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Fazer a feira e conversar:
Estudo
das representações sociais de feirantes e consumidores
-
V
içosa
-
MG
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v.
27
, n.
00
,
e0220
32
,
2022
.
e
-
ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
1
FAZER A FEIRA E CONVERSAR: ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
DE FEIRANTES E CONSUMIDORES
-
VIÇOSA
-
MG
HAZ LA FERIA Y HABLA: ESTUDIO SOBRE LAS REPRESENTACIONES SOCIALES
DE JUSTOS Y CONSUMIDORES
-
VIÇOSA
-
MG
GOING TO FARMERS’ MARKET AND
TALKING: STUDY ON THE SOCIAL
REPRESENTATIONS GIVEN BY FARMERS’ MARKET VENDORS AND
CONSUMERS
-
VIÇOSA
-
MG
Parley Lopes
Bernini
da
S
ILVA
1
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
2
RESUMO
: O artigo analisa os significados atribuídos às feiras por
vendedores e consumidores,
sob a égide socioantropológica. Para tal, a revisão bibliográfica e a aplicação de questionários
semiestruturados na Feira Livre da Estação e na Feira de Economia Solidária e Agricultura
Familiar
–
Quintal Solidário (ambas no mun
icípio de Viçosa
-
MG) são os alicerces deste
trabalho. A análise, ancorada na Teoria das Representações Sociais, permite mapear aspectos
polissêmicos das representações sobre os alimentos, da produção econômica e das relações
socioculturais que se estabelec
em nesses espaços de hibridação frente às vivências
contemporâneas. O estudo conclui que vendedores e consumidores atribuem diferentes
significados econômicos e de interação social às feiras ora direcionados às questões econômicas
ora as trocas culturais q
ue nela são oportunizadas.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Feira
-
livre. Representações Sociais. Viçosa
-
MG.
RESUMEN
:
El artículo analiza los significados atribuidos a las ferias por vendedores y
consumidores, bajo la égida socio
-
antropológica. Para ello, la
revisión de la literatura y la
aplicación de cuestionarios semiestructurados en la Feira Livre da Estação y la Feria
Economía Solidaria y Agricultura Familiar
–
Quintal Solidário (ambas en el municipio de
Viçosa
-
MG) son las bases de este trabajo. El análi
sis, anclado en la Teoría de las
Representaciones Sociales, permite mapear aspectos polisémicos de las representaciones sobre
la alimentación, la producción económica y las relaciones socioculturales que se establecen
en estos espacios de hibridación frent
e a las experiencias contemporáneas. El estudio concluye
que vendedores y consumidores atribuyen diferentes significados de interacción económica y
social a las ferias, a veces dirigidas a cuestiones económicas, y otras a intercambios culturales
que se hac
en posibles en ellas.
PALABRAS CLAVE
:
Mercado abierto. Representaciones Sociales.
Viçosa
-
MG.
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brasil. Mestrado em Extensão Rural
(PPGER
-
UFV). ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
9278
-
1235. E
-
mail:
parley.bernini@posgrad.ufsc.br
2
Universidade Federal de Sant
a Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brasil. Docente do Programa de Pós
-
graduação em Administração (PPGAdm
-
UFSC), Pós
-
doutorado pela Escola Politécnica da Universidade de São
Paulo. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
5151
-
172X. E
-
mail:
rogerlacerda@gmail.com
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
e
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ISSN:
1982
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4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
2
ABSTRACT
: The article analyzes the meanings attributed to
farmers’ markets
by sellers and
consumers, under the socio
-
anthropological aegis. To this end, the lit
erature review and the
application of semi
-
structured questionnaires at the Estação Livre
Farmers’ market
and the
Solidarity Economy and Family Agriculture
Farmers’ market
–
Quintal Solidário (both in the
municipality of Viçosa
-
MG) are the foundations of t
his work. The analysis, anchored in the
Theory of Social Representations, allows mapping polysemic aspects of representations about
food, economic production and sociocultural relations that are established in these spaces of
hybridization in face of conte
mporary experiences. The study concludes that sellers and
consumers attribute different economic and social interaction meanings to
farmers’ markets
,
sometimes directed to economic issues, and sometimes to cultural exchanges made possible in
this space.
K
EYWORDS
:
Farmers’
Markets. Social Representation.
Viçosa
-
MG.
Introdução
Os estudos que tratam da formação das feiras
-
livres e mercados na história são de uma
variedade ímpar tendo como historicamente aceito que o aparecimento das feiras data do século
XI, com a abertura de vias comerciais entre oriente e ocidente tendo por rot
a de trânsito o Mar
Mediterrâneo, lugar de desenvolvimento comercial protagonizado pelos burgos (SACCO DOS
ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005). Em meados do século XIII, quando as rotas terrestres se
tornaram ameaçadoras, as vias marítimas ganharam importância e n
o século XIV a fixação dos
mercados em centros de relevância populacional (tal qual Londres) fez diminuir a importância
das feiras (PEDRO; COULON, 1985). Buscando o significado da palavra, Minnaert (2008
apud
CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p.
293) inform
am que “a feira é um espaço que
engloba um cenário de práticas sociais que fomenta e se dá pela relação interpessoal. A palavra
‘feira’ vem do latim
feria
, que significa ‘dia de festa’, é um local de vendas, trocas, encontros
e conversas”.
Além das trocas
comerciais, a feira é reconhecida como espaço de relações interpessoais
onde se intensifica “o contato face a face através do elo entre produção e consumo”
(GUIMARÃES; DOULA, 2018, p.
02). Esse aspecto não se limitou ao cenário europeu, mas
foi mantido tam
bém nas Américas. No contexto histórico brasileiro, assumem o papel de
oportunizar às populações urbanas o abastecimento de alimentos com os mais variados produtos
oriundos da agricultura, da pecuária, da pesca e do artesanato. Mascarenhas (2008
apud
GUIMA
RÃES, DOULA, 2018, p.
08) apontam que além da tradição ibérica, a feira
-
livre
brasileira herda “práticas africanas populares chamadas de quitandas, do quimbundo kitanda,
que
significa
mercado, constituídas por “agrupamentos de negras ao ar livre, acocorada
s ou
dispondo de tabuleiros, que comercializam produtos de pequenas lavouras e pescas”.
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Como referenciado por Cuervo; Hamann e Pizzinato (2019, p.
285), “a feira pode ser
entendida usualmente como o grupo de pessoas que ‘fazem a feira’
–
produtores(as),
co
nsumidores(as), e outras
–
, que compartilham interesse pelo seu espaço”. Assim, nela se faz
presente a abertura ora ao velho ora ao novo, num movimento de maleabilidade e hibridação.
Da Enfatizando as interações culturais que a ela propicia, Sacco dos Anjo
s, Godoy e Caldas
(2005, p.
19) consideram que uma de suas características é ser “um espaço social detentor de
atributos peculiares que, presumivelmente, asseguram sua persistência na sociedade
contemporânea”.
Entender sua persistência implica em contextu
alizar que no atual cenário de
industrialização dos alimentos temas pertinentes à segurança alimentar assumem relevância no
plano político e institucional (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) e é nas feiras
que os atributos do que é tido por “natural”, “
rural” e “saudável” se tornam mais visíveis em
sua diversidade e abundância. Além desses atributos, as feiras possibilitam a manutenção da
cultura alimentar e da identidade regional (PEREIRA; BRITO; PEREIRA, 2017), aproximando
consumidores e compradores. M
enasche (2004) ressalta que na atualidade a qualidade dos
alimentos é medida e reforçada quando associados ao campo, ora que são conexos ao que é
desejável. De tal maneira, a ligação com a origem rural do alimento:
parece condensar todas as vantagens que
distinguem o alimento desejável do
alimento industrializado. [...] Os alimentos que vêm de fora são considerados
os melhores. Das verduras, é dito que “até a folha é mais macia”. A galinha, a
carne e o leite, “não têm comparação”, “é outro gosto”, as do su
permercado
não chegam “nem a seus pés” (MENASCHE, 2004, p.
122).
Assim, a importância e persistência das feiras
-
livres se explicam, primariamente, pelas
novas orientações do consumidor que busca não apenas o que se nomeou por
food security
3
mas também os
safety food
. Em segundo lugar, contrastando com as relações impessoais e
anônimas dos supermercados, as feiras são caracterizadas como espaços sociais de troca de
saberes e práticas mercantis orientadas pelo reconhecimento mútuo entre feirantes e freguese
s
(GUIMARAES; DOULA, 2018).
Há de se considerar que antes de “chegar à feira” é necessária uma série de atividades
(plantio, colheita, distribuição, transporte, dentre outras) e quando se “está na feira” há uma
aproximação entre consumidor e feirante
-
pr
odutor e comerciante ao mesmo tempo
-
, o que
3
Entende
-
se os
food security
como aqueles com “orientação genérica em prol da ampliação da disponibilidade e
garantia ao acesso a alimentos social e culturalmente refere
nciados” e os
safety food
como aqueles com “garantias
em relação à qualidade dos alimentos e ausência de riscos à saúde para o universo de consumidores” (SACCO
DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005, p.
05),
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Bernini
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SILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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também implica “na manutenção de um espaço à viabilização da agricultura familiar regional”
(SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005, p.
19). Atualmente, para o consumidor,
saber onde, por quem e como são produzido
s os alimentos são fatores que indicam segurança
alimentar, consumo consciente e
status
diferenciado.
Pesquisadores brasileiros destacam que as feiras
-
livres permitem um estreitamento
cultural entre o rural e o urbano (CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004). Atividades
profissionais, econômicas, de lazer, educacionais e culturais se aproximam num fluxo que
envolv
e trocas de mercadorias, palavras, memórias e visões de mundo (COUTINHO; DOULA,
2014). Cuervo, Hamann e Pizzinato (2019), destacam que a feira é espaço de comunicação
interpessoal no qual:
estabelece
-
se pelo contato face a face uma ética relacional, envol
vendo
ocupação do espaço, produtos, pessoas, significados, conhecimentos
compartilhados. É nesse processo que a rede estabelecida gera relações de
confiança e marca, por exemplo, a legitimidade da qualidade dos alimentos
(CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p
.
293).
Seguindo a linha analítica dos valores simbólicos envolvidos no espaço das feiras, este
artigo se justifica ao buscar compreender quem são os indivíduos que “fazem a feira”; como
constroem as relações sociais e quais significados são atribuídos a
duas feiras: a Feira de
Economia Solidária e Agricultura Familiar (conhecida como Quintal Solidário), promovida
pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Feira
-
livre na Estação, promovida pela
Prefeitura Municipal de Viçosa, cidade localizada na Zona d
a Mata de Minas Gerais.
