LAS CONTRADICCIONES DE LA TEMPORALIDAD POST-MODERNA, A LA LUZ DE LA NUEVA PANDEMIA DEL CORONAVIRUS
THE CONTRADICTIONS OF POST-MODERN TEMPORALITY IN THE LIGHT OF THE NEW CORONAVIRUS PANDEMIC
Eduardo DUQUE1 José Francisco DURÁN VÁZQUEZ2
RESUMEN: En este artículo se reflexiona sobre el modo en que habitamos una época de creciente complejidad, que semejaba haber superado todos los problemas, dada la seguridad y la confianza que parecían conferirnos los procesos científicos y tecnológicos. No obstante, cuando estos procesos, como ocurre ahora en la pandemia de Coronavirus, muestran su fragilidad, revelan, como nunca anteriormente, sus debilidades. Debilidades que son la consecuencia de depositar todo el valor objetivo en dichos procesos, creyendo que en ellos estaba la capacidad de redimirnos de todos nuestros males. Haber perseguido la innovación y el éxito a toda costa, sin demasiados principios éticos, ni respeto por la naturaleza y por nuestros congéneres; sin tener en cuenta el pasado ni anclarse en el futuro, ha reducido la estabilidad y la seguridad estructural de las sociedades y de los individuos que las integran.
PALABRAS CLAVE: Tiempo. Temporalidades. Cambio social. Pandemia. COVID-19.
1 Universidade Católica Portuguesa (UCP), Braga – Portugal. Professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais. Membro Integrado do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (UM). Doutorado em Sociologia (UCM) – Espanha. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4719-3148. E-mail: eduardoduque@ucp.pt
2 Universidade de Vigo (UVIGO), Vigo – Espanha. Professor de Sociologia. Doutorado em Sociologia. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7440-0168. E-mail: joseduran@uvigo.es
ABSTRACT: This article reflects on how much we live in a time of increasing complexity, which seemed to have already overcome all problems, given the security that confidence in scientific and technological processes seemed to have returned to us. But when these processes, as now happens in the Coronavirus pandemic, show their weakness, they reveal, as never before, their weaknesses. These are the weaknesses that result from depositing all the objective value in these processes, believing that in them was the capacity to redeem us from all our ills. Running after innovation and success at all costs, without ethics, without respect for nature and for others, without regard for the past and without anchoring the future in it, reduces the stability and structural security of the societies and individuals that compose them.
KEYWORDS: Time. Temporalities. Social change. Pandemic. COVID-19.
O ser humano, ao longo da história, sempre desejou compreender o tempo, de forma a antever o futuro (BOURDIEU, 1998). Para isso, as sociedades tradicionais serviam-se de oráculos e profecias. O homem moderno impôs um conhecimento metódico, assente na razão científica, recorrendo com frequência ao planeamento e à prospetiva. O futuro resiste a prognósticos fáceis e dóceis, por motivos do tipo estrutural, relacionados com a natureza da sociedade (RAMOS, 2007). Contudo, o dinamismo da modernidade necessita e quer conhecê- lo. Quem se limita ao que está a acontecer nem sequer compreende o que acontece. A imaginação substituiu boa parte do espaço dado à observação (ROUANET, 2012). O futuro transformou-se num tempo enigmático, devido à complexidade do mundo, opaco e incaptável, voltado para a inovação e entretecido numa teia de interdependências. A antevisão e prospetiva podem estar afastadas das nossas capacidades, em virtude da sua irredutível incerteza.
O homem sempre se muniu de instrumentos (meios) de previsão do futuro, mas esbarrou no elemento de inovação e imprevisibilidade, impedindo-o de obter proteção contra certezas absolutas e surpresas.
O esquema tradicional e arcaico, baseado em conceções de transformações rituais dos ciclos em círculos e de modelos originais, neutraliza o carácter de futuro aberto, concebendo- o como continuação do presente (ELCHARDUS; SMITS, 2006). Aqui, impera o reino do destino já escrito e não conhecido (ELIAS, 1989; HUBERT, 1992; SUE, 1995).
Eis aqui - escreve Marco Aurélio nas suas Meditações - as propriedades da alma razoável, ela viaja pelo mundo inteiro e pelo vazio que a rodeia; examina a sua configuração; a sua visão estende-se para a eternidade; ela abraça e aprecia a renovação periódica do universo; ela acredita que aqueles
que virão depois de nós não verão nada de novo, como aqueles que vieram antes de nós não viram nada além do que vemos agora, e que um homem que viveu quarenta anos, por pouco que tenha entendido, viu pouco mais ou menos quanto o precedeu e o que se seguirá, pois tudo continua uniformemente (MARCO AURÉLIO, 2004, Livro XI).
É, portanto, o passado da tradição que guia e dá sentido à vida, proporcionando segurança ao presente e ao futuro, percebidos em relação a um passado já conhecido. “Somente quem tem a tradição tem a medida”, escreveu o poeta grego Teognis (JAEGER, 1996, p. 191). Uma medida que dá profundidade ao tempo. A origem da cidade de Roma – ab urbe condita – significava precisamente a ligação a um tempo fundacional, a um princípio que desdobra o significado da história, projetando-o no presente e no futuro (REVAULT D’ALLONNES, 2008, p. 73).
O contexto estabelecido dava confiança a possibilidades de descobrir o segredo do destino e de adivinhar o além do presente: profecias, adivinhações, vaticínios, oráculos e visionários. O futuro estava latente e o esforço era dirigido para o descobrir, adivinhar, no sentido de alterar um destino a que não se podia fugir. Platão assim referia:
Não viste que, quando pratica por muito tempo e desde a infância, a imitação se infiltra no corpo, na voz, no modo de ser, e transforma o caráter alterando a sua natureza? (PLATÃO, 2003, p. 187)
Contrariamente ao tempo platônico, a contemporaneidade reivindica para si um modo próprio de fazer e construir o futuro. Revoltou-se contra a fatalidade de um destino inexorável e sem capacidade de intervenção. Ela quer construir um futuro humanamente configurável, aberto e indeterminado pela individualidade de cada sujeito (BAUMAN, 2000; SENNET, 2007). O olhar para o horizonte permite-lhe a prospetiva, as previsões científicas, a planificação política e a previsão econômica.
O futuro passa assim a ser sujeito de esboço, projeto, plano, gestão e regulamento. Os especialistas observam o presente para produzir o futuro desejado. Num mundo moderno, mecanicista, linear de causas e efeitos, a capacidade de projetar o futuro era uma metáfora poderosa de antevisão dos processos sociais e organizativos, bem como de realidades físicas (KOSELLECK, 1993; NOWOTNY, 1994). Esta metáfora converteu-se na palpável realidade quotidiana para a maioria da população, quando o desenvolvimento da sociedade do trabalho, primeiro, e a do consumo, depois, abriram às novas classes médias uma possibilidade nunca vista de realização pessoal (BURY, 2009; POMIAN, 1984).
Na contemporaneidade, a evolução entende o futuro como uma complexa cadeia de acontecimentos de vários significados e apenas com hipóteses de antevisão por indagação sobre o possível e verosímil e, neste aspeto, o nosso conhecimento torna-se muito débil.
Não sendo o futuro a reposição do presente (Luhmann, 1996), mas algo desconhecido, fundado na inovação, a abertura ao futuro significa inevitavelmente um projeto vacilante. Se se conhecesse o dia de amanhã, ele seria um presente contínuo e não seria o futuro. Sucede como se o presente estendesse o seu horizonte a tal ponto que permitisse vislumbrar o futuro como um presente iminente (NOWOTNY, 1994).
Assim, acontece, de forma sincrónica, o campo de projeção de esperanças e medos, um cenário de batalha. A prospetiva social está eivada de referências positivas, como a esperança, e negativas, como o medo (INNERARITY, 2011).
O indivíduo contemporâneo está sobrecarregado de decisões, levando a que este se apavore e tenha modos irracionais de se comportar. Quando tal acontece, deixa de haver o distanciamento necessário para a tomada de boas decisões, já que a pessoa perde as suas bases de estabilidade e, naturalmente, torna-se desorientada e insegura, perdendo como que o sentido das suas ações e, no limite, o sentido da sua vida (ARIÈS, 1988; GIDDENS, 1991).
Os efeitos negativos de uma sociedade que obriga à tomada urgente de decisões são visíveis na cultura hodierna, observa-se no modo de governar e das organizações. Como refere Innerarity (2011), quem tem grandes responsabilidades de decidir, tem que o fazer muitas vezes de forma imprevista e nem sempre com toda a informação ou compreensão dos fenômenos pelos quais está a decidir.
Até se poderia dizer que, atendendo aos custos da decisão e da responsabilidade seria mais adequado, por vezes, ter um leque com menos opções do que muitas oportunidades. Claro que o risco da opção aumenta, mas por outro lado também supõe maior liberdade na ação. A tomada de decisão implica precisamente a ousadia da escolha. Porque, de fato, à medida que os dias da pandemia de coronavírus se tornam evidentes, quando a sociedade enfrenta grandes riscos, não há mais opção a considerar, só é possível agir, tomar decisões. Mas toda a ação abre também caminho para a esperança, para o que fazer e, certamente, algo pode ser feito. Tudo isso requer a necessária confiança. E isso só pode surgir do mundo que nós, seres humanos, temos em comum. É assim que podemos prometer que não voltaremos a fazer o que fizemos ou que o faremos e continuaremos a fazer (ARENDT, 1998, p. 262). A
confiança nasce assim da nossa condição temporal e mundana. Remete-nos do presente ao passado, para negá-lo ou afirmá-lo, e dali também para o futuro para decidir se devemos continuar ou começar de novo.
A sociedade moderna tem sido, por norma, uma sociedade otimista, com uma abertura a novas possibilidades da autoconfiguração, ainda que algumas vezes sejam surpreendidos como o contrário. Como refere Innerarity (2011, p. 70), “uma sociedade democrática é uma sociedade em que aumenta o âmbito do que tem de ser decidido, mas estas decisões não são decisões soberanas, exercem-se num tecido em que os autores políticos dependem, por sua vez, da ação de muitos autores”.
Os decisores sociais, na urgência da decisão, têm que ponderar o motivo da tomada de decisões de acordo com os critérios de racionalidade, da complexidade social, da configuração temporal e espacial, etc., conscientes de que todos estes critérios são interdependentes e justificam-se porque as sociedades contemporâneas estão todas elas ligadas na mesma teia.
Nas sociedades tradicionais uma determinada tomada de uma decisão, por regra, não interferia com o outro, porque todos os processos eram demasiado estanques, mas, nas sociedades complexas, os atos não são isolados, mas socialmente interdependentes (ADAM, 2003; 2004; URRY, 2002; VIRILIO, 1997). Para isso, muito contribui a informação de que hoje se dispõe.
O excesso de informação típico das sociedades funcionalmente diferenciadas – que é, muitas vezes, lacunas e fake news –, em vez de gerar mentes esclarecidas, produz sociedades ambíguas e incertas. É necessário estar atento à informação que se recebe, de modo a saber administrá-la.
