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Gênero e sexualidade: Vivências e concepções de jovens universitários/as do curso de psicologia da cidade de São Paulo
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1181-1196, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14662
1181
GÊNERO E SEXUALIDADE: VIVÊNCIAS E CONCEPÇÕES DE JOVENS
UNIVERSITÁRIOS/AS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA CIDADE DE SÃO PAULO
GÉNERO Y SEXUALIDAD: VIVENCIAS Y CONCEPTOS DE JÓVENES
UNIVERSITARIOS/AS DE LA CARRERA DE PSICOLOGÍA EN LA CIUDAD DE SÃO
PAULO
GENDER AND SEXUALITY: EXPERIENCES AND CONCEPTS OF YOUNG
UNIVERSITY STUDENTS FROM THE PSYCHOLOGY COURSE IN THE CITY OF
SÃO PAULO
Marina TEDESCHI CANO
1
Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
2
RESUMO:
A promoção de debates sobre desigualdades sexuais e de gênero entre os jovens
universitários torna-se cada vez mais necessária. Esta pesquisa tem por objetivo identificar
compreensões de jovens universitários de cursos de Psicologia, de instituições de Ensino
Superior particulares da cidade de São Paulo, sobre sexualidade e gênero, assim como o papel
formador, exercido por elas, no que se refere aos temas. Adotou-se abordagem qualitativa e,
como instrumento de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas com dez universitários/as,
analisadas pela Análise Temática. Constatou-se que: as instituições não apresentam propostas
de trabalho com gênero e sexualidade; existe pouco espaço de promoção de discussões sobre
os temas; as instituições não são meios de obtenção de informação sobre o tema; são
reproduzidos preconceitos e discriminações em práticas institucionais; as relações dos
universitários com seus pares participam da construção de suas concepções sobre sexualidade.
Destaca-se, portanto, a importância do fomento à educação sexual no Ensino Superior.
PALAVRAS-CHAVE:
Gênero. Sexualidade. Universitários. Educação sexual.
RESUMEN:
La promoción de debates sobre desigualdades sexuales y de género entre los
jóvenes universitarios se hace cada vez más necesaria. Se tiene por objetivo identificar
entendimientos de jóvenes universitarios de carreras de Psicología de instituciones de
Enseñanza Superior privadas de la ciudad de São Paulo sobre sexualidad y género, así como
el rol formativo ejercido por las mismas con relación a esos temas. Se adoptó el enfoque
cualitativo y, como instrumento de recolección de datos, entrevistas semiestructuradas con
diez universitarios/as, analizadas por el Análisis Temático. Se constató que: las instituciones
no presentan propuestas de trabajo con género y sexualidad; hay poco espacio de promoción
de debates sobre los temas; se reproducen prejuicios y discriminaciones en prácticas
institucionales; las relaciones de los universitarios entre sus pares participan de la
1
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brasil. Mestranda no Programa de Pós-Graduação
em Educação Sexual. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2174-6288. E-mail: matedeschicano@gmail.com
2
Universidade Estadual Paulista (UNESP), Araraquara
–
SP
–
Brasil. Docente do Programa de Pós-Graduação
em Educação Sexual. Doutorado em Psicologia. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5927-4175. E-mail:
ana.brancaleoni@unesp.br
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Marina TEDESCHI CANO e Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
RIAEE
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1181-1196, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14662
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construcción de sus concepciones sobre sexualidad. Se destaca, por lo tanto, la importancia
del fomento a la educación sexual en la Enseñanza Superior.
PALABRAS CLAVES:
Género. Sexualidad. Universitarios. Educación sexual.
ABSTRACT:
It has been necessary to broaden the debate and struggles against both sexual
and gender inequalities. This article aims to identify the understandings of young university
students, enrolled of Psychology courses at private higher education institutions in the city of
São Paulo, about sexuality and gender, as well as your formative role in relation to the
subject. The qualitative approach was adopted and interviews with ten university students
were conducted by Thematic Analysis and it was found that: institutions do not deal with
gender and sexuality-related issues; there is little or no space for debate and discussion on
the topic; institutions have not been a vehicle for obtaining information about the
subjects; prejudice and discrimination are reproduced in institutional practices; university
students' relationships among their peers participate in the construction of their conceptions
about sexuality. The found data highlight the importance of creating / expanding spaces for
reflection and discussion related to gender and sexuality in Higher Education.
KEYWORDS:
Gender. Sexuality. College students. Sex education.
Introdução
Desde o nascimento de uma criança, a classificação de gênero pauta-se na noção
binária dos corpos biológicos, designando-se se é homem ou mulher. Esse registro, a partir do
momento em que é realizado, traz consigo uma série de características que vão “dizer” de que
maneira esse sujeito deverá se constituir ao longo de sua vida, formando uma delimitação
muito bem definida da naturalização dessas construções (LUCIFORA
et al.
, 2019). O sujeito
que transitar entre ambas as categorias estará se colocando em uma dimensão de
questionamento em relação à sua sexualidade e/ou identidade de gênero, a partir das normas
sociais, políticas e culturais de um determinado contexto histórico.
O conceito de gênero surge na década de 1970, tornando-se notório nas ciências
apenas a partir da década de 80. Tem como intuito inicial distinguir a dimensão biológica da
dimensão da construção histórica da constituição dos sujeitos. Esse conceito permitiu a
abertura de um novo campo de ação para desconstruir categorias já estabelecidas, e é a partir
do uso do mesmo que foi possível começar o questionamento e a desconstrução das categorias
homem e masculino/mulher e feminino (MATOS, 2008).
