Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 1
REPENSANDO A CIÊNCIA E A INOVAÇÃO: UMA ANÁLISE PELA
PERSPECTIVA DECOLONIAL EM DIÁLOGO COM A TEORIA ATOR-REDE
REPENSANDO LA CIENCIA Y LA INNOVACIÓN: UN ANÁLISIS POR LA
PERSPECTIVA DECOLONIAL EN DIÁLOGO CON LA TEORÍA ACTOR-RED
RETHINKING SCIENCE AND INNOVATION: AN ANALYSIS THROUGH THE
DECOLONIAL PERSPECTIVE IN DIALOGUE WITH THE ACTOR-NETWORK
THEORY
Murilo Henrique GARBIN1
e-mail: murilo.garbin@unidep.edu.br
Como referenciar este artigo:
GARBIN, M. H. Repensando a ciência e a inovação: uma análise
pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede.
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-
ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909
| Submetido em: 06/07/2022
| Revisões requeridas em: 29/09/2023
| Aprovado em: 15/10/2023
| Publicado em: 30/12/2023
Editora:
Profa. Dra. Maria Chaves Jardim
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Centro Universitário de Pato Branco (UNIDEP), Pato Branco PR Brasil. Mestrado em Desenvolvimento
Regional pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Bacharelado em Direito pela Universidade
Federal do Paraná. Professor de Propriedade Intelectual, Direito Digital e de Direito Empresarial no Curso de
Bacharelado em Direito.
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 2
RESUMO: O artigo propõe, por meio de revisão de literatura, repensar a ciência e a inovação
através da perspectiva decolonial, dialogando com a Teoria Ator-Rede. Ressituando o início da
modernidade na Conquista da América, evidencia-se a constituição da primeira identidade
moderna, oriunda da classificação entre conquistadores e conquistados na ideia de raça. Nesse
cenário, o fazer ciência passa a ser compreendido deterministicamente, pretensamente objetivo
e neutro, como único conhecimento válido. Dessa forma, se objetiva refletir sobre a
discursividade das ciências modernas, dando voz a formas distintas de conhecimento. Uma
tentativa de denúncia da Colonialidade do Saber, sendo sugeridas as noções e os projetos da
Transmodernidade e das Epistemologias do Sul. Conclui-se que essas outras formas de
conhecer podem se apresentar como alternativas à ordem hegemônica do capital, a qual
reproduz o mito do progresso infinito e do controle do planeta, submetendo o conhecimento e
as inovações ao mercado.
PALAVRAS-CHAVE: Decolonialidade. Ciência. Tecnologia. Inovação. Teoria ator-rede.
RESUMEN: El artículo propone, por medio de revisión de literatura, repensar la ciencia y la
innovación a través de la perspectiva decolonial, dialogando con la Teoría Actor-Red.
Resignándose el inicio de la modernidad en la Conquista de América, se evidencia la
constitución de la primera identidad moderna, oriunda de la clasificación entre conquistadores
y conquistados en la idea de raza. En ese escenario, el hacer ciencia pasa a ser comprendido
determinísticamente, supuestamente objetivo y neutro, como único conocimiento válido. De
esta forma, se objetiva reflexionar sobre la discursividad de las ciencias modernas, dando voz
a formas distintas de conocimiento. Un intento de denuncia de la Colonialidad del Saber,
siendo sugeridas las nociones y los proyectos de la Transmodernidad y de las Epistemologías
del Sur. Se concluye que esas otras formas de conocer pueden presentarse como alternativas
al orden hegemónico del capital, la cual reproduce el mito del progreso infinito y del control
del planeta, sometiendo el conocimiento y las innovaciones al mercado.
PALABRAS CLAVE: Decolonialidad. Ciencia. Tecnología. Innovación. Teoría actor-red.
ABSTRACT: The article proposes, using literature review, to rethink science and innovation
through the decolonial perspective, dialoguing with the Actor-Network Theory. Reframing the
beginning of modernity in the Conquest of America, it highlights the constitution of the first
modern identity, coming from the classification between conquerors and conquered in the idea
of race. In this scenario, the making of science becomes deterministically understood,
supposedly objective and neutral, as the only valid knowledge. Thus, the objective is to reflect
on the discursiveness of modern sciences, giving voice to different forms of knowledge. An
attempt to denounce the Coloniality of Knowledge, suggesting the notions and projects of
Transmodernity and Epistemologies of the South. It is concluded that these other forms of
knowledge can be presented as alternatives to the hegemonic order of capital, which
reproduces the myth of infinite progress and control of the planet, submitting knowledge and
innovations to the market.
KEYWORDS: Decoloniality. Science. Technology. Innovation. Actor-network theory.
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 3
Introdução
O presente artigo propõe repensar a ciência e a inovação tecnológica por meio de
reflexões diversas elaboradas por expoentes da perspectiva decolonial. Para tanto, o estudo
vale-se de revisão de literatura, tornando possível a análise crítica intentada.
O objetivo é o de mobilizar preceitos elementares da corrente - e de pensadores e
pensadoras que com ela dialogam -, tais como Colonialidade do Poder, Colonialidade do Saber,
epistemicídio, Transmodernidade e Epistemologias do Sul, para que se evidenciem questões
atinentes ao fazer ciência e ao promover inovações vinculados ao paradigma hegemônico
moderno.
Outrossim, visando enriquecer o debate, far-se-ão reflexões e aproximações a vertentes
teóricas outras, capazes de dialogarem e contribuírem para a análise em questão, tais como
expoentes da Teoria Ator-Rede (TAR), autores e autoras pós-TAR e antecessores decoloniais.
Nessa toada, em um primeiro momento, buscar-secompreender o marco inicial da
modernidade como não mais situado no Iluminismo ou no término do século XVIII, mas sim
na Conquista da América, momento em que se origina a construção do "Outro" pela episteme
europeia. Considera-se este como a primeira identidade moderna, oriunda da classificação das
diferenças entre conquistadores e conquistados na ideia de raça.
Ainda vinculado a esse primeiro escopo, tentar-seexplicitar a conformação colonial
do mundo entre ocidental/europeu, eleito ao posto de moderno ou avançado, e o restante dos
povos e culturas do planeta. A Europa, assim, erige-se como o centro geográfico e a linha de
chegada do próprio movimento temporal, reimaginado pela modernidade na ideia de progresso.
Ato contínuo, empenhar-se em evidenciar como esse padrão mundial de poder,
designado Colonialidade do Poder, produziu uma perspectiva de conhecimento e um modo de
produzir conhecimento a ele atinentes. Nesse cenário, o fazer ciência passa a ser compreendido
unicamente de maneira determinista, cujas pretensões de objetividade e neutralidade são
questionadas pela decolonialidade, sendo o objeto do presente estudo.
Tratar-se-á, assim, de um trabalho de denúncia da ciência como único conhecimento
válido e rigoroso, o qual, dessa forma, apregoa sua própria universalidade derivada do
eurocentrismo. Alia-se a destruição de seres humanos à destruição de seus conhecimentos,
fenômeno que será tratado como epistemicídio.
Para tanto, buscar-se a promoção da intervenção na discursividade própria das
ciências modernas, de modo que se elaborem e/ou se dê voz a formas distintas de pensamento
que permitam falar sobre mundos e conhecimentos de outro modo. Uma tentativa de denúncia
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 4
da Colonialidade do Saber, sendo sugeridas as noções e os projetos da Transmodernidade e das
Epistemologias do Sul.
Por fim, atrelada às reflexões até então desenvolvidas, se aprofundará mais
especificamente na questão da inovação tecnológica, intentando evidenciar outras formas de
conhecer que foram sistematicamente subjugadas e que podem se apresentar como alternativas
à ordem hegemônica do capital, a qual reconhece como inovações tão somente aquelas
produzidas pelo “ocidente”, reproduzindo o mito do progresso infinito e do controle do planeta,
submetendo o conhecimento, a ciência e as inovações ao mercado.
A colonialidade do poder
A perspectiva decolonial tem suas premissas norteadas pela reflexão acerca das
alternativas à estrutura excludente e desigual do mundo moderno, por meio da desconstrução
do caráter universal e natural da sociedade capitalista-liberal (LANDER, 2005, p. 7).
Para tanto, foram a ela elaboradas e atribuídas algumas noções elementares, dentre as
quais se destaca a da Colonialidade do Poder. Trata-se de noção que promove o chamado giro
decolonial, pelo qual se apregoa que a colonialidade é constituinte da modernidade, não
havendo esta sem a primeira (ESCOBAR, 2003, p. 61; BERNARDINO-COSTA;
GROSFOGUEL, 2016, p. 17). Dessa feita, passa-se a compreender que o marco inicial da
modernidade se dá pela Conquista da América, e não pelo posterior Iluminismo ou término do
culo XVIII, como corriqueiramente se afirma, visto que é nesse momento que se origina a
construção do "Outro" pela episteme europeia (PALERMO, 2019, p. 92).
Segundo Quijano (2005, p. 117), um dos principais expoentes da decolonialidade, é por
meio da referida conquista que a América se constitui como primeira identidade da
modernidade, através de dois processos históricos, quais sejam, a classificação das diferenças
entre conquistadores e conquistados na ideia de raça e a associação das formas históricas de
controle do trabalho, dos seus recursos e dos seus produtos ao redor do capital e do mercado
mundial.
