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A interferência da herança
cultural na educação sexual de agentes escolares: um estudo de uma instituição infantil do interior
paulista
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p.
176
-
188
, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13586
176
A INTERFERÊNCIA DA HERANÇA CULTURAL NA EDUCAÇÃO SEXUAL
D
E AGENTES ESCOLARES: UM ESTUDO DE UMA INSTITUIÇÃO INFANTIL D
O
INTERIOR PAULISTA
LA INTERFERENCIA DE LA HERENCIA CULTURAL EN LA EDUCACIÓN SEXUAL
DE AGENTES ESCOLARES: UN ESTUDI
O DE
UNA INSTITUICIÓN INFANTIL DEL
INTERIOR PAULISTA
THE INTERFERENCE OF CULTURAL HERITAGE IN THE SEXUAL EDUCATION
OF SCHOOL AGENTS: A STUDY OF ONE CHILD INSTITUTION OF
THE
COUNTRYSIDE
OF
SÃO PAULO
Maria Fernanda Celli de
OLIVEIRA
1
Luci Regina
MUZZETI
2
RESUMO
:
A Educação sexual ainda é um assunto
tratado
como tabu
e trabalh
á
-
lo é essencial
para
uma
formação natural e integral de todo e qualquer indivíduo desde a mais tenra idade.
Partindo desta visão, o presente trabalho visa analisar e desvelar
,
com base na
análise de três
agente
s
escolares de uma Instituição de Educação Infantil
,
como a
h
erança cu
ltural cultivada
no seio familiar
pode vir a interferir no trabalho das questões relacionadas à sexualidade
dentro e fora do âmbito escolar.
Para a realização deste estudo partimos dos conceitos
elaborados por Pierre Bourdieu
,
e para a
análise d
os
dados
ut
ilizamos
o método praxiológico,
também elaborado pelo sociólogo francês e sua equipe.
O estudo aqui proposto teve como
intuito levantar algumas discussões acerca da interferência
d
a herança familiar
sobre a
sexualidade.
PALAVRAS
-
CHAVE
:
Agentes escolares.
Educação infantil.
Educação sexual. Herança
cultural.
RESUMEN
:
La educación sexual sigue siendo un tema tabú y trabajar en él es fundamental
para la formación natural e integral de todos los individuos desde edades tempranas.
Desd
e
esta mirada, el presente trabajo tiene como objetivo analizar y desvelar, a partir del
análisis
de tres agentes escolares de una Institución de Educación Infantil, cómo el patrimonio
cultural cultivado en la familia puede llegar a interferir en el trabajo de temas relacionados
con la sexualidad en el interior y fuera del entorno escolar. Pa
ra la realización de este
estudio partimos de los conceptos elaborados por Pierre Bourdieu, y para el análisis de los
datos utilizamos el método praxiológico, también elaborado por el sociólogo francés y su
equipo. El estudio propuesto aquí tuvo como objet
ivo suscitar algunas discusiones sobre la
interferencia de la herencia familiar en la sexualidad.
PALA
BRAS
CLAVE
:
Agentes escolares. Educación
i
nfantil. Educación sexual. Patrimonio
cultural.
1
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brasil. Doutoranda no Programa de Pós
-
graduação em Educação Escolar. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
6358
-
7986
. E
-
mail:
maria
-
fernanda
-
co@hotmail.com
2
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brasil.
Professora no
o Departamento de Didática
.
Doutorado em Educação
(UFSCAR).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
6808
-
2490. E
-
mail
:
luci.muzzeti@unesp.br
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Maria Fernanda Celli de OLIVEIRA e Luci Regina MUZZETI
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ABSTRACT
:
Sex education is still a taboo subject and
working on it is essential for a natural
and integral formation of each and every individual from an early age. Based on this vision,
the present work aims to analyze and unveil, based on the analysis of three school agents of
an Institution of Early Child
hood Education, how the cultural heritage cultivated within the
family can come to interfere in the work of issues related to sexuality inside and outside the
school environment. To carry out this study we started from the concepts elaborated by Pierre
Bou
rdieu, and to analyze the data we used the praxeological method, also elaborated by the
French sociologist and his team. The study proposed here was intended to raise some
discussions about the interference of family inheritance on sexuality.
KEYWORDS
:
Sc
hool agents. Child education.
Sex education. Cultural heritage.
Introdução
As questões relacionadas à sexualidade são até hoje vistas como assuntos “proibidos”
a
serem tratados dentro da escola, sobretudo na Educação Infantil. As lacunas existentes na
formação dos educadores e agente escolares em geral interferem no trabalho
desta
s questões
dentro e fora do âmbito escolar.
A importância de trazer uma instrução de qualidade referente
à sexualidade é iminente a todos os indivíduos, uma vez que
se trata
de
algo intrínseco à vida.
Seguindo esta linha de pensamento e com base no fato de que a Educação Infantil é a fase
mais importante no desenvolvimento humano
,
é imprescindível que a Educação sexual ou
instrução relacionada
à
sexualidade seja explorada desde
a mais tenra idade nas escolas e no
seio familiar.
Assim, como base no exposto, o presente trabalho visa desvelar como a herança
cultural
cultivada
no interior da família pode interferir no
habitus
, ou seja, no comportamento
das agentes aqui analisadas no
tocante
à
sexualidade. Assim, visamos analisar como tais
colaboradoras enxergam a temática, bem como a importância de trabalhá
-
las com as crianças
seja dentro ou fora da escola.
Vale ressaltar ainda que o trabalho aqui proposto faz parte de um recorte da
dissertação de mestrado intitulada “TRAJET
ÓRIA SOCIAL E SEXUALIDADE:
estruturação
da identidade de gênero na Educação Infantil”
,
que analisou a interferência da herança
cultural de três agentes escolares sobre a estruturação da identidade de gênero das mes
mas e a
interferência exercida sobre as crianças atendidas por elas
,
seja enquanto filhos
(as) ou aluno
(as).
Para melhor estruturar este estudo, as três agentes escolares
(colaboradoras da
pesquisa)
serão apresentadas com base em sua trajetória social
,
e os dados obtidos com as
entrevistas semiestruturadas e posteriormente analisados por meio do método
praxiol
ógico
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cultural na educação sexual de agentes escolares: um estudo de uma instituição infantil do interior
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(
ORTIZ
,
1983
)
serão incorporados ao texto ao longo da exploração dos conceitos elabora
dos
por Pierre Bourdieu e sua equipe, a saber,
habitus
, gênero e herança cultural. Além disso,
como pano de fundo para a análise referente
à
sexualidade, será apresentado um breve
histórico acerca da temática, trazendo um contraponto
entre realidade e pass
ado
, a fim de
compreender a construção social existente na fala das colaboradoras da pesquisa.
Contemporaneidade x passado: a sexualidade ainda desconhecida
Conforme Ribeiro (2009)
,
a transição do século XIX para o século XX fora
marcada por diversas lu
tas ligadas à sexualidade, que vão desde o combate à sífilis e
à
s
mais variadas doenças venéreas até o advento da pílula anticoncepcional, movimentos pró
-
sexualidade (hippie, por exemplo) e a disseminação da AIDS nos anos 80. Porém, mesmo
tantas décadas de
pois, os assuntos que dizem respeito à sexualidade humana ainda são
tratados como algo distante e mostra
m
-
se como um fator de incômodo a grande parte da
sociedade.
Segundo Guizzo e Felipe (2015), a partir da segunda metade do século XX, alguns
grupos que p
ermaneceram por muitos anos à margem da sociedade começaram a
reivindicar seus direitos e questionar, assim, a educação no Brasil. “Tais segmentos, a
saber: indígenas, portadores de necessidades especiais, negros/as, mulheres e não
heterossexuais (GUIZZO
;
FELIPE, 2015, p. 2)” clamavam por uma identidade própria que
considerasse as diferenças no saber, pensar e agir. Esses movimentos foram ganhando
força, especialmente após a década de 1960
,
com a revolução sexual.
No Brasil, a década de 1990 foi marcada po
r um contexto reivindicatório em
que diferentes movimentos sociais denunciaram as práticas discriminatórias
presentes na educação e exigiram mudanças. O Ministério da Educação tem
promovido iniciativas, debates e discussões com o propósito de superar os
pr
econceitos e as discriminações em instituições escolares em função de
especificidades que marcam os sujeitos como “diferentes”. Estas discussões,
bem como outras ações de movimentos sociais, contribuíram para a
elaboração de documentos oficiais que teriam
emergido com o propósito de
proporcionar uma educação similar para todos e todas independente de
gênero, raça, sexualidade, classe social e outros marcadores possíveis
(GUIZZO
;
FELIPE, 2015, p. 3).
