image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730210DOCÊNCIA E A PROFISSIONALIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO NO BRASIL: CONTRIBUIÇÕES DA OBRA DE LUIZ PEREIRA1DOCENCIAY LA PROFESIONALIZACIÓN DEL MAGISTRARIO EN BRASIL: CONTRIBUCIONES DE LA OBRA DE LUIZ PEREIRATEACHING AND THE PROFESSIONALIZATION OF THE MAGISTRARY IN BRAZIL: CONTRIBUTIONS OF THE WORK OF LUIZ PEREIRARenata Porcher SCHERER2RESUMO: O presente texto propõe-se a estabelecer uma reflexão crítica sobre aprofissionalização do magistério no Brasil, revisitando os primeiros estudos sociológicosde Luiz Pereira acerca da escolarização em nosso país. Utilizando-se do procedimento metodológico da análise documental e operando com o conceito de prática a partir dosEstudos Foucaultianos,é possível mapear e descrever alguns enunciados que se referem àprofissionalização do magistério na década de 1960,no Brasil. O primeirodesses enunciados mapeados serefere ao declínio da concepção artesanal-missionária relacionada à docência em processo de substituição por concepções mais burocratizadas dessa profissão.O segundo enunciado relaciona-se com as capacidades integrativas,mostrando como a integração de papéis domésticos e profissionais no magistério fortaleceu sua feminização no período analisado.PALAVRAS-CHAVE: Educação básica. Profissionalização do magistério. Análise documental. História da educação. Feminização do magistério. RESUMEN:El presente texto propone establecer una reflexión crítica sobre la profesionalización de la enseñanza en Brasil, revisando los primeros estudios sociológicos de Luiz Pereira sobre la escolarización en nuestro país. Utilizando el procedimiento metodológico de análisis documental y trabajando con el concepto de práctica de los estudios de Foucault, es posible trazar y describir algunas afirmaciones sobre la profesionalización de la enseñanza en la década de 1960 en Brasil. El primero se refiere al declive de la concepción artesanal-misionera relacionada con la enseñanza en sustitución de concepciones más burocráticas de esta profesión. La segunda declaración se refiere a las capacidades integradoras que muestran cómo la integración de los roles domésticos y profesionales en la enseñanza ha fortalecido la feminización de la profesión docente en el período analizado.PALABRAS CLAVE:Educación básica.Profesionalidad de la profesión docente. Análisis documental. Historia de la educación. Feminización de la enseñanza.1O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) Código de Financiamento 001.2Universidade do vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo RS Brasil. Doutorado em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2331-1453. E-mail: renatapscherer@gmail.com
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730211ABSTRACT:The present text proposes to establish a critical reflection on the professionalization of teaching in Brazil, revisiting the first sociological studies of Luiz Pereira about schooling in our country. Using the methodological procedure of documentary analysis and working with the concept of practice from the Foucaultian studies it is possible to map and describe some statements about the professionalization of teaching in the 1960s in Brazil. The first refers to the decline of the craft-missionary conception related to teaching in substitution for more bureaucratic conceptions of this profession. The second statement relates to the integrative capacities showing how the integration of domestic and professional roles in teaching has strengthened the feminization of the teaching profession in the period analyzed.KEYWORDS:Basic education. Professionalism of the teaching profession. Documentary analysis. History of education. Feminization of teaching.IntroduçãoCertamente,as lutas em torno do reconhecimento profissional do magistério não iniciaram na segunda metade do século XX, nem mesmo a literatura brasileira sobre o trabalho das professoras começou neste período. Todavia, tal como buscaremosmostrar neste artigo, será no contexto de urbanização do país, associado à estruturação do capitalismo desenvolvido a partir dos anos de 1950,que parece desenhar-se um cenário acadêmico favorável aos estudos da docência como um trabalho. Para tanto,neste artigo,iremos analisar duasobrasproduzidas na década de 1960,escritas pelo sociólogo Luiz Pereira,buscando mostrar algumas das concepções que circularam e produziram modificações acerca dos sentidossobre a docênciae a profissionalização do magistérioneste período.A justificativa da importância de tomarmos tais obras como material empírico deriva-se da relevância dos estudos de Pereira(1967; 1969)para a teoria educacional brasileira. De acordo com Cecília Marafelli, Priscila Rodrigues e Zaia Brandão(2017, p. 985),as pesquisas desenvolvidas pelo sociólogo podem ser consideradas “fundadoras da abordagem sociológica do magistério como profissão feminina e do ensino primário (anos iniciais do ensino fundamental) no Brasil”. Silke Weber (1996), por sua vez,corrobora com tal assertiva ao apontar que o reconhecimento da docência como trabalho e objeto de estudo teria como marco o início de urbanização brasileira no qualosestudosde Pereira(1967; 1969),provavelmente, tenham sido os primeiros a construírem uma abordagem da sociologia para a educação. De acordo com a socióloga, o estudode Pereira (1969),ao examinar o magistério primário como profissão feminina de classe média,trouxe importantes contribuições para refletirmos sobre a profissionalização do magistério no Brasil.
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730212Vale registrar, ainda, que o livrode Pereira (1967) integraa importante obra organizada por Maria do Carmo Xavier (2010, p. 10), intituladaClássicos da educação brasileira,quereúne resenhas de obras publicadas entre as décadas de 1930 e 1960. Neste período, de acordo com a autora, “a nossa intelectualidade esteve especialmente envolvida em disputas políticas sobre a construção da sociedade democrática, com o concurso de uma escola pública de qualidade”. Marafelli, Rodrigues e Brandão (2017)destacam que Luiz Pereira eraaluno e orientando de Florestan Fernandes e foi um dosprimeiros, com suas pesquisas e sua trajetória pessoal e acadêmica, a mostrar a importância dos aportes da Sociologia para analisar e compreender o papel do professor na realidade escolar brasileira. Um dos destaques relativos aos estudos de Pereira(1969)refere-se às suasanálises relativas ao processo de feminização do magistério. De acordo com o sociólogo,traços intrínsecos como instinto maternal feminino, amorosidade, compreensão e paciência marcariam a diferença entre os níveis de profissionalização e na divisão entre carreiras masculinas e femininas. Seriam estes fatores que, para o autor, contribuiriam para o baixo prestígio e a menor remuneração das professoras (PEREIRA, 1969). Luiz Pereira, em entrevista realizada por Conrado Pires de Castro com José de Souza Martins, aluno e pesquisador que trabalhou durante muitos anos diretamente com Pereira, foi descrito como um “leitor disciplinado, mas pouco motivado para o trabalho de campo”. (CASTRO, 2010, p. 215). Em outra passagem da entrevista,reitera-setal característica de Pereira e destaca-se sua aproximação com Florestan Fernandes. Como explicita Martins, “Luiz Pereira, muito influenciado por Florestan, herdou em sua personalidade esse protestantismo sem religião, no modo como administrava seus horários e fazia seu dia valer por dois, tornando-se um autêntico campeão de leituras”.(CASTRO, 2010, p. 220). Cabe destacar que, nas décadas de 1950 a 1960, o Brasil viveu um intenso processo de urbanização,atrelado, fortemente, à política de modernização, industrialização e desenvolvimentismo, período em que ocorreu o governo do presidente Juscelino Kubitschek. Este seria o segundo período de crescimento da hegemonia urbano-industrial vivido pelo nosso país. O primeiro momento, de acordo com Octavio Ianni (1971), teria sido a partir da implementação do Estado Novo, em 1937, e o segundo, nos anos de 1956 a 1960, período do governo de Kubitschek. No referido período, de acordo com o pesquisador, ocorreu um processo de substituição de importações e o Brasil passou a produzir mais bens duráveis, de capital e bens intermediários. Porém, a hegemonia do urbano sobre o rural teria transformado também a própriacultura. Nas palavras do autor,“a própria cultura, em seu sentido amplo,
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730213transformou-se de modo notável, pelo desenvolvimento de novas formas de pensar e novas possibilidades de ação” (IANNI, 1971, p. 172).Feitos esses destaques com relação àrelevância de olharmos com atenção para as pesquisas desenvolvidas por Luiz Pereira para compreendermos o processo de profissionalização do magistério brasileiroe sobre o contexto político, social e econômico do Brasil entre as décadas de 1950 e 1960, importaapresentar brevemente as duas obras do sociólogo que serão analisadas nesse artigo. A primeira obra analisada será A escola numa área metropolitana, na qual o sociólogo Luiz Pereira (1967) identifica uma escola primária brasileira em mudança frente a um processo de burocratização das instituições escolares. Neste processo de mudança, Pereira diagnostica um declínio de uma concepção paternalista do magistério primário como uma atividade artesanal-missionária por concepções burocráticas acerca da profissão docente.A segunda obra que analisaremos constitui-se no estudo nomeado Omagistério primário numa sociedade de classes,onde damos especialatenção em nossas análises para as investigações de Pereira(1969)relacionadas às capacidades integrativas do magistério entre os papéis domésticos e aos papéis profissionais descritos pelo sociólogo como uma das principais características para que o magistério fosse exercido em sua grande maioria por mulheres.Acreditamos que, através desteestudo, poderemos contribuir para uma maior compreensão dosprocessos de profissionalização do magistério brasileiro,interrogando sobre sua constituição no interior do pensamento pedagógico brasileiro da segunda metade do século XX(SCHERER,2019). Paraque possamos consolidar uma pauta investigativa sobre a docência brasileira,precisamos investir em estudos históricos que,ao atentarempara a literatura pedagógica,nosauxiliem a problematizar como tais movimentos constituíram-se no interior dessa trama discursiva. Nesse artigo,realizamos uma opção em termos metodológicosde analisar a docência como prática nos aproximandodos Estudos Foucaultianos. Tais estudosdefinem o conceito de prática como uma racionalidade ou regularidade que organiza o que os sujeitos fazem quando falam ou quando agem, podendo constituir experiências ou pensamentos. (CASTRO, 2009).As práticas teriam relação tanto com aquilo que pode “ser descrito, analisado e problematizado quanto, ao mesmo tempo, o domínio das próprias descrições, análises e problematizações que são colocadas em movimento” (VEIGA-NETO, 2008, p. 7). Para Foucault, tudo seria prática e tudo estaria imerso em relações de saber que se implicam mutuamente (FISCHER, 2012). “Ou seja, enunciados e visibilidades, textos e instituições,
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730214falar e ver constituem práticas sociais por definição permanentemente presas, amarradas às relações de poder, que as supõem e as atualizam” (FISCHER, 2012, p. 75).Nesse sentido,ao analisarmos duas obras acadêmicas com importante impacto sobre a produção da teoria educacional brasileira,propomo-nos a mapear alguns sentidos que circularam sobre a docência e a profissionalização do magistério,interrogando sobre quais práticas podem ser descritas nesse período. A perspectivahistórica que assumimos nesse trabalho distancia-se de uma posição que busca glorificar, reeditar e muito menos julgar o passado. Como explica Heloisa Villela (2005, p. 78),o olhar histórico sobre os documentos objetiva “compreender o sentido do movimento que define as mudanças e permanências dos processos sociais”. No presente artigo,ao analisar as obras acadêmicas de Pereira escritas na década de 1960,não desejamos construir explicações,nem estabelecer ligações com o presente. Olhamos para o passado como “um território de diálogo com as novas gerações e algumas possibilidades de intuições criativas para os impasses que se colocam no presente desafiador” (VILLELA, 2005, p.78).Docência e burocratização do magistério: declínio da concepção artesanal-missionária Nessa seção,como já anunciado anteriormente, analisaremosa obra A escola numa área metropolitana, escrita por Luiz Pereira no ano de 19603. O trabalho empírico para escrita desta obra foi realizado por Pereira na cidade de Santo André, localizada no interior de São Paulo,no final da década de 1950, e foi apresentado em formato de monografia para conclusão dosestudos de especialização em Sociologia soborientação do professor Florestan Fernandes. Seguimos, então, a linha argumentativa traçada pelo sociólogona obrapara compreender como a tensão entre as concepções burocráticas e patrimonialistas da docência produziram o declínio da concepção artesanal-missionária do trabalho docente e, consequentemente, a perdade significado da imagem da professora como uma segunda mãedos alunos. Começamosapresentando um conjunto de excertos em que Pereira (1967), a partir 3Na literatura disponível sobre o sociólogo, encontramos duas referências com relação ao ano de publicação da obra. Enquanto muitos estudos referenciam 1960 como ano de publicação, alguns também anunciam o ano de 1967. Tal divergência parece derivar do fato de o livro ter sido publicado no ano de 1967 e a monografia da qual a obra foi derivada ter sido apresentada em 1960. Nas palavras de Pereira (1967, p. 15),salvo alguns pequenos retoques, o texto acima é o mesmo com que apresentamos esta monografia no primeiro semestre de 1960”. Sendo assim, as duas datas estão corretas e referem-seaedições distintas da pesquisa. A edição utilizadapara análise na tese é a do ano de 1967,publicada em formato de livro.
