FRACTURAS ESPACIALES: LA TOPONIMIA COMO TIPOLOGÍA DE LA DOMINACIÓN SOCIAL
SPATIAL FRACTURES: TOPONYMY AS A TYPOLOGY OF SOCIAL DOMINATION
Rafael Alves ORSI1 Rodrigo Alberto TOLEDO2 Murilo Petito CAVALCANTI3
RESUMEN: La primacía de la vivienda se articula con el territorio, repartible en los barrios, cuyos propios nombres pueden reflejar los conceptos de lujo, privilegios, pobreza y sumisión, como tejido de asimetrías de poder político y social. Con esta premisa, este artículo presenta la simbología del espacio urbano a través de su toponimia, como representación concreta de la rígida estructura tradicional, conservadora y excluyente de las ciudades. Elegimos dos municipios de tamaño mediano para el estudio: Araraquara y Taubaté. Considerando como referencia la toponimia y clasificando el conjunto de nombres con base
en la taxonomía de Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, se señala el contraste simbólico de los nombres entre los proyectos habitacionales dirigidos a la población pobre y los condominios y barrios dirigidos a la población rica, teniendo en ambos casos las clases dominantes como detentadoras del poder de nombrar el espacio y crear significados.
PALABRAS CLAVE: Toponimia. Poder simbólico. Dominación social. Urbanismo. Ciudades.
ABSTRACT: The primacy of housing is articulated with the territory, scrutinized in neighborhoods, whose very names may reflect the concepts of luxury, privileges, poverty and submission, as the fabric of asymmetries of political and social power. With this premise, this article presents the symbology of urban space through its toponymy, as a concrete representation of the rigid traditional, conservative and excluding structure of cities. Two medium municipalities were selected for the study – Araraquara and Taubaté. Taking the toponymy as a reference and classifying the set of names based on Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick taxonomy, the symbolic contrast of the names between the housing projects aimed at the poor population and the condominiums and neighborhoods aimed at the rich population is pointed out, in both cases having the dominant classes as holders of the power of naming space and creating meanings.
KEYWORDS: Toponymy. Symbolic power. Social domination. Urbanism. Cities.
Com a arquitetura e o urbanismo moderno emerge um novo modelo de cidade nos primeiros decênios do século XX. Tais cidades já nascem marcadas por fraturas socioterritoriais herdadas de um processo de produção urbana excludente e reforçado nas novas dinâmicas, primeiro, da cidade industrial e, posteriormente, da cidade comercial e financeirizada. A difusão do aço permitiu novas estruturas construtivas, bem como o aumento da produção de moradias fruto das pesquisas feitas por instituições dominantes, que instrumentalizam a ciência e a técnica nas formas de produção que reproduzem e expandem a assimetria de poder e a ocupação desigual do espaço. A título de exemplo podemos citar o arquiteto e urbanista Walter Gropius (1887-1965), diretor, de 1919 a 1928, da escola de Bauhaus, que contou com professores renomados do campo das artes tais como Klee, Kandinski, Shelmme e projetistas de objetos que passavam a formar o ambiente moderno, dos móveis até o bairro (BENEVOLO, 2009). Gropius concebia uma perspectiva urbanística padronizada, de pré-fabricação que dialogava com a sinergia gerada pelo movimento progressista da arquitetura moderna. Pressupostos que, no Brasil, foram e aplicados em diversas cidades, principalmente na porção destinada ao operariado. São cidades com bairros que projetavam alojamentos em série, em um tipo de casa pré-fabricada, que pudesse conferir
funcionalidade interna e na sua relação com o exterior, o restante da malha urbana. Cidades que, por conseguinte, tinham que refletir a regulamentação dos tipos padrões de edifícios do ponto de vista dos materiais utilizados, com orientação normativa do gabarito dessas construções.
Na cidade pós-liberal as funções que ganhavam destaque eram as produtivas, tais como o comércio e a circulação. Ela surge no Ocidente, especialmente nos países de industrialização tardia, a partir da metade do século XIX, com o desafio de transformar o “caótico” espaço urbano em local que possibilitasse seu funcionamento. As iniciativas estavam voltadas para suprir as necessidades de mobilidade, saneamento, infraestrutura e equipamentos urbanos. As áreas residenciais populares ficavam a reboque do capital, ou seja, as administrações públicas construíam bairros operários como forma de corrigir a distorção provocada pelo mercado privado, que não tinha como público-alvo as classes de mais baixa renda (FELDMAN, 1996; TOLEDO, 2017). Ao mesmo tempo em que se tem a produção material das cidades, em seu conjunto, também há sua transformação simbólica tendo diferentes signos do espaço denotando sua reprodução, ainda que formal, sob pilares fragmentados e de classe. Como bem destaca Santos (2014, p. 59, grifo nosso) “deixado ao quase exclusivo jogo do mercado, o espaço vivido consagra desigualdades e injustiças e termina por ser, em sua maior parte, um espaço sem cidadãos”. É notório que a produção física das cidades anda pari passu com sua produção social e simbólica.
Das cidades disciplinadas por planos diretores, provém, via de regra, as áreas residenciais com serviços públicos, parques e vias de acesso, bem como estruturas de mobilidade urbana, disciplinando e legitimando os distanciamentos socioterritoriais. Entretanto, para além desse aspecto disciplinar, há de se recuperar que existem regiões da cidade regular, que se aplicavam métodos da arquitetura e urbanística modernas, que as diferenciavam das demais. As técnicas de luxo para melhorar as condições de vida de uma minoria, criavam e ainda criam privilégios e assimetrias de poder político, bem como espaços fraturados e profundas desigualdades socioterritoriais. Como destaca Santos (2014) as habitações dos pobres já nascem subnormais. Aqui destacamos tanto a estrutura da unidade habitacional em si, como a localização periférica nas cidades, a deficiente infraestrutura urbana disponível chegando até aos estigmas espaciais consolidados.
Considerando estes aspectos, o presente artigo traz para o debate a dinâmica engendrada na produção e reprodução das cidades, cujo pano de fundo se sustenta no mercado, criando uma cidade do luxo contrastada com uma cidade do operário e com as chagas de uma cidade ilegal, com impactos de diferentes ordens na malha urbana, na
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
dinâmica da cidade e sociabilidades criada nestes espaços. O foco aqui volta-se para a toponímia desses espaços, que para muito além de nomenclaturas que identificam um lugar, revelam relações de poder e subalternidade, identidades e projetam lutas e reinvindicações por direitos nas cidades.
Na primeira seção, apresentamos o constructo teórico que formatou a base empírica do presente artigo. Apresentaremos os dois municípios paulistas que servirão de referência para análise da toponímia, do estudo da origem dos nomes de alguns de seus bairros. Na segunda seção trazemos uma leitura sobre a conformação de novas morfologias espaciais originadas a partir da fragmentação socioespacial, que impacta nas sociabilidades e (re)organiza a experiência urbana pela via da produção concreta e simbólica da distinção social, expressa na toponímia do bairro rico em comparação com o bairro pobre. Na seção 03, apresentamos a filigrana conceitual sobre os toponímios que permitirá identificar um conjunto de tensões em torno do simbolismo trazido pelo nome dos bairros/conjuntos habitacionais voltados para população mais pobre, contrastado com bairros e condomínios voltados para pessoas ricas.
Claramente a definição dos nomes dos espaços trazem consigo um conjunto de significados e estratégias de poder submersos, cuja identificação é essencial para compreender uma clivagem sutil da produção das cidades.
A base empírica do estudo tem como amostra dois municípios, a partir de 26 previamente selecionados que, historicamente, contaram com assessorias urbanísticas reprodutoras das concepções modernistas de cidade na elaboração de seus planos diretores de 1957 a 1973, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de São Paulo. Especificamente tivemos a atuação de um Centro de Pesquisa e Estudos Urbanísticos, CEPEU, criado em 1955. Arquitetos e Urbanistas atuavam na assistência dos municípios, amparados por vínculo ao Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB, que, por sua vez, possuíam estreitas relações com centros de ensino e pesquisa, como o citado CEPEU. As diferentes concepções urbanísticas eram mobilizadas por meio dos centros para produção de planos reguladores do uso e produção do espaço urbano. Há de se frisar que tais vinculações concorriam para a institucionalização urbanística e da atuação profissional do arquiteto, como condutor do processo de elaboração de plano diretor para as cidades (FELDMAN apud TOLEDO, 2017).
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
A difusão de concepção urbanística para enfrentamento da questão urbana, gerou massa crítica que orientou na formulação de instrumentos que geraram normatizações e, sobretudo, uma intelligentsia que foi posta a toda prova nos 26 municípios elencados inicialmente. Em uma visão de base tecnicista, cabe o questionamento sobre até que ponto tais projetos técnicos tinham como preocupação a maior integração dos diferentes estratos sociais presentes nas cidades, tendo como preocupação o combate das profundas desigualdades socioespaciais historicamente constituídas. No século XX, as atividades do capitalismo financeiro e imobiliário migrando para diversos municípios paulistas, evidenciam a preocupação tecnocrática com a reprodução das cidades sob as bases financeiras, ignorando suas contradições já fortemente presentes nas lutas pelo direito sobretudo à moradia. Um tipo de “colonização” do interior que demandou requalificação das administrações públicas municipais, sendo o plano diretor peça importante para pavimentar a sedimentação de novos ciclos econômicos, que preconizavam a extração da renda da terra urbana, fundamentalmente, em projetos voltados para o mercado imobiliário em efervescência.
A partir do universo de 26 municípios, selecionamos dois por constituirem Núcleos de Atendimento Regionais, ou escritórios regionais criados pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo, CDHU-SP.
Município | Ano 1º PD | População | Partidos | Ano 2º PD | População 2020 | Partidos Pleito de 2020 |
Araraquara | 1963 | 58.076 | PTN | 2005 | 238.339 | PT |
Taubaté | 1957 | 65.911 | PTB | 2015 | 317.915 | MDB |
Fonte: CDHU (2015), IBGE (1969; 1970; 2000; 2010)4, IBGE Cidades ([s.a.])5, IBGE São Paulo
(1960)6, SEADE ([s.a.])7 e Toledo e Kerbauy (2017)
4 Censo IBGE, 1969. Disponível em: https://seculoxx.ibge.gov.br/images/seculoxx/arquivos_download/populacao/1969/populacao_m_1969aeb_036_ 1.pdf. Acesso em: 20 fev. 2022. Censo IBGE, 1970. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca- catalogo.html?id=769&view=detalhes. Acesso em: 20 fev. 2022. Censo IBGE 2000. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/administracao-publica-e-participacao-politica/9663-censo- demografico-2000.html?=&t=microdados. Acesso em: 20 fev. 2022. Censo IBGE 2010. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/#/home. Acesso em 20 fev. 2022.
5 Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em: 21 mar. 2019.
6 Censo IBGE São Paulo, 1960. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/68/cd_1960_v1_t13_sp.pdf. Acesso em: 20 fev. 2022.
7 Disponível em: https://www.seade.gov.br/. Acesso em: 21 mar. 2019.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
Araraquara e Taubaté apresentam características de semelhança, como: diversidade econômica, tamanho demográfico, função, dinâmica intraurbana, intensidade das relações interurbanas e com o campo, indicadores de qualidade de vida, infraestrutura, relações externas e comando regional. Contudo, tais variáveis devem estar vinculadas as inserções desses em redes urbanas em territórios concretos e definidos historicamente. A despeito de cada cidade possuir suas singularidades, estabelecidas a partir da realidade regional que está conectada, há uma relação histórica urbanística que, precocemente fez com que esses territórios tivessem ações voltadas para o planejamento urbano a partir de um Centro de Pesquisas.
Além dos empreendimentos habitacionais provindos do CDHU, voltados para baixa renda, também foram selecionados para a análise nesses municípios empreendimentos do Programa Minha, Casa Minha (PMCMV) voltados para a baixa renda – faixa 01.
O PMCMV criado pelo governo federal no ano de 2009, foi uma política habitacional para grupos sociais de baixa renda e vulneráveis, sobretudo quando consideramos a faixa 01. É importante destacar que o PMCMV, em que pese suas múltiplas qualidades, foi uma política habitacional cujo diálogo com uma política urbana de maneira mais ampla foi negligenciado ou se deu de forma muito incipiente (ORSI, 2018). Neste momento, é importante o destaque do papel dos planos diretores municipais, para que a produção dos conjuntos habitacionais não seja apenas mecanismos da reprodução financeira através do espaço urbano, reproduzindo os profundos impactos socioterritorias, lamentavelmente, caraterísticos em nossas cidades.
