APRENDIZAGEM HISTÓRICA E NOVO HUMANISMO: AS IDEIAS HISTÓRICAS DOS JOVENS A PARTIR DA LEITURA DOS QUADRINHOS DE “OS MISERÁVEIS”


APRENDIZAJE HISTORICO Y NUEVO HUMANISMO: LAS IDEAS HISTÓRICAS DE LOS JÓVENES DESDE LA LECTURA DE LOS COMICS DE “LOS MISERABLES”


HISTORICAL LEARNING AND NEW HUMANISM: THE HISTORICAL IDEAS OF YOUNG PEOPLE AFTER READING THE COMICS OF “LES MISERÁBLES”


Giovana Maria Carvalho MARTINS1 Marlene Rosa CAINELLI2


RESUMO: Neste artigo, apresentamos parte das discussões desenvolvidas ao longo do mestrado em Educação na Universidade Estadual de Londrina, defendido em 2019. O trabalho desenvolvido no mestrado se debruçou sobre o uso de uma versão em quadrinhos da obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo (o livro foi publicado originalmente em 1862), com o objetivo de discutir com jovens estudantes do nono ano de uma escola pública localizada em Londrina, Paraná, sobre problemas sociais e sobre o Novo Humanismo de Rüsen (2012; 2015). Para isto, desenvolvemos aulas-oficina (BARCA, 2004) que tinham o objetivo de, tornando o aluno o protagonista do processo de ensino-aprendizagem, levá-lo à reflexão sobre questões relacionadas a problemas sociais e ao humanismo. Nestas aulas-oficina, realizamos uma roda de conversa, além da produção uma narrativa sobre esta roda e de uma história em quadrinhos que abordasse o tema problemas sociais. Neste artigo, trabalhamos com as HQs produzidas pelos alunos, apresentando as discussões realizadas sobre o tema e as análises desenvolvidas na dissertação a partir da produção dos alunos. Nosso objetivo foi verificar a possibilidade de os jovens estudantes gerarem um sentido de orientação temporal por meio dos valores e ideias do novo humanismo e da defesa da dignidade humana a partir da leitura de “Os Miseráveis” em quadrinhos.


PALAVRAS-CHAVE: Novo humanismo. Os Miseráveis. História em quadrinhos. Aula- oficina.


RESUMEN: En este artículo, presentamos parte de las discusiones desarrolladas durante la Maestría em Educación en la Universidad Estadual de Londrina, defendida em 2019. El trabajo desarrollado em la maestría se centró en el uso de una versión en cómic del trabajo de Víctor Hugo “Los Miserables” (el libro fue publicado originalmente en 1862), con el propósito de discutir con estudiantes del noveno año de una escuela pública ubicada en Londrina, Paraná, sobre problemas sociales y el Nuevo Humanismo de Rüsen (2012; 2015).



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1 Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Doutoranda no Programa de Pós- Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4178-1379. E-mail: giovana.mcmartins@gmail.com

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2 Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Professora no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em História. Doutorado em História (UFPR). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9709-3834. E-mail: cainelli@uel.br


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Para ello, desarrollamos clases-taller (BARCA, 2004) que tenían el objetivo de convertir al alumno en el protagonista del proceso de enseñanza-aprendizaje, lo que lo llevó a reflexionar sobre cuestiones relacionadas con los problemas sociales y el humanismo. En estas clases- taller, realizamos un círculo de conversación, así como producimos una narrativa sobre este círculo y un cómic que abordaba el tema de los problemas sociales. En este artículo, trabajamos con los cómics producidos por los estudiantes, presentando las discusiones sobre el tema y los análisis desarrollados en la disertación sobre la producción de los estudiantes. Nuestro objetivo era verificar la posibilidad de que los jóvenes estudiantes generen un sentido de orientación temporal a través de los valores e ideas del Nuevo Humanismo y la defensa de la dignidad humana al leer “Los Miserables” en los cómics.


PALABRAS CLAVE: Nuevo humanismo. Los Miserables. Cómics. Clase-taller.


ABSTRACT: In this article, we present part of the discussions developed during the master's degree in Education at Londrina State University, defended in 2019. The work developed in the master's degree focused on the use of a comic version of Victor Hugo's “Les Miserábles” (the book was originally published in 1862), with the purpose of discussing with ninth graders from a public school located in Londrina, Paraná, about social problems and Rüsen's New Humanism (2012; 2015). For this, we developed workshop classes (BARCA, 2004) that had the objective of making the student the protagonist of the teaching-learning process, leading him to reflect on issues related to social problems and humanism. In these workshop classes, we held a dialogue circle, as well as producing a narrative about this circle and a comic book that addressed the issue of social problems. In this article, we work with the comics produced by the students, presenting the discussions about the theme and the analysis developed in the dissertation from the students' production. Our goal was to verify the possibility of young students to generate a sense of temporal orientation through the values and ideas of the New Humanism and the defense of human dignity from reading "Les Misérables" in comics.


KEYWORDS: New humanism. Les Miserábles. Comics. Workshop classes.


Introdução


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A pesquisa desenvolvida se debruça sobre o uso de uma versão em quadrinhos da obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, para discutir problemas sociais, direitos humanos e o humanismo com alunos do nono ano do ensino fundamental de uma escola localizada na cidade de Londrina- PR. O objetivo foi trabalhar a questão da dignidade humana e da miséria partindo das discussões de Rüsen (2012; 2015) sobre o Novo Humanismo. O objeto de investigação da pesquisa foi o uso escolar de “Os Miseráveis” em quadrinhos na aprendizagem histórica de jovens estudantes. Este artigo, portanto, é parte das discussões que foram desenvolvidas no mestrado em Educação na Universidade Estadual de Londrina, defendida em 2019.


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Para o desenvolvimento deste trabalho, realizamos uma série de aulas-oficina (BARCA, 2004) entre maio e junho de 2018, envolvendo a aplicação de um estudo exploratório, uma roda de conversa, a produção de uma narrativa sobre esta roda de conversa e a produção de uma história em quadrinhos pelos estudantes. Esta metodologia foi proposta por Barca (2004, p. 133), e trata-se de um modelo de aula em que o aluno é visto como “agente de sua formação com ideias prévias e experiências diversas” e o professor como um “investigador social e organizador de atividades problematizadoras”. As atividades das aulas são, portanto, diversificadas e propostas de forma a desafiar intelectualmente os estudantes, de modo que os produtos resultantes destas são integrados na avaliação (BARCA, 2004, p. 132).

Como o objetivo era verificar as ideias dos estudantes com relação à miséria e à dignidade humanas, escolhemos como ponto de partida a adaptação da obra “Os Miseráveis”, uma história em quadrinhos que consiste na adaptação de um romance clássico que se passa na França no período pós-Revolução Francesa, cujos temas principais são a miséria e as mazelas sociais. Trata-se de uma experiência de sofrimento do passado que, fazendo parte da cultura histórica dos alunos, pode ajudá-los a interpretar as circunstâncias atuais.

Como já mencionamos, elaboramos planos de aula-oficina nos moldes propostos por Barca (2004), que foram desenvolvidas ao longo de seis momentos, ou seis aulas de História de 50 minutos cada. Na primeira aula, aplicamos o instrumento de estudo exploratório e cada aluno recebeu um exemplar da HQ. Foi solicitado que realizassem a leitura para dar continuidade à proposta. Assim, ao longo dos outros encontros, os estudantes realizaram análise de trechos da obra, sobretudo trechos que retratam problemas sociais, comparando-os com problemas atuais, analisando permanências e rupturas. Realizamos também uma roda de conversa cujo tema foi o humanismo e o Novo Humanismo de Rüsen, bem como a produção de uma narrativa sobre a roda de conversa. Para iniciar a roda de conversa, escolhemos dois trechos dos quadrinhos de “Os Miseráveis”, instigando a discussão também dos problemas sociais. A última atividade realizada foi a produção de uma história em quadrinhos por cada estudante, que deveria retratar o que eles consideram como problemas sociais.