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730215de uma análise do Regimento, apresenta as funções docentes exigidas no período dividindo-as em três setores:Para fins de exposição e análise, separamos as atribuições dos professores, estabelecidas no Regimento, em três setores: o das atividades relativas à sua classe ou turma de alunos, o das suas atividades extraclasse, e o das suas relações com os colegas e demais funcionários da escola. As normas do primeiro setor, bem mais numerosas do que as dos outros dois tipos, definem três conjuntos de atividades: as docentes, as de controle dos alunos e as de “escrituração”(PEREIRA, 1967, p. 74, grifos do autor).Como é possível observar, ao longo das análises realizadas por Pereira, as atividades docentes atribuídas pelo Regimento tinham como função principal organizar este trabalho a partir de um processo de burocratização desta ocupação4,que se tornava necessário e consistente com o período históricode urbanização no qualo Brasilseencontrava, descrito anteriormente nesta seção. Para o desenvolvimento da nação,era necessário deixar uma visão tradicional e patrimonialista da docência e torná-la mais burocratizada. Outra questão que foi evidenciada por Pereira (1967), no Regimento, era a influência da Pedagogia Moderna e das teorias da Escola Nova que, aos poucos, eram inseridas na formação dos professores e exigida pela legislação. Porém, o sociólogo afirma que, mesmo com todos os esforços de burocratização observados no Regimento,ainda eram visíveis várias inconsistências internas no documento, especialmente no que concerne a princípios pedagógicos modernos juntamente comfundamentos de uma escolarização antiga, como seria visível, nos quesitos relacionados à verificação do aprendizado dos alunos e à manutenção da disciplina.Após analisar o Regimento, Pereira (1967) dirige suas análises para o que ele denomina como a “personalidade-statusideal de professor”,que implicaria a aceitação de algumas normas do Regimento e, portanto, uma concepção burocrática da docência, juntamente, com a acomodação de algumas concepções patrimonialistas da docência,que permitem ao sociólogo afirmar uma condição de semiburocratização da instituição escolar por ele analisada.4O processo de burocratização das funções docentes analisados por Pereira é consistente com o período em que a obra foi escrita. É importante considerar que análises posteriores sobre os processos de implementação dos grupos escolares como, por exemplo, os trabalhos da pesquisadora Eliane Peres (2000), mostram que a consolidação dos grupos escolares na década de 1930 ocorreram no contexto de um processo de fortalecimento de um novo discurso que a pesquisadora irá nomear como “renovação pedagógica”. A renovação pedagógica é constituída por distintos saberes e conhecimentos advindos da Psicologia, da Pedagogia Experimental e da Educação Nova, entre outros. “Ao configurarem a escola, as ciências modernas, foram também sendo produzidas e legitimadas pouco a pouco. Houve, portanto, um duplo movimento: as ciências pedagógicas produziam práticas escolares ao mesmo tempo em que eram produzidas a partir dessas práticas” (PERES, 2000, p.16).
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730216Essa personalidade-statusideal de professor é congruente com a representação patrimonialista da escola primária pública: como algo “pertencente” ao seu pessoal docente-administrativo, que presta uma espécie de favor aos seus alunose suas famílias, “ajudando-os na vida” graças ao ensino das técnicas elementares da cultura-leitura, escrita e cálculo. O “bom” professor primário dedica-se grandemente aos alunos, sentindo-se tanto um “dono” do seu cargo e das crianças de sua classe. Em vista disso, não admite interferência dos pais descontentes: “aqui mando eu no seu filho” é frase compatível com tal concepção. Da mesma forma, não aprecia o controle do diretor sobre as atividades que dizem respeito à sua classe. Resolve tudo sozinho, só recorrendo ao diretor em casos extremos(PEREIRA, 1967, p. 78, grifos do autor).A partir da “personalidade-status ideal de professor”, descrita nas análises de Pereira (1967), confrontada com as funções docentes descritas no Regimento, possibilita perceber, esta tensão entre valores patrimonialistas evalores burocráticos, sendocada um deles ligados a diferentes concepções de docência. É importante destacarque tal abordagem do sociólogo não supõe que os modelos apresentem distintas temporalidades; pelo contrário, o que Pereira nos chama atenção em suas análises é para a coexistência destes modelos. É esta coexistência dos modelos patrimonialista e burocrático que, de acordo com Pereira(1967), vaiproduzir o declínio da concepção de docência como uma atividade artesanal-missionária.Para tanto, o pesquisador brasileiro apresenta, ainda, uma terceira nuance de análise, não mais como a docência do Regimento, nem a docência do status-ideal, mas a docência real,como podemos ver no excerto a seguir:Trata-seda concepção paternalista do magistério primário como atividade artesanal-missionária, substituída em grande escala por concepções burocráticas acerca da profissão, que levam os professores a encará-la em termos instrumentais, avaliando-a de acordo com ascompensações obtidas através do trabalho justamente as concepções burocráticas inerentes ao cargo. Todavia, ainda na avaliação de tais compensações intervêm outros critérios de ordem tradicional. Assim, é como burocratas que os professores reclamam contra os salários percebidos, julgando-se ‘proletários de gravata’ e admitindo que ‘para pouco dinheiro, pouco trabalho’(PEREIRA, 1967, p. 82-83, grifos do autor).Pereira (1967), ao analisar as transformações da escola primária brasileira em um contexto deurbanização,oferece elementos paraa compreensão dealgumas transformações importantes relativas ao trabalho docente. Assim, o autor nos mostra que a substituição de motivações paternalistas por outras de natureza burocrática não produziu uma concepção de docência que corresponderia a todos os aspectos exigidos pelo Regimento. Podemos, então, observar que, neste período, o trabalho docente configurava-se por uma justaposição das
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730217concepções burocráticas e paternalistas da docência, produzindosimum declínio da concepção artesanal-missionária,mas não uma docência altamente burocratizada. As professoras da escola analisada por Pereira (1967), como ele irá apontar, já não se identificavam com a representação da professora como segunda mãe dos alunos, como se podeobservar no excerto que destaco a seguir:Diante destas, no interior das salas de aula, não se comportam como uma espécie de segunda mãe, como caberia a quem se identificasse com a concepção paternalista do magistério primário. Agem como professores apenas, tendendo suas relações com os alunos ao tipo categórico. Mesmo o interesse no aprendizado dos alunos parece consistir num interesse “pessoal” do professor: deseja a aprovação do aluno porque esta lhe dá “pontos” para a sua remoção para outra escola, mais do que visa um benefício para a criança(PEREIRA, 1967, p. 83, grifos do autor).Este declínio da imagem da professora como segunda mãe dos alunos,descrito por Pereira (1967) já na década de 1960, demonstra que o período de urbanização brasileiro produziu importantes mudanças para as formas como os professores eram representados e, igualmente, uma falta de identificação das professoras tanto com a concepção patrimonialista de docência comocom os padrões da concepção burocrática. O sociólogodescreve alguns casos extremos derivados de suas incursões empíricas para dar visibilidade a esta falta de identificação dos novos professores: “por várias vezes adiantaram o relógio da escola em tentativa de ludibriar a servente encarregada dos sinais deentrada e saída de classes; e quase diariamente vão para a cozinha, lá permanecendo por meia hora mais ou menos, abandonandoa classe na sala de aula!”. (PEREIRA, 1967, p. 83). Segundo o sociólogo, tal nível de falta de identificação era mais visível nos professores mais novos, enquanto os mais antigos denominavamestas atitudes como falta de vocação oudesinteresse das novas geraçõespelo magistério. A obra de Pereira (1967),analisada nesta seção, ao descrever um processo de burocratização das atividades docentes, mostra que para exercer este ofício segue-se valorizando “traços tidos também como tipicamente femininos: carinho, paciência, compreensão, etc. para com as crianças, ligados ao que se costuma chamar de instinto maternal.” (PEREIRA, 1967, p. 79). Mesmo este sendo um estereótipo ligado a uma concepção paternalista de docência, que,como aponta o sociólogo, encontra-se em declínio,esta representação de docência segue a configurar a “personalidade-status ideal de professor” no período analisado pelo sociólogo.
