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A simbiose periférica: gênero e dependência no pensamento de Heleieth Saffioti
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v.
27
, n.
00
,
e0220
28
,
2022
.
e
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ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15818
1
A SIMBIOSE PERIFÉRICA: GÊNERO E DEPENDÊNCIA NO PENSAMENTO DE
HELEIETH SAFFIOTI
LA SIMBIOSIS PERIFÉRICA: GÉNERO Y DEPENDENCIA EN EL PENSAMIENTO
DE HELEIETH SAFFIOTI
PERIPHERAL SYMBIOSIS: GENDER AND DEPENDENCY IN HELEIETH
SAFFIOTI’S THINKING
Sylvia IASULAITIS
1
Gustavo GUIMARÃES
2
RESUMO
: O presente artigo enseja um resgaste das contribuições da socióloga feminista
brasileira Heleieth Saffioti
às reflexões sobre dependência e relações de gênero
–
mais
precisamente, sua compreensão a respeito da particularidade da opressão de gênero nos países
dependentes. Assim, reconstruímos o cenário histórico e intelectual em que a autora se formou
e produzi
u, esboçamos suas relações com este contexto e com os autores clássicos do
pensamento social brasileiro. Recuperando esse diálogo, apresentamos sua visão da
dependência e da formação social brasileira. E então, delineamos sua complexa análise da
situação f
eminina no capitalismo dependente, ressaltando sua originalidade, criticidade e a
relevância destes estudos para o debate contemporâneo sobre unidade entre opressões e
conformações específicas das relações de gênero na periferia do sistema.
PALAVRAS
-
CHAV
E
: Opressão de gênero. Capitalismo dependente. Sul Global. Pensamento
social brasileiro. Heleieth Saffioti.
RESUMEN
:
El presente artículo pretende rescatar las contribuciones de la socióloga
feminista brasileña Heleieth Saffioti, sus reflexiones sobre de
pendencia y relaciones de género
–
más concretamente, su comprensión respecto a la particularidad de la opresión de género en
los países dependientes. De ese modo, reconstruimos el escenario histórico e intelectual en el
que la autora se formó y produjo, e
sbozamos sus relaciones con este contexto y con los autores
clásicos del pensamiento social brasileño. Recuperando ese diálogo, presentamos su visión de
la dependencia y de la formación social brasileña. Y entonces, describimos su complejo análisis
de la s
ituación femenina en el capitalismo dependiente, resaltando su originalidad, criticidad
y la relevancia de estos estudios para el debate contemporáneo sobre unidad entre opresiones
y conformaciones específicas de las relaciones de género en la periferia de
l sistema.
PALABRAS CLAVE
: Opresión de género. Capitalismo dependiente. Sur Global. Pensamiento
social brasileño.
Heleieth Saffioti.
1
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos
–
SP
–
Brasil. Professora do Departamento de Ciências
Sociais e do Programa de Pós
-
Graduação em Ciência, Tecnologi
a e Sociedade. Doutora em Ciência Política.
ORCID
: https://orcid.org/0000
-
0002
-
3526
-
1
003. E
-
mail: si@ufscar.br
2
Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar), São Carlos
–
SP
–
Brasil. Pesquisador bolsista do CNPq.
ORCID
:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
5116
-
5444. E
-
mail:
gustavognascimento9@gmail.com
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Sylvia IASULAITIS e
Gustavo GUIMARÃES
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
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https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15818
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ABSTRACT
: This article offers a review of the contributions of Brazilian feminist sociologist
Heleieth Saffioti
on dependency and gender relations, particularly her understanding of gender
oppression in dependent countries. The study describes the historical and intellectual scenario
where the author was educated and developed her work, discussing her relationships
with the
context and with classic authors of Brazilian social thought, presenting her view about
dependency and the Brazilian social formation. Finally, Saffioti’s complex analysis of the
female situation in dependent capitalism was outlined, emphasizing
its originality, criticism,
and relevance to the contemporary debate on unity among oppressions and specific
configurations of gender relations in the system’s periphery.
KEYWORDS
: Gender oppression. Dependent capitalism. Global South. Brazilian social
th
inking.
Heleieth Saffioti.
Introdução
A opressão de gênero é uma realidade objetiva e atinge as mulheres como categoria
social. Não obstante, há determinantes distintos e contextos mais vulneráveis à opressão, isto
porque as relações de gênero que
fundamentam a opressão não existem em um vácuo, e sim em
contextos sócio
-
históricos que conferem características diferenciadas à opressão. Assim como
o modo de produção capitalista realiza
-
se de maneira específica em cada formação social
(
SAFFIOTI
, 2013),
também a opressão feminina apresenta suas singularidades. Neste sentido,
a região da América Latina e do Caribe é considerada pela ONU Mulheres (2017) como a mais
violenta do mundo para mulheres.
Os estudos sobre as peculiaridades da opressão de gênero em
nações periféricas
–
atualmente genericamente referidas como o Sul Global
–
ainda são escassos. E é justamente
sobre este importante
–
porém pouco discutido
–
aspecto do complexo fenômeno da opressão
feminina que se centrará este artigo: as particularidade
s da opressão de gênero na América
Latina e no Brasil.
Diversas explicações vêm sendo elaboradas para o fenômeno da opressão feminina; não
obstante, empreenderemos tal tarefa a partir da categoria teórica de dependência, raramente
acionada para explicar a
nossa realidade recentemente. Para tanto, teremos como base a obra
de Heleieth Saffioti, que foi uma exceção e também pioneira nesse quesito. A socióloga
brasileira se propôs a descrever e explicar as peculiaridades da opressão de gênero nos países
perifér
icos na maior parte de sua obra. Embora não sem limitações, Saffioti compreendia que
raça, classe, gênero, sexualidade e nação (ou dependência) não eram eixos desvinculados de
opressão, mas causa e consequência de um mesmo sistema. Seu aporte teórico é bas
tante
original e, embora articulado ao arcabouço teórico geral da dominação
-
exploração de classe,
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busca contribuir na direção de suprir a lacuna existente de uma teoria coerente e rigorosa da
opressão feminina.
O fenômeno abrangente da opressão é aqui conc
eituado de forma rigorosa a partir da
obra de Saffioti e, como tal, entendido como sendo a mescla de dominação e exploração. A
dominação
-
exploração das mulheres como um único fenômeno se assenta em duas bases: 1) a
político
-
econômica do regime patriarcal
–
que resulta na intensa discriminação salarial das
trabalhadoras, em sua segregação ocupacional e em sua marginalização de importantes papeis
econômicos e político
-
deliberativos
–
e 2) o controle dos corpos e da sexualidade feminina
–
que resulta na sujeiç
ão sexual das mulheres e no controle de sua capacidade reprodutiva.
É possível identificar crescente interesse pela obra de Heleieth Saffioti, recentemente
documentado por Bila Sorj e Anna Bárbara Araujo (2021) em dados estatísticos. Não obstante,
a compre
ensão de Saffioti sobre a dependência brasileira, a relação desta para com a opressão
de gênero e o capitalismo permanecem aspectos pouco explorados nesse contexto de retomada
de seu pensamento. Foi ao estudo destas feições da produção teórica de Heleieth
Saffioti que
nossa pesquisa se dedicou, cujo objetivo é compreender sua contribuição no sentido de uma
teoria da opressão de gênero sob o capitalismo dependente. Essa pesquisa se debruçou,
principalmente, sobre os escritos de Saffioti entre as décadas de 1
960 e 1980, onde os temas da
dependência e de sua articulação com o capitalismo e a opressão de gênero estavam presentes
de forma mais explícita, bem como em diversas entrevistas concedidas pela socióloga, aqui
consideradas preciosidades.
Inicialmente anal
isamos seu entendimento da dependência e da formação social
brasileiras, posteriormente enfocamos de maneira mais específica a articulação entre opressão
de gênero e capitalismo dependente em sua obra. Por fim, conectamos suas ideias aos esforços
contempor
âneos de pensar gênero e dependência como elementos fundamentais do capitalismo
brasileiro, em específico, e do Sul Global, em termos gerais.
A dependência em Saffioti
A categoria de dependência, por muito tempo esquecida pela teoria social e pelo deba
te
público, ocupara na metade do século XX o centro dos debates sobre o capitalismo e a mudança
social na América Latina (
MARINI
, 2005a). Uma das primeiras instituições responsáveis por
defini
-
la e colocá
-
la em pauta fora a Comissão Econômica para a Améric
a Latina e o Caribe
–
CEPAL, onde a dependência era entendida enquanto uma condição limitadora do
desenvolvimento, causada pela vulnerabilidade do subcontinente latino
-
americano ao controle
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externo (
FURTADO, 1959; MARINI
, 2010). O auge da formulação teóric
a sobre a dependência
está, entretanto, na corrente que ficara conhecida posteriormente como Teoria Marxista da
Dependência, ou TMD.
Teóricos da TMD
–
como Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra e Theotônio dos Santos
–
rejeitavam a concepção da dependência e do
imperialismo enquanto agentes ou entes
externos: estavam comprometidos em demonstrar que a própria reprodução ampliada interna
do capitalismo no Brasil e na América Latina reforçava a dependência, na medida em que se
sustentava na transferência de valor,
na superexploração da força de trabalho e na cisão
verificada no ciclo do capital entre a produção de mercadorias e as necessidades de consumo
dos trabalhadores e trabalhadoras que as produziam. Cada um desses elementos favoreceria o
fortalecimento dos dem
ais: a transferência de valor da periferia para os centros pressionava a
burguesia a se apropriar do fundo de consumo dos trabalhadores, o empobrecimento das massas
favorecia uma produção capitalista voltada ao mercado externo ou ao consumo das classes alt
as,
a necessária acomodação do capital interno a esse tipo de produção impedia a criação de uma
produção voltada para as grandes massas que pudesse assumir um outro tipo de eixo de
acumulação e enfrentar o domínio imperialista. Nesse sentido, não só a burg
uesia interna não
estaria em contradição com o imperialismo como reproduziria sua própria subordinação às
custas da pauperização dos trabalhadores; e todas as classes estavam fadadas a repetir tal ciclo
vicioso não fosse a superação completa das relações c
apitalistas de produção. Nesta concepção,
a dependência se relaciona à forma específica assumida pelo desenvolvimento capitalista nos
países capitalistas subordinados, no contexto do capitalismo global (
MARINI, 2005
b
; DOS
SANTOS
, 2000).
Saffioti fora prof
undamente influenciada por todas essas contribuições. Para ela, o
capitalismo mundial é uma totalidade complexa que, embora tenha determinações universais,
válidas para todas as suas manifestações, não é homogêneo (
SAFFIOTI
, 2013). Essas
determinações esse
nciais “assumem em cada concreção singular [...], uma aparência necessária,
derivada das condições específicas da vida de um povo” além disso, “o modo de produção
capitalista realiza
-
se de maneira específica nas nações perifericamente integradas no
capital
ismo internacional” (
SAFFIOTI
, 1973, p.
84).