Assim, neste artigo, nos debruçamos sobre as histórias em quadrinhos produzidas pelos alunos e a categorização destas HQs, analisando as narrativas sobre questões sociais e o Novo Humanismo de Rüsen.

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Desta maneira, as perguntas que nortearam nossa pesquisa foram: É possível que os jovens estudantes apresentem ou desenvolvam um sentido de orientação temporal por meio dos valores e ideias do Novo Humanismo e da defesa da dignidade humana através do contato


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com a obra “Os Miseráveis”? O formato de quadrinhos da obra facilitaria o entendimento do conteúdo e o prazer da aprendizagem?

Tínhamos como pressuposto a possibilidade de que os alunos desenvolvessem um sentido de orientação temporal através dos valores do Novo Humanismo com a leitura de “Os Miseráveis” em quadrinhos, visto que o livro é permeado por discussões sobre a dignidade e miséria humanas, que se deslocam temporalmente entre o passado e o presente. Um dos referenciais teóricos utilizados por nós para desenvolver esta investigação foi o pesquisador Fronza (2009), que, em suas pesquisas, concluiu que o uso das histórias em quadrinhos permite uma aprendizagem histórica significativa pelo fato de os estudantes já estarem familiarizados com estes artefatos, gostarem e lerem com frequência. Além disto, o pesquisador salienta que a leitura de HQs permite ao leitor o uso simultâneo de diversas habilidades interpretativas, tanto visuais quanto verbais, e é fundamental valorizar a empatia que os estudantes têm com os quadrinhos e com o conhecimento histórico (FRONZA, 2009). Fronza, em coautoria com Sobanski et al. (2009, p. 62), afirma que a escolha da temática de seu trabalho (a HQ “Asterix e Obelix”, relacionada à Roma Antiga) se deu por dois motivos: pela HQ abordar um tema histórico ligado a um conteúdo escolar e pelo fato de que o artefato “[...] está estruturado visualmente na relação entre o realismo histórico e objetivo da representação dos cenários e das vestimentas e a identificação universal e subjetiva do cartum que representa os personagens”.

A escolha da obra “Os Miseráveis” adaptada para quadrinhos se deu por motivos aproximados: a pertinência do tema no contexto escolar e o visual do próprio livro, retratando os personagens e espaços físicos da França no século XIX. Além disto, a escolha se baseou no fato de o livro que deu origem aos quadrinhos ser um clássico da literatura mundial, largamente adaptado a diversos suportes (cinema, releituras, livros infantis), cujas reflexões sobre o ser humano e a temática central da pobreza permanecem críticas e atuais.


Novo humanismo


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O conceito de Novo Humanismo, por sua vez, relaciona-se às discussões sobre humanidade e sobre a miséria e os problemas sociais, temáticas presentes na fonte escolhida e trabalhadas em sala de aula. Nosso referencial teórico foi o autor Jörn Rüsen, conhecido autor da Didática da História e do campo da Educação Histórica. Rüsen (2015) coloca que a ideia de humanidade é de suma importância para a identidade cultural, e através de um longo processo histórico, “[...] ser um ser humano tornou-se um elemento essencial da


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autoconsciência e autoestima” (RÜSEN, 2015, p. 53). Ele é chamado “novo” pois busca reformular o humanismo moderno, entendendo que “o humanismo como proposta universal não pode se encerrar em defesa de uma determinada tradição cultural ou religiosa” (NECHI, 2017, p. 43). Rüsen (2012), então, amplia o conceito de Humanismo moderno, que, em sua concepção, seria incapaz de abarcar a desumanidade do homem. Esse Humanismo moderno, que possui uma ideia ilusória do conceito paradigmático de humanidade na Antiguidade Clássica, é repleto de elementos eurocêntricos em sua concepção de “história universal” e é limitado em sua integração entre humanidade e natureza (RÜSEN, 2012, p. 525) – de maneira geral, o Humanismo moderno não é suficiente para definir as concepções de humanidade do século XXI. O autor vai contra “[...] os processos de internalização do conhecimento desumanizadores e instrumentalizados”, propondo uma Didática da História Humanista “[...] que permita aos sujeitos terem acesso aos princípios de uma aprendizagem histórica emancipadora e que os levem ao autoconhecimento a partir do reconhecimento do outro, no processo de formação da consciência histórica” (RÜSEN, 2015, p. 06). O autor pontua a necessidade de desenvolver um novo conceito de humanidade, pois o conceito moderno, tal qual estava posto, não daria conta de explicar o mundo do século XXI. Um humanismo que condiz com a realidade atual “[...] deve integrar a sombra da desumanidade na ideia de humanidade com base no princípio da dignidade humana” (RÜSEN, 2015, p. 27). Ele ainda argumenta que não se pode simplesmente reproduzir este humanismo moderno ocidental, mas sim desenvolvê-lo em consonância com as experiências históricas do século passado e deste século, visando a comunicação intercultural existente na contemporaneidade (RÜSEN, 2015). Rüsen (2015) faz uma interessante reflexão, da qual nos apropriamos para pensar a temática do Novo Humanismo na realização de atividades na contemporaneidade, como se propõe esta pesquisa. O autor afirma que “a ideia da humanidade, transculturalmente válida, pode assim ser realizada na internalização, pelos reflexos mútuos desses diferentes conceitos, do espelho da alteridade” (RÜSEN, 2015 apud FRONZA; SCHMIDT, 2015). Os autores Fronza e Schmidt, 2015, p. 09) continuam esta afirmação dizendo que esse princípio parte da aprendizagem histórica e se aplica “quando as experiências do passado passam a ser internalizadas a partir da dimensão do sofrimento humano e que os conflitos e dores que os jovens sofrem contemporaneamente tem suas contrapartes em outras épocas e sociedades”. Ou seja, há a necessidade de que as pessoas da atualidade entendam que as experiências históricas de sofrimento do passado constituem o “nós” do presente (não são experiências “velhas” descoladas do presente, mesmo que pareçam geográfica e temporalmente distantes do “hoje”) para que, com isto, possam continuar lutando pela manutenção dos direitos já

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conquistados, bem como democratizá-los, tornando-os acessíveis a todos, levando à dignidade e à igualdade humanas tão necessárias (e ainda utópicas) na atualidade (FRONZA; SCHMIDT, 2015).


Histórias em quadrinhos


O uso de histórias em quadrinhos em sala de aula se justifica pelo fato de serem “fontes históricas relevantes ligadas ao âmbito da cultura juvenil” (SOBANSKI et al., 2009,

p. 46), permitindo construir ideias históricas. São entendidas também como “narrativas históricas gráficas”, cuja linguagem permite compreender a relação entre passado e presente. São, portanto, narrativas históricas estruturadas de maneira estética. Segundo os historiadores ligados à Educação Histórica, “a narrativa histórica é a forma [...] da expressão do pensamento histórico e da aprendizagem da formação histórica” (SOBANSKI et al., 2009, p. 46). Em suas pesquisas, Marcelo Fronza (2009) concluiu que o uso das histórias em quadrinhos permite uma aprendizagem histórica significativa pelo fato de os estudantes já estarem familiarizados com estes artefatos, gostarem e lerem com frequência. Além disto, a leitura de HQs permite ao leitor o uso simultâneo de diversas habilidades interpretativas, tanto visuais quanto verbais, e é fundamental valorizar a empatia que os estudantes têm com os quadrinhos e com o conhecimento histórico vindo deles. A sobreposição de textos e imagens nos quadrinhos faz de sua leitura “um ato de percepção estética e de esforço intelectual” (EISNER, 1989, p. 08), trabalhando com habilidades necessárias não apenas às aulas de História, mas à sua formação de maneira geral.

Desta maneira, o uso de quadrinhos em aulas de História é justificado pelo apelo que este suporte tem com os jovens, tanto pela facilidade de leitura quanto pelo atrativo visual que ele proporciona, com imagens e diálogos curtos. Fronza (2009, p. 218) ainda coloca que a aprendizagem pode ser “divertida” e permite uma “melhor memorização dos conteúdos” pela forma com que as histórias são narradas. Ainda através de suas pesquisas, o autor concluiu que as HQs com temas históricos “[...] permitem uma passagem da cultura primeira dos jovens para um conhecimento histórico elaborado” (p. 219).

