PRÁTICAS EDUCATIVAS FEMININAS NAS MEMÓRIAS DE MARIA PAES DE BARROS


PRÁCTICAS EDUCATIVAS FEMENINAS EN LAS MEMORIAS DE MARIA PAES DE BARROS


FEMALE EDUCATIONAL PRACTICES IN THE MEMORIES OF MARIA PAES DE BARROS


Maria Celi Chaves VASCONCELOS1

Eveline Viterbo GOMES2


RESUMO: O artigo tem como tema evidenciar as memórias sobre a educação reunidas no livro “No tempo de dantes” escrito por Maria Paes de Barros. A partir de suas reminiscências de infância e de juventude, o objetivo do estudo é analisar aspectos comuns à educação feminina no século XIX, descritos pela autora em sua narrativa autobiográfica. Em um plano mais específico, verificam-se agentes e experiências educacionais citados na rememoração da autora, tendo como cenário uma ainda diminuta São Paulo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa histórico bibliográfica que tem como principal fonte as memórias publicadas de Maria Paes de Barros, localizadas na segunda metade do oitocentos, período do seu nascimento e de sua infância e juventude vividas em uma típica família da elite paulista. Diante dos escritos autobiográficos da autora, é possível depreender, no cotidiano urbano ou campestre em que viveu, as lições recebidas, a rotina rigorosa de estudos, o pouco tempo para brincadeiras e a existência de muitas regras e castigos, com a finalidade de torná-la detentora de uma “boa educação”, semelhante à das mulheres que viveram no seu tempo e contexto.


PALAVRAS-CHAVE: Educação feminina. Memórias educacionais. Escrita autobiográfica. Maria Paes de Barros. Educação oitocentista.


RESUMEN: El tema del artículo es resaltar las memorias sobre educación recolectadas en el libro “No tempo de dantes” escrito por Maria Paes de Barros. A partir de sus reminiscencias de infancia y juventud, el objeto del estudio es analizar los aspectos comunes a la educación femenina en el siglo XIX, descritos por la autora en su narrativa autobiográfica. En un nivel más específico, hay agentes y experiencias educativas mencionados en la rememoración de la autora, teniendo como escenario la ciudad de São Paulo todavía diminuta. Se trata de una investigación cualitativa histórico-bibliográfica, que tiene como fuente principal las memorias publicadas de Maria Paes de Barros, ubicadas en la segunda mitad de los años mil ochocientos, período de su nacimiento y la infancia y


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1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Professora Titular da Faculdade de Educação, atuando no Programa de Pós-Graduação em Educação (Proped/UERJ). Doutorado em Educação (PUC-Rio). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2 e Bolsista do Programa Cientista do Nosso Estado – (FAPERJ). Prócientista UERJ. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3624-4854. E- mail: maria2.celi@gmail.com

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2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação – (Proped/UERJ). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – (CAPES). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7467-4647. E-mail: evelinevg@yahoo.com.br


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juventud vividas en una familia típica de la élite paulista. A la vista de los escritos autobiográficos da autora, es posible percibir, en el cotidiano urbano o rural en el que vivió, las lecciones recibidas, la rigurosa rutina de estudio, el poco tiempo para jugar, y la existencia de muchas reglas y castigos, para que tuviera una “buena educación”, similar a la de las mujeres que vivieron en su tiempo y contexto.


PALABRAS CLAVE: Educación femenina. Memoria educativa. Escrita autobiográfica. Maria Paes de Barros. Educación ochocentera.


ABSTRACT: The objective of this paper is to highlight the memories on education compiled in the book “No tempo de dantes”, written by Maria Paes de Barros. Based on the reminiscences from the days of her childhood and youth, the objective of this study is to analyze common aspects of women’s education in the 19th century, described by the author in her autobiographical narrative. On a more specific plane, it is possible to verify educational agents and experiences in the author’s memoirs, with a still very small city of São Paulo as a backdrop. This is a qualitative historical and bibliographical survey whose main source is formed by the recollections published by Maria Paes de Barros, located in the latter half of the nineteenth century, the time of her birth and period of her childhood and youth as part of a typical family of the São Paulo elite. In the face of the author’s autobiographical writings, it is possible to envisage within her daily life in an urban or rural setting, the lessons learned, the strict study routine, the little time for fun and games and the abundance of rules and punishment, with the objective of making of her a "well bred" woman, similar to those living in her time and context.


KEYWORDS: Women’s education. Educational memory. Autobiographical writings. Maria Paes de Barros. Education in the eighteen hundreds.


Introdução


Maria Paes de Barros publicou, originalmente, o livro “No tempo de dantes” no ano de 1946. Trata-se de uma obra autobiográfica em que sua autora escreve reminiscências de sua infância e de sua juventude, na segunda metade do século XIX, época em que viveu com seus pais, na Província de São Paulo. As lembranças são encadeadas por uma série de narrativas que demonstram o contexto no qual ela nasceu e cresceu, recebendo o que denominou como as “marcas” de quem era, aos 94 anos de idade, quando editou suas memórias.

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Nascida em 1851, Maria Paes de Barros pertencia à elite paulista. Na família, havia membros com títulos de nobreza, como o barão de Souza Queiroz e a Marquesa de Valença, seus tios. Ou, ainda, o barão de Piracicaba, pai de seu primo e marido, Antônio Paes de Barros. O avô era brigadeiro, o pai, comendador. A riqueza de sua família provinha da exportação agrícola das fazendas de cana-de-açúcar e de café, em cujas propriedades existiam, sob o domínio de seu pai, trabalhadores escravizados de origem africana e colonos


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alemães. Além disso, como era comum entre a elite econômica da época, envolviam-se diretamente na política. Seu pai atuou na Câmara de São Paulo. Seu marido chegou a senador já na República.

Maria Paes de Barros era a mais velha dentre os dez filhos que tiveram dona Felicíssima Campos Barros e o comendador Luís Antônio de Souza Barros. Ele, à época do enlace, levou consigo três filhas do seu primeiro casamento, dentre as quais se destacava Dindinha, a única dentre todos os irmãos e irmãs a ser nomeada em “No tempo de dantes”. Em todo o livro são poucas às referências aos irmãos homens, as quais surgem somente em algumas páginas, para que sejam ressaltadas as diferenças entre a educação recebida pelas “manas” e pelos meninos, já que, quando crianças, todos estudavam juntos, na casa, sob as orientações de Dindinha e de Mademoiselle, a preceptora alemã. No entanto, os meninos, “quando cresciam”, o que ocorria por volta dos dez anos, eram mandados a um colégio interno na Alemanha, enquanto as meninas continuavam os estudos no ambiente doméstico até que se casassem.


Era costume, por essa época, as famílias abastadas mandarem estudar na Europa os seus filhos. Muitos escolhiam a França; ele [o pai comendador], porém, preferiu enviar os seus à Alemanha, visto ter relações comerciais com importante firma de Hamburgo. Para lá seguiram, pois, os três rapazes mais velhos, tendo sido internados em colégios, enquanto as meninas estudavam com Mademoiselle (BARROS, 1998, p. 12).


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Diante das memórias autobiográficas de Maria Paes de Barros, o objetivo central deste estudo é demonstrar as práticas educativas comuns às mulheres oitocentistas, presentes na obra “No tempo de dantes”, considerando que essa mesma educação era oferecida a boa parte das filhas das elites, particularmente nas regiões habitadas pelos grandes fazendeiros do café, nas décadas próximas ao limiar entre o Império e a República. Em um plano mais específico, verificam-se as lições recebidas para tornar as meninas mulheres bem-educadas, assim como as regras e os relatos cotidianos que acompanhavam a formação feminina, transmitida pelas mulheres adultas da casa às mais jovens. Para tanto, os procedimentos metodológicos da pesquisa histórico bibliográfica em pauta têm como fonte e objeto a obra de reminiscências escrita por Maria Paes de Barros, com ênfase em seus relatos de experiências educacionais, entendendo-as envoltas ao processo de construção da memória feminina na maturidade por meio da escrita autobiográfica, como um ato de arquivar-se a si mesma (CUNHA, 2019).


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Uma vida entre mulheres: a educação para feminilidade


Figura 1 – Imagem da capa do livro “No tempo de dantes”


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Fonte: Barros (1998)


A fotografia apresentada na Figura 1 ilustra a capa da obra “No tempo de dantes” e foi tirada por volta do ano de 1875. Sua escolha como imagem de abertura do livro sugere a centralidade feminina nas memórias da autora, o que é reafirmado ao longo do texto nas interações com a preceptora, a irmã e a mãe, as quais assumiam o comando do espaço doméstico e, consequentemente, são as protagonistas das memórias. Como na maior parte das casas de elite oitocentistas, as meninas eram tornadas mulheres pelas mãos de outras mulheres (VASCONCELOS, 2018; FERRAZ, 2020). Tal fato não significa a ausência da figura masculina, pois toda a casa está sempre marcada pela forte presença masculina que a domina. Contudo, essa dominação faz algumas concessões às mulheres no que se refere à gestão do espaço doméstico. De acordo com Franco (2015, p. 72), “ao homem caberia o papel de principal administrador”, já à mulher “cabia o papel específico de mulher e mãe, a par dos deveres e obrigações que se contraem na sociedade e para o recreio honesto, estabelecido entre as pessoas da sua classe”. Assim, a mãe e, em sequência, as mulheres mais velhas da casa, eram responsáveis pela educação e o comportamento das mais jovens (LIÁÑEZ, 2019).

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Nas memórias de Maria Paes de Barros a divisão entre a dominação masculina e a supervisão concedida à figura feminina estava concentrada naquela que é lembrada de forma elogiosa pela memorialista, Dindinha, a meia-irmã mais velha, que ajudaria na tarefa da educação das outras mulheres da casa (GOMES, 2018).


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É de se supor que a organização da família patriarcal do século XIX narrada pela autora encontra-se impregnada das ambiguidades que, decerto, caracterizavam as percepções de mundo de Maria Paes de Barros na maturidade, uma vez que, na escrita autobiográfica, as vivências do passado são reinterpretadas pelo próprio ator, nesse caso, atriz (ARFUCH, 2010). Essa imbricação entre passado e presente não significa um anacronismo ou um escamoteamento sobre “a verdadeira história de sua família”, mas um processo natural da memória, conforme explica Rousso (2016, p. 41), quando as lembranças permitem “fazer reviver o passado no presente”, tentar dar-lhe vida, pois que a “história não existe fora do pensamento que a produz e lhe dá forma após o acontecimento”.

Nessa rememoração que vai ganhando forma e contexto, a autora assume o lugar de uma narradora onisciente e onipresente, mesclando as suas experiências com as das outras irmãs mais novas, para ressaltar as ações das mulheres adultas, identificadas como as vozes autorizadas para orientar, educar e formar a infância. Assim, as autoridades femininas são lembradas, inicialmente, pela definição da rotina imposta às crianças, que emerge do cotidiano da casa, e, a seguir, pelos traços de personalidade e funções bastante específicas atribuídas a cada uma delas.

Tratando-se de um “espaço de recordação” (ASSMANN, 2011), localizado em meio ao século XIX, as práticas educativas contadas e atribuídas às “mestras” da casa, envolviam muito mais do que simplesmente aprender signos e ensinamentos, mas era uma educação construída a cada momento, nos ambientes de convivência, nas festividades religiosas, nos passeios, nas viagens e, principalmente, nas situações de aprendizagem planejadas, organizadas e aplicadas, formalmente, por Dindinha e Mademoiselle, ou introduzidas, informalmente, por meio do compartilhamento das experiências domésticas de dona Felicíssima.

Dindinha, a irmã mais velha, é a grande referência de Maria Paes de Barros e a quem a autora atribui a sua educação, assim como a dos seus dez irmãos e irmãs mais novos. Foi ela quem ensinou às crianças as primeiras letras e a tocar piano, estabeleceu uma rotina de estudos na casa e listou os materiais didáticos a serem adquiridos, além de ter tido a iniciativa de introduzir outras habilidades no currículo das meninas, como a dança e o preparo para o casamento. Dindinha “dispunha, ordenava, fiscalizava e dirigia – tudo com grande proficiência e dedicação” (BARROS, 1998, p. 11).

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Sob a austera rotina regida pelo soar de uma campainha, as crianças permaneciam sentadas no centro da sala de estudos, desde muito cedo até o horário do jantar, que era servido às 14 horas. Meninos e meninas reunidos em torno de uma grande carteira, rodeada


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por amplos mapas geográficos, estudavam lições em livros vindos diretamente da França. Enquanto os mais jovens aprimoravam o francês e os conhecimentos gerais a partir de biografias, histórias e relatos de viagens, as meninas mais velhas podiam desfrutar da “Revista Popular” e das novelas publicadas na coleção “L’Echo des Feuilletons”. Com a dança, introduzida às moças por sugestão de Dindinha, que via nessa prática um eficiente meio de aquisição de boa postura corporal e de trejeitos delicados, as meninas recebiam aulas em casa, ministradas por duas ex-bailarinas italianas, e Dindinha as acompanhava tocando piano.

Ainda que fosse ela mesma a responsável pela educação dos irmãos e das irmãs, Dindinha fez, também, o que era habitual naquela época, e a família contratou uma preceptora, entre as muitas anunciadas pelos jornais para prestar seus serviços ensinando nas casas. De acordo com Vasconcelos (2018, p. 291):


[...] normalmente, eram recebidas em seus consulados ou mantinham alguma relação com eles, como demonstram muitos anúncios, desde os que facultavam o endereço oficial para a correspondência entre a candidata e seus contratantes, até os que davam informações sobre a pessoa que anunciava seus préstimos. Assim, aparecem constantemente, nos anúncios, o consulado francês, o consulado alemão, o consulado sueco, o consulado de Portugal e a agência cosmopolita.