Para a autora, os países centrais do capitalismo são caracterizados, acima de tudo, pela
sua maior capacidade de: 1) atenuar as tensões produzidas pelo modo capitalista de produção,
exportando
-
as para a periferi
a e 2) absorver as massas populares para os setores capitalistas da
economia
–
isto é, aqueles regidos diretamente por relações capitalistas de produção, onde a
força de trabalho é comprada para valorizar o capital empregado pela burguesia mediante à
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produ
ção de mais
-
valia (SAFFIOTI, 2013; 1978; 1977; 1976; 1973). Nos países dependentes,
verifica
-
se o contrário: as contradições do sistema
–
como a desigualdade de renda e a
pauperização
–
seriam mais explícitas e intensas, não podendo ser exportadas; e uma q
uantidade
muito maior das massas populares estaria concentrada em setores não
-
capitalistas da produção,
no exército industrial de reserva e/ou desempregados
–
característica também reconhecida pela
TMD (MARINI, 2005c).
Para a socióloga, bastante inspirada
por Celso Furtado (1959) e Caio Prado Jr. (1966),
a formação social brasileira nascera capitalista, ainda que apenas parcialmente: produzia
produtos primários para o exterior e possuía como classe dominante empresários capitalistas
que visavam o lucro, emb
ora predominassem relações de trabalho escravistas e uma estrutura
social formalmente organizada em castas, em uma “ordem senhorial
-
escravocrata” ou
“capitalismo escravista” (
SAFFIOTI
, 1976, p.
16). A constituição plena do modo de produção
capitalista no Brasil teria se dado no pós
-
abolição, com a generalização do trabalho assalariado.
Esta concepção é também similar a formulações de Fernandes (1976), Cardoso (1977) e Ianni
(1962).
Após o fim da colonização, consolida
-
se “uma nova forma de d
ependência, traduzindo
-
se esta essencialmente pelos laços comerciais que atavam o país ao centro hegemônico do bloco
ocidental de então”, em um primeiro momento a Inglaterra (
SAFFIOTI; ACKERMAN,
1973,
p.86). Depois da crise da economia agroexportadora que
culminou na Revolução de 30, a
industrialização teria transformado o capitalismo brasileiro em um capitalismo urbano
-
industrial, capaz de crescer economicamente, porém nos “limites permitidos pela lógica do
sistema capitalista internacional”; ou seja, enqu
anto capitalismo dependente (
SAFFIOTI;
ACKERMAN,
1973, p.
88). Com o “esgotamento do processo de substituição de importações”
(SAFFIOTI; ACKERMAN, 1973, p. 87), nos anos 1950, e em um contexto de redefinição da
Divisão Internacional do Trabalho,
[...] o Brasil sofre maciça penetração de investimentos estrangeiros. Do ponto
de vista da relação de dependência, a mudança fundamental é que ela se
caracterizará, progressivamente, mais como tecnológica e de capitais que
como comercial. Pouco a pouco tom
a corpo o que habitualmente se chama de
internacionalização do mercado interno (
SAFFIOTI; ACKERMAN,
1973,
p.
87).
Para Saffioti (2013; 1985) a dependência é uma constante na formação social brasileira,
passando pela colonização, pelo Império e pela Repúbl
ica, e assumindo diversas conformações
durante cada um desses períodos. O que eles teriam em comum seriam os aspectos definidores
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da dependência
–
a subordinação econômica e a penetração do capitalismo de fora, a
heteronomia.
Foi possível constatar que, de
acordo com os materiais aos quais tivemos acesso durante
a pesquisa, o termo capitalismo dependente, próprio da Teoria Marxista da Dependência, é
citado textualmente pela primeira vez por Saffioti em um texto de 1973, seguido de uma nota
de rodapé crítica
, chamando
-
o de “insatisfatório” e referenciando, em seguida, textos de
Francisco Weffort e Fernando Henrique Cardoso (
SAFFIOTI; ACKERMAN,
1973, p.
12). Já
em textos dos anos 1980 (
SAFFIOTI
, s/d; 1985), Saffioti utiliza o termo sem ressalvas,
especialmente
em um artigo de 1985. Entretanto, a referência é à ideia de capitalismo
dependente
-
associado de Fernando Henrique Cardoso:
Se a este cruzamento das contradições de sexo e de classes se somar o fato de
o Brasil ter sido penetrado de fora pelo capitalismo,
só podendo desenvolver
o “capitalismo associado”, dependente do centro hegemônico do sistema
capitalista internacional, a situação da mulher ainda se agrava mais.
(
SAFFIOTI
, 1985, p.
137).
Nesse trecho de um texto de 1985 há algo curioso. Embora citando
a teoria de Cardoso,
Saffioti apresenta as conclusões da Teoria Marxista da Dependência. Cardoso fazia parte de
uma outra corrente teórica que também buscou pensar a dependência latino
-
americana
(
CARDOSO; FALETTO
, 1984). Porém, para essa corrente, é plenam
ente possível superar a
condição de dependência dentro do capitalismo, dado o contexto favorável e as relações corretas
entre classes e grupos. Saffioti, entretanto, reafirma que o único capitalismo possível no Brasil
é o capitalismo dependente, assim como
autores como Ruy Mauro Marini e Vânia Bambirra.
Essa posição está presente em diversas passagens:
[...] os países perifericamente integrados no sistema capitalista internacional
estão sujeitos, em virtude de sua própria condição de dependentes, a verem
d
iminuídos, se não praticamente anulados, seus esforços de
independentização (possibilitados por certas conjunturas internacionais) nos
momentos de recomposição do referido sistema mundial
(SAFFIOTI
, 2013,
p.
223).
[...] as sobrevivências da “sociedade tra
dicional” brasileira não fazem senão
auxiliar a realização histórica do capitalismo no Brasil da maneira como o
permite a condição de país perifericamente integrado no sistema capitalista
internacional (
SAFFIOTI
, 2013, p.
343).
[...] não há lugar para a h
ipótese de que, num futuro próximo ou remoto, as
sociedades em que hoje ocorrem as realizações “periféricas” do capitalismo
venham a atingir o desenvolvimento, entendido este como a realização do tipo
macro
-
estrutural para o qual tendem (SAFFIOTI, 1973, p.
161).
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Essas ideias não estão presentes na maior parte da escola uspiana de sociologia, da qual
Cardoso é expoente, e na maioria dos autores citados por Saffioti. Entretanto, estão presentes
em Florestan Fernandes (1975)
–
sobretudo sua fase madura
–
e nã
o seriam estranhas a Saffioti,
que conviveu diretamente com os formuladores da vertente marxista da dependência. Ela
reconhece essa influência plenamente em entrevistas, referindo
-
se, ainda, criticamente a
Fernando Henrique Cardoso:
H.S.: [em resposta a p
ergunta sobre a influência da CEPAL] Depois do golpe
[de 1973] no Chile, eu tinha muito contato com o pessoal que havia se exilado
no Chile e quando houve o golpe contra o Allende foram para o México. Eram
a Vânia Bambirra, o marido dela na época, o Dr. Th
eotônio dos Santos, Ruy
Mauro Marini, eu ia muito ao México naquela época. Então eu conhecia tudo
que dizia respeito à CEPAL, mas, antes [dessa época da década de 70; durante
a redação de
A mulher na sociedade de classes
]? Só pode ter sido pelo
Fernando He
nrique e pela Ruth (Cardoso) porque quando eles moraram no
Chile a biblioteca deles ficou na minha casa. Eu não gosto dele, tanto que eu
nunca votei nele. Outro dia houve homenagem de feministas à Ruth e me
pediram que eu falasse e dei umas diretas nele! D
isse que eu gostaria de falar
sobre aquilo que a Ruth não foi, não porque não pudesse, mas porque não quis.
Ela não quis ser estrela. Mas ela fazia uma pesquisa honesta e correta. Por
quê? Porque FHC e Serra plagiaram a teoria da dependência que foi de Ruy
Mauro Marini. E como eu sei disso? Exatamente porque o Theotônio dos
Santos, a Vânia e o Ruy Mauro, estavam exilados no México e eu ia muito lá
(SAFFIOTI, 2008, p.
289).
Essa convivência muito próxima com os autores listados está também citada em
Bambirra (1991, p.
79), onde Vânia chama Heleieth de “amiga” e narra experiências que
tiveram juntas, incluindo o início da organização em parceria de um livro em Cuba, de
entrevi
stas e reflexões sobre as mulheres e a revolução socialista na América Latina, para o qual
Saffioti faria a introdução, mas que jamais fora publicado (BAMBIRRA, 1991).
De qualquer forma, Saffioti compartilhava com o grupo o ceticismo quanto às
possibilidad
es de superação da dependência dentro do capitalismo e quanto ao que o
desenvolvimento capitalista dependente poderia oferecer aos trabalhadores. Isso está refletido
profundamente em sua forma de compreender a opressão de gênero: assim como, para os
autore
s marxistas da dependência, os problemas fundamentais das massas latino
-
americanas
eram derivados do capitalismo e não de sua ausência
–
e o desenvolvimento capitalista
significava mais dependência
–
; para Saffioti, a opressão das mulheres na modernidade n
ão era
fruto do pré
-
capitalismo nem resquício de modos de produção anteriores, mas precisamente
alimentada pelo desenvolvimento capitalista, e mais capitalismo só poderia significar mais
opressão para as mulheres trabalhadoras. Mais do que tudo, as conclus
ões políticas que
decorrem de
A mulher na sociedade de classes
(2013) são como um manifesto feminista anti
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desenvolvimentista e socialista, voltadas a “afastar a
ideia
[sic] de que o desenvolvimento do
capitalismo constitui a solução para o problema femini
no” (
SAFFIOTI
, 1979, p.
12).
As relações de gênero sob o capitalismo dependente, conforme Saffioti
A consciência da dependência em que, desde seus inícios, a formação
econômico
-
social capitalista se vem constituindo no Brasil e dos limites que
a
estrutura internacional de poder impõe à sua realização nos níveis
alcançados pelas sociedades de consumo de massas constitui o ponto inicial
para a compreensão dos papéis sociais que homens e mulheres vêm
desempenhando na sociedade brasileira desde os seu
s primórdios (SAFFIOTI,
2013, p.
229).
Em sua obra, Saffioti preocupa
-
se em descrever e explicar a opressão de gênero no
capitalismo contemporâneo, recorrendo para isso à história das formações sociais que o
compõem. Seu esforço é o de captar as determina
ções gerais da subordinação feminina na
modernidade, válidas para todas as formações sociais capitalistas; e suas determinações
particulares, que variam em decorrência da história e características econômicas e culturais
específicas de cada povo e local, e
, principalmente, da posição ocupada por essas formações
sociais na acumulação capitalista a nível global, ou seja, na Divisão Internacional do Trabalho.
É aí que se insere a articulação entre relações de gênero e dependência
(SAFFIOTI, 2013).
Para a soció
loga, o fenômeno da opressão feminina não pode ser compreendido apenas
em sua dimensão ideológica e cultural
–
trata
-
se de desvendar quais mecanismos sociais
possibilitam a reprodução continuada dessa opressão e quais interesses materiais movem esses
mecan
ismos. Nesse sentido, a raiz do sexismo sob o capitalismo estaria na marginalização ou
integração periférica das mulheres a este modo de produção e os benefícios que o próprio
sistema
–
e os principais interessados em sua manutenção, a classe burguesa
–
re
colheriam desta
situação
(SAFFIOTI, 2013
;
1973).
