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Construção do critério gênero no Programa Nacional do Livro Didático (2006
-
2020)
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 63
-
83, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
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DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13752
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CONSTRUÇÃO DO CRITÉRIO GÊNERO NO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO
DIDÁTICO (2006
-
2020)
CONSTRUCCIÓN DEL CRITERIO DE GÉNERO EN EL
PROGRAMA NACIONAL
DEL LIBRO DIDÁCTICO
(2006
-
2020)
CONSTRUCTION OF THE GENDER CRITERION IN THE NATIONAL
TEXTBOOK
PROGRAM (2006
-
2020)
Lívia de Rezende CARDOSO
1
Rosa Virgínia Oliveira Soares
de
MELO
2
RESUMO
:
São problemáticas que envolvem currículo, gênero e livros didáticos que
tomamos como interesse de investigação neste artigo. Analisamos aqui
como a categoria
gênero é construída nos critérios de inclusão ou exclusão em editais do Programa Nacional do
Livro Didático. Algumas vezes, gênero é abarcado em critérios de cidadania ou Direitos
Humanos. Outras, vem explicitamente associado à mulher e re
lacionado ao que é construído
sobre feminino e masculino. Para empreender as análises, observamos os documentos legais
reguladores do PNLD, além dos editais do período de 2006 a 2020, disponíveis para consulta
eletrônica. Com as análises, percebemos o cará
ter geral e pouco característico dos itens
avaliativos sobre questões de diversidade de gênero, que, além de estar em reduzidos itens,
compartilham espaço com outras categorias analíticas, como raças e etnias. Tal avaliação, a
depender do posicionamento po
lítico em relação à temática, acarreta, portanto, em
silenciamentos ou aprisionamentos de gênero nas coleções de LD.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Currículo.
G
ênero.
L
ivro didático.
RESUMEN
:
S
on temas que involucran currículo, género y libros
didácticos
que tomamos
c
omo interés en la investigación en este artículo. Analizamos aquí cómo la categoría de
género se basa en los criterios de inclusión o exclusión en los avisos
públicos
del Programa
Nacional de Libros de Texto. A veces, el género se incluye en los criterios
de ciudadanía o
derechos humanos. Otros están explícitamente asociados con las mujeres y relacionados con
lo que se construye sobre lo femenino y lo masculino. Para llevar a cabo los análisis,
observamos los documentos legales reglamentarios de PNLD, ademá
s de los avisos públicos
del período 2006 a 2020, disponibles para consulta electrónica. Con los análisis, nos dimos
cuenta del carácter general y poco característico de los ítems evaluativos sobre temas de
diversidad de género, que, además de estar en íte
ms reducidos, comparten espacio con otras
categorías analíticas, tales como razas y etnias. Tal evaluación, dependiendo de la posición
política en relación con el tema, conduce a silencios o encarcelamientos de género en las
colecciones de LD
.
1
Universidade Federal de Sergipe
(
UFS
)
, São Cristóvão
–
SE
–
Brasil
.
Professora
no
Programa de Pós
Graduação e
m
Educação
.
Doutora
do
em Educação (UFMG).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
4091
-
9110
.
E
-
mail: livinha.bio@gmail.com
2
Universidade Federal de Sergipe
(
UFS
)
, São Cristóvão
–
SE
–
Brasil
.
Mestranda
n
o Programa de Pós
-
graduação em Educação.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
8165
-
1483.
E
-
mail:
rosavirginia.aju@gmail.com
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Lívia de Rezende CARDOSO
e
Rosa Virgínia Oliveira Soares de MELO
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PALABRAS
-
CL
AVE
: Currículo
.
G
énero.
L
ib
ro didáctico
.
ABSTRACT
:
These are issues that involve curriculum, gender and textbooks that we take as
an interest in research in this article. We analyze here how the gender category is built on the
inclusion or exclusion criteria in notices of the National Textbook Program. Som
etimes,
gender is included in citizenship or human rights criteria. Others are explicitly associated
with women and related to what is built on feminine and masculine. To undertake the
analyzes, we observe the PNLD regulatory legal documents, in addition t
o the public notices
from the period 2006 to 2020, available for electronic consultation. With the analyzes, we
noticed the general and uncharacteristic nature of the evaluative items on issues of gender
diversity, which, in addition to being in reduced it
ems, share space with other analytical
categories, such as races and ethnicities. Such an assessment, depending on the political
position in relation to the theme, therefore leads to silencing or imprisonment of gender in the
LD collections.
KEYWORDS
: Cu
rriculum.
G
ender.
T
extbook.
Situando a questão
Livros didáticos (LD) e paradidáticos vêm sendo tomados como objeto de várias
investigações sobre representações de gêneros, de grupos étnicos e classes sociais. Juntamente
com os currículos de
escolas, esses materiais pedagógicos e LD contemplam conteúdos que,
sob tormentas da ‘ideologia de gênero’, vêm sendo contestados “para impedir que a diferença
se prolifere e para fazer com que gênero e sexualidade sejam considerados temas não
escolares” (
PARAÍSO, 2018, p. 23). Isso porque alguns modos de regulação tentam definir o
“campo do ‘costumeiro, do aceito, do normalizado e do esperado’ e nesse processo definem
capacidades expressivas particulares como marginais, falsas ou perversas” (SIMON, 2008, p
.
74).
Quando os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) colocaram “a pluralidade
cultural como tema transversal, criaram um território para a contenção dos temas postos na
educação” (RODRIGUES; ABRAMOWICZ, 2013, p. 22). Assim, em 2014, o termo gênero
foi
suprimido do Plano Nacional de Educação (PNE) em nível de Congresso Nacional e
fortemente combatido em secretarias municipais e estaduais nos anos seguintes. Em 2017, a
regra do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que previa nota zero à redação que
ofend
esse princípios dos Direitos Humanos foi entendida pelo desembargador federal como
violação da liberdade de manifestação do pensamento, ao avaliar pedido da associação Escola
Sem Partido (EsP). Na decisão, mantida pela Ministra do Supremo, defendeu
-
se que
não
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existe uma base epistemológica, impondo
-
se o respeito ao ‘politicamente correto’, nada mais
do que um ‘simulacro ideológico’ dos direitos humanos propriamente ditos
3
.
Em janeiro de 2019, o então Ministro da Educação tentou modificar
critérios do
vigente Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), excluindo
-
se a obrigação de as obras
apresentarem diversidade étnica, combate à violência contra mulher e promoção positiva da
imagem da mulher
4
. Nota
-
se, portanto, como esses textos oficiai
s se constituem como
políticas regulatórias que predizem “padrões, condições de trabalho e atuação, regras
individuais e para o grupo” (POSSA; BRAGAMONTE, 2018, p. 1058).
São problemáticas que envolvem currículo, gênero e LD que tomamos como interesses
de
investigação neste artigo. Mais especificamente, buscamos analisar como a categoria
gênero é construída nos critérios de inclusão ou exclusão em editais do PNLD,
compreendendo o período de 2006 a 2020. Por vezes, gênero é abarcado em critérios de
cidadania
e de Direitos Humanos. Em outras, vem explicitamente associado à mulher e às
suas relações com o que é construído sobre feminino e masculino, mantendo a hegemônica
maneira de classificação estruturada em torno de oposições binárias. Para Silva (2008, p. 7
6),
“em uma oposição binária, um dos termos é sempre privilegiado, recebendo um valor
positivo, enquanto o outro recebe uma carga negativa”.
Para empreender essas análises, observamos os documentos legais que regulamentam
o PNLD, bem como os editais dispo
níveis para consulta eletrônica. Mesmo tratando
-
se de
uma política curricular que estabelece a necessidade de discussões acerca da diversidade
cultural nos LD, vale destacar que “as políticas curriculares são, por sua natureza, discursos
normativos com a f
inalidade de gerir populações” (MACEDO; RANNIERY, 2018, p. 743).
Nesse sentido, questionamos o público endereçado por essa política curricular como “algo que
não é
–
nem pode ser
–
fixo e muito menos da ordem da semelhança, do espelhamento ou,
ainda, da me
smidade” (p. 748). Além disso, as políticas públicas educacionais podem se
constituir como “uma trama complexa, na qual a diferença, sem a qual não há educação, é
constrangida” (p. 743).
Currículo é aqui entendido “como um artefato cultural que ensina, ed
uca e produz
sujeitos, que está em muitos espaços desdobrando
-
se em diferentes pedagogias” (PARAÍSO,
2010, p. 11). Com tal finalidade, instâncias culturais, assim como os LD, “transmitem uma
variedade de formas de conhecimento que embora não sejam reconhec
idas como tais são
3
Disponível
em
:
https://www.conjur.com.br/2017
-
out
-
26/liminar
-
impede
-
zerar
-
redacao
-
enem
-
ofenda
-
direitos
-
humanos
.
A
cesso em
:
jul
.
2019.
4
Disponível
em
:
https://novaescola.org.br/conteudo/14998/vai
-
nao
-
vai
-
entenda
-
a
-
confusao
-
no
-
e
dital
-
do
-
pnld
-
2020
-
que
-
permitia
-
erros
-
nos
-
livros
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A
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:
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.
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vitais na formação de identidade e de subjetividade” (SILVA, 2003, p. 140). De modo
estratégico, “os grupos dominantes sempre falaram sobre os demais grupos e construíram
representações que tiveram e têm efeitos de poder e de verdade” (P
ARAÍSO, 2004, p. 60).
Dessa forma, “as políticas de currículo, as condições de ensino e as práticas pedagógicas são
orientadas pela ‘política’ convencional dos governos” (SIMON, 2008, p. 67). Também
chamadas por este autor de Tecnologias culturais, esse co
njunto de práticas organizacionais,
curriculares e pedagógicas “contribuem para definir as formas pelas quais o significado é
produzido, pelas quais as identidades são moldadas e os valores contestados ou preservados”
(p. 68). Isso significa distanciar, di
ferenciar, separar, posicionar e classificar grupos.
A grade de ideias refe
rente à aprendizagem, ao ensino e ao currículo funciona “para
separar e classificar os indivíduos, criando diferenciações cada vez mais apuradas do
comportamento rotineiro” (POPKEW
ITZ, 2001, p. 29), implicando um contexto no qual “se
ensina e regula o corpo, produzindo subjetividades e arquitetando formas e possibilidades de
viver em sociedade” (MOREIRA; SILVA JUNIOR, 2016, p. 48). Nesse sentido, “deter o
privilégio de classificar s
ignifica também deter o privilégio de atribuir diferentes valores aos
grupos assim classificados” (SILVA, 2008, p. 82). O processo de classificação é central na
vida social e as classificações são sempre feitas a partir do ponto de vista da identidade. Par
a
Silva (2008, p. 73), “identidade é simplesmente aquilo que se é”. Em oposição a ela, “a
diferença é aquilo que o outro é” (IDEM) e ambas são “uma relação social. Isso significa que
sua definição
-
discursiva e linguística
-
está sujeita a vetores de forç
a, a relações de poder”
(p. 75). A identidade e a diferença são tomadas como “declarações sobre quem pertence e
sobre quem não pertence, sobre quem está incluído e quem está excluído” (IDEM).
“Selecionar é questão de poder” (p.168) e, afinal, “o poder está
inscrito no currículo” (IDEM).
Partido da assertiva que o discurso não é apenas uma mera denominação de coisas
através das “letras, palavras e frases, mas uma série de acontecimentos em que estão
vinculadas relações de poder, articuladas a uma ordenação d
o saber, que legitimam certos
modos de dizer as coisas” (POSSA; BRAGAMONTE, 2018, p. 1052), analisamos todos os
documentos selecionados, considerando a orientação em relação ao modo como aí está
inserida a categoria gênero. Observamos que, quase em sua tot
alidade, as orientações são
gerais, visam respeitar os direitos humanos e as diversidades sociais, culturais e religiosas da
sociedade brasileira, o pluralismo de ideias, preparar os indivíduos para o exercício da
cidadania e para o convívio social, e gara
ntir as oportunidades e a igualdade de condições
para o acesso e a permanência dos/as alunos/as na escola.
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As abordagens referentes à categoria gênero, “na maioria das vezes, estão
centralizadas em discursos vigilantes e moralizantes, e, além disso, refor
çam modelos de
como deve ser o comportamento considerado adequado” (GIACHINI; LEÃO, 2016, p. 1411)
para as subjetividades Consideramos, porém, que tal categoria tem ganhado amplitude em
investigações e não pode ser operada apenas como um termo ou dimensão.
Gênero é uma
norma, que estabelece “os significados culturais assumidos pelo corpo sexuado” (BUTLER,
2010, p. 24); é a “condição social pela qual somos identificados como homem ou como
mulher” (LOURO, 1997, p. 80); é a “capacidade de o sujeito assumir det
erminado lugar
social, de agir socialmente, de maneira voluntária, de fazer escolhas e decidir sobre si” (DOS
ANJOS; CARDOSO, 2014, p. 71). O gênero não nega a biologia, mas enfatiza a “construção
social e histórica produzida sobre as características bioló
gicas” (p.