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730218Docência e as capacidades integrativas: relações entre as mulheres e o magistério Pereira (1969), na obra que é analisada nesta seção, ao tomar como objeto de estudo o magistério primário e apontar esta ocupação como uma das principais modalidades de profissionalização feminina na sociedade brasileira, olha, metodologicamente, para este fenômeno a partir de três dimensões: estrutural, ideológica e motivacional. O primeiro excerto que gostaríamosde destacar das análises do sociólogo refere-se à divisão sexual do trabalho na organização escolar:A análise dos papéis desempenhados pelo professor, no plano institucionalizado da escola primária, mostra que deles fazem parte algumas atividades de natureza administrativa, ao lado das atividadespropriamente docentes. Com referência a estas, as tarefas administrativas aparecem como secundárias e reduzidas, e sempre subordinadas às do diretor, do inspetor e do delegado de ensino. Dessemodo revela-se no quadro anterior, sob outra luz, aquelemesmotraço estrutural do sistema escolar primário público estadual, que agora aparece como constituído pela predominância feminina nas posições de ‘execução’ e pela masculina nas de ‘direção’. Em outras palavras, as relações assimétricas entre os sexos repetem-se na estrutura dessesistema social parcial, refletindo eleidênticas orientações do sistema social global. Ao que se sabe, a mesma característica evidencia-se em empresasoutras com ponderável parcela feminina entre os seus membros (PEREIRA, 1969, p. 18).Ao olharmos para o excerto,operando com gênero como uma categoria analítica,como nos propôs Scott (1995, p. 14), observa-se, necessariamente, uma conexão da história com as práticas contemporâneas,produzindo, então, sentido à forma como se organizae percebeo conhecimento socialmente construído,sendo assim um “elemento constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos um primeiro modo de dar significado as relações de poder”. Pode-se evidenciar isso como uma distinção entre o que se esperava da mulher e do homem, naquela sociedade, e acabava conduzindo suas escolhas e suas opções. Importa também olharmos com atenção para as análises de Pereira (1969)com relação àpequena representatividade das mulheres nos cargos de organização das atividades docentes. Os números apontados por Pereira (1969) são os seguintes: 93,3% de mulheres ocupam o cargo de professora primária. Com relação ao cargo de diretor,32,6% apenas. Nas outras duas funções,o percentual cai ainda mais,sendo 5,9% para o cargo de inspetor e 2,2% para o cargo de delegado de ensino. Pereira (1969, p. 32),justifica estes números a partir de duas hipóteses.
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730219A primeira teria relação com o funcionamento social que, ao impor condições específicas para o preenchimento de cargos como direção, para que ocorresse a realização adequada das atividades correspondentesao cargo,acabaria afastando as mulheres que “se achariam menos ajustadas do que os homens, devido às respectivas socializações diferenciais prévias”. E, a segunda, relacionada ao funcionamento do sistema social global, especialmente relacionado à diferença sexual,que acabaria afastando as mulheres de determinadas funções e aproximando os homens destas. Podemos compreender este fenômeno com base na teorização proposta por Christine Willians (1995), na qual a autora mostra que, em diferentes situações, parece existir “um teto de vidro” que operaria como um limite invisível e limitador da ascensão das mulheres,enquanto,no caso dos homens, teríamos uma “escada rolante invisível” que impulsionaria a ascensão masculina.A relação entre o magistério e o casamento, nas análises de Pereira (1969),também é um aspecto relevante, pois é justamente ao articular estes dois elementos que o pesquisador irá apresentar a questão das capacidades integrativas. De acordo com o sociólogo, casamento e profissão implicariam paraamulher dois conjuntos de papéis diversoscuja integração ou conciliação, na maioria dos casos, seria quase impossível, dificultando a entradada mulher em determinadas profissões. Assim, as acomodações entre os papéis possíveis de serem ocupados pelas mulheres, naquele período, se apresentariamem três opções, transcritasno excerto a seguir:Acomodações entre aquelespapéis abertos às mulheres adultas processam-se de três maneiras distintas: 1) sucessão cronológica entre fases da vida do indivíduo, a primeira das quais caracterizada pelo celibato e trabalho profissional e a segunda, pelo casamento e abandono dos papéis profissionais; 2) filiação simultânea do indivíduo ao padrão profissional e ao padrão doméstico plenamente realizado com o matrimônio; 3) permanência do indivíduo no padrão profissional e na condição celibatária. Estudos relativos a sistemas urbano-industriais os mais avançados mostram as mulheres casadas participando em escala bem menor do que as solteiras da população economicamente ativa fenômeno esteexplicável, ao menos em parte, pelas maiores dificuldades de aquelas acomodarem seus papéis domésticos com os papéis profissionais (PEREIRA, 1969, p. 33-34).Com base nas análises diagnósticas, realizadas por Pereira (1969), dos sistemas urbano-industriais,ficou possível perceber que as mulheres casadas ocupavam em menor grau a categoria de população economicamente ativa, por tornar-se incompatível aliar as atividades domésticas, exigidas pelo casamento, e as atividades profissionais exigidas pelo trabalho fora de casa. Sendo assim, muitas mulheres, naquele período, abandonavam suas carreiras
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730220profissionais para dedicar-se ao lar. Como vimos na seção anterior, esta era umaopção, principalmente, das moças de classes mais favorecidas,que podiam optar pela dedicação exclusiva ao lar. Porém, o que o sociólogo vai nos chamar a atenção, em seu estudo, é que,no caso do magistério primário,existia uma tendência de vinculação das professoras para ambosostipos de papéis,ou seja,tanto os domésticos quanto os profissionais. Tal constatação é baseada no número de professoras casadas e, igualmente, pelo desejo matrimonial da maioria dasprofessoras ainda solteiras. Com tais dados, Pereira (1969, p. 34) levanta a hipótese de que existiriam “grandes capacidades integrativas entre papéis domésticos e seus papéis profissionais atuais”. Tal possibilidade de conciliar os dois padrões,doméstico e profissional,devia-se a algumas características do magistério que facilitariam a acomodação destes dois papéis,como são apresentadasno excerto a seguir:Os argumentos justificadores da maior adequação do magistério primário ao sexo feminino classificam-se em dois tipos. O primeiro diz respeito a traços da personalidade feminina alguns referidos de maneira explícita à ‘hereditariedade’ e outros não. As características psíquicas mais frequentemente assinaladas são ‘instinto maternal’ e maior dose, nas mulheres, de certas aptidões, habilidades ou capacidades tidas como apropriadas às relações interpessoais do mestre com as crianças: ‘carinho’, ‘amor’, ‘docilidade’, ‘compreensão’, ‘paciência’, ‘abnegação’, ‘comunicabilidade’, ‘meiguice’, ‘dedicação’, etc. O segundo tipo engloba o que se chamaria de fatoresextrínsecos, porque ligados não à personalidade do professor, mas a condições de funcionamento escolar: salário reputado como baixo, poucas horas de trabalho diário, prestígio ocupacional consideradoinsatisfatório, etc(PEREIRA, 1969, p. 48).O excerto acimanos ajudaa compreender, de forma mais clara, como o magistério primário se fortaleceu como uma atividade feminina no Brasil a partir de uma forte ligação dele com a maternidade. De acordo com Marina Maluf e Maria Mott (1998), foi a propagação de um discurso biológico que difundiu a crença de uma natureza feminina e do instinto materno, homogeneizando o lugar da mãe como aquela que cuida e não abandona seus filhos. Conforme as pesquisadoras, tal crença prevaleceu durante a primeira metade do século XX e reduziu os lugares da mulher na sociedade como: mãe, esposa e dona de casa. Podemos, então, observar como estes discursos biologizantes,que ligavam o lugar da mulher à maternidade e ao cuidado da casa,são centrais para o fortalecimento do processo de feminização do magistério brasileiro. Para Pereira (1969, p. 51), em seu prisma, esta analogia entre as representações acerca dos papéis maternos e dos papéis docentes poderia ser explicada como uma espécie de
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730221“extensão profissionalizada dos papéis maternos”,constituindo-se como uma ideologia profissional correspondente a esta ocupação. A problemática apontada pelo sociólogo desta relação seria a fundamentação ideológica baseada em relações assimétricasentre os sexos, que sustentaria tal adaptação e justificaria, entre outras questões, a manutenção das mulheres em posições subordinadas e, inclusive, os baixos salários. De acordo com o sociólogo brasileiro (PEREIRA, 1969, p. 53), existiria uma “conexão funcional entre estereótipos de sexo feminino e salários julgados inferiores: estessustentam, ao menos em parte, os estereótipos e vice-versa”. Assim, tanto os estereótipos de sexo, ligados ao magistério primário, como o nível de remuneração,teriam atuado como “poderosas forçassociais responsáveis pela elevada predominância numérica feminina nessa ocupação, ao afastarem dela indivíduos masculinos”. (PEREIRA, 1969, p. 53).Com tais análises sociológicas, Pereira (1969, p. 59) aponta que a partir de umaperspectiva privatista, ou seja, que corresponderia aos interesses das professoras e de seus familiares, o magistério primário configurava “uma das mais bem sucedidas modalidades de participação da mulher na população economicamente ativa”. Entretanto, a profissionalização feminina, pelo magistério, não alcançaria o estágio de profissionalização masculina devido à organização social e à condição tradicional da mulher na sociedade brasileira daquele período histórico. Tais questões, ainda de acordo com Pereira (1969, p. 61), afetariam “negativamente o próprio desempenho dos papéis profissionais pelas professorasno sistema escolar”, apontando para a importância de que o estado de acomodação entre os papéis domésticos e profissionais fosse ultrapassado. É nesse contexto, identificado pelo sociólogo, em que seria necessário ultrapassar a acomodação entre os papéis domésticos e profissionais no magistério primário,que ele aponta para a importância das discussões sobre a profissionalização desta modalidade, a qual ele dedicará um capítulo completo de sua obra para discorrer. Neste capítulo, Pereira (1969) discute o trabalho docente a partir de dois modelos: o artesanal e o profissional. Enquanto no modelo artesanal as recompensas seriam obtidas pelo trabalho em si, no modelo profissional a ênfase recairia nas gratificações ou satisfações derivadas do trabalho. Em sua pesquisa realizada com professores de escolas normais, normalistas e professoras primárias sobre quais seriam as aspirações das professoras primárias, Pereira (1969) nos apresenta importantes elementos para compreender sobre quais pilares aprofissionalização do magistério parece se sustentar em um contexto de urbanização do Brasil. Como nos mostram os dados obtidos por Pereira (1969), dois modelos estavam em
