
-
censorship or prior censorship; banned and extinguished political parties; kept the
unions under intervention; made student organizati
ons illegal; repressed public demonstrations
with excessive violence, etc.
A dictatorship that issued Institutional Act no. 5 (AI/5), in 1968, in force for ten years,
which granted the president full powers to close all the Legislative Power for an
unlimited time,
intervene in states and municipalities, suspend for ten years the political rights of any citizen
and revoke elective mandates, dismiss or summarily retire civil servants and judges, suspend
the guarantee of “
habeas
corpus
”, carry out arres
ts without a court order and declare a state of
siege.
The institutional acts were inspired by the ideology of national security, under the motto:
“Security guarantees development”. The propagated “economic miracle” was based on slogans
typical of dictator
ial regimes: “Brazil, love it or leave it”; “No one hold back this country!”.
There was, however, no income distribution for the less favored strata, as the model was one of
wage squeeze and social exclusion (OLIVEIRA, 2013, p.
107
-
119
, our translation
), w
hose
strategy was “Make the cake grow and then share it”, in an exclusionary modernization process.
Even during the announced slow, gradual and safe process of distension towards
redemocratization, which began in 1974, an example of an explicit crime was c
ommitted
against journalist Vladimir Herzog, “Vlado”, in 1975, the victim of an offensive by radical
sectors of the army on militants of the Brazilian Communist Party (PCB) (GASPARI, 2014).
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
6
Adorno's criticism (2006), in the elaboration of the past in relat
ion to Nazism, is that of
intending to close the issue, if possible, erasing it from memory. “The gesture of forgetting and
forgiving everything, exclusive to those who suffered injustice, ends up coming from the
supporters of those who practiced injustice
” (ADORNO, 2006, p. 29
, our translation
).
This intention to close the issue guides the elaboration of the past in relation to the
military dictatorship from 1964 to 1985 in Brazil on the side of those in power. A willingness
to deny it, try to erase it fro
m collective memory, or minimize its occurrence is well known,
however difficult it is to understand that there are people who are not ashamed to use an
argument such as that only a "few more exalted rebels" would
-
deservedly
-
have been tortured,
murdere
d and disappeared. It is sometimes said, although with reservations about the repressive
character of the dictatorship, that “the country has grown”: a symptom of the ideology of safe
development.
It must be remembered that, although Brazil has signed inte
rnational treaties against
torture, international jurisdiction is ignored when it comes to punishing torturers and murderers
of the dictatorship (PIOVESAN, 2010). This under the pretext of the “national reconciliation”
policy promoted by the military and g
uiding the 1979 Amnesty Law.
Ideology manufactures imaginary stories that legitimize class domination, always
narrated from the point of view of those in power, so that there are no records of actions taken
by and against opponents of the military dictator
ship, and no traces of them can remain in social
memory.
An ideology, of course, because the repressive action of the military dictatorship
produced concrete effects in Brazilian society.
For, behind each persecuted person there was a family, a circle of friends, a
group of colleagues and companions, often a category or an entire community.
All ended up being directly or indirectly affected by the impact of the
arbitrariness, truculence and
crimes of the dictatorship. They somehow
experienced fear, dismay, impotence, submission and terror, as well as
indignation, solidarity and revolt
(MARTINS, 2015, p.
17
, our translation
).
Currently, “a certain form of forgetting operates, a turning of th
e page, a non
-
permanence in resentment and complaint” (GAGNEBIN, 2009, p.
98
, our translation
), in the
sense of commemorating the past to the detriment of the present.
There are manifestations of the authorities in the mainstream media in the sense that,
t
oday: the intention is to re
-
establish the ideology of the “internal/communist enemy” of the
doctrine of national security from the military dictatorship; the police
-
repressive apparatus in
general
–
inspired by images of the ruler with his hands gesticula
ting
–
is preparing for a
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
7
situation of permanent civil war against the migrant, the indigenous, the black, the street child,
the slum dweller, the trade unionist, organizations fighting for rights, the unemployed, the
homeless, the landless; a nationalism
of “us” versus “them” is established, suggesting that those
who are uncomfortable leave the country; it is intended to restore in the country what existed
fifty years ago: the state of exception and its repressive nature, with censorship of cultural
produc
tions, persecution of government critics, use of excessive violence in public
demonstrations, etc. Torturers are praised for their deeds.
However, a “duty of memory” or “active remembering” is imposed, so that the way in
which the past is made present is i
mportant, in order to prevent “something similar” from
happening from now on.
An enlightening democratic pedagogy is needed, whereby remembering the past is not
just remembering for the sake of remembering: a kind of cult of the past. It stems from “a
dema
nd for clarifying analysis that should produce
–
and this is decisive
–
analytical tools to
better clarify the present” (GAGNEBIN, 2009, p.
103
, our translation
).
The recollection and actuality of the critical songs of Clube da Esquina
Walter Benjamin (
2012) and Debord (1997) are influenced by Lukács both in relation
to the refusal of a purely scientific
–
objective, deterministic
–
explanation of history, and the
expansion of the limit of the concept of commodity fetishism in that of reification, as a k
ind of
a condition of alienation that affects all social manifestations; a “ghostly” objectivity of the
commodity (LUKÁCS, 2003, p. 222) that is intended to be logical/rational/“natural”, but which
conceals the real background human and social relations th
at underpin it. The transience, the
incessant novelty, the distracted reception of events involves all merchandise, “creating and
recreating a 'ghostly epiphany' [Benjamin], which Debord, in turn, designates in the expression
'society of the spectacle'” (M
ATOS, 2010, p. 74
, our translation
).
It is observed that
:
Memory is always a contemporary category... Memory and historical
consciousness are not categories of traditional communitarian societies. In
these societies of transmission, of tradition, which do
not assume, for
Benjamin and Debord, historical forms, but rather mythical ones, memory
need not have any “active” role to play, but only passively receive and transmit
contents through which the past organizes the present. Only for those who
fight to fre
e the present from the past and the archaic, and in this way, to
establish a historical life unimpeded by the memory of unfinished struggles
–
because they were defeated
–
can, in fact, be important; not, however, as
officers and dead “places of memory”, b
ut rather as attention to the present,
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
8
as an update of past struggles. In other words, as historical consciousness
(AQUINO, 2006b, p. 11
-
12
, our translation
).
