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A convivência ética em escolas públicas: Análise de um programa de intervenção a partir das perspectivas dos profissionais da escola
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1293-1310, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.15032
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A CONVIVÊNCIA ÉTICA EM ESCOLAS PÚBLICAS: ANÁLISE DE UM
PROGRAMA DE INTERVENÇÃO A PARTIR DAS PERSPECTIVAS DOS
PROFISSIONAIS DA ESCOLA
LA CONVIVENCIA ÉTICA EN ESCUELAS PÚBLICAS: ANÁLISIS DE UN
PROGRAMA DE INTERVENCIÓN A PARTIR DE LAS PERSPECTIVAS DE LOS
PROFESIONALES DE LA ESCUELA
ETHICAL COEXISTANCE IN PUBLIC SCHOOLS: ANALYSIS OF AN
INTERVENTION PROGRAM FROM THE PERSPECTIVES OF SCHOOL
PROFESSIONALS
Juliana Aparecida Matias ZECHI
1
Telma Pileggi VINHA
2
RESUMO:
Diante dos problemas de convivência nas escolas, o Grupo de Estudos e Pesquisa
em Educação Moral -
GEPEM elaborou o programa “Convivência ética na escola”, que
propõe a implantação de ações visando contribuir para a melhoria da qualidade da
convivência escolar e do processo de resolução dos conflitos. Este artigo apresenta uma
pesquisa exploratória de caráter descritivo que investigou as percepções de professores e
gestores quanto às transformações, contribuições e limitações do programa implantado em
quatro escolas públicas. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e os dados foram
analisados qualitativamente
.
A maioria dos respondentes defende ser papel da escola atuar na
qualidade da convivência, favorecendo a formação ética e lidando construtivamente com os
conflitos. Entre as mudanças, destaca-se a importância da teoria subsidiando ações; a
valorização da participação e protagonismo estudantil; o fortalecimento do respeito e do
diálogo nas relações. As limitações foram a falta de engajamento de alguns profissionais,
ausência de espaços de diálogo e decisões coletivas na escola.
PALAVRAS-CHAVE
: Convivência escolar. Intervenção pedagógica. Formação docente.
Educação moral. Problemas de convivência.
RESUMEN
: Frente a los problemas de convivencia en las escuelas, Grupo de Estudio e
Investigación en Educación Moral -
GEPEM elaboró el programa “La convivencia ética en
la escuela”, que propone la implantación de acciones cuyo propósito es contribuir para
mejorar la calidad de la convivencia escolar y del proceso de resolución de conflictos. Este
artículo presenta un estudio exploratorio de carácter descriptivo que investigó las
percepciones de profesores y gestores en lo que se refiere a las transformaciones,
contribuciones y limitaciones del programa implantado en cuatro escuelas públicas. Se
1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), Presidente Epitácio
–
SP
–
Brasil.
Professora do curso de Pedagogia. Membro do GT Psicologia e Moralidade da ANPEPP. Doutorado em
Educação (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6053-589X. E-mail: juliana.zechi@ifsp.edu.br
2
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas
–
SP
–
Brasil. Professora do departamento de
psicologia educacional. Doutorado em Educação (UNICAMP). ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0510-8390.
E-mail: telmavinha@gmail.com
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Juliana Aparecida Matias ZECHI e Telma Pileggi VINHA
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1293-1310, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
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realizaron entrevistas semiestructuradas y los datos han sido analizados de modo
cualitativo. La mayoría de los que contestaron las entrevistas defiende que es papel de la
escuela actuar en la calidad de la convivencia favoreciendo la formación ética y lidiar
constructivamente con los conflictos. Entre los cambios se destaca la importancia de la teoría
que subsidia acciones; la valorización de la participación y el protagonismo estudiantil; el
fortalecimiento del respeto y del diálogo en las relaciones. Las limitaciones fueron la falta de
compromiso de algunos profesionales, la ausencia de espacios de diálogo y las decisiones
colectivas en la escuela.
PALABRAS CLAVE
: Convivencia escolar. Intervención pedagógica. Formación de
profesores. Educación moral. Problemas de convivencia.
ABSTRACT
: Faced with the problems of coexistence in schools, Moral Education Research
Group -
GEPEM developed the program “Ethical coexistence at school”, which proposes the
implementation of actions that aim to contribute to improving the quality of school
coexistence and the conflict solution process. This article presents an exploratory research of
a descriptive character that scrutinized the perceptions of teachers and managers related to
the transformations, contributions and limitations of the program implemented in four public
schools. Semi-structured interviews were carried out and the data were qualitatively
analyzed. Most respondents argue that it is a role of the school to act in the quality of
coexistence, favoring ethical training and dealing constructively with conflicts. Among the
changes, what stands out is the importance of theory subsidizing actions; valuing student
participation and leadership; strengthening respect and dialogue in relationships. The
limitations have been the lack of engagement by some professionals, the absence of spaces for
dialogue and collective decisions at school.
KEYWORDS
: School coexistence. Pedagogical intervention. Teacher training. Moral
education. Problems of coexistence.
Introdução
São constantes os relatos de educadores sobre os comportamentos considerados como
violência, agressões e indisciplina, e que apontam para a necessidade de se buscar estratégias
capazes de melhorar a qualidade das relações interpessoais nas escolas e, ao mesmo tempo,
favorecer a formação cidadã, rumo à autonomia moral. Diversos estudos (ABRAMOVAY,
2016; VINHA
et al
., 2017; ZECHI, 2014) têm indicado como os problemas de convivência,
em suas distintas manifestações, afetam o clima escolar, as práticas pedagógicas e as relações
interpessoais, sendo um grande desafio na escola.
