image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
84
IM
PLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO REMOTA EM TEMPOS DE PANDEMIA:
ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
LA IMPLEMENTACIÓN DE LA EDUCACIÓN REMOTA EN TIEMPOS
PANDÉMICOS: ANÁLISIS DE LA EXPERIENCIA DEL ESTADO DE MINAS GERAIS
THE IMPLEMENTATION OF REMOTE ED
UCATION IN PANDEMIC TIMES:
ANALYSING THE EXPERIENCE OF THE STATE OF MINAS GERAIS
Breynner Ricardo de OLIVEIRA
1
Ana Cristina Prado de OLIVEIRA
2
Gláucia Maria dos Santos JORGE
3
Jianne In
e
s Fialho COELHO
4
RESUMO
:
O artigo analisa a implementação da educ
ação remota na Rede Estadual de Minas
Gerais por meio do “Regime de Estudo não Presencial” (REANP) em tempos de pandemia. A
pesquisa se deu em três fases: levantamento dos marcos institucionais do programa; análise
dos eixos de ação e dos comentários nos c
anais de comunicação disponibilizados pela
Secretaria de Educação (SEE). Os dados foram organizados em sete dimensões: (1) o acesso
ao programa; (2) a receptividade ao REANP; (3) percepções sobre o aplicativo e suas
funcionalidades (4) questões associadas
à tecnologia; (5) conteúdo; (6) adesão à educação
remota e (7) conexão entre os eixos do REANP.
Os dados mostram a dificuldade que a SEE
tem enfrentado para criar vínculos e estratégias de adesão multinível entre os atores
institucionais, os instrumentos,
os processos, as tecnologias, os territórios e seus profissionais.
Os dados indicam que a educação pública remota vincula e potencializa questões sociais e
econômicas e que a SEE as minimizou em seu desenho, linearizando a oferta. Não foram
encontradas açõ
es ou estratégias destinadas aos alunos da educação especial, quilombola,
indígena e de jovens e adultos. As percepções dos usuários apontam para duas questões: os
riscos de a educação remota aprofundar as desigualdades sociais e educacionais e a adoção de
estratégias de formação virtual, apoiadas pelas tecnologias, pós pandemia.
PALAVRAS
-
CHAVE:
Educação
remota
.
I
mplementação de
políticas educacionais
.
D
esigualdade
educacional
.
T
ecnologias
.
COVID
-
19 e
pandemia
.
1
Universidade Federal de Ouro Preto
(
UFOP
),
Ouro Preto
–
MG
–
Brasil
.
Professor no
Programa de Pós
-
Graduação em Educação
.
Doutorado em Educação (UFMG).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0003
-
0956
-
4753
.
E
-
mail:
breynner.oliveira@gmail
.c
om
2
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro
–
RJ
–
Brasil.
Professora no
Programa de Pós
-
Graduação em Educação (PPGEdu)
.
Doutorado em Educação (PUC
-
Rio).
ORCID:
https://orcid.org/0000
-
0002
-
0367
-
6669. E
-
mail: ana.oliveir
a@
unirio.br
3
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto
–
MG
–
Brasil.
Professora Associada no
Departamento de Educação e Tecnologias (DEETE). Doutorado em Educação (
UFMG
)
.
ORCID:
http://orcid.org/0000
-
0002
-
0026
-
4853
. E
-
mail:
glauciajorge@gmail
.c
om
4
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana
–
MG
–
Brasil.
Doutoranda no
Programa de Pós
-
Graduação em Educação
. ORCID: http
s
://orcid.org/0000
-
0003
-
0657
-
4649. E
-
mail: jiannecoelho@gmail.com
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
85
RESUMEN
:
El artículo
analiza
la implementac
ión de la educación remota en la Red del
Estado de Minas Gerais a través del
Régimen
de Estud
io n
o Presencial (REANP) en tiempos
de pandemia. La
investigación
se llevó a cabo en tres fases: encuesta de los marcos
institucionales del programa; análisis de l
as líneas de acción y comentarios en los canales de
comunicación proporcionados por la Secretaría de Educación (SEE). Los datos se
organizaron en siete dimensiones: (1) acceso al programa; (2) receptividad a REANP; (3)
percepciones sobre la aplicación y su
s funcionalidades (4) problemas asociados con la
tecnología; (5) contenido; (6) adherencia a la educación remota y (7) conexión entre los ejes
REANP. Los datos muestran la dificultad que SEE ha enfrentado para crear vínculos
multinivel y estrategias de adh
esión entre actores institucionales, instrumentos, procesos,
tecnologías, territorios y sus profesionales. Los datos
señalan
que la educación pública
remota vincula y mejora los problemas sociales y económicos y que SEE los ha minimizado
en su diseño, line
alizando la oferta. No se encontraron acciones o estrategias para
estudiantes de educación especial, quilombola, indígenas y jóvenes y adultos. Las
percepciones de los usuarios
señalan
a dos cuestiones: los riesgos de la educación remota
que profundizan la
s desigualdades sociales y educativas y la adopción de estrategias de
capacitación virtual, respaldadas por tecnologías, después de la pandemia.
PALABRAS CLAVE
:
Educación remota
.
Implementación
de políticas educativas
.
Desigualdad
educativa
.
Tecnologías.
COVID
-
19 y pandemia.
ABSTRACT
:
The article analyzes the implementation of remote education in the State
Network of Minas Gerais through the
Regime de Estudo não Presencial
(REANP) in
pandemic times. The research took place in three phases: a survey of th
e program's
institutional frameworks; an analysis of the lines of action and comments in the
communication channels provided by the Secretariat of Education (SEE). The data were
organized into seven dimensions: (1) access to the program; (2) receptivity to
REANP; (3)
perceptions about the application and its functionalities (4) issues associated with the
technology; (5) content; (6) adherence to remote education and (7) connection between the
REANP axes. The data show the difficulty that SEE has faced in cr
eating links and multilevel
adhesion strategies between institutional actors, instruments, processes, technologies,
territories, and their professionals. The data indicate that remote public education links and
enhances social and economic issues and that
SEE has minimized them in its design,
linearizing the offer. No actions or strategies were found for students of special education,
quilombola, indigenous and youth and adults. Users' perceptions point to two issues: the risks
of remote education deepening
social and educational inequalities and the adoption of virtual
training strategies, supported by technologies, after the pandemic.
KEYWORDS
:
Remote education
.
Implementation
of educational policies
.
Educational
inequality
.
T
echnologies
.
COVID
-
19 and pan
demic.
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
86
Introdução
2020 começou com um surto de doença respiratória, declarado Emergência de Saúde
Pública de Importância Internacional pela Organização Mundial de Saúde
(
OMS
)
, ao final de
janeiro. Em 11 de março, a OMS caracterizou como pandemia
o quadro da disseminação
comunitária da COVID
-
19 que
já atingia todos os continentes. Para conter a doença e
minimizar o número de mortes, foram recomendadas três ações básicas: isolamento e
tratamento dos casos identificados, testes massivos e distanciame
nto social. O distanciamento
social,
adotado
pela maior parte dos países, implicou no fechamento de espaços que
reunissem muitas pessoas, incluindo as
instituições escolares
.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO),
a suspensão das aulas produziu efeitos importantes para os sistemas de ensino e
para a vida de alunos e suas famílias, com consequências para o desempenho educacional dos
diversos países.
No dia 25 de maio de 2020, 1.186.161.728 estudantes haviam
sido afetados
(67.7% do total de matr
í
culas) e 146 países
fecharam suas
escolas
(UNE
SCO, 2020).
No Brasil,
o
Parecer no. 5/2020 do
Conselho Nacional de Educação (
CNE
)
,
homologado
pelo Ministério da Educação (MEC), suspen
de as aulas presenciais
em todo o
t
erritório nacional
. Tal
situação deverá seguir ritmos diferenciados nos
e
stados e
m
unicípios, a
depender da extensão e intensidade da contaminação pela COVID
-
19.
C
onsiderando a
autonomia dos entes federados, o documento propõe que os gestores educacionais
promovam
iniciativas para minimizar os impactos das medidas de isolamento social na aprendizagem dos
estudantes, entre elas “[...] a realização de atividades pedagógicas não presenciais enquanto
persistirem restrições sanitárias, garantindo ainda os demais
dias letivos mínimos
anuais/semestrais previstos no decurso” (BRASIL, 2020, p. 6).
C
omo garantir
que as iniciativas adotadas por cada rede educacional
serão capazes de
minimizar
o impacto da falta de aulas presenciais por mais de três meses? E que
serão
a
cessíveis a todos os alunos, considerando a diversidade d
esse público?
Segundo Gomes
(2020), o desafio atual dos gestores dos sistemas de ensino é d
efinir os encaminhamentos
adequados para a educação básica em um contexto de calamidade sanitária, crise eco
nômica e
instabilidade política, onde a educação já vinha sofrendo dificuldades orçamentárias
.
U
ma série de políticas emergenciais têm sido implementadas nas redes estaduais e
municipais de ensino para atender as necessidades dos alunos, sejam elas de apr
endizagem
, de
segurança, de alimentação
e de proteção social
.
De acordo com Madeira
et al
.
(2020)
,
o
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
87
estudo sobre a implementação de políticas públicas
em
contexto
s de emergência
torna
-
se
ainda mais relevante para
se compreender
o alcance destas iniciativa
s
, objeto desse artigo.
Ao analisar o processo de implementação da educação remota na Rede Estadual de
Minas Gerais por meio do
“Regime de Estudo não Presencial
”
(REANP)
,
pretende
-
se, a partir
do desenho do programa definido pela Secretaria Estadual de Ed
ucação
(SEE)
e da análise da
percepção de seu público
-
alvo (alunos, famílias e professores)
, discutir a complexidade de sua
operacionalização a partir de duas dimensões, interligadas: (1) as dificuldades de se
implementar um programa emergencial que vincul
a
, conforme Oliveira e Daroit (2020),
distintos atores, territórios, sujeitos e tecnologias, em uma perspectiva multinível e (2) o
aumento da desigualdade educacional no estado, agravada pela pandemia e pela dinâmica da
implementação do programa.
De nature
za
exploratóri
a
,
a pesquisa se deu em três fases: a primeira tratou do
levantamento dos marcos legais e institucionais do programa
; na segunda, o programa foi
analisado a
partir dos três eixos
do programa
: as videoaulas
disponibilizadas no
YouTube
(
Se
Liga
na Educação
), o aplicativo
(
Conexão Escola
)
e os cadernos de estudo
(
Planos de
Estudos Tutorados
–
PET
)
.
Na terceira fase analisamos
os comentários realizados pela
audiência (pais, alunos, professores e outros) nos canais de comunicação disponibilizados p
ela
SEE nas plataformas do aplicativo
e do
Se liga na Educação
.
Os dados, coletados entre os
dias 25 de maio e
30
de junho de 2020, foram organizados em sete dimensões: (1) o acesso ao
programa; (2) a receptividade ao REANP; (3) percepções sobre o aplicati
vo e suas
funcionalidades (4) questões associadas à tecnologia; (5) conteúdo; (6) adesão à educação
remota (7) conexão entre os eixos do Programa.
O artigo está
estruturado
em
quatro
seções
, além da
introdução
e das considerações
finais
. A primeira seção
apresenta uma síntese dos estudos sobre a implementação de políticas
públicas,
associando o
s efeitos d
esses processos ao aumento das
desigualdades educacionais,
especialmente em um contexto emergencial.
A partir de dados socioeconômicos e
educacionais, a
s
egunda seção caracteriza
o estado de Minas Gerais
, explicitando suas
disparidades regionais. A fim de dimensionar a complexidade educacional mineira, a seção
também traz dados sobre o sistema estadual de ensino. Na terceira seção,
o desenho do
programa
é a
presentado.
A
quinta
seção
traz a análise dos dados levantados
, a partir d
as
dimensões que foram definidas.
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
88
Implementação de Políticas Públicas em contexto emergencial
Os estudos sobre as políticas públicas
estão interessados em
entender o caminho en
tre
a formulação da política e sua “entrega” aos beneficiários
–
cidadãos a quem se destina.
Tradicionalmente, considera
-
se como fases deste processo a agenda, a formulação, a
implementação e a avaliação das políticas públicas. Ainda que este ciclo não sej
a rígido, ele é
um importante instrumento analítico para
se
compreender os complexos processos decisórios
envolvidos na efetivação de uma política (SOUZA, 2003
; OLIVEIRA, 2019
).
Em relação
à
fase da implementação das políticas
, Madeira
et al
.
(2020) afirma
m que
entre a proposta,
desenho e posterior implementação de políticas, o nível de profissionalização da burocracia
determinará a qualidade com que os serviços públicos serão entregues para as pessoas
.
Ao analisar esse processo no contexto das políticas e
ducacionais e das instituições
escolares, Oliveira (2019) afirma que a c
ompreen
são do processo de
implementação
implica
conhecer e
acompanhar
a trajetória da política, seu arranjo institucional
e
os atores envolvidos
n
os diversos níveis, até o
nível local,
no território. Como a política educacional se materializa
na escola, é no nível local que
a atuação d
os burocratas de nível de rua
revela como a política
acontece cotidianamente,
considerando suas estratégias para a adequação e
recontextualização
.
De acor
do com Pires (2019), os estudos sobre a implementação têm
trazido importante contribuição para a reflexão sobre os efeitos destas políticas. No caso das
políticas educacionais, considerando uma agenda que defende a distribuição de uma
escolaridade de “qual
idade” para todos, o olhar para as dinâmicas de implementação colabora
na compreensão sobre os resultados atingidos (ou não). Pires
(2019, p. 19)
destaca um “[...]
um tipo especial de efeito não pretendido [...], o efeito social da implementação”. Seguindo
esta linha, alguns estudos têm buscado identificar mecanismos, situações e experiências
ocorridas nos encontros entre os burocratas de nível de rua e o público nas dinâmicas de
implementação das políticas. Estas relações poderiam, da forma como são estabe
lecidas,
contribuir para a reprodução das desigualdades sociais.
Em se tratando da implementação de políticas educacionais,
importa
compreender
como as distorções ou adaptações decorrentes das múltiplas ações dos implementadores
resultam em diferentes efe
itos para os beneficiários, os alunos
e suas famílias
. Em pesquisa
sobre a política educacional de correção de fluxo no Rio de Janeiro, Oliveira e Paes de
Carvalho (2019), por exemplo,
afirmam
que as lógicas de ação dos implementadores
investigados
–
profe
ssores e diretores
–
vão além das prescrições formais, incluindo processos
de julgamento, classificação e seleção sobre os usuários da política
–
os alunos.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
89
Considerando o período atípico que estamos
atravessando
, os encaminhamentos para
minimizar os efei
tos da suspensão das atividades letivas na educação básica se materializam
em políticas locais, como discutido na introdução deste texto. A definição do que poderíamos
chamar de “políticas educacionais emergenciais” acontece em um novo contexto, onde o
esp
aço escolar foi
virtualmente ampliado,
assim como as relações entre educadores e alunos e
a própria relação ensino
-
aprendizagem
, mediadas pelas tecnologias da informação e do
conhecimento, largamente
difundidas e utilizadas durante a pandemia
.
Assumindo q
ue as Secretarias de Educação não estavam preparadas para tal situação,
consideramos que a formulação des
s
as
ações emergenciais se deu em
um período
bastante
reduzido
, aumentando os níveis de incerteza e ambiguidade dos programas desenhados. Como
não houve
tempo para se construir estratégias que vinculassem e
articulassem
os profissionais
da educação que atuam na linha de frente
–
os burocratas de rua,
entendemos que a
adesão
desses atores é bastante heterogênea. Ao implementar um programa de educação ancor
ado no
uso das tecnologias, as Secretarias potencializam a
discricionariedade desses atores,
além de
induzir níveis distintos de comprometimento e motivação, muito dependentes da ação
individual desses atores, profissionais que, também, estão expostos às d
ificuldades que a
pandemia impõe.