Como era o desejo recorrente na elite oitocentista para a educação das filhas, a família Barros optou por uma preceptora alemã, embora Fraulein fosse chamada de Mademoiselle, tendo em vista que a língua fluente para ensinar era o francês (VASCONCELOS, 2018). Dessa forma, Dindinha e Mademoiselle constituíam a imagem típica das mulheres que atuavam na educação das crianças em uma casa da aristocracia brasileira na segunda metade do século XIX.


Na sala de estudos estavam as manas no seu elemento. Ali governava a Dindinha, com poder indiscriminado, e a Mademoiselle era o seu ídolo. Era afável e obsequiosa, soubera fazer-se querer e todos procuravam adivinhar- lhe os menores desejos. [...] Quem sabe se tal atitude não seria determinada por aspiração não realizada? [...] Sempre pronta a ajudar e prestar pequenos serviços, era quem planejava trabalhos e passeios que as manas executavam. Tornava-se, desse modo, objeto de geral carinho e estima a admirável Mademoiselle, como se fosse merecedora das afetuosas expansões que recebia com aquele amável sorriso (BARROS, 1998, p. 95).


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A parceria entre Dindinha e Mademoiselle remonta ao modelo educacional bastante difundido entre as famílias da elite brasileira do século XIX. Uma educação privada, dada às crianças e jovens no interior da casa, de acordo com os interesses de seus pais, os quais tinham autonomia para escolher as disciplinas e os mestres envolvidos no processo. Segundo


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Vasconcelos (2005; 2018; 2020), era comum as famílias recorrerem ao trabalho de preceptoras para educarem as filhas mulheres – e as estrangeiras eram consideradas, em uma hierarquia que privilegiava alemãs, francesas e inglesas, mas admitindo todas as nacionalidades desde que fossem fluentes em francês – as mais adequadas ao padrão de educação aspirado.


Mesmo após já estarem residindo no Brasil, os anúncios demonstram que as preferências das famílias eram por mulheres estrangeiras; o simples fato de ser alemã, francesa ou inglesa era referência suficiente das habilidades para a contratação (VASCONCELOS, 2018, p. 293).


As preceptoras encarregavam-se da educação de todas as crianças da casa até que os meninos tivessem idade para estudar em um colégio ou internato. Já as meninas ficavam sob seus cuidados, por vezes, até a idade que estivessem prontas para se casar. A casa da família Barros não fugia desse modelo: “Era realmente bem-dotada a professora: além de bonita, inteligente, culta e hábil em trabalhos manuais e misteres de cozinha, falava diversas línguas, tocava, cantava e desenhava bem” (BARROS, 1998, p. 12).

Outra memorialista, contemporânea de Maria Paes de Barros, também relembra a preceptora da sua casa, nesse mesmo período. Moradora da Província de São Paulo e nascida na década de 1870, Floriza Barboza Ferraz (2020), talvez influenciada pela publicação daquela autora (SOUZA, 2020, p. 269), escreve em 1947 suas “Páginas de recordações: memórias”, obra na qual conta que sua irmã Júlia, “mandou vir da Europa uma professora muito instruída, chamava-se ela mademoiselle Luiza Neget” (FERRAZ, 2020, p. 64).

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É interessante notar que mesmo reunindo as qualidades esperadas das preceptoras, especialmente de uma preceptora alemã, reconhecida pelo rigor com a disciplina, aos olhos de Maria Paes de Barros, Mademoiselle não era quem aplicava os castigos, “era tão indulgente que não gostava de puni-las quando erravam, dando-lhes apenas uma nota má no caderno. Quando a falta era maior, a Dindinha, sempre justiceira, era quem infligia o castigo” (BARROS, 1998, p. 96). Para a autora, entretanto, Dindinha era dotada de um grande “senso de justiça”, entendido como equilíbrio perfeito entre “sensatez” e “firmeza”. Em suas lembranças, esses atributos de Dindinha a tornavam um modelo para todas as mulheres, especialmente as mães, pois, com olhos vigilantes, acompanhava “todos os atos de suas vidas, atentos tanto à instrução como à educação moral e religiosa. Como meios auxiliares não faltavam, como já dissemos, os castigos, sempre julgados indispensáveis” (BARROS, 1998, p. 32).



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A temática das regras colocadas às crianças e as argumentações sobre a necessidade de imposição de limites a elas são retomadas por Maria Paes de Barros em momentos distintos do livro, assim como as lembranças dos castigos aplicados àqueles que às infringiam. Notadamente, a autora identificava nessas práticas ações fundamentais para a criação de adultos respeitosos, sendo considerado um aspecto positivo da educação recebida, que não havia abalado o clima de harmonia familiar constantemente rememorado por ela.

Quanto a esse debate, Maria Paes de Barros situa no século XX a discussão acerca dos excessos dos castigos físicos infligidos às crianças, mas, de acordo com a sua percepção, no século XIX as famílias não comungavam dessas ideias, embora insista em demonstrar que não havia o uso da força física como método corretivo usual em sua casa (GOMES, 2016). Segundo ela, Dindinha recorria à suspensão do recreio quando a falta cometida era relativa às aulas: “As infrações às regras eram sempre punidas. Naquela época, os castigos faziam parte integrante do curriculum escolar” (BARROS, 1998, p. 14). Nos outros casos, aplicava lições moralizantes, as quais deveriam servir de exemplo para todos os irmãos e irmãs. Por isso, os castigos eram executados na hora do jantar. O desobediente deveria permanecer à mesa em silêncio, enquanto os outros saboreavam a sobremesa; podia ter cartazes presos à roupa ou era submetido a uma situação que o expusesse aos duros olhares dos presentes. Como exemplo, a autora conta o episódio em que uma das “manas” foi obrigada a esmolar, por ter sido impiedosa com uma velha senhora que pedia comida de porta em porta. Entretanto, contemporiza: “ainda que imposições vexatórias, não escandalizavam ninguém: eram sofridas pacientemente, como justas e naturais, e não constituíam nuvem que empanasse a felicidade das crianças, que viviam satisfeitas, rodeadas da afeição protetora dos pais” (BARROS, 1998, p. 53).

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As casas da família Barros – tanto a da cidade como as das fazendas – configuravam- se como o centro catalizador das experiências educacionais, espaços de conhecimento que estimulavam e propiciavam a produção intelectual (AGUIAR, 2015; 2020), cada qual com o seu potencial formativo. Aproveitavam-se todos os ambientes para as lições, a sala de estudos equipada com mapas, livros em francês e enciclopédias; o pomar onde as crianças podiam se divertir no intervalo das aulas; a sala de costuras; e a sala de jantar. Da mesma forma, é lembrado o entorno da casa grande e da senzala, de onde emergiram experiências eternizadas em sua memória, em um mundo que ela viu se modificar completamente, durante a transição entre os dois séculos em que viveu.


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Acabada a educação é a hora de se casar: sensibilidades e obrigações femininas Figura 2 – Fotografia de cinco gerações de mulheres da família Souza Barros


Fonte: Barros (1998)


A Figura 2 mostra cinco gerações de mulheres da família de Maria Paes de Barros e foi tirada em 1920, quando ela já estava viúva e vinha sobrevivendo da direção de uma maternidade e da atuação como professora em uma escola presbiteriana (BARROS, 1998). A memorialista está à esquerda da fotografia, que tem ao centro sua mãe, dona Felicíssima, que também chegou a dar aulas nessa mesma escola como professora de piano. As outras duas mulheres são a filha (sentada), a neta (em pé) e a bisneta da autora (o bebê no colo da tataravó), o que evidencia a juventude com que as mulheres se casavam. “Saída apenas da sala de estudos para o casamento, sentia-se intimidada com tão grande contraste” (BARROS, 1998, p. 125). Com essa frase Maria Paes de Barros resume o percurso que era esperado de todas as mulheres da casa.

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Segundo Bourdieu (2006), a narrativa biográfica desenvolvida como sequência linear e teleológica tende a introjetar no sujeito do passado características que o definem no presente. Tal prática acaba por construir uma representação da vida como um conjunto coerente, dotada de sentido prévio. Na perspectiva de Maria Paes de Barros, a infância tratava-se apenas de uma etapa que antecedia a vida adulta, ou seja, a única existente antes de se tornar mulher. Para uma menina, isso significava, basicamente, o período de preparação para o casamento, momento em que a jovem senhora colocaria em prática tudo o que aprendeu na casa da família, com as mulheres que a ensinaram. Para isso, não bastavam os conhecimentos aprendidos na sala de estudos, pois o casamento exigia ainda outras habilidades. Além de inteligente e culta, a senhora precisava ser “dona” de sua própria casa e não esquecer de evocar tudo o havia aprendido com as outras as mulheres de sua vida:


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Não era pequena a tarefa que tinha diante de si: governar, dirigir e, se preciso fosse até castigar as numerosas escravas que trabalhavam dentro de casa, todas mais velhas e mais práticas do serviço do que ela! [...] No entanto, não desanimava, nem perdia a alegria, pois tinha a mão forte do marido, que a orientava, e auxiliava em todas as dificuldades (BARROS, 1998, p. 126).


Uma parcela considerável das reminiscências da autora é ocupada pelas lembranças de sua mãe, dona Felicíssima, cumprindo papéis fundamentais para a família, como grande parceira do marido, pronta a animá-lo e a assumir suas responsabilidades; realizando tarefas domésticas com o auxílio das escravizadas que agiam ao seu comando; arrumando as bagagens; produzindo e reunido utensílios importantes para as longas viagens da família às muitas de suas fazendas. Nas lembranças da autora, dona Felicíssima conhecia todos os escravizados e os colonos pelo nome, escutava suas necessidades, orientava sobre a vida em família e manipulava ervas e medicamentos, “com o auxílio dos dois grossos volumes de ‘Medicina Popular’, de Chernoviz, curava-se muita gente” (BARROS, 1998, p. 66). Era, portanto, também a responsável por cuidar da saúde dos membros da família e da casa.


Não só na sua casa, como na administração, exercia ela as suas atividades. A senhora não somente ouvia e aconselhava, mas dirigia-se pessoalmente para a casa da administração, visitando a enfermaria das pretas e a dos pretos. Dotada de singular tino médico, ia aplicando cautelosamente os medicamentos, usando somente processos brandos – cataplasmas, fomentações e chás por ela mesma preparados (BARROS, 1998, p. 82).


Essa prática destinada às mulheres é também corroborada por Vasconcelos (2018, p. 299), em estudo acerca da “Doutrina sobre o governo da casa”, muito apreciada para a educação de mulheres nas últimas décadas do século XIX, como a escrita no livro de Adrien Sylvain, traduzida e publicada em capítulos na Revista Bazar Litterário3, na qual era afirmado que entre as funções da dona da casa estava zelar e cuidar da saúde de todos que nela habitassem.

Nessa perspectiva, é possível entrever uma certa autonomia das mulheres na definição das atividades de administração da casa. Dona Felicíssima destituía as escravizadas mais velhas e cansadas dos serviços pesados, nomeando para seus lugares as mais jovens. Antes, atestava a saúde de todas. Às adoentadas ficavam reservados os afazeres considerados mais leves, enquanto a saúde era restabelecida pela batata doce, mesmo “fortalecedor” que



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3 Conforme os Anais da Biblioteca Nacional, vol. 85, 1965, a revista quinzenal Bazar Litterário: de educação e de recreação foi publicada de 1º de outubro de 1878 a 15 de junho 1879, no Rio de Janeiro, pela Typographia de São Vicente de Paula.


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recomendava às crianças para evitar a morte prematura. Havia todo um “sistema doméstico” regido pelas mulheres, como descreve Carvalho (2008, p. 242):


Um conjunto de regras que visa a estabelecer uma regularidade no trabalho da esposa, filhas e empregados. A sequência de atividades se concretiza em um conjunto de tarefas distribuídas em horários e dias preestabelecidos e supervisionados pela esposa. Fazem parte da rotina as atividades de manutenção, produção de objetos de decoração (trabalhos manuais), processamento e reposição de alimentos e a educação da filha para a reprodução dos saberes domésticos.


Tais conhecimentos eram aspirados por Maria Paes de Barros para que ela própria pudesse ser capaz de administrar a sua futura casa. No entanto, antes dela, as “manas” mais velhas chegaram na idade de se casar, o que fez com que o comendador desse início à busca por pretendentes. Procurava ser minucioso na análise, atentando para o menor sinal que fosse de “mescla de cor” na família do rapaz. Encontrado, logo era dispensado o candidato, corroborando o imenso preconceito existente naquele período. De toda forma, os principais indicados para o consórcio do casamento com as moças da família, eram, antes de todos, os parentes, seja para concentrar a riqueza, seja para não correr riscos com aventureiros desconhecidos. Assim, os noivos eram selecionados, normalmente, entre os membros da própria família, os primos, corroborando o que afirma Peñarrocha (2013, p. 232), de que “o casar-se, entendido como estratégia de reprodução social, resulta tão necessária para todo o grupo como reservada para tão somente uma pequena parte dentro dele”4, ou seja, antes de ser uma prática social, era também uma prática familiar recorrente.