Algumas particularidades, como a prioridade de oferta de produção agroecológica local,
a economia solidária e a vinculação dessas feiras com pesquisadores da Universidade Federal
de Viçosa e redes de movimentos sociais justificam a
escolha desses espaços para a análise
aportada pelo uso da Teoria da Representações Sociais.
Caracterização das feiras
A Feira
-
livre da Estação é noturna, realizada na parte central da cidade de Viçosa, no
espaço conhecido como Balaustrada, um
guarda
-
corpo que circunda a Estação Ferroviária. A
criação da Balaustrada data de 1924. A Estação foi construída em 1912, em trecho da Estrada
de Ferro Leopoldina, e atualmente funciona como espaço cultural. A Estação foi tombada pela
Prefeitura Municipal
como patrimônio histórico
-
cultural em 1993 e a Balaustrada em 1999
(IPATRIMÔNIO, 2022).
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, Araraquara,
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A Feira da Estação, além da presença dos agricultores credenciados pela prefeitura,
conta com a participação da Rede Raízes da Mata (RRM), fundada em 2011, com o objeti
vo de
aproximar produtores (as) agroecológicos aos consumidores. A rede, mobilizada pelos grupos
de agroecologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Centro de Tecnologias Alternativas
Zona da Mata (CTA
-
ZM) e
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Popu
lares
(ITCP
-
UFV),
dentre outros, se propõe valorizar a produção local segura e incentivar o “surgimento de novas
experiências” em Viçosa (ARANTES
et al.
, 2018, p.07).
A participação da RRM é justificada ao se considerar que a atual homogeneização do
mercad
o agroalimentar não se atém às realidades locais e a padrões de qualidade. Dessa forma,
promove
-
se um espaço alternativo, abarcando quem produz, quem consume e os pesquisadores
da universidade e centros de pesquisa, visando promover “convívio social entre
produtores/as
e relação da Rede e dos/as produtores/as com outros atores sociais, acesso a mercados para
produtos agroecológicos e possibilidade de a comunidade local adquirir produtos
agroecológicos” (ARANTES
et al.
, 2018, p.07). Especificamente, a Feira
da Estação, criada
em 2017, têm compromisso de “oferecer hortifrutigranjeiros produzidos no município por
agricultores familiares, livres de agrotóxicos e irrigados com água tratada para garantir a
sanidade dos alimentos quanto à presença de vermes como co
liformes fecais e outros parasitos
que infestam o meio aquático” (FOLHA DA MATA, 2018, n.p.).
Já a Feira de Economia Solidária e Agricultura Familiar, ou Quintal Solidário, foi criada
em 2016 pela ITCP
-
UFV
4
juntamente com a Seção Sindical dos Docentes da
UFV (ASPUV).
Trata
-
se de um projeto de extensão desenvolvido pela UFV que objetiva “valorizar e promover
produtos e serviços de empreendimentos econômicos solidários e agricultoras/es familiares a
fim de promover geração de trabalho e renda, integração ent
re produtores(as) e
consumidores(as)” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.134).
Nesse projeto, pautas como agroecologia, segurança alimentar e sustentabilidade são
destacadas como distintivas. Sendo realizado no
campus
universitário da UFV, tem a
partic
ipação dos feirantes por seleção pública, desenvolvida por edital contemplando
“Empreendimentos Econômicos Solidários (grupos, associações, cooperativas) e
Agricultores(as) Familiares” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019. p.
11). De acordo
com Costa
et al.
(
2019, p.
12):
4
“A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da
Universidade Federal de Viçosa
-
ITCP
-
UFV é um
programa de extensão, interdisciplinar [...] Desde sua criação, a ITCP
-
UFV vem assessorando grupos populares
que desenvolvem diversas atividades econômicas, no âmbito da agricultura familiar, do artesanato, d
a reciclagem
popular, alimentação, prestação de serviços, entre outras” (LIMA COSTA;
SANTOS; PRIORE
, 2019, p.
14).
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O perfil das iniciativas envolvidas é variado, englobando movimentos sociais,
redes de pros
s
umidores, pacientes da saúde mental e participantes de projetos
de inclusão social. No total, são 35 barracas/bancadas divididas em três
setores: a) A
rtesanato (14); Alimentos minimamente processados (12) e
Hortifruti (09). [...]. Além da comercialização a feira pretende ser um espaço
de convivência e integração social, abrindo as portas da Universidade Federal
de Viçosa para comunidade de Viçosa por me
io de atrações culturais, espaço
para crianças e ofertas de oficinas. A programação cultural da Feira, por
exemplo, busca a valorização das atrações locais e desde o início do Quintal
já foram realizadas diferentes atividades como apresentações musicais,
o
ficinas de dança, cirandas, coral e capoeira.
De forma geral, tanto a Feira da Estação como o Quintal Solidário partem da premissa
de se tornarem espaços diferenciados de consumo, de valorização da produção local e
agroecológica e, no caso do Quintal, de
economia solidária. De acordo com idealizadores do
Quintal Solidário, a economia solidária abarca uma variedade de ações coletivas de cooperação
e solidariedade. Assim, “como crítica ao modelo econômico do lucro particularizado, a
economia solidária propõ
e suprimir as desigualdades criadas pela produção e distribuição,
priorizando interesses grupais e solidários através de assessoria técnica e científica, legal e
afins
”
(LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.
10
-
11).
Também objetiva facilitar o acesso às at
ividades geradoras de renda “em que o objetivo
econômico é acompanhado por objetivos sociais que produzem vínculos sociais e de
proximidade” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.
135). Trata
-
se “de um sistema
de articulação entre produtores(as), comercian
tes(as) e consumidores(as) a partir de relações de
confiança, transparência e proximidade” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.
11).
Ainda como crítica à “mera lógica utilitária inerente ao mecanismo do mercado a
economia solidária postula que a responsab
ilidade de autogestão dos processos econômicos seja
coletiva” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.
135
-
36) e apoia a inserção conjunta
dos diversos atores num comércio que envolva “a produção e o consumo segundo valores de
sustentabilidade e justiça (LIM
A COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.
11). Destaca
-
se que
no âmbito dessas iniciativas, entre 2009 a 2013 a agricultura familiar “correspondia a 52,6% da
atividade econômica solidária, como exposto pelo Sistema Nacional de Informações em
Economia Solidária (Si
es)” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.
11). Além desses
aspectos da produção e da comercialização, a economia solidária se volta a especificidades de
demandas do consumidor atual, que é mais exigente na sua decisão de compra, pois:
Agora, em sua aval
iação, esse consumidor considera um conjunto de fatores
como preço e qualidade, origem, procedência, sustentabilidade, relação com
o meio ambiente, com os colaboradores e comunidades participantes do
processo. Assim, diferentes oportunidades se apresentam
para o pequeno
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produtor. [...] o país concentra possibilidades concretas para os agricultores
familiares que, ao mesmo tempo em que são produtores de alimentos e outros
produtos agrícolas, desempenham a função de conservadores da
biodiversidade (BITTENCOUR
T, 2018, n. p.).
Ao caracterizar ambas as feiras, é perceptível a influência de pesquisadores e de
conceitos científicos na concepção e condução desses projetos, criando
-
se um perfil
diferenciado ou alternativo em relação à feira convencional. A partir dessas considerações
o
artigo investiga as representações sociais de feirantes e consumidores sobre os alimentos, a
produção econômica e as relações socioculturais que se estabelecem em ambos os espaços. O
percurso metodológico da investigação, de caráter qualitativo, envolve
u pesquisa bibliográfica
e aplicação de questionários semiestruturados a feirantes e consumidores, em 2020. Os dados
são analisados através da Teoria das Representações Sociais.
Representações sociais como formas de conhecimento e
interpretação
O marco da teoria das representações é creditado a Émile Durkheim, no início do século
XX com o conceito de Representações Coletivas, tendo sua reformulação por Serge Moscovici
em 1961
(LOPES, 2013) como Representações Sociais. Moscovici, ao
contrário de Durkheim,
que entendia as representações como formas de conhecimento estáveis, coletivas, coercitivas e
homogêneas, propõe a estudar as diferentes configurações de significados e de ação criadas por
grupos sociais heterogêneos os quais vivem
numa mesma sociedade. Seus estudos abriram
perspectivas investigativas em diferentes disciplinas (ARRUDA, 2002), posto que Serge
Moscovici priorizou as especificidades dos fenômenos representacionais da sociedade moderna
(JODELET, 2001).
As representações
sociais (e seu estudo) estabelecem uma interface entre as dimensões
sociais, culturais e psicológicas, exibindo um status transversal com diversas áreas de pesquisa
como a Antropologia e Sociologia. É, de tal modo, uma teoria de vinculação (ligação e coes
ão),
onde “a vigilância exercida pelo grupo sobre o indivíduo diminui à medida que os vínculos
entre eles se tornam mais densos e recíprocos” (MOSCOVICI, 2001, p.
56). São construídas
devido à necessidade de conhecer, compreender, ajustar, dominar, informa
r ou identificar o que
o sujeito tem a sua volta. Assim, a Teoria das Representações Sociais busca tratar os fenômenos,
observáveis diretamente ou reconstruídos, por intervém da ciência, legitimada como explicação
dos processos cognitivos e das interações
sociais. Para Sêga (2000):
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As representações sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e
pensar a realidade cotidiana, uma forma de conhecimento da atividade mental
desenvolvida pelos indivíduos e pelos grupos para fixar suas posições em
relaç
ão a situações, eventos, objetos e comunicações que lhes concernem. É
um conhecimento prático que dá sentido aos eventos que nos são normais,
forja as evidências da nossa realidade consensual e ajuda a construção social
da nossa realidade (SÊGA, 2000, p.
1
28
-
29).
Como proposto por Jodelet (2001, p.
17), as representações sociais “nos guiam no modo
de nomear e definir conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária, no modo de
interpretar esses aspectos, tomar decisões e eventualmente, posicionar
-
s
e frente a eles de forma
defensiva”. De tal forma não são algo fiel e fidedigno, “nem a parte subjetiva do objeto, nem a
parte objetiva do sujeito” (SÊGA, 2000, p.
129), mas sim a coesão entre o mundo,
seus
objetos
e os sujeitos que lhes conferem significa
dos.
A teoria das representações sociais focaliza as formas e conteúdo do conhecimento,
priorizando os aspectos cognitivos, emocionais e comunicativos que intervêm na criação,
modificação e circulação das imagens e dos significados, daí seu particular inte
resse pelos
discursos, dentre eles os orais, escritos, imagéticos ou propagados pelas diferentes mídias, por
exemplo (JODELET, 2001). Outro aspecto da teoria pondera que “deve ser estudada
articulando elementos afetivos, mentais e sociais ao lado da cogniç
ão, da linguagem e da
comunicação” (JODELET, 2001, p.26), pois a visão de mundo do sujeito (ou do grupo social)
e suas ações são explicitadas através do recurso representacional.
