A PANDEMIA TERRITORIALIZADA: VIDA DIÁRIA EM DOIS BAIRROS DE BUENOS AIRES


LA PANDEMIA TERRITORIALIZADA: LA VIDA COTIDIANA EN DOS BARRIOS DE BUENOS AIRES


TERRITORIALIZED PANDEMIC: EVERYDAY LIFE IN TWO NEIGHBORHOODS OF BUENOS AIRES


María Mercedes DI VIRGILIO1 María Agustina FRISCH2 Mariano Daniel PERELMAN3


RESUMO: Este artigo trata da experiência da pandemia de COVID-19 na perspectiva de moradores de dois bairros da cidade de Buenos Aires, Argentina. Neste quadro, debruça-se sobre as mudanças, adaptações e redefinições que o contexto pandêmico impôs ao quotidiano na sua interface com o território. Dá atenção especial à vivência do isolamento social preventivo e obrigatório e seus impactos na sociabilidade do bairro. A análise parte do pressuposto de que a pandemia, embora de natureza global, tem efeitos e significados com ancoragem local, enfatizando sua natureza situada. Efeitos e significados são lidos em articulação com as práticas de adaptação realizadas pelos cidadãos. A estratégia metodológica em que se baseia o trabalho é qualitativa. Foram realizadas 11 entrevistas em profundidade com moradores dos bairros Lugano e San Telmo da Cidade de Buenos Aires, no mês de julho de 2021. Os principais achados têm a ver com as estratégias de adaptação individual e coletiva que se configuram no contexto da pandemia para sustentar a vida diária.


PALAVRAS-CHAVE: Pandemia. Território. Vida quotidiana. Mobilidade. Buenos Aires.


RESUMEN: Este artículo trata la experiencia de la pandemia por COVID-19 desde la perspectiva de habitantes de dos barrios de la Ciudad de Buenos Aires, Argentina. En ese marco se detiene en los cambios, adaptaciones y resignificaciones que el contexto pandémico impuso en la vida cotidiana en su interfaz con el territorio. Presta especial atención a la experiencia del aislamiento social preventivo y obligatorio y a sus impactos en la sociabilidad barrial. El análisis se apoya en el supuesto de que la pandemia, si bien de carácter global, tiene efectos y sentidos con un anclaje local, enfatizando su carácter situado. Efectos y sentidos se leen en articulación con las prácticas de adaptación que realiza la ciudadanía. La estrategia


1 Universidade de Buenos Aires (UBA), Instituto de Pesquisa Gino Germani (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Professora titular da Faculdade de Ciências Sociais. Investigadora principal CONICET. Doutora em Ciências Sociais. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5801-0784. E-mail: mercedes.divirgilio@gmail.com

2 Universidade de Buenos Aires (UBA), Instituto de Pesquisa Gino Germani (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Licenciatura em Sociologia. Bolsista de Doutorado. Doutoranda em Ciências Sociais (UBA). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3999-1927. E-mail: magustinafrisch@gmail.com

3 Universidade de Buenos Aires (UBA), Instituto de Pesquisa Gino Germani (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Chefe do Trabalho Prático da Faculdade de Filosofia e Letras (UBA). Pesquisador Independente CONICET. Doutor em Antropologia. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4914-3198. E-mail: mperelman@conicet.gov.ar



metodológica en la que se apoya el trabajo es cualitativa. Se desarrollaron 11 entrevistas en profundidad a residentes de los barrios de Lugano y San Telmo de la Ciudad de Buenos Aires, en el mes de julio de 2021. Los principales hallazgos tienen que ver con las estrategias de adaptación individuales y colectivas que se configuran en el contexto pandémico para dar sostén a la vida cotidiana.


PALABRAS CLAVE: Pandemia. Territorio. Vida cotidiana. Movilidad. Buenos Aires.


ABSTRACT: This article deals with the experience of the COVID-19 pandemic from the perspective of inhabitants of two neighborhoods in the City of Buenos Aires, Argentina. In this framework, it dwells on the changes, adaptations, and redefinitions that the pandemic context imposed on daily life at its interface with the territory. It pays special attention to the experience of preventive and compulsory social isolation and its impacts on neighborhood sociability. The analysis is based on the assumption that the pandemic, although global in nature, has effects and meanings with a local anchor, emphasizing its situated nature. Effects and meanings are read in articulation with the adaptation practices carried out by citizens. The methodological strategy on which the work is based is qualitative, 11 in-depth interviews were carried out with residents of the Lugano and San Telmo neighborhoods of the City of Buenos Aires, in the month of July 2021. The main findings have to do with the individual and collective adaptation strategies that are configured in the pandemic context to support daily life.


KEYWORDS: Pandemic. Territory. Daily life. Mobility. Buenos Aires.


Introdução


Desde janeiro de 2020, as mudanças ocorridas após a disseminação do vírus COVID- 19 e as ações tomadas pelos diferentes Estados tornaram-se um tema incontornável nos estudos sociais. Esta preocupação encontra um significado particular quando se considera que a vida urbana mudou substancialmente. As políticas destinadas a prevenir e conter a propagação do vírus tiveram um efeito central nos estilos de vida urbanos e nas percepções da cidade. Referindo-se ao caso mexicano, Alicia Ziccardi (2021, p. 16, tradução nossa), afirma que:


[…] os slogans 'Fique em casa', 'Lave as mãos', 'Mantenha distância saudável' e até 'Use a máscara' nos obrigam a rever o modo de vida urbano, a refuncionalizar o uso privado do espaço habitacional e uso público de bens e serviços urbanos. Da mesma forma, forçaram a repensar atividades econômicas essenciais, atividades educativas e práticas de trabalho, bem como redefinir as diferentes modalidades de vida familiar, comunitária e social, reduzindo sua intensidade e substituindo, na medida do possível, a interação face a face pela interação virtual.


Esses 'slogans' globais, no entanto, tiveram traduções ou adaptações locais. Não só porque variaram de país para país, mas também porque os sistemas urbanos e modos de vida em que foram registrados diferem de região para região, de cidade para cidade e, muitas vezes,



de bairro para bairro. Dessa forma, a vida na pandemia foi gerando novas práticas e usos do espaço público e privado que modificaram formas de sociabilidade e modos de ver a cidade. Nesse marco, o artigo se propõe a expor uma visão territorial do isolamento, quarentena e sua progressiva abertura no contexto da pandemia de COVID-19 em dois bairros de classe média da Cidade de Buenos Aires, recuperando as experiências de seus moradores, tanto em suas casas quanto nos círculos de trabalho, escola e cuidado.

Na Argentina, o governo nacional decidiu uma quarentena estrita como estratégia para prevenir a infecção e a propagação do vírus, que permaneceu na cidade de Buenos Aires por mais de oito meses4. O isolamento social, preventivo e compulsório (doravante, ASPO) previa uma série de "exceções" para o pessoal de saúde, funcionários dos diferentes níveis de governo, Forças Armadas e de Segurança, trabalhadores dos setores de alimentação, medicamentos e transporte. Também contemplou que os comércios permaneçam abertos para garantir o abastecimento de alimentos, remédios e necessidades básicas. A quarentena foi estendida por diferentes fases que foram decretadas com base no tempo de duplicação das infecções.

Nesse marco, o artigo relata como as medidas tomadas pelo governo nacional e pelo governo da Cidade de Buenos Aires para prevenir contágios massivos modificaram as formas de sociabilidade, mobilidade, trabalho e cuidado em Buenos Aires. Isso feito a partir de um estudo de caso aprofundado em dois bairros da Cidade de Buenos Aires: o bairro de Lugano e San Telmo. Com base no trabalho de campo, visa contribuir para pensar as complexas mudanças ocorridas nos estilos de vida urbanos durante a pandemia, que entendemos que devem ser pensadas de forma multidimensional e multiescalar5. Embora a propagação do vírus tenha gerado uma crise global, uma visão situada e de dentro (MAGNANI, 2012) nos permite compreender a forma como a pandemia impactou o espaço urbano de Buenos Aires, reconfigurando usos públicos e privados, retroalimentando as desigualdades existentes e produzindo novos.

A perspectiva analítica construída a partir da pesquisa tem algumas implicações teórico- metodológicas. Em princípio, a forma de pensar a pandemia. Como plantamos em outros lugares (excluídos), embora - como apontamos anteriormente - uma pandemia, por sua própria natureza, seja de natureza global, seus efeitos e significados têm uma âncora local. Esses efeitos e significados se configuram em diálogo com as medidas que os diferentes governos tomam


4 Em 19 de março de 2020, no âmbito da declaração de pandemia emitida pela Organização Mundial de Saúde, o Governo Nacional decretou o Isolamento Social, Preventivo e Obrigatório através do Decreto-Lei 297/2020.

5 Multidimensional porque a pandemia e as medidas promovidas para enfrentá-la tiveram impacto na vida intradoméstica, social, econômica e laboral -entre outras dimensões- das famílias. Também afetaram a dinâmica da habitação, dos bairros e das cidades.

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para enfrentar os desafios da pandemia em sua interface com as características dos ambientes urbanos, dos sistemas assistenciais locais6 e, também, com as práticas que os cidadãos desenvolvem para se adaptar e enfrentar a nova situação. Da mesma forma, entendemos que a pandemia não pode ser pensada em abstrato. Não só porque a propagação do vírus é eminentemente espacial, mas porque o próprio espaço tem sua lógica, sua dinâmica e sua história. Em suma, a sua territorialidade. Os 'slogans' de cunho global são transferidos para o território como políticas que oscilaram entre a forma de mandatos punitivos ou recomendações sanitárias, inscrevendo-se nas práticas e modos de vida das pessoas, transformando suas relações com o meio urbano, bem como suas percepções do espaço e as formas como se relacionam com a cidade e com os outros. Nesse sentido, as políticas que têm contribuído para mitigar a(s) pandemia(s) – o “ficar em casa”, a proibição de circulação, etc. – e as políticas destinadas a remediar os efeitos dessa imobilidade ao nível dos bairros e das famílias, podem ser pensadas espacialmente.

A pandemia e as práticas das pessoas comuns (aceitações, resistências, novas relações) podem ser compreendidas a partir da compreensão do esforço envolvido em 'sustentar a vida' na pandemia, recuperando a dimensão coletiva dessas práticas. Sustentar a vida envolve formas de cooperação, união ou participação em grupos que dão sentido a uma vida que "vale a pena" (NAROTZKY; BESNIER 2020, p. 27). Entendemos que essa perspectiva nos permite compreender "a forma como uma sociedade representa o valor social (valor)" (NAROTZKY; BESNIER, 2020, p. 27) e as diferenças significativas (limites, instituições, categorias de pessoas) com o valores que são promovidos a partir do campo das políticas públicas. Em suma, o estudo das práticas não pode ser pensado sem compreender as avaliações – múltiplas – que as pessoas fazem. Essas práticas não são compreendidas apenas pelos quadros de referência e experiências, mas também pelo lugar e pelas coordenadas vitais em que ocorrem.

O trabalho é apoiado pela realização de 11 entrevistas em profundidade com pessoas de classe média que vivem nos bairros de San Telmo e Lugano (5 e 6 entrevistas, respectivamente) na cidade de Buenos Aires. As entrevistas foram realizadas virtualmente durante o mês de julho de 2021. Essas entrevistas tiveram como objetivo produzir informações descritivas sobre a importância das ancoragens territoriais e das raízes locais entre os entrevistados nos processos ligados à reprodução do cotidiano e do cuidado e a forma e significados que eles adquirir nos


6 O conceito refere-se às ações e intervenções que governos e administrações locais priorizam no campo do bem- estar. Nesse quadro, inclui as políticas e programas, as estratégias e práticas de inovação organizacional e as diretrizes de interação com os agentes públicos e privados de prestação e produção de serviços. (HUETE GARCÍA; MERINERO RODRÍGUEZ; MUÑOZ MORENO, 2015).

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diversos territórios. Da mesma forma, seu objetivo foi nos aproximar das percepções dos habitantes de carne e osso e suas formas de entender e representar o contexto pandêmico.


Buenos Aires e seus bairros


Figura 1 – Bairros da Cidade de Buenos Aires


Fonte: Departamento de Cartografia, Direção Geral de Estatística e Censos (Ministério da Fazenda, Governo da Cidade de Buenos Aires)


San Telmo é um bairro localizado na zona sul da cidade de Buenos Aires (ver Figura 1), muito próximo do centro financeiro da cidade e dos centros de administração pública dos governos federal e municipal. É contíguo ao bairro de Puerto Madero. Os serviços e infraestruturas urbanas que o caracterizam são adequados, bem conservados e, em algumas zonas, têm padrões muito superiores aos de outros bairros da zona sul da cidade - apesar de


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registarem alguns sinais isolados de degradação. É um pequeno bairro histórico que concentra inúmeros marcos e lugares emblemáticos que permanecem desde o momento da fundação de Buenos Aires. Desde a década de 1980, o bairro passou por um processo de forte transformação. Aos poucos, deixou de ser um bairro residencial e muitas casas foram demolidas em prol do desenvolvimento de outros usos, principalmente arranha-céus e atividades de serviços ligadas ao turismo. Simultaneamente, surgiram outros tipos de ocupação precária, incluindo hotéis, pensões e ocupações imobiliárias. No entanto, a permanência desses tipos de habitats diminuiu progressivamente vis-à-vis a evolução do processo de renovação – em termos de usos urbanos e perfil sociodemográfico de seus habitantes – que vem ocorrendo em San Telmo desde o final da década de 1970. Nesse quadro, posseiros foram despejados e pensões foram convertidas em albergues da juventude (albergues).

As mudanças no bairro levam aproximadamente quatro décadas. Neste quadro, as atividades ligadas aos serviços, sobretudo hotelaria, gastronomia e serviços culturais, têm vindo a expandir-se progressivamente. Esse processo deslanchou especialmente após a crise de 2001- 2002 e esteve ligado ao boom turístico internacional na cidade que promoveu novos negócios comerciais e imobiliários. Nos últimos anos, as atividades relacionadas ao turismo se diversificaram e se tornaram mais complexas, desde antiguidades tradicionais até uma ampla gama de serviços de alimentação, hotéis boutique, pousadas e lojas de roupas de grife. O bairro também se tornou um imã educacional e se consolidou como espaço cultural desde a ampliação do Museu de Arte Moderna e a reforma de antigos casarões transformados em bares e esplanadas da moda. As políticas históricas de proteção regrediram para favorecer as iniciativas de mercado ligadas ao turismo. A pandemia atingiu fortemente a economia local, relacionada às atividades do turismo, gastronomia e hotelaria. Segundo o administrador de um dos lugares mais emblemáticos do bairro que existe desde o século XIX, o Mercado de San Telmo, durante 2020, 12% das lojas tiveram que fechar (o Mercado tem 150 lojas): “As lojas de artigos e souvenirs foram as mais afetadas pela falta de turismo e porque os argentinos não costumam comprar7. Depois, o segundo item mais atingido foi a gastronomia, devido a todas as restrições que foram implementadas” (CASADO, 2021, [s.p.]).

Lugano, por outro lado, está localizada na antiga periferia da Cidade de Buenos Aires (ver Figura 1), nos limites que a separam dos municípios que compõem sua conurbação. Ao contrário de San Telmo – o bairro fundador – o empreendimento Villa Lugano é relativamente recente. As suas origens remontam a 1908, data em que o empresário José Soldati iniciou o


7 Embora a população local não consuma nessas lojas, ou está empregada nesses negócios, ou então – direta ou indiretamente prestam serviços – limpeza, fornecimento de produtos para venda, papelaria etc.

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loteamento do terreno que lhe deu origem. Para estimular o processo, Soldati conseguiu modificar o traçado original da ferrovia da antiga ferrovia General Belgrano, fazendo-a passar por sua propriedade. Em contrapartida, seria responsável pelo pagamento dos salários dos trabalhadores e dos custos de construção da estação de Villa Lugano.8

Em seus primeiros anos, o crescimento da área de Villa Lugano foi modesto, pelo fato de não permitir vislumbrar avanços significativos na construção, inclinando-se principalmente para a instalação de fábricas e lojas (CUTOLO, 1996). As décadas de 1920 e 1930 viram a expansão do processo de loteria. Através da subdivisão, foi incentivada a fixação de novas famílias migrantes europeias e/ou locais. Um dos elementos que caracteriza o período inicial de urbanização da área é o fato de que o crescimento do parque habitacional ocorre graças à iniciativa do mercado imobiliário privado. Este último soube promover o desenvolvimento de moradias unifamiliares em terreno próprio, alternado com uma zona comercial e de serviços nas imediações da antiga estação ferroviária.

No início da década de 1940, a instalação do lixão municipal (ou la Quema) – onde eram despejados os resíduos dos demais bairros da Cidade – desestimulou o processo de povoamento do bairro e a atratividade da área para desenvolvimento imobiliário privado. Em meados da década de 1950, o bairro se adensou com a formação de urbanizações precárias e a colocação de conjuntos urbanos de habitação social que atraíram setores de baixa renda.

Atualmente, Villa Lugano é o bairro da cidade que concentra o maior número de assentamentos informais. Da mesma forma, a existência de um grande número de espaços vazios levou à construção de prédios públicos e urbanizações pelo Estado e/ou outras organizações sociais. Desde o início dos anos 2000, o bairro passou por importantes transformações motorizadas por meio de projetos realizados em parcerias público-privadas sob a alçada da Corporação Buenos Aires Sur (CBAS). O processo se acelerou a partir de 2014, com a criação do distrito de Esportes e o desenvolvimento do Grande Projeto Urbano “Vila Olímpica” no antigo Parque da Cidade. A iniciativa foi desenvolvida na prossecução dos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018 e contou com o apoio da promoção de atividades de produção de artigos esportivos ou afins e da prática esportiva, acompanhada de fortes investimentos em grandes obras públicas (GOICOECHEA et al., 2020).9


8 A estação tornou-se operacional em 1919.

9 No mês de agosto de 2021, concretizou-se a proposta de venda destas casas com créditos acessíveis. No entanto, segundo um grupo de vizinhos, faltam espaços verdes e equipamentos. Em 2020, foram leiloados 40 espaços comerciais que permaneciam vazios em meados de 2021. City Housing Institute (IVC) e Southern Corporation, empresa estatal responsável pelas obras, indicaram que os negócios foram escriturados em abril de 2021 (POORE, 2021).

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A vida cotidiana em uma pandemia


A vida de todas as pessoas foi afetada devido às restrições que foram implementadas a partir da disseminação do vírus pelo COVID-19. O efeito mais imediato das medidas de isolamento preventivo para prevenir e conter a propagação do vírus na Argentina foi uma imobilização drástica e repentina de pessoas como resultado do decreto da ASPO. Esta imobilização fez com que as pessoas ficassem em casa, só podiam circular aqueles que estivessem isentos da obrigação de portar autorizações de circulação que justificassem seus translados. Os controles de mobilidade foram implantados em todo o território nacional e a Cidade de Buenos Aires não foi exceção.

Dessa forma, as casas assumiram um papel inusitado: deixaram de ser espaços circunscritos pela esfera privada e pelo espaço íntimo (MILLER, 2001) para se tornarem espaços totais – segundo Mauss (2009), trabalho, educação, cuidado, dispersão, saúde, interação com outras pessoas; tudo isso aconteceu por longos meses no campo da habitação. Isso significou, por um lado, uma série de transformações nas práticas cotidianas, na avaliação do espaço, das interações com o resto das pessoas, com os vizinhos e com o bairro. Por outro lado, todas essas adaptações foram construídas, atualizadas e modificadas a partir das possibilidades e capacidades reflexivas de quem as incorpora.

A suspensão da mobilidade laboral afetou a dinâmica do cotidiano, redefinindo os circuitos cotidianos organizados em torno dos locais de trabalho10. Em alguns casos, até mesmo a escolha das escolas das crianças foi determinada pela proximidade desses espaços e não pela casa. Compras diárias, turnos com médicos ou terapias também eram organizadas em torno do local de trabalho. É o caso de Noelia, moradora de Lugano, que acomodou as atividades educativas da filha perto de seu trabalho, no centro da cidade:


[...] estar lá o dia todo eu procurei uma escola lá, psicopedagoga lá, terapia lá, tudo lá, porque você fala que sai do trabalho, você tira ela da escola, você vai na psicopedagoga por um tempo, ela tem duas horas, uma hora, e depois voltamos juntos. Era pra fazer tudo lá, era muito mais prático (Noelia, Lugano, tradução nossa).


Embora algumas das pessoas entrevistadas - que trabalham em serviços essenciais ou em setores "exceção"11 - tenham conseguido retomar imediatamente suas atividades laborais de


10 Os depoimentos e o material de entrevista que serviu de base para o trabalho correspondem a um grupo de vizinhos e moradores de setores médios. Nesse quadro, não é possível investigar diferenças entre trabalhadores e trabalhadoras de diferentes grupos sociais. Trata-se de uma amostra qualitativa homogênea em sua composição social e heterogênea em sua inserção residencial - um bairro central e outro pericentral.

11 Profissionais de saúde, profissionais de transporte, trabalhadores comerciais, etc.

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forma presencial, cumprindo horários pré-pandemia, suas rotinas associadas à mobilidade diária também foram alteradas. Ou seja, em termos gerais, a vida social foi fortemente afetada. Grande parte das interações que, antes da pandemia, envolviam viagens e eram integradas aos roteiros diários, passaram a ser mediadas pela tecnologia.

Pía, 57 anos, moradora de San Telmo, atriz e professora de teatro em uma escola particular de Palermo, conta:


Tive muitas fases, houve uma fase de surpresa, uma fase em que não me diverti muito porque tive que desenvolver um conhecimento de tecnologia que não tinha e foi traumático para mim, no sentido de que tive que fazê-lo por obrigação. Eu ensino, sou atriz e também sou professora de teatro, então tive que me adaptar rapidamente à tecnologia além de dar aulas de teatro, que com as meninas e suas amigas você via "ei, o que você está fazendo", bom, estou fazendo este exercício, não foi tanto porque como estávamos todos nessa situação não foi tão difícil pedir ajuda, mas o que foi difícil para mim é o conhecimento tecnológico em si (Pía, San Telmo, tradução nossa).


A sustentação da vida estava associada ao uso de tecnologias, exigindo grandes esforços de aprendizado no uso de dispositivos e programas até então desconhecidos. Juan, morador de Lugano que trabalha na indústria metalúrgica, retomou suas atividades laborais algumas semanas após o início da pandemia, juntamente com sua esposa que trabalha na mesma empresa, convertida à produção em massa de máscaras. No entanto, ele admite que sua vida social foi fortemente afetada, principalmente no que diz respeito ao vínculo com os amigos – foi obrigado a parar de jogar futebol. Por terem perdido o terceiro período que costumavam compartilhar aos sábados após os jogos, eles começaram a fazer zoom, todos os sábados no horário habitual do terceiro período. Da mesma forma, e como outros entrevistados relataram, ela deixou de ver seus parentes que moram na província de Buenos Aires.


A reorganização da sociabilidade cotidiana


A reorganização da sociabilidade cotidiana na pandemia parece ter sido afetada, aliás, por sentimentos associados à própria gestão da pandemia. O medo do contágio surge com força e a preocupação é expressa em relação às possibilidades de contagiar ou ser contagiado por familiares não coabitantes. Uma das modalidades de cuidado adotadas para as reuniões familiares é relatada por Gabriela, de San Telmo: “no caso da minha família, bem, minha mãe mora a uma quadra, mas eu não entro na casa dela, entendeu (...) sem ir mais longe há duas semanas era o aniversário de uma das minhas irmãs e para irmos ao aniversário tínhamos que testar todas nós antes” (traduão nossa).


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Os laços são organizados na modalidade 'bolha', que inclui um familiar ou amigo(s) com quem é possível reunir-se com mais regularidade e de forma descontraída. Os encontros são relatados como uma necessidade “mental” ou de “saúde emocional” para encontros presenciais “sem máscara” com outros com quem compartilhar e descomprimir o cotidiano do confinamento. Em torno dessas 'bolhas' face a face de intimidade compartilhada, uma série de novas práticas ou formas de vínculo se desenrolam. A esse respeito, Facundo comenta que no início da pandemia, eles compartilharam com seus amigos um documento do Excel onde cada um relatava suas outras reuniões (antes e depois de suas reuniões) como medida de precaução para evitar a propagação do vírus em caso de surgir um contágio:


Depois que começou a se soltar, ainda no primeiro trimestre montamos um pequeno grupo de amigos que são sempre os mesmos, quatro no total, bolha. Montamos um excel para ver "tenho contato com essa pessoa, ele está com essa pessoa" bem, desde que avisemos se temos contato com terceiros além da lista, deu tudo certo (Facundo, San Telmo, tradução nossa).


O relato de Paula sobre seus encontros com uma amiga permite observar as justificativas que sustentam a necessidade de encontros presenciais:


Ela tem as três filhas dela, ela tem o marido dela e bem, ar puro peço-te por favor, era a mesma coisa não sei, toma mate uma ou duas horas, ela com o dela, eu com o meu, toma um café e bem, vamos conversar porque a verdade é que senão eu também acabaria [enlouquecendo] (Paula, Lugano, tradução nossa).


As avaliações negativas do isolamento também estão associadas à sensação de confinamento:


Uma das coisas que me aconteceu na pandemia, na metade, ainda não podíamos sair, e é que eu tive o que depois percebi com minha psicóloga e minha irmã que também é psicóloga, tive uma crise de claustrofobia. Mas foi muito perceptível, porque eu senti isso no meu corpo, fiquei agitado, senti os sintomas do COVID, mas mais exagerado, tive uma taquicardia como você viu, estava com falta de ar e não conseguia (Pía, San Telmo, tradução nossa).


Ou de medo e angústia: “Também senti muito medo, surgiu o medo de se infectar, o medo de “chegou o fim do mundo”, que o mundo vai acabar, o que está acontecendo, senti que Eu estava vivendo em um filme, e que em algum momento alguém ia parar” (Pía, San Telmo, tradução nossa). "Às vezes também era um pouco paranoico, sonhava, sim, por exemplo, COVID em todos os lugares... mas tentei em um nível consciente, não estava pensando nisso o dia todo" (Santiago, San Telmo, tradução nossa).


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Outros relatos apontam para o sentimento de dissociação. É o caso de Sofía, 30 anos, que mora sozinha em San Telmo e trabalha em uma associação civil. Ele fez parte do isolamento com um amigo, também entrevistado, de San Telmo (Facundo). Sobre os sentimentos de dissociação, ela diz:


No início, o que aconteceu comigo foi que comecei a perder a dimensão do tempo, pois não estava mais naquelas nove horas de trabalho, nove ou seis, o que quer que cada um ou cada um trabalhe. Foi isso que me chocou, comecei a perder essa noção de horário de trabalho quando estava em casa. Então foi como se de repente minha casa fosse: minha casa, meu escritório, o lugar onde mais tarde quis pintar minhas unhas, onde bebi minha própria cerveja, recebi meus próprios companheiros, minha casa se tornou meu habitat 100%. Eu moro sozinha, eu esclareço (Sofía, San Telmo, tradução nossa).


Sentimentos encontrados


No entanto, em algumas entrevistas, emerge uma certa avaliação positiva, especialmente associada ao início do isolamento. Nesse contexto, os entrevistados ponderam sobre a oportunidade de passar mais tempo com a família. Em outros casos, descreve a sensação (principalmente no início do isolamento) de descanso ou “mini férias” e com a possibilidade de aproveitar melhor o tempo para assuntos pessoais – fazer alguma atividade física, ler livros, etc. De qualquer forma, com o passar do tempo, a sensação mudou e passou a ser vivida como um excesso de tempo convivendo com as mesmas pessoas na mesma casa. Da mesma forma, o tempo gasto em dispositivos tecnológicos para apoiar as atividades diárias mostrou-se excessivo: excesso de tecnologia expresso em grupos de whatsapp, horas de zoom ou reuniões virtuais, mensagens fora do horário de trabalho. Sofía destaca sobre sua experiência: “em um momento houve muito uso do Zoom, eu era muito a favor de pessoas que diziam que isso pode ser resolvido em um e-mail” (tradução nossa).

Por outro lado, uma das sensações experimentadas é a da solidão.


E aí, em relação à solidão, é complexo, porque eu acho que não tem nada a ver com solidão, mas eu passei por momentos em 2020 de bloqueio mental, criativo e eu trabalho em comunicação, trabalho com criatividade, e se bloqueando isso o caminho é muito complexo, porque os dias não param, mas eu também faço terapia e consegui superar isso me concentrando em coisas como: comprar plantas, concentrar no apartamento, deixar bonito e esse tipo de coisa (Facundo, San Telmo, tradução nossa).


Chama a atenção, no caso de pessoas solteiras ou que não possuem filhos dependentes, entre as quais aparece uma revalorização de seus lares, buscando estratégias para re-habitar seus espaços. Essas experiências foram associadas à possibilidade de compra de novos móveis ou

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mudanças no layout da casa, além de um maior número de plantas e o uso de varandas, terraços, janelas ou pátios. Cristina é aposentada e vive com o marido na zona das 'casinhas' de Lugano. Em seus relatos sobre as mudanças no cotidiano desde a pandemia, há uma reavaliação de seus 'privilégios' por ter um pátio: "no dia a dia, não mudou muito para mim, porque aqui é um bairro de casas baixas, então temos terra, temos plantas e temos verde, então eu tenho muito espaço, e isso…. e bem, isso significava que a única coisa que estava restrita era basicamente sair” (tradução nossa).


Dificuldades em manter a vida


Uma história repetida no contexto pandémico refere-se ao fato de as maiores dificuldades em torno da sustentação do quotidiano estarem associadas à gestão da escolarização das crianças. A escolarização em tempos de pandemia foi marcada por complicações na implementação de novas estratégias em torno da gestão de horários de trabalho remotos e/ou presenciais para adaptá-los às aulas virtuais (em todos os casos síncronas). Uma questão importante em relação ao retorno à frequência escolar é que ele não ocorreu da mesma forma em todos os estabelecimentos ou níveis de ensino. Assim, a gestão dos horários e dias dos cursos infantis implica, em vários casos, adaptações dos dias e rotinas de trabalho12. Da mesma forma, o acompanhamento das crianças durante o processo de adaptação à virtualidade trouxe desafios para os pais de crianças pequenas, que tiveram que assumir integralmente a educação de seus filhos. É o caso de Daniela, de San Telmo. Daniela é professora e mãe de dois filhos em idade escolar e, assim como o companheiro, no início da pandemia, começou a trabalhar remotamente. Nesse quadro, ele diz: “a organização durou duas semanas, [depois] tivemos que recalcular porque as circunstâncias mudaram, tivemos que reorganizar novamente... organização num prazo muito curto”.

Além das estratégias implantadas para apoiar a escolarização dos filhos, as famílias tiveram que gerar adaptações em torno das formas de cuidar dos filhos. É o caso dos filhos de Micaela de Lugano, cujo retorno ao trabalho não coincidiu com o retorno dos filhos à escola. Na nova dinâmica, embora no início com o companheiro se revezassem no cuidado dos filhos, quando ambos têm de ir trabalhar, a filha mais velha, de 11 anos, fica algumas horas por dia a cargo do irmão mais novo, 4 de anos: “Foi o primeiro ano que resolvi deixar meu filhinho para


12 As entrevistas foram realizadas principalmente com mulheres. Neste trabalho não é possível aprofundar este tema na perspectiva dos entrevistados do sexo masculino. Os entrevistados que modificaram suas rotinas trabalhavam em empregos mais flexíveis ou com bom relacionamento com seus chefes. Isso explicaria em parte, nesses casos, por que eles foram capazes de modificar a vida cotidiana.

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a irmã dele, Martu, 11, porque ele também tinha aquela coisa que eu tinha que ir trabalhar e com isso eles não iam pra escola, aí também tive que me organizar”. Micaela tem 35 anos, é ajudante de porteiro numa escola de Caballito e vive numa das torres de Lugano com os filhos e o companheiro.

Em alguns casos, a situação se inverteu. A dissociação se deu pelo retorno da frequência escolar e continuidade do trabalho virtual. Isso trouxe complicações porque a escola das crianças era próxima do local de trabalho e não da casa. É o caso de Noelia, moradora de Lugano, mãe de uma menina de 12 anos com TDAH, que, embora não precise ir trabalhar pessoalmente, é obrigada a se deslocar constantemente para as aulas da filha: “estou uma hora e meia em casa e eu volto e vou procurar ela, e a gente volta tipo duas, [...] quando ela não tem terapia, aquela terapia também está lá no centro” (tradução nossa).

Juan considera que suas filhas foram as mais afetadas pelo isolamento, pois estavam terminando o ensino médio quando a pandemia começou:


[...] ele as via como mais afetadas nesse sentido, por causa do assunto dos estudos, viu, elas terminaram o quinto ano no ano passado com a pandemia, elas não fizeram viagem, elas não fizeram reuniões, elas não tiveram a festa, tudo isso, então foi, vamos ver, a gente veio do trabalho por aí você viu um que você não percebe mas aí você viu e eu percebo que você viu, sei lá, por aí depressivas, por causa da questão de não ter o que fazer, o dia todo deitadas ou com o celular, vendo TV … (Juan, San Telmo, tradução nossa).


Com meus amigos do bairro, a realidade é que tudo ficou muito complicado, porque muitos deles têm filhos e o fato de irem para a escola virtualmente e tudo assim ficou muito complicado para eles poderem se reunir, né, a gente se vê de vez em quando, é meio complicado. A maioria dos meus amigos tem filhos, então há uma complicação (Gabriela, San Telmo, tradução nossa).


Mais uma vez, as dificuldades de sustentação da vida emergem com força nas dissociações ou lacunas que ocorrem entre virtualidade e face a face, tarefas de cuidado e manutenção da vida social.

Em alguns casos, a adaptação a estas novas formas de vida foi avaliada positivamente. É o caso de Paula, 34 anos, que vive em Lugano com duas filhas em idade escolar e o seu marido. Em alguns casos, a adaptação a estas novas formas de vida foi avaliada positivamente. É o caso de Paula, 34 anos, que vive em Lugano com duas filhas em idade escolar e o seu marido.:


[…] Eu sempre digo [ao meu marido], quando a gente volta... Agora, põe, estamos de férias pra gente, quando voltamos ao horário normal de novo, eu trabalho das 7 às 14, e ele trabalhava das 16 às 23. Era literal , eu cheguei "olá sim como vai", colocou três drinks com sorte, e ele ia embora e até as 12


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da noite não nos víamos, e às vezes nem nos víamos porque eu estava exausta de levantar às 6, eu fiquei dormindo, aí a gente tá tipo em umas férias, tá curtindo tudo e tá tranquilo (Paula, Lugano, tradução nossa).


Solidariedades e novos vínculos no bairro


O cuidado de adultos também reorganizou a sociabilidade em prédios e bairros:


Muitas pessoas adultas não queriam deixar suas casas, não queriam ir. Então a parte do vizinho, o porteiro, desempenhou muito lá, pode conversar, pode dar uma mãozinha… esse papel desempenhou muito ali. O que foi muito essa pandemia, entre nós aqui você viu, se a gente sabia que alguém estava positivo na casa ou não podia se mexer, bem, a gente deixou as coisas no corredor, entendeu, você se dá uma mão desse jeito (Micaela, Lugano, tradução nossa).


Os vizinhos tiveram um papel fundamental na manutenção da vida dos idosos do prédio. Fazer compras e ajudar com tecnologia (instruções para uso de videochamadas, pedidos de carros particulares ou pagamentos virtuais) foram as experiências mais relatadas entre os entrevistados. Nesse quadro, o papel do porteiro do prédio aparece como ator fundamental na gestão das tarefas assistenciais.

