image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152161INTERFACES ENTRE MAX WEBER E PIERRE BOURDIEU NA ANÁLISE DE CLASSESINTERFACES ENTRE MAX WEBER Y PIERRE BOURDIEU EN EL ANÁLISIS DE CLASESINTERFACES BETWEEN MAX WEBER AND PIERRE BOURDIEU in class analysisVitor Matheus Oliveira de MENEZES1RESUMO: Este artigo aborda as proximidades e discordâncias entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classes. Para isso, são discutidos quatro temas: a contribuição weberiana sobre os tipos de estratificação social, notadamente classe e status; a análise de classes presente n’A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, com foco no aprendizado de disposições afinadas ao capitalismo competitivo; a proposta bourdieusiana sobre as posições de classe, decorrentes de procedimentos expressivos e do acesso diferencial às espécies de capital; e a incorporação dos habitusa partir das experiências de socialização.PALAVRAS-CHAVE: Classe. Socialização. Max Weber. Pierre Bourdieu.RESÚMEN:Este artículo aborda lasproximidades y desacuerdos entre Max Weber y Pierre Bourdieu en el análisis de clases. Para ello, se discuten cuatro temas: la contribución weberiana sobre los tipos de estratificación social, en particular la clase y el estatus; el análisis de clase presente en La Ética Protestante y el Espíritu del Capitalismo, centrado en el aprendizaje de las disposiciones en consonancia con el capitalismo competitivo; la propuesta bourdieusiana sobre las posiciones de clase, derivadas de los procedimientos expresivos y del acceso diferencial a las especies de capital; y la incorporación del habitus a partir de las experiencias de socialización.PALABRAS CLAVE:Clase. Socialización. Max Weber. Pierre Bourdieu.ABSTRACT: This article focuses on similarities and disagreements between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysis. For this, four themes are discussed: the Weberian contribution regarding types of social stratification, notably class and status; the class analysis presented in The Protestant Ethic and theSpirit of Capitalism, focusing on dispositions related to competitive capitalism; the Bourdieusian proposal on class positions, resulting from expressive procedures and differential access to capital species; and the incorporation of habitus based on socialization experiences.KEYWORDS:Class. Socialization. Max Weber. Pierre Bourdieu.1Universidade de São Paulo (USP),São Paulo SP Brasil.Doutor em Sociologia,Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3076-0815.E-mail: vitormenezes@usp.br
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152162IntroduçãoA análise de classes constitui um dos pilares da Sociologia, que se dedicou a discutir, desde meados do século XIX, as relações de poder nas sociedades modernas. Este artigo aborda as contribuições de dois dos autores mais importantes do campo, Max Weber e Pierre Bourdieu, salientando as interfaces implícitas e explícitas entre suas obras.Sem dúvidas, a influência de Weber se manifesta em diversos escritos bourdieusianos. Benson (2006) afirma, por exemplo, que o ponto de partida para o conceito de campo foi o entendimento, originalmente weberiano, de que a modernidade seria responsável por diferenciar as sociedades em esferas de ação especializadas e parcialmente autônomas. Contudo, se os escritos weberianos sobre personalidade e ordenamento da vida serviram de inspiração, o autor francês analisou as formas de comportamento que poderiam se consolidar sem “interações reais”, o que o distanciou do individualismo metodológico (BOURDIEU; SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011). Decerto, a postura de Bourdieu é semelhante quando reportada à análise de classes. A sociologia que se convencionou chamar de “disposicionalista” defendeu pressupostos básicos de Weber para, a partir de mudanças e acréscimos, “restituir às análises weberianas toda a sua força e alcance” (BOURDIEU, 2007b, p.15). Autores como Joppke (1986), Henry (2005) e Weininger (2005) afirmam que Bourdieu integrou os conceitos weberianos de classe e status em um mesmo construto teórico. Retomaremos o assunto mais adiante, mas surpreende que outros aspectos, talvez até mais significativos, tenham recebido pouca atenção da literatura acadêmica, como a análise de classes presente em A Ética Protestantee o Espírito do Capitalismoe a sua influência no pensamento bourdieusiano. O mesmo pode ser dito sobre o caráter estratificado das disposições individuais e o estudo das práticas de socialização. Sendo assim, almejo preencher uma lacuna oportunamente apontada por Sell (2016), comparando, no interior de um tema circunscrito, as contribuições de Weber e Bourdieu para as investigações sobre estratificação social. Este artigo se divide em mais quatro seções. Na primeira, apresento as contribuições weberianas que são comumente evocadas em estudos sobre classes, para na segunda, discutir elementosdeA Éticaque adensam o tema. Já na terceira, introduzo o mapeamento das posições de classe em Bourdieu, esforço complementado por uma quarta seção, que reflete o aprendizado de disposições por meio da socialização continuada.
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152163Classe e status em Max WeberTraduzindo as relações de poder em individualidades históricas específicas, os conceitos de classe e status expressam o acesso diferencial a recursos e oportunidades em sociedades estratificadas (WEBER, 1982)2. A classe, constitutiva da ordem econômica, diz respeito à forma com que bens são produzidos e apropriados a partir de posições específicas no mercado. Já o status se refere ao acesso a recursos imateriais, tais como estima e prestígio, em um sistema de hierarquias simbólicas. Os estamentos assim produzidos, que compõem a ordem social, decorrem dos princípios de consumo de bens, gestando estilos de vida diferenciados (WEBER, 1982).Para se caracterizar um grupo enquanto uma classe, são necessárias três condições especiais: os indivíduos compartilham um elemento causal em suas oportunidades de vida; este elemento é definido exclusivamente pela renda e propriedade; e advém das condições do mercado, de produtos ou de trabalho. O cruzamento entre esses pontos produz uma situação de classe, “oportunidade típica de uma oferta de bens, de condições de vida exteriores e experiências pessoais de vida” (WEBER, 1982, p.212). As condições de vida e as experiências pessoais sintetizam o antagonismo entre a propriedade e a não-propriedade. Sobre o assunto, o autor confere importância ao tipo de propriedade a ser utilizado para o lucro e os tipos de serviços que podem ser oferecidos no mercado competitivo. Além de possibilitar a identificação de uma situação de classe, esses componentes caracterizam o sentido conferido ao uso da propriedade, o que distingue, por exemplo, os proprietários arrendatários dos proprietários empresários (WEBER, 2012).Enquanto o binômio propriedade/não-propriedade volta-se às posições assumidas pelos indivíduos no mercado, o termo “classe social” contempla o caráter mutável da vida econômica, abarcando as situações de classe nas quais a mudança pessoal, bem como na sucessão entre gerações, é “facilmente possível e costuma ocorrer tipicamente” (WEBER, 2012, p.199). Então, teríamos classes sociais em quatro tipos de situação de classe: nos trabalhadores em geral, e de maneira mais intensa com a automatização do processo de trabalho; na pequena burguesia; nos intelectuais não-proprietários e em especialistas profissionais; e nas classes dos proprietários e “privilegiados por educação”.Entretanto, uma classe não corresponde necessariamente a uma comunidade definida e pautada por relações de pertencimento. Para Weber (1982), as classes, enquanto dimensões 2Sell (2016) afirma que a primeira contribuição weberiana sobre o assunto incluiu o “partido”, o que foi modificado em texto posterior, que integrou a coletânea Economia e Sociedade(WEBER, 2012). Por esse motivo, me atenho apenas aos conceitos de classe estatus.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152164efetivas de motivação para a açãorepresentam algo a ser produzido, não definido a priori, já que a “criação” das classes depende de interesses econômicos voltados à existência do mercado. O interesse de classe é uma direção de interesses que se desenvolve com certa probabilidade para uma média de pessoas submetidas à mesma situação de classe. Para que ocorram ações comunitárias correspondentes, é preciso que as condições culturais gerais, principalmente de tipo intelectual, sejam capazes de criar categorias com relativa importância para a orientação e motivação das ações. Em complemento, os contrastes entre as classes devem se tornar mais ou menos visíveis, revelando o vínculo entre causas e consequências da situação de classe. Esse vínculo, percebido e operacionalizado por indivíduos e grupos, esvazia a absolutização da ordem econômica, convertendo-a em algo passível de apreciação e mudança histórica.Já os estamentos constituem comunidades em si, embora frequentemente do tipo amorfo, associados a “todo componente típico do destino dos homens, determinado por uma estimativa específica, positiva ou negativa, da honraria” (WEBER, 1982, p.218). Se a situação de classe advém da disputa em dada ordem econômica, condicionada à posse de certos recursos, o status deriva do pertencimento a um grupo ou círculo social que institui, a partir de diferenças percebidas, determinada posição em uma hierarquia simbólica. Comumente, a honra estamental se estabelece em um terreno diverso à posse no mercado competitivo. Embora os monopólios materiais proporcionem motivos para a categorização estamental, eles não são suficientes por si. Isto posto, é esperado um estilo de vida específico a todos que desejam pertencer a um círculo social, estando o desenvolvimento do estamento atrelado à experimentação da ordem social como algo “vivido” (WEBER, 1982, p.218). Vê-se que a honra estamental se associa a valores que extrapolam a situação de mercado, incutindo a necessidade de símbolos distintivos como gostos, vestimentas, características da habitação, etiqueta e rede de amizades.Os trechos acima permitem antever que classe e statusnão existem na realidade empírica, mas representam tipos ideais, ou seja, modelos abstratos que integram um quadro homogêneo de pensamento. Os tipos ideais são obtidos através da seleção e acentuação unilateral das dimensões entendidas como significativas em um fenômeno. O seu propósito é conectar e organizar fenômenos empiricamente difusos, isolados e ambíguos, revelando-se útil à pesquisa sociológica na medida em que serve de referência comparativa aos dados empíricos. Para Weber (2003, p. 105-106):Oferece-nos um quadro ideal dos eventos no mercado dos bens de consumo, no caso de uma sociedade organizada segundo o princípio da troca, da concorrência livre e de uma ação estritamente racional [...]. Pelo seu conteúdo,
