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Narrativas de apenados sobre
o in
ício da vida escolar
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–
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p. 258
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275, jan./mar. 202
1
. e
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ISSN: 1982
-
5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.
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.14064
258
NARRATIVAS DE APENADOS SOBRE O INÍCIO DA VIDA ESCOLAR
NARRATIVAS DE PRISIONEROS SOBRE EL INICIO DE LA VIDA ESCOLAR
NARRATIVES OF PRISIONERS ABOUT THE START OF SCHOOL LIFE
Luciane Maria Ribeiro da Cruz SANTOS
1
Carlos Roberto Jamil CURY
2
RESUMO
: O pr
esente artigo demonstra a dificuldade de concretização das políticas públicas
educacionais brasileiras após a aprovação da Constituição de 1988 e da Lei de Diretrizes e
Bases de 1996. A narrativa de sete homens sentenciados por processos criminais, com ida
des
inferiores a 29 anos, sobre o início de suas vidas escolares ilustra aspectos concretos da
ausência do poder público no atendimento das famílias de classes sociais menos favorecidas
economicamente. Os dados foram recolhidos de uma tese de doutorado rea
lizada pela
primeira autora no Programa de Pós
-
graduação em Educação da PUC
-
MG. O conjunto de
entrevistas semiestruturadas foi analisado buscando os indicadores da concretização dos
objetivos da República e da Educação Nacional. Observou
-
se a exclusão educ
acional
articulada ao conjunto de mecanismos responsáveis pela promoção da justiça social e a
fragilidade da conquista dos direitos do indivíduo por um processo de inclusão excludente dos
direitos sociais.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Direito à educação. Escolarização
inicial. Apenados brasileiros.
Justiça social.
RESUMEN
:
Este artículo desar
r
olla
un enfoque descriptivo de la dificultad de implementar
las políticas públicas para la educación en Brasil, desde la aprobación de la Constituicion de
1988 e de la Ley de D
iretrizes y Bases de la Educación Nacional.
La narrativa de siete
hombres condenados por procesos penales, menores de 29 años, sobre el comienzo de su vida
escolar ilustra aspectos concretos de la ausencia de poder público en el cuidado de las
familias de
las clases sociales socialmente menos favorecidas. Los datos fueron recolectados
de una tesis doctoral realizada por el primer autor en el Programa de Postgrado en
Educación de la PUC
-
MG. Se analizó el conjunto de entrevistas semiestructuradas buscando
ind
icadores de prácticas efectivas del logro de los objetivos de la República y la Educación
Nacional. Se observó la exclusión educativa articulada al conjunto de mecanismos
responsables de la promoción de la justicia social y la fragilidad de la conquista de
los
derechos del individuo a través de un proceso de exclusión de los derechos sociales.
PALABRAS CLAVE
:
Derecho a la educación. Escuela inicial. Prisioneros brasileños.
Justicia social.
1
Secretaria Municipal de Educação (
SME
), Itabira
–
MG
–
Brasil.
Professora de Séries Finais
.
Doutorado em
Educação (PUC
-
MG).
ORCID:
https://orcid.org/00
00
-
00
02
-
2052
-
7518
. E
-
mail:
luciane.rcruz@gmail.com
2
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
-
MG), Belo Horizonte
–
MG
–
Brasil
.
Professor
A
djunto
n
o Programa de Pós
-
graduação em Educação. Doutorado em Educação (PUC
-
SP).
ORCID:
https://orcid.o
rg/00
00
-
0001
-
5555
-
6602
. E
-
mail:
crjcury.bh@terra.com.br
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Luciane Maria Ribeiro da Cruz SANTOS
e
Carlos Roberto Jamil CURY
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ABSTRACT
:
This article demonstrates the difficulty of implementing
Brazilian public
educational policies after the approval of the 1988 Constitution and the 1996 Guidelines and
Bases Law. The narrative of seven men sentenced for criminal proceedings, under the age of
29, about the beginning of their school lives illustrat
es real aspects of the absence of public
power in serving families from socially less favored social classes. The data gathered from a
doctoral thesis carried out by the first author in the Graduate Program in Education at PUC
-
MG. The set of semi
-
structure
d interviews was analyzed search for indicators of the
achievement of the objectives of the Republic and National Education. It was observed the
educational exclusion articulated to the set of mechanisms responsible for the promotion of
social justice.
The
conquest of the individual's rights is a fragile process so, exclusion of
social rights has demonstrated.
KEYWORDS
:
Right to education. Initial schooling.
Brazilian prisoners. Social justice.
Introdução
Neste ano de 2020, durante a vigência de restri
ções sociais tão severas provocadas
pela pandemia de Covid
-
19, a sociedade brasileira assistiu o diferente tratamento dado pelos
sistemas público e privado para solucionar a impossibilidade de contato físico e da
manutenção dos esquemas tradicionais das es
colas da educação presencial.
Por um lado, uma rede privada que se reorganiza, força estruturas, estabelece novos
parâmetros, mas de uma ou de outra forma, apresenta respostas que conseguem chegar aos
seus estudantes e suas famílias. Por outro, a rede púb
lica letárgica, pouco reativa, manifesta
-
se
reconhecedora de sua dificuldade de criar algum tipo de solução capaz de alcançar e atender a
todos.
Conhecido dos estudiosos da educação brasileira, o quadro desigual da dupla rede não
tem como indicador apenas
a questão do acesso aos recursos das tecnologias digitais, sejam
pela via da condição de estruturas ou pelo tipo de uso a esses recursos. Este aspecto da
educação interveniente na possibilidade de “
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo
para o exer
cício da cidadania e sua qualificação para o trabalho
”
(BRASIL, 1996) será
deixado a outros pesquisadores.
Trataremos neste artigo de outros aspectos também denunciadores da dificuldade do
alcance dos objetivos da educação nacional, conforme enunciada na L
ei de Diretrizes e Bases
de 1996, pelo menos para as classes menos favorecidas socioeconomicamente. A discussão
sobre a efetividade do direito à educação será realizada a partir da narrativa da memória de
alguns dos próprios sujeitos afetados pelas polític
as públicas educacionais brasileiras.
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A educação é um direito de todos os brasileiros. Direito juridicamente protegido e
exigente de um processo histórico constitutivo, de um conjunto de políticas públicas e práticas
dos agentes responsáveis pela implement
ação para a materialização desse direito.
Trazemos a narrativa de pessoas de 18 a 29 anos com experiência de privação de
liberdade em virtude de sentença penal para tentar compreender na subjetividade e na
singularidade a aplicação de aspectos importantes
dos direitos articulados às políticas
educacionais brasileiras.
As narrativas dos 7 homens, uma tomada na fase piloto, versam sobre a trajetória dos
anos iniciais da trajetória escolar e buscam na memória as dificuldades e facilidades vividas
em um perío
do muito anterior à entrada no sistema prisional.
O artigo abordará na primeira seção uma visão do direito à educação a partir das
concepções de movimento histórico para situar a educação básica brasileira dentro de uma
visão de condição de cidadania, de a
cordo com a Constituição de 1988. Na segunda seção,
apresentaremos e discutiremos as categorias escolhidas para análise:
segurança social,
inclusão.
Na terceira seção descrevemos aspectos metodológicos da pesquisa
,
e na quarta,
relatamos os resultados dos
confrontos entre as categorias de análise e os conteúdos de
memórias dos sujeitos investigados. Finalizamos o artigo com as conclusões.
Uma visão do direito à educação
Na visão de Bobbio (1992), a qual adotamos, para o estabelecimento de progressivas
f
ormas de relação entre as pessoas nas sociedades e entre os Estados
,
“direitos do homem,
democracia e paz são três momentos necessários do mesmo movimento histórico
”
(p.
1). A
ideia de progressividade se estabelece na compreensão de uma história viva dinâm
ica e sem
grandes rupturas. O direito à educação se assenta em uma dimensão estruturante da condição
humana que é a racionalidade
,
e torna
-
se, pelo reconhecimento de sua importância
,
uma
“arma não violenta de reinvindicação e de luta
”
(CURY, 2002, p. 261).
Por mais que o nosso olhar próximo não consiga perceber todo o movimento
transformador de uma década ou os efeitos dos grandes debates, as reverberações das perdas
geradas por processos conducentes a retrocessos, entendemos que os direitos das pessoas, e
m
especial o da educação, repercutem sobre a paz social e melhoram a qualidade das
democracias progressivamente.
Transpor do reconhecimento do direito à educação para a sua concretude exigiu do
Brasil muitas fases, ainda não completadas, iniciadas nos aco
rdos internacionais de
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reconhecimento da Declaração dos Direitos do Homem (1945), até chegar à condição de
direito público, definida pela Constituição Federal de 1988. Posição um pouco diferente adota
Chevallier (2013)
,
para quem a Declaração, por si só, n
ão assume a força de direito positivo, a
menos que venha a fazer parte de um Tratado, de uma Convenção ou de um ordenamento
jurídico nacional. Esta composição dentro do ordenamento jurídico foi referida por Bobbio
(1992) ao destacar os processos de interna
cionalização e de constitucionalização na promoção
do reconhecimento, consolidação, homogeneização e proteção aos direitos fundamentais.
Os direitos são o produto de um processo histórico de articulação dos sujeitos aos
princípios filosóficos propugnados
por um conjunto de pensadores, mas também fruto das
articulações com a vida política e social, portanto, exigentes de “participação cada vez mais
ampla, generalizada e frequente dos membros de uma comunidade no poder político
”
(BOBBIO, 1992, p.
33).
A par
ticipação que gerou desde os direitos civis até os direitos sociais, dentre eles o
objeto desta pesquisa, a educação básica, se esboroa quanto esvaziada da articulação que
confere direção e sentido à ação, seja de um legislador nacional, seja de um agente
político
em sua ação executiva delegada, de um(a) Conselheiro(a) Tutelar, de um(a) profissional de
saúde pública, de um(a) professor(a) de uma escola pública.
Conforme ensina Cury (2009), o Estado de direito é aquele em que as proteções e
garantias aos di
reitos funcionam, superando a falta de condições objetivas e a necessidade de
boa vontade dos que proclamam os meios para proteger os direitos. Com a lei, rompem
-
se os
privilégios e os mecanismos da influência.