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730222disputa naquele período,sendo,de um lado,uma concepção artesanal do trabalho docente e, de outro, uma visão mais profissional.A insatisfação das aspirações instrumentais dos professores produziria repercussões prejudiciais para o caráter coletivista do sistema escolar, exacerbando orientações individuais em detrimento das obrigações inerentes ao cargo. Para exemplificar esta tensão, Pereira (1969) descreve o caso das atitudes dos professores primários frente aos períodos letivos diários.No contexto em que o estudo foi desenvolvido,o período letivo deveria ser de quatro horas, mas, pelo número grande de alunos e pelo pequeno número de salas, muitas escolas e professores trabalhavam no período de três horas. Porém, aos poucos,começava-se a equilibrar tal questão e os períodos deveriam retornar ao horário normal e, de acordo com o sociólogo, “a quase totalidade dos argumentos invocados pelas professorascontra a ampliação dos seus horários de trabalho diz respeito a outros tipos de atividades por elas desempenhadas durante o tempo em que não estão nas escolas primárias estaduais” (PEREIRA, 1969, p. 126), tais como afazeres de casa, cuidados de crianças ou doentes e dificuldade na condução para o local de trabalho.A problemática das jornadas de trabalho foi examinada por Maria Esteves de Oliveira (2017), em publicação recente, como um dos elementos históricos de precarização do trabalho docente. Conforme a pesquisadora, as primeiras reformas que marcam a ampliação da jornada docente para o atendimento à expansão da oferta de ensino, no Brasil, datam de 1950. Todavia, teriam sido “as políticas adotadas posteriormente, pelo regime civil-militar, que conduziram definitivamente à expansão da oferta do ensino público no Brasil sob forte conotação quantitativa, massificada em detrimento da expansão qualitativa” (OLIVEIRA, 2017, p. 4).Como bem aponta Jamil Cury (2007), a Constituição Federal de 1967 apresenta grandes avanços com relação àampliação da oferta da educação básica gratuita e obrigatória de oito anos. Porém, ao retirar a vinculação constitucional de recursos sob a justificativa de maior flexibilidade orçamentária,teriam sido os professores que,com a ampliação das jornadas de trabalho e a diminuição dos salários,acabaram pagando a conta peloprocesso de democratização do ensino.É nesse contexto,descrito por Cury (2007) e Oliveira (2017), em que,de um lado,percebemos uma ampliação da democratização do ensino,e de outro,uma precarização do trabalho docente,queas obras produzidas por Pereira se inserem. Se, como buscamosmostrar até aqui, o magistério se constituiu como uma profissão adequada para as mulheres, por
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730223características intrínsecas ligadas a uma suposta natureza feminina e características extrínsecas ligadas à organização do trabalho escolar, que Pereira (1969) denominou como capacidades integrativas em um segundo momento,esta condição passou a ser criticada por um conjunto de pesquisadores em educação que buscava defender a competência técnica como fundamento para a prática docente.Como Louro (1986, p. 258) aponta em sua tese, o estudo de Guiomar de Mello sobre o magistério de 1º Grau deixa “saliente o quanto a vocação expressão vaga e indefinida foi usada para manter a profissão do magistério como carreira feminina, para ligá-la com um ideal de sacerdócio e em consequência com aceitação de baixa remuneração”. Objetivamente, neste artigo, buscamosdescrever os modos pelos quais a feminização do magistério, no Brasil, no decorrer das décadas de 1960 e 1970, adquiriu diferentes significados e passou por um processo de tensão. Para além do âmbito de uma vocação ou natureza feminina, mostramosque a feminização foi marcada pelo declínio da concepção artesanal-missionária do magistério, bem como pelas capacidades integrativas. Tomada enquanto ocupação feminina, adocência é reposicionada no âmbito de uma atividade desenvolvida no contexto de urbanização brasileira e de democratização do acesso à escolarização. Considerações finaisIniciamos esse artigo coma compreensão de queum trabalho acadêmico com documentos,em uma perspectiva histórica,precisa constituir-se como um “território de diálogo com as novas gerações e [propor] algumas possibilidades de intuições criativas para os impasses que se colocam no presente desafiador”(VILLELA, 2005, p.78).Acreditamos que,ao revisar os primeiros estudos sociológicos de Luiz Pereira acerca da profissionalização do magistério brasileiro,conseguimos estabelecer um importante diálogo apontando para questões importantes de serem consideradas e compreendidas por futuros estudos que busquem investigar tais temáticas. Os estudos produzidos por Pereira sobre a escola brasileira do final da década de 1950,ao descreveremo deslocamento entre uma concepção paternalista do magistério e uma concepção burocratizada desse agrupamento profissional,apresentamimportantes contribuições para compreendermos os aspectos emergentes acerca da profissionalização do magistério. Importa ainda reiterar que nas análises produzidas pelo sociólogo algumas questões contemporâneas são visibilizadas.Dentre elas,destacamos as queixas dos docentes pelo desinteresse dos alunos, bem como pelos baixos salários. Também se evidenciauma
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730224dificuldade de relacionamento com a comunidade escolar e a ênfase em um modelo de cultura escolar individualista. Observa-se que o reconhecimento profissional do magistério brasileiro acaba por constituir-se na ambivalência entre o paternalismo e a burocratização. As capacidades integrativas entre os papéis domésticos e profissionais queo magistério oferece,além de fortalecer a docência como uma profissão feminina, no período analisado, acaba por resolver tal impasse, mesmo que temporariamente.Como principal contribuição dos estudos de Pereira,destaca-se a leitura crítica proposta pelo sociólogo sobre a escolarização brasileira da segunda metade do século XX. Em seus estudos sociológicos,Pereira,ao propor-se investigar sobre a condição do trabalho docente, sua relevância social e suas repercussões nos cotidianos das comunidades,abriu uma pauta investigativa importante para os futuros estudos sobre tais temáticas. Como nos lembra o historiador António Nóvoa (1999, p. 12),o mínimo que devemos esperar de um educador é que este “seja capaz de sentir os desafios do tempo presente, de pensar a sua ação nas continuidadese mudanças do trabalho pedagógico, de participar criticamente na construção de uma escola mais atenta às realidades dos diversos grupos sociais”. Acreditamos que estudos que se proponham a revisitar o pensamento pedagógico brasileiro podem contribuir para que possamos compreender os desafios do nosso tempo e propor ações e leituras críticas e criativas para os desafios do presente. REFERÊNCIASCASTRO, C.P.Desenvolvimento nas sombras e nas sobras: ensaio sobre a trajetória intelectual de Luiz Pereira. 2009. 228 f.Tese (Doutorado em Educação) Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.CASTRO, E.M. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, conceitos e autores. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.CURY, C.R.J. A educação como desafio na ordem jurídica. In: LOPES, E.M.T.; FARIA FILHO, L.M.; VEIGA, C.G.(Org.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 567-584. FISCHER, R.M.B. Trabalhar com Foucault: arqueologia de uma paixão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. IANNI, O. Estado e planejamento econômico no Brasil (1930-1970). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971.
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730225MALUF, M.; MOTT, M.L. Recônditos do mundo feminino. In: NOVAIS, F.; SEVCENKO, N.(Org.).História da vida privada no Brasil: República: da belle époque à era do rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 368-422.MARAFELLI, C.; RODRIGUES, P.; BRANDÃO, Z. A formação profissional dos professores: um velho problema sob outro ângulo. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 47, n. 165, p. 982-997, jul./set. 2017. NÓVOA, A.Apresentação. In: CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.p.11-15.OLIVEIRA, M.E.História, memórias e cenário atual da intensificação do trabalho docente na educação básica paulista: apontamentos de pesquisa. História,São Paulo, v. 36, p. 1-26, 2017.PEREIRA, L. A escola numa área metropolitana: crise e racionalização de uma empresa pública de serviços. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1967.PEREIRA, L. O magistérioprimário numa sociedade de classes. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1969. PERES, E. Aprendendo formas de pensar, de sentir, e de agir.A escola como oficina da vida: discursos pedagógicos e práticas escolares da escola pública primária gaúcha (1909-1959). 2000. 507 f. Tese (Doutorado em Educação)Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000. SCHERER, R.P. A desfeminização do magistério: uma análise da literatura pedagógica da segunda metade do século XX. 2019. 200 f.Tese(Doutorado em Educação) Universidadedo Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2019. SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, jul./dez. 1995.VEIGA-NETO, A. Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículo e Pós-Modernidade/ GEPCPós: concepções sobre a prática. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 31.,2008, Caxambu.Anais[...].Rio de Janeiro: ANPEd, 2008. VILLELA, H.O. S. Entre o “saber fazer” e a profissionalização: a escola normal do século XIX e a constituição da cultura profissional docente. In: MIGUEL, M.E. B.; CORRÊA, R.L. T. (Org.) A educação escolar em perspectiva histórica. São Paulo: Autores Associados, 2005. WEBER, S. O professorado e o papel da educação na sociedade. Campinas: Papirus, 1996. WILLIAMS, C. Still a man’s world:Men who do “women’s work”. Bekerley: University of California Press, 1995.