Disso decorreu a conformação colonial do mundo entre ocidental/europeu, eleito ao
posto de moderno ou avançado, e o restante dos povos e culturas do planeta (LANDER, 2005,
p. 9). Por meio desses processos, constitui-se, nas palavras de Muñoz (2016, p. 58), o paradoxo
da modernidade, que, por um lado, exclui da noção de sujeito quem ela considera como bárbaro
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 5
e não civilizado, ao mesmo tempo em que demanda desse "Outro" o reconhecimento e a
aceitação de sua ordem legal e valores éticos.
Essa dicotomia humanos/modernos e "Outros" é também denunciada, em sentidos
similares, por autores e autoras adeptos de perspectivas outras que muito dialogam e são
mobilizados pela decolonialidade. Dentre eles, podemos destacar Fanon (1968, p. 30-31), o
qual salienta o maniqueísmo do mundo colonial, que desumaniza os colonizados, Spivak (2010,
p. 47), em suas denúncias à violência epistêmica colonial, que transforma o sujeito colonial em
"Outro", e Said (1990), que evidencia o processo de construção do "Oriente" pelo "Ocidente",
uma noção que distingue, de mesma forma, os europeus dos "Outros".
Tal cenário produziu, ademais, outras concepções igualmente importantes, acarretando,
por exemplo, em uma nova percepção da mudança histórica. Ela é evidenciada por Quijano
(2005, p. 125) como a mentira do conceito de modernidade, visto que, a partir da América, um
novo espaço/tempo é constituído, o qual ressituou "os povos colonizados, bem como as suas
respectivas histórias e culturas, no passado de uma trajetória histórica cuja culminação era a
Europa" (QUIJANO, 2005, p. 121). Por meio dessa narrativa, a Europa se erige
simultaneamente como o centro geográfico e a linha de chegada do próprio movimento
temporal (LANDER, 2005, p. 9).
Reforçando a ideia de que a modernidade é um projeto iniciado ainda à época da
Conquista das Américas, Yehia (2007, p. 97) salienta que foi nesse momento que passou a
ocorrer a cristalização de seus binários. Para aprofundá-los, a autora promove profícuo diálogo
entre a perspectiva decolonial e algumas das premissas da Teoria Ator-Rede (TAR), o qual
merece menções preliminares.
Urge destacar, nesse momento, alguns dos predicados da TAR expostos por Latour
(1994). O autor francês busca desconstruir os referidos binários fundantes da modernidade,
dentre os quais se destacam a distinção natureza e cultura/sociedade e a linha divisória entre
sujeito e objeto, situados em campos opostos de humanos e não-humanos.
A exterioridade até então atribuída aos objetos, defendem os autores dessa vertente,
provém não de um dado experimental, mas sim - e tão somente - de uma história político-
Essa questão elementar é aprofundada por diversos autores e autoras em seus estudos específicos, os submetendo
a "análises de caso", tais como Walsh e García (2002, s/n, tradução do autor), que se debruçam sobre os povos
afrodescendentes equatorianos, os quais "compartilham uma história caracterizada pela violência simbólica,
epistêmica e estrutural, uma violência que, tanto em suas formas abertas como na encoberta, está ligada a processos
de disciplinamento colonial e cultural".
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 6
científica alinhada a uma determinada concepção do que seria “natureza” à Constituição
Moderna (LATOUR, 2020).
Segundo Latour (2012, p. 113), a definição do que é ou não um actante, categoria
sugerida pela TAR capaz de abranger tanto os humanos quanto os não-humanos, advém do que
ele faz em rede, ressaltando, todavia, que o objetivo da TAR não é unir sujeitos e objetos, mas
sim explicitar como a própria divisão clássica nestes dois conceitos mutuamente excludentes é
descabida, afirmando que “não há relação alguma entre o ‘mundo material’ e o ‘mundo social’,
justamente porque essa divisão é um completo artefato”.
Nesse sentido, Latour (2019, p. 125) identifica "Duas Grandes Divisões" promovidas
pela Constituição Moderna, uma interna e outra externa, sendo que a primeira separa a
sociedade da natureza (humanos e não-humanos), enquanto a segunda promove a distinção
entre "Nós" e "Eles", compreendidos estes como pré-modernos, visto que não reconheceriam a
primeira divisão. O autor concebe a natureza e a sociedade não mais como polos distintos, mas
uma única produção de "sociedades-culturas" - por ele denominadas coletivos (LATOUR,
2019, p. 175).
O diálogo promovido por Yehia (2007) e demais ponderações acerca da relação entre a
TAR e a perspectiva decolonial serão aprofundados nos próximos itens, a começar pelo
seguinte, dedicado ao debate sobre a colonialidade do saber e a geopolítica do conhecimento.
Colonialidade do saber e geopolítica do conhecimento
Explicitadas algumas das premissas elementares da decolonialidade, sobretudo ao trazer
à baila a supracitada Colonialidade do Poder, se faz pertinente aprofundar sua análise,
investigando suas relações com a ideia de hegemonia da ciência moderna e a submissão de
outras formas de conhecimento.
A modernidade “produziu uma perspectiva de conhecimento e um modo de produzir
conhecimento que demonstram o caráter do padrão mundial de poder” (QUIJANO, 2005, p.
126), compreendida ela como o processo explicitado no item anterior. Nesse cenário, o fazer
ciência passa a ser compreendido unicamente de maneira determinista, cujas pretensões de
objetividade e neutralidade devem ser questionadas (LANDER, 2005, p. 7).
Lander (2005, p. 12) salienta que a ideia de modernidade carrega consigo algumas
dimensões básicas, dentre as quais se destaca a necessária superioridade, em relação a todos os
outros conhecimentos existentes, daqueles que a sociedade que se diz moderna produz, lhe
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 7
conferindo a qualidade de ciência. Tal premissa converteu essa forma de conhecimento,
encoberta pelo véu da cientificidade, na única forma válida, objetiva e universal de
conhecimento (LANDER, 2005, p. 13).
De forma similar, Walsh (2006, p. 30) denuncia esse posicionamento do eurocentrismo
e ocidentalismo como modelo único do conhecimento, descartando as demais populações
mundiais, como as africanas e indígenas, da qualidade de intelectuais ou produtoras de
conhecimento.
Trata-se, segundo Bernardino-Costa e Grosfoguel (2016, p. 18), da eleição da Europa
como lócus de enunciação mundial. Em outras palavras, como parte do novo padrão de poder
mundial, a Europa hegemonicamente concentrou também todas as formas de controle da
subjetividade, da cultura, e em especial da produção do conhecimento (QUIJANO, 2005, p.
121), sob o mantra da ciência como único conhecimento válido e rigoroso (SANTOS, 2008, p.
14), e que, desta forma, apregoa sua própria universalidade derivada da posição da Europa como
centro (ESCOBAR, 2003, p. 60).
Grosfoguel (2016, p. 25) ênfase a esse privilégio epistêmico do “ocidente”, que
subjuga o conhecimento produzido por outros corpos políticos, situação por ele denominada de
geopolítica do conhecimento. Esse monopólio gera estruturas e instituições que produzem o
racismo/sexismo epistêmico, desqualificando outros conhecimentos e outras vozes críticas
frente aos projetos imperiais/coloniais/patriarcais que regem o sistema-mundo”
(GROSFOGUEL, 2016, p. 25).
Referida dinâmica é também salientada por Palermo (2019, p. 93-94), ao explicitar que
o colonialismo “nega contemporaneidade às sociedades que não respondem ao paradigma
ocidental [...], deixando-as no estatuto de primitivas, bárbaras, incapazes de produzir qualquer
forma de conhecimento”, e por Spivak (2010, p. 48), autora que muito dialoga com a
decolonialidade, a qual denuncia o chamado conhecimento subjugado.
Dessa feita, o colonialismo aliou a destruição de seres humanos à destruição de
conhecimentos (GROSFOGUEL, 2016, p. 26), fenômeno denominado de epistemicídio por
Santos (2009), quando de seu estudo sobre as Epistemologias do Sul, compreendido como um
O autor, assim como outros expoentes da decolonialidade, dialoga com Wallerstein (1999), especialmente no que
tange à noção de sistema-mundo, a qual fornece uma outra perspectiva à análise do desenvolvimento social, não
mais baseado em sociedades separadas, como estruturas autônomas, mas sim em uma ampla gama de inter-relações
mundiais, denominada sistema-mundo.
A autora defende a necessidade de “medir os silêncios” (SPIVAK, 2010, p. 64), ideia presente na denúncia
decolonial sobre a classificação dos povos por meio da noção de raça, a qual promoveu “um processo de
dissimulação, esquecimento e silenciamento de outras formas de conhecimento que dinamizavam outros povos e
sociedades” (BERNARDINO-COSTA; GROSFOGUEL, 2016, p. 18).
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 8
fascismo epistemológico, responsável pela “conversão forçada e a supressão dos
conhecimentos não ocidentais levadas a cabo pelo colonialismo europeu e que continuam hoje
sob formas nem sempre mais sutis” (SANTOS, 2008, p. 28).
Para Grosfoguel (2011), os epistemicídios devem, portanto, ser vistos de forma
interconectada, como partes constitutivas do sistema mundo-capitalista, patriarcal, ocidental,
cristão, moderno e colonialista
. Em suas obras, ademais, o mesmo autor identifica e relaciona
alguns epistemicídios
:
[...] a conquista das Américas no século XVI estendeu o processo de
genocídio/epistemicídio que teve início com a conquista de Al-Andalus para
novos sujeitos, tais como povos indígenas e africanos, ao mesmo tempo em
que estimulou a nova lógica racial de genocídio/epistemicídio por parte dos
cristãos contra os judeus e os muçulmanos na Espanha (GROSFOGUEL,
2016, p. 41).