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Sobre o apelo que as histórias em quadrinhos têm com o público, Eisner (1995 apud FRONZA, 2007) pontua que a empatia é fundamental para que as HQs sejam um “artefato mediador” entre o público e o narrador. Já o autor Pessoa (2006) acrescenta, sobre as HQs, que sua capacidade de entreter, educar, questionar, manifestar, refletir e ser refletida por seu público leitor coloca todos os colegas educadores da arte sequencial em uma situação


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privilegiada: a de poder fornecer aos alunos o apoio que muitos de nós não tiveram. “A construção de seus personagens por meio de recursos literários, grafismo com as artes plásticas, [...] faz das HQs uma das mídias mais completas que não a tornam apenas popular, mas que em seu aspecto “pop” tem poder elucidativo, contestador e didático” (LUYTEN, 2005 apud PESSOA, 2006, p. 51)

A partir destas discussões, defende-se que as HQs, desde que bem utilizadas e entendidas como elementos muito presentes na cultura histórica dos jovens estudantes (e também dos professores), podem contribuir para o desenvolvimento da consciência histórica em sala de aula. Seu uso também pode estar ligado à produção de narrativas em quadrinhos pelos próprios estudantes, entendendo que a consciência histórica é expressa através da narrativa (SCHMIDT; BARCA; MARTINS, 2011), e as HQs são entendidas como tal.

Concordamos com Rama e Vergueiro (2004, p. 2125), que elencam nove motivos pelos quais as HQs contribuem para o ensino. Resumimos aqui as ideias principais de cada um deles:



A versão de “Os Miseráveis” escolhida para desenvolver o trabalho foi publicada pela L&PM Editores em 2012. Trata-se de uma obra em quadrinhos adaptada do original, escrito por Victor Hugo em 1862, por Daniel Bardet, desenhada por Bernard Capo e colorida por Arnaud Boutle. A tradução para o português foi realizada por Alexandre Boide. Esta versão faz parte de uma coleção chamada “Clássicos da Literatura em Quadrinhos” e contou com o apoio da Unesco.


As HQs produzidas pelos alunos


A atividade solicitada aos alunos foi a produção de uma história em quadrinhos que abordasse problemas sociais. Entendemos por problemas sociais o que defende Catão (2011, p. 460):


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Um problema social existe quando coletividades sofrem por mutilações do cotidiano, por desigualdade social e injustiça vivenciada. Isto é, quando as instituições que deveriam estar em consonância com o desejo humano não cumprem seus objetivos ou não existem.


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A autora faz uma abordagem voltada para a psicologia sobre a relação entre ser humano e problemas sociais, e traz definições interessantes sobre o que é problema social e de que maneira afetam o ser humano. Concordamos com ela ao pontuar que


Em termos operacionais, o problema social pode ser compreendido pela análise da relação entre a situação atual e a situação desejada, entre o que existe e o que deveria existir, entre o que foi alcançado e o que deveria ser alcançado, configurando a discrepância entre o “que é”, o “como está” e o como “deve ser” (CATÃO, 2011, p. 461).


Seriam, então, situações de injustiça, em que haveria negligência por parte das instituições que deveriam estar encarregadas de agir contra elas (ou mesmo onde não existiriam tais instituições, que são geralmente reconhecidas na figura de governos e instrumentos governamentais), causando sofrimento a uma pessoa ou a um grupo de pessoas que sofrem desigualdade. Nosso desejo foi, portanto, verificar o que os alunos entendiam por problemas sociais e de que forma expressariam isto nos quadrinhos.

Cada aluno produziu (roteirizou, desenhou e coloriu) uma HQ, totalizando 30 histórias, todas desenvolvidas em sala de aula. De acordo com Rama e Vergueiro (2004, p. 128), “este tipo de atividade, além de permitir a interdisciplinaridade de História, Língua Portuguesa e Artes, pode estimular os estudantes a desenvolverem a competência de representar e comunicar (comunicação escrita, gráfica e pictórica)”. Um de nossos objetivos ao solicitar a criação de uma HQ foi precisamente a questão da representação e da comunicação, trabalhando diferentes formas de expressão de opiniões no ensino de História. Rama e Vergueiro (2004) continuam dizendo que estas atividades também estimulam a criatividade, que é, muitas vezes, desestimulada no ensino tradicional.

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Outra preocupação foi que os alunos representassem da maneira como se sentissem confortáveis; concordamos que “os desenhos dos alunos não precisam ser uma ‘obra de arte’. Basta apenas que sejam funcionais, isto é, possam transmitir uma ideia com eficácia, comunicar os elementos contidos no roteiro” (RAMA; VERGUEIRO, p. 128). Isto foi bastante perceptível: há “homens palito” nas HQs que representam de maneira muito satisfatória as ideias de seus autores. Para analisar as histórias em quadrinhos, optamos por separá-las de acordo com a temática geral abordada pelo estudante. Obtemos assim seis categorias:



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Tabela 1 – Temas escolhidos pelos alunos para a produção de suas HQs



TEMAS DAS HDs PRODUZIDAS PELOS ESTUDANTES

N° DE ALUNOS

%

1- VIOLÊNCIA

9

30%

2- PRECONCEITO

8

27%

3- OUTROS

6

20%

4- DROGAS

3

10%

5- TRABALHO INFANTIL

2

7%

6- DESIGUALDADE SOCIAL

2

7%

TOTAL

30

100%

Fonte: Elaborada pela autora


Para que pudéssemos analisar as respostas dos alunos, trocamos seus nomes por pseudônimos, que foram escolhidos por eles próprios. Optamos por não usar os nomes para preservação da identidade e não usamos meramente números para nos referirmos aos alunos para que não houvesse descaracterização da individualidade de cada estudante, sendo que todos são sujeitos ativos na pesquisa. Para evitar que a pesquisadora atribuísse nomes segundo seu próprio juízo que pudessem de alguma forma identificar ou privilegiar algum estudante, optamos por solicitar que eles próprios escolhessem seus nomes, baseados em critérios próprios. A pesquisadora apenas solicitou que não optassem por nomes ofensivos ou palavras de baixo calão. É perceptível que a escolha também caracteriza uma forma de entendimento social, mostrando a cultura e a individualidade de cada um, com nomes que se referem a jogos, personagens literários ou de filmes e séries, nomes de canais do YouTube ou mesmo apelidos pelos quais os estudantes se reconhecem em seu grupo social. Salientamos que não interferimos na escolha dos pseudônimos (com exceção de solicitar que não escolhessem palavras ofensivas), de maneira que cada aluno pudesse se expressar da forma como quisesse.

Abaixo, estão as categorias, a quantidade de trabalhos em cada uma e um exemplo:


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  1. Violência: nove jovens tiveram seus trabalhos enquadrados nesta categoria. Reunimos os relatos que traziam menções ou representavam diversos tipos de violência (balas perdidas, violência nas favelas, roubo com violência e uso de armas), e cabe destacar três jovens, todas do sexo feminino, que retrataram formas de violência contra a mulher. Trata-se de um problema comum na região em que está localizada a escola, com diversos relatos e situações acontecendo nas redondezas. Desta feita, entendemos também que é um problema significativo tanto na realidade cotidiana particular destes jovens quanto na realidade brasileira, em um contexto geral.