Assim, com base na preocupação
e
m
formar adultos conscientes e capazes de
compreender a natureza das relações humanas, bem como as diferenças e peculiaridades e,
sobretudo, naquilo que diz respeito à sexualidade, o Ministério da Educação sugere que a
Educa
ção Sexual deve estar presente no currículo das escolas desde cedo, como um tema
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transversal, ou seja, não se
tratando de uma disciplina obrigatória e fixa da grade curricular,
mas devendo estar atrelada a outras matérias, comumente abordada na biologia. T
al sugestão
está descrita nos PCNs
3
, os Parâmetros Curriculares Nacionais
(BRASIL, 199
8
), documento
responsável pela adequação e equação do ensino no Brasil. Por outro lado, este documento é
uma sugestão do governo, e, portanto, a não obrigatoriedade do e
nsino de tal temática
demonstra o preconceito que ainda é fortemente enraizado e presente na cultura brasileira.
Ademais, vale ressaltar que os PCNs fora
m
o primeiro reconhecimento de porte
n
acional, que
legitimou a necessidade e importância da implantação
de programas de orientação de
Educação Sexual nas escolas que atendem crianças e adolescentes, o que não abrange, porém,
a Educação Infantil, perpetuando
,
assim, a ideia de falta de necessidade da abordagem na
referida faixa etária.
De qualquer maneira, a
educação sexual deve ser promovida em todos os âmbitos e
dentre todas as faixas etária, onde,
As necessidades e preocupações da saúde sexual e reprodutiva de crianças e
jovens variam muito intra e inter
-
regiões, comunidades e países, o que pode
afetar a
percepção de um objetivo específico de aprendizagem. Esses
objetivos devem, portanto, ser sempre ajustados ao contexto com base em
dados e informações confirmadas disponíveis. De qualquer modo, a maior
parte dos peritos acredita que crianças e jovens quere
m e precisam de
informação sobre sexualidade e saúde sexual de modo abrangente e tão cedo
quanto possível (UNESCO, 2014, p.
15).
Seguindo esta linha de pensamento, em busca da ascensão e disseminação da educação
sexual dentro do âmbito escolar, propõe
-
se
que a orientação sexual seja tratada dentro da
escola de maneira interdisciplinar, garantindo assim que o assunto seja encarado de maneira
natural e essencial ao comportamento e desenvolvimento humano, em todas as suas fases.
Mas como inculcar e conscientizar
a
sociedade acerca da importância de tratar a
Educação sexual dentro das escolas sem que esta se torne um problema? Neste sentido,
propõe
-
se neste estudo uma discussão sobre o tratamento da temática através da
interdiscipl
inaridade, ou seja, o tema deve passar e caminhar entre todas as vertentes dentro
do sistema de ensino d
esde a mais tenra idade, contendo responsabilidade, compromisso e
respeito
a
todos.
A sexualidade é algo intrínseco ao ser humano e direito de todos, co
nforme enfatizado
pela UNESCO
nas “
Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário
brasileiro: tópicos e objetivos de aprendizagem” (UNESCO, 2014)
. Quando orientamos uma
3
Atual BNCC
-
Base Nacional Comum Curricular
.
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criança em relação à sexualidade, não apenas estamos contribuindo para
a promoção de uma
melhor qualidade de vida, mas também protegemos a infância e os direitos dos pequenos,
além de promover o respeito e a igualdade. Vale ressaltar que o material
se destina
a crianças
a partir dos
cinco
anos de idade, o que ilustra uma das discussões do estudo aqui proposto,
cujo objetivo é alertar para a despreocupação em relação
à
orientação sexual das crianças
menores. Ora, se a sexualidade é algo inerente ao ser humano, por que não há maiores
preocup
ações com a orientação das crianças desde a mais tenra idade?
Apresentação geral das colaboradoras
Antonela
Antonela tem 41 anos, é
casada e
mãe de uma filha, diretora da instituição de
educação infantil aqui analisada, e vem de uma família de 5 pessoa
s, sendo pai, mãe e três
filhos, o que demonstra a relação existente entre a fração de classe média e as estratégias de
reprodução de fecundidade, que difere das famílias da camada popular, que
enxerga
m no
grande número de filhos um futuro apreendido como
sendo de sucesso. Seus pais trabalhavam
e, segundo ela, nenhum dos dois questionava o trabalho um do outro, ambos tinham liberdade
para decidir no que queriam trabalhar.
Dolores
Dolores é auxiliar de escritório na secretaria da escola de
Educação I
nfan
til aqui
analisada. Tem 26 anos, é casada e mãe de duas filhas. É oriunda originalmente de uma
família de 6 pessoas, pai, mãe e quatro irmãos, mas, segundo ela, considera mais algumas
pessoas como sendo da família. Passou a infância em uma pequena cidade d
o interior de São
Paulo, na zona urbana.
Segundo a entrevistada, o marido não está satisfeito com a ocupação
atual dela, pois, segundo suas palavras
“Ele acha que eu não
“
tô
”
aonde eu deveria
“
tá
”
, eu
gosto muito de comércio, de vendas e hoje em dia eu
“
tô
”
trabalhando de auxiliar de escritório
(Dolores, 2016)”.
Márcia
Márcia tem 37 anos, é
casada e
mãe de três filhos, é professora (não gr
a
duada) da
instituição
de E
ducação
I
nfantil aqui analisada, e vem de uma f
amília
de 12 pessoas, sendo
que 9 são filhos de pai e mãe e 1 filho apenas do pai. A família morou durante 7 anos na zona
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rural, em uma cidade da Bahia. Segundo ela, não existe um trabalho específico de homem ou
mulher. Relata ainda que o pai não gostava muito d
a profissão d
e sua mãe
,
“
meu pai não
gostava muito
[
...
]
por causa de as crianças, porque tinha que ficar com os outros, aí por isso
que minha mãe sai de ser isso
[...]
(Márcia, 2016)”.
Gênero
segundo
Pierre
Bourdieu
Bourdieu (1999) define o gênero como
a “socialização do biológico e biologização
do
social
”
(BOURDIEU, 1999, p.
9), em outras palavras, o gênero é construído e
estruturado no
agente, no processo de socialização. É muito mais do que o simples sexo,
englobando todas as
relações de luta
e
de do
minação que permeiam a posição social do sexo
em uma determinada
sociedade, em um determinado momento histórico, contemplando,
assim, a ordem social das
coisas: “[...] A ordem social funciona como uma imensa máquina
simbólica que tende a
ratificar a domina
ção masculina sobre a qual se alicerça: é a divisão
social do trabalho,
distribuição bastante restrita das atividades atribuídas a cada um dos
dois sexos [...]”.
(BOURDIEU, 1999, p. 18).
Para Bourdieu (1999), o gênero perpassa a questão biológica e
trata
-
se de uma
violência simbólica quando nos referimos à dominação masculina. O sociólogo denuncia
ainda as dicotomias e oposições ligadas ao gênero, enfatizando que:
Quando os dominados aplicam àquilo que os domina esquemas que são
produto da dominação
ou, em outros termos, quando seus pensamentos e
suas percepções estão estruturados de conformidade com as estruturas
mesmas da relação da dominação que lhes é imposta, seus atos de
conhecimento
são, inevitavelmente, atos de
reconhecimento
, de
submissão
(B
OURDIEU, 1999, p. 22).
As disposições perante o gênero enquadram
-
se como resultado da trajetória social e da
herança cultural, principalmente em relação aos aspectos relacionados com a cultura familiar
e escolar.
Conforme Bourdieu (1999), a dominação está
intrinsecamente ligada à sociedade e se
faz imperceptível aos olhos, beirando a normalidade, onde, “a força masculina se evidencia no
fato de que ela dispensa justificação: a visão androcêntrica impõem
-
se como neutra e não tem
necessidade de se enunciar e
m discursos que visem a legitimá
-
la
”
(BOURDIEU, 1999, p. 18).
