image/svg+xml
Estágio em docência no
curso de doutorado em educação: relatos de experiência
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraqu
ara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
361
ESTÁGIO EM DOCÊNCIA NO CURSO DE DOUTORADO EM EDUCAÇÃO:
RELATOS DE EXPERIÊNCIA
PRÁCTICAS DE DOCENCIA EN UN CURSO DE DOCTORADO EN
EDUCACIÓN: INFORMES DE EXPERIENCIA
TEACHING INTERNSHIP IN A DOCTORADE IN EDUCATION COURSE:
EXPERIENCE REPORTS
Maria Luzia S
ilva MARIANO
1
Sandra Aparecida Pires FRANCO
2
Katya Luciane de OLIVEIRA
3
RESUMO
:
Os conteúdos escolares, independente da etapa de ensino a que se destinam,
quando ministrados de forma plena e não fragmentada, possibilitam a formação do sujeito
omnilatera
l. Além de formar o sujeito omnilateral, cabe também ao professor motivar seus
alunos durante as aulas para que eles vejam os conteúdos de forma interessante e próximas à
sua realidade. O presente estudo teve como
objetivo refletir acerca da ação docente e
xercida
durante a realização do estágio obrigatório em docência no curso de Doutorado em Educação
de uma universidade do norte do Paraná. Teve também como objetivo refletir acerca da
percepção da motivação apresentada pelos alunos matriculados na disciplin
a em que o estágio
foi exercido.
As reflexões contidas no presente estudo foram feitas
à luz dos pressupostos
teóricos do Materialismo Histórico e Dialético, da Teoria da Autodeterminação e também dos
relatos feitos pela turma em que o estágio foi realizad
o.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Estágio
. Docência. Materialismo
histórico
. Motivação
.
RESUMEN
:
Los contenidos escolares, independiente de la etapa de enseñanza a la cual
están destinados, cuando se enseña de una manera completa y no fragmentada, permiten la
formació
n del sujeto omnilateral. Además de formar el sujeto omnilateral, también es deber
del profesor motivar a sus alumnos durante las clases para que vean los contenidos de una
manera interesante y cercana a su realidad. Esta investigación tuvo como objetivo
r
eflexionar sobre la práctica docente realizada durante la pasantía obligatoria en docencia
en el Curso de Doctorado en Educación de una Universidad del norte de Paraná. También
tuvo como objetivo reflexionar sobre la percepción de la motivación presentada
por los
alumnos matriculados en la
asignatura
en la que se realizó la pasantía. Las reflexiones
contenidas en el presente estudio se realizaron sobre la base de los supuestos teóricos del
1
Universidade Estadual de Londrina
(UEL), Londrina
–
PR
–
Brasil. Doutoranda no Programa de Pós
-
graduação
em Educação. ORCID:
http
s
://orcid.org/0000
-
0002
-
7563
-
2155
. E
-
mail:
malumaria
no@yahoo.com.br
2
Univers
idade Estadual de Londrina
(UEL), Londrina
–
PR
–
Brasil.
Professora
A
djunt
a
n
o Departamento de
Educação
e Professora no
Programa de Pós
-
Graduação em Educação
.
Doutorado em Letras
(UEL). ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
7205
-
744X
. E
-
mail:
sandrafranco26@hotmail.com
3
Universidade
Estadual de Londrina
(UEL), Londrina
–
PR
–
Brasil.
Professora Associada do Departamento de
Psicologia e Psicanálise
,
do Programa de Pós
-
graduação em Psicologia (na função de coordenadora) e do
Programa d
e Pós
-
graduação em Educação
.
Doutorado em Educação
(
UNICAMP). ORCID:
http
s
://orcid.org/0000
-
0002
-
2030
-
500X
. E
-
mail:
katyauel@gmail.com
image/svg+xml
Maria Luzia Silva MARIANO; Sandra Aparecida Pires FRANCO e Katya Luciane de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revist
a Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
362
Materialismo Histórico y Dialéctico, sobre la Teoría de la Autodeter
minación y también
sobre los informes realizados por el grupo en el que se realizó la pasantía.
PALABRAS CLAVE
: Pasantía
. Enseñanza. Materialismo Histórico. Motivación
.