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    Figura 1 – HQ produzida pela estudante Pão de Ló, retratando a violência contra a mulher

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    Fonte: Elaborada pela jovem Pão de Ló (2018)


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  2. Preconceito: oito jovens retrataram o preconceito em suas mais diversas formas, destacando o racismo, o preconceito contra pessoas pobres e a homofobia. Cabe ressaltar que um dos jovens relatou, especificamente, um caso de bullying na escola. A partir de nossas análises, entendemos que este foi o segundo problema social mais retratado, por se tratar de uma realidade mais próxima dos alunos. Pensamos também que são problemas sociais bastante presentes e marcantes na sociedade brasileira, sendo refletidos na realidade e na mentalidade dos jovens participantes da pesquisa. Um exemplo de quadrinho enquadrado nesta categoria foi o produzido pelo aluno Yasuo U.F, que retrata a discriminação do diferente e, detalhe bastante comum nas HQs produzidas, traz um “final feliz”, com o aluno não apenas expondo o problema social escolhido, e sim propondo soluções para ele (no caso, o personagem diferente resolveu lutar por seus direitos).

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    Figura 2 – HQ produzida pelo estudante Yasuo U.F, retratando o preconceito


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    Fonte: Elaborada pelo jovem Yasuo U.F. (2018)


    Figura 3 – Continuação da HQ produzida pelo estudante Yasuo U.F


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    Fonte: Elaborada pelo jovem Yasuo U.F. (2018)



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  3. Outros: nesta categoria, temos uma miscelânea de temas bastante interessantes, mas que não se encaixaram nas outras categorias desenvolvidas por nós. Foram seis trabalhos, e os temas são: abandono parental, maus tratos a animais, poluição, aborto, prostituição (temas que, de certa forma, se enquadram também em alguma categoria de violência) e questões político-partidárias. Destacamos nesta categoria o trabalho da aluna Manuela, que fala sobre a poluição e a necessidade de combatê-la, descartando o lixo corretamente. O interessante é que o foco das discussões das aulas não foram os problemas ambientais, mas é relevante que a aluna tenha trazido tal assunto à baila, já que também é algo muito presente na sociedade atual e bastante veiculado, sobretudo com o aumento na preocupação com relação à quantidade de resíduos produzidos anualmente pelo homem e seu destino incorreto.


    Figura 4 – HQ produzida pela estudante Manuela, retratando a poluição


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    Fonte: Elaborada pela jovem Manuela (2018)


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  4. Drogas: três HQs estão nesta categoria, pois abordaram especificamente o problema das drogas, envolvendo também a violência. Porém, optamos por separar da categoria anterior por se referirem explicitamente ao tráfico e consumo de drogas, mesmo que envolvam outros problemas, como no caso da HQ de Nicão, que mostra uma criança encontrando oportunidades de vida no tráfico.


    Figura 5 – HQ produzida pelo estudante Nicão, retratando o tráfico de drogas


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    Fonte: Elaborada pelo jovem Nicão (2018)


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    Figura 6 – Continuação da HQ produzida pelo estudante Nicão


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    Fonte: Elaborada pelo jovem Nicão (2018)


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  5. Trabalho infantil: duas HQs estão nesta categoria por serem muito representativas destes problemas sociais envolvendo especificamente crianças. Retratam crianças cujo sonho é estudar, mas que são obrigadas a trabalhar. Um deles contém um “final feliz” desta criança sendo adotada e resgatada de sua situação:


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    Figura 7 – HQ produzida pela estudante Izebelly, retratando o trabalho infantil


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    Fonte: Elaborada pela jovem Izebelly (2018)


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  6. Desigualdade social: nesta categoria, estão dois trabalhos cuja temática principal é a desigualdade social. Destacamos o trabalho de Ahri. Seu autor faz uma reflexão sobre os muitos problemas sociais que acontecem simultaneamente em nosso mundo, e termina a narrativa com uma indagação: “Será que a salvação será o extermínio?”. Esta posição pessimista, apesar de impopular entre a população do estudo, foi demonstrada por alguns


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estudantes em diversos momentos ao longo do estudo, seja na roda de conversa ou nas outras produções solicitadas.


Figura 8 – HQ produzida pelo estudante Ahri, retratando a desigualdade social


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Fonte: Elaborada pelo jovem Ahri (2018)


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Salientamos que as HQs escolhidas para compor o texto foram usadas para exemplificar as categorias às quais pertencem, e todas as 30 HQs compõem o texto completo da dissertação de Mestrado.


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Considerações finais


O foco desta pesquisa foi a possibilidade do uso da história em quadrinhos para discutir o Novo Humanismo de Rüsen. Os questionamentos que tínhamos, conforme apresentado no início deste texto, foram: “É possível que os jovens estudantes apresentem ou desenvolvam um sentido de orientação temporal por meio dos valores e ideias do Novo Humanismo e da defesa da dignidade humana através do contato com a obra ‘Os Miseráveis’? O formato de quadrinhos da obra facilitaria o entendimento do conteúdo e o prazer da aprendizagem?”. E concluímos que sim, é possível – os estudantes, em sua maioria, demonstraram, através das atividades propostas, não só se orientarem temporalmente e serem capazes de fazer comparações passado-presente, como também fazer projeções futuras e analisar o próprio presente para pensar e refletir sobre as mudanças necessárias para que tenhamos ações positivas e benéficas para o mundo em que vivemos.

Sobre o formato, também concluímos que sim: a leitura da HQ, com os recursos visuais e dinamismo, facilitou o entendimento e o envolvimento dos estudantes, que participaram ativamente das atividades propostas. No estudo exploratório que realizamos no início da pesquisa para a produção da dissertação, verificamos que as HQs fazem parte do cotidiano dos alunos, que conhecem este suporte e o consomem ou consumiram HQs de maneira significativa. Ponderamos que as HQs permitem uma aprendizagem histórica significativa por parte dos estudantes justamente por serem parte de seu universo cultural (FRONZA, 2009), de maneira que, após anos de resistência com relação aos quadrinhos, o meio educacional vem inserindo este recurso de maneira crescente no ensino e na aprendizagem das mais diversas temáticas em sala de aula, e não somente nas aulas de História.

Destacamos também a importância da produção da HQ por parte dos alunos, exercício que permitiu que expressassem suas ideias históricas em um formato não tão convencional, visto que as aulas de História geralmente remetem à produção de textos escritos.

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Avaliamos que a relevância do tema da pesquisa faz com que seja possível estendê-la, pois ainda há muito a ser trabalhado com relação ao humanismo e aos Miseráveis em si. Entendemos, como Victor Hugo, que “em todo lugar onde o homem for ignorante e cai desesperado, em todos os lugares onde a mulher se vende por um pão [...], Os Miseráveis batem à porta e dizem: ‘Abram para mim, estou vindo para vocês’” (HOVASSE, 2012, p. 47).



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AGRADECIMENTOS: Agradecemos à CAPES pelo financiamento durante o Mestrado, possibilitando a elaboração da dissertação defendida em 2019.


REFERÊNCIAS


BARCA, I. Aula oficina: do projeto à avaliação. In: JORNADA DE EDUCAÇÃO HISTÓRICA, 4., 2004, Braga. Anais […]. Braga, Portugal: Centro de Investigação em Educação (CIED)/ Instituto de Educação e Psicologia, Universidade do Minho, 2004. p. 131- 144.


CATÃO, M. F. O ser humano e problemas sociais: questões de intervenção. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 19, n. 2, p. 459-465, 2011.


EISNER, W. Quadrinhos e arte seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 1989.


FRONZA, M.; SCHIMIDT, M. A. Contribuições de Jörn Rüsen para a didática da história na perspectiva do humanismo. In: RÜSEN, J. Humanismo e didática da história. SCHIMIDT,

M. A.; BARCA, I.; FRONZA, M.; NECHI, L. P. (Organização e tradução). Curitiba: W.A. Editores, 2015.


FRONZA, M. Aprendendo história com as histórias em quadrinhos. In: SCHIMDT, M. A.; BARCA, I. Aprender história: perspectivas da educação histórica. Ijuí: Ed. Unijuí, 2009. p. 197-224.


FRONZA, M. O significado das histórias em quadrinhos na Educação Histórica dos jovens que estudam no Ensino Médio. 2007. 170 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007


HOVASSE, J. Os miseráveis. In: BARRETO, J. (Org). Victor Hugo: disseminações. Vinhedo, SP: Ed. Horizonte, 2012.


