EXPERIÊNCIAS URBANAS SEGREGADAS: LOCAIS DE MORADIA, TRAJETÓRIAS E REDES PESSOAIS DE NEGROS E BRANCOS EM SÃO PAULO - SP


EXPERIENCIAS URBANAS SEGREGADAS: LUGARES DE VIVIENDA, TRAYECTORIAS Y REDES PERSONALES DE NEGROS Y BLANCOS EN SÃO PAULO-SP


SEGREGATED URBAN EXPERIENCES: HOUSING PLACES, TRAJECTORIES AND PERSONAL NETWORKS OF BLACKS AND WHITES IN SÃO PAULO-SP


Danilo FRANÇA1


RESUMO: A partir de uma crítica das formas como a noção de segregação residencial tem sido operacionalizada, propomos uma abordagem que revele em que medida a separação das moradias se associa a diferenciais de integração social e acesso à cidade baseada no mapeamento de trajetos e locais frequentados pelos indivíduos no espaço da cidade e na espacialização de suas redes pessoais de relações. Demostramos que, na medida em que negros e brancos estão residencialmente segregados, são segregadas também suas redes pessoais e locais frequentados. Nossos achados realçam o papel do espaço urbano para a constituição de barreiras à integração de negros nas classes médias. Ademais, argumentamos que as classes médias e altas se organizam como grupos de status cujas fronteiras são fortemente baseadas, não apenas em características raciais, mas também no espaço urbano (habitado e frequentado).


PALAVRAS-CHAVE: Segregação residencial. Raça. Trajetórias. Redes pessoais.


RESUMEN: A partir de una crítica a las formas en que se ha operacionalizado la noción de segregación residencial, proponemos un enfoque que revela hasta qué punto la separación de la vivienda se asocia a diferenciales en la integración social y el acceso a la ciudad a partir del mapeo de caminos y lugares frecuentados por los individuos en el espacio de la ciudad y en la espacialización de sus redes personales de relaciones. Demostramos que, en la medida en que negros y blancos están segregados residencialmente, sus redes personales y lugares frecuentados también están segregados. Nuestros resultados destacan el papel del espacio urbano en la constitución de barreras para la integración de los negros en las clases medias. Además, sostenemos que las clases medias y altas se organizan a sí mismas como grupos de estatus cuyos límites se basan fuertemente, no solo en características raciales, sino también en el espacio urbano (habitado y frecuentado).


PALABRAS CLAVE: Segregación residencial. Raza. Trayectorias. Redes personales.



1 Universidade Federal Fluminense (UFF), Niterói – RJ – Brasil. Professor do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais. Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (AFRO- CEBRAP), Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial. Doutorado em Sociologia (USP). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7274-9465. E-mail: danilosnfranca@gmail.com



ABSTRACT: Based on a critique of the ways in which the notion of residential segregation has been operationalized, we propose an approach that reveals to what extent the separation of residences is associated with differentials in social integration and access to the city based on the mapping of paths and places frequented by individuals in the city space and in the spatialization of their personal networks of relationships. We demonstrate that, to the extent that blacks and whites are residentially segregated, their personal networks and places are also segregated. Our results highlight the role of urban space in constituting barriers to the integration of blacks into the middle classes. Furthermore, we argue that the Middle and upper classes organize themselves as status groups whose boundaries are strongly based, not only on racial characteristics, but also on urban space (inhabited and frequented).


KEYWORDS: Residential segregation. Race. Trajectories. Personal networks.


Introdução


Este texto explora características da segregação por raça em São Paulo-SP, maior metrópole brasileira, através de métodos qualitativos alternativos às formas tradicionais de mensuração do fenômeno. O objetivo é demonstrar a importância da raça e do local de residência para a conformação de práticas e relações espacialmente segmentadas e de distintas experiências urbanas que, por sua vez, devem contribuir para a manutenção de uma estrutura social racializada.


Segregação residencial: definição e formas de abordagem


A segregação diz respeito a processos e circunstâncias nas quais determinados grupos sociais se separam uns dos outros, evitando o convívio e a interação. Tal separação é fundada, em geral, sobre relações de desigualdades, hierarquias e discriminações entre os grupos sociais implicados. Seu objetivo seria evitar contatos, interações e, principalmente, a mistura com grupos subordinados (JOHNSON, 1943; BRUN, 1994; GRAFMEYER, 1994).

Na sociologia, esta problemática mais geral da segregação costuma ser investigada através da segregação residencial, ou seja, a partir da separação das moradias de diferentes grupos sociais. A segregação residencial é alvo da atenção do debate público e acadêmico dos Estados Unidos desde o início do século XX, quando a escola de Chicago de sociologia, interessada nos processos de assimilação de minorias étnico-raciais e imigrantes, fixou a principal premissa de que distâncias físicas correspondem a distâncias sociais (PARK, 1926). Daí advém uma primeira noção de segregação, que diz respeito ao grau em que indivíduos e grupos estão “socialmente” distantes uns dos outros, considerando as distâncias de localização de suas moradias no espaço urbano (MARQUES, 2005). Na segunda metade do século XX,



com a influência do paradigma da economia política, a concentração de pobres e, em especial de determinados grupos étnico-raciais, em espaços residenciais restritos (os guetos) passou a ser pensada, também, através da perspectiva da reprodução da pobreza e das desigualdades de oportunidades (WILSON, 1987). Trata-se aqui de uma segunda concepção, que remete aos diferenciais de acesso a políticas públicas e aos “bens materiais e simbólicos oferecidos pela cidade” (GRAFMEYER, 1994, p. 89). Ambas as perspectivas dão forte ênfase ao espaço residencial e às interações no contexto da vizinhança, entendida como esfera privilegiada para sociabilidade2.

Podemos discernir, então, duas dimensões que definem a importância da segregação residencial enquanto problemática de pesquisa. Uma delas é a dimensão da integração, na qual a distância entre as moradias implicaria em distintas possibilidades de contatos e relações sociais entre membros de diferentes grupos. A outra é a dimensão do acesso, segundo a qual a localização das residências determinaria desigualdades de acesso a recursos e oportunidades disponíveis na cidade.

Porém, na maioria dos estudos, a noção de segregação é operacionalizada a partir de levantamentos quantitativos dos diferenciais de localização das moradias de distintos grupos sociais. A mensuração do fenômeno é pautada pela verificação de em que medida a distribuição de grupos sociais pelas áreas da cidade seria mais ou menos uniforme (MARQUES, 2005; MASSEY; DENTON, 1988; GRAFMEYER, 1994). Em suma, as investigações sobre segregação residencial têm, até hoje, forte vinculação com os pressupostos da Escola de Chicago. Os diferenciais de localização das moradias dos distintos grupos são entendidos como graus de segregação e, daí, são inferidas diferentes possibilidades de integração entre grupos sociais e de acesso à cidade e seus recursos. Deste modo, os estudos têm dado grande ênfase à esfera local (do bairro) e às relações de vizinhança como campo privilegiado de observação da segregação e seus efeitos. O pressuposto aí é o de que haveria maior contato e maior acesso àquilo ou àqueles que estejam fisicamente próximos, no caso, o bairro e os vizinhos.

Tais pressupostos são problemáticos dado que não fornecem explicações sobre como – em quais circunstâncias, para quais grupos ou classes, em quais escalas etc. (SHARKEY; FABER, 2014) – o local de residência ou a posição no espaço da cidade é importante para o acesso, as distâncias sociais e relações raciais. Bonilla-Silva e Baiocchi (2001), por exemplo, apontam que mudanças nos resultados dos indicadores de segregação mascaram os diferentes



2 A ênfase na importância das relações e instituições sociais constituídas no contexto da vizinhança marca as pesquisas sobre os “efeitos de vizinhança”, que ocupam atualmente o mainstream da produção sociológica concernente às consequências da segregação nos Estados Unidos.

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modos de manifestação do fenômeno, e que “contatos interraciais” não necessariamente significam integração substantiva, uma vez que várias formas de racismo são compatíveis com proximidade física. Além disso, já há muito tempo estudos urbanos têm mostrado que a proximidade física não necessariamente implica em acesso, interações ou proximidade social (CHAMBOREDON; LEMAIRE, 1970), trabalhos do campo da análise de redes demonstraram que, de um modo geral, os indivíduos urbanitas formam mais vínculos pessoais na escala da metrópole do que na da vizinhança (WELLMAN, 1979; FISCHER, 1995; MARQUES, 2010), e estudos recentes mostram que a consideração das mobilidades pelo espaço da cidade levaria a significativas modificações no que se entende por segregação (KWAN, 2013; NETTO; PINHEIRO; PASCHOALINO, 2015).

Nesse sentido, para obter um entendimento mais abrangente da segregação, deveríamos estudar tal fenômeno para além dos indicadores quantitativos e para além das relações de vizinhança. Empregaremos, neste sentido, metodologias que incorporem as dimensões de integração e acesso – outrora apenas pressupostas – na própria operacionalização da investigação. Propomos, portanto, uma descrição de práticas espaciais e relações sociais espacialmente localizadas de negros e brancos em classes médias e altas. A premissa é que diferentes grupos de status e frações de classe fariam diferentes usos do espaço urbano de modo que o local de residência seria como um centro de gravidade que ordenaria os trajetos, práticas e relações sociais dos indivíduos (para além das relações de vizinhança). Os territórios, nesse sentido, não se conformariam a fronteiras de áreas específicas da cidade, mas se sobreporiam a elas, uma vez que se trata de “territórios de práticas e de relações” (TELLES, 2006)3.


Segregação por Raça no Brasil e em São Paulo-SP


A produção de análises quantitativas da segregação por raça em cidades brasileiras remonta aos clássicos da sociologia das relações raciais como Pierson (1971 [1942]), Cardoso e Ianni (1960) e Pinto (1998 [1953]). Porém, o estudo da segregação racial não ganhou continuidade neste campo. Somente décadas depois, o tema volta a ganhar destaque a partir do trabalho de Edward Telles (1993, 1995) que – ao calcular indicadores de segregação residencial em 35 áreas urbanas a partir de dados do Censo de 1980 – apresentou evidências de que a


3 “Nos eventos biográficos de indivíduos e suas famílias, há sempre o registro de práticas e redes sociais mobilizadas (ou construídas) nos agenciamentos cotidianos da vida, que passam pelas relações de proximidade, mas não se reduzem ao seu perímetro. Feitos de práticas e conexões que articulam espaços diversos e dimensões variadas da cidade, os territórios não têm fronteiras fixas e desenham diagramas muito diferenciados de relações conforme as regiões da cidade, as situações de vida e os tempos sociais cifrados em seus espaços”. (TELLES, 2006, p. 72).