Não são os sistemas de informação que originam uma diminuição do fluxo informativo (THOMPSON, 1998), pelo contrário, este é resultado de um saber selecionar amadurecido. Portanto, as nossas sociedades não podem ignorar a elaboração da informação, de forma a que ela possua e conceba, mesmo que implicitamente, estruturas de sentido.
Assim, podemos dizer que estamos diante de um jogo e, através das informações que chegam até nós, podemos ganhar ou perder.
As sociedades complexas estão envolvidas num sistema de interdependências de fatos encadeados que, numa primeira análise, se afiguram ingovernáveis, o que condiciona a
questão da responsabilidade, da qual ninguém gosta de prestar contas. Neste sentido, é urgente trabalhar a capacidade de leitura e antecipação das consequências, as quais devem atender à leitura dos sinais atuais, de forma a evitar que não se entre somente em ação quando a crise se torna absolutamente presente. Sempre que tal acontecer, significa que as sociedades não estão devidamente preparadas para enfrentar os ventos do futuro (RICOTTA, 2006) que, sabemos bem, exigirão muita sapiência, mas também humildade para saber aceitar que há muitos elementos que, por mais fáceis que sejam de leitura, continuam, aos olhos do tempo presente, muito impenetráveis: são tempos espessos, que exigem mais tempo para neles se entrar.
Os tempos presentes exigem que construamos uma responsabilidade comum. Como dizia Arendt (1973, p. 283) em The Origins of Totalitarianism: “O caso de um só é o caso de todos”, o que acontecerá mais pela iniciativa e pelo dom de cada um do que pela uma via normativa. Por esta mesma razão, diz-nos Innerarity (2011), é que as crises financeiras ou de saúde coletiva são um exemplo de como é difícil remeter os prejuízos coletivos para causas identificáveis ou atuar com critérios morais no meio destes processos num mundo em onde todos somos interdependentes, o que aumenta o número de irresponsabilidades e de ações que não são facilmente imputáveis. Para Innerarity (2011, p. 90):
[...] o problema está em como representar essa responsabilidade num momento em que perdeu evidência a relação entre o meu comportamento individual e os resultados globais, de aí que se torna urgente elaborar um conceito de responsabilidade que atenda à atual complexidade social e corresponda às nossas expectativas razoáveis de conseguir um mundo que possa ser governado e pelo qual nos responsabilizemos.
A responsabilidade a que se apela aqui será, então, muito mais ampla; que contempla efeitos não desejados, imprevisíveis e desconhecidos que não podem ser imputados aos autores, o que quer dizer que os limites da imputação terão de ser alargados para lá do horizonte do saber e da experiência, do modelo tradicional de controle sobre as formas triviais da ação, para a responsabilidade que parte dos processos complexos, em que há auto- organização e interações hierárquicas.
Neste mesmo sentido, nas sociedades complexas, aquelas que se prepararam para deixar entrar o futuro, ou seja, quem tem o poder, terá que o reorientar facilitando dinâmicas criativas, processos abertos e transparentes, terá que ter capacidade de gerir riscos individuais e coletivos e atender à segurança como um bem precioso.
Desta forma, é preciso trabalhar no tempo presente a responsabilidade do tempo futuro. Não se pode continuar a agir como que só houvesse presente, é necessário ser mais audaz e dar um passo, partilhando a responsabilidade de hoje com a do dia de amanhã.
É necessário – nas palavras de Arendt (1999, p. 106-107) – “estabelecer no oceano da insegurança do futuro ilhas de segurança”. E para isso, temos que contar não apenas com a possibilidade de prometer, com confiança, o que se pretende fazer no futuro, mas também com a possibilidade de perdoar o que foi feito no passado. Assim, longe de cortar os laços com o pretérito, o que fazemos, deste modo, é libertar-nos das suas amarras, tornando possível um novo começo que nos permita enfrentar com confiança o presente e o futuro.
O ser humano torna-se, assim, melhor pessoa e vive o tempo presente não como quem está sempre a pagar as obrigações do tempo passado, mas como quem quer ganhar o tempo futuro. Precisa-se, portanto, de assumir uma responsabilidade prospetiva que anteveja, previna e configure respostas mais inteligentes capazes de responder aos novos desafios.
Finalmente, neste presente com os olhos no futuro, seria bom que a consciência da limitação do nosso saber face à imprevisibilidade do futuro se torne arma de combate contra as políticas imperialistas e de arrogância que se impõem sobremaneira nas nossas sociedades.
A ação política mergulhou numa fase de grandes limitações, uma vez que a figura do herói foi aniquilada e os discursos épicos que anunciam as crises deixaram de atrair os cidadãos. Neste sentido, estamos perante um presente extasiado de mediocridade, onde os discursos heroicos já não mobilizam nem desinstalam e, até mesmo pelo contrário, são voltados ao indiferentismo e ostracismo.
Perante tal cenário, surge a necessidade de novos paradigmas, que sejam capazes de dar respostas às novas circunstâncias. Paradigmas que mobilizem as pessoas, que as façam levantar por novas causas, que as motivem a sair de suas casas, casas essas que as deixam confinadas ao conforto.
O conforto, típico da nossa sociedade, não ajuda à transformação da comunidade. Ajuda, isso sim, a alimentar os egos, suscita o individualismo e absolutiza formas de pensar muito solipsísticas. Por isso, propõe-se políticas que eliminem os acordos absolutos e que superem as divergências absolutas. O que urge, de facto, são projetos sem predeterminação, mas sempre abertos a novas formulações e alternativas, projetos peregrinos de novos saberes, prontos para acolher ideias de todos os quadrantes.
Neste contexto, surge a necessidade de uma revolução copernicana, capaz de modificar em profundidade o modo de conceber política. O enquadramento clássico que, como todos perceberam, já não dá respostas. O governo tem que governar e não governar-se. Tem de investir nas pessoas, de ver mais à frente, deixando cair os populismos. Tem de estabelecer fortes laços com o futuro, que não é planificável nem fruto de adivinhação e, por isso, não há tempo para os amadorismos, é preciso gente que seja gente. Gente que estude, que respeite o peso do voto e que queira construir pontes para os que vêm depois de nós.
O futuro é algo de novo, que vem ao encontro do ser humano, daí a necessidade de o antecipar com coração aberto e transparente. Trata-se de um jogo inteligente, lançado através da inteligência humana, sem viciação, onde todos os seres humanos jogam em relação e cujo resultado final, fruto da complexidade das interações, ainda não está determinado. Determina- se, no dia-a-dia.
A forma de operar na política, muitas vezes atabalhoada, sem transparência e sem verticalidade, está muito distante das exigências dos novos tempos. É preciso, portanto, suscitar nas nossas sociedades um novo paradigma social! É preciso superar, em definitivo, o ambiente geral de crise em que a modernidade ocidental se instalou (ROSA, 2019). Mas também é necessário transcender tanto o diagnóstico da crise como a resposta do contínuo reformismo inovador (LE GOFF, 2002). Um reformismo que apenas repara a urgência do momento, no imediatismo do presente, quebrando toda a consciência do passado, sem a qual não pode haver um projeto do presente nem de futuro. Porque, de facto, somente a partir da perspetiva do antigo, o novo pode dar à luz uma outra vida, precisamente porque “se desprende de tudo o que havia” (ZAMBRANO, 1992, p. 14). Somente assim, poderemos sair da incerteza que nos envolve. Como refere Bauman (2001, p. 170):
A incerteza do presente é uma poderosa força individualizadora. Ela divide em vez de unir, e como não há maneira de dizer quem acordará no próximo dia em qual divisão, a ideia de “interesse comum” fica cada vez mais nebulosa e perde todo valor prático. [...] Os medos, ansiedades e angústias contemporâneos são feitos para serem sofridos em solidão. Não se somam, não se acumulam numa “causa comum”, não têm endereço específico, e muito menos óbvio.
Este processo é alimentado pela própria lógica dos sistemas democráticos que, por um lado, têm que tomar decisões com a rapidez exigida pelo ritmo acelerado das sociedades pós- industriais e, por outro lado, eles próprios favorecem, com as suas performances, a mesma dinâmica. Portanto, qualquer sensação de desaceleração deste movimento é interpretada como um sintoma de crise, que é – diga-se – a única interpretação possível para o referido
abrandamento, pelo que rapidamente se volta a retomar o ritmo frenético, delirante, a toda a velocidade, porque é a este ritmo que a sociedade contemporânea se habituou a resolver as suas crises (HAN, 2016). Justamente por este motivo, a política e a gestão democráticas são direcionadas para continuar a acelerar o ritmo, e isso é afirmado repetidamente pelos líderes políticos. “Na pós-modernidade – escreve Harmut Rosa – a possibilidade da condução política do desenvolvimento da sociedade... tornou-se questionável: a política já não aparece como o marca-passo da sociedade, mas como o corpo de bombeiros que fica para trás e procura sair do problema” (ROSA, 2019, p. 287-288). Gera-se, assim, uma espiral em crescimento contínuo, que se retroalimenta com a sua própria energia e que nunca parece estar satisfeita. A matéria de que se nutre não é outra senão o desejo de superar a situação anterior, que é rapidamente dominada por outra, anunciada como ameaçadora. Tudo isto gera uma inquietude enorme que impulsiona de novo a mesma dinâmica, elevada ao princípio moral da pós- modernidade.
Como nos advertiram Adorno e Horkheimer (1995, p. 126):
A máquina gira sem sair do lugar. Ao mesmo tempo que já determina o consumo, ela descarta o que ainda não foi experimentado porque é um risco. [...] Nada deve ficar como era, tudo deve estar em constante movimento. Pois só a vitória universal do ritmo da produção e reprodução mecânica é a garantia de que nada mudará, de que nada surgirá que não se adapte.
Todas as projeções e promessas da política definharam, embora ainda se conserve a diversidade de opiniões, manifestados já não tanto entre os confrontos direita/esquerda, mas entre estes e os que ocupam os lugares radicalizados, quer sejam os de direita ou os de esquerda. Ora, poder-se-ia perguntar: a que é que se deve o surgimento destes extremismos? A resposta poderia suscitar nova pergunta: e o que é que a política tem feito pelos cidadãos? A política tem oferecido um saber escasso, carente de oportunidades e alternativas; muita centrada no seu umbigo, sem capacidade de ler o futuro e de construir pontes sobre as grandes prioridades, não as de hoje, mas as do futuro. Desta forma, a vida política do presente tem sido muito arrogante, deixando a porta aberta para que a arrogância, valor dos extremistas, ganhe expressão. Uma arrogância que nasce também da deceção experimentada pelas populações, que esperam contínuos movimentos que levem a melhorias de todos os tipos, que, em boa verdade, nunca acabam por consumar-se. Isto é especialmente visível em tempos de crise, quando surgem gurus que, para atrair a população, anunciam que vão acabar com a
situação anterior, prometendo mais movimento em forma de crescimento. Um crescimento que, no entanto, já não tem capacidade de construir o futuro, porque a única coisa que faz é desgastá-lo com a mesma lógica de crescimento (ROSA, 2016; 2019, p. 547). Quanto mais promete crescer para acabar com o desemprego, mais sofrem também aqueles que trabalham, visto que são arrancados repetidamente dos seus contextos de vida (SENNETT, 2001); quanto mais apelos são feitos para melhorar os rankings de educação, mais os professores e os alunos se sentem alheios ao ensino e à educação (DURÁN; DUQUE, 2019); quanto mais se consome, mais a vida é consumida, por isso, há que a renovar uma e outra vez fazendo novos consumos (GONZÁLEZ-ANLEO, 2014). Quanto mais as pessoas falam em conservar o planeta, mais ele é destruído com o aumento da produtividade e com um ritmo de vida que ninguém quer deixar, nem mesmo aqueles que parecem mais sensibilizados por tudo isso. Em suma, toda esta lógica de acumulação constante arranca-nos cada vez mais dos nossos mundos de vida, das nossas seguranças, para nos submetermos ao único que conta, que é a mudança permanente, segundo a qual tudo o que ontem era verdadeiro hoje deixa de ser, e assim será amanhã. E, o pior disto, é o que nos dizem, que este é o único modo pelo qual podemos construir as nossas identidades, compondo-as e recompondo-as uma e outra vez, num processo contínuo de destruição criativa (BAUMAN, 2009, p. 93; 2010, p. 21). Porque, de contrário, se não procurarmos ser cada dia mais – ou seja, mais capazes do que éramos no dia anterior, sabendo que esta capacidade, longe de se ir completando, se vai também esvaziando cada dia, pelo que a devemos continuar a preencher diariamente –, se não procurarmos tudo isto, dizíamos, seremos velhos e inúteis para o mundo.