O debate sobre Gênero e Sexualidade vêm ganhando cada vez mais relevância. No
Brasil, questões como as desigualdades de gênero e os altos índices de violência contra
mulheres, pessoas transexuais e homossexuais demandam que o assunto seja profundamente
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Gênero e sexualidade: Vivências e concepções de jovens universitários/as do curso de psicologia da cidade de São Paulo
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debatido no âmbito acadêmico e que a categorização e a naturalização dos gêneros, nos
diversos espaços sociais, sejam problematizadas. Louro (2007) nos adverte sobre os processos
de hierarquização, em que as diferenças são tomadas como atributos de desigualdade,
pautando relações sociais de poder.
Os processos de classificação e hierarquização binária e heteronormativa dos gêneros
resulta em exclusão, abjeção e violência. Os números de violência de gênero, no Brasil,
expressam os efeitos nefastos dessa configuração. Segundo o Ministério dos Direitos
Humanos - MDH (2018), registrou-se, através da Central de Atendimento à Mulher, 79.661
relatos de violência física e psicológica no período de janeiro a julho de 2018. Além disso, o
Brasil é o país no qual mais se registram mortes contra minorias sexuais. Os relatórios
realizados pelo Grupo Gay da Bahia (MICHELS, 2018) apontam o índice de uma morte a
cada 20 horas, por assassinato ou suicídio, de vítimas da LGBTfobia, apenas no ano de 2018.
Durante o ano de 2019, houve 297 homicídios e 32 casos de suicídio (OLIVEIRA; MOTT,
2020).
Destaca-se que a violência ainda se agrava quando se trata de pessoas transexuais e
travestis. Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais - ANTRA, por meio de
boletim informativo, registraram-se 151 assassinatos de travestis no período de 1º a 31 de
outubro de 2020, ou seja, 22% a mais em relação ao ano de 2019, que totalizou 124 mortes
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS, 2020).
Assim, é essencial problematizar a forma como as diferenças anatômicas, sexuais e de
gênero são hierarquizadas, uma vez que nossa sociedade produz, através dos processos
linguísticos e dos discursos de significação, o diferente como algo que não é “normal”. Para
Louro (2018), essa inscrição é feita, nos corpos, a partir das marcas de determinadas culturas,
compostas e definidas pelas redes de poder de uma sociedade. Butler (2003) aponta que:
Em outras palavras, a construção política do sujeito procede vinculada a
certos objetivos de legitimação e de exclusão, e essas operações políticas são
efetivamente ocultas e naturalizadas por uma análise política que toma as
estruturas ocultas e naturalizadas por uma análise política que toma as
estruturas jurídicas como seu fundamento (BUTLER, 2003, p. 19).
Sob a perspectiva da compreensão da construção histórica, social, política e cultural
dos conceitos de gênero, sexualidade, feminino e masculino, se faz necessário entender
também de que maneira os sujeitos sociais reproduzem essas categorias nos diversos setores
de nossa sociedade. No que diz respeito ao setor educacional no Brasil, é possível encontrar
diversos trabalhos e estudos a respeito do tema gênero e sexualidade, relacionados à Educação
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Marina TEDESCHI CANO e Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
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Básica e à formação de professores. O que nos chama atenção é que, quando se refere ao
Ensino Superior, o trabalho com jovens universitários em relação a essa temática ainda é
pouco problematizado, mesmo que seja um espaço educacional propício à discussão e à
reflexão sobre as categorizações de gênero.
Destaca-se também que a atribuição do Ensino Superior é formar profissionais
capacitados para respeitar e lidar com as diversidades. De acordo com a LDB
–
Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), número 9.394/96, artigo 43, a Universidade
deve garantir a formação de profissionais em diversas áreas do conhecimento, que atuem
profissionalmente em setores de trabalho que visem o desenvolvimento da sociedade,
permitindo que os alunos e alunas recebam estímulos para criação cultural, desenvolvimento
do pensamento crítico e conhecimento científico (BRASIL, 1996). Além disso, é também
dever da Universidade a formação de cidadãos responsáveis com a sociedade, que prestem
serviços à comunidade e que se conscientizem dos problemas do mundo (CASTRO
et al.
,
2016).
Os jovens universitários, de acordo com a Organização Pan Americana de Saúde
(OPAS), são categorizados como juventude ou adolescência tardia, um período que
compreende a tentativa de atingir um processo de maturidade cognitiva, emocional, física e
social, além da busca por sua individualidade. É um período em que o jovem transita da
infância para a vida adulta, vivenciando novas experiências sexuais atreladas a incertezas e
dúvidas, como seria o caso das preocupações com gravidez, doenças sexualmente
transmissíveis etc (ZOCCA
et al.
, 2016).
Qual seria, então, o trabalho desenvolvido pelas instituições de Ensino Superior em
relação à Educação Sexual? Como o tema sexualidade e gênero está inserido nesse contexto?
Os alunos e alunas possuem algum acesso à formação e/ou fontes de informação relacionados
ao tema em sua formação na graduação? Essas questões foram importantes para delimitar o
campo do presente artigo, partindo do questionamento sobre a relação entre universitários e a
temática gênero e sexualidade.
Assim, a partir da relevância de discussões e debates em relação ao tema gênero e
sexualidade entre o público universitário, propõe-se investigar a percepção de graduandos de
psicologia sobre a formação em sexualidade e gênero promovida pela Universidade, assim
como o papel desempenhado pela mesma na constituição de suas concepções atuais sobre as
temáticas.