Isso quer dizer que, apesar de acreditarmos que temos a liberdade para pensarmos,
ainda aceitamos ser dominados pelos grupos dominantes. Dessa forma, o gênero é
construído
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e estruturado em um pr
ocesso de socialização que irá englobar as relações de
dominação
presentes na sociedade.
[...] sempre vi na dominação masculina, e no modo como é imposta e
vivenciada, o exemplo por excelência dessa submissão paradoxal,
resultante
daquilo que eu
chamo de violência simbólica, violência suave,
insensível,
invisível a suas próprias vítimas, que se exerce essencialmente
pelas vias
puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento, ou,
mais
precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento ou, em
última
instância, do sentimento (BOURDIEU, 1999, p.
7).
Bourdieu destaca ainda que:
Outro fator determinante da perpetuação das diferenças é a permanência
que
a economia dos bens simbólicos (do qual o casamento é uma peça
central)
deve à sua autonomia r
elativa, que permite à dominação
masculina nela
perpetuar
-
se, acima das transformações dos modos de
produção econômica:
isto, com o apoio permanente e explícito que a
família, principal guardiã do
capital simbólico, recebe das Igrejas e do
Direito (BOURDIE
U, 1999, p.
115).
Para
reconhecer as relações existentes entre as divisões de gênero, objeto de
estudo
desta pesquisa, faz
-
se necessário compreender como elas se estabeleceram.
Segundo Bourdieu
(1999), esse trabalho de reprodução deu
-
se até pouco
tempo
por três principais instâncias:
família, Igreja e escola.
Nas palavras do autor: “É sem dúvida
à
família que cabe o papel
principal na
reprodução da dominação e da visão masculina, é na família que se impõe a
experiência
precoce da divisão
sexual do trabalho e da representação legítima dessa divisão
[...]
(BOURDIEU, 1999, p. 103)
”
.
E
,
por fim, Bourdieu discorre acerca do pa
pel da escola na reprodução das
desigualdades de gênero:
[...] a Escola, mesmo quando já liberta da tutela da Igreja, c
ontinua a
transmitir os pressupostos da representação patriarcal (baseada na
homologia
entre a relação homem/mulher e a relação (adulto/criança) e
sobretudo,
talvez, os que estão inscritos em suas próprias estruturas
hierárquicas, todas
sexualmente conotad
as [...] (BOURDIEU, 1999, p.
104)
.
A força da ordem masculina se evidencia no fato de que ela dispensa justificação: a
visão androcêntrica impõe
-
se como neutra e não tem necessidade de se enunciar em
discursos
que visem a legitimá
-
la. (BOURDIEU, 1999, p.
18)
As divisões constitutivas da ordem social e, mais precisamente, as
relações
sociais de dominação e de exploração que estão instituídas entre
os gêneros
se inscrevem, assim, progressivamente em duas classes de
habitus
diferentes, sob a forma de
hexis
c
orporais opostos e
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complementares e de princípios de visão e de divisão, que levam a
classificar
todas as coisas do mundo e todas as práticas segundo
distinções redutíveis à
oposição
entre o masculino e o feminino
(BOURDIEU, 1999, p. 41)
Segundo as concepções do teórico, é no corpo, ou seja, na
héxis
corporal (ORTIZ,
1983), que as desigualdades entre os sexos se materializam e a ideia de dominação
masculina
se faz natural. Com isso, Bourdieu (1999) cria uma teoria que propõe e torna
possív
eis as
mudanças relacionadas à quebra dessa dominação masculina. “O mundo social
constrói o
corpo como realidade sexuada e como depositário de princípios de visão e de
divisão
sexualizantes” (BOURDIEU, 1999, p. 18)
.
A dominação masculina, que constitui as
mulheres como objetos
simbólicos,
cujo ser (esse) é um ser
-
percebido (percipiti) tem por efeito
coloca
-
las em
permanente estado de insegurança corporal, ou melhor, de
dependência
simbólica: elas existem primeiro pelo, e para, o olhar dos
outros, ou seja,
enquanto objetos receptivos, atraentes, disponíveis
(BOURDIEU, 1999, p.
82).
Quando falamos de gênero dentro do âmbito escolar,
podemos verificar nas falas das
colaboradoras que existem contradições e equívocos relacionados à temática
,
ilustrando tal
fato a partir do relato das participantes
,
que perpetuam os preconceitos
:
Olha, hoje em dia pra minha filha eu vejo de uma maneira diferente, porque,
as coisas mudaram muito, mas quando eu era criança eu brincava de pipa,
de pião, eu brincava de bolinha d
e gude, então, se você ver bem eu brincava
com coisas que era de menino e mesmo assim minha opção foi...
de gênero,
é feminina né, eu me considero feminina, então, é...
eu acho que hoje em dia
eu vejo mais isso, porque
“
tá
”
se discutindo muito isso, então
eu tenho
preocupação pelas minhas filhas, mas não que eu descrimino se ela quiser
brincar de bola, ela vai brincar de bola, mas sabendo que é um brinquedo
que é do amiguinho, no caso, um menino
(Dolores, 2016).
Na
visão de
Antonela,
por exemplo,
a constru
ção de gênero é algo
que se dá
socialmente
;
e
la
discorre acerca dos brinquedos e das brincadeiras realizadas dentro da escola
:
Ah, eu acho que, por exemplo, a boneca é mais de menina sim, a criança
às
vezes quer brincar de boneca mas não sabe que a boneca é de sexo feminino
ou de sexo masculino e pega e fala
“a
h é um bebê, meu bebê
”
; e a bola
também, várias meninas gostam de brincar de bola e, e bola é mais pra
menino, então, eu acho que assim, o gêner
o bola, a
í
a criança menina não
pode brincar de bola, não vejo porque não
(Antonela, 2016)
.
Quando
falamos de gênero no âmbito familiar,
ilustramos a visão de divisão gênero
inculcada na fala de Antonela
e de Dolores
,
Ah, eu sempre falo assim, é... por e
xemplo, é...
você é menina, é...
tomando
banho, vamos tomar banho, tomar banho com a mamãe, então sempre
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assim, frisando que é menina. Porque ela sempre fal
a
dos amiguinhos, de
todos, fala o nome deles, então menina... friso que ela é menininha
(Antonela,
2016).
Eu acho que cada um nasce do jeito que é
“
pa
”
nascer, isso não muda. Se
você tem que fazer
“
xixi
”
de pé, você vai fazer
“
xixi
”
de pé, como você vai
fazer
“
xixi
”
sentado. Eu acho que assim, eu sou contra [...]
(Dolores, 2016).
De maneira geral, as participantes demonstram uma visão de dominação naturalizada
em relação ao gênero, onde Bourdieu explica que
“a
força particular da sociodicéia masculina
lhe vem do fat
o de ela acumular e condensar duas operações: ela legitima uma relação de
dominação inscrevendo
-
a em uma natureza biológica que é, por sua vez, ela própria uma
construção social naturalizada
”
(BOURDIEU, 1999, p. 33).
Verificamos a naturalização desta
domin
ação na fala de Márcia, quando indagada a respeito do que é ser um homem bem
sucedido:
“
Ah, um homem com uma boa profissão, que estuda,
‘
tipo
’
advogado (risos)
assim...
”
(Márcia,
2016). Já uma mulher bem sucedida é “u
ma mulher realizada com casa
própria, s
eus filhos, um bom trabalho
,
que não precise trabalhar o dia todo, ter um tempo pra
você e um tempo pros filhos, trabalhar só meio período
”
(Márcia, 2016)
.
Podemos verificar esta dominação também na fala de Antonela, que perpetua
esta
visão de contenção so
cial que a mulher supostamente deve possuir, segundo a construção
social,
[...] brincadeiras de menina, por exemplo, as meninas, elas gostam mais é...
boneca, brincar de mamãe e filhinha, casinha, e os meninos eu acho que
mais bola, carrinho, caminhão, os
jogos em si, tem hoje vários jogos, eu
acho que o Lego
-
Lego vale pros dois
(Antonela, 2016).
Podemos destacar nesta fala que, enquanto as meninas devem brincar com brinquedos
e brincadeiras mais contidas e que reproduzem o âmbito familiar, os
meninos
,
por sua vez,
devem preferir brinquedos que significam mais liberdade e autonomia fora do âmbito
familiar.
