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dades:
surgimento, nacionalização e indicadores de internacionalização
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação
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UNIVERSIDADES:
SURGIMENTO, NACIONALIZAÇÃO E INDICADORES DE
INTERNACIONALIZAÇÃO
1
UNIVERSIDADES: SURGIMIENTO, NACIONALIZACIÓN E INDICADORES DE
INTERNACIONALIZACIÓN
UNIVERSITIES: EMERGENCE, NATIONALIZATION AND INDICATORS OF
INTERNATIONALIZATION
Iracema C
ampos CUSATI
2
Luciano José VIANNA
3
Paulo César Marques de Andrade SANTOS
4
Rita di Cássia de Oliveira ANGELO
5
Antonio Carrillo AVELAR
6
RESUMO
:
O presente artigo inicia
apresentando a trajetória das Universidades desde o
surgimento no período medieval,
co
m a criação de uma comunidade de
scolares
; passando
pelo fenômeno da nacionalização, com a consequente
perda do seu caráter inicial influenciado
pelas escolas de ofício e posteriormente pela ordem eclesiástica e imperial; abordando nesse
bojo o processo de
estatização a partir da revolução francesa. A universidade brasileira,
fortemente influenciada até a década de 1970 pelo modelo europeu, foi impactada pelas
premissas
das reformas
educacionais
e
objetivos delineados para uma estrutura integradora
entre en
sino e pesquisa, que ocorreu de forma mais efetiva a partir da década de 1980,
movimento
apresentado juntamente com as iniciativas de internacionalização da universidade.
Por último, são elencadas as estratégias para o desenvolvimento de um projeto de
inte
rnacionalização das universidades brasileiras no século XXI sob a premissa de que para
conceber a cooperação internacional, como parte integrante das missões institucionais, cabe às
1
“
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
–
Brasil (CAPES)
–
Código de Financiamento 001”
2
Universidade de
Pernambuco (UPE)
,
Petrolina
–
PE
–
B
r
asil
.
Professora Adjunta do Colegiado de Matemática
e Professora Permanente do Programa de Pós
-
Graduação em
Formação de Professores e Práticas
Interdisciplinares (PPGFPPI).
Doutora
do
em
Educação
(USP). ORCID: http
s
://o
r
cid.org/0000
-
0002
-
4812
-
8412.
E
-
mail: iracema.cusati@upe.br
3
Universidade de Pernambuco (UPE),
Petrolina
–
PE
–
B
r
asil
.
Professor Permanente do P
rograma de Pós
-
Graduação em Formação de Professores e Práticas Interdisciplinares (PPGFPPI).
Doutor
ado
em Hist
ó
ria
Medieval pela Universitat Autònoma de Barcelona (UAB). ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
7355
-
7609. E
-
mail:
luciano.vianna@upe.br
4
Universi
dade de Pernambuco (UPE),
Petrolina
–
PE
–
B
r
asil.
Professor Adjunto do Colegiado Pleno de
Pedagogia e Coordena
d
or da Linha de Políticas Educacionais, Formação Docente e Práxis Pedagógica do
Programa de Pós
-
Graduação em Formação de Professores e Práticas I
nterdisciplinares (PPGFPPI).
Doutor
ado
em
Educação
(UFBA). ORCID: https://orcid.org/0000
-
0001
-
5803
-
2388
.
E
-
mail
:
paulo.marques@upe.br
5
Universidade de Pernambuco (UPE),
Serra Talhada
–
PE
–
Basil.
Professora Adjunta no Colegiado de
Medicina.
Doutora
do
em
Neurociências (UFPE). ORCID: https://orcid.org/0000
-
0002
-
1694
-
1927. E
-
mail:
rita.angelo@upe.br
6
Universidad Na
c
i
onal Autónoma de México (UNAM), Cidade do México
–
México. Professor do Programa de
Pós
-
Graduação em Pedagogia (UNAM), Professor e pesquisador
do Programa de Pós
-
Graduação da Universidad
Pedagógica Nacional (UPN) e Professor Visitante do Programa de Pós
-
G
r
aduação Interdisciplinar em Direitos
Humanos (
UFG).
