image/svg+xmlDisseminação dos saberes expertos no domínio da infância Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 1DISSEMINAÇÃO DOS SABERES EXPERTOS NO DOMÍNIO DA INFÂNCIA1DIFUSIÓN DE CONOCIMIENTOS ESPECIALIZADOS EN EL ÁMBITO DE LA INFANCIA DISSEMINATION OF EXPERT KNOWLEDGE IN THE FIELD OF CHILDHOOD Marcia da Silva MAZON2Sandra CAPONI3O Dossiê que aqui apresentamos reúne artigos que problematizam a questão da disseminação dos saberes expertos no domínio da infância entendidos como vetores da psicopedagogização e medicalização da vida. Existe uma ideia disseminada com frequência de que a educação de uma criança, seja a familiar ou escolar, seria suscetível da intervenção e do controle de saberes, mais ou menos metódicos, que estariam nas mãos de expertos em desenvolvimento infantil: pedagogos, médicos, neurologistas, psiquiatras e psicólogos, dentre outros. Tal domínio ocorre graças à difusão da suposta eficácia que teriam esses saberes especializados sobre a infância cuja função seria mostrar que é possível prever descaminhos considerados nocivos para o que se considera que deve ser o desenvolvimento normal de uma criança, no imaginário social. A existência inevitável de fronteiras difusas e pouco claras entre as ditas normalidades e patologias psíquicas tem permitido não só a multiplicação de diagnósticos – de 106 distúrbios na primeira edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders(DSM) em 1952, passou-se para mais de 300 na 5ª edição de 2013 – como também a aceitação da ideia de que seria possível identificar pequenos sinais anunciadores de uma patologia grave ainda por vir, afirmando a necessidade de realizar intervenções preventivas no campo da infância. Tais intervenções permitiriam uma identificação prematura dos problemas de comportamento, 1As autoras agradecem a CAPES o apoio através do projeto de cooperação internacional CAPES COFECUB: A disseminação dos saberes expertos no domínio da Infância, o qual tornou possível a organização do presente dossiê. 2Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brasil. Departamento de Sociologia e Ciência Política. Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Ciência Política (PPGSP) e Núcleo de Sociologia Econômica (NUSEC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2953-1089. E-mail: marciadasilvamazon@yahoo.com.br 3Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brasil. Departamento de Sociologia e Ciência Política. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP) e Núcleo de Sociologia e história das Ciências da saúde (NESFhIS). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8180-944X. E-mail: sandracaponi@gmail.com
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON e Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 2socialização e aprendizagem escolar, com vistas à promoção de uma intervenção no sentido de se evitar tanto a cronicidade de patologias psíquicas como a emergência de conflitos disruptivos da vida social. Esse movimento permitiu um crescimento sem precedentes da indústria farmacêutica mundial tanto em termos de volume de mercado como no seu avanço sobre o processo de formação de psiquiatras. Nesse marco situam-se os artigos que compõem o presente dossiê. Além dessa apresentação o dossiê está composto de mais 10 itens, compreendendo nove artigos inéditos e uma entrevista com a cientista social argentina Alejandra Barcala. O dossiê se inicia com o artigo de Claude Olivier Doron, da Universidade Paris-Diderot O Instituto Ortofrênico do doutor Voisin e a educação das crianças “fora da linha comum” na França durante a Monarquia de Julho (1830-1848). Doron apresenta um artigo instigante e muito original onde analisa um momento da história da pedagogia na França muito pouco conhecida. Trata-se do primeiro experimento médico-pedagógico realizado na França na década de 1830 e 1840 que estava destinado a crianças consideradas “fora da linha do comum”. O nome dado a esse experimento pedagógico foi Instituto Ortofrênico; um projeto elaborado pelo alienista Felix Voisin com o objetivo de evitar e prevenir a formação de potenciais criminosos e alienados. O texto mostra quais foram os princípios desse experimento, inspirado na frenologia, quais eram as técnicas pedagógicas aplicadas e de que modo esses trabalhos estiveram na origem da construção da ideia de “criança anormal” e também daquilo que, mais tarde, será caracterizado como “transtornos de conduta” próprios das crianças consideradas problemáticas ou difíceis. O segundo artigo que compõe este Dossiê foi elaborado por Leandro de Lajonquière, da Universidade Paris 8, Sobre a irremediável educação. O texto se inscreve na tradição dos estudos psicanalíticos em educação. Lajonquière estabelece nesse estudo, um diálogo instigante e muito bem elaborado entre a história e o presente, apresentando duas experiencias educativas ocorridas em diferentes momentos históricos. A partir da análise dessas experiências o autor tematiza a tendência dos saberes expertos, mas também dos pais e adultos em geral, a medicalizar a vida das crianças, mais especificamente a prescrever medicamentos às crianças sem que seja possível falar da existência de uma doença. O raciocínio se estrutura em torno do contraponto entre duas experiências educativas: a primeira que ocorreu na França do século XIX, conhecida com o nome de “o garoto selvagem de Aveyron”; a segunda que ocorreu nos Estados Unidos, após a guerra de secessão, referida à educação de Helen Keller. O texto propõe uma reflexão bem fundamentada sobre o que deveria caracterizar um processo educativo que possa ser considerado bem-sucedido; um processo que não esteja centrado na procura da
