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Entrevista com Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
1
ENTREVISTA COM ALEJANDRA BARCALA
ENTREVISTA CON ALEJANDRA BARCALA
INTERVIEW WITH ALEJANDRA BARCALA
Sandra CAPONI
1
Marcia MAZON
2
Barbara Michele AMORIM
3
C
ontexto da entrevista:
Devido às demandas de saúde causadas pela pandemia do Covid 19,
a entrevista foi realizada remotamente, utilizando a plataforma ZOOM.
Apresentação da entrevistada
Alejandra Barcala é Psicóloga, Mestre em Saúde Pública e Doutora em Psicologia pela
U
niversidade de Buenos Aires (UBA). Possui Pós-Doutorado em Ciências Sociais, Infância e
Juventude pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), articulada com a
Fundação Centro Internacional de Educação e Desenvolvimento Humano (CINDE),
Universidade de Manizales, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, o Colégio da
Fronteira Norte (COLEF) e o Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO).
Diretora e professora do Doutorado Internacional em Saúde Mental Comunitária da
Universidade Nacional de Lanús (UNLa). Professora do Mestrado e Doutorado em Saúde
Mental Comunitária (UNLa), do Mestrado em Saúde Mental da Universidade Nacional de Entre
Ríos (UNER), do Mestrado em Problemas da Criança e do Adolescente da Faculdade de Direito
(UBA) e da Especialização em Psicanálise com Crianças pela Universidade de Ciências
Empresariais e Sociais (UCES). Diretora do Projeto de Pesquisa: Estudo sobre violência na
abordagem da saúde mental na infância: inclusão da perspectiva de gênero e diversidade
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brasil. Departamento de Sociologia e
Ciência Política. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP) e Núcleo de Sociologia e história
das Ciências da saúde (NESFhIS). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8180-944X. E-mail:
sandracaponi@gmail.com
2
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brasil. Departamento de Sociologia e
Ciência Política. Programa de Pós- Graduação em Sociologia e Ciência Política (PPGSP) e Núcleo de Sociologia
Econômica (NUSEC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2953-1089. E-mail:
marciadasilvamazon@yahoo.com.br
3
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brasil. Bacharel e Licenciada em
Sociologia. Está fazendo pós-doutorado na Universidade Federal de Santa Catarina e na Universidade de Paris 8,
com bolsa Capes-Cofecub no âmbito do projeto: Conhecimento especializado na área da infância e juventude.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0068-9568. E-mail: bmichele.amorim@gmail.com
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON e Barbara Michele AMORIM
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https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
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cultural (2019-2023). Coordenadora do Programa de Atenção à criança e ao adolescente com
transtorno mental grave (2006-2012) sofrimento psíquico. Coordenadora da equipe
interdisciplinar de apoio à defesa técnica de pessoas internadas involuntariamente em
instituições psiquiátricas da Unidade de Advogados nº 22, Lei de Saúde Mental nº 26.657.
Defensora Geral da Nação (2012-2017). Membro do Conselho Consultivo Honorário da Lei
Nacional de Saúde Mental.
***
Márcia Mazon:
Você poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória acadêmica,
como uma pesquisadora formada em Psicologia e mestre em Saúde Pública. Como você chega
a essa questão de saúde mental e direitos humanos? Refletindo um pouco sobre as histórias do
Brasil e da Argentina, a experiência de uma ditadura militar e como surge essa opção de pensar
a saúde mental do ponto de vista dos direitos humanos, acredito que isso implica uma escolha
política. Uma forma de enfrentar não apenas o modelo biomédico, mas também esse excesso
de medicalização que marca a América Latina e toda a sociedade no século XXI. Você poderia
comentar um pouco sobre Justiça de Transição – direito à memória, justiça, reparação; um
caminho que a Argentina seguiu muito bem e o Brasil não. Você acha que isso marca o campo
da saúde mental de forma diferente em um país e em outro, e de que forma, na sua opinião, isso
acontece?
Alejandra
B
arcala:
Iniciei meus estudos durante a ditadura e quando estava no meio
da licenciatura, a democracia voltou na Argentina, com a qual, naquela época, desde a minha
formação, a lógica dos direitos humanos foi algo que atravessou minha trajetória universitária.
Na Argentina é muito difícil pensar em saúde mental sem a articulação com os direitos humanos
por vários motivos. Claramente, o fato de nosso país ter passado por uma ditadura e que durante
e depois dessa ditadura teve uma resistência significativa dos movimentos de saúde mental que
acompanharam as vítimas do terrorismo de Estado, fez com que aquelas pessoas que foram
sensibilizadas no âmbito da universidade claro, mais tarde fomos atravessados em nossas
práticas pela necessidade de políticas de memória, verdade e justiça. Durante a ditadura, o
importante movimento de saúde mental que existia em nosso país foi desmantelado. Grande
parte dos profissionais teve que se exilar, muitos profissionais desapareceram; na verdade, falta
o presidente do colégio de psicólogos da Argentina. Durante a ditadura, todas as atividades
grupais no campo da saúde mental foram encerradas e uma série de práticas comunitárias que
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ocorriam na Argentina desde o final dos anos 1960 foram impedidas. As primeiras políticas de
saúde mental na Argentina datam dessa época, promovidas por Mauricio Goldenberg, que
iniciou um movimento muito importante no campo da saúde mental, que tinha a ver com as
primeiras formas de trabalho na comunidade e a abertura de hospitais gerais para a cuidado de
pacientes com sofrimento mental. Durante a ditadura de Goldenberg ele teve que se exilar, e
Valentín Barenblit, que foi outra figura importante na Argentina, e muitos colegas que eram
psicólogos, médicos e trabalhadores da área de saúde mental também foram para o exílio. Em
1983, com o advento da democracia, o campo da saúde mental foi novamente reorganizado.
Nessa época, o psicanalista Vicente Galli assumiu a Direção Nacional de Saúde Mental, e sua
gestão fez um importante elo de cooperação com a reforma italiana, implantou residências
interdisciplinares em nosso país e passou a propor a desinstitucionalização nas diferentes
províncias. Apoiou a experiência de isolamento de asilo na província de Río Negro, que foi a
primeira na Argentina e envolveu o fechamento de uma instituição psiquiátrica. Pois bem, foi
neste contexto que iniciei a minha prática, num contexto de abertura democrática onde o
trabalho territorial e o trabalho interdisciplinar recuperou valor no campo da saúde mental
comunitária. E a partir daí minha jornada começou. Trabalhei na província de Misiones
organizando um programa de atenção primária à saúde para uma área de saúde com uma alta
porcentagem de famílias vivendo na pobreza e com muitos direitos violados. Mais tarde,
quando voltei a Buenos Aires, entrei em contato com a cadeira de Saúde Pública e Saúde
Mental, dirigida por Alicia Stolkiner. Essa foi a primeira cadeira da nossa Faculdade que incluiu
a dimensão dos direitos humanos no currículo. Ali foram dados meus primeiros passos na
conceituação, pesquisa e intervenção no campo da saúde mental a partir de uma abordagem de
direitos. Eu diria que como profissional sou meio anfíbio, porque enquanto eu trabalhava na
academia, eu trabalhava nos serviços de saúde. Na época, coordenei o primeiro serviço
comunitário de atendimento a crianças e adolescentes com transtornos mentais graves, que
posteriormente mudou sua denominação para crianças e adolescentes com sofrimento
psicossocial, que atendia a toda a cidade de Buenos Aires. Importantes marcos regulatórios
surgiram na década de 1990, entre eles a Convenção Interamericana sobre os Direitos da
Criança, e depois o fato de já ter essa perspectiva de direitos no trabalho de acompanhamento
das vítimas do terrorismo de Estado juntamente com esses marcos regulatórios que ampliaram
direitos, permitiu, mesmo no marco de um governo neoliberal, implementar práticas com
enfoque de direitos no campo da saúde mental.
Na Argentina, durante a década de 1990, o problema de saúde mental foi amplamente
s
ilenciado até que em 1997 foi publicado o relatório “Vidas Arrasadas” do Centro de Estudos
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Jurídicos e Sociais (CELS), que tornou visível a situação em nosso país. Informou que havia
vinte e seis mil pessoas internadas em hospitais psiquiátricos e mostrou as condições de
vulnerabilidade e violação de direitos sofridas por essas pessoas. A apresentação deste relatório
gerou muita indignação e colocou novamente a situação da saúde mental na agenda do Estado,
que reapareceu com o governo de Néstor Kirchner.
Quando surgiu o relatório do CELS, quando se soube o que acontecia nos manicômios,
toda a sociedade ficou muito sensível sobre o que tinham sido os campos de detenção
clandestinos, sobre os detentos-desaparecidos e a forma como as instituições psiquiátricas
tratavam as pessoas que ali estavam. O tratamento foi tão cruel, tão desumano e degradante que
quase se transformou em tortura. Por esta razão, o campo da saúde mental e dos direitos
humanos estão e continuam a estar intimamente ligados. Até hoje a violação de direitos ocorre
nas instituições, recentemente um usuário de um dos hospitais psiquiátricos foi morto por uma
matilha de cães, outros morreram por serem amarrados a uma cadeira.
Em 2010, já sob a presidência de Cristina Fernández de Kirchner, foi promulgada a Lei
Nacional de Saúde Mental 26.657, lei de promoção e proteção dos direitos humanos que
estabelece o fechamento definitivo das instituições psiquiátricas até 2020. Isso foi puxado pelo
que chamamos de “as 26.000 leis”, que são as leis de direitos humanos que foram promulgadas
na época. Os governos de ambos os Kirchners tinham uma política muito forte que estabelecia
claramente uma política pública de recuperação de memórias, com ações como a anulação das
leis do ponto final e da devida obediência, e uma série de gestos. Entre elas, retirar os quadros
militares da casa do governo e assumir o prédio da antiga ESMA (Escola Superior de Mecânica
da Marinha), onde ficava um dos centros de detenção clandestina, e transformá-lo em museu e
memória, Centro Verdade e Justiça. Isso me lembra algo que também foi muito emocionante:
no ano passado, no final do ano, no Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas
(Conicet), onde atuam pesquisadores e bolsistas em nosso país, foram abertos os arquivos para
a primeira vez dos trabalhadores da agência que desapareceram durante a ditadura e em ato em
que estiveram presentes o presidente e o ministro da Educação, seus arquivos foram devolvidos
às famílias e o Estado pediu desculpas. Em todos esses anos esses acontecimentos foram
invisíveis e silenciados, ou seja, ainda continuamos com uma proposta ou uma política para
recuperar certas memórias.
Trabalho especialmente em pesquisas com crianças, adolescentes e jovens que se
e
ncontram em situação de vulnerabilidade social e com sofrimento psíquico grave, e o que mais
nos preocupa são as crianças que estão institucionalizadas. Porque ainda hoje o nível de
violação de direitos a que estão submetidos é imenso. Ainda há quartos de isolamento, ainda há
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contenção física (a contenção física é extremamente comum), há medicamentos (os chamados
reforços todas as noites para que possam dormir), há distanciamento dos laços familiares ou
afetivos e sociais. Há uma multiplicidade de violações de direitos. Nosso país é muito sensível
às internações psiquiátricas e também às formas de campos de detentos desaparecidos. E isso
levou ao movimento de resistência e é claramente uma opção ético-política. Nessa articulação
entre direitos humanos e saúde mental, as Mães da Praça de Maio organizaram durante muitos
anos os Congressos de Saúde Mental e Direitos Humanos, nos quais participaram milhares de
pessoas de todo o país todo mês de novembro. Muitos deles cumpriram as palavras de ordem
da luta antimanicomial e tiveram forte impacto naqueles que foram os primeiros passos para a
sanção e promulgação da Lei de Saúde Mental. Ou seja, todos os grupos que trabalharam pela
sanção da Lei estavam ligados aos direitos humanos. Como nossa Lei de Saúde Mental é
basicamente uma lei de direitos humanos, ela se enquadra nesse corpus normativo.