De acordo com dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (IEDE, 2019),
metade dos diretores (51,5%) assinalou já ter presenciado agressão física ou verbal de alunos
a professores ou funcionários da escola; 68,4% dos professores relataram já ter havido
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agressão verbal ou física entre alunos
3
; e a indisciplina dos alunos é vista por 68% dos
gestores como um dos fatores que mais dificulta o funcionamento das escolas. O estudo
Teaching and Learning International Survey
(OECD, 2014) indicou que, para 34% dos
diretores, no Brasil, há intimidação ou ofensa verbal entre os alunos semanalmente, e 12%
relatam a mesma frequência de ofensas de estudantes aos professores. Dentre os 34 países
participantes do estudo, os docentes brasileiros são os que passam mais tempo mantendo a
ordem em sala de aula (20%). Outro exemplo está em Abramovay (2016), para quem 70% dos
estudantes de sete capitais brasileiras vivenciaram algum tipo de violência nas suas escolas,
sendo 27%
cyberbullying
, 25% roubos e/ou furtos, 20% ameaças e 13% agressões físicas.
Alguns dos estudos indicam que, de fato, há uma percepção do aumento da violência
na escola e um sentimento de insegurança (ABRAMOVAY, 2016; OECD, 2021; GARCIA;
TOGNETTA; VINHA
,
2013; VINHA
et al
., 2017; ZECHI, 2014). Mas é preciso cuidado
com um discurso alarmista, dando a entender que a escola vive um cenário de violência
permanente. A violência existe, sem dúvida, sobretudo em algumas unidades de grandes
centros e regiões vulneráveis ou em episódios pontuais em escolas, mas em menor número
que o alardeado. Vinha
et al.
(2017) apontam que muitos dos dados que inferem o
crescimento da violência escolar consideram como tal qualquer problema de convivência
(violência,
bullying
, incivilidades, indisciplina, entre outros), sem os distinguir. É preciso
reconhecer que são fenômenos de natureza distinta, os quais requerem intervenções também
diferenciadas. Não raro, propõe-se aumento do rigor das regras e punições para lidar com
esses problemas (VINHA; NUNES, 2020), o que acarreta manutenção da heteronomia
4
.
Os problemas de convivência, particularmente a violência, são fenômenos
multifatoriais, que extrapolam os muros da escola e não podem ser considerados
isoladamente. Todavia, estudos sobre a qualidade do clima e da convivência escolar, ao
explicarem o “efei
to-
escola” nessa área, indicam que quando são percebidos como positivos
pela comunidade escolar, ou seja, baseados no respeito, confiança e cuidado mútuos, têm
efeito na qualidade das relações interpessoais, sendo fator de resiliência e bem-estar,
desempenhando um papel fundamental na prevenção da violência tanto para os alunos quanto
3
Cabe destacar que o fato do SAEB juntar em uma única pergunta agressão física e agressão verbal impede uma
análise mais criteriosa do tipo de agressão, posto que são formas completamente diferentes. As agressões físicas
estão mais próximas à violência, enquanto as verbais, mais relacionadas às incivilidades.
4
Na moral heterônoma, os valores não se conservam, sendo regulados pela pressão do meio, isto é, o sujeito
modifica o comportamento moral em diferentes contextos. Assim, há uma relação de submissão ao poder, sendo
considerado certo obedecer por submissão a autoridade, evitamento de punições ou conformidade a convenções
sociais. Na autonomia moral, o sentimento de aceitação ou de obrigação para com as normas é interno
(autorregulação), sendo fundamentado na equidade e nas relações reciprocidade. Logo, os valores são
conservados, apesar das mudanças de contextos e da presença de pressões sociais (VINHA
et al.,
2017).
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Juliana Aparecida Matias ZECHI e Telma Pileggi VINHA
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para os profissionais da escola (BRESSOUX, 2003; DEBARBIEUX
et al.
, 2012; VINHA;
NUNES, 2020; 2021).
O desafio é como as escolas podem lidar com os problemas de convivência e, ao
mesmo tempo, favorecer o desenvolvimento de pessoas autônomas. No Brasil, as experiências
bem-sucedidas nessa área em escolas públicas são, ainda, iniciativas isoladas, quase
artesanais. É o que mostra o estudo de Menin, Bataglia e Zechi (2013), que examinou os
projetos de educação em valores nas escolas públicas. Verificou-se que, de 1.062 escolas que
desenvolvem esses projetos, menos de 5% tinham uma proposta mais sistematizada que
poderia ser considerada bem-sucedida. A maior parte dos profissionais envolvidos (71%) não
teve nenhuma formação nessa área, de modo que suas propostas eram pautadas,
principalmente, no senso comum. As autoras apontam motivos pelos quais a grande maioria
não era eficaz: as ações eram direcionadas apenas aos alunos; eram pontuais e por curto
espaço de tempo; não se tratava de projetos institucionais, mas de um pequeno grupo;
empregavam um processo de transmissão/doutrinação; havia evidentes contradições entre os
objetivos e o clima relacional e disciplinar, na escola; almejavam o controle dos
comportamentos e da disciplina e não o desenvolvimento sociomoral e emocional que
ensejaria o emprego de estratégias mais assertivas e cooperativas para lidar com os conflitos.
Porém, certas pesquisas com intervenção em escolas brasileiras evidenciam que uma
educação para a convivência ética e democrática é possível, além de desejável (MENIN,
2019; TOGNETTA, 2021; VINHA
et al.,
2017). Segundo tais estudos, incivilidades e vários
tipos de violência na escola podem ser enfocados, oportunizando a aprendizagem da
necessidade de regras e valores e o desenvolvimento sociomoral e emocional, pela busca de
soluções dialógicas, com a participação ativa dos envolvidos. Indicam ainda modos de
construção e aprendizagem de valores e práticas coerentes com a convivência ética e
democrática que podem e devem ocorrer na educação.
Tendo como base essa perspectiva, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação
Moral
–
GEPEM, desenvolveu o programa “A convivência ética na escola”
5
(CEE). Trata-se
de um programa de formação de professores e transformações na escola, com ações
diferenciadas e complementares entre si, visando à melhoria da qualidade da convivência e do
processo de resolução dos conflitos interpessoais, favorecendo a construção de um clima
escolar positivo.
5
O programa foi coordenado pelos doutores Telma P. Vinha (FE-UNICAMP), Luciene Tognetta (UNESP) e
Cesar Augusto Amaral Nunes (GEPEM) e realizado pela equipe de pesquisadores e alunos de pós-graduação
vinculados ao GEPEM - UNICAMP/UNESP.
