image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
341
DIFICULDADES DE LEITURA, ESCRITA E NUMERAMENTO NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR:
DISCUSSÕES ACERCA D
A REPRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES
SOCIAIS
DIFICULTADES DE LECTURA, ESCRITURA Y NUMERACIÓN EN LA
ENSE
ÑANZA
SUPERIOR: DISCUSIONES SOBRE LA REPRODUCCIÓN DE DESIGUALDADES
SOC
IALES
DIFFICULTIES IN READING, WRITING AND NUMBERING IN HIGHER
EDUCATION: DISCUSSIONS ABOUT THE REPRODUCTION OF SOCIAL
INEQUALITIES
Lais DONIDA
1
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
2
RESUMO
:
Este artigo objetiva compreender como as desigualdades socia
is originam
dificuldades de leitura, escrita, aritmética e como essas questões de ordem social são
transformadas em supostos diagnósticos clínico
-
biológicos em estudantes da Educação
Superior. Os contornos metodológicos envolvem um estudo de caso de uma es
tudante
encaminhada para a clínica fonoaudiológica para avaliação clínica. Os dados demonstram que
as dificuldades acadêmicas da universitária são consideradas como “alterações de cunho
patológico”
por que refletem mecanismos de manutenção e reprodução de
desigualdades
sociais. A Universidade, por sua vez, não consegue fazer com que o apoio pedagógico
institucional dê conta das dificuldades da acadêmica, devido às especificidades do curso de
graduação. A partir disso, conclui
-
se que um possível caminho a se
r construído no contexto
da Educação Superior seja (trans)formar os cursos a partir da perspectiva do Desenho
Universal para a Aprendizagem (DUA).
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Matemática. Escrita. Leitura. Letramento. Universidade.
RESUMEN
:
Este artículo tiene como
objetivo comprender cómo las desigualdades sociales
causan dificultades en la lectura, la escritura, la aritmética y cómo estos problemas sociales
se transforman en supuestos diagnósticos clínico
-
biológicos en estudiantes de
Enseñanza
Superior. Los esquem
as metodológicos implican un estudio de caso de un estudiante referido
a la clínica de logopedia para evaluación clínica. Los datos demuestran que las dificultades
académicas
se consideran “
altera
ciones de naturaleza patológica”
porque reflejan
mecanismos
de mantenimiento y reproducción de las desigualdades sociales. La Universidad,
por su parte, no puede hacer que el apoyo pedagógico institucional tenga en cuenta las
dificultades académicas, debido a las especificidades del curso de pregrado. A partir de e
sto,
se concluye que un posible camino a construir en el contexto de l
a Enseñanza Superior es
(trans)
formar los cursos desde la perspectiva del Diseño Universal para el Aprendizaje
(DUA).
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brasil. Doutoranda no Programa de Pós
-
graduação em Linguística. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0003
-
3508
-
7030. E
-
mail: lais.doni
da@gmail.com
2
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis
–
SC
–
Brasil. Docente do Centro de
Educação à Distância (CEAD).
Doutorado em Engenharia Química
(
UFSC
). ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
1427
-
1445
.
E
-
mail: soeli.francisca@ud
esc.br
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
342
PALA
BRAS
CLAVE
:
Matemática
s
.
Escrit
ura
. Le
c
tura.
Literacidad
. Univer
sidad.
ABSTRACT
:
This article aims to understand how social inequalities cause difficulties in
reading, writing, arithmetic and how these social issues are transformed into supposed
clinical
-
biological diagnoses in higher education students. The methodol
ogical outlines
involve a case study of a student referred to the speech therapy clinic for clinical evaluation.
The data demonstrate that the academic difficulties of university student’s are considered
“alterations of a pathological nature” because they
reflect mechanisms of maintenance and
reproduction of social inequalities. The University, for its part, is unable to make the
institutional pedagogical support account for the academic difficulties, due to the specificities
of the undergraduate course. Fr
om this, it is concluded that a possible path to be built in the
context of Higher Education is to (trans) form the courses from the perspective of Universal
Design for Learning (DUA).
KEYWORDS
:
Mathematics. Writing. Reading. Literacy.
University.
Intr
odução
As exigências no domínio de práticas de letramentos nas sociedades grafocêntricas
também em constante modificação, uma vez que acompanham esse desenvolvimento
econômico
-
político e social (NORONHA, 2019). Com os avanços científico
-
tecnológicos que
e
stão ocorrendo em nossa sociedade, o domínio da leitura, da escrita e da aritmética se tornam
fatores que influenciam os indicadores considerados como determinantes no desenvolvimento
ou não de uma nação (UNESCO, 2016).
Dessa forma, há preocupação em quan
tificar os domínios funcionais de práticas de
leitura, escrita e numeramento
por parte de organizações e instituições nacionais e
internacionais, as quais promovem discussões acerca da alfabetização e suas expressões
sociais (CAVACO, 2008; RODRIGUES, 2014)
. Os censos do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), através da Pesquisa Nacional a Domicílio (PNAD), indicam
que o Brasil vem reduzindo os índices de analfabetismo da população com 15 anos ou mais.
Ao longo dos últimos anos, houve reduçã
o significativa, demonstrando que passou de 12,4%,
em 2001, para 8,7%, em 2012 (IBGE, 2012). Mas os dados ainda não são satisfatórios, pois
revelam que ainda há 13,2 milhões de analfabetos no país (BRASIL, 2014). E, apesar dos
avanços, as diferenças educac
ionais ainda são significativas se comparadas entre as regiões do
país, refletindo as diferenças socioeconômicas (IBGE, 2012).
Atualmente, os dois principais indicadores nacionais em que observam dados
relacionados à universitários são: o Indicador de Ana
lfabetismo Funcional (INAF), visa
analisar os domínios funcionais da população brasileira em termos de leitura, escrita e
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
343
numeramento; e o Indicador de Letramento Científico (ILC), que objetiva “determinar
diferentes níveis de domínio das habilidades de le
tramento no uso da linguagem e dos
conceitos do campo da ciência no cotidiano dos brasileiros” (IBLC, 2018, p. 5).
Segundo o INAF (2018), o índice de pessoas entre 15 a 64 anos funcionalmente
alfabetizadas é elevado (71%), contudo, apenas 12% da população
é considerada plenamente
alfabetizada. Além disso, na Universidade, embora 96% dos acadêmicos sejam considerados
alfabetizados funcionalmente, somente 34% dos estudantes alcançaram o nível proficiente, ou
seja, dominam as práticas de leitura, escrita e nu
meramento exigidas pelo nível de
escolaridade. Segundo o ILC (2018), apenas 5% da população brasileira possui letramento
científico proficiente. E, com relação à Educação Superior, somente 23% dos acadêmicos
alcança o nível de proficiência.
A partir desse
contexto, políticas públicas de acesso (BRASIL, 2007; 2010; 2012),
bem como as Políticas Públicas de Inclusão na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL,
2008), procurou
-
se democratizar o acesso à formação de nível superior a um segmento
populacional ex
tensivo que antes não tinha oportunidade de ingressar e permanecer nesse
segmento educacional. Assim, embora a última década tenha sido marcada pela ampliação e
expansão de cursos e instituições de Educação Superior e por mudanças nas formas de
ingresso, s
e antes apenas uma minoria conseguia adentrar nesse nível de ensino, agora há um
contingente de estudantes, com trajetórias educacionais e condições socioeconômicas
distintas, o que modificou o perfil das Universidades.
Por conseguinte, observam
-
se dificu
ldades que até pouco tempo quase não eram
notadas: dificuldades em aritmética, falta de conhecimento prévio sobre os conteúdos, poucas
práticas de leitura, escrita e numeramento, dificuldades com gêneros acadêmicos (resumos,
relatórios, Trabalhos de Conclu
são de Curso etc.) , questões econômicas e culturais que
influenciam na permanência nas instituições. Ademais, as instituições de ensino evidenciam
ações a partir da preocupação em atender as pessoas público
-
alvo da Educação Especial e
aquelas com diagnóst
icos antes negligenciados, tais como os Transtornos Específicos de
Aprendizagem.
Na literatura da área médica, evidenciada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais (DSM
-
V) (APA, 2014), os “Transtornos de Aprendizagem” são uma
categoria
de diagnóstico clínico que descrevem os processos diagnósticos e de intervenção em
três principais alterações linguístico
-
cognitivas: a dificuldade com ênfase na escrita (disgrafia,
disortografia), a dificuldade com ênfase na leitura (dislexia), e a dific
uldade com ênfase na
aritmética (a discalculia). Para que esses diagnósticos sejam afirmados pelos profissionais
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
344
competentes, há a necessidade de descartar uma série de fatores: má alfabetização; problemas
familiares, emocionais e de saúde; alterações cogn
itivo
-
linguísticas (como outras
deficiências); além de realizar intervenção terapêutica intensiva sem haver qualquer evolução
na aprendizagem.
Essas alterações, por sua vez, são compreendidas como um “público oculto” nas
instituições educacionais, e são d
efinidas dentro de outra grande categoria, os chamados
Transtornos Funcionais Específicos (doravante TFE). Estes não são compreendidos como
público
-
alvo da Educação Especial, mas possuem especificidades que não são contempladas
dentro de ações instituciona
is para promoção de práticas de Letramentos. Os TFE, portanto,
compreendem pessoas com dislexia, disortografia, disgrafia, discalculia, transtorno de
processamento auditivo (central)
–
TPAC, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
-
TDAH, transto
rno desafiador
-
opositor
–
TOD (
DONIDA
, 2018).
Apesar das especificações descritas na literatura, se vê que muitos diagnósticos
acabam sendo banalizados devido a não compreensão acerca de aspectos sociais que
influenciam nas práticas de Letramentos e també
m na aprendizagem escolar formal dos
indivíduos em nossa sociedade. O que se observa são diagnósticos que se constroem
socialmente a partir de discursos (de professores, de colegas, de familiares) dentro das
instituições de ensino e que se voltam à justifi
car dificuldades que seriam “individuais”, bem
como justificam o “fracasso” do estudante perante o “não
-
aprender” (ELIASSEN, 2018).
Assim, problemas oriundos de desigualdades sociais, de diferenças individuais, de
normatização da heterogeneidade humana, sã
o definidos, classificados, rotulados, medicados
e "remediados" no contexto das definições das
illnesses
(enfermidades, doenças).
Essa temática traz à tona importante discussão acerca de termos como sucesso e
fracasso acadêmico, em que estudantes com difi
culdades de leitura, escrita e numeramento
que ingressam na Educação Superior e acabam sofrendo um processo de “exclusão”, pois
ainda se encontram poucas ações no meio acadêmico que apoiem estes estudantes (
DONIDA
;
SANTANA, 2019
).
Observa
-
se também que asp
ectos teórico
-
epistemológicos têm sido pouco
discutidos, tais como o impacto das práticas de letramentos na construção das dificuldades
acadêmicas.
As práticas de leitura, escrita e oralidade são discutidas por Street (2014), que as
define como práticas s
ociais de letramentos. Para o autor, as práticas sociais de utilização da
leitura, da escrita e da oralidade são múltiplos e dependem do contexto histórico e cultural,
bem como da observação de como as pessoas os utilizam em determinado contexto. Ou seja,
não há uma prática social que se sobreponha às demais. Segundo Donida et.al. (2019), as
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
345
práticas de letramentos envolveriam também práticas de sinalização, ou seja, há o
reconhecimento das práticas sociais em línguas de sinais em paralelo com as práticas d
e
oralidade em nossa sociedade. Essas práticas sociais, portanto, são práticas funcionais para os
sujeitos, o que se afasta do conceito de funcionalidade utilizada pelos indicadores nacionais
de alfabetização funcional, por exemplo.
Nesse sentido, as prát
icas de numeramento
s
também são compreendidas como aquelas
que são contextualizadas a partir de um momento histórico, definido dentro de determinada
cultura, como uma manifestação desta, trazendo à tona todos os artefatos histórico
-
culturais
de determinada
comunidade. O
s
numeramento
s
são os usos e expressões sociais dessas
práticas que se utilizam de outros signos para expressar os atos em sociedade (SILVA, 2012;
D’AMBRÓSIO, 2018). A partir do exposto, o reconhecimento das práticas sociais de leitura,
escri
ta, oralidade/sinalização e numeramento são importantes fontes de pesquisa para se
observar as dificuldades apres
e
ntadas por escolares ou acadêmicos
e que revelam estratégias
de ensino e aprendizagem insuficientes para alcançar as exigências esperadas pela
s
instituições educacionais.
A partir do exposto, o presente estudo objetiva responder a alguns questionamentos,
como: As dificuldades educacionais são percalços que acompanham os participantes desde a
escola ou surgiram após o ingresso na Universidade? Qu
ais eram as práticas de
l
etramentos e
numeramentos antes do ingresso na instituição de Educação Superior? E após? Como a
família se organizava quanto às práticas sociais de leitura, escrita, aritmética e oralidade? A
partir do exposto, o objetivo desta pes
quisa é compreender como as desigualdades sociais
originam dificuldades de leitura, escrita, aritmética e oralidade e como essas questões de
ordem social são transformadas em supostos diagnósticos clínico
-
biológicos em estudantes da
Educação Superior.
Co
ntornos metodológicos
Esta pesquisa é um estudo de caso envolvendo uma estudante universitária que buscou
a Clínica Escola de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Santa Catarina a partir do
encaminhamento de outros profissionais da saúde para realiza
ção de avaliação
fonoaudiológica devido a dificuldades acadêmicas. Suas queixas para o encaminhamento
referiam
-
se a um suposto diagnóstico de discalculia, em que ela reverbera em seus
enunciados:
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
346
Em anatomia eu quase reprovei por que a gente tem anatomia
dental, que é
por número. Na hora da prova você pega o dente e diz que número que é. E
várias vezes eu escrevi ao contrário: se era 16 eu escrevi 61. Eu fazia essa
inversão, mas na hora que eu escrevia eu via certo. Não sei até que ponto
isso é nervosismo
ou é um problema. E eu percebo que eu tinha muitos
problemas assim com números, de inverter, fazer isso com frequência,
quando eu trabalhei em consultório odontológico e a gente tinha que
organizar as pastas pelos números dos prontuários [...]. Por exempl
o, a
parte de [anatomia]de coração, eu troco muito direita e esquerda [...].
A partir disso, foi realizada uma investigação minuciosa com a estudante, através dos
seguintes instrumentos: i) Entrevista semi
-
direcionada; ii) Utilização do Questionário de
Há
bitos de Leitura e Escrita (desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Linguagem, Cognição e
Educação
-
GELCE, UFSC)
3
; iii) Avaliação clínica fonoaudiológica a partir de uma
perspectiva da Neurolinguística Enunciativo
-
Discursiva (SENHORINI
et al.
,
2016;
SANTANA
; PIMENTEL, 2017).
Foram realizadas: uma sessão para preenchimento conjunto do questionário, com
duração de uma hora; uma sessão para entrevista, com duração de uma hora; duas sessões
para avaliação fonoaudiológica, com duração de uma hora cada. As sessões
foram gravadas
em áudio e transcritas posteriormente. A avaliação fonoaudiológica foi realizada na sala do
GELCE, localizada no Centro de Ciências da Saúde (CCS/UFSC).
Para fins de preservação da identidade da participante, será utilizado o nome fictício
de Alice. A participante assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido inscrito no
Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina (CEP
-
UFSC) sob o nº
55663716.7.0000.0121.
Os dados foram analisados a partir da Sociologia da Edu
cação de Pierre Bourdieu.
Para tanto, esse é u
m movimento que propôs uma teoria praxiológica, um caminho
alternativo, que objetiva analisar como as estruturas sociais externas são internalizadas pelos
sujeitos e por eles representadas e reproduzidas na prá
tica (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2014).
Os conceitos de
capital
que perpassam as obras de Pierre Bourdieu refletem como a
estruturação do capital é diferenciada e tem relação com alguns componentes sociais
específicos. Para tanto, ele define quatro tipos: capital
cultural, o capital social, o capital
econômico e o capital simbólico.
De acordo com Bourdieu (2012), a família é uma instituição que transmite aos
descendentes um certo
capital cultural,
ou seja, todos os bens simbólicos culturais e sociais
que são tran
smitidos são vistos como um capital, que pode ser rentável (ou seja, valorado
3
Este questionário ainda não se encontra publicado e ainda está sendo adequado a partir de pesquisas
desenvolvidas pelo grupo de pesquisa do GELCE.
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
347
socialmente, como ler determinado livro, apreciar determinada obra de arte) ou desprestigiado
(fazer uso de uma determinada prática de leitura, escrita ou numeramento que não são
vistas
por pessoas de classificações socioeconômicas mais elevadas como valorativas)
4
. Um dado
importante sobre um componente específico do capital cultural é a informação que é
repassada sobre a estrutura e o funcionamento dos sistemas de ensino (BOURDIE
U, 2012)
5
.
O
capital social
é descrito como um conjunto de recursos (linguísticos, econômicos,
materiais) que fazem com que pessoas se identifiquem como pertencentes a certo grupo
social, compartilhe certas crenças, atitudes, gostos. O
capital econômico
di
z respeito ao
rendimento financeiro, à rentabilidade do trabalho, das ações no mercado etc. E o
capital
simbólico
, por fim, é traduzido no prestígio social que os sujeitos possuem frente a um
determinado campo e pode fazer uso ou não dos capitais sociais,
econômicos e/ou culturais
(BOURDIEU, 2012).
Dessa forma, se mobiliza aqui uma concepção teórico
-
metodológica que compreende
o sistema educacional como desigual, como reprodutor de estruturas/classificações sociais e
que entende que as formas de socializaç
ão dos sujeitos obedecem a certas regras a depender
do grupo social a que se pertence. Dessa forma, as valorações dadas à educação, o quanto se
investe nela e de que forma isso ocorre sofrerá variações a depender de questões relacionadas
ao capital, seja e
le econômico, cultural, social ou simbólico (BOURDIEU, 2012; 2011[1984];
BOURDIEU; PASSERON, 2014[1964]).
Resultados e discussões
Inicialmente é relevante pontuar que os dados serão aqui apresentados de maneira
sucinta, visto a necessidade de adequação
para a publicação. Portanto, alguns recortes foram
realizados e optou
-
se por revelar e descrever um panorama geral do caso ao leitor. Quanto à
avaliação fonoaudiológica, esta descartou alterações linguístico
-
cognitivas, contudo, forneceu
4
Esse tipo de capital, por sua vez, se manifesta sob outras três f
ormas: o estado incorporado, o es
tado objetivado
e o estado institucionalizado. O primeiro,
o estado incorporado
, diz respeito à
cultura
à qual o sujeito tem sua
socialização logo nos seus primeiros momentos de vida, incorporando
-
se e orientando suas ações
sobre o mundo,
sua língua, seus
conhecimentos, suas ideologias, seus gostos. O
estado objetivado
passa a identificar as posses
materiais, objetificadas, passando a ter um caráter de pertencimento ao sujeito, tais como livros, filmes, quadros,
etc. O
capit
al ou estado institucionalizado
,
por sua vez, refere
-
se à aquisição de certificados ou diplomas
educacionais, conferindo aos detentores e a seus aspirantes, certa valorização ou prestígio
social (BOURDIEU,
2012).
5
Bourdieu (2012) torna
-
se um dos principai
s estudiosos que se propunham a o
bservar como a cultura torna
-
se
um mecanismo de
violência simbólica
, como há a manutenção das desigualdades sociais, principalmente frente
às instituições de ensino, como as lutas entre as classificações sociais ocorrem, de
que forma e porq
ue acontecem
de
determinada forma e não de outra e quais são as estruturas, as disposições, que influenciam os sujeitos/atores
em suas ações sobre o mundo, sobre a constituição dos campos sociais e como estes também orientam suas
práticas.