Há diferenças sensíveis na maneira pela qual a autora formula essa questão ao longo de
sua obra. Entretanto, no geral Saffioti acentua a incapacidade e o desinteresse que o modo de
produção capitalista teria
em transformar todas as pessoas das classes subordinadas em
trabalhadoras subordinadas diretamente ao capital: responsáveis por adicionar valor novo ao
capital ou torná
-
lo mais rentável, em relações de trabalho onde o produto da labuta não pertence
à sua
produtora ou ao seu produtor, mas ao capitalista. O fundamento dessa incapacidade
estaria, primeiramente, na tendência do capital a incorporar uma proporção menor de força de
trabalho, em relação aos meios de produção, conforme o desenvolvimento das forças
produtivas
possibilita uma produção igual ou maior de mercadorias no mesmo tempo com menos
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trabalhadoras e trabalhadores empregados. Por outro lado, a massa de trabalhadoras e
trabalhadores desempregados ou em relações de produção não
-
capitalistas
–
como
a produção
artesanal, camponesa e a prestação de serviços individuais
–
, serviria como um exército de
reserva para a produção diretamente capitalista, podendo ser absorvida em momentos de
crescimento, contribuir para o rebaixamento dos salários e direitos
dos trabalhadores dos setores
capitalistas, ou fornecer um tipo de exploração que beneficia esses setores mesmo estando
localizada fora deles (SAFFIOTI, 2013; 1978).
A opressão feminina, ao deslocar uma grande quantidade de mulheres para o trabalho
domésti
co dentro do lar, para o desemprego ou para relações de trabalho não
-
capitalistas,
protegeria o sistema de tensões que ele não poderia suportar caso todos os seus membros
despossuídos reivindicassem um lugar no mercado de trabalho formal capitalista
–
isso
explicaria a manutenção e promoção desta opressão por parte do capital. Além disso, o recurso
à naturalização das relações sociais representado pelo sexismo desviaria do sistema a crítica,
identificando suas falhas como incapacidades naturais de certos gr
upos (SAFFIOTI, 2013).
Em seus textos do final dos anos 1960 e começo dos anos 1970, especialmente
A mulher
na sociedade de classes
([1969] 2013), Saffioti detém
-
se primordialmente sobre o papel que o
confinamento feminino ao trabalho doméstico, de reprodu
ção e de socialização no lar teria para
evitar a explicitação das contradições do capitalismo; reforçando que tal sistema teria
incentivado esse confinamento conforme seu desenvolvimento o tivesse feito prescindir cada
vez mais do trabalho produtivo femini
no. Para isso, a autora recorre à comparação entre a
participação das mulheres na produção de bens durante e antes do advento do modo de produção
capitalista. Neste contexto, Saffioti também ressaltava como a sociedade burguesa só permitiria
às mulheres tr
abalhadoras o trabalho remunerado fora do lar se reunissem certas condições
–
extrema necessidade econômica, estado civil favorável e juventude
–
, e ainda assim, mantendo
o trabalho não
-
remunerado no lar.
Durante esse período de sua obra, a dependência com
parece como um fator de
agudização do fundamento material da opressão feminina no capitalismo
–
a integração
periférica ao sistema produtivo
–
nos países dependentes, para possibilitar, em contrapartida,
uma atenuação desse mesmo determinante dos países ce
ntrais. Essa atenuação explicaria “o
maior número de liberdades desfrutadas pelas mulheres dos países altamente desenvolvidos”
(SAFFIOTI, 2013, p.
193). Para Saffioti (2013, 1973), entretanto, seria exatamente a
subordinação e a transferência de riqueza do
s países periféricos aos países centrais o
possibilitador dessa diferença. A autora afasta, então, a possibilidade de universalização desses
benefícios das mulheres dos países imperialistas
–
a maior participação feminina na população
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economicamente ativa
e o maior número de direitos reprodutivos
–
para todo o mundo
capitalista.
Em relação ao Brasil, Saffioti recupera a história da formação social para ressaltar como,
assim como no caso das mudanças, as permanências econômicas e sociais advindas do período
colonial se fazem acompanhar de permanências na tradição e na cultura. Assim, o pesado
sexismo e racismo da sociedade escravocrata
–
necessário para a reprodução econômica e social
de tal ordem, fundamentada no papel dominante do latifundiário patriarca e
na exploração e
desumanização de homens e mulheres negras diante da subordinação nacional ao mercado
capitalista mundial
–
, continuaria presente pelo novo papel que viria a cumprir em uma
sociedade capitalista em “plena constituição” e dependente que, para
a autora, expulsava as
mulheres da economia pública e se construía com a combinação de formas modernas e arcaicas
de exploração que, nunca contraditórias, sustentavam
-
se mutuamente. Também expõe os dados
sobre a redução da participação feminina no setor s
ecundário do final do século XIX até meados
do século XX como comprovação de sua tese do alijamento acentuado das mulheres da
produção capitalistas nos países dependentes: em sua opinião, causado sobretudo pelo
fenômeno da importação intensa de tecnologia
estrangeira “poupadora de força de trabalho”
(SAFFIOTI, 2013, p.
335
-
340).
E, deste modo, a marginalização da força de trabalho feminina, muitas vezes
explicada quase exclusivamente em função de preconceitos e remanescentes
de uma “sociedade tradicional”
e do pequeno grau de desenvolvimento
econômico, apresenta
-
se como decorrência da plena constituição das relações
capitalistas de produção [...]. As justificativas do padrão doméstico de mulher
fornecidas pela “mentalidade tradicional” não constituem, deste
ângulo,
fatores de atraso da economia brasileira e retardadores de seu
desenvolvimento. Ao contrário, mesmo na fase em que poderia ser mais
elevado o nível de emprego e, consequentemente, maior o aproveitamento da
mão de obra feminina, a condição de país
de economia dependente determinou
um subaproveitamento do fator força de trabalho no Brasil. A marginalização
de enormes contingentes femininos do sistema produtivo de
bens e serviços
favoreceu, evidentemente, a acumulação capitalista (SAFFIOTI, 2013, p.
3
41
-
343)
.
Nesses termos, Saffioti delineia como a situação específica das mulheres sob o
capitalismo dependente
–
marginalizadas de uma estrutura incapaz de terceirizar suas
contradições ou resolver seu problema de excesso de mão de obra
–
exigiria ferrame
ntas
ideológicas mais brutais e explícitas de dominação feminina. Este seria o caso do machismo
latino
-
americano:
[...] nas áreas subdesenvolvidas em geral, e especialmente nas nações latino
-
americanas, o complexo cultural do machismo, vigendo ostensivame
nte,
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expõe mais cruamente a posição subalterna da mulher. Isto não significa, de
modo algum, que o comportamento do machão seja o responsável pela
reduzida participação feminina na população economicamente ativa destes
países, mas sim que as técnicas de do
minação das mulheres e as justificativas
de sua expulsão do mercado de trabalho são mais rudes e menos refinadas que
nas nações desenvolvidas (SAFFIOTI, 1973, p.
154).
A partir de meados da década de 1970, em um contexto de relativo avanço do emprego
femi
nino nos países centrais, Saffioti passa a se preocupar mais intensamente com o tema da
articulação entre o modo de produção capitalista e as relações de trabalho não
-
capitalistas,
refletindo sobre como a marginalização feminina da estrutura produtiva tamb
ém poderia se
expressar em sua presença mais significativa nesses setores da economia (SAFFIOTI, 1976;
1977; 1978). Nos países dependentes, esses “bolsões pré
-
capitalistas” possuem um “peso
relativo muito maior” na economia (SAFFIOTI, 1977, p.
33).
Para a
autora, crítica às concepções de Poulantzas (1972
apud
SAFFIOTI, 1977) nesse
quesito, a coexistência entre diferentes modos de produção em uma mesma formação social é
impossível. O que se verifica, porém, é a subordinação das relações de produção
não
-
capitalistas à dinâmica do modo de produção capitalista, com estas perdendo sua autonomia e
dependendo das necessidades desse último para se reproduzir. O capitalismo recriaria
constantemente tais relações de produção não
-
capitalistas em seu interior,
precisamente porque
o intercâmbio com elas o beneficiaria, permitindo uma maior exploração (ou expropriação) das
trabalhadoras ou dos trabalhadores desses setores, sem preocupar
-
se em garantir sua
reprodução. Por outro lado, em períodos de expansão, os set
ores capitalistas poderiam absorver
essa força de trabalho para cuja “
[para cuja] formação nunca fizeram nenhum investimento
”
(SAFFIOTI, 1977, p.
29
, tradução nossa
). Esse seria o caso do trabalho reprodutivo no interior
da família:
Os serviços que são
desempenhados
–
geralmente por mulheres
–
na família
são destinados à produção diária da força de trabalho do(a) trabalhador(a),
assim como à reprodução desta força de trabalho. Embora esse trabalho se
dedique à produção de uma mercadoria, a força de traba
lho, que é
indispensável para o funcionamento do modo de produção capitalista; a
organização dentro do grupo familiar não assume uma forma capitalista, isto
é, contratual
(SAFFIOTI, 1977, p.
33
, tradução nossa
).
Já que não é um empreendimento capitalista,
a família investe na produção da
força de trabalho
–
uma mercadoria no mercado de trabalho
–
sem receber por
isso nenhuma compensação monetária. Em outras palavras, a família (acima
de tudo seus membros femininos) produz uma mercadoria que não pode
comerc
ializar. [...] O trabalhador que é produzido desta maneira irá beneficiar
apenas aqueles que, sendo proprietários de um empreendimento capitalista,
são capazes de oferecer
-
lhe um emprego. O preço de produzir e reproduzir a
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força de trabalho não entra no si
stema de contabilidade da sociedade
capitalista
(SAFFIOTI, 1977, p.
33
, tradução nossa
).
Dessa forma, a produção permanente das condições que permitem a
reprodução do capital em sentido estrito depende de uma instituição
–
a
família
–
onde as relações pes
soais e a produção doméstica são predominantes.
Por meio da mobilização de trabalho não
-
pago, especialmente feminino, essa
instituição é mais econômica do que qualquer outra para o propósito de
fornecer ao capitalismo a força de trabalho de que necessita
(
SAFFIOTI, 1977,
p.
31
, tradução nossa
).
Portanto, a família seria uma instituição altamente adaptada e funcional ao modo de
produção capitalista não apesar, mas especialmente pelo fato de não ser organizada em moldes
capitalistas.
O trabalho doméstico não
-
remunerado não seria, porém, o único “bolsão pré
-
capitalista”
mediante o qual o capital poderia se beneficiar da exploração acentuada do trabalho feminino.
Segundo Saffioti (1977, p.
33
, tradução nossa
), nos países centrais, “
[…] d
ada a própria
hegemonia econômica e política exercida por essas regiões, as mulheres possuem
oportunidades muito maiores para realizar atividades organizadas dentro das normas
capitalistas
”. Porém, nos países dependentes, há uma miríade de atividades organ
izadas de
forma não
-
capitalista sendo constantemente produzidas pela enorme concentração de renda e
pela menor capacidade de absorção de força de trabalho dos setores capitalistas dependentes.
Estas atividades estão presentes no campo e no ambiente urbano
–
neste, a autora os identifica
como tendo mais expressão no setor de serviços, especialmente o “baixo terciário”, onde se
concentram muitas mulheres que não teriam “outra alternativa [...] senão a busca do exercício
de atividades econômicas nos setores nã
o organizados em moldes capitalistas” (SAFFIOTI,
1978, p.