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152165essa construção reveste-se do caráter de uma utopia, obtida mediante a acentuação mental de determinados elementos da realidade [...]. Embora não constitua uma exposição da realidade, pretende conferir a ela meios expressivos unívocos.É, portanto, a “ideia” da organização moderna e historicamente dada da sociedade numa economia de mercado [...]. Não é pelo estabelecimento de uma média dos princípios econômicos que realmente existiram em todas as cidades examinadas, mas antes, pela construção de um tipo ideal, que nesse último caso se forma o conceito de “economia urbana”.A classe constitui uma “ideia” sobre a distribuição de poder. Porém, os casos concretos evidenciam a interface entre os dois tipos de estratificação, quando o “lugar”ocupado pelo indivíduo no mercado corresponde a um certo grau de prestígio e um “modo de vida”. Weber (1982) exemplifica a partir da categorização do espaço urbano nos Estados Unidos, em um contexto de “democracia tradicional”. Apenas moradores de determinadas áreas seriam considerados membros plenos da sociedade, qualificados ao relacionamento cotidiano. Nesse caso, existe uma convergência entre status e situação de classe, na medida em que o uso diferenciado do espaço urbano decorre do acesso à moradia enquanto uma mercadoria, submetida à “guerra de preços”. “De longe”, a situação de classe é o fator predominante para a expressão dos estilos de vida esperados em um estamento, já que esses estilos são economicamente condicionados3(WEBER, 1982).As ideiasacima embasaram boa parte dos estudos neoweberianos sobre classes. Em particular, Goldhtorpe (2012) e Chan e Goldthorpe (2007) partiram dos conceitos de classe e status para afirmar que a desigualdade é um fenômeno bidimensional. De um lado, as classes traduzem as posições dos indivíduos no mercado de trabalho, considerando as relações empregatícias em uma estrutura ocupacional, que condicionam os comportamentos individuais e as “escolhas de vida”. De outro, o status se manifesta através dos vínculos amicais, traduzindo as percepções de proximidade e distanciamento em um sistema de hierarquias simbólicas. É,de certa forma,um procedimento comum recorrer a essas referências para dar conta das contribuições de Weber sobre a estratificação social. Mas uma desuas análises mais robustas se encontraemA Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, que ainda assim, encontra pouco eco nesse campo de estudos.3Para Weber (2003), os fenômenos econômicos estão associados à satisfação de necessidades através da utilização de recursos limitados. Já os fenômenos economicamente relevantesapresentam, sob determinadas circunstâncias, um significado econômico, muito embora não sejam representativos dos atos conscientes voltados para fins econômicos. Finalmente, os fenômenos economicamente condicionados são em certo grau determinados ou influenciados por fenômenos econômicos, tal como acontece na distribuição do gosto artístico, que decorre da composição social do público apreciador.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152166A análise de classesemA Ética Protestante e o Espírito do CapitalismoEm A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber (2004) destaca um fato histórico que era facilmente observável: a maior presença de protestantes nos estratos proprietários de capital, bem como em camadas superiores da mão de obra qualificada. O autor explicou o fenômeno a partir das propensões para ver e agir que diferenciam as doutrinas religiosas. Os protestantes, com “uma inclinação específica para o racionalismo econômico”, eram dotados de disposições ajustadas ao mercado competitivo (WEBER, 2004, p.33). Contudo, a adequação entre a forma econômica capitalista e o seu “espírito” (a condução diária da vida pelos agentes, com base na ascese intramundana) não decorre de uma lei universal. A essa adequação, Weber (2004) dá o nome de afinidade eletiva, através da qual o protestantismo e a empresa capitalista se reforçaram mutuamente, o primeiro como forma e a segunda como força motriz4. Sendo uma “prova” da autenticidade da fé humana, o trabalho metódico e incansável foi valorizado pelas novas doutrinas, sublinhando a influência dos grupos sociais sobre o comportamento econômico (DENHARDT; JEFFRESS, 1971). Os dois polos do binômio propriedade (detentores de posses e bens de capital) e não-propriedade (expropriados dos meios de produção) assumiram o exercício do trabalho como uma “missão” a ser cumprida na terra, a partir da ideia de vocação profissional.Mas para que fosse amplamente difundida, a ética capitalista precisou se sobrepor a alguns obstáculos, em especial ao tradicionalismo. Foi necessário um gesinnungao trabalho que emancipasse os indivíduos dos padrões de vida costumeiros, guiados por cálculos de mínimo esforço. Na versão de língua inglesa, Talcott Parsons traduziu gesinnungpara attitudeou frame of mind, enquanto na versão francesa, Isabelle Kalinowski optou por disposition. Termo similar (disposição) foi utilizado por José Mariani de Macedo na edição brasileira organizada por Antônio Flávio Pierucci. Swedberg (2005) reconhece a pluralidade semântica que gesinnungassume em estudos neoweberianos, ainda que com certa unidade de pensamento, ao evocar os estilos de vida, os ethose as mentalidades que seriam típicas das empresas religiosas. Grossein (1999) partiu de entendimento semelhante, ao afirmar que gesinnungse dirige, no texto original, às inclinações e lógicas internas da ação econômica. A emergência de um gesinnungajustado ao mercado competitivo não seria possível através de uma ação externa, como o aumento de salários, e sim como resultado de um processo educativo. Foi isso que permitiu a “apropriação subjetiva da 4Portanto, o papel da Reforma Protestante não deve ser compreendido como uma “causa necessária” na gênese do capitalismo, mas como um elemento atuante em uma “constelação histórica” (WEBER, 2004).
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152167religiosidade ascética por parte do indivíduo”, talhando uma nova “conduta de vida” (WEBER, 2004, p.137). A superação da rotina tradicionalista pela educação religiosa, um fenômeno economicamente relevante e que é transversal às classes, constitui o problema central de A Ética.Como exemplo, Weber (2004) confronta o comportamento das operárias pietistas com as ditas tradicionais. Ao contrário dessas últimas, as operárias pietistas apresentavam “sobriedade, espírito de poupança edomínio de si”, características que aumentavam a produtividade do trabalho (WEBER, 2004, p.56). Vale notar que a educação religiosa não propiciava uma mobilidade socioeconômica ascendente, mas por outro lado, um aprendizado de classe, interno ao próprio operariado, garantia o cumprimento das demandas submetidas à mão de obra fabril. Já o empresariado capitalista passou a enxergar, também como resultado de um processo educativo, o lucro como algo não condenável e passível de persecução. Se a racionalidadeeconômica atravessava as classes, apontando para convergências da educação religiosa, também se manifestava como um fenômeno socialmente estratificado. Os portadores das disposições modernas foram, sobretudo, os representantes da classe média ascendente industrial, por alguns motivos especiais: afastados do patriciado mercantil, que possuía fortunas familiares acumuladas por gerações, os “novos ricos” eram agentes que não se beneficiavam das imposições tradicionais à ação econômica. Por outro lado, a classe média ascendente diferia dos operários devido à situação de classe, pois desfrutavam de propriedades e bens de capital. Ainda que as disposições afinadas ao espírito capitalista tenham se manifestado posteriormente em outros grupos, foi a classe média ascendente o estrato capaz de impulsionar uma nova ordem econômica, tanto em sua forma, a partir de investimentos materiais, quanto em seu conteúdo, com base em uma racionalidade instrumental (WEBER, 2004). Ao discorrer sobre os empresários capitalistas, Weber (2004, p.63) afirma que esse grupo não correspondia aos “ricaços de aparência mais óbvia ou refinada”, já que se opunha “à ostentação e à despesa inútil [...] e sente-se antes incomodado com os sinais externos da deferência social que desfruta”. De caráter utilitarista, o ordenamento da vida focava no comportamento economicamente interessado, que garantia retorno financeiro e investimento de capital. Um tipo ideal que se opunha ao estamento, baseado em estilos de vida e recursos distintivos, produtores de estima. Cabe afirmar que esses empresários eram os portadores de um padrão historicamente novo de estratificação, extrapolando uma conduta individual específica e marcando a cisão entre a sociedade moderna e o tradicionalismo feudal.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152168Em outra passagem, Weber (2004, p. 161) afirma:Surgira um ethosprofissional especificamente burguês. Com a consciência de estar na plena graça de Deus e ser por ele visivelmente abençoado, o empresário burguês, com a condição de manter-se dentro dos limites da correção formal, de ter sua conduta moral irrepreensível e de não fazer de sua riqueza um uso escandaloso, podia perseguir os seus interesses de lucro e devia fazê-lo. O poder da ascese religiosa, além disso, punha à disposição trabalhadores sóbrios, conscienciosos, extraordinariamente eficientes e aferrados ao trabalho como se finalidade de sua vida, querida por Deus.Economicamente condicionadas, as “experiências pessoais de vida” configuraram o exercício da doutrina protestante em diferentes classes. Separados entre proprietários e não proprietários, detentores de capital e vendedores da força de trabalho, os indivíduos expressavam a fé a partir da situação de classe. De um lado, a adoção de disposições modernas, associadas à racionalidade instrumental, permitiu a libertação da busca pelo lucro como algo digno e eticamente coroado. De outro, o trabalho disciplinado, como um fim a ser perseguido, subsidiou a formação de uma mão de obra “disposta” a assumir formas de ver e agir condizentes com o capitalismo moderno.Todavia, os meios de incorporação do gesinnungforam apenas sugeridos. Weber (1982, p.309) afirma que a “ética econômica refere-se aos impulsos práticos de ação que se encontram nos contextos psicológicos e pragmáticos das religiões”. Comefeito, Kemper (1968) diz que a ética protestante, como um sistema de valores baseado no individualismo, no ascetismo e na racionalidade, se perpetuou através do comprometimento dos indivíduos com a busca pela salvação. É coerente apontar que a socio-psicologia de A Ética se concentra na dimensão cognitiva do comportamento, já que a personalidade e a condução da vida são moldadas pelas visões “totais” de mundo (SPENCER, 1979). Ao discutir a influência dessas visões nas motivações e estímulos pessoais, A Éticanão apresentou uma teoria mais sistemática sobre a socialização, ainda que Weber tenha tocado no assunto em outros escritos5. A adoção do comportamento ascético decorre da legitimidade das novas doutrinas religiosas, detentoras do monopólio da salvação, o que garantiu o engajamento dos indivíduos às suas orientações normativas.Se, em Weber, podemos falar de uma “socialização ética” (BARBALET, 2008), responsável por disseminar padrões de comportamento ajustados ao funcionamento do mercado competitivo, esse tipo de socialização é mais anunciado do que analisado. O processo educativo, 5Como, por exemplo, quando Weber (2012, p.141) reconhece que a dominação exercida pela família e pela escola propicia a “formação do caráter dos jovens”, para além da circulação de bens culturais.