Retomando o diálogo promovido por Yehia (2007) entre a TAR e a perspectiva
decolonial, iniciado em item anterior, faz-se pertinente evidenciar que a performatividade
,
elemento central daquela vertente teórica, supõe a suspensão da lógica modernista, de suas
categorias e das hierarquias do poder/conhecimento. Todas estas são privadas da autoridade
que lhes foi dada pela modernidade (YEHIA, 2007, p. 96). Nas palavras de Latour (2019, p.
59), "quanto mais a ciência é absolutamente pura, mais se encontra intimamente ligada à
construção da sociedade", sendo necessário, assim, superar simultaneamente as "Duas Grandes
Divisões" explicitadas em item anterior, de modo que não mais se acredite na distinção radical
de humanos e não-humanos e "na superposição total dos saberes e das sociedades entre os
outros" (LATOUR, 2019, p. 127).
Para a autora, assim, “enquanto a TAR aborda as estruturas de poder tornando-as
obsoletas por meio da prática, a perspectiva decolonial como tomaram forma as próprias
Faz-se pertinente citar Marisol de la Cadena (2018), autora peruana que se debruça, valendo-se de premissas
outras, do estudo dos modos de vidas distintos, bem como dessa relação moderna que gera conflitos, por ela
classificados como ontológicos. Em sua análise, sugere a existência de uma condição denominada Antropo-cego,
em um jogo de palavras com a conhecida era geológica Antropoceno. Aquele seria a situação em que mundos
heterogêneos, que não se valem da lógica moderna de separação ontológica entre humanos e não humanos, são
obrigados a operar com essa distinção, embora com ela conflitem e acabem por ainda assim excedê-la.
Grosfoguel (2016, p. 41) ainda identifica e relaciona um quarto epistemicídio, qual seja, "o da conquista e do
genocídio das mulheres que transmitiam o conhecimento indo-europeu nos territórios europeus [...] responsáveis
por resguardarem um conhecimento ancestral".
Callon (2009, p. 384), autor que trabalha sob a perspectiva da TAR, salienta como as ciências em geral,
particularmente as sociais, “possuem papel ‘coperformativo’, contribuindo ativamente para instaurar a realidade
que elas mesmas analisam”. Isso quer dizer que a investigação e a realidade se produzem mutuamente (YEHIA,
2007, p. 95) e que a realidade é múltipla, pois a ontologia é “feita” (performada ou atuada) nessas práticas (MOL,
2002).
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 9
estruturas de poder” (YEHIA, 2007, p. 96, tradução do autor). De qualquer forma, ambas
permitem desmascarar mecanismos através dos quais são manifestadas a retórica da
modernidade e a lógica da colonialidade, responsáveis pela subalternização sistemática dos
outros conhecimentos (YEHIA, 2007, p. 105).
A lógica temporal e do progresso moderna também é abordada pela TAR. Segundo
Latour (2019, p. 86), os modernos compreendem o tempo como algo que abolisse o passado
antes dele - uma flecha irreversível. Nesse sentido, a modernização, de forma semelhante ao
explicitado pela crítica decolonial, partiria do pressuposto de hierarquização de culturas e de
conhecimentos, consistindo na saída de uma idade das trevas, que misturava as necessidades da
sociedade com a verdade científica, "para entrar em uma nova idade que irá, finalmente,
distinguir de forma clara aquilo que pertence à natureza intertemporal e aquilo que vem dos
humanos" (LATOUR, 2019, p. 90).
Inserido nesse panorama até agora delineado, Lander (2000, p. 26) sugere a noção de
Colonialidade do Saber, por meio da qual pretende evidenciar a articulação dos saberes das
ciências a formas de domínio colonial e neocolonial, visando demonstrar que isso não guarda
relação somente com o passado, assumindo ainda hoje papel central no domínio imperial e
neocolonial do presente. Em decorrência disso, o autor aponta a necessária busca pela superação
dos discursos eurocêntricos e universalistas do saber ocidental.
Referida necessidade é defendida também por Escobar (2003, p. 53), de modo a
promover a intervenção na discursividade própria das ciências modernas, a fim de configurar
“outro espaço para a produção de conhecimento uma forma distinta de pensamento, um
paradigma outro, a possibilidade de falar sobre mundos e conhecimentos de outro modo”.
Palermo (2019, p. 157, tradução do autor) também sublinha a necessidade de se perceber “o
projeto moderno como uma construção, uma ‘invenção’ do poder que hegemoniza, o colocando
em paridade e em contraste com outras formas de conhecer”.
Diante de tal necessidade, Enrique Dussel propõe a Transmodernidade, como um
projeto fundado na diversidade epistêmica, de modo a decolonizar e despatrializar as relações,
não mais centradas nas epistemologias eurocêntricas e dominantes (GROSFOGUEL, 2016, p.
44). Nas palavras do autor da proposta:
Quando falo de Transmodernidade, estou me referindo a um projeto global
que procura transcender a modernidade europeia ou norte-americana. É um
projeto que não é pós-moderno, uma vez que a pós-modernidade é uma crítica
ainda incompleta da Modernidade pela Europa e América do Norte. Em vez
disso, a Transmodernidade é uma tarefa que é, no meu caso, expressa
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 10
filosoficamente, cujo ponto de partida é o que foi descartado, desvalorizado e
julgado inútil entre culturas globais, incluindo filosofias colonizadas ou
periféricas. Este projeto envolve o desenvolvimento do potencial das culturas
e filosofias que foram ignoradas, a seus próprios recursos, em diálogo
construtivo com a Modernidade europeia e norte-americana (DUSSEL, 2008,
p. 19, tradução do autor).
Assim, trata-se a Transmodernidade do “reconhecimento da diversidade epistêmica sem
o relativismo epistêmico” e da “necessidade de um projeto global compartilhado contra o
capitalismo, o patriarcado, o imperialismo e o colonialismo”, (GROSFOGUEL, 2016, p. 45),
promovendo um “Pluriverso Transmoderno” (DUSSEL, 2008, p. 1, tradução do autor), um
projeto de libertação no qual o Outro também se realiza, mas de maneira transcendente, em que
tanto a Modernidade quanto sua Alteridade negada se correalizam (DUSSEL, 2005, p. 31).
Por sua vez, Santos (2008, p. 1) propõe as Epistemologias do Sul, visando à
"recuperação dos saberes e práticas dos grupos sociais que, por via do capitalismo e do
colonialismo, foram histórica e sociologicamente postos na posição de serem tão objeto ou
matéria-prima dos saberes dominantes".
Para tanto, o autor lusitano elege como um dos conceitos centrais de sua proposta a
Ecologia dos Saberes, compreendida como o reconhecimento da pluralidade de saberes no
mundo, de modo que o "saber só existe como pluralidade de saberes, tal como a ignorância
existe como pluralidade de ignorâncias" (SANTOS, 2006, p. 27).
O desafio, portanto, é o de superar esse paradigma do pensamento único, a fim de se
“indagar em outros saberes, outras práticas, outros sujeitos, outros imaginários capazes de
conservar viva a chama de alternativas a esta ordem social de hegemonia do capital”
(LANDER, 2000, p. 42). Uma recuperação das Epistemologias do Sul, compreendidas como
as práticas e os saberes dos grupos sociais que foram subjugados pelos saberes dominantes,
considerados como os únicos válidos, de modo a incluir o máximo de experiências de
conhecimento de mundo (SANTOS, 2008, p. 11). Essa busca será aprofundada em item
seguinte, por meio da discussão da inovação tecnológica na perspectiva decolonial, em uma
reflexão com pretensão de ultrapassar referida hegemonia.
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 11
Inovação tecnológica na perspectiva decolonial
A explicitada busca pela superação do paradigma do pensamento único, imposição da
Colonialidade do Poder e do Saber, evidenciando outras formas de conhecer que foram
sistematicamente subjugadas e que podem se apresentar como alternativas à ordem hegemônica
do capital, necessita de uma reflexão sobre a própria relação entre a ciência, as inovações
(tecnológicas) e essa ordem do capital, em suas esferas colonial e neocolonial.
Referida submissão das formas de trabalho, dos recursos e de seus produtos foi
previamente sublinhada por Quijano (2005). Palermo (2019), por sua vez, trazendo o diálogo a
alguns aspectos ainda mais contemporâneos, como as inovações tecnológicas, apregoa que
todos os dispositivos se orientam a consolidar esse domínio, seja “o sistema de pensamento e,
essencialmente, a formação tanto escolarizada como a exercida pelo conjunto social, e
sobredeterminada hoje pela tecnologia” (PALERMO, 2018, p. 155, tradução do autor).
Nesse cenário, as inovações tecnológicas, compreendidas somente como aquelas
produzidas pelo lócus de enunciação científico que se autoidentifica como o “ocidente”
quando muito, passivamente importadas pelos “Outros”
-, reproduzem o “mito fáustico do
progresso infinito, do controle do planeta em suas dimensões naturais e humanas a favor
daqueles que detêm seu controle” (PALMERMO, 2018, p. 158, tradução do autor).
Lander (2005, p. 17) explicita essa lógica, na qual “a ciência e a tecnologia são
concebidas não apenas como base do progresso material, mas como a origem da direção e do
sentido do desenvolvimento”. Dessa maneira, apenas as formas de conhecimento chanceladas
pelo processo moderno e poder hegemônico são consideradas apropriadas aos planos de
desenvolvimento, quais sejam, aquelas originárias de especialistas, formados na tradição
ocidental (ESCOBAR, 1995).