For the process of collective elaboration of the past, Benjamin's (2012) concept of
remembrance
–
recollection
–
is a form of memory and narration that does not enclose the image
of the past in a “single observation”, but allows for its modification, as open story.
This notion of remembrance can be reformulated to reflect on the productio
n of social
amnesia in the country, from the songs critical of the military regime presented by Clube da
Esquina in the 1970s.
Clube da Esquina is the denomination for the gathering of artists predominantly from
Minas Gerais and their cultural production g
athered around the singer and composer Milton
Nascimento. Throughout his artistic trajectory, he was characterized by the production of
collective works.
In many of Milton Nascimento's productions, criticisms were made of the military
dictatorship, when dealing, albeit metaphorically, with issues such as: exile
–
Nada será como
antes
(M. Nascimento/R. Bastos);
assassination
–
Menino
(M. Nascimento/R. Bastos
),
tribute
to high school student Edson Luís de Lima Souto; corruption
–
Saudades dos aviões da Panair
(
talking at the bar
)” (M. Nascimento/F. Brant);
censorship
-
the album
Milagre dos peixes
;
students
–
Tudo que você podia ser
(L. Borges/M. Borges)
;
indi
genous people
–
Promessas do
sol
(M. Nascimento/F. Brant);
black people
–
Casamiento de Negros
(
adapted from Chilean
folklore); women
–
Maria, Maria
(M. Nascimento/F. Brant);
Latin America
–
San Vicente
(M.
Nascimento/F. Brant)
etc.
In Brazilian Popular M
usic (MPB), there is a form of composition called “critical song”,
in which the composer's role is also to express his indignation and his denunciation regarding
cultural and political
-
social issues, in an articulation between art and life.
The popular co
mposer began to operate critically in the composition process,
making use of metalanguage, intertextuality [...] operating doubly with the text
and with the context, with the internal and external planes. Internally, [...] the
composer began to act as a cr
itic in the composition process itself; externally,
criticism addressed the cultural and political issues of the country, making
composers articulate art and life [...] And by extending the critical attitude
beyond the formal aspects of the song, the popul
ar composer became a thinker
of culture
(NAVES, 2010, p.
20
-
21
, our translation
).
The compositions of Clube da Esquina
express this articulation between art and life,
through “critical songs” of the military dictatorship. “The varied rhythms and lyrics that
celebrated corners of Minas evoked a certain countercultural climate and at the same time
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
9
protested against the oppr
essive political moment that the country was going through”
(NAVES, 2010, p.
121
, our translation
).
The song
Nada será como antes
(Milton Nascimento/Ronaldo Bastos), recorded on the
1972 album
Clube da Esquina
, was considered “an authentic libel of opposit
ion to the current
regime”, as it was released during the most perverse period of the entire military government:
the of the “years of lead”, between 1969 and 1974. The verses expose the drama of those who
were concerned with the unpredictable fate of thos
e exiled by the dictatorship, among whom
was R. Bastos' own brother. The tomorrow that his verses talk about would depend on an action
to be taken in the present moment, with a view to transforming the current order. The idea for
the lyrics came when R. Ba
stos read an article about the issue of “tomorrow” in (MPB) and
transferred the focus from the musical area to politics (SEVERIANO; MELLO, 1998, p. 176).
Eu já estou com o pé nessa estrada/Qualquer dia a gente se vê/Sei que nada
será como antes, amanhã/Qu
e notícias me dão dos amigos?/Que notícias me
dão de você?/Alvoroço em meu coração/Amanhã ou depois de amanhã/
Resistindo na boca da noite um gosto de sol/Num domingo qualquer, qualquer
hora/Ventania em qualquer direção/Sei que nada será como antes
amanhã/
Que notícias me dão dos amigos?/Que notícias me dão de você?/Sei
que nada será como está/Amanhã ou depois de amanhã/Resistindo na boca
da noite um gosto de sol
(
Lirics of the song
Nada será como antes.
CLUBE
DA ESQUINA, 1972)
2
.
In this song, R. Bastos consciously expresses his relationship with the movement of time
for a social appreciation and his concrete experience for the transformation of reality. He
expresses himself to put into practice an individual action as the producti
on of his own history
and to put in the world a work of art to be inscribed in the Brazilian collective memory. This is
in line with what Debord (1997) and Benjamin (2012) draw attention to regarding the
configuration of “historical time” and the memorable
.
R. Bastos wants to move and expand. Of his brother and friends, all exiled, there is no
news. He does not intend to stand still and wait for these: he's going to “set foot on that road”,
and “we'll see each other any day”. And the trip will take place “o
n any given Sunday, at any
time”, with “wind in any direction”, but it is certain that “nothing will be like before tomorrow”,
after this experience. It is a path of no return because “nothing will be as it is”.
2
Free translation of the lirics: I already have my foot on this road/One day we see each other/I know that nothing
will be like before, tomorrow/What news do they give me from friends?/What news do they give me about
you?/Rush in my heart/Tomorrow or the d
ay after tomorrow/ Resisting a taste of the sun in the mouth of the
night/On any given Sunday, at any time/Wind in any direction/I know that nothing will be the same as before
tomorrow/What news do they give me from friends?/What news do they give me about
you?/I know that nothing
will be as it is / Tomorrow or the day after tomorrow / Withstanding in the mouth of the night a taste of sun
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
10
Waiting for this experience causes an “uproa
r in my heart”, says the lyricist, and the
event must happen soon, “tomorrow or the day after tomorrow”. The excerpt “Resisting a taste
of the sun in the mouth of the night” refers to the expectation of the subject of the song to act
soon, so that the new
happens. As much as the days pass, each nightfall, “in the mouth of the
night”, a taste of tomorrow remains, “a taste of the sun”.