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152169que reforça e justifica o espírito capitalista em diferentes posições de classe, permaneceu distante de uma instrumentalização empírica. Antes, já era possível pontuar os diálogos entre Weber e a denominada “sociologia disposicionalista”, mas aqui, as semelhanças e diferenças saltam aos olhos. Para avançar nessa agenda investigativa, a próxima seção discute como em Pierre Bourdieu as posições de classe são produzidas, e logoapós, como ocorre a introjeção das disposições para ver e agir no mundo. As interfaces entre as duas abordagens serão apresentadas de maneira gradativa no decurso do texto.A “criação” de classes em Pierre Bourdieu Segundo Bourdieu (2011), cada indivíduo ocupa uma “posição” na vida em sociedade, responsável por determinar suas preferências e padrões de comportamento. Essas posições embasam a disputa por recursos escassos, condicionando o usufruto de bens materiais e reconhecimento (BOURDIEU, 2007a). A posição ocupada por um indivíduo ou grupo advém do acesso às espécies de capital, material e incorporado, que circulam e são apropriadas em contextos particulares. Nas sociedades capitalistas desenvolvidas, as posições decorrem especialmente de duas espécies de capital (BOURDIEU, 2001): o capital econômico, materializado e definido pela posse de riquezas e pertences; e o capital cultural, relativo ao conhecimento incorporado e à formação com validade institucional. A essas espécies, soma-se o capital social, com menor peso relativo, que diz respeito às relações sociais capazes de garantir o acesso a oportunidades, influência e estima. As espécies de capital conferem aos indivíduos a capacidade de exercer poder em determinados campos. Sobre este conceito, o autor oscila entre um sentido mais amplo e um sentido mais restrito. Segundo Peters (2006), o campo representa, no primeiro caso, um espaço social abrangente, como um espaço de classes. Já no segundo, o conceito retrata um campo especializado de práticas, em um “jogo” definido pela capacidade dos indivíduos se apoderarem de recursos materiais e imateriais. Para além da configuração momentânea dos campos, o autor inclui em seu modelo um olhar diacrônico, a partir do que denomina “efeito de trajetória”. Quando um indivíduo ocupa um lugar no espaço social, não necessariamente permanece nele com o passar do tempo. É comum que ele percorra diferentes posições, sintetizando as mudanças nos padrões de comportamento e no acesso aos capitais (BOURDIEU, 2011; 2007a). Ocasionalmente, as
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521610trajetórias se manifestam enquanto experiências coletivas, quando uma fração da classe “está destinada a desviar-se em relação à trajetória mais frequente para a classe no seu todo”, se desclassificando “pelo alto ou por baixo” (BOURDIEU, 2007, p.104). Mas as trajetórias não dependem inteiramente da vontade pessoal. A posição de origem já determina quais caminhos são possíveis, definindo as possibilidades que se “oferecem objetivamente” aos indivíduos.A esse aspecto objetivo, que institui as classes enquanto componentes da realidade, o autor inclui outro, de caráter simbólico, que visa dar conta dos processos de classificação e reclassificação que “fabricam” os grupos. Bourdieu (2013; 2007a) defende que as posições sociais não são apenas reflexo de indicadores como renda e escolaridade, mas também se associam a atos de linguagem, responsáveis por definir as práticas sociais relevantes e as fronteiras entre os grupos. Por esse motivo, Wacquant (2013, p.96)afirma que uma das principais inovações da análise bourdieusinafoi o questionamento do “status ontológico dos grupos”, considerado os esquemas práticos e de apreciação que são compartilhados na vida cotidiana.Em suma, as posições no espaço social são dotadas de significado a partir de categorias que distinguem indivíduos e grupos. As diferenças no acesso a bens, serviços e poderes, percebidas através dessas categorias, convertem-se em diferenças simbólicas e passam a compor uma linguagem específica (BOURDIEU, 2013). A ideia principal é que o indivíduo, por estar em um espaço social, não pode ser indiferente. Cada pessoa é dotada de representações que lhe permitem estabelecer juízos de valor. Uma diferença só se torna uma diferença socialmente “pertinente”, ou poderíamos dizer, reconhecida e eficaz, quando é percebida por um agente ou grupo dotado da capacidade de converter, com base em um esquema classificatório, a diferença observável em uma distinção significante (BOURDIEU, 2007a). Os indivíduos que ocupam o mesmo lugar no espaço social, embora não passem necessariamente pelas mesmas experiências, apresentam maior probabilidade de compartilhar situações cotidianas do que indivíduos “distantes” (BOURDIEU, 2013). Ao assumir uma posição social, um indivíduo passa a ser submetido a experiências sociais particulares, compartilhadas parcialmente por agentes “próximos”. É isso o que permite ao conhecimento sociológico traçar classes teóricas “tão homogêneas quanto possível”, ainda que não condigam com classes “atuais” ou “reais”, como grupos efetivamente mobilizados e unificados por interesses (BOURDIEU, 2011, p.24). O conhecimento das posições justapostas em um espaço social permite o recorte analítico das classes em seu sentido “lógico”, representadas por agentes em posições idênticas ou próximas e que, submetidos a condições similares, propendem a desempenhar práticas e “tomadas de posição” semelhantes (BOURDIEU, 2011).
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521611Em outras palavras, as classes explicativas são classes “prováveis”, reunindo indivíduos que compartilham experiências sociais cotidianas, mais sujeitos portanto a endossar projetos comuns de mobilização (BOURDIEU, 1989; 2011). Deve-se notar que a proximidade no espaço social não desemboca de maneira imediata na unidade de indivíduos. A passagem do teórico e provável para o real e concreto, “algo que se trata de fazer”, decorre da circulação de um conjunto de recursos simbólicos, produzindo percepções de pertencimento a uma posição social e de distinção para com outros agentes “distantes” (BOURDIEU, 2011). Como resume Bottero (2004), a proposta de Bourdieu éfundamentalmente relacional, já que uma classe, seguindo a “lógica da distinção”, sempre é definida a partir da sua posição frente a outras.Não é segredo que Bourdieu se inspirou fortemente nos escritos weberianos. Como aponta o autor francês, a posição ocupada no espaço social confere ao agente um conjunto de propriedades intrínsecas (próprias da posição, associadas às condições de existência) e relacionais (relativas a outras posições) (BOURDIEU, 1989). Essa dualidade já havia sido apontada anteriormente por Weber, segundo o qual, a condição de camponês poderia ser definida tanto por elementos inerentes ao trabalho com a terra quanto pela posição em relação a outros grupos sociais (BOURDIEU, 2007b). Na realidade empírica, o primeiro elemento (as propriedades da situação de classe) se relaciona intimamente com o segundo (as propriedades da posição de classe), cabendo ao sociólogo isolá-los por um esforço de abstração. Bourdieu (2007b, p.14, grifos no original) também pondera que Weber “opõe a classe e o grupo de statuscomo dois tipos de unidadesreaisque se confundiriam de modo mais ou menos frequente”, a depender do grau de autonomização da ordem econômica em uma sociedade. Em contrapartida, Bourdieu propõe que classe e status são unidades nominais, dependendo da acentuação do aspecto econômico (classes) ou simbólico (status) nas relações humanas. A ordem social é apenas relativamente autônoma, já que exprime as diferenças econômicas a partir de uma lógica própria, transmutando os bens em signos e as ações econômicas em atos comunicativos (BOURDIEU, 2007b). Isso faz com que as diferenças observáveis sejam convertidas em distinções significantes, fenômeno que o autor chama de “duplicação expressiva”. Bourdieu (2007b) incluiu esses procedimentos expressivos na análise de classes. O principal motivo dessa inclusão é o fato de que a autonomização da ordem econômica, baseada na produção e aquisição de bens, nunca ocorre de maneira completa, mesmo nos países capitalistas desenvolvidos. Mas nem todos os indivíduos estão aptos a participar dos procedimentos expressivos, pois “o jogo das distinções simbólicas se realiza [...] no interior dos
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521612limites estreitos definidos pelas coerções econômicas”, o que faz com que a distinção se desenrole como um “jogo de privilegiados” (BOURDIEU, 2007b, p.25). Os conceitos de classe e statussubsidiaram boa parte do debate sobre as interfaces entre Weber e Bourdieu na análise de classes (JOPPKE, 1986; HENRY, 2005; WEININGER, 2005). Archer e Orr (2011, p.109) são assertivos ao afirmar que Bourdieu promoveu uma “reconceituação” do modelo weberiano, “colapsando” a fronteira entre classe e status. Por conseguinte, a dimensão material (efeitos da ordem econômica sobre as chances de vida) e a dimensão simbólica da vida em sociedade (percepção, valoração e agência sobre as posições sociais) passaram a compor um único modelo teórico.Ainda que a proposição bourdieusiana tenha sido bem-sucedida e bastante referenciada, o diagnóstico sobre Weber apresenta uma falha importante. Defendi no primeiro tópico que classe e status não constituem unidades reais, como apontado por Bourdieu, mas sim tipos ideais, que nunca se realizam plenamente na realidade empírica. Como qualquer tipo ideal, o seu objetivo é essencialmente analítico, maximizando os aspectos entendidos como significativos para a compreensão de um fenômeno (no caso, os princípios de estratificação em certas individualidades históricas). Enquanto Bourdieu se dedicou à “acentuação” dos aspectos materiais e simbólicos por meio de atos de linguagem, Weber propôs uma “acentuação mental” por parte do pesquisador, ao elaborar tipos homogêneos e simplificados que possuem alto poder explicativo. Em vez de ter promovido uma “reconceituação” de Weber (ARCHER; ORR, 2011), Bourdieu realizou uma guinada metodológica, se afastando de um modelo puro de estratificação para, a partir da análise indutiva, discutir a divisão de classes na sociedade francesa.Classes, disposições e socialização do habitusEm diversas passagens, Bourdieu critica escolas teóricas que seriam incapazes de compreender acuradamente os fenômenos sociais. Suas críticas apontam para uma nova teoria da socialização, baseada no aprendizado de disposições e no comportamento pré-reflexivo. O objetivismo considera a “estrutura” como algo já dado, de maneira dissociada da história dos indivíduos e grupos (BOURDIEU, 2013). Isso obscurece as práticas que reproduzem e atualizam as propriedades de um campo, cabendo ao agente apenas um papel de suporte (BOURDIEU, 1989). Já para o subjetivismo, a consciência independe da incorporação de propriedades estruturais. O resultado é uma abordagem “totalmente a-histórica” (BOURDIEU, 2001, p.179), que leva em conta a presença no mundo como algo evidente,