Representar implica “agir sobre o mundo e o outro, o que desemboca em suas fu
nções
e eficácia sociais” (JODELET 2001, p.
28). Igualmente, implica em dar sentido ao que é vivido
e experimentado (PESAVENTO, 1995), marcando pertenças sociais que possibilitam
identidades aos membros de uma comunidade, haja vista que “a natureza consens
ual de uma
representação é geralmente parcial e localizada” (LOPES, 2013, p.
25159). A dinamicidade das
representações sociais reside no fato de elas serem interpretações de uma realidade, que se
modifica no tempo, bem como pela própria circulação dos indi
víduos em diferentes grupos
sociais, ou seja, embora se torne “um instrumento referencial que permite a comunicação em
uma mesma linguagem, a representação está aberta “à possibilidade da polissemia, onde ora se
apresentam temas inovadores que provocam con
versões de experiências, de percepções que
conduzem a uma nova visão” (SÊGA, 2000, p.
130), ora se preserva a rigidez das formas de
pensar e agir já testadas e sancionadas.
Assim, a partilha social alude a um mecanismo de determinações conexas à estrutura
e
às relações
em que
dividir uma ideia (ou linguagem) é afirmar vínculos sociais e identificações
sujeitos a reformulações e validações constantes (JODELET, 2001). Em síntese, e como
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9
colocado por Serge Moscovici (2001, p.
55), as “representações ressaltam
os fatos e interpretam
uma realidade” que “é socialmente construída e o saber é uma construção do sujeito, mas não
desligada da sua inscrição social” (ARRUDA 2002, p.
151). A partir desses pressupostos, a
utilização da teoria das representações sociais ne
ste artigo implica em entender as feiras como
fenômeno onde produção, comercialização, consumo e interpretações enquanto elementos
indissociáveis (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) passíveis de discursos,
interpretações e disputas.
Procedimento metod
ológico
A pesquisa apresenta a uma análise qualitativa aportada na Teoria das Representações
Sociais. Como metodologia foram utilizadas a revisão bibliográfica e a pesquisa de campo, com
observação e aplicação de questionários nos espaços das duas feiras
descritas anteriormente,
entre agosto
e
setembro de 2020. Aplicou
-
se um questionário semiestruturado a 5 feirantes que
participam da Feira Livre da Estação e 5 para feirantes do Quintal Solidário.
Tendo 15 questões, indagava suas representações do que é a
feira livre; os significados
que atribuem à prática de feirante; como conjuga sua participação na feira e sua vida privada;
questões relacionadas à sobrecarga de trabalho (casa/feira), dentre outros aspectos a fim de que
pudessem expressar opiniões, deline
ar circunstâncias ou organizar associações de ideias ao que
se indagava. Sua aplicação se deu entre março
e
abril de 2020.
Outro questionário semiestruturado foi aplicado a 20 consumidores frequentadores (10
em cada feira) no mesmo período que dos feirante
s, em
ambos os casos
de forma não
intencional. Apresentava também 15 questões com as mesmas questões dos feirantes (com
exceção apenas da questão relacionada à sobrecarga de trabalho, sendo substituída por “defina
a feira numa palavra”).
Na análise utiliz
ou
-
se o
software
IRAMUTEQ e suas funções “Análise de Similitude”
(
que
consiste na elaboração de um tracejo que permite identificar o que é comum e o que é
específico nas falas de feirantes e consumidores sobre a feira) e “Nuvem de Palavras” (
na qual
se dis
põe o conjunto de locuções em dimensões dessemelhantes, considerando
-
se que as
palavras em maior tamanho indicam máxima importância no
corpus
textual, retiradas
conjunções; preposições e numerais), objetivando agrupar as falas dos entrevistados
-
inseridas
em sua integridade
-
“com a finalidade relacional, comparando produções diferentes em função
de variáveis específicas que descrevem quem produziu o texto” (CAMARGO; JUSTO, 2013,
p.03).
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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10
O artigo tem sua abordagem qualitativa, caracterizada como o conjunto
de técnicas
interpretativas que busca descrever e compreender o caráter subjetivo do sujeito/objeto,
estudando suas particularidades e experiências (MINAYO, 2009). Tal escolha advém ao fato
que, às vistas de Godoy (1995), o pesquisador apropria
-
se da natu
reza qualitativa quando há
diversos atores envolvidos nos múltiplos processos sociais e com diferentes percepções sobre
a realidade social que necessitam de uma análise particularizada, a qual nem sempre se obtém
quantitativamente (MINAYO, 2009).
É, por f
im, é um método científico de investigação que foca no caráter subjetivo do
sujeito/objeto analisado, estudando as suas particularidades e experiências individuais.
(JACCOUD; MAYER, 2008). A justificativa para seu uso adveio ao fato de que por este
instrum
ento pode
-
se coletar do sujeito suas visões de mundo a partir da realidade que se tem,
ora que a aplicação “com os usuários é uma forma de compreender qualitativamente suas
motivações e expectativas” (FABERLUDENS, 20
11
, p.
5), ancorada na análise de
conteúdo.
A análise de conteúdo é tida como aporte descritivo e interpretativo, amplamente
utilizada pela Teoria das Representações Sociais, já que nos discursos (orais, escritos, visuais)
as representações se materializam, ou seja, torna
-
se possível uma a
nálise das ideias e das
diferentes visões de mundo que as narrativas veiculam (JODELET, 1993; 2001; MOSCOVICI,
2003; ARRUDA, 2014), haja vista que “
tudo que é dito ou escrito é passível a análise de
conteúdo
” (HENRY; MOSCOVICI, 1986, p.
36
, tradução nossa
)
.
Resultados e discussão
A partir da questão aberta que indagava aos feirantes e aos consumidores o significado
da feira e sua importância, obteve
-
se um conjunto de termos que denotam representações de
sentido positivo, tanto na dimensão
econômica para os feirantes, como na dimensão cultural,
para os consumidores (
Figura
1):
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Fazer a feira e conversar:
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das representações sociais de feirantes e consumidores
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11
Figura 1
–
Análise de similitude para o significado da feira
Fonte:
Dados
da pesquisa, 2020
Os termos identificados no canto superior esquerdo correspondem às
respostas dos
feirantes, que entendem a feira como espaço propriamente físico, como
“lugar” e “sustento”.
Verifica
-
se que há uma interpretação de que é neste espaço que se dá o escoamento e
comercialização de seus produtos e é através dele que sua atividade é reconhecida por parte de
quem os adquire (SATO, 2007; SILVA
;
SILVA, 2016; BORTOLO
;
MELO
;
FERREIRA
,
20
19). Assim, a feira é lugar de trabalho, mas este trabalho conjuga as tarefas anteriores da
produção agropecuária e do transporte (COUTINHO; DOULA, 2014), que permite maior
aproximação do rural com o urbano. Pelo trabalho na feira, os feirantes retiram a r
enda do seu
sustento (ao mesmo tempo em que contribuem para o sustento alimentar dos consumidores),
mas esse não é um espaço onde o trabalho é visto por seus aspectos negativos; ao contrário, o
termo diversão indica informalidade e uma interpretação lúdica
da atividade.
Os termos dispostos no canto inferior direito foram enunciados pelos consumidores,
sendo as palavras de maior evocação
“conversa”, “alegria”, “cultura” e “festa”.
Pode
-
se
entender que as representações destes sujeitos priorizam a feira no âm
bito das práticas e
dinâmicas socioculturais, de comunicação e aprendizado, onde quem comercializa aprende com
quem adquire e o contrário também se faz (SACCO DOS ANJOS
;
GODOY
;
CALDAS
,
2005;
CUERVO
;
HAMANN
;
PIZZINATO, 2019). Nessa prática cultural verifica
-
se que a conversa
é o exercício fundamental de troca e interconhecimento, o que contrasta com a impessoalidade
e o anonimato das relações estabelecidas nos supermercados.
Ao se questionar aos consumidores sobre a sensação de estar na feira, termos ligados
ao
bem
-
estar são destacados, detalhando emoções positivas que indicam as trocas pessoais que se
sobrepõem ao simples ato de comprar e consumir (
Figura
2).
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
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Figura 2
–
Nuvem de palavras
–
consumidores
Fonte:
Dados
da pesquisa, 2020
Termos como
“cultural”; “gente”; “alegria”, “bem
-
estar”
e “felicidade” demonstram a
vontade dos consumidores em estar nesses espaços justamente por permitirem sensação de
acolhimento se comparados com outros estabelecimentos comerciais. Termos como “gente”
,
“amigos”, “parentes” indicam familiaridade e intimidade. Deve
-
se considerar que nessas feiras,
como visto anteriormente, além do comércio de alimentos, há apresentação de atividades
artísticas e culturais onde palavras como “atração”, “animado”, “cultura
l” e “alegria” reforçam
o significado da feira como “lugar” de espetáculo cultural e de identidade regional (SÊGA
;
2000; PEREIRA
;
BRITO
;
PEREIRA, 2017; CUERVO
;
HAMANN
;
PIZZINATO
,
2019). De
igual modo, ao questionar
“
o que significa estar na feira
”
aos feir
antes (
Figura
3), as respostas
indicam um conjunto diferente de termos, que constroem uma narrativa sobre o trabalho e sobre
a feira como “lugar” de “sustento”, como mostrado na Figura 1
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Fazer a feira e conversar:
Estudo
das representações sociais de feirantes e consumidores
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Figura 3
–
Nuvem de palavras
–
feirantes
Fonte:
Dados
da pesquis
a, 2020
Na imagem verifica
-
se que termos relacionados ao trabalho remetem à valorização da
atividade agrícola, do “plantar” e da preocupação em ofertar alimentos sem “agrotóxico” que
reforçam a ideia de
food security
e de
safety security
e que simbolicamente atestam uma
agricultura que oferta alimentos saudáveis e naturais (CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004;
SACCO DOS ANJOS
;
GODOY
;
CALDAS, 2005). Vale lembrar que ambas as feiras têm a
oferta de produtos agroecológicos como objetivo e critéri
o de triagem dos feirantes.
Há ainda destaque para termos como
“pais”, “irmão”, “ocupação”
e
“
profissão
”
indicando uma relação direta com a transmissão geracional da atividade. A transmissão da
profissão e das barracas perpassa gerações de feirantes, seja
nas feiras livres, seja nos mercados
municipais (GUIMARÃES; DOULA, 2018). Assim, quando se perguntou aos feirantes quem/o
que influenciou a ser feirante, 70% dos entrevistados afirmaram que tiveram os pais como
referência; 20% não apontaram quem os motivou
e 10% aludiram à família, sem especificar a
figura materna ou paterna no discurso. Alguns relatos, transcritos a seguir, apresentam
semelhanças quanto à influência geracional, notadamente entre feirantes que trabalham na Feira
da Estação:
Meu pai, e hoje
a gente trabalha junto. Tem quarta que ele vem e na outra eu
que venho trabalhar (
E1
,
Homem, Feira Livre da Estação).