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
348
subsídios para pen
sar em práticas tanto clínicas quanto educacionais a partir da procura por
esse serviço por universitários com dificuldades. A partir do exposto, será descrito algumas
reflexões acerca do caso aqui pesquisado.
A participante desta pesquisa, Alice, aos 27 a
nos, decidiu ingressar no curso de
Odontologia em uma Universidade federal do sul do Brasil. Acerca de sua história,
resumidamente, a estudante comenta que residia no interior do estado localizado na região sul
do país e teve que se mudar para a capital pa
ra poder estudar.
Sobre a família, Alice menciona que a mãe cursou até a 4ª série (atual 5º ano do
Ensino Fundamental), concluindo posteriormente os estudos através do Ensino de Jovens e
Adultos (EJA). A mãe a acompanhou durante todo o trajeto, sendo que
elas não têm contato
com o pai. Alice também tem dois irmãos mais novos, que decidiram também seguir os
estudos.
A minha mãe sempre me incentivou [a estudar]. As outras pessoas da minha
família... é aquela coisa... não precisa estudar. Por que na minha f
amília,
das pessoas próximas, assim meus primos de primeiro grau, eu sou a
primeira a entrar na faculdade, os outros não quiseram saber de estudar.
Mas o pessoal estava mais preocupado em trabalhar. [...] [Acerca do curso
de EJA]eu lembro que eu ia na esco
la com ela [mãe] por que ela não tinha
com quem me deixar. Daí eu ficava lá na outra salinha, enquanto ela estava
tendo aula. Aí às vezes minha mãe tirava foto e mandava para o grupo [da
família no WhatsApp]. Aí agora ela saiu do grupo por que eles [a famí
lia]
acham que ela quer se aparecer, que não tem necessidade de estudar. A
minha mãe que sempre se esforçou para que eu estudasse por que ela era
empregada doméstica quando era criança e ela também trabalhou em
madeireira. Então ela não queria que eu tives
se essa vida e foi por isso que
a gente saiu de lá [da cidade do interior]. Daí eu fiz meu Ensino Médio em
Curitiba e depois vim para cá.
Alice revela que gosta de ler e não possui dificuldades, mas estas práticas são voltadas
para a diversão/lazer e par
a aprender acerca da religião. Ela afirma que lê materiais
principalmente impressos, sendo os gêneros religiosos e educacionais os mais lidos durante
toda a sua vida. Além disso, outras práticas foram descritas: leitura de panfletos, placas,
revistas infan
tis e ficção científica, poesia, anotações pessoais. Porém, quando as práticas de
leitura se voltam para materiais da área acadêmica, as dificuldades aparecem. A estudante
revela que lê muitas vezes o mesmo excerto de texto, que utiliza estratégias de estu
do como
uso de marca
-
texto, resumos, fichamentos, mas que, mesmo assim, durante as avaliações do
curso, acaba trocando as informações ou percebendo que não compreendeu direito o
conteúdo.
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
349
Durante sua infância, a universitária comenta que havia práticas de
mediação
realizadas pela mãe, ao ler os livros emprestados da escola para ela. A estudante também
comenta que fazia perguntas sobre o significado de palavras e outras questões, mas que, após
ser alfabetizada, passou a estudar sozinha, sem procurar auxílio
de outras pessoas. Quanto às
práticas de escrita, Alice revela não gostar de escrever e suas práticas são restritas a trabalhos
acadêmicos, lembretes pessoais e para enviar alguma mensagem a alguém. Durante a
escolarização, a mãe e o padrasto a auxiliavam
na escrita e nos cálculos matemáticos e ela
também escrevia mais gêneros diversos devido às obrigações acadêmicas.
Após o ingresso na Universidade, contudo, suas práticas se reduziram a atividades
acadêmicas e estudos religiosos. Mas as dificuldades que
ela aponta, dizem respeito à
dificuldade em iniciar a escrita e organizar e finalizar as ideias no texto. Além disso, ouviu
comentários negativos sobre sua escrita, sua letra durante toda a vida, assim como ninguém a
incentiva a escrever.
Acerca das práti
cas de numeramento, Alice comenta que nunca teve dificuldades, uma
vez que seu ensino escolar não “demandava tanto”. Sua procura se revela a partir do fato de
que ela troca a lateralidade de números e isso está se tornando muito problemático em seu
curso:
ela precisa prescrever medicamentos e analisar o número de dentes e, por causa disso,
vêm sofrendo represálias de colegas de curso e docentes. Portanto, surgiu a procura pelo
diagnóstico de “discalculia”, um diagnóstico que, possivelmente, a diferenciaria
e poderia a
auxiliar nas avaliações acadêmicas, retirando o “fardo” de “fracasso” que a rotula até então. O
próprio encaminhamento reforçado por outros profissionais da saúde inculca nela essa ideia
de que suas dificuldades não podem ser “normais”, devem s
er um “problema”. Acerca de suas
dificuldades, ela relata que:
Eu sempre tive dificuldade, eu acho. Eu só percebi na faculdade, por que na
escola era mais fácil. Por que na escola a cobrança era menor. Na escola
tinham muito mais trabalhos, as provas era
m mais fáceis... Tinham matérias
que eu não estudava. Matemática que eu tive problemas assim desde a 8ª
série... Eu nunca entendi direito [matemática], para falar bem a verdade.
No Ensino Médio eu quase não tinha professor, por que era uma escola
pública.
[Na 2ª série do EM] a professora [de matemática] chamou minha
mãe na escola e a professora estava me defendendo para a minha mãe:
‘Não, mas ela é uma boa aluna, ela só tem essa dificuldade. Não briga com
ela, ela senta aqui na frente, ela não fala’. Daí eu
tive que fazer reforço um
tempo. [...] Quando eu voltei para o cursinho, no primeiro dia de aula o
professor deu um cálculo e perguntou: ‘que que tem que fazer aqui?’ e
geral? ‘mmc!’. E eu não lembrava o que era mmc! Sabe, o significado da
palavra mmc, qu
e era mínimo múltiplo comum. E em casa assim o pessoal
não era muito bom em matemática, nem minha mãe não era boa em
matemática e meu padrasto sabia cálculo simples por que ele trabalhava em
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
350
uma rodoviária vendendo passagem. Então não tinha que fazer altos
cálculos assim. Eu não tinha muita ajuda em casa. [...] Português eu era
melhor, mas agora que mudou as regras eu não sei mais escrever.
De acordo com Bourdieu (2012), após o ingresso na Educação Superior, há uma
seleção que é desigual e os “fracassos” e
stariam mais concentrados nos estudantes que não
herdaram o capital cultural exigido pelas instituições educacionais. Assim, se na escola
traçam uma trajetória mediana ou acima da média
–
como no caso aqui descrito, é na
Universidade que as desigualdades s
ociais e a heterogeneidade de transmissão cultural
marcam a distinção entre os acadêmicos. Assim, há a seleção de uma cultura que é
considerada legítima e digna de ser transmitida, reproduzida pela educação, transformando
-
se
em uma moeda de troca que é det
ida e distribuída desigualmente entre as classificações
sociais (LAHIRE, 2008) e servem para a manutenção de privilégios da ordem social.
Portanto, as instituições educacionais (escola, Universidade), passariam a incluir estudantes e
mantê
-
los em seu inter
ior, mesmo que já destinando
-
os ao insucesso. Ou seja, por não
fazerem parte daquela cultura exigida, os estudantes com dificuldades seriam de certo modo
excluídos/marginalizados.
Nesse sentido, compreende
-
se que as práticas de leitura, escrita e numerame
nto a que
a estudante esteve exposta não foram suficientes para prepara
-
la para as exigências
acadêmicas. As mediações reveladas pela participante, principalmente com relação à escrita e
numeramento, revelam
-
se sucintas e escassas. Esses dados podem ser ob
servados também em
outro estudo de
Donida
(2018), que aponta que as práticas de escrita em Universitários que
procuram a clínica fonoaudiológica são incipientes e desconsideradas na academia, uma vez
que a escrita de gêneros específicos dos cursos de gradu
ação são mais priorizados devido ao
novo lugar social que o estudante ocupa. Dessa forma, embora os universitários tenham
práticas de Letramentos diversos, estes não são suficientes para que as dificuldades
relacionadas às diferenças de aporte de capital c
ultural e simbólico, sejam percebidos e
tornem
-
se fatores de distinção, o que, neste caso, foi traduzido como uma possível “alteração
patológica”.
É percebido também que tanto na Universidade como na escola, seriam instituídos
certos domínios simbólicos de
língua(gem) que induziria o professor a avaliar, consciente ou
inconscientemente, o estudante de acordo com seu repertório linguístico, seu
habitus
6
, sua
6
O
conceito de
habitus
é defini
do por Bourdieu (2001, p. 164) como: “Estrutura estruturante que organiza as
práticas e a percepção das práticas
, o
habitus
é também estrutura estruturada: o princípio de divisão em classes
logicas que organiza a percepção
do mundo social e, por sua vez, a
produto da incorporação da div
isão em
classes sociais”
. O autor também menciona que o habitus, como “[n]ecessidade incorporada, convertida em
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
351
postura em sala de aula, sua capacidade de responder ao jogo escolar/universitário. Isso
demonstra qu
e há uma visão de “bom leitor”, “bom escritor” e “bom aluno” como aquele que
domina todas as práticas de leitura e escrita impostas pela academia e detém todos os
conhecimentos necessários para aquele determinado campo (BOURDIEU; PASSERON,
2014[1964]; BOUR
DIEU, 2012)
7
.
Assim, as desigualdades sociais não deixam de marcar as trajetórias acadêmicas desses
estudantes, observadas a partir da diferença de capital cultural (BOURDIEU, 2012;
BOURDIEU; PASSERON 2014[1964]). A
linguagem
como um capital cultural, é r
eafirmada
por Bourdieu (2012) que reitera que aqueles advindos de classificações populares acabam
fracassando nas instituições de ensino, uma vez que não dominam as práticas exigidas nesse
contexto, que requerem uma bagagem cultural diferenciada e um reper
tório linguístico que
não condiz com a realidade daqueles menos desfavorecidos. Isso refletiria na qualidade da
trajetória do estudante, que passa a ter dificuldades também com a linguagem utilizada pelo
professor (BOURDIEU; PASSERON, 2014[1964]). A lingua
gem nesse contexto é vista como
instrumento de dominação cultural e violência simbólica das classes dominantes para com as
classes dominadas. No caso de Alice, essa distinção a coloca em uma situação delicada
perante os professores e colegas:
Até o moment
o era Patologia, mas agora entramos em um assunto que eu
entendo melhor. É que é aquela história... Eu acho que entendi, mas aí na
hora que eu vou estudar parece que não está certo. [...] E quando tem que
decorar muito. Por exemplo, a gente teve uma matéri
a de terapêutica...
Terapêutica eu passei na tampa! Por que terapêutica tinha umas coisas que
era de cálculo de anestésico e eu tinha assistido uma palestra que eu tinha
entendido o cálculo, só que o professor explicou de uma forma diferente e
ele me confu
ndiu muito e daí eu não sei fazer o cálculo que ele falou, eu sei
o cálculo da palestra, que era simples... E a prova dele era de você lembrar
o nome do medicamento... era decoreba mesmo... Tinha o nome do
medicamento e dosagem e era muito medicamento... E
eu não lembrei... E
ele colocou uns remédios que dentista geralmente não usa, aí eu fiquei ‘não
sei’. Ou então eu acertava o medicamento e errava a dosagem. [...] É mais
difícil pedir ajuda para o professor. Às vezes eu peço ajuda para o monitor
disposição geradora de práticas sensatas e de percepções capazes de fornecer sen
tido as práticas engendradas
dess
a forma, o habitus, enquanto disposição geral e transponível, realiza uma aplicação sistemática e universal,
estendida para além dos limites do que foi diretamente adquirido, da necessidade inerente as condições de
aprendiz
agem [...]”
.
7
“[...] o habitus l
inguístico diz respeito ao conjunto de disposições adquiridas ao longo de um processo no qual
se aprende a falar em contextos específicos (com a família, com os amigos, com os superiores e os subalternos,
etc.). Essas dispo
sições levam o agente social a fa
lar de uma determinada maneira (mantendo uma relação
específica com a língua dita padrão e exibindo um certo sotaque, por exemplo). Além disso, tais disposições
constituem
-
se numa das dimensões da hexis corporal, e dizem re
speito também à forma como são ut
ilizadas a
boca, o lábio, o tom de voz, entre outros, nas interações linguísticas, o que implica um estilo, assim como a
apreciação que se faz desse estilo (bonito, feio, elegante, deselegante, feminino, masculino,
etc.)”
(
ALMEIDA
,
2002, p. 19).
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
352
ou para a
lgum colega que entendeu melhor que eu. [...] Tem professor que
parece que intimida você. Assim, se fizer pergunta ele já te olha com uma
cara de ‘você é burro? Você não sabe disso?’. Aconteceu isso com alguns
professores... inclusive aconteceu com um daqu
i e deu muita raiva... por que
eu perguntei assim pra ela e ela falou: ‘Mas você vai pegar paciente e não
vai saber?’. A vontade que eu tive foi de olhar para a cara dela e falar:
‘Mas eu não estou na frente de um paciente, professora. Estou perguntando
pa
ra você!’. [...] A relação com meus colegas... não tem, na real. Na
verdade eu tenho uma amiga, que é a que reprovou comigo... [...] Aí
geralmente nos outros cursos eu não converso com ninguém. A odonto por si
só, quando você reprova, você acaba ficando am
igo de quem reprovou, por
que as pessoas das turmas são muito fechadas, elas já têm os grupos [...] e
dificilmente você consegue se inserir em um grupinho já fechado
.
Os
campos sociais
são abstrações espaciais que definem posições e relações em que
agente
s/sujeitos específicos atuam. Dito isso, compreende
-
se que existem vários campos na
sociedade e eles podem assumir posições hierárquicas nas classificações sociais, de maior ou
menor poder, sendo historicamente construídos e situados (BOURDIEU, 2012). O cu
rso de
Odontologia, por exemplo, ocupa um lugar historicamente construído e demarcado por uma
perspectiva clínico
-
biológica. Logo, a inserção da estudante nesse contexto requer uma
aculturação
. Ou seja, Alice precisa mobilizar estratégias para contornar su
as dificuldades e de
adaptar às exigências do curso. Ocorre que, essas estratégias são recursos aprendidos a partir
da mobilização de certo tipo de capital cultural e simbólico que não lhe foram transmitidos
–
o jogo
de estratégias para se inserir neste ca
mpo social não foi a herança cultural que ela
detém (BOURDIEU, 2012). No tocante aos usos de leitura e escrita, Bourdieu (2011[1984])
ressalta que cada campo universitário determina os valores das práticas de leitura e escrita, os
usos estilísticos mais ou
menos literários, mais ou menos neutros e dotados de rigor técnico e
que também circunscrevem a posição do sujeito no interior desse campo.
O fato é que, os incluídos permanecem por mais tempo nesse sistema, sem, contudo,
poderem ascender socialmente. El
es são os chamados
excluídos em potencial
, ou seja, estão
incluídos em um sistema educacional que tende à excluí
-
los ao passo em que as exigências, os
habitus
, das instituições de educação aproximam
-
se daquele das elites (BOURDIEU, 2001).
Assim, o afastame
nto de práticas de Letramento adotadas pela Universidade daquelas
vivenciadas no contexto familiar e escolar e os modos de reprodução que perpetuam acepções
sobre o
modus operandi
das instituições de ensino, afastam cada vez mais os estudantes que
se sente
m despreparados para essa nova situação de interação e de uso da linguagem
(BOURDIEU; PASSERON, 2014[1964]). É nesse contexto que o sistema educacional
brasileiro também se encontra como reprodutor de desigualdades sociais, mesmo quando, no
seio da Educaçã
o Superior, se discute acerca da inclusão dos “excluídos”.
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
353
Para atender as demandas frente às dificuldades de permanência na instituição e
diminuir a repetência e a evasão, o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES)
orienta que as Universidades
ofereçam apoios pedagógicos (BRASIL, 2010). Essa “solução” é
proposta de modo a diminuir as dificuldades acadêmicas que têm como origem distintas
transmissões de capital cultural desses novos estudantes que adentram na Educação Superior.
Contudo, Alice re
vela que desconhece os trabalhos do apoio pedagógico na instituição em que
frequenta. E mais: reconhece que em seu curso não há apoio “geral” que possa auxiliá
-
la, uma
vez que há especificidades que são próprias deste campo do saber universitário e que não
são
contempladas em oficinas ou extensões gerais voltadas a toda a comunidade acadêmica.
Reitera
-
se que há ações de monitorias em seu curso, contudo, acredita
-
se que quando a
acadêmica se refere a “apoio geral”, ela esteja denotando que as dificuldades ul
trapassam um
caráter puramente pedagógico, obstáculos estes que foram mencionados acima.
Apesar do desconhecimento, a conduta clínica após a avaliação fonoaudiológica foi
encaminhar esta estudante para o apoio pedagógico da instituição, uma vez que suas
d
ificuldades não se enquadravam no escopo de atendimento clínico, disponibilizando
-
se para
ações conjuntas e parcerias com o apoio pedagógico e a coordenação do curso. É relevante
ressaltar que a Fonoaudiologia possui uma especialidade que se incumbe da atu
ação no meio
educacional: a Fonoaudiologia Educacional. Esse profissional pode atuar na Educação
Superior, integrado às equipes institucionais, com o objetivo de propor e desenvolver
estratégias e ações que visam melhorar a qualidade de permanência e de tr
ajetória educacional
dos estudantes, diminuindo a evasão e adequando os processos de ensino e aprendizagem
(
DONIDA
;
SANTANA, 2019
). A instituição à qual a universitária está vinculada, contudo,
não possui um fonoaudiólogo educacional que atue no Apoio Peda
gógico, somente no Núcleo
de Acessibilidade. Apesar disso, acredita
-
se que esse profissional poderia promover ações
situadas que contemplassem as especificidades dos cursos e das dificuldades encontradas no
bojo da presente Universidade (
DONIDA
;
SANTANA, 2
019
).
Nesse sentido, compreende
-
se que para que a educação seja inclusiva, ou seja,
contemple todas as diferenças e a diversidade encontrada no interior nas instituições
educacionais é necessário que novas práticas de ensino e de aprendizagem sejam adotada
s
dentro da instituição. Nesse ínterim, concebe
-
se que o Desenho Universal para a
Aprendizagem (DUA) emerge como um instrumento teórico
-
epistemológico que tem como
objetivo favorecer as oportunidades de aprendizagem para todos, em um processo
colaborativo
de ensino e aprendizagem entre estudantes e educadores. Por meio de estratégias,
práticas e o desenvolvimento de materiais, métodos e avaliações eficientes, oferece aos
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
354
educadores uma proposta inclusiva que potencializa as capacidades e habilidades de cada
educando. Dessa forma, minimiza “as barreiras no percurso acadêmico de estudantes com e
sem deficiência, não hierarquizando ou privilegiando um único modo de aprender e, com isso,
criando ambientes de aprendizagem flexíveis para estudantes e docentes” (BO
CK;
GUESSER; NUERNBERG, 2018, p. 145).