ABSTRACT
:
School contents, regardless of the stage of education for which they are
i
ntended, when taught in a full and non
-
fragmented way, enable the formation of the
omnilateral subject. Besides forming the omnilateral subject, it is also the professor’s duty to
motivate his students during the classes so that they see the contents in an
interesting way and
close to their reality. This research aimed to reflect on the teaching practice held during the
mandatory internship in teaching in the Doctorate in Education Course at a University in the
north of Parana. It also aimed to reflect on t
he perception of the motivation presented by the
students enrolled in the discipline in which the internship was performed. The reflections
contained in the current study were made based on the theoretical assumptions of Historical
and Dialectical Material
ism,
on the Self
-
Determination Theory and also on the reports made
by the group in which the internship was realized.
KEYWORDS
:
Internship
. Teaching. Historical
materialism
.
Motivation
.
Introdução
O presente trabalho é decorrente da realização do está
gio obrigatório em docência do
curso de Doutorado em Educação realizado em uma Universidade no norte do Paraná. As
reflexões e relatos aqui contidos são decorrentes das impressões da aluna que realizou o
estágio e dos relatos feitos durante as aulas pelas
alunas que cursaram a disciplina em que o
estágio foi realizado.
Assim sendo, este trabalho se estruturará de forma qualitativa, com base
nos pressupostos teóricos do Materialismo Histórico Dialético e também com base na Teoria
da Autodeterminação.
A
for
mação do sujeito omnilateral
A educação pode ser considerada o meio responsável pela transformação do homem
em um ser social. Porém,
d
a maneira em que atualmente está estruturada
, a educação mostra
-
se insuficiente para suprir as demandas da atual sociedad
e. É a educação que forma o
indivíduo de maneira mediata, por isso ela é essencial para a sociedade como um todo. No
entanto,
ainda não é claro se o sistema educacional vai formar o indivíduo especializado e
reflexivo ou se o indivíduo ao concluir a etapa
básica de ensino apenas consumirá o que lhe
for apresentado de forma desinteressada (
MANACORDA
, 2007).
image/svg+xml
Estágio em docência no
curso de doutorado em educação: relatos de experiência
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraqu
ara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
363
Ao refletir acerca do ideal de educação proposto por Marx e Engels (2007), é possível
perceber que os autores acreditavam em uma educação e em um sistem
a educacional que
instruísse a todas as crianças de forma plena e indistinta, em instituições públicas e nacionais.
Os autores afirmavam ainda que o ensino seria o responsável por eliminar dos jovens o caráter
unilateral que é imposto pela forma como a div
isão do trabalho está estruturada,
proporcionando
-
lhe
s a formação ominilateral
, necessári
a
ao pleno desenvolvimento de todo
cidadão (
MANACORDA
, 2011).
De acordo com Manacorda (2007
, p. 89
), a omnilateralidade, ou onilateralidade, pode
ser definida como
a
chegada histórica do homem a uma totalidade de capacidades produtivas e,
ao mesmo tempo, a uma totalidade de capacidades de consumo e prazeres,
em que se deve considerar sobretudo o gozo daqueles bens espirituais, além
dos materiais, e dos quais o trabalh
ador tem estado excluído em
conseqüência
da divisão do trabalho.
Sendo assim, a formação omnilateral diz respeito à formação do cidadão de uma forma
total, completa, e não fragmentada. Marx e Engels (2007) conceberam a educação como um
dos mais poderosos
meios de transformação da sociedade burguesa vigente. A educação
quando exercida a fim de formar esse ser omnilateral proporciona que o homem reflita a
realidade em que está inserido e consiga superá
-
la. Os autores defenderam escolas livres da
influência d
a igreja e do estado, que proporcionasse uma formação omnilateral, em que todas
as esferas da vida humana fossem desenvolvidas de forma igual e com a mesma importância.
Para que o professor seja capaz de proporcionar essa formação omnilateral aos seus
alun
os, é necessário que ele também tenha tido a mesma formação. O indivíduo omnilateral é
aquele que compreende e assimila as situações que o cerca, valorizando o ser humano e o seu
desenvolvimento. Trata
-
se de um ser humano plenamente desenvolvido e conscien
te de suas
diversas possibilidades.