Minha família (pai e mãe) é toda da roça (...) e por isso é o que aprendi a fazer,
não tive a oportunidade de estudar mais que a 3ª sér
ie sabe, mas incentivo
muito meus filhos. Falo assim ó: se quiser ficar na feira pode, mas é importante
estudar muito. É melhor a mão inchada que a enxada na mão. (
E3,
Mulher
Feira Livre da Estação).
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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As falas dos feirantes da Estação confirmam uma
representação orientada a uma
realidade social construída e compartilhada (JODELET, 2001; LOPES, 2013), na qual a
herança profissional e a identidade familiar validam uma ideia coletiva do vínculo de sucessão
e continuidade com o grupo ao qual os indivíduo
s pertencem. Ser feirante é um elo simbólico
entre os parentes, notadamente entre pais e filhos, que pressupõe a passagem geracional de um
patrimônio que permite criar relações de afetividade com as pessoas que frequentam a feira e
com o próprio “lugar” on
de o trabalho se concretiza com a afirmação de que “
É algo da família
né? Já veio de berço e a gente vai seguindo. Acho que ninguém aqui tá na feira por tá, é algo
da família. Eu acho
”
(
E4
,
Mulher, Feira Livre da Estação)
.
Já os feirantes do Quintal Solid
ário, apesar de alguns respondentes ratificarem a
influência familiar e geracional, apresentam também a preocupação em não se sentir
“desocupado”; sendo a feira o caminho para aqueles que já se aposentaram e desejam um outro
ofício, como ao ler “
Não tive [
influenciadores] como te disse, comecei mesmo assim que
aposentei. Queria alguma coisa para distrair
”
(
E6,
Homem, Quintal Solidário); “Meu pai que
também teve o meu avô e assim vai. Já é algo da família e eu estou tentando trazer meu filho,
mas ele disse q
ue quer primeiro ter uma faculdade e depois pensa nisso
”
(
E7,
Homem, Quintal
Solidário) e “Minha aposentadoria [risos]. Era isto ou ficar no ócio
”
(
E8,
Homem, Quintal
Solidário).
Comparando
-
se as falas, verifica
-
se que a feira pode assumir o significado de “trabalho”
e meio de ganhar o “sustento” para alguns feirantes, mas também de “ocupação” e oportunidade
de empreendedorismo que, como visto anteriormente, é incentivada pelos ide
alizadores do
projeto de extensão do Quintal Solidário. Essa polissemia é confirmada ainda ao buscar
-
se
compreender “o que representa vender os produtos na feira” para os feirantes de ambos espaços:
É o final de um trabalho difícil. Tem que acordar cedo,
deixar tudo bem
preparado, pegar carro, deslocar até aqui, montar a barraca e quando o pessoal
chega a gente precisa tá lá com o sorriso no rosto né? Não é uma coisa fácil,
mas saber que tem essas pessoas que vem aqui e valorizam nosso esforço é
bom demais
né? (
E3
,
Mulher, Feira Livre da Estação).
É minha oportunidade de ter dinheiro, de ajudar meu filho e de poder comprar
o que quero, eu quem decido o que vou ter. Consegui pela feira até ter um
cartão de crédito e agora aceito maquininha (
E4,
Mulher, Feir
a Livre da
Estação).
É mais um
hobby
, minha renda independe da venda desses alimentos, mas é
importante para muitos aqui, não questiono isso (
E5,
Homem, Quintal
Solidário).
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É onde posso me distrair, ver gente nova e reencontrar alguns velhos amigos,
né?
A gente que fica só por conta do trabalho mal vê a esposa [risos]. Vender
por vender mesmo não tem tanta importância. (E6
,
Homem, Quintal
Solidário).
Os feirantes que atuam na Feira Livre da Estação a representam como oportunidade de
melhoria da sua condi
ção econômica, principalmente as mulheres, que atribuem à atividade
uma chance de autonomia financeira. Já para os feirantes que participam do Quintal Solidário,
a atividade é complementar e secundária na dimensão econômica, porém importante como
espaço de
socialização. Ao questionar aos consumidores
“o que representa adquirir os produtos
da feira”
, as respostas apresentaram uma nucleação a respeito da qualidade do que é ofertado
para o consumo (
Figura
4):
Figura 4
–
Nuvem de palavras
–
consumidores e o que representa adquirir tais produtos
Fonte:
Dados
da pesquisa, 2020
Palavras como
“bom”, “comer”, “cuidado”, “cultivar” e “segurança alimentar” indicam
proximidades de significados que remetem à garantia da produção agrícola e da atenção
necessária ao plantio, mas também de um “pós campo”, a etapa final do alimento que vai para
o consum
o, com atributos de uma seguridade que não se encontra nos supermercados
(CUERVO
;
HAMANN
;
PIZZNATO, 2019). Tal seguridade é evocada por quem produziu, ou
seja, nos discursos dos feirantes, mas também certificada pelos atores institucionais que
promovem amb
as as feiras. Assim, nas representações dos consumidores, o produto das feiras
é tido “como puro e, dessa forma, saudável. Os adjetivos relacionados ao natural seriam
atribuídos aos alimentos frescos, ou aos provenientes da feira, ou aos orgânicos, ou aos
trazidos
de fora” (MENASCHE, 2004, p.
121).
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Bernini
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SILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
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A última pergunta, direcionada a feirantes e consumidores de ambas as feiras, pautava
-
se em verificar a hipótese apontada por Cuervo, Hamann e Pizzinato (2019) de que a
persistência das feiras no tempo, a despei
to da comodidade e da variedade de produtos que um
supermercado agrega em um mesmo espaço, se deve à possiblidade da conversação. Foi
solicitada a opinião dos entrevistados sobre a frase
“as pessoas conversam mais nos mercados
de produtores locais do que e
m supermercados”
(CUERVO; HAMANN; PIZZINATO
,
2019,
p.
293). As respostas indicam um consenso afirmativo, ou seja, há o sentido de uma
representação positiva dessa característica da feira, enaltecida pelos diferentes atores e que
reforça a imagem de que naq
uele espaço mercadorias, pessoas e palavras circulam:
É só você olhar pro
lado e vê isso acontecendo. É a gente falando com outro
feirante, com quem compra. Enfim, é algo mais íntimo que ir no mercado né?
(
E6,
Homem, feirante, Quintal Solidário).
Quando vou no mercado Y, por exemplo, se não estiver com meu filho ou
qualquer pa
rente, pego o que tenho que comprar e volto pra casa. Por isso
gosto da feira porque todo mundo tá sorrindo (
E1,
Mulher, consumidora, Feira
Livre da Estação).
Sem dúvida! Porque você fica na cara do feirante e assim a gente pode
perguntar da procedência d
os produtos. Às vezes eles mesmos já fazem isso e
é muito bom porque a gente fica sabendo o que é saudável. Você vai no
mercado e não tem essas coisas. Pior, tem mercado aqui que nem olha a
validade dos produtos, sabia? Eu só fiquei sabendo quando tinha co
mprado
chocolate pro meu namorado e tava vencido (
E3,
Mulher, consumidora, Feira
Livre da Estação).
Aqui tem algo muito bom: é quase difícil não falar algo nem que seja um “oi”
com alguém porque a todo momento a gente escuta um feirante falando algo
que f
az a gente rir, tipo: “um morango para o docinho”, essas coisas (
E5,
Mulher, consumidora, Quintal Solidário).
As falas, por fim, permitem compreender a valorização das feiras como espaços de fala
e circulação de mensagens e representações, notadamente qua
ndo comparados aos
supermercados, qualificados negativamente como espaços de silêncio, anonimato e
impessoalidade pois “
Ir no mercado é isolar de conversa. Aqui a gente brinca com tudo e tudo
é festa né?
”
(E9, Mulher, feirante, Quintal Solidário) e “A gent
e que vai no mercado mal olha
pro lado. O máximo que a gente faz é falar obrigado com quem tá no caixa ou procurar alguém
que trabalha no mercado quando não acha algo. Eu acho o mercado um lugar cheio de gente e
vazio de conversa” (
E3
,
Mulher, feirante, Fe
ira Livre da Estação).
Assim, além de um lugar para consu
mo de um produto propriamente dito, há em torno
das feiras uma construção simbólica sobre a confiança, o crédito atribuído às palavras e à
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Fazer a feira e conversar:
Estudo
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possiblidade do lúdico em meio a transações comerciais ora
que “
É aqui que a gente conhece
nosso cliente, estabelece uma intimidade e conhece outros feirantes. Eu mesmo tenho duas
pessoas que toda quarta estão aqui para comprar ou bater papo. É uma relação muito gostosa!”
(
E2,
Homem, consumidor, Feira Livre da Est
ação).
Considerações Finais
A abordagem de um objeto tal qual a feira possibilita diversas análises que
interseccionem desde a busca histórica de suas transformações e adaptações a contextos
diferenciados, seu papel e importância nos campos sociais, econômicos, políticos e ambientais
,
bem como sua perpetuação ante a um cenário de industrialização alimentícia elevada e o
“boom”
do comportamento
fast food
.
Nesta pesquisa priorizou
-
se analisar as representações diferenciadas sobre o que “fazer”
a feira significa, ora destacando para os f
eirantes a sua função econômica, ora sua função
socializadora. O mesmo ocorreu com os consumidores, que não informaram de maneira
unidimensional suas concepções sobre consumir na feira, valorizando tanto a qualidade dos
alimentos, como as atividades socioc
ulturais.
Ambas as feiras se constituem como propostas diferenciadas pela atuação de atores
institucionais oriundos de uma universidade, pelo perfil agroecológico e de economia solidária,
mas tais atributos não foram igualmente ressaltados como distintivo
s pelos frequentadores
desses espaços, sejam feirantes ou consumidores. A oferta de alimentos frescos, saudáveis, de
origem rural, ponto enfatizado pelos participantes, é um atributo que caracteriza as feiras em
geral, e fazem arte do imaginário social sob
re esses espaços, como demonstrou a bibliografia.
Também como mostraram outros trabalhos, a particularidade da feira reside em sua
oposição aos supermercados, não apenas no que se refere às mercadorias ofertadas, mas
principalmente pelo tipo de relações sociais que são possíveis em cada um desses espaços,
de
distanciamento e impessoalidade ou de proximidade e familiaridade. É nesse sentido que esta
pesquisa aprofundou a compreensão da feira como espaço de conversação, e no caso específico
das feiras aqui analisadas, espaço de espetáculo pois nele ocorrem a
tividades artísticas e
culturais que ligam feirantes e consumidores a uma mesma identidade regional. Assim, tanto
quem vende quanto quem compra retoma, sem saber, o sentido original do termo
“
feria
”: festa.