Destaca-se que, segundo a Resolução do Conselho Federal de Psicologia de n. 001/99,
Art. 2º, os profissionais formados em Psicologia devem contribuir com seu conhecimento
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Gênero e sexualidade: Vivências e concepções de jovens universitários/as do curso de psicologia da cidade de São Paulo
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para uma reflexão sobre o preconceito, visando o desaparecimento de discriminações e
estigmatizações contra aqueles que apresentam comportamentos ou práticas homoeróticas e
proíbe qualquer ação de psicólogos(as) que possam colaborar com uma representação da
homossexualidade como doença ou anormalidade, bem como realizar terapias para mudança
de sua orientação sexual.
Além disso, os cursos de Psicologia devem estar em consonância com a temática da
diversidade, integrando-a em seu programa, já que o debate das políticas de inclusão das
minorias é um dos desafios da Educação e, também, por ser um curso que tem sido muito
influente nos discursos educacionais (DINIS, 2012). Ressalta-se que o código de ética
profissional do psicólogo (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2005) também prevê,
segundo seus princípios fundamentais, que o psicólogo deve trabalhar visando promover
saúde e qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de
quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Procedimentos metodológicos
Adotou-se abordagem qualitativa de pesquisa, escolhida por possibilitar o trabalho
com questões que não podem ser quantificadas. Seu objeto se relaciona com o universo dos
significados, crenças, valores, aspirações e atitudes, que dizem respeito aos fenômenos
humanos que estão atrelados aos pensamentos e interpretações de suas ações a partir de uma
realidade vivida (MINAYO, 1994). Como nos indica Minayo (1994): “a interrelação que
contempla o afetivo, o existencial, o contexto do dia a dia, as experiências e a linguagem do
senso comum no ato da entrevista é condição
sine qua non
do êxito da pesquisa qualitativa.”
Em relação aos sujeitos da pesquisa, são jovens do último ano da graduação de cursos
de Psicologia de Instituições de Ensino Superior da cidade de São Paulo. Escolheu-se como
recorte o último ano de graduação uma vez que a pesquisa está relacionada às experiências
vivenciadas pelos entrevistados ao longo de sua permanência nas instituições. A escolha por
alunos e alunas do curso de Psicologia foi feita em função da proximidade entre Psicologia
com o tema sexualidade, pois embora os currículos, em geral, não possuam nenhuma
disciplina específica sobre essa temática, a Psicanálise está presente em toda formação de
graduação em Psicologia, o que faz com que de uma forma ou de outra encontrem-se por dada
perspectiva teórica com o tema (MOURA
et al.
, 2011).
Destaca-se também que faz parte da formação do psicólogo o desenvolvimento da
escuta qualificada, ou seja, uma escuta que não traga juízo de valores e moral, possibilitando
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que assuntos polêmicos possam surgir nessa abertura de espaço para a diversidade,
preconizada pelo código de ética da profissão (MOURA
et al.
, 2011). Assim, para que esta
condição seja promovida, é fundamental que os cursos contemplem a dimensão da
diversidade e do respeito à mesma, rompendo com padrões normativos instituintes e
mantenedores de relações de exclusão e violência.
Para a realização da pesquisa foram escolhidos dez sujeitos, e as entrevistas foram
analisadas profundamente para que os significados das respostas não fossem elaborados
superficialmente. De acordo com Bogdan e Biklen (1994), o interesse por esse tipo de
pesquisa se dá pelo fato de o pesquisador querer entender a maneira que as pessoas vivenciam
suas experiências, o que pensam sobre as mesmas e como estão inseridas em seus contextos
de vida. Dessa forma, a troca entre o investigador e o sujeito é mais semelhante a uma
conversa do que uma sessão formal de perguntas.
Os sujeitos foram escolhidos a partir da divulgação da pesquisa através de pessoas do
círculo social de uma das pesquisadoras. O critério de exclusão foi de sujeitos que não
estivessem cursando o último ano do curso de Psicologia. Foram escolhidas 5 universitárias
do gênero feminino e 5 do gênero masculino, com o intuito de obter paridade de gênero.
O convite para a participação foi realizado pessoalmente, com as explicações sobre os
objetivos da pesquisa e a entrega e leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido,
elaborado pelos pesquisadores e assinados digitalmente antes do início da pesquisa, após
aprovação pelo Comitê de Ética.
Para a coleta de dados, foi utilizada a entrevista semiestruturada, que possibilita que os
sujeitos possam expressar livremente suas opiniões e reflexões além da proposta da pesquisa.
Foi elaborado pelos pesquisadores um roteiro de entrevistas. As entrevistas foram áudio-
gravadas e integralmente transcritas posteriormente. Decidiu-se que as entrevistas fossem
realizadas por videochamada em função da pandemia por Covid-19 que assola o país.
Para análise de dados, utilizou-se o método de Análise Temática, proposto por Minayo
(1994). Ele consiste em analisar as falas dos sujeitos a partir do contexto social em que estão
inseridos, sendo os resultados constituídos numa aproximação da realidade social. Esse
método possui dois níveis de interpretação dos dados coletados: o primeiro se refere à
conjuntura sócio-histórica que o grupo pesquisado está inserido e o segundo ao que aparece
no encontro que realizamos com os fatos que surgem na investigação (GOMES, 1994). As
categorias da pesquisa foram elaboradas a priori, baseadas no roteiro de entrevista utilizado
para a coleta de dados. Para o presente artigo, a categoria analisada segue no quadro abaixo:
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Gênero e sexualidade: Vivências e concepções de jovens universitários/as do curso de psicologia da cidade de São Paulo
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DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14662
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Quadro 1
–
Descrição da categoria analisada
Tema
Categoria
Descrição
●
Relações entre instituições de Ensino
Superior e questões de gênero e sexualidade;
●
Espaços de informação e discussão nas
instituições de Ensino Superior;
●
Informação sobre gênero e sexualidade;
●
Experiências e compreensões a partir de
vivências universitárias.