Aliado a isso, é necessário também que o professor trabalhe e
desenvolva os conteúdos escolares de modo que esses se aproximem da realidade e do
interesse dos seus alunos
(MARIANO; FRANCO, 2015).
De acordo com Cunha (200
5), ao olhar para a maneira como o ensino universitário
está posto, o grande desafio encontrado atualmente é romper com a lógica de mercado
imposta pelo sistema econômico vigente. Romper com as políticas dominantes que perpetuam
a hegemonia capitalista pod
e ser considerado o início para que a universidade possa
proporcionar aos graduandos a formação necessária a fim de se alcançar uma docência
image/svg+xml
Maria Luzia Silva MARIANO; Sandra Aparecida Pires FRANCO e Katya Luciane de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revist
a Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
364
emancipatória, em que sejam buscados conhecimentos que proporcionem ao aluno conhecer e
compreender a realidade est
abelecida.
O que se percebe cada vez mais no âmbito universitário
é o foco na pr
o
dutividade
do
ensino e da prática docente, em que não há a preocupação com a construção do conhecimento
e com a formação intelectual. Os professores e seus alunos são cobrados
e avaliados pelo seu
índice de produtividade, participação em eventos e publicações em periódicos. Sendo assim, a
formação dos graduandos fica para segundo plano, para quando eles conseguirem cumprir
todas as obrigações e prazos determinados.
A formação
d
o
indivíduo deve ser considerada algo em constante processo de
construção e de desenvolvimento, não devendo ser vista como algo pronto ou que em algum
momento vai finalizar. Com isso, ao formar professores, é preciso que se compreenda a
importância do pape
l assumido pela docência e que aconteça o aprofundamento crítico
-
pedagógico desse profissional, a fim de que o
futuro docente
consiga desenvolver os ideais de
formação, reflexão e crítica (V
EIGA
, 2014).
O docente em formação precisa apreender a importância
da
práxis
pedagógica, que
segundo Vasconcellos e Oliveira (2013
,
p.
130
), é a “relação indissociável entre teoria e
prática”. Ainda de acordo com as autoras, é importante também a percepção por parte dos
alunos de que a atividade docente requer conhecimen
tos especializados e que também
envolve questões éticas e pessoais. Para tanto, o professor figura como exemplo e modelo aos
seus alunos em relação aos quesitos citados.
De acordo com Veiga (2014), a mediação entre conhecimento, a prática pedagógica e
a in
tencionalidade do ensino são elementos que conectam professor e aluno, em uma relação
de compromisso com a aprendizagem e a construção do conhecimento. Enquanto o professor
ensina seu aluno a aprender, a pesquisar, a ensinar e a avaliar, o professor também
aprende a
aprender, a pesquisar e aperfeiçoa sua prática em ensinar e avaliar. O processo de ensino
-
aprendizagem não é uma via de mão única, é um movimento de reciprocidade. Dessa forma,
cabe ao professor além de proporcionar aos seus alunos uma formação
humana, crítica e
reflexiva, motivá
-
los durante as aulas, mostrando a eles a relevância do conteúdo que está
sendo ministrado.
image/svg+xml
Estágio em docência no
curso de doutorado em educação: relatos de experiência
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraqu
ara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
365
Motivação para aprender
A motivação é um constructo interno, que envolve metas traçadas pelos indivíduos a
fim de alcançar
um determinado objetivo. A percepção da motivação pode ser feita por meio
de ações ou da verbalização de um indivíduo motivado ou não a fazer alguma coisa. No
âmbito educacional, a motivação pode ser percebida por meio da aprendizagem, do empenho
ou do de
sempenho apresentado pelo aluno
nas atividades que são
propostas
(
BZUNECK
,
2009).
As teorias desenvolvidas a fim de compreender a motivação humana são muitas, não
sendo possível sintetizar conceitos e terminologias que a definam. No contexto escolar,
teori
as como a Teoria da Autoeficácia,
Teoria das Metas de Realização ou a Teoria da
Autodeterminação buscam entender e explicar a motivação para aprender apresentada pelos
alunos (
BZUNECK
, 2009). Para o presente estudo adotou
-
se a Teoria da Autodeterminação
co
mo base teórica.