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Qualificamos como
ética
a convivência pautada em práticas que defendam valores
vinculados ao diálogo, participação, diversidade, justiça, respeito e solidariedade, implicando
a formação de sujeitos cada vez mais autônomos, os quais pautem suas decisões e ações em
valores morais. Ela não pode se restringir à boa socialização com a adoção de formas de
convivência já estabelecidas, mas deve ser compreendida como um processo no qual algumas
normas, relações e costumes são criticados e, assim, são pensadas e discutidas novas formas
de conviver (PUIG
et al.,
2000). Por essa concepção, o programa CEE foi implantado pela
equipe do GEPEM em seis escolas municipais de Ensino Fundamental, por meio de um
convênio da Faculdade de Educação da UNICAMP com uma Secretaria Municipal de
Educação. No presente estudo, analisamos apenas quatro escolas, que foram as que
começaram a implantação ao mesmo tempo. Destaca-se que elas aderiram voluntariamente ao
programa. Com duração prevista de 24 meses, tal programa consiste em ações de prevenção
das violências, atenção aos problemas de convivência e promoção dos valores e habilidades
sociomorais. Foi elaborado considerando-se três vias diferentes de atuação, porém inter-
relacionadas: interpessoal, ligada à maneira de ser e de fazer dos educadores, especialmente a
relação que travam entre eles e com seus alunos; curricular, referente ao “planejamento e à
execução de atividades pensadas especificamente para trabalhar a formação ética dos alunos”;
institucional, que se constitui d
as “atividades educativas que partem da organização da escola
e da classe, e que têm como pressuposto a participação democrática” (PUIG
et al.
, 2000, p.
17). As ações, em síntese, consistiram em:
●
Avaliação do clima escolar e diagnóstico das necessidades institucionais
–
foram feitas reuniões com a equipe gestora e professores, sessões de observações do cotidiano
e aplicados questionários para avaliação do clima escolar em alunos, professores e gestores.
Posteriormente, os pesquisadores realizaram a devolutiva dos resultados, debatendo os dados
com os profissionais da escola e planejando coletivamente as ações decorrentes.
●
Espaço sistematizado para o desenvolvimento de propostas sociomorais e
emocionais
–
inserção de uma disciplina semanal, de 90 minutos, na grade curricular das
séries finais do Ensino Fundamental, ministrada por um professor de referência selecionado
pela escola
6
. Nas séries iniciais, era ministrada pelo professor polivalente.
●
Formação continuada com os profissionais das escolas
–
semanal/quinzenal,
com todos os profissionais da escola, estudando-se temas como a construção da personalidade
ética, linguagem assertiva e empática, regras e processos de legitimação, problemas de
6
Atuavam por meio de Carga Suplementar de Trabalho de Docente, que são horas remuneradas de trabalho
prestadas pelos docentes em outro componente curricular.
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Juliana Aparecida Matias ZECHI e Telma Pileggi VINHA
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convivência, conflitos e possibilidades de intervenções, entre outros, totalizando cerca de 140
horas; formações quinzenais com professores de referência, objetivando estudar a condução
de assembleias e procedimentos ativos ligados ao desenvolvimento sociomoral e emocional,
ocorrentes na nova disciplina (cerca de 70 horas).
●
Implantação de espaços de participação, resolução e mediação de conflitos
–
realização de assembleias em cada turma, para diálogo e construção de soluções conjuntas
para a melhoria da convivência e dos trabalhos; implantação de espaços para a mediação de
conflitos em que as partes envolvidas, apoiadas pelo mediador, são incentivadas a dialogar,
buscando um acordo satisfatório e não punitivo para a desavença.
●
Equipes de ajuda
–
formadas por grupos de alunos que apoiam os colegas que
estão com problemas ou envolvidos em conflitos ou
bullying
(TOGNETTA, 2021).
●
Escolha coletiva dos valores da escola, com elaboração de plano de ações,
revisão da quantidade e qualidade das regras.
●
Elaboração de um Plano Institucional de Convivência
–
um documento que
prevê a organização e o funcionamento da instituição com relação à convivência, fixando os
objetivos a serem alcançados, as normas que o regulam e as ações que serão realizadas.
●
Acompanhamento e assessoria
–
por meio de sessões de observação
participante e reuniões de assessoria à equipe de gestores e professores.
A implantação dos procedimentos era flexível, não imposta, ocorrendo com
participação coletiva. Nem todos aconteceram nas quatro unidades, devido às necessidades e
condições de cada uma. Qualquer implantação de programas em escolas precisa considerar e
lidar com realidades diferentes, repletas de desafios, demandas, urgências. No CEE, foi
empregado um processo responsivo contínuo, que se trata da interação e interlocução entre os
idealizadores e os implementadores, respeitando o contexto e atendendo também às demandas
e necessidades das escolas (CAMPOS, 2020).
No decorrer e ao término do programa foram realizadas avaliações pela equipe por
métodos quanti-qualitativos, como avaliação do clima escolar (pré e pós-testes) e avaliação
responsiva
7
, questionários de avaliações das formações e das transformações na escola e sessões
de observação. As diferentes análises dos dados mostraram que as transformações dependem das
características de cada instituição, que avançaram em ritmos e caminhos diferentes. Contudo,
constataram-se progressos na melhoria expressiva na qualidade das relações interpessoais; no
7
Na avaliação responsiva, os participantes são auxiliados a realizar suas próprias avaliações em momentos
diversos, e as descobertas são utilizadas para melhorar a compreensão, decisões e ações do programa (VINHA;
NUNES; MORO, 2019).
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uso de uma comunicação mais empática; na presença de intervenções mais construtivas nos
conflitos; na mudança da qualidade das regras e na ampliação da participação dos alunos no
processo de elaboração e na discussão dos problemas; no aumento dos sentimentos de justiça,
respeito e pertencimento pelos estudantes (CAMPOS, 2020; VINHA; NUNES, 2021, VINHA;
NUNES; MORO, 2019).