187). Um setor que despertara maior interesse da autora, tanto por sua quase total
composição feminina, quanto por seu agigantamento nos países dependentes latino
-
americanos,
fora o emprego doméstic
o (remunerado)
–
tema de seu livro
Emprego doméstico e capitalismo
(1978). A socióloga explica e define as relações envolvidas neste tipo de trabalho:
[...] as atividades desenvolvidas por empregadas domésticas em residências
particulares não se caracteri
zam como capitalistas. Com efeito, não se
encontram elas subjugadas ao capital, mas são remuneradas diretamente pela
renda pessoal. Os mesmos serviços domésticos desempenhados em bares,
restaurantes, hotéis, incluem
-
se no setor capitalista da economia,
sub
ordinando seus agentes diretamente ao capital. Esta diferença é crucial
para caracterizar as atividades de empregadas domésticas como não
-
capitalistas, ainda que tenham sido engendradas pelo capitalismo.
Remuneradas pela renda pessoal, as domésticas execut
am tarefas cujo
«produto», bens e serviços, são consumidos diretamente pela família
empregadora, não circulando pelo mercado para efeito de troca com o objetivo
de lucro (SAFFIOTI, 1978, p.
191).
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As empregadas domésticas
–
hoje em dia, em grande parte neg
ras
–
seriam as
responsáveis, sobretudo no capitalismo dependente, por parte da reprodução biológica e social
de extensas camadas da população
–
sendo, por isso, indispensáveis à lógica do sistema.
Entretanto, sua exploração não se daria em moldes tipicame
nte capitalistas, o que permitiria
que a precarização as atingisse com mais força. Saffioti também as identificava como parte do
exército de reserva, “mobilizáveis para o trabalho no setor capitalista de atividades econômicas”
quando se fizesse necessário
(
SAFFIOTI, 1978, p.
191
).
Na época de escrita do texto, o feminismo marxista dos EUA e da Europa passava pelo
que ficou posteriormente conhecido como a polêmica do trabalho doméstico
3
. Discutia
-
se,
sinteticamente, o papel do trabalho doméstico no capitali
smo. Saffioti ressaltava que o foco
deste debate, entretanto, estava no trabalho doméstico não
-
remunerado desempenhado pelas
donas de casa no lar
–
os países centrais não possuíam um setor expressivo de prestação de
serviços domésticos remunerados (
SAFFIOT
I, 1978
, p.
193).
Nos países dependentes, e principalmente no Brasil, a situação era totalmente diferente:
a concentração de renda possibilitava às mulheres das classes altas assalariar mulheres pobres,
terceirizando assim as funções domésticas que a socie
dade lhes incumbia de cumprir. Essas
mulheres pobres, por sua vez, eram empurradas ao trabalho remunerado fora do lar pela
absoluta necessidade econômica e o alto custo de vida característico dos países dependentes;
sem, no entanto, encontrar espaço nos se
tores capitalistas das atividades econômicas.
Submetiam
-
se, portanto, a um tipo de ocupação de baixa remuneração e onde toda sorte de
violações de direitos acontecia. Desta forma, o “caráter dependente do desenvolvimento do
capitalismo brasileiro”
(SAFFIOT
I, 1978
, p.
192) determinava uma forma específica de
realização do trabalho doméstico, e uma ampla concentração das mulheres nas atividades não
organizadas em moldes capitalistas que era o sustentáculo de seus menores direitos nas esferas
política, trabalh
ista e reprodutiva, e também do machismo, entendido como forma particular da
ideologia sexista sob a dependência. A superação desta condição pressupunha uma completa
alteração da estrutura produtiva e econômica do país que revertesse os altos níveis de
des
emprego e de concentração de renda
–
em outras palavras, superasse a dependência. A
magnitude do emprego doméstico nos países latino
-
americanos é também explicada como
determinação particular do desenvolvimento capitalista dependente por Vânia Bambirra (s/
d).
3
Uma síntese crítica deste debate está em
Ferguson (2020).
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Por fim, há a questão do trabalho feminino produtivo sob o capitalismo dependente e
suas determinações particulares. O censo realizado pelo IBGE em 1970 e nas décadas
posteriores demonstrou um crescimento bastante expressivo do emprego feminino em qua
se
todas as áreas, mas principalmente àquelas ligadas à indústria capitalista. Embora os temas do
emprego industrial feminino, sua instabilidade e seus baixos salários já tivessem sido
tematizados em outras obras de Saffioti (1978, 2013), nos anos 1980 ele
s ganham maior
centralidade em seu quadro explicativo. Em
Força de trabalho feminina: no interior das cifras
(1985), Saffioti apresenta sua teorização sobre a simbiose entre patriarcado e capitalismo,
analisando as interconexões entre produção e reprodução
. Nesse quesito, verifica
-
se a forte
influência da corrente feminista materialista francesa nas formulações de Heleieth Saffioti,
representada por autoras como Danièle Kergoat, Dàniele Combes e Monique Haicault.
De acordo com a socióloga feminista, há um c
ruzamento entre reprodução e produção
que torna a reprodução presente na produção e a produção presente na reprodução
–
em outros
termos, as relações de classe atravessam a família e as relações sociais de sexo também
atravessam o terreno da produção capit
alista. Tanto o patriarcado quanto o capitalismo teriam
uma dimensão econômica, social e cultural, reproduzindo
-
se, entretanto, como um só sistema.
Neste sentido, “não se pode separar as mulheres na esfera da reprodução e os homens na esfera
da produção, p
orquanto ambos são agentes sociais nos dois domínios, reproduzindo
-
se em
ambas as esferas a divisão sexual do trabalho” (SAFFIOTI, 1985, p.
103). A associação das
mulheres com a reprodução se refletiria em sua exploração tanto dentro quanto fora do lar e d
a
família.
Ao verificar, concomitantemente ao processo de expansão do emprego industrial
feminino no Brasil, um intenso aumento da discriminação salarial entre homens e mulheres e a
concentração destas nos postos mais baixos das fábricas, Saffioti associa
o capitalismo
dependente não só com a maior magnitude dos setores não
-
capitalistas e a precarização do
trabalho feminino que se verifica neles, mas também com o mais alto grau de exploração que
vivenciam as mulheres trabalhadoras (especialmente pobres e nã
o
-
brancas) dos países
dependentes, em relação às mulheres dos países centrais, no próprio setor capitalista da
economia. Estas, além disso, passam a compartilhar a inserção no sistema produtivo com a
inserção no trabalho não
-
remunerado no lar, acumulando d
uas jornadas de trabalho
–
ou então,
assalariando outras mulheres, empregadas domésticas com salários ainda mais baixos. Por
todos os lados, o capitalismo dependente marcaria a experiência de opressão das mulheres no
Brasil.
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Dada a simbiose patriarcado
-
cap
italismo, entretanto, a meta da maximização
do lucro é mediada pela supremacia masculina. E é desta forma que, pela via
da subordinação da mulher ao homem e pela alocação prioritária da mulher
aos aparelhos de reprodução, o patriarcado
-
capitalismo garante,
simultaneamente, a reprodução da família trabalhadora e explora em grau
mais intenso a força de trabalho feminina, quando dela necessita e nas
proporções em que dela precisa. [...].
Enquanto perdurar o sistema patriarcado
-
capitalismo, homens e mulheres
j
amais serão socialmente iguais. Disto resulta que a incorporação da força de
trabalho feminina apresentará sempre característicos específicos [sic], nos
quais poderá ser reconhecida toda sorte de discriminações (
SAFFIOTI, 1985
,
p.
138).
O tema da simbiose entre patriarcado e capitalismo
–
e, mais ainda, entre patriarcado,
capitalismo e racismo
–
será ainda mais explorado no livro
O poder do macho
(1987) e nas
obras posteriores de Heleieth Saffioti.
Considerações finais: a simbiose perif
érica
Saffioti se propôs a descrever e explicar as peculiaridades da opressão de gênero nos
países periféricos na maior parte de sua obra. Entretanto, as discussões sobre a unidade entre
produção e reprodução, e sobre a determinação mútua entre gênero e d
ependência, começaram
a se fazer cada vez mais escassas a partir dos anos 1980; de modo que poucas autoras e autores
latino
-
americanos elaboraram teorias nesse sentido depois de Saffioti até antes do começo dos
anos 2000. Esse quadro mudou recentemente, co
m o ressurgimento do feminismo
-
marxista e o
resgate da Teoria Marxista da Dependência e da obra de Saffioti.
Assim, tem
-
se ressaltado como categorias como transferência de valor, cisão entre as
esferas de circulação, subimperialismo, agigantamento da super
população relativa e
–
principalmente
–
superexploração do trabalho ajudam a explicar os traços distintivos das
relações de gênero sob dependência, se articuladas com um quadro teórico feminista
-
marxista,
com autoras como Díaz Lozano e Féliz (2020), Teixei
ra e Zorgetz (2020), Costa e Nogueira
(2019), Bittencourt (2014), Cecenã (1983). Conforme Teixeira e Zorgetz (2020):
No continente [latino
-
americano] e nos países dependentes em geral, as
mulheres costumam ser trabalhadoras de reprodução doméstica e também
assalariadas, ou participam de alguma atividade laboral na esfera pública. Essa
distorção tem impacto direto nas con
dições de reprodução da família e,
portanto, trazem custos diretos ao acréscimo da exploração das mulheres na
esfera doméstica, seu peso em camadas específicas do exército de reserva,
como também na necessidade de cumprir duplas ou triplas jornadas de
trab
alho (
TEIXEIRA; ZORGETZ, 2020).
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Bittencourt (2014, p.
68) ressalta como o trabalho das mulheres na América Latina se
caracteriza por “uma maior intensidade do ritmo produtivo, a menor remuneração, a ocupação
em postos marginalizados ou subempregos, a dupl
a jornada de trabalho” e a responsabilização
feminina por “funções que deveriam ser prestadas pelo Estado Social (creches, educação,
cuidados, lavanderias, restaurantes)”. Essas trabalhadoras, por sua vez, são em sua maioria
negras ou indígenas.
Nesse sent
ido, Saffioti contribui para a apreensão da realidade latino
-
americana em sua
totalidade, evitando a fragmentação entre opressões e exploração capitalista, ao invés disso,
recorrendo à unidade contraditória e complexa entre reprodução social e produção. Sa
ffioti
contribui decisivamente para isso ao pensar em uma simbiose
–
e depois “nó”
–
entre
patriarcado, racismo e capitalismo que se manifesta de forma particular na periferia desse único
sistema.
As contribuições da atual Teoria (Marxista) da Reprodução S
ocial (TRS) prosseguem
nessa direção, ao argumentar que não se trata exatamente de três ou mais opressões com lógicas
próprias de dominação e exploração econômica, que se codeterminam e fundem
-
se.
Incorporando críticas do feminismo negro,
queer
e de outras
correntes, a TRS argumenta que,
na realidade, é a relação contraditória entre acumulação capitalista e reprodução social que
sedimenta as bases da exploração e de todas as opressões: “
Do ponto de vista do capital, a
reprodução social da força de trabalho
é simultaneamente indispensável e um obstáculo à
acumulação
” (VOGEL, 2013, p.