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521613familiar, sem historicizar ascondições que permitem tal apreciação. Finalmente, a teoria da ação racional compreende a ação interessada no máximo benefício como uma prática universal do homo economicus, pressuposto considerado pelo autor como “irreal”. Segundo Bourdieu (2013), essa modalidade de ação retrata um fenômeno específico, condicionado aos atributos que permitem o pensamento utilitarista de longo-prazo. A análise bourdieusiana se apoia nessas críticas para introduzir o conceito de habitus, derivado do termo aristotélico hexis. Outros pensadores já haviam empreendido essa iniciativa, como Friedrich Hegel (hexis), Edmund Husserl (Habitualität) e Marcel Mauss (dimensão corporal da hexis) (BOURDIEU, 1989). Como segue Bourdieu (1989, p.62), a despeito de discordâncias importantes, os autores citados miraram “sair da filosofia da consciência sem anular o agente na sua verdade de operador prático de construções de objeto”. Ao definir o habituscomo um sistema de disposições (modos de fazer, pensar e sentir) transmitido através da socialização continuada, a sociologia bourdieusiana reforçou essa perspectiva.Vimos que os indivíduos em posições sociais “próximas” são submetidos a experiências semelhantes. Isso vale para a socialização continuada, que garante o aprendizado do habitusa partir de transações afetivas entre o indivíduo e o ambiente social (BOURDIEU, 2001). Pela socialização, o indivíduo adquire um sistema coerente de “princípios geradores e organizadores de práticas e representações”, e passa a se orientar por uma consciência pré-reflexiva que antecipa os resultados das ações com base nas experiências passadas, da mesma forma que dota o mundo de sentidos, tornando-o passível de compreensão (BOURDIEU, 2013, p.97). Por esse motivo, autores como Bidet (1979) associam a internalização do habitusao aprendizado de esquemas culturais que fundamentam o comportamento e as visões de mundo. O habitustende à estabilidade, por dois motivos principais. Em primeiro lugar,as disposições procedem das condições de existência, como uma tradução particular das necessidades econômicas e sociais “externas” (BOURDIEU, 2013). Nos países capitalistas desenvolvidos, ainda que as experiências de mobilidade socioeconômica tenham sido amplamente documentadas pela Sociologia desde o pós-Segunda Guerra, as fronteiras entre as classes não são tão porosas. A permanência do habitusem uma trajetória se deve à estabilidade das condições de existência, e não à toa, Bourdieu enfatizou a associação entre socialização e posição de classe, como um mecanismo de reprodução das estruturas sociais (SILVA, 2016). Em segundo lugar, o habitusfunciona como um filtro de informações, sedimentando uma visão de mundo que é mais ou menos coerente. Isso levou Bourdieu (2011) a ressaltar a importância da socialização familiar, já que as disposições ensinadas precocemente pelas famílias tendem a ser mantidas e aplicadas em outros ambientes, verificando-se uma linha de
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521614complementaridade entre a família, a escola, o trabalho e os espaços de consumo. Entretanto, a relação entre as condições de existência e o habitusnão ocorre sem mediações contextuais. O cotidiano se desenrola através do confronto imprevisível entre o habituse o “acontecimento”, cabendo à pesquisa sociológica examinar os possíveis desajustes entre as condições sociais de geração do habituse as condições sociais nas quais ele se manifesta. Penso que a teoria da socialização de Bourdieu pode complementar a introjeção do gesinnung(ou das disposições, como se costumou traduzir o termo) pelo protestantismo ascético. Weber (2004, p.165) afirma que a moralidade intramundana foi dominada pelo racionalismo, exercendo uma “pressão avassaladora [sobre] o estilo de vida de todos os indivíduos que nascem dentro dessa engrenagem”. Em um trecho bastante conhecido, essa determinação foi caracterizada como uma “rija crosta de aço”, ein stahlhartes Gehäuseno original, ou iron cagena tradução de Parsons. O resultado foi a consolidação de uma nova “ética político-social” que alicerçou “o modo de organização e de funcionamento das comunidades sociais” nas economias de mercado (WEBER, 2004, p.166). Para Laval (2006), essa ética representa o habituscapitalista sedimentado. Se esse habitusprecisou de uma justificativa moral para obter validade, o que pegou emprestado da legitimidade das empresas religiosas, logo após se tornou um sistema naturalizado de disposições pré-reflexivas. Essa interpretação foi sugerida pelo próprio Bourdieu (2007b), que salientou o papel dopoder religioso na transformação das práticas e das visões de mundo. Em outras palavras, Weber analisou a formação de um novo “habitus religioso”, transponível e inculcado pela educação religiosa.Pode-se dizer que o ponto de partida para o aprendizado desse habitusfoi a criação de uma comunidade religiosa, verificando-se, além disso, uma afinidade entre as promessas de salvação e as posições de classe (legitimação da ordem para as classes privilegiadas, e promessa de compensação dos infortúnios pessoais para as classes desfavorecidas)(WEBER, 1982). Mas A Éticaapenas tematizou os mecanismos que garantiram a introjeção do habitus, anotando uma vinculação mais ou menos direta entre as visões “totais” de mundo e os padrões de comportamento (SPENCER, 1979). Isso não diminui o fato de que Weber fixou um ponto de não retorno no campo sociológico, e assim, alguns assuntos se tornaram bastante discutidos, como a importância dos sistemas de crenças para o funcionamento do capitalismo competitivo. Segundo Héran (1987, p.390, tradução nossa), é até mesmo possível identificar em A Ética o elemento motor da invenção sociológica dohabitus”.Não pretendo apresentar uma genealogia do conceito, tarefa já realizada por Nash (1999). É sabido que Bourdieu leu A Éticacom um objetivo particular, ponderando como as
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521615descrições sobre a ação econômica tradicional o ajudariam a entender o M’Zab6(BOURDIEU; SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011). Porém, mais do que discutir a inspiração para o conceito de habitus, cabe reconhecer algumas pontes entre as duas contribuições, sobretudo no que diz respeito à incorporação das formas de ver e agir no mundo e sua importância para a análise de classes. Ambos os autores constataram que as disposições individuais, no fundo, são fenômenos coletivos. Masé precisamente nesse argumento onde reside uma diferença importante entre as duas abordagens.Em Weber, o gesinnungcapitalista se baseia na racionalidade instrumental e na ascese intramundana, como uma experiência histórica que é compartilhada pelos indivíduos. O autor fez uso de um olhar retrospectivo, que é tão caro ao historicismo alemão, para discutir as raízes e os aspectos significativos desse ethoscoletivo. Logo, A Éticasublinha a passagem da estratificação estamental para a estratificação por classes, algo que demandou a incorporação de um gesinnungespecífico através da educação religiosa. Ainda que Weber reconheça o caráter estratificado dessa incorporação (vale lembrar a apologia ao lucro e o trabalho disciplinado, respectivamente entre os proprietários e os não-proprietários), sua obra aponta para uma convergência histórica. Através dela, os indivíduos passaram a ser guiados por um habitus capitalista que é mais ou menos generalizado, no sentido conferido por Laval (2006). Já Bourdieu examinou as disputas efetuadas por grupos sociais no acesso a bens materiais e simbólicos. Seus escritos tratam da influência das condições de existência sobre as disposições individuais, com ênfase nas práticas de aprendizado que transmitem asformas de ver e agir no mundo. As posições de classe atravessam essas disposições, ao mesmo tempo como condicionantes (quais práticas são possíveis, já que dependem do investimento de recursos) e como dimensões estruturantes (quais experiências decorrem das posições de classe). O segundo ponto é o que mais avançou no campo sociológico de Weber a Bourdieu, e por isso, é útil ler os escritos weberianos à luz de contribuições mais recentes. Se, para o autor alemão, o gesinnungrepresenta um ethoscoletivo minimamente compartilhado, em Bourdieu, o habituscondiz com um senso prático e pré-reflexivo que é relacional (adquire sentido através da atuação dos indivíduos em um espaço de classes) e amplamente variável. O que permitiu essa “virada” foi a adoção de umaabordagem sincrônica, que em vez de dirigir um olhar retrospectivo ao espírito capitalista, verificou empiricamente como as práticas de socialização e transmissão de recursos edificam as disposições individuais. Enquanto Weber analisou a formação de um habituscapitalista, Bourdieu discutiu a formação 6Um território no deserto arábico habitado pelos Kharijites, muçulmanos com estilo de vida ascético que muito se assemelhavam aos puritanos estudados por Weber.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521616diferencial de certos habitus no interior das sociedades capitalistas, onde os indivíduos vivem em “mundos” particulares a depender da sua origem e trajetória social. Essa perspectiva alavancou os estudos empíricos sobre estratificação social, em especial, ao apresentar uma teoria da socialização que ultrapassou o aspecto evocativo encontrado em Weber. Para avançar nessa agenda investigativa, pesquisas futuras podem vir a articular as duas abordagens, recuperando o surgimento de certos ethoscoletivos, responsáveis por modificar as relações humanas e a produção e circulação de recursos; e sua manifestação nos estratos de classe, não apenas em um sentido geral e coerente, mas observando os seus contornos e desajustes em diferentes “lugares” do espaço social. Considerações finaisOs estudos sobre estratificação social tendem a examinar a distribuição de recursos e de oportunidades, bem como a adoção diferencial de valores e padrões de comportamento. Este artigo sistematizou as contribuições de Max Weber (em uma abordagem histórica baseada em tipos ideais) e Pierre Bourdieu (em uma análise relacional dirigida à lógica da distinção) sobre o assunto, ressaltando as interfaces entre as duas abordagens.Em Weber, aclasse aparece como o tipo de estratificação que caracteriza as sociedades modernas, traduzindo a posição no mercado e as chances de vida decorrentes. Já Bourdieu atribui um significado amplo ao conceito, incluindo tanto os aspectos materiais quanto os procedimentos expressivos, reportados por Weber a um sistema de hierarquias simbólicas (status). Ainda que essa mudança seja importante, é possível verificar uma linha de continuidade entre os autores. Em primeiro lugar, isso se manifesta na diferença entrea elaboração teórica das classes, dada a cabo pelo conhecimento sociológico, e a sua realização prática, na medida em que as posições sociais exercem uma influência significativa sobre as representações e os padrões de comportamento. Em segundo lugar, os indivíduos que ocupam as mesmas posições tendem a vivenciar experiências semelhantes, o que possibilita o surgimento de um interesse de classe. E em terceiro lugar, as classes possuem um caráter diacrônico, entre gerações e no interior de uma mesma geração, o que aproxima a “classe social” weberiana das trajetórias prováveis de Bourdieu. Para complementar esse apanhado, o artigo discutiu as práticas de socialização em grupos distintos. Afirmei que a análise de classes presente em A Ética ocupa um lugar secundário no campo de estudos sobre estratificação, o que configura um equívoco, pois a obra
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521617discute a incorporação do ethos capitalista em diferentes posições de classe, a partir da persecução do lucro e do trabalho disciplinado entre os proprietários e nãoproprietários, respectivamente. Weber também analisou a formação de um interesse de classe entre os membros da classe média ascendente industrial, que foram os primeiros representantes desse novo tipo de estratificação. Mas a partir de um olhar retrospectivo, Weber apenas sugeriu os mecanismos que garantiram o aprendizado de um gesinnung utilitarista, em uma espécie de socialização ética (BARBALET, 2008). Novamente, os textos de Bourdieu (2007b, p.15) podem ajudar a “restituir às análises weberianas toda a sua força e alcance”. Laval (2006) entende que o protestantismo ascético ocasionou o enraizamento de um habitus capitalista. Mas pensando para além de A Ética, as maiores dúvidas recaem sobre I) a estratificação desse fenômeno; e II) as práticas de aprendizado que transmitiram o habituscapitalista no ambiente familiar, em instituições educativas, na rotina de trabalho e através da educação religiosa. Sobre o ponto I, vale lembrar que Weber discutiu as especificidades, em diferentes estratos, de um gesinnungafinado ao mercado competitivo. No entanto, essas novas disposições foram tratadas a partir de seus elementos mais significativos, enfatizando as condutas e representações que passaram a ser compartilhadas e que promoveram a transição da estratificação estamental para a estratificação por classes. As particularidades do gesinnungem cada situação de classe se esvaem frente a um quadro típico-ideal, o que faz com que a estratificação das disposições para ver e agir, o foco da análise bourdieusiana, seja tratada apenas tangencialmente.Sobre o ponto II, mais do que constatar o poder do argumento religioso, garantido pela legitimidade das novas doutrinas e pelo ajuste entre as promessas de salvação e as condições de existência, o arcabouço bourdieusiano permite elucidar os repertórios disponíveis (objetivamente oferecidos aos indivíduos) na disputa por benefícios materiais (recursos e propriedades) e simbólicos (estima e prestígio). Bourdieu (2007b) evocou essa lacuna na obra de Weber para justificar o uso do conceito de “campo religioso”, que extrapolando as percepções individuais e as interações diretas, possui propriedades estruturais. Isso se aplica a outros campos e ao espaço social como um todo, composto pelas posições de classe que se originam da distribuição desigual das espécies de capital. Bourdieu se dedicou ao aprendizado das formas de ação e pensamento pela socialização continuada, fenômeno fortemente diferenciado a partir das posições de classe. Essas posições se associam aos objetivos da socialização, através dos projetos de subsistência e mobilidade socioeconômica, e ao mesmo tempo condicionam os seus resultados, considerando a
