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Interfaces entre Max
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Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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, n.
00
,
e022029
,
2022
.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15216
1
INTERFACES ENTRE MAX WEBER E PIERRE BOURDIEU NA ANÁLISE DE
CLASSES
INTERFACES ENTRE MAX WEBER Y PIERRE BOURDIEU EN EL ANÁLISIS DE
CLASES
INTERFACES BETWEEN MAX WEBER AND PIERRE BOURDIEU
in class analysis
Vitor Matheus Oliveira de
MENEZES
1
RESUMO
: Este artigo aborda as proximidades e discordâncias entre Max Weber e Pierre
Bourdieu na análise de classes. Para isso, são discutidos quatro temas: a contribuição weberiana
sobre os tipos de estratificação social,
notadamente classe e status; a análise de classes presente
n’
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
, com foco no aprendizado de disposições
afinadas ao capitalismo competitivo; a proposta bourdieusiana sobre as posições de classe,
decorrentes de p
rocedimentos expressivos e do acesso diferencial às espécies de capital; e a
incorporação dos
habitus
a partir das experiências de socialização.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Classe. Socialização. Max Weber. Pierre Bourdieu.
RESÚMEN
:
Este artículo aborda las
proximidades y desacuerdos entre Max Weber y Pierre
Bourdieu en el análisis de clases. Para ello, se discuten cuatro temas: la contribución
weberiana sobre los tipos de estratificación social, en particular la clase y el estatus; el análisis
de clase pres
ente en La Ética Protestante y el Espíritu del Capitalismo, centrado en el
aprendizaje de las disposiciones en consonancia con el capitalismo competitivo; la propuesta
bourdieusiana sobre las posiciones de clase, derivadas de los procedimientos expresivos
y del
acceso diferencial a las especies de capital; y la incorporación del habitus a partir de las
experiencias de socialización.
PALABRAS CLAVE
:
Clase. Socialización. Max Weber.
Pierre Bourdieu.
ABSTRACT
: This article focuses on similarities and disagr
eements between Max Weber and
Pierre Bourdieu in class analysis. For this, four themes are discussed: the Weberian
contribution regarding types of social stratification, notably class and status; the class analysis
presented in The Protestant Ethic and the
Spirit of Capitalism, focusing on dispositions related
to competitive capitalism; the Bourdieusian proposal on class positions, resulting from
expressive procedures and differential access to capital species; and the incorporation of
habitus based on soci
alization experiences.
KEYWORDS
:
Class. Socialization. Max Weber.
Pierre Bourdieu.
1
Universidade de São Paulo (USP)
,
São Paulo
–
SP
–
Brasil.
Doutor em Sociologia
,
Programa de Pós
-
Graduação
em Sociologia (PPGS).
ORCID:
https://
orcid.org/0000
-
0002
-
3076
-
0815
.
E
-
mail:
vitormenezes@usp.br
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Vitor Matheus Oliveira de MENEZES
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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2
Introdução
A análise de classes constitui um dos pilares da Sociologia, que se dedicou a discutir,
desde meados do século XIX, as relações de poder nas sociedades modern
as. Este artigo aborda
as contribuições de dois dos autores mais importantes do campo, Max Weber e Pierre Bourdieu,
salientando as interfaces implícitas e explícitas entre suas obras.
Sem dúvidas, a influência de Weber se manifesta em diversos escritos bo
urdieusianos.
Benson (2006) afirma, por exemplo, que o ponto de partida para o conceito de campo foi o
entendimento, originalmente weberiano, de que a modernidade seria responsável por
diferenciar as sociedades em esferas de ação especializadas e parcialme
nte autônomas.
Contudo, se os escritos weberianos sobre personalidade e ordenamento da vida serviram de
inspiração, o autor francês analisou as formas de comportamento que poderiam se consolidar
sem “interações reais”, o que o distanciou do individualismo
metodológico (BOURDIEU;
SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011). Decerto, a postura de Bourdieu é semelhante quando
reportada à análise de classes. A sociologia que se convencionou chamar de “disposicionalista”
defendeu pressupostos básicos de Weber para, a partir de m
udanças e acréscimos, “restituir às
análises weberianas toda a sua força e alcance” (BOURDIEU, 2007b, p.
15).
Autores como Joppke (1986), Henry (2005) e Weininger (2005) afirmam que Bourdieu
integrou os conceitos weberianos de classe e status em um mesmo
construto teórico.
Retomaremos o assunto mais adiante, mas surpreende que outros aspectos, talvez até mais
significativos, tenham recebido pouca atenção da literatura acadêmica, como a análise de
classes presente
em
A Ética Protestante
e o Espírito do Capi
talismo
e a sua influência no
pensamento bourdieusiano. O mesmo pode ser dito sobre o caráter estratificado das disposições
individuais e o estudo das práticas de socialização. Sendo assim, almejo preencher uma lacuna
oportunamente apontada por Sell (2016)
, comparando, no interior de um tema circunscrito, as
contribuições de Weber e Bourdieu para as investigações sobre estratificação social.
Este artigo se divide em mais quatro seções. Na primeira, apresento as contribuições
weberianas que são comumente ev
ocadas em estudos sobre classes, para na segunda, discutir
elementos
de
A Ética
que adensam o tema. Já na terceira, introduzo o mapeamento das posições
de classe em Bourdieu, esforço complementado por uma quarta seção, que reflete o aprendizado
de disposições por meio da socialização continuada.
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3
Classe e status em Max Weber
Traduzindo as relações de poder em individualidades históricas específicas, os conceitos
de classe e status expressam o acesso diferencial a recursos e oportunidades em sociedades
estratificadas (WEBER, 1982)
2
. A classe, constitutiva da ordem econômica, d
iz respeito à
forma com que bens são produzidos e apropriados a partir de posições específicas no mercado.
Já o status se refere ao acesso a recursos imateriais, tais como estima e prestígio, em um sistema
de hierarquias simbólicas. Os estamentos assim pro
duzidos, que compõem a ordem social,
decorrem dos princípios de consumo de bens, gestando estilos de vida diferenciados (WEBER,
1982).
Para se caracterizar um grupo enquanto uma classe, são necessárias três condições
especiais: os indivíduos compartilham u
m elemento causal em suas oportunidades de vida; este
elemento é definido exclusivamente pela renda e propriedade; e advém das condições do
mercado, de produtos ou de trabalho. O cruzamento entre esses pontos produz uma situação de
classe, “oportunidade tí
pica de uma oferta de bens, de condições de vida exteriores e
experiências pessoais de vida” (WEBER, 1982, p.
212).
As condições de vida e as experiências pessoais sintetizam o antagonismo entre a
propriedade e a não
-
propriedade. Sobre o assunto, o autor
confere importância ao tipo de
propriedade a ser utilizado para o lucro e os tipos de serviços que podem ser oferecidos no
mercado competitivo. Além de possibilitar a identificação de uma situação de classe, esses
componentes caracterizam o sentido conferi
do ao uso da propriedade, o que distingue, por
exemplo, os proprietários arrendatários dos proprietários empresários (WEBER, 2012).
Enquanto o binômio propriedade/não
-
propriedade volta
-
se às posições assumidas pelos
indivíduos no mercado, o termo “classe s
ocial” contempla o caráter mutável da vida econômica,
abarcando as situações de classe nas quais a mudança pessoal, bem como na sucessão entre
gerações, é “facilmente possível e costuma ocorrer tipicamente” (WEBER, 2012, p.
199).
Então, teríamos classes so
ciais em quatro tipos de situação de classe: nos trabalhadores em
geral, e de maneira mais intensa com a automatização do processo de trabalho; na pequena
burguesia; nos intelectuais não
-
proprietários e em especialistas profissionais; e nas classes dos
pro
prietários e “privilegiados por educação”.
Entretanto, uma classe não corresponde necessariamente a uma comunidade definida e
pautada por relações de pertencimento. Para Weber (1982), as classes, enquanto dimensões
2
Sell (2016) afirma que a primeira contribuição weberiana sobre o assunto incluiu o “partido”, o que foi
modificado em texto posterior, que integrou a coletânea
Economia e Sociedade
(WEBER, 2012). Por esse motivo,
me atenho apenas aos conceitos de classe e
status.
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efetivas de motivação para a ação
represe
ntam algo a ser produzido, não definido a priori, já
que a “criação” das classes depende de interesses econômicos voltados à existência do mercado.
O interesse de classe é uma direção de interesses que se desenvolve com certa probabilidade
para uma média d
e pessoas submetidas à mesma situação de classe. Para que ocorram ações
comunitárias correspondentes, é preciso que as condições culturais gerais, principalmente de
tipo intelectual, sejam capazes de criar categorias com relativa importância para a orienta
ção e
motivação das ações. Em complemento, os contrastes entre as classes devem se tornar mais ou
menos visíveis, revelando o vínculo entre causas e consequências da situação de classe. Esse
vínculo, percebido e operacionalizado por indivíduos e grupos, es
vazia a absolutização da
ordem econômica, convertendo
-
a em algo passível de apreciação e mudança histórica.
Já os estamentos constituem comunidades em si, embora frequentemente do tipo
amorfo, associados a “todo componente típico do destino dos homens, det
erminado por uma
estimativa específica, positiva ou negativa, da honraria” (WEBER, 1982, p.
218). Se a situação
de classe advém da disputa em dada ordem econômica, condicionada à posse de certos recursos,
o status deriva do pertencimento a um grupo ou círc
ulo social que institui, a partir de diferenças
percebidas, determinada posição em uma hierarquia simbólica.
Comumente, a honra estamental se estabelece em um terreno diverso à posse no
mercado competitivo. Embora os monopólios materiais proporcionem moti
vos para a
categorização estamental, eles não são suficientes por si. Isto posto, é esperado um estilo de
vida específico a todos que desejam pertencer a um círculo social, estando o desenvolvimento
do estamento atrelado à experimentação da ordem social co
mo algo “vivido” (WEBER, 1982,
p.
218). Vê
-
se que a honra estamental se associa a valores que extrapolam a situação de
mercado, incutindo a necessidade de símbolos distintivos como gostos, vestimentas,
características da habitação, etiqueta e rede de amiza
des.
Os trechos acima permitem antever que classe e status
não existem na realidade
empírica, mas representam tipos ideais, ou seja, modelos abstratos que integram um quadro
homogêneo de pensamento.
Os tipos ideais são obtidos
através da seleção e acentuaç
ão
unilateral das dimensões entendidas como significativas em um fenômeno. O seu propósito é
conectar e organizar fenômenos empiricamente difusos, isolados e ambíguos, revelando
-
se útil
à pesquisa sociológica na medida em que serve de referência comparativ
a aos dados empíricos.
Para Weber (2003
, p. 105
-
106
):
Oferece
-
nos um quadro ideal dos eventos no mercado dos bens de consumo,
no caso de uma sociedade organizada segundo o princípio da troca, da
concorrência livre e de uma ação estritamente racional [...]
. Pelo seu conteúdo,
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essa construção reveste
-
se do caráter de uma utopia, obtida mediante a
acentuação mental de determinados elementos da realidade [...]. Embora não
constitua uma exposição da realidade, pretende conferir a ela meios
expressivos unívocos.