Márcia Mazon:
E agora Alejandra, gostaria de lhe pedir para refletir sobre a tensão
entre desigualdades sociais e desigualdades em saúde/saúde mental. Temos, por um lado,
crianças vulneráveis com pouco ou nenhum acesso à saúde (sua pesquisa mostra isso muito
bem em relação às crianças vulneráveis hospitalizadas e medicadas - essa construção de uma
subjetividade patologizada) e por outro lado uma classe média e alta com excesso de atenção,
remédios, check-ups sem fim, hospitais que parecem resorts de luxo. No entanto, quando
falamos em saúde mental infantil, o desenho desse cenário mostra que tanto os escolares de alto
desempenho quanto as crianças em situação de vulnerabilidade são excessivamente medicados
e estigmatizados, entre outros, com diagnóstico de TDAH e sua medicação correspondente. No
Brasil, também, o diagnóstico de TDAH segue o processo de precarização das escolas públicas,
com professores que têm Ritalina na gaveta e falam com o psiquiatra no WhatsApp para ajustar
a medicação Ritalina, temos um aluno investigando isso aqui em Santa Catarina em doutorado,
Como você vê esses processos?
Alejandra B
arcala:
A pandemia de Covid-19, como todos vimos, aprofundou
claramente as desigualdades sociais e permitiu que quem trabalha com crianças e adolescentes
em situação de vulnerabilidade compreendesse um pouco mais como essas desigualdades
sociais impactaram sua saúde mental. Por quê? Primeiro, há algo que está acontecendo na
Argentina, que vem aumentando e continua: a institucionalização psiquiátrica de meninos e
meninas. Ou seja, nos últimos anos os níveis de institucionalização de meninos e meninas
aumentaram significativamente. E, em geral, o que vimos é que esse nível superior correspondia
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a meninas e meninos de lares muito pobres ou que estavam em situação de rua ou
institucionalizados em casas de convívio.
Surpreendeu-nos o número de crianças institucionalizadas que foram internadas por
medida especial (muitas vezes por terem seus direitos violados no âmbito familiar) e que
seguiam o que chamamos de “circuito de medicalização”. Meninos e meninas frequentavam os
serviços de saúde encaminhados pela escola por apresentarem intensas afetações ou emoções,
geralmente produto de determinantes sociais. Estes foram rapidamente compreendidos em
termos psicopatológicos e acompanhados de vários diagnósticos. É o que chamamos de
“patologização das situações sociais”. Esses diagnósticos acabaram estigmatizando as infâncias
e foram acompanhados da prescrição “não são pra cá”. Ou seja, essas meninas e meninos com
doenças graves foram rapidamente expulsos dos serviços de saúde e encaminhados para outros
serviços de saúde, produzindo-se, assim, o que conhecemos como uma longa “deriva
institucional”. Pais, famílias passaram por diferentes serviços. Todos fizeram diagnósticos,
todos acabaram colocando um rótulo, que poderia ser igual ou diferente, reduzindo problemas
complexos a categorias psicopatológicas e promovendo essa estratégia de trânsito sem âncora,
sem nenhum local onde foram recebidos, negando-lhes o direito aos cuidados adequados.
Quando nenhum serviço de saúde os recebia e a situação continuava a piorar ou apresentavam
o que chamavam de “crises de excitação”, após medicá-los acabavam internados em instituições
psiquiátricas. Especialmente os meninos e meninas institucionalizados sob o sistema de
proteção na Argentina, com intenso sofrimento psíquico, eram rapidamente internados em
instituições psiquiátricas durante uma crise.
Pensamos que as chamadas “crises de excitação psicomotora” são formas que meninas
e meninos têm de expressar seu sofrimento quando não têm mediações simbólicas para
processá-lo psiquicamente, então a única maneira que eles têm é de se expressar é com o
comportamento. Em geral, meninos e meninas que sofreram muitas frustrações têm menos
possibilidade de suportar frustrações, menos tolerância porque o sentimento que têm, ou a
imagem que têm, é que não haverá um amanhã ou um depois diferente, um tempo que seja
diferente. Essas crises são muitas vezes formas de expressarem um enorme sofrimento que não
pode ser mediado por palavras, pois não encontraram um adulto que, em seu processo de
socialização, os tenha ajudado a mediar simbolicamente isso por meio das palavras.
A referida patologização não foi apenas acompanhada da frase “não são para cá”, mas
em
muitos casos foi acrescentada “são para Tobar García”, referindo-se ao hospital
neuropsiquiátrico para crianças e adolescentes na Argentina. Em outras palavras, são meninos
e meninas que se definiram e assumiram uma identidade denegrida, uma identidade
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subalternizada, um estigma compartilhado que quase levou à perda da existência. Significa
dizer que não há mais nada a ver com esses meninos e essas meninas. Dizer “são para Tobar
García” é como dizer que não são para os lugares da infância, não são para a escola, não são
para viver em família, são para serem internados naquele lugar onde perdem toda possibilidade
de cidadania. Por viverem em uma instituição total onde não têm escolha com quem morar, têm
rotinas rígidas e uniformes para todos, poucas atividades diárias, não têm acesso a um serviço
interdisciplinar como propõe a Lei, a uma equipe que possam trabalhar em seu território, que
possam construir vínculos com as famílias, com os referentes afetivos da comunidade, que
possam compreender a complexidade de um problema social e agir de acordo. Não eram
problemas biomédicos, mas seu sofrimento era produto de traumas sociais sofridos, que ao
invés de serem compreendidos como situados em um contexto social eram entendidos como se
fossem problemas psicopatológicos individuais, fora do contexto familiar, fora do contexto
relacional, pois fora do contexto comunitário. E isso rapidamente levou a uma segregação
espacial que pode ser resumida em: "vamos colocar essas crianças e adolescentes em Tobar
García ou em comunidades terapêuticas para usuários de drogas".
Na Argentina, essas comunidades terapêuticas e hospitais psiquiátricos infantis são
subsidiados pelo Estado, são terceirizados com recursos do Estado, mas estão em mãos
privadas.
Há claramente duas questões: por um lado, esses meninos e meninas com maior grau de
vulnerabilidade psicológica e social, onde o valor performativo dos diagnósticos os deixa fora
de todas as condições de existência. São infâncias submetidas a uma estrutura de poder médico
e espectro autista, transtornos invasivos do desenvolvimento, esquizofrenia e transtorno bipolar
são alguns dos diagnósticos que são tomados como referência em manuais como o DSM. E
assim seus estoques estão patologizados embora, em geral, sejam problemas que deveriam ter
sido abordados com respostas comunitárias, respostas que podem ser dadas dentro de uma
abordagem mais abrangente, conforme determina a regulamentação vigente, ou seja, a Lei
Nacional de Saúde Mental, leis provinciais, a Convenção Internacional da Criança, as leis de
proteção integral para crianças e adolescentes de quase todas as jurisdições do nosso país.
Por
outro lado, em relação ao que foi consultado sobre meninas e meninos de alto
desempenho escolar, realizamos com a Dra. Silvia Faraone uma investigação que tornou
visível, a partir de 2000, o boom no diagnóstico de transtorno de déficit de atenção havia
começado na Argentina a ascensão do diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH, em inglês ADHD). Percebemos pelos relatos dos profissionais que a
medicação havia aumentado, mas especificamente pudemos verificar quando vimos que a
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importação de metilfenidato havia aumentado fortemente e que isso estava ligado a um maior
diagnóstico em meninas e meninos. Analisamos o que acontecia nas escolas da parte mais rica
da cidade e notamos que havia mais meninos e meninas diagnosticados com TDAH e
medicados com metilfenidato. E isso tinha a ver com a necessidade de eles responderem às
demandas das escolas de turno duplo, às demandas de uma sociedade que os obrigava a ser
bem-sucedidos, a competir no mercado, ou seja, a responder às expectativas que pais e mães
tinham sobre como deveriam ser. Por outro lado, quando fomos para a área onde estavam
localizadas as escolas mais pobres, nas escolas públicas, os comportamentos para os quais
meninos e meninas foram medicados com metilfenidato e diagnosticados com TDAH foram
definidos como problemas típicos de quem vivia em famílias pobres em que existia violência
familiar. E notamos que nessas áreas eles estavam muito menos medicados.
Hoje o que mais nos preocupa, já que na Argentina mais de 50% dos meninos e meninas
estão abaixo da linha da pobreza, são os determinantes sociais e seu impacto no sofrimento
infantil. Atualmente encontramos diagnósticos com maior frequência, como transtornos
invasivos do desenvolvimento, como o espectro autista. Porque o problema é que, assim como
a escola tem a grande capacidade de acompanhar e transformar e abrir um mundo possível para
um menino, ela também tem a possibilidade de marcá-lo subjetivamente com um diagnóstico
ao longo da vida. E é isso que vemos.
As instituições são produtoras de subjetividade e a forma como uma escola, uma
instituição de saúde olha para um menino, uma menina, a constitui subjetivamente. Quando ela
o olha e o nomeia em termos de patologia, em termos de diagnóstico, em termos de
desvalorização e não em termos de suas potências, ela gera uma marca indelével em sua
subjetividade. Trabalhamos muito em escolas e serviços de proteção legal ou de direitos,
perguntando-lhes: Quando denunciam uma criança, destacam seus pontos fortes, suas
habilidades? Ou apenas mencionam a lista de dificuldades. Que efeitos seriam produzidos se,
em vez de dizer que se comporta mal, que é inquieto, que não presta atenção, que briga com os
amigos, mencionassem algumas características positivas, seus pontos fortes, suas capacidades;
por exemplo, que gosta de música, ou que responde suavemente quando lhe falam, que tem
uma boa relação com alguém em particular etc. Por que não fazer essa aposta? É como se a
disciplina nos tivesse cruzado e não pudéssemos fazer apostas geradoras. Parecemos
formatados para fazer diagnósticos, não para pensar em meninos e meninas em termos de suas
possibilidades, seus desejos, suas oportunidades.
Marcia
Ma
zon
: Alejandra, gostaríamos agora que você abordasse essa interseção entre
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legislação, política e saúde mental. Apesar de Brasil e Argentina terem ratificado a convenção
internacional sobre os Direitos da Criança e possuírem leis nacionais para a proteção da criança
(no Brasil, o ECA tem mais de três décadas), esses direitos estão ameaçados em diferentes
áreas, inclusive mental infantil saúde. Como sua pesquisa mostra muito bem, as práticas
discursivas dos profissionais do setor não apenas silenciam as crianças, mas essas mesmas
práticas são produtoras de sofrimento e silenciamento de crianças vulneráveis. Você mostra
muito bem como os conhecimentos “psi” limitam a aplicação dos direitos humanos. Quais são
as estratégias possíveis para desvendar esses processos e submetê-los ao debate público? Se
você pudesse explorar um pouco essa tensão entre os marcos normativos dos direitos humanos
e as políticas de saúde mental.
Alejandra
Barcala:
Na Argentina, desde a década de 1990, temos marcos regulatórios
importantes para nossa região, desde a Declaração de Caracas, com a Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança e a Lei Nacional de Saúde Mental. Mas, no entanto, há uma lacuna,
uma tensão muito importante entre os marcos regulatórios e as políticas e práticas de saúde
mental. Há uma lacuna muito importante em relação a isso. A perspectiva é muito interessante
porque Brasil e Argentina têm uma história diferente. Temos a hipótese de que o Brasil avançou
muito mais na saúde mental, na luta contra o asilo e na criação dos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS), por terem um sistema de saúde único, um sistema de saúde integrado,
algo que a Argentina jamais pôde ter.