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521618disponibilidade das espécies de capital e sua capacidade de reconversão. Afirmei que, enquanto o gesinnungse manifesta como um ethoscoletivo que marca um modo específico de organização das relações humanas, o habitusrepresenta um sistema específico de práticas e representações, fortemente atrelado a uma posição no espaço social. A teoria do habitustambém é inseparável de uma teoria da socialização, o que propiciou avanços empíricos importantes no campo de estudos sobre a estratificação social.Ao final, o texto sugere que a abordagem bourdieusianapode ser articulada à análise histórica de Weber. Um dos caminhos possíveis, seguindo os argumentos anteriores, combina a análise diacrônica da formação de certos ethoscoletivos e o estudo sincrônico da sua manifestação particular em diferentes estratos de classe. Penso que isso constitui um tema interessante para pesquisas e debates futuros.AGRADECIMENTOS: Agradeço aos integrantes do Grupo de Trabalho Teoria Social: Agendas, Desafios e Perspectivas da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) pelos comentários endereçados a uma versão anterior deste artigo no ano de 2018. Também agradeço a Edison Bertoncelo, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP) e Murillo Marschner, professor deste mesmo Departamento, pelas discussões que muito me ajudaram na elaboração do artigo. Finalmente, agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo financiamento da Bolsa de Doutorado durante o desenvolvimento desta pesquisa. REFERÊNCIASARCHER, P.; ORR, R. Class identification in review: past perspectives and future directions. Sociology Compass, v. 5, n. 1, p. 104-115, 2011.BARBALET, J. Weber, passion and profits: “The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism” in context. New York: Cambridge University Press, 2008.BENSON, R. News media as a ‘journalistic field’: what Bourdieu adds to new institutionalism, and vice versa. Political Communication, v. 23, n. 2, p. 187-202, 2006.BIDET, J. Questions to Pierre Bourdieu. Critique of Anthropology, v. 4, n. 13, p. 203-208, 1979. BOTTERO, W. Class identities and the identity of class. Sociology, v. 38, n. 5, p. 985-1003, 2004.BOURDIEU, P. O poder simbólico.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521619BOURDIEU, P. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento.Porto Alegre: Zouk, 2007a.BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007b.BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 2011.BOURDIEU, P. O senso prático.Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.BOURDIEU, P.; SCHULTEIS, F.; PFEUFFER, A. With Weber against Weber: in conversation with Pierre Bourdieu. In:SUSEN, Simon; TURNER, Brian. The legacy of Pierre Bourdieu: critical essays.London: Anthem Press, 2011.p.111-124.CHAN, T.; GOLDTHORPE, J. Class and status: the conceptual distinction and its empirical relevance. American Sociological Review, v. 72, p.512-532, 2007.DENHARDT, R.; JEFFRESS, P. Social learning and economic behavior: the process of economic socialization. The American Journal of Economics and Sociology,v. 30, n. 2, p.113-125, 1971.GOLDTHORPE, J. Back to class and status: or why a sociological view of social inequality should be reasserted. Revista Española de Investigaciones Sociológicas,v. 137, p.201-215, 2012.GROSSEIN, J.-P. Peut-on lire en français ‘L’Éthique protestante et l’espirit du capitalism’? European Journal of Sociology, v. 40, n. 1, p.125-147, 1999.HENRY, P. Social class, market situation and consumers’ metaphors of (dis)empowerment. Journal of Consumer Research, v. 31, n. 4, p.766-778, 2005.HÉRAN, F. La seconde nature de l'habitus: tradition philosophique et sens commun dans le langage sociologique. Revue Française de Sociologie, v. 28, n. 3, p.385-416, 1987.JOPPKE, C. The cultural dimension of class formation and class struggle: on the social theory of Pierre Bourdieu. Berkley Journal of Sociology, v. 31, p.53-78, 1986.KEMPER, T. References groups, socialization and achievement. American Sociological Review, v. 33, n. 1, p.31-45, 1968.LAVAL, C. La “cage” de Weber”. Temporel: Revue littéraire et artitisque.2006. Disponível em: http://temporel.fr/La-cage-de-Weber. Acesso em: 27 jan. 2020.NASH, R.Bourdieu, ‘habitus’, and educational research: is it all worth the candle? British Journal of Sociology of Education, v. 20, n. 2, p.175-187, 1999.PETERS, G. Bourdieu em pílulas (5): a teoria dos campos.Que Cazzo, 2006. Disponível em: http://quecazzo.blogspot.com.br/search/label/Bourdieu?updated-max=2016-05-26T12:48:00-03:00&max-results=20&start=3&by-date=false. Acesso em: 29 out. 2016.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521620SELL, C. Max Weber and the debate on social classes in Brasil. Sociologia & Antropologia, v. 6, p.351-382, 2016.SILVA, E. Unityand fragmentation of the habitus. The Sociological Review, v. 64, p.166-183, 2016.SPENCER, M. The Social Psychology of Max Weber. Sociological Analysis, v. 40, n. 3, p.240-253, 1979.SWEDBERG, R. The Max Weber dictionary: key words and central concepts.Stanford: Stanford University Press, 2005.WACQUANT, L. Poder simbólico e fabricação de grupos: como Bourdieu reformula a questão das classes? Novos Estudos, v. 96, p.87-103, 2013.WEBER, M. Classe, Estamento e Partido. In: GERTH, Hans; WRIGHT MILLS, Charles (orgs.). Max Weber: ensaios de sociologia.Rio de Janeiro: LTC Editora, 1982.p.11-228.WEBER, M. A ‘objetividade’ do conhecimento nas ciências sociais. In: COHN, G.(org.). Sociologia: Max Weber.São Paulo: Editora Ática, 2003.p.79-127.WEBER, M. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo.São Paulo: Companhia das Letras, 2004.WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 2012.WEININGER, E. Foundations of Pierre Bourdieu’s class analysis. In: WRIGHT, E.(org.). Approaches to class analysis.Cambridge: Cambridge University Press, 2005.p.82-118.
image/svg+xmlInterfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classesEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521621Como referenciar este artigoMENEZES, Vitor Matheus Oliveira de. Interfaces entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classes.Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. 00,e022029,2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15216Submetido em: 10/05/2022Revisões requeridas em:12/06/2022Aprovado em: 18/07/2022Publicado em: 21/12/2022Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152161INTERFACES BETWEEN MAX WEBER AND PIERRE BOURDIEU IN CLASS ANALYSISINTERFACES ENTRE MAX WEBER E PIERRE BOURDIEU NA ANÁLISE DE CLASSESINTERFACES ENTRE MAX WEBER Y PIERRE BOURDIEU EN EL ANÁLISIS DE CLASESVitor Matheus Oliveira de MENEZES1ABSTRACT: This article focuses on similarities and disagreements between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysis. For this, four themes are discussed: the Weberian contribution regarding types of social stratification, notably class and status; the class analysis presented in The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, focusing on dispositions related to competitive capitalism; the Bourdieusian proposal on class positions, resulting from expressive procedures and differential access to capital species; and the incorporation of habitusbased on socialization experiences.KEYWORDS: Class. Socialization. Max Weber. Pierre Bourdieu.RESUMO: Este artigo aborda as proximidades e discordâncias entre Max Weber e Pierre Bourdieu na análise de classes. Para isso, são discutidos quatro temas: a contribuição weberiana sobre os tipos de estratificação social, notadamente classe e status; a análise de classes presente n’A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, com foco no aprendizado de disposições afinadas ao capitalismo competitivo; a proposta bourdieusiana sobre as posições de classe, decorrentes de procedimentos expressivos e do acesso diferencial às espécies de capital; e a incorporação dos habitusa partir das experiências de socialização.PALAVRAS-CHAVE: Classe. Socialização. Max Weber. Pierre Bourdieu.RESÚMEN:Este artículo aborda las proximidades y desacuerdos entre Max Weber y Pierre Bourdieu en el análisis de clases. Para ello, se discuten cuatro temas: la contribución weberiana sobre los tipos de estratificación social, en particular la clase y el estatus; el análisis de clase presente en La Ética Protestante y el Espíritu del Capitalismo, centrado en el aprendizaje de las disposiciones en consonancia con el capitalismo competitivo; la propuesta bourdieusiana sobre las posiciones de clase, derivadas de los procedimientos expresivos y del acceso diferencial a las especies de capital; y la incorporación del habitusa partir de las experiencias de socialización.PALABRAS CLAVE:Clase. Socialización. Max Weber. Pierre Bourdieu.1University of São Paulo (USP), São Paulo SP Brazil.PhD in Sociology, PostgraduateProgram in Sociology (PPGS). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3076-0815.E-mail: vitormenezes@usp.br
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152162IntroductionClass analysis constitutes one of the pillars of Sociology, which has dedicated itself to discussing, since the mid-nineteenth century, power relations in modern societies. This article addresses the contributions of two of the most important authors in the field, Max Weber and Pierre Bourdieu, highlighting the implicit and explicit interfaces between their works.Undoubtedly, Weber's influence is manifested in several Bourdieusian writings. Benson (2006) states, for example, that the starting point for theconcept of field was the understanding, originally Weberian, that modernity would be responsible for differentiating societies into specialized and partially autonomous spheres of action. However, if the Weberian writings on personality and ordering life served as an inspiration, the French author analyzed the forms of behavior that could be consolidated without “real interactions”, which distanced him from methodological individualism (BOURDIEU; SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011). Certainly, Bourdieu's posture issimilar when referring to class analysis. The sociology that is conventionally called “dispositionalist” defended Weber's basic assumptions so that, based on changes and additions, “restore to Weberian analyzes all their strength and scope” (BOURDIEU, 2007b, p.15, our translation).Authors such as Joppke (1986), Henry (2005) and Weininger (2005) claim that Bourdieu integrated the Weberian concepts of class and status into the same theoretical construct. We will return to the subject later, but it is surprising that other aspects, perhaps even more significant, have received little attention from the academic literature, such as the class analysis present in The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalismand its influence on Bourdieusian thought. The same can be said about the stratified character of individual dispositions and the study of socialization practices. Therefore, I aim to fill a gap opportunely pointed out by Sell (2016), comparing, within a circumscribed theme, the contributions of Weber andBourdieu to investigations on social stratification.This article is divided into four more sections. In the first, I present the Weberian contributions that are commonly evoked in studies about classes, for in the second, I discuss elements of The Ethicthat deepen the theme. In the third, I introduce the mapping of class positions in Bourdieu, an effort complemented by a fourth section, which reflects the learning of dispositions through continued socialization.