E como festa, a feira propicia momentos lúdicos d
e pertença social.
Há de se considerar também que a pesquisa apresenta sua originalidade ao aplicar
-
se
num tema o qual detém de poucas análises particulares: a feira enquanto lugar de trocas sociais
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e econômicas que, por sua vez, podem ser enquanto fator d
e melhora social (como apresentado
pelos respondentes da feira livre da Estação) ou escape do ócio (conforme fala dos comerciantes
do Quintal Solidário). Mais ainda, o aporte da
Teoria das Representações sociais enquanto
instrumento para análise de discurs
o, bem como seu delineamento de pesquisa utilizando o
software
Iramuteq oportunizaram uma avaliação do fenômeno para além das questões sociais e
de lazer. Com o uso da ferramenta evidenciou
-
se questões objetivas como o fato de os
consumidores recorrerem as
feiras uma vez que entendem que nela estará alimentos seguros
para o consumo
-
pois ali estarão frente a frente de quem os produz
-
, diferentemente de
adquirem em hipermercados.
Para finalizar, é importante salientar os limites da pesquisa aqui descrita e
a
impossibilidade de generalizações, indicando que há necessidade de investigar outros perfis de
feiras, para efeito comparativo. Aqui, a análise ancorada pela teoria das representações sociais
procurou contemplar a interpretação de diferentes atores do q
ue “fazer a feira” significa; a
circularidade da comunicação frequente entre consumidores e feirantes explica representações
similares, haja vista serem construídas a partir de experiência pessoal e coletiva do grupo que
vivencia e conversa sobre uma mesma
realidade.
AGRADECIMENTOS
:
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
-
Brasil (CAPES)
–
Código de Financiamento
001
.
Os autores também agradecem a disponibilidade e acolhida por parte dos
feirantes e
consumidores presentes na Feira Livre de Viçosa e Quintal Solidário.
REFERÊNCIAS
ARANTES, A.
et al
. O papel da extensão universitária na criação da Rede Raízes da Mata.
Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF
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v.
13, n.
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maio 2020.
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n.
117, p.
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147, nov. 2002. DOI:
https://doi.org/10.1590/S0100
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15742002000300007
BITENCOURT, D. Artigo
-
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https://www.embrapa.br/busca
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de
-
noticias/
-
/noticia/31505030/artigo
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agricultura
-
familiar
-
desafios
-
e
-
oportunidade
s
-
rumo
-
a
-
inovacao
.
Acesso em 27 abr. 2020.
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Fazer a feira e conversar:
Estudo
das representações sociais de feirantes e consumidores
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Fazer a feira e conversar:
Estudo
das representações sociais de feirantes e consumidores
-
V
içosa
-
MG
Estudos de
Sociologia
, Araraquara,
v.
27
, n.
00
,
e0220
32
,
2022
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-
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1982
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DOI:
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Como referenciar este
artigo
SILVA
,
Parley Lopes
Bernini
da
;
LACERDA
,
Rogério Tadeu de Oliveira
.
Fazer a feira e
conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores
-
Viçosa
-
MG
.
Estudos de Sociologia
, Araraquara, v. 27, n.
00
,
e0220
32
,
2022. e
-
ISSN:
1982
-
4718
. DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
Submetido em
:
16
/
05
/
2022
Revisões requeridas em
:
22/06/2022
Aprovado em
:
25/07/2022
Publicado em
:
21/12/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero
-
Americana de Educaçã
o.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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Going to farmers’ market and talking:
Study
on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
-
V
içosa
-
MG
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
e
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ISSN:
1982
-
4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
1
GOING TO FARMERS’ MARKET AND TALKING: STUDY ON THE SOCIAL
REPRESENTATIONS GIVEN BY FARMERS’ MARKET VENDORS AND
CONSUMERS
-
VIÇOSA
-
MG
FAZER A FEIRA E CONVERSAR: ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE
FEIRANTES E CONSUMIDORES
-
VIÇOSA
-
MG
HAZ LA FERIA Y HABLA: ESTUDIO SOBRE LAS REPRESENTACIONES SOCIALES
DE JUSTOS Y CONSUMIDORES
-
VIÇOSA
-
MG
Parley Lopes
Bernini
da
SILVA
1
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
2
ABSTRACT
: The article analyzes the meanings attributed to farmers’ markets by sellers and
consumers, under the socio
-
anthropological aegis. To this end, the literature review and the
application of semi
-
structured questionnaires at the Estação Livre Farmers’ marke
t and the
Solidarity Economy and Family Agriculture Farmers’ market
–
Quintal Solidário (both in the
municipality of Viçosa
-
MG) are the foundations of this work. The analysis, anchored in the
Theory of Social Representations, allows mapping polysemic aspec
ts of representations about
food, economic production and sociocultural relations that are established in these spaces of
hybridization in face of contemporary experiences. The study concludes that sellers and
consumers attribute different economic and soc
ial interaction meanings to farmers’ markets,
sometimes directed to economic issues, and sometimes to cultural exchanges made possible in
this space.
KEYWORDS
: Farmers’ Markets. Social Representation.
Viçosa
-
MG.
RESUMO
: O artigo analisa os
significados atribuídos às feiras por vendedores e
consumidores, sob a égide socioantropológica. Para tal, a revisão bibliográfica e a aplicação
de questionários semiestruturados na Feira Livre da Estação e na Feira de Economia Solidária
e Agricultura Fami
liar
–
Quintal Solidário (ambas no município de Viçosa
-
MG) são os
alicerces deste trabalho. A análise, ancorada na Teoria das Representações Sociais, permite
mapear aspectos polissêmicos das representações sobre os alimentos, da produção econômica
e das re
lações socioculturais que se estabelecem nesses espaços de hibridação frente às
vivências contemporâneas. O estudo conclui que vendedores e consumidores atribuem
diferentes significados econômicos e de interação social às feiras ora direcionados às questõe
s
econômicas ora as trocas culturais que nela são oportunizadas.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Feira
-
livre. Representações Sociais. Viçosa
-
MG.
1
Federal University of
Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brazil
.
Master's in Rural Extension
(PPGER
-
UFV).
ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
9278
-
1235. E
-
mail:
parley.bernini@posgrad.ufsc.br
2
Federal University of
Santa Catarina (UF
SC), Florianópolis
–
SC
–
Brazil
.
Professor at the Postgraduate Program
in Business Administration (PPGAdm
-
UFSC), Postdoctoral fellow at the Polytechnic School of the University of
São Paulo
. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
5151
-
172X. E
-
mail:
rogerlacerda@gmail.com
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA
and
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
e
-
ISSN:
1982
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4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
2
RESUMEN
:
El artículo analiza los significados atribuidos a las ferias por vendedores y
consumidores, bajo la égida socio
-
antr
opológica. Para ello, la revisión de la literatura y la
aplicación de cuestionarios semiestructurados en la Feira Livre da Estação y la Feria
Economía Solidaria y Agricultura Familiar
–
Quintal Solidário (ambas en el municipio de
Viçosa
-
MG) son las bases
de este trabajo. El análisis, anclado en la Teoría de las
Representaciones Sociales, permite mapear aspectos polisémicos de las representaciones sobre
la alimentación, la producción económica y las relaciones socioculturales que se establecen
en estos espa
cios de hibridación frente a las experiencias contemporáneas. El estudio concluye
que vendedores y consumidores atribuyen diferentes significados de interacción económica y
social a las ferias, a veces dirigidas a cuestiones económicas, y otras a intercamb
ios culturales
que se hacen posibles en ellas.
PALABRAS CLAVE
:
Mercado abierto. Representaciones Sociales.
Viçosa
-
MG.
Introduction
The studies that deal with the formation of farmers' markets and markets in history are
of a unique variety, having historically accepted that the appearance of fairs dates back to the
11th century, with the opening of commercial routes between East and We
st, having the Sea as
a transit route. Mediterranean, place of commercial development led by the villages (SACCO
DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005). In the mid
-
13th century, when land routes became
threatening, sea routes gained importance and in the 14th cen
tury the establishment of markets
in centers of population relevance (such as London) diminished the importance of farmers'
markets (PEDRO; COULON, 1985). Seeking the meaning of the word, Minnaert (2008
apud
CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p. 293) informs
that “the farmers' market is a space
that encompasses a scenario of social practices that fosters and takes place through interpersonal
relationships. The word ‘
feira’
(farmers' market) comes from the Latin
feria
, which means
‘party day’, it is a place fo
r sales, exchanges, meetings and conversations”.
In addition to commercial exchanges, the farmers' market is recognized as a space for
interpersonal relationships where “face
-
to
-
face contact through the link between production and
consumption” is intensifi
ed (GUIMARÃES; DOULA, 2018, p. 02
, our translation
). This aspect
was not limited to the European scenario but was also maintained in the Americas. In the
Brazilian historical context, they assume the role of providing opportunities for urban
populations to
supply food with the most varied products from agriculture, livestock, fishing
and handicrafts. Mascarenhas (2008 apud GUIMARÃES, DOULA, 2018, p. 08
, our translation
)
point out that in addition to the Iberian tradition, the Brazilian street market inherit
s “popular
African practices called
quitandas
, from the Kimbundu
kitanda
, which means market,
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Going to farmers’ market and talking:
Study
on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
-
V
içosa
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MG
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
3
consisting of “groups of black women around outdoors, squatting or having trays, which sell
small farming and fishing products”
”
.
As referenced by Cuervo; Hamann
and Pizzinato (2019, p. 285
, our translation
), “the
farmers' market can usually be understood as the group of people who 'make the fair'
–
producers, consumers, and others
–
who share an interest in its space”. Thus, the opening is
present, sometimes to th
e old, sometimes to the new, in a movement of malleability and
hybridization. Emphasizing the cultural interactions that it provides, Sacco dos Anjos, Godoy
and Caldas (2005, p. 19
, our translation
) consider that one of its characteristics is to be “a soci
al
space that holds peculiar attributes that, presumably, ensure its persistence in contemporary
society”.
Understanding its persistence implies contextualizing that, in the current scenario of
food industrialization, issues related to food safety assume r
elevance at the political and
institutional level (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) and it is at farmers'
markets that the attributes of what is considered “natural”, “rural” and “healthy” become more
visible in their diversity and abundance. In addit
ion to these attributes, farmers' markets make
it possible to maintain food culture and regional identity (PEREIRA; BRITO; PEREIRA,
2017), bringing consumers and buyers closer together. Menasche (2004) points out that
currently the quality of food is measu
red and reinforced when associated with the field, or that
they are connected to what is desirable. In such a way, the connection with the rural origin of
the food:
seems to condense all the advantages that distinguish desirable food from
industrialized food. [...] The foods that come from abroad are considered the
best. Of greens, it is said that “even the leaf is softer”. Chicken, meat and milk,
“there is no compari
son”, “it has a different taste”, those from the supermarket
do not even compare
(MENASCHE, 2004, p.
