Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 1
TRÊS VEZES NEGAÇÃO: COLAPSO CLIMÁTICO, CORROSÃO DA
DEMOCRACIA E PANDEMIA
TRES VECES NEGACIÓN: COLAPSO CLIMÁTICO, CORROSIÓN DE LA
DEMOCRACIA Y PANDEMIA
THREE TIMES DENIAL: CLIMATE COLLAPSE, EROSION OF DEMOCRACY AND
PANDEMIC
Amaro FLECK1
e-mail: amarofleck@hotmail.com
Eduardo Soares Neves SILVA2
e-mail: eduardosns@ufmg.br
Como referenciar este artigo:
FLECK, A.; SILVA, E. S. N. Três vezes negação: Colapso
climático, corrosão da democracia e pandemia. Estudos de
Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN:
1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380
| Submetido em: 05/03/2023
| Revisões requeridas em: 22/04/2023
| Aprovado em: 11/05/2023
| Publicado em: 01/08/2023
Editora:
Profa. Dra. Maria Chaves Jardim
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Federal de Minas Gerais, (UFMG), Belo Horizonte MG Brasil. Professor do departamento de
Filosofia. Doutorado em Filosofia (UFSC).
Universidade Federal de Minas Gerais, (UFMG), Belo Horizonte MG Brasil. Professor do departamento de
Filosofia. Doutorado em Filosofia (UFMG).
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 2
RESUMO: A pandemia do Covid-19 foi vivenciada, ao menos no Brasil, como uma parte de
um triplo apocalipse, ao lado da corrosão da democracia e do colapso climático. O presente
ensaio almeja iluminar algumas semelhanças e diferenças entre cada um destes três apocalipses,
focando em especial em como eles se retroalimentam e geram um modo bastante similar de
negacionismo.
PALAVRAS-CHAVE: Covid 19. Colapso climático. Corrosão da democracia. Brasil.
RESUMEN: La pandemia de Covid-19 se ha vivido, al menos en Brasil, como parte de un
triple apocalipsis, junto con la corrosión de la democracia y el colapso climático. El presente
ensayo tiene como objetivo iluminar algunas similitudes y diferencias entre cada uno de estos
tres apocalipsis, centrándose en particular en cómo se retroalimentan y generan un modo muy
similar de negacionismo.
PALABRAS CLAVE: Covid 19. Colapso climático. Corrosión de la democracia. Brasil.
ABSTRACT: The Covid-19 pandemic was experienced, at least in Brazil, as part of a triple
apocalypse, alongside the erosion of democracy and the climate collapse. The present essay
aims to illuminate some similarities and differences between each of these three apocalypses,
focusing on how they feed each other and generate a very similar mode of denialism.
KEYWORDS: Covid-19. Climate collapse. Erosion of democracy. Brazil.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 3
I
A queda do muro de Berlim, no dia 9 de novembro de 1989, é o símbolo maior da
esperança com a qual se iniciou nossa época: finalmente um mundo unificado, regido por
governos democráticos liberais em escala local, e por organismos multilaterais em escala
global. O final da guerra fria com o colapso do socialismo realmente existente afastava o receio
de uma guerra nuclear e autorizava a crença de que um regime de livre mercado e de democracia
representativa poderia garantir a inclusão, ao menos em patamares razoáveis de qualidade de
vida, de asiáticos, africanos e latino-americanos. Seis dias depois os brasileiros votavam
novamente para presidente, depois de vinte e nove anos.
Por certo não era a vida emancipada com a qual muitos sonharam: não era o reino da
liberdade na qual o trabalho seria abolido ou reduzido a um nimo insignificante; não era a
utopia na qual se poderia caçar de manhã, pescar pela tarde, pastorear ao entardecer e, depois
do jantar, criticar. Mas era algo. E a simples promessa de se estar a salvo de tiranos de farda,
seja ela verde-oliva como a dos militares daqui, seja ela a de burocratas de um partido único,
não era algo a se desprezar. Somado a um mundo sem fome e sem guerras, não era pouco. O
que restou deste início de século? Com quantos pesadelos se desfez uma ilusão?
Trinta anos depois cá estamos: ao fim de uma pandemia que não soube ser contida nem
atenuada por déspotas eleitos, e isto em um mundo cada vez mais quente e que tende, por
conseguinte, a ter cada vez mais eventos extremos. Como chegamos aqui? Gostaríamos, neste
ensaio, de desenvolver algumas reflexões sobre uma parte da resposta. Para isso vamos articular
três preocupações: a dos dois últimos anos (2020-2021), com a pandemia; a da década, com a
corrosão da democracia e ascensão do neofascismo; a do século, com o colapso do regime
climático que serviu de esteio a nossa civilização. Nuno Ramos (2020) disse recentemente que
o Brasil enfrenta um duplo apocalipse: coronavírus e Bolsonaro. Infelizmente ele é triplo.
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 4
II
Em uma sociedade desenvolvida, tecnológica, conter uma pandemia não é uma tarefa
tão difícil, ao menos no sentido de evitar as tragédias de pandemias passadas. Em especial
quando houve tempo para se preparar e se pode contar com a experiência dos países que
atravessaram momentos críticos. Basta seguir o conselho de cientistas (que é mais ou menos
consensual) e repetir o que deu certo alhures. Fechar fronteiras, impor quarentenas e períodos
de confinamento mais restrito, testar em massa, isolar os casos, produzir os itens que serão
necessários para o enfrentamento da pandemia e para a reabertura (máscaras, respiradores,
testes, equipamentos de proteção), desenvolver vacinas e adquirir previamente uma carteira
variada das vacinas que estão sendo desenvolvidas em outros lugares. O objetivo é achatar a
curva: impedir que o vírus se dissemine e, na medida do possível, fazer com que ele desapareça.
A questão é acertar o momento oportuno para cada medida. Isto tudo é meio óbvio, mais difícil
é conseguir que as pessoas fiquem em casa. Para isto são necessárias medidas um pouco mais
complicadas: garantir que elas recebam uma renda para não trabalhar; fornecer informações
claras e precisas; fiscalizar e garantir que o isolamento social está sendo respeitado. É certo que
quarentenas e confinamentos vão provocar um baque na economia, mas aqui também medidas
corretas achatam a curva de recessões, depressões, desemprego. Mesmo sociedades pouco
desenvolvidas e pobres conseguiram dar conta do recado. Por que falharam sociedades como
Reino Unido, Estados Unidos, e, sobretudo, Brasil?
Recentemente Katharine Hayhoe (2020, n.p.) resumiu em um tuíte os estágios da
negação: não é real. Não somos nós. Não é tão ruim. É caro demais resolver. Aqui está uma
ótima solução (que não funciona). E ah não! Agora é tarde demais. Você devia ter avisado
antes”. É um resumo do fracasso: começa com: “é uma gripezinha, não vai dar nada,
matará gente que já está na beira da cova”; avança para: “sim, é grave, matará muita gente, mas
muito mais vai morrer de fome ou das consequências econômicas da quarentena”; e então para:
“se todos usarem máscara podemos retornar à normalidade; a cloroquina salvará!”; até
finalmente chegar ao ponto da lamentação: “poderíamos ter feito algo antes, mas agora é tarde”.
A negação funciona para ganhar tempo (ou melhor, para perdê-lo): ela adia as ações que
precisam ser tomadas. Mas este adiamento é fatal numa pandemia: agir tarde demais é inócuo.
Uma vez que o vírus se espalhou as medidas têm que ser várias vezes mais drásticas para
surtir um efeito menor. A negação também funciona para polir a brutalidade: em vez de
conscientemente falar “sim, vão morrer um ou dois milhões de pessoas, mas gente demais
no mundo, e isto vai melhorar nossas contas da previdência e diminuir a fila dos
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 5
desempregados” ou mesmo “travar a economia agora fará minha reeleição ir pelos ares ou
abreviará meu processo de cassação”, ou ainda “é possível jogar o ônus desta crise nos prefeitos
e governadores, minando meus potenciais adversários”, disfarça-se, também para si próprio:
“tenho valores, minhas decisões, mesmo que aparentemente duras e insensíveis, foram sempre
para salvar vidas”. A bárbarie às vezes sabe portar-se à mesa (HAYHOE, 2020).
Mas e se Hayhoe (2020, n.p.), uma cientista estadunidense, não estiver falando da
pandemia, e sim da ameaça autoritária que paira sobre o seu país (e também, por óbvio, sobre
o nosso)? O esquema não é mais ou menos o mesmo? “Não, Trump e Bolsonaro não são uma
ameaça à democracia liberal, as instituições estão funcionando; eles não são um Mussolini, um
Franco, um Putin, um Kim Jong-um”; “pode ser um remédio amargo, mas isso resolverá
nossa crise econômica”; “a crise será ainda maior com a instabilidade causada por qualquer
tentativa de tirá-los do comando”; “eles vão ser tutorados pelos militares, a ala ideológica vai
ceder à ala técnica, vai haver um parlamentarismo branco”; “agora é tarde, o jeito é aceitar este
novo regime ou esta nova situação”. Perde-se o tempo da ação, mas o sujeito em negação não
fica triste: quiçá o resultado fosse seu desejo inconfesso (HAYHOE, 2020).
Nem um, nem outro. Hayhoe (2020, n.p.) é uma cientista da atmosfera e, nesta condição,
tornou-se ativista climática. O que ela resumiu não são os estágios da negação da pandemia ou
os da corrosão democrática, e sim os das mudanças climáticas: “o mundo não está mais quente,
são os termostatos que deixaram de estar no mato para ficarem agora na beira dos
estacionamentos, no asfalto”; “mudanças climáticas sempre existiram, elas são resultados de
variações da radiação solar, não têm causas antrópicas”; “um planeta mais quente tratambém
vantagens: criará novas rotas marítimas no ártico, plantaremos milho na Sibéria ou café na
Groenlândia”; “não podemos parar de queimar combustíveis fósseis, os danos econômicos
serão catastróficos, e o aquecimento climático é apenas uma preocupação acadêmica, algo com
o que vamos nos preocupar daqui 500 anos”; “soluções de geoengenharia (intervenção
climática) darão conta do recado: basta jogar aerossóis em alta atmosfera ou toneladas de ferro
no mar”; até findar em lamento: “agora é tarde”. Mas se alguém pode ganhar algo mantendo o
comércio aberto, eventualmente uma reeleição; ou criando um regime autoritário; o
negacionismo climático é puramente suicida: quem ganha com um planeta tornado inóspito?
Seria ele sincero, embora insano?
