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Consumo de psicotrópicos e estilo terapêutico: Os limites do uso racional de medicamentos
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022. e-ISSN:
1982-4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.16907
1
CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS E ESTILO TERAPÊUTICO: OS LIMITES DO
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS Y ESTILO TERAPÉUTICO: LOS LÍMITES DEL
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
CONSUMPTION OF PSYCHOTROPIC DRUGS AND THERAPEUTIC STYLE: THE
LIMITS OF THE RATIONAL USE OF MEDICINES
Marcia da Silva MAZON
1
RESUMO
: Neste artigo contextualizamos a era do capitalismo afetivo conforme postulado por
Eva Illouz para apontar desafios do consumo de psicotrópicos. O artigo parte de uma
investigação bibliográfica e documental refletindo acerca dos limites do uso racional de
medicamentos como uma questão de mercado. As considerações sobre o uso racional de
medicamentos partem da premissa de que basta mais informação para que atores (considerados
racionais a fim e com preferências dadas) farão o uso racional de medicamentos. O aporte do
referencial adotado contribui ao iluminar as relações de poder as quais impõem objetos e
discursos construindo a razoabilidade de quais itens podem ou devem circular pelos mercados.
O objetivo é observar as crenças compartilhadas. Investigamos as crenças no entorno do
consumo de psicotrópicos, em particular o uso do Metilfenidato para o TDAH, como forma de
iluminar as tensões e controvérsias na construção desse mercado. Constatamos a mobilização
de dois apelos distintos e alternáveis para justificar o mercado do metilfenidato: apelo à saúde,
apelo ao mercado visualizado como direito do consumidor.
PALAVRAS-CHAVE
: Consumo de psicotrópicos. Mercado. Capitalismo afetivo. Indústria
farmacêutica. Uso racional de medicamentos (URM).
RESUMEN
: En este artículo contextualizamos la era del capitalismo afectivo postulada por
Eva Illouz para señalar los desafíos del consumo de psicotrópicos. El artículo parte de una
investigación bibliográfica y documental que reflexiona sobre los límites del uso racional de
los medicamentos como cuestión de mercado. Las consideraciones sobre el uso racional de los
medicamentos parten de la premisa de que más información es suficiente para que los actores
(considerados racionales en orden y con determinadas preferencias) hagan un uso racional de
los medicamentos. La contribución del marco adoptado contribuye a iluminar las relaciones
de poder que imponen los objetos y los discursos, construyendo la razonabilidad de qué
artículos pueden o deben circular por los mercados. El objetivo es observar las creencias
compartidas. Investigamos las creencias en torno al consumo de psicofármacos, en particular
el uso de Metilfenidato para el TDAH, como forma de iluminar las tensiones y controversias
en la construcción de este mercado. Encontramos la movilización de dos apelaciones distintas
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brasil. Departamento de Sociologia e
Ciência Política. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política (PPGSP) e Núcleo de Sociologia
Econômica (NUSEC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2953-1089. E-mail:
marciadasilvamazon@yahoo.com.br
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e intercambiables para justificar el mercado del metilfenidato: apelar a la salud, apelar al
mercado visto como un derecho del consumidor
PALABRAS CLAVE
:
Consumo de psicotrópicos. Mercado. Capitalismo afectivo. Industria
farmacéutica. Uso racional de medicamentos (URM).
ABSTRACT
: In this article we contextualize the era of affective capitalism as postulated by
Eva Illouz to point out the challenges of psychotropic consumption. The article starts from a
bibliographical and documentary investigation reflecting on the limits of the rational use of
medicines as a market issue. Considerations on the rational use of medicines are based on the
premise that more information is enough for actors (considered to be rational in order and with
given preferences) to make the rational use of medicines. The contribution of the adopted
framework contributes by illuminating the power relations which impose objects and
discourses, building the reasonableness of which items can or should circulate through the
markets. The goal is to observe shared beliefs. We investigated the beliefs around the
consumption of psychotropic drugs, in particular the use of Methylphenidate for ADHD, as a
way of illuminating the tensions and controversies in the construction of this market. We found
the mobilization of two distinct and interchangeable appeals to justify the methylphenidate
market: appeal to health, appeal to the market viewed as a consumer's right.
KEYWORDS
: Consumption of psychotropic drugs. Market. Affective capitalism.
Pharmaceutical industry. Rational use of medicines (RMU).
Introdução
A preocupação com o uso racional de medicamentos diz respeito a diferentes setores da
indústria farmacêutica. Conforme definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) o uso
racional de medicamentos é quando pacientes recebem medicamentos de forma apropriada às
suas necessidades clínicas, em doses adequadas às suas necessidades individuais e por um
período adequado e ao menor custo para eles e para sua comunidade (MS, 2017). Um setor
onde o consumo de medicamentos e o aumento do número de diagnósticos que o acompanha
igualmente cresce, é o mercado do Metilfenidato e o correspondente diagnóstico de Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) (PANDE; AMARANE; BAPTISTA, 2020).
O uso da medicação e seu diagnóstico tornam-se cada vez mais banalizados
2
. O
metilfenidato
3
, droga utilizada no tratamento de TDAH, é o estimulante mais consumido no
2
Na lista Top 10 de tecnologias emergentes de 2020 publicada pela
Scientific American Brasil
(Sciam), em quinto
lugar surge a medicina digital: aplicativos em uso ou em desenvolvimento capazes de monitorar distúrbios mentais
e físicos de forma autônoma. O artigo destaca que estes recursos de detecção ou ‘fenotipagem digital’ não
substituirão médicos tão cedo, mas podem ser úteis para atuar em problemas que precisam de acompanhamento.
O artigo destaca o Somryst aplicativo para insônia e o Endeavor RX: primeira terapia lançada como um videogame
para transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Ambas receberam aprovação do FDA em 2020
(DORAISWAMY, 2021).
3
O metilfenidato é comercializado com os nomes comerciais de Ritalina®, Concerta®.
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Brasil assim como no resto do mundo. Embora na década de 1950 (momento de inauguração
da era psicofarmacológica (WHITAKER, 2017)) - essa droga era utilizada em casos de crianças
muito agitadas e também como um antidepressivo, a partir da década de 1990 seu valor
terapêutico contempla o TDAH (ITABORAY; ORTEGA, 2016). O aumento da prescrição de
metilfenitado para pessoas com TDAH é considerado como emblemático dos limites do uso
racional de medicamentos (PANDE; AMARANE; BAPTISTA, 2020).
Diferentes autoras e autores dedicados à sociologia dos diagnósticos apontam a relação
entre as ampliações nosológicas do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM) em suas diferentes versões com o aumento do diagnóstico de TDAH; processo que
contribui para o aumento do consumo de Metilfenidato (CAPONI, 2014; ORTEGA;
GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018; BIANCHI, 2016; BIANCHI; FARAONE, 2015). Todas
essas leituras chamam a atenção para o fenômeno da medicalização
4
: a transformação de
problemas que anteriormente não eram médicos em problemas médicos, geralmente como
doença ou transtorno (CONRAD, 2013; BIANCHI, 2019). A medicalização parece se expandir
conferindo protagonismo inédito para a indústria farmacêutica
5
na era da biomedicalização
6
(BIANCHI; FARAONE, 2018; CONRAD; BERGEY, 2014). Alguns autores apontam como o
diagnóstico do TDAH agora alcança pessoas na idade adulta (CONRAD; BERGEY, 2014).
Outras pesquisas apontam o uso do metilfenidato em crianças menores de seis anos a partir de
um caráter predominantemente
off label
para essa faixa etária (PANDE; AMARANTE;
BAPTISTA, 2020). Outros autores denunciam ainda a estreita relação entre a indústria
farmacêutica com grupos de apoio e pesquisa sobre o TDAH (ITABORAY; ORTEGA, 2016;
CONRAD; LEITER, 2004; BIANCHI; FARAONE, 2018). Outros estudos apontam
singularidades da atuação da indústria farmacêutica na comparação Brasil e Argentina: no
primeiro a atuação da indústria farmacêutica destaca-se pela ação em grupos de apoio e na
segunda operação de marketing farmacêutico voltado para médicos (BIANCHI
et al.
, 2016).
4
Conforme Conrad (2013) a medicalização não deve ser entendida como adjetivo, antes como processo histórico,
matriz de inteligibilidade, espaços de propriedades em que o fundamental é a gradação e não a distinção binária
sim, não (BIANCHI, 2019).
5
Os mecanismos publicitários através dos quais os laboratórios divulgam os seus produtos muitas vezes se
confundem com a divulgação das doenças elas mesmas, em campanhas informativas de
disease awareness
, por
vezes veiculadas sob o rótulo “informativos publicitários”, termo que fica na divisa entre uma peça publicitária e
outra que divulga informações de utilidade pública (AZIZE, 2018, BIANCHI, 2018).
6
Biomedicalização diz respeito a uma transformação tecnocientífica mais ampla que toma lugar no século XXI.
Ela diz respeito ao crescimento de processos complexos, multisituados de medicalização que se
estendem/reconstituem através de formas sociais emergentes e práticas de uma biomedicina altamente
tecnocientífica (HEALLY, 2002) e que também aprofunda o processo de privatização de pesquisa na área; com
destaque para indústria farmacêutica, genetização, saludismo entre outros (CLARKE
et al
., 2003, 2010).