É inegável que as cidades selecionadas para esta pesquisa, apesar de seu histórico de planejamento e a existência de planos diretores desde a segunda metade do século XX, pertencem a um quadro mais amplo de problemas urbanos. Forças mutiladoras se incidem nos territórios e mutilam sujeitos por meio de uma prática socioespacial formatada por interdições e normas. Por conseguinte, emerge um sujeito despido de sua identidade, pois há o imperativo do consumo que se sobrepõe ao do direito à cidade e da função social da propriedade. Uma condição de não-sujeito manifesta em formas segregadas do plano vivido, dando a esta concretude. O capitalismo imprime a lógica de produção espacial como fonte de privação da vida pela captura do mundo da vida pelo desenvolvimento sem limites do universo da mercadoria (CARLOS, 2015).
Os quadros 1 e 2 apresentam os dados referentes aos Conjuntos Habitacionais do CDHU nos municípios de Araraquara e Taubaté bem como os conjuntos do PMCMV nestas
cidades.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
Município | Companhia ou Programa | Conjuntos Habitacionais | Denominação atual | Data de entrega |
Araraquara | CDHU | Araraquara G | C. H. Hermínio Pagotto | 19/09/1997 |
Araraquara H01 | C. H. Manoel Rodrigues | 19/09/1997 | ||
Araraquara H02 | C. H. Manoel Rodrigues | 18/04/1997 | ||
Araraquara II / III | C. H. Zenken Nakazato | 28/02/1998 | ||
Araraquara K | Jardim São Rafael II | 27/10/2005 14/02/2007 14/11/2008 | ||
Araraquara L | Jardim Altos Pinheiros | 29/12/2005 | ||
Araraquara M | Jardim Paraíso | 24/11/2006 | ||
Taubaté | CDHU | Taubaté A03 | Taubaté A03 | 14/03/1998 |
Taubaté A04 | Taubaté A04 | 14/03/1998 | ||
Taubaté D | Taubaté D | 01/11/2001 | ||
Taubaté D02 | Taubaté D02 | 16/08/2003 | ||
Taubaté E | Taubaté E | 19/12/2008 |
Fonte: CDHU (2021)8
Município | Companhia ou Programa | Conjuntos Habitacionais/Residenciais | Denominação atual | Data de entrega |
Araraquara* | MCMV | Jardim São Rafael | Jardim São Rafael | 28/11/2010 |
Dos Oitis | Dos Oitis | 20/10/2011 | ||
Romilda Taparelli Barbieri | Romilda Taparelli Barbieri | 24/01/2014 | ||
Anunciata Palmira Barbieri | Anunciata Palmira Barbieri | 08/042014 | ||
Maria Helena Lepre Barbieri | Maria Helena Lepre Barbieri | 30/092014 | ||
Valle Verde | Valle Verde | 06/05/2016 | ||
Jardim do Valle | Jardim do Valle | 25/08/2015 | ||
Taubaté** | MCMV | Empreendimento Habitacional Benedito Capeleto – Bairro Barreiro | Benedito Capeleto | 26/05/2015 |
Empreendimento Habitacional Sérgio Lucchiari – Bairro Barreiro | Sérgio Lucchiari | 03/12/2015 | ||
Empreendimento Habitacional Francisco Aves Monteiro | Condomínios: Ipê; Jequitibá; Jacarandá | 31/01/2017 | ||
Empreendimento Habitacional | Condomínios: | 08/03/2018 |
8 Prefeituras Municipais de Araraquara e Taubaté. Disponível em: https://www.cdhu.sp.gov.br/. Acesso em: 20 fev. 2022.
Vista das Palmeiras | Angelina; Jatobá; Palmeira |
Fonte: Coordenadoria de Habitação do Município de Araraquara e Departamento da Habitação da Prefeitura Municipal de Taubaté
Evidentemente, a lógica da reprodução das cidades tendo como fundamento sua mercantilização e financeirização não se restringe a apenas a produção de conjuntos habitacionais voltados para população empobrecida e alocada em áreas, comumente fragilizadas das cidades. Muito pelo contrário, os investimentos em empreendimentos de alto luxo, de certa forma como produtos de grife, impactam na malha urbana em seu sentido físico e estrutural bem como em suas questões simbólicas. Portanto, se é possível pensar a toponímia como um fator de identificação dos conjuntos habitacionais provenientes de programas governamentais para a população economicamente vulnerável, também é possível a identificação de toponímias de loteamentos, notadamente loteamentos fechados, que remetem a signos de exclusividade e sofisticação. No quadro 3 elencamos uma relação de empreendimentos em bairros e/ou condomínios de classe média-alta nas cidades de Araraquara e Taubaté.
CIDADE | EMPREENDIMENTO |
Araraquara | Residencial Altos do Jaraguá Buona Vita Jardim Bouganville Jd. Residencial Quinta dos Oitis Portal dos Oitis Portal das Tipuanas Quinta das Tipuanas Residencial Damha Residencial Village Damha I Residencial Village Damha II Residencial Village Damha III Residencial Village Damha IV Portal das Araucárias Residencial Salto Grande I Salto Grande Campo Belo Quinta do Salto Salto Grande Cedros do Campo Condomínio Volpi Jardim Residencial Maggiore |
Taubaté | OuroVille Terrazzo Di Italia Residencial Colinas Chácaras Cataguá Residencial Green Park Residencial Tecoara Residencial Terras de San Marco Taubaté Village |
Condomínio Vale dos Príncipes Jardim dos Estados Jardim Oasis |
Fonte: Elaboração própria
Não é objetivo com este artigo o estabelecimento de análise comparativa entre as realidades distintas apresentadas por um lado por empreendimentos populares cuja promoção origina-se em programas governamentais, e, por outro, empreendimentos imobiliários de alto padrão. No entanto, a lógica da reprodução capitalista na cidade financeirizada estão presentes em ambos os casos, bem como os mecanismos de planejamento urbano a eles vinculados, refletindo na dinâmica das cidades e nas particularidades de cada um desses espaços, seja em sua estrutura física ou em suas dimensões simbólicas. O trágico se manifesta nas alienações vividas em basicamente três esferas de realizações da vida. Primeiramente, no desenho de políticas que, ao preconizarem a superação da crise de reprodução social, ao combater desigualdades, reforça-as. Em segundo, a centralização da riqueza social gerada coletivamente nas mãos dos indivíduos de mais alta renda, reverbera nas alianças configuradas com o fito de opor o plano político e econômico ao social. Em outros termos, não há uma força democrática constituída que possa controlar para o bem da coletividade, os excedentes de capital que se convertem diariamente em produtos do mercado imobiliário.
Por fim, o capitalismo passa a ser o busílis da realidade social, pois permite a coexistência no mundo moderno, de alienação e ao mesmo tempo, insurgências que transformam os territórios em disputas. A urbanização, por conseguinte, passa a ser um fenômeno que se efetiva através da produção social do mundo, em condições históricas específicas. Ao ser uma nova forma de acumulação capitalista, trará simbologias que hierarquizam os territórios, inclusive pelo nome dos lugares. Estes, além de refletirem a perspectiva capitalista mercadológica, cindem o espaço urbano em uma relação de dominação social manifesta nas palavras que designam os nomes dos bairros, a sua toponímia.
Lefebvre (1978), aponta que o Estado domina a sociedade como um topo. Primeiramente, por determinar ou dominar os códigos que orientam o crescimento econômico, pois constitui-se como centro de decisões que protege o funcionamento dos organismos sociais, ao colocá-los sob sua tutela. Contraditoriamente, garante a exploração multiforme do espaço e a igualdade na exploração mútua e recíproca. Por outro turno, a lei garante a igualdade, ao mesmo tempo que perpetua, em seu interior, a reprodução da desigualdade. O Estado, por meio da lei, garante condições de dominação como sua função
precípua mesmo que camuflada em políticas sociais. Neste sentido, é fundamental voltar o olhar para o espaço das cidades e suas conflituosas configurações socioespaciais.
O caráter socioespacial de toda desigualdade urbana e o papel do espaço no interior das dinâmicas capitalistas de (re)produção social, mostra que o espaço é, numa direção, produzido pelas relações sociais de produção e, noutra direção, um produto destas (LEFEBVRE, 2006). Em seu célebre ensaio teórico, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de 1845, Engels (2008) analisa a condição dos trabalhadores urbanos não apenas a partir de sua posição enquanto classe social, submetida a determinadas relações de exploração ocorridas durante o processo de produção de mercadorias, mas também joga luz sobre a questão da moradia, dos bairros operários, onde haviam péssimas condições de higiene, ausência de saneamento básico, ruas estreitas, moradias amontoadas, insalubridade e proliferação de doenças. Os bairros operários foram classificados por Engels (2008) como verdadeiros espaços de miséria, em contraposição aos bairros iluminados, de ruas alargadas e moradias luxuosas, nos quais residia a burguesia. Assim, o texto de Engels torna-se ponto de referência para os estudos urbanos justamente por atrelar, de modo pioneiro, as relações de exploração do processo produtivo ao processo de produção do espaço urbano nas cidades industriais inglesas, demonstrando, por exemplo, como os índices de mortalidade por doenças eram mais altos entre os trabalhadores urbanos do que entre os trabalhadores do campo.
A obra de Benjamin (2015), a partir de suas interpretações sobre a poesia de Baudelaire, constitui outra referência fundante no pensamento sobre a cidade moderna. Baudelaire descreve o desencantamento diante dos efeitos colaterais produzidos pelo progresso tecnológico. É a partir daí que Benjamin (2015) vê o nascimento de novas formas de existência trazidas pelo tempo histórico: a questão da experiência tornar-se-á matéria para o autor. Benjamin (2015) opera a partir de uma figura heroica da modernidade, o flanêur, um botânico do urbano, que se encanta com as luzes da cidade e vive uma experiência descolada das mazelas sociais e das desigualdades, sendo assim capaz de absorver todos os significados da nova experiência histórica, intimamente relacionada à modernização e à urbanização.
Se o flanêur representa a vivacidade de uma irresistível e infindável caminhada afetada pela cidade, em Simmel (2005) encontraremos o exemplo oposto: o da inércia do sujeito blasé. Em As grandes metrópoles e a vida do espírito, ele analisa os efeitos da economia monetária na subjetividade dos indivíduos. Tais efeitos são consequência dos
estímulos da vida nervosa, produzidos a partir do ambiente urbano nascente, que vão desde o aumento da intelectualidade nas grandes cidades, ao embotamento e a incapacidade de realizar distinção entre as coisas, o chamado caráter blasé. “O blasé” não está ligado propriamente à falta de percepção, mas sim à indiferença e à incapacidade de reação diante das coisas. A atividade blasé é então marcada pela inexpressividade, pela indistinção derivada da redução da pluralidade dos objetos a um quantum determinado – ao dinheiro como denominador comum (SIMMEL, 2005).
O entrecruzamento das análises de Benjamin (2015) e Simmel (2005) aponta para o próprio paradoxo da cidade moderna, parte de um descompasso irresoluto do capitalismo: se a modernização e a urbanização ampliaram as possibilidades de circulação, contato e apropriação material e simbólica da cidade para os distintos grupos sociais, por outro, recriaram-se estruturas sólidas de segregação, isolamento, diferenciação e desagregação social e como discutido aqui, podem estar, e quase sempre estão, presentes nos nomes dos lugares nas cidades, seja nos bairros, praças, logradouros, monumentos, etc.
A riqueza de tais leituras clássicas da cidade e do urbano reside também no fato de que estas apontam diretamente para o seu contrário: a experiência lúdica do flanêur contrasta com a não-realização da emancipação humana pelo progresso tecnológico e científico. Já a figura simmeliana da atividade blasé, representação máxima da inércia e da indiferença diante de um mundo dominado pela mercadoria, rivaliza com a agência e a espontaneidade inescapável que Simmel atribui aos atores sociais, que são capazes de produzir ações imprevisíveis com finalidades próprias, dando origem a novas formas de “jogar” a sociedade, o que enseja um fenômeno particular que é o da sociabilidade (MAIA, 2001).