156
, tradução nossa
). Tanto o trabalho doméstico não
-
remunerado no lar quanto a exploração do baixo valor da força de trabalho feminina no âmbito
produtivo são momentos dessa rel
ação, da necessidade capitalista de produzir e erodir a vida
simultaneamente. A opressão feminina na modernidade, então, está relacionada à sistêmica
desvalorização da reprodução social pelo capital
–
reprodução que, por sua vez, é demarcada
enquanto respo
nsabilidade feminina. Espaços de reprodução não
-
patriarcais, como as famílias
chefiadas por mulheres negras ou pessoas LGBT, ou os dormitórios femininos de fábricas,
também são essenciais à lógica da acumulação capitalista, assim como o trabalho feminino
e
xtralar: a forma familiar heteronormativa é predominante por sua alta eficiência em produzir
uma vida explorável de forma geracional e barata. Mas sexismo, racismo, LGBTfobia e
dominação de classe são produto e (re)produtores de uma mesma matriz material (
FERGUSON,
2020; LEWIS,
2016).
A articulação entre o pensamento de Saffioti, a TMD e a TRS constitui um poderoso
ferramental teórico que ainda foi pouco explorado em conjunto. Tal conjunção pode nos revelar,
por exemplo, que a experiência das trabalhadoras
femininas no capitalismo dependente está
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marcada por uma superexploração do trabalho, que se caracteriza por uma apropriação ainda
mais deletéria de seu fundo de vida, já que, além de receberem um pagamento de sua força de
trabalho que é inferior ao seu va
lor real, como a maioria dos trabalhadores masculinos latino
-
americanos, esse valor real já se constitui como inferior ao masculino por seus determinantes
históricos e sociais; e além disso, seu tempo de descanso e reposição de energias é
constantemente ut
ilizado para o trabalho de produção e reprodução da própria força de trabalho
a ser explorada pelo capital dependente e internacional.
Além da reprodução da força de trabalho explorada diretamente pelo capital, é colocado
como obrigação ou dever moral dess
as trabalhadoras a reprodução da vida de extensos setores
da própria burguesia e pequeno
-
burguesia por meio do emprego doméstico; e, sobretudo, a
reprodução de uma superpopulação relativa maior do que nos países centrais, majoritariamente
composta por mulh
eres, crianças, pessoas negras e indígenas, e pessoas LGBT
–
grupos
sistematicamente eliminados pela violência estatal e civil em nossa região, a serviço da
acumulação capitalista dependente. A própria superexploração e sua intensificação
–
que se
expressa
não só no menor acesso aos bens de consumo individuais, mas também na redução
dos bens de consumo coletivo oferecidos pelo Estado
–
, acrescida da magnitude da população
que está fora da produção diretamente capitalista, determina uma reprodução social
ext
remamente precarizada para as pessoas trabalhadoras na América Latina e no Caribe
–
o
que, como Bhattacharya (2019) ressalta
–
é capaz de produzir violências intensas sobre as
mulheres e as demais pessoas com as quais a reprodução da vida é associada, just
amente porque
estas últimas são responsabilizadas pelas incapacidades do sistema.
Por fim, as questões da cisão entre as esferas de circulação e da altíssima concentração
de renda no subcontinente se manifestam em “experiências cindidas” de gênero entre as
pessoas
que pertencem ao mesmo gênero ou identidade sexual advindas das classes altas
–
estratos
superiores da pequeno
-
burguesia e burguesia
–
e estas mesmas da população trabalhadora; de
forma mais intensa dos que nos países centrais. O contraste entre a
mulher burguesa e as
mulheres trabalhadoras não
-
brancas responsáveis pela reprodução social da família da primeira
via emprego doméstico é o exemplo mais ilustrativo.
AGRADECIMENTOS
: ao CNPq, pelo financiamento da pesquisa, no período de 09/2020 a
09/202
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REFERÊNCIAS
BAMBIRRA, V.
Memorial
. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1991.
BAMBIRRA, V.
A propósito del “Año Internacional de la Mujer”
. s/d (mimeo).
BHATTACHARYA, T. Explicando a violência de gênero no neoliberalismo.
Marx e o
Marxismo
, v.
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Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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IASULAITIS
,
Sylvia
;
GUIMARÃES
,
Gustavo
.
A simbiose periférica:
Gênero
e dependência
no pensamento de Heleieth Saffioti
.
Estudos de Sociologia
, Araraquara, v. 27, n.
00
,
e0220
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,
2022. e
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Submetido em
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/
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/
2022
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requeridas em
:
24/06/2022
Aprovado em
:
22/07/2022
Publicado em
:
21/12/2022
Processamento e editoração: Editora Ibero
-
Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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Peripheral symbiosis:
Gender
and dependency in
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PERIPHERAL SYMBIOSIS: GENDER AND DEPENDENCY IN HELEIETH
SAFFIOTI’S THINKING
A SIMBIOSE PERIFÉRICA: GÊNERO E DEPENDÊNCIA NO PENSAMENTO DE
HELEIETH SAFFIOTI
LA SIMBIOSIS PERIFÉRICA: GÉNERO Y DEPENDENCIA EN EL PENSAMIENTO
DE
HELEIETH SAFFIOTI
Sylvia IASULAITIS
1
Gustavo GUIMARÃES
2
ABSTRACT
: This article offers a review of the contributions of Brazilian feminist sociologist
Heleieth Saffioti
on dependency and gender relations, particularly her understanding of gender
oppression in dependent countries. The study describes the historical and intellectual scenario
where the author was educated and developed her work, discussing her relationships
with the
context and with classic authors of Brazilian social thought, presenting her view about
dependency and the Brazilian social formation. Finally, Saffioti’s complex analysis of the
female situation in dependent capitalism was outlined, emphasizing
its originality, criticism,
and relevance to the contemporary debate on unity among oppressions and specific
configurations of gender relations in the system’s periphery.
KEYWORDS
: Gender oppression. Dependent capitalism. Global South. Brazilian social
th
inking.
Heleieth Saffioti.
RESUMO
: O presente artigo enseja um resgaste das contribuições da socióloga feminista
brasileira Heleieth Saffioti às reflexões sobre dependência e relações de gênero
–
mais
precisamente, sua compreensão a respeito da particula
ridade da opressão de gênero nos países
dependentes. Assim, reconstruímos o cenário histórico e intelectual em que a autora se formou
e produziu, esboçamos suas relações com este contexto e com os autores clássicos do
pensamento social brasileiro. Recupera
ndo esse diálogo, apresentamos sua visão da
dependência e da formação social brasileira. E então, delineamos sua complexa análise da
situação feminina no capitalismo dependente, ressaltando sua originalidade, criticidade e a
relevância destes estudos para
o debate contemporâneo sobre unidade entre opressões e
conformações específicas das relações de gênero na periferia do sistema.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Opressão de gênero. Capitalismo dependente. Sul Global. Pensamento
social brasileiro. Heleieth Saffioti.
1
Federal University of
São Carlos (UFSCar), São Carlos
–
SP
–
Brazil
.
Professor at the Department of Social
Sciences and at the postgraduate Program in Science, Technology and Society. PhD in Political Science
.
ORCID
:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
3526
-
1003. E
-
mail: si@ufscar.br
2
Federal University of
São Carlos
(UFSCar), São Carlos
–
SP
–
Brazil
.
CNPq research fellow
.
ORCID
:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
5116
-
5444. E
-
mail:
gustavognascimento9@gmail.com
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Sylvia IASULAITIS e Gustavo GUIMARÃES
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
00
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, 2022.
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ISSN:
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https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15818
2
RESUMEN
:
El presente artículo pretende rescatar las contribuciones de la socióloga
feminista brasileña Heleieth Saffioti, sus reflexiones sobre dependencia y relaciones de género
–
más concretamente, su comprensión respecto a la particularidad de la opresi
ón de género en
los países dependientes. De ese modo, reconstruimos el escenario histórico e intelectual en el
que la autora se formó y produjo, esbozamos sus relaciones con este contexto y con los autores
clásicos del pensamiento social brasileño. Recuper
ando ese diálogo, presentamos su visión de
la dependencia y de la formación social brasileña. Y entonces, describimos su complejo análisis
de la situación femenina en el capitalismo dependiente, resaltando su originalidad, criticidad
y la relevancia de est
os estudios para el debate contemporáneo sobre unidad entre opresiones
y conformaciones específicas de las relaciones de género en la periferia del sistema.
PALABRAS CLAVE
: Opresión de género. Capitalismo dependiente. Sur Global. Pensamiento
social brasil
eño.
Heleieth Saffioti.
Introduction
Gender oppression is an objective reality and affects women as a social category.
Nevertheless, there are distinct determinants and contexts that are more vulnerable to
oppression, because the gender relations that
underlie oppression do not exist in a vacuum, but
in socio
-
historical contexts that confer different characteristics to oppression. Just as the
capitalist mode of production is carried out in a specific way in each social formation
(SAFFIOTI, 2013), female
oppression also presents its singularities. In this sense, the region of
Latin America and the Caribbean is considered by UN Women (2017) as the most violent in
the world for women.
Studies on the peculiarities of gender oppression in peripheral nations
–
currently
generically referred to as the Global South
–
are still scarce. And it is precisely on this important
–
but little discussed
–
aspect of the complex phenomenon of female oppression that this article
will focus on: the particularities of gender o
ppression in Latin America and Brazil.
Several explanations have been developed for the phenomenon of female oppression;
nevertheless, we will undertake this task from the theoretical category of dependence, rarely
used to explain our reality recently. To
do so, we will base ourselves on the work of Heleieth
Saffioti, who was an exception and also a pioneer in this regard. The Brazilian sociologist set
out to describe and explain the peculiarities of gender oppression in peripheral countries in most
of her
work. Although not without limitations, Saffioti understood that race, class, gender,
sexuality and nation (or dependency) were not unrelated axes of oppression, but cause and
consequence of the same system. Her theoretical contribution is quite original a
nd, although
articulated to the general theoretical framework of class domination
-
exploitation, she seeks to
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Gender
and dependency in
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eleieth
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contribute towards filling the existing gap of a coherent and rigorous theory of female
oppression.
The comprehensive phenomenon of oppression is r
igorously conceptualized here based
on Saffioti's work and, as such, understood as a mixture of domination and exploitation. The
domination
-
exploitation of women as a single phenomenon is based on two bases: 1) the
political
-
economic of the patriarchal reg
ime
-
which results in intense wage discrimination of
female workers, in their occupational segregation and in their marginalization of important
economic and political roles
-
deliberative ones
–
and 2) the control of female bodies and
sexuality
–
which re
sults in the sexual subjection of women and in the control of their
reproductive capacity.
It is possible to identify a growing interest in the work of Heleieth Saffioti, recently
documented by Bila Sorj and Anna Bárbara Araujo (2021) in statistical data.
Nevertheless,
Saffioti's understanding of Brazilian dependency, its relationship to gender oppression and
capitalism remains aspects that have not been explored in this context of resuming her thinking.
It was to the study of these features of Heleieth Saf
fioti's theoretical production that our research
was dedicated, whose objective is to understand her contribution towards a theory of gender
oppression under dependent capitalism. This research focused mainly on Saffioti's writings
between the 1960s and 19
80s, where the themes of dependency and its articulation with
capitalism and gender oppression were more explicitly present, as well as in several interviews
granted by the sociologist, here considered precious.