Freud contava uma anedota sobre o vizinho que é acusado de ter devolvido danificada
uma chaleira emprestada: “em primeiro lugar, ele diz que a devolvera em perfeito estado; em
segundo lugar, que a chaleira estava furada quando ele a tomou emprestada; em terceiro
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 6
lugar, que jamais tomou emprestada a chaleira do vizinho” (FREUD, 2019, p. 178). É difícil
acreditar na sinceridade do negacionista, uma vez que ele passa, sucessivamente, pelos distintos
estágios: “o planeta não está aquecendo; se ele aquece a culpa não é nossa; e ainda que fosse
não seria problema algum”; “nossas instituições democráticas estão funcionando; a democracia
estava corroída; um pouco de autoritarismo fará bem”; “a pandemia não causará maiores
danos, é uma gripe; os custos da quarentena e confinamento são grandes demais; fizemos
tudo o que podíamos”. Mas qual vantagem o negacionista obtém com sua negação? Será que
ele quer o fim da humanidade? Ou é simplesmente um narcisista que busca o maior lucro
imediato, e não se importa em deixar terra arrasada para as próximas gerações? Ou, ainda, é ele
um sujeito avesso não apenas às evidências, mas também ao raciocínio lógico mais elementar,
de forma que sua compreensão deve levar em conta sua falta de racionalidade?
III
Se o colapso do clima é o problema do século não será demais fazer um breve interlúdio
e apresentar o estágio presente do desmoronamento daquilo que é condição necessária de nossa
existência. De acordo com dados compilados pelo site Our World in Data, entre 1751 e 2017
(RITCHIE; ROSER; ROSADO, 2020) os humanos foram responsáveis pela emissão de cerca
de 1531 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, o principal (mas não único) gás de efeito
estufa. O dado assusta, mas também esconde: ele dilui em um tempo excessivamente amplo as
emissões. O fato é que ela está concentrada nos últimos anos: foi grande nas últimas sete
décadas, colossal nas três ou quatro derradeiras. O problema que recém começamos a enfrentar
foi gestado desde o começo do pós-guerra. Em 1751 a humanidade queimou 9 milhões de
toneladas de dióxido de carbono; em 1851, 198 milhões; em 1951, 6 bilhões e 226 milhões. No
ano em que o muro caiu e no qual voltamos a votar para presidente eram mais de 22 bilhões, e
em 2017, de 36. Dois terços do dióxido de carbono emitido foram para os ares depois da queda
do muro.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 7
Figura 1 Emissões de CO2 por região
Fonte: Ritchie e Roser (2020)
Parte considerável destes gases ainda está em nossa atmosfera. Desde meados do século
passado a concentração de dióxido de carbono é medida diariamente, em um observatório no
Havaí. Quando Charles David Keeling começou suas medições, em 1958, ele encontrou 315
partes de dióxido de carbono em cada milhão de partículas na atmosfera, agora, em outubro de
2022, a concentração é de 416 partes por milhão.
Mas a ciência do clima é capaz de reconstruir com bastante precisão o gráfico até
milhares de anos atrás, graças, sobretudo, aos testemunhos de gelo. Neste caso a imagem muda
bastante, em vez de uma única ascensão nós encontramos oitocentos mil anos de contínuas
variações entre 180 partes por milhão e menos de 300. Foi em 1909 que este patamar foi
batido. Em 2015 eram 400. Tamanha quantidade de carbono havia na atmosfera durante
o plioceno, há 3,3 milhões de anos.
Total anual de emissão de CO2, por região do mundo, 1751 a 2017
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 8
Figura 2 Concentrações atmosféricas de CO2 continuam a subir
Fonte: Ritchie, Roser e Rosado (2020)
No Plioceno o planeta era três graus mais quente do que a temperatura média pré-
industrial. uma correlação entre a concentração de dióxido de carbono na atmosfera e a
temperatura da Terra: quanto mais carbono, mais quente. Desde a revolução industrial a
temperatura média do planeta aumentou pouco mais de 1 grau centígrado. Porém este aumento
tem sido rápido, como mostra o gráfico abaixo.
Concentração atmosférica de CO2, 803719 a.C. até 2018
Concentração atmosférica global média de longo prazo de dióxido de carbono (CO2), medida em partes por
milhão (ppm).
Tendências de longo prazo nas concentrações de CO2 podem ser medidas em alta resolução usando
amostras de ar preservadas em núcleos de gelo.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 9
Figura 3 Médias globais de temperatura aumentaram mais de 1ºC desde a era pré-industrial
Fonte: Ritchie, Roser e Rosado (2020)
O aumento da temperatura não é o único efeito do colapso do clima: os mares se
levantam, tornam-se mais ácidos, as espécies se extinguem de forma acelerada, eventos
extremos (ciclones, tempestades, secas etc.) se tornam mais intensos e frequentes. Mas o
aumento da temperatura serve como um bom critério para a avaliação dos riscos: agora, em um
planeta um grau mais quente, as chuvas com mais de cem milímetros estão se tornando comuns
em grandes cidades, assim como estiagens prolongadas. Um planejamento urbano eficiente,
contudo, pode dar conta de mitigar os piores efeitos disto. No entanto, em um planeta dois graus
mais quente, planejamento urbano algum dará conta: em uma situação assim é quase certo que
precisaremos abandonar as metrópoles, e que vastas e populosas regiões se tornarão inabitáveis
(gerando problemas gravíssimos com migrações). Três graus parece ser o limiar do que
suportaria uma sociedade organizada, uma civilização: a partir daí o clima seria tão hostil que
a agricultura em ampla escala seria impossível, e em pequena, improvável. Significaria que a
existência humana precisaria se adaptar novamente a um estágio de caça e coleta, que em
um mundo bem menos abundante. A partir de quatro graus de aquecimento a sobrevivência da
própria espécie humana seria colocada em risco, e a probabilidade de sua extinção cresceria a
cada grau acima disto. Por isso o debate tem sido sobre como fazer o possível para limitar este
Anomalia de temperatura média, global
Anomalia da temperatura média global terra-mar em relação à temperatura média de 1961-1990 em graus
Celsius (ºC)
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 10
aquecimento a um grau e meio (esta foi a meta estabelecida no Acordo de Paris (BRASIL,
2015). Um mundo tão mais quente não é agradável, tem riscos severos, mas ainda é um mundo.
Para tanto a redução na emissão de dióxido de carbono teria que ser radical. O gráfico abaixo
mostra a dimensão do corte.
Figura 4 Reduções de CO₂ necessárias para manter o aumento de temperatura global abaixo
de 1,5°C
Fonte: Ritchie, Roser e Rosado (2020)
IV
A pandemia conseguiu tornar imaginável o tamanho do baque necessário para colocar
o mundo no caminho do declínio das emissões. 2020 foi o primeiro ano com uma diminuição
significativa das emissões de poluentes (em geral, quando graves crises financeiras, como
em 2008, a emissão de poluentes diminui, mas o de forma relevante). Para limitar o
aquecimento a 1,5 graus centígrados seria necessário cortar pela metade as emissões até o meio
da década (partindo de 42 bilhões de toneladas, emitidas em 2019), e para um quarto até seu
final. As estimativas atuais estimam que por conta da pandemia a redução na emissão global de
dióxido de carbono foi da ordem de 5%, isto é, em 2020 foram emitidas cerca de 2,5 bilhões de
toneladas de CO2 a menos do que em 2019 (AMBROSE, 2020). Isto em um cenário de
Reduções de CO2 necessárias para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5ºC
Emissões anuais de dióxido de carbono em vários cenários de mitigação para manter o aumento da temperatura
média global abaixo de 1,5ºC. Os cenários são baseados nas reduções de CO2 necessárias se a mitigação tivesse
começado - com pico de emissões globais e redução rápida - no ano determinado
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 11
contração econômica global de 3,3% (VITTA, 2021) (no Brasil a queda do PIB foi de 4,1%
[ELIAS, 2021]). Uma redução das emissões deste tamanho é pouco menos do que o que seria
necessário para limitar o aquecimento a 1,5 graus. Neste caso, não apenas precisaríamos que
não houvesse um rebote (isto é, uma emissão maior na saída do confinamento, recuperando o
“tempo perdido” da produção), mas ainda que houvesse um efeito cumulativo: isto é, que em
2021 acontecesse uma epidemia mais severa que causasse uma redução duas vezes maior, e em
2022 três vezes, e assim por diante. Se a correlação entre queda do crescimento econômico e a
diminuição da emissão de poluentes não é necessária, ainda assim ela tem sido bastante precisa
(isto é, até hoje não houve um declínio significativo das emissões sem retração igualmente
significativa da economia global).
Os cenários do futuro climático são resultados de modelagens computacionais que lidam
com uma quantia assombrosa de dados. Ainda assim ali elementos puramente especulativos:
não sabemos, por exemplo, quanto carbono e metano estão retidos embaixo do solo congelado
nas regiões do ártico (o permafrost), ou talvez não queiramos saber (as estimativas sugerem
que seriam uma quantia de metano que provocaria um estrago equivalente a 1000 bilhões de
toneladas de dióxido de carbono), e que serão liberados na medida em que este solo degela.
Tampouco sabemos o quanto o aquecimento contribuirá para a savanização da Amazônia, e
quanto isto retroalimentaria o próprio aquecimento
. Em geral os cenários padrões modelados
pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) têm se mostrado bastante
acurados, embora muitas vezes sejam demasiado conservadores (isto é, confiam que os piores
efeitos combinados não acontecerão). Em resumo, não é razoável esperar que possamos nos dar
ao luxo de emitir mais 300 bilhões de toneladas de dióxido de carbono e ainda assim não termos
um planeta acima dos 1,5 graus de aquecimento, mas tampouco é certo que se emitirmos apenas
estas 300 bilhões de toneladas o planeta não tostará.
Sobre o assunto, recomendamos a entrevista de Nobre (2020) ao Estadão.
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 12
V
A sequência de capas dedicadas à situação brasileira da revista britânica The Economist
sintetiza a história brasileira recente: em novembro de 2009 o Cristo Redentor, feito um foguete,
ascendia aos céus sob o título: Brazil takes off (THE ECONOMIST, 2009). O Brasil decolava.
Ao final do segundo mandato do governo Lula, o país conseguia aos poucos erradicar a fome e
a miséria; era modelo de políticas bem-sucedidas de combate à pobreza; e via a ascensão social
de desfavorecidos que passavam a compor uma enigmática classe C, um conjunto de ex-pobres
que não era exatamente uma nova classe média. Longe de uma melhora efêmera, o país parecia
trilhar um caminho sustentável de crescimento e inclusão: bons índices econômicos, diminuição
do endividamento, melhoras na renda e distribuição de renda apesar da crise global.