Nessa perspectiva, o aluno é denominado como intrinsecamente motivado quando ele
mostra envolvimento com as atividades propostas, interesse nos conteúdos que estão sendo
desenvolvidos, busca estratégias para vencer os desafios que aparecem
, superando as suas
capacidades e conhecimentos prévios e sente orgulho dos resultados alcançados. Em
contrapartida, os alunos desmotivados são classificados como passivos face às atividades a
serem realizadas, desinteressados quanto aos conteúdos apresent
ados, não demonstram
empenho perante as dificuldades e não encontram prazer na realização das tarefas (
DECI,
1971; GUIMARÃES
, 2004).
Outro fator importante para que o aluno se sinta motivado é a satisfação das três
necessidades psicológicas que são básica
s e que são inatas ao seu desenvolvimento, quais
sejam, autonomia, competência e pertencimento. A autonomia é satisfeita quando um
indivíduo realiza uma tarefa sem algum tipo de determinação externa, ou seja, por vontade
própria. Sendo assim, sob essa pers
pectiva, autonomia significa autogoverno e liberdade. A
sensação de competência está ligada à realização de determinada atividade de forma positiva.
Por fim, a necessidade de pertencimento está ligada ao fato de o indivíduo se sentir parte do
ambiente em q
ue está inserido (
DECI; RYAN
, 1985).
Muitos fatores externos e internos influenciam na motivação apresentada pelo aluno,
podendo ser citados fatores como a família, a expectativa da sociedade, o desejo de atingir
determinado objetivo, dentre outros. Esses
fatores agem diretamente na forma como o aluno
vai se portar durante as aulas e também no rendimento que ele apresentará. Outro fator
image/svg+xml
Maria Luzia Silva MARIANO; Sandra Aparecida Pires FRANCO e Katya Luciane de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revist
a Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
366
importante é o estilo motivacional adotado pelo professor, que pode despertar ou minar o
interesse do aluno pelo conteúdo
que está sendo ministrado (
MARIANO
, 2015).
De acordo com Guimarães (2004), o professor pode adotar uma postura autoritária,
sendo percebido como um professor controlador, ou então, pode adotar uma conduta que
promova a autonomia de seus alunos. O estilo mo
tivacional apresentado pelo professor varia
de acordo com as suas habilidades adquiridas, da personalidade de cada um e também é
influenciado pela quantidade de alunos em sala de aula, tempo lecionando, idade, gênero,
concepção ideológica e até mesmo o tip
o de relacionamento estabelecido com o corpo
diretivo.
Ao promover a autonomia de seus alunos, os professores estimulam o
desenvolvimento e a permanência da satisfação das necessidades psicológicas básicas
(autonomia, competência e pertencimento) nos indiv
íduos. Os professores promotores da
autonomia proporcionam aos alunos razões significativas para a realização de diferentes
atividades e consideram o ritmo particular de aprendizagem e desenvolvimento de cada um. A
linguagem também é utilizada de forma ace
ssível, além de apoiarem as decisões que são
tomadas de forma madura e respeitarem as manifestações de emoções negativas de seus
alunos (
MACHADO
et al.,
2012).
Segundo
Bzuneck (2010), o professor tem o dever de identificar as dificuldades ou até
mesmo os p
ontos de insatisfação dos alunos durante as aulas e desenvolver novas estratégias
motivacionais que proporcionem aos alunos sentir satisfação e até mesmo alegria para a
realização de determinada tarefa. Dessa maneira, o envolvimento do aluno com as ativida
des
também aumenta
a sua aquisição de conhecimento. Nesse sentido, o professor tem papel
fundamental na qualidade motivacional de seus alunos.
