Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 1
PÓS-VERDADE, NEGACIONISMO E FAKE NEWS: ENSAIO INTRODUTÓRIO
POST-VERDAD, NEGACIONISMO Y FAKE NEWS: ENSAYO INTRODUCCTÓRIO
POST-TRUTH, DENIALISM AND FAKE NEWS: INTRODUCTORY ESSAY
Antonio IANNI SEGATTO1
e-mail: antonio.ianni@unesp.br
Como referenciar este artigo:
IANNI SEGATTO, A. Pós-verdade, negacionismo e fake news:
Ensaio introdutório. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n.
esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718. DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303
| Submetido em: 05/03/2023
| Publicado em: 01/08/2023
Editora:
Profa. Dra. Maria Chaves Jardim
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara SP Brasil. Professor do Departamento de Ciências
Sociais. Doutorado em Filosofia (USP).
Pós-verdade, negacionismo e fake news: Ensaio introdutório
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 2
RESUMO: Esta breve introdução ao dossiê apresenta os fenômenos da pós-verdade, do
negacionismo e das fake news a partir de três perguntas. A primeira é “Qual a verdade da pós-
verdade?”. A repsosta é que a pós-verdade não constitui um novo tipo de verdade, mas uma
forma de descredibilizar o modo de justificação da verdade. A segunda pergunta é “O que o
negacionismo nega?”. A resposta sugerida aponta que o negacionismo científico, em particular,
nega não apenas teses científicas, mas nega sobretudo os próprios procedimentos de
investigação científica. A terceira pergunta é “O que é falso nas fake news?”. A resposta visa
mostrar que a falsidade das notícias falsas reside em seu caráter ideológico.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-verdade. Negacionismo. Fake news. Neoliberalismo.
RESUMEN: Esta breve introducción al dossier presenta los fenómenos de la posverdad, del
negacionismo y de las fake news a partir de tres preguntas. El primero es “¿Cuál es la verdad
de la posverdad?”. La respuesta es que la posverdad no constituye un nuevo tipo de verdad,
sino una forma de desacreditar la forma en que se justifica la verdad. La segunda pregunta es
"¿Qué niega el negacionismo?". La respuesta sugerida señala que el negacionismo científico,
en particular, niega no sólo las tesis científicas, sino sobre todo los propios procedimientos de
investigación científica. La tercera pregunta es “¿Qué hay de falso en las noticias falsas?”. La
respuesta pretende mostrar que la falsedad de las fake news radica en su carácter ideológico.
PALABRAS CLAVE: Pós-verdad. Negacionismo. Fake news. Neoliberalismo.
ABSTRACT: This brief introduction to the dossier presents the phenomena of post-truth,
denialism and fake news based on three questions. The first is “What is the truth of post-truth?”.
The answer is that post-truth does not constitute a new kind of truth, but a way of discrediting
the way truth is justified. The second question is “What does denialism deny?”. The suggested
answer points out that scientific denialism, in particular, denies not only scientific theses, but
above all the scientific investigation procedures themselves. The third question is “What is false
in fake news?”. The answer aims to show that the falsity of fake news lies in its ideological
character.
KEYWORDS: Post-truth. Denialism. Fake news. Neoliberalism.
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 3
Qual a verdade da pós-verdade?
Em novembro de 2016, o renomado Dicionário Oxford anunciou a escolha do termo
“pós-verdade” como palavra do ano e a definiu como um adjetivo “relativo a ou denotando
circunstâncias em que fatos objetivos são menos influentes em moldar a opinião pública do que
apelos à emoção e crença pessoal”. Embora tenha recebido essa definição no ano mencionado,
vale lembrar que a palavra não é nova. Ela havia sido empregada pela primeira vez em 1992
pelo dramaturgo Steve Tesich em um ensaio para a revista The Nation. Em 2004, ela reaparece
no título do livro de Ralph Keyes The Post-Truth Era. Mas o termo ganha o significado fixado
pelo Dicionário Oxford na esteira do artigo “Arte da Mentira”, publicado no mesmo ano de
2016 na revista britânica The Economist, em que Trump é considerado o expoente da política
da “pós-verdade”, caracterizada por uma “confiança em afirmações que ‘parecem verdadeiras’,
mas não têm base em fatos”. O que se pode depreender da definição apresentada pelo dicionário
e da caracterização do artigo é que a expressão mesma “pós-verdade” pode ser enganadora,
porque não se trata de um novo tipo de verdade ou de dizer que não existe qualquer verdade.
Em outras palavras, a pós-verdade não é uma negação da verdade entendida em sentido
tradicional. Ela se caracteriza, antes, por descredibilizar o modo de justificação da verdade. A
fim de precisar essa ideia, examinemos o paralelo sugerido por alguns entre a “era da pós-
verdade” e aquela ideologia que, por assim dizer, inaugura o uso do prefixo “pós”: a “condição
pós-moderna”. Lee McIntyre (2018, p. 126) propõe a tese de que o pensamento pós-moderno é
um percursor da pós-verdade. Ele aponta duas ideias, no seu entender, próprias à pós-
modernidade que permitiriam estabelecer esse parentesco: 1) não verdade objetiva, 2)
qualquer defesa de verdade nada mais é do que um reflexo da ideologia política de quem faz
tal defesa. Em um sentido lato, pode-se dizer que a pós-verdade repete a tese que não verdade
objetiva, que importam menos fatos objetivos do que a emoção ou a crença pessoal, portanto,
uma suposta verdade subjetiva. Por outro lado, como veremos, fenômenos próprios à era da
pós-verdade, como o negacionismo e a disseminação de fake news, servem precisamente à
manipulação da verdade enquanto supostas manifestações ideológicas. Lembrem-se das
repetidas declarações de Trump de que as notícias veiculadas pela mídia tradicional são fake
news. No entanto, ao contrário da pós-modernidade que apregoa a destruição ou liquidação dos
ideais do projeto moderno (LYOTARD, 1987, p. 31), a pós-verdade não recusa nem a ideia
mesma de verdade nem qualquer definição específica de verdade. Ao contrário, ela repõe uma
certa noção de verdade aparentemente, da noção tradicional de verdade como correspondência
a fatos para recusar seu critério. Ela também não nega pura e simplesmente que a verdade
Pós-verdade, negacionismo e fake news: Ensaio introdutório
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 4
esteja baseada em fatos, mas propõe que os fatos são fabricações. Lembrem-se da declaração
de Kellyanne Conway, conselheira de Trump, a propósito do número de pessoas que assistiram
à posse do presidente americano. Confrontada com dados que desmentiam sua declaração, ela
alegou que não apresentava uma falsidade, mas “fatos alternativos”.