Por isso tudo a segunda imagem parece a de um sonho abortado. O Cristo, cartão postal
da cidade maravilhosa, rasgava os céus como um foguete desgovernado ante a uma tragédia
anunciada. Has Brazil blown it?” (THE ECONOMIST, 2013). O Brasil estragou tudo? Era
setembro de 2013, e o Brasil tinha um longo passado pela frente. Entre as duas capas diversos
acontecimentos: a segunda onda da crise econômica de 2008 foi bem mais devastadora por aqui
do que a primeira, derrubando os preços das commodities responsáveis pelos tempos de
bonança; isto trouxe a necessidade de um rearranjo econômico, com uma política de
desenvolvimento (a Nova Matriz Econômica) baseada em grande medida em desonerações
fiscais que frustrou qualquer retomada; e neste cenário as disputas ideológicas se acirraram: a
criação da Comissão Nacional da Verdade, instituída para investigar as violações de direitos
humanos ocorridas sobretudo durante o regime militar incomodou os quartéis, maiores
beneficiados da lei da anistia; políticas midas de combate à homofobia, assim como a
equiparação das uniões estáveis homoafetivas ao casamento civil por parte do Supremo
Tribunal Federal, ocorridos quando o país era pela primeira vez governado por uma mulher,
torturada na ditadura e defensora das causas feministas, criou o cenário de guerra cultural em
que se gestou o espaço no qual começa a se organizar uma nova direita
.
O tríptico se encerra em 2019, com uma capa de terra arrasada na qual o que resta de
um tronco de uma árvore cortada forma o mapa do Brasil. O título: Deathwatch for the
Amazon (THE ECONOMIST, 2019), a agonia ou vigília da morte da Amazônia, a maior
floresta tropical do mundo, que voltava a ser devastada de forma voraz. Os seis anos que
As novas direitas brasileiras foram etnografadas por Camila Rocha de Oliveira (2019) em sua tese de doutorado
intitulada Menos Marx, mais Mises: uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018). Também a partir de
estudos de campo, Isabela de Oliveira Kalil retrata o caleidoscópio dos grupos de sustentação do bolsonarismo em
seu relatório Quem são e no que acreditam os eleitores de Jair Bolsonaro (KALIL, 2018).
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 13
separam a terceira da segunda capa foram particularmente cruéis: a eleição de 2014 cindiu o
país; escândalos de corrupção revelados por um processo judicial (Lava Jato) não menos
corrupto e escandaloso acirrou a cisão; o candidato derrotado não reconheceu o resultado da
eleição; a campanha pelo impedimento da presidente recém reeleita iniciou tão logo o escrutínio
foi apurado; a presidente foi removida por meio de um golpe parlamentar; o vice presidente
assumiu com uma guinada política radical, mas rapidamente se tornou tão ou ainda mais
impopular; o ex-presidente Lula (PT) foi condenado, preso e impedido de candidatar-se a
presidente, sendo o favorito de acordo com as pesquisas do momento; Jair Bolsonaro (PL), um
deputado federal do baixo clero, defensor não apenas da ditadura militar, mas de seus
expedientes mais sombrios (particularmente da tortura e da desaparição de corpos), é eleito
presidente afirmando, durante a campanha, que iria fuzilar opositores; o juiz responsável pela
condenação e prisão de Lula torna-se ministro da justiça do novo governo.
A ascensão de Jair Bolsonaro (PL) à presidência da república se assemelha, ao menos à
primeira vista, a uma sequência de vitórias da extrema-direita mundo afora: de Donald Trump
nos EUA; de Viktor Orbán na Hungria; de Recep Erdogan na Turquia; de Narenda Modi na
Índia, entre outros. Em todos estes casos pode-se falar de um populismo autoritário, autocrático,
que mistura doses de nacionalismo e xenofobia com fortes vínculos com seitas ou movimentos
religiosos que beiram ao fanatismo. Por mais que existam diferenças em cada uma destas
situações, é notável que isto configura uma ‘onda’, e que esta onda populista autoritária coloca
em risco a vigência das instituições democráticas destes países.
Levitsky e Ziblatt (2018), em Como as democracias morrem, argumentam que estamos
vendo uma nova forma de corrosão democrática, a qual não precisa mais recorrer ao expediente
clássico de golpes de estado com uso de forças militares. Pelo contrário, a corrosão ocorreria
por mudanças graduais das regras do jogo, de forma que “a erosão da democracia é, para muitos,
quase imperceptível” (LEVITSKY; ZIBLATT 2018, p. 17). Os autores observam que a
ascensão do candidato a autocrata costuma obedecer a algumas constantes: a) o apoio ou bem
de partidos consolidados ou bem de estadistas reconhecidos (no caso brasileiro, coube não a
um estadista reconhecido, e sim a um economista bem quisto pelos mercados, Paulo Guedes, o
papel de fiador do governo Bolsonaro); b) um esgarçamento prévio do sistema político,
sobretudo por duas regras não-escritas da democracia perderem a vigência: a tolerância mútua,
a percepção de que o adversário tem igual direito a competir pelo poder e a governar em caso
de vitória (em nosso caso, esta tolerância foi minada pelo não reconhecimento da derrota por
parte de Aécio Neves (PSDB) e pela campanha pelo impedimento de Dilma Rousseff (PT) ter
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 14
se iniciado logo após a apuração dos votos que a elegeu); e a recusa ao jogo duro constitucional
(interpretações enviesadas da lei, que embora respeitem a letra violam seu espírito, usando a
legislação para paralisar o governo; é o caso do processo de destituição da presidenta por crime
de responsabilidade devido a pedaladas fiscais, isto é, manobras contábeis que supostamente
violariam a lei de responsabilidade fiscal).
Mesmo entre este grupo, Jair Bolsonaro representa um caso extremo, de autoritário de
almanaque, capaz de completar todos os quesitos em elencos de elementos autoritários. Talvez
por isso ele tenha, ainda durante o período de seu primeiro mandato, avançado nos três
terrenos onde acontece a subversão do regime democrático, ainda de acordo com Levitsky e
Ziblatt (2018): a captura do poder judiciário, da polícia, das agências reguladoras e dos serviços
de inteligência (por meio de aparelhamento; de exclusão de funcionários pouco simpáticos a
seus ideais; de desrespeito aos procedimentos usuais para indicação aos cargos); a retirada de
alguns oponentes (por procedimentos os mais diversos desde suborno e cooptação até
marginalização, processos por calúnia e difamação, criação de dificuldades para empresários
ou figuras importantes que apoiam a oposição); a reescrita das regras do jogo (reformando a
constituição, o sistema eleitoral). Evidentemente, em nenhum destes casos o resultado se
encontra consumado, mas em cada um destes quesitos já abundam ocorrências.
de se notar que a corrosão democrática brasileira não ocorreu ante um cenário idílico,
apesar de certos avanços obtidos durante a Nova República. Como bem observa Wolfgang
Streeck (2017) em “O retorno do recalcado”, a ascensão dos “populistas bárbaros”, como
ironicamente ele denomina os autocratas (por conta do pânico que suas medidas protecionistas
provocam nas elites), ocorre mundialmente em um cenário pós-democrático, posterior ao
divórcio entre mercados capitalistas e políticas democráticas. Assim, trata-se de um
aprofundamento de um cenário de reversão democrática, em que populistas autoritários tomam
o lugar então ocupado por tecnocratas responsáveis sobretudo por assegurar os retornos dos
credores, os quais haviam se apossado do espaço em que outrora políticos lidavam com os
conflitos sociais mediados institucionalmente, mas lidando sobretudo com demandas populares.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 15
VI
A corrosão da democracia corrói também os mecanismos capazes de conter ou amenizar
uma pandemia. Não só, ela também retroalimenta o colapso climático, ao bagunçar as políticas
ambientais. A história recente do Brasil serve como evidência. A incapacidade de combater de
modo minimamente eficiente a pandemia revela não só a incompetência técnica dos autocratas
de extrema direita, mas também o desmantelamento das sociedades que eles governam.
Dois anos depois da chegada do coronavírus causador da Covid-19 no Brasil, quando
escrevemos estas linhas, o país contabiliza quase setecentas mil mortes oficialmente causadas
pelo coronavírus (o número provavelmente é subestimado). Um resultado como este não é um
acidente de percurso. Pelo contrário, como demonstra o relatório do Centro de Estudos e
Pesquisas de Direito Sanitário (CEPEDISA), da Universidade de São Paulo (USP), em parceria
com a Conectas Direitos Humanos, este cenário não foi obtido por meio da omissão do Estado
no combate à pandemia, e sim por sua participação ativa na propagação do vírus (CEPEDISA,
2021). Afinal, a estratégia do governo federal, adotada desde os primeiros dias, foi a de acelerar
a contaminação pelo vírus acreditando que assim se chegaria, o quanto antes, a almejada
imunidade de rebanho.
Deisy Ventura, Fernando Aith e Rossana Reis (2021) argumentam que o poder
executivo fez: a) propaganda contra a saúde pública, promovendo aglomerações, combatendo
medidas de restrição do contágio, como o isolamento social e o uso de máscaras, e receitando
remédios sem eficácia comprovada; b) boicote às iniciativas de governadores e prefeitos,
atrasando repasse de recursos, encaminhamentos para vacinação e pela tentativa de confisco de
insumos adquiridos pelos Estados; c) atuação normativa para considerar como essenciais o
maior número possível de atividades, assim como para vetar medidas restritivas.
A estratégia não poderia ter dado mais errado (se o objetivo fosse ter o menor número
possível de vítimas): a tal imunidade de rebanho se mostrou não apenas demasiado onerosa, a
ser paga com um número de vidas perdidas alto demais, como ilusória, pois a imunidade é
efêmera e não protege contra variações do vírus (mutações que se tornam mais prováveis
quando o vírus circula facilmente). Embora outros países também tenham adotado estratégias
semelhantes, a maioria deles recuou na medida em que se revelavam seus problemas. O Brasil
não. O resultado é que o Brasil apresentou uma das piores médias de óbitos do mundo inteiro.