A partir do que propõem Rose e Meyer (2002) acerca dos princípios do DUA, de que
cada estudante possui redes afetivas (“o porquê” aprender), redes de reconhecimento (“o que”
aprender) e redes estratégicas (“como” apre
nder”) próprias (CAST, 2018). Além da produção
de todo o material e ferramentas pedagógicas, o foco da aprendizagem do DUA está no
estudante e no seu processo de aprender, partindo
-
se assim, do desenvolvimento de suas
habilidades tanto coletivamente como i
ndividualmente. Para isso, é preciso que o professor
esteja atento as diferentes necessidades de aprendizagem de cada estudante, entendo
-
os a
partir de uma heterogeneidade de saberes, de experiências e de como pode ampliar esses
conhecimentos que os estuda
ntes trazem para a escola. Deixar os objetivos de aprendizagem
claros, ou seja, do ponto de onde se quer partir para onde se quer chegar, permite gerar uma
expectativa no estudante que ele consiga alcançar esse objetivo a partir das diferentes
estratégias
utilizadas nesse processo (HOLLAND, 2014). Pode
-
se perceber que a participante
da presente pesquisa poderia ter melhorias em seu desempenho acadêmico, a partir do que a
própria menciona:
Ouvindo eu entendo melhor do que só lendo. Eu tenho que ler várias v
ezes a
mesma coisa para entender. Eu tenho que fazer resumos para estudar ou
tem algumas matérias que tem o roteiro. Aí o meu roteiro é todo rabiscado,
por que aí com base no que tenho que estudar, eu acabo escrevendo por
cima, fazendo flechas, passo marca
-
texto, coisas assim. Quando é texto que
o professor passa, eu prefiro imprimir para ler do que no computador, por
que aí eu posso riscar. Durante as aulas, quando tem professor que passa o
material, eu acabo mais ouvindo do que escrevendo. Quando o profes
sor
não disponibiliza, eu acabo escrevendo mais, anotando o que ele falou, para
depois eu poder procurar no livro algo parecido. Quando eu não faço isso,
eu tenho mais dificuldade.
Com uma perspectiva de DUA, poderia ser oferecido aos estudantes melhorias
nos
processos de ensino e aprendizagem, diminuição da evasão nos cursos, aumento da qualidade
na formação, diminuição de problemas emocionais entre os acadêmicos, entre outras.
Contudo, como aponta Noronha (2019), os cursos da saúde ainda estão em fase em
brionária
quando o assunto se refere a mudanças nos currículos e nos processos de ensino e
aprendizagem. Segundo a autora, o Letramento Digital
–
que são práticas de leitura, escrita e
oralidade/sinalização utilizadas e promovidas a partir do advento das T
ecnologias Digitais de
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
355
Comunicação e Informação (TDICs)
–
ainda é pouco explorado. As pesquisas voltadas ao uso
de
l
etramento
s
di
gita
is
(
podcasts
, plataformas
e
-
Learning
,
Youtube
, Realidade Virtual e
Aumentada,
g
amification
, entre outros) também são poucas
e incipientes, revelando até certo
desconhecimento na área da saúde acerca dessa temática.
O fardo, contudo, reside no modo como essas mudanças poderiam ser implementadas
na instituição. Para os docentes que recém ingressaram, há a possibilidade de forma
ção
através de cursos oferecidos pela Universidade. Mas, para muitos, ainda há desconhecimento
e preconceito sobre as dificuldades presentes no ambiente de ensino: mecanismos de
manutenção e de reprodução das desigualdades sociais. Segundo pesquisa de
Sant
ana et.al.
(2017
), há docentes na Educação Superior que acreditam que estudantes público
-
alvo da
Educação Especial ou com Transtornos Funcionais Específicos não deveriam ter acesso aos
cursos de graduação. Ou, ainda, consideram que as dificuldades se restr
ingem à “preguiça”
por parte do acadêmico e que suas práticas, avaliações e metodologias de ensino e
aprendizagem não devem ser modificadas para não ser “privilegiar” um ou outro aluno.
Para observar quais práticas são consideradas importantes em determin
ado contexto e
como se constituem, deve
-
se considerar que há diferentes modos de transmissão cultural, que
há desigualdades sociais e que as diferentes formas de acesso e apropriação da linguagem
escrita podem gerar exclusão do sistema educativo (BOURDIEU,
2012). Assim, quando um
universitário não domina práticas de leitura, escrita, oralidade e numeramento que lhe são
esperadas, pode ser marginalizado e até excluído dentro da instituição. Até porque o próprio
meio acadêmico se configura de acordo com sua e
specificidade e exige domínio de
determinadas práticas em detrimento de outras. O desafio, portanto, é considerar esse perfil e
pensar em estratégias de permanência, de reparação.
Considerações finais
Este trabalho teve como objetivo
compreender como as
desigualdades sociais
originam dificuldades de leitura, escrita, aritmética e oralidade e como essas questões de
ordem social são transformadas em supostos diagnósticos clínico
-
biológicos em estudantes da
Educação Superior. Sabendo
-
se que as dificuldades
são estruturais em nossa sociedade e as
instituições de ensino reproduzem formas de manutenção das desigualdades, este estudo de
caso se propõe a desvelar alguns mecanismos que perpassam a vida acadêmica e que não são
percebidos (ainda) como formas de excl
usão na Universidade.
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
356
A partir disso, o caso da estudante Alice revela que suas dificuldades educacionais se
revelaram como um empecilho aos seus estudos após o ingresso na Educação Superior. A
queixa que justifica seu encaminhamento para uma avaliação fon
oaudiológica clínica refere
-
se a um suposto diagnóstico de “discalculia”. Contudo, após avaliação cuidadosa acerca de
sua trajetória de vida, observou
-
se que suas dificuldades são, antes de tudo, reflexo da
desigualdade social que nosso país ainda enfrenta
: poucas práticas de ensino e aprendizagem
significativas durante o período escolar; falta de professores; déficits de conteúdos escolares
básicos; dificuldades socioeconômicas; distanciamento com o aculturamento das práticas de
Letramentos exigidas na Uni
versidade. É notório, também, que o capital cultural repassado
pela família não foi suficiente para que Alice desenvolvesse estratégias para se inserir no
campo de saber ao qual ingressou: a Odontologia. Com isso, também se revela manutenções
de hierarquia
s de poder simbólico (e de certa forma, de violência simbólica) por parte de
docentes e colegas.
Dessa forma, haveria a necessidade de mudanças nas estruturas estruturantes da
instituição de ensino, as quais sustentam as reproduções de formas de exclusão.
Essas
mudanças poderiam ocorrer a partir da adoção do Desenho Universal para a Aprendizagem
(DUA), em diversos sentidos: partindo do corpo docente do curso para mudanças curriculares,
de ensino e de aprendizagem; da coordenação do curso para reestruturação
curricular e
formação dos docentes; da Universidade, a âmbito institucional, reestruturando currículos,
capacitando os docentes e técnicos, formando novas propostas de ações que atenderiam às
demandas específicas de cada curso, etc. Contudo, sabendo
-
se qu
e a desigualdade social é um
problema estrutural de nossa sociedade, há a necessidade de que novas pesquisas sejam
empreendidas em profundidade para revelar quais são os mecanismos intrínsecos de cada
curso que fazem com que a exclusão de estudantes seja a
lgo ainda vigente.
Assim, compreender e problematizar essas questões na Educação Superior é a
principal contribuição deste trabalho. Não se espera que esse trabalho dê conta de toda a
complexidade desse universo acadêmico, heterogêneo em sua constituição,
mas sim, que ele
forneça subsídios para pesquisas que compreendam que as dificuldades de universitários e
não as reduzir a questões meramente medicalizadoras/biológicas.
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
357
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, A
.
M. Notas sobre a sociologia do poder: a linguagem e o
sistema de ensino.
Horizontes
, Bragança Paulista, v. 20, p. 15
-
30, jan./dez. 2002. Disponível em:
http://www.titosena.faed.udesc.br/Arquivos/Textos_para_aulas/notas_sobre_a_sociologia_do
_poder.pdf.
Acesso em: 15 nov. 2019.
APA. AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIA
TION.
Diagnostic and Statistical Manual of
Mental disorders
-
DSM
-
5
.
5. ed. Washington: American Psychiatric Association, 2014.
BOCK, G
.
L
.
K
.
; GESSER, M
.
; NUERNBERG, A
.
H. O desenho universal para
aprendizagem no acolhimento das expectativas de participa
ntes de cursos de educação a
distância.
Revista Educação Especial
, Santa Maria,
v. 32,
jun. 2019.
DOI:
http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34504
BOURDIEU, P
.
(
Org
).
A Miséria do Mundo
. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.
BOURDIEU, P.
Homo
academicus
. Trad. Ione Ri
beiro Valle; Nilton Valle, Rev. Téc. Maria
Tereza de Queiroz Piacentini. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2011[1984].
BOURDIEU, P.
Escritos de
educação
. 14. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2012.
BOURDIEU, P
.
; PASSERON, J.
Os
herdeiros
: os estudantes e a cultur
a. Florianópolis: Ed.
da UFSC, 2014[1964].
BRASIL.
Decreto n
.
6.096, de 24 de abril de 2007
. Institui O Programa de Apoio A Planos
de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Brasília, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2
007
-
2010/2007/decreto/d6096.htm. Acesso em: 25
nov. 2019.
BRASIL.
Decreto n
.
7.234, de 19 de julho de 2010
. Dispõe Sobre O Programa Nacional de
Assistência Estudantil. Brasília. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007
-
2010/2010/Decret
o/D7234.htm. Acesso em:
17 nov. 2019.
BRASIL.
Lei n
.
12.711, de 29 de agosto de 2012
. Dispõe Sobre O Ingresso nas
Universidades Federais e nas Instituições Federais de Ensino Técnico de Nível Médio e Dá
Outras Providências. Brasília, 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011
-
2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 27
nov. 2019.
IBGE
. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Síntese de
Indicadores 2012
. 2012. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tra
balhoerendimento/pnad2012/default_si
ntese.shtm. Acesso em: 1 nov. 2019.
CAST.
Universal
design for learning
. Guidelines version 2.2, 2018.
Disponível em:
http://udlguidelines.cast.org. Acesso em: 18 dez. 2019.
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
358
CAVACO, C
.
J
.
D.
Adultos pouco escolarizados
diversidade e interdependência de
lógicas de formação
.
2008.
Tese
(
Doutorado
)
–
Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação
,
Universidade de Lisboa
, Lisboa,
2008. Disponível em:
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/972/1/17505_ulsd_re286_TD_Car
men_Cavaco3.pdf.
Acesso em: 12 dez. 2019.
D’AMBROSIO, U. Etnomatemática, justiça social e sustentabilidade.
Estudos Avançados
,
São Paulo, v. 32, n. 94, p. 189
-
204, 2018.
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0103
-
40142018.3294.0014
DONIDA, L
.
O.
Universitários
com
dificuldade de leitura e escrita
: desvelando discursos.
2018. 145 f.
Dissertação
(
Mestrado
em Linguística
)
–
Universidade Federal de Santa Catarina
,
Florianópolis,
2018. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/194394/PLLG0
731
-
D.pdf?sequence=
-
1&isAllowed=y. Acesso em
:
2 mar. 2020.
DONIDA, L
.
O
.
; SANTANA, A
.
P. Apoio Pedagógico como proposta de
educação para
todos.
Educ. Pesqui.
, São Paulo, v.
45, e192527, 2019.
DOI:
https://doi.org/10.1590/s1678
-
4634201945192527
DONIDA
, L
.
O
.
; POTGURSKI, D
.
S
.
; POTTMEIER, S
.
;
ELIASSEN, E
.
S
.
; SANTANA, A
.
P
.
O. Letramentos Digitais:
Mediadores Do Processo De Inclusão Educacional?
In
:
COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO ESCOLAR
,
2019, Florianópolis.
Anais
[.
..]. Campina
s: Galoá, 2019
. Disponível em:
https://proceedings.science/cintedes
-
2019/papers/letramentos
-
digitais
--
mediadores
-
no
-
processo
-
de
-
inclusao
-
educacional
--
?lang=pt
-
br. Acesso em 18 nov. 2019.
ELIASSEN, E
.
S.
A discursivização do diagnóstico da disl
exia
: da teo
ria à prática.
2018.
224 f.
Dissertação
(
Mestrado
em Linguística
)
–
Universidade Federal de Santa Catarina
,
Florianópolis,
2018. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/205753
.
Acesso em 19 dez. 2019.
HOLLAND, B. Desenho un
iversal para
aprendizagem
: u
m guia para o sucesso escolar.
Diversa
, 2014. Disponível em: https://diversa.org.br/artigos/desenho
-
universal
-
para
-
aprendizagem
-
guia
-
sucesso
-
escolar/. Acesso em: 27 mar. 2019.
IBLC. Instituto Brasileiro de Letramento Científico
(Org.).
ILC
-
Indicador de Letramento
Científico
:
Sumário executivo de resultados. 2018. Disponível em:
http://iblc.org.br/wp
-
content/uploads/2018/01/1
-
relatorio
-
executivo
-
ilc
-
fcc.pdf. Acesso em: 23 mar. 2020.
INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, AÇÃO EDUCATIVA.
Inaf Brasil
2018
:
resultados
preliminares. Disponível em: http://acaoeducativa.org.br/wp
-
content/uploads/2018/08/Inaf2018_Relat%C3%B3rioResultados
-
Preliminares_v08Ago2018.pdf. Acesso em: 8 set. 2018.
LAHIRE, B.
Sucesso escolar nos meios populares
: As razõ
es do improv
ável. São Paulo:
Ática, 2008.
NOGUEIRA, M
.
A
.
; NOGUEIRA, C
.
M. M.
Bourdieu & a Educação
. 2. ed. Belo
Horizonte: Atlântica, 2014.
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
3
60, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
359
NORONHA, M
.
G.
O uso de TDICs na prática fonoaudiológica para a linguagem escrita
:
revisão da produção acadêmica
nas revista
s brasileiras de fonoaudiologia.
2019. Monografia
(
Trabalho de Conclusão d
o
Curso
de Fonoaudiologia
)
–
Centro de Ciências da Saúde (CCS)
,
Universidade Federal de Santa Catarina
, Florianópolis,
2019.
OLIVEIRA, A
.
M
.
; ACOSTA, R
.
P. Os gêneros d
o discurso n
a esfera acadêmica:
reverberações dialógicas.
Letras
, Santa Maria
-
RS, n. 58, p. 13
-
36, set. 2019. ISSN 2176
-
1485.
DOI:
https://doi.org/10.5902/2176148534195
RODRIGUES, A. Movimentos escolarizados e não escolarizados: do corpo aluno e suas
estr
atégias de r
esistência.
Revista Contemporânea de Educação
,
v
. 9, n. 18, 2014.
DOI:
https://doi.org/10.20500/rce.v9i18.1858
ROSE, D
.
H
.
; MEYER, A.
Teaching every student in the digital age
:
universal
design for
learnig.
Alexandria, VA: ASCD, 2002. Disponív
el em:
http:
//www.ascd.org/publications/books/101042.aspx. Acesso em: 16 abr. 2019.
SANTANA, A
.
P
.
; DARDE, A
.
O
.
G
.
; SANTOS, K
.
P
.
; DONIDA, L
.
O
.
; POTTMEIER, S.
Educação Superior e recursos de acessibilidade na visão de professores e estudantes.
In
:
LEITE
, L. P.; MAR
TINS, S. E. S. O.; VIELLELA, L. M. (Org.).
Recursos de acessibilidade
aplicados ao ensino superior
. 2
.
ed.
São Paulo
, SP
: Cultura Acadêmica, 2017
.
v. 1
.
p. 133
-
156.
SANTANA, A
.
P
.
; SANTOS, K
.
P
.
A perspectiva enunciativo
-
discursiva de Bakhtin
e a
análise
da linguagem na clínica fonoaudiológica.
Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso
, São
Paulo, v. 12, n. 2, p. 174
-
190, ago. 2017.
DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/2176
-
457327491
SENHORINI, G
.
;
SANTANA, A
.
P
.
O
.
; SANTOS, K
.
P
.
; MASSI, G
.
A. O processo
t
erapêutico n
as afasias: implicações da neurolinguística enunciativo
-
discursiva.
Rev.
CEFAC
, São Paulo, v.
18, n. 1, p. 309
-
322, 2016.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982
-
0216201618117214
STREET, B.
Letramentos
sociais
: abordagens
críticas do letramento
no desenvolv
imento, na
etnografia e na educação.
Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2014.
UNESCO. United Nations Educational Scientific And Cultural Organization (Ed.).
Education
for people and planet
: creating sustainable futures for all
. 2. ed.
P
aris: Unesco
,
2016. 535 p. (Global edu). Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002457/245752e.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2019.
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estud
os em Educação
,
Araraquara, v. 16
, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
360
Como referenciar este artigo
DONIDA, L.; BLANCO, S. F. M. M
.
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento
na
educação
superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades sociais
.
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p.
341
-
360
, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
Subm
etido em:
09
/04/2020
Aprovado em:
19/08/2020
Publicado em:
02/01/2021
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
341
DIFICULTADES DE
LECTURA, ESCRITURA Y NUMERAMIEN
TO EN LA
ENSEÑANZA SUPERIOR: DISCUSIONES SOBRE LA REPRODUCCIÓN DE
DESIGUALDADES SOCIALES
DIFICULDADES DE LEITURA, ESCRITA E NUMERAMENTO NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR:
DISCUSSÕES ACERCA D
A REPRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES
SOCIAIS
DIFFICULTIES IN READING, WRITING AND NUMBERING IN HIGHER
EDUCATION: DISCUSSIONS ABOUT THE REPRODUCTION OF SOCIAL
INEQUALITIES
Lais DONIDA
1
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
2
RESUMEN
: Este artículo tiene como objetivo comprender cómo las des
igualdades sociales
causan dificultades en la lectura, la escritura, la aritmética y cómo estos problemas sociales se
transforman en supuestos diagnósticos clínico
-
biológicos en estudiantes de Enseñanza
Superior. Los esquemas metodológicos implican un estu
dio de caso de un estudiante referido
a la clínica de logopedia para evaluación clínica. Los datos demuestran que las dificultades
académicas se consideran “alteraciones de naturaleza patológica” porque reflejan mecanismos
de mantenimiento y reproducción d
e las desigualdades sociales. La Universidad, por su parte,
no puede hacer que el apoyo pedagógico institucional tenga en cuenta las dificultades
académicas, debido a las especificidades del curso de pregrado. A partir de esto, se concluye
que un posible c
amino a construir en el contexto de la Enseñanza Superior es (trans)formar
los cursos desde la perspectiva del Diseño Universal para el Aprendizaje (DUA).
PALABRAS CLAVE
: Matemáticas. Escritura. Lectura.
Literacidad. Universidad.
RESUMO
:
Este artigo obj
etiva compreender como as desigualdades sociais originam
dificuldades de leitura, escrita, aritmética e como essas questões de ordem social são
transformadas em supostos diagnósticos clínico
-
biológicos em estudantes da Educação
Superior. Os contornos metod
ológicos envolvem um estudo de caso de uma estudante
encaminhada para a clínica fonoaudiológica para avaliação clínica. Os dados demonstram
que as dificuldades acadêmicas da universitária são consideradas como “alterações de
cunho patológico”
por que refle
tem mecanismos de manutenção e reprodução de
desigualdades sociais. A Universidade, por sua vez, não consegue fazer com que o apoio
pedagógico institucional dê conta das dificuldades da acadêmica, devido às especificidades
do curso de graduação. A partir d
isso, conclui
-
se que um possível caminho a ser construído
no contexto da Educação Superior seja (trans)formar os cursos a partir da perspectiva do
Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA).
1
Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brasil. Doutoranda no Programa de Pós
-
graduação em Linguística. ORCID: https://orcid.org/0000
-
0003
-
3508
-
7030. E
-
mail: lais.donida@gmail.com
2
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis
–
SC
–
Brasil. Docente do Centro de
Educação à Distância (CEAD).
Doutorado em Engenharia Química
(
UFSC
). ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
1427
-
1445
. E
-
mail: soeli.francisca@udesc.br
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
342
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Matemática. Escrita. Leitura. Letramento. Univ
ersidade.
ABSTRACT
:
This article aims to understand how social inequalities cause difficulties in
reading, writing, arithmetic and how these social issues are transformed into supposed
clinical
-
biological diagnoses in higher education students. The metho
dological outlines
involve a case study of a student referred to the speech therapy clinic for clinical evaluation.
