image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531114GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO DE JOVENS EM MATERIAIS DIDÁTICOS BRASILEIROSGÉNERO, SEXUALIDAD Y EDUCACIÓN DE LOS JÓVENES EN MATERIALES DIDÁCTICOS AUDIOVISUALES BRASILEÑOSGENDER, SEXUALITY AND YOUTH EDUCATION IN BRAZILIAN AUDIOVISUAL TEACHING MATERIALSTaluana Laiz Martins TORRES1RESUMO: O estudo indaga como se traduzem os conceitos de gênero e sexualidade em projetos de educação direcionados aos jovens. Dois vídeos formaram o corpus documental da investigação: Minha vida de João e Era uma vez outra Maria, ambos produzidos por Organizações Não Governamentais. Realizamos trabalhos de descrição dos vídeos, análise de conteúdo, assim como das imagens, acompanhados de entrevistas com seus produtores. Os resultados revelaram que os materiais podem ser considerados como dispositivos de biopolítica, pois estabelecem um currículo “politicamente correto”, apresentando uma forma ideal de viver a sexualidade na juventude. Concluímos que os vídeos são prescritivos e restringem uma reflexão mais profunda acerca do tema, limitando possibilidades de mudança ou ruptura em relação aos modelos mais tradicionais de gênero e sexualidade. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Educação sexual. Jovem. Materiais didáticos. RESUMEN: El estudio indaga cómo se traducen los conceptos de género y sexualidad en proyectos de educación orientados a la juventud. Dos vídeos han formado el corpus documental de la investigación: Minha vida de João y Era uma vez outra Maria, ambos producidos por Organizaciones No Gubernamentales. Realizamos trabajos de descripción de video, análisis de contenido, así como de imágenes, acompañados de entrevistas con sus productores. Los resultados desvelaron que los materiales actúan como un dispositivo de la biopolítica, puesto que establecen un currículo "políticamente correcto", presentando una forma ideal de vivir la sexualidad en la juventud. Concluimos que los vídeos son prescriptivos y restringen una reflexión más profunda sobre el tema, limitando las posibilidades de cambio o ruptura en relación con los modelos más tradicionales de género y sexualidad.PALABRAS CLAVE: Educación. Educación sexual. Joven. Materiales didácticos.ABSTRACT:The study inquires how the concepts of gender and sexuality are translated into education projects aimed at young people. Two videos formed the documentary corpus of the investigation: Minha vida de João and Era uma vez outra Maria, both produced by Non-Governmental Organizations. We carried out works of video description, content analysis as 1Universidade de São Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Professora colaboradora. Pós-Doutoranda da Faculdade de Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8427-1216. E-mail: ttaluana@hotmail.com
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531115well as images, and interviews with their producers. The results revealed that the materials act as a biopolitical device, since they establish a "politically correct" curriculum, presenting an ideal way of living sexuality in youth. We concluded that the videos are prescriptive and restrict a deeper reflection, limiting possibilities of change or rupture in relation to more traditional models of gender and sexuality.KEYWORDS:Education. Sexuality education. Youth. Teaching materials.IntroduçãoNo Brasil, as discussões a respeito da sexualidade dos jovens inicialmente foram formuladas e concentradas na área da saúde. Essa temática adentra a educação a partir de políticas públicas voltadas à educação sexual e, mais tarde, amplifica-se com o avanço das propostas de direitos humanos. No ano de 1997, a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para o ensino fundamental constituiu-se como um importante marco para tais políticas. Vianna (2010) salienta que um dos avanços do documento foi incluir a discussão de gênero nas referências para formação de professores/as, pois: “apesar das críticas, os PCNs inovaram ao introduzir a perspectiva de gênero como uma dimensão importante da constituição da identidade de crianças e de jovens e de organização das relações sociais” (VIANNA, 2011, p. 181). É necessário esclarecer que o conceito de gênero se entende como “um dos elementos constitutivos das relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos” (SCOTT, 2002, p. 14), que se utiliza como uma categoria de análise dos processos sociais, considerando sobretudo como as relações de poder estão presentes dentro dessas relações, construindo identidades de gênero que não são fixas, porque variam de acordo com sua intersecção com outros marcadores como raça, geração, religião, classe social etc. Assim, com a publicação do tema transversal intitulado Orientação sexual, um dos dez temas que formam parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os órgãos públicos federais lançaram diversos editais com o objetivo de promover projetos de formação continuada de professores e professoras. Tanto Universidades como Organizações Não-Governamentais (ONGs) começaram a desenvolver trabalhos de capacitação docente sobre as temáticas de sexualidade e gênero, produzindo materiais didáticos para apoiar suas ações. Diversas ONGs se tornaram referência na elaboração de recursos educativos sobre sexualidade, de modo que suas produções foram
image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531116adotadas por redes de educação pública e também indicadas pelo Ministério da Educação e da Saúde para o trabalho com jovens. As aprendizagens desta iniciativa de formação para trabalhar sobre gênero e sexualidade foram cada vez mais usadas por docentes nas escolas. Porém, houve resistência de alguns grupos religiosos e conservadores, que ganharam espaço na sociedade brasileira e na América Latina, em geral. Esses grupos pressionaram o governo e elaboraram propostas políticas com vistas a evitar a aplicação prática desses trabalhos (LAGO et al., 2019). Atualmente, as Universidades e as escolas públicas brasileiras vivem uma situação de repressão e censura do trabalho dos professores e professoras e do currículo escolar. Os grupos autodenominados “defensores da família” se organizam para restringir qualquer possibilidade de discussão sobre gênero e sexualidade nas escolas (BRAGA; CAETANO; RIBEIRO, 2018). Nesse contexto, a crescente força dos grupos religiosos, especialmente os pentecostais, que ocupam cada vez mais cadeiras nas câmaras legislativas, estão influenciando e redefinindo políticas públicas de acordo com suas agendas religiosas (RIBEIRO; MONTEIRO, 2019). Ademais, vão contra os princípios da laicidade do Estado e provocam discussões sobre as consequências desta participação e seus reflexos sobre a política de expansão dos direitos humanos. O Brasil é um país onde a discriminação por gênero e orientação sexual provoca altas taxas de assassinatos por homofobia (GRUPO GAY DA BAHIA, 2017) e violência contra a mulher. Por isso, a eliminação de toda e qualquer menção da palavra gênero no Plano Nacional de Educação e da Base Nacional Comum Curricular documentos oficiais que orientam a educação brasileira foi outro retrocesso das políticas educativas (SOARES; MONTEIRO, 2019). Apesar disso, também foram produzidas estratégias de resistência e mudança. É urgente uma (re)construção de espaços de reflexão e participação para dar continuidade a um projeto educativo e social em que se garantam os direitos relacionados com a equidade de classe, gênero, sexualidade e raça. Como parte desse processo, o coletivo educativo continua realizando pesquisas, aplicando seus resultados e publicando estudos que fomentam ações democráticas sobre gênero e sexualidade nas escolas. Assim, os resultados da investigação que aqui se apresentam são vigentes no contexto atual. Destacamos, nesse sentido, o que salienta Brown (2011): nos último vinte anos houve uma multiplicação e expansão de discursos sobre os direitos sexuais, reprodutivos e de gênero. Entretanto, entendemos que o nó central não está nos discursos e sim em como comunicá-los para promover a apropriação
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531117subjetiva desses direitos, especialmente entre grupos mais vulneráveis. A educação é, sem dúvidas, um dos espaços de discussão e formação nos quais se faz possível a apropriação e ressignificação do conhecimento teórico sobre gênero e sexualidade. Nesse contexto, as produções didáticas audiovisuais sobre o tema de sexualidade e gênero, produzidas por ONGs, configuram-se como um artefato pedagógico-visual relevante a ser estudado, sendo um material importante de apoio para docentes brasileiros que trabalham com jovens. Assim, esse artigo que tem origem em uma tese de doutorado analisa como foram abordados os conceitos de sexualidade e gênero em dois dos quatro vídeos que formaram parte da pesquisa. Minha vida de João2e Era uma vez outra Maria3serão os dois audiovisuais analisados no presente artigo, ambos produzidos pela ONG brasileira ECOS Comunicação em Sexualidade, em colaboração com instituições de outros países. A ECOS possui experiência relevante no desenvolvimento de projetos educativos referentes aos temas de gênero e sexualidade de jovens. Portanto, a pergunta que fazemos é: como se traduzem os conceitos de gênero e sexualidade nos projetos educativos voltados aos jovens? Uma hipótese possível é que, apesar dos discursos sobre direitos se anunciarem como orientadores de projetos sobre sexualidade, na prática as narrativas continuam sendo guiadas segundo a noção de desvio da sexualidade juvenil e subordinada a práticas de regulação e controle. Para examinar essa hipótese analisamos os materiais didáticos que foram produzidos pela Organização Não-Governamental ECOS. Foram analisadas as formas que esses suportes didáticos elaboraram, traduziram e dirigiram os discursos sobre sexualidade e gênero aos jovens. MétodoA pesquisa, de natureza qualitativa, tem por finalidade compreender a realidade social mediante a análise de dados aprofundada. Segundo Esteban (2010), entre as diversas características que identificam a investigação qualitativa, é fundamental seu caráter interpretativo e reflexivo, que permite dar uma atenção especial à “[...] forma em que os diferentes elementos linguísticos, sociais, culturais, políticos e teóricos influenciam conjuntamente no processo de desenvolvimento do conhecimento (interpretação), na linguagem e na narrativa” (ESTEBAN, 2010, p. 130).2Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gMatcineJi8. Acesso em: 10 jan. 2022. 3Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=mtQvIgWyjqA. Acesso em: 10 jan. 2022.
image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531118Assim, a perspectiva sócio-histórica e cultural de Bakhtin (1990) e seus conceitos de dialogismo, intertextualidade e interdiscursividade ofereceram o marco teórico para a análise de: 1) enunciados visuais e narrativas textuais dos vídeos; 2) suporte técnico e recursos utilizados e 3) entrevistas com autores responsáveis pela elaboração dos vídeos. Em síntese, se tratou de analisar os audiovisuais e seus respectivos manuais4para identificar as propostas educativas e o tipo de juventude que se pretende educar. Para Bakthin (1990), os pontos em que os discursos se cruzam e se interpenetram podem ser entendidos como os centros organizadores dos enunciados, os quais devem ser remetidos ao meio social. Esse processo de construção e apropriação de significados presentes em cada realidade sócio-histórica particular comporta variadas dimensões, entre elas destacam-se as relações de saber e poder que ocorrem em termos de disputas pela construção de significados considerados legítimos entre diferentes grupos e instituições. Para realização das análises procedemos à transcrição dos dois vídeos selecionados. De acordo com Rose (2008, p. 348), “[...] o propósito da transcrição é gerar um conjunto de dados que se prestem a uma análise e codificação cuidadosos”. Para tanto, a descrição realizada centrou-se nas formas como as temáticas de gênero e sexualidade apareceram nos materiais. Além das transcrições, também foram registrados os silêncios, as pausas, o uso da música, os sons, os efeitos sonoros e os significados desses elementos. Foi dada especial atenção aos aspectos visuais das personagens, às roupas, cores utilizadas, entre outros. As análises dos audiovisuais foram orientadas pelo enfoque dos Estudos da Cultura Visual, compreendendo a“[...] imagem visual como ponto central nos processos e através do qual os significados são produzidos em contextos culturais” (HERNÁNDEZ, 2009, p. 21). Partimos do entendimento das imagens e outras representações visuais como portadoras e mediadoras de posições discursivas que contribuem para pensar o mundo e a nos pensar como sujeitos. Pretendeu-se, nas análises, verificar as relações entre os ditos e não ditos, colocando em relação as imagens dos vídeos entre si, bem como com outras que formam parte da cultura, com o objetivo de compor uma narrativa visual que produza outros significados e entendimentos acerca dos marcadores de gênero e sexualidade dos jovens. Mieke Ball (2004) explica que a análise crítica do visual consiste em criar maneiras de estabelecer relações entre imagens, construindo significados. Nesse sentido, a autora salienta que a indagação de como 4Vale ressaltar que o foco da análise são os audiovisuais didáticos, entretanto, os manuais (materiais que acompanham os vídeos, com orientações didáticas para docentes) foram utilizados para identificar as referências que os produtores das ONGs fazem às propostas pedagógicas adotadas, complementando as análises.