Ronaldo's songs are always about a future. Something that we do not quite
know what it is, but which announces itself as a m
oment of mutation in the
order of things, a mutation that does not happen naturally, but with the
affirmed performance of the subject of the song. The future announces a
“tomorrow” like an uproar in the heart, a taste of the sun that resists in the
mouth o
f the night and that needs to be. In order to be, it needs, however, the
impulse of the subject who places himself as the place of affirmation of being.
Affirmation of the being that is also an affirmation of
himself
(LACERDA,
2019, p.
24
, our translation
)
.
In the 1970s, the typical figure of speech was the metaphor for the existence of
censorship. It was a way of being able to talk about things that were literally forbidden to be
mentioned. And the great metaphor of that time was the “day to come” or “the
tomorrow that
will be better than today”
(BORGES, 2003, p.
168).
The lyricist, in addition to speaking of his need to move
–
assert himself
–
in pursuit of
changes, metaphorically also speaks of the need for everyone to move against the current
regime in
order to achieve a democratic future. In each dusk this hope remains, that is, “a taste
of the sun resists in the mouth of the night”. This song is classic because it persists in time; its
message of freedom can be retrieved
–
recalled
–
in a later histor
ical moment than its specific
context.
The album
Milagre dos Peixes
,
from
1973,
it is a work of art that survived the censorship
attacks in the “years of lead” of the military dictatorship. There was a cut practically in full of
the lyrics of the songs
Os escravos de Jó
and
Hoje é dia de El
-
Rey
,
and in full of
Cadê
.
However,
in the in
serts it is possible to notice the protest, as it is clear that the songs had lyrics, since the
technical sheets brought the credits (“lyrics of”) to the respective lyricists: Fernando Brant,
Márcio Borges and Ruy Guerra
.
In
Hoje é dia de El
-
Rey
,
the maint
enance of the expression
“my son/son of me” makes it clear that there was censorship.
T
he lyrics of
Os escravos de Jó
(M. Nascimento/F. Brant)
submitted to the censor,
inspired by children's games, was considered a “Political contestation.
Satire and prote
st.
Pornographic cord” (DINIZ, 2017, p.
149).
Dizem que está bom/Dizem que está bom/Difícil ver um troço pior/Mas dizem
nós estar na melhor/Se viver, eu sou réu/Se morrer, é só véu/Melhor é colher
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
11
favos de mel/Saio do trabalho ei/Volto para casa ei/Não le
mbro de canseira
maior/Em tudo é o mesmo suor/Ó, bela Rapunzel/Seu jovem menestrel/
Precisa de um pouco de amor/Mas que não faça muito calor/A vaca Vitória
lambeu, lambeu/Mexeu, mexeu e remexeu/Quem falar primeiro, quem falar
primeiro/Vai ser aquele que co
meu/Gritos de alegria, de histeria/E luzes e
bombas/Bomba cai do céu/(Que fedor!)/Saio do trabalho ei/Volto para casa
ei/Não lembro de canseira maior/Em tudo é o mesmo suor
(
Lyrics of the song
Os escravos de Jó.
MILAGRE DOS PEIXES, 1973)
3
.
The lyrics are, in fact, satirical, mainly due to the analogy of “Yellow cow” (a children's
game in Brazilian folklore that consists of a challenge to see who stays silent the longest) to the
political regime
–
“Cow Vitória licked, licked/Moved, moved and
stirred/Whoever speaks first,
whoever speaks first/It will be the one who ate/Screams of joy, of hysteria/And lights and
bombs/Bomb falls from the sky/(What a stench!)”
–
, although the “pornographic song" by the
use of the word "cow". The contestation appe
ars at the beginning of the lyrics: “They say it's
good / They say it's good / It's hard to see a worse thing / But they say we're in the best / If I
live, I'm a defendant / If I die, it's just a veil / It's better to reap honeycombs".
Its record was instr
umental, because only the last stanza was allowed by the Federal
Police's Public Entertainment Censorship Service to be sung by Clementina de Jesus ("I leave
work and/I come home and/I don't remember any greater fatigue/In everything it's the same
sweat”).
The music gained sound consistency, even noisy, and continued to be provocative by
uniting the choir, vocal effects
–
such as screams and falsetto
–
and the high volume of the
percussion.
Years later, the song was recorded with different lyrics and a new
name
,
Caxangá
,
by
Elis Regina,
in her album
Elis
,
from
1977.
Sempre no coração/Haja o que houver/A fome de um dia poder/Morder a
carne dessa mulher/Veja bem, meu patrão/Como pode ser bom/Você
trabalharia no sol e eu/Tomando banho de mar/Saio do trabalho e
/Volto para
casa e/Não lembro de canseira maior/Em tudo é o mesmo suor/
/
Luto para
viver/Vivo para morrer/Enquanto minha morte não vem/Em tudo é o mesmo
suor/
/
Luto para viver/Vivo para morrer/Enquanto minha morte não vem/Eu
vivo de brigar contra o rei//Em v
olta do fogo todo/Mundo abrindo o jogo/Com
tudo que tem pra contar//Casos e desejos coisas/Dessa vida e da outra/Mas
nada de assustar/Quem não é sincero sai da brincadeira/Correndo, pois pode
3
Free translation of the lyrics: They say it's good / They say it's good / It's hard to see a worse thing / But they sa
y
we're in the best / If I live, I'm a defendant / If I die, it's just a veil / It's better to pick honeycombs / I leave work
hey / I'll be back home hey / I don't remember a greater fatigue / Everything is the same sweat / Oh, beautiful
Rapunzel / Your yo
ung minstrel / Needs a little love / But not too hot / The cow Victoria licked, licked / Moved,
moved and stirred / Whoever speaks first, whoever speaks first / It will be the one who ate / Screams of joy, of
hysteria / And lights and bombs / Bomb falls fr
om the sky / (What a stench!) / I leave work hey / I come home hey
/ I don't remember any greater fatigue / It's all the same sweat
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
12
se queimar/Queimar//Saio do trabalho e/Volto para casa e/Não lem
bro de
canseira maior/Em tudo é o mesmo suor
(MACIEL, 2012, p.
24
-
25)
4
.