É, portanto, a “ideia” da organização moderna e
historicamente dada da sociedade numa economia de mercado [...]. Não é pelo
estabelecimento de uma média dos princípios econômicos que realmente
existiram em todas as cidades examinadas, mas antes, pela cons
trução de um
tipo ideal, que nesse último caso se forma o conceito de “economia urbana”.
A classe constitui uma “ideia” sobre a distribuição de poder. Porém, os casos concretos
evidenciam a interface entre os dois tipos de estratificação, quando o “lugar”
ocupado pelo
indivíduo no mercado corresponde a um certo grau de prestígio e um “modo de vida”. Weber
(1982) exemplifica a partir da categorização do espaço urbano nos Estados Unidos, em um
contexto de “democracia tradicional”. Apenas moradores de determi
nadas áreas seriam
considerados membros plenos da sociedade, qualificados ao relacionamento cotidiano. Nesse
caso, existe uma convergência entre status e situação de classe, na medida em que o uso
diferenciado do espaço urbano decorre do acesso à moradia e
nquanto uma mercadoria,
submetida à “guerra de preços”. “De longe”, a situação de classe é o fator predominante para a
expressão dos estilos de vida esperados em um estamento, já que esses estilos são
economicamente condicionados
3
(
WEBER, 1982).
As ideias
acima embasaram boa parte dos estudos neoweberianos sobre classes. Em
particular, Goldhtorpe (2012) e Chan e Goldthorpe (2007) partiram dos conceitos de classe e
status para afirmar que a desigualdade é um fenômeno bidimensional. De um lado, as classes
tr
aduzem as posições dos indivíduos no mercado de trabalho, considerando as relações
empregatícias em uma estrutura ocupacional, que condicionam os comportamentos individuais
e as “escolhas de vida”. De outro, o status se manifesta através dos vínculos amica
is, traduzindo
as percepções de proximidade e distanciamento em um sistema de hierarquias simbólicas.
É
,
de certa forma
,
um procedimento comum recorrer a essas referências para dar conta
das contribuições de Weber sobre a estratificação social. Mas uma de
suas análises mais
robustas se encontra
em
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
, que ainda assim,
encontra pouco eco nesse campo de estudos.
3
Para Weber (2003), os fenômenos econômicos estão associados à satisfação de necessidades através da utilização
de recursos limitados. Já os fenômenos economicamente relevantes
apresentam, sob determinadas circunstâncias,
um significado econômico
, muito embora não sejam representativos dos atos conscientes voltados para fins
econômicos. Finalmente, os fenômenos economicamente condicionados são em certo grau determinados ou
influenciados por fenômenos econômicos, tal como acontece na distribuição d
o gosto artístico, que decorre da
composição social do público apreciador.
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A análise de classes
em
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
Em
A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo
, Weber (2004) destaca um fato
histórico que era facilmente observável: a maior presença de protestantes nos estratos
proprietários de capital, bem como em camadas superiores da mão de obra qualificada. O autor
explic
ou o fenômeno a partir das propensões para ver e agir que diferenciam as doutrinas
religiosas. Os protestantes, com “uma inclinação específica para o racionalismo econômico”,
eram dotados de disposições ajustadas ao mercado competitivo (WEBER, 2004, p.
33)
.
Contudo, a adequação entre a forma econômica capitalista e o seu “espírito” (a condução
diária da vida pelos agentes, com base na ascese intramundana) não decorre de uma lei
universal. A essa adequação, Weber (2004) dá o nome de afinidade eletiva
,
atrav
és da qual o
protestantismo e a empresa capitalista se reforçaram mutuamente, o primeiro como forma e a
segunda como força motriz
4
. Sendo uma “prova” da autenticidade da fé humana, o trabalho
metódico e incansável foi valorizado pelas novas doutrinas, sub
linhando a influência dos grupos
sociais sobre o comportamento econômico (DENHARDT; JEFFRESS, 1971). Os dois polos do
binômio propriedade (detentores de posses e bens de capital) e não
-
propriedade (expropriados
dos meios de produção) assumiram o exercício
do trabalho como uma “missão” a ser cumprida
na terra, a partir da ideia de vocação profissional.
Mas para que fosse amplamente difundida, a ética capitalista precisou se sobrepor a
alguns obstáculos, em especial ao tradicionalismo. Foi necessário um
gesin
nung
ao trabalho
que emancipasse os indivíduos dos padrões de vida costumeiros, guiados por cálculos de
mínimo esforço. Na versão de língua inglesa, Talcott Parsons traduziu
gesinnung
para
attitude
ou
frame of mind
, enquanto na versão francesa, Isabelle Ka
linowski optou por
disposition
.
Termo similar (
disposição
) foi utilizado por José Mariani de Macedo na edição brasileira
organizada por Antônio Flávio Pierucci.
Swedberg (2005) reconhece a pluralidade semântica que
gesinnung
assume em estudos
neoweberiano
s, ainda que com certa unidade de pensamento, ao evocar os estilos de vida, os
ethos
e as mentalidades que seriam típicas das empresas religiosas. Grossein (1999) partiu de
entendimento semelhante, ao afirmar que
gesinnung
se dirige, no texto original, às
inclinações
e lógicas internas da ação econômica. A emergência de um
gesinnung
ajustado ao mercado
competitivo não seria possível através de uma ação externa, como o aumento de salários, e sim
como resultado de um processo educativo. Foi isso que permitiu
a “apropriação subjetiva da
4
Portanto, o papel da Reforma Protestante não deve ser compreendido como uma “causa necessária” na gênese
do capitalismo, mas como um elemento atuante em uma “constelação histórica
” (
WEBER
, 2004).
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religiosidade ascética por parte do indivíduo”, talhando uma nova “conduta de vida” (WEBER,
2004, p.
137). A superação da rotina tradicionalista pela educação religiosa, um fenômeno
economicamente relevante e que é transversal à
s classes, constitui o problema central d
e
A
Ética
.
Como exemplo, Weber (2004) confronta o comportamento das operárias pietistas com
as ditas tradicionais. Ao contrário dessas últimas, as operárias pietistas apresentavam
“sobriedade, espírito de poupança e
domínio de si”, características que aumentavam a
produtividade do trabalho (WEBER, 2004, p.
56). Vale notar que a educação religiosa não
propiciava uma mobilidade socioeconômica ascendente, mas por outro lado, um aprendizado
de classe, interno ao próprio
operariado, garantia o cumprimento das demandas submetidas à
mão de obra fabril. Já o empresariado capitalista passou a enxergar, também como resultado de
um processo educativo, o lucro como algo não condenável e passível de persecução.
Se a racionalidade
econômica atravessava as classes, apontando para convergências da
educação religiosa, também se manifestava como um fenômeno socialmente estratificado. Os
portadores das disposições modernas foram, sobretudo, os representantes da classe média
ascendente i
ndustrial, por alguns motivos especiais: afastados do patriciado mercantil, que
possuía fortunas familiares acumuladas por gerações, os “novos ricos” eram agentes que não se
beneficiavam das imposições tradicionais à ação econômica. Por outro lado, a class
e média
ascendente diferia dos operários devido à situação de classe, pois desfrutavam de propriedades
e bens de capital. Ainda que as disposições afinadas ao espírito capitalista tenham se
manifestado posteriormente em outros grupos, foi a classe média as
cendente o estrato capaz de
impulsionar uma nova ordem econômica, tanto em sua forma, a partir de investimentos
materiais, quanto em seu conteúdo, com base em uma racionalidade instrumental (WEBER,
2004).
Ao discorrer sobre os empresários
capitalistas, Weber (2004, p.
63) afirma que esse
grupo não correspondia aos “ricaços de aparência mais óbvia ou refinada”, já que se opunha “à
ostentação e à despesa inútil [...] e sente
-
se antes incomodado com os sinais externos da
deferência social que
desfruta”. De caráter utilitarista, o ordenamento da vida focava no
comportamento economicamente interessado, que garantia retorno financeiro e investimento de
capital. Um tipo ideal que se opunha ao estamento, baseado em estilos de vida e recursos
distint
ivos, produtores de estima. Cabe afirmar que esses empresários eram os portadores de
um padrão historicamente novo de estratificação, extrapolando uma conduta individual
específica e marcando a cisão entre a sociedade moderna e o tradicionalismo feudal.
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E
m outra passagem, Weber (2004
, p. 161
) afirma:
Surgira um
ethos
profissional especificamente burguês. Com a consciência de
estar na plena graça de Deus e ser por ele visivelmente abençoado, o
empresário burguês, com a condição de manter
-
se dentro dos limi
tes da
correção formal, de ter sua conduta moral irrepreensível e de não fazer de sua
riqueza um uso escandaloso, podia perseguir os seus interesses de lucro e
devia fazê
-
lo. O poder da ascese religiosa, além disso, punha à disposição
trabalhadores sóbrios
, conscienciosos, extraordinariamente eficientes e
aferrados ao trabalho como se finalidade de sua vida, querida por Deus.
Economicamente condicionadas, as “experiências pessoais de vida” configuraram o
exercício da doutrina protestante em diferentes clas
ses. Separados entre proprietários e não
proprietários, detentores de capital e vendedores da força de trabalho, os indivíduos
expressavam a fé a partir da situação de classe. De um lado, a adoção de disposições modernas,
associadas à racionalidade instrum
ental, permitiu a libertação da busca pelo lucro como algo
digno e eticamente coroado. De outro, o trabalho disciplinado, como um fim a ser perseguido,
subsidiou a formação de uma mão de obra “disposta” a assumir formas de ver e agir condizentes
com o capi
talismo moderno.
Todavia, os meios de incorporação do
gesinnung
foram apenas sugeridos. Weber (1982,
p.
309) afirma que a “ética econômica refere
-
se aos impulsos práticos de ação que se encontram
nos contextos psicológicos e pragmáticos das religiões”. Com
efeito, Kemper (1968) diz que a
ética protestante, como um sistema de valores baseado no individualismo, no ascetismo e na
racionalidade, se perpetuou através do comprometimento dos indivíduos com a busca pela
salvação. É coerente apontar que a socio
-
psic
ologia d
e
A Ética
se concentra na dimensão
cognitiva do comportamento, já que a personalidade e a condução da vida são moldadas pelas
visões “totais” de mundo (SPENCER, 1979). Ao discutir a influência dessas visões nas
motivações e estímulos pessoais,
A Ét
ica
não apresentou uma teoria mais sistemática sobre a
socialização, ainda que Weber tenha tocado no assunto em outros escritos
5
. A adoção do
comportamento ascético decorre da legitimidade das novas doutrinas religiosas, detentoras do
monopólio da salvaçã
o, o que garantiu o engajamento dos indivíduos às suas orientações
normativas.
Se, em Weber, podemos falar de uma “socialização ética” (BARBALET, 2008),
responsável por disseminar padrões de comportamento ajustados ao funcionamento do mercado
competitivo,
esse tipo de socialização é mais anunciado do que analisado. O processo educativo,
5
Como, por exemplo, quando Weber (2012, p.
141) reconhece que a dominação exercida pela família e pela escola
propicia a “formação do caráter dos jovens”, para além da circulação de bens culturais.