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segregação racial se expressaria mais fortemente nos estratos sociais mais altos e reintroduziu esta discussão no quadro das relações raciais brasileiras (TELLES, 2012 [2004]).

Posteriormente, realizaram-se pesquisas interessadas na mensuração da segregação residencial por raça em metrópoles como Belo Horizonte-MG (RIOS-NETO, 2005; SILVEIRA, 2014), Salvador-BA (GARCIA, 2006; CARVALHO; BARRETO, 2007), Rio de Janeiro-RJ (GARCIA, 2006; RIBEIRO, 2007; PRÉTECEILLE; CARDOSO, 2008) e São Paulo-SP (TORRES, 2005; PRÉTECEILLE; CARDOSO, 2008; FRANÇA, 2010; 2015; 2017),

bem como análises comparativas como a de França (2021).

Entretanto, a despeito das pesquisas acima mencionadas, importantes pesquisadores das questões urbanas têm menosprezado a segregação por raça no Brasil. Villaça (1998), por exemplo, fez um dos mais abrangentes estudos sobre a estruturação do espaço urbano das metrópoles brasileiras, no qual demonstra a importância da segregação como mecanismo necessário para a viabilização da dominação por parte das elites através do espaço. O autor, no entanto, não atenta para os diferenciais raciais na produção e apropriação do espaço urbano, enfatizando a classe como variável dominante para a explicação da segregação.

A constante alusão à classe como fator preponderante frente à raça conclama por estudos que avaliem a segregação a partir da consideração de ambas as dimensões. Em nossas pesquisas anteriores (FRANÇA, 2015; 2017), a demonstração de que a segregação por raça é existente e específica com relação a segregação por classe social é realizada empiricamente através de uma estratégia na qual verificamos os graus de separação entre negros e brancos pertencentes a uma mesma classe social. Afinal, se não houver segregação racial, o índice de segregação entre negros e brancos em uma mesma classe social deve ser zero.

Com base em dados do Censo de 2010, o índice de dissimilaridade, principal medida de segregação, entre negros e brancos resultava no valor de 0,294. No entanto, visando colocar em evidência o componente racial da segregação, os indicadores foram recalculados segundo grupos de raça e classe social5. Os resultados do índice de dissimilaridade demonstram que, para além da bem documentada segregação entre as classes sociais no espaço urbano, é possível


4 O índice de dissimilaridade (ID) capta o grau em que dois grupos sociais não estão uniformemente [evenly] ou homogeneamente distribuídos no espaço de uma cidade. O índice varia de 0 a 1, onde 1 significa segregação total e 0 significa uniformidade total na distribuição dos grupos. O resultado costuma ser interpretado como indicando a proporção da população que teria que trocar de área para que se obtivesse um padrão residencial uniforme.

5 A população da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) foi classificada, segundo a sugestão de Marques, Barbosa e Prates (2015), em estratos sociais baseados em agrupamentos das categorias ocupacionais EGP (ERIKSON; GOLDTHORPE; PORTOCARERO, 1979; BARBOSA, MARSCHNER, 2013). No estrato superior

estão as categorias de proprietários e empregadores e de profissionais de alto nível; o estrato médio é composto por profissionais de nível baixo, técnicos e supervisores do trabalho manual e trabalhadores não-manuais de rotina de alto nível; o estrato baixo reúne trabalhadores não-manuais de rotina de baixo nível, trabalhadores manuais qualificados, e trabalhadores manuais semi ou não qualificados.

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observar também um componente racial na segregação. Isto se torna mais evidente quando comparamos os indicadores de negros e brancos pertencentes a um mesmo estrato social. O indicador de segregação racial nas classes baixas é de 0,18, subindo sucessivamente para 0,31 nas classes médias e 0,40 nas classes altas.

Os resultados apontaram baixos graus de segregação racial entre pobres e graus mais altos nas classes médias e altas. Além disso, os brancos de classes médias e altas estão mais próximos entre si e distantes de pobres e de negros (de quaisquer classes), conformando um padrão de segregação por raça e classe. Estas evidências divergem da tese de que, no Brasil, a segregação seria apenas por classe social, mas também apresentam um cenário muito diferente das metrópoles norte-americanas, onde a segregação por raça atravessa todas as classes sociais. Tais resultados nos impelem a dedicar especial atenção à segregação nas camadas sociais médias e altas, nas quais sobressaem mais fortemente as diferenças raciais.

Porém, os índices não revelam onde cada um dos grupos se concentra. Exporemos, então, detalhes da segregação através dos LISA Maps (Local Indicator of Spatial Autocorrelation) de negros e brancos que exercem ocupações profissionais (de nível alto e baixo). Os mapas representam a autocorrelação espacial dos grupos que analisamos, ou seja, em que medida os grupos considerados têm grande concentração em conjuntos de áreas vizinhas umas das outras (ANSELIN, 1995)6. As áreas em vermelho denotam alta concentração da variável em questão em áreas vizinhas entre si. As áreas em azul expressam a contiguidade de áreas de baixa concentração desta variável. Áreas em brancos não tiveram resultado estatisticamente significativo.

Há um grande aglomerado de áreas de concentração de profissionais brancos em áreas do centro expandido de São Paulo-SP (no quadrante sudoeste e nas partes das zonas norte e leste mais próximas do centro); e outra menor no ABC paulista (Santo André, São Bernardo, São Caetano) (a sudeste).


6 Os LISA Maps derivam do índice de Moran, medida de autocorrelação espacial que, além da distribuição de grupos por áreas, leva em conta a contiguidade das áreas onde se concentram os diferentes grupos. O índice de Moran foi calculado a partir do quociente locacional de cada um dos seis grupos nas 633 áreas de ponderação da RMSP.

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Figura 1 – Profissionais Brancos


Fonte: LISA Maps (Local Indicator of Spatial Autocorrelation)


Ao contrário dos brancos, o mapa revela diversos conjuntos de espaços com maior concentração de profissionais negros, a maior parte dos quais em áreas periféricas. Dentre eles, destacamos: um agrupamento no centro velho da cidade de São Paulo-SP que se estende ao sul, em direção à Vila Mariana; um grande conjunto de áreas na Zona Leste, em torno de Itaquera; na porção oeste da região metropolitana há um grande aglomerado que se estende desde o Campo Limpo até Barueri, passando por Taboão da Serra e Osasco; na Zona Norte (Tucuruvi e Mandaqui) e na Zona Sul, no entorno do Jabaquara.

Em síntese, as análises quantitativas de dados censitários mostram que, na região metropolitana de São Paulo-SP, é baixa a segregação residencial entre negros e brancos mais pobres, mas na medida em que consideramos as classes médias e altas, a segregação se torna mais significativa. Nota-se, principalmente, o fato de que os brancos de classes médias e superiores residem nas áreas mais privilegiadas da metrópole, estando muito isolados e distantes de todos os outros grupos, até mesmo de negros com posição semelhante na estratificação social.



Figure 2 – Profissionais Negros


Fonte: LISA Maps (Local Indicator of Spatial Autocorrelation)


Métodos


Realizamos entrevistas semiestruturadas que levantaram trajetórias individuais com foco nos lugares da cidade onde se desenrolam as histórias de vida, a identificação dos locais frequentados pelos indivíduos no espaço da metrópole, e a coleta das redes pessoais dos sujeitos entrevistados, com os respectivos locais de moradia dos membros de cada rede. Estes últimos, bem como os locais frequentados, foram mapeados.

Entrevistamos 28 negros e brancos, homens e mulheres, com ocupação classificada nas categorias profissionais7 (de nível alto ou baixo) e que possuam nível superior de ensino, moradores de três diferentes espaços da metrópole: Itaim Bibi, São Miguel Paulista e Tatuapé. A Figura 3 apresenta o mapa com a localização dos distritos pesquisados, destacando,

ainda, o conjunto de “espaços de elite e classe média-alta” (MARQUES, 2015) – que tendem a concordar com a “região geral” das camadas de alta renda (VILLAÇA, 1998) – e serão importante referência para nossas análises. A estas, doravante, nos referiremos simplesmente como “áreas nobres”.


7 Optamos por enfocar apenas as categorias profissionais, deixando de abordar os proprietários e empregadores pelo fato destes últimos conformarem uma categoria muito heterogênea no que tange a nível de ensino e renda auferida.

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Figura 3 – Localização dos Distritos onde foi realizada a Pesquisa Qualitativa no espaço da Região Metropolitana de São Paulo-SP


Fonte: Mapa gerado no decorrer da pesquisa


O Itaim Bibi localiza-se no interior das “áreas nobres”. A região do distrito de São Miguel Paulista foi escolhida por ser uma área periférica com significativa concentração de profissionais negros, por sua distância com relação às principais centralidades da metrópole, mas também por existir lá importante sub-centralidade da Zona Leste, com concentração de comércio, serviços e empregos.

A terceira localidade, o distrito do Tatuapé, adveio dos resultados do próprio trabalho de campo em São Miguel Paulista. Ao serem perguntados sobre quais locais na metrópole os entrevistados desejariam residir caso não tivessem limitações materiais, a resposta preponderante foi “Tatuapé ou algum lugar da Zona Leste que seja perto do metrô”. Isso nos levou a crer que tais áreas sejam prováveis destinos residenciais de famílias em ascensão originárias de espaços mais periféricos da Zona Leste.

Com a pesquisa qualitativa, buscamos descrever de que modo raça e local de moradia implicam em diferentes possibilidades de integração entre distintos grupos e de acesso à cidade. As perguntas fundamentais são: Onde mora? Onde vai? Faz o quê? Com quem? Na entrevista foram abordadas características socioeconômicas gerais e temas como as trajetórias pessoal, familiar, escolar, residencial e ocupacional, características do bairro e relações de vizinhança e



locais frequentados na cidade. Na sequência, é preenchido um formulário gerador de nomes para que a/o entrevistada/o informe os integrantes de sua rede pessoal, alguns atributos deles e os locais onde residem8. Desde o início da entrevista são entregues aos indivíduos entrevistados um conjunto de mapas impressos em preto e branco e canetas coloridas com as quais devem marcar todo tipo de local mencionado (exemplo de preenchimento é fornecido na Figura 4).