The content remained very strong against established standards. At first,
subjectivity/emotion is opposed to objectivity/reason, as it is said: “Always in the heart/No
matter what ha
ppens”, with prevalence of the instinctive/natural: “The hunger for one day to be
able/To bite that woman’s flesh”. Then, the radical change in the exploratory relationship
between boss/employee: “Look, my boss/How good it can be/You would work in the sun
and
I/Bathing in the sea”. Then, the opposition to the current regime: “I fight to live/I live to
die/Until my death comes/I live to fight the king”, in which this “king” is the general in power,
and the fight goes on a regime that kills the “subversives”.
On the battlefield, “Around the
whole fire/The World opening up the game/With everything there is to tell”, there are “Cases
and desires things/This life and the other/But nothing to scare”, as an expression of religious
syncretism (the music has African
rhythm). Finally, the reference to the title of the song, the
game “
Escravos de Jó
”: “Whoever is not sincere leaves the game/Running, because they can
get burned/Get Burned”, alluding to the fact that every game has its own rules, and the
dictatorship brok
e the rules of democratic rule. About this, both the work and the resistance to
the system impose a “greater fatigue”, and “Everything is the same sweat”.
The album differs from the marketing standard of the phonographic industry at the time,
so that
the artists preserved the intrinsic quality of the work of art produced by them so that the
public
–
present and future
–
could get in touch with the country’s history regarding censorship
during the military dictatorship. The song presented does not estab
lish itself in “spectacular
time”, in the sense of confiscating the space of experience and the horizon of expectations: on
the contrary, it is critical, as it makes one reflect on the historical moment lived: the artist was
responsible for assuming his er
a/time. And the song, recorded in the artwork as a historical
document, can be recalled by future generations as a paradigm of struggle by opponents of the
military regime so that something similar does not happen again.
Fé cega, faca amolada
(M. Nasciment
o/R. Bastos),
recorded on the album
Minas
,
from
1975,
is another song of opposition to the military regime, as an unfolding of
Nada será como
4
Free translation of the lyrics: Always in my heart/No matter what happens/The hunger for one day to be able/To
bite this w
oman's flesh/Look, my boss/How good it can be/You would work in the sun and I/Bathing in the sea/I
leave work and/I return home and/I don't remember any greater fatigue/In everything it's the same sweat//I fight
to live/I live to die/Until my death comes/I
n everything it's the same sweat//I fight to live/I live to die/While my
death doesn't come/I live by fighting the king//Around the whole fire/The world opening up the game/With
everything there is to tell//Cases and desires things/This life and the other/
But nothing to scare/Who It's not sincere,
get out of the game/Running, because you might get burned/Get burned//I leave work and/I come home and/I don't
remember any greater tiredness/Everything is the same sweat
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
13
antes
,
by the same authors. In much more aggressive writing, we have: “Now I no longer ask
where the road goes / n
ow I no longer wait for that dawn / it will be, it will be, it will have to
be, it will be a sharpened knife / the blind glow of passion and faith, sharpened knife”.
The sound result is also aggressive
.
The relatively simple and insistently repeated melod
ic sequence in “Blind faith,
sharpened knife” would not be enough to achieve the brilliant result shown on
the record. To obtain this result, Nivaldo Ornelas' chopped soprano sax notes
must also be credited, creating a nervous atmosphere in perfect harmony
with
the song's objective, the decidedly pop musical interlude, Milton's convinced
voice, using falsetto to perfection, and the high
-
pitched voice of Beto Guedes,
which sometimes sounds like an echo of Milton's singing (SEVERIANO;
MELLO, 1998, p. 210
-
211
,
our translation
).
Márcio Borges (1996, p. 317) explains: “Bituca really wanted to do something, to react
in some way to the arbitrations of censorship, in our particular case, and of Institutional Acts,
which spread so much evil throughout Brazil [...]”.
He sang Ronaldo's ripped verses with great
authenticity of feelings.
The verbs in the infinitive
–
“
let
”, “shine”, “be”, “grow”, “happen” etc.
–
reveal this
proposal for confronting the here and now.
A notable feature is the metaphorical use of words
normally belonging to the domain of
the Catholic religion.
Deixar a sua luz brilhar e ser muito tranquilo/Deixar o seu amor crescer e ser
muito tranquilo/Brilhar, brilhar, acontecer, brilhar, faca amolada/Irmão,
irmã, irmã, irmão de fé: faca amolada/Plant
ar o trigo e refazer o pão de cada
dia/
Beber o vinho e renascer na luz de todo dia/A fé, a fé, paixão e fé, a fé,
faca amolada/O chão, o chão, o sal da terra, o chão, faca amolada
(
Song
excerpt of
Fé cega, faca amolada.
MINAS, 1975)
5
.
The word religious is resignified. “Passion” and “faith” refer to the missionary crossing
of Jesus and to the hope in the future life, respectively. Bread and wine express being reborn in
the body and blood of Christ. “The salt of the earth” means fulfilli
ng the mission with
determination and lightness (“to be very calm”). "Blind faith", although it seems to refer to an
irrational belief, is, in reality, a reasoned hope. What is believed is understood.
This song no longer refers to the uncertain future of “
the day that will come”, as in
Nothing will be like before, but to the certainty of conscious action in the present time for a
5
Free translation of the lyrics: Let your
light shine and be very still/Let your love grow and be very still/Shine,
shine, be, shine, sharpened knife/Brother, sister, sister, brother of faith: sharpened knife/Plant the wheat and
remake the daily bread / Drink the wine and be reborn in the light o
f every day / Faith, faith, passion and faith,
faith, sharpened knife / The ground, the ground, the salt of the earth, the ground, sharpened knife
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
14
better future. There is no longer any need to know where the road you were on is going, nor to
wait for the dawn before tomorrow,
but to move forward in fulfilling the transforming mission
with determination and tranquility. The sharpened knife is ready to cut, to break; for the lucid
decision about something important in life. It is time to fight; not to remain passive.