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730226Como referenciar este artigoSCHERER, R. P. Docência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz Pereira.Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587. DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730Submetido em: 11/07/2019Revisões requeridas: 25/09/2019Aprovado em: 11/06/2020Publicado em: 02/01/2021
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730210DOCENCIA Y LAPROFESIONALIZACIÓN DEL MAGISTERIO EN BRASIL: CONTRIBUCIONES DE LA OBRA DE LUIZ PEREIRADOCÊNCIA E A PROFISSIONALIZAÇÃO DO MAGISTÉRIO NO BRASIL: CONTRIBUIÇÕES DA OBRA DE LUIZ PEREIRA1TEACHING AND THE PROFESSIONALIZATION OF THE MAGISTRARY IN BRAZIL: CONTRIBUTIONS OF THE WORK OF LUIZ PEREIRARenata Porcher SCHERER2RESUMEN: El presente texto propone establecer una reflexión crítica sobre la profesionalización de la enseñanza en Brasil, revisando los primeros estudios sociológicos de Luiz Pereira sobre la escolarización en nuestro país. Utilizando el procedimiento metodológico de análisis documental y trabajando con el concepto de práctica de los estudios de Foucault, es posible trazar y describir algunas afirmaciones sobre la profesionalización de la enseñanza en la década de 1960 en Brasil. El primero se refiere al declive de la concepción artesanal-misionera relacionada con la enseñanza en sustitución de concepciones más burocráticas de esta profesión. La segunda declaración se refiere a las capacidades integradoras que muestran cómo la integración de los roles domésticos y profesionales en la enseñanza ha fortalecido la feminización de la profesión docente en el período analizado.PALABRAS CLAVE: Educación básica. Profesionalidad de laprofesión docente. Análisis documental. Historia de la educación. Feminización de la enseñanza.RESUMO: O presente texto propõe-se a estabelecer uma reflexão crítica sobre aprofissionalização do magistério no Brasil, revisitando os primeiros estudos sociológicosde Luiz Pereira acerca da escolarização em nosso país. Utilizando-se do procedimento metodológico da análise documental e operando com o conceito de prática a partir dosEstudos Foucaultianos,é possível mapear e descrever alguns enunciados que se referem àprofissionalização do magistério na década de 1960,no Brasil. O primeirodesses enunciados mapeados serefere ao declínio da concepção artesanal-missionária relacionada à docência em processo de substituição por concepções mais burocratizadasdessa profissão. O segundo enunciado relaciona-se com as capacidades integrativas,mostrando como a integração de papéis domésticos e profissionais no magistério fortaleceu sua feminização no período analisado.PALAVRAS-CHAVE: Educação básica. Profissionalização do magistério. Análise documental. História da educação. Feminização do magistério. 1Estetrabajose realizócon apoyo de la Coordinación de Perfeccionamientode Personal de NivelSuperior Brasil (CAPES) Código de Financiamiento 001.2Universidade do vale do Rio dos Sinos (UNISINOS),São LeopoldoRS Brasil. Doctorado en Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2331-1453. E-mail: renatapscherer@gmail.com
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730211ABSTRACT:The present text proposes to establish a critical reflection on the professionalization of teaching in Brazil, revisiting the first sociological studies of Luiz Pereira about schooling in our country. Using the methodological procedure of documentary analysis and working with the concept of practice from the Foucaultian studies it is possible to map and describe some statements about the professionalization of teaching in the 1960s in Brazil. The first refers to the decline of the craft-missionary conception related to teaching in substitution for more bureaucratic conceptions of this profession. The second statement relates to the integrative capacities showing how the integration of domestic and professional roles in teaching has strengthened the feminization of the teaching profession in the period analyzed.KEYWORDS:Basic education. Professionalism of the teaching profession. Documentary analysis. History of education. Feminization of teaching.IntroducciónCiertamente, las luchas en torno al reconocimiento profesional de la docencia no comenzaron en la segunda mitad del siglo XX, ni siquiera la literatura brasileña sobre el trabajo de los profesores comenzó en este periodo. Sin embargo, como trataremos de mostrar en este artículo, es en el contexto de la urbanización del país, asociada a la estructuración del capitalismo desarrollada desde los años 50, donde parece dibujarse un escenario académico favorable a los estudios de la enseñanza como trabajo. Para ello, en este artículo analizaremos dos obras producidas en la década de 1960, escritas por el sociólogo Luiz Pereira, buscando mostrar algunas de las concepciones que circularon y produjeron modificaciones sobre el significado de la enseñanza y la profesionalización de la misma en este período.La justificación de la importancia de tomar esos trabajos como material empírico deriva de la relevancia de los estudios de Pereira (1967; 1969) para lateoría educativa brasileña. Según Cecília Marafelli, Priscila Rodrigues y Zaia Brandão (2017, p. 985), las investigaciones desarrolladas por lasocióloga pueden considerarse “fundadoras del enfoque sociológico de la docencia como profesión femenina y de la educación primaria (primeros años de la escuela elemental) en Brasil”. Silke Weber (1996), a su vez, corrobora esta afirmación al señalar que el reconocimiento de la docencia como trabajo y objeto de estudio tendría como hito el inicio de la urbanizaciónbrasileña en la que los estudios de Pereira (1967; 1969) fueron probablemente los primeros en construir un enfoque de la sociología para la educación. Según la socióloga, el estudio de Pereira (1969), al examinar la enseñanza primaria como profesión femenina de clase media, aportó importantes contribuciones para reflexionar sobre la profesionalización de la enseñanza en Brasil.
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730212Cabe registrar también que el libro de Pereira (1976) integra la importante obra organizada por Maria do Carmo Xavier (2010, p. 10), titulada Clássicos da educação brasileira, que reúne reseñas de obras publicadas entre las décadas de 30 y 60. En este período, acorde con la autora, “nuestra intelectualidad estuvo especialmente involucrada en disputas políticas sobre la construcción de la sociedad democrática, con el certamen de una escuela pública de calidad”. Marafelli, Rodrigues y Brandão (2017) destacan que Luiz Pereira ha sido alumno y orientando de Florestan Fernandesy fue uno de los primeros, con sus investigaciones y su trayectoria personal y académica, a mostrar la importancia de los aportes de la Sociología para analizar y comprender el rol del profesor en la realidad escolar brasileña. Uno de los destaques relativos a los estudios de Pereira (1969) se refiere a sus análisisrelativos al proceso de feminización del magisterio. Acorde con el sociólogo, rasgos intrínsecos como instinto maternal femenino, amorosidad, comprensión y paciencia marcarían la diferencia entre los niveles de profesionalización y en la división entre carreras masculinas y femeninas. Serían estos factores que, para el autor, contribuyeran para el bajo prestigio y la menor remuneración de las profesoras (PEREIRA, 1969).Luiz Pereira, en entrevista realizada por Conrado Pires de Castro con José de Souza Martins, alumno e investigador que trabajó durante muchos años directamente con Pereira, se describió como un “lector disciplinado, pero poco motivado para su trabajo de campo”. (CASTRO, 2010, p. 215). En otra parte de la entrevista, se reitera tal característica de Pereira y se destaca su aproximación con Florestan Fernandes. Como explicita Martins, “Luiz Pereira, muy influenciado por Florestan, heredó ensu personalidadese protestantismo sin religión, enel modo cómo administraba sus horarios y hacia su díavaler por dos, volviéndose un auténtico campeón de lecturas”. (CASTRO, 2010, p. 220). Cabe señalar que, en las décadas de 1950 a 1960, Brasil vivió un intenso proceso de urbanización, relacionado, fuertemente a la política de modernización, industrialización y desarrollo, período que ocurrió el gobierno del presidente Juscelino Kubitschek. Este sería el segundo período de crecimiento de la hegemonía urbano-industrial vivido por nuestro país. El primero momento, acorde con Octavio Ianni (1971), fue a partir de la implementación del Estado Novo, en 1937, y el segundo, en los años de 1956 a 1960, período del gobierno de Kubitschek. En dicho período, acorde con el investigador, ocurrió un proceso de sustitución de importaciones y Brasil pasó a producir más bienes durables, de capital y bienes intermediarios. Pero, la hegemonía del urbano sobre el rural hubiera trasformado también la cultura. En las palabras del autor, “la cultura, en su sentido amplio, se convirtió de modo
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730213notable, por el desarrollo de nuevas formas de pensar y nuevas posibilidades de acción” (IANNI, 1971, p. 172).Hechos destaques con relación a la relevancia de ver con atención las investigaciones desarrolladas por Luiz Pereirapara comprender el proceso de profesionalización del magisterio brasileño y sobre el contexto político, social y económico de Brasil entre las décadas de 1950 a 1960, importa presentar brevemente las dos obras del sociólogo que se analizarán en este artículo. La primera obra analizada será A escola numa área metropolitana, en la cual el sociólogo Luiz Pereira (1967)identifica una escuela primaria brasileña en cambio frente a un proceso de burocratización de las instituciones escolares. En este proceso de cambio, Pereira diagnostica un descensode una concepción paternalista del magisterio primario como una actividad artesanal-misionaria por concepciones burocráticas acerca de la profesión docente. La segunda obra que analizaremos se constituye en el estudio nombradoOmagistério primário numa sociedade de classes, dondedamos especial atención en nuestros análisis para las investigaciones de Pereira (1969) relacionadas a las capacidades integrativas del magisterio entre los papeles domésticos y a los papeles profesionales descriptos por el sociólogo como una de las principales características para que el magisterio fuera ejercido en su gran parte por mujeres. Creemos que, a través de este estudio, podemos contribuir a una mayor comprensión de los procesos de profesionalización del magisterio brasileño, cuestionando su constitución dentro del pensamiento pedagógico brasileño de la segunda mitad del siglo XX (SCHERER, 2019).Para consolidar una agenda de investigación sobre la enseñanza brasileña, es necesario invertir en estudios históricos que, mirando la literatura pedagógica, nos ayuden a problematizar cómo se constituyeron esos movimientos dentro de esa trama discursiva. En este artículo, realizamos una opción en términos metodológicos para analizar la enseñanza como práctica acercándose a los Estudios Foucaultianos. Estos estudios definen el concepto de práctica como una racionalidad o regularidad que organiza lo que los sujetos hacen cuando hablan o cuando actúan, y que puede constituir experiencias o pensamientos.(CASTRO, 2009).Las prácticas se referirían tanto a loque se puede “describir, analizar y problematizar como, al mismo tiempo, al dominio de las propias descripciones, análisis y problematizaciones que se ponen en marcha”(VEIGA-NETO, 2008, p. 7). Para Foucault, todo sería práctico y todo estaría inmerso en relaciones de saber que se implican mutuamente (FISCHER, 2012). “En otras palabras, los enunciados y las visibilidades, los textos y las
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730214instituciones, el hablar y el ver son prácticas sociales por definición permanentemente aprisionadas, atadas a las relaciones de poder, que las suponen y actualizan(FISCHER, 2012, p. 75).En este sentido, a través del análisis de dos obras académicas con un importante impacto en la producción de la teoría educativa brasileña, nos proponemos mapear algunos de los significados que han circulado sobre la enseñanza y la profesionalización de la misma, cuestionando qué prácticas pueden ser descritas en este período. La perspectiva histórica que asumimos en este trabajo se aleja de una posición que pretende glorificar, reeditar y mucho menos juzgar el pasado. Como explica Heloisa Villela (2005, p. 78), la perspectiva histórica de los documentos pretende comprender el significado del movimiento que define los cambios y la permanencia de los procesos sociales. En este artículo,al analizar los trabajos académicos de Pereira escritos en la década de 1960, no queremos construir explicaciones ni establecer vínculos con el presente. Miramos el pasado como “un territorio de diálogo con las nuevas generaciones y unas posibilidades de intuición creativa para los impases que se sitúan en el desafiante presente”(VILLELA, 2005, p.78).Docencia y burocratización del magisterio: descensode la concepciónartesanal-misionariaEn esa sección, como ya anunciado anteriormente, analizaremos la obra A escola numa área metropolitana,escrita por Luiz Pereira en el año 19603.El trabajo empírico para la escritura de esta obra se realizó por Pereira en la ciudad de Santo André, ubicada en el interior de São Paulo, en el final de la década de 1950, y se presentó en formato de monografía para conclusión de los estudios de especialización en Sociología bajo orientación del profesor Florestan Fernandes. Seguimos entonces la línea argumental trazada por el sociólogo en la obra para entender cómo la tensión entre las concepciones burocráticasy patrimonialista de la enseñanza produjo el declive de la concepción artesanal-misionera del trabajo docente y, en consecuencia, la pérdida de sentido de la imagen de la profesora como segunda madre de los alumnos. Comenzamos presentando un conjunto de extractos en los que Pereira (1967), a 3En la bibliografía disponible sobre el sociólogo, encontramos dos referencias sobre el año de publicación de la obra. Aunque muchos estudios hacen referencia a 1960 como año de publicación, algunos también anuncian el año 1967. Esta divergencia parece derivar del hecho de que el libro se publicó en 1967 y la monografía de la que se derivó el trabajo se presentó en 1960. En palabras de Pereira (1967, p. 15), "salvo algunos pequeños cambios, el texto anterior es el mismo con el que presentamos esta monografía en el primer semestre de 1960". Por lo tanto, las dos fechas son correctas y se refieren a ediciones diferentes de la investigación. La edición utilizada para el análisis en la tesis es la de 1967, publicada en formato de libro.