Logo após o casamento das irmãs, Maria Paes de Barros, ainda bastante jovem, também se casou. Contava apenas dezesseis anos de idade, quando seu interesse considerado excessivo pelos livros, especialmente os de poesias amorosas, começaram a preocupar Dindinha, que logo convenceu-a a aceitar um pedido de casamento: “Não recuse essa felicidade!” (BARROS, 1998, p. 123). Chegara o momento da “melhor aluna da classe” se casar.

Apesar do destino ser o mesmo de suas irmãs – casar-se com um primo –, algo se colocava como distinto na trajetória da memorialista, pois ela nunca abandonou o seu envolvimento com os livros e a atenção aos estudos. Após anos de dedicação à casa e aos negócios da família, Maria Paes de Barros publicou a obra que escreveu durante um bom tempo e a alavancou entre os principais nomes da intelectualidade paulistana reunida no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Trata-se do livro “História do Brasil”,


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4 Tradução livre do original em espanhol.


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publicado no ano de 1932. A essas tarefas, juntavam-se o interesse pelo ensino da disciplina de história e o entusiasmo pela educação, conforme destacou Caio Prado Júnior (BARROS, 1998, p. 14):


Interessando-se inteligentemente pelo crescimento físico e espiritual de todos os de sua numerosa família, nela teve brilhante atuação. Nos serões de sua fazenda, às margens rumorejantes do Mogi-Guaçu, deliciava-se em ensinar História à juventude. Revivendo por narrativas dramatizadas os quadros do passado, aos olhos ávidos dos seus queridos desfilavam castelos cheios de idílios, cruzadas, torneios, caravelas... Visões que despertavam nos corações de seus netos e ouvintes aspirações nobres e anseios do infinito.


A autora continuou com o mesmo entusiasmo pela educação, mesmo quando suas condições financeiras já não eram favoráveis, restando apenas as lembranças dos anos de prosperidade. Entretanto, ainda assim, ela continuava acolhendo netos e amigos que necessitavam residir em São Paulo para estudar (PRADO JUNIOR in BARROS, 1998).

Cabe notar o destaque que Maria Paes de Barros dá ao casamento nos capítulos finais de sua obra memorialística, o que remete também à educação recebida, por diversos aspectos. Em uma complexa tecitura de representações, ela demonstra como deixou a meninice para se casar, tornar-se uma adulta, mas sempre carregando consigo a coletividade das mulheres que a formaram. Cada qual com suas características únicas e específicas,] deixaram na jovem senhora as marcas de si. De um lado, marcas importantes para a atuação na vida pública, de outro, os elementos para a construção de uma vida conjugal harmônica e feliz, como a que acreditou terem conhecido seus pais.

Outro aspecto evidenciado é que mesmo quando o casamento é a temática central, não faltam referências à irmã Dindinha e à preceptora alemã Mademoiselle, como lembranças que não se apagam das artífices do trabalho metódico, constante e persistente de formação daquela menina, transformada em mulher, e da aplicação que ela fez desses ensinamentos por toda a vida.

Assim, especialmente a mãe, dona Felicíssima, Dindinha e Mademoiselle, mas também outras personagens femininas que atuaram em seu processo de formação intelectual e nas práticas que aprendeu para a vida, são representadas sem nenhum traço de imperfeição, com uma descrição que pode ser inserida em um padrão mítico de família.

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Kotre (1997) chama a atenção para o fato de que a mitificação não significa o falseamento da memória na maturidade, mas uma atitude que busca o conforto diante da perda, elaborando novas lembranças que invisibilizam as antigas. Ainda segundo o mesmo


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autor, esse é um processo pelo qual passamos ao enfrentar momentos de crise, que provocam marcos de readequação de nossas memórias.

Segundo Bourdieu (2006), essa perspectiva teleológica da narrativa biográfica é uma das “ilusões” da tipologia de escrita, chamada por ele de biografia ordinária, desenvolvida sob uma perspectiva totalizante da história de vida do sujeito, revelando uma narrativa linear e lógica. De fato, é nesse campo da escrita biográfica que se encontra “No tempo de dantes”, no qual a autora tenta recuperar um todo coerente acerca da identidade que construiu no presente, a partir das influências recebidas, notadamente, das mulheres com as quais conviveu até a vida adulta. Ainda assim, trata-se de uma fonte privilegiada de entendimento das representações das práticas educativas femininas no oitocentos, justamente por evidenciar a perspectiva de quem viveu, bem como a reflexão sobre o que foi vivido, oferecendo uma reinterpretação da educação e do papel das mulheres na formação de outras mulheres.

À altura do ano de 1946, contando para além de noventa anos de idade, as personagens principais das reminiscências de Maria Paes de Barros já não estavam mais ao seu lado, nem a opulência e a riqueza daqueles tempos faziam parte do seu dia a dia. Do mesmo modo, a memorialista, depois de longos anos cuidando do marido enfermo, viu sua fortuna esvair-se. Talvez, a dura realidade dos últimos anos tenha iluminado com cores mais brandas as memórias relativas às pessoas que povoaram sua vida tantos anos antes: “E no fim da vida, quando a memória já não é fundamental para lidar com a realidade, ela pode se transformar na matéria prima da qual são feitos os sonhos” (KOTRE, 1997, p. 217).


Considerações finais


Ao escrever “No tempo de dantes”, Maria Paes de Barros recorda da menina que foi, por meio de suas reminiscências, buscando no passado a mulher do seu presente, mesclada de si, de Dindinha, de Mademoiselle e de dona Felicíssima, um coletivo em uma única mulher. Foram elas que lhes deram as ferramentas necessárias para atravessar a vida, desde quando se viu na emergência de assumir a sua própria casa com o casamento, até as suas atitudes e comportamentos cotidianos, que, de alguma forma, permaneciam seguindo as vozes daquelas mulheres, cujo objetivo era educá-la para todas as sensibilidades e obrigações femininas daquele tempo e contexto.

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Carretero (2019, p.918) afirma que “a educação da mãe na origem de nossas vidas e a projeção posterior, no âmbito público, do ensino daquelas pessoas que cultivavam e criavam um saber e/ou um saber fazer”, configuraram-se, durante muito tempo, como ofícios


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essencialmente femininos, transmitidos entre mulheres, para dar continuidade à sabedoria acumulada ao longo dos anos, tão necessária para enfrentar os desafios da vida cotidiana. Contudo, o que Dindinha, Mademoiselle e dona Felicíssima não poderiam supor é que o mundo que elas imaginaram possível de ser ensinado e transmitido às mulheres de sua casa para exercerem seu papel na sociedade iria mudar completamente nas décadas seguintes e exigir outras práticas educativas femininas.

Caio Prado Júnior abre a introdução de “No tempo de dantes” com a seguinte sentença: "Certamente ainda está por se escrever o que a civilização deve à mulher" (PRADO JUNIOR in BARROS, 1998, p. XIII). Chamando atenção para a sua condição de mulher, o escritor enaltecia Maria Paes de Barros e sua contribuição para a “florescente civilização paulista”, não apenas por seu livro, escrito em um cenário que se afastava definitivamente do século XIX, mas, principalmente, pela sua atuação no campo da saúde, como diretora da Maternidade de São Paulo, colaboradora do Hospital Samaritano e fundadora do primeiro Tennis Club da cidade. Além disso, de acordo com o prefaciador, ao publicar uma “História do Brasil”, em 1932, Maria Paes de Barros tornou-se reconhecida nacionalmente por seu trabalho historiográfico.

Mas é preciso discordar de Caio Prado Júnior. O destaque de Maria Paes de Barros, dentre tantas outras meninas da elite paulista que foram educadas na casa, está na obra que, segundo ele, foi escrita “para gáudio dos que se deleitam imaginando ambientes de outrora” (PRADO JUNIOR, 1998, p. 15). A autora, pela via da escrita autobiográfica, “No tempo de dantes”, ousou dar vislumbre acerca do que “a civilização deve à mulher”, rompendo, no gênero das escritas de si, com o absolutismo masculino dos autores e atores da história.

Em outra perspectiva, Loriga (2011, p. 69), relacionando biografia e história, demonstra que o acontecimento se desintegra imediatamente na multidão de imagens que o sucede, portanto, “o que se passa não contém nenhuma verdade em si e só tem sentido quando pensado e contado”. Dessa forma, Maria Paes de Barros tanto se propôs a contar a história do Brasil em seu livro com esse título, quanto o fez “No tempo de dantes”.

Como uma mulher representante de um tempo que não pode mais ser mais recomposto, a não ser pelos vestígios e memórias, ainda que idílicas, escritas como a de Maria Paes de Barros permitem que se perceba a importância das mulheres na formação de outras mulheres, sugerindo também que, tempos depois, será no próprio universo feminino que as mulheres ensinarão a outras a romper a ordem anterior.

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A descrição de Maria Paes de Barros das mulheres mais relevantes da casa não as coloca numa vanguarda feminista. Afirmar isso seria incorrer em anacronismos. Na verdade,


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as representações de dona Felicíssima, Dindinha e Mademoiselle dizem muito mais sobre nossa nonagenária memorialista. Kotre (1997), em seus estudos sobre memória na maturidade, chama a atenção para o fato de ser difícil lembrarmos de como víamos o mundo no passado. No geral, o que lembramos está intimamente relacionado ao presente, ao momento em que recorremos às lembranças. Queremos, com isso, chamar a atenção para o quanto de presente há no passado (ROUSSO, 2016).

Quando Maria Paes de Barros expõe suas memórias, ela já não era o que foi na infância e na juventude. Não só pelas imposições biológicas, mas, especialmente, pelas sociais. A mulher oitocentista que vinha de uma família tradicional paulista, educada para ser esposa e mãe, viu sua fortuna dilapidada no novecentos e passou a atuar como professora. Escrever suas reminiscências significava um reencontro com sua identidade. Não um retorno, mas um reencontro. A autora mantinha uma relação realista com o seu presente, mas certamente readequou suas memórias aos novos rumos de sua vida, trazendo um pouco de passado para o presente, ainda que fosse sob a forma daquilo que aprendeu em casa de seus pais. Focar suas memórias na moradia paterna é, nas palavras de Arfuch (2013, p. 28), centrar a casa como “espaço/temporalidade”, onde “as interações, os afetos, as rotinas, os trânsitos cotidianos” e as diferenças de gênero marcam também os ritmos da narrativa.

Embora haja em sua obra intensas alusões às imposições do patriarcalismo sobre a casa, são as ações femininas que preenchem grande parte das páginas, nas quais Maria Paes de Barros escreveu e deixou registradas suas reminiscências. Das lembranças da senhora atuante no século XX emergiram importantes evidências sobre a educação feminina praticada no oitocentos, pelas mulheres e para as mulheres. O pai, comendador, figurou nas memórias da autora apenas como a representação da autoridade, mas a mãe era a peça fundamental de toda a engrenagem senhorial, somando-se a ela Dindinha e Mademoiselle. Elas, as três, as únicas mulheres nomeadas, eram as protagonistas que, juntas, formavam a mulher ideal. Ideal para o século XIX. Ideal para as lembranças de um passado romantizado.


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Acesso em: 05 jan. 2021.


Como referenciar este artigo


VASCONCELOS, M. C. C.; GOMES, E. V. Práticas educativas femininas nas memórias de Maria Paes de Barros. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. esp. 3, p. 1422-1438, jun. 2021. e-ISSN: 1982-5587. DOI:

https://doi.org/10.21723/riaee.v16iesp.3.15290


Submissão em: 05/02/2021

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Revisões requeridas em: 30/03/2021 Aprovado em: 12/05/2021 Publicado em: 01/06/2021


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PRÁCTICAS EDUCATIVAS FEMENINAS EN LAS MEMORIAS DE MARIA PAES DE BARROS


PRÁTICAS EDUCATIVAS FEMININAS NAS MEMÓRIAS DE MARIA PAES DE BARROS


FEMALE EDUCATIONAL PRACTICES IN THE MEMORIES OF MARIA PAES DE BARROS


Maria Celi Chaves VASCONCELOS1

Eveline Viterbo GOMES2


RESUMEN: El tema del artículo es resaltar las memorias sobre educación recolectadas en el libro “No tempo de dantes” escrito por Maria Paes de Barros. A partir de sus reminiscencias de infancia y juventud, el objeto del estudio es analizar los aspectos comunes a la educación femenina en el siglo XIX, descritos por la autora en su narrativa autobiográfica. En un nivel más específico, hay agentes y experiencias educativas mencionados en la rememoración de la autora, teniendo como escenario la ciudad de São Paulo todavía diminuta. Se trata de una investigación cualitativa histórico-bibliográfica, que tiene como fuente principal las memorias publicadas de Maria Paes de Barros, ubicadas en la segunda mitad de los años mil ochocientos, período de su nacimiento y la infancia y juventud vividas en una familia típica de la élite paulista. A la vista de los escritos autobiográficos da autora, es posible percibir, en el cotidiano urbano o rural en el que vivió, las lecciones recibidas, la rigurosa rutina de estudio, el poco tiempo para jugar, y la existencia de muchas reglas y castigos, para que tuviera una “buena educación”, similar a la de las mujeres que vivieron en su tiempo y contexto.


PALABRAS CLAVE: Educación femenina. Memoria educativa. Escrita autobiográfica. Maria Paes de Barros. Educación ochocentera.