NECHI, L. P. O novo humanismo como princípio de sentido da didática da história: reflexões a partir da consciência histórica de jovens ingleses e brasileiros. 2017. 293 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2017.


PESSOA, A. R. Quadrinhos na Educação: uma proposta didática na Educação Básica. 2006. 185 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2006.


RAMA, A. VERGUEIRO, W. (Org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de aula. São Paulo: Editora Contexto, 2004.


RÜSEN, J. Formando a Consciência Histórica – por uma didática humanista da História.

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Revista Antíteses, Londrina, v. 5, n. 10, p. 519-536, jul./dez. 2012.


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RÜSEN, J. Humanismo e didática da história. Organização e tradução de Maria Auxiliadora Schmidt, Isabel Barca, Marcelo Fronza e Lucas Pydd Nechi. Curitiba: W.A. Editores, 2015.


SCHMIDT, M. A.; BARCA, I.; MARTINS, E. R. (Org.). Jörn Rüsen e o Ensino de História. Curitiba: Editora da UFPR, 2011.


SOBANSKI, A. Q.; CHAVES, E. A..; BERTOLINI, J. L. S.; FRONZA, M. Ensinar e

aprender História: histórias em quadrinhos e canções. Curitiba: Base Editorial, 2009


Como referenciar este artigo


MARTINS, G. M. C; CAINELLI, M. R. Aprendizagem histórica e novo humanismo: as ideias históricas dos jovens a partir da leitura dos quadrinhos de “Os Miseráveis”. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 2, p. 573-592, abr./jun. 2021. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i2.13202


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Submetido em: 17/12/2019 Revisões requeridas em: 31/03/2020 Aprovado em: 06/08/2020 Publicado em: 01/02/2021


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APRENDIZAJE HISTÓRICO Y NUEVO HUMANISMO: LAS IDEAS HISTÓRICAS DE LOS JÓVENES DESDE LA LECTURA DE LOS COMICS DE “LOS MISERABLES”


APRENDIZAGEM HISTÓRICA E NOVO HUMANISMO: AS IDEIAS HISTÓRICAS DOS JOVENS A PARTIR DA LEITURA DOS QUADRINHOS DE “OS MISERÁVEIS”


HISTORICAL LEARNING AND NEW HUMANISM: THE HISTORICAL IDEAS OF YOUNG PEOPLE AFTER READING THE COMICS OF “LES MISERÁBLES”


Giovana Maria Carvalho MARTINS1 Marlene Rosa CAINELLI2


RESUMEN: En este artículo, presentamos parte de las discusiones desarrolladas durante la Maestría en Educación en la Universidad Estadual de Londrina, defendida en 2019. El trabajo desarrollado en la maestría se centró en el uso de una versión en cómic del trabajo de Víctor Hugo “Los Miserables” (el libro fue publicado originalmente en 1862), con el propósito de discutir con estudiantes del noveno año de una escuela pública ubicada en Londrina, Paraná, sobre problemas sociales y el Nuevo Humanismo de Rüsen (2012; 2015). Para ello, desarrollamos clases-taller (BARCA, 2004) que tenían el objetivo de convertir al alumno en el protagonista del proceso de enseñanza-aprendizaje, lo que lo llevó a reflexionar sobre cuestiones relacionadas con los problemas sociales y el humanismo. En estas clases-taller, realizamos un círculo de conversación, así como producimos una narrativa sobre este círculo y un cómic que abordaba el tema de los problemas sociales. En este artículo, trabajamos con los cómics producidos por los estudiantes, presentando las discusiones sobre el tema y los análisis desarrollados en la disertación sobre la producción de los estudiantes. Nuestro objetivo era verificar la posibilidad de que los jóvenes estudiantes generen un sentido de orientación temporal a través de los valores e ideas del Nuevo Humanismo y la defensa de la dignidad humana al leer “Los Miserables” en los cómics.


PALABRAS CLAVE: Nuevo Humanismo. Los Miserables. Cómics. Clase-taller.


RESUMO: Neste artigo, apresentamos parte das discussões desenvolvidas ao longo do mestrado em Educação na Universidade Estadual de Londrina, defendido em 2019. O trabalho desenvolvido no mestrado se debruçou sobre o uso de uma versão em quadrinhos da obra “Os Miseráveis”, de Victor Hugo (o livro foi publicado originalmente em 1862), com o objetivo de discutir com jovens estudantes do nono ano de uma escola pública localizada em Londrina, Paraná, sobre problemas sociais e sobre o Novo Humanismo de Rüsen (2012; 2015). Para isto, desenvolvemos aulas-oficina (BARCA, 2004) que tinham o objetivo de,



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1 Universidad Estatal de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Estudiante de doctorado en el Programa de Postgrado en Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4178-1379. E-mail: giovana.mcmartins@gmail.com

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2 Universidad Estatal de Londrina (UEL), Londrina – PR – Brasil. Profesor en el Programa de Posgrado en Educación y en el Programa de Posgrado en Historia. Doctorado en Historia (UFPR). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9709-3834. E-mail: cainelli@uel.br


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tornando o aluno o protagonista do processo de ensino-aprendizagem, levá-lo à reflexão sobre questões relacionadas a problemas sociais e ao humanismo. Nestas aulas-oficina, realizamos uma roda de conversa, além da produção uma narrativa sobre esta roda e de uma história em quadrinhos que abordasse o tema problemas sociais. Neste artigo, trabalhamos com as HQs produzidas pelos alunos, apresentando as discussões realizadas sobre o tema e as análises desenvolvidas na dissertação a partir da produção dos alunos. Nosso objetivo foi verificar a possibilidade de os jovens estudantes gerarem um sentido de orientação temporal por meio dos valores e ideias do novo humanismo e da defesa da dignidade humana a partir da leitura de “Os Miseráveis” em quadrinhos.


PALAVRAS-CHAVE: Novo Humanismo. Os Miseráveis. História em quadrinhos. Aula- oficina.


ABSTRACT: In this article, we present part of the discussions developed during the master's degree in Education at Londrina State University, defended in 2019. The work developed in the master's degree focused on the use of a comic version of Victor Hugo's “Les Miserábles” (the book was originally published in 1862), with the purpose of discussing with ninth graders from a public school located in Londrina, Paraná, about social problems and Rüsen's New Humanism (2012; 2015). For this, we developed workshop classes (BARCA, 2004) that had the objective of making the student the protagonist of the teaching-learning process, leading him to reflect on issues related to social problems and humanism. In these workshop classes, we held a dialogue circle, as well as producing a narrative about this circle and a comic book that addressed the issue of social problems. In this article, we work with the comics produced by the students, presenting the discussions about the theme and the analysis developed in the dissertation from the students' production. Our goal was to verify the possibility of young students to generate a sense of temporal orientation through the values and ideas of the New Humanism and the defense of human dignity from reading "Les Misérables" in comics.


KEYWORDS: New Humanism. Les Miserábles. Comics. Workshop classes.


Introducción


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La investigación desarrollada se centra en el uso de una versión en cómic de la obra “Los Miserables”, de Víctor Hugo, para discutir los problemas sociales, los derechos humanos y el humanismo con estudiantes de noveno grado de una escuela ubicada en la ciudad de Londrina- PR. El objetivo era trabajar el tema de la dignidad humana y la miseria a partir de las discusiones de Rüsen (2012; 2015) sobre el Nuevo Humanismo. El objeto de la investigación fue el uso escolar de "Los Miserables" en cómic en el aprendizaje histórico de los jóvenes estudiantes. Este artículo, por lo tanto, es parte de las discusiones que se desarrollaron en la Maestría en Educación de la Universidad Estatal de Londrina, defendida en 2019.