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152163Class and status in Max WeberTranslating power relations into specific historical individualities, the concepts of class and status express differential access to resources and opportunities in stratified societies (WEBER, 1982)2. Class, constitutive of the economic order, concerns the way in which goods are produced and appropriated from specific positions in the market. Status, on the other hand, refers to access to immaterial resources, such as esteem and prestige, in a system of symbolic hierarchies. The groups produced in this way, which make up the social order, result from the principlesof consumption of goods, creating different lifestyles (WEBER, 1982).To characterize a group as a class, three special conditions are necessary: individuals share a causal element in their life chances; this element is defined exclusively by income and property; and it comes from market conditions, products or work. The intersection between these points produces a class situation, “a typical opportunity for an offer of goods, external living conditions and personal life experiences” (WEBER, 1982, p.212, our translation).Living conditions and personal experiences synthesizethe antagonism between ownership and non-ownership. On the subject, the author gives importance to the type of property to be used for profit and the types of services that can be offered in the competitive market. In addition to enabling the identification of a class situation, these components characterize the meaning given to the use of property, which distinguishes, for example, leaseholders owners from business owners (WEBER, 2012).While the property/non-property binomial refers to the positions assumed by individuals in the market, the term “social class” contemplates the changing nature of economic life, encompassing class situations in which personal change, as well as in the succession between generations, is “easily possible and typically occurs”(WEBER, 2012, p. 199, our translation). So, we would have social classes in four types of class situation: in workers in general, and more intensely with the automation of the work process; in the petty bourgeoisie; on non-proprietary intellectuals and professional specialists; and in the classes of proprietors and “privileged by education”.However, a class does not necessarily correspond to a defined community guided by belonging relationships. For Weber (1982), classes, as effective dimensions of motivation for action, represent something to be produced, not defined a priori, since the “creation” of classes depends on economic interests focused on the existence of the market. Class interest is a 2Sell (2016) states that the first Weberian contribution on the subject included the “party”, which was modified in a later text, which was part of the collection Economy and Society(Economia e Sociedade-WEBER, 2012). For this reason, I stick only to the concepts of class and status.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152164direction of interests that develops with a certain probability for an average of people subjected to the same class situation. For corresponding community actions to take place, it is necessary that general cultural conditions, mainly of an intellectual type, be able to create categories with relative importance for the orientation and motivation of actions. In addition, contrasts between classes must become more or less visible, revealing the link between causes and consequences of the class situation. This link, perceived and operated by individuals and groups, empties the absolutization of the economic order, converting it into something subject to appreciation and historical change.The strataconstitute communities in themselves, although often of the amorphous type, associated with “every typical component ofthe destiny of men, determined by a specific estimate, positive or negative, of honor” (WEBER, 1982, p. 218, our translation). If the class situation comes from the dispute in a given economic order, conditioned to the possession of certain resources, thestatus derives from belonging to a group or social circle that establishes, based on perceived differences, a certain position in a symbolic hierarchy.Commonly, stratumhonor is established in a terrain different from possession in the competitive market. Although material monopolies provide grounds for status categorization, they are not sufficient in themselves. That said, a specific lifestyle is expected for everyone who wants to belong to a social circle, with the development of the social class linked to the experimentation of the social order as something “lived” (WEBER, 1982, p. 218). It is seen that stratumhonor is associated with values that go beyond the market situation, instilling the need for distinctive symbols such as tastes, clothing, housing characteristics, etiquette and friendship network.The excerpts above allow us to foresee that class and status do not exist in empirical reality, but represent ideal types, that is, abstract models that integrate a homogeneous framework of thought. The ideal types are obtained through the selection and unilateral accentuation of the dimensions understood as significant in a phenomenon. Its purpose is to connect and organize empirically diffuse, isolated and ambiguous phenomena, proving to be useful forsociological research insofar as it serves as a comparative reference to empirical data. For Weber (2003, p. 105-106, our translation):It offers us an ideal picture of events in the consumer goods market, in the case of a society organized according to the principle of exchange, free competition and strictly rational action [...]. Due to its content, this construction has the character of a utopia, obtained through the mental accentuation of certain elements of reality [...]. Although it does not constitute an exposition of reality, it intends to give it unambiguous expressive means.
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152165It is, therefore, the “idea” of the modern and historically given organization of society in a market economy [...]. It is not by establishing an average of the economic principles that actually existed in all the cities examined, but rather by constructing an ideal type, that in the latter case the concept of “urban economy” is formed.Class constitutes an “idea” about the distribution of power. However, concrete cases show the interface between the two types of stratification, when the “place” occupied by the individual in the market corresponds to a certain degree of prestige and a “way of life”. Weber (1982) exemplifies from the categorization of urban space in the United States, in a context of “traditional democracy”. Only residents of certain areas would be considered full members of society, qualified for everyday relationships. In this case, there is a convergence between status and class situation, to the extent that the differentiated use of urban space stems from access to housing as a commodity, subject to the “price war”. “By far”, the class situation is the predominant factor for the expression of expected lifestyles in a status group, since these styles are economically conditioned3(WEBER, 1982).The above ideas underlie much of the neo-Weberian studies on classes. In particular, Goldhtorpe(2012) and Chan and Goldthorpe (2007) departed from the concepts of class and status to state that inequality is a two-dimensional phenomenon. On the one hand, classes translate the positions of individuals in the labor market, considering employment relationships in an occupational structure, which condition individual behaviors and “life choices”. On the other hand, status manifests itself through friendship bonds, translating perceptions of proximity and distance into a system of symbolic hierarchies.It is, in a way, a common procedure to resort to these references to account for Weber's contributions on social stratification. But one of his most robust analyzes is found in The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, which still has little echo in this field of study.Class analysis in The Protestant Ethic and the Spirit of CapitalismIn The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, Weber (2004) highlights a historical fact that was easily observable: the greater presence of Protestants in the capital-owning strata, as well as in the upper layers of skilled labor. The author explained the phenomenon based on the propensities to see and act that differentiate religious doctrines. Protestants, with “a specific 3For Weber (2003), economic phenomena are associated with the satisfaction of needs through the use of limited resources. Economically relevant phenomena, on the other hand, have, under certain circumstances, an economic significance, even though they are not representative of conscious acts aimed at economic ends. Finally, economically conditioned phenomena are to a certain degree determined or influenced by economic phenomena, as happens in the distribution of artistic taste, which stems from the social composition of the appreciating public.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152166inclination towards economic rationalism”, were endowed with dispositions adjusted to the competitive market (WEBER, 2004, p. 33, our translation).However, the adequacy between the capitalist economic form and its “spirit” (the daily conduct of life by agents, based on intramundane asceticism) does not result from a universal law. To this adequacy, Weber (2004) gives the name ofelective affinity, through which Protestantism and the capitalist enterprise reinforced each other, the first as a form and the second as a driving force4. Being a “proof” of the authenticity of human faith, methodical and tireless work was valued by thenew doctrines, underlining the influence of social groups on economic behavior (DENHARDT; JEFFRESS, 1971). The two poles of the binomial property (owners of possessions and capital goods) and non-property (expropriated of the means of production) assumed the exercise of work as a “mission” to be accomplished on land, based on the idea of a professional vocation.But for it to be widely disseminated, the capitalist ethic had to overcome some obstacles, especially traditionalism. A gesinnungwas needed to work that would emancipate individuals from customary living standards, guided by minimum-effort calculations. In the English-language version, Talcott Parsons translated gesinnungto attitudeor frame of mind, while in the French version, Isabelle Kalinowski opted for disposition. A similar term (disposição) was used by José Mariani de Macedo in the Brazilian edition edited by Antônio Flávio Pierucci.Swedberg (2005) recognizes the semantic plurality that gesinnungassumes in neo-Weberian studies, albeit with a certain unity of thought, by evoking lifestyles, ethosand mentalities that would be typical of religious companies. Grossein (1999) departed from a similar understanding, when he stated that gesinnungaddresses, in the original text, the inclinations and internal logic of economic action. The emergence of a gesinnungadjusted to the competitive market would not be possible through an external action, such as an increase in wages, but as a result of an educational process. That was what allowed the “subjective appropriation of ascetic religiosity by the individual”, carving out a new “conduct of life” (WEBER, 2004, p. 137, our translation). Overcoming the traditionalist routine through religious education, an economically relevant phenomenon that cuts across classes, constitutes the central problem of The Ethic.As an example, Weber (2004) confronts the behavior of pietist workers with the so-called traditional ones. Unlike the latter, the pietist workers had “soberness, a spirit of saving and self-control”, characteristics that increased the productivity of work (WEBER, 2004, p. 56). 4Therefore, the role of the Protestant Reformation should not be understood as a “necessary cause” in the genesis of capitalism, but as an active element in a “historical constellation”(WEBER, 2004).
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152167It is worth noting that religious education did not provide upward socioeconomic mobility, but on the other hand, a class learning, internal to the working class itself, guaranteed the fulfillment of the demands submitted to the factory workforce. The capitalist business community, on the other hand, began to see, also as a result of an educational process, profit as something not reprehensible and subject to prosecution.If economic rationality cut across classes, pointing to convergences in religious education, it also manifested itself as a socially stratified phenomenon. The bearers of modern dispositions were, above all, the representatives of the rising industrial middle class, for some special reasons: far from the mercantile patriciate, which possessed family fortunes accumulated over generations, the “new rich” were agents who did not benefit from the traditional impositions on economic action. On the other hand, the rising middle class differed from the workers due to class situation, as they enjoyed property and capital goods. Although dispositions attuned to the capitalist spirit later manifested themselves in other groups, it was the rising middle class that was the stratum capable of pushing forward a new economic order, both in its form, based on material investments, and in its content, based on an instrumental rationality (WEBER, 2004).When talking about capitalist entrepreneurs, Weber (2004, p. 63, our translation) states that this group did not correspond to the “wealthy people with a more obvious or refined appearance”, since they were opposed to “ostentation and useless spending [...] and feel rather bothered by the external signs of the social deference he enjoys”. Utilitarian in nature, the order of life focused on economically interested behavior, which guaranteed financial return and capital investment. An ideal type that opposed the status, based on distinctive lifestyles and resources, producers of esteem. It is worth stating that these entrepreneurs were the bearers of a historically new pattern of stratification, extrapolating a specific individual conduct and marking the split between modern society and feudaltraditionalism.Elsewhere, Weber (2004, p. 161, our translation) states:A specifically bourgeois professional ethoshad emerged. With the awareness of being in the full grace of God and being visibly blessed by him, the bourgeois entrepreneur, on condition that he keeps himself within the limits of formal correction, that his moral conduct is irreproachable and that he does not make a scandalous use of his wealth, could pursue its profit interests and should do so. The power of religious asceticism, moreover, made available sober, conscientious, extraordinarily efficient workers who were committed to work as the purpose of their lives, willed by God.Economically conditioned, “personal life experiences” shaped the exercise of Protestant doctrine in different classes. Separated into owners and non-owners, holders of capital and
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152168sellers of labor power, individuals expressed their faith based on their class situation. On the one hand, the adoption of modern provisions, associated with instrumental rationality, allowed the liberation of the pursuit of profit as something worthy and ethically crowned. On the other hand, disciplined work, as an end to be pursued, subsidized the formation of a “willing” workforce to assume ways of seeing and acting consistent with modern capitalism.However, the means of incorporating gesinnunghave only been suggested. Weber (1982, p. 309, our translation) states that “economic ethics refers to the practical impulses of action found in the psychological and pragmatic contexts of religions”. Indeed, Kemper (1968) says that the Protestant ethic, as a value system based on individualism, asceticism and rationality, was perpetuatedthrough the commitment of individuals to the search for salvation. It is coherent to point out that the socio-psychology of TheEthicfocuses on the cognitive dimension of behavior, since personality and the conduct of life are shaped by “total” views of the world (SPENCER, 1979). When discussing the influence of these views on personal motivations and stimuli, TheEthicdid not present a more systematic theory on socialization, even though Weber has touched on the subject in other writings5. The adoptionof ascetic behavior stems from the legitimacy of the new religious doctrines, holders of the monopoly of salvation, which guaranteed the commitment of individuals to their normative guidelines.If, in Weber, we can speak of an “ethical socialization” (BARBALET, 2008), responsible for disseminating patterns of behavior adjusted to the functioning of the competitive market, this type of socialization is more announced than analyzed. The educational process, which reinforces and justifies the capitalist spirit in different class positions, remained far from an empirical instrumentalization. Before, it was already possible to punctuate the dialogues between Weber and the so-called “dispositionalist sociology”, but here, the similarities and differences stand out.To advance this investigative agenda, the next section discusses how in Pierre Bourdieu class positions are produced, and then, how dispositions to see and act in the world are introjected. The interfaces between the two approaches will be presented gradually throughout the text.5As, for example, when Weber (2012, p.141) recognizes that the domination exercised by the family and the school provides the “formation of the character of young people”, in addition to the circulation of cultural goods.