Compreender a ideia de pós-verdade supõe algumas definições e distinções básicas.
Como nota Ernesto Perini-Santos (2022, p. 271-272), “a verdade designa uma relação entre
algo que é passível de ser julgado como verdadeiro ou falso, como uma asserção ou uma crença,
e um fato [...] uma crença tem uma razão epistêmica quando ela é aceita porque a pessoa tem
alguma indicação do fato que a torna verdadeira”. Sendo assim, continua o autor, “expressão
pós-verdade designa uma suposta mudança no comportamento das pessoas que, aparentemente,
passaram a ter crenças para as quais não têm razões epistêmicas” (PERINI-SANTOS, 2022, p.
272). Isso é explicado pela exacerbação de alguns fenômenos que precedem a era da pós-
verdade, notadamente, a existência de vieses cognitivos que explicam o desvio de razões
epistêmicas. Em particular, pode-se destacar o viés de confirmação, que diminui a exigência
evidencial para as crenças que já possuímos e aumenta a exigência para o que vai contra o que
acreditamos. Perini-Santos nota que tais vieses sempre estiveram a serviço da identificação
a grupos específicos. Na atualidade, porém, esses fenômenos ganham nova dimensão, devido a
três razões: 1) a difusão desregulada da informação favorece a propagação de crenças que não
passam por filtros epistêmicos por duas razões; 2) o fortalecimento da extrema direita se
constrói em torno de crenças queo passam por filtros epistêmicos e morais; 3) o crescimento
da desconfiança nas sociedades se dá em razão do aumento da desigualdade. Mais do que isso,
uma espécie de reforço recíproco desses fatores: “O crescimento da desigualdade e a difusão
desregulada de informações na internet reforçam a extrema direita, que se alimenta de tensões
e desconfianças que crescem num mundo cada vez mais desigual e prospera em espaços sem
filtros epistêmicos e morais” (PERINI-SANTOS, 2022, p. 274). Acredito que essa
caracterização é correta e, por isso, merece desenvolvimento. As relações entre os três fatores
não se devem apenas ao reforço recíproco de seus efeitos, isto é, ao fato de que o crescimento
da desigualdade e a difusão desregulada de informações reforçam a extrema direita e esta
prospera em espaços sem filtros epistêmicos e morais. A meu ver, uma afinidade eletiva
entre esses efeitos e o neoliberalismo, sobretudo em sua versão reacionário contemporânea.
Perini-Santos lembra que a difusão desregulada da informação está ligada ao crescimento da
difusão de crenças que têm um papel identitário. Que se pense, por exemplo, no terraplanismo
ou na difusão de desinformação por meio de grupos em aplicativos de mensagem. Esse papel
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 5
identitário encontra terreno fértil na versão hiper-reacionária do neoliberalismo, segundo a
expressão de Fraser (2018). Wendy Brown mostrou de maneira convincente que “a atual
economicização neoliberal da vida política e social se distingue por uma produção discursiva
que converte toda pessoa em capital humano de si mesma, das empresas, e de uma constelação
econômica nacional ou pós-nacional, como a União Europeia” (BROWN, 2018, p. 6). No plano
da difusão de informações, da produção e difusão do conhecimento e da ciência, esse fenômeno
significa autorizar indivíduos e grupos a reivindicarem para si o poder de produzir suas próprias
“verdades”. Assim como os indivíduos são livres no sentido de que são “liberados da inter-
ferência legal em suas escolhas e decisões” ainda que isso signifique um novo modo de
subjugação, que Brown chama de cidadania sacrificial” , eles são também são livres de
qualquer compromisso com, por exemplo, intuições científicas ainda que isso possa significar
o sacrifício literal de inúmeras vidas, conforme mostraram as estatísticas sobre pessoas não-
vacinadas e o número de mortos por Covid-19 durante a pandemia. Essa liberdade neoliberal é
partidária do ataque neoliberal ao social enquanto
local em que cidadãos de origens e recursos amplamente desiguais são
potencialmente reunidos e pensados como um conjunto [...], em que as
desigualdades historicamente produzidas se manifestam como acesso, voz e
tratamento políticos diferenciados, bem como o local em que essas
desigualdades podem ser parcialmente corrigidas (BROWN, 2019, p. 38).
Wendy Brown mostra como a direita ascendente promove uma combinação de
libertarianismo, moralismo, autoritarismo, nacionalismo, ódio ao Estado, conservadorismo
cristão e racismo. Nesse contexto, as novas forças reacionárias, ao mesmo tempo, “batem-se
contra o relativismo, mas também contra a ciência e a razão, e rejeitam afirmações baseadas em
fatos, argumentação racional, credibilidade e responsabilidade” (BROWN, 2019, p. 10). A
liberdade neoliberal serve como instrumento à era da pós-verdade e assume uma função
identitária para aqueles que se identificam com ideologias de reacionárias e de extrema direita
e pretendem descreditar verdades fundamentadas.