RESUMO: O artigo tem como tema evidenciar as memórias sobre a educação reunidas no livro “No tempo de dantes” escrito por Maria Paes de Barros. A partir de suas reminiscências de infância e de juventude, o objetivo do estudo é analisar aspectos comuns à educação feminina no século XIX, descritos pela autora em sua narrativa autobiográfica. Em um plano mais específico, verificam-se agentes e experiências educacionais citados na rememoração da autora, tendo como cenário uma ainda diminuta São Paulo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa histórico bibliográfica que tem como principal fonte as memórias publicadas de Maria Paes de Barros, localizadas na segunda metade do oitocentos, período


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1 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Professora Titular da Faculdade de Educação, atuando no Programa de Pós-Graduação em Educação (Proped/UERJ). Doutorado em Educação (PUC-Rio). Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 2 e Bolsista do Programa Cientista do Nosso Estado – (FAPERJ). Prócientista UERJ. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3624-4854. E- mail: maria2.celi@gmail.com

2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro – RJ – Brasil. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Educação – (Proped/UERJ). Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – (CAPES). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7467-4647. E-mail: evelinevg@yahoo.com.br

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do seu nascimento e de sua infância e juventude vividas em uma típica família da elite paulista. Diante dos escritos autobiográficos da autora, é possível depreender, no cotidiano urbano ou campestre em que viveu, as lições recebidas, a rotina rigorosa de estudos, o pouco tempo para brincadeiras e a existência de muitas regras e castigos, com a finalidade de torná-la detentora de uma “boa educação”, semelhante à das mulheres que viveram no seu tempo e contexto.


PALAVRAS-CHAVE: Educação feminina. Memórias educacionais. Escrita autobiográfica. Maria Paes de Barros. Educação oitocentista.


ABSTRACT: The objective of this paper is to highlight the memories on education compiled in the book “No tempo de dantes”, written by Maria Paes de Barros. Based on the reminiscences from the days of her childhood and youth, the objective of this study is to analyze common aspects of women’s education in the 19th century, described by the author in her autobiographical narrative. On a more specific plane, it is possible to verify educational agents and experiences in the author’s memoirs, with a still very small city of São Paulo as a backdrop. This is a qualitative historical and bibliographical survey whose main source is formed by the recollections published by Maria Paes de Barros, located in the latter half of the nineteenth century, the time of her birth and period of her childhood and youth as part of a typical family of the São Paulo elite. In the face of the author’s autobiographical writings, it is possible to envisage within her daily life in an urban or rural setting, the lessons learned, the strict study routine, the little time for fun and games and the abundance of rules and punishment, with the objective of making of her a "well bred" woman, similar to those living in her time and context.


KEYWORDS: Women’s education. Educational memory. Autobiographical writings. Maria Paes de Barros. Education in the eighteen hundreds.


Introducción


Maria Paes de Barros ha publicado, originalmente, el libro “No tempo de dantes” en el año 1946. Se trata de una obra autobiográfica en la que su autora escribe reminiscencias de su niñez y de su juventud, en la segunda mitad del siglo XIX, época que vivió con sus padres, en la Provincia de São Paulo. Los recuerdos son enlechados por una serie de narrativas que demuestran el contexto en el que ella nació y creció, recibiendo lo que denominó como las “huellas” de quien era, a los 94 años de edad, cuando editó sus memorias.

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Nacida en 1851, Maria Paes de Barros pertenecía a la élite paulista. En la familia había miembros con títulos de nobleza, como el barón de Souza Queiroz y la Marqueza de Valença, sus tíos. O aún el barón de Piracicaba, padre de su primo y marido, Antônio Paes de Barros. El abuelo era brigadeiro, el padre comendador. La riqueza de su familia provenía de la exportación agrícola de las haciendas de caña-de-azúcar y de café, en cuyas propiedades


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existían, bajo el dominio de su padre, trabajadores eclavizados de origen africana y colonos alemanes. Además, como era común entre la elite económica de la época, se envolvía directamente en la política. Su padre actuó en la Cámara de São Paulo. Su marido llegó a ser senador en la República.

Maria Paes de Barros era la mayor entre los diez hijos que dueña Felicíssima Campos Barros y el comendador Luís Antônio de Souza Barros tuvieron. Él, a la época del enlace, llevó consigo tres hijas de su primer matrimonio, entre las que se destacaba Dindinha, la única entre todos los hermanos y hermanas a ser nombrada en “No tempo de dantes”. En todo el libro son pocas las referencias a los hermanos hombres, las que surgen solo en algunas páginas, para que sean señaladas las diferencias entre la educación recibida por las hermanas y por los niños, ya que, cuando niños, todos estudiaban juntos, en la casa, bajo orientaciones de Dindinha y de Mademoiselle, la perceptora alemana. Sin embargo, los niños “cuando crecían”, lo que ocurría alrededor de los diez años, eran mandados a un colegio interno en Alemania, mientras las niñas continuaban los estudios en el ambiente domestico hasta que se casaran.


En aquella época era habitual que las familias ricas enviaran a sus hijos a estudiar a Europa. Muchos eligieron Francia; él [el padre del comendador], sin embargo, prefirió enviar a sus hijos a Alemania, ya que tenía relaciones comerciales con una importante empresa de Hamburgo. Así que los tres mayores se fueron allí, después de haber estado internados en las escuelas, mientras que las niñas estudiaron con Mademoiselle (BARROS, 1998, p. 12).


Teniendo en cuenta las memorias autobiográficas de Maria Paes de Barros, el objetivo central de este estudio es demostrar las prácticas educativas comunes a las mujeres del siglo XIX, presentes en la obra "No tempo de dantes", considerando que esta misma educación se ofrecía a la mayoría de las hijas de la élite, especialmente en las regiones habitadas por los grandes cafeteros, en las décadas cercanas al umbral entre el Imperio y la República. En un plano más concreto, comprobamos las enseñanzas recibidas para hacer de las niñas mujeres instruidas, así como las normas y los informes diarios que acompañaban la educación femenina, transmitidos por las mujeres adultas de la casa a las más jóvenes. Para ello, los procedimientos metodológicos de la investigación histórica bibliográfica en cuestión tienen como fuente y objeto la obra de reminiscencias escritas por Maria Paes de Barros, con énfasis en sus relatos de experiencias educativas, entendiéndolas involucradas en el proceso de


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construcción de la memoria femenina en la madurez a través de la escritura autobiográfica, como un acto de archivo de sí misma (CUNHA, 2019).


Una vida entre mujeres: la educación para femineidad


Figura 1 – Imagen de la portada del libro “No tempo de dantes


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Fuente: Barros (1998)


La fotografía presentada en la Figura 1 ilustra la portada de la obra “No tempo de dantes” y fue tomada alrededor del año 1875. Su elección como imagen de apertura del libro sugiere la centralidad femenina en las memorias de la autora, lo que se reafirma a lo largo del texto en las interacciones con la preceptora, la hermana y la madre, las cuales asumían el comando del espacio doméstico y, consecuentemente, son las protagonistas de las memorias. Como en la mayor parte de las casas de la elite ochocentistas, las niñas se hacían mujeres por las manos de otras mujeres (VASCONCELOS, 2018; FERRAZ, 2020). Tal hecho no significa la ausencia de la figura masculina, pues toda la casa está siempre marcada por la fuerte presencia masculina que la domina. Sin embargo, esa dominación hace algunas concesiones a las mujeres en lo que respecta a la gestión del espacio doméstico. Acorde con Franco (2015,

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p. 72), “al hombre cabría el rol de principal administrado”, ya a la mujer “cabría el rol específico de mujer y madre, a par de los deberes y obligaciones que se contraen en la sociedad y para el recreo honesto, establecido entre las personas de su clase”. Así, la madre y, en secuencia, las mujeres mayores de la casa, eran responsables por la educación y el comportamiento de las menores (LIÁÑEZ, 2019).



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En las memorias de Maria Paes de Barros la división entre la dominación masculina y la supervisión concedida a la figura femenina se concentraba en la que es recordada de forma elogiosa por la memorialista, Dindinha, la hermanastra mayor, que ayudaría en la tarea de la educación de las demás mujeres de la casa (GOMES, 2018).

Es de suponer que la organización de la familia patriarcal del siglo XIX narrada por la autora está impregnada de las ambigüedades que ciertamente caracterizaron las percepciones del mundo de Maria Paes de Barros en la madurez, ya que, en la escritura autobiográfica, las experiencias del pasado son reinterpretadas por el propio actor, en este caso, la actriz (ARFUCH, 2010). Esta imbricación entre el pasado y el presente no supone un anacronismo o una ocultación sobre "la verdadera historia de su familia", sino un proceso natural de la memoria, como explica Rousso (2016, p. 41), cuando los recuerdos permiten "revivir el pasado en el presente", tratando de darle vida, ya que la "historia no existe fuera del pensamiento que la produce y la plasma después del acontecimiento".

En esta reminiscencia que toma forma y contexto, la autora ocupa el lugar de una narradora omnisciente y omnipresente, mezclando sus experiencias con las de las otras hermanas menores, para resaltar las acciones de las mujeres adultas, identificadas como las voces autorizadas para guiar, educar y formar a la infancia. Así, las autoridades femeninas son recordadas, en un primer momento, por la definición de la rutina impuesta a los niños, que surge de la vida cotidiana de la casa, y luego por los rasgos de personalidad y las funciones bastante específicas atribuidas a cada una de ellas.

Al ser un "espacio de la memoria" (ASSMANN, 2011), situado a mediados del siglo XIX, las prácticas educativas contadas y atribuidas a las "dueñas" de la casa implicaban mucho más que el simple aprendizaje de signos y enseñanzas, sino que era una educación construida en cada momento, en los ambientes de convivencia, en las fiestas religiosas, en los paseos, en los viajes y, principalmente, en las situaciones de aprendizaje planificadas, organizadas y aplicadas, formalmente, por Dindinha y Mademoiselle, o introducidas, informalmente, a través del intercambio de experiencias domésticas de dona Felicíssima.

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Dindinha, la hermana mayor, es la gran referencia de Maria Paes de Barros y a quien la autora atribuye su educación, así como la de sus diez hermanos menores. Fue ella quien enseñó a los niños las primeras letras y a tocar el piano, estableció una rutina de estudios en la casa y enumeró los materiales didácticos que debían adquirir, además de haber tenido la iniciativa de introducir otras habilidades en el currículo de las niñas, como el baile y la preparación para el matrimonio. Dindinha "dispuso, ordenó, supervisó y dirigió, todo con gran maestría y dedicación" (BARROS, 1998, p. 11).

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Bajo la austera rutina regida por el toque de una campana, los niños permanecían sentados en el centro de la sala de estudio desde muy temprano hasta la hora de la cena, que se servía a las dos. Los niños y las niñas se reunían en torno a un gran escritorio, rodeado de grandes mapas geográficos, para estudiar las lecciones en libros que habían llegado directamente de Francia. Mientras las más jóvenes mejoraban su francés y sus conocimientos generales a través de biografías, cuentos y reportajes de viajes, las mayores podían disfrutar de la "Revista Popular" y de las novelas publicadas en el “L’Echo des Feuilletons”. Con la danza, introducida a las niñas por sugerencia de Dindinha, que veía en esta práctica un medio eficaz para adquirir una buena postura corporal y movimientos delicados, las niñas recibían clases en casa, impartidas por dos ex bailarinas italianas, y Dindinha las acompañaba tocando el piano.

Aunque ella misma se encargaba de la educación de sus hermanos, Dindinha también hizo lo que era habitual en la época, y la familia contrató a una institutriz, entre las muchas que se anunciaban en los periódicos para que prestara sus servicios enseñando en las casas. Según Vasconcelos (2018, p. 291):


[...] solían ser recibidas en sus consulados o tenían alguna relación con ellos, como demuestran muchos anuncios, desde los que proporcionan la dirección oficial para la correspondencia entre la candidata y sus contratistas, hasta los que dan información sobre la persona que anuncia sus servicios. Así, el consulado francés, el consulado alemán, el consulado sueco, el consulado portugués y la agencia cosmopolita aparecen constantemente en los anuncios.


Como era el deseo recurrente en la élite del siglo XIX para la educación de sus hijas, la familia Barros eligió una preceptora alemana, aunque Fraulein se llamaba Mademoiselle, considerando que la lengua fluida para enseñar era el francés (VASCONCELOS, 2018). Así, Dindinha y Mademoiselle constituían la imagen típica de las mujeres que trabajaban en la educación de los niños en una casa de la aristocracia brasileña en la segunda mitad del siglo XIX.


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En la sala de estudio estaban las hermanas en su elemento. Dindinha gobernaba allí, con un poder indiscriminado, y Mademoiselle era su ídolo. Era afable y servicial, sabía hacerse desear y todos intentaban adivinar sus más mínimos deseos. [¿Quién sabe si tal actitud no estaba determinada por una aspiración insatisfecha? [Siempre dispuesta a ayudar y a prestar pequeños servicios, era la que planificaba las obras y salidas que realizaban las hermanas. De este modo, la admirable Mademoiselle se convirtió en objeto de afecto y estima general, como si mereciera las efusiones de afecto que recibía con aquella amable sonrisa (BARROS, 1998, p. 95).


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La asociación entre Dindinha y Mademoiselle se remonta al modelo educativo bastante extendido entre las familias de la élite brasileña del siglo XIX. Una educación privada, impartida a los niños y jóvenes dentro de la casa, según los intereses de sus padres, que tenían autonomía para elegir las materias y los maestros que intervenían en el proceso. Según Vasconcelos (2005; 2018; 2020), era común que las familias recurrieran a la labor de los preceptores para educar a sus hijas mujeres -y los extranjeros eran considerados, en una jerarquía que privilegiaba el alemán, el francés y el inglés, pero que admitía todas las nacionalidades siempre que dominaran el francés- los más adecuados al nivel de educación aspirado.