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que reforça e justifica o espírito capitalista em diferentes posições de classe, permaneceu
distante de uma instrumentalização empírica. Antes, já era possível pontuar os di
álogos entre
Weber e a denominada “sociologia disposicionalista”, mas aqui, as semelhanças e diferenças
saltam aos olhos.
Para avançar nessa agenda investigativa, a próxima seção discute como em Pierre
Bourdieu as posições de classe são produzidas, e logo
após, como ocorre a introjeção das
disposições para ver e agir no mundo. As interfaces entre as duas abordagens serão apresentadas
de maneira gradativa no decurso do texto.
A “criação” de classes em Pierre Bourdieu
Segundo Bourdieu (2011), cada indivíduo ocupa uma “posição” na vida em sociedade,
responsável por determinar suas preferências e padrões de comportamento. Essas posições
embasam a disputa por recursos escassos, c
ondicionando o usufruto de bens materiais e
reconhe
cimento
(BOURDIEU, 2007a).
A posição ocupada por um indivíduo ou grupo advém do acesso às espécies de capital,
material e incorporado, que circulam e são apropriadas em contextos particulares. Nas
socieda
des capitalistas desenvolvidas, as posições decorrem especialmente de duas espécies de
capit
al (BOURDIEU, 2001): o capital econômico, materializado e definido pela posse de
riquezas e pertences; e o capital cultural, relativo ao conhecimento incorporado e
à formação
com validade institucional. A essas espécies, soma
-
se o capital social, com menor peso relativo,
que diz respeito às relações sociais capazes de garantir o acesso a oportunidades, influência e
estima.
As espécies de capital conferem aos indivíd
uos a capacidade de exercer poder em
determinados campos. Sobre este conceito, o autor oscila entre um sentido mais amplo e um
sentido mais restrito. Segundo Peters (2006), o campo representa, no primeiro caso, um espaço
social abrangente, como um espaço d
e classes. Já no segundo, o conceito retrata um campo
especializado de práticas, em um “jogo” definido pela capacidade dos indivíduos se apoderarem
de recursos materiais e imateriais.
Para além da configuração momentânea dos campos, o autor inclui em seu
modelo um
olhar diacrônico, a partir do que denomina “efeito de trajetória”. Quando um indivíduo ocupa
um lugar no espaço social, não necessariamente permanece nele com o passar do tempo. É
comum que ele percorra diferentes posições, sintetizando as mudanç
as nos padrões de
comportamento e no acesso aos capitais (BOURDIEU, 2011; 2007a). Ocasionalmente, as
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Vitor Matheus Oliveira de MENEZES
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
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, 2022.
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trajetórias se manifestam enquanto experiências coletivas, quando uma fração da classe “está
destinada a desviar
-
se em relação à trajetória mais frequente
para a classe no seu todo”, se
desclassificando “pelo alto ou por baixo” (BOURDIEU, 2007, p.
104). Mas as trajetórias não
dependem inteiramente da vontade pessoal. A posição de origem já determina quais caminhos
são possíveis, definindo as possibilidades q
ue se “oferecem objetivamente” aos indivíduos.
A esse aspecto objetivo, que institui as classes enquanto componentes da realidade, o
autor inclui outro, de caráter simbólico, que visa dar conta dos processos de classificação e
reclassificação que “fabricam
” os grupos
. Bourdieu (2013; 2007a) defende
que as posições
sociais não são apenas reflexo de indicadores como renda e escolaridade, mas também se
associam a atos de linguagem, responsáveis por definir as práticas sociais relevantes e as
fronteiras entre o
s grupos. Por esse motivo,
Wacquant (2013, p.
96)
afirma que uma das
principais inovações da análise bourdieusina
foi o questionamento do “status ontológico dos
grupos”, considerado os esquemas práticos e de apreciação que são compartilhados na vida
cotidiana.
Em suma, as posições no espaço social são dotadas de significado a partir de categorias
que distinguem indiv
íduos e grupos. As diferenças no acesso a bens, serviços e poderes,
percebidas através dessas categorias, convertem
-
se em diferenças simbólicas e passam a
compor uma linguagem específ
ica (BOURDIEU, 2013). A ideia principal é que o indivíduo,
por estar em u
m espaço social, não pode ser indiferente. Cada pessoa é dotada de representações
que lhe permitem estabelecer juízos de valor. Uma diferença só se torna uma diferença
socialmente “pertinente”, ou poderíamos dizer, reconhecida e eficaz, quando é percebida
por
um agente ou grupo dotado da capacidade de converter, com base em um esquema
classificatório, a diferença observável em uma distinção significante (BOURDIEU, 2007a).
Os indivíduos que ocupam o mesmo lugar no espaço social, embora não passem
necessaria
mente pelas mesmas experiências, apresentam maior probabilidade de compartilhar
situações cotidianas do que indivíduos “distantes” (BOURDIEU, 2013). Ao assumir uma
posição social, um indivíduo passa a ser submetido a experiências sociais particulares,
comp
artilhadas parcialmente por agentes “próximos”. É isso o que permite ao conhecimento
sociológico traçar classes teóricas “tão homogêneas quanto possível”, ainda que não condigam
com classes “atuais” ou “reais”, como grupos efetivamente mobilizados e unific
ados por
interesses (BOURDIEU, 2011, p.
24). O conhecimento das posições justapostas em um espaço
social permite o recorte analítico das classes em seu sentido “lógico”, representadas por agentes
em posições idênticas ou próximas e que, submetidos a condiç
ões similares, propendem a
desempenhar práticas e “tomadas de posição” semelhantes (BOURDIEU, 2011).
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Em outras palavras, as classes explicativas são classes “prováveis”, reunindo indivíduos
que compartilham experiências sociais cotidianas, mais sujeitos p
ortanto a endossar projetos
comuns de mobilização (BOURDIEU, 1989; 2011). Deve
-
se notar que a proximidade no espaço
social não desemboca de maneira imediata na unidade de indivíduos. A passagem do teórico e
provável para o real e concreto, “algo que se tra
ta de fazer”, decorre da circulação de um
conjunto de recursos simbólicos, produzindo percepções de pertencimento a uma posição social
e de distinção para com outros agentes “distantes” (BOURDIEU, 2011). Como resume Bottero
(2004), a proposta de Bourdieu é
fundamentalmente relacional, já que uma classe, seguindo a
“lógica da distinção”, sempre é definida a partir da sua posição frente a outras.
Não é segredo que Bourdieu se inspirou fortemente nos escritos weberianos. Como
aponta o autor francês, a posição
ocupada no espaço social confere ao agente um conjunto de
propriedades intrínsecas (próprias da posição, associadas às condições de existência) e
relacionais (relativas a outras posições) (BOURDIEU, 1989). Essa dualidade já havia sido
apontada anteriorment
e por Weber, segundo o qual, a condição de camponês poderia ser
definida tanto por elementos inerentes ao trabalho com a terra quanto pela posição em relação
a outros grupos sociais (BOURDIEU, 2007b). Na realidade empírica, o primeiro elemento (as
propried
ades da situação de classe) se relaciona intimamente com o segundo (as propriedades
da posição de classe), cabendo ao sociólogo isolá
-
los por um esforço de abstração.
Bourdieu (2007b, p.
14, grifos no original) também pondera que Weber “opõe a classe
e o
grupo de
status
como dois tipos de unidades
reais
que se confundiriam de modo mais ou
menos frequente”, a depender do grau de autonomização da ordem econômica em uma
sociedade. Em contrapartida, Bourdieu propõe que classe e status são unidades nominais,
de
pendendo da acentuação do aspecto econômico (classes) ou simbólico (status) nas relações
humanas. A ordem social é apenas relativamente autônoma, já que exprime as diferenças
econômicas a partir de uma lógica própria, transmutando os bens em signos e as aç
ões
econômicas em atos comunicativos (BOURDIEU, 2007b). Isso faz com que as diferenças
observáveis sejam convertidas em distinções significantes, fenômeno que o autor chama de
“duplicação expressiva”.
Bourdieu (2007b) incluiu esses procedimentos expressiv
os na análise de classes. O
principal motivo dessa inclusão é o fato de que a autonomização da ordem econômica, baseada
na produção e aquisição de bens, nunca ocorre de maneira completa, mesmo nos países
capitalistas desenvolvidos. Mas nem todos os indivíd
uos estão aptos a participar dos
procedimentos expressivos, pois “o jogo das distinções simbólicas se realiza [...] no interior dos
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limites estreitos definidos pelas coerções econômicas”, o que faz com que a distinção se
desenrole como um “jogo de privileg
iados” (BOURDIEU, 2007b, p.
25).
Os conceitos de classe e status
subsidiaram boa parte do debate sobre as interfaces entre
Weber e Bourdieu na análise de classes (JOPPKE, 1986; HENRY, 2005; WEININGER, 2005).
Archer e Orr (2011, p.
109) são assertivos ao a
firmar que Bourdieu promoveu uma
“reconceituação” do modelo weberiano, “colapsando” a fronteira entre classe e status. Por
conseguinte, a dimensão material (efeitos da ordem econômica sobre as chances de vida) e a
dimensão simbólica da vida em sociedade (p
ercepção, valoração e agência sobre as posições
sociais) passaram a compor um único modelo teórico.
Ainda que a proposição bourdieusiana tenha sido bem
-
sucedida e bastante referenciada,
o diagnóstico sobre Weber apresenta uma falha importante. Defendi no p
rimeiro tópico que
classe e status não constituem unidades reais, como apontado por Bourdieu, mas sim tipos
ideais, que nunca se realizam plenamente na realidade empírica. Como qualquer tipo ideal, o
seu objetivo é essencialmente analítico, maximizando os
aspectos entendidos como
significativos para a compreensão de um fenômeno (no caso, os princípios de estratificação em
certas individualidades históricas). Enquanto
Bourdieu se dedicou à “acentuação” dos aspectos
materiais e simbólicos por meio de atos de
linguagem, Weber propôs uma “acentuação mental”
por parte do pesquisador, ao elaborar tipos homogêneos e simplificados que possuem alto poder
explicativo. Em vez de ter promovido uma “reconceituação” de Weber (ARCHER; ORR,
2011), Bourdieu realizou uma guin
ada metodológica, se afastando de um modelo puro de
estratificação para, a partir da análise indutiva, discutir a divisão de classes na sociedade
francesa.
Classes, disposições e socialização do
habitus
Em diversas passagens, Bourdieu critica escolas t
eóricas que seriam incapazes de
compreender acuradamente os fenômenos sociais. Suas críticas apontam para uma nova teoria
da socialização, baseada no aprendizado de disposições e no comportamento pré
-
reflexivo.
O objetivismo considera a
“estrutura” como algo já dado, de maneira dissociada da
história dos indivíduos e grupos (BOURDIEU, 2013). Isso obscurece as práticas que
reproduzem e atualizam as propriedades de um campo, cabendo ao agente apenas um papel de
suporte (BOURDIEU, 1989). Já
para o subjetivismo, a consciência independe da incorporação
de propriedades estruturais. O resultado é uma abordagem “totalmente a
-
histórica”
(BOURDIEU, 2001, p.