O que o negacionismo nega?
Segundo Kropf, o termo “negacionismo” tem origem no vocábulo francês
négationismee remonta ao período pós-Segunda Guerra Mundial, quando foi usado para
caracterizar o discurso dos que negavam o extermínio dos judeus e outros grupos durante o
Holocausto. Ela nota também que
Pós-verdade, negacionismo e fake news: Ensaio introdutório
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 6
posteriormente, o termo passaria a abranger outros alvos, não apenas no
domínio da história, mas do conhecimento científico de modo geral, como a
correlação entre o uso do tabaco e doenças como o câncer, a teoria da
evolução, as vacinas, as mudanças climáticas decorrentes de ações humanas
(KROPF, 2022, p. 201).
A fim de compreender mais precisamente o que exatamente o negacionismo nega é
preciso lembrar que ele não se confunde com dúvidas, incertezas e controvérsias legítimas.
Esses elementos são parte fundamental do falibilismo da ciência. Nesse sentido, o conhecido
critério de demarcação entre ciência e não ciência proposto por Popper não pode ser mobilizado
para refutar o negacionismo. Como se sabe, Popper baseou seu critério de demarcação entre
ciência e pseudociência na possibilidade de teorias, como a teoria geral da relatividade de
Einstein, de serem refutadas, bem como na impossibilidade de teorias, como, a seu ver, o
marxismo e a psicanálise freudiana, de serem refutadas. Em suas palavras: “o critério do status
científico de uma teoria é sua falsificabilidade, ou refutabilidade, ou testablidade” (POPPER,
1982, p. 66, tradução modificada). O negacionismo não pode ser refutado pelo critério da
falsificabilidade, não porque suas teses sejam imunes à crítica, isto é, a tentativas de refutação,
mas porque ele não respeita os procedimentos fundamentais da própria lógica da investigação
científica. Nos termos de Popper, um negacionista negaria o próprio critério de demarcação da
falsificabilidade como procedimento legítimo para determinar se uma concepção é ciência ou
pseudociência. O negacionismo científico é uma forma de negação de segunda ordem, que nega
não apenas teses científicas, mas nega sobretudo os próprios procedimentos de investigação
científica.
Assim como a pós-verdade não é um tipo de verdade e sua explicação passa, como
vimos, pela vinculação ao neoliberalismo, o negacionismo não é mera pseudociência no sentido
popperiano e sua explicação passa, em parte, por sua associação ao populismo reacionário
contemporâneo. Kropf ressalta que o negacionismo científico não resulta da ignorância outro
aspecto, aliás, fundamental para ciência, segundo Popper , mas produz a ignorância de modo
deliberado:
Sua definição se por seu caráter intencional e articulado para produzir e
disseminar desinformações e dúvidas, por meio de estratégias organizadas
com o objetivo de contrariar evidências e alegações consensualmente
reconhecidas pela comunidade científica. O negacionismo constitui-se como
projeto atrelado a interesses extracientíficos. Ainda que dirigido a temas, a
teorias ou a ideias específicas, o ataque à autoridade, aos consensos e às
instituições científicas que os vocalizam e os sustentam torna o negacionismo
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 7
ameaça à credibilidade da ciência como um todo. E, como tal, confronta a
própria democracia (KROPF, 2022, p. 201).
A negação do negacionismo está dirigia também às instituições e procedimentos que
garantam a objetividade do conhecimento. Não causa espanto que os negacionistas pretendam
tanto negar teses científicas quanto desacreditar universidades, institutos de pesquisa, órgãos
de controle, etc.
Repete-se com o negacionismo aquele papel identitário que Perini-Santos identifica no
fenômeno da pós-verdade. Kropf chama esse traço de “negação como ethos”. A negação serve
de elemento de identidade para aqueles que reagem ao “sistema”, assim como reagem ao que
Nancy Fraser (2018) chamou de “neoliberalismo progressista”:
O anti-intelectualismo nutrido por governos de extrema direita é, nesse
sentido, um dos elementos decisivos para a mobilização negacionista que
busca recrutar os que se veem como “o outro lado” em formas de vida
referidas aos espaços e aos valores do conhecimento (KROPF, 2022, p. 201).
Não por acaso variadas formas de negacionismo prosperaram no Brasil durante o
governo de Jair Bolsonaro. Rocha, Solano e Medeiros identificam no bolsonarismo uma
dimensão “antissistêmica”, responsável por gerar alguns paradoxos, dentre eles, “a
possibilidade da direita e da extrema direita continuarem a se apresentar como antissistêmicas
mesmo após terem passado a ocupar posições centrais de poder” (ROCHA; SOLANO,
MEDEIROS, 2022, p. 57). Mais do que isso, esse paradoxo é constitutivo do governo
mencionado e teve um papel relevante em seu projeto autoritário, pois promoveu “uma
constante destruição das instituições por dentro, buscando identificar a ‘democracia existente’
ao ‘sistema’ e propondo a identificação da ‘verdadeira democracia’ com o período da ditadura
militar” (NOBRE, 2022, p. 178). No plano da ciência e do conhecimento, o negacionismo
serviu a essa destruição por dentro das intuições científicas e órgãos de controle. É possível
inclusive identificar estratégias de erosão democrática comuns a diferentes regimes autocráticos
no mundo, bem como a governos que se colocaram nesse caminho (BRITO et al., 2023). No
que diz respeito às políticas de educação, pode-se identificar, por exemplo, alterações na
abordagem de fatos históricos, por vezes marcadas pela ausência de respaldo científico e pela
reescrita de narrativas e fatos comprovados, interferências na autonomia didático-científica e
ataques às liberdades individuais dos acadêmicos, tanto por meio de ameaças como de discursos
que desvalorizam os atores educacionais, em especial os que fazem parte da oposição política
aos regimes no poder.