A proposição da educação como direito vincula
-
se ao estabelecimento de um Estado
de direito, em cujo processo histórico de constituição se aplicam os substantivos desde a força
da concepção liberal de organização política
,
passando pelas lutas sociais desencadeadas por
organizações sociais implicadas
na ampliação dos direitos políticos e dos direitos sociais. E
vale a observação de Chevallier (2013)
,
que este processo é dotado de um estado de
inacabamento e incompletude que o habilita à dinâmica social.
O processo histórico de conquista dos direitos n
um país como o Brasil, em que a
escravatura provocou um impacto sociocultural, além de ter tornado mais lenta a efetivação
do direito à educação
,
provocou a naturalização de diferenças e discriminações persistentes
até o momento atual. As discriminações ti
snam a percepção da aplicação dos princípios pela
sociedade e tornam difícil o reconhecimento de um estado de injustiça social coexistente com
a legalidade.
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Homens pretos, pobres e suas famílias, mal escolarizados, têm na sociedade
livre, uma realidade ma
is dura e de menor acessibilidade aos serviços de
proteção do Estado, aos bens de consumo, ao mecanismo de preparação pela
educação escolar para a vida social e para o trabalho. Há uma violência
social contra estas pessoas, que exige a reflexão contra a pr
ática excludente
de direitos (SANTOS
,
2020).
A liberdade será o primeiro dos princípios, ao qual o Estado deve respeitar e pelo qual
o cidadão deve lutar em favor de si próprio e de todos os outros. A paz social, obtida pela
aplicação da justiça social,
categoria em que a educação básica ocupa lugar fundamental,
possibilita aos indivíduos as condições para exercer e lutar pela própria liberdade e pelo
desenvolvimento pleno de sua capacidade, exercer em plenas condições sua cidadania dá ao
indivíduo a sens
ação de segurança social.
A segurança social, superando o estado de necessidade que põe a pessoa em constante
luta pela sobrevivência, alça o indivíduo
à
condição de cidadão, qualquer que seja sua classe
social. Possibilita a luta pela participação na defi
nição de seus direitos
,
pois é fruto do gozo de
direitos básicos, fundamentais. Ao sentir
-
se seguro socialmente, o cidadão pode se envolver
em outras questões da vida social e política, uma delas, o sentido da aprendizagem na própria
educação.
Para compor
a segurança social, um conjunto de condições acessórias, não pouco
importantes
,
precisa ser atendida
,
e ao longo do processo de constituição de direito à educação
foram reconhecidas pelas legislações. Dentro dessas condições, elegemos dois aspectos
fundam
entais para a aplicação de um mínimo de justiça social dentro da educação básica, nos
anos iniciais da escolarização. Eles possibilitam o favorecimento da experiência de
aprendizagem das crianças que ingressam o ambiente escolar, quais sejam
,
a segurança
a
limentar e a inclusão
,
e verificamos como estes aspectos repercutiram sobre a integração
aluno
-
escola.
Chamaremos essas condições acessórias de categorias de análise para fins desse
estudo e na seção seguinte analisaremos cada uma dessas categorias.
Co
ndições acessórias para que se cumpra o direito à educação
Para concretizar os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
,
dispostos no artigo 3º da Constituição Federal de 1988, uma integração das ações protetivas
das políticas públicas soc
iais se faz necessária. Erradicar a pobreza e marginalização, reduzir
as desigualdades sociais, promover o bem de todos sem quaisquer formas de discriminação
são tarefas complexas em que a educação é apenas um dos campos de trabalho.
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Por esse motivo, essa
seção volta
-
se à discussão de duas condições, a segurança
alimentar e a inclusão, consideradas categorias necessárias para que o direito se constitua
efetivo na sua condição democratizante.
Segurança alimentar
A Constituição de 1988 reconheceu o direi
to à segurança alimentar e instituiu no
artigo 208 a universalidade do atendimento da alimentação escolar, sem restrições. Foi criado,
em 1955, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, cujo escopo foi a suplementação
alimentar dos estudantes das escolas
públicas e da rede filantrópica conveniada.
Segundo Santos
et al.
(2007)
,
o Decreto 37.106/1955 instituiu a Campanha de
Merenda Escolar com alimentos obtidos por doações de programas internacionais.
Posteriormente, no final da década de 1970, passou a in
tegrar o Programa Nacional de
Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de alimentação e nutrição, alcançando 14
milhões de escolares de 1º grau e pré
-
escolares com parte das necessidades calóricas e
nutricionais diárias. Em 1983, o programa passou a se
r responsabilidade da Fundação de
Assistência ao Educando até 1997, quando a Secretaria Executiva do Fundo Nacional para o
Desenvolvimento da Educação passou a coordenar, num espírito de autonomia e
descentralização, em acordo com os ventos soprados da car
ta constitucional de 1988 o
Programa Nacional de Alimentação Escolar.
Abreu (1995
, p. 31
) alertava para a dicotomia na compreensão das políticas
focalizadoras de alimentação escolar. Conforme foi entendido na maioria dos países de
Terceiro Mundo, as polít
icas de alimentação do educando poderiam ser interpretadas por
caráter assistencialista, suplementar, como medida de combate à fome, ou “como um direito
do cidadão e um dever do Estado, que é responsável pelo bem
-
estar das crianças, inclusive
por sua alime
ntação enquanto estão na escola, como acontece em muitos países desenvolvidos
do chamado Primeiro Mundo
”
.
O processo de descentralização foi passo importante para melhorar os resultados do
programa ainda na avaliação de Santos
et al.
(2007). Em 1993, apena
s 300 municípios
aplicavam o programa número que, em 1995, chegou a 3380. A descentralização foi fruto da
verificação de uma série de problemas decorrentes da centralização da política nacional. Em
primeiro lugar, a dificuldade de fazer o programa penetrar
nos mais de 5000 municípios
brasileiros com características tão variadas, em segundo, conforme Abreu (1995), a
dificuldade de atender aos hábitos culturais regionais de alimentação, os problemas com
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corrupção e os desvios de verbas no processo de compra d
e produtos, o favorecimento de
grandes grupos econômicos em detrimento dos pequenos produtores locais.
A dicotomia inicial foi superada pela definição da Lei 11947/2009
,
que concebeu
alimentação escolar como forma de contribuir no desenvolvimento dos alun
os e na melhoria
do rendimento escolar. As diretrizes da legislação definiram pelo respeito às tradições
culturais e alimentares; pela inclusão da educação nutricional no processo de ensino e
aprendizagem; pela universalidade do atendimento; pelo controle
social comunitário das
ações do Programa executadas por cada um dos entes públicos; pelo fortalecimento do
desenvolvimento sustentável; pelos incentivos à inclusão do pequeno produtor e do produtor
de agricultura familiar no processo de aquisição de produt
os; pela equanimidade qualitativa
da oferta calórica e nutricional aos estudantes com necessidades especiais, vulnerabilidades,
condições de saúde e idades específicas (BRASIL, 2009).
Um grande volume de pesquisas foi realizado na avaliação do PNAE. Santo
s
et al
.
(2007) avaliou a execução do programa em 45 municípios baianos, com entrevistas a gestores
e crianças de 7 a 14 anos. Liberman (2015) analisou 10 trabalhos sobre o tema divulgados na
base de dados SCIELO verificando os temas abordados, as tendênci
as de cada investigação,
os problemas identificados e as sugestões apresentadas. Lopes (2017) procurou os
principais
problemas e suas possíveis causas na implementação do PNAE em âmbito nacional. Concluiu
que tanto as características do arranjo federativo
quanto as dificuldades de controle e
fiscalização do PNAE exigem mudanças para a melhoria da aplicabilidade das ações.
As pesquisas convergem na consideração da importância na garantia de segurança
alimentar
,
seja para públicos específicos ou para todo o
público escolar. Entendemos a
efetividade de todo o conjunto de informações organizadas pelas vias documentais, pelo
estudo dos dados oficiais, pelas investigações de campo. Entretanto, também é importante
ouvir as experiências relatadas espontaneamente po
r pessoas que formam um público
vulnerável e para quem o direito de alimentar
-
se na escola se aproxima do cumprimento da
compensação pela falta da condição e segurança alimentar no ambiente familiar.
Este é o esforço revelado neste artigo, apresentado na
seção 3.
Inclusão
Iniciaremos nossa reflexão sobre o processo de inclusão rememorando a queda dos
muros de fronteiras das Ciências Sociais, com consequências sobre o ambiente das pesquisas
historiográficas, a partir da publicação de trabalhos de Le
Goff
e Nora (1995).
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A introdução de uma concepção relativista, capaz de absorver outros objetos de
pesquisa, processos mais singulares de análise e abordagens mais inovadoras ampliou a
tipificação dos problemas e ao mesmo tempo dos sujeitos de pesquisa.
Foi
essa premissa a introdutora de uma visão de História em que o caráter múltiplo e
dinâmico das interações sociais passa a ser explorado para compor mais de uma narrativa
sobre a sociedade
e
as relações nela estabelecidas.
Coloca
-
se em diálogo professo
r e a
luno, gestor e legislador, negro e branco. Desse
diálogo compreende
-
se de forma diferente as situações de opressão/resistência;
demanda/negociação; avanço/retrocesso.
Nessa direção, Gomes (2012) discute a situação da escravidão no Brasil mostrando
qu
e as
pesquisas têm revelado uma complexidade do quadro de opressão histórica do branco
sobre o negro, simultaneamente aos atos de resistência, às negociações, à luta pela identidade
das práticas culturais e religiosas. Toda a ambiguidade desse quadro compõ
e o r
acismo
estrutural brasileiro que repercute, ainda hoje, sobre homens, mulheres e crianças.
O sentido dessa ambiguidade expressa
-
se no conceito de historicidade formulado por
Charles Morazé
(1954, p. 59)
para quem
Devemos procurar para além da geopol
ítica
, do comércio, das artes e da
própria ciência, aquilo que justifica a atitude de obscura certeza dos homens
que se unem, arrastados pelo enorme fluxo do progresso que os espec
í
fica,
opondo
-
os. Sente
-
se que esta solidariedade está ligada à existência i
mplíc
ita
que cada um experimenta em si, duma certa função comum a todos.
Chamamos a esta função historicidade
.
Não há História sem sociedade, sem prática social e interpretação. Assim, traremos
dois aspectos dessa inclusão.
O primeiro será a inclusão de
sujei
tos de pesquisa incomuns nas pesquisas
educacionais, principalmente dedicadas aos anos iniciais da escolarização.