22). Ao não se falar a
respeito de tais questões, talvez se almeje que os indivíduos tomem conhecimento e possam
se interessar por elas. Desse modo, “o silenciamento
-
a ausência da fala
-
aparece como uma
espécie de garantia da ‘norma’” (p. 68)
.
A relação entre o Governo Federal, por meio do Ministério da Educação, e o
gerenciamento de LD que chegam às escolas públicas remete ao ano de 1938, quando se
instituiu a Comissão Nacional do LD. A partir do Decreto
-
Lei n.º 1.006, foram estabelecidas
con
dições de autorização, produção, importação, utilização e correções nos LD. Em 1945, tal
comissão assumiu o controle sobre a adoção de LD em todos os estabelecimentos de ensino
no país. Em 1972, o Instituto Nacional do Livro admitiu o processo de coedições
de LD em
conjunto com as editoras. E em 1983, foi criada a Fundação de Assistência ao Estudante,
incorporando
-
se o Programa do LD que, em 1985, teve o seu nome ampliado para PNLD. A
essa altura, o governo se torna financiador dos LD, extinguindo
-
se o proc
esso de coedição.
Esse programa se fundamenta na distribuição gratuita de LD, obras pedagógicas e
literárias aos alunos dos Ensinos Fundamental e Médio das escolas públicas, instituições
confessionais, comunitárias ou filantrópicas sem fins lucrativos e co
nveniadas com o poder
público, além de oferecer outros materiais de apoio à política educativa. É gerido pelo Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e se respalda na livre participação de
editoras privadas e na livre escolha por parte dos pr
ofessores/as. A legislação que rege o
PNLD é Portaria do MEC 7/2007, Resolução 51/2009, Resolução 02/2011, Resolução
40/2011, Resolução 42/2012, Decreto 9099/2017 e Resolução 15/2018.
Os editais do PNLD são dispositivos utilizados pelo Estado para estabele
cer as
diretrizes para a escolha dos LD distribuídos às escolas públicas. Cada edital versa sobre o
modo como acontecem as etapas do programa, desde as normas de inscrição, condutas de
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participação, documentação necessária, etapas do processo de avaliação
e seleção das
coleções, processos de habilitação, aquisição, produção e entrega dos materiais, a disposições
gerais e anexos. Os anexos trazem modelos de declaração, da estrutura editorial e outras
especificações técnicas para a produção, além de princípio
s e critérios gerais e específicos
(nas áreas de Ciências, Geografia, História Língua Portuguesa, inclusive Alfabetização, e
Matemática) para avaliação dos livros didáticos. Há editais destinados, também, a escolhas de
dicionários e de obras literárias. En
contram
-
se disponíveis eletronicamente os que
compreendem às edições de 2006 a 2020, com exceção da versão 2009, que não está
disponível no endereço eletrônico do MEC.
Os editais do PNLD analisados trataram respectivamente do processo de seleção e
avaliaçã
o de obras destinadas à escolha de: i) 2006
-
dicionários de Língua Portuguesa para os
anos iniciais do ensino fundamental; ii) 2007
-
coleções para as séries iniciais do ensino
fundamental; iii) 2008
-
coleções para os anos finais do ensino fundamental; i
v) 2009
-
Edital
não disponível no endereço eletrônico do MEC; v) 2010
-
coleções e obras complementares
para os anos iniciais do ensino fundamental; vi) 2011
–
coleções de língua espanhola para
professores do ensino médio e para a educação de jovens e adu
ltos; vii) 2012
-
coleções para o
ensino médio e dicionários brasileiros de língua portuguesa; viii) 2013
-
coleções para alunos
do campo, para os anos iniciais do ensino fundamental e obras complementares para os anos
iniciais do ensino fundamental (1º, 2
º e 3º anos); ix) 2014
-
coleções para a Educação de
Jovens e Adultos (EJA), coleções para os anos finais do ensino fundamental e obras de
literatura para alunos do ensino fundamental das escolas públicas, no âmbito do PNLD de
Alfabetização na Idade Certa;
x) 2015
-
coleções para o ensino médio;
xi) 2016
-
coleções
para alunos do campo e para os anos iniciais do ensino fundamental; xii) 2017
-
coleções para
os anos finais do ensino fundamental; xiii) 2018
-
coleções para o ensino médio; xiv) 2019
–
coleções
para os anos iniciais do ensino fundamental; xv) 2020
–
coleções e obras literárias
para os anos finais do ensino fundamental.
Nas próximas seções, analisaremos, inicialmente, a construção dos critérios de
avaliação dessa política curricular até os editai
s de 2016, aos quais se observa certo
aprimoramento das questões de diversidade e gênero. Na seção seguinte, identificaremos
efeitos da BNCC e da onda conservadora que tenta influenciar as políticas educacionais nos
regulamentos do PNLD, acarretando em uma
supressão de vários textos antes presentes nos
editais. Na quarta seção, passaremos a uma análise por disciplinas específicas, explicitando
quais áreas têm maiores avanços e seus reflexos nas obras didáticas, segundo a literatura
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especializada em livros d
idáticos. Por fim, teceremos algumas considerações gerais sobre a
política curricular em questão.
A construção de critérios até 2016
Os Direitos Humanos são aqueles inerentes a todos os seres humanos, independe de
raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma
, religião ou qualquer outra condição. Neles estão
incluídos o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao
trabalho e à educação, entre outros. Todos merecem estes direitos, sem discriminação.
O
Direito Internacional dos Direitos Humanos
estabelece as obrigações dos governos a fim de
promover e proteger os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos (ONU,
1948). A
Educação
em Direitos Huma
nos
é essencialmente a formação de uma cultura de
respeito à dignidade humana através da promoção e da vivência dos valores da liberdade, da
justiça, da igualdade, da solidariedade, da cooperação, da tolerância e da paz.
Se atentarmos à
teorização cultural con
temporânea, há uma tendência a abordar o multiculturalismo, ou
pluralismo cultural, em educação simplesmente como uma questão de tolerância e respeito
para com a diversidade cultural. Segundo Silva (2008, p. 79), “por mais edificantes e
desejáveis que poss
am parecer, esses nobres sentimentos impedem que vejamos a identidade e
a diferença como processos de produção social, como processos que envolvem relações de
poder”.
De acordo com Rodrigues e Abramowicz (2013, p. 16), nos últimos vinte anos, a
diversidade
e outros temas a ela relacionados estão sendo abordados “de forma central no
debate internacional e nacional, nas discussões sobre o desenvolvimento e na formulação de
políticas públicas, especialmente na área da educação”. Assim, nas documentações
seleci
onadas,
observou
-
se, por exemplo, que em relação à diversidade, a portaria normativa
do MEC nº 7, de 05 de abril de 2007, que dispõe sobre as normas de conduta no âmbito da
execução dos Programas do Livro, encontra
-
se a orientação que se considerem para a
escolha
dos livros didáticos as diversidades sociais e culturais características da sociedade brasileira,
bem como do pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas.
As Resoluções/CD/FNDE nº 51, de 16 de setembro de 2009
–
que Dispõe sobre o
PNLD para Ed
ucação de Jovens e Adultos (PNLD EJA)
–
e a de nº 42, de 28 de agosto de
2012
–
que Dispõe
sobre
o PNLD para
a
educação básica
–
, repetem a mesma orientação nas
considerações iniciais, solicitando que tais diversidades sejam levadas em conta, já que a
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educ
ação é direito de todos e dever do Estado,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania
e
sua qualificação para o trabalho.
O decreto nº 9099, de 18 de julho de 2017, que versa sobre o PNLD, apresenta sobre o
respei
to às diversidades em seu artigo 3º, respeito às diversidades sociais, culturais e
religiosas e respeito à liberdade e o apreço a tolerância. A Resolução/CD/FNDE nº 15, de 26
de julho de 2018, que dispõe sobre as normas de conduta no âmbito da execução do
PNLD,
repete o considerando já visto nas Resoluções/CD/FNDE nº 51 e nº 42, ao dizer que se deve
considerar as diversidades sociais e culturais que caracterizam a sociedade brasileira, bem
como o pluralismo de ideias e as concepções pedagógicas no processo
de escolha.
Ao analisar os editais, observou
-
se que há uma grande preocupação com o caráter
social do LD ao contribuir para a formação da cidadania, para o respeito mútuo entre as
pessoas, a ética e o reconhecimento da diversidade, favorecendo o diálogo e
o apreço à
tolerância. Segundo Rodrigues e Abramowicz (2013, p. 16), essa seria uma possível estratégia
pedagógica “liberal” que “consistiria em estimular e cultivar os bons sentimentos e a boa
vontade para com a chamada "diversidade" cultural”. Alguns edi
tais analisados trazem
orientações básicas como a não veiculação de preconceitos de quaisquer condições
econômico
-
social, étnico
-
racial, de gênero no item destinado aos critérios de avaliação
comuns a todas as áreas.
Sobre essa necessidade de uma
educação para a cidadania, Bampi (2000, p. 1) afirma
que “quando cidadania é apresentada como uma solução para a emancipação, transformação e
libertação dos indivíduos, sua construtibilidade é suprimida”. Além disso, são postas em
“funcionamento técnicas s
utis de governamentalidade”, através das quais se moldam e
normalizam a “conduta, as aspirações as decisões dos indivíduos, com o propósito de alcançar
objetivos considerados desejáveis” (p. 10).
Foucault (2008, p. 45) define
a governamentalidade como um “
conjunto formado pelas
instituições, procedimentos, análises, reflexões, os cálculos e táticas” comuns a “todas as
formas modernas de pensamento e ação políticos” (MILLER
;
ROSE, 2012, p. 40), tendo “por
alvo principal a população, por principal forma de sa
ber a economia política e por instrumento
técnico essencial os dispositivos de segurança” (FOUCAULT, 2008, p. 143). De acordo com
Bampi, governar as pessoas não é força
-
las a fazer o que deseja o governante; é uma espécie
de manipulação tênue no modo pelo
qual os indivíduos conhecem a si mesmos e se
conduzem, ou seja, é a “
sutil integração de tecnologias de coerção e tecnologias do eu”
(FOUCAULT, 1993).
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Revista Ibero
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Nos editais dedicados à escolha dos dicionários, seja de Língua Portuguesa ou de
Língua Estrangeira, as r
eferências feitas ao respeito às diversidades são encontradas como
critério de exclusão, àqueles que apresentarem palavras ou imagens, preconceitos em relação
à condição econômico
-
social, cor, etnia, gênero, orientação sexual, religião, linguagem ou
qualqu
er outra forma de atitude discriminatória.
Tal edital cita, ainda, a Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB nº 9394/1996), que preconiza como princípios do ensino a
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento,
a arte e o saber, o
pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, o respeito à liberdade e apreço à
tolerância.
Isso quer dizer que, pedagogicamente, os indivíduos devem ter contato com a
diversidade de expressões e grupos culturais, aceitando a diver
sidade como natural, numa
“visão superficial e distante das diferentes culturas”. Nela, “o outro aparece sob a rubrica do
curioso e do exótico”, sem que sejam questionadas as relações de poder, ou como surgiram os
processos de diferenciação, implicando, as
sim, na produção de novas dicotomias, a exemplo
da “do dominante tolerante e do dominado tolerado ou a da identidade hegemônica, mas
benevolente e da identidade subalterna, mas ‘respeitada’” (RODRIGUES; ABRAMOWICZ,
2013, p. 16).
Todavia, grande parte dos e
ditais apresenta, em seus princípios gerais, uma vez que
pouquíssimas vezes aparecem como critério de qualificação, as recomendações de promover
positivamente a imagem da mulher, considerando sua participação em diferentes profissões e
espaços de poder; qu
e se abordasse a temática de gênero, da não violência contra a mulher,
visando à construção de uma sociedade não sexista, justa e igualitária.
Ao tratar de modo tão
genérico as diversidades
–
fazendo
-
se menção apenas ao termo “mulher”
–
, o início do PNLD
p
autou
-
se em uma visão de gênero como sinônimo de sexo biológico. A linguagem faz esse
papel de instituir distinções e desigualdades, pois ela é “
seguramente, o campo mais eficaz e
persistente, tanto porque ela atravessa e constitui a maioria de nossas prát
icas, como porque
ela nos parece, quase sempre, muito ‘natural’” (LOURO, 1997, p. 65). Desse modo, os textos
acabam reproduzindo esse ocultamento feminino através dos atributos, qualidades
comportamentos e analogias, no uso do diminutivo, por exemplo.