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730215partir de un análisis del Regimiento, presenta las funciones docentes requeridas en el período dividiéndolas en tres sectores:Para fines de exposición y análisis, separamos las atribuciones de los profesores, establecidas en el Regimiento, en tres sectores: de las actividadesrelativas a su clase o grupo de alumnos, de sus actividadesextraclase, y de sus relaciones concolegas y demás funcionarios de la escuela. Las normas del primer sector, mucho más numerosas que las de los otros dos tipos, definen tres conjuntos de actividades: las docentes, las de control y de los alumnos y las de “escrituración” (PEREIRA, 1967, p. 74, énfasis añadido, traducción nuestra).Como se puede observar, a lo largo de los análisis realizados por Pereira, las actividades docentes atribuidas por el Regimiento tenían como función principal organizar este trabajo a partir de un proceso de burocratización de esta ocupación4,que se hizo necesario y coherente con el período histórico de urbanización en el que se encontraba Brasil, descrito anteriormente en esta sección.Para el desarrollo de la nación, era necesario dejar una visión tradicional y patrimonialista de la enseñanza y hacerla más burocrática.Otra cuestión que fue destacada por Pereira (1967), en el Regimiento, fue la influencia de la Pedagogía Moderna y de las teorías de la Escuela Nueva que, poco a poco, fueron insertadas en la formación de los profesores y exigidas por la legislación. Sin embargo, el sociólogo afirma que, incluso con todos los esfuerzos de burocratización observados en el Regimiento, todavía eran visibles varias incoherencias internas en el documento, especialmente en lo que respecta a los principios pedagógicos modernos junto con los fundamentos de la antigua escuela, como sería visible, en las cuestiones relacionadas con la verificación del aprendizaje de los alumnos y el mantenimiento de la disciplina.Tras analizar el Regimiento, Pereira (1967) dirige sus análisis para loque él denomina como la “personalidad-statusinicial de profesor”, que implicaría la aceptación de algunas reglas del Regimiento y, por lo tanto, una concepción burocrática de la docencia, juntamente, con la acomodación de algunas concepciones patrimonialistas, de la docencia, que permiten al 4El proceso de burocratización de las funciones docentes analizado por Pereira es coherente con la época en que se escribió la obra. Es importante considerar que análisis posteriores sobre los procesos de implementación de los grupos escolares, como el trabajo de Eliane Peres (2000), muestran que la consolidación de los grupos escolares en la década de 1930 se dio en el contexto de un proceso de fortalecimiento de un nuevo discurso que la investigadora denominará "renovación pedagógica". La renovación pedagógica está constituida por diferentes saberes y conocimientos provenientes de la Psicología, la Pedagogía Experimental y la Nueva Educación, entre otros. "Al configurar la escuela, las ciencias modernas también se fueron produciendo y legitimando poco a poco. Hubo, pues, un doble movimiento: las ciencias pedagógicas produjeron prácticas escolares al mismo tiempo que se produjeron a partir de esas prácticas". (PERES, 2000, p.16).
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730216sociólogo afirmar una condición de semiburocratización de la institución escolar analizada por él. Esa personalidad-statusideal de profesor es congruente con la representación patrimonialista de la escuela primariapública: como algo que “pertenece” a su personal docente-administrativo, que presta una especie de favor a sus alumnos y sus familias, “ayudándolos en la vida” gracias a la enseñanza de las técnicas elementares de la cultura-lectura, escritura y cálculo. El “buen”profesor de primaria se dedica mucho a los alumnos, sintiéndose muy "dueño" de su puesto y de los niños de su clase. En vista de ello, no admite la interferencia de los padres descontentos: “aquí mando yo a tu hijo”es una frase compatible con esa concepción. Asimismo, no aprecia el control del director sobre las actividades que conciernen a su clase. Todo lo resuelve por sí mismo, recurriendo al director sólo en casos extremos (PEREIRA, 1967, p. 78, énfasis del autor, traducción nuestra).A partir de la “personalidad-status ideal de profesor”, descripta en los análisis de Pereira (1967) confrontada con las funciones docentes descriptas en el Regimiento, posibilita percibir, esta tensión entre valores patrimonialistas y valores burocráticos, siendo cada uno de ellos relacionados a diferentes concepciones de docencia. Es importante destacar que tal abordaje del sociólogo no supone que los modelos presenten distintas temporalidades; por el contrario, lo que Pereira nos llama atención en sus análisis es para la coexistencia de estos modelos. Es esta coexistencia de los modelos patrimonialista y burocrático que, acorde con Pereira (1967), produce el descensode la concepción de docencia como una actividad artesanal-misionaria. Para ello, el investigadorbrasileño presenta también un tercermatizde análisis, ya no como la docencia del Regimiento, ni la docencia del status-ideal, sino la docencia real, como podemos ver en el trecho a continuación: Se trata de la concepción paternalista de la enseñanza primaria como actividad artesanal-misionera, sustituida a gran escala por las concepciones burocráticas sobre la profesión, que llevan a los profesores a considerarla en términos instrumentales, evaluándola en función de las compensaciones obtenidas a través del trabajo, precisamente las concepciones burocráticas inherentes al cargo. Sin embargo, en la evaluación de estas compensaciones se siguen utilizando otros criterios tradicionales. Así, como burócratas, los profesores se quejan de los salarios percibidos, juzgándose "proletarios con corbata" y admitiendo que "a poco dinero, poco trabajo" (PEREIRA, 1967, p. 82-83, énfasis del autor, traducción nuestra).Pereira (1967), al analizar las transformaciones de la escuela primaria brasileña en un contexto de urbanización, ofrece elementos para la comprensión de algunas transformaciones importantes relacionadas con el trabajo docente. Así, el autor nos muestra que la sustitución de las motivaciones paternalistas por otras de carácter burocrático no produjo un concepto de enseñanza que se correspondiera con todos los aspectos exigidos por el Reglamento. Podemos
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730217observar entonces que, durante este período, la labor docente se configuró mediante una yuxtaposición de concepciones burocráticas y paternalistas de la enseñanza, produciendo --una disminución de la concepción artesanal-misionera, pero no una enseñanza altamente burocrática.Las profesoras de la escuela analizada por Pereira (1967), como él mismo señalará, ya no se identificaban con la representación de la maestra como segunda madre de los alumnos, como puede verse en el fragmento que sigue:Frente a ellos, dentro de las aulas, no se comportan como una especie de segunda madre, como correspondería a quienes se identifican con la concepción paternalista de la enseñanza primaria. Actúan únicamente como profesores, tendiendo sus relaciones con los alumnos al tipo categórico. Incluso el interés por el aprendizaje de los alumnos parece consistir en un interés "personal" del profesor: quiere la aprobación del alumno porque le da "puntos" para su traslado a otra escuela, más que un beneficio para el niño (PEREIRA, 1967, p. 83, énfasis del autor, traducción nuestra).Esta decadencia de la imagen de la profesora como segunda madre de los alumnos, descrita por Pereira (1967) ya en la década de 1960, demuestra que el período de urbanización brasileño produjo importantes cambios en las formas de representación de los profesores e, igualmente, una falta de identificación de las profesoras con la concepción patrimonialista de la enseñanza y los estándares de la concepción burocrática.El sociólogo describe algunos casos extremos derivados de sus incursiones empíricas para dar visibilidad a esta falta de identificación de los nuevos profesores: varias veces adelantan el reloj de la escuela para intentar engañar al funcionarioencargado de las señales de entrada y salida de clase; y casi a diario se van a la cocina, permaneciendo allí media hora más o menos, ¡dejando el grupo en el aula!(PEREIRA, 1967, p. 83). Según el sociólogo, ese nivel de falta de identificación era más visible en los profesores más jóvenes, mientras que los más veteranos calificaban estas actitudes de falta de vocación o desinterés de las nuevas generaciones por la enseñanza.El trabajo de Pereira (1967), analizado en este apartado, al describir un proceso de burocratización de la actividad docente, muestra que para llevar a cabo este oficio se siguen valorando “rasgos que también se consideran típicamente femeninos: el afecto, la paciencia, la comprensión, etc. hacia los niños, vinculados a lo que se suele llamar instinto maternal. (PEREIRA, 1967, p. 79). Aunque se trata de un estereotipo ligado a una concepción paternalista de la enseñanza que, como señala el sociólogo, está en descenso, esta
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730218representacióndocente sigue configurando el “estatus de personalidad del profesor ideal”en el periodo analizado por el sociólogo.Docencia y las capacidades integrativas: relaciones entre las mujeres y el magisterioPereira (1996), en la obra que se analizaen esta sección, al tomar como objeto de estudio el magisterio primario y señalar esta ocupación como una de las principales modalidades de profesionalización femenina en la sociedad brasileña, ve, metodológicamente, este fenómeno desde tres dimensiones: estructural, ideológica y motivacional. El primer trecho que nos gustaría destacar de los análisis del sociólogo se refiere a la división sexual del trabajo en la organización escolar: El análisis de las funciones que desempeña el profesor en el plan de la escuela primaria institucionalizada muestra que algunas actividades de carácter administrativo forman parte de ellas, junto con las actividades de los propios profesores. Con respecto a ellas, las tareas administrativas aparecen como secundarias y reducidas, y siempre subordinadas a las del director, el inspector y el delegado de enseñanza. De este modo, el cuadro anterior muestra, bajo otra luz, esa misma característica estructural del sistema público estatal de enseñanza primaria, que ahora aparece como consistente en el predominio de mujeres en los puestos de ejecucióny de hombres en los de “dirección. En otras palabras, las relaciones asimétricas entre los sexos se repiten en la estructura de este sistema social parcial, reflejando idénticas orientaciones del sistema social global. Por lo que sabemos, la misma característica es evidente en otras empresas con una considerable proporción de mujeres entre sus miembros (PEREIRA, 1969, p. 18, traducción nuestra).Mirando el trecho, operando con el género como categoría analítica, como propuso Scott (1995, p. 14), se observa necesariamente una conexión entre la historia y las prácticas contemporáneas, produciendo así un sentido a la forma en que se organiza y percibe el conocimiento socialmente construido, siendo así un “elemento constitutivo de las relaciones sociales basadas en las diferencias percibidas entre los sexos una primera forma de dar sentido a las relaciones de poder”. Esto puede verse como una distinción entre lo que se esperaba de las mujeres y de los hombres en esa sociedad, y terminó conduciendo sus elecciones y sus opciones. También es importante observar con atención el análisis de Pereira (1969) sobre la escasa representatividad de las mujeres en los puestos de organización de las actividades docentes. Las cifras señaladas por Pereira (1969) son las siguientes: el 93,3% de las mujeres ocupan el puesto de maestra de primaria. En relación con el cargo de director, sólo el 32,6%.