O segundo aspecto da inclusão será tratado a partir da perspectiva de inclusão
excludente e seletiva, conforme tratado por Cury (2008).
Ao se
propor
pensar sobre
“
“
herdeiros
”
e/ou os reais atingidos pela privação dessa destinação universal da educação
escolar como direito específico” o pesquisador percorre ordenamento legal desde os tempos
imperiais para demonstrar a gradatividade da elabo
ração
do direito à educação, paralelamente
à constituição de um “duplo dualismo franco, explícito e seletivo”
(
CURY
, 2008, p. 214).
O caráter multiplicador das faculdades humanas, ínsito nas relações de aprendizagem,
superior à dimensão utilitarista e inst
rumen
talizadora da educação, foi força mobilizadora
para torná
-
la direito constitutivo do indivíduo e social do cidadão.
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A inclusão de todos no direito à educação se fez, no caso brasileiro,
pari passu
à
tessitura de uma dupla rede educacional, a pública
para
os menos favorecidos e a particular
para a elite brasileira. O processo de desigualdade social e concentração de renda identificado
em vários países e no Brasil tem acentuado as dificuldades de produzir
-
se na escola pública
condições de inclusão realm
ente
includentes.
As heranças do processo histórico sobre as condições de desenvolvimento do sucesso
escolar são sintetizadas e explicitadas.
Hoje, até mesmo setores mais conservadores do espectro político
reconhecem que os graves problemas sociais extra
escol
ares interferem
negativamente no acesso, na trajetória e no desempenho dos alunos
procedentes de famílias de baixa renda não foi prioridade nem em políticas
públicas, nem na ação de significativos segmentos das elites. O “empurra
-
empurra” entre os pod
eres
gerais do Império e dos poderes provinciais, a
iniquidade da escravatura, a descentralização sem recursos desde o Ato
Adicional e a perversa distribuição da renda geraram uma herança até hoje
pesada e não superada e que articula fatores sociais, étnic
os, e
spaciais,
regionais e o acesso, a permanência e o desempenho qualitativo na escola
(
CURY
, 2008, p. 217).
A relação de causalidade entre pobreza e educação tem entendimentos em direções
opostos nos estudos sociais. Há abordagens que entendem que a fal
ta da
educação causa a
pobreza e as que pensam na direção inversa. Nosso entendimento é que pobreza e carência
educacional formam um complexo sistema, intrincado e auto sustentável, gerador de mais
carências sociais e econômicas, de violências e outras for
mas d
e exclusão.
Também nessa direção, Julião (2009) investiga a associação empírica entre pobreza,
favelamento, desemprego, migrações e criminalidade, analisando o perfil social de autores de
crimes em busca de indicadores de relação entre pobreza e crimi
nalid
ade.
Nesse foco analítico, Rambla, Pereira e Espluga (2013) verificaram que características
pessoais, familiares e socioeconômicas favorecem ou dificultam o acesso ao sistema de
oportunidades educacionais em sociedades desiguais, como a brasileira.
S
egund
o Couto (2004)
,
a pobreza é uma falta de bem
-
estar em várias dimensões
materiais e não materiais resultantes de processos econômicos, sociais, culturais, políticos,
ambientais e individuais em que não se chega a alcançar níveis satisfatórios ou mesmo
justo
s
para a satisfação das suas necessidades. Assim, pode
-
se perceber que a constituição do direito
público subjetivo da educação é insuficiente, embora necessária condição para que a educação
promova o desenvolvimento pleno das capacidades individuais.
A gar
antia de se estar na
escola pode, inclusive, disparar as outras faltas impeditivas do alcance das satisfações de cada
pessoa e das condições de aprendizagem.
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Sendo componente central de ações públicas comprometidas com o desenvolvimento
social sustent
ável,
a redução da pobreza e das desigualdades é condição essencial para que o
acesso à educação e os níveis de escolaridade possam se configurar ações de qualidade
educacional, em uma perspectiva mais ampla de atendimento social.
Retomando a ideia inicia
lment
e posta nessa seção de discutir a inclusão excludente,
entendemos que é no fortalecimento do direito social, via integração das ações das políticas
públicas sociais
,
que o direito individual se fará fortalecido e o direito social efetivado.
Aspectos
meto
dológicos da pesquisa
Apresentamos um recorte de um estudo de caso múltiplo realizado em um presídio de
Itabira, Minas Gerais, com 29 pessoas brasileiras, homens, com experiência de privação de
liberdade por motivo de sentença penal. A tese de doutor
ado,
disponível no acervo da
PUCMinas, percorre aspectos da trajetória de aprendizagem dos sujeitos da pesquisa a partir
de seus relatos de memória sobre os anos iniciais de escolarização. Subsidiariamente,
percebeu
-
se como se concretizam algumas condições
que
garantem o direito à educação, de
que segurança social dispõem as famílias dos entrevistados para garantir o sucesso dos anos
iniciais da escolarização e como a inclusão educacional realmente se efetiva. Neste quadro foi
possível perceber se as condiç
ões d
e vida favoreciam ou não as relações entre o aluno e a
escola.
As orientações de Yin (2001) serviram para a elaboração da pesquisa empírica, de
abordagem qualitativa, para quem problemas de pesquisa formulados centralmente com as
perguntas como? ou po
r quê
? propiciam elaborações explicativas vinculadas
operacionalmente, ao longo do tempo, não devem exigir do pesquisador controle dos eventos
comportamentais e possibilitam enfoca situações contemporâneas.
Também foram
importantes as orientações metodológ
icas
da História Oral
,
conforme contribuições de Verena
Alberti (1990
;
2006) e Delgado (2006).
Neste artigo, apresentamos discussões sobre os resultados da fase piloto em que se
desenvolveu uma entrevista semiestruturada com um depoente e os da segunda fas
e da
pesquisa
,
quando foram entrevistados 6 outros sujeitos.
A entrevista semiestruturada da fase piloto ofereceu proposições orientadoras da
segunda fase da pesquisa. A escolha dos sujeitos obedeceu ao perfil etário pré
-
estabelecido,
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pessoas com idade in
ferio
r a 29 anos. Também foram observados o perfil de participação nas
aulas e algumas outras situações
3
.
Da narrativa do primeiro entrevistado, P.C. (29 anos), emergiram as dimensões
analíticas da segurança alimentar e da inclusão. Nos conteúdos dos outr
os en
trevistados
buscamos relações entre a oferta de acesso e a possibilidade de permanência com sucesso nas
escolas de educação básica, ou seja, entre a inclusão formal representada pela vaga na escola e
a condição de permanência e sucesso.
Os dados foram
orga
nizados em um quadro de dupla entrada em que era possível
identificar o conteúdo apresentado por depoente em cada categoria. Foi possível perceber
convergências e divergências nas lembranças dos depoentes nos vários aspectos analisados. A
forma como c
ada s
ituação era apresentada livremente elucidava o sentido da interação entre o
aluno e a escola nos anos iniciais.
Resultados observados
Elementos da dupla realidade social atravessam a realidade educacional nas narrativas
de memórias dos sujeitos de
sta p
esquisa. A diferença é expressa na fala de um dos
entrevistados ao explicar de onde sua mãe, empregada doméstica, trazia recursos para casa
:
Porque naquela época a pessoa trabalhava em casa de família, então ela de
certa forma passava a ser da famíli
a, en
tão aquilo ali o que não servia para
os patrões, para os filhos dos patrões servia para os... empregados, para os
filhos dos empregados. De certa forma, tava ajudando um pouco a suprir as
necessidades
(P.C
.
)
.
Essa fala expressa que a infância transco
rria
sem a participação ou a presença contínua
do pai, da mãe ou de ambos, mesmo quando presentes fisicamente, com acompanhamento
escolar muito fragilizado, em que as contribuições didático
-
pedagógicas da escola e dos
professores são menos significativas e
pres
entes que as afetivo
-
sociais e assistenciais, quando
existiram.
F.G
.
(23 anos) revela a dificuldade da mãe para acompanhá
-
lo no ambiente escolar
para explicar a primeira reprovação nas séries iniciais, não se lembra a série. No entanto, os
conselhos
mater
nos representam valorização da escola, mas o momento em que a mãe é
chamada pela escola denuncia a distância dessa relação.
3
A
autorização
da Secretaria de Administração Prisional para a realização da pesquisa foi feita em maio de 2018
e respondida oficialmente em
outubro
de 2018.
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Minha mãe só foi chamada na primeira bomba... disse... me deu conselho...
pra eu prestar atenção... acho que ... foi por falt
a de
atenção mesmo…
[...]
meus pais não tem... assim estudo, né? Terminaram antes da quarta série de
grupo... meus pais trabalha no serviço rural... tinha dificuldade de
acompanhar na escola... eles cobrava... era difícil... a mãe tinha pouco
tempo... dedic
ava..
. aos trabalhos, né? Mas sempre me dava uma opinião a
respeito
(F
.
G
.
).
As imensas dificuldades de manter a família para oferecer a segurança alimentar, o
vestuário, a moradia segura e em condições para o acolhimento de todos; oferecer as
oportunidade
s de
tratamento médico e complementar, o transporte aos filhos para a escola,
convivendo com as pressões da sociedade capitalista e de consumo são as condições
predominantes nesses sujeitos das classes sociais menos favorecidas de brasileiros.
Apenas dois
entre
vistados T.A. (24 anos) e R.L
.
(29 anos) não narram situações de
dificuldades financeiras. Para os outros, a realidade se apresenta com insegurança alimentar,
dificuldades materiais, de vestuário, de transporte até a escola
; elas
são descritas por J.R
.,
E.
W., P.C. e
,
embora não sejam detalhadas, ficam explícitas no relato de W.H. (29 anos)
:
“eu
via a dificuldade da minha mãe”.
Muitas vezes, a ação da escola não é valorizada pela memória da atividade de ensino
ou pelo projeto educacional, mas pela assis
tênci
a no campo de uma segurança social que
deveria vir de instituições outras, que não a escola. Um dos depoentes fala dessa diferença
tratando daquilo que é e do que não é dever da escola, papel do professor, frente
à
s
dificuldades sociais dos estudantes
,
“a
professora não precisa ter responsabilidade pelo que
ele [o aluno de uma professora] vai comer e vai vestir, mas as vezes a gente precisa ter quem
vai nos ouvir”.