Falta, à vida política da nossa sociedade, a consciência de que o tempo presente é frágil e incerto, mas a própria incerteza tem que ser construída de outra forma, à margem da lógica da escalada do crescimento (ROSA, 2019, p. 517). É deste saber que se deve construir o dia de hoje e partir para o futuro.
A modernidade depositou uma grande confiança na ciência, como algo que seria certo e que poderia estruturar a sociedade. Isto, de certa forma, é verdade. Porém, não é a verdade absoluta. Percebeu-se que houve e que há muita ciência a ruir. As certezas absolutas entraram em falência, dando lugar a convicções sem evidências. A confiança nesta ciência poderia ser comparada com o futuro tecnocrata, que pensava que, agindo e programando de uma certa forma, o futuro seria certo e constante. No entanto, isso foi um fracasso, pois o futuro, como já referimos, é composto por variáveis latentes e um tecido muito opaco. Portanto, a grande urgência é assumir que dispomos de um saber frágil e limitado.
A modernidade, desde os seus inícios, tem depositado a sua confiança nos processos científicos e tecnológicos e, ao fazê-lo, também lhes devolveu a sua segurança. Mas quando estes processos, como agora acontece na pandemia de Coronavírus, mostram a sua fragilidade, eles revelam-nos, como nunca tinha acontecido, as suas debilidades. Fraquezas essas que resultam de depositar todo o valor objetivo nesses processos, acreditando que neles estava a capacidade de nos redimir de todos os nossos males. Mas essa crença, se não for impulsionada por outra maior nos fins para os quais aqueles se devem dirigir, então, terão pouco valor e utilidade. Além disso, desaparecerão com a verdade objetiva que parecia sustentá-los. “Inclusive mesmo quando estão construídos tendo em conta todas as regras da ciência”, escreveu Durkheim (1992, p. 407), “os conceitos não alcançam apenas autoridade por causa do seu valor objetivo. Para que se acredite neles, não basta que sejam verdadeiros. Se eles não se harmonizarem com outras crenças, com outras opiniões, numa palavra, com o conjunto de representações coletivas, serão negados”. Dizendo de oura forma, as crenças encorajam-nos a agir num determinado sentido; vinculam-nos com um objetivo com o qual estamos comprometidos. Só assim poderemos decidir com certa segurança e confiança, “dispondo do futuro como se fosse o presente” (ARENDT, 1998, p. 264).
A vida social é como uma orquestra, onde ninguém anula ninguém. Para isso, a preocupação constante deve ser trabalhar o princípio do contraditório, que passa por saber gerir as opiniões e pensamentos diferentes, porque eles mais do conflituar podem complementar, mais do que destruir podem desconstruir, e é daqui que nasce o novo, o porvir. Neste sentido, a grande missão das sociedades complexas consistiria em gerir de forma ordenada os desacordos, como quem desconstrói providencialmente para construir sabiamente.
De facto, a capacidade intacta que o futuro guarda de ser construído e a sua imprevisibilidade é o que nos atrai para ele, gerando uma forte tensão entre o já e o ainda não, embora o ainda não esteja já de forma muito latente no presente (KOSELLECK, 1993). É nesta tensão que tem que se aprender a viver.
A sociedade atual é uma verdadeira praça pública, onde a pluralidade de ofertas se entrecruza e onde a heterogeneidade de atitudes, valores e comportamentos não só é possível como aconselhável. É a complexidade social em gestão.
Na contemporaneidade assiste-se a grandes conquistas que não são o resultado das iniciativas de uma única pessoa ou instituição. É da constante tensão da partilha do conhecimento que advêm as grandes conquistas.
A política, em parte, cedeu o seu lugar. Como cedeu a educação, a religião, a família, e grande parte das instituições. O poder está agora na capacidade de antecipação, de antevisão. E quem o tem, tem-no de forma muito contingente.
A contingência prende-se, fundamentalmente, com as decisões que se tomam e com o modo de as tomar na prática, pois é de aí que advém o futuro. Quer isto dizer que a tensão que exige a tomada de decisões supõe um risco, uma vez que comporta uma grande dose de contingência e, por isso, têm o seu fundamento no não-saber (INNERARITY, 2011). Ou seja, decide-se não sobre o que se conhece, mas sobre a incerteza do futuro, o que por vezes exige um grande esforço de imaginação.
Neste contexto, pode dizer-se que vivemos numa época de crescente complexidade, em que as mudanças aceleram e alteram de um dia para o outro os âmbitos sociais, políticos, econômicos e culturais, o que desestabiliza a estrutura social que tínhamos garantida. Mas também precisamos saber que qualquer sociedade que não supere esta incerteza da mudança constante será uma sociedade desenraizada que, rompendo todos os laços com o passado e sem nenhuma perspetiva de futuro, navegará sem rumo numa crise constante. Tudo isto não significa, como se referiu, amarrar-se ao mastro do passado, para o repetir, mas, talvez, começar algo novo, com a profunda consciência do que foi, para assim enfrentar o futuro com esperança. “Quando o passado não ilumina o futuro”, escreveu Tocqueville, “o espírito caminha pelas trevas” (TOCQUEVILLE, 1994, p. 278). Felizes os que foram abençoados pelos seus pais, porque também serão capazes de abençoar os seus descendentes.
Portanto, só é possível sair da complexidade e reflexividade que caracterizam as nossas sociedades com uma certa dose de confiança. Mas esta requer, tal como se afirmou anteriormente, certas crenças que a alimentem. Já passamos o tempo, que caracterizava a modernidade plena, em que os medos eram diferentes, decorrentes do sentimento de não conseguir viver de acordo com a integração necessária para enfrentar o futuro. Medos que se multiplicavam porque, tendo rompido com o mundo tradicional do passado, esta era a única alternativa possível que, no entanto, oferecia uma série de oportunidades futuras, nunca antes vistas.
Como Elias (1993) bem demonstrou, a subjetividade moderna foi construída desta maneira aparentemente contraditória e paradoxal. Pois, embora tenha sido um profundo despertar da consciência individual, tudo isso ocorreu mediante a submissão ao programa de
socialização civilizado. Foi assim que essa consciência se desenvolveu ao longo da modernidade, através dos universos institucionais da família, do trabalho e da educação. Somente superando esses medos, vinculados à integração institucional exigida por esses universos, se poderia encarar o futuro, que se mostrava aberto a múltiplas possibilidades, esperando-se, assim, por um certo reconhecimento pelo que se poderia alcançar. Somente integrando-se neste marco institucional, o sujeito moderno poderia aspirar a expressar-se e a desenvolver um projeto de vida voltado para o futuro.
Não obstante, à medida que estas possibilidades se tornaram cada vez menos atraentes e claras, os medos surgiram despidos de toda a recompensa. Fato que foi denunciado desde o início como indubitável sinal de mal-estar da cultura (FREUD, 1973), antecipando o esgotamento do programa civilizador moderno. Uma denúncia que mais tarde se tornou muito mais persistente, à medida que toda uma geração de jovens, nascida a partir da década de 1950, se revelou abertamente contra os seus pais, vendo neles e no seu passado o exemplo de uma sociedade repressiva e, nas suas promessas de libertação orientadas para um futuro de progresso, a amostra viva de uma ideologia que ocultava aquela repressão manifesta. Tal fato foi denunciado, como é sabido, pelos intelectuais mais ilustres, ajudando a moldar o espírito de uma época inteira (BOURDIEU; PASSERON, 2001; FOUCAULT, 1999).
Sem a possibilidade de um regresso ao passado, e com as imagens do progresso cada vez mais desfocadas, deixou de fazer sentido olhar para o futuro. “No future” era o título de uma das músicas que a famosa banda de rock britânica Sex Pistols lançou em 1977 e cuja letra dizia “não me digas o que queres; não me digas o que precisas, não há futuro para ti”.
Abria-se, assim, uma época em que os medos seriam outros. Não apenas aqueles relacionados com a esmagadora estrutura disciplinar das instituições, mas aqueles relacionados com a dificuldade de integração. Não aqueles derivados do necessário reconhecimento institucional, sem o qual se tornava difícil construir uma vida futura, mas de outros que se depreendem da falta desse reconhecimento, que deve ser procurado todos os dias sem desanimar, sem mais garantias do que cada um pode demonstrar.
Se os distúrbios psicológicos da modernidade estavam relacionados com a disposição de assumir as estruturas institucionais disciplinares para se ir libertando gradualmente para o futuro, os da pós-modernidade têm a ver com a dificuldade da pessoa se assumir a si própria como sujeito destinado a ser capaz e autossuficiente, uma vez desprendido dos modelos culturais passados e das orientações institucionais futuras. E, no entanto, descobre-se incapaz de ser assim quando este era o seu destino. O papel da terapia não é outro, neste contexto, a não ser procurar o reencontro do sujeito consigo mesmo; com o seu destino (EHRENBERG,
1998, p. 147). Para que este encontro, tão necessário, se concretize, propõe-se todo um programa de interiorização, com o fim de que cada indivíduo assuma a sua condição presente, livre do passado e do futuro (ILLOUZ, 2010, p. 139). Recuperado por um momento dos seus males, o indivíduo parece sair triunfante, mas assim que se endireita, sente-se desvalido como antes.