Incluso cuando ya residían en Brasil, los anuncios muestran que las preferencias de las familias eran las mujeres extranjeras; el simple hecho de ser alemana, francesa o inglesa era referencia suficiente de habilidades para la contratación (VASCONCELOS, 2018, p. 293).


Las institutrices se encargaban de la educación de todos los niños de la casa hasta que los chicos tenían la edad suficiente para estudiar en un colegio o internado. Las niñas, en cambio, permanecían bajo su cuidado, a veces hasta que estaban listas para casarse. La casa de la familia Barros no era una excepción a este modelo: "La maestra estaba realmente dotada: además de ser guapa, inteligente, culta y hábil en los trabajos manuales y la cocina, hablaba varios idiomas, tocaba, cantaba y dibujaba bien. (BARROS, 1998, p. 12).

Otro memorialista, contemporáneo de Maria Paes de Barros, también recuerda a la preceptora de su casa, en esa misma época. Residente en la provincia de São Paulo y nacida en la década de 1870, Floriza Barboza Ferraz (2020), tal vez influenciada por la publicación de esa autora (SOUZA, 2020, p. 269), escribe en 1947 sus "Páginas de recuerdos: memorias", obra en la que relata que su hermana Júlia, "envió de Europa una profesora muy culta, se llamaba Mademoiselle Luiza Neget". (FERRAZ, 2020, p. 64).

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Es interesante notar que aun reuniendo las cualidades esperadas de los preceptores, especialmente de un preceptor alemán, reconocido por el rigor con la disciplina, a los ojos de Maria Paes de Barros, Mademoiselle no era quien aplicaba los castigos, "era tan indulgente que no le gustaba castigarlos cuando cometían errores, dándoles sólo una mala nota en el cuaderno. Cuando la falta era mayor, Dindinha, siempre justiciera, era quien infligía el castigo" (BARROS, 1998, p. 96). Para el autor, sin embargo, Dindinha estaba dotado de un gran "sentido de la justicia", entendido como un perfecto equilibrio entre "sensibilidad" y "firmeza". En sus recuerdos, estos atributos de Dindinha la convirtieron en un modelo para todas las mujeres, especialmente para las madres, porque, con ojos vigilantes, seguía "todos

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los actos de su vida, prestando atención tanto a la instrucción como a la educación moral y religiosa". Como medios auxiliares, como ya hemos dicho, no faltaron los castigos, siempre considerados imprescindibles". (BARROS, 1998, p. 32).

El tema de las normas impuestas a los niños y los argumentos sobre la necesidad de imponerles límites son retomados por Maria Paes de Barros en distintos momentos del libro, así como los recuerdos de los castigos aplicados a quienes los infringían. En particular, la autora identificó en estas prácticas acciones fundamentales para la creación de adultos respetuosos, siendo considerado un aspecto positivo de la educación recibida, que no había sacudido el clima de armonía familiar constantemente recordado por ella.

Respecto a este debate, Maria Paes de Barros sitúa en el siglo XX la discusión sobre los excesos del castigo físico infligido a los niños, pero, según su percepción, en el siglo XIX las familias no compartían estas ideas, aunque insiste en demostrar que no existía el uso de la fuerza física como método correctivo habitual en su casa (GOMES, 2016). Según ella, Dindinha recurría a la suspensión del recreo cuando la falta cometida estaba relacionada con las clases: "Las infracciones a las normas siempre eran castigadas. En aquella época, los castigos formaban parte del programa escolar" (BARROS, 1998, p. 14). En otros casos, se aplicaron lecciones moralizantes, que deberían servir de ejemplo para todos los hermanos y hermanas. Por esta razón, los castigos se llevaban a cabo a la hora de la cena. El desobediente debía permanecer en la mesa en silencio mientras los demás disfrutaban del postre; podía tener carteles pegados a la ropa o ser sometido a una situación que lo expusiera a las duras miradas de los presentes. Como ejemplo, el autor cuenta el episodio en el que uno de los "manas" fue obligado a mendigar, por haber sido despiadado con una anciana que pedía comida de puerta en puerta. Sin embargo, contemporiza: "aunque eran imposiciones vejatorias, no escandalizaban a nadie: se sufrían con paciencia, como algo justo y natural, y no constituían una nube que pudiera empañar la felicidad de los niños, que vivían satisfechos, rodeados del afecto protector de sus padres" (BARROS, 1998, p. 53).

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Las casas de la familia Barros -tanto en la ciudad como en las chacras- se configuraron como el centro catalizador de las experiencias educativas, espacios de conocimiento que estimulaban y proporcionaban la producción intelectual (AGUIAR, 2015; 2020), cada una con su potencial formativo. Se utilizaron todos los ambientes para las clases, la sala de estudio equipada con mapas, libros de francés y enciclopedias; el huerto donde los niños podían divertirse durante el descanso de las clases; la sala de costura y el comedor. Del mismo modo, recuerda el entorno de la casa grande y la senzala, de la que surgieron experiencias


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eternizadas en su memoria, en un mundo que vio completamente cambiado durante la transición entre los dos siglos en los que vivió.


Encerrada la educación es la hora de casarse: sensibilidades y obligaciones femeninas Figura 2 – Fotografía de cinco generaciones de mujeres de la familia Souza Barros

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Fuente: Barros (1998)


La Figura 2 muestra cinco generaciones de mujeres de la familia de Maria Paes de Barros y se ha tomado en 1920, cuando ella ya estaba viuda y venía sobreviviendo de la dirección de una maternidad y de la actuación como profesora en una escuela presbiteriana (BARROS, 1998). La memorialista está a la izquierda de la fotografía, que tiene al centro su madre, doña Felicíssima, que también impartió clases en esta misma escuela como profesora de piano. Las otras dos mujeres son la hija (sentada), la nieta (en pie), y la bisnieta de la autora (el bebé en los brazos de la tatarabuela), lo que evidencia la juventud con que las mujeres se casaban. “Salida solo de la clase de estudios para las bodas, se sentía intimidad con tan gran contraste” (BARROS, 1998, p. 125). Con esa frase Maria Paes de Barros resume el recorrido que era esperado de todas las mujeres de la casa.

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Según Bourdieu (2006), el relato biográfico desarrollado como una secuencia lineal y teleológica tiende a insertar en el sujeto del pasado características que lo definen en el presente. Esta práctica acaba construyendo una representación de la vida como un todo coherente, dotado de sentido previo. Desde la perspectiva de Maria Paes de Barros, la infancia era sólo una etapa que precedía a la edad adulta, es decir, la única que existía antes de convertirse en mujer. Para una chica, esto significaba básicamente el período de preparación para el matrimonio, el momento en que la joven ponía en práctica todo lo que había aprendido en el hogar familiar, con las mujeres que le habían enseñado. Para ello, los conocimientos


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aprendidos en la sala de estudio no eran suficientes, porque el matrimonio requería aún otras habilidades. Además de ser inteligente y culta, la dama debía ser la "dueña" de su propia casa y no olvidar evocar todo lo que había aprendido de las demás mujeres en su vida:


La tarea que tenía por delante no era pequeña: gobernar, dirigir y, si era necesario, incluso castigar a los numerosos esclavos que trabajaban en la casa, ¡todos mayores y más prácticos que ella! [...] Sin embargo, no se desanimó, ni perdió la alegría, porque tenía la mano fuerte de su marido, que la guiaba y ayudaba en todas sus dificultades (BARROS, 1998, p. 126).


Una parte considerable de las reminiscencias de la autora está ocupada por los recuerdos de su madre, doña Felicíssima, cumpliendo papeles fundamentales para la familia, como gran compañera de su marido, dispuesta a animarle y a asumir sus responsabilidades; realizando las tareas domésticas con la ayuda de las mujeres esclavizadas que actuaban a sus órdenes; haciendo el equipaje; produciendo y montando utensilios importantes para los largos viajes de la familia a las numerosas fincas. Según los recuerdos de la autora, la señora Felicíssima conocía a todos los esclavos y a los colonos por su nombre, escuchaba sus necesidades, orientaba sobre la vida familiar y manipulaba hierbas y medicinas, "con la ayuda de los dos gruesos volúmenes de 'Medicina Popular', de Chernoviz, muchas personas se curaron" (BARROS, 1998, p. 66). Por lo tanto, también era responsable de cuidar la salud de los miembros de la familia y de la casa.


No sólo en su casa, sino también en la casa de la administración, ejerció sus actividades. La señora no sólo escuchaba y daba consejos, sino que iba personalmente a la casa de la administración, visitando la enfermería de las chicas negras y la de los hombres negros. Dotada de una singular perspicacia médica, aplicaba las medicinas con cautela, utilizando sólo procesos suaves: cataplasmas, fomentaciones e infusiones que ella misma había preparado (BARROS, 1998, p. 82).


Esta práctica dirigida a las mujeres también es corroborada por Vasconcelos (2018, p. 299), en un estudio sobre la "Doctrina sobre el gobierno de la casa", muy apreciada para la educación de las mujeres en las últimas décadas del siglo XIX, como el escrito en el libro de Adrien Sylvain, traducido y publicado en capítulos en la Revista Bazar Litterário , en el que se afirmaba que entre las funciones del ama de casa estaba la de vigilar y cuidar la salud de todos los que vivían en ella.

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Desde esta perspectiva, es posible vislumbrar cierta autonomía de las mujeres en la definición de las actividades de gestión de la casa. Doña Felicíssima despidió a los esclavos más viejos y cansados del trabajo pesado, nombrando a los más jóvenes para que ocuparan su lugar. Antes de hacerlo, comprobó la salud de todos. A los enfermos se les reservaban las

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tareas consideradas más ligeras, mientras que la salud se restablecía con el boniato, el mismo "fortalecedor" que recomendaba a los niños para evitar la muerte prematura. Había todo un "sistema doméstico" gobernado por mujeres, como describe Carvalho (2008, p. 242):


Un conjunto de normas que pretende establecer una regularidad en el trabajo de la esposa, las hijas y los empleados. La secuencia de actividades se materializa en un conjunto de tareas distribuidas en tiempos y días preestablecidos y supervisados por la esposa. La rutina incluye actividades de mantenimiento, la producción de objetos decorativos (artesanía), la elaboración y reposición de alimentos y la educación de la hija para la reproducción del conocimiento doméstico.


Maria Paes de Barros aspiraba a estos conocimientos para poder gestionar ella misma su futuro hogar. Sin embargo, antes que ella, las "hermanas" mayores llegaron a la edad de casarse, lo que hizo que el comandante iniciara la búsqueda de pretendientes. Intentó ser meticuloso en su análisis, prestando atención al menor signo de "color mixto" en la familia del chico. Una vez encontrada, la candidata fue despedida rápidamente, lo que corrobora el inmenso prejuicio existente en aquella época. En cualquier caso, los principales indicados para el consorcio del matrimonio con las chicas de la familia eran, ante todo, los parientes, bien para concentrar la riqueza, bien para no correr riesgos con aventureros desconocidos. Así, los novios eran normalmente seleccionados entre los miembros de su propia familia, los primos, corroborando lo que afirma Peñarrocha (2013, p. 232), que "casarse, entendido como estrategia de reproducción social, es tan necesario para todo el grupo como reservado sólo para una pequeña parte de él".3, es decir, antes de ser una práctica social, era también una práctica familiar recurrente.

Poco después del matrimonio de sus hermanas, Maria Paes de Barros, aún muy joven, también se casó. Sólo tenía dieciséis años cuando su interés considerado excesivo por los libros, especialmente los de poesía amorosa, empezó a preocupar a Dindinha, que pronto la convenció para que aceptara una propuesta de matrimonio: "¡No rechaces esta felicidad! (BARROS, 1998, p. 123). Había llegado el momento de que el "mejor alumno de la clase" se casara.

Aunque su destino fue el mismo que el de sus hermanas -casarse con un primo-, algo destacó en la trayectoria de la memorialista, pues nunca abandonó su relación con los libros y su atención a los estudios. Tras años de dedicación a la casa y al negocio familiar, Maria Paes de Barros publicó la obra que venía escribiendo desde hacía tiempo y que la apalancó entre los principales nombres de la intelectualidad paulista, reunidos en el Instituto Histórico y


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3 Traducción libre.

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RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. esp. 3, p. 1422-1438, jun. 2021. e-ISSN: 1982-5587

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Geográfico de São Paulo. Se trata del libro "Historia de Brasil", publicado en 1932. A estas tareas se sumó el interés por la enseñanza de la historia y el entusiasmo por la educación, como señaló Caio Prado Júnior (BARROS, 1998, p. 14):


Interesado inteligentemente en el crecimiento físico y espiritual de todos los miembros de su numerosa familia, desempeñó un brillante papel en ella. Por las tardes, en su granja, a orillas del río Mogi-Guaçu, se deleitaba enseñando historia a los jóvenes. Utilizaba narraciones dramatizadas para revivir las imágenes del pasado, y sus seres queridos veían castillos llenos de idilios, cruzadas, torneos, carabelas... Visiones que despertaron en el corazón de sus nietos y oyentes nobles aspiraciones y anhelos de infinito.


La autora continuó con el mismo entusiasmo por la educación, incluso cuando sus condiciones financieras ya no eran favorables, dejando sólo el recuerdo de los años de prosperidad. Sin embargo, siguió acogiendo a nietos y amigos que necesitaban vivir en São Paulo para estudiar (PRADO JUNIOR in BARROS, 1998).