Essa contradição revela uma realidade à qual se submetem os alunos de escolas
públicas
de pe
riferia, das classes populares, cujas dificuldades sociais e econômicas ameaçam
sabidamente sua permanência e seu sucesso escolar. A escola se desloca, muitas vezes
,
das
questões da aprendizagem
,
voltando
-
se para uma ação social que capta a criança, m
as nã
o
avança para os passos seguintes no sentido da exigência didático
-
pedagógica e do estímulo à
aprendizagem.
Nas memórias de nossos depoentes, a escola ou alguns professores supriram algumas
inseguranças sociais. Para P.C.
,
a insegurança alimentar, pa
ra E.
W.
,
a necessidade de
vestuário, e para J.R.
,
o complemento de um café reforçado a cada entrega de bananas. Se
E.W. agradece, mas critica essa ação assistencial, P.C. apenas a valoriza
:
“a gente chegava na
escola era aquela expectativa
[...]
porque aqu
ilo e
ra uma riqueza para nós, aquilo era nossa
alegria, os cardápios diferentes.”
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Valorizar a atenção, caprichar no preparo da alimentação, dar carinho e oferecer uma
espécie de atuação que aproxima o ambiente escolar da cozinha da casa são aspectos
presen
tes n
os significados das memórias dos anos iniciais na escola quando o contexto de
dificuldade socioeconômica da família do educando compõe a descrição. As boas lembranças
em ser bem tratado, receber carinho, brincar livremente no recreio, em merendar comi
das
g
ostosas e diferentes dão o sentido principal do que se fazia na escola em lugar de livros lidos,
estórias contadas pela professora, filmes assistidos, experiências, apresentações culturais ou
quaisquer outro tipo de atividade ligada
à
aprendizagem.
Pa
ra R.
L., T.A., W.H.
e
E.W.
,
as lembranças da infância na escola trazem à tona as
dificuldades sociais vividas em casa, a violência doméstica, os castigos físicos, os problemas
da dependência química de álcool e drogas, a presença da polícia. Estes problema
s soc
iais nos
contextos familiares foram relatados também por W.H., paralelamente às dificuldades
econômicas. Nesses casos, a escola se manteve distante das questões atuando apenas nos
momentos críticos ou quando forçada pelo Estatuto da Criança e do Adole
scent
e, como no
caso de T.A. As dificuldades vivenciadas por R.L., W.H,
e
E.W foram o foco de políticas
educacionais de tempo integral do Ministério da Educação, iniciada em 2004, limitadas por
espírito de indução das entidades federais, pelos poucos recur
sos f
inanceiros nos municípios e
pela dificuldade de atender as condições técnicas necessárias para a execução.
T.A. enfrenta a violência doméstica contra a criança e o adolescente dentro do quadro
de conflitos provocados pela doença mental. Ele narra deta
lhada
mente a utilização de serviços
públicos de saúde do CAPS (
Centros de Atenção Psicossocial
) e CAPSI (
Centros de Atenção
Psicossocial Infantil
) e o acompanhamento do Conselho Tutelar.
Sua entrada na escola é difícil e ocorre mediante ações legais. Dura
nte a
briga entre a
família e a escola para que tivesse acesso ao sistema escolar, a criança participa de toda a
resistência da escola em aceitá
-
lo. Nota
-
se o despreparo dos profissionais em questão
,
verificado ao tornar possível à criança presenciar todos
os c
onflitos interinstitucionais em
torno do acesso dela à escola.
A experiência inicial com o processo de “inclusão” marca
-
o com a rejeição. O mesmo
não ocorre a E.W.
,
que tem uma lembrança feliz da primeira ida à escola. Para P.C. e W.H.
,
as
contradiçõ
es ce
rcam a entrada na escola, o medo e o desprazer das atividades escolares se
contrapõem ao prazer de brincar, jogar bola ou de merendar.
P.C. explicita como as dificuldades econômicas e sociais dificultam o
acompanhamento escolar pela família
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O lado v
azio
pra mim na escola era só nos dias de reuniões de pais, porque
minha mãe não tinha ... nem se ela quisesse ela num conseguia ir, por causa
das responsabilidades que eram... tipo assim... então era aquela escolha
(pausa) Eu vou hoje na reunião de pais,
mas d
e tarde o que que meus filhos
vão comer?
(P. C.)
.
A ausência de um tipo de acompanhamento escolar favorecedor da relação do aluno
com a escola e com a aprendizagem, no caso dos pesquisados, não se revela ligada à falta de
percepção da importância da e
scola
, mas à própria dificuldade de compreender o mundo
escolar
,
dado que a maioria dos pais dos entrevistados não concluiu o ensino fundamental.
Observou
-
se nos relatos que a ausência desse acompanhamento possibilitou a fragilização
progressiva dos víncul
os en
tre os entrevistados, suas famílias e a escola e o sentido de
aprendizagem.
Considerações finais
A falta de possibilidade de compreensão do ambiente escolar pela família dos
educandos pode responder pelas resistências de adesão ao estudo, pelas dif
iculd
ades de a
família ajudar as crianças a se adaptar e enfrentar os percalços do processo de aprendizagem.
Por outro lado, a falta de compreensão da escola da complexa situação em que vivem
as famílias das classes populares para gozar o direito individua
l da
educação e a falta do
processo autoral pedagógico vinculado à aplicação de políticas educacionais que objetivam
elevar a qualidade da educação capaz de fomentar um processo de personalização máximo das
trajetórias educativas, também dificulta a adapta
ção d
as crianças das classes populares nas
escolas, nos anos iniciais.
Os anos iniciais na vida escolar são aqueles em que se deveria fundar as bases de um
sentido de aprendizagem, bases sólidas sobre as quais o edifício da escolarização se construa
ao lon
go da
vida. A construção dessas bases exige mais que a ação da escola e das instituições
escolares para que as condições para acesso, permanência e sucesso escolar se concretizem,
como foi possível verificar nas histórias de vidas dos entrevistados dessa p
esqui
sa.
Nesta lógica é importante entender que a capilaridade de que precisamos para que a
política pública educacional chegue em cada sala de aula
,
de cada localidade
,
exige o
fortalecimento da autonomia e da compreensão de princípios e diretrizes defini
dos p
elas
políticas públicas educacionais que, em última análise, são as formas de garantir o alcance da
aprendizagem.
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Quando se trata de definir e garantir aprendizado nas escolas pelos alunos
,
o processo
de envolvimento e discussão amplo que alcance a to
dos e
promova a compreensão da
importância da participação da família com sua realidade social na constituição do processo
educativo é muito importante.
Tão importante quanto, é garantir as condições para que as famílias possam oferecer a
educação como dev
er na
perspectiva de desenvolvimento das aptidões e habilidades
individuais e não como forma de acesso ao plano de segurança social a que faz jus todo
cidadão, independentemente de sua situação de escolaridade.
Os processos de segurança social, que vão des
de a
segurança alimentar até o acesso
aos sistemas de saúde, transporte, moradia, devem resultar em um conjunto de condições pré
-
existentes que garanta
à
s famílias condições de pensar o futuro dos seus filhos.
Nos relatos obtidos percebemos a fragilidade
da re
lação entre a família e a escola, pois
há incompreensão de ambos os lados. A escola não atenta para as necessidades individuais de
aprendizagem da criança e do jovem, preocupa
-
se com as notas necessárias para a aprovação
de uma série para a outra, cas
o de
F.G e J.R, ou para as questões disciplinares como ocorre a
P.C. e R.L.
,
ou atua de forma a suprir situações de carência social sem se deter nas questões
para o que ela realmente se institui.
A família, conflituosa, fragilizada, precisa ser tão apoiada
nas
suas necessidades mais
vitais que não consegue perceber a falta do acompanhamento, nem se reconhecer na
possibilidade de acompanhar e atender as necessidades escolares da criança e do jovem.
A metodologia da História oral evidencia singularidades e s
ubjet
ividades relevantes
quando se pretende incluir todos
os
sujeitos na tessitura da História, envolvendo os, muitas
vezes, esquecidos e negligenciados pela sociedade.
Nas narrativas de homens que, desde crianças, conviveram com parcas oportunidades
soci
ais
,
estão ilustrados a lassidão dos resultados das políticas de proteção e avanço na
efetivação dos direitos, quando não o descumprimento explícito da legislação. Evidencia
-
se,
assim, a inclusão excludente e a dificuldade de efetivação das políticas de di
reito
s orientada
aos grupos sociais menos favorecidos, tornando mais árduo ao indivíduo o pleno
desenvolvimento pelo processo educativo.
Embora existentes, as políticas públicas educacionais de efetivação de direitos
estiveram ausentes na vida das família
s des
tes homens quando crianças. Tiveram as vagas em
escolas públicas com uma certa estrutura física, mas em condições ineficazes, insuficientes,
ineficientes para que a relação entre a criança e a escola fizesse sobressaltado o valor e o
sentido da aprend
izage
m.
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Voltando ao quadro do isolamento social do momento atual, a diferença vivida entre
as escolas das redes pública e privada não é uma situação que apenas reflete essas ineficácias,
insuficiências que não consideram o direito educacional em uma persp
ectiv
a realmente
includente para todos os brasileiros?
Concluímos entendendo que os esforços de compreensão dos resultados das políticas
públicas necessitam da fala de todos na sociedade, sobretudo em relação aos gestores. Esse é
também um esforço inclusiv
o, po
is ouvindo os efeitos, as dificuldades, os problemas
,
as
políticas educacionais podem ficar mais atentas ao processo de produção desta exclusão e
apela
r
às instituições formadoras de profissionais da educação para a pluralidade de perfis de
alunos de
modo
a atender às finalidades maiores da educação.
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m as palavras
.
2020. 322 f. Tese (Doutorado)
–
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2020.
YIN, R.
K.
Estudo de caso
: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
Como referenciar este artigo
SANTOS
,
L. M.
R. C.;
CURY
, C. R. J
.
Narrativas de apenados sobre o início da vida escolar
.
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p.
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275
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1
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-
ISSN: 1982
-
5587.