Initially, we analyzed her understanding of
dependency and the Brazilian social
formation, later we focused more specifically on the articulation between gender oppression
and dependent capitalism in her work. Finally, we connect their ideas to contemporary efforts
to think of gender and dependency
as fundamental elements of Brazilian capitalism, in
particular, and of the Global South, in general terms.
The dependence
i
n Saffioti
The category of dependency, long forgotten by social theory and public debate,
occupied the center of debates on capitalism and social change in Latin America in the mid
-
twentieth century (MARINI, 2005a). One of the first institutions responsible for defin
ing it and
putting it on the agenda was the Economic Commission for Latin America and the Caribbean
–
ECLAC, where dependency was understood as a limiting condition for development, caused
by the vulnerability of the Latin American subcontinent to external
control (FURTADO, 1959;
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, Araraquara,
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MARINI, 2010). The pinnacle of the theoretical formulation on dependency is, however, in the
current that later became known as the Marxist Theory of Dependency, or MTD.
MTD theorists
–
such as Ruy Mauro Marini, Vânia Bambirra and
Theotônio dos Santos
–
rejected the conception of dependence and imperialism as external agents or entities: they
were committed to demonstrating that the expanded internal reproduction of capitalism in
Brazil and Latin America reinforced the dependency, i
nsofar as it was based on the transfer of
value, on the overexploitation of the workforce and on the split verified in the capital cycle
between the production of goods and the consumption needs of the workers who produced
them. Each of these elements woul
d favor the strengthening of the others: the transfer of value
from the periphery to the centers pressured the bourgeoisie to appropriate the workers'
consumption fund, the impoverishment of the masses favored capitalist production aimed at the
foreign mar
ket or at the consumption of the upper classes, the necessary accommodation of
internal capital to this type of production prevented the creation of a production aimed at the
great masses that could assume another type of axis of accumulation and face impe
rialist
domination. In this sense, not only would the internal bourgeoisie not be in contradiction with
imperialism, but it would reproduce its own subordination at the expense of the impoverishment
of the workers; and all classes were doomed to repeat suc
h a vicious cycle if it were not for the
complete overcoming of capitalist production relations. In this conception, dependence is
related to the specific form assumed by capitalist development in subordinate capitalist
countries, in the context of global
capitalism (MARINI, 2005b; DOS SANTOS, 2000).
Saffioti
was deeply influenced by all these contributions. For her, world capitalism is a
complex totality that, although it has universal determinations, valid for all its manifestations,
is not homogeneous (SAFFIOTI, 2013). These essential determinations “take o
n in each
singular concretion [...], a necessary appearance, derived from the specific conditions of the life
of a people” furthermore, “the capitalist mode of production is realized in a specific way in
nations peripherally integrated into capitalism inte
rnational” (SAFFIOTI, 1973, p.
84
, our
translation
).
For the author, the central countries of capitalism are characterized, above all, by their
greater capacity to: 1) attenuate the tensions produced by the capitalist mode of production,
exporting them to
the periphery and 2) absorb the popular masses into the sectors capitalists of
the economy
–
that is, those governed directly by capitalist relations of production, where the
workforce is purchased to value the capital employed by the bourgeoisie through t
he production
of surplus value (SAFFIOTI, 2013; 1978; 1977; 1976; 1973). In dependent countries, the
opposite is verified: the contradictions of the system
–
such as income inequality and
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Gender
and dependency in
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impoverishment
–
would be more explicit and intense and cannot be ex
ported; and a much
larger amount of the popular masses would be concentrated in non
-
capitalist sectors of
production, in the industrial reserve army and/or unemployed
–
a characteristic also recognized
by MTD (MARINI, 2005c).
For the sociologist, greatly i
nspired by Celso Furtado (1959) and Caio Prado Jr. (1966),
the Brazilian social formation was born capitalist, even if only partially: it produced primary
products for the exterior and had as a ruling class capitalist entrepreneur who aimed at profit,
alth
ough slave labor relations and a social structure formally organized in castes, in a “manorial
-
slave order” or “slave capitalism” (SAFFIOTI, 1976, p.
16
, our translation
). The full
constitution of the capitalist mode of production in Brazil would have take
n place in the post
-
abolition period, with the generalization of salaried work. This conception is also similar to
formulations by Fernandes (1976), Cardoso (1977) and Ianni (1962).
After the end of colonization, “a new form of dependency was consolidated,
essentially
translating into the commercial ties that tied the country to the hegemonic center of the Western
bloc at the time”, at first England (SAFFIOTI; ACKERMAN, 1973, p.
86
, our translation
).
After the crisis of the agro
-
export economy that culminat
ed in the Revolution of 30,
industrialization would have transformed Brazilian capitalism into an urban
-
industrial
capitalism, capable of growing economically, but within the “limits allowed by the logic of the
international capitalist system”; that is, as
dependent capitalism (SAFFIOTI; ACKERMAN,
1973, p. 88
, our translation
). With the “exhaustion of the import substitution process”
(SAFFIOTI; ACKERMAN, 1973, p. 87
, our translation
), in the 1950s, and in a context of
redefinition of the International Divis
ion of Labor,
[...] Brazil suffers massive penetration of foreign investments. From the point
of view of the dependency relationship, the fundamental change is that it will
progressively be characterized more as technological and capital than
commercial.
Step by step, what is usually called the internationalization of the
internal market takes shape
(
SAFFIOTI; ACKERMAN,
1973,
p.
87
, our
translation
).
For Saffioti
(2013; 1985) dependence is a constant in the Brazilian social formation,
going through colonization, the Empire and the Republic, and assuming different conformations
during each of these periods. What they would have in common would be the defining aspec
ts
of dependency
–
economic subordination and the penetration of capitalism from the outside,
heteronomy.
It was possible to verify that, according to the materials to which we had access during
the research, the term dependent capitalism, typical of the M
arxist Theory of Dependency, is
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6
cited textually for the first time by Saffioti in a text from 1973, followed by a footnote criticism,
calling it “unsatisfactory” and then referencing texts by Francisco Weffort and Fernando
Henrique Cardoso (SAFFIOTI; ACKER
MAN, 1973, p. 12). Already in texts from the 1980s
(SAFFIOTI, s/d; 1985), Saffioti uses the term without reservations, especially in an article from
1985. However, the reference is to Fernando Henrique Cardoso's idea of dependent
-
associated
capitalism:
If
to this intersection of gender and class contradictions one adds the fact that
Brazil has been penetrated from the outside by capitalism, only being able to
develop “associated capitalism”, dependent on the hegemonic center of the
international capitalist
system, the situation of women will aggravate even
more
(
SAFFIOTI
, 1985, p.
137
, our translation
).
In this excerpt from a text from 1985 there is something curious. While citing Cardoso's
theory, Saffioti presents the conclusions of the Marxist Theory of
Dependency. Cardoso was
part of another theoretical current that also sought to think about Latin American dependency
(CARDOSO; FALETTO, 1984). However, for this current, it is fully possible to overcome the
condition of dependence within capitalism, give
n the favorable context and the correct relations
between classes and groups. Saffioti, however, reaffirms that the only possible capitalism in
Brazil is dependent capitalism, as do authors such as Ruy Mauro Marini and Vânia Bambirra.
This position is pres
ent in several passages:
[...]
Countries peripherally integrated into the international capitalist system
are subject, by virtue of their condition as dependents, to seeing their
independence efforts diminished, if not practically annulled (made possible
by certain international conjunctures) in times of recomposition of the
aforementioned world system
(SAFFIOTI
, 2013, p.
223
, our translation
).
[...]
the survivals of the Brazilian “traditional society” do nothing but help the
historical realization of capitalism in Brazil in the way allowed by the
condition of a country peripherally integrated into the international capitalist
system
(
SAFFIOTI
, 2013, p
.
343
, our translation
).
[...]
there is no room for the hypothesis that, in the near or remote future, the
societies in which the “peripheral” realizations of capitalism take place today
will reach development, understood as the realization of the macro
-
s
tructural
type towards which they tend
(SAFFIOTI, 1973, p.
161
, our translation
).
These ideas are not present in most of the USP school of sociology, of which Cardoso
is an exponent, and in most of the authors cited by Saffioti. However, they are present
in
Florestan Fernandes (1975)
–
especially his mature phase
–
and would not be foreign to Saffioti,
who lived directly with the formulators of the Marxist branch of dependency. She fully
recognizes this influence in interviews, also referring critically to
Fernando Henrique Cardoso:
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Peripheral symbiosis:
Gender
and dependency in
H
eleieth
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Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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, 2022.
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ISSN:
1982
-
4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15818
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H.S.: [in response to a question about ECLAC's influence] After the [1973]
coup in Chile, I had a lot of contact with people who had gone into exile in
Chile and when there was the coup against Allende they went to Mexico. They
were Vânia Bambirra, her husband at the time, Dr. Theotônio dos Santos, Ruy
Mauro Marini, I went to Mexico a lot at that time. So, I knew everything about
ECLAC, but before [that time in the 1970s; during the writing of A Mulher na
Sociedade de Classes (Wo
man in the society of classes)]? It could only have
been Fernando Henrique and Ruth (Cardoso) because when they lived in
Chile, their library was at my house. I don't like him, so much so that I never
voted for him. The other day there was a tribute from f
eminists to Ruth and
they asked me to speak and I gave him some hits! I said that I would like to
talk about what Ruth was not, not because she couldn't, but because she didn't
want to. She didn't want to be a star. But she did honest and correct research.
Why? Because FHC and Serra plagiarized Ruy Mauro Marini's dependency
theory. And how do I know this? Precisely because Theotônio dos Santos,
Vânia and Ruy Mauro were exiled in Mexico and I used to go there a lot
(SAFFIOTI, 2008, p. 289
, our translation
).
This very close coexistence with the listed authors is also mentioned in Bambirra (1991,
p. 79), where Vânia calls Heleieth
a “friend” and narrates experiences they had together,
including the beginning of the partnership organization of a book in Cuba, of interviews and
reflections on women and the socialist revolution in Latin America, for which Saffioti would
make the intro
duction, but which was never published (BAMBIRRA, 1991).
In any case, Saffioti shared with the group the skepticism regarding the possibilities of
overcoming dependency within capitalism and regarding what dependent capitalist
development could offer worke
rs. This is reflected profoundly in their way of understanding
gender oppression: just as, for the Marxist authors of dependency, the fundamental problems
of the Latin American masses were derived from capitalism and not from its absence
–
and
capitalist d
evelopment meant more dependency
–
; for Saffioti, women's oppression in
modernity was neither the fruit of pre
-
capitalism nor a holdover from earlier modes of
production, but precisely fueled by capitalist development, and more capitalism could only
mean
more oppression for working women. More than anything, the political conclusions that
flow from
A Mulher na Sociedade de Classes
(2013) are like an anti
-
developmentalist and
socialist feminist manifesto, aimed at “dispelling the idea [sic] that the develop
ment of
capitalism constitutes the solution to the female problem” (SAFFIOTI, 1979, p. 12
, our
translation
).