Toda a ciência e os cientistas acabam submetidos a essa lógica. Nas palavras de Krenak
(2019, p. 31), “[...] acabaram os cientistas. Toda pessoa que seja capaz de trazer uma inovação
nos processos que conhecemos é capturada pela máquina de fazer coisas, da mercadoria”. Urge,
assim, a necessidade de se pensar a tecnologia e as inovações para além dos processos
monetizados e da colonialidade do poder e do saber intrínseca a essa relação.
Por meio de objetos de estudo um pouco distintos, Svampa (2016) e Gudynas (2012) também abordam a relação
entre a ciência e o neocolonialismo, especialmente em suas denúncias ao extrativismo neodesenvolvimentista, que
são por eles identificados na América Latina nas últimas décadas.
Spivak (2010, p. 68) também tece alguns comentários a respeito dessa situação, a qual ela trata como conservação
da divisão internacional do trabalho, a atrelando à ideologia do consumismo e à terceirização do trabalho - que
também é do trabalho intelectual.
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 12
Nesse tocante, faz-se interessante pontuar o conceito de Economia do Conhecimento,
melhor desenvolvido por Stengers (2015, s.n.), compreendido como a reorientação das políticas
de pesquisa pela parceria com a indústria, erigida a papel fundamental nos financiamentos de
pesquisa. A autora denuncia como que isso, na prática, “significa dar à indústria o poder de
dirigir diretamente a pesquisa e ditar seus critérios de êxito (o registro de patentes,
notadamente)”.
Retomando, pela derradeira vez, preceitos atinentes à Teoria Ator-Rede, os colocando
em diálogo com a questão e perspectiva em análise, faz-se importante ressaltar que aquela
vertente teórica muito se debruça sobre o fazer ciência e inovação por meio das dinâmicas das
redes e de seus actantes. Isso gera algumas consequências, dentre elas o reconhecimento do fato
de que a inovação é um processo coletivo, sobre o qual ninguém conhece o destino, visto que
“de fato não há origem, pois o sucesso depende das adaptações e das transformações feitas por
todos aqueles que se apoderam da inovação” (CALLON, 2004, p. 72).
Baseando-se neste modelo em rede, a própria adoção de uma inovação é vista como um
processo, no qual ocorrem adaptações e compromissos sociotécnicos. É a circulação da
inovação que cria o que Callon (2004, p. 71) chama de uma rede sociotécnica, ou seja, um
“conjunto de atores que, participando de uma maneira ou de outra, no mais das vezes de maneira
modesta, à concepção, à elaboração e à adaptação da inovação, se veem partilhar um mesmo
destino.”
Progressivamente, os interesses, projetos e ações dos atores, humanos e não-humanos,
são ajustados e coordenados, de modo que para cada inovação não é possível se determinar sua
origem, “pois o sucesso depende das adaptações e das transformações feitas por todos aqueles
que se apoderam” (CALLON, 2004, p. 72). Em sentido semelhante, Latour (2000, p. 53) afirma
que “a construção de fatos e máquinas é um processo coletivo.”
Isso confere a todos os atores da rede possibilidades de escolhas estratégicas. Porém,
ainda mais importante, salienta, reforçando questões tratadas pela própria decolonialidade,
como a ciência e as inovações não são puras e neutras, carregando e sendo carregadas por
influências outras, provenientes dos âmbitos sociais e econômicos, especialmente de seus
poderes hegemônicos.
Dessa feita, a perspectiva decolonial, enriquecida com reflexões outras que podem
muito colaborar com a análise, nos permite repensar o tema das inovações tecnológicas, as
vinculando com o próprio contexto colonial e neocolonial, forjado na Colonialidade do Poder
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 13
e do Saber, e na sua relação com a hegemonia do mercado, ditando os passos da própria
definição do que é uma inovação, e de quem pode produzi-la ou tão somente acatá-la.
Considerações finais
Por meio do presente trabalho, se repensou a ciência e a inovação tecnológica por meio
de reflexões diversas elaboradas por expoentes da perspectiva decolonial. Para tanto, foram
mobilizados preceitos elementares da corrente, tais como Colonialidade do Poder,
Colonialidade do Saber, epistemicídio, Transmodernidade e Epistemologias do Sul, sendo
evidenciadas questões sobre o fazer ciência e o promover inovações vinculados ao paradigma
hegemônico moderno.
Visando enriquecer o debate, ademais, foram promovidas algumas observações e
aproximações pontuais com vertentes teóricas outras, tais como a TAR, a pós-TAR e
antecessores decoloniais. A promoção desses diálogos aprofundou a análise crítica,
especialmente no que tange às críticas à modernidade e aos modelos científico e de
desenvolvimento hegemônicos.
Assim, firmou-se nova compreensão a respeito do marco inicial da modernidade, o
ressituando na Conquista da América. Nesse momento, se origina a construção do "Outro" pela
episteme europeia, surgindo como a primeira identidade moderna, oriunda da classificação das
diferenças entre conquistadores e conquistados na ideia de raça, elemento chave da chamada
Colonialidade do Poder.
Essa conformação colonial do mundo entre ocidental/europeu, eleito ao posto de
moderno ou avançado, e o restante dos povos e culturas do planeta, erigiu a Europa como centro
geográfico e a linha de chegada do próprio movimento temporal, reimaginado pela
modernidade na ideia de progresso.
O novo padrão mundial de poder, assim, produziu uma perspectiva de conhecimento e
um modo de produzir conhecimento a ele atinente. Nesse cenário, o fazer ciência passou a ser
compreendido de maneira determinista, pretensamente objetiva e neutra, sendo considerada o
único conhecimento válido e, dessa forma, universal.
Decorrente dessa pretensão de universalidade, a destruição de seres humanos levada a
cabo pelo colonialismo agregou-se à destruição de seus conhecimentos, fenômeno abordado
como epistemicídio. Superada essa questão, tomou-se como objetivo a evidenciação de formas
distintas de pensamento que permitam falar sobre mundos e conhecimentos de outro modo, em
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 14
uma verdadeira tentativa de denúncia da Colonialidade do Saber, sendo sugeridas as noções e
os projetos da Transmodernidade e das Epistemologias do Sul, apresentando seus elementos e
questões centrais.
Outrossim, atrelada às reflexões até então desenvolvidas, a questão da inovação
tecnológica foi melhor detalhada, na busca pelo relevo a outras formas de conhecer que foram
sistematicamente subjugadas e que podem, munidas das reflexões críticas realizadas, se
apresentar como alternativas à ordem hegemônica do capital, a qual reconhece como inovações
tão somente aquelas produzidas pelo “ocidente”, restando aos "Outros" apenas acatá-las.
Isso posto, concluiu-se pela necessidade de se repensar e cessar a reprodução do mito
do progresso infinito e do controle do planeta, que submete o conhecimento, a ciência e as
inovações ao mercado.
REFERÊNCIAS
BERNARDINO-COSTA, J.; GROSFOGUEL, R. Decolonialidade e perspectiva negra.
Revista Sociedade e Estado, [S. l.], v. 31, n. 1, jan/abr 2016.
CADENA, M. Natureza incomum: histórias do antropo-cego. Revista do Instituto de
Estudos Brasileiros, [S. l.], v. 69, p. 95-117, 2018.
CALLON, M. A cooperformação das ciências e da sociedade: entrevista com Michel Callon.
Revista Política & Sociedade, [S. l.], n. 14, abr. 2009.
CALLON, M. Por uma nova abordagem da ciência, da inovação e do mercado: o papel das
redes sócio-técnicas. In: PARENTE, A. (org.). A trama da rede. Porto Alegre: Sulina, 2004.
DUSSEL, E. A new age in the history of philosophy: the world dialogue between
philosophical traditions. Prajña Vihâra, [S. l.], v. 9, n. 1, jan./jun. 2008.
DUSSEL, E. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: LANDER, E. (coord.). Ciências
sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. Buenos Aires: CLACSO, set. 2005.
ESCOBAR, A. Mundos y conocimientos de outro modo: el programa de investigacion
modernidad/colonialidad latino americano. Tabula Rasa, [S. l.], n. 1, jan./dez. 2003.
FANON, F. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1968.
GROSFOGUEL, R. Decolonizing post-colonial studies and paradigms of political-economy:
transmodernity, decolonial thinking and global coloniality. Transmodernity: Journal of
Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World, [S. l.], v. 1, n. 1, 2011.
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 15
GROSFOGUEL, R. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas:
racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI.
Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, jan-abr. 2016.
GUDYNAS, E. O novo extrativismo progressista na América do Sul: teses sobre um velho
problema sob novas expressões In: Enfrentando os limites do crescimento: Sutentabilidade,
decrescimento et prosperidade [en ligne]. Marseille : IRD Éditions, 2012.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LANDER, E. ¿Conocimiento para qué? ¿Conocimiento para quién? Reflexiones sobre la
universidad y la geopolítica de los saberes hegemónicos. Estudios Latinoamericanos, [S. l.],
v. 7, n. 12-13, jan. 2000.
LANDER, E. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. In: A colonialidade do
saber. Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. São Paulo:
CLACSO, 2005.
LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. 1. ed. Rio de
Janeiro: Ed. 34, 1994.
LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo: Editora Unesp, 2000.
LATOUR, B. Reagregando o social. Salvador: Edufba, 2012.
LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. 4. ed. Rio de
Janeiro: Ed. 34, 2019.
LATOUR, B. Onde aterrar? PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 14, p. 100-109, 2020.