Minas Gerais e a Secretaria Estadual de Educação
: aspectos socioeconômicos
,
e
ducacionais e ações de enfrentamento da pandemia
Com 21 milhões de habitantes, Minas Gerais é o segundo estado mais populoso do
país
e
é o
que
tem
o maior número de cidades, totalizando 853 municípios. Segundo Queiroz
(2001), o estado é uma das regiões mais heterogêneas do país. Coexistem regiões dinâmicas,
modernas e com elevados indicadores socioeconômicos e localidades empobrecidas e pouco
de
senvolvidas.
O nível de desenvolvimento dessas regiões é medido pelo Índice de Desenvolvimento
Humano Municipal (IDH
-
M). Segundo dados da Fundação João Pinheiro (FJP), os maiores
valores para esse indicad
o
r estão nas
regiões sudoeste, sul, sudeste e na
Re
gião Metropolitana
de Belo Horizonte (RMBH)
,
consideradas
as
mais desenvolvidas. Por outro lado, as
mesorregiões localizadas nas regiões norte
, noroeste
e nordeste são as menos desenvolvidas e,
portanto, as mais desiguais.
Ainda que não respondam por um n
úmero expressivo de habitantes, metade da
população dessas regiões vive em situação de pobreza e extrema pobreza. Segundo dados da
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
90
FJP, a proporção de pessoas que vive em domicílios com renda igual a zero é relativamente
alta quando comparada com as demais
regiões. Por outro lado, apesar de a Região
Metropolitana de Belo Horizonte (capital do estado) ser uma das mais desenvolvidas do
estado, quase 25% da população pobre do estado localiza
-
se nessa área.
Com relação à utilização da
Internet
no estado, segun
do a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílio Contínua (Pnad C) do IBGE (2018), do total de habitantes mineiros,
74,8% utilizaram
Internet
e 25,2% não
a
utilizaram.
C
onforme
dados
do IBGE, em 79,3% dos
domicílios particulares mineiros há utilização de
In
ternet
.
E
m 99,4%
desses, a
utilização
é via
telefone móvel celular
; 50,2% por meio de
microcomputador e
14,7% usam
tablet
.
Sobre o
acesso, em
58%
dos domicílios a conexão
se dá via banda larga fixa e móvel
;
em
57,9%
s
omente via banda larga.
97% dos domicíl
ios mineiros tem
aparelho de televisão
.
No campo educacional, os dados
do
Censo Escolar
(
2019
)
informam que Minas Gerais
tem mais de 4,1 milhões de alunos matriculados nas redes municipais, estadual, federal e
privada.
Segundo o Censo
,
85% delas estão nas
áreas urbanas
.
Desses, pouco mais de 1,8
milhões são alunos da rede estadual
5
, sob a responsabilidade da S
EE
, que gerencia 3.603
escolas em todo o estado. Desse total, 3.288 unidades estão em zonas urbanas e 324
localizam
-
se em zona rurais, abrigando 85,3
% e 14,7% das matrículas, respectivamente. Do
total de alunos matriculados na rede estadual mineira, 50,2% são do sexo feminino e 49,8%
masculino. Quanto à raça/cor, 30,7% se declaram brancos, 49,1% pardos, 6,2% pretos, 0,3%
indígenas, 0,2% amarelos e 13,5
% não declararam sua cor.
Além das escolas urbanas e rurais, a SEE também é responsável por estabelecimentos
educacionais que oferecem Educação Especial Exclusiva (0,72%), abrigando
aproximadamente 2.494 estudantes. Com relação à Educação do Campo, Educaç
ão Indígena e
Educação Quilombola, o estado conta com 17 estabelecimentos, empregando 519 professores,
dentre os quais 62 possuem formação em Magistério Específico Indígena. Quanto à Educação
do Campo, são atendidas 21 Escolas Família Agrícola (EFA), que a
tendem 2000 estudantes
em mais de 1200 comunidades, com o apoio do Governo do Estado.
Segundo publicação da SEE
(
MINAS GERAIS, 2017
)
, a
r
ede
e
stadual conta com
15.561 diretores escolares e emprega 96.783 professores. Desses, 35,5% são efetivos e 67,7%
são
temporários. Do total, 23,5% são do sexo masculino e 76,5% do sexo feminino. Quanto à
faixa etária, 11,5% têm até 29 anos de idade, a maioria (66,6%) situa
-
se na faixa etária entre
5
531 alunos estão matriculados na Educação Infantil
(P
ré
-
Escola); 1.099.619 no Ensino Fundamental (Séries
Iniciais e Séries Finais) e 737.613 no Ensino Médio.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
91
30 e 49 anos e 21,9% têm 50 anos ou mais. Quanto à raça/cor, 18,1% se situ
am na categoria
de não declarados; 40,1% se declaram como brancos; 41,1% negros e 0,5% indígenas.
Em relação
à remuneração dos profissionais da educação, o salário de Professor da
Educação Básica (PEB) varia entre R$ 1.455,30 e R$ 2.135,64, para jornadas
de trabalho de
24 horas. A remuneração média do Diretor de Escola é R$ 6.741,48. O Especialista em
Educação Básica (EEB), responsável pelo trabalho de orientação, implementação e avaliação
do processo de ensino e aprendizagem nas escolas, tem remuneração m
édia de R$ 3.481,20.
Com relação ao Nível Socioeconômico
6
, as escolas estaduais mineiras estão
concentradas nos grupos 3 e 4 (56,5% e 27,3%, respectivamente). Com relação ao Ideb, a
figura 1 traz a distribuição do indicador para cada município mineiro, ev
idenciando o
contraste entre as regiões norte (6,0 Anos Iniciais; 4,1 Anos Finais), nordeste e sul (6,7 Anos
Iniciais; 4,9 Anos Finais) do estado. Enquanto as duas primeiras apresentam os piores
indicadores educacionais (coincidindo com os dados indicados
anteriormente), a região sul é a
que tem melhor desempenho escolar, associado a elevado nível socioeconômico.
Figura 1
–
Ideb dos municípios de Minas Gerais
Fonte:
Elaborado
pelos autores
Segundo Pereira e Silva (2020), a relação entre a SEE e os prof
essores é complexa.
Além das históricas disputas entre os trabalhadores e o Estado por maior remuneração e
6
O Indicador de Nível Socioeconômico (Inse)
foi
elaborado com base nos
microdados dos questionários
contextuais do Sistema de Avaliação da Educação
B
ásica (Saeb) e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O Inse é um valor numérico
que varia de 1 a 6, em que o nível 1 congrega escolas de Inse médio mais baixo e o
nível 6, escolas pertencentes ao grupo com Inse mais alto
(
ALVES, SOARES e XAVIER
, 20
14
)
.
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
92
melhores condições de trabalho, Minas Gerais ainda não cumpre com o piso nacional do
magistério. Segundo pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos Sob
re Política Educacional e
Trabalho Docente (GESTRAD
O, 2017
), a remuneração média dos professores é uma das
menores do país, agravada pelo choque de gestão imposto pelos governos de Aécio Neves
(2003
-
2006/2007
-
2010) e Antônio Anastasia (2010
-
2014), ambos do
Partido da Social
Democracia Brasileira (
PSDB
)
. O número de professores contratados também é elevado, o
que, invariavelmente, faz com que a pressão por concursos públicos seja constante. Já no
governo de Fernando Pimentel, do
Partido dos Trabalhadores (
20
15
-
2018), a greve realizada
pelos profissionais da educação em 2018, motivada pela revogação da chamada Lei 100
7
,
agravou a relação entre os professores e o executivo estadual.
A eleição de Romeu Zema, em 2018, inaugura um novo ciclo no estado. Empresário
filiado ao Partido Novo, Zema venceu as eleições com a promessa de modernizar e fortalecer
a gestão pública. Com a crise orçamentária agravada pelas gestões anteriores, Zema tem
implementado uma agenda notadamente liberal, marcada por cortes de gastos e in
vestimentos
públicos, restrições nas contratações de pessoal e privatizações.
Os crimes ambientais em Mariana pioraram a situação fiscal do estado. A queda na
arrecadação proveniente da mineração, associada à retração econômica do país, obrigou o
governo
Pimentel a escalonar o pagamento dos servidores estaduais, incluindo os
profissionais da educação. Os professores passaram a receber seus vencimentos em até três
parcelas, pagas com relativo atraso e sem cronograma fixo. Mantida pelo governo Zema, tal
medi
da aprofundou o desgaste entre o executivo e seus servidores, que tem priorizado o
pagamento dos profissionais da segurança pública em detrimento de outras carreiras.
Ainda segundo Pereira e Silva (2020), a nomeação de Julia Sant’anna para o cargo de
Secr
etária de Estado da Educação nessa gestão piorou ainda mais a relação com os docentes.
Carioca, servidora concursada do estado do Rio de Janeiro na carreira de especialista em
Políticas Públicas e Gestão Governamental, a Secretária não conhece, em profundi
dade, a
realidade do estado e as especificidades da educação mineira.
É
esse o contexto
educacional
do estado quando a Pandemia da COVID
-
19 assola o
país e o mundo, no início de 2020. Diante do quadro caótico que se anunciava no país em
função das posiçõe
s contraditórias, erráticas e desarticuladas adotadas pelo governo federal,
7
Em novembro de 2007
,
o governo publicou a Lei Complementar nº 100, conferindo aos servidores públicos da
educação que estavam contratados temporariamente o
status
de servidor efetivo.
O
estado
estendeu
os direitos
exclusivos dos servidores detentores
de
cargo público efetivo aos servidores efetivados pela LC 100/07. Em
2010,
o
Tribunal de Justiça
do estado
declarou a inconstitucionalidade da Lei. Em 26 de março de 2014, o
Supremo Tribunal Federal (STF) a declarou inconstitucional, atingindo 96 mil trab
al
hadores da educação.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
93
os estados e municípios passaram a agir em bloco. No dia 12 de março o governo mineiro
declarou situação de emergência em razão do surto provocado pelo Novo Coronavírus
.
Em 15 de m
arço, novo decreto do Executivo Estadual determinou o início da
quarentena e inaugur
ou
o início do trabalho remoto dos servidores, além do isolamento
daqueles que estiveram em áreas com transmissão comunitária do vírus. Na mesma data, o
Comitê Extraordinár
io da Covid
-
19 determinou a suspensão das aulas em todas as escolas da
rede estadual em Minas entre os dias 18 e 22 do referido mês. No dia 22
de março
, a
suspensão
das aulas em todas as unidades da Rede Pública Estadual
passou a ser indefinida.
Tais medid
as
aplicaram
-
se
também às instituições privadas de ensino e às redes municipais.
Em 09 de abril, o Comitê Extraordinário da Covid
-
19 determinou a volta às atividades
dos diretores, vice
-
diretores, além de assistentes técnicos de educação, analistas e auxi
liares
de educação básica, em regime de teletrabalho. No dia 18 de abril foi publicada a resolução n°
4.310, que institui
o Regime Especial de Teletrabalho nas Escolas Estaduais da Rede Pública
de Educação e o
Regime Especial de Atividades Não Presenciais
(REANP)
, apresentado por
meio de um portal, que pode ser acessado publicamente
8
. As medidas foram adotadas para
reestabelecer o calendário escolar, interrompido na modalidade presencial.
Educação remota em Minas Gerais: o
Regime Especial de Atividades N
ão Presenciais
De acordo com a SEE, o modelo de estudo remoto adotado no estado foi desenvolvido
em sintonia e diálogo com professores, equipe pedagógica e instituições ligadas à educação
,
articulando diversos atores em uma perspectiva multinível
: secreta
rias estaduais,
superintendências regionais de ensino,
Prodemge
9
, emissoras de TVs públicas, Assembleia
Legislativa, sindicatos
, operadoras de telefonia, provedores de
Internet
, empresas de
plataformas e mídias digitais, famílias, profissionais da educação
e alunos
.
A expectativa era a
de que o maior número possível de alunos fosse atingido e, assim, tivessem seu direito à
educação garantido.
Nesse contexto, o REANP organiza
-
se em três eixos
: (i)
o Plano de
Estudo
s
Tutorado
s
(PET),
(ii)
o Programa Se Liga n
a Educação e
(iii)
o aplicativo Conexão
Escola.
Ao virtualizar a sala de aula, os espaços e os tempos formativos, o objetivo da SEE é
oferecer estratégias diversas para que todos os alunos tenham acesso aos
recursos
e para que
8
O portal do REANP
.
Disponível em
:
https://estudeemcasa.educacao.mg.gov.br/inicio
. Acesso em: 10 dez.
2020.
9
A Prodemge é uma empresa de tecnologia da informação do
go
verno de Minas Gerais, responsável por auxiliar
órgãos e instituições públicas no estado.
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
94
possam chegar ao maior númer
o possível de alunos.
C
ada aluno
, porém,
utilizará
aquela que
lhe for mais conveniente e acessível. Quanto aos professores, é esperado que estabeleçam a
melhor forma de comunicação com seus alunos, que poderá ser via
e
-
mail
, telefone ou
aplicativo de mensa
gens, por exemplo.
A partir das contribuições de Lévy (2011) e Oliveira e
Daroit (2020), a escola torna
-
se, portanto, um território virtual, liquidamente diluído nos
espaços, nas dinâmicas dos domicílios e das pessoas que neles habitam.
O
Plano de Estudo T
utorado (PET)
Os Planos de Estudos Tutorados (PET
s
) foram organizados de acordo com o Currículo
Referência de Minas Gerais (CRMG), com o Plano de Curso da unidade de ensino e com a
carga horária prevista nas matrizes curriculares dos diferentes níveis e mo
dalidades de ensino.
O
s
PET
s
são
um instrumento de aprendizagem que permit
e
ao estudante resolver questões e
atividades escolares programadas, de forma autoinstrucional
e não presencial.
Organizado na forma de apostilas
com
conteúdo
e atividades referente
s a cada
ano/série escolar, respeitando a carga horária mensal da disciplina para cada estudante
,
o
material abrange as seguintes disciplinas
do Ensino Médio
10
: Língua Portuguesa, Matemática,
Biologia, Química, Física, História, Geografia, Filosofia, Sociol
ogia, Língua Inglesa, Estudos
Orientados
e
Projeto de Vida. Para atender ao Ensino Médio, estão disponíveis para
download
12 volumes para o 1
o
ano, 8 para o 2
o
ano e 8 para o 3
o
ano.
Segundo a SEE, o
s alunos devem
entregar as atividades do PET para correçã
o no retorno das aulas presenciais. Os professores
das disciplinas
, por sua vez,
deverão analisar o material, orientando os estudantes sobre os
conteúdos, propondo atividades complementares e apoiando a resolução dos exercícios
11
. Para
os
alunos
da educação
especial, os PETs deverão ser adaptados pelas escolas de acordo com o
Plano de Desenvolvimento Individual (PDI) do estudante
.
Os PETs estão disponíveis no
site
da SEE
, no portal que congrega todas as ações e
informações relativas ao REANP
e
no aplicativo
Conexão Escola. Além disso, os arquivos em
PDF poderão também ser enviados para os
e
-
mails
dos pais e/ou responsáveis, dos alunos e
dos professores cadastrados na escola e por outras ferramentas digitais.
Para os estudantes que
não possuem acesso à
Intern
et
, a escola deverá assegurar que o material
impresso
seja
disponibilizado ao estudante
. C
om o apoio da
s 47
Superintendência
s
Regiona
is
de Ensino,
caberá
às
escola
s
identificar como
o material
chegará
a todos os estudantes.
Programa Se Liga na Educação
10
Para fins deste estudo, foram considerad
o
s apenas
o
s
materia
is
referente
s
as séries do Ensino Médio.
11
Diversas foram as
matérias jornalísticas que veicularam inf
or
mações sobre a incorporação de trechos copiados
sem a devida citação das fontes e com imprecisões ou inconsistências de conteúdo.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
95
O P
rograma Se Liga na Educação é um
a
das
três ações
do REANP
.
Em
formato de
teleaula
,
as aulas são
transmitidas pela Rede Minas e pela TV Assembleia e são
ministradas
por
professores
da SEE.
As gravações privilegiam conteúdos nos quais os alunos apresentam,
h
istoricamente, maior grau de dificuldade e são planejadas para os alunos do 4
o
ano do Ensino
Fundamental ao 3
o
ano do Ensino Médio. As teleaulas são exibidas na programação diária da
Rede Minas
e na TV Assembleia
, de segunda a sexta
-
feira
12
.
Entre 7h30min e
11h15min são
exibidas
teleaulas
gravadas
. C
ada 20 minutos é dedicado a um ano de escolaridade. O
momento de conteúdo ao vivo com interação é das 11h15min às 12h30min.
As
teleaulas
estão
disponíveis, também, no canal da Educação no
Youtube
e na página
da R
ede Minas, o que permit
e
o acesso ao conteúdo e sua visualização por meio
on
-
line
e
assíncrono
.
A
s aulas também pode
m
ser acessadas por meio do aplicativo Conexão Escola.
Aplicativo Conexão Escola
O Aplicativo Conexão Escola é uma plataforma de acesso grat
uito para o aluno e
professor da rede pública estadual de ensino.
A
plataforma
permite ao aluno
acess
o
aos canais
de transmissão d
as teleaulas (Programa Se Liga na Educação, exibido na Rede Minas
13
) e aos
PETs para
realização de
download
, sem a necessidade
de utilizar seu pacote de dados, além de
poder acessar salas de
chat
para interagir com seus colegas e professores.
O aplicativo pode
ser acessado exclusivamente por dispositivos móveis com sistema operacional
Android
.
REANP: o que diz
em os alunos, prof
essores e responsáveis?
A análise dos comentários postados sobre o aplicativo e sobre as teleaulas (
no
Youtube
)
se deu a partir de
sete dimensões: (1) o acesso ao programa; (2) a receptividade ao
REANP; (3) percepções sobre o aplicativo e suas funcionalid
ades (4) questões associadas à
tecnologia; (5) conteúdo; (6) adesão à educação remota e (7) conexão entre os eixos do
Programa.
O acesso ao
programa
As ferramentas digitais (aplicativo e programa de TV), bem como o PET (que pode ser
lido na tela no form
ato PDF e/ou impresso) compõem ações que devem ser compreendidas de
12
O programa
é
transmitido no canal aberto da Rede Minas e da TV Assembleia (
c
anais públicos no estado), e
por meio das ant
en
as parabólicas
com sinal via satélite.
Assinantes d
e canis a cabo
têm acesso à programação.
13
As teleaulas são disponibilizadas no aplicativo em até 12 horas depois de exibidas no Programa Se Liga na
Educação.
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
96
maneira integrada e transversal: são canais de formação complementares e que possuem
desenhos diferentes. Nesse sentido, exigem o domínio de estratégias distintas para sua
utilização. Para
tal,
os usuários (alunos e professores) precisam saber ler na tela; saber como
assistir teleaulas ao vivo e
online
. É necessário, ainda, que eles se apropriem das
possibilidades de articulação entre essas ferramentas, potencializando
o
seu uso.
O número d
e usuários dessas ferramentas, embora seja bastante expressivo,
levanta
questionamentos sobre
a
capacidade de abranger
todos
os estudantes da rede estadual
. As
famílias e os alunos têm condições de acessar? Que dificuldades há?
Até o dia
06 de julho
de 20
20, o aplicativo foi baixado por mais de 1 milhão de
usuários e as teleaulas foram visualizadas mais de
7
milhões de vezes. Os números, embora
bastante expressivos, não impedem que questionemos os limites de abrangência do REANP
proposto pela SEE. O aplica
tivo, por exemplo, só pode ser baixado por aparelhos cujo sistema
operacional é o
Android
, o que exclui os aqueles que funcionam pelo sistema
IOS
.
A
obrigatoriedade de uso de aparelhos que operam pelo sistema fica
, então,
subentendida.
O acesso à
Internet
também é pressuposto básico para que estudantes e professores
possam utilizar as ferramentas oferecidas a eles. Para assistir os programas exibidos pela Rede
Minas
e pela TV Assembleia
, é imprescindível o acesso à energia elétrica, aparelho de TV e,
certa
mente, residir em áreas que recebam o sinal d
esses canais. Ainda que os dois canais
sejam públicos (a Rede Minas é mantida pelo governo do estado),
o sinal da
Rede Minas
chega a apenas 183 dos 853 municípios
. Com o aporte da TV Assembleia, mais
79
l
ocalida
des foram incluídas. De todo modo, pouco mais de 2
70
municípios estão tendo
cobertura, o que equivale a
32%
do total.
De acordo com
a SEE,
apenas 1 milhão, dos 1,
8
milhões de alunos da rede estadual terão acesso às aulas remotas por meio da TV.
A
proximada
mente
7
00 mil alunos
(
39
%
)
estão
sem acesso às teleaulas pela TV e,
assim, sem possibilidade de terem suas dúvidas sanadas em tempo real. Não podemos tratar
como coincidentes os fatos de termos 1 milhão de alunos com acesso ao programa de TV e de
a mesma q
uantidade ter baixado o aplicativo.
E
mbora não tenhamos tido acesso ao número de
downloads
do PET, estimamos que os alunos que tiveram acesso ao
site
“Estude em Casa”
e/ou ao aplicativo tiveram melhores condições de acesso às ferramentas de estudo proposta
s
pela SEE. Os outros demais estudantes tiveram de se valer de estratégias outras para
acessarem os materiais e participarem minimamente do regime de estudo proposto pela SEE.
A receptividade ao REANP
Os estudantes e professores que acessaram o aplicativo
(
pelo
Google Play
)
e as
teleaulas
(
pelo
YouTube
)
poderiam manifestar sua satisfação ou não com essas ferramentas
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
97
por meio das avaliações possibilitadas pelas suas respectivas plataformas de distribuição. No
caso das teleaulas, era possível dar
like
e
desli
ke
(gostei não gostei) nos vídeos postados.
A
tabela 1 traz as informações compiladas a partir dos dados do canal.
Tabela 1
–
Vídeos do “Se Liga na Educação” disponíveis no canal do
Youtube
Período/
Qtde.
Área
maio
junho
Média de
duração/vídeo
Visuali
z
ações
Comentários
Likes
[Des]
likes
Se Liga na Educação
Matemática
02
02
5 horas
1.637.809
3.036
62,1
mil
8.698
Ciências da
Natureza
02
03
5 horas
1.529.820
2.749
65,2
mil
7.364
Linguagens
01
04
5 horas
1.731.786
3.321
65 mil
9.500
Ciências
Humanas
01
04
5 horas
2.037.341
3.201
57,7
mil
10.402
Conteúdo
do Enem
02
02
5 horas
462.508
315
16.810
1.631
Total
08
15
25 horas
7.363.264
12.622
266.810
37.595
Fonte:
Elaborada
pelos autores
Nesse caso,
likes
e
deslikes
podem ser usados como parâmetro p
a
ra avaliar se o
conteúdo apresentado correspondeu à expectativa do público ao qual se destinou. O aplicativo
Conexão Escola poderia ser avaliado pelos usuários do
Google Play
por meio da atribuição de
notas por categorias, sendo 5 a maior nota e 1 a menor
.
Os usuários atribuíram a nota média
de 2.8 ao aplicativo.
Eles podem avaliar apenas uma vez, mas, se desejarem, podem aumentar
ou diminuir o número de estrelas que dão ao aplicativo.
Assim, foi possível realizar uma análise exploratória em um universo de
5.305
comentários do
Google Play
e
12.622
comentários sobre as teleaulas no
Youtube
. Os dados
informam que há, no caso do aplicativo e
Youtube
, visões aparentemente contraditórias.
Temos, por um lado uma atribuição expressiva de 5 estrelas para o aplicati
v
o
;
do outro, uma
elevada concentração de avaliações muito ruins. Algo análogo ocorreu com os
likes
e
deslikes
nos vídeos das teleaulas. Encontramos uma quantidade expressiva de
likes
em detrimento dos
deslikes
. Todavia, os comentários relacionados aos víd
e
os demonstrava
m
insatisfação com as
ferramentas, além de, obviamente, fazerem referência às teleaulas.
Percepções sobre o aplicativo e suas funcionalidades
O aplicativo foi projetado em regime de urgência e talvez por isso não tenha sido
possível apresen
tar uma versão mais elaborada. O número de avaliações negativas da
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
98
ferramenta é expressivo. Há relatos que apontam dificuldades de acesso e incompatibilidade
com aparelhos celulares: "
as aulas demoram a cair; e o pessoal que tem iphone
?".
Também há muitos
comentários sobre as dificuldades em acessar o
chat
disponível no
aplicativo. As maiores reclamações relativas ao
chat
revelam: instabilidade; mensagens que
“desaparecem”; impossibilidade de gravar áudios, enviar documentos ou
links
que exibam seu
conteúdo
: "
o chat dá erro direto"
(aluno)
; "
tenho que ficar procurando qual é meu
(aluno)
"
;
"
...não tem notificação quando o aluno chama no chat
(professor)
"
.
Os comentários elogiosos existem, mas em menor proporção. Eles revelam que, uma
vez aprimorado, o aplicat
ivo é uma ferramenta que poderia permanecer sendo usada, mesmo
após a pandemia: "
eu acho super legal, dá pra entender as matérias
(aluno)
"; "muito bom!"
"(...) minha filha consegue a direção e faz muitas atividades
(responsável)
"; "(...) a qualidade
do víd
eo é boa, recomendo
(aluna)
".
Tecnologia
No caso do aplicativo, os usuários relatam que as suas funcionalidades são
incompatíveis com celulares antigos. Os dados socioeconômicos dos alunos (e suas famílias)
matriculados na rede pública estadual revelam pe
rtencimento aos extratos inferiores. Assim,
não são raros os comentários que indicam a dificuldade em possuir ou vir a adquirir um
celular sofisticado o suficiente para suportar a tecnologia demandada pelo aplicativo: "
vocês
querem que eu compre um celular
com dinheiro emergencial?
(aluno)
"; "(...) esse dinheiro
gasto para o sustento da família...
(aluno)
".
Em relação à qualidade técnica das teleaulas disponíveis no canal da Rede Minas no
YouTube
, o
s comentários postados pelos alunos e seus responsáveis
tra
tam d
a qualidade do
áudio (
“o áudio está muito baixo,
R
ede
M
inas”
) e, também,
da
informação sobre início e fim
de cada aula, a chamada “minutagem”. Uma vez que os vídeos possuem até
cinco
horas de
duração, os
usuários
t
êm
extrema dificuldade em localizar a
s aulas que
são
destinadas ao ano
que estão cursando: "
Sem condições! Gente façam uma Play List com os anos respectivos,
para que nós, pais, possamos acessar as aulas… pois nessa bagunça é impossível dar
andamento…".
T
anto em relação ao aplicativo quanto a
o acesso ao
Youtube
,
os usuários afirmam
que
a qualidade do sinal da
Internet
dificultava os seus estudos. Houve relatos que revelam a
desigualdade na qualidade do sinal de
Internet
em Minas Gerais: "
o carregamento é muito
demorado"; "...tento entrar no ap
p o dia
inteiro,
mas não consigo".
Como a educação remota
é dependente do acesso
à
s tecnologias, assum
e
-
se
que a
assimetria
no acesso do sinal da
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
99
Internet
pode contribuir no aumento da
desigualdade educacional
no estado e, por extensão,
no país.
Os comentá
rios relacionados à qualidade técnica do aplicativo e teleaulas remetem
aos
Objetos de Aprendizagem
, que podem ser
impressos, audiovisuais e voltados para o uso na
Internet
. A literatura classifica esses objetos como qualquer recurso que possa ser reutiliz
ado
para apoiar o aprendizado. O seu uso prevê ou deveria prever a articulação entre diversas
instituições para que objetos produzidos fossem compartilhados (
MARTIN
;
RITZHAUPT,
2020). Essa possibilidade diminuiria os custos para as instituições de ensino e
os seus
patrocinadores.
Como n
o Brasil
as ações associadas à pandemia têm sido marcadas p
ela
baixa
e descoordenada articulação federativa,
os custos
econômicos e sociais podem ser maiores,
comprometendo os resultados esperados.
Kampe
n
(2020) sugere
m
que
,
para alunos que não
têm dispositivos eletrônicos ou acesso à
Internet
, sejam sugeridas tarefas para serem
realizadas com papel e lápis. Além disso, é preciso criar alternativas para a entrega dessas
tarefas, ainda
que
seja na volta às aulas.
Conteúdo
Ne
ssa dimensão, analisamos os comentários que se referiam ao conteúdo dos recursos
disponibilizados no aplicativo
–
videoaulas e as apostilas do PET, além das teleaulas que
estão no
Youtube
.
Diferentemente do canal no
Youtube
gerenciado pela TV Minas, no
apl
icativo, os vídeos estão editados, por área, tema/conteúdo e série, conforme disposto n
a
Tabela 2
. Nesse caso, a navegabilidade é mais amigável, facilitando o acesso dos usuários.
A
s
teleaulas,
por sua vez,
têm
duração média de cinco horas, sem
minutagem.
Tabela 2
–
Vídeos disponíveis no aplicativo “Conexão Escola Web”
Ano Escolar
Área
1º
2º
3º
Média de
duração/vídeo
Avaliações
sobre o
Aplicativo
Conexão Escola Web
Matemática
06
04
10
20 minutos
5.686
Ciências da Natureza
[Química/Física/Biologia]
05
05
10
20 minutos
Linguagens
[Língua Portuguesa/Língua Inglesa]
05
05
10
20 minutos
Ciências Humanas
[História/Geografia/Filosofia/Sociologia]
05
05
10
20 minutos
Conteúdo do Enem
-
-
50
20 minutos
Tira Dúvidas
18
50 minutos
Fonte:
Elaborada
pelos autores
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
100
Os comentários indicam que os alunos se valem de estratégias distintas para utilizarem
as videoaulas. Os comentários são bastante heterogêneos, o que revela a subjetividade aí
diluída. Para um grupo de usuários (alunos, professores e respon
sáveis), as aulas são curtas,
superficiais, difíceis de serem compreendidas ou são descontextualizadas, quando comparadas
com o PET e com as diretrizes curriculares adotadas pela SEE.
Outros
comentários aponta
m
a
ausência de
componentes curriculares
que ai
nda não foram contemplad
o
s
.
Muitos alunos
reclamam dos professores, dizendo que as aulas são confusas e que não conseguem
acompanhar: "
é muito pouco tempo de aula"
(responsável); "
os vídeos são desorganizados e
não possuem datas e títulos"
(aluno); "
efetiv
amente fora das normas da BNCC"
(professor).
Como estão separados por assunto, os vídeos têm, em geral, 20 minutos de duração.
Em tempos virtuais, onde a dimensão do tempo é relativa e a interação com a tela faz com que
a relação seja mais efêmera, instant
ânea e fragmentada, uma aula com duração de 20 minutos
tanto pode ser longa quanto curta, dependendo de quem a assiste, de suas motivações,
habilidades, competências e estoques de capital cultural, social, econômico e simbólico.
Os comentários em relação
ao conteúdo das teleaulas que estão no
YouTube
revelam
que essas aulas não se comunicam com o que é oferecido no PET. É possível perceber, ainda,
o desencontro entre o que os alunos sabem e o que os professores supostamente acreditam que
eles saibam: "
por
favor, exibam as aulas em sincronicidade com os PETs
.
Sem uma sequência
pedagógica de conteúdo fica difícil criar hábito no aluno e ajudar ao professor ..."
(professor); "
o professor de inglês trata dos assuntos como se nós entendêssemos tudo que ele
fala
na outra língua"
(aluno); "
Será só eu que não estou entendendo nada de nada?
Haaaaaaaaaa"
(aluno); "
como vou fazer as atividades sendo que o PET não condiz com o
que os professores passam?"
(aluno).
Se
,
por um lado
,
há os que manifestam descontentamento, h
á
os
que estão satisfeitos,
que os conteúdos têm contribuído para a formação; que as aulas são bem elaboradas e que os
professores têm sido competentes: "
dá para aprender bem fazendo além das aulas dadas"
(aluno); "(...)
o app é muito bom
(...)
os vídeos s
ão muito bons. Aprendo bastante"
(aluno).
As questões técnicas que emergem dos comentários dos alunos, bem como os
relacionados ao conteúdo, favorecem a reflexão sobre como implementar a educação remota,
o que priorizar e onde estão as fraturas. Eles podem
balizar a avaliação do que está sendo
oferecido e proporcionar mudanças e intervenções que se fazem urgentes.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
101
Adesão/Resistência
Assumimos que a adesão às ferramentas do Programa está diretamente associada à
adesão ao Programa em si. Novamente, os com
en
tários revelam que as percepções são
diferentes. Há um número significativo de postagens contrárias ao Programa, com relatos de
usuários que informam que não estão aprendendo e que os vídeos não contribuem para a
formação:
“tudo está muito confuso para t
od
os, desde o aplicativo, até o PDF que nos
disponibilizam (aluno); ninguém está entendendo nada dessas aulas online"
(aluno);
"(...) do
que adianta ter aula, se não aprendemos nada?"
(aluno).
Ainda que outra metodologia de análise fosse necessária, os dad
os
sugerem que há
estreita correlação entre a resistência e o fato de as aulas serem remotas e virtuais.
A
baixa
adesão está relacionada com a dificuldade que os alunos têm em se adaptar às estratégias de
formação que são diferentes das adotadas na educaçã
o
presencial, o paradigma que, para a
totalidade dos alunos e a imensa maioria dos responsáveis, era a única referência existente.
Além dessas questões, é fundamental considerar que as novas estratégias adotadas pela SEE
agravam e aprofundam as dificuldade
s
dos alunos em aprender.
Todavia, há comentários que indicam que os usuários compreendem a conjuntura e o
contexto em que estão, além de reconhecer o esforço que os professores que estão ministrando
as aulas têm feito: "
não vou dizer que está sendo fácil,
m
as deixo aqui meus cumprimentos
aos professores que se esforçam tanto"
(aluno); "
Mas todos estão se reinventando e se cada
um tentasse dar o seu melhor ao invés de criticar e julgar, garanto que os resultados seriam
bem melhores"
(responsável).
Nesses ca
so
s, os comentários sugerem que há um processo de mudança em curso, uma
vez que os professores (e a SEE) estão se reinventando. Ainda que novas pesquisas e
metodologias sejam necessárias para se avançar nessa discussão, os dados sugerem que tais
experiênci
as
podem trazer contribuições importantes para se rever as estratégias pedagógicas
adotadas antes da pandemia, modificando o paradigma da formação após seu término.
Conexão entre os eixos
Nesta categoria analisamos como os usuários percebem as conexões
en
tre o aplicativo
e os demais canais e eixos de formação adotados pela SEE
–
Se liga na Educação e o PET.
Como se trata de um programa
multinível, que
articula
diversos atores institucionais e
sujeitos, e virtualiza o espaço e os tempos da escola
, verific
ar
se
e
como
os usuários percebem
a transversalidade entre os eixos contribui para melhor compreender o desenho e os efeitos
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
102
pretendidos pelo programa, além de fornecer subsídios para a melhoria da gestão das ações
empreendidas pela SEE e demais atores ins
ti
tucionais envolvidos.
Como a referência para os alunos
é a educação presencial
(para as famílias e os
professores também),
e a pandemia não deu a eles condições (nem tempo) para adaptarem
-
se
e transitar para novas modalidades e abordagens, as reações do
s
alunos refletem insegurança,
medo, solidão e despreparo. Três trechos reforçam esse argumento: "
Socorro! Quero minha
sala de aula de volta!"
(aluno); "
Não vamos aprender em 20 minutos o conteúdo de uma aula
inteira! Estou perdido"
(aluno); "
quase todos c
om
quem conversei me dizem que não estão
entendendo nada e não sabem como isso está funcionando. Estamos abandonados"
(aluno).
Os comentários apontam para a dificuldade que os alunos têm demonstrado em
articular os eixos de formação assíncronos, os recurso
s
e as mídias disponibilizadas pela
Secretaria. Como, agora, são os alunos (e seus responsáveis) os principais responsáveis pelo
planejamento do percurso formativo com o apoio da SEE e dos professores, a gestão desse
processo tem se mostrado complexa e con
fu
sa. Os excertos destacados tratam dessas
questões: "
e aquele pdf obviamente traz as atividades correspondentes a cada matéria, mas
como fazer se nem tem a aula para compreender?"
(aluna); "
Aparecem no meu app PET's de
outras modalidades de ensino (p mim
po
deria aparecer só o PET do primeiro ano do ensino
médio regular diurno, mas aparecem os de ensino integral, etc.). Tenho que ficar procurando
qual é o meu e perco tempo. É confuso."
(aluno); "
Como posso fazer as respostas se não tem
vídeo para conferir o
u
o que ensine?"
(aluna); "
Se as atividades fossem de acordo com a
explicação que está sendo transmitida iria ajudar bem mais nos estudos"
(aluna).
Destacamos, ainda, a fragilidade da comunicação institucional, a precariedade da
disseminação de informações
c
otidianas com relação aos conteúdos e o apoio em caso de
dúvidas com relação às aulas, seus componentes curriculares, as atividades indicadas e as
dúvidas que delas derivam.
Em relação à problemas com o aplicativo e suas funcionalidades,
não identificamo
s,
na seção de comentários, respostas frequentes da
Prodemge
aos usuários
do aplicativo. Com relação a SEE, os usuários relatam ter muita dificuldade em obter
informações e tirar dúvidas. A maioria absoluta das questões levantadas não têm resposta. Os
frag
me
ntos de comentários de alunos que se seguem ilustram esse ponto: "
só gostaria que o
Prode
m
ge respondesse"; "por telefone não respondem, ou melhor, nem atendem ao telefone"
.
Em uma situação de emergência, marcada por uma estratégia de formação que é
radic
al
mente diferente daquela historicamente adotada (ainda que temporária), a comunicação
é um ponto crucial para que as ações adotadas sejam menos traumáticas. Se os alunos não têm
canais eficientes e eficazes para sanar suas dúvidas, como mantê
-
los motivado
s
e
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
103
comprometidos? Se os professores têm demonstrado dificuldades em comunicar
-
se com seus
alunos, como assegurar que o processo de formação não seja tensionado e difícil?
Considerações
finais
Em tempos pandemia, a implementação de ações emergenciais no
c
ampo educacional
pode aumentar a cobrança por resultados e a responsabilização dos que estão na ponta,
especialmente os professores. Dada a complexidade da implementação do REANP, os
comentários analisados revelam a dificuldade que a SEE tem enfrentado p
ar
a criar vínculos e
estratégias de adesão multinível entre os atores institucionais, os instrumentos, os processos,
as tecnologias, os territórios, os diretores e os professores (que estão trabalhando remota e
virtualmente em suas casas). Diante dos desaf
io
s, das lacunas e fragilidades institucionais
identificadas, o risco de se responsabilizar e culpabilizar os agentes que estão na linha de
frente é elevado, já que seu papel é central para assegurar o desempenho dos alunos.
Entretanto, os profissionais d
a
educação também são sujeitos da crise. Se, por um
lado, o programa potencializa sua atuação; por outro, agrava as dificuldades que esses atores
têm enfrentado ao longo de anos. Como comprar equipamentos mais modernos e aumentar a
velocidade da
Internet
s
e
os salários, em Minas Gerais, são baixos, são pagos em atraso e em
parcelas? Como preservar sua vida privada e organizar sua vida pública se a educação remota
liquefez tais fronteiras, trazendo a escola, a sala de aula e os alunos literalmente para dentr
o
de suas casas? Como assegurar que se comprometam com o REANP se a comunicação entre a
SEE e os profissionais da escola se dá, majoritariamente, por meio de memorandos,
fragmentando a informação e criando um clima de insegurança, despreparo e improviso?
So
bre o desenho do programa, há questões importantes que ultrapassam o horizonte da
crise. Os comentários revelam que, se para alguns, o ensino remoto é possível; para outros ele
resulta no agravamento da desigualdade e exclusão já existentes. Do ponto de
vi
sta
pedagógico, ainda que o esforço da SEE deva ser reconhecido, os comentários mostram o
quanto a Secretaria (e as demais redes) precisa
(
m
)
avançar e aprender, especialmente em
relação à produção de conteúdo, gestão e integração de plataformas virtuais,
c
omunicação
institucional e suporte às dúvidas apresentadas tanto pelos profissionais da escola, quanto
pelos alunos e suas famílias.
Questões ligadas ao planejamento visual, à edição, às imagens e recursos gráficos para
ilustrar temas tratados pelos pro
fe
ssores ganham proeminência nessa modalidade. Cabe
destacar o desafio que a SEE e os professores da rede estadual têm enfrentado no desenho
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
104
dessas aulas. Como a imensa maioria não tem intimidade com videoaulas, aspectos associados
à didática, dicção, inte
ra
ção e desenvoltura na tela emergem como elementos
-
chave nesse
processo.
Se considerarmos as demandas de grupos específicos, a questão é ainda mais grave.
Não foram encontradas ações ou estratégias destinadas aos alunos da educação especial,
quilombola,
in
dígena e da educação de jovens e adultos. Os dados analisados sugerem,
portanto, que a Secretaria minimizou ou ignorou as especificidades desses alunos (e suas
regiões) em seu desenho, linearizando a oferta da educação remota.
Sobre o uso das tecnologia
s,
entendemos que os professores não podem
s
er o ponto de
partida para a análise, isoladamente. Trata
-
se de uma fragilidade institucional e, também,
curricular, vinculada à formação inicial, na educação superior. Como utilizar as Tecnologias
Digitais da In
fo
rmação e Comunicação (TDICs) e operacionalizar seus processos nesses
tempos se a SEE não tem diretrizes e programas de formação continuada para que as escolas e
seus professores pudessem, muito antes da pandemia, construir estratégias de formação que
int
eg
rassem tais recursos? Como utilizar tecnologias levando
-
se em consideração a
diversidade de alunos e suas particularidades em relação ao processo formativo? As
instituições de educação superior têm tratado e abordado essas questões
em seus currículos,
no
s
cursos de formação inicial de professores? Outra questão se impõe, a partir da experiência
em curso: a SEE investirá em estratégias dessa natureza quando a pandemia passar?
Em relação aos alunos e suas famílias,
Kampen
(2020) recomenda que a escola atue
em
sintonia com as famílias e otimize os meios para atingir os atores envolvidos no processo
de ensino remoto. A autora recomenda que a comunicação seja clara o bastante para evitar
sobrecarregar os responsáveis, que já estão afetados. Todavia, a comunicaç
ão
com os
familiares dos estudantes também é fundamental. Eles precisam se sentir apoiados para
auxiliar os estudantes. Segundo a autora, o engajamento dos estudantes depende do formato
do ensino remoto que lhe é oferecido e das condições técnicas para ace
ss
ar as ferramentas
necessárias. Assim, enfatizamos que o aprendizado remoto é diferente do presencial. Ensinar
remotamente não é oferecer ao aluno instruções como se ele estivesse no ensino presencial.
Para o caso das redes públicas de ensino, essa tarefa
s
e torna complexa porque há
famílias que têm (sérias) limitações para auxiliar os estudantes. Responsáveis que trabalham,
que têm pouca escolaridade ou, ainda, precisam apoiar muitas crianças ao mesmo tempo. As
condições socioeconômicas e de infraestrutur
a
também são relevantes. Como são geralmente
mais pobres e vivem em domicílios menores e mais restritos, educar em casa pode ser uma
missão impossível. É preciso garantir que as crianças oriundas dessas famílias tenham acesso
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
.
e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
105
à todas as orientações necessá
ri
as ao bom andamento dos seus estudos, o que, ultrapassa as
questões de ordem educacional. A educação pública remota vincula e potencializa questões (e
políticas públicas) sociais, culturais e econômicas que estão associadas com um profundo
histórico de e
xc
lusão e pobreza. É nesse sentido que alertamos para os riscos de a educação
remota aprofundar as desigualdades, conforme alertado por Pires (2019).
REFERÊNCIAS
ALVES, M. T. G.; SOARES, J. F.; XAVIER, F. P. Índice Socioeconômico das Escolas de
Educação
B
ásica Brasileiras.
Ensaio: aval. pol. públ. Educ.
, Rio de Janeiro, v.
22, n. 84, p.
671
-
704, jul./set. 2014.
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Sinopse
Estatística da Educação Básica 2019
.
Brasília: INEP, 202
0.
Disponível em:
http://inep.gov.br/web/guest/sinopses
-
estatisticas
-
da
-
educacao
-
basica. Acesso em: 2 jun.
2020.
BRASIL.
Parecer CNE/CP nº 5/2020, aprovado em 28 de a
br
il de 2020
. Brasília
:
Conselho Nacional de Educação, 28
abr.
2020.
Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=145011
-
pcp005
-
20&category_slug=marco
-
2020
-
pdf&Itemid=30192
. Acesso em: 2 jun. 2020.
GESTRADO. Grup
o
de Estudos Sobre Política Educacional e Trabalho Docente.
O piso
salarial profissional nacional em Minas Gerais
:
implicações sobre a carreira, a
remuneração e representação sindical docente (Fapemig)
.
2017.
GOMES, R. L. Aspectos da Educação brasileira
em
meio aos dilemas de um momento
dramático.
In
: LOLE, A.; STAMPA, I.; GOMES, R. L.
Para além da quarentena
:
reflexões
sobre crise e pandemia.
Rio de Janeiro: MV Serviços e Editora, 2020.
KAMPEN, M.
Remote learning
:
6 best ways to engage your students (fr
om
Teachers!).
Disponível em
: https://www.prodigygame.com/blog/remote
-
learning
-
engagement/
.
Acesso
em: 1 jul. 2020.
LÉVY, P.
O que é o virtual?
2
.
ed. Trad
.
Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2011.
MADEIRA, L
.
et al
. Os estudos de políticas públicas em
t
empos de pandemia
.
Blog DADOS
,
2020. Disponível em: http://dados.iesp.uerj.br/os
-
estudos
-
de
-
politicas
-
publicas
-
em
-
tempos
-
de
-
pandemia/.
Acesso em
:
2 jun. 2020.
MARTIN,
F.;
RITZHAUPT,
A.
D.
Standards
and
competencies:
for
instructional
design
and
technolo
gy
professionals.
In
:
MCDONALD
,
J.
K.;
WEST
,
R.
E.
(Eds.).
Design
for
learning
:
principles,
processes
and
praxis.
1
.
ed.
EdTech
Books,
2020.
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação.
Série Histórica da Educação de
Minas Gerais 2008/2017
. Belo Horizo
nt
e: SEE/MG, 2017.
image/svg+xml
A implementação da educação re
mo
ta em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Ar
araquara, v. 16, n. 1, p. 84
-
106, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
106
OLIVEIRA,
B.
R.
A implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a
partir dos profissionais da escola no contexto da prática.
Revista de Estudios Te
ór
icos y
Epistemológicos en Politica Educativa
, v. 4, p. 1
-
17, 2019.
OLIVEIRA, B. R.; DAROIT, D. Public policy networks and the implementations of the
Bolsa
-
Família Program: an analysis based on the monitoring of school attendance.
Archivos
Analíticos de
Po
líticas Educativas
,
v
. 28, 2020.
OLIVEIRA, M.; PAES CARVALHO, C. Enfrentando o fracasso escolar no nível local: a
atuação discricionária de professores e diretores escolares na implementação de uma política
educacional.
In
: PIRES, R. R. C.
Implementando
d
esigualdades
:
reprodução de
desigualdades na implementação de políticas públicas
. Rio de Janeiro: Ipea, 2019.
PEREIRA, M. S. F.; SILVA, M. S. P. Educação Básica em Minas Gerais no Contexto da
Pandemia e na Trilha do Partido “Novo”.
Revista Educação Bási
ca
em Foco
, v. 1, n. 1,
abr./
jun
.
2020.
PIRES, R. R. C.