Pós-verdade, negacionismo e fake news: Ensaio introdutório
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 8
O que é falso nas fake news?
A expressão “fake news” designa o que se convencionou chamar em português de
notícias falsas. Sua disseminação se intensificou a partir de meados da década passada com a
campanha do Brexit, as eleições nos Estados Unidos em 2016 e, no Brasil, o processo eleitoral
de 2018. Esses eventos, aliás, permitem uma caracterização mais ou menos geral do fenômeno.
Segundo Sampaio, “fake news são notícias falsas, inventadas, alteradas, distorcidas, retiradas
de seus contextos originais” (SAMPAIO, 2022, p. 134). Disso, ele extrai algumas
características: 1) para que possam se apresentar como notícias (ainda que falsas), elas o
precisam apresentar um formato que imite o formato jornalístico; elas ainda, usualmente, o
baseadas numa lógica de apresentar novidades baseadas em “fatos”, ainda que inventados ou
distorcidos; 2) as fake news ganham confiabilidade por meio do viés de confirmação, isto é,
sua confiabilidade em crenças e perspectivas preexistentes ou, ainda, em medos, ansiedades,
teorias conspiratórias e preconceitos; 3) fake news são um femeno intrinsecamente digital. A
segunda característica está relacionada ao que foi dito acima sobre o fato de que a pós-verdade
não um outro tipo de verdade. Pode-se dizer inclusive que as notícias falsas não são notícias;
elas são, antes, simulacros de notícias. Mais importante, porém, é entender em que sentido elas
são falsas. Em um sentido óbvio, elas são falsas, porque não correspondem a fatos. Mas uma
vez que as notícias falsas são produzidas para produzir engano, torna-se irrelevante que elas
não correspondam a fatos. Ao contrário, é como se elas produzissem simultaneamente os fatos
que noticiam. Embora a checagem de fatos seja um mecanismo importante de combate às fake
news, ela não resolve inteiramente o problema. Isso não se deve apenas devido a o
alcançarem o mesmo mero de indivíduos expostos aos conteúdos falsos originais e devido
ao viés de confirmação, que faz com as próprias pessoas resistem à correção da informação.
Sampaio lembra o seguinte:
No seu sentido alternativo e distorcido, fake news é um termo utilizado por
políticos ou grupos extremistas para desqualificar veículos midiáticos,
geralmente do jornalismo profissional, que fazem coberturas negativas do
grupo político em questão. Essa desqualificação acontece para a promoção de
meios alternativos de comunicação, geralmente digitais, direcionados a
grupos partidários e militantes específicos, que não tenham filtragem ou
mediação desses atores midiáticos. Esses canais paralelos costumam ser
justamente aqueles que ajudam a difundir as fake news em seu sentido original
(SAMPAIO, 2022, p. 135).
Acredito que é possível compreender o que há de falso nas fake news compreendendo
seu caráter ideológico. Como recorda Stahl, a ideologia em sentido marxiano denota “falhas
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 9
cognitivas em fenômenos intelectuais (isto é, nas relações intelectuais dos indivíduos com a
realidade)” (STAHL, 2020, p. 215). Mais especificamente, trata-se de uma “relação cognitiva
ideológica dos indivíduos com a realidade social não porque a ideologia reproduz
cognitivamente essa realidade de modo falso, mas porque assume que a ideologia é a expressão
adequada de uma falsa realidade” (STAHL, 2020, p. 220). Nesse sentido, o caráter ideológico
das fake news reside em que são fabricadas e disseminadas para justamente produzirem falhas
cognitivas, mais especificamente, nas relações intelectuais dos indivíduos com a realidade.
Além disso, as fake news não apenas reproduzem essa realidade de modo falso, mas são
também a expressão adequada de uma falsa realidade. Não por acaso muitas das fake news
recentes disseminam misoginia, homofobia, transfobia, etc. Lembre-se do uso indiscriminado
de fake news nas eleições de 2018 no Brasil, quando houve disparos massivos de mensagens
por aplicativos de celular, que acusavam o então candidato Fernando Haddad de defender o
incesto, a pedofilia, a implantação do comunismo no Brasil e de distribuir, quando Ministro da
Educação, um suposto “kit gay” em escolas, incentivando as crianças a serem homossexuais.
Por último, vale lembrar que “a ideologia favorece as crenças cognitivamente falsas (ou
seja, não verdadeiras) de segunda ordem” (STAHL, 2020, p. 229). As fake news não apenas
produzem conteúdos falsos de primeira ordem, mas também servem para impedir que os
indivíduos tenham uma relação reflexiva deficitária de segunda ordem com tais conteúdos.
Retomando o exemplo acima, as fake news que disseminaram a suposta “ideologia de gênero”
não apenas têm conteúdos falsos, pois não correspondem à realidade, ao contrário, distorcem
deliberadamente a realidade. Mais do que isso, essas fake news visam a incapacitar os
indivíduos a julgar por si mesmos sobre falsidade material de tais conteúdos, isto é, a adotar
uma relação reflexiva com eles. Isso tem por propósito a manutenção de relações desiguais e
injustas e, por isso, é uma arma utilizada preferencialmente pelo populismo reacionário
contemporâneo. Mais uma vez, repete-se a reação do neoliberalismo hiper-reacionário, para
retomar outra expressão de Fraser (2018), às reivindicações progressistas. Ademais, o fato de
políticos como Trump alegarem que as notícias produzidas e veiculadas pela mídia tradicional
são fake news visa, entre outras coisas, à impedir que seus partidários e seguidores possam
discriminar quais notícias são de fato verdadeiras e quais são falsas, embaralhando os dois
lados. A crítica das fake news não pode, portanto, passar ao largo dos recursos conceituais da
crítica da ideologia.