Por outro lado, professores não promotores da autonomia pressionam seus alunos para
que pensem e tenham atitudes
de acordo com a sua própria concepção, tirando a autenticidade
dos mesmos e oferecendo incentivos externos para atingir o padrão de comportamento
idealizado. Os professores controladores desconsideram a visão do aluno ou até mesmo não
permitem que ele a ma
nifeste, sendo o controle exercido de forma direta ou indireta. Na forma
direta, este é exercido por meio do estabelecimento de prazos ou controles verbais, situações
em que os alunos percebem que o motivo para agir está fora da atividade. De forma indiret
a, o
poder se dá por sentimentos de culpa, vergonha ou ansiedade projetados nos alunos, pois agir
conforme o que é socialmente esperado evita constrangimentos e sensações desagradáveis
(
MACHADO
et al.,
2012; REEVE, 2009
).
image/svg+xml
Estágio em docência no
curso de doutorado em educação: relatos de experiência
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraqu
ara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
367
A motivação extrínseca é altamente
promovida pelo controle exercido de maneira
direta por parte do professor, onde os alunos são expostos a recompensas, ameaças e
punições. A atitude do professor tem por objetivo moldar a reação do aluno para o que ele
considera como desejável para a sala
de aula. O aluno percebe a sua competência apenas ao
receber esse incentivo extrínseco, seja ele uma recompensa verbal ou mesmo material. Dessa
forma, a realização da atividade é motivada apenas por fatores externos. Em consequência, a
motivação intrínseca
dos alunos é afetada de forma negativa (
MACHADO
et al.,
2012;
REEVE, 2009
).
A qualidade motivacional apresentada pelos alunos durante as aulas também é
influenciada pelo domínio e afinidade que eles têm com o conteúdo que está sendo
ministrado.
Assim,
os
alunos precisam ter habilidades cognitivas e motivação para
apresentarem um bom rendimento escolar, sendo essencial o interesse e o domínio por parte
do aluno quanto ao conteúdo que está sendo desenvolvido pelo professor. Sendo assim, a
motivação não é des
crita pelos autores como um fator estável, pois ela varia de acordo com o
ambiente e a situação em que o aluno se encontra
(MARIANO, 2015)
.
O processo de ensino pode ser concebido como algo histórico, social e coletivo, que
tem na sua gênese a busca pelo c
onhecimento, que possibilitará ao indivíduo a percepção
sobre a sua existência e sobre o seu papel no desenvolvimento da sociedade e do
conhecimento (
MOREIRA; OLIVEIRA;
SCACCHETT
, 2016)
. Dessa forma, o professor tem
papel fundamental no desenvolvimento des
se indivíduo, pois cabe ao professor motivar seus
alunos, a fim de que a educação formal obtenha sucesso e os alunos adquiram autonomia para
fazer as suas futuras escolhas de forma consciente e reflexiva (
MAIESKI; OLIVEIRA;
BZUNECK,
2013
).
Cabe ressaltar q
ue a ação docente exercida pelos profissionais da educação também é
influenciada por fatores externos e internos. O professor apresenta algum tipo de motivação
para atuar na educação, seja ela uma convicção pessoal, a necessidade de receber um salário
ou m
esmo algum tipo de influência familiar. Essas questões, sejam elas quais forem
, bem
como
as questões de ordem administrativa das instituições de ensino
,
afetam diretamente na
qualidade do ensino que é ofertad
o
(
MAIESKI; OLIVEIRA;
BZUNECK,
2013
).
Face ao q
ue foi apresentado, é possível perceber a importância que o estilo
motivacional do professor exerce na qualidade motivacional apresentada pelos alunos e a
importância de proporcionar uma formação omnilateral aos
discente
s, sejam eles pertencentes
à educaçã
o básica ou ao ensino universitário. Sendo assim,
o presente estudo teve como
objetivo refletir acerca da ação docente exercida durante a realização do estágio obrigatório
image/svg+xml
Maria Luzia Silva MARIANO; Sandra Aparecida Pires FRANCO e Katya Luciane de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revist
a Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
368
em docência no curso de Doutorado em Educação de uma
U
niversidade do norte do Paraná
.
Teve também como objetivo refletir acerca da percepção da motivação apresentada pelos
alunos matriculados na disciplina em que o estágio foi exercido.