Cabe destacar el énfasis que Maria Paes de Barros da al matrimonio en los últimos capítulos de su obra memorialística, que también se refiere a la educación que recibió, a través de diversos aspectos. En un complejo tejido de representaciones, demuestra cómo dejó la infancia para casarse, para hacerse adulta, pero siempre llevando consigo la colectividad de mujeres que la formaron. Cada una con sus características únicas y específicas,] dejó en la joven las huellas de sí misma. Por un lado, marcas importantes para actuar en la vida pública, por otro, los elementos para la construcción de una vida conyugal armoniosa y feliz, como la que ella creía que sus padres habían conocido.

Otro aspecto que destaca es que, incluso cuando el matrimonio es el tema central, no faltan las referencias a la hermana Dindinha y a la tutora alemana Mademoiselle, como recuerdos que no se desvanecen del trabajo metódico, constante y persistente de formación de aquella niña, convertida en mujer, y de la aplicación que hizo de estas enseñanzas a lo largo de su vida.

Así, especialmente su madre, la Sra. Felicíssima, Dindinha y Mademoiselle, pero también otros personajes femeninos que desempeñaron un papel en su proceso de formación intelectual y en las prácticas que aprendió para la vida, son representados sin ningún rastro de imperfección, con una descripción que puede insertarse en un patrón familiar mítico.

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Kotre (1997) llama la atención sobre el hecho de que la mitificación no significa la distorsión de la memoria en la madurez, sino una actitud que busca el consuelo ante la pérdida, elaborando nuevos recuerdos que hacen invisibles los antiguos. Siempre según el



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mismo autor, se trata de un proceso por el que pasamos ante momentos de crisis, que provocan marcas de reajuste de nuestros recuerdos.

Según Bourdieu (2006), esta perspectiva teleológica de la narración biográfica es una de las "ilusiones" de la tipología de escritura, llamada por él de biografía ordinaria, desarrollada bajo una perspectiva totalizadora de la historia de vida del sujeto, revelando una narración lineal y lógica. De hecho, es en este campo de la escritura biográfica donde encontramos "No tempo de dantes", en el que la autora intenta recuperar un conjunto coherente sobre la identidad que construyó en el presente, a partir de las influencias recibidas, especialmente de las mujeres con las que convivió hasta la edad adulta. Aun así, es una fuente privilegiada de comprensión de las representaciones de las prácticas educativas femeninas en el siglo XIX, justamente porque muestra la perspectiva de quien vivió, así como la reflexión sobre lo vivido, ofreciendo una reinterpretación de la educación y del papel de las mujeres en la formación de otras mujeres.

En el año 1946, contando con más de noventa años de edad, los protagonistas de las reminiscencias de Maria Paes de Barros ya no estaban a su lado, ni la opulencia y la riqueza de aquellos tiempos formaban parte de su vida cotidiana. Del mismo modo, la memorista, tras largos años cuidando de su marido enfermo, vio cómo se esfumaba su fortuna. Tal vez, la dura realidad de los últimos años ha iluminado con colores más suaves los recuerdos relativos a las personas que poblaron su vida tantos años antes: "Y al final de la vida, cuando la memoria ya no es fundamental para enfrentarse a la realidad, puede convertirse en la materia prima con la que se fabrican los sueños". (KOTRE, 1997, p. 217).


Consideraciones finales


Al escribir "No tempo de dantes", Maria Paes de Barros recuerda a la niña que fue, a través de sus reminiscencias, buscando en el pasado a la mujer de su presente, mezclada de sí misma, de Dindinha, de Mademoiselle y de doña Felicíssima, un colectivo en una sola mujer. Ellas fueron las que le dieron las herramientas necesarias para ir por la vida, desde que se vio en la emergencia de hacerse cargo de su propia casa con la boda, hasta sus actitudes y comportamientos cotidianos, que, de alguna manera, se mantuvieron siguiendo las voces de aquellas mujeres, cuyo objetivo era educarla para todas las sensibilidades y obligaciones femeninas de aquella época y contexto.

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Carretero (2019, p.918) afirma que "la educación materna en el origen de nuestras vidas y la posterior proyección, en el ámbito público, de las enseñanzas de aquellas personas


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que cultivaron y crearon un saber y/o un conocimiento", se configuraron, durante mucho tiempo, como oficios esencialmente femeninos, transmitidos entre mujeres, para dar continuidad a la sabiduría acumulada a lo largo de los años, tan necesaria para afrontar los retos de la vida cotidiana. Sin embargo, lo que Dindinha, Mademoiselle y Doña Felicíssima no podían imaginar es que el mundo que imaginaban posible de ser enseñado y transmitido a las mujeres de su casa para ejercer su papel en la sociedad cambiaría completamente en las décadas siguientes y exigiría otras prácticas educativas femeninas.

Caio Prado Júnior abre la introducción de "No tempo de dantes" con la siguiente frase: "Ciertamente está por escribir lo que la civilización debe a la mujer" (PRADO JUNIOR en BARROS, 1998, p. XIII). Llamando la atención sobre su condición de mujer, el escritor elogió a Maria Paes de Barros y su contribución a la "floreciente civilización paulista", no sólo por su libro, escrito en un escenario que se alejaba definitivamente del siglo XIX, sino principalmente por su actuación en el campo de la salud, como directora de la Maternidad de São Paulo, colaboradora del Hospital Samaritano y fundadora del primer Club de Tenis de la ciudad. Además, según el prefacio, al publicar una "Historia de Brasil", en 1932, Maria Paes de Barros obtuvo el reconocimiento nacional por su trabajo historiográfico.

Pero hay que discrepar con Caio Prado Júnior. El destaque de Maria Paes de Barros, entre tantas otras niñas de la elite paulista que se educaron en la casa, está en la obra que, según él, fue escrita "para deleite de quien se deleita imaginando ambientes de antaño" (PRADO JUNIOR, 1998, p. 15). La autora, a través del escrito autobiográfico, "No tempo de dantes", se atrevió a dejar entrever lo que "la civilización debe a la mujer", rompiendo, en el género de la autoescritura, con el absolutismo masculino de los autores y actores de la historia.

En otra perspectiva, Loriga (2011, p. 69), relacionando biografía e historia, demuestra que el acontecimiento se desintegra inmediatamente en la multitud de imágenes que le siguen, por tanto, "lo que sucede no contiene ninguna verdad en sí mismo y sólo tiene sentido cuando se piensa y se cuenta". De este modo, Maria Paes de Barros se propuso contar la historia de Brasil en su libro con este título, como lo hizo “No tempo de dantes”.

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Como mujer que representa un tiempo que ya no puede recomponerse, salvo por las huellas y los recuerdos, aunque sean idílicos, escritos como el de Maria Paes de Barros permiten percibir la importancia de la mujer en la formación de otras mujeres, sugiriendo también que, tiempo después, será en el propio universo femenino donde las mujeres enseñarán a otras a romper el orden anterior.


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La descripción que hace Maria Paes de Barros de las mujeres más relevantes de la casa no las sitúa en una vanguardia feminista. Afirmar esto sería incurrir en anacronismos. En realidad, las representaciones de doña Felicíssima, Dindinha y Mademoiselle dicen mucho más de nuestra nonagenaria memorista. Kotre (1997), en sus estudios sobre la memoria en la madurez, llama la atención sobre el hecho de que es difícil recordar cómo veíamos el mundo en el pasado. En general, lo que recordamos está estrechamente relacionado con el presente, con el momento en que recurrimos a los recuerdos. Con esto queremos llamar la atención sobre lo mucho que hay de presente en el pasado (ROUSSO, 2016).

Cuando Maria Paes de Barros expone sus recuerdos, ya no es lo que era en su infancia y juventud. No sólo por las imposiciones biológicas, sino sobre todo por las sociales. La mujer del siglo XIX, procedente de una familia tradicional paulista, educada para ser esposa y madre, vio cómo se diluía su fortuna en el siglo XIX y comenzó a trabajar como maestra. Escribir sus recuerdos supuso un reencuentro con su identidad. No es un regreso, sino un reencuentro. La autora mantuvo una relación realista con su presente, pero ciertamente reajustó sus recuerdos a los nuevos rumbos de su vida, trayendo un poco del pasado al presente, aunque fuera en forma de lo que aprendió en casa de sus padres. Centrar sus recuerdos en la vivienda paterna es, en palabras de Arfuch (2013, p. 28), centrar la casa como "espacio/temporalidad", donde "las interacciones, los afectos, las rutinas, los tránsitos cotidianos" y las diferencias de género marcan también los ritmos de la narración.

Aunque en su obra hay intensas alusiones a las imposiciones del patriarcado en el hogar, son las acciones femeninas las que llenan la mayor parte de las páginas en las que Maria Paes de Barros escribió y registró sus reminiscencias. De las memorias de la dama activa en el siglo XX surgieron importantes pruebas sobre la educación femenina practicada en el siglo XVIII, por mujeres y para mujeres. El padre, comendador, figuraba en los recuerdos del autor sólo como representación de la autoridad, pero la madre era la pieza fundamental de todo el engranaje señorial, sumando a ella a Dindinha y Mademoiselle. Ellas, las tres, las únicas mujeres nombradas, eran las protagonistas que, juntas, formaban la mujer ideal. Ideal para el siglo XIX. Ideal para los recuerdos de un pasado romántico.


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Acesso em: 05 jan. 2021.


Cómo referenciar este artículo


VASCONCELOS, M. C. C.; GOMES, E. V. Prácticas educativas femeninas en las memorias de Maria Paes de Barros. Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, v. 16, n. esp. 3, p. 1422-1438, jun. 2021. e-ISSN: 1982-5587. DOI:

https://doi.org/10.21723/riaee.v16iesp.3.15290


Enviado el: 05/02/2021

Revisiones requeridas el: 30/03/2021

Aprobado el: 12/05/2021

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Publicado el: 01/06/2021



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FEMALE EDUCATIONAL PRACTICES IN THE MEMORIES OF MARIA PAES DE BARROS


PRÁTICAS EDUCATIVAS FEMININAS NAS MEMÓRIAS DE MARIA PAES DE BARROS


PRÁCTICAS EDUCATIVAS FEMENINAS EN LAS MEMORIAS DE MARIA PAES DE BARROS


Maria Celi Chaves VASCONCELOS1

Eveline Viterbo GOMES2


ABSTRACT: The objective of this paper is to highlight the memories on education compiled in the book “No tempo de dantes” (In the time of before), written by Maria Paes de Barros. Based on the reminiscences from the days of her childhood and youth, the objective of this study is to analyze common aspects of women’s education in the 19th century, described by the author in her autobiographical narrative. On a more specific plane, it is possible to verify educational agents and experiences in the author’s memoirs, with a still very small city of São Paulo as a backdrop. This is a qualitative historical and bibliographical survey whose main source is formed by the recollections published by Maria Paes de Barros, located in the latter half of the nineteenth century, the time of her birth and period of her childhood and youth as part of a typical family of the São Paulo elite. In the face of the author’s autobiographical writings, it is possible to envisage within her daily life in an urban or rural setting, the lessons learned, the strict study routine, the little time for fun and games and the abundance of rules and punishment, with the objective of making of her a "well educated" woman, similar to those living in her time and context.


KEYWORDS: Women’s education. Educational memory. Autobiographical writings. Maria Paes de Barros. Education in the eighteen hundreds.


RESUMO: O artigo tem como tema evidenciar as memórias sobre a educação reunidas no livro “No tempo de dantes” escrito por Maria Paes de Barros. A partir de suas reminiscências de infância e de juventude, o objetivo do estudo é analisar aspectos comuns à educação feminina no século XIX, descritos pela autora em sua narrativa autobiográfica. Em um plano mais específico, verificam-se agentes e experiências educacionais citados na rememoração da autora, tendo como cenário uma ainda diminuta São Paulo. Trata-se de uma pesquisa qualitativa histórico bibliográfica que tem como principal fonte as memórias


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1 Rio de Janeiro State University (UERJ), Rio de Janeiro – RJ – Brazil. Full Professor at the College of Education, working in the Postgraduate Program in Education (Proped/UERJ). Doctorate in Education (PUC- Rio). Research Productivity Scholarship from CNPq - Level 2 and Scholarship from the Scientific Program of Our State - (FAPERJ). UERJ Proscientist. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3624-4854. E-mail: maria2.celi@gmail.com

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2 Rio de Janeiro State University (UERJ), Rio de Janeiro – RJ – Brazil. Doctoral student at the Postgraduate Program in Education – (Proped/UERJ). Scholarship from the Coordination for the Improvement of Higher Education Personnel – (CAPES). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7467-4647. E-mail: evelinevg@yahoo.com.br


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publicadas de Maria Paes de Barros, localizadas na segunda metade do oitocentos, período do seu nascimento e de sua infância e juventude vividas em uma típica família da elite paulista. Diante dos escritos autobiográficos da autora, é possível depreender, no cotidiano urbano ou campestre em que viveu, as lições recebidas, a rotina rigorosa de estudos, o pouco tempo para brincadeiras e a existência de muitas regras e castigos, com a finalidade de torná-la detentora de uma “boa educação”, semelhante à das mulheres que viveram no seu tempo e contexto.


PALAVRAS-CHAVE: Educação feminina. Memórias educacionais. Escrita autobiográfica. Maria Paes de Barros. Educação oitocentista.