Em uma investigação recente que fizemos sobre serviços de saúde junto com diferentes
pr
ovíncias do nosso país sobre serviços de saúde infantil, observamos que houve uma melhor
resposta, uma maior abrangência de respostas nessas províncias, como Santa Fe, onde o sistema
de saúde Mental está muito integrada no sistema de saúde em geral. Aí temos uma diferença
importante, porque o Brasil teve um movimento antimanicomial importante, mas tem um único
sistema de saúde integrado e a Argentina não. Isso, embora tenhamos sancionado, a partir de
2010, uma Lei Nacional de Saúde Mental bastante progressista, que propõe o fechamento das
instituições psiquiátricas até 2020, que constrói a institucionalidade para proteger os direitos
das pessoas internadas. A Lei de Saúde Mental marcou uma transformação nas formas como o
Estado se relacionava com as pessoas com problemas de saúde mental. Instalou uma virada e
permitiu a transformação de um modelo biomédico, tecnocrático, baseado na exclusão e na
patologização dos problemas da pobreza, para um modelo baseado na perspectiva dos direitos,
na integração comunitária, na escuta dos usuários e das usuárias, na proposição uma forte
participação e escuta das pessoas com sofrimento psíquico. E, sobretudo, instalou um modelo
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comunitário de saúde mental. No entanto, o que é muito bom como marco regulatório, contraria
o que muitas investigações mostram e é que continua a haver um alto nível de violação dos
direitos de meninas e meninos.
Então, pode-se perguntar, o que acontece na Argentina que este marco regulatório não
foi consolidado e implementado? Em primeiro lugar, para diferenciá-lo do Brasil, não temos
um sistema de saúde integrado. Um dos indicadores centrais da Argentina é a fragmentação de
sistemas entre projetos sociais, o sistema público e o sistema privado, com o que isso também
traz toda uma série de complicações. Surpreendentemente no que diz respeito à saúde mental,
meninos e meninas de classe média não recebem um nível de benefícios de saúde mental melhor
do que os demais quando apresentam sofrimento grave. Isso acontece porque muitas vezes
também se enquadram na mesma lógica de medicalização e patologização do sofrimento e
também não há estratégias psicossociais que acompanhem as famílias ou a essas crianças com
abordagens interdisciplinares para poderem avançar.
Entendo que as ideias de Basaglia, pensou Basaglia, não tiveram tanto impacto na
Argentina quanto no Brasil. Teve-o na província de Río Negro, mas não no resto do país, onde
só existem setores que o entendem como tal. Acho que também temos um problema na
formação de recursos humanos, porque a maioria dos profissionais são formados em
instituições que não pensam os problemas de saúde mental na perspectiva dos direitos, mas
respondem a modelos tecnocráticos, profissionalizantes e disciplinares. Por sua vez, qualquer
problema é encaminhado para um serviço de saúde como se um psicólogo em tratamento
individual ou um psiquiatra com prescrição de uma mediação pudesse resolvê-lo Pensamos no
individual e não no comum, não há contexto do comum para pensar o campo da saúde mental.
Isso faz com que se intensifiquem os modelos tutelar, paternalista, patriarcal. E na infância isso
é pior, porque um olhar adulto-centrado muito forte é adicionado.
Há também uma questão orçamentária, muitas vezes não temos a quantidade necessária
ou adequada de serviços para responder ou favorecer o acesso, principalmente para aqueles
meninos ou meninas com problemas mais graves. Como fazer? Como isso é alterado? Há muito
tempo pesquisamos e trabalhamos com instituições para entender os obstáculos e contribuir
para a transformação das políticas e serviços de saúde.
Recentemente, o presidente da Argentina falou da necessidade de uma estratégia
na
cional de saúde mental. No dia 14 de junho deste ano, foi realizado o I Fórum de Pesquisa
em Saúde Mental, do qual participaram pesquisadores e gestores de políticas públicas, com o
objetivo de repassar a eles os resultados da pesquisa. Além disso, estão pensando em
implementar uma formação nacional de um modelo comunitário de saúde mental para
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transformar os serviços e apoiar esse processo de desinstitucionalização psiquiátrica e criação
de serviços territoriais. Temos grandes expectativas, o Ministro da Saúde está comprometido
com isso e teria um orçamento para implementá-lo.
Na província de Buenos Aires está começando uma reforma muito interessante. As
quatro instituições psiquiátricas existentes estão a trabalhar num processo de
desinstitucionalização e já, mesmo no contexto da pandemia, conseguiram garantir que uma
percentagem das pessoas internadas passasse a viver em casas de convívio, com as suas famílias
ou na sua comunidade. O lema é "Buenos Aires livre de manicômios". Eles têm um projeto para
construir um bairro de moradias comunitárias dentro do qual existam algumas destinadas aos
usuários, e também que sejam construídos centros culturais e espaços de memória em hospitais
psiquiátricos. Por sua vez, equipes interdisciplinares estão a ser reforçadas nos Hospitais Gerais
e Centros de Atenção Primária. E mesmo nesse contexto difícil de poucos recursos e pós-
pandemia, está sendo desenvolvida uma reforma no sistema de saúde que esperamos que seja
consolidada.
Por exemplo, em relação às crianças e jovens, foi criado um programa que estamos
assessorando e que desde uma postura ético-política visa “construir o futuro no presente”. Tem
como estratégia a escuta e o acompanhamento de crianças e adolescentes. E justamente o que
a gente vem destacando nas investigações é que eles afirmam que não são ouvidos, que querem
falar e não são ouvidos na escola, nem na família, nem nos serviços de saúde, e que, por
exemplo, quando nos territórios são ouvidos rapidamente, montam estratégias criativas para
enfrentar os problemas. Por exemplo, após o suicídio de um jovem em uma escola, seus colegas,
sozinhos, montam um grupo que se reúne aos sábados na praça para ouvir os outros. Eles
começaram a montar Tiktok e fazer música, e foram pedir ao serviço de saúde local para
acompanhá-los caso tivessem alguma dúvida ou enfrentassem uma situação muito complexa.
Com base nessa proposta, cada vez mais jovens participam de atividades apoiadas por equipes
de saúde. Então, o que acontece quando esses espaços de escuta e participação são viabilizados
e promovidos nas instituições? Os jovens têm suas próprias capacidades de se apropriar e suas
próprias agências para inventar seus próprios dispositivos de cuidado. Propomos que para
abordar o cuidado em saúde mental é preciso ouvir a criança e o adolescente, seus anseios, suas
necessidades, suas propostas.
Outro desafio é fazer um trabalho que envolva a reflexividade dos trabalhadores do
cam
po da saúde mental, justiça e educação, que evite olhares adultocêntricos, ou seja, que evite
dar sentido, saturando de sentido o que acontece com as crianças, e adolescentes. Porque isso
acaba por objetificá-los e não abre a possibilidade de habilitar suas próprias vozes. Dizemos
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON e Barbara Michele AMORIM
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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DOI:
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que meninos e meninas não devem ser empoderados, mas sim que devem acompanhar o poder
que já possuem, ou seja, não esmagar esse poder e ter a capacidade de poder ouvi-los em termos
de sujeitos de direitos, em termos de sujeitos epistêmicos que geram seu próprio conhecimento,
suas próprias narrativas, e que podem transformar a realidade. Por exemplo, durante a pandemia
eles reclamaram que pensaram em muitas estratégias para voltar à escola ou para ajudar seus
colegas, e ninguém perguntou ou consultou sobre como eles achavam que deveriam se cuidar,
aplicar os protocolos em sua sala de aula, como poderiam acompanhar um colega com
problemas, como poderiam gerar vínculos entre eles além da distância obrigatória. O que
acontece com os adultos que não podemos incluir meninos e meninas nas estratégias, favorecer
sua participação, é como se eles realmente não tivessem voz, como se realmente estivéssemos
gerando cada vez mais práticas protetivas?
Outra questão é reconhecer as diversidades, pois se há algo que os diagnósticos fazem
é, de alguma forma, unificar, homogeneizar meninos e meninas como se fossem um único
grupo, e assim anulam-se as diversidades territoriais, étnicas, de gênero e culturais. Um serviço
localizado em um território não é o mesmo que em outro. Por isso propomos que é central
pensar as subjetividades situadas, social, cultural, geográfica e historicamente. E falar também
sobre a diversidade de gênero, porque grande parte da violência que vemos nos serviços é
violência simbólica, desqualificações de gênero, várias formas de discriminação. Por exemplo,
nas internações a identidade de gênero não é respeitada e alguém que nasceu biologicamente
feminino, mas que se identifica com o gênero masculino, é internado em uma enfermaria
feminina porque “é a biologia deles”. E chamam-no com o nome do seu documento e não com
o que se sente representado. Ou seja, nas internações há violência subjetiva, violência sobre os
corpos, negação de seus desejos e a existência dessas subjetividades
É claro que temos que pensar em como lidamos com os traumas sociais, porque diante
da pandemia temos que ser capazes de entender que levaremos muitos anos para nos recuperar.
É por isso que muitas das situações que precisamos simbolizar hoje têm a ver com os efeitos
contextuais e a elaboração de um duelo social. Não são duelos individuais. Continuamos a
pensar em termos de problemas individuais: "esse menino não quer ir à escola", "esse menino
não quer sair de casa", "esse menino tem dificuldades". Devemos pensar as manifestações e
afetações da infância em um contexto pós-pandemia, em um contexto em que socialmente o
Estado por meio de suas instituições tem que estar presente para acompanhar aquelas situações
mais difíceis de navegar.
Também temos que reduzir as lacunas que existem, porque há claramente lacunas nas
p
ossibilidades de acesso aos cuidados e tratamentos necessários. Você viu recentemente que na
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Entrevista com Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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Argentina há um ataque muito forte à Lei Nacional de Saúde Mental e que esse ataque vem da
mão de muitas mães de jovens com problemas de consumo problemáticos que culpam a Lei por
não poder internar seus filhos. No entanto, o problema não é a Lei (que também permite a
internação involuntária quando há risco certo e iminente; como último recurso e por tempo
determinado), mas que não há política pública que responda aos seus princípios. Não é um
problema da Lei, é uma questão que não há respostas para o problema do consumo problemático
que não seja a hospitalização. A verdade é que não existem serviços territoriais, equipes
interdisciplinares, ou seja, ainda há muito trabalho a fazer. Nós não temos CAPS como vocês,
não temos atenção psicossocial, em muitos centros de atenção básica ou hospitais eles não
trabalham com crianças e jovens que apresentam consumo problemático, então claramente em
situações de crise a única coisa que resta é a internação. Além disso, essas famílias também
estão muito desprotegidas e geram-se conflitos que voltam a colocar em questão um
instrumento muito valioso como a Lei, que, ao contrário, propõe um modelo de saúde mental
comunitária e passa a garantir os direitos de quem esqueceram, internaram e não podem sair.
O assunto que Sandra trabalha, ligado a drogas psiquiátricas e medicamentos, também
é um problema muito sério. Há pesquisadores que estão trabalhando especificamente sobre este
tema na Argentina, mas notamos que nos lares em que vivem juntos meninas e meninos
privados de cuidados parentais, o número de meninas e meninos que são medicados aumentou
nos últimos anos, ou seja, que ao entrarem na instituição são rapidamente medicadas ou
medicados. Visitamos lares onde 80% dos meninos e meninas foram medicados. Eles foram
internados sem problemas psicológicos e, depois de um tempo, foram medicados com drogas
psicoativas. Essa é uma grande preocupação devido ao nível de vulnerabilidade em que se
encontram.