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.14064
Sub
metid
o em:
03/08/2020
Revisões requeridas:
30/09/2020
Aprovado em:
20/11/2020
Publicado em:
02/01/2021
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NARRATIVAS DE PRISIONEROS SOBRE EL INICIO DE LA VIDA ESCOLAR
NARRATIVAS DE APENADOS SOBRE O INÍCIO DA VIDA ESCOLAR
NARRATIVES OF PRISIONERS ABOUT THE START OF SCHOOL LIFE
Luciane Maria Ribeiro da Cruz SANTOS
1
Carlos Roberto Jamil CURY
2
RESUMEN
:
Este
artículo desarrolla un enfoque descriptivo de la dificultad de implementar
las políticas públicas para la educación en Brasil, desde la aprobación de la Constituicion de
1988 e de la Ley de Diretrizes y Bases de la Educación Nacional. La narrativa de siet
e
hombres condenados por procesos penales, menores de 29 años, sobre el comienzo de su vida
escolar ilustra aspectos concretos de la ausencia de poder público en el cuidado de las familias
de las clases sociales socialmente menos favorecidas. Los datos fue
ron recolectados de una
tesis doctoral realizada por el primer autor en el Programa de Postgrado en Educación de la
PUC
-
MG. Se analizó el conjunto de entrevistas semiestructuradas buscando indicadores de
prácticas efectivas del logro de los objetivos de la
República y la Educación Nacional. Se
observó la exclusión educativa articulada al conjunto de mecanismos responsables de la
promoción de la justicia social y la fragilidad de la conquista de los derechos del individuo a
través de un proceso de exclusión
de los derechos sociales.
PALABRAS CLAVE
:
Derecho a la educación. Escuela inicial. Prisioneros brasileños.
Justicia social.
RESUMO
: O presente artigo demonstra a dificuldade de concretização das políticas
públicas educacionais brasileiras após a aprovaç
ão da Constituição de 1988 e da Lei de
Diretrizes e Bases de 1996. A narrativa de sete homens sentenciados por processos criminais,
com idades inferiores a 29 anos, sobre o início de suas vidas escolares ilustra aspectos
concretos da ausência do poder públ
ico no atendimento das famílias de classes sociais menos
favorecidas economicamente. Os dados foram recolhidos de uma tese de doutorado realizada
pela primeira autora no Programa de Pós
-
graduação em Educação da PUC
-
MG. O conjunto
de entrevistas semiestrutu
radas foi analisado buscando os indicadores da concretização dos
objetivos da República e da Educação Nacional. Observou
-
se a exclusão educacional
articulada ao conjunto de mecanismos responsáveis pela promoção da justiça social e a
fragilidade da conquist
a dos direitos do indivíduo por um processo de inclusão excludente
dos direitos sociais.
PALAVRAS
-
CHAVE
: Direito à educação. Escolarização inicial. Apenados brasileiros.
Justiça social.
1
Secretaria Municipal de Educação (SME), Itabira
–
MG
–
Brasil. Profesora de
Años Finale
s.
Do
ctorado en
Educación
(PUC
-
MG). ORCID: https://orcid.org/0000
-
00
02
-
2052
-
7518. E
-
mail: luciane.rcruz@gmail.com
2
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
-
MG), Belo
Horizonte
–
MG
–
Brasil.
Profesor Adjunto
en el
Programa de
Posgrado en Educación. Doctorado en Educación
(PUC
-
SP).
ORCID: https://orcid.org/000
0
-
0001
-
5555
-
6602. E
-
mail: crjcury.bh@terra.com.br
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Luciane Maria Ribeiro da Cruz SANTOS
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ABSTRACT
:
This article demonstrates the difficulty of implementing
Brazilian public
educational policies after the approval of the 1988 Constitution and the 1996 Guidelines and
Bases Law. The narrative of seven men sentenced for criminal proceedings, under the age of
29, about the beginning of their school lives illustra
tes real aspects of the absence of public
power in serving families from socially less favored social classes. The data gathered from a
doctoral thesis carried out by the first author in the Graduate Program in Education at PUC
-
MG. The set of semi
-
structur
ed interviews was analyzed search for indicators of the
achievement of the objectives of the Republic and National Education. It was observed the
educational exclusion articulated to the set of mechanisms responsible for the promotion of
social justice.
Th
e conquest of the individual's rights is a fragile process so, exclusion of
social rights has demonstrated.
KEYWORDS
:
Right to education. Initial schooling.
Brazilian prisoners. Social justice.
Introducción
En este año 2020, durante la vigencia de
res
tricciones sociales tan severas provocadas
por la pandemia de Covid
-
19, la sociedad brasileña asistió el diferente tratamiento llevado a
cabo por los sistemas público y privado para solucionar la imposibilidad de contacto físico y
de la manutención de los
esquemas tradicionales de las escuelas de la educación presencial.
De un lado, una red privada que se reorganiza, fuerza estructuras, establece nuevos
parámetros, pero de una o de otra forma, presenta respuestas que pueden llegar a sus
estudiantes y sus f
amilias. Por otro, la red pública
letárgica
, poco reactiva, se manifiesta
reconocedora de su dificultad de crear algún tipo de solución capaz de alcanzar y atender a
todos.
Conocido de los estudios de la educación brasileña, el cuadro desigual de la doble
red
no tiene como indicador solo la cuestión del acceso a los recursos de las tecnologías digitales,
ya sean por la vía de la condición de estructuras o por el tipo de uso a estos recursos. Este
aspectos de la educación interviene en la posibilidad de “pl
eno desarrollo del estudiante, su
preparo para el ejercicio de la ciudadanía y su calificación para el trabajo”
(BRASIL, 1996)
se
dejar
á a otros investigadores.
En este artículo también trataremos otros aspectos que denuncian la dificultad de
alcanzar lo
s objetivos de la educación nacional, tal y como se recoge en la Ley de Directrices
y Bases de 1996, al menos para las clases social y económicamente desfavorecidas. La
discusión sobre la efectividad del derecho a la educación se basará en la narración de
la
memoria de algunos de los propios afectados por las políticas educativas públicas brasileñas.
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La educación es un derecho de todos los brasileños. Derecho jurídicamente protegido
y exigente de un proceso histórico constitutivo, de un conjunto de política
s públicas y de
prácticas de los agentes responsables de la implementación para materializar este derecho.
Traemos la narrativa de personas de 18 a 29 años con experiencia de privación de
libertad por sentencia penal para tratar de entender en la subjetivi
dad y la singularidad la
aplicación de aspectos importantes de los derechos articulados a las políticas educativas
brasileñas
.
Los relatos de los 7 hombres, una toma de la fase piloto, abordan la trayectoria de los
años iniciales de la trayectoria escolar
y buscan la memoria de las dificultades y facilidades
vividas en un periodo muy anterior a la entrada en el sistema penitenciario
.
El artículo abordará en la primera sección una visión del derecho a la educación a
partir de las concepciones del movimiento
histórico para situar la educación básica brasileña
dentro de una visión del estatuto de ciudadanía, de acuerdo con la Constitución de 1988. En la
segunda sección, presentaremos y discutiremos las categorías elegidas para el análisis:
seguridad social, in
clusión. En la tercera sección describimos los aspectos metodológicos de
la investigación, y en la cuarta sección informamos de los resultados de las confrontaciones
entre las categorías de análisis y los contenidos de los recuerdos de los sujetos investig
ados.
Terminamos el artículo con las conclusiones
.
Una visión del
derecho a la
educa
ción
En la visión de Bobbio (1992), que adoptamos para el establecimiento de formas
progresivas de relación entre las personas en las s
ociedades y entre los Estados, “
l
os derechos
humanos, la democracia y la paz son tres momentos necesarios d
e un mismo movimiento
histórico”
(p. 1). La idea de progresividad se establece en la comprensión de una historia viva,
dinámica y sin grandes rupturas. El derecho a la educación se b
asa en una dimensión
estructurante de la condición humana que es la racionalidad, y se convierte, al r
econocer su
importancia, en un “
arma no violenta de reivindicació
n y lucha
”
(CURY, 2002, p. 261)
.
Por más que nuestra mirada no pueda percibir todo el mo
vimiento transformador de
una década o los efectos de los grandes debates, las reverberaciones de las pérdidas generadas
por los procesos que conducen a los retrocesos, creemos que los derechos de las personas,
especialmente el de la educación, inciden en
la paz social y mejoran progresivament
e la
calidad de las democracias
.
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Transponer el reconocimiento del derecho a la educación a su concreción exigió de
Brasil muchas fases, aún no concluidas, iniciadas en los acuerdos internacionales de
reconocimiento de
la Declaración de los Derechos Humanos (1945), hasta alcanzar la
condición de derecho público, definida por la Constitución Federal de 1988. Una posición
ligeramente diferente es la adoptada por Chevallier (2013), para quien la Declaración, por sí
sola, n
o asume la fuerza del derecho positivo, a menos que pase a formar parte de un tratado,
una convención o un sistema jurídico nacional. Esta composición dentro del sistema jurídico
fue mencionada por Bobbio (1992) cuando destacó los procesos de internacional
ización y
constitucionalización en la promoción del reconocimiento, consolidación, homogeneización y
protecció
n de los derechos fundamentales
.
Los derechos son el producto de un proceso histórico de articulación de los sujetos a
los principios filosóficos
defendidos por un grupo de pensadores, pero también el fruto de
articulaciones con la vida po
lítica y social, exigiendo así “
una participación cada vez más
amplia, extendida y frecuente de los miembros de una comunidad en el poder político
”
(BOBBIO, 1992,
p. 33).
La participación que generó desde los derechos civiles hasta los derechos sociales,
entre ellos el objeto de esta investigación, la educación básica
, se esboroa
cuando vaciada de
articulación que confiere
dirección y sentido a la acción, ya sea de
un legislador nacional, sea
de un agente político en su acción ejecutiva delegada, de un(a) Consejero(a) Tutelar, de un(a)
profesional de salud pública, de un(a) profesor(a) de una escuela pública.
Como enseña Cury (2009), el Estado de Derecho es aquel
en el que las protecciones y
garantías de los derechos funcionan, superando la falta de condiciones objetivas y la
necesidad de buena voluntad de quienes proclaman los medios para proteger los derechos.
Con la ley se rompen los privilegios y los mecanismos
de influencia.
La proposición de la educación como derecho está vinculada a la instauración de un
Estado de Derecho, en cuyo proceso histórico de constitución los sustantivos se aplican desde
la fuerza de la concepción liberal de la organización política,
a través de las luchas sociales
desencadenadas por las organizaciones sociales implicadas en la ampliación de los derechos
políticos y los derechos sociales. Y vale la observación de Chevallier (2013), que este proceso
está dotado de un estado de inacabad
o e incompleto que lo habilita a la dinámica social.