Com a forte urbanização conhecida no século XX, para os países de industrialização tardia vivenciada na segunda metade do século XX9, há uma forte remodelação da classe trabalhadora. Multiplicam-se os trabalhadores urbanos, atuantes nos mais diversos tipos de atividades. Esse processo engendra a formação de novas morfologias espaciais. As desigualdades socioespaciais se tornam ainda mais complexas do que aquelas conhecidas pela cidade moderna, dando origem a um cenário urbano que inverte a antiga lógica das cidades divididas em um centro rico e uma periferia pobre (CALDEIRA, 2011). No atual contexto, ricos e pobres podem habitar áreas em proximidade, mas suas distâncias sociais, que tem recortes raciais e de classe, permanece, material e simbolicamente, renovada por novas estruturas de segregação e confinamento.
9 Na década de 1970 o Brasil passa a ter a maior parcela de sua população vivendo nas cidades de acordo com dados IBGE.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
Na cidade contemporânea, seja no contexto das cidades médias ou em cenários metropolitanos, observa-se uma radicalização das antigas formas de segregação socioespacial. A segregação dos grupos e das classes sociais, antes territorializada nos tradicionais “guetos”, eclodiu diante do crescimento das cidades. As novas realidades territoriais deram origem também a uma nova segregação socioespacial, que é mais precisamente traduzida a partir do conceito de fragmentação socioespacial.
Fazem-se necessárias novas orientações epistemológicas para compreensão de uma realidade polimórfica e multiescalar. O diagnóstico lefebvriano de uma sociedade urbana se realizou. A separação entre o rural e o urbano não corresponde à realidade empírica, uma vez que as tecnologias empregadas no “campo” são produtos da urbanização. As redes que conectam o “campo” e a “cidade” também estão inseridas numa lógica urbana de circulação de pessoas e mercadorias, de ampliação e aceleração dos mercados e, consequentemente, do acúmulo de capital. Entretanto, como destacam Brenner e Schmid (2016), o fenômeno planetário do urbano se faz a partir da produção de fragmentações, diferenciações, variáveis e dinâmicas distintas. Geografias instáveis e, por vezes, imprevistas, são produto do fenômeno urbano que, a despeito de seu caráter totalizante, só pode ser compreendido por um conjunto de análises atentas as especificidades que se desenrolam no âmbito das microescalas.
Este espaço fragmentado das cidades, moldado sobretudo a partir do interesse das classes dominantes, expressa ideológica e concretamente a existência de “dois mundos” que só se intercambiam a partir de relações hierárquicas condicionadas pelo poder econômico e simbólico. O mosaico da cidade, repleto de rupturas, descontinuidades e fraturas urbanas, é reforçado no plano simbólico pela fenomenologia das formas burguesas e pela nomenclatura que determinados espaços assumem. Assim, pode-se falar num contraste entre o “bairro” do rico e o “bairro” do pobre, acentuado, moldado e legitimado pelos discursos e pela ação intencional dos atores que intervém no espaço urbano.
Apontamos para a existência de “dois mundos” no ambiente das cidades que se distinguem tanto no plano morfológico, pela via da fragmentação espacial, quanto no plano social e político, num modelo de separação que hierarquiza espaços, como procuramos demonstrar, pela via do poder simbólico. Tal ruptura provoca também uma reorientação da atividade dos sujeitos pelo espaço, já que estes defrontam-se ordinariamente com rígidas estruturas de segregação e com mecanismos sofisticados de vigilância e monitoramento. Nos espaços das camadas mais abastadas, tais estruturas são verificadas a partir da segurança privada, das guaritas que controlam os acessos de entrada e saída, nas câmeras, muros e
cercas que dividem e segregam. Já os espaços das classes pobres, o controle social se efetua através do punitivismo e da criminalização da pobreza movida pelas forças do Estado.
A cidade contemporânea, ao invés de solucionar, exacerbou a presença de determinados afetos sociais típicos da cidade moderna, como o medo e a insegurança, e os combateu de acordo com o receituário do mercado, que direciona a exclusividade social, o privilégio e a promessa de homogeneidade social como mercadorias disponíveis apenas para as classes altas da sociedade. Destarte, modificam-se as possibilidades de apreensão da cidade e do urbano por parte dos grupos e dos indivíduos. A cidade da fragmentação socioespacial é também a cidade da restrição, da inacessibilidade, dos não-lugares e da ausência do encontro. Neste conjunto, os descompassos simbólicos dos lugares e seus elementos, aqui incluindo suas nomenclaturas, também são formas de exclusões, estigmas e dominações nas cidades.
A cidade contemporânea, marcada pelas fraturas espaciais e pelas formas simbólicas de produção da distinção social, opera num sentido contrário à da construção e ampliação das forças democráticas e, por conseguinte, das possibilidades de renovação e invenção do urbano.
As assimetrias socioespaciais instauradas a partir de um modelo de reprodução urbana que acentua e agrava, no plano simbólico e morfológico, as desigualdades sociais, são um reflexo do caráter patrimonialista da gestão urbana. A possibilidade de que determinados grupos, destacados como representantes do poder econômico, interfiram no espaço urbano modificando-o de acordo com seus próprios interesses representa um desafio para a administração pública. Nesse sentido, a gestão coletiva, democrática e horizontal das cidades rivaliza com a demarcação urbana do privilégio e da distinção social.
Na próxima seção abordaremos alguns aspectos da incorporação simbólica que hierarquizaram os territórios, em uma tipologia de dominação social e também de estratégias e referenciais distintos de identificação e vinculação com o espaço, ou seja, a toponímia dos lugares das cidades.
Os estudos e conhecimentos em torno dos nomes dos lugares trazem importantes elementos para compreender a história dos lugares suas relações de forças, a simbologia e os interesses tangíveis e intangíveis presentes na nomeação de cada espaço. Como apontam Souza e Martins (2017, p. 2) “Os estudos toponímicos apresentam-se como um poderoso instrumento para o conhecimento de aspectos sócio-histórico-culturais de um povo, assim, é
possível desvendar fatos linguísticos, ideológicos, históricos, crenças e sentimentos diversos”. A desigual relação de gênero colocada na nomenclatura de logradouros nas cidades, os nomes de figuras militares do período de ditatura militar no Brasil que batizam importantes construções de infraestrutura urbana10 ou a omissão de nomes de negros e indígenas nestes espaços, são exemplos de como se produz e reproduz narrativas através da cidade, reforçando ou diluindo, contando ou recontando sua história e a história da sociedade. Há um constante diálogo entre a cidade e sua população através de seus lugares, nomes, monumentos, obras, etc. A pedagogia colocada neste diálogo constante pode ser opressora ou emancipadora, reforçar a ordem sociohistórica ou contestá-la.
Uma questão fundamental na definição do nome de um lugar é o aspecto motivacional presente na escolha. Por certo, como indica Seide (2020), ao analisar Dick (1999), há os arquétipos toponímicos, nos quais os acidentes geográficos são chaves para a compreensão dos nomes, no entanto outros aspectos ligados ao motivacional são de extrema relevância. Ainda ancorada em Dick (1999), Seide (2020) trabalha no campo da psicologia motivacional destacando motivações por afiliação, as quais podem ser ligadas à corotopônimos e antrotopônimos e aquelas motivadas pelo poder, ligadas aos axiotopônimos. Todas as categorias desenvolvidas por Dick (1999) estão presentes em um sistema taxinômico de 27 taxes. O quadro abaixo apresenta a síntese das 27 taxes.
Taxonomias Toponímicas | |
Natureza Física | Natureza Antropocultural |
Astrotopônimos: topônimos relativos aos corpos celestes em geral | Animotopônimos: topônimos relativos à psíquica, à cultura espiritual. |
Cardinotopônimos: topônimosposições geográficas em geral. | Antropotopônimos: topônimos relativosnomes próprios individuais. |
Cromotopônimos: topônimos relativos à escala cromática. | Axiotopônimos: topônimos relativos aos títulos e dignidades de que se fazem acompanhar os nomes próprios individuais. |
Dimensiotopônimos: topônimos relativos às características dimensionais dos acidentes geográficos, como extensão, comprimento, largura, grossura,espessura, altura, profundidade. | Corotopônimos: topônimos relativos aos nomes de cidades, países, estados, regiões e continentes. |
Fitotopônimos: topônimos de índole vegetal. | Cronotopônimos: topônimos que encerram indicadores cronológicos, representados, em Toponímia, pelos adjetivos novo/ nova/ velho/ velha. |
Geomorfotopônimos: topônimos relativos às formas topográficas. | Dirrematotopônimos: topônimos constituídos por frases ou enunciados linguísticos. |
Hidrotopônimos: topônimos resultantesacidentes hidrográficos em geral. | Ecotopônimos: topônimos relativos às habitaçõesde um modo geral. |
10 Um exemplo elucidativo para este caso é o Elevado Presidente Costa e Silva (minhocão na cidade de São Paulo) rebatizado de Presidente João Goulart pelo Plano Diretor Estratégico aprovado em 2014.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
Litotopônimos: topônimos de índole mineral, relativos à constituição do solo, representados por indivíduos | Ergotopônimos: topônimos elementos da cultura material. |
Meteorotopônimos: topônimos relativos afenômenos atmosféricos. | Etnotopônimos: topônimos referentes aos elementos étnicos, isolados ou não (povos, tribos,castas). |
Morfotopônimos: topônimos que refletem o sentido de forma geométrica. | Hierotopônimos: topônimos relativos aos nomes sagrados de diferentes crenças: cristã, hebraica, maometana, etc. É subdividida em:
|
Zootopônimos: topônimos de índole animal. | Historiotopônimos: topônimos relativos aos movimentos de cunho histórico-social e aos seus membros, assim como às datas correspondentes. |
Hodotopônimos: topônimos relativos às vias de comunicação rural ou urbana. | |
Numerotopônimos: topônimos relativos aos adjetivos numerais. |
Fonte: Dick (apud SOUZA; MARTINS, 2017)
A toponímia dos lugares, nesses termos postos e nos pressupostos apresentados no presente artigo, classificam os espaços e revelam fontes de poder. Uma dimensão que foge ao campo de análise do planejamento. Quando nos referimos aos lugares e seus nomes estamos a revelar significados sociopolíticos antagônicos. Não há palavra neutra e entendemos que os estudos urbanos carecem de uma análise do discurso envolvido nas intervenções sobre o espaço. Ao estudarmos o espaço social é fundamental analisarmos os produtores do espaço. Ao analisarmos o espaço social, a organização espacial em suas relações e práticas sociais, é fundamental que se considerem homens e mulheres concretos, em suas expectativas, seus valores, seus temores e suas palavras. (SOUZA, 2019). Há uma disputa simbólica em torno de algumas palavras, fundamentalmente aquelas carregadas de forte significado político e ideológico. O nome do bairro, a toponímia, é o lugar que evidencia em sua epiderme as redes de significados, emoções e as motivações dos atores sociais que o habita, contudo tem raízes profundas marcadas pelo processo de formação da sociedade.
Passando para a análise dos conjuntos habitacionais, como podemos notar na tabela 3, os conjuntos habitacionais construídos pela CDHU, de 1997 a 2006, na cidade de Araraquara, foram classificados pela Companhia com o nome da cidade acompanhado com a letra do alfabeto e, em alguns casos, numerário. Posteriormente, os conjuntos receberam denominações de personalidades locais, isto é, foram renomeados. O Araraquara-G, recebeu a denominação de Conjunto Habitacional Hermínio Pagotto, ex-vereador da cidade que exerceu mandatos de 1952 a 1960, pela União Democrática Nacional, UDN. Araraquara H01 e H02, renomeado como Conjuntos Habitacionais Manoel Rodrigues, faz referência ao farmacêutico
muito conhecido na cidade na década de 1980. Araraquara II e III, renomeados como Conjuntos Habitacionais Zemken Nakazato, presta deferência ao fundador da Fundação Okinawa, há mais de 60 anos, por japoneses que imigraram do Japão para o Brasil com o final da Segunda Guerra Mundial. A fundação Okinawa tinha, dentre seus objetivos, reunir recursos para enviar ao vitimados pela guerra no Japão. Araraquara K, atual Jardim São Rafael, referência o arcanjo da Igreja Católica. O nome significa aquele que cura, sendo considerado um anjo que debela as enfermidades. Araraquara L está nas cercanias do bairro próximo ao Parque Ecológico Pinheirinho, na extrema periferia da cidade, próximo à Penitenciária Estadual de Araraquara. Dada à proximidade ao Parque, é denominado de Conjunto Habitacional Altos Pinheiros. Por fim, Araraquara M, faz referência a um jardim que se assemelha ao paraíso. Etimologicamente, o termo Paraíso, nome do Conjunto Habitacional, segundo a Bíblia é o jardim aprazível onde Deus colocou Adão e Eva, depois da criação. Também denominado como Éden, é lugar em que reina a felicidade.