Herança cultura e
sua
interferência
na sexualidade
Segundo Bourdieu (BOURDIEU, 2007)
,
a
herança pode ser entendida como um
conjunto de conhecimentos, saberes,
informações, códigos linguísticos, dentre outros, que os
diferenciam de outros grupos.
Ressalta
-
se ainda que, apesar dessa primeira diferenciação entre
as crianças ser
estabelecida na
família, é na escola que a reproduçã
o social favorece e legitima
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as
diferenças sociais
—
por exemplo, a herança econômica e de gênero
—
como um dom
natural, evidenciando as relações entre dominado e dominante.
Contudo, deve
-
se levar em consideração que o u
niverso cultural da família deve se
estender aos demais membros, ou seja, quando o aluno possui relações com determinadas
atividades culturais legitimadas, significa que não apenas os pais possuem esses hábitos,
mas
também seus avós, tios, enfim, toda a
extensão familiar que pode interferir e
incentivar essas
atividades. Assim, com a lentidão do processo de aculturação, destaca
-
se a
existência dos
diferentes níveis culturais que possuem também uma descendência.
Em relação à herança cultural das colaborado
ras podemos dizer que
,
d
e maneira geral,
as participantes demonstram uma criação baseada em preconceitos e interditos relacionados
ao gênero. Seus maridos por sua vez perpetuam esta dominação por meio de seus
comportamentos relacionados à
sexualidade, o qu
e pode interferir nas questões relacionadas à
temática sobre as próprias agentes e sua prole, estendendo
-
se ao âmbito escolar, uma vez que
devemos considerar a inserção profissional das mesmas neste cenário.
Reestruturação de
Habitus
Bourdieu (2007
) rec
upera a dinamicidade da categoria
habitus
, criada pela
escolástica,
que parte do princípio de que a experiência primeira do indivíduo condiciona
todas as outras
experiências. Retifica, no entanto, dizendo que essa experiência primeira do indivíduo
também é condicionada por todas as outras experiências, sendo uma herança biológica
transformada em herança cultural, ou seja, é estruturalmente dinâmica. Assim, esse método
permite captar as regularidades das frações de classes, pois a sociedade não possu
i regras e
sim regularidades. Existe, então, uma materialização que se dá por meio da mediação e das
condições econômicas vividas na família, por meio de interditos,
disposições, conselhos,
vivências, em que ela vai demonstrar de que forma essas
disposiçõe
s estruturam
-
se no
comportamento do ator, formando assim o que chamamos, segundo a teoria bourdieusiana, de
habitus primário
, que é anterior a todas as vivências posteriores, mas que será estruturado,
também, a partir de todas as experiências
,
devido à int
encionalidade do sujeito.
O
habitus
se apresenta, pois, como social e individual: refere
-
se a um
grupo
ou a uma classe, mas também ao elemento individual; o processo
de
interiorização implica sempre internalização da objetividade, o que
ocorre
certamente
de forma subjetiva, mas que não pertence
exclusivamente ao
domínio da individualidade (ORTIZ, 1983, p. 17).
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A interferência da herança
cultural na educação sexual de agentes escolares: um estudo de uma instituição infantil do interior
paulista
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Partindo deste princípio, podemos afirmar que, apesar das construções vivenciadas
pelas participantes em seu
habitus
primário, este pode ser modifi
cado ao longo de sua
existência com base em suas experiências. Neste sentido, verificamos que as colaboradoras
perpetuam as condições experienciadas durante sua criação no seio familiar, perpassando os
equívocos e desconhecimentos acerca da sexualidade à s
ua prole e consequentemente
à
s
crianças atendidas dentro do âmbito escolar.
Considerações finais
Vivemos em uma sociedade historicamente patriarcal e de cunho machista e
,
por isso,
compreendemos que as questões relacionadas à sexualidade ainda possuem um caráter
excludente e dominador, permeado por preconceitos e tabus. Ao estudarmos a história da
Educação sexual em nosso país, bem como as tentativas de inclusão desta dent
ro das escolas,
constatamos que
se tratou
de um longo processo constituído por diversos avanços e
retrocessos. Neste sentido, a inclusão da Educação
S
exual na Educação Infantil demonstra um
progresso ainda mais lento, marcado por constantes situações consi
deravelmente inadequadas,
demonstrando o real desconhecimento acerca da temática.
Isso quer dizer que, mesmo depois de décadas, a sexualidade
–
que é inerente ao ser
humano
–
ainda não tem sua relevância considerada, fato este que interfere diretamente na
formação dos indivíduos em todos os sentidos, sejam eles biológicos, psicológicos ou sociais.
Em linhas gerais, concluiu
-
se que a escola não vem tratando as questões relacionadas à
sexualidade como deve
,
em especial no que diz respeito ao gênero, seja po
r
falta de
conhecimento, seja pela repressão e dominação masculina, cuja violência simbólica intrínseca
a este comportamento está inculcada em nossa sociedade.
A temática ainda é calcada em equívocos, possivelmente pela falta de importância a
que se destin
a
a tal
, porém, muitas vezes a escola é chamada a responder e se responsabilizar
por essa instrução. Por outro lado, e de acordo com o movimento da sociedade, a escola se
omite e teme por esta instrução, que muitas vezes é vista co
mo obrigação apenas da fa
mília
que
,
por sua vez, responsabiliza a escola por tal instrução.
Neste sentido, seguindo este jogo de empurra
-
empurra, a educação sexual infantil fica
à margem da sociedade, e perpetua a ignorância e desconhecimento por parte da escola e do
âmbito famili
ar, prejudicando a todos, principalmente as crianças, que cada vez mais são
expostas a estas questões sem um preparo ou instrução para lidar com
elas
.
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Vale ressaltar ainda que o sil
ê
ncio não desresponsabiliza nenhuma esfera, pelo
contrário, o não falar so
bre o assunto é uma maneira de educar, e sobretudo de reforçar uma
farsa a respeito da orientação sexual disseminada na sociedade através de valores morais.
Assim, a escola deve cumprir seu papel social de difundir a informação, mudando a
sociedade atrav
és da instrução e discussão em prol da integração
,
e
proporcionando prazer,
cidadania e bem estar.
O trabalho aqui proposto teve a intenção de desvelar como as questões relacionadas à
sexualidade ainda são consideradas como um incômodo em nossa sociedade,
sobretudo no
âmbito escolar e familiar. Além de ser um tema tratado primariamente como um tabu, a
sexualidade infantil ainda é vista de maneira in
c
ipiente e equivocada, o que contribui de
maneira direta para a perpetuação de preconceitos e disparidades, p
rejudicando discussões
saudáveis e elucidativas acerca da temática. A resistência de profissionais da educação, bem
como da
s
família
s,
prejudica e interfere de maneira negativa sobre a Educação Sexual Infantil,
impedindo que haja o desenvolvimento positiva
mente integral da criança, principalmente em
seus
anos
iniciais (fase de intenso desenvolvimento).
Na tentativa de superar tais contradições, propõe
-
se que cada vez mais a temática seja
incorporada à vida das pessoas desde tenra idade
,
de maneira assertiv
a e natural,
desmistificando e suplantando o desconhecimento acerca da mesma, contribuindo
,
assim, para
uma Educação Sexual saudável e esclarecedora, onde tanto família quanto escola se
responsabilizem e complementem saberes afim de propiciar às crianças segurança,
autoconhecimento e autonomia.
AGRADECIMENTOS
:
CAPES
–
DS
–
Coordenação de Aperf
eiçoamento de Pessoal de
Ensino Superior.
REFERÊNCIAS
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A dominação masculina
. Trad. Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1999.
BOURDIEU, P.
Escritos de Educação
. 9. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. (Ciências sociais
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BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL.
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nacionais
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/ Secretaria de
Educação Fundamental. Brasília
, DF
: MEC/SEF, 1998. 436 p. Disponível em:
http://portal.m
ec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais.pdf. Acesso em: 26 fev. 2020.
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cultural na educação sexual de agentes escolares: um estudo de uma instituição infantil do interior
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GUIZZO, B
.
S
.
; FELIPE, J. Avanços e retrocessos em políticas públicas contemporâneas
relacionadas a gênero e sexualidade: entrelaces com a Educação.
In
:
REUNIÃO NACIONAL
DA ANPED, 37.,
2015, Florianópolis.
Anais
[...]
.
Florianópolis: UFSC, 2015. Disponível em:
www.anped.org.br/sites/default/files/trabalho
-
gt23
-
3858.pdf. Acesso em: 25 fev. 2020.