El proceso histórico de conquista de derechos en un país como Brasil, donde la
esclavitud ha tenido un impacto sociocultural, además de frenar la realización del derecho a la
educación, ha llevado a la n
aturalización de las diferencias y a la persistencia de la
discriminación hasta el momento actual. Las discriminaciones minan la percepción de la
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aplicación de los principios por parte de la sociedad y dificultan el reconocimiento de un
estado de injustici
a social que coexiste con la legalidad.
Los hombres negros, pobres y sus familias, con poca educación, tienen en la
sociedad libre una realidad más dura y menos accesibilidad a los servicios de
protección del Estado, a los bienes de consumo, al mecanismo
de
preparación para la educación escolar para la vida social y el trabajo. Existe
una violencia social contra estas personas, que exige una reflexión contra la
práctica excluyente de los derechos
(SANTOS
,
2020).
La libertad será el primero de los princip
ios, que el Estado debe respetar y por el que
el ciudadano debe luchar por sí mismo y por todos los demás. La paz social, obtenida
mediante la aplicación de la justicia social, categoría en la que la educación básica ocupa un
lugar fundamental, permite a l
os individuos ejercer y luchar por su propia libertad y por el
pleno desarrollo de su capacidad de ejercer su ciudadanía en condiciones plenas, da al
individuo el sentimiento de seguridad social
.
La seguridad social, superando el estado de necesidad que po
ne a la persona en
constante lucha por la supervivencia, eleva al individuo a la condición de ciudadano, sea cual
sea su clase social. Permite luchar por la participación en la definición de sus derechos,
porque es fruto del disfrute de los derechos básico
s y fundamentales. Al sentirse socialmente
seguro, el ciudadano puede implicarse en otras cuestiones de la vida social y política, una de
ellas, el sentido del aprendizaje en la propia educación
.
Para componer la seguridad social, es necesario que se cump
lan un conjunto de
condiciones accesorias, no despreciables, y que a lo largo del proceso de constitución del
derecho a la educación han sido reconocidas por la legislación. Dentro de estas condiciones,
hemos elegido dos aspectos fundamentales para la apli
cación de un mínimo de justicia social
dentro de la educación básica, en los primeros años de escolarización. Permiten favorecer la
experiencia de aprendizaje de los niños que se incorporan al entorno escolar, es decir, la
seguridad alimentaria y la inclus
ión, y comprobamos cómo estos aspectos repercutían en la
integración alumno
-
escuela
.
Llamaremos a estas
condiciones
accesorias de categorías de análisis para fines de este
estudio y en la próxima sección analizaremos cada una de estas categorías.
Condi
ciones
accesorias para que se cumpla el
derecho a la
educación
Para alcanzar los objetivos fundamentales de la República Federativa de Brasil,
establecidos en el artículo 3 de la Constitución Federal de 1988, es necesario integrar las
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acciones de protecci
ón de las políticas públicas sociales. Erradicar la pobreza y la
marginación, reducir las desigualdades sociales, promover el bien de todos sin ninguna forma
de discriminación son tareas complejas en las que la educación es só
lo uno de los campos de
trabaj
o
.
Por ello, esta sección se centra en la discusión de dos condiciones, la seguridad
alimentaria y la inclusión, consideradas categorías necesarias para que el derecho sea efectivo
en su condición democratizadora
.
Seguridad
alimentar
ia
La Constitución
de 1988 reconoció el derecho a la seguridad alimentaria e instituyó en
el artículo 208 la universalidad de las comidas escolares, sin restricciones. En 1955 se creó el
Programa Nacional de Alimentación Escolar, cuyo ámbito de aplicación era la alimentació
n
de los alumnos de las escuelas públicas y la red filantrópica afiliada.
Según Santos
et al.
(2007), el Decreto 37.106/1955 instituyó la Campaña de
Alimentación Escolar con alimentos obtenidos por donaciones de programas internacionales.
Más tarde, a fin
ales de los años 70, pasó a formar parte del Programa Nacional de
Alimentación y Nutrición del Instituto Nacional de Alimentación y Nutrición, llegando a 14
millones de alumnos de primaria y niños de preescolar con parte de sus necesidades calóricas
y nutr
icionales diarias. En 1983, el programa pasó a ser responsabilidad de la Fundación para
la Asistencia al Educando hasta 1997, cuando la Secretaría Ejecutiva del Fondo Nacional para
el Desarrollo de la Educación comenzó a coordinar, con un espíritu de auton
omía y
descentralización, de acuerdo con los vientos que soplaban en la carta constitucional de 1988,
el Programa N
acional de Alimentación Escolar
.
Abreu (1995, p. 31) advirtió de la dicotomía en la comprensión de las políticas de
alimentación escolar. Ta
l y como se entiende en la mayoría de los países del Tercer Mundo,
las políticas de alimentación del alumno podrían interpretarse como asistenciales,
complementarias, como una medida para combatir el hambre, o
“
como un derecho ciudadano
y un deber del Esta
do, que es responsable del bienestar de los niños, incluida su alimentación
mientras están en la escuela, como ocurre en muchos países desarro
llados del llamado Primer
Mundo”
.
El proceso de descentralización fue un paso importante para mejorar los resultad
os del
programa aún en la evaluación de Santos et al (2007). En 1993, sólo 300 municipios aplicaron
el programa de números que, en 1995, llegó a 3380. La descentralización fue el resultado de
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una serie de problemas derivados de la centralización de la polí
tica nacional. En primer lugar,
la dificultad de hacer penetrar el programa en los más de 5000 municipios brasileños con
características tan variadas, en segundo lugar, según Abreu (1995), la dificultad de atender a
los hábitos culturales regionales de ali
mentación, los problemas de corrupción y malversación
en el proceso de compra de productos, el favorecimiento de los grandes grupos económicos en
detrimento de los pequeños productores locales.
La dicotomía inicial fue superada por la definición de la Ley
11947/2009, que
concibió la alimentación escolar como una forma de contribuir al desarrollo de los alumnos y
mejorar el rendimiento escolar. Las directrices de la legislación fueron definidas por el
respeto a las tradiciones culturales y alimentarias; la
inclusión de la educación nutricional en
el proceso de enseñanza y aprendizaje; la universalidad de la atención; el control social
comunitario de las acciones del Programa ejecutadas por cada uno de los entes públicos; el
fortalecimiento del desarrollo sos
tenible; los incentivos para la inclusión del pequeño
productor y del productor de la agricultura familiar en el proceso de adquisición de productos;
la ecuanimidad cualitativa de la oferta calórica y nutricional para alumnos con necesidades
especiales, vu
lnerabilidades, condiciones de salud y edades específicas (BRASIL, 2009).
En la evaluación del PNA se realizó un gran volumen de investigación. Santos et al.
(2007) evaluaron la implementación del programa en 45 municipios de Bahía, con entrevistas
a ges
tores y niños de 7 a 14 años. Liberman (2015) analizó 10 trabajos sobre el tema
difundidos en la base de datos SCIELO, comprobando los temas abordados, las tendencias de
cada investigación, los problemas identificados y las sugerencias presentadas. Lopes (
2017)
buscó los principales problemas y sus posibles causas en la aplicación del PNA a nivel
nacional. Concluyó que tanto las características del acuerdo federal como las dificultades de
control e inspección del PNAE requieren cambios para mejorar la aplic
abilidad de las
acciones.
Las investigaciones convergen en la consideración de la importancia de garantizar la
seguridad alimentaria, ya sea para públicos específicos o para todo el público escolar.
Comprendemos la eficacia de todo el conjunto de informac
ión organizada por medios
documentales, el estudio de los datos oficiales, las investigaciones de campo. Sin embargo,
también es importante escuchar las experiencias relatadas espontáneamente por las personas
que forman un público vulnerable y para las que
el derecho a alimentarse en la escuela se
acerca a la realización de una compensación por la falta de condiciones y seguridad
alimentaria en el entorno familiar.
Este es el esfuerzo revelado en este artículo, presentado en la sección 3.
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Inclusión
Comen
zaremos nuestra reflexión sobre el proceso de inclusión recordando la caída de
los muros fronterizos de las Ciencias Sociales, con consecuencias en el entorno de la
investigación historiográfica, a partir de la publicación de los trabajos de Le Goff y Nora
(1995).
La introducción de una concepción relativista, capaz de absorber otros objetos de
investigación, procesos de análisis más singulares y enfoques más innovadores ha ampliado la
tipificación de los problemas y al mismo tiempo de los temas de investig
ación.
Fue esta premisa la que introdujo una visión de la historia en la que se empezó a
explorar el carácter múltiple y dinámico de las interacciones sociales para componer más de
un relato sobre la sociedad y las relaciones que en ella se establecen.
Pon
e en diálogo al profesor y al alumno, al gestor y al legislador, al blanco y al negro.
A partir de este diálogo entendemos de manera diferente las situaciones de
opresión/resistencia; demanda/negociación; avance/retroceso.
En esta dirección, Gomes (2012) d
iscute la situación de la esclavitud en Brasil
mostrando que la investigación ha revelado una complejidad de la opresión histórica del
hombre blanco sobre el hombre negro, simultáneamente con los actos de resistencia, las
negociaciones, la lucha por la ide
ntidad de las prácticas culturales y religiosas. Toda la
ambigüedad de este cuadro compone el racismo estructural brasileño que aún repercute en
hombres, mujeres y niños.
El sentido de esta ambigüedad se expresa en el concepto de historicidad formulado
po
r Charles Morazé (1954, p. 59
, traducción nuestra
) para quien
Hay que buscar, más allá de la geopolítica, del comercio, de las artes y de la
propia ciencia, lo que justifica la actitud de oscura certeza de los hombres
que se unen, arrastrados por el enorm
e caudal de progreso que les especifica,
oponiéndose a ellos. Sentimos que esta solidaridad está ligada a la existencia
implícita que cada uno experimenta en sí mismo, de una cierta función
común a todos. A esta función la llamamos historicidad.
No hay hi
storia sin sociedad, sin práctica social e interpretación.
Así que aportaremos
dos aspectos de esa inclusión.
El primero será la inclusión de sujetos de investigación poco habituales en la
investigación educativa, principalmente dedicada a los primeros añ
os de escolarización.