Pós
-
doutor
ado
em Educação
(USP)
. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
5654
-
0650
. Email:
anton
iocarrillobr@hotmail.com
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universidades a criação de mecanismos e estruturas apropriadas para promov
er a
internacionalização como um dos pressupostos indicativos desse direcionamento.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Internacionalização. Educação superior. Experiências
interinstitucionais.
RESUMEN
: Este artículo se inicia presentando la trayectoria de las Universidad
es desde el
surgimiento en el período medieval, con la creación de una comunidad de
e
scolares; pasando
por el fenómeno de la nacionalización, con la consecuente pérdida de su carácter inicial
influenciado por las escuelas de oficio y posteriormente por el
orden eclesiástica e imperial;
abordando en este
ámbito
el proceso de estatización a partir de la revolución francesa. La
universidad brasileña, fuertemente influenciada hasta la década de 1970 por el modelo
europeo,
ha sido
impactada por las premisas de l
as reformas educacionales y objetivos
delineados para una estructura integradora entre enseñanza e investigación, que ocurrió de
forma más efectiva a partir de la década de 1980, se presentan juntamente con las iniciativas
de internacionalización de la uni
versidad. Por último,
se
enumeran
las estrategias para el
desarrollo de un proyecto de internacionalización de las universidades brasileñas en el siglo
XXI
,
bajo la premisa de que para concebir la cooperación internacional, como parte
integrante de las
mis
iones institucionales, cabe a las universidades la creación de
mecanismos y estructuras apropiadas para promover la internacionalización como uno de los
supuestos indicativos de este direccionamiento.
PALABRAS
CLAVE
:
Internacionalización. Educación super
ior. Experiencias
interinstitucionales.
ABSTRACT
:
This article begins by presenting the trajectory of universities since the
emergence in the medieval period, with the creation of a community of students; passing
through the phenomenon of nationalization
, with the consequent loss of its initial character
influenced by the schools of craft and later by the ecclesiastical and imperial order;
addressing in this bulge the process of nationalization in from of the French revolution. The
Brazilian university, s
trongly influenced until the 1970s by the European model, was
impacted by the premises of the educational reforms and objectives outlined for an
integrating structure between teaching and research, which occurred more effectively from
the 1980s, are presen
ted together with the initiatives of the university's internationalization.
Finally, the strategies for the development of a project for the internationalization of
Brazilian universities in the 21st century are listed under the premise that in order to
co
nceive international cooperation, as an integral part of institutional missions, it is up to
universities to create appropriate mechanisms and structures to promote internationalization
as one of the indicative assumptions of this direction.
KEYWORDS
:
Int
ernationalization
.
Higher
e
ducation
.
Interinstitutional
e
xperiences.
Universidades: do surgimento à nacionalização
O século XIII foi um momento crucial na história intelectual do Ocidente medieval,
principalmente pelo surgimento de uma nova forma de
or
ganização social e que serviu para
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romper gradativamente com o pensamento que até então vigorava neste território: as
universidades. Dentre as diversas afirmações que podem ser feitas em relação ao surgimento
destas instituições no período medieval, alg
uma
s são imprescindíveis e devem ser destacadas,
como, por exemplo, sua originalidade na sociedade de então, ser um produto do crescimento
demográfico da época, promover o favorecimento da promoção de uma sociabilidade e o
rompimento de traços até então tr
adi
cionais em termos de organização social com a criação de
uma comunidade de
scolares
, ou seja, formada tanto por professores quanto por alunos. O
surgimento das universidades foi um fenômeno de grande importância, em vários sentidos,
tanto que Rui Afonso
da
Costa Nunes (2018, p. 221), em seu livro
História da Educação na
Idade Média
, ao abordar o capítulo sobre as universidades, deixa claro para o leitor que tal
capítulo é o “ponto culminante” do seu livro.
Nas palavras de Jacques Verger:
Tornar
-
se estud
ant
e: isso significava, no final da Idade Média,
independentemente do estatuto anterior de cada um, aceder a uma condição
privilegiada; significava poder furtar
-
se ao imposto e às formas mais
rigorosas da justiça ordinária, significava poder pleitear deter
min
ados tipos
de proventos (proventos dos benefícios eclesiásticos sem obrigação de
residência), significava tomar assento sob a direta salvaguarda das mais altas
autoridades, laicas ou eclesiásticas, intervindo indiretamente pelos
‘conservadores privilégi
os’
universitários. Antes mesmo de qualquer
obtenção de graus, a mera matrícula universitária já era, de uma certa
maneira, promoção social (VERGER, 1999, p. 100).