image/svg+xmlDisseminação dos saberes expertos no domínio da infância Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 3eficácia, mas sim na possibilidade de construir um espaço subjetivante, ou, como afirma o autor um espaço que permita “fazer emergir um sujeito de palavra”. Na sequência apresentamos o artigo de Sandra Caponi, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Considerações sobre a prescrição de psicofármacos na primeira infância: o caso da depressão infantil. O artigo toma como ponto de partida os trabalhos de Ian Hacking, particularmente seu estudo sobre os motores para modelar pessoas e o conceito de efeito looping, para analisar o momento de emergência do diagnóstico de depressão infantil. O artigo tematiza o lugar ocupado pela depressão infantil no contexto das patologias da infância, o uso problemático das escalas psicométricas de avaliação; questiona-se ainda os limites das hipóteses explicativas, particularmente a hipótese do déficit de serotonina, para deter-se a estudar a suposta eficácia e efeitos adversos dos antidepressivos, como os Inibidores Seletivos da Recaptação de serotonina (SSRIs), na infância. O texto discute a fragilidade epistemológica dos argumentos apresentados pelos psiquiatras que defendem o diagnóstico de depressão infantil e o uso de antidepressivos, mas também analisa as dificuldades desses diagnósticos na construção da subjetividade infantil. Utilizando o conceito de Ian Hacking de “looping effect”, o texto argumenta que a enunciação do diagnóstico de depressão e o uso de psicofármacos na infância produzem uma transformação na forma como as crianças pensam sobre si mesmas, como constroem seu self, emoções e comportamentos. Por fim, argumenta-se que o diagnóstico de depressão na infância conduz a um processo de individualização, biologização e cerebralização dos padecimentos, silenciando os fatos sociais que podem ter causado os sofrimentos. Na sequência o dossiê traz dois artigos os quais abordam as controvérsias em torno do tratamento medicamentoso do Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). O artigo de Marcia da Silva Mazon da UFSC, Consumo de psicotrópicos e estilo terapêutico: os limites do uso racional de medicamentosrealiza uma leitura a partir da lógica do consumo de psicotrópicos como forma de iluminar os limites do uso racional de medicamentos. O artigo aponta como considerações sobre o uso racional de medicamentos partem da premissa de que basta mais informação para que os atores – considerados racionais a fim e com preferências dadas – farão um uso racional. O intuito do artigo foi contemplar as relações de poder as quais impõem objetos e discursos construindo a razoabilidade de quais itens podem ou devem circular pelos mercados. A autora mostra a partir de controvérsias expressas na mídia e do relatório da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) de recusa do tratamento medicamentoso do TDAH como as crenças no entorno do consumo de psicotrópicos podem ser um bom ponto de partida para compreender tensões e controvérsias na
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON e Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 4construção desse mercado. O artigo mostra a mobilização de dois apelos distintos e alternáveis para justificar o mercado do metilfenidato: ora apelo à saúde, ora apelo ao mercado visualizado como direito do consumidor. Pensar as sociedades na era do estilo terapêutico e num contexto em que problemas do mundo privado preenchem o espaço público permite compreender como determinados discursos constroem a ideia do que é razoável em um dado contexto. A indústria farmacêutica e a classe médica nessa alternância de justificativas ora de saúde ora de mercado mobilizam os consumidores como atores de mercado e livres para tomar suas decisões sobre a compra de psicotrópicos. Qualquer crítica ao consumo de psicotrópicos pode soar como lesão de direitos e é tema que urge por mais investigações.Voltando ao tema do relatório da Conitec, Tatiana Barbarini (FMG) e Elton Corbanezi (UFMT) no artigo Entre reivindicação para tratamento e recusa de incorporação de medicamentos no SUS: uma análise sobre a realidade social do TDAH na Sociedade Contemporânea, igualmente exploram o TDAH como uma categoria clínica e psiquiátrica eivada