A op
osição binária
masculino e feminino, determinada biologicamente, materializa
-
se no termo utilizado apenas
como substituta das palavras homens e mulheres, adotando o gênero como uma substituição
mecânica do sexo. As relações de gênero, segundo Butler (2010,
p. 24), são
“significados
culturais assumidos pelos corpos sexuados”, ou seja, é uma condição sócio
-
histórico
-
cultural
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que vai além da condição estabelecida biologicamente através do sexo masculino ou
feminino.
Essa orientação sofreu algumas modificações
com o tempo. Em 2007, 2008 e 2010, o
texto era o mesmo. Já nos editais do EJA de 2011, nos editais do Campo e de 2013, nos do
EJA e de 2014 e no edital do Campo 2016, ampliou
-
se tal texto, de modo que não só se
abordasse a temática de gênero, nem só se pro
movesse positivamente a imagem da mulher,
mas que se reconhecesse e que se tratasse de modo adequado a diversidade de gênero,
considerando a participação de mulheres e homens em diferentes trabalhos, profissões e
espaços de poder, discutir as diferentes po
ssibilidades de expressão de feminilidades e
masculinidades, além de desmistificar preconceitos e estereótipos sexuais e de gênero,
visando à construção de uma sociedade não
-
sexista, não
-
homofóbica.
Assim, vemos que, a partir de 2011, a concepção de gêner
o é um pouco ampliada nos
editais do PNLD. Vemos uma mudança no reconhecimento do gênero apenas como sexo
biológico para se pensar em diversidade de gêneros e, de modo implicado, de sexualidades,
uma vez que a heterossexualidade dividiu espaço com outras n
arrativas. Outro ponto
acrescentado é que se fala em promover discussões sobre preconceitos, discriminação e
violências correlatas às minorias sociais ligadas às relações de gênero, às minorias sexuais,
étnico
-
raciais, geracionais, entre localidades urbana
s e rurais e às relações socioambientais,
sendo que algumas dessas não são parte de nossas discussões neste artigo.
A BNCC e os critérios a partir de 2016
A partir de 2016 e até o edital de 2019, o texto volta um pouco ao mesmo modelo inicial
do ano de 2007, quando a sugestão é de que apenas se promova positivamente a figura da
mulher, acrescentando
-
se somente que se reforce sua visibilidade e protagonismo s
ocial, e,
por fim, que se aborde a temática de gênero, acrescentando
-
se, no entanto, que tal abordagem
vise à construção de uma sociedade não
-
sexista, justa e igualitária, inclusive no que diz
respeito ao combate à homo e transfobia. Mais uma vez, o abstra
cionismo “segue tentando
controlar os fantasmas, produzindo políticas inclusivas que visam a acomodar e a incorporar
as novas reivindicações” (MACEDO; RANNIERY, 2018, p. 746).
Tais alterações dos editais a partir da versão de 2011 não estão de acordo com
as
políticas públicas que o governo federal vinha desenvolvendo nos últimos anos. Porém, esse
fato sinaliza o campo de disputas que os estudos de gênero vêm travando na atual
configuração política brasileira, quando tal termo foi excluído dos textos do Pla
no Nacional
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de Educação de 2014
-
2024 (PNE, 2011) e da Base Nacional Curricular Comum (BNCC,
2016); quando se tentaram aprovar leis municipais que proibiriam as discussões de gênero nas
escolas; quando gênero tem sido um dos alvos da associação EsP; ou quan
do os estudos de
gênero são associados ao slogan da falsa premissa de “ideologia de gênero”, como explicitado
por Paraíso (2018); ou, ainda, quando o projeto Escola sem Homofobia, que apresentava
como um dos objetivos “orientar docentes sobre questões rela
cionadas às violações aos
direitos no que tange orientações sexuais que e repercutiu como “kit gay”, sendo reprovado
pelo congresso” (CARDOSO; GUARANY; UNGER; PIRES, 2019, p. 1469). Episódios como
esses desconsideram “o histórico de disputas e conquistas,
instaurando enormes retrocessos e
desajustes para o campo educacional”
(p. 1468) e,
s
egundo Junqueira (2017, p. 26), corre
-
se o
risco de “promover uma restauração do estatuto da ordem sexual tradicional e reforçar as
disposições relativas às normas de gêne
ro, à heterossexualidade obrigatória e à
heteronormatividade”.
Nesse sentido, o edital do PNLD 2019 sugere que o processo de aquisição de obras
didáticas a partir de agora se adeque à nova versão da BNCC,
onde a categoria gênero é
apresentada “somente em s
ua dimensão biológica, na qual são salientados conteúdos
vinculados à anatomia e à fisiologia da reprodução humana” (SILVA; BRANCALEONI;
OLIVEIRA, 2019, p.
1547), com as devidas alterações para atender a essa nova versão,
aprovada pelo Conselho Nacional de
Educação e homologada pelo Ministro de Estado da
Educação, observados todos os critérios de atualização por ela previstos. Em relação às
considerações gerais de avaliação, o texto é igual aos dos editais de 2017 e de 2018,
mantendo
-
se, inclusive os termos
como orientação sexual e respeito à diversidade sexual. Em
relação às orientações ao respeito às diversidades, não se fez menção às mesmas nas áreas
específicas.
Já o edital do PNLD 2020, destinado às obras literárias para os anos finais do ensino
fundam
ental, em Língua Portuguesa e Língua Inglesa, sugere
-
se que sejam contemplados,
entre outros temas, o tema “Encontros com a diferença”. O anexo III deste edital versa sobre
critérios para avaliação das obras didáticas, e o IV sobre Critérios para Avaliação
das Obras
Literárias. No primeiro, as considerações gerais trazem características sobre os adolescentes
que, nesse período de vida intensificam: suas relações [dos estudantes] com os pares de idade
e as aprendizagens referentes à sexualidade e às relações
de gênero, acelerando o processo de
ruptura com a infância na tentativa de construir valores próprios.
Nos critérios de avaliação eliminatórios comuns, que se refere à observância aos
princípios éticos necessários à construção da cidadania e ao convívio s
ocial, o texto foi
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modificado. Isso se deu de modo que fosse retirada a expressão “visando à construção de uma
sociedade não
-
sexista, justa e igualitária, inclusive no que diz respeito ao combate à
homofobia”, sugerindo que as obras estejam livres de ester
eótipos ou preconceitos de
condição socioeconômica, regional, étnico
-
racial, de gênero, de orientação sexual, de idade,
de linguagem, religioso, de condição de deficiência, assim como de qualquer outra forma de
discriminação, violência ou violação de direi
tos humanos; que promova também a imagem da
mulher, considerando sua participação em diferentes profissões e espaços de poder,
valorizando sua visibilidade e protagonismo social, com especial atenção para o compromisso
educacional com a agenda da não
-
violê
ncia contra a mulher.
Faz
-
se mister salientar que a construção de um currículo nunca é isenta ou harmônica,
mas embriagada de disputas. Isso sugere a noção de currículo “como um processo constituído
de conflitos e lutas entre diferentes tradições e diferen
tes concepções sociais” (SILVA, 2008,
p. 8). À luz da perspectiva pós
-
estruturalista, o currículo não é apenas uma questão de
conteúdo, mas desenvolve identidades a partir das relações sociais cotidianas e do discurso
que as envolve,
englobando as questões
de poder que aí existem
. Desse modo, “o currículo
acaba por expressar exatamente, entre outras coisas, a forma como certas questões são
definidas como ‘problemas’ sociais” (p. 9) e, assim, quando se restringe o conceito de
cidadania nos critérios de avali
ação do PNLD, sugere
-
se o desenvolvimento da diferença nos
currículos.
Em relação a isso, quando o tema for Encontros com a diferença, o edital sugere que
as obras enfoquem o contato entre diferentes esferas culturais, sociais, regionais etc., além do
enco
ntro entre indivíduos de diferentes etnias, raças etc. e/ou com pessoas com deficiências,
sendo valorizada a presença de protagonistas que representem essa diversidade. A interação
com a diferença deve revelar seus desafios e benefícios, destacando
-
se a ne
cessidade de um
convívio democrático.
Ao estimular a inserção de conteúdos sobre gênero
e a valorização das
diferenças, esse edital rompe a tradição de limitar
-
se ao ensino da tolerância e passa a celebrar
a diferença e amplia a concepção de gênero para al
ém das distinções biológicas. Em tempos
pouco propícios, promove a diferença que é o motor da vida (PARAÍSO, 2015), uma vez que
o “relevante para a diferença é a singularidade, o fluir de forças, a transgressão” (PARAÍSO,
2010, p. 589). Além disso, nos faz
pensar em articulações entre currículo e os estudos
queer
sobre gênero e sexualidade, tão propícias na política pública, especificamente a curricular, por
entendê
-
la como “intercruzamento de minorias, nunca foi sobre uma política de identidade”
(BUTLER, 2
011, p. 209).
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Como nos provocam Macedo e Ranniery (2018 p. 747) sobre políticas públicas de
currículo, talvez
queer
“nos permita invocar uma abertura radical do ‘todos’, que, ao invés de
pressupor identidade, possa decorrer de sua de condição relacional, d
a relação com a
alteridade, de um enlace com o outro”. Só desse modo conseguiríamos construir “pedagogias
corporais de gênero que fazem corpos de homens ou mulheres, masculinos ou femininos,
determinadas formas de ser e estar no mundo e isso limita, amarra
, congela, despotencializa a
invenção de outros modos de vida” (VASCONCELOS; CARDOSO; FELIZ, 2018, p. 5). Não
precisamos de “novos enquadramentos, mas sim, de novas posturas” (DIAS; MENEZES,
2017, p. 46). Abolir e desconstruir
“as formas dos currículos, os
raciocínios que dividem e
confinam e as verdades que aprisionam é um importante trabalho de um currículo vetor de
forças e mobilizador da diferença” (PARAÍSO, 2015, p. 56).
Critérios nas disciplinas específicas
Em relação aos critérios de
avaliação referente às áreas específicas dos LD, no ano de
2007, a orientação de respeito às diversidades, que está comumente localizada na seção de
preceitos éticos ou como caráter eliminatório de avaliação, orienta que as áreas Ciências,
Geografia, Histó
ria, Língua Portuguesa e Matemática de modo geral respeitem a diversidade
cultural, étnico
-
racial, de gênero, religiosa ou qualquer outra forma de manifestação
individual ou coletiva, evitando estereótipos e associações que depreciem grupos étnicos ou
raci
ais, bem como que isso não seja veiculado em textos e ilustrações e que seja estimulado o
convívio social e a tolerância, abordando a diversidade da experiência humana com respeito e
interesse.
Em 2008, as orientações para tal questão foram encontradas ape
nas em algumas áreas
específicas. Em Ciências, o texto tinha o mesmo cerne do anterior, no que diz respeito à
diversidade, a não veiculação de estereótipo e à tolerância. Na seção destinada à História,
observa
-
se que a orientação é bem parecida com as dos
anos anteriores, diferindo
-
se apenas
no item não ser instrumento de propaganda ou doutrinação religiosa ou político
-
partidária. O
mesmo acontece em Matemática, na qual a única diferença é que se retirou levar em conta a
diversidade social e cultural do Bra
sil.
Ainda em relação às áreas específicas, no ano de 2010, na área de História não se
observaram modificações; em Língua Portuguesa não houve orientações. Já na de Matemática
há a seguinte ressalva em relação à representação gráfica dos seres humanos, o q
ue mostra
como a “
fotografia tem sido e está sendo utilizada como um elemento de poder produtivo,
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articulado por tecnologias culturais que buscam assegurar obediência a formas específicas de
nomear o mundo” (SIMON, 2008, p. 80)
. Assim, as representações gr
áficas, entre outras, da
empregada doméstica como uma negra gorda; do vendeiro de feira como um português
bigodudo; das crianças sempre louras e bem vestidas; do oriental como uma figura exótica
com chapéu cônico e olhos extremamente alongados; do índio es
guio sempre a caçar ou a
pescar; se não podem ser caracterizadas como preconceito, são estereótipos que devem ser
evitados, além de ser indesejáveis em relação ao conhecimento matemático.
Em relação aos componentes curriculares do segundo segmento, das co
leções
destinadas à EJA em 2011, correspondentes ao 6º, 7º, 8º e 9º anos do ensino fundamental,
observaram
-
se tais orientações apenas nos critérios específicos eliminatórios para o
componente curricular Geografia, e nos princípios e critérios de avaliação
para a Língua
Estrangeira (Inglês e Espanhol), sempre prezando pelo direito à diversidade, respeito à
liberdade e isenção de preconceitos e outras formas de discriminação.
Em 2012, nos critérios eliminatórios específicos das áreas, em Linguagens, códigos e
suas tecnologias, ressalta
-
se a importância do conhecimento da diversidade de linguagens, das
suas múltiplas funções, na constituição dos valores que animam as pessoas e os grupos
sociais, tendo em vista a predominância, para o mundo, de ideais de respeit
o, de tolerância, de
justiça, de expansão da paz e da igualdade social. Já nos critérios eliminatórios específicos
para o componente curricular Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol) repete
-
se a
sugestão de que o conjunto de textos representativos
das comunidades falantes da língua
estrangeira, com temas adequados ao Ensino Médio, não veiculem estereótipos nem
preconceitos em relação às culturas estrangeiras envolvidas, nem à nossa própria em relação a
elas.