Implementando desigualdades
:
reprodução de desigualdades na
implementação de políticas públicas
. Rio de Janeiro: Ipea, 2019.
QUEIROZ, B. L.
Diferenciais regionais de salários nas microrregiões minei
ra
s
. 2001. 191
f
. Dissertação (
Mestrado)
–
Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de
Minas Gerais
,
Belo Horizonte
, 2001.
SOUZA, C. “Estado do campo” da pesquisa em políticas públicas no Brasil.
Revista
Brasileira de Ciências Sociais
, v. 18
,
n. 51, 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbcsoc/v18n51/15983.pdf. Acesso em: 3 jun. 2020.
UNESCO.
Suspensão das aulas e resposta à COVID
-
19
. Disponível em:
https://pt.une
sc
o.org/covid19/educationresponse. Acesso em
:
5 jun. 2020.
Como referenciar este artigo
OLIVEIRA, B. R; OLIVEIRA, A.
C.
P; JORGE, G.
S.; COELHO, J.
F. I
mplementação da
Educação Remota em tempos de pandemia: análise da experiência do estado de Minas G
er
ais.
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p.
84
-
106
,
jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
Submetido em:
16/03/2020
Revisões requeridas:
17/07/2020
Aprovado em:
16/10/2020
P
ublicado em:
02/01/2021
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
84
LA IMPLEMENTACIÓN DE LA EDUCACIÓN REMOTA EN TIEMPOS
PANDÉMICOS: ANÁLISIS DE LA EXPERIENCIA DEL ESTADO DE MINAS
GERAIS
IMPLEMENTAÇÃO DA EDUCAÇÃO REMOTA EM TEMPOS DE PANDEMIA:
ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DO ESTADO DE MINAS GERAIS
THE IMPLEMENTATION OF REMOTE EDUCATION IN PANDEMIC TIMES:
ANALYSING THE EXPERIENCE OF THE STATE OF MINAS GERAIS
Breynner Ricardo de OLIVEIRA
1
Ana Cristina Prado de OLIVEIRA
2
Gláucia Maria dos Santos JORGE
3
Jianne Ines Fialho COELHO
4
RESUMEN
:
El artículo analiza la implementación de la educación remota en la Red del
Estado de Minas Gerais a través del Régimen de Estudio no Presencial (REANP) en tiempos
de pandemia. La investigación se llevó a cabo en tres fases: encuesta de los marcos
institucionales del programa; análisis de las líneas de acción y comentarios en los canales de
comunicación proporcionados por la Secretaría de Educación (SEE). Los datos se organizaron
en siete dimensiones: (1) acceso al programa; (2) receptividad a REANP; (3) percepciones
sobre la aplicación y sus funcionalidades (4) problemas asociados con la tecnología; (5)
contenido; (6) adherencia a la educación remota y (7) conexión entre los ejes REANP. Los
datos muestran la dificultad que SEE ha enfrentado para crear vínculos multinivel y
estrategias de adhesión entre actores institucionales, instrumentos, procesos, tecnologías,
territorios y sus profesionales. Los datos señalan que la educación pública remota vincula y
mejora los problemas sociales y económicos y que SEE los ha minimizado en su diseño,
linealizando la oferta. No se encontraron acciones o estrategias para estudiantes de educación
especial, quilombola, indígenas y jóvenes y adultos. Las percepciones de los usuarios señalan
a dos cuestiones: los riesgos de la educación remota que profundizan las desigualdades
sociales y educativas y la adopción de estrategias de capacitación virtual, respaldadas por
tecnologías, después de la pandemia.
PALABRAS CLAVE
:
Educación remota. Implementación de políticas educativas.
Desigualdad educativa. Tecnologías. COVID-19 y pandemia.
1
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto – MG – Brasil. Profesor en el Pr
ograma de Posgrado
en Educación. Doctorado en Educación (UFMG). ORCID:
ht
tps://orcid.org/0000-0003-0956-4753
.
E-mail:
breynner.oliveira@gmail.com
2
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Profes
ora en el
Programa de Posgrado en Educación (PPGEdu). Doctorado en Educación (PUC-Rio). ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-0367-6669. E-mail: ana.oliveira@unirio.br
3
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Ouro Preto – MG – Brasil. Profesora Asociada en el
Departamento de Educación y Tecnologías (DEETE). Doutorado em Educação (UFM
G). ORCID:
http://orcid.org/0000-0002-0026-4853. E-mail: glauciajorge@gmail.com
4
Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Mariana – MG – Brasil. Doctoranda en el Programa de Posgrado
en Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0657-4649. E-mail: jiannecoelho@gmail.com
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
85
RESUMO
:
O artigo analisa a implementação da educação remota na Rede Estadual de
Minas Gerais por meio do “Regime de Estudo não Presencial” (REANP) em tempos de
pandemia. A pesquisa se deu em três fases: levantamento dos marcos institucionais do
programa; análise dos eixos de ação e dos comentários nos canais de comunicação
disponibilizados pela Secretaria de Educação (SEE). Os dados foram organizados em sete
dimensões: (1) o acesso ao programa; (2) a receptividade ao REANP; (3) percepções sobre o
aplicativo e suas funcionalidades (4) questões associadas à tecnologia; (5) conteúdo; (6)
adesão à educação remota e (7) conexão entre os eixos do REANP. Os dados mostram a
dificuldade que a SEE tem enfrentado para criar vínculos e estratégias de adesão multinível
entre os atores institucionais, os instrumentos, os processos, as tecnologias, os territórios e
seus profissionais. Os dados indicam que a educação pública remota vincula e potencializa
questões sociais e econômicas e que a SEE as minimizou em seu desenho, linearizando a
oferta. Não foram encontradas ações ou estratégias destinadas aos alunos da educação
especial, quilombola, indígena e de jovens e adultos. As percepções dos usuários apontam
para duas questões: os riscos de a educação remota aprofundar as desigualdades sociais e
educacionais e a adoção de estratégias de formação virtual, apoiadas pelas tecnologias, pós
pandemia.
PALAVRAS-CHAVE:
Educação remota. Implementação de políticas educacionais.
Desigualdade educacional. Tecnologias. COVID-19 e pandemia.
ABSTRACT
:
The article analyzes the implementation of remote education in the State
Network of Minas Gerais through the
Regime de Estudo não Presencial
(REANP) in
pandemic times. The research took place in three phases: a survey of the program's
institutional frameworks; an analysis of the lines of action and comments in the
communication channels provided by the Secretariat of Education (SEE). The data were
organized into seven dimensions: (1) access to the program; (2) receptivity to REANP; (3)
perceptions about the application and its functionalities (4) issues associated with the
technology; (5) content; (6) adherence to remote education and (7) connection between the
REANP axes. The data show the difficulty that SEE has faced in creating links and multilevel
adhesion strategies between institutional actors, instruments, processes, technologies,
territories, and their professionals. The data indicate that remote public education links and
enhances social and economic issues and that SEE has minimized them in its design,
linearizing the offer. No actions or strategies were found for students of special education,
quilombola, indigenous and youth and adults. Users' perceptions point to two issues: the risks
of remote education deepening social and educational inequalities and the adoption of virtual
training strategies, supported by technologies, after the pandemic.
KEYWORDS
:
Remote education. Implementation of educational policies. Educational
inequality. Technologies. COVID-19 and pandemic.
Introducción
2020 empezó con un surto de enfermedad respiratoria,
declarado Emergencia de Salud
Pública de Importancia Internacional por la Organización Mundial de Salud (OMS), al final
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
86
de enero. El 11 de marzo, la OMS caracterizó como pandemia el cuadro de la diseminación
comunitaria de la COVID-19 que ya atingía todos los continentes. Para contener la
enfermedad y minimizar el número de muertes, se recomendó tres acciones básicas:
aislamiento y tratamiento de los casos identificados, testes masivos y distanciamiento social.
El distanciamiento social, adoptado por gran parte de los países, implicó en el cierre de
espacios que reunieran muchas personas, incluyendo las instituciones escolares.
Según la Organización de las Naciones Unidas para la Educación, la Ciencia y la
Cultura (UNESCO), la suspensión de clases ha tenido importantes efectos en los sistemas
educativos y en la vida de los alumnos y sus familias, con consecuencias en el rendimiento
educativo de los distintos países. Hasta el 25 de mayo de 2020, 1.186.161.728 estudiantes se
habían visto afectados (el 67,7% del total de matriculados) y 146 países cerraron sus escuelas
(UNESCO, 2020).
En Brasil, el dictamen nº 5/2020 del Consejo Nacional de Educación (CNE), aprobado
por el Ministerio de Educación (MEC), suspende las clases presenciales en todo el país. Esta
situación debería seguir diferentes ritmos en los estados y municipios, dependiendo de la
extensión e intensidad de la contaminación por COVID-19. Considerando la autonomía de los
entes federados, el documento propone que los gestores educativos promuevan iniciativas
para minimizar los impactos de las medidas de aislamiento social en el aprendizaje de los
alumnos, entre ellas “[...] la realización de actividades pedagógicas no presenciales mientras
persistan las restricciones sanitarias, garantizando también los demás días de clase mínimos
anuales/semestrales previstos durante el curso” (BRASIL, 2020, p. 6).
¿Cómo garantizar que las iniciativas adoptadas por cada red educativa podrán
minimizar el impacto de la falta de clases presenciales durante más de tres meses? ¿Y que
sean accesibles a todos los estudiantes, teniendo en cuenta la diversidad de este público?
Según Gomes (2020), el desafío actual para los gestores del sistema educativo es definir las
rutas adecuadas para la educación básica en un contexto de calamidad sanitaria, crisis
económica e inestabilidad política, donde la educación ya sufría dificultades presupuestarias.
En las redes educativas estatales y municipales se han puesto en marcha una serie de
políticas de emergencia para satisfacer las necesidades de los estudiantes, ya sean de
aprendizaje, seguridad, alimentación o protección social. Según Madeira et al. (2020), el
estudio sobre la implementación de políticas públicas en contextos de emergencia se vuelve
aún más relevante para entender el alcance de estas iniciativas, objeto de este artículo.
Al analizar el proceso de implementación de la educación a distancia en la Red Estatal
de Minas Gerais a través del “Régimen de Estudio No Personal” (REANP), se pretende, a
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
87
partir del diseño del programa definido por la Secretaría de Estado de Educación (SEE) y del
análisis de la percepción de su público objetivo (alumnos, familias y profesores), discutir la
complejidad de su operacionalización a partir de dos dimensiones, interconectadas: (1) las
dificultades de implementación de un programa de emergencia que vincula, según Oliveira y
Daroit (2020), diferentes actores, territorios, sujetos y tecnologías, en una perspectiva
multinivel y (2) el aumento de la desigualdad educativa en el estado, agravada por la
pandemia y la dinámica de implementación del programa.
De naturaleza exploratoria, la investigación ocurrió en tres fases: la primera trató del
levantamiento de los marcos legales e institucionales del programa; en la segunda, se analizó
el programa desde tres ejes: las videoclases disponibles en el
YouTube
(
Se Liga na
Educação
), la aplicación (
Conexão Escola
) y los cuadernos de estudio (
Planos de Estudos
Tutorados – PET
). En la tercera fase analizamos los comentarios realizados por la audiencia
(padres, alumnos, profesores y otros) en los canales de comunicación disponibles por la SEE
en las plataformas de la aplicación y del
Se liga na Educação
. Los datos, recolectados entre
los días 25 de mayo y 30 de junio de 2020, fueron organizados en siete dimensiones:
El artículo está estructurado en cuatro secciones, además de la introducción y las
consideraciones finales. La primera sección presenta una síntesis de los estudios sobre la
implementación de políticas públicas, asociando los efectos de estos procesos al aumento de
las desigualdades educativas, especialmente en un contexto de emergencia. A partir de datos
socioeconómicos y educativos, la segunda sección caracteriza el estado de Minas Gerais,
explicando sus disparidades regionales. Para dimensionar la complejidad educativa de Minas
Gerais, la sección también aporta datos sobre el sistema educativo estatal. En la tercera
sección se presenta el diseño del programa. La quinta sección aporta el análisis de los datos
recogidos, a partir de las dimensiones que se definieron.
Implementación de Políticas Públicas en contexto de emergencia
Los estudios sobre políticas públicas se interesan por comprender el camino entre la
fo
rmulación de las políticas y su “entrega” a los beneficiarios, es decir, a los ciudadanos a los
que van dirigidas. Tradicionalmente, la agenda, la formulación, la aplicación y la evaluación
de las políticas públicas se consideran etapas de este proceso. Aunque este ciclo no es rígido,
es una herramienta analítica importante para entender los complejos procesos de toma de
decisiones que implica la implementación de políticas (SOUZA, 2003; OLIVEIRA, 2019). En
relación con la fase de implementación de las políticas, Madeira et al. (2020) afirman que
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
88
entre la propuesta, el diseño y la posterior implementación de las políticas, el nivel de
profesionalización de la burocracia determinará la calidad con la que se prestarán los servicios
públicos a la población.
Al analizar este proceso en el contexto de las políticas educativas y de las instituciones
escolares, Oliveira (2019) afirma que la comprensión del proceso de implementación implica
conocer y seguir la trayectoria de la política, su arreglo institucional y los actores
involucrados en varios niveles, hasta el local, en el territorio. Así como la política educativa
se materializa en la escuela, es en el ámbito local donde las acciones de los burócratas a pie de
calle revelan cómo sucede la política en el día a día, considerando sus estrategias de
adaptación y recontextualización. Según Pires (2019), los estudios sobre la aplicación han
aportado importantes contribuciones a la reflexión sobre los efectos de estas políticas. En el
caso de las políticas educativas, teniendo en cuenta una agenda que aboga por la distribución
de una escolarización “de calidad” para todos, la mirada a la dinámica de la implementación
contribuye a la comprensión de los resultados alcanzados (o no). Pires (2019, p. 19) destaca
“[...] un tipo especial de efecto no deseado [...], el efecto social de la aplicación”. Siguiendo
esta línea, algunos estudios han tratado de identificar los mecanismos, las situaciones y las
experiencias que se producen en los encuentros entre los burócratas de la calle y el público en
la dinámica de la aplicación de las políticas. Estas relaciones podrían, por la forma en que se
establecen, contribuir a la reproducción de las desigualdades sociales.
A la hora de aplicar las políticas educativas, es importante entender cómo las
distorsiones o adaptaciones resultantes de las múltiples acciones de los ejecutores dan lugar a
diferentes efectos para los beneficiarios, los alumnos y sus familias. En una investigación
sobre la política educativa de corrección de flujos en Río de Janeiro, Oliveira y Paes de
Carvalho (2019), por ejemplo, afirman que las lógicas de acción de los ejecutores
investigados - profesores y directores - van más allá de las prescripciones formales,
incluyendo procesos de juicio, clasificación y selección sobre los usuarios de la política -los
alumnos.
Teniendo en cuenta el período atípico que atravesamos, las derivaciones para
m
inimizar los efectos de la suspensión de las actividades docentes en la educación básica se
materializan en las políticas locales, como se discute en la introducción de este texto. La
definición de lo que podríamos denominar “políticas educativas de emergencia” se produce en
un nuevo contexto, en el que el espacio escolar se ha visto prácticamente ampliado, así como
las relaciones entre educadores y alumnos y la propia relación enseñanza-aprendizaje,
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
89
mediada por las tecnologías de la información y el conocimiento, ampliamente difundidas y
utilizadas durante la pandemia.
Asumiendo que las Consejerías de Educación no estaban preparadas para tal situación,
consideramos que la formulación de estas acciones de emergencia se produjo en un periodo
bastante corto, aumentando los niveles de incertidumbre y ambigüedad de los programas
diseñados. Como no hubo tiempo para construir estrategias que vincularan y articularan a los
profesionales de la educación que trabajan en primera línea, los burócratas de la calle,
entendemos que la adhesión de estos actores es bastante heterogénea. Al implementar un
programa de educación anclado en el uso de las tecnologías, las Secretarías aumentan la
discreción de estos actores, además de inducir diferentes niveles de compromiso y
motivación, muy dependientes de la acción individual de estos actores, profesionales que
también están expuestos a las dificultades impuestas por la pandemia.