de controvérsias e como expressão da medicalização da vida. Os autores analisam o acesso ao tratamento e a demanda por incorporação do metilfenidato e da lisdexanfetamina no Sistema Único de Saúde (SUS). Com relação ao relatório da Conitec os autores destacam a discordância entre a opinião pública e o resultado do relatório, a qual recusa a incorporação do tratamento medicamentoso do TDAH. Tal discordância indica como o TDAH se consolidou como realidade médica e social que fundamenta a reivindicação por direitos individuais e sociais, mesmo que não haja comprovação científica suficiente a respeito da eficácia do tratamento medicamentoso. Nesse contexto, qualquer tipo de questionamento ao TDAH e/ou ao metilfenidato pode se tornar um questionamento aos direitos dos portadores, mesmo que não haja comprovação científica suficiente a respeito da eficácia do tratamento medicamentoso. Em meio a essa correlação de forças há a reivindicação legítima dos pacientes pelo direito ao tratamento e à conformação social em uma sociedade que sacraliza a competição e o desempenho individuais desde a infância, constituindo-os como medida de normalidade e que deixa em segundo plano as condições existenciais objetivas e subjetivas. Dando continuidade à temática da medicalização, apresentamos o artigo escrito por Fernando Freitas (UFRJ) e Luciana Jaramillo Caruso de Azevedo (UERJ) Medicalizando crianças e adolescentes. Fernando e Luciana analisam, a partir de uma perspectiva crítica, as debilidades epistemológicas presentes nos fundamentos biomédicos utilizados para pensar os diagnósticos de transtornos mentais, que são cada vez mais utilizados para qualificar os comportamentos de crianças e adolescentes. Esse modelo explicativo medicaliza os comportamentos infantis na medida que toma como ponto de partida a ideia de que os
image/svg+xmlDisseminação dos saberes expertos no domínio da infância Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 5psicofármacos têm a função de corrigir uma anormalidade cerebral subjacente. Os autores afirmam que esse tipo de abordagem se sustenta em uma falácia que já foi denunciada por diversos estudos. Os autores argumentam igualmente que o processo de medicalização e psicofarmacologização da infância constituem-se como ameaças à saúde pública e à garantia do pleno exercício dos direitos humanos. O artigo de Eugenia Bianchi (UBA), Milagros Oberti (UBA), Silvia Faraone (UBA) e Flavia Torricelli (UBA) Medicalização global, TDAH e infâncias. Um estudo na mídia de sete paísesanalisa quais atores estão representados na mídia sobre TDAH. O artigo parte do pressuposto do TDAH como exemplo paradigmático da medicalização em saúde mental em crianças e destaca o caráter globalizante do diagnóstico e a mídia como parte de atores não médicos relevantes que surgem na cena da medicalização. As autoras realizam um levantamento de obras (artigos e revistas) as quais abordam a mídia sobre o TDAH em países da Asia, Europa, América e Oceania. O texto traz valiosas pistas de como investigar a interpenetração do discurso científico na mídia, bem como sua manipulação: os elementos ausentes, os elementos contraditórios não explicitados. Os dados apontam, seguindo de perto o observado por Foucault, que há regularidade na dispersão: os dados mostram a relação entre infância, TDAH e meios de comunicação com duas características principais: heterogêneos discursos sobre o TDAH e os meios de comunicação articulando-se aos processos de globalização da medicalização. As autoras destacam o que está ausente na mídia e como em sites mais populares a informação que consta não foi escrita por acadêmicos ou mesmo não possui respaldo científico. O caráter diverso e não convergente que aparece nos meios de comunicação analisados é ponto comum, assim como a pouca ou nenhuma presença das vozes das crianças diagnosticadas e tratadas com TDAH (são antes objetos ou protagonistas passivos) e a ausência de uma perspectiva de gênero. O artigo é um excelente convite para uma agenda de pesquisa sobre o tema. O artigo de Henrique Sater (Unicamp) e Luana Marçon (Unicamp), O diagnóstico psiquiátrico e desafios para outra biopolítica da infânciatraz reflexões críticas em torno dos diagnósticos psiquiátricos e seus usos específicos no campo da infância. Tomando como ponto de partida pequenos relatos de histórias clínicas que chegam aos serviços de atendimento de crianças e adolescentes, o artigo problematiza esses diagnósticos psiquiátricos e propõe pensar uma nova biopolítica da infância. Os autores discutem a racionalidade psiquiátrica hegemônica que classifica diferentes desvios de conduta como sendo distúrbios individuais e transtornos do cérebro, tematizando de que modo o saber e o poder médico têm configurado a infância como um espaço privilegiado para exercer o governo das populações. O artigo propõe pensar