Devemos lembrar que o contexto medieval foi um período
em que
não havia a ideia de
igualdad
e s
ocial perante a lei. Para a época, isso era impensável. Assim, o surgimento da
universidade neste período favoreceu a formação de um grupo com condições sociais
privilegiadas, de destaque social, um grupo que seria distinto dentro do corpo social mediev
al
e, nas palavras de Le Goff, cada membro deste grupo se sentia “como um artesão, como um
homem de ofício” (LE GOFF, 2003, p. 87).
Neste sentido, em termos sociais, aos poucos foi se formando um grupo com uma
prática cultural distinta, em diversos termos:
en
sino com base na utilização de autoridades,
uso exclusivo do latim e um procedimento pedagógico essencialmente oral e repetitivo.
Ademais, também mantinham uma singular autonomia, com estatutos próprios, regras de
cooperação mútua e organização autônoma
de
suas atividades.
Gradativamente, o campo do saber tornou
-
se um
lócus
de formação profissional e
destacou na sociedade a figura do intelectual no contexto universitário, como podemos ver
nas palavras de Verger sobre a Paris do século XIII:
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NNA; Paulo César Marques de Andrade SANTOS; Rita di Cássia de Oliveira
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Paris tornou
-
se
, verdadeiramente, no século XIII, um foco maior de debate
intelectual e de renovação das ideias. Centenas de jovens clérigos foram ali
formados nas técnicas mais refinadas do trabalho intelectual, segundo
métodos seguros. Evidentemente, este trabalho i
nte
lectual comportava regras
às vezes rígidas,
[
...
]
, mas a qualidade do ensino universitário parisiense
levou a se fazer progressos decisivos em direção à autonomia, para não se
dizer, à profissionalização, da cultura erudita. A figura ainda um pouco vaga
da
s pessoas de saber passou a estar associada a um tipo social bem preciso e
excepcionalmente prestigioso, o doutor. Compreender
-
se que a Universidade
de Paris tenha se tornado então um modelo que se procuraria imitar e
reproduzir em toda a parte em que s
e f
izesse sentir a aspiração a uma
semelhante promoção da cultura (VERGER, 2001, p. 208)
.
Neste sentido, a importância do século XIII para o Ocidente medieval é destacada com
base no surgimento de novos grupos sociais, dentre os quais o universitário, for
mad
o tanto
por professores quanto por alunos, os quais cada vez mais seriam vinculados como
pertencentes a uma cultura identificada como erudita.
Entretanto, embora tenham surgido em espacialidades distantes uma das outras, as
universidades medievais desta
car
am
-
se desde o início pelo seu caráter internacional, e isso em
diversos aspectos. Em primeiro lugar, porque as mesmas favoreceram a migração constante
de estudantes entre um território e outro, levando inclusive a formar, no contexto da época,
grupos qu
e e
ram denominados “nações”, ou seja, a formação de grupos que estudavam em um
território de indivíduos oriundos do mesmo contexto territorial, fato que se refletia no
contexto universitário (PEDRERO
-
SÁNCHEZ, 2000, p. 185). Em segundo lugar, porque
muitas
vez
es os professores também não eram originários do território da universidade, o que
implica também em uma movimentação por parte do corpo docente destas instituições (LE
GOFF, 2003, p. 101).
Ademais, deve
-
se destacar também a utilização da língua latina
na
s aulas, a qual foi
utilizada para fazer veicular as informações referente aos estudos, principalmente em um
contexto no qual as línguas vulgares estavam cada vez mais se destacando (VERGER, 2002,
p. 580). Neste sentido, a formação da universidade medie
val
já apresenta uma característica
que vemos hoje nas universidades atuais, e, dessa forma, sua formação pode ser caracterizada
como dinâmica em termos sociais.
A criação das universidades obedeceu basicamente a dois contextos. Um primeiro,
chamado
ex
-
con
sue
tudine
, referia
-
se à junção a partir de centros de estudos já existentes
anteriormente, geralmente formado
s
pela reunião de professores. Neste caso, as universidades
eram organismos autônomos de natureza de caráter corporativo, eram reconhecidas pelas
i
nst
ituições eclesiásticas e laicas e tinham autonomia em relação ao ensino, aos programas das
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disciplinas,
à
duração dos estudos, modalidades de exames, entre outros (VERGER, 1999, p.