Quando passamos para os empreendimentos do PMCMV, encontramos nomes de árvores, como é o caso dos Oitis, espécie originária da mata atlântica, mas presente na cidade, encontramos também referências a acidentes geográficos como é o caso do Valle Verde e Jardim do Vale. No que se refere aos demais, constam nomes próprios femininos, todas de uma mesma família, no caso da família Barbieri (Romilda Taparelli, Anunciata Palmira e Maria Helena Lepri). Os três empreendimentos em questão foram lançados durante a gestão do prefeito Marcelo Barbieri (2009-2016), logo as referências são claras à homenagem feita a membros da família do político a frente do poder executivo naquele momento. Ainda encontramos um empreendimento no jardim São Rafael, já explanado anteriormente a respeito do significado do nome.
Na cidade de Taubaté, segundo informações do Departamento de Habitação, todos os empreendimentos da CDHU permaneceram com a denominação original da Companhia, isto é, a classificação alfanumérica da entrega das unidades no período de 1998 a 2008. Os empreendimentos do PMCMV, na cidade de Taubaté, receberam diferentes nomes, mesclando nomes relevantes na política local com árvores nobres da fauna brasileira. Em 2015, o empreendimento Benedito Capeleto, de interesse social, remete à figura do político com larga tradição local. No mesmo ano, têm-se a entrega do Conjunto Sérgio Lucchiari, figura proeminente da história política da cidade. Em 2017, o empreendimento habitacional Francisco Alves Monteiro, implantou três condomínios que levam os nomes de árvores nobres da fauna brasileira, quais sejam, Ipê, Jequitibá e Jacarandá. O último empreendimento,
Vista das Palmeiras, de 2018, também se subdivide em três conjuntos habitacionais:
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
Angelina, Jatobá e Palmeira. Seguem, como podemos notar, o padrão anterior de nomear árvores e palmeiras que são portentosas e que representam força e resistência para denominar os conjuntos de interesse social. Aplicando a classificação a partir do modelo taxinômico de Dick (1999) encontramos a seguinte distribuição, quadro 5.
Taxonomia Toponímica | Frequência | |
Natureza física | Fitotopônimos | 07 |
Geomorfotopônimos | 02 | |
Natureza antropocultural | Antropotopônimos | 10 |
Hierotopônimos | 03 |
Fonte: Dick (apud SOUZA; MARTINS, 2017)
Como é possível se ver no quadro síntese, há maior frequência, em nomes que remetem à natureza antropocultural, notadamente a nomes próprios (antropotoponímios). É válido notar que os nomes remetem a homenagens a famílias, presentes na política local em determinados momentos ou pertencentes às elites locais. De fato, tais referências toponímicas não parecem dialogar ou expressar identidades das populações de baixa renda que moram nestes conjuntos habitacionais, antes expressam a relação desigual e de assimetria de poder. Guardadas as devidas proporções, podem indicar o morar em terras de outrem, comum nas relações conservadoras da vida rural do trabalho camponês nas fazendas e moradia nas colônias. As nomenclaturas de natureza física, mais impessoais são menos presentes nesses empreendimentos.
Já entre os empreendimentos de alto padrão, observa-se uma tendência a adoção de nomes em língua estrangeira.
Há que se considerar que o processo histórico de formação da sociedade brasileira privilegiou o imigrante europeu em detrimento dos escravizados e egressos da escravidão. A escolha do imigrante como mão de obra livre, ocupantes dos setores mais dinamizados da economia, foi parte de um projeto das políticas de branqueamento que vigoraram do pós- abolição até os finais da República Velha. Nas décadas seguintes, não houve nenhum plano efetivo de integração dos negros à sociedade de classes para a superação das injustiças historicamente instauradas.
A presença dos estrangeirismos na nomenclatura dos empreendimentos de alto padrão pode ser interpretada não apenas pela via do passado migratório ocorrido nas regiões
paulistas, mas também pelo modo através do qual tais estrangeirismos visam produzir uma vinculação, a nível de pertencimento, com uma realidade experimentada em países considerados de primeiro mundo. Nesse sentido, tais escolhas de nome submetem-se a uma hierarquização cultural, que valoriza costumes, hábitos e práticas de nações historicamente estabelecidas como civilizadas (ELIAS, 1994). Assim, se promove a oferta de um lugar apartado das mazelas sociais e das carências de um contexto socioeconômico marcado pelo subdesenvolvimento. Sobretudo no plano simbólico, o que esses estrangeirismos objetivam é a afirmação de que se está vinculado a uma realidade outra, distante e privilegiada.
Outra constante nos nomes de empreendimentos de alto padrão é a utilização do termo “quinta”. Como exemplo, temos o “Jardim Residencial Quinta dos Oitis”, “Quinta das Tipuanas” e o “Quinta do Salto Residencial”. Nos países lusófonos, a palavra “quinta” costuma designar uma propriedade rural de grandes dimensões ou, ainda, uma unidade produtiva, como no caso das propriedades vinícolas.
No Renascimento surgiram as quintas de estilo renascentista, chamadas Quintas de Recreio, em Portugal. Caracterizadas por serem espaços bucólicos, com unidades produtivas delimitadas, as quintas apareciam como lugares versáteis, atrelando o gozo e a tranquilidade - o recreio, ao espaço de produção. A origem das quintas remonta a história de grandes propriedades rurais da elite. A Quinta da Bacalhoa, ou Palácio dos Albuquerques, por exemplo, era uma antiga propriedade da Família Real Portuguesa, vendida em 1528 para Brás de Albuquerque, filho de Afonso de Albuquerque, governador da Índia Portuguesa (1509 – 1515).
No Brasil, a Quinta mais tradicional é o antigo casarão cedido à Família Real Portuguesa no contexto das guerras napoleônicas, a Quinta da Boa Vista. A propriedade foi erguida a mando do traficante de escravos Elias Antônio Lopes, em 1803, no alto da colina, com uma bela visão da Baía de Guanabara. Daí o nome de “Quinta da Boa Vista”. Em 1808, com a chegada da Família Real Portuguesa à capital, Elias Antônio Lopes cedeu o Casarão para a Coroa, recebendo outra propriedade em troca.
Observa-se como o termo “quinta” esteve tradicionalmente ligado a propriedades rurais da aristocracia. Espaços bucólicos, dotados de uma concepção paisagística, propícios a uma estada com conforto e lazer. A oferta de um lazer ligado à natureza sempre esteve presente na publicidade dos contemporâneos loteamentos fechados de alto padrão, como verificou Caldeira (2011). A propaganda publicitária era a da promessa de um ambiente que atrela o conforto e a tranquilidade do campo sem estar descolado dos centros urbanos. O
veraneio das quintas passa a ser a própria casa, implicada no tecido da cidade.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
No caso dos loteamentos fechados de alto padrão, é comum que seus nomes veiculem um poder associado às trajetórias de privilégio das elites. Assim ocorre com o uso de estrangeirismos e também na utilização do termo “quinta”, referido a um produto que não corresponde tipicamente ao modelo das quintas tradicionais. Cria-se uma Quinta Urbana, numa busca de atenuar, no âmbito da vida nucleada, familiar e, portanto, privada, os conflitos e infortúnios que marcam a experiência urbana. No quadro a seguir é possível averiguar como se distribui a toponímia de acordo com o conjunto taxonômico adotado neste artigo.
Taxonomia Toponímica | Frequência | |
Natureza Física | Cromotopônimo | 01 |
Fitotopônimo | 08 | |
Geomorfotopônimo | 02 | |
Hidrotopônimo | 03 | |
Litotopônimo | 01 | |
Natureza Antropocultural | Animotopônimo | 02 |
Antropotopônimo | 07 | |
Axiotopônimo | 01 | |
Corotopônimo | 04 | |
Hierotopônimo | 01 |
Fonte: Dick (apud SOUZA; MARTINS, 2017)
A análise do quadro mostra que, considerando os conjuntos de natureza física e a antropocultural, há equilíbrio na distribuição. São quinze em cada um deles. Na natureza física o destaque é para os fitotopônimos e na natureza antropocultural destaca-se os antropotopônimos. Por tratar-se de empreendimentos comerciais para as classes mais abastadas, o vínculo do nome a elementos físicos naturais, além da impessoalidade, mostra uma narrativa de preocupação ambiental, uma forma de viver mais próxima a natureza e algum valor que possa estar próximo ao pós-materialista, ainda que tudo isso seja de fato uma cortina de fumaça para o apelo comercial. No caso dos nomes próprios, sete no total, é importante salientar que a marca Damha, com cinco ocorrências no total, de fato constitui-se em uma “grife” de empreendimentos imobiliários. Logo, apresenta-se dissociada de uma pessoa, mas vinculada à um produto de luxo.
Tais comportamentos dos toponímios são bastante elucidativos para compreensão das estratégias e lógicas diferentes presentes no processo de produção das cidades que criam espaços físicos e ao mesmo tempo simbologias distintas que expressam diferentes fraturas sociais atravessadas pelo e no espaço.
O ato de nomear um espaço envolve um conjunto de motivações e elementos nem sempre distinguíveis de maneira simples e direta. No entanto, tal dinâmica não deve ser ignorada, pois traz de maneira sutil elementos simbólicos de distinção, dominação e exclusão. Obviamente, emancipação e resistência também fazem parte deste campo e se constitui em outra face da mesma moeda. O que fica muito claro, neste estudo de caráter exploratório com os nomes, por um lado, de bairros ricos e condomínios e por outro de bairros pobres e conjuntos habitacionais, que foram apresentados no artigo, é que as motivações são distintas em empreendimentos voltados para as classes mais abastadas daqueles voltados para as classes mais empobrecidas. Se para o primeiro caso, a grande importância se dá em referenciais que se traduzem em distinção socioeconômica, qualidade de vida, proximidade com a natureza (talvez até como o ser desbravador e pioneiro) e valores pós-materialistas (ainda que concretamente esta questão evidencie uma contradição na própria origem), para os espaços empobrecidos dos conjuntos habitacionais, notadamente, as referências são pessoas ligadas as elites econômicas e políticas locais, trazendo uma lembrança constante sobre quem foi ou ainda é a persona a ser referência por sua importância para a vida local. É o diálogo com a cidade que conta e reforça sua história a partir de um único referencial.
Concluímos que ambos os casos o domínio no processo de nomeação dos espaços das cidades aqui estudadas está nas mãos das classes mais abastadas e influentes nas cidades. Os grandes empreendedores imobiliários buscam, através dos nomes escolhidos, agregar valores aos empreendimentos e alavancar suas vendas, mexendo intimamente com os desejos das pessoas mais ricas. Já a classe política local dominante aponta escolhas valorizando os nomes das figuras das elites locais, contam e materializam sua própria história nas estruturas da cidade, personalizando-a. Quando se trata de empreendimentos de alto padrão, a identidade dos moradores com seu espaço em princípio já tem no próprio nome um referencial. No que tange aos moradores dos conjuntos habitacionais, tal identificação é inexistente.
Foi focado neste artigo, sobretudo, dois eixos principais que são aos nomes dos espaços de moradia nas cidades, obviamente, há outras clivagens que poderiam ser exploradas. De toda forma, é fundamental destacar que o processo de nomear os espaços das cidades, o que passa distante das discussões sobre o processo de planejamento urbano, apresenta elementos importantes de produção e reprodução das cidades e da vida urbana.
BENEVOLO, L. Último capítulo da arquitetura moderna. Lisboa: Edições 70, 2009. BENJAMIN, W. Baudelaire e a modernidade. São Paulo: Autêntica, 2015.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Programa Minha Casa, Minha Vida. Brasília, DF, 2009. Disponível em: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/habitacao/minha- casa-minha-vida/programa-minha-casa-minha-vida-mcmv. Acesso em: 05 dez. 2021.