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.152169The “creation” of classes in Pierre BourdieuAccording to Bourdieu (2011), each individualoccupies a “position” in life in society, responsible for determining their preferences and behavior patterns. These positions underlie the dispute for scarce resources, conditioning the enjoyment of material goods and recognition (BOURDIEU, 2007a).The position occupied by an individual or group comes from access to the kinds of capital, material and incorporated, that circulate and are appropriated in particular contexts. In developed capitalist societies, positions derive especially from two types of capital (BOURDIEU, 2001): economic capital, materialized and defined by the possession of wealth and belongings; and cultural capital, related to incorporated knowledge and formation with institutional validity. Added to these types is social capital, with less relative weight, which concerns social relationships capable of guaranteeing access to opportunities, influence and esteem.The types of capital give individuals the ability to exercise power in certain fields. About this concept, the author oscillatesbetween a broader and a more restricted sense. According to Peters (2006), the field represents, in the first case, a comprehensive social space, as a class space. In the second, the concept portrays a specialized field of practices, in a “game” defined by the ability of individuals to take possession of material and immaterial resources.In addition to the momentary configuration of the fields, the author includes a diachronic view in his model, based on what he calls the “path effect”. When an individualoccupies a place in the social space, he does not necessarily remain in it over time. It is common for him to go through different positions, synthesizing changes in behavior patterns and access to capital (BOURDIEU, 2011; 2007a). Occasionally, trajectories manifest themselves as collective experiences, when a fraction of the class “is destined to deviate from the most frequent trajectory for the class as a whole”, disqualifying itself “by the high or low” (BOURDIEU, 2007, p. 104, our translation). But thetrajectories do not depend entirely on personal will. The origin position already determines which paths are possible, defining the possibilities that are “objectively offered” to individuals.To this objective aspect, which institutes classes as components of reality, the author adds another, of a symbolic nature, which aims to account for the processes of classification and reclassification that “manufacture” groups. Bourdieu (2013; 2007a) argues that social positions are not only a reflection of indicators such as income and education, but are also associated with language acts, responsible for defining relevant social practices and boundaries
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521610between groups. For this reason, Wacquant (2013, p. 96) states that one of the main innovations of Bourdieu's analysis was the questioning of the “ontological status of groups”, considering the practical and appreciation schemes that are shared in everyday life.In short, positions in the social space are endowed with meaning from categories that distinguish individuals and groups. Differences in access to goods, services and powers, perceived through these categories, become symbolic differences and start to compose a specific language (BOURDIEU, 2013). The main idea is that the individual, by being in a social space, cannot be indifferent. Each person is endowed with representations that allow him to establish value judgments. A difference only becomes a socially “pertinent” difference, or we could say, recognized and effective, when it is perceived by an agent or group endowed with the ability to convert, based on a classificatory scheme, the observable difference into a significant distinction (BOURDIEU, 2007a).Individuals who occupy the same place in the social space, although not necessarily going through the same experiences, are more likely to share everyday situations than “distant” individuals (BOURDIEU, 2013). By assuming a social position, an individual becomes subject to particular social experiences, partially shared by “close” agents. This is what allows sociological knowledge to outline theoretical classes “as homogeneous as possible”, even if they do not match “current” or “real” classes, as groups effectively mobilized and unified by interests (BOURDIEU, 2011, p. 24). The knowledge of juxtaposed positions in a social space allows the analytical cut of classes in their “logical” sense, represented by agents in identical or close positions and who, subjected to similar conditions, tend to perform similar practices and “position positions” (BOURDIEU, 2011).In other words, explanatory classes are “probable” classes, bringing together individuals who share everyday social experiences, therefore more likely to endorse common mobilization projects (BOURDIEU, 1989; 2011). It should be noted that proximity in the social space does not immediately result in the unity of individuals. The passage from the theoretical and probable to the real and concrete, “something that is about doing”, stems from the circulation of a set of symbolic resources, producing perceptions of belonging to a social position and of distinction towards other “distant” agents (BOURDIEU, 2011). As summarized by Bottero (2004), Bourdieu's proposal is fundamentally relational, since a class, following the “logic of distinction”, is always defined based on its position in relation to others.It's no secret that Bourdieu was heavily inspired by Weberian writings. As the French author points out, the position occupied in the social space gives the agent a set of intrinsic properties (proper to the position, associated with the conditions of existence) and relational
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521611(relative to other positions) (BOURDIEU, 1989). This duality had already been pointed out earlier by Weber, according to whom the peasant condition could be defined both by elements inherent in working with the land and by the position in relation to other social groups (BOURDIEU, 2007b). In empirical reality, the first element (the properties of the class situation) is closely related to the second (the properties of the class position),leaving the sociologist to isolate them through an effort of abstraction.Bourdieu (2007b, p. 14, emphasis in the original, our translation) also considers that Weber “opposes the class and the status group as two types of real units that would be confused more or less frequently”, depending on the degree of autonomization of the economic order in a society. On the other hand, Bourdieu proposes that class and status are nominal units, depending on the accentuation of the economic (classes) or symbolic (status) aspect in human relationships. The social order is only relatively autonomous, since it expresses economic differences from its own logic, transmuting goods into signs and economic actions into communicative acts (BOURDIEU, 2007b). This causes observable differences to be converted into significant distinctions, a phenomenon that the author calls “expressive duplication”.Bourdieu (2007b) included these expressive procedures in class analysis. The main reason for this inclusion is the fact that the autonomization of the economic order, based on the production and acquisition of goods, never occurs completely, even in developed capitalist countries. But not all individuals are able to participate in expressive procedures, as “the game of symbolic distinctions takes place [...] within the narrow limits defined by economic constraints”, which makes the distinction unfold as a “privileged game” (BOURDIEU, 2007b, p. 25, our translation).The concepts of class and status subsidized much of the debate on the interfaces between Weber and Bourdieu in class analysis (JOPPKE, 1986; HENRY, 2005; WEININGER, 2005). Archer and Orr (2011, p. 109) are assertive in stating that Bourdieu promoted a “reconceptualization” of the Weberian model, “collapsing” the border betweenclass and status. Consequently, the material dimension (effects of the economic order on life chances) and the symbolic dimension of life in society (perception, valuation and agency over social positions) started to compose a single theoretical model.Although the Bourdieusian proposition has been successful and widely referenced, the diagnosis of Weber has an important flaw. In the first topic, I argued that class and status do not constitute real units, as pointed out by Bourdieu, but rather ideal types, which are never fully realized in empirical reality. Like any ideal type, its objective is essentially analytical, maximizing the aspects understood as significant for the understanding of a phenomenon (in
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521612this case, the principles of stratification in certain historical individualities). While Bourdieu devoted himself to the “accentuation” of material and symbolic aspects through acts of language, Weber proposed a “mental accentuation” by the researcher, by elaborating homogeneous and simplified types that have high explanatory power. Instead of having promoted a “reconceptualization” of Weber (ARCHER; ORR, 2011), Bourdieu made a methodological shift, moving away from a pure model of stratification to, from the inductive analysis, discuss the division of classes in French society.Classes, dispositions and socialization of the habitusIn several passages, Bourdieu criticizes theoretical schools that would be incapable of accurately understanding social phenomena. Criticisms of it point to a new theory of socialization, based on dispositional learning and pre-reflective behavior.Objectivism considers “structure” as something already given, dissociated from the history of individuals and groups (BOURDIEU, 2013). This obscures the practices that reproduce and update the properties of a field, leaving the agent with only a supporting role (BOURDIEU, 1989). As for subjectivism, consciousness does not depend on the incorporation of structural properties. The result is a “totally ahistorical” approach (BOURDIEU, 2001, p.179), which takes into account the presence in the world as something evident, familiar, without historicizing the conditions that allow such appreciation. Finally, the theory of rational action understands action interested in maximum benefit as a universal practice of homoeconomicus, an assumption considered by the author as “unreal”. According to Bourdieu (2013), this modality of action portrays a specific phenomenon, conditioned to the attributes that allow long-term utilitarian thinking.The Bourdieusian analysis relies on these criticisms to introduce the concept of habitus, derived from the Aristotelian term hexis. Other thinkers had already undertaken this initiative, such as Friedrich Hegel (hexis), Edmund Husserl (Habitualität) and Marcel Mauss (body dimension of hexis) (BOURDIEU, 1989). As Bourdieu (1989, p. 62, our translation) follows, despite important disagreements, the cited authors aimed to “leave the philosophy of consciousness without annulling the agent in its truth as a practical operator of object constructions”. By defining habitusas a system of dispositions (ways of doing, thinking and feeling) transmitted through continued socialization, Bourdieusian sociology reinforced this perspective.