MOL, A. The body multiple: ontology in medical practice. Londres: Duke University Press,
2002.
MUÑOZ, K. O. (Re)pensar el Derecho y la noción del sujeto indio(a) desde una mirada
descolonial. Revista Internacional de Comunicación y Desarrollo, [S. l.], v. 4, 2016.
PALERMO, Z. Lugarizando Saberes. Cadernos de Estudos Culturais, Campo Grande, MS,
v. 2, jul./dez. 2018.
PALERMO, Z. Alternativas locais ao globocentrismo. Revista Epistemologias do Sul.
Dossiê: Giro decolonial II Gênero, raça, classe e geopolítica do conhecimento. v. 3 n. 2. 2019.
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E.
(org). A colonialiadde do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: CLACSO,
set. 2005.
SAID, E. W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução Tomás Rosa
Bueno. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1990.
Repensando a ciência e a inovação: uma análise pela perspectiva decolonial em diálogo com a teoria ator-rede
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 16
SANTOS, B. S. A filosofia à venda, a douta ignorância e a aposta de Pascal. Revista Crítica
de Ciências Sociais, [S. l.], v. 80, mar. 2008.
SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar?. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
STENGERS, I. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo:
Cosac Naify, 2015.
SVAMPA, M. Extrativismo neodesenvolvimentista e movimentos sociais. Um giro
ecoterritorial rumo a novas alternativas? In: DILGER, G.; LANG, M. L.; PEREIRA FILHO,
J. (org.). Descolonizar o imaginrio. Debates sobre pós-extrativismo e alternativas ao
desenvolvimento. Fundação Rosa Luxenburgo: Elefante Editora, 2016.
WALLERSTEIN, I. Impensar las ciencias sociales: límites de los paradigmas
decimonónicos. 2. ed. Ciudad de México: Siglo Ventiuno Editores, 1999.
WALSH, C. Interculturalidad y (de)colonialidad: diferencia y nación de otro modo. In:
Desarollo e interculturalidad, imaginario y diferencia: la nación en el mundo andino.
Quito: Academia de la Latinidad, 2006.
WALSH, C.; GARCÍA, J. El pensar del emergente movimiento afroecuatoriano: Reflexiones
(des)de un proceso. In: MATO, D. (Comp.) Estudios y otras prácticas intelectuales
latinoamericanas em cultura y poder. Caracas, Venezuela: CLACSO, Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2002.
YEHIA, E. Descolonización del conocimiento y la práctica: un encuentro dialógico entre el
programa de investigación sobre modernidad /colonialidad/decolonialidad latinoamericanas y
la teoría actor-red. Tabula Rasa, [S. l.], n. 6, 2007.
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 17
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não se aplica.
Financiamento: Não se aplica.
Conflitos de interesse: não há conflito de interesse.
Aprovação ética: Respeitou, porém não passou por comitê de ética, pois se trata somente
de revisão de literatura.
Disponibilidade de dados e material: A pesquisa não abrangeu estudo de caso ou ida a
campo, não sendo gerados dados próprios. As referências bibliográficas (e os links de
acesso, quando disponíveis), foram todos indicados no próprio artigo.
Contribuições dos autores: Autor único.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 1
RETHINKING SCIENCE AND INNOVATION: AN ANALYSIS THROUGH THE
DECOLONIAL PERSPECTIVE IN DIALOGUE WITH THE ACTOR-NETWORK
THEORY
REPENSANDO A CIÊNCIA E A INOVAÇÃO: UMA ANÁLISE PELA PERSPECTIVA
DECOLONIAL EM DIÁLOGO COM A TEORIA ATOR-REDE
REPENSANDO LA CIENCIA Y LA INNOVACIÓN: UN ANÁLISIS POR LA
PERSPECTIVA DECOLONIAL EN DIÁLOGO CON LA TEORÍA ACTOR-RED
Murilo Henrique GARBIN1
e-mail: murilo.garbin@unidep.edu.br
How to reference this article:
GARBIN, M. H. Rethinking science and innovation: An analysis
through the decolonial perspective in dialogue with the actor-
network theory. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00,
e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718. DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909
| Submitted: 06/07/2022
| Required revisions: 29/09/2023
| Approved: 15/10/2023
| Published: 30/12/2023
Editor:
Profa. Dra. Maria Chaves Jardim
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
University Center of Pato Branco (UNIDEP), Pato Branco PR Brazil. Master's Degree in Regional
Development from the Federal Technological University of Paraná (UTFPR). Bachelor of Laws from the Federal
University of Paraná. Professor of Intellectual Property, Digital Law and Business Law on the Bachelor of Laws
course.
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 2
ABSTRACT: The article proposes, using literature review, to rethink science and innovation
through the decolonial perspective, dialoguing with the Actor-Network Theory. Reframing the
beginning of modernity in the Conquest of America, it highlights the constitution of the first
modern identity, coming from the classification between conquerors and conquered in the idea
of race. In this scenario, the making of science becomes deterministically understood,
supposedly objective and neutral, as the only valid knowledge. Thus, the objective is to reflect
on the discursiveness of modern sciences, giving voice to different forms of knowledge. An
attempt to denounce the Coloniality of Knowledge, suggesting the notions and projects of
Transmodernity and Epistemologies of the South. It is concluded that these other forms of
knowledge can be presented as alternatives to the hegemonic order of capital, which reproduces
the myth of infinite progress and control of the planet, submitting knowledge and innovations
to the market.
KEYWORDS: Decoloniality. Science. Technology. Innovation. Actor-network theory
RESUMO: O artigo propõe, por meio de revisão de literatura, repensar a ciência e a inovação
através da perspectiva decolonial, dialogando com a Teoria Ator-Rede. Ressituando o início
da modernidade na Conquista da América, evidencia-se a constituição da primeira identidade
moderna, oriunda da classificação entre conquistadores e conquistados na ideia de raça. Nesse
cenário, o fazer ciência passa a ser compreendido deterministicamente, pretensamente objetivo
e neutro, como único conhecimento válido. Dessa forma, se objetiva refletir sobre a
discursividade das ciências modernas, dando voz a formas distintas de conhecimento. Uma
tentativa de denúncia da Colonialidade do Saber, sendo sugeridas as noções e os projetos da
Transmodernidade e das Epistemologias do Sul. Conclui-se que essas outras formas de
conhecer podem se apresentar como alternativas à ordem hegemônica do capital, a qual
reproduz o mito do progresso infinito e do controle do planeta, submetendo o conhecimento e
as inovações ao mercado.
PALAVRAS-CHAVE: Decolonialidade. Ciência. Tecnologia. Inovação. Teoria ator-rede.
RESUMEN: El artículo propone, por medio de revisión de literatura, repensar la ciencia y la
innovación a través de la perspectiva decolonial, dialogando con la Teoría Actor-Red.
Resignándose el inicio de la modernidad en la Conquista de América, se evidencia la
constitución de la primera identidad moderna, oriunda de la clasificación entre conquistadores
y conquistados en la idea de raza. En ese escenario, el hacer ciencia pasa a ser comprendido
determinísticamente, supuestamente objetivo y neutro, como único conocimiento válido. De
esta forma, se objetiva reflexionar sobre la discursividad de las ciencias modernas, dando voz
a formas distintas de conocimiento. Un intento de denuncia de la Colonialidad del Saber,
siendo sugeridas las nociones y los proyectos de la Transmodernidad y de las Epistemologías
del Sur. Se concluye que esas otras formas de conocer pueden presentarse como alternativas
al orden hegemónico del capital, la cual reproduce el mito del progreso infinito y del control
del planeta, sometiendo el conocimiento y las innovaciones al mercado.
PALABRAS CLAVE: Decolonialidad. Ciencia. Tecnología. Innovación. Teoría actor-red.
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 3
Introduction
This article sets out to rethink science and technological innovation through various
reflections by exponents of the decolonial perspective. To this end, the study uses a literature
review to make the critical analysis possible.
The aim is to mobilize elementary precepts of the current - and of thinkers who dialogue
with it - such as Coloniality of Power, Coloniality of Knowledge, epistemicide, Transmodernity
and Epistemologies of the South, in order to highlight issues related to doing science and
promoting innovations linked to the modern hegemonic paradigm.
In addition, in order to enrich the debate, reflections and approaches will be made to
other theoretical strands capable of dialoguing and contributing to the analysis in question, such
as exponents of Actor-Network Theory (ANT), post-ANT authors and decolonial predecessors.
With this in mind, we will first try to understand the starting point of modernity as no
longer being the Enlightenment or the end of the 18th century, but rather the Conquest of
America, when the construction of the "Other" by the European episteme began. This is
considered to be the first modern identity, stemming from the classification of differences
between conquerors and conquered in the idea of race.
Still linked to this first scope, an attempt will be made to explain the colonial
conformation of the world between the West/Europe, elected to the position of modern or
advanced, and the rest of the planet's peoples and cultures. Europe is thus erected as the
geographical center and finish line of the temporal movement itself, reimagined by modernity
in the idea of progress.
It will then endeavor to show how this global pattern of power, known as the Coloniality
of Power, has produced a perspective of knowledge and a way of producing knowledge related
to it. In this scenario, doing science comes to be understood solely in a deterministic way, whose
claims to objectivity and neutrality are questioned by decoloniality, which is the subject of this
study.
It will thus be a work of denouncing science as the only valid and rigorous knowledge,
which in this way proclaims its own universality derived from Eurocentrism. The destruction
of human beings is combined with the destruction of their knowledge, a phenomenon that will
be treated as epistemicide.