ORTIZ, R.
1930
-
Pierre Bourdieu
: sociologia. Trad
.
Paula Montero e Alícia Auzmendi. São
Paulo: Ática, 1983. (Grandes cientistas sociais
)
RIBEIRO, P
.
R
.
M. A institucionalização dos saberes acerca da sexualidade humana e da
educação sexual no Brasil.
In
: FIGUEIRÓ, M
.
N
.
D
.
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Educação sexual
: múltipl
os
temas, compromisso comum. Londrina: UEL, 2009
.
p. 129
-
140.
UNESCO.
Orientações técnicas de educação em sexualidade para o cenário brasileiro
:
tópicos e objetivos de aprendizagem
. Brasília: UNESCO, 2014.
53 p.
Como referenciar este artigo
OLIVEIRA
, M. F. C.;
MUZZETI
, L. R
.
A interferência da herança cultural na educação
sexual de agentes escolares: um estudo de uma instituição infantil do interior paulista
.
Revista
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Submetido em:
16/0
4
/2020
Revisões requeridas:
2
2
/07/2020
Aprovado em:
10/09
/2020
Publicado em:
02/01/2021
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LA INTERFERENCIA DE LA HERENCIA CULTURAL EN LA EDUCACIÓN
SEXUAL DE AGENTES ESCOL
ARES: UN ESTUDIO DE UNA INSTITU
CIÓN
INFANTIL DEL INTERIOR PAULISTA
A INTERFERÊNCIA DA HERANÇA CULTURAL NA EDUCAÇÃO SEXUAL D
E
AGENTES ESCOLARES: UM
ESTUDO DE UMA INSTITUIÇÃO INFANTIL D
O
INTERIOR PAULISTA
THE INTERFERENCE OF CULTURAL HERITAGE IN THE SEXUAL EDUCATION
OF SCHOOL AGENTS: A STUDY OF ONE CHILD INSTITUTION OF
THE
COUNTRYSIDE
OF
SÃO PAULO
Maria Fernanda Celli de
OLIVEIRA
1
Luci Regina
MUZZETI
2
RESUMEN
: La educación sexual sigue siendo un tema tabú y trabajar en él es fundamental
para la formación natural e integral de todos los individuos desde edades tempranas. Desde
esta mirada, el presente trabajo tiene como objetivo an
alizar y desvelar, a partir del análisis de
tres agentes escolares de una Institución de Educación Infantil, cómo el patrimonio cultural
cultivado en la familia puede llegar a interferir en el trabajo de temas relacionados con la
sexualidad en el interior
y fuera del entorno escolar. Para la realización de este estudio
partimos de los conceptos elaborados por Pierre Bourdieu, y para el análisis de los datos
utilizamos el método praxiológico, también elaborado por el sociólogo francés y su equipo. El
estudio
propuesto aquí tuvo como objetivo suscitar algunas discusiones sobre la interferencia
de la herencia familiar en la sexualidad.
PALABRAS CLAVE
:
Agentes escolares. Educación Infantil.
Educación sexual. Patrimonio
cultural.
RESUMO
:
A Educação sexual aind
a é um assunto
tratado
como tabu
e trabalh
á
-
lo é
essencial para
uma
formação natural e integral de todo e qualquer indivíduo desde a mais
tenra idade. Partindo desta visão, o presente trabalho visa analisar e desvelar
,
com base na
análise de três
agente
s
escolares de uma Instituição de Educação Infantil
,
como a
h
erança
cu
ltural cultivada no seio familiar
pode vir a interferir no trabalho das questões relacionadas
à sexualidade dentro e fora do âmbito escolar.
Para a realização deste estudo partimos dos
conceitos elaborados por Pierre Bourdieu
,
e para a
análise d
os
dados
ut
ilizamos
o método
praxiológico, também elaborado pelo sociólogo francês e sua equipe.
O estudo aqui proposto
teve como intuito levantar algumas discussões acerca da interferência
d
a herança familiar
sobre a
sexualidade.
1
Universidade Estadual Paulista (UNESP
),
Araraquara
–
SP
–
Brasil. Doctoranda en el
Programa de
Posgrado
en Educación Escolar
. ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0001
-
6358
-
7986
. E
-
mail:
maria
-
fernanda
-
co@hotmail.com
2
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Ara
raquara
–
SP
–
Brasil.
Profesora en el
De
partamento de
Didá
c
tica. Do
ctorado en Educación
(UFSCAR).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
6808
-
2490. E
-
mail
:
luci.muzzeti@unesp.br
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PALAVRAS
-
CHAVE
:
Agentes escolares.
Educação infantil.
Educação sexual. Herança
cultural.
ABSTRACT
:
Sex education is still a taboo subject and working on it is essential for a natural
and integral formation of each and every individual from an early age. Based on this vision,
the
present work aims to analyze and unveil, based on the analysis of three school agents of
an Institution of Early Childhood Education, how the cultural heritage cultivated within the
family can come to interfere in the work of issues related to sexuality in
side and outside the
school environment. To carry out this study we started from the concepts elaborated by Pierre
Bourdieu, and to analyze the data we used the praxeological method, also elaborated by the
French sociologist and his team. The study propose
d here was intended to raise some
discussions about the interference of family inheritance on sexuality.
KEYWORDS
:
School agents. Child education.
Sex education. Cultural heritage.
Introducción
Las cuestiones relacionadas a la sexualidad son
hasta hoy d
ía vistas como temas
“prohibidos” a ser tratados dentro de la escuela, sobre todo en la Educación Infantil. Los
huecos existentes en la formación de los educadores y agente escolares en general interfieren
en el trabajo de estas cuestiones dentr
o y fuera del ámbito escolar. La importancia de traer una
situación de calidad referente a la sexualidad es inminente a todos los individuos, dado que se
trata de algo intrínseco a la vida. Siguiendo esta línea de pensamiento y con base en el hecho
de que
la Educación Infantil es la fase más importante en el desarrollo humano, es
imprescindible que la Educación Sexual o instrucción relacionada a la sexualidad sea
explorada desde la más temprana edad en las escuelas y en el centro familiar.
Así, como base
de lo anterior, el presente trabajo pretende desvelar cómo la herencia
cultural cultivada en el seno de la familia puede interferir en el
habitus
, es decir, en el
comportamiento de los agentes aquí analizados con respecto a la sexualidad. Así,
pretendemos analizar cómo ven estos colaboradores el tema, así como la importancia de
trabajar con los niños dentro o fuera de la escuela.
Cabe señalar también que el trabajo aquí propuesto hace parte de un recorte de la
disertación de maestría titulada “T
RAYECTORIA SOCIAL Y SEXUALIDAD:
estructuración de la identidad de género en la Educación Infantil”, que analizó la interferencia
de la herencia cultural de tres agentes escolares sobre la estructuración de la identidad de
género de ellas y la interferencia
ejercida sobre los niños atendidos por ellas, ya sea como
hijos (as) o alumno (as).
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Para estructurar mejor este estudio, las tres agentes escolares (colaboradoras de la
investigación) serán presentadas con base en su trayectoria social, y os datos obteni
dos con las
entrevistas semiestructuradas y posteriormente analizados por medio del método praxiológico
(
ORTIZ, 1983)
se incorporarán al texto a lo largo de la exploración de los conceptos
elaborados por
Pierre Bourdieu
y su equipo, a saber,
habitus
,
géner
o y herencia cultural.
Además de eso, como escenario para el análisis referente a la sexualidad, se presentará un
breve histórico acerca del tema, trayendo un contrapunto entre realidad y pasado, con el fin de
comprender la construcción social existente en
el habla de las colaboradoras de la
investigación.
Contemporaneidad
x pasado:
l
a sexualidad
aún
desconocida
Conforme Ribeiro (2009), la transición del siglo XIX para el siglo XX se ha marcado
por diversas
enfermedades venéreas hasta el advenimiento de
la píldora anticonceptiva,
movimientos pro
-
sexualidad (hippie, por ejemplo) y la diseminación de la SIDA en los años
80. Pero aunque tantas décadas después, los temas que respectan a la sexualidad humana
todavía son tratados como algo lejano y se muestran
como un factor de incómodo a gran parte
de la sociedad.