Sandra
-
No livro “Saúde Mental e Infância na Cidade Autônoma de Buenos Aires”,
você analisa as articulações e tensões entre as políticas públicas e a legislação vigente. Esse
livro, de 2015, mostra as dificuldades de implementação da lei de saúde mental, pelo menos na
cidade de Buenos Aires, em relação ao modelo clássico, baseado na hegemonia da psiquiatria
biológica e da institucionalização psiquiátrica. As questões que gostaria de colocar têm a ver,
por um lado, com a formação destes médicos e dos profissionais de saúde que trabalham nestas
instituições. Como se dá esse processo (de alguma forma você já se referiu a isso dizendo que
eles não têm uma perspectiva de direitos humanos)? Como essa formação centrada em uma
hegemonia biomédica afeta particularmente as crianças? Nos últimos dias, circulou um
comunicado dirigido ao Congresso, elaborado a partir do meio acadêmico, em defesa da Lei
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON e Barbara Michele AMORIM
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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26.657. Pergunto: por quais motivos é necessário hoje criar estratégias de defesa desse quadro
de direitos estabelecido pela Lei de Saúde Mental em 2010, quando esses direitos já pareciam
consolidados? Como entender a resistência que hoje surge contra essa lei?
Alejandra Barcala:
A Argentina é um país federal, portanto, de acordo com nossa
Constituição, as províncias e a Cidade de Buenos Aires, um distrito federal, têm autonomia na
determinação das políticas de saúde e educação. Isso significa que eles podem não aceitar as
disposições do governo nacional, embora na prática geralmente assumam os mesmos
compromissos ou adiram aos compromissos nacionais. E a Lei de Saúde Mental, sendo uma
Lei de Direitos Humanos, deve ser cumprida em todo o território nacional. No entanto, por
exemplo, a cidade de Buenos Aires está a cargo de um governo de direita, o governo Macrista,
há muitos anos. Se pensarmos como estão os Serviços de Saúde Mental em relação a 2015, se
houve modificações, até mesmo em relação à Lei 448 do Município, que também é muito
progressiva e ainda não é cumprida, eu diria que é pior do que descrevemos naquele livro,
porque naquela época ainda havia programas que tinham uma perspectiva comunitária. Hoje o
modelo médico hegemônico se intensificou na Cidade e então o processo de medicalização da
infância se aprofunda. Uma aluna de tese que estou orientando está fazendo um estudo sobre
jovens e consumo problemático e não encontra nenhum serviço estatal territorial na cidade de
Buenos Aires que atenda jovens com consumo problemático para realizar seu estudo de campo.
É muito grave que esses dispositivos tenham sido desarmados. A Cidade é o reduto onde
prevalece a psiquiatria hegemônica mais clássica, mais positivista, que continua a pensar que o
problema da saúde mental é um problema biológico, que tem a ver com características
individuais e a resposta deve ser a hospitalização.
Em 2012 trabalhei coordenando um programa comunitário de atenção à saúde mental e
o governo macrista o desarmou por considerar que tínhamos uma visão muito comunitária e
não internávamos jovens em instituições psiquiátricas; e que isso era algum tipo de perigo para
a sociedade. Assim como desmantelaram esse programa, o fizeram com muitos outros que
tinham essa perspectiva. Em outras palavras, eu diria que na Cidade de Buenos Aires, além do
atual marco regulatório, há resistência das associações psiquiátricas mais tradicionais e do
sindicato dos psiquiatras conhecidos como "médicos municipais", uma versão de profissionais
com perspectiva que ocupa cargos políticos no sistema de saúde e que se opõe à implementação
da Lei Nacional de Saúde Mental.
Isso não acontece em todo o país, por exemplo na província de Buenos Aires, que tem
um
a linha política que responde ao kirchnerismo, acontece o contrário. Julieta Calmels,
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Entrevista com Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
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responsável pela Subsecretaria de Saúde Mental, Consumo Problemático e Violência de
Gênero, implementou um plano totalmente articulado com uma abordagem de direitos
humanos. Esse programa é realmente muito interessante, tem uma perspectiva que vem
transformando a saúde mental através de espaços culturais, gametecas, com uma articulação
intersetorial com serviços de proteção, educação, cultura, esporte, para ampliar a perspectiva.
Há muitas províncias que estão a trabalhar muito bem na implementação de ações de reforma.
Daquela questão midiática em que as mães apareciam expressando sua preocupação
com o sofrimento de seus filhos, se manifestou a direita, que é contra essa perspectiva de
direitos, que afirma que a perspectiva de direitos é algo ideológico, que eles têm a verdade
científica sobre o que está acontecendo e que a verdade científica está sendo ignorada. Acima
de tudo, criticam o artigo 20 da Lei Nacional de Saúde Mental, que afirma que só pode haver
internações involuntárias se houver risco iminente. Eles questionam isso e que as pessoas
devem se voluntariar ou consentir, e argumentam que as famílias devem poder internar pessoas
se assim o desejarem e perguntarem a um juiz, como era antes. Com base na Lei de Saúde
Mental, o juiz não pode mais internar em hospital psiquiátrico, para isso deve haver uma equipe
interdisciplinar composta por psicólogo ou psiquiatra e profissional de outra disciplina que
proponha que, em caso de determinado risco e iminente, essa pessoa deve ser comprometida
involuntariamente. Qualquer pessoa pode ser internada voluntariamente, não há problema. O
que está sendo fortemente questionado são internações involuntárias e há quatro projetos que
tentam modificar artigos da Lei. Há uma aposta muito forte entre a psiquiatria tradicional e as
comunidades terapêuticas que pressionam pela manutenção do velho paradigma e muitos dos
trabalhadores da saúde mental e organizações de direitos humanos. A Lei também cria duas
instituições: o Órgão de Revisão e a Unidade de Advogados, cujo objetivo é garantir os direitos
das pessoas internadas. De forma interdisciplinar, intervêm, realizam auditorias e garantem que
seus direitos não sejam violados. E isso, para as instituições psiquiátricas acostumadas a se
administrar como desejam, implica um nível de controle muito forte, ao qual resistem.
A formação de recursos humanos afeta claramente isso enquanto os profissionais
continuam sendo formados nas universidades e com os atuais modelos de residência, atentos
também à implementação adequada de um modelo de saúde comunitária. A organização das
residências é outra das coisas pelas quais a situação na cidade de Buenos Aires piorou. Antes
eram interdisciplinares e agora há de um lado o dos psiquiatras e do outro o dos psicólogos.
Pouco pode ser gerado, ao invés de progredirmos estamos retrocedendo.
Eles me perguntaram por quê. Porque a Lei Nacional de Saúde Mental foi aprovada em
u
m momento em que havia muito consenso, mas claramente nunca teve legitimidade por parte
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON e Barbara Michele AMORIM
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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das associações médicas. Foi uma licitação que foi vencida por um setor progressista, mas não
foi acompanhada pela psiquiatria, que era claramente totalmente contrária. Esses ataques
ocorrem de forma pendular, ou seja, de vez em quando há uma ofensiva contra a Lei de Saúde
Mental, que é um avanço contra a garantia dos direitos das pessoas com sofrimento mental de
viver na comunidade, ter um emprego, ser tratada de forma centro de saúde, para poder ter uma
vida. Na verdade, a dificuldade dessa perspectiva em aceitar a diversidade, e qualquer
manifestação de alteridade, como diz Rita Segato, é um problema e só deixa de sê-lo quando é
peneirada por uma grade equalizadora, neutralizando particularidades. E aqueles que não
passam devem ser postos de lado, como seres excedentes. Essa é a linha que atravessa os juízes
do tribunal, uma espécie de psiquiatra e uma elite política que se opõe a outro contexto coletivo.
Esses são os dois modelos de país que se confrontam fortemente na Argentina neste momento
pós-pandemia. A pandemia colocou a saúde mental em pauta e diferentes formas de entendê-la
começaram a aparecer. Na mídia é dito que temos uma pandemia de transtornos mentais na
infância e os diagnósticos psiquiátricos são atribuídos a diversos transtornos emocionais, mas
há outra perspectiva no campo da saúde mental que entende que eles respondem a reações
defensivas e adaptativas esperadas na criança e que temos que tentar coletivamente superar o
momento difícil que estamos passando e gerar mecanismos de saúde mental onde meninas,
meninos e jovens sejam ouvidos e acompanhados.
Sandra Caponi:
A última pergunta que tínhamos para lhe fazer era justamente sobre a
pa
ndemia e isso foi visto claramente em todo o mundo, aqui no Brasil ficou muito claro, a
quantidade de sofrimento mental que ocorria em tempos de pandemia, os novos diagnósticos
que várias pessoas que conversam e dizem que têm parentes com síndrome do pânico, crianças
que não querem mais sair na rua, aumentaram os casos de autismo, etc. Queria falar um pouco
sobre o livro que você publicou, que se chama “Enfrentando o sofrimento psicológico na
pandemia”, o capítulo “Vulnerabilidade social em tempos de pandemia. Para a construção de
políticas de saúde mental na Argentina”, de sua autoria e Silvia Faraone, discute o impacto das
vulnerabilidades sociais, pobreza, exclusão, agravadas pela pandemia, com o aumento do
sofrimento psíquico. No campo da infância, isso poderia ter levado a uma reflexão sobre as
condições que produzem o sofrimento psíquico: escassez, pobreza, marginalização e o que
observamos é mais uma continuidade, mesmo nesses momentos, dos processos de diagnóstico
e terapêutica psicofarmacológica. Queria te perguntar: De que forma você acha que a saúde
mental das crianças foi afetada pela pandemia de covid-19? E como entender a necessidade de
pensar essas vulnerabilidades sociais e sua relação com a pandemia? Não quero dizer que as
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Entrevista com Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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crianças de classe média não tenham sofrimento, mas ressaltar que o sofrimento produzido,
tanto nas crianças mais precárias socialmente, quanto nos meninos e meninas que vivem outras
realidades sociais, parece ter se agravado fortemente na pandemia.
Alejandra Barcala:
No início da pandemia, fizemos um trabalho para o Unicef que
cobria diversas localidades do país, investigando por meio de referências de crianças e
adolescentes e por meio de jogos, o que estava acontecendo com eles. Com um design lúdico,
percebemos que meninos, meninas e adolescentes de todas as classes sociais, além das
desigualdades, possuíam uma incrível capacidade lúdica e criativa que lhes permitiu elaborar a
natureza incerta e potencialmente traumática da pandemia. Nós, que achávamos que havia um
nível de sofrimento ou dificuldade muito maior, nos deparamos com muitos meninos e meninas
brincando. De fato, percebemos que o indicador para ver se um ou alguns deles estava muito
ruim era ver se eles haviam parado de jogar, se haviam desistido, se não conseguiam se conectar.
Ao contrário do discurso de “como os meninos estão mal”, de que “estão sofrendo muito”,
notamos que no primeiro ano da pandemia a situação em geral, que meninas, meninos e
adolescentes encontraram enormes capacidades para serem capazes de elaborar e simbolizar a
situação de diferentes maneiras. O que, na classe média, se processava através do uso de
tecnologias digitais, nas classes populares acontecia no jogo com as crianças do bairro.
Demonstravam, inclusive, maior capacidade lúdica com os meninos do bairro, do que meninas
e meninos de classe média que passavam grande parte do tempo ligados à televisão. Nesse
ponto, a visão adultocêntrica de atribuir significado à infância e adolescência foi muito afetada,
era uma pergunta equivocada.