Pós-verdade, negacionismo e fake news: Ensaio introdutório
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 10
REFERÊNCIAS
BRITO, A. et al. O caminho da autocracia: estratégias atuais de erosão democrática. São
Paulo: Tinta-da-China Brasil, 2023.
BROWN, W. Cidadania Sacrificial: neoliberalismo, capital humano e políticas de
austeridade. Rio de Janeiro: Zazie Edições, 2018.
BROWN, W. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão política antidemocrática no
ocidente. São Paulo: Editora Politeia, 2019.
FRASER, N. Do neoliberalismo progressista a Trump e além. Política & Sociedade, v. 17,
n, 40, p. 43-64, 2018. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/view/2175-7984.2018v17n40p43. Acesso
em: 17 nov. 2022.
KROPF, S. P. Negacionismo científico. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L. (org.). Dicionários
dos negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
McINTYRE, L. Post-truth. Cambridge, MA: MIT Press, 2018.
LYOTARD, J-F. O pós-moderno explicado às crianças: correspondência 1982-1985.
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1987.
NOBRE, M. Limites da democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro. São Paulo:
Todavia, 2022.
PERINI-SANTOS, E. Pós-verdade. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L. (org.). Dicionários dos
negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
POPPER, K. Conjecturas e refutações. Brasília, DF: Editora UnB, 1982.
ROCHA, C.; SOLANO, E.; MEDEIROS, J. Bolsonarismo. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L.
(org.). Dicionários dos negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
SAMPAIO, R. C. Fake news. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L. (org.). Dicionários dos
negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
STAHL, T. Crítica da ideologia como crítica das práticas sociais: uma reconstrução
expressivista da crítica da falsa consciência. Cadernos de Filosofia Alemã, v. 25, n. 1, p.
213-233, 2020. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/168050. Acesso em: 17 nov. 2022.
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 11
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 1
POST-TRUTH, DENIALISM AND FAKE NEWS: INTRODUCTORY ESSAY
PÓS-VERDADE, NEGACIONISMO E FAKE NEWS: ENSAIO INTRODUTÓRIO
POST-VERDAD, NEGACIONISMO Y FAKE NEWS: ENSAYO INTRODUCCTÓRIO
Antonio IANNI SEGATTO1
e-mail: antonio.ianni@unesp.br
How to reference this article:
IANNI SEGATTO, A. Post-truth, denialism and fake news:
Introductory essay. Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n.
esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718. DOI:
https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303
| Submitted: 05/03/2023
| Published: 01/08/2023
Editor:
Prof. Dr. Maria Chaves Jardim
Executive Deputy Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
São Paulo State University (UNESP), Araraquara SP Brazil. Professor at the Department of Social Sciences.
Doctorate in Philosophy (USP).
Post-truth, denialism and fake news: Introductory essay
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 2
ABSTRACT: This brief introduction to the dossier presents the phenomena of post-truth,
denialism and fake news based on three questions. The first is “What is the truth of post-truth?”.
The answer is that post-truth does not constitute a new kind of truth, but a way of discrediting
the way truth is justified. The second question is “What does denialism deny?”. The suggested
answer points out that scientific denialism, in particular, denies not only scientific theses, but
above all the scientific investigation procedures themselves. The third question is “What is false
in fake news?”. The answer aims to show that the falsity of fake news lies in its ideological
character.
KEYWORDS: Post-truth. Denialism. Fake news. Neoliberalism.
RESUMO: Esta breve introdução ao dossiê apresenta os fenômenos da pós-verdade, do
negacionismo e das fake news a partir de três perguntas. A primeira é “Qual a verdade da pós-
verdade?”. A repsosta é que a pós-verdade não constitui um novo tipo de verdade, mas uma
forma de descredibilizar o modo de justificação da verdade. A segunda pergunta é “O que o
negacionismo nega?”. A resposta sugerida aponta que o negacionismo científico, em
particular, nega não apenas teses científicas, mas nega sobretudo os próprios procedimentos
de investigação científica. A terceira pergunta é O que é falso nas fake news?”. A resposta
visa mostrar que a falsidade das notícias falsas reside em seu caráter ideológico.
PALAVRAS-CHAVE: Pós-verdade. Negacionismo. Fake news. Neoliberalismo.
RESUMEN: Esta breve introducción al dossier presenta los fenómenos de la posverdad, del
negacionismo y de las fake news a partir de tres preguntas. El primero es “¿Cuál es la verdad
de la posverdad?”. La respuesta es que la posverdad no constituye un nuevo tipo de verdad,
sino una forma de desacreditar la forma en que se justifica la verdad. La segunda pregunta es
"¿Qué niega el negacionismo?". La respuesta sugerida señala que el negacionismo científico,
en particular, niega no sólo las tesis científicas, sino sobre todo los propios procedimientos de
investigación científica. La tercera pregunta es “¿Qué hay de falso en las noticias falsas?”. La
respuesta pretende mostrar que la falsedad de las fake news radica en su carácter ideológico.
PALABRAS CLAVE: Pós-verdad. Negacionismo. Fake news. Neoliberalismo.
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 3
What is the truth of post-truth?
In November 2016, the renowned Oxford Dictionary announced the choice of the term
“post-truth” as word of the year and defined it as an adjective “relating to or denoting
circumstances in which objective facts are less influential in shaping public opinion than
appeals to emotion and personal belief”. Although it received this definition in the year
mentioned, it is worth remembering that the word is not new. It had first been employed in 1992
by playwright Steve Tesich in an essay for The Nation magazine. In 2004, it reappears in the
title of Ralph Keyes' book The Post-Truth Era. But the term gains the meaning set by the Oxford
Dictionary in the wake of the article “Art of the Lie”, published in the same year, 2016, in the
British magazine The Economist, in which Trump is considered the exponent of the “post-truth”
policy, characterized by a “reliance on statements that 'ring true' but have no basis in fact”.