BRENNER, N.; SCHIMID, C. La “era urbana” em debate. Eure, n. 127, v. 42, p. 307-339, 2016. Disponível em: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0250- 71612016000300013&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 29 set. 2020.
CALDEIRA, T. Cidade de Muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Edusp, 2011.
CARLOS, A. F. A. A crise urbana. São Paulo: Contexto, 2015.
CDHU. Relatório de Sustentabilidade. Gerência de Comunicação Social da CDHU. São Paulo: Palavra Certa Comunicação Integrada, 2015.
CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS URBANÍSTICOS. Boletim, n. 8, 2.ed. São Paulo: FAU, 1960.
CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS URBANISTICOS. Boletim, n. 1, 2. ed. São Paulo: FAU, 1963.
CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS URB+-ANÍSTICOS. Boletim, n. 7. São Paulo: FAU, 1963.
DICK, M. V. P. A. Métodos e Questões Terminológicas na Onomástica. Estudo de Caso: o Atlas Toponímico do Estado de São Paulo. Investigações Linguística e Teoria Literária, Recife, v. 9, p. 146, 1999.
ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
ENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2008. FELDMAN, S. Planejamento e Zoneamento. São Paulo 19471972. 1996. Tese (Doutorado)
– Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. 4. ed. Paris: Édithions Anthropos, 2000. Disponível em: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_arq_interface/1a_aula/A_producao_do_espaco.pdf. Acesso em: 29 set. 2020.
LEFEBVRE, H. De L´État. Paris: Union Générale d´Editions, 1978. v. 3 e 4.
MAIA, R. C. M. Sociabilidade: apenas um conceito? GERAES – Revista de Comunicação Social, n. 53, p. 4-15, 2001. Disponível em:https://www.researchgate.net/profile/Rousiley_Maia/publication/317051024_Sociabilidad e_apenas_um_conceito/links/5923241caca27295a8a7e774/Sociabilidade-apenas-um- conceito.pdf. Acesso em: 29 set. 2020.
ORSI, R. A. Descaminhos das políticas habitacionais no Brasil. In: ALVES, S. A.; ENOKIBARA, M.; GOMES, S. H. T. (org.). Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo: Contexto Contemporâneo e Desafios: Políticas Públicas. São Paulo: Cultura Acadêmica/EDUNESP, 2018. v. 4, p. 37-57.
SANTOS, M. Espaço do cidadão. São Paulo: EDUSP, 2014.
SÃO PAULO (ESTADO). CDHU. Relatório de Sustentabilidade. Gerência de Comunicação Social da CDHU. Editora Pallavra Certa Comunicação Integrada: São Paulo, 2015.
SEIDE, M. S. Aspectos psicológicos da nomeação de lugares. Revista GTLex, Uberlância, v. 6, n. 1, p. 129-146, jul./dez. 2020. Disponível em:
https://seer.ufu.br/index.php/GTLex/article/view/55968. Acesso em: 22 set. 2021.
SIMMEL, G. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana. Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 557-591, 2005.
SOUSA, A. M.; MARTINS, R. M. A motivação toponímica na escolha dos nomes geográficos de origem indígena da zona rural da regional do baixo Acre. Revista Tropos: Comunicação Sociedade e Cultura, v. 6, n. 2, p. 01-16, dez. 2017. Disponível em: https://periodicos.ufac.br/index.php/tropos/article/view/129. Acesso em: 20 set. 2021.
SOUZA, J. A elite do atraso. Rio de Janeiro: Brasil, 2019.
SOUZA, M. L. A prisão e a ágora. Reflexões em torno da democratização do planejamento e da gestão das cidades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
TOLEDO, R. A. Do projeto ao plano: a corrente urbanística paulista. São Carlos: Rima, 2017.
TOLEDO, R. A.; KERBAUY, M. T. M. O ensino e a pesquisa de planejamento territorial em São Paulo: a ficção e a realidade das políticas públicas urbanas da primeira metade do século XX. CaderNAU, v. 9, n. 1, p. 172-208, 2017.
ORSI, R. A.; TOLEDO, R. A.; CAVALCANTI, M. P. Fraturas espaciais: A toponímia como tipologia de dominação social. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, abr. 2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp1.16312
FRATURAS ESPACIAIS: A TOPONÍMIA COMO TIPOLOGIA DE DOMINAÇÃO SOCIAL
FRACTURAS ESPACIALES: LA TOPONIMIA COMO TIPOLOGÍA DE LA DOMINACIÓN SOCIAL
Rafael Alves ORSI1 Rodrigo Alberto TOLEDO2 Murilo Petito CAVALCANTI3
RESUMO: A primazia da moradia articula-se com o território, esquadrinhados em bairros, cujos próprios nomes podem refletir os conceitos de luxúria, privilégios, pobreza e submissão, como sendo a urdidura das assimetrias de poder político e social. Com essa premissa, o presente artigo apresenta a simbologia do espaço urbano através de sua toponímia, como representação concreta da rígida estrutura tradicional, conservadora e
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
excludente das cidades. Para este estudo, foram selecionados dois municípios médios – Araraquara e Taubaté, no estado de São Paulo. Tendo o toponímio como referência e classificando o conjunto de nomes a partir da taxinomia de Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, aponta-se o contraste simbólico dos nomes entre os conjuntos habitacionais voltados para população pobre e os condomínios e bairros voltados para a população rica, em ambos os casos tendo as classes dominantes como as detentoras do poder de nomeação do espaço e criação de significados.
PALAVRAS-CHAVE: Toponímia. Poder simbólico. Dominação social. Urbanismo. Cidades.
RESUMEN: La primacía de la vivienda se articula con el territorio, repartible en los barrios, cuyos propios nombres pueden reflejar los conceptos de lujo, privilegios, pobreza y sumisión, como tejido de asimetrías de poder político y social. Con esta premisa, este artículo presenta la simbología del espacio urbano a través de su toponimia, como representación concreta de la rígida estructura tradicional, conservadora y excluyente de las ciudades. Elegimos dos municipios de tamaño mediano para el estudio: Araraquara y Taubaté. Considerando como referencia la toponimia y clasificando el conjunto de nombres con base en la taxonomía de Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, se señala el contraste simbólico de los nombres entre los proyectos habitacionales dirigidos a la población pobre y los condominios y barrios dirigidos a la población rica, teniendo en ambos casos las clases dominantes como detentadoras del poder de nombrar el espacio y crear significados.
PALABRAS CLAVE: Toponimia. Poder simbólico. Dominación social. Urbanismo. Ciudades.
With modern architecture and urbanism, a new model of the city emerged in the first decades of the 20th century. Such cities are already born marked by socio-territorial fractures inherited from a process of excluding urban production and reinforced in the new dynamics, first, of the industrial city and, later, of the commercial and financialized city. The diffusion of steel allowed new constructive structures, as well as the increase in the production of housing as a result of research carried out by dominant institutions, which instrumentalize science and technique in forms of production that reproduce and expand the asymmetry of power and the unequal occupation of space. As an example, we can mention the architect and urban planner Walter Gropius (1887-1965), director, from 1919 to 1928, of the Bauhaus school, which had renowned professors in the field of arts such as Klee, Kandinski, Shelmme and designers of objects that started to form the modern environment, from the furniture to the neighborhood (BENEVOLO, 2009). Gropius conceived a standardized urbanistic perspective, of prefabrication that dialogued with the synergy generated by the progressive movement of modern architecture. Assumptions that, in Brazil, were applied in several cities, mainly in the
portion destined to the working class. These are cities with neighborhoods that designed housing in series, in a type of prefabricated house, which could provide internal functionality and, in its relationship with the outside, the rest of the urban fabric. Cities that, therefore, had to reflect the regulation of standard types of buildings from the point of view of the materials used, with normative guidance of the template of these constructions.
In the post-liberal city, the functions that gained prominence were the productive ones, such as commerce and circulation. It appears in the West, especially in late industrializing countries, from the mid-19th century onwards, with the challenge of transforming the “chaotic” urban space into a place that would allow its functioning. The initiatives were aimed at meeting the needs of mobility, sanitation, infrastructure and urban equipment. Popular residential areas were behind capital, that is, public administrations built working-class neighborhoods as a way of correcting the distortion caused by the private market, which did not target the lower income classes (FELDMAN, 1996; TOLEDO, 2017). At the same time that there is the material production of cities, as a whole, there is also their symbolic transformation with different signs of space denoting their reproduction, albeit formal, under fragmented and class pillars. As Santos (2014, p. 59, author's emphasis) well points out, “left to the almost exclusive game of the market, the lived space enshrines inequalities and injustices and ends up being, for the most part, a space without citizens”. It is clear that the physical production of cities goes hand in hand with their social and symbolic production.
As a rule, residential areas with public services, parks and access roads, as well as urban mobility structures, come from the cities disciplined by master plans, disciplining and legitimizing socio-territorial distances. However, in addition to this disciplinary aspect, it must be noted that there are regions of the regular city, which applied methods of modern architecture and urban planning, which differentiated them from the others. Luxury techniques to improve the living conditions of a minority created and still create privileges and asymmetries of political power, as well as fractured spaces and deep socio-territorial inequalities. As Santos (2014) highlights, the housing of the poor is already subnormal. Here we highlight both the structure of the housing unit itself, as well as the peripheral location in the cities, the deficient urban infrastructure available, reaching the consolidated spatial stigmas.
Considering these aspects, the present article brings to the debate the dynamics engendered in the production and reproduction of cities, whose background is supported by the market, creating a luxury city contrasted with a worker's city and with the wounds of an illegal city, with impacts of different orders on the urban fabric, on the dynamics of the city
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
and the sociability created in these spaces. The focus here is on the toponymy of these spaces, which, beyond the nomenclature that identify a place, reveal relations of power and subalternity, identities and project struggles and claims for rights in cities.
In the first section, we present the theoretical construct that formed the empirical basis of this article. We will present the two São Paulo municipalities that will serve as a reference for the analysis of toponymy, of the study of the origin of the names of some of their neighborhoods. In the second section we bring a reading about the conformation of new spatial morphologies originated from the socio-spatial fragmentation, which impacts on sociabilities and (re)organizes the urban experience through the concrete and symbolic production of social distinction, expressed in the toponymy of the rich neighborhood in compared to the poor neighborhood. In section 03, we present the conceptual filigree on toponyms that will allow us to identify a set of tensions around the symbolism brought by the name of neighborhoods/housing complexes aimed at the poorer population, contrasted with neighborhoods and condominiums aimed at rich people.
Clearly, the definition of the names of spaces brings with it a set of submerged meanings and power strategies, whose identification is essential to understand a subtle cleavage in the production of cities.
The empirical basis of the study has as a sample two municipalities, from 26 previously selected that, historically, relied on urban advisors reproducing the modernist conceptions of the city in the elaboration of their master plans from 1957 to 1973, by the Faculty of Architecture and Urbanism, of the University of Sao Paulo. Specifically, we had the work of a Center for Research and Urban Studies, CEPEU, created in 1955. Architects and Urbanists worked in assisting the municipalities, supported by a link to the Instituto de Arquitetos do Brasil, IAB, which, in turn, had close relations with teaching and research centers, such as the aforementioned CEPEU. The different urbanistic conceptions were mobilized through the centers to produce regulatory plans for the use and production of urban space. It should be noted that such linkages contributed to the urbanization institutionalization and the professional performance of the architect, as a conductor of the process of elaboration of the master plan for the cities. (FELDMAN apud TOLEDO, 2017).
The diffusion of urban design to face the urban issue generated critical mass that guided the formulation of instruments that generated norms and, above all, an intelligentsia
that was put to the test in the 26 municipalities initially listed. In a technicist view, it is worth questioning the extent to which such technical projects were concerned with the greater integration of the different social strata present in the cities, having as a concern the fight against the deep socio-spatial inequalities historically constituted. In the 20th century, the activities of financial and real estate capitalism migrating to several cities in São Paulo, evidence the technocratic concern with the reproduction of cities under the financial bases, ignoring their contradictions already strongly present in the struggles for the right, above all, to housing. A type of “colonization” of the interior that demanded the requalification of municipal public administrations, with the master plan being an important piece to pave the sedimentation of new economic cycles, which advocated the extraction of rent from urban land, fundamentally, in projects aimed at the real estate market in effervescence.