Entendo que os problemas começaram a aparecer na segunda parte da pandemia ou pós-
pa
ndemia com o retorno às rotinas diárias. Esse tempo foi e é um momento difícil. Foi quando
começaram a aparecer alguns indicadores de desconforto psíquico, para alguns foi difícil
regressar à socialização, voltar a integrar-se, e entendo que perante este problema, a escola e os
professores são os agentes socializadores responsáveis por intervir. Percebemos,
principalmente nos meninos das classes populares, o valor da professora, da mocinha, e a
relevância da escola como lugar de abertura de horizontes, de desenvolvimento cultural.
Chamou nossa atenção que quando uma professora fazia uma viagem de ida e volta com os
meninos e meninas sob sua responsabilidade, quando ela era uma agente de convívio próxima,
esses meninos e meninas tinham muito mais capacidade de retornar e aprender. E para quem
teve ou tem dificuldades, temos uma visão crítica em relação a patologizar o que acontece com
eles, por isso dizemos que temos que repensar a questão do trauma, não patologizar esses níveis
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON e Barbara Michele AMORIM
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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de sofrimento, mas tivemos que acompanhá-los no atual contexto social.
Eu acho que para nós que trabalhamos com direitos humanos, essas lições são muito
importantes para pensar na pandemia hoje, que ao invés de falar "esse menino tem fobia" ou
esse "menino tem transtorno de TDAH e vamos medicar para que ele possa sair de sua casa”
procure ouvir, compreender e acompanhar. Podemos ouvir e gerar processos sociais, coletivos,
e isso inclui as mídias que operam o tempo todo gerando essa representação, essa narrativa de
infâncias totalmente objetivadas, em vez de sujeitos de direitos. Quando um menino recebe um
diagnóstico e é medicado, você tira a possibilidade de agência dele, tira o poder dele, tira a
possibilidade de pensar que ele é capaz de transformar seu mundo, a possibilidade de construir
sua cidadania, de construir autonomia, de ter ele tem muito a dizer e a fazer, a transformar em
relação à sua vida. Acredito que colocamos meninos e meninas em um lugar de subalternidade
onde não há outra opção senão ser o diagnóstico que lhes damos. Acho muito interessante
observar que quando um menino ou uma menina são vistos de forma diferente, ele reage de
forma diferente, e se for rotulado como louco, medicalizado e internado em uma instituição
psiquiátrica, ele agirá de acordo com a etiqueta imposta. E acho que devemos refletir sobre os
efeitos dos diagnósticos. Se dissermos "esse menino tem um transtorno psicótico" ou "ele tem
um transtorno bipolar, uma fobia", é como dizer "vou ficar calmo com isso". Dessa forma,
coloco um rótulo e me exonero da obrigação social que temos de aliviar seu sofrimento e
transformar suas vidas.
Sandra Caponi:
Essa questão que você estava comentando sobre os dois modelos que
estão em conflito, um modelo que tem a ver com direitos humanos e um modelo que diz: "nós
não somos cientistas". Acredito que a intensidade desse grau de cientificidade deve ser um
pouco diminuída, ou seja, para demonstrar as disputas epistemológicas que existem nesse
campo, para mostrar que não é tão científico quanto se diz. Para finalizar e agora para finalizar,
gostaria de escutar de você o que você acha que as ciências sociais em geral, a sociologia pode
contribuir para esse processo?
Alejandra Barcala:
A
credito que nós da academia temos a obrigação de construir
conhecimentos que contribuam para resolver os problemas que nossos povos têm, no nosso
caso o sofrimento que as crianças e os adolescentes têm. Acredito na construção de categorias
que nos permitam pensar problemas e transformar realidades, que ajudem quem está
trabalhando no território permanentemente, a repensar e refletir sobre suas práticas, a ter
ferramentas para poder se distanciar do trabalho cotidiano e poder pensar e construir estratégias,
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Entrevista com Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718
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alternativas, a partir de uma abordagem de direitos, isso me parece central.
E acredito que, como diz Boaventura de Souza Santos, a academia tem que pensar em
si mesma em termos de extensão, de cooperação, de construção coletiva de conhecimentos que
possam ser úteis para os trabalhadores das áreas da saúde, educação e justiça, que lhes permitam
pensar em melhores formas de intervenção na abordagem para aliviar o sofrimento humano.
Como podemos revelar através do nosso conhecimento que isso não é tão científico? Como
podemos revelar que meninos e meninas não são objetos? Como tornar a violência institucional
visível? Como podemos tornar visíveis as violações de direitos? E também isso, que me parece
central, como podemos contribuir, como isso pode ser transformado? Porque eu acho que às
vezes da academia só nos resta analisar as realidades, o que não é pouco, é extremamente
valioso mostrar como certas questões ocorrem, mas também como desconstruí-las, como
transformá-las, nessas questões que você me perguntou e que viemos trabalhando, como
fazemos sentido? Como construímos um significado do que está acontecendo? Mas, ao mesmo
tempo, como pensamos o desafio de construir e poder pensar em diferentes formatos? Acho
que temos uma dívida para poder transmitir isso também na mídia, construir narrativas que
concorram com as narrativas hegemônicas, porque claramente a saúde mental é um campo de
disputa. Acredito que temos muito a contribuir com argumentos para que esse discurso tenha
mais força nessa disputa ou possa vencê-la.
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON e Barbara Michele AMORIM
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
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Como referenciar este artigo
CAPONI, Sandra; MAZON, Marcia; AMORIM, Barbara Michele. Entrevista com Alejandra
Barcala.
Estudos de Sociologia
, Araraquara, v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN: 1982-
4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
Submetido em
: 15/06/2022
Revisões requeridas em
: 10/07/2022
Aprovado em
: 12/08/2022
Publicado em
: 30/09/2022
Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação.
Correção, formatação, normalização e tradução.
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Interview with Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
1
INTERVIEW WITH ALEJANDRA BARCALA
ENTREVISTA COM ALEJANDRA BARCALA
ENTREVISTA CON ALEJANDRA BARCALA
Sandra CAPONI
1
Marcia MAZON
2
Barbara Michele AMORIM
3
Context of the interview:
Due to the health demands caused by the Covid 19 pandemic, the
interview was carried out remotely, using the ZOOM platform.
Presentation of the interviewee
Alejandra Barcala is a Psychologist, Master in Public Health and Doctor in Psychology
from the University of Buenos Aires (UBA). She holds a Post-Doctorate in Social Sciences,
Childhood and Youth from the Latin American Faculty of Social Sciences (FLACSO), in
conjunction with the International Center for Education and Human Development Foundation
(CINDE), University of Manizales, Pontifical Catholic University of São Paulo, the Colégio da
Fronteira Norte (COLEF) and the Latin American Council of Social Sciences (CLACSO).
Director and professor of the International Doctorate in Community Mental Health at the
National University of Lanús (UNLa). Professor of the Masters and Doctorate in Community
Mental Health (UNLa), the Masters in Mental Health at the National University of Entre Ríos
(UNER), the Masters in Child and Adolescent Problems at the College of Law (UBA) and the
Specialization in Psychoanalysis with Children from the University of Business and Social
Sciences (UCES). Director of the Research Project: Study on violence in the approach to mental
health in childhood: inclusion of a gender perspective and cultural diversity (2019-2023).
Coordinator of the Care Program for children and adolescents with severe mental disorders
1
Federal University of Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brazil. Department of Sociology and Political
Science. Postgraduate Program in Political Sociology (PPGSP) and Center for Sociology and History of Health
Sciences (NESFhIS). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8180-944X. E-mail: sandracaponi@gmail.com
2
Federal University of Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brazil. Department of Sociology and Political
Science. Postgraduate Program in Sociology and Political Science (PPGSP) and Economic Sociology Center
(NUSEC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2953-1089. E-mail: marciadasilvamazon@yahoo.com.br
3
Federal University of Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brazil. Bachelor and Licentiate in Sociology.
She is doing a post-doctorate at the Federal University of Santa Catarina and at the University of Paris 8, with a
Capes-Cofecub grant under the project: Specialized knowledge in the area of childhood and youth. ORCID:
https://orcid.org/0000-0003-0068-9568. E-mail: bmichele.amorim@gmail.com
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718
DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
2
(2006-2012) with psychological distress. Coordinator of the interdisciplinary team to support
the technical defense of people involuntarily hospitalized in psychiatric institutions of the
Lawyers Unit nº 22, Mental Health Law nº 26.657. Defender General of the Nation (2012-
2017). Member of the Honorary Advisory Board of the National Mental Health Act.
***
Márcia Mazon:
Could you tell us a little about your academic trajectory, as a researcher
with a degree in Psychology and a Master's degree in Public Health. How do you arrive at this
issue of mental health and human rights? Reflecting a little on the histories of Brazil and
Argentina, the experience of a military dictatorship and how this option of thinking about
mental health from the point of view of human rights arises, I believe that this implies a political
choice. A way to face not only the biomedical model, but also this excess of medicalization that
marks Latin America and society as a whole in the 21st century. Could you comment a little on
Transitional Justice – right to memory, justice, reparation; a path that Argentina followed very
well and Brazil did not. Do you think this marks the field of mental health differently in one
country and another, and how, in your opinion, does this happen?
Alejandra
Barcala:
I started my studies during the dictatorship and when I was in the
middle of my degree, democracy returned in Argentina, with which, at that time, since my
formation, the logic of human rights was something that crossed my university trajectory. In
Argentina it is very difficult to think about mental health without articulating it with human
rights for several reasons. Clearly, the fact that our country went through a dictatorship and that
during and after that dictatorship there was significant resistance from the mental health
movements that accompanied the victims of state terrorism, made those people who were
sensitized within the university clear, we were later crossed in our practices by the need for
policies of memory, truth and justice. During the dictatorship, the important mental health
movement that existed in our country was dismantled. Most professionals had to go into exile,
many professionals disappeared; in fact, the president of the Argentine College of Psychologists
is missing. During the dictatorship, all group activities in the field of mental health were closed
and a series of community practices that had taken place in Argentina since the late 1960s were
prevented. The first mental health policies in Argentina date back to that time, promoted by
Mauricio Goldenberg, who started a very important movement in the field of mental health,
which had to do with the first forms of work in the community and the opening of general
hospitals for patients with mental suffering. During the Goldenberg dictatorship he had to go
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Interview with Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718
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https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
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into exile, and Valentín Barenblit, who was another important figure in Argentina, and many
colleagues who were psychologists, doctors and mental health workers also went into exile. In
1983, with the advent of democracy, the field of mental health was reorganized again. At that
time, the psychoanalyst Vicente Galli took over the National Directorate of Mental Health, and
his management made an important link of cooperation with the Italian reform, implemented
interdisciplinary residencies in our country and started to propose deinstitutionalization in the
different provinces. He supported the experience of asylum isolation in the province of Río
Negro, which was the first in Argentina and involved the closure of a psychiatric institution.
Well, it was in this context that I started my practice, in a context of democratic openness where
territorial work and interdisciplinary work regained value in the field of community mental
health. And from there my journey began. I worked in the province of Misiones organizing a
primary health care program for a health area with a high percentage of families living in
poverty and with many rights violated. Later, when I returned to Buenos Aires, I got in touch
with the chair of Public Health and Mental Health, directed by Alicia Stolkiner. This was the
first course at our College that included the human rights dimension in the curriculum. There,
my first steps were taken in conceptualizing, researching and intervening in the field of mental
health from a rights-based approach. I would say that as a professional I'm kind of amphibious,
because while I was working in the academy, I was working in the health services. At the time,
I coordinated the first community service for children and adolescents with severe mental
disorders, which later changed its name to children and adolescents with psychosocial suffering,
which served the entire city of Buenos Aires. Important regulatory frameworks emerged in the
1990s, including the Inter-American Convention on the Rights of the Child, and then the fact
that this perspective of rights was already present in the work of monitoring victims of State
terrorism, along with these regulatory frameworks that expanded rights, allowed, even within
the framework of a neoliberal government, to implement practices with a rights focus in the
field of mental health.