179), que leva em conta a presença no mundo como algo evidente,
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familiar, sem historicizar as
condições que permitem tal apreciação. Finalmente, a teoria da
ação racional compreende a ação interessada no máximo benefício como uma prática universal
do
homo economicus,
pressuposto considerado pelo autor como “irreal”. Segundo Bourdieu
(2013), essa m
odalidade de ação retrata um fenômeno específico, condicionado aos atributos
que permitem o pensamento utilitarista de longo
-
prazo.
A análise bourdieusiana se apoia nessas críticas para introduzir o conceito de
habitus
,
derivado do termo aristotélico
hexi
s
.
Outros pensadores já haviam empreendido essa iniciativa,
como
Friedrich Hegel (
hexis
), Edmund Husserl (
Habitualität
) e Marcel Mauss
(dimensão
corporal da
hexis
) (BOURDIEU, 1989). Como segue Bourdieu (1989, p.
62), a despeito de
discordâncias importantes
, os autores citados miraram “sair da filosofia da consciência sem
anular o agente na sua verdade de operador prático de construções de objeto
”. Ao definir o
habitus
como um sistema de disposições (modos de fazer, pensar e sentir) transmitido através
da so
cialização continuada, a sociologia bourdieusiana reforçou essa perspectiva.
Vimos que os indivíduos em posições sociais “próximas” são submetidos a experiências
semelhantes. Isso vale para a socialização continuada, que garante o aprendizado do
habitus
a
partir de transações afetivas entre o indivíduo e o ambiente social (BOURDIEU, 2001). Pela
socialização, o indivíduo adquire um sistema coerente de “princípios geradores e organizadores
de práticas e representações”, e passa a se orientar por uma consciênc
ia pré
-
reflexiva que
antecipa os resultados das ações com base nas experiências passadas, da mesma forma que dota
o mundo de sentidos, tornando
-
o passível de compreensão (BOURDIEU, 2013, p.
97). Por esse
motivo, autores como Bidet (1979) associam a internalização do
habitus
ao aprendizado de
esquemas culturais que fundamentam o comportamento e as visões de mundo.
O
habitus
tende à estabilidade, por dois motivos principais. Em primeiro lugar,
as
disposições procedem das condições de existência, como uma tradução particular das
necessidades econômicas e sociais “externas” (BOURDIEU, 2013). Nos países capitalistas
desenvolvidos, ainda que as experiências de mobilidade socioeconômica tenham sido
amplamente documentadas pela Sociologia desde o pós
-
Segunda Guerra, as fronteiras entre as
classes não são tão porosas. A permanência do
habitus
em uma trajetória se deve à estabilidade
das condições de existência, e não à toa, Bourdieu enfatizou a associa
ção entre socialização e
posição de classe, como um mecanismo de reprodução das estruturas sociais (SILVA, 2016).
Em segundo lugar, o
habitus
funciona como um filtro de informações, sedimentando
uma visão de mundo que é mais ou menos coerente. Isso levou
Bourdieu (2011) a ressaltar a
importância da socialização familiar, já que as disposições ensinadas precocemente pelas
famílias tendem a ser mantidas e aplicadas em outros ambientes, verificando
-
se uma linha de
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complementaridade entre a família, a escola,
o trabalho e os espaços de consumo. Entretanto, a
relação entre as condições de existência e o
habitus
não ocorre sem mediações contextuais. O
cotidiano se desenrola através do confronto imprevisível entre o
habitus
e o “acontecimento”,
cabendo à pesquisa
sociológica examinar os possíveis desajustes entre as condições sociais de
geração do
habitus
e as condições sociais nas quais ele se manifesta.
Penso que a teoria da socialização de Bourdieu pode complementar a introjeção do
gesinnung
(ou das disposições
, como se costumou traduzir o termo) pelo protestantismo
ascético. Weber (2004, p.
165) afirma que
a moralidade intramundana foi dominada pelo
racionalismo, exercendo uma “pressão avassaladora [sobre] o estilo de vida de todos os
indivíduos que nascem dent
ro dessa engrenagem”. Em um trecho bastante conhecido, essa
determinação foi caracterizada como uma “rija crosta de aço”,
ein stahlhartes Gehäuse
no
original, ou
iron cage
na tradução de Parsons. O resultado foi a consolidação de uma nova
“ética político
-
s
ocial” que alicerçou “o modo de organização e de funcionamento das
comunidades sociais” nas economias de mercado (WEBER, 2004, p.
166).
Para Laval (2006), essa ética representa o
habitus
capitalista sedimentado. Se esse
habitus
precisou de uma justificati
va moral para obter validade, o que pegou emprestado da
legitimidade das empresas religiosas, logo após se tornou um sistema naturalizado de
disposições pré
-
reflexivas.
Essa interpretação foi sugerida pelo próprio Bourdieu (2007b), que
salientou o papel do
poder religioso na transformação das práticas e das visões de mundo. Em
outras palavras, Weber analisou a formação de um novo “
habitus
religioso”, transponível e
inculcado pela educação religiosa.
Pode
-
se dizer que o ponto de partida para o aprendizado de
sse
habitus
foi a criação de
uma comunidade religiosa, verificando
-
se, além disso, uma afinidade entre as promessas de
salvação e as posições de classe (
legitimação da ordem para as classes privilegiadas, e promessa
de compensação dos infortúnios pessoais
para as classes desfavorecidas)
(WEBER, 1982). Mas
A Ética
apenas tematizou os mecanismos que garantiram a introjeção do
habitus
, anotando uma
vinculação mais ou menos direta entre as visões “totais” de mundo e os padrões de
comportamento (SPENCER, 1979).
Isso não diminui o fato de que Weber fixou um ponto de
não retorno no campo sociológico, e assim, alguns assuntos se tornaram bastante discutidos,
como a importância dos sistemas de crenças para o funcionamento do capitalismo competitivo.
Segundo Héran (19
87, p.
390, tradução nossa), é até mesmo possível identificar
em
A Ética
o
“
elemento motor da invenção sociológica do
habitus
”.
Não pretendo apresentar uma genealogia do conceito, tarefa já realizada por Nash
(1999). É sabido que Bourdieu leu
A Ética
com u
m objetivo particular, ponderando como as
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descrições sobre a ação econômica tradicional o ajudariam a entender o
M’Zab
6
(BOURDIEU;
SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011)
. Porém, mais do que discutir a inspiração para o conceito de
habitus
, cabe reconhecer algumas pon
tes entre as duas contribuições, sobretudo no que diz
respeito à incorporação das formas de ver e agir no mundo e sua importância para a análise de
classes. Ambos os autores constataram que as disposições individuais, no fundo, são fenômenos
coletivos. Mas
é precisamente nesse argumento onde reside uma diferença importante entre as
duas abordagens.
Em Weber, o
gesinnung
capitalista se baseia na racionalidade instrumental e na ascese
intramundana, como uma experiência histórica que é compartilhada pelos indi
víduos. O autor
fez uso de um olhar retrospectivo, que é tão caro ao historicismo alemão, para discutir as raízes
e os aspectos significativos desse
ethos
coletivo. Logo,
A Ética
sublinha a passagem da
estratificação estamental para a estratificação por cl
asses, algo que demandou a incorporação
de um
gesinnung
específico através da educação religiosa. Ainda que Weber reconheça o
caráter estratificado dessa incorporação (vale lembrar a apologia ao lucro e o trabalho
disciplinado, respectivamente entre os pro
prietários e os não
-
proprietários), sua obra aponta
para uma convergência histórica. Através dela, os indivíduos passaram a ser guiados por um
habitus
capitalista que é mais ou menos generalizado, no sentido conferido por Laval (2006).
Já Bourdieu examinou as disputas efetuadas por grupos sociais no acesso a bens
materiais e simbólicos. Seus escritos tratam da
influência das condições de existência sobre as
disposições individuais, com ênfase nas práticas de aprendizado que transmitem as
formas de
ver e agir no mundo. As posições de classe atravessam essas disposições, ao mesmo tempo
como condicionantes (quais práticas são possíveis, já que dependem do investimento de
recursos) e como dimensões estruturantes (quais experiências decorrem d
as posições de classe).
O segundo ponto é o que mais avançou no campo sociológico de Weber a Bourdieu, e por isso,
é útil ler os escritos weberianos à luz de contribuições mais recentes.
Se, para o autor alemão, o
gesinnung
representa um
ethos
coletivo mi
nimamente
compartilhado, em Bourdieu, o
habitus
condiz com um senso prático e pré
-
reflexivo que é
relacional (adquire sentido através da atuação dos indivíduos em um espaço de classes) e
amplamente variável. O que permitiu essa “virada” foi a adoção de uma
abordagem sincrônica,
que em vez de dirigir um olhar retrospectivo ao espírito capitalista, verificou empiricamente
como as práticas de socialização e transmissão de recursos edificam as disposições individuais.
Enquanto Weber analisou a formação de um
ha
bitus
capitalista, Bourdieu discutiu a formação
6
Um território no deserto arábico habit
ado pelos
Kharijites
, muçulmanos com estilo de vida ascético que muito
se assemelhavam aos puritanos estudados por Weber.
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diferencial de certos
habitus
no interior das sociedades capitalistas, onde os indivíduos vivem
em “mundos” particulares a depender da sua origem e trajetória social.
Essa perspectiva alavancou os estudos em
píricos sobre estratificação social, em
especial, ao apresentar uma teoria da socialização que ultrapassou o aspecto evocativo
encontrado em Weber. Para avançar nessa agenda investigativa, pesquisas futuras podem vir a
articular as duas abordagens, recuper
ando o surgimento de certos
ethos
coletivos, responsáveis
por modificar as relações humanas e a produção e circulação de recursos; e sua manifestação
nos estratos de classe, não apenas em um sentido geral e coerente, mas observando os seus
contornos e desa
justes em diferentes “lugares” do espaço social.
Considerações finais
Os estudos sobre estratificação social tendem a examinar a distribuição de recursos e de
oportunidades, bem como a adoção diferencial de valores e padrões de comportamento. Este
arti
go sistematizou as contribuições de Max Weber (em uma abordagem histórica baseada em
tipos ideais) e Pierre Bourdieu (em uma análise relacional dirigida à lógica da distinção) sobre
o assunto, ressaltando as interfaces entre as duas abordagens.
Em Weber, a
classe aparece como o tipo de estratificação que caracteriza as sociedades
modernas, traduzindo a posição no mercado e as chances de vida decorrentes. Já Bourdieu
atribui um significado amplo ao conceito, incluindo tanto os aspectos materiais quanto os
pr
ocedimentos expressivos, reportados por Weber a um sistema de hierarquias simbólicas
(status).
Ainda que essa mudança seja importante, é possível verificar uma linha de continuidade
entre os autores. Em primeiro lugar, isso se manifesta na diferença
entre
a elaboração teórica
das classes, dada a cabo pelo conhecimento sociológico, e a sua realização prática, na medida
em que as posições sociais exercem uma influência significativa sobre as representações e os
padrões de comportamento. Em segundo lugar, os
indivíduos que ocupam as mesmas posições
tendem a vivenciar experiências semelhantes, o que possibilita o surgimento de um interesse de
classe. E em terceiro lugar, as classes possuem um caráter diacrônico, entre gerações e no
interior de uma mesma geração
, o que aproxima a “classe social” weberiana das trajetórias
prováveis de Bourdieu.