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4
Psicotrópicos, mercados e crenças compartilhadas
A obra clássica de Weber
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo
nos recorda
que onde a ação econômica vicejava, em um país em pleno desenvolvimento econômico como
os Estados Unidos no início do século XX, não era a racionalidade a fins pura, antes, eram os
elementos arracionais (religiosos) que informavam as decisões econômicas. Bourdieu (2005;
2006) amplia este raciocínio ao demonstrar a partir do mercado de casas próprias na França,
que um bem de mercado que ainda poucos atores pensavam em comprar, transforma-se
–
como
qualquer outro arbitrário cultural
–
em um item de mercado através da ação do Estado na
construção tanto da oferta como da demanda.
Quando abordamos o setor da saúde mental, como já apontado por diversos autores, a
começar por Foucault há uma ampliação do conceito de saúde mental a partir dos movimentos
de Reforma Psiquiátrica (CORBANEZI, 2021)
.
Igualmente, defendemos aqui, um novo
mercado surge junto com ela. Pacientes antes tratados em instituições fechadas serão atendidos
a partir de então em consultórios médicos e o acesso a medicamentos necessários ao tratamento
será principalmente intermediado por mercados (diretos e indiretos
7
) e esses pacientes tornam-
se consumidores (MAZON, 2019; CONRAD; LEITER, 2004).
Para abordar o uso racional de medicamentos, argumentamos neste artigo, é
fundamental situar o momento do paciente consumidor, onde o mercado de medicamentos
aparece mobilizado na lógica do direito do cidadão, como veremos a seguir. Igualmente é
importante lembrar a década de 1990 e o contexto das reformas liberalizantes como momento
de impulso da indústria farmacêutica (MAZON, 2019; 2020; 2021). Conforme Iriart (2008) a
década de 1990 é o momento em que o capitalismo financeiro toma impulso, entre outros, no
setor da saúde. Neste momento o complexo médico-industrial reposiciona-se através da
propaganda direta ao consumidor, alterando a definição de doenças e criando novas entidades
nosológicas (IRIART, 2008). Igualmente o complexo médico-industrial pressiona as agências
reguladoras para aprovação de novos fármacos. Iriart, Merhi e Waitztkin (2001) mostram como
essas corporações em saúde assumem responsabilidades administrativas em instituições
estatais. Neste momento a ideia de intervenção estatal será substituída pela noção de eficiência
e eficácia no setor público (MAZON, 2009).
7
Importante considerar que o mercado do Metilfenidato no Brasil pode passar pelo mercado direto e pelo indireto,
compra intermediada pelo Estado através do RENAME - Relação Nacional de Medicamentos Essenciais. A
Política Nacional de Medicamentos (PNM), instituída em 1998 reorienta a Assistência Farmacêutica e a
organização do acesso a medicamentos. Este acesso deve “garantir apresentações de medicamentos, em formas
farmacêuticas e dosagens adequadas, considerando a sua utilização por grupos populacionais específicos, como
crianças e idosos (BRASIL, 2017).
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Em países em crise inflacionária, como é o caso de vários países da América Latina
incluindo o Brasil, há uma forte dependência do financiamento externo; a reforma proposta
passa a ser modelada pelas agências multilaterais: Banco Mundial, Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), Fundo Monetário Internacional (FMI), entre outros (ALMEIDA,
1999). A reforma do Estado é defendida através da redução da influência do governo no
me
rcado e pelo aumento da eficiência burocrática, a ideia de “Estado mínimo”. As políticas
elaboradas no Consenso de Washington serão posteriormente aplicadas no âmbito da
Organização Mundial do Comercio (OMC): políticas macroeconômicas restritivas,
liberalização do comércio internacional e dos investimentos, privatização e desregulamentação,
defesa da melhoria na entrega de serviços por intermédio da terceirização, entre outras
(PEREIRA, 1997).
As reformas liberalizantes em saúde são acompanhadas pela criação de Organizações
de Atenção Gerenciada em Saúde ou
Manage Care Organizations
(MCO); empresas privadas
subsidiárias de empresas de seguro, de administração de fundos mútuos ou fundos de pensão.
Estas entidades surgem para operar fundos públicos e privados de saúde. Sua atuação começa
nos EUA e depois se espraiam (IRIART; MERHI; WAITZTKIN, 2001). Conforme Iriart
(2008) este é um processo de radicalização da medicalização. Ainda diferentes autoras e autores
chamam a atenção para a difusão e generalização de protocolos clínicos (IRIART; 2008;
PETRYNA; KLEINMAN, 2006). Essa privatização do setor de saúde atinge novo patamar
entre os anos de 2001 e 2015, quando há expansão do consumo doméstico apoiado pelo
aumento da oferta de crédito
8
(LAVINAS; GENTIL, 2018). Conforme Lavinas e Gentil (2018)
o sistema financeiro encontrou nos serviços tradicionalmente providos pelo Estado como saúde,
educação e previdência um nicho de expansão; esse processo se realiza com a contribuição do
Estado que reduz ou deteriora sua oferta pública de forma que desestimula a demanda da
sociedade
9
.
Em resumo, diferentes estudos focam a maneira como empresas farmacêuticas e outros
entes do setor interagem com indivíduos e seus corpos na inauguração de novos produtos no
8
A oferta de crédito sobe de 22% do PIB em 2001 para 53% em 2015 conforme dados do Banco do Brasil citados
por Lavinas e Gentil (2018). Conforme dados da OMS o gasto per capita com saúde no Brasil registrou crescimento
de U$201 em 2002 para U$947 em 2014, sendo majoritariamente privado (LAVINAS; GENTIL, 2018).
9
Lavinas e Gentil (2018) argumentam que o período 2003-2016 ocultou o aprofundamento do processo de
delegação ao setor financeiro de serviços tradicionalmente prestados pelo Estado no campo da proteção social; a
financeirização ganha escala ao alcançar a esfera da reprodução social (saúde, educação, previdência). No setor de
saúde suplementar, houve medidas de incentivo a medicina privada, tanto empresas privadas do ramo da
assistência médico-hospitalar como rede de laboratórios se capitalizaram na segunda metade da década de 2000
através da abertura de capital na bolsa de valores com aval da Agência Nacional de Saúde (ANS) (LAVINAS;
GENTIL, 2018).
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mercado. O assunto ganha tons mais fortes quando o objeto são os transtornos mentais da
infância ou a epidemia do distúrbio de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) capitaneada
pela promoção, demanda e abuso da Ritalina e Adderal nas escolas secundárias americanas que
se ampliaram nas últimas décadas (LAKOFF, 2006; CONRAD; BERGEY, 2014). A situação
não é muito diferente no Brasil, segundo país maior consumidor de Ritalina no mundo
(CAPONI, 2019). Conforme Rose (1996; 2013) os diagnósticos atuam em diferentes planos,
com funções e efeitos diversos.
Nas críticas ao uso excessivo da Ritalina, há uma denúncia concentrada no discurso
médico e na ação da indústria farmacêutica a tornar estes produtos aceitáveis. A medicalização
aparece aqui lida como estratégia intencional ora da indústria farmacêutica ora do conluio entre
indústria farmacêutica e classe médica psiquiátrica. Esses processos são considerados como
automáticos. Basta à indústria farmacêutica articular-se ou o conjunto indústria farmacêutica-
classe médica articular-se e o fenômeno da medicalização toma impulso; usuários ou a
sociedade mais ampla aparecem apenas como epifenômeno. Conforme Bianchi (2019) e
Conrad (2013) frequentemente a medicalização aparece como categoria multiuso para explicar
tudo o que parece nocivo; é necessário cuidado com as armadilhas: tomar este fenômeno como
algo individual, que diz respeito exclusivamente a categoria médica e que considera os
consumidores/pacientes como passivos. O objetivo do artigo é somar a estas reflexões
acrescentando o elemento da construção social dos mercados como elemento central do
fenômeno. Interessa-nos observar mudanças recentes da sociedade que reforçam e são
reforçadas pelo consumo de psicotrópicos.
Embora Collier e Iheanacho(2002) indiquem que a indústria farmacêutica investe mais
tempo e recursos em geração, coleta, e disseminação de informações médicas do que na
produção de medicamentos e que estas informações são recurso essencial tanto para o
desenvolvimento de medicamentos como para atender os requisitos de licenciamento (proteger
patentes e promover vendas; esclarecer pacientes, prescritores e dispensadores os
medicamentos) é importante compreender em que contexto a indústria farmacêutica ganhou
esse fôlego como ator privilegiado de mercado
10
. Mais do que afirmar o poder de mercado de
determinados atores, compreender em que contexto tais atores ganham força. Propomos então
compreender aspectos da sociogênese da indústria farmacêutica, em particular de psicotrópicos.
Nesse sentido interessa-nos explorar a que Eva Illouz (2019) nomeia como a era do capitalismo
10
Informações, então, têm grande valor comercial; a maior parte delas é confidencial, protegida por
regulamentações sobre direitos de propriedade intelectual. Através da geração e disseminação de informações, as
companhias transnacionais são influenciadoras da prática clínica (COLLIER; IHEANACHO, 2002).
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afetivo e as crenças associadas a esta era. Esta autora argumenta que a criação do capitalismo
caminhou junto com a constituição de uma cultura afetiva especializada
11
. Segundo Illouz
(2019) vivemos a era do estilo terapêutico: transformações da cultura e costumes
contemporâneos que entraram numa relação de reforço com as teorias terapêuticas. Estas teorias
terapêuticas são menos uma explicação de quem nós somos e mais formas que nos convencem
que somos assim; elas exercem um efeito de teoria importante (ILLOUZ, 2011; 2019;
CABAÑAS; ILLOUZ, 2019). Pensar as sociedades nos termos do eu
–
consequência desse
capitalismo afetivo
–
leva a uma mudança particular no que diz respeito à forma como
gerenciamos nossas emoções e comportamentos (CABAÑAS; ILLOUZ, 2019). Esse fenômeno
toca igualmente a questão de como medicamentos são legitimados como alternativa para alterar,
manter, aprimorar comportamentos e emoções esperadas (LAKOFF, 2006; ROSE, 2013;
ILLOUZ, 2011).