122
, our translation
).
Thus, the importance and persistence of open farmers' markets can be explained,
primarily, by the new orientations of the consumer
who seeks not only what has been called
food security
3
but also food safety. Secondly, in contrast to the impersonal and anonymous
relationships of supermarkets, fairs are characterized as social spaces for the exchange of
knowledge and mercantile practic
es guided by mutual recognition between merchants and
customers (GUIMARAES; DOULA, 2018).
3
Food security is understood as those with “generic orientation in favor of expanding the availability and
guaranteeing access to socially and culturally referenced food” and safety food as those with “guarantees regarding
the quality of food and the absen
ce of health risks for the universe of consumers” (SACCO DOS ANJOS; GODOY;
CALDAS, 2005, p. 05, our translation),
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA
and
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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One has to consider that before “arriving at the farmers' market” a series of activities
are necessary (planting, harvesting, distribution, transport, among others) a
nd when one “is at
the farmers' market” there is a rapprochement between consumer and marketer
-
producer and
merchant at the same time
-
, which also implies “maintaining a space for the viability of regional
family farming” (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS
, 2005, p. 19
, our translation
).
Currently, for the consumer, knowing where, by whom and how food is produced are factors
that indicate food safety, conscious consumption and differentiated status.
Brazilian researchers point out that farmers' markets allo
w for a cultural narrowing
between rural and urban areas (CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004). Professional,
economic, leisure, educational and cultural activities come together in a flow that involves
exchanges of goods, words, memories and worldviews (COUTIN
HO; DOULA, 2014). Cuervo,
Hamann and Pizzinato (2019), point out that the farmers' market is a space for interpersonal
communication in which:
a relational ethics is established through face
-
to
-
face contact, involving
occupation of space, products, people
, meanings, shared knowledge. It is in
this process that the established network generates trust and brand
relationships, for example, the legitimacy of food quality
(CUERVO;
HAMANN; PIZZINATO, 2019, p.
293
, our translation
).
Following the analytical line of symbolic values involved in the space of fairs, this
article is justified by seeking to understand who are the individuals who go to the farmers'
market; how social relations are built and what meanings are attributed to tw
o farmers' markets:
the
Solidarity Economy and Family Agriculture Farmers' market
(known as
Quintal Solidário
),
promoted by the Federal University of Viçosa (UFV) and the
Feira
-
livre na Estação
, promoted
by the City Hall from Viçosa, a city located in the
Zona da Mata of Minas Gerais.
Some particularities, such as the priority of offering local agroecological production, the
solidary economy and the link between these farmers' markets and researchers from the Federal
University of Viçosa and networks of social movements, justify the cho
ice of these spaces for
the analysis provided by the use of the Theory of Social Representations.
Characterization of farmers' markets
The
Feira
-
livre da Estação
(Station Farmers’ market)
takes place at night, held in the
central part of the city of Viç
osa, in the space known as Balustrada, a guardrail that surrounds
the Railway Station. The creation of the Balustrade dates back to 1924. The Station was built
in 1912, on a stretch of the Leopoldina Railroad, and currently works as a cultural space. The
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Going to farmers’ market and talking:
Study
on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
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Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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5
S
tation was listed by the City Hall as historical and cultural heritage in 1993 and the Balustrade
in 1999 (IPATRIMÔNIO, 2022).
Feira da Estação, in addition to the presence of farmers accredited by the city hall, has
the participation of Grove Roots Networ
k (Rede Raízes da Mata
-
RRM), founded in 2011, with
the objective of bringing agroecological producers closer to consumers. The network, mobilized
by agroecology groups at the Federal University of Viçosa (UFV), Zona da Mata Center for
Alternative Technol
ogies (CTA
-
ZM) and Technological Incubator of Popular Cooperatives
(ITCP
-
UFV), among others, proposes to value local production safe and encourage the
“emergence of new experiences” in Viçosa
(ARANTES
et al.
, 2018, p.
07
, our translation
).
RRM's participat
ion is justified when considering that the current homogenization of
the agri
-
food market does not adhere to local realities and quality standards. In this way, an
alternative space is promoted, encompassing those who produce, those who consume and
researc
hers from the university and research centers, aiming to promote “social interaction
between producers and the relationship between the Network and the producers with other
social actors, access to markets for agroecological products and the possibility fo
r the local
community to purchase agroecological products” (ARANTES
et al
., 2018, p.
07, our
translation). Specifically,
Feira da Estação
, created in 2017, is committed to “offering
horticultural products produced in the municipality by family farmers, free of pesticides and
irrigated with treated water to guarantee the health of the food in terms of the presence of worms
such as fecal coli
forms and other parasites that infest the aquatic environment” (FOLHA DA
MATA, 2018, n.p., our translation).
The Solidarity Economy and Family Farming Farmers' Market, or
Quintal Solidário
,
was created in 2016 by ITCP
-
UFV
4
together with the Union Section
of UFV Teachers
(ASPUV). This is an extension project developed by the UFV that aims to “value and promote
products and services from solidary economic enterprises and family farmers in order to
promote the generation of work and income, integration betwee
n producers and consumers”
(LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.
134, our translation).
In this project, guidelines such as agroecology, food security and sustainability are
highlighted as distinctive. Being held on the university campus of UFV, it has th
e participation
of marketers by public selection, developed by public notice contemplating "Solidarity
4
“
The Technological Incubator of Popular Cooperatives at the Federal University of Viçosa
-
ITCP
-
UFV
(Portuguese initials)
is an extension, i
nterdisciplinary program [...] Since its creation, ITCP
-
UFV has been advising
popular groups that develop various economic activities within the scope of family farming, crafts, popular
recycling, food, service provision, among others
” (LIMA COSTA;
SANTOS;
PRIORE
, 2019, p. 14
, our
translation
).
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA
and
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
e
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ISSN:
1982
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4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
6
Economic Enterprises (groups, associations, cooperatives) and Family Farmers" (LIMA
COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019. p 11
, our translation
). According to
Cos
ta
et al.
(2019, p.
12
, our translation
):
The profile of the initiatives involved is varied, encompassing social
movements, networks of prosumers, mental health patients and participants in
social inclusion projects. In total, there are 35 stalls/benches d
ivided into three
sectors: a) Crafts (14); Minimally processed foods (12) and Hortifruti (09). In
addition to marketing, the farmers' market aims to be a space for coexistence
and social integration, opening the doors of the Federal University of Viçosa
to
the community of Viçosa through cultural attractions, space for children
and workshops. The cultural program of the Farmers' Market, for example,
seeks to value local attractions and since the beginning of the Backyard,
different activities have been carr
ied out, such as musical performances, dance
workshops,
cirandas
, choir and
capoeira
.
In general, both
Feira da Estação
and
Quintal Solidário
start from the premise of
becoming differentiated spaces of consumption, of valuing local and agroecological prod
uction
and, in the case of
Quintal
, of solidarity economy. According to the founders of
Quintal
Solidário
, the solidarity economy encompasses a variety of collective actions of cooperation
and solidarity. Thus, “as a critique of the economic model of
individualized profit, the solidarity
economy proposes to suppress the inequalities created by production and distribution,
prioritizing group and solidarity interests through technical and scientific advice, legal and the
like” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE
, 2019, p. 10
-
11
, our translation
).
It also aims to facilitate access to income
-
generating activities “in which the economic
objective is accompanied by social objectives that produce social and proximity bonds” (LIMA
COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p. 135
,
our translation
). It is “a system of articulation
between producers, traders and consumers based on relationships of trust, transparency and
proximity” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p. 11
, our translation
).
Still as a criticism of the “mere utilitaria
n logic inherent in the market mechanism, the
solidarity economy postulates that the responsibility for self
-
management of economic
processes is collective” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p. 135
-
36
, our
translation
) and supports the joint insertion of
the various actors in a trade that involves
“production and consumption according to values of sustainability and justice (LIMA COSTA;
SANTOS; PRIORE, 2019, p. 11
, our translation
). It is noteworthy that within the scope of these
initiatives, between 2009
and 2013, family farming “corresponded to 52.6% of solidary
economic activity, as exposed by the National System of Information on Solidarity Economy
(Sies)” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p. 11
, our translation
). In addition to these
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Going to farmers’ market and talking:
Study
on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
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Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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aspects of produ
ction and marketing, the solidarity economy addresses the specific demands of
today's consumers, who are more demanding in their purchase decisions, because:
Now, in his assessment, this consumer considers a set of factors such as price
and quality, origi
n, origin, sustainability, relationship with the environment,
with employees and communities participating in the process. Thus, different
opportunities present themselves to the small producer. [...] the country
concentrates concrete possibilities for fam
ily farmers who, at the same time
as they are producers of food and other agricultural products, play the role of
conservators of biodiversity
(BITTENCOURT, 2018, n. p.
, our translation
).
By characterizing both farmers' markets, the influence of researche
rs and scientific
concepts in the conception and conduction of these projects is perceptible, creating a
differentiated or alternative profile in relation to the conventional farmers' market. Based on
these considerations, the article investigates the soci
al representations of stallholders and
consumers about food, economic production and the sociocultural relationships that are
established in both spaces. The methodological path of the investigation, of a qualitative nature,
involved bibliographical resear
ch and the application of semi
-
structured questionnaires to
merchants and consumers, in 2020. The data are analyzed using the Theory of Social
Representations.
Social representations as forms of knowledge and interpretation
The landmark of the theory of representations is credited to Émile Durkheim, at the
beginning of the 20th century with the concept of Collective Representations, having its
reformulation by Serge Moscovici in 1961 (LOPES, 2013) as Social Representations.
M
oscovici, contrary to Durkheim, who understood representations as stable, collective,
coercive and homogeneous forms of knowledge, proposes to study the different configurations
of meanings and actions created by heterogeneous social groups which live in t
he same society.
His studies opened up investigative perspectives in different disciplines (ARRUDA, 2002),
since Serge Moscovici prioritized the specificities of representational phenomena in modern
society (JODELET, 2001).