Figura 4 – Exemplo de preenchimento de mapa fornecido na entrevista


Fonte: Gerada no decorrer da pesquisa


Pretendemos, assim, revelar circuitos urbanos e os usos do espaço da metrópole, tendo em vista demonstrar maneiras pelas quais a segregação residencial, através do local de moradia, estaria relacionada a diferentes redes de relacionamentos, experiências e trajetórias urbanas de negros e brancos. O mapeamento das redes de relacionamentos e dos locais frequentados permite-nos desprender a segregação dos pressupostos da vizinhança, demonstrando as articulações entre os lugares onde ocorrem as práticas dos sujeitos e as possibilidades de acesso à cidade e de constituição de laços entre indivíduos com atributos sociais e locais de moradia


8 Para instar os entrevistados a listar as pessoas mais próximas adaptamos a bateria de questões de um estudo clássico de redes pessoais (FISCHER 1995). Por exemplo: Quem são seus melhores amigos? Com quem você costuma sair ou visitar? Com quem você conversa quando possui alguma preocupação? Com quem você conta quando precisa de algum favor? etc. A respeito de cada nome mencionado, perguntamos idade, sexo, raça/cor, escolaridade, profissão e esfera de sociabilidade (família, trabalho, etc.).

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similares ou distintos. Visando captar as dimensões de integração, coletamos redes pessoais (com os respectivos locais de residência de cada componente das redes), e visando observar o acesso, levantamos os locais frequentados. Ou seja, buscamos aferir em que medida raça e local de moradia implicam em diferentes possibilidades de integração e acesso à cidade.


Resultados Redes pessoais

A partir da coleta das redes pessoais dos 28 entrevistados, levantamos um total de 362 vínculos, resultando em uma média de 12,9 componentes em cada rede pessoal.9 Deste total, 166, ou 46%, são parentes. A maioria das pessoas próximas citadas por brancos são de fora da família, enquanto para os negros, ao contrário, as redes pessoais são compostas majoritariamente por parentes. Isso pode apontar para a ocorrência de dificuldade de socialização e constituição de laços íntimos fora da família para os negros, bem como pode sugerir que negros dependem mais de solidariedade intrafamiliar. Tais possibilidades requerem, contudo, maiores investigações.

Considerando o contexto de sociabilidade de cada vínculo, apenas 22 pessoas foram classificadas como “vizinho”. Porém, notamos que a maior parcela das relações ocorre no distrito habitado e em seu entorno. Dos componentes das redes, 58% residem no mesmo distrito do entrevistado ou em distritos do entorno. Tal característica é mais acentuada em São Miguel Paulista (68,4%), do que no Tatuapé (52,4%) ou no Itaim Bibi (37,7%). Considerando-se os entrevistados residentes neste último, 74% dos seus vínculos se localizam em “regiões nobres” da metrópole, enquanto em São Miguel apenas 9% dos vínculos residem em “regiões nobres”. Já no Tatuapé, situado nas bordas do principal aglomerado de áreas nobres, 51% dos vínculos moram em “regiões nobres” e 49% não.

Em São Miguel Paulista, quase todos (ou 84%) os vínculos dos entrevistados residem nas redondezas do distrito ou em áreas periféricas da zona leste, havendo poucos moradores de regiões nobres em suas redes. Há diferenças raciais, não muito grandes: os negros com mais contatos em outros distritos da zona leste e município a leste de São Paulo-SP, ao passo que os brancos possuem mais laços em outras partes da cidade de São Paulo-SP e em regiões nobres.


9 Não pretendemos, com tais quantificações, atingir conclusões estatisticamente representativas sobre as características das redes de determinados locais e grupos sociais em geral. A ideia é apresentar os aspectos das redes dos nossos entrevistados de forma sintética.

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Figura 5 – Locais de Moradia dos Membros das Redes Pessoais dos Entrevistados Negros e Brancos de São Miguel Paulista


Fonte: Mapa gerado no decorrer da pesquisa


As diferenças raciais no que tange às residências dos vínculos são bastante expressivas no Tatuapé. Enquanto a maior parcela dos convivas dos negros reside em outros distritos da zona leste ou municípios a leste da capital, a maioria dos contatos dos brancos estão em regiões nobres.



Figura 6 – Locais de Moradia dos Membros das Redes Pessoais dos Entrevistados Negros e Brancos do Tatuapé


Fonte: Mapa gerado no decorrer da pesquisa


No Itaim Bibi (Figura 7), a maior parte das residências dos componentes das redes pessoais (74%) encontra-se em regiões nobres. A maior parte dos vínculos residentes fora das regiões nobres são membros das redes das duas mulheres negras entrevistadas.

Os resultados demonstram que os brancos são muito mais racialmente homofílicos10 do que os negros, que possuem redes racialmente mais misturadas. Convém ressaltar que em São Miguel Paulista, local com expressiva participação de negros na população, os brancos são menos homofílicos e os negros são mais. No Itaim Bibi e no Tatuapé, quase não há negros nas redes dos brancos.

Como abordamos indivíduos de classe média, e estas classes são majoritariamente brancas, é razoável esperar que haja uma maioria de relações com brancos. Ou seja, há uma expectativa de alta homofilia dos brancos e baixa homofilia dos negros que é confirmada pelos dados. No entanto, comparando-se brancos e negros dos mesmos locais, há sempre mais brancos em redes de brancos e mais negros em redes de negros.


10 A homofilia diz respeito à semelhança de atributos entre pares de indivíduos de uma rede. Assim, no caso de uma mulher que possui uma maioria de mulheres em sua rede, dizemos que se trata de uma homofilia de gênero. Ou seja, podemos ter os mais diversos tipos de homofilia de acordo com o atributo considerado. Uma boa revisão sobre o tema pode ser encontrada em Mcpherson, Smith-Lovin e Cook (2001).

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Figura 7 – Locais de Moradia dos Membros das Redes Pessoais dos Entrevistados Negros e Brancos do Itaim Bibi


Fonte: Mapa gerado no decorrer da pesquisa


Locais frequentados


Para os entrevistados de São Miguel Paulista, a maior parte dos locais frequentados localiza-se no próprio distrito e em seu entorno. Há uma quantidade expressiva, porém minoritária de locais situados em regiões nobres como Tatuapé, Liberdade, Lapa, Vila Mariana etc. Os locais de trabalho da maioria dos entrevistados situam-se na zona leste, enquanto os serviços médicos são buscados principalmente em regiões nobres de São Paulo-SP.



Figura 8 – Locais Frequentados pelos Entrevistados Negros e Brancos de São Miguel Paulista


Fonte: Mapa gerado no decorrer da pesquisa


Os brancos têm maior frequência a locais no próprio distrito, enquanto os negros frequentam mais os distritos do entorno e outros locais da zona leste. Nas áreas nobres, os negros frequentam mais lugares situados em distritos da zona sul atendidos pela linha azul do Metrô, ao passo que os lugares frequentados por brancos têm maior concentração em bairros da zona oeste. Há significativa frequência de negros nos distritos que compõem o “centro velho” de São Paulo-SP (Sé e República).

Com relação aos entrevistados do Tatuapé, o Mapa representado na Figura 9 aponta que predominam as menções a locais no próprio distrito, seguidas de alusões a locais em regiões nobres da proximidade, como Mooca ou Jardim Anália Franco. Os moradores do Tatuapé se deslocam muito menos que os de São Miguel Paulista, indo principalmente para regiões nobres. Os negros do Tatuapé se espalham mais, frequentando mais locais situados na porção leste da metrópole.



Figura 9 – Locais Frequentados pelos Entrevistados Negros e Brancos do Tatuapé


Fonte: Mapa gerado no decorrer da pesquisa


Quase todos os locais mencionados pelos entrevistados do Itaim Bibi encontram-se num raio de 9km a partir do bairro e quase todos os entrevistados trabalham no distrito ou entorno.


Figura 10 – Locais Frequentados pelos Entrevistados Negros e Brancos do Itaim Bibi


Fonte: Mapa gerado no decorrer da pesquisa



De um modo geral, os trajetos e relações têm um padrão “meso”, ou seja, orbitam mais ou menos na escala do distrito, ou em torno de determinadas centralidades. Isso dá a entender que diferentes classes ou grupos sociais de uma mesma área tem a maior parte de suas relações e locais de frequência em determinadas “regiões” da metrópole, apontando para a necessidade de pesquisas sobre a convivência de distintos grupos em determinados pedaços do espaço urbano, não na metrópole como um todo.


Tipologia e síntese das entrevistas


Nesta seção, agregamos entrevistados em categorias de acordo com semelhanças em suas redes pessoais, locais frequentados e outros atributos. Apresentaremos um total de oito tipos: quatro de São Miguel Paulista (I, II, III, IV), dois do Tatuapé (V, VI) e mais dois do Itaim Bibi (VII e VIII). A tabela a seguir exibe uma descrição sumária dos oito tipos.

O Tipo I é composto por moradores de São Miguel Paulista que possuem relações com brancos de classe média, muitos vínculos em regiões nobres, e que trabalham e frequentam locais em regiões nobres. Isso não quer dizer que não tenham vínculos ou que não vão a locais de São Miguel ou da zona leste, mas o fato de terem vínculos e frequentarem regiões nobres é o principal traço que os distingue. Neste tipo, foram enquadrados os entrevistados Amadeu, Marcela, Armando. Todos são brancos. Vieram de famílias cujos pais foram profissionais ou proprietários, tendo diversos parentes que concluíram ensino superior (em geração anterior ou na mesma). Trata-se de uma classe média mais antiga de São Miguel Paulista. Todos demonstrando, inclusive, forte vínculo sentimental com a região. Nas trajetórias ocupacionais, é marcante o fato de terem trabalhado em diversos lugares da cidade de São Paulo, para além da zona leste. Sendo que, destes locais, alguns localizam-se em regiões nobres.

A principal característica do Tipo II é a forte vinculação destes indivíduos com a região de São Miguel Paulista, suas redes pessoais se concentram no distrito e nas imediações, assim como os locais frequentados. Em suas trajetórias ocupacionais, predominam empregos localizados na zona leste. Além disso, estes foram os entrevistados cujas descrições do bairro deram mais ênfase a aspectos positivos, demonstrando ser este um local onde se sentem muito confortáveis. Destacam o comércio de São Miguel Paulista e o fato do bairro proporcionar fácil acesso a diversas outras áreas da metrópole (através do trem, linhas de ônibus e vias expressas da região), sendo um importante ponto de referência da zona leste. Os entrevistados deste grupo, aliás, são os que mais se locomovem de transporte público.