What can be inferred from the definition provided by the dictionary and the characterization of
the article is that the very expression “post-truth” can be misleading, because it is not a question
of a new type of truth or saying that there is no truth. In other words, post-truth is not a denial
of truth understood in the traditional sense. It is characterized, rather, by discrediting the way
of justifying the truth. In order to clarify this idea, let us examine the parallel suggested by some
between the “post-truth eraand that ideology which, so to speak, inaugurates the use of the
prefix “post”: the “postmodern condition”. Lee McIntyre (2018, p. 126) proposes the thesis that
postmodern thought is a precursor of post-truth. He points out two ideas, in his view, proper to
postmodernity that would allow establishing this kinship: 1) there is no objective truth, 2) any
defense of truth is nothing more than a reflection of the political ideology of those who make
such a defense. In a broad sense, it can be said that post-truth repeats the thesis that there is no
objective truth, since objective facts matter less than emotion or personal belief, therefore, a
supposed subjective truth. On the other hand, as we will see, phenomena typical of the post-
truth era, such as denialism and the dissemination of fake news, serve precisely to manipulate
the truth as supposed ideological manifestations. Recall Trump's repeated statements that news
reported by mainstream media is fake news. However, unlike post-modernity, which proclaims
the destruction or liquidation of the ideals of the modern project (LYOTARD, 1987, p. 31),
post-truth does not reject either the very idea of truth or any specific definition of truth. On the
contrary, it replaces a certain notion of truth apparently, of the traditional notion of truth as
correspondence to facts to refuse its criterion. Nor does it simply deny that truth is based on
facts, but proposes that facts are fabrications. Remember the statement by Kellyanne Conway,
adviser to Trump, regarding the number of people who attended the inauguration of the
Post-truth, denialism and fake news: Introductory essay
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 4
American president. Confronted with data that contradicted her statement, she claimed that she
did not present a falsehood, but “alternative facts”.
Understanding the idea of post-truth requires some basic definitions and distinctions.
As Ernesto Perini-Santos (2022, p. 271-272, our translation) notes, “truth designates a
relationship between something that can be judged as true or false, such as an assertion or a
belief, and a fact [...] a belief has an epistemic reason when it is held because the person has
some indication of the fact that makes it true”. Thus, the author continues, “post-truth
expression designates a supposed change in the behavior of people who, apparently, started to
have beliefs for which they have no epistemic reasons” (PERINI-SANTOS, 2022, p. 272, our
translation). This is explained by the exacerbation of some phenomena that precede the post-
truth era, notably, the existence of cognitive biases that explain the deviation from epistemic
reasons. In particular, confirmation bias can be highlighted, which decreases the evidential
requirement for beliefs we already hold and increases the requirement for what goes against
what we already believe. Perini-Santos notes that such biases have always been at the service
of identifying specific groups. Nowadays, however, these phenomena gain a new dimension,
due to three reasons: 1) the unregulated diffusion of information favors the propagation of
beliefs that do not pass through epistemic filters for two reasons; 2) the strengthening of the
extreme right is built around beliefs that do not pass through epistemic and moral filters; 3) the
growth of mistrust in societies is due to the increase in inequality. More than that, there is a
kind of reciprocal reinforcement of these factors: The growth of inequality and the unregulated
dissemination of information on the internet reinforce the extreme right, which feeds on the
tensions and mistrust that grow in an increasingly unequal world and thrives on spaces without
epistemic and moral filters” (PERINI-SANTOS, 2022, p. 274, our translation). I believe that
this characterization is correct and therefore deserves further development. The relationships
between the three factors are not only due to the reciprocal reinforcement of their effects, also
to the fact that the growth of inequality and the unregulated dissemination of information
reinforce the extreme right and it thrives in spaces without epistemic and moral filters. In my
view, there is an elective affinity between these effects and neoliberalism, especially in its
contemporary reactionary version. Perini-Santos recalls that the unregulated dissemination of
information is linked to the growth of the dissemination of beliefs that play an identity role.
Think, for example, of flat earthism or the spread of misinformation through groups in
messaging apps. This identity role finds fertile ground in the hyper-reactionary version of
neoliberalism, according to Fraser's expression (2018). Wendy Brown convincingly showed
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 5
that “the current neoliberal economicization of political and social life is distinguished by a
discursive production that converts every person into human capital for oneself, for
companies, and for a national or post-national economic constellation, as the European Union”
(BROWN, 2018, p. 6, our translation). In terms of the dissemination of information, the
production and dissemination of knowledge and science, this phenomenon means authorizing
individuals and groups to claim for themselves the power to produce their own “truths”. Just as
individuals are free in the sense that they are “liberated from legal interference in their choices
and decisions” – even if that means a new mode of subjugation, which Brown calls “sacrificial
citizenship” they are also free of any compromise with, for example, scientific intuitions
even if this could mean the literal sacrifice of countless lives, as the statistics on unvaccinated
people and the death toll from Covid-19 during the pandemic have shown. This neoliberal
freedom is in favor of the neoliberal attack on the social as
where citizens of widely unequal backgrounds and resources are potentially
brought together and thought of as a whole […], where historically produced
inequalities manifest themselves as differing political access, voice and
treatment, and where these inequalities can be partially corrected (BROWN,
2019, p. 38, our translation).