To this end, the aim will be to promote an intervention in the discursive nature of the
modern sciences, so that different forms of thought can be developed and/or given a voice,
making it possible to talk about worlds and knowledge in a different way. An attempt will be
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 4
made to denounce the Coloniality of Knowledge, suggesting the notions and projects of
Transmodernity and Epistemologies of the South.
Finally, linked to the reflections developed so far, it will delve more specifically into
the issue of technological innovation, with the aim of highlighting other ways of knowing that
have been systematically subjugated and that can be presented as alternatives to the hegemonic
order of capital, which recognizes as innovations only those produced by the "West",
reproducing the myth of infinite progress and control of the planet, submitting knowledge,
science and innovations to the market.
The coloniality of power
The decolonial perspective is based on reflecting on alternatives to the exclusionary and
unequal structure of the modern world, by deconstructing the universal and natural character of
capitalist-liberal society (LANDER, 2005, p. 7).
To this end, some basic notions have been developed and attributed to it, among which
the Coloniality of Power stands out. This is a notion that promotes the so-called decolonial turn,
which argues that coloniality is a constituent of modernity, and that there is no modernity
without the former (ESCOBAR, 2003, p. 61; BERNARDINO-COSTA; GROSFOGUEL, 2016,
p. 17). As a result, we come to understand that the starting point of modernity is the Conquest
of America, and not the subsequent Enlightenment or the end of the 18th century, as is
commonly claimed, since it is at this moment that the construction of the "Other" by the
European episteme originates (PALERMO, 2019, p. 92).
According to Quijano (2005, p. 117), one of the main exponents of decoloniality, it is
through this conquest that America is constituted as the first identity of modernity, through two
historical processes, namely the classification of the differences between conquerors and
conquered in the idea of race and the association of the historical forms of control of labor, its
resources and its products around capital and the world market.
This led to the colonial conformation of the world between the West/Europeans, elected
to the position of modern or advanced, and the rest of the peoples and cultures of the planet
(LANDER, 2005, p. 9). In the words of Muñoz (2016, p. 58), these processes created the
paradox of modernity, which, on the one hand, excludes from the notion of subject those it
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 5
considers to be barbaric and uncivilized, while at the same time demanding that this "Other"
recognize and accept its legal order and ethical values.
This dichotomy of humans/moderns and "Others" is also denounced, in a similar vein,
by authors from other perspectives who are very much in dialogue with and mobilized by
decoloniality. Among them are Fanon (1968, p. 30-31), who highlights the Manichaeism of the
colonial world, which dehumanizes the colonized, Spivak (2010, p. 47), in his denunciations of
colonial epistemic violence, which transforms the colonial subject into an "Other", and Said
(1990), who highlights the process of construction of the "Orient" by the "Occident", a notion
that likewise distinguishes Europeans from the "Others".
This scenario has also produced other equally important conceptions, leading, for
example, to a new perception of historical change. This is highlighted by Quijano (2005, p. 125)
as the lie of the concept of modernity, since, from America onwards, a new space/time was
constituted, which re-situated "the colonized peoples, as well as their respective histories and
cultures, in the past of a historical trajectory whose culmination was Europe" (QUIJANO, 2005,
p. 121, our translation). Through this narrative, Europe is simultaneously erected as the
geographical center and the finish line of the temporal movement itself (LANDER, 2005, p. 9).
Reinforcing the idea that modernity is a project that began at the time of the Conquest
of the Americas, Yehia (2007, p. 97) points out that it was at this time that its binaries began to
crystallize. To delve deeper into these issues, the author promotes a fruitful dialog between the
decolonial perspective and some of the premises of Actor-Network Theory (ANT), which
deserves preliminary mention.
At this point, it is important to highlight some of the predicates of ANT as set out by
Latour (1994). The French author seeks to deconstruct the aforementioned founding binaries of
modernity, including the distinction between nature and culture/society and the dividing line
between subject and object, situated in opposing fields of human and non-human.
The exteriority hitherto attributed to objects, argue the authors of this approach, comes
not from an experimental fact, but - and only - from a political-scientific history aligned with a
certain conception of what "nature" would be in the Modern Constitution (LATOUR, 2020).
According to Latour (2012, p. 113), the definition of what is or is not an actor, a category
suggested by the ANT capable of encompassing both humans and non-humans, comes from
This elementary question is further explored by various authors in their specific studies, subjecting them to "case
analyses", such as Walsh and García (2002, n.d., our translation), who focus on the Afro-descendant peoples of
Ecuador, who "share a history characterized by symbolic, epistemic and structural violence, a violence that, in
both its overt and covert forms, is linked to processes of colonial and cultural disciplining".
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 6
what it does in a network, emphasizing, however, that the objective of the ANT is not to unite
subjects and objects, but rather to explain how the classic division into these two mutually
exclusive concepts is misplaced, stating that "there is no relationship between the 'material
world' and the 'social world', precisely because this division is a complete artifact" (our
translation).
In this sense, Latour (2019, p. 125, our translation) identifies "Two Great Divisions"
promoted by the Modern Constitution, one internal and the other external, with the first
separating society from nature (humans and non-humans), while the second promotes the
distinction between "Us" and "Them", understood as pre-modern, since they would not
recognize the first division. The author sees nature and society no longer as distinct poles, but
as a single production of "societies-cultures" - which he calls collectives (LATOUR, 2019, p.
175).
The dialog promoted by Yehia (2007) and other considerations about the relationship
between ANT and the decolonial perspective will be explored in depth in the following sections,
starting with the next one, dedicated to the debate on the coloniality of knowledge and the
geopolitics of knowledge.
Coloniality of knowledge and geopolitics of knowledge
Having explained some of the basic premises of decoloniality, especially by bringing
up the aforementioned Coloniality of Power, it is pertinent to deepen its analysis, investigating
its relationship with the idea of the hegemony of modern science and the subjugation of other
forms of knowledge.
Modernity "has produced a perspective of knowledge and a way of producing
knowledge that demonstrate the character of the global pattern of power" (QUIJANO, 2005, p.
126, our translation), understood as the process explained in the previous section. In this
scenario, doing science comes to be understood solely in a deterministic way, whose claims to
objectivity and neutrality must be questioned (LANDER, 2005, p. 7).
Lander (2005, p. 12) points out that the idea of modernity carries with it some basic
dimensions, among which is the necessary superiority, in relation to all other existing
knowledge, of that which the so-called modern society produces, giving it the quality of science.
This premise has turned this form of knowledge, concealed by the veil of scientificity, into the
only valid, objective and universal form of knowledge (LANDER, 2005, p. 13).
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 7
Similarly, Walsh (2006, p. 30) denounces this positioning of Eurocentrism and
Westernism as the sole model of knowledge, dismissing other world populations, such as
Africans and indigenous peoples, as intellectuals or producers of knowledge.
This is, according to Bernardino-Costa and Grosfoguel (2016, p. 18), the election of
Europe as the locus of global enunciation. In other words, as part of the new pattern of world
power, Europe has also hegemonically concentrated all forms of control over subjectivity,
culture, and especially the production of knowledge (QUIJANO, 2005, p. 121), under the
mantra of science as the only valid and rigorous knowledge (SANTOS, 2008, p. 14), which thus
proclaims its own universality derived from Europe's position as the center (ESCOBAR, 2003,
p. 60).
Grosfoguel (2016, p. 25) emphasizes this epistemic privilege of the "West", which
subjugates the knowledge produced by other political bodies, a situation he calls the geopolitics
of knowledge. This monopoly generates "structures and institutions that produce epistemic
racism/sexism, disqualifying other knowledges and other critical voices in the face of the
imperial/colonial/patriarchal projects that govern the world-system" (GROSFOGUEL, 2016, p.
25, our translation).
This dynamic is also highlighted by Palermo (2019, p. 93-94), who explains that
colonialism "denies contemporaneity to societies that do not respond to the Western paradigm
[...], leaving them in the status of primitive, barbaric, incapable of producing any form of
knowledge", and by Spivak (2010, p. 48, our translation), an author who is very much in
dialogue with decoloniality, who denounces so-called subjugated knowledge.
Colonialism thus combined the destruction of human beings with the destruction of
knowledge (GROSFOGUEL, 2016, p. 26), a phenomenon called epistemicide by Santos (2009)
in his study on the Epistemologies of the South, understood as epistemological fascism,
responsible for the "forced conversion and suppression of non-Western knowledge carried out
by European colonialism and which continues today in forms that are not always the most
subtle" (SANTOS, 2008, p. 28, our translation).
The author, like other exponents of decoloniality, dialogues with Wallerstein (1999), especially regarding the
notion of world-system, which provides another perspective for analyzing social development, no longer based on
separate societies, as autonomous structures, but rather on a wide range of global interrelationships, called the
world-system.
The author defends the need to "measure the silences" (SPIVAK, 2010, p. 64, our translation), an idea present in
the decolonial denunciation of the classification of peoples through the notion of race, which promoted "a process
of concealment, forgetting and silencing of other forms of knowledge that energized other peoples and societies"
(BERNARDINO-COSTA; GROSFOGUEL, 2016, p. 18, our translation).
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 8
For Grosfoguel (2011), epistemicides must therefore be seen in an interconnected way,
as constitutive parts of the capitalist, patriarchal, Western, Christian, modern and colonialist
world system
. In his works, the same author also identifies and lists some epistemicides
:
[...] the conquest of the Americas in the 16th century extended the process of
genocide/epistemicide that began with the conquest of Al-Andalus to new
subjects, such as indigenous peoples and Africans, while at the same time
stimulating the new racial logic of genocide/epistemicide by Christians
against Jews and Muslims in Spain (GROSFOGUEL, 2016, p. 41, our
translation).