Para complementar esse apanhado, o artigo discutiu as práticas de socialização em
grupos distintos. Afirmei que a análise de classes presente
em
A Ética
ocupa um lugar
sec
undário no campo de estudos sobre estratificação, o que configura um equívoco, pois a obra
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discute a incorporação do
ethos
capitalista em diferentes posições de classe, a partir da
persecução do lucro e do trabalho disciplinado entre os proprietários e não
proprietários,
respectivamente. Weber também analisou a formação de um interesse de classe entre os
membros da classe média ascendente industrial, que foram os primeiros representantes desse
novo tipo de estratificação. Mas a partir de um olhar retrospect
ivo, Weber apenas sugeriu os
mecanismos que garantiram o aprendizado de um
gesinnung
utilitarista, em uma espécie de
socialização ética (BARBALET, 2008). Novamente, os textos de Bourdieu (2007b, p.
15)
podem ajudar a
“restituir às análises weberianas toda
a sua força e alcance”.
Laval (2006) entende que o protestantismo ascético ocasionou o enraizamento de um
habitus
capitalista. Mas pensando para além d
e
A Ética
, as maiores dúvidas recaem sobre
I
) a
estratificação desse fenômeno; e
II
) as práticas de apre
ndizado que transmitiram o
habitus
capitalista no ambiente familiar, em instituições educativas, na rotina de trabalho e através da
educação religiosa.
Sobre o ponto
I
, vale lembrar que Weber discutiu as especificidades, em diferentes
estratos, de um
gesi
nnung
afinado ao mercado competitivo. No entanto, essas novas disposições
foram tratadas a partir de seus elementos mais significativos, enfatizando as condutas e
representações que passaram a ser compartilhadas e que promoveram a transição da
estratificaç
ão estamental para a estratificação por classes. As particularidades do
gesinnung
em
cada situação de classe se esvaem frente a um quadro típico
-
ideal, o que faz com que a
estratificação das disposições para ver e agir, o foco da análise bourdieusiana, sej
a tratada
apenas tangencialmente.
Sobre o ponto
II
,
mais do que constatar o poder do argumento religioso, garantido pela
legitimidade das novas doutrinas e pelo ajuste entre as promessas de salvação e as condições
de existência, o arcabouço bourdieusiano permite elucidar os repertórios disponíveis
(objetiva
mente oferecidos aos indivíduos) na disputa por benefícios materiais (recursos e
propriedades) e simbólicos (estima e prestígio). Bourdieu (2007b) evocou essa lacuna na obra
de Weber para justificar o uso do conceito de “campo religioso”, que extrapolando
as
percepções individuais e as interações diretas, possui propriedades estruturais. Isso se aplica a
outros campos e ao espaço social como um todo, composto pelas posições de classe que se
originam da distribuição desigual das espécies de capital.
Bourdie
u se dedicou ao aprendizado das formas de ação e pensamento pela socialização
continuada, fenômeno fortemente diferenciado a partir das posições de classe. Essas posições
se associam aos objetivos da socialização, através dos projetos de subsistência e mob
ilidade
socioeconômica, e ao mesmo tempo condicionam os seus resultados, considerando a
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disponibilidade das espécies de capital e sua capacidade de reconversão. Afirmei que, enquanto
o
gesinnung
se manifesta como um
ethos
coletivo que marca um modo específ
ico de
organização das relações humanas, o
habitus
representa um sistema específico de práticas e
representações, fortemente atrelado a uma posição no espaço social. A teoria do
habitus
também é inseparável de uma teoria da socialização, o que propiciou av
anços empíricos
importantes no campo de estudos sobre a estratificação social.
Ao final, o texto sugere que a abordagem bourdieusiana
pode ser articulada à análise
histórica de Weber. Um dos caminhos possíveis, seguindo os argumentos anteriores, combina
a análise diacrô
nica da formação de certos
ethos
coletivos e o estudo sincrônico da sua
manifestação particular em diferentes estratos
de classe. Penso que isso constitui um tema
interessante para pesquisas e debates futuros.
AGRADECIMENTOS
: Agradeço aos integrantes do Grupo de Trabalho Teoria Social:
Agendas, Desafios e Perspectivas da Associação Nacional de Pós
-
Graduação e Pesquisa e
m
Ciências Sociais (ANPOCS) pelos comentários endereçados a uma versão anterior deste artigo
no ano de 2018. Também agradeço a Edison Bertoncelo, professor do Departamento de
Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e Murillo Marschner, professor dest
e mesmo
Departamento, pelas discussões que muito me ajudaram na elaboração do artigo. Finalmente,
agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo
financiamento da Bolsa de Doutorado durante o desenvolvimento desta pesq
uisa.
REFERÊNCIAS
ARCHER, P
.
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Vitor Matheus Oliveira de MENEZES
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MENEZES
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Vitor Matheus Oliveira de
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Interfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na
análise de classes
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, Araraquara, v. 27, n.
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12/06/2022
Aprovado em
:
18/07
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Publicado em
:
21/12/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
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INTERFACES BETWEEN MAX WEBER AND PIERRE BOURDIEU IN CLASS
ANALYSIS
INTERFACES ENTRE MAX WEBER E PIERRE BOURDIEU NA ANÁLISE DE
CLASSES
INTERFACES ENTRE MAX WEBER Y PIERRE BOURDIEU EN EL ANÁLISIS DE
CLASES
Vitor Matheus Oliveira de
MENEZES
1
ABSTRACT
: This article focuses on similarities and disagreements between Max Weber and
Pierre Bourdieu in class analysis. For this, four themes are discussed: the Weberian contribution
regarding types of social stratification, notably class and status; the class a
nalysis presented in
The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism
, focusing on dispositions related to
competitive capitalism; the Bourdieusian proposal on class positions, resulting from expressive
procedures and differential access to capital specie
s; and the incorporation of
habitus
based on
socialization experiences.
KEYWORDS
: Class. Socialization. Max Weber.
Pierre Bourdieu.
RESUMO
: Este artigo aborda as proximidades e discordâncias entre Max Weber e Pierre
Bourdieu na análise de classes. Para isso, são discutidos quatro temas: a contribuição
weberiana sobre os tipos de estratificação social, notadamente classe e status; a análise d
e
classes presente n’A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, com foco no aprendizado
de disposições afinadas ao capitalismo competitivo; a proposta bourdieusiana sobre as
posições de classe, decorrentes de procedimentos expressivos e do acesso dif
erencial às
espécies de capital; e a incorporação dos
habitus
a partir das experiências de socialização.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Classe. Socialização. Max Weber. Pierre Bourdieu.
RESÚMEN
:
Este artículo aborda las proximidades y desacuerdos entre Max Weber y Pie
rre
Bourdieu en el análisis de clases. Para ello, se discuten cuatro temas: la contribución
weberiana sobre los tipos de estratificación social, en particular la clase y el estatus; el análisis
de clase presente en La Ética Protestante y el Espíritu del Ca
pitalismo, centrado en el
aprendizaje de las disposiciones en consonancia con el capitalismo competitivo; la propuesta
bourdieusiana sobre las posiciones de clase, derivadas de los procedimientos expresivos y del
acceso diferencial a las especies de capita
l; y la incorporación del
habitus
a partir de las
experiencias de socialización.
PALABRAS CLAVE
:
Clase. Socialización. Max Weber.
Pierre Bourdieu.
1
University of
São Paulo (USP)
, São Paulo
–
SP
–
Brazil
.
PhD in Sociology, Postgraduate
Program in Sociology
(PPGS).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
3076
-
0815
.
E
-
mail:
vitormenezes@usp.br
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2
Introduction
Class analysis constitutes one of the pillars of Sociology, which has dedicated itself to
discussing, since the mid
-
nineteenth century, power relations in modern societies. This article
addresses the contributions of two of the most important authors in th
e field, Max Weber and
Pierre Bourdieu, highlighting the implicit and explicit interfaces between their works.
Undoubtedly, Weber's influence is manifested in several Bourdieusian writings. Benson
(2006) states, for example, that the starting point for the
concept of field was the understanding,
originally Weberian, that modernity would be responsible for differentiating societies into
specialized and partially autonomous spheres of action. However, if the Weberian writings on
personality and ordering life
served as an inspiration, the French author analyzed the forms of
behavior that could be consolidated without “real interactions”, which distanced him from
methodological individualism (BOURDIEU; SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011). Certainly,
Bourdieu's posture is
similar when referring to class analysis. The sociology that is
conventionally called “dispositionalist” defended Weber's basic assumptions so that, based on
changes and additions, “restore to Weberian analyzes all their strength and scope”
(BOURDIEU, 200
7b, p.
15
, our translation
).
Authors such as Joppke (1986), Henry (2005) and Weininger (2005) claim that Bourdieu
integrated the Weberian concepts of class and status into the same theoretical construct. We
will return to the subject later, but it is surpr
ising that other aspects, perhaps even more
significant, have received little attention from the academic literature, such as the class analysis
present in
The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism
and its influence on Bourdieusian
thought. The sam
e can be said about the stratified character of individual dispositions and the
study of socialization practices. Therefore, I aim to fill a gap opportunely pointed out by Sell
(2016), comparing, within a circumscribed theme, the contributions of Weber and
Bourdieu to
investigations on social stratification.
This article is divided into four more sections. In the first, I present the Weberian
contributions that are commonly evoked in studies about classes, for in the second, I discuss
elements of
The Ethic
that deepen the theme. In the third, I introduce the m
apping of class
positions in Bourdieu, an effort complemented by a fourth section, which reflects the learning
of dispositions through continued socialization.
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3
Class and status in Max Weber
Translating power relations into specific historical individua
lities, the concepts of class
and status express differential access to resources and opportunities in stratified societies
(WEBER, 1982)
2
. Class, constitutive of the economic order, concerns the way in which goods
are produced and appropriated from spec
ific positions in the market. Status, on the other hand,
refers to access to immaterial resources, such as esteem and prestige, in a system of symbolic
hierarchies. The groups produced in this way, which make up the social order, result from the
principles
of consumption of goods, creating different lifestyles (WEBER, 1982).
To characterize a group as a class, three special conditions are necessary: individuals
share a causal element in their life chances; this element is defined exclusively by income and
property; and it comes from market conditions, products or work. The int
ersection between
these points produces a class situation, “a typical opportunity for an offer of goods, external
living conditions and personal life experiences” (WEBER, 1982, p.
212
, our translation
).
Living conditions and personal experiences synthesize
the antagonism between
ownership and non
-
ownership. On the subject, the author gives importance to the type of
property to be used for profit and the types of services that can be offered in the competitive
market. In addition to enabling the identificati
on of a class situation, these components
characterize the meaning given to the use of property, which distinguishes, for example,
leaseholders owners from business owners (WEBER, 2012).
While the property/non
-
property binomial refers to the positions assu
med by individuals
in the market, the term “social class” contemplates the changing nature of economic life,
encompassing class situations in which personal change, as well as in the succession between
generations, is “easily possible and typically occurs”
(WEBER, 2012, p. 199
, our translation
).