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Para el desarrollo de este trabajo, realizamos una serie de clases taller (BARCA, 2004) entre mayo y junio de 2018, que implicaron la aplicación de un estudio exploratorio, un círculo de conversación, la producción de una narrativa sobre este círculo de conversación y la producción de un cómic por parte de los alumnos. Esta metodología fue propuesta por Isabel Barca (2004), y es un modelo de clase en el que el alumno es visto como "agente de su formación con ideas previas y experiencias diversas" y el profesor como "investigador social y organizador de actividades problematizadoras" (BARCA, 2004, p. 133). Por lo tanto, las actividades en el aula se diversifican y se proponen con el fin de desafiar a los estudiantes intelectualmente, de modo que los productos resultantes de las mismas se integran en la evaluación (BARCA, 2004, p. 132).

Como el objetivo era comprobar las ideas de los alumnos sobre la miseria y la dignidad humana, elegimos como punto de partida la adaptación de la obra "Los Miserables", un cómic que consiste en la adaptación de una novela clásica que se desarrolla en Francia en la época posterior a la Revolución Francesa, cuyos temas principales son la miseria y los males sociales. Se trata de una experiencia de sufrimiento del pasado que, como parte de la cultura histórica de los alumnos, puede ayudarles a interpretar las circunstancias actuales.

Como ya se ha mencionado, desarrollamos planes de lecciones-taller siguiendo las líneas propuestas por Barca (2004), que se desarrollaron en seis momentos, o sea, seis clases de historia de 50 minutos cada una. En la primera clase, aplicamos el instrumento de estudio exploratorio y cada alumno recibió un ejemplar del cómic. Se les pidió que lo leyeran para dar continuidad a la propuesta. Así, a lo largo de los demás encuentros, los alumnos analizaron partes de la obra, especialmente las que retratan problemas sociales, comparándolas con problemas actuales, analizando continuidades y rupturas. También celebramos un círculo de conversación cuyo tema fue el humanismo de Rüsen y el Nuevo Humanismo, así como la producción de una narración sobre el círculo de conversación. Para iniciar el círculo de conversación, elegimos dos fragmentos de los cómics de "Los Miserables", instigando el debate sobre los problemas sociales. La última actividad realizada fue la elaboración de un cómic por parte de cada alumno, que debía retratar lo que ellos consideraban problemas sociales.

Así, en este trabajo, nos fijamos en los cómics producidos por los estudiantes y en la categorización de estos cómics, analizando las narrativas sobre temas sociales y el Nuevo Humanismo de Rüsen.

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Así, las preguntas que guiaron nuestra investigación fueron: ¿Es posible que los jóvenes estudiantes presenten o desarrollen un sentido de orientación temporal a través de los

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valores e ideas del Nuevo Humanismo y la defensa de la dignidad humana mediante el contacto con la obra "Los Miserables"? ¿El formato de cómic de la obra facilitaría la comprensión del contenido y el placer de aprender?

Teníamos como hipótesis la posibilidad de que los alumnos desarrollaran un sentido de orientación temporal a través de los valores del Nuevo Humanismo con la lectura de "Los Miserables" en cómic, ya que el libro está impregnado de discusiones sobre la dignidad y la miseria humanas, que se desplazan temporalmente entre el pasado y el presente. Uno de los referentes teóricos que utilizamos para desarrollar esta investigación fue el investigador Marcelo Fronza (2009), quien, en su investigación, concluyó que el uso de historietas permite un aprendizaje histórico significativo debido a que los alumnos ya están familiarizados con estos artefactos, les gustan y los leen con frecuencia. Además, la investigadora señala que la lectura de cómics permite al lector utilizar simultáneamente varias habilidades interpretativas, tanto visuales como verbales, y es fundamental valorar la empatía que los alumnos tienen con el cómic y con el conocimiento histórico (FRONZA, 2009). Fronza, en coautoría con Sobanski et al. (2009), afirma que la elección del tema de su trabajo (el cómic "Astérix y Obélix", relacionado con la Antigua Roma) se hizo por dos razones: para que el cómic abordara un tema histórico vinculado a un contenido escolar y por el hecho de que el artefacto "[...] se estructura visualmente en la relación entre el realismo histórico y objetivo de la representación de los escenarios y la vestimenta y la identificación universal y subjetiva del dibujo animado que representa a los personajes" (p. 62).

La elección de la obra "Los Miserables" adaptada al cómic se hizo por razones similares: la pertinencia del tema en el contexto escolar y lo visual del propio libro, que retrata los personajes y los espacios físicos de la Francia del siglo XIX. Además, la elección se basó en el hecho de que el libro que dio origen al cómic es un clásico de la literatura universal, ampliamente adaptado a diversos medios (cine, relecturas, libros infantiles), cuyas reflexiones sobre el ser humano y el tema central de la pobreza siguen siendo críticos y actuales.


Nuevo Humanismo


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El concepto de Nuevo Humanismo, a su vez, se relaciona con las discusiones sobre la humanidad y sobre la miseria y los problemas sociales, temas presentes en la fuente elegida y trabajados en el aula. Nuestro referente teórico fue el autor Jörn Rüsen, conocido autor de Didáctica de la Historia y del campo de la Educación Histórica. Rüsen (2015) afirma que la idea de humanidad es de muy importante para la identidad cultural, y a través de un largo


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proceso histórico, "[...] ser un ser humano se ha convertido en un elemento esencial de la autoconciencia y la autoestima" (RÜSEN, 2015, p. 53). Se llama "nuevo" porque busca reformular el humanismo moderno, entendiendo que "el humanismo como propuesta universal no puede cerrarse en defensa de una tradición cultural o religiosa particular" (NECHI, 2017, p. 43). Rüsen (2012), entonces, amplía el concepto de Humanismo moderno, que, en su concepción, sería incapaz de abarcar la inhumanidad del hombre. Este humanismo moderno, que tiene una idea ilusoria del concepto paradigmático de la humanidad en la Antigüedad clásica, está lleno de elementos eurocéntricos en su concepción de la "historia universal" y es limitado en su integración entre humanidad y naturaleza (RÜSEN, 2012, p. 525) - en general, el humanismo moderno no es suficiente para definir las concepciones de la humanidad del siglo XXI. El autor va en contra de "[...] los procesos deshumanizados e instrumentalizados de interiorización del conocimiento", proponiendo una Didáctica Humanista de la Historia "[...] que permita a los sujetos acceder a los principios de un aprendizaje histórico emancipador y que los conduzca al autoconocimiento desde el reconocimiento del otro, en el proceso de formación de la conciencia histórica" (FRONZA; SCHMIDT en RÜSEN, 2015, p. 06). El autor señala la necesidad de desarrollar un nuevo concepto de humanidad, ya que el concepto moderno, tal y como estaba establecido, no podría explicar el mundo del siglo XXI. Un humanismo a la altura de la realidad actual "[...] debe integrar la sombra de la inhumanidad en la idea de humanidad basada en el principio de la dignidad humana" (RÜSEN, 2015, p. 27). Sostiene además que no se puede simplemente reproducir este humanismo occidental moderno, sino desarrollarlo de acuerdo con las experiencias históricas del siglo pasado y de este siglo, apuntando a la comunicación intercultural existente en la época contemporánea (RÜSEN, 2015).

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Rüsen (2015) hace una interesante reflexión, de la que nos apropiamos para pensar el tema del Nuevo Humanismo en el desempeño de las actividades en la época contemporánea, como se propone en esta investigación. El autor afirma que "la idea de humanidad, transculturalmente válida, puede así realizarse en la interiorización, por los reflejos mutuos de estos diferentes conceptos, del espejo de la alteridad" (RÜSEN, 2015 apud FRONZA, SCHMIDT, 2015). Los autores Fronza y Schmidt (2015, p. 09) continúan esta afirmación diciendo que este principio parte del aprendizaje histórico y se aplica "cuando las experiencias del pasado se interiorizan desde la dimensión del sufrimiento humano y que los conflictos y dolores que los jóvenes sufren contemporáneamente tienen sus homólogos en otras épocas y sociedades". En otras palabras, es necesario que las personas de hoy comprendan que las experiencias históricas de sufrimiento del pasado constituyen el "nosotros" del presente (no

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son experiencias "viejas" desvinculadas del presente, aunque parezcan geográfica y temporalmente distantes del "hoy") para que, con ello, puedan seguir luchando por el mantenimiento de los derechos ya conquistados, así como democratizarlos, haciéndolos accesibles a todos, conduciendo a la dignidad humana y a la igualdad que hoy es tan necesaria (y aún utópica) (FRONZA; SCHMIDT, 2015).