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 16
VII
Algo semelhante poderia ser dito quanto às políticas ambientais. A corrosão da
democracia impediu que se avançasse em medidas de combate ao aquecimento. Pior, ela
contribuiu para seu retrocesso, minando o pouco esforço que havia sido feito. A política
ambiental do governo Bolsonaro tem sido uma tragédia. A faceta mais visível disto passa pelo
desmatamento da floresta amazônica: tanto pelo risco bastante real de a floresta se tornar
inviável, pelo incipiente processo de savanização, quanto pelo fato de este desmatamento ser
uma das principais fontes de emissão de dióxido de carbono. Destarte, apesar da queda mundial
das emissões ocorridas no ano de 2020, o Brasil andou na contramão e aumentou sua
contribuição para o colapso do clima apesar da pandemia e da paralisação de diversas atividades
(como escolas, universidades, e, durante um tempo menor, parte significativa do comércio).
Como mostram os dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases
de Efeito Estufa (SEEG), vinculado ao Observatório do Clima, a maior parte das emissões de
CO² no Brasil decorre de mudanças no uso da terra e florestas. Por conta disto, o ano em que o
país mais emitiu dióxido de carbono neste milênio foi 2003 (SEEG, 2023a), com 2,6 bilhões de
toneladas de CO² equivalente, ápice do descontrole do desmatamento da Amazônia legal,
quando mais de 25 mil km² foram desmatados (TERRA BRASILIS, 2023). A partir de então
foram instituídas políticas bem-sucedidas de combate ao desmatamento, as quais foram
responsáveis por reduções significativas nos anos seguintes, alcançando a marca de 4,6 mil km²
em 2012 (ano em que o país emitiu cerca de 1,4 bilhão de toneladas de CO²eq). Desde então o
desmatamento, e por consequência as emissões, tem crescido (desmatamento: 7,5 mil km² em
2018, 10,1 mil km² em 2019, estima-se que 11,1 mil km² em 2020; emissões: 1,98 bilhões de
toneladas de CO²eq em 2018, 2,17 em 2019, a estimativa para 2020 é de crescimento de 10% a
20% [SEEG, 2023a, 2023b]).
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 17
VIII
Nossa hipótese é que a pandemia é um aperitivo do que está por vir, uma espécie de
trailer do colapso climático. Adam Tooze (2020) comentou, recentemente, que esta é a primeira
crise econômica do Antropoceno. Bruno Latour (2015) observou que o Antropoceno é
caracterizado pela instabilidade, pela “intrusão de Gaia”, de modo que o clima deixa de ser uma
espécie de cenário e se torna, ele próprio, protagonista. Se estiver certo, talvez o próprio
diagnóstico de crise deixe de fazer sentido. o mais crises que irrompem, mas uma
instabilidade nunca experimentada, algo que impede qualquer forma de planejamento. Esta
pandemia é o efeito de um modo desastrado de lidar com o ambiente. Se ela revela algo é a
nossa fragilidade: o quanto dependemos de condições que não estão asseguradas.
O combate à pandemia também é uma mostra em pequena escala da luta para mitigar os
danos do colapso climático. Nestes casos, nenhuma ação é precipitada: tomar medidas
supostamente radicais antes da tragédia eclodir é a ação correta. Pensem em quão simples teria
sido fechar as fronteiras, sobretudo aéreas, no começo de fevereiro de 2020 (ou, a partir de
então, ter exigido uma quarentena rigorosa de todos que chegavam do exterior). Pensem em
quão menos radicais precisariam ser as ações, e em quão melhor seria o cenário caso medidas
concretas tivessem sido tomadas na Eco 92, quando o volume de evidências que indicava um
severo agravamento da crise climática já era imenso.
Mas as diferenças também são importantes: um país sozinho pode dar conta de controlar
a pandemia; ações locais são eficientes para evitar a propagação do vírus. No caso da
emergência climática, é preciso uma ação concertada em escala global. Com efeitos mais ou
menos devastadores, pode-se esperar que a pandemia passará, mas a mesma expectativa não é
razoável frente ao colapso climático.
O Brasil, ao lado dos Estados Unidos e de alguns países do lado oriental da Europa, são
exemplos negativos em como lidar com a pandemia. Somos também o país com o governante
que é o paradigma da corrosão democrática, um autoritário de almanaque, capaz de completar
o score de qualquer elenco de tendências fascistas a encarnação da perversão da vontade, não
de sua fraqueza. A ação de combate ao coronavírus está sendo errática: grandes doses de
negacionismo e desinformação, seguidas de ordens confusas e conflitantes com aquelas que
foram corretamente tomadas por prefeitos e governadores. No combate ao colapso climático o
mundo inteiro é um grande Brasil. Parafraseando Rodrigo Nunes (2020): o Brasil segue sendo
o país do futuro, mas o futuro piorou.
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 18
IX
Concluímos com algumas poucas palavras sobre a corrosão democrática e o que ela tem
a ver com isto tudo o que foi dito aqui. A esta altura ficou claro que líderes populistas
autoritários, extremistas de direita, governam ou desgovernam os países que mais tiveram
mortes causadas pela pandemia até agora Estados Unidos, Brasil, Reino Unido, Hungria. A
princípio a relação é um tanto evidente: Trump, Bolsonaro, Johnson e Orban foram incapazes
de planejar uma resposta adequada ao desafio posto pelo vírus. Isto não é surpresa: de maus
políticos espera-se políticas más. Mas tampouco é surpresa que os quatro tenham se comportado
de forma similar, sobretudo no início da pandemia: eles negaram a gravidade da situação e
desdenharam da radicalidade das medidas que teriam sido necessárias para conter a
disseminação do vírus. Em resumo: eles não aceitaram a novidade e tentaram persistir na vida
corriqueira de antes. E o padrão se repete em suas políticas ambientais. Justamente nisto uma
afinidade quase orgânica entre tais líderes e seus eleitores.
A dinâmica capitalista nos coloca a todos no começo de uma década crucial por conta
de suas ameaças: por um lado o colapso do clima e todos os seus efeitos previsíveis: fome,
migrações de massa, eventos extremos (ciclones, tempestades), pestes e pragas; por outro, a
automação e digitalização que converte todos os indivíduos em potenciais ou reais
desempregados. E isto tudo em uma situação na qual as disparidades de renda e de riqueza
aceleram e o padrão de vida decai. Em resumo, uma situação na qual o futuro está cancelado.
Nela só resta disputar o passado: a esquerda com o sonho de ressuscitar o estado de bem-estar
e seus mecanismos de proteção social; a direita com a tentativa de resgatar a ordem de um
mundo em que o homem, desde que branco e heterossexual, era capaz de prover um lar pleno
de sentido; e o centro fingindo que podemos viver eternamente nos anos de 1990, com sua
promessa de que meia dúzia de reformas estruturais serão capazes de criar um cenário de
crescimento econômico que perdure, mas nisto também as posições se embaralham: a direita
torna-se revolucionária: é preciso mudar tudo para que a velha ordem volte a se instaurar; ao
passo que a esquerda vira conservadora: é preciso resistir às mudanças para salvaguardar as
instituições existentes.
Não como dissociar a corrosão democrática da disseminação da postura negacionista,
pois os sujeitos em negação extrema estão entre os mais ferrenhos defensores dos extremistas
de direita. Por certo, a postura negacionista é resultado de causas diversas, em parte epistêmicas,
em outras políticas: a digitalização da comunicação; o surgimento das redes sociais e suas
câmaras de eco (bolhas); a ausência de curadoria na produção e checagem das informações
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 19
(pós-verdade); a incapacidade de rever teorias mesmo quando há excessivas evidências de seus
fracassos (caso das políticas de austeridade e do trickle down economics) e, mais
especificamente, a ascensão das mentiras especializadas que predominam na ciência econômica
cada vez mais poderosa (Curva de Laffer; Relatório Cecchini; etc. [STREECK, 2017]).
Pensamos que também entra na conta um temor ante o estado das coisas, um “medo das
consequências dos desenvolvimentos gerais da sociedade” que lida, ainda que de forma indireta
e contorcida, com o sentimento de catástrofe social, com a percepção disseminada que o modo
de vida está não apenas em risco, mas já condenado (ADORNO, 2020).
Por isso o negacionista não é apenas causa, mas também consequência desta corrosão.
Quando não se disputa o futuro, quando ele se apresenta apenas como ameaça, e a nostalgia de
um passado imaginado faz as vezes da utopia, então não resta muito ao indivíduo senão negar
tudo aquilo que o avisa da chegada do que não se pode evitar. A pandemia é um aperitivo do
colapso climático: não por instituir um ‘novo normal’, mas por enterrar de vez o velho. A
corrosão do clima, da democracia, do conhecimento, da sociedade também corrói os
mecanismos que seriam capazes de frear ou mesmo reverter estas corrosões. O negacionista é
o que se recusa ao trabalho de luto, mesmo que para isto precise conviver com fantasmas. Mas
estes fantasmas, infelizmente, não habitam apenas a extremidade de lá do espectro político.
REFERÊNCIAS
ADORNO, T. W. Aspectos do novo radicalismo de direita. São Paulo: Editora UNESP,
2020.
AMBROSE, J. Carbon emissions from fossil fuels could be fall by 2.5 bn tonnes in 2020. The
Guardian, 2020. Disponível em:
https://www.theguardian.com/environment/2020/apr/12/global-carbon-emisions-could-fall-
by-record-25bn-tonnes-in-2020. Acesso em: 15 abr. 2021.
BRASIL. Acordo de Paris. Brasília, DF: MCTIC, 2015. Disponível em:
https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/sirene/publicacoes/acordo-de-paris-e-
ndc/arquivos/pdf/acordo_paris.pdf. Acesso em: 31 jan. 2023.
CEPEDISA. Boletim n. 10: Direitos na pandemia. CONECTAS, 2021. Disponível em:
https://www.conectas.org/publicacoes/download/boletim-direitos-na-pandemia-no-10. Acesso
em: 15 abr. 2021.
ELIAS, J. PIB: Brasil termina 2020 com segunda década perdida e a pior desde 1900. CNN
Brasil, 2021. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/03/03/pib-brasil-
termina-2020-com-segunda-decada-perdida-e-a-pior-desde-1900. Acesso em: 15 abr. 2021.
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 20
FREUD, S. A Interpretação dos Sonhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
HAYHOE, K. The six stages of climate denial are. Twitter, 2020. Disponível em:
https://twitter.com/KHayhoe/status/1242817345069998080. Acesso em: 10 out. 2022.
KALIL, I. O. Quem são e no que acreditam os eleitores de Jair Bolsonaro. São Paulo:
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 2018.
LATOUR, B. Face à Gaïa. França: La découverte, 2015.
LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
NOBRE, C. Entrevista: Carlos Nobre alerta: “Estamos no máximo, há 20 anos da
‘savanização’ da Amazônia”. Estadão, 2020. Disponível em:
https://www.estadao.com.br/brasil/inconsciente-coletivo/carlos-nobre-alerta-estamos-no-
maximo-a-20-anos-da-savanizacao-da-amazonia/. Acesso em: 30 jan. 2023.