The data demonstrate that the academic difficulties of university student’s are considered
“alterations of a pathological nature” because th
ey reflect mechanisms of maintenance and
reproduction of social inequalities. The University, for its part, is unable to make the
institutional pedagogical support account for the academic difficulties, due to the specificities
of the undergraduate course.
From this, it is concluded that a possible path to be built in the
context of Higher Education is to (trans) form the courses from the perspective of Universal
Design for Learning (DUA).
KEYWORDS
:
Mathematics. Writing. Reading. Literacy.
University.
I
ntr
oducción
Las exigencias en el
dominio de prácticas de literacidad en las sociedades
grafocéntricas también en constante modificación, dado que acompañan ese desarrollo
económico
-
político y social
(NORONHA, 2019).
Con los avances científico
-
tecnológicos
que
han ocurrido en nuestra sociedad, el dominio de la lectura, de la escritura y de la aritmética se
vuelven factores que influencian los indicadores consideramos como determinantes en el
desarrollo o no de una nación
(UNESCO, 2016).
De esa forma, hay pr
eocupación en
cuantificar los dominios funcionales de prácticas
de lectura, escritura y numeramiento por parte de organizaciones e instituciones nacionales e
internacionales, las cuales promueven discusiones acerca de la alfabetización y sus
expresiones so
ciales (
CAVACO, 2008; RODRIGUES, 2014).
Los censos del Instituto
Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE), a través de la Investigación Nacional a
Domicilio (PNAD), señalan que Brasil ha reducido los índices de analfabetismo de la
población con 15 años
o más. A lo largo de los últimos años, hubo
reducción significativa,
demostrando que pasó de 12,4%, en 2001, para 8,7%, en 2012 (IBGE, 2012). Pero los datos
todavía no son satisfactorios, pues revelan que aún hay 13, 2 millones de analfabetos en el
país (B
RASIL, 2014). Y, a pesar de los avances, las diferencias educacionales todavía son
significativas si comparadas entre las regiones del país, reflejando las diferencias
socioeconómicas (IBGE, 2012).
Actualmente, los dos principales indicadores nacionales e
n que observan datos
relacionados a universitarios son: el Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF), tiene en
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
343
cuenta analizar los dominios funcionales de la población brasileña en términos de lectura,
escritura y numeramiento; y el Indicador de Literaci
dad Científica (ILC), que objetiva
“determinar diferentes niveles de dominio de las habilidades de literacidad en el uso del
lenguaje y de los conceptos del campo de la ciencia en el cotidiano de los brasileños”
(IBLC,
2018, p. 5).
Según el INAF (2018), el
índice de personas entre 15 a 64 años funcionalmente
alfabetizadas es elevado (71%), sin embargo, solo 12% de la población es considerada
plenamente alfabetizada. Además de eso, en la Universidad, aunque 96% de los académicos
sean considerados alfabetizad
os funcionalmente, solo 34% de los estudiantes lograran el nivel
proficiente, es decir, dominan las prácticas de lectura, escritura y numeramiento exigidas por
el nivel de escolaridad. Según el ILC (2018), solo 5% de la población brasileña tiene
literacida
d científica proficiente. Y, con relación a la Enseñanza Superior, solo 23% de los
académicos logra el nivel de
competencia lingüística
.
A partir de ese contexto, políticas públicas de acceso (BRASIL, 2007; 2010; 2012), así
como las Políticas Públicas de
Inclusión en la Perspectiva de la Educación Inclusiva
(BRASIL, 2008), se buscó democratizar el acceso a la formación de nivel superior a un
segmento poblacional extensivo que antes no tenía oportunidad de ingresar y permanecer en
ese segmento educacional.
Así, aunque la última década haya sido marcada por la ampliación
y expansión de cursos e instituciones de Enseñanza Superior y por cambios en las formas de
ingreso, si antes solo una minoría lograba adentrar en ese nivel de enseñanza, ahora hay un
continge
nte de estudiantes, con trayectorias educacionales y condiciones socioeconómicas
distintas, lo que modificó el perfil de las Universidades.
Por consiguiente, se observan dificultades que hasta poco tiempo casi no se notaban:
dificultades en aritmética, fa
lta de conocimiento previo sobre los contenidos, pocas prácticas
de lectura, escritura y numeramiento, dificultades con géneros académicos (resúmenes,
informes, Trabajos de Conclusión de Curso etc.), cuestiones económicas y culturales que
influencian en la
permanencia en las instituciones.
Además, las instituciones de enseñanza
evidencian acciones a partir de la preocupaci
ón en atender las personas público
-
objeto de la
Educación Especial y aquellas con diagnósticos antes
olvidados
, tales como los Trastornos
Específicos de Aprendizaje.
En la literatura del área médica, evidenciada por el Manual Diagnóstico y Estadístico
de Trastornos Mentales (DSM
-
V) (APA, 2014), los “Trastornos de Aprendizaje” son una
categoría de diagnóstico clínico que describen los proce
sos diagnósticos y de intervención en
tres principales alteraciones lingüístico
-
cognitivas: la dificultad con énfasis en la escritura
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
344
(
digrafía
, disortografía), la
dificultad con énfasis en la lectura (dislexia), y la dificultad con
énfasis en la aritmétic
a (la discalculía). Para que esos diagnósticos sean afirmados por los
profesionales competentes, hay la necesidad de descartar una serie de factores: mala
alfabetización; problemas familiares, emocionales y de salud; alteraciones cognitivo
-
lingüísticas (co
mo otras discapacidades); además de realizar intervención terapéutica
intensiva sin haber cualquier evolución en el aprendizaje).
Esas alteraciones, a su vez, se comprenden como un “público oculto” en las
instituciones educacionales, y se definen dentro d
e otra gran categoría, los dichos Trastornos
Funcionales Específicos (de ahora en adelante TFE). Estos no se comprenden
como público
-
objeto de la Educación Especial, pero poseen especificidades que no se contemplan dentro de
acciones institucionales para p
romoción de prácticas de Literacidad. Los TFE, por lo tanto,
comprenden personas con dislexia, disortografía, disgrafía, discalculía, trastorno de
procesamiento auditivo (central)
–
TPAC, trastorno de déficit de atención e hiperactividad
–
TDAH, trastorno
desafiador
-
opositor
–
TOD (DONINA, 2018).
A pesar de las especificaciones descriptas en la literatura, se ve que muchos
diagnósticos
son
banalizados debido a no comprensión acerca de aspectos sociales que
influencian en las prácticas de Literacidad y tamb
ién en el aprendizaje escolar formal de los
individuos en nuestra sociedad. Lo que se observa son diagnósticos que se construyen
socialmente a partir de discursos (de profesores, de colegas, de familiares) dentro de las
instituciones de enseñanza y que se
direccionan a justificar dificultades que serían
“individuales”, así como justifican el “fracaso” del estudiante delante el “no
-
aprender”
(ELIASSEN, 2018).
Así, problemas advenidos de desigualdades sociales, de diferencias
in
di
viduales, de normalización de
la heterogeneidad humana, se definen, clasifican,
juzgan
,
medican y “remedican” en el contexto de las definiciones de las
illnesses
(
enfermedades).
Esa temática plantea la importante discusión acerca de términos como suceso y
fracaso académico, en que
estudiantes con dificultades de lectura, escritura y numeramiento
que ingresan en la Enseñanza Superior y acaban sufriendo un proceso de “exclusión”, pues
todavía se encuentran pocas acciones en el medio académico que apoyen estos estudiantes
(DONIDA; SANT
ANA, 2019).
Se observa también que aspectos teórico
-
epistemológicos han
sido poco discutidos, tales como el impacto de las prácticas de literacidad en la construcción
de las dificultades académicas.
Street (2014) discute l
as prácticas de lectura, escritur
a y oralidad
que las define como
prácticas sociales de literacidad. Para el autor, las prácticas sociales de utilización de la
lectura, de la escritura y de la oralidad son múltiples y dependen del contexto histórico y
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
345
cultural, así como de la observación
de como las personas los utilizan en determinado
contexto.
Es decir, no hay una práctica social que se sobreponga a las demás.
Según Donida
et. al
(2019), las prácticas de literacidad involucrarían también pr
ácticas de señalización, es
decir, hay el recono
cimiento de las prácticas sociales en lenguas de señas en paralelo con las
prácticas de oralidad en nuestra sociedad. Esas prácticas sociales, por lo tanto, son prácticas
funcionales para los sujetos, lo que se aleja del concepto de funcionalidad utilizada
por los
indicadores nacionales de alfabetización funcional, por ejemplo.
En ese sentido, las prácticas de numeramientos también se comprenden como las que
son contextualizadas a partir de un momento histórico, definido dentro de determinada
cultura, como
una manifestación suya, planteando todos los artefactos histórico
-
culturales de
determinada comunidad. Los numeramientos son los usos y expresiones sociales de esas
prácticas que se utilizan de otros signos para expresar los actos en sociedad
(SILVA, 2012
;
D’AMBRÓSIO, 2018).
Ante a lo que se ha expuesto, el reconocimiento de las prácticas
sociales de lectura, escritura, oralidad/señalización y numeramiento son importantes fuentes
de investigación para observarse las dificultades presentadas por escolares o
académicos y
que revelan estrategias de enseñanza y aprendizaje insuficientes para lograr las exigencias
esperadas por las instituciones educacionales.
Frente a lo expuesto, este estudio objetiva responder a algunos cuestionamientos
como: ¿Las dificultad
es educacionales son
percances
que acompañan los participantes desde
la escuela o surgieron tras el ingreso en la Universidad? ¿Cuáles eran las prácticas de
literacidad y numeramientos antes del ingreso en la institución de Enseñanza Superior? ¿Y
después?
¿Cómo se organizaba la familia con relación a las prácticas sociales de lectura,
escritura, aritmética y oralidad? A partir de lo expuesto, el objeto de esta investigación es
comprender cómo las desigualdades sociales originan dificultades de lectura, escr
itura,
aritmética y oralidad y cómo esas cuestiones de orden social se trasforman en supuestos
diagnósticos clínico
-
biológicos en estudiantes de Enseñanza Superior.
Trayectos
metodológicos
Esta investigación es un estudio de caso involucrando una estud
iante universitaria que
buscó la Clínica Escuela de Fonoaudiología de la Universidad Federal de Santa Catarina a
partir del encaminamiento debido a dificultades académicas. Sus quejas
para el
encaminamiento se referían a un supuesto diagnóstico de discalcu
lía, en que ella reverbera en
sus enunciados:
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
346
En anatomía casi reprobé porque tenemos anatomía dental, que es por
número. En el momento de la prueba se toma el diente y se dice qué número
es. Y varias veces lo escribí al revés: si era 16 escribí 61. Hice
esta
inversión, pero cuando lo escribí lo vi bien. No sé hasta qué punto es
nervioso o hasta qué punto es un problema. Y me doy cuenta de que tenía
muchos problemas con los números así, con la inversión, haciéndolo a
menudo, cuando trabajaba en una consul
ta dental y teníamos que organizar
las carpetas por los números de las tablas [...]. Por ejemplo, la parte
[anatómica] del corazón, cambio muy a la derecha y a la izquierda [...].
A partir de eso, se realiz
ó
una investigaci
ón minuciosa con la estudiante,
a través de
los siguientes instrumentos: i) Entrevista semi
-
direccionada; ii) Utilización de la Encuesta de
Hábitos de Lectura y Escritura (desarrollado por el Grupo de Estudio en Lenguaje, Cognición
y Educación
-
GELCE, UFSC)
3
;
iii) Evaluación clínica fo
noaudiológica a partir de una
perspectiva de la Neurolingüística Enunciativo
-
Discursiva
(SENHORINI
et al.,
2016;
SANTANA; PIMENTEL, 2017).
Se realizó: una sesión para
relleno
conjunto de la encuesta, con duración de una hora;
una sesión para entrevista, co
n duración de una hora; dos sesiones para evaluación
fonoaudiológica, con duración de una hora cada. Las sesiones se han grabado en audio y
trascripto posteriormente. La evaluación fonoaudiológica se realizó en el aula del GELCE,
ubicada en el Centro de Ci
encias de la Salud
(CCS/UFSC).
Para fines de preservación de la identidad de la participante, se utilizará el nombre
ficcional de Alice. La participante ha firmado el Término de Consentimiento Libre y Aclarado
inscripto en el Comité de Ética e Investigació
n de la Universidad Federal de Santa Catarina
(
CEP
-
UFSC)
bajo el nº
55663716.7.0000.0121.
Los datos han sido analizados desde la Sociología de la Educación de
Pierre Bourdieu
.
Para ello, ese es un movimiento que propuso una teoría praxiológica, un camino a
lternativo,
que objetiva analizar cómo las estructuras sociales externas se internalizan por los sujetos y
por ellos representadas y reproducidas en la práctica
(NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2014).
Los conceptos de
capital
que atraviesan la obra de
Pierre Bourdieu
reflexionan cómo
la
estructuración del capital se diferencia y tiene relación con algunos componentes sociales
específicos. Para ello, se define cuatro tipos: capital cultural, el capital social, el capital
económico y el capital simbólico.
Acorde con Bor
dieu (2012), la familia es una institución que trasmite a los
descendientes un cierto
capital cultural
, es decir, todos los bienes simbólicos culturales y
3
Esta encuesta todavía no está publicada y todavía se está adecuando a pa
rtir de investigaciones desarrolladas
por el grupo de investigaci
ón del GELCE.
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
347
sociales que se trasmiten son vistos como un capital, que puede ser rentable (es decir,
valorado soci
almente, como leer determinado libro,
apreciar determinada obra de arte) o
desprestigiado (utilizar una determinada práctica de lectura, escritura o numeramiento que no
se ven por personas de clasificaciones socioeconómicas más elevadas como valorativas)
4
.
Un
dato importante sobre un
componente
específico del capital cultural es la información que se
repasa sobre la estructura y el funcionamiento de los sistemas de enseñanza (
BOURDIEU,
2012)
5
.
El
capital social
se describe como un conjunto de recursos (li
ngüísticos, económicos,
materiales) que hacen que personas se identifiquen como pertenecientes a cierto grupo social,
comparte ciertas creencias, actitudes, gustos. El
capital económico
respecta al rendimiento
financiero, a la rentabilidad laboral, de las
acciones en el mercado etc.
Y el
capital simbólico
,
por fin, se traduce en el prestigio social que los sujetos tienen frente a un determinado campo
y puede utilizar de los capitales sociales, econ
ómicos y/o culturales
(BOURDIEU, 2012).
De ese modo, se mo
viliza aquí una concepción teórico
-
metodológica que comprende
el sistema educacional como desigual, como reproductor de estructuras/clasificaciones
sociales y que entiende que las formas de socialización de los sujetos obedecen a ciertas
reglas a depender
del grupo social a que se pertenece. De ese modo, las valoraciones dadas a
la educación, cuánto se invierte en ella y de qué forma eso ocurre sufrirá variaciones a
depender de cuestiones relacionas al capital, ya sea económico, cultural, social o simbólico
(BOURDIEU, 2012; 2011[1984]; BOURDIEU; PASSERON, 2014[1964]).
Resultados y discusion
es
Inicialmente es pertinente señalar que los datos se presentarán aquí de forma sucinta,
dada la necesidad de adecuación para la publicación. Por lo tanto, se hicieron
algunos recortes
y se eligió para revelar y describir una visión general del caso al lector. En cuanto a la
4
Este tipo de capital, a su vez, se manifiesta en otras tres formas: el estado incorporado, el estado objetivo y el
estado institucionalizado. El primero,
el estado incorporad
o
, se refiere a la
cultura
a la que el sujeto tiene su
socialización en los primeros momentos de su vida, incorporándose y guiando sus acciones sobre el mundo, su
lenguaje, sus conocimientos, sus ideologías, sus gustos. El
estado objetivo
comienza a identi
ficar las posesiones
materiales, objetivadas, que tienen un carácter de pertenencia al sujeto, tales como libros, películas, cuadros, etc.
El
estado capital o institucionalizado
, a su vez, se refiere a la adquisición de certificados o diplomas
educativos,
confiriendo a los titulares y a sus aspirantes, un cierto aprecio o prestigio social (BOURDIEU, 2012).
5
Bourdieu (2012) se convierte en uno de los principales estudiosos que se propuso observar cómo la cultura se
convierte en un mecanismo de
violencia sim
bólica
, cómo se mantienen las desigualdades sociales,
especialmente en relación con las instituciones educativas, cómo se producen las luchas entre las clasificaciones
sociales, cómo y por qué se producen de una manera y no de otra, y cuáles son las estruc
turas, las disposiciones,
que influyen en los sujetos/actores en sus acciones sobre el mundo, en la constitución de los campos sociales y
cómo éstas guían también sus prácticas.
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
348
evaluación fonoaudiológica, descartó alteraciones lingüístico
-
cognitivas; sin embargo, aportó
subsidios para pensar en las prácticas tanto clínicas
como educativas a partir de la búsqueda
de este servicio por parte de estudiantes universitarios con dificultades. A partir de lo anterior,
se describirán algunas reflexiones sobre el caso aquí investigado.
La participante de esta investigación, Alice, a
los 27 a
ños, decidió ingresar en la
carrera de Odontología en una Universidad Federal del sur de Brasil. Con relación a su
historia, resumidamente, la estudiante comenta que radicaba en el interior del estado ubicado
en la región sur del país y tuvo que mu
dar para la capital para poder estudiar.
Sobre la familia, Alice menciona que la madre estudió hasta la 4ª serie (actual 5º año
de la Enseñanza Primaria), concluyendo posteriormente los estudios a través de la Enseñanza
de Jóvenes y Adultos (EJA). La madr
e la acompañó durante todo el trayecto, siendo que ellas
no tienen contacto con el padre. Alice también tiene dos hermanos
más pequeños
, que
decidieron seguir los estudios.
Las otras personas de mi familia... es esa cosa... no tienes que estudiar.
Porque
en mi familia, la gente cercana a mí, así que mis primos hermanos,
soy el primero en ir a la universidad, los demás no se preocuparon por
estudiar. Pero los chicos estaban más preocupados por trabajar. [...] [Sobre
el curso de la EJA] Recuerdo que iba a l
a escuela con ella [la madre]
porque no tenía con quién dejarme. Entonces me quedaba en la otra
habitación mientras ella tomaba su clase. Entonces, a veces, mi madre
sacaba una foto y la enviaba al grupo de WhatsApp [de la familia].
Entonces ahora ha dejad
o el grupo porque ellos [la familia] piensan que
quiere aparecer, que no tiene que estudiar. Mi madre, que siempre se
esforzó para que yo estudiara, porque de pequeña era ama de casa y
también trabajaba en la tala de árboles. Así que ella no quería que tuv
iera
esta vida y por eso nos fuimos [del pueblo]. Así que hice el bachillerato en
Curitiba y luego vine aquí.
Alice revela que le gusta leer y no tiene dificultades, pero estas prácticas están
orientadas a la diversión/el ocio y al aprendizaje de la reli
gión. Afirma que lee principalmente
material impreso, siendo los géneros religioso y educativo los más leídos a lo largo de su vida.
Además, se han descrito otras prácticas: lectura de panfletos, placas, revistas infantiles y de
ciencia
,
ficción, poesía, n
otas personales. Sin embargo, cuando las prácticas de lectura se
dirigen a materiales académicos, surgen dificultades. La estudiante revela que suele leer el
mismo fragmento de texto, que utiliza estrategias de estudio como el uso de marcas de texto,
resúm
enes, fichas, pero aun así, durante las evaluaciones del curso, acaba intercambiando
información o dándose cuenta de que no ha comprendido bien el contenido.
Durante la niñez, la universitaria comenta que hab
ía prácticas de mediación realizada
por la madre
, al leer los libros prestados de la escuela para ella. La estudiante también
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
349
comenta que hacia preguntas sobre el significado de palabras y otras cuestiones, pero que, tras
ser alfabetizada, pasó a estudiar sola, sin buscar auxilio de otras personas. Con
relación a las
prácticas de escritura, Alice revela que no le gusta escribir y sus prácticas son restrictas a
trabajos académicos, recordatorios personales y para enviar algún mensaje a alguien. Durante
la escolarización, la madre y el padrastro la auxilia
ban en la escritura y en los cálculos
matemáticos y ella también escribía pero géneros diversos debido a las obligaciones
académicas.
Tras el ingreso en la Universidad, sin embargo, sus prácticas se reducirán las
actividades académicas y estudios religios
os. Pero las dificultades que ella
señala
, respectan a
la dificultad en iniciar la escrita y organizar y finalizar las ideas en el texto. Además de eso,
escuchó comentarios negativos sobre su escritura, su letra durante toda la vida, así como nadie
la ince
ntiva a escribir.
Sobre las prácticas de
numeramiento
, Alice comenta que nunca ha tenido dificultades,
ya que su
enseñanza en la escuela no le “
exigía tanto
”
. Su exigencia se pone de manifiesto en
el hecho de que cambia la lateralidad de los números y es
to se está convirtiendo en algo muy
problemático en su curso: tiene que recetar medicamentos y analizar el número de dientes y,
por ello, ha estado sufriendo represalias de compañeros y profesores. Por ello, ha surgido la
búsqueda del diagnóstico de
“disca
lculia”
, un diagnóstico que posiblemente la diferenciaría y
podría ayudarla en las evaluaci
ones académicas, quitándole la “
carga
” de “fracaso”
que la ha
etiquetado hasta entonces. La propia remisión reforzada por otros profesionales de la salud le
inculca
esta idea de que
sus dificultades no pueden ser “normales”
, deben ser un
“
problema
”
.
Sobre sus dificultades, informa que:
Siempre he tenido dificultades, supongo. Sólo me di cuenta en la
universidad, porque en la escuela era más fácil. Porque en la escuel
a era
menos costoso. En la escuela tenían mucho más trabajo, los exámenes eran
más fáciles... Había asignaturas que yo no estudiaba. Matemáticas he tenido
problemas así desde el 8º grado... A decir verdad, nunca entendí [las
matemáticas]. En el instituto n
o tuve casi ningún profesor, porque era un
colegio público. En el segundo curso de EM] el profesor [de matemáticas]
llamó a mi madre al colegio y el profesor me defendió ante mi madre: 'No,
pero es una buena estudiante, sólo tiene esa dificultad'. No se pe
lea con ella,
se sienta aquí delante, no habla. Así que tuve que hacer de tutor durante un
tiempo. [...] Cuando volví a la escuela, el primer día de clase el profesor
hizo un cálculo y preguntó: '¿Qué tienes que hacer aquí? ¡mmc! ¡Y no podía
recordar lo qu
e era el mmc! Ya sabes, el significado de la palabra mmc, que
era mínimo común múltiple. Y en casa así el personal no era muy bueno en
matemáticas, tampoco mi madre era buena en matemáticas y mi padrastro
sabía cálculo simple porque trabajaba en una estaci
ón de autobuses
vendiendo billetes. Así que no tuve que hacer matemáticas de alto nivel
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
350
como esa. No tenía mucha ayuda en casa. [...]
P
ortugués era mejor, pero
ahora que las reglas han cambiado ya no sé cómo escribir.
Acorde con Bourdieu (2012), tras el i
ngreso en la Ense
ñanza Superior, hay una
selección que es desigual y los “fracasos”
estarían más concentrados en los estudiantes que no
heredaron el capital cultural exigido por las instituciones educacionales. Así, si en la escuela
realizan una trayectori
a mediana o superior a la media
–
como en el caso aquí descripto, es en
la Universidad que las desigualdades sociales y la heterogeneidad de trasmisión cultural
marcan la distinción entre los académicos. Así, hay la selección de una cultura que se
consider
a legítima y digna de trasmitirse, reproducirse por la educación, convirtiéndose en
una moneda de cambio que se detiene y distribuye desigualmente entre las clasificaciones
sociales
(LAHIRE, 2008)
y sirven para la manutención de privilegios del orden socia
l. Por lo
tanto, las instituciones educacionales (escuela, Universidad), pasarían a incluir estudiantes y
mantenerlos en su interior, aunque ya direccionándolos al
fracaso
. Es decir, por no hacer parte
de la cultura exigida, los estudiantes con dificultade
s serían de cierto modo
excluidos
/marginalizados.
En este sentido, se entiende que las prácticas de lectura, escritura y
numeramiento
a las
que estaba expuesta la alumna no eran suficientes para prepararla para las exigencias
académicas. Las mediaciones r
eveladas por el participante, principalmente en relación con la
escritura y la numeración, son sucintas y escasas. Estos datos también se observan en otro
estudio de Donida (2018), que señala que las prácticas de escritura en los estudiantes
universitarios
que acuden a la logopedia son incipientes y no se tienen en cuenta en el ámbito
académico, ya que se prioriza más la escritura de los cursos de pregrado específicos de género
debido al nuevo lugar social que ocupa el estudiante. Así, aunque los universita
rios tengan
prácticas de Letras diferentes, éstas no son suficientes para que las dificultades relacionadas
con las diferencias en la aportación de capital cultural y simbólico se perciban y se conviertan
en factores de distinción, lo que en este caso
se h
a traducido en un posible “cambio
patológico”
.
Se percibe también que en
la Universidad así como en la escuela, serían instituidos
ciertos dominios simbólicos de lengua(je) que indujera al profesor a evaluar, consciente o
inconscientemente, el estudiante a
corde con su repertorio lingüístico, su
habitus
6
,
su postura
6
El concepto de
habitus
es definido por Bourdieu (2001, p. 164) como: "Estruc
tura estructurante que organiza
las prácticas y la percepción de las prácticas, el habitus es también una estructura estructurada: el principio de
división en clases lógicas que organiza la percepción del mundo social y, a su vez, el producto de la
incorpo
ración de la división en clases sociales". La autora también menciona que el habitus, como "[n]ecesidad
incorporada, convertida en disposición generadora de prácticas sensibles y de percepciones capaces de dotar de
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
351
en aula de clase, su capacidad de responder al juego escolar/universitario. Eso demuestra que
hay una visión de “buen lector”, buen escritor” y “buen alumno” como lo que domina todas
las práctica
s de lectura y escritura impuestas por la academia y detiene todos los
conocimientos necesarios para determinado campo
(BOURDIEU; PASSERON, 2014[1964];
BOURDIEU, 2012)
7
.
Así, las desigualdades sociales no dejan de marcar las trayectorias acad
émicas de eso
s
estudiantes, observadas a partir de la diferencia de capital cultural
(BOURDIEU, 2012;
BOURDIEU; PASSERON 2014[1964]).
El
lenguaje
como un capital cultural, se reafirma
por Bourdieu (2012) que reitera que aquellos advenidos de clasificaciones populares a
caban
fracasando en las instituciones de enseñanza, puesto que no dominan las prácticas exigidas en
ese contexto, que requiere una bagaje cultural diferenciada y un repertorio lingüístico que no
tiene relación con la realidad de los menos desfavorecidos.
E
sto se reflejaría en la calidad de
la trayectoria del alumno, que ahora también está luchando con el lenguaje utilizado por el
profesor (BOURDIEU; PASSERON, 2014[1964]). El lenguaje, en este contexto, se considera
un instrumento de dominación cultural y de
violencia simbólica de las clases dominantes
hacia las clases dominadas. En el caso de Alice, esta distinción la coloca en una situación
delicada ante sus profesores y colegas:
Hasta ahora era Patología, pero ahora entramos en un tema que entiendo
mejor.
Es esa historia... Creo que lo entiendo, pero cuando voy a la escuela
no me parece bien. [...] Y cuando tienes que memorizar mucho. Por ejemplo,
tuvimos un curso terapéutico... ¡Terapéutica he pasado no muy bien! Por
que la terapéutica tenía algunas cosas
que eran de cálculo anestésico y yo
había asistido a una conferencia que había entendido el cálculo, solo que el
profesor lo explicaba de una manera diferente y me confundía mucho y
entonces no sé cómo hacer el cálculo que él hablaba, yo sé el cálculo de
la
conferencia, que era simple... Y su prueba fue que recuerdas el nombre de la
medicina... era realmente decoreba... Tenía el nombre de la medicina y la
dosis y era un montón de medicinas... Y no recordaba... Y me puso unos
medicamentos que el dentista no
suele utilizar, entonces me quedé "no sé".
O bien, tomaba la medicina correctamente y se me escapaba la dosis. [...]
Es más difícil pedir ayuda al profesor. A veces pido ayuda para el monitor o
para un colega que entiende mejor que yo. [...] Tienes un pro
fesor que
sentido a las prácticas engendradas de es
te modo, el habitus, como disposición general y transponible, realiza
una aplicación sistemática y universal, extendida más allá de los límites de lo directamente adquirido, de la
necesidad inherente a las condiciones de aprendizaje [...]".
7
"[...] el hab
itus lingüístico se refiere al conjunto de disposiciones adquiridas durante un proceso en el que se
aprende a hablar en contextos específicos (con la familia, los amigos, los superiores y los subordinados, etc.).
Estas disposiciones llevan al agente social
a hablar de una determinada manera (manteniendo una relación
específica con el llamado patrón y mostrando un determinado acento, por ejemplo). Además, tales disposiciones
constituyen una de las dimensiones de la hexis corporal, y también se refieren a la
forma en que se utilizan la
boca, los labios, el tono de voz, entre otros, en las interacciones lingüísticas, lo que implica un estilo, así como la
apreciación que se hace de este estilo (bello, feo, elegante, poco elegante, femenino, masculino, etc.)"
(AL
MEIDA, 2002, p. 19).
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
352
parece intimidarte. Así que si le preguntas, ya te mira con un "¿eres tonto?
¿No lo sabes?'. Me pasó con algunos profesores... incluso me pasó con uno
de aquí y le dio mucha rabia... porque le pregunté así y me dijo: 'Pero te vas
a poner paciente
y no vas a saber...'. Las ganas que tenía eran de mirarla a
la cara y decirle: 'Pero no estoy delante de un paciente, profesor'. Te lo
estoy pidiendo". [...] La relación con mis colegas... no lo hace, realmente.
En realidad tengo un amigo, que es el que m
e reprochó... [...] No suelo
hablar con nadie de otros cursos. El odonto por sí mismo, cuando fracasas,
acabas haciéndote amigo de los que fracasan, porque la gente en las clases
es muy cerrada, ya tienen los grupos [...] y es difícil que encajes en un gru
po
pequeño ya cerrado.
Los
campos sociales
son abstracciones espaciales
que definen posiciones y relaciones
en que agentes/sujetos específicos actúan. Eso dicho, se comprende que
existen varios campos
en la sociedad y ellos pueden asumir posiciones jerárq
uicas en las clasificaciones sociales, de
mayor o menor poder, siendo históricamente construidos y situados
(BOURDIEU, 2012).
El
curso de Odontología, por ejemplo, ocupa un lugar históricamente construido y demarcado
por una perspectiva clínico
-
biológica.
Así, la inserción de la estudiante en ese contexto
requiere una
aculturación
. O sea, Alice necesita movilizar estrategias para contornar sus
dificultades y de adaptarse a las exigencias del curso. Pasa que, esas estrategias son recursos
aprendidos desde la
movilización de cierto tipo de capital cultural y simbólico que no se les
trasmitió
–
el
juego
de estrategias para insertarse en este campo social no fue la herencia
cultural que ella detiene (
BOURDIEU, 2012)
.
En cuanto a los usos de la lectura y la escri
tura,
Bourdieu (2011[1984]) señala que cada campo universitario determina los valores de las
prácticas de lectura y escritura, los usos estilísticos más o menos literarios, más o menos
neutros y técnicamente rigurosos que también circunscriben la posición
del sujeto dentro de
ese campo.
El hecho es que, los inclu
idos permanecen por más tiempo en este sistema, sin, sin
embargo, poder ascender socialmente. Ellos son los dichos
excluidos en potencial
, es decir,
están incluidos en un sistema educacional que tie
nde a excluirlos mientras que las exigencias,
los
habitus
, de las instituciones de educación se acercan de aquél de las élites (
BOURDIEU,
2001).
Así, el alejamiento de prácticas de Literacidad adoptadas por la Universidad de las
vivenciadas en el contexto
familiar y escolar y los modos de reproducción que perpetúan
acepciones sobre el
modus operandi
de las instituciones de enseñanza, alejan cada vez más los
estudiantes que
no
se sienten preparados para esa nueva situación de interacción y de uso del
lenguaj
e
(BOURDIEU; PASSERON, 2014[1964]).
Es en ese contexto que el sistema
educacional brasileño también se encuentra como reproductor de desigualdades sociales,
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
353
aunque cuando, en el centro de la Enseñanza Superior, se discute acerca de la inclusión de los
“exc
luidos”.
Para atender a las demandas delante de las dificultades de permanencia en la
instituci
ón y disminuir la
repetición
y la evasión, el Programa Nacional de Asistencia
Estudiantil (PNAES) orienta que las Universidades ofrezcan apoyos pedagógicos (BRA
SIL,
2010). Esa “solución” es propuesta de modo a
disminuir
las dificultades académicas que
tienen como origen distintas trasmisiones de capital cultural de esos nuevos estudiantes que
entran en la Enseñanza Superior. Sin embargo, Alice revela que desconoc
e los trabajos del
apoyo pedagógico en la institución que frecuenta. Y más: reconoce que en su curso no hay
apoyo “general”
que pueda auxiliarla, dado que hay especificidades que son propias de este
campo del saber universitario y que no se contemplan en t
alleres o extensiones generales
direccionadas a toda la comunidad académica. Se reitera que hay acciones de monitoreo en su
curso, sin embargo, se cree que cuando la académica se refiere a “apoyo general” ella puede
estar denotando que las dificultades sob
repasan un carácter puramente pedagógico, obstáculos
que se mencionó anteriormente.
A pesar del desconocimiento, la conducta clínica tras la evaluación logopédica fue
derivar a esta alumna al apoyo pedagógico de la institución, ya que sus dificultades no
encajaban en el ámbito de la atención clínica, poniéndose a disposición para acciones
conjuntas y colaboraciones con el apoyo pedagógico y la coordinación del curso. Es
importante destacar que la Logopedia tiene una especialidad que se encarga de trabajar
en el
ámbito educativo: la Logopedia Educativa. Este profesional puede desempeñarse en la
Educación Superior, integrado a equipos institucionales, con el objetivo de proponer y
desarrollar estrategias y acciones que apunten a mejorar la calidad de la perma
nencia y la
trayectoria educativa de los estudiantes, reduciendo la evasión y adecuando los procesos de
enseñanza y aprendizaje (DONIDA; SANTANA, 2019). La institución a la que está vinculada
la universidad, sin embargo, no cuenta con un fonoaudiólogo educ
ativo que trabaje en Apoyo
Pedagógico, sólo en el Centro de Accesibilidad. Sin embargo, se considera que este
profesional podría promover acciones que contemplen las especificidades de los cursos y las
dificultades encontradas en la actual Universidad (DON
IDA; SANTANA, 2019).
En este sentido, se entiende que para que la educación sea inclusiva, es decir, que
tenga en cuenta todas las diferencias y la diversidad que se encuentran dentro de las
instituciones educativas, es necesario que se adopten nuevas prác
ticas de enseñanza y
aprendizaje dentro de la institución. Mientras tanto, se concibe que el Diseño Universal para
el Aprendizaje (DUA) surge como un instrumento teórico
-
epistemológico que pretende
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
354
favorecer las oportunidades de aprendizaje para todos, en
un proceso colaborativo de
enseñanza y aprendizaje entre alumnos y educadores. Mediante estrategias, prácticas y el
desarrollo de materiales, métodos y evaluaciones eficaces, ofrece a los educadores una
propuesta inclusiva que potencia las capacidades y ha
bilidades de cada alum
no. De este
modo, se minimizan “
las barreras en el camino académico de los estudiantes con y sin
discapacidad, no priorizando ni privilegiando una única forma de aprender, y creando así
entornos de aprendizaje flexibles para lo
s estud
iantes y los profesores”
(BOCK; GUESSER;
NUERNBERG, 2018, p. 145).
En base a lo que Rose y Meyer (2002) proponen sobre los principios del DUA, que
cada alumno tien
e sus propias redes afectivas (“por qué”
aprender), redes de reconocimiento
(
“
qué
”
aprender)
y redes estratégicas (
“
cómo
”
aprender) (CAST, 2018). Además de la
producción de todo el material y las herramientas pedagógicas, el enfoque del proceso de
aprendizaje del TEA se centra en el alumno y su proceso de aprendizaje, a partir del
desarrollo de su
s habilidades tanto colectivas como individuales. Para ello, el profesor debe
estar atento a las diferentes necesidades de aprendizaje de cada alumno, los entiendo desde
una heterogeneidad de conocimientos, experiencias y cómo ampliar este conocimiento que
los
alumnos traen a la escuela. Dejar claros los objetivos de aprendizaje, es decir, desde dónde se
quiere empezar hasta dónde se quiere llegar, permite generar una expectativa en el alumno de
que será capaz de alcanzar ese objetivo a partir de las difere
ntes estrategias utilizadas en este
proceso (HOLLAND, 2014). Se puede ver que la participante en esta investigación podría
tener mejoras en su rendimiento académico, por lo que ella misma menciona:
Escuchando entiendo mejor que leyendo. Tengo que leer lo
mismo una y
otra vez para entenderlo. Tengo que hacer resúmenes para estudiar o hay
algunos temas que tienen el guión. Entonces mi guión está todo
garabateado, porque en función de lo que tengo que estudiar, acabo
escribiendo encima, haciendo flechas, text
o de marca de paso, cosas así.
Cuando es un texto que pasa el profesor, prefiero imprimirlo para leerlo que
en el ordenador, porque así puedo tacharlo. Durante la clase, cuando el
profesor pasa el material, acabo escuchando más que escribiendo. Cuando
el p
rofesor no lo proporciona, acabo escribiendo más, anotando lo que ha
dicho, para poder buscar en el libro algo parecido.
Cuando no lo hago,
tengo más dificultades.
Con una perspectiva de DUA, podrí
a ofrecerse a los estudiantes mejoras en los
procesos de e
nseñanza y aprendizaje, disminución de la evasión en los cursos, aumento de la
calidad en la formación, disminución de problemas emocionales entre los académicos, entre
otras. Sin embargo, como señala Noronha (2019), las carreras de la salud todavía están
en fase
embrionaria cuando el tema se refiere a cambios en los currículos y en los procesos de
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
355
enseñanza y aprendizaje. Según la autora, la Literacidad Digital
–
que los las prácticas de
lectura, escritura y oralidad/señalización utilizadas y promovidas de
sde el advenimiento de las
Tecnologías Digitales de Comunicación e Información (TDICs)
–
todavía se explora poco.
Las investigaciones direccionadas al uso de literacidades digitales
(
podcasts
, plataformas
e
-
Learning
,
Youtube
, Realidad Virtual y Aumentada,
g
amification
, entre otros)
también son
pocas e incipientes, revelando hasta cierto desconocimiento en el área de salud acerca de este
tema.
Sin embargo, el problema radica en cómo se pueden aplicar estos cambios en la
institución. Para los profesores rec
ién llegados, existe la posibilidad de formarse a través de
los cursos que ofrece la Universidad. Pero para muchos, sigue habiendo ignorancia y
prejuicios sobre las dificultades presentes en el entorno de la enseñanza: mecanismos de
mantenimiento y reprodu
cción de las desigualdades sociales. Según la investigación de
Santana
et.
al
. (2017), hay profesores en la Educación Superior que creen que los alumnos
con Educación Especial o Trastornos Funcionales Específicos no deberían tener acceso a las
carreras de
grado. O bien, consideran que la
s dificultades se limitan a la “pereza”
del
académico y que sus prácticas de enseñanza y aprendizaje, evaluaciones y metodología
s no
deben modificarse para no “privilegiar”
a uno u otro alumno.