Em relação às Ciências Humanas e suas tec
nologias orienta
-
se que as obras de
Geografia e História sejam isentas de estereótipos, caricaturas e/ou simplificações explicativas
que comprometam a noção de sujeito histórico e/ou induzam à formação de preconceitos de
quaisquer naturezas. Para a sociolo
gia, pede
-
se que, nas análises, exemplos e atividades
contemplem
-
se: situações de diferentes regiões do país e experiências de diferentes classes
sociais, possibilitando ao aluno o respeito pela diversidade cultural e o reconhecimento da
desigualdade socio
econômica, e para a Matemática não há orientações. Por fim, para as
Ciências da natureza e suas tecnologias, na Biologia, pede
-
se que ela perceba que os
conhecimentos biológicos podem servir de base para reconhecer formas de discriminação
racial, social, d
e gênero, etc. que se fundem, inclusive, em alegados pressupostos biológicos.
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Nas áreas Matemática, Ciências e História, em 2013, não há orientações em relação ao
respeito à diversidade. Na Geografia, em seus princípios gerais sugere
-
se que se forme um
cid
adão do século XXI de modo que aprenda a conservar os recursos naturais, a respeitar os
direitos humanos, a diversidade cultural e a lutar pela construção de uma sociedade mais
justa, solidária, sem preconceitos e estereótipos.
Em seus critérios eliminatór
ios específicos, já
que a Geografia relaciona processos históricos, sociais, econômicos, políticos e culturais para
a explicação do estágio de desenvolvimento dos povos e países, pede
-
se que se mantenha o
direito à diversidade dentro de padrões éticos e de
respeito à liberdade de indivíduos e grupos,
com isenção de preconceitos, tanto de origem, etnia, gênero, religião, idade ou outras formas
de discriminação.
Assim, vê
-
se que, em relação aos critérios de avaliação das áreas específicas, no geral
é insisten
te a solicitação de que as obras sejam isentas de preconceito e que não veiculem
estereótipos, que estejam atentas às diferenças políticas, econômicas, sociais e culturais
apresentadas de maneira negativa, às discriminações de quaisquer tipos, seja na mane
ira como
são abordados os conteúdos pedagógicos, seja por palavras, ilustrações, fotos, e que
estimulem o convívio social e o reconhecimento da diferença.
Vale destacar que os critérios de exclusão relacionados às temáticas de gênero e à
valorização da mu
lher em sociedade e nas profissões estiveram presentes no Edital de 2008
para as disciplinas de Ciências, História, Matemática e Geografia. A disciplina Geografia foi a
única que apresentou critérios específicos de exclusão em todas as versões analisadas d
os
editais. De modo resumido, identificamos que os componentes curriculares que mais
apresentam orientações em relação ao respeito ao gênero e à diversidade são Geografia (em
15 editais), História (em 7 editais), as áreas de Ciências e Biologia (em 6 edita
is), Língua
Estrangeira (5 editais) e Sociologia e Matemática (4 editais).
Devido à amplitude cultural que o PNLD possui em território nacional, as pesquisas
que tomam o programa e o LD como escopo de análise têm se avolumado desde os anos 90.
Inúmeras são
as abordagens dessas pesquisas acadêmicas, salientando, assim, a notoriedade
que tal programa tem tido nas políticas públicas educacionais contemporâneas. Esses estudos
sobre a influência do PNLD mostram, no entanto, que, apesar de todas as sugestões e
or
ientações nesses editais, a avultada vigilância sobre tais temáticas torna
-
se inexpressiva,
uma vez que não basta eliminar preconceitos e estereótipos, mas, sobretudo, introduzir
conteúdos negligenciados nas coleções e obras, extrapolando o silenciamento d
idático que
existe em relação a gênero, diversidade e minorias sexuais, questões étnico
-
raciais, de classe
entre outros, e transgredir a noção hegemônica e centralizadora que se tem sobre isso. Como
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um todo, os editais não apresentam como obrigatoriedade a
abordagem desses temas nas áreas
específicas, nas quais sua ausência não implica penalidade.
Apesar das orientações de vários editais de que se promova positivamente a figura da
mulher, dos afrodescendentes, indígenas e outras minorias sociais e sexuais,
o que se observa
é que a atuação das mulheres na luta por direitos sociais e na formação da classe operária é
pouco mencionada ou é mencionada de forma genérica. Normalmente, as mulheres
apresentadas como símbolos são modelos de empoderamento feminino, co
mo faraós, rainhas
ou personagens que se destacaram das demais em movimentos históricos revolucionários ou
de luta, como Joana D’Arc e Anitta Garibaldi (CELESTINO, 2016).
Outras pesquisas, como a de Castro (2016), mostram que mais da metade das imagens
ap
resentada nas coleções didáticas têm personagens principais masculinos (quase 70%),
associando personagens femininos a um papel secundário. Além disso, as atribuições
masculinas se dão como aquelas ligadas à esfera pública, à força, à autonomia, à atuação
econômica e política, inventores de tecnologias, empresários, políticos, escritores,
dramaturgos, heróis, ou a outros protagonismos. As femininas são definidas principalmente
numa relação romântica heterossexual, com a família, cuidando de crianças, como
p
rofessoras, submissas, frágeis, excessivamente emotivas ou sob a proteção/dominação do
homem, reproduzindo
-
se e perpetuando
-
se assim a concepção de que a função da mulher é
servir ao homem, estar em ambiente doméstico, excluindo
-
se de outras esferas sociai
s, e
sendo valorizada por sua beleza e por seu corpo. Outras vezes, as figuras femininas são
ilustradas em celebridades, sendo sexualizadas e objetificadas, tendendo a um padrão
industrial. Nesse caso, pode
-
se dizer que este protagonismo midiático contribu
i “para a
objetificação mais do que para sua emancipação” (CASTRO, 2016, p. 105).
A pesquisa de Cardoso (2018) nos revela, igualmente as anteriores, que os critérios do
PNLD não são tão efetivos. Segundo a autora, pelo seu caráter descritivo e pelo seu obj
eto
principal ser a natureza
–
quase sempre entendida como intocável e pura
–
, o LD de Ciências
é responsável por vincular saberes acerca dos corpos e dos comportamentos de maneira
aparentemente neutra e isenta de elementos culturais. No entanto, a correla
ção natureza e
cultura se estabelece de modo bastante estreito nesse currículo, seja por meio de atividades, de
experimentos, de imagens ou de narrativas biológicas sobre o mundo. Constatou
-
se que o
discurso biológico produz demandas naturalizadas acerca d
e corpos, gêneros e sexualidades.
Ditos sobre competitividade, desenvolvimento corporal, força física, cadeia alimentar,
territorialidade, cuidado, proteção, reprodução e doenças são ofertados de maneira
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diferenciada a sujeitos generificados. Esse processo
, por estar transvestido da roupagem
científica, dá força de verdade e autoridade às diferenças biológicas, intelectuais e culturais.
Algumas considerações
Apesar de décadas dessa política pública curricular
–
aqui foram analisados quinze
desses anos
–
,
pudemos perceber como o campo educacional é frágil e apresenta
possibilidades de desestruturação, mesmo que, nos últimos vinte anos, a diversidade e outros
temas a ela relacionados tenham ganhado importância nas discussões internacionais e
nacionais, em d
iscussões sobre o desenvolvimento e na elaboração de políticas públicas,
principalmente na área da educação. Se foi possível visualizar avanços na construção da
categoria de gênero nessa política
–
indo de um raciocínio estritamente biológico para uma
conc
epção mais relacional, por vezes flertando com o conceito de diferença
–
, constatamos
também o seu recuo diante de discursos conservadores. A educação tem sido um dos alvos
preferenciais do entrelaçamento da agenda conservadora nos costumes com a agenda
ne
oliberal na economia. Por isso mesmo, argumenta
-
se que isso se estabelece porque o campo
educacional ainda tem sido “um dos grandes obstáculos nesse processo de construção de uma
subjetividade empresarial”, em que cada pessoa passa a ser vista como espaço
econômico
onde pode enfrentar os riscos individualmente, já que a rede de proteção social passa a ser
eliminada (CRUZ; MACEDO, 2019, p. 34).
Com base no que foi apresentado, vimos que a partir dos anos 90 o contexto político
brasileiro passou a usar bastan
tes referências à diversidade, motivado pela pressão de
cumprimento dos acordos internacionais de combate às desigualdades raciais, de gênero e
outras, bem como por um contexto interno de intensas reivindicações. Notamos que o MEC
não tem uma posição coesa
sobre diversidade, de modo a orientar o conjunto de ações
referentes à educação, e, assim “a ideia de diversidade tem servido como um grande conceito
guarda
-
chuva para o governo nos vários processos de negociação com os grupos de pressão”
(RODRIGUES; ABRA
MOWICZ, 2013, p. 26). Mesmo que durante o governo Lula, em
meados de 2003, tenha se criado um cenário de grande expectativa acerca de uma
reorganização das instituições e das políticas públicas, para que fossem contempladas
questões de gênero, raça, sexual
idade e outras desigualdades pensadas durante muito tempo
de forma abstrata, as questões relativas à diversidade são contidas apenas no âmbito
discursivo e abstrato de cultura/ diversidade/diferença e “permanecem sem financiamento
efetivo para reverter qua
lquer lógica” (p. 27).
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Lívia de Rezende CARDOSO
e
Rosa Virgínia Oliveira Soares de MELO
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Revista Ibero
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Americana de Estudos em Educação
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Quanto aos critérios de avaliação para aprovação ou exclusão das obras, pode
-
se
afirmar o caráter geral e pouco característico dos itens avaliativos sobre as questões de
diversidade de gênero, ou seja, “a defesa da diversidade e a lu
ta pela igualdade racial
passaram a fazer parte da retórica do governo, mas ainda não foram, efetivamente, elevadas
ao status de política de Estado” (IDEM). Além de estar em reduzidos itens, compartilham
espaço com outras categorias analíticas, tais como r
aças e etnias, o que pode prejudicar uma
análise mais detalhada sobre as abordagens dos gêneros presentes nos LD, ou ainda são
camuflados pelo clamor à tolerância tão presente no discurso neoliberal. Tolerar naturaliza um
“padrão de onde os diversos partem
e são constituídos como “outros” a serem aceitos e
incorporados em uma racionalidade universal, que “respeita” suas particularidades sem ser
questionada” (CARDOSO; GUARANY; UNGER; PIRES, 2019, p. 1472), mas “antes de
tolerar, respeitar e admitir a diferen
ça, é preciso explicar como ela é ativamente produzida”
(SILVA, 2008, p. 81). Desse modo, fica a critério de quem avalia julgar se as obras trazem
preconceitos ou valorizam a atuação feminina em sociedade e nas áreas de conhecimento,
bem como se os problem
as com a categoria gênero têm força para reprovar toda uma coleção.
Tais avaliações podem acarretar, portanto, silenciamentos ou aprisionamentos de gênero nas
coleções de LD aprovados.
Vale destacar que tais critérios não são suficientes quando
consideramos a vasta
produção acadêmica brasileira sobre relações de gênero que apontam quão problemáticos são
os LD no que se referem às subjetivações e seus posicionamentos frente às áreas de
conhecimento. Para que se entenda como se perpetuam as violênc
ias, as ausências históricas,
os estereótipos, as explorações e os preconceitos nos livros didáticos das diferentes disciplinas
escolares, é fundamental observar como se dá a inscrição dos sujeitos em espaços
tradicionalmente masculinos, brancos e heterono
rmativos, já que “
questionar a identidade e a
diferença como relações de poder significa problematizar os binarismos em torno dos quais
elas se organizam” (SILVA, 2008, p. 76). Urge, portanto, a construção de gênero nos moldes
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Como referenciar este artigo
CARDOSO
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MELO
, R. V. O. S
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Construção do critério gênero no Programa Nacional
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Submetido em:
05/06/2020
Revisões requeridas:
21/07/2020
Aprovado em:
16/10/2020
Publicado em:
02/01/2021
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Construção do critério gênero no
Programa Nacional do Livro Didático (2006
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CONSTRUCCIÓN DEL CRITERIO DE GÉNERO EN EL PROGRAMA NACIONAL
DEL LIBRO DIDÁCTICO (2006
-
2020)
CONSTRUÇÃO DO CRITÉRIO GÊNERO NO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO
DIDÁTICO (2006
-
2020)
CONSTRUCTION OF THE GENDER CRITERION IN THE NATIONAL
TEXTBOOK
PROGRAM (2006
-
2020)
Lívia de Rezende CARDOSO
1
Rosa Virgínia Oliveira Soares
de
MELO
2
RESUMEN
: Son temas que involucran currículo, género y libros didácticos que tomamos
como interés en la investigación en este artículo.