The compose
rs:
[...] propose the immediate construction of “tomorrow” through the direct
intermediary of human action. To achieve this goal, the historical subject
should, however, be aware that it is necessary to have, in his hands, the
“sharpened knife”, making us
e of its “blind brilliance” to open the way of the
future with lucid and safe blows. This new era would in no way be a daydream
or a blurred vision of reality, but the result of a look full of audacity and
imagination. Its foundation would be in the engage
ment of the political actor
with the very present in which he performs his actions (MARTINS, 2009, p.
73
-
74
, our translation
).
In reality, poetry “does not paralyze itself looking at the 'day to come': instead, it sets
itself entirely, and in motion, in t
he time it is” (WISNIK, 2004, p.
184
, our translation
).
This song is exemplary for remembering the struggles of the past in the present and for
reflecting on an immediate intervention by contemporary resisters in a situation that is close to
that experienc
ed during the military dictatorship.
For Benjamin (2012), a historical
-
materialist
–
dialectic
–
analysis demands that, in the
present, one pays attention to what lies in the events and works of the past as a promise or
protest. In this respect, instead of
opposing culture
–
or civilization
–
and barbarism as two
mutually exclusive poles, or as different stages of historical evolution, Benjamin (2012)
presents them dialectically as a contradictory unit. See his thesis VII of
On the Concept of
History
:
Ther
e is never a document of culture that is not, at the same time, a document
of barbarism. And just as he is not free from barbarism, neither is the process
of his transmission, the transmission in which he passed from one victor to
another. Therefore, the h
istorical materialist, as far as possible, distances
himself from this transmission. He sees it as his task to
escovar a história a
contrapelo
(brush history against the grain)
(BENJAMIN, 2012, p. 245
, our
translation
).
Brushing history “against the grain” and critical reflection on the present coincide. It is
necessary to reveal the true rule of historical progress: oppression, barbarism, the violence of
the victors
–
owners of power. Benjamin (2012) refers, above all, t
o the emancipation of the
oppressed classes, but his general critique of oppression and his appeal serve to “conceive
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
15
history from the point of view of the victims
–
of all victims
–
[who] give their project a more
universal scope” (LÖWY, 2005, p. 153
, our
translation
).
For Löwy (2005
, p. 74, our translation
), “brushing history against the grain” has a double
meaning:
Historical: it is about going against the grain of the official version of history,
opposing the tradition of the oppressed. From this point
of view, the historical
continuity of the dominant classes is understood as a single and enormous
triumphal procession, occasionally interrupted by uprisings of subordinate
classes.
Political (current): redemption/revolution will not happen thanks to the
natural
course of things, the “sense of history”, inevitable progress. It will be
necessary to fight the current. Left to its own devices, or caressed in the furry
sense, history will only produce new wars, new catastrophes, new forms of
barbarism and oppr
ession.
Brushing history in the opposite direction means considering it from the point of view
of the vanquished, the excluded, the victims in general, as a counterpart, because if there is a
side to the coin called official history
–
conservative, however, there is another side of it called
history unofficial
–
transform
ative
.
It must be remembered that civil society demonstrations in opposition to the military
regime were intense from 1974 to 1978. Social discontent was not restricted
to what was
expressed, when possible, at the ballot box. There was a reorganization of the student movement
–
the invasion of the Pontifical Catholic University of São Paulo (PUC
-
SP) in 1977 had an
impact on the country
–
, the action of progressive sector
s of the Catholic Church, the action of
organizations such as the Order of Lawyers of Brazil (OAB
, Portuguese initials
) and the
Brazilian Press Association (ABI
, Portuguese initials
)
–
in favor of human rights, amnesty, the
end of torture and censorship
–
,
pressure from relatives of political prisoners and missing
persons, the mobilization of workers for a new unionism
–
the strike of metallurgists in São
Bernardo do Campo in ABC Paulista in 1978 had great general repercussions.
That's what the first song o
n the disc is about.
Clube da Esquina 2
,
from
1978,
Credo
(M. Nascimento/F. Brant):
(... um sabor de vidro e corte/ coração americano/ um sabor de vida e
morte/ à espera na fila imensa/ e o corpo negro se esqueceu/ estava em
San Vicente/ a cidade e suas luzes...). Caminhando pela noite de nossa
cidade/Acendendo a esperança e apagando a es
curidão/Vamos,
caminhando pelas ruas de nossa cidade/Viver derramando a juventude
pelos corações/Tenha fé no nosso povo que ele resiste/Tenha fé no
nosso povo que ele insiste/E acordar novo, forte, alegre, cheio de
paixão/Vamos, caminhando de mãos dadas co
m a alma nova/Viver
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
16
semeando a liberdade em cada coração/Tenha fé no nosso povo que ele
acorda/Tenha fé no nosso povo que ele assusta/Caminhando e vivendo
com a alma aberta/Aquecidos pelo sol que vem depois do temporal/
Vamos, companheiros pelas ruas de no
ssa cidade/Cantar semeando um
sonho que vai ter de ser real/Caminhemos pela noite com a esperança/
Caminhemos pela noite com a juventude
(... estava em San Vicente/a
cidade e suas luzes/estava em San Vicente/as mulheres e os
homens/coração americano...)
(
L
yrics of the song
Credo.
CLUBE DA
ESQUINA 2, 1978)
6
.
The song exposes the journey through the “night”, the dictatorship, but already
“kindling hope and erasing the darkness” towards democracy, even if the government does it
slowly and gradually, maintain
ing its repressive face. It takes “faith in the people”, resistant
and insistent for better/sunny days to “wake up young, strong, happy, full of passion”. And the
people “frighten” because they are united
–
“hand in hand with a new soul”. Living “sowing
fr
eedom in every heart” and with companions who are “warmed by the sun that comes after the
storm”.
The artists join the people when they say: “Let's go, fellows, through the streets of our
city/Singing sowing a dream that will have to come true”, and more:
“Let's walk through the
night with hope/Let's walk through the night with youth”, when reporting to the student
movement that returned to the streets. The generation of 1968 showed exactly this urge to
manifest itself in the public space. The street became
a place of clashes and barricades.
The song begins and ends with snippets of
San Vicente
,
song also by M. Nascimento
and F. Brant, from the album
Clube da Esquina
,
from
1972,
referring to the oppression that
occurred in other Latin American countries. It
presents
San Vicente
sung by several people as
in a Catholic procession and begins
Credo
(
belie
f
),
with the word “walking”, merging the two
tracks sonically and poetically.