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531119essas imagens reverberam permite o estabelecimento de relações acerca do saber e poder presentes em determinados contextos. Para o aperfeiçoamento das análises realizamos entrevistas semiestruturadas com os responsáveis pela elaboração dos vídeos selecionados, com objetivo de compreender: a) os propósitos, interesses e necessidades que justificaram sua elaboração; b) o trabalho que implicou a sua produção e c) os caminhos utilizados para colocá-los em circulação. As entrevistas com os fundadores/coordenadores da ONG brasileira foram realizadas em setembro de 2012, na cidade de São Paulo (Brasil), e duraram aproximadamente uma hora e meia. A técnica da entrevista semiestruturada consiste na aplicação de perguntas abertas, que seguem um esquema preestabelecido, mas que estão sujeitas a adaptações de acordo com os rumos da entrevista. Para tanto, foi adotado o método de triangulação de dados de Minayo (1999), a partir da análise de três fontes diferentes: materiais audiovisuais, manuais (que acompanham os vídeos) e entrevistas com os responsáveis pela produção audiovisual. Desse modo, foram selecionadas partes dos vídeos que estavam diretamente relacionadas aos temas de interesse da pesquisa para tomá-las como emblemáticas para problematização dos conteúdos trabalhados e com vistas a verificar as argumentações desenvolvidas. ResultadosSendo a educação um dos espaços privilegiados conquanto não o único na formação dos jovens, no que diz respeito aos seus direitos, questionamos que tipo de formação está sendo oferecida a esses sujeitos, quanto aos temas da sexualidade e gênero. Como já foi dito, partimos da análise de dois suportes didáticos audiovisuais nos quais as narrativas envolvem a sexualidade juvenil e as relações de gênero. O vídeo Minha vida de Joãofoi produzido em 2006 e possui 23 minutos de duração. A narrativa apresentada tem como foco a questão da masculinidade e das relações de gênero, além dos conflitos de João para exercer papéis que lhes são exigidos. A descoberta da gravidez e o tema da paternidade estão presentes no decorrer da animação. Trata-se de uma história linear, que se inicia com João ainda bebê e a construção de sua masculinidade por meio de situações vividas da infância até a juventude, quando tem que lidar com a questão da gravidez.
image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531120O segundo vídeo, Era uma vez outra Maria, de 2008, tem duração aproximada de 20 minutos. Este vídeo explica a história de Maria, a garota que aparece no primeiro vídeo como namorada de João. A fundação MacArthur, Ford Fundation, Nike Fundation, OAK Fundation, John Snow Brasil e Secretaria Especial de Políticas para as mulheres, do governo federal brasileiro, colaboraram com apoio técnico e financeiro para a elaboração da animação.A narrativa de Era uma vez outra Marianão é linear, de modo que a história, em alguns momentos, avança ou retrocede, pois apesar do foco ser o presente, ele é intercalado com cenas do passado e futuro da jovem. Ambos são vídeos de animação e, embora possam ser trabalhados separadamente, são complementares. É possível afirmar que eles se completam, pois as problemáticas centrais dos enredos são as relações de gênero e uma gravidez não planejada vivida pelo casal de jovens, João e Maria. Dessa maneira, as questões da paternidade e maternidade são contadas a partir da perspectiva dos dois personagens: em Minha vida de João, a narrativa é organizada sob a ótica do garoto, enquanto Era uma vez outra Maria, a mesma trama é construída a partir da perspectiva da garota. Conforme uma das produtoras, os audiovisuais são voltados para educadores/as, professores/as e profissionais de saúde, assim como para serem utilizados por esses como ferramenta pedagógica para o trabalho com os estudantes. Isso implica considerar que os jovens também são destinatários de tais vídeos, que devem ser mediados pelos/as educadores/as. De acordo com os depoimentos colhidos em entrevistas, a opção por utilizar a animação surgiu da necessidade de produzir um vídeo sem marcas regionais e que não utilizasse falas, apenas imagens e sons, já que duas instituições que participaram da produção, a Salud y Género(México) e a World Education(Estados Unidos), eram estrangeiras. Os vídeos, portanto, deveriam adotar uma linguagem que fosse mais abrangente, a ser compreendida em países de língua portuguesa, inglesa e espanhola. Visto que a animação utiliza uma linguagem não verbal, as expressões dos personagens, os efeitos sonoros e imagens são os principais elementos que permitem compreender o enredo apresentado. As falas são substituídas por ruídos e balões de pensamento com imagens e símbolos que denotam o significado do que está sendo conversado ou pensado. Ressaltamos que a utilização de balões de fala e pensamentos são recursos amplamente utilizados nas histórias em quadrinhos. Em entrevista, uma das produtoras destaca o interesse do público jovem por desenhos animados, de forma que os vídeos foram bem aceitos, circulando inclusive em países africanos de língua portuguesa, como Moçambique e Angola.
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531121A música é um recurso utilizado para que os personagens informem seus sentimentos, crises, desejos, decisões, além indicar o clima de determinadas cenas: suspense, tensão, confusão, felicidade, satisfação etc. As ideias de juventude, gênero e sexualidade que traduzem são verificadas com base na análise dos cenários sociais e culturais apresentados nos vídeos e com atenção para a oposição entre as práticas explícitas ou implícitas, recomendadas ou criticadas, destacadas ou omitidas. Gênero, sexualidade e juventudeNo interior dos audiovisuais didáticos analisados existe uma tensão que envolve modelos de representação da juventude, pois, embora possamos observar uma tentativa de retratar a diversidade de modelos culturais e formas de ser jovem, quando lançamos um olhar mais atento aos protagonistas das histórias, constatamos uma padronização tanto nos modelos de beleza elegidos como nos aspectos ligados à constituição física, classe social, raça e arranjos familiares nos quais os jovens estão inseridos. Tais representações tendem a uma uniformização do que é ser jovem, na sociedade brasileira, ainda que existam estratégias capazes de romper com esses padrões construídos. Com relação ao aspecto da socialização e práticas culturais, é interessante notar como marcadores de gênero estão presentes nas representações dos grupos juvenis, contidas nos audiovisuais. Exclusivamente, os meninos têm amigos homens e as meninas, amigas mulheres. Em Minha vida de João,os amigos do protagonista são mostrados como violentos e agressivos e se reúnem nas ruas e bares. Em contraposição, João é sensível, romântico e sonhador. No vídeo Era uma vez outra Maria, as amigas das protagonistas são companheiras e confidentes e circulam pelos espaços da escola, festas, atividades esportivas e no interior da família. Um dos poucos espaços onde existe maior interação entre meninos e meninas são as festas, local utilizado para encontros amorosos. Ainda que representações mais tradicionais sobre convenções de gênero orientem boa parte das práticas dos grupos juvenis (meninas são representadas como mais afetuosas e meninos como mais agressivos), quando os jovens são mostrados em suas particularidades, há um investimento no sentido de romper e contestar essas representações mais convencionais. Os protagonistas dos vídeos Minha vida de Joãoe Era uma vez outra Maria, em certa medida, rompem com os significados atribuídos ao que é ser homem e mulher, revelando como as identidades de gênero são maleáveis e variam de acordo com o contexto histórico, social e relacional.
image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531122Louro (1999) ressalta a necessidade de problematizar não apenas a oposição, que leva a pensamentos binários acerca do gênero, assim como a unidade interna de cada um desses polos, revelando como eles são fragmentados, divididos, e evidenciando a pluralidade de formas de ser mulher e de ser homem em nossa sociedade. Em Minha vida de João, a identidade do protagonista é construída na inter-relação com os modelos de masculinidade de seus amigos e de seu pai (além de outros modelos com que João se depara na rua), e que são ancorados na violência, na beleza, no poder, liderança e riqueza. Apesar disso, João demonstra ser sensível e romântico, preocupando-se com o bem-estar dos que estão a sua volta, contudo, seus pares zelam pela manutenção da masculinidade hegemônica do protagonista, exercendo pressão para que ele se “enquadre” na norma valorizada pelo grupo, ou seja, a aprendizagem de gênero é atribuída e reforçada pelos amigos. João também imita comportamentos violentos e agressivos que aprende com o pai e com seus amigos, embora demonstre arrependimento nas cenas em que age dessa maneira. Nesse caso, a intenção de mostrar que a agressividade é aprendida durante a socialização do jovem desde a infância é uma forma de visibilizar o quanto esse comportamento foi alimentado e estimulado socialmente. Na tentativa de não ser ridicularizado pelos colegas, João se adequa temporariamente a esses papéis violentos quando está com o grupo, mas nos momentos em que é retratado sozinho, ele adota atitudes de cuidado e afeto. Em Era uma vez outra Maria, a protagonista também resiste aos papéis que lhe são atribuídos, mas, nesse caso, quem exerce maior pressão sobre a garota é sua família, especialmente a mãe e a irmã, as quais cobram de Maria sua participação nos serviços domésticos, além de outros comportamentos de acordo com modelos de feminilidade valorizados na sociedade brasileira, como sentar-se com as pernas fechadas, brincar de boneca, entre outros. Alguns comportamentos e preferências de Maria rompem, em certa medida, com aqueles considerados mais aceitos em nossa sociedade, visto que ela gosta de jogar futebol e prefere brincadeiras mais ativas, que envolvem corrida e jogos com bola; entretanto, essas atitudes são sempre tolhidas por um lápis (que representa a norma) ou por sua mãe. Já as características psicológicas da garota se adequam aos atributos de uma feminilidade valorizada socialmente: ela é romântica e vaidosa. Se, por um lado, a personagem de Maria é constituída através de um modelo de feminilidade mais valorizado socialmente, rompendo, apenas em alguns momentos, com esse padrão, João evidencia, mais fortemente, um tipo de identidade heterossexual não dominante, tendo em vista que suas atitudes e comportamentos rompem com os modelos mais tradicionais, atribuídos aos homens, em nossa sociedade, demonstrando inter-relações em que o masculino contém
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531123elementos do feminino e vice-versa (POLICARPO, 2016). No campo dos relacionamentos afetivos e sexuais, esses personagens não empregam uma atitude de cuidado de si e do outro, sendo retratados como sexualmente vulneráveis, de modo que uma gravidez não planejada acontece. Em Era uma vez outra Maria, há o questionamento, por parte da protagonista, da divisão desigual do trabalho em sua própria casa; entretanto, quando as atribuições referentes à maternidade e à paternidade são retratadas, há uma clara sobrecarga da mãe nos cuidados com o filho. No desfecho da história, é interessante notar que, de forma implícita, todos os questionamentos de Maria em torno das desigualdades com relação ao trabalho doméstico, vividas em sua casa, são postas de lado, tendo em vista que, na cena final, quando João busca o filho para passear, é possível perceber que o garoto está com uma bola, ou seja, um brinquedo associado como exclusivo de meninos. Desse modo, caberia o questionamento do porquê das reivindicações de Maria, diante dessas desigualdades, não se traduzem em uma educação diferente para seu filho, posto que a criança aparece sendo subjetivada, novamente, para reproduzir os padrões hegemônicos de masculinidade. Nesse sentido, a ideia é a de que o círculo vicioso não é e nem será interrompido, de modo que não se visibilizam potencialidades de mudança nesse esquema rígido. Em contrapartida, embora o modelo de paternidade retratado pelo audiovisual reproduza as desigualdades com relação aos cuidados dos filhos, nos manuais comparecem discussões acerca da importância de os homens se envolverem nesses cuidados. No manual Trabalhando com homens jovens, que acompanha o vídeo, há um módulo intitulado “Paternidade e cuidado”, que apresenta “discussões em torno da questão da participação dos homens no contexto do cuidado, tendo como foco principal os processos de socialização para a masculinidade, a partir do enfoque de gênero” (ALIANÇA H, 2009, p. 86). É evidente a tensão existente entre o vídeo Minha vida de Joãoe seu respectivo manual. Uma explicação plausível para essa distância é a data de produção dos materiais, pois o vídeo é de 2006, enquanto o manual é de 2009, ou seja, os materiais didáticos não foram elaborados articuladamente. No Brasil, esse esquema desigual, que diz respeito à questão da parentalidade, também é traduzido nas políticas públicas, pois o direito à licença de trabalho, quando o filho nasce, é concedido às mães (120 ou 180 dias), sendo que o direito à licença paternidade se restringe a cinco dias. Juridicamente, paternidade e maternidade são tratadas de formas distintas. Assim, Vianna e Lacerda (2004, p. 116) assinalam que um dilema apontado, em distintas áreas na discussão dos direitos sexuais e reprodutivos, é a “relativa invisibilidade dos homens”; apesar
image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531124do maior interesse nos estudos de masculinidades, evidenciados em seminários e publicações no país, isso não tem se traduzido em formulações políticas específicas. Nesse sentido, Correa e Petchesky (1996) ressaltam as relações de poder que operam nas fronteiras de gênero e dizem respeito a normas culturais que produzem desigualdades sociais no âmbito da sexualidade e da reprodução, de modo que “essa desigualdade de poder inclui os sistemas sociais que não fornecem incentivos econômicos ou educacionais para que os homens se envolvam na criação dos filhos” (CORREA; PETCHESKY, 1996, p. 166). Portanto, podemos inferir que essas desigualdades em torno da maternidade e paternidade são retratadas de forma naturalizada nos audiovisuais didáticos e não são questionadas, problematizadas ou tensionadas. Mais ainda, a opção por apresentar outros tipos de vivência da maternidade e paternidade não seria uma forma de potencializar a discussão a respeito de direitos e deveres em torno desses temas? Dessa maneira, os vídeos pouco apontam para uma perspectiva de mudança acerca de maior igualdade de direitos e deveres, pois acabam reforçando a ideia de que, enquanto os elementos que envolvem a reprodução forem compreendidos e retratados como de responsabilidade das mulheres, as possibilidades de transformação serão limitadas e parciais. Ávila (2003) ressalta a necessidade de alterar o modelo hegemônico da reprodução e “[...] buscar uma sociabilidade na qual o sentido da paternidade e o da maternidade sejam completamente transformados, levando a uma divisão sexual igualitária do trabalho no âmbito doméstico e em particular nas tarefas de cuidar das crianças” (ÁVILA, 2003, p.467).Considerações finaisConcluímos que a hipótese formulada no estudo foi confirmada, tendo em vista que, segundo os conteúdos dos vídeos, as formas de viver a sexualidade nessa etapa da vida são bastante prescritivas, já que os jovens são retratados, nos audiovisuais, como dependentes e irresponsáveis, uma perspectiva que restringe as potencialidades de mudanças ou rupturas com relação aos modelos mais tradicionais de gênero e sexualidade, revelando os limites impostos na produção de novos saberes e restringindo uma reflexão mais aprofundada sobre a sexualidade deste grupo. Podemos inferir que tais materiais atuam como um dispositivo de biopolítica, na medida em que estabelecem um currículo “politicamente correto”, apresentando uma forma ideal de viver a sexualidade na juventude, através de seu antimodelo: há um investimento em realçar o que não deve ser feito e as consequências negativas do desrespeito às normas desse modelo
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531125ideal, o que supõe o que seria o “bem viver” para essa geração. Todavia, a repetição desses modelos que se apresentam como “bons para todos” acaba por restringir a liberdade de escolha individual, enclausurando as possibilidades de vivência de uma sexualidade autônoma e reflexiva pelos jovens (HELLER; FEHER, 1995). De acordo com os autores, o discurso biopolítico substitui a pluralidade pela identidade, a opinião pela “verdade”, demarcando a existência de uma única perspectiva “politicamente correta”, que visa à coesão e à unidade do grupo, supondo que todos os jovens podem ser orientados da mesma maneira, pois têm os mesmos comportamentos, tipos de relacionamentos, família, sentimentos, desejos. Essa tentativa de homogeneização do grupo está, para Heller e Feher (1995), “sobrecarregada ideologicamente”, porque suprime as diferenças dentro do próprio grupo. Se partimos do entendimento de que a educação é um dos espaços capazes de questionar representações, é possível indagar o porquê de tais audiovisuais perderem a oportunidade de gerar relatos alternativos que possibilitem expandir o sentido e os significados referentes ao gênero e à cultura juvenil em nossa sociedade. Sorj (2009) argumenta que esses papéis sociais cristalizados pouco são questionados, uma vez que existem interesses em sua manutenção. Concordamos com a pesquisadora na medida em que existem interesses muito claros na manutenção desses lugares consagrados, entretanto é evidente que as profundas transformações produzidas nas relações de gênero e sexualidade estão provocando diversas mudanças sociais. Visibilizar essas transformações é uma questão política que merece ser explorada para que tanto homens como mulheres percebam que a maior democratização nesses espaços abre potencialidades novas para ambos. Dessa maneira, os valores como a justiça, responsabilidade e respeito mútuo seriam um dos motores para a implicação dos homens com essas mudanças (BONINO, 2011). Assim, como Trafí-Prates (2014) salienta, contar histórias também pode significar ‘mudar a conversação’, ou seja, colocar emcirculação outras narrativas sobre formas de conhecer que valem a pena porque reativam e ampliam a esfera pública e/ou privada. Como podemos observar, os audiovisuais que são utilizados para educar jovens e formar professores/as limitam-se a reproduzir papéis sociais já consagrados em torno dos cuidados com os filhos e dos serviços domésticos, que mostram um tipo de organização social bastante demarcada e que, no limite, parece estreitar a construção de espaços de resistência ou qualquer tentativa de democratização das relações que envolvem homens e mulheres nos espaços privados.
image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531126Sem dúvidas é necessário valorizar o interesse dessas ONGs em promover o debate sobre a sexualidade e gênero na educação formal. É fundamental capacitar educadores/as para que trabalhem com esses audiovisuais a fim de que possam fomentar debates que questionem esses estereótipos e modelos presentes nas narrativas. Assim, uma educação sexual orientada pelos preceitos dos direitos humanos que se baseia no exame de questões e temas da sexualidade e gênero para problematizá-los, tensioná-los, questioná-los, no sentido de gerar debates e troca de ideias, colocando em circulação os diversos posicionamentos sobre eles, suas potencialidades e seus limites, poderá ser um caminho profícuo para que cada sujeito possa refletir e analisar sua própria realidade e tomar as decisões mais condizentes com seus desejos, práticas e projetos de vida, quer dizer, uma perspectiva mais comprometida com os direitos do que com as prescrições. AGRADECIMENTOS: A pesquisa de doutorado, que deu origem a este artigo, foi financiada pela FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a qual agradeço publicamente. REFERÊNCIASALIANÇA, H. Série trabalhando com homens jovens. Promundo; Salud y Género; ECOS; Instituto PAPAI. Rio de Janeiro: Promundo, 2009. ÁVILA, M. B. Direitos sexuais e reprodutivos: desafios para as políticas de saúde. Cad.Saúde Pública, v. 19, sup. 2, p. 465-469, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/q9MctdsGhp3QSKspjfPt5Rx/?lang=pt. Acesso em: 10 mar. 2021. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem:problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1990. BALL, M. El esencialismo visual y el objeto de los estudios visuales. Journal of Visual Culture, v. 2, n. 1, p. 5-32, abr. 2003. DOI: 10.1177/147041290300200101. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/147041290300200101. Acesso em: 10 mar. 2021. BONINO, L. Los varones hacia la paridad en lo doméstico: discursos sociales y prácticas masculinas. In:SÁNCHEZ-PALENCIA, C.; HIDALGO, J.C. (Ed.). Masculino plural:Construcciones de la masculinidad. Lérida: Edicions de la Universitat de Lleida, 2011. BRAGA, K.; CAETANO, M.; RIBEIRO, A. A educação e o seu investimento heteronormativo curricular. Momento - Diálogos em Educação, Rio Grande, v. 27, n. 3, p.12-29, 2019. DOI: 10.14295/momento.v27i3.8348. Disponível em: https://periodicos.furg.br/momento/article/view/8348. Acesso em: 20 set. 2021.
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531127BROWN, J. L. Derechos sexuales y reproductivos: teoría, política y espacio público. Buenos Aires: Teseo, 2011. CORRÊA, S.; PETCHESKY, R. Direitos sexuais e reprodutivos: uma perspectiva feminista.Physis, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1-2, p.147-177, 1996. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/K7L76NSSqymrLxfsPz8y87F/abstract/?lang=pt. Acesso em: 20 out. 2021. ERA UMA VEZ OUTRA MARIA. Produção: Jah Comunicações. Realização: Projeto M. São Paulo: Projeto M, 2008. 1 DVD (20 min.) DVD, son., color. ESTEBAN, M.P.S. Pesquisa qualitativa em educação:fundamentos e tradições. Porto Alegre: AMGH, 2010. GRUPO GAY DA BAHIA. Relatório mortes violentas de LGBT no Brasil. 2017. Disponível em: https://homofobiamata.files.wordpress. com/2017/12/relatorio-2081.pdf. Acesso em: 11 out. 2020. HELLER, A.; FEHER, F. Biopolítica:la modernidad y la liberación del cuerpo. Barcelona: Península, 1995. HERNÁNDEZ, F. Catadores da cultura visual: proposta para uma nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2009. LAGO, M. C. S. et al.Difícil falar do agora. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 2, p. 1-6, jun. 2019. DOI: 1590/1806-9584-2019v27n265596. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/hBRWhYsVjRQVDnHshFHK34v/?lang=pt. Acesso em: 10 abr. 2021. LOURO, G. L. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1999. MINHA VIDA DE JOÃO. Produção: Jah Comunicações. Realização: Projeto H. São Paulo: Projeto H, 2006. 1 DVD (23 min.) DVD, son., color. POLICARPO, V. M. N. M. Para lá da heteronorma: subjetivação e construção da identidade sexual. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 24, n. 2, p. 541-562, ago. 2016. DOI: 10.1590/1805-9584-2016v24n2p541. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/cdjZmNfJ7VBjRnq5ryN5Xmf/abstract/?lang=pt. Acesso em: 10 out. 2021. RIBEIRO, P. R. M.; MONTEIRO, S. A. S. Dossiê: Avanços e retrocessos da educação sexual no Brasil: apontamentos a partir da eleição presidencial de 2018. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. esp. 2, p. 1254-1264, jul. 2019. DOI: 10.21723/riaee.v14iesp.2.12701. Disponível em:
image/svg+xmlGênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileirosRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531128https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12701/8337. Acesso em: 05 out. 2021. ROSE, D. Análise de imagens em movimento. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som:um manual prático. 7. ed. Tradução Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2008. SCOTT, J. W. Relendo a história do feminismo. In: SCOTT, J. W. A cidadã paradoxal: as feministas e os direitos do homem. Tradução Elvio A. Funck. Florianópolis: Mulheres, 2002. SOARES, Z. P.; MONTEIRO, S. S. Formação de professores/as em gênero e sexualidade: possibilidades e desafios. Educar em Revista, Curitiba, - SP - v.35, n.73, p.287-305, fev. 2019. DOI: 10.1590/0104-4060.61432. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/KMSmJfk43rKWcRNHWHfWsfC/?lang=pt. Acesso em: 10 out. 2021. SORJ, B. Trabalho remunerado e trabalho não remunerado. In: VENTURI, G.; RECAMAN, M.; OLIVEIRA, S. (org.). A mulher brasileira nos espaços público e privado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. TRAFÍ-PRATS, L. Para una formación del profesorado basada en el cosmopolitismo: curriculum derivativo y posibilidades de exploración indirecta de la subjetividad. In: OLIVEIRA, M.; HERNÁNDEZ, F. (org.). A formação do professor e o ensino das artes visuais. Santa Maria: UFSM, 2014. VIANNA, A.; LACERDA, P. Direitos e políticas sociais no Brasil: mapeamento e diagnóstico. Rio de Janeiro: CEPESC, 2004. VIANNA, C. P. Estudos sobre gênero, sexualidade e políticas públicas de educação:as ações coletivas aos planos e programas federais. 2011. 253 p. Tese (Livre Docência) Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo: 2011. Como referenciar este artigoTORRES, T. L. M. Gênero, sexualidade e educação de jovens em materiais didáticos brasileiros. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14553 Submetido em: 23/12/2020 Revisões requeridas em: 02/01/2022 Aprovado em: 27/02/2022 Publicado em: 01/04/2022
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531117GÉNERO, SEXUALIDAD Y EDUCACIÓN DE LOS JÓVENES EN MATERIALES DIDÁCTICOS AUDIOVISUALES BRASILEÑOS GÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO DE JOVENS EM MATERIAIS DIDÁTICOS BRASILEIROSGENDER, SEXUALITY AND YOUTH EDUCATION IN BRAZILIAN AUDIOVISUAL TEACHING MATERIALSTaluana Laiz Martins TORRES1RESUMEN: El estudio indaga cómo se traducen los conceptos de género y sexualidad en proyectos de educación orientados a la juventud. Dos vídeos han formado el corpusdocumental de la investigación: Minha vida de Joãoy Era uma vez outra Maria, ambos producidos por Organizaciones No Gubernamentales. Realizamos trabajos de descripción de video, análisis de contenido, así como de imágenes, acompañados de entrevistas con sus productores. Los resultados desvelaron que los materiales actúan como un dispositivo de la biopolítica, puesto que establecen un currículo "políticamente correcto", presentando una forma ideal de vivir la sexualidad en la juventud. Concluimos que los vídeos son prescriptivos y restringen una reflexión más profunda sobre el tema, limitando las posibilidades de cambio o ruptura en relación con los modelos más tradicionales de género y sexualidad. PALABRAS CLAVE: Educación. Educación sexual. Joven. Materiales didácticos. RESUMO:O estudo indaga como se traduzem os conceitos de gênero e sexualidade em projetos de educação direcionados aos jovens. Dois vídeos formaram o corpus documental da investigação: Minha vida de João e Era uma vez outra Maria, ambos produzidos por Organizações Não Governamentais. Realizamos trabalhos de descrição dos vídeos, análise de conteúdo assim como das imagens, acompanhados de entrevistas com seus produtores. Os resultados revelaram que os materiais podem ser considerados como dispositivos de biopolítica, pois estabelecem um currículo “politicamente correto”, apresentando uma forma ideal de viver a sexualidade na juventude. Concluímos que os vídeos são prescritivos e restringem uma reflexão mais profunda acerca do tema, limitando possibilidades de mudança ou ruptura em relação aos modelos mais tradicionais de gênero e sexualidade.PALAVRAS-CHAVE:Educação. Educação sexual. Jovem. Materiais didáticos.ABSTRACT:The study inquires how the concepts of gender and sexuality are translated into education projects aimed at young people. Two videos formed the documentary corpus of the investigation: Minha vida de João and Era uma vez outra Maria, both produced by Non-Governmental Organizations. We carried out works of video description, content analysis as 1Universidad de São Paulo (USP), São Paulo SP Brasil. Profesor colaborador de la FE-USP. Estudiante de postgrado en la Facultad de Educación. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8427-1216. E-mail: ttaluana@hotmail.com
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531118well as images, and interviews with their producers. The results revealed that the materials act as a biopolitical device, since they establish a "politically correct" curriculum, presenting an ideal way of living sexuality in youth. We concluded that the videos are prescriptive and restrict a deeper reflection, limiting possibilities of change or rupture in relation to more traditional models of gender and sexuality.KEYWORDS:Education. Sexuality education. Youth. Teaching materials.IntroducciónEn Brasil, las discusiones sobre sexualidad de los jóvenes fueron inicialmente formuladas y concentradas en el área de la salud. De ahí que este tema se introdujera en la educación a través de las políticas públicas dirigidas a la educación sexual y, más tarde, se vea amplificada con el avance de las propuestas sobre derechos humanos. En el año de 1997, la publicación de los Parámetros Curriculares Nacionales (PCN) para Educación Primaria, constituyó un importante marco para tales políticas. Vianna (2011) también señala que uno de los avances del documento fue incluir la discusión de género en las referencias para la formación docente, porque “a pesar de las críticas, los PCN han innovado al introducir la perspectiva de género como una dimensión importante de la constitución de la identidad de niños y jóvenes y la organización de las relaciones sociales" (VIANNA, 2011, p. 181). Es necesario aclarar que el concepto de género se entiende como "uno [...] de los elementos constitutivos de las relaciones sociales basadas en las diferencias percibidas entre los sexos" (SCOTT, 2002, p. 14), que se utiliza como una categoría de análisis de los procesos sociales, considerando, sobre todo, cómo las relaciones de poder están presentes dentro de estas relaciones, construyendo identidades de género que no son fijas, porque varían de acuerdo con su intersección con otros marcadores como raza, generación, religión, clase social, etc. Así, con la publicación del tema transversal de Orientación Sexual, uno de los diez temas que forman parte de los Parámetros Curriculares Nacionales, se lanzaron varias convocatorias por parte de organismos públicos federales, con el objetivo de promover proyectos de formación continua de docentes. Tanto las Universidades como las Organizaciones No Gubernamentales (ONGs) comenzaron a desarrollar trabajos de capacitación relacionados con la sexualidad y género, produciendo materiales didácticos para apoyar sus acciones. Diversas ONGs se convirtieron
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531119en una referencia en la producción de materiales didácticos sobre sexualidad, sus producciones fueron adoptadas por redes de educación pública y también indicadas por los Ministerios de Educación y Salud para el trabajo con jóvenes. Los aprendizajes de estas iniciativas de formación para trabajar sobre género y sexualidad fueron cada vez más usados por los docentes en las escuelas. Sin embargo, se encontraron resistencias de algunos grupos religiosos y conservadores los cuales ganaron espacio en la sociedad brasileña y en América Latina en general. Esos grupos presionaron a la administración para elaborar propuestas políticas con el fin de evitar la aplicación práctica de esos trabajos (LAGOet al., 2019). Actualmente, las universidades y las escuelas públicas brasileñas viven una situación de represión y censura del trabajo del profesorado y del currículo escolar. Estos grupos, autodenominados "defensores de la familia", se organizan para restringir cualquier posibilidad de discusión sobre género y sexualidad (BRAGA; CAETANO; RIBEIRO, 2018). En este contexto, la creciente fuerza de los grupos religiosos, especialmente los pentecostales, que ocupan cada vez más escaños en las cámaras legislativas, han influido y redefinido las políticas públicas, de acuerdo con sus agendas religiosas (RIBEIRO; MONTEIRO, 2019). Además, van en contra de los principios de la laicidad del Estado y provocan discusiones sobre las consecuencias de esta participación y su reflexión sobre la política de expansión de los derechos humanos. Brasil es un país donde la discriminación por género y orientación sexual provocan altas tasas de asesinatos por homofobia (GRUPO GAY DA BAHIA, 2017) y violencia contra la mujer. Por eso, la eliminación de toda mención de género en el Plan Nacional de Educación y en la Base Curricular Nacional Común documentos oficiales que orientan la educación brasileña , fue otro retroceso de las políticas educativas (SOARES; MONTEIRO, 2019). A pesar de todo ello, también se han producido estrategias de resistencia y cambio. Es urgente una (re)construcción de espacios de reflexión y participación para dar continuidad a un proyecto educativo y social en el cual se garanticen los derechos relacionados con la equidad de clase, género, sexualidad y raza. Como parte de este proceso, el colectivo educativo continúa promoviendo investigaciones, aplicando a la práctica y publicando estudios que fomentan acciones democráticas en la escuela sobre sexualidad y género. Así pues, los resultados de la investigación que aquí se presentan son vigentes en el contexto actual. Destacamos en ese sentido lo que apunta Brown (2011): en los últimos veinte años hubo una gran multiplicación y expansión de discursos sobre los derechos sexuales, reproductivos y género. Sin embargo, entendemos que el nodo central no está en los
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531120discursos, sino en cómo comunicarlos para promover la apropiación subjetiva de los derechos, especialmente entre colectivos más vulnerables. De ahí que la educación es, sin lugar a duda, uno de los espacios de discusión y formación en los que se hace posible la apropiación y resignificación del conocimiento teórico sobre género y sexualidad. Frente a lo expuesto anteriormente, las producciones didácticas audiovisuales sobre el tema de la sexualidad y género, producidas por ONGs, son un artefacto pedagógico-visual relevante a explorar, ya que constituyen un material importante de apoyo a docentes brasileños que trabajan con los jóvenes. Por eso, este artículo que tiene sus orígenes en una tesis doctoral analiza cómo se abordaron los conceptos de sexualidad y de género en dos de los cuatro videos que formaron parte de la investigación. Minha vida de João2y Era uma vez outra María3, son las dos producciones estudiadas, ambas producidas por la ONG brasileña ECOS - Comunicación sobre sexualidad, en colaboración con instituciones de otros países. La ECOS tiene experiencia relevante en el desarrollo de proyectos educativos centrados en el tema de la sexualidad y género de los jóvenes. Así pues, la pregunta que hacemos es: ¿Cómo se traducen los conceptos de género y sexualidad en los proyectos educativos dirigidos a la juventud? Una posible hipótesis es que, a pesar de que los discursos sobre derechos se anuncien como orientadores de proyectos sobre sexualidad, realmente las narraciones siguen siendo guiadas según una noción de desviación y subordinada a las prácticas de regulación y control. Para examinar esta hipótesis, analizamos los materiales didácticos que se han producido por la Organización No Gubernamental ECOS. Se analizó la forma en que esos soportes didácticos elaboraban, traducían y dirigían los discursos sobre sexualidad y género a los jóvenes. MétodoUtilizamos el método de investigación cualitativa, que tiene por finalidad comprender la realidad social mediante un examen denso de datos. Según Esteban (2010), entre las diversas características que identifican la investigación cualitativa, es fundamental su carácter interpretativo y reflexivo, que permite dedicar una atención especial a "[...] la forma en que los diferentes elementos lingüísticos, sociales, culturales, políticos y teóricos influyen 2Disponible en: https://www.youtube.com/watch?v=gMatcineJi8. Acceso en: 10 enero 2022. 3Disponible en: https://www.youtube.com/watch?v=mtQvIgWyjqA. Acceso en: 10 enero 2022.
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531121conjuntamente en el proceso de desarrollo del conocimiento (interpretación), el lenguaje y la narrativa" (ESTEBAN, 2010, p. 130). Así, la perspectiva sociohistórica y cultural de Bakhtin (1990) y sus conceptos de dialogismo, intertextualidad y interdiscursividad ofrecieron el marco teórico para los análisis de: 1) los enunciados visuales y las narrativas textuales de los videos; 2) el soporte técnico y los recursos utilizados; y 3) las entrevistas con los autores responsables de su elaboración. En síntesis, se trató de analizar los audiovisuales y sus respectivos manuales4para identificar sus propuestas educativas, lo que implica el cuestionamiento sobre el tipo de juventud que se pretende educar. Para Bakhtin (1990), los puntos en los que los discursos se cruzan e interactúan pueden ser entendidos como centros organizadores de los enunciados, que deben ser referidos al entorno social. Este proceso de construcción y apropiación de significados presentes en cada realidad sociohistórica particular tiene varias dimensiones, entre las que destaca la relación de conocimiento y poder que se producen en las disputas para la construcción de los significados considerados legítimos para diferentes grupos e instituciones. Para realizar el análisis, procedimos a la transcripción de los dos videos seleccionados. Según Rose (2008, p. 348), "[...] el propósito de la transcripción es generar un conjunto de datos que se presten a un análisis y una codificación cuidadosos". Por lo tanto, la descripción realizada se centró en las formas como género y sexualidad aparecieron en los materiales. Además de la transcripción, también fueron registrados los silencios, las pausas, el uso de la música, los sonidos, los efectos sonoros y los significados de estos elementos. Se prestó especial atención a los aspectos visuales, como a los personajes, los trajes, los colores utilizados, entre otros. Estos análisis audiovisuales se encuentran bajo el enfoque de los Estudios de Cultura Visual, que entienden la imagen visual "como un punto central en los procesos y a través de los cuales se producen significados en contextos culturales" (HERNÁNDEZ, 2009, p. 21). Es decir, las entendemos como representaciones portadoras y mediadorasde posiciones discursivas que contribuyen a pensar en el mundo y en nosotros mismos dentro de él. En los análisis presentados, la intención fue verificar las relaciones entre lo dicho y lo no dicho, enlazando las imágenes de los videos, con el objetivo de componer una narrativa visual que produzca otros significados y entendimientos sobre los marcadores de género y 4Es apropiado enfatizar que el foco del análisis son los audiovisuales didácticos, no obstante, los manuales (materiales que acompañan a los videos, con orientaciones didácticas para los docentes) fueron utilizados para identificar las menciones que los productores de las ONGs hacen a las propuestas pedagógicas adoptadas, complementando los análisis.
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531122sexualidad de los jóvenes. Ball (2004) explica que el análisis crítico de lo visual consiste en la construcción de significados a partir de la relación entre imágenes. Así pues, esa autora señala cómo las imágenes establecen relaciones entre el conocimiento y el poder en contextos específicos. Para el perfeccionamiento de los análisis, realizamos entrevistas semiestructuradas con las personas responsables de la elaboración de los videos seleccionados, con el fin de comprender: a) los propósitos, intereses y necesidades que justificaron su producción; b) el trabajo que implicó su producción y c) los caminos utilizados para ponerlos en circulación. Las entrevistas con dos fundadores/coordinadores de la ONG brasileña se celebraron en septiembre de 2012, en la ciudad de São Paulo (Brasil) y duraron aproximadamente una hora y media. La técnica de la entrevista semiestructurada consiste en aplicar preguntas abiertas, que siguen un esquema preestablecido, pero que están sujetas a las adaptaciones que resultan del propio camino de la entrevista. Por lo tanto, adoptamos el método de triangulación de datos de Minayo (1999), basado en el análisis de tres fuentes distintas: materiales audiovisuales, libros de texto (que acompañan a los vídeos) y entrevistas con los responsables de la producción audiovisual. De esta manera, seleccionamos partes de los videos que estaban directamente relacionadas con los temas de interés para la investigación, a fin de tomarlos como emblemáticos para la problematización de los contenidos trabajados y con miras a verificar las hipótesis y argumentos desarrollados. ResultadosDado que la educación es uno de los espacios privilegiados, aunque no el único, en la formación de los jóvenes, cuestionamos qué tipo de enseñanzas sobre sexualidad y género se les ofrece. Conforme lo señalado anteriormente, partimos del análisis de dos soportes didácticos audiovisuales donde sus narraciones involucran la sexualidad juvenil y las relaciones de género. El primer video, nombrado Minha vida de João, fue producido en 2006 y dura 23 minutos. La narrativa presentada se centra en el tema de la masculinidad y las relaciones de género, así como en los conflictos de João para desempeñar los roles que se le requiere. El descubrimiento del embarazo de su novia Maria y el tema de la paternidad están presentes en toda la animación. Es una historia lineal que comienza con João cuando era un bebé y
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531123observamos toda la construcción de su masculinidad a través de situaciones vividas desde la infancia hasta la juventud cuando tiene que lidiar con la cuestión del embarazo. El segundo video es Era uma vez outra Maria, tiene fecha de 2008 con duración aproximada de 20 minutos. Este video explica la historia de Maria, la chica que aparece en el primer video como novia de João. Las Fundaciones MacArthur, Ford, Nike, OAK y la Secretaría Especial de Políticas para Mujeres del gobierno brasileño colaboraron con el apoyo técnico y financiero para la elaboración de la animación. Cuando observamos la narrativa de Era uma vez outra Maria percibimos que se trata de una narrativa no lineal puesto que la historia a veces avanza o retrocede. Aunque el foco está en el presente, las escenas se intercalan con situaciones del pasado y del hipotético futuro de la joven. Ambos son videos de animación y, aunque se pueden trabajar por separado, son complementarios. Se puede decir eso porque los problemas centrales de las dos tramas son las relaciones de género y un embarazo no planeado experimentado por la joven pareja conformada por João y Maria. Por lo tanto, los problemas de la paternidad y la maternidad se presentan desde la perspectiva de los dos personajes: en Minha vida de João, la narración se organiza desde la perspectiva del niño, mientras que en Era uma vez outra Maria,la misma trama se construye a partir de la perspectiva de la niña. Según uno de los productores, los audiovisuales están dirigidos a educadores, docentes y profesionales de la salud, y deben ser utilizados por ellos como una herramienta pedagógica para trabajar con los estudiantes. Esto implica considerar que además de los profesionales citados, los jóvenes también son receptores de tales videos que deberían ser mediados por esas figuras. De acuerdo con los testimonios recogidos durante las entrevistas, la opción de usar animación surgió de la necesidad de producir un video sin marcas regionales y que no usara el discurso hablado, solo imágenes y sonidos, ya que dos instituciones que participaron en la producción, Salud y Género (México) y World Education (Estados Unidos) eran extranjeros. Los videos, por lo tanto, deberían adoptar un lenguaje más amplio que se entienda en los países de habla portuguesa, inglesa y española. Dado que la animación utiliza un lenguaje no verbal, las expresiones de los personajes, los efectos de sonido y las imágenes son los elementos principales que nos permiten comprender la trama presentada. Las líneas de texto escrito en los globos se reemplazan por ruidos y burbujas de pensamiento con imágenes y símbolos que denotan el significado de lo que se habla o se piensa. Durante las entrevistas realizadas, uno de los productores destacó el
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531124interés del público joven por los dibujos animados señalando que los videos fueron bien aceptados, incluso circulando en países africanos de habla portuguesa, como Mozambique y Angola. En las dos animaciones la música es un recurso utilizado por los personajes para informar sus sentimientos, crisis, deseos, decisiones e indicar el estado de ánimo de ciertas escenas: suspenso, tensión, confusión, felicidad, satisfacción, etc. Las ideas de juventud, género y sexualidad que traducen se verifican con base en el análisis de los escenarios sociales y culturales presentados en los videos y con atención a la oposición entre prácticas explícitas o implícitas, recomendadas o criticadas, destacadas u omitidas. Género, sexualidad y juventudDentro de los audiovisuales didácticos analizados, existe una tensión que involucra modelos de representación juvenil, porque, aunque podemos observar un intento de retratar la diversidad de modelos culturales y formas de ser jóvenes, cuando miramos más de cerca a los protagonistas de las historias, encontramos una estandarización tanto en los modelos de belleza elegidos como en aspectos relacionados con la constitución física, la clase social, la raza y los arreglos familiares en los que se insertan los personales principales. Tales representaciones tienden a una uniformidad de lo que es ser joven en la sociedad brasileña, a pesar de que existen estrategias capaces de romper con estos patrones construidos. Con respecto al aspecto de la socialización y las prácticas culturales, es interesante observar cómo los marcadores de género están presentes en las representaciones de grupos juveniles, contenidos en audiovisuales. Exclusivamente, los niños tienen amigos varones y las niñas tienen amigas. En Minha vida de João, se muestra como los amigos del protagonista son violentos, agresivos y se reúnen en las calles mientras João es sensible, romántico y soñador. En el video Era uma vez outra María, las amigas de la protagonista son compañeras y confidentes y circulan por los espacios escolares, fiestas, actividades deportivas y dentro de la familia. Uno de los pocos lugares donde hay más interacción entre niños y niñas son las fiestas, un lugar utilizado para las citas. Aunque las representaciones más tradicionales de las convenciones de género guían gran parte de las prácticas de los grupos juveniles (las niñas son representadas como las más cariñosas y los niños como más agresivos), cuando los jóvenes se muestran en sus particularidades, existe una inversión para romperlas y disputar las representaciones más convencionales. Los protagonistas de los videos, hasta cierto punto,
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531125rompen con los significados atribuidos a ser hombre y mujer, revelando cómo las identidades de género son maleables y varían según el contexto histórico, social y relacional. Louro (1999) destaca la necesidad de problematizar no solo la oposición, lo que lleva a pensamientos binarios sobre el género, así como a la unidad interna de cada uno de estos polos, revelando cómo están fragmentados, divididos y destacando la pluralidad de formas de ser mujer y ser hombre en nuestra sociedad. En Minha vida de João, la identidad del protagonista se basa en la interrelación con los modelos de masculinidad de sus amigos y su padre (además de otros modelos que João encuentra en la calle) y que están anclados en la violencia, la belleza, poder, liderazgo y riqueza. No obstante, João demuestra ser un joven sensible y romántico, que se preocupa por el bienestar de quienes lo rodean, sin embargo, sus compañeros vigilan la masculinidad hegemónica del protagonista ejerciendo presión sobre él para que "encaje" en la norma valorada por el grupo, es decir, el aprendizaje de género es atribuido y reforzado por amigos. João también imita el comportamiento violento y agresivo que aprende de su padre y sus amigos, aunque muestra pesar en las escenas en las que actúa de esta manera. En este caso, la intención de mostrar que la agresión se aprende durante la socialización de los jóvenes desde la infancia es una forma de resaltar cuánto se alimentó y estimuló socialmente este comportamiento. En un intento de no ser ridiculizado por sus colegas, João se adapta temporalmente a estos roles violentos cuando está con el grupo, pero cuando se lo representa solo, adopta actitudes de cuidado y afecto. En Era uma vez outra Maria, la protagonista también se resiste a los roles que se les asignaron, pero en este caso, quien ejerce la mayor presión sobre la niña es su familia, especialmente su madre y hermana, quienes le cobran a María por su participación en los servicios domésticos, además de otros comportamientos según modelos de feminidad valorados en la sociedad brasileña, como sentarse con las piernas cerradas, jugar con muñecas y otros. Algunos de los comportamientos y preferencias de María se rompen, en cierta medida, con los considerados más aceptados en nuestra sociedad, ya que a ella le gusta jugar fútbol y prefiere juegos más activos. Sin embargo, estas actitudes siempre se ven obstaculizadas por un lápiz (que representa la norma) o por su mamá. Las características psicológicas de la niña ya se ajustan a los atributos de una feminidad valorada socialmente: es romántica y vanidosa. Si, por un lado, el personaje de Maria se constituye a través de un modelo de feminidad más valorado socialmente, rompiendo solo en unos momentos con este patrón, João muestra, más fuertemente, un tipo de identidad heterosexual no dominante, en vista que sus actitudes y comportamientos rompen con los modelos más tradicionales
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531126atribuidos a los hombres en nuestra sociedad, demostrando interrelaciones en las que lo masculino contiene elementos de lo femenino y viceversa (POLICARPO, 2016). En el campo de las relaciones afectivas y sexuales, estos personajes no emplean el autocuidado y se presentan como sexualmente vulnerables, por lo que ocurre un embarazo no planificado. En Era uma vez outra María, la protagonista cuestiona la división desigual del trabajo en su propio hogar. Sin embargo, cuando se representan las responsabilidades con respecto a la maternidad y la paternidad, la madre tiene una carga clara en el cuidado de su hijo. Al final de la historia, es interesante notar que, implícitamente, todas las preguntas de María sobre las desigualdades en las tareas domésticas experimentadas en el hogar se dejan de lado, dado que, en la escena final, cuando João coge al niño para caminar, es posible darse cuenta de que el niño tiene una pelota, es decir, un juguete asociado exclusivamente con los niños. De esta manera, el cuestionamiento de por qué las afirmaciones de María, frente a estas desigualdades, no se traducen en una educación diferente para su hijo, ya que éste parece estar subjetivizado, una vez más, para reproducir los patrones hegemónicos de masculinidad. En este sentido, la idea es que el círculo vicioso no se interrumpa, de modo que no veamos un potencial de cambio en este rígido esquema. Por otro lado, si bien el modelo de paternidad retratado por el audiovisual reproduce las desigualdades en relación con el cuidado de los niños, en los manuales se discute sobre la importancia de que los hombres se involucren en dicho cuidado. En el manual Trabajando con hombres jóvenes, que acompaña al video, hay un módulo titulado "Paternidad y cuidado", que presenta "discusiones sobre el tema de la participación de los hombres en el contexto del cuidado, con el enfoque principal en los procesos de socialización para la masculinidad, desde la perspectiva de género" (ALIANÇA, 2009, p. 86). Las diferencias entre el video Minha vida de Joãoy su respectivo manual son evidentes. Eso se debe, seguramente, a que el video data del 2006 mientras que el manual es del 2009, es decir, los materiales didácticos no fueron elaborados de manera articulada. En Brasil, la desigualdad en la paternidad/maternidad también se refleja en las políticas públicas, las cuales conceden licencia para ausentarse del trabajo solamente a las madres por un periodo de 120 o 180 días, mientras que la paternidad apenas dispone de 5 días. La maternidad y la paternidad se tratan muy diferente des del punto de vista legal. Así, un dilema recurrente al respecto la discusión sobre los derechos sexuales y reproductivos, de acuerdo con Vianna y Lacerda (2004), es la "relativa” invisibilidad de los hombres a pesar del mayor interés en los estudios de las masculinidades, evidenciado en seminarios y publicaciones en el país, esto no se ha traducido en formulaciones de políticas específicas.
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531127En este sentido, Correa y Petchesky (1996) enfatizan las relaciones de poder que operan sobre las fronteras de género y se refieren a normas culturales que producen desigualdades sociales en el campo de la sexualidad y la reproducción, de manera que "esta desigualdad de poder incluye sistemas sociales que no proporcionan incentivos económicos o educativos para que los hombres se involucren en la crianza de los hijos" (CORREA; PETCHESKY, 1996, p. 166). Por lo tanto, podemos inferir que estas desigualdades en torno a la maternidad y la paternidad se presentan de manera naturalizada en los audiovisuales didácticos y no se cuestionan, problematizan o tensan. Además, ¿no sería la opción de presentar otros tipos de experiencias de maternidad y paternidad una forma de mejorar la discusión sobre derechos y deberes en torno a estos temas? De esta manera, los videos poco apuntan a una perspectiva de cambio sobre una mayor igualdad de derechos y deberes, porque terminan reforzando la idea de que, si bien los elementos que involucran la reproducción son entendidos y retratados como responsabilidad de las mujeres, las posibilidades de transformación serán limitadas y parciales. Ávila (2003) subraya la necesidad de cambiar el modelo hegemónico de reproducción y "[...] buscar una sociabilidad en la que el sentido de paternidad y maternidad se transforme por completo, dando lugar a una división sexual igualitaria del trabajo en el ámbito doméstico y, en particular, en las tareas de cuidado de los hijos"(ÁVILA, 2003, p.467). Consideraciones finalesEn conclusión, la hipótesis planteada por el estudio es aceptada en vista de que, según el contenido de los videos, las formas de vivir la sexualidad en esta etapa de la vida son muy prescriptivas, ya que los jóvenes son retratados en los audiovisuales como dependientes e irresponsables, una perspectiva que restringe las posibilidades de cambio o ruptura en relación con los modelos más tradicionales de género y sexualidad, revelando los límites impuestos a la producción de nuevos conocimientos y restringiendo una reflexión más profunda sobre la sexualidad de este grupo. En este sentido, podemos inferir que tales materiales actúan como un dispositivo de la biopolítica, en la medida en que establecen un currículo "políticamente correcto", presentando una forma ideal de vivir la sexualidad en la juventud, a través de su anti-modelo: señala lo que no se debe hacer y las consecuencias negativas de la falta de respeto por las normas de este modelo ideal, que supone lo que sería el "buen vivir" para esta generación. Sin embargo, la repetición de estos modelos que se presentan como "buenos para
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531128todos" termina restringiendo la libertad de elección individual, encerrando las posibilidades de vivir una sexualidad autónoma y reflexiva para los jóvenes (HELLER; FEHER, 1995). Según los autores, el discurso biopolítico sustituye la pluralidad por la identidad, la opinión por la "verdad", demarcando la existencia de una única perspectiva "políticamente correcta", que apunta a la cohesión y unidad del grupo, asumiendo que todos los jóvenes pueden orientarse de la misma manera, porque tienen los mismos comportamientos, tipos de relaciones, familia, sentimientos, deseos. Para Heller y Feher (1995), este intento de homogeneizar el grupo está "ideológicamente sobrecargado" porque suprime las diferencias dentro del propio grupo. Si partimos del entendimiento de que la educación es uno de los espacios capaces de cuestionar las representaciones, es posible preguntarse por qué estos audiovisuales pierden la oportunidad de generar informes alternativos que nos permitan ampliar los significados relacionados con el género y la cultura juvenil en nuestra sociedad. Sorj (2004) argumenta que estos roles sociales cristalizados son poco cuestionados, ya que hay intereses en su mantenimiento. Estamos de acuerdo con la investigadora en la medida en que hay intereses muy claros en el mantenimiento de estos lugares consagrados, sin embargo, es evidente que las profundas transformaciones producidas en las relaciones de género y sexualidad están provocando diversos cambios sociales. Hacer visibles estas transformaciones es un tema político que merece ser explorado para que tanto hombres como mujeres perciban que una mayor democratización en estos espacios abre nuevas posibilidades para ambos. De esta manera, valores como la justicia, la responsabilidad y el respeto mutuo serían uno de los motores de la implicación de los hombres en estos cambios (BONINO, 2011). Así, como señala Trafí-Prates (2014), contar historias también puede significar 'cambiar la conversación', es decir, poner en circulación otros relatos sobre formas de saber que valen la pena porque reactivan y expanden la esfera pública y/o privada. Como vemos, los audiovisuales que se utilizan para educar a los jóvenes y formar a los maestros se limitan a reproducir roles sociales ya consagrados en torno al cuidado de los niños, sexualidad y género que muestran un tipo de organización social bastante demarcada y que, en definitiva, parece estrechar la construcción de espacios de resistencia o cualquier intento de democratización de las relaciones que involucran a hombres y mujeres en espacios privados. Sin embargo, es necesario poner en valor el interés de estas ONGs por promover el debate sobre la sexualidad y el género en la educación formal. Es fundamental capacitar a los educadores para que trabajen con esos audiovisuales a fin de que puedan fomentar debates
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531129que cuestionen esos estereotipos y modelos presentes en las narraciones. Así, una educación sexual basada en los derechos humanos que se basa en el examen de las cuestiones y elementos de la sexualidad y género para problematizarlos, tensarlos, cuestionarlos, para generar debates e intercambiar ideas, poniendo en circulación las diversas posiciones sobre ellos, sus potencialidades y sus límites, puede ser una forma útil para que cada sujeto reflexione y analice su propia realidad y tome las decisiones más coherentes con sus deseos, prácticas y proyectos de vida, es decir, una perspectiva más comprometida con los derechos que con las prescripciones. Es evidente que las profundas transformaciones producidas en las relaciones de género están provocando varios cambios sociales. Hacer visibles estas transformaciones en proyectos de educación sexual es un tema político que merece ser explorado, para que tanto hombres como mujeres puedan percibir que una mayor democratización en estos espacios abre nuevas posibilidades para ambos. AGRADECIMIENTOS: El estudio de doctorado, que dio origen a este artículo, fue financiado por la FAPESP - Fundación de Amparo a la Investigación del Estado de São Paulo - Brasil, por el cual agradezco públicamente. REFERENCIASALIANÇA, H. Série trabalhando com homens jovens. Promundo; Salud y Género; ECOS; Instituto PAPAI. Rio de Janeiro: Promundo, 2009. ÁVILA, M. B. Direitos sexuais e reprodutivos: desafios para as políticas de saúde. Cad.Saúde Pública, v. 19, sup. 2, p. 465-469, 2003. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/q9MctdsGhp3QSKspjfPt5Rx/?lang=pt. Acesso em: 10 mar. 2021. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem:problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1990. BALL, M. El esencialismo visual y el objeto de los estudios visuales. Journal of Visual Culture, v. 2, n. 1, p. 5-32, abr. 2003. DOI: 10.1177/147041290300200101. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/147041290300200101. Acesso em: 10 mar. 2021. BONINO, L. Los varones hacia la paridad en lo doméstico: discursos sociales y prácticas masculinas. In:SÁNCHEZ-PALENCIA, C.; HIDALGO, J.C. (Ed.). Masculino plural:Construcciones de la masculinidad. Lérida: Edicions de la Universitat de Lleida, 2011.
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531130BRAGA, K.; CAETANO, M.; RIBEIRO, A. A educação e o seu investimento heteronormativo curricular. Momento - Diálogos em Educação, Rio Grande, v. 27, n. 3, p.12-29, 2019. DOI: 10.14295/momento.v27i3.8348. Disponível em: https://periodicos.furg.br/momento/article/view/8348. Acesso em: 20 set. 2021. BROWN, J. L. Derechos sexuales y reproductivos: teoría, política y espacio público. Buenos Aires: Teseo, 2011. CORRÊA, S.; PETCHESKY, R. Direitos sexuais e reprodutivos: uma perspectiva feminista.Physis, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1-2, p.147-177, 1996. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/K7L76NSSqymrLxfsPz8y87F/abstract/?lang=pt. Acesso em: 20 out. 2021. ERA UMA VEZ OUTRA MARIA. Produção: Jah Comunicações. Realização: Projeto M. São Paulo: Projeto M, 2008. 1 DVD (20 min.) DVD, son., color. ESTEBAN, M.P.S. Pesquisa qualitativa em educação:fundamentos e tradições. Porto Alegre: AMGH, 2010. GRUPO GAY DA BAHIA. Relatório mortes violentas de LGBT no Brasil. 2017. Disponível em: https://homofobiamata.files.wordpress. com/2017/12/relatorio-2081.pdf. Acesso em: 11 out. 2020. HELLER, A.; FEHER, F. Biopolítica:la modernidad y la liberación del cuerpo. Barcelona: Península, 1995. HERNÁNDEZ, F. Catadores da cultura visual: proposta para uma nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2009. LAGO, M. C. S. et al.Difícil falar do agora. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 2, p. 1-6, jun. 2019. DOI: 1590/1806-9584-2019v27n265596. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/hBRWhYsVjRQVDnHshFHK34v/?lang=pt. Acesso em: 10 abr. 2021. LOURO, G. L. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1999. MINHA VIDA DE JOÃO. Produção: Jah Comunicações. Realização: Projeto H. São Paulo: Projeto H, 2006. 1 DVD (23 min.) DVD, son., color. POLICARPO, V. M. N. M. Para lá da heteronorma: subjetivação e construção da identidade sexual. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 24, n. 2, p. 541-562, ago. 2016. DOI: 10.1590/1805-9584-2016v24n2p541. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ref/a/cdjZmNfJ7VBjRnq5ryN5Xmf/abstract/?lang=pt. Acesso em: 10 out. 2021.
image/svg+xmlGénero, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños RIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531131RIBEIRO, P. R. M.; MONTEIRO, S. A. S. Dossiê: Avanços e retrocessos da educação sexual no Brasil: apontamentos a partir da eleição presidencial de 2018. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. esp. 2, p. 1254-1264, jul. 2019. DOI: 10.21723/riaee.v14iesp.2.12701. Disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12701/8337. Acesso em: 05 out. 2021. ROSE, D. Análise de imagens em movimento. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som:um manual prático. 7. ed. Tradução Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2008. SCOTT, J. W. Relendo a história do feminismo. In: SCOTT, J. W. A cidadã paradoxal: as feministas e os direitos do homem. Tradução Elvio A. Funck. Florianópolis: Mulheres, 2002. SOARES, Z. P.; MONTEIRO, S. S. Formação de professores/as em gênero e sexualidade: possibilidades e desafios. Educar em Revista, Curitiba, - SP - v.35, n.73, p.287-305, fev. 2019. DOI: 10.1590/0104-4060.61432. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/KMSmJfk43rKWcRNHWHfWsfC/?lang=pt. Acesso em: 10 out. 2021. SORJ, B. Trabalho remunerado e trabalho não remunerado. In: VENTURI, G.; RECAMAN, M.; OLIVEIRA, S. (org.). A mulher brasileira nos espaços público e privado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. TRAFÍ-PRATS, L. Para una formación del profesorado basada en el cosmopolitismo: curriculum derivativo y posibilidades de exploración indirecta de la subjetividad. In: OLIVEIRA, M.; HERNÁNDEZ, F. (org.). A formação do professor e o ensino das artes visuais. Santa Maria: UFSM, 2014. VIANNA, A.; LACERDA, P. Direitos e políticas sociais no Brasil: mapeamento e diagnóstico. Rio de Janeiro: CEPESC, 2004. VIANNA, C. P. Estudos sobre gênero, sexualidade e políticas públicas de educação:as ações coletivas aos planos e programas federais. 2011. 253 p. Tese (Livre Docência) Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo: 2011.
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531132Como referenciar este artigoTORRES, T. L. M. Género, sexualidad y educación de los jóvenes en materiales didácticos audiovisuales brasileños. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1117-1132, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14553 Submetido em: 23/12/2020 Revisões requeridas em: 02/01/2022 Aprovado em: 27/02/2022 Publicado em: 01/04/2022
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531114GENDER, SEXUALITY AND YOUTH EDUCATION IN BRAZILIAN AUDIOVISUAL TEACHING MATERIALSGÊNERO, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO DE JOVENS EM MATERIAIS DIDÁTICOS BRASILEIROSGÉNERO, SEXUALIDAD Y EDUCACIÓN DE LOS JÓVENES EN MATERIALES DIDÁCTICOS AUDIOVISUALES BRASILEÑOSTaluana Laiz Martins TORRES1ABSTRACT: The study inquires how the concepts of gender and sexuality are translated into education projects aimed at young people. Two videos formed the documentary corpus of the investigation: Minha vida de Joãoand Era uma vez outra Maria, both produced by Non-Governmental Organizations. We carried out works of video description, content analysis as well as images, and interviews with their producers. The results revealed that the materials act as a biopolitical device, since they establish a "politically correct" curriculum, presenting an ideal way of living sexuality in youth. We concluded that the videos are prescriptive and restrict a deeper reflection, limiting possibilities of change or rupture in relation to more traditional models of gender and sexuality. KEYWORDS: Education. Sexuality education. Youth. Teaching materials. RESUMO: O estudo indaga como se traduzem os conceitos de gênero e sexualidade em projetos de educação direcionados aos jovens. Dois vídeos formaram o corpus documental da investigação: Minha vida de João e Era uma vez outra Maria, ambos produzidos por Organizações Não Governamentais. Realizamos trabalhos de descrição dos vídeos, análise de conteúdo, assim como das imagens, acompanhados de entrevistas com seus produtores. Os resultados revelaram que os materiais podem ser considerados como dispositivos de biopolítica, pois estabelecem um currículo “politicamente correto”, apresentando uma forma ideal de viver a sexualidade na juventude. Concluímos que os vídeos são prescritivos e restringem uma reflexão mais profunda acerca do tema, limitando possibilidades de mudança ou ruptura em relação aos modelos mais tradicionais de gênero e sexualidade. PALAVRAS-CHAVE: Educação. Educação sexual. Jovem. Materiais didáticos. RESUMEN: El estudio indaga cómo se traducen los conceptos de género y sexualidad en proyectos de educación orientados a la juventud. Dos vídeos han formado el corpus documental de la investigación: Minha vida de João y Era uma vez outra Maria, ambos producidos por Organizaciones No Gubernamentales. Realizamos trabajos de descripción de video, análisis de contenido, así como de imágenes, acompañados de entrevistas con sus productores. Los 1University of São Paulo (USP), São Paulo SP Brazil. Collaborating professor. Post-Doctoral Student at the Education College.ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8427-1216. E-mail: ttaluana@hotmail.com
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531115resultados desvelaron que los materiales actúan como un dispositivo de la biopolítica, puesto que establecen un currículo "políticamente correcto", presentando una forma ideal de vivir la sexualidad en la juventud. Concluimos que los vídeos son prescriptivos y restringen una reflexión más profunda sobre el tema, limitando las posibilidades de cambio o ruptura en relación con los modelos más tradicionales de género y sexualidad.PALABRAS CLAVE: Educación. Educación sexual. Joven. Materiales didácticos.IntroductionIn Brazil, the discussions regarding young people's sexuality were initially formulated and concentrated in the health area. This theme enters education through public policies aimed at sexual education and, later, is amplified with the advancement of human rights proposals. In 1997, the publication of the National Curriculum Parameters (PCN) for elementary school was an important milestone for such policies. Vianna (2010) points out that one of the advances of the document was to include the discussion of gender in the references for teacher training, because: "despite the criticism, the PCNs innovated by introducing the gender perspective as an important dimension of the constitution of the identity of children and young people and the organization of social relations" (VIANNA, 2011, p. 181). It is necessary to clarify that the concept of gender is understood as "one of the constitutive elements of social relations based on perceived differences between the sexes" (SCOTT, 2002, p. 14), which is used as a category of analysis of social processes, considering above all how power relations are present within these relations, building gender identities that are not fixed, because they vary according to their intersection with other markers such as race, generation, religion, social class, etc. Thus, with the publication of the cross-cutting theme entitled Sexual Orientation, one of the ten themes that are part of the National Curricular Parameters, the federal public agencies have launched several calls for proposals aiming to promote continued education projects for male and female teachers. Both Universities and Non-Governmental Organizations (NGOs) have started to develop teacher training on the themes of sexuality and gender, producing didactic materials to support their actions. Several NGOs became references in the elaboration of educational resources on sexuality, so that their productions were adopted by public education networks and also indicated by the Ministry of Education and Health to work with young people.
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531116The learnings from this training initiative to work on gender and sexuality were increasingly used by teachers in schools. However, there was resistance from some religious and conservative groups, which gained space in Brazilian society and in Latin America in general. These groups pressured the government and elaborated political proposals aimed at preventing the practical application of these works (LAGO et al., 2019). Currently, Brazilian universities and public schools experience a situation of repression and censorship of the work of male and female teachers and the school curriculum. Groups self-styled "defenders of the family" organize themselves to restrict any possibility of discussing gender and sexuality in schools (BRAGA; CAETANO; RIBEIRO, 2018). In this context, the growing strength of religious groups, especially Pentecostal ones, which occupy more and more seats in legislative chambers, are influencing and redefining public policies according to their religious agendas (RIBEIRO; MONTEIRO, 2019). Moreover, they go against the principles of the secularity of the state and provoke discussions about the consequences of this participation and its reflections on the policy of expanding human rights. Brazil is a country where discrimination by gender and sexual orientation causes high murder rates by homophobia (GRUPO GAY DA BAHIA, 2017) and violence against women. Therefore, the elimination of any and all mention of the word gender in the National Education Plan and the National Common Curricular Base - official documents that guide Brazilian education - was another setback for education policies (SOARES; MONTEIRO, 2019). Despite this, strategies of resistance and change were also produced. It is urgent a (re)construction of spaces for reflection and participation to continue an educational and social project in which rights related to class, gender, sexuality and race equity are guaranteed. As part of this process, the educational collective continues conducting research, applying its results, and publishing studies that foster democratic actions about gender and sexuality in schools. Thus, the research results presented here are valid in the current context. We highlight, in this sense, what Brown (2011) points out: in the last twenty years there has been a multiplication and expansion of discourses on sexual, reproductive and gender rights. However, we understand that the central node is not in the discourses but in how to communicate them to promote the subjective appropriation of these rights, especially among more vulnerable groups. Education is, without a doubt, one of the spaces for discussion and training in which the appropriation and re-signification of theoretical knowledge about gender and sexuality is possible. In this context, the audiovisual didactic productions on the theme of sexuality and gender, produced by NGOs, are configured as a relevant pedagogical-visual artifact to be
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531117studied, being an important support material for Brazilian teachers who work with young people. Thus, this article, which originated in a doctoral thesis, analyzes how the concepts of sexuality and gender were addressed in two of the four videos that formed part of the research. Minha vida de João2and Era uma vez outra Maria3will be the two audiovisuals analyzed in this article, both produced by the Brazilian NGO ECOS - Comunicação em Sexualidade, in collaboration with institutions from other countries. ECOS has relevant experience in the development of educational projects related to the themes of gender and sexuality of young people. Therefore, the question we ask is: how are the concepts of gender and sexuality translated in educational projects aimed at young people? One possible hypothesis is that, despite the fact that discourses about rights are announced as guiding projects about sexuality, in practice the narratives continue to be guided according to the notion of the deviation of juvenile sexuality and subordinated to practices of regulation and control. To examine this hypothesis we analyzed the didactic materials that were produced by the non-governmental organization ECOS. We analyzed the ways that these didactic supports elaborated, translated and directed discourses about sexuality and gender to young people. MethodThe research, qualitative in nature, aims to understand the social reality through in-depth data analysis. According to Esteban (2010), among the various characteristics that identify qualitative research, its interpretive and reflexive character is fundamental, which allows special attention to be given to "[...] the way in which different linguistic, social, cultural, political and theoretical elements jointly influence the process of knowledge development (interpretation), language and narrative" (ESTEBAN, 2010, p. 130). Thus, Bakhtin's (1990) socio-historical and cultural perspective and his concepts of dialogism, intertextuality, and interdiscursivity offered the theoretical framework for the analysis of: 1) visual statements and textual narratives of the videos; 2) technical support and resources used; and 3) interviews with authors responsible for making the videos. In summary, it was a matter of analyzing the audiovisuals and their respective manuals to identify the educational proposals and the type of youth they intend to educate. 2Available at: https://www.youtube.com/watch?v=gMatcineJi8. Accessed on: 10 Jan. 2022. 3Available at: https://www.youtube.com/watch?v=mtQvIgWyjqA. Accessed on: 10 Jan. 2022.
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531118For Bakthin (1990), the points where the discourses intersect and interpenetrate can be understood as the organizing centers of the enunciates, which should be referred to the social environment. This process of construction and appropriation of meanings present in each particular socio-historical reality has several dimensions, among which we highlight the relations of knowledge and power that occur in terms of disputes for the construction of meanings considered legitimate among different groups and institutions. To perform the analysis we proceeded to the transcription of the two selected videos. According to Rose (2008, p. 348), "[...] the purpose of transcription is to generate a set of data that lends itself to careful analysis and coding". To this end, the description conducted focused on the ways in which the themes of gender and sexuality appeared in the materials. In addition to the transcriptions, silences, pauses, the use of music, sounds, sound effects, and the meanings of these elements were also recorded. Special attention was given to the visual aspects of the characters, the clothes, colors used, among others. The analyses of the audiovisuals were guided by the approach of Visual Culture Studies, understanding the "[...] visual image as a central point in the processes and through which meanings are produced in cultural contexts" (HERNÁNDEZ, 2009, p. 21). We started from the understanding of images and other visual representations as carriers and mediators of discursive positions that contribute to think the world and to think of ourselves as subjects. It was intended, in the analysis, to verify the relations between those said and those not said, putting in relation the images of the videos among themselves, as well as with others that are part of the culture, with the aim of composing a visual narrative that produces other meanings and understandings about the markers of gender and sexuality of young people. Mieke Ball (2004) explains that the critical analysis of the visual consists in creating ways to establish relationships between images, constructing meanings. In this sense, the author stresses that the investigation of how these images reverberate allows the establishment of relations about knowledge and power present in certain contexts. To refine the analysis, we conducted semi-structured interviews with the people responsible for the elaboration of the selected videos, in order to understand: a) the purposes, interests and needs that justified their elaboration; b) the work that implied their production and c) the paths used to put them into circulation. The interviews with the founders/coordinators of the Brazilian NGO were conducted in September 2012, in the city of São Paulo (Brazil), and lasted approximately one hour and a half. The semi-structured interview technique consists in the application of open-ended
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531119questions, which follow a pre-established scheme, but are subject to adaptations according to the directions of the interview. To this end, Minayo's (1999) method of data triangulation was adopted, based on the analysis of three different sources: audiovisual materials, manuals (that accompany the videos), and interviews with those responsible for the audiovisual production. Thus, we selected parts of the videos that were directly related to the topics of interest of the research to take them as emblematic for problematization of the contents worked and in order to verify the arguments developed. ResultsSince education is one of the privileged spaces - though not the only one - in the formation of young people, with respect to their rights, we question what kind of formation is being offered to these subjects regarding the themes of sexuality and gender. As already mentioned, we started by analyzing two audiovisual didactic supports in which the narratives involve juvenile sexuality and gender relations. The video Minha vida de Joãowas produced in 2006 and is 23 minutes long. The narrative presented focuses on the issue of masculinity and gender relations, as well as João's conflicts to exercise roles that are required of him. The discovery of pregnancy and the theme of paternity are present throughout the animation. It is a linear story that begins with João still a baby and the construction of his masculinity through situations experienced from childhood to youth, when he has to deal with the issue of pregnancy. The second video, Era uma vez outra Maria, from 2008, is approximately 20 minutes long. This video explains the story of Maria, the girl who appears in the first video as João's girlfriend. The MacArthur Foundation, Ford Fundation, Nike Fundation, OAK Fundation, John Snow Brasil, and Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, of the Brazilian federal government, collaborated with technical and financial support for the elaboration of the animation. The narrative of Once upon a Girl is not linear, so that the story, in some moments, moves forward or backward, because although the focus is on the present, it is interspersed with scenes from the young woman's past and future. Both are animation videos and, although they can be worked separately, they are complementary. It is possible to say that they complement each other, because the central issues
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531120of the plots are gender relations and an unplanned pregnancy experienced by the young couple, John and Mary. In this way, the issues of paternity and maternity are told from the perspective of the two characters: in Minha Vida de João, the narrative is organized from the boy's point of view, while Era uma vez outra Maria, the same plot is built from the girl's perspective. According to one of the producers, the audiovisuals are aimed at educators, teachers, and health professionals, as well as to be used by them as pedagogical tools to work with students. This implies considering that young people are also the recipients of these videos, which must be mediated by the educators. According to the testimonies collected in the interviews, the option to use animation came from the need to produce a video without regional brands and that didn't use words, only images and sounds, since two institutions that participated in the production, Salud y Género (Mexico) and World Education (United States), were foreigners. The videos, therefore, should adopt a language that is more comprehensive, to be understood in Portuguese, English and Spanish speaking countries. Since animation uses non-verbal language, the characters' expressions, sound effects, and images are the main elements that allow us to understand the presented plot. Speeches are replaced by noises and thought balloons with images and symbols that denote the meaning of what is being talked or thought. We emphasize that the use of speech and thought balloons are resources widely used in comics. In an interview, one of the producers highlighted the interest of the young public in cartoons, so that the videos were well accepted, even circulating in Portuguese-speaking African countries such as Mozambique and Angola. Music is a resource used for the characters to inform their feelings, crises, desires, decisions, besides indicating the mood of certain scenes: suspense, tension, confusion, happiness, satisfaction, etc. The ideas of youth, gender and sexuality that they translate are verified based on the analysis of the social and cultural scenarios presented in the videos and with attention to the opposition between explicit or implicit, recommended or criticized, highlighted or omitted practices. Gender, sexuality and youth Within the audiovisuals analyzed there is a tension that involves models of representation of youth, because although we can observe an attempt to portray the diversity of cultural models and ways of being young, when we take a closer look at the protagonists of the stories, we see a standardization both in the models of beauty chosen as in aspects related to physical constitution, social class, race, and family arrangements in which young people are
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531121inserted. Such representations tend to a standardization of what it is to be young in Brazilian society, even though there are strategies capable of breaking with these constructed standards. Regarding the aspect of socialization and cultural practices, it is interesting to notice how gender markers are present in the representations of juvenile groups, contained in the audiovisuals. Exclusively, boys have male friends and girls have female friends. In Minha vida de João,the protagonist's friends are shown as violent and aggressive and gather in the streets and bars. In contrast, João is sensitive, romantic, and dream.. In the video Era uma vez outra Maria, The friends of the protagonists are companions and confidants and circulate through the school spaces, parties, sports activities and within the family. One of the few spaces where there is more interaction between boys and girls are the parties, a place used for amorous encounters. Even though more traditional representations of gender conventions guide a good part of the practices of juvenile groups (girls are represented as more affectionate and boys as more aggressive), when young people are shown in their particularities, there is an investment in the sense of breaking and contesting these more conventional representations. The protagonists of the videos Minha vida de Joãoand Era uma vez outra Maria, to a certain extent, break with the meanings attributed to what it is to be a man and a woman, revealing how gender identities are malleable and vary according to the historical, social, and relational context. Louro (1999) emphasizes the need to problematize not only the opposition, which leads to binary thoughts about gender, but also the internal unity of each of these poles, revealing how they are fragmented, divided, and showing the plurality of ways of being a woman and a man in our society. In Minha vida de João the protagonist's identity is constructed in the interrelation with the models of masculinity of his friends and his father (besides other models that João comes across on the street), and that are anchored in violence, beauty, power, leadership and wealth. Despite this, John shows himself to be sensitive and romantic, concerned about the welfare of those around him, however, his peers ensure the maintenance of the hegemonic masculinity of the protagonist, exerting pressure for him to "fit" into the norm valued by the group, that is, gender learning is attributed and reinforced by his friends. John also imitates violent and aggressive behavior that he learns from his father and his friends, although he shows regret in the scenes in which he acts this way. In this case, the intention of showing that aggressiveness is learned during the socialization of the young man since childhood is a way to make visible how much this behavior has been socially nurtured and stimulated. In an attempt not to be ridiculed by his peers, João temporarily adapts to these violent roles when he is with the group, but in the moments he is portrayed alone, he adopts attitudes of care and affection.