O presente artigo teve como objetivo investigar as percepções de professores e gestores
com relação ao programa “A Convivência ética na escola” quanto à implicação destes
profissionais com relação à qualidade da convivência e aprendizagem sociomoral dos alunos,
assim como conhecer as transformações, contribuições e limitações do programa.
Metodologia
Para o alcance do objetivo, foi desenvolvida uma pesquisa
8
exploratória de caráter
descritivo. A produção dos dados se deu de duas formas: 1) pela análise dos documentos e
registros produzidos no decorrer do programa, a fim de conhecer as ações, processos e
avaliações desenvolvidos pelo grupo de formadores; 2) pela realização de entrevistas
semiestruturadas para investigar as percepções dos profissionais participantes.
O
lócus
de investigação foram quatro escolas públicas municipais de Ensino
Fundamental (1º ao 9º ano), sendo duas delas de período integral, pertencentes a uma grande
cidade no interior do estado de São Paulo. Três escolas estão alocadas em regiões de grande
vulnerabilidade social e uma na região central do município, porém atende principalmente
jovens em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto. Os sujeitos da pesquisa
foram os profissionais das escolas, professores e gestores (diretores, vice-diretores e
orientadores pedagógicos), partícipes do programa de intervenção. Ao final do programa,
todos os profissionais foram convidados para a entrevista, cuja aplicação foi agendada
previamente e feita de forma individual, nas escolas, pela pesquisadora, a qual não fazia parte
da equipe que desenhou ou implantou o programa. As entrevistas foram gravadas, transcritas
e analisadas qualitativamente, por meio da Análise de Conteúdo
9
, construindo-se categorias a
partir do sentido da fala dos participantes.
Participaram 23 sujeitos: 10 professores e orientadores pedagógicos da escola A,
representando 28,5% dos profissionais que frequentavam os momentos de formação; seis
(8,5%) professores e orientadores pedagógicos da escola B; três (27%) professores da escola
8
Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
–
CAAE 82949518.9.0000.8142.
9
A codificação e a categorização dos dados foram realizadas no
Atlas.ti
, um
software
que auxilia o pesquisador
no processo de organização da análise dos dados qualitativos.
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Juliana Aparecida Matias ZECHI e Telma Pileggi VINHA
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1300
C; e quatro (33%) professores da escola D. Todos os entrevistados são graduados em
licenciatura plena (Pedagogia ou outras licenciaturas), seis possuem pós-graduação
lato sensu
e sete pós-graduação
stricto sensu.
Somente dois professores estão em início de carreira, com
até cinco anos de profissão; a maioria deles (14) são profissionais com mais de 15 anos de
docência.
Apresentação e discussão dos resultados
Neste artigo, apresentaremos os resultados do conjunto dos participantes das quatro
escolas, em duas grandes categorias.
A primeira engloba questões destinadas a compreender
as concepções dos entrevistados quanto ao trabalho com a convivência e aprendizagem
sociomoral dos alunos. A segunda aborda as percepções com relação às contribuições e aos
limites do programa.
Implicação dos professores e gestores com relação à qualidade da convivência e
aprendizagem sociomoral dos alunos
Buscando investigar se os professores e gestores consideravam a escola como também
responsável pela qualidade das relações estabelecidas e pela promoção da aprendizagem
sociomoral dos estudantes, questionou-se se os participantes entendem ser papel do professor
trabalhar a melhoria da convivência, na escola. Todos os entrevistados (100%, n=23)
reconheceram ser função do professor abordar o tema e buscar caminhos para melhorar a
convivência, mas as respostas indicam razões diferentes, traduzidas principalmente em duas
categorias.
Para 39% dos respondentes, o trabalho com a convivência era percebido como recurso
para se enfrentar os problemas de conflitos entre alunos, entre esses e seus professores, de
sorte a melhorar a qualidade das relações, quando não estão boas. São as chamadas ações de
“atenção”, as quais são necessárias, sem dúvida; porém, é preciso também investir na
prevenção das violências e na promoção de competências socioemocionais e valores morais.
Mais do que intervir em situações de problemas de convivência, outros 39%
defenderam o papel do professor na prevenção e fomento de uma convivência ética, devendo
todos, na escola, contribuir para esse desenvolvimento, não porque falta essa formação aos
alunos ou porque a família não está cumprindo seu papel, mas porque o desenvolvimento
integral do estudante, incluindo a dimensão social e ética, é papel da escola e é também
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responsabilidade da família. Essa percepção, conforme os relatos, foi se consolidando ao
longo das formações promovidas pelo programa.
Chama a atenção ainda que, mesmo reconhecendo ser papel do professor trabalhar
para a melhora da convivência, 9% indicaram que isso é necessário, porque a família e a
sociedade não o fazem, ou seja, não se trata de uma função precípua da escola. Essa
concepção, embora em porcentagem bem menor, vai ao encontro de outros estudos para os
quais muitos docentes são a favor de a escola desenvolver projetos de formação moral,
porque há “uma crise de valores” na família e na sociedade e, portanto, cabe à escola “suprir”
essa lacuna (MENIN; BATAGLIA; ZECHI, 2013; ZECHI, 2014).
Identificamos, na análise documental, que, no início do programa, a maioria dos
profissionais atribuía sobretudo às famílias a causa dos problemas de mau comportamento dos
alunos e da formação em valores. Esse dado é coerente com os estudos de Dedeschi (2011) e
Souza (2012), que apontam ser forte essa crença entre os professores, e que poucos incluem
como também influenciando as questões pedagógicas, a falta de espaços de diálogo e de
participação ou mesmo a qualidade das relações interpessoais na escola. Logo, não há muito o
que mudar, pois “as causas dos problemas” estão fora dos muros da instituição, o que acarreta
certa “impotência” e busca de “soluções” também externas, como maior fisc
alização,
contratação de mais profissionais, projetos de conscientização para as famílias, entre outros
(VINHA; TOGNETTA, 2013).
As respostas contidas nessa categoria trazem resultados positivos, ao revelarem que
todos os entrevistados, mesmo com limites, se implicaram como responsáveis pelo trabalho
com a convivência escolar e entendem a escola como
lócus
de aprendizagem sociomoral. A
formação promovida pelo programa CEE, conforme os relatos, colaborou para essa mudança
de concepção, enfatizando a validade de se investir em uma consistente formação, nessa área.