Neste artigo mobilizamos o debate sobre psicotrópicos visualizado a partir do uso
crescente do Metilfenidato no Brasil.
O artigo está dividido em duas seções. Na primeira abordamos aspectos da era do estilo
terapêutico, conforme Eva Illouz, momento em que os seres humanos pensam as suas relações
a partir da ideia de gerenciamento de habilidades emocionais; fenômeno este o qual confere
importância particular ao consumo de psicotrópicos. Na segunda seção abordamos o contexto
de crescimento do consumo de metilfenidato no Brasil tão bem como controvérsias e as
estratégias discursivas por parte tanto da indústria farmacêutica como da categoria médica
alternando apelos ora à saúde, ora à liberdade de escolha por parte do consumidor como uma
questão de mercado. Analisamos o documento da Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC) sobre avaliação de incorporação do
metilfenidato e da lisdexanfetamina para o tratamento do TDAH pelo Sistema Único de Saúde
(SUS) e respectiva consulta pública tão bem como as reações da classe médica ao controle
coordenado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do talonário para o
metilfenidato.
11
Illouz considera o ano de 1909 como um marco, momento em que Freud proferiu as Conferências de Clark,
expondo as principais ideias da psicanálise; ideias que encontram ressonância na cultura popular norte-americana.
Entre as principais ideias: os lapsos de linguagem, papel do inconsciente na vida das pessoas, centralidade dos
sonhos na vida psíquica, o caráter sexual da maioria dos nossos desejos, a família como origem do psiquismo e
causa das patologias (ILLOUZ, 2011).
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Estilo terapêutico e psicotrópicos: um par perfeito?
Medicamentos são substâncias capazes de transformar a condição de um organismo para
melhor, no caso de medicamentos curativos. Eles aliviam o sofrimento associado a uma doença
e o significado de um medicamento para a maioria das pessoas repousa sobre sua eficácia. O
que tornou os medicamentos tão populares como solução em momentos de stress? Conforme
(WHITE; GEEST; HARDON, 2002), eles têm concretude, tangilibilidade: são engolidos,
injetados, espalhados na pele. Procedimentos que trazem consigo a promessa do efeito físico;
adéquam-se logicamente às tradições biomédicas: a medicina é a arte de curar a doença. Tal
tangibilidade fornece aos pacientes e seus cuidadores significados para lidar com a doença.
No entanto esta relação ganhou nova dinâmica a partir da emergência da era moderna:
era da especialização e das drogas sintéticas manufaturadas e produzidas em massa pela
indústria farmacêutica. Elas são commodities e sua disseminação mundial tem profunda
implicação para sistemas médicos nacionais (WHYTE; GEEST; HARDON, 2002). Como já
mencionado, no início do século XXI um novo impulso da medicalização tornas as drogas, em
particular psicotrópicos itens frequentes da vida cotidiana.
Conforme Bianchi (2018) um dos desafios é desnaturalizar, desubstancializar os
psicofármacos; antes de pensá-los como fato neutro, aborda-los como processo cultural
complexo; ir além dos contornos materiais que associam psicotrópicos a uma cápsula, numa
abordagem relacional e reinscrevê-los em processos sociais, integrá-los ao plexo fenomênico
onde as terapêuticas que o mobilizam são parte de um contexto mais amplo, como parte de um
saber-poder (FOUCAULT, 2005) são capazes de configurar subjetividades.
Para elucidar este fenômeno Eva Illouz nos convida a pensar a respeito da emergência
do capitalismo afetivo. A mudança, regulação e expressão das emoções são desde sempre um
elemento crucial de jogos éticos, rituais coletivos, práticas religiosas e tratados morais. A
psicologia moderna, entretanto, transformou de maneira radical a compreensão das emoções
(ILLOUZ, 2011). O papel que lhe foi designado na construção da identidade e sociabilidade
moderna ampliou o horizonte moral dos saberes psi: ela diz respeito seja a saúde mental, seja o
bem-estar pessoal.
Para Eva Illouz (2011) a psicanálise reconfigurou a vida psíquica, ou antes, a forma
como as pessoas enxergam a sua vida psíquica: estas teorias formulam um novo estilo afetivo,
o estilo afetivo que ela nomeia como terapêutico. Este estilo dominou o cenário cultural norte-
americano e depois se espraiou pelo mundo. O estilo afetivo moderno foi moldado sobretudo
(mas não somente) pela linguagem da terapia que emergiu entre a Primeira e Segunda Guerra
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mundiais. Segundo a autora, este fato tem gerado mercados que antes não existiam, ou pelo
menos não com a força que têm hoje. O modelo psicológico do indivíduo oferece novos
enquadramentos seculares e amorosos, seja no conhecimento ou no aprimoramento de si, nos
quais a reflexão sobre as emoções e a gestão delas joga papel fundamental. “
Este modelo
convida a uma reconsideração à maneira pela qual os indivíduos conferem significado e valor
às suas relações sociais, aos seus engajamentos, condutas de vida, deveres, prazeres tão bem
como a forma de se orientar no plano moral
” (SCHACHAK, 2019, p.
195).
Os saberes psi apoiam-se sobre um discurso científico justificado por métodos de
objetivação, classificação, de observação e de medida empírica; permite a elaboração de
práticas individualizadas de reflexividade destinadas a identificar, vigiar, transformar e regular
as
emoções (SCHACHAK, 2019). Nesse sentido, “regular emoções” passa a ser lido no debate
público como direito do consumidor/paciente.
Esse discurso oferece uma receita genérica e, portanto, personalizável que dá sentido às
relações entre emoções experimentadas e eventos vivenciados. Todas essas transformações
estão ligadas a outra característica: “
as pessoas e suas emoções tornaram-se alvo de uma
indústria na qual os produtos são nomeados como saúde mental, desenvolvimento pessoal, bem-
estar emocional
”
(SCHACHAK, 2019, p. 196).
Segundo Illouz (2011) um segundo elemento fundamental é a relação de reforço entre
os pressupostos da psicanálise e as ideias de autoajuda inauguradas por
Smiles
. Embora opostos
–
Smiles
afirma que o sucesso depende da virtude de cada um e de outro lado Freud afirma que
estamos condenados pela classe social e não há nada a fazer a respeito
–
estas duas correntes
de pensamento se unem e aproximam o sofrimento psíquico (infância negligenciada, baixa
autoestima, compulsão para o trabalho ou para o sexo) como males democráticos; diz respeito
a todas as classes sociais tornando-se um negócio lucrativo (ILLOUZ, 2011). As ideologias
políticas definharam em favor de concepções individualistas (ILLOUZ, 2011).
Esse credo terapêutico foi mais longe formulando a questão do bem-estar em termos
médicos e patologizando a vida comum. Quando há um ideal de saúde mental indefinido e em
constante expansão, todo e qualquer comportamento pode ser rotulado inversamente como
patológico, doentio, neurótico (ILLOUZ, 2011; CABAÑAS; ILLOUZ, 2019). O sujeito
participa da esfera pública através da interpretação e exposição de sentimentos privados
(ILLOUZ, 2011). Essa narrativa terapêutica, conforme Illouz (2011), compreende a vida como
expressão de sofrimento e torna o indivíduo responsável pelo seu sofrimento, eliminando o
contexto em que foi gerado.
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Illouz (2011) observa que o primeiro e talvez mais importante
lócus
de institucional
responsável pela consolidação da terapia na cultura norte-americana foi o Estado: em meio ao
clima do pós-guerra havia preocupação com adaptação e bem-estar sociais. Isso se tornou
palpável com a criação do Instituto Nacional de Saúde Mental em 1946. Uma vez criado o
Instituto, seu orçamento nunca parou de crescer (WHITAKER, 2017). O Estado usou a terapia
em muitos serviços que oferecia: assistência social, programas de reabilitação de presídio,
educação, tribunais (ILLOUZ, 2011). Illouz (2011) concorda com Foucault que o Estado
moderno se organizou em torno de concepções morais do indivíduo. O último ator a entrar no
campo do sofrimento mental e talvez mais significativo destacado por Illouz (2011) é a indústria
farmacêutica que junto com o DSM deram impulso ao mercado no campo da saúde mental.
Segundo Illouz (2011), o DSM, criado em 1954, é um manual de diagnóstico que nasceu
da necessidade de estreitar a relação diagnóstico e tratamento, a fim de que companhias de
seguro e outros pagadores pudessem processar as reclamações de maneira mais eficiente
(ILLOUZ, 2011). Conforme Illouz (2011) e Cooper (2014), no momento atual o DSM é usado
não só por médicos, mas pelo poder executivo estadual, órgãos reguladores, tribunais,
companhias de seguro, autoridades ligadas ao bem-estar infantil etc. Illouz (2011) concorda
com outros autores que afirmam que a partir do DSM III amplia-se o leque de distúrbios;
fenômeno que aponta para uma conjunção de interesses de profissionais da saúde mental,
companhias de seguro e indústria farmacêutica ansiosa por explorar o mercado das doenças
afetivas e mentais (ILLOUZ, 2011; WHITAKER, 2017; BIANCHI, 2016; CAPONI, 2014).