The position of the censorship was contradictory. Submitted to the Federal Police's
Censorship and Public Entertainment Service
–
without incorporating, for that reason, the
mention of
San Vicente
–
Credo
aroused antagonistic opinions among the censors.
6
Free translation of the lyrics: (... a taste of glass and cut/American heart/a taste of life and death/ wai
ting in the
immense queue/and the black body forgot/it was in San Vicente/the city and its lights...). Walking through the
night of our city/Igniting hope and erasing the darkness/Let's go, walking through the streets of our city/To live
pouring youth thro
ugh hearts/ Have faith in our people that they resist/Have faith in our people that they insist/And
wake up anew, strong, happy, full of passion/Let's go, walking hand in hand with a new soul/Live sowing freedom
in every heart/Have faith in our people that
they wake up/Have faith in our people that they scare/Walking and
living with an open soul/ Warmed by the sun that comes after the storm/Let's go, companions through the streets
of our city/Singing sowing a dream that will have to be real/Let's walk throu
gh the night with hope/Let's walk
through the night with youth (... I was in San Vicente/the city and its lights/I was in San Vicente/the women and
men/American heart...)
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
17
On 9 June 1978, the lyrics were vetoed in full: “The verses are summed up as
a false alert or invitation to the people inciting them against the regime.
Therefore, I opt for the veto according to the article [...]”. Sent for review by
another censor on 13
of June the lyrics were not only released but also received
a complimentary opinion: “The lyrics under examination are a hymn of hope
and faith in walking towards the best, in a strong, joyful and decisive way,
sowing dreams and hopes in the passage. It do
es not seem to us, in any way,
to constitute an incitement against the current regime or any type of subversion
to the established order, so we suggest its release” (DINIZ, 2017, p.
203
-
204
,
our translation
).
The position of the author of the letter
–
F.
Brant
–
is critical of the regime:
In 1974, with the election of opposition parliamentarians, people regained a
little hope. But in 1977 came that April package from Geisel. We fell back
into the hole. The lyrics of “
Credo
” are also from 1977, a year in w
hich
Brazilian society started to move again, especially students. There were rallies
and protests across the country. Here in Belo Horizonte there was the 3rd ENE
(National Student Meeting). It was the political movement of the youth that
inspired me to w
rite the lyrics of
“
Credo
” (MATTOS, 2006, p.
73
, our
translation
).
The song
Clube da Esquina n.º 2
,
by M. Nascimento and Lô Borges, with lyrics by
Márcio Borges, mentions the streets and corners of Brazilian cities where youth clashed with
the
regime's military police repression bodies
.
Porque se chamava moço/Também se chamava estrada/Viagem de
ventania/Nem lembra se olhou pra trás/Ao primeiro passo, aço, aço,
aço.../Porque se chamavam homens/Também se chamavam sonhos/E sonhos
não
envelhecem/Em meio a tantos gases lacrimogêneos/Ficam calmos,
calmos, calmos.../E lá se vai mais um dia/E basta contar compasso/E basta
contar consigo/Que a chama não tem pavio/De tudo se faz canção/E o
coração na curva/De um rio, rio, rio, rio.../E lá se
vai mais um dia.../E o rio
de asfalto e gente/Entorna pelas ladeiras/Entope o meio
-
fio/Esquina mais de
um milhão/
Quero ver então a gente, gente, gente.../E lá se vai mais um dia
(
Lyrics of the song
Clube da Esquina nº 2.
CLUBE DA ESQUINA 2, 1978)
7
.
M. N
ascimento and L. Borges composed the instrumental theme
Clube da esquina n.º 2
for the record
Clube da esquina
,
from
1972.
The lyrics by M. Borges are from 1979. They were
written in spite of Milton and Lô, who only discovered that the instrumental music h
ad become
a song after it had been recorded by Nana Caymmi, who asked M. Borges to write the lyrics.
7
Free translation of the lyrics: Because they were called young man/They were also c
alled road/A windy trip/They
don't even remember if they looked back/At the first step, steel, steel, steel.../Because they were called men/They
were also called dreams/And dreams don't grow old/In in the midst of so many tear gases/Stay calm, calm,
calm..
./And there goes another day/And all you have to do is count the beats/And all you have to do is count on
yourself/That the flame has no wick/A song is made of everything/And the heart on the bend/Of a river, river,
river, river.../ And there goes another
day.../And the river of asphalt and people/ It spills over the slopes/ It clogs
the curb/ More than a million corners / So I want to see us, people, people.../ And there goes another day
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
18
This is the letter that Márcio Borges most liked to have written: “I think it's the best
done of all the almost two hundred I've written [...]. I think I w
as really possessed by something
then, because I wrote those lyrics in one sitting. It seems like she was always on my mind, all
the time” (MATTOS, 2006, p.
163
-
164
, our translation
).
She evokes the participation of young people in the 1968 demonstrations,
by
emphasizing that the struggle had not been in vain, so much so that she refers to the student
movement in Brazil in the same period and to what had been re
-
establishing itself at the time
when she wrote the lyrics. Márcio Borges had connections with th
e student movement and was
a friend of José Carlos da Mata Machado, former president of the National Union of Students
(UNE, Portuguese initials) and leader of the Marxist
-
Leninist Popular Action (APML,
Portuguese initials). He hosted him at his home and c
overed him on his journey from Rio de
Janeiro to São Paulo, while he was pursued by repression. In October 1973, José Carlos was
declared dead, with later clarification that he had been murdered under torture in the Internal
Operation Detachment (DOI, Port
uguese initials) and Internal Operations and Defense Center
(CODI, Portuguese initials) in Recife
-
PE (MARTINS, 2015; BORGES, 1996).
In these two songs, one can see the importance of the process of collective elaboration
of the country's past. Remembrance i
s collective and political, but it is by no means an official
commemoration, obligatory, organized with flags, parades or fanfares to remember a victory.