Minas Gerais y la Secretaría Estatal de Educación: aspectos socioeconómicos,
educacionales y acciones de enfrentamiento de la pandemia
Con 21 millones de habitantes, Minas Gerais es el segundo estado más poblado del
país y tiene el mayor número de ciudades, con un total de 853 municipios. Según Queiroz
(2001), el estado es una de las regiones más heterogéneas del país. Hay regiones dinámicas y
modernas con altos indicadores socioeconómicos y localidades empobrecidas y
subdesarrolladas.
El nivel de desarrollo de estas regiones se mide con el Índice de Desarrollo Humano
Municipal (IDH-M). Según datos de la Fundação João Pinheiro (FJP), los valores más altos
de este indicador se encuentran en el suroeste, sur, sureste y en la Región Metropolitana de
Belo Horizonte (RMBH), considerada la más desarrollada. En cambio, las mesorregiones
situadas en las regiones del norte, noroeste y noreste son las menos desarrolladas y, por tanto,
las más desiguales.
Aunque no representan un número significativo de habitantes, la mitad de la población
d
e estas regiones vive en la pobreza y la extrema pobreza. Según los datos de la FJP, la
proporción de personas que viven en hogares con ingresos iguales a cero es relativamente alta
en comparación con las demás regiones. Por otro lado, aunque la Región Metropolitana de
Belo Horizonte (la capital del estado) es una de las más desarrolladas del estado, casi el 25%
de la población pobre del estado se encuentra en esta zona.
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
90
En cuanto al uso de
Internet
en el estado, según la Encuesta Nacional Continua de
Hogares (Pnad C) del IBGE (2018), el 74,8% del total de la población de Minas Gerais utiliza
Internet
y el 25,2% no lo utiliza. Según los datos del IBGE, el 79,3% de los hogares de Minas
Gerais utilizan Internet. En el 99,4% de ellos, el uso es a través del teléfono móvil; el 50,2% a
través del microordenador y el 14,7% utilizan la tableta. En cuanto al acceso, en el 58% de los
domicilios la conexión se realiza mediante banda ancha fija y móvil; en el 57,9% sólo
mediante banda ancha. El 97% de los hogares de Minas Gerais tienen un televisor.
En el ámbito educativo, los datos del Censo Escolar (2019) informan que Minas
Gerais tiene más de 4,1 millones de estudiantes matriculados en redes municipales, estatales,
federales y privadas. Según el censo, el 85% de ellos se encuentran en zonas urbanas. De
ellos, algo más de 1,8 millones son alumnos de la red estatal
5
, bajo la responsabilidad de la
SEE, que gestiona 3.603 escuelas en todo el Estado. De este total, 3.288 unidades se
encuentran en zonas urbanas y 324 en zonas rurales, albergando el 85,3% y el 14,7% de las
matriculaciones, respectivamente. Del total de alumnos matriculados en la red del estado de
Minas Gerais, el 50,2% son mujeres y el 49,8% son hombres. En cuanto a la raza/color, el
30,7% se declara blanco, el 49,1% moreno, el 6,2% negro, el 0,3% indígena, el 0,2% amarillo
y el 13,5% no declara su color.
Además de las escuelas urbanas y rurales, la SEE también es responsable de los
centros educativos que imparten Educación Especial Exclusiva (0,72%), que acogen a unos
2.494 alumnos. En cuanto a la Educación de Campo, la Educación Indígena y la Educación
Quilombola, el estado cuenta con 17 establecimientos, que emplean a 519 profesores, 62 de
los cuales están formados en la Enseñanza Específica Indígena. En cuanto a la Educación en
el Campo, 21 Escuelas de Familia Agrícola (EFA) atienden a 2.000 alumnos en más de 1.200
comunidades, con el apoyo del Gobierno del Estado.
Según la publicación de la SEE (MINAS GERAIS, 2017), la red estatal cuenta con
15.561 directores de escuela y emplea a 96.783 profesores. De ellos, el 35,5% son
permanentes y el 67,7% son temporales. Del total, el 23,5% son hombres y el 76,5% son
mujeres. En cuanto al grupo de edad, el 11,5% tiene hasta 29 años, la mayoría (66,6%) tiene
entre 30 y 49 años y el 21,9% tiene 50 años o más. En cuanto a la raza/color, el 18,1% está en
la categoría de no declarado; el 40,1% es blanco; el 41,1% negro y el 0,5% indígena.
En relación a la remuneración de los profesionales de la educación, el salario de los
Profesores de Educación Básica (PEB) varía entre R$ 1.455,30 y R$ 2.135,64, para jornadas
5
531 alumnos están matriculados en preescolar; 1.099.619 en primaria (grados iniciales y finales) y 737.613 en
secundaria.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
91
de 24 horas. El salario medio del director de la escuela es de R$ 6.741,48. El Especialista en
Educación Básica (EEB), responsable de orientar, implementar y evaluar el proceso de
enseñanza y aprendizaje en las escuelas, tiene un salario promedio de R$ 3.481,20.
Con relación al Nivel Socioeconómico
6
, escuelas estatales mineras están concentradas
en los grupos 3 y 4 (56,5% e 27,3%, respectivamente). Con relación al Ideb, la figura 1 trae la
distribución del indicador para cada municipio minero, evidenciando el contraste entre las
regiones norte (6,0 Años Iniciales; 4,1 Años Finales), nordeste y sur (6,7 Años Iniciales; 4,9
Años Finales) del estado. Mientras que las dos primeras presentan los peores indicadores
educativos (coincidiendo con los datos señalados anteriormente), la región sur es la que
presenta los mejores resultados escolares, asociados a un nivel socioeconómico alto.
Figura 1
– Ideb de los municípios de Minas Gerais
Fuente: Elaborado por los autores
Según Pereira e Silva (2020), la relación entre el SEE y los profesores es compleja.
Además de las históricas disputas entre los trabajadores y el Estado por una mayor
remuneración y mejores condiciones de trabajo, Minas Gerais sigue sin alcanzar el nivel
nacional de enseñanza. Según una investigación realizada por el Grupo de Estudios sobre
Política Educativa y Trabajo Docente (GESTRADO, 2017), la remuneración media de los
profesores es una de las más bajas del país, agravada por el shock de gestión impuesto por los
6
El Indicador de Nivel Socioeconómico (Inse) fue elaborado con base en microdatos de cuestionarios
contextuales del Sistema de Evaluación de la Educación Básica (Saeb) y del Examen Nacional de Bachillerato
(Enem). El Inse es un valor numérico que va de 1 a 6, donde el nivel 1 agrupa a los colegios con menor Inse
medio y el nivel 6, a los colegios pertenecientes al grupo con mayor Inse (ALVES, SOARES y XAVIER, 2014).
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
92
gobiernos de Aécio Neves (2003-2006/2007-2010) y Antônio Anastasia (2010-2014), ambos
del Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB). El número de profesores contratados
también es elevado, lo que hace que la presión de los concursos públicos sea constante. En el
gobierno de Fernando Pimentel, del Partido de los Trabajadores (2015-2018), la huelga
llevada a cabo por los profesionales de la educación en 2018, motivada por la derogación de
la llamada Ley 100
7
, empeoró la relación entre los docentes y el ejecutivo estatal.
La elección de Romeo Zema, en 2018, abre un nuevo ciclo en el estado. Empresario
afiliado al Partido Nuevo, Zema ganó las elecciones con la promesa de modernizar y reforzar
la gestión pública. Con la crisis presupuestaria agravada por las administraciones anteriores,
Zema ha aplicado un programa notablemente liberal, marcado por los recortes en el gasto y
las inversiones públicas, las restricciones a la contratación de personal y las privatizaciones.
Los crímenes ambientales en Mariana han empeorado la situación fiscal del estado. La caída
de los ingresos de la minería, unida a la recesión económica del país, obligó al gobierno de
Pimentel a escalonar los pagos a los empleados del Estado, incluidos los profesionales de la
educación. Los profesores reciben ahora sus salarios hasta en tres plazos, pagados con relativo
retraso y sin calendario fijo. Mantenida por el gobierno de Zema, esta medida ha
profundizado el desgaste entre el ejecutivo y su personal, que ha priorizado el pago de los
profesionales de la seguridad pública sobre otras carreras.
Todavía según Pereira y Silva (2020), el nombramiento de Julia Sant'anna como
Secretaria de Estado de Educación en esta gestión ha empeorado aún más la relación con los
profesores. Carioca, funcionaria del estado de Río de Janeiro en su carrera de especialista en
Políticas Públicas y Gestión Gubernamental, la Secretaria no conoce en profundidad la
realidad del estado y las especificidades de la educación en Minas Gerais.
Este es el contexto educativo del estado cuando la pandemia de COVID-19 golpea al
país y al mundo a principios de 2020. Ante el caótico panorama que se anunciaba en el país
debido a las posiciones contradictorias, erráticas y desarticuladas adoptadas por el gobierno
federal, los estados y municipios comenzaron a actuar en bloque. El 12 de marzo, el gobierno
minero declaró una situación de emergencia debido al Nuevo Coronavirus.
7
En noviembre de 2007, el gobierno publicó la Ley Complementaria nº 100, que otorgaba a los funcionarios de
educación contratados temporalmente la condición de funcionarios públicos efectivos. El Estado extendió los
derechos exclusivos de los funcionarios públicos que ocupan cargos públicos permanentes a los funcionarios
contratados bajo la LC 100/07. En 2010, el Tribunal de Justicia del Estado declaró la inconstitucionalidad de la
Ley. El 26 de marzo de 2014, el Supremo Tribunal Federal (STF) la declaró inconstitucional, afectando a 96.000
trabajadores de la educación.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
93
El 15 de marzo, un nuevo decreto del Ejecutivo Estatal determinó el inicio de la
cuarentena e inauguró el comienzo de los trabajos de los servidores a distancia, además del
aislamiento de quienes se encontraban en zonas de transmisión comunitaria del virus. En la
misma fecha, el Comité Extraordinario de la Covid-19 ordenó la suspensión de las clases en
todas las escuelas estatales de Minas Gerais entre el 18 y el 22 de ese mes. El 22 de marzo, la
suspensión de las clases en todas las unidades de la red pública estatal pasó a ser indefinida.
Estas medidas también se aplican a los centros educativos privados y a las redes municipales.
El 09 de abril, el Comité Extraordinario de la Covid-19 determinó el retorno a las
actividades de los directores, vice-directores, además de asistentes técnicos de educación,
analistas y auxiliares de educación básica, en régimen de teletrabajo. El 18 de abril se publicó
la resolución nº 4.310, que instituyó el Régimen Especial de Teletrabajo en las Escuelas
Estatales de la Red Pública de Educación y el Régimen Especial de Actividades no
Presenciales (REANP), presentado por un portal, que se puede acceder públicamente
8
.
Las
medidas fueron adoptadas para restablecer el calendario escolar, interrumpido en la
modalidad presencial.
Educación remota en Minas Gerais: el Régimen Especial de Actividades No Presenciales
Acorde con la SEE, el modelo de estudio remoto adoptado en el estado se desarrolló
en sintonía y diálogo con profesores, equipo pedagógico e instituciones relacionadas a la
educación, articulando diversos actores en una perspectiva multinivel: secretarías estatales,
superintendencias regionales de enseñanza, Prodemge
9
, emisoras de TVs públicas, Asambleas
Legislativas, sindicatos, operadoras de telefonía, proveedores de
Internet
, empresas de
plataformas y medios digitales, familias, profesionales de la educación y alumnos. La
expectativa era que el mayor número posible de alumnos fuera alcanzado y, así, tuvieran su
derecho a la educación garantizado. En ese contexto, el REANP se organiza en tres ejes: (i) el
Plan de Estudios Tutorados (PET), (ii) el Programa
Se Liga na Educação
y (iii) la aplicación
Conexão Escola.
Mediante la virtualización del aula, de los espacios y de los tiempos de formación, el
objetivo de la SEE es ofrecer diversas estrategias para que todos los alumnos tengan acceso a
los recursos y puedan llegar al mayor número posible de estudiantes. No obstante, cada
8
El portal REANP. Disponible en: https://estudeemcasa.educacao.mg.gov.br/inicio. Fecha de acceso: 10 de
diciembre de 2020.
9
Prodemge es una empresa de tecnología de la información del gobierno del estado de Minas Gerais,
responsable de ayudar a los organismos e instituciones públicas del estado.
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
94
estudiante utilizará el que le resulte más cómodo y accesible. En cuanto a los profesores,
deben establecer la mejor forma de comunicación con sus alumnos, que puede ser por correo
electrónico, teléfono o aplicación de mensajes, por ejemplo. A partir de los aportes de Lévy
(2011) y Oliveira y Daroit (2020), la escuela se convierte, por lo tanto, en un territorio virtual,
diluido de manera líquida en los espacios, en la dinámica de los hogares y de las personas que
los habitan.
El Plan de Estudios Tutelado (PET)
Los Planes de Estudio Tutelados (PETs) fueron organizados de acuerdo con el
Currículo de Referencia de Minas Gerais (CRMG), el Plan de Curso de la unidad de
enseñanza y la carga de trabajo prevista en las matrices curriculares de los diferentes niveles y
modalidades de enseñanza. Los PET son una herramienta de aprendizaje que permite al
alumno resolver preguntas y actividades escolares programadas de forma autodidacta y no
presencial.
Organizado en la forma de apostillas con el contenido y actividades referentes a cada
año escolar, respetando la carga horaria mensual de la asignatura para cada estudiante, el
material abarca las siguientes disciplinas de la Enseñanza Media
10
: Lengua Portuguesa,
Matemáticas, Biología, Química, Física, Historia, Geografía, Filosofía, Sociología, Lengua
Inglesa, Estudios Orientados y Proyecto de Vida. Para atender a la Enseñanza Media, están
disponibles para
download
12 volúmenes para el 1º año, 8 para el 2º año y 8 para el 3º año.
Según la SEE, los alumnos deben entregar las actividades de PET para corrección en el
regreso a clases presenciales. Los profesores de las asignaturas, a su vez, deberán analizar el
material, orientando los estudiantes sobre los contenidos, proponiendo actividades
complementarias y apoyando la resolución de los ejercicios
11
. Para los alumnos de la
educación especial, los PETs deberán ser adaptados por las escuelas acorde con el Plan de
Desarrollo Individual (PDI) del estudiante.
Los PET están disponibles en la página web de la SEE, en el portal que recoge todas
las acciones e informaciones relacionadas con el REANP y en la aplicación
Conexão Escola
.
Además, los archivos PDF también pueden enviarse a los correos electrónicos de los padres
y/o tutores, de los alumnos y de los profesores registrados en el centro y mediante otras
herramientas digitales. En el caso de los estudiantes que no tienen acceso a Internet, la escuela
debe garantizar que el material impreso esté disponible para el estudiante. Con el apoyo de las
10
A efectos de este estudio, sólo se han tenido en cuenta los materiales referidos a los grados de bachillerato.
11
Varios artículos periodísticos han informado de la incorporación de pasajes copiados sin citar debidamente las
fuentes y con inexactitudes o incoherencias de contenido.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
95
47 Superintendencias Regionales de Educación, corresponderá a las escuelas determinar cómo
llegará el material a todos los alumnos.
Programa
Se Liga na Educação
El Programa
Se Liga na Educação
es una de las tres acciones del REANP. En formato
de teleclase, las clases son transmitidas por la Red Minas y por la TV Asamblea y son
impartidas por profesores de la SEE. Las grabaciones privilegian contenidos en los que los
alumnos presentan, históricamente, mayor nivel de dificultad y se planifican para los alumnos
del 4º año de la Enseñanza Primaria y el 3º año de la Enseñanza Media. Las teleclases se
exhiben en la programación diaria de la Red Minas y en la TV Asamblea, de lunes a viernes
12
.
Entre 7h30 y 11h15 se exhibe las teleclases grabadas. Cada 20 minutos se dedican a un año de
escolarización. El momento del contenido en directo con interacción es de 11:15 a 12:30.