Consumo de medicamentos e as estratégias discursivas: justificativas de saúde,
justificativas de mercado
O diagnóstico de TDAH é uma condição de saúde que dispara controvérsias desde que
ela surge nomeada na versão do DSM III (LAKOFF, 2000; CONRAD; BERGEY, 2014;
CAPONI, 2014; BIANCHI, 2016; MARTINHAGO
et al.,
2019). A codificação do TDAH pela
Associação Americana de Psiquiatria (APA) suscitou dúvidas no meio acadêmico sobre se o
transtorno é uma doença real ou resultado da construção de diagnósticos que surgiram por uma
suposta demanda de medicalização dos comportamentos da infância e adolescência (ORTEGA;
GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018). No Brasil o debate está polarizado entre os que recusam
a legitimidade das investigações sobre o diagnóstico e seu tratamento psicofarmacológico
(MARTINHAGO
et al.
, 2019; CAPONI, 2014) e de outro lado estão os que apoiam a descrição
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Consumo de psicotrópicos e estilo terapêutico: Os limites do uso racional de medicamentos
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e fundamentação do TDAH a partir de estudos científicos (ROHDE
et al.
, 1999; POLANCZYK
et al.
, 2007).
Conforme Singh
et al.
(2013) a visão do TDAH como produto da medicalização pode
criar uma armadilha conceitual: já que todos os transtornos são construídos nenhum poderia ser
visto como real. Conforme Ortega, Gonçalves e Zorzanelli (2018) como consequência dessa
oposição se estabelece uma formulação dicotômica sobre a etiologia do TDAH na qual as
causas sociais e ambientais rivalizam com causas biológicas, o que leva a uma disputa
etiológica
–
e argumentamos aqui, uma disputa de discursos
–
entre o modelo social e o modelo
medico (ORTEGA; GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018); essas disputas expressam lutas
pelos critérios de classificação da realidade.
Para analisar as estratégias discursivas na defesa da prescrição do metilfenidato
apresentamos nessa seção a alternância de justificativas as quais pensam os psicotrópicos ora
como itens de mercado à disposição de consumidores ora como questão de saúde.
A primeira análise diz respeito a um documento publicado pela Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC)
12
em 2021 que aborda o
mercado do metilfenidato e lisdexanfetamina. O relatório 601 se refere à avaliação de
incorporação do metilfenidato e da lisdexanfetamina para o tratamento do Transtorno do Déficit
de Atenção com Hiperatividade (TDAH) pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A CONITEC,
em reunião ordinária do dia 09 de dezembro de 2020, deliberou que a matéria fosse
disponibilizada em Consulta Pública com recomendação preliminar desfavorável à
incorporação no SUS da lisdexanfetamina e do metilfenidato para o tratamento do TDAH em
crianças e adolescentes entre 6-17 anos. Considerou-se, entre outros fatores, que, as evidências
que sustentam a eficácia e a segurança para TDAH “
são frágeis dada sua baixa/muito baixa
qualidade, bem como o elevado aporte de recursos financeiros”
(CONITEC, 2021, p. 10). A
matéria foi disponibilizada em Consulta Pública realizada entre os dias 05 de janeiro e 25 de
janeiro de 2021.
Os membros da CONITEC em março de 2021, deliberaram por unanimidade
recomendar a não incorporação do metilfenidato e da lisdexanfetamina para o tratamento de
TDAH pelo SUS, conforme Portaria nº 09, publicada no Diário Oficial da União nº 53, seção
12
A Lei nº 8.080/1990, em seu art. 19-Q, estabelece que a incorporação, a exclusão ou a alteração de novos
medicamentos, produtos e procedimentos, bem como a constituição ou alteração de protocolo clínico ou de diretriz
terapêutica são atribuições do Ministério da Saúde (MS). Para cumprir essas atribuições, o MS é assessorado pela
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC). A análise da
Comissão deve ser baseada em evidências científicas, publicadas na literatura, sobre eficácia, acurácia, efetividade
e segurança da tecnologia, bem como a avaliação econômica comparativa dos benefícios e dos custos em relação
às tecnologias já incorporadas (CONITEC, 2021).
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1, página 84, em 19 de março de 2021. O entendimento é que não houve argumentação
suficiente para alterar a recomendação inicial. Porém, o que chama a atenção neste relatório são
as justificativas da indústria farmacêutica e profissionais médicos, os quais contribuíram com
sugestões na consulta pública. É possível observar esta alternância de justificativas ora
econômicas, ora de saúde. Com relação aos profissionais da saúde foram 52 contribuições à
consulta pública, 44 desfavoráveis à recomendação da CONITEC de não incorporação do
metilfenidato e da lisdexanfetamina para o tratamento de TDAH no SUS. Abaixo citamos
algumas:
A medicação ajuda crianças, adolescentes e adultos no tratamento do déficit
de atenção, pois somente terapia não é eficaz, visto que as dificuldades
enfrentadas pelas pessoas com transtornos são bem maiores socialmente e
emocional [...] TDAH é uma doença muito prevalente e os estudos
demonstram efetividade e segurança do tratamento com essas medicações
(CONITEC, 2021, p. 96).
Observa-se aqui duas contribuições que fazem apelo às questões de saúde. Abaixo,
observamos outras duas contribuições que fazem apelo agora à questão de mercado, ou dos
prejuízos e possíveis ameaças da ausência do medicamento no SUS:
O TDAH não tratado aumenta a chance de desenvolver ansiedade e depressão
no futuro. Além disso, leva à maiores desistências escolares, menos anos de
estudo, maiores dificuldades no mercado de trabalho e salários mais baixos
[...] Os custos de um TDAH não tratado para as pessoas e para a sociedade é
muito alto (CONITEC, 2021, p. 97).
Essa mesma contribuição, mais abaixo, associa a disponibilidade da medicação com
justiça social, fazendo referência ao direito
do consumidor: “Essas são medicações caras e
muitos não possuem recursos para pagar. O TDAH não escolhe classe social, mas no Brasil a
sua dificuldade em pagar e ter acesso ao tratamento pode determinar se você vai melhorar ou
não. Isso é socialmente injus
to” (CONITEC, 2021, p.
97).
Aqui vemos mobilizado o fenômeno descrito por Eva Illouz (2011): o sofrimento
psíquico como mal democrático, o qual diz respeito a todas as classes sociais.
Interessante observar como esse discurso dos profissionais médicos mobilizando o
direito do consumidor, aparece plasmado no discurso de pacientes que contribuíram na consulta
pública, como no trecho a seguir:
“A nossa Carta Magna no seu artigo 5 nos garante acesso à
saúde e esse acesso deve ser de forma a privilegiar todos os cidadãos brasileiros! Eu sou TDAH
[...], cidadã, contribuinte para essa nação e consciente que todos precisam ter acesso aos que
lhe é de Direito!” (CONITEC, 2021, p.
100).
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Com relação às contribuições da indústria farmacêutica à consulta pública da
CONITEC, é interessante destacar que a Novartis, diante da recomendação da não aquisição do
medicamento fabricado por ela, enviou uma proposta fornecendo desconto no preço do
medicamento (CONITEC, 2021). Diante de controvérsias sobre a eficácia ou não do
psicotrópico ela opta por uma justificativa de mercado: aliviar o investimento feito pelo Estado
na aquisição do medicamento.
Importante destacar que a CONITEC, após consulta pública, manteve a recomendação
já que os “
estudos considerados no relatório apresentaram limitações metodológicas
importantes, o que resultou em baixa confiança na evidência. Na consulta pública, não foram
sugeridas outras referências que pudessem reduzir as incertezas.” (CONITEC, 2021, p.
103).
Ainda outras formas de regulação por parte do poder público estão expressas na atuação
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A partir dos anos 2000, o uso racional
do metilfenidato aparece destacado como objeto de preocupação da ANVISA, através de
informes produzidos sobre a distribuição farmacoepidemiológica de substâncias controladas no
Brasil, como as anfetaminas e outros inibidores de apetite e o cloridrato de metilfenidato
(ORTERGA; GONÇAVES; ZORZANELLI, 2018).
A partir de uma análise de dados disponíveis pelo controle da ANVISA, através do
Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC), a constatação foi de
um aumento das vendas de metilfenidato (ORTERGA; GONÇAVES; ZORZANELLI, 2018).
Desde 1998 o Ministério da Saúde (MS) determinou que a notificação de metilfenidato seja a
mesma de opiáceos. Para adquirir o primeiro talonário se exige que o profissional faça uma
solicitação através de ficha de inscrição com firma registrada em cartório. Os talonários
subsequentes serão liberados em presença de uma autoridade sanitária a qual comprova a
colocação do selo do profissional em todas as folhas do talonário. A investigação de Ortega,
Gonçalves e Zorzanelli (2018) apresenta as críticas ao controle do metilfenidato por parte da
classe médica. Aqui igualmente é possível constatar a alternância de justificativas ora de
mercado
–
engajando pacientes como consumidores com direitos
–
ora de saúde.
Carlini
et al
. (2003) citados por Ortega, Gonçalves e Zorzanelli (2018, p. 316),
constataram em entrevistas com médicos prescritores de metilfenidato que 72% expressaram
que a notificação provoca efeito intimidante sobre o paciente e familiares; seria possível que
eles considerassem a enfermidade mais grave do que pensaram inicialmente. Aqui vemos uma
justificativa de saúde, julgar a enfermidade de outra maneira.
Ainda a mesma pesquisa mostra que 86% consideram que a exigência burocrática
levaria a um desinteresse por parte das farmácias em manter o produto em estoque. Aqui uma
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justificativa de mercado. Outros 70% afirmaram que a notificação traria constrangimento para
o comprador (ORTEGA; GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018). Aqui uma justificativa de
mercado e mobilizando a ideia de lesão de um direito do consumidor.
Considerações finais
Este artigo explorou os limites do uso racional dos medicamentos analisando o caso
específico do metilfenidato. Defendemos abordar o tema pela ótica dos mercados mobilizando
o conceito de estilo terapêutico de Eva Illouz. Segundo essa autora, vivemos a era do
capitalismo afetivo no contexto em que o espaço público é pensado nos termos do eu e onde
drogas psicotrópicas ocupam um lugar particular de reforço deste discurso do melhoramento
do eu.
Na era do estilo terapêutico os saberes psi se apoiam sobre um discurso científico
justificado por métodos de objetivação, classificação, de observação e de medida empírica o
que permite a elaboração de práticas individualizadas de reflexividade destinadas a identificar,
vigiar, transformar e regular as emoções. Nesse sentido regular emoções passa a ser lido no
debate público como direito do consumidor/paciente. Todas essas transformações estão ligadas
ao espraiamento dos psicotrópicos como uma das técnicas de melhoramento do eu. Nesse
sentido qualquer discurso que questione o uso do metilfenidato pode ser considerado como
forma de lesão de um direito.
As considerações sobre o uso racional de medicamentos partem da premissa de que
basta mais informação para que atores (considerados racionais a fim e com preferências dadas)
farão o uso racional de medicamentos. Pensar as sociedades na era do etilo terapêutico permite
iluminar as relações de poder as quais impõem objetos e discursos
–
como critérios de
classificação da realidade - construindo a ideia do que é razoável em determinado contexto. A
indústria farmacêutica e a classe médica ora operam justificativas de saúde, ora justificativas
de mercado mobilizando os consumidores como atores de mercado e livres para tomar suas
decisões sobre a compra de psicotrópicos. O questionamento do consumo de psicotrópicos o
qual pode soar como lesão de direitos é tema que demanda mais investigações.
Conforme pondera Illouz (2011) problemas do mundo privado preenchem o espaço
público; neste ambiente a mobilização de cidadãos questionando a sobre medicação com o
metilfenidato pode soar como constrangimento do direito do consumidor. Tanto quanto o poder
econômico do complexo médico-farmacêutico este artigo procurou mostrar como o campo
simbólico, povoado por discursos de atores poderosos urge por mais pesquisas.
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AGRADECIMENTOS:
Agradeço a CAPES o apoio através do projeto de cooperação
internacional CAPES COFECUB:
A disseminação dos saberes expertos no domínio da
Infância
, no qual está integrada a presente pesquisa.
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Consumo de psicotrópicos e estilo terapêutico: Os limites do uso racional de medicamentos
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022. e-ISSN:
1982-4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.16907
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Como referenciar este artigo
MAZON, Marcia da Silva. Consumo de psicotrópicos e estilo terapêutico: Os limites do uso
racional de medicamentos.
Estudos de Sociologia
, Araraquara, v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022.
e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.16907
Submetido em
: 15/06/2022
Revisões requeridas em
: 10/07/2022
Aprovado em
: 12/08/2022
Publicado em
: 30/09/2022
Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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Consumption of psychotropic drugs and therapeutic style: The limits of the rational use of medicines
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022. e-ISSN:
1982-4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.16907
1
CONSUMPTION OF PSYCHOTROPIC DRUGS AND THERAPEUTIC STYLE: THE
LIMITS OF THE RATIONAL USE OF MEDICINES
CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS E ESTILO TERAPÊUTICO: OS LIMITES DO USO
RACIONAL DE MEDICAMENTOS
CONSUMO DE PSICOTRÓPICOS Y ESTILO TERAPÉUTICO: LOS LÍMITES DEL
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS
Marcia da Silva MAZON
1
ABSTRACT
: In this article we contextualize the era of affective capitalism as postulated by
Eva Illouz to point out the challenges of psychotropic consumption. The article starts from a
bibliographical and documentary investigation reflecting on the limits of the rational use of
medicines as a market issue. Considerations on the rational use of medicines are based on the
premise that more information is enough for actors (considered to be rational in order and with
given preferences) to make the rational use of medicines. The contribution of the adopted
framework contributes by illuminating the power relations which impose objects and
discourses, building the reasonableness of which items can or should circulate through the
markets. The goal is to observe shared beliefs. We investigated the beliefs around the
consumption of psychotropic drugs, in particular the use of Methylphenidate for ADHD, as a
way of illuminating the tensions and controversies in the construction of this market. We found
the mobilization of two distinct and interchangeable appeals to justify the methylphenidate
market: appeal to health, appeal to the market viewed as a consumer's right.
KEYWORDS
: Consumption of psychotropic drugs. Market. Affective capitalism.
Pharmaceutical industry. Rational use of medicines (RMU).
RESUMO
: Neste artigo contextualizamos a era do capitalismo afetivo conforme postulado por
Eva Illouz para apontar desafios do consumo de psicotrópicos. O artigo parte de uma
investigação bibliográfica e documental refletindo acerca dos limites do uso racional de
medicamentos como uma questão de mercado. As considerações sobre o uso racional de
medicamentos partem da premissa de que basta mais informação para que atores
(considerados racionais a fim e com preferências dadas) farão o uso racional de
medicamentos. O aporte do referencial adotado contribui ao iluminar as relações de poder as
quais impõem objetos e discursos construindo a razoabilidade de quais itens podem ou devem
circular pelos mercados. O objetivo é observar as crenças compartilhadas. Investigamos as
crenças no entorno do consumo de psicotrópicos, em particular o uso do Metilfenidato para o
TDAH, como forma de iluminar as tensões e controvérsias na construção desse mercado.
Constatamos a mobilização de dois apelos distintos e alternáveis para justificar o mercado do
metilfenidato: apelo à saúde, apelo ao mercado visualizado como direito do consumidor.
1
Federal University of Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brazil. Department of Sociology and Political
Science. Postgraduate Program in Sociology and Political Science (PPGSP) and Center for Economic Sociology
(NUSEC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2953-1089. E-mail: marciadasilvamazon@yahoo.com.br
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Marcia da Silva MAZON
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022. e-ISSN:
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PALAVRAS-CHAVE
: Consumo de psicotrópicos. Mercado. Capitalismo afetivo. Indústria
farmacêutica. Uso racional de medicamentos (URM).
RESUMEN
: En este artículo contextualizamos la era del capitalismo afectivo postulada por
Eva Illouz para señalar los desafíos del consumo de psicotrópicos. El artículo parte de una
investigación bibliográfica y documental que reflexiona sobre los límites del uso racional de
los medicamentos como cuestión de mercado. Las consideraciones sobre el uso racional de los
medicamentos parten de la premisa de que más información es suficiente para que los actores
(considerados racionales en orden y con determinadas preferencias) hagan un uso racional de
los medicamentos. La contribución del marco adoptado contribuye a iluminar las relaciones
de poder que imponen los objetos y los discursos, construyendo la razonabilidad de qué
artículos pueden o deben circular por los mercados. El objetivo es observar las creencias
compartidas. Investigamos las creencias en torno al consumo de psicofármacos, en particular
el uso de Metilfenidato para el TDAH, como forma de iluminar las tensiones y controversias
en la construcción de este mercado. Encontramos la movilización de dos apelaciones distintas
e intercambiables para justificar el mercado del metilfenidato: apelar a la salud, apelar al
mercado visto como un derecho del consumidor
PALABRAS CLAVE:
Consumo de psicotrópicos. Mercado. Capitalismo afectivo. Industria
farmacéutica. Uso racional de medicamentos (URM).
Introduction
The concern with the rational use of medicines concerns different sectors of the
pharmaceutical industry. As defined by the World Health Organization (WHO), the rational use
of medicines is when patients receive medicines in a way that is appropriate to their clinical
needs, in doses appropriate to their individual needs and for an adequate period and at the lowest
cost to them and their community (BRASIL, 2017). A sector where the consumption of
medicines and the increase in the number of diagnoses that accompany it also grows is the
Methylphenidate market and the corresponding diagnosis of Attention Deficit Hyperactivity
Disorder (ADHD) (PANDE; AMARANE; BAPTISTA, 2020).
The use of medication and its diagnosis have become increasingly trivialized
2
.
Methylphenidate
3
, a drug used in the treatment of ADHD, is the most consumed stimulant in
Brazil as well as in the rest of the world. Although in the 1950s (when the
2
In the Top 10 list of emerging technologies for 2020 published by Scientific American Brasil (Sciam), digital
medicine comes in fifth place: applications in use or under development capable of autonomously monitoring
mental and physical disorders. The article highlights that these detection capabilities or 'digital phenotyping' will
not replace doctors anytime soon, but they can be useful to act on problems that need follow-up. The article
highlights the Somryst app for insomnia and Endeavor RX: first therapy released as a video game for attention
deficit hyperactivity disorder (ADHD). Both received FDA approval in 2020 (DORAISWAMY, 2021).
3
Methylphenidate is marketed under the trade names of Ritalina®, Concerta®.
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Consumption of psychotropic drugs and therapeutic style: The limits of the rational use of medicines
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, Araraquara,
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3
psychopharmacological era was inaugurated (WHITAKER, 2017)) - this drug was used in cases
of very agitated children and also as an antidepressant, from the 1990s onwards its therapeutic
value includes ADHD (ITABORAY; ORTEGA, 2016). The increase in the prescription of
methylphenitate for people with ADHD is considered emblematic of the limits of the rational
use of medicines (PANDE; AMARANE; BAPTISTA, 2020).
Different authors and authors dedicated to the sociology of diagnoses point out the
relationship between the nosological expansions of the Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders (DSM) in its different versions with the increase in the diagnosis of ADHD;
process that contributes to the increase in Methylphenidate consumption (CAPONI, 2014;
ORTEGA; GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018; BIANCHI, 2016; BIANCHI; FARAONE,
2015). All these readings draw attention to the phenomenon of medicalization
4
: the
transformation of previously non-medical problems into medical problems, usually as an illness
or disorder (CONRAD, 2013; BIANCHI, 2019). Medicalization seems to expand, giving an
unprecedented role to the pharmaceutical industry
5
in the era of biomedicalization
6
(BIANCHI;
FARAONE, 2018; CONRAD; BERGEY, 2014). Some authors point out how the diagnosis of
ADHD now reaches people in adulthood (CONRAD; BERGEY, 2014). Other studies point to
the use of methylphenidate in children under six years of age from a predominantly off-label
character for this age group (PANDE; AMARANTE; BAPTISTA, 2020). Other authors also
denounce the close relationship between the pharmaceutical industry and support groups and
research on ADHD (ITABORAY; ORTEGA, 2016; CONRAD; LEITER, 2004; BIANCHI;
FARAONE, 2018). Other studies point out singularities in the performance of the
pharmaceutical industry in the comparison between Brazil and Argentina: in the first, the
performance of the pharmaceutical industry stands out for its action in support groups, and in
the second, a pharmaceutical marketing operation aimed at physicians (BIANCHI
et al.
, 2016).
4
According to Conrad (2013) medicalization should not be understood as an adjective, but as a historical process,
matrix of intelligibility, spaces of properties in which gradation is fundamental and not binary distinction yes, no
(BIANCHI, 2019).
5
The advertising mechanisms through which laboratories advertise their products are often confused with the
dissemination of the diseases themselves, in disease awareness information campaigns, sometimes advertised
under the label “advertising information”, a te
rm that stands on the border between a piece advertising and another
that disseminates information of public utility (AZIZE, 2018, BIANCHI, 2018).
6
Biomedicalization is about a broader technoscientific transformation taking place in the 21st century. It concerns
the growth of complex, multi-situated processes of medicalization that extend/reconstitute through emerging social
forms and practices of a highly technoscientific biomedicine (HEALLY, 2002) and that also deepens the process
of privatization of research in the area; with emphasis on the pharmaceutical industry, genetization, health care,
among others (CLARKE
et al.
, 2003, 2010).
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Marcia da Silva MAZON
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, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022. e-ISSN:
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4
Psychotropics, markets and shared beliefs
Weber's classic work
The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism
reminds us that
where economic action flourished, in a country in full economic development like the United
States at the beginning of the 20th century, it was not pure rationality for purposes, rather, it
was the arational (religious) elements that informed economic decisions. Bourdieu (2005; 2006)
extends this reasoning by demonstrating, from the home market in France, that a market good
that few actors thought of buying, becomes
–
like any other cultural arbitrary
–
into a market
item through of State action in the construction of both supply and demand.
When we approach the mental health sector, as already pointed out by several authors,
starting with Foucault, there is an expansion of the concept of mental health from the Psychiatric
Reform movements (CORBANEZI, 2021). Likewise, we argue here, a new market arises along
with it. Patients previously treated in closed institutions will be seen from then on in medical
offices and access to medicines necessary for the treatment will be mainly mediated by markets
(direct and indirect
7
) and these patients become consumers (MAZON, 2019; CONRAD;
LEITER, 2004).
To approach the rational use of medicines, we argue in this article, it is essential to
situate the moment of the consumer patient, where the medicine market appears mobilized in
the logic of the citizen's right, as we will see below. It is also important to remember the 1990s
and the context of liberalizing reforms as a moment of impetus for the pharmaceutical industry
(MAZON, 2019; 2020; 2021). According to Iriart (2008), the 1990s are the moment when
financial capitalism takes hold, among others, in the health sector. At this moment, the medical-
industrial complex repositions itself through direct advertising to the consumer, changing the
definition of diseases and creating new nosological entities (IRIART, 2008). Likewise, the
medical-industrial complex pressures regulatory agencies to approve new drugs. Iriart, Merhi
and Waitztkin (2001) show how these health corporations assume administrative
responsibilities in state institutions. At this point, the idea of state intervention will be replaced
by the notion of efficiency and effectiveness in the public sector (MAZON, 2009).
In countries experiencing an inflationary crisis, as is the case of several Latin American
countries including Brazil, there is a strong dependence on external financing; the proposed
7
It is important to consider that the Methylphenidate market in Brazil can go through the direct market and the
indirect market, purchase intermediated by the State through RENAME - National List of Essential Medicines.
The National Medicines Policy (PNM), established in 1998, reorients Pharmaceutical Assistance and the
organization of access to medicines. This access must “guarantee drug presentations, in pharmaceutical forms and
adequate dosages, considering their use by specific population groups, such as
children and the elderly”
(BRASIL,
2017).
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Consumption of psychotropic drugs and therapeutic style: The limits of the rational use of medicines
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v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022. e-ISSN:
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reform will be modeled by multilateral agencies: World Bank, Inter-American Development
Bank (IDB), International Monetary Fund (IMF), among others (ALMEIDA, 1999). State
reform is advocated by reducing government influence in the market and increasing
bureaucratic efficiency, the idea of a “minimal state”. The policies elaborated in the Washington
Consensus will later be applied within the scope of the World Trade Organization (WTO):
restrictive macroeconomic policies, liberalization of international trade and investments,
privatization and deregulation, defense of improved service delivery through outsourcing,
among others (PEREIRA, 1997).
Liberalizing health reforms are accompanied by the creation of Manage Care
Organizations (MCO); private companies that are subsidiaries of insurance companies, mutual
fund management companies or pension funds. These entities arise to operate public and private
health funds. Its performance begins in the USA and then spreads (IRIART; MERHI;
WAITZTKIN, 2001). According to Iriart (2008) this is a process of radicalization of
medicalization. Yet different authors call attention to the diffusion and generalization of clinical
protocols (IRIART; 2008; PETRYNA; KLEINMAN, 2006). This privatization of the health
sector reaches a new level between 2001 and 2015, when there is an expansion of domestic
consumption supported by the increase in the supply of credit
8
(LAVINAS; GENTIL, 2018).
According to Lavinas and Gentil (2018) the financial system found a niche for expansion in
services traditionally provided by the State such as health, education and pensions; this process
is carried out with the contribution of the State, which reduces or deteriorates its public offer in
a way that discourages society's demand
9
.
In summary, different studies focus on the way pharmaceutical companies and other
entities in the sector interact with individuals and their bodies in bringing new products to the
market. The subject takes on stronger tones when the object is childhood mental disorders or
the attention deficit hyperactivity disorder (ADHD) epidemic led by the promotion, demand
and abuse of Ritalin and Adderal in American high schools that have expanded in recent
decades (LAKOFF, 2006; CONRAD; BERGEY, 2014). The situation is not very different in
8
The supply of credit rises from 22% of GDP in 2001 to 53% in 2015, according to data from Banco do Brasil
cited by Lavinas and Gentil (2018). According to WHO data, per capita spending on health in Brazil grew from
US$201 in 2002 to US$947 in 2014, mostly private. (LAVINAS; GENTIL, 2018).
9
Lavinas and Gentil (2018) argue that the period 2003-2016 concealed the deepening of the process of delegation
to the financial sector of services traditionally provided by the State in the field of social protection; financialization
gains scale by reaching the sphere of social reproduction (health, education, welfare). In the supplementary health
sector, there were measures to encourage private medicine, both private companies in the field of medical and
hospital care and a network of laboratories capitalized in the second half of the 2000s through the opening of
capital on the stock exchange with the endorsement of the Agency National Health (ANS) (LAVINAS; GENTIL,
2018).
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v. 27, n. esp. 2, e022020, 2022. e-ISSN:
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Brazil, the second largest consumer of Ritalin in the world (CAPONI, 2019). According to Rose
(1996; 2013) diagnoses act on different planes, with different functions and effects.
In the criticism of the excessive use of Ritalin, there is a complaint focused on the
medical discourse and on the action of the pharmaceutical industry to make these products
acceptable. Medicalization appears here as an intentional strategy, either of the pharmaceutical
industry or of the collusion between the pharmaceutical industry and the psychiatric medical
class. These processes are considered to be automatic. It is enough for the pharmaceutical
industry to articulate itself or for the pharmaceutical industry-medical class to articulate itself
and the phenomenon of medicalization takes off; users or the wider society appears only as an
epiphenomenon. According to Bianchi (2019) and Conrad (2013), medicalization often appears
as a multipurpose category to explain everything that seems harmful; It is necessary to be
careful with the pitfalls: to take this phenomenon as something individual, which concerns
exclusively the medical category and which considers consumers/patients as liabilities. The
objective of the article is to add to these reflections by adding the element of the social
construction of markets as a central element of the phenomenon. We are interested in observing
recent changes in society that reinforce and are reinforced by the consumption of psychotropic
drugs.
Although Collier and Iheanacho (2002) indicate that the pharmaceutical industry invests
more time and resources in the generation, collection, and dissemination of medical information
than in the production of medicines and that this information is an essential resource both for
the development of medicines and to meet the needs of licensing requirements (protect patents
and promote sales; clarify patients, prescribers and dispensers of medicines) it is important to
understand in what context the pharmaceutical industry gained this breath as a privileged
market actor
10
. More than asserting the market power of certain actors, understanding the
context in which such actors gain strength. We therefore propose to understand aspects of the
sociogenesis of the pharmaceutical industry, in particular psychotropics. In this sense, we are
interested in exploring what Eva Illouz (2019) names as the era of affective capitalism and the
beliefs associated with this era. This author argues that the creation of capitalism went hand in
hand with the constitution of a specialized affective culture
11
. According to Illouz (2019) we
10
Information, then, has great commercial value; most of them are confidential, protected by regulations on
intellectual property rights. Through the generation and dissemination of information, transnational companies
influence clinical practice (COLLIER; IHEANACHO, 2002).
11
Illouz considers the year 1909 as a milestone, when Freud delivered Clark's Lectures, exposing the main ideas
of psychoanalysis; ideas that find resonance in American popular culture. Among the main ideas: lapses in
language, role of the unconscious in people's lives, centrality of dreams in psychic life, the sexual character of
most of our desires, the family as the origin of the psyche and cause of pathologies (ILLOUZ, 2011).
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live in the era of the therapeutic style: transformations of contemporary culture and customs
that have entered into a reinforcing relationship with therapeutic theories. These therapeutic
theories are less an explanation of who we are and more ways to convince us that we are; they
exert an important theory effect (ILLOUZ, 2011; 2019; CABAÑAS; ILLOUZ, 2019). Thinking
about societies in terms of the self
–
a consequence of this affective capitalism
–
leads to a
particular change with regard to the way we manage our emotions and behaviors (CABAÑAS;
ILLOUZ, 2019). This phenomenon also touches on the question of how medications are
legitimized as an alternative to change, maintain, improve expected behaviors and emotions
(LAKOFF, 2006; ROSE, 2013; ILLOUZ, 2011).
In this article, we mobilize the debate on psychotropics seen from the increasing use of
Methylphenidate in Brazil.
The article is divided into two sections. In the first one, we approach aspects of the
therapeutic style era, according to Eva Illouz, when human beings think about their
relationships from the idea of managing emotional skills; This phenomenon gives particular
importance to the consumption of psychotropic drugs. In the second section, we approach the
context of growth of methylphenidate consumption in Brazil as well as controversies and
discursive strategies by both the pharmaceutical industry and the medical category, alternating
appeals either to health, or to freedom of choice on the part of the consumer as an issue market.
We analyzed the document of the National Commission for the Incorporation of Technologies
in the Unified Health System (CONITEC) on the evaluation of the incorporation of
methylphenidate and lisdexamfetamine for the treatment of ADHD by the Unified Health
System (SUS) and the respective public consultation as well as the reactions of the medical
class to the control coordinated by the National Health Surveillance Agency (ANVISA) of the
checkbook for methylphenidate.
Therapeutic style and psychotropic drugs: a perfect match?
Medicines are substances capable of transforming the condition of an organism for the
better, in the case of curative medicines. They alleviate the suffering associated with an illness,
and the significance of a drug for most people rests on its effectiveness. What made drugs so
popular as a solution to times of stress? According to (WHITE; GEEST; HARDON, 2002),
they have concreteness, tangibility: they are swallowed, injected, spread on the skin. Procedures
that carry with them the promise of physical effect; logically conform to biomedical traditions:
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8
medicine is the art of curing disease. Such tangibility provides patients and their caregivers with
meaning for dealing with the disease.
However, this relationship gained new dynamics from the emergence of the modern era:
the era of specialization and synthetic drugs manufactured and mass produced by the
pharmaceutical industry. They are commodities and their worldwide spread has profound
implications for national medical systems (WHYTE; GEEST; HARDON, 2002). As already
mentioned, at the beginning of the 21st century a new impulse of medicalization makes drugs,
in particular psychotropics, frequent items of everyday life.
According to Bianchi (2018), one of the challenges is to denaturalize, to desubstantiate
psychotropic drugs; before thinking of them as a neutral fact, approach them as a complex
cultural process; to go beyond the material contours that associate psychotropic drugs to a
capsule, in a relational approach and reinscribing them in social processes, integrating them
into the phenomenal plexus where the therapies that mobilize it are part of a broader context,
as part of a knowledge-power (FOUCAULT, 2005) are capable of configuring subjectivities.
To elucidate this phenomenon, Eva Illouz invites us to think about the emergence of
affective capitalism. The change, regulation and expression of emotions have always been a
crucial element of ethical games, collective rituals, religious practices and moral treaties.
Modern psychology, however, has radically transformed the understanding of emotions
(ILLOUZ, 2011). The role assigned to it in the construction of modern identity and sociability
broadened the moral horizon of psi knowledge: it concerns both mental health and personal
well-being.
For Eva Illouz (2011) psychoanalysis has reconfigured psychic life, or rather, the way
people see their psychic life: these theories formulate a new affective style, the affective style
that she names as therapeutic. This style dominated the North American cultural scene and later
spread around the world. The modern affective style was shaped mainly (but not only) by the
language of therapy that emerged between the First and Second World Wars. According to the
author, this fact has generated markets that did not exist before, or at least not with the strength
they have today. The individual's psychological model offers new secular and loving
frameworks, whether in terms of knowledge or self-improvement, in which reflection on
emotions and their management plays a fundamental role. “This m
odel invites a reconsideration
of the way in which individuals give meaning and value to their social relationships, to their
commitments, life behaviors, duties, pleasures, as well as the way to orient themselves on the
moral plane” (SCHACHAK, 2019, p. 19
5, our translation).
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Psi knowledge is based on a scientific discourse justified by methods of objectification,
classification, observation and empirical measurement; allows the elaboration of individualized
practices of reflexivity aimed at identifying, monitoring, transforming and regulating emotions
(SCHACHAK, 2019). In this sense, “regulating emotions” comes to be read in public debate
as a consumer/patient right.
This discourse offers a generic and, therefore, customizable recipe that gives meaning
to the relationships between experienced emotions and experienced events. All these
transformations are linked to another characteristic: “people and their emotions have become
the target of an industry in which products are named as mental health, personal development,
emotional well-
being” (SCHACHAK, 2019, p. 196
, our translation).
According to Illouz (2011), a second fundamental element is the reinforcing relationship
between the assumptions of psychoanalysis and the ideas of self-help inaugurated by
Smiles
.
Although opposites -
Smiles
affirms that success depends on the virtue of each one and on the
other hand Freud affirms that we are condemned by social class and there is nothing to be done
about it - these two currents of thought come together and bring psychic suffering closer
(neglected childhood, low self-esteem, compulsion to work or sex) as democratic evils;
concerns all social classes making it a profitable business (ILLOUZ, 2011). Political ideologies
languished in favor of individualist conceptions (ILLOUZ, 2011).
This therapeutic creed went further by framing the question of well-being in medical
terms and pathologizing ordinary life. When there is an undefined and constantly expanding
mental health ideal, any and all behavior can be inversely labeled as pathological, unhealthy,
neurotic (ILLOUZ, 2011; CABAÑAS; ILLOUZ, 2019). The subject participates in the public
sphere through the interpretation and exposure of private feelings (ILLOUZ, 2011). This
therapeutic narrative, according to Illouz (2011), understands life as an expression of suffering
and makes the individual responsible for their suffering, eliminating the context in which it was
generated.
Illouz (2011) observes that the first and perhaps the most important institutional locus
responsible for the consolidation of therapy in North American culture was the State: in the
midst of the post-war climate, there was a concern with adaptation and social well-being. This
became palpable with the creation of the National Institute of Mental Health in 1946. Once the
Institute was created, its budget never stopped growing (WHITAKER, 2017). The State used
therapy in many services it offered: social assistance, prison rehabilitation programs, education,
courts (ILLOUZ, 2011). Illouz (2011) agrees with Foucault that the modern state was organized
around moral conceptions of the individual. The last actor to enter the field of mental suffering
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and perhaps the most significant highlighted by Illouz (2011) is the pharmaceutical industry,
which together with the DSM gave impetus to the market in the field of mental health.
According to Illouz (2011), the DSM, created in 1954, is a diagnostic manual that was
born from the need to strengthen the relationship between diagnosis and treatment, so that
insurance companies and other payers could process claims more efficiently (ILLOUZ, 2011).
According to Illouz (2011) and Cooper (2014), the DSM is currently used not only by
physicians, but by the state executive power, regulatory bodies, courts, insurance companies,
child welfare authorities, etc. Illouz (2011) agrees with other authors who claim that from the
DSM III onwards, the range of disorders is expanded; phenomenon that points to a conjunction
of interests of mental health professionals, insurance companies and the pharmaceutical
industry eager to explore the market for affective and mental illnesses (ILLOUZ, 2011;
WHITAKER, 2017; BIANCHI, 2016; CAPONI, 2014).
Medication consumption and discursive strategies: health justifications, market
justifications
The diagnosis of ADHD is a health condition that sparks controversy since it was named
in the DSM III version (LAKOFF, 2000; CONRAD; BERGEY, 2014; CAPONI, 2014;
BIANCHI, 2016; MARTINHAGO
et al.
, 2019). The coding of ADHD by the American
Psychiatric Association (APA) raised doubts in the academic environment about whether the
disorder is a real disease or the result of the construction of diagnoses that emerged from a
supposed demand for the medicalization of childhood and adolescence behaviors (ORTEGA;
GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018). In Brazil, the debate is polarized between those who
reject the legitimacy of investigations on the diagnosis and its psychopharmacological treatment
(MARTINHAGO
et al.
, 2019; CAPONI, 2014) and on the other hand, there are those who
support the description and reasoning of ADHD from scientific studies (ROHDE
et al.
, 1999;
POLANCZYK
et al.
, 2007).
According to Singh
et al.
(2013) the view of ADHD as a product of medicalization can
create a conceptual trap: since all disorders are constructed, none could be seen as real.
According to Ortega, Gonçalves and Zorzanelli (2018), as a consequence of this opposition, a
dichotomous formulation of the etiology of ADHD is established in which social and
environmental causes rival biological causes, which leads to an etiological dispute - and we
argue here, a dispute of discourses
–
between the social model and the medical model
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(ORTEGA; GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018); these disputes express struggles for the
classification criteria of reality.
In order to analyze the discursive strategies in defense of the prescription of
methylphenidate, we present in this section the alternation of justifications which think of
psychotropic drugs either as market items available to consumers or as a health issue.
The first analysis concerns a document published by the National Commission for the
Incorporation of Technologies in the Unified Health System (CONITEC)
12
in 2021 that
addresses the methylphenidate and lisdexamfetamine market. The 601 report refers to the
evaluation of the incorporation of methylphenidate and lisdexamfetamine for the treatment of
Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) by the Unified Health System (SUS).
CONITEC, in an ordinary meeting on 9 December 2020, decided that the matter should be
made available in a Public Consultation with a preliminary recommendation unfavorable to the
incorporation of lisdexamfetamine and methylphenidate into the SUS for the treatment of
ADHD in children and adolescents between 6-17 years. Among other factors, it was considered
that the evidence supporting the effectiveness and safety for ADHD “is
fragile given its
low/very low quality, as we
ll as the high contribution of financial resources” (CONITEC, 2021,
p. 10). The matter was made available in a Public Consultation held between 5 and 25 of January
2021.
In March 2021, CONITEC members unanimously decided to recommend the non-
incorporation of methylphenidate and lisdexamfetamine for the treatment of ADHD by the
SUS, according to Ordinance No. 09, published in the Diário Oficial da Uniião No. 53, section
1, page 84, on 19 March 2021. The understanding is that there was not enough reasoning to
change the initial recommendation. However, what stands out in this report are the justifications
of the pharmaceutical industry and medical professionals, who contributed with suggestions in
the public consultation. It is possible to observe this alternation of justifications, either
economic, or health. Regarding health professionals, 52 contributions were made to the public
consultation, 44 were unfavorable to the CONITEC recommendation of not incorporating
methylphenidate and lisdexamfetamine for the treatment of ADHD in the SUS. Below we
mention a few:
12
Law No. 8.080/1990, in its art. 19-Q, establishes that the incorporation, exclusion or alteration of new drugs,
products and procedures, as well as the constitution or alteration of clinical protocol or therapeutic guidelines are
attributions of the Ministry of Health (MH). To fulfill these attributions, the MH is advised by the National
Commission for the Incorporation of Technologies in the Unified Health System (CONITEC). The Commission's
analysis must be based on scientific evidence, published in the literature, on the efficacy, accuracy, effectiveness
and safety of the technology, as well as the comparative economic assessment of the benefits and costs in relation
to technologies already incorporated (CONITEC, 2021).
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12
Medication helps children, adolescents and adults in the treatment of attention
deficit, as therapy alone is not effective, since the difficulties faced by people
with disorders are much greater socially and emotionally [...] studies
demonstrate the effectiveness and safety of treatment with these medications
(CONITEC, 2021, p. 96, our translation).
There are two contributions that appeal to health issues. Below, we observe two other
contributions that now appeal to the market issue, or the damages and possible threats of the
absence of the drug in the SUS:
Untreated ADHD increases the chance of developing anxiety and depression
in the future. In addition, it leads to higher school dropouts, fewer years of
study, greater difficulties in the job market and lower wages [...] The costs of
untreated ADHD for people and society are very high (CONITEC, 2021, p.
97, our translation).
This same contribution, further down, associates the availability of medication with
social justice, referring to consumer rights: “These are expensive medications and many do not
have the resources to pay. ADHD does not choose social class, but in Brazil your difficulty in
paying and accessing treatment can determine whether you will improve or not. This is socially
unfair” (CONITEC, 2021, p. 97
, our translation).
Here we see the phenomenon described by Eva Illouz (2011) mobilized: psychic
suffering as a democratic evil, which concerns all social classes.
It is interesting to observe how this discourse of medical professionals mobilizing
consumer rights appears reflected in the discourse of patients who contributed to the public
consultation, as in the following excerpt: “Our Constitution, in its article 5, guarantees us access
to health and this access must be in a way that privileges all Brazilian citizens! I am ADHD
[...], citizen, contributor to this nation and aware that everyone needs to have access to what is
rightfully theirs!” (CONITEC, 2021, p. 100
, our translation).
Regarding the contributions of the pharmaceutical industry to the CONITEC public
consultation, it is interesting to note that Novartis, in view of the recommendation not to
purchase the drug manufactured by it, sent a proposal providing a discount on the price of the
drug (CONITEC, 2021). Faced with controversies about the effectiveness or not of the
psychotropic drug, she opts for a market justification: to alleviate the investment made by the
State in the acquisition of the drug.
It is important to highlight that CONITEC, after public consultation, maintained the
recommendation since the “studies considered
in the report presented important methodological
limitations, which resulted in low confidence in the evidence. In the public consultation, no
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other references were suggested that could reduce uncertainties.” (CONITEC, 2021, p.103
, our
translation).
Still other forms of regulation by the public power are expressed in the work of the
National Health Surveillance Agency (ANVISA). Since the 2000s, the rational use of
methylphenidate has been highlighted as an object of concern by ANVISA, through reports
produced on the pharmacoepidemiological distribution of controlled substances in Brazil, such
as amphetamines and other appetite suppressants and methylphenidate hydrochloride
(ORTERGA; GONÇAVES; ZORZANELLI, 2018).
From an analysis of data available by ANVISA control, through the National System
for the Management of Controlled Products (SNGPC), the finding was an increase in sales of
methylphenidate (ORTERGA; GONÇAVES; ZORZANELLI, 2018). Since 1998, the Ministry
of Health (MH) has determined that the notification of methylphenidate is the same as that of
opiates. To acquire the first checkbook, it is required that the professional make a request
through a registration form with a notarized signature. Subsequent checkbooks will be released
in the presence of a health authority which proves the placement of the professional's seal on
all the checkbook sheets. The investigation by Ortega, Gonçalves and Zorzanelli (2018)
presents criticisms of the control of methylphenidate by the medical profession. Here, too, it is
possible to see the alternation of justifications, sometimes of the market
–
engaging patients as
consumers with rights
–
and sometimes of health.
Carlini
et al.
(2003) cited by Ortega, Gonçalves and Zorzanelli (2018, p.316), found in
interviews with doctors prescribing methylphenidate that 72% expressed that the notification
has an intimidating effect on the patient and family members; it would be possible that they
considered the illness more serious than they initially thought. Here we see a justification of
health, to judge illness in another way.
Yet the same survey shows that 86% consider that the bureaucratic requirement would
lead to a lack of interest on the part of pharmacies in keeping the product in stock. Here's a
market justification. Another 70% stated that the notification would embarrass the buyer
(ORTEGA; GONÇALVES; ZORZANELLI, 2018). Here a market justification and mobilizing
the idea of injury to a consumer right.
Final considerations
This article explored the limits of rational drug use by analyzing the specific case of
methylphenidate. We defend approaching the theme from the perspective of markets,
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Marcia da Silva MAZON
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mobilizing Eva Illouz's concept of therapeutic style. According to this author, we live in the era
of affective capitalism in a context in which public space is thought of in terms of the self and
where psychotropic drugs occupy a particular place to reinforce this discourse of self-
improvement.
In the era of the therapeutic style, psi knowledge is based on a scientific discourse
justified by methods of objectification, classification, observation and empirical measurement,
which allows the development of individualized practices of reflexivity aimed at identifying,
monitoring, transforming and regulating emotions. In this sense, regulating emotions starts to
be read in the public debate as a consumer/patient right. All these transformations are linked to
the spreading of psychotropic drugs as one of the techniques for improving the self. In this
sense, any discourse that questions the use of methylphenidate can be considered as a form of
damge to a right.
Considerations on the rational use of medicines are based on the premise that more
information is enough for actors (considered to be rational in order and with given preferences)
to make the rational use of medicines. Thinking about societies in the era of therapeutic style
allows illuminating the power relations which impose objects and discourses - as criteria for
classifying reality - building the idea of what is reasonable in a given context. The
pharmaceutical industry and the medical profession sometimes operate health justifications,
sometimes market justifications, mobilizing consumers as market actors and free to make their
decisions about the purchase of psychotropic drugs. The questioning of the consumption of
psychotropic drugs, which may sound like a damage to rights, is a topic that demands further
investigation.
As Illouz (2011) ponders, problems of the private world fill the public space; in this
environment, the mobilization of citizens asking about medication with methylphenidate can
sound like a constraint on consumer rights. As much as the economic power of the medical-
pharmaceutical complex, this article sought to show how the symbolic field, populated by
speeches by powerful actors, urges further research.
ACKNOWLEDGEMENTS:
I thank CAPES for the support through the international
cooperation project CAPES COFECUB:
The dissemination of expert knowledge in the field of
Childhood
, in which this research is integrated.
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MAZON, Marcia da Silva. Consumption of psychotropic drugs and therapeutic style: The limits
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Submitted
: 15/06/2022
Required revisions
: 10/07/2022
Approved
: 12/08/2022
Published
: 30/09/2022
Processing and publishing: Editora Ibero-Americana de Educação.
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