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531122In Era uma vez outra Maria, the protagonist also resists the roles that are assigned to her, but in this case, who exerts more pressure on the girl is her family, especially her mother and sister, who demand from Maria her participation in domestic chores, as well as other behaviors according to femininity models valued in Brazilian society, such as sitting with her legs closed, playing with dolls, among others. Some of Maria's behaviors and preferences break, to some extent, with those considered more accepted in our society, since she likes to play soccer and prefers more active games, which involve running and playing with a ball; however, these attitudes are always hindered by a pencil (which represents the norm) or by her mother. The psychological characteristics of the girl fit the attributes of a socially valued femininity: she is romantic and vain. If, on the one hand, the character of Maria is constituted through a model of femininity more socially valued, breaking, only at some moments, with this standard, João shows, more strongly, a type of non-dominant heterosexual identity, given that his attitudes and behaviors break with the most traditional models, attributed to men in our society, demonstrating interrelationships in which the masculine contains elements of the feminine and vice versa (POLICARPO, 2016). In the field of affective and sexual relationships, these characters do not employ an attitude of caring for themselves and the other, being portrayed as sexually vulnerable, so that an unplanned pregnancy happens. In Era uma vez outra Maria, there is questioning, on the part of the protagonist, of the unequal division of labor in her own home; however, when the attributions referring to maternity and paternity are portrayed, there is a clear overburdening of the mother in the care of her child. At the end of the story, it is interesting to note that, in an implicit way, all Maria's questionings about the inequalities related to domestic work, experienced in her house, are put aside, considering that, in the final scene, when João takes his son for a walk, it is possible to notice that the boy is carrying a ball, that is, a toy associated as exclusive to boys. In this way, it is worth questioning why Maria's claims, in the face of these inequalities, do not translate into a different education for her son, since the child appears to be subjectivized, again, to reproduce the hegemonic standards of masculinity. In this sense, the idea is that the vicious circle is not and will not be interrupted, so that there is no visible potential for change in this rigid scheme. On the other hand, although the model of fatherhood portrayed by the audiovisuals reproduces the inequalities with regard to childcare, the manuals do contain discussions about the importance of men's involvement in childcare. In the handbook Trabalhando com homens jovens, that accompanies the video, there is a module entitled "Fatherhood and Caregiving," which presents "discussions around the issue of men's participation in the context of caregiving, focusing primarily on the processes of
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531123socialization to masculinity, from a gender perspective" (ALLIANCE H, 2009, p. 86). The tension between the video My Life of John and its respective manual is evident. A plausible explanation for this distance is the production date of the materials, since the video is from 2006, while the manual is from 2009, i.e., the teaching materials were not developed together. In Brazil, this unequal scheme, which concerns the issue of parenthood, is also translated into public policies, since the right to work leave when the child is born is granted to mothers (120 or 180 days), while the right to paternity leave is restricted to five days. Legally, paternity and maternity are treated differently. Thus, Vianna and Lacerda (2004, p. 116) point out that a dilemma pointed out in different areas in the discussion of sexual and reproductive rights is the "relative invisibility of men"; despite the greater interest in studies of masculinities, evidenced in seminars and publications in the country, this has not been translated into specific political formulations. In this sense, Correa and Petchesky (1996) emphasize the power relations that operate on gender boundaries and concern cultural norms that produce social inequalities in the realm of sexuality and reproduction, so that "this inequality of power includes social systems that do not provide economic or educational incentives for men to become involved in child rearing" (CORREA; PETCHESKY, 1996, p. 166). Therefore, we can infer that these inequalities around motherhood and fatherhood are portrayed in a naturalized way in the didactic audiovisuals and are not questioned, problematized or tensioned. Moreover, wouldn't the option of presenting other types of experiences of maternity and paternity be a way to potentiate the discussion about rights and duties around these themes? In this way, the videos point little to a perspective of change about greater equality of rights and duties, because they end up reinforcing the idea that, while the elements involving reproduction are understood and portrayed as women's responsibility, the possibilities of transformation will be limited and partial. Ávila (2003) emphasizes the need to change the hegemonic model of reproduction and "[...] seek a sociability in which the meaning of fatherhood and motherhood are completely transformed, leading to an egalitarian sexual division of labor in the domestic sphere and in particular in childcare tasks" (ÁVILA, 2003, p.467). Final remarksWe conclude that the hypothesis formulated in the study was confirmed, given that, according to the contents of the videos, the ways of living sexuality at this stage of life are quite prescriptive, since young people are portrayed in the audiovisuals as dependent and
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531124irresponsible, a perspective that restricts the potentialities of changes or ruptures with respect to more traditional models of gender and sexuality, revealing the limits imposed on the production of new knowledge and restricting a deeper reflection on the sexuality of this group. We can infer that such materials act as a device of biopolitics, to the extent that they establish a "politically correct" curriculum, presenting an ideal way to live out sexuality in youth, through its anti-model: there is an investment in highlighting what should not be done and the negative consequences of disrespecting the norms of this ideal model, which supposes what would be the "good life" for this generation. However, the repetition of these models that are presented as "good for everyone" ends up restricting the freedom of individual choice, enclosing the possibilities of an autonomous and reflective sexuality by young people (HELLER; FEHER, 1995). According to the authors, the biopolitical discourse replaces plurality by identity, opinion by "truth", demarcating the existence of a single "politically correct" perspective that aims at the cohesion and unity of the group, assuming that all young people can be guided in the same way, because they have the same behaviors, types of relationships, family, feelings, and desires. This attempt to homogenize the group is, for Heller and Feher (1995), "ideologically overloaded" because it suppresses the differences within the group itself. If we start from the understanding that education is one of the spaces capable of questioning representations, it is possible to question why such audiovisuals miss the opportunity to generate alternative accounts that make it possible to expand the sense and meanings concerning gender and youth culture in our society. Sorj (2009) argues that these crystallized social roles are rarely questioned, since there are interests in maintaining them. We agree with the researcher insofar as there are very clear interests in maintaining these consecrated places, however it is evident that the profound transformations produced in gender and sexuality relations are causing several social changes. Making these transformations visible is a political issue that deserves to be explored so that both men and women realize that greater democratization in these spaces opens up new potentialities for both. In this way, values such as justice, responsibility, and mutual respect would be one of the engines for men's involvement with these changes (BONINO, 2011). Thus, as Trafí-Prates (2014) points out, storytelling can also mean 'changing the conversation', that is, putting into circulation other narratives about ways of knowing that are worthwhile because they reactivate and expand the public and/or private sphere.
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531125As we can see, the audiovisuals that are used to educate young people and train teachers limit themselves to reproducing social roles already established around childcare and domestic services, which show a type of social organization that is very demarcated and that, in the limit, seems to narrow the construction of spaces of resistance or any attempt at democratizing the relations that involve men and women in private spaces. Without a doubt, it is necessary to value the interest of these NGOs in promoting the debate on sexuality and gender in formal education. It is essential to train educators to work with these audiovisuals so that they can foster debates that question these stereotypes and models present in the narratives. Thus, a sexuality education guided by the precepts of human rights which is based on the examination of issues and themes of sexuality and gender in order to problematize them, tension them, question them, in the sense of generating debates and the exchange of ideas, putting into circulation the diverse positions about them, their potentialities and their limits, may be a fruitful path so that each subject may reflect and analyze their own reality and make decisions which are more consistent with their desires, practices and life projects, that is, a perspective more committed to rights than to prescriptions. ACKNOWLEDGEMENTS: The doctoral research, which gave rise to this article, was financed by FAPESP - Research Support Foundation of the State of São Paulo, to which I publicly thank. REFERENCESALIANÇA, H. Série trabalhando com homens jovens. Promundo; Salud y Género; ECOS; Instituto PAPAI. Rio de Janeiro: Promundo, 2009. ÁVILA, M. B. Direitos sexuais e reprodutivos: desafios para as políticas de saúde. Cad.Saúde Pública, v. 19, sup. 2, p. 465-469, 2003. Available at: https://www.scielo.br/j/csp/a/q9MctdsGhp3QSKspjfPt5Rx/?lang=pt. Accessed on: 10 Mar. 2021. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem:problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1990. BALL, M. El esencialismo visual y el objeto de los estudios visuales. Journal of Visual Culture, v. 2, n. 1, p. 5-32, abr. 2003. DOI: 10.1177/147041290300200101. Available at: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/147041290300200101. Accessed on: 10 Mar. 2021.
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531126BONINO, L. Los varones hacia la paridad en lo doméstico: discursos sociales y prácticas masculinas. In:SÁNCHEZ-PALENCIA, C.; HIDALGO, J.C. (Ed.). Masculino plural:Construcciones de la masculinidad. Lérida: Edicions de la Universitat de Lleida, 2011. BRAGA, K.; CAETANO, M.; RIBEIRO, A. A educação e o seu investimento heteronormativo curricular. Momento - Diálogos em Educação, Rio Grande, v. 27, n. 3, p.12-29, 2019. DOI: 10.14295/momento.v27i3.8348. Available at: https://periodicos.furg.br/momento/article/view/8348. Accessed on: 20 Sept. 2021. BROWN, J. L. Derechos sexuales y reproductivos: teoría, política y espacio público. Buenos Aires: Teseo, 2011. CORRÊA, S.; PETCHESKY, R. Direitos sexuais e reprodutivos: uma perspectiva feminista.Physis, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1-2, p.147-177, 1996. Available at: https://www.scielo.br/j/physis/a/K7L76NSSqymrLxfsPz8y87F/abstract/?lang=pt. Accessed on: 20 Oct. 2021. ERA UMA VEZ OUTRA MARIA. Produção: Jah Comunicações. Realização: Projeto M. São Paulo: Projeto M, 2008. 1 DVD (20 min.) DVD, son., color. ESTEBAN, M.P.S. Pesquisa qualitativa em educação:fundamentos e tradições. Porto Alegre: AMGH, 2010. GRUPO GAY DA BAHIA. Relatório mortes violentas de LGBT no Brasil. 2017. Available at: https://homofobiamata.files.wordpress. com/2017/12/relatorio-2081.pdf. Accessed on: 11 Oct. 2020. HELLER, A.; FEHER, F. Biopolítica:la modernidad y la liberación del cuerpo. Barcelona: Península, 1995. HERNÁNDEZ, F. Catadores da cultura visual: proposta para uma nova narrativa educacional. Porto Alegre: Mediação, 2009. LAGO, M. C. S. et al.Difícil falar do agora. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 27, n. 2, p. 1-6, jun. 2019. DOI: 1590/1806-9584-2019v27n265596. Available at: https://www.scielo.br/j/ref/a/hBRWhYsVjRQVDnHshFHK34v/?lang=pt. Accessed on: 10 Apr. 2021. LOURO, G. L. O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999. MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 1999. MINHA VIDA DE JOÃO. Produção: Jah Comunicações. Realização: Projeto H. São Paulo: Projeto H, 2006. 1 DVD (23 min.) DVD, son., color. POLICARPO, V. M. N. M. Para lá da heteronorma: subjetivação e construção da identidade sexual. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 24, n. 2, p. 541-562, ago. 2016. DOI: 10.1590/1805-9584-2016v24n2p541. Available at:
image/svg+xmlTaluana Laiz Martins TORRESRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531127https://www.scielo.br/j/ref/a/cdjZmNfJ7VBjRnq5ryN5Xmf/abstract/?lang=pt. Accessed on: 10 Oct. 2021. RIBEIRO, P. R. M.; MONTEIRO, S. A. S. Dossiê: Avanços e retrocessos da educação sexual no Brasil: apontamentos a partir da eleição presidencial de 2018. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 14, n. esp. 2, p. 1254-1264, jul. 2019. DOI: 10.21723/riaee.v14iesp.2.12701. Available at: https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/12701/8337. Accessed on: 05 Oct. 2021. ROSE, D. Análise de imagens em movimento. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som:um manual prático. 7. ed. Tradução Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2008. SCOTT, J. W. Relendo a história do feminismo. In: SCOTT, J. W. A cidadã paradoxal: as feministas e os direitos do homem. Tradução Elvio A. Funck. Florianópolis: Mulheres, 2002. SOARES, Z. P.; MONTEIRO, S. S. Formação de professores/as em gênero e sexualidade: possibilidades e desafios. Educar em Revista, Curitiba, - SP - v.35, n.73, p.287-305, fev. 2019. DOI: 10.1590/0104-4060.61432. Available at: https://www.scielo.br/j/er/a/KMSmJfk43rKWcRNHWHfWsfC/?lang=pt. Accessed on: 10 Oct. 2021. SORJ, B. Trabalho remunerado e trabalho não remunerado. In: VENTURI, G.; RECAMAN, M.; OLIVEIRA, S. (org.). A mulher brasileira nos espaços público e privado. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2009. TRAFÍ-PRATS, L. Para una formación del profesorado basada en el cosmopolitismo: curriculum derivativo y posibilidades de exploración indirecta de la subjetividad. In: OLIVEIRA, M.; HERNÁNDEZ, F. (org.). A formação do professor e o ensino das artes visuais. Santa Maria: UFSM, 2014. VIANNA, A.; LACERDA, P. Direitos e políticas sociais no Brasil: mapeamento e diagnóstico. Rio de Janeiro: CEPESC, 2004. VIANNA, C. P. Estudos sobre gênero, sexualidade e políticas públicas de educação:as ações coletivas aos planos e programas federais. 2011. 253 p. Tese (Livre Docência) Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo: 2011.
image/svg+xmlGender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materialsRIAEERevista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-558 DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.145531128How to reference this articleTORRES, T. L. M. Gender, sexuality and youth education in Brazilian audiovisual teaching materials. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1114-1128, Apr./June. 2022. e-ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14553 Submitted: 23/12/2020 Revisions required: 02/01/2022 Approved: 27/02/2022 Published: 01/04/2022 Management of translations and versions: Editora Ibero-Americana de Educação Translator: Thiago Faquim Bittencourt Translation reviewer: Alexander Vinícius Leite da Silva