Percepção dos respondentes sobre as contribuições e dificuldades do programa
Nas entrevistas realizadas individualmente solicitou-se aos participantes que
comentassem espontaneamente o programa desenvolvido, as principais contribuições,
individuais e para a instituição, e como avaliavam as ações realizadas, seus avanços e limites.
As respostas foram analisadas em função da percepção sobre as principais contribuições
apontadas no campo das três vias de atuação em que o programa foi elaborado: as
transformações ocorridas nos âmbitos interpessoal, curricular e institucional.
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Quadro 1
–
Percepção dos respondentes sobre as contribuições do programa (%)
10
Contribuições
Total
Transformações no âmbito
interpessoal
Embasamento teórico da prática docente
74
Melhora na qualidade das relações pessoais - relação
professor-aluno
35
Melhora na qualidade da convivência
22
Mudança na concepção sobre o papel do professor/escola no
trabalho com convivência e valores
17
Mudança na concepção acerca dos conflitos interpessoais
17
Mudanças na maneira de ser e agir
17
Melhora na qualidade das relações pessoais - relação entre
alunos
13
Transformações no âmbito
curricular
Reconhecimento da necessidade de se inserir no currículo o
tema da convivência
17
Transformações no âmbito
institucional
Valorização do protagonismo discente
48
Embasamento teórico para a organização do trabalho na
escola
13
Fonte: Elaborado pelos autores
As
transformações ocorridas no âmbito interpessoal
concernem àquelas que
inferem diretamente na maneira de ser e de fazer dos educadores e na relação que estabelecem
com os alunos. A mais expressiva, citada por 74% dos sujeitos, foi o embasamento teórico da
prática docente. Eles reconheceram que, diante das lacunas existentes em sua formação, o
embasamento teórico advindo da formação realizada durante o programa influenciou suas
práticas, tornando-os mais seguros para lidar com os problemas de convivência e intervir nos
conflitos.
Outra transformação mencionada foi a melhoria na qualidade das relações
interpessoais, 35% ocorrida na relação professor-aluno e 13% entre os alunos. Ao explicarem
as mudanças nas relações entre adultos e estudantes, informaram que antes adotavam formas
não construtivas de se comunicar com eles, com críticas, censuras e julgamentos de valor; a
formação cooperou para uma mudança na linguagem empregada e na forma de atuarem diante
dos conflitos, de modo a construírem uma relação de diálogo e respeito mútuo. Outros 22%
afirmaram que o programa provocou melhoras na qualidade da convivência entre todos,
reduzindo conflitos, violências e incivilidades.
Quanto às
transformações no âmbito curricular
, relativas ao planejamento e
execução de atividades para trabalhar a formação ética dos alunos, 17% reconheceram a
necessidade de se inserir no currículo das escolas questões associadas à convivência e às
10
Algumas vezes, a resposta de um mesmo sujeito se classificou em mais de uma categoria. O percentual foi
calculado em relação à soma total de participantes (Total = 23).
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1293-1310, abr./jun. 2022. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.15032
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habilidades sociomorais e emocionais. Frisaram que o embasamento teórico propiciado pelas
formações contribuiu para o planejamento e a execução de tais atividades.
Nas
transformações no âmbito institucional
, as quais envolvem atividades
organizadas pela escola, visando a uma participação democrática, 48% dos participantes
destacaram a valorização do protagonismo discente. Os respondentes, em geral, identificaram
que mudanças de práticas institucionais, como espaços de diálogo com os alunos, revisão das
regras e sanções, promoção de assembleias, inserção de uma disciplina de convivência ética e
o trabalho com as equipes de ajuda possibilitaram mais oportunidades de manifestação,
participação e decisão para os estudantes. Acreditam que tais transformações auxiliaram para
que os alunos se sentissem mais pertencentes e percebessem o ambiente escolar como mais
respeitoso e justo.
No que tange às
dificuldades
encontradas na realização do programa, 30% dos
respondentes mencionaram o longo tempo de duração do curso (140 horas), gerando cansaço
e desinteresse dos docentes. Tal problema foi apontado pelos participantes das escolas A e B;
em contrapartida, houve a manifestação de interesse pela continuidade da formação pelos
respondentes das escolas C e D, ao indicarem como limitação o encerramento do programa. A
divergência nas falas dos respondentes assinala a importância de um planejamento flexível e
de se contar com um processo responsivo que possibilita adaptações e aprendizagens durante
a implementação.
Outra dificuldade apresentada (26%) referiu-se à baixa adesão de alguns professores,
não participando da formação ou deixando de desenvolver algumas propostas. Nessa mesma
direção, 17% realçaram a resistência de alguns docentes quanto à fundamentação teórica que
embasava o programa, resultando em menor engajamento. Em duas escolas, os gestores não
participaram das formações, dificultando a compreensão e o oferecimento de condições para
maior êxito na implantação das ações. Para mitigar esse problema, os formadores faziam
quinzenalmente reuniões com eles sobre o andamento do programa. Essa não participação e
consequente maior dificuldade para o desenvolvimento de algumas propostas e para a
institucionalização do programa foi mencionada por 26% dos respondentes. A presença de
atitudes autoritárias e posturas pouco dialógicas e participativas foi apontada como também
decorrente desse pouco envolvimento de alguns docentes e gestores.
Esses resultados sinalizam a importância de se planejar, no desenho e na
implementação do programa, processos flexíveis capazes de favorecer maior engajamento
coletivo e também ações especificamente direcionadas à equipe gestora, tais como formação
diferenciada e fomento às trocas horizontais, por meio de comunidades de aprendizagem, com
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trocas, colaboração e apoio entre escolas (capacitação lateral) (BERKOWITZ; BIER;
MCCAULEY, 2016; VINHA
et. al
., 2017; ZECHI, 2014).