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AS CONTRADIÇÕES DA TEMPORALIDADE PÓS-MODERNA, À LUZ DA PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS
THE CONTRADICTIONS OF POST-MODERN TEMPORALITY IN THE LIGHT OF THE NEW CORONAVIRUS PANDEMIC
Eduardo DUQUE1 José Francisco DURÁN VÁZQUEZ2
RESUMO: Neste artigo reflete-se sobre o quanto vivemos numa época de crescente complexidade, que parecia já ter superado todos os problemas, dada a segurança que a confiança nos processos científicos e tecnológicos parecia ter-nos devolvido. Mas quando estes processos, como agora acontece na pandemia de Coronavírus, mostram a sua fragilidade, eles revelam-nos, como nunca tinha acontecido, as suas debilidades. Fraquezas essas que resultam de depositar todo o valor objetivo nesses processos, acreditando que neles estava a capacidade de nos redimir de todos os nossos males. O correr atrás da inovação e do sucesso a todo o custo, sem ética, sem respeito pela natureza e pelos outros, sem consideração pelo passado e sem nele ancorar o futuro, reduz a estabilidade e a segurança estrutural das sociedades e dos indivíduos que as compõem.
PALAVRAS-CHAVE: Tempo. Temporalidades. Mudança social. Pandemia. COVID-19.
1 Universidad Católica Portuguesa (UCP), Braga – Portugal. Profesor de la Facultad de Filosofía y Ciencias Sociales. Miembro integrado del Centro de Estudios de Comunicación y Sociedad de la Universidad de Minho (UM). Doctorado en Sociología (UCM) – España. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4719-3148. E-mail: eduardoduque@ucp.pt
2 Universidad de Vigo (UVIGO), Vigo – España. Profesor de Sociología. Doctor en Sociología. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7440-0168. E-mail: joseduran@uvigo.es
ABSTRACT: This article reflects on how much we live in a time of increasing complexity, which seemed to have already overcome all problems, given the security that confidence in scientific and technological processes seemed to have returned to us. But when these processes, as now happens in the Coronavirus pandemic, show their weakness, they reveal, as never before, their weaknesses. These are the weaknesses that result from depositing all the objective value in these processes, believing that in them was the capacity to redeem us from all our ills. Running after innovation and success at all costs, without ethics, without respect for nature and for others, without regard for the past and without anchoring the future in it, reduces the stability and structural security of the societies and individuals that compose them.
KEYWORDS: Time. Temporalities. Social change. Pandemic. COVID-19.
El ser humano a lo largo de la historia siempre ha querido comprender el tiempo, para prever el futuro (BOURDIEU, 1998). Para ello, las sociedades tradicionales utilizaron oráculos y profecías. El hombre moderno impuso, sin embargo, un conocimiento metódico, basado en la razón científica, recurriendo a menudo a la planificación y a la prospectiva. No obstante, el futuro se resiste a previsiones fáciles y dóciles, por razones de tipo estructural relacionadas con la propia naturaleza de la sociedad (RAMOS, 2007).
Sin embargo, el dinamismo de la modernidad necesita y quiere conocer el futuro. Quienes se limitan a lo que está sucediendo ni siquiera comprenden lo que está sucediendo. La imaginación ha reemplazado gran parte del espacio dado a la observación (ROUANET, 2012). El futuro se ha convertido en un tiempo enigmático, debido a la complejidad del mundo, opaco e insondable, centrado en la innovación y entretejido en una red de interdependencias.
Ahora bien, la previsión y la anticipación pueden estar lejos de las capacidades humanas, por lo que siempre está la amenaza de tener que lidiar con la incertidumbre. De ahí que el ser humano siempre se haya dotado de instrumentos (medios) para predecir el futuro. No obstante, las sociedades modernas tienen que vérselas con la innovación y la imprevisibilidad que ellas mismas han fomentado, lo que dificulta disponer de ciertas certezas, y por tanto de seguridad y confianza.
El esquema tradicional y arcaico, basado en concepciones de transformaciones rituales de ciclos en círculos y modelos originales, neutraliza el carácter de un futuro abierto, al ser éste concebido como una continuación del presente (ELCHARDUS; SMITS, 2006). Aquí impera el reino del destino, ya escrito (ELIAS, 1989; HUBERT, 1992; SUE, 1995).
El alma razonable- escribe Marco Aurélio en sus Meditaciones- viaja por el mundo y por el vacío que la rodea; examina su configuración; su visión se
extiende a la eternidad; abraza y aprecia la renovación periódica del universo; cree que los que vendrán después de nosotros no verán nada nuevo, como los que vinieron antes que nosotros no han visto nada más allá de lo que vemos ahora, y que un hombre que vivió cuarenta años, por poco que haya comprendido, ha visto poco más o menos cuanto le ha precedido y lo que le seguirá, pues todo continúa uniformemente (MARCO AURÉLIO, 2004, Livro XI).
Desde esta perspectiva, es el pasado de la tradición el que orienta y da sentido a la vida, aportando seguridad en el presente y en el futuro, percibidos en relación con un pasado ya conocido. “Sólo tiene la medida quien posee la tradición”, escribió el poeta griego Teognis (JAEGER, 1996, p. 191). Una medida que da profundidad al tiempo. La antigua Roma - ab urbe condita – quería vincularse precisamente con un tiempo fundacional, con un principio que desplegaba el sentido de la historia, proyectándola en el presente y en el futuro (REVAULT D’ALLONNES, 2008, p. 73).
Las profecías, las adivinaciones, las predicciones, los oráculos y los visionarios, todos ellos trataban de otorgar confianza, adivinando más allá del presente. El futuro estaba latente y el esfuerzo se encaminaba a descubrirlo, a adivinar, en el sentido de alterar un destino que no podía evitarse.
Contrariamente a esta temporalidad, la contemporánea reivindica otra forma de hacer y de construir el futuro. Se rebela contra la fatalidad de un destino inexorable y sin capacidad para intervenir en él. Quiere construir un futuro humanamente configurable y abierto a la intervención individual de cada sujeto (BAUMAN, 2000; SENNETT, 2007). Observar el futuro con este horizonte posibilita entonces la perspectiva, la previsión científica, la planificación política y económica. El futuro puede ser así esquematizado, proyectado, planificado, gestionado y regulado. Los expertos observan de este modo el presente para producir el futuro deseado.
En el mundo moderno, mecanicista y lineal, de causas y efectos, la capacidad de proyectar el futuro se elevó a poderosa metáfora para prever los procesos sociales y organizativos, y también las realidades físicas (KOSELLECK, 1993; NOWOTNY, 1994). Esta metáfora se convirtió en un hecho cotidiano y palpable para la mayoría de la población, cuando el desarrollo de la sociedad del trabajo, primero, y más tarde la del consumo, abrieron a las nuevas clases medias una posibilidad inédita de realización personal (Pomian, 1984; Bury, 2009).
Hoy en día se entiende el futuro como una compleja cadena de eventos con distintos significados, sin apenas posibilidad de poder prever que será lo más probable o verosímil. En efecto, no siendo ya el futuro una repetición del presente (Luhmann, 1996), sino algo
desconocido, fundado en la innovación, la apertura al futuro significa inevitablemente un proyecto vacilante. Si se conociese el mañana, sería un presente continuo y no un futuro, como si el presente extendiese su horizonte hasta tal punto que permitiese vislumbrar el futuro como un presente inminente (NOWOTNY, 1994). Pero siendo el futuro, como decíamos, vacilante, el campo de proyección de esperanzas y de temores se hace cada vez mayor. La prospectiva social aparece así plagada de referencias positivas y de esperanzas, pero también de signos negativos que provocan temor y desesperanza (INNERARITY, 2011).
El individuo contemporáneo está sobrecargado de decisiones, lo que le causa pánico y comportamientos irracionales. Cuando esto ocurre ya no existe la distancia necesaria para tomar buenas decisiones, ya que la persona pierde sus bases de estabilidad y, naturalmente, se vuelve desorientada e insegura, perdiendo el sentido de sus acciones y, en último término, el sentido de su vida (GIDDENS, 1991).
Los efectos negativos de una sociedad en la que se requiere una urgente toma de decisiones, son visibles en la cultura actual, y se manifiesta en la forma de gobernar y también en el funcionamiento de las instituciones. Como señala Innerarity (2011), quien tiene grandes responsabilidades para decidir, tiene que hacerlo muchas veces de forma imprevisible, sin disponer de toda la información o de la comprensión de los fenómenos acerca de los que está decidiendo.
Incluso se podría decir que, dados los costos de decisión y de responsabilidad, sería más apropiado, en ocasiones, tener un menor espectro de opciones que muchas oportunidades. En este último caso, con más oportunidades, aumenta el riesgo, aunque se disponga de una aparente mayor libertad.
La toma de decisiones implica precisamente, la osadía de elegir. Porque, de hecho, a medida que transcurren los días de la pandemia del coronavirus, cuando la sociedad enfrenta grandes riesgos, no hay más opción que actuar, tomando decisiones. Pero toda acción también abre el camino a la esperanza, a qué se puede hacer, y ciertamente se puede hacer algo. Aunque todo ello requiere disponer de la confianza necesaria, que sólo puede surgir del mundo que los seres humanos tenemos en común. Así es como podemos prometer que no volveremos a hacer lo que hicimos, o que lo haremos y continuaremos haciéndolo (ARENDT, 1998, p. 262). La confianza nace así de nuestra condición temporal y mundana. Nos lleva del presente al pasado,
para negarlo o afirmarlo, y de allí al futuro para decidir si debemos continuar o comenzar de nuevo.
La sociedad moderna ha sido, por regla general, una sociedad optimista, con una apertura a nuevas posibilidades de autoconfiguración. Todo ello incrementa la necesidad de toma de decisiones. Como afirma Innerarity (2011, p. 70), “una sociedad democrática es una sociedad en la que aumenta el ámbito de lo que hay que decidir, pero estas decisiones no son decisiones soberanas, se ejercen en un tejido en el que los políticos dependen, a su vez, de la acción de muchos otros actores”. Quienes toman las decisiones, con la urgencia de la decisión, tienen que ponderar, pues, el motivo de la toma de decisiones según los criterios de racionalidad, complejidad social, configuración temporal y espacial, etc., conscientes de que todos estos criterios son interdependientes y se justifican porque las sociedades contemporáneas están todas interconectadas en una misma red.
En las sociedades tradicionales, por regla general, una determinada toma de decisiones no interfería en las demás, porque casi todos los procesos eran estáticos; pero en sociedades complejas, como las nuestras, unas acciones no están aisladas de las otras, sino que son socialmente interdependientes (ADAM, 2003; 2004; URRY, 2002; VIRILIO, 1997). De ahí que sea necesario disponer de información.
No obstante, el exceso de información, característico de las sociedades funcionalmente diferenciadas, que a menudo es carencia y fake news, en lugar de generar mentes iluminadas, producen ambigüedad e incertidumbre. Es necesario, por ello, estar atento a la información que se recibe para saber gestionarla. Ahora bien, no son los sistemas de información los que provocan una disminución del flujo de información (THOMPSON, 1998); por el contrario, la información es el resultado de un conocimiento maduro que sabe cómo seleccionar dicha información. Podemos decir, de este modo, que estamos en medio de un juego, y que a través de las informaciones que nos llegan, podemos ganar o perder.
Las sociedades complejas están envueltas en un sistema de interdependencias de factores encadenados que, a primera vista, parecen ingobernables, lo que condiciona la cuestión de la responsabilidad, de la que a nadie le gusta rendir cuentas.
En este sentido, es urgente trabajar en la capacidad de leer y de anticipar las consecuencias, de interpretar los signos actuales, para así evitar que se actúe solo cuando la crisis se hacen absolutamente presentes. Cuando esto sucede, las sociedades no están
debidamente preparadas para enfrentar el futuro (RICOTTA, 2006). Para ello se precisa mucha sabiduría, pero también humildad para saber navegar en la complejidad y en la densidad de los acontecimientos.
Los tiempos actuales exigen que construyamos una responsabilidad común. Como dijo Arendt (1973, p. 283) en Los orígenes del totalitarismo: “El caso de uno es el caso de todos”. Y esta responsabilidad se deberá más a la iniciativa y a los dones de los que cada uno disponga, que a un proceso normativo.
Por esta misma razón- señala Innerarity (2011) - las crisis financieras o de salud colectiva son un ejemplo de lo difícil que es evitar los prejuicios colectivos o actuar con criterios morales en medio de estos procesos, en un mundo donde todos somos interdependientes, lo que incrementa el número de irresponsabilidades y de acciones que no son fácilmente atribuibles a nadie. Para Innerarity (2011, p. 90):
El problema es cómo crear esa responsabilidad en un momento en que dejó de ser evidente la relación entre mi comportamiento individual y los resultados globales; por ello es urgente elaborar un concepto de responsabilidad que responda a la complejidad social actual, y que se corresponda con nuestras expectativas razonables de lograr un mundo que pueda ser gobernado, y por el cual nos sintamos responsables.
La responsabilidad a la que aquí se apela será, entonces, mucho más amplia. Porque contemplará los efectos no deseados, impredecibles y desconocidos que no pueden ser imputados a los actores sociales. Lo que significa que los límites de imputación tendrán que extenderse más allá del horizonte del saber y de la experiencia; más allá del modelo tradicional de control sobre las formas de acción triviales, para adquirir una responsabilidad vinculada a procesos complejos, con autoorganización e interacciones jerárquicas.
En este mismo sentido, en las sociedades complejas, las que se preparan para dejar entrar el futuro, quienes tengan el poder tendrán que reorientarlo facilitando dinámicas creativas, procesos abiertos y transparentes; tendrán que tener capacidad para poder gestionar riesgos individuales y colectivos, procurando la seguridad como un preciado bien.
Por ello es preciso trabajar en el tiempo presente con la responsabilidad por el futuro. No se puede seguir actuando como si solo hubiera presente; hay que ser más audaces y dar un paso más allá, compartiendo la responsabilidad de hoy con la del día de mañana. Se hace necesario- en palabras de Arendt (1999, p. 106-107) - “establecer en el océano de la inseguridad del futuro islas de seguridad”. Y para ello hay que confiar no sólo en la posibilidad de prometer, con confianza, lo que se pretenda hacer en el futuro, sino que también hay que saber perdonar lo hecho en el pasado. Así, lejos de cortar con el pasado, de lo que se trata es de liberarse de lo
que a él nos ata, posibilitando un nuevo comienzo que permita enfrentar el presente y el futuro con confianza.
De este modo se vivirá el tiempo presente, no como quien está siempre pagando las obligaciones contraídas en el pasado, sino como quien quiere ganar el tiempo futuro. Es necesario asumir, pues, una responsabilidad que anticipe, prevenga y configure respuestas más inteligentes, capaces de responder a futuros desafíos. Esta forma de abordar el presente con la mirada puesta en el futuro, habría que asumirla con la conciencia de la limitación de nuestro propio conocimiento acerca del futuro, evitando el imperio de la arrogancia que muchas veces domina nuestras sociedades.
La acción política está inmersa en una etapa de grandes limitaciones, ya que la figura del héroe ha prácticamente desaparecido, y los discursos épicos que anuncian las crisis han dejado de atraer a la ciudadanía. En este sentido, nos encontramos ante un presente extasiado de mediocridad, donde los discursos heroicos ya no movilizan, e incluso, por el contrario, se vuelven hacia la indiferencia y el ostracismo.
Ante este escenario, se necesitan nuevos paradigmas que sean capaces de responder a nuevas circunstancias. Paradigmas que movilicen a las personas, que las hagan levantarse por nuevas causas, que les motiven a salir del confort de sus casas. Un confort que muchas veces contribuye a alimentar los egos y el individualismo. Se necesitan por ello políticas que eliminen los acuerdos absolutos, pero que también superen las divergencias absolutas. Es necesario poner en marcha proyectos siempre abiertos a nuevas formulaciones y alternativas; a nuevos saberes, dispuestos a acoger ideas procedentes de todos los ámbitos.
Surge la necesidad, pues, de una revolución copernicana capaz de cambiar profundamente la forma de concebir la política. El marco clásico es cada vez más evidente que ya no otorga respuestas. El gobierno tiene que gobernar y no gobernarse a sí mismo. Tiene que invertir en las personas, mirar más a lo lejos, deshaciéndose de los populismos. Tiene que establecer fuertes lazos con el futuro, que no es ni panificable ni fruto de la adivinación. Se necesitan personas que analicen, que respeten el peso del voto, y que quieran también tender puentes para las próximas generaciones.
El futuro es algo nuevo que viene al encuentro del ser humano. De ahí la necesidad de anticiparlo con corazón abierto y transparente. Se trata de un juego inteligente, lanzado a través de la inteligencia humana, sin adicciones, donde todos los seres humanos juegan en relación
con un resultado final, que es fruto de la complejidad de las interacciones. Un resultado que aún no está determinado, ya que se va determinando día a día.
La forma de operar en política, muchas veces desordenada, sin transparencia y sin verticalidad, está muy lejos de las exigencias de los nuevos tiempos. ¡Es necesario, por tanto, crear un nuevo paradigma social en nuestras sociedades! Se hace necesario, en definitiva, superar el entorno general de crisis en el que se ha instalado la modernidad occidental (ROSA, 2019). Pero también es necesario trascender tanto el diagnóstico de crisis como la respuesta del continuo reformismo innovador (LE GOFF, 2002). Un reformismo que solo repara en la urgencia del momento, en la inmediatez del presente, rompiendo toda conciencia del pasado, sin la cual no puede haber proyecto de presente ni de futuro. Porque, de hecho, sólo desde la perspectiva de lo viejo, lo nuevo puede dar luz a otra vida, precisamente porque “se desprende de todo lo habido” (ZAMBRANO, 1992, p. 14). Solo así podremos salir de la incertidumbre que nos rodea. Como afirma Bauman (2001, p. 170)
La incertidumbre del presente es una poderosa fuerza individualizadora. Divide en lugar de unir, y como no hay forma de decir quién se despertará al día siguiente y en qué situación, la idea de "interés común" se vuelve cada vez más nebulosa y pierde todo valor práctico. (...) Los miedos, ansiedades y angustias actuales están hechos para ser sufridos en soledad. No suman, no se acumulan en una “causa común”, no tienen una dirección específica, ni por supuesto obvia.
La incertidumbre se alimenta, asimismo, de la propia lógica de los sistemas democráticos, que por un lado tienen que tomar decisiones con la celeridad que exige el ritmo acelerado de las sociedades postindustriales, y por el otro favorecen, con sus actuaciones, la misma dinámica. Cualquier sensación de desaceleración en este movimiento se interpreta como un síntoma de crisis, por lo que rápidamente se vuelve a toda velocidad al ritmo frenético y delirante, porque a este ritmo es al que la sociedad contemporánea se ha acostumbrado a solventar sus crisis (HAN, 2016). Precisamente por eso la política y la gestión democráticas están encaminadas a seguir acelerando el ritmo, tal como afirman reiteradamente los líderes políticos. “En la posmodernidad- escribe Harmut Rosa- la posibilidad de dirigir políticamente el desarrollo de la sociedad...se ha vuelto cuestionable: la política ya no aparece como el marcapasos de la sociedad, sino como el cuerpo de bomberos que da un paso atrás tratando de salir del problema” (ROSA, 2019, p. 287-288).
Esta espiral de crecimiento continuo, que se retroalimenta con su propia energía, y que nunca parece satisfecho, se nutre del deseo de superar la situación anterior, que es rápidamente superada por otra nueva, que se anuncia como amenazante. Todo esto genera un enorme
malestar que impulsa nuevamente la misma dinámica, elevada al principio moral de la posmodernidad.
Como nos advirtieron Adorno y Horkheimer (1995, p. 126):
La máquina gira sin salir del lugar. Al mismo tiempo que determina el consumo, descarta lo que aún no fue experimentado porque supone un riesgo. (...) Nada debe permanecer como estaba, todo debe estar en constante movimiento. Puesto que sólo la victoria universal del ritmo de producción y de reproducción mecánica es la garantía de que nada cambiará, de que nada surgirá que no se adapte.
Todas las proyecciones y promesas de la política languidecieron. No obstante, permanece aún la divergencia ideológica, que se manifiesta no tanto en los choques entre la derecha y la izquierda, como entre estas dos posiciones y las más radicales, tanto a la derecha como a la izquierda. Ahora bien, cabe preguntarse, ¿cuál es la razón del surgimiento de estos extremismos? La respuesta podría plantear una nueva pregunta, ¿y qué ha hecho la política por los ciudadanos? La política ha ofrecido un saber escaso, carente de oportunidades y de alternativas; muy concentrado en su ombligo, sin capacidad de leer el futuro y de construir puentes sobre las principales prioridades; no sólo las de hoy, sino también las del futuro. La vida política actual ha sido así muy arrogante, dejando la puerta abierta para que, precisamente, la arrogancia, que es el valor de los extremismos, ganase terreno. Una arrogancia que surge también de la decepción de las poblaciones, que esperan procesos de mejora continua, que en verdad nunca acaban por consumarse. Esto es especialmente visible en tiempos de crisis, cuando aparecen gurús que, para atraer a la población, anuncian que van a terminar con la situación anterior, prometiendo más crecimiento. Un crecimiento que, sin embargo, ya no tiene capacidad para construir el futuro, porque lo único que hace es desgastarlo con la misma lógica de crecimiento (ROSA, 2016; 2019, p. 547). Cuanto más se promete crecer para acabar con el desempleo, más sufren también quienes trabajan, ya que son desarraigados repetidamente de sus contextos de vida (SENNETT, 2001); cuantas más apelaciones se hacen para mejorar los rankings educativos, más profesores y estudiantes se sienten alienados con respecto a la enseñanza y a la educación (DURÁN; DUQUE, 2019); cuanto más se consume, más la vida es consumida, y por eso hay que renovarla una y otra vez por medio de nuevos consumos (GONZÁLEZ-ANLEO, 2014). Cuanto más se habla de conservar el planeta, más se destruye con mayor productividad y con un ritmo de vida que nadie quiere abandonar, ni siquiera los que parecen más sensibilizados con ello. En suma, toda esta lógica de acumulación constante
nos arranca cada vez más de nuestros respectivos mundos de vida, de nuestras seguridades, para someternos a lo único que cuenta, que es el cambio permanente, según el cual todo lo que era cierto hoy dejará de serlo mañana. Esta es la única forma en la que se nos dice que podemos construir nuestras identidades, componiendo y recomponiéndolas una y otra vez, en un proceso continuo de destrucción creativa (BAUMAN, 2009, p. 93; 2010, p. 21). De lo contrario, si no intentamos ser más y más cada día; más capaces de lo que fuimos el día anterior, sabiendo que esta capacidad, lejos de completarse, también se va vaciando cada día, entonces seremos cada día más viejos e inútiles para el mundo.
La vida política de nuestra sociedad carece, pues, de la conciencia de que el presente es frágil y que la incertidumbre tiene que ser gestionada de otra manera, al margen de la lógica de la escalada del crecimiento (ROSA, 2019, p. 517). Y que el futuro no podrá construirse depositando sólo la confianza en la ciencia como una verdad incuestionable, a partir de la cual poder estructurar la sociedad, porque esa confianza necesita apoyarse todavía en otra mayor que ella.
La confianza tecnocrática que se ha depositado en la ciencia para programar de este modo el futuro, se ha revelado como un fracaso, ya que el futuro es complejo y multidimensional, por lo que el conocimiento que sobre él proyectemos siempre será frágil y limitado.
Cuando esta confianza en la ciencia, como ha sucedido con la pandemia de Coronavirus, muestra su fragilidad, es cuando más precisamente se revela la consecuencia de la falta de otras creencias que confieran la necesaria seguridad y confianza, que la ciencia precisamente por sí sola no puede otorgar. Como observó Durkheim (1992, p. 407) respecto a los conceptos científicos, “incluso cuando éstos se construyan teniendo en cuenta todas las reglas de la ciencia
... no alcanzan la autoridad sólo por su valor objetivo. Para que se les crea, no basta con que sean verdaderos; si no se armonizan con otras creencias, con otras opiniones, en una palabra, con el conjunto de representaciones colectivas, serán negados”.
Son estas creencias las que nos animan a actuar en un determinado sentido; las que nos vinculan a un objetivo con el que nos sentimos comprometidos. Son ellas, en definitiva, las que nos otorgan la necesaria seguridad y confianza para “disponer del futuro como si fuera el presente” (ARENDT, 1998, p. 264).
La vida social es como una orquesta, donde nadie anula a nadie. Para eso, la preocupación constante debe ser trabajar con el principio de lo contradictorio, que implica saber manejar diferentes opiniones y pensamientos, porque pueden ser complementarios más que conflictivos; más que destruir pueden deconstruir, y aquí es donde está lo nuevo, el futuro. En este sentido, la gran misión de las sociedades complejas sería gestionar los desacuerdos de manera ordenada, como quien deconstruye providencialmente para construir sabiamente.
De hecho, la posibilidad de construir el futuro, y su imprevisibilidad, es lo que más nos vincula a ese tiempo, generando una fuerte tensión entre lo que ya es y lo que todavía no (KOSELLECK, 1993). En medio de esta tensión es como hay que aprender a vivir.
La sociedad actual es una verdadera plaza pública, en donde se entrecruzan la pluralidad de ofertas, y en donde la heterogeneidad de actitudes, valores y comportamientos no solo es posible sino aconsejable. La cuestión es tener capacidad de anticipación y de previsión para poder tomar decisiones, para poder relacionarse con la contingencia (INNERARITY, 2011). Una contingencia que se revela todavía mayor en una época como la actual en la que los cambios se aceleran, modificando día a día las esferas de lo social, la política, la economía o la cultura, contribuyendo así a desestabilizar, una y otra vez, las estructuras sociales.
No obstante, cualquier sociedad que no supere esta incertidumbre que genera el cambio constante será una sociedad desarraigada, sin lazos con el pasado y sin perspectivas de futuro, que navegará sin rumbo fijo en una crisis constante. Ahora bien, superar la incertidumbre no significa atarse al mástil del pasado, con el mero propósito de repetirlo, sino que implica la voluntad de comenzar algo nuevo, aunque con la conciencia profunda de lo que ha sido. Sólo así se podrá afrontar el futuro con esperanza. “Cuando el pasado no ilumina el porvenir”, escribió Tocqueville, “el espíritu camina entre tinieblas” (TOCQUEVILLE, 1994, p. 278). Benditos, pues, los que han sido bendecidos por sus padres con confianza y esperanza, porque ellos también podrán bendecir a sus descendientes.
En suma, sólo será posible salir de la complejidad y de la reflexividad que caracterizan a nuestras sociedades con cierta confianza. Pero está sólo será posible si se apoya en determinadas creencias que la alimenten.
Los miedos actuales no proceden precisamente del exceso de confianza, sino más bien de su carencia. No son los miedos a no poder integrarse en las instituciones más o menos totales y confiadas, sino los derivados de la falta de confianza en las instituciones.
La conciencia subjetiva moderna, tal como mostró Elias (1993), se desarrolló por medio de la inmersión de los sujetos en los distintos universos institucionales, tales como los del trabajo, la educación o la familia, que otorgaban una determinada seguridad y confianza, no exenta de temores; temores que eran el signo del malestar de la cultura (FREUD, 1973), y que anticipaban el agotamiento del proyecto civilizatorio moderno. Agotamiento que se manifestó en la denuncia, inaugurada por toda una generación de jóvenes, la nacida en la década de 1950, que se reveló abiertamente contra sus padres, viendo en ellos el ejemplo de una sociedad represiva, y en sus promesas de liberación orientadas hacia un futuro de progreso la muestra de una ideología que escondía la represión. Todo lo cual fue interpretado, como se sabe, por los intelectuales más destacados, que contribuyeron a moldear el espíritu de toda una época (BOURDIEU; PASSERON, 2001; FOUCAULT, 1999).
Frente a aquella conciencia, la conciencia subjetiva actual es el resultado del deseo de liberación de un orden institucional considerado opresivo. Pero, paradójicamente, al tiempo que esa liberación parece haberse alcanzado, se ha revelado también como más insegura, al carecer de universos institucionales en los que anclarse para poder proyectarse hacia el futuro. En efecto, sin posibilidad de volver al pasado, y con las imágenes del progreso cada vez más borrosas, el descreimiento con respecto al futuro pronto si hizo cada vez más palpable. “No future” era el título de una de las canciones que la famosa banda de rock británica Sex Pistols lanzó en 1977, y cuya letra decía “no me digas lo que quieres; no me digas lo que necesitas, no hay futuro para ti”.
Se abría así una era en la que los miedos serían diferentes. No sólo los relacionados con la abrumadora estructura disciplinaria de las instituciones, sino aquellos derivados de la dificultad de integración. No los vinculados a la necesidad de procurar el necesario reconocimiento institucional, sin el cual se torna difícil construir una vida futura, sino los relacionados con la falta de este reconocimiento. Un reconocimiento que es necesario procurar cada día sin desánimo, y sin más garantías que la que cada uno pueda demostrar.
Si las perturbaciones psicológicas de la modernidad estuvieron relacionadas con la voluntad de asumir las estructuras institucionales disciplinarias para liberarse paulatinamente en el futuro, las de la posmodernidad tienen que ver sobre todo con la dificultad para asumirse como sujeto destinado a ser capaz, autónomo y autosuficiente, una vez han sido cortadas las amarras con los modelos culturales del pasado y con las orientaciones institucionales hacia el futuro, y uno se descubre incapaz de realizarse cuando este era su destino. El papel de la terapia no es otro, en este contexto, que el de buscar el reencuentro del sujeto consigo mismo; con su propio destino (EHRENBERG, 1998, p. 147). Para lo cual propone todo un programa de
interiorización, con el objetivo de hacer que cada individuo asuma su condición presente, una vez liberado del pasado y del futuro (ILLOUZ, 2010, p. 139). Ahora bien, apenas por un instante el sujeto parece recuperado de sus males, y comienza a elevarse triunfante, cuando se siente de nuevo desvalido y necesitado de ayuda.
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AS CONTRADIÇÕES DA TEMPORALIDADE PÓS-MODERNA, À LUZ DA PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS
LAS CONTRADICCIONES DE LA TEMPORALIDAD POST-MODERNA, A LA LUZ DE LA NUEVA PANDEMIA DEL CORONAVIRUS
Eduardo DUQUE1 José Francisco DURÁN VÁZQUEZ2
RESUMO: Neste artigo reflete-se sobre o quanto vivemos numa época de crescente complexidade, que parecia já ter superado todos os problemas, dada a segurança que a confiança nos processos científicos e tecnológicos parecia ter-nos devolvido. Mas quando estes processos, como agora acontece na pandemia de Coronavírus, mostram a sua fragilidade, eles revelam-nos, como nunca tinha acontecido, as suas debilidades. Fraquezas essas que resultam de depositar todo o valor objetivo nesses processos, acreditando que neles estava a capacidade de nos redimir de todos os nossos males. O correr atrás da inovação e do sucesso a todo o custo, sem ética, sem respeito pela natureza e pelos outros, sem consideração pelo passado e sem nele ancorar o futuro, reduz a estabilidade e a segurança estrutural das sociedades e dos indivíduos que as compõem.
PALAVRAS-CHAVE: Tempo. Temporalidades. Mudança social. Pandemia. COVID-19.
1 Portuguese Catholic University (UCP), Braga – Portugal. Professor at the College of Philosophy and Social Sciences. Integrated Member of the Center for Communication and Society Studies at the University of Minho (UM). Doctorate in Sociology (UCM) – Spain. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4719-3148. E-mail: eduardoduque@ucp.pt
2 University of Vigo (UVIGO), Vigo – Spain. Professor of Sociology. Doctorate in Sociology. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7440-0168. E-mail: joseduran@uvigo.es
RESUMEN: En este artículo se reflexiona sobre el modo en que habitamos una época de creciente complejidad, que semejaba haber superado todos los problemas, dada la seguridad y la confianza que parecían conferirnos los procesos científicos y tecnológicos. No obstante, cuando estos procesos, como ocurre ahora en la pandemia de Coronavirus, muestran su fragilidad, revelan, como nunca anteriormente, sus debilidades. Debilidades que son la consecuencia de depositar todo el valor objetivo en dichos procesos, creyendo que en ellos estaba la capacidad de redimirnos de todos nuestros males. Haber perseguido la innovación y el éxito a toda costa, sin demasiados principios éticos, ni respeto por la naturaleza y por nuestros congéneres; sin tener en cuenta el pasado ni anclarse en el futuro, ha reducido la estabilidad y la seguridad estructural de las sociedades y de los individuos que las integran.
PALABRAS CLAVE: Tiempo. Temporalidades. Cambio social. Pandemia. COVID-19.
The human being, throughout history, has always wanted to understand time, to foresee the future (BOURDIEU, 1998). For this, traditional societies used oracles and prophecies. Modern man has imposed methodical knowledge, based on scientific reason, frequently resorting to planning and foresight. The future resists easy and docile predictions, due structural reasons, related to the nature of society (RAMOS, 2007). However, the dynamism of modernity needs and wants to know it. Those who limit themselves to what is happening do not even understand what is happening. Imagination has replaced much of the space given to observation (ROUANET, 2012). The future has become an enigmatic time, due to the complexity of the world, opaque and incapable, focused on innovation and interwoven in a web of interdependencies. Prediction and prospective may be far from our capabilities, due to their irreducible uncertainty.
Man has always been equipped with instruments (means) for predicting the future, but bumped into the element of innovation and unpredictability, preventing him from obtaining protection against absolute certainties and surprises.
The traditional and archaic scheme, based on conceptions of ritual transformations of cycles in circles and original models, neutralizes the character of an open future, conceiving it as a continuation of the present (ELCHARDUS; SMITS, 2006). Here, reigns the kingdom of destiny already written and not known (ELIAS, 1989; HUBERT, 1992; SUE, 1995).
Here is - Marcus Aurelius writes in his Meditations - the properties of the reasonable soul, it travels throughout the world and through the emptiness that surrounds it; examines its configuration; its vision extends to eternity; it embraces and appreciates the periodic renewal of the universe; it believes that those who come after us will see nothing new, as those who came before us have seen nothing but what we see now, and that a man who lived forty years,
however little he understood, saw little more or less as much as preceded him and what will follow, since everything continues uniformly (MARCO AURÉLIO, 2004, Book XI, our translation).
It is, therefore, the past of tradition that guides and gives meaning to life, providing security for the present and the future, perceived in relation to an already known past. “Only those who have the tradition have the measure”, wrote the Greek poet Teognis (JAEGER, 1996,
p. 191). A measure that gives depth to time. The origin of the city of Rome – ab urbe condita
– meant precisely the connection to a foundational time, to a principle that unfolds the meaning of history, projecting it into the present and the future (REVAULT D'ALLONNES, 2008, p. 73).
The established context gave confidence to possibilities to discover the secret of destiny and to divine the beyond of the present: prophecies, divinations, predictions, oracles and visionaries. The future was latent, and the effort was directed towards discovering it, guessing it, to alter a destiny that could not be escaped. Plato referred to:
Have not you seen that when you practice for a long time and since childhood, imitation infiltrates the body, the voice, the way of being, and transforms the character by changing its nature? (PLATÃO, 2003, p. 187, our translation)
Contrary to Platonic time, contemporaneity claims for itself its own way of doing and building the future. It rebelled against the fate of an inexorable destiny without intervention. It wants to build a humanly configurable future, open and indeterminate by the individuality of each subject (BAUMAN, 2000; SENNET, 2007). Looking to the horizon allows you to do foresight, scientific forecasts, political planning and economic previsions.
The future thus becomes the subject of sketch, project, plan, management and regulation. Experts look to the present to produce the desired future. In a modern, mechanistic, linear world of causes and effects, the ability to project the future was a powerful metaphor for anticipating social and organizational processes, as well as physical realities (KOSELLECK, 1993; NOWOTNY, 1994). This metaphor became the palpable everyday reality for most of the population, when the development of the labor society, first, and that of consumption, later, opened to the new middle classes an unprecedented possibility of personal fulfillment (BURY, 2009; POMIAN, 1984).
Nowadays, evolution understands the future as a complex chain of events of various meanings and only with hypotheses of anticipation through inquiry into the possible and probable and, in this aspect, our knowledge becomes very weak.
Since the future is not the replacement of the present (LUHMANN, 1996), but something unknown, based on innovation, opening to the future inevitably means a faltering project. If you knew tomorrow, it would be a continual present and not the future. It happens as if the present extended its horizon to such an extent that it allowed us to glimpse the future as an imminent present (NOWOTNY, 1994).
Thus, synchronously, the field of projection of hopes and fears takes place, a scenario of battle. The social perspective is full of positive references, such as hope, and negative ones, such as fear (INNERARITY, 2011).
The contemporary individual is overloaded with decisions, causing him to panic and have irrational ways of behaving. When this happens, there is no longer the necessary distancing to make good decisions, as the person loses his bases of stability and, naturally, becomes disoriented and insecure, as if losing the sense of his actions and, in the limit, the meaning of his life (ARIÈS, 1988; GIDDENS, 1991).
The negative effects of a society that requires urgent decision-making are visible in today's culture, seen in the way of governing and of organizations. As stated by Innerarity (2011), those who have great responsibilities to decide often have to do so in an unexpected way and not always with all the information or understanding of the phenomena for which they are deciding.
It could even be said that, given the costs of decision and responsibility, it would sometimes be more appropriate to have a range with fewer options than many opportunities. Of course, the risk of the option increases, but on the other hand it also implies greater freedom in action. Decision-making implies precisely the boldness of choice. Because, in fact, as the days of the coronavirus pandemic become evident, when society faces great risks, there is no longer any option to consider, it is only possible to act, to make decisions. But every action also opens the way for hope, for what to do, and certainly something can be done. All this requires the necessary trust. And that can only come from the world that we humans have in common. This is how we can promise that we will not go back to doing what we did or that we will do it and continue to do it (ARENDT, 1998, p. 262). Confidence is thus born out of our temporal and worldly condition. It sends us from the present to the past, to deny or affirm it, and from there also to the future to decide whether we should continue or start again.
Modern society has, as a rule, been an optimistic society, with an openness to new possibilities of self-configuration, even though they are sometimes surprised to the contrary. As Innerarity (2011, p. 70, our translation) points out, “a democratic society is a society in which the scope of what has to be decided increases, but these decisions are not sovereign decisions, they are exercised in a fabric on which political authors depend, in turn, from the action of many authors”.
Social decision makers, in the urgency of decision, must consider the reason for taking decisions according to the criteria of rationality, social complexity, temporal and spatial configuration etc., aware that all these criteria are interdependent and justified because contemporary societies are all linked in the same web.
In traditional societies, a given decision-making, as a rule, did not interfere with the other, because all processes were too tight, but in complex societies, acts are not isolated, but socially interdependent (ADAM, 2003; 2004; URRY, 2002; VIRILIO, 1997). For this, the information that is available today greatly contributes.
The excess of information typical of functionally differentiated societies – which is often gaps and fake news –, instead of generating enlightened minds, produces ambiguous and uncertain societies. It is necessary to be aware of the information received, in order to know how to manage it.
It is not the information systems that originate a decrease in the information flow (THOMPSON, 1998), on the contrary, this is the result of a mature knowledge of selection. Therefore, our societies cannot ignore the elaboration of information, so that it possesses and conceives, even if implicitly, structures of meaning.
Thus, we can say that we are facing a game and, through the information that comes to us, we can win or lose.
Complex societies are involved in a system of interdependencies of linked facts that, at first glance, seem ungovernable, which conditions the issue of responsibility, for which no one likes to be accountable. In this sense, it is urgent to work on the ability to read and anticipate the consequences, which must consider the reading of current signs, to avoid acting only when the crisis becomes present. Whenever this happens, it means that societies are not properly prepared to face the winds of the future (RICOTTA, 2006) which, we know, will require a lot of wisdom, but also the humility to know how to accept that there are many elements that,
however of easy reading they are, they continue, in the eyes of the present time, very impenetrable: they are thick times, which require more time to enter.
The present times demand that we build a common responsibility. As Arendt (1973, p. 283, our translation) said in The Origins of Totalitarianism: “The case of one is the case of all”, which will happen more through the initiative and gift of each one than through a normative way. For this same reason, Innerarity (2011) tells us that financial or collective health crises are an example of how difficult it is to refer collective damage to identifiable causes or act with moral criteria amid these processes in a world where everyone is interdependent, which increases the number of irresponsibility and actions that are not easily imputable. For Innerarity (2011, p. 90, our translation):
[...] the problem is how to represent this responsibility at a time when the relationship between my individual behavior and global results has lost evidence, so it becomes urgent to develop a concept of responsibility that meets the current social complexity and corresponds to our reasonable expectations of achieving a world that can be governed and for which we take responsibility.
The responsibility called for here will then be much broader; which contemplates unwanted, unpredictable and unknown effects that cannot be imputed to the authors, which means that the limits of imputation will have to be extended beyond the horizon of knowledge and experience, the traditional model of control over trivial forms of action, for the responsibility that comes from complex processes, in which there is self-organization and hierarchical interactions.
In this same sense, in complex societies, those that are prepared to let the future in, that is, those who have the power, will have to reorient it by facilitating creative dynamics, open and transparent processes, will have to be able to manage individual and collective risks and attend to security as a precious commodity.
In this way, it is necessary to work in the present time the responsibility of the future time. It is not possible to continue acting as if there were only present, it is necessary to be bolder and take a step, sharing the responsibility of today with that of tomorrow.
It is necessary – in the words of Arendt (1999, p. 106-107, our translation) – “to establish islands of security in the ocean of insecurity of the future”. And for that, we must count not only on the possibility of promising, with confidence, what one intends to do in the future, but also on the possibility of forgiving what was done in the past. So, far from severing ties with the past time, what we do, in this way, is to free ourselves from its moorings, making possible a new beginning that allows us to face the present and the future with confidence.
The human being thus becomes a better person and lives the present time not as someone who is always paying the obligations of the past time, but as someone who wants to earn the future time. Therefore, it is necessary to assume a prospective responsibility that foresees, prevents and configures more intelligent responses capable of responding to new challenges.
Finally, in this present with an eye to the future, it would be good if the awareness of the limitation of our knowledge in the face of the unpredictability of the future becomes a weapon in the fight against the imperialist policies and the arrogance that prevail in our societies.
Political action plunged into a phase of great limitations, since the figure of the hero was annihilated and the epic speeches that herald the crises stopped attracting citizens. In this sense, we are facing an ecstatic present of mediocrity, where heroic discourses no longer mobilize or displace and, even on the contrary, are turned to indifference and ostracism.
Given this scenario, there is a need for new paradigms that are capable of responding to new circumstances. Paradigms that mobilize people, that make them get up for new causes, that motivate them to leave their homes, homes that leave them confined to comfort.
Comfort, typical of our society, does not help to transform the community. Rather, it helps to feed egos, encourages individualism and absolutizes very solipsistic ways of thinking. Therefore, policies are proposed that eliminate absolute agreements and overcome absolute differences. What is urgent, in fact, are projects without predetermination, but always open to new formulations and alternatives, pilgrim projects of new knowledge, ready to welcome ideas from all sides.
In this context, the need arises for a Copernican revolution, capable of profoundly changing the way of conceiving politics. The classic framing that, as everyone noticed, no longer gives answers. The government has to govern and not govern itself. It has to invest in people, to look ahead, dropping populism. It has to establish strong ties with the future, which is not flattenable or the result of guesswork and, therefore, there is no time for amateurs, it is necessary to have people who are people. People who study, who respect the weight of the vote and who want to build bridges for those who come after us.
The future is something new, which meets the human being, hence the need to anticipate it with an open and transparent heart. It is an intelligent game, launched through human intelligence, without addiction, where all human beings play in relation and whose final result,
the result of the complexity of interactions, is not yet determined. It is determined on a day-to- day basis.
The way of operating in politics, which is often messed up, lacking transparency and verticality, is far removed from the demands of the new times. It is therefore necessary to create a new social paradigm in our societies! It is definitely necessary to overcome the general environment of crisis in which Western modernity was installed (ROSA, 2019). But it is also necessary to transcend both the diagnosis of the crisis and the response of continuous innovative reformism (LE GOFF, 2002). A reformism that only repairs the urgency of the moment, in the immediacy of the present, breaking all awareness of the past, without which there can be neither a project for the present nor for the future. Because, in fact, only from the perspective of the old, the new can give birth to another life, precisely because “it detaches itself from everything that existed” (ZAMBRANO, 1992, p. 14, our translation). Only then will we be able to get out of the uncertainty that surrounds us. As Bauman (2001, p. 170, our translation) refers:
The uncertainty of the present is a powerful individualizing force. It divides rather than unites, and since there is no way to tell who will wake up the next day in which division, the idea of “common interest” becomes increasingly nebulous and loses all practical value. [...] Contemporary fears, anxieties and anguishes are made to be suffered in solitude. They do not add up, they do not accumulate in a “common cause”, they do not have a specific address, let alone an obvious one.
This process is fed by the very logic of democratic systems which, on the one hand, have to make decisions with the speed required by the accelerated pace of post-industrial societies and, on the other hand, they themselves favor, with their performances, the same dynamic. Therefore, any sensation of deceleration of this movement is interpreted as a symptom of crisis, which is – it must be said – the only possible interpretation for the aforementioned slowdown, so that the frantic, delirious rhythm quickly resumes, at full speed, because it is at this rate that contemporary society has become used to solving its crises (HAN, 2016). For this very reason, democratic politics and management are directed to continue accelerating the pace, and this is repeatedly asserted by political leaders. “In post-modernity – writes Harmut Rosa – the possibility of politically conducting the development of society... has become questionable: politics no longer appears as the pacemaker of society, but as the fire department that remains behind and tries to get out of the problem” (ROSA, 2019, p. 287-288, our translation). This generates a spiral of continuous growth, which feeds back with its own energy, which never seems to be satisfied. The matter on which it feeds is none other than the desire to overcome the previous situation, which is quickly dominated by another, announced as threatening. All
of this generates an enormous restlessness that drives back the same dynamic, raised to the moral principle of post-modernity.
As Adorno and Horkheimer (1995, p. 126, our translation) warned us:
The machine rotates without moving out of place. While it determines consumption, it discards what has not yet been tried because it is a risk. [...] Nothing must stay as it was, everything must be in constant motion. For only the universal victory of the rhythm of mechanical production and reproduction is the guarantee that nothing will change, that nothing will emerge that does not adapt.
All projections and promises of politics have withered away, although the diversity of opinions is still preserved, manifested not so much between the right/left confrontations, but between these and those who occupy the radicalized places, whether they are on the right or on the left. Now, one might ask: what is the reason for the emergence of these extremisms? The answer could raise a new question: and what has politics been doing for citizens? Politics has offered scarce knowledge, lacking opportunities and alternatives; too much centered on her navel, unable to read the future and build bridges over the great priorities, not those of today, but those of the future. In this way, the political life of the present has been very arrogant, leaving the door open for arrogance, the value of extremists, gain expression. An arrogance that is also born from the disappointment experienced by the populations, who expect continuous movements that lead to improvements of all kinds, which, in truth, never end up being consummated. This is especially visible in times of crisis, when gurus emerge who, in order to attract the population, announce that they are going to end the previous situation, promising more movement in the form of growth. A growth that, however, no longer has the capacity to build the future, because the only thing it does is wear it out with the same logic of growth (ROSA, 2016; 2019, p. 547). The more it promises to grow to end unemployment, the more those who work also suffer, as they are repeatedly pulled out of their life contexts (SENNETT, 2001); the more calls are made to improve education rankings, the more teachers and students feel alienated from teaching and education (DURÁN; DUQUE, 2019); the more it is consumed, the more life is consumed, therefore, it must be renewed again and again making new consumptions (GONZÁLEZ-ANLEO, 2014). The more people talk about conserving the planet, the more it is destroyed with increased productivity and a pace of life that no one wants to leave, not even those who seem more sensitive to it all. In short, all this logic of constant accumulation increasingly pulls us from our worlds of life, from our security, to submit to the
only thing that counts, which is permanent change, according to which everything that was true yesterday will not be true today, and the same will happen tomorrow. And, worst of all, we are told that this is the only way we can build our identities, composing and recomposing them repeatedly, in a continuous process of creative destruction (BAUMAN, 2009, p 93; 2010, p. 21). Because, on the contrary, if we do not try to be more every day - that is, more capable than we were the day before, knowing that this capacity, far from being completed, is also emptying every day, so we must continue to fill it daily – if we do not look for all this, it is said, we will be old and useless to the world.
The political life of our society lacks the awareness that the present time is fragile and uncertain, but the uncertainty itself has to be constructed in another way, outside the logic of escalating growth (ROSA, 2019, p. 517). It is from this knowledge that we must build today and move on to the future.
Modernity placed great trust in science as something that would be right and that could structure society. This, in a way, is true. However, it is not the absolute truth. It was realized that there was and that there is a lot of science falling apart. Absolute certainties broke down, giving way to convictions without evidence. Confidence in this science could be compared to the future technocrat, who thought that, by acting and programming in a certain way, the future would be certain and constant. However, this was a failure, as the future, as we have already mentioned, is composed of latent variables and a very opaque tissue. Therefore, the great urgency is to assume that we have a fragile and limited knowledge.
Modernity, since its beginnings, has placed its trust in scientific and technological processes and, in doing so, has also restored their security. But when these processes, as now happening in the Coronavirus pandemic, show their fragility, they reveal to us, as never before, their weaknesses. Weaknesses that result from depositing all objective value in these processes, believing that in them lay the capacity to redeem us from all our ills. But this belief, if it is not driven by a greater one in the ends to which those should be directed, then it will be of little value and use. Furthermore, they will disappear with the objective truth that seemed to sustain them. “Even when they are constructed taking into account all the rules of science”, wrote Durkheim (1992, p. 407, our translation), “concepts do not only attain authority because of their objective value. To believe in them, it is not enough for them to be true. If they do not harmonize with other beliefs, with other opinions, in a word, with the set of collective representations, they will be denied”. Put another way, beliefs encourage us to act in a certain direction; they bind us to a goal to which we are committed. Only then will we be able to decide with certain security
and confidence, “disposing of the future as if it were the present” (ARENDT, 1998, p. 264, our translation).
Social life is like an orchestra, where no one cancels anyone out. For this, the constant concern must be to work on the principle of contradictory, which involves knowing how to manage different opinions and thoughts, because they can complement, rather than destroy they can deconstruct, and it is from here that the new is born, the future. In this sense, the great mission of complex societies would consist in managing disagreements in an orderly manner, as someone who providentially deconstructs to build wisely.
In fact, the intact capacity that the future holds to be built and its unpredictability is what draws us to it, generating a strong tension between the already and the not-yet, although the still is not very latent in the present (KOSENLECK, 1993). It is in this tension that one has to learn to live.
Today's society is a true public square, where the plurality of offers intersects and where the heterogeneity of attitudes, values and behaviors is not only possible but advisable. It is the social complexity in management.
Nowadays, we are witnessing great achievements that are not the result of the initiatives of a single person or institution. It is from the constant tension of sharing knowledge that great achievements come.
Politics, in part, has given way. How education, religion, family, and most institutions gave way. Power is now in the capacity for anticipation, for forecast. And whoever has it, has it very contingently.
Contingency is fundamentally related to the decisions that are taken and the way to take them in practice, as that is where the future comes from. This means that the tension that requires decision-making entails a risk, since it involves a great deal of contingency and, therefore, is based on not-knowing (INNERARITY, 2011). That is, one decides not about what is known, but about the uncertainty of the future, which sometimes requires a great deal of imagination.
In this context, it can be said that we live in a time of growing complexity, in which changes accelerate and change from one day to another the social, political, economic and cultural spheres, which destabilizes the social structure that we had as guaranteed. But we also need to know that any society that does not overcome this uncertainty of constant change will
be an uprooted society that, breaking all ties with the past and with no prospects for the future, will sail aimlessly in a constant crisis. All of this does not mean, as mentioned, tying oneself to the mast of the past, to repeat it, but perhaps starting something new, with a deep awareness of what it was, in order to face the future with hope. “When the past does not illuminate the future”, Tocqueville wrote, “the spirit walks through the darkness” (TOCQUEVILLE, 1994, p. 278, our translation). Happy are those who were blessed by their parents because they will also be able to bless their descendants.
Therefore, it is only possible to leave the complexity and reflexivity that characterize our societies with a certain amount of confidence. But this requires, as stated above, certain beliefs that feed it. We have already passed the time, which characterized full modernity, in which fears were different, arising from the feeling of not being able to live up to the integration necessary to face the future. Fears that multiplied because, having broken with the traditional world of the past, this was the only possible alternative that, however, offered a series of future opportunities, never seen before.
As Elias (1993) has well demonstrated, modern subjectivity was constructed in this apparently contradictory and paradoxical way. For, although it was a profound awakening of individual conscience, all this occurred through submission to the civilized socialization program. That is how this awareness developed throughout modernity, through the institutional universes of family, work and education. Only by overcoming these fears, linked to the institutional integration required by these universes, could the future be faced, which was open to multiple possibilities, thus hoping for a certain recognition of what could be achieved. Only by integrating within this institutional framework could the modern subject aspire to express themselves and develop a life project focused on the future.
Nevertheless, as these possibilities became less and less attractive and clear-cut, fears emerged stripped of all reward. This fact was denounced from the beginning as an undoubted sign of cultural malaise (FREUD, 1973), anticipating the exhaustion of the modern civilizing program. A denunciation that later became much more persistent, as a whole generation of young people, born from the 1950s onwards, openly came out against their parents, seeing in them and their past the example of a repressive society and, in its promises of liberation oriented towards a future of progress, the living display of an ideology that concealed that manifest repression. This fact was denounced, as is known, by the most distinguished intellectuals, helping to shape the spirit of an entire era (BOURDIEU; PASSERON, 2001; FOUCAULT, 1999).
Without the possibility of a return to the past, and with the images of progress increasingly blurred, it no longer makes sense to look to the future. “No future” was the title of one of the songs that famous British rock band Sex Pistols released in 1977, whose lyrics said “don't tell me what you want; don't tell me what you need, there is no future for you”.
Thus, a time was opened when fears would be different. Not only those related to the overwhelming disciplinary structure of institutions, but those related to the difficulty of integration. Not those derived from the necessary institutional recognition, without which it would be difficult to build a future life, but from others that derive from the lack of this recognition, which must be sought every day without being discouraged, without more guarantees than each one can demonstrate.
If the psychological disorders of modernity were related to the willingness to assume disciplinary institutional structures in order to gradually free themselves for the future, those of postmodernity have to do with the person's difficulty in assuming himself as a subject destined to be capable and self-sufficient, once detached from past cultural models and future institutional orientations. And yet, he finds himself unable to be that way when this was his destiny. The role of therapy is none other, in this context, than to seek the subject's re-encounter with himself; with its destiny (EHRENBERG, 1998, p. 147). For this meeting, so necessary, to materialize, a whole program of interiorization is proposed, with the aim that each individual assumes their present condition, free from the past and the future (ILLOUZ, 2010, p. 139). Recovered for a moment from his ills, the individual seems to emerge triumphant, but as soon as he straightens up, he feels helpless as before.
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https://doi.org/10.21723/riaee.v16i3.15417