Analizamos aquí cómo la categoría de
género se basa en los criterios de inclusión o exclusión en los avisos públicos del Programa
Nacional de Libros de Texto. A veces, el género se incluye en los criterios de ciudadanía o
derechos humanos. Otros están expl
ícitamente asociados con las mujeres y relacionados con
lo que se construye sobre lo femenino y lo masculino. Para llevar a cabo los análisis,
observamos los documentos legales reglamentarios de PNLD, además de los avisos públicos
del período 2006 a 2020,
disponibles para consulta electrónica. Con los análisis, nos dimos
cuenta del carácter general y poco característico de los ítems evaluativos sobre temas de
diversidad de género, que, además de estar en ítems reducidos, comparten espacio con otras
categorí
as analíticas, tales como razas y etnias. Tal evaluación, dependiendo de la posición
política en relación con el tema, conduce a silencios o encarcelamientos de género en las
colecciones de LD.
PALABRAS
-
CLAVE
: Currículo. Género. Libro didáctico.
RESUMO
:
São problemáticas que envolvem currículo, gênero e livros didáticos que
tomamos como interesse de investigação neste artigo. Analisamos aqui como a categoria
gênero é construída nos critérios de inclusão ou exclusão em editais do Programa Nacional
do Livr
o Didático. Algumas vezes, gênero é abarcado em critérios de cidadania ou Direitos
Humanos. Outras, vem explicitamente associado à mulher e relacionado ao que é construído
sobre feminino e masculino. Para empreender as análises, observamos os documentos le
gais
reguladores do PNLD, além dos editais do período de 2006 a 2020, disponíveis para consulta
eletrônica. Com as análises, percebemos o caráter geral e pouco característico dos itens
avaliativos sobre questões de diversidade de gênero, que, além de estar
em reduzidos itens,
compartilham espaço com outras categorias analíticas, como raças e etnias. Tal avaliação, a
depender do posicionamento político em relação à temática, acarreta, portanto, em
silenciamentos ou aprisionamentos de gênero nas coleções de L
D.
1
Universidade Federal de Sergipe
(
UFS
)
, São Cristóvão
–
SE
–
Brasil
.
Profe
sora
en el
Programa de
Posgrado en
Educación
.
Doc
tora
do
en Educación
(UFMG).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
4091
-
9110
.
E
-
mail:
livinha.bio@gmail.com
2
Universidade Federal de Sergipe
(
UFS
)
, São Cristóvão
–
SE
–
Brasil
.
Estudiante de Maestría
en el
Programa de
Pos
grado en Educación
.
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
8165
-
1483.
E
-
mail: rosavirginia.aju@gmail.com
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PALAVRAS
-
CHAVE
: Currículo.
G
ênero.
L
ivro didático.
ABSTRACT
:
These are issues that involve curriculum, gender and textbooks that we take as
an interest in research in this article. We analyze here how the gender category is built on the
inclusion or exclusion criteria in notices of the National Textbook Program. Som
etimes,
gender is included in citizenship or human rights criteria. Others are explicitly associated
with women and related to what is built on feminine and masculine. To undertake the
analyzes, we observe the PNLD regulatory legal documents, in addition t
o the public notices
from the period 2006 to 2020, available for electronic consultation. With the analyzes, we
noticed the general and uncharacteristic nature of the evaluative items on issues of gender
diversity, which, in addition to being in reduced it
ems, share space with other analytical
categories, such as races and ethnicities. Such an assessment, depending on the political
position in relation to the theme, therefore leads to silencing or imprisonment of gender in the
LD collections.
KEYWORDS
: Cu
rriculum.
G
ender.
T
extbook.
Posicionamiento del tema
Libros didácticos (LD) y paradidácticos
han sido tomados como objeto de varias
investigaciones sobre representaciones de géneros, de grupos éticos y clases sociales. J
u
nto a
los currículos escolares, estos materiales pedagógicos y LD contemplan contenidos que, bajo
los tormentos de la
‘
ideología de género
’, han sido cuestionados “
para evitar la proliferación
de la diferencia y hacer que el género y la sexualidad sean con
siderados como temas no
escolares
”
(PARAÍSO, 2018, p. 23). Esto se debe a que algunos modos
de regulación intentan
definir “el campo de lo ‘
habitual, a
ceptado, normalizado y esperado’
y en este proceso
definen determinadas capacidades expresivas como margi
nales, falsas o perversas
”
(SIMON,
2008, p. 74).
Cuando los Parámetros Curriculares Nacionales (PCN) pusieron “la
pluralidad
cultural
como tema transversal,
crearon un territorio para la contención de los temas puestos en la
educación”
(RODRIGUES; ABRAMOWI
CZ, 2013, p. 22).
Así, en 2014, el término género
fue
suprimido
del Plan Nacional de Educación (PNE) en nivel de Congreso Nacional y
fuertemente combatido en secretarías municipales y estatales en los años siguientes. En 2017,
la regla del Examen Nacional
de la Enseñanza Media (Enem) que preveía nota cero a la
redacción que ofendiera principios de los Derechos Humanos fue comprendida por el
magistrado
federal como violación de la libertad de
manifestación
del pensamiento, al evaluar
el pedido de la Escuela
Sin Partido (EsP). En la decisión, mantenida por la Ministra del
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Construção do critério gênero no
Programa Nacional do Livro Didático (2006
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65
Supremo, se defendió que no existía una base epistemológica, imponiéndose el respeto al
‘políticamente correcto’, nada más que un ‘simulacro ideológico’ de los derechos humanos
propiamente di
chos
3
.
En enero de 2019, el Ministro de la Educaci
ón intentó cambiar criterios del vigente
Programa Nacional del Libro Didáctico (PNLD),
excluyéndose la obligación de las obras
presentar diversidad étnica, combate a la violencia contra mujer y promoción
positiva de la
imagen de la mujer
4
.
Se nota, por lo tanto, como estos textos oficiales se constituyen como
políticas regulatorias que predicen “estándares, condiciones laborales y actuación, reglas
individuales y para el grupo” (
POSSA;
BRAGAMONTE, 2018, p. 1058).
Son problemáticas que involucran currículo, género y LD que tomamos como
intereses de investigación en este artículo. Más específicamente, buscamos analizar cómo la
categoría género se construye en los criterios de inclusión o e
xclusión en editales del PNLD,
comprendiendo el período de 2006 a 2020. Por veces, género es abarcado en criterios de
ciudadanía y de Derechos Humanos. En otras, viene explícitamente asociado a la mujer y a
sus relaciones con lo que se construye sobre feme
nino y masculino, manteniendo la
hegemónica manera de clasificación estructurada alrededor de oposiciones binarias.
Para
Silva (2008, p. 76), “en una oposición binaria, uno de los t
érminos es siempre privilegiado,
recibiendo un valor positivo, mientras otr
o recibe una carga negativa”.
Para emprender esos análisis, observamos los documentos legales que reglamentan el
PNLD, así como los editales disponibles para consulta electrónica. Aunque
tratándose de una
política curricular que establece la necesidad de
discusiones acerca de la diversidad cultural
en los LD, cabe señalar que “
las políticas curriculares son, por naturaleza, discursos
normativos con el fin de
gestionar
populaciones”
(MACEDO; RANNIERY, 2018, p. 743).
En
ese sentido, cuestionamos el público d
ireccionado por esta política curricular como “algo que
no es
–
ni puede ser
–
fijo y mucho menos del orden de la semejanza, del
reflejo
o, todavía, de
la
mismidad
”
(p. 748).
Además de eso, las políticas públicas educacionales se pueden
constituir como “un
a trama compleja, en la cual la diferencia, sin la cual no hay educación, es
constreñida
” (p. 743).
Currículo se entiende aquí “como un artefacto cultural que enseña, educa y produce
sujetos, que está en muchos espacios desdoblándose en diferentes pedagog
ías”
(PARAÍSO,
2010, p. 11).
Con tal finalidad, instancias culturales, así como los LD, “transmiten una
3
Disponible en
: https://www.conjur.com.br/2017
-
out
-
26/liminar
-
impede
-
zerar
-
redacao
-
enem
-
ofenda
-
direitos
-
humanos.
Accedido el
:
jul
.
2019.
4
Disponible
e
n
: https://novaescola.org.br/conteudo/14998/vai
-
nao
-
vai
-
entenda
-
a
-
confusao
-
no
-
edital
-
do
-
pnld
-
2020
-
que
-
permitia
-
erros
-
no
s
-
livros.
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variedad de formas de
conocimiento
que aunque no sean
reconocidas como tales son vitales
en la formación de identidad y de subjetividad”
(SILVA, 2003, p
. 140).
De modo estratégico,
“los grupos dominantes siempre hablaron sobre los demás grupos y construyeron
representaciones que tuvieron y tienen efectos de poder y de verdad”
(PARAÍSO, 2004, p.
60).
De ese modo, “las políticas de currículo, las condicione
s de enseñanza y las prácticas
pedagógicas son orientadas por la ‘política’ convencional de los gobiernos” (SIMON, 2008, p.
67). También llamadas por este autor de Tecnologías culturales, ese conjunto de prácticas
organizacionales, curriculares y pedagógic
as “contribuyen para definir las formas por las
cuales el significado se produce, por las cuales las identidades son moldadas y los valores
contestados o preservados” (p. 68). Eso significa alejar, diferenciar, separar, posicionar y
clasificar grupos.
La
grade de ideas referentes al aprendizaje, a la enseñanza y al currículo funciona
“para separar y clasificar los individuos, creando diferenciaciones cada vez más apuradas del
comportamiento rutinero”
(POPKEWITZ, 2001, p. 29),
implicando un contexto en el c
ual “se
enseña y regula el cuerpo, produciendo subjetividad y
planificando
formas y posibilidades de
vivir en sociedad”
(MOREIRA; SILVA JUNIOR, 2016, p. 48).
En ese sentido, “detener el
privilegio de clasificar significa también detener el privilegio de atribuir diferentes valores a
los grupos de esa forma clasificados”
(SILVA, 2008, p. 82).
El proceso de clasificación es
central en la vida social y las clasif
icaciones son siempre realizadas a partir del punto de vista
de la identidad. Para Silva (2008, p. 73), “identidad es simplemente lo que se es”. En
oposición a ella, “la diferencia es lo que el otro es” (IDEM) y ambas son “una relación social.
Eso signific
a que su definición
–
discursiva y lingüística
–
está sujeta a
vectores
de fuerza, a
relaciones de poder” (p. 75). La identidad y la diferencia son tomadas como “declaraciones
sobre quien
pertenece
y sobre quien no pertenece, sobre quien
está
incluido
y qu
ien está
excluido
” (IDEM). “Seleccionar es cuestión de poder” (p. 168) y, al fin y al cabo, “el poder
está inscrito en el currículo” (IDEM).
Partiendo de la asertiva que el discurso no es solo una simple denominación de cosas a
través de las “letras, pala
bras y frases, sino una serie de acontecimientos en que están
vinculadas relaciones de poder, articuladas a una ordenación del saber, que legitiman ciertos
modos de decir las cosas”
(POSSA; BRAGAMONTE, 2018, p. 1052),
analizamos todos los
documentos selecc
ionados, considerando la orientación en relación al modo cómo ahí está
insertada la categoría género. Observamos que, casi en su totalidad, las orientaciones son
generales, visan respetar los derechos humanos y las diversidades sociales, culturales y
relig
iosas de la sociedad brasileña, el pluralismo de ideas, preparar los individuos para el
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ejercicio de la ciudadanía y para el convivio social, y garantizar las oportunidades y la
igualdad de condiciones para el acceso y la permanencia de los/las alumnos/as
en la escuela.
Los enfoques referidos a la categoría género,
“
la mayoría de las veces, se centran en
discursos vigilantes y moralizantes, y, además, refuerzan modelos de cómo debe ser el
comportamiento considerado adecuado
”
(GIACHINI; LEÃO, 2016, p. 1411)
para las
subjetividades
.
Consideramos, sin embargo, que dicha categoría ha ganado amplitud en las
investigaciones y no puede ser operada sólo como un término o dimensión. El género es una
norma, que establece
“
los significados cultura
les que asume el cuerp
o sexuado” (BUTLER,
2010, p. 24); es la “
condición social por la que se nos
identifica como hombre o mujer”
(LOURO, 1997, p. 80); es la
“
capacidad del sujeto de asumir un determinado lugar social, de
actuar socialmente, voluntariamente, de hacer elecciones
y decidir sobre sí mismo
”
(DOS
ANJOS; CARDOSO, 2014, p. 71). El género no niega la biología
, sino que hace hincapié en
la “
construcción social e histórica producida sobre las características biológicas
”
(p. 22). Al
no hablar de estos temas, los individuos
pueden querer conocerlos e interesarse por ellos. De
este modo,
“
el silencio
-
la ausencia de discurso
-
aparece como una especie
de garantía de la
‘
norma
’”
(p. 68).