NUNES, R. Necropolítica de Bolsonaro aponta para um future distópico. Folha de São
Paulo, 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/06/vidas-de-
negros-e-pobres-se-tornam-descartaveis-na-pandemia-afirma-professor.shtml. Acesso em: 28
out. 2021.
OLIVEIRA, C. R. “Menos Marx, mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira (2006-
2018). 2019. 233 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) Universidade de São Paulo, 2019.
PROJETO de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia por Satélites PRODES
(Desmatamentos). Terra Brasilis, 2023. Disponível em:
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates.
Acesso em: 30 jan. 2023.
RAMOS, N. Brasil enfrenta duplo apocalipse com Bolsonaro e coronavírus, reflete Nuno
Ramos. Folha de São Paulo, 2020. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/05/brasil-enfrenta-duplo-apocalipse-com-
bolsonaro-e-coronavirus-reflete-nuno-ramos.shtml. Acesso em: 29 jan. 2023.
RITCHIE, H.; ROSER, M. CO2 emissions. Our World in Data, 2020. Disponível em:
https://ourworldindata.org/co2-emissions. Acesso em: 29 jan. 2023.
RITCHIE, H.; ROSER, M.; ROSADO, P. CO₂ and Greenhouse Gas Emissions. Our World
in Data, 2020. Disponível em: https://ourworldindata.org/co2-and-other-greenhouse-gas-
emissions. Acesso em: 29 jan. 2023.
SEEG. Sistema de estimativas de emissões e remoções de gases de efeito estufa. Emissões
Totais. 2023a. Disponível em: http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission#. Acesso em: 30
jan. 2023.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 21
SEEG. Sistema de estimativas de emissões e remoções de gases de efeito estufa. Nota
Técnica. Impacto da pandemia de Covid-19 nas emissões de gases de efeito estufa no
Brasil. 2023b. Disponível em: http://seeg.eco.br/nota-tecnica-covid-19. Acesso em: 30 jan.
2023b.
STREECK, W. O retorno do recalcado. Revista Piauí, n. 135, p. 44-51, dez. 2017.
Disponível em: https://piaui.folha.uol.com.br/edicao/135/. Acesso em: 10 nov. 2022.
THE ECONOMIST. Brazil takes off. The Economist, 2009. Disponível em:
https://www.economist.com/search?q=2009. Acesso em: 31 jan. 2023.
THE ECONOMIST. Deathwatch for the Amazon. The Economist, 2019. Disponível em:
https://www.economist.com/search?q=2019&page=2. Acesso em: 31 jan. 2023.
THE ECONOMIST. Has Brazil blown it? The Economist, 2013. Disponível em:
https://www.economist.com/search?q=2013. Acesso em: 31 jan. 2023.
TOOZE, A. We are living through the first economic crisis of the Anthropocene. The
Guardian, 2020. Disponível em: https://www.theguardian.com/books/2020/may/07/we-are-
living-through-the-first-economic-crisis-of-the-anthropocene. Acesso em: 15 abr. 2021.
VENTURA, D.; AITH, F.; REIS, R. Propagação da Covid 19 no Brasil foi intencional. Folha
de São Paulo, 2021. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/03/propagacao-da-covid-19-no-brasil-foi-
intencional.shtml. Acesso em: 15 abr. 2021.
VITTA, L. FMI eleva previsão de crescimento para a economia global de 5,5% para 6% em
2021. Valor Econômico, 2021. Disponível em:
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/04/06/fmi-eleva-previsao-de-crescimento-para-a-
economia-global-de-55percent-para-6percent-em-2021.ghtml. Acesso em: 15 abr. 2021
Três vezes negação: Colapso climático, corrosão da democracia e pandemia
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 22
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Não aplicável.
Financiamento: Não aplicável.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Não aplicável.
Disponibilidade de dados e material: Os materiais estão disponíveis nas referências do
artigo.
Contribuições dos autores: Os dois autores escreveram o artigo conjuntamente.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 1
THREE TIMES DENIAL: CLIMATE COLLAPSE, EROSION OF DEMOCRACY
AND PANDEMIC
TRÊS VEZES NEGAÇÃO: COLAPSO CLIMÁTICO, CORROSÃO DA DEMOCRACIA E
PANDEMIA
TRES VECES NEGACIÓN: COLAPSO CLIMÁTICO, CORROSIÓN DE LA
DEMOCRACIA Y PANDEMIA
Amaro FLECK1
e-mail: amarofleck@hotmail.com
Eduardo Soares Neves SILVA2
e-mail: eduardosns@ufmg.br
How to reference this article:
FLECK, A.; SILVA, E. S. N. Three times denial: Climate collapse,
erosion of democracy and pandemic. Estudos de Sociologia,
Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718.
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380
| Submitted: 05/03/2023
| Revisions required: 22/04/2023
| Approved: 11/05/2023
| Published: 01/08/2023
Editor:
Prof. Dr. Maria Chaves Jardim
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Federal University of Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte MG Brazil. Professor in the Department of
Philosophy. PhD in Philosophy (UFSC).
Federal University of Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte MG Brazil. Professor in the Department of
Philosophy. PhD in Philosophy (UFMG).
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 2
ABSTRACT: The Covid-19 pandemic was experienced, at least in Brazil, as part of a triple
apocalypse, alongside the erosion of democracy and the climate collapse. The present essay
aims to illuminate some similarities and differences between each of these three apocalypses,
focusing on how they feed each other and generate a very similar mode of denialism.
KEYWORDS: Covid-19. Climate collapse. Erosion of democracy. Brazil.
RESUMO: A pandemia do Covid-19 foi vivenciada, ao menos no Brasil, como uma parte de
um triplo apocalipse, ao lado da corrosão da democracia e do colapso climático. O presente
ensaio almeja iluminar algumas semelhanças e diferenças entre cada um destes três
apocalipses, focando em especial em como eles se retroalimentam e geram um modo bastante
similar de negacionismo.
PALAVRAS-CHAVE: Covid 19. Colapso climático. Corrosão da democracia. Brasil.
RESUMEN: La pandemia de Covid-19 se ha vivido, al menos en Brasil, como parte de un
triple apocalipsis, junto con la corrosión de la democracia y el colapso climático. El presente
ensayo tiene como objetivo iluminar algunas similitudes y diferencias entre cada uno de estos
tres apocalipsis, centrándose en particular en cómo se retroalimentan y generan un modo muy
similar de negacionismo.
PALABRAS CLAVE: Covid 19. Colapso climático. Corrosión de la democracia. Brasil.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 3
I
The fall of the Berlin Wall, on 9 November 1989, is the greatest symbol of the hope
with which our era began: finally a unified world, governed by liberal democratic governments
on a local scale, and by multilateral organizations on a global scale. The end of the cold war
with the collapse of the really existing socialism removed the fear of a nuclear war and
authorized the belief that a free market regime and representative democracy could guarantee
the inclusion, at least in reasonable levels of quality of life, of Asians, Africans and Latin
Americans. Six days later, Brazilians voted again for president, after twenty-nine years.
It certainly was not the emancipated life many dreamed of: it was not the realm of
freedom in which work would be abolished or reduced to an insignificant minimum; it was not
the utopia in which one could hunt in the morning, fish in the afternoon, herd in the evening
and, after dinner, criticize. But it was something. And the simple promise of being safe from
tyrants in uniform, whether olive green like the military here, or one-party bureaucrats, was not
something to be sniffed at. Added to a world without hunger and without wars, it was not little.
What remains of this beginning of the century? With how many nightmares did an illusion
break?
Thirty years later, here we are: at the end of a pandemic that was unable to be contained
or mitigated by elected despots, and this in an increasingly hotter world that tends, therefore, to
have more and more extreme events. How did we get here? In this essay, we would like to
develop some reflections on part of the answer. For this, we will articulate three concerns: that
of the last two years (2020-2021), with the pandemic; that of the decade, with the erosion of
democracy and the rise of neo-fascism; that of the century, with the collapse of the climatic
regime that served as the mainstay of our civilization. Nuno Ramos (2020) recently said that
Brazil faces a double apocalypse: coronavirus and Bolsonaro. Unfortunately it is triple.
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 4
II
In a developed, technological society, containing a pandemic is not such a difficult task,
at least in terms of avoiding the tragedies of past pandemics. Especially when there has been
time to prepare and one can count on the experience of countries that have already gone through
critical moments. Just follow the advice of scientists (which is more or less consensual) and
repeat what worked elsewhere. Closing borders, imposing quarantines and periods of stricter
confinement, mass testing, isolating cases, producing the items that will be needed to face the
pandemic and reopening (masks, respirators, tests, protective equipment), developing vaccines
and previously acquire a varied portfolio of vaccines being developed elsewhere. The goal is to
flatten the curve: stop the virus from spreading and, as far as possible, make it disappear. The
issue is to get the right moment for each measure. This is all kind of obvious, the harder it is to
get people to stay at home. This requires slightly more complicated measures: ensuring that
they receive an income so they do not have to work; provide clear and accurate information;
monitor and ensure that social isolation is being respected. It is true that quarantines and
confinements will bring a blow to the economy, but here too correct measures flatten the curve
of recessions, depressions, unemployment. Even poorly developed and poor societies managed
to cope. Why did societies like the United Kingdom, the United States, and, above all, Brazil
fail?
Katharine Hayhoe (2020, n.p., our translation) recently summed up the stages of denial
in a tweet: “It's not real. It's not us. It's not so bad. It's too expensive to fix. Here's a great solution
(which doesn't work). And oh no! It's too late. You should have warned me earlier". It is a
summary of failure: it starts with: “it's just a little flu, it won't do anything, it will only kill
people who are already on the edge of the grave”; goes on to: “yes, it is serious, it will kill a lot
of people, but many more will die of hunger or the economic consequences of the quarantine”;
and then to: “if everyone wears a mask, we can return to normality; chloroquine will save!”;
until finally reaching the point of lamentation: “we could have done something earlier, but now
it's too late”. Denial works to buy time (or rather, to waste it): it postpones the actions that need
to be taken. But this postponement is fatal in a pandemic: acting too late is innocuous. Once the
virus has already spread, the measures have to be several times more drastic to have a smaller
effect. Denial also works to polish brutality: instead of consciously saying “yes, a million or
two people are going to die, but there are too many people in the world, and this will improve
our welfare bills and shorten the unemployment queue” or even “Stopping the economy now
will make my re-election blow up or shorten my impeachment process”, or even “it is possible
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 5
to place the burden of this crisis on mayors and governors, undermining my potential
opponents”, he disguises himself, also to himself: “I have values, my decisions, even if
apparently hard and insensitive, were always to save lives”. Barbarism sometimes knows how
to behave at the table (HAYHOE, 2020).