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON e Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 6alternativas para garantir o acolhimento das crianças com sofrimento mental partindo da criação de práticas de cuidado menos normativas e menos disciplinares. Na sequência apresentamos o artigo de Juliana de Araújo Silva e Julio César Donadone ambos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Intermediando, julgando e moralizando: o papel do Estado, o dom organizacional e o processo da adoção. O artigopropõe um diálogo entre a adoção de crianças e adolescentes com a sociologia econômica, a partir de uma reflexão sobre a existência de um dom organizacional dentro dessas práticas sociais. A Igreja e o Estado estiveram à frente da intermediação entre os que “davam as crianças” e os que “buscavam crianças”. Conforme autora e autor do artigo, crianças são retiradas/entregues por suas famílias biológicas ao Estado, e o poder estatal é o de julgar e moralizar aquele que não consegue “cuidar do filho”, bem como quem pode ou não adotar. Além disso, o preconceito velado faz com que a predileção por crianças mais novas e de pele branca tenham maior probabilidade de adoção. Enquanto as crianças negras e “mais velhas” ficam na berlinda de serem eleitas, quando completam 18 anos muitas deixam de ser atendidas pela Vara da Infância e Juventude passando a ser responsabilidade da Vara Criminal; já que quase 70% da população carcerária no Brasil é negra, com vínculos familiares enfraquecidos ou inexistentes. O Estado, através do poder judiciário, decide as situações de abandono de crianças por meio de princípios morais do melhor interesse da criança, assim como para todos envolvidos. Os autores do artigo questionam até que ponto as decisões tomadas, baseadas nas legislações sobre adoção seriam justas e úteis para todos os envolvidos. O argumento sustentado no artigo é o de que a adoção se constituiu como expressão da violência burocrática estatal. A pesquisa analisou a percepção dos donatários, compreendendo a vigente configuração e significação das práticas de adoção de crianças e adolescentes no Brasil. Dentre os resultados observou-se que a adoção se estabelece como uma alternativa para se conseguir o “gift” e é tratada como um “mercado não pago”, enraizado em relações de compaixão, altruísmo e amizade.Para concluir este Dossiê apresentamos uma entrevista com Alejandra Barcala realizada por Sandra Caponi, Marcia da Silva Mazon e Barbara Michele Amorim. Alejandra Barcala é Psicóloga e Doutora em Psicologia pela Universidade de Buenos Aires (UBA/Argentina). Ela é, diretora e professora titular do Doutorado Internacional em Saúde Mental Comunitária da Universidade Nacional de Lanús (UNLa) e um dos principais nomes de pesquisas sobre saúde mental e direitos humanos. Na entrevista, Sandra, Marcia e Barbara passeiam por diversas investigações da entrevistada, convidando-a para uma comparação Brasil e Argentina sobre suas singulares experiências de políticas públicas em saúde mental diante de uma experiência comum do passado da ditadura militar. Esse é o grande desafio proposta por Alejandra Barcala:
image/svg+xmlDisseminação dos saberes expertos no domínio da infância Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 7pensar a saúde mental pela chave dos direitos humanos. Alejandra lembra que na Argentina até 1990 a questão da saúde mental esteve silenciada até a publicação do informe “Vidas Arrasadas” o qual expôs a condição de violação dos direitos humanos nos manicômios, essa publicação gerou indignação pública e colocou em marcha uma agenda pública para a saúde mental no país. Até a publicação da Lei Nacional de Saúde Mental em 2010 (lei 26.657, hoje em debate novamente) foi um longo caminho percorrido. Alejandra destaca ainda o papel fundamental do Movimento das Mães da Praça de Maio: elas deram os primeiros passos para a sanção e promulgação da Lei de Saúde mental. Alejandra igualmente tocou na questão da desigualdade social e desigualdade em saúde e saúde mental. Ela mostra como na Argentina houve um aumento das desigualdades sociais (já em marcha) durante a pandemia que veio acompanhado pelo aumento de internação psiquiátrica de meninas e meninos. Ela chama a atenção para a classe social dessas crianças: elas vêm de lares socialmente vulnerabilizados num processo que Alejandra nomeia como “circuitos de medicalização” apoiados, entre outros, pela instituição escolar. Nesse contexto, não eram problemas biomédicos, antes eram o sofrimento produto de traumas sociais sofridos que ao invés de serem situados no contexto social eram interpretados como problemas psicopatológicos individuais, por fora do contexto familiar, relacional e comunitário. Alejandra abordou ainda suas pesquisas mais recentes, o tema do TDAH e o aumento de diagnósticos acompanhado do tratamento medicamentoso desse transtorno na Argentina. Conforme pondera a intelectual argentina assim como a escola tem a capacidade de acompanhar, transformar e abrir um mundo de possibilidades a uma criança ela também pode marcá-la subjetivamente com um diagnóstico para toda a vida.