Las teleclases también están disponibles en el canal de Educación en
Youtube
y en la
página de Rede Minas, lo que permite el acceso a los contenidos y su visualización a través de
Internet y de forma asíncrona. También se puede acceder a las clases a través de la aplicación
Conexão Escola
.
Aplicación
Conexão Escola
La Aplicación
Conexão Escola
es una plataforma de acceso gratis para el alumno y
profesor de la red pública estatal de enseñanza. La plataforma permite al alumno acceso a los
canales de transmisión de las teleclases
(Programa
Se Liga na Educação
, exhibido en la Red
Minas
13
) y a los PETs para realización de
download
, sin la necesidad de utilizar su paquete de
datos, además de poder acceder clases de
chat
para interactuar con sus colegas y profesores.
La aplicación se puede acceder exclusivamente por dispositivos móviles con sistema
operacional
Android
.
REANP: ¿qué dicen los alumnos, los profesores y los responsables?
El análisis de los comentarios publicados sobre la aplicación y sobre las teleclases (en
Youtube
) se realizó desde siete dimensiones: (1) acceso al programa; (2) receptividad a la
REANP; (3) percepciones sobre la aplicación y sus funcionalidades; (4) cuestiones asociadas
12
El programa se emite en el canal abierto de Rede Minas y TV Assembleia (canales públicos del estado), y a
través de antenas parabólicas con señal de satélite. Los abonados a los canales de cable tienen acceso a la
programación.
13
Las teleclases están disponibles en la aplicación dentro de las 12 horas siguientes a su emisión en el Programa
"
Se Liga na Educação
".
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
96
a la tecnología; (5) contenidos; (6) adhesión a la educación a distancia y (7) conexión entre
los ejes del Programa.
El acceso al programa
L
as herramientas digitales (aplicación y programa de televisión), así como el PET (que
puede leerse en pantalla en formato PDF y/o impreso) componen acciones que deben
entenderse de forma integrada y transversal: son canales de formación complementarios con
diseños diferentes. En este sentido, requieren el dominio de distintas estrategias para su uso.
Para ello, los usuarios (estudiantes y profesores) deben saber leer en pantalla; saber ver las
teleclases en directo y en línea. También es necesario que se apropien de las posibilidades de
articulación entre estas herramientas, potenciando su uso.
El número de usuarios de estas herramientas, aunque bastante expresivo, plantea dudas
sobre la capacidad de llegar a todos los estudiantes de la red estatal. ¿Pueden las familias y los
estudiantes acceder a ellos? ¿Cuáles son las dificultades?
Hasta el 6 de julio de 2020, la aplicación fue descargada por más de un millón de
usuarios y las teleclases fueron vistas más de 7 millones de veces. Las cifras, aunque bastante
expresivas, no impiden cuestionar los límites del alcance del REANP propuesto por la SEE.
La aplicación, por ejemplo, sólo puede ser descargada por dispositivos cuyo sistema operativo
sea Android, lo que excluye a los que funcionan con el sistema IOS. Se entiende entonces la
obligación de utilizar dispositivos que funcionen por el sistema.
El acceso a Internet es también un supuesto básico para que los alumnos y profesores
puedan utilizar las herramientas que se les ofrecen. Para ver los programas emitidos por Rede
Minas y TV Assembleia, es imprescindible tener acceso a la electricidad, aparatos de
televisión y, desde luego, vivir en zonas que reciban la señal de estos canales. Aunque ambos
canales son públicos (la Rede Minas es mantenida por el gobierno estatal), la señal de la Rede
Minas sólo llega a 183 de los 853 municipios. Con la contribución de la TV Assembleia, se
incluyeron 79 localidades más. De todos modos, algo más de 270 ciudades tienen cobertura,
lo que equivale al 32% del total. Según la SEE, sólo un millón de los 1,8 millones de alumnos
de la red estatal tendrán acceso a clases a distancia a través de la televisión.
Aproximadamente 700.000 estudiantes (el 39%) no tienen acce
so a las teleclases de
televisión y, por tanto, no tienen la posibilidad de resolver sus dudas en tiempo real. No
podemos tratar como casualidad el hecho de que tengamos 1 millón de estudiantes con acceso
al programa de televisión y que la misma cantidad se haya descargado la aplicación. Aunque
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
97
no hemos tenido acceso al número de descargas del PET, estimamos que los estudiantes que
tenían acceso al sitio “Estudiar en casa” y/o a la aplicación tenían mejores condiciones para
acceder a las herramientas de estudio propuestas por la SEE. Los demás alumnos tuvieron que
utilizar otras estrategias para acceder a los materiales y participar mínimamente en el esquema
de estudio propuesto por la SEE.
A receptividad al REANP
Los alumnos y profesores que han accedido a la aplicación (a través de
Google Play
) y
a las teleclases (a través de
YouTube
) han podido expresar su satisfacción o no con estas
herramientas a través de las evaluaciones que posibilitan sus respectivas plataformas de
distribución. En el caso de la teletienda, se podía dar
like
y
deslike
(me gusta y ya no me
gusta) en los videos publicados. El cuadro 1 recoge la información recopilada de los datos del
canal.
Tabla 1
– Videos del “
Se Liga na Educação
” disponibles en el canal de
Youtube
Período/
Ctde.
Área
mayo junio
Media de
duración/video
Visualizaciones Comentarios
Likes
[Des]
likes
Se Liga na Educação
Matemáticas 02 02 5 horas 1.637.809 3.036
62,1
mil
8.698
Cie
ncias d
e
la
Naturale
za
02 03 5 horas 1.529.820 2.749
65,2
mil
7.364
Lenguajes
01
04
5
horas
1.731.786
3.321
65 mil
9.500
Cie
ncias
Humanas
01 04 5 horas 2.037.341 3.201
57,7
mil
10.402
Contenido
d
el
Enem
02 02 5 horas 462.508 315 16.810 1.631
Total
08
15
25 horas
7.363.264
12.622
266.810
37.595
Fuente: Elaborada por los autores
En este caso, los “me gusta” y “ya no me gusta” pueden utilizarse como parámetro
para evaluar si el contenido presentado cumple las expectativas del público al que va dirigido.
Los usuarios de
Google Play
pudieron evaluar la aplicación
Conexão Escola
asignando notas
por categorías, siendo 5 la nota más alta y 1 la más baja. Los usuarios asignaron una nota
media de 2,8 a la aplicación. Sólo pueden evaluarla una vez, pero si lo desean pueden
aumentar o disminuir el número de estrellas que le dan a la solicitud.
Así, fue
posible realizar un análisis exploratorio en un universo de 5.305 comentarios
en
Google Play
y 12.622 comentarios en las teleclases de
Youtube
. Los datos informan de que
existen, en el caso de la aplicación y de
Youtube
, opiniones aparentemente contradictorias.
Tenemos, por un lado, una asignación expresiva de 5 estrellas para la aplicación; por otro, una
alta concentración de valoraciones muy malas. Algo análogo ocurrió con los gustos y
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
98
disgustos en los vídeos de las teleaulas. Encontramos una cantidad expresiva de likes en
detrimento de los likes. Sin embargo, los comentarios relacionados con los vídeos mostraron
insatisfacción con las herramientas, además de, por supuesto, hacer referencia a las teleclases.
Percepciones sobre la aplicación y sus funcionalidades
La aplicación se diseñó en modo de emergencia y quizá por ello no fue posible
presentar una versión más elaborada. El número de evaluaciones negativas de la herramienta
es expresivo. Hay informes que señalan las dificultades de acceso y la incompatibilidad con
los teléfonos móviles: “
las clases tardan en caer; ¿y los que tienen iPhone
?”.
También hay muchos comentarios sobre las dificultades para acceder al
chat
disponible en la aplicación. Las mayores quejas sobre el
chat
revelan: inestabilidad; mensajes
que “desaparecen”; imposibilidad de grabar audio, enviar documentos o enlaces que muestren
su contenido: “
el chat da error directo” (alumno); “tengo que estar buscando cuál es el mío
(alumno)”; “...no tiene notificación cuando el alumno llama en el chat (profesor)”
.
Hay comentarios elogiosos, pero en menor medida. Revelan que, una vez mejorada, la
aplicación es una herramienta que podría seguir utilizándose, incluso después de la pandemia:
“Me parece súper bien, se entienden los temas (alumno)”; “¡muy bien!” “(...) mi hija coge la
dirección y hace muchas actividades (responsable)”; “(...) la calidad del vídeo es buena, lo
recomiendo
(alumna)”.
Tecnología
En el caso de la aplicación, los usuarios señalan que sus funciones son incompatibles
con los teléfonos móviles antiguos. Los datos socioeconómicos de los alumnos (y sus
familias) matriculados en la red pública estatal revelan que pertenecen a los tramos más bajos.
Así, no son raros los comentarios que indican la dificultad de poseer o adquirir un teléfono
móvil lo suficientemente sofisticado como para soportar la tecnología que exige la aplicación:
“
¿quieres que me compre un móvil con dinero de emergencia? (alumno)”; “(...) que el dinero
gastado para mantener a la familia... (alumno)”.
En cuanto
a la calidad técnica de las teleclases disponibles en el canal de Rede Minas
en
YouTube
, los comentarios publicados por los alumnos y sus responsables tratan de la
calidad del audio (“el audio es muy bajo, Rede Minas”) y también de la información sobre el
inicio y el final de cada clase, el llamado “minutagem”. Dado que los vídeos tienen una
duración de hasta cinco horas, los usuarios tienen una dificultad extrema para localizar las
clases destinadas al año que están estudiando:
“¡No hay condiciones! La gente hace una
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
99
escaleta con los años respectivos, para que los padres podamos acceder a las clases... porque
en este desorden es imposible avanzar...”
.
Tanto en relación con la aplicación como con el acceso a
Youtube
, los usuarios
afirman que la calidad de la señal de
Internet
dificulta sus estudios. Hubo informes que
revelan la desigualdad en la calidad de la señal de
Internet
en Minas Gerais: “
...intento entrar
en la aplicación todo el día, pero no puedo”
. Dado que la educación a distancia depende del
acceso a las tecnologías, se supone que la asimetría en el acceso a la señal de
Internet
puede
contribuir al aumento de la desigualdad educativa en el estado y, por extensión, en el país.
Los comentarios relacionados con la calidad técnica de la aplicación y las teleclases se
refieren a los Objetos de Aprendizaje, que pueden ser impresos, audiovisuales y orientados al
uso en Internet. La literatura clasifica estos objetos como cualquier recurso que pueda ser
reutilizado para apoyar el aprendizaje. Su uso prevé o debería prever la articulación entre
varias instituciones para que los objetos producidos sean compartidos (MARTIN;
RITZHAUPT, 2020). Esto reduciría los costes para las instituciones educativas y sus
patrocinadores. Como en Brasil las acciones asociadas a la pandemia han estado marcadas por
una baja y descoordinada articulación federativa, los costos económicos y sociales pueden ser
mayores, comprometiendo los resultados esperados. Kampen (2020) sugiere que para los
estudiantes que no tengan dispositivos electrónicos o acceso a Internet, se sugieran tareas que
se realicen con papel y lápiz. Además, hay que crear alternativas para la realización de estas
tareas, aunque sea en la parte trasera de la escuela.
Contenido
En esta dimensión, analizamos los comentarios que se referían al contenido de los
recursos puestos a disposición en la aplicación - las video-lecciones y los folletos del PET,
además de las tele-lecciones que están en
Youtube
. A diferencia del canal de
Youtube
gestionado por TV Minas, en la aplicación los vídeos están editados, por área, tema/contenido
y serie, como se muestra en la Tabla 2. En este caso, la navegabilidad es más amigable,
facilitando el acceso de los usuarios. Las teleclases, por su parte, tienen una duración media
de cinco horas, sin minutaje.
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
100
Tabla 2
– Videos disponibles en la aplicación “
Conexão Escola Web
”
Ano Escolar
Área
1º 2º 3º
Media de
duración/vídeo
Evaluaciones
sobre la
Aplicación
Conexão Escola Web
Matemática
s
06
04
10
20 minutos
5.686
Cie
ncias d
e l
a Natur
ale
z
a
[Química/Física/Biologí
a]
05 05 10 20 minutos
Lenguajes
[
Lengua
Portuguesa/
Lengua
Inglesa]
05 05 10 20 minutos
Cie
nci
as Humanas
[Historia/Geografía/Filosofí
a/Sociolog
í
a]
05 05 10 20 minutos
Contenido
d
el
Enem
-
-
50
20 minutos
Saca
Dudas
18
5
0 minutos
Fuete: Elaborada por los autores
Los comentarios indican que los estudiantes utilizan diferentes estrategias para utilizar
las lecciones de vídeo. Los comentarios son bastante heterogéneos, lo que revela la
subjetividad allí diluida. Para un grupo de usuarios (alumnos, profesores y cuidadores), las
clases son cortas, superficiales, difíciles de entender o están descontextualizadas si se
comparan con el PET y las directrices curriculares adoptadas por la SEE. Otros comentarios
apuntan a la ausencia de componentes curriculares que aún no se han contemplado. Muchos
estudiantes se quejan de los profesores, diciendo que las clases son confusas y que no pueden
seguir el ritmo:
“es muy poco tiempo de clase”
(responsable);
“los vídeos están
desorganizados y no tienen fechas ni títulos”
(estudiante);
“efectivamente fuera de las
normas de la BNCC”
(profesor).
Al estar separados por temas, los vídeos suelen durar 20 minutos. En los tiempos
virtuales, donde la dimensión del tiempo es relativa y la interacción con la pantalla hace que
la relación sea más efímera, instantánea y fragmentada, una clase de 20 minutos puede ser
larga o corta, dependiendo de quién la vea, de sus motivaciones, habilidades, competencias y
existencias de capital cultural, social, económico y simbólico.
Los comentarios s
obre el contenido de las teleclases que están en
YouTube
revelan que
estas clases no se comunican con lo que se ofrece en el PET. También es posible ver el
desajuste entre lo que los alumnos saben y lo que los profesores supuestamente creen que
saben: “
Por favor, despliegue las clases en sincronía con las PET. Sin una secuencia
pedagógica de contenidos es difícil crear un hábito en el alumno y ayudar al profesor...”
(profesor);
“el profesor de inglés trata los temas como si entendiéramos todo lo que habla en
el otro idioma”
(alumno); “
¿Soy el único que no entiende nada? Haaaaaaaa”
(alumno);
“¿cómo voy a hacer las actividades si el PET no coincide con lo que los profesores pasan?”
(alumno).
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
101
Si, por un lado, hay quienes expresan su descontento, hay quienes están satisfechos,
que los contenidos han contribuido a la formación; que las clases están bien elaboradas y que
los profesores han sido competentes:
“se puede aprender bien haciendo más allá de las clases
impartidas”
(alumno);
“(...) la app está muy bien (...) los vídeos están muy bien. Aprendo
mucho”
(alumno).
Las cuestiones técnicas que se desprenden de los comentarios de los alumnos, así
como las relacionadas con los contenidos, animan a reflexionar sobre cómo implantar la
educación a distancia, a qué dar prioridad y dónde están las fracturas. Pueden orientar la
evaluación de lo que se ofrece y aportar cambios e intervenciones urgentes.
Adhesión/Resistencia
Suponemos que la adhesión a las herramientas del Programa está directamente
asociada a la adhesión al propio Programa. Una vez más, los comentarios revelan que las
percepciones son diferentes. Hay un número importante de publicaciones contrarios al
Programa, con informes de usuarios que informan de que no están aprendiendo y que los
vídeos no contribuyen a la formación: “
todo es muy confuso para todos, desde la aplicación
hasta el PDF que ponen a nuestra disposición (alumno); nadie está entendiendo nada de
estas clases online” (alumno); (...) ¿de qué sirve tener una clase si no hemos aprendido
nada?”
(alumno).