Metodologia
As análises e reflexões aqui contidas foram feitas a partir da realização do estágio
obr
igatório em docência do curso de Doutorado em Educação de uma Universidade no norte
do Paraná. O estágio foi realizado na disciplina Leitura e Visão de Mundo
–
Avaliação e
Estratégias de Ação, do Programa de Pós
-
Graduação em Educação, em que três professor
as
do Programa de Pós
-
Graduação ministraram a disciplina de maneira conjunta, mas cada uma
de acordo com a sua perspectiva teórica. O objetivo da disciplina foi de desenvolver nos
alunos o
pensamento crítico e reflexivo acerca da leitura e de sua compreens
ão e também
habilidades que permitam eleger formas de avaliação e estratégias de intervenção.
Participantes
Participaram da disciplina 15 alunas, com faixa etária entre 23 e 45 anos. Do total de
alunas participantes
,
10 estavam matriculadas como alunas
regulares do Programa de Pós
-
Graduação da
U
niversidade
,
e as outras 5 estavam matriculadas na modalidade aluno espacial.
Recursos
Durante as aulas ministradas pela estagiária foi utilizada como base teórica a obra
A
Festa
(1978) de autoria do escritor
brasileiro Ivan Ângelo. Também foram utilizados vídeos,
músicas e fotos que retratam o período social e político em que o romance foi escrito.
Procedimento
No início da disciplina as alunas foram informadas da presença da doutoranda e
estagiária
em alg
umas aulas, bem como da sua responsabilidade em ministrar as duas últimas
aulas da disciplina. Todas as alunas consentiram na participação e observação das aulas, não
sendo necessário a assinatura de um termo de consentimento, visto que o estágio é uma eta
pa
obrigatória a ser cumprida tanto pelos alunos matriculados no doutorado quanto pelos
matriculados no mestrado.
image/svg+xml
Estágio em docência no
curso de doutorado em educação: relatos de experiência
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraqu
ara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
369
A carga horária da disciplina foi de 60 horas/aula, sendo as aulas ministradas no
período da manhã e da tarde. Foram cumpridas pela doutoranda
30 horas/aula de atividades
que consistiram em acompanhamento e participação durante as aulas, preparação do conteúdo
a ser desenvolvido e regência das aulas. A doutoranda e estagiária também ministrou 10
horas/aula que foram divididas em um dia, no perío
do matutino e vespertino.
A doutoranda se reuniu previamente com a sua orientadora, que também foi uma das
professoras responsáveis pela disciplina, a fim de estruturar como o estágio seria
desenvolvido. Ficou estabelecido que a aluna acompanharia o desenv
olvimento da disciplina,
participando e auxiliando as professoras durante as aulas e seria de responsabilidade da
doutoranda a regência das duas últimas aulas. É importante salientar que em todos os
momentos das aulas, fossem eles de intervenção ou de regê
ncia, uma das professoras
responsáveis estava presente auxiliando e orientando.
Resultados e
discussão
Um dos requisitos obrigatórios que precisa ser cumprido pelo aluno que cursa o
Doutorado em Educação é o Estágio em Docência. A realização do estágio
em docência é
algo fundamental para a formação do aluno, pois ao desenvolver as atividades propostas para
a realização do estágio, o pós
-
graduando tem a possibilidade de colocar em prática os
conhecimentos adquiridos durante as aulas
, além de
também exerc
er a docência, aliando
teoria e prática.
Ao longo da disciplina foram trabalhados textos que mostrassem a importância da
leitura feita de forma completa, que proporciona ao aluno a visão do todo, e não uma visão
distorcida e fragmentada da realidade em qu
e a obra foi escrita e também leituras que
mostraram as diferentes estratégias de aprendizagem que podem ser utilizadas pelos alunos.
Dessa forma, para as duas aulas que foram ministradas pela doutoranda foi selecionada a obra
A Festa
, do autor brasileiro
Ivan Ângelo.