So, we would have social classes in four types of class situation: in workers in general, and
more intensely with the automation of the work process; in the petty bourgeoisie; on non
-
proprietary intellectuals and pr
ofessional specialists; and in the classes of proprietors and
“privileged by education”.
However, a class does not necessarily correspond to a defined community guided by
belonging relationships. For Weber (1982), classes, as effective dimensions of motiva
tion for
action, represent something to be produced, not defined a priori, since the “creation” of classes
depends on economic interests focused on the existence of the market. Class interest is a
2
Sell (2016) states that the first Weberian contribution on the subject included the “party”, which was modified
in
a later text, which was part of the collection
Economy and Society
(
Economia e Sociedade
-
WEBER, 2012). For
this reason, I stick only to the concepts of class and status.
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direction of interests that develops with a certain probabi
lity for an average of people subjected
to the same class situation. For corresponding community actions to take place, it is necessary
that general cultural conditions, mainly of an intellectual type, be able to create categories with
relative importance
for the orientation and motivation of actions. In addition, contrasts between
classes must become more or less visible, revealing the link between causes and consequences
of the class situation. This link, perceived and operated by individuals and groups,
empties the
absolutization of the economic order, converting it into something subject to appreciation and
historical change.
The
strata
constitute communities in themselves, although often of the amorphous type,
associated with “every typical component of
the destiny of men, determined by a specific
estimate, positive or negative, of honor” (WEBER, 1982, p. 218
, our translation
). If the class
situation comes from the dispute in a given economic order, conditioned to the possession of
certain resources, the
status derives from belonging to a group or social circle that establishes,
based on perceived differences, a certain position in a symbolic hierarchy.
Commonly,
stratum
honor is established in a terrain different from possession in the
competitive market
. Although material monopolies provide grounds for status categorization,
they are not sufficient in themselves. That said, a specific lifestyle is expected for everyone who
wants to belong to a social circle, with the development of the social class linke
d to the
experimentation of the social order as something “lived” (WEBER, 1982, p. 218). It is seen that
stratum
honor is associated with values that go beyond the market situation, instilling the need
for distinctive symbols such as tastes, clothing, hous
ing characteristics, etiquette and friendship
network.
The excerpts above allow us to foresee that class and status do not exist in empirical
reality, but represent ideal types, that is, abstract models that integrate a homogeneous
framework of thought. Th
e ideal types are obtained through the selection and unilateral
accentuation of the dimensions understood as significant in a phenomenon. Its purpose is to
connect and organize empirically diffuse, isolated and ambiguous phenomena, proving to be
useful for
sociological research insofar as it serves as a comparative reference to empirical data.
For Weber (2003
, p. 105
-
106, our translation
):
It offers us an ideal picture of events in the consumer goods market, in the
case of a society organized according to
the principle of exchange, free
competition and strictly rational action [...]. Due to its content, this
construction has the character of a utopia, obtained through the mental
accentuation of certain elements of reality [...]. Although it does not constit
ute
an exposition of reality, it intends to give it unambiguous expressive means.
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It is, therefore, the “idea” of the modern and historically given organization of
society in a market economy [...]. It is not by establishing an average of the
economic prin
ciples that actually existed in all the cities examined, but rather
by constructing an ideal type, that in the latter case the concept of “urban
economy” is formed
.
Class constitutes an “idea” about the distribution of power. However, concrete cases
show
the interface between the two types of stratification, when the “place” occupied by the
individual in the market corresponds to a certain degree of prestige and a “way of life”. Weber
(1982) exemplifies from the categorization of urban space in the United
States, in a context of
“traditional democracy”. Only residents of certain areas would be considered full members of
society, qualified for everyday relationships. In this case, there is a convergence between status
and class situation, to the extent that
the differentiated use of urban space stems from access to
housing as a commodity, subject to the “price war”. “By far”, the class situation is the
predominant factor for the expression of expected lifestyles in a status group, since these styles
are econo
mically conditioned
3
(WEBER, 1982).
The above ideas underlie much of the neo
-
Weberian studies on classes. In particular,
Goldhtorpe
(2012) and Chan and Goldthorpe (2007) departed from the concepts of class and
status to state that inequality is a two
-
dimensional phenomenon. On the one hand, classes
translate the positions of individuals in the labor market, considering employment rela
tionships
in an occupational structure, which condition individual behaviors and “life choices”. On the
other hand, status manifests itself through friendship bonds, translating perceptions of
proximity and distance into a system of symbolic hierarchies.
I
t is, in a way, a common procedure to resort to these references to account for Weber's
contributions on social stratification. But one of his most robust analyzes is found in
The
Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism
, which still has little echo i
n this field of study.
Class analysis in
The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism
In The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, Weber (2004) highlights a historical
fact that was easily observable: the greater presence of Protestants in the capital
-
owning strata,
as well as in the upper layers of skilled labor. The author explai
ned the phenomenon based on
the propensities to see and act that differentiate religious doctrines. Protestants, with “a specific
3
For Weber (2003), economic phenomena are associated with the
satisfaction of needs through the use of limited
resources. Economically relevant phenomena, on the other hand, have, under certain circumstances, an economic
significance, even though they are not representative of conscious acts aimed at economic ends. F
inally,
economically conditioned phenomena are to a certain degree determined or influenced by economic phenomena,
as happens in the distribution of artistic taste, which stems from the social composition of the appreciating public
.
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inclination towards economic rationalism”, were endowed with dispositions adjusted to the
competitive market (WEBER, 2004, p.
33
, our translation
).
However, the adequacy between the capitalist economic form and its “spirit” (the daily
conduct of life by agents, based on intramundane asceticism) does not result from a universal
law. To this adequacy, Weber (2004) gives the name of
elective affinity, through which
Protestantism and the capitalist enterprise reinforced each other, the first as a form and the
second as a driving force
4
. Being a “proof” of the authenticity of human faith, methodical and
tireless work was valued by the
new doctrines, underlining the influence of social groups on
economic behavior (DENHARDT; JEFFRESS, 1971). The two poles of the binomial property
(owners of possessions and capital goods) and non
-
property (expropriated of the means of
production) assumed
the exercise of work as a “mission” to be accomplished on land, based on
the idea of a professional vocation.
But for it to be widely disseminated, the capitalist ethic had to overcome some obstacles,
especially traditionalism. A
gesinnung
was needed to wo
rk that would emancipate individuals
from customary living standards, guided by minimum
-
effort calculations. In the English
-
language version, Talcott Parsons translated
gesinnung
to
attitude
or
frame of mind
, while in
the French version, Isabelle Kalinowsk
i opted for
disposition
. A similar term (
disposição
) was
used by José Mariani de Macedo in the Brazilian edition edited by Antônio Flávio Pierucci.
Swedberg (2005) recognizes the semantic plurality that
gesinnung
assumes in neo
-
Weberian studies, albeit with a certain unity of thought, by evoking lifestyles,
ethos
and
mentalities that would be typical of religious companies. Grossein (1999) departed from a
similar understanding, when he stated that
gesinnung
addres
ses, in the original text, the
inclinations and internal logic of economic action. The emergence of a
gesinnung
adjusted to
the competitive market would not be possible through an external action, such as an increase in
wages, but as a result of an educati
onal process. That was what allowed the “subjective
appropriation of ascetic religiosity by the individual”, carving out a new “conduct of life”
(WEBER, 2004, p. 137
, our translation
). Overcoming the traditionalist routine through religious
education, an e
conomically relevant phenomenon that cuts across classes, constitutes the central
problem of
The Ethic
.
As an example, Weber (2004) confronts the behavior of pietist workers with the so
-
called traditional ones. Unlike the latter, the pietist workers had “s
oberness, a spirit of saving
and self
-
control”, characteristics that increased the productivity of work (WEBER, 2004, p. 56).
4
Therefore, the
role of the Protestant Reformation should not be understood as a “necessary cause” in the genesis
of capitalism, but as an active element in a “historical constellation”
(
WEBER
, 2004).
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It is worth noting that religious education did not provide upward socioeconomic mobility, but
on the other hand, a class learning
, internal to the working class itself, guaranteed the fulfillment
of the demands submitted to the factory workforce. The capitalist business community, on the
other hand, began to see, also as a result of an educational process, profit as something not
re
prehensible and subject to prosecution.
If economic rationality cut across classes, pointing to convergences in religious
education, it also manifested itself as a socially stratified phenomenon. The bearers of modern
dispositions were, above all, the repr
esentatives of the rising industrial middle class, for some
special reasons: far from the mercantile patriciate, which possessed family fortunes
accumulated over generations, the “new rich” were agents who did not benefit from the
traditional impositions o
n economic action. On the other hand, the rising middle class differed
from the workers due to class situation, as they enjoyed property and capital goods. Although
dispositions attuned to the capitalist spirit later manifested themselves in other groups,
it was
the rising middle class that was the stratum capable of pushing forward a new economic order,
both in its form, based on material investments, and in its content, based on an instrumental
rationality (WEBER, 2004).
When talking about capitalist entr
epreneurs, Weber (2004, p. 63
, our translation
) states
that this group did not correspond to the “wealthy people with a more obvious or refined
appearance”, since they were opposed to “ostentation and useless spending [...] and feel rather
bothered by the
external signs of the social deference he enjoys”. Utilitarian in nature, the order
of life focused on economically interested behavior, which guaranteed financial return and
capital investment. An ideal type that opposed the status, based on distinctive l
ifestyles and
resources, producers of esteem. It is worth stating that these entrepreneurs were the bearers of
a historically new pattern of stratification, extrapolating a specific individual conduct and
marking the split between modern society and feudal
traditionalism.
Elsewhere, Weber (2004
, p. 161, our translation
) states:
A specifically bourgeois professional
ethos
had emerged. With the awareness
of being in the full grace of God and being visibly blessed by him, the
bourgeois entrepreneur, on condit
ion that he keeps himself within the limits
of formal correction, that his moral conduct is irreproachable and that he does
not make a scandalous use of his wealth, could pursue its profit interests and
should do so. The power of religious asceticism, more
over, made available
sober, conscientious, extraordinarily efficient workers who were committed
to work as the purpose of their lives, willed by God.
Economically conditioned, “personal life experiences” shaped the exercise of Protestant
doctrine in different classes. Separated into owners and non
-
owners, holders of capital and
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sellers of labor power, individuals expressed their faith based on their cla
ss situation. On the
one hand, the adoption of modern provisions, associated with instrumental rationality, allowed
the liberation of the pursuit of profit as something worthy and ethically crowned. On the other
hand, disciplined work, as an end to be purs
ued, subsidized the formation of a “willing”
workforce to assume ways of seeing and acting consistent with modern capitalism.
However, the means of incorporating
gesinnung
have only been suggested. Weber
(1982, p. 309
, our translation
) states that “economi
c ethics refers to the practical impulses of
action found in the psychological and pragmatic contexts of religions”. Indeed, Kemper (1968)
says that the Protestant ethic, as a value system based on individualism, asceticism and
rationality, was perpetuated
through the commitment of individuals to the search for salvation.