Para observar qué prácticas se
consideran importantes en un contexto determinado y
cómo se constituyen, hay que considerar que existen diferentes modos de transmisión cultural,
que hay desigualdades sociales y que las diferentes formas de acceso y apropiación de la
lengua escrita puede
n generar exclusión del sistema educativo (BOURDIEU, 2012). Así,
cuando un estudiante universitario no domina las prácticas de lectura, escritura, oralidad y
numeración que se esperan de él, puede quedar marginado e incluso excluido dentro de la
institució
n. Esto se debe a que el propio entorno académico está configurado según su
especificidad y exige el dominio de ciertas prácticas en detrimento de otras. El reto, por tanto,
es considerar este perfil y pensar en estrategias de permanencia, de reparación.
Consideraciones finales
Este trabajo pretendía comprender cómo las desigualdades sociales dan lugar a
dificultades en la lectura, la escritura, el cálculo y la oralidad y cómo estas cuestiones sociales
se transforman en supuestos diagnósticos clínico
-
bio
lógicos en los estudiantes de educación
superior. Sabiendo que las dificultades son estructurales en nuestra sociedad y que las
instituciones educativas reproducen formas de mantener las desigualdades, este estudio de
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
356
caso se propone desvelar algunos mecan
ismos que impregnan la vida académica y que no se
perciben (todavía) como formas de exclusión en la Universidad.
A partir de esto, el caso de la estudiante Alice revela que sus dificultades educativas
resultaron ser un obstáculo para sus estudios tras su e
ntrada en la Educación Superior. La
queja que justifica su remisión para una evaluación clínica del habla se refiere a un supuesto
diagnóstico de
“
discalculia
”
. Sin embargo, después de una cuidadosa evaluación de su
trayectoria de vida, se observó que sus
dificultades son, sobre todo, un reflejo de la
desigualdad social que aún enfrenta nuestro país: pocas prácticas significativas de enseñanza
y aprendizaje durante el período escolar; falta de profesores; déficit en los contenidos
escolares básicos; dificul
tades socioeconómicas; distancia con la aculturación de las prácticas
de enseñanza requeridas en la Universidad. También se sabe que el capital cultural
transmitido por la familia no fue suficiente para que Alice desarrollara estrategias para
insertarse en
el campo de conocimiento al que ingresó: la Odontología. Esto también revela el
mantenimiento de jerarquías de poder simbólico (y en cierto modo, de violencia simbólica)
por parte de profesores y colegas.
Por lo tanto, sería necesario cambiar las estructu
ras de estructuración de la institución
educativa, que apoyan la reproducción de las formas de exclusión. Estos cambios podrían
producirse a partir de la adopción del Diseño Universal para el Aprendizaje (DUA), de varias
maneras: desde el profesorado del c
urso para los cambios curriculares, de enseñanza y
aprendizaje; desde la coordinación del curso para la reestructuración curricular y la formación
del profesorado; desde la Universidad, a nivel institucional, reestructurando los planes de
estudio, formando
al profesorado y a los técnicos, formando nuevas propuestas de actuación
que respondan a las demandas específicas de cada curso, etc. Sin embargo, sabiendo que la
desigualdad social es un problema estructural de nuestra sociedad, es necesario que se
reali
cen nuevas investigaciones en profundidad para desvelar cuáles son los mecanismos
intrínsecos de cada curso que hacen que la exclusión de los alumnos sea algo todavía vigente.
Por lo tanto, comprender y problematizar estas cuestiones en la Educación Superi
or es
la principal contribución de este trabajo. No se espera que este trabajo dé cuenta de toda la
complejidad de este universo académico, heterogéneo en su constitución, sino que aporte
subsidios para la investigación que comprenda las dificultades de lo
s universitarios y no las
reduzca a cuestiones meramente medicalizadoras/biológicas.
REFERE
NCIAS
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
357
ALMEIDA, A
.
M. Notas sobre a sociologia do poder: a linguagem e o sistema de ensino.
Horizontes
, Bragança Paulista, v. 20, p. 15
-
30, jan./dez. 2002. Disponí
vel em:
http://www.titosena.faed.udesc.br/Arquivos/Textos_para_aulas/notas_sobre_a_sociologia_do
_poder.pdf.
Acesso em: 15 nov. 2019.
APA. AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION.
Diagnostic and Statistical Manual of
Mental disorders
-
DSM
-
5
.
5. ed. Washington: Am
erican Psychiatric Association, 2014.
BOCK, G
.
L
.
K
.
; GESSER, M
.
; NUERNBERG, A
.
H. O desenho universal para
aprendizagem no acolhimento das expectativas de participantes de cursos de educação a
distância.
Revista Educação Especial
, Santa Maria,
v. 32,
jun
. 2019.
DOI:
http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34504
BOURDIEU, P
.
(
Org
).
A Miséria do Mundo
. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.
BOURDIEU, P.
Homo
academicus
. Trad. Ione Ribeiro Valle; Nilton Valle, Rev. Téc. Maria
Tereza de Queiroz Piacentini. Florianópolis: Ed
. da UFSC, 2011[1984].
BOURDIEU, P.
Escritos de
educação
. 14. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2012.
BOURDIEU, P
.
; PASSERON, J.
Os
herdeiros
: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Ed.
da UFSC, 2014[1964].
BRASIL.
Decreto n
.
6.096, de 24 de abril de 20
07
. Institui O Programa de Apoio A Planos
de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Brasília, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007
-
2010/2007/decreto/d6096.htm. Acesso em: 25
nov. 2019.
BRASIL.
Decreto n
.
7.234, de 19
de julho de 2010
. Dispõe Sobre O Programa Nacional de
Assistência Estudantil. Brasília. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007
-
2010/2010/Decreto/D7234.htm. Acesso em:
17 nov. 2019.
BRASIL.
Lei n
.
12.711, de 29 de agosto de 2012
. Dis
põe Sobre O Ingresso nas
Universidades Federais e nas Instituições Federais de Ensino Técnico de Nível Médio e Dá
Outras Providências. Brasília, 2012. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011
-
2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 27
nov.
2019.
IBGE
. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Síntese de
Indicadores 2012
. 2012. Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2012/default_si
ntese.shtm. Acesso em: 1 nov. 2019.
CAST.
Universal
d
esign for learning
. Guidelines version 2.2, 2018.
Disponível em:
http://udlguidelines.cast.org. Acesso em: 18 dez. 2019.
CAVACO, C
.
J
.
D.
Adultos pouco escolarizados diversidade e interdependência de
lógicas de formação
.
2008.
Tese
(
Doutorado
)
–
Faculdade
de Psicologia e de Ciências da
Educação
,
Universidade de Lisboa
, Lisboa,
2008. Disponível em:
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
358
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/972/1/17505_ulsd_re286_TD_Carmen_Cavaco3.pdf.
Acesso em: 12 dez. 2019.
D’AMBROSIO, U. Etnomatemática, justiça social
e sustentabilidade.
Estudos Avançados
,
São Paulo, v. 32, n. 94, p. 189
-
204, 2018.
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0103
-
40142018.3294.0014
DONIDA, L
.
O.
Universitários com
dificuldade de leitura e escrita
: desvelando discursos.
2018. 145 f.
Dissertação
(
Mest
rado
em Linguística
)
–
Universidade Federal de Santa Catarina
,
Florianópolis,
2018. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/194394/PLLG0731
-
D.pdf?sequence=
-
1&isAllowed=y. Acesso em
:
2 mar. 2020.
DONIDA, L
.
O
.
; SANTANA, A
.
P. Apoio Pedagógico como proposta de
educação para
todos.
Educ. Pesqui.
, São Paulo, v.
45, e192527, 2019.
DOI:
https://doi.org/10.1590/s1678
-
4634201945192527
DONIDA, L
.
O
.
; POTGURSKI, D
.
S
.
; POTTMEIER, S
.
;
ELIASSEN, E
.
S
.
; SANTANA, A
.
P
.
O. Letramentos D
igitais:
Mediadores Do Processo De Inclusão Educacional?
In
:
COLÓQUIO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO ESCOLAR
,
2019, Florianópolis.
Anais
[...]. Campinas: Galoá, 2019
. Disponível em:
https://proceedings.science/cintedes
-
2019/papers/letramento
s
-
digitais
--
mediadores
-
no
-
processo
-
de
-
inclusao
-
educacional
--
?lang=pt
-
br. Acesso em 18 nov. 2019.
ELIASSEN, E
.
S.
A discursivização do diagnóstico da dislexia
: da teoria à prática.
2018.
224 f.
Dissertação
(
Mestrado
em Linguística
)
–
Universidade Federal d
e Santa Catarina
,
Florianópolis,
2018. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/205753
.
Acesso em 19 dez. 2019.
HOLLAND, B. Desenho universal para aprendizagem
: u
m guia para o sucesso escolar.
Diversa
, 2014. Disponível em: https://diver
sa.org.br/artigos/desenho
-
universal
-
para
-
aprendizagem
-
guia
-
sucesso
-
escolar/. Acesso em: 27 mar. 2019.
IBLC. Instituto Brasileiro de Letramento Científico (Org.).
ILC
-
Indicador de Letramento
Científico
:
Sumário executivo de resultados. 2018. Disponível e
m:
http://iblc.org.br/wp
-
content/uploads/2018/01/1
-
relatorio
-
executivo
-
ilc
-
fcc.pdf. Acesso em: 23 mar. 2020.
INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, AÇÃO EDUCATIVA.
Inaf Brasil 2018
:
resultados
preliminares. Disponível em: http://acaoeducativa.org.br/wp
-
content/uploa
ds/2018/08/Inaf2018_Relat%C3%B3rioResultados
-
Preliminares_v08Ago2018.pdf. Acesso em: 8 set. 2018.
LAHIRE, B.
Sucesso escolar nos meios populares
: As razões do improvável. São Paulo:
Ática, 2008.
NOGUEIRA, M
.
A
.
; NOGUEIRA, C
.
M. M.
Bourdieu & a Educação
.
2. ed. Belo
Horizonte: Atlântica, 2014.
NORONHA, M
.
G.
O uso de TDICs na prática fonoaudiológica para a linguagem escrita
:
revisão da produção acadêmica nas revistas brasileiras de fonoaudiologia.
2019. Monografia
image/svg+xml
Dificuldades de leitura, escrita e numeramento na educação superior: discussões acerca da reprodução das desigualdades
sociais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360
, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
359
(
Trabalho de Conclusão d
o
Curso
de Fonoa
udiologia
)
–
Centro de Ciências da Saúde (CCS)
,
Universidade Federal de Santa Catarina
, Florianópolis,
2019.
OLIVEIRA, A
.
M
.
; ACOSTA, R
.
P. Os gêneros do discurso na esfera acadêmica:
reverberações dialógicas.
Letras
, Santa Maria
-
RS, n. 58, p. 13
-
36, set
. 2019. ISSN 2176
-
1485.
DOI:
https://doi.org/10.5902/2176148534195
RODRIGUES, A. Movimentos escolarizados e não escolarizados: do corpo aluno e suas
estratégias de resistência.
Revista Contemporânea de Educação
,
v
. 9, n. 18, 2014.
DOI:
https://doi.org/10.
20500/rce.v9i18.1858
ROSE, D
.
H
.
; MEYER, A.
Teaching every student in the digital age
:
universal
design for
learnig.
Alexandria, VA: ASCD, 2002. Disponível em:
http://www.ascd.org/publications/books/101042.aspx. Acesso em: 16 abr. 2019.
SANTANA, A
.
P
.
; D
ARDE, A
.
O
.
G
.
; SANTOS, K
.
P
.
; DONIDA, L
.
O
.
; POTTMEIER, S.
Educação Superior e recursos de acessibilidade na visão de professores e estudantes.
In
:
LEITE, L. P.; MARTINS, S. E. S. O.; VIELLELA, L. M. (Org.).
Recursos de acessibilidade
aplicados ao ensino
superior
. 2
.
ed.
São Paulo
, SP
: Cultura Acadêmica, 2017
.
v. 1
.
p. 133
-
156.
SANTANA, A
.
P
.
; SANTOS, K
.
P
.
A perspectiva enunciativo
-
discursiva de Bakhtin e a
análise da linguagem na clínica fonoaudiológica.
Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso
, São
Paulo, v.
12, n. 2, p. 174
-
190, ago. 2017.
DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/2176
-
457327491
SENHORINI, G
.
;
SANTANA, A
.
P
.
O
.
; SANTOS, K
.
P
.
; MASSI, G
.
A. O processo
terapêutico nas afasias: implicações da neurolinguística enunciativo
-
discursiva.
Rev.
CEFAC
, São Paul
o, v.
18, n. 1, p. 309
-
322, 2016.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982
-
0216201618117214
STREET, B.
Letramentos
sociais
: abordagens
críticas do letramento no desenvolvimento, na
etnografia e na educação.
Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2014.
UNES
CO. United Nations Educational Scientific And Cultural Organization (Ed.).
Education
for people and planet
: creating sustainable futures for all
. 2. ed.
Paris: Unesco,
2016. 535 p. (Global edu). Disponível em:
http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002457/2
45752e.pdf.
Acesso em: 1 nov. 2019.
image/svg+xml
Lais DONIDA e Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos
em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360, jan./mar. 2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
360
Có
mo referenciar este
artículo
DONIDA, L.; BLANCO, S. F. M. M
.
Dificultades de lectura, escritura y numeramiento en la
enseñanza superior: discusiones sobre la reproducción de desigualdades sociales
.
Revista
I
bero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p.
341
-
360
, jan./mar.
2020. e
-
ISSN: 1982
-
5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
Enviado el
:
09/04/2020
Aprobado el
:
19/08/2020
Publicado el
:
02/01/2021
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
341
DIFFICULTIES IN READING, WRITING AND NUMERACY IN HIGHER
EDUCATION: DISCUSSIONS ABOUT THE REPRODUCTION OF SOCIAL
INEQUALITIES
DIFICULDADES DE LEITURA, ESCRITA E NUMERAMENTO NA EDUCAÇÃO
SUPERIOR:
DISCUSSÕES ACERCA D
A REPRODUÇÃO DAS DESIGUALDADES
SOCIAIS
DIFICULTADES DE LECTURA, ESCRITURA Y NUMERACIÓN EN LA
ENSEÑANZA
SUPERIOR: DISCUSIONES SOBRE LA REPRODUCCIÓN DE DESIGUALDADES
SOC
IALES
Lais DONIDA
1
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
2
ABSTRACT
: This article aims to understand how social inequalities cause difficulties in
reading, writing, arithmetic and how these social issues are transformed into supposed
clinical
-
biological diagnoses in higher education students. The methodological outlines
involve a case study of a student referred to the speech therap
ist
for clinical evaluation. The
data demonstrate that the academic difficulties of university students a
re considered
“alterations of a pathological nature” because they reflect mechanisms of maintenance and
reproduction of social inequalities. The University, for its part, is unable to make the
institutional pedagogical support account for the academic diff
iculties, due to the specificities
of the undergraduate course. From this, it is concluded that a possible path to be built in the
context of Higher Education is to (trans)form the courses from the perspective of Universal
Design for Learning (
UDL
).
KEYWO
RDS
: Mathematics. Writing. Reading. Literacy. University.
RESUMO
:
Este artigo objetiva compreender como as desigualdades sociais originam
dificuldades de leitura, escrita, aritmética e como essas questões de ordem social são
transformadas em
supostos diagnósticos clínico
-
biológicos em estudantes da Educação
Superior. Os contornos metodológicos envolvem um estudo de caso de uma estudante
encaminhada para a clínica fonoaudiológica para avaliação clínica. Os dados demonstram
que as dificuldades a
cadêmicas da universitária são consideradas como “alterações de
cunho patológico”
por que refletem mecanismos de manutenção e reprodução de
desigualdades sociais. A Universidade, por sua vez, não consegue fazer com que o apoio
pedagógico institucional dê c
onta das dificuldades da acadêmica, devido às especificidades
do curso de graduação. A partir disso, conclui
-
se que um possível caminho a ser construído
1
Federal University of
Santa Catarina (UFSC), Florianópolis
–
SC
–
Brazil
.
PhD student in the Postgraduate
Program in Linguistics
. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
3508
-
7030. E
-
mail: lais.donida@gmail.com
2
Santa Catarina
State University
(UDESC), Florianópolis
–
SC
–
Brazil
.
Professor at the Distance Education
Center (CEAD). PhD in Chemical Engineering
(UFSC). ORCID: https://orcid.org/000
0
-
0003
-
1427
-
1445.
E
-
mail: soeli.francisca@udesc.br
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
342
no contexto da Educação Superior seja (trans)formar os cursos a partir da perspectiva do
Desenho Univer
sal para a Aprendizagem (DUA).
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Matemática. Escrita. Leitura. Letramento. Universidade.
RESUMEN
:
Este artículo tiene como objetivo comprender cómo las desigualdades sociales
causan dificultades en la lectura, la escritura, la aritmética
y cómo estos problemas sociales
se transforman en supuestos diagnósticos clínico
-
biológicos en estudiantes de
Enseñanza
Superior. Los esquemas metodológicos implican un estudio de caso de un estudiante referido
a la clínica de logopedia para evaluación clí
nica. Los datos demuestran que las dificultades
académicas
se consideran “
altera
ciones de naturaleza patológica”
porque reflejan
mecanismos de mantenimiento y reproducción de las desigualdades sociales. La Universidad,
por su parte, no puede hacer que el a
poyo pedagógico institucional tenga en cuenta las
dificultades académicas, debido a las especificidades del curso de pregrado. A partir de esto,
se concluye que un posible camino a construir en el contexto de l
a Enseñanza Superior es
(trans)
formar los curs
os desde la perspectiva del Diseño Universal para el Aprendizaje
(DUA).
PALA
BRAS
CLAVE
:
Matemática
s
.
Escrit
ura
. Le
c
tura.
Literacidad
. Universidad.
Introdu
ction
The requirements in the field of literacy practices in graphocentric societies are also
constantly changing, since they accompany this economic
-
political and social development
(NORONHA, 2019). With the scientific
-
technological advances that are occurring in our
society, the domain of reading, writing and arithmetic become factors that influe
nce the
indicators considered as determinants in the development or not of a nation (UNESCO, 2016).
Thus, there is concern in quantifying the functional domains of reading, writing and
numeracy practices by national and international organizations and inst
itutions, which
promote discussions about literacy and its social expressions (CAVACO, 2008;
RODRIGUES, 2014). The censuses of the Brazilian Institute of Geography and Statistics
(IBGE
, Portuguese initials
), through the National Household Survey (PNAD
, Por
tuguese
initials
), indicate that Brazil has been reducing the illiteracy rates of the population aged 15 or
over. Over the past few years, there has been a significant reduction, showing that it went
from 12.4% in 2001 to 8.7% in 2012 (IBGE, 2012). But the
data is still not satisfactory, as it
reveals that there are still 13.2 million illiterates in the country (BRASIL, 2014). And despite
the advances, educational differences are still significant when compared between the regions
of the country, reflecting
socioeconomic differences (IBGE, 2012).
Currently, the two main national indicators in which data related to university students
are observed are: the Functional Illiteracy Indicator (INAF
, Portuguese initials
), which aims
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
343
to analyze the
functional domains of the Brazilian population in terms of reading, writing and
numbering; and the Scientific Literacy Indicator (
SLI
), which aims to “determine different
levels of mastery of literacy skills in the use of language and concepts in the field
of science
in the daily lives of Brazilians” (IBLC, 2018, p. 5
, our translation
).