Cómics


El uso de los cómics en el aula se justifica por el hecho de que son "fuentes históricas relevantes vinculadas al ámbito de la cultura juvenil" (SOBANSKI et al., 2009, p. 46), permitiendo la construcción de ideas históricas. También se entienden como "narraciones históricas gráficas", cuyo lenguaje permite comprender la relación entre el pasado y el presente. Son, por tanto, narraciones históricas estructuradas de forma estética. Según los historiadores vinculados a la enseñanza de la historia, "la narración histórica es la forma [...] de expresión del pensamiento histórico y de aprendizaje de la formación histórica" (SOBANSKI et al., 2009, p. 46). En su investigación, Marcelo Fronza (2009) llegó a la conclusión de que el uso de cómics permite un aprendizaje histórico significativo porque los estudiantes ya están familiarizados con estos artefactos, les gustan y los leen con frecuencia. Además, la lectura de cómics permite al lector utilizar simultáneamente varias habilidades interpretativas, tanto visuales como verbales, y es fundamental valorar la empatía que los alumnos tienen con los cómics y el conocimiento histórico que se desprende de ellos (FRONZA, 2009). La superposición de textos e imágenes en los cómics hace que su lectura sea "un acto de percepción estética y de esfuerzo intelectual" (EISNER, 1989, p.08), trabajando con habilidades necesarias no sólo para las clases de historia, sino para su educación en general.

Así, el uso del cómic en las clases de historia se justifica por el atractivo que este soporte tiene entre los jóvenes, tanto por la facilidad de lectura como por el atractivo visual que proporciona, con imágenes y diálogos cortos. Fronza (2009, p. 218) también afirma que el aprendizaje puede ser "divertido" y permite una "mejor memorización de los contenidos" por la forma en que se narran las historias. También a través de su investigación, el autor llegó a la conclusión de que los cómics con temas históricos "[...] permiten el paso de la primera cultura de los jóvenes a un conocimiento histórico elaborado" (p. 219).

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Sobre el atractivo que el cómic tiene con el público, Eisner (1995 apud FRONZA, 2007) señala que la empatía es fundamental para que el cómic sea un "artefacto mediador"


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entre el público y el narrador. Por otro lado, el autor Alberto Pessoa (2006) añade, sobre el cómic, que su capacidad de entretener, educar, cuestionar, manifestar, reflexionar y ser reflexionado por su público lector pone a todos los educadores colegas del arte secuencial en una situación privilegiada: poder proporcionar a los alumnos el apoyo que muchos de nosotros no tuvimos. "La construcción de sus personajes a través de recursos literarios, gráficos con las artes plásticas, [...] hace del cómic uno de los medios más completos que no sólo lo hacen popular, sino que en su aspecto "pop" tiene poder elucidatorio, contestatario y didáctico (LUYTEN, 2005 apud PESSOA, 2006, p. 51)

A partir de estos debates, se argumenta que los cómics, si se utilizan bien y se entienden como elementos muy presentes en la cultura histórica de los jóvenes estudiantes (y también de los profesores), pueden contribuir al desarrollo de la conciencia histórica en el aula. Su uso también puede vincularse a la producción de narrativas de cómic por parte de los propios alumnos, entendiendo que la conciencia histórica se expresa a través de la narrativa (SCHMIDT, BARCA, MARTINS, 2011), y el cómic se entiende como tal.

Estamos de acuerdo con Rama y Vergueiro (2004, p. 2125), que enumeran nueve razones por las que el cómic contribuye a la enseñanza. Resumimos aquí las ideas principales de cada una de ellas:



La versión de "Los Miserables" elegida para desarrollar este trabajo fue publicada por L&PM Editores en 2012. Es una obra de cómic adaptada del original, escrito por Victor Hugo en 1862, por Daniel Bardet, dibujada por Bernard Capo y coloreada por Arnaud Boutle. La traducción al portugués fue realizada por Alexandre Boide. Esta versión forma parte de la colección "Clásicos de la Literatura en Cómic" y contó con el apoyo de la Unesco.


Los cómics producidos por los alumnos


La actividad solicitada a los alumnos fue la elaboración de un cómic que abordara problemas sociales. Entendemos por problemas sociales lo que Catão (2011, p. 460, nuestra traducción) sostiene:


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Existe un problema social cuando las colectividades sufren las mutilaciones de la vida cotidiana, de la desigualdad social y de la injusticia vivida. Es decir, cuando las instituciones que deberían estar en consonancia con el deseo humano no cumplen sus objetivos o no existen.


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El autor hace un enfoque centrado en la psicología sobre la relación entre el ser humano y los problemas sociales, y aporta interesantes definiciones sobre qué es un problema social y cómo afectan al ser humano. Estamos de acuerdo con ella cuando señala que


En términos operativos, el problema social puede entenderse por el análisis de la relación entre la situación actual y la situación deseada, entre lo que existe y lo que debería existir, entre lo que se ha logrado y lo que debería lograrse, configurando la discrepancia entre "lo que es", "cómo es" y "cómo debería ser” (CATÃO, 2011, p. 461, nuestra traducción).


Se trataría entonces de situaciones de injusticia, en las que habría negligencia por parte de las instituciones que deberían encargarse de actuar contra ellas (o incluso en las que no existirían tales instituciones, generalmente reconocidas en la figura de los gobiernos e instrumentos gubernamentales), causando sufrimiento a una persona o grupo de personas que sufren la desigualdad. Nuestro deseo era, por tanto, comprobar qué entendían los alumnos por problemas sociales y cómo lo expresaban en los cómics.

Cada alumno produjo (guionizó, dibujó y coloreó) un cómic, con un total de 30 historias, todas desarrolladas en el aula. Según Angela Rama y Waldomiro Vergueiro (2004,

p. 128), "este tipo de actividad, además de permitir la interdisciplinariedad de la Historia, la Lengua Portuguesa y las Artes, puede estimular a los alumnos a desarrollar la competencia de representar y comunicar (comunicación escrita, gráfica y pictórica)". Uno de nuestros objetivos al solicitar la creación de un cómic era precisamente el tema de la representación y la comunicación, trabajando sobre diferentes formas de expresar las opiniones en la enseñanza de la Historia. Rama y Vergueiro (2004) añaden que estas actividades también estimulan la creatividad, que a menudo se desaconseja en la enseñanza tradicional.

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Otra preocupación era que los alumnos representaran la forma en que se sintieran cómodos; estamos de acuerdo en que "los dibujos de los alumnos no tienen por qué ser una 'obra de arte'. Basta con que sean funcionales, es decir, que puedan transmitir una idea con eficacia, comunicar los elementos contenidos en el guión" (RAMA; VERGUEIRO, p. 128). Esto fue bastante notorio: hay "hombres de palos" en los cómics que representan muy satisfactoriamente las ideas de sus autores. Para analizar los cómics, hemos optado por separarlos según el tema general abordado por el alumno. Así, obtuvimos seis categorías:


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Tabla 1 – Temas elegidos por los alumnos para la producción de sus cómics


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Fuente: Elaborada por la autora (2018)


Para poder analizar las respuestas de los alumnos, cambiamos sus nombres por seudónimos, elegidos por ellos mismos. Hemos optado por no utilizar sus nombres para preservar su identidad y no hemos utilizado meros números para referirnos a los alumnos para no desvirtuar la individualidad de cada uno de ellos, ya que todos son sujetos activos en la investigación. Para evitar que la investigadora asignara nombres según su propio criterio que pudieran identificar o privilegiar de algún modo a algún alumno, optamos por pedirles que eligieran sus propios nombres en función de su propio criterio. El investigador sólo les pidió que no eligieran nombres ofensivos o malas palabras. Llama la atención que la elección también caracteriza una forma de entendimiento social, mostrando la cultura e individualidad de cada uno, con nombres que hacen referencia a juegos, personajes literarios o de películas y series, nombres de canales de YouTube o incluso apodos con los que los alumnos se reconocen en su grupo social. Hicimos hincapié en que no interferíamos en la elección de los seudónimos (salvo para pedirles que no eligieran palabras ofensivas), para que cada alumno pudiera expresarse como quisiera.