Instituições
de Ensino
Superior e
educação
sexual
Nessa categoria discute-se quais
ações formativas as instituições de
Ensino Superior fornecem em
relação ao gênero e à sexualidade;
espaços de discussão e acolhimento
institucional. Discute-se também a
atuação de coletivos de estudantes
nesse processo formativo.
Fonte: Elaborado pelas autoras
Resultados e Discussão
Perfil dos entrevistados
Os entrevistados e entrevistadas tinham idade que variou entre 23 e 33 anos. Foram
identificados, ao longo do trabalho, com a letra S, sendo, portanto, o primeiro entrevistado o
S1, o segundo S2, e assim sucessivamente até o S10.
Eram provenientes de instituições de Ensino Superior privadas, sendo 3 Universidades
e 1 Centro Universitário, e apenas 2 realizaram o Ensino Médio em instituições públicas de
ensino. Dos 10 entrevistados, 2 se declararam bissexuais, 2 homossexuais e 6 heterossexuais;
2 possuem relacionamento fixo, sendo que 1 mora com seu(sua) parceiro(a), e 8 são solteiros.
Os 10 entrevistados se declararam cis gênero e não possuem filhos(as). Quanto à religião, 1 se
declarou ateu, 1 católico, 1 adventista do sétimo dia, 1 judeu e 6 não possuem religião.
Quadro 2
–
Perfil dos entrevistados
Sujeitos
Idade
Gênero
Rede
de
ensino
médio
Instituição
universitária
Estado
Civil
Sexualidade
Religião
Renda
familiar
(salário-
mínimo)
Estuda/
trabalha
S 1
33
Mulher
Privada
Privada
Solteira
Lésbica
Atéia
10 a 15
Estuda/
trabalha
S 2
28
Mulher
Privada
Privada
Solteira
Bissexual
Não possui
6
Estuda/
trabalha
S 3
23
Mulher
Pública
Privada
Solteira
Heterossexual
Adventista
do Sétimo
Dia
3 a 4
Estuda/
trabalha
S4
23
Mulher
Pública
Privada
Solteira
Heterossexual
Católica
2
Estuda/
trabalha
S5
24
Mulher
Privada
Privada
Solteira
Lésbica
Não possui
3
Estuda
S 6
28
Homem
Privada
Privada
Solteiro
Heterossexual
Judeu
20
Estuda/
trabalha
S 7
28
Homem
Privada
Privada
Solteiro
Heterossexual
Não possui
25 a 30
Estuda/
trabalha
S 8
23
Homem
Privada
Privada
Solteiro
Heterossexual
Não possui
5 a 6
Estuda/
trabalha
S 9
24
Homem
Privada
Privada
Solteiro
Bissexual
Não possui
5 a 6
Estuda/
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Marina TEDESCHI CANO e Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1181-1196, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14662
1188
trabalha
S 10
30
Homem
Privada
Privada
Solteiro
Heterossexual
Não possui
3 a 5
Estuda/
trabalha
Fonte: Elaborado pelas autoras
Relação entre instituições de Ensino Superior e questões de gênero e sexualidade
Ao serem questionados a respeito da maneira como as instituições de Ensino Superior
lidam com as questões de gênero e sexualidade, as respostas foram muito parecidas, ainda que
tenhamos, na amostra da pesquisa, 4 instituições particulares diferentes. A grande parte dos
entrevistados respondeu que a instituição “não lida bem” com as questões de gênero e
sexualidade. Apontaram para o silenciamento, por parte das instituições de Ensino Superior,
tanto em relação aos preconceitos e discriminações ocorridos dentro quanto fora da mesma,
como também a omissão do tratamento pedagógico dos temas, ou promoção de espaços para
debate, discussões e reflexões sobre as questões. Como afirmam as pessoas entrevistadas:
“Não lida bem. Eu
acho que a gente vive um momento que está caminhando
para isso, então, hoje, a universidade tem grupos de discussão para isso,
sobre o tema. Mas, no geral, é comum você estar na universidade e você
ouvir falar de episódios de homofobia, por exemplo... assédio. Eu acho que
a universidade, no geral, precisa melhorar, ainda precisa trabalhar isso...
precisa trazer isso para a luz.” (S4)
“Mal, muito mal... E isso eu tô falando da
instituição
. É péssimo porque, se
depender de todo o processo burocrático da instituição, não se fala de
gênero... a gente conversa sobre gênero porque é uma movimentação dos
alunos... coletivos... dos alunos... se depender da universidade, não tem.”
(S7)
“São pouquíssimos professores que eu vi fazerem qualquer tipo de discussão
em relação a gênero durante esses cinco anos de faculdade, tem até alguns
professores com preocupação a isso e estamos no décimo semestre ouvindo
gente dizer que não sabe o que é Trans, o que é Cis... o que é o que... esse
papo, mas isso não tem nada a ver com
a matéria.” (S1)
É importante ressaltar que, quando os entrevistados trazem a ideia de que a instituição
de Ensino Superior “não lida”, eles se referem ao fato da mesma não oferecer nenhum tipo de
acolhimento para situações que ocorrem relacionadas a assédio, preconceito, assim como não
apresenta espaço para que o tema seja debatido e trabalhado entre os universitários e possa
abrir para que as pessoas sejam ouvidas, pois na medida em que se silencia, de uma forma ou
de outra, coaduna-se com preconceitos e discriminações, como relata o S3, por exemplo:
“A universidade, no geral, não. Qualquer coisa em relação a esse assunto
é... vamos esconder. Isso estou falando e vai ficar entra a gente, né? Que
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eles me expulsam, mas é isso... Vamos esconder sempre, não vamos falar
sobre isso”.