It is coherent to point out that the socio
-
psychology of
The
Ethic
focuses on the cognitive
dimension of behavior, since personality and the conduct of life are shaped by “total” views of
the world (SPENCER, 1979). When discussing the influence of these views on personal
motivations and stimuli,
The
Ethic
did not present a more systematic theory on socialization,
even though Weber has touched on the subject in other writings
5
. The adoption
of ascetic
behavior stems from the legitimacy of the new religious doctrines, holders of the monopoly of
salvation, which guaranteed the commitment of individuals to their normative guidelines.
If, in Weber, we can speak of an “ethical socialization” (BAR
BALET, 2008),
responsible for disseminating patterns of behavior adjusted to the functioning of the competitive
market, this type of socialization is more announced than analyzed. The educational process,
which reinforces and justifies the capitalist spiri
t in different class positions, remained far from
an empirical instrumentalization. Before, it was already possible to punctuate the dialogues
between Weber and the so
-
called “dispositionalist sociology”, but here, the similarities and
differences stand ou
t.
To advance this investigative agenda, the next section discusses how in Pierre Bourdieu
class positions are produced, and then, how dispositions to see and act in the world are
introjected. The interfaces between the two approaches will be presented gra
dually throughout
the text.
5
As, for example, when Weber (2012, p.141) recognizes that the dominat
ion exercised by the family and the
school provides the “formation of the character of young people”, in addition to the circulation of cultural goods
.
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The “creation” of classes in Pierre Bourdieu
According to Bourdieu (2011), each individual
occupies a “position” in life in society,
responsible for determining their preferences and behavior patterns. These positions underlie
the dispute for scarce resources, conditioning the enjoyment of material goods and recognition
(BOURDIEU, 2007a).
The p
osition occupied by an individual or group comes from access to the kinds of
capital, material and incorporated, that circulate and are appropriated in particular contexts. In
developed capitalist societies, positions derive especially from two types of ca
pital
(BOURDIEU, 2001): economic capital, materialized and defined by the possession of wealth
and belongings; and cultural capital, related to incorporated knowledge and formation with
institutional validity. Added to these types is social capital, with l
ess relative weight, which
concerns social relationships capable of guaranteeing access to opportunities, influence and
esteem.
The types of capital give individuals the ability to exercise power in certain fields. About
this concept, the author oscillates
between a broader and a more restricted sense. According to
Peters (2006), the field represents, in the first case, a comprehensive social space, as a class
space. In the second, the concept portrays a specialized field of practices, in a “game” defined
b
y the ability of individuals to take possession of material and immaterial resources.
In addition to the momentary configuration of the fields, the author includes a diachronic
view in his model, based on what he calls the “path effect”. When an individual
occupies a
place in the social space, he does not necessarily remain in it over time. It is common for him
to go through different positions, synthesizing changes in behavior patterns and access to capital
(BOURDIEU, 2011; 2007a). Occasionally, trajectori
es manifest themselves as collective
experiences, when a fraction of the class “is destined to deviate from the most frequent
trajectory for the class as a whole”, disqualifying itself “by the high or low” (BOURDIEU,
2007, p. 104
, our translation
). But the
trajectories do not depend entirely on personal will. The
origin position already determines which paths are possible, defining the possibilities that are
“objectively offered” to individuals.
To this objective aspect, which institutes classes as componen
ts of reality, the author
adds another, of a symbolic nature, which aims to account for the processes of classification
and reclassification that “manufacture” groups. Bourdieu (2013; 2007a) argues that social
positions are not only a reflection of indicat
ors such as income and education, but are also
associated with language acts, responsible for defining relevant social practices and boundaries
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between groups. For this reason, Wacquant (2013, p. 96) states that one of the main innovations
of Bourdieu's an
alysis was the questioning of the “ontological status of groups”, considering
the practical and appreciation schemes that are shared in everyday life.
In short, positions in the social space are endowed with meaning from categories that
distinguish individ
uals and groups. Differences in access to goods, services and powers,
perceived through these categories, become symbolic differences and start to compose a
specific language (BOURDIEU, 2013). The main idea is that the individual, by being in a social
spac
e, cannot be indifferent. Each person is endowed with representations that allow him to
establish value judgments. A difference only becomes a socially “pertinent” difference, or we
could say, recognized and effective, when it is perceived by an agent or g
roup endowed with
the ability to convert, based on a classificatory scheme, the observable difference into a
significant distinction (BOURDIEU, 2007a).
Individuals who occupy the same place in the social space, although not necessarily
going through the
same experiences, are more likely to share everyday situations than “distant”
individuals (BOURDIEU, 2013). By assuming a social position, an individual becomes subject
to particular social experiences, partially shared by “close” agents. This is what allo
ws
sociological knowledge to outline theoretical classes “as homogeneous as possible”, even if
they do not match “current” or “real” classes, as groups effectively mobilized and unified by
interests (BOURDIEU, 2011, p. 24). The knowledge of juxtaposed posi
tions in a social space
allows the analytical cut of classes in their “logical” sense, represented by agents in identical or
close positions and who, subjected to similar conditions, tend to perform similar practices and
“position positions” (BOURDIEU, 201
1).
In other words, explanatory classes are “probable” classes, bringing together individuals
who share everyday social experiences, therefore more likely to endorse common mobilization
projects (BOURDIEU, 1989; 2011). It should be noted that proximity in
the social space does
not immediately result in the unity of individuals. The passage from the theoretical and probable
to the real and concrete, “something that is about doing”, stems from the circulation of a set of
symbolic resources, producing percepti
ons of belonging to a social position and of distinction
towards other “distant” agents (BOURDIEU, 2011). As summarized by Bottero (2004),
Bourdieu's proposal is fundamentally relational, since a class, following the “logic of
distinction”, is always defin
ed based on its position in relation to others.
It's no secret that Bourdieu was heavily inspired by Weberian writings. As the French
author points out, the position occupied in the social space gives the agent a set of intrinsic
properties (proper to the
position, associated with the conditions of existence) and relational
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(relative to other positions) (BOURDIEU, 1989). This duality had already been pointed out
earlier by Weber, according to whom the peasant condition could be defined both by elements
inhe
rent in working with the land and by the position in relation to other social groups
(BOURDIEU, 2007b). In empirical reality, the first element (the properties of the class
situation) is closely related to the second (the properties of the class position),
leaving the
sociologist to isolate them through an effort of abstraction.
Bourdieu (2007b, p. 14, emphasis in the original
, our translation
) also considers that
Weber “opposes the class and the status group as two types of real units that would be confuse
d
more or less frequently”, depending on the degree of autonomization of the economic order in
a society. On the other hand, Bourdieu proposes that class and status are nominal units,
depending on the accentuation of the economic (classes) or symbolic (sta
tus) aspect in human
relationships. The social order is only relatively autonomous, since it expresses economic
differences from its own logic, transmuting goods into signs and economic actions into
communicative acts (BOURDIEU, 2007b). This causes observa
ble differences to be converted
into significant distinctions, a phenomenon that the author calls “expressive duplication”.
Bourdieu (2007b) included these expressive procedures in class analysis. The main
reason for this inclusion is the fact that the aut
onomization of the economic order, based on the
production and acquisition of goods, never occurs completely, even in developed capitalist
countries. But not all individuals are able to participate in expressive procedures, as “the game
of symbolic distinc
tions takes place [...] within the narrow limits defined by economic
constraints”, which makes the distinction unfold as a “privileged game” (BOURDIEU, 2007b,
p. 25
, our translation
).
The concepts of class and status subsidized much of the debate on the in
terfaces between
Weber and Bourdieu in class analysis (JOPPKE, 1986; HENRY, 2005; WEININGER, 2005).
Archer and Orr (2011, p. 109) are assertive in stating that Bourdieu promoted a
“reconceptualization” of the Weberian model, “collapsing” the border between
class and status.
Consequently, the material dimension (effects of the economic order on life chances) and the
symbolic dimension of life in society (perception, valuation and agency over social positions)
started to compose a single theoretical model.
Al
though the Bourdieusian proposition has been successful and widely referenced, the
diagnosis of Weber has an important flaw. In the first topic, I argued that class and status do
not constitute real units, as pointed out by Bourdieu, but rather ideal types
, which are never
fully realized in empirical reality. Like any ideal type, its objective is essentially analytical,
maximizing the aspects understood as significant for the understanding of a phenomenon (in
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this case, the principles of stratification in c
ertain historical individualities). While Bourdieu
devoted himself to the “accentuation” of material and symbolic aspects through acts of
language, Weber proposed a “mental accentuation” by the researcher, by elaborating
homogeneous and simplified types th
at have high explanatory power. Instead of having
promoted a “reconceptualization” of Weber (ARCHER; ORR, 2011), Bourdieu made a
methodological shift, moving away from a pure model of stratification to, from the inductive
analysis, discuss the division of
classes in French society.
Classes, dispositions and socialization of the
habitus
In several passages, Bourdieu criticizes theoretical schools that would be incapable of
accurately understanding social phenomena. Criticisms of it point to a new
theory of
socialization, based on dispositional learning and pre
-
reflective behavior.
Objectivism considers “structure” as something already given, dissociated from the
history of individuals and groups (BOURDIEU, 2013). This obscures the practices that
re
produce and update the properties of a field, leaving the agent with only a supporting role
(BOURDIEU, 1989). As for subjectivism, consciousness does not depend on the incorporation
of structural properties. The result is a “totally ahistorical” approach (
BOURDIEU, 2001,
p.179), which takes into account the presence in the world as something evident, familiar,
without historicizing the conditions that allow such appreciation. Finally, the theory of rational
action understands action interested in maximum be
nefit as a universal practice of
homo
economicus
, an assumption considered by the author as “unreal”. According to Bourdieu
(2013), this modality of action portrays a specific phenomenon, conditioned to the attributes
that allow long
-
term utilitarian think
ing.
The Bourdieusian analysis relies on these criticisms to introduce the concept of
habitus
,
derived from the Aristotelian term
hexis
. Other thinkers had already undertaken this initiative,
such as Friedrich Hegel (
hexis
), Edmund Husserl (
Habitualität
) a
nd Marcel Mauss (body
dimension of
hexis
) (BOURDIEU, 1989). As Bourdieu (1989, p. 62
, our translation
) follows,
despite important disagreements, the cited authors aimed to “leave the philosophy of
consciousness without annulling the agent in its truth as a practical operator of object
constructions”. By defining
habitus
as a system of dispositions (ways o
f doing, thinking and
feeling) transmitted through continued socialization, Bourdieusian sociology reinforced this
perspective.
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We have seen that individuals in “close” social positions are subjected to similar
experiences. This goes for continued socializ
ation, which ensures the learning of the
habitus
from affective transactions between the individual and the social environment (BOURDIEU,
2001). Through socialization, the individual acquires a coherent system of “generating and
organizing principles of pr
actices and representations” and begins to be guided by a pre
-
reflective conscience that anticipates the results of actions based on past experiences, in the
same way that it endows the world of senses, making it understandable (BOURDIEU, 2013, p.
97
, our
translation
). For this reason, authors such as Bidet (1979) associate the internalization
of
habitus
with the learning of cultural schemes that underlie behavior and worldviews.