A continuación, las categorías, la cantidad de trabajos en cada una y un ejemplo:


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  1. Violencia: nueve jóvenes tuvieron sus obras incluidas en esta categoría. Recogimos los informes que mencionaban o representaban diferentes tipos de violencia (balas perdidas, violencia en las barriadas, robo con violencia y uso de armas), y cabe destacar a tres jóvenes, todas ellas mujeres, que retrataron formas de violencia contra las mujeres. Este es un problema común en la región donde se encuentra la escuela, con varias denuncias y situaciones que se dan en el barrio. Así, también entendemos que es un problema importante


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    tanto en la realidad cotidiana particular de estos jóvenes como en la realidad brasileña, en un contexto general.


    Figura 1 – Cómic producida por la estudiante Pão de Ló, retratando la violencia contra la mujer


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    Fuente: Elaborada por la joven Pão de Ló (2018)


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  2. Prejuicio: Ocho jóvenes representaron los prejuicios en sus formas más diversas, destacando el racismo, los prejuicios contra los pobres y la homofobia. Cabe destacar que uno de los jóvenes informó específicamente de un caso de acoso escolar. A partir de nuestros análisis, entendemos que este fue el segundo problema social más retratado, porque es una realidad más cercana a los estudiantes. También pensamos que estos problemas sociales están muy presentes y marcados en la sociedad brasileña, reflejándose en la realidad y mentalidad de los jóvenes participantes en la investigación. Un ejemplo de historieta enmarcada en esta categoría fue la producida por el estudiante Yasuo U.F., que retrata la discriminación del diferente y, detalle muy común en las historietas producidas, trae un "final feliz", con el


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    estudiante no sólo exponiendo el problema social elegido, sino también proponiendo soluciones para el mismo (en este caso, el personaje diferente decidió luchar por sus derechos).


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    Figura 2 – Cómic producida por el estudiante Yasuo U.F, retratando el prejuicio


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    Fuente: Elaborada por el joven Yasuo U.F. (2018)


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  3. Otros: En esta categoría tenemos una miscelánea de temas muy interesantes, pero que no encajaban en las otras categorías desarrolladas por nosotros. Fueron seis obras, y los temas son: el abandono de los padres, el maltrato de los animales, la contaminación, el aborto, la prostitución (temas que, en cierto modo, también encajan en alguna categoría de la violencia) y cuestiones políticas de los partidos. Destacamos en esta categoría el trabajo de la alumna Manuela, que habla de la contaminación y de la necesidad de combatirla eliminando correctamente los residuos. Lo interesante es que el foco de las discusiones en clase no eran los problemas ambientales, pero es relevante que el alumno haya sacado ese tema a la luz, ya que también es algo muy presente en la sociedad actual y bastante publicitado, sobre todo con el aumento de la preocupación por la cantidad de residuos producidos anualmente por el hombre y su incorrecto destino.


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    Figura 3 – Cómic producida por la estudiante Manuela, retratando la polución


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    Fuente: Elaborada por la joven Manuela (2018)


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  4. Drogas: tres cómics están en esta categoría porque abordan específicamente el problema de las drogas, también con violencia. Sin embargo, hemos optado por separarlas de la categoría anterior porque se refieren explícitamente al tráfico y al consumo de drogas, aunque impliquen otros problemas, como en el caso de la historieta de Nicão, que muestra a un niño que encuentra oportunidades de vida en el tráfico de drogas.



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    Figura 4 – Cómic producida por el estudiante Nicão, retratando el tráfico de drogas


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    Fuente: Elaborada por el jovem Nicão (2018)


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  5. Trabajo infantil: dos cómics están en esta categoría porque son muy representativos de estos problemas sociales que afectan específicamente a los niños. Representan a niños cuyo sueño es estudiar pero que se ven obligados a trabajar. Uno de ellos contiene un "final feliz" de este niño siendo adoptado y rescatado de su situación:


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    Figura 5 – Cómic producida por la estudiante Izebelly, retratando el trabajo infantil


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    Fuente: Elaborada por la joven Izebelly (2018)


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  6. Desigualdad social: en esta categoría hay dos obras cuyo tema principal es la desigualdad social. Destacamos el trabajo de Ahri. Su autor hace una reflexión sobre los muchos problemas sociales que se dan simultáneamente en nuestro mundo, y termina la narración con una pregunta: "¿Será la salvación el exterminio? Esta posición pesimista, aunque impopular entre la población del estudio, fue demostrada por algunos estudiantes en


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varios momentos a lo largo del estudio, ya sea en el círculo de conversación o en las otras producciones solicitadas.


Figura 6 – Cómic producida por el estudiante Ahri, retratando la desigualdad social


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Fuente: Elaborada por el joven Ahri (2018)


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Señalamos que los cómics elegidos para componer el texto se utilizaron para ejemplificar las categorías a las que pertenecen, y los 30 cómics componen el texto completo de la disertación de máster.



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Consideraciones finales


El objetivo de esta investigación era la posibilidad de utilizar los cómics para discutir el Nuevo Humanismo de Rüsen. Las preguntas que nos planteamos, tal y como presentamos al principio de este texto, fueron: "¿Es posible que los jóvenes estudiantes presenten o desarrollen un sentido de orientación temporal a través de los valores e ideas del Nuevo Humanismo y la defensa de la dignidad humana mediante el contacto con la obra 'Los Miserables'? ¿El formato de cómic de la obra facilitaría la comprensión del contenido y el placer de aprender?". Y concluimos que sí, que es posible - la mayoría de los alumnos demostraron, a través de las actividades propuestas, no sólo estar orientados temporalmente y ser capaces de hacer comparaciones pasado-presente, sino también hacer proyecciones de futuro y analizar su propio presente para pensar y reflexionar sobre los cambios necesarios para que tengamos acciones positivas y beneficiosas para el mundo en el que vivimos.

Sobre el formato, también concluimos que sí: la lectura del cómic, con los recursos visuales y el dinamismo, facilitó la comprensión y la implicación de los alumnos, que participaron activamente en las actividades propuestas. En el estudio exploratorio que realizamos al inicio de la investigación para la elaboración de la tesis, comprobamos que el cómic forma parte de la vida cotidiana de los alumnos, que conocen este soporte y consumen o han consumido cómics de forma significativa. Consideramos que el cómic permite un aprendizaje histórico significativo por parte del alumnado precisamente porque forma parte de su universo cultural (FRONZA, 2009), de modo que, tras años de resistencia hacia el cómic, el entorno educativo ha ido insertando este recurso de forma creciente en la enseñanza y aprendizaje de los más diversos temas en el aula, y no sólo en las clases de Historia.

También destacamos la importancia de la producción del cómic por parte de los alumnos, un ejercicio que les permitió expresar sus ideas históricas en un formato no tan convencional, ya que las clases de historia suelen referirse a la producción de textos escritos.

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Evaluamos que la pertinencia del tema de la investigación permite ampliarla, porque todavía hay mucho que trabajar en relación con el humanismo y con Los Miserables en sí. Comprendemos, como Víctor Hugo, que "en todas partes donde el hombre es ignorante y cae en la desesperación, en todas partes donde la mujer se vende por una barra de pan [...], Los Miserables llaman a la puerta y dicen: 'Abridme, que voy a por vosotros'" (HOVASSE, 2012, p. 47).


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AGRADECIMIENTOS: Agradecemos a CAPES la financiación durante el Máster, permitiendo la preparación de la tesis defendida en 2019.


REFERENCIAS


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Enviado el: 17/12/2019

Revisiones requeridas el: 31/03/2020

Aprobado el: 06/08/2020

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Publicado el: 01/02/2021


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