A partir dessa fala, notamos que a prática do silenciamento está intimamente presente
dentro da instituição de Ensino Superior. Essa constatação vai ao encontro de Junqueira
(2013), que afirma que a escola, assim como diversos outros espaços sociais e institucionais,
mantém práticas regulatórias a partir dos parâmetros da heteronormatividade. O
silenciamento, ou o que também podemos chamar de pedagogia do armário, molda
pedagogicamente as relações do sujeito que sofreu violências sexuais e de gênero, e que não
foi ouvido/acolhido, com o mundo. Esse processo de ocultação, além de regular a vida social
das pessoas, também faz com que elas permaneçam caladas, escondidas dentro do “armário”.
A resposta acima, de S3, indica não apenas o fato da instituição de Ensino Superior
não oferecer o acolhimento em relação ao tema, mas também que ela, além disso, “esconde”.
Isso também aparece na continuação da resposta do S7:
“[...] Inclusive, eu participei de duas semanas da psicologia, de monta
r
cronograma, de conversar sobre a administração de como vai ser,
chamando gente para palestrar e o que acabou acontecendo foi que você vai
chamar uma pessoa trans para falar sobre diversidade trans, sexualidade,
sei lá... simplesmente não pode... é vetado diretamente pelo reitor e pela
galera da administração”.
Temos, portanto, no depoimento, a ratificação do apagamento da possibilidade de
respeitar o lugar de fala de pessoas transexuais, como forma de luta contra o preconceito e a
transfobia que, nesse caso, é reforçada pela negação desse espaço. Esse também é um dos
mecanismos de terrorismo impostos pela heteronormatividade, que inibe um comportamento,
a existência de corpos chamados de “estranhos”, utilizando a invisibilização como mecanismo
de eliminação de discursos que escapam à normatividade (BENTO, 2011).
Como refere Louro (2008, p. 22):
Quanto à diferença, é possível dizer que ela seja um atributo que só faz
sentido ou só pode se constituir em uma relação. A diferença não preexiste
nos corpos dos indivíduos para ser simplesmente reconhecida; em vez disso,
ela é atribuída a um sujeito (ou a um corpo, uma prática, ou seja lá o que for)
quando relacionamos esse sujeito (ou esse corpo ou essa prática) a um outro
que é tomado como referência.
Embora as instituições de Ensino Superior sejam um campo propício para a construção
de saberes e desenvolvimento de pensamento crítico por parte dos universitários, nota-se que
há uma omissão e, até mesmo, uma negação de trabalho relacionado a gênero e sexualidade.
As instituições de Ensino Superior, dessa forma, seguem o mesmo caminho que tantas outras
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Marina TEDESCHI CANO e Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
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instituições no Brasil: reproduzem padrões e marcadores sociais, contribuindo para a
manutenção de preconceitos, desigualdades, hierarquias sociais, sem que isso apareça como
opressão ou dominação (NARDI
et al.
, 2013).
Espaço de discussão nas Instituições de Ensino Superior
Nesse aspecto, as respostas dos entrevistados variaram, quando questionados a
respeito dos espaços oferecidos pelas instituições para informação e discussão sobre
sexualidade e gênero. Parte dos entrevistados foram categóricos em afirmar que não existe
espaço nenhum em relação a isso, com afirmações simples como
“Não!”
ou
“Não, nunca vi”
ou ainda
“Posso ser sincero? Que eu saiba não”
.
Somado a essas respostas, alguns dos entrevistados trouxeram, em suas falas, a
confirmação de tais afirmações, dizendo que passam o dia na universidade e que nunca viram
nenhum movimento ou divulgação de eventos que acontecem nesse sentido, como trazido por
esse sujeito:
“[...] eu passo o dia na universidade e eu não tive acesso a esse tipo de
informação... nesse sentido, não é muito divulgado não”.
Também encontramos o relato sobre espaços esporádicos para o estudo do tema, de
acordo com o S5:
“Pouquíssimos, eu acho que ao longo da graduação existiu um núcleo que
aborda as questões sobre sexualidade. Eu frequentei uma ou duas reuniões,
e ainda é algo meio fechado, meio que aquilo que é falado e que é
transmitido não necessariamente carrega algumas rupturas sobre o que é a
orientação sexual ou do que é gênero” (S5).
Os sujeitos que afirmaram que sim, que a instituição de Ensino Superior oferecia
espaço, apresentaram dados em relação a alguns professores do curso de Psicologia que
“provocavam” os
alunos em sala de aula sobre questões relacionadas ao tema; um núcleo de
estudos que aconteceu há alguns anos e que não possui mais frequência de encontros; um
grupo que se reúne para debater o assunto, mas que é apenas frequentado por alunos de
Psicologia, Ciências Sociais e Enfermagem, mas que surgiu a partir de iniciativas dos
próprios alunos e não da instituição, como segue a abaixo:
“Eu vejo muito mais uma disponibilidade da instituição em dar espaço para
os alunos... então, eu sou do comitê organização da jornada psicodinâmica
e a gente já, em algumas palestras, já trouxemos a questão do gênero.