Returning to the dialog promoted by Yehia (2007) between ANT and the decolonial
perspective, which began in the previous section, it is pertinent to point out that performativity
,
a central element of that theoretical strand, presupposes the suspension of modernist logic, its
categories and the hierarchies of power/knowledge. All of these are deprived of the authority
given to them by modernity (YEHIA, 2007, p. 96). In Latour's words (2019, p. 59, our
translation), "the more science is absolutely pure, the more it is intimately linked to the
construction of society", and it is therefore necessary to simultaneously overcome the "Two
Great Divisions" explained in the previous section, so that we no longer believe in the radical
distinction between humans and non-humans and "in the total superposition of knowledges and
societies between each other" (LATOUR, 2019, p. 127, our translation).
For the author, "while ANT addresses power structures by making them obsolete
through practice, the decolonial perspective looks at how power structures themselves have
taken shape" (YEHIA, 2007, p. 96, our translation). In any case, both make it possible to
unmask the mechanisms through which the rhetoric of modernity and the logic of coloniality
are manifested, responsible for the systematic subalternization of other knowledges (YEHIA,
2007, p. 105).
It is pertinent to mention Marisol de la Cadena (2018), a Peruvian author who, using different premises, studies
different ways of life, as well as this modern relationship that generates conflicts, which she classifies as
ontological. In her analysis, she suggests the existence of a condition called Anthropo-blind, in a play on words
with the well-known geological era Anthropocene. This would be the situation in which heterogeneous worlds,
which do not make use of the modern logic of ontological separation between humans and non-humans, are forced
to operate with this distinction, although they conflict with it and end up exceeding it.
Grosfoguel (2016, p. 41, our translation) also identifies and relates a fourth epistemicide, namely "the conquest
and genocide of the women who transmitted Indo-European knowledge in European territories [...] responsible for
safeguarding ancestral knowledge".
Callon (2009, p. 384, our translation), an author who works from the perspective of ANT, points out that the
sciences in general, particularly the social sciences, "play a 'co-formative' role, actively contributing to establishing
the reality that they themselves analyze". This means that research and reality are mutually produced (YEHIA,
2007, p. 95) and that reality is multiple, since ontology is "made" (performed or acted upon) in these practices
(MOL, 2002).
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 9
The modern logic of time and progress is also addressed by ANT. According to Latour
(2019, p. 86), moderns understand time as something that abolishes the past before it - an
irreversible arrow. In this sense, modernization, in a similar way to that explained by decolonial
critique, would start from the assumption of a hierarchy of cultures and knowledge, consisting
of leaving a dark age, which mixed the needs of society with scientific truth, "to enter a new
age that will finally distinguish clearly between what belongs to intertemporal nature and what
comes from humans" (LATOUR, 2019, p. 90, our translation).
Within this panorama outlined so far, Lander (2000, p. 26) suggests the notion of
Coloniality of Knowledge, through which he intends to highlight the articulation of scientific
knowledge with forms of colonial and neo-colonial domination, with the aim of demonstrating
that this is not only related to the past, but that it still plays a central role in the imperial and
neo-colonial domination of the present. As a result, the author points to the need to overcome
the Eurocentric and universalist discourses of Western knowledge.
This need is also defended by Escobar (2003, p. 53, our translation), in order to promote
intervention in the discursiveness of the modern sciences in order to configure "another space
for the production of knowledge - a different way of thinking, another paradigm, the possibility
of talking about worlds and knowledge in another way". Palermo (2019, p. 157, our translation)
also stresses the need to perceive "the modern project as a construction, an 'invention' of the
power that hegemonizes, placing it on a par with - and in contrast to - other ways of knowing".
Faced with this need, Enrique Dussel proposes Transmodernity, as a project based on
epistemic diversity, in order to decolonize and depatriarchalize relations, no longer centred on
Eurocentric and dominant epistemologies (GROSFOGUEL, 2016, p. 44). In the words of the
proposal's author:
When I talk about Transmodernity, I'm referring to a global project that seeks
to transcend European or North American modernity. It is a project that is not
postmodern, since postmodernity is a still incomplete critique of Modernity
by Europe and North America. Instead, Transmodernity is a task that is, in my
case, expressed philosophically, whose starting point is what has been
discarded, devalued and judged useless among global cultures, including
colonized or peripheral philosophies. This project involves developing the
potential of cultures and philosophies that have been ignored, at their own
resources, in constructive dialogue with European and North American
Modernity (DUSSEL, 2008, p. 19, our translation).
Transmodernity is thus about "recognizing epistemic diversity without epistemic
relativism" and the "need for a shared global project against capitalism, patriarchy, imperialism
and colonialism" (GROSFOGUEL, 2016, p. 45, our translation), promoting a "Transmodern
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 10
Pluriverse" (DUSSEL, 2008, p. 45, our translation), a liberation project in which the Other is
also realized, but in a transcendent way, in which both Modernity and its denied Otherness are
correlated (DUSSEL, 2005, p. 31).
For his part, Santos (2008, p. 1, our translation) proposes the Epistemologies of the
South, aimed at "recovering the knowledge and practices of social groups that, through
capitalism and colonialism, have been historically and sociologically placed in the position of
being only the object or raw material of dominant knowledge".
To this end, the Lusitanian author chooses as one of the central concepts of his proposal
the Ecology of Knowledges, understood as the recognition of the plurality of knowledges in the
world, so that "knowledge only exists as a plurality of knowledges, just as ignorance only exists
as a plurality of ignorances" (SANTOS, 2006, p. 27, our translation).
The challenge, therefore, is to overcome this paradigm of one-size-fits-all thinking, in
order to "investigate other knowledges, other practices, other subjects, other imaginaries
capable of keeping alive the flame of alternatives to this social order of capital hegemony"
(LANDER, 2000, p. 42, our translation). A recovery of the Epistemologies of the South,
understood as the practices and knowledge of social groups that have been subjugated by
dominant knowledge, considered to be the only valid knowledge, in order to include as many
experiences of world knowledge as possible (SANTOS, 2008, p. 11). This quest will be further
explored in the next section, by discussing technological innovation from a decolonial
perspective, in a reflection that aims to overcome this hegemony.
Technological innovation from a decolonial perspective
The explicit search to overcome the paradigm of the single thought, the imposition of
the Coloniality of Power and Knowledge, highlighting other ways of knowing that have been
systematically subjugated and that can present themselves as alternatives to the hegemonic
order of capital, requires a reflection on the very relationship between science, (technological)
innovations and this order of capital, in its colonial and neocolonial spheres.
This submission of forms of work, resources and their products has already been
highlighted by Quijano (2005). Palermo (2019), in turn, bringing dialogue to some even more
contemporary aspects, such as technological innovations, proclaims that all devices are aimed
Through somewhat different objects of study, Svampa (2016) and Gudynas (2012) also address the relationship
between science and neocolonialism, especially in their denunciations of neodevelopmentalist extractivism, which
they identify in Latin America in recent decades.
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 11
at consolidating this domain, be it “the system of thought and, essentially, both schooling and
as that exercised by the social group, and overdetermined today by technology” (PALERMO,
2018, p. 155, our translation).
In this scenario, technological innovations, understood only as those produced by the
locus of scientific enunciation that self-identifies as the “West” – at best, passively imported by
the “Others” – reproduce the “Faustian myth of infinite progress, of control of the planet in its
natural and human dimensions in favor of those who have control over it” (PALMERMO, 2018,
p. 158, our translation).
Lander (2005, p. 17, our translation) explains this logic, in which “science and
technology are conceived not only as the basis of material progress, but as the origin of the
direction and meaning of development”. In this way, only the forms of knowledge endorsed by
the modern process and hegemonic power are considered appropriate for development plans,
that is, those originating from specialists, trained in the Western tradition (ESCOBAR, 1995).
All science and scientists end up subjected to this logic. In the words of Krenak (2019,
p. 31), “[...] the scientists are finished. Every person who is capable of bringing an innovation
to the processes we know is captured by the machine for making things, the commodity”.
Therefore, there is an urgent need to think about technology and innovations beyond monetized
processes and the coloniality of power and knowledge intrinsic to this relationship.
In this regard, it is interesting to highlight the concept of Knowledge Economy, best
developed by Stengers (2015, s.n., our translation), understood as the reorientation of research
policies through partnership with industry, given a fundamental role in research financing. The
author denounces how this, in practice, “means giving industry the power to directly direct
research and dictate its success criteria (patent registration, notably)”.
Resuming, for the last time, precepts relating to Actor-Network Theory, placing them
in dialogue with the question and perspective under analysis, it is important to highlight that
that theoretical aspect focuses heavily on doing science and innovation through the dynamics
of networks and its actants. This generates some consequences, among them the recognition of
the fact that innovation is a collective process, about which no one knows the destination, since
“in fact there is no origin, as success depends on the adaptations and transformations made by
all those that take control of innovation” (CALLON, 2004, p. 72, our translation).
Based on this network model, the adoption of an innovation itself is seen as a process,
in which adaptations and socio-technical compromises occur. It is the circulation of innovation
that creates what Callon (2004, p. 71, our translation) calls a sociotechnical network, that is, a
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 12
“set of actors who, participating in one way or another, most often in a modest way, to
conception, elaboration and adaptation of innovation, they see themselves sharing the same
destiny”.