Wendy Brown shows how the rising right promotes a combination of libertarianism,
moralism, authoritarianism, nationalism, hatred of the state, Christian conservatism, and
racism. In this context, the new reactionary forces, at the same time, “battle against relativism,
but also against science and reason, and reject statements based on facts, rational argumentation,
credibility and responsibility (BROWN, 2019, p. 10, our translation). Neoliberal freedom
serves as an instrument for the post-truth era and assumes an identity function for those who
identify with reactionary and extreme right-wing ideologies and intend to discredit well-
founded truths.
What does denialism deny?
According to Kropf, the term “denialism” (negationism) originates from the French
word négationismeand dates back to the post-World War II period, when it was used to
characterize the discourse of those who denied the extermination of Jews and other groups
during the Holocaust. She also notes that
later, the term would cover other targets, not only in the domain of history,
but of scientific knowledge in general, such as the correlation between tobacco
Post-truth, denialism and fake news: Introductory essay
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 6
use and diseases such as cancer, the theory of evolution, vaccines, climate
change arising from human actions (KROPF, 2022, p. 201, our translation).
In order to understand more precisely what exactly denialism denies, it is necessary to
remember that it is not confused with doubts, uncertainties and legitimate controversies. These
elements are a fundamental part of the fallibilistism of science. In this sense, the well-known
demarcation criterion between science and non-science proposed by Popper cannot be
mobilized to refute denialism. As is known, Popper based his demarcation criterion between
science and pseudoscience on the possibility of theories, such as Einstein's general theory of
relativity, being refuted, as well as on the impossibility of theories, such as, in his view,
Marxism and Freudian psychoanalysis, to be refuted. In his words: “the criterion of the
scientific status of a theory is its falsifiability, or refutability, or testability” (POPPER, 1982, p.
66, our translation). Denialism cannot be refuted by the criterion of falsifiability, not because
its theses are immune to criticism, that is, to attempts at refutation, but because it does not
respect the fundamental procedures of the very logic of scientific investigation. In Popper's
terms, a denier would deny the very criterion of demarcating falsifiability as a legitimate
procedure for determining whether a conception is science or pseudoscience. Scientific
denialism is a form of second-order denial, which denies not only scientific theses, but above
all denies the very procedures of scientific investigation.
Just as post-truth is not a type of truth and its explanation passes, as we have seen,
through its link to neoliberalism, denialism is not mere pseudoscience in the Popperian sense
and its explanation passes, in part, through its association with contemporary reactionary
populism. Kropf points out that scientific denialism does not result from ignorance another
aspect, incidentally, fundamental to science, according to Popper , but deliberately produces
ignorance:
Its definition is given by its intentional and articulated nature to produce and
disseminate disinformation and doubts, through organized strategies with the
objective of contradicting evidence and claims consensually recognized by the
scientific community. Denialism constitutes a project linked to extra-scientific
interests. Although directed at specific themes, theories or ideas, the attack on
authority, consensus and the scientific institutions that vocalize and sustain
them makes denialism a threat to the credibility of science as a whole. And,
as such, it confronts democracy itself (KROPF, 2022, p. 201, our translation).
The denial of denialism is also directed at institutions and procedures that guarantee the
objectivity of knowledge. It is not surprising that the denialists intend both to deny scientific
theses and to discredit universities, research institutes, control agencies etc.
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 7
Denialism repeats that identity role that Perini-Santos identifies in the post-truth
phenomenon. Kropf calls this trait “denial as ethos”. Denial serves as an element of identity for
those who react to the “system”, just as they react to what Nancy Fraser (2018) called
“progressive neoliberalism”:
The anti-intellectualism nurtured by far-right governments is, in this sense,
one of the decisive elements for the denialist mobilization that seeks to recruit
those who see themselves as “the other side” in ways of life referred to spaces
and values of knowledge (KROPF, 2022, p. 201, our translations).
It is not by chance that various forms of denialism thrived in Brazil during the
government of Jair Bolsonaro. Rocha, Solano and Medeiros identify in Bolsonarism an “anti-
systemic” dimension, responsible for generating some paradoxes, among them, “the possibility
that the right and the extreme right continue to present themselves as anti-systemic even after
they have come to occupy central positions of power” (ROCHA; SOLANO, MEDEIROS,
2022, p. 57, our translation). More than that, this paradox is constitutive of the aforementioned
government and played a relevant role in its authoritarian project, as it promoted “a constant
destruction of institutions from within, seeking to identify the 'existing democracy' to the
'system' and proposing the identification of ' true democracy' with the period of the military
dictatorship” (NOBRE, 2022, p. 178, our translation). In terms of science and knowledge,
denialism served this destruction from within scientific intuitions and control agencies. It is
even possible to identify democratic erosion strategies common to different autocratic regimes
in the world, as well as to governments that set out on this path (BRITO et al., 2023). With
regard to education policies, one can identify, for example, alterations in the approach to
historical facts, sometimes marked by the absence of scientific support and by the rewriting of
proven narratives and facts, interference in didactic-scientific autonomy and attacks on
individual freedoms of academics, both through threats and discourses that devalue educational
actors, especially those who are part of the political opposition to the regimes in power.
Post-truth, denialism and fake news: Introductory essay
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 8
What is false in fake news?
The dissemination of “fake news” intensified from the middle of the last decade with
the Brexit campaign, the elections in the United States in 2016 and, in Brazil, the electoral
process of 2018. These events, by the way, allow a more or less general characterization of the
phenomenon. According to Sampaio, “fake news are news that are false, invented, altered,
distorted, removed from its original contexts” (SAMPAIO, 2022, p. 134, our translation). From
this, he extracts some characteristics: 1) for them to be presented as news (even if false), they
do not need to present a format that imitates the journalistic format; they are still, usually, based
on a logic of presenting novelties based on “facts”, however invented or distorted; 2) fake news
gains reliability through confirmation bias, that is, its reliability in pre-existing beliefs and
perspectives or even in fears, anxieties, conspiracy theories and prejudices; 3) fake news is an
intrinsically digital phenomenon. The second feature is related to what was said above about
the fact that post-truth is not another kind of truth. It can even be said that fake news is not
news; they are, rather, simulacra of news. More important, however, is to understand in what
sense they are false. In an obvious sense they are false, because they do not correspond to facts.