RESUMEN: El tema del artículo es resaltar las memorias sobre educación recolectadas en el libro “No tempo de dantes” escrito por Maria Paes de Barros. A partir de sus reminiscencias de infancia y juventud, el objeto del estudio es analizar los aspectos comunes a la educación femenina en el siglo XIX, descritos por la autora en su narrativa autobiográfica. En un nivel más específico, hay agentes y experiencias educativas mencionados en la rememoración de la autora, teniendo como escenario la ciudad de São Paulo todavía diminuta. Se trata de una investigación cualitativa histórico-bibliográfica, que tiene como fuente principal las memorias publicadas de Maria Paes de Barros, ubicadas en la segunda mitad de los años mil ochocientos, período de su nacimiento y la infancia y juventud vividas en una familia típica de la élite paulista. A la vista de los escritos autobiográficos da autora, es posible percibir, en el cotidiano urbano o rural en el que vivió, las lecciones recibidas, la rigurosa rutina de estudio, el poco tiempo para jugar, y la existencia de muchas reglas y castigos, para que tuviera una “buena educación”, similar a la de las mujeres que vivieron en su tiempo y contexto.


PALABRAS CLAVE: Educación femenina. Memoria educativa. Escrita autobiográfica. Maria Paes de Barros. Educación ochocentera.


Introduction


Maria Paes de Barros originally published the book “No tempo de dantes” in 1946. It is an autobiographical work in which its author writes reminiscences of her childhood and youth, in the second half of the 19th century, in which she lived with his parents, in the Province of São Paulo. The memories are linked by a series of narratives that demonstrate the context in which she was born and raised, receiving what she termed the “marks” of who she was, at 94 years of age, when she edited her memoirs.

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Born in 1851, Maria Paes de Barros belonged to the São Paulo elite. In the family, there were members with titles of nobility, such as Baron de Souza Queiroz and the Marquise de Valença, her uncles. Or even the Baron of Piracicaba, father of her cousin and husband, Antônio Paes de Barros. Her grandfather was a brigadier, her father a commander. Her family wealth came from agricultural exports from the sugar cane and coffee plantations, on whose


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properties there were, under the dominion of her father, enslaved workers of African origin and German settlers. Furthermore, as was common among the economic elite at the time, they were directly involved in politics. Her father served in the Chamber of São Paulo. Her husband became a senator already in the Republic.

Maria Paes de Barros was the oldest among the ten children who had Mrs. Felicíssima Campos Barros and Commander Luís Antônio de Souza Barros. At the time of the marriage, he took with him three daughters from his first marriage, among which Dindinha stood out, the only one among all the brothers and sisters to be named in “No tempo de dantes”. Throughout the book, there are few references to male brothers, which only appear in a few pages, to highlight the differences between the education received by the “sisters” and by the boys, since, when children, everyone studied together, at home. , under the guidance of Dindinha and Mademoiselle, the German governess. However, the boys, “when they grew up”, which occurred around the age of ten, were sent to a boarding school in Germany, while the girls continued their studies in the domestic environment until they got married.


It was customary, at that time, for wealthy families to send their children to study in Europe. Many chose France; he [the commander father], however, preferred to send his own to Germany, as he had business relations with an important firm in Hamburg. The three older boys then followed, having been admitted to schools, while the girls studied with Mademoiselle (BARROS, 1998, p. 12, our translation).


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In view of the autobiographical memoirs of Maria Paes de Barros, the main objective of this study is to demonstrate the educational practices common to nineteenth-century women, present in the work “No tempo de dantes”, considering that this same education was offered to a good part of the daughters of the elites, particularly in the regions inhabited by the great coffee farmers, in the decades close to the threshold between the Empire and the Republic. On a more specific level, the lessons received to make the girls well-educated women are verified, as well as the daily rules and reports that accompanied the female education, transmitted by the adult women of the household to the younger ones. Therefore, the methodological procedures of the bibliographical historical research in question have as source and object the work of reminiscences written by Maria Paes de Barros, with emphasis on her reports of educational experiences, understanding them involved in the process of construction of female memory in maturity through autobiographical writing, as an act of archiving itself (CUNHA, 2019).


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A life among women: education for femininity


Figure 1 – Book cover image “No tempo de dantes


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Source: Barros (1998)


The photograph shown in Figure 1 illustrates the cover of the work “No tempo de antes” and was taken around 1875. Its choice as the opening image of the book suggests the female centrality in the author's memories, which is reaffirmed throughout of the text in the interactions with the governess, the sister and the mother, who assumed command of the domestic space and, consequently, are the protagonists of the memories. As in most elite houses in the 1800s, girls were turned into women by the hands of other women (VASCONCELOS, 2018; FERRAZ, 2020). This fact does not mean the absence of the male figure, as the entire house is always marked by the strong male presence that dominates it. However, this domination makes some concessions to women when it comes to managing the domestic space. According to Franco (2015, p. 72, our translation), “the man would have the role of main administrator”, while the woman “had the specific role of woman and mother, along with the duties and obligations that are contracted in society and for the honest recess, established among the people of its class”. Thus, the mother and, in sequence, the older women in the house, were responsible for the education and behavior of the younger ones (LIÁÑEZ, 2019).

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In Maria Paes de Barros's memoirs, the division between male domination and the supervision granted to the female figure was concentrated in that which is praisedly remembered by the memoirist, Dindinha, the eldest half-sister, who would help in the task of educating other women of the house (GOMES, 2018).


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It is to be assumed that the organization of the 19th century patriarchal family narrated by the author is impregnated with the ambiguities that certainly characterized Maria Paes de Barros's perceptions of the world in her maturity, since, in autobiographical writing, the experiences of the past are reinterpreted by the actor herself, in this case, an actress (ARFUCH, 2010). This overlapping between past and present does not mean an anachronism or a concealment about “the true history of her family”, but a natural process of memory, as explained by Rousso (2016, p. 41, our translation), when memories allow “to relive the past in the present”, trying to give it life, since “history does not exist outside the thought that produces it and gives it form after the event”.

In this recollection that takes shape and context, the author takes the place of an omniscient and omnipresent narrator, mixing her experiences with those of other younger sisters, to highlight the actions of adult women, identified as the authorized voices to guide, educate and form childhood. Thus, female authorities are remembered, initially, for the definition of the routine imposed on the children, which emerges from the daily life of the house, and, later, for the personality traits and very specific functions attributed to each one of them.

As it is a "remembrance space" (ASSMANN, 2011), located in the middle of the 19th century, the educational practices told and attributed to the "masters" of the house involved much more than simply learning signs and teachings, but it was a education built at every moment, in social environments, in religious festivities, on outings, on trips and, mainly, in learning situations planned, organized and applied, formally, by Dindinha and Mademoiselle, or introduced, informally, through sharing Felicíssima's domestic experiences.

Dindinha, the eldest sister, is Maria Paes de Barros' great reference and to whom the author attributes her education, as well as that of her ten younger brothers and sisters. She was the one who taught the children the first letters and how to play the piano, established a home study routine and listed the teaching materials to be acquired, in addition to taking the initiative to introduce other skills in the girls' curriculum, such as dance and preparation for marriage. Dindinha "disposed, ordered, supervised and directed - everything with great proficiency and dedication" (BARROS, 1998, p. 11).

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Under the austere routine ruled by the ringing of a bell, the children remained seated in the center of the study, from very early in the morning until dinner, which was served at 2 pm. Boys and girls gathered around a large desk, surrounded by large geographic maps, studying lessons from books that had come straight from France. While the younger ones improved their French and general knowledge from biographies, stories and travel reports, the older


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girls could enjoy the “Revista Popular” and the novels published in the “L’Echo des Feuilletons” collection. With dance, introduced to the girls at the suggestion of Dindinha, who saw in this practice an efficient means of acquiring good body posture and delicate mannerisms, the girls received lessons at home, taught by two former Italian dancers, and Dindinha accompanied them by playing piano.

Although she herself was responsible for the education of the brothers and sisters, Dindinha also did what was usual at that time, and the family hired a governess, among the many advertised in the newspapers, to provide her services teaching in the homes. According to Vasconcelos (2018, p. 291, our translation):


[...] normally, they were received at their consulates or had some relationship with them, as shown by many advertisements, from those that provided the official address for correspondence between the candidate and her contractors, to those that gave information about the person who announced its services. Thus, the French consulate, the German consulate, the Swedish consulate, the Portuguese consulate and the cosmopolitan agency constantly appear in the advertisements.


As was the recurrent desire of the nineteenth century elite to educate their daughters, the Barros family opted for a German governess, although Fraulein was called Mademoiselle, considering that the fluent language to teach was French (VASCONCELOS, 2018). Thus, Dindinha and Mademoiselle constituted the typical image of women who worked in the education of children in a house of the Brazilian aristocracy in the second half of the 19th century.


In the study hall were the sisters in their element. There Dindinha ruled, with indiscriminate power, and Mademoiselle was her idol. She was affable and obliging, she knew how to make herself wanted and everyone tried to guess her slightest desires. [...] Who knows if such an attitude would not be determined by an unfulfilled aspiration? [...] Always ready to help and provide small services, she was the one who planned jobs and tours that the sisters performed. In this way she became the object of general affection and esteem for the admirable Mademoiselle, as if she were worthy of the affectionate expansions she received with that lovely smile (BARROS, 1998,

p. 95, our translation).


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The partnership between Dindinha and Mademoiselle dates back to the educational model that was widespread among the families of the Brazilian elite in the 19th century. A private education, given to children and young people inside the house, according to the interests of their parents, who had the autonomy to choose the subjects and teachers involved in the process. According to Vasconcelos (2005; 2018; 2020), it was common for families to resort to the work of governesses to educate their female daughters – and foreigners were

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considered, in a hierarchy that privileged German, French and English, but admitting all nationalities as long as they were fluent in French – the most suitable for the aspiring standard of education.


Even after they were already living in Brazil, the advertisements show that the families' preferences were for foreign women; the mere fact of being German, French or English was a sufficient reference of skills for hiring (VASCONCELOS, 2018, p. 293, our translation).


The governesses were in charge of educating all the children in the house until the boys were old enough to study at a college or boarding school. The girls were under her care, sometimes, until the age they were ready to get married. The Barros family's home did not deviate from this model: "The teacher was really gifted: in addition to being beautiful, intelligent, cultured and skilled in crafts and cooking skills, she spoke several languages, played, sang and drew well" (BARROS, 1998, p. 12, our translation).

Another memoirist, a contemporary of Maria Paes de Barros, also recalls the governess of her house, during that same period. A resident of the Province of São Paulo and born in the 1870s, Floriza Barboza Ferraz (2020), perhaps influenced by that author's publication (SOUZA, 2020, p. 269), wrote in 1947 her “Páginas de recordações: memórias” (Pages of recollections: memoirs), work in which she says that her sister Júlia “sent a very educated teacher to come from Europe, she was called mademoiselle Luiza Neget” (FERRAZ, 2020, p. 64, our translation).

It is interesting to note that even gathering the qualities expected from governesses, especially from a German governess, recognized for her strict discipline, in the eyes of Maria Paes de Barros, Mademoiselle was not the one who applied punishments, “she was so indulgent that she did not like to punish them when they were wrong, giving them only a bad note in the notebook. When the fault was greater, Dindinha, always righteous, was the one who inflicted the punishment” (BARROS, 1998, p. 96, our translation). For the author, however, Dindinha was endowed with a great “sense of justice”, understood as a perfect balance between “sensibility” and “firmness”. In her memories, these attributes of Dindinha made her a role model for all women, especially mothers, as, with watchful eyes, she followed “all the actions of their lives, attentive both to instruction and to moral and religious education. As auxiliary means, as we have already said, there was no lack of punishment, which was always considered indispensable” (BARROS, 1998, p. 32, our translation).

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The theme of the rules placed on children and the arguments about the need to impose limits on them are taken up by Maria Paes de Barros at different times in the book, as well as


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the memories of the punishments applied to those who violated them. Notably, the author identified in these practices fundamental actions for the creation of respectful adults, being considered a positive aspect of the education received, which had not affected the atmosphere of family harmony that she constantly remembered.

Regarding this debate, Maria Paes de Barros places the discussion about the excesses of physical punishment inflicted on children in the 20th century, but, according to her perception, in the 19th century families did not share these ideas, although she insists on demonstrating that the use of physical force was not the usual corrective method at home (GOMES, 2016). According to her, Dindinha resorted to the suspension of recess when the offense committed was related to classes: “Breaks to the rules were always punished. At that time, punishment was an integral part of the school curriculum” (BARROS, 1998, p. 14, our translation). In other cases, she applied moralizing lessons, which should serve as an example to all brothers and sisters. Therefore, punishments were carried out at dinnertime. The disobedient should remain at the table in silence while the others savored dessert; she could have posters attached to her clothes, or she could be subjected to a situation that exposed her to the harsh stares of those present. As an example, the author tells the episode in which one of the “sisters” was forced to beg, for having been merciless with an old lady who asked for food from door to door. However, she temporizes: "although vexatious impositions, they did not scandalize anyone: they were patiently suffered, as fair and natural, and did not constitute a cloud that tarnished the happiness of the children, who lived satisfied, surrounded by the protective affection of their parents" (BARROS, 1998, p. 53, our translation).

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The Barros family houses – both in the city and on the farms – were configured as the catalyst for educational experiences, spaces of knowledge that stimulated and fostered intellectual production (AGUIAR, 2015; 2020), each with its formative potential. Every room was used for the lessons, the study room equipped with maps, books in French and encyclopedias; the orchard where children could have fun between classes; the sewing room; and the dining room. In the same way, the surroundings of the big house and the slave quarters are remembered, from which experiences immortalized in her memory emerged, in a world that she saw completely change during the transition between the two centuries in which she lived.