According to INAF (2018), the rate of people aged 15 to 64 who are functionally
literate is high (71%), however, only 12% of the population is considered fully literate. In
addition, at the University, although 96% of academics are considered functionally literate,
only 34% of students have reached the proficient level, that is, they master the reading,
writing and numeracy practices required by the level of education. Accord
ing to the SLI
(2018), only 5% of the Brazilian population has proficient scientific literacy. And, in relation
to Higher Education, only 23% of academics reach the level of proficiency.
From this context, public access policies (BRASIL, 2007; 2010; 2012),
as well as
Public Inclusion Policies in the Inclusive Education Perspective (BRASIL, 2008), sought to
democratize access to higher education to an extensive population segment that previously
had no opportunity to enter and remain in this educational segm
ent. Thus, although the last
decade has been marked by the increase and expansion of courses and institutions of Higher
Education and by changes in the forms of entry, if before only a minority managed to enter
this level of education, there is now a conti
ngent of students, with educational trajectories and
distinct socioeconomic conditions, which modified the profile of Universities.
Consequently, difficulties are observed that until recently were hardly noticed:
difficulties in arithmetic, lack of prior k
nowledge about the contents, few reading, writing and
numeracy practices, difficulties with academic genres (abstracts, reports, final course
assignment etc.), economic and cultural issues that influence permanence in institutions. In
addition, educational
institutions show actions based on the concern to serve the target
audience of Special Education and those with previously neglected diagnoses, such as
Specific Learning Disorders.
In the medical literature, evidenced by the Diagnostic and Statistical Man
ual of Mental
Disorders (DSM
-
V) (APA, 2014), “Learning Disorders” are a category of clinical diagnosis
that describe the diagnostic and intervention processes in three main linguistic
-
cognitive
impairment: difficulty with emphasis on writing (dysgraphia, d
ysortography), difficulty with
emphasis on reading (dyslexia), and difficulty with emphasis on arithmetic (dyscalculia). In
order for these diagnoses to be affirmed by competent professionals, there is a need to rule out
a number of factors: poor literacy;
family, emotional and health problems; cognitive
-
linguistic
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
344
impairments (like other disabilities); in addition to performing intensive therapeutic
intervention without any evolution in learning.
These imparments, in turn, are understood as a “hidden audie
nce” in educational
institutions, and are defined within another large category, the so
-
called Specific Functional
Disorders (hereinafter SFD). These are not understood as the target audience of Special
Education but have specificities that are not conside
red within institutional actions to promote
literacy practices. Therefore, SFD comprise people with dyslexia, dysortography, dysgraphia,
dyscalculia, auditory processing disorder (central)
-
APDC, attention deficit hyperactivity
disorder
-
ADHD, challengin
g
-
opposing disorder
-
COD (DONIDA, 2018).
Despite the specifications described in the literature, it is seen that many diagnoses end
up being trivialized due to the lack of understanding about social aspects that influence the
practices of Literacies and a
lso in the formal school learning of individuals in our society.
What is observed are diagnoses that are socially constructed from discourses (of teachers,
colleagues, family members) within educational institutions and that aim to justify difficulties
tha
t would be “individual”, as well as justify the “failure” of student in the face of “not
learning” (ELIASSEN, 2018). Thus, problems arising from social inequalities, from
individual differences, from the standardization of human heterogeneity, are defined,
classified, labeled, medicated and "remedied" in the context of the definitions of illnesses
(diseases).
This theme brings up an important discussion about terms such as academic success
and failure, in which students with reading, writing and numeracy di
fficulties who enter
Higher Education end up suffering a process of “exclusion”, as there are still few actions in
the academic environment to support these students (DONIDA; SANTANA, 2019). It is also
observed that theoretical
-
epistemological aspects have
been little discussed, such as the
impact of literacy practices in the construction of academic difficulties.
The practices of reading, writing and orality are discussed by Street (2014), who
defines them as social literacy practices. For the author, the
social practices of using reading,
writing and orality are multiple and depend on the historical and cultural context, as well as
on the observation of how people use them in a given context. In other words, there is no
social practice that overlaps the ot
hers. According to Donida
et al
. (2019), literacy practices
would also involve signaling practices, that is, there is recognition of social practices in sign
languages in parallel with orality practices in our society. These social practices,
therefore, are
functional practices for the subjects, which departs from the concept of functionality used by
national indicators of functional literacy, for example.
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
345
In this sense, numeracy practices are also understood as those that are contextualized
fr
om a historical moment, defined within a given culture, as a manifestation of this, bringing
to light all the historical and cultural artifacts of a given community. Numeracy is the social
uses and expressions of these practices that use other signs to exp
ress acts in society (SILVA,
2012; D’AMBRÓSIO, 2018). Based on the above, the recognition of the social practices of
reading, writing, speaking/signaling and numeracy are important sources of research to
observe the difficulties presented by schoolchildren
or academics and that reveal insufficient
teaching and learning strategies to achieve the demands expected by educational institutions.
Based on the above, the present study aims to answer some questions, such as: Are
educational difficulties obstacles th
at accompany participants since school or arose after
entering the University? What were the literacy and numeracy practices before entering the
Higher Education institution? And after? How did the family organize themselves in relation
to the social pract
ices of reading, writing, arithmetic and orality? Based on the above, the
objective of this research is to understand how social inequalities cause difficulties in reading,
writing, arithmetic and orality and how these social issues are transformed into su
pposed
clinical
-
biological diagnoses in higher education students.
Methodological outlines
This research is a case study involving a university student who sought the Speech
Therapy School Clinic of the Federal University of Santa Catarina from the refe
rral of other
health professionals to conduct a speech evaluation due to academic difficulties. Her
complaints for referral referred to an alleged diagnosis of dyscalculia, in which it reverberates
in her statements:
In anatomy I almost failed because we
have dental anatomy, which is by
number. In the test you see a tooth and say what number it is. And several
times I wrote the opposite: if it was 16 I wrote 61. I did this inversion, but
when I wrote it I saw it as if it were correct. I don't know how this
is because
I was tense or how much of a problem it is. And I realize that I had a lot of
problems with numbers, inverting, doing this frequently, when I worked in a
dental office and we had to organize the folders by the numbers on the
medical records [..
.]. For example, the [anatomy] part of the heart, I switch
very right and left [...].
(our translation).
After that, a thorough investigation was carried out with the student, using the
following instruments: i) Semi
-
directed interview; ii) Use of the Reading and Writing Habits
Questionnaire (developed by the Study Group on Language, Cognition and Education
-
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
346
GELCE, UFSC
3
); iii) Speech therapy clinical evaluation from an Enunciative
-
Discursive
Neurolinguistics perspective (SENHORINI
et al
., 2016; SANTANA; PIMENTEL, 2017).
The following were held: one session for jointly completing the
questionnaire, lasting
one hour; an interview session, lasting one hour; two sessions for speech therapy evaluation,
lasting one hour each. The sessions were recorded in audio and later transcribed. The speech
therapy evaluation was carried out in the GELC
E room, located at the Health Sciences Center
(CCS/UFSC).
To preserv
e
the participant's identity, the fictitious name Alice will be used. The
participant signed the Free and Informed Consent Form registered with the Ethics and
Research Committee of the Fed
eral University of Santa Catarina (CEP
-
UFSC) under number
55663716.7.0000.0121.
The data were analyzed based on the Sociology of Education by Pierre Bourdieu.
Therefore, this is a movement that proposed a praxiological theory, an alternative path, which
ai
ms to analyze how the external social structures are internalized by the subjects and
represented and reproduced by them in practice (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2014).
The concepts of
capital
that permeate the works of Pierre Bourdieu reflect how the
structuring
of capital is differentiated and is related to some specific social components. To
this end, it defines four types: cultural capital, social capital, economic capital and symbolic
capital.
According to Bourdieu (2012), the family is an institution that tra
nsmits to the
descendants a certain
cultural capital
, that is, all the cultural and social symbolic goods that
are transmitted are seen as a capital, which can be profitable (that is, valued socially, such as
reading a particular book, appreciating a parti
cular work of art) or discredited (making use of
a particular reading, writing or numeracy practice that are not seen by people of higher
socioeconomic classifications as being valuable
4
). An important data about a specific
component of cultural
capital is the information that is passed on about the structure and
functioning of education systems (BOURDIEU, 2012)
5
.
3
This questionnaire is not yet published and is still being adapted based on research developed by the GELCE
research group.
4
This type of capital, in turn, manifests itself in three other forms: the inc
orporated state, the objectified state
and the institutionalized state. The first, the
incorporated state
, concerns the
culture
to which the subject has
his socialization in his first moments of life, incorporating himself and orienting his actions on the
world, his
language, his knowledge, his ideologies, his tastes. The
objectified state
starts to identify materialized,
objectified possessions, having a character of belonging to the subject, such as books, films, pictures, etc. The
institutionalized capit
al or state
, in turn, refers to the acquisition of educational certificates or diplomas,
granting a certain appreciation or social prestige to its holders and aspirants (BOURDIEU, 2012).
5
Bourdieu (2012) becomes one of the main scholars who set out to obs
erve how culture becomes a mechanism
of
symbolic violence
, how social inequalities are maintained, especially in the face of educational institutions,
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
347
Social capital
is described as a set of resources (linguistic, economic, material) that
make people identify themselves as belonging t
o a certain social group, sharing certain
beliefs, attitudes, tastes.
Economic capital
refers to financial income, profitability of labor,
market shares, etc. Finally,
symbolic capital
is translated into the social prestige that the
subjects have in relati
on to a certain field and can make use of social, economic and/or
cultural capital (BOURDIEU, 2012).
Thus, we make use of a theoretical
-
methodological conception that understands the
educational system as unequal, as a reproducer of social structures/class
ifications and that
understands that the subjects' forms of socialization obey certain rules depending on the social
group they belong to. In this way, the valuations given to education, how much is invested in
it and how it occurs will vary depending on i
ssues related to capital, be it economic, cultural,
social or symbolic (BOURDIEU, 2012; 2011[1984]; BOURDIEU; PASSERON, 2014
[1964]).
Results and discussion
Initially, it is relevant to point out that the data will be presented here in a succinct
manner
, given the need for adequacy for publication. Therefore, some clippings were made
and it was decided to reveal and describe an overview of the case to the reader. As for the
speech therapy assessment, it ruled out linguistic
-
cognitive impairments, however
, it provided
subsidies for thinking about both clinical and educational practices from the demand for this
service by students with difficulties. From the above, some reflections on the case researched
will be described.
The participant of this research,
Alice, at the age of 27, decided to enter the Dentistry
course at a federal University in southern Brazil. Briefly about her history, the student
comments that she lived in the interior of the state located in the southern region of the
country and had to
move to the capital to be able to study.
Regarding the family, Alice mentions that her mother attended the 4th grade (currently
the 5th year of elementary school), later completing her studies through Youth and Adult
Education (EJA
, Portuguese initials
). T
he mother accompanied her throughout the journey,
and they have no contact with the father. Alice also has two younger brothers, who have also
decided to pursue their studies.
how occur the struggles between social classifications, how and why they happen in a certain way and not
in
another and what are the structures, the dispositions, that influence the subjects/actors in their actions on the
world, on the constitution of social fields and how they also guide their practices.
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
348
My mother always encouraged me [to study]. The other people in my
family... is l
ike... you don't need to study. Because in my family, those close
to me, like my first cousins, I am the first to enter college, the others did not
want to study. They was more concerned with working. [...] [About the EJA
course] I remember that I went to
school with her [mother] because she had
no one to leave me with. Then I was there in the other room, while she was
having class. Then my mother would sometimes take a picture and send it to
the group [of the family on WhatsApp]. So now she left the group
because
they [the family] think she wants to show off, that she has no need to study.
My mother, who always worked hard for me to study because she was a
housekeeper when she was a child and she also worked in a lumber mill. So
she didn’t want me to have t
his life and that’s why we left there [the
countryside]. Then I did my high school in Curitiba and then I came here
(our translation).
Alice reveals that she likes to read and has no difficulties, but these practices are
focused on fun/leisure and to
learn about religion. She claims that she reads mainly printed
materials, with religious and educational genres being the most widely read throughout her
life. In addition, other practices were described: reading pamphlets, plaques, children's
magazines an
d science fiction, poetry, personal notes. However, when reading practices turn
to academic materials, difficulties arise. The student reveals that she often reads the same text
excerpt, that she uses study strategies such as the use of highlighters, abstr
acts, files, but that,
even so, during the course evaluations, she ends up confusing some information or realizing
that she did not understand content right.
During her childhood, the university student comments that there were mediation
practices performe
d by her mother, when reading books borrowed from the school for her.
The student also comments that she asked questions about the meaning of words and other
questions, but that, after being literate, she started to study alone, without seeking help from
o
ther people. As for writing practices, Alice reveals that she does not like writing and her
practices are restricted to academic work, personal reminders and to send a message to
someone. During schooling, her mother and stepfather helped her with writing
and
mathematical calculations and she also wrote more diverse genres due to academic
obligations.
After entering the University, however, her practices were reduced to academic
activities and religious studies. But the difficulties she points out, relate t
o the difficulty in
starting writing, organizing and finalizing the ideas in the text. In addition, she heard negative
comments about her writing, her drawing of the letters throughout her life, just as no one
encourages her to write.
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
349
Regarding the numerac
y practices, Alice comments that she never had difficulties,
since her school education did not “demand so much”. Her search is revealed by the fact that
she changes the laterality of numbers and this is becoming very problematic in her course: she
needs t
o prescribe medication and analyze the number of teeth and, because of this, she have
been suffering reprisals from fellow students and teachers. Therefore, the search for the
diagnosis of "dyscalculia" arose, a diagnosis that, possibly, would assist in he
r academic
evaluations, removing the "burden" of "failure" that labels her until then. The referral
reinforced by other health professionals inculcates in her the idea that her difficulties cannot
be “normal”, they must be a “problem”. Regarding her diffic
ulties, she reports that:
I always had a hard time, I think. I only realized in college, because it was
easier at school. Because at school the demandes were lower. At school they
had a lot more works, the tests were easier... There were subjects that I
didn't study. Mathematics, I have had problems like this since the 8th
grade... I never got it right [mathematics], to tell you the truth. In high
school I had almost no teacher, because it was a public school. [In the 2nd
grade of HS] the teacher [of math
ematics] called my mother at school and
the teacher was defending me to my mother: ‘No, but she is a good student,
she just has this difficulty. Don't rant with her, she sits here in the front, she
doesn't talk'. Then I had to do reinforcement for a while.
[...] When I went
back to the course, on the first day of class the teacher gave a calculation
and asked: ‘what do you have to do here?’ And general? ‘lcm!’. And I didn't
remember what lcm was! You know, the meaning of the word lcm, which was
the least co
mmon multiple. And at home, people were not very good at math,
nor was my mother good at math, and my stepfather knew simple calculus
because he worked at a bus station selling tickets. So I didn't have to do high
calculations like that. I didn't have much
help at home. [...] Portuguese I
was better, but now that the rules have changed I don't know how to write
anymore
(our translation).
According to Bourdieu (2012), after entering Higher Education, there is a selection
that is uneven and the “failures” wo
uld be more concentrated on students who have not
inherited the cultural capital required by educational institutions. Thus, if at school they trace
a median or above
-
average trajectory
-
as in the case described here, it is at the University that
social i
nequalities and the heterogeneity of cultural transmission mark the distinction between
academics. Thus, there is the selection of a culture that is considered legitimate and worthy of
being transmitted, reproduced by education, becoming a currency of exch
ange that is held and
distributed unevenly among social classifications (LAHIRE, 2008) and serves to maintain
privileges of the social order. Therefore, educational institutions (school, University) would
include students and keep them inside, even if they
were already destined for failure. In other
words, because they are not part of that required culture, students with difficulties would be
somewhat excluded/marginalized.
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
350
In this sense, it is understood that the reading, writing and numeracy practices to
which the student was exposed were not sufficient to prepare her for academic requirements.
The mediations revealed by the participant, especially in relation to writing and numeracy,
turn out to be succinct and scarce. These data can also be observed in a
nother study by
Donida (2018), which points out that the writing practices in University students who seek
speech therapy are incipient and disregarded in the academy, since the writing of specific
genres of undergraduate courses is prioritized due to the
new social position the student
occupies. Thus, although university students have different literacy practices, these are not
enough for the difficulties related to differences in the contribution of cultural and symbolic
capital to be perceived and become
distinguishing factors, which, in this case, was translated
as possible “pathological change”.
It is also perceived that both at the University and at school, certain symbolic domains
of language would be instituted that would induce the teacher to evalua
te, consciously or
unconsciously, the student according to his linguistic repertoire, his
habitus
, his posture in the
classroom, their ability to respond to the school/university game. This demonstrates that there
is a vision of “good reader”, “good writer
” and “good student” as the one who masters all the
reading and writing practices imposed by the academy and has all the necessary knowledge
for that particular field (BOURDIEU; PASSERON, 2014 [1964]; BOURDIEU, 2012)
6
.
Thus, social inequalities do not fa
il to mark the academic trajectories of these students,
observed from the difference in cultural capital (BOURDIEU, 2012; BOURDIEU;
PASSERON 2014 [1964]). Language as a cultural capital is reaffirmed by Bourdieu (2012)
who reiterates that those coming from
popular classifications end up failing in educational
institutions, since they do not master the practices required in this context, which require a
different cultural background and a linguistic repertoire which does not match the reality of
those less d
isadvantaged. This would reflect on the quality of the student's trajectory, which
also has difficulties with the language used by the teacher (BOURDIEU; PASSERON, 2014
[1964]). Language in this context is seen as an instrument of cultural domination and
s
ymbolic violence by the dominant classes towards the dominated classes. In the case of
Alice, this distinction puts her in a delicate situation with teachers and colleagues:
6
“[...] the linguistic habitus refers to the set of
dispositions acquired during a process in which one learns to
speak in specific contexts (with family, friends, superiors and subordinates etc.). These dispositions lead the
social agent to speak in a certain way (maintaining a specific relationship with t
he standard language and
showing a certain accent, for example). In addition, these provisions constitute one of the dimensions of the body
hexis, and also concern the way in which the mouth, lip, tone of voice, among others, are used in linguistic
interac
tions, which implies a style, as well as the appreciation of that style (beautiful, ugly, elegant, inelegant,
feminine, masculine, etc.)”
(ALMEIDA, 2002, p. 19
, our translation
).
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
351
So far it was pathology, but now we have a subject that I understand better.
It's
just that story... I think I understand, but then when I go to study it seems
that it is not right. [...] And when you have to memorize a lot. For example,
we had a subject of therapeutics... Therapeutic I was almost reproved!
Because therapeutics had some
things that were anesthetic calculus and I
had attended a lecture that I understood the calculus, but the teacher
explained it in a different way and he confused me a lot and then I did not
knew how to calculate what he said, I know the calculation of the
lecture,
which was simple... And the proof of it was that you remember the name of
the medication... it was just memorization...
It had the name of the
medication and dosage and it was a lot of medication... And I couldn't
remember it... And he put
some medication that the dentist doesn't usually
use, so I was like 'I don't know'. Or else I got the medication right and
missed the dosage. [...] It is more difficult to ask the teacher for help.
Sometimes I ask for help from the monitor or from a collea
gue who
understood better than me. [...] There is a teacher who seems to intimidate
you. So, if you ask a question, he already looks at you with a face like 'Are
you stupid? Don't you know that?'
This happened to some teachers... it even
happened to one he
re and it made me very angry... because I asked her like
that and she said: 'But are you going to get a patient and you won't know?'.
The desire I had was to look at her face and say: ‘But I’m not in front of a
patient, teacher. I'm asking you!' [...] The
relationship with my colleagues...
doesn't really exist. In fact, I have a friend, who is the one who was reproved
with me... [...] Then, in other courses, I usually don't talk to anyone.
Dentistry by itself, when you fail, you end up being friends with th
ose who
failed, because the people in the classes are very closed, they already have
groups [...] and you can hardly insert yourself in an already closed group
(our translation).