La relación entre el Gobierno Federal, a través del Ministerio de Educación, y la
gestió
n de las LD que llegan a las escuelas públicas se remonta a 1938, cuando se creó la
Comisión Nacional de LD. A partir del Decreto
-
Ley nº 1.006, se establecieron las condiciones
de autorización, producción, importación, uso y correcciones en LD. En 1945, di
cha comisión
asumió el control de la adopción de la LD en todos los centros educativos del país. En 1972,
el Instituto Nacional del Libro admitió el proceso de coediciones de LD junto con los editores.
Y en 1983 se creó la Fundación de Ayuda al Estudiante,
incorporando el Programa LD que,
en 1985, vio ampliado su nombre a PNLD. En ese momento, el gobierno se convirtió en
financiador de LD, y el proceso de coedición se extinguió.
Este programa se basa en la distribución gratuita de obras de LD, pedagógicas y
literarias a estudiantes de primaria y secundaria en escuelas públicas, instituciones
confesionales, comunitarias o filantrópicas sin ánimo de lucro y en colaboración con el poder
público, además de ofrecer otros materiales de apoyo a la política educativ
a. Está gestionado
por el Fondo Nacional de Desarrollo de la Educación (FNDE) y se basa en la libre
participación de las editoriales privadas y la libre elección de los profesores. La legislación
que rige el PNLD es la Ordenanza 7/2007 del MEC, la Resoluci
ón 51/2009, la Resolución
02/2011, la Resolución 40/2011, la Resolución 42/2012, el Decreto 9099/2017 y la
Resolución 15/2018.
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Los
editales
del PNLD son dispositivos utilizados por el Estado para establecer
directrices para la elección de los LD distribuidos a las escuelas públicas. Cada convocatoria
pública aborda la forma en que se desarrollan las etapas del programa, desde las normas de
in
scripción, el desarrollo de la participación, la documentación necesaria, las etapas del
proceso de evaluación y selección de colecciones, los procesos de calificación, adquisición,
producción y entrega de materiales, hasta las disposiciones generales y lo
s anexos. Los anexos
traen modelos de declaración, la estructura editorial y otras especificaciones técnicas para la
producción, así como principios y criterios generales y específicos (en las áreas de Ciencias,
Geografía, Historia de la Lengua Portuguesa,
incluyendo la Alfabetización, y Matemáticas)
para la evaluación de los libros
didácticos
. También hay
editales
para diccionarios y obras
literarias. Las que comprenden las ediciones de 2006 a 2020 están disponibles en formato
electrónico, a excepción de l
a versión de 2009, que no está disponible en el sitio web del
MEC.
Los
editales
del PNLD analizados trataban respectivamente del proceso de selección y
evaluación de las obras a elegir: i) 2006
-
diccionarios de lengua portuguesa para los primeros
años de
la escuela primaria; ii) 2007
-
colecciones para los primeros años de la escuela
primaria; iii) 2008
-
colecciones para los últimos años de la escuela primaria; iv) 2009
-
Aviso
público no disponible en el sitio web del MEC; v) 2010
-
colecciones y obras
c
omplementarias para los primeros años de la escuela primaria; vi) 2011
-
colecciones de
lengua española para profesores de secundaria y para la educación de jóvenes y adultos; vii)
2012
-
colecciones para la escuela secundaria y diccionarios de lengua port
uguesa brasileña;
viii) 2013
-
colecciones para estudiantes rurales, para los primeros años de la escuela primaria
y obras complementarias para los primeros años de la escuela primaria (1º, 2º y 3º años); ix)
2014
-
colecciones para la Educación de Jóvenes
y Adultos (EJA), colecciones para los
últimos años de la escuela primaria y obras de literatura para los alumnos de la escuela
primaria en las escuelas públicas, en el marco del PNLD para la alfabetización en la edad
correcta; x) 2015
-
colecciones para l
a escuela secundaria; xi) 2016
-
colecciones para
estudiantes rurales y para los años iniciales de la escuela primaria; xii) 2017
-
colecciones
para los años finales de la escuela primaria; xiii) 2018
-
colecciones para la escuela
secundaria; xiv) 2019
-
c
olecciones para los años iniciales de la escuela primaria; xv) 2020
-
colecciones y obras literarias para los años finales de la escuela primaria.
En los siguientes apartados, analizaremos, inicialmente, la construcción de los criterios
de evaluación de es
ta política curricular hasta los edictos de 2016, en los que se observa cierta
mejora de las cuestiones de diversidad y género. En la siguiente sección, identificaremos los
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efectos de la BNCC y la ola conservadora que intenta influir en las políticas educa
tivas en los
reglamentos del PNLD, llevando a la supresión de varios textos anteriormente presentes en
los edictos. En la cuarta sección, pasaremos a un análisis por disciplinas específicas,
explicando qué áreas tienen los mayores avances y sus reflejos en
las obras didácticas, según
la literatura especializada en libros de texto. Por último, haremos algunas consideraciones
generales sobre la política curricular en cuestión.
La construcción de criterios hasta 2016
Los Derechos Humanos son los inherentes a todos los seres humanos,
independientemente de su raza, sexo, nacionalidad, etnia, lengua, religión o cualquier otra
condición. Entre ellos están el derecho a la vida y a la libertad, la libertad de opinión y de
ex
presión, el derecho al trabajo y a la educación, entre otros. Todo el mundo merece estos
derechos, sin discriminación. El Derecho Internacional de los Derechos Humanos establece
las obligaciones de los gobiernos de promover y proteger los derechos humanos
y las
libertades de los grupos o individuos (ONU, 1948). La Educación en Derechos Humanos es
esencialmente la formación de una cultura de respeto a la dignidad humana mediante la
promoción y vivencia de los valores de libertad, justicia, igualdad, solidari
dad, cooperación,
tolerancia y paz. Si observamos la teorización cultural contemporánea, existe una tendencia a
abordar el multiculturalismo, o el pluralismo cultural, en la educación simplemente como una
cuestión de tolerancia y respeto a la diversidad cu
ltural. Según Silva (2008, p. 79),
“
por muy
edificante y deseable que parezca, estos nobles sentimientos nos impiden ver la identidad y la
diferencia como procesos de producción social, como procesos que implican relaciones de
poder
”
.
Según Rodrigues y Abr
amowicz (2013, p. 16), en los últimos veinte años, la
diversidad y otros temas r
elacionados se están abordando “
de manera central en el debate
internacional y nacional, en las discusiones sobre el desarrollo y en la formulación de políticas
públicas, espec
ialmente en el ámbito de la educación
”
. Así, en la documentación
seleccionada, se observó, por ejemplo, que en relación con la diversidad, la ordenanza
normativa del MEC nº 7, del 5 de abril de 2007, que dispone sobre las normas de conducta en
el ámbito de
la ejecución de los Programas del Libro, es la orientación que considera las
diversidades sociales y culturales características de la sociedad brasileña, así como el
pluralismo de ideas y concepciones pedagógicas, a la hora de elegir los libros
didácticos
.
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Las Resoluciones/CD/FNDE nº 51, del 16 de septiembre de 2009
-
que Dispone sobre
el PNLD de Educación de Personas Jóvenes y Adultas (PNLD EJA)
-
y nº 42, del 28 de
agosto de 2012
-
que Dispone sobre el PNLD de educación básica
-
, repiten la misma
orienta
ción en las consideraciones iniciales, solicitando que se tengan en cuenta tales
diversidades, ya que la educación es un derecho de todos y un deber del Estado, que tiene
como objetivo el pleno desarrollo de la persona, su preparación para el ejercicio de
la
ciudadanía y su cualificación para el trabajo.
El Decreto Nº 9099 del 18 de julio de 2017, que trata sobre el PNLD, presenta sobre el
respeto a las diversidades en su artículo 3, el respeto a las diversidades sociales, culturales y
religiosas y el respe
to a la libertad y valoración de la tolerancia. La Resolución/CD/FNDE nº
15, de 26 de julio de 2018, que dispone sobre las normas de conducta en la aplicación del
PNLD, repite el considerando ya visto en las Resoluciones/CD/FNDE nº 51 y nº 42, al decir
que
se deben considerar las diversidades sociales y culturales que caracterizan a la sociedad
brasileña, así como el pluralismo de ideas y concepciones pedagógicas en el proceso de
elección.
Al analizar los
editales
, se observó que existe una gran preocupación por el carácter
social de la LD al contribuir a la formación de la ciudadanía, el respeto mutuo entre las
personas, la ética y el reconocimiento de la diversidad, favoreciendo el diálogo y la valoración
de la t
olerancia. Según Rodrigues y Abramowicz (2013, p. 16), esta sería una posible
estrategia pedagógica
“liberal” que “
consistiría en estimular y cultivar los buenos
sentimientos y la b
uena voluntad hacia la llamada “diversidad cultural””
. Algunos de los
edita
les
analizados dan pautas básicas como no transmitir prejuicios de ninguna condición
económica, social, étnico
-
racial o de género en el ítem destinado a los criterios de evaluación
comunes a todas las áreas.
Sobre esta necesidad de educación para la ciudad
anía, Bampi (2000, p. 1) afirma que
“
cuando la ciudadanía se presenta como una solución para la emancipación, la transformación
y la liberación de los individuos, se suprime su constructibilidad
”
. Además, se ponen en
marcha
“
sutiles técnicas de gobernanza
”
, a través de las cuales
“
se moldean y normalizan las
conductas, las aspiraciones y las decisiones de los individuos con el fin de alcanzar los
objetivos considerados deseables
”
(p. 10).
Foucault (2008, p. 45) define la gobernanza como u
n “
conjunto de inst
ituciones,
procedimientos, análisis, reflexiones, cálculos y tácticas
” comunes a “
todas las formas
modernas de pensamiento y acción política
”
(MILLER
; ROSE, 2012, p. 40), teniendo “
como
principal destinatario a la población, por principal vía de conocimien
to a la economía política
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y por instrumento técnico esencial a los dispositivos de seguridad
”
(FOUCAULT, 2008, p.
143). Según Bampi, gobernar a las personas no es obligarlas a hacer lo que el gobernante
quiere; es una especie de manipulación tenue en la fo
rma en que los individuos se conocen
y
se conducen, es decir, es la “
integración sutil de las tecnologías de la coerción y las
tecnologías del yo
”
(FOUCAULT, 1993).
En los
editales
dedicados a la elección de los diccionarios, tanto de portugués como de
len
gua extranjera, se encuentran como criterios de exclusión las referencias al respeto a la
diversidad, a los que presentan palabras o imágenes, prejuicios en relación con la condición
económica y social, el color, la etnia, el género, la orientación sexual,
la religión, la lengua o
cualquier otra forma de actitud discriminatoria. Este aviso también cita la Ley de Directrices y
Bases de la Educación Nacional (LDB nº 9394/1996), que propugna como principios
pedagógicos la libertad de aprender, enseñar, investi
gar y difundir la cultura, el pensamiento,
el arte y el conocimiento, el pluralismo de ideas y concepciones pedagógicas, el respeto a la
libertad y el aprecio a la tolerancia.
Esto significa que, pedagógicamente, los individuos deben tener contacto con la
diversidad de expresiones y grupos culturales, aceptando la diversidad como algo natural, en
una
“
visión superficial y dist
ante de las diferentes culturas”. En ella, “
el otro aparece bajo la
rúbrica de lo curioso y lo exótico
”
, sin cuestionar las relacione
s de poder, ni cómo han surgido
los procesos de diferenciación, lo que implica la producc
ión de nuevas dicotomías, como “
el
dominante tolerante y el dominado tolerado o la identidad hegemónica pero benévola y
subalterna pero
‘
respetada
’”
(RODRIGUES; ABRAMO
WICZ, 2013, p. 16).
Sin embargo, gran parte de los
editales
presentan, en sus principios generales, ya que
muy pocas veces aparecen como criterios de calificación, las recomendaciones de promover
positivamente la imagen de la mujer, considerando su partici
pación en diferentes profesiones
y espacios de poder; que se aborde la temática de género, de no violencia contra la mujer,
apuntando a la construcción de una sociedad no sexista, justa e igualitaria. Al tratar de forma
tan genérica las diversidades
-
haci
endo mención únicamente al término
“
mujer
”
-
el inicio del
PNLD se basó en una visión del género como sinónimo de sexo biológico. El lenguaje
desempeña este papel de instituir distincio
nes y desigualdades, ya que es “
seguramente el
campo más eficaz y persis
tente, tanto porque atraviesa y constituye la mayor parte de nuestras
prácticas, como porq
ue nos parece casi siempre muy ‘
natural
’”
(LOURO, 1997, p. 65). De
este modo, los textos acaban reproduciendo esta ocultación femenina a través de los atributos,
cualidades, comportamientos y analogías, en el uso del diminutivo, por ejemplo. La oposición
binaria masculina y femenina, determinada
biológicamente, se materializa en el término
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utilizado sólo como sustituto de las palabras hombre y mujer, adoptando el género como una
sustitución mecánica del sexo. Según Butler (2010, p. 24)
, las relaciones de género son
“
significados culturales asumido
s por los cuerpos sexuados
”
, es decir, es una condición socio
-
histórica
-
cultural que va más allá de la condición biológicamente establecida a través del sexo
masculino o femenino.