El segundo aspecto de la inclusión se tratará desde la perspectiva de la inclusión
excluyente y selectiva, tal y como la trata Cury (2008). Al proponerse pensar en los
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“herederos”
y/o en los verdaderos afectados por la privación de e
ste destino universal de la
educación
escolar como derecho específico”
, el investigador recorre el sistema jurídico desde
la época imperial para demostrar el desarrollo gradual del derecho a la educación, en paralelo
a la constitución de un
“
dualismo franc
o, explícito y sel
ectivo”
(CURY, 2008, p. 214).
El carácter multiplicador de las facultades humanas, la exigencia en las relaciones de
aprendizaje, superior a la dimensión utilitaria e instrumental de la educación, fue una fuerza
movilizadora para hacerla
un derecho constitutivo del individuo y del ciudadano social.
La inclusión de todos en el derecho a la educación se hizo, en el caso brasileño,
pari
passu
a la tesitura de una doble red educativa, la pública para los menos favorecidos y la
privada para la
élite brasileña. El proceso de desiguald
ad social y concentración de ingresos
identificado
s
en varios países y en Brasil ha acentuado las dificultades para producir
condiciones realmente inclusivas en las escuelas públicas.
Las herencias del proceso histó
rico sobre las condiciones de desarrollo del suceso
escolar se sintetizan y explicitan.
Hoy en día, incluso los sectores más conservadores del espectro político
reconocen que los graves problemas sociales extraescolares que interfieren
negativamente en e
l acceso, la trayectoria y el rendimiento de los estudiantes
de familias con bajos ingresos no han sido una prioridad ni en las políticas
públicas ni en la acción de segmentos si
gnificativos de las élites. El “
push
-
pull
”
entre los poderes generales del Imp
erio y los poderes provinciales, la
iniquidad de la esclavitud, la descentralización sin recursos desde el Acta
Adicional, y la perversa distribución de la renta han generado una herencia
que no ha sido superada y que articula factores sociales, étnicos, e
spaciales,
regionales y el acceso, permanencia y rendimiento cualitativo en la escuela
(
CURY
, 2008, p. 217
, traducción nuestra
).
La relación causal entre la pobreza y la educación tiene entendimientos en direcciones
opuestas en los estudios sociales. Hay
planteamientos que entienden que la falta de educación
es la causa de la pobreza y otros que piensan lo contrario. Entendemos que la pobreza y la
falta de educación forman un sistema complejo, intrincado y autosuficiente que genera más
privaciones sociales
y económicas, violencia y otras formas de exclusión.
También en esta dirección, Julião (2009) investiga la asociación empírica entre la
pobreza, las favelas, el desempleo, la migración y la delincuencia, analizando el perfil social
de los autores de delit
os en busca de indicadores de la relación entre pobreza y delincuencia.
En este enfoque analítico, Rambla, Pereira y Espluga (2013) encontraron que las
características personales, familiares y socioeconómicas favorecen o dificultan el acceso al
sistema de
oportunidades educativas en sociedades desiguales, como la brasileña.
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Revista Ibero
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Según Couto (2004), la pobreza es una carencia de bienestar en varias dimensiones
materiales e inmateriales resultante de procesos económicos, sociales, culturales, políticos,
ambiental
es e individuales en los que no se puede alcanzar niveles satisfactorios o incluso
justos para satisfacer las necesidades. Así, se puede percibir que la constitución del derecho
público subjetivo de la educación es insuficiente, aunque una condición necesa
ria para que la
educación promueva el pleno desarrollo de las capacidades individuales.
La garantía de estar
en la escuela puede incluso desencadenar otros fracasos que impidan alcanzar la satisfacción
individual y las condiciones de aprendizaje.
Como comp
onente central de las acciones públicas comprometidas con el desarrollo
social sostenible, la reducción de la pobreza y la desigualdad es una condición esencial para
que el acceso a la educación y los niveles de escolarización puedan configurar acciones de
calidad educativa, en una perspectiva más amplia de atención social.
Retomando la idea inicialmente planteada en este apartado de discutir la inclusión
excluyente, entendemos que es en el fortalecimiento del derecho social, a través de la
integración de
las acciones de política pública social, que se fortalecerá el derecho individual
y se
hará efectivo el derecho social
.
Aspectos metodológicos de la investigación
Presentamos un recorte de un estudio de caso m
últiple realizado en un presidio de
Itabira
, Minas Gerais, con 29 personas brasileñas, hombres, con experiencia de privación de
libertad por motivo de sentencia penal. La tesis de doctorado, disponible en el acervo de la
PUCMinas, recorre aspectos de trayectoria de aprendizaje de los sujetos de la
investigación a
partir de sus informes de memoria sobre los años iniciales de escolarización.
Subsidiariamente, se percibió como se concretizan algunas condiciones que garantizan el
derecho a la educación, de que seguridad social disponen las familias de
los entrevistados para
garantizar el suceso de los años iniciales de la escolarización y como la inclusión educacional
realmente se efectúa. En este marco se pudo percibir si las condiciones de vida favorecían o
no las relaciones entre el alumno y la escue
la.
Las directrices de Yin (2001) sirvieron para la elaboración de investigaciones
empíricas, de enfoque cualitativo, para las que los problemas de investigación formulados
centralmente con las preguntas ¿cómo? o ¿por qué? proporcionan elaboraciones expli
cativas
vinculadas operacionalmente, a lo largo del tiempo, no deben exigir al investigador el control
de los acontecimientos del comportamiento y permiten centrarse en las situaciones
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contemporáneas. También fueron importantes las pautas metodológicas de
la Historia Oral,
según las aportaciones de Verena Alberti (1990; 2006) y Delgado (2006).
En este artículo, presentamos las discusiones sobre los resultados de la fase piloto en
la que se desarrolló una entrevista semiestructurada con un deponente y los de
la segunda fase
de la investigación, cuando se entrevistó a otros 6 sujetos.
La entrevista semiestructurada de la fase piloto ofreció propuestas orientadoras para la
segunda fase de la investigación. La elección de los sujetos siguió el perfil de edad
pre
establecido, personas menores de 29 años. También se observó el perfil de participación en
las clases y algunas otras situaciones
3
.
De la narración del primer entrevistado, P.C. (29 años), surgieron las dimensiones
analíticas de la seguridad alimentaria y
la inclusión. En los contenidos de los demás
entrevistados se buscaron relaciones entre la oferta de acceso y la posibilidad de permanecer
con éxito en las escuelas de educación básica, es decir, entre la inclusión formal que
representa la posición en la e
scuela y la condición de permanencia y éxito.
Los datos se organizaron en una tabla de doble entrada en la que fue posible identificar
el contenido presentado por deponente en cada categoría. Fue posible percibir convergencias
y divergencias en los recuerd
os de los declarantes en los diversos aspectos analizados. La
forma en que cada situación se presentó libremente aclaró el sentido de la interacción entre el
estudiante y la escuela en los primeros años.
Resultados observados
Elementos de la doble reali
dad social atraviesan la realidad educacional en las
narrativas de memorias de
los sujetos de esta investigación. La diferencia se expresa en el
habla de uno de los entrevistados al explicar de dónde su madre, empleada doméstica, traía
recursos para casa:
Porque en esa época la persona trabajaba en una casa de familia, entonces
en cierta forma se convertía en familia, entonces lo que no era bueno para
los jefes, para los hijos de los jefes era bueno para los... empleados, para los
hijos de los empleados.
En cierto modo, ayudaba un poco a suplir las
necesidades
(P.C
.
)
.
Este discurso expresa que la infancia se desarrollaría sin la participación o presencia
continua del padre, de la madre o de ambos, aunque estén físicamente presentes, con un
3
La autorización de la Secretaría de Administración Penitenciaria para realizar la encuesta se realizó en mayo de
2018 y se respondió oficialmente en octubre de 2018.
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acompañamiento
escolar muy débil, en el que los aportes didáctico
-
pedagógicos de la escuela
y de los docentes son menos significativos y presentes que los afectivo
-
sociales y
asistenciales, cuando existieron.
F.G
.
(23 añ
os)
revela la dificultad de la madre para acompaña
rle en el entorno escolar
para explicar la primera desaprobación en los grados iniciales, no recuerda el grado. Sin
embargo, los consejos de la madre representan una apreciación de la escuela, pero el
momento en que la madre es llamada por la escuela denun
cia la distancia de esta relación.
Sólo se llamó a mi madre en el primer problema...
dijo… me dio un
consejo… para prestar la atención… creo que… fue por falta de atención…
[…] mis padres no tienen… estudio, sí?
Terminaron antes del cuarto grado
de grupo…
mis padres trabajan en el servicio rural...
tenía dificultad de
acompañar en la escuela… ellos cobraban… era difícil… mi madre tenía
poco tiempo… dedicaba… a los a trabajos, si? Pero siempre me daba su
opinión a respeto
(F. G.).
Las inmensas dificultade
s de mantener la familia para ofrecer seguridad alimentaria,
vestimenta, vivienda segura y condiciones para todos; ofrecer oportunidades de tratamiento
médico y complementario, transporte para los niños a la escuela, vivir con las presiones de la
sociedad
capitalista y el consumo son las condiciones predominantes en estos sujetos de las
clases sociales menos favorecidas de los brasileños.
Sólo dos entrevistados T.A. (24 años) y R.L. (29 a
ños) no narran situaciones de
dificultades financieras. Para los demás
, la realidad se presenta con inseguridad alimentar,
dificultades materiales, de vestuario, de trasporte hasta la escuela; ellas se describen por J. R.,
E.W., P.C.
y, aunque no sea detalladas, quedan explícitas en el informe de W.H. (29 años):
“yo veía la
dificultad de mi madre”.
A menudo, la acción escolar no se valora por la memoria de la actividad docente o el
proyecto educativo, sino por la asistencia en el ámbito de la seguridad social que debe
provenir de instituciones distintas de la escuela. Uno de
los deponentes habla de esta
diferencia al tratar de lo que es y no es el deber de la escuela, el papel del profesor, frente a las
dificul
tades sociales de los alumnos, “
el profesor no tiene que tener la responsabilidad de lo
que va a comer y vestir [
o
un
alumno del profesor], pero a veces necesitamos tener a alguien
que nos escuche.