From the universe of 26 municipalities, we selected two because they constitute Regional Service Centers, or regional offices created by the Housing and Urban Development Company of the State of São Paulo, CDHU-SP.
Municipality | 1st Year PD | Population | Parties | 2nd Year PD | Population 2020 | Parties 2020 election |
Araraquara | 1963 | 58.076 | PTN | 2005 | 238.339 | PT |
Taubaté | 1957 | 65.911 | PTB | 2015 | 317.915 | MDB |
Source: CDHU (2015), IBGE (1969; 1970; 2000; 2010)4, IBGE Cidades ([s.a.])5, IBGE São Paulo
(1960)6, SEADE ([s.a.])7 and Toledo e Kerbauy (2017)
Araraquara and Taubaté present similar characteristics, such as: economic diversity, demographic size, function, intra-urban dynamics, intensity of inter-urban and rural relations, quality of life indicators, infrastructure, external relations and regional command. However, such variables must be linked to their insertion in urban networks in concrete and historically defined territories. Despite each city having its singularities, established from the regional
4 Censo IBGE, 1969. Available: https://seculoxx.ibge.gov.br/images/seculoxx/arquivos_download/populacao/1969/populacao_m_1969aeb_036_ 1.pdf. Access: 20 Feb. 2022. Censo IBGE, 1970. Available: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca- catalogo.html?id=769&view=detalhes. Access: 20 Feb. 2022. Censo IBGE 2000. Available: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/administracao-publica-e-participacao-politica/9663-censo- demografico-2000.html?=&t=microdados. Access: 20 Feb. 2022. Censo IBGE 2010. Available: https://censo2010.ibge.gov.br/apps/atlas/#/home. Access: 20 Feb. 2022.
5 Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/. Access: 20 Mar. 2022.
6 Censo IBGE São Paulo, 1960. Available: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/periodicos/68/cd_1960_v1_t13_sp.pdf. Acesso em: 20 fev. 2022.
7 Available: https://www.seade.gov.br/. Access: 20 Mar. 2022.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
reality that is connected, there is a historical urban relationship that, early on, made these territories have actions aimed at urban planning from a Research Center.
In addition to housing developments from the CDHU, aimed at low-income groups, projects from the Minha Casa, Minha Vida Program (PMCMV) aimed at low-income groups were also selected for the analysis in these municipalities.
The PMCMV, created by the federal government in 2009, was a housing policy for low-income and vulnerable social groups, especially when considering group 01. It is important to highlight that the PMCMV, despite its multiple qualities, was a housing policy whose dialogue with urban policy more broadly was neglected or took place in a very incipient way (ORSI, 2018). At this point, it is important to highlight the role of municipal master plans, so that the production of housing projects is not just mechanisms of financial reproduction through urban space, reproducing the deep socio-territorial impacts, unfortunately, characteristic in our cities.
It is undeniable that the cities selected for this research, despite their planning history and the existence of master plans since the second half of the 20th century, belong to a broader picture of urban problems. Mutilating forces affect the territories and mutilate subjects through a socio-spatial practice formatted by interdictions and norms. Therefore, a subject emerges stripped of his identity, as there is the imperative of consumption that overlaps with the right to the city and the social function of property. A non-subject condition manifests itself in forms that are segregated from the lived plane, giving this concreteness. Capitalism prints the logic of spatial production as a source of deprivation of life by capturing the world of life through the limitless development of the commodity universe (CARLOS, 2015).
Tables 1 and 2 present data referring to the CDHU Housing Complexes in the municipalities of Araraquara and Taubaté as well as the PMCMV complexes in these cities.
Municipality | Company or Program | Housing Developments | Current name | Delivery date |
Araraquara | CDHU | Araraquara G | C. H. Hermínio Pagotto | 19/09/1997 |
Araraquara H01 | C. H. Manoel Rodrigues | 19/09/1997 | ||
Araraquara H02 | C. H. Manoel Rodrigues | 18/04/1997 | ||
Araraquara II / III | C. H. Zenken Nakazato | 28/02/1998 |
Araraquara K | Jardim São Rafael II | 27/10/2005 14/02/2007 14/11/2008 | ||
Araraquara L | Jardim Altos Pinheiros | 29/12/2005 | ||
Araraquara M | Jardim Paraíso | 24/11/2006 | ||
Taubaté | CDHU | Taubaté A03 | Taubaté A03 | 14/03/1998 |
Taubaté A04 | Taubaté A04 | 14/03/1998 | ||
Taubaté D | Taubaté D | 01/11/2001 | ||
Taubaté D02 | Taubaté D02 | 16/08/2003 | ||
Taubaté E | Taubaté E | 19/12/2008 |
Source: CDHU (2021)8
Municipality | Company or Program | Housing Developments | Current name | Delivery date |
Araraquara* | MCMV | Jardim São Rafael | Jardim São Rafael | 28/11/2010 |
Dos Oitis | Dos Oitis | 20/10/2011 | ||
Romilda Taparelli Barbieri | Romilda Taparelli Barbieri | 24/01/2014 | ||
Anunciata Palmira Barbieri | Anunciata Palmira Barbieri | 08/042014 | ||
Maria Helena Lepre Barbieri | Maria Helena Lepre Barbieri | 30/092014 | ||
Valle Verde | Valle Verde | 06/05/2016 | ||
Jardim do Valle | Jardim do Valle | 25/08/2015 | ||
Empreendimento Habitacional | ||||
Benedito Capeleto – Bairro | Benedito Capeleto | 26/05/2015 | ||
Barreiro | ||||
Empreendimento Habitacional | ||||
Sérgio Lucchiari – Bairro | Sérgio Lucchiari | 03/12/2015 | ||
Taubaté** | MCMV | Barreiro | ||
Empreendimento Habitacional | Condomínios: Ipê; | 31/01/2017 | ||
Francisco Aves Monteiro | Jequitibá; Jacarandá | |||
Empreendimento Habitacional Vista das Palmeiras | Condomínios: Angelina; Jatobá; Palmeira | 08/03/2018 |
Source: Housing Coordination of the Municipality of Araraquara and Department of Housing of the Municipality of Taubaté
Evidently, the logic of the reproduction of cities based on their commodification and financialization is not restricted to just the production of housing projects aimed at the impoverished population and allocated in areas that are commonly fragile in cities. On the contrary, investments in high-end developments, in a way as designer products, impact the urban fabric in its physical and structural sense as well as in its symbolic issues. Therefore, if it is possible to think of toponymy as a factor for identifying housing projects coming from
8 Prefeituras Municipais de Araraquara e Taubaté. Available: https://www.cdhu.sp.gov.br/. Access: 20 Feb. 2022.
government programs for the economically vulnerable population, it is also possible to identify toponymy of subdivisions, notably closed subdivisions, which refer to signs of exclusivity and sophistication. Frame 3 shows a list of projects in upper-middle class neighborhoods and/or condominiums in the cities of Araraquara and Taubaté.
City | ENTERPRISE |
Araraquara | Residencial Altos do Jaraguá Buona Vita Jardim Bouganville Jd. Residencial Quinta dos Oitis Portal dos Oitis Portal das Tipuanas Quinta das Tipuanas Residencial Damha Residencial Village Damha I Residencial Village Damha II Residencial Village Damha III Residencial Village Damha IV Portal das Araucárias Residencial Salto Grande I Salto Grande Campo Belo Quinta do Salto Salto Grande Cedros do Campo Condomínio Volpi Jardim Residencial Maggiore |
Taubaté | OuroVille Terrazzo Di Italia Residencial Colinas Chácaras Cataguá Residencial Green Park Residencial Tecoara Residencial Terras de San Marco Taubaté Village Condomínio Vale dos Príncipes Jardim dos Estados Jardim Oasis |
Source: Devised by the authors
It is not the objective of this article to establish a comparative analysis between the different realities presented, on the one hand, by popular developments whose promotion originates in government programs, and, on the other hand, high-end real estate developments. However, the logic of capitalist reproduction in the financialized city is present in both cases, as well as the urban planning mechanisms linked to them, reflecting on the dynamics of cities and on the particularities of each of these spaces, whether in their physical structure or in its symbolic dimensions. The tragic is manifested in the alienations experienced in basically three spheres of life realizations. First, in the design of policies that,
by advocating overcoming the crisis of social reproduction, by fighting inequalities, reinforces them. Second, the centralization of social wealth collectively generated in the hands of the highest-income individuals, reverberates in alliances formed with the aim of opposing the political and economic plan to the social. In other words, there is no constituted democratic force that can control, for the good of the community, the capital surpluses that are converted daily into products of the real estate market.
Finally, capitalism becomes the rub of social reality, as it allows coexistence in the modern world, of alienation and, at the same time, insurgencies that transform territories into disputes. Urbanization, therefore, becomes a phenomenon that takes effect through the social production of the world, in specific historical conditions. As it is a new form of capitalist accumulation, it will bring symbologies that hierarchize the territories, including by the name of the places. These, in addition to reflecting the capitalist market perspective, split the urban space in a relationship of social domination manifested in the words that designate the names of the neighborhoods, their toponymy.
Lefebvre (1978) points out that the State dominates society as a top. Firstly, by determining or mastering the codes that guide economic growth, as it constitutes a decision center that protects the functioning of social organisms, by placing them under its tutelage. Contradictorily, it guarantees the multiform exploration of space and equality in mutual and reciprocal exploitation. On the other hand, the law guarantees equality, while perpetuating, within it, the reproduction of inequality. The State, through the law, guarantees conditions of domination as its main function, even if camouflaged in social policies. In this sense, it is essential to look at the space of cities and their conflicting socio-spatial configurations.
The socio-spatial character of all urban inequality and the role of space within the capitalist dynamics of social (re)production, shows that space is, in one direction, produced by social relations of production and, in another direction, a product of these (LEFEBVRE, 2006). In his famous theoretical essay, The Situation of the Working Class in England, from 1845, Engels (2008) analyzes the condition of urban workers not only from their position as a social class, subjected to certain relations of exploitation that occurred during the process of production of goods, but it also sheds light on the issue of housing, of working-class neighborhoods, where there were poor hygiene conditions, lack of basic sanitation, narrow streets, crowded houses, unhealthy conditions and the proliferation of diseases. The working-
class neighborhoods were classified by Engels (2008) as real spaces of misery, in contrast to the illuminated neighborhoods, with wide streets and luxurious housing, in which the bourgeoisie resided. Thus, Engels' text becomes a point of reference for urban studies precisely because it links, in a pioneering way, the relations of exploration of the productive process to the process of production of urban space in English industrial cities, demonstrating, for example, how the Disease mortality rates were higher among urban workers than among rural workers.
Benjamin's work (2015), based on his interpretations of Baudelaire's poetry, constitutes another founding reference in thinking about the modern city. Baudelaire describes disenchantment with the side effects produced by technological progress. It is from there that Benjamin (2015) sees the birth of new forms of existence brought by historical time: the question of experience will become matter for the author. Benjamin (2015) operates from a heroic figure of modernity, the flanêur, an urban botanist, who is enchanted by the city lights and lives an experience detached from social ills and inequalities, thus being able to absorb all the meanings of the new historical experience, closely related to modernization and urbanization.
If the flanêur represents the vivacity of an irresistible and endless walk affected by the city, in Simmel (2005) we will find the opposite example: the inertia of the blasé subject. In The great metropolises and the life of the spirit, he analyzes the effects of the monetary economy on the subjectivity of individuals. Such effects are a consequence of the stimuli of nervous life, produced from the nascent urban environment, ranging from the increase of intellectuality in large cities, to the dullness and inability to distinguish between things, the so-called blasé character. “The blasé” is not exactly linked to the lack of perception, but to the indifference and the inability to react to things. Blasé activity is then marked by inexpressiveness, by the indistinction derived from the reduction of the plurality of objects to a determined quantum – to money as a common denominator (SIMMEL, 2005).
The intersection of Benjamin's (2015) and Simmel's (2005) analysis points to the very paradox of the modern city, part of an irresolute mismatch of capitalism: if modernization and urbanization expanded the possibilities of circulation, contact and material and symbolic appropriation of city for different social groups, on the other hand, solid structures of segregation, isolation, differentiation and social disaggregation were recreated and as discussed here, they can be, and almost always are, present in the names of places in cities, whether in neighborhoods, squares , public places, monuments etc.