Quadro 1 – Síntese da tipologia de redes de pessoas e locais


São Miguel Paulista

Tipo

Entrevistados

Relações

Locais

I

Amadeu, Marcela, Armando (Brancos)

Relações com brancos de classe média

Locais em regiões nobres

II

Lucas (negro), Regina,

Luana e Glauco (brancos)

Relações e locais em São Miguel Paulista

III

Jessé, Santiago, Lívia (negros)

Relações com negros de São Miguel Paulista e zona leste

Locais em São Miguel Paulista e zona leste

IV

Joaquim, Rebeca, Rita (negros)

Relações com pobres (família) e classe média da zona leste (não-família)

Locais na zona leste e regiões nobres

Tatuapé

Tipo

Entrevistados

Relações

Locais

V

Miriam, Fernanda, Alan e Diogo (brancos)

Relações com brancos de classe média na região do Tatuapé e áreas nobres

Locais na região do Tatuapé

VI

Milena, Sabrina, Nei e Orlando (negros)

Relações na região do Tatuapé e zona leste

Locais na região do Tatuapé e em outras partes de São Paulo (nobres ou não)

Itaim Bibi

Tipo

Entrevistados

Relações

Locais

VII

Olavo, Eliana e Elvira (brancos)

Relações com brancos de classe média no Itaim Bibi e regiões nobres

Locais no Itaim Bibi e regiões nobres

VIII

Valter (branco), Izilda, Ivana, Josué* (negros)

Relações com pobres da zona leste (família) e brancos de classe média de regiões nobres (não-família)

Locais do quadrante sudoeste (nobres ou não)

Fonte: Gerado no decorrer da pesquisa


Neste tipo, enquadram-se os entrevistados Lucas, Regina, Luana e Glauco. São duas mulheres brancas e dois homens, um negro e outro branco. Predominam laços com indivíduos mais pobres, negros e brancos.

O Tipo III é composto por negros cujas redes de relações pessoais são constituídas predominantemente por outros negros (forte homofilia racial), residentes de São Miguel Paulista e de outras áreas periféricas da zona leste (ou municípios na parte leste da metrópole). Seus locais de frequência restringem-se, também, a estas áreas. Tratam-se dos entrevistados Jessé, Santiago, Lívia. São os únicos entrevistados cujas famílias de origem não possuíam imóveis em São Miguel. Na verdade, a aquisição de um imóvel no distrito é parte de um processo maior de estabilização socioeconômica e residencial destes indivíduos. Todos dizem que não gostariam de morar em São Miguel o resto da vida.

O Tipo IV, no qual se enquadram três entrevistados negros (Joaquim, Rebeca, Rita) se caracteriza por uma clivagem significativa nas características de familiares e não-familiares nas suas redes pessoais. Do conjunto de indivíduos citados como mais próximos, os parentes são de classe baixa, ao passo que os vínculos fora da família são indivíduos de classe média. Isto



deve ser reflexo de uma trajetória de ascensão social. A maior parte dos componentes das redes (família ou não) reside na zona leste, mas os entrevistados também têm significativa frequência a locais em regiões nobres da cidade. Em suma, são negros que, apesar de virem de famílias pobres, têm grande sociabilidade entre pessoas de classe média, mas restringem-se à zona leste em suas relações. A maior parte de suas trajetórias ocupacionais deu-se em empregos localizados na zona leste de São Paulo-SP. Se locomovem prioritariamente de automóvel. Ressaltam o comércio como aspecto positivo de São Miguel Paulista e, como pontos negativos, todos mencionaram a violência por parte “da polícia e dos bandidos”. Eles têm relações com vizinhos, mas, destacam que as discordâncias de opinião e posicionamentos políticos é um fator importante em suas diferenças com os moradores da vizinhança. Os entrevistados, manifestando opiniões políticas de esquerda, queixam-se da dificuldade de diálogo com os vizinhos.

O Tatuapé, localizado no limite das áreas nobres, e sendo o local pesquisado com maiores desigualdades raciais de renda (no geral e na classe média), apresenta, também, importante segmentação racial no que diz respeito às redes de pessoas e locais. Os brancos estão voltados para as áreas nobres mais centrais, enquanto os negros estão voltados para o leste mais periférico, isto se reflete nos dois tipos construídos.

O Tipo V é composto pelos entrevistados brancos do Tatuapé (Miriam, Fernanda, Alan e Diogo). Possuem relações com brancos de classe média, principalmente nas cercanias do Tatuapé e em áreas nobres de São Paulo-SP. Os locais de trabalho e outros lugares frequentados situam-se no próprio distrito e em seu entorno. Dois dos entrevistados deste grupo foram criados no próprio Tatuapé e reclamam que o bairro atingiu seu limite de construções e crescimento. No entanto, todos demonstram gostar muito do local, não gostariam de mudar e, se o fizessem, iriam para áreas próximas como Mooca ou Jardim Anália Franco.

Enquadram-se no Tipo VI os entrevistados negros do Tatuapé (Milena, Sabrina, Nei e Orlando). Possuem relações próximas com pessoas do Tatuapé e de áreas mais periféricas da zona leste. Trabalham em locais mais distantes da cidade de São Paulo-SP (como Socorro e Vila Mariana), utilizando sempre transporte coletivo para se deslocar ao trabalho. Com exceção do trabalho, os locais de frequência se concentram principalmente no Tatuapé e entorno, mas também há acesso a regiões nobres, principalmente por parte daqueles que se transitam por estas regiões por razões profissionais ou no caminho para o trabalho.

Três dos integrantes deste grupo (Milena, Sabrina e Nei) são originários de locais mais periféricos da zona leste ou de municípios a leste da metrópole (Ferraz de Vasconcelos, Vila

Matilde, São Miguel Paulista). Mudaram-se para o Tatuapé, em parte, para facilitar o acesso ao

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trabalho. Cursaram ensino superior anos depois da faixa etária considerada “ideal”. Já Orlando é originário de uma família de classe média do próprio Tatuapé. Chama atenção, neste caso, o fato de que suas relações fora da família são com pessoas de classe social mais baixa moradoras de áreas mais à leste (Vila Matilde e Artur Alvim).

No Itaim Bibi, a ausência de dois homens negros entre os entrevistados prejudicou a constituição de tipos segmentados por diferenças raciais. A principal clivagem que distingue os dois tipos do Itaim Bibi é a origem. Os indivíduos do Tipo VII são originários de famílias bem estabelecidas na classe média, oriundos de bairros nobres, como Granja Viana, Pinheiros e do próprio Itaim. Os indivíduos do Tipo VIII são originários da zona leste de São Paulo, de famílias pobres ou de classe média recente.

O Tipo VII é composto pelos entrevistados Olavo, Eliana e Elvira. Todos brancos. Suas redes de relações e locais de frequência se localizam no próprio Itaim Bibi e em áreas nobres do quadrante sudoeste. Relacionam-se com brancos de classe média residentes destas mesmas áreas. São originários de famílias de classe média bem estabelecidas e estudaram em escolas particulares.

O Tipo VIII também é marcado por uma segmentação entre parentes e não-parentes (como o Tipo IV). Possuem laços com familiares da zona leste de classe mais baixa e laços não- familiares com indivíduos brancos de classe média moradores de regiões nobres. Frequentam locais do quadrante sudoeste, nobres ou não. A principal diferença com relação ao Tipo IV é o fato de cultivarem relações próximas com moradores de áreas nobres.

Originários de famílias pobres ou de classe média recente, estudaram em escolas públicas e trabalharam nos mais diversos locais da cidade de São Paulo-SP. Os imóveis onde residem foram adquiridos através de financiamento. Têm poucas relações com os vizinhos, que consideram “desconfiados” e “de nariz empinado”, mas apreciam viver num bairro considerado “de classe boa”. Fazem severas críticas aos seus locais de origem, na zona leste, principalmente quanto à distância das centralidades, ao “nível cultural” inferior das pessoas que lá residem e por se verem estigmatizados quando moravam lá.

Enquadram-se neste grupo os entrevistados Valter (branco), Izilda e Ivana (negras) do Itaim Bibi, mas também o entrevistado Josué, de São Miguel Paulista. Este último, na verdade, morou durante um bom tempo no distrito da Consolação e em outras regiões nobres, retornando a São Miguel Paulista porque os pais, muito velhos, necessitavam de cuidados especiais.



Discussão


De um modo geral, as análises confirmam a hipótese da importância do local de residência, mas sem passar pela vizinhança. Ou seja, mantêm-se o pressuposto da escola de Chicago de que as distâncias físicas são importante fator para as relações sociais, mas não se ratifica a ideia de que existiria grande relevância nas interações face-a-face entre vizinhos. A análise das redes pessoais aponta o espaço como fator de homofilia. A maioria dos componentes das redes dos entrevistados reside no próprio distrito ou nas imediações do distrito do entrevistado, o mesmo é válido para os locais frequentados. Isso quer dizer que, não obstante possuírem automóvel e recursos materiais que favoreceriam a locomoção, seus trajetos cotidianos têm localização relativamente próxima à residência. Não se restringem ao bairro, ao entorno imediato da moradia, mas sim a áreas mais amplas nas cercanias deste. Ou seja, em se tratando de acesso e frequência a diferentes lugares, a localização da residência tem significativa importância. Poderíamos, portanto, falar de uma “segregação em uma média escala”.

A avaliação da homofilia racial nas redes pessoais indicou uma tendência de segmentação racial nos relacionamentos dos indivíduos. Os tipos construídos na seção anterior ratificam esta tendência, evidenciando as diferenças raciais nas redes de pessoas e nos locais frequentados. Nos casos analisados por esta pesquisa, os brancos de classe média possuem círculos de relações mais homogeneamente brancos, exibindo uma característica de fechamento social. Além disso, considerando-se tanto as redes como os locais frequentados, notamos que os brancos estão mais voltados para as áreas nobres do que os negros. Este achado deve ser melhor averiguado em pesquisas de maior escopo, uma vez que nosso levantamento qualitativo não cumpre requisitos de representatividade estatística.

Considerando que segregação pode ser concebida como o oposto da integração e do acesso, os tipos mais segregados seriam aqueles cujas redes fossem constituídas por indivíduos muito semelhantes ao ego e os locais fossem restritos às cercanias da residência. São compatíveis com essa descrição os tipos III (relações com negros de São Miguel e zona leste, frequência a locais situados nestas regiões), V (relações com brancos de classe média do Tatuapé, frequência a locais deste distrito e áreas nobres) e VII (relações com brancos de classe média do Itaim Bibi, frequência a locais deste distrito e áreas nobres). Todavia, dizer que tais tipos são parecidos em termos de segregação esconde importantes diferenciações no que diz respeito a oportunidades: ter redes e locais restritos a São Miguel deve implicar maiores



limitações e desvantagens do que no Tatuapé ou Itaim Bibi. Na verdade, o Tipo III, em contraposição com os Tipos V e VII representam polos opostos.

Os negros do Tipo III não apenas estão restritos a circuitos periféricos, distantes das localizações de maior valorização material e simbólica e das centralidades mais bem providas de políticas públicas, como também possuem as redes mais homogêneas de todos os entrevistados, o que pode acarretar desvantagens no que tange a informações, oportunidades e perspectivas que tendem a circular mais através de laços sociais heterogêneos.

Os Tipos V e VII revelam similaridades entre os brancos do Tatuapé e do Itaim Bibi: ambos os grupos cultivam relações sociais predominantemente com outros brancos de classe média, frequentando locais em seus próprios bairros e em outras áreas nobres da metrópole. Estes manifestam as maiores possibilidades de apropriação das localizações mais valiosas da metrópole, têm fácil deslocamento (com menor tempo) para as principais centralidades e convivem com pessoas que desfrutam destas mesmas condições de fruição do urbano, compartilhando práticas e estilos de vida.


Conclusão


A consequência mais geral dos achados acima apontados é que, dado que a análise de dados quantitativos demonstrou as segmentações espaciais na localização das residências de brancos e negros, e a pesquisa qualitativa apontou que o lugar da residência limita circuitos de trajetos e de relações sociais, daí decorrem segmentações espaciais nos circuitos e relações de negros e brancos. Em outras palavras, as longas distâncias físicas entre as residências de negros e brancos de classe média na RMSP se refletem em significativas diferenças nas redes pessoais e nos locais frequentados pelos indivíduos entrevistados.

As redes pessoais mais brancas e a maior frequência a áreas nobres, combinadas com as concentrações residenciais reveladas nas análises quantitativas, apresentam um quadro de reforçadas evidências do isolamento – espacial, social, racial e de trajetos – por parte dos brancos de classe média e alta de São Paulo-SP. Brancos de classe média habitam espaços preponderantemente brancos e de classe média, relacionam-se com brancos de classe média e circulam por áreas nobres onde predominam brancos de classe média. Ou seja, na medida em que negros e brancos estão residencialmente segregados, são segregadas também suas redes pessoais e locais frequentados. Demostrou-se, portanto, que os negros são mantidos à distância, fisica e socialmente, mesmo quando pertencem a uma mesma classe social que a dos brancos.



Além disso, diante da evidência de que a apropriação e o uso do espaço urbano é racialmente diferenciada, é importante notar que as áreas onde identificamos as principais concentrações (de residências, de trajetos e de redes) de brancos de classes médias e superiores têm grande correspondência com a “região geral” delimitada por Villaça (1998) e por ele denominada de Área de Grande Concentração das Camadas de Alta Renda, onde se localizam não apenas as residências, mas também todas as práticas cotidianas dessas camadas. Entretanto, algo que Villaça (1998) não leva em consideração é que estes espaços da cidade concentram referenciais identitários que mediam o reconhecimento mútuo de membros de um grupo que não se caracteriza apenas por sua posição na hierarquia de classes, mas caracteriza-se também por sua cor branca. Ou seja, a apropriação das localizações mais valorizadas do espaço urbano é excludente não somente dos pobres. Exclui os negros, mesmo que não sejam pobres.

Esta pesquisa levantou reforçadas evidências de coesão social por parte dos brancos de classe média e de limitações às possibilidades de os negros compartilharem espaços e círculos sociais com os brancos de classe média. Tais diferenças nas localizações residenciais, bem como a segregação nas redes e trajetos, são indícios dos limites para a inserção dos negros nas classes médias e altas. Diversos intérpretes têm apontado que as desigualdades raciais no Brasil exibem uma clivagem entre “classes altas brancas” e “classes pobres multirraciais”, nas palavras de Edward Telles (2012 [2004]) ou, em termos weberianos mais clássicos, entre os estamentos (ou grupos de status) “brancos-ricos” e “pretos-pobres”, segundo Thales de Azevedo (1966 [1956]). Portanto, uma vez que a honra estamental sempre se baseia em distância e exclusividade, os diferenciais de localização observados nos dados sobre a segregação exibem a clivagem entre grupos definidos pela sobreposição entre classe, raça e espaço. Tal perspectiva dá à segregação no espaço urbano importância muito significativa para a constituição de barreiras que estruturam as relações raciais no Brasil. Além disso, aponta para a necessidade de mais pesquisas sobre segregação por raça nas cidades brasileiras, haja vista as grandes diferenças regionais.


AGRADECIMENTOS: Agradeço aos organizadores e pareceristas do dossiê. Esta pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política.



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Como referenciar este artigo


FRANÇA, D. Experiências urbanas segregadas: Locais de moradia, trajetórias e redes pessoais de negros e brancos em São Paulo - SP. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022003, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp1.15820


Submetido em: 16/01/2022

Revisões requeridas em: 15/02/2022 Aprovado em: 30/03/2022 Publicado em: 25/04/2022



SEGREGATED URBAN EXPERIENCES: HOUSING PLACES, TRAJECTORIES AND PERSONAL NETWORKS OF BLACKS AND WHITES IN SÃO PAULO-SP


EXPERIÊNCIAS URBANAS SEGREGADAS: LOCAIS DE MORADIA, TRAJETÓRIAS E REDES PESSOAIS DE NEGROS E BRANCOS EM SÃO PAULO - SP


EXPERIENCIAS URBANAS SEGREGADAS: LUGARES DE VIVIENDA, TRAYECTORIAS Y REDES PERSONALES DE NEGROS Y BLANCOS EN SÃO PAULO-SP


Danilo FRANÇA1


ABSTRACT: Based on a critique of the ways in which the notion of residential segregation has been operationalized, we propose an approach that reveals to what extent the separation of residences is associated with differentials in social integration and access to the city based on the mapping of paths and places frequented by individuals in the city space and in the spatialization of their personal networks of relationships. We demonstrate that, to the extent that blacks and whites are residentially segregated, their personal networks and places are also segregated. Our results highlight the role of urban space in constituting barriers to the integration of blacks into the middle classes. Furthermore, we argue that the Middle and upper classes organize themselves as status groups whose boundaries are strongly based, not only on racial characteristics, but also on urban space (inhabited and frequented).


KEYWORDS: Residential segregation. Race. Trajectories. Personal networks.


RESUMO: A partir de uma crítica das formas como a noção de segregação residencial tem sido operacionalizada, propomos uma abordagem que revele em que medida a separação das moradias se associa a diferenciais de integração social e acesso à cidade baseada no mapeamento de trajetos e locais frequentados pelos indivíduos no espaço da cidade e na espacialização de suas redes pessoais de relações. Demostramos que, na medida em que negros e brancos estão residencialmente segregados, são segregadas também suas redes pessoais e locais frequentados. Nossos achados realçam o papel do espaço urbano para a constituição de barreiras à integração de negros nas classes médias. Ademais, argumentamos que as classes médias e altas se organizam como grupos de status cujas fronteiras são fortemente baseadas, não apenas em características raciais, mas também no espaço urbano (habitado e frequentado).


PALAVRAS-CHAVE: Segregação residencial. Raça. Trajetórias. Redes pessoais.



1 AFRO-CEBRAP – Brazilian Center for Analysis and Planning. Center for Research and Formation in Race, Gender and Racial Justice. São Paulo – SP – Brazil. UFF – Fluminense Federal University. Department of Sociology and Methodology of Social Sciences. Niterói – RJ – Brazil. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7274- 9465. E-mail: danilosnfranca@gmail.com.

Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022003, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718



RESUMEN: A partir de una crítica a las formas en que se ha operacionalizado la noción de segregación residencial, proponemos un enfoque que revela hasta qué punto la separación de la vivienda se asocia a diferenciales en la integración social y el acceso a la ciudad a partir del mapeo de caminos y lugares frecuentados por los individuos en el espacio de la ciudad y en la espacialización de sus redes personales de relaciones. Demostramos que, en la medida en que negros y blancos están segregados residencialmente, sus redes personales y lugares frecuentados también están segregados. Nuestros resultados destacan el papel del espacio urbano en la constitución de barreras para la integración de los negros en las clases medias. Además, sostenemos que las clases medias y altas se organizan a sí mismas como grupos de estatus cuyos límites se basan fuertemente, no solo en características raciales, sino también en el espacio urbano (habitado y frecuentado).


PALABRAS CLAVE: Segregación residencial. Raza. Trayectorias. Redes personales.


Introduction


This text explores characteristics of segregation by race in São Paulo-SP, the largest Brazilian metropolis, through qualitative methods that are alternative to traditional ways of measuring the phenomenon. The objective is to demonstrate the importance of race and place of residence for the conformation of spatially segmented practices and relationships and of distinct urban experiences that, in turn, should contribute to the maintenance of a racialized social structure.


Residential segregation: definition and approaches


Segregation concerns the processes and circumstances in which certain social groups separate from each other, avoiding conviviality and interaction. Such separation is based, in general, on relations of inequalities, hierarchies and discrimination between the social groups involved. Its objective would be to avoid contacts, interactions and, mainly, mixing with subordinate groups (JOHNSON, 1943; BRUN, 1994; GRAFMEYER, 1994).

In sociology, this more general issue of segregation is usually investigated through residential segregation, that is, from the separation of dwellings from different social groups. Residential segregation has been the focus of public and academic debate in the United States since the beginning of the 20th century, when the Chicago school of sociology, interested in the assimilation processes of ethnic-racial and immigrant minorities, established the main premise that distances physical distances correspond to social distances (PARK, 1926). This gives rise to a first notion of segregation, which concerns the degree to which individuals and groups are “socially” distant from each other, considering the distances in which their homes are located

Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022003, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718



in the urban space (MARQUES, 2005). In the second half of the 20th century, with the influence of the political economy paradigm, the concentration of the poor and, in particular of certain ethnic-racial groups, in restricted residential spaces (the ghettos) came to be thought also through the perspective of reproduction of poverty and inequalities of opportunity (WILSON, 1987). This is a second conception, which refers to the differentials of access to public policies and the “material and symbolic goods offered by the city” (GRAFMEYER, 1994, p. 89). Both perspectives strongly emphasize the residential space and interactions in the context of the neighborhood, understood as a privileged sphere for sociability2.

We can thus discern two dimensions that define the importance of residential segregation as a research problem. One of them is the dimension of integration, in which the distance between houses would imply different possibilities of contacts and social relations between members of different groups. The other is the dimension of access, according to which the location of residences would determine inequalities in access to resources and opportunities available in the city.

However, in most studies, the notion of segregation is operationalized from quantitative surveys of the differentials in the location of housing for different social groups. The measurement of the phenomenon is guided by the verification of the extent to which the distribution of social groups by areas of the city would be more or less uniform (MARQUES, 2005; MASSEY; DENTON, 1988; GRAFMEYER, 1994). In short, investigations on residential segregation are, to date, strongly linked to the assumptions of the Chicago School. Different groups' housing location differentials are understood as degrees of segregation and, from there, different possibilities of integration between social groups and access to the city and its resources are inferred. Thus, studies have given great emphasis to the local sphere and neighborhood relations as a privileged field of observation of segregation and its effects. The assumption there is that there would be greater contact and greater access to that or to those who are physically close, in this case, the neighborhood and neighbors.

Such assumptions are problematic as they do not provide explanations of how – under what circumstances, for which groups or classes, at what scales, etc. (SHARKEY; FABER, 2014) – the place of residence or position in the city space is important for access, social distances and racial relations. Bonilla-Silva and Baiocchi (2001), for example, point out that changes in the results of segregation indicators mask the different modes of manifestation of



2 A ênfase na importância das relações e instituições sociais constituídas no contexto da vizinhança marca as pesquisas sobre os “efeitos de vizinhança”, que ocupam atualmente o mainstream da produção sociológica concernente às consequências da segregação nos Estados Unidos.

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the phenomenon, and that “interracial contacts” do not necessarily mean substantive integration, since various forms of racism are compatible with physical proximity. In addition, urban studies have long shown that physical proximity does not necessarily imply access, interactions or social proximity (CHAMBOREDON; LEMAIRE, 1970), works in the field of network analysis have shown that, in general, urban individuals form more personal bonds at the metropolis scale than at the neighborhood scale (WELLMAN, 1979; FISCHER, 1995; MARQUES, 2010), and recent studies show that the consideration of mobilities through the city space would lead to significant changes in what is meant by segregation (KWAN, 2013; NETTO; PINHEIRO; PASCHOALINO, 2015).

In this sense, to obtain a more comprehensive understanding of segregation, we should study this phenomenon beyond quantitative indicators and beyond neighborhood relations. In this sense, we will employ methodologies that incorporate the dimensions of integration and access – once only presupposed – in the very operationalization of the investigation. We therefore propose a description of spatial practices and spatially located social relations of blacks and whites in the middle and upper classes. The premise is that different status groups and class fractions would make different uses of urban space so that the place of residence would be like a center of gravity that would order the paths, practices and social relations of individuals (in addition to neighborhood relations). Territories, in this sense, would not conform to the borders of specific areas of the city, but would overlap them, since they are “territories of practices and relationships” (TELLES, 2006)3.


Segregation by Race in Brazil and in São Paulo-SP


The production of quantitative analyzes of racial segregation in Brazilian cities dates back to the classics of the sociology of race relations such as Pierson (1971 [1942]), Cardoso and Ianni (1960) and Pinto (1998 [1953]). However, the study of racial segregation has not gained continuity in this field. It was only decades later that the topic gained prominence again from the work of Edward Telles (1993; 1995) who – when calculating indicators of residential segregation in 35 urban areas based on data from the 1980 Census – presented evidence that



3 “Nos eventos biográficos de indivíduos e suas famílias, há sempre o registro de práticas e redes sociais mobilizadas (ou construídas) nos agenciamentos cotidianos da vida, que passam pelas relações de proximidade, mas não se reduzem ao seu perímetro. Feitos de práticas e conexões que articulam espaços diversos e dimensões variadas da cidade, os territórios não têm fronteiras fixas e desenham diagramas muito diferenciados de relações conforme as regiões da cidade, as situações de vida e os tempos sociais cifrados em seus espaços”. (TELLES, 2006, p. 72).

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racial segregation expressed itself strongly in the higher social strata and reintroduced this discussion in the context of Brazilian race relations (TELLES, 2012 [2004]).

Subsequently, researches were carried out interested in the measurement of residential segregation by race in metropolises such as Belo Horizonte-MG (RIOS-NETO, 2005; SILVEIRA, 2014), Salvador-BA (GARCIA, 2006; CARVALHO; BARRETO, 2007), Rio de Janeiro-RJ (GARCIA, 2006; RIBEIRO, 2007; PRÉTECEILLE; CARDOSO, 2008) and São Paulo-SP (TORRES, 2005; PRÉTECEILLE; CARDOSO, 2008; FRANÇA, 2010; 2015; 2017),

as well as comparative analyzes such as that of França (2021).

However, despite the research mentioned above, important researchers of urban issues have underestimated racial segregation in Brazil. Villaça (1998), for example, carried out one of the most comprehensive studies on the structuring of urban space in Brazilian metropolises, in which he demonstrates the importance of segregation as a necessary mechanism for the viability of domination by the elites through space. The author, however, does not pay attention to racial differences in the production and appropriation of urban space, emphasizing class as the dominant variable to explain segregation.

The constant allusion to class as a preponderant factor in relation to race calls for studies that evaluate segregation from the consideration of both dimensions. In our previous research (FRANÇA, 2015; 2017), the demonstration that segregation by race is existent and specific in relation to segregation by social class is empirically carried out through a strategy in which we verify the degrees of separation between blacks and whites belonging to the same social class. After all, if there is no racial segregation, the segregation index between blacks and whites in the same social class must be zero.

Based on data from the 2010 Census, the dissimilarity index, the main measure of segregation, between blacks and whites resulted in a value of 0.294. However, to highlight the racial component of segregation, the indicators were recalculated according to race and social class groups5. The results of the dissimilarity index demonstrate that, in addition to the well- documented segregation between social classes in urban space, it is also possible to observe a


4 The dissimilarity index (DI) captures the degree to which two social groups are not evenly or homogeneously distributed within a city. The index varies from 0 to 1, where 1 means total segregation and 0 means total uniformity in the distribution of groups. The result is usually interpreted as indicating the proportion of the population that would have to change area in order to obtain a uniform residential pattern.

5 The population of the Metropolitan Region of São Paulo (RMSP) was classified, as suggested by Marques, Barbosa and Prates (2015), into social strata based on groupings of EGP occupational categories (ERIKSON; GOLDTHORPE; PORTOCARERO, 1979; BARBOSA; MARSCHNER, 2013). In the upper stratum are the categories of owners and employers and high-level professionals; the middle stratum is composed of low-level professionals, technicians and supervisors of manual work and high-level routine non-manual workers; the lower stratum comprises low-level routine non-manual workers, skilled manual workers, and semi-skilled or unskilled manual workers.

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racial component in segregation. This becomes more evident when we compare the indicators of blacks and whites belonging to the same social stratum. The indicator of racial segregation in the lower classes is 0.18, rising to 0.31 in the middle classes and 0.40 in the upper classes.

The results showed low degrees of racial segregation among the poor and higher degrees in the middle and upper classes. In addition, middle and upper class whites are closer to each other and farther from the poor and blacks (of any class), conforming to a pattern of segregation by race and class. This evidence diverges from the thesis that, in Brazil, segregation would only be by social class, but they also present a very different scenario from North American metropolises, where segregation by race crosses all social classes. Such results impel us to devote special attention to segregation in the middle and upper social strata, in which racial differences stand out strongly.

However, the indices do not reveal where each of the groups is concentrated. We will then expose details of segregation through LISA Maps (Local Indicator of Spatial Autocorrelation) of blacks and whites in professional occupations (high and low level). The maps represent the spatial autocorrelation of the groups we analyzed, that is, the extent to which the groups considered are highly concentrated in sets of neighboring areas (ANSELIN, 1995)

6. The areas in red denote a high concentration of the variable in question in neighboring areas. The areas in blue express the contiguity of areas of low concentration of this variable. Areas in whites did not have a statistically significant result.

There is a large cluster of areas of concentration of white professionals in areas of the expanded center of São Paulo-SP (in the southwest quadrant and in the parts of the north and east areas closer to the center); and a smaller one in the ABC region of São Paulo (Santo André, São Bernardo, São Caetano) (to the southeast).


6 The LISA Maps derive from the Moran index, a measure of spatial autocorrelation that, in addition to the distribution of groups by area, considers the contiguity of the areas where the different groups are concentrated. The Moran index was calculated from the locational quotient of each of the six groups in the 633 weighting areas of the RMSP.

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High concentration areas Low concentration areas Subway stations (in 2010) CPTM stations (in 2017)

Figure 1 – White Professionals


Source: LISA Maps (Local Indicator of Spatial Autocorrelation)


Unlike whites, the map reveals several sets of spaces with a greater concentration of black professionals, most of whom are in peripheral areas. Among them, we highlight: a grouping in the old center of the city of São Paulo-SP that extends to the south, towards Vila Mariana; a large set of areas in the East Zone, around Itaquera; in the western portion of the metropolitan region there is a large agglomeration that extends from Campo Limpo to Barueri, passing through Taboão da Serra and Osasco; in the North Zone (Tucuruvi and Mandaqui) and in the South Zone, around Jabaquara.

In summary, quantitative analyzes of census data show that, in the metropolitan region of São Paulo-SP, residential segregation between poorer blacks and whites is low, but as we consider the middle and upper classes, segregation becomes more significant. It is particularly noticeable that whites from the middle and upper classes live in the most privileged areas of the metropolis, being very isolated and distant from all other groups, even from blacks with a similar position in social stratification.



High concentration areas Low concentration areas Subway stations (in 2010) CPTM stations (in 2017)

Figure 2 – Black Professionals


Source: LISA Maps (Local Indicator of Spatial Autocorrelation)


Methods


We carried out semi-structured interviews that surveyed individual trajectories focusing on the places in the city where life stories unfold, the identification of places frequented by individuals in the metropolis space, and the collection of the personal networks of the interviewed subjects, with their respective places of residence of the members of each network. The latter, as well as the frequented places, were mapped.

We interviewed 28 blacks and whites, men and women, with occupation classified in the professional categorie7s (high or low level) and who have a higher education level, living in three different areas of the metropolis: Itaim Bibi, São Miguel Paulista and Tatuapé.

Figure 3 presents the map with the location of the surveyed districts, also highlighting the set of “elite and upper-middle-class spaces” (MARQUES, 2015) – which tend to agree with the “general region” of the high income strata (VILLAÇA, 1998) – and will be an important reference for our analyses. We will henceforth refer to these simply as “noble areas”.


7 We chose to focus only on professional categories, failing to address owners and employers because the latter form a very heterogeneous category in terms of education and income..

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High value areas

Places of the qualitative research Subway stations (in 2010) CPTM stations (in 2017)

Figure 3 – Location of the Districts where the Qualitative Research was carried out in the space of the Metropolitan Region of São Paulo-SP


Source: Map generated during the research


Itaim Bibi is located within the “noble areas”. The region of the São Miguel Paulista district was chosen because it is a peripheral area with a significant concentration of black professionals, for its distance from the main centralities of the metropolis, but also because there is an important sub-centrality of the East Zone, with a concentration of commerce, services and jobs.

The third location, the district of Tatuapé, came from the results of the fieldwork in São Miguel Paulista. When asked about which places in the metropolis the interviewees would want to live if they did not have material limitations, the preponderant answer was “Tatuapé or somewhere in the East Zone that is close to the subway”. This led us to believe that these areas are likely to be residential destinations for families on the rise from the more peripheral areas of the East Zone.

With qualitative research, we seek to describe how race and place of residence imply different possibilities of integration between different groups and access to the city. The fundamental questions are: Where do you live? Where you go? What do you do? With whom? In the interview, general socioeconomic characteristics and topics such as personal, family, school, residential and occupational paths, neighborhood characteristics and neighborhood



relations and frequented places in the city were addressed. Then, a name generator form is filled out so that the interviewee can inform the members of their personal network, some of their attributes and the places where they live8. From the beginning of the interview, the interviewed individuals are given a set of maps printed in black and white and colored pens with which they must mark all types of places mentioned (an example of filling is provided in Figure 4).


Figure 4 – Example of map filling provided in the interview


Source: Generated during the resarch


Thus, we intend to reveal urban circuits and uses of space in the metropolis, in order to demonstrate ways in which residential segregation, through the place of residence, would be related to different networks of relationships, experiences and urban trajectories of blacks and whites. The mapping of relationship networks and frequented places allows us to detach the segregation of neighborhood assumptions, demonstrating the articulations between the places where the subjects' practices occur and the possibilities of access to the city and the constitution of bonds between individuals with social attributes and similar or different dwelling places. In


8 To urge respondents to list the people closest to them, we adapted the battery of questions from a classic study of personal networks (FISCHER 1995). For example: Who are your best friends? Who do you usually hang out with? Who do you talk to when you have a concern? Who do you turn to when you need a favor? etc. Regarding each name mentioned, we asked age, sex, race/color, education, profession and sphere of sociability (family, work, etc.).

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order to capture the dimensions of integration, we collected personal networks (with the respective places of residence of each component of the networks), and in order to observe access, we surveyed the frequented places. In other words, we seek to assess to what extent race and place of residence imply different possibilities of integration and access to the city.


Results


Personal networks


From the collection of the personal networks of the 28 interviewees, we raised a total of 362 links, resulting in an average of 12.9 components in each personal network9. Of this total, 166, or 46%, are related. Most of the close people mentioned by whites are outside the family, while for blacks, on the contrary, personal networks are mostly composed of relatives. This may point to the occurrence of difficulty in socialization and establishment of intimate ties outside the family for blacks, as well as may suggest that blacks depend more on intrafamily solidarity. Such possibilities, however, require further investigation.

Considering the sociability context of each bond, only 22 people were classified as “neighbors”. However, we note that most of the relationships occur in the inhabited district and its surroundings. Of the network components, 58% reside in the same district as the respondent or in surrounding districts. This characteristic is more pronounced in São Miguel Paulista (68.4%), than in Tatuapé (52.4%) or Itaim Bibi (37.7%). Considering the interviewees residing in the latter, 74% of their links are located in “upscale regions” of the metropolis, while in São Miguel only 9% of links reside in “upscale regions”. In Tatuapé, located on the edges of the main cluster of prime areas, 51% of the bonds live in “prime regions” and 49% do not.

In São Miguel Paulista, almost all (or 84%) of the interviewees' links reside in the vicinity of the district or in peripheral areas of the east side, with few residents of noble regions in their networks. There are racial differences, not very large: blacks with more contacts in other districts of the east zone and municipality in the east of São Paulo-SP, while whites have more ties in other parts of the city of São Paulo-SP and in high value regions.


9 We do not intend, with such quantifications, to reach statistically representative conclusions about the characteristics of the networks of certain places and social groups in general. The idea is to present the aspects of our interviewees' networks in a synthetic way.

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High value areas Black’s networks White’s networks

Figure 5 – Places of Residence of Members of the Personal Networks of Black and White Respondents in São Miguel Paulista


Source: Map generated during the research


Racial differences regarding the residences of the bonds are quite expressive in Tatuapé. While most black guests reside in other districts on the east side or municipalities east of the capital, most of the whites' contacts are in high value regions.


High value areas Black’s networks White’s networks

Figure 6 – Places of Residence of Members of the Personal Networks of Black and White Respondents in Tatuapé


Source: Map generated during the research



In Itaim Bibi (Figure 7), most of the residences of the components of the personal networks (74%) are in noble regions. Most of the ties residing outside the noble regions are members of the networks of the two black women interviewed.

The results demonstrate that whites are much more racially homophilic10 than blacks, who have more racially mixed networks. It should be noted that in São Miguel Paulista, a place with a significant share of blacks in the population, whites are less homophilic and blacks are more. In Itaim Bibi and Tatuapé, there are almost no blacks in the whites' networks.

As we approach middle class individuals, and these classes are mostly white, it is reasonable to expect that there will be a majority of relationships with whites. That is, there is an expectation of high homophily for whites and low homophily for blacks, which is confirmed by the data. However, comparing whites and blacks from the same locations, there are always more whites in white networks and more blacks in black networks.


High value areas Black’s networks White’s networks

Figure 7 – Places of Residence of Members of the Personal Networks of Black and White Respondents at Itaim Bibi


Source: Map generated during the research



10 Homophily concerns the similarity of attributes between pairs of individuals in a network. Thus, in the case of a woman who has a majority of women in her network, we say that it is a case of gender homophily. That is, we can have the most diverse types of homophily according to the considered attribute. A good review on the topic can be found in McPherson, Smith-Lovin and Cook (2001).

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Frequented places


For respondents from São Miguel Paulista, most of the places they frequent are located in the district itself and in its surroundings. There is an expressive, but minority, number of places located in high value regions such as Tatuapé, Liberdade, Lapa, Vila Mariana, etc. The workplaces of most respondents are located in the east, while medical services are sought mainly in prime regions of São Paulo-SP.


High value areas

Places frequented by blacks Places frequented by whites

Figure 8 – Places Frequented by Black and White Respondents in São Miguel Paulista


Source: Map generated during the research


Whites are more likely to go to places in their own district, while blacks are more likely to go to surrounding districts and other places on the east side. In upscale areas, blacks frequent more places located in districts of the south zone served by the blue line of the Metro, while places frequented by whites are more concentrated in neighborhoods of the west zone. There is a significant frequency of blacks in the districts that make up the “old center” of São Paulo-SP (Sé and República).

Regarding the interviewees from Tatuapé, the Map represented in Figure 9 shows that mentions of places in the district itself predominate, followed by allusions to places in high value regions nearby, such as Mooca or Jardim Anália Franco. The residents of Tatuapé travel much less than those of São Miguel Paulista, going mainly to high value regions. The blacks of



Tatuapé are more widespread, frequenting more places located in the eastern portion of the metropolis.


High value areas

Places frequented by blacks Places frequented by whites

Figure 9 – Places Frequented by Black and White Respondents from Tatuapé


Source: Map generated during the interview


Almost all the places mentioned by the Itaim Bibi interviewees are within a 9km radius from the neighborhood and almost all the interviewees work in the district or surroundings.



High value areas

Places frequented by blacks Places frequented by whites

Figure 10 – Places Frequented by Black and White Interviewees at Itaim Bibi


Source: Map generated during the research


In general, the paths and relationships have a “meso” pattern, that is, they orbit more or less on the district scale, or around certain centralities. This suggests that different classes or social groups from the same area have most of their relationships and places of frequency in certain “regions” of the metropolis, pointing to the need for research on the coexistence of different groups in certain fractions of urban space, not in the metropolis as a whole.


Typology and synthesis of interviews


In this section, we aggregate respondents into categories according to similarities in their personal networks, frequented locations, and other attributes. We will present a total of eight types: four from São Miguel Paulista (I, II, III, IV), two from Tatuapé (V, VI) and two more from Itaim Bibi (VII and VIII). The following table displays a summary description of the eight types.

Type I is composed of residents of São Miguel Paulista who have relationships with middle- class whites, many ties to high value regions, and who work and frequent places in high value regions. This does not mean that they do not have ties or that they do not go to places in São Miguel or the east side, but the fact that they have ties and frequent prime regions is the main feature that distinguishes them. In this type, the interviewees Amadeu, Marcela, Armando were



framed. All are white. They came from families whose parents were professionals or owners, having several relatives who completed higher education (in a previous generation or in the same generation). It is an older middle class of São Miguel Paulista. All of them even showing a strong sentimental bond with the region. In occupational trajectories, it is remarkable the fact that they have worked in different places in the city of São Paulo, beyond the east side. Being that, of these places, some are located in high value regions.

The main characteristic of Type II is the strong connection of these individuals with the region of São Miguel Paulista, their personal networks are concentrated in the district and its surroundings, as well as the frequented places. In their occupational trajectories, jobs located in the east side predominate. In addition, these were the interviewees whose descriptions of the neighborhood gave more emphasis to positive aspects, demonstrating that this is a place where they feel very comfortable. They highlight the commerce of São Miguel Paulista and the fact that the neighborhood provides easy access to several other areas of the metropolis (through the train, bus lines and expressways in the region), being an important point of reference in the east side. The interviewees of this group, by the way, are the ones that travel by public transport the most.


Frame 1 – Synthesis of the typology of networks of people and places


São Miguel Paulista

Type

Interviewed

Relations

Locals

I

Amadeu, Marcela, Armando (Whites)

Relations with middle class whites

Locations in prime regions

II

Lucas (black), Regina, Luana and Glauco

(Whites)

Relationships and places in São Miguel Paulista

III

Jessé, Santiago, Lívia (blacks)

Relations with Blacks in São Miguel Paulista and the East Zone

Locations in São Miguel Paulista and the east side

IV

Joaquim, Rebeca, Rita (blacks)

Relations with the poor (family) and middle class of the east side (non-family)

Locations in the east and prime regions

Tatuapé

Type

Interviewed

Relations

Locals

V

Miriam, Fernanda, Alan amd Diogo (Whites)

Relations with middle class whites in the Tatuapé region and high value areas

Locations in the Tatuapé region

VI

Milena, Sabrina, Nei and Orlando (blacks)

Relations in the Tatuapé region and east zone

Locations in the Tatuapé region and other parts of São

Paulo (prime or not)

Itaim Bibi

Type

Interviewed

Relations

Locals

VII

Olavo, Eliana e Elvira (Whites)

Relations with middle-class whites in Itaim Bibi and high value regions

Locations in Itaim Bibi and prime regions

VIII

Valter (White), Izilda, Ivana, Josué* (blacks)

Relations with the poor from the east side (family) and middle-class whites from

prime regions (non-family)

Southwest quadrant locations (prime or not)

Source: Generated during the research



In this type, the interviewees Lucas, Regina, Luana and Glauco fit in. There are two white women and two men, one black and one white. Ties with poorer individuals, black and white, predominate.

Type III is composed of blacks whose networks of personal relationships are predominantly constituted by other blacks (strong racial homophilia), residents of São Miguel Paulista and other peripheral areas of the east side (or municipalities in the east part of the metropolis). Their frequency locations are also restricted to these areas. These are the interviewees Jessé, Santiago, Lívia. They are the only respondents whose families of origin did not own properties in São Miguel. In fact, the acquisition of a property in the district is part of a larger process of socioeconomic and residential stabilization of these individuals. Everyone says they would not want to live in São Miguel for the rest of their lives.

Type IV, in which three black interviewees fit (Joaquim, Rebeca, Rita) is characterized by a significant cleavage in the characteristics of family and non-family members in their personal networks. Of the group of individuals cited as closest, the relatives are from the lower class, while the ties outside the family are from the middle class. This must be a reflection of a trajectory of social ascension. Most of the components of the networks (family or not) reside in the east side, but the interviewees also have a significant frequency in locations in upscale areas of the city. In short, they are black people who, despite coming from poor families, have great sociability among middle-class people, but are restricted to the east side in their relationships. Most of their occupational trajectories took place in jobs located in the east side of São Paulo- SP. They travel primarily by car. They emphasize commerce as a positive aspect of São Miguel Paulista and, as negative points, all mentioned violence on the part of “the police and the bandits”. They have relationships with neighbors, but they point out that disagreements in opinion and political positions are an important factor in their differences with the residents of the neighborhood. The interviewees, expressing left-wing political opinions, complain about the difficulty of dialoguing with the neighbors.

Tatuapé, located on the edge of noble areas, and being the place surveyed with the greatest racial inequalities in income (in general and in the middle class), also presents important racial segmentation regarding the networks of people and places. The whites are facing the more central prime areas, while the blacks are facing the more peripheral east, this is reflected in the two built types.

Type V is composed of white respondents from Tatuapé (Miriam, Fernanda, Alan and Diogo). They have relationships with middle-class whites, mainly in the vicinity of Tatuapé

and in high value areas of São Paulo-SP. Workplaces and other frequented places are located

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in and around the district itself. Two of the interviewees in this group were raised in Tatuapé itself and complain that the neighborhood has reached its limit of construction and growth. However, they all seem to like the place very much, they would not like to move and, if they did, they would go to nearby areas such as Mooca or Jardim Anália Franco.

Black respondents from Tatuapé (Milena, Sabrina, Nei and Orlando) fall into Type VI. They have close relationships with people from Tatuapé and from more peripheral areas of the east. They work in places further away from the city of São Paulo-SP (such as Socorro and Vila Mariana), always using public transport to travel to work. With the exception of work, the frequent places are mainly concentrated in Tatuapé and surroundings, but there is also access to prime regions, mainly for those who transit through these regions for professional reasons or on the way to work.

Three of the members of this group (Milena, Sabrina and Nei) come from more peripheral areas of the east side or from municipalities east of the metropolis (Ferraz de Vasconcelos, Vila Matilde, São Miguel Paulista). They moved to Tatuapé, in part, to facilitate access to work. They attended higher education years later than the age group considered “ideal”. Orlando, on the other hand, comes from a middle-class family from Tatuapé itself. In this case, attention is drawn to the fact that their relationships outside the family are with people of lower social class who live in areas further east (Vila Matilde and Artur Alvim).

At Itaim Bibi, the absence of two black men among the interviewees hampered the formation of types segmented by racial differences. The main cleavage that distinguishes the two types of Itaim Bibi is the origin. Type VII individuals come from well-established middle- class families, coming from upscale neighborhoods such as Granja Viana, Pinheiros and Itaim itself. Type VIII individuals are originally from the east side of São Paulo, from poor or recent middle-class families.

Type VII is composed of interviewees Olavo, Eliana and Elvira. All white. Its networks of relationships and frequency locations are located in Itaim Bibi itself and in high value areas of the southwest quadrant. They relate to middle-class whites residing in these same areas. They come from well-established middle-class families and studied in private schools.

Type VIII is also marked by a segmentation between kin and non-kin (like Type IV). They have ties to lower-class family members from the east side and non-family ties to middle- class white individuals living in upscale regions. They frequent locations in the southwest quadrant, prime or not. The main difference with Type IV is the fact that they cultivate close relationships with residents of prime areas.



Coming from poor or recent middle-class families, they studied in public schools and worked in the most diverse places in the city of São Paulo-SP. The properties where they reside were acquired through financing. They have few relationships with neighbors, who they consider “distrustful” and “arrogant”, but they enjoy living in a neighborhood considered “upscale”. They severely criticize their places of origin, in the east, mainly regarding the distance from centralities, the inferior “cultural level” of the people who live there and for seeing themselves stigmatized when they lived there.

This group includes the interviewees Valter (white), Izilda and Ivana (black) from Itaim Bibi, but also the interviewee Josué, from São Miguel Paulista. The latter, in fact, lived for a long time in the district of Consolação and in other pime regions, returning to São Miguel Paulista because his parents, who were very old, needed special care.


Discussion


In general, the analyzes confirm the hypothesis of the importance of the place of residence, but without going through the neighborhood. In other words, the Chicago school's assumption that physical distances are an important factor for social relationships is maintained, but the idea that there would be great relevance in face-to-face interactions between neighbors is not confirmed. The analysis of personal networks points to space as a factor of homophily. Most of the components of the interviewees' networks reside in the district itself or in the vicinity of the respondent's district, the same is true for the frequented places. This means that, despite having a car and material resources that would favor locomotion, their daily routes are located relatively close to their residence. They are not restricted to the neighborhood, to the immediate surroundings of the house, but to wider areas in the vicinity of this. That is, when it comes to access and frequency to different places, the location of the residence is of significant importance. We could therefore speak of a “segregation on a medium scale”.

The assessment of racial homophily in personal networks indicated a trend of racial segmentation in the relationships of individuals. The types constructed in the previous section confirm this tendency, highlighting racial differences in the networks of people and in the places they frequent. In the cases analyzed by this research, middle-class whites have more homogeneously white circles of relationships, exhibiting a characteristic of social closure. In addition, considering both the networks and the frequented places, we noticed that whites are more focused on prime areas than blacks. This finding should be better investigated in larger


Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022003, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718



studies, since our qualitative survey does not meet the requirements of statistical representativeness.

Considering that segregation can be conceived as the opposite of integration and access, the most segregated types would be those whose networks were constituted by individuals very similar to the ego and the places were restricted to the surroundings of the residence. Types III (relationships with blacks from São Miguel and the east zone, frequency to places located in these regions), V (relations with middle-class whites from Tatuapé, frequency to places in this district and noble areas) and VII (relationships with middle-class whites from Itaim Bibi, attendance at places in this district and upscale areas). However, saying that these types are similar in terms of segregation hides important differences in terms of opportunities: having networks and locations restricted to São Miguel must imply greater limitations and disadvantages than in Tatuapé or Itaim Bibi. In fact, Type III, as opposed to Types V and VII, represent polar opposites.

Type III blacks are not only restricted to peripheral circuits, far from locations of greater material and symbolic value and from the centralities best provided with public policies, but also have the most homogeneous networks of all respondents, which can lead to disadvantages in the information, opportunities and perspectives that tend to circulate more through heterogeneous social ties.

Types V and VII reveal similarities between the whites of Tatuapé and Itaim Bibi: both groups cultivate social relationships predominantly with other middle-class whites, frequenting places in their own neighborhoods and in other high value areas of the metropolis. These manifest the greatest possibilities of appropriation of the most valuable locations in the metropolis, they are easy to travel (with less time) to the main centralities and live with people who enjoy these same conditions of enjoyment of the urban, sharing practices and lifestyles.


Conclusions


The most general consequence of the findings mentioned above is that, given that the analysis of quantitative data demonstrated the spatial segmentations in the location of white and black residences, and the qualitative research pointed out that the place of residence limits circuits of paths and social relationships, hence spatial segmentations in the circuits and relations of blacks and whites. In other words, the long physical distances between the residences of middle-class blacks and whites in the RMSP are reflected in significant differences in the personal networks and places frequented by the individuals interviewed.



The whiter personal networks and the greater frequency in prime areas, combined with the residential concentrations revealed in the quantitative analyses, present a picture of reinforced evidence of isolation – spatial, social, racial and of paths – on the part of middle and upper class whites from São Paulo-SP. Middle-class whites inhabit predominantly white and middle-class spaces, interact with middle-class whites and move through noble areas where middle-class whites predominate. That is, to the extent that blacks and whites are residentially segregated, their personal networks and frequented places are also segregated. It has therefore been shown that blacks are kept at a distance, physically and socially, even when they belong to the same social class as whites.

Furthermore, given the evidence that the appropriation and use of urban space is racially differentiated, it is important to note that the areas where we identified the main concentrations (of residences, paths and networks) of whites from the middle and upper classes have great correspondence with the “general region” defined by Villaça (1998) and called by him the Area of Great Concentration of High Income Layers, where not only the residences are located, but also all the daily practices of these layers. However, something that Villaça (1998) does not take into account is that these spaces of the city concentrate identity references that mediate the mutual recognition of members of a group that is not only characterized by its position in the class hierarchy but is also characterized by its white color. In other words, the appropriation of the most valued locations of urban space excludes not only the poor. It excludes blacks, even if they are not poor.

This research raised strong evidence of social cohesion on the part of middle-class whites and limitations on the possibilities for blacks to share spaces and social circles with middle-class whites. Such differences in residential locations, as well as segregation in networks and routes, are evidence of the limits for the insertion of blacks in the middle and upper classes. Several interpreters have pointed out that racial inequalities in Brazil exhibit a cleavage between “white upper classes” and “multi-racial poor classes”, in the words of Edward Telles (2012 [2004]) or, in more classical Weberian terms, between the estates (or status groups) “rich-white” and “poor-black”, according to Thales de Azevedo (1966 [1956]). Therefore, since status honor is always based on distance and exclusivity, the locational differentials observed in the segregation data exhibit the cleavage between groups defined by the overlap between class, race, and space. This perspective gives segregation in urban space very significant importance for the creation of barriers that structure racial relations in Brazil. In addition, it points to the need for more research on racial segregation in Brazilian cities, given the large

regional differences.

Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022003, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718



ACKNOWLEDGEMENTS: Thanks to the organizers and reviewers of the dossier. This research was supported by the Research Support Foundation of the State of São Paulo (Fapesp) and the Lélia Gonzalez Prize for Scientific Manuscripts on Race and Politics.


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How to reference this article


FRANÇA, D. Segregated urban experiences: Housing places, trajectories and personal networks of blacks and whites in São Paulo-SP. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022003, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718.

DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp1.15820


Submitted: 16/01/2022 Required revisions: 15/02/2022 Approved: 30/03/2022 Published: 25/04/2022