Según Guizzo y Felipe (2015),
a partir de la segunda mitad del siglo XX, algunos
grupos que permanecieron por muchos a
ños al borde de la sociedad empezaron a reivindicar
sus derechos y cuestionar, así, la educación en Brasil. “Tales segmentos, a saber: indígenas,
personas con discapac
idad, negros/as, mujeres y no
heterosexuales (GUIZZO; FELIPE, 2015,
p. 2)”
clamaban por una identidad propia que considerara las diferencias en el saber, pensar y
actuar. Esos movimientos han ganado fuerza, especialmente tras la década de 1960, con la
revo
lución sexual.
En Brasil, la década de los 90 estuvo marcada por un contexto reivindicativo
en el que diferentes movimientos sociales denunciaron las prácticas
discriminatorias presentes en la educación y exigieron cambios. El
Ministerio de Educación ha
promovido iniciativas, debates y discusiones con
el fin de superar los prejuicios y la discriminación en las instituciones
escolares debido a las especificidades que marcan a los sujetos como
“
diferentes
”
. Estas discusiones, así como otras acciones de los
movimientos
sociales, han contribuido a la elaboración de documentos oficiales que
habrían surgido con el propósito de proporcionar una educación similar para
todos y sin importar el género, la raza, la sexualidad, la clase social y otros
posibles marcador
es (GUIZZO; FELIPE, 2015, p. 3
, traducción nuestra
).
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Así, con base en la preocupaci
ón en formar adultos conscientes y capaces de
comprender la naturaleza de las relaciones humanas, así como las diferencias y peculiaridades
y, sobre todo, en lo que
respecta a la sexualidad, el Ministerio de la Educación sugiere que la
Educación Sexual debe estar presente en el currículo de las escuelas desde temprano, como un
tema transversal, o sea, no tratando de una asignatura obligatoria y fija de la malla curric
ular,
pero debiendo estar relacionada a otras materias, comúnmente abordada en la biología. Tal
sugestión está descripta en los PCNs
3
, los Parámetros Curriculares Nacionales (BRASIL,
1998), documento responsable por la adecuación y ecuación de la enseñanz
a en Brasil.
Por
otro lado, este documento es una sugestión del gobierno, y, por lo tanto, la no obligatoriedad
de la enseñanza de tal tema demuestra el prejuicio que todavía es fuertemente enraizado y
presente en la cultura brasileña. Además, cabe señalar
que los PCNs fueran el primer
reconocimiento de porte nacional, que legitimó la necesidad e importancia de la implantación
de programas de orientación de Educación Sexual en las escuelas que atienden niños y
adolescentes, lo que no abarca, sin embargo, la
Educación Infantil, perpetuando, así, la idea
de falta de necesidad del abordaje en la dicha franja etaria.
De cualquier modo, la educación sexual debe ser promovida en todos los ámbitos y
entre todas las franjas etarias, donde,
Las
necesidades y preocupaciones de los niños y jóvenes en materia de salud
sexual y reproductiva varían mucho dentro de las regiones, las comunidades
y los países, y entre ellos, lo que puede afectar a la percepción de un objetivo
de aprendizaje específico. P
or lo tanto, estos objetivos deben ajustarse
siempre al contexto sobre la base de los datos e información confirmados
disponibles. En cualquier caso, la mayoría de los expertos creen que los
niños y los jóvenes quieren y necesitan información sobre la sexu
alidad y la
salud sexual de manera integral y lo más temprano posible (UNESCO, 2014,
p. 15
, traducción nuestra
).
Siguiendo este pensamiento, en búsqueda de la
ascensión y diseminación de la
educación sexual dentro del ambiente escolar, se propone que la o
rientación sexual sea tratada
dentro de la escuela de modo
interdisciplinario
, garantizando así que el tema sea encarado de
modo
natural
y esencial al comportamiento y desarrollo humano, en todas sus fases.
Pero, ¿cómo inculcar y concienciar a la sociedad
sobre la importancia de tratar la
Educación Sexual en las escuelas sin que se convierta en un problema? En este sentido, este
estudio propone una discusión sobre el tratamiento de la asignatura a través de la
interdisciplinariedad, es decir, la asignatura
debe transitar y caminar entre todos los aspectos
3
A
c
tual BNCC
-
Base Nacional Comum Curricular
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dentro del sistema educativo desde la más temprana edad, conteniendo responsabilidad,
compromiso y respeto por todos.
La sexualidad es algo intrínseco al ser humano y un derecho de todos,
como destaca la
U
NESCO en las “
Orientaciones técnicas sobre educación sexual para el escenario brasileño:
t
emas y objetivos de aprendizaje”
(UNESCO, 2014). Cuando orientamos a un niño en
relación con la sexualidad, no sólo estamos contribuyendo a promover una mejor calidad
de
vida, sino que también estamos protegiendo la infancia y los derechos de los más pequeños,
además de promover el respeto y la igualdad. Cabe destacar que el material está destinado a
niños a partir de los cinco años, lo que ilustra una de las discusion
es del estudio aquí
propuesto, cuyo objetivo es alertar sobre la falta de preocupación por la orientación sexual de
los niños menores. Ahora bien, si la sexualidad es algo inherente al ser humano, ¿por qué no
hay más preocupación por la orientación de los
niños desde la más temprana edad?
Presentación general de las colaboradoras.
Antonela
Antonela tiene 41 años, casada y madre de una hija, directora de la institución de
educación infantil aquí analizada, y proviene de una familia de 5
personas, siendo padre,
madre y tres hijos, lo que demuestra la relación entre la fracción de clase media y las
estrategias de reproducción de la fecundidad, que difiere de las familias de la capa popular,
que ven en el gran número de hijos un futuro perci
bido como exitoso. Sus padres trabajaban
y, según ella, ninguno de ellos cuestionaba el trabajo del otro, ambos eran libres de decidir en
qué querían trabajar.
Dolores
Dolores es auxiliar de oficina en la secretaría de la escuela infantil analizada aquí
.
Tiene 26 años, está casada y tiene dos hijas. Proviene de una familia de 6 miembros, padre,
madre y cuatro hermanos, pero según ella, considera a algunas personas más como familia.
Pasó su infancia en una pequeña ciudad del interior de São Paulo, en la z
ona urbana. Según la
entrevistada, su marido no está satisfecho con su ocupación actual, ya que, según sus palabras
“
Piensa que no estoy
“
donde debería estar
”
, soy muy aficionada al comerc
io, a las ventas y
actualmente “
estoy
”
trabajando como auxi
liar de o
ficina (Dolores, 2016)”
.
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Fernanda Celli de OLIVEIRA e Luci Regina MUZZETI
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Márcia
Márcia tiene 37 años, está casada y es madre de tres hijos, es profesora (no titulada) de
la institución de educación infantil aquí analizada, y proviene de una familia de 12 personas,
de las cuales 9 son padre y
madre y 1 hijo sólo del padre. La familia vivió durante 7 años en el
campo, en una ciudad de Bahía. Según ella, no hay un trabajo específico de un hombre o una
mujer. También relata que a su padre no le gustaba m
ucho la profesión de su madre, “
a mi
padre n
o le gustaba [...] por los niños, porque tenía que quedarse con los demás, por eso mi
madre se va [...]
(Márcia, 2016)”
.
Gé
nero
según
Pierre
Bourdieu
Bourdieu (1999)
define el género como la “socialización del biológico y biologización
del social”
(BOURDIEU, 1999, p. 9),
en otras palabras, el género se construye y estructura en
el agente, en el proceso de socialización. Es mucho más que solamente el sexo, abarcando
to
das las relaciones de lucha y de dominación que atraviesan la posición
social del sexo en
una determinada sociedad, en un determinado momento histórico, contemplando, también el
orden social de las cosas: “[…] El orden social funciona como una inmensa máqu
ina
simbólica que tiende a ratificar la dominación masculina sobre la cual se basa: es la división
social del trabajo, distribución bastante restricta de las actividades
atribuidas
a cada uno de los
dos sexos […]”.
(BOURDIEU, 1999, p. 18).
Para
Bourdieu (1999), el género atraviesa la cuestión biológica y se trata de una
violencia simb
ólica cuando nos referimos a la dominación masculina. El sociólogo denuncia
también las dicotomías y oposiciones relacionadas al género, enfatizando que:
Cuando lo
s dominados aplican a lo que les domina esquemas que son
producto de la dominación o, en otros términos, cuando sus pensamientos y
percepciones se estructuran conforme a las mismas estructuras de la relación
de dominación que se les impone, sus actos de co
nocimiento son
inevitablemente actos de reconocimiento, de sumisión (BOURDIEU, 1999,
p. 22
, traducción nuestra
).