Então, eles oferecem espaço para os alunos que buscam, mas a iniciativa é
dos alunos” (S10).
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Gênero e sexualidade: Vivências e concepções de jovens universitários/as do curso de psicologia da cidade de São Paulo
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1181-1196, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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Os dados coletados para a pesquisa revelam que na percepção das pessoas
entrevistadas, as instituições de Ensino Superior em que estudam não promovem práticas
relacionadas ao debate e discussão do tema gênero e sexualidade, não oferecem serviços de
acolhimento para vítimas de agressão, mantendo práticas como silenciamento e invisibilidade,
ainda que continue sendo nesse contexto que relatem suas mais diversas vivências de
sexualidade e de relações de gênero.
Informações sobre sexualidade e gênero
Ao serem questionados sobre as fontes que utilizavam para obterem informações
relacionadas a gênero e sexualidade, a referência às instituições de Ensino Superior não
aparece em nenhuma das respostas dos entrevistados. Em quase todas as entrevistas os meios
mais citados são as plataformas digitais como Facebook, Twitter, Youtube, Instagram,
podcasts, blogs e redes sociais em geral, como podemos constatar nas falas abaixo:
“Eu faço muito parte do Twitter, então eu pego muita coisa pelo Twitter que
eu sempre acabo parando em algum blog... ou algum vídeo que tem texto, é
geralmente Twitter e Instagram também”. (S2)
“É... hoje? Acaba sendo meio ocasional. A maior parte é por página no
Facebook, no Instagram... não existe algo que eu busque como referência
muito sólida”. (S8)
Comparecem também, como fontes de informações, os livros, filmes, documentários e
artigos científicos, como buscas pessoais, presentes nas seguintes afirmações:
“Internet, redes sociais... coisas que eu leio que eu procuro
para ler...
artigos e livros.” (S3)
“Livros, blogs, artigos científicos, documentários, filmes...”. (S9)
“Eu acho que eu comecei há uns anos... é... por conta de grupos feministas
via Facebook, e aí comecei por ai estudar. Fui estudar teoria de gênero,
comecei a pesquisar mais. Acho que teve um tanto também desse estudo que
fez parte da minha descoberta, da minha aceitação enquanto mulher
lésbica... acho que foi um pouco por essa área aí também”. (S1)
A partir da análise dos dados, indica-se que as instituições de Ensino Superior não são
reconhecidas como locais de busca, troca e construção de conhecimentos sobre sexualidade e
gênero. Em pesquisa realizada com 32 alunos de um curso de graduação de uma universidade
pública, por Brancaleoni, Oliveira e Silva (2018), também foi constatado que a instituição
universitária e os profissionais de saúde foram os menos citados em relação às fontes de
informações sobre gênero e sexualidade. Os autores da referida pesquisa também afirmam:
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Marina TEDESCHI CANO e Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
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A universidade é um espaço de interação, circulação e construção de valores
em que os universitários, em sua maioria, encontram-se em uma fase de
descobertas e experiências sexuais, assim como de questionamentos acerca
da sexualidade e do gênero. Por outro lado, o meio universitário também se
constitui como espaço em que preconceitos e estereótipos sobre sexualidade
e gênero são mantidos e reproduzidos” (2018, p. 27).
Reforça-se, com isso, a ideia de que as instituições de Ensino Superior continuam
exercendo a função de manutenção de padrões de gênero e sexualidade, uma vez que não
favorecem a circulação de informações sistematizadas e confiáveis sobre a temática, sendo
pouco reconhecidas como espaço confiável de informação e formação pelos entrevistados, em
detrimento das redes sociais, por exemplo.
Experiências e comprenssões a partir da vivência universitária
No que se refere a compreensões sobre gênero e sexualidade a partir das experiências
universitárias, todos os entrevistados disseram que sim, que as vivências nas instituições de
Ensino Superior trouxeram novos conhecimentos sobre sexualidade e gênero. As vivências
relatas pelos entrevistados deram-se a partir de troca com os amigos e colegas de sala, contato
com a diversidade sexual, experiências que eles tiveram em relação à própria sexualidade e
busca por informações a partir de uma preocupação com a profissão, por exemplo:
“Acho que sim, até pela psicologia tratar de pessoas, você tem que estar
preparado para ouvir muitas coisas que, às vezes, você não conheça, não
saiba...acho que é algo que eu tenho que me aprofundar mais. Como eu
disse, tenho dificuldade em associar os termos às palavras, tenho que
procurar saber até mais. O curso nunca me propiciou nada direto, como
“ah, vamos ler sobre esse tema”, m
as é algo meio inerente à profissão...
posso estar atendendo ano que vem e ter um paciente que fale sobre essas
questões... seria bem estranho eu demonstrar desconhecimento sobre a dor
dele.” (S8)
Outro dado importante é que a OMS
–
Organização Mundial da Saúde
–
estabelece
que é considerado jovem o sujeito que se encontra entre a faixa etária de 10 a 24 anos, e que
essa é a população mais suscetível a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Grande
parte dos jovens universitários encontra-se nessa categoria, como nota-se nos dados coletados
da presente pesquisa, onde 50% dos entrevistados estão nessa faixa etária, estando, portanto,
mais expostos a doenças como gonorreia, vírus da Hepatite B e vírus da imunodeficiência
humana (HIV), sífilis, infecção por clamídia etc. (CASTRO
et al.