In Argentina, during the 1990s, the mental health problem was largely silenced until in
1997 the report “
Vidas Arrasadas
” was published by the Center for Legal and Social Studies
(CELS), which made the situation in our country visible. It reported that there were twenty-six
thousand people hospitalized in psychiatric hospitals and showed the conditions of vulnerability
and violation of rights suffered by these people. The presentation of this report generated a lot
of indignation and put the mental health situation back on the State's agenda, which reappeared
under the government of Néstor Kirchner.
When the CELS report appeared, when it became known what was happening in the
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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, Araraquara,
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asylums, the whole of society became very sensitive about what the clandestine detention camps
had been like, about the missing-detainees and the way the psychiatric institutions treated the
people who were there. The treatment was so cruel, so inhuman and degrading that it almost
turned into torture. For this reason, the field of mental health and human rights are and continue
to be closely linked. Until today the violation of rights occurs in institutions, recently a user of
one of the psychiatric hospitals was killed by a pack of dogs, others died by being tied to a
chair.
In 2010, under the presidency of Cristina Fernández de Kirchner, the National Mental
Health Law 26,657 was enacted, a law for the promotion and protection of human rights that
establishes the definitive closure of psychiatric institutions by 2020. This was driven by what
we call “the 26,000 laws”, which are the human rights laws that were enacted at the time. The
governments of both Kirchners had a very strong policy that clearly established a public policy
for the recovery of memories, with actions such as the annulment of the full stop and due
obedience laws, and a series of gestures. Among them, removing the military personnel from
the government house and taking over the building of the former ESMA (Marine Mechanics
College), where one of the clandestine detention centers was located, and transforming it into
a museum and memory,Truth and Justice Center. This reminds me of something that was also
very exciting: last year, at the end of the year, at the National Council for Scientific and
Technical Research (Conicet), where researchers and fellows work in our country, the files
were opened for the first time workers of the agency who disappeared during the dictatorship
and in an act in which the president and the minister of education were present, their files were
returned to the families and the state apologized. In all these years these events were invisible
and silenced, that is, we still continue with a proposal or a policy to recover certain memories.
Trabalho especialmente em pesquisas com crianças, adolescentes e jovens que se
encontram em situação de vulnerabilidade social e com sofrimento psíquico grave, e o que mais
nos preocupa são as crianças que estão institucionalizadas. Porque ainda hoje o nível de
violação de direitos a que estão submetidos é imenso. Ainda há quartos de isolamento, ainda há
contenção física (a contenção física é extremamente comum), há medicamentos (os chamados
reforços todas as noites para que possam dormir), há distanciamento dos laços familiares ou
afetivos e sociais. Há uma multiplicidade de violações de direitos. Nosso país é muito sensível
às internações psiquiátricas e também às formas de campos de detentos desaparecidos. E isso
levou ao movimento de resistência e é claramente uma opção ético-política. Nessa articulação
entre direitos humanos e saúde mental, as Mães da Praça de Maio organizaram durante muitos
anos os Congressos de Saúde Mental e Direitos Humanos, nos quais participaram milhares de
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Interview with Alejandra Barcala
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, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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pessoas de todo o país todo mês de novembro. Muitos deles cumpriram as palavras de ordem
da luta antimanicomial e tiveram forte impacto naqueles que foram os primeiros passos para a
sanção e promulgação da Lei de Saúde Mental. Ou seja, todos os grupos que trabalharam pela
sanção da Lei estavam ligados aos direitos humanos. Como nossa Lei de Saúde Mental é
basicamente uma lei de direitos humanos, ela se enquadra nesse corpus normativo. I work
especially in research with children, adolescents and young people who are in a situation of
social vulnerability and with severe psychological suffering, and what concerns us most are
children who are institutionalized. Because even today the level of violation of rights to which
they are subjected is immense. There are still isolation rooms, there is still physical restraint
(physical restraint is extremely common), there are medicines (the so-called reinforcements
every night so that they can sleep), there is distancing from family or affective and social ties.
There are a multitude of rights violations. Our country is very sensitive to psychiatric
hospitalizations and also to the forms of camps for missing detainees. And that led to the
resistance movement and it's clearly an ethical-political option. In this articulation between
human rights and mental health, the Mothers of Plaza de Mayo organized for many years the
Mental Health and Human Rights Congresses, in which thousands of people from all over the
country participated every November. Many of them fulfilled the slogans of the anti-asylum
struggle and had a strong impact on those who were the first steps towards the sanction and
enactment of the Mental Health Law. In other words, all the groups that worked for the
enactment of the Law were linked to human rights. As our Mental Health Act is basically a
human rights law, it falls within this normative corpus.
Márcia Mazon:
And now Alejandra, I would like to ask you to reflect on the tension
between social inequalities and inequalities in health/mental health. We have, on the one hand,
vulnerable children with little or no access to healthcare (your research shows this very well in
relation to vulnerable hospitalized and medicated children - this construction of a pathologized
subjectivity) and on the other hand a middle and upper class with excess of attention,
medication, endless check-ups, hospitals that look like luxury resorts. However, when we talk
about children's mental health, the design of this scenario shows that both high-performing
schoolchildren and children in situations of vulnerability are excessively medicated and
stigmatized, among others, with a diagnosis of ADHD and its corresponding medication. In
Brazil, too, the diagnosis of ADHD follows the process of precariousness of public schools,
with teachers who have Ritalin in the drawer and talk to the psychiatrist on WhatsApp to adjust
the Ritalin medication, we have a student investigating this here in Santa Catarina in doctorate,
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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How do you see these processes?
Alejandra Barcala:
The Covid-19 pandemic, as we have all seen, clearly deepened
social inequalities and allowed those who work with children and adolescents in vulnerable
situations to understand a little more how these social inequalities impacted their mental health.
Because? First, there is something that is happening in Argentina, which is increasing and
continues: the psychiatric institutionalization of boys and girls. That is, in recent years the levels
of institutionalization of boys and girls have increased significantly. And, in general, what we
saw is that this higher level corresponded to girls and boys from very poor homes or who were
living on the streets or institutionalized in convivial homes.
We were surprised by the number of institutionalized children who were hospitalized
by special measures (often because their rights were violated within the family) and who
followed what we call a “medicalization circuit”. Boys and girls attended the health services
referred by the school because they had intense affectations or emotions, usually the product of
social determinants. These were quickly understood in psychopathological terms and
accompanied by various diagnoses. This is what we call the “pathologization of social
situations”. These diagnoses ended up stigmatizing childhoods and were accompanied by the
prescription “they are not for here”. In other words, these girls and boys with serious illnesses
were quickly expelled from the health services and referred to other health services, thus
producing what we know as a long “institutional drift”. Parents, families went through different
services. All made diagnoses, all ended up putting a label, which could be the same or different,
reducing complex problems to psychopathological categories and promoting this strategy of
transit without an anchor, with no place where they were received, denying them the right to
adequate care. When no health service received them and the situation continued to get worse
or they presented what they called “crises of excitement”, after medicating them, they ended up
in psychiatric institutions. Especially the boys and girls institutionalized under the protection
system in Argentina, with intense psychological distress, were quickly admitted to psychiatric
institutions during a crisis.
We think that the so-called "psychomotor arousal crises" are ways that girls and boys
have to express their suffering when they don't have symbolic mediations to process it
psychically, so the only way they have is to express themselves is with behavior. In general,
boys and girls who have suffered a lot of frustrations are less likely to endure frustrations, less
tolerance because the feeling they have, or the image they have, is that there will be no different
tomorrow or after, a different time. These crises are often ways of expressing enormous
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Interview with Alejandra Barcala
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, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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suffering that cannot be mediated by words, as they have not found an adult who, in their
socialization process, has helped them to symbolically mediate this through words.
This pathologization was not only accompanied by the phrase “they are not for here”,
but in many cases “they are for Tobar García”, referring to the neuropsychiatric hospital for
children and adolescents in Argentina. In other words, they are boys and girls who have defined
themselves and assumed a denigrated identity, a subordinated identity, a shared stigma that
almost led to the loss of existence. It means to say that there is nothing more to do with these
boys and these girls. Saying “they are for Tobar García” is like saying that they are not for the
places of childhood, they are not for school, they are not for living as a family, they are for
being hospitalized in that place where they lose all possibility of citizenship. Because they live
in a total institution where they have no choice who to live with, they have rigid and uniform
routines for everyone, few daily activities, they do not have access to an interdisciplinary
service as proposed by the Law, to a team that can work in their territory, that can build bonds
with families, with the affective referents of the community, who can understand the complexity
of a social problem and act accordingly. They were not biomedical problems, but their suffering
was the product of social traumas suffered, which, instead of being understood as situated in a
social context, were understood as if they were individual psychopathological problems, outside
the family context, outside the relational context, because outside the context community. And
this quickly led to a spatial segregation that can be summarized as: "let's put these children and
adolescents in Tobar García or in therapeutic communities for drug users".
In Argentina, these therapeutic communities and children's psychiatric hospitals are
subsidized by the State, they are outsourced with State resources, but they are in private hands.
There are clearly two issues: on the one hand, those boys and girls with a greater degree
of psychological and social vulnerability, where the performative value of the diagnoses leaves
them outside of all conditions of existence. They are childhoods subjected to a medical power
structure and autism spectrum, pervasive developmental disorders, schizophrenia and bipolar
disorder are some of the diagnoses that are taken as a reference in manuals such as the DSM.
And so their stocks are pathologized although, in general, they are problems that should have
been addressed with community responses, answers that can be given within a more
comprehensive approach, as determined by the current regulation, that is, the National Mental
Health Law, provincial laws, the International Children's Convention, the integral protection
laws for children and adolescents of almost every jurisdiction in our country.
On the other hand, in relation to what was consulted about girls and boys with high
school performance, we carried out with Dr. Silvia Faraone, an investigation that made visible,
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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from 2000 onwards, the boom in the diagnosis of attention deficit disorder had begun in
Argentina with the rise of the diagnosis of attention deficit hyperactivity disorder (ADHD). We
noticed from the professionals' reports that the medication had increased, but specifically we
could verify when we saw that the importation of methylphenidate had increased strongly and
that this was linked to a greater diagnosis in girls and boys. We analyzed what was happening
in schools in the richest part of the city and noticed that there were more boys and girls
diagnosed with ADHD and medicated with methylphenidate. And this had to do with the need
for them to respond to the demands of dual-shift schools, to the demands of a society that forced
them to be successful, to compete in the market, that is, to respond to the expectations that
fathers and mothers had about how they should be. On the other hand, when we went to the
area where the poorest schools were located, in the public schools, the behaviors for which boys
and girls were medicated with methylphenidate and diagnosed with ADHD were defined as
typical problems of those who lived in poor families in which there was family violence. And
we noticed that in those areas they were much less medicated.
Today, what worries us the most, since in Argentina more than 50% of boys and girls
are below the poverty line, are the social determinants and their impact on child suffering. We
currently find diagnoses more frequently, such as pervasive developmental disorders, such as
the autism spectrum. Because the problem is that, just as the school has the great capacity to
accompany and transform and open up a possible world for a boy, it also has the possibility of
subjectively marking him with a diagnosis throughout his life. And that's what we see.