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON e Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 8Como referenciar este artigo MAZON, M. S.; CAPONI, S. Disseminação dos saberes expertos no domínio da infância.Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 Submetido em: 15/06/2022 Revisões requeridas em: 10/07/2022 Aprovado em: 12/08/2022 Publicado em: 30/09/2022 Processamento e edição: Editora Ibero-Americana de Educação. Correção, formatação, normalização e tradução.
image/svg+xmlDissemination of expert knowledge in the field of childhood Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 1DISSEMINATION OF EXPERT KNOWLEDGE IN THE FIELD OF CHILDHOOD1DISSEMINAÇÃO DOS SABERES EXPERTOS NO DOMÍNIO DA INFÂNCIA DIFUSIÓN DE CONOCIMIENTOS ESPECIALIZADOS EN EL ÁMBITO DE LA INFANCIA Marcia da Silva MAZON2Sandra CAPONI3The Dossier presented here brings together articles that problematize the issue of the dissemination of expert knowledge in the field of childhood understood as vectors of the psychopedagogization and medicalization of life. There is a frequently disseminated idea that the education of a child, whether family or school, would be susceptible to the intervention and control of knowledge, more or less methodical, which would be in the hands of experts in child development: pedagogues, doctors, neurologists, psychiatrists and psychologists, among others. Such dominance occurs thanks to the dissemination of the supposed effectiveness of this specialized knowledge about childhood, whose function would be to show that it is possible to foresee deviations considered harmful to what is considered to be the normal development of a child, in the social imaginary. The inevitable existence of diffuse and unclear borders between the so-called normalities and psychic pathologies has allowed not only the multiplication of diagnoses – from 106 disorders in the first edition of the Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders(DSM) in 1952, to more of 300 in the 5th edition of 2013 – as well as the acceptance of the idea that it would be possible to identify small signs that announce a serious pathology yet to come, affirming the need to carry out preventive interventions in the field of childhood. Such interventions would allow a premature identification of behavior, socialization and school learning problems, with a view to promoting an intervention in order to avoid both the 1The authors would like to thank CAPES for its support through the international cooperation project CAPES COFECUB: A disseminação dos saberes expertos no domínio da Infância (The dissemination of expert knowledge in the field of childhood), which made the organization of this dossier possible. 2Federal University of Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brazil. Department of Sociology and Political Science. Post-graduate Program in Sociology and Political Science (PPGSP) and Center for Economic Sociology (NUSEC). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2953-1089. E-mail: marciadasilvamazon@yahoo.com.br 3Federal University of Santa Catarina (UFSC), Florianópolis – SC – Brazil. Department of Sociology and Political Science. Post-graduate Program in Political Sociology (PPGSP) and Center for Sociology and History of Health Sciences (NESFhIS). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8180-944X. E-mail: sandracaponi@gmail.com
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON and Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 2chronicity of psychic pathologies and the emergence of disruptive conflicts in social life. This movement allowed for an unprecedented growth of the world pharmaceutical industry, both in terms of market volume and in terms of its advancement in the process of formation of psychiatrists. Within this framework are the articles that make up this dossier. In addition to this presentation, the dossier is composed of 10 more items, comprising nine unpublished articles and an interview with the Argentinean social scientist Alejandra Barcala. The dossier begins with an article by Claude Olivier Doron, from the University Paris-Diderot, Doctor Voisin's Orthophrenic Institute and the education of children “out of the ordinary” in France during the July Monarchy (1830-1848). Doron presents an instigating and very original article where he analyzes a moment in the history of pedagogy in France that is very little known. It is the first medical-pedagogical experiment carried out in France in the 1830s and 1840s that was aimed at children considered “out of the ordinary”. The name given to this pedagogical experiment was the Ortophrenic Institute; a project elaborated by the alienist Felix Voisin with the objective of avoiding and preventing the formation of potential criminals and alienated people. The text shows what were the principles of this experiment, inspired by phrenology, what were the pedagogical techniques applied and how these works were at the origin of the construction of the idea of “abnormal child” and also of what, later, will be characterized as “conduct disorders” typical of children considered problematic or difficult. The second article that makes up this Dossier was written by Leandro de Lajonquière, from the Paris 8 University, On the irremediable education. The text is part of