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521613We have seen that individuals in “close” social positions are subjected to similar experiences. This goes for continued socialization, which ensures the learning of the habitusfrom affective transactions between the individual and the social environment (BOURDIEU, 2001). Through socialization, the individual acquires a coherent system of “generating and organizing principles of practices and representations” and begins to be guided by a pre-reflective conscience that anticipates the results of actions based on past experiences, in the same way that it endows the world of senses, making it understandable (BOURDIEU, 2013, p. 97, our translation). For this reason, authors such as Bidet (1979) associate the internalization of habituswith the learning of cultural schemes that underlie behavior and worldviews.The habitustends towards stability, for two main reasons. First, dispositionscome from the conditions of existence, as a particular translation of “external” economic and social needs (BOURDIEU, 2013). In developed capitalist countries, even though socioeconomic mobility experiences have been widely documented by Sociology since the post-World War II period, the boundaries between classes are not so porous. The permanence of the habitusin a trajectory is due to the stability of the conditions of existence, and it is not by chance that Bourdieu emphasized the association between socialization and class position, as a mechanism for the reproduction of social structures (SILVA, 2016).Second, the habitusfunctions as an information filter, sedimenting a worldview that is more or less coherent. This led Bourdieu (2011) to emphasize theimportance of family socialization, since the dispositions taught early by families tend to be maintained and applied in other environments, verifying a line of complementarity between the family, school, work and the consumption spaces. However, the relationship between the conditions of existence and the habitusdoes not occur without contextual mediations. Daily life unfolds through the unpredictable confrontation between the habitusand the “event”, leaving sociological research to examine the possiblemismatches between the social conditions of habitusgeneration and the social conditions in which it manifests itself.I think that Bourdieu's theory of socialization can complement the introjection of gesinnung(or dispositions, as the term is usually translated) by ascetic Protestantism. Weber (2004, p. 165, ourtranslation) states that intramundane morality was dominated by rationalism, exerting an “overwhelming pressure [on] the lifestyle of all individuals who are born within this gear”. In a well-known passage, this determination was characterized as a “stiff crust of steel”, ein stahlhartes Gehäusein the original, or iron cagein Parsons's translation. The result was the consolidation of a new “political-social ethics” that underpinned “the mode of
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521614organization and functioning of social communities” in market economies (WEBER, 2004, p. 166, our translation).For Laval (2006), this ethics represents the sedimented capitalist habitus. If this habitusneeded a moral justification to gain validity, whichit borrowed from the legitimacy of religious enterprises, it soon after became a naturalized system of pre-reflexive dispositions. This interpretation was suggested by Bourdieu himself (2007b), who highlighted the role of religious power in transforming practices and worldviews. In other words, Weber analyzed the formation of a new “religious habitus”, transposable and inculcated by religious education.It can be said that the starting point for learning this habituswas the creation of a religious community, verifying, moreover, an affinity between the promises of salvation and class positions (legitimation of the order for the privileged classes, and promise of compensation for personal misfortunes for disadvantaged classes) (WEBER, 1982). But The Ethic only thematized the mechanisms that ensured the introjection of the habitus, noting a more or less direct link between the “total” views of the world and the patterns of behavior (SPENCER, 1979). This does not detract from the fact that Weber set a point ofno return in the sociological field, and thus some issues have become hotly debated, such as the importance of belief systems for the functioning of competitive capitalism. According to Héran (1987, p. 390, our translation), it is even possible to identify in The Ethicthe “motor element of the sociological invention of the habitus”.I do not intend to present a genealogy of the concept, a task already performed by Nash (1999). It is known that Bourdieu read The Ethicwith a particular objective, pondering how descriptions of traditional economic action would help him understand the M’Zab6(BOURDIEU; SCHULTEIS; PFEUFFER, 2011). However, more than discussing the inspiration for the concept of habitus, it is worth recognizing some bridges between the two contributions, especially regarding the incorporation of ways of seeing and acting in the world and its importance for the analysis of classes. Both authors found that individual dispositions, deep down, are collective phenomena. But it is precisely in this argument that a crucial difference between the two approaches resides.In Weber, capitalist gesinnungis based on instrumental rationality and intraworld asceticism, as a historical experience that is shared by individuals. The author used a retrospective look, which is so dear to German historicism, to discuss the roots and significantaspects of this collective ethos. Therefore, TheEthicunderlines the passage from status 6A territory in the Arabian desert inhabited by the Kharijites, Muslims with an ascetic lifestyle who closely resembled the Puritans studied by Weber.
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521615stratification to class stratification, something that demanded the incorporation of a specific gesinnungthrough religious education. Although Weber recognizes the stratified character of this incorporation (it is worth remembering the apology for profit and disciplined work, respectively between owners and non-owners), his work points to a historical convergence. Through it, individuals began to be guided by a capitalist habitusthat is more or less generalized, in the sense given by Laval (2006).Bourdieu, on the other hand, examined the disputes carried out by social groups regarding access to material and symbolic goods. His writings deal with the influence of living conditions on individual dispositions, with an emphasis on learning practices that transmit ways of seeing and acting in the world. Class positions cross these dispositions, at the same time as constraints (which practices are possible, since they depend on the investment of resources) and as structuring dimensions (which experiences result from class positions). The second point is what made the most progress in the sociological field from Weber to Bourdieu, and for this reason it is useful to read Weberian writings in the light of more recent contributions.If, for the German author, gesinnungrepresents a minimally shared collective ethos, in Bourdieu, habitusis consistent with a practical and pre-reflective sense that is relational (acquires meaningthrough the performance of individuals in a class space) and widely variable. What allowed this “turn” was the adoption of a synchronic approach, which instead of directing a retrospective look at the capitalist spirit, empirically verified how the practices of socialization and transmission of resources build individual dispositions. While Weber analyzed the formation of a capitalist habitus, Bourdieu discussed the differential formation of certain habituswithin capitalist societies, where individuals live in particular “worlds” depending on their origin and social trajectory.This perspective leveraged empirical studies on social stratification, in particular, by presenting a theory of socialization that went beyond the evocative aspect found in Weber. To advance this investigative agenda, future research may come to articulate the two approaches, recovering the emergence of certain collective ethos, responsible for modifying human relations and the production and circulation of resources; and its manifestation in the class strata, not only in a general and coherent sense, but observing its contours and mismatches in different “places” of the social space.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521616Final considerationsStudies on social stratification tend to examine the distribution of resources and opportunities, as well as the differential adoption of values and patterns of behavior. This article systematizes the contributions of Max Weber (in a historical approach based on ideal types) and Pierre Bourdieu (in a relational analysis directed to the logic of distinction) on the subject, highlighting the interfaces between the two approaches.In Weber, class appears as the type of stratification that characterizes modern societies, translating the position in the market andthe resulting chances of life. Bourdieu, on the other hand, attributes a broad meaning to the concept, including both material aspects and expressive procedures, reported by Weber to a system of symbolic hierarchies (status).Although this change is important, it is possible to verify a line of continuity between the authors. Firstly, this is manifested in the difference between the theoretical elaboration of classes, carried out by sociological knowledge, and its practical realization, insofar as social positions exert a significant influence on representations and patterns of behavior. Second, individuals occupying the same positions tend to have similar experiences, which makes it possible for class interests to emerge. And thirdly, classes have a diachronic character, between generations and within the same generation, which brings the Weberian “social class” closer to Bourdieu's probable trajectories.To complement this overview, the article discussed socialization practices in different groups. I stated that the class analysis present in TheEthicoccupies a secondary place in the field of studies on stratification, which configures a mistake, since the work discusses the incorporation of the capitalist ethosin different class positions, based on the pursuit of profit and disciplined work between owners and non-owners, respectively. Weber also analyzed the formation of a class interest among members of the rising industrial middle class, who were the first representatives of this new type of stratification. But from a retrospective look, Weber only suggested the mechanisms that guaranteed the learning of a utilitarian gesinnung, in a kind of ethical socialization (BARBALET, 2008). Again, Bourdieu's texts (2007b, p.15, our translation) can help “restore to Weberian analyzes all their strength and scope”.Laval (2006) understands that ascetic Protestantism caused the rooting of a capitalist habitus. But thinking beyond TheEthic, the biggest doubts fall on I) the stratification of this phenomenon; and II) the learning practices that transmitted the capitalist habitusin the family environment, in educational institutions, in the work routine and through religious education.
image/svg+xmlInterfaces between Max Weber and Pierre Bourdieu in class analysisEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521617Regarding point I, it is worth remembering that Weber discussed the specificities, in different strata, of a gesinnungtuned to the competitive market. However, these new dispositions were treated from their most significant elements, emphasizing the behaviors and representations that started to be shared and that promoted the transition from status stratification to class stratification. The particularities of gesinnungin each class situation vanish in front of an ideal-typical framework, which means that the stratification of dispositions to see and act, the focus of Bourdieusian analysis, is treated only tangentially.On point II, more than verifying the power of the religious argument, guaranteed by the legitimacy of the new doctrines and by the adjustment between the promises of salvation and the conditions of existence, the Bourdieusian framework allows us to elucidate the available repertoires (objectively offered to individuals) in the dispute for material benefits (resources and properties) and symbolic benefits (esteem and prestige). Bourdieu (2007b) evoked this gap in Weber's work to justify the use of the concept of “religious field”, which, extrapolating individual perceptions and direct interactions, has structural properties. This applies to other fields and to the social space as a whole, composed of the class positions that originate from the unequal distribution of kinds of capital.Bourdieu devoted himself to learning forms of action and thought through continued socialization, a phenomenon strongly differentiated from class positions. These positions are associated with the objectives of socialization, through subsistence projects and socioeconomic mobility, and at the same time condition their results, considering the availability of types of capital and their capacity for reconversion. I stated that, while gesinnung manifests itself as a collective ethosthat marks a specific way of organizing human relations, habitusrepresents a specific system of practices and representations, strongly linkedto a position in the social space. The theory of habitusis also inseparable from a theory of socialization, which provided important empirical advances in the field of studies on social stratification.In the end, the text suggests that the Bourdieusian approach can be articulated with Weber's historical analysis. One of the possible paths, following the previous arguments, combines the diachronic analysis of the formation of certain collective ethosand the synchronic study of its particular manifestation in different class strata. I think this constitutes an interesting topic for future research and debate.
image/svg+xmlVitor Matheus Oliveira de MENEZESEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022029, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1521618AGRADECIMENTOS: I would like to thank the members of the Social Theory Working Group: Agendas, Challenges and Perspectives of the National Association of Postgraduate Studies and Research in Social Sciences (ANPOCS) for their comments on an earlier version of this articlein 2018. I would also like to thank Edison Bertoncelo, professor at the Department of Sociology at the University of São Paulo (USP) and Murillo Marschner, professor at the same Department, for the discussions that helped me a lot in the preparation of the article. Finally, I would like to thank the National Council for Scientific and Technological Development (CNPq) for funding the Doctoral Scholarship during the development of this research.REFERENCESARCHER, P.; ORR, R. Class identification in review: past perspectives and future directions. Sociology Compass, v. 5, n. 1, p. 104-115, 2011.BARBALET, J. Weber, passion and profits: “The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism” in context. New York: Cambridge University Press, 2008.BENSON, R. News media as a ‘journalistic field’: what Bourdieu adds to new institutionalism, and vice versa. Political Communication, v. 23, n. 2, p. 187-202, 2006.BIDET, J. Questions to Pierre Bourdieu. Critique of Anthropology, v. 4, n. 13, p. 203-208, 1979. BOTTERO, W. Class identities and the identity of class. Sociology, v. 38, n. 5, p. 985-1003, 2004.BOURDIEU, P. O poder simbólico.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.BOURDIEU, P. Meditações pascalianas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento.Porto Alegre: Zouk, 2007a.BOURDIEU, P. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2007b.BOURDIEU, P. Razões práticas: sobre a teoria da ação. Campinas, SP: Papirus, 2011.BOURDIEU,P. O senso prático.Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.BOURDIEU, P.; SCHULTEIS, F.; PFEUFFER, A. With Weber against Weber: in conversation with Pierre Bourdieu. In:SUSEN, S.; TURNER, B. The legacy of Pierre Bourdieu: critical essays.London: Anthem Press, 2011.p.111-124.CHAN, T.; GOLDTHORPE, J. Class and status: the conceptual distinction and its empirical relevance. American Sociological Review, v. 72, p.512-532, 2007.
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