Institutions are producers of subjectivity and the way in which a school, a health
institution looks at a boy, a girl, constitutes it subjectively. When she looks at it and names it in
terms of pathology, in terms of diagnosis, in terms of devaluation and not in terms of its
potencies, it generates an indelible mark on its subjectivity. We work a lot in schools and legal
protection or rights services, asking them: When you report a child, do you highlight their
strengths, their abilities? Or just mention the list of difficulties. What effects would be produced
if, instead of saying that they behave badly, that they are restless, that they do not pay attention,
that they fight with their friends, they mentioned some positive characteristics, their strengths,
their abilities; for example, that he likes music, or that he responds softly when spoken to, that
he has a good relationship with someone in particular etc. Why not make that bet? It's as if
discipline has crossed us and we can't make generative bets. We seem formatted to make
diagnoses, not to think of boys and girls in terms of their possibilities, their desires, their
opportunities.
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Interview with Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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Marcia
Mazon
: Alejandra, we would now like you to address this intersection of
legislation, politics and mental health. Although Brazil and Argentina have ratified the
international convention on the Rights of the Child and have national laws for the protection of
children (in Brazil, the ECA is more than three decades old), these rights are threatened in
different areas, including child mental health. As her research shows very well, the discursive
practices of professionals in the sector not only silence children, but these same practices
produce suffering and silencing of vulnerable children. You show very well how “psi”
knowledge limits the application of human rights. What are the possible strategies to unravel
these processes and submit them to public debate? If you could explore a little bit this tension
between human rights normative frameworks and mental health policies.
Alejandra
Barcala:
In Argentina, since the 1990s, we have had important regulatory
frameworks for our region, since the Declaration of Caracas, with the International Convention
on the Rights of the Child and the National Law on Mental Health. But nevertheless, there is a
gap, a very important tension between regulatory frameworks and mental health policies and
practices. There is a very important gap in this regard. The perspective is very interesting
because Brazil and Argentina have a different history. We hypothesize that Brazil has advanced
much more in mental health, in the fight against asylum and in the creation of Psychosocial
Care Centers (CAPS), because they have a single health system, an integrated health system,
something that Argentina has never may have.
In a recent investigation that we carried out on health services together with different
provinces of our country on child health services, we observed that there was a better response,
a greater range of responses in these provinces, such as Santa Fe, where the Mental health
system is very integrated into the overall health system. There we have an important difference,
because Brazil had an important anti-asylum movement, but it has a single integrated health
system and Argentina does not. This, although we have sanctioned, from 2010, a very
progressive National Law on Mental Health, which proposes the closing of psychiatric
institutions by 2020, which builds the institutionality to protect the rights of hospitalized people.
The Mental Health Law marked a transformation in the ways in which the State related to
people with mental health problems. It installed a turning point and allowed the transformation
of a biomedical, technocratic model, based on exclusion and the pathologization of the
problems of poverty, to a model based on the perspective of rights, community integration,
listening to users and proposing a strong participation and listening to people with
psychological distress. And, above all, it installed a community model of mental health.
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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, Araraquara,
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However, what is very good as a regulatory framework, contradicts what many investigations
show is that there continues to be a high level of violation of the rights of girls and boys.
So, one might ask, what happens in Argentina that this regulatory framework has not
been consolidated and implemented? First, to differentiate it from Brazil, we do not have an
integrated health system. One of Argentina's central indicators is the fragmentation of systems
between social projects, the public system and the private system, with which this also brings a
whole series of complications. Surprisingly when it comes to mental health, middle-class boys
and girls do not receive a better level of mental health benefits than others when they are in
severe distress. This happens because they often also fit into the same logic of medicalization
and pathologization of suffering and there are also no psychosocial strategies that accompany
families or these children with interdisciplinary approaches in order to advance.
I understand that Basaglia's ideas, Basaglia thought, did not have as much impact in
Argentina as in Brazil. He had it in the province of Río Negro, but not in the rest of the country,
where there are only sectors that understand it as such. I think we also have a problem in the
training of human resources, because most professionals are trained in institutions that do not
think about mental health problems from the perspective of rights, but respond to technocratic,
professionalizing and disciplinary models. In turn, any problem is referred to a health service
as if a psychologist in individual treatment or a psychiatrist prescribed a mediation could solve
it We think about the individual and not about the common, there is no context of the common
to think about the field of mental health. This makes the tutelary, paternalistic, patriarchal
models intensify. And in childhood this is worse, because a very strong adult-centered look is
added.
There is also a budget issue, we often do not have the necessary or adequate amount of
services to respond to or favor access, especially for those boys or girls with more serious
problems. How to make? How is this changed? We have long researched and worked with
institutions to understand the obstacles and contribute to the transformation of health policies
and services.
Recently, the president of Argentina spoke of the need for a national mental health
strategy. On 14 of June of this year, the I Forum of Research in Mental Health was held, in
which researchers and public policy managers participated, with the objective of passing on the
research results to them. In addition, they are considering implementing a national formation
of a community mental health model to transform services and support this process of
psychiatric deinstitutionalization and creation of territorial services. We have high expectations,
the Minister of Health is committed to this and would have a budget to implement it.
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Interview with Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
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In the province of Buenos Aires, a very interesting reform is beginning. The four
existing psychiatric institutions are working on a process of deinstitutionalization and have
already, even in the context of the pandemic, managed to ensure that a percentage of
hospitalized people started living in convivial homes, with their families or in their community.
The motto is "Buenos Aires free of asylums". They have a project to build a neighborhood of
community housing within which there are some for users, and also to build cultural centers
and memory spaces in psychiatric hospitals. In turn, interdisciplinary teams are being
strengthened in General Hospitals and Primary Care Centers. And even in this difficult context
of few resources and post-pandemic, a reform in the health system is being developed that we
hope will be consolidated.
For example, in relation to children and young people, a program was created that we
are advising and which, from an ethical-political stance, aims to “build the future in the
present”. Its strategy is to listen and monitor children and adolescents. And precisely what we
have been highlighting in the investigations is that they claim that they are not heard, that they
want to speak and are not heard at school, in the family, or in the health services, and that, for
example, when they are heard in the territories quickly, they assemble creative strategies to face
the problems. For example, after the suicide of a young man in a school, his colleagues, alone,
assemble a group that meets on Saturdays in the square to listen to others. They started making
Tiktok and making music, and they went to ask the local health service to accompany them if
they had any questions or faced a very complex situation. Based on this proposal, more and
more young people participate in activities supported by health teams. So, what happens when
these spaces for listening and participation are made possible and promoted in institutions?
Young people have their own appropriation capacities and their own agencies to invent their
own care devices. We propose that in order to approach mental health care, it is necessary to
listen to the child and adolescent, their desires, their needs, their proposals.
Another challenge is to do work that involves the reflexivity of workers in the field of
mental health, justice and education, that avoids adult-centric views, that is, that avoids giving
meaning, saturating with meaning what happens to children and adolescents. Because that ends
up objectifying them and doesn't open up the possibility of enabling their own voices. We say
that boys and girls should not be empowered, but that they should accompany the power they
already have, that is, not crush this power and have the capacity to be able to hear them in terms
of subjects of rights, in terms of epistemic subjects that generate their own knowledge, their
own narratives, and which can transform reality. For example, during the pandemic they
complained that they thought of many strategies to go back to school or to help their colleagues,
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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and no one asked or consulted about how they thought they should take care of themselves,
apply the protocols in their classroom, how they could follow a colleague with problems, how
they could create bonds between them beyond the mandatory distance. What happens to adults
that we cannot include boys and girls in the strategies, favor their participation, is it as if they
really have no voice, as if we are really generating more and more protective practices?
Another issue is to recognize diversities, because if there is something that diagnoses
do, it is, in some way, to unify, homogenize boys and girls as if they were a single group, and
thus, territorial, ethnic, gender and cultural diversities are nullified. A service located in one
territory is not the same as in another. That is why we propose that it is central to think about
situated subjectivities, socially, culturally, geographically and historically. And also talk about
gender diversity, because much of the violence we see in services is symbolic violence, gender
disqualifications, various forms of discrimination. For example, in hospitalizations, gender
identity is not respected and someone who was born biologically female, but who identifies
with the male gender, is admitted to a female ward because “it is their biology”. And they call
you with the name of your document and not with what you feel represented. That is, in
hospitalizations there is subjective violence, violence on bodies, denial of their desires and the
existence of these subjectivities.
Of course, we have to think about how we deal with social trauma, because in the face
of the pandemic we have to be able to understand that it will take many years to recover. This
is why many of the situations we need to symbolize today have to do with contextual effects
and the elaboration of a social duel. These are not individual duels. We continue to think in
terms of individual problems: "this boy doesn't want to go to school", "this boy doesn't want to
leave the house", "this boy has difficulties". We must think about the manifestations and affects
of childhood in a post-pandemic context, in a context in which the State, through its institutions,
has to be present to accompany those situations that are more difficult to navigate.
We also have to reduce the gaps that exist, because there are clearly gaps in the
possibilities of access to the necessary care and treatment. You saw recently that in Argentina
there is a very strong attack on the National Mental Health Law and that this attack comes from
the hand of many mothers of young people with problematic consumption problems who blame
the Law for not being able to hospitalize their children. However, the problem is not the Law
(which also allows involuntary hospitalization when there is a certain and imminent risk; as a
last resort and for a determined period), but that there is no public policy that responds to its
principles. It is not a problem of the Law, it is a question that there are no answers to the problem
of problematic consumption other than hospitalization. The truth is that there are no territorial
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Interview with Alejandra Barcala
Estudos de Sociologia
, Araraquara,
v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718
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services, interdisciplinary teams, that is, there is still a lot of work to be done. We don't have
CAPS like you, we don't have psychosocial care, in many primary care centers or hospitals they
don't work with children and young people who have problematic consumption, so clearly in
crisis situations the only thing left is hospitalization. In addition, these families are also very
unprotected and conflicts are generated that again call into question a very valuable instrument
such as the Law, which, on the contrary, proposes a model of community mental health and
starts to guarantee the rights of those who have forgotten, in and cannot leave.
The subject that Sandra works on, linked to psychiatric drugs and medication, is also a
very serious problem. There are researchers who are working specifically on this topic in
Argentina, but we have noticed that in homes where girls and boys deprived of parental care
live together, the number of girls and boys who are medicated has increased in recent years,
that is, when they enter the institution are quickly medicated or medicated. We visited homes
where 80% of the boys and girls were medicated. They were admitted without psychological
problems and, after a while, they were medicated with psychoactive drugs. This is a major
concern given the level of vulnerability they are at.
Sandra
- In the book “Mental Health and Childhood in the Autonomous City of Buenos
Aires”, you analyze the articulations and tensions between public policies and current
legislation. This book, from 2015, shows the difficulties of implementing the mental health law,
at least in the city of Buenos Aires, in relation to the classic model, based on the hegemony of
biological psychiatry and psychiatric institutionalization. The questions I would like to raise
have to do, on the one hand, with the formation of these doctors and the health professionals
who work in these institutions. How does this process take place (somehow you already referred
to it saying that they don't have a human rights perspective)? How does this formation centered
on a biomedical hegemony particularly affect children? In recent days, a statement circulated
to Congress, drawn up from the academic community, in defense of Law 26,657. I ask: why is
it necessary today to create strategies to defend this framework of rights established by the
Mental Health Law in 2010, when these rights already seemed to be consolidated? How to
understand the resistance that today appears against this law?
Alejandra Barcala:
Argentina is a federal country, therefore, according to our
Constitution, the provinces and the City of Buenos Aires, a federal district, have autonomy in
determining health and education policies. This means that they may not accept national
government provisions, although in practice they usually make the same commitments or
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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adhere to national commitments. And the Mental Health Law, being a Human Rights Law, must
be complied with throughout the national territory. However, for example, the city of Buenos
Aires has been in charge of a right-wing government, the Macrista government, for many years.