A escolha da obra literária
A
F
esta
justifica
-
se pelo fato de que ela apresenta várias
dimensões que podem ser trabalhadas em diferentes disciplinas e em diferentes etapas de
ensino. De acordo com
Mariano e Franco
(2015), ao trabalhar os cont
eúdos escolares por
meio de obras de ficção e que tragam elementos pertinentes à realidade dos alunos
,
o
professor consegue promover a motivação
deles
. Dessa forma, é possível que os alunos
identifiquem e desenvolvam uma consciência crítica sobre as dimens
ões presentes nas obras
com aulas que se diferenciam das tradicionais.
image/svg+xml
Maria Luzia Silva MARIANO; Sandra Aparecida Pires FRANCO e Katya Luciane de OLIVEIRA
RIAEE
–
Revist
a Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
370
Mariano e Franco
(2015) salientam que é importante conscientizar os alunos de que é
possível fazer diferentes leituras e interpretações de uma mesma obra literária. É importante
que os
alunos percebam que uma obra de ficção, aparentemente criada apenas para o
entretenimento do público, pode apresentar diversos pontos a serem analisados e refletidos
,
bem como
críticas implícitas ao sistema político e/ou social da época. No tocante à obra
A
F
esta
, são perceptíveis as questões e dimensões social, política, religiosa, econômica e
histórica.
Fragmentada em nove micro
-
narrativas,
A
F
esta
apresenta ao leitor elementos da
ficção e da realidade ao narrar o conflito que aconteceu entre retirantes
nordestinos e a polícia
na praça da Estação em Belo Horizonte em 30 de março de 1970. O autor entrelaça as
histórias e os personagens de forma não linear, mostrando a pobreza, a repressão e as
particularidades de cada um, o que leva os leitores a buscarem
a ligação entre as histórias.
Nos dois últimos capítulos
,
Ivan Ângelo mostra a interligação entre os personagens e o
desfecho da história de cada um após a festa
.
Com isso, objetivou
-
se levar as alunas a perceberem o contexto em que a obra foi
escrita, as
várias dimensões perceptíveis ao longo da leitura e também as diferentes formas
que uma mesma temática pode ser trabalhada em sala de aula. No dia anterior à aula em que
seria trabalhado o romance, os capítulos foram divididos entre as alunas, para que no
dia
seguinte cada uma apresentasse para a sala o conteúdo pelo qual ficou responsável.
As duas aulas foram divididas em dois tempos cada uma, com intervalo para café e
almoço. Na primeira parte da aula do período da manhã, a doutoranda apresentou de forma
breve a vida e obra do autor
. T
ambém foi feita a contextualização do cenário político e social
em que o mundo estava inserido nas décadas de 1960 e 1970. Após compreender o panorama
geral das revoluções e sistemas governamentais que vigoraram nesse períod
o, foi apresentado
também de forma sucinta o golpe militar sofrido pelo Brasil em 1964. A ambientação foi
necessária pois é preciso compreender o contexto em que
A Festa
foi escrit
o
para que se
compreenda as entrelinhas postas pelo autor e as suas particul
aridades na escrita.
Foi possível perceber o envolvimento das alunas com o conteúdo por meio das suas
falas e considerações durante a exposição, fato que de acordo com Bzuneck (2009),
proporciona a percepção da motivação para aprender dos alunos. Ao trabal
har o contexto
mundial e nacional nos anos de 1960 e 1970, a doutoranda levou fotos, vídeos e músicas para
serem exibidos e discutidos, o que também proporciona maior motivação e maior
envolvimento dos alunos durante as aulas (M
ARIANO
, 2015).
image/svg+xml
Estágio em docência no
curso de doutorado em educação: relatos de experiência
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraqu
ara, v. 16, n. 1, p. 361
-
375, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.12785
371
É importante
perceber que, de forma conjunta, professor e alunos necessitam encontrar
uma maneira de tornar os conteúdos escolares mais atraentes, aproximando os conteúdos
científicos culturais do seu
dia a dia
. Para tanto, é admissível que o professor se desprenda dos
métodos tradicionais, como apenas passar o conteúdo no quadro e esperar que o aluno copie.
Em contrapartida, é preciso que os alunos se interessem pelos conteúdos a fim de ter uma
formação
omnilateral, em que
todas as
suas potencialidades
(culturais, soci
ais,
humanas etc.
)
se desenvolvam plenamente
, em detrimento da mera assimilação e repetição dos conteúdos
(MARIANO; FRANCO, 2015).
Na segunda parte do período da manhã, as alunas partilharam com a sala a leitura do