But since fake news are produced to produce deception, it becomes irrelevant that they do not
correspond to facts. On the contrary, it is as if they simultaneously produced the facts they
reported. While fact-checking is an important mechanism to combat fake news, it does not
entirely solve the problem. This is not only due to not reaching the same number of individuals
exposed to original false content and due to confirmation bias, which makes people themselves
resist the correction of information. Sampaio recalls the following:
In its alternative and distorted sense, fake news is a term used by politicians
or extremist groups to disqualify media vehicles, usually professional
journalism, that provide negative coverage of the political group in question.
This disqualification happens for the promotion of alternative means of
communication, usually digital, directed at specific party groups and militants,
which do not have filtering or mediation by these media actors. These parallel
channels tend to be precisely those that help spread fake news in its original
sense (SAMPAIO, 2022, p. 135, our translation).
I believe that it is only possible to understand what is false in fake news by
understanding its ideological character. As Stahl recalls, ideology in the Marxian sense denotes
“cognitive flaws in intellectual phenomena (that is, in the intellectual relations of individuals
with reality)” (STAHL, 2020, p. 215, our translation). More specifically, it is an “ideological
cognitive relationship of individuals with social reality not because ideology cognitively
reproduces this reality in a false way, but because it assumes that ideology is the adequate
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 9
expression of a false reality” (STAHL, 2020, p. 220, our translation). In this sense, the
ideological character of fake news lies in the fact that they are manufactured and disseminated
precisely to produce cognitive failures, more specifically, in the intellectual relations of
individuals with reality. Furthermore, fake news not only falsely reproduces this reality, but is
also the adequate expression of a false reality. Not by chance, many of the recent fake news
disseminate misogyny, homophobia, transphobia etc. Remember the indiscriminate use of fake
news in the 2018 elections in Brazil, when there were massive send outs of messages by cell
phone apps, which accused the at the time candidate Fernando Haddad of defending incest,
pedophilia, the implantation of communism in Brazil and distribute, when Minister of
Education, an alleged “gay kit” in schools, encouraging children to be homosexual.
Finally, it is worth remembering that “ideology favors second-order cognitively false
(ie, not true) beliefs” (STAHL, 2020, p. 229, our translation). Fake news not only produces
first-order false content, but also serves to prevent individuals from having a second-order
deficit reflexive relationship with such content. Returning to the example above, the fake news
that disseminated the supposed “gender ideologynot only has false content, as it does not
correspond to reality, on the contrary, it deliberately distorts reality. More than that, these fake
news aim to disable individuals to judge for themselves about the material falsity of such
contents, that is, to adopt a reflective relationship with them. This has the purpose of
maintaining unequal and unjust relations and, therefore, is a weapon preferably used by
contemporary reactionary populism. Once again, the reaction of hyper-reactionary
neoliberalism, using another expression by Fraser (2018), to progressive demands is repeated.
In addition, the fact that politicians like Trump claim that the news produced and disseminated
by the traditional media are fake news aims, among other things, to prevent his supporters and
followers from being able to discriminate which news is in fact true and which is false, shuffling
the two sides. The critique of fake news cannot, therefore, bypass the conceptual resources of
the critique of ideology.
Post-truth, denialism and fake news: Introductory essay
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 10
REFERENCES
BRITO, A. et al. O caminho da autocracia: estratégias atuais de erosão democrática. São
Paulo: Tinta-da-China Brasil, 2023.
BROWN, W. Cidadania Sacrificial: neoliberalismo, capital humano e políticas de
austeridade. Rio de Janeiro: Zazie Edições, 2018.
BROWN, W. Nas ruínas do neoliberalismo: a ascensão política antidemocrática no
ocidente. São Paulo: Editora Politeia, 2019.
FRASER, N. Do neoliberalismo progressista a Trump e além. Política & Sociedade, v. 17,
n, 40, p. 43-64, 2018. Available:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/politica/article/view/2175-7984.2018v17n40p43. Access:
17 Nov. 2022.
KROPF, S. P. Negacionismo científico. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L. (org.). Dicionários
dos negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
McINTYRE, L. Post-truth. Cambridge, MA: MIT Press, 2018.
LYOTARD, J-F. O pós-moderno explicado às crianças: correspondência 1982-1985.
Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1987.
NOBRE, M. Limites da democracia: de junho de 2013 ao governo Bolsonaro. São Paulo:
Todavia, 2022.
PERINI-SANTOS, E. Pós-verdade. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L. (org.). Dicionários dos
negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
POPPER, K. Conjecturas e refutações. Brasília, DF: Editora UnB, 1982.
ROCHA, C.; SOLANO, E.; MEDEIROS, J. Bolsonarismo. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L.
(org.). Dicionários dos negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
SAMPAIO, R. C. Fake news. In: SZWAKO, J.; RATTON, J. L. (org.). Dicionários dos
negacionismos no Brasil. Recife: Cepe, 2022.
STAHL, T. Crítica da ideologia como crítica das práticas sociais: uma reconstrução
expressivista da crítica da falsa consciência. Cadernos de Filosofia Alemã, v. 25, n. 1, p.
213-233, 2020. Available: https://www.revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/168050.
Access: 17 Nov. 2022.
Antonio IANNI SEGATTO
Estudos de Sociologia, Araraquara, v. 28, n. esp. 1, e023003, 2023. e-ISSN: 1982-4718
DOI: https://doi.org/10.52780/res.v28iesp.1.18303 11
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.