”
Esta contradicción revela una realidad a la que están sometidos los alumnos de los
centros públicos de la periferia, de las clases populares, cuyas dificultades sociales y
ec
onómicas amenazan a sabiendas su permanencia y su éxito escolar. La escuela suele pasar
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de las cuestiones de aprendizaje a la acción social que capta el niño, pero no pasa a los
siguientes pasos hacia las exigencias didáctico
-
pedagógicas y la estimulación
del aprendizaje.
En la memoria de nuestros diputados, la escuela o algunos profesores han superado
algunas inseguridades sociales. Para P.C., la inseguridad alimentaria, para E.W., la necesidad
de ropa, y para J.R., la adición de un café reforzado con cada
entrega de plátanos. Si E.W.
agradece, pero critica esta acción asi
stencial, P.C. sólo la valora: “
llegamos a la escuela era
esa expectativa [...] porque eso era una riqueza para nosotros, esa era nuestr
a alegría, los
diferentes menús”
.
Valorar la atenció
n, prestar atención a la preparación de los alimentos, dar afecto y
ofrecer un tipo de acción que acerque el ambiente escolar a la cocina de la casa son aspectos
presentes en los significados de los recuerdos de los años iniciales en la escuela cuando el
c
ontexto de dificultad socioeconómica de la familia del alumno compone la descripción. Los
buenos recuerdos de ser bien tratado, recibir afecto, jugar libremente en el patio, merendar
alimentos sabrosos y diferentes dan el principal significado de lo que se
hacía en la escuela en
lugar de los libros leídos, las historias contadas por el profesor, las películas vistas, las
experiencias, las presentaciones culturales o cualquier otro tipo de actividad relacionada con
el aprendizaje.
Para R.L., T.A., W.H. y E.W
.,
los recuerdos de la niñez en la escuela plantean las
dificultades sociales vividas en casa, la violencia doméstica, los castigos físicos, los
problemas de la dependencia química de alcohol y drogas, la presencia de la policía. Estos
problemas sociales e
n los contextos familiares fueron relatados también por W.H.,
paralelamente a las dificultades económicas. En esos casos, la escuela se mantuvo distante de
las cuestiones actuando solo en los momentos críticos o cuando forzada por el Estatuto del
Niño y de
l Adolescente, como en el caso de T.A. Las dificultades vivenciadas por
R.L., W.H,
e E.W
fueron el enfoque de políticas educacionales de tiempo integral del Ministerio de la
Educación, iniciada en 2004, iniciada en 2004, limitadas por espíritu de inducción
de las
entidades federales, por los pocos recursos financieros en los municipios y por la dificultad de
atender las condiciones técnicas necesaria para la ejecución.
T.A. se enfrenta a la violencia doméstica contra niños y adolescentes en el marco de
los
conflictos provocados por la enfermedad mental. Narra con detalle el uso de los servicios
sanitarios públicos de los CAPS (Centros de Atención Psicosocial) y CAPSI (Centros de
Atención Psicosocial Infantil) y el seguimiento del Consejo Tutelar.
Su entrada
en la escuela es difícil y ocurre mediante acciones legales. Durante la pelea
entre la familia y la escuela
para que tuviera acceso al sistema escolar, el niño participa de
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toda la resistencia de la escuela en aceptarlo. Se nota la falta de preparo de los
profesionales
en cuestión, verificando al volver posible al niño presenciar todos los conflictos
interinstitucionales alrededor de su acceso a la escuela.
La experie
ncia inicial con el proceso de “
inclusión
”
lo marca con el rechazo. No
ocurre lo mismo co
n E.W., que guarda un feliz recuerdo del primer viaje a la escuela. Para
P.C. y W.H., las contradicciones rodean la entrada a la escuela, el miedo y el disgusto de las
actividades escolares se oponen al placer de jugar, jugar a la pelota o merendar.
P.C.
explica cómo las dificultades económicas y sociales dificultan el seguimiento
escolar de la familia
El vado vacío para mí en la escuela era solo en los d
ías de reuniones de
padres, porque mi madre no tenía… ni si ella quisiera ella no podía ir, por
cuenta
de las responsabilidades que eran… así… entonces era aquella
elección (pausa) Yo voy en la reunión de padres, pero ¿por la tarde qué mis
hijos van a comer?
(
P. C.).
La ausencia de un tipo de acompañamiento escolar que favorezca la relación del
alumno con
la escuela y con el aprendizaje, en el caso de los encuestados, no está vinculada a
la falta de percepción de la importancia de la escuela, sino a la dificultad de comprender el
propio mundo escolar, ya que la mayoría de los padres de los entrevistados no
terminó la
escuela primaria. Se observó en los informes que la ausencia de este seguimiento hizo posible
el debilitamiento progresivo de los vínculos entre los entrevistados, sus familias y la escue
la y
el sentido del aprendizaje
.
Consideraciones finale
s
La falta de posibilidad de comprensión del entorno escolar por parte de la familia de
los alumnos puede ser responsable de las resistencias a adherirse al estudio, de las dificultades
de la familia para ayudar a los niños a adaptarse y afrontar los obst
ác
ulos del proceso de
aprendizaje
.
Por otro lado, la incomprensión por parte de la escuela de la compleja situación en la
que viven las familias de las clases populares para disfrutar del derecho individual a la
educación y la falta de un proceso pedagógic
o autoritario vinculado a la aplicación de
políticas educativas que pretendan elevar la calidad de la educación capaz de promover un
proceso de máxima personalización de las trayectorias educativas, también dificulta la
adaptación de los hijos de las clase
s populares a la escuela en los primeros años
.
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Los primeros años de la vida escolar son los que deben sentar las bases del sentido del
aprendizaje, unos cimientos sólidos sobre los que se construye el edificio de la escuela a lo
largo de toda la vida. La c
onstrucción de estas bases requiere algo más que la acción de la
escuela y de las instituciones escolares para que se materialicen las condiciones de acceso,
permanencia y éxito en la escuela, como se pudo comprobar en las historias de vida de los
entr
evis
tados en esta investigación
.
En esta lógica, es importante entender que la capilaridad que necesitamos para que la
política pública educativa llegue a cada aula, en cada lugar, requiere del fortalecimiento de la
autonomía y de la comprensión de los princip
ios y lineamientos definidos por las políticas
públicas educativas, que son en definitiva las formas de asegurar el
logro de los aprendizajes
.
Cuando se trata de definir y asegurar el aprendizaje en las escuelas por parte de los
alumnos, es muy importante
el proceso de participación y discusión amplia que llegue a todos
y promueva la comprensión de la importancia de la participación de la familia con su realidad
social en la formación del proceso educativo.
Tan importante como asegurar las condiciones para
que las familias ofrezcan la
educación como un deber desde la perspectiva del desarrollo de las capacidades y habilidades
individuales y no como una forma de acceso al plan de seguridad social al que todo ciudadano
tiene derecho, independientemente de su s
ituación escolar.
Los procesos de seguridad social, que van desde la seguridad alimentaria hasta el
acceso a los sistemas de salud, el transporte, la vivienda, deben dar lugar a un conjunto de
condiciones previas que garanticen a las familias la capacidad
de pensar en el futuro de sus
hijos.
En los informes que hemos obtenido nos hemos dado cuenta de la fragilidad de la
relación entre la familia y la escuela, porque hay incomprensión por ambas partes. La escuela
no presta atención a las necesidades individu
ales de aprendizaje del niño y del joven, se
preocupa por las calificaciones necesarias para la homologación de un grado por otro, en el
caso de F.G. y J.R., o por cuestiones disciplinarias como P.C. y R.L., o actúa de forma que
suple situaciones de carenc
ia social sin detenerse en las cuestiones por las que realmente se
instituye.
La familia, conflictiva, frágil, necesita ser tan apoyada en sus necesidades más vitales
que no pueda percibir la falta de acompañamiento, ni reconocerse en la posibilidad de
aco
mpañar y satisfacer las necesidades escolares del niño y del joven.
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La metodología de la historia oral pone de manifiesto las singularidades y
subjetividades relevantes cuando se pretende incluir a todos los sujetos en la tesitura de la
historia, involucra
ndo a los que a menudo son olvidados y desatendidos por la sociedad.
En los relatos de hombres que, desde la infancia, han vivido con escasas oportunidades
sociales, se ilustra la lasitud de los resultados de las políticas de protección y avance en la
real
ización de los derechos, cuando no el incumplimiento explícito de la legislación. Así, es
evidente la inclusión excluyente y la dificultad en la realización de políticas de derechos
orientadas a los grupos sociales menos favorecidos, dificultando el desarr
ollo pleno del
proceso educativo.
Aunque existían, las políticas educativas públicas para la realización de los derechos
estaban ausentes en la vida de las familias de estos hombres cuando eran niños. Tenían su
lugar en las escuelas públicas con una cierta
estructura física, pero en condiciones ineficaces,
insuficientes, ineficientes para que la relación entre el niño y la escuela hiciera resaltar el
valor y el sentido del aprendizaje.
Volviendo al aislamiento social del momento actual, ¿la diferencia exper
imentada
entre la escuela pública y la privada no es una situación que sólo refleja estas ineficiencias,
insuficiencias que no consideran la ley educativa en una perspectiva que realmente incluya a
todos los brasileños?
Concluimos entendiendo que los esfue
rzos por comprender los resultados de las
políticas públicas necesitan el discurso de todos los miembros de la sociedad, especialmente
de los directivos. Se trata también de un esfuerzo inclusivo, porque al escuchar los efectos, las
dificultades, los probl
emas, las políticas educativas pueden estar más atentas al proceso de
producción de esta exclusión y apelar a las instituciones que forman a los profesionales de la
educación para la pluralidad de perfiles de los estudiantes con el fin de cumplir con los
p
rincipales propósitos de la educación.
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mo referenciar este
artículo
SANTOS, L. M. R. C.
; CURY, C. R. J
.
Narrativas de prisioneros sobre el inicio de la vida
escolar
.
Revista Ibero
-
Americana de Estudos em Educação
,
Araraquara, v. 16, n. 1, p.
258
-
275
, jan./mar. 202
1
. e
-
ISSN: 1982
-
5587.
DOI:
https://doi.org/10.21723/riaee.v16i1.14064
Enviado
e
l
:
03/08/2020
Revisiones
requeridas:
30/09/2020
Aprobado el
:
20/11/2020
Publicado el
:
02/01/2021