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730219En los otros dos puestos, el porcentaje desciende aún más, siendo del 5,9% para el puesto de inspector y del 2,2% para el puesto de delegado de enseñanza. Pereira (1969, p. 32), justifica estas cifras por dos supuestos. La primera estaría relacionada con el funcionamiento social que, al imponer condiciones específicas para el cumplimiento de los cargos de dirección, para que se produzca el adecuado cumplimiento de las actividades correspondientes al cargo, acabaría apartando a las mujeres que “se encontrarían menos ajustadas que los hombres, debido a sus socializaciones diferenciales previas”.Y la segunda, relacionada con el funcionamiento del sistema social global, especialmente relacionado con la diferencia sexual, que acabaría alejando a las mujeres de ciertas funciones y acercando a los hombres. Podemos entender este fenómeno a partir de la teorización propuesta por Christine Willians (1995), en la que la autora muestra que, en diferentes situaciones, parece existir un “techo de cristal”que operaría como límite invisible y limitaría el ascenso de las mujeres, mientras que, en el caso de los hombres, tendríamos una “escalera mecánica invisible”que impulsaría el ascenso masculino.La relación entre la enseñanza y el matrimonio, en los análisis de Pereira (1969), es también un aspecto relevante, ya que es precisamente articulando estos dos elementos que el investigador presentará la cuestión de las capacidades integradoras. Según elsociólogo, el matrimonio y la profesión implicarían para las mujeres dos conjuntos de roles diversos cuya integración o conciliación, en la mayoría de los casos, sería casi imposible, dificultando el acceso de las mujeres a determinadas profesiones. Así, la acomodación entre los posibles roles a ocupar por las mujeres, en ese período, se presentaría en tres opciones, transcritas en el extracto siguiente:La acomodación entre esos roles abiertos a las mujeres adultas se procesa de tres maneras distintas: 1) sucesión cronológica entre las fases de la vida del individuo, la primera de las cuales se caracteriza por el celibato y el trabajo profesional y la segunda por el matrimonio y el abandono de los roles profesionales; 2) afiliación simultánea del individuo a la norma profesional y a la norma doméstica plenamente realizada con el matrimonio; 3) permanencia del individuo en la norma profesional y en la condición de célibe. Los estudios de los sistemas urbano-industriales más avanzados muestran que las mujeres casadas participan en una escala mucho menor que las solteras en la población económicamente activa, un fenómeno que puede explicarse, al menos en parte, por las mayores dificultades a las que se enfrentan para compaginar sus funciones domésticas con las profesionales (PEREIRA, 1969, p. 33-34, traducción nuestra).
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730220A partir de los análisis diagnósticos realizados por Pereira (1969) sobre los sistemas urbano-industriales, se pudo constatar que las mujeres casadas ocupaban la categoría de población económicamente activa en menor medida, ya que se hacía incompatible la combinación de las actividades domésticas, exigidas por el matrimonio, con las actividades profesionales exigidas por el trabajo fuera del hogar. Así, muchas mujeres de la época abandonaron sus carreras profesionales para dedicarse al hogar. Como vimos en el apartado anterior, esta era una opción, principalmente, para las chicas de clases más favorecidas, que podían optar por dedicarse exclusivamente al hogar. Sin embargo, lo que el sociólogo señalará en su estudio es que, en el caso de la enseñanza primaria, había una tendencia a que las profesoras estuvieran vinculadas a ambos tipos de roles, es decir, tanto al doméstico como al profesional. Esta constatación se basa en el número de profesoras casadas e, igualmente, en el deseo matrimonial de la mayoría de las profesoras aún solteras. Con estos datos, Pereira (1969, p. 34) plantea la hipótesis de que existirían “grandes capacidades integradoras entre los domésticos y sus actuales roles profesionales”. Esta posibilidad de conciliar los dos patrones, el doméstico y el profesional, se debió a algunas características de la profesión docente que facilitarían la acomodación de estos dos roles, como se presenta en el extracto siguiente:Los argumentos que justifican la mayor idoneidad de la enseñanza primaria para el sexo femenino se clasifican en dos tipos. El primero se refiere a los rasgos de la personalidad femenina: algunos se refieren explícitamente a la “herencia”y otros no. Los rasgos psíquicos más señalados son el instinto maternaly una mayor dosis, en la mujer, de ciertas aptitudes, habilidades o destrezas consideradas apropiadas para las relaciones interpersonales del maestro con los hijos: “afecto”, “amor”, “docilidad, comprensión, paciencia, abnegación”, “comunicabilidad”, “dulzura”, “dedicación”, etc. El segundo tipo incluye lo que se llamaría factores extrínsecos, porque están vinculados no a la personalidad del profesor, sino a las condiciones de funcionamiento de la escuela: salario considerado bajo, pocas horas de trabajo diario, prestigio profesional considerado insatisfactorio, etc. (PEREIRA, 1969, p. 48, traducción nuestra).El extracto anterior nos ayuda a entender más claramente cómo la enseñanza primaria se ha fortalecido como una actividad femenina en Brasil a partir de una fuerte conexión con la maternidad. Según Marina Maluf y Maria Mott (1998), fue la propagación de un discurso biologicista la que difundió la creencia de una naturaleza femenina y del instinto maternal, homogeneizando el lugar de la madre como aquella que cuida y no abandona a sus hijos. Según los investigadores, esta creencia prevaleció durante la primera mitad del siglo XX y redujo los lugares de la mujer en la sociedad como: madre, esposa y ama de casa. Podemos,
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730221entonces, observar cómo esos discursos biologizantes, que vinculaban el lugar de la mujer a la maternidad y al cuidado delhogar, son centrales para el fortalecimiento del proceso de feminización de la enseñanza brasileña. Para Pereira (1969, p. 51), en su opinión, esta analogía entre las representaciones sobre los roles maternos y docentes podría explicarse como una especiede “extensión profesionalizada de los roles maternos, constituyendo una ideología profesional correspondiente a esta ocupación. El problema que señala el sociólogo de esta relación sería el fundamento ideológico basado en las relaciones asimétricas entrelos sexos, que sustentaría dicha adaptación y justificaría, entre otras cuestiones, el mantenimiento de las mujeres en posiciones subordinadas e incluso con bajos salarios. Según la socióloga brasileña (PEREIRA, 1969, p. 53), habría una “conexión funcional entre los estereotipos femeninos y los salarios juzgados como inferiores: éstos sostienen, al menos en parte, los estereotipos y viceversa”. Así, tanto los estereotipos de sexo, ligados a la enseñanza primaria, como el nivel de remuneración, habrían actuado como “poderosas fuerzas sociales responsables del elevado predominio del número de mujeres en esta ocupación, al alejar a los individuos masculinos de la misma”. (PEREIRA, 1969, p. 53). Con estos análisis sociológicos, Pereira (1969, p. 59) señala quedesde una perspectiva privatista, es decir, que correspondería a los intereses de los maestros y sus familias, la enseñanza primaria era “una de las modalidades más exitosas de participación de las mujeres en la población económicamente activa”. Sin embargo, la profesionalización femenina, para el magisterio, no alcanzaría la etapa de la profesionalización masculina debido a la organización social y a la condición tradicional de la mujer en la sociedad brasileña de ese período histórico. Estas cuestiones, según Pereira (1969, p. 61), “afectarían negativamente al propio desempeño de las funciones profesionales de las profesoras en el sistema escolar”, señalando la importancia de que se supere el estado de acomodación entre los roles domésticos y profesionales. Es en este contexto, identificado por el sociólogo, en el que sería necesario superar la acomodación entre los roles domésticos y profesionales en la enseñanza primaria, que señala la importancia de las discusiones sobre la profesionalización de esta modalidad, a la que dedicará un capítulo completo de su obra para ser discutido. En este capítulo, Pereira (1969) discute el trabajo docente a partir de dos modelos: el artesanal y el profesional. Mientras que en el modelo artesanal las recompensas se obtendrían por el trabajo en sí mismo, en el modelo profesional el énfasis se pondría en las recompensas o satisfacciones derivadas del trabajo.