Social representations (and thei
r study) establish an interface between social, cultural
and psychological dimensions, exhibiting a transversal status with several areas of research
such as Anthropology and Sociology. It is, in such a way, a bonding theory (bonding and
cohesion), where “
the surveillance exercised by the group over the individual decreases as the
bonds between them become denser and more reciprocal” (MOSCOVICI, 2001, p. 56
, our
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA
and
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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translation
). They are built due to the need to know, understand, adjust, dominate, inform or
identify what the subject has around him. Thus, the Theory of Social Representations seeks to
treat phenomena, directly observable or reconstructed, through the intervention
of science,
legitimized as an explanation of cognitive processes and social interactions. For Sêga (2000):
Social representations are presented as a way of interpreting and thinking
about everyday reality, a form of knowledge of the mental activity devel
oped
by individuals and groups to establish their positions in relation to situations,
events, objects and communications that concern them. It is practical
knowledge that gives meaning to events that are normal for us, forges the
evidence of our consensua
l reality and helps the social construction of our
reality
(SÊGA, 2000, p.
128
-
29
, our translation
).
As proposed by Jodelet (2001, p. 17
, our translation
), social representations “guide us
in the way of naming and jointly defining the different aspects of
daily reality, in the way of
interpreting these aspects, making decisions and, eventually, positioning oneself in front of
them defensively”. In such a way, they are not something faithful and reliable, “neither the
subjective part of the object, nor the
objective part of the subject” (SÊGA, 2000, p. 129
, our
translation
), but rather the cohesion between the world, its objects and the subjects that surround
them. confer meanings.
The theory of social representations focuses on the forms and content of know
ledge,
prioritizing the cognitive, emotional and communicative aspects that intervene in the creation,
modification and circulation of images and meanings, hence its particular interest in discourses,
including oral, written, imagetic or propagated by the
different medias, for example (JODELET,
2001). Another aspect of the theory considers that “it should be studied by articulating affective,
mental and social elements alongside cognition, language and communication” (JODELET,
2001, p.26
, our transaltion
),
because the subject's (or social group's) worldview) and their
actions are made explicit through the representational resource.
Representing implies “acting on the world and the other, which leads to its functions
and social effectiveness” (JODELET 2001, p
. 28). Likewise, it implies giving meaning to what
is lived and experienced (PESAVENTO, 1995), marking social belongings that enable
identities to the members of a community, given that “the consensual nature of a representation
is generally partial and lo
calized” (LOPES, 2013, p. 25159
, our translation
). The dynamism of
social representations resides in the fact that they are interpretations of a reality, which changes
over time, as well as by the very circulation of individuals in different social groups,
that is,
although it becomes a referential instrument that allows communication in a same language,
the representation is open “to the possibility of polysemy, where sometimes innovative themes
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Going to farmers’ market and talking:
Study
on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
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are presented that provoke conversions of experiences, of per
ceptions that lead to a new vision”
(SÊGA, 2000, p. 130
, our translation
), sometimes the rigidity of the ways of thinking and acting
already tested and sanctioned.
Thus, social sharing alludes to a mechanism of determinations connected to the structure
and
relationships in which sharing an idea (or language) is to affirm social bonds and
identifications subject to constant reformulations and validations (JODELET, 2001). In
summary, and as stated by Serge Moscovici (2001, p. 55
, our translation
), “representa
tions
highlight facts and interpret a reality” that “is socially constructed and knowledge is a
construction of the subject, but not disconnected from its social inscription” (ARRUDA 2002,
p. 151
, our translation
). Based on these assumptions, the use of th
e theory of social
representations in this article implies understanding farmers' markets as a phenomenon where
production, commercialization, consumption and interpretations are inseparable elements
(SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) subject to discou
rses, interpretations and
disputes.
M
ethodological procedure
The research presents a qualitative analysis based on the Theory of Social
Representations. As a methodology, a bibliographical review and field research were used, with
observation and applic
ation of questionnaires in the spaces of the two farmers' markets
described above, between August and September 2020. A semi
-
structured questionnaire was
applied to 5 vendors who participate in the
Feira Livre da Estação
and 5 for
Quintal
Solidário
vendors.
Having 15 questions, it asked about their representations of what the farmers' market is;
the meanings they attribute to the practice of being a vendor; how he combines his participation
in the farmers' market and his private life; quest
ions related to work overload (home/farmers'
market), among other aspects, so that they could express opinions, outline circumstances or
organize associations of ideas to what was being asked. Its application took place between
March and April 2020.
Anothe
r semi
-
structured questionnaire was applied to 20 regular consumers (10 at each
farmers' market) in the same period as the fairgrounds, in both cases unintentionally. It also had
15 questions with the same questions as the stallholders (with the exception
of the question
related to work overload, which was replaced by “define the farmers' market in one word”).
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Parley Lopes
Bernini
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and
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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In the analysis, the IRAMUTEQ software was used and its functions "Similitude
Analysis" (which consists of the elaboration of a trace that allows ide
ntifying what is common
and what is specific in the speeches of vendors and consumers about the farmers' market) and
"Cloud of Words” (in which the set of phrases is arranged in dissimilar dimensions, considering
that larger words indicate maximum importan
ce in the textual corpus, removing conjunctions;
prepositions and numerals), aiming to group the interviewees' speeches
-
inserted in their
integrity
-
“with a relational purpose, comparing different productions based on specific
variables that describe wh
o produced the text” (CAMARGO; JUSTO, 2013, p.
03
, our
translation
).
The article has a qualitative approach, characterized as a set of interpretive techniques
that seek to describe and understand the subjective character of the
subject/object, studying
their particularities and experiences (MINAYO, 2009). This choice stems from the fact that, in
the views of Godoy (1995), the researcher appropriates the qualitative nature when there are
several actors involved in multiple social
processes and with different perceptions of social
reality that require a particular analysis, which neither it is always obtained quantitatively
(MINAYO, 2009).
It is, finally, a scientific method of investigation that focuses on the subjective character
of the subject/object analyzed, studying their particularities and individual experiences
(JACCOUD; MAYER, 2008). The justification for its use came from the fact that, through this
instrument, it is possible to collect from the subject their worldviews ba
sed on the reality that
they have, and that the application “with users is a way of qualitatively understanding their
motivations and expectations” (FABERLUDENS, 2011, p. 5
, our translation
), anchored in
content analysis.
Content analysis is considered a d
escriptive and interpretative contribution, widely used
by the Theory of Social Representations, since in the speeches (oral, written, visual) the
representations materialize, that is, it becomes possible to analyze the ideas and the different
worldviews t
hat the narratives convey (JODELET, 1993; 2001; MOSCOVICI, 2003;
ARRUDA, 2014), given that “everything that is said or written is subject to content analysis”
(HENRY; MOSCOVICI, 1986, p. 36, our translation).
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Going to farmers’ market and talking:
Study
on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
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Results and discussion
From the open questi
on that asked the stallholders and consumers the meaning of the
fair and its importance, a set of terms was obtained that denote representations of a positive
meaning, both in the economic dimension for the stallholders, and in the cultural dimension,
for
consumers. (Figure 1):
Figur
e
1
–
Similarity analysis for the meaning of the
farmers’ market
Source
:
Research
data
, 2020
The terms identified in the upper left corner correspond to the responses of the
stallholders, who understand the fair as a
properly physical space, as a “place” (
lugar
) and
“sustenance” (
sustento
). It appears that there is an interpretation that it is in this space that the
flow and commercialization of its products takes place and it is through it that its activity is
recogni
zed by those who acquire them (SATO, 2007; SILVA; SILVA, 2016; BORTOLO;
MELO; FERREIRA, 2019). Thus, the farmers' market is a place of work, but this work
combines the previous tasks of agricultural production and transport (COUTINHO; DOULA,
2014), which a
llows a closer approximation of the rural with the urban. By working at the
farmers' market, the vendors earn their livelihood (while contributing to the food supply of
consumers), but this is not a space where work is seen for its negative aspects; on the
contrary,
the term fun indicates informality and a playful interpretation of the activity.
The terms displayed in the lower right corner were enunciated by consumers, with the
most evocative words being “conversation” (
conversa
), “joy” (
alegria
),
“culture” (
cultura
) and
“party” (
festa
). It can be understood that the representations of these subjects prioritize the fair
within the scope of sociocultural, communication and learning practices and dynamics, where
those who sell learn from those who buy
and the opposite is also done (SACCO DOS ANJOS;
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA
and
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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GODOY; CALDAS, 2005; CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019). In this cultural
practice, conversation is the fundamental exercise of exchange and inter
-
knowledge, which
contrasts with the impersonality and anonymit
y of relationships established in supermarkets.
When asking consumers about the feeling of being at the farmers' market, terms related
to well
-
being are highlighted, detailing positive emotions that indicate the personal exchanges
that overlap with the sim
ple act of buying and consuming (Figure 2).
Figur
e
2
–
Word Cloud
–
Consumers
Source
:
Research
data
, 2020
Terms like “cultural” (
cultural
); "people" (
gente
); “joy” (
alegria
), “well
-
being” (
bem
-
estar
) and “happiness” (
felicidade
)
demonstrate the willingness of consumers to be in these
spaces precisely because they allow a feeling of welcome compared to other commercial
establishments. Terms like “people” (
gente
), “friends” (
amigos
), “relatives” (
parentes
) indicate
familiarity and i
ntimacy. It should be considered that in these farmers' markets, as seen
previously, in addition to the food trade, there are presentations of artistic and cultural activities
where words such as “attraction” (
atração
), “lively” (
animado
), “cultural” (
cult
ural
) and “joy”
(
alegria
)
reinforce the meaning of the fair as “ place” (
lugar
) of cultural spectacle and regional
identity (SÊGA; 2000; PEREIRA; BRITO; PEREIRA, 2017; CUERVO; HAMANN;
PIZZINATO, 2019). Likewise, when questioning “what it means to be at the
faremrs' market”
to the stallholders (Figure 3), the answers indicate a different set of terms, which build a
narrative about work and about the fair as a “place” (
lugar
) of “sustenance” (
sustento
), as shown
in Figure 1
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Figur
e
3
–
Word cloud
–
vendors
Source
:
Research
data
, 2020
In the image, it can be seen that work
-
related terms refer to the appreciation of
agricultural activity, “planting” (
plantar
) and the concern to offer food without
“agrochemicals” (
agrotóxicos
), which reinforce the idea of food security and safety security
and which symbolically attest to an agriculture that offers healthy and natural foods
(CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004; SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005).
It is worth remembering that both
farmers' market have the offer of agroecological products as
their objective and criteria for screening the stallholders.
Terms such as “parents” (
pais
), “brother” (
irmão
), “occupation” (
ocupação
) and
“profession” (
profissão
) are also highlighted, indicat
ing a direct relationship with the
generational transmission of the activity. The transmission of the profession and the stalls runs
through generations of stallholders, whether in farmers' markets or in municipal markets
(GUIMARÃES; DOULA, 2018). Thus, wh
en the market traders were asked who/what
influenced them to become a market trader, 70% of respondents stated that they had their
parents as a reference; 20% did not indicate who motivated them and 10% alluded to the family,
without specifying the materna
l or paternal figure in the speech. Some reports, transcribed
below, show similarities in terms of generational influence, notably among stallholders who
work at the
Feira da Estação
:
My father, and today we work together. There are Wednesdays when he comes
and on the other I come to work (E1, Man,
Feira Livre da Estação
).
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Bernini
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and
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My family (father and mother) are all from the countryside (...) and that's why
I learned to do it, I didn't have
the opportunity to study more than the 3rd grade
knows, but I encourage my children a lot. I say it like this: if you want to stay
at the farmers' market, you can, but it's important to study a lot. Better a
swollen hand than a hoe in the hand (E3, Woman
F
eira Livre da Estação
, our
translation
).
The statements of the stallholders at the Station confirm a representation oriented
towards a constructed and shared social reality (JODELET, 2001; LOPES, 2013), in which
professional heritage and family identity v
alidate a collective idea of the bond of succession
and continuity with the group around which individuals belong. Being a marketer is a symbolic
link between relatives, notably between parents and children, which presupposes the
generational passage of a
heritage that allows for the creation of affective relationships with the
people who attend the farmers' market and with the very “place” where the work is carried out
with the statement that “It's a family thing, right? It came from the cradle and we keep
going. I
don't think anyone here is at the farmers' market just for being here, it's something in the family.
I think” (E4, Woman,
Feira Livre da Estação,
our translation).
The stallholders of the Quintal Solidário
, although some respondents ratify the family
and generational influence, are also concerned about not feeling “unoccupied”; since the
farmers' market is the path for those who have already retired and want another job, as when
reading “I didn't have [infl
uencers] as I told you, I started even as soon as I retired. I wanted
something to distract” (E6, Man,
Quintal Solidário
, our translation
); “My father who also had
my grandfather and so on. It's already something in the family and I'm trying to bring my so
n,
but he said he wants to go to college first and then think about it” (E7, Man,
Quintal Solidário
,
our translation
) and “My retirement [laughs]. It was either this or idleness” (E8, Man,
Quintal
Solidário
, our translation
).
Comparing the statements, it a
ppears that the farmers' market can assume the meaning
of “work” and a means of earning a “sustenance” for some stallholders, but also of “occupation”
and opportunity for entrepreneurship which, as seen previously, is encouraged by the creators
of the Quin
tal Solidário extension project. This polysemy is further confirmed when trying to
understand “what it means to sell products at the farmers' market” for stallholders in both
spaces:
It's the end of a difficult job. You have to wake up early, leave everyt
hing well
prepared, take a car, travel here, set up the stall and when the people arrive,
we need to be there with a smile on our face, right? It's not an easy thing, but
knowing that there are these people who come here and value our efforts is
really goo
d, right? (E3, Woman,
Feira Livre da Estação
).
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on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
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It's my chance to have money, to help my son and to be able to buy what I
want, I'm the one who decides what I'm going to have. I managed to get a
credit card at the farmers' market and now I accept a credit
card payment (E4,
Woman,
Feira Livre da Estação
).
It's more of a hobby, my income does not depend on the sale of these foods,
but it's important for many here, I don't question that (E5, Man,
Quintal
Solidário
).
It's where I can have fun, see new people
and meet some old friends again,
right? People who stay alone because of work barely see their wives [laughs].
Selling for the sake of selling is not so important (E6, Man,
Quintal Solidário
,
our translation
).
The stallholders who work at
Feira Livre da E
stação
represent it as an opportunity to
improve their economic condition, especially women, who attribute to the activity a chance of
financial autonomy. As for the stallholders who participate in the
Quintal Solidário
, the activity
is complementary and s
econdary in the economic dimension, but important as a space for
socialization. When asking consumers “what it means to buy products from the farmers'
market”, the answers presented a nucleation regarding the quality of what is offered for
consumption (Fig
ure 4):
Figur
e
4
–
Word cloud
–
consumers and what it means to acquire such products
Source
:
Research
data
, 2020
Words like “good” (
bom
), “eat” (
comer
), “care” (
cuidado
), “cultivate” (
cultivar
) and
“food security” (
segurança
alimentar
) indicate proximities of meanings that refer to the
guarantee of agricultural production and the necessary attention to planting, but also to a “post
field”, the final stage of the food that goes to consumption, with attributes of a safety that is not
fou
nd in supermarkets (CUERVO; HAMANN; PIZZNATO, 2019). Such security is evoked by
those who produced it, that is, in the speeches of the stallholders, but also certified by the
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Parley Lopes
Bernini
da
SILVA
and
Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758
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institutional actors that promote both farmers' markets. Thus, in the representat
ions of
consumers, the product at farmers' markets is seen “as pure and, therefore, healthy. Adjectives
related to nature would be attributed to fresh foods, or those from the farmers' market, or organic
ones, or those brought in from outside” (MENASCHE, 2
004, p. 121
, our translation
).
The last question, addressed to marketers and consumers of both farmers' markets, was
based on verifying the hypothesis pointed out by Cuervo, Hamann and Pizzinato (2019) that
the persistence of farmers' markets over time, de
spite the convenience and variety of products
that a supermarket aggregates in the same space, due to the possibility of conversation.
Respondents' opinion was asked about the phrase “people talk more in local producer markets
than in supermarkets” (CUERVO
; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p. 293
, our translation
).
The answers indicate an affirmative consensus, that is, there is a sense of a positive
representation of this characteristic of the farmers' market, praised by the different actors and
which reinforces t
he image that goods, people and words circulate in that space:
You just look to the side and see it happening. It's us talking to another vendor,
with whom we buy. Anyway, it's something more intimate than going to the
supermarket, right? (E6, Man, stallh
older,
Quintal Solidário
).
When I go to market Y, for example, if I'm not with my son or any relative, I
take what I have to buy and go back home. That's why I like the farmers'
market because everyone is smiling (E1, Woman, consumer,
Feira Livre da
Estaç
ão
).
No doubt! Because you are in the face of the market and so we can ask about
the origin of the products. Sometimes they do it themselves and it is very good
because we know what is healthy. You go to the market and you don't have
these things. Worse,
there is a market here that doesn't even look at the validity
of the products, you know? I only found out when I had bought chocolate for
my boyfriend and it was expired (E3, Woman, consumer,
Feira Livre da
Estação
).
Here's something very good: it's almos
t difficult not to say something, even if
it's just a “hello” to someone, because at all times we hear a stallholder saying
something that makes us laugh, like: “a strawberry for the sweetie”, these
things (E5, Woman, consumer,
Quintal Solidário
, our trans
lation
).
The speeches, finally, allow us to understand the valuation of farmers' markets as spaces
for speech and circulation of messages and representations, especially when compared to
supermarkets, qualified negatively as spaces of silence,
anonymity and impersonality because
“Going to the market is isolating from conversation. Here we play with everything and
everything is a party, right?” (E9, Woman, stallholder,
Quintal Solidário
, our translation
) and
“People who go to the market barely lo
ok to the side. The most we can do is say thank you to
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Going to farmers’ market and talking:
Study
on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers
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Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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the cashier or look for someone who works in the market when we can't find something. I think
the market is a place full of people and empty of conversation” (E3, Woman, stallholder,
Feira
Livre da Est
ação
, our translation
).
Thus, in addition to a place for the consumption of a product itself, there is a symbolic
construction around the farmers' markets about trust, the credit attributed to words and the
possibility of the ludic in the midst of commerci
al transactions or that “It is here that we know
our client, establishes an intimacy and gets to know other stallholders. I myself have two people
who every Wednesday are here to buy or chat. It's a really nice relationship!” (E2, Man,
consumer,
Feira Livr
e da Estação
, our transaltion
).
Final considerations
The approach of an object such as the fair allows several analyzes that intersect from
the historical search for its transformations and adaptations to different contexts, its role and
importance in the social, economic, political and environmental fields,
as well as its
perpetuation in a scenario of high food industrialization and the “boom” of fast
-
food behavior.
In this research, priority was given to analyzing the differentiated representations of
what “doing” the farmers' market means, sometimes highli
ghting their economic function,
sometimes their socializing function. The same occurred with consumers, who did not report
their conceptions about consuming at the farmers' market in a unidimensional way, valuing both
the quality of the food and the socio
-
cultural activities.
Both farmers' markets constitute differentiated proposals due to the actions of
institutional actors from a university, the agroecological profile and the solidary economy, but
such attributes were not equally highlighted as distinctiv
e by those who frequent these spaces,
whether they are marketers or consumers. The offer of fresh, healthy, rural food, a point
emphasized by the participants, is an attribute that characterizes fairs in general, and makes art
of the social imaginary about
these spaces, as shown in the bibliography.
Also, as other works have shown, the particularity of the farmers' market resides in its
opposition to supermarkets, not only with regard to the goods offered, but mainly due to the
type of social relations that
are possible in each of these spaces, of distance and impersonality
or proximity and familiarity. It is in this sense that this research deepened the understanding of
the farmers' market as a space for conversation, and in the specific case of the farmers
' markets
analyzed here, a space for spectacle, since artistic and cultural activities take place in it that
connect vendors and consumers to the same regional identity. Thus, both those who sell and
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Bernini
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Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. 00, e022032, 2022.
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those who buy return, without knowing it, to the origina
l meaning of the term “
feria
”: party.
And as a party, the farmers' market provides playful moments of social belonging.
It must also be considered that the research presents its originality when applied to a
theme which has few particular analyses: the far
mers' market as a place of social and economic
exchanges which, in turn, can be a factor of social improvement (as presented by the
respondents at the free fair at the Station) or escape from idleness (as stated by the traders at
Quintal Solidário
). Moreov
er, the contribution of the Theory of Social Representations as an
instrument for discourse analysis, as well as its research design using the Iramuteq software,
provided an opportunity to assess the phenomenon beyond social and leisure issues. With the
us
e of the tool, objective issues were evidenced, such as the fact that consumers go to farmers'
markets since they understand that there will be safe food for consumption
-
because there they
will be face to face with those who produce them
-
, unlike buying
in hypermarkets.
Finally, it is important to highlight the limits of the research described here and the
impossibility of generalizations, indicating that there is a need to investigate other profiles of
farmers' markets, for comparative purposes. Here, t
he analysis anchored by the theory of social
representations sought to contemplate the interpretation of different actors of what going to the
farmers' market means; the circularity of frequent communication between consumers and
merchants explains similar
representations, given that they are built from the personal and
collective experience of the group that experiences and talks about the same reality.
ACKNOWLEDGEMENTS
:
This work was carried out with the support of the Coordination
for the Improvement of Higher Education Personnel
-
Brazil (CAPES)
-
Financing Code 001.
The authors also thank the availability and welcome on the part of the merchants and consumers
present a
t the
Feira Livre de Viçosa
and
Quintal Solidário
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22/06/2022
Approved
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25/07/2022
Published
:
21/12/2022
Processing and publication by the Editora
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