Por fim, observamos ainda que 22% dos respondentes pontuaram a dificuldade em
relacionar teoria e prática, sugerindo que, nos momentos formativos, houvesse atividades
mais práticas ligadas ao cotidiano escolar; porém, ressaltaram ter havido diálogo e
replanejamento das ações dos formadores, na tentativa de sanar tal dificuldade.
Estudos (BERKOWITZ
et al.
, 2016; FRICK
et al
. 2019; MENIN; BATAGLIA;
ZECHI, 2013) têm mostrado que uma das maiores dificuldades para o desenvolvimento de
projetos e intervenções bem-sucedidas, nessa área, é a ausência de formação consistente que
amplie as possibilidades de conhecimento de procedimentos e dos processos e os fundamente,
permitindo ir além de ações pontuais e pautadas no senso comum. No programa analisado, a
formação docente se destacou como positiva, mas ainda persistiram, entre alguns
profissionais, práticas mais autoritárias nas relações e na presença de conflitos. A análise das
respostas mostra a dificuldade em transformar ações e culturas instituídas nas escolas. Tais
mudanças demandam o planejamento e a implementação de ações em longo prazo,
respeitando-se as necessidades e o ritmo de cada instituição e seus profissionais (URUÑELA-
NÀJERA, 2018), por isso também a importância de um programa nessa área ser planejado
para ser desenvolvido por vários anos.
Considerações finais
Este estudo trouxe como principal contribuição a análise do programa “A convivência
ética na escola” na percepção de professores e gestores das escolas participantes, avaliando as
transformações, contribuições e limitações do programa após seu término.
As percepções coletadas se mostraram diversas e se concretizaram em conceitos,
atitudes e aprendizados compartilhados ao longo do período de implantação. Destacamos
como relevante o fato de a maioria dos respondentes defender ser papel do professor/gestor e
da escola lidar com os problemas de comportamento e atuar preventivamente na melhoria da
qualidade da convivência, sem adotar meios coercitivos ou de conformidade social, mas
favorecendo o desenvolvimento da autonomia dos estudantes, o que denota uma importante
mudança de concepção sobre assunção do papel da escola, nesse processo.
Os participantes também relataram diversas mudanças provocadas pelo programa,
destacando os subsídios teóricos que fomentam as práticas para a melhora da convivência e
maior segurança e emprego de estratégias construtivas para lidar com os conflitos, a
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valorização do protagonismo estudantil e o fortalecimento do respeito e diálogo nas relações
interpessoais, o que é corroborado por Vinha, Nunes e Moro (2019). Quanto aos
procedimentos, foram destacadas, pelos participantes, as assembleias e as equipes de ajuda
como muito importantes para a convivência ética.
Identificou-se a falta de engajamento de alguns profissionais e que algumas
transformações pretendidas, em especial quanto ao estabelecimento de relações mais
dialógicas e a ampliação dos espaços de participação dos profissionais, não avançaram tanto
como o esperado em duas escolas. As que apresentaram menor transformação foram as que
tinham gestores com menor engajamento e postura mais centralizadora, com pouco
envolvimento com o programa.
Levin e Fullan (2008) alertam que culturas não mudam por imposição, mas sim pelo
deslocamento específico de normas, estruturas e processos existentes por outros. Nesse
sentido, a formação dos profissionais, principalmente a partir da reflexão da realidade vivida,
é necessária para as mudanças de paradigmas e crenças e para a ampliação de conhecimento,
embora isso não garanta resultar em aperfeiçoamento ou transformação de novas práticas.
Também não adianta para um programa atuar apenas em processos ou estruturas e não
transformar valores, crenças e concepções dos envolvidos. O processo de mudança cultural
leva tempo e depende da modelização dos novos valores, práticas e procedimentos que, se
espera, substituam os existentes, exigindo planejamento eficiente, formação aprofundada,
emprego de energia, acompanhamento e apoio constantes. Para os autores, esse processo deve
envolver certa pressão e suporte: a pressão implica objetivos de transformação compactuados,
acompanhamento e avaliação transparente; o suporte envolve apoio técnico, desenvolvimento
de novas competências, acesso a novas ideias, mais tempo para aprendizado e colaboração.
O programa procurou atuar nesse sentido, com objetivos compartilhados, formação
constante, acompanhamento, assessoria e colaboração. Contudo, um fator relevante que deve
ser considerado por programas que pretendem transformações mais profundas na cultura é a
necessidade de contar com um longo período para ser desenvolvido e consolidado,
geralmente, maior que 5-6 anos (BELLEI; VANNI; VALENZUELA; CONTRERAS, 2016),
o que não ocorreu no CEE, o qual teve a duração de apenas 24 meses. Para maior alcance dos
objetivos, recomenda-se a ampliação do período de implementação e acompanhamento.
Recomenda-se ainda maior articulação entre formadores, escola e equipe da Secretaria
Municipal de Educação.
Os dados discutidos neste trabalho evidenciaram que, mesmo com as dificuldades, a
construção da convivência ética em meio escolar é desejável e possível, mas implica em
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Juliana Aparecida Matias ZECHI e Telma Pileggi VINHA
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formação continuada e apoio às transformações e aos desafios que a escola enfrenta, a fim de
que, paulatinamente e de comum acordo com a comunidade escolar, vá ocorrendo a
implantação de ações intencionais e sistematizadas, coordenadas entre si, incluídas em Planos
de Convivência e nos Projetos Político-Pedagógicos. Deve responder a objetivos e problemas
reais da escola identificados como relevantes por sua comunidade e cujas soluções devem ser
acordadas coletivamente.
De fato, por ser um lugar de convívio com a diversidade e de aprendizagem da
vivência no espaço público, a escola é local ideal para se aprender a viver, de maneira
participativa, respeitosa e ética, fortalecendo os valores democráticos. Os resultados deste
estudo indicam a validade de investir em formação e acompanhamento dos processos de
transformação nas escolas, nessa área.