The
habitus
tends towards stability, for two main reasons. First, dispositions
come from
the conditions of existence, as a particular translation of “external” economic and social needs
(BOURDIEU, 2013). In developed capitalist countries, even though socioeconomic mobility
experiences have been widely documented by Sociology since t
he post
-
World War II period,
the boundaries between classes are not so porous. The permanence of the
habitus
in a trajectory
is due to the stability of the conditions of existence, and it is not by chance that Bourdieu
emphasized the association between so
cialization and class position, as a mechanism for the
reproduction of social structures (SILVA, 2016).
Second, the
habitus
functions as an information filter, sedimenting a worldview that is
more or less coherent. This led Bourdieu (2011) to emphasize the
importance of family
socialization, since the dispositions taught early by families tend to be maintained and applied
in other environments, verifying a line of complementarity between the family, school, work
and the consumption spaces. However, the rela
tionship between the conditions of existence and
the
habitus
does not occur without contextual mediations. Daily life unfolds through the
unpredictable confrontation between the
habitus
and the “event”, leaving sociological research
to examine the possible
mismatches between the social conditions of
habitus
generation and
the social conditions in which it manifests itself.
I think that Bourdieu's theory of socialization can complement the introjection of
gesinnung
(or dispositions, as the term is usually tr
anslated) by ascetic Protestantism. Weber
(2004, p. 165
, our
translation
) states that intramundane morality was dominated by rationalism,
exerting an “overwhelming pressure [on] the lifestyle of all individuals who are born within
this gear”. In a well
-
kno
wn passage, this determination was characterized as a “stiff crust of
steel”,
ein stahlhartes Gehäuse
in the original, or
iron cage
in Parsons's translation. The result
was the consolidation of a new “political
-
social ethics” that underpinned “the mode of
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organization and functioning of social communities” in market economies (WEBER, 2004, p.
166
, our translation
).
For Laval (2006), this ethics represents the sedimented capitalist
habitus
. If this
habitus
needed a moral justification to gain validity, which
it borrowed from the legitimacy of religious
enterprises, it soon after became a naturalized system of pre
-
reflexive dispositions. This
interpretation was suggested by Bourdieu himself (2007b), who highlighted the role of religious
power in transforming p
ractices and worldviews. In other words, Weber analyzed the formation
of a new “religious
habitus
”, transposable and inculcated by religious education.
It can be said that the starting point for learning this
habitus
was the creation of a
religious communi
ty, verifying, moreover, an affinity between the promises of salvation and
class positions (legitimation of the order for the privileged classes, and promise of
compensation for personal misfortunes for disadvantaged classes) (WEBER, 1982). But
The
Ethic
o
nly thematized the mechanisms that ensured the introjection of the
habitus
, noting a
more or less direct link between the “total” views of the world and the patterns of behavior
(SPENCER, 1979). This does not detract from the fact that Weber set a point of
no return in
the sociological field, and thus some issues have become hotly debated, such as the importance
of belief systems for the functioning of competitive capitalism. According to Héran (1987, p.
390, our translation), it is even possible to identif
y in
The Ethic
the “motor element of the
sociological invention of the
habitus
”.
I do not intend to present a genealogy of the concept, a task already performed by Nash
(1999). It is known that Bourdieu read
The Ethic
with a particular objective, pondering how
descriptions of traditional economic action would help him understand the
M’
Zab
6
(BOURDIEU; SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011). However, more than discussing the
inspiration for the concept of
habitus
, it is worth recognizing some bridges between the two
contributions, especially regarding the incorporation of ways of seeing and acting i
n the world
and its importance for the analysis of classes. Both authors found that individual dispositions,
deep down, are collective phenomena. But it is precisely in this argument that a crucial
difference between the two approaches resides.
In Weber, c
apitalist
gesinnung
is based on instrumental rationality and intraworld
asceticism, as a historical experience that is shared by individuals. The author used a
retrospective look, which is so dear to German historicism, to discuss the roots and significant
aspects of this collective
ethos
. Therefore,
The
Ethic
underlines the passage from status
6
A territory in the Arabian desert inhabited by the
Kharijites
, Muslims with an ascetic lifestyle who c
losely
resembled the Puritans studied by Weber.
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stratification to class stratification, something that demanded the incorporation of a specific
gesinnung
through religious education. Although Weber recognizes the
stratified character of
this incorporation (it is worth remembering the apology for profit and disciplined work,
respectively between owners and non
-
owners), his work points to a historical convergence.
Through it, individuals began to be guided by a capit
alist
habitus
that is more or less
generalized, in the sense given by Laval (2006).
Bourdieu, on the other hand, examined the disputes carried out by social groups
regarding access to material and symbolic goods. His writings deal with the influence of liv
ing
conditions on individual dispositions, with an emphasis on learning practices that transmit ways
of seeing and acting in the world. Class positions cross these dispositions, at the same time as
constraints (which practices are possible, since they depe
nd on the investment of resources) and
as structuring dimensions (which experiences result from class positions). The second point is
what made the most progress in the sociological field from Weber to Bourdieu, and for this
reason it is useful to read Web
erian writings in the light of more recent contributions.
If, for the German author,
gesinnung
represents a minimally shared collective
ethos
, in
Bourdieu,
habitus
is consistent with a practical and pre
-
reflective sense that is relational
(acquires meaning
through the performance of individuals in a class space) and widely variable.
What allowed this “turn” was the adoption of a synchronic approach, which instead of directing
a retrospective look at the capitalist spirit, empirically verified how the practi
ces of socialization
and transmission of resources build individual dispositions. While Weber analyzed the
formation of a capitalist
habitus
, Bourdieu discussed the differential formation of certain
habitus
within capitalist societies, where individuals li
ve in particular “worlds” depending on
their origin and social trajectory.
This perspective leveraged empirical studies on social stratification, in particular, by
presenting a theory of socialization that went beyond the evocative aspect found in Weber. T
o
advance this investigative agenda, future research may come to articulate the two approaches,
recovering the emergence of certain collective
ethos
, responsible for modifying human relations
and the production and circulation of resources; and its manifes
tation in the class strata, not
only in a general and coherent sense, but observing its contours and mismatches in different
“places” of the social space.
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Final considerations
Studies on social stratification tend to examine the
distribution of resources and
opportunities, as well as the differential adoption of values and patterns of behavior. This article
systematizes the contributions of Max Weber (in a historical approach based on ideal types)
and Pierre Bourdieu (in a relatio
nal analysis directed to the logic of distinction) on the subject,
highlighting the interfaces between the two approaches.
In Weber, class appears as the type of stratification that characterizes modern societies,
translating the position in the market and
the resulting chances of life. Bourdieu, on the other
hand, attributes a broad meaning to the concept, including both material aspects and expressive
procedures, reported by Weber to a system of symbolic hierarchies (status).
Although this change is impor
tant, it is possible to verify a line of continuity between
the authors. Firstly, this is manifested in the difference between the theoretical elaboration of
classes, carried out by sociological knowledge, and its practical realization, insofar as social
p
ositions exert a significant influence on representations and patterns of behavior. Second,
individuals occupying the same positions tend to have similar experiences, which makes it
possible for class interests to emerge. And thirdly, classes have a diachr
onic character, between
generations and within the same generation, which brings the Weberian “social class” closer to
Bourdieu's probable trajectories.
To complement this overview, the article discussed socialization practices in different
groups. I state
d that the class analysis present in
The
Ethic
occupies a secondary place in the
field of studies on stratification, which configures a mistake, since the work discusses the
incorporation of the capitalist
ethos
in different class positions, based on the p
ursuit of profit
and disciplined work between owners and non
-
owners, respectively. Weber also analyzed the
formation of a class interest among members of the rising industrial middle class, who were the
first representatives of this new type of stratificat
ion. But from a retrospective look, Weber only
suggested the mechanisms that guaranteed the learning of a utilitarian
gesinnung
, in a kind of
ethical socialization (BARBALET, 2008). Again, Bourdieu's texts (2007b, p.
15
, our
translation
) can help “restore
to Weberian analyzes all their strength and scope”.
Laval (2006) understands that ascetic Protestantism caused the rooting of a capitalist
habitus
. But thinking beyond
The
Ethic
, the biggest doubts fall on I) the stratification of this
phenomenon; and II) the learning practices that transmitted the capitalist
habitus
in the family
environment, in educational institutions, in the work routine and through religious education.
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M
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ourdieu in class analysis
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
,
e022029
, 2022.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15216
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Regar
ding point I, it is worth remembering that Weber discussed the specificities, in
different strata, of a
gesinnung
tuned to the competitive market. However, these new
dispositions were treated from their most significant elements, emphasizing the behaviors
and
representations that started to be shared and that promoted the transition from status
stratification to class stratification. The particularities of
gesinnung
in each class situation
vanish in front of an ideal
-
typical framework, which means that the
stratification of dispositions
to see and act, the focus of Bourdieusian analysis, is treated only tangentially.
On point II, more than verifying the power of the religious argument, guaranteed by the
legitimacy of the new doctrines and by the adjustment b
etween the promises of salvation and
the conditions of existence, the Bourdieusian framework allows us to elucidate the available
repertoires (objectively offered to individuals) in the dispute for material benefits (resources
and properties) and symbolic
benefits (esteem and prestige). Bourdieu (2007b) evoked this gap
in Weber's work to justify the use of the concept of “religious field”, which, extrapolating
individual perceptions and direct interactions, has structural properties. This applies to other
f
ields and to the social space as a whole, composed of the class positions that originate from
the unequal distribution of kinds of capital.
Bourdieu devoted himself to learning forms of action and thought through continued
socialization, a phenomenon stron
gly differentiated from class positions. These positions are
associated with the objectives of socialization, through subsistence projects and socioeconomic
mobility, and at the same time condition their results, considering the availability of types of
ca
pital and their capacity for reconversion. I stated that, while gesinnung manifests itself as a
collective
ethos
that marks a specific way of organizing human relations,
habitus
represents a
specific system of practices and representations, strongly linked
to a position in the social space.
The theory of
habitus
is also inseparable from a theory of socialization, which provided
important empirical advances in the field of studies on social stratification.
In the end, the text suggests that the Bourdieusian
approach can be articulated with
Weber's historical analysis. One of the possible paths, following the previous arguments,
combines the diachronic analysis of the formation of certain collective
ethos
and the synchronic
study of its particular manifestatio
n in different class strata. I think this constitutes an interesting
topic for future research and debate.
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Vitor Matheus Oliveira de MENEZES
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
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e022029
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AGRADECIMENTOS
:
I would like to thank the members of the Social Theory Working
Group: Agendas, Challenges and Perspectives of the National Association of Postgraduate
Studies and Research in Social Sciences (ANPOCS) for their comments on an earlier version
of this article
in 2018. I would also like to thank Edison Bertoncelo, professor at the Department
of Sociology at the University of São Paulo (USP) and Murillo Marschner, professor at the
same Department, for the discussions that helped me a lot in the preparation of th
e article.
Finally, I would like to thank the National Council for Scientific and Technological
Development (CNPq) for funding the Doctoral Scholarship during the development of this
research.
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DOI:
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Submitted
:
10/05/2022
Required revisions
:
12/06/2022
Approved
:
18/07/2022
Published
:
21/12/2022
Processing and publication by the Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Correction, formatting, standardization and
translation.