It establishes a living relationship with the past; awakens the past to save the future from the
stagn
ation of the present; it contains the latent meanings (the aspirations, the dreams, the spirit
of the time) that constitute the past, in a way that it restores not only the past as it would have
been, but the possibilities of the future that had been inscr
ibed in it
–
even if not
preformed
.
The concern to save the past in the present thanks to the perception of a
similarity that transforms them both: it transforms the past because it assumes
a new form, which could have disappeared into oblivion; transforms the
present because it reveals itse
lf as being the possible realization of that earlier
promise, which could have been lost forever, which could still be lost if we do
not discover it, inscribed in the lines of the current
(GAGNEBIN, 2012, p.
16
,
our translation
).
The stagnation of society
in the perpetual present of empty and homogeneous time
–
spectacular time
–
makes individuals in general passively accept the commemoration of the day
of the civil
-
military “revolution” of 1964, in order to preserve in the collective memory a “single
obse
rvation" from past. This can establish a legitimizing conception of time for thinking about
historical becoming independently of human action, which must be to rescue from oblivion
what could have made our history another history, to fight to remove from s
ilence a past that
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
19
history official does not tell. Hence the need to brush up on the history of Brazil against the
grain so that a living relationship with the past can be established, not just “remembering for
the sake of remembering”.
Only a democratic p
edagogy will allow society access to instruments of analysis of the
past to better clarify the present. The works of art by those who resisted the military dictatorship
are instruments of rational clarification about what happened, in order to avoid forget
ting: the
contents of the metaphors are made explicit
–
suffering and misery in an authoritarian regime.
With the possibility of returning to a dictatorship, a model seen as paradigmatic for the current
government, this need for clarification is essential,
which does not mean that it is omnipresent.
It is possible to verify the actuality (for Benjamin it means “to become an act of a
power”) (GAGNEBIN, 2008, p. 2) of the cultural production of
Clube da Esquina
in the 1970s
through its songs critical of the m
ilitary dictatorship, such as resistance to the active production
of social amnesia in Brazil.
The songs of
Clube da Esquina
presented this mark of the subjectivity of the composers
who, through metaphors, reached the reception of the public, in a sharing
of desires,
expectations and actions in order to make one reflect and seek means of transformation of the
authoritarian society and of consumption in which they lived. A critical stance.
The remembrance of the works of opponents of the military dictatorshi
p, such as the
cultural production of
Clube da Esquina
in the 1970s, can serve, from now on, as a basis for
resistance to the manifestations of the authorities regarding the return of acts practiced in that
regime.
Final considerations
We live under the empire of spectacular time, as a result of which historical awareness
and the memorable lose importance.
If, in modern society, on the one hand, time becomes irreversible, whose events are
unique, allow the memory of them by their transmi
ssion and, thus, give rise to the consciousness
of history and the memorable, on the other hand, becomes the time of mass production of goods,
time of things, of alienation, this being the loss of control over social life by those who produce
them.
In the
society of the contemporary spectacle, time is not only irreversible and for the
mass production of goods, but also for the production and accumulation of images that guide
social behavior towards their consumption. Time loses its qualitative character and
becomes
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
20
more and more only quantitative, which makes it impossible for individuals to build their own
lives. These have a “false awareness of time”, as they are expropriated from the production of
their own life, their history and their memory.
As mere sp
ectators of a “perpetual present”, with the emptying of historical knowledge
and collective memory, individuals are also prevented from reflecting on who they are and how
the owners of power
–
State/companies
–
act. These produce ideology about what suits
them,
and instances contrary to the maintenance of the status quo do not interest them and must be
eliminated, whether from the past or the present.
As for the military dictatorship in Brazil from 1964 to 1985, there is currently a social
amnesia with a
view to building an official history. Identified with the world's conservative and
reactionary wave, the government has manifested itself on the use of police force to repress
social demonstrations and censorship and persecution of its critics. The militar
y dictatorship is
even praised for one of its most nefarious deeds: torture.
In view of this, if there is now an attempt to produce an official history, emanating from
the State apparatus, about the period of the military dictatorship to legitimize the con
struction
of a new dictatorship, in a context of emptying the meaning of the past, it is necessary to its
immediate “counter
-
grain brushing”.
The critical concept of remembrance can be reformulated and rethought in relation to
the new historical conditions
of Brazilian society. There is a need to remember the cultural
productions in opposition to the military dictatorship, as a possibility of resistance to the active
production of social amnesia, typical of the spectacular time, in order to rule out the pos
sibility
that something similar to what happened will be repeated in the present. Historical awareness
and active social memory must be produced today.
In the critical songs of
Clube da Esquina
produced in the 1970s, the use of the memory
of the narrative
subject about repression and the victims of the military dictatorship became a
strategy to preserve the country's history. Even though criticism of the regime was under
censorship, avoiding forgetting what happened was an opportunity to contest what was be
ing
done, to think about the transformation of society and to project oneself into the future as a
historical document.
The members of
Clube da Esquina
, in the production of their songs, aimed to awaken
the historical awareness of their people about the po
ssibilities of transforming society, amid a
dictatorship, by being in tune with their disappointments and hopes.
The critical theory of society, through its dialectical method, seeks to understand the
present time with a view to overcoming its logic of dom
ination. The memory of the works of
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
21
the opponents of the military dictatorship from 1964 to 1985 in Brazil, therefore, can serve as
a basis for the resisters of the present, by rescuing the meaning of the struggles of the past for
the emancipation of the f
orm of domination in the current historical moment.
REFERENCES
ADORNO, T. W.
Educação e emancipação
. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2006.
AQUINO, J. E. F.
Reificação e linguagem em Guy Debord
. Fortaleza: EdUECE/Unifor,
2006a.
AQUINO, J. E. F.
Memória e consciência histórica
. Fortaleza: EdUECE, 2006b.
ARNS, P. E. (prefácio).
BRASIL
: Nunca Mais
. Petrópolis
,
RJ: Vozes, 1986.
BENJAMIN, W.
Magia e técnica, arte e política
: ensaios sobre literatura e história da
cultura. São Paulo:
Brasiliense, 2012.
BORGES, M. O Clube da Esquina.