Esta orientación ha cambiado con el tiempo. En 2007, 2008 y 2010, el texto e
ra el
mismo. En los
editales
de la EJA de 2011, en los
editales
de la EJA de 2013, en los
editales
de
la EJA de 2014 y en los
editales
de la EJA de 2016, se amplió este texto para que no sólo se
abordara la cuestión de género, ni sólo se promoviera positiv
amente la imagen de la mujer,
sino que se reconociera y atendiera adecuadamente la diversidad de género, considerar la
participación de mujeres y hombres en diferentes trabajos, profesiones y espacios de poder,
discutir las diferentes posibilidades de expr
esión de las feminidades y masculinidades, además
de desmitificar prejuicios y estereotipos sexuales y de género, apuntando a la construcción de
una sociedad no sexista y no homofóbica.
Así, vemos que, a partir de 2011, el concepto de género se amplía un p
oco en los
edictos del PNLD. Vemos un cambio en el reconocimiento del género sólo como sexo
biológico para pensar en la diversidad de género e, implícitamente, en la sexualidad, ya que la
heterosexualidad ha compartido espacio con otras narrativas. Otro pu
nto añadido es que habla
de promover discusiones sobre los prejuicios, la discriminación y la violencia relacionados
con las minorías sociales vinculadas a las relaciones de género, sexuales, étnico
-
raciales,
generacionales, entre localidades urbanas y rur
ales, y las relaciones socio
-
ambientales,
algunas de las cuales no forman parte de nuestras discusiones en este artículo.
La BNCC y los criterios a partir de 2016
A partir de 2016 y hasta la convocatoria de 2019, el texto vuelve al mismo modelo
inicial
de 2007, cuando se sugiere que sólo se promueva positivamente la figura de la mujer,
añadiendo únicamente que se refuerce su visibilidad y protagonismo social, y, por último, que
se aborde la cuestión de género, añadiendo, no obstante, que dicho enfoque de
be tener como
objetivo la construcción de una sociedad no sexista, justa e igualitaria, incluso en lo que se
refiere a la lucha contra la homo y transfobia. Una vez más, el abstraccionismo
“
sigue
intentando controlar los fantasmas, produciendo políticas in
clusivas que pretenden acomodar
e incorporar las nuevas demandas
”
(MACEDO; RANNIERY, 2018, p. 746).
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Tales alteraciones de los
editales
a partir de la versión de 2011 no están acorde con las
políticas públicas que el gobernó federal había desarrollado en lo
s últimos años. Pero, ese
hecho señala el campo de disputas que los estudios de género han
trabado
en la actual
configuración política brasileña, cuando tal término se
excluyó
de los textos del Plan Nacional
de Educación de 2014
-
2024 (PNE, 2011) y de la Ba
se Nacional Curricular Común (BNCC,
2016); cuando se intentaron aprobar leyes municipales que prohibieron las discusiones de
género en las escuelas; cuando género ha sido uno de los objetos de la asociación EsP; o
cuando los estudios de género son asociado
s al slogan de la falsa premisa de “ideología de
género”; como explicitado
por Paraíso (2018); o, todavía, cuando el proyecto Escuela sin
Homofobia, que presentaba como uno de los objetivos “orientar docentes sobre cuestiones
relacionadas a las violaciones
a los derechos en lo que respecta orientaciones sexuales que
repercutió como “kit gay”, siendo reprobado por el congreso”
(CARDOSO; GUARANY;
UNGER; PIRES, 2019, p. 1469).
E
pisodios como estos desconocen “
la historia de disputas y
conquistas,
estableciendo enormes retrocesos e insuficiencias para el campo educativo
”
(p.
1468) y, según Junqueira (201
7, p. 26), corren el riesgo de “
promover una restauración del
estatus del orden sexual tradicional y fortalecer las disposiciones relativas a las no
rmas de
género, la heterosexualidad obli
gatoria y la heteronormatividad”
.
En este sentido, la convocatoria del PNLD 2019 sugiere que el proceso de adquisición
de trabajos didácticos a partir de ahora se adapte a la nueva versión del BNCC, donde la
categorí
a género se presenta
“
sólo en su dimensión biológica, en la que se destacan los
contenidos relacionados con la anatomía y fisio
logía de la reproducción humana”
(SILVA;
BRANCALEONI; OLIVEIRA, 2019, p. 1547), con los cambios necesarios para cumplir con
esta
nueva versión, aprobada por el Consejo Nacional de Educación y homologada por la
Secretaría de Estado de Educación, observando todos los criterios de actualización previstos
por la misma. En cuanto a las consideraciones generales de evaluación, el texto es
el mismo
que el de los
editales
de 2017 y 2018, manteniendo los términos como orientación sexual y
respeto a la diversidad sexual. En cuanto a las directrices sobre el respeto a la diversidad, no
se mencionaron en áreas específicas.
El
edicto
del PNLD 202
0,
direccionado
a obras literarias para los últimos años de la
enseñanza primaria, en portugués e inglés, su
giere que se considere el tema “Encuentros con
la diferencia”
, entre otros temas. El anexo III de esta convocatoria trata de los criterios de
evalua
ción de las obras educativas, y el IV de los criterios de evaluación de las obras
literarias. En el primero, las consideraciones generales aportan características sobre los
adolescentes que, en este periodo de la vida, se intensifican: las relaciones [de l
os alumnos]
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con sus compañeros de edad y el aprendizaje sobre la sexualidad y las relaciones de género,
acelerando el proceso de ruptura con la infancia en un intento de construir sus propios valores.
En el criterio común de eliminación, que se refiere al
cumplimiento de los principios
éticos necesarios para la construcción de la ciudadanía y la convivencia social, el texto fue
modificado
. Así, se eliminó la expresión “
que tenga como objetivo la construcción de una
sociedad no sexista, justa e igualitaria,
incluso en lo que se refiere
a la lucha contra la
homofobia”
, sugiriendo que las obras deben estar libres de estereotipos o prejuicios
socioeconómicos, regionales, étnico
-
raciales, de género, de orientación sexual, de edad, de
lengua, de religión, de disca
pacidad, así como de cualquier otra forma de discriminación,
violencia o violación de los derechos humanos; que también promueve la imagen de las
mujeres, considerando su participación en diferentes profesiones y espacios de poder,
valorando su visibilidad
y protagonismo social, con especial atención al compromiso
educativo con la agenda de la no violencia contra las mujeres.
Es importante señalar que la construcción de un plan de estudios nunca está exenta ni
es armónica, sino que está llena de disputas. E
sto
sugiere la noción de currículo “
como un
proceso constituido por conflictos y luchas entre diferentes tradiciones y d
iferentes
concepciones sociales”
(SILVA, 2008, p. 8). A la luz de la perspectiva postestructuralista, el
currículo no es sólo una cuesti
ón de contenido, sino que desarrolla las identidades a partir de
las relaciones sociales cotidianas y el discurso que las rodea, abarcando las cuestiones de
poder que allí exi
sten. De este modo, “
el currículo acaba expresando exactamente, entre otras
cosas
, la forma en que se d
efinen ciertas cuestiones como ‘
problemas
’ sociales”
(p. 9) y, por
lo tanto, cuando el concepto de ciudadanía se restringe en los criterios de evaluación del
PNLD, se sugiere desarrollar la diferencia en el currículo.
En este sentido,
cuando el tema es Encuentros con la Diferencia, la convocatoria
sugiere que las obras se centren en el contacto entre diferentes ámbitos culturales, sociales,
regionales, etc., además del encuentro entre individuos de diferentes etnias, razas, etc. y/o co
n
personas con discapacidad, valorándose la presencia de protagonistas que representen esta
diversidad. La interacción con la diferencia debe revelar sus retos y beneficios, destacando la
necesidad de una convivencia democrática. Al estimular la inserción
de contenidos sobre el
género y la apreciación de las diferencias, esta nota rompe la tradición de limitarse a la
enseñanza de la tolerancia y comienza a celebrar la diferencia y amplía la concepción del
género más allá de las distinciones biológicas. En t
iempos poco propicios, promueve la
diferencia que es el motor de la vida (PARAÍSO, 2015), ya que
“
lo relevante de la diferencia
es la singularidad, el flujo de fuerzas, la transgresión
”
(PARAÍSO, 2010, p. 589). Además,
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nos hace pensar en las articulaciones
entre el currículo y los estudios
queer
sobre género y
sexualidad, tan propicios para la política pública, específicamente el currículo, porque lo
entendemos como
“
entrecruzamiento de minorías, nunca se trató de una política de identidad
”
(BUTLER, 2011, p
. 209).
Como nos provocan Macedo y Ranniery (2018 p. 747) sobre las políticas públicas de
currículo, tal vez
queer
nos permita “
invocar una apertura radical del
‘todo’
, que, en lugar de
asumir la identidad, pueda derivar de su condición
relacional, de la relación con la alter
idad,
de un vínculo con el otro”
. Sólo así podríamos construir
“
pedagogías corporales de género
que hacen de los cuerpos de hombres o mujeres, masculinos o femeninos, determinadas
formas de ser y estar en el mundo y e
sto limita, ata, congela, despotencia la invención de otras
formas de vida
”
(VASCONCELOS; CARDOSO; FELIZ, 2018, p. 5). No necesitamos
“
nuev
os marcos, sino nuevas posturas”
(DIAS; MENEZES, 2017, p. 46). Abolir y
de
s
construir
“
las formas del currículo, los r
azonamientos que dividen y confinan, y las
verdades que aprisionan es una importante labor de un currículo vector de fuerzas y
movilizador de la diferencia
”
(PARAÍSO, 2015, p. 56).
Criterios
en las
asignaturas
específicas
En relación con los criterios de
evaluación relativos a las áreas específicas de
l
LD, en
2007, la orientación de respeto a la diversidad, que comúnmente se ubica en el apartado de
preceptos éticos o como carácter eliminatorio de la evaluación, orienta a que las áreas de
Ciencias, Geograf
ía, Historia, Lengua Portuguesa y Matemáticas en general respeten la
diversidad cultural, étnico
-
racial, de género, religiosa o cualquier otra forma de manifestación
individual o colectiva, evitando estereotipos y asociaciones que deprecien a los grupos ét
nicos
o raciales, así como que esto no se transmita en los textos e ilustraciones y que se estimule la
convivencia social y la tolerancia, abordando con respeto e interés la diversidad de la
experiencia humana.
En 2008, sólo se encontraron orientaciones so
bre esta cuestión en algunos ámbitos
específicos. En Ciencias, el texto tenía el mismo núcleo que el anterior, en cuanto a la
diversidad, la no afectación de los estereotipos y la tolerancia. En el apartado destinado a la
Historia, se observa que la orient
ación es muy similar a la de años anteriores, diferenciándose
únicamente en que el ítem no es un instrumento de propaganda o adoctrinamiento religioso o
partidista. Lo mismo ocurre con las matemáticas, en las que la única diferencia es que se ha
tenido en
cuenta la diversidad social y cultural de Brasil.
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Todavía en relación con las áreas específicas, en 2010 no se observaron cambios en el
área de Historia; en Lengua Portuguesa no hubo directrices. En Matemáticas existe la
siguiente advertencia respecto a la
representación gráfica de los se
res humanos, que muestra
cómo “l
a fotografía ha sido y es utilizada como un elemento de poder productivo, articulado
por tecnologías culturales que buscan asegurar la obediencia a formas
específicas de nombrar
el mundo”
(SIMON, 2008, p. 80). Así, las representaciones gráficas, entre otra
s, de
l
a
empleada doméstica
como una negra gorda; del vendedor del mercado como un portugués con
bigote; de los niños siempre rubios y bien vestidos; del oriental como una figura exótica con
sombrero cónico y ojos extremadamente alargados; del indio esbelt
o siempre cazando o
pescando; si no pueden calificarse de prejuicios, son estereotipos que deben evitarse, además
de ser indeseables en relación con el conocimiento matemático.