, 2016). Além disso, soma-
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Gênero e sexualidade: Vivências e concepções de jovens universitários/as do curso de psicologia da cidade de São Paulo
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se o fato de que esses jovens estão se inserindo socialmente e vivenciando experiências que
vão fazer parte de seus processos de identidade.
Sendo assim, o debate sobre gênero e sexualidade se torna fundamental entre os jovens
universitários, tanto em relação ao aspecto social dessa temática como ao aspecto da saúde, já
que é nesse momento que os conhecimentos sobre si mesmo, sobre sua sexualidade,
subjetividade e lugar que ocupa na sociedade se fazem urgentes e necessários. Além disso, é
importante que as instituições de Ensino Superior sejam espaços formadores de cidadania,
contribuindo para a diminuição das taxas de homicídio e suicídio, tanto da população LGBT+
como também de casos de violência contra a mulher, feminicídios, e qualquer crime e
violência relacionada a gênero e sexualidade.
Considerações finais
De acordo com as respostas, as Instituições de Ensino Superior não propiciam um
campo de informações e discussões sobre o tema, assim como há falta de acolhimento para
questões que emergem no contexto universitário, ainda que seja papel formativo da instituição
oferecer o espaço para construção de pensamento crítico, de trabalho com a diversidade.
Os dados encontrados na pesquisa estão em consonância com o que foi apresentado a
partir da revisão bibliográfica da introdução do presente artigo, apontado para o fato de que a
educação sexual deve estar presente também no Ensino Superior, pois os sujeitos
entrevistados apresentaram pontos relevantes no que diz respeito à falta de envolvimento das
Instituições de Ensino Superior com as questões de gênero e sexualidade.
O fato de os entrevistados serem alunos do último ano de Psicologia também é
importante de ser ressaltado, pois o curso, apesar de proporcionar algumas poucas disciplinas
pontuais a respeito do tema, ainda apresenta escassez de debates e proporção de aulas e
professores que se aprofundam sobre essas questões, aparecendo somente nas respostas de
poucos sujeitos da pesquisa. Os profissionais que atuarão como psicólogos carecem ter
desenvolvido a escuta não normativa como ferramenta de trabalho, sendo necessário que
tenham uma formação plural e diversa, pois vão lidar com pessoas que ocupam lugares
diversos na nossa sociedade. Assim, a partir dos dados encontrados, depreende-se que as
Instituições de Ensino Superior em questão não estão atendo a quesitos necessários à
formação efetiva do psicólogo.
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Marina TEDESCHI CANO e Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1181-1196, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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Marina TEDESCHI CANO e Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
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Como referenciar este artigo
CANO, M. T.; BRANCALEONI, A. P. L. Gênero e Sexualidade: Vivências e concepções de
jovens universitários do curso de Psicologia da cidade de São Paulo.
Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 7, n. 2, p. 1181-1196, abr./jun. 2022. e-
ISSN: 1982-5587. DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14662
Submetido em:
22/01/2021
Revisões requeridas em
: 15/02/2021
Aprovado em
: 09/03/2022
Publicado em
: 01/04/2022
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Género y sexualidad: Vivencias y conceptos de jóvenes universitarios/as de la carrera de psicología en la ciudad de São Paulo
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1186-1201, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.14662
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GÉNERO Y SEXUALIDAD: VIVENCIAS Y CONCEPTOS DE JÓVENES
UNIVERSITARIOS/AS DE LA CARRERA DE PSICOLOGÍA EN LA CIUDAD DE
SÃO PAULO
GÊNERO E SEXUALIDADE: VIVÊNCIAS E CONCEPÇÕES DE JOVENS
UNIVERSITÁRIOS/AS DO CURSO DE PSICOLOGIA DA CIDADE DE SÃO PAULO
GENDER AND SEXUALITY: EXPERIENCES AND CONCEPTS OF YOUNG
UNIVERSITY STUDENTS FROM THE PSYCHOLOGY COURSE IN THE CITY OF
SÃO PAULO
Marina TEDESCHI CANO
1
Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
2
RESUMEN:
La promoción de debates sobre desigualdades sexuales y de género entre los
jóvenes universitarios se hace cada vez más necesaria. Se tiene por objetivo identificar
entendimientos de jóvenes universitarios de carreras de Psicología de instituciones de
Enseñanza Superior privadas de la ciudad de São Paulo sobre sexualidad y género, así como
el rol formativo ejercido por las mismas con relación a esos temas. Se adoptó el enfoque
cualitativo y, como instrumento de recolección de datos, entrevistas semiestructuradas con
diez universitarios/as, analizadas por el Análisis Temático. Se constató que: las instituciones
no presentan propuestas de trabajo con género y sexualidad; hay poco espacio de promoción
de debates sobre los temas; se reproducen prejuicios y discriminaciones en prácticas
institucionales; las relaciones de los universitarios entre sus pares participan de la
construcción de sus concepciones sobre sexualidad. Se destaca, por lo tanto, la importancia
del fomento a la educación sexual en la Enseñanza Superior.
PALABRAS CLAVES:
Género. Sexualidad. Universitarios. Educación sexual.