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Gender relations under dependent capitalism, according to Saffioti
The awareness of the dependency in which, since its beginnings, the
capitalist
economic
-
social formation has been constituted in Brazil and of the limits that
the international structure of power imposes to its realization in the levels
reached by the societies of mass consumption constitutes the starting point for
the und
erstanding of the social roles that men and women have been playing
in Brazilian society since its beginnings (SAFFIOTI, 2013, p. 229
, our
translation
).
In her work, Saffioti is concerned with describing and explaining gender oppression in
contemporary ca
pitalism, resorting to the history of the social formations that compose it. Her
effort is to capture the general determinations of female subordination in modernity, valid for
all capitalist social formations; and their particular determinations, which va
ry as a result of the
history and specific economic and cultural characteristics of each people and location, and,
mainly, of the position occupied by these social formations in capitalist accumulation at a global
level, that is, in the International Divis
ion of Labor. This is where the articulation between
gender relations and dependency comes into play (SAFFIOTI, 2013).
For the sociologist, the phenomenon of female oppression cannot be understood only in
its ideological and cultural dimension
–
it is abou
t unraveling which social mechanisms enable
the continued reproduction of this oppression and which material interests drive these
mechanisms. In this sense, the root of sexism under capitalism would be in the marginalization
or peripheral integration of w
omen to this mode of production and the benefits that the system
itself
–
and the main stakeholders in its maintenance, the bourgeois class
–
would reap from
this situation (SAFFIOTI, 2013; 1973).
There are noticeable differences in the way in which the au
thor formulates this question
throughout her work. However, in general, Saffioti accentuates the incapacity and lack of
interest that the capitalist mode of production would have in transforming all people from the
subordinate classes into workers directly
subordinated to capital: responsible for adding new
value to capital or making it more profitable, in relations of work where the product of toil does
not belong to its producer or its producer, but to the capitalist. The foundation of this inability
woul
d be, firstly, in the tendency of capital to incorporate a smaller proportion of labor power,
in relation to the means of production, as the development of the productive forces makes
possible an equal or greater production of goods at the same time with f
ewer female workers
and employed workers. On the other hand, the mass of unemployed or workers in non
-
capitalist
production relations
–
such as artisanal and peasant production and the provision of individual
services
–
would serve as a reserve army for di
rectly capitalist production, which could be
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absorbed in moments of growth, contribute to the lowering of wages and rights of workers in
the capitalist sectors, or provide a type of exploitation that benefits these sectors even though it
is located outside
them (SAFFIOTI, 2013; 1978).
Female oppression, by displacing large numbers of women into domestic work within
the home, unemployment, or non
-
capitalist labor relations, would protect the system from
stresses that it could not withstand if all its disposs
essed members were to claim a place in the
formal capitalist labor market
–
this would explain the maintenance and promotion of this
oppression by capital. Furthermore, resorting to the naturalization of social relations
represented by sexism would divert
criticism from the system, identifying its failures as natural
disabilities of certain groups (SAFFIOTI, 2013).
In her texts from the late 1960s and early 1970s, especially
A Mulher na Sociedade de
Classes
([1969] 2013), Saffioti dwells primarily on the ro
le that female confinement to domestic
work, reproduction and socialization in home would have to avoid making explicit the
contradictions of capitalism; reinforcing that such a system would have encouraged this
confinement as its development had made it i
ncreasingly do without female productive work.
For this, the author resorts to the comparison between the participation of women in the
production of goods during and before the advent of the capitalist mode of production. In this
context, Saffioti also hi
ghlighted how bourgeois society would only allow working women to
perform paid work outside the home if they met certain conditions
–
extreme economic need,
favorable marital status and youth
–
and even so, maintaining unpaid work in the home.
During this
period of her work, dependency appears as a factor that sharpens the material
foundation of female oppression in capitalism
–
peripheral integration into the productive
system
–
in dependent countries, to enable, on the other hand, an attenuation of this s
ame
determinant in central countries. This attenuation would explain “the greater number of
freedoms enjoyed by women in highly developed countries” (SAFFIOTI, 2013, p. 193
, our
translation
). For Saffioti (2013, 1973), however, it would be exactly the subo
rdination and
transfer of wealth from peripheral countries to central countries that made this difference
possible. The author then rules out the possibility of universalizing these benefits for women in
imperialist countries
–
the greater female participa
tion in the economically active population
and the greater number of reproductive rights
–
for the entire capitalist world.
With regard to Brazil, Saffioti recovers the history of social formation to highlight how,
as in the case of changes, the economic a
nd social permanencies arising from the colonial period
are accompanied by permanencies in tradition and culture. Thus, the heavy sexism and racism
of the slave society
–
necessary for the economic and social reproduction of such an order,
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based on the dom
inant role of the patriarch landowner and on the exploitation and
dehumanization of black men and women in the face of national subordination to the world
capitalist market
–
, would continue present for the new role that it would play in a capitalist
socie
ty in “full constitution” and dependent that, for the author, expelled women from the public
economy and was built with the combination of modern and archaic forms of exploitation that,
never contradictory, sustained each other. He also exposes the data on
the reduction of female
participation in the secondary sector from the end of the 19th century to the middle of the 20th
century as proof of his thesis of the accentuated jettisoning of women from capitalist production
in dependent countries: in his opini
on, caused mainly by the phenomenon of importation intense
use of “labor force saving” foreign technology (SAFFIOTI, 2013, p. 335
-
340).
And, in this way, the marginalization of the female workforce, often explained
almost exclusively in terms of prejudice and remnants of a “traditional
society” and the small degree of economic development, is presented as a
result of the full constitution
of capitalist relations of production [...]. The
justifications for the domestic standard of women provided by the “traditional
mentality” do not constitute, from this angle, backward factors for the
Brazilian economy and delaying its development. On the c
ontrary, even in the
phase in which the level of employment could be higher and, consequently,
greater use of female labor, the condition of a country with a dependent
economy determined an underutilization of the workforce factor in Brazil. The
marginaliz
ation of huge female contingents from the productive system of
goods and services evidently favored capitalist accumulation (SAFFIOTI,
2013, p. 341
-
343
, our translation
).
In these terms, Saffioti outlines how the specific situation of women under dependen
t
capitalism
–
marginalized by a structure incapable of outsourcing its contradictions or solving
its problem of excess labor
–
would require more brutal and explicit ideological tools of female
domination. This would be the case of Latin American machismo
:
[...]
in underdeveloped areas in general, and especially in Latin American
nations, the cultural complex of machismo, ostensibly prevailing, exposes the
subordinate position of women more crudely. This does not mean, in any way,
that macho behavior is r
esponsible for the reduced female participation in the
economically active population of these countries, but rather that the
techniques of domination of women and the justifications for their expulsion
from the labor market are more rude and less refined
than in developed nations
(SAFFIOTI, 1973, p.
154
, our translation
).
From the mid
-
1970s, in a context of relative advancement in female employment in
central countries, Saffioti began to be more intensely concerned with the issue of articulation
between the capitalist mode of production and non
-
capitalist labor relations, r
eflecting on how
the female marginalization of the productive structure could also be expressed in its more
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significant presence in these sectors of the economy (SAFFIOTI, 1976; 1977; 1978). In
dependent countries, these “pre
-
capitalist pockets” have a “mu
ch greater relative weight” in the
economy (SAFFIOTI, 1977, p. 33
, our
t
ranslation
).
For the author, critical of Poulantzas' (1972 apud SAFFIOTI, 1977) conceptions in this
regard, the coexistence between different modes of production in the same social for
mation is
impossible. What is verified, however, is the subordination of non
-
capitalist production
relations to the dynamics of the capitalist mode of production, with these losing their autonomy
and depending on the needs of the latter to reproduce. Capit
alism would constantly recreate
such non
-
capitalist relations of production within itself, precisely because the exchange with
them would benefit it, allowing greater exploitation (or expropriation) of workers in these
sectors, without worrying about guara
nteeing their reproduction. On the other hand, in periods
of expansion, the capitalist sectors could absorb this workforce for whose “
formation it never
made any investment
” (SAFFIOTI, 1977, p. 29). This would be the case of reproductive work
within the fa
mily:
The services which are carried out, generally by women in the family, are
destined to the daily production of the worker's labor power, as well as the
reproduction of this labor power. Although this labor is dedicated to the
production of a commodit
y labor power which is indispensable to the
functioning of the capitalist mode of production, organization within the
family group does not assume a capitalist, that is contractual, form
(SAFFIOTI, 1977, p.
33
, our translation
).
[…] Since it is not a
capitalist enterprise, the family invests in the production
of labor
-
power
–
a commodity on the labor market
–
without any monetary
compensation. In other words, the family (above all its female members)
produces a commodity which it cannot commercialize.
[…] The worker who
is produced in this way will only benefit those who, being owners of a
capitalist enterprise, are able to offer him a job. The price of producing and
reproducing labor power does not fall within capitalist society's accounting
system. […
]
(SAFFIOTI, 1977, p.
33
, our translation
).
In this way, the permanent production of the conditions which permit the
reproduction of capital strictly depends on an institution
–
the family
–
in
which personal relations and domestic production are predomin
ant. By means
of the unpaid mobilization of labor, especially of female labor, this institution
is more economical than any other for the purpose of supplying capitalism
with the labor power it needs
(SAFFIOTI, 1977, p.
31
, our translation
).
Therefore, th
e family would be an institution highly adapted and functional to the
capitalist mode of production not despite, but especially because of the fact that it is not
organized along capitalist lines.
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Unpaid domestic work would not, however, be the only “pre
-
c
apitalist pocket” through
which capital could benefit from the accentuated exploitation of female labor. According to
Saffioti (1977, p. 33, our translation), in the central countries, “given the very economic and
political hegemony exercised by these regi
ons, women have far greater opportunities to perform
economic activities organized within capitalist norms”. However, in the dependent countries,
there is a myriad of activities organized in a non
-
capitalist way being constantly produced by
the enormous co
ncentration of income and by the smaller capacity of absorption of labor force
of the dependent capitalist sectors. These activities are present in the countryside and in the
urban environment
–
in this, the author identifies them as having more expression
in the service
sector, especially the “low tertiary sector”, where many women are concentrated who would
have “no alternative [...] the pursuit of economic activities in sectors not organized along
capitalist lines” (SAFFIOTI, 1978, p. 187
, our translatio
n
). A sector that aroused the author's
greatest interest, both due to its almost total female composition and its growth in dependent
Latin American countries, was domestic employment (paid)
–
the subject of her book
Employment Domestic and Capitalism
(
Emprego doméstico e capitalismo
-
1978). The
sociologist explains and defines the relationships involved in this type of work:
[...]
the activities carried out by maids in private homes are not characterized
as capitalist. Indeed, they are not subjugated
to capital, but are remunerated
directly from personal income. The same domestic services performed in bars,
restaurants, hotels, are included in the capitalist sector of the economy,
subordinating its agents directly to capital. This difference is crucial
to
characterize domestic servants' activities as non
-
capitalist, even though they
were engendered by capitalism. Remunerated by personal income,
housemaids perform tasks whose «product», goods and services, are
consumed directly by the employing family, n
ot circulating in the market for
the purpose of exchange with the aim of profit
(SAFFIOTI, 1978, p.
191
, our
translation
).