O contexto pandêmico parece ter promovido a revalorização dos laços de solidariedade articulados em redes apoiadas por vizinhos para facilitar a vivência do isolamento, principalmente para idosos e pessoas isoladas pela COVID.


Foi criado o grupo de WhatsApp em que os adultos, se precisassem, poderiam ir às compras para eles, para que não saíssem, para não se exporem. Como [aquela] solidariedade foi ativada um pouco, eu gostei muito disso, principalmente porque eu não conhecia bem meus vizinhos, então foi uma forma legal de me aproximar entre aspas. Isso foi fofo (Sofía, San Telmo, tradução nossa).


A esse respeito, Santiago, professor e diretor de um mestrado em gestão cultural que vive em San Telmo há 10 anos, destaca:


Desde a pandemia, eu me sentia uma coisa que o bairro historicamente tem sido bastante horizontal e generoso e organizado, o bairro é muito organizado, é um bairro com, historicamente com aquela passividade, então (...) rua ou no parque da praça, aí tinha, me parece, uma questão que era muito boa que havia uma certa possibilidade de organização em torno de mais do que questões de saúde, principalmente questões do bem, do cuidado (Santiago, San Telmo, tradução nossa).


No que diz respeito às novas estratégias de abastecimento de bens de consumo cotidiano, essas práticas resultaram em uma nova conexão com o bairro e negócios próximos, bem como



novas formas de compras. Nas contas dos moradores de Lugano, há uma maior ênfase nas compras virtuais devido a um surto de casos no hipermercado Coto, um de grande importância pela sua magnitude no bairro. Em ambos os bairros, os entrevistados afirmam que foram implantadas estratégias de racionalização para compras e idas a supermercados ou lojas, buscando reduzi-las ao mínimo e essencial durante a primeira etapa da ASPO. Da mesma forma, embora em alguns casos essas estratégias continuem em grande medida hoje, em outros casos voltaram às práticas de consumo pré-pandemia, de fazer a compra do dia. Há uma avaliação nos relatos sobre morar nas proximidades de lojas13 que são suficientes para que satisfazer suas necessidades. Em seguida, são apresentadas as percepções, apreciações e práticas de mobilidade nos bairros em que os entrevistados estão localizados.


Percepções ao redor do bairro


Assim como as práticas cotidianas que têm a ver com a manutenção da vida das pessoas foram afetadas pela imposição das medidas da ASPO, as apreciações, formas de ver e vivenciar o bairro também foram modificadas. Das entrevistas, recuperamos algumas histórias que dão conta das reflexões dos habitantes de San Telmo e Lugano sobre as mudanças, continuidades e rupturas no contexto do isolamento social preventivo e obrigatório.

No contexto da pandemia -como apontamos anteriormente-, San Telmo passou por mudanças substantivas. Em seus relatos, os entrevistados apontam que isso tem a ver com a perda de uma de suas características distintivas: sua qualidade turística. De repente, os turistas e as atividades associadas a eles desapareceram. Eles destacam que durante as restrições notaram menos ruído do trânsito e outros ruídos do bairro, como músicos de rua. Apontam que no contexto da pandemia têm uma maior utilização e fruição do espaço público. Em alguns casos, inclusive, a proximidade com Puerto Madero – como área de dispersão e passeio – é percebida como um privilégio associado à localização do bairro. Quanto aos aspectos negativos, destacam uma maior identificação de pessoas em situação de pobreza e de rua no bairro.

Tanto em San Telmo quanto em Lugano, os entrevistados valorizam os espaços verdes:


Comecei a redescobrir lugares e pessoas que não via quando saía para trabalhar na segunda, quarta e sexta-feira. O contato com o bairro era outro e com as pessoas. Então, redescobri o bairro, temos tudo no bairro, no sentido de alimentação. Apesar de haver um mercado, que a Cata me ajudou, comprei mais no bairro.


13 São lojas que vendem alimentos e produtos de primeira necessidade. Além disso, lojas de roupas, livros, bares e restaurantes que oferecem serviços de entrega, etc. Nas entrevistas, não é feita qualquer menção às condições de trabalho dos seus trabalhadores no contexto da pandemia de COVID-19.

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Uma das coisas de San Telmo é que vive do turismo, o turismo era intenso, e você encontra 20.000 turistas o tempo todo. Os turistas dizem que escolhem San Telmo, além de ser bonito, pitoresco, porque há algo que faz sentir que tem gente do bairro que nasceu aqui, ou viveu aqui, é isso que eu sinto. O que San Telmo tem é que é um bairro do qual você não pode sair, ou que você sempre volta para (Pía, San Telmo, tradução nossa).


Neste quadro, Facundo reflete sobre as características distintivas de San Telmo:


Não sei explicar, parece-me que é diferente dos outros bairros. E é bem único nessa distinção, é como um bairro que ainda está na moda, vamos ver, não está na moda como Palermo você vê que o bairro da moda, mas está sempre na moda, sempre tem muita atividade cultural, está presente entre a boêmia e a universidade o tempo todo. Moro em um prédio de sete andares, pequeno, e todos os apartamentos são parecidos com o meu e a grande maioria dos meus vizinhos são pessoas da minha idade, profissionais, solteiros, como todo mundo mais ou menos no mesmo. Para mim há muito o que fazer em San Telmo, atividades, e também é o bairro que mais fica nos dias em que tudo está morto, nos feriados, nos domingos. San Telmo é um festival, e tem muita personalidade de bairro, a comunidade de San Telmo é muito comprometida com o bairro, eles defendem muito (Facundo, San Telmo, tradução nossa).


E acrescenta, sobre sua relação pessoal, suas raízes com o bairro:


Tem uma coisa que me acontece com San Telmo que não sei se acontece em outros bairros, que é que quando saio reconheço os rostos de San Telmo. Como vizinhos do quarteirão, até do centro, me deparo com pessoas que sei que são do bairro. Os negócios bastante tradicionais, em geral, pertencem a pessoas que moram em San Telmo há muito tempo. Realmente existe esse sentimento, ou eu sinto esse sentimento de pertencimento, não sinto que tenha mudado tanto, acho que permanece (Facundo, San Telmo, tradução nossa).


Durante a fase de isolamento, os limites do bairro tornaram-se relevantes, como barreiras reconhecíveis: “Possivelmente tenho, atravessando a 9 de julho, a um quarteirão, um açougue, mas nem sei, porque a 9 de julho é a muralha da china, vou para o centro de San Telmo em vez de atravessar” (Facundo, San Telmo, tradução nossa) e Puerto Madero. A diferença é que Puerto Madero aparece como uma área de caminhada ou dispersão externa, que se integra através das novas práticas de mobilidade cotidiana.

No caso de Lugano, como os de San Telmo, os parques (Indoamericano, Malvinas, de la Ciudad, de las Victorias) desempenham um papel central na revalorização do bairro. Ter espaços verdes próximos surge como um valor reconhecível no ambiente do bairro. Da mesma forma, ter pátios, terraços ou varandas surge como um privilégio. Relacionadas aos espaços verdes, surgem novas práticas de lazer, como desconexões, caminhadas ou esportes. A esse respeito, Sofia conta:



y me compré esta silla para tomar sol en el balcón, porque era bueno si voy a estando na varanda quero ficar à vontade tomando sol, pegando aquela vitamina que não vou conseguir de outra forma neste momento. Antes da pandemia, também dava aulas em uma escola, trabalhava em uma rádio. Então saí de casa às sete da manhã e voltei às onze, doze da noite. Então minha casa é uma área de trânsito, por isso acho que gostei um pouco no começo. Às vezes me sinto culpada por dizer isso, mas depois digo que cada um lidou com essa situação da melhor maneira possível... (Sofía, San Telmo, tradução nossa).


Quem mora nos prédios valoriza os negócios que são oferecidos em cada ‘faixa’: “Em cada faixa você tem seus próprios negócios, digamos, eles se multiplicam. Padarias, cabeleireiros, lavanderias, livrarias, lojas, quiosques…” (Paula, Lugano, tradução nossa). A Rua Chilavert, como zona comercial e de passeio, é também valorizada nos testemunhos como local de bairro que contém uma ampla oferta comercial de bens e serviços relacionados com vestuário e gastronomia, principalmente.

Por fim, os entrevistados de ambos os bairros destacam a qualidade de 'bairro', de 'vizinhança' que sentem ao percorrer seus espaços diariamente e, ao mesmo tempo, valorizam a conectividade dos bairros com o restante da cidade, quer graças às múltiplas opções de transporte público, como acessos para se deslocar em veículos próprios. Nesse sentido, Juan destaca em seu bairro:


O que tem, que você estava me contando antes, o que tem de bom, isso é outra coisa que não acontece em outros bairros, principalmente aqui na Capital, é que quando falo com os amigos eu costumo dizer como é, quando eles chegam em casa, e ele fica surpreso porque estamos entrando no bairro e todos dizem 'ei, olá, como você está'. Como mais da província, que são mais de… é que aqui não acontece em bairros como Palermo (Juan, Lugano, tradução nossa).


Da mesma forma, Paula diz:


[...] esse bairro tem uma coisa assim, eu percebo isso como uma nostalgia, então quem está aqui percebe que a gente trata o bairro, porque eu não conheço o meu caso, por exemplo, herdei dos meus avós que não estão mais aqui, e nós que moramos no meu prédio somos todos filhos, netos de, é como se a gente desse, não sei te dizer, um valor (Paula, Lugano, tradução nossa).


A título de encerramento. Transformações, persistência e valores em uma pandemia


A pandemia gerou grandes mudanças nos modos de vida urbanos. Como dissemos, olhar para as práticas concretas -isto é, pensar a pandemia temporal-espacial- nos permite compreender os processos situados que -em última instância- constroem a pandemia.



Neste artigo nos concentramos em dois bairros "tradicionais" de Buenos Aires -San Telmo e Lugano- nos quais há uma forte presença residencial de setores médios. As transformações sociourbanas estavam ocorrendo em ambos os bairros nos anos pré-pandemia. No entanto, a pandemia gerou rupturas nessas transformações e outras ocorreram. San Telmo tem uma marca turística que vem se formando há décadas. Durante a pandemia, no entanto, o status de San Telmo como bairro turístico se perde. Isso levou os vizinhos a percebê-lo como um 'bairro'. Em Lugano, novos laços sociais entre vizinhos foram gerados, com atores centrais como os porteiros, no caso dos edifícios. Nas histórias dos moradores desses dois bairros, adaptar e utilizar espaços abertos e/ou verdes, tanto em parques públicos quanto dentro de suas próprias casas, foi fundamental para a manutenção da qualidade de vida.

Neste texto nos interessou investigar as formas como a pandemia foi vivenciada territorialmente. Ou seja, focamos na experiência do isolamento social preventivo e compulsório e seus impactos na sociabilidade do bairro, buscando compreender a forma como as pessoas de carne e osso sustentavam a vida. Sustentar a vida tem um componente econômico. No entanto, como mostramos, não termina aí. Mudanças nas formas de sociabilidade, avaliações de redes e relações de vizinhança, afetividade como construtora de modos de estar no bairro mostram a importância de se pensar as práticas em termos de vida: sustentar a vida implicou um rearranjo afetivo socioterritorial. Se a pandemia colocou entre parênteses para milhões de pessoas 'a boa vida' entendida como uma coisa moral-íntimo-econômica (BERLANT, 2020) ou processos de 'vida normal', novas formas de viver a pandemia também foram produzidas para além da crise e da ruptura.

Esse processo de sustentação da vida produziu uma mudança na espacialidade dos vínculos e das sociabilidades. Com a restrição da mobilidade, a proximidade assumiu um papel central na sustentação da vida, implicando uma (re)valorização das redes locais e novas relações com os vizinhos que conduziram a uma reconstrução e reconhecimento do ambiente do bairro em termos físicos e afetivos. Com isso queremos dizer que a reconstrução do bairro não foi apenas um processo dado pela pandemia, mas que foi um trabalho ativo de construção de formas de vida que envolviam sustentá-lo durante a pandemia.

À medida que as práticas se instalam em processos tempo-espaciais, a pandemia, sem dúvida, mudará as práticas culturais urbanas. Por um lado, o espaço físico sofreu alterações. Muitos deles foram modificações que provavelmente serão revertidas (certas pedestres, barreiras para incentivar o distanciamento). No entanto, o espaço vivido não é apenas nutrido pela materialidade, mas também pelas experiências. Assim, a propagação do vírus - acreditamos

- gerará mudanças muito mais duradouras do que a própria pandemia. Essa nova normalidade

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será construída por práticas como a proximidade conquistada, o bairro revisitado, o medo de novas mudanças mesmo quando o vírus se naturalizou ou desapareceu. 'Tomar gosto', 'nova normalidade' ou simplesmente naturalizar as novas formas de sustentar a vida são formas pelas quais a pandemia vai continuar diariamente nas cidades.


REFERÊNCIAS


BERLANT, L. El optimismo cruel. Buenos Aires: Caja Negra Editores, 2020.


CASADO, M. San Telmo: sin turistas, así lo está reinventando una nueva generación de comerciantes. La Nación. Buenos Aires, 18 jun. 2021. Disponível em: https://www.lanacion.com.ar/buenos-aires/san-telmo-sin-turistas-asi-lo-esta-reinventando- una-nueva-generacion-de-comerciantes-nid18062021/. Acesso em: 15 nov. 2021.


CUTOLO, V. O. Historia de los barrios de Buenos Aires. Editorial Elche, 1996.


GOICOECHEA, M. E. et al. Cartografías de la renovación. In: JORNADAS DE INVESTIGACIÓN DE LA FADU-UBA, 2020, Buenos Aires. Actas […]. Buenos Aires, 2020.


HUETE GARCÍA, M.Á.; MERINERO-RODRÍGUEZ, R.; MUÑOZ MORENO, R. Los

sistemas locales de bienestar. Un análisis desde las políticas de regeneración urbana. Revista de estudios políticos, no 169, p. 201-233, 2015.


MAGNANI, J. G. C. Da Periferia ao Centro: Trajetórias de Pesquisa em Antropologia Urbana. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.


MAUSS, M. Ensayo sobre el don. Forma y función del intercambio en las sociedades arcaicas. Buenos Aires: Katz Editores, 2009.


MILLER, D. (ed.). Home Possessions. Material Culture behind Closed Doors. Oxford: Berg, 2001.


NAROTZKY, S.; BESNIER, N. Crisis, Valor y Esperanza: Repensar la Economía.

Cuadernos de Antropología Social. Buenos Aires, n. 51, p. 27-48, 2020.


POORE, F. Qué pasó con la Villa Olímpica tras los Juegos de la Juventud. Chequeado. Buenos Aires, 24 ago. 2021. Disponível em: https://chequeado.com/el-explicador/que-paso- con-la-villa-olimpica-tras-los-juegos-de-la-juventud/. Acesso em: 15 nov. 2021.


ZICCARDI, A. Introducción. Las Condiciones de Habitabilidad y Del Entorno Urbano Para Enfrentar La Pandemia. Conceptos Claves y Metodología de Análisis.” In: ZICCARDI, A. (ed.) Habitabilidad, Entorno Urbano y Distanciamiento Social: Una investigación en ocho ciudades mexicanas durante COVID-19. México, DF: Universidad Nacional Autónoma de México, Instituto de Investigaciones Sociales, 2021. p. 15-32.



Como referenciar este artigo


DI VIRGILIO, M. M.; FRISCH, M. A.; PERELMAN, M. D. A pandemia territorializada: Vida diária em dois bairros de Buenos Aires. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022002, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp1.15863


Submetido em: 16/01/2022 Revisões requeridas em: 16/02/2022 Aprovado em: 30/03/2022 Publicado em: 25/04/2022



LA PANDEMIA TERRITORIALIZADA: LA VIDA COTIDIANA EN DOS BARRIOS DE BUENOS AIRES


A PANDEMIA TERRITORIALIZADA: VIDA DIÁRIA EM DOIS BAIRROS DE BUENOS AIRES


TERRITORIALIZED PANDEMIC: EVERYDAY LIFE IN TWO NEIGHBORHOODS OF BUENOS AIRES


María Mercedes DI VIRGILIO1 María Agustina FRISCH2 Mariano Daniel PERELMAN3


RESUMEN: Este artículo trata la experiencia de la pandemia por COVID-19 desde la perspectiva de habitantes de dos barrios de la Ciudad de Buenos Aires, Argentina. En ese marco se detiene en los cambios, adaptaciones y resignificaciones que el contexto pandémico impuso en la vida cotidiana en su interfaz con el territorio. Presta especial atención a la experiencia del aislamiento social preventivo y obligatorio y a sus impactos en la sociabilidad barrial. El análisis se apoya en el supuesto de que la pandemia, si bien de carácter global, tiene efectos y sentidos con un anclaje local, enfatizando su carácter situado. Efectos y sentidos se leen en articulación con las prácticas de adaptación que realiza la ciudadanía. La estrategia metodológica en la que se apoya el trabajo es cualitativa. Se desarrollaron 11 entrevistas en profundidad a residentes de los barrios de Lugano y San Telmo de la Ciudad de Buenos Aires, en el mes de julio de 2021. Los principales hallazgos tienen que ver con las estrategias de adaptación individuales y colectivas que se configuran en el contexto pandémico para dar sostén a la vida cotidiana.


PALABRAS CLAVE: Pandemia. Territorio. Vida cotidiana. Movilidad. Buenos Aires.


RESUMO: Este artigo trata da experiência da pandemia de COVID-19 na perspectiva de moradores de dois bairros da cidade de Buenos Aires, Argentina. Neste quadro, debruça-se sobre as mudanças, adaptações e redefinições que o contexto pandêmico impôs ao quotidiano na sua interface com o território. Dá atenção especial à vivência do isolamento social preventivo e obrigatório e seus impactos na sociabilidade do bairro. A análise parte do pressuposto de que a pandemia, embora de natureza global, tem efeitos e significados com ancoragem local, enfatizando sua natureza situada. Efeitos e significados são lidos em


1 Universidad de Buenos Aires (UBA), Instituto de Investigaciones Gino Germani (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Profesora titular regular de la Facultad de Ciencias Sociales. Investigadora principal CONICET. Dra. en Ciencias Sociales. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5801-0784. E-mail: mercedes.divirgilio@gmail.com

2 Universidad de Buenos Aires (UBA), Instituto de Investigaciones Gino Germani (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Lic. en Sociología. Becaria doctoral (candidata al doctorado en Ciencias Sociales, UBA). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3999-1927. E-mail: magustinafrisch@gmail.com

3 Universidad de Buenos Aires (UBA), Instituto de Investigaciones Gino Germani (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Jefe de Trabajos Prácticos de la Facultad de Filosofía y Letras (UBA). Investigador Independiente CONICET. Dr. en Antropología. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4914-3198. E-mail: mperelman@conicet.gov.ar

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articulação com as práticas de adaptação realizadas pelos cidadãos. A estratégia metodológica em que se baseia o trabalho é qualitativa. Foram realizadas 11 entrevistas em profundidade com moradores dos bairros Lugano e San Telmo da Cidade de Buenos Aires, no mês de julho de 2021. Os principais achados têm a ver com as estratégias de adaptação individual e coletiva que se configuram no contexto da pandemia para sustentar a vida diária.


PALAVRAS-CHAVE: Pandemia. Território. Vida quotidiana. Mobilidade. Buenos Aires.


ABSTRACT: This article deals with the experience of the COVID-19 pandemic from the perspective of inhabitants of two neighborhoods in the City of Buenos Aires, Argentina. In this framework, it dwells on the changes, adaptations, and redefinitions that the pandemic context imposed on daily life at its interface with the territory. It pays special attention to the experience of preventive and compulsory social isolation and its impacts on neighborhood sociability. The analysis is based on the assumption that the pandemic, although global in nature, has effects and meanings with a local anchor, emphasizing its situated nature. Effects and meanings are read in articulation with the adaptation practices carried out by citizens. The methodological strategy on which the work is based is qualitative, 11 in-depth interviews were carried out with residents of the Lugano and San Telmo neighborhoods of the City of Buenos Aires, in the month of July 2021. The main findings have to do with the individual and collective adaptation strategies that are configured in the pandemic context to support daily life.


KEYWORDS: Pandemic. Territory. Daily life. Mobility. Buenos Aires.


Introducción


Desde enero de 2020, los cambios ocurridos a partir de la propagación del virus COVID- 19 y las acciones que tomaron los diferentes Estados se ha tornado un tema insoslayable en los estudios sociales. Esta preocupación encuentra particular sentido al considerar que la vida urbana se modificó sustancialmente. Las políticas tendientes a evitar y contener la propagación del virus tuvieron un efecto central en los modos de vida urbanos y las percepciones sobre la ciudad. Al referirse al caso mexicano Alicia Ziccardi (2021, p. 16), plantea que:


[…] las consignas ‘Quédate en casa’, ‘Lávate las manos’, ‘Mantén tu sana distancia’, e inclusive ‘Usa el cubre boca’ obligan revisar el modo de vida urbano, a refuncionalizar el uso privado del espacio de las viviendas y el uso público de los bienes y servicios urbanos. Asimismo, obligaron a replantear las actividades económicas esenciales, las educativas y las prácticas laborales, así como a redefinir las diferentes modalidades de la vida familiar, comunitaria y social, disminuyendo su intensidad y reemplazando en la medida de lo posible la interacción presencial por la virtual.


Estas ‘consignas’ de carácter global, tuvieron, sin embargo, traducciones o adaptaciones locales. No sólo porque fueron variando de país en país, sino también porque los propios sistemas y modos de vida urbanos sobre los que se inscribieron difieren de región en región, de



ciudad en ciudad y, muchas veces, de barrio en barrio. De este modo, la vida en pandemia fue generando nuevas prácticas y usos del espacio público y privado que han modificado formas de sociabilidad y maneras de ver la ciudad. En este marco, el artículo propone desplegar una mirada territorial del aislamiento, la cuarentena y su progresiva apertura en el contexto de la pandemia por COVID-19 en dos barrios de clases medias de la de Ciudad de Buenos Aires, recuperando las experiencias de sus residentes, tanto en sus viviendas como en los circuitos laborales, escolares y de cuidados.

En Argentina, el gobierno nacional decidió una cuarentena estricta como estrategia para evitar los contagios y la propagación del virus que en la Ciudad de Buenos Aires se mantuvo por más de ocho meses4. El aislamiento social, preventivo y obligatorio (de aquí en más, ASPO) preveía una serie de “excepciones” para el personal de salud, funcionarixs de los diferentes niveles de gobierno, las Fuerzas Armadas y de Seguridad, trabajadorxs de los sectores de alimentos, medicamentos y transporte. También contemplaba que los negocios de cercanía se mantuvieran abiertos para garantizar el aprovisionamiento de alimentos, medicamentos y productos de primera necesidad. La cuarentena se fue extendiendo a través de diferentes fases que se decretaban en función del tiempo de duplicación de los contagios.

En este marco, el artículo da cuenta del modo en el que las medidas tomadas por el gobierno nacional y el gobierno de la Ciudad de Buenos Aires para prevenir los contagios masivos modificaron formas de sociabilidad, movilidad, trabajo y cuidado en Buenos Aires. Lo hace a partir de un estudio de casos en profundidad en dos barrios de la Ciudad de Buenos Aires: el barrio de Lugano y el de San Telmo. Con base en el trabajo de campo, pretende contribuir a pensar los complejos cambios ocurridos en los modos de vida urbanos durante la pandemia que entendemos que deben ser pensados de forma multidimensional5 y multiescalar. Si bien la propagación del virus ha generado una crisis global, una mirada situada y desde adentro (MAGNANI, 2012) permite comprender el modo en el que la pandemia impactó en el espacio urbano porteño, reconfigurando usos públicos y privados, retroalimentando desigualdades preexistentes y produciendo nuevas.

La perspectiva analítica construida a partir de la investigación tiene algunas implicancias teórico- metodológicas. En principio, el modo de pensar la pandemia. Como


4 El 19 de marzo de 2020, en el marco de la declaración de pandemia emitida por la Organización Mundial de la Salud, el Gobierno Nacional decretó el Aislamiento social, Preventivo y Obligatorio mediante el Decreto de Ley 297/2020.

5 Multidimensional porque la pandemia y las medidas impulsadas para hacerle frente impactaron en la vida intra doméstica, social, económica y laboral -entre otras dimensiones- de los hogares. Asimismo, afectaron la dinámica de las viviendas, de los barrios y de las ciudades.

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hemos plantado en otros lugares (borrado) si bien -como señalamos anteriormente- una pandemia, por su propia naturaleza, es de carácter global, sus efectos y sus sentidos tienen un anclaje local. Estos efectos y sentidos se configuran en diálogo con las medidas que los diferentes gobiernos toman para hacer frente a los desafíos de la pandemia en su interfaz con las características de los entornos urbanos, las de los sistemas locales de bienestar6 y, también, con las prácticas que lxs ciudadanxs desarrolla para adaptarse y hacer frente a la nueva situación. Asimismo, entendemos que la pandemia no puede pensarse en abstracto. No sólo porque la propagación del virus es eminentemente espacial sino porque el propio espacio tiene su lógica, su dinámica y su historia. En suma, su territorialidad. Las ‘consignas’ de carácter global se trasladan al territorio como políticas que fueron oscilando entre la forma de mandatos punitivos o recomendaciones sanitarias, inscribiéndose en las prácticas y formas de vida de las personas, transformando sus relaciones con el entorno urbano, así como sus percepciones del espacio y las formas en las que se vinculan con la ciudad y con lxs otrxs. En este sentido, las políticas que han contribuido a mitigar la(s) pandemia(s) -el “quédate en casa”, la prohibición de circulación, etc. – y las políticas tendientes a remediar los efectos de esa inmovilidad a nivel de los barrios y de los hogares, pueden pensarse espacialmente.

La pandemia y las prácticas de las personas ordinarias (aceptaciones, resistencias, nuevas relaciones) pueden entenderse a partir de comprender el esfuerzo que implicó ‘sostener la vida’ en la pandemia, recuperando la dimensión colectiva de dichas prácticas. Sostener la vida involucra formas de cooperación, adhiriendo o formando parte de colectivos que dan sentido a una vida que “valga la pena” (NAROTZKY; BESNIER 2020, p. 27). Entendemos que esta perspectiva nos permite comprender “la forma en que una sociedad representa el valor social (worth)” (NAROTZKY; BESNIER, 2020, p. 27) y las diferencias significativas (límites, instituciones, categorías de personas) con los valores que se promueven desde el ámbito de la política pública. En suma, el estudio de las prácticas no puede pensarse sin comprender las valoraciones – múltiples – que las persona hacen. Estas prácticas no sólo están comprendidas por los marcos de referencia y las experiencias sino también por el lugar y las coordenadas vitales en las que ocurren.

El trabajo se apoya en la realización de 11 entrevistas en profundidad a personas de clases medias que residen en los barrios de San Telmo y Lugano (5 y 6 entrevistas,


6 El concepto refiere a las acciones e intervenciones que los gobiernos y administraciones locales priorizan en el ámbito del bienestar. En ese marco, recoge las políticas y programas, las estrategias y prácticas de innovación organizativa y las pautas de interacción con agentes públicos y privados para la provisión y producción de servicios (HUETE GARCÍA; MERINERO RODRÍGUEZ; MUÑOZ MORENO, 2015).

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respectivamente) en la Ciudad de Buenos Aires. Las entrevistas se realizaron de manera virtual durante el mes de julio del año 2021. Estas entrevistas tuvieron como objetivo la producción de información descriptiva sobre la importancia de los anclajes territoriales y de los arraigos locales entre lxs entrevistadxs en los procesos vinculados a la reproducción de la vida cotidiana y de cuidados y la forma y los sentidos que adquieren en los diferentes territorios. Asimismo, tenían por propósito aproximarnos a las percepciones de lxs habitantes de carne y hueso y a sus formas de entender y de representar el contexto pandémico.


Buenos Aires y sus barrios


Figura 1 – Barrios de la Ciudad de Buenos Aires


Fuente: Departamento de Cartografía, Dirección General de Estadísticas y Censos (Ministerio de Hacienda, Gobierno de la Ciudad de Buenos Aires)



Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022002, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718



San Telmo es un barrio ubicado en la zona sur de la Ciudad de Buenos Aires (ver Figura 1), muy cercano al centro financiero de la ciudad y a los centros de la administración pública del gobierno federal y del local. Es contiguo al barrio de Puerto Madero. Los servicios y las infraestructuras urbanas que lo caracterizan son adecuadas, están bien mantenidas y, en algunas zonas, registran estándares muy superiores a los de otros barrios del sur de la ciudad -a pesar de registrar algunos signos aislados de deterioro. Se trata de un pequeño barrio histórico que concentra numerosos hitos y lugares icónicos que permanecen desde el momento de la fundación de Buenos Aires. Desde la década de 1980, el barrio experimenta un proceso de fuerte transformación. Gradualmente dejó de ser un barrio residencial y muchas casas fueron demolidas en pos del desarrollo de otros usos, principalmente edificios en altura y actividades de servicios vinculadas al turismo. Simultáneamente, surgieron otros tipos de ocupación precaria, incluyendo hoteles, pensiones y ocupaciones de inmuebles. Sin embargo, la permanencia de estos tipos de hábitat ha ido progresivamente en declive vis a vis la evolución del proceso de renovación –en términos de los usos urbanos y del perfil sociodemográfico de sus pobladores– que tiene lugar en San Telmo desde fines de la década de 1970. En ese marco, se ha desalojado a los ocupantes ilegales y se han convertido las pensiones en albergues juveniles (hostels).

Los cambios en el barrio llevan aproximadamente cuatro décadas. En ese marco, las actividades vinculadas a los servicios, en especial el hotelería, la gastronomía y los servicios culturales se han ido expandiendo progresivamente. Este proceso despegó especialmente después de la crisis de 2001-2002 y estuvo vinculado al boom turístico internacional de la ciudad que impulsó nuevos negocios comerciales e inmobiliarios. Durante los últimos años, las actividades relacionadas con el turismo se han diversificado y se han vuelto más complejas, desde las tradicionales antigüedades hasta una amplia gama de servicios gastronómicos, hoteles boutique, hostales y tiendas de ropa de diseño. El barrio también se ha convertido en un imán educativo y se ha consolidado como área cultural desde la ampliación del Museo de Arte Moderno y la remodelación de viejas casonas transformadas en bares y terrazas de moda. Las políticas de protección históricas han retrocedido para favorecer las iniciativas de mercado vinculadas al turismo. La pandemia golpeó fuertemente la economía local relacionada a las actividades propias de la industria turística, gastronómica y hotelera. Según la administradora de uno de los lugares más icónicos del barrio que se mantiene en pie desde el siglo XIX, el Mercado de San Telmo, durante el 2020, el 12% de los locales tuvo que cerrar (el Mercado reúne 150 locales): “las tiendas de objetos y souvenirs fueron las más afectadas por la falta de


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turismo y porque el argentino no suele comprar.7 Luego, el segundo rubro más golpeado fue la gastronomía, por todas las restricciones que se implementaron” (CASADO, 2021, [s.p.]).

Lugano, en cambio, está ubicado una antigua periferia de la Ciudad de Buenos Aires (ver Figura 1), en los límites que la separan de los municipios que conforman su conurbación. A diferencia de San Telmo – barrio fundacional –, la urbanización de Villa Lugano es relativamente reciente. Sus orígenes se remontan a 1908, fecha para la cual el empresario José Soldati inicia la subdivisión de los terrenos que le dieron origen. Para incentivar el proceso, Soldati consiguió modificar el trazado ferroviario original del ex ferrocarril Gral. Belgrano haciéndolo pasar por tierras de su propiedad. Como contraparte, se haría cargo del pago de los sueldos de los trabajadores y de los costos de construcción de la estación de Villa Lugano.8

En sus primeros años, el crecimiento de la zona de Villa Lugano fue modesto, debido a que no permitía vislumbrar un progreso edilicio importante, inclinándose mayormente a la instalación de fábricas y comercios (CUTOLO, 1996). Las décadas de 1920 y 1930 fueron testigo de la expansión del proceso de loteo. A través del loteo se propició el asentamiento de nuevas familias migrantes europeas y/o locales. Uno de los elementos que caracteriza el periodo inicial de urbanización del área es el hecho de que el crecimiento del parque habitacional se produce merced a la iniciativa del mercado inmobiliario privado. Este último supo promover el desarrollo de viviendas unifamiliares en lote propio, alternadas con un área comercial y de servicios en las inmediaciones de la vieja estación de trenes.

A principios de la década de 1940, la instalación del basurero municipal (o la Quema) – en donde se vertían los residuos del resto de los barrios de la Ciudad – desalentó el proceso de poblamiento del barrio y el atractivo del área para el desarrollo inmobiliario privado. Al promediar la década del 1950, el barrio se fue densificando con la formación de urbanizaciones precarias y el emplazamiento de conjuntos urbanos de vivienda social que atrajo a sectores de menores ingresos.

En la actualidad, Villa Lugano es el barrio de la Ciudad que concentra el mayor número de asentamientos informales. Asimismo, la existencia de gran cantidad de espacios vacíos propició la construcción de edificios públicos y urbanizaciones a cargo del estado y/u otras organizaciones sociales. Desde inicios de la década de 2000, el barrio experimenta importantes transformaciones motorizadas a través de proyectos realizados en articulaciones público- privadas bajo la órbita de la Corporación Buenos Aires Sur (CBAS). El proceso se aceleró a



7 Si bien la población local no consume en estas tiendas, o bien está empleada en estos comercios, o bien – directa o indirectamente les brinda servicios – limpieza, provisión de productos para la venta, papelería, etc.

8 La estación entró en funcionamiento en 1919.

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partir del año 2014, con la creación del distrito del Deporte y el desarrollo del Gran Proyecto Urbano “Villa Olímpica” en el ex Parque de la Ciudad. La iniciativa se desarrolló en pos de la realización de los Juegos Olímpicos de la Juventud 2018 y se apoyó en la promoción de actividades de producción de artículos deportivos o afines y de la práctica deportiva, acompañada de fuertes inversiones en obra pública de envergadura (GOICOECHEA et al., 2020).9


La vida cotidiana en pandemia


La vida de todas las personas se vio afectada debido a las restricciones que se implementaron a partir de la propagación del virus por el COVID-19. El efecto más inmediato de las medidas preventivas de aislamiento para evitar y contener la propagación del virus en Argentina fue una drástica y repentina inmovilización de las personas a partir del decreto del ASPO. Esta inmovilización supuso que las personas se quedaran en sus casas, solo pudiendo circular quienes estuvieran exceptuados bajo la obligatoriedad de portar permisos de circulación que justificaran sus traslados. Se desplegaron controles a la movilidad en todo el territorio nacional y la Ciudad de Buenos Aires no fue una excepción.

De esta manera, las viviendas cobraron un protagonismo inusitado: dejaron de ser espacios circunscritos la esfera privada y al espacio íntimo (MILLER, 2001) para convertirse en espacios totales – al decir de Mauss (2009), el trabajo, la educación, el cuidado, la dispersión, la salud, la interacción con otras personas; todo ello ocurrió por largos meses en el ámbito de la vivienda. Esto supuso, por un lado, una serie de transformaciones en las prácticas cotidianas, en las valoraciones del espacio, de interacciones con el resto de las personas, con lxs vecinxs y el barrio. Por el otro, todas estas adaptaciones se fueron construyendo, actualizando y modificando a partir de las posibilidades y capacidades reflexivas de quienes las encarnan.

La suspensión de la movilidad laboral afectó la dinámica de las vidas cotidianas, redefiniendo los circuitos cotidianos organizados alrededor de los lugares de trabajo.10 En algunos casos, hasta la elección de las escuelas de lxs hijxs estaban determinadas por la cercanía



9 En el mes de agosto de 2021, la propuesta de vender estas viviendas con créditos accesibles se había concretado. Sin embargo, según denuncia un grupo de vecinxs, faltan espacios verdes y equipamientos. En el año 2020, se subastaron 40 locales comerciales que a mediados del año 2021 permanecían vacíos. Desde el Instituto de Vivienda de la Ciudad (IVC) y la Corporación Sur, la sociedad del Estado encargada de las obras, señalaban que los comercios se escrituraron en abril del año 2021 (POORE, 2021).

10 Los testimonios y el material de entrevistas que sirvió de base al trabajo corresponden a un grupo de vecinxs y habitantes de sectores medios. En ese marco, no es posible indagar diferencias entre trabajadores y trabajadoras de diferentes grupos sociales. Se trata de una muestra cualitativa homogénea en su composición social y heterogénea en cuanto a su inserción residencial -un barrio céntrico y otro pericentral.

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a estos espacios antes que al hogar. Las compras cotidianas, los turnos con médicos o terapias también estaban organizadas alrededor del lugar de trabajo. Tal es el caso de Noelia, residente de Lugano, quien tiene acomodadas en la cercanía a su trabajo las actividades educativas de su hija, en el centro de la ciudad:


[…] al estar todo el día ahí yo busqué colegio ahí, psicopedagoga por ahí, la terapia por ahí, todo por ahí, porque decís salís de trabajar, la retirás de la escuela, vas un rato hasta la psicopedagoga que tiene dos horas, una hora, y después nos volvemos juntas. Era hacer todo por ahí, era muchísimo más práctico (Noelia, Lugano).


Si bien algunas de las personas entrevistadas -aquellas que trabajan en servicios esenciales o en sectores ‘exceptuados’11 pudieron retomar enseguida sus actividades laborales de forma presencial, cumpliendo los horarios previos a la pandemia, sus rutinas asociadas a su movilidad cotidiana también se vieron alteradas. Es decir que, en términos generales, la vida social se vio fuertemente afectada. Gran parte de las interacciones que con anterioridad a la pandemia suponían desplazamientos y se integraban a los itinerarios cotidianos, comenzaron a ser medidas por la tecnología.

Pía, de 57 años, residente de San Telmo, actriz y profesora de teatro en un secundario privado de Palermo, relata:


Tuve muchas etapas, hubo una etapa de sorpresa, una etapa donde no la pasé bien porque yo tuve que desarrollar un conocimiento de la tecnología que no lo tenía y me fue traumático, en el sentido de que lo tuve que hacer por obligación. Yo doy clases, soy actriz y además soy profesora de teatro, entonces tuve que rápidamente adaptarme a la tecnología más allá de cómo dar clases de teatro, que eso con las chicas y sus amigos viste “che, qué estás haciendo”, bueno, estoy haciendo este ejercicio, eso no era tanto porque al ser todos que estábamos en esa situación no era tan difícil pedir ayuda, pero sí a mí me resultó difícil lo que es el conocimiento tecnológico en sí (Pía, San Telmo).


El sostenimiento de la vida se asoció al uso de las tecnologías, requiriendo grandes esfuerzos de aprendizaje en el uso de dispositivos y programas antaño desconocidos. Juan, un vecino de Lugano que trabaja en la industria metalúrgica, retomó sus actividades laborales a pocas semanas de haber iniciado la pandemia, junto a su mujer que trabaja en la misma empresa, reconvertida a la producción masiva de mascarillas. Sin embargo, reconoce que su vida social se vio fuertemente afectada, particularmente respecto del vínculo con sus amigos– se vio obligado a dejar de jugar al fútbol. Debido a que echaban de menos el tercer tiempo que solían


11 Profesionales de la salud, del transporte, trabajadoxs de comercio, etc.

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compartir los sábados después de sus partidos, empezaron a hacer zoom, todos los sábados en el horario del tercer tiempo habitual. Asimismo, y como relataron otrxs entrevistadxs, dejó de ver a sus familiares que viven en la provincia de Buenos Aires.


La reorganización de la sociabilidad cotidiana


La reorganización de la sociabilidad cotidiana en la pandemia parece haber estado atravesada, además, por sentimientos asociados a la gestión misma de la pandemia. Emerge con fuerza el temor a los contagios y la preocupación se expresa en relación a las posibilidades de contagiar-a o contagiarse-de, familiares no convivientes. Una de las modalidades de cuidado adoptadas para los encuentros familiares lo relata Gabriela, de San Telmo: “en el caso de mi familia, bueno mi mamá vive a una cuadra, pero yo a su casa no entro, entendés (...) sin ir más lejos hace dos semanas fue el cumpleaños de una de mis hermanas y para que fuéramos al cumpleaños nos tuvimos que testear todos antes”.

Los vínculos se organizan bajo la modalidad de ‘burbuja’, que incluye a un familiar o amigo(s) con quienes es posible juntarse más asiduamente de manera distendida. Los encuentros son relatados como una necesidad ‘mental’ o de ‘salud emocional’ de encuentros cara a cara ‘sin barbijo’ con otrxs con quienes compartir y descomprimir la cotidianeidad del encierro. Alrededor de estas ‘burbujas’ presenciales de intimidad compartida, se despliegan una serie de prácticas o formas de vinculación nuevas. Al respecto, Facundo comenta que al inicio de la pandemia, con sus amigxs compartían un documento Excel en donde cada cual informaba acerca de sus otras reuniones (previas y posteriores a sus encuentro) como medida de precaución para evitar la propagación del virus en caso de que apareciera un contagio:


Después que empezó a aflojar, incluso ya dentro del primer trimestre armamos con un grupito de amigues que siempre somos los mismos, cuatro en total, burbuja. Armamos un excel a ver “yo tengo contacto con esta persona, esta con esta persona” bueno, en tanto avisemos si tenemos contacto con otres terceres distintos de la lista estaba todo bien (Facundo, San Telmo).


El relato de Paula sobre sus encuentros con una amiga nos permite observar las justificaciones que sostienen la necesidad de los encuentros cara a cara:


Ella tiene a sus tres nenas, tiene a su marido y bueno, aire puro te lo pido por favor, igual era ponele no sé, una o dos horas tomar mate, ella con el suyo, yo con el mío, tomar un café y bueno, vamos a hablar porque la verdad que sino también terminaba [enloqueciendo] (Paula, Lugano).



Las valoraciones negativas del aislamiento se asocian, también, con la sensación de encierro:


Una de las cosas que me pasó en la pandemia, a la mitad, todavía no podíamos salir, y es que tuve lo que después me di cuenta con mi psicóloga y mi hermana que también es psicóloga, tuve una crisis de claustrofobia. Pero fue muy notoria, porque lo sentí en el cuerpo, me agité, sentía los síntomas del COVID, pero más exagerado, tenía como taquicardia viste, me faltaba la respiración y no podía (Pía, San Telmo).


O de miedo y angustia: “también viví mucho miedo, surgió el miedo a contagiarse, el miedo a “llegó el fin del Mundo”, a que el Mundo se va a acabar, qué está pasando, yo sentía que estaba viviendo en una película, y que en algún momento alguien iba a poner el stop” (Pía, San Telmo). “Yo igual también a veces medio paranóico, soñaba sí por ejemplo COVID por todos lados… pero trataba a nivel consciente, no estaba pensando en eso todo el día” (Santiago, San Telmo).

Otros relatos señalan con la sensación de disociación. Tal es el caso de Sofía, de 30 años, quien vive sola en San Telmo y trabaja en una asociación civil. Parte del aislamiento lo hizo con un amigo, también entrevistado, de San Telmo (Facundo). Respecto a las sensaciones de disociación, ella cuenta:


Al principio lo que me pasó era que empecé a perder la dimensión del tiempo, como que ya no estaba en esas nueve horas laborales, nueve o seis, lo que trabaje cada uno o cada una. Eso fue lo que me shockeó, empecé a perder esa noción del tiempo laboral al estar en mi casa. Entonces era como que de repente mi casa era: mi casa, mi oficina, el lugar donde después me quería pintar las uñas, donde me tomaba mi propia cervecita, mis propios mates, mi casa se convirtió en mi hábitat natural al 100%. Yo vivo sola, lo aclaro (Sofía, San Telmo).


Sensaciones encontradas


Sin embargo, en algunas entrevistas, emerge cierta valoración positiva asociada especialmente al inicio del aislamiento. En ese marco las personas entrevistadas ponderan la oportunidad de pasar mayor tiempo en familia. En otros casos, describe la sensación (sobre todo al inicio del aislamiento) de descanso o ‘mini vacaciones’ y con la posibilidad de mayor aprovechamiento del tiempo para cuestiones personales -hacer alguna actividad física, leer libros, etc. De cualquier manera, con el paso del tiempo, la sensación fue mutando y comenzó a ser experimentada como un exceso de tiempo conviviendo con las mismas personas en el mismo hogar. Asimismo, se evidenció como excesivo el tiempo destinado a los dispositivos


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tecnológicos para el sostenimiento de las actividades cotidianas: exceso de tecnología expresado en grupos de whatsapp, horas de zoom o reuniones virtuales, mensajes fuera del horario laboral. Sofía, señala respecto a su experiencia: “en un momento hubo mucho uso de Zoom, estuve muy a favor de la gente que decía “esto puede resolverse en un mail”.

Como contracara, una de las sensaciones experimentadas es la de soledad.


Y después, respecto a la soledad, complejo, porque no creo que tenga que ver con la soledad pero pasé por momentos del 2020 de bloqueo mental, creativo y yo trabajo en comunicación trabajo con creatividad y bloquearse de esa manera es muy complejo porque las jornadas son irremontables, pero hago terapia también y medio lo pude remontar concentrándome en esto: comprar plantitas, concentrarme en el departamento, ponerlo lindo y ese tipo de cosas (Facundo, San Telmo).


Es llamativo, en el caso de las personas solteras o que no tienen hijxs a cargo, entre quienes aparece una revaloración de sus hogares, buscando estrategias para re-habitar sus espacios. Estas experiencias se asociaron a la posibilidad de compra de nuevos muebles o cambios en la disposición del hogar, así como una mayor cantidad de plantas y el aprovechamiento de balcones, terrazas, ventanas o patios. Cristina es jubilada y vive con su marido en la zona de las ‘casitas’ de Lugano. En sus relatos acerca de los cambios en la vida cotidiana a partir de la pandemia, aparece una re-valoración de sus ‘privilegios’ por contar con un patio: “en la cotidianidad, mucho no me cambió, porque acá es un barrio de casas bajas, entonces tenemos terreno, tenemos plantas y tenemos verde, entonces tengo mucho lugar, y este…. y bueno, eso hizo que lo único que se restringió fueron las salidas básicamente”.


Dificultades en el sostenimiento de la vida


Un relato reiterado en el contexto pandémico refiere a que las mayores dificultades en torno al sostenimiento de la vida cotidiana se asocian a la gestión de la escolaridad de lxs niñxs. La escolaridad en tiempos de pandemia estuvo signada por complicaciones en la puesta en marcha de nuevas estrategias alrededor de la gestión de horarios laborales remotos y/o presenciales para adaptarlos a las clases virtuales (en todos los casos sincrónicas). Una cuestión importante respecto a la vuelta a la presencialidad escolar, es que no se dio de la misma manera en todos los establecimientos educativos ni niveles. Por lo tanto, la gestión de los horarios y días de cursada de lxs niñxs implican, en varios de los casos, adaptaciones de las jornadas y



rutinas laborales12. Asimismo, el acompañamiento de hijxs durante el proceso de adaptación a la virtualidad supuso desafíos para lxs padres de niñxs pequeñxs, quienes debieron hacerse cargo por completo de la educación de sus hijxs. Tal es el caso de Daniela, de San Telmo. Daniela es docente y madre de dos hijxs en edad escolar y al igual que su compañero, al inicio de la pandemia, pasó a trabajar de manera remota. En ese marco cuenta: “la organización duraba dos semanas, [luego] había que recalcular porque cambiaban las circunstancias, había que reorganizar otra vez… Esa fue la sensación, como que bueno, eh… había una organización a muy corto plazo”.

Además de las estrategias desplegadas para sostener la escolarización de lxs hijxs, las familias debieron generar adaptaciones alrededor de las formas de cuidado de lxs hijxs. Tal es el caso de lxs hijos de Micaela de Lugano, cuya vuelta a la presencialidad laboral no coincidió con el regreso de la escolaridad de sus hijxs. En la nueva dinámica, si bien al principio con su compañero se turnaban sobre el cuidado de los chicos, cuando ambos deben salir a trabajar, su hija mayor, de 11 años, queda algunas horas al día a cargo de su hermano menor, de 4: “fue el primer año que me animé a dejarle a mi nene más chiquito a su hermana, Martu, de 11, porque también tenía eso de que yo tenía que ir a trabajar y con esto de que no iban a la escuela, ahí también me tenía que organizar”. Micaela tiene 35 años, es auxiliar de portería en una escuela de Caballito y vive en una de las torres de Lugano junto a sus hijos y a su pareja.

En algunos casos, la situación fue la inversa. El desacople se dio por la vuelta a la presencialidad escolar y la continuidad laboral de forma virtual. Esto trajo complicaciones debido a que la escuela de lxs hijxs se encontraba próxima a los lugares de trabajo y no a la vivienda. Tal es el caso de Noelia, residente de Lugano, madre de una niña de 12 años con TDA, quien, si bien no debe ir a trabajar de manera presencial, se ve obligada a desplazarse constantemente por las clases de su hija: “estoy una hora y media en casa y vuelvo y la voy a buscar, y volvemos tipo dos, [...] cuando no tiene terapia que también la terapia está por ahí por el centro”

Juan considera que sus hijas fueron las más afectadas por el aislamiento, ya que estaban terminando el secundario cuando comenzó la pandemia:


[…] a ellas si las vio como más afectada en ese sentido, por el tema este de los estudios viste, quinto año lo terminaron el año pasado con la pandemia, no tuvieron viaje, no tuvieron reuniones, no tuvieron la joda, todo eso, así que


12 Las entrevistas fueron realizadas mayoritariamente a mujeres. En este trabajo no es posible profundizar este tema desde la perspectiva de entrevistados varones. Las entrevistadas que modificaron sus rutinas se desempeñaban en trabajos más flexibles o con buenas relaciones con sus jefes. Esto explicaría en parte, en estos casos, por qué ellas pudieron modificar la cotidianeidad.

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fue, a ver, nosotros llegábamos de trabajar por ahí viste uno no te das cuenta pero después las veías y me doy cuenta que se las veía, no sé, por ahí depresivas viste, por el tema de que no tenían nada que hacer, todo el día acostadas o con el celular, mirando tele… (Juan, San Telmo).


Con mis amigas del barriola realidad es que se complicó todo mucho, porque muchas tienen hijos y el hecho de que vayan al colegio virtualmente y todo como que se les complicó mucho a ellas para poder juntarse, viste, nos vemos una vez cada tanto, es medio complicado. La mayoría de mis amigas tienen hijos, entonces ahí es una complicación (Gabriela, San Telmo).


Una vez más, emergen con fuerza las dificultades para sostener la vida en los desacoples o desfasajes que se dan entre la virtualidad y la presencialidad, las tareas de cuidado y el sostenimiento de la vida social.

Sin embargo, en algunos casos, la adaptación a estas nuevas formas de vida fue valorada positivamente. Tal es el caso de Paula, de 34 años, quien vive en Lugano con dos hijas en edad escolar y su marido. Si bien al principio le costó acostumbrarse a su licencia laboral por el cuidado de las menores (es empleada del GCBA) y aprender y adaptarse a la enseñanza virtual y a los cambios de horarios, actualmente está disfrutando del momento que le toca junto a su marido y su familia:


[…] yo siempre le digo [a mi marido], cuando volvamos… Ahora, ponele, estamos de vacaciones para nosotros, cuando volvamos de nuevo a los horarios normales, yo hago el horario de 7 a 14, y él hacía el horario de 16 a 23. Era literal, yo llegar “hola sí qué tal” ponele, tres mates con suerte, y se iba y hasta las 12 de la noche no nos veíamos, y a veces ni nos veíamos porque yo agotada de levantarme a las 6, me quedaba durmiendo, entonces estamos como en una especie de vacación, estamos dentro de todo disfrutando y estamos tranquilos (Paula, Lugano).


Solidaridades y nuevos vínculos en el vecindario


El cuidado de adultxs también reorganizó la sociabilidad en edificios y barrios:


Mucha gente grande no quiso dejar su casa, no se quiso ir. Entonces ahí jugó un montón la parte del vecino, del portero, que podés hablar, podés darle una mano… ahí jugó un montón ese papel. Lo que fue esta pandemia un montón, entre nosotros acá viste, si sabíamos que alguien estaba con positivo en la casa o no se podía mover, bueno, te dejamos las cosas en el palier, nos vemos, entendés, te das una mano de esa manera (Micaela, Lugano).


Lxs vecinxs jugaron un rol fundamental en el sostenimiento de la vida de lxs adultxs mayores del edificio. Realizar compras y ayudar con la tecnología (instrucciones para utilizar videollamadas, pedido de autos particulares o pagos virtuales) fueron las experiencias referidas



con mayor frecuencia entre lxs entrevistadxs. En ese marco, aparece el rol del portero de los edificios como actor clave en la gestión de las tareas de cuidado.

El contexto pandémico pareciera haber promovido la revalorización de los lazos de solidaridad articulados en redes sostenidas por vecinos para facilitar la experiencia del aislamiento especialmente a lxs adultxs mayores y las personas aisladas por COVID.


Se creó el grupito de Whatsapp en el que los grandes, si necesitaban, podíamos ir a hacerles las compras, que no salgan, que no se expongan. Como [que] se activó un poquito la solidaridad, eso me gustó mucho, sobre todo porque yo no conocía tanto a mis vecinos, entonces fue una linda manera de acercarnos entre comillas. Estuvo lindo (Sofía, San Telmo).


Al respecto, Santiago, profesor y director de un máster en gestión de la cultura que vive en San Telmo hace 10 años, señala:


a partir de la pandemia, sentí como una cosa que tiene el barrio históricamente de bastante horizontalidad y generosidad y organización, el barrio se organiza mucho, es un barrio con, históricamente con esa pasividad, entonces (...) te encontrás con esos vecinos en la calle o en el parque en la plaza, entonces hubo como, me parece, una cuestión que estuvo muy bien que hubo cierta posibilidad de organización en torno a más que cuestiones sanitarias, sobre todo cuestiones de bueno, de cuidados (Santiago, San Telmo).


Respecto de las nuevas estrategias de aprovisionamiento de bienes de consumo cotidiano, estas prácticas redundaron en una nueva vinculación con el barrio y los comercios de cercanías, así como nuevas formas de compras. En los relatos de lxs residentes de Lugano aparece mayor énfasis en las compras virtuales debido a un brote de casos en el hipermercado Coto, uno de gran importancia por su magnitud en el barrio. En ambos barrios, lxs entrevistadxs cuentan que se desplegaron estrategias de racionalización de las compras y salidas a supermercados o comercios, buscando llevarlas a lo mínimo e indispensable durante la primera etapa del ASPO. Asimismo, si bien en algunos casos estas estrategias continúan en gran medida en la actualidad, en otros casos se volvió a las prácticas de consumo pre-pandemia, de realizar la compra del día. Hay una valoración en los relatos en cuanto a vivir en la cercanía de comercios13 que les son suficientes para la satisfacción de sus necesidades. A continuación, se presentan las percepciones, apreciaciones y prácticas de movilidad alrededor de los barrios en los que se localizan lxs entrevistadxs.


13 Se trata de comercios de venta de alimentos y productos de primera necesidad. También, de tiendas de venta de ropa, libros, bares y restaurantes que ofrecen servicios de delivery, etc. En las entrevistas no se hace mención a las condiciones de trabajo de sus trabajadores en el contexto de la pandemia por COVID-19.

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Las percepciones alrededor del barrio


Así como las prácticas cotidianas que tienen que ver con el sostenimiento de la vida de las personas se vieron afectadas a partir de la imposición de las medidas de ASPO, las apreciaciones, formas de ver y experimentar el barrio también se vieron modificadas. De las entrevistas, recuperamos algunos relatos que dan cuenta de las reflexiones de lxs habitantes de San Telmo y Lugano respecto de los cambios, continuidades y rupturas en el contexto del aislamiento social preventivo y obligatorio.

En el contexto pandémico -como señalamos anteriormente-, San Telmo experimentó cambios sustantivos. En sus relatos, lxs entrevistadxs señalan que éstos tienen que ver con la pérdida de uno de sus rasgos distintivos: su cualidad turística. Repentinamente, desaparecieron lxs turistas y las actividades asociadas a ellxs. Destacan que durante las restricciones notaron menos ruidos de tránsito y otros propios del barrio como, por ejemplo, las murgas. Señalan que en el contexto pandémico tienen un mayor aprovechamiento y disfrute del espacio público. En algunos casos, incluso, la cercanía con Puerto Madero – como zona de dispersión y paseo – es percibida como un privilegio asociado a la locación del barrio. Respecto de los aspectos negativos, destacan una mayor identificación de personas en situación de pobreza y de calle habitando el barrio.

Tanto en San Telmo como en Lugano, lxs entrevistadxs valoran los espacios verdes:


Yo empecé a redescubrir lugares y personas que no veía cuando salía a trabajar lunes, miércoles y viernes. El contacto con el barrio fue otro y con las personas. Entonces, lo redescubrí al barrio, todo lo tenemos en el barrio, en el sentido de comida. Si bien existe el mercado, que Cata me ayudaba, yo compré más en el barrio.

Una de las cosas de San Telmo es que vive de turismo, palpita el turismo, y te cruzás con 20 mil turistas todo el tiempo. Dicen los turistas que eligen San Telmo, más allá de ser lindo, pintoresco, porque existe algo que se siente que hay gente del barrio nacida acá, o vivida acá, esto es lo que yo siento. lo que tiene San Telmo es que es un barrio del que no te podés ir, o que siempre volvés (Pía, San Telmo).


En ese marco, Facundo, reflexiona acerca de los rasgos distintivos de San Telmo:


No sé cómo explicarlo, me parece que es distinto de los demás barrios. Y es bastante único en esa distinción, es como un barrio que sigue estando de moda, a ver, no está de moda como Palermo viste que el barrio de moda, pero siempre está de moda, siempre tiene mucha movida cultural, está ahí entre bohemia y universitaria todo el tiempo. Yo vivo en un edificio de siete pisos, chiquito, y todos departamentos parecidos al mío y la gran mayoría de mis vecines son gente de mi edad, profesional, soltera, como todos más o menos en la misma, y eso se nota en el circuito. Para mi hay mucho para hacer en San Telmo, de actividades, y además es el barrio que más se pone los días que



está todo muerto, los feriados, los domingos. San Telmo es una fiesta, y tiene mucha personalidad de barrio, la comunidad de San Telmo es muy comprometida con el barrio, realmente lo defienden (Facundo, San Telmo).


Y agrega, acerca de su relación personal, su arraigo con el barrio:


Hay algo que me pasa con San Telmo que no sé si pasa en otros barrios que es que cuando salgo reconozco las caras de San Telmo. Como vecinos de la cuadra, de la manzana, incluso del centro, que me cruzo con gente que sé que es del barrio. Los negocios que son bastante tradicionales, en general son de gente que vive en San Telmo hace un montón. Realmente está este sentido de, o yo siento este sentido de pertenencia, no siento que haya cambiado tanto, creo que se mantiene (Facundo, San Telmo).


Durante la etapa de aislamiento, los límites del barrio cobraron relevancia, como barreras reconocibles: “yo muy posiblemente tenga, cruzando la 9 de julio, a una cuadra, una carnicería ponele, pero ni la conozco, porque 9 de julio es la muralla china, me voy al centro de San Telmo en lugar de cruzar” (Facundo, San Telmo) y Puerto Madero. La diferencia es que Puerto Madero aparece como zona de paseo o dispersión externa, que se integra mediante las nuevas prácticas de movilidad cotidiana.

En el caso de Lugano, al igual que sus pares de San Telmo, los parques (Indoamericano, Malvinas, de la Ciudad, de las Victorias) cumplen un rol central en la revaloración del barrio. Contar con espacios verdes de cercanía emerge como un valor reconocible en el entorno barrial. Asimismo, contar con patios, terrazas o balcones, emerge como un privilegio. Relacionados a los espacios verdes aparecen nuevas prácticas de esparcimiento, como desconexión, paseo o deporte. Al respecto, Sofía relata:


y me compré esta silla para tomar sol en el balcón, porque era bueno si voy a estar en el balcón quiero estar cómoda tomando sol, agarrando esa vitamina que no la voy a obtener de ninguna otra manera en este tiempo. Yo antes de la pandemia daba clases también en un colegio, laburaba en una radio. entonces me iba a las siete de la mañana de mi casa y volvía a las once, doce de la noche. entonces es una zona de tránsito mi casa, por eso creo que disfruté un poco al principio. A veces me da culpa decirlo, pero después digo cada uno llevó esta situación como pudo... (Sofía, San Telmo).


Quienes viven en los edificios, valoran los comercios que se ofrecen debajo de cada ‘tira’: “En cada tira vos tenés tus propios negocios digamos, que se multiplican. Panaderías, peluquerías, lavaderos, librerías, almacenes, kioscos…” (Paula, Lugano). La calle Chilavert, como zona comercial y de paseo también es valorada en los testimonios como locación del barrio que contiene una amplia oferta comercial de bienes y servicios relacionados a la indumentaria y la gastronomía, principalmente.


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Finalmente, lxs entrevistadxs de ambos barrios destacan la cualidad de ‘barrio’, de ‘vecindad’ que sienten al transitar cotidianamente sus espacios y, al mismo tiempo, valoran la conectividad de los barrios con el resto de la ciudad, ya sea gracias a las múltiples opciones de transporte público como mediante los accesos para desplazarse en sus vehículos propios. En este sentido, Juan destaca de su barrio:


Lo que tiene, que justo me decías anteriormente, lo que tiene de bueno, eso es otra de las cosas que no pasa en otros barrios, sobre todo acá en Capital, es que cuando yo hablo con amigos les suelo contar cómo es, cuando vienen a casa, y se sorprende porque vamos entrando al barrio y todo el mundo ‘eh, hola, cómo estás’. Como más de provincia, que son más de… por ahí no pasa en barrios como Palermo (Juan, Lugano).


De manera similar, Paula dice:


[…] este barrio tiene algo como, yo lo noto como algo de nostalgia, entonces los que estamos yo me doy cuenta que tratamos al barrio, porque no sé por ejemplo mi caso, yo lo heredé por mis abuelos que ya no están, y mi edificio los que vivimos somos todos hijos de, nietos de, es como que le damos, no sé cómo decirte, un valor (Paula, Lugano).


A modo de cierre. Transformaciones, persistencias y valores en pandemia


La pandemia ha generado grandes cambios en las formas de vida urbanas. Como dijimos, mirar las prácticas concretas -esto es pensar la pandemia tempo-espacialmente- permite comprender los procesos situados que -en definitiva- construyen la pandemia.

En este artículo nos centramos en dos barrios ‘tradicionales’ de Buenos Aires -San Telmo y Lugano- en los que existe fuerte presencia residencial de sectores medios. En ambos barrios en los años pre pandemia se venían produciendo transformaciones socio-urbanas. Sin embargo, la pandemia generó trastocamientos en esas transformaciones y se produjeron otras. San Telmo ha tenido una impronta turística que se fue gestando desde hace décadas. Durante la pandemia, sin embargo, la condición de barrio turístico de San Telmo se pierde. Ello ha llevado a que lxs vecinos lo perciban como un ‘barrio’. En Lugano, se generaron nuevos lazos sociales entre vecinos, con actores centrales como los porteros, en el caso de los edificios. En los relatos de lxs residentes de estos dos barrios, fue central para el sostenimiento de la calidad de vida adaptar y utilizar los espacios abiertos y/o verdes, tanto de los parques públicos como dentro de las propias viviendas.

En este texto nos interesó indagar en los modos en que la pandemia fue vivida territorialmente. Esto es, nos centramos en la experiencia del aislamiento social preventivo y



obligatorio y a sus impactos en la sociabilidad barrial buscando comprender el modo en que las personas de carne y hueso sostuvieron la vida. Sostener la vida tiene un componente económico. Sin embargo, como mostramos, no se agota allí. Los cambios en las formas de sociabilidad, las valoraciones de las redes y de las relaciones de vecindad, la afectividad como constructora de formas de estar en el barrio dan cuenta de la importancia de pensar las prácticas en términos vivos: sostener la vida implicó un reacomodamiento socio-territorial afectivo. Si la pandemia puso entre paréntesis para millones de personas ‘la buena vida’ entendida como una cosa moral- íntima-económica (BERLANT, 2020) o procesos de ‘la vida normal’, también se produjeron nuevas formas de vivir la pandemia más allá de la crisis y de la ruptura.

Este proceso de sostenimiento de la vida produjo un cambio en la espacialidad de los vínculos y de las sociabilidades. Con la restricción de la movilidad, la proximidad jugó un rol central en el sostenimiento de la vida, implicando una (re)valorización de redes locales y nuevas relaciones con lxs vecnixs que llevaron a una reconstrucción y reconocimiento del entorno barrial en términos físicos y afectivos. Con esto queremos decir que la reconstrucción de lo barrial no fue sólo un proceso dado por la pandemia, sino que fue un trabajo activo de construcción de formas de vida que implicaron sostenerla durante en la pandemia.

Como las prácticas se sedimentan en procesos tempo- espaciales, la pandemia sin duda modificará las prácticas culturales urbanas. Por un lado, el espacio físico sufrió cambios. Muchos de ellos han sido modificaciones que probablemente se reviertan (ciertas peatonalizaciones, barreras para fomentar el distanciamiento). Sin embargo, el espacio vivido no sólo se nutre de la materialidad sino también de las experiencias. Así, la diseminación del virus -creemos- generará modificaciones mucho más duraderas que la pandemia misma. Esta nueva normalidad se construirá por prácticas como la proximidad ganada, la vecindad revisitada, el miedo a los nuevos cambios aun cuando el virus se haya naturalizado o desaparecido. ‘Tomarle el gusto’, ‘nueva normalidad’ o simplemente naturalizar las nuevas formas de sostener la vida son formas en las que la pandemia continuará cotidianamente en las ciudades.


REFERENCIAS


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CASADO, M. San Telmo: sin turistas, así lo está reinventando una nueva generación de comerciantes. La Nación. Buenos Aires, 18 jun. 2021. Disponible en: https://www.lanacion.com.ar/buenos-aires/san-telmo-sin-turistas-asi-lo-esta-reinventando- una-nueva-generacion-de-comerciantes-nid18062021/ . Consultado el: 15 nov. 2021.

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POORE, F. Qué pasó con la Villa Olímpica tras los Juegos de la Juventud. Chequeado. Buenos Aires, 24 ago. 2021. Disponible en: https://chequeado.com/el-explicador/que-paso- con-la-villa-olimpica-tras-los-juegos-de-la-juventud/. Consultado el: 15 nov. 2021.


ZICCARDI, A. Introducción. Las Condiciones de Habitabilidad y Del Entorno Urbano Para Enfrentar La Pandemia. Conceptos Claves y Metodología de Análisis.” In: ZICCARDI, A. (ed.) Habitabilidad, Entorno Urbano y Distanciamiento Social: Una investigación en ocho ciudades mexicanas durante COVID-19. México, DF: Universidad Nacional Autónoma de México, Instituto de Investigaciones Sociales, 2021. p. 15-32.


Cómo hacer referencia a este artículo


DI VIRGILIO, M. M.; FRISCH, M. A.; PERELMAN, M. D. La pandemia territorializada: La vida cotidiana en dos barrios de Buenos Aires. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022002, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI:

https://doi.org/10.52780/res.v27iesp1.15863


Enviado: 16/01/2022

Revisiones requeridas: 16/02/2022

Aprobado: 30/03/2022

Publicado el: 25/04/2022



TERRITORIALIZED PANDEMIC: EVERYDAY LIFE IN TWO NEIGHBORHOODS OF BUENOS AIRES


A PANDEMIA TERRITORIALIZADA: VIDA DIÁRIA EM DOIS BAIRROS DE BUENOS AIRES


LA PANDEMIA TERRITORIALIZADA: LA VIDA COTIDIANA EN DOS BARRIOS DE BUENOS AIRES


María Mercedes DI VIRGILIO1 María Agustina FRISCH2 Mariano Daniel PERELMAN3


ABSTRACT: This article deals with the experience of the COVID-19 pandemic from the perspective of inhabitants of two neighborhoods in the City of Buenos Aires, Argentina. In this framework, it dwells on the changes, adaptations, and redefinitions that the pandemic context imposed on daily life at its interface with the territory. It pays special attention to the experience of preventive and compulsory social isolation and its impacts on neighborhood sociability. The analysis is based on the assumption that the pandemic, although global in nature, has effects and meanings with a local anchor, emphasizing its situated nature. Effects and meanings are read in articulation with the adaptation practices carried out by citizens. The methodological strategy on which the work is based is qualitative, 11 in-depth interviews were carried out with residents of the Lugano and San Telmo neighborhoods of the City of Buenos Aires, in the month of July 2021. The main findings have to do with the individual and collective adaptation strategies that are configured in the pandemic context to support daily life.


KEYWORDS: Pandemic. Territory. Daily life. Mobility. Buenos Aires.


RESUMO: Este artigo trata da experiência da pandemia de COVID-19 na perspectiva de moradores de dois bairros da cidade de Buenos Aires, Argentina. Neste quadro, debruça-se sobre as mudanças, adaptações e redefinições que o contexto pandêmico impôs ao quotidiano na sua interface com o território. Dá atenção especial à vivência do isolamento social preventivo e obrigatório e seus impactos na sociabilidade do bairro. A análise parte do pressuposto de que a pandemia, embora de natureza global, tem efeitos e significados com ancoragem local, enfatizando sua natureza situada. Efeitos e significados são lidos em articulação com as práticas de adaptação realizadas pelos cidadãos. A estratégia


1 University of Buenos Aires (UBA), Gino Germani Research Institute (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Full Professor at the College of Social Sciences. CONICET Principal Investigator. PhD in Social Sciences. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5801-0784. E-mail: mercedes.divirgilio@gmail.com

2 University of Buenos Aires (UBA), Gino Germani Research Institute (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Teaching degree in Sociology. Doctoral Scholarship. PhD student in Social Sciences (UBA). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3999-1927. E-mail: magustinafrisch@gmail.com

3 University of Buenos Aires (UBA), Gino Germani Research Institute (IIGG/CONICET), Buenos Aires – Argentina. Head of Practical Work at the College of Philosophy and Letters (UBA). Independent Researcher CONICET. Doctor in Anthropology. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4914-3198. E-mail: mperelman@conicet.gov.ar

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metodológica em que se baseia o trabalho é qualitativa. Foram realizadas 11 entrevistas em profundidade com moradores dos bairros Lugano e San Telmo da Cidade de Buenos Aires, no mês de julho de 2021. Os principais achados têm a ver com as estratégias de adaptação individual e coletiva que se configuram no contexto da pandemia para sustentar a vida diária.


PALAVRAS-CHAVE: Pandemia. Território. Vida quotidiana. Mobilidade. Buenos Aires.


RESUMEN: Este artículo trata la experiencia de la pandemia por COVID-19 desde la perspectiva de habitantes de dos barrios de la Ciudad de Buenos Aires, Argentina. En ese marco se detiene en los cambios, adaptaciones y resignificaciones que el contexto pandémico impuso en la vida cotidiana en su interfaz con el territorio. Presta especial atención a la experiencia del aislamiento social preventivo y obligatorio y a sus impactos en la sociabilidad barrial. El análisis se apoya en el supuesto de que la pandemia, si bien de carácter global, tiene efectos y sentidos con un anclaje local, enfatizando su carácter situado. Efectos y sentidos se leen en articulación con las prácticas de adaptación que realiza la ciudadanía. La estrategia metodológica en la que se apoya el trabajo es cualitativa. Se desarrollaron 11 entrevistas en profundidad a residentes de los barrios de Lugano y San Telmo de la Ciudad de Buenos Aires, en el mes de julio de 2021. Los principales hallazgos tienen que ver con las estrategias de adaptación individuales y colectivas que se configuran en el contexto pandémico para dar sostén a la vida cotidiana.


PALABRAS CLAVE: Pandemia. Territorio. Vida cotidiana. Movilidad. Buenos Aires.


Introduction


Since January 2020, the changes that have taken place after the spread of the COVID- 19 virus and the actions taken by different States have become an unavoidable topic in social studies. This concern finds particular significance when considering that urban life has changed substantially. Policies aimed at preventing and containing the spread of the virus had a central effect on urban lifestyles and city perceptions. Referring to the Mexican case, Alicia Ziccardi (2021 p. 16, our translation) states that:


[…] the slogans 'Stay at home', 'Wash your hands', 'Keep a healthy distance' and even 'Wear a mask' force us to review the urban way of life, to refunctionalize the private use of housing space and public use of urban goods and services. In the same way, they forced to rethink essential economic activities, educational activities and work practices, as well as redefine the different modalities of family, community and social life, reducing their intensity and replacing, as far as possible, face-to-face interaction with virtual interaction.


These global 'slogans', however, had local translations or adaptations. Not only because they varied from country to country, but also because the urban systems and ways of life in which they were recorded differ from region to region, city to city, and often neighborhood to

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neighborhood. In this way, life in the pandemic generated new practices and uses of public and private space that changed forms of sociability and ways of seeing the city. In this framework, the article proposes to expose a territorial vision of isolation, quarantine and its progressive opening in the context of the COVID-19 pandemic in two middle-class neighborhoods of the City of Buenos Aires, recovering the experiences of its residents, both in their homes and in work, school and care circles.

In Argentina, the national government decided on a strict quarantine as a strategy to prevent infection and the spread of the virus, which remained in the city of Buenos Aires for more than eight months4. Social, preventive and compulsory isolation (hereinafter, ASPO) provided for a series of "exceptions" for health personnel, officials at different levels of government, the Armed and Security Forces, workers in the food, medicine and transport sectors. It also contemplated that those businesses remain open to guarantee the supply of food, medicine and basic needs. The quarantine was extended by different phases that were enacted based on the doubling time of infections.

In this framework, the article reports how the measures taken by the national government and the government of the City of Buenos Aires to prevent massive contagions have changed the forms of sociability, mobility, work and care in Buenos Aires. This is done from an in-depth case study in two neighborhoods of the City of Buenos Aires: the neighborhood of Lugano and San Telmo. Based on fieldwork, it aims to contribute to thinking about the complex changes that have taken place in urban lifestyles during the pandemic, which we understand must be thought of in a multidimensional and multiscalar way5. Although the spread of the virus has generated a global crisis, a situated view from within (MAGNANI, 2012) allows us to understand how the pandemic impacted the urban space of Buenos Aires, reconfiguring public and private uses, feeding back existing inequalities and producing new.

The analytical perspective built from the research has some theoretical-methodological implications. In principle, the way of thinking about the pandemic. As we plant in other (excluded) places, although - as we pointed out earlier - a pandemic, by its very nature, is global in nature, its effects and meanings have a local anchor. These effects and meanings are configured in dialogue with the measures that different governments take to face the challenges of the pandemic in their interface with the characteristics of urban environments, local


4 On 19 March 2020, within the scope of the pandemic declaration issued by the World Health Organization, the National Government decreed Social, Preventive and Mandatory Isolation through Decree-Law 297/2020.

5 Multidimensional because the pandemic and the measures promoted to face it had an impact on the domestic, social, economic and work life -among other dimensions- of families. They also affected the dynamics of housing, neighborhoods and cities.

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assistance systems6 and, also, with the practices that citizens develop to adapt and face the new situation. Likewise, we understand that the pandemic cannot be thought of in the abstract. Not only because the spread of the virus is eminently spatial, but because space itself has its logic, its dynamics and its history. In short, its territoriality. The 'slogans' of a global nature are transferred to the territory as policies that oscillate between the form of punitive mandates or health recommendations, inscribing themselves in people's practices and ways of life, transforming their relations with the urban environment, as well as their perceptions of space and the ways in which they relate to the city and to others. In this sense, the policies that have contributed to mitigating the pandemic(s) – the “stay at home”, the ban on movement, etc. – and policies aimed at remedying the effects of this immobility at the level of neighborhoods and families, can be thought of spatially.

The pandemic and the practices of common people (acceptances, resistances, new relationships) can be understood from the understanding of the effort involved in 'sustaining life' in the pandemic, recovering the collective dimension of these practices. Sustaining life involves forms of cooperation, union or participation in groups that give meaning to a life that is "worth it" (NAROTZKY; BESNIER 2020, p. 27). We understand that this perspective allows us to understand "the way in which a society represents social value" (NAROTZKY; BESNIER, 2020, p. 27) and the significant differences (limits, institutions, categories of people) with the values that are promoted from the field of public policies. In short, the study of practices cannot be thought of without understanding the assessments – multiple – that people make. These practices are not only understood by the frames of reference and experiences, but also by the place and vital coordinates in which they occur.

The work is supported by conducting 11 in-depth interviews with middle class people living in the neighborhoods of San Telmo and Lugano (5 and 6 interviews, respectively) in the city of Buenos Aires. The interviews were conducted virtually during the month of July 2021. These interviews aimed to produce descriptive information about the importance of territorial anchors and local roots among the interviewees in the processes related to the reproduction of daily life and care and the form and meanings that they acquire in the different territories. Likewise, its objective was to bring us closer to the perceptions of flesh and blood inhabitants and their ways of understanding and representing the pandemic context.


6 The concept refers to the actions and interventions that governments and local administrations prioritize in the field of well-being. In this framework, it includes policies and programs, strategies and practices of organizational innovation and guidelines for interaction with public and private agents for the provision and production of services. (HUETE GARCÍA; MERINERO RODRÍGUEZ; MUÑOZ MORENO, 2015).

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Buenos Aires and its neighborhoods


Figure 1 Neighborhoods of the City of Buenos Aires


Source: Department of Cartography, General Directorate of Statistics and Census (Ministry of Finance, Government of the City of Buenos Aires)


San Telmo is a neighborhood located in the southern part of the city of Buenos Aires (see Figure 1), very close to the city's financial center and the public administration centers of the federal and municipal governments. It is adjacent to the Puerto Madero neighborhood. The urban services and infrastructure that characterize it are adequate, well maintained and, in some areas, have standards much higher than those of other neighborhoods in the south of the city - despite registering some isolated signs of degradation. It is a small historic district that concentrates numerous landmarks and emblematic places that have remained since the founding of Buenos Aires. Since the 1980s, the neighborhood has undergone a process of strong transformation. Gradually, it ceased to be a residential neighborhood and many houses were

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demolished in favor of the development of other uses, mainly skyscrapers and services related to tourism. Simultaneously, other types of precarious occupation emerged, including hotels, pensions and real estate occupations. However, the permanence of these types of habitats has progressively diminished vis-à-vis the evolution of the renovation process – in terms of urban uses and the sociodemographic profile of its inhabitants – that has been taking place in San Telmo since the late 1970s. Thus, squatters were evicted, and boarding houses were converted into youth hostels (hostels).

Neighborhood changes take approximately four decades. In this context, activities related to services, especially hotels, gastronomy and cultural services, have been progressively expanding. This process took off especially after the 2001-2002 crisis and was linked to the international tourist boom in the city that promoted new commercial and real estate businesses. In recent years, tourism-related activities have diversified and become more complex, from traditional antiques to a wide range of food services, boutique hotels, inns and designer clothing stores. The neighborhood has also become an educational magnet and has consolidated itself as a cultural space since the expansion of the Museum of Modern Art and the renovation of old mansions transformed into trendy bars and esplanades. Historical protection policies regressed to favor market initiatives linked to tourism. The pandemic has hit the local economy hard, related to tourism, gastronomy and hospitality activities. According to the administrator of one of the most emblematic places in the neighborhood that has existed since the 19th century, the Market of San Telmo, during 2020, 12% of stores had to close (the Market has 150 stores): "Item and souvenir shops were the most affected by the lack of tourism and because Argentines do not usually shop7. Then, the second most affected item was gastronomy, due to all the restrictions that were implemented" (CASADO, 2021, [s.p.], our translation).

Lugano, on the other hand, is located on the old outskirts of the City of Buenos Aires (see Figure 1), on the boundaries that separate it from the municipalities that make up its conurbation. Unlike San Telmo – the founding neighborhood – the Villa Lugano development is relatively recent. Its origins date back to 1908, when businessman José Soldati started the subdivision of the land that gave rise to it. To stimulate the process, Soldati managed to modify the original route of the railroad of the old General Belgrano railroad, making it pass through his property. In return, he would be responsible for paying the workers' salaries and the costs of building the Villa Lugano station.8



7 Although the local population does not consume in these stores, they are either employed in these businesses, or

– directly or indirectly provide services – cleaning, supply of products for sale, stationery, etc.

8 The station became operational in 1919.

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In its early years, the growth of the Villa Lugano area was modest, as it did not allow for significant advances in construction, leaning mainly towards the installation of factories and shops (CUTOLO, 1996). The 1920s and 1930s saw the expansion of the lottery process. Through the subdivision, the establishment of new European and/or local migrant families was encouraged. One of the elements that characterizes the initial period of urbanization of the area is the fact that the growth of the housing stock occurs thanks to the initiative of the private real estate market. The latter was able to promote the development of single-family houses on its own land, alternating with a commercial and service area in the vicinity of the old railway station.

At the beginning of the 1940s, the installation of the municipal dump (or la Quema) – where waste from other neighborhoods in the City was dumped – discouraged the process of populating the neighborhood and the attractiveness of the area for private real estate development. In the mid-1950s, the neighborhood became denser with the formation of precarious urbanizations and the placement of urban sets of social housing that attracted low- income sectors.

Currently, Villa Lugano is the neighborhood of the city that concentrates the largest number of informal settlements. Likewise, the existence of a large number of empty spaces led to the construction of public buildings and urbanizations by the State and/or other social organizations. Since the early 2000s, the neighborhood has undergone important motorized transformations through projects carried out in public-private partnerships under the auspices of the Buenos Aires Sur Corporation (CBAS). The process accelerated in 2014, with the creation of the Sports District and the development of the Great Urban Project “Vila Olímpica” in the former City Park. The initiative was developed in pursuit of the 2018 Youth Olympic Games and was supported by the promotion of activities for the production of sporting goods or similar and the practice of sports, accompanied by strong investments in large public works. (GOICOECHEA et al., 2020).9


Everyday life in a pandemic


The lives of all people have been affected due to the restrictions that were put in place from the spread of the COVID-19 virus. The most immediate effect of preventive isolation


9 In August 2021, the proposal to sell these homes with affordable credit was completed. However, according to a group of neighbors, green spaces and equipment are lacking. In 2020, 40 commercial spaces were auctioned but remained empty in mid-2021. City Housing Institute (IVC) and Southern Corporation, the state-owned company responsible for the works, indicated that the deals were registered in April 2021. (POORE, 2021).

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measures to prevent and contain the spread of the virus in Argentina were a drastic and sudden immobilization of people as a result of the ASPO decree. This immobilization made people stay at home, only those who were exempt from the obligation to carry circulation authorizations that justified their transfers could circulate. Mobility controls were implemented throughout the national territory and the City of Buenos Aires was no exception.

In this way, the houses assumed an unusual role: they stopped being spaces circumscribed by the private sphere and the intimate space (MILLER, 2001) to become total spaces - according to Mauss (2009), work, education, care, dispersion, health, interaction with other people; all this happened for long months in the housing field. This meant, on the one hand, a series of transformations in everyday practices, in the evaluation of space, of interactions with the rest of the people, with the neighbors and with the neighborhood. On the other hand, all these adaptations were built, updated and modified based on the possibilities and reflexive capacities of those who incorporate them.

The suspension of labor mobility affected the dynamics of daily life, redefining the daily circuits organized around the workplace10. In some cases, even the children's choice of schools was determined by the proximity of these spaces and not by the house. Daily shopping ,shifts with doctors or therapies were also organized around the workplace. This is the case of Noelia, a resident of Lugano, who accommodated her daughter's educational activities close to her work, in the center of the city:


[...] being there all day I looked for a school there, psychopedagogist there, therapy there, everything there, because you say you leave work, you take her out of school, you go to the psychopedagogue for a while, she has two hours, an hour, and then we come back together. Everything was supposed to be done there, it was much more practical (Noelia, Lugano, our translation).


Although some of the people interviewed - who work in essential services or in "exception" sectors11 - were able to immediately resume their work activities in person, fulfilling pre-pandemic schedules, their routines associated with daily mobility were also changed. That is, in general terms, social life was strongly affected. Much of the interactions that, before the pandemic, involved travel and were integrated into daily itineraries, are now mediated by technology.



10 The testimonies and the interview material that served as the basis for the work correspond to a group of neighbors and residents of medium sectors. In this context, it is not possible to investigate differences between workers from different social groups. It is a qualitative sample that is homogeneous in its social composition and heterogeneous in its residential insertion - a central neighborhood and a peri-central neighborhood.

11 Healthcare professionals, transport professionals, commercial workers, etc..

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Pía, 57 years old, resident of San Telmo, actress and theater teacher at a private school in Palermo, says:


I had many phases, there was a surprise phase, a phase where I didn't have much fun because I had to develop a knowledge of technology that I didn't have and it was traumatic for me, in the sense that I had to do it out of obligation. I teach, I'm an actress and I'm also a theater teacher, so I had to adapt quickly to technology in addition to teaching theater classes, which with the girls and their friends you saw "hey, what are you doing", well, I'm doing this exercise, it was not so much because as we were all in this situation it was not so difficult to ask for help, but what was difficult for me is the technological knowledge itself (Pia, San Telmo, our translation).


Life support was associated with the use of technologies, requiring great efforts in learning to use devices and programs that were previously unknown. Juan, a resident of Lugano who works in the metallurgical industry, resumed his work a few weeks after the start of the pandemic, together with his wife who works in the same company, converted to mass production of masks. However, he admits that his social life was heavily affected, especially regarding bonding with friends – he was forced to stop playing football. Because they missed the third period they used to share on Saturdays after games, they started using zoom, every Saturday at the usual third period time. Likewise, and as other interviewees reported, she stopped seeing her relatives who live in the province of Buenos Aires.


The reorganization of everyday sociability


The reorganization of everyday sociability in the pandemic seems to have been affected, in fact, by feelings associated with the management of the pandemic itself. The fear of contagion appears strongly and the concern is expressed in relation to the possibilities of infecting or being infected by non-cohabiting family members. One of the care modalities adopted for family gatherings is reported by Gabriela, from San Telmo: “in the case of my family, well, my mother lives a block away, but I don’t go into her house, you know (...) not going further for two weeks it was one of my sisters birthday and to go to the birthday we had to test all of us first” (our translation).

The bonds are organized in the 'bubble' modality, which includes a family member or friend(s) with whom it is possible to meet more regularly and in a relaxed way. Encounters are reported as a “mental” or “emotional health” need for face-to-face meetings “without a mask” with others with whom to share and decompress the daily life of confinement. Around these face-to-face 'bubbles' of shared intimacy, a series of new practices or forms of bonding unfold.



In this regard, Facundo comments that at the beginning of the pandemic, they shared with their friends an Excel document where each one reported their other meetings (before and after their meetings) as a precautionary measure to prevent the spread of the virus in case a contagion appeared:


After it started to loosen up, still in the first quarter we set up a small group of friends who are always the same bubble, four in total. We set up an excel to see "I have contact with this person, he is with this person" well, as long as we let you know if we have contact with third parties besides the list, everything went well (Facundo, San Telmo, our translation).


Paula's account of her meetings with a friend allows us to observe the justifications that support the need for face-to-face meetings:


She has her three daughters, she has her husband and well, fresh air I beg you please, it was the same thing I don't know, have a mate for an hour or two, she with hers, I with mine, have a coffee and well, let's talk because the truth is that otherwise I would end up [going crazy] (Paula, Lugano, our translation).


Negative assessments of isolation are also associated with a sense of confinement:


One of the things that happened to me during the pandemic, halfway through, we still couldn't go out, and I had what I later realized with my psychologist and my sister who is also a psychologist, I had a crisis of claustrophobia. But it was very noticeable, because I felt it in my body, I got agitated, I felt the symptoms of COVID, but more exaggerated, I had a tachycardia as you saw, I was short of breath and I couldn't (Pía, San Telmo, our translation).


Or fear and anguish: “I was also very afraid, the fear of getting infected, the fear of “the end of the world has come”, that the world will end, what is happening, I felt that I was living in a movie, and that at some point someone would stop it” (Pía, San Telmo, our translation). "Sometimes I was also a little paranoid, I dreamed, yes, for example, COVID everywhere... but I tried on a conscious level, I wasn't thinking about it all day" (Santiago, San Telmo, our translation).

Other reports point to the feeling of dissociation. This is the case of Sofía, 30, who lives alone in San Telmo and works in a civil association. She was part of the isolation with a friend, also interviewed, from San Telmo (Facundo). On feelings of dissociation, she says:


In the beginning, what happened to me was that I started to lose the dimension of time, because I was no longer in those nine hours of work, nine or six, whatever each and every one works. That's what shocked me, I started to lose this notion of working hours when I was at home. So it was like suddenly my home was: my home, my office, the place where I later wanted to paint my


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nails, where I drank my own beer, welcomed my own companions, my home became my 100% habitat. I live alone, I clarify (Sofía, San Telmo, our translation).


Experienced Feelings


However, in some interviews, a certain positive evaluation emerges, especially associated with the beginning of isolation. In this context, respondents ponder the opportunity to spend more time with their families. In other cases, it describes the feeling (especially at the beginning of isolation) of rest or “mini vacation” and with the possibility of making better use of the time for personal matters – doing some physical activity, reading books, etc. Anyway, with the passage of time, the sensation changed and came to be experienced as an excess of time living with the same people in the same house. Likewise, the time spent on technological devices to support daily activities proved to be excessive: excess technology expressed in whatsapp groups, hours of zoom or virtual meetings, messages outside working hours. Sofía highlights about her experience: “At one point there was a lot of use of Zoom, I was very much in favor of people who said that this can be resolved in one email” (our translation).

On the other hand, one of the sensations experienced is that of loneliness.


And then, in relation to loneliness, it's complex, because I don't think it has anything to do with loneliness, but I went through moments in 2020 of mental, creative block and I work in communication, I work with creativity, and if it is blocked, the path becomes very complex, because the days don't stop, but I also do therapy and I managed to overcome it by focusing on things like: buying plants, concentrating on the apartment, making it beautiful and that kind of thing (Facundo, San Telmo, our translation).


It draws attention, in the case of single people or those who do not have dependent children, among whom there is a revaluation of their homes, seeking strategies to re-inhabit their spaces. These experiences were associated with the possibility of purchasing new furniture or changes in the layout of the house, in addition to a greater number of plants and the use of balconies, terraces, windows or patios. Cristina is retired and lives with her husband in the 'houses' area of Lugano. In their accounts of the changes in daily life since the pandemic, there is a reassessment of their 'privileges' for having a patio: "in everyday life, not much has changed for me, because here is a neighborhood of ground houses, so we have land, we have plants and we have green, so I have a lot of space, and that….and well, that meant the only thing that was restricted was basically going out.” (our translation)



Difficulties in maintaining life


A story repeated in the pandemic context refers to the fact that the greatest difficulties around sustaining daily life are associated with the management of children's schooling. Schooling in times of a pandemic was marked by complications in the implementation of new strategies around the management of remote and/or face-to-face work schedules to adapt them to virtual classes (in all cases synchronous). An important issue regarding the return to school attendance is that it did not occur in the same way in all establishments or levels of education. Thus, managing the schedules and days of children's courses implies, in many cases, adaptations of work days and routines12. Likewise, accompanying children during the process of adapting to virtuality brought challenges for parents of young children, who had to fully assume their children's education. This is the case of Daniela, from San Telmo. Daniela is a teacher and mother of two school-age children and, like her partner, at the beginning of the pandemic, she started working remotely. In this situation, she says: “the organization lasted two weeks, [then] we had to recalculate because the circumstances changed, we had to reorganize again... organization in a very short period of time” (our translation).

In addition to the strategies implemented to support their children's schooling, families had to generate adaptations around the ways of caring for their children. This is the case with the children of Micaela de Lugano, whose return to work did not coincide with their children's return to school. In the new dynamics, although at first they took turns taking care of their children with their partner, when they both have to go to work, the eldest daughter, 11 years old, spends a few hours a day in charge of her younger brother, 4 years old: “It was the first year that I decided to leave my little boy to his sister, Martu, 11, because he also had that thing that I had to go to work and with that they didn't go to school, so I also had to organize myself” (our translation). Micaela is 35 years old, works as a porter's assistant at a school in Caballito and lives in one of the towers in Lugano with her children and her partner.

In some cases, the situation was reversed. The dissociation was due to the return of school attendance and continuity of virtual work. This brought complications because the children's school was close to the place of work and not to the house. This is the case of Noelia, a resident of Lugano, mother of a 12-year-old girl with ADHD, who, although she does not have to go to work in person, is obliged to travel constantly to her daughter's classes: “I am at


12 The interviews were carried out mainly with women. In this work, it is not possible to delve into this topic from the perspective of male respondents. Respondents who changed their routines worked in more flexible jobs or with good relationships with their bosses. This would partly explain, in these cases, why they were able to modify everyday life.

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home for an hour and a half and I go back and look for her, and we come back in like two, [...] when she doesn't have therapy, that therapy is also there in the center” (our translation).

Juan considers that his daughters were the most affected by the isolation, as they were finishing high school when the pandemic began:


[...] he saw them as the most affected in that sense, because of the subject of studies, you see, they finished the fifth year last year with the pandemic, they didn't travel, they didn't have meetings, they didn't have a party, all of that, so it was, let's see, we came from work around you saw one that you didn't notice but then you saw them and I realize you saw, I don't know, walking around depressed, because of the issue of not having the to do, just lying down all day or with the cell phone, watching TV … (Juan, San Telmo, our translation).


With my friends in the neighborhood, the reality is that everything became very complicated, because many of them have children and the fact that they go to school virtually and everything like that became very complicated for them to be able to get together, you know, we see each other from time to time, it's kind of complicated. Most of my friends have kids, so there's a complication (Gabriela, San Telmo, our translation).


Once again, life-sustaining difficulties emerge strongly in the dissociations or gaps that occur between virtuality and face-to-face, care tasks and maintenance of social life.

In some cases, adaptation to these new forms of life was positively valued. Such is the case of Paula, 34 years old, who lives in Lugano with two school children and her husband. In some cases, adaptation to these new forms of life was positively valued. Such is the case of Paula, 34 years old, who lives in Lugano with the school children and her husband:


[...] I always say [to my husband], when we get back... Now, put it, we are on vacation for us, when we get back to normal hours again, I work from 7 am to 2 pm, and he worked from 4 pm to 11 pm. It was literal, I arrived "hello yes how are you", poured three drinks, with luck, and he would leave and until 12 pm we didn't see each other, and sometimes we didn't even see each other because I was exhausted from getting up at 6, I would stay sleeping, then we're like on vacation, we're enjoying everything and it's quiet (Paula, Lugano, our translation).


Solidarity and new bonds in the neighborhood


Adult care also reorganized sociability in buildings and neighborhoods:


Many adult people didn't want to leave their homes, they didn't want to go. So the part of the neighbor, the doorman, played a lot there, he can talk, he can lend a hand… that role played a lot there. What was this pandemic a lot, between us here you saw, if we knew that someone was positive in the house or couldn't move, well, we left things in the hallway, you know, you give each other a hand that way (Micaela , Lugano, our translation).



The neighbors played a key role in maintaining the lives of the elderly in the building. Shopping and helping with technology (instructions for using video calls, ordering private cars or virtual payments) were the most reported experiences among respondents. In this context, the role of the building's doorman appears as a fundamental actor in the management of care tasks.

The pandemic context seems to have promoted the revaluation of solidarity ties articulated in networks supported by neighbors to facilitate the experience of isolation, especially for the elderly and people isolated by COVID.


A WhatsApp group was created in which adults, if they needed to, could go shopping for them, so they wouldn't go out, so they wouldn't expose themselves. As [that] solidarity was activated a little bit, I liked it a lot, mainly because I didn't know my neighbors well, so it was a nice way to get closer in a way. That was cute (Sofía, San Telmo, our translation).


In this regard, Santiago, professor and director of a master's degree in cultural management who has lived in San Telmo for 10 years, highlights:


Since the pandemic, I felt like something that the neighborhood has historically been quite horizontal and generous and organized, the neighborhood is very organized, it is a neighborhood with, historically with that passivity, so (...) the street or in the square park , there was, it seems to me, an issue that was very good, that there was a certain possibility of organization around more than health issues, mainly issues of good, of care (Santiago, San Telmo, our translation).


With regard to new strategies for supplying everyday consumer goods, these practices resulted in a new connection with the neighborhood and nearby businesses, as well as new ways of shopping. In the accounts of residents of Lugano, there is a greater emphasis on virtual shopping due to an outbreak of cases in the Coto hypermarket, one of great importance for its magnitude in the neighborhood. In both neighborhoods, respondents say that rationalization strategies were implemented for shopping and going to supermarkets or stores, seeking to reduce them to the minimum and essential during the first stage of ASPO. Likewise, while in some cases these strategies largely continue today, in other cases they have reverted to pre- pandemic consumption practices of making the purchase of the day. There is an assessment in the reports about living in the vicinity of stores13 that are sufficient to satisfy their needs. Then,


13 These are stores that sell food and basic necessities. Also, clothing stores, books, bars and restaurants offering delivery services, etc. In the interviews, no mention is made of the working conditions of its workers in the context of the COVID-19 pandemic..

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the perceptions, appreciations and mobility practices in the neighborhoods where the interviewees are located are presented.


Perceptions around the neighborhood


Just as the daily practices that have to do with the maintenance of people's lives were affected by the imposition of ASPO measures, the appreciations, ways of seeing and experiencing the neighborhood were also modified. From the interviews, we recovered some stories that reflect the reflections of the inhabitants of San Telmo and Lugano on the changes, continuities and ruptures in the context of preventive and mandatory social isolation.

In the context of the pandemic -as we pointed out earlier-, San Telmo has undergone substantive changes. In their reports, the interviewees point out that this has to do with the loss of one of its distinctive characteristics: its tourist quality. Suddenly, tourists and the activities associated with them disappeared. They point out that during the restrictions they noticed less traffic noise and other neighborhood noises, such as street musicians. They point out that in the context of the pandemic they have a greater use and enjoyment of public space. In some cases, the proximity to Puerto Madero – as an area of dispersion and promenade – is perceived as a privilege associated with the location of the neighborhood. As for the negative aspects, they highlight a greater identification of people in poverty and on the streets in the neighborhood.

In both San Telmo and Lugano, respondents value green spaces:


I started to rediscover places and people I didn't see when I went to work on Monday, Wednesday and Friday. The contact with the neighborhood was different and with the people. So, I rediscovered the neighborhood, we have everything in the neighborhood, in terms of food. Although there is a market, which Cata helped me, I bought more in the neighborhood.

One of the things about San Telmo is that it lives off tourism, tourism was intense, and you find 20,000 tourists all the time. Tourists say they choose San Telmo, besides being beautiful, picturesque, because there is something that makes you feel that there are people from the neighborhood who were born here, or lived here, that's what I feel. What San Telmo has is that it's a neighborhood you can't leave, or that you always come back to (Pía, San Telmo, our translation).


In this situation, Facundo reflects on the distinctive features of San Telmo:


I don't know how to explain it, it seems to me that it is different from other neighborhoods. And it's very unique in this distinction, it's like a neighborhood that's still in fashion, let's see, it's not trendy like Palermo, you see the trendy neighborhood, but it's always trendy, there's always a lot of cultural activity, it's present among the bohemia and the university all the time. I live in a small, seven-story building and all the apartments are similar



to mine and the vast majority of my neighbors are people my age, professionals, single, everyone else is more or less the same. For me, there's a lot to do in San Telmo, activities, and it's also the neighborhood that stays the most on days when everything is dead, on holidays, on Sundays. San Telmo is a festival, and it has a lot of neighborhood personality, the San Telmo community is very committed to the neighborhood, they defend it a lot (Facundo, San Telmo, our translation).


And he adds, about his personal relationship, his roots with the neighborhood:


There's something that happens to me in San Telmo that I don't know if it happens in other neighborhoods, which is that when I go out I recognize the faces of San Telmo. As neighbors on the block, even downtown, I come across people I know are from the neighborhood. The very traditional businesses are generally owned by people who have lived in San Telmo for a long time. There really is this feeling, or I feel this feeling of belonging, I don't feel that it has changed that much, I think it remains (Facundo, San Telmo, our translation).


During the isolation phase, the boundaries of the neighborhood became relevant, as recognizable barriers: “Possibly I have, on the 9th of July, a block away, a butcher shop, but I don’t even know, because the 9th of July is the Great Wall of China , I go to downtown San Telmo instead of crossing it” (Facundo, San Telmo, our translation) and Puerto Madero. The difference is that Puerto Madero appears as an area for walking or external dispersion, which is integrated through the new practices of daily mobility.

In the case of Lugano, like those of San Telmo, the parks (Indoamericano, Malvinas, de la Ciudad, de las Victorias) play a central role in the revaluation of the neighborhood. Having green spaces nearby emerges as a recognizable value in the neighborhood environment. Likewise, having patios, terraces or balconies appears as a privilege. Related to green spaces, new leisure practices arise, such as disconnections, walks or sports. In this regard, Sofia says:


and I bought this chair to sunbathe on the balcony, because it was good if I was going to be on the balcony, I wanted to stay sunbathing, getting that vitamin that I wasn't going to get any other way at this time. Before the pandemic, I also gave classes in a school, worked in a radio. So, I left the house at seven in the morning and came back at eleven, twelve at night. So, my house is a transit area, so I think I liked it a little bit at first. Sometimes I feel guilty for saying this, but then I say that each one dealt with this situation in the best possible way... (Sofía, San Telmo, our translation).


Those who live in the buildings value the deals that are offered in each 'lane': “In each lane you have your own businesses, let's say, they multiply. Bakeries, hairdressers, laundries, bookstores, shops, kiosks…” (Paula, Lugano, our translation). Rua Chilavert, as a shopping and walking area, is also valued in the testimonies as a neighborhood place that contains a wide commercial offer of goods and services related to clothing and gastronomy, mainly.



Finally, respondents from both neighborhoods highlight the quality of 'neighborhood', of how they feel as they walk through its spaces daily and, at the same time, value the connectivity of the neighborhoods with the rest of the city, either thanks to the multiple options public transport, such as access to travel in their own vehicles. In this sense, Juan highlights in his neighborhood:


What's there, what you were telling me before, what's good about it, that's another thing that doesn't happen in other neighborhoods, especially here in the Capital, is that when I talk to friends I usually tell them what it's like, when they arrive at home, and he's surprised because we're walking into the neighborhood and everyone says, 'Hey, hello, how are you?' Like most of the provinces, which are more of… it's just that it doesn't happen here in neighborhoods like Palermo (Juan, Lugano, our translation).


Likewise, Paula says:


[...] this neighborhood has something like that, I perceive it as nostalgia, so whoever is here realizes that we treat the neighborhood, because I don't know my case, for example, I inherited it from my grandparents who are no longer here, and we who live in my building are all children, grandchildren of, it's as if we give, I can't tell you, a value (Paula, Lugano, our translation).


By way of closing. Transformations, persistence and values in a pandemic


The pandemic has generated major changes in urban lifestyles. As we said, looking at concrete practices -that is, thinking about the temporal-spatial pandemic- allows us to understand the situated processes that -ultimately- build the pandemic.

In this article we focus on two "traditional" neighborhoods in Buenos Aires -San Telmo and Lugano- in which there is a strong residential presence in the middle sectors. Socio-urban transformations were taking place in both neighborhoods in the pre-pandemic years. However, the pandemic generated ruptures in these transformations and others occurred. San Telmo has a tourist brand that has been brewing for decades. During the pandemic, however, San Telmo's status as a tourist district is lost. This led the neighbors to perceive it as a 'neighborhood'. In Lugano, new social ties between neighbors were generated, with central actors such as doormen, in the case of buildings. In the stories of the residents of these two neighborhoods, adapting and using open and/or green spaces, both in public parks and inside their own homes, was fundamental to maintaining the quality of life.

In this text, we were interested in investigating the ways in which the pandemic was experienced territorially. In other words, we focused on the experience of preventive and

compulsory social isolation and its impacts on the sociability of the neighborhood, seeking to

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understand the way in which people of flesh and blood sustained life. Sustaining life has an economic component. However, as we have shown, it does not end there. Changes in the forms of sociability, evaluations of networks and neighborhood relationships, affectivity as a constructor of ways of being in the neighborhood show the importance of thinking about practices in terms of life: sustaining life implied a socio-territorial affective rearrangement. If the pandemic put in parentheses for millions of people 'the good life' understood as a moral- intimate-economic thing (BERLANT, 2020) or processes of 'normal life', new ways of living the pandemic were also produced beyond the crisis and the break.

This life-sustaining process produced a change in the spatiality of bonds and sociability. With the restriction of mobility, proximity assumed a central role in sustaining life, implying a (re)appreciation of local networks and new relationships with neighbors that led to a reconstruction and recognition of the neighborhood environment in physical and affective terms. By this we mean that the reconstruction of the neighborhood was not just a process given by the pandemic, but that it was an active work of building forms of life that involved sustaining it during the pandemic.

As practices settle into time-spatial processes, the pandemic will undoubtedly change urban cultural practices. On the one hand, the physical space has changed. Many of these were modifications that are likely to be rolled back (certain pedestrians, barriers to encourage distancing). However, the lived space is not only nourished by materiality, but also by experiences. Thus, the spread of the virus - we believe - will generate changes much more lasting than the pandemic itself. This new normality will be built by practices such as the proximity conquered, the neighborhood revisited, the fear of new changes even when the virus has become naturalized or disappeared. 'Taking pleasure in it', 'new normality' or simply naturalizing the new ways of sustaining life are ways in which the pandemic will continue daily in cities.


REFERENCES


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DI VIRGILIO, M. M.; FRISCH, M. A.; PERELMAN, M. D. Territorialized pandemic: Everyday life in two neighborhoods of Buenos Aires. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022002, Apr. 2022. e-ISSN: 2358-4238. DOI:

https://doi.org/10.52780/res.v27iesp1.15863


Submitted: 16/01/2022 Required revisions: 16/02/2022 Approved: 30/03/2022 Published: 25/04/2022



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