If we think about how the Mental Health Services are in relation to 2015, if there were changes,
even in relation to Law 448 of the Municipality, which is also very progressive and is still not
complied with, I would say that it is worse than what we described in that book, because at that
time there were still programs that had a community perspective. Today the hegemonic medical
model has intensified in the City and then the process of medicalization of childhood deepens.
A thesis student I'm supervising is doing a study on young people and problematic consumption
and can't find any territorial state service in the city of Buenos Aires that serves young people
with problematic consumption to carry out her field study. It is very serious that these devices
have been disarmed. The City is the stronghold where the more classical, more positivist
hegemonic psychiatry prevails, which continues to think that the mental health problem is a
biological problem, which has to do with individual characteristics and the answer must be
hospitalization.
In 2012 I worked coordinating a community program of mental health care and the
Macrista government disarmed it for considering that we had a very community vision and did
not put young people in psychiatric institutions; and that this was some sort of danger to society.
Just as they dismantled this program, they did so with many others who had this perspective. In
other words, I would say that in the City of Buenos Aires, in addition to the current regulatory
framework, there is resistance from the more traditional psychiatric associations and the union
of psychiatrists known as "municipal doctors", a version of professionals with a perspective
who occupy political positions in the and which opposes the implementation of the National
Mental Health Law.
This does not happen across the country, for example in the province of Buenos Aires,
which has a political line that responds to Kirchnerism, the opposite happens. Julieta Calmels,
responsible for the Undersecretary of Mental Health, Problem Consumption and Gender
Violence, implemented a plan fully articulated with a human rights approach. This program is
really very interesting, it has a perspective that has been transforming mental health through
cultural spaces, game libraries, with an intersectoral articulation with protection services,
education, culture, sport, to broaden the perspective. There are many provinces that are doing
very well in implementing reform actions.
From that media issue in which mothers appeared expressing their concern about the
suffering of their children, the right manifested itself, which is against this perspective of rights,
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Interview with Alejandra Barcala
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which claims that the perspective of rights is something ideological, that they have the scientific
truth about the what is happening and that scientific truth is being ignored. Above all, they
criticize article 20 of the National Mental Health Act, which states that involuntary
hospitalizations can only be carried out if there is an imminent risk. They question that and that
people should volunteer or consent, and argue that families should be able to put people in if
they wish and ask a judge, as it was before. Based on the Mental Health Law, the judge can no
longer intern in a psychiatric hospital, for this there must be an interdisciplinary team composed
of a psychologist or psychiatrist and a professional from another discipline that proposes that,
in case of a certain and imminent risk, that person must be unintentionally compromised.
Anyone can be admitted voluntarily, no problem. What is being strongly questioned are
involuntary hospitalizations and there are four projects that try to modify articles of the Law.
There is a very strong bet between traditional psychiatry and the therapeutic communities that
press for the maintenance of the old paradigm and many of the mental health workers and
human rights organizations. The Law also creates two institutions: the Review Body and the
Lawyers Unit, whose objective is to guarantee the rights of interned persons. In an
interdisciplinary way, they intervene, carry out audits and ensure that their rights are not
violated. And that, for psychiatric institutions used to managing themselves as they wish,
implies a very strong level of control, which they resist.
The formation of human resources clearly affects this while professionals continue to
be trained in universities and with current residency models, also attentive to the proper
implementation of a community health model. The organization of residences is another reason
why the situation in the city of Buenos Aires has worsened. Before they were interdisciplinary
and now there are psychiatrists on one side and psychologists on the other. Little can be
generated, instead of progressing we are going backwards.
They asked me why. Because the National Mental Health Act was passed at a time when
there was a lot of consensus, but clearly it never had legitimacy on the part of medical
associations. It was a bid that was won by a progressive sector, but it was not followed by
psychiatry, which was clearly totally against it. These attacks occur in a pendular way, that is,
from time to time there is an offensive against the Mental Health Law, which is an advance
against guaranteeing the rights of people with mental suffering to live in the community, have
a job, be treated form a health center, in order to have a life. In fact, the difficulty of this
perspective in accepting diversity, and any manifestation of otherness, as Rita Segato says, is a
problem and only ceases to be a problem when it is sifted through an equalizing grid,
neutralizing particularities. And those who do not pass must be put aside, as left over beings.
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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This is the line that crosses the judges of the court, a kind of psychiatrist and a political elite
that opposes another collective context. These are the two country models that are strongly
confronting each other in Argentina at this post-pandemic moment. The pandemic put mental
health on the agenda and different ways of understanding it began to appear. In the media it is
said that we have a pandemic of mental disorders in childhood and psychiatric diagnoses are
attributed to various emotional disorders, but there is another perspective in the field of mental
health that understands that they respond to defensive and adaptive reactions expected in the
child and that we have to collectively try to overcome the difficult time we are going through
and generate mental health mechanisms where girls, boys and young people are heard and
accompanied.
Sandra Caponi:
The last question we had to ask you was precisely about the pandemic
and this was clearly seen around the world, here in Brazil it was very clear, the amount of mental
suffering that occurred in times of a pandemic, the new diagnoses that several people who talk
and they say they have relatives with panic disorder, children who no longer want to go out on
the street, increased cases of autism, etc. I wanted to talk a little about the book you published,
which is called "Facing psychological suffering in the pandemic", the chapter "Social
vulnerability in times of pandemic. For the construction of mental health policies in Argentina”,
by her and Silvia Faraone, discusses the impact of social vulnerabilities, poverty, exclusion,
aggravated by the pandemic, with the increase in psychic suffering. In the field of childhood,
this could have led to a reflection on the conditions that produce psychic suffering: scarcity,
poverty, marginalization and what we observe is yet another continuity, even in these moments,
of the processes of diagnosis and psychopharmacological therapy. I wanted to ask you: How
do you think children's mental health has been affected by the covid-19 pandemic? And how to
understand the need to think about these social vulnerabilities and their relationship with the
pandemic? I do not want to say that middle-class children do not have suffering, but to
emphasize that the suffering produced, both in the most socially precarious children, as well as
in the boys and girls who live in other social realities, seems to have worsened strongly in the
pandemic.
Alejandra Barcala:
At the beginning of the pandemic, we did work for Unicef that
covered several locations in the country, investigating through references from children and
adolescents and through games, what was happening to them. With a playful design, we realized
that boys, girls and adolescents from all social classes, in addition to inequalities, had an
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Interview with Alejandra Barcala
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incredible playful and creative capacity that allowed them to elaborate on the uncertain and
potentially traumatic nature of the pandemic. We, who thought there was a much greater level
of suffering or difficulty, found ourselves with many boys and girls playing. In fact, we realized
that the indicator to see if one or some of them were really bad was to see if they had stopped
playing, if they had given up, if they couldn't connect. Contrary to the discourse of “how bad
the boys are”, that “they are suffering a lot”, we note that in the first year of the pandemic the
situation in general, that girls, boys and adolescents found enormous capacities to be able to
elaborate and symbolize the situation in different ways. What, in the middle class, was
processed through the use of digital technologies, in the popular classes happened in the game
with the children of the neighborhood. They even showed a greater ability to play with the boys
in the neighborhood than middle-class girls and boys who spent most of their time watching
television. At this point, the adult-centric view of assigning meaning to childhood and
adolescence was greatly affected, it was a misguided question.
I understand that the problems started to appear in the second part of the pandemic or
post-pandemic with the return to daily routines. That time was and is a difficult time. That's
when some indicators of psychic discomfort began to appear, for some it was difficult to return
to socialization, to reintegrate, and I understand that in the face of this problem, the school and
the teachers are the socializing agents responsible for intervening. We perceive, mainly in the
boys from the lower classes, the value of the teacher, the girl, and the relevance of the school
as a place for opening horizons, for cultural development. It caught our attention that when a
teacher made a round trip with the boys and girls under her responsibility, when she was a close
contact agent, these boys and girls had much more capacity to return and learn. And for those
who have had or have difficulties, we have a critical view of pathologizing what happens to
them, so we say that we have to rethink the issue of trauma, not pathologize these levels of
suffering, but we had to accompany them in the current social context.
I think that for us who work with human rights, these lessons are very important to think
about the pandemic today, that instead of saying "this boy has a phobia" or this "boy has ADHD
disorder and we are going to medicate him so he can get out of his house” try to listen,
understand and accompany. We can listen and generate social, collective processes, and this
includes the media that operate all the time generating this representation, this narrative of
childhoods that are totally objectified, instead of subjects of rights. When a boy receives a
diagnosis and is medicated, you take away the possibility of his agency, take away his power,
take away the possibility of thinking that he is capable of transforming his world, the possibility
of building his citizenship, of building autonomy, of having a lot of to say and do, to transform
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Sandra CAPONI; Marcia MAZON and Barbara Michele AMORIM
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in relation to their lives. I believe that we put boys and girls in a place of subordination where
there is no other option but to be the diagnosis we give them. It is important to note that when
a boy or a girl is seen differently, he will react differently, and if he is labeled insane,
medicalized and committed to a psychiatric institution, he will act according to the imposed
etiquette. And I think we should reflect on the effects of diagnoses. If we say "this boy has a
psychotic disorder" or "he has a bipolar disorder, a phobia", it's like saying "I'll stay calm about
it". In this way, I put a label on them and exonerate myself from the social obligation we have
to alleviate their suffering and transform their lives.
Sandra Caponi:
This question you were talking about about the two models that are in
conflict, a model that has to do with human rights and a model that says: "we are not scientists".
I believe that the intensity of this degree of scientificity should be reduced a little, that is, to
demonstrate the epistemological disputes that exist in this field, to show that it is not as
scientific as it is said to be. To conclude, and now to conclude, I would like to hear from you
what do you think that the social sciences in general, sociology, can contribute to this process?
Alejandra Barcala:
I believe that we at the academy have an obligation to build
knowledge that contributes to solving the problems that our people have, in our case the
suffering that children and adolescents have. I believe in the construction of categories that
allow us to think about problems and transform realities, that help those who are permanently
working in the territory, to rethink and reflect on their practices, to have tools to be able to
distance themselves from everyday work and be able to think and build strategies, alternatives,
from a rights approach, this seems to me to be central.
And I believe that, as Boaventura de Souza Santos says, the academy has to think of
itself in terms of extension, cooperation, collective construction of knowledge that can be useful
to workers in the areas of health, education and justice, who allow thinking of better forms of
intervention in the approach to alleviate human suffering. How can we reveal through our
knowledge that this is not so scientific? How can we reveal that boys and girls are not objects?
How to make institutional violence visible? How can we make rights violations visible? And
also this, which seems central to me, how can we contribute, how can this be transformed?
Because I think that sometimes the only thing left for the academy to do is to analyze the
realities, which is not little, it is extremely valuable to show how certain issues occur, but also
how to deconstruct them, how to transform them, into those questions that you asked me and
that we've been working, how do we make sense? How do we construct a meaning of what is
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Interview with Alejandra Barcala
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happening? But, at the same time, how do we think about the challenge of building and being
able to think in different formats? I think we owe a debt to be able to convey this in the media
as well, to build narratives that compete with the hegemonic narratives, because clearly mental
health is a field of dispute. I believe that we have a lot to contribute with arguments so that this
discourse has more force in this dispute or can win it.
How to reference this article
CAPONI, Sandra; MAZON, Marcia; AMORIM, Barbara Michele. Interview with Alejandra
Barcala.
Rev. Estudos de Sociologia
, Araraquara, v. 27, n. esp. 2, e022026, 2022. e-ISSN:
1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17167
Submitted
: 15/06/2022
Required revisions
: 10/07/2022
Approved
: 12/08/2022
Published
: 30/09/2022
Processing and publishing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Review, formatting, standardization and translation