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When education is over, it is time to get married: female sensibilities and obligations Figure 2 – Photograph of five generations of women from the Souza Barros family


Source: Barros (1998)


Figure 2 shows five generations of women in Maria Paes de Barros' family and was taken in 1920, when she was already a widow and had been surviving from running a maternity hospital and acting as a teacher in a Presbyterian school (BARROS, 1998). The memoirist is on the left of the photograph, which has at the center her mother, Ms. Felicíssima, who also taught at the same school as a piano teacher. The other two women are the daughter (sitting), the granddaughter (standing) and the author's great-granddaughter (the baby in her great-great-grandmother's lap), which highlights the youth with which the women were married. “Just leaving the study room for the wedding, she felt intimidated by such a great contrast” (BARROS, 1998, p. 125, our translation). With this phrase, Maria Paes de Barros summarizes the path that was expected of all the women in the house.

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According to Bourdieu (2006), the biographical narrative developed as a linear and teleological sequence tends to introject in the subject of the past characteristics that define him in the present. Such practice ends up constructing a representation of life as a coherent whole, endowed with a previous meaning. From the perspective of Maria Paes de Barros, childhood was just a stage that preceded adulthood, that is, the only one before becoming a woman. For a girl, this basically meant the period of preparation for marriage, when the young lady would put into practice everything she learned in the family home, with the women who taught her. For this, the knowledge learned in the study room was not enough, as marriage also required other skills. In addition to being intelligent and cultured, the lady needed to be the "owner" of her own house and not forget to evoke everything she had learned from the other women in her life:


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There was no small task before her: to govern, direct and, if need be, even punish the numerous female slaves who worked inside the house, all older and more practical in the service than she! [...] However, she did not lose heart, nor did she lose her joy, because she had the strong hand of her husband, who guided her, and helped in all difficulties (BARROS, 1998, p. 126, our translation).


A considerable portion of the author's reminiscences is occupied by the memories of her mother, Mrs. Felicíssima, fulfilling fundamental roles for the family, as a great partner of her husband, ready to encourage him and assume his responsibilities; performing domestic tasks with the help of the enslaved who acted at her command; packing luggage; producing and assembling important utensils for the family's long trips to many of their farms. In the author's recollections, Dona Felicíssima knew all the enslaved and the settlers by name, listened to their needs, advised on family life and handled herbs and medicines, “with the help of the two thick volumes of 'Popular Medicine', by Chernoviz, many people were cured” (BARROS, 1998, p. 66, our translation). She was therefore also responsible for taking care of the health of family and household members.


Not only in her home, but also in administration, she carried out her activities. The lady not only listened and advised, but went personally to the administration house, visiting the black women's and black men's infirmary. Endowed with a singular medical acumen, she would cautiously apply the medicines, using only mild processes - poultices, fomentations and teas prepared by herself (BARROS, 1998, p. 82, our translation).


This practice aimed at women is also corroborated by Vasconcelos (2018, p. 299), in a study on the “Doctrine on the government of the house”, much appreciated for the education of women in the last decades of the nineteenth century, as written in the book by Adrien Sylvain, translated and published in chapters in the Revista Bazar Litterário3, in which it was stated that among the functions of the mistress of the house was to watch over and take care of the health of everyone who lived there.

From this perspective, it is possible to see a certain autonomy of women in defining house management activities. Dona Felicíssima removed the oldest enslaved women, who had been tired, from the heavy work, naming the younger ones to their places. Before, she attested to everyone's health. The sick were reserved for tasks considered lighter, while health was restored by the sweet potato, the same “strengthening” that he recommended to children to


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3 According to the Annals of the National Library, vol. 85, 1965, the biweekly magazine Bazar Litterário: education and recreation was published from 1 October 1878 to 15 June 1879, in Rio de Janeiro, by the São Vicente de Paula Typographia.


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avoid premature death. There was a whole “domestic system” ruled by women, as Carvalho (2008, p. 242, our translation) describes:


A set of rules aimed at establishing regularity in the work of the wife, daughters and employees. The sequence of activities is materialized in a set of tasks distributed in pre-established times and days and supervised by the wife. Maintenance activities, the production of decorative objects (handwork), food processing and replacement, and the education of the daughter for the reproduction of domestic knowledge are part of the routine.


Such knowledge was aspired by Maria Paes de Barros so that she herself could be able to manage her future house. However, before her, the older “sisters” reached marriageable age, which made the commander begin the search for suitors. He tried to be meticulous in his analysis, paying attention to the slightest sign of “color mixing” in the boy's family. Found, the candidate was soon dismissed, corroborating the immense prejudice existing in that period. Anyway, the main nominees for the consortium of marriage with the girls of the family were, above all, the relatives, either to concentrate wealth or to avoid taking risks with unknown adventurers. Thus, the couples were normally selected from among their own family members, the cousins, corroborating what Peñarrocha (2013, p. 232, our translation) states that “marrying, understood as a social reproduction strategy, is so necessary for the whole group as reserved for only a small part within it”4, that is, before being a social practice, it was also a recurrent family practice.

Soon after the sisters' marriage, Maria Paes de Barros, still quite young, also got married. She was just sixteen years old, when her interest, considered excessive, in books, especially those of love poetry, began to worry Dindinha, who soon convinced her to accept a marriage proposal: "Don't refuse this happiness!" (BARROS, 1998, p. 123, our translation). It was time for the “best student in the class” to get married.

Despite her sisters' fate being the same – marrying a cousin – something was different in the memoirist's trajectory, as she never abandoned her involvement with books and attention to her studies. After years of dedication to the family's home and business, Maria Paes de Barros published the work she wrote for a long time and leveraged her among the main names of the São Paulo intelligentsia gathered at the Historical and Geographical Institute of São Paulo. It is the book “História do Brasil” (History of Brazil), published in 1932. These tasks were joined by the interest in teaching the discipline of history and the enthusiasm for education, as highlighted by Caio Prado Júnior (BARROS, 1998, p. 14, our translation):

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4 Free translation of the original in Spanish.


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Being intelligently interested in the physical and spiritual growth of all of her large family, she had a brilliant role in it. In the evenings of her farm, on the rumbling banks of the Mogi-Guaçu, she delighted herself in teaching history to the youth. Reliving through dramatized narratives the paintings of the past, in the avid eyes of their loved ones, castles full of idylls, crusades, tournaments, caravels...


The author continued with the same enthusiasm for education, even when her financial conditions were no longer favorable, leaving only the memories of the years of prosperity. However, even so, she continued to welcome grandchildren and friends who needed to reside in São Paulo to study (PRADO JUNIOR in BARROS, 1998).

It is worth noting the emphasis that Maria Paes de Barros gives to marriage in the final chapters of her memorial work, which also refers to the education received, for various aspects. In a complex weaving of representations, she demonstrates how she left her childhood to marry, become an adult, but always carrying with her the collective of women who formed her. Each one with its unique and specific characteristics left their marks on the young lady. On the one hand, important marks for acting in public life, on the other, the elements for the construction of a harmonious and happy marital life, like the one she believed her parents had known.

Another aspect highlighted is that even when marriage is the central theme, there is no lack of references to sister Dindinha and the German governess Mademoiselle, as memories that do not fade from the artisans of the methodical, constant and persistent work of training that girl, transformed into a woman, and her lifelong application of these teachings.

Thus, especially the mother, Dona Felicíssima, Dindinha and Mademoiselle, but also other female characters who acted in her process of intellectual formation and in the practices she learned for life, are represented without any trace of imperfection, with a description that can be inserted in a mythical family pattern.

Kotre (1997) draws attention to the fact that mystification does not mean the falsifying of memory in maturity, but an attitude that seeks comfort in the face of loss, creating new memories that make the old ones invisible. Also according to the same author, this is a process that we go through when facing moments of crisis, which provoke milestones of readjustment in our memories.

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According to Bourdieu (2006), this teleological perspective of biographical narrative is one of the “illusions” of the writing typology, which he calls ordinary biography, developed under a totalizing perspective of the subject's life history, revealing a linear and logical narrative. In fact, it is in this field of biographical writing that “No tempo de dantes”, in which


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the author tries to recover a coherent whole about the identity she built in the present, from the influences received, notably, from the women with whom she lived until adulthood. Even so, it is a privileged source of understanding of the representations of female educational practices in the 1800s, precisely because it highlights the perspective of those who lived, as well as the reflection on what was experienced, offering a reinterpretation of education and the role of women in training other women.

By the year 1946, with more than ninety years of age, the main characters in Maria Paes de Barros' reminiscences were no longer at her side, nor were the opulence and wealth of those times part of her daily life. Likewise, the memoirist, after long years of caring for her ailing husband, saw her fortune slip away. Perhaps, the harsh reality of recent years has lightened with softer colors the memories related to the people who populated her life so many years before: “And at the end of life, when memory is no longer essential to deal with reality, it can become transform into the raw material from which dreams are made" (KOTRE, 1997, p. 217, our translation).


Final considerations


In writing “No tempo de dantes”, Maria Paes de Barros remembers the girl who she was, through her reminiscences, searching in the past for the woman of her present, mixed with herself, Dindinha, Mademoiselle and Dona Felicíssima, a collective in a single woman. They were the ones who gave her the tools they needed to go through life, from when she found herself in the emergency of taking over her own home with marriage, to her everyday attitudes and behaviors, which somehow remained following the voices of those women, whose aim was to educate her to all the feminine sensibilities and obligations of that time and context.

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Carretero (2019, p. 918, our translation) states that “the mother's education at the origin of our lives and the later projection, in the public sphere, of the teaching of those people who cultivated and created knowledge and/or know-how”, were configured, for a long time, as essentially feminine crafts, transmitted among women, to continue the wisdom accumulated over the years, so necessary to face the challenges of daily life. However, what Dindinha, Mademoiselle and Dona Felicíssima could not assume is that the world they imagined could be taught and transmitted to the women of their household to exercise their role in society would completely change in the following decades and demand other female educational practices.


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Caio Prado Júnior opens the introduction of “No tempo de dantes” with the following sentence: "Certainly what civilization owes to women has yet to be written" (PRADO JUNIOR in BARROS, 1998, p. XIII). Drawing attention to her condition as a woman, the writer praised Maria Paes de Barros and her contribution to the “flourishing civilization of São Paulo”, not only for her book, written in a setting that definitely moved away from the 19th century, but mainly for the her performance in the field of health, as director of the Maternity Hospital in São Paulo, collaborator at Hospital Samaritano and founder of the first Tennis Club in the city. Furthermore, according to the preface, by publishing a “History of Brazil” in 1932, Maria Paes de Barros became nationally recognized for her historiographical work.

But it is necessary to disagree with Caio Prado Júnior. The highlight of Maria Paes de Barros, among so many other elite girls from São Paulo who were educated in the house, is the work that, according to him, was written “for the delight of those who delight in imagining environments of the past” (PRADO JUNIOR, 1998, p 15, our translation). The author, through autobiographical writing, dared to give a glimpse of what “civilization owes to women”, breaking, in the genre of her own writings, with the masculine absolutism of the authors and actors of history.

In another perspective, Loriga (2011, p. 69, our translation), relating biography and history, demonstrates that the event immediately disintegrates in the multitude of images that follow it, therefore, “what happens does not contain any truth in itself and only makes sense when thought and told”. In this way, Maria Paes de Barros proposed as much as to tell the history of Brazil in her book with that title, as she did “No tempo de dantes”.

As a woman representing a time that can no longer be recomposed, except for the traces and memories, albeit idyllic, written like the one by Maria Paes de Barros allow us to perceive the importance of women in the formation of other women, suggesting also that, later on, it will be in the feminine universe itself that women will teach others to break the previous order.

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Maria Paes de Barros' description of the most relevant women in the house does not place them in the feminist vanguard. To say this would be to incur anachronisms. In fact, the representations of Dona Felicíssima, Dindinha and Mademoiselle say much more about our nineteen-year-old memorialist. Kotre (1997), in his studies of memory in maturity, draws attention to the fact that it is difficult for us to remember how we saw the world in the past. In general, what we remember is closely related to the present, to the moment when we resort to


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memories. With this, we want to draw attention to how much of the present there is in the past (ROUSSO, 2016).

When Maria Paes de Barros exposes her memories, she was no longer what she was in her childhood and youth. Not only because of biological impositions, but especially social ones. The nineteenth-century woman who came from a traditional São Paulo family, educated to be a wife and mother, saw her fortune dilapidated in the nineteenth century and started working as a teacher. Writing her reminiscences meant a reunion with her identity. Not a return, but a reunion. The author maintained a realistic relationship with her present, but she certainly readjusted her memories to the new directions of her life, bringing a bit of the past to the present, even if it was in the form of what she learned at her parents' house. Focusing her memories on the paternal house is, in the words of Arfuch (2013, p. 28, our translation), to center the house as “space/temporality”, where “interactions, affections, routines, everyday transits” and gender differences also mark the rhythms of the narrative.

Although there are intense allusions in her work to the impositions of patriarchy on the house, it is women's actions that fill a large part of the pages, in which Maria Paes de Barros wrote and left her reminiscences registered. From the memories of the active woman in the 20th century, important evidence emerged about the female education practiced in the 1800s, by women and for women. Her father, Commander, figured in the author's memoirs only as a representation of authority, but her mother was the fundamental piece of all the stately machinery, adding to her Dindinha and Mademoiselle. They, the three, the only women named, were the protagonists who, together, formed the ideal woman for the 19th century. Ideal for memories of a romanticized past.


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Submitted: 05/02/2021 Required revisions: 30/03/2021 Approved: 12/05/2021 Published: 01/06/2021


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