The richness of such classic readings of the city and the urban also resides in the fact that they point directly to their opposite: the playful experience of the flanêur contrasts with the non-realization of human emancipation through technological and scientific progress. The Simmelian figure of blasé activity, the maximum representation of inertia and indifference in the face of a world dominated by merchandise, rivals the agency and inescapable spontaneity that Simmel attributes to social actors, who are capable of producing unpredictable actions with their own ends, giving gave rise to new ways of “playing” society, which gives rise to a particular phenomenon that is that of sociability (MAIA, 2001).
With the strong urbanization known in the 20th century, for the countries of late industrialization experienced in the second half of the 20th century9, there is a strong remodeling of the working class. Urban workers are multiplying, active in the most diverse types of activities. This process engenders the formation of new spatial morphologies. Socio- spatial inequalities become even more complex than those known by the modern city, giving rise to an urban scenario that inverts the old logic of cities divided into a rich center and a poor periphery (CALDEIRA, 2011). In the current context, rich and poor can inhabit areas in proximity, but their social distances, which have racial and class cuts, remain, materially and symbolically renewed by new structures of segregation and confinement.
In the contemporary city, whether in the context of medium-sized cities or in metropolitan scenarios, there is a radicalization of the old forms of socio-spatial segregation. The segregation of groups and social classes, previously territorialized in the traditional “ghettos”, erupted in the face of the growth of cities. The new territorial realities also gave rise to a new socio-spatial segregation, which is more precisely translated from the concept of socio-spatial fragmentation.
New epistemological guidelines are needed to understand a polymorphic and multiscalar reality. The Lefebvrian diagnosis of an urban society was accomplished. The separation between rural and urban does not correspond to the empirical reality, since the technologies used in the “field” are products of urbanization. The networks that connect the “countryside” and the “city” are also part of an urban logic of circulation of people and goods, expansion and acceleration of markets and, consequently, the accumulation of capital. However, as highlighted by Brenner and Schmid (2016), the planetary phenomenon of the urban arises from the production of fragmentations, differentiations, variables and distinct dynamics. Unstable and sometimes unforeseen geographies are the product of the urban
9 In the 1970s, Brazil began to have the largest portion of its population living in cities, according to IBGE data.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
phenomenon that, despite its totalizing character, can only be understood through a set of analyzes attentive to the specificities that unfold within the microscales.
This fragmented space of cities, shaped mainly from the interest of the dominant classes, ideologically and concretely expresses the existence of “two worlds” that are only interchanged from hierarchical relationships conditioned by economic and symbolic power. The city's mosaic, full of ruptures, discontinuities and urban fractures, is reinforced on the symbolic level by the phenomenology of bourgeois forms and by the nomenclature that certain spaces assume. Thus, one can speak of a contrast between the “neighborhood” of the rich and the “neighborhood” of the poor, accentuated, shaped and legitimized by the discourses and the intentional action of the actors that intervene in the urban space.
We point to the existence of "two worlds" in the environment of cities that are distinguished both in the morphological plane, through spatial fragmentation, and in the social and political plane, in a model of separation that hierarchizes spaces, as we seek to demonstrate, through the use of symbolic power. Such rupture also provokes a reorientation of the subjects' activity through space, since they are ordinarily faced with rigid segregation structures and sophisticated surveillance and monitoring mechanisms. In the spaces of the wealthiest layers, such structures are verified from the private security, from the guardhouses that control the entrance and exit accesses, in the cameras, walls and fences that divide and segregate. In the spaces of the poor classes, social control is carried out through punitivism and the criminalization of poverty driven by the forces of the State.
The contemporary city, instead of solving it, exacerbated the presence of certain social affections typical of the modern city, such as fear and insecurity, and fought them according to the market prescription, which directs social exclusivity, privilege and promise of social homogeneity as commodities available only to the upper classes of society. Thus, the possibilities of apprehension of the city and the urban by groups and individuals are modified. The city of socio-spatial fragmentation is also the city of restriction, inaccessibility, non- places and the absence of encounter. In this set, the symbolic mismatches of places and their elements, including their nomenclatures, are also forms of exclusion, stigma and domination in cities.
The contemporary city, marked by spatial fractures and by the symbolic forms of production of social distinction, operates in a direction contrary to the construction and expansion of democratic forces and, consequently, of the possibilities of renewal and invention of the urban.
The socio-spatial asymmetries established from a model of urban reproduction that accentuates and aggravates, at the symbolic and morphological level, social inequalities, are a reflection of the patrimonial character of urban management. The possibility that certain groups, highlighted as representatives of economic power, interfere in the urban space, modifying it according to their own interests, represents a challenge for the public administration. In this sense, the collective, democratic and horizontal management of cities competes with the urban demarcation of privilege and social distinction.
In the next section we will address some aspects of the symbolic incorporation that hierarchized the territories, in a typology of social domination and also of different strategies and references of identification and connection with the space, that is, the toponymy of the places of the cities.
The studies and knowledge around the names of places bring important elements to understand the history of the places, their relations of forces, the symbology and the tangible and intangible interests present in the naming of each space. As Souza and Martins (2017, p. 02) point out, “Toponymic studies present themselves as a powerful instrument for the knowledge of socio-historical-cultural aspects of a people, thus, it is possible to unravel linguistic, ideological, historical facts, beliefs and different feelings”. The unequal gender relationship placed in the nomenclature of public places in cities, the names of military figures from the period of military dictatorship in Brazil who baptized important urban infrastructure constructions10 or the omission of names of blacks and indigenous people in these spaces are examples of how it produces and reproduces narratives across the city, reinforcing or diluting, telling or retelling its history and the history of society. There is a constant dialogue between the city and its population through their places, names, monuments, works etc. The pedagogy placed in this constant dialogue can be oppressive or emancipatory, reinforcing the socio- historical order or contesting it.
A fundamental issue in defining the name of a place is the motivational aspect present in the choice. Certainly, as Seide (2020) indicates, when analyzing Dick (1999), there are toponymic archetypes, in which geographical accidents are key to understanding the names, however other aspects related to motivation are extremely relevant. Still anchored in Dick
10 An illustrative example for this case is the Elevado Presidente Costa e Silva (minhocão in the city of São Paulo) renamed Presidente João Goulart by the Strategic Master Plan approved in 2014.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
(1999), Seide (2020) works in the field of motivational psychology, highlighting motivations by affiliation, which can be linked to corotoponyms and antrotoponyms and those motivated by power, linked to axiotoponyms. All categories developed by Dick (1999) are present in a taxonomic system of 27 taxos. The table below presents a summary of the 27 taxos.
Toponymic Taxonomies | |
Physical Nature | Anthropocultural Nature |
Astrotoponyms: toponyms relating to celestial bodies in general | Animotoponyms: toponyms related to psychic, spiritual culture. |
Cardinotoponyms: toponyms of geographical positions in general. | Anthropotoponyms: toponyms relative individual proper names. |
Chromotoponyms: place names related to the chromatic scale. | Axiotoponyms: toponyms related to the titles and dignities that are accompanied by individual proper names. |
Dimensiotoponyms: toponyms related to the dimensional characteristics of landforms, such as extension, length, width, thickness, thickness, height, depth. | Chorotoponyms: toponyms relating to the names of cities, countries, states, regions and continents. |
Phytotoponyms: plant-based toponyms. | Chronotoponyms: toponyms that contain chronological indicators, represented, in Toponymy, by the adjectives new/ old. |
Geomorphotoponyms: toponyms relating to topographical forms. | Dirrematotoponyms: toponyms consisting of phrases or linguistic utterances. |
Hydrotoponyms: place names resulting from hydrographic accidents in general. | Ecotoponyms: place names related to housing in general. |
Lithotoponyms: mineral toponyms, related to the constitution of the soil, represented by individuals | Ergotoponyms: toponyms elements of material culture. |
Meteorotoponyms: toponyms relating to atmospheric phenomenas. | Ethnotoponyms: toponyms referring to ethnic elements, isolated or not (peoples, tribes, castes). |
Morphotoponyms: place names that reflect the sense of geometric shape. | Hierotoponyms: toponyms relating to the sacred names of different faiths: Christian, Hebrew, Mohammedan, etc. It is subdivided into:
|
Zootoponyms: topônimos de índole animal. | Historiotoponyms: toponyms related to social- historical movements and their members, as well as the corresponding dates. |
Hodotoponyms: toponyms relating to rural or urban communication routes. | |
Numerotoponyms: toponyms relating to numeral adjectives. |
Source: Dick (apud SOUZA; MARTINS, 2017)
The toponymy of places, in these terms and in the assumptions presented in this article, classify spaces and reveal sources of power. A dimension that goes beyond the field of planning analysis. When we refer to places and their names, we are revealing antagonistic sociopolitical meanings. There is no neutral word and we understand that urban studies lack
an analysis of the discourse involved in interventions on space. When studying social space, it is essential to analyze the producers of space. When analyzing the social space, the spatial organization in its relationships and social practices, it is essential to consider concrete men and women, in their expectations, their values, their fears and their words (SOUZA, 2019). There is a symbolic dispute around some words, fundamentally those loaded with strong political and ideological meaning. The name of the neighborhood, the toponymy, is the place that shows in its epidermis the networks of meanings, emotions and motivations of the social actors that inhabit it, however it has deep roots marked by the process of formation of society. Moving on to the analysis of housing projects, as we can see in Table 3, the housing projects built by CDHU, from 1997 to 2006, in the city of Araraquara, were classified by the Company with the name of the city followed by the letter of the alphabet and, in in some cases, cash. Subsequently, the sets were named after local personalities, that is, they were renamed. The Araraquara-G, received the denomination of Housing Complex Hermínio Pagotto, former councilor of the city that exercised mandates from 1952 to 1960, for the National Democratic Union, UDN. Araraquara H01 and H02, renamed Housing Complexes Manoel Rodrigues, refers to the well-known pharmacist in the city in the 1980s. Araraquara II and III, renamed Housing Complexes Zemken Nakazato, pays deference to the founder of the Okinawa Foundation, over 60 years ago, by Japanese who immigrated from Japan to Brazil at the end of World War II. The Okinawa foundation had, among its objectives, to gather resources to send to victims of the war in Japan. Araraquara K, current Jardim São Rafael, reference to the archangel of the Catholic Church. The name means one who heals, being considered an angel who overcomes diseases. Araraquara L is on the outskirts of the neighborhood next to the Pinheirinho Ecological Park, on the extreme outskirts of the city, close to the Araraquara State Penitentiary. Given its proximity to the Park, it is called the Altos Pinheiros Housing Complex. Finally, Araraquara M, refers to a garden that resembles paradise. Etymologically, the term Paradise, the name of the Housing Complex, according to the Bible, is the pleasant garden where God placed Adam and Eve after creation. Also known
as Eden, it is the place where happiness reigns.
When we move on to the PMCMV projects, we find tree names, such as the Oitis, a species originally from the Atlantic Forest, but present in the city, we also find references to geographic features such as Valle Verde and Jardim do Vale. As for the others, there are female names, all from the same family, in the case of the Barbieri family (Romilda Taparelli, Anunciata Palmira and Maria Helena Lepri). The three projects in question were launched during the administration of Mayor Marcelo Barbieri (2009-2016), so the references are clear
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
to the tribute paid to members of the politician's family at the forefront of the executive power at that time. We still find a development in the São Rafael garden, already explained earlier about the meaning of the name.
In the city of Taubaté, according to information from the Housing Department, all CDHU projects remained with the Company's original name, that is, the alphanumeric classification of the delivery of units in the period from 1998 to 2008. The PMCMV projects in the city of Taubaté, received different names, mixing relevant names in local politics with noble trees of Brazilian fauna. In 2015, the Benedito Capeleto project, of social interest, refers to the figure of the politician with a long local tradition. In the same year, the Sérgio Lucchiari Complex, a prominent figure in the city's political history, was handed over. In 2017, the Francisco Alves Monteiro housing project implemented three condominiums named after noble trees of the Brazilian fauna, namely, Ipê, Jequitibá and Jacarandá. The latest development, Vista das Palmeiras, from 2018, is also divided into three housing projects: Angelina, Jatobá and Palmeira. They follow, as we can see, the previous pattern of naming trees and palm trees that are portentous and that represent strength and resistance to name the sets of social interest. Applying the classification from the taxonomic model of Dick (1999) we find the following distribution, frame 5.