82). É necessário destacar que este modelo de formação universitária cor
res
pondia a um
desejo de organização autônoma de uma comunidade de mestres e estudantes, apresentando
-
se como outro ofício urbano qualquer (BASCHET, 2006, p. 214). O segundo contexto,
surgido posteriormente, chamado
ex
-
privilegio
, era uma criação universit
ári
a concedida pelo
poder estatal (NUNES, 2018, p. 230). Assim, com o passar dos séculos, cada vez mais
ocorreu a associação entre o mundo universitário e outro fenômeno que estava se formando
neste mesmo contexto: a formação estatal.
Em termos de formaçã
o d
o estado durante o Medievo, o século XIII apresenta o que
seria o quarto estágio da formação estatal de acordo com Genet, aquele que seria, inclusive, o
anterior ao estado absolutista. Cada vez mais havia uma centralização de poder, a criação de
grupos
bur
ocráticos, uma padronização das cobranças de impostos em relação à sociedade
e
uma padronização em termos de relação da sociedade com o rei, na figura do súdito (GENET,
2002, p. 405
-
408). Afonso X, rei de Castela entre os anos 1252 e 1284, conhecido com
o o
Sábio pelo seu envolvimento com atividades intelectuais no século XIII, nos apresenta esta
divisão:
Um estudo é uma associação de mestres e de escolares feita num
determinado lugar com a vontade e a intenção de aprender os saberes. E dele
existem duas
mo
dalidades: uma é a que chamam “estudo geral”, onde há
mestres das artes, assim como de gramática, de lógica, de retórica, de
aritmética, de geometria, e de astrologia, e outrossim em que há mestres de
decretos e senhores de leis (mestres de direito civi
l);
este estudo deve ser
estabelecido por mandado de papa, de imperador ou de rei. A segunda
modalidade é a que chamam “estudo particular”, quer dizer, quando um
mestre ensina nalguma cidade, apartadamente, a poucos escolares. E este,
pode mandá
-
lo fazer o
pr
elado ou conselho de qualquer lugar (PEDRERO
-
SÁNCHEZ, 2000, p. 182).
O primeiro exemplo apresentado no fragmento acima, que na verdade surgiu depois do
segundo, é o momento no qual a universidade passa a ser um assunto político, vinculado a
uma iniciat
iva
de criação política. Dessa forma, a associação dos termos intelecto
–
poder foi
um fenômeno que envolveu o contexto universitário cada vez mais a partir do século XIV,
integrando
-
se à dinâmica estatal de cada território. Se em um primeiro momento as
un
ive
rsidades foram criadas a partir de uma criação já anterior (
ex
-
consuetudine
),
posteriormente, cada vez mais as mesmas foram incorporadas ao contexto estatal (
ex
-
privilegio
), e foram utilizadas como instrumentos para fortalecer o poder dos estados então
nas
centes e cada vez mais burocráticos no final do período medieval. Cada vez mais, portanto,
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NNA; Paulo César Marques de Andrade SANTOS; Rita di Cássia de Oliveira
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iniciou
-
se um fenômeno que conhecemos como a nacionalização das universidades, cujo
primeiro exemplo foi Praga (LE GOFF, 2003, p. 177
-
178).
Uma das primeiras cons
equ
ências desta nacionalização foi a perda do seu caráter
internacional, onde aspectos nacionais ou até mesmo regionais assumiram um destaque em
comparação com aspectos internacionais, onde a iniciativa da criação está a cargo de
soberanos e de papas. Dent
re
as universidades deste calado, podem ser citadas, por exemplo:
Salamanca, entre 1220 e 1230; Lisboa (1290); Coimbra (1290); Lérida (1300); Praga (1347);
Perpignan (1350); Huesca (1354); Colônia (1388); Barcelona (1450); Friburgo
-
em
-
Brisgau
(1455
-
1456);
Bas
ileia (1459), entre outras (LE GOFF, 2003, p. 169
-
170).
A iniciativa real em relação à fundação das universidades estava vinculada a questões
políticas do território, tais como o seu próprio desenvolvimento, o benefício favorecido aos
súditos e a tenta
tiv
a de evitar a participação de políticos estrangeiros (NUNES, 2018, p. 231).