But what if Hayhoe (2020, n.p., our translation), an American scientist, is not talking
about the pandemic, but about the authoritarian threat that hangs over her country (and also,
obviously, over ours)? Is not the scheme more or less the same? “No, Trump and Bolsonaro are
not a threat to liberal democracy, the institutions are working; they are not a Mussolini, a
Franco, a Putin, a Kim Jong-un”; “it may be a bitter medicine, but that alone will solve our
economic crisis”; “the crisis will be even greater with the instability caused by any attempt to
remove them from command”; “they will be tutored by the military, the ideological wing will
yield to the technical wing, there will be a white parliamentary system”; “now it's too late, the
way is to accept this new regime or this new situation”. Time for action is lost, but the subject
in denial is not sad: perhaps the result was her unconfessed desire (HAYHOE, 2020).
Neither. Hayhoe (2020, n.p.) is an atmospheric scientist and, in this capacity, became a
climate activist. What she summarized are not the stages of denial of the pandemic or those of
democratic corrosion, but those of climate change: “the world is not hotter, it is the thermostats
that are no longer in the wilderness to be now on the edge of parking lots, on asphalt”; “climate
changes have always existed, they are the result of variations in solar radiation, they do not
have anthropic causes”; “a warmer planet will also bring advantages: it will create new maritime
routes in the Arctic, we will plant corn in Siberia or coffee in Greenland”; we can't stop burning
fossil fuels, the economic damage will be catastrophic, and climate warming is just an academic
concern, something we're going to worry about in 500 years”; “geoengineering solutions
(climate intervention) will do the job: just throw aerosols into the high atmosphere or tons of
iron into the sea”; until it ends in regret: “now it’s too late”. But if one can gain something by
keeping trade open, eventually a re-election; or creating an authoritarian regime; climate
denialism is purely suicidal: who benefits from a planet made inhospitable? Was he sincere yet
insane?
Freud told an anecdote about the neighbor who is accused of having returned a borrowed
kettle damaged: “first, he says that he returned it in perfect condition; secondly, that the kettle
was already leaky when he borrowed it; thirdly, that he never borrowed his neighbor's kettle”
(FREUD, 2019, p. 178, our translation). It is difficult to believe in the denier's sincerity, since
he passes, successively, through the different stages: “the planet is not warming; if it heats up
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 6
it's not our fault; and even if it were, it wouldn't be a problem”; “our democratic institutions are
working; democracy was already eroded; a little authoritarianism will do you good”; “the
pandemic will not cause greater damage, it's just the flu; the costs of quarantine and confinement
are too great; we did everything we could”. But what advantage does the denialist get with his
denial? Does he want the end of humanity? Or is he simply a narcissist who seeks the greatest
immediate profit, and does not mind leaving scorched earth for generations to come? Or, still,
is he a subject averse not only to evidence, but also to the most elementary logical reasoning,
so that his understanding must consider his lack of rationality?
III
If the climate collapse is the problem of the century, it will not be too much to make a
brief interlude and show the present stage of the collapse of what is a necessary condition of
our existence. According to data compiled by the website Our World in Data, between 1751
and 2017 (RITCHIE; ROSER; ROSADO, 2020) humans were responsible for the emission of
about 1531 billion tons of carbon dioxide, the main (but not only) greenhouse gas. The data
frightens, but also hides: it dilutes emissions over an excessively long time. The fact is that it is
concentrated in recent years: it was big in the last seven decades, colossal in the last three or
four. The problem we have just begun to face has been brewing since the beginning of the post-
war period. In 1751 mankind burned 9 million tons of carbon dioxide; in 1851, 198 million; in
1951, 6 billion and 226 million. In the year the wall fell and in which we returned to vote for
president there were more than 22 billion, and in 2017, 36. Two thirds of the carbon dioxide
emitted went into the air after the fall of the wall.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 7
Figure 1 CO2 emissions by region
Source: Ritchie and Roser (2020)
A considerable part of these gases is still in our atmosphere. Since the middle of the last
century, the concentration of carbon dioxide has been measured daily at an observatory in
Hawaii. When Charles David Keeling began his measurements in 1958, he found 315 parts of
carbon dioxide in every million particles in the atmosphere, now, in October 2022, the
concentration is 416 parts per million.
But climate science is able to reconstruct the graph quite accurately up to thousands of
years ago, thanks, above all, to ice cores. In this case the picture changes a lot, instead of a
single rise we find eight hundred thousand years of continuous variations between 180 parts per
million and less than 300. It was only in 1909 that this plateau was beaten. In 2015 there were
already 400. Such an amount of carbon was only in the atmosphere during the Pliocene, 3.3
million years ago.
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 8
Figure 2 Atmospheric CO2 concentrations continue to rise
Source: Ritchie, Roser and Rosado (2020)
In the Pliocene the planet was three degrees warmer than the average pre-industrial
temperature. There is a correlation between the concentration of carbon dioxide in the
atmosphere and the Earth's temperature: the more carbon, the hotter. Since the industrial
revolution, the average temperature on the planet has increased by just over 1 degree centigrade.
However, this increase has been rapid, as shown in the graph below.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 9
Figure 3 Médias globais de temperatura aumentaram mais de 1ºC desde a era pré-industrial
Source: Ritchie, Roser and Rosado (2020)
The increase in temperature is not the only effect of the climate collapse: the seas rise,
become more acidic, species become extinct at an accelerated rate, extreme events (cyclones,
storms, droughts, etc.) become more intense and frequent. But the increase in temperature
serves as a good criterion for assessing risks: now, on a planet one degree warmer, rains of more
than one hundred millimeters are becoming common in large cities, as well as prolonged
droughts. Efficient urban planning, however, can mitigate the worst effects of this.
Nevertheless, on a planet two degrees warmer, no urban planning will do: in a situation like
this, it is almost certain that we will need to abandon the metropolises, and that vast and
populous regions will become uninhabitable (generating very serious problems with migration).
Three degrees seems to be the threshold of what an organized society, a civilization, would
support: from there the climate would be so hostile that agriculture on a large scale would be
impossible, and on a small scale, unlikely. It would mean that human existence would need to
adapt again to a hunting and gathering stage, only in a much less abundant world. From four
degrees of warming, the survival of the human species itself would be put at risk, and the
probability of its extinction would grow with each degree above that. Therefore, the debate has
been on how to do everything possible to limit this warming to one and a half degrees (this was
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 10
the target established in the Paris Agreement [BRASIL, 2015]). A world that warmer is not
pleasant, it has severe risks, but it is still a world. For that, the reduction in the emission of
carbon dioxide would have to be radical. The graphic below shows the dimension of the cut.
Figure 4 CO₂ reductions needed to keep global temperature rise below 1.5°C
Source: Ritchie, Roser and Rosado (2020)
IV
The pandemic has managed to make imaginable the size of the blow needed to put the
world on a path of declining emissions. 2020 was the first year with a significant decrease in
pollutant emissions (in general, when there are serious financial crises, as in 2008, pollutant
emissions decrease, but not significantly). To limit warming to 1.5 degrees centigrade, it would
be necessary to cut emissions by half by the middle of the decade (starting from 42 billion tons,
emitted in 2019), and to a quarter by the end of the decade. Current estimates show that, due to
the pandemic, the reduction in the global emission of carbon dioxide was of the order of 5%,
that is, in 2020, around 2.5 billion tons of CO2 were emitted less than in 2019 (AMBROSE,
2020). This in a scenario of global economic contraction of 3.3% (VITTA, 2021) (in Brazil the
drop in GDP was 4.1% [ELIAS, 2021]). An emissions reduction of this size is little less than
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 11
what would be needed to limit warming to 1.5 degrees. In this case, not only would we need
there not to be a rebound (that is, a greater emission when leaving confinement, recovering the
“lost time” of production), but also that there was a cumulative effect: that is, that in 2021 an
epidemic would occur most severe that would cause a twice as large reduction, and in 2022
three times, and so on. If the correlation between the drop in economic growth and the decrease
in the emission of pollutants is not necessary, it has still been quite accurate (that is, until today
there has not been a significant decline in emissions without an equally significant retraction of
the global economy).
Future climate scenarios are the result of computational modeling that deal with an
astonishing amount of data. Yet there are purely speculative elements there: we do not know,
for example, how much carbon and methane are trapped under the frozen ground in arctic
regions (the permafrost), or maybe we do not want to know (estimates suggest that it would be
an amount of methane that would cause damage equivalent to 1000 billion tons of carbon
dioxide), and which will be released as this soil thaws. Nor do we know how much warming
will contribute to the savannization of the Amazon, and how much this would feed back
warming itself
. In general, the standard scenarios modeled by the Intergovernmental Panel on
Climate Change (IPCC) have been shown to be quite accurate, although they are often too
conservative (that is, they are confident that the worst combined effects will not happen). In
summary, it is unreasonable to expect that we can afford to emit another 300 billion tons of
carbon dioxide and still not have a planet above 1.5 degrees of warming, but neither is it certain
that if we emit only these 300 billion tons the planet will not toast.
V
The sequence of covers dedicated to the Brazilian situation of the British magazine The
Economist summarizes recent Brazilian history: in November 2009 Christ the Redeemer, like
a rocket, ascended to the skies under the title: “Brazil takes off” (THE ECONOMIST, 2009).
Brazil took off. At the end of Lula's second term, the country was gradually eradicating hunger
and extreme poverty; it was a model of successful policies to combat poverty; and saw the
social ascension of disadvantaged people who started to compose an enigmatic class C, a group
of ex-poor people that was not exactly a new middle class. Far from an ephemeral improvement,
the country seemed to be following a sustainable path of growth and inclusion: good economic
On the subject, we recommend the interview of Carlos Nobre (2020) with Estadão.
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 12
indexes, debt reduction, improvements in income and income distribution despite the global
crisis.