the tradition of psychoanalytic studies in education. Lajonquière establishes in this study an instigating and very well elaborated dialogue between history and the present, presenting two educational experiences that occurred in different historical moments. Based on the analysis of these experiences, the author discusses the tendency of experts, but also of parents and adults in general, to medicalize children's lives, more specifically to prescribe medication to children without it being possible to speak of the existence of a disease. The reasoning is structured around the counterpoint between two educational experiences: the first that took place in France in the 19th century, known as “the wild boy of Aveyron”; the second, which took place in the United States, after the Civil War, referred to Helen Keller's education. The text proposes a well-founded reflection on what should characterize an educational process that can be considered successful; a process that is not centered on the search for effectiveness, but rather on the possibility of building a subjectivating space, or, as the author states, a space that allows “making a subject of speech emerge”.
image/svg+xmlDissemination of expert knowledge in the field of childhood Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 3Next, we present the article by Sandra Caponi, from the Federal University of Santa Catarina (UFSC) Considerations on the prescription of psychotropic drugs in early childhood: the case of childhood depression. The article takes as its starting point the work of Ian Hacking, particularly his study on engines to model people and the concept of the looping effect, to analyze the moment of emergence of the diagnosis of childhood depression. The article discusses the place occupied by childhood depression in the context of childhood pathologies, the problematic use of psychometric assessment scales; The limits of explanatory hypotheses are also questioned, particularly the serotonin deficit hypothesis, in order to study the supposed efficacy and adverse effects of antidepressants, such as Selective Serotonin Reuptake Inhibitors (SSRIs), in childhood. The text discusses the epistemological fragility of the arguments presented by psychiatrists who defend the diagnosis of childhood depression and the use of antidepressants, but also analyzes the difficulties of these diagnoses in the construction of children's subjectivity. Using Ian Hacking's concept of "looping effect", the text argues that the enunciation of the diagnosis of depression and the use of psychotropic drugs in childhood produce a transformation in the way children think about themselves, how they build their self, emotions and behaviors. Finally, it is argued that the diagnosis of depression in childhood leads to a process of individualization, biologization and cerebralization of suffering, silencing the social facts that may have caused suffering. Next, the dossier brings two articles which address the controversies surrounding the drug treatment of Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD). The article by Marcia da Silva Mazon from UFSC, Consumption of psychotropic drugs and therapeutic style: the limits of the rational use of medicines, performs a reading based on the logic of the consumption of psychotropic drugs as a way of illuminating the limits of the rational use of medicines. The article points out how considerations about the rational use of medicines start from the premise that more information is enough for the actors – considered rational in order and with given preferences – to make a rational use. The purpose of the article was to contemplate the power relations which impose objects and discourses, building the reasonableness of which items can or should circulate through the markets. Based on controversies expressed in the media and the report by the National Commission for the Incorporation of Technologies in the Unified Health System (Conitec) on the refusal of ADHD drug treatment, how beliefs surrounding the consumption of psychotropic drugs can be a good starting point to understand tensions and controversies in the construction of this market. The article shows the mobilization of two distinct and alternating appeals to justify the methylphenidate market: either an appeal to health, or an appeal to the market seen as a consumer's right. Thinking about societies in the era of
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON and Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 4therapeutic style and in a context in which problems from the private world fill the public space allows us to understand how certain discourses construct the idea of what is reasonable in a given context. The pharmaceutical industry and the medical class, in this alternation of justifications, sometimes health and sometimes market, mobilize consumers as market actors and free to make their decisions about the purchase of psychotropic drugs. Any criticism of the consumption of psychotropic drugs may sound like an infringement of rights and is a topic that urges further investigation.Returning to the topic of the Conitec report, Tatiana Barbarini (FMG) and Elton Corbanezi (UFMT) in the article Between claims for treatment and refusal to incorporate medication into the SUS: an analysis of the social reality of ADHD in Contemporary Society, also explore ADHD as a clinical and psychiatric category riddled with controversy and as an expression of the medicalization of life. The authors analyze access to treatment and the demand for incorporation of methylphenidate and lisdexamfetamine in the Unified Health System (SUS). Regarding the Conitec report, the authors highlight the disagreement between public opinion and the result of the report, which refuses to incorporate drug treatment for ADHD. Such disagreement indicates how ADHD has consolidated itself as a medical and social reality that underlies the claim for individual and social rights, even if there is not enough scientific evidence regarding the effectiveness of drug treatment. In this context, any type of questioning of ADHD and/or methylphenidate can become a questioning of the rights of patients, even if there is not enough scientific evidence regarding the effectiveness of drug treatment. Amid this correlation of forces, there is the legitimate claim of patients for the right to treatment and to social conformation in a society that enshrines individual competition and performance since childhood, constituting them as a measure of normality and that leaves in the background the objective and subjective existential conditions. Continuing the theme of medicalization, we present the article written by Fernando Freitas (UFRJ) and Luciana Jaramillo Caruso de Azevedo (UERJ) Medicalizing children and adolescents. Fernando and Luciana analyze, from a critical perspective, the epistemological weaknesses present in the biomedical foundations used to think about diagnoses of mental disorders, which are increasingly used to qualify the behavior of children and adolescents. This explanatory model medicalizes children's behavior as it takes as its starting point the idea that psychotropic drugs have the function of correcting an underlying brain abnormality. The authors claim that this type of approach is based on a fallacy that has already been denounced by several studies. The authors also argue that the process of medicalization and
image/svg+xmlDissemination of expert knowledge in the field of childhood Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 5psychopharmacologization of childhood represent threats to public health and the guarantee of the full exercise of human rights. The article by Eugenia Bianchi (UBA), Milagros Oberti (UBA), Silvia Faraone (UBA) and Flavia Torricelli (UBA) Global medicalization, ADHD and childhoods. A media study from seven countries looks at which actors are represented in media about ADHD. The article assumes ADHD as a paradigmatic example of medicalization in mental health in children and highlights the globalizing nature of the diagnosis and the media as part of relevant non-medical actors that appear in the scene of medicalization. The authors carry out a survey of works (articles and magazines) which address the media about ADHD in countries in Asia, Europe, America and Oceania. The text brings valuable clues on how to investigate the interpenetration of scientific discourse in the media, as well as its manipulation: the missing elements, the non-explicit contradictory elements. The data indicate, closely following what Foucault observed, that there is regularity in the dispersion: the data show the relationship between childhood, ADHD and the media with two main characteristics: heterogeneous discourses about ADHD and the media articulating with the globalization processes of medicalization. The authors highlight what is absent in the media and how in more popular sites the information that appears was not written by academics or even lacks scientific support. The diverse and non-convergent character that appears in the media analyzed is a common point, as well as the little or no presence of the voices of children diagnosed and treated with ADHD (they are rather objects or passive protagonists) and the absence of a gender perspective. The article is an excellent invitation for a research agenda on the topic. The article by Henrique Sater (Unicamp) and Luana Marçon (Unicamp), Psychiatric diagnosis and challenges for another childhood biopolitics, brings critical reflections on psychiatric diagnoses and their specific uses in the field of childhood. Taking as a starting point small reports of clinical histories that arrive at child and adolescent care services, the article problematizes these psychiatric diagnoses and proposes thinking about a new childhood biopolitics. The authors discuss the hegemonic psychiatric rationale that classifies different misconduct as individual disorders and brain disorders, discussing how knowledge and medical power have configured childhood as a privileged space to exercise government over populations. The article proposes thinking about alternatives to guarantee the reception of children with mental suffering starting from the creation of less normative and less disciplinary care practices. Next, we present the article by Juliana de Araújo Silva and Julio César Donadone, both from the Federal University of São Carlos (UFSCar) Intermediating, judging and moralizing:
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON and Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 6the role of the State, the organizational gift and the adoption process. The article proposes a dialogue between the adoption of children and adolescents and economic sociology, based on a reflection on the existence of an organizational gift within these social practices. The Church and the State were at the forefront of intermediation between those who “gave children” and those who “fetched children”. According to the author of the article, children are removed/delivered by their biological families to the State, and the state power is to judge and moralize those who cannot “take care of the child”, as well as those who can or cannot adopt. In addition, veiled prejudice makes the predilection for younger and white-skinned children more likely to be adopted. While black and “older” children are in the hot seat of being elected, when they turn 18 many are no longer assisted by the Childhood and Youth Court, becoming the responsibility of the Criminal Court; since almost 70% of the prison population in Brazil is black, with weakened or non-existent family ties. The State, through the judiciary, decides situations of child abandonment based on moral principles in the best interest of the child, as well as for all involved. The authors of the article question to what extent the decisions taken, based on the laws on adoption, would be fair and useful for all involved. The argument sustained in the article is that adoption was constituted as an expression of state bureaucratic violence. The research analyzed the perception of the donors, understanding the current configuration and significance of the adoption practices of children and adolescents in Brazil. Among the results, it was observed that adoption is established as an alternative to obtain the “gift” and is treated as an “unpaid market”, rooted in relationships of compassion, altruism and friendship.To conclude this Dossier, we present an interview with Alejandra Barcala conducted by Sandra Caponi, Marcia da Silva Mazon and Barbara Michele Amorim. Alejandra Barcala is a Psychologist and PhD in Psychology from the University of Buenos Aires (UBA/Argentina). She is director and professor of the International Doctorate in Community Mental Health at the Universidad Nacional de Lanús (UNLa) and one of the leading names in research on mental health and human rights. In the interview, Sandra, Marcia and Barbara walk through several investigations of the interviewee, inviting her to compare Brazil and Argentina about their unique experiences of public policies in mental health in the face of a common experience from the past of the military dictatorship. This is the great challenge proposed by Alejandra Barcala: thinking about mental health from the perspective of human rights. Alejandra recalls that in Argentina until 1990 the issue of mental health was silenced until the publication of the report “Vidas Arrasadas” (Broken Lives) which exposed the condition of violation of human rights in asylums, this publication generated public indignation and set in motion a public agenda for the mental health in the country. Until the publication of the National Mental Health Law in 2010
image/svg+xmlDissemination of expert knowledge in the field of childhood Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 7(law 26,657, now under debate again) it was a long way to go. Alejandra also highlights the fundamental role of the Movement of Mothers of Plaza de Mayo: they took the first steps towards the sanction and enactment of the Mental Health Law. Alejandra also touched on the issue of social inequality and inequality in health and mental health. She shows how in Argentina there was an increase in social inequalities (already underway) during the pandemic that was accompanied by an increase in psychiatric hospitalization of girls and boys. She draws attention to the social class of these children: they come from socially vulnerable homes in a process that Alejandra names as “medicalization circuits” supported, among others, by the school institution. In this context, they were not biomedical problems, rather they were suffering as a result of social traumas that, instead of being situated in the social context, were interpreted as individual psychopathological problems, outside the family, relational and community context. Alejandra also addressed her most recent research, the subject of ADHD and the increase in diagnoses accompanied by drug treatment of this disorder in Argentina. As the Argentine intellectual ponders, just as the school has the ability to accompany, transform and open a world of possibilities to a child, it can also subjectively mark them with a diagnosis for life.
image/svg+xmlMarcia da Silva MAZON and Sandra CAPONI Estudos de Sociologia, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718 DOI:https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 8How to reference this article MAZON, M. S.; CAPONI, S. Dissemination of expert knowledge in the field of childhood.Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 27, n. esp. 2, e022035, 2022. e-ISSN: 1982-4718. DOI: https://doi.org/10.52780/res.v27iesp.2.17572 Submitted: 15/06/2022 Required revisions: 10/07/2022 Approved: 12/08/2022 Published: 30/09/2022 Processing and publishing: Editora Ibero-Americana de Educação. Review, formatting, standardization and translation