Porém, se o século XIII foi o século de ouro das universidades com a constituição das mais
importantes, como Paris, Salamanca e Oxford (NUNES, 2018, p. 231), nos séculos seguint
es
elas começaram a perder as suas características iniciais, ou seja, perda da autonomia inicial
em detrimento da centralização feita pelo Estado, e a perda do caráter internacional com a
criação de diversas outras universidades em diversos territórios (NU
NES
, 2018, p. 250). E foi
justamente neste contexto que as universidades começaram a estabelecer cada vez mais uma
relação de poder com o
E
stado da época, como podemos observar nas palavras de Le Goff:
No final da Idade Média as grandes universidades se c
onv
ertem em
potências políticas, desempenham um papel ativo, às vezes de primeiro
plano, nas lutas entre os estados, são o teatro de violência e crise que opõem
as ‘nações’ inspiradas a partir de então por um sentimento nacional e se
integram, por fim, nas
no
vas estruturas nacionais dos estados (LE GOFF,
20
03
, p. 132).
Em termos gerais, pode
-
se afirmar que a partir do século XIV cada vez mais as
universidades se direcionaram para ser um importante instrumento de poder por parte do
papado e das monarquias,
com
a formação de profissionais para atuarem no âmbito do poder
na origem do
E
stado laico na Baixa Idade Média. Sua autonomia inicial foi gradativamente
sendo englobada pelos
E
stados que estavam surgindo, e cada vez mais passaram a ser
instrumentos naciona
is
dos novos territórios em formação. Entretanto, dois fenômenos em
relação ao mundo universitário, que surgiram no contexto medieval
,
iriam continuar nos
séculos seguintes: a migração de estudantes e a expansão das universidades.
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9
A migração de estudantes
e
a expansão da universidade
A migração de estudantes é um fenômeno iniciado com as primeiras escolas
filosóficas do século III (A.C), como
a
Hekadimia
de Platão na cidade de Atenas. Embora
sem essas mesmas características, a academia universitária da ida
d
e média contou como
marco importante para o desenvolvimento das instituições universitárias a migração de
estudantes e professores. Conhecidas no século XII por Studium Generale (Estudos Gerais),
essas instituições tinham como objetivo, além de formar clé
r
igos para defesa da fé católica,
contribuir para formação dos filhos dos nobres. Com o passar dos anos os
Studium Generale
passaram a ser chamados de
Universitas Studii ou Magistrorum et Scolarium
.
Para Jaques Verger (1990), a palavra
Studium
significava
l
ugar onde os alunos
estudavam, um tipo de estabelecimento de Ensino Superior onde se reuniam os aprendizes e
mestres. E
universitas
o nome da organização corporativa responsável pela manutenção e
administração do
studium
. Para a legislação em vigor, signi
f
icava qualquer tipo de
comunidade ou corporação.
Provavelmente, as primeiras relações didáticas estabelecidas nesses tipos de
associações tenham sido semelhantes às das corporações de ofício onde eram comuns o
compartilhamento dos conhecimentos técnicos,
p
rofissionais e a prática de atividades de
manutenção e proteção da corporação. Pela necessidade de uma sistematização dos conteúdos
trabalhados nasce o currículo como instrumento que produz a formação esperada pela
sociedade.
O currículo era composto por
a
tividades instrumentais e práticas oriundas do
college
.
As atividades instrumentais eram compostas pelo conjunto de três (
triviun) ramos
do
conhecimento (disciplinas): gramática, retórica e dialética. E as atividades práticas de quatro
(
cuandriviu
) ramos
d
o conhecimento (disciplinas): Astronomia, Geometria, Aritmética e
Música. No exercício comum e diário dessas corporações, os alunos eram conduzidos ao
exercício de uma
“
mentalidade laica, técnica e racionalista
”
(CAMBI, 1999, p.
174
-
175).
Até meados do sé
c
ulo XIV as universidades e faculdades funcionavam em casas
alugadas, conventos e igrejas. Por vezes, nos conflitos com as autoridades locais, os
professores e alunos ameaçavam migrar para outra região. A partir do final do século XIV, a
Universidade de Pa
r
is começou a fixar o seu funcionamento com a aquisição de prédios e
edifícios. No século XV
,
o mesmo passou a ocorrer com outras universidades.