Domestic servants
–
nowadays largely black
–
would be responsible, especially in
dependent capitalism, for part of the biological an
d social reproduction of large sections of the
population
–
and are, therefore, indispensable to the logic of the system. However, their
exploitation would not take place in typically capitalist ways, which would allow precarious
conditions to hit them har
der. Saffioti also identified them as part of the reserve army,
“mobilizable for work in the capitalist sector of economic activities” when necessary
(SAFFIOTI, 1978, p. 191
, our translation
).
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At the time of writing, Marxist feminism in the US and Europe w
as going through what
was later known as the domestic work controversy
3
. The role of domestic work in capitalism
was briefly discussed. Saffioti emphasized that the focus of this debate, however, was on the
unpaid domestic work performed by housewives in
the home
–
the central countries did not
have a significant sector of paid domestic services (SAFFIOTI, 1978, p. 193).
In dependent countries, and especially in Brazil, the situation was completely different:
the concentration of income made it possible fo
r women from the upper classes to hire poor
women, thus outsourcing the domestic functions that society entrusted them with. These poor
women, in turn, were pushed into paid work outside the home by sheer economic necessity and
the high cost of living char
acteristic of dependent countries; without, however, finding space in
the capitalist sectors of economic activities. They submitted themselves, therefore, to a type of
occupation with low pay and where all sorts of violations of rights took place. In this
way, the
“dependent character of the development of Brazilian capitalism” (SAFFIOTI, 1978, p. 192
,
our translation
) determined a specific way of carrying out domestic work, and a wide
concentration of women in activities not organized along capitalist line
s that was the mainstay
of their minor rights in the political, labor and reproductive spheres, and also machismo,
understood as a particular form of sexist ideology under dependence. Overcoming this
condition presupposed a complete change in the country's
productive and economic structure
that reversed the high levels of unemployment and income concentration
–
in other words,
overcoming dependence. The magnitude of domestic employment in Latin American countries
is also explained as a particular determinat
ion of dependent capitalist development by Vânia
Bambirra (
n.d.
).
Finally, there is the issue of productive female work under dependent capitalism and its
particular determinations. The census carried out by the IBGE in 1970 and in the following
decades sh
owed a very expressive growth in female employment in almost all areas, but mainly
those linked to capitalist industry. Although the themes of female industrial employment, its
instability and low wages had already been addressed in other works by Saffioti
(1978; 2013),
in the 1980s they gained greater centrality in his explanatory framework. In Female workforce:
inside the figures (
Força de trabalho feminina: no interior das cifras
-
1985), Saffioti presents
her theorization on the symbiosis between patria
rchy and capitalism, analyzing the
interconnections between production and reproduction. In this regard, there is a strong influence
3
A critical synthesis of this debate is in Ferguson (2020).
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of the French materialist feminist current on the formulations of Heleieth Saffioti, represented
by authors such as Danièle
Kergoat, Dàniele Combes and Monique Haicault.
According to the feminist sociologist, there is an intersection between reproduction and
production that makes reproduction present in production and production present in
reproduction
–
in other words, class relations cross the family and social relations
of sex also
cross the terrain of capitalist production. Both patriarchy and capitalism would have an
economic, social and cultural dimension, reproducing themselves, however, as a single system.
In this sense, “women in the sphere of reproduction and men
in the sphere of production cannot
be separated, since both are social agents in both domains, reproducing the sexual division of
labor in both spheres” (SAFFIOTI, 1985, p. 103
, our translation
). Women's association with
reproduction would be reflected in
their exploitation both inside and outside the home and
family.
By verifying, concomitantly with the process of expansion of female industrial
employment in Brazil, an intense increase in salary discrimination between men and women
and their concentration
in the lowest positions in the factories, Saffioti associates dependent
capitalism not only with the greater magnitude of the not
-
capitalists sectors and the
precariousness of women's work that is verified in them, but also with the highest degree of
explo
itation experienced by working women (especially poor and non
-
white) in dependent
countries, in relation to women in central countries, in the sector itself economy capitalist.
These, moreover, begin to share their insertion in the productive system with t
heir insertion in
unpaid work at home, accumulating two workdays
–
or else, other salaried women, domestic
servants with even lower wages. On all sides, dependent capitalism would mark the experience
of women's oppression in Brazil.
Given the
patriarchy
-
capitalism symbiosis, however, the goal of profit
maximization is mediated by male supremacy. And it is in this way that,
through the subordination of women to men and the priority allocation of
women to the reproduction apparatus, patriarchy
-
ca
pitalism guarantees,
simultaneously, the reproduction of the working family and exploits the
female workforce to a more intense degree, when needed and in the
proportions needed
[…]
.
As long as the patriarchy
-
capitalism system lasts, men and women will nev
er
be socially equal. As a result, the incorporation of the female workforce will
always have specific characteristics, in which all sorts of discrimination can
be recognized
(
SAFFIOTI, 1985
, p.
138
, our translation
).
The theme of the symbiosis between pa
triarchy and capitalism
–
and, even more so,
between patriarchy, capitalism and racism
–
will be further explored in the book
The Power of
the male
(O Poder do macho
-
1987) and in later works by Heleieth Saffioti.
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Final considerations: the peripheral sy
mbiosis
Saffioti set out to describe and explain the peculiarities of gender oppression in
peripheral countries in most of her work. However, discussions about the unity between
production and reproduction, and about the mutual determination between gende
r and
dependence, began to become increasingly scarce from the 1980s onwards; so that few Latin
American authors elaborated theories in this sense after Saffioti until before the beginning of
the 2000s. This picture has changed recently, with the resurgenc
e of Marxist
-
feminism and the
rescue of the Marxist Theory of Dependency and the work of Saffioti.
Thus, it has been emphasized how categories such as transfer of value, division between
spheres of circulation, sub
-
imperialism, enlargement of relative overpopulation and
–
mainly
–
overexploitation of work helps to explain the distinctive traits of gende
r relations under
dependency, if articulated with a feminist
-
Marxist theoretical framework, with authors such as
Díaz Lozano
and
Féliz (2020), Teixeira
and
Zorgetz (2020), Costa
and
Nogueira (2019),
Bittencourt (2014), Cecenã (1983).
According
Teixeira
and
Zorgetz (2020):
In the [Latin American] continent and in dependent countries in general,
women tend to be domestic reproduction workers and also wage earners or
participate in some labor activity in the public sphere. This distortion has a
direct impact
on the conditions of family reproduction and, therefore, brings
direct costs to the increased exploitation of women in the domestic sphere,
their weight in specific layers of the reserve army, as well as the need to fulfill
double or triple shifts (TEIXEIR
A; ZORGETZ, 2020,
our translation
).
Bittencourt (2014, p. 68
, our translation
) emphasizes how women's work in Latin
America is characterized by “a greater intensity of the productive rhythm, lower remuneration,
occupation in marginalized positions or unde
remployment, double working hours” and female
responsibility for “functions that should be provided by the Welfare State (daycare centers,
education, care, laundries, restaurants)”. These workers, in turn, are mostly black or indigenous.
In this sense, Saf
fioti contributes to the apprehension of the Latin American reality in
its entirety, avoiding the fragmentation between oppressions and capitalist exploitation, instead,
resorting to the contradictory and complex unity between social reproduction and produ
ction.
Saffioti contributes decisively to this by thinking of a symbiosis
–
and then “knot”
–
between
patriarchy, racism and capitalism that manifests itself in a particular way on the periphery of
this single system.
The contributions of the current (Marx
ist) Theory of Social Reproduction (SRT)
continue in this direction, arguing that it is not exactly a question of three or more oppressions
with their own logic of domination and economic exploitation, which co
-
determine and merge.
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Sylvia IASULAITIS e Gustavo GUIMARÃES
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n.
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, e0220
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ISSN:
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-
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DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27i00.15818
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Incorporating critiques
from black, queer, and other feminisms, SRT argues that, in reality, it
is the contradictory relationship between capitalist accumulation and social reproduction that
sediments the foundations of exploitation and all forms of oppression: “From the point of
view
of capital, the social reproduction of the workforce is simultaneously indispensable and an
obstacle to accumulation” (VOGEL, 2013, p. 156
, our translation
). Both unpaid domestic work
at home and the exploitation of the low value of female labor in t
he productive sphere are
moments of this relationship, of the capitalist need to simultaneously produce and erode life.
Feminine oppression in modernity, then, is related to the systemic devaluation of social
reproduction by capital
–
reproduction which, i
n turn, is demarcated as a female responsibility.
Non
-
patriarchal spaces of reproduction, such as families headed by black women or LGBT
people, or female dormitories in factories, are also essential to the logic of capitalist
accumulation, as well as extr
alar female work: the heteronormative family form is predominant
due to its high efficiency in producing an exploitable life in a generational and cheap way. But
sexism, racism, LGBTphobia and class domination are products and (re)producers of the same
mat
erial matrix (FERGUSON, 2020; LEWIS, 2016).
The articulation between Saffioti's thought, MTD and SRT constitutes a powerful
theoretical tool that has still been little explored as a whole. Such a conjunction can reveal, for
example, that the experience of
female workers in dependent capitalism is marked by an
overexploitation of work, which is characterized by an even more deleterious appropriation of
their life fund, since, in addition to receiving a payment of their workforce, which is lower than
their re
al value, like most male Latin American workers, this real value is already lower than
that of men due to its historical and social determinants; and furthermore, their time of rest and
replenishment of energy is constantly used for the work of producing a
nd reproducing their
own workforce to be exploited by dependent and international capital.
In addition to the reproduction of the labor force exploited directly by capital, these
women workers are placed as an obligation or moral duty to reproduce the live
s of large sectors
of the bourgeoisie and petty bourgeoisie itself through domestic employment; and, above all,
the reproduction of a relative overpopulation greater than that in central countries, mostly
composed of women, children, black and indigenous p
eople, and LGBT people
–
groups
systematically eliminated by state and civil violence in our region, in the service of dependent
capitalist accumulation. Overexploitation itself and its intensification
–
which is expressed not
only in less access to indivi
dual consumer goods, but also in the reduction of collective
consumer goods offered by the State
–
, added to the magnitude of the population that is outside
directly capitalist production, determines an extremely precarious social reproduction for
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Peripheral symbiosis:
Gender
and dependency in
H
eleieth
S
affioti’s thinking
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, Araraquara,
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working
people in Latin America and the Caribbean
–
which, as Bhattacharya (2019) points out
–
is capable of producing intense violence against women and other people with whom the
reproduction of life is associated, precisely because the latter are blamed for the
system's
inabilities.
Finally, the issues of division between spheres of circulation and the very high
concentration of income in the subcontinent are manifested in gender “split experiences” among
people who belong to the same gender or sexual identity f
rom the upper classes
–
upper strata
of the petty
-
bourgeoisie and bourgeoisie
–
and these same of the working population; more
intensely than in central countries. The contrast between the bourgeois woman and the non
-
white working women responsible for the
social reproduction of the family in the first way
domestic employment is the most illustrative example.
ACKNOWLEDGEMENTS
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to CNPq, for funding the research, from 09/2020 to 09/2021.
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Submitted
:
17/05/2022
Required revisions
:
24/06/2022
Approved
:
22/07/2022
Published
:
21/12/2022
Processing and publication by the Editora Ibero
-
Americana de Educação.
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