En cuanto a los componentes curriculares del segundo segmento, de las coleccion
es
para la EJA en 2011, correspondientes a los grados 6º, 7º, 8º y 9º de la educación primaria,
tales lineamientos sólo se observaron en los criterios específicos de eliminación del
componente curricular Geografía, y en los principios y criterios de evalua
ción de Lengua
Extranjera (inglés y español), valorando siempre el derecho a la diversidad, el respeto a la
libertad y la exención de prejuicios y otras formas de discriminación.
En 2012, en los criterios específicos de eliminación de las áreas, en Lenguas
, códigos y
sus tecnologías, se destaca la importancia del conocimiento de la diversidad de las lenguas, de
sus múltiples funciones, en la constitución de los valores que animan a las personas y grupos
sociales, ante el predominio, para el mundo, de ideale
s de respeto, tolerancia, justicia,
expansión de la paz e igualdad social. En los criterios específicos de eliminación del
componente curricular Lengua Extranjera Moderna (inglés y español), se repite la sugerencia
de que el conjunto de textos representati
vos de las comunidades hablantes de la lengua
extranjera, con temas propios del Bachillerato, no transmitan estereotipos o prejuicios en
relación con las culturas extranjeras implicadas, ni con la nuestra en relación con ellas.
En relación con las Ciencias
Humanas y sus tecnologías se orienta a que los trabajos de
Geografía e Historia estén libres de estereotipos, caricaturas y/o simplificaciones explicativas
que comprometan la noción de sujeto histórico y/o induzcan la formación de prejuicios de
cualquier
naturaleza. Para sociología se pide que en los análisis, ejemplos y actividades se
contemplen: situaciones de diferentes regiones del país y experiencias de diferentes clases
sociales, que permitan al alumno respetar la diversidad cultural y el reconocimie
nto de la
desigualdad socioeconómica, y para Matemáticas no hay pautas. Por último, en el caso de las
ciencias de la naturaleza y sus tecnologías, en la biología, se pide que se tome conciencia de
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que el conocimiento biológico puede servir de base para rec
onocer formas de discriminación
racial, social, de género, etc., que incluso se basan en supuestos biológicos.
En las áreas de Matemáticas, Ciencias e Historia, en 2013, no hay directrices sobre el
respeto a la diversidad. En Geografía, en sus principios g
enerales, se sugiere formar a un
ciudadano del siglo XXI de manera que aprenda a conservar los recursos naturales, a respetar
los derechos humanos, la diversidad cultural y a luchar por la construcción de una sociedad
más justa, solidaria, sin prejuicios n
i estereotipos. En sus criterios específicos de eliminación,
ya que la Geografía relaciona los procesos históricos, sociales, económicos, políticos y
culturales para explicar el estadio de desarrollo de los pueblos y países, pide que se mantenga
el derecho
a la diversidad dentro de las normas éticas y el respeto a la libertad de los
individuos y grupos, sin prejuicios, ya sea de origen, etnia, género, religión, edad u otras
formas de discriminación.
Así, en relación con los criterios de evaluación de las ár
eas específicas, en general se
insiste en que los trabajos estén libres de prejuicios y no transmitan estereotipos, que estén
atentos a las diferencias políticas, económicas, sociales y culturales presentadas de forma
negativa, a la discriminación de cualq
uier tipo, ya sea en la forma de abordar los contenidos
pedagógicos, o mediante palabras, ilustraciones, fotos, y que estimulen la convivencia social y
el reconocimiento de la diferencia.
Cabe mencionar que los criterios de exclusión relacionados con las c
uestiones de
género y la valorización de las mujeres en la sociedad y en las profesiones estaban presentes
en el Edicto de 2008 para las disciplinas de Ciencias, Historia, Matemáticas y Geografía. La
geografía fue la única disciplina que presentó criterios
de exclusión específicos en todas las
versiones analizadas de los edictos. En resumen, identificamos que los componentes
curriculares que presentan más directrices en materia de género y diversidad son Geografía
(en 15 edictos), Historia (en 7 edictos), C
iencias y Biología (en 6 edictos), Lengua Extranjera
(5 edictos) y Sociología y Matemáticas (4 edictos).
Debido a la amplitud cultural que tiene el PNLD en el territorio nacional, las
investigaciones que toman el programa y la LD como ámbito de análisis ha
n ido aumentando
desde los años 90. Son innumerables los enfoques de esta investigación académica,
destacando así la notoriedad que dicho programa ha tenido en las políticas públicas educativas
contemporáneas. Estos estudios sobre la influencia del PNLD mu
estran, sin embargo, que a
pesar de todas las sugerencias y orientaciones en estos edictos, la gran vigilancia sobre tales
temas se vuelve inexpresiva, ya que no basta con eliminar prejuicios y estereotipos, sino,
sobre todo, con introducir contenidos desa
tendidos en las colecciones y obras, extrapolando el
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silencio didáctico que existe en relación con el género, la diversidad y las minorías sexuales,
las cuestiones étnico
-
raciales y de clase, entre otras, y transgrediendo la noción hegemónica y
centralizad
ora que se tiene al respecto. En su conjunto, los edictos no presentan como
obligatorio el planteamiento de estos temas en los ámbitos específicos, en los que su ausencia
no implica sanción.
A pesar de las orientaciones de varios edictos para promover posi
tivamente la figura
de las mujeres, afrodescendientes, indígenas y otras minorías sociales y sexuales, lo que se
observa es que la actuación de las mujeres en la lucha por los derechos sociales y en la
formación de la clase trabajadora es poco mencionada o
se menciona de manera genérica.
Habitualmente, las mujeres presentadas como símbolos son modelos de empoderamiento
femenino, como faraonas, reinas o personajes que destacaron sobre los demás en movimientos
históricos revolucionarios o de lucha, como Joana
D'Arc y Anitta Garibaldi (CELESTINO,
2016).
Otras investigaciones, como la de Castro (2016), muestran que más de la mitad de las
imágenes presentadas en las colecciones didácticas tienen protagonistas masculinos (casi el
70%), asociando los personajes fem
eninos a un papel secundario. Además, las atribuciones
masculinas son las vinculadas a la esfera pública, a la fuerza, a la autonomía, al desempeño
económico y político, a los inventores de tecnologías, a los empresarios, a los políticos, a los
escritores,
a los dramaturgos, a los héroes, o a otros protagonismos. Las mujeres son definidas
principalmente en una relación romántica heterosexual, con la familia, cuidando a los niños,
como maestras, sumisas, frágiles, excesivamente emocionales o bajo la
protecci
ón/dominación de los hombres, reproduciendo y perpetuando así el concepto de que la
función de las mujeres es servir a los hombres, estar en un entorno doméstico, excluyéndose
de otras esferas sociales, y siendo valoradas por su belleza y cuerpo. Otras vec
es, las figuras
femeninas se ilustran en celebridades, siendo sexualizadas y cosificadas, tendiendo a un
patrón industrial. En este caso, se puede decir que este protagonismo mediático contribuye
“
a
la cosificación más que a su emancipación
”
(CASTRO, 2016, p. 105).
La investigación de Cardoso (2018) también revela que los criterios del PNLD no son
tan efectivos. Según el autor, por su carácter descriptivo y por ser su objeto principal la
naturaleza
-
casi siempre entendida como intocable y pur
a
-
la LD de las Ciencias se encarga de
aglutinar el conocimiento sobre los cuerpos y los comportamientos de forma aparentemente
neutral y libre de elementos culturales. Sin embargo, la correlación entre naturaleza y cultura
se establece muy estrechamente e
n este plan de estudios, ya sea a través de actividades,
experimentos, imágenes o narraciones biológicas sobre el mundo. Se ha comprobado que el
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discurso biológico produce demandas naturalizadas sobre los cuerpos, los géneros y las
sexualidades. Los refran
es sobre la competitividad, el desarrollo corporal, la fuerza física, la
cadena alimentaria, la territorialidad, el cuidado, la protección, la reproducción y las
enfermedades se ofrecen de forma diferenciada a los sujetos gener
al
izados. Este proceso, al
es
tar travestido del ropaje científico, da fuerza de verdad y autoridad a las diferencias
biológicas, intelectuales y culturales.
Algunas consideraciones
A pesar de las décadas de este currículo de políticas públicas
-
aquí hemos analizado
quince de
estos años, hemos podido ver cómo el campo educativo es frágil y presenta
posibilidades de desestructuración, aunque, en los últimos veinte años, la diversidad y otros
temas relacionados han ganado importancia en las discusiones internacionales y nacionale
s,
en los debates sobre el desarrollo y en la elaboración de políticas públicas, principalmente en
el área de la educación. Si se han podido visualizar avances en la construcción de la categoría
de género en esta política
-
pasando de un razonamiento estri
ctamente biológico a una
concepción más relacional, coqueteando a veces con el concepto de diferenci
a
, también
vemos su retroceso ante los discursos conservadores. La educación ha sido uno de los
objetivos preferidos del entrelazamiento de la agenda conser
vadora en las costumbres con la
agenda neoliberal en la economía. Por ello, se argumenta que esto se establece porque el
ám
bito educativo ha sido todavía “
uno de los grandes obstáculos en este proceso de
construcción
de una subjetividad empresarial”
, en el
que cada persona pasa a ser vista como
un espacio económico en el que puede afrontar los riesgos de forma individual, ya que se
elimina la red de protección social (CRUZ; MACEDO, 2019, p. 34).
A partir de lo presentado, hemos visto que desde la década de
1990 el contexto
político brasileño ha utilizado muchas referencias a la diversidad, motivadas por la presión de
cumplir con los acuerdos internacionales para combatir las desigualdades raciales, de género y
otras, así como por un contexto interno de inten
sas demandas. Observamos que el MEC no
tiene una posición cohesionada sobre la diversidad, para orientar el conjunto de acciones en
ma
teria de educación, por lo que “
la idea de la diversidad ha servido como un gran concepto
paraguas para el gobierno en los
distintos procesos de negoci
ación con los grupos de presión”
(RODRIGUES; ABRAMOWICZ, 2013, p. 26). Aunque durante el gobierno de Lula, a
mediados de 2003, se creó un escenario de grandes expectativas sobre una reorganización de
las instituciones y las pol
íticas públicas, de modo que las cuestiones de género, raza,
sexualidad y otras desigualdades fueron consideradas durante mucho tiempo de forma
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abstracta, las cuestiones de diversidad están contenidas sólo en el ámbito discursivo y
abstracto de la cultura/
diversidad/diferencia y
“
permanecen sin financiación efectiva para
invertir cualquier lógica
”
(p. 27).
En cuanto a los criterios de evaluación para la aprobación o exclusión de obras, se
puede afirmar el carácter general y poco característico de los
ítems de evaluación en materia
de d
iversidad de género, es decir, “
la defensa de la diversidad y la lucha por la igualdad racial
han pasado a formar parte de la retórica del gobierno, pero aún no han sido efectivamente
elevadas al rango de política de Esta
do
”
(IDEM). Además de estar en
partes
reducidas,
comparten espacio con otras categorías analíticas, como las razas y las etnias, que pueden
dificultar un análisis más detallado de los enfoques de género presentes en LD, o que siguen
camuflados por el clamo
r de la tolerancia tan presente en el discurso neoliberal. Tolerar
naturaliza un
“
patrón del que parten los
diversos y se constituyen como “otros”
a ser
aceptados e incorporados a u
na racionalidad universal, que “respeta”
sus partic
ularidades sin
ser cuest
ionadas”
(CARDOSO; GUARANY; UNGER; PIRES, 2019, p. 1472), pero
“
antes de
tolerar, respetar y admitir la diferencia, es necesario expli
car cómo se produce activamente”
(SILVA, 2008, p. 81). De esta manera, es quien evalúa si las obras aportan prejuicios o
v
aloran la actuación de la mujer en la sociedad y en las áreas de conocimiento, así como si los
problemas con la categoría de género tienen la fuerza para desaprobar toda una colección.
Por
lo tanto, estas evaluaciones pueden dar lugar a silencios de género
o a encarcelamientos en las
colecciones de LD aprobadas.
Cabe mencionar que estos criterios no son suficientes cuando consideramos la vasta
producción académica brasileña sobre las relaciones de género que señalan lo problemático de
l
o
s LD en cuanto a las
subjetivaciones y su posicionamiento en relación a las áreas de
conocimiento. Para entender cómo la violencia, las ausencias históricas, los estereotipos, las
exploraciones y los prejuicios se perpetúan en los libros
didácticos
de las diferentes
asignatur
as escolares, es fundamental observar cómo se inscriben los sujetos en los espacios
tradicionalmente masculinos, blan
cos y heteronormativos, ya que “
cuestionar la identidad y la
diferencia como relaciones de poder significa problematizar los binarismos en
torno a los
cuales se organizan
”
(SILVA, 2008, p. 76). Por lo tanto, la construcción del género en los
moldes de la diferencia es urgente.
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https:
//doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13752
Enviado el
:
05/06/2020
Revisiones
requeridas:
21/07/2020
Apro
bado el
:
16/10/2020
Publicado el
:
02/01/2021