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10
Por volta de 1500, tanto as novas universidades como as velhas possuíam
edifícios acadêmicos apropriados
-
sal
a
s de aulas, salas de reuniões, uma
capela, uma ou mais bibliotecas, alojamentos para estudantes e professores.
[...] agora, as universidades já não podiam ameaçar com a migração, nem as
autoridades tolerar greves ou secessões (GIEYSZTOR, 2000, p. 135
-
138)
.
Por volta dos anos 1500, em quase todas as regiões da Europa já havia uma
Universidade; como os currículos eram semelhantes, era muito comum estudantes migrarem
de uma região para outra, por exemplo, saírem da Universidade de Coimbra em Portugal para
es
t
udarem
em
Oxford na Inglaterra ou o estudante sair de Salamanca, na Espanha, para
estudar em Toulouse, na França. Por conta das distâncias, mesmo entre regiões contíguas
como Espanha e França, os estudantes se deslocavam de uma para outra com a finalidade
de
ali permanecerem. Os mais afortunados eram mantidos a expensas de suas famílias e os
menos afortunados trabalhavam para custear seus estudos. Essas migrações eram comuns e
constantes em todo o período medieval.
Segundo Santos (2014, p. 90)
,
com o passa
r
do tempo, as cidades onde essas
Universidades foram estabelecidas passaram a ser conhecidas como cidades universitárias,
que se beneficiavam tanto com a mobilidade quanto com a migração de estudantes. A
migração e a mobilidade eram estimuladas por dois f
a
tores: as aulas nas universidades eram
em latim e os graus eram os mesmos em todas as universidades. Um estudante geralmente
iniciava seus estudos em uma universidade perto de sua residência e poderia concluí
-
los em
outra mais distante.
No fim da Idade Mé
d
ia a Europa já contava com 60 universidades estruturadas nas
denominadas cidades universitárias. Com o Renascimento, esse número cresceu rapidamente
,
chegando a 143 em 1790. Mas, apesar do aumento no número de instituições, isso não
impediu que as grandes
cidades e capitais como Londres, Amsterdam, Anvers, Bruxelas,
Rouem, Lyon, Madrid, Milan, Berlin, Saint
-
Pétersbourg perdessem o controle político e
financeiro sobre elas (CHARLE
;
VERGER, 2012, p. 48).
Com as grandes navegações, os hispânicos levaram para
s
uas colônias o modelo de
educação superior europeia. Entre os anos de 1511 a 1609, foram criadas nas colônias
espanholas 16 universidades. Entre 1677 e 1791, muitas dessas universidades serviram de
cenários para criação de outras e extinção de outras tant
a
s.
Nesse mesmo período, surgem as primeiras universidades fora da Europa,
principalmente nas colônias da América do Norte e na América Latina. Em paralelo a esse
movimento expansionista surge um novo modelo de universidade, com uma estrutura
administrati
v
a diferente, concepção de ensino, tipologia e metodologias diferentes da
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Univer
s
i
dades:
surgimento, nacionalização e indicadores de internacionalização
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 3
-
19, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
D
OI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13354
11
desenvolvida no período medieval, mas adaptada à ideologia dominante dos grupos que
deram origem a essas instituições.
Um dos fatores marcantes na vida dos estudantes migrantes é que
quando se tornam
egressos das universidades estrangeiras, uma grande parte não retorna mais para os países de
origem
,
sendo inseridos no mercado de trabalho do país de destino. O que não acontece na
grande maioria dos estudantes em mobilidade acadêmica in
t
ernacional
:
No in
í
cio do século XIV, havia 301 médicos registrados em França; destes,
57,8% tinham estudado em Paris, 35,2% em Montpelllier, 2,7% noutras
faculdades de medicina francesas e 4,3% no estrangeiro. No final do século
XV, num total de 436 médi
c
os, os alumni de Montpellier formavam apenas
16,3% do total e os de Paris 47,5%; outras universidades de França, então,
27,6% e as faculdades estrangeiras 8,5%. Paris
-
e Montpellier ainda mais
-
perderam terreno para Caen, Toulose e Avanhão, ou para Perp
i
nhão, Cahors,
Angers, Dôle, Nantes, Poitiers, Bordéus e Borges. Os diplomados pelas
universidades
estrangeiras eram quase todos estrangeiros que, depois de