In
: NAVES, S. C.; DUARTE, P. S. (
org
.)
Do samba
-
canção à tropicália
. Rio de Janeiro: Relume
-
Dumará, 2003
.
p.
167
-
176.
BORGES, M.
Os sonhos não envelhecem
:
Histórias do Clube da Esquina
. São Paulo:
Geração Editorial, 1996.
BOSI, E.
O tempo vivo da memória
. Ensaios de psicologia social. São Paulo: Ateliê
Editorial, 2003.
DEBORD, G.
A sociedade do espetáculo
. Comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio
de Janeiro: Contraponto, 1997.
DINIZ, S. C
.
“...De tudo que a gente sonhou”
: amigos e canções do Clube da Esquina. São
Paulo: Intermeios, Fapesp, 2017.
DREIFUSS, R. A.
1964
: a conquista do Estado. Ação política, poder e golpe de classe.
Petrópolis
,
RJ
: Vozes, 1981.
GAGNEBIN, J. M. Documentos da
cultura/documentos da barbárie.
Revista Ide (Psicanálise
e Cultura)
,
Sociedade Brasileira de Psicanálise,
São Paulo,
v. 31, n. 146, jun. 2008.
Available
:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101
-
31062008000100014
.
Access
: 29
Nov
. 2018.
GAGNEBIN, J. M.
Lembrar escrever esquecer
.
São Paulo: Editora 34, 2009.
GAGNEBIN, J. M. Walter Benjamin ou a história aberta.
In
: BENJAMIN, W.
Magia e
técnica, arte e política
: ensaios sobre literatura e história da cultura.
São Paulo: Brasiliense,
2012.
p.
7
-
19
.
image/svg+xml
Emerson Ike COAN
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
22
GAGNEBIN, J. M.
Limiar, aura e rememoração
. Ensaios sobre Walte
r Benjamin. São
Paulo: Editora 34, 2014.
GASPARI, E.
A ditadura encurralada
. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014.
IANNI, O.
A ditadura do grande capital
. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1981.
JAPPE, A.
Guy Debord
. Lisboa: Antígona, 2008.
LACERDA,
M.
Hotel Universo
–
a poética de Ronaldo Bastos. Rio de Janeiro: Azougue
Editorial/Oca Editorial, 2019.
LÖWY, M.
Walter Benjamin
: aviso de incêndio. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de
história”. São Paulo: Boitempo, 2005.
LUKÁCS, G.
História e consciência de classe
. Estudos sobre a dialética marxista. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
MACIEL, L.
Milagre dos peixes
.
São Paulo: Abril, 2012.
MARTINS, B. V.
Som Imaginário
:
a reinvenção da cidade nas canções do Clube da Esquina
.
Belo Hor
izonte: Editora UFMG, 2009.
MARTINS, F.
Quem foi que inventou o Brasil?
A música popular conta a história da
República. V. II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
MATOS, O. C. F.
Benjaminianas
.
Cultura capitalista e fetichismo contemporâneo. São
Paulo:
Editora UNESP, 2010.
MATTOS, P. C. V.
Palavras Musicais:
letras, processo de criação, visão de mundo de 4
compositores brasileiros (F. Brant, M. Borges, M. Antunes e C. Amaral). Entrevistas. Belo
Horizonte
,
2006.
NAVES, S. C.
Canção popular no Brasil
: a canção crítica. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2
010.
NASCIMENTO, M.
Clube da Esquina 2
. Gravadora: EMI
-
Odeon. Produção: Milton
Nascimento, Novelli, Ronaldo Bastos. Formatos: LP (1978), CD (1988), CD (2007).
Lançamento: 1978.
NASCIMENTO, M.
Minas
. Característica: vocal. Gravadora: EMI
-
Odeon. Produção:
Ronaldo Bastos. Formatos: LP (1975), CD (1995). Lançamento: 1975.
NASCIMENTO, M.
Milagre dos Peixes
. Característica: vocal e instrumental. Gravadora:
EMI
-
Odeon. Produção: Fernando Brant. Formatos: LP (1973), CD (1995). Lançamento:
1973.
NASCIMENTO, M.; B
ORGES, L.
Clube da Esquina
. Gravadora: EMI
-
Odeon/Universal
Music. Produção: Milton Miranda e Lindolpho Gaya. Formatos: LP (1972), CD (1989), CD
(2007). Lançamento: 1972. Tempo: 64’22”.
image/svg+xml
The contemporaneity of
C
lube da
E
squina’s critical songs of the military dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
, e0220
30
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
23
OLIVEIRA, F.
Crítica à razão dualista
: o ornitorrinco
.
São
Paulo: Boitempo, 2013.
PIOVESAN, F. Direito internacional dos direitos humanos e lei de anistia: o caso brasileiro.
In
: TELES, E.
;
SAFATLE, V. (
org
.).
O que resta da ditadura
: a exceção brasileira. São
Paulo: Boitempo, 2010
.
p.
91
-
107.
REGINA, E.
Elis
. C
aracterística: vocal. Gravadora: Phonogram/Philips. Produção: Cesar
Camargo Mariano. Formatos: LP (1977), CD (1993), CD (1998). Lançamento: 1977.
SEVERIANO, J.
;
MELLO, Z. H.
A canção no tempo
: 85 anos de músicas brasileiras.
v
. 2:
1958
-
1985. São Paulo: Ed
itora 34, 1998.
WISNIK, J. M.
Sem receita
. Ensaios e canções.
São Paulo: Publifolha, 2004.
How to reference this article
COAN, Emerson Ike
.
The contemporaneity of Clube da Esquina’s
critical songs of the military
dictatorship:
Spectacular
time, remembrance and resistance
.
Estudos de Sociologia
,
Araraquara, v. 27, n.
00
,
e022030
,
2022. e
-
ISSN: 2358
-
4238. DOI:
https://
doi.org/10.52780/res.v27i00.14267
Submitted
:
17/05/2022
Required revisions
:
15/06/2022
Approved
:
20/07/2022
Published
:
21/12/2022
Processing and publication by the Editora Ibero
-
Americana
de Educação.
Correction, formatting, standardization and translation.