RESUMO:
A promoção de debates sobre desigualdades sexuais e de gênero entre os jovens
universitários torna-se cada vez mais necessária. Esta pesquisa tem por objetivo identificar
compreensões de jovens universitários de cursos de Psicologia, de instituições de Ensino
Superior particulares da cidade de São Paulo, sobre sexualidade e gênero, assim como o
papel formador, exercido por elas, no que se refere aos temas. Adotou-se abordagem
qualitativa e, como instrumento de coleta de dados, entrevistas semiestruturadas com dez
universitários/as, analisadas pela Análise Temática. Constatou-se que: as instituições não
apresentam propostas de trabalho com gênero e sexualidade; existe pouco espaço de
promoção de discussões sobre os temas; as instituições não são meios de obtenção de
informação sobre o tema; são reproduzidos preconceitos e discriminações em práticas
1
Universidad Estatal Paulista (UNESP), Araraquara - SP - Brasil. Estudiante de maestría en el Programa de
Posgrado en Educación Sexual. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2174-6288. E-mail:
matedeschicano@gmail.com
2
Universidad Estatal Paulista (UNESP), Araraquara - SP - Brasil. Profesora del Programa de Posgrado en
Educación Sexual. Doctora en Psicología. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5927-4175. E-mail:
ana.brancaleoni@unesp.br
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Marina TEDESCHI CANO y Ana Paula LEIVAR BRANCALEONI
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1186-1201, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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institucionais; as relações dos universitários com seus pares participam da construção de
suas concepções sobre sexualidade. Destaca-se, portanto, a importância do fomento à
educação sexual no Ensino Superior.
PALAVRAS-CHAVE:
Gênero. Sexualidade. Universitários. Educação sexual.
ABSTRACT:
It has been necessary to broaden the debate and struggles against both sexual
and gender inequalities. This article aims to identify the understandings of young university
students, enrolled of Psychology courses at private higher education institutions in the city of
São Paulo, about sexuality and gender, as well as your formative role in relation to the
subject. The qualitative approach was adopted and interviews with ten university students
were conducted by Thematic Analysis and it was found that: institutions do not deal with
gender and sexuality-related issues; there is little or no space for debate and discussion on
the topic; institutions have not been a vehicle for obtaining information about the
subjects; prejudice and discrimination are reproduced in institutional practices; university
students' relationships among their peers participate in the construction of their conceptions
about sexuality. The found data highlight the importance of creating / expanding spaces for
reflection and discussion related to gender and sexuality in Higher Education.
KEYWORDS:
Gender. Sexuality. College students. Sex education.
Introducción
Desde el nacimiento de un niño, la clasificación de género se basa en la noción binaria
de cuerpos biológicos, designando si es masculino o femenino. Este registro, desde el
momento en que se realiza, trae consigo una serie de características que "dirán" cómo debe
constituirse este sujeto a lo largo de su vida, formando una delimitación muy bien definida de
la naturalización de estas construcciones (LUCIFORA
et al.
,
2019). El sujeto que transita
entre ambas categorías se estará situando en una dimensión de cuestionamiento en relación a
su sexualidad y/o identidad de género, desde las normas sociales, políticas y culturales de un
contexto histórico determinado.
El concepto de género surgió en la década de 1970, haciéndose notorio en la ciencia
solo a partir de la década de 1980. Su propósito inicial es distinguir la dimensión biológica de
la dimensión de la construcción histórica de la constitución de los sujetos. Este concepto
permitió la apertura de un nuevo campo de acción para deconstruir categorías ya establecidas,
y es a partir del uso de las mismas que se logró iniciar el cuestionamiento y deconstrucción de
las categorías masculino y masculino/femenino y femenino (MATOS, 2008).
El debate sobre Género y Sexualidad está ganando cada vez más relevancia. En Brasil,
temas como las desigualdades de género y los altos índices de violencia contra las mujeres,
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Género y sexualidad: Vivencias y conceptos de jóvenes universitarios/as de la carrera de psicología en la ciudad de São Paulo
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1186-1201, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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las personas transgénero y los homosexuales exigen que el tema sea profundamente debatido
en el ámbito académico y que se problematice la categorización y naturalización de los
géneros, en los diversos espacios sociales. Louro (2007) nos advierte sobre los procesos de
jerarquía, en los que las diferencias se toman como atributos de desigualdad, guiando las
relaciones sociales de poder.
Los procesos de clasificación y jerarquización binaria y heteronormativa de los
géneros resultan en exclusión, abyección y violencia. Las cifras de violencia de género en
Brasil expresan los efectos nocivos de esta configuración. Según el Ministerio de Derechos
Humanos - MDH (2018), de enero a julio de 2018 se registraron 79.661 denuncias de
violencia física y psicológica a través del Centro de Atención a la Mujer. Además, Brasil es el
país en el que más se registran las muertes contra minorías sexuales. Los informes realizados
por el Grupo Gay de Bahía (MICHELS, 2018) indican la tasa de una muerte cada 20 horas,
por asesinato o suicidio, de víctimas de LGBTfobia, solo en 2018. Durante 2019, hubo 297
homicidios y 32 casos de suicidio (OLIVEIRA; MOTT, 2020).
Cabe destacar que la violencia sigue agravada cuando se trata de personas transexuales
y travestis. Según la Asociación Nacional de Travestis y Transexuales - ANTRA, a través de
un boletín, se registraron 151 asesinatos de travestis en el periodo del 1 al 31 de octubre de
2020, es decir, un 22% más que en 2019, que totalizaron 124 muertes (ASOCIACIÓN
NACIONAL DE TRAVESTIS Y TRANSEXUALES, 2020).
Así, es fundamental problematizar la forma en que las diferencias anatómicas,
sexuales y de género son jerárquicas, ya que nuestra sociedad produce, a través de procesos
lingüísticos y discursos de significado, lo diferente como algo que no es "normal". Para Louro
(2018), esta inscripción se realiza, en los cuerpos, a partir de las marcas de ciertas culturas,
compuestas y definidas por las redes de poder de una sociedad. Butler (2003) señala que: