UNA AVENTURA DOCENTE CON MEDITACIONES AFECTIVAS EN LA ENSEÑANZA-APRENDIZAJE: UN ESTUDIO DEL CÓMIC JAPONÉS (MANGÁ) ASSASSINATION CLASSROOM
A TEACHING ADVENTURE UNDER AFFECTIVE MEDIDATIONS IN TEACHING- LEARNING: A STUDY ABOUT JAPANESE COMICS (MANGÁ) TILTED ASSASSINATION CLASSROOM
Diego Rodrigues da SILVA1 Francisco Vieira da SILVA2 Maria Margarita VILLEGAS3
RESUMEN: Este trabajo tiene como objetivo pensar dos puntos principales: explorar las contribuciones reflexivas a la formación docente y observar las posibilidades didácticas para la enseñanza a través del cómic japonés (mangá) Assassination Classroom, de Yusei Matsui. De esta manera, el objetivo de esta investigación es concebir el mangá como puente para la imaginación: ya sea para debatir sobre la condición humana en la aventura docente, acerca de sus responsabilidades y sus limitaciones, sea para entender el valor que reside en nutrir y desarrollar relaciones de saber-afectivo con los discentes, en la intención de acoger y cuidar para mejor enseñar a vivir y existir en sociedad.
PALABRAS CLAVE: Educación. Docencia. Afectividad. Mangá.
1 Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Caraúbas – RN – Brasil. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2104-8260. E-mail: diegoasce94@gmail.com
2 Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Caraúbas – RN – Brasil. Professor Adjunto do Departamento de Linguagens e Ciências Humanas (DLCH). Doutorado em Linguística (UFPB). ORCID: https:// orcid.org/0000-0003-4922-8826. E-mail: francisco.vieiras@ufersa.edu.br
3 Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Caraúbas – RN – Brasil. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ensino (POSENSINO). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4965-2291. E-mail: margaritavillega@hotmail.com
ABSTRACT: This paper aims to think about two main points: exploring the reflective contributions to teacher education and observing the didactic possibilities for teaching through Japanese comics (Mangá) titled Assassination Classroom, by Yusei Matsui. Thus, the intent of this research is to conceive the Mangá as a bridge to imagination: either to discuss the human condition in the adventure of teaching - about its responsibilities and its limitations, or to understand the value that lies in nurturing and developing affective- knowledge relations with students, with the intention of welcoming and caring in order to better teach how to live and exist in society.
KEYWORDS: Education. Teaching. Affectivity. Mangá.
A referente pesquisa surge mediante a necessidade de entendermos o valor que possui as histórias em quadrinhos para, no mínimo, fazer-nos pensar e questionar acerca de inúmeras problemáticas, a depender da obra que se adote e da abordagem que se utilize. Aqui, trabalharemos com uma arte oriental que vem conseguindo sucesso entre crianças, jovens e adultos por todo o mundo: as histórias em quadrinhos japonesas, ou mangá. Como o mangá, que “significa ‘involuntário’ (man) e ‘desenho/imagem’ (gá)” (BARBOSA, 2020, p. 105), é um suporte que contém uma linguagem verbo-visual em sua constituição, iremos tratar de examiná-lo com toda sua riqueza, através de uma investigação sobre seu uso ao longo da história e das possibilidades de aplicabilidade na educação. Para tanto, autores como Waldomiro Vergueiro e Sobia Bibe Luyten, parte dos pioneiros nos estudos e pesquisas em histórias em quadrinhos no Brasil desde os anos 1960, serão demandados para se discutir tanto os quadrinhos dentro e fora das salas de aula, quanto para mobilizar reflexões relacionadas à profissão docente.
Assim, tentaremos compreender não só a capacidade do mangá em costurar sua arte literária com a realidade em que vivemos e ser uma genuína fonte para o estudo de questões sociais, culturais e históricas, como em explorar a presença e a abordagem da condição humana em seus enredos. Como exemplo, serão analisados recortes da obra Ansatsu Kyoushitsu4 (ou Assassination Classroom, no Ocidente), do autor Yusei Matsui, originalmente publicada entre 2014 e 2018 pela editora Shueisha, através da revista semanal de mangá Weekly Shonen Jump, num total de 180 capítulos. A pesquisa será realizada no campo digital, por via de websites como “Mangayabu” (responsável por traduzir a obra completa em 2019),
4 Numa tradução livre “Classe do Assassinato”.
que traduz e adapta diversos mangás do japonês para o português, com o interesse de divulgar a cultura nipônica.
Por fim, este trabalho visa pensar dois pontos principais: explorar as contribuições reflexivas para a formação docente e observar as possibilidades didáticas para o ensino através do mangá Assassination Classroom. Em um primeiro momento, teceremos breve contextualização acerca do uso do mangá ao longo de sua história e sobre as dificuldades de sua receptividade no Ocidente enquanto leitura intelectual e acadêmica, além de abordar sobre as diferenças e as vantagens do mangá em relação às histórias em quadrinhos norte- americanas. Em seguida, na medida em que discutimos o uso do mangá em sala de aula, utilizaremos como fonte de nosso estudo os diálogos, as situações e as querelas presentes na obra Assassination Classroom, analisando os códigos entrelaçados da linguagem tanto verbal quanto visual contida em seu formato. Dessa forma, o intento desta pesquisa é conceber o referente mangá enquanto ponte para imaginação: seja para debater sobre a condição humana no exercício da docência, acerca de suas responsabilidades e de suas limitações, seja para entendermos o valor que reside em nutrir e desenvolver relações de saber-afetivo com os discentes, na intenção de acolher e cuidar para melhor ensinar a viver e existir em sociedade.
Tendo o mangá o poder de criar mundos e neles nos convidar a viajar sob plena imaginação, capaz de rodopiar e embaralhar sentimentos que vão desde os nossos maiores sonhos e fantasias aos nossos piores medos e frustrações, deveras uma arma, nada mais coeso do que carregar seu potencial para dentro – e para fora – das calorosas e agitadas salas de aula, apresentando-o tanto para os/as educadores/as quanto para os/as discentes dos mais variados níveis de ensino. Dito isso, é preciso contextualizar seu potencial numa prosa por meio da qual possamos conhecer sua história e desenvolvimento, bem como explicar sobre seu espinhoso percurso até chegar e adentrar, mesmo que timidamente, nas veias escolares.
Tudo começa a partir das relações que o Japão constrói com os estrangeiros, mediante uma movimentação de pessoas, de histórias e de mercadorias. Já “no início do século XX, o Japão estava absorvendo a cultura ocidental intensamente em todas as áreas” (LUYTEN, 2000, p. 104). Logo, em vista de um choque cultural entre mundos distintos, o processo de hibridismo irá gerar apropriações, voluntárias ou não.
Com isso, atualmente, após inserir o “espírito japonês” nestas “influências alienígenas” das histórias em quadrinhos e melhor desenvolver seu formato, tornando, além
de único, o mais rico em compor linguagens plurais num mesmo suporte, o mangá pode se aproximar de seu lugar ao sol no país ao conquistar um “vínculo peculiar – no formato, na editoração e, principalmente, no conteúdo” (LUYTEN, 2000, p. 168). Todavia, ainda que sua evidência estivesse mais ligada a questões puramente econômicas, “antes da Segunda Guerra Mundial, os quadrinhos japoneses já haviam se firmado no gosto popular” (LUYTEN, 2000,
p. 26), talvez por ser “um meio de alívio de tensão e estresse, principalmente da faixa infanto- juvenil” (LUYTEN, 2000, p. 15), logo após algumas décadas da Segunda Guerra Mundial, “os japoneses investiram nas histórias em quadrinhos como forma de preservação das tradições e da ideia de unidade nacional” (BARBOSA, 2020, p. 108). Faltava, agora, ganhar a atenção do resto do mundo.
Quer dizer, apesar de ser considerado hoje uma das maiores indústrias do mundo japonês moderno, capaz de mobilizar milhões de vendas em tiragens semanais e ser um relevante motor econômico para seu povo, o mangá teve que lidar com um trajeto árduo e longo até alcançar um patamar mais prestigiado na sociedade e nos bancos acadêmicos. E isto só foi possível mediante uma ampla propaganda do mangá no exterior, mesmo que em um suporte diferente.
Sobretudo por meio dos animês, os quadrinhos japoneses puderam ser mais conhecidos por todo o mundo, pois “foram os grandes divulgadores do traço do mangá, antes de eles serem publicados fora do Japão” (NAGADO, 2005, p. 52), servindo “como agentes de difusão em grande escala dos mangás para o Ocidente” (LUYTEN, 2005, p. 9). Ou seja, a partir do contato com os animês, o mangá estava presente, dado que muitas vezes as histórias serializadas para as TV’s não produzem seu conteúdo até o fim, tornando necessário buscar a fonte original para se ler de forma completa. Entretanto, mesmo após o mangá conquistar mais território, as histórias em quadrinhos, de forma geral, sempre foram consideradas como puro entretenimento, sem valor ético, social e histórico.
De cara, “[..] as histórias em quadrinhos encontraram muitos obstáculos até que fossem devidamente apreciadas pelos intelectuais” que, de forma geral, “viam os quadrinhos como ‘coisa de criança’, totalmente supérfluos, produtos feitos para uma leitura rápida e destinados ao esquecimento” (VERGUEIRO, 2005, p. 16). Além disso, “[...] o quadrinho japonês, por barreira linguística ou pelo desconhecimento do assunto, não é tratado com grande importância no mundo ocidental, no contexto internacional do quadrinho” (LUYTEN, 2000, p. 13), indevidamente subestimado “em seu real valor como um meio de comunicação universal, de poder didático eficaz, de aprimoramento artístico e de registro histórico” (ROSA, 2005, p. 104). Não se entendia, decerto, que “[...] a busca da leitura prazerosa não
exclui a aquisição de conhecimento, pois jamais deixa de trazer informações ao leitor” (OLIVEIRA, 2010, p. 42).
Mesmo quando exposto como “alvo de crítica dos educadores”, com argumentos de que “[...] oferecem todo tipo de más influências, desviam a atenção dos estudos e são prejudiciais à formação da criança” (LUYTEN, 2000, p. 163), o mangá resiste ao mundo. Parte dessa resistência se fortaleceu, provavelmente, mediante sua recém promoção ao status de literatura pelo meio intelectual do Ocidente, já que “ambos são, predominantemente, narrativos” (POSTEMA, 2018, p. 115). Em vista de seu consumo também enquanto um tipo de literatura, o mangá começa a ocupar novos espaços e alcançar novos públicos, dado que um texto literário.
Apesar de mencionarmos a relação dos quadrinhos com a literatura, é importante destacar que ambas as linguagens possuem sua própria singularidade comunicacional. Além disso, os mangás “são uma manifestação artística autônoma, assim como o são a literatura, o cinema, a dança, a pintura, o teatro e tantas outras formas de expressão”, bem como uma língua deveras emancipada (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 37). Então, é comum, e até saudável, que transitemos e nos deixemos envolver nas mais diversas linguagens, desde que se preserve a riqueza e importância de cada uma. Por isso, “[...] não é de causar estranheza, então, que haja um diálogo entre literatura e quadrinhos” (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 37), devido a essa relação que “tem se mostrado uma forma eficiente para a criação das mais diversas narrativas” e veiculado “ideias de formas diferentes, revelando outras maneiras de ‘ler’ e compreender o mundo que nos cerca” (OLIVEIRA, 2014, p. 38). Dito isso, e para melhor distingui-la da literatura, falemos do formato que enlaça propriamente as configurações de uma história em quadrinhos.
Além disso, a própria execução no modo de fazer as histórias em quadrinhos japonesas tem em seu bojo múltiplos artifícios e técnicas capazes de transmitir sensibilidades à flor da pele de qualquer leitor/a que se proponha aberto/a para tal experiência, devido à construção narrativa que não só envolve quem lê como abraça aquilo que existe de mais humano em nós. Sem falar que “[...] nos quadrinhos, além da escrita, a percepção do significado é complementada pela expressão facial dos personagens, que ajuda a transmitir o sentido” (LUYTEN, 2000, p. 174).
Consequentemente, através dessa conversa e interação entre visual e verbal, os mangás “[...] formam juntos um significado e uma ironia que não estão presentes em nenhum deles, separadamente”, sendo “[...] mais acurado pensar os quadrinhos mais como uma forma que é impulsionada principalmente pelo visual, em que o verbal com frequência acrescenta interesse
ou profundidade” (POSTEMA, 2018, p. 116). Mesmo assim, “a grande maioria das mensagens é”, no entanto, “percebida pelos leitores por intermédio da interação entre os dois códigos” (VERGUEIRO, 2020, p. 31), o que não significa uma linguagem visual somada simplesmente a uma verbal, mas uma própria linguagem visual-verbal, indissociáveis e independentes numa mesma estrutura narrativa. E as narrativas, não podemos esquecê-las, são também cruciais no processo desse contato visual-verbal. Pois, são com elas, através da ligação entre imagem e texto, “[...] que tornamos inteligível para nós mesmos a inconstância das coisas humanas, é através das narrativas que nos situamos no mundo, situando o lugar do outro”, que damos uma chance para o acesso de “experiências que dificilmente teríamos a partir de outros discursos sociais” (DALCCASTAGNÉ, 2014, p. 183).
Neste momento, é possível que se imagine uma significativa semelhança entre as produções ocidentais e orientais de quadrinhos, dado uma aparente proximidade de estruturas narrativas e de seu formato, em geral. Contudo, as diferenças são demasiadamente marcantes, desde a abordagem dos assuntos à construção do conceito e da jornada sobre a figura do herói.
Assim, não se trata de definir qual dos formatos seria o melhor entre os melhores, mas de ressaltar sobre as representações que cada povo produz acerca de sua história, da sua relação com o mundo e das afetividades de si e do outro. Obviamente, a depender do trabalho que se deseje elaborar, o formato e o local de origem são escolhas importantes para se levar em conta durante a pesquisa. Dessa maneira, ao contrário dos bloqueios “tantas vezes castradores dos politicamente corretos heróis norte-americanos”, optamos pelos mangás “por lidarem com temas universais como amizade, lealdade, coragem e amor”, por justamente pautarem a condição humana com mais prioridade, sendo esta a causa por encontrarem “fácil identificação com povos de qualquer etnia” (NAGADO, 2005, p. 53).
Neste caso, ao se tratar de condição humana, temos “uma necessidade interna de heróis”, por serem os responsáveis em povoar “[...] um setor privilegiado de nosso imaginário, governado pela fantasia” (LUYTEN, 2000, p. 69). Esta maestria deve-se a inúmeros fatores: da formação histórica de cada território, de ser ou não colonizado (e se sim, por quem, quando e por quanto tempo), do desenvolvimento da língua e da escrita, das espiritualidades, dos comportamentos e dos modos de ver e se relacionar com a terra em que se pisa. Ao considerar tais fatores, iremos sempre localizar uma maneira única de representar e de apropriar o mundo e as coisas. Não seria, portanto, diferente com os quadrinhos.
Entendemos que os personagens presentes nos quadrinhos japoneses são “concebidos a partir do mundo real, nos quais as pessoas podem encontrar”, em certa medida, “os ingredientes para vivenciar suas fantasias” (LUYTEN, 2000, p. 40). Considerado “uma
possibilidade de fuga por meio da fantasia”, o mangá não é simplesmente a fuga por si mesma, mas uma abertura para que o leitor e a leitora encontrem os caminhos de sua fuga estritamente pessoal, tratando-o como “um meio comportado de canalizar extravasar suas emoções” (LUYTEN, 2000, p. 223). Em miúdos, a evasão e a fantasia “podem enriquecer o leitor, reconciliá-lo com o absurdo da condição humana” e, sensivelmente, “levantar sua esperança, alargar sua linguagem e sua consciência” (BOSI, 1981, p. 177).
No mais, tendo esclarecido parte da história e do desenvolvimento da indústria do mangá no Japão e pelo mundo, bem como um pouco de sua recepção na sociedade japonesa e estrangeira, voltaremos nossos esforços para conciliar esses e outros aprendizados com as da fonte selecionada, Assassination Classroom, na intenção de produzirmos uma pesquisa que evidencie a força misteriosa e encantada que detém o mangá para tratar sobre o amor, a fantasia e, claro, a educação.
Como já é de se esperar, antes que adentremos a obra Assassination Classroom, faz-se necessário introduzir o/a leitor/a na história, mesmo que brevemente. A seguir, selecionaremos páginas do mangá para análise de nossa proposta, despindo seus conceitos, colhendo reflexões, explorando sua linguagem.
Tudo começa quando um monstro, um polvo sorridente com vários tentáculos e com uma aparência completamente amarelada, surge na renomada Escola Kunigigaoka e exige ser o professor da Classe 3-E (último ano do Ensino Fundamental). Responsável por destruir 70% da lua, ameaça extinguir toda a terra dentro de um ano. A condição de paz que faz aos líderes governamentais é apenas uma: ser professor. Sem escolhas e submetidos a este capricho, dada a velocidade do monstro que vai além da compreensão e tecnologia humana, após diversas batalhas perdidas, o governo mundial permite tal loucura, em vista de que aqueles alunos pudessem fazer o que exércitos do mundo inteiro não conseguiram: isto é, assassiná-lo. Considerado segredo de Estado, nem mesmo a família, amigos e a própria escola podiam ter consciência desta situação, sendo apenas de conhecimento do governo e da Classe 3-E. Armas com munição especiais são providenciadas exclusivamente para o assassinato do professor, sendo seu poder de fogo inofensivo aos seres humanos e letal contra Koro. Prontamente,
Koro-sensei5 assente com os termos e passa a ser alvo de assassinatos diariamente, na sala de aula, pelos seus alunos.
Fonte: Matsui (2019a, p. 8)
Dito isso, evidentemente, é preciso cautela para se entender as metáforas e demais figuras de linguagem presentes durante toda a obra, levando em consideração ser uma ficção que se espelha em questões reais. Como qualquer outra história de fantasia, “bastam poucas páginas para que o leitor ative seu ‘pacto de suspensão da descrença’” e mergulhe “no universo dramático e adulto da narrativa” (DALCCASTAGNÉ, 2014, p. 178). Ativando este modo, estaremos nos autorizando a aprender “um saber sobre o mundo” através da fantasia e do fictício, “oferecendo ao leitor modos de interpretá-lo” (OLIVEIRA, 2010, p. 41).
Nesse sentido, continuaremos a contextualizar o necessário para não se perder o entendimento da obra durante a leitura deste artigo, tanto sobre a trajetória de Koro-sensei quanto acerca das dificuldades presentes em sua sala de aula, para construir, durante seu percurso, as pontes da ficção para a realidade.
Ao iniciar sua vida docente, Koro-sensei, nome do professor com uma fisionomia de polvo com vários tentáculos, consegue o aval para lecionar da forma que havia proposto. A recompensa para matá-lo, além de claro salvar a Terra, é a de 10 bilhões de ienes (moeda oficial do Japão) para a turma. Assim, a Classe 3-E acaba, consequentemente, tornando-se
5 Trocadilho criado pela turma, a partir da junção entre a expressão japonesa korosenai (não pode ser morto) com sensei (professor), o chamando de Koro-Sensei (professor “duro de matar”, numa tradução livre). Para fins práticos de escrita, a partir daqui, utilizaremos sempre a expressão “Koro-Sensei” para nos referirmos ao professor mencionado na obra Assassination Classroom.
6 A leitura oriental dos mangás é feita, sempre, de cima para baixo, da direita para a esquerda.
uma turma inteiramente de assassinos, agora motivados mais do que nunca a frequentarem a escola. Obviamente, no começo, estranham bastante esse pedido e ficam assustados de encarar tal desafio. Todavia, em pouco tempo, acostumam-se com a ideia devido às ótimas aulas do professor e de sua disposição integral em deixar que todos eles o assassinem. Na escola Kunugigaoka, a sala 3-E é considerada uma classe de estudantes problemáticos, fracassados e incompetentes. Uma classe que, em termos práticos, nem sequer existe: isolada e “excluída até o fim”.
A sala é distante do prédio principal, deixando-os segregados enquanto inferiores. Sem nada para perder, já que são invisíveis para a instituição, aceitam a tarefa incumbida a eles. Dessa maneira, a trama segue com inúmeras tentativas falhas de assassinar o professor, mesmo com as mais elaboradas e complexas estratégias e armadilhas arquitetadas pela turma. Não raro, eles tentam matá-lo mesmo com métodos suicidas. A preocupação de Koro com os estudantes é tanta que, ao perceber que eles correm risco de vida na tentativa de algum plano de ataque contra ele, prontamente protege-os para que não se machuquem. Dessa maneira, rejeita métodos sujos e ações covardes que ponham a vida dos próprios colegas de classe em perigo, ansiando uma turma em que se importem uns com os outros verdadeiramente, mesmo num assassinato. Assim, por qual razão essa vontade de assassinar Koro-sensei os motiva tanto? Por dinheiro? Para se tornarem heróis que protegerão a Terra? Não, querem salvar a si mesmos provando seus esforços de conseguir o que foi considerado impossível. Uma vez na vida, mesmo à custa de suas existências, teriam seu valor legitimado pela sociedade. O que não sabiam: aquele professor iria mudar, da forma mais inesperada, a vida de todos.
Essa gradual aceitação da Classe 3-E pelo professo dá-se pela sua empatia exacerbada, provocando discursos sobre o talento e o potencial da turma em serem boas pessoas, mesmo com a sociedade apontando o inverso. Mesmo que aparentemente sem sentido, essa missão os faz deixar sobressair o melhor de si mesmos, dado que Koro não ensinava somente conteúdos, mas educava, sobretudo, para a vida (ORTEGA Y GASSET, 2010). Isso é, no que tange às habilidades já exercidas por cada um – e sem qualquer reconhecimento da escola: desde jogador de beisebol a gênios em informática; talentos na química e excelentes escultores; nadadores natos e bons diretores de cinema; ótimas ginastas e fabulosas gastrólogas, por aí adiante. Contudo, a escola só enxerga que são meros delinquentes por força de um ou mais episódios negativos que os jogaram no abismo taxativo de “piores alunos” da instituição. O que importa, no fim das contas, é a nota. Suas individualidades são ignoradas e, mesmo aqueles que ainda são bons nos estudos, não são acolhidos por falharem em obter notas máximas, dado que a maior prioridade desse sistema educacional é preservar o próprio
prestígio da escola. Dessa forma, a dimensão do social dessas crianças é totalmente descartada. Felizmente, a partir das aulas de Koro-sensei, descobrem a riqueza em valorizar aquilo que já sabiam, com o que aprenderam acerca de assassinatos.
Fonte: Matsui (2019b, p. 19)
A relação que se opera é a de incentivar nossos/as alunos/as a expressar seus conhecimentos prévios, comuns ao seu cotidiano, torná-los evidentes. Deste modo, saberemos unir o que precisam saber com o que já sentem prazer em conhecer.
Por isso que o conceito de saber-afetivo é uma postura cabível, pois na medida em que descobrimos os gostos dos alunos, entrelaçamos um saber com mais sensibilidade, com sentido para suas vidas, dado que cada estudante tem um objetivo próprio. Adiante, a Classe 3-E começa finalmente a entender que seus aprendizados em disciplinas diferentes não servem apenas para fins acadêmicos, mas também como um poder fundamental para ajudar a quem precisa, se assim desejarem, através do que aprenderam.
Fonte: Matsui (2019c, p. 09)
Logo, percebem que aprender a assassinar o professor lhes oferece aprendizados não somente sobre conteúdos, mas sobre o que desejam para seus futuros. Isto os faz pensar consideravelmente sobre o que fazer com o que se aprende, independentemente da lição, processo esse possível quando se “convida os educandos a reconhecer e desvelar a realidade criticamente” (FREIRE, 1979, p. 125).
Daí, como eles precisam matar Koro-sensei, partem de suas habilidades pessoais para esse intento, tornando-os mais confiantes naquilo que gostam e querem fazer, posteriormente. Então, mesmo que seja em vista de sua própria morte, Koro-Sensei se disponibiliza para ajudá-los a melhorar suas competências depois da aula, levando sempre em consideração os ensinamentos que o assassinato pode contribuir para si mesmos: uma superação.
Um exemplo deste aprendizado é quando Koro-sensei resolve melhorar as habilidades de uma aluna que é apaixonada por Química, ensinando-a a elaborar um super veneno capaz até mesmo de matá-lo. Porém, tal aluna acredita que o mundo dos números e dos processos químicos são os únicos que verdadeiramente importam, enquanto a capacidade de expressar emoções e entender o outro seriam desnecessárias. Assim, a estudante admite ser péssima em Literatura. Daí, quando ela consegue produzir o poderoso veneno, ela simplesmente o oferece
e, prontamente, o professor Koro prova – quase morrendo –, parabenizando seu avanço. No entanto, ele mente quanto à nocividade e efeito do veneno contra ele. E, inesperadamente, ensina:
Fonte: Matsui (2019d, p. 16-17)
Isto é, o professor se atenta em “ensinar a necessidade de uma ciência e não ensinar a ciência cuja necessidade seja impossível fazer o estudante sentir” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 70), ampliando os conhecimentos da estudante na área que ela já se sentia bem, usando seu prazer como ponte para fazê-la entender a importância de outra área, a qual menosprezava anteriormente: a literatura. Na situação, de que adiantaria fazer venenos fatais sem conhecer as possibilidades de persuasão e de manipulação também incitados pelo uso da linguagem? Isto é, sem a literatura, com suas ficções que falam sobre realidades em uma língua distinta, com “o poder de conhecer o real por meio do imaginário” (OLIVEIRA, 2010,
p. 49), ficamos sem o suporte para expressar aquilo que sentimos. Logo, “não basta estudar”, mas fazer com que se “sinta autenticamente sua necessidade, que as questões a ser estudadas me preocupem espontânea e verdadeiramente” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 70), alargando as perspectivas dos saberes que já nutrimos com paixão.
Com base nesse raciocínio, apreende-se que “matar” é a metáfora vital da aprendizagem de qualquer professor/a e aluno/a: um ciclo de vida-morte-vida, mudar um pensamento, deslocar um conhecimento antes absoluto, considerar um ângulo jamais
imaginado. É o pulo do abismo daquilo que é inusitado, desconhecido, distante. Prova disso é a de que precisamos eliminar, não raras às vezes, comportamentos, hábitos e até ideias, para que possamos recriá-las a partir de outra visão e perspectiva de mundo, sendo a morte o ponto de transição para o ineditismo de versões distintas de nós mesmos, a coragem para que “percorramos a distância necessária para alcançarmos o outro” (ESTÉS, 1999, p. 106). Na verdade, precisamos que isso seja comum em nossas vidas: é quando estamos em movimento que a mudança (nos) ocorre. Para crescer e “para que os seres humanos vivam”, é vital “que se enfrente aquilo que mais se teme”, quiçá a própria morte de si (ESTÉS, 1999, p. 98). Por isso que assassinato e educação têm bastante ligação na história de Assassination Classroom, posto que se observa uma ligação entre ambos. Assim, assassinar é sobre aprender a construir um caminho para se alcançar o que deseja, um objetivo ou um sonho.
Assim, aquilo que tanto o professor Koro anseia de seus/suas alunos/as é um assassinato, nada mais nada menos, de suas próprias frustrações e medos, receios e fracassos, elementos responsáveis em acorrentar seus mais singulares sonhos e desejos no mais fundo âmago de seus corações. Deseja, pois, que superem a si mesmos.
Fonte: Matsui (2019e, p. 8)
Aqui, superar significa não um processo de exclusão, mas de integração. Ou seja, para que superemos algo, é necessário que assimilemos isto às nossas vidas, seja um medo, uma frustração ou receio. Ao superarem o professor Koro, estão afirmando uma aprendizagem que parte do pressuposto de um trabalho em equipe, isto é, de precisarmos uns dos outros, posto que ninguém vive, constrói e nem alcança nada sozinho. Esta verdade se entende, inclusive, à
própria docência, que “é profundamente uma profissão do campo das relações humanas”, logo, que necessita do outro para florescer (PEREIRA, et al., 2020, p. 93). E isto é fato para nós, educadores/as, posto que precisamos também dos alunos para melhor nos formar enquanto professores/as, mas sobretudo como humanos. A partir dessas palavras, conheceremos melhor a docência impregnada do personagem Koro-sensei.
Para conhecer a docência a qual o professor do assassinato fica, posteriormente, imerso, é necessário conhecermos uma parcela importante de seu passado. Antes de tudo, Koro-sensei era um humano. Conhecido como “deus da morte”, foi considerado o maior assassino de toda a história. Ao ser finalmente capturado, é exposto a um experimento secreto de um grupo de cientistas que, inesperadamente, falha, o transformando no monstro que conhecemos. Neste cenário, depois da explosão do laboratório, percebe o leito de morte de uma amiga que foi ferida pelos escombros e escuta atentamente seu último pedido: usar seu incrível poder não para continuar seu antigo trabalho, mas para se dedicar inteiramente à educação. Respeitando o laço que construíram durante o experimento, acata o pedido e vai se aventurar nas trilhas do ensino.
Em outras palavras, o exemplo do personagem de Koro-sensei serve para que pensemos que nem o ambiente em que nascemos nem o que fazemos com a oportunidades que nos são dadas no calor de nossos momentos, definem nosso caráter e nossa história. “Não existe atividade mais íntima que o trabalho de atribuir sentido”, e por isso decidimos o que fazer com aquilo que nos afeta (CYRULNIK, 2006, p. 13), posto que “não seríamos sequer capazes de descobrir quem somos” se acaso “nossa existência fosse pacífica” (CYRULNIK, 2013, p. 23). O conforto, então, não mobiliza ninguém para novas consciências. Afinal, o que fazemos com aquilo que nos é imputado à força, é o diferencial para uma transformação.
Aquilo que a sociedade nos obriga a fazer por força das circunstâncias do meio em que crescemos, pode, sim, distorcer nosso modo de ver as coisas e as pessoas, mas jamais irá definir nosso caráter. Para isso, existem oportunidades e chances que nem todos ficam vivos tempo suficiente para encontrar. Uma delas é quando nos encontramos numa situação difícil, confusa, rodeados por “uma selva, fechada, emaranhada, tenebrosa, dentro da qual não podemos caminhar, sob pena de nos perdermos”, e “aparece alguém que nos explica a situação com uma ideia feliz” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 56); quando alguém entra em nossas vidas, bagunçando nossos sonhos, organizando nossas dores, questionando nossas
crenças: um/a professor/a que crê naqueles em que ensina, não medindo esforços para resgatar os sonhos particulares de cada um.
Essa doação, e porque não também chamar de sacrifício, que o professor empreende para suas aulas, nada tem a ver com romantizar a profissão, mas sugerir que nela exista sensibilidade, instigando “a coragem e a curiosidade, o amor e o ódio, a agilidade intelectual, o desejo de ser feliz e vencer, a confiança em si mesmo e no mundo, a imaginação” dos estudantes (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 27).
Fonte: Matsui (2019f, p. 12)
Enfim, isso nos lança num olhar de perceber o sacrifício que existe em nossa profissão docente: quanto temos que abdicar de nós mesmos para salvar nossos estudantes? Isto é, será que uma única vez, ao dispormos de um tempo para auxiliar um aluno em um pequeno desafio/problema, não estaríamos demonstrando o quanto são importantes para nós? Adianta forçar aprenderem conteúdos que de nada tem ligação com suas vidas? Ao mantermos e operarmos a manutenção de uma relação afetiva com eles, não estaríamos dando o primeiro passo para saber o que eles precisam aprender, de verdade? Como saber o que importa ser ou não ensinado, se não nos preocupamos sobre o que querem aprender? Enquanto a criança não estiver sendo “envolvida numa atmosfera de sentimentos audazes e magnânimos, ambiciosos e estimulantes” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 27), não chegaremos à conclusão alguma. Para entender tantas perguntas e a própria docência, é preciso, antes, entender esse outro que torna possível nos (re)construir constantemente, trazê-lo para perto e ouvi-lo, posto que “o domínio progressivo do trabalho leva a uma abertura em relação à construção de suas próprias aprendizagens, de suas próprias experiências” (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 231).
Ora, como aprender a reaprender se não formos capazes de reconhecer nossos próprios tropeços e derrotas, até mesmo de pequenos erros? Na aventura docente, é um requisito indispensável a se considerar seriamente, sem precisar de nenhuma super velocidade ou poderes incríveis, mas somente da coragem em respeitar nossa própria inconclusão enquanto educadores/as e, sobretudo, humanos. Felizmente, “com o passar do tempo, os/as professores/ as aprendem a conhecer e a aceitar seus próprios limites”, tornando-os cada vez “mais flexíveis” (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 231). Para tanto, contatos sensíveis, seja nas relações, seja nos materiais com que trabalha, se tornam imprescindíveis para que perceba a fraqueza das coisas. Neste sentido, nada melhor que se perder nas artes: ao nos debruçarmos, por exemplo, nos encantos de um texto literário como o mangá, “há a possibilidade de recuperar por nós, em nós, aquilo que de belo temos e não sabemos, ou somente intuímos, e aquilo que perdemos”, bem como “uma possibilidade muito concreta de ver e sentir a realidade de uma maneira inusitada” (OLIVEIRA, 2010, p. 46).
E este aspecto reside claramente em nosso professor Koro: ser falho. Sim, embora com super velocidade e versátil de diversas formas sobre-humanas, ainda consegue ser falho em determinadas situações. E nem é esse o ponto principal: e sim o de admitir o erro e aprender com isso, seja a partir da observação dos estudantes, seja volvendo seus olhos para dentro de si.
Isto é, seja por termos aprendido essa postura defensiva de negar erros e falhas com nossos próprios professores da universidade; seja por supormos que ao admitir nossos tropeços diante dos alunos estejamos “baixando de nível profissional”, de ser um professor medíocre; ou mesmo seja “perdendo o respeito” deles, pressupondo claramente uma histórica relação de hierarquia do conhecimento, na qual sabemos sempre de tudo apenas por sermos docentes, é no mínimo coeso destacar: temos dificuldades em compartilhar nossas lacunas. Contudo, enquanto professor, Koro nos ensina a não temer essa inevitável realidade: traz seus erros à tona na frente de toda a classe, quantas vezes for preciso, pois antes de qualquer coisa sofre de uma condição que não é outra senão a humana.
Noutros termos, como praticaremos a ideia de estarmos imersos numa incompletude que é constitutiva, se não superarmos – ou aqui, assassinarmos – aquilo que bloqueia a dança de nossos passos? Precisamos interpretar e entender o outro que nos constitui, e para isso, temos que ler o lugar onde estamos situados, ler o mundo antes de qualquer coisa (FREIRE, 1988, p. 9). Ou seja, para caminharmos, é preciso liberdade e experiência nesta dança, para que nos movimentemos, passo a passo. Isto só se torna possível mediante a postura de aprender com os erros de nossa profissão e, a partir deles, transformarmos nossas condutas e
métodos, sensibilizando um ensino regado por afetividade. Para cultivar a própria necessidade e beleza que reside em mudar e repensar constantemente sua prática docente, professores/as precisam destruir várias imagens de si mesmos ao longo de seu árduo percurso, não somente para encontrar uma pretensa identidade em sua profissão, mas para não permitir a si mesmo uma desastrosa condição imóvel: a da comodidade. A saída? Continuar (re)aprendendo.
Na formação docente, essa tarefa não deveria ser tão incomum. Um professor que não faz tudo ao seu alcance para conseguir mudar sua postura e, com isso, tocar os corações de seus alunos no que tange a ouvi-los atentamente, tem na sua carreira um enorme furo profissional e afetivo. Sem escutar suas vozes, não somos capazes de ajudá-los.
Daí a necessidade em matarmos as ideias e crenças que aprisionam novas aberturas de nós mesmos ao mundo e ao outro, tendo, nessa morte, a possibilidade de crescer uma vida, no mínimo, diferente. Entendemos que através do termo “assassinato”, utilizado na obra, podemos adaptar a ideia de “superação” de si e do outro, ou seja, da velha história do aprendiz que ultrapassa seu querido professor, tendo em vista não o saber e nem o mestre, mas o próprio aluno como prioridade (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 31).
Quer dizer, na docência, temos por desejo que nossos estudantes consigam ir além daquilo que nós mesmos propomos e apresentamos, daí nossa constante insistência para que participem de debates e de diálogos. Um professor, da maneira como Koro-sensei, precisa se abrir às possibilidades de ser alcançado, permitindo o toque das relações durante o processo. Conhecer seu aluno, acolhê-lo num abraço pedagógico capaz de construir afetividades, para enfim poder ensiná-lo, “o que se requer para viver à altura do seu tempo, e o que ele possa aprender com facilidade e plenitude” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 31), é fundamental para uma formação genuinamente humana na docência.
Por se abrir sempre ao desconhecido e ao inédito, ou por balas no caso de Koro-sensei, o professor se torna apto a compreender que também aprende todos os dias de sua profissão, observando “os valores éticos e morais do ser humano” que resultam na “sua formação ao longo da existência”, responsáveis por contribuir em “sua capacidade de ler o mundo e refletir sobre ele” (OLIVEIRA, 2010, p. 52), numa dança vitalícia cheia de movimentos incompletos, todavia constitutivos, para nossa edificação docente. Só assim seremos capazes, semelhante ao professor Koro, de orientar nossos estudantes sobre a importância daquilo que já conhecem e irão aprender para viver, sobre “relacionar-se com o mundo, dirigir-se a ele, atuar nele, dele ocupar-se” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 54). Isto é, em educá-los para a vida.
No mais, suspendendo as crenças da realidade para melhor captar e aderir às ideias de uma ficção, percebemos a capacidade deste mangá em abordar dois pontos fundamentais na vida de um docente: sua formação contínua e sua constante doação no processo de ensino- aprendizagem. Muito embora pareça descabida traçar uma comparação de um professor como Koro para nossa realidade, sabemos que, em se tratando de amor pela docência e vontade para mudar o mundo a partir de uma sala de aula, já existem docentes assim. O que precisamos nos preocupar é em multiplicar esta espécie rara de profissional, que ouve o som de um saber- afetivo pulsante entre aquilo que ensina e para quem ensina, uma harmoniosa doação, talvez através dos quadrinhos que “estão aí, prontos para serem descobertos e utilizados” (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 41).
Por sinal, não é pretensão ver esta obra, bem como qualquer outra que seja analisada nesse tom, como um ponto de chegada para absolutamente nada. E sim como um ponto de partida que alarga suas possibilidades, semelhante a uma ponte, conectando um conhecimento a outros tantos, cabendo “ao professor escolher a história que melhor se enquadra em sua proposta pedagógica” (BARBOSA, 2020, p. 125). Neste sentido, usar esta obra para pensar a docência, a formação docente e a relação professor-aluno é uma maneira artística e literária de se pensar na beleza do processo sobre encerrar certezas e começar mudanças de si e do outro. E o que fazemos com isso fica para uma outra história.
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UMA AVENTURA DOCENTE SOB MEDITAÇÕES AFETIVAS NO ENSINO- APRENDIZAGEM: UM ESTUDO DO MANGÁ ASSASSINATION CLASSROOM
A TEACHING ADVENTURE UNDER AFFECTIVE MEDIDATIONS IN TEACHING- LEARNING: A STUDY ABOUT JAPANESE COMICS (MANGÁ) TILTED ASSASSINATION CLASSROOM
Diego Rodrigues da SILVA1 Francisco Vieira da SILVA2 Maria Margarita VILLEGAS3
RESUMO: Este trabalho visa pensar dois pontos principais: explorar as contribuições reflexivas para a formação docente e observar as possibilidades didáticas para o ensino através do mangá Assassination Classroom, de Yusei Matsui. Dessa forma, o intento desta pesquisa é conceber o referente mangá enquanto ponte para imaginação: seja para debater sobre a condição humana na aventura docente, acerca de suas responsabilidades e de suas limitações, seja para entendermos o valor que reside em nutrir e desenvolver relações de saber-afetivo com os discentes, na intenção de acolher e cuidar para melhor ensinar a viver e existir em sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Educação. Docência. Afetividade. Mangá.
1 Universidad Federal Rural de Semi-Árido (UFERSA), Caraúbas – RN – Brasil. Estudiante de Maestría del Programa de Posgrado en Enseñanza (POSENSINO). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2104-8260. E-mail: diegoasce94@gmail.com
2 Universidad Federal Rural del Semi-Árido (UFERSA), Caraúbas – RN – Brasil. Profesor Adjunto del Departamento de Lenguajes e Ciencias Humanas (DLCH). Doctorado em Linguística (UFPB). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4922-8826. E-mail: francisco.vieiras@ufersa.edu.br
3 Universidad Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Caraúbas – RN – Brasil. Estudiante de Maestría del Programa de Posgrado en Enseñanza (POSENSINO). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4965-2291. E-mail: margaritavillega@hotmail.com
ABSTRACT: This paper aims to think about two main points: exploring the reflective contributions to teacher education and observing the didactic possibilities for teaching through Japanese comics (Mangá) titled Assassination Classroom, by Yusei Matsui. Thus, the intent of this research is to conceive the Mangá as a bridge to imagination: either to discuss the human condition in the adventure of teaching - about its responsibilities and its limitations, or to understand the value that lies in nurturing and developing affective- knowledge relations with students, with the intention of welcoming and caring in order to better teach how to live and exist in society.
KEYWORDS: Education. Teaching. Affectivity. Mangá.
Esta investigación surge mediante la necesidad de comprender el valor que los cómics tienen para, como mínimo, hacernos pensar y cuestionar acerca de numerosas problemáticas, a depender de la obra que se adopte y del abordaje que se utilice. Aquí trabajaremos como una arte que ha logrado suceso entre niños, jóvenes y adultos por todo el mundo: los cómics japoneses, o mangá. Como el mangá que “significa ‘involuntario’ (man) y ‘diseño/imagen’ (gá) (BARBOSA, 2020, p. 105), es un soporte que contiene un lenguaje verbo-visual en su constitución, iremos tratar de examinarlo con toda su riqueza, a través de una investigación sobre su uso a lo largo de la historia y de las posibilidades de aplicabilidad en la educación. Para ello, autores como Waldomiro Vergueiro y Sobia Bibe Luyten, parte de los pioneiros en los estudios e investigaciones en cómics dentro y afuera de las aulas de clase, como para movilizar reflexiones relacionadas a la profesión docente.
Así, intentaremos comprender no solo la capacidad del mangá en costurar su arte literaria con la realidad que vivimos a ser una genuina fuente para el estudio de cuestiones sociales, culturales e históricas, como en explorar la presencia y el abordaje de la condición humana en sus enredos. Como ejemplo, se analizarán recortes de la obra Ansatsu Kyoushitsu4 (o Assassination Classroom, en el Occidente), del autor Yusei Matsui, originalmente publicada entre 2014 y 2018 por la editora Shueisha, a través de la revista semanal del mangá Weekly Shonen Jump, en un total de 180 capítulos. La investigación será realizada en el campo digital, por vía de sitios web como “Mangayabu” (responsable por traducir la obra completa en 2019), que traduce y adapta diversos mangás del japonés para el portugués, con el interés de difundir la cultura japonesa.
Por fin, este trabajo tiene en cuenta pensar dos puntos principales: explorar las contribuciones reflexivas para la formación docente y observar las posibilidades didácticas
4 En una traducción libre “Clase del Asesinato”.
para la enseñanza a través del mangá Assassination Classroom. En un primer momento, haremos una breve contextualización acerca del uso del mangá a lo largo de su historia y sobre las dificultades de su receptividad en el Occidente como lectura intelectual y académica, además de abordar sobre las diferencias y ventajas del mangá con relación a los cómics estadunidenses. A continuación, a medida que discutimos el uso del mangá en el aula de clase, utilizaremos como fuente de nuestro estudio los diálogos, las situaciones y las querelas presente en la obra Assassination Classroom, analizando los códigos entrelazados del lenguaje tanto verbal como visual contenida en su formato. De ese modo, el intento de esta investigación es comprender dicho mangá como puente para la imaginación: sea para debatir sobre la condición humana en el ejercicio de la docencia, acerca de sus responsabilidades y de sus limitaciones, ya sea para entender el valor que radica en nutrir y desarrollar relaciones de saber-afectivo con los dicentes, en la intención de acoger y cuidar para mejor enseñar a vivir y existir en sociedad.
Como el manga tiene el poder de crear mundos e invitarnos a viajar en ellos bajo la plena imaginación, capaz de arremeter y barajar sentimientos que van desde nuestros mayores sueños y fantasías hasta nuestros peores miedos y frustraciones, de hecho un arma, nada más cohesionado que llevar su potencial dentro -y fuera- de las caldeadas y bulliciosas aulas, presentándolo tanto a educadores como a alumnos de los más variados niveles educativos. Dicho esto, es necesario contextualizar su potencial en una prosa a través de la cual podamos conocer su historia y desarrollo, así como explicar acerca de su espinoso camino para llegar y entrar, aunque sea tímidamente, en las venas escolares.
Todo parte de las relaciones que Japón establece con los extranjeros, a través de un movimiento de personas, historias y bienes. Ya "a principios del siglo XX, Japón estaba absorbiendo intensamente la cultura occidental en todos los ámbitos" (LUYTEN, 2000, p. 104). Por tanto, ante un choque cultural entre mundos distintos, el proceso de hibridación generará apropiaciones, voluntarias o no.
Con ello, hoy en día, tras insertar el "espíritu japonés" en esas "influencias ajenas" del cómic y desarrollar mejor su formato, haciéndolo, además de único, el más rico en componer lenguajes plurales en un mismo soporte, el manga puede acercarse a su lugar en el sol del país al conquistar un "vínculo peculiar - en formato, edición y, principalmente, en contenido" (LUYTEN, 2000, p. 168). Sin embargo, aunque su evidencia estaba más ligada a cuestiones
puramente económicas, "antes de la Segunda Guerra Mundial, el cómic japonés ya se había establecido en el gusto popular" (LUYTEN, 2000, p. 26), quizás porque era "un medio para aliviar la tensión y el estrés, especialmente para los niños y los adolescentes" (LUYTEN, 2000, p. 15). Los japoneses invirtieron en los cómics como una forma de preservar las tradiciones y la idea de unidad nacional" (BARBOSA, 2020, p. 108). Ahora, sólo faltaba ganar la atención del resto del mundo.
Es decir, a pesar de ser considerada hoy en día una de las mayores industrias del mundo japonés moderno, capaz de movilizar millones de ventas en tiradas semanales y ser un relevante motor económico para su población, el mangá tuvo que afrontar un largo y arduo camino para alcanzar un nivel más prestigioso en la sociedad y en el mundo académico. Y esto sólo fue posible gracias a una amplia publicidad del mangá en el extranjero, aunque en un medio diferente.
Sobre todo, por medio de los animés, los cómics japoneses pudieran ser más conocidos por todo el mundo, pues “fueron los grandes difundidores del trazo del mangá, antes que fueran publicados fuera de Japón” (NAGADO, 2005, p. 52), sirviendo “como agentes de difusión en gran escala de los mangás para el Occidente” (LUYTEN, 2005, p. 9). Es decir, a partir del contacto con los animés, el mangá estaba presente, puesto que muchas veces las historias serializadas para las teles no producen su contenido hasta el fin, haciendo necesario buscar fuente original para leer de forma completa. Sin embargo, tras el mangá conquistar más territorio, los cómics de modo general siempre hubieran sido considerados como puro entretenimiento, sin valor ético, social e histórico.
Desde el principio, "[...] los cómics encontraron muchos obstáculos hasta que fueron debidamente apreciados por los intelectuales", que, en general, "veían los cómics como 'algo para niños', totalmente superfluos, productos hechos para una lectura rápida y destinados al olvido" (VERGUEIRO, 2005, p. 16). Además, "[...] el cómic japonés, debido a la barrera del idioma o al desconocimiento del tema, no es tratado con gran importancia en el mundo occidental, en el contexto internacional del cómic" (LUYTEN, 2000, p. 13), infravalorado indebidamente "en su valor real como medio de comunicación universal, de eficaz poder didáctico, de perfeccionamiento artístico y de registro histórico" (ROSA, 2005, p. 104). Ciertamente, no se entendía que "[...] la búsqueda de una lectura placentera no excluye la adquisición de conocimientos, porque nunca deja de aportar información al lector". (OLIVEIRA, 2010, p. 42).
Incluso cuando se exponen como "blanco de las críticas de los educadores", con argumentos como que "[...] ofrecen todo tipo de malas influencias, desvían la atención de los
estudios y son perjudiciales para la formación del niño" (LUYTEN, 2000, p. 163), el manga resiste al mundo. Parte de esta resistencia se ha visto probablemente reforzada a través de su reciente promoción al estatus de literatura por parte del medio intelectual de Occidente, ya que "ambas son predominantemente narrativas" (POSTEMA, 2018, p. 115). En vista de su consumo también como tipo de literatura, el manga empieza a ocupar nuevos espacios y a llegar a nuevos públicos, dado que un texto literario.
Aunque mencionemos la relación entre el cómic y la literatura, es importante destacar que ambos lenguajes tienen su propia singularidad comunicativa. Además, el manga "es una manifestación artística autónoma, como lo son la literatura, el cine, la danza, la pintura, el teatro y muchas otras formas de expresión", así como un lenguaje verdaderamente emancipado (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 37). Así, es común, e incluso saludable, que transitemos y nos dejemos envolver por las más diversas lenguas, siempre que se conserve la riqueza e importancia de cada una. Por lo tanto, "[...] no es de extrañar, entonces, que haya un diálogo entre la literatura y el cómic" (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 37), debido a esta relación que "ha demostrado ser una forma eficiente de crear las más diversas narrativas" y transmitir "ideas de diferentes maneras, revelando otras formas de 'leer' y entender el mundo que nos rodea" (OLIVEIRA, 2014, p. 38). Dicho esto, y para distinguirlo mejor de la literatura, hablemos del formato que une adecuadamente las configuraciones de un cómic.
Además, la propia ejecución de la forma de hacer cómic japonés tiene en su seno múltiples artificios y técnicas capaces de transmitir sensibilidades a flor de piel a cualquier lector que esté abierto a tal experiencia, debido a la construcción narrativa que no sólo involucra al lector sino que abraza lo más humano de nosotros. Sin olvidar que "[...] en los cómics, además de la escritura, la percepción del significado se complementa con las expresiones faciales de los personajes, que ayudan a transmitir el significado". (LUYTEN, 2000, p. 174).
En consecuencia, a través de esta conversación e interacción entre lo visual y lo verbal, el manga "[...] forma en conjunto un significado y una ironía que no están presentes en ninguno de ellos por separado", siendo "[...] más acertado pensar en el cómic más como una forma impulsada principalmente por lo visual, en la que lo verbal suele añadir interés o profundidad" (POSTEMA, 2018, p. 116). Aun así, "la gran mayoría de los mensajes son", sin embargo, "percibidos por los lectores a través de la interacción entre los dos códigos" (VERGUEIRO, 2020, p. 31), lo que no significa un lenguaje visual añadido simplemente a uno verbal, sino un lenguaje visual-verbal propio, inseparable e independiente en la misma estructura narrativa. Y las narraciones, no podemos olvidarlas, también son cruciales en el
proceso de este contacto visual-verbal. Pues, es con ellos, a través del vínculo entre imagen y texto, "[...] que nos hacemos inteligible la inconstancia de las cosas humanas, es a través de las narraciones que nos situamos en el mundo, situando el lugar del otro", que damos una oportunidad para el acceso de "experiencias que difícilmente tendríamos desde otros discursos sociales". (DALCCASTAGNÉ, 2014, p. 183).
Llegados a este punto, cabría imaginar una importante similitud entre las producciones de cómic occidentales y orientales, dada la aparente proximidad de las estructuras narrativas y su formato, en general. Sin embargo, las diferencias son demasiado marcadas, desde el planteamiento de los temas hasta la construcción del concepto y el recorrido sobre la figura del héroe.
Así, no se trata de definir cuál de los formatos sería el mejor entre los mejores, sino de destacar las representaciones que cada pueblo produce sobre su historia, su relación con el mundo y los afectos de sí mismo y del otro. Evidentemente, según la obra que se quiera elaborar, el formato y el lugar de origen son elecciones importantes que hay que tener en cuenta durante la investigación. Así, frente a los "bloques a menudo castrantes de los héroes norteamericanos políticamente correctos", nos decantamos por el manga "porque trata temas universales como la amistad, la lealtad, el valor y el amor", porque aborda prioritariamente la condición humana, por lo que resulta "fácil identificarse con personas de cualquier etnia". (NAGADO, 2005, p. 53).
En este caso, al tratar de la condición humana, tenemos "una necesidad interna de héroes", porque son los encargados de poblar "[...] un sector privilegiado de nuestro imaginario, regido por la fantasía" (LUYTEN, 2000, p. 69). Este dominio se debe a numerosos factores: la formación histórica de cada territorio, de ser o no colonizado (y si es así, por quién, cuándo y durante cuánto tiempo), el desarrollo de la lengua y la escritura, las espiritualidades, los comportamientos y las formas de ver y relacionarse con la tierra que se pisa. Teniendo en cuenta estos factores, siempre localizaremos una forma única de representar y apropiarnos del mundo y de las cosas. No sería diferente con los cómics.
Entendemos que los personajes presentes en los cómics japoneses están "concebidos a partir del mundo real, en el que la gente puede encontrar", hasta cierto punto, "los ingredientes para experimentar sus fantasías" (LUYTEN, 2000, p. 40). Considerado como "una posibilidad de evasión a través de la fantasía", el manga no es simplemente una evasión por sí mismo, sino una apertura para que el lector encuentre los caminos de su propia evasión estrictamente personal, tratándolo como "una forma comportada de canalizar sus emociones" (LUYTEN, 2000, p. 223). En definitiva, la evasión y la fantasía "pueden enriquecer al lector,
reconciliarlo con el absurdo de la condición humana" y, con sensibilidad, "elevar su esperanza, ampliar su lenguaje y su conciencia". (BOSI, 1981, p. 177).
Una vez aclarada parte de la historia y el desarrollo de la industria del manga en Japón y en el mundo, así como parte de su recepción en la sociedad japonesa y extranjera, volcaremos nuestros esfuerzos en conciliar estos y otros aprendizajes con los de la fuente seleccionada, Assassination Classroom, con la intención de producir una investigación que destaque la fuerza misteriosa y encantada que tiene el manga para tratar el amor, la fantasía y, por supuesto, la educación.
Como era de esperar, antes de adentrarnos en la obra Assassination Classroom, es necesario introducir al lector en la historia, aunque sea brevemente. A continuación, seleccionaremos páginas del mangá para analizar nuestra propuesta, desnudando sus conceptos, recogiendo reflexiones, explorando su lenguaje.
Todo comienza cuando un monstruo, un pulpo sonriente con varios tentáculos y un aspecto completamente amarillento, aparece en la renombrada escuela Kunigigaoka y exige ser el profesor de la clase 3-E (el último curso de primaria). Responsable de la destrucción del 70% de la luna, amenaza con extinguir toda la tierra en un año. La condición de paz que pone a los gobernantes es sólo una: ser maestro. Sin opciones y sometido a este capricho, dada la velocidad del monstruo que va más allá de la comprensión y la tecnología humanas, tras varias batallas perdidas, el gobierno mundial permite tal locura, en vista de que esos estudiantes podrían hacer lo que los ejércitos de todo el mundo no pudieron: es decir, asesinarlo. Considerado un secreto de Estado, ni siquiera la familia, los amigos y la propia escuela podían conocer esta situación, siendo sólo conocida por el gobierno y la clase 3-E. Se proporcionan armas con munición especial exclusivamente para el asesinato del maestro, siendo su potencia de fuego inofensiva para los humanos y letal contra Koro. Pronto, Koro- sensei5 se conforma con los términos y se convierte en el blanco de los asesinatos diarios en el aula por parte de sus alumnos.
5 Juego de palabras creado por la clase, a partir del cruce entre la expresión japonesa korosenai (no se puede matar) y sensei (maestro), llamándolo Koro-Sensei (maestro "difícil de matar", en una traducción libre). A efectos prácticos de redacción, a partir de ahora utilizaremos siempre la expresión "Koro-Sensei" para referirnos al profesor mencionado en la obra Assassination Classroom.
6 La lectura oriental del manga se hace siempre de arriba a abajo, de derecha a izquierda.
Fuente: Matsui (2019a, p. 8)
Dicho esto, por supuesto, hay que tener cuidado para entender las metáforas y otras figuras retóricas presentes a lo largo de la obra, teniendo en cuenta que se trata de una ficción que se refleja en cuestiones reales. Como cualquier otro relato fantástico, "bastan unas pocas páginas para que el lector active su 'pacto de suspensión de la incredulidad'" y se sumerja "en el universo dramático y adulto de la narración" (DALCCASTAGNÉ, 2014, p. 178). Activando este modo, nos estaremos autorizando a aprender "un conocimiento sobre el mundo" a través de la fantasía y lo ficticio, "ofreciendo al lector formas de interpretarlo" (OLIVEIRA, 2010, p. 41).
Nesse sentido, continuaremos a contextualizar o necessário para não se perder o entendimento da obra durante a leitura deste artigo, tanto sobre a trajetória de Koro-sensei quanto acerca das dificuldades presentes em sua sala de aula, para construir, durante seu percurso, as pontes da ficção para a realidade.
Al comenzar su vida docente, Koro-sensei, el nombre del profesor con la fisonomía de un pulpo con varios tentáculos, consigue la aprobación para enseñar de la forma que se había propuesto. La recompensa por matarlo, además de salvar la Tierra, es de 10.000 millones de yenes (moneda oficial de Japón) para la clase. Así, la clase 3-E acaba convirtiéndose en una clase enteramente de asesinos, ahora más motivados que nunca para asistir a la escuela. Obviamente, al principio, esta petición les resulta muy extraña y les asusta enfrentarse a un reto así. Sin embargo, pronto se acostumbran a la idea debido a las excelentes lecciones del profesor y a su total disposición a dejar que todos lo asesinen. En la escuela de Kunugigaoka, la clase 3-E se considera una clase de alumnos problemáticos, fracasados e incompetentes. Una clase que, en términos prácticos, ni siquiera existe: aislada y "excluida hasta el final".
La sala está alejada del edificio principal, lo que las deja segregadas como inferiores. Sin nada que perder, ya que son invisibles para la institución, aceptan la tarea que se les asigna. De este modo, la trama continúa con numerosos intentos fallidos de asesinar al profesor, incluso con las más elaboradas y complejas estrategias y trampas ideadas por la clase. No pocas veces, intentan matarlo incluso con métodos suicidas. Koro se preocupa tanto por los estudiantes que cuando se da cuenta de que corren peligro de muerte en el intento de un plan de ataque contra él, los protege rápidamente para que no salgan heridos. De este modo, rechaza los métodos sucios y las acciones cobardes que ponen en peligro la vida de sus propios compañeros, anhelando una clase en la que se preocupen de verdad por los demás, incluso en un asesinato. Entonces, ¿por qué les motiva tanto este impulso de asesinar a Koro- sensei? ¿Por dinero? ¿Para convertirse en héroes que protejan la Tierra? No, quieren salvarse demostrando su esfuerzo por conseguir lo que se consideraba imposible. Una vez en su vida, incluso a costa de sus existencias, tendrían su valor legitimado por la sociedad. Lo que no sabían: ese profesor cambiaría, de la manera más inesperada, la vida de todos.
Esta aceptación gradual de la clase 3-E por parte del profesor se debe a su exacerbada empatía, lo que provoca discursos sobre el talento y el potencial de la clase para ser buenas personas, incluso cuando la sociedad señala lo contrario. Aunque aparentemente no tenga sentido, esta misión saca lo mejor de ellos, ya que Koro no enseña sólo contenidos, sino que educa, sobre todo, para la vida (ORTEGA Y GASSET, 2010). Es decir, con respecto a las habilidades ya ejercidas por cada uno -y sin ningún reconocimiento por parte de la escuela-: desde jugador de béisbol hasta genios de la informática; talentos en química y excelentes escultores; nadadores y buenos directores de cine; grandes gimnastas y fabulosos gastrónomos, etc. Sin embargo, la escuela sólo ve que son meros delincuentes a fuerza de uno o varios episodios negativos que los arrojaron al abismo de los "peores alumnos" de la institución. Lo que importa, al final, es la nota. Se ignora su individualidad e incluso los que siguen siendo buenos en sus estudios no son aceptados por no obtener las mejores notas, ya que la máxima prioridad de este sistema educativo es preservar el prestigio de la propia escuela. De este modo, la dimensión social de estos niños queda totalmente descartada. Afortunadamente, desde las clases de Koro-sensei, descubren la riqueza de valorar lo que ya saben, con lo que aprenden sobre el asesinato.
Fuente: Matsui (2019b, p. 19)
La relación que opera es la de animar a nuestros alumnos a expresar sus conocimientos previos, comunes a su vida cotidiana, para hacerlos evidentes. De esta manera, sabremos unir lo que necesitan saber con lo que ya sienten placer en conocer.
Por eso el concepto de conocimiento afectivo es una actitud adecuada, pues a medida que descubrimos los gustos de los alumnos, entretejemos el conocimiento con más sensibilidad, con sentido para sus vidas, dado que cada alumno tiene su propio objetivo. Más adelante, la clase 3-E comienza por fin a comprender que su aprendizaje en las diferentes disciplinas no es sólo con fines académicos, sino también como un poder fundamental para ayudar a los necesitados, si así lo desean, a través de lo que han aprendido.
Fuente: Matsui (2019c, p. 09)
Pronto se dan cuenta de que aprender a asesinar al profesor les ofrece un aprendizaje no sólo de contenidos, sino de lo que quieren para su futuro. Esto les hace pensar considerablemente en qué hacer con lo aprendido, independientemente de la lección, un proceso que es posible cuando se "invita a los alumnos a reconocer y desvelar críticamente la realidad". (FREIRE, 1979, p. 125).
Por lo tanto, como necesitan matar a Koro-sensei, se apartan de sus habilidades personales para este intento, haciéndolos más seguros de lo que les gusta y quieren hacer, después. Luego, aunque sea en vista de su propia muerte, Koro-Sensei se pone a disposición para ayudarles a mejorar sus habilidades después de la clase, siempre teniendo en cuenta las enseñanzas que la matanza puede aportar a sí misma: una superación.
Un ejemplo de este aprendizaje es cuando Koro-sensei decide mejorar las habilidades de una alumna apasionada por la Química, enseñándole a elaborar un súper veneno capaz incluso de matarlo. Sin embargo, este estudiante cree que el mundo de los números y los procesos químicos son los únicos que realmente importan, mientras que la capacidad de expresar emociones y entender al otro sería innecesaria. Por lo tanto, el estudiante admite que se le da fatal la literatura. Por eso, cuando consigue producir el poderoso veneno, simplemente lo ofrece y, enseguida, el profesor Koro lo prueba -casi moribundo- felicitando su avance. Sin embargo, miente sobre la nocividad del veneno y su efecto contra él. Y, de forma inesperada, enseña:
Fuente: Matsui (2019d, p. 16-17)
Es decir, el profesor se cuida de "enseñar la necesidad de una ciencia y no enseñar la ciencia cuya necesidad es imposible de hacer sentir al alumno" (ORTEGA Y GASSET, 2010,
p. 70), ampliando los conocimientos de la alumna en el área que ya se sentía bien, utilizando su placer como puente para hacerle comprender la importancia de otra área, que antes menospreciaba: la literatura. En la situación, ¿de qué serviría fabricar venenos mortales sin conocer las posibilidades de persuasión y manipulación que también incita el uso del lenguaje? Es decir, sin la literatura, con sus ficciones que hablan de las realidades en un lenguaje diferente, con "el poder de conocer lo real a través de lo imaginario" (OLIVEIRA, 2010, p. 49), nos quedamos sin el soporte para expresar lo que sentimos. Por lo tanto, "no basta con estudiar", sino con hacerle "sentir auténticamente su necesidad, que los temas a estudiar me conciernen espontánea y verdaderamente" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 70), ampliando las perspectivas de conocimiento que ya alimentamos con pasión.
A partir de este razonamiento, se entiende que "matar" es la metáfora vital del aprendizaje para cualquier profesor y alumno: un ciclo de vida-muerte-vida, cambiar un pensamiento, desplazar un conocimiento antes absoluto, considerar un ángulo nunca imaginado. Es el salto al abismo de lo insólito, lo desconocido, lo lejano. Prueba de ello es que necesitamos eliminar, no pocas veces, conductas, hábitos e incluso ideas, para poder recrearlas desde otra visión y perspectiva del mundo, siendo la muerte el punto de transición para la inédita de diferentes versiones de nosotros mismos, el coraje para que "recorramos la distancia necesaria para llegar al otro" (ESTÉS, 1999, p. 106). De hecho, necesitamos que
esto sea común en nuestras vidas: es cuando estamos en movimiento que el cambio (ocurre) para nosotros. Para crecer y "para que el ser humano viva", es vital "enfrentarse a lo que más se teme", quizás la muerte de uno mismo (ESTÉS, 1999, p. 98). Por ello, el asesinato y la educación están estrechamente vinculados en la historia de Assassination Classroom, ya que se observa una conexión entre ambos. Por lo tanto, el asesinato consiste en aprender a construir un camino para lograr lo que quieres, un objetivo o un sueño.
Así, lo que tanto desea el profesor Koro de sus alumnos es un asesinato, nada menos, de sus propias frustraciones y temores, de sus miedos y fracasos, de los elementos responsables de encadenar sus sueños y deseos más singulares en el fondo de su corazón. Por lo tanto, quiere que se superen a sí mismos.
Fuente: Matsui (2019e, p. 8)
Aquí, la superación no significa un proceso de exclusión, sino de integración. Es decir, para superar algo, es necesario que lo asimilemos en nuestra vida, ya sea un miedo, una frustración o un temor. Al superar al profesor Koro, están afirmando un aprendizaje que se basa en la asunción del trabajo en equipo, es decir, de la necesidad de los demás, ya que nadie vive, construye o consigue nada solo. Esta verdad se entiende incluso a la propia enseñanza, que "es profundamente una profesión del campo de las relaciones humanas", por lo tanto, que necesita del otro para florecer (PEREIRA, et al., 2020, p. 93). Y esto es un hecho para nosotros, los educadores, ya que también necesitamos a los alumnos para formarnos mejor como profesores, pero sobre todo como humanos. A partir de estas palabras, conoceremos mejor la enseñanza impregnada del personaje Koro-sensei.
Para conocer la enseñanza en la que está inmerso posteriormente el maestro del asesinato, necesitamos conocer una parte importante de su pasado. En primer lugar, Koro- sensei era un humano. Conocido como el "dios de la muerte", fue considerado el mayor asesino de la historia. Cuando finalmente es capturado, es expuesto a un experimento secreto por un grupo de científicos que inesperadamente falla, transformándolo en el monstruo que conocemos. En este escenario, tras la explosión del laboratorio, acude al lecho de muerte de una amiga que ha resultado herida por los escombros y escucha atentamente su última petición: utilizar su increíble poder no para continuar con su antiguo trabajo, sino para dedicarse por completo a la educación. Respetando el vínculo que han construido durante el experimento, accede a la petición y se adentra en los senderos de la educación.
En otras palabras, el ejemplo del personaje de Koro-sensei sirve para hacernos pensar que ni el entorno en el que nacemos ni lo que hacemos con las oportunidades que se nos brindan al calor de nuestros momentos, definen nuestro carácter y nuestra historia. "No hay actividad más íntima que la labor de atribución de sentido", y así decidimos qué hacer con lo que nos afecta (CYRULNIK, 2006, p. 13), ya que "ni siquiera podríamos descubrir quiénes somos" si por casualidad "nuestra existencia fuera pacífica" (CYRULNIK, 2013, p. 23). La comodidad, pues, no moviliza a nadie hacia nuevas conciencias. Al fin y al cabo, lo que hacemos con lo que se nos impone por la fuerza, es el diferencial para una transformación.
Lo que la sociedad nos obliga a hacer debido a las circunstancias del entorno en el que crecemos puede, efectivamente, distorsionar nuestra forma de ver las cosas y las personas, pero nunca definirá nuestro carácter. Para ello, existen oportunidades y posibilidades que no todos permanecen vivos el tiempo suficiente para encontrar. Una de ellas es cuando nos encontramos en una situación difícil, confusa, rodeados de "una selva, cerrada, enmarañada, oscura, dentro de la cual no podemos caminar, de lo contrario nos perdemos", y "aparece alguien que nos explica la situación con una idea feliz" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 56); cuando alguien entra en nuestras vidas, desordenando nuestros sueños, organizando nuestros dolores, cuestionando nuestras creencias: un maestro que cree en quienes enseña, sin escatimar esfuerzos para rescatar los sueños particulares de cada uno.
Esta donación, y por qué no llamarla también sacrificio, que el profesor emprende por sus clases, no tiene nada que ver con la romantización de la profesión, sino con sugerir que en ella hay sensibilidad, instigando "el coraje y la curiosidad, el amor y el odio, la agilidad
intelectual, el deseo de ser feliz y de ganar, la confianza en sí mismo y en el mundo, la imaginación" de los alumnos (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 27).
Karasuma
Fuente: Matsui (2019f, p. 12)
Finalmente, esto nos lanza a una mirada de darse cuenta del sacrificio que existe en nuestra profesión docente: ¿cuánto tenemos que renunciar de nosotros mismos para salvar a nuestros alumnos? En otras palabras, si sólo nos tomamos el tiempo para ayudar a un alumno con un pequeño reto/problema, ¿no estaríamos demostrando lo importantes que son para nosotros? ¿Tiene algún sentido obligarles a aprender contenidos que no tienen nada que ver con sus vidas? Manteniendo y operando el mantenimiento de una relación afectiva con ellos,
¿no estaríamos dando el primer paso para saber lo que realmente necesitan aprender? ¿Cómo podemos saber qué es importante enseñar o no si no nos preocupamos por lo que quieren aprender? Mientras el niño no esté "envuelto en un ambiente de sentimientos audaces y magnánimos, ambiciosos y estimulantes" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 27), no llegaremos a ninguna conclusión. Para entender tantas cuestiones y la propia enseñanza, hay que entender primero a ese otro que permite (re)construirse constantemente, acercarlo y escucharlo, ya que "el dominio progresivo del trabajo lleva a una apertura en relación con la construcción de su propio aprendizaje, de sus propias experiencias". (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 231).
Ahora bien, ¿cómo podemos aprender a reaprender si no somos capaces de reconocer nuestros propios tropiezos y derrotas, incluso los pequeños errores? En la aventura de la enseñanza, es un requisito indispensable para que nos tomen en serio, sin necesidad de ninguna supervelocidad ni de poderes increíbles, sino sólo el valor de respetar nuestra propia inconclusión como educadores y, sobre todo, como seres humanos. Afortunadamente, "con el tiempo, los profesores aprenden a conocer y aceptar sus propios límites", lo que les hace cada
vez "más flexibles" (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 231). Para ello, los contactos sensibles, ya sea en las relaciones o en los materiales con los que trabajan, se hacen indispensables para que perciban la debilidad de las cosas. En este sentido, no hay nada mejor que perderse en las artes: cuando nos fijamos, por ejemplo, en los encantos de un texto literario como el manga, "existe la posibilidad de recuperar para nosotros, en nosotros, aquello que es bello y que no conocemos, o sólo intuimos, y que hemos perdido", así como "una posibilidad muy concreta de ver y sentir la realidad de una manera inusual". (OLIVEIRA, 2010, p. 46).
Y este aspecto reside claramente en nuestro maestro Koro: ser imperfecto. Sí, a pesar de su supervelocidad y de su versatilidad en muchos aspectos sobrehumanos, todavía se las arregla para ser defectuoso en ciertas situaciones. Y eso ni siquiera es lo principal: se trata de admitir el error y aprender de él, ya sea observando a los alumnos o volviendo los ojos hacia dentro.
Es decir, ya sea porque hemos aprendido esta postura defensiva de negar los errores y fracasos de nuestros propios profesores en la universidad; ya sea porque asumimos que al admitir nuestros tropiezos frente a los alumnos estamos "bajando nuestro nivel profesional", de ser un profesor mediocre; o incluso ya sea por "perderles el respeto", presuponiendo claramente una relación histórica de jerarquía de conocimientos, en la que siempre lo sabemos todo por el simple hecho de ser profesores, es al menos cohesivo destacar: tenemos dificultades para compartir nuestros defectos. Sin embargo, como profesor, Koro nos enseña a no temer esta inevitable realidad: saca a relucir sus errores delante de toda la clase, tantas veces como sea necesario, porque antes que nada padece una condición que no es otra que la humana.
En otros términos, ¿cómo practicaremos la idea de estar inmersos en una incompletud que es constitutiva, si no superamos -o aquí, asesinamos- aquello que bloquea la danza de nuestros pasos? Necesitamos interpretar y comprender al otro que nos constituye, y para ello tenemos que leer el lugar en el que estamos situados, leer el mundo antes que nada (FREIRE, 1988, p. 9). En otras palabras, para caminar, necesitamos libertad y experiencia en esta danza, para poder movernos, paso a paso. Esto sólo es posible mediante la actitud de aprender de los errores de nuestra profesión y, a partir de ellos, transformar nuestra conducta y métodos, sensibilizando una enseñanza regada por la afectividad. Para cultivar la propia necesidad y la belleza que reside en cambiar y repensar constantemente su práctica docente, los profesores necesitan destruir varias imágenes de sí mismos a lo largo de su arduo camino, no sólo para encontrar una supuesta identidad en su profesión, sino para no permitirse una desastrosa condición de inmovilidad: la de la comodidad. ¿La salida? Continuar con el (re)aprendizaje.
En la formación del profesorado, esta tarea no debería ser tan infrecuente. Un profesor que no hace todo lo que está en su mano para cambiar su actitud y así llegar al corazón de sus alumnos en cuanto a escucharles atentamente, tiene un enorme agujero profesional y afectivo en su carrera. Si no escuchamos sus voces, no podremos ayudarles.
De ahí la necesidad de matar las ideas y creencias que aprisionan nuevas aperturas de nosotros mismos al mundo y al otro, teniendo, en esta muerte, la posibilidad de crecer una vida, al menos, diferente. Entendemos que a través del término "asesinato", utilizado en la obra, podemos adaptar la idea de "superación" del yo y del otro, es decir, la vieja historia del aprendiz que supera a su querido maestro, teniendo en cuenta no el conocimiento ni el maestro, sino el propio alumno como prioridad (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 31).
Es decir, al enseñar, queremos que nuestros alumnos sean capaces de ir más allá de lo que nosotros mismos proponemos y presentamos, de ahí nuestra constante insistencia en que participen en debates y diálogos. Un maestro, a la manera de Koro-sensei, necesita estar abierto a las posibilidades de ser alcanzado, permitiendo el contacto de las relaciones durante el proceso. Conocer a su alumno, acogerlo en un abrazo pedagógico capaz de construir afectividad, para finalmente poder enseñarle, "lo que se requiere para estar a la altura de su tiempo, y lo que puede aprender con facilidad y plenitud" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 31), es fundamental para una formación genuinamente humana en la enseñanza.
Al abrirse siempre a lo desconocido y a lo inédito, o por balas en el caso de Koro- sensei, el profesor se vuelve capaz de entender que también aprende cada día de su profesión, observando "los valores éticos y morales del ser humano" que resultan en "su formación a lo largo de la existencia", responsable de contribuir en "su capacidad de leer el mundo y reflexionar sobre él" (OLIVEIRA, 2010, p. 52), en una danza de toda la vida llena de movimientos incompletos, aunque constitutivos, para nuestra edificación docente. Sólo así podremos, a semejanza del maestro Koro, orientar a nuestros alumnos sobre la importancia de lo que ya saben y aprenderán a vivir, sobre "relacionarse con el mundo, abordarlo, actuar en él, ocuparlo" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 54). Es decir, en educarles para la vida.
Además, suspendiendo las creencias de la realidad para captar y adherirse mejor a las ideas de una ficción, nos damos cuenta de la capacidad de este manga para abordar dos puntos fundamentales en la vida de un profesor: su formación continua y su constante donación al proceso de enseñanza-aprendizaje. Aunque pueda parecer inapropiado comparar a una
profesora como Koro con nuestra realidad, sabemos que en lo que respecta al amor por la enseñanza y la voluntad de cambiar el mundo desde un aula, ya hay profesores así. De lo que debemos preocuparnos es de multiplicar ese raro tipo de profesional, que escucha el sonido de un conocimiento afectivo palpitante entre lo que enseña y para quien enseña, una donación armoniosa, tal vez a través de los cómics que "están ahí, listos para ser descubiertos y utilizados" (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 41).
Por cierto, no se pretende ver esta obra, así como cualquier otra que se analice en este tono, como un punto de llegada para absolutamente nada. Sino como un punto de partida que amplía sus posibilidades, similar a un puente, conectando un conocimiento con muchos otros, correspondiendo al "profesor elegir el relato que mejor se adapte a su propuesta pedagógica" (BARBOSA, 2020, p. 125). En este sentido, utilizar esta obra para pensar en la enseñanza, en la formación de profesores y en la relación profesor-alumno es una forma artística y literaria de pensar en la belleza del proceso sobre el cierre de certezas y el inicio de los cambios de uno mismo y del otro. Y lo que hagamos con esto es otra historia.
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https://doi.org/10.21723/riaee.v16iesp.3.15295
UMA AVENTURA DOCENTE SOB MEDITAÇÕES AFETIVAS NO ENSINO- APRENDIZAGEM: UM ESTUDO DO MANGÁ ASSASSINATION CLASSROOM
UNA AVENTURA DOCENTE CON MEDITACIONES AFECTIVAS EN LA ENSEÑANZA-APRENDIZAJE: UN ESTUDIO DEL CÓMIC JAPONÉS (MANGÁ) ASSASSINATION CLASSROOM
Diego Rodrigues da SILVA1 Francisco Vieira da SILVA2 Maria Margarita VILLEGAS3
RESUMO: Este trabalho visa pensar dois pontos principais: explorar as contribuições reflexivas para a formação docente e observar as possibilidades didáticas para o ensino através do mangá Assassination Classroom, de Yusei Matsui. Dessa forma, o intento desta pesquisa é conceber o referente mangá enquanto ponte para imaginação: seja para debater sobre a condição humana na aventura docente, acerca de suas responsabilidades e de suas limitações, seja para entendermos o valor que reside em nutrir e desenvolver relações de saber-afetivo com os discentes, na intenção de acolher e cuidar para melhor ensinar a viver e existir em sociedade.
PALAVRAS-CHAVE: Educação. Docência. Afetividade. Mangá.
1 Federal Rural University of the Semi-Arid (UFERSA), Caraúbas – RN – Brazil. Master's Student of the Postgraduate Program in Teaching (POSENSINO). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2104-8260. E-mail: diegoasce94@gmail.com
2 Federal Rural University of the Semi-Arid (UFERSA), Caraúbas – RN – Brazil. Adjunct Professor at the Department of Languages and Human Sciences (DLCH). PhD in Linguistics (UFPB). ORCID: https://orcid.org/ 0000-0003-4922-8826. E-mail: francisco.vieiras@ufersa.edu.br
3 Federal Rural University of the Semi-Arid (UFERSA), Caraúbas – RN – Brazil. Master's Student of the Postgraduate Program in Teaching (POSENSINO). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4965-2291. E-mail: margaritavillega@hotmail.com
RESUMEN: Este trabajo tiene como objetivo pensar dos puntos principales: explorar las contribuciones reflexivas a la formación docente y observar las posibilidades didácticas para la enseñanza a través del cómic japonés (mangá) Assassination Classroom, de Yusei Matsui. De esta manera, el objetivo de esta investigación es concebir el mangá como puente para la imaginación: ya sea para debatir sobre la condición humana en la aventura docente, acerca de sus responsabilidades y sus limitaciones, sea para entender el valor que reside en nutrir y desarrollar relaciones de saber-afectivo con los discentes, en la intención de acoger y cuidar para mejor enseñar a vivir y existir en sociedad.
PALABRAS CLAVE: Educación. Docencia. Afectividad. Mangá.
The related research arises from the need to understand the value of comic books to, at the very least, make us think and question about numerous issues, depending on the work adopted and the approach used. Here, we will work with an oriental art that has been achieving success among children, young people and adults all over the world: Japanese comic books, or manga. How manga, which "means 'involuntary' (man) and 'drawing/image' (ga)" (BARBOSA, 2020, p. 105, our translation), is a support that contains a verb-visual language in its constitution, we will examine it in all its richness, through an investigation of its use throughout history and the possibilities of its applicability in education. To this end, authors such as Waldomiro Vergueiro and Sobia Bibe Luyten, pioneers in studies and research in comics in Brazil since the 1960s, will be asked to discuss both comics inside and outside the classroom, and to mobilize reflections related to the teaching profession.
Thus, we will try to understand not only the ability of manga to sew its literary art with the reality in which we live and to be a genuine source for the study of social, cultural and historical issues, but also to explore the presence and approach of the human condition in its plots. As an example, clippings from the work Ansatsu Kyoushitsu4 (or Assassination Classroom, in the West), by author Yusei Matsui, originally published between 2014 and 2018 by Shueisha, through the weekly manga magazine Weekly Shonen Jump, in total of 180 chapters will be analyzed. The research will be carried out in the digital field, via websites such as “Mangayabu” (responsible for translating the complete work in 2019), which translates and adapts several manga from Japanese into Portuguese, with the interest of disseminating Japanese culture.
Finally, this work aims to think about two main points: to explore the reflexive contributions to teacher education and to observe the didactic possibilities for teaching
4 In a free translation "Assassination Classroom".
through the Assassination Classroom manga. At first, we will briefly contextualize the use of manga throughout its history and the difficulties of its receptivity in the West as an intellectual and academic reading, in addition to addressing the differences and advantages of manga in relation to North Americans comic books. Then, as we discuss the use of manga in the classroom, we will use the dialogues, situations and disputes present in the work Assassination Classroom as the source of our study, analyzing the intertwined codes of both verbal and visual language contained in its format. Thus, the intent of this research is to conceive the manga referent as a bridge to imagination: either to debate about the human condition in the exercise of teaching, about its responsibilities and limitations, or to understand the value that resides in nurturing and developing relationships of affective knowledge with the students, with the intention of welcoming and caring in order to better teach how to live and exist in society.
Having the manga the power to create worlds and invite us to travel in them under full imagination, capable of swirling and shuffling feelings ranging from our biggest dreams and fantasies to our worst fears and frustrations, truly a weapon, nothing more cohesive than carrying its potential inside – and outside – the warm and bustling classrooms, presenting it both for educators and for students of the most varied levels of education. That said, it is necessary to contextualize its potential in a prose through which we can learn about its history and development, as well as explain about its thorny path to arrive and enter, even if timidly, in the school veins.
It all starts from the relationships that Japan builds with foreigners, through the movement of people, stories and goods. Already “in the beginning of the 20th century, Japan was absorbing Western culture intensely in all areas” (LUYTEN, 2000, p. 104, our translation). Therefore, in view of a cultural clash between different worlds, the hybridization process will generate appropriations, voluntary or not.
With this, currently, after inserting the "Japanese spirit" in these "alien influences" of comic books and better developing their format, making, in addition to being unique, the richest in composing plural languages on the same support, manga can come closer to its place in the sun in the country by conquering a “peculiar bond – in format, in publishing and, mainly, in content” (LUYTEN, 2000, p. 168, our translation). However, even though their evidence was more linked to purely economic issues, “before World War II, Japanese comics
had already established themselves in popular taste” (LUYTEN, 2000, p. 26, our translation), perhaps because it was “a means of relief of tension and stress, especially in the juvenile range” (LUYTEN, 2000, p. 15, our translation), after a few decades of World War II, “the Japanese invested in comic books as a way of preserving traditions and the idea of national unity” (BARBOSA, 2020, p. 108, our translation). What was needed now was to gain the attention of the rest of the world.
I mean, despite being considered today one of the largest industries in the modern Japanese world, capable of mobilizing millions of sales in weekly runs and being a relevant economic engine for its people, manga had to deal with an arduous and long path to reach a most prestigious level in society and in academic banks. And this was only possible through a wide advertisement of the manga abroad, even if in a different medium
Mainly through the anime, Japanese comics could be better known around the world, as “they were the great promoters of the manga line, before they were published outside Japan” (NAGADO, 2005, p. 52, our translation), serving “as agents of large-scale dissemination of manga to the West” (LUYTEN, 2005, p. 9, our translation). In other words, from the contact with the anime, the manga was present, as many times the stories serialized for TV’s do not produce their content until the end, making it necessary to search for the original source in order to read it completely. However, even after the manga conquered more territory, comic books, in general, were always considered as pure entertainment, without ethical, social and historical value.
Right away, “[..] comic books encountered many obstacles until they were properly appreciated by intellectuals” who, in general, “saw comics as 'child's thing', totally superfluous, products made for quick reading and destined to oblivion” (VERGUEIRO, 2005,
p. 16, our translation). In addition, “[...] the Japanese comic, due to language barriers or lack of knowledge on the subject, is not treated with great importance in the Western world, in the international context of comics” (LUYTEN, 2000, p. 13, our translation), unduly underestimated “in its real value as a universal means of communication, with effective didactic power, artistic improvement and historical record” (ROSA, 2005, p. 104). It was certainly not understood that “[...] the pursuit of pleasurable reading does not exclude the acquisition of knowledge, as it never fails to bring information to the reader” (OLIVEIRA, 2010, p. 42, our translation).
Even when exposed as “a target of criticism by educators”, with arguments that “[...] they offer all kinds of bad influences, divert attention from studies and are harmful to the child's education” (LUYTEN, 2000, p. 163, our translation), manga resists the world. Part of
this resistance was probably strengthened by its recent promotion to the status of literature by the Western intellectual milieu, since “both are predominantly narrative” (POSTEMA, 2018,
p. 115). In view of its consumption also as a type of literature, manga begins to occupy new spaces and reach new audiences, as a literary text.
Despite mentioning the relationship between comics and literature, it is important to highlight that both languages have their own communicational singularity. Furthermore, mangas “are an autonomous artistic expression, as are literature, cinema, dance, painting, theater and many other forms of expression”, as well as a truly emancipated language (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 37, our translation). So, it is common, and even healthy, that we move and let ourselves be involved in the most diverse languages, as long as the richness and importance of each one is preserved. Therefore, “[...] it is not surprising, then, that there is a dialogue between literature and comics” (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 37, our translation), due to this relationship that “has been shown to be an efficient way for the creation of the most diverse narratives” and conveyed “ideas in different ways, revealing other ways of 'reading' and understanding the world around us” (OLIVEIRA, 2014, p. 38, our translation). That said, and to better distinguish it from literature, let's talk about the format that properly links the configurations of a comic book.
In addition, the very execution in the way of making Japanese comics has in its wake multiple artifices and techniques capable of transmitting sensibilities to any reader who is open to such an experience, due to the narrative construction that not only involves those who read but embraces what is most human in us. Not to mention that “[...] in comics, in addition to writing, the perception of meaning is complemented by the characters' facial expression, which helps to convey meaning” (LUYTEN, 2000, p. 174, our translation).
Consequently, through this conversation and interaction between visual and verbal, manga “[...] form together a meaning and an irony that are not present in any of them, separately”, being “[...] more accurate to think about comics more as a form that is mainly driven by the visual, in which the verbal often adds interest or depth” (POSTEMA, 2018, p. 116, our translation). Even so, "the vast majority of messages are", however, "perceived by readers through the interaction between the two codes" (VERGUEIRO, 2020, p. 31, our translation), which does not mean a visual language simply added to a verbal one, but its own visual-verbal language, inseparable and independent in the same narrative structure. And the narratives, we cannot forget them, are also crucial in the process of this visual-verbal contact. Because, it is with them, through the link between image and text, "[...] that we make the inconstancy of human things intelligible to ourselves, it is through the narratives that we
situate ourselves in the world, situating the place of the other", that we give a chance to access “experiences that we would hardly have from other social discourses” (DALCCASTAGNÉ, 2014, p. 183, our translation).
At this point, it is possible to imagine a significant similarity between Western and Eastern comic book productions, given the apparent proximity of narrative structures and their format, in general. However, the differences are too marked, from the approach of the subjects to the construction of the concept and the journey on the figure of the hero.
Thus, it is not a question of defining which of the formats would be the best among the best, but of emphasizing the representations that each people produce about their history, their relationship with the world and the affections of themselves and others. Obviously, depending on the work you want to prepare, the format and place of origin are important choices to consider during the research. In this way, unlike the blocks "often castrating the politically correct North American heroes", we chose mangas "for dealing with universal themes such as friendship, loyalty, courage and love", precisely because they guide the human condition with more priority, being this the cause for finding “easy identification with people of any ethnicity” (NAGADO, 2005, p. 53, our translation).
In this case, when it comes to the human condition, we have “an internal need for heroes”, as they are responsible for populating “[...] a privileged sector of our imagination, governed by fantasy” (LUYTEN, 2000, p. 69, our translation). This mastery is due to numerous factors: the historical formation of each territory, whether or not it was colonized (and if so, by whom, when and for how long), the development of language and writing, spirituality, behavior and of the ways of seeing and relating to the land you step on. In considering these factors, we will always find a unique way of representing and appropriating the world and things. It would therefore be no different with comics.
We understand that the characters present in Japanese comics are “conceived from the real world, in which people can find”, to some extent, “the ingredients to live out their fantasies” (LUYTEN, 2000, p. 40, our translation). Considered “a possibility of escape through fantasy”, manga is not simply an escape in itself, but an opening for the reader to find the paths of their strictly personal escape, treating it as “a well-behaved medium of channeling, outflowing their emotions” (LUYTEN, 2000, p. 223, our translation). In kids, evasion and fantasy “can enrich the reader, reconcile him with the absurdity of the human condition” and, significantly, “raise his hope, broaden his language and his conscience” (BOSI, 1981, p. 177, our translation).
Furthermore, having clarified part of the history and development of the manga industry in Japan and around the world, as well as some of its reception in Japanese and foreign society, we will turn our efforts to reconcile these and other learnings with those of the selected source, Assassination Classroom, with the intention of producing a research that highlights the mysterious and enchanted force that the manga holds to deal with love, fantasy and, of course, education.
As is to be expected, before we enter the work Assassination Classroom, it is necessary to introduce the reader to the story, even if briefly. Next, we will select manga pages to analyze our proposal, stripping its concepts, gathering reflections, exploring its language.
It all starts when a monster, a smiling octopus with several tentacles and a completely yellowish appearance, appears at the renowned Kunigigaoka School and demands to be the teacher of Class 3-E (last year of elementary school). Responsible for destroying 70% of the moon, it threatens to extinguish the entire earth within a year. The condition of peace that makes government leaders is only one: to be a teacher. Without choices and subjected to this whim, given the speed of the monster that goes beyond human understanding and technology, after several lost battles, the world government allows such madness, since those students could do what armies from around the world could not: that is, assassinate him. Considered a state secret, not even the family, friends and the school itself could be aware of this situation, being only known to the government and to Class 3-E. Weapons with special ammunition are provided exclusively for the murder of the professor, their firepower being harmless to humans and lethal against Koro. Promptly, Koro-sensei assents to the terms and becomes the target of daily murders in the classroom by his students.
5 The oriental reading of manga is always done from top to bottom, from right to left.
The class will start already!
Get the cartridges and bullets
Source: Matsui (2019a, p. 8)
That said, it is evidently necessary to be careful to understand the metaphors and other figures of speech present throughout the work, considering that it is a fiction that mirrors real issues. Like any other fantasy story, “just a few pages are enough for the reader to activate their 'disbelief suspension pact'” and immerse themselves “in the dramatic and adult universe of the narrative” (DALCCASTAGNÉ, 2014, p. 178, our translation). By activating this mode, we will be authorizing ourselves to learn “a knowledge about the world” through fantasy and fiction, “offering the reader ways to interpret it” (OLIVEIRA, 2010, p. 41, our translation).
In this sense, we will continue to contextualize what is necessary so as not to lose the understanding of the work while reading this article, both about Koro-sensei's trajectory and about the difficulties present in his classroom, to build bridges during his journey, about the bridges from fiction to reality.
When starting his teaching life, Koro-sensei, the name of the teacher with the face of an octopus with several tentacles, gets the approval to teach in the way he had proposed. The reward for killing him, in addition to saving the Earth of course, is 10 billion yen (Japan's official currency) for the class. Thus, Class 3-E consequently ends up becoming an entirely class of assassins, now more motivated than ever to attend school. Obviously, at first, they find this request very strange and are scared to face such a challenge. However, in a short time, they get used to the idea due to the professor's excellent classes and his full willingness to let them all assassinate him. At the Kunugigaoka school, classroom 3-E is considered a class of troubled, failed, and incompetent students. A class that, in practical terms, does not even exist: isolated and “excluded to the end”.
The classroom is far from the main building, leaving them segregated as inferiors. With nothing to lose, as they are invisible to the institution, they accept the task assigned to them. Thus, the plot continues with numerous failed attempts to assassinate the teacher, even with the most elaborate and complex strategies and traps devised by the class. Not infrequently, they try to kill him even with suicidal methods. Koro's concern for the students is such that, when he realizes that they are at risk of life in an attempt to plan an attack against him, he promptly protects them so that they do not get hurt. In this way, he rejects dirty methods and cowardly actions that put the lives of his own classmates in danger, yearning for a class where they truly care for one another, even in murder. So why does this desire to assassinate Koro-sensei motivate them so much? For money? To become heroes who will protect the Earth? No, they want to save themselves by proving their efforts to achieve what was considered impossible. Once in a lifetime, even at the expense of their existence, their value would be legitimized by society. What they did not know: that teacher was going to change everyone's lives in the most unexpected way.
This gradual acceptance by Class 3-E of the professor is due to his exacerbated empathy, provoking speeches about the class's talent and potential to be good people, even with society pointing out the opposite. Even though apparently meaningless, this mission makes them let the best of themselves stand out, given that Koro not only taught content, but educated, above all, for life (ORTEGA; GASSET, 2010). That is, regarding the skills already exercised by each one – and without any recognition from the school: from baseball players to computer geniuses; talents in chemistry and excellent sculptors; natural swimmers and good movie directors; great gymnasts and fabulous gastrologists, so on. However, the school only sees that they are mere delinquents due to one or more negative episodes that labeled them the institution's “worst students”. What matters, in the end, is the grade. Their individuality is ignored, and even those who are still good at their studies are not accepted for failing to obtain top marks, given that the highest priority of this educational system is to preserve the school's own prestige. Thus, the social dimension of these children is totally discarded. Fortunately, from Koro-sensei's lessons, they discover the richness of valuing what they already knew, with what they learned about murder.
If we get the skills needed to
But the skills that we developed…
kill
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Arara…quara, v. 16, n. esp. 3, p. 1506-1525, jun. 2021. e-ISSN: 1982-5587
We can save the world.
We can help others.
And if we acquire knowledge…
I’ve learned that we can also use them to help others.
Source: Matsui (2019b, p. 19)
The relationship that operates is to encourage our students to express their prior knowledge, common to their daily lives, making them evident. In this way, we will know how to combine what they need to know with what they already enjoy knowing.
That's why the concept of affective-knowing is an appropriate position, because as we discover the students' tastes, we intertwine knowledge with more sensitivity, with meaning for their lives, given that each student has their own objective. Further on, Class 3-E finally begins to understand that their learning in different disciplines is not just for academic purposes, but also as a fundamental power to help those in need, if they wish, through what they have learned.
Because situations
may decide
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquaryao,uvr t.a1le6nt, fnor. esp. 3, p. 1506-1525, jun. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16iesp.3.15295
you.
1515
I want to use my talent to protect others.
You can use your talent in differed ways.
is not something that you decide by yourself.
Thanks to it, I was capable of protecting my mother today.
Even if I have a talent that is perfect for assassination,
Maybe
talent
…
Source: Matsui (2019c, p. 09)
Soon, they realize that learning to murder the teacher offers them learning not only about content, but about what they want for their future. This makes them think considerably about what to do with what is learned, regardless of the lesson, a process that is possible when “the students are invited to critically recognize and unveil reality” (FREIRE, 1979, p. 125, our translation).
Hence, as they need to kill Koro-sensei, they begin from their personal abilities to do that, making them more confident in what they like and want to do later. So, even in view of his own death, Koro-Sensei is available to help them improve their skills after class, always considering the lessons in which assassination can contribute to themselves: an overcoming.
An example of this learning is when Koro-sensei decides to improve the skills of a student who is passionate about Chemistry, teaching her to elaborate a super poison capable of killing him. However, this student believes that the world of numbers and chemical processes are the only ones that truly matter, while the ability to express emotions and understand the other would be unnecessary. Thus, the student admits to being terrible in Literature. Then, when she manages to produce the powerful poison, she simply offers it and, promptly, Professor Koro tastes it – almost dying – congratulating her advance. However, he lies about the harmfulness and effect of the poison against him. And, unexpectedly, he teaches:
To fool someone, you
That’s it.
RIAEE – Revista Ibero-Americana de Estudos em Educação, Araraquara, mv.u1s6t ,knn.oewspy.o3u,rp. 1506-1525, jun. 2021. e-ISSN: 1982-5587
DOI: https://doi.org/10.21723/riaee.v16iesp.3.15295
opponent
1516
Your talent in sciences can be useful for everyone in the future
Learn more about
the power of language and its role in “delivering” poisons
If you want to be recognized by everyone
…
to deliver a poison to someone
And must plan your words
The power
of language is crucial
Source: Matsui (2019d, p. 16-17)
That is, the teacher pays attention to “teaching the need for a science and not teaching a science whose need is impossible to make the student feel” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 70), expanding the student's knowledge in the area in which she already felt good, using her pleasure as a bridge to make her understand the importance of another area, which she had previously despised: literature. In this situation, what good would it do to make fatal poisons without knowing the possibilities of persuasion and manipulation also incited by the use of language? That is, without literature, with its fictions that talk about realities in a different language, with “the power to know the real through the imagination” (OLIVEIRA, 2010, p. 49, our translation), we are left without the support to express what we feel. Therefore, "studying is not enough", but to make one "authentically feel its need, that the issues to be studied concern me spontaneously and truly" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 70, our translation), broadening the perspectives of knowledge that already we nurture with passion.
Based on this reasoning, it is understood that "killing" is the vital metaphor for the learning of any teacher and student: a life-death-life cycle, changing a thought, displacing a previously absolute knowledge, considering an angle never imagined. It is the leap from the abyss of what is unusual, unknown, distant. Proof of this is that we often need to eliminate behaviors, habits and even ideas, so that we can recreate them from a different view and perspective of the world, with death being the transition point for the novelty of different versions from ourselves, the courage to “go the distance necessary to reach the other” (ESTÉS, 1999, p. 106, our translation). In fact, we need this to be common in our lives: it is
when we are on the move that change occurs (to us). To grow and “for human beings to live”, it is vital “to face what is most feared”, perhaps the very death of oneself (ESTÉS, 1999, p. 98, our translation). That is why assassination and education have a lot of connection in the Assassination Classroom story, since there is a connection between them. So, murder is about learning how to build a path to achieve what you want, a goal or a dream.
Thus, what Professor Koro longs for his students is an assassination, nothing less, of their own frustrations, fears and failures, elements responsible for chaining their most singular dreams and desires in the deepest core of your hearts. He therefore desires them to surpass themselves.
m
to
f
You are free from trying to assassinate me
But you know…
the more you
“killing” is very common in our routines.
In fact, the
ore you try make your amily accept
you…
kill your own personality.
Source: Matsui (2019e, p. 8)
Here, overcoming means not a process of exclusion, but of integration. In other words, for us to overcome something, it is necessary that we assimilate it into our lives, whether it is fear, frustration. By overcoming Professor Koro, they are affirming a learning experience that assumes teamwork, that is, of needing each other, since no one lives, builds or achieves anything alone. This truth is even understood by teaching itself, that “it is deeply a profession in the field of human relations”, therefore, it needs the other to flourish (PEREIRA, et al., 2020, p. 93). And this is a fact for us, educators, since we also need students to better form us as teachers, but above all as humans. From these words, we will get to know better the teaching impregnated by the character Koro-sensei.
In order to know the teaching in which the murder teacher is later immersed, it is necessary to know an important part of his past. First of all, Koro-sensei was a human. Known as “the god of death”, he was considered the greatest murderer in all of history. When finally captured, he is exposed to a secret experiment by a group of scientists that unexpectedly fails, turning him into the monster we know. In this scenario, after the laboratory explosion, he notices the deathbed of a friend who has been injured by the rubble and listens attentively to her last request: to use his incredible power not to continue his old work, but to devote himself entirely to education. Respecting the bond they built during the experiment, he accepts the request and goes on the trail of teaching.
In other words, the example of Koro-sensei's character serves to make us think that neither the environment in which we were born nor what we do with the opportunities that are given to us in the heat of our moments, define our character and our history. “There is no activity more intimate than the work of assigning meaning”, and that is why we decide what to do with what affects us (CYRULNIK, 2006, p. 13, our translation), since “we would not even be able to find out who we are” if “our existence was peaceful” (CYRULNIK, 2013, p. 23, our translation). Comfort, then, does not mobilize anyone to new consciousness. After all, what we do with what is imposed on us by force is the difference for a transformation.
What society forces us to do due to the circumstances of the environment in which we grew up, may, yes, distort our way of seeing things and people, but it will never define our character. For that, there are opportunities and chances that not everyone is alive long enough to find. One of them is when we find ourselves in a difficult, confused situation, surrounded by "a jungle, closed, tangled, tenebrous, in which we cannot walk, under penalty of getting lost", and "someone appears who explains the situation to us with a happy idea” (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 56, our translation); when someone enters our lives, messing up our dreams, organizing our pains, questioning our beliefs: a teacher who believes in those he teaches, making every effort to rescue the private dreams of each one.
This donation, and why not also call it sacrifice, that the teacher undertakes for his classes, has nothing to do with romanticizing the profession, but suggesting that there is sensitivity in it, instigating "courage and curiosity, love and hate, intellectual agility, the desire to be happy and win, confidence in oneself and in the world, the imagination” of students (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 27, our translation).
and have
h
…
Then I
shouldn’t ave become a teacher
….
not the
required resolve to do everything
If I was not
flexible enough to adapt to the situation
Source: Matsui (2019f, p. 12)
In short, this gives us a look to realize the sacrifice that exists in our teaching profession: how much do we have to abdicate to save our students? That is, if just once, when we had the time to help a student in a small challenge/problem, would not we be demonstrating how important they are to us? Is it any use forcing them to learn content that has nothing to do with their lives? By maintaining and operating the maintenance of an affectionate relationship with them, would not we be taking the first step to know what they really need to learn? How do you know what matters to be taught or not taught if we do not care about what they want to learn? If the child is not being “involved in an atmosphere of daring and magnanimous, ambitious and stimulating feelings” (ORTEGA Y GASSET, 2010,
p. 27, our translation), we will not reach any conclusions. To understand so many questions and teaching itself, it is first necessary to understand this other that makes it possible for us to constantly (re)construct, bring it closer and listen to it, since “the progressive mastery of work leads to an opening in relation to the construction of their own learning, of their own experiences” (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 231, our translation).
Now, how can we learn to relearn if we are not able to recognize our own setbacks and defeats, even small mistakes? In the teaching adventure, it is an indispensable requirement to be seriously considered, without needing any super speed or incredible powers, but only the courage to respect our own inconclusiveness as educators and, above all, as humans. Fortunately, “over time, teachers learn to know and accept their own limits”, making them increasingly “more flexible” (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 231). Therefore, sensitive contacts, whether in relationships or in the materials worked, it becomes essential to perceive the weakness of things. In this sense, nothing better than getting lost in the arts: by leaning, for example, on the charms of a literary text such as manga, "there is the possibility of recovering for us, in us, the beauty that we have and do not know, or we only intuit, and what
we have lost”, as well as “a very concrete possibility of seeing and feeling reality in an unusual way” (OLIVEIRA, 2010, p. 46, our translation).
And this aspect clearly resides in our teacher Koro: being flawed. Yes, although super speedy and versatile in many superhuman ways, it still manages to be flawed in certain situations. And this is not the main point: it is to admit the error and learn from it, either from the observation of the students or by turning his gaze inward.
That is, whether because we have learned this defensive posture of denying mistakes and failures from our own university professors; be it because we assume that by admitting our stumbling blocks in front of students we are “downgrading from a professional level”, becoming a mediocre teacher; in other words, “losing their respect”, clearly presupposing a historical relationship of knowledge hierarchy, in which we always know everything just because we are teachers, it is at least coherent to point out: we have difficulties in sharing our gaps. However, as a teacher, Koro teaches us not to fear this inevitable reality: he brings his mistakes to light in front of the whole class, as often as necessary, because before anything else he suffers from a condition that is none other than human.
In other words, how will we practice the idea of being immersed in an incompleteness that is constitutive, if we do not overcome – or here, murder – what blocks the dance of our steps? We need to interpret and understand the other that constitutes us, and for that, we have to read the place where we are located, read the world before anything else (FREIRE, 1988, p. 9). In other words, to walk, we need freedom and experience in this dance, so that we can move, step by step. This is only possible through the attitude of learning from the mistakes of our profession and, based on them, transforming our behaviors and methods, sensitizing ourselves to a teaching watered by affection. To cultivate the very need and beauty that lies in constantly changing and rethinking their teaching practice, teachers need to destroy several images of themselves along their arduous journey, not only to find a supposed identity in their profession, but to not allow to oneself a disastrous immobile condition: that of comfort. The exit? Continue (re)learning.
In teacher education, this task should not be so uncommon. A teacher who does not do everything in his power to change his posture and, therefore, touch the hearts of his students when it comes to listening carefully to them, has a huge professional and affective hole in his career. Without listening to their voices, we are unable to help them.
Hence the need to kill the ideas and beliefs that imprison new openings of ourselves to the world and to the other, having, in this death, the possibility of growing a life, at least, different. We understand that through the term “assassination”, used in the work, we can
adapt the idea of “overcoming” oneself and the other, that is, from the old story of the apprentice who surpasses his dear teacher, considering neither the knowledge nor the master, but the student himself as a priority (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 31).
I mean, in teaching, we want our students to be able to go beyond what we propose and present, hence our constant insistence that they participate in debates and dialogues. A teacher, like Koro-sensei, needs to open up to the possibilities of being reached, allowing the touch of relationships during the process. Getting to know his student, welcoming him in a pedagogical embrace capable of building affection, in order to finally be able to teach him, "what is required to live up to his time, and what he can learn with ease and fullness" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 31, our translation), is fundamental for a genuinely human formation in teaching.
By always being open to the unknown and the unheard of, or by bullets in the case of Koro-sensei, the teacher becomes able to understand that he also learns about his profession every day, observing "the ethical and moral values of the human being" that result in “formation throughout existence”, responsible for contributing to “the ability to read the world and reflect on it” (OLIVEIRA, 2010, p. 52, our translation), in a lifelong dance full of incomplete, yet constitutive, movements for our edification as a teacher. Only then will we be able, like Teacher Koro, to guide our students about the importance of what they already know and will learn for a living, about "relation oneself with the world, addressing it, acting in it, taking care of it" (ORTEGA Y GASSET, 2010, p. 54, our translation). That is, in educating them for life.
Furthermore, suspending the beliefs of reality to better capture and adhere to the ideas of a fiction, we perceive the capacity of this manga to address two fundamental points in the life of a teacher: their continuous formation and their constant self-donation in the teaching- learning process. Even though it seems unreasonable to draw a comparison of a teacher like Koro to our reality, we know that, when it comes to love for teaching and the desire to change the world from a classroom, there are already teachers like that. What we need to worry about is multiplying this rare kind of professional, who hears the sound of affective knowledge pulsating between what he teaches and for those who teach, a harmonious donation, perhaps through the comics that "there they are, ready to be discovered and used” (VERGUEIRO; RAMOS, 2020, p. 41, our translation).
By the way, it is not pretension to see this work, as well as any other that is analyzed in this tone, as a point of arrival for absolutely nothing. And rather as a starting point that expands its possibilities, similar to a bridge, connecting one type knowledge to many others, being up to “the teacher to choose the story that best fits his pedagogical proposal” (BARBOSA, 2020, p. 125). In this sense, using this work to think about teaching, teacher education and the teacher-student relationship is an artistic and literary way of thinking about the beauty of the process of closing certainties and starting changes in oneself and the other. And what we do with that is for another story.
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