Social fields
are spatial abstractions that define positions and relationshi
ps in which
specific agents/subjects act. That said, it is understood that there are several fields in society
and they can assume hierarchical positions in social classifications, of greater or lesser power,
being historically constructed and situated (BO
URDIEU, 2012). The Dentistry course, for
example, occupies a place historically built and demarcated by a clinical
-
biological
perspective. Therefore, the insertion of the student in this context requires acculturation. In
other words, Alice needs to mobili
ze strategies to overcome her difficulties and adapt to the
requirements of the course. It turns out, these strategies are resources learned from the
mobilization of a certain type of cultural and symbolic capital that were not transmitted to
them
-
the ga
me of strategies to insert
o
neself in this social field was not the cultural heritage
that she held (BOURDIEU, 2012). Regarding the uses of reading and writing, Bourdieu (2011
[1984]) points out that each university field determines the values
of reading
and writing
practices, the more or less literary stylistic uses, more or less neutral and endowed with
technical rigor and that they also circumscribe the subject's position within this field.
The fact is that those included remain in this system for a lo
nger time, without,
however, being able to ascend socially. They are the so
-
called
potentially excluded
, that is,
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
352
they are included in an educational system that tends to exclude them while the demands, the
habitus, of educational institutions are close to
that of the elites (BOURDIEU, 2001). Thus,
the distancing of Literacy practices adopted by the University from those experienced in the
family and school context and the modes of reproduction that perpetuate meanings about the
modus operandi of educationa
l institutions, increasingly alienate students who feel
unprepared for this new situation of interaction and use of language (BOURDIEU;
PASSERON, 2014[1964]). It is in this context that the Brazilian educational system also finds
itself reproducing social
inequalities, even when, in the heart of Higher Education, it is
discussed about the inclusion of the “excluded”.
To meet the demands in view of the difficulties of staying at the institution and to
reduce repetition and dropout, the National Student Assis
tance Program (PNAES) advises that
Universities offer educational support (BRASIL, 2010). This “solution” is proposed in order
to reduce the academic difficulties originated from different transmissions of cultural capital
from these new students who enter
Higher Education. However, Alice reveals that she is
unaware of the pedagogical support work at the institution where she attends. And more: she
recognizes that in her course there is no “general” support that can help her, since there are
specificities t
hat are specific to this field of university knowledge and that are not
contemplated in workshops or general extensions aimed at the entire academic community. It
is reiterated that there are monitoring actions in its course, however, it is believed that w
hen
the academic refers to “general support”, it is denoting that the difficulties go beyond a purely
pedagogical character, obstacles that were mentioned above.
Despite the lack of knowledge, the clinical conduct after the speech
-
language
assessment was t
o refer this student to the educational support of the institution, since her
difficulties did not fall within the scope of clinical care, making herself available for joint
actions and partnerships with pedagogical support and course coordination. It is r
elevant to
emphasize that Speech Therapy has a specialty that is responsible for acting in the educational
environment: Educational Speech Therapy. This professional can work in Higher Education,
integrated with institutional teams, with the objective of p
roposing and developing strategies
and actions that aim to improve the quality of permanence and educational trajectory of
students, reducing dropout and adapting the teaching and learning processes (DONIDA;
SANTANA, 2019). The institution to which the uni
versity is affiliated, however, does not
have an educational speech therapist who works in Pedagogical Support, only in the
Accessibility Center. Despite this, it is believed that this professional could promote actions
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
353
that address the specificities of th
e courses and the difficulties found in the heart of the
present University (DONIDA; SANTANA, 2019).
In this sense, it is understood that for education to be inclusive, that is, to contemplate
all differences and diversity found within educational institut
ions, it is necessary that new
teaching and learning practices be adopted within the institution. In the meantime, it is
conceived that Universal Design for Learning (UDL) emerges as a theoretical
-
epistemological
instrument that aims to favor learning oppo
rtunities for all, in a collaborative process of
teaching and learning between students and educators. Through strategies, practices and the
development of efficient materials, methods and assessments, it offers educators an inclusive
proposal that enhance
s the capacities and skills of each student. Thus, it minimizes “the
barriers in the academic path of students with and without disabilities, not hierarchizing or
privileging a single way of learning and, with that, creating flexible learning environments
for
students and teachers” (BOCK; GUESSER; NUERNBERG, 2018, p. 145
, our translation
).
Based on what Rose and Meyer (2002) propose about the principles of UDL, that each
student have their own affective networks ("reason" to learn), recognition networks ("w
hat" to
learn) and strategic networks ("how" to learn”) (CAST, 2018). In addition to the production of
all material and pedagogical tools, the focus of UDL learning is on the student and his
learning process, starting from the development of his skills bot
h collectively and
individually. For that, it is necessary that the teacher is attentive to the different learning
needs of each student, I understand them from a heterogeneity of knowledge, experiences and
how to expand this knowledge that students bring
to school. Making the learning objectives
clear, that is, from where you want to start to where you want to go, allows you to generate an
expectation in the student that he will be able to achieve this goal from the different strategies
used in this proces
s (HOLLAND, 2014). It can be seen that the participant of this research
could have improvements in her academic performance, based on what she mentions:
Listening I understand better than just reading. I have to read the same thing
over and over to
understand. I have to do notes to study or there are some
subjects that have the script. Then my script is all scribbled, because based
on what I have to study, I end up writing over it, making arrows, using
highlighters, things like that. When it is text
that the teacher assigns, I prefer
to print it to read it than read it on the computer, because then I can scribble
it out. During classes, when there is a teacher who assign the material, I end
up listening more than writing. When the teacher doesn't make
it available, I
end up writing more, writing down what he said, so that I can look in the
book for something similar later. When I don't do that, I have more
difficulty.
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
354
With a UDL perspective, students could be offered improvements in teaching and
learn
ing processes, reduced dropout rates, increased quality in formation, decreased emotional
problems among academics, among others. However, as Noronha (2019) points out, health
courses are still in an embryonic phase when the subject refers to changes in cu
rricula and in
teaching and learning processes. According to the author, Digital Literacy
-
which are
reading, writing and speaking/signaling practices used and promoted since the advent of
Digital Communication and Information Technologies (DICTs)
-
is st
ill little explored.
Researches focused on the use of digital literacies (podcasts, e
-
Learning platforms, Youtube,
Virtual and Augmented Reality, gamification, among others) are also few and incipient,
revealing even a lack of knowledge in the health area
about this theme.
The burden, however, lies in how these changes could be implemented in the
institution. For teachers who have just joined, there is the possibility of formation through
courses offered by the University. However, for many, there is still
ignorance and prejudice
about the difficulties present in the teaching environment: mechanisms for maintaining and
reproducing social inequalities. According to research by Santana et al. (2017), there are
professors in Higher Education who believe that st
udents targeting Special Education or with
Specific Functional Disorders should not have access to undergraduate courses. Or, still, they
consider that the difficulties are restricted to “laziness” on the part of the academic and that
their practices, eval
uations and teaching and learning methodologies should not be modified
in order not to be “privileging” one or another student.
In order to observe which practices are considered important in a given context and
how they are constituted, it must be conside
red that there are different modes of cultural
transmission, that there are social inequalities and that different forms of access and
appropriation of written language can lead to exclusion from the educational system
(BOURDIEU, 2012). Thus, when a univer
sity student does not master the expected reading,
writing, speaking and numeracy practices, he may be marginalized and even excluded within
the institution. Especially because the academic environment itself is configured according to
its specificity and
requires mastery of certain practices to the detriment of others. The
challenge, therefore, is to consider this profile and think of strategies for permanence, for
repair.
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
355
Final considerations
This study aimed to understand how social
inequalities cause difficulties in reading,
writing, arithmetic and orality and how these social issues are transformed into supposed
clinical
-
biological diagnoses in higher education students. Knowing that the difficulties are
structural in our society an
d educational institutions reproduce ways of maintaining
inequalities, this case study aims to reveal some mechanisms that permeate academic life and
that are not (yet) perceived as forms of exclusion at the University.
From this, the case of student Alice
reveals that her educational difficulties proved to
be an obstacle to her studies after entering Higher Education. The complaint that justifies
referral to a clinical speech therapy assessment refers to an alleged diagnosis of “dyscalculia”.
However, afte
r careful evaluation of her life trajectory, it was observed that her difficulties
are, above all, a reflection of the social inequality that our country still faces: few significant
teaching and learning practices during the school period; lack of teacher
s; deficits in basic
school content; socioeconomic difficulties; distance with the acculturation of Literacy
practices required at the University. It is also notable that the cultural capital transferred by
the family was not enough for Alice to develop st
rategies to insert herself in the field of
knowledge she entered: Dentistry. As a result, the maintenance of hierarchies of symbolic
power (and, in a way, symbolic violence) by teachers and colleagues is also revealed.
Thus, there would be a need for
changes in the structural structures of the educational
institution, which support the reproduction of forms of exclusion. These changes could occur
from the adoption of the Universal Design for Learning (UDL), in several senses: starting
from the faculty
of the course for curricular, teaching and learning changes; coordinating the
course for curriculum restructuring and teacher formation; University, at the institutional
level, restructuring curricula, formation of teachers and technicians, forming new pro
posals
for actions that would meet the specific demands of each course, etc. However, knowing that
social inequality is a structural problem in our society, there is a need for further research to
be undertaken in depth to reveal what are the intrinsic mec
hanisms of each course that make
the exclusion of students still something in force.
Thus, understanding and problematizing these issues in Higher Education is the main
contribution of this work. This work is not expected to account for all the complexity
of this
academic universe, which is heterogeneous in its constitution, but rather, to provide subsidies
for research that understand the difficulties of university students and not reduce them to
merely medicalizing/biological issues.
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
356
REFER
ENCES
ALMEIDA,
A
.
M. Notas sobre a sociologia do poder: a linguagem e o sistema de ensino.
Horizontes
, Bragança Paulista, v. 20, p. 15
-
30, jan./dez. 2002.
Available
:
http://www.titosena.faed.udesc.br/Arquivos/Textos_para_aulas/notas_sobre_a_sociologia_do
_poder.pdf.
Acces
s
: 15
Nov
. 2019.
APA. AMERICAN PSYCHIATRY ASSOCIATION.
Diagnostic and Statistical Manual of
Mental disorders
-
DSM
-
5
. 5. ed. Washington: American Psychiatric Association, 2014.
BOCK, G
.
L
.
K
.
; GESSER, M
.
; NUERNBERG, A
.
H. O desenho universal para
aprendizagem no acolhimento das expectativas de participantes de cursos de educação a
distância.
Revista Educação Especial
, Santa Maria,
v. 32,
jun. 2019.
DOI:
http://dx.doi.org/10.5902/1984686X34504
BOURDIEU, P
.
(
Org
).
A Misé
ria do Mundo
. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.
BOURDIEU, P.
Homo
academicus
. Trad. Ione Ribeiro Valle; Nilton Valle, Rev. Téc. Maria
Tereza de Queiroz Piacentini. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2011[1984].
BOURDIEU, P.
Escritos de
educação
. 14. ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2012.
BOURDIEU, P
.
; PASSERON, J.
Os
herdeiros
: os estudantes e a cultura. Florianópolis: Ed.
da UFSC, 2014[1964].
BRASIL.
Decreto n
.
6.096, de 24 de abril de 2007
. Institui O Programa de Apoio A Planos
de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Brasília,
Available
:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007
-
2010/2007/decreto/d6096.htm.
Access
: 25
Nov
. 2019.
BRASIL.
Decreto n
.
7.234, de 19 de julho
de 2010
. Dispõe Sobre O Programa Nacional de
Assistência Estudantil. Brasília.
Available
: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007
-
2010/2010/Decreto/D7234.htm.
Access
: 17
Nov
. 2019.
BRASIL.
Lei n
.
12.711, de 29 de agosto de 2012
. Dispõe Sobre O Ingr
esso nas
Universidades Federais e nas Instituições Federais de Ensino Técnico de Nível Médio e Dá
Outras Providências. Brasília, 2012.
Available
:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011
-
2014/2012/lei/l12711.htm.
Access
: 27
Nov
.
2019.
IBGE
. INSTITUTO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.
Síntese de
Indicadores 2012
. 2012.
Available
:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2012/default_si
ntese.shtm.
Access
: 1
Nov
. 2019.
CAST.
Universal
design for learning
. Guidelines
version 2.2, 2018.
Available
:
http://udlguidelines.cast.org.
Access
: 18
Dec
. 2019.
CAVACO, C
.
J
.
D.
Adultos pouco escolarizados diversidade e interdependência de
lógicas de formação
.
2008.
Tese
(
Doutorado
)
–
Faculdade de Psicologia e de Ciências da
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
357
Educação
,
Universidade de Lisboa
, Lisboa,
2008.
Available
:
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/972/1/17505_ulsd_re286_TD_Carmen_Cavaco3.pdf.
Access
: 12
Dec
. 2019.
D’AMBROSIO, U. Etnomatemática, justiça soci
al e sustentabilidade.
Estudos Avançados
,
São Paulo, v. 32, n. 94, p. 189
-
204, 2018.
DOI:
https://doi.org/10.1590/s0103
-
40142018.3294.0014
DONIDA, L
.
O.
Universitários com
dificuldade de leitura e escrita
: desvelando discursos.
2018. 145 f.
Dissertação
(
Mestrado
em Linguística
)
–
Universidade Federal de Santa
Catarina
, Florianópolis,
2018.
Available
:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/194394/PLLG0731
-
D.pdf?sequence=
-
1&isAllowed=y.
Access
:
2
Mar
. 2020.
DONIDA, L
.
O
.
; SANTANA, A
.
P. Apoio Pedagógico como proposta de
educação para
todos.
Educ. Pesqui.
, São Paulo, v.
45, e192527, 2
019.
DOI:
https://doi.org/10.1590/s1678
-
4634201945192527
DONIDA, L
.
O
.
; POTGURSKI, D
.
S
.
; POTTMEIER, S
.
;
ELIASSEN, E
.
S
.
; SANTANA, A
.
P
.
O. Letramentos Digitais:
Mediadores Do Processo De Inclusão Educacional?
In
:
COLÓQUIO INTERNACIONAL DE
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO ESCOLAR
,
2019, Florianópolis.
Anais
[...]. Campinas: Galoá, 2019
.
Available
:
https://proceedings.science/cintedes
-
2019/papers/letramentos
-
digitais
--
mediadores
-
no
-
processo
-
de
-
inclusao
-
educacional
--
?lang=pt
-
br.
Access
18
Nov
. 201
9.
ELIASSEN, E
.
S.
A discursivização do diagnóstico da dislexia
: da teoria à prática.
2018.
224 f.
Dissertação
(
Mestrado
em Linguística
)
–
Universidade Federal de Santa Catarina
,
Florianópolis,
2018.
Available
:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/205753
.
Access
19
Dec
. 2019.
HOLLAND, B. Desenho universal para aprendizagem
: u
m guia para o sucesso escolar.
Diversa
, 2014.
Available
: https://diversa.org.br/artigos/desenho
-
universal
-
para
-
aprendizagem
-
guia
-
sucesso
-
escolar/.
Access
: 27
Mar
. 2019.
IBLC. Instituto Brasileiro de Letramento Científico (Org.).
ILC
-
Indicador de Letramento
Científico
:
Sumário executivo de resultados. 2018.
Available
:
http://iblc.org.br/wp
-
content/uploads/2018/01/1
-
relatorio
-
executivo
-
ilc
-
fcc.pdf.
Access
: 23
Mar
. 2020.
INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, AÇÃO EDUCATIVA.
Inaf Brasil 2018
:
resultados
preliminares.
Available
: http://acaoeducativa.org.br/wp
-
content/uploads/2018/08/Inaf2018_Relat%C3%B3rioResultados
-
Preliminares_v08Ago2018.pdf.
Access
: 8
Sep
. 2018.
LAHIRE, B.
Sucesso escolar nos meios populares
: As razões do improvável. São Paulo:
Ática, 2008.
NOGUEIRA, M
.
A
.
; NOGUEIRA, C
.
M. M.
Bourdieu & a Educação
. 2. ed. Belo
Horizonte: Atlântica, 2014.
image/svg+xml
Lais DONIDA
and
Soeli Francisca Mazzini Monte BLANCO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI
: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
358
NORONHA, M
.
G.
O uso de TDICs na prática fonoaudiológica para a linguagem escrita
:
revisão da produção acadêmica nas revistas brasileiras de fonoaudiologia.
2019. Monograf
ia
(
Trabalho de Conclusão d
o
Curso
de Fonoaudiologia
)
–
Centro de Ciências da Saúde (CCS)
,
Universidade Federal de Santa Catarina
, Florianópolis,
2019.
OLIVEIRA, A
.
M
.
; ACOSTA, R
.
P. Os gêneros do discurso na esfera acadêmica:
reverberações dialógicas.
Letras
, Santa Maria
-
RS, n. 58, p. 13
-
36, set. 2019. ISSN 2176
-
1485.
DOI:
https://doi.org/10.5902/2176148534195
RODRIGUES, A. Movimentos escolarizados e não escolarizados: do corpo a
luno e suas
estratégias de resistência.
Revista Contemporânea de Educação
,
v
. 9, n. 18, 2014.
DOI:
https://doi.org/10.20500/rce.v9i18.1858
ROSE, D
.
H
.
; MEYER, A.
Teaching every student in the digital age
:
universal
design for
learnig. Alexandria, VA: ASCD
, 2002.
Available
:
http://www.ascd.org/publications/books/101042.aspx.
Access
: 16
Apr
. 2019.
SANTANA, A
.
P
.
; DARDE, A
.
O
.
G
.
; SANTOS, K
.
P
.
; DONIDA, L
.
O
.
; POTTMEIER, S.
Educação Superior e recursos de acessibilidade na visão de professores e estudantes.
In
:
LEITE, L. P.; MARTINS, S. E. S. O.; VIELLELA, L. M. (Org.).
Recursos de acessibilidade
aplicados ao ensino superior
. 2
.
ed.
São Paulo
, SP
: Cultura Acad
êmica, 2017
.
v. 1
.
p. 133
-
156.
SANTANA, A
.
P
.
; SANTOS, K
.
P
.
A perspectiva enunciativo
-
discursiva de Bakhtin e a
análise da linguagem na clínica fonoaudiológica.
Bakhtiniana, Rev. Estud. Discurso
, São
Paulo, v. 12, n. 2, p. 174
-
190, ago. 2017.
DOI:
http://dx.doi.org/10.1590/2176
-
457327491
SENHORINI, G
.
;
SANTANA, A
.
P
.
O
.
; SANTOS, K
.
P
.
; MASSI, G
.
A. O processo
terapêutico nas afasias: implicações da neurolinguística enunciativo
-
discursiva.
Rev.
CEFAC
, São Paulo, v.
18, n. 1, p. 309
-
322, 2016.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1982
-
0216201618117214
STREET, B.
Letramentos
sociais
: abordagens
críticas do letramento no desenvolvimento, na
etnografia e na educação. Trad. Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2014.
UNESCO. United Nations Educational Scientific And Cultural Organization (Ed.).
Education
for people and planet
: creating sustainable fu
tures for all
. 2. ed. Paris: Unesco,
2016. 535 p. (Global edu).
Available
:
http://unesdoc.unesco.org/images/0024/002457/245752e.pdf.
Access
: 1
Nov
. 2019.
image/svg+xml
Difficulties in reading, writing and numeracy in higher education: discussions about the reproduction of social
inequalities
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
J
an./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
359
How to reference this article
DONIDA, L.; BLANCO, S. F. M. M
.
Difficulties in
reading, writing and numeracy in higher
education: discussions about the reproduction of social inequalities
.
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 341
-
360,
Jan
./
M
ar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13551
Submitted
:
09/04/2020
Approved
:
19/08/2020
Published
:
02/01/2021