Países como Chile, Colômbia e Espanha, entre outros, possuem políticas públicas
ligadas à prevenção e mitigação da violência escolar e à promoção da convivência
participativa, inclusiva e democrática, contemplando plano de desenvolvimento profissional
docente e certos procedimentos, como a implantação de Comissões de Convivência na escola,
processos de mediação de conflitos, valorização da participação e protagonismo juvenil,
construção coletiva de Plano de Convivência, entre outros (SALLÁN; BARRERA-
COROMINAS, 2014). No Brasil, apesar de o artigo 12 da Lei de Diretrizes e Bases afirmar
que as escolas têm a incumbência de “[...] promover medidas de conscientização, de
prevenção e de combate a todos os tipos de violência, especialmente a intimidação sistemática
(
bullying
), no âmbito das escolas” e “estabelecer ações destinad
as a promover a cultura de paz
nas escolas” (BRASIL, 1996), atualmente, a política pública nessa área fomentada pelo
Ministério da Educação é o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares
11
(BRASIL,
2019), que visa a implantar 216 colégios nesse modelo até 2023.
Em tais escolas, a gestão é partilhada com militares, sendo que os professores e
coordenadores formam a equipe pedagógica, e os policiais, a equipe responsável pela
disciplina dos estudantes. São adotados mecanismos disciplinares, oferecendo-se aos
estudantes civis uma educação alicerçada em procedimentos, ritos e valores militares, tais
como a contenção do conflito, o reforço e o culto aos símbolos nacionais, a imposição de
normas rígidas, a obediência acrítica à hierarquia e a uma disciplina inflexível. Com isso,
fortalecem nos estudantes, predominantemente, a heteronomia moral, com a obediência às
autoridades imposta por relações de coação e de respeito unilateral, não sendo vivenciadas
11
O decreto propõe a criação e a expansão de um modelo de escola cívico-militar para instituições de Educação
Básica (PECIM). Disponível em: http://escolacivicomilitar.mec.gov.br/ Acesso em: 10 jan. 2021.
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experiências importantes que favorecem o desenvolvimento de competências socioemocionais
e dos valores democráticos.
Na contramão dessa proposta, defendemos que uma das principais finalidades da
educação é a autonomia moral, com a assunção voluntária, consciente e racional de valores
que o próprio indivíduo legitima e considera como válidos para si e para todos os seres
humanos, não importa quem sejam. Para ocorrer essa forma de assunção de valores, os
indivíduos devem viver em ambientes onde os conflitos sejam oportunidades de
aprendizagem, que haja participação e predominem relações de confiança, cooperação e
respeito mútuo. Assim, é preciso oferecer alternativas ao modelo de escolas cívico-militares e
às propostas reducionistas de aumento do rigor e do controle, diante da dificuldade das
instituições educativas em lidar com os problemas de convivência.
Discutir o modelo de convivência escolar implica debater o tipo de sociedade que
queremos construir. É imperioso apresentar outros modelos adaptados à realidade das escolas
brasileiras, devidamente fundamentados em pesquisas, como evidenciam as experiências de
outros países que já avançaram em políticas públicas nessa área.
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Como referenciar este artigo
ZECHI, J. A. M.; VINHA, T. P. A convivência ética em escolas públicas: Análise de um
programa de intervenção a partir das perspectivas dos profissionais da escola.
Revista Ibero-
Americana de Estudos em Educação
, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1293-1310, abr./jun. 2022.
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Submetido em
: 15/04/2021
Revisões requeridas em:
28/12/2021
Aprovado em
: 16/02/2022
Publicado em
: 01/04/2022
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La convivencia ética en escuelas públicas: análisis de un programa de intervención a partir de las perspectivas de los
profesionales de la escuela
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1300-1317, abr./jun. 2022.e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.15032
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LA CONVIVENCIA ÉTICA EN ESCUELAS PÚBLICAS: ANÁLISIS DE UN
PROGRAMA DE INTERVENCIÓN A PARTIR DE LAS PERSPECTIVAS DE LOS
PROFESIONALES DE LA ESCUELA
A CONVIVÊNCIA ÉTICA EM ESCOLAS PÚBLICAS: ANÁLISE DE UM PROGRAMA
DE INTERVENÇÃO A PARTIR DAS PERSPECTIVAS DOS PROFISSIONAIS DA
ESCOLA
ETHICAL COEXISTANCE IN PUBLIC SCHOOLS: ANALYSIS OF AN
INTERVENTION PROGRAM FROM THE PERSPECTIVES OF SCHOOL
PROFESSIONALS
Juliana Aparecida Matias ZECHI
1
Telma Pileggi VINHA
2
RESUMEN
: Frente a los problemas de convivencia en las escuelas, Grupo de Estudio e
Investigación en Educación Moral -
GEPEM elaboró el programa “La convivencia ética en la
escuela”, que propone la implantación de acciones cuyo propósito es contribuir para mejorar
la calidad de la convivencia escolar y del proceso de resolución de conflictos. Este artículo
presenta un estudio exploratorio de carácter descriptivo que investigó las percepciones de
profesores y gestores en lo que se refiere a las transformaciones, contribuciones y limitaciones
del programa implantado en cuatro escuelas públicas. Se realizaron entrevistas
semiestructuradas y los datos han sido analizados de modo cualitativo. La mayoría de los que
contestaron las entrevistas defiende que es papel de la escuela actuar en la calidad de la
convivencia favoreciendo la formación ética y lidiar constructivamente con los conflictos.
Entre los cambios se destaca la importancia de la teoría que subsidia acciones; la valorización
de la participación y el protagonismo estudiantil; el fortalecimiento del respeto y del diálogo
en las relaciones. Las limitaciones fueron la falta de compromiso de algunos profesionales, la
ausencia de espacios de diálogo y las decisiones colectivas en la escuela.
PALABRAS CLAVE
: Convivencia escolar. Intervención pedagógica. Formación de
profesores. Educación moral. Problemas de convivencia.
RESUMO:
Diante dos problemas de convivência nas escolas, o Grupo de Estudos e Pesquisa
em Educação Moral -
GEPEM elaborou o programa “Convivência ética na escola”, que
propõe a implantação de ações visando contribuir para a melhoria da qualidade da
convivência escolar e do processo de resolução dos conflitos. Este artigo apresenta uma
pesquisa exploratória de caráter descritivo que investigou as percepções de professores e
gestores quanto às transformações, contribuições e limitações do programa implantado em
1
Instituto Federal de Educación, Ciencia y Tecnología de São Paulo (IFSP), Presidente Epitácio - SP - Brasil.