Progressively, the interests, projects and actions of actors, human and non-human, are
adjusted and coordinated, so that for each innovation it is not possible to determine its origin,
“since success depends on the adaptations and transformations made by all those that take over”
(CALLON, 2004, p. 72, our translation). In a similar sense, Latour (2000, p. 53, our translation)
states that “the construction of facts and machines is a collective process”.
This gives all actors in the network possibilities for strategic choices. However, even
more important, he highlights, reinforcing issues already addressed by decoloniality itself, such
as science and innovations are not pure and neutral, carrying and being carried by other
influences, coming from social and economic spheres, especially from their hegemonic powers.
This time, the decolonial perspective, enriched with other reflections that can greatly
contribute to the analysis, allows us to rethink the theme of technological innovations, linking
them with the colonial and neocolonial context itself, forged in the Coloniality of Power and
Knowledge, and in its relationship with market hegemony, dictating the steps of the very
definition of what an innovation is, and who can produce it or just accept it.
Final considerations
Through this work, science and technological innovation were rethought through
diverse reflections elaborated by exponents of the decolonial perspective. To this end,
elementary current precepts were mobilized, such as Coloniality of Power, Coloniality of
Knowledge, epistemicide, Transmodernity and Epistemologies of the South, highlighting
questions about doing science and promoting innovations linked to the modern hegemonic
paradigm.
In order to enrich the debate, in addition, some specific observations and approaches
were promoted with other theoretical aspects, such as ANT, post-ANT and decolonial
predecessors. The promotion of these dialogues deepened critical analysis, especially with
regard to criticisms of modernity and hegemonic scientific and development models.
Thus, a new understanding was established regarding the initial milestone of modernity,
relocating it to the Conquest of America. At that moment, the construction of the "Other" by
the European episteme began, emerging as the first modern identity, arising from the
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 13
classification of differences between conquerors and conquered in the idea of race, a key
element of the so-called Coloniality of Power.
This colonial conformation of the world between Western/European, elected to the
position of modern or advanced, and the rest of the peoples and cultures of the planet, erected
Europe as the geographic center and the finishing line of the temporal movement itself,
reimagined by modernity in the idea of progress.
The new global pattern of power, thus, produced a perspective of knowledge and a way
of producing knowledge related to it. In this scenario, doing science began to be understood in
a deterministic, supposedly objective and neutral way, being considered the only valid and,
therefore, universal knowledge.
As a result of this claim to universality, the destruction of human beings carried out by
colonialism was combined with the destruction of their knowledge, a phenomenon addressed
as epistemicide. Having overcome this issue, the objective was to highlight different forms of
thought that allow us to talk about worlds and knowledge in a different way, in a true attempt
to denounce the Coloniality of Knowledge, with the notions and projects of Transmodernity
and Epistemologies of the South being suggested, presenting its central elements and issues.
In addition, linked to the reflections developed so far, the issue of technological
innovation has been further detailed, in an attempt to highlight other ways of knowing that have
been systematically subjugated and that can, armed with the critical reflections made, present
themselves as alternatives to the hegemonic order of capital, which recognizes as innovations
only those produced by the "West", leaving the "Others" only to accept them.
That said, the conclusion is that there is a need to rethink and stop reproducing the myth
of infinite progress and control of the planet, which subjects knowledge, science and innovation
to the market.
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 14
REFERENCES
BERNARDINO-COSTA, J.; GROSFOGUEL, R. Decolonialidade e perspectiva negra.
Revista Sociedade e Estado, [S. l.], v. 31, n. 1, jan/abr 2016.
CADENA, M. Natureza incomum: histórias do antropo-cego. Revista do Instituto de
Estudos Brasileiros, [S. l.], v. 69, p. 95-117, 2018.
CALLON, M. A cooperformação das ciências e da sociedade: entrevista com Michel Callon.
Revista Política & Sociedade, [S. l.], n. 14, abr. 2009.
CALLON, M. Por uma nova abordagem da ciência, da inovação e do mercado: o papel das
redes sócio-técnicas. In: PARENTE, A. (org.). A trama da rede. Porto Alegre: Sulina, 2004.
DUSSEL, E. A new age in the history of philosophy: the world dialogue between
philosophical traditions. Prajña Vihâra, [S. l.], v. 9, n. 1, jan./jun. 2008.
DUSSEL, E. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: LANDER, E. (coord.). Ciências
sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. Buenos Aires: CLACSO, set. 2005.
ESCOBAR, A. Mundos y conocimientos de outro modo: el programa de investigacion
modernidad/colonialidad latino americano. Tabula Rasa, [S. l.], n. 1, jan./dez. 2003.
FANON, F. Os Condenados da Terra. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1968.
GROSFOGUEL, R. Decolonizing post-colonial studies and paradigms of political-economy:
transmodernity, decolonial thinking and global coloniality. Transmodernity: Journal of
Peripheral Cultural Production of the Luso-Hispanic World, [S. l.], v. 1, n. 1, 2011.
GROSFOGUEL, R. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas:
racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI.
Revista Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, jan-abr. 2016.
GUDYNAS, E. O novo extrativismo progressista na América do Sul: teses sobre um velho
problema sob novas expressões In: Enfrentando os limites do crescimento: Sutentabilidade,
decrescimento et prosperidade [en ligne]. Marseille : IRD Éditions, 2012.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LANDER, E. ¿Conocimiento para qué? ¿Conocimiento para quién? Reflexiones sobre la
universidad y la geopolítica de los saberes hegemónicos. Estudios Latinoamericanos, [S. l.],
v. 7, n. 12-13, jan. 2000.
LANDER, E. Ciências sociais: saberes coloniais e eurocêntricos. In: A colonialidade do
saber. Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. São Paulo:
CLACSO, 2005.
LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. 1. ed. Rio de
Janeiro: Ed. 34, 1994.
Murilo Henrique GARBIN
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 15
LATOUR, B. Ciência em ação: como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora. São
Paulo: Editora Unesp, 2000.
LATOUR, B. Reagregando o social. Salvador: Edufba, 2012.
LATOUR, B. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simétrica. 4. ed. Rio de
Janeiro: Ed. 34, 2019.
LATOUR, B. Onde aterrar? PISEAGRAMA, Belo Horizonte, n. 14, p. 100-109, 2020.
MOL, A. The body multiple: ontology in medical practice. Londres: Duke University Press,
2002.
MUÑOZ, K. O. (Re)pensar el Derecho y la noción del sujeto indio(a) desde una mirada
descolonial. Revista Internacional de Comunicación y Desarrollo, [S. l.], v. 4, 2016.
PALERMO, Z. Lugarizando Saberes. Cadernos de Estudos Culturais, Campo Grande, MS,
v. 2, jul./dez. 2018.
PALERMO, Z. Alternativas locais ao globocentrismo. Revista Epistemologias do Sul.
Dossiê: Giro decolonial II Gênero, raça, classe e geopolítica do conhecimento. v. 3 n. 2. 2019.
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E.
(org). A colonialiadde do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: CLACSO,
set. 2005.
SAID, E. W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. Tradução Tomás Rosa
Bueno. Sao Paulo: Companhia das Letras, 1990.
SANTOS, B. S. A filosofia à venda, a douta ignorância e a aposta de Pascal. Revista Crítica
de Ciências Sociais, [S. l.], v. 80, mar. 2008.
SPIVAK, G. C. Pode o subalterno falar?. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
STENGERS, I. No tempo das catástrofes: resistir à barbárie que se aproxima. São Paulo:
Cosac Naify, 2015.
SVAMPA, M. Extrativismo neodesenvolvimentista e movimentos sociais. Um giro
ecoterritorial rumo a novas alternativas? In: DILGER, G.; LANG, M. L.; PEREIRA FILHO,
J. (org.). Descolonizar o imaginrio. Debates sobre ps-extrativismo e alternativas ao
desenvolvimento. Fundao Rosa Luxenburgo: Elefante Editora, 2016.
WALLERSTEIN, I. Impensar las ciencias sociales: límites de los paradigmas
decimonónicos. 2. ed. Ciudad de México: Siglo Ventiuno Editores, 1999.
WALSH, C. Interculturalidad y (de)colonialidad: diferencia y nación de otro modo. In:
Desarollo e interculturalidad, imaginario y diferencia: la nación en el mundo andino.
Quito: Academia de la Latinidad, 2006.
Rethinking science and innovation: An analysis through the decolonial perspective in dialogue with the actor-network theory
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. 00, e023024, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28i00.16909 16
WALSH, C.; GARCÍA, J. El pensar del emergente movimiento afroecuatoriano: Reflexiones
(des)de un proceso. In: MATO, D. (Comp.) Estudios y otras prácticas intelectuales
latinoamericanas em cultura y poder. Caracas, Venezuela: CLACSO, Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2002.
YEHIA, E. Descolonización del conocimiento y la práctica: un encuentro dialógico entre el
programa de investigación sobre modernidad /colonialidad/decolonialidad latinoamericanas y
la teoría actor-red. Tabula Rasa, [S. l.], n. 6, 2007.
CRediT Author Statement
Acknowledgements: Do not apply.
Financing: Do not apply.
Conflict of interest: There is no conflict of interest.
Ethical approval: It respected the ethical procedures, but it did not go through an ethics
committee, since it is only a literature review.
Availability of data and material: The research did not include a case study or a field trip,
and no data was generated. The bibliographical references (and access links, when
available) are all given in the article itself.
Authors’ contributions: Single author.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.