Aunque fue necesaria otra metodología de análisis, los datos sugieren que existe una
estrecha correlación entre la resistencia y el hecho de que las clases sean a distancia y
virtuales. La baja adherencia está relacionada con la dificultad de los alumnos para adaptarse
a estrategias de formación diferentes a las adoptadas en la enseñanza presencial, el paradigma
que, para todos los alumnos y la inmensa mayoría de los responsables, era la única referencia
existente. Además de estas cuestiones, es fundamental considerar que las nuevas estrategias
adoptadas por la SEE agravan y profundizan las dificultades de aprendizaje de los alumnos.
Sin embargo, hay comentarios que indican que los usuarios comprenden la situación y
e
l contexto en el que se encuentran, además de reconocer el esfuerzo que han hecho los
profesores que imparten las clases:
“No voy a decir que está siendo fácil, pero dejo aquí mis
felicitaciones a los profesores que se esfuerzan tanto”
(alumno); “
Pero todos se están
reinventando y si cada uno tratara de hacer lo mejor posible en lugar de criticar y juzgar,
garantizo que los resultados serían mucho mejores”
(responsable).
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
102
En estos casos, los comentarios sugieren que hay un proceso de cambio en marcha, ya
que los profesores (y la SEE) se están reinventando. Aunque se necesitan nuevas
investigaciones y metodologías para avanzar en este debate, los datos sugieren que estas
experiencias pueden contribuir de forma importante a la revisión de las estrategias
pedagógicas adoptadas antes de la pandemia, cambiando el paradigma de la formación tras su
finalización.
Conexión entre los ejes
En esta categoría se analiza cómo los usuarios perciben las conexiones entre la
aplicación y los demás canales y ejes de formación adoptados por SEE -
Se liga na Educação
y PET. Al tratarse de un programa multinivel, que articula diversos actores y sujetos
institucionales, y que virtualiza el espacio y el tiempo de la escuela, comprobar
si
y
cómo
los
usuarios perciben la transversalidad entre los ejes, y cómo lo hacen, contribuye a una mejor
comprensión del diseño y de los efectos pretendidos por el programa, además de aportar
subsidios para mejorar la gestión de las acciones emprendidas por la SEE y otros actores
institucionales implicados.
Como la referencia para los alumnos es la educación presencial (también para las
familias y los profesores), y la pandemia no les ha dado las condiciones (ni el tiempo) para
adaptarse y pasar a nuevas modalidades y enfoques, las reacciones de los alumnos reflejan
inseguridad, miedo, soledad y falta de preparación. Tres pasajes refuerzan este argumento:
“¡Socorro! Quiero que me devuelvan mi aula”. (alumno); “¡No vamos a aprender el
contenido de toda una clase en 20 minutos! Estoy perdido” (alumno); “casi todo el mundo
con el que he hablado me dice que no entiende nada y que no sabe cómo funciona esto.
Estamos abandonados”
(alumno).
Los comentarios apuntan a la dificultad que han mostrado los alumnos para articular
l
os ejes de formación asíncrona, los recursos y los medios puestos a disposición por la
Secretaría. Como ahora son los alumnos (y sus tutores) los principales responsables de
planificar el itinerario formativo con el apoyo de la SEE y los profesores, la gestión de este
proceso ha resultado compleja y confusa. Los extractos destacados tratan de estas cuestiones:
“
y ese pdf obviamente trae las actividades correspondientes a cada tema, pero ¿cómo hacerlo
si ni siquiera tienes la clase para entenderlo?” (alumna); “Aparecen en mi app de PET de
otras modalidades de enseñanza (para mí podría aparecer sólo el PET del primer año de
bachillerato diurno regular, pero aparecen los de educación completa, etc.). Tengo que
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
103
seguir buscando el mío y pierdo tiempo. Es confuso”. (alumno); “¿Cómo puedo hacer las
respuestas si no tengo vídeo para comprobar o lo que enseño?” (alumna); “Si las actividades
fueran acordes con la explicación que se da, ayudaría mucho más a los estudios” (alumna).
También destacamos la fragilidad de la comunicación institucional, la precariedad de
la difusión de la información diaria sobre los contenidos y el apoyo en caso de dudas sobre las
clases, sus componentes curriculares, las actividades indicadas y las dudas que se derivan de
ellas. En relación a problemas con la aplicación y sus funcionalidades, no hemos identificado,
en la sección de comentarios, respuestas frecuentes de Prodemge a los usuarios de la
aplicación. En relación con la SEE, los usuarios dicen tener grandes dificultades para obtener
información y hacer preguntas. La mayoría absoluta de las preguntas planteadas no tienen
respuesta. Los siguientes fragmentos de comentarios de estudiantes ilustran este punto:
“Sólo
me gustaría que Prodemge respondiera”; “por teléfono no responden, o mejor dicho, no
responden al teléfono”
.
En una situación de emergencia, marcada por una estrategia de formación
radicalmente diferente a la adoptada históricamente (aunque sea temporal), la comunicación
es un punto crucial para que las acciones adoptadas sean menos traumáticas. Si los estudiantes
no disponen de canales eficientes y eficaces para resolver sus dudas, ¿cómo pueden estar
motivados y comprometidos? Si los profesores han demostrado tener dificultades para
comunicarse con sus alumnos, ¿cómo pueden conseguir que el proceso de formación no sea
tenso y difícil?
Consideraciones finales
En tiempos de pandemia, la puesta en marcha de acciones de emergencia en el ámbito
e
ducativo puede aumentar la carga de resultados y la responsabilidad de quienes están a la
vanguardia, especialmente los profesores. Dada la complejidad de la implementación de la
REANP, los comentarios analizados revelan la dificultad que ha enfrentado la SEE para crear
vínculos multinivel y estrategias de adhesión entre los actores institucionales, los
instrumentos, los procesos, las tecnologías, los territorios, los directores y los docentes (que
trabajan a distancia y virtualmente en sus hogares). Dados los retos, los huecos y las
debilidades institucionales identificadas, el riesgo de asumir la responsabilidad y culpar a los
que están en primera línea es alto, ya que su papel es fundamental para garantizar el
rendimiento de los estudiantes.
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
104
Sin embargo, los profesionales de la educación también son sujetos de la crisis. Si, por
un lado, el programa mejora su rendimiento; por otro, agrava las dificultades a las que se han
enfrentado estos actores a lo largo de los años. ¿Cómo podemos comprar equipos más
modernos y aumentar la velocidad de
Internet
si los salarios en Minas Gerais son bajos, se
pagan con retraso y a plazos? ¿Cómo se puede preservar la vida privada y organizar la vida
pública si la educación a distancia ha licuado esos límites llevando la escuela, el aula y los
alumnos literalmente a sus casas? ¿Cómo conseguir que se comprometan con el REANP si la
comunicación entre los profesionales de la SEE y de la escuela se realiza mayoritariamente a
través de memorandos, fragmentando la información y creando un clima de inseguridad, falta
de preparación e improvisación?
Sobre el diseño del programa, hay cuestiones importantes que van más allá del
horizonte de la crisis. Los comentarios revelan que, si para algunos la educación a distancia es
posible, para otros supone el agravamiento de la desigualdad y la exclusión existentes. Desde
el punto de vista pedagógico, aunque hay que reconocer el esfuerzo de la SEE, los
comentarios muestran lo mucho que la Secretaría (y las demás redes) necesita avanzar y
aprender, especialmente en relación con la producción de contenidos, la gestión e integración
de las plataformas virtuales, la comunicación institucional y el apoyo a las preguntas que
presentan tanto los profesionales de la escuela como los estudiantes y sus familias.
Las cuestiones relacionadas con la planificación visual, la edición, las imágenes y los
recursos gráficos para ilustrar los temas abordados por los profesores ganan protagonismo en
esta modalidad. Merece la pena destacar el reto al que se han enfrentado los profesores de la
SEE y de la red estatal a la hora de diseñar estas clases. Dado que la gran mayoría de ellos no
están familiarizados con las clases de vídeo, los aspectos relacionados con la didáctica, la
dicción, la interacción y el ingenio en pantalla surgen como elementos clave en este proceso.
Si consideramos las demandas de grupos específicos, la cuestión es aún más grave. No
se encontraron acciones o estrategias para los alumnos de educación especial, quilombola,
indígena y de jóvenes y adultos. Los datos analizados sugieren, por lo tanto, que la Secretaría
minimizó o ignoró las especificidades de estos estudiantes (y sus regiones) en su diseño,
linealizando la oferta de educación a distancia.
Sobre el uso de las tecnologías, entendemos que los profesores no pueden ser el punto
d
e partida del análisis de forma aislada. Se trata de una debilidad institucional y también
curricular, vinculada a la formación inicial en la enseñanza superior. ¿Cómo podemos utilizar
las Tecnologías Digitales de la Información y la Comunicación (TDIC) y hacer operativos sus
procesos en estos tiempos si la SEE no dispone de directrices y programas de formación
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
105
continua para que las escuelas y sus profesores puedan, mucho antes de la pandemia, construir
estrategias de formación que integren dichos recursos? ¿Cómo utilizar las tecnologías
teniendo en cuenta la diversidad de los estudiantes y sus particularidades en relación con el
proceso de formación? ¿Los centros de enseñanza superior han tratado y abordado estas
cuestiones en sus planes de estudio, en los cursos de formación inicial del profesorado? De la
experiencia en curso surge otra pregunta: ¿invertirá el SEE en estrategias de este tipo cuando
pase la pandemia?
En cuanto a los alumnos y sus familias, Kampen (2020) recomienda que la escuela
actúe en sintonía con las familias y optimice los medios para llegar a los actores implicados
en el proceso de enseñanza a distancia. La autora recomienda que la comunicación sea lo
suficientemente clara para no sobrecargar a los responsables, que ya están afectados. Sin
embargo, la comunicación con las familias de los alumnos también es esencial. Necesitan
sentirse apoyados para ayudar a los alumnos. Según la autora, el compromiso de los
estudiantes depende del formato de la enseñanza a distancia ofrecida y de las condiciones
técnicas para acceder a las herramientas necesarias. Por ello, destacamos que el aprendizaje a
distancia es diferente al presencial. Enseñar a distancia no es ofrecer al alumno instrucciones
como si se tratara de una enseñanza presencial.
Para las redes de educación pública, esta tarea se vuelve compleja porque hay familias
que tienen (serias) limitaciones para ayudar a los estudiantes. Los que trabajan, los que tienen
poca escolaridad o los que tienen que mantener a muchos niños al mismo tiempo. Las
condiciones socioeconómicas y de infraestructura también son relevantes. Como
generalmente son más pobres y viven en hogares más pequeños y restringidos, educar en casa
puede ser una misión imposible. Es necesario garantizar que los niños de estas familias tengan
acceso a toda la orientación necesaria para sus estudios, que va más allá de las cuestiones
educativas. La educación pública a distancia vincula y potencia los problemas sociales,
culturales y económicos (y las políticas públicas) que están asociados a una profunda historia
de exclusión y pobreza. Es en este sentido que advertimos de los riesgos de que la educación a
distancia profundice las desigualdades, como advierte Pires (2019).
REFERENCIAS
ALVES, M. T. G.; SOARES, J. F.; XAVIER, F. P. Índice Socioeconômico das Escolas de
Educação Básica Brasileiras.
Ensaio: aval. pol. públ. Educ.
, Rio de Janeiro, v. 22, n. 84, p.
671-704, jul./set. 2014.
image/svg+xml
A implementação da educação remota em tempos de pandemia: análise da experiência do Estado de Minas Gerais
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
106
BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
Sinopse
Estatística da Educação Básica 2019
. Brasília: INEP, 2020. Disponível em:
http://inep.gov.br/web/guest/sinopses-estatisticas-da-educacao-basica. Acesso em: 2 jun.
2020.
BRASIL.
Parecer CNE/CP nº 5/2020, aprovado em 28 de abril de 2020
. Brasília:
Conselho Nacional de Educação, 28 abr. 2020. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=145011-
pcp005-20&category_slug=marco-2020-pdf&Itemid=30192. Acesso em: 2 jun. 2020.
GESTRADO. Grupo de Estudos Sobre Política Educacional e Trabalho Docente.
O piso
salarial profissional nacional em Minas Gerais
:
implicações sobre a carreira, a
remuneração e representação sindical docente (Fapemig). 2017.
GOMES, R. L. Aspectos da Educação brasileira em meio aos dilemas de um momento
dramático.
In
: LOLE, A.; STAMPA, I.; GOMES, R. L.
Para além da quarentena
:
reflexões
sobre crise e pandemia.
Rio de Janeiro: MV Serviços e Editora, 2020.
KAMPEN, M.
Remote learning
: 6 best ways to engage your students (from Teachers!).
Disponível em: https://www.prodigygame.com/blog/remote-learning-engagement/. Acesso
em: 1 jul. 2020.
LÉVY, P.
O que é o virtual?
2. ed. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2011.
MADEIRA, L.
et al
. Os estudos de políticas públicas em tempos de pandemia.
Blog DADOS
,
2020. Disponível em: http://dados.iesp.uerj.br/os-estudos-de-politicas-publicas-em-tempos-
de-pandemia/. Acesso em: 2 jun. 2020.
MARTIN, F.; RITZHAUPT, A. D. Standards and competencies: for instructional design and
technology professionals.
In
: MCDONALD, J. K.; WEST, R. E. (Eds.).
Design for learning
:
principles, processes and praxis. 1. e
d. EdTech Books, 2020.
MINAS GERAIS. Secretaria de Estado de Educação.
Série Histórica da Educação de
Minas Gerais 2008/2017
. Belo Horizonte: SEE/MG, 2017.
OLIVEIRA, B. R. A
implementação de políticas educacionais no nível micro: uma análise a
partir dos profissionais da escola no contexto da prática.
Revista de Estudios Teóricos y
Epistemológicos en Politica Educativa
, v. 4, p. 1-17, 2019.
O
LIVEIRA, B. R.; DAROIT, D. Public policy networks and the implementations of the
Bolsa-Família Program: an analysis based on the monitoring of school attendance.
Archivos
Analíticos de Políticas Educativas
, v. 28, 2020.
OLIVEIRA, M.; PAES CARVALHO, C. Enfrentando o fracasso escolar no nível local: a
atuação discricionária de professores e diretores escolares na implementação de uma política
educacional.
In
: PIRES, R. R. C.
Implementando desigualdades
:
reprodução de
desigualdades na implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: Ipea, 2019.
image/svg+xml
Breynner Ricardo de OLIVEIRA; Ana Cristina Prado de OLIVEIRA; Gláucia Maria dos Santos JORGE e Jianne Ines Fialho COELHO
RIAEE
– Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. 1, p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
107
PEREIRA, M. S. F.; SILVA, M. S. P. Educação Básica em Minas Gerais no Contexto da
Pandemia e na Trilha do Partido “Novo”.
Revista Educação Básica em Foco
, v. 1, n. 1,
abr./jun. 2020.
PIRES, R. R. C.
Implementando desigualdades
:
reprodução de desigualdades na
implementação de políticas públicas. Rio de Janeiro: Ipea, 2019.
QUEIROZ, B. L.
Diferenciais regionais de salários nas microrregiões mineiras
. 2001. 191
f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Ciências Econômicas, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.
SOUZA, C. “Estado do campo” da pesquisa em políticas públicas no Brasil.
Revista
Brasileira de Ciências Sociais
, v. 18, n. 51, 2003. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/%0D/rbcsoc/v18n51/15983.pdf. Acesso em: 3 jun. 2020.
UNESCO.
Suspensão das aulas e resposta à COVID-19
. Disponível em:
https://pt.unesco.org/covid19/educationresponse. Acesso em: 5 jun. 2020.
Cómo referenciar este artículo
OLIVEIRA, B. R; OLIVEIRA, A. C. P; JORGE, G. S.; COELHO, J. F. La implementación
de la Educación Remota en tiempos pandémicos: análisis de la experiencia del estado de
Minas Gerais.
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 16, n. 1,
p. 84-106, jan./mar. 2021. e-ISSN: 1982-5587. DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.13928
Enviado el:
16/03/2020
Revisiones requeridas:
17/07/2020
Aprobado el:
16/10/2020
Publicado el:
02/01/
2021