Profesor del curso de pedagogía. Miembro del GT de PSICOLOGÍA y Moralidad de ANPEPP. Doctora en
Educación (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6053-589X. E-mail: juliana.zechi@ifsp.edu.br
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Universidad Estatal de Campinas (UNICAMP), Campinas - SP - Brasil. Profesora en el departamento de
Psicología de la Educación. Doctora en Educación (UNICAMP).. ORCID: http://orcid.org/0000-0002-0510-
8390.
E-mail: telmavinha@gmail.com
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Juliana Aparecida Matias ZECHI y Telma Pileggi VINHA
RIAEE
–
Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1300-1317, abr./jun. 2022.e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.15032
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quatro escolas públicas. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas e os dados foram
analisados qualitativamente. A maioria dos respondentes defende ser papel da escola atuar
na qualidade da convivência, favorecendo a formação ética e lidando construtivamente com
os conflitos. Entre as mudanças, destaca-se a importância da teoria subsidiando ações; a
valorização da participação e protagonismo estudantil; o fortalecimento do respeito e do
diálogo nas relações. As limitações foram a falta de engajamento de alguns profissionais,
ausência de espaços de diálogo e decisões coletivas na escola.
PALAVRAS-CHAVE
: Convivência escolar. Intervenção pedagógica. Formação docente.
Educação moral. Problemas de convivência.
ABSTRACT
: Faced with the problems of coexistence in schools, Moral Education Research
Group -
GEPEM developed the program “Ethical coexistence at school”, which proposes the
implementation of actions that aim to contribute to improving the quality of school
coexistence and the conflict solution process. This article presents exploratory research of a
descriptive character that scrutinized the perceptions of teachers and managers related to the
transformations, contributions and limitations of the program implemented in four public
schools. Semi-structured interviews were carried out and the data were qualitatively
analyzed. Most respondents argue that it is a role of the school to act in the quality of
coexistence, favoring ethical training and dealing constructively with conflicts. Among the
changes, what stands out is the importance of theory subsidizing actions; valuing student
participation and leadership; strengthening respect and dialogue in relationships. The
limitations have been the lack of engagement by some professionals, the absence of spaces for
dialogue and collective decisions at school.
KEYWORDS
: School coexistence. Pedagogical intervention. Teacher training. Moral
education. Problems of coexistence.
Introducción
Existen constantes denuncias de educadores sobre conductas consideradas como
violencia, agresión e indisciplina, que apuntan a la necesidad de buscar estrategias capaces de
mejorar la calidad de las relaciones interpersonales en las escuelas y, al mismo tiempo,
favorecer la educación ciudadana, hacia la autonomía moral. Varios estudios
(ABRAMOVAY, 2016; VINHA
et al
., 2017; ZECHI, 2014) han indicado cómo los
problemas de convivencia, en sus diferentes manifestaciones, afectan al clima escolar, las
prácticas pedagógicas y las relaciones interpersonales, siendo un gran reto en la escuela.
Según datos del Sistema de Evaluación de la Educación Básica (IEDE, 2019), la mitad
de los directores (51.5%) reportaron haber presenciado agresiones físicas o verbales de
estudiantes a maestros o personal escolar; El 68,4% de los docentes informó que ya había
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La convivencia ética en escuelas públicas: análisis de un programa de intervención a partir de las perspectivas de los
profesionales de la escuela
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Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 17, n. 2, p. 1300-1317, abr./jun. 2022.e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v17i2.15032
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habido agresión verbal o física entre los estudiantes
3
; y la indisciplina de los estudiantes es
vista por el 68% de los directivos como uno de los factores que más dificulta el
funcionamiento de las escuelas. El estudio
Teaching and Learning International Survey
(OECD, 2014) indicó que, para el 34% de los directores, en Brasil, hay intimidación u ofensa
verbal entre los estudiantes semanalmente, y el 12% reporta la misma frecuencia de ofensas
estudiantiles a los maestros. Entre los 34 países que participaron en el estudio, los maestros
brasileños son los que más tiempo dedican a mantener el orden en el aula (20%). Otro
ejemplo es el de Abramovay (2016), para quien el 70% de los estudiantes de siete capitales
brasileñas experimentaron algún tipo de violencia en sus escuelas, el 27% de los cuales
cyberbullying
, 25% robo y/o hurto, 20% amenazas y 13% agresiones físicas.
Algunos de los estudios indican que, de hecho, existe una percepción de aumento de la
violencia en la escuela y una sensación de inseguridad (ABRAMOVAY, 2016; OCDE, 2021;
García, GARCÍA, 2010 TOGNETTA; VINHA
,
2013; VINHA
et al
., 2017; ZECHI, 2014).
Pero hay que tener cuidado con un discurso alarmista, dando a entender que la escuela está
viviendo un escenario de violencia permanente. La violencia existe, sin duda, sobre todo en
algunas unidades de grandes centros y regiones vulnerables o en episodios puntuales en las
escuelas, pero en un número menor que los muy sanados. Vinha
et al.
(2017) señalan que
muchos de los datos que infieren el crecimiento de la violencia escolar consideran como tal
cualquier problema de convivencia (violencia,
bullying
, incivilidades, indisciplina, entre
otros), sin distinguirlos. Es necesario reconocer que son fenómenos de distinta naturaleza, que
requieren también intervenciones diferenciadas. A menudo, se propone aumentar el rigor de
las reglas y castigos para hacer frente a estos problemas (VINHA; NUNES, 2020), que
implica el mantenimiento de la heteronomía
4
.
Los problemas de convivencia, particularmente la violencia, son fenómenos
multifactoriales, que van más allá de las paredes de la escuela y no pueden considerarse de
forma aislada. Sin embargo, los estudios sobre la calidad del clima y la vida escolar, al
explicar el "efecto escuela" en esta área, indican que cuando son percibidos como positivos
3
Vale la pena señalar que el hecho de que el SAEB una en una sola cuestión la agresión física y la agresión