image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157581FAZER A FEIRA E CONVERSAR: ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE FEIRANTES E CONSUMIDORES -VIÇOSA-MGHAZ LA FERIA Y HABLA: ESTUDIO SOBRE LAS REPRESENTACIONES SOCIALES DE JUSTOS Y CONSUMIDORES -VIÇOSA-MGGOING TO FARMERS’ MARKET AND TALKING: STUDY ON THE SOCIAL REPRESENTATIONS GIVEN BY FARMERS’ MARKET VENDORS AND CONSUMERS -VIÇOSA-MGParley Lopes Bernini da SILVA1Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA2RESUMO: O artigo analisa os significados atribuídos às feiras por vendedores e consumidores, sob a égide socioantropológica. Para tal, a revisão bibliográfica e a aplicação de questionários semiestruturados na Feira Livre da Estação e na Feira de Economia Solidária e Agricultura Familiar Quintal Solidário (ambas no município de Viçosa-MG) são os alicerces deste trabalho. A análise, ancorada na Teoria das Representações Sociais, permite mapear aspectos polissêmicos das representações sobre os alimentos, da produção econômica e das relações socioculturais que se estabelecem nesses espaços de hibridação frente às vivências contemporâneas. O estudo conclui que vendedores e consumidores atribuem diferentes significados econômicos e de interação social às feiras ora direcionados às questões econômicas ora as trocas culturais que nela são oportunizadas.PALAVRAS-CHAVE:Feira-livre. Representações Sociais. Viçosa-MG.RESUMEN:El artículo analiza los significados atribuidos a las ferias por vendedores y consumidores, bajo la égida socio-antropológica. Para ello, la revisión de la literatura y la aplicación de cuestionarios semiestructurados en la Feira Livre da Estação y la Feria Economía Solidaria y Agricultura Familiar Quintal Solidário (ambas en el municipio de Viçosa -MG) son las bases de este trabajo. El análisis, anclado en la Teoría de las Representaciones Sociales, permite mapear aspectos polisémicos de las representaciones sobre la alimentación, la producción económica y las relaciones socioculturales que se establecen en estos espacios de hibridación frente a las experiencias contemporáneas. El estudio concluye que vendedores y consumidores atribuyen diferentes significados de interacción económica y social a las ferias, a veces dirigidas a cuestiones económicas, y otras a intercambios culturales que se hacen posibles en ellas.PALABRAS CLAVE:Mercado abierto. Representaciones Sociales. Viçosa-MG.1Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), FlorianópolisSC Brasil. Mestrado em Extensão Rural (PPGER-UFV). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9278-1235. E-mail: parley.bernini@posgrad.ufsc.br2Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), FlorianópolisSC Brasil. Docente do Programa de Pós-graduação em Administração (PPGAdm-UFSC), Pós-doutorado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5151-172X. E-mail: rogerlacerda@gmail.com
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157582ABSTRACT: The article analyzes the meanings attributed to farmers’ marketsby sellers and consumers, under the socio-anthropological aegis. To this end, the literature review and the application of semi-structured questionnaires at the Estação Livre Farmers’ market and the Solidarity Economy and Family Agriculture Farmers’ market Quintal Solidário (both in the municipality of Viçosa-MG) are the foundations of this work. The analysis, anchored in the Theory of Social Representations, allows mapping polysemic aspects of representations about food, economic production and sociocultural relations that are established in these spaces of hybridization in face of contemporary experiences. The study concludes that sellers and consumers attribute different economic and social interaction meanings to farmers’ markets, sometimes directed to economic issues, and sometimes to cultural exchanges made possible in this space.KEYWORDS: Farmers’Markets. Social Representation. Viçosa-MG.IntroduçãoOs estudos que tratam da formação das feiras-livres e mercados na história são de uma variedade ímpar tendo como historicamente aceito que o aparecimento das feiras data do século XI, com a abertura de vias comerciais entre oriente e ocidente tendo por rota de trânsito o Mar Mediterrâneo, lugar de desenvolvimento comercial protagonizado pelos burgos (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005). Em meados do século XIII, quando as rotas terrestres se tornaram ameaçadoras, as vias marítimas ganharam importância e no século XIV a fixação dos mercados em centros de relevância populacional (tal qual Londres) fez diminuir a importância das feiras (PEDRO; COULON, 1985). Buscando o significado da palavra, Minnaert (2008 apud CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p.293) informam que “a feira é um espaço que engloba um cenário de práticas sociais que fomenta e se dá pela relação interpessoal. A palavra ‘feira’ vem do latim feria, que significa ‘dia de festa’, é um local de vendas, trocas, encontros e conversas”.Além das trocas comerciais, a feira é reconhecida como espaço de relações interpessoais onde se intensifica “o contato face a face através do elo entre produção e consumo” (GUIMARÃES; DOULA, 2018, p.02). Esse aspecto não se limitou ao cenário europeu, mas foi mantido também nas Américas. No contexto histórico brasileiro, assumem o papel de oportunizar às populações urbanas o abastecimento de alimentos com os mais variados produtos oriundos da agricultura, da pecuária, da pesca e do artesanato. Mascarenhas (2008 apud GUIMARÃES, DOULA, 2018, p.08) apontam que além da tradição ibérica, a feira-livre brasileira herda “práticas africanas populares chamadas de quitandas, do quimbundo kitanda, que significamercado, constituídas por “agrupamentos de negras ao ar livre, acocoradas ou dispondo de tabuleiros, que comercializam produtos de pequenas lavouras e pescas”.
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157583Como referenciado por Cuervo; Hamann e Pizzinato (2019, p.285), “a feira pode ser entendida usualmente como o grupo de pessoas que ‘fazem a feira’ produtores(as), consumidores(as), e outras , que compartilham interesse pelo seu espaço”. Assim, nela se faz presente a abertura ora ao velho ora ao novo, num movimento de maleabilidade e hibridação. Da Enfatizando as interações culturais que a ela propicia, Sacco dos Anjos, Godoy e Caldas (2005, p.19) consideram que uma de suas características é ser “um espaço social detentor de atributos peculiares que, presumivelmente, asseguram sua persistência na sociedade contemporânea”. Entender sua persistência implica em contextualizar que no atual cenário de industrialização dos alimentos temas pertinentes à segurança alimentar assumem relevância no plano político e institucional (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) e é nas feiras que os atributos do que é tido por “natural”, “rural” e “saudável” se tornam mais visíveis em sua diversidade e abundância. Além desses atributos, as feiras possibilitam a manutenção da cultura alimentar e da identidade regional (PEREIRA; BRITO; PEREIRA, 2017), aproximando consumidores e compradores. Menasche (2004) ressalta que na atualidade a qualidade dos alimentos é medida e reforçada quando associados ao campo, ora que são conexos ao que é desejável. De tal maneira, a ligação com a origem rural do alimento:parece condensar todas as vantagens que distinguem o alimento desejável do alimento industrializado. [...] Os alimentos que vêm de fora são considerados os melhores. Das verduras, é dito que “até a folha é mais macia”. A galinha, a carne e o leite, “não têm comparação”, “é outro gosto”, as do supermercado não chegam “nem a seus pés” (MENASCHE, 2004, p.122).Assim, a importância e persistência das feiras-livres se explicam, primariamente, pelas novas orientações do consumidor que busca não apenas o que se nomeou por food security3mas também ossafety food. Em segundo lugar, contrastando com as relações impessoais e anônimas dos supermercados, as feiras são caracterizadas como espaços sociais de troca de saberes e práticas mercantis orientadas pelo reconhecimento mútuo entre feirantes e fregueses (GUIMARAES; DOULA, 2018). Há de se considerar que antes de “chegar à feira” é necessária uma série de atividades (plantio, colheita, distribuição, transporte, dentre outras) e quando se “está na feira” há uma aproximação entre consumidor e feirante -produtor e comerciante ao mesmo tempo -, o que 3Entende-se os food securitycomo aqueles com “orientação genérica em prol da ampliação da disponibilidade e garantia ao acesso a alimentos social e culturalmente referenciados” e os safety foodcomo aqueles com “garantias em relação à qualidade dos alimentos e ausência de riscos à saúde para o universo de consumidores” (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005, p.05),
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157584também implica “na manutenção de um espaço à viabilização da agricultura familiar regional” (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005, p.19). Atualmente, para o consumidor, saber onde, por quem e como são produzidos os alimentos são fatores que indicam segurança alimentar, consumo consciente estatus diferenciado. Pesquisadores brasileiros destacam que as feiras-livres permitem um estreitamento cultural entre o rural e o urbano (CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004). Atividades profissionais, econômicas, de lazer, educacionais e culturais se aproximam num fluxo que envolve trocas de mercadorias, palavras, memórias e visões de mundo (COUTINHO; DOULA, 2014). Cuervo, Hamann e Pizzinato (2019), destacam que a feira é espaço de comunicação interpessoal no qual:estabelece-se pelo contato face a face uma ética relacional, envolvendo ocupação do espaço, produtos, pessoas, significados, conhecimentos compartilhados. É nesse processo que a rede estabelecida gera relações de confiança e marca, por exemplo, a legitimidade da qualidade dos alimentos (CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p.293).Seguindo a linha analítica dos valores simbólicos envolvidos no espaço das feiras, este artigo se justifica ao buscar compreender quem são os indivíduos que “fazem a feira”; como constroem as relações sociais e quais significados são atribuídos a duas feiras: a Feira de Economia Solidária e Agricultura Familiar (conhecida como Quintal Solidário), promovida pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e a Feira-livre na Estação, promovida pela Prefeitura Municipal de Viçosa, cidade localizada na Zona da Mata de Minas Gerais.Algumas particularidades, como a prioridade de oferta de produção agroecológica local, a economia solidária e a vinculação dessas feiras com pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa e redes de movimentos sociais justificam a escolha desses espaços para a análise aportada pelo uso da Teoria da Representações Sociais.Caracterização das feirasA Feira-livre da Estação é noturna, realizada na parte central da cidade de Viçosa, no espaço conhecido como Balaustrada, um guarda-corpo que circunda a Estação Ferroviária. A criação da Balaustrada data de 1924. A Estação foi construída em 1912, em trecho da Estrada de Ferro Leopoldina, e atualmente funciona como espaço cultural. A Estação foi tombada pela Prefeitura Municipal como patrimônio histórico-cultural em 1993 e a Balaustrada em 1999 (IPATRIMÔNIO, 2022).
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157585A Feira da Estação, além da presença dos agricultores credenciados pela prefeitura, conta com a participação da Rede Raízes da Mata (RRM), fundada em 2011, com o objetivo de aproximar produtores (as) agroecológicos aos consumidores. A rede, mobilizada pelos grupos de agroecologia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Centro de Tecnologias Alternativas Zona da Mata (CTA-ZM) e Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares(ITCP-UFV), dentre outros, se propõe valorizar a produção local segura e incentivar o “surgimento de novas experiências” em Viçosa (ARANTES et al., 2018, p.07).A participação da RRM é justificada ao se considerar que a atual homogeneização do mercado agroalimentar não se atém às realidades locais e a padrões de qualidade. Dessa forma, promove-se um espaço alternativo, abarcando quem produz, quem consume e os pesquisadores da universidade e centros de pesquisa, visando promover “convívio social entre produtores/as e relação da Rede e dos/as produtores/as com outros atores sociais, acesso a mercados para produtos agroecológicos e possibilidade de a comunidade local adquirir produtos agroecológicos” (ARANTES et al., 2018, p.07). Especificamente, a Feira da Estação, criada em 2017, têm compromisso de “oferecer hortifrutigranjeiros produzidos no município por agricultores familiares, livres de agrotóxicos e irrigados com água tratada para garantir a sanidade dos alimentos quanto à presença de vermes como coliformes fecais e outros parasitos que infestam o meio aquático” (FOLHA DA MATA, 2018, n.p.).Já a Feira de Economia Solidária e Agricultura Familiar, ou Quintal Solidário, foi criada em 2016 pela ITCP-UFV4juntamente com a Seção Sindical dos Docentes da UFV (ASPUV). Trata-se de um projeto de extensão desenvolvido pela UFV que objetiva “valorizar e promover produtos e serviços de empreendimentos econômicos solidários e agricultoras/es familiares a fim de promover geração de trabalho e renda, integração entre produtores(as) e consumidores(as)” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.134). Nesse projeto, pautas como agroecologia, segurança alimentar e sustentabilidade são destacadas como distintivas. Sendo realizado no campusuniversitário da UFV, tem a participação dos feirantes por seleção pública, desenvolvida por edital contemplando “Empreendimentos Econômicos Solidários (grupos, associações, cooperativas) e Agricultores(as) Familiares” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019. p.11). De acordo com Costa et al.(2019, p.12):4“A Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares daUniversidade Federal de Viçosa -ITCP-UFV é um programa de extensão, interdisciplinar [...] Desde sua criação, a ITCP-UFV vem assessorando grupos populares que desenvolvem diversas atividades econômicas, no âmbito da agricultura familiar, do artesanato, da reciclagem popular, alimentação, prestação de serviços, entre outras” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.14).
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157586O perfil das iniciativas envolvidas é variado, englobando movimentos sociais, redes de prossumidores, pacientes da saúde mental e participantes de projetos de inclusão social. No total, são 35 barracas/bancadas divididas em três setores: a) Artesanato (14); Alimentos minimamente processados (12) e Hortifruti (09). [...]. Além da comercialização a feira pretende ser um espaço de convivência e integração social, abrindo as portas da Universidade Federal de Viçosa para comunidade de Viçosa por meio de atrações culturais, espaço para crianças e ofertas de oficinas. A programação cultural da Feira, por exemplo, busca a valorização das atrações locais e desde o início do Quintal já foram realizadas diferentes atividades como apresentações musicais, oficinas de dança, cirandas, coral e capoeira. De forma geral, tanto a Feira da Estação como o Quintal Solidário partem da premissa de se tornarem espaços diferenciados de consumo, de valorização da produção local e agroecológica e, no caso do Quintal, deeconomia solidária. De acordo com idealizadores do Quintal Solidário, a economia solidária abarca uma variedade de ações coletivas de cooperação e solidariedade. Assim, “como crítica ao modelo econômico do lucro particularizado, a economia solidária propõe suprimir as desigualdades criadas pela produção e distribuição, priorizando interesses grupais e solidários através de assessoria técnica e científica, legal e afins(LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.10-11). Também objetiva facilitar o acesso às atividades geradoras de renda “em que o objetivo econômico é acompanhado por objetivos sociais que produzem vínculos sociais e de proximidade” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.135). Trata-se “de um sistema de articulação entre produtores(as), comerciantes(as) e consumidores(as) a partir de relações de confiança, transparência e proximidade” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.11).Ainda como crítica à “mera lógica utilitária inerente ao mecanismo do mercado a economia solidária postula que a responsabilidade de autogestão dos processos econômicos seja coletiva” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.135-36) e apoia a inserção conjunta dos diversos atores num comércio que envolva “a produção e o consumo segundo valores de sustentabilidade e justiça (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.11). Destaca-se que no âmbito dessas iniciativas, entre 2009 a 2013 a agricultura familiar “correspondia a 52,6% da atividade econômica solidária, como exposto pelo Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária (Sies)” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p.11). Além desses aspectos da produção e da comercialização, a economia solidária se volta a especificidades de demandas do consumidor atual, que é mais exigente na sua decisão de compra, pois: Agora, em sua avaliação, esse consumidor considera um conjunto de fatores como preço e qualidade, origem, procedência, sustentabilidade, relação com o meio ambiente, com os colaboradores e comunidades participantes do processo. Assim, diferentes oportunidades se apresentam para o pequeno
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157587produtor. [...] o país concentra possibilidades concretas para os agricultores familiares que, ao mesmo tempo em que são produtores de alimentos e outros produtos agrícolas, desempenham a função de conservadores da biodiversidade (BITTENCOURT, 2018, n. p.).Ao caracterizar ambas as feiras, é perceptível a influência de pesquisadores e de conceitos científicos na concepção e condução desses projetos, criando-se um perfil diferenciado ou alternativo em relação à feira convencional. A partir dessas consideraçõeso artigo investiga as representações sociais de feirantes e consumidores sobre os alimentos, a produção econômica e as relações socioculturais que se estabelecem em ambos os espaços. O percurso metodológico da investigação, de caráter qualitativo, envolveu pesquisa bibliográfica e aplicação de questionários semiestruturados a feirantes e consumidores, em 2020. Os dados são analisados através da Teoria das Representações Sociais. Representações sociais como formas de conhecimento e interpretaçãoO marco da teoria das representações é creditado a Émile Durkheim, no início do século XX com o conceito de Representações Coletivas, tendo sua reformulação por Serge Moscoviciem 1961(LOPES, 2013) como Representações Sociais. Moscovici, aocontrário de Durkheim, que entendia as representações como formas de conhecimento estáveis, coletivas, coercitivas e homogêneas, propõe a estudar as diferentes configurações de significados e de ação criadas por grupos sociais heterogêneos os quais vivem numa mesma sociedade. Seus estudos abriram perspectivas investigativas em diferentes disciplinas (ARRUDA, 2002), posto que Serge Moscovici priorizou as especificidades dos fenômenos representacionais da sociedade moderna (JODELET, 2001). As representaçõessociais (e seu estudo) estabelecem uma interface entre as dimensões sociais, culturais e psicológicas, exibindo um status transversal com diversas áreas de pesquisa como a Antropologia e Sociologia. É, de tal modo, uma teoria de vinculação (ligação e coesão), onde “a vigilância exercida pelo grupo sobre o indivíduo diminui à medida que os vínculos entre eles se tornam mais densos e recíprocos” (MOSCOVICI, 2001, p.56). São construídas devido à necessidade de conhecer, compreender, ajustar, dominar, informar ou identificar o que o sujeito tem a sua volta. Assim, a Teoria das Representações Sociais busca tratar os fenômenos, observáveis diretamente ou reconstruídos, por intervém da ciência, legitimada como explicação dos processos cognitivos e das interações sociais. Para Sêga (2000):
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157588As representações sociais se apresentam como uma maneira de interpretar e pensar a realidade cotidiana, uma forma de conhecimento da atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e pelos grupos para fixar suas posições em relação a situações, eventos, objetos e comunicações que lhes concernem. É um conhecimento prático que dá sentido aos eventos que nos são normais, forja as evidências da nossa realidade consensual e ajuda a construção social da nossa realidade (SÊGA, 2000, p.128-29).Como proposto por Jodelet (2001, p.17), as representações sociais “nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária, no modo de interpretar esses aspectos, tomar decisões e eventualmente, posicionar-se frente a eles de forma defensiva”. De tal forma não são algo fiel e fidedigno, “nem a parte subjetiva do objeto, nem a parte objetiva do sujeito” (SÊGA, 2000, p.129), mas sim a coesão entre o mundo, seus objetos e os sujeitos que lhes conferem significados.A teoria das representações sociais focaliza as formas e conteúdo do conhecimento, priorizando os aspectos cognitivos, emocionais e comunicativos que intervêm na criação, modificação e circulação das imagens e dos significados, daí seu particular interesse pelos discursos, dentre eles os orais, escritos, imagéticos ou propagados pelas diferentes mídias, por exemplo (JODELET, 2001). Outro aspecto da teoria pondera que “deve ser estudada articulando elementos afetivos, mentais e sociais ao lado da cognição, da linguagem e da comunicação” (JODELET, 2001, p.26), pois a visão de mundo do sujeito (ou do grupo social) e suas ações são explicitadas através do recurso representacional.Representar implica “agir sobre o mundo e o outro, o que desemboca em suas funções e eficácia sociais” (JODELET 2001, p.28). Igualmente, implica em dar sentido ao que é vivido e experimentado (PESAVENTO, 1995), marcando pertenças sociais que possibilitam identidades aos membros de uma comunidade, haja vista que “a natureza consensual de uma representação é geralmente parcial e localizada” (LOPES, 2013, p.25159). A dinamicidade das representações sociais reside no fato de elas serem interpretações de uma realidade, que se modifica no tempo, bem como pela própria circulação dos indivíduos em diferentes grupos sociais, ou seja, embora se torne “um instrumento referencial que permite a comunicação em uma mesma linguagem, a representação está aberta “à possibilidade da polissemia, onde ora se apresentam temas inovadores que provocam conversões de experiências, de percepções que conduzem a uma nova visão” (SÊGA, 2000, p.130), ora se preserva a rigidez das formas de pensar e agir já testadas e sancionadas. Assim, a partilha social alude a um mecanismo de determinações conexas à estruturae às relações em quedividir uma ideia (ou linguagem) é afirmar vínculos sociais e identificações sujeitos a reformulações e validações constantes (JODELET, 2001). Em síntese, e como
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157589colocado por Serge Moscovici (2001, p.55), as “representações ressaltamos fatos e interpretam uma realidade” que “é socialmente construída e o saber é uma construção do sujeito, mas não desligada da sua inscrição social” (ARRUDA 2002, p.151). A partir desses pressupostos, a utilização da teoria das representações sociais neste artigo implica em entender as feiras como fenômeno onde produção, comercialização, consumo e interpretações enquanto elementos indissociáveis (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) passíveis de discursos, interpretações e disputas.Procedimento metodológicoA pesquisa apresenta a uma análise qualitativa aportada na Teoria das Representações Sociais. Como metodologia foram utilizadas a revisão bibliográfica e a pesquisa de campo, com observação e aplicação de questionários nos espaços das duas feiras descritas anteriormente, entre agosto esetembro de 2020. Aplicou-se um questionário semiestruturado a 5 feirantes que participam da Feira Livre da Estação e 5 para feirantes do Quintal Solidário.Tendo 15 questões, indagava suas representações do que é a feira livre; os significados que atribuem à prática de feirante; como conjuga sua participação na feira e sua vida privada; questões relacionadas à sobrecarga de trabalho (casa/feira), dentre outros aspectos a fim de que pudessem expressar opiniões, delinear circunstâncias ou organizar associações de ideias ao que se indagava. Sua aplicação se deu entre março eabril de 2020.Outro questionário semiestruturado foi aplicado a 20 consumidores frequentadores (10 em cada feira) no mesmo período que dos feirantes, em ambos os casosde forma não intencional. Apresentava também 15 questões com as mesmas questões dos feirantes (com exceção apenas da questão relacionada à sobrecarga de trabalho, sendo substituída por “defina a feira numa palavra”). Na análise utilizou-se o softwareIRAMUTEQ e suas funções “Análise de Similitude” (queconsiste na elaboração de um tracejo que permite identificar o que é comum e o que é específico nas falas de feirantes e consumidores sobre a feira) e “Nuvem de Palavras” (na qualse dispõe o conjunto de locuções em dimensões dessemelhantes, considerando-se que as palavras em maior tamanho indicam máxima importância no corpustextual, retiradas conjunções; preposições e numerais), objetivando agrupar as falas dos entrevistados -inseridasem sua integridade -“com a finalidade relacional, comparando produções diferentes em função de variáveis específicas que descrevem quem produziu o texto” (CAMARGO; JUSTO, 2013, p.03).
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575810O artigo tem sua abordagem qualitativa, caracterizada como o conjuntode técnicas interpretativas que busca descrever e compreender o caráter subjetivo do sujeito/objeto, estudando suas particularidades e experiências (MINAYO, 2009). Tal escolha advém ao fato que, às vistas de Godoy (1995), o pesquisador apropria-se da natureza qualitativa quando há diversos atores envolvidos nos múltiplos processos sociais e com diferentes percepções sobre a realidade social que necessitam de uma análise particularizada, a qual nem sempre se obtém quantitativamente (MINAYO, 2009). É, por fim, é um método científico de investigação que foca no caráter subjetivo do sujeito/objeto analisado, estudando as suas particularidades e experiências individuais. (JACCOUD; MAYER, 2008). A justificativa para seu uso adveio ao fato de que por este instrumento pode-se coletar do sujeito suas visões de mundo a partir da realidade que se tem, ora que a aplicação “com os usuários é uma forma de compreender qualitativamente suas motivações e expectativas” (FABERLUDENS, 2011, p.5), ancorada na análise de conteúdo.A análise de conteúdo é tida como aporte descritivo e interpretativo, amplamente utilizada pela Teoria das Representações Sociais, já que nos discursos (orais, escritos, visuais) as representações se materializam, ou seja, torna-se possível uma análise das ideias e das diferentes visões de mundo que as narrativas veiculam (JODELET, 1993; 2001; MOSCOVICI, 2003; ARRUDA, 2014), haja vista que “tudo que é dito ou escrito é passível a análise de conteúdo” (HENRY; MOSCOVICI, 1986, p.36, tradução nossa). Resultados e discussãoA partir da questão aberta que indagava aos feirantes e aos consumidores o significado da feira e sua importância, obteve-se um conjunto de termos que denotam representações de sentido positivo, tanto na dimensão econômica para os feirantes, como na dimensão cultural, para os consumidores (Figura 1):
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575811Figura 1Análise de similitude para o significado da feiraFonte: Dados da pesquisa, 2020Os termos identificados no canto superior esquerdo correspondem às respostas dos feirantes, que entendem a feira como espaço propriamente físico, como “lugar” e “sustento”.Verifica-se que há uma interpretação de que é neste espaço que se dá o escoamento e comercialização de seus produtos e é através dele que sua atividade é reconhecida por parte de quem os adquire (SATO, 2007; SILVA;SILVA, 2016; BORTOLO;MELO;FERREIRA,2019). Assim, a feira é lugar de trabalho, mas este trabalho conjuga as tarefas anteriores da produção agropecuária e do transporte (COUTINHO; DOULA, 2014), que permite maior aproximação do rural com o urbano. Pelo trabalho na feira, os feirantes retiram a renda do seu sustento (ao mesmo tempo em que contribuem para o sustento alimentar dos consumidores), mas esse não é um espaço onde o trabalho é visto por seus aspectos negativos; ao contrário, o termo diversão indica informalidade e uma interpretação lúdicada atividade.Os termos dispostos no canto inferior direito foram enunciados pelos consumidores, sendo as palavras de maior evocação “conversa”, “alegria”, “cultura” e “festa”.Pode-se entender que as representações destes sujeitos priorizam a feira no âmbito das práticas e dinâmicas socioculturais, de comunicação e aprendizado, onde quem comercializa aprende com quem adquire e o contrário também se faz (SACCO DOS ANJOS;GODOY;CALDAS,2005; CUERVO;HAMANN;PIZZINATO, 2019). Nessa prática cultural verifica-se que a conversa é o exercício fundamental de troca e interconhecimento, o que contrasta com a impessoalidade e o anonimato das relações estabelecidas nos supermercados.Ao se questionar aos consumidores sobre a sensação de estar na feira, termos ligadosao bem-estar são destacados, detalhando emoções positivas que indicam as trocas pessoais que se sobrepõem ao simples ato de comprar e consumir (Figura 2).
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575812Figura 2Nuvem de palavras consumidoresFonte: Dados da pesquisa, 2020Termos como “cultural”; “gente”; “alegria”, “bem-estar”e “felicidade” demonstram a vontade dos consumidores em estar nesses espaços justamente por permitirem sensação de acolhimento se comparados com outros estabelecimentos comerciais. Termos como “gente”, “amigos”, “parentes” indicam familiaridade e intimidade. Deve-se considerar que nessas feiras, como visto anteriormente, além do comércio de alimentos, há apresentação de atividades artísticas e culturais onde palavras como “atração”, “animado”, “cultural” e “alegria” reforçam o significado da feira como “lugar” de espetáculo cultural e de identidade regional (SÊGA;2000; PEREIRA;BRITO;PEREIRA, 2017; CUERVO;HAMANN;PIZZINATO,2019). De igual modo, ao questionar o que significa estar na feiraaos feirantes (Figura 3), as respostas indicam um conjunto diferente de termos, que constroem uma narrativa sobre o trabalho e sobre a feira como “lugar” de “sustento”, como mostrado na Figura 1
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575813Figura 3Nuvem de palavras feirantesFonte: Dados da pesquisa, 2020Na imagem verifica-se que termos relacionados ao trabalho remetem à valorização da atividade agrícola, do “plantar” e da preocupação em ofertar alimentos sem “agrotóxico” que reforçam a ideia de food securitye de safety securitye que simbolicamente atestam uma agricultura que oferta alimentos saudáveis e naturais (CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004; SACCO DOS ANJOS;GODOY;CALDAS, 2005). Vale lembrar que ambas as feiras têm a oferta de produtos agroecológicos como objetivo e critério de triagem dos feirantes.Há ainda destaque para termos como “pais”, “irmão”, “ocupação”e profissãoindicando uma relação direta com a transmissão geracional da atividade. A transmissão da profissão e das barracas perpassa gerações de feirantes, seja nas feiras livres, seja nos mercados municipais (GUIMARÃES; DOULA, 2018). Assim, quando se perguntou aos feirantes quem/o que influenciou a ser feirante, 70% dos entrevistados afirmaram que tiveram os pais como referência; 20% não apontaram quem os motivoue 10% aludiram à família, sem especificar a figura materna ou paterna no discurso. Alguns relatos, transcritos a seguir, apresentam semelhanças quanto à influência geracional, notadamente entre feirantes que trabalham na Feira da Estação:Meu pai, e hojea gente trabalha junto. Tem quarta que ele vem e na outra eu que venho trabalhar (E1, Homem, Feira Livre da Estação). Minha família (pai e mãe) é toda da roça (...) e por isso é o que aprendi a fazer, não tive a oportunidade de estudar mais que a 3ª série sabe, mas incentivo muito meus filhos. Falo assim ó: se quiser ficar na feira pode, mas é importante estudar muito. É melhor a mão inchada que a enxada na mão. (E3,Mulher Feira Livre da Estação).
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575814As falas dos feirantes da Estação confirmam uma representação orientada a uma realidade social construída e compartilhada (JODELET, 2001; LOPES, 2013), na qual a herança profissional e a identidade familiar validam uma ideia coletiva do vínculo de sucessão e continuidade com o grupo ao qual os indivíduos pertencem. Ser feirante é um elo simbólico entre os parentes, notadamente entre pais e filhos, que pressupõe a passagem geracional de um patrimônio que permite criar relações de afetividade com as pessoas que frequentam a feira e com o próprio “lugar” onde o trabalho se concretiza com a afirmação de que “É algo da família né? Já veio de berço e a gente vai seguindo. Acho que ninguém aqui tá na feira por tá, é algo da família. Eu acho(E4, Mulher, Feira Livre da Estação). Já os feirantes do Quintal Solidário, apesar de alguns respondentes ratificarem a influência familiar e geracional, apresentam também a preocupação em não se sentir “desocupado”; sendo a feira o caminho para aqueles que já se aposentaram e desejam um outro ofício, como ao ler “Não tive [influenciadores] como te disse, comecei mesmo assim que aposentei. Queria alguma coisa para distrair(E6,Homem, Quintal Solidário); “Meu pai que também teve o meu avô e assim vai. Já é algo da família e eu estou tentando trazer meu filho, mas ele disse que quer primeiro ter uma faculdade e depois pensa nisso(E7,Homem, Quintal Solidário) e “Minha aposentadoria [risos]. Era isto ou ficar no ócio(E8,Homem, Quintal Solidário).Comparando-se as falas, verifica-se que a feira pode assumir o significado de “trabalho” e meio de ganhar o “sustento” para alguns feirantes, mas também de “ocupação” e oportunidade de empreendedorismo que, como visto anteriormente, é incentivada pelos idealizadores do projeto de extensão do Quintal Solidário. Essa polissemia é confirmada ainda ao buscar-se compreender “o que representa vender os produtos na feira” para os feirantes de ambos espaços:É o final de um trabalho difícil. Tem que acordar cedo, deixar tudo bem preparado, pegar carro, deslocar até aqui, montar a barraca e quando o pessoal chega a gente precisa tá lá com o sorriso no rosto né? Não é uma coisa fácil, mas saber que tem essas pessoas que vem aqui e valorizam nosso esforço é bom demaisné? (E3, Mulher, Feira Livre da Estação).É minha oportunidade de ter dinheiro, de ajudar meu filho e de poder comprar o que quero, eu quem decido o que vou ter. Consegui pela feira até ter um cartão de crédito e agora aceito maquininha (E4,Mulher, Feira Livre da Estação).É mais um hobby, minha renda independe da venda desses alimentos, mas é importante para muitos aqui, não questiono isso (E5,Homem, Quintal Solidário).
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575815É onde posso me distrair, ver gente nova e reencontrar alguns velhos amigos, né? A gente que fica só por conta do trabalho mal vê a esposa [risos]. Vender por vender mesmo não tem tanta importância. (E6,Homem, Quintal Solidário).Os feirantes que atuam na Feira Livre da Estação a representam como oportunidade de melhoria da sua condição econômica, principalmente as mulheres, que atribuem à atividade uma chance de autonomia financeira. Já para os feirantes que participam do Quintal Solidário, a atividade é complementar e secundária na dimensão econômica, porém importante como espaço desocialização. Ao questionar aos consumidores “o que representa adquirir os produtos da feira”, as respostas apresentaram uma nucleação a respeito da qualidade do que é ofertado para o consumo (Figura 4):Figura 4Nuvem de palavras consumidores e o que representa adquirir tais produtosFonte: Dados da pesquisa, 2020Palavras como “bom”, “comer”, “cuidado”, “cultivar” e “segurança alimentar” indicam proximidades de significados que remetem à garantia da produção agrícola e da atenção necessária ao plantio, mas também de um “pós campo”, a etapa final do alimento que vai para o consumo, com atributos de uma seguridade que não se encontra nos supermercados (CUERVO;HAMANN;PIZZNATO, 2019). Tal seguridade é evocada por quem produziu, ou seja, nos discursos dos feirantes, mas também certificada pelos atores institucionais que promovem ambas as feiras. Assim, nas representações dos consumidores, o produto das feiras é tido “como puro e, dessa forma, saudável. Os adjetivos relacionados ao natural seriam atribuídos aos alimentos frescos, ou aos provenientes da feira, ou aos orgânicos, ou aos trazidos de fora” (MENASCHE, 2004, p.121).
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575816A última pergunta, direcionada a feirantes e consumidores de ambas as feiras, pautava-se em verificar a hipótese apontada por Cuervo, Hamann e Pizzinato (2019) de que a persistência das feiras no tempo, a despeito da comodidade e da variedade de produtos que um supermercado agrega em um mesmo espaço, se deve à possiblidade da conversação. Foi solicitada a opinião dos entrevistados sobre a frase “as pessoas conversam mais nos mercados de produtores locais do que em supermercados”(CUERVO; HAMANN; PIZZINATO,2019, p.293). As respostas indicam um consenso afirmativo, ou seja, há o sentido de uma representação positiva dessa característica da feira, enaltecida pelos diferentes atores e que reforça a imagem de que naquele espaço mercadorias, pessoas e palavras circulam:É só você olhar prolado e vê isso acontecendo. É a gente falando com outro feirante, com quem compra. Enfim, é algo mais íntimo que ir no mercado né? (E6,Homem, feirante, Quintal Solidário).Quando vou no mercado Y, por exemplo, se não estiver com meu filho ou qualquer parente, pego o que tenho que comprar e volto pra casa. Por isso gosto da feira porque todo mundo tá sorrindo (E1,Mulher, consumidora, Feira Livre da Estação).Sem dúvida! Porque você fica na cara do feirante e assim a gente pode perguntar da procedência dos produtos. Às vezes eles mesmos já fazem isso e é muito bom porque a gente fica sabendo o que é saudável. Você vai no mercado e não tem essas coisas. Pior, tem mercado aqui que nem olha a validade dos produtos, sabia? Eu só fiquei sabendo quando tinha comprado chocolate pro meu namorado e tava vencido (E3,Mulher, consumidora, Feira Livre da Estação).Aqui tem algo muito bom: é quase difícil não falar algo nem que seja um “oi” com alguém porque a todo momento a gente escuta um feirante falando algo que faz a gente rir, tipo: “um morango para o docinho”, essas coisas (E5,Mulher, consumidora, Quintal Solidário).As falas, por fim, permitem compreender a valorização das feiras como espaços de fala e circulação de mensagens e representações, notadamente quando comparados aos supermercados, qualificados negativamente como espaços de silêncio, anonimato e impessoalidade pois “Ir no mercado é isolar de conversa. Aqui a gente brinca com tudo e tudo é festa né?(E9, Mulher, feirante, Quintal Solidário) e “A gente que vai no mercado mal olha pro lado. O máximo que a gente faz é falar obrigado com quem tá no caixa ou procurar alguém que trabalha no mercado quando não acha algo. Eu acho o mercado um lugar cheio de gente e vazio de conversa” (E3, Mulher, feirante, Feira Livre da Estação). Assim, além de um lugar para consumo de um produto propriamente dito, há em torno das feiras uma construção simbólica sobre a confiança, o crédito atribuído às palavras e à
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575817possiblidade do lúdico em meio a transações comerciais ora que “É aqui que a gente conhece nosso cliente, estabelece uma intimidade e conhece outros feirantes. Eu mesmo tenho duas pessoas que toda quarta estão aqui para comprar ou bater papo. É uma relação muito gostosa!” (E2,Homem, consumidor, Feira Livre da Estação).Considerações FinaisA abordagem de um objeto tal qual a feira possibilita diversas análises que interseccionem desde a busca histórica de suas transformações e adaptações a contextos diferenciados, seu papel e importância nos campos sociais, econômicos, políticos e ambientais, bem como sua perpetuação ante a um cenário de industrialização alimentícia elevada e o “boom” do comportamento fast food.Nesta pesquisa priorizou-se analisar as representações diferenciadas sobre o que “fazer” a feira significa, ora destacando para os feirantes a sua função econômica, ora sua função socializadora. O mesmo ocorreu com os consumidores, que não informaram de maneira unidimensional suas concepções sobre consumir na feira, valorizando tanto a qualidade dos alimentos, como as atividades socioculturais. Ambas as feiras se constituem como propostas diferenciadas pela atuação de atores institucionais oriundos de uma universidade, pelo perfil agroecológico e de economia solidária, mas tais atributos não foram igualmente ressaltados como distintivos pelos frequentadores desses espaços, sejam feirantes ou consumidores. A oferta de alimentos frescos, saudáveis, de origem rural, ponto enfatizado pelos participantes, é um atributo que caracteriza as feiras em geral, e fazem arte do imaginário social sobre esses espaços, como demonstrou a bibliografia. Também como mostraram outros trabalhos, a particularidade da feira reside em sua oposição aos supermercados, não apenas no que se refere às mercadorias ofertadas, mas principalmente pelo tipo de relações sociais que são possíveis em cada um desses espaços,de distanciamento e impessoalidade ou de proximidade e familiaridade. É nesse sentido que esta pesquisa aprofundou a compreensão da feira como espaço de conversação, e no caso específico das feiras aqui analisadas, espaço de espetáculo pois nele ocorrem atividades artísticas e culturais que ligam feirantes e consumidores a uma mesma identidade regional. Assim, tanto quem vende quanto quem compra retoma, sem saber, o sentido original do termo feria”: festa. E como festa, a feira propicia momentos lúdicos de pertença social.Há de se considerar também que a pesquisa apresenta sua originalidade ao aplicar-se num tema o qual detém de poucas análises particulares: a feira enquanto lugar de trocas sociais
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575818e econômicas que, por sua vez, podem ser enquanto fator de melhora social (como apresentado pelos respondentes da feira livre da Estação) ou escape do ócio (conforme fala dos comerciantes do Quintal Solidário). Mais ainda, o aporte da Teoria das Representações sociais enquanto instrumento para análise de discurso, bem como seu delineamento de pesquisa utilizando o softwareIramuteq oportunizaram uma avaliação do fenômeno para além das questões sociais e de lazer. Com o uso da ferramenta evidenciou-se questões objetivas como o fato de os consumidores recorrerem asfeiras uma vez que entendem que nela estará alimentos seguros para o consumo -pois ali estarão frente a frente de quem os produz-, diferentemente de adquirem em hipermercados.Para finalizar, é importante salientar os limites da pesquisa aqui descrita ea impossibilidade de generalizações, indicando que há necessidade de investigar outros perfis de feiras, para efeito comparativo. Aqui, a análise ancorada pela teoria das representações sociais procurou contemplar a interpretação de diferentes atores do que “fazer a feira” significa; a circularidade da comunicação frequente entre consumidores e feirantes explica representações similares, haja vista serem construídas a partir de experiência pessoal e coletiva do grupo que vivencia e conversa sobre uma mesmarealidade.AGRADECIMENTOS: O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior -Brasil (CAPES) Código de Financiamento 001. Os autores também agradecem a disponibilidade e acolhida por parte dos feirantes e consumidores presentes na Feira Livre de Viçosa e Quintal Solidário.REFERÊNCIASARANTES, A.et al. O papel da extensão universitária na criação da Rede Raízes da Mata. Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF,v.13, n.1, jul. 2018. Disponível em: http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/index.php/cadernos/article/view/97. Acesso em: 06 maio 2020.ARRUDA, A. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cad. Pesqui., São Paulo, n.117, p.127-147, nov. 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-15742002000300007BITENCOURT, D. Artigo -Agricultura familiar, desafios e oportunidades rumo à inovação, EMBRAPA, 2018. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/31505030/artigo---agricultura-familiar-desafios-e-oportunidades-rumo-a-inovacao. Acesso em 27 abr. 2020.
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575819BORTOLO, C. A.; MELO, D.; FERREIRA, G. H. C. Os distintos usos e usuários na feira livre do bairro Major Prates no município de Montes Claros-MG. Revista Geofronter, Campo Grande, v.1, n.5, p.77-89, fev. 2019. Disponível em: https://periodicosonline.uems.br/index.php/GEOF/article/view/3531/pdf. Acesso em 28 out. 2019. CAMARGO, B. V.; JUSTO, A. M. Tutorial para uso do software de análise textual IRAMUTEQ.2013.Disponível em: http://www.iramuteq.org/documentation/fichiers/tutoriel-en-portugais. Acesso em 01 set. 2019.CARNEIRO, M. J. O ideal rurbano: campo e cidade no imaginário de jovens rurais. In:SILVA, F. C. T. (org.). Mundo rural e política: ensaios interdisciplinares.Rio de Janeiro: Editora Campus, 1998. p.97-117.COUTINHO, M. M.; DOULA, S. M. Representações sociais sobre a Aids entre jovens rurais e urbanos de Minas Gerais. Semina: Ciências Socais e Humanas. v.35, n.2, p.77-90, 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.5433/1679-0383.2014v35n2p77CUERVO, M. R.; HAMANN, C.; PIZZINATO, A. Feira agroecológica enquanto comunidade de prática: redes de sociabilidade, consumo e resistência. Sociedade e Cultura, v.22, n.1, 2019. DOI: https://doi.org/10.5216/sec.v22i1.43743FABERLUDENS. Métodos de pesquisa etnográfica. 2011. Disponível em:http://www.ligiafascioni.com.br/wpcontent/uploads/2011/05/aula3_metodos_pesquisa_etnografica.pdf. Acesso em 03 jan. 2020.FOLHA DA MATA. Feira livre noturna completou nove meses em Viçosa. 2018. Disponível em: https://www.folhadamata.com.br/noticia-feira-livre-noturna-completou-nove-meses-em-vicosa-2929. Acesso em 07 maio 2020.GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista deAdministração de Empresas, v.35, n.2, p.57-63, 1995.GUIMARÃES, T. T. D.; DOULA, S. M. Memória e identidade: o processo de sucessão e herança no Mercado Municipal de Montes Claros MG, 2018. Brasil. Mundo Agrário, v. 19, n. 40, e078, 2018. DOI: https://doi.org/10.24215/15155994e078HENRY, P.;MOSCOVICI, S. Problèmes de l’analyse de contenu. Langages, 3e année, n.11, p.36-60, 1986. Disponível em: https://www.persee.fr/doc/lgge_0458-726x_1968_num_3_11_2900. Acesso em 26 jun. 2022.IPATRIMÔNIO, Patrimônio Cultural Brasileiro. Viçosa Balaustrada. Disponível em: http://www.ipatrimonio.org/vicosa-balaustrada/#!/map=38329. Acesso em 10 nov. 2022.JACCOUD, M.; MAYER, R. A observação direta e a pesquisa qualitativa. In:POUPART,J. et al.(org.). A Pesquisa qualitativa. Enfoques epistemológicos e metodológicos.Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
image/svg+xmlParley Lopes BerninidaSILVA e Rogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575820JODELET, D. Représentations sociales: un domaine en expansion. In: JODELET, D.(Ed.) Lesreprésentations sociales. Tradução: Tarso Bonilha Mazzotti. Paris: PUF, 1989, p.31-61. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -Faculdade de Educação, 1993.JODELET, D. Representações sociais: um domínio em expansão.Rio de Janeiro: Editora EdUERJ, 2001.LIMA COSTA, B. A.; SANTOS, C. C: B.; PRIORE S. E. Aproximando produção e consumo: a experiência do projeto de extensão “Quintal Solidário”. Revista ELO -Diálogos em Extensão,v.8, n.1, 2019. DOI: https://doi.org/10.21284/elo.v8i1.1189LIMA COSTA, B. A.; STROPPA MOREIRA, M. A. Sentidos e contradições do trabalho de mulheres artesãs na economia solidária: estudo de caso de uma feira em Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Otra Economía, v.12, n.22, p.133-152, 2019. Disponível em: https://revistaotraeconomia.org/index.php/otraeconomia/article/view/14817/9467, Acesso em 05 maio2020.LOPES, T. J. S. As representações sociais e a educação. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 11., 2013. Anais[...].2013. Disponível em: http://educere.bruc.com.br/ANAIS2013/pdf/9077_6744.pdf. Acesso em 04 out. 2019.MENASCHE, R. Risco à Mesa: Alimentos Transgênicos, No Meu Prato Não? Campos -Revista de Antropologia, [S.l.],v. 5, n. 1, p. 111-129, jun. 2004. DOI: http://dx.doi.org/10.5380/cam.v5i1.1638MINAYO, M. C. S. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 21. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.MOSCOVICI, S. Das representações coletivas às representações sociais: elementos para uma histórica. In:JODELET,D.Representações sociais: um domínio em expansão. Rio de Janeiro: Editora EdUERJ, 2001. p.45-66.MOSCOVICI, S. Representações sociais:investigações em psicologia social. 3.ed.Tradução:Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.PEDRO, F. C. P.; COULON, O. M. A. F. As Rotas Comerciais e as Feiras Medievais, 1985. Disponível em: http://www.miniweb.com.br/historia/artigos/i_media/rotas_comerciais.html. Acesso em 10 set. 2019.PEREIRA, V.; BRITO, T.; PEREIRA, S. A feira livre como importante mercado para agricultura familiar em Conceição do Mato Dentro (MG). Revista Ciências Humanas, Taubaté, v.10, n.2, p.67-78, dez. 2017. DOI: https://doi.org/10.32813/rchv10n22017artigo6PESAVENTO, S. J. Em busca de uma outra história: imaginando o imaginário. Revista Brasileira de História,São Paulo, v.15, n.29, 1995. Disponível em: https://www.anpuh.org/arquivo/download?ID_ARQUIVO=3770. Acesso em: 28 out. 2019.
image/svg+xmlFazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v.27, n.00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575821SACCO DOS ANJOS, F.; GODOY, W. I.; CALDAS, N. V. As feiras-livres de Pelotas sob o império da globalização: perspectivas e tendências.Pelotas, RS: Editora e Gráfica Universitária, 2005.SÊGA, R. A. O conceito de representação social nas obras de Denise Jodelet e Serge Moscovici. Anos 90,Porto Alegre, v. 8, n.13, jul.2000. DOI: https://doi.org/10.22456/1983-201X.6719SATO, L. Processos cotidianos de organização do trabalho na feira livre. Psicologia e Sociedade, v. 19, n. esp. 1, 2007. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-71822007000400013SILVA, I. T.; SILVA, A. B. A feira livre na contemporaneidade: estudo de caso em uma pequena cidade paraibana. Revista GeoSertões, Cajazeiras, v.1, n.2, p.6-20, nov. 2016. Disponível em: http://revistas.ufcg.edu.br/cfp/index.php/geosertoes/article/view/36/pdf. Acesso em: 28 out. 2019.Como referenciar este artigoSILVA, Parley LopesBerninida;LACERDA, Rogério Tadeu de Oliveira. Fazer a feira e conversar: Estudo das representações sociais de feirantes e consumidores -Viçosa-MG.Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. 00,e022032,2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15758Submetido em: 16/05/2022Revisões requeridas em:22/06/2022Aprovado em: 25/07/2022Publicado em: 21/12/2022Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.Revisão, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157581GOING TO FARMERS’ MARKET AND TALKING: STUDY ON THE SOCIAL REPRESENTATIONS GIVEN BY FARMERS’ MARKET VENDORS AND CONSUMERS -VIÇOSA-MGFAZER A FEIRA E CONVERSAR: ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE FEIRANTES E CONSUMIDORES -VIÇOSA-MGHAZ LA FERIA Y HABLA: ESTUDIO SOBRE LAS REPRESENTACIONES SOCIALES DE JUSTOS Y CONSUMIDORES -VIÇOSA-MGParley Lopes Bernini da SILVA1Rogério Tadeu de Oliveira LACERDA2ABSTRACT: The article analyzes the meanings attributed to farmers’ markets by sellers and consumers, under the socio-anthropological aegis. To this end, the literature review and the application of semi-structured questionnaires at the Estação Livre Farmers’ market and the Solidarity Economy and Family Agriculture Farmers’ market Quintal Solidário (both in the municipality of Viçosa-MG) are the foundations of this work. The analysis, anchored in the Theory of Social Representations, allows mapping polysemic aspects of representations about food, economic production and sociocultural relations that are established in these spaces of hybridization in face of contemporary experiences. The study concludes that sellers and consumers attribute different economic and social interaction meanings to farmers’ markets, sometimes directed to economic issues, and sometimes to cultural exchanges made possible in this space.KEYWORDS: Farmers’ Markets. Social Representation. Viçosa-MG.RESUMO: O artigo analisa os significados atribuídos às feiras por vendedores e consumidores, sob a égide socioantropológica. Para tal, a revisão bibliográfica e a aplicação de questionários semiestruturados na Feira Livre da Estação e na Feira de Economia Solidária e Agricultura Familiar Quintal Solidário (ambas no município de Viçosa-MG) são os alicerces deste trabalho. A análise, ancorada na Teoria das Representações Sociais, permite mapear aspectos polissêmicos das representações sobre os alimentos, da produção econômica e das relações socioculturais que se estabelecem nesses espaços de hibridação frente às vivências contemporâneas. O estudo conclui que vendedores e consumidores atribuem diferentes significados econômicos e de interação social às feiras ora direcionados às questões econômicas ora as trocas culturais que nela são oportunizadas.PALAVRAS-CHAVE:Feira-livre. Representações Sociais. Viçosa-MG.1Federal University ofSanta Catarina (UFSC), FlorianópolisSC Brazil. Master's in Rural Extension (PPGER-UFV). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9278-1235. E-mail: parley.bernini@posgrad.ufsc.br2Federal University ofSanta Catarina (UFSC), FlorianópolisSC Brazil. Professor at the Postgraduate Program in Business Administration (PPGAdm-UFSC), Postdoctoral fellow at the Polytechnic School of the University of São Paulo. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5151-172X. E-mail: rogerlacerda@gmail.com
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157582RESUMEN:El artículo analiza los significados atribuidos a las ferias por vendedores y consumidores, bajo la égida socio-antropológica. Para ello, la revisión de la literatura y la aplicación de cuestionarios semiestructurados en la Feira Livre da Estação y la Feria Economía Solidaria y Agricultura Familiar Quintal Solidário (ambas en el municipio de Viçosa -MG) son las bases de este trabajo. El análisis, anclado en la Teoría de las Representaciones Sociales, permite mapear aspectos polisémicos de las representaciones sobre la alimentación, la producción económica y las relaciones socioculturales que se establecen en estos espacios de hibridación frente a las experiencias contemporáneas. El estudio concluye que vendedores y consumidores atribuyen diferentes significados de interacción económica y social a las ferias, a veces dirigidas a cuestiones económicas, y otras a intercambios culturales que se hacen posibles en ellas.PALABRAS CLAVE:Mercado abierto. Representaciones Sociales. Viçosa-MG.IntroductionThe studies that deal with the formation of farmers' markets and markets in history are of a unique variety, having historically accepted that the appearance of fairs dates back to the 11th century, with the opening of commercial routes between East and West, having the Sea as a transit route. Mediterranean, place of commercial development led by the villages (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005). In the mid-13th century, when land routes became threatening, sea routes gained importance and in the 14th century the establishment of markets in centers of population relevance (such as London) diminished the importance of farmers' markets (PEDRO; COULON, 1985). Seeking the meaning of the word, Minnaert (2008 apudCUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p. 293) informsthat “the farmers' market is a space that encompasses a scenario of social practices that fosters and takes place through interpersonal relationships. The word ‘feira’(farmers' market) comes from the Latin feria, which means ‘party day’, it is a place for sales, exchanges, meetings and conversations”.In addition to commercial exchanges, the farmers' market is recognized as a space for interpersonal relationships where “face-to-face contact through the link between production and consumption” is intensified (GUIMARÃES; DOULA, 2018, p. 02, our translation). This aspect was not limited to the European scenario but was also maintained in the Americas. In the Brazilian historical context, they assume the role of providing opportunities for urban populations tosupply food with the most varied products from agriculture, livestock, fishing and handicrafts. Mascarenhas (2008 apud GUIMARÃES, DOULA, 2018, p. 08, our translation) point out that in addition to the Iberian tradition, the Brazilian street market inherits “popular African practices called quitandas, from the Kimbundu kitanda, which means market,
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157583consisting of “groups of black women around outdoors, squatting or having trays, which sell small farming and fishing products”.As referenced by Cuervo; Hamann and Pizzinato (2019, p. 285, our translation), “the farmers' market can usually be understood as the group of people who 'make the fair' producers, consumers, and others who share an interest in its space”. Thus, the opening is present, sometimes to the old, sometimes to the new, in a movement of malleability and hybridization. Emphasizing the cultural interactions that it provides, Sacco dos Anjos, Godoy and Caldas (2005, p. 19, our translation) consider that one of its characteristics is to be “a social space that holds peculiar attributes that, presumably, ensure its persistence in contemporary society”.Understanding its persistence implies contextualizing that, in the current scenario of food industrialization, issues related to food safety assume relevance at the political and institutional level (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) and it is at farmers' markets that the attributes of what is considered “natural”, “rural” and “healthy” become more visible in their diversity and abundance. In addition to these attributes, farmers' markets make it possible to maintain food culture and regional identity (PEREIRA; BRITO; PEREIRA, 2017), bringing consumers and buyers closer together. Menasche (2004) points out that currently the quality of food is measured and reinforced when associated with the field, or that they are connected to what is desirable. In such a way, the connection with the rural origin of the food:seems to condense all the advantages that distinguish desirable food from industrialized food. [...] The foods that come from abroad are considered the best. Of greens, it is said that “even the leaf is softer”. Chicken, meat and milk, “there is no comparison”, “it has a different taste”, those from the supermarket do not even compare (MENASCHE, 2004, p.122, our translation).Thus, the importance and persistence of open farmers' markets can be explained, primarily, by the new orientations of the consumer who seeks not only what has been called food security3but also food safety. Secondly, in contrast to the impersonal and anonymous relationships of supermarkets, fairs are characterized as social spaces for the exchange of knowledge and mercantile practices guided by mutual recognition between merchants and customers (GUIMARAES; DOULA, 2018).3Food security is understood as those with “generic orientation in favor of expanding the availability and guaranteeing access to socially and culturally referenced food” and safety food as those with “guarantees regarding the quality of food and the absence of health risks for the universe of consumers” (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005, p. 05, our translation),
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157584One has to consider that before “arriving at the farmers' market” a series of activities are necessary (planting, harvesting, distribution, transport, among others) and when one “is at the farmers' market” there is a rapprochement between consumer and marketer -producer and merchant at the same time -, which also implies “maintaining a space for the viability of regional family farming” (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005, p. 19, our translation). Currently, for the consumer, knowing where, by whom and how food is produced are factors that indicate food safety, conscious consumption and differentiated status.Brazilian researchers point out that farmers' markets allow for a cultural narrowing between rural and urban areas (CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004). Professional, economic, leisure, educational and cultural activities come together in a flow that involves exchanges of goods, words, memories and worldviews (COUTINHO; DOULA, 2014). Cuervo, Hamann and Pizzinato (2019), point out that the farmers' market is a space for interpersonal communication in which:a relational ethics is established through face-to-face contact, involving occupation of space, products, people, meanings, shared knowledge. It is in this process that the established network generates trust and brand relationships, for example, the legitimacy of food quality (CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p.293, our translation).Following the analytical line of symbolic values involved in the space of fairs, this article is justified by seeking to understand who are the individuals who go to the farmers' market; how social relations are built and what meanings are attributed to two farmers' markets: the Solidarity Economy and Family Agriculture Farmers' market(known as Quintal Solidário), promoted by the Federal University of Viçosa (UFV) and the Feira-livre na Estação, promoted by the City Hall from Viçosa, a city located in the Zona da Mata of Minas Gerais.Some particularities, such as the priority of offering local agroecological production, the solidary economy and the link between these farmers' markets and researchers from the Federal University of Viçosa and networks of social movements, justify the choice of these spaces for the analysis provided by the use of the Theory of Social Representations.Characterization of farmers' marketsThe Feira-livre da Estação(Station Farmers’ market) takes place at night, held in the central part of the city of Viçosa, in the space known as Balustrada, a guardrail that surrounds the Railway Station. The creation of the Balustrade dates back to 1924. The Station was built in 1912, on a stretch of the Leopoldina Railroad, and currently works as a cultural space. The
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157585Station was listed by the City Hall as historical and cultural heritage in 1993 and the Balustrade in 1999 (IPATRIMÔNIO, 2022).Feira da Estação, in addition to the presence of farmers accredited by the city hall, has the participation of Grove Roots Network (Rede Raízes da Mata -RRM), founded in 2011, with the objective of bringing agroecological producers closer to consumers. The network, mobilized by agroecology groups at the Federal University of Viçosa (UFV), Zona da Mata Center for Alternative Technologies (CTA-ZM) and Technological Incubator of Popular Cooperatives (ITCP-UFV), among others, proposes to value local production safe and encourage the “emergence of new experiences” in Viçosa(ARANTES et al., 2018, p.07, our translation).RRM's participation is justified when considering that the current homogenization of the agri-food market does not adhere to local realities and quality standards. In this way, an alternative space is promoted, encompassing those who produce, those who consume and researchers from the university and research centers, aiming to promote “social interaction between producers and the relationship between the Network and the producers with other social actors, access to markets for agroecological products and the possibility for the local community to purchase agroecological products” (ARANTES et al., 2018, p.07, our translation). Specifically, Feira da Estação, created in 2017, is committed to “offering horticultural products produced in the municipality by family farmers, free of pesticides and irrigated with treated water to guarantee the health of the food in terms of the presence of worms such as fecal coliforms and other parasites that infest the aquatic environment” (FOLHA DA MATA, 2018, n.p., our translation).The Solidarity Economy and Family Farming Farmers' Market, or Quintal Solidário, was created in 2016 by ITCP-UFV4together with the Union Section of UFV Teachers (ASPUV). This is an extension project developed by the UFV that aims to “value and promote products and services from solidary economic enterprises and family farmers in order to promote the generation of work and income, integration between producers and consumers” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p.134, our translation).In this project, guidelines such as agroecology, food security and sustainability are highlighted as distinctive. Being held on the university campus of UFV, it has the participation of marketers by public selection, developed by public notice contemplating "Solidarity 4The Technological Incubator of Popular Cooperatives at the Federal University of Viçosa -ITCP-UFV (Portuguese initials) is an extension, interdisciplinary program [...] Since its creation, ITCP-UFV has been advising popular groups that develop various economic activities within the scope of family farming, crafts, popular recycling, food, service provision, among others” (LIMA COSTA; SANTOS;PRIORE, 2019, p. 14, our translation).
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157586Economic Enterprises (groups, associations, cooperatives) and Family Farmers" (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019. p 11, our translation). According to Costa et al.(2019, p.12, our translation):The profile of the initiatives involved is varied, encompassing social movements, networks of prosumers, mental health patients and participants in social inclusion projects. In total, there are 35 stalls/benches divided into three sectors: a) Crafts (14); Minimally processed foods (12) and Hortifruti (09). In addition to marketing, the farmers' market aims to be a space for coexistence and social integration, opening the doors of the Federal University of Viçosa tothe community of Viçosa through cultural attractions, space for children and workshops. The cultural program of the Farmers' Market, for example, seeks to value local attractions and since the beginning of the Backyard, different activities have been carried out, such as musical performances, dance workshops, cirandas, choir and capoeira.In general, both Feira da Estaçãoand Quintal Solidáriostart from the premise of becoming differentiated spaces of consumption, of valuing local and agroecological production and, in the case of Quintal, of solidarity economy. According to the founders of Quintal Solidário, the solidarity economy encompasses a variety of collective actions of cooperation and solidarity. Thus, “as a critique of the economic model of individualized profit, the solidarity economy proposes to suppress the inequalities created by production and distribution, prioritizing group and solidarity interests through technical and scientific advice, legal and the like” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p. 10-11, our translation).It also aims to facilitate access to income-generating activities “in which the economic objective is accompanied by social objectives that produce social and proximity bonds” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p. 135, our translation). It is “a system of articulation between producers, traders and consumers based on relationships of trust, transparency and proximity” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p. 11, our translation).Still as a criticism of the “mere utilitarian logic inherent in the market mechanism, the solidarity economy postulates that the responsibility for self-management of economic processes is collective” (LIMA COSTA; STROPPA MOREIRA, 2019, p. 135-36, our translation) and supports the joint insertion ofthe various actors in a trade that involves “production and consumption according to values of sustainability and justice (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p. 11, our translation). It is noteworthy that within the scope of these initiatives, between 2009and 2013, family farming “corresponded to 52.6% of solidary economic activity, as exposed by the National System of Information on Solidarity Economy (Sies)” (LIMA COSTA; SANTOS; PRIORE, 2019, p. 11, our translation). In addition to these
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157587aspects of production and marketing, the solidarity economy addresses the specific demands of today's consumers, who are more demanding in their purchase decisions, because:Now, in his assessment, this consumer considers a set of factors such as price and quality, origin, origin, sustainability, relationship with the environment, with employees and communities participating in the process. Thus, different opportunities present themselves to the small producer. [...] the country concentrates concrete possibilities for family farmers who, at the same time as they are producers of food and other agricultural products, play the role of conservators of biodiversity (BITTENCOURT, 2018, n. p., our translation).By characterizing both farmers' markets, the influence of researchers and scientific concepts in the conception and conduction of these projects is perceptible, creating a differentiated or alternative profile in relation to the conventional farmers' market. Based on these considerations, the article investigates the social representations of stallholders and consumers about food, economic production and the sociocultural relationships that are established in both spaces. The methodological path of the investigation, of a qualitative nature, involved bibliographical research and the application of semi-structured questionnaires to merchants and consumers, in 2020. The data are analyzed using the Theory of Social Representations.Social representations as forms of knowledge and interpretationThe landmark of the theory of representations is credited to Émile Durkheim, at the beginning of the 20th century with the concept of Collective Representations, having its reformulation by Serge Moscovici in 1961 (LOPES, 2013) as Social Representations. Moscovici, contrary to Durkheim, who understood representations as stable, collective, coercive and homogeneous forms of knowledge, proposes to study the different configurations of meanings and actions created by heterogeneous social groups which live in the same society. His studies opened up investigative perspectives in different disciplines (ARRUDA, 2002), since Serge Moscovici prioritized the specificities of representational phenomena in modern society (JODELET, 2001).Social representations (and their study) establish an interface between social, cultural and psychological dimensions, exhibiting a transversal status with several areas of research such as Anthropology and Sociology. It is, in such a way, a bonding theory (bonding and cohesion), where “the surveillance exercised by the group over the individual decreases as the bonds between them become denser and more reciprocal” (MOSCOVICI, 2001, p. 56, our
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157588translation). They are built due to the need to know, understand, adjust, dominate, inform or identify what the subject has around him. Thus, the Theory of Social Representations seeks to treat phenomena, directly observable or reconstructed, through the interventionof science, legitimized as an explanation of cognitive processes and social interactions. For Sêga (2000):Social representations are presented as a way of interpreting and thinking about everyday reality, a form of knowledge of the mental activity developed by individuals and groups to establish their positions in relation to situations, events, objects and communications that concern them. It is practical knowledge that gives meaning to events that are normal for us, forges the evidence of our consensual reality and helps the social construction of our reality (SÊGA, 2000, p.128-29, our translation).As proposed by Jodelet (2001, p. 17, our translation), social representations “guide us in the way of naming and jointly defining the different aspects ofdaily reality, in the way of interpreting these aspects, making decisions and, eventually, positioning oneself in front of them defensively”. In such a way, they are not something faithful and reliable, “neither the subjective part of the object, nor the objective part of the subject” (SÊGA, 2000, p. 129, our translation), but rather the cohesion between the world, its objects and the subjects that surround them. confer meanings.The theory of social representations focuses on the forms and content of knowledge, prioritizing the cognitive, emotional and communicative aspects that intervene in the creation, modification and circulation of images and meanings, hence its particular interest in discourses, including oral, written, imagetic or propagated by the different medias, for example (JODELET, 2001). Another aspect of the theory considers that “it should be studied by articulating affective, mental and social elements alongside cognition, language and communication” (JODELET, 2001, p.26, our transaltion), because the subject's (or social group's) worldview) and their actions are made explicit through the representational resource.Representing implies “acting on the world and the other, which leads to its functions and social effectiveness” (JODELET 2001, p. 28). Likewise, it implies giving meaning to what is lived and experienced (PESAVENTO, 1995), marking social belongings that enable identities to the members of a community, given that “the consensual nature of a representation is generally partial and localized” (LOPES, 2013, p. 25159, our translation). The dynamism of social representations resides in the fact that they are interpretations of a reality, which changes over time, as well as by the very circulation of individuals in different social groups,that is, although it becomes a referential instrument that allows communication in a same language, the representation is open “to the possibility of polysemy, where sometimes innovative themes
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.157589are presented that provoke conversions of experiences, of perceptions that lead to a new vision” (SÊGA, 2000, p. 130, our translation), sometimes the rigidity of the ways of thinking and acting already tested and sanctioned.Thus, social sharing alludes to a mechanism of determinations connected to the structure andrelationships in which sharing an idea (or language) is to affirm social bonds and identifications subject to constant reformulations and validations (JODELET, 2001). In summary, and as stated by Serge Moscovici (2001, p. 55, our translation), “representations highlight facts and interpret a reality” that “is socially constructed and knowledge is a construction of the subject, but not disconnected from its social inscription” (ARRUDA 2002, p. 151, our translation). Based on these assumptions, the use of the theory of social representations in this article implies understanding farmers' markets as a phenomenon where production, commercialization, consumption and interpretations are inseparable elements (SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005) subject to discourses, interpretations and disputes.Methodological procedureThe research presents a qualitative analysis based on the Theory of Social Representations. As a methodology, a bibliographical review and field research were used, with observation and application of questionnaires in the spaces of the two farmers' markets described above, between August and September 2020. A semi-structured questionnaire was applied to 5 vendors who participate in the Feira Livre da Estaçãoand 5 for Quintal Solidáriovendors.Having 15 questions, it asked about their representations of what the farmers' market is; the meanings they attribute to the practice of being a vendor; how he combines his participation in the farmers' market and his private life; questions related to work overload (home/farmers' market), among other aspects, so that they could express opinions, outline circumstances or organize associations of ideas to what was being asked. Its application took place between March and April 2020.Another semi-structured questionnaire was applied to 20 regular consumers (10 at each farmers' market) in the same period as the fairgrounds, in both cases unintentionally. It also had 15 questions with the same questions as the stallholders (with the exception of the question related to work overload, which was replaced by “define the farmers' market in one word”).
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575810In the analysis, the IRAMUTEQ software was used and its functions "Similitude Analysis" (which consists of the elaboration of a trace that allows identifying what is common and what is specific in the speeches of vendors and consumers about the farmers' market) and "Cloud of Words” (in which the set of phrases is arranged in dissimilar dimensions, considering that larger words indicate maximum importance in the textual corpus, removing conjunctions; prepositions and numerals), aiming to group the interviewees' speeches -inserted in their integrity -“with a relational purpose, comparing different productions based on specific variables that describe who produced the text” (CAMARGO; JUSTO, 2013, p.03, our translation).The article has a qualitative approach, characterized as a set of interpretive techniques that seek to describe and understand the subjective character of the subject/object, studying their particularities and experiences (MINAYO, 2009). This choice stems from the fact that, in the views of Godoy (1995), the researcher appropriates the qualitative nature when there are several actors involved in multiple social processes and with different perceptions of social reality that require a particular analysis, which neither it is always obtained quantitatively (MINAYO, 2009).It is, finally, a scientific method of investigation that focuses on the subjective character of the subject/object analyzed, studying their particularities and individual experiences (JACCOUD; MAYER, 2008). The justification for its use came from the fact that, through this instrument, it is possible to collect from the subject their worldviews based on the reality that they have, and that the application “with users is a way of qualitatively understanding their motivations and expectations” (FABERLUDENS, 2011, p. 5, our translation), anchored in content analysis.Content analysis is considered a descriptive and interpretative contribution, widely used by the Theory of Social Representations, since in the speeches (oral, written, visual) the representations materialize, that is, it becomes possible to analyze the ideas and the different worldviews that the narratives convey (JODELET, 1993; 2001; MOSCOVICI, 2003; ARRUDA, 2014), given that “everything that is said or written is subject to content analysis” (HENRY; MOSCOVICI, 1986, p. 36, our translation).
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575811Results and discussionFrom the open question that asked the stallholders and consumers the meaning of the fair and its importance, a set of terms was obtained that denote representations of a positive meaning, both in the economic dimension for the stallholders, and in the cultural dimension, for consumers. (Figure 1):Figure1Similarity analysis for the meaning of the farmers’ marketSource: Research data, 2020The terms identified in the upper left corner correspond to the responses of the stallholders, who understand the fair as a properly physical space, as a “place” (lugar) and “sustenance” (sustento). It appears that there is an interpretation that it is in this space that the flow and commercialization of its products takes place and it is through it that its activity is recognized by those who acquire them (SATO, 2007; SILVA; SILVA, 2016; BORTOLO; MELO; FERREIRA, 2019). Thus, the farmers' market is a place of work, but this work combines the previous tasks of agricultural production and transport (COUTINHO; DOULA, 2014), which allows a closer approximation of the rural with the urban. By working at the farmers' market, the vendors earn their livelihood (while contributing to the food supply of consumers), but this is not a space where work is seen for its negative aspects; on thecontrary, the term fun indicates informality and a playful interpretation of the activity.The terms displayed in the lower right corner were enunciated by consumers, with the most evocative words being “conversation” (conversa), “joy” (alegria), “culture” (cultura) and “party” (festa). It can be understood that the representations of these subjects prioritize the fair within the scope of sociocultural, communication and learning practices and dynamics, where those who sell learn from those who buyand the opposite is also done (SACCO DOS ANJOS;
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575812GODOY; CALDAS, 2005; CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019). In this cultural practice, conversation is the fundamental exercise of exchange and inter-knowledge, which contrasts with the impersonality and anonymity of relationships established in supermarkets.When asking consumers about the feeling of being at the farmers' market, terms related to well-being are highlighted, detailing positive emotions that indicate the personal exchanges that overlap with the simple act of buying and consuming (Figure 2).Figure2Word Cloud ConsumersSource: Research data, 2020Terms like “cultural” (cultural); "people" (gente); “joy” (alegria), “well-being” (bem-estar) and “happiness” (felicidade) demonstrate the willingness of consumers to be in these spaces precisely because they allow a feeling of welcome compared to other commercial establishments. Terms like “people” (gente), “friends” (amigos), “relatives” (parentes) indicate familiarity and intimacy. It should be considered that in these farmers' markets, as seen previously, in addition to the food trade, there are presentations of artistic and cultural activities where words such as “attraction” (atração), “lively” (animado), “cultural” (cultural) and “joy” (alegria)reinforce the meaning of the fair as “ place” (lugar) of cultural spectacle and regional identity (SÊGA; 2000; PEREIRA; BRITO; PEREIRA, 2017; CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019). Likewise, when questioning “what it means to be at thefaremrs' market” to the stallholders (Figure 3), the answers indicate a different set of terms, which build a narrative about work and about the fair as a “place” (lugar) of “sustenance” (sustento), as shown in Figure 1
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575813Figure3Word cloud vendorsSource: Research data, 2020In the image, it can be seen that work-related terms refer to the appreciation of agricultural activity, “planting” (plantar) and the concern to offer food without “agrochemicals” (agrotóxicos), which reinforce the idea of food security and safety security and which symbolically attest to an agriculture that offers healthy and natural foods (CARNEIRO, 1998; MENASCHE, 2004; SACCO DOS ANJOS; GODOY; CALDAS, 2005). It is worth remembering that bothfarmers' market have the offer of agroecological products as their objective and criteria for screening the stallholders.Terms such as “parents” (pais), “brother” (irmão), “occupation” (ocupação) and “profession” (profissão) are also highlighted, indicating a direct relationship with the generational transmission of the activity. The transmission of the profession and the stalls runs through generations of stallholders, whether in farmers' markets or in municipal markets (GUIMARÃES; DOULA, 2018). Thus, when the market traders were asked who/what influenced them to become a market trader, 70% of respondents stated that they had their parents as a reference; 20% did not indicate who motivated them and 10% alluded to the family, without specifying the maternal or paternal figure in the speech. Some reports, transcribed below, show similarities in terms of generational influence, notably among stallholders who work at the Feira da Estação:My father, and today we work together. There are Wednesdays when he comes and on the other I come to work (E1, Man, Feira Livre da Estação).
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575814My family (father and mother) are all from the countryside (...) and that's why I learned to do it, I didn't have the opportunity to study more than the 3rd grade knows, but I encourage my children a lot. I say it like this: if you want to stay at the farmers' market, you can, but it's important to study a lot. Better a swollen hand than a hoe in the hand (E3, WomanFeira Livre da Estação, our translation).The statements of the stallholders at the Station confirm a representation oriented towards a constructed and shared social reality (JODELET, 2001; LOPES, 2013), in which professional heritage and family identity validate a collective idea of the bond of succession and continuity with the group around which individuals belong. Being a marketer is a symbolic link between relatives, notably between parents and children, which presupposes the generational passage of a heritage that allows for the creation of affective relationships with the people who attend the farmers' market and with the very “place” where the work is carried out with the statement that “It's a family thing, right? It came from the cradle and we keepgoing. I don't think anyone here is at the farmers' market just for being here, it's something in the family. I think” (E4, Woman, Feira Livre da Estação, our translation).The stallholders of the Quintal Solidário, although some respondents ratify the family and generational influence, are also concerned about not feeling “unoccupied”; since the farmers' market is the path for those who have already retired and want another job, as when reading “I didn't have [influencers] as I told you, I started even as soon as I retired. I wanted something to distract” (E6, Man, Quintal Solidário, our translation); “My father who also had my grandfather and so on. It's already something in the family and I'm trying to bring my son, but he said he wants to go to college first and then think about it” (E7, Man, Quintal Solidário, our translation) and “My retirement [laughs]. It was either this or idleness” (E8, Man, Quintal Solidário, our translation).Comparing the statements, it appears that the farmers' market can assume the meaning of “work” and a means of earning a “sustenance” for some stallholders, but also of “occupation” and opportunity for entrepreneurship which, as seen previously, is encouraged by the creators of the Quintal Solidário extension project. This polysemy is further confirmed when trying to understand “what it means to sell products at the farmers' market” for stallholders in both spaces:It's the end of a difficult job. You have to wake up early, leave everything well prepared, take a car, travel here, set up the stall and when the people arrive, we need to be there with a smile on our face, right? It's not an easy thing, but knowing that there are these people who come here and value our efforts is really good, right? (E3, Woman, Feira Livre da Estação).
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575815It's my chance to have money, to help my son and to be able to buy what I want, I'm the one who decides what I'm going to have. I managed to get a credit card at the farmers' market and now I accept a credit card payment (E4, Woman, Feira Livre da Estação).It's more of a hobby, my income does not depend on the sale of these foods, but it's important for many here, I don't question that (E5, Man, Quintal Solidário).It's where I can have fun, see new people and meet some old friends again, right? People who stay alone because of work barely see their wives [laughs]. Selling for the sake of selling is not so important (E6, Man, Quintal Solidário, our translation).The stallholders who work at Feira Livre da Estaçãorepresent it as an opportunity to improve their economic condition, especially women, who attribute to the activity a chance of financial autonomy. As for the stallholders who participate in the Quintal Solidário, the activity is complementary and secondary in the economic dimension, but important as a space for socialization. When asking consumers “what it means to buy products from the farmers' market”, the answers presented a nucleation regarding the quality of what is offered for consumption (Figure 4):Figure4Word cloud consumers and what it means to acquire such productsSource:Research data, 2020Words like “good” (bom), “eat” (comer), “care” (cuidado), “cultivate” (cultivar) and “food security” (segurançaalimentar) indicate proximities of meanings that refer to the guarantee of agricultural production and the necessary attention to planting, but also to a “post field”, the final stage of the food that goes to consumption, with attributes of a safety that is not found in supermarkets (CUERVO; HAMANN; PIZZNATO, 2019). Such security is evoked by those who produced it, that is, in the speeches of the stallholders, but also certified by the
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575816institutional actors that promote both farmers' markets. Thus, in the representations of consumers, the product at farmers' markets is seen “as pure and, therefore, healthy. Adjectives related to nature would be attributed to fresh foods, or those from the farmers' market, or organic ones, or those brought in from outside” (MENASCHE, 2004, p. 121, our translation).The last question, addressed to marketers and consumers of both farmers' markets, was based on verifying the hypothesis pointed out by Cuervo, Hamann and Pizzinato (2019) that the persistence of farmers' markets over time, despite the convenience and variety of products that a supermarket aggregates in the same space, due to the possibility of conversation. Respondents' opinion was asked about the phrase “people talk more in local producer markets than in supermarkets” (CUERVO; HAMANN; PIZZINATO, 2019, p. 293, our translation). The answers indicate an affirmative consensus, that is, there is a sense of a positive representation of this characteristic of the farmers' market, praised by the different actors and which reinforces the image that goods, people and words circulate in that space:You just look to the side and see it happening. It's us talking to another vendor, with whom we buy. Anyway, it's something more intimate than going to the supermarket, right? (E6, Man, stallholder, Quintal Solidário).When I go to market Y, for example, if I'm not with my son or any relative, I take what I have to buy and go back home. That's why I like the farmers' market because everyone is smiling (E1, Woman, consumer, Feira Livre da Estação).No doubt! Because you are in the face of the market and so we can ask about the origin of the products. Sometimes they do it themselves and it is very good because we know what is healthy. You go to the market and you don't have these things. Worse, there is a market here that doesn't even look at the validity of the products, you know? I only found out when I had bought chocolate for my boyfriend and it was expired (E3, Woman, consumer, Feira Livre da Estação).Here's something very good: it's almost difficult not to say something, even if it's just a “hello” to someone, because at all times we hear a stallholder saying something that makes us laugh, like: “a strawberry for the sweetie”, these things (E5, Woman, consumer, Quintal Solidário, our translation).The speeches, finally, allow us to understand the valuation of farmers' markets as spaces for speech and circulation of messages and representations, especially when compared to supermarkets, qualified negatively as spaces of silence, anonymity and impersonality because “Going to the market is isolating from conversation. Here we play with everything and everything is a party, right?” (E9, Woman, stallholder, Quintal Solidário, our translation) and “People who go to the market barely look to the side. The most we can do is say thank you to
image/svg+xmlGoing to farmers’ market and talking: Study on the social representations given by farmers’ market vendors and consumers -Viçosa-MGEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575817the cashier or look for someone who works in the market when we can't find something. I think the market is a place full of people and empty of conversation” (E3, Woman, stallholder, Feira Livre da Estação, our translation).Thus, in addition to a place for the consumption of a product itself, there is a symbolic construction around the farmers' markets about trust, the credit attributed to words and the possibility of the ludic in the midst of commercial transactions or that “It is here that we know our client, establishes an intimacy and gets to know other stallholders. I myself have two people who every Wednesday are here to buy or chat. It's a really nice relationship!” (E2, Man, consumer, Feira Livre da Estação, our transaltion).Final considerationsThe approach of an object such as the fair allows several analyzes that intersect from the historical search for its transformations and adaptations to different contexts, its role and importance in the social, economic, political and environmental fields,as well as its perpetuation in a scenario of high food industrialization and the “boom” of fast-food behavior.In this research, priority was given to analyzing the differentiated representations of what “doing” the farmers' market means, sometimes highlighting their economic function, sometimes their socializing function. The same occurred with consumers, who did not report their conceptions about consuming at the farmers' market in a unidimensional way, valuing both the quality of the food and the socio-cultural activities.Both farmers' markets constitute differentiated proposals due to the actions of institutional actors from a university, the agroecological profile and the solidary economy, but such attributes were not equally highlighted as distinctive by those who frequent these spaces, whether they are marketers or consumers. The offer of fresh, healthy, rural food, a point emphasized by the participants, is an attribute that characterizes fairs in general, and makes art of the social imaginary aboutthese spaces, as shown in the bibliography.Also, as other works have shown, the particularity of the farmers' market resides in its opposition to supermarkets, not only with regard to the goods offered, but mainly due to the type of social relations thatare possible in each of these spaces, of distance and impersonality or proximity and familiarity. It is in this sense that this research deepened the understanding of the farmers' market as a space for conversation, and in the specific case of the farmers' markets analyzed here, a space for spectacle, since artistic and cultural activities take place in it that connect vendors and consumers to the same regional identity. Thus, both those who sell and
image/svg+xmlParley Lopes Bernini da SILVA andRogério Tadeu de Oliveira LACERDAEstudos de Sociologia, Araraquara,v. 27, n. 00, e022032, 2022. e-ISSN: 1982-4718DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27i00.1575818those who buy return, without knowing it, to the original meaning of the term “feria”: party. And as a party, the farmers' market provides playful moments of social belonging.It must also be considered that the research presents its originality when applied to a theme which has few particular analyses: the farmers' market as a place of social and economic exchanges which, in turn, can be a factor of social improvement (as presented by the respondents at the free fair at the Station) or escape from idleness (as stated by the traders at Quintal Solidário). Moreover, the contribution of the Theory of Social Representations as an instrument for discourse analysis, as well as its research design using the Iramuteq software, provided an opportunity to assess the phenomenon beyond social and leisure issues. With the use of the tool, objective issues were evidenced, such as the fact that consumers go to farmers' markets since they understand that there will be safe food for consumption -because there they will be face to face with those who produce them -, unlike buyingin hypermarkets.Finally, it is important to highlight the limits of the research described here and the impossibility of generalizations, indicating that there is a need to investigate other profiles of farmers' markets, for comparative purposes. Here, the analysis anchored by the theory of social representations sought to contemplate the interpretation of different actors of what going to the farmers' market means; the circularity of frequent communication between consumers and merchants explains similarrepresentations, given that they are built from the personal and collective experience of the group that experiences and talks about the same reality.ACKNOWLEDGEMENTS: This work was carried out with the support of the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel -Brazil (CAPES) -Financing Code 001. The authors also thank the availability and welcome on the part of the merchants and consumers present at the Feira Livre de Viçosaand Quintal Solidário.REFERENCESARANTES, A.et al. O papel da extensão universitária na criação da Rede Raízes da Mata. Anais do VI CLAA, X CBA e V SEMDF,v.13, n.1, jul. 2018. Disponível em: http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/index.php/cadernos/article/view/97. Acesso em: 06 maio 2020.ARRUDA, A. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cad. Pesqui., São Paulo, n.117, p.127-147, nov. 2002. DOI: https://doi.org/10.1590/S0100-15742002000300007BITENCOURT, D. Artigo -Agricultura familiar, desafios e oportunidades rumo à inovação, EMBRAPA, 2018. Available: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-
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