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730222En su investigación con profesores de escuelas normales, normalistas y primarias sobre cuáles serían las aspiraciones de los profesores de primaria, Pereira (1969) nos presenta elementos importantes para entender sobre qué pilares parece sostenerse la profesionalización de la enseñanza en un contexto de urbanización en Brasil. Como nos muestra Pereira (1969), en aquella época se disputaban dos modelos, siendo, por un lado, una concepción artesanal del trabajo docente y, por otro, una visión más profesional.La insatisfacción de las aspiraciones instrumentales de los profesores produciría repercusiones perjudiciales parael carácter colectivista del sistema escolar, exacerbando las orientaciones individuales en detrimento de las obligaciones inherentes al cargo. Para ilustrar esta tensión, Pereira (1969) describe el caso de las actitudes de los profesores de primaria hacia los periodos escolares diarios.En el contexto en el que se desarrolló el estudio, el periodo de enseñanza debería ser de cuatro horas, pero debido al gran número de alumnos y al reducido número de aulas, muchos centros y profesores trabajaron en el periodo de tres horas. Sin embargo, poco a poco, esta cuestión empezaba a equilibrarse y los periodos debían volver al horario normal y, según el sociólogo, “casi todos los argumentos esgrimidos por los profesores en contra de la prolongación de su jornada laboral se refieren a otro tipo de actividades que realizan durante el tiempo que pasan fuera de las escuelas primarias públicas(PEREIRA, 1969, p. 126), como los deberes, el cuidado de los niños o de los enfermos y la dificultad para conducir hasta el lugarde trabajo.El problema de las jornadas laborales fue examinado por Maria Esteves de Oliveira (2017), en una publicación reciente, como uno de los elementos históricos de la precariedad del trabajo docente. Según la investigadora, las primeras reformas que marcan la ampliación de la jornada docente en Brasil datan de 1950. Sin embargo, habrían sido “las políticas adoptadas posteriormente, por el régimen cívico-militar, las que llevaron definitivamente a la expansión de la educación pública en Brasil bajo una fuerte connotación cuantitativa, masificada en detrimento de la expansión cualitativa”(OLIVEIRA, 2017, p. 4).Como señala Jamil Cury (2007), la Constitución Federal de 1967 presenta grandes avances en relación con la ampliación de la educación básica gratuita y obligatoria durante ocho años. Sin embargo, al eliminar la vinculación constitucional de los recursos bajo la justificación de una mayor flexibilidad presupuestaria, habrían sido los docentes quienes, con el aumento de la jornada laboral y la disminución de los salarios, terminaron pagando la factura del proceso de democratización de la educación.
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730223Es en este contexto, descrito por Cury (2007) y Oliveira (2017), en el que, por un lado, se percibe un aumento de la democratización de la enseñanza y, por otro, una precarización del trabajo docente, que se insertan los trabajos producidos por Pereira. Si, como hemos tratado de mostrar hasta ahora, la profesión docente se constituyó como una profesión adecuada para las mujeres, por características intrínsecas ligadas a una supuesta naturaleza femenina y por características extrínsecas ligadas a la organización del trabajo escolar, que Pereira (1969) denominó en un segundo momento capacidades integradoras, esta condición comenzó a ser criticada por un grupo de investigadores en educación que pretendían defender la competencia técnica como base de la práctica docente.Como señala Louro (1986, p. 258) en su tesis, el estudio de Guiomar de Mello sobre laregencia de primer grado deja “constancia de que la vocación -expresión vaga e indefinida-se utilizó para mantener la profesión de regente como carrera femenina, para vincularla con un ideal de sacerdocio y, en consecuencia, con la aceptación de una baja remuneración”. Objetivamente, en este artículo buscamos describir las formas en que la feminización de la enseñanza en Brasil durante las décadas de 1960 y 1970 adquirió diferentes significados y pasó por un proceso de tensión. Más allá del ámbito de una vocación o naturaleza femenina, mostramos que la feminización ha estado marcada por el declive de la concepción artesanal-misionera de la enseñanza, así como por las capacidades integradoras. Tomada como una ocupación femenina, la enseñanza se reposiciona en el ámbito de una actividad desarrollada en el contexto de la urbanización brasileña y de la democratización del acceso a la escolarización.Consideraciones finalesIniciamos este artículo entendiendo que un trabajo académico con documentos, desde una perspectiva histórica, necesita constituir un territorio de diálogo con las nuevas generaciones y [proponer] algunas posibilidades de intuición creativa para los impasses que surgen en el desafiante presente”(VILLELA, 2005, p. 78). Creemos que al revisar los primeros estudios sociológicos de Luiz Pereira sobre la profesionalización de la enseñanza brasileña, pudimos establecer un importante diálogo que apunta a cuestiones importantes que deben ser consideradas y comprendidas por futuros estudios que busquen investigar tales temas. Los estudios producidos por Pereira sobre la escuela brasileña de finales de la década de 1950, al describir el cambio entre una concepción paternalista de la profesión docente y
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730224una concepción burocratizada de esta agrupación profesional, presentan importantes contribuciones paracomprender los aspectos emergentes sobre la profesionalización de la enseñanza. También es importante reiterar que en los análisis producidos por el sociólogo se hacen visibles algunas cuestiones contemporáneas. Entre ellas, destacan las quejas de los profesores sobre la falta de interés de los alumnos y los bajos salarios. También se evidencia una difícil relación con la comunidad escolar y el énfasis en un modelo de cultura escolar individualista. Se observa que el reconocimiento profesional del magisterio brasileño termina siendo la ambivalencia entre el paternalismo y la burocratización. Las capacidades integradoras entre los roles doméstico y profesional que ofrece la profesión docente, además de fortalecer la docencia como profesión femenina, en el período analizado, termina por resolver tal impasse, aunque sea temporalmente.La principal contribución de los estudios de Pereira es la lectura crítica que propone el sociólogo sobre la escolarización brasileña en la segunda mitad del siglo XX. En sus estudios sociológicos, Pereira, al proponerse investigar la condición del trabajo docente, su relevancia social y sus repercusiones en la vida cotidiana de las comunidades, abrió una importante agenda de investigación para futuros estudios sobre estos temas.Como nos recuerda el historiador António Nóvoa (1999, p. 12), lo mínimo que podemosesperar de un educador es que “sea capaz de sentir los desafíos de la época actual, de pensar su acción en las continuidades y cambios del trabajo pedagógico, de participarcríticamente en la construcción de una escuela más atenta a las realidades delos diferentes grupos sociales”. Creemos que los estudios que se proponen revisar el pensamiento pedagógico brasileño pueden contribuir para que podamos comprender los desafíos de nuestro tiempo y proponer acciones y lecturas críticas y creativas para los desafíos del presente. REFERENCIASCASTRO, C.P.Desenvolvimento nas sombras e nas sobras: ensaio sobre a trajetória intelectual de Luiz Pereira. 2009. 228 f.Tese (Doutorado em Educação) Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.CASTRO, E.M. Vocabulário de Foucault: um percurso pelos seus temas, conceitos e autores. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.CURY, C.R.J. A educação como desafio na ordem jurídica. In: LOPES, E.M.T.; FARIA FILHO, L.M.; VEIGA, C.G.(Org.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. p. 567-584.
image/svg+xmlRenata Porcher SCHERERRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730225FISCHER, R.M.B. Trabalhar com Foucault: arqueologia de uma paixão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012. IANNI, O. Estado e planejamento econômico no Brasil (1930-1970). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. MALUF, M.; MOTT, M.L. Recônditos do mundo feminino. In: NOVAIS, F.; SEVCENKO, N.(Org.).História da vida privada no Brasil: República: da belle époque à erado rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 368-422.MARAFELLI, C.; RODRIGUES, P.; BRANDÃO, Z. A formação profissional dos professores: um velho problema sob outro ângulo. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v. 47, n. 165, p. 982-997, jul./set. 2017. NÓVOA, A.Apresentação. In: CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.p.11-15.OLIVEIRA, M.E.História, memórias e cenário atual da intensificação do trabalho docente na educação básica paulista: apontamentos de pesquisa. História,o Paulo, v. 36, p. 1-26, 2017.PEREIRA, L. A escola numa área metropolitana: crise e racionalização de uma empresa pública de serviços. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1967.PEREIRA, L. O magistério primário numa sociedade de classes. São Paulo: Pioneira/EDUSP, 1969. PERES, E. Aprendendo formas de pensar, de sentir, e de agir.A escola como oficina da vida: discursos pedagógicos e práticas escolares da escola pública primária gaúcha (1909-1959). 2000. 507 f. Tese (Doutorado em Educação)Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2000. SCHERER, R.P. A desfeminização do magistério: uma análise da literatura pedagógica da segunda metade do século XX. 2019. 200 f. Tese(Doutorado em Educação) Universidadedo Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, 2019. SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 20, n. 2, jul./dez. 1995.VEIGA-NETO, A. Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículo e Pós-Modernidade/ GEPCPós: concepções sobre a prática. In: REUNIÃO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 31.,2008, Caxambu.Anais[...].Rio de Janeiro: ANPEd, 2008. VILLELA, H.O. S. Entre o “saber fazer” e a profissionalização: a escola normal do século XIX e a constituição da cultura profissional docente. In: MIGUEL, M.E. B.; CORRÊA, R.L. T. (Org.) A educação escolar em perspectiva histórica. São Paulo: Autores Associados, 2005. WEBER, S. O professorado e o papel da educação na sociedade. Campinas: Papirus, 1996.
image/svg+xmlDocência e a profissionalização do magistério no Brasil: contribuições da obra de Luiz PereiraRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730226WILLIAMS, C. Still a man’s world:Men who do “women’s work”. Bekerley: University of California Press, 1995.mo referenciar este artículoSCHERER, R. P. Docencia y laprofesionalización del magisterio en Brasil: contribuciones de la obra de Luiz Pereira. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 210-226, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587. DOI:https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12730Enviado el: 11/07/2019Revisionesrequeridas: 25/09/2019Aprobado el: 11/06/2020Publicado el: 02/01/2021