That's why the second image looks like an aborted dream. Christ, the postcard of the
wonderful city, tore through the skies like a runaway rocket before an announced tragedy. “Has
Brazil blown it?” (THE ECONOMIST, 2013). Did Brazil screw up? It was September 2013,
and Brazil had a long past ahead of it. Between the two covers are several events: the second
wave of the 2008 economic crisis was much more devastating here than the first, bringing down
the prices of the commodities responsible for the good times; this brought the need for an
economic rearrangement, with a development policy (the New Economic Matrix) based largely
on tax breaks that frustrated any recovery; and in this scenario, ideological disputes intensified:
the creation of the National Truth Commission, instituted to investigate human rights violations
that occurred mainly during the military regime, bothered the barracks, the greatest
beneficiaries of the amnesty law; timid policies to combat homophobia, as well as the
assimilation of stable homoaffective unions to civil marriage by the Federal Supreme Court,
which occurred when the country was governed for the first time by a woman, tortured in the
dictatorship and defender of feminist causes, created the scenario of cultural war in which the
space for a new right begins to be organized
.
The triptych ends in 2019, with a layer of scorched earth in which what remains of a cut
tree trunk forms the map of Brazil. The title: “Deathwatch for the Amazon” (THE
ECONOMIST, 2019), the agony or death vigil of the Amazon, the largest tropical forest in the
world, which was once again being voraciously devastated. The six years that separate the third
cover from the second cover were particularly cruel: the 2014 election split the country;
corruption scandals revealed by a no less corrupt and scandalous judicial process (Car Wash -
Lava Jato) intensified the split; the defeated candidate did not recognize the result of the
election; the campaign to impeach the newly re-elected president began as soon as the ballot
was cleared; the president was removed through a parliamentary coup; the vice president took
over with a radical political turn but quickly became just as unpopular, if not more so; former
president Lula (PT) was convicted, arrested and prevented from running for president, being
the favorite according to polls at the time; Jair Bolsonaro (PL), a federal deputy from the lower
The new Brazilian right-wing rights were ethnographed by Camila Rocha de Oliveira (2019) in her doctoral
thesis entitled “Menos Marx, mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira (2006-2018) (“Less Marx, more
Mises”: a genesis of the new Brazilian right-wing (2006-2018)), defended in 2019. Also based on field studies,
Isabela de Oliveira Kalil portrays the kaleidoscope of Bolsonarism support groups in his report Quem são e no que
acreditam os eleitores de Jair Bolsonaro (Who are and in what believe Jair Bolsonaro voters) (KALIL, 2018).
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 13
clergy, defender not only of the military dictatorship, but of its darkest expedients (particularly
of torture and the disappearance of bodies), is elected president, stating, during the campaign,
that he would shoot opponents; the judge responsible for Lula's conviction and imprisonment
becomes the new government's minister of justice.
The ascension of Jair Bolsonaro (PL) to the presidency of the republic resembles, at
least at first sight, a sequence of victories for the extreme right around the world: of Donald
Trump in the USA; by Viktor Orbán in Hungary; of Recep Erdogan in Türkiye; of Narenda
Modi in India, among others. In all these cases, one can speak of an authoritarian, autocratic
populism, which mixes doses of nationalism and xenophobia with strong links to sects or
religious movements that border on fanaticism. As much as there are differences in each of
these situations, it is notable that this constitutes a 'wave', and that this authoritarian populist
wave puts the validity of the democratic institutions in these countries at risk.
Levitsky and Ziblatt, in How Democracies Die, argue that we are seeing a new form of
democratic corrosion, which no longer needs to resort to the classic expedient of coups d'état
using military force. On the contrary, corrosion would occur through gradual changes in the
rules of the game, so that “the erosion of democracy is, for many, almost imperceptible”
(LEVITSKY; ZIBLATT, 2018, p. 17, our translation). The authors observe that the ascension
of the candidate to autocrat usually obeys some constants: a) the support either from
consolidated parties or from recognized statesmen (in the Brazilian case, it fell not to a
recognized statesman, but to an economist well liked by the markets, Paulo Guedes, the role of
guarantor of the Bolsonaro government); b) a prior fraying of the political system, mainly due
to two unwritten rules of democracy losing their validity: mutual tolerance, the perception that
the adversary has an equal right to compete for power and to govern in case of victory (in our
case, this tolerance was undermined by the non-recognition of defeat by Aécio Neves (PSDB)
and by the campaign to impeach Dilma Rousseff (PT) which began shortly after the counting
of the votes that elected her); and the refusal to play the constitutional hard game (biased
interpretations of the law, which, although respecting the letter, violate its spirit, using the
legislation to paralyze the government; this is the case of the president's dismissal process for a
crime of responsibility due to fiscal pedaling, that is, accounting maneuvers that allegedly
would violate the fiscal responsibility law).
Even among this group, Jair Bolsonaro represents an extreme case, of an almanac
authoritarian, capable of completing all the requirements in lists of authoritarian elements.
Perhaps that is why he has already, even during the period of his first term, advanced in the
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 14
three terrains where the subversion of the democratic regime takes place, still according to
Levitsky and Ziblatt (2018): the capture of the judiciary power, the police, the agencies
regulators and intelligence services (through rigging; exclusion of employees who are not
sympathetic to their ideals; disrespect for the usual procedures for appointing positions); the
withdrawal of some opponents (by the most diverse procedures from bribery and co-option
to marginalization, lawsuits for slander and defamation, creating difficulties for businessmen
or important figures who support the opposition); rewriting the rules of the game (reforming
the constitution, the electoral system). Evidently, in none of these cases the result is already
consummated, but in each of these points occurrences already abound.
It should be noted that the Brazilian democratic corrosion did not occur in an idyllic
scenario, despite certain advances obtained during the New Republic. As Wolfgang Streeck
rightly observes in “The Return of the Repressed” (2017), the rise of “barbaric populists”, as
he ironically calls autocrats (due to the panic that their protectionist measures provoke in the
elites), is already taking place worldwide in a post-democratic scenario, after the divorce
between capitalist markets and democratic politics. Thus, it is a deepening of a scenario of
democratic reversal, in which authoritarian populists take the place then occupied by
technocrats responsible mainly for ensuring the returns of creditors, who had already taken over
the space in which politicians once dealt with institutionally mediated social conflicts, but
dealing mainly with popular demands.
VI
The corrosion of democracy also corrodes the mechanisms capable of containing or
mitigating a pandemic. Not only that, it also feeds back on climate breakdown by messing up
environmental policies. Brazil's recent history serves as evidence. The inability to fight the
pandemic in a minimally efficient way reveals not only the technical incompetence of far-right
autocrats, but also the dismantling of the societies they govern.
Two years after the arrival of the coronavirus that causes Covid-19 in Brazil, when we
write these lines, the country accounts for almost seven hundred thousand deaths officially
caused by the coronavirus (the number is probably underestimated). A result like this is not a
road accident. On the contrary, as shown by the report by the Center for Studies and Research
on Sanitary Law (CEPEDISA), at the University of São Paulo (USP), in partnership with
Conectas Human Rights, this scenario was not obtained through the State's omission in
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 15
combating to the pandemic, but for their active participation in the spread of the virus
(CEPEDISA, 2021). After all, the federal government's strategy, adopted from the very
beginning, was to accelerate contamination by the virus in the belief that this would lead to the
desired herd immunity as soon as possible.
Deisy Ventura, Fernando Aith and Rossana Reis (2021) argue that the executive branch
carried out: a) propaganda against public health, promoting crowds, combating measures to
restrict contagion, such as social isolation and the use of masks, and prescribing medicines
without proven effectiveness; b) boycott of the initiatives of governors and mayors, delaying
the transfer of resources, referrals for vaccination and the attempt to confiscate inputs acquired
by the States; c) normative action to consider as essential the greatest possible number of
activities, as well as to veto restrictive measures.
The strategy could not have gone more wrong (if the objective had been to have the
lowest possible number of victims): such herd immunity proved not only too costly, to be paid
for with too high a number of lives lost, but also illusory, because immunity is ephemeral and
does not protect against virus variations (mutations that become more likely when the virus
circulates easily). Although other countries also adopted similar strategies, most of them backed
off as their problems were revealed. Not Brazil. The result is that Brazil had one of the worst
death averages in the entire world.
VII
Something similar could be said about environmental policies. The corrosion of
democracy has prevented advances in measures to combat global warming. Worse, it
contributed to its backsliding, undermining what little effort had already been made. The
Bolsonaro government's environmental policy has been a tragedy. The most visible facet of this
involves the deforestation of the Amazon rainforest: both because of the very real risk of the
forest becoming impossible, because of the incipient savannization process, and because of the
fact that this deforestation is one of the main sources of carbon dioxide emissions. Thus, despite
the worldwide drop in emissions that occurred in 2020, Brazil went against the grain and
increased its contribution to the climate collapse despite the pandemic and the stoppage of
various activities (such as schools, universities, and, for a shorter time, significant part of trade).
As shown by data from the System for Estimating Emissions and Removals of
Greenhouse Gases (SEEG), linked to the Climate Observatory, most CO2 emissions in Brazil
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 16
result from changes in land use and forests. As a result, the year in which the country emitted
the most carbon dioxide in this millennium was 2003 (SEEG, 2023a), with 2.6 billion tons of
CO2 equivalent, the apex of uncontrolled deforestation in the legal Amazon, when more than
25,000 km² were deforested (TERRA BRASILIS, 2023). From then on, successful policies to
combat deforestation were instituted, which were responsible for significant reductions in the
following years, reaching the mark of 4,600 km² in 2012 (the year in which the country emitted
about 1.4 billion tons of CO2eq). Since then, deforestation, and consequently emissions, has
grown (deforestation: 7.5 thousand km² in 2018, 10.1 thousand km² in 2019, it is estimated that
11.1 thousand km² in 2020; emissions: 1.98 billion tons of CO2eq in 2018, 2.17 in 2019, the
estimate for 2020 is a growth of 10% to 20% [SEEG, 2023a, 2023b]).
VIII
Our hypothesis is that the pandemic is a taster of things to come, a kind of trailer for
climate breakdown. Adam Tooze (2020) recently commented that this is the first economic
crisis of the Anthropocene. Bruno Latour (2015) observed that the Anthropocene is
characterized by instability, by the “intrusion of Gaia”, so that the climate ceases to be a kind
of scenario and becomes, itself, the protagonist. If I'm right, perhaps the crisis diagnosis itself
no longer makes sense. There are no more crises that erupt, but an instability never experienced,
something that prevents any form of planning. This pandemic is the effect of a clumsy way of
dealing with the environment. If it reveals something, it is our fragility: how much we depend
on conditions that are not assured.
Fighting the pandemic is also a small-scale example of the struggle to mitigate the
damage caused by climate breakdown. In these cases, no action is rash: taking supposedly
radical measures before tragedy strikes is the right action. Think how simple it would have been
to close borders, especially air borders, at the beginning of February 2020 (or, from then on, to
have required strict quarantine of everyone arriving from abroad). Think how much less radical
the actions would have needed to be, and how much better the scenario would have been if
concrete measures had been taken at Eco 92, when the volume of evidence that indicated a
severe worsening of the climate crisis was already immense.