Toponymic Taxonomy | Frequency | |
Physical nature | Phytotoponyms | 07 |
Geomorphotoponyms | 02 | |
Anthropocultural nature | Anthropotoponyms | 10 |
Hierotoponyms | 03 |
Source: Dick (apud SOUZA; MARTINS, 2017)
As can be seen in the summary table, there is a greater frequency in names that refer to the anthropocultural nature, notably to proper names (anthropotoponyms). It is worth noting that the names refer to tributes to families, present in local politics at certain times or belonging to local elites. In fact, such toponymic references do not seem to dialogue or express identities of the low-income populations that live in these housing projects, but rather express the unequal relationship and power asymmetry. Keeping due proportions, they can indicate living on someone else's land, common in the conservative relations of rural life of peasant work on farms and housing in the colonies. Nomenclatures of a physical nature, more impersonal, are less present in these enterprises.
Among high-end enterprises, there is a tendency to adopt names in a foreign language. It must be considered that the historical process of formation of Brazilian society privileged the European immigrant to the detriment of the enslaved and egressed from slavery. The choice of immigrants as free labor, occupants of the most dynamic sectors of the economy, was part of a project of whitening policies that prevailed from post-abolition until the end of the Old Republic. In the following decades, there was no effective plan to integrate
blacks into class society to overcome historically established injustices.
The presence of foreign terms in the nomenclature of high-end enterprises can be interpreted not only by the migratory past that occurred in the regions of São Paulo, but also by the way in which such foreign terms aim to produce a link, at the level of belonging, with a reality experienced in first world countries. In this sense, such name choices are subject to a cultural hierarchy, which values customs, habits and practices of nations historically established as civilized (ELIAS, 1994). Thus, the offer of a place separated from the social ills and needs of a socioeconomic context marked by underdevelopment is promoted. Above all on the symbolic level, what these foreignisms aim at is the affirmation that one is linked to a different, distant and privileged reality.
Another constant in the names of high-end developments is the use of the term “quinta”. As an example, we have “Jardim Residencial Quinta dos Oitis”, “Quinta das Tipuanas” and “Quinta do Salto Residencial”. In Portuguese-speaking countries, the word “quinta” usually designates a large rural property or even a productive unit, as in the case of wineries.
In the Renaissance, the Renaissance-style farms, called Quintas de Recreio, appeared in Portugal. Characterized for being bucolic spaces, with delimited productive units, the farms appeared as versatile places, linking enjoyment and tranquility - the playground, to the production space. The origin of farms dates back to the history of large elite rural properties. Quinta da Bacalhoa, or Palácio dos Albuquerques, for example, was a former property of the Portuguese Royal Family, sold in 1528 to Brás de Albuquerque, son of Afonso de Albuquerque, governor of Portuguese India (1509 – 1515).
In Brazil, the most traditional Quinta is the old mansion ceded to the Portuguese Royal Family in the context of the Napoleonic wars, Quinta da Boa Vista. The property was built at the behest of the slave trader Elias Antônio Lopes, in 1803, at the top of the hill, with a beautiful view of Guanabara Bay. Hence the name “Quinta da Boa Vista”. In 1808, with the arrival of the Portuguese Royal Family to the capital, Elias Antônio Lopes ceded the Casarão to the Crown, receiving another property in exchange.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
It is observed how the term “quinta” was traditionally linked to rural properties of the aristocracy. Bucolic spaces, endowed with a landscape design, conducive to a stay with comfort and leisure. The offer of leisure linked to nature has always been present in the advertising of contemporary high-end closed subdivisions, as verified by Caldeira (2011). The advertising was the promise of an environment that combines the comfort and tranquility of the countryside without being detached from urban centers. The summer resort of the farms becomes the house itself, involved in the fabric of the city.
In the case of high-end subdivisions, it is common for their names to convey a power associated with the privileged trajectories of the elites. This is the case with the use of foreign words and also the use of the term “quinta”, referring to a product that does not typically correspond to the model of traditional farms. An Urban Farm is created, in an attempt to alleviate, in the context of nuclear, family and, therefore, private life, the conflicts and misfortunes that mark the urban experience. The table below shows how the toponymy is distributed according to the taxonomic set adopted in this article.
Toponymic Taxonomy | Frequency | |
Physical Nature | Chromotoponym | 01 |
Phytotoponym | 08 | |
Geomorphotoponym | 02 | |
Hydrotoponym | 03 | |
Lithotoponym | 01 | |
Anthropocultural Nature | Animotoponym | 02 |
Anthropotoponym | 07 | |
Axiotoponym | 01 | |
Corotoponym | 04 | |
Hierotoponym | 01 |
Source: Dick (apud SOUZA; MARTINS, 2017)
The analysis of the table shows that, considering the sets of a physical and anthropocultural nature, there is balance in the distribution. There are fifteen in each of them. In physical nature the emphasis is on phytotoponyms and in anthropocultural nature anthropotoponyms stand out. As they are commercial ventures for the wealthier classes, the link of the name to natural physical elements, in addition to impersonality, shows a narrative of environmental concern, a way of living closer to nature and some value that may be close to the post-materialistic, even if all this is in fact a smokescreen for commercial appeal. In the case of proper names, seven in total, it is important to point out that the Damha brand, with
five occurrences in total, constitutes a “brand” of real estate developments. Therefore, it is dissociated from a person, but linked to a luxury product.
Such toponymy behaviors are quite enlightening for understanding the different strategies and logics present in the production process of cities that create physical spaces and at the same time distinct symbologies that express different social fractures crossed by and in space.
The act of naming a space involves a set of motivations and elements that are not always distinguishable in a simple and direct way. However, such dynamics should not be ignored, as it subtly brings symbolic elements of distinction, domination and exclusion. Obviously, emancipation and resistance are also part of this field and constitute another side of the same coin. What is very clear, in this exploratory study with the names, on the one hand, of rich neighborhoods and condominiums and on the other hand, of poor neighborhoods and housing complexes, which were presented in the article, is that the motivations are different in projects aimed at the more affluent classes from those aimed at the more impoverished classes. If, for the first case, the great importance is given to references that translate into socioeconomic distinction, quality of life, proximity to nature (perhaps even as a trailblazer and pioneer) and post-materialist values (although concretely this issue highlights a contradiction in its own origin), for the impoverished spaces of the housing projects, notably, the references are people linked to the local economic and political elites, bringing a constant reminder of who was or still is the persona to be a reference for their importance for local life. It is the dialogue with the city that tells and reinforces its history from a single point of reference.
We conclude that in both cases, the domain in the process of naming spaces in the cities studied here is in the hands of the wealthiest and most influential classes in the cities. The great real estate entrepreneurs seek, through the chosen names, to add value to the ventures and leverage their sales, intimately interfering with the desires of the richest people. The dominant local political class, on the other hand, points out choices valuing the names of local elite figures, telling and materializing their own history in the city's structures, personalizing it. When it comes to high-end developments, the identity of residents with their space, in principle, already has a reference in the name itself. Regarding the residents of housing projects, such identification is non-existent.
This article focuses mainly on two main axes that are related to the names of housing spaces in cities, obviously, there are other cleavages that could be explored. In any case, it is essential to emphasize that the process of naming the spaces of cities, which is far from discussions about the urban planning process, presents important elements of production and reproduction of cities and urban life.
BENEVOLO, L. Último capítulo da arquitetura moderna. Lisboa: Edições 70, 2009. BENJAMIN, W. Baudelaire e a modernidade. São Paulo: Autêntica, 2015.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Programa Minha Casa, Minha Vida. Brasília, DF, 2009. Available: https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/habitacao/minha-casa- minha-vida/programa-minha-casa-minha-vida-mcmv. Access: 05 Dec. 2021.
BRENNER, N.; SCHIMID, C. La “era urbana” em debate. Eure, n. 127, v. 42, p. 307-339, 2016. Available: https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0250-
71612016000300013&lng=pt&nrm=iso. Access: 29 Sep. 2020.
CALDEIRA, T. Cidade de Muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Edusp, 2011.
CARLOS, A. F. A. A crise urbana. São Paulo: Contexto, 2015.
CDHU. Relatório de Sustentabilidade. Gerência de Comunicação Social da CDHU. São Paulo: Palavra Certa Comunicação Integrada, 2015.
CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS URBANÍSTICOS. Boletim, n. 8, 2.ed. São Paulo: FAU, 1960.
CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS URBANISTICOS. Boletim, n. 1, 2. ed. São Paulo: FAU, 1963.
CENTRO DE PESQUISA E ESTUDOS URB+-ANÍSTICOS. Boletim, n. 7. São Paulo: FAU, 1963.
DICK, M. V. P. A. Métodos e Questões Terminológicas na Onomástica. Estudo de Caso: o Atlas Toponímico do Estado de São Paulo. Investigações Linguística e Teoria Literária, Recife, v. 9, p. 146, 1999.
ELIAS, N. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
ENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2008. FELDMAN, S. Planejamento e Zoneamento. São Paulo 19471972. 1996. Tese (Doutorado)
– Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718
LEFEBVRE, H. A produção do espaço. Trad. Doralice Barros Pereira e Sérgio Martins. 4. ed. Paris: Édithions Anthropos, 2000. Available: http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/02_arq_interface/1a_aula/A_producao_do_espaco.pdf. Access: 29 Sep. 2020.
LEFEBVRE, H. De L´État. Paris: Union Générale d´Editions, 1978. v. 3 e 4.
MAIA, R. C. M. Sociabilidade: apenas um conceito? GERAES – Revista de Comunicação Social, n. 53, p. 4-15, 2001. Available: https://www.researchgate.net/profile/Rousiley_Maia/publication/317051024_Sociabilidade_a penas_um_conceito/links/5923241caca27295a8a7e774/Sociabilidade-apenas-um- conceito.pdf. Access: 29 Sep. 2020.
ORSI, R. A. Descaminhos das políticas habitacionais no Brasil. In: ALVES, S. A.; ENOKIBARA, M.; GOMES, S. H. T. (org.). Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo: Contexto Contemporâneo e Desafios: Políticas Públicas. São Paulo: Cultura Acadêmica/EDUNESP, 2018. v. 4, p. 37-57.
SANTOS, M. Espaço do cidadão. São Paulo: EDUSP, 2014.
SÃO PAULO (ESTADO). CDHU. Relatório de Sustentabilidade. Gerência de Comunicação Social da CDHU. Editora Pallavra Certa Comunicação Integrada: São Paulo, 2015.
SEIDE, M. S. Aspectos psicológicos da nomeação de lugares. Revista GTLex, Uberlância, v. 6, n. 1, p. 129-146, jul./dez. 2020. Available:
https://seer.ufu.br/index.php/GTLex/article/view/55968. Access: 22 Sep. 2021.
SIMMEL, G. As grandes cidades e a vida do espírito. Mana. Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, p. 557-591, 2005.
SOUSA, A. M.; MARTINS, R. M. A motivação toponímica na escolha dos nomes geográficos de origem indígena da zona rural da regional do baixo Acre. Revista Tropos: Comunicação Sociedade e Cultura, v. 6, n. 2, p. 01-16, dez. 2017. Available:
https://periodicos.ufac.br/index.php/tropos/article/view/129. Access: 20 Sep. 2021. SOUZA, J. A elite do atraso. Rio de Janeiro: Brasil, 2019.
SOUZA, M. L. A prisão e a ágora. Reflexões em torno da democratização do planejamento e da gestão das cidades. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
TOLEDO, R. A. Do projeto ao plano: a corrente urbanística paulista. São Carlos: Rima, 2017.
TOLEDO, R. A.; KERBAUY, M. T. M. O ensino e a pesquisa de planejamento territorial em São Paulo: a ficção e a realidade das políticas públicas urbanas da primeira metade do século XX. CaderNAU, v. 9, n. 1, p. 172-208, 2017.
ORSI, R. A.; TOLEDO, R. A.; CAVALCANTI, M. P. Spatial fractures: Toponymy as a typology of social domination. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp1.16312
Estud. sociol., Araraquara, v. 27, n. esp. 1, e022007, Apr. 2022. e-ISSN: 1982-4718