Las disposiciones con relación al g
énero se encuadran como resultado de la trayectoria
social y de la herencia cultural, principalmente con re
lación a los aspectos relacionados con la
cultura familiar y escolar.
Según Bourdieu (1999), la dominación está intr
ínsecamente relacionada a la sociedad
y se hace imperceptible a los ojos,
acerca de
la normalidad, donde, “la fuerza masculina se
evidencia
en el hecho de que ella dispensa justificación: la visión androcéntrica se impone
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como neutra y no tiene necesidad de enunciarse en discursos que tengan en cuenta
legitimarla”
(BOURDIEU, 1999, p. 18).
Eso significa que, aunque creamos que tenemos libertad
de pensamiento, seguimos
aceptando ser dominados por los grupos dominantes. De este modo, el género se construye y
se estructura en un proceso de socialización que abarcará las relaciones de dominación
presentes en la sociedad.
[...] Siempre he
visto en la dominación masculina, y en la forma en que se
impone y se vive, el ejemplo por excelencia de esa sumisión paradójica,
resultante de lo que llamo violencia simbólica, blanda, insensible, invisible
para sus propias víctimas, que se ejerce esencia
lmente a través de las vías
puramente simbólicas de la comunicación y el conocimiento, o, más
precisamente, de la ignorancia, el reconocimiento o, en última instancia, el
sentimiento
(BOURDIEU, 1999, p. 7
, traducción nuestra
).
Bourdieu destaca
también
que:
Otro factor determinante en la perpetuación de las diferencias es la
permanencia que la economía de los bienes simbólicos (de la que el
matrimonio es una parte central) debe a su autonomía relativa, que permite
que la dominación masculina se perpetú
e en ella, por encima de las
transformaciones de los modos de producción económica: esto, con el apoyo
permanente y explícito que la familia, principal guardián del capital
simbólico, recibe de las Iglesias y la Ley
(BOURDIEU, 1999, p. 115
,
traducción nues
tra
).
Para reconocer las relaciones existentes entre las divisiones de género, objeto de esta
investigación, es necesario entender cómo se establecieron. Según Bourdieu (1999), este
trabajo de reproducción ha sido realizado hasta hace poco por tres instan
cias principales: la
familia, la iglesia y la escuela. En
las
palabras de
l
autor:
“
Es sin duda la familia la que juega
el papel principal en la reproducción de la dominación y la visión masculina, es en la familia
donde se impone la experiencia temprana de
la división sexual del trabajo y la representación
legítima de esta división
[...]
(BOURDIEU, 1999, p. 103)
”
.
Y, por último, Bourdieu analiza el papel de la escuela en la reproducción de las
desigualdades de género
:
[...]
la Escuela, incluso cuando ya se
ha liberado de la tutela de la Iglesia,
sigue transmitiendo los supuestos de la representación patriarcal (basados en
la homología entre la relación hombre/mujer y la relación (adulto/niño) y
sobre todo, quizás, los inscritos en sus propias estructuras je
rárquicas, todas
ellas de connotación sexual
[...] (BOURDIEU, 1999, p.
104
, traducción
nuestra
)
.
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La fuerza del orden masculino es evidente en el hecho de que prescinde de la
justificación: la visión androcéntrica se impone como neutra y no tiene necesidad de
enunciarse en discursos destinados a legitimarla.
(BOURDIEU, 1999, p. 18)
Las divisiones cons
titutivas del orden social y, más precisamente, las
relaciones sociales de dominación y explotación que se instituyen entre los
géneros se inscriben así progresivamente en dos clases diferentes de
habitus
,
bajo la forma de
hexis
corporales opuestas y compl
ementarias y de
principios de visión y de división, que conducen a la clasificación de todas
las cosas del mundo y de todas las prácticas según distinciones reducibles a
la oposición entre lo masculino y lo
femenino
(BOURDIEU, 1999, p. 41
,
traducción nuest
ra
)
Según las concepciones del teórico, es en el cuerpo, es decir, en la héxis corporal
(ORTIZ, 1983), donde se materializan las desigualdades entre los sexos y se naturaliza la idea
de la dominación masculina. Con esto, Bourdieu (1999) crea una
teoría que propone y
posibilita los cambios relacionados con la ruptura
de esta dominación masculina. “
El mundo
social construye el cuerpo como realidad sexual y como depositario de principios de visión y
división sexualizante
”
.
(BOURDIEU, 1999, p. 18)
.
La dominación masculina, que constituye las mujeres como objetos
simbólicos cuyo ser (
e
se) es un ser
-
percibido (percipiti) tiene por efecto
ponerlas en permanente estado de inseguridad corporal, o mejor, de
depende
ncia simb
ólica: ellas existen primer por é
l, y para, la mirada de los
demás, es decir, como objetos receptivos, atrayentes disponibles
(BOURDIEU, 1999, p. 82
, traducción nuestra
).
Cuando hablamos de género dentro del ámbito escolar, podemos verificar en las
hablas de las colaboradoras que hay co
ntradicciones y equívocos relacionados al tema,
ilustrando tal hecho a partir del relato de las participantes, que perpetúan los prejuicios:
Mira, hoy en día para mi hija lo veo de otra manera, porque, las cosas han
cambiado mucho, pero cuando yo
era
niña jugaba con cometas, con
trompos, jugaba con canicas, entonces, si ves bien
jugaba con cosas que
eran de chicos y aun así mi elección era.... Creo que hoy en día veo más
esto, porque se habla mucho de "eso", por lo que me preocupan mis hijas,
pero no e
s que discrimine si quiere jugar a la pelota, jugará a la pelota,
pero sabiendo que es un juguete que pertenece a su amiguito, en este caso
un niño
(Dolores, 2016).
En la visión de Antonela, por ejemplo la
construcción de género es algo que sucede
social
mente; ella habla sobre los juguetes y los juegos realizados dentro de la escuela:
Ah, yo creo que, por ejemplo, la muñeca es más de niña sí, el niño a veces
quiere jugar con la muñeca pero no sabe que la muñeca es femenina o
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masculina y coge y dice "ah
es un bebé, mi bebé"; y la pelota también, a
varias niñas les gusta jugar a la pelota y, y la pelota es más para un niño,
entonces, yo creo que sí, el género de la pelota, entonces el niño niña no
puede jugar a la pelota, no veo por qué no
(Antonela, 2016)
.
Cuando hablamos de género en el
ámbito familiar, ilustramos la visión de división de
género inculcada en el habla de Antonela y de Dolores,
Oh, siempre hablo así, es... por ejemplo, es... eres una niña, es... bañarse,
vamos a bañarnos con mamá, así que
siempre así, recalcando que es una
niña. Porque siempre habla de sus amigos, de todos, habla de sus nombres,
entonces chica... recalco que es u
na chica
(Antonela
, 2016).
Creo que cada uno nace como es "pa" ser, eso no cambia. Si tienes que
hacer pipí de pie, vas a hacer pipí de pie, c
ó
mo vas a hacer pipí sentado.
Creo que así, estoy en contra de
[...]
(Dolores, 2016).
En general, la
s participantes demuestran una visión de la dominación naturalizada en
relación con el género, donde Bourdieu explica que
“
la fuerza particular de la sociodicea
masculina proviene del hecho de que acumula y condensa dos operaciones: legitima una
relación d
e dominación inscribiéndola en una naturaleza biológica que es a su vez una
c
onstrucción social naturalizada”
(BOURDIEU, 1999, p. 33). Vemos la naturalización de esta
dominación en el discurso de Má
rcia, cuando se le pregunta qué sig
nifica ser un hombre de
éxito: “
Ah, un hombre con una buena profesión, que estudia,
'como' un abogado (ríe) así...”
.
(Marcia, 2016). Una mujer exitos
a es “
una mujer que tiene una casa propia, sus hijos, un buen
trabajo, que no tiene que trabajar todo el día, tener tiempo para ti
y tiempo para sus hijos,
trabajar sólo a tiempo parcial”
(Márcia, 2016).
Podemos verificar esta dominación también en el habla de Antonela, que perpetúa esa
visión de contención social que la mujer supuestamente debe ter, según la construcción social,
[
...]
Los juegos de chicas, por ejemplo, las chicas, lo que más les gusta es...
la muñeca, jugar a la mamá y a la hija, a la casa, y los chicos creo que más
la pelota, el carro, el camión, los juegos propios, tiene hoy varios juegos,
creo que el Lego
-
Lego v
ale por dos
(Antonela, 2016).
Podemos destacar en
esta
habla que, mientras las niñas deben jugar con juguetes y
juegos más contenidos y que reproducen el ámbito familiar, los niños, a su vez, deben preferir
juguetes que significan más libertad y autonomía
afuera del ámbito familiar.
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Herencia
cultura
l y
su
interfere
ncia
en la
sexualidad
Según Bourdieu (BOURDIEU, 2007), el patrimonio puede entenderse como un
conjunto de conocimientos, saberes, informaciones, códigos lingüísticos, entre otros, que los
diferencian de otros grupos. También hay que señalar que, aunque esta primera diferenciación
entre los niños se establece en el seno de la familia, es en la escuela donde la reproducción
social favorece y legitima las diferencias sociales
-
por ejemplo, la
herencia económica y de
género
-
como un don natural, resaltando las relaciones entre dominados y dominantes.
Sin embargo, se debe llevar en cuenta que el universo cultural de la familia se debe
extender a los demás miembros, o sea, cuando el alumno posee
relaciones con determinadas
actividades culturales legitimadas, significa que no solo los padres poseen estos hábitos, sino
también sus abuelos, tíos, en fin, toda la extensión familiar que puede interferir e incentivar
esas actividades. Así, con la lenti
tud del proceso de articulación, se destaca la existencia de
los diferentes niveles culturales que poseen también una descendencia.
Con relación a la herencia cultural de las colaboradoras podemos d
ecir que, de manera
general, las participantes demostraro
n una
creación basada en prejuicios y comprensiones
relacionados al género. Sus maridos a su vez
perpetúan
esta dominación por medio de sus
comportamientos relacionados a la sexualidad, lo que puede interferir en las cuestiones
relacionadas al tema sobre l
as propias agentes y su prole, extendiéndose al ámbito escolar,
dado que debemos considerar la inserción profesional de ellas en este escenario.
Reestructuración
de
Habitus
Bourdieu (2007) recupera la dinamicidad de la categor
ía
habitus
, creada por la
escolástica, que parte del principio de que la primera experiencia del individuo condiciona
todas las demás experiencias.
Ratifica
, sin embargo, diciendo que esa experiencia primera del
individuo
también es condicionada por todas las demás
experiencias, siendo una herencia
biológica convertida en herencia cultural, es decir, es estructuralmente dinámica. Así, ese
método permite captar las regularidades de las fracciones de clases, pues la sociedad no tiene
reglas sino regularidades. Hay, ent
onces, una materialización que ocurre por medio de la
mediación y de las condiciones económicas vividas en la familia, por medio de interdictos,
disposiciones, consejos, vivencias, en que ella demuestra de qué modo esas disposiciones se
estructuran en el c
omportamiento del actor, formando así lo que llamamos, según la teoría
bourdieusiana, de
habitus primário
, que es anterior a todas las vivencias posteriores, pero que
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se estructura, también, a partir de todas las
experiencias, debido a la inten
cionalidad d
el
sujeto.
El
habitus
se presenta así como social e individual: se refiere a un grupo o a
una clase, pero también al elemento individual; el proceso de interiorización
implica siempre la interiorización de la objetividad, que ciertamente se
produce de forma subjetiva, pero que
no pertenece exclusivamente al ámbito
de la individualidad
(ORTIZ, 1983, p. 17
, traducción nuestra
).
Partiendo de este
principio
, podemos afirmar que, a pesar de las construcciones
vivenciadas por los participantes en su
habitus
primario, este se puede m
odificar a lo largo de
su existencia con base en sus experiencias. En este sentido, verificamos que las colaboradoras
perpetúan las condiciones experimentadas durante su creación en el seno familiar,
atravesando
los equívocos y
desconocimientos
acerca de l
a sexualidad a su prole y
consecuentemente a los niños atendidos dentro del ámbito escolar.
Consideraciones finales
Vivimos en una sociedad históricamente patriarcal y machista, por lo que entendemos
que los temas relacionados con la
sexualidad siguen teniendo un carácter excluyente y
dominante, impregnado de prejuicios y tabúes. Cuando estudiamos la historia de la Educación
Sexual en nuestro país, así como los intentos de incluirla dentro de las escuelas, nos
encontramos con que ha si
do un largo proceso compuesto por varios avances y retrocesos. En
este sentido, la inclusión de la Educación Sexual en la Educación Infantil muestra un avance
aún más lento, marcado por situaciones constantes y considerablemente inadecuadas,
demostrando el
desconocimiento real del tema.
Eso quiere decir que, aunque después de décadas, la
sexualidad
–
que es inherente al
ser humano
–
todav
ía no tiene su relevancia considerada, hecho que interfiere directamente en
la formación de los individuos en todos los s
entidos, ya sean biológicos, psicológicos o
sociales.
En términos generales, se concluyó que la escuela no ha estado tratando los temas
relacionados con la sexualidad como debería, especialmente en lo que respecta al género, ya
sea por falta de conocimi
ento, o por la represión y dominación masculina, cuya violencia
simbólica intrínseca a este comportamiento está inculcada en nuestra sociedad.
El tema sigue basándose en malentendidos, posiblemente por la poca importancia que
se le da, pero a menudo se
pide a la escuela que responda y se responsabilice de esta
instrucción. Por otro lado, y según el movimiento de la sociedad, la escuela omite y teme por
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esta instrucción, que a menudo se ve como una obligación sólo de la familia, lo que a su vez
hace que l
a escuela sea responsable de dicha instrucción.
En este sentido, siguiendo este juego de empurra
-
empurra, la educaci
ón sexual infantil
queda al borde de la sociedad, y perpetúa la ignorancia y desconocimiento por parte de la
escuela y del ámbito familiar,
perjudicando a todos, principalmente los niños, que cada vez
más son expuestos a estas cuestiones sin un preparo o instrucción para lidiar con ellas.
Cabe señalar también que
el silencio no desresponsabiliz
a ninguna esfera, por lo
contrario, el hecho de n
o hablar sobre el tema es un modo de educar, y sobre todo de reforzar
una
farsa
con
relaci
ón a la orientación
sexual diseminada en la sociedad a través de valores
morales.
Así, la escuela debe cumplir su papel social de difundir la información, cambiando
la
sociedad a través de la instrucción y discusión en favor de la integración, y proporcionando
placer, ciudadanía y bienestar.
El trabajo que aquí se propone pretende revelar cómo los temas relacionados con la
sexualidad siguen siendo considerados una
molestia en nuestra sociedad, especialmente en los
ámbitos escolar y familiar. Además de ser tratada principalmente como un tema tabú, la
sexualidad infantil sigue siendo vista de manera incipiente y errónea, lo que contribuye
directamente a perpetuar los
prejuicios y las disparidades, perjudicando los debates sanos y
esclarecedores sobre el tema. La resistencia de los profesionales de la educación, así como de
las familias, perjudica e interfiere de forma negativa en la Educación Sexual Infantil,
impidiend
o el desarrollo integral positivo del niño, especialmente en sus primeros años (fase
de intenso desarrollo).
En un intento de superar tales contradicciones, se propone que cada vez más el tema
sea incorporado en la vida de las personas desde
temprana edad, de manera asertiva y natural,
desmitificando y superando la ignorancia al respecto, contribuyendo así a una Educación
Sexual sana y esclarecedora, donde tanto la familia como la escuela se responsabilicen y
complementen los conocimientos par
a brindar a los niños seguridad, autoconocimiento y
autonomía.
AGRADECIM
I
ENTOS
:
CAPES
–
DS
–
Coordinación
de
Perfeccionamiento de
Personal
de
Enseñanza
Superior.
REFERE
NCIAS
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Có
mo referenciar este
artículo
OLIVEIRA, M. F. C.; MUZZETI, L. R
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La interferencia de la herencia cultural en la
educación sexual de
agentes escolares: un estudio de una institución infantil del interior
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Enviado el
:
16/04/2020
Revisiones
requeridas:
22/07/2020
Aprovado el
:
10/09/2020
Publicado el
:
02/01/2021