But the differences are also important: a single country can manage to control the
pandemic; Local actions are efficient to prevent the spread of the virus. In the case of the climate
emergency, concerted action on a global scale is needed. With more or less devastating effects,
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 17
it can be expected that the pandemic will pass, but the same expectation is not reasonable in the
face of climate breakdown.
Brazil, alongside the United States and some countries on the eastern side of Europe,
are negative examples of how to deal with the pandemic. We are also the country with the
govern who is the paragon of democratic corrosion, an almanac authoritarian, capable of
completing the score of any cast of fascist tendencies the incarnation of the perversion of the
will, not its weakness. Action to combat the coronavirus is being erratic: large doses of
denialism and misinformation, followed by confusing and conflicting orders with those that
were correctly taken by mayors and governors. In the fight against climate collapse, the whole
world is a great Brazil. To paraphrase Rodrigo Nunes (2020): Brazil is still the country of the
future, but the future has gotten worse.
IX
We conclude with a few words about democratic corrosion and what it has to do with
all that has been said here. By now it has become clear that authoritarian populist leaders, right-
wing extremists, govern or misgovern the countries that have had the most deaths caused by
the pandemic so far the United States, Brazil, the United Kingdom, Hungary. At first, the
relationship is somewhat evident: Trump, Bolsonaro, Johnson and Orban were unable to plan
an adequate response to the challenge posed by the virus. This is not surprising: bad policies
are expected from bad politicians. But neither is it surprising that the four behaved in a similar
way, especially at the beginning of the pandemic: they denied the seriousness of the situation
and disdained the radical nature of the measures that would have been necessary to contain the
spread of the virus. In short: they did not accept the news and tried to persist in the ordinary life
of before. And the pattern repeats itself in their environmental policies. Precisely in this there
is an almost organic affinity between such leaders and their constituents.
The capitalist dynamic puts us all at the beginning of a crucial decade because of its
threats: on the one hand the collapse of the climate and all its foreseeable effects: famine, mass
migrations, extreme events (cyclones, storms), pests and plagues; on the other hand, the
automation and digitalization that converts all individuals into potential or real unemployed.
And all this in a situation where income and wealth disparities accelerate and living standards
decline. In short, a situation in which the future is cancelled. In it, all that remains is to dispute
the past: the left with the dream of resurrecting the welfare state and its mechanisms of social
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 18
protection; the right with the attempt to rescue the order of a world in which men, as long as
they were white and heterosexual, were capable of providing a home full of meaning; and the
center pretending that we can live forever in the 1990s, with its promise that half a dozen
structural reforms will be able to create a scenario of lasting economic growth, but in this, too,
the positions are shuffled: the right becomes revolutionary: it is necessary to change everything
so that the old order can be established again; while the left turns conservative: it is necessary
to resist changes in order to safeguard existing institutions.
There is no way to dissociate democratic corrosion from the dissemination of the
denialist posture, as subjects in extreme denial are among the most staunch defenders of right-
wing extremists. Certainly, the denialist posture is the result of several causes, in part epistemic,
in other policies: the digitization of communication; the emergence of social networks and their
echo chambers (bubbles); the absence of curatorship in the production and verification of
information (post-truth); the inability to revise theories even when there is excessive evidence
of their failures (as in the case of austerity policies and trickle down economics) and, more
specifically, the rise of specialized lies that predominate in the increasingly powerful economic
science (Laffer Curve; Cecchini Report; etc. [STREECK, 2017]). We think that a fear of the
state of things also enters into account, a “fear of the consequences of the general developments
of society” that deals, albeit in an indirect and distorted way, with the feeling of social
catastrophe, with the widespread perception that the way of life is not only at risk, but already
condemned (ADORNO, 2020).
Therefore, the denialist is not only the cause, but also the consequence of this corrosion.
When the future is not disputed, when it presents itself only as a threat, and nostalgia for an
imagined past takes the place of utopia, then there is little left for the individual but to deny
everything that warns him of the arrival of what cannot be avoided. The pandemic is an
appetizer of climate collapse: not by instituting a 'new normal', but by burying the old one for
good. The corrosion of climate, democracy, knowledge, society also corrodes the mechanisms
that would be able to stop or even reverse these corrosions. The denialist is the one who refuses
to mourn, even if he has to live with ghosts for this. But these ghosts, unfortunately, do not just
inhabit the lower end of the political spectrum.
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 19
REFERENCES
ADORNO, T. W. Aspectos do novo radicalismo de direita. São Paulo: Editora UNESP,
2020.
AMBROSE, J. Carbon emissions from fossil fuels could be fall by 2.5 bn tonnes in 2020. The
Guardian, 2020. Available in:
https://www.theguardian.com/environment/2020/apr/12/global-carbon-emisions-could-fall-
by-record-25bn-tonnes-in-2020. Access in: 15 Apr. 2021.
BRASIL. Acordo de Paris. Brasília, DF: MCTIC, 2015. Available in:
https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/sirene/publicacoes/acordo-de-paris-e-
ndc/arquivos/pdf/acordo_paris.pdf. Access in: 31 Jan. 2023.
CEPEDISA. Boletim n. 10: Direitos na pandemia. CONECTAS, 2021. Available in:
https://www.conectas.org/publicacoes/download/boletim-direitos-na-pandemia-no-10. Access
in: 15 Apr. 2021.
ELIAS, J. PIB: Brasil termina 2020 com segunda década perdida e a pior desde 1900. CNN
Brasil, 2021. Available in: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/03/03/pib-brasil-
termina-2020-com-segunda-decada-perdida-e-a-pior-desde-1900. Access in: 15 Apr. 2021.
FREUD, S. A Interpretação dos Sonhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
HAYHOE, K. The six stages of climate denial are. Twitter, 2020. Available in:
https://twitter.com/KHayhoe/status/1242817345069998080. Access in: 10 Oct. 2022.
KALIL, I. O. Quem são e no que acreditam os eleitores de Jair Bolsonaro. São Paulo:
Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 2018.
LATOUR, B. Face à Gaïa. França: La découverte, 2015.
LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018.
NOBRE, C. Entrevista: Carlos Nobre alerta: “Estamos no máximo, há 20 anos da
‘savanização’ da Amazônia”. Estadão, 2020. Available in:
https://www.estadao.com.br/brasil/inconsciente-coletivo/carlos-nobre-alerta-estamos-no-
maximo-a-20-anos-da-savanizacao-da-amazonia/. Access in: 30 Jan. 2023.
NUNES, R. Necropolítica de Bolsonaro aponta para um future distópico. Folha de São
Paulo, 2020. Available in: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/06/vidas-de-
negros-e-pobres-se-tornam-descartaveis-na-pandemia-afirma-professor.shtml. Access in: 28
Oct. 2021.
OLIVEIRA, C. R. “Menos Marx, mais Mises”: uma gênese da nova direita brasileira (2006-
2018). 2019. 233 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) Universidade de São Paulo, 2019.
Three times denial: Climate collapse, erosion of democracy and pandemic
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 20
PROJETO de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia por Satélites PRODES
(Desmatamentos). Terra Brasilis, 2023. Available in:
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates. Access
in: 30 Jan. 2023.
RAMOS, N. Brasil enfrenta duplo apocalipse com Bolsonaro e coronavírus, reflete Nuno
Ramos. Folha de São Paulo, 2020. Available in:
https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/05/brasil-enfrenta-duplo-apocalipse-com-
bolsonaro-e-coronavirus-reflete-nuno-ramos.shtml. Access in: 29 Jan. 2023.
RITCHIE, H.; ROSER, M. CO2 emissions. Our World in Data, 2020. Available in:
https://ourworldindata.org/co2-emissions. Access in: 29 Jan. 2023.
RITCHIE, H.; ROSER, M.; ROSADO, P. CO₂ and Greenhouse Gas Emissions. Our World
in Data, 2020. Available in: https://ourworldindata.org/co2-and-other-greenhouse-gas-
emissions. Access in: 29 Jan. 2023.
SEEG. Sistema de estimativas de emissões e remoções de gases de efeito estufa. Emissões
Totais. 2023a. Available in: http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission#. Access in: 30 Jan.
2023.
SEEG. Sistema de estimativas de emissões e remoções de gases de efeito estufa. Nota
Técnica. Impacto da pandemia de Covid-19 nas emissões de gases de efeito estufa no
Brasil. 2023b. Available in: http://seeg.eco.br/nota-tecnica-covid-19. Access in: 30 Jan.
2023b.
STREECK, W. O retorno do recalcado. Revista Piauí, n. 135, p. 44-51, dez. 2017. Available
in: https://piaui.folha.uol.com.br/edicao/135/. Access in: 10 Nov. 2022.
THE ECONOMIST. Brazil takes off. The Economist, 2009. Available in:
https://www.economist.com/search?q=2009. Access in: 31 Jan. 2023.
THE ECONOMIST. Deathwatch for the Amazon. The Economist, 2019. Available in:
https://www.economist.com/search?q=2019&page=2. Access in: 31 Jan. 2023.
THE ECONOMIST. Has Brazil blown it? The Economist, 2013. Available in:
https://www.economist.com/search?q=2013. Access in: 31 Jan. 2023.
TOOZE, A. We are living through the first economic crisis of the Anthropocene. The
Guardian, 2020. Available in: https://www.theguardian.com/books/2020/may/07/we-are-
living-through-the-first-economic-crisis-of-the-anthropocene. Access in: 15 Apr. 2021.
VENTURA, D.; AITH, F.; REIS, R. Propagação da Covid 19 no Brasil foi intencional. Folha
de São Paulo, 2021. Available in:
Amaro FLECK e Eduardo Soares Neves SILVA
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023006, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.17380 21
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2021/03/propagacao-da-covid-19-no-brasil-foi-
intencional.shtml. Access in: 15 Apr. 2021.
VITTA, L. FMI eleva previsão de crescimento para a economia global de 5,5% para 6% em
2021. Valor Econômico, 2021. Available in:
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/04/06/fmi-eleva-previsao-de-crescimento-para-a-
economia-global-de-55percent-para-6percent-em-2021.ghtml. Access in: 15 Apr. 2021
CRediT Author Statement
Acknowledgements: Not applicable.
Funding: Not applicable.
Conflicts of interest: There are no conflicts of interest.
Ethical approval: Not applicable.
Data and material availability: Materials are available in the